Síndrome de Raeder por Aneurisma Gigante da Artéria
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Síndrome de Raeder por Aneurisma Gigante da Artéria
Síndrome de Raeder por Aneurisma Gigante da Artéria Comunicante Posterior A Síndrome de Raeder ou síndrome paratrigeminal óculo-simpática foi inicialmente descrita por Johan Georg Raeder, em 1918 e, em 1924 ampliou para quatro casos. A ocorrência de tal síndrome parece estar ligada à patologia parasselar na fossa média, especialmente tumor peimário ou mesmo metástases e, entre outras causas, à dissecção da artéria carótida e aneurisma cerebral. São ditos como casos do Tipo I aqueles em que a Síndrome é acompanhada de lesão dos nervos cranianos de III a VI. Já as lesões chamadas Tipo II são aquelas em que se observa somente dor e lesão óculo-simpática. Os aneurismas da artéria comunicante posterior são frequentemente diagnosticados após hemorragia meníngea espontânea, ou mesnmo por causarem paralisia do nervo oculomotor. Na literatura médica brasileira há um só relato de caso de Síndrome de Raeder cuja causa associou-se a um aneurisma gigante intracavernoso. A partir daí, buscou-se a elaboração de um relato de caso de um aneurisma gigante da artéria comunicante posterior não roto, apresentando-se como Síndrome de Raeder. Neste caso, o paciente apresentou cefaléia fronto-orbitária progressiva, que se tronou contínua e incapacitante, acompanhada de Síndrome de Horner no mesmo lado, acarretando em investigação neurológica e diagnóstico inicial de tumor encefálico com compressão mesencefálica. Descrição do Caso Anamnese Paciente diabético, tratado com hipoglicemiante oral, e hipertenso medicado com enalapril, apresentando cefaléia há 18 anos. Não procurou orientação médica anteriormente. Piora progressiva da dor fronto-orbitária esquerda, diária, contínua há cerca de 2 anos, a qual for diagnosticada como sinusite e hipertensão arterial. Após ser levado ao neurologista recentemente, foi diagnosticado tumor cerebral pela Tomografia Computadorizada (TC) e solicitado exame de Ressonância Magnética (RNM). Foi levado às pressas ao Pronto Socorro em virtude da piora importante da dor. Exame Paciente consciente, orientado. Síndrome de Horner à esquerda (miose, semiptose à esquerda). Sem déficit motor. Ataxia axial discreta com instabilidade da marcha, porém deambulando sem apoio. Diminuição da acuidade visual no olho esquerdo, com escotoma no campo temporal do olho esquerdo. Hipótese Diagnóstica Processo expansivo. Conduta Tratado com carbamazepina, amitriptilina e gabapentina, apresentando melhora da dor. 1/3 Síndrome de Raeder por Aneurisma Gigante da Artéria Comunicante Posterior TC Processo expansivo de região selar comprimindo o mesencéfalo. RNM Processo expansivo com sinal “void” e intenso realce com gadolínio, sugerindo lesão vascular. Aneurisma?! Angiografia Aneurisma gigante da artéria comunicante posterior esquerda, parcialmente trombosado. Realizada cirurgia com clipagem e esvaziamento do aneurisma. No período pós-operatório, paciente apresentou hipotensão, permaneceu dependente das drogas vasoativas e hemiplegia direita, afasia, otite média aguda bilateral e penumonia. Evoluiu com melhora neurológica, mas persistiu com hemiparesia direita e afasia motora. Apresenta episódios de cefaléia latejante. Conclusão A doença, ao longo dos anos, apreentou caráter insidioso e progressivo, com cefaléia fronto-orbitária relacionada à hipertensão arterial e sinusopatia. A piora da dor e seu perfil incapacitante determinaram investigação com TC, que mostrou imagem de tumor de região selar, estendendo-se até o mesencéfalo. A dor do paciente era de difícil controle, melhorando, mas sem ceder, com o uso concomitante de gabapentina, carbamazepina, amitriptilina e tramadol. O paciente apresentou também discreta ataxia com instabilidade de marcha. Associada à intensa dor havia ptose palpebral homolateral e miose. Não se observou enoftalmia nem anidrose. A Síndrome de Raeder é causada por uma lesão na via simpática ocular na saída das fibras do plexo carotídeo para o ramo oftálmico do nervo trigêmeo. A cadeia da inervação simpática ocular tem três neurônios. O pirmeiro está no hipotálamo posterior homolateral. O segundo neurônio, pré-ganglionar, está na coluna cinzenta lateral em T1-T2. O terceiro está no gânglio cervical superior, de onde a fibra pós-ganglionar ascende juntamente com a artéria carótida interna, formando o nervo carotídeo interno. Este nervo ao entrar no canal carotídeo do osso temporal divide-se em dois ramos, um lateral e outro medial à carótida. O ramo lateral forma o plexo carotídeo interno e se comunica com o gânglio trigeminal e com o nervo abducente. O ramo medial constitui o plexo cavernoso e relaciona-se com os nervos III, IV, VI, ramo oftálmico do trigêmeo e com o gânglio ciliar. 2 /3 Síndrome de Raeder por Aneurisma Gigante da Artéria Comunicante Posterior As fibras para o músculo levantador da pálpebra, músculo de Müller, acompanham o nervo oculomotor. As fibras dilatadoras da pupila transitam com a artéria oftálmica, com o nervo nasociliar ou com os nervos ciliares longos. As fibras sudomotoras para a face nascem da coluna cinzenta lateral de T2-T3. As fibras sudomotoras para a fronte sobem com a carótida interna, juntando-se ao nervo oftálmico na região do seio cavernoso e mais adiante prosseguem com o nervo supra-orbitário. As fibras sudomotoras para o restante da face sobem com a carótida externa. A sudorese da face é dependente de fibras com uma emergência mais proximal e lateral em relação à inervação óculo-simpática, o que justifica a ausência de anidrose na Síndrome de Raeder. A associação entre aneurisma da artéria comunicante psoterior, compressão do tronco cerebral e dor facial é infreqüente. É necessária a investigação de todos os pacientes com Síndrome de Raeder através de RNM. Se a RNM mostrar patologia vascular deve ser feita angiografia cerebral, angiorressonância ou angiotomografia. A dor fronto-orbitária pode melhorar após o tratamento cirúrgico e clipagem do aneurisma. Referências Bibliográficas: 1. BONIUK M, SCHLEZINGER NS: Raeder’s paratrigeminal syndrome. A. J Ophth 1978 Sep 2.CASTILLO M, KRAMER L: Raeder syndrome: MR appearance. MHNR Am J Neuroradiol 1992 Jul-Aug; 13(4):1121-3 3. GOADSBYPJ: Raeder’s syndrome: paratrigeminal paralysis of the oculopupillary sympathetic system. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002 Mar;72(3):297-9 4. RAEDER JG: Paratrigeminal paralysis of oculo-pupillary sympathetic Brain 1924;47:149-158 5. SALOMON S: Raeder syndrome. Arcg Neurol 2001 Apr;58(4):661-2 6. 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