Relação entre teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama

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Relação entre teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama
Relação entre teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama esmeralda cultivada
em substratos
Patrick Luan Ferreira dos Santos1 e Regina Maria Monteiro de Castilho2
1
Bolsista Erasmus Mundus, graduando em Agronomia ([email protected]) 2Prof.ª Dr.ª do Departamento de Fitotecnia,
Tecnologia de Alimentos e Sócio Economia, UNESP, Avenida Brasil Sul, 56, CEP 15385-000, Ilha Solteira, SP
([email protected])
Resumo - O trabalho teve por objetivo avaliar a relação entre teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama esmeralda, em
diferentes substratos. O experimento foi desenvolvido na UNESP, Ilha Solteira, SP, durante o período de setembro a dezembro
de 2012. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco tratamentos e três repetições: T1) solo, T2) solo
+ areia (2:1), T3) solo + matéria orgânica (1:1), T4) solo + matéria orgânica + areia (2:1:1), T5) matéria orgânica + areia (3:1),
instalados em containers de plástico preto. Foram avaliados o teor de Clorofila e nitrogênio foliar. Observou-se que os
tratamentos com matéria orgânica foram estatisticamente iguais e apresentaram os melhores resultados do índice de conteúdo
de clorofila e nitrogênio foliar em relação aos demais. O substrato composto com matéria orgânica e areia 3:1 apresentou
melhores resultados para teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama esmeralda, sendo indicado para o cultivo do gramado.
Palavras-chave: Zoysia japonica, matéria orgânica, índice de conteúdo de clorofila.
Relationship between chlorophyll content and leaf nitrogen in zoysia grass
grown on substrates
Abstract - The objective of this study was to assess the relationship between chlorophyll content and leaf nitrogen in
zoysia grass, on different substrates. The experiment was conducted at UNESP / Ilha Solteira, São Paulo, Brazil, during
the period from September to December 2012. The experimental design was completely randomized with 5 treatments
and 3 replicates: T1) soil, T2) soil + sand (2: 1), T3) soil + organic matter (1: 1), T4) soil + organic matter + sand (2: 1:
1), T5) organic matter + sand (3:1), installed in black plastic containers. We assessed the content of chlorophyll and leaf
nitrogen. The treatments with organic matter were statistically equal and showed best results of the chlorophyll content
index and foliar nitrogen than the others. The substrate composed with organic matter and sand 3: 1 showed better
results for chlorophyll content and leaf nitrogen in emerald grass, being indicated for cultivation of lawn.
Keywords: Zoysia japonica, organic matter, chlorophyll content index.
Introdução
Os gramados têm assumido em todo o mundo lugar de
destaque tanto pelo seu admirável valor estético como por
suas diversas funcionalidades (Carribeiro, 2010). O
mercado de gramas ornamentais movimenta bilhões de
dólares no mundo todo, principalmente nos EUA e
Europa. No Brasil, com a valorização dos trabalhos
paisagísticos, tem aumentado o mercado para produção e
manutenção de gramados (Godoy et al., 2007), sendo a
grama-esmeralda (Zoysia japonica Steud.) uma espécie
que vem se destacando no cenário nacional.
Segundo Godoy e Villas Bôas (2003), nas áreas
residenciais, industriais e públicas, o principal objetivo
dos gramados é o aspecto estético (visual), sendo muito
importante gramados com boa densidade (gramado
fechado, sem falhas, onde aparece o solo) e coloração
verde intensa.
Bowman et al. (2002) asseguram que o teor verde
proveniente da clorofila nas folhas das gramas reflete
indiretamente a quantidade de N absorvida pelas plantas,
sendo o elemento mineral requerido em maiores
quantidades pelos gramados, que quando mantido em
níveis adequados, promove o vigor, a qualidade visual e a
recuperação de injúrias. Um dos métodos de avaliar o
desempenho de gramados é o uso do medidor portátil de
clorofila, que permite avaliar o índice de conteúdo de
clorofila (ICC) das folhas. Dessa forma, tem-se relatado a
viabilidade de se utilizar a avaliação indireta como
indicativo do estado nutricional em relação ao nitrogênio
(Carvalho et al., 2003).
Em trabalho com gramíneas Argenta et al. (2001)
evidenciou relação entre teor de clorofila na folha e teor
de N na planta e constatou-se que a leitura no
clorofilômetro foi o melhor indicador do nível de N na
planta dentre as características avaliadas.
Contudo, baixos teores de nitrogênio podem ser devido
ao tipo de solo ou substrato que o gramado esta instalado.
Santos et al. (2012) afirmaram que dependendo do tipo de
solo, ocorre uma limitação no crescimento dos gramados,
podendo ocorrer dificuldade do caminhamento dos
nutrientes no solo, e menor eficiência de aproveitamento
dos mesmos pelas plantas. Assim sucede uma redução no
desenvolvimento da parte aérea, ocorrendo perda da cor
verde da grama (sofre um amarelecimento geral), em
função da indisponibilidade de nitrogênio na forma
adequada, entre outros elementos.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a relação entre o
teor de clorofila e nitrogênio foliar em grama esmeralda,
cultivada em diferentes substratos.
Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.4, p.51-54, set. 2015
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Material e Métodos
O trabalho foi conduzido a pleno sol, em área
cimentada, na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira –
UNESP, Campus II, na cidade de Ilha Solteira, SP, no
período de 15 de setembro a 23 de dezembro de 2012. Os
tapetes foram recortados e implantados em contêineres de
plástico preto (volume 8,46 L).
O delineamento experimental utilizado foi um esquema
fatorial de 5x3, com três repetições, sendo os tratamentos
compostos pelos seguintes substratos:
T1- solo
T2- solo + areia (2:1)
T3- solo + matéria orgânica (1:1)
T4- solo + matéria orgânica + areia (2:1:1)
T5- matéria orgânica + areia (3:1)
O solo foi o Latossolo Vermelho Distroférrico (camada
0–20 cm) da Fazenda Experimental da UNESP, em Ilha
Solteira, SP, localizada no município de Selvíria, MS.
O composto utilizado encontrava-se em decomposição
há 1 ano, sendo formado das folhas de grama batatais e
esterco de curral (1:1); a areia média lavada foi adquirida
no comercio local.
O manejo da irrigação foi realizado diariamente de
forma manual, sendo que os contêineres receberam água
até a saturação, a fim de garantir que o fator água não
interfira nos resultados do experimento.
Avaliou-se o Índice de Conteúdo de Clorofila com o
uso de clorofilômetro manual - Chlorophyll Content Meter
(CCM 200), nos dias 15, 23 e 30 de Setembro, 7, 13 e 28
de outubro, 18 de novembro e 2, 9 e 22 de dezembro de
2012, sendo coletadas de 4 a 6 folhas da grama de cada
contêiner, estas dispostas no clorofilômetro de modo a
cobrir inteiramente o detector, sem que as folhas fossem
sobrepostas, sendo realizadas três leituras por tratamento.
A análise foliar de nitrogênio foi efetuada pelo método
semi-micro Kjeldahl, após digestão sulfúrica (Malavolta;
Vitti e Oliveira, 1997), sendo realizadas duas coletas para
análise: 13 de outubro e 22 de dezembro de 2012. Foram
recolhidas todas as folhas do gramado de cada contêiner,
alocadas em sacos de papel e secas em estufa, a 60 °C por
3 dias.
Os dados das variáveis avaliadas foram submetidos à
análise de variância e comparação de médias pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. Também se determinou o
coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis
avaliadas. nas análise foi utilizando o programa SISVAR
(Ferreira, 2003).
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos na presente pesquisa sobre
índice de conteúdo de clorofila e nitrogênio foliar em
grama esmeralda conduzida a pleno sol, em área
cimentada, são apresentados na Tabela 1. Observa-se
ainda que os substratos que contém matéria orgânica em
sua composição (os tratamentos 3, 4 e 5) foram
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estatisticamente iguais e apresentaram os melhores
resultados para o teor de clorofila e nitrogênio foliar em
relação aos demais.
A análise evidenciou que as leituras do clorofilômetro
correlacionaram-se positivamente com os teores de
nitrogênio foliar (r = + 0,9058). Este resultado indica que
à medida que aumentava o N nas lâminas foliares da
grama esmeralda houve um aumento no índice de
conteúdo de clorofila, corroborando os resultados
obtidos por Godoy &Villas Bôas (2003), os quais
afirmam que as leituras do teor de clorofila em
clorofilômetro estão relacionadas com a quantidade de
nitrogênio das folhas, sendo que a redução no valor da
coloração verde pode ser um indicativo da necessidade da
aplicação de N.
Tabela 1. Valores do teor de clorofila e nitrogênio foliar
de grama esmeralda.
Substratos
Índice de
conteúdo de
clorofila
Nitrogênio
foliar
(g kg-1)
T1) Solo
15,53 b
14,89 b
T2) S +A 2:1
14,94 b
14,03 b
T3) S + MO 1:1
18,43 a
15,53 ab
T4) S + MO + A
18,44 a
15,98 a
2:1:1
T5) MO + A 3:1
19,54 a
17,68 a
CV (%)
6,76
9,92
Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem
significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade
S = solo, A = areia, MO = matéria orgânica
Argenta et al. (2001), relatam que a relação verificada
entre leitura com medidor portátil de clorofila e teor de
nitrogênio evidencia que as leituras efetuadas com
clorofilômetro estimam adequadamente o grau de
esverdeamento da folha.
Contudo, segundo Lima et al. (2008), o índice de
clorofila encontrado nos resultados, é indicativo de baixo
estado nutricional em nitrogênio, e quando os autores,
usando diferentes doses de fonte de nitrogênio,
verificaram aumento nas leituras em clorofilômetro em
decorrência do aumento dos teores de nitrogênio,
conferindo maior intensidade de cor verde e maior
concentração de N, verificando um intervalo de 36,5 a
39,2 ICC, mediante a utilização de doses de N de 0 a 400
kg ha-1, no presente trabalho, nenhum dos tratamentos
atingiu o referido valor.
Dinalli et al. (2012), avaliando o índice de clorofila em
grama esmeralda, em função da aplicação de fontes de
nitrogênio, na cidade de Ilha Solteira, observaram valores
no intervalo de 17,9 a 19,4 ICC, sendo valores maiores
que os encontrados no presente trabalho. Já Barcelos et al.
(2012), avaliando a influência de diferentes substratos no
teor de clorofila das folhas de grama esmeralda,
encontraram resultados entre 13,09 a 18,18 ICC, e
observaram que os substratos que continham matéria
orgânica em sua composição apresentaram os melhores
resultados, ocorrência essa condizente com o presente
estudo, onde T3, T4 e T5 apresentaram as maiores médias,
e T1 e T2 que não apresentam matéria orgânica em sua
composição apresentaram os menores valores. Isso pode
ser explicado por Godoy & Villas Bôas (2005) onde
afirmam que substratos que não contém matéria orgânica
em sua composição, conseguem reter poucos nutrientes
devido à baixa CTC e ainda são mais suscetíveis à perda
de nutrientes por lixiviação, o que vem a ocasionar baixos
teores de nitrogênio e perda na cor verde das plantas.
Castilho et al. (2012) verificaram que o índice de clorofila
das folhas de grama esmeralda foi influenciado pelo
substrato, encontrando intervalos entre 8,33 a 14,70 ICC,
onde o tratamento composto por solo + areia (1:1)
apresentou o menor teor. O mesmo ocorre no presente
trabalho, T2 composto de solo + areia (2:1) apresentou o
menor teor de clorofila.
Com relação às concentrações de N encontradas nas
lâminas foliares da grama esmeralda (14,03 a 17,68 g kg¹) foi observado que elas são inferiores as recomendações
de Mills e Jones (1996), que consideram como valores
ideais aqueles compreendidos entre 20 e 24 g kg-¹,
entretanto, encontram-se dentro da faixa como
considerada ideal (14 a 25 g kg-1) por Godoy e Villas
Boas (2010). Ja Piedade (2004) encontrou valores entre 17
a 21g kg-1 estando somente T5 no referido intervalo e
Carribeiro (2010) encontrou valores de 15 a 20 g kg-1de N
em laminas foliares de grama esmeralda, onde apenas T1 e
T2 fora desse intervalo.
Conclusão
O substrato composto com matéria orgânica e areia 3:1
apresentou melhores resultados para teor de clorofila e
nitrogênio foliar em grama esmeralda, sendo indicado para
o cultivo do gramado.
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