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Aplicação da técnica de biocimentação para avaliação da resistência mecânica do solo Jaqueline Bonatto1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, [email protected] Karla Heichek 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, [email protected] Antonio Thome 3 Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, [email protected] Bruna DallAgnol 4 Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, [email protected] RESUMO: A maioria das técnicas de melhoramento de solo que são utilizadas no mundo envolvem a adição de energia mecânica e/ou materiais sintéticos, sendo que ambos têm substancial custos de energia associados à sua produção, no entanto, a técnica de biocimentaçao vem como intuito de melhorar as propriedades mecânicas de forma sustentável. A biocimentação é a formação de material particulado unido ao solo através de microrganismos presentes. Os inúmeros processos microbiológicos têm o potencial para modificar o comportamento do solo. Muitas bactérias como as espécies: Bacillus, Sporosarcina, Sporolactobacillus, Clostridium e Desulfotomaculum possuem potencial de cimentação biológica. O objetivo deste trabalho é avaliar dois meios nutritivos em laboratório a qual modifique a resistência mecânica do solo. O solo utilizado no experimento foi areia de uma jazida do município de Osório/RS. Os meios nutritivos foram preparados com compostos diferentes. Foram realizados ensaios de contagem de microrganismos com o solo natural através da técnica de contagem Unidades Formadoras de Colônia (UFC/mL) com microscopia direta, ensaio de respirometria por 28 dias em recipientes hermeticamente fechados, e ensaio de resistência modificado para avaliar a resistência mecânica do solo. O resultado mais satisfatório foi com a utilização do Meio A, conforme pode ser evidenciado tanto no ensaio com Evolução de CO2 quanto no ensaio de resistência, com aumento de 140 % no ganho da carga aplicada no meio A e 100% de aumento com o Meio B. PALAVRAS-CHAVE: microrganismos, melhoramento do solo, resistencia. 1 INTRODUÇÃO Grande parte dos países do mundo se encontram afetados por problemas de degradação do solo, sendo considerado um dos problemas ambientais mais importantes nos últimos anos, destacam-se entre eles: processos erosivos, contaminação dos solos, contaminação das águas subterraneas e superficiais. A cimentação microbiana ou a biocimentação é a formação de material particulado unido ao solo através de microrganismos presentes (CHU, 2012). A maioria das técnicas de melhoramento de solo que são utilizadas envolvem a adição de energia mecânica e / ou materiais sintéticos para o solo, sendo que ambos têm substancial custos de energia associados à sua produção (DEJONG et al., 2010). Devido a estes fatores, há a necessidade de desenvolvimento de uma nova alternativa para melhoramento e remediação de solo. O uso da biocimentação para a melhoria do solo apresenta uma opção de melhoria relativamente nova e ambientalmente amigável para a engenharia geotécnica. Os inúmeros processos microbiológicos têm o potencial para modificar o comportamento do solo. Vários mecanismos têm sido identificados para produzir precipitados (tanto inorgânica ou orgânica) ou geram gás no interior da matriz do solo. Muitas bactérias como as espécies: Bacillus, Sporosarcina, Sporolactobacillus, Clostridium e Desulfotomaculum possuem potencial de cimentação biológica, como mostram os estudos de DeJong et al. 2009; Ivanov e Chu 2008, Montoya 2012. Segundo Donald Gray (2001) apud Martínez et al. (2003), existe uma ampla variedade de micro-organismos aptos a realizar processos utilizando as características próprias para secretar substâncias derivadas de seus metabolismos, as quais possuem propriedades cimentantes. As bactérias ureolíticas são comumente encontradas no subsolo, no entanto, o subsolo possui comunidades microbiológicas que precisam ser estimulado ou aumentada (FUJITA et al 2008, DEJONG et al 2009). Se as bactérias ureolíticas estão presentes no subsolo, estimulando a dimensão da população e / ou a atividade da urease, fornecendo nutrientes adequados, isso se mostra ideal, pois utiliza organismos nativos e reduz o desafio da engenharia de controlar o transporte de células no subsolo (DEJONG et al 2009). Porém, se não há presença de bactérias ureolíticas no solo, pode-se realizar o bioaumento de microrganismos, os quais tem demonstrado experiências satisfatórias. Os cristais produto do processo de biomineralização não têm a mesma estrutura, esta depende do tipo de microrganismo e das condições do meio onde é produzido. Hammes e Vestraete (2002) afirmam que a bactéria tem um papel muito importante durante o processo de biomineralização, o qual está associado a sua habilidade de criar ambientes alcalinos (alto pH) e incremento da concentração da dissolução do carbono inorgânico por meio de várias atividades fisiológicas. Os microrganismos cultivados para a técnica de biocimentação deveram resistir a altas concentrações de cálcio e pH alcalino, entre 7,5 a 10 (GIRINSKY, 2009). Donald Gray (2001) apud Gómez (2006) assinala que existem muitas vantagens ao usar microrganismos em processos de melhoria de solos, pois com eles se consegue uma maior tolerância frente à mudanças de umidade, ataques químicos em ambientes tóxicos, condições anaeróbicas e temperaturas extremas. Além disso, os microrganismos conseguem se desenvolver em ambientes com porosidade muito pequena. Whiffin (2004) destaca os dois principais processo para a biocimentação: o primeiro sendo a fase de crescimento bacteriano e o segundo, a fase de cimentação. Essa ordem deve ser seguida para impedir a precipitação prematura do CaCO3. O CaCO3 e os minerais de fosfato de cálcio têm energias de atração elevadas e solubilidades baixas e, portanto, são minerais termodinamicamente estáveis em ambientes biológicos (MANN, 2001). O crescente interesse pelo estudo da função das bactérias no ecossistema e a preocupação por obter processos tecnológicos mais eficientes, motivaram a realização de pesquisas sobre a aplicação de microrganismos no desenvolvimento de novos materiais e metodologias de produção (MUNETON, 2013). O objetivo deste trabalho é avaliar dois meios nutritivos em laboratório a qual modifiquem a resistência mecânica do solo. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Solo A areia utilizada neste estudo é proveniente de uma jazida localizada no município de Osório-Rio Grande do Sul. Este material caracteriza-se por ser uma areia fina, limpa e de granulometria uniforme. Conforme Girardello (2013), o solo apresenta peso especifico de 26,3 KN/m³, índice de vazio mínimo de 0,6 e máximo de 0,9. precipitação de CaCO3. A composição para a preparação do meio A é de 15 g de acetato de cálcio, 4 g de extrato de levedura, 5 g de glicose, para cada 1000 ml de água destilada, com um pH aproximadamente de 8. O meio B foi proposto por Siddik et al. (2013) onde possui a seguinte composição para a preparação: 7 g ágar, 3 g de meio nutriente com peptona, 20 g uréia, 10 g de NH4Cl, 2,12 g de NaHCO3 para 1000 ml de água destilada. A figura 02 mostra os dois meios nutritivos previamente preparados para adição no solo de forma de umidade. Figura 01. Areia de Osório/RS. 2.2 Contagem dos microrganismos presentes no solo A contagem dos microrganismos presentes naturalmente no solo foram realizadas através da técnica de Contagem por Unidades Formadores de Colônias (UFC) com microscópica direta, esse método teve o uso de câmaras de contagem especiais como a de Petroff-Hauser, na qual uma alíquota de uma suspensão da cultura ou de qualquer amostra é contada e o número de células é determinado matematicamente. O método é rápido mas não permite discriminar células vivas de células mortas. Para a realização do ensaio utilizou-se o meio PCA o qual verteu-se sobre a placa de Petri contendo a suspensão diluída da amostra, as amostras tiveram diluiçao até 10-4. O material é homogeneizado girando-se a placa através de movimentos circulares no sentido horário e anti-horário. Após a solidificação do meio, as placas tampadas são invertidas e incubadas em estufas na temperatura média de 45°C e por 48 horas. Após 48 horas, as colônias foram contadas e o resultado médio de cada diluição é registrado e multiplicado pelo fator da diluição, que é a recíproca da diluição. 2.3 Preparo dos meios de cultivos O Meio A foi proposto por Lee (2003), e empregado por Valencia (2009), Gomez (2009), Valencia (2010) e Muneton (2013), onde foram obtidos bons resultados com o indutor de Meio A Meio B Figura 02. Preparo dos Meios Nutritivos. 2.4 Ensaios realizados 2.4.1 Teste de respirometria O método de evolução de CO2, teste de respirometria ou C mineralizável foi realizado para determinar quanto de Carbono é respirado pela microbiota do solo com os meios A e B. Pela determinação das taxas de respiração durante um período de incubação, pode-se determinar a taxa máxima de respiração, relacionado com a biomassa existente nesse solo. Este método consiste na captura de CCO2, emitido de uma amostra de solo, em solução de NaOH e sua dosagem por titulação em HCL. Em cada recipiente hermeticamente fechado, adicionou-se um corpo de prova (proveniente dos tratamentos em estudo), um frasco com 30 mL de solução de NaOH 0,5 mol/L -1 (para captura de C-CO2), e outro contendo 30 mL de H2O (para manter a umidade). Após 24 horas de incubação, os recipientes foram abertos e os frascos de NaOH retirados, tomando o cuidado para deixar cada recipiente contendo solo aberto por 15 minutos, para que ocorra a troca de ar (esse tempo foi uniforme para todas as amostras). Pipetou-se 10 mL da solução de NaOH (previamente incubada com o solo) para um erlenmeyer de 125 mL, adicionou-se 10 mL da solução de BaCl2 0,05 mol/L e 3 gotas de fenolfetaleína1%, em seguida titulou-se com solução de HCL 0,25 mol/L. O ponto de viragem é nítido passando de violeta para incolor. Decorrido o tempo necessário para a troca de ar do solo, outro frasco com 30 mL de solução de NaOH 0,5 mol/L foi adicionado a cada sistema e este fechado e incubado novamente. O procedimento foi repetido por 28 dias corridos. A Figura 03 apresenta o experimento de Evolução de CO2 montado em recipientes hermeticamente fechados. presença dos meios nutritivos. O ensaio foi realizado através da técnica de microscopia direta, a qual obteve-se resultado médio de 9,8 x 10-5 UFC/mL da amostra. O teste de respirometria foi acompanhada por um período de 28 dias, tempo considerado necessário para a estabilização das curvas de evolução de CO2. A quantificação do CO2 pode ser analisada nos diferentes meios: A, B e o Controle. Todos os tratamentos foram sistematicamente comparados ao Controle. A figura 4 apresenta a atividade microbiológica durante processo de biocimentação. Figura 04. Evolução de CO2 (mg/Kg) acumulado ao longo de 28 dias, da técnica Biocimentação. Figura 03. Experimento de Evolução de CO2. 2.4.2 Ensaio de resistência modificado O ensaio de resistência modificado consiste na utilização da prensa CBR com uma agulha corpo cilíndrico circular, com 75,43 mm2 de área de seção. A amostra é penetrada 10 mm em um corpo de prova com área circular de 19,6 cm², com velocidade controlada de 1,14 mm/min, e verificada a carga aplicada na profundidade de 10 mm. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A contagem dos microrganismos foi realizada no solo natural, ou seja, sem a Observa-se que o Meio A apresentou um aumento significativo quando comparado ao outro meio e ao controle. O controle teve seu pico até o décimo dia, posteriormente a este dia, manteve-se praticamente constante até os 28 dias de ensaio. O ensaio com o meio A teve resultados satisfatório, pois houve a produção de CO2 até o décimo primeiro dia, posteriormente a isso, houve uma constância do experimento. O ensaio com o meio B não apresentou resultados satisfatórios quando comparada ao controle. O aumento da atividade microbiológica evidenciada no ensaio de evolução de CO2 permite verificar que o meio A teve um aumento significativo quando comparado aos outros experimentos, com valores acumulados de 1939,5 mg de CO2 /Kg de solo, enquanto o meio B obteve 1084,5 mg de CO2/Kg e o controle 1054,5 mg de CO2/Kg de solo ensaiado. A tabela 01 apresenta os resultados dos ensaios com Meio A e Meio B do ensaio do resistência modificado. branco de 140%, enquanto o meio B teve um aumento de aproximadamente 100%. Tabela 01. Resultados do ensaio de resistência, desvio padrão e coeficiente de variação dos experimentos realizados. 4 Carga aplicada (Kg) Desvio Padrão Coeficiente de Variação (%) Branco 3,85 0,458 11,9 Meio A 9,23 1,069 11,5 CONCLUSÕES O resultado mais satisfatório foi com a utilização do Meio A, conforme pode ser evidenciado tanto no ensaio com Evolução de CO2 quanto no ensaio de resistência. O meio A obteve resultados significativo tanto na respirometria microbiológica, quanto no ensaio de resistência mecânica do solo. O meio S não teve resultados significativos no teste de respirometria, porém, observou-se ganho de resistência no ensaio realizado. AGRADECIMENTOS Meio B 7,8 0,519 6,6 A Figura 05 apresenta o gráfico com os resultados do ensaio do resistência modificado, com os experimentos estudados. Figura 05. Gráfico dos resultados dos ensaios de resistência modificado. O ensaio de resistência modificada com o Meio A teve um aumento na carga aplicada de 5,38 Kg em relação ao controle (branco), já o meio B teve um aumento 3,95 Kg, mostrando resultados satisfatórios quando comparado ao controle. O experimento com o meio A, teve um aumento da resistência quando comparada ao Agradecimento a CAPES pela disponibilidade pela bolsa de pesquisa. REFERÊNCIAS Chu, Jian. Bio-cement and bio-cementation.School of Civil and Environmental Engineering, 2012. DeJong, J. D., Soga, K. 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