- Pós Clássicas

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EΦΕΣΙΑΚΑ: UMA AVENTURA LITERÁRIO-GEOGRAFICA PELO MUNDO
HELENÍSTICO
ELISA COSTA BRANDÃO DE CARVALHO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduaçãoem LetrasClássicasda
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários para a obtenção
do títulodeDoutor emLetras Clássicas.
Orientador: ProfessorDoutor
Teixeira
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2015
Auto Lyra
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ἘΦΕΣΙΑΚΑ: UMA AVENTURA LITERÁRIO-GEOGRAFICA PELO MUNDO
HELENÍSTICO
Elisa Costa Brandão de Carvalho
Orientador: Professor Doutor Auto Lyra Teixeira
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Doutor em Letras Clássicas.
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Examinada por:
_____________________________________________________________________________
Presidente, Prof. Doutor Auto Lyra Teixeira
_____________________________________________________________________________
Prof. Doutor Amós Coêlho da Silva - UERJ
_____________________________________________________________________________
Profa. Doutora Fernanda Lemos de Lima - UERJ
_____________________________________________________________________________
Prof. Doutor Ricardo de Souza Nogueira - UFRJ
_____________________________________________________________________________
Profa. Doutora Tânia Martins Santos - UFRJ
_____________________________________________________________________________
Profa. Doutora Márcia Regina de Freitas da Silva – UERJ, Suplente
_____________________________________________________________________________
Profa. Doutora Shirley Fátima G. de A. Peçanha – UFRJ, Suplente
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2015
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Dedico esta teseaos meus pais
Eldi João (in memorian) e Silvia
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AGRADECIMENTOS
A Deus, que me deu forças para seguir sempre emfrente, mesmo em meio às
dificuldades.
Ao Professor Doutor Auto Lyra Teixeira, pela sua orientação segura, precisa, e
entusiasmada,sempre respeitando minhas opiniões e colaborando com ideias e
aprofundamentosteóricos, assim como, pelo carinho e amizade a mim dedicados;
Às professorasShirley Fátima G. de A. Peçanha e Tânia Martins Santos por terem
enriquecido meus conhecimentos acadêmicos através de seus cursos ministrados
durante o doutorado;
Aos meus irmãos, Ricardo, Eloisa e Eliane, companheirosde todos os momentos;
Ao João Pedro, meu sobrinho, minha inspiração;
Aos tios Geraldo Souza Amorim (in memoriam) e Hilda Costa Amorim, pela
presença constante;
À Flávia Serejo, por ser fundamental nestacaminhada;
Às amigas, Fernanda Lemos de Lima, Luciene Oliveira, Luciana Póvoa, Tatiana
Gandelman que me auxiliaram no decorrer destes anos de vitórias, alegrias e
dificuldades;
Aos amigos, Pedro da Silva Barbosa, Eloy Ferreira e Alexandre Mendes pelas
pelo auxílio inestimável;
Aos membros da banca examinadora, por aceitaremprontamente o convite;
Finalmente, um agradecimento especial ao Professor Hime Gonçalves Muniz,
dileto Mestre, que com seus conhecimentos transmitidos como Professor na Graduação
e Orientador no Mestrado, contribuiu para que eu chegasse até aqui.
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Carvalho, Elisa Costa Brandão.
EFESIAKA: uma aventura literário-geográfica pelo mundo Helenístico/ Elisa
Costa Brandão de Carvalho. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de Letras, 2015.
xii, 221 f.; 31 cm.
Orientador: Auto Lyra Teixeira
Tese (Doutorado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-Graduação em
Letras Clássicas, 2015.
Referências Bibliográficas: f. 175-180.
1. Os Efésios. 2 Romance grego. 3. Origens e características do romance. I.
Teixeira, Auto Lyra. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas. III. EFESIAKA: uma
aventura literário-geográfica pelo mundo helenístico.
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EFESIAKA: UMA AVENTURA LITERÁRIO-GEOGRÁFICA PELO MUNDO
HELENÍSTICO
Elisa Brandão da Costa Carvalho
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Clássicas (Culturas da Antiguidade Clássica) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras
Clássicas.
No período helenístico, onde a tecnologia da escrita já é de uso corrente, a
narrativa de viagens, associada ao relato amoroso, vem suscitar novos horizontes de
leitura, no mundo do ecúmeno greco-romano, particularmente em um ambiente
alexandrino marcado pela pesquisa, erudição e culto dos gêneros literários herdados do
período clássico da Hélade: épico, lírico e dramático.Dentre as narrativas gregas de
viagens, Os Efésios, cuja autoria é atribuída a Xenofonte de Éfeso, apresenta as marcas
recorrentes das histórias romanescas: dois belíssimos jovens, Habrócomes e Antia, se
apaixonam perdidamente, casam-se, saem em viagem de núpcias, mas acabam
separados; passam por numerosas provações, mas apesar disso, eles se mantêm fiéis um
ao outro, perseverando no amor, até serem agraciados, no final, com o reencontro e a
felicidade tão ansiada. A odisseia dos amantesde Éfeso pelo Mediterrâneo Oriental é
perpassada de um sincretismo religiosocaracterístico do mundo globalizado de então.
Esta tese propõeum estudo pragmático deOs Efésios em seu contexto. Por conseguinte,
abordou-se a questão das origens e das características do chamado romance grego;
alguns aspectos da obra, como a autoria, a possibilidade de o texto de Os Efésios, ora
disponível,ser um epítome, e seus lugares comuns; e o sincretismo religioso aí presente,
destacando-se Eros, pois o amor é o fio condutor da narrativa, e outras divindades
também atuantes no percurso em questão. Também inclui a tradução integral de Os
Efésios, com ênfase em determinados excertos sugestivos para o presente estudo.
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EFESIAKA: A LITERARY-GEOGRAPHICAL THROUGH THE HELLENISTIC
WORLD
Elisa Costa Brandão de Carvalho
Orientador: Prof. Doutor Auto Lyra Teixeira
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Clássicas (Culturas da Antiguidade Clássica) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras
Clássicas.
EFESIAKA: A LITERARY-GEOGRAPHICAL THROUGH THE HELLENISTIC
WORLD
Writing is already an ordinary tool used in the world of Greco-Roman ecumene
during the helenistic period. Thus the travel narrative, associated with love-story-telling,
spreads new horizons for reading particularly in the Alexandrian environment marked
by research, scholarship and worship of inherited literary genres from the classical
period of Hellas named epic, lyric and dramatic. Among the Greek narratives of travel,
the Ephesians, whose authorship is attributed to Xenophon of Ephesus, presents the
most commonly used structure of romanesque stories. Two very beautiful young man
and woman, Habrocomes and Anthia, fall deeply in love, marry, leave on honeymoon,
but eventually get apart and pass through uncountable hardship. Despite all the mishap,
they stay faithful to each other, and persevere in love, so they are graced with meeting
again and finding the so desired happiness at the end. The two lovers’ odissey along the
Eastern Mediterranean is impregnated by the characteristic religious syncretism of the
globalized world of then. This thesis proposes a pragmatic study of the Ephesians in
context. Therefore addresses the question of the origins and characteristics of the Greek
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novel. It questions some aspects of the work, as the authorship, the possibility of the
text of the Ephesians, now available, be an epitome, in its common places. Besides
those, the religious syncretism also present in the work and specially Eros, once love is
the narrative main thread, as well as other divinities who are also active in the route in
question. This work includes the complete translation of the Ephesians too, with
emphasis on certain extracts suggestive for the present study.
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SINOPSE
Origens e características do romance grego.
Os Efésios de Xenofonte de Éfeso. A odisseia
amorosa de Habrócomes e amorosa Antía:
um kósmos oikoúmenos. Tradução da obra.
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SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................................13
2. O romance grego: origens e características...........................................................25
2.1 Origens....................................................................................................................25
2.2 Características........................................................................................................30
3. Os Efésios de Xenofonte de Éfeso..........................................................................42
3.1 O autor....................................................................................................................42
3.2 A obra.....................................................................................................................44
4. A odisseia amorosa de Habrócomes e Antía: um kósmos oikoúmenos...............49
4.1 Uma abordagem pragmática................................................................................49
4.2 Um resumo de Os Efésios......................................................................................50
4.3 Lugares comuns.....................................................................................................59
4.4 O sincretismo religioso..........................................................................................64
4.4.1 Eros......................................................................................................................66
4.4.1.1 O Amor: fio condutor da narrativa...............................................................67
4.4.2 Ártemis................................................................................................................78
4.4.3 Apolo....................................................................................................................82
4.4.4 Hera......................................................................................................................84
4.4.5 Hélio......................................................................................................................85
4.4.6 Ísis..........................................................................................................................91
4.4.7 Ápis.......................................................................................................................95
4.4.8 O Nilo....................................................................................................................97
4.5 Éfeso: começo e fim da odisseia amorosa...........................................................100
5. OsEfésios.................................................................................................................105
6.Conclusão..................................................................................................................173
7. Bibliografia..............................................................................................................176
8.Notas..........................................................................................................................182
9. Anexo 1: Texto grego de Os Efésios.......................................................................188
10. Anexo 2: Mapas.....................................................................................................220
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1. INTRODUÇÃO
O objetivo da presente pesquisa é dar continuidade ao estudo da narrativa grega de
viagens, iniciado no curso de Mestrado, do qual resultou a dissertação intitulada O
Romance Pastorais – Dáfnis e Cloé: A influência das Estações do Ano no Significado
da Obra.
Com esse estudo, verificou-se que a narrativa de viagens, mais conhecida como
romance grego de aventuras, se desenvolveu e se consolidou num período de grandes
transformações, iniciado com a morte de Alexandre Magno, e concomitante com a
ascensão, a expansão e o estabelecimento do Império Romano. Nesse contexto
Helenístico ou Alexandrino, oromance grego vem assinalar o ideal de liberdade e o
desejo de desbravar fronteiras, típico do período, descortinando assim novos horizontes
para o público leitor.Trata-se de uma narrativa em prosa, de cunho ficcional, marcada
pela simplicidade, de leitura amena e cujo tema é o amor. De fato, o romance grego aqui
estudado caracteriza-se, basicamente, como um relato amoroso.
Dando, por consequência, continuidade à pesquisa, elegeu-se como objeto de
estudo os Ephesiaká (Fatos Efésios),(1)mais conhecido como Os Efésios, cuja autoria é
atribuída a Xenofonte de Éfeso.Elegendo como corpus esse romance, a presente
pesquisa procura destacar o amor como fio condutor, em meio ao sincretismo religioso
que permeia a odisseia amorosa de Habrócomes e Antía, destacando-se alguns quadros
espaciais ao longo da narrativa, com ênfase na cidade de Éfeso (ponto de partida e de
chegada do relato amoroso).
Segundo Tomas Hägg, em The Novel in Antiquity (p. 90-91), Os Efésios é uma
narrativa direcionada basicamente ao público feminino, pois o que norteia a trama do
romance é justamente o relato amoroso, com uma história de amor entre dois jovens,
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Habrócomes e Antia, que se conhecem e se apaixonam perdidamente, sob a influência
de Eros. Esses jovens são separados, também por um ardil de Eros, e a partir dessa
separação, tem início uma série de deslocamentos espaciais, com os dois amantes, longe
um do outro, sendo obrigados a empreender tortuosas viagens, até o reencontro feliz ao
término da história. Todas essas viagens conferem ritmo à trama, fazendo com que o
leitor embarque com as vicissitudes do casal, acompanhando-o através do “mundo
habitado”, um kósmos oikoúmenos,(2) expressão grega que nos remete ao significado
contemporâneo de “mundo globalizado”, permeado de cultura grega clássica. O
ecúmeno representa uma nova civilização formada com a união das culturas grega e
romana, num amplo espaço geográfico povoado pelas mais variadas etnias. Como
ressaltaHORTA (1984, p. 54-55), ao serem dominados pelos romanos, os reinos
helenísticos e a Grécia, bem como tantas outras regiões, foram transformados em
províncias romanas, e “passaram todos a formar uma bela colcha de retalhos, dando a
ilusão de uma unidade cultural só existente na aparência”. Nesse sentido, a nova cultura
helenística pode ser considerada um amálgama da tradição educativa dos gregos e da
pragmática visão política dos romanos, em meio à multivariedade do ecúmeno.
Ao tratar da questão do ecúmeno, MARROU (1973, p. 153 e s.), destaca a
civilização da Paideia, com a sua ênfase na cultura escrita. Essa educação helenística é a
educação de todo o mundo helênico estabelecido após as façanhas de Alexandre, e ela
se estende e permeia o mundo romano em toda a sua plenitude, com os centros de
expressão latina adaptando a cultura helenística na constituição da educação
romana.Quanto às póleis gregas, em toda a sua diversidade e pujança cultural, constatase o desaparecimento, ou então a perda do prestígio, do quadro tradicional da cidade
antiga, passando esta a ser apenas o pequeno torrão natal dos seus cidadãos, e não mais
desempenhando a função central na trama do pensamento e da cultura. A cidade grega,
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agora, passa a fazer parte de algo muito maior, inserindo-se nos instáveis reinos
helenísticos, capitaneados pelos sucessores de Alexandre - os Diádocos, e,
posteriormente, os Epígonos -, e alicerçados nos quadros citadinos já existentes. Nessa
geografia do ecúmeno, o sábio helenístico vê-se como um cosmopolita, um “cidadão do
mundo”. Daí a civilização da Paideia. Nesse novo contexto, o que os gregos possuem
em comum é o ideal de uma vida pessoal. Como atesta MARROU:
”Se o quadro municipal, com suas instituições características, permanece como o
quadro mais favorável ao pleno desabrochar da vida civilizada,o quadro normal da vida
grega, ele não é mais o quadro necessário, visto haver gregos, e vivendo à moda grega,
fora de cidades organizadas, como na khóra, a “terra baixa” do Egito. Não,o que une
todos os gregos, sem exceção, gregos da própria Grécia, imigrantes, aglomerados,
desdeo deserto da Líbia até às estepes da ÁsiaCentral, bárbaros,enfim, recentemente
helenizados é o fato de buscaremeles adaptar-se a ummesmo tipo ideal de humanidade,
o fato de terem recebido a mesmaformação orientada para esse fim comum – a mesma
educação”. (1973, p. 159).
Ao acompanharmos a odisseia de Habrócomes e Antia, nos inserimos, portanto,
nos moldes da antiga narrativa grega de viagens, no amplo contexto do mundo habitado
de então. Tal é a hipótese que motiva a presente pesquisa, ou seja, as viagens de Os
Efésiosnão só representam uma característica do romance grego como tal, mas também
um recurso de que se vale o autor para acentuar a aventura amorosa, ao longo de um
percurso marcado pelo sincretismo religioso. Em Os Efésios, Habrócomes e Antía,
depois de se casarem, saem em viagem de núpcias, mas acabam sendo sequestrados por
piratas e, posteriormente, cada vez mais afastados um do outro. As terríveis vicissitudes
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pelas quais passa o casal apaixonado ao longo da história, como, por exemplo, os ataques
de piratas, os naufrágios, os raptos, tanto de Habrócomes quanto de Antia, a escravidão
no cativeiro, os maltratos e muitas outras enfim, põem à prova o seu amor, mas eles
perseveram, não apenas no amor, não traindo os juramentos, mas também na devoção às
divindades protetoras – como Ártemis, Hélio, Ísis e Ápis, sendo agraciados ao final com
o reencontro e a felicidade tão ansiada. Há que se destacar que todas essas vicissitudes,
inclusive o final feliz, são influenciadas por Eros, o deus do Amor. Daí o erotismo como
fio condutor da odisseia de Os Efésios.
As peripécias vividas pelo casal se passam, basicamente, no Mediterrâneo
Oriental: a Jônia, no litoral da Ásia Menor, as ilhas de Rodes e de Chipre, a Síria, o
Egito e também nas regiões romanizadas, antigas colônias gregas, como a Sicília e o sul
da península itálica, denominada Magna Grécia, não apenas devido à maior dimensão
territorial dessa região, mas também ao maior tamanho das propriedades às quais
poderiam ter acesso os colonos gregos aí radicados. A geografia de Os Efésios abrange,
por conseguinte, uma vasta área do ecúmeno, banhada pelo Mediterâneo Oriental.
Partiu-se, então, da própria Éfeso, a fim de reconstruir a trajetória vivenciada por
Habrócomes e Antia, em sua odisseia amorosa pelo mundo globalizado sob a égide dos
romanos. Entende-se que a literatura helenística, tantas vezes considerada “decadente”,
por se inserir em tempos pós-clássicos, pode vir a revelar, sob a ótica de um estudo
minucioso e aprofundado, novas soluções e propostas estéticas num âmbito geográfico
bastante transformado,apesar de unificado em toda a sua diversidade. Essas novas
propostas refletem, no entanto, uma continuidade com a chamada herança clássica da
literatura grega, e essa continuidade se evidencia, em grande parte, na constatação de
que praticamente todos os escritores gregos - poetas e prosadores, serem escritores e, ao
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mesmo tempo, eruditos que estudaram profundamente toda a literatura anterior, tanto de
um ponto de vista filológico, quanto crítico.
No entanto, para melhor entender essa continuidade cultural, há que ressaltar,
mais uma vez, que,a partir do século IV a. C., no plano político, as conquistas de
Alexandre não apenas mudaram inexoravelmente o mapa do mundo antigo, mas
também abalaram para sempre os quadros tradicionais da cultura grega hegemônica do
período clássico. A organização estatal passa a ser a de monarquia absoluta, onde o
soberano é, na maioria das vezes, divinizado. Despontam assim as grandes dinastias
helenísticas, comandadas pelas elites greco-macedônias: a dinastia dos Antigônadas, na
Macedônia e na Grécia, a dos Selêucidas, na Síria, Mesopotâmia e Pérsia, a dos
Atálidas, na Ásia Menor, e a dos Lágidas, no Egito. Os parâmetros de organização
social típicos da Grécia até então, com as divisões básicas entre escravos, estrangeiros e
cidadãos, são sucedidos por sociedades muito mais cosmopolitas e diversificadas, onde,
pela própria natureza das coisas, não se poderia mais conceder tanta ênfase na distinção
entre cidadãos e estrangeiros. Esse novo modelo social não se torna, por isso mesmo,
mais democrático, uma vez que o espaço de construção da cidadania ficou então muito
mais restrito, devido à própria estrutura política das sociedades em questão. Em termos
econômicos, no mundo grego dos séculos V e IV a. C., considerado posteriormente
como a época clássica da Hélade, a organização das póleis gregas era alicerçada,
sobretudo, no trabalho escravo; já no mundo helenístico do século III a. C. em diante,
essa organização vai sendo substituída por novos ordenamentos que visavam uma
melhor exploração econômica de áreas muito maiores, com a absorção mais ou menos
servil da mão de obra campesina, um traço típico das monarquias orientais. O comércio
então se expande de modo nunca visto na área em questão, aproveitando os indivíduos
empreendedores as facilidades proporcionadas por um domínio político muito mais
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extenso, e gerando assim bem maior circulação de riquezas e variedade de produtos à
disposição dos consumidores. O centro do mundo helênico, no Mediterrâneo Oriental,
desloca-se agora para a cidade de Alexandria do Egito, que se torna a maior metrópole
desse ecúmeno mediterrâneo. O Egito dos Lágidas torna-se, consequentemente, o estado
mais forte do orbe helenístico, desenvolvendo uma atividade econômica bastante
variada, metódica e burocratizada, e buscando impor-se como potência militar aos
outros estados do Mediterrâneo Oriental. Como consequência direta de todo esse
poderio político, militar e econômico, sucedem grandes mudanças culturais,
desenvolvendo-se as ciências, as artes e o saber em geral, e sobressaindo,
particularmente, a literatura. É necessário também notar que todo esse grandioso
desenvolvimento cultural se dá no âmbito da civilização exclusivamente helênica, uma
vez que as elites greco-macedônias governavam o Egito como uma terra destinada,
acima de tudo, a ser explorada, fazendo com que Alexandria se destacasse como a
grande metrópole incrustada num país estranho, onde a vida cotidiana dos camponeses
seguia adiante, marcada pela milenar cultura da terra dos faraós. Os sincretismos
culturais, nesse contexto helenístico, se deram a nível popular, e, embora muito
interessantes, a sua influência sobre a literatura grega das elites governantes parece não
ter sido muito profunda.Enfim, nunca é demais chamar a atenção para o contexto do
mundo helenístico, marcado por novas relações de produção numa formação social
multivariada. Tudo era novo para os gregos de então, toda a sua existência se afigurava
agora profundamente transformada, em comparação com a vida cotidiana no mundo
grego centrado nas póleis, alicerce da grandeza helênica dos séculos anteriores. A
percepção dessa variedade vai se refletir profundamente nas práticas literárias da época,
com a ascensão de Prolomeu II Filadelfo (3) ao trono do Egito, em 285 a. C. Esse
notável monarca dá continuação aos empreendimentos iniciados pelo pai - Ptolomeu I
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Sóter -, (4) consolidando, em Alexandria, as bases de duas instituições fundamentais,
não somente para a produção intelectual da época, mas também para a própria história
da cultura universal – o Museu e a Biblioteca.O Museu, entendido,lato sensu, como um
lugar de culto às Musas,(5) apresenta-se, de fato, como um centro de saber científico e
filológico, onde atuam os maiores estudiosos da época. A Biblioteca de Alexandria, por
sua vez, sobressai como o centro de excelência para as pesquisas acadêmicas, onde, em
cumprimento às ordens reais, passava a ser recolhido todo o saber escrito até então
produzido no mundo conhecido, logo se tornando o repositório do maior acervo de
obras da Antiguidade.
Para ordenar e classificar esse imenso acervo, fez-se necessário o recrutamento
de mão de obra qualificada e especializada, incluindo aí os homens que se tornariam os
primeiros filólogos da História, chamados então de grammatikoí– dedicados à leitura e à
pesquisa de textos escritos. (6) Esses pesquisadores empreenderam um trabalho de
comparação das grandes obras de literatura existentes até então, com vistas a recuperar
os supostos textos originais dos mais variados autores, destacando-se, sobretudo, a
postura crítica na abordagem desses textos. Os eruditos alexandrinos foram os primeiros
representantes da crítica textual, dedicando o seu trabalho, particularmente, ao estudo
dos textos poéticos produzidos na antiga Hélade, ao longo dos quatro séculos anteriores,
com ênfase na obra de Homero. No que diz respeito à crítica textual homérica, assomam
figuras do porte de Zenódoto de Éfeso,(7) de Aristófanes de Bizâncio(8) e Aristarco de
Samotrácia,(9) o qual estabeleceu o texto por assim dizer canônico dos poemas
atribuídos a Homero, ainda hoje conhecido como a vulgata alexandrina. Todos os
estudos críticos anteriores dos textos homéricos praticamente desapareceram, só sendo
possível conhecê-los por meio das citações dos autores mencionados acima, ou ainda
por fragmentos papiráceos que nos chegaram às mãos.
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Nesse contexto de grandes estudos e pesquisa, dispondo de milhares de papiros,
os primeiros Ptolomeus, particularmente, não mediam esforços para incentivar a cultura
erudita, movido igualmente pelo desejo de aumentar o seu prestígio, associando assim
saber e poder, com o objetivo de se munir dos instrumentos imprescindíveis para lidar
com os desafios do exercício do poder em meio ao novo contextoda sociedade
helenística.
A convergência de todos esses empreendimentos resultou na grandeza de
Alexandria, possibilitando o que se pode chamar dePeríodo Alexandrino, devido ao
centro de onde se irradiou toda essa produção intelectual, ou ainda de Período
Helenístico, por seu entorno cronológico, tendo como ponto de partida a morte de
Alexandre e o surgimento dos chamados reinos helenísticos. No ambiente literário da
metrópole dos Ptolomeus, a aliança do saber erudito com a arte poética, deu-se de um
modo até então inédito, ensejando os chamados poetas eruditos, devotados ao estudo
aprofundado dos autores helênicos e ainda produzindo, eles também, as suas próprias
obras literárias. É preciso ainda assinalar que tais autores, bastante ciosos dos princípios
estéticos que regem as suas produções, representam um grupo bem reduzido e que
procura, acima de tudo, diferenciar-se, não apenas uns dos outros, mas também em
relação aos seus predecessores, assumindo uma postura, de certa forma, semelhante ao
que entendemos hoje como uma espécie de poética de vanguarda.
O assim chamado Período Helenístico é, por conseguinte, um momento histórico
bastante definido e que corresponde, geograficamente, a um mundo marcado pela
tradição literária: o Oriente Próximo helenizado. Beirando o Mediterrâneo Oriental,
conquistado por Alexandre Magno, governado por seus sucessores e logo submetido ao
Império Romano, o Oriente Próximo helenizado, apesar de toda a diversidade étnica e
cultural, não deixava de inspirar uma unidade cultural que se afigurava impressionante,
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cuja língua de expressão era o grego helenístico, o dialeto comum mais conhecido como
grego koiné, o qual,como língua universal, unia culturalmente os povos mais diversos.
Assim sendo, os cidadãos do Egito, da Fenícia, da Síria e de outros países e rincões do
Oriente Próximo, além de suas tradições locais, compartilhavam de uma tradição
literária de língua grega comum.
Devido à expansão do poder de Roma, especialmente depois da derrota do rei
macedônio Perseu, (10) com a consequente criação da província da Macedônia, o
número de colonos romanos provenientes principalmente do sul da Itália aumentou
significativamente na área do Mediterrâneo Oriental. Ademais, uma vez que o papel
desempenhado pelos romanos na vida econômica da Grécia foi se tornando cada vez
mais importante, a sociedade e a cultura de Roma vieram a ser bastante influenciadas
pela nova paideia grega. Os empreendedores romanos dedicados ao comércio e
atividades afins, os quais, chegando à Grécia, tiveram oportunidade de adquirir
propriedade fundiária, passaram a exercer um papel ativo na vida política, social e
religiosa das cidades helênicas onde se estabeleceram, e logo se adaptaram ao modo de
vida dos gregos. Esses romanos trouxeram consigo muito dinheiro para investir nesse
novo contexto, o que contribuiu para o declínio das elites das cidades gregas. A
crescente influência política e o avanço de Roma no Mediterrâneo Oriental durante o II
século a. C., resultou assim na instalação de famílias romanas na Macedônia e no
restante da Grécia. Desta forma, as relações comerciais entre a Itália e a Grécia, que
haviam sido interrompidas por causa das guerras cartaginesas, foram retomadas,
propiciando assim uma nova nacionalidade em regiões de cultura grega.
Nesse mundo helenizado, onde a escrita já é usual entre as comunidades
urbanas, veio a surgira narrativa grega de viagens, que pode ser considerada uma nova
vertente da literatura grega tardia.A partir dos fragmentos disponíveis, pode-se deduzir
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que esse tipo de narrativa, o romance grego, inspirada na literatura clássica do passado,
parece ter alcançado uma produção muito mais ampla, estendendo-se do século I a. C.
ao século V.(11)Não obstante a constatação de aspectos exóticos na trama de alguns
desses romances, e sendo os seus autores, em sua maioria, de proveniência oriental, é
evidente que a inspiração fundamental proveio das grandes obras da literatura grega,
desde a épica de Homero.
Muitos expoentes do Período Helenístico, os quais se destacaram, não só na
literatura, mas também na arquitetura, na filosofia e demais atividades do espírito,
vieram do Oriente Próximo, não raro de regiões ainda mais distantes da Grécia. Um
exemplo típico desses luminares é Lucianode Samosata. (12) Também salta aos olhos
do estudioso o fenômeno conhecido como renascimento aticista, impulsionado pela
Segunda Sofística,um movimento literário surgido no século II. Uma das atividades
características desse movimento consistia na declamação retórica de determinado tema
fictício, imaginário, onde a criatividade, a beleza do discurso e a preocupação com os
detalhes eram marcas fundamentais.Os representantes da Segunda Sofística, em sua
maioria, não eram oriundos da Ática, mas o movimento também contribuiu para a
retomada dos estilos e das temáticas desenvolvidas pelos autores da antiga Grécia. Em
consequência, o público a quem se dirigiam as narrativas gregas de viagens
participavaativamente dessa nova mundividência ecumênica, marcada pelo uso do grego
comum e pela cultura helenística de cunho retórico.
Pretendeu-se, então estudar Os Efésios como uma narrativa de viagenssituada no mundo
helenísticos do ecúmeno greco-romano. Assim sendo, a nossa jornada compreendeu as
seguintes etapas metodológicas: no Capítulo 2 – O romance grego: origens e
características, retomando-se o estudo iniciado na dissertação de Mestrado, são
abordadas, em 2.1 – Origens, as origens do romance grego, e em 2.2 – Características,
algumas das principais características desse relato amoroso; no Capítulo 3 – Os Efésios
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de Xenofonte de Efeso, trata-se, particularmente, em 3.1 – O autor, dos dados
disponíveis a respeito de Xenofonte de Éfeso, e, em 3.2 – A obra, do enredo e de
algumas caracterísiticas mais específicas do romance em questão; no Capítulo 4 – A
odisseia amorosa de Habrócomes e Antia: um kósmos oikoúmenos, descortina-se o
percurso literário-geográfico de Os Efésio;assim sendo, em 4.1 -Uma abordagem
pragmática, é apresentada a metodologia seguida na presente pesquisa,privilegiando a
análise do discurso literário isto é o estudo da língua em contexto; em 4.2 - Um resumo
de Os Efésios, destacam-se, com o auxílio de mapas em anexo (Anexo 2), os lugares
mais importantes inseridos na odisseia dos jovens apaixonados (em negrito), o Amor
como fio condutor da narrativa (em itálico) e algumas divindades atuantes, no
sincretismo religioso de então (sublinhado); em 4.3 – Lugares comuns, concede-se
especial atenção à noção de lugar comum, - o tópos - , nos modos como se manifesta na
obra estudada; em 4.4 – O sincretismo religioso, aborda-se, detalhadamente, o
sincretismo religioso, sem dúvida um das características mais marcantes da odisseia de
Habrócomes e Antia; daí a abordagem das principais divindades atuantes no romance:
Eros, Ártemis, Apolo, Hélio, Ísis, Ápis e o rio Nilo; assim, essa seção se divide em:
4.4.1 – Eros, realçando-se, em 4.4.1.1 – O Amor: fio condutor da narrativa, a influência
decisiva do deus ao longo do percurso amoroso; 4.4.2 - Ártemis; 4.4.3 – Apolo; 4.4.4 –
Hera; 4.4.5 – Hélio; 4.4.6 – Ísis; 4.4.7 – Ápis; e 4.4.8 – o rio Nilo;encerrando o capítulo,
em 4.5 – Éfeso: começo e fim da odisseia amorosa, aborda-se a cidade de Éfeso, ponto
de partida e chegada da odisseia dos amantes, como evocando, ao seu modo, a Ítaca de
Homero; assim, são destacados os preparativos para a viagem dos recém-casados e a sua
partida, bem como o seu regresso feliz à terra natal. No Capítulo 5, tem-se a tradução
integral de Os Efésios, com base no texto estabelecido pela helenista francês George
Dalmeyda, Les Ephésiaques ou Le Roman d’ Habrocimès et d’ Anthia, em2ª edição,
publicado, em 1962, pela Société d’ Edition Les Belles Lettres, considerada a melhor
edição da produção do Período Helenístico. Cumpre ressaltar que, embora não se tenha
pretendido, no presente estudo, obter informações detalhadas acerca dos dados textuais,
foi feito o cotejo com o texto espanhol publicado pela Editora Gredos e traduzido por
Julia Mendoza, e, ainda, com o estudo de James N. O’Sullivan, intitulado Xenophon of
Ephesus: His Compositional Technique and The Birth of Novel,cujos comentários
acerca do romance se mostraram de grande valia para a pesquisa. Seguem-se a
Conclusão, a Bibliografia e as Notas, e, ainda, em anexo, (Anexo 1) o texto grego de Os
Efésios, disponível Perseus Digital Library, editado por Rudolf Herche,e (Anexo 2) os
23
mapas : 1- Geografia do romance (Grécia e Roma); 2- Percurso detalhado das viagens
de Habrócomes e Antia. Em suma, foi esse o roteiro traçado e seguido no presente
estudo.
Enfim, espera-se que o resultado atual da pesquisa, - esta tese que ora se
apresenta -, venha servir de estímulo e auxílio, não apenas aos que se interessam pelo
antigo romance grego, mas também pela cultura clássica,pela literatura em geral,
particularmente o romance como gênero literário, e por áreas de estudo afins e mais
além...
24
2. O ROMANCE GREGO: ORIGENS E CARACTERÍSTICAS
Ao se estudar as origens e as características do gênero que viria a ser conhecido
como “romance grego”, retomou-se a pesquisa realizada na Dissertação de Mestrado –
O Romance Pastorais: Dáfnis e Cloé: A Influência das Estações do Ano no Significado
da Obra.
2.1 Origens
No começo do século III a. C., a tecnologia da escrita já estava disseminada
praticamente por todo o mundo grego urbanizado. Na cosmopolita Alexandria, o centro
político e cultural do Mediterrâneo Oriental de então, a escrita era usada, nos diversos
graus de letramento, para registrar os mais variados tipos de atividades, do aparato
burocrático de estado aos trâmites comerciais os mais comezinhos. O papiro, o material
de apoio mais comum, facilitava a divulgaçãodos textos na grande metrópole. Funda-se
aí a Bibliotecane Alexandria. A Biblioteca começou a ser formada ainda no governo de
Ptolomeu I Sóter, o Diádoco sucessor de Alexandre. O poderoso regente tinha em vista
arrolar todo o conhecimento disponível, possibilitando assim armazenar a memória do
mundo conhecido. Ptolomeu II Filadelfo, que lhe sucedeu, deu seguimento aos
empreendimentos iniciados pelo pai, desenvolvendo o Museu e a Biblioteca. E com
Ptolomeu III Evérgete,(13)que governou em seguida o Egito, a Biblioteca veio a
alcançar um acervo impressionante, até então jamais visto, incluindo, possivelmente,
uns quinhentos mil rolos de papiro. O Templo de Serápis, o Serapeu, por sua vez,
abrigava cerca de quarenta mil rolos. Uma anedota famosa dizia que quando um navio,
contendo livros ainda não adquiridos pela Biblioteca, aportava em Alexandria, os seus
proprietários tinham de emprestar os rolos para que os copistas da instituição pudessem
providenciar as cópias, e enquanto eles não terminassem a tarefa, não devolviam os
25
livros. Muitas doações e outros tipos de empréstimos também concorreram para o
incremento do monumental acervo, tão grandioso que certamente nenhum homem
poderia lê-lo na totalidade.
Nessa civilização da Paideia, muitos indivíduos abastados não mediam esforços
para contratar tutores particulares para que ensinassem seus filhos. Basta citar aqui o
exemplo maior de Alexandre, cujo pai, Filipe, o rei da Macedônia,recorreu a ninguém
menos que Aristóteles, o grande filósofo ateniense de Estagira, para preparar o futuro
conquistador do mundo conhecido. E Alexandre aproveitou a oportunidade, dedicandose ao conhecimento dos mitos e do pensamento, enfim, da cultura e da obra dos gregos.
O Magno apreciava a literatura épica e cultuava com devoção a poesia de Homero, o
autor maior de toda a Paideia. Consta que trazia sempre consigo a Ilíada, literalmente
seu livro (rolo) de cabeceira, e que gostava de ouvir as histórias ao redor da fogueira até
bem tarde da noite, não apenas para se deleitar, mas também para não ceder ao sono e
abrir a guarda ao inimigo. As leituras públicas, por sua vez, contribuem para reforçar a
associação entre oralidade e escrita, própria dessa Paideia, num ambiente cultural onde a
oratóriacontinua a desempenhar um papel central na vida política e no cotidiano dos
homens.
Nesse contexto de erudição e pesquisa, onde a filologia empreende passos
decisivos na formação do homem, faz-se necessária a função do bibliotecário. Como
sugere MILANESI (2002, p. 16):
Quando o primeiro organizador, talvez de papiros, explicou a um auxiliar como
fazia para manter o controle sobre milhares de rolos, ou contou a uma visita a sua
engenharia para dominar aquele mundo de sinais desenhados à mão sem correr o risco
de ser afogado por eles, estava estabelecendo as regras.
26
Calímaco de Cirene,(14) ainda que não tenha desempenhado propriamente a
função de bibliotecário, toma a si oencargo de registrar em catálogo (cerca de cento e
vinte rolos) as obras da Biblioteca. Surgem também os manuais, rolos de papiro
menores e mais curtos, facilitando em muito a leitura.As listas de livros (rolos) em
ordem alfabética adquirem uma função prática, até então inusitada. A Biblioteca de
Alexandria deixa de ser assim mero depósito de textos e passaa ser um grande centro de
informações sistematizadas, ensejando o aprendizado fundamentado da palavra escrita.
Todas essas transformações no mundo das letras, primeiro no âmbito dos reinos
helenísticos, e depois já sob a dominação romana, levam os utentes da escrita a não
mais registrar simples informações e apontamentos, mais também a expressar o que
pensam a respeito das coisas. Nesse admirável mundo novo do papiro, surge então um
novo gênero literário: o romance. (15) Fischer (2006, p. 55) assim se refere ao
fenômeno:
“Foi então que surgiu um gênero literário inédito, o qual, no decorrerdo milênio
conquistaria o mundo: o romance. Um dos primeiros romances que sobreviveram em
sua totalidade, talvez datado do século II, começa assim: ‘Meu nome é Cáriton de
Afrodísia e sou funcionário do advogado Atenágoras. Vou contar-lhes uma história de
amor que aconteceu em Siracusa’... (16) Foi a primeira grande era de histórias de amor,
o tipo de narrativa que só muito depois ficaria conhecido como romance(palavra
derivada do francês romanz, que significa ‘uma obra escrita na língua vernácula’).
Assim como muitas obras populares de hoje, o romance grego antigo era recheado de
histórias de amor.” (17)
No mundo helenístico da poesia de corte, o romance vem, com sua prosa fluente,
romper com o engessamento das formas consagradas do passado, e aproximar-se do
27
individuo como uma pessoa, em sua ânsia de ser feliz num mundo onde o quadro da
pólis não mais proporciona a garantia de uma realização coletiva. O romance
Babilônicas, provavelmente escrito no século I, e do qual só nos restaram fragmentos,
pode ser considerado um modelo dos romances gregos que teriam vindo depois,
ostentando desde já duas características marcantes desse tipo de narrativa: a geografia
além-fronteiras do mundo helênico e a temática centralizada em Eros, o Amor, afinal de
contas o fio condutor que move os jovens apaixonados em busca da felicidade. Trata-se
de uma obra curiosa, onde o rei Nino da Babilônia, além de realizar feitos memoráveis
dignos de um grande soberano, dedica um amor a toda prova à jovem Semírames,
princesa muito bonita e virtuosa.
Os enredos dos romances gregos são muito semelhantes, pois possuem,
essencialmente, os mesmos motivos, e seguem o mesmo esquema narrativo, embora
cada obra não deixe de se mostrar original em sua trama. As narrativas seguem, em
linhas gerais, o seguinte roteiro (aqui já destacado): dois jovens, um rapaz e uma moça,
dotados de grande beleza, se encontram, e imediatamente se apaixonam. E a paixão é
tão intensa, que só o casamento pode resolver a aflitiva situação dos amantes.Contudo,
os jovens se conhecem, se apaixonam e se separam logo em seguida, devido a
circunstâncias as mais variadas: discordâncias dos pais, sequestros, naufrágios, ataques
de piratas, mortes aparentes, disfarces imaginativos, enfim, os apaixonados se deparam
com toda sorte de obstáculos, que só serão superados no final da narrativa. Em alguns
romances, o casamento dos jovens acontece logo no começo da história, mas em outros,
a cerimônia só se realiza no fim da jornada. De qualquer modo, o desfecho da obras
coincide com o tão ansiado reencontro e o final feliz.
Descortinam-se assim novos caminhos para a ficção. Mas pode ser que, não
integrados à Paideia, os romances não tenham desfrutado tanto assim de grande
28
popularidade entre o público leitor, se levarmos em consideração os poucos fragmentos
restantes, ainda que disponhamos de um número significativo.Essas narrativas
romanescas possibilitavam um entretenimento descompromissado, destinando-se,
particularmente, a um público feminino culto em busca de uma leitura amena, distante
dos épicos guerreiros e dos dramas vividos no teatro, mais apreciados pelos homens.
Não obstante, a recepção desses romances perdurou por mais ou menos cinco séculos,
começando a decair entre os séculos VI e VIII. Posteriormente, os eruditos bizantinos
lograram recuperar a popularidade dos romances durantes os séculos IX e X,
possibilitando o seu acesso aos árabes, aos espanhóis e aos futuros leitores de toda a
Europa.
.
O romance grego como relato amoroso de viagens viveu o seu momento maior
por volta do século II, e continuou a ser produzido até o fim da dominação romana da
Grécia, alcançando ainda o Império Bizantino. Assim sendo, a produção do gênero
abarca um longo período de mais ou menos cinco séculos. De acordo com os
estudiosos, pode-se traçar um quadro cronológico aproximado, onde as obras cujos
títulos nos chegaram são datadas como se segue:
1) Nino e Semírames (provavelmente escrita no século II a. C.);
2) Queréas e Calírroe, de Cáriton de Afrodísia (século I a. C ou século I);
3) Os Efésios (As aventuras de Habrócomes e Antía), de Xenofonte de Éfeso
(possivelmente escrita entre o século I e II) – objeto de estudo da presente pesquisa;
4) Babilônicas, de Jâmblico (possivelmente de meados do século II);
5) Leucipa e Clitofonte, de Aquiles Tácio (de fins do século II);
29
6) Entre as obras provenientes do século II, foram ainda descobertos papiros com
fragmentos dos romances Megamedes e Quínoe,fragmentos de Hérpilis,Metíoco e
Partenope,CalígonaeFenícias, de Loliano, e Sesoncoses;
7) Dáfnis e Cloé, de Longo Sofista (datada, provavelmente, do século II) objeto de
estudo da Dissertação O Romance Pastorais: Dáfnis e Cloé: A Influência das Estações
do Ano no Significado da Obra, que ensejou a pesquisa que resulta na tese ora
apresentada;
8) Etíopes ou Teágenes e Claricléa, de Heliodoro (século III ou IV).
2.2 Características
O romance grego, surgido no período helenístico, apresenta-se como um dos
gêneros literários mais difíceis de ser classificado, como fica evidente quando se recorre
aos estudiosos do assunto. Não obstante essa dificuldade, o novo tipo de narrativa não
emerge na literatura grega como uma flor exótica e estranha ao seu desenvolvimento,
inserindo-se, de qualquer forma, na longa tradição já consolidada como clássica pela
cultura helênica.Partindo dessa constatação, ao abordar as características desse novo
gênero,GUAL(1972, p. 25)conclui que “o romance, esse filho tardio de uma família
outrora nobre e pródiga, ostenta roupagens pitorescas, compostas de remendos
matizados dos antecessores maiores, e traz ainda em suas malhas relíquias gloriosas,
como numa loja de retalhos”.
PERRY (1967, p. 3), por sua vez, um dos pioneiros nos estudos sobre o tema em
questão, e cuja obra, intitulada The Ancient Romance: A Literary-Historical Account of
their Origins, ainda é referência em qualquer pesquisa sobre o assunto, afirma que seria
melhor nos referirmos ao romance grego, como uma novela, com todas as suas
implicações associadas à ficção moderna, e não como um romance, termo de significado
30
mais amplo, comumente associado a algo já fora de moda. Mas o autor acrescenta, logo
em seguida, que o termo romance, como aplicado na Europa (roman, romanzo), inclui
tudo o que queremos dizer quando nos referimos a novela, incluindo ainda outros tipos
de narrativas a serem consideradas. E conclui:
“... e a palavra romance, neste caso, no sentido ocidental, é tão conveniente nos vários
contextos e torna-se tão familiar e pertinente no texto crítico sobre o nosso objeto de
estudo (o romance grego), ainda que em inglês, que eu mesmo fico inclinado a usar este
termo em todos os momentos. Nada, certamente, é criado para depender de uma
definição precisa de um termo qualquer, mas ambos os termos aqui são usados, em um
sentido amplo, como equivalentes, na falta de uma terminologia mais exata e
conveniente”. (18)
Também Hägg (1983, p. xi), ao tratar da questão da nomenclatura a se adotar em
relação ao novo gênero, chama a atenção do leitor para a complexidade do assunto:
“Uma introdução ao romance antigo envolve necessariamente o uso de
numerosos termos, conceitos e nomes que podem ser desconhecidos para aqueles que
não lidam com a Antiguidade Grega e Romana. Muitos dos termos são explicados de
acordo com a sua primeira ocorrência, e é conveniente tratar com mais ênfase uns do
que outros “
Ainda de acordo o autor, a expressão Romance Grego vai sempre remeter ao
Grego Antigo ou, possivelmente, ao Grego Bizantino, mas nunca ao Grego Moderno.
Acresce qua a paixão da narrativa, mais uma vez, aqui se faz presente,
abeberando-se nas inesgotáveis fontes da milenar contação de estórias, alicerçada na
oralidade primária. Trilhando os caminhos da prosa, propícios à maior liberdade de
expressão, a narrativa romanesca transcende os limites impostos pela prática
31
poéticaentão vigente, logrando aproximar-se das camadas populares externas ao
ambiente da corte palaciana e sua Paideia. Mas ao adentrar pelos caminhos da inovação,
essa narrativa não deixa de se inspirar nos cânones da prosa vigente, buscando afirmarse e ser reconhecida como uma práticaliterária. Temos aqui, como ressalta HORTA
(1984, 56-7), ao aborda os relatos amorosos, uma convergência de influências. A
primeira dessas influências, os autores de romances vão buscá-la nas práticas e nos
recursos dos oradores, cujos escritos moldam-se na prosa artística indispensável a quem
se aventura pelas vias da escrita. Outra presença marcante nesses romancesé a da
epopeia, com a busca de novos horizontes, onde os heróis vivem grandiosas aventuras,
numa odisseia por mares desconhecidos, onde o contato com os deuses, as alteridades e
personagens diversas, fazem aflorar um mundo de proporçõesfantásticas e mágicas,
ainda que acentuadamente homérico em sua dimensão humana. Também as narrativas
de Heródoto, em seu modo original de referir-se ao passado, transmitindo e comentando
os mitos (histórias) e contos recolhidos em suas viagens, muitas vezes em forma de
leitura em voz alta, por ocasião dos grandes encontros pan-helênicos, vêm inspirar os
romancistas em busca de personagens históricos para as suas tramas verossímeis. E o
teatro, particularmente o drama de Eurípides, com sua ênfase nas paixões amorosas,
encarnadas sobretudo nas personagens femininas, propiciará aos cultores do novo
gênero, a ênfase na força do destino, a marca do reconhecimento, as situações ambíguas
dos heróis e a sua luta contra a adversidade. Entretanto, de modo diverso da tragédia em
geral, caracterizada pela catástrofe, o romance grego opta por um final feliz. Já da
chamada Comédia Nova, como uma comédia de costumes, o romance buscará a
inspiração para a tessitura da trama. Com efeito, o enredo das narrativas romanescas
lança mão de vários recursos típicos dos comediógrafos do século IV a. C., num mundo
onde as póleis gregas perdiam a sua autonomia, diante do novo poder macedônio.
32
Podemos citar, por exemplo, as viagens fracassadas, os sequestros, apresamento por
piratas, a venda de pessoas livres como escravas, amores contrariados por motivos os
mais diversos e o feliz desenlace, compensando todos os inenarráveis sofrimentos
vividos pelos heróis protagonistas. Todos esses assuntos eram levados em consideração
e utilizados pelos mestres de retórica em trabalhos escolares e declamatórios.
Outra das caracterísitcas marcantes do romance grego é o sincretismo religioso,
próprio de uma época onde o culto formal das divindades gregas se transforma com a
perda de poder políticodas cidades. Os deuses passam a desempenhar o papel de
protetores das personagens das narrativas, ou então a persegui-las, quando se sentem por
elas ofendidos. No romance grego, aparece em primeiro plano a relação do indivíduo
com a divindade de sua devoção particular, recorrendo este indivíduo a mais de um
deus, se assim for necessário.
Levando também em consideração o gosto popular pela narrativa, Niklas
Holzberg (1995, p. 1), ao estudar o romance grego,compara-o com os seriados e novelas
de televisão que o público atualmente assiste e acompanha com atenção, diuturnamente:
“A grande parte do público que consome este tipo de entretenimento
provavelmente não tem noção de que a literatura da Grécia Antiga, a qual, geralmente, é
idealizada como erudita, em termos de conteúdo, e bastante elevada, mas nunca como
divertida, pode vir a oferecer ao leitor algo, em certos aspectos, extraordinariamente
similar: uma excelente coleção de narrativas de ficção. Algumas dessas narrativas estão
completas; doutras, restaram apenas fragmentos; e outras, ainda, perderam-se
inteiramente. O embrião dessas obras como gênero, provavelmente, está situado no
Período Helenístico tardio, e elas começaram a aparecer entre os séculos I e II”. (19)
33
Ainda de acordo com GUAL (1972, p. 26), pode-se dizer, então, que o romance
grego antigo não é um produto clássico, mas traz consigo características fundamentais
da cultura literária clássica. Embora ele não seja mencionado nas poéticas da
Antiguidade e não disponha de regras de composição afixadas, percebe-se, em sua
forma,o aproveitamento de vários recursos básicos em toda a literatura anterior: o verso,
a prosa, o lirismo, as digressões geográficas e filosóficas, a linguagem cotidiana, o estilo
poético, o diálogo direto ou epistolar, a narração em primeira pessoa alternando-se com
a descrição impessoal na tessitura da trama, semelhante a um “rio de curso torrencial”.
Por conseguinte, o romance, como gênero, carece de uma forma canônica e de uma
medida padrão, apresentando-se “em aberto”, característica que o distingue das formas
literárias definidas no chamado período clássico da Grécia.
Conclui GUAL (1972, p.26) que, resultante de uma “liasion” entre o verso
antigo e os variados matizes da historiografia helenística, o romance grego de amor
pode assim ser considerado uma espécie de “filho bastardo” que nenhuma Arte Poética
da Antiguidade ousou apresentar à aristocrática sociedade literária dos cânones gregos.
Por consequência, esse novo gênero ficou sem denominação, não obstante ele seja um
amálgama de todos os gêneros e herdeiro de toda a literatura grega anterior,
caracterizando-se pelo sincretismo de sua estrutura, posto que o romance valeu-se de
quase todos os recursos dos demais gêneros da literatura.
O sincretismo que caracteriza o romance grego tem a ver ainda com a complexa
sociedade que o produziu. É a expressão de um sentimento de vida bem diferente do
sentimento da época clássica. Se o indivíduo da pólis grega apreciava o contexto bem
delimitado e definido, o cidadão dos reinos helenísticos ou do Império Romano, que não
participava do governo, está inserido em um contexto político muito diverso, num
mundo aberto, onde a complexidade das relações sociais vigentes no ecúmeno
34
cosmopolita e a imprecisão das fronteiras de seu torrão natal marcavam profundamente
a sua existência.
.
A erudição do período clássico, em geral, procurava se distanciar de muitos
aspectos da vida comezinha, considerados por ela de pouco valor para a arte tida como
elevada; até mesmo a poesia lírica, voltada para os sentimentos mais intensos e
delicados do indivíduo, em seu momento presente, não deu importância maior aos
aspectos mais comuns do cotidiano. E só as grandes figuras podiam ocupar a cena
trágica ou o primeiro plano da narração histórica. No romance grego, no entanto, havia
lugar para os tipos medianos e para os sentimentos mais corriqueiros, cuja valorização
era uma característica típica da sociedade florescente na época. O distanciamento
aristocrático anterior entre a arte e a vida cede espaço no romance, que acolhe em sua
prosa os aspectos mais rotineiros, de personagens mais humildes, de características
simplórias e pitorescas. Diante do estilo rebuscado da grande arte anterior, o romance
grego iniciante parece caminhar a passos muito pequenos, quando o comparamos, por
exemplo, com o cenário característico da comédia, em suas várias fases, Antiga, Média
e Nova, centradas no âmbito da pólis, onde seus cultores lançaram mão dos contrastes
os mais variados, ainda que sem vislumbrar horizontes mais vastos.
O romance grego é também chamado de “romance de aventuras”, ou ainda,
“romance de aventuras e provações”, pois, como assinala Mikhail Bakhtin (1993,
p.213), consiste numa forma original de narrativa em prosa que descreve uma história,
cujo enredo tem como ponto de partida o primeiro encontro do herói com a heroína e a
repentina e avassaladora paixão que deles se apossa, fazendo com que o leitor, desde o
começo, anteveja o ponto de chegada da trama – o final feliz, envolvendo-se
emocionalmente e torcendo pelo sucesso dos amantes. Entre esses dois polos que
delimitam o enredo, no entanto, medeia um espaço temporal onde se desenrolam as
35
aventuras vividas pelo casal, as quais serão desenvolvidas de modo engenhoso e
cuidadoso, com variados matizes e particularidades muito específicas. Esse tempo
intermédio aparece como uma espécie de hiato entre os dois momentos marcantes do
tempo biográfico, o encontro inicial dos amantes, sob a influência do amor, e o
reencontro final, com a realização do desejo amoroso. O tempo entre o ponto de partida
e o ponto de chegada do romance grego não deixa vestígios, nem marcas sobre o caráter
ou a vida dos heróis protagonistas. Tampouco estão presentes quaisquer marcas do
tempo histórico característico de uma época. Na mais ou menos longa sequência de
aventuras situada entre o começo e o fim da história romanesca, o tempo se caracteriza
em cada uma dessas vicissitudes, como um tempo exterior ao tempo biográfico dos
amantes, em suas tentativas de se desvencilhar dos sucessivos obstáculos e alcançar,
enfim, o equilíbrio inicial, com a realização do amor tão ansiada. Bakhtin chama ainda a
atenção para as “concomitâncias (coincidências) e não concomitâncias (contratempos)”
que marcam o curso dos acontecimentos, assumindo a casualidade (a tykhe) papel
decisivo na sequência dos eventos, e esse tempo fortuito é o tempo onde irrompem as
forças irracionais na existência humana, com seus “de repentes” e “justamentes”. O
herói do romance grego aparece assim como um homem do acaso; os heróis agem no
tempo de aventuras, mas simplesmente como pessoas físicas, não lhes cabendo tomar a
iniciativa, ingressando no tempo de aventuras, movido por Eros, e procurando desse
tempo sair o tempo todo, até o reencontro com o ser amado e o final feliz. E quando se
considera o espaço onde têm lugar as ações no romance de aventuras, constata-se que
ele segue o esquema das grandes viagens, ou seja, os amantes se deslocam o tempo todo
de um lugar para o outro. Percebe-se, também, que esse espaço geográfico é bastante
amplo, incluindo, comumente, alguns países ou grandes regiões, separados pelos mares,
tais como a Grécia, a Pérsia, o Egito, a Babilônia, a Etiópia e outros mais. Acresce que,
36
inexoravelmente marcado pelo tempo do acaso, de coincidências fortuitas e não
coincidências, o romance grego, de modo geral, não se preocupa em descrever ou
caracterizar, mas apenas em evocar os lugares, os países e as regiões por onde passam
os heróis apaixonados, estranhos de passagem num mundo abstratamente estrangeiro. A
elaboração desse tempo de aventuras e o modo de sua utilização no romance grego são
tão originais em seu aprofundamento e totalidade, que virão a exercer uma influência
indelével sobre todo o romance de aventuras posterior, de modo a que este, apesar de
toda a sua diversidade, praticamente nada mais acrescente de original ao legado do
romance
grego.
Ainda
segundo
Mikhail
Bakhtin
(1993,
p.
215),
“num
cronotopocompletamente novo – um mundo estrangeiro no tempo de aventuras – os
elementos de vários tipos de gênero adquiriram novo caráter e funções particulares, e
por isso deixaram de ser o que eram em outros gêneros”.
LÉTOUBLON (1993, p. 60), referindo-se ao tópos como um lugar comum nos
romances gregos, aponta os lugares comuns mais recorrentes nessas narrativas: o
primeiro é o nascimento do amor dos adolescentes (o tópos por excelência, que impõe
um estado mais fresco, ingênuo e otimista dentro da narrativa). Este tópos primeiro
desencadeia outros tópoi que vão imprimir movimento à trama, colocando à prova a
força desse amor, são eles: os familiares dos jovens; o espaço exterior (geralmente o
encontro é na rua, em uma festa popular da cidade), a embarcação (os amantes viajam
pelo mar); os naufrágios; a pirataria; os sonhos; os oráculos; a prisão dos amantes; os
túmulos e as cavernas; os adversários do casal; a beleza “funesta. Todos estes tópoi
ocupam um espaço simbólico dentro da narrativa, representando as etapas de uma
viagem e, sobretudo, uma progressão interior dos personagens.”
No mundo estrangeiro e abstrato das narrativas romanescas, a imagem do
homem é a do indivíduo particular e privado, muito diferente do homem público e
37
politizado dos tempos de supremacia da pólis. O romance grego, é, portanto, mais uma
vez, testemunha da uma universalidade de expressão característica do ecúmeno.
Esse cosmopolitismo, no entanto, não impede que, particularmente, o talento do
autor de cada romance se evidencie em suas obras. Basta considerar o legado lesbiense,
com o bucolismo de Longo ou ainda o misticismo do sírio Luciano de Samosata.
SILVA (2011, p. 11), ao abordar para alguns aspectos precursores do romance
grego na obra de Eurípedes, como o exotismo em relação a Atenas, na peça Helena, por
exemplo, chama a atenção do leitor para a amplicação do espaço que o romance virá a
ter – toda a bacia do Mediterrâneo Oriental. Mas a tragédia clássica realça a solidão ou
desproteção das personagens, circunscrevendo-as ao âmbito da pólis, ainda que em
meio à crise política, social e ética. E conclui SILVA:
“ Nesse caso, o horizonte estranho que a tragédia em geral se permite é Troia ou
a Pérsia, esse oriente próximo onde os gregos testaram, pela primeira vez, a sua
identidade em contato com um mundo bárbaro que se lhes desvendava. De toda a
maneira, esse encontro com o mundo extrafronteiras tem uma motivação coletiva,
movimenta exércitos em campanha, representa objetivos de conquista. Com o tempo,
porém, a evidente decadência das póleis gregas nos anos da Guerra do Peloponeso,
portadora da fragilização e vulnerabilidade dos cidadãos que as integram, levou
Eurípedes a romper com o universo fechado da época clássica e como que a antecipar
uma realidade helenística”.
Os primeiros romances gregos de amor e aventura surgem, portanto, numa época
de gêneros muito variados, mas isso não impediu que eles não tardassem a ser
considerados produtos de um tempo decadente. Contudo, o que se considera decadência
a partir de um ponto de vista centrado nos valores da época clássica, pode representar
38
uma inovação que virá a se fazer presente na literatura do Império Bizantino e da Idade
Média.
George Lukács (2000, p. 55), ao comparar épica e romance, assinala a
maturidade do romance diante da padronização da epopeia. Ou seja:
“Epopeia e romance, ambas objetivações da grande épica, não diferem por suas
intenções configuradoras, mas pelos dados histórico-filosóficos com que se deparam
para a configuração. O romance é a epopeia de uma era para qual a totalidade extensiva
da vida não é mais dada de modo evidente, para qual a imanência do sentido da vida
tornou-se problemática, mas que ainda assim tem por intenção a totalidade”.
Nesse sentido, a modernidade significa complexidade e desprestígio do mundo,
sem os valores míticos e aristocráticos da epopeia, com a redução do psicológico e do
puramente humano, quando a medida do humano é o homem comum burguês,
desprovido de fé nos deuses e no ideal de heroísmo, e é ainda a consciência da oposição
entre o individuo e a sociedade. Tais são as características próprias do romance diante
da ingenuidade épica. Embora o romance antigo seja em suas tendências muito menos
radical do que o romance moderno, nele já se percebe a degradação do mundo diante da
disputa épica, onde o valor do herói equivalia ao seu destino glorioso.
É evidente que, nós, modernos, estamos acostumados com a coexistência dos
gêneros literários, os quais foram herdados por meio de uma longa e abrangente tradição
cultural. No entanto, para os gregos, os quais tiveram de inventar os gêneros literários
em sua tradição, estes tiveram uma vigência temporal e histórica muito mais definida,
sucedendo-se entre si, surgindo em um determinado momento e desaparecendo algum
tempo depois. Nesse caso, a tragédia talvez seja o exemplo mais claro de todos,
39
limitando-se o seu florescimento ao auge do cenário democrático ateniense do século V
a.C..
Na sucessão histórica dos gêneros literários na Grécia, caracterizada, em linhas
gerais, pela sequência de épico, lírico e dramático, o romance vem ocupar o último
lugar. E a sucessiva aparição dos gêneros literários típicos da cultura grega não deixa de
se refletir nas categorias da Filosofia e da Historiografia, servindo de parâmetro para
outras culturas europeias. O romance aparece, assim, como o produto tardio de uma
época de transformação da cultura grega clássica.
Os romances gregos podem ainda ser classificados em romances de viagens e
romances pastorais. Dos títulos arrolados acima, apenas Dáfnis e Cloé é um romance
pastoral. Os demais apresentam-se, basicamente, como romances de viagens. Tanto os
romances de viagens quanto os pastorais vêm ao encontro do anseio do leitor pela
evasão de um cotidiano que se lhe afigura insatisfatório. Nesse sentido, as viagens
propiciariam a fuga para lugares distantes e supostamente exóticos, e a vida campesina,
o afastamento bucólico da vida urbana.Dos títulos arrolados acima, apenas Dáfnis e
Cloé é um romance pastoral.
O romance Pastorais - Dáfnis e Cloé, objeto de estudo da dissertação de
mestrado da qual se originou a presente pesquisa, é composto de um prólogo e quatro
livros. A história se passa na ilha de Lesbos. Dáfnis e Cloé, duas crianças abandonadas
pelos pais, são criadas por pastores, e acabam se conhecendo. Ao longo da narrativa, no
convívio diário, as duas personagens vão, aos poucos, se apaixonando uma pelo outra,
até que, finalmente, se casam e conhecem, enfim, os prazeres de Eros.
Inicialmente chamado Pastorais, o romance é considerado um idílio bucólico em
prosa, mostrando várias características em comum com a lírica bucólica de Safo
40
(20),Teócirito (21) e Virgílio: (22) cenário rústico e rural, o aspecto suave e delicado, e,
sobretudo, pelo colorido poético conferido à narrativa. A trama atemporal, por sua vez,
é assinalada pela sucessão das estações do ano, com a passagem dessas estações
espelhando o sentimento das personagens. Fixando a narrativa no próprio cenário de
origem dos amantes, o autor de Dáfnis e Cloéconfere à obra uma situação estática,
característica do cotidiano dos campônios. Esse recurso enseja um maior destaque à
força do amor que move as personagens ao longo do relato amoroso, desde os confusos
e ingênuos sentimentos da infância até a plena maturidade sexual, e essa sensualidade e
erotismo decorrem do envolvimento dos jovens com a natureza, afinal de contas, a
personagem maior de toda a trama amorosa. Essas características fazem com que Dáfnis
e Cloé se distancie dos demais romances gregos de amor, considerados como narrativas
de viagens, onde as grandes aventuras (viagens, sequestros, desencontros, separações
etc.) dificultam sobremaneira a concretização do desejo amoroso dos amantes.
Outra característica marcante de Dáfnis e Cloé é a onipresença da religião. Eros
aí reina soberano, pois toda a trama do romance converge para o descobrimento do
sentimento amoroso. E no desenvolvimento e pleno amadurecimento dos jovens
apaixonados também exercem a sua influência as Ninfas, Pã e Dioniso, nesse romance
caracterizado, desde o prólogo, como uma sequência de pequenas cenas, uma após a
outra, criando assim um grande quadro, uma autêntica “obra de arte”.
Referindo-se ao romance grego de viagens, Edwin Muir (1978) o caracteriza
como um romance de ação
“(...) no qual a ação é o principal e a reação das personagens a ela é incidental e sempre
adequada a socorrer o enredo. É indispensável, pois, que exista umfugir da vida, no
romance de ação, mas é também indispensável que a fugaseja perfeitamente segura.
41
Não deve ser apenas emocionante, deve ser também temporária. (...) O enredo, em
suma, está de acordo com os nossos desejos, nãocom o conhecimento dos fatos.” (23)
Essa classificação de Edwin Muir pode ser aplicada na obra escolhida para a
elaboração desta pesquisa: Os Efésios de Xenofonte de Éfeso, da qual passamos a tratar.
42
3. OS EFÉSIOS DE XENOFONTE DE ÉFESO
3.1 O autor
Sobre Xenofonte de Éfeso, a quem se atribui a autoria de Os Efésios, sabemos
muito pouco, ou mesmo quase nada. No entender de alguns estudiosos, é possível que
o nome Xenofonte seja um pseudônimo. Essa posição parte do pressuposto de que
muitos escritores da época teriam adotado esse nome em homenagem a Xenofonte,
(24) cuja obra intitulada Ciropedia, particularmente voltada para a educação de Ciro, o
primeiro soberano do império persa, marcou profundamente o imaginário da época,
particularmente com a história de amor vivida por Abradata e Panteia, vindo a inspirar
as futuras narrativas amorosas (erotiká).É possível também que o nome Xenofonte
tenha sido acrescentado a essas narrativas, cuja autoria era desconhecida, supondo-se
que, em seu modo de tratar o assunto, elas se assemelhavam de alguma maneira às
obras do historiador ateniense. De acordo com o Suda, (25) são três os autores de tais
narrativas chamados Xenofonte: Xenofonte de Antioquia (C~enofw~n 0Antioxeu/j), o
autor de Babilônicas (Babulwniaka/); Xenofonte de Chipre (C~enofw~n Ku/prioj),o
autor de As Cípricas(Kupriaka/); e Xenofonte de Éfeso, o autor de Os Efésios. Além
do nome de Xenofonte, o Suda acrescenta que, originalmente,Os Efésiosera composto
dedez livros, e que, o seu autor teria escrito também um livro sobre a cidade de Éfeso:
Cenofw~n, )Efe/sioj, i(storiko/j, )Efesiaka/: e!sti\ de\ e)rwtika/ Bibli/a i )
peri\ )Abroko/mou kai )Anqi/aj: kai\ Peri\ th~j pó/lewj )Efesi/wn: kai \
a)lla/.
(Xenofonte, Efésio, historiador, Ephesiaká; tem dez livros eróticos sobre
43
Habrócomes e Antia; Sobre a pólis de Éfeso;) (26)
SULLIVAN (1995, p. 1- 2), que não simpatiza com a ideia de um acordo entre
os autores dessas narrativas para adotar o mesmo nome, considera ainda outra
possibilidade para terem atribuído o nome de Xenofonte aos Efesiaká, que nada teria a
ver, pelo menos diretamente, com o autor da Ciropedia:
“Suponhamos que houvesse uma coleção de romances eróticos - comoaqueles
que encontramos no codex unicus dos Efesiaká – um dosquais levasse o nome do
autor, por exemplo, as Babiloniakáde Xenofonte de Antioquia, enquanto os demais,
Efesiaká e Cíprias, obras de aspecto muito semelhante, fossem de autoria
desconhecida. Se alguém quisesse atribuir autores a essas obras anônimas, e aomesmo
mo tempo distinguir esses autores um do outro, essa pessoa poderia imediatamente
fazer isso, acrescentando o nome de Xenofonte: ‘Xenofonte de Éfeso e Xenofonte de
Chipre’. A relativa frequência do nome Xenofonte entre os autores desses romances,
sugere, por si mesma, que o nome passava de algum modo de autorde romance para
autor de romance, e nem sempre diretamente doXenofonte de Atenas para cada autor
de romance”.(27)
Esse Xenofonte de Éfeso só é mencionado no Suda. Ainda segundo SULLIVAN
(1995, p. 1), o autor parece não mostrar um conhecimento pessoal da cidade de Éfeso,
ponto de partida e de chegada da odisseia dos jovens amantes, o mesmo ocorrendo em
relação à procissão em honra da deusa Ártemis. No entanto, levando-se em
consideração as minuciosas descrições das cenas iniciais do romance, centradas no
culto da deusa, pode-se argumentar que Xenofonte, se aí não nasceu, pelo menos, teria
sido originário da Ásia Menor. Também é possível que ele tenha passado a maior parte
da sua vida em Alexandria, o grande centro cultural do Mediterrâneo Oriental, para
44
onde se dirigiam os amantes das Musas no mundo helenizado de então.SULLIVAN
(1995, p. 2), acrescenta, no entanto, que a única certeza que podemos ter em relação às
origens do autor de Os Efésios, é que ele não seria originário do Egito, levando-se em
consideração a total inadequação dos caminhos percorridos pelos amantes ao longo do
país do Nilo. Outra dúvida de SULLIVAN (1995, 2) é em relação à autoria do suposto
livro dedicado à cidade dos efésios. Se não se pode considerara expressão peri\ th~j
pó/lewj )Efesi/wn (Sobre a cidade dos Efésios) como se referindo ao conteúdo dos
Efesiaká, e se existiu mesmo um livro Sobre a cidade dos Efésios (Peri\ th~j pó/lewj
)Efesi/wn), é bem provável que atribuir a sua autoria ao Xenofonte de Os Efésiosseja
mais um equívoco.
Em suma, em meio a tantas conjecturas e incertezas, tudo que se pode afirmar
em relação à autoria de Os Efésios, é que o seu autor é conhecido como Xenofonte de
Éfeso. .
3.2. A obra
Os estudiosos do romance grego de viagens, em sua maioria, situam a escritura
de Os Efésios nos primeiros anos do século II. Ao fazê-lo, baseiam-se na menção que o
autor da obra faz de algumas instituições políticas, tais como a de Governador do Egito
(Livro III, 12, 6), uma magistratura que teria sido instituída por Augusto, após
conquistar a terra dos faraós,em 30 a. C., ou ainda a função de Irenarca da Cilícia
(Livro II, 13, 3), cargo aparentemente inexistente antes do governo de Adriano.
Sullivan (1995, p. 3-9), no entanto,sugere, a partir de registros da administração
romana, datados do século I, que tais magistraturas parecem ter sido bem mais antigas,
não se sustentando, portanto, a alegação de que o romance não poderia ser anterior ao
II século a. C., a partir da menção aos dois cargos mencionados na obra – Governador
45
do Egito e Irenarca da Cilícia. De qualquer forma, sustentam outros ainda, como
sugere MENDOZA (1979, p. 219), que o romance em questão, ao nos apresentar o
grande templo da Ártemis dos efésios em toda a sua grandeza, não poderia ter sido
escrito depois do incêndio etotal destruição do magnífico santuário, no decorrer de um
assalto devastador realizado pelos godos, em 263 d. C..
O tema do romance é muito semelhante ao de outras obras do gênero,
considerando alguns pesquisadores ser ela inspirada emQueréas e Calírroe, atribuída a
Cáriton de Afrodísia, e provavelmente escrita entre os séculos I e II. Com efeito, em
ambas as narrativas, os apaixonados, jovens de uma beleza ímpar (porém funesta), e
aristocratas de origem, se separam logo após o casamento, vivem uma tormentosa
odisseia, repleta de aventuras e vicissitudes sem conta, mas no final da história,
conseguem regressar à sua terra, se reencontram e alcançam o tão ansiado final feliz.
Outros, como SULLIVAN (1995, p. 3), porém, consideram Os Efésios uma obra
pioneira na história dos romances gregos.
Dos dez livros mencionados pelo Suda, apenas nos teriam chegado os cinco de
que dispomos na atualidade. Em relação a essa questão, MENDOZA (1979, p. 220),
mais uma vez, nos chama a atenção para o fato de que essa informação no Suda, por si
só, “não merece credibilidade, posto que nem sempre os seus dados coincidem com os
números de livros de uma obra, ou com o número de obras de determinado autor, o
qual sabemos ser verdadeiros através de outras fontes”. No entanto, o estilo seco do
autor de Os Efésios, ou ainda a sua aparente inabilidade,como escritor, em auferir
pleno efeito dramático em certas passagens da obra, transformando assim a narrativa
em simples enumeração de desastres e tormentos, levaram os pesquisadores a defender
a tese de que a obra que nos chegou não passaria de um epítome, ou seja, um resumo
46
do romance original. De fato, os epítomes eram uma prática usual da época, sendo bem
provável que alguém, por uma ou outra razão, tenha tomado a si a tarefa de abreviar a
obra de Xenofonte. No entanto, Hagg (28)desconsidera a tese do resumo, ressaltando
que as supostas lacunas, imprecisões e falta de habilidade em certas passagens da obra
devem-se ao estilo do autor. Ainda segundo Hagg, (29)a estrutura do romance
justificaria os percalços do estilo, aproximando a narrativa da forma dos contos
populares, como sugere Dalmeyda, em estudo introdutório à sua tradução de Os
Efésios. Daí o estilo conciso, simples e direto, somando, aqui e ali, episódios
aparentemente desnecessários. Sullivan (1995, p.134-5) também é de opinião de que a
obra que nos chegou não é um resumo.
Uma das características marcantes de Os Efésios é apresença da religiosiodade.
Com efeito, perpassa toda a narrativa o sincretismo próprio da cultura de
então.Determinadas divindades,- Ártemis, Apolo, Ísis, Ápis, Hélio-, desempenham um
papel ativo na trama do romance, destacando-se também os oráculos e até um
milagre,quando Habrócomes é salvo com a ajuda. É evidente no romance a intenção
religiosa, numa época caracterizada pela sincretismo, com a expansão dos cultos de
Ísis e de Ápis, e a identificação da deusa Ísis com algumas divindades gregas. O culto
de Ísis estava disseminado pelo ecúmeno, destacando-se, no Mediterrâneo Oriental,
vários santuários dedicados à deusa, tais como Rodes, Tarso, Alexandria e Mênfis, os
quais despontam como quadros espaciais importantes ao longo da história de Os
Efésios. Dois valores importantes, associados à religiosidade da época e presentes ao
longo da odisseia amorosa de Habrócomes e Antia, são a castidade e a fidelidade
conjugal. Também a morte é particularmente valorizada como uma espécie de
passagem dos amantes a uma nova condição, a uma nova vida, onde eles poderão se
reencontrar. Essa valorização da morte é acentuada no culto isíaco, com Ísis
47
reencontrando Osíris, depois de passar por muito sofrimentose decepções. A narrativa
sugere também uma aproximação das deusas Ártemis e Ísis, ao acentuar a pureza e a
fidelidade de Habrócomes e Antía, os quais, malgrado as viravoltas da narrativa,
perseveram no amor, mantendo-se fiéis um ao outro e se reencontrando no final. Antia
chega a pedir a Ísis, mencionada no oráculo de Apolo, que a ajude a se manter fiel ao
esposo. Ao regressar finalmente a Éfeso, Habrócomes e Antia oferecem sacrifícios
àdeusa Àrtemis, protetora da castidade e da fidelidade conjugal. Também a heliolatria
é constatada. Assim sendo, Ísis e Ártemis assomam como protetoras de Antia, e Hélio,
de Habrócomes.
Os Efésios caracteriza-se como uma obra de ficção. Os seus protagonistas
provêm das camadas favorecidas da sociedade - a classe alta de uma cidade
helenística. Trata-se de uma classe rica e ociosa, composta de comerciantes ou de
funcionários imperiais, exercendo cargos de poder e com acesso à riqueza. Encontramse também personagens dos estratos menos favorecidos: homens livres, porém
empobrecidos: profissionais liberais (como o médico Eudoxo), homens de ofícios
independentes (como o pescador Egialeu) ou trabalhadores remunerados (como os
cortadores de pedras, entre os quais Habrócomes chegou a trabalhar por algum tempo).
A possibilidade de se sair da pobreza se dá com a herança ou com a prática da
bandidagem (como no caso de Hipótoo) - destacam-se na narrativa os piratas e demais
bandos de salteadores. As demais personagens são muito humildes, homens livres ou
escravos, os quais, apesar da sua condição, são apresentados com alguma consideração
e certa importância (como o cabreiro Lâmpon, que se apiedou de Antia e a
protegeu).Cabe ressaltar que os autores de romances gregos não têm intenção realista.
As personagens ricas, nobres e de classe alta, por exemplo, destacam-se pela beleza
sobrehumana e outras qualidades hiperbólicas (como Habrócomes e Antia). Nesse
48
sentido, dá-se uma esquematização do mundo real, com o entorno social da narrativa
despontando, aqui e ali, em seus aspectos mais evidentes, como o sincretismo religioso
de Os Efésios.
Na multivariada formação social do mundo greco-romano do ecúmeno,
particularmente no mundo do Mediterâneo Oriental, palco das narrativas de Os
Efésios, destaca-se assim uma classe alta, bastante enriquecida, e que tem acesso a
cargos oficiais importantes; as outras camadas das sociedadede empobrecem bastante,
numa sociedade escravagista. Quanto aos escravos, em geral, parecem ter sido
praticamente os únicos dedicados aos trabalhos agrícolas. A população se concentra
nas cidades, despovoando-se as zonas rurais. Nesse contexto social, a imaginação do
autor de Os Efésios enseja a criação de um mundo ficcional, onde aventuras
extraordinárias se sucedem com grande rapidez, e forças sobrenaturais se manifestam a
tal ponto, que,em certos momentos da obra, chegam a se afigurar a um deus ex
machina.Tais são as conclusões de Mendoza (1979, p. 226-228).
49
4.A ODISSEIA AMOROSA DE HABRÓCOMES E ANTÍA: UM KÓSMOS
OIKOÚMENOS
4.1 Uma abordagem pragmática
Ao adotar como corpus o texto grego de Os Efésios, tal qual nos chegou,
particularmente a versão da Les Belles Letres, comentada e traduzida por George
D´Almeida, a presente pesquisa adota um enfoque pragmático, voltado para a
descrição da linguagem em contexto, mais precisamente a análise do discurso,
especificada por Maingueneau (1997, p. 14-15) como
“... a disciplina que, em vez de proceder a uma análise linguística do texto em si
mesmo ou a uma análise sociológica ou psicológica do seu “contexto”, visa
articular a sua enunciação com um determinado LUGAR SOCIAL.Deste modo, a
análise do discurso tem de se ajustar aos GÊNEROS DE DISCURSO na obra, nos
setores do espaço social (um café, uma escola, uma loja...), ou nos campos
discursivos (político, científico, literário...).“
:Assim sendo, o idioma helênico, no caso a koinédo chamado Período
Helenístico, é assim considerado e estudado em contexto, procurando-se destacar
determinados aspectos que possibilitem elucidar a trama amorosa da obra em
questão, considerando-se o amor como o fio condutor da odisseia de Habrócomes e
Antia por um kósmos oikoúmenos, permeado de sincretismo religioso.
50
4.2 Resumo de Os Efésios
Com vistas a evidenciar os objetivos que norteiam este trabalho, segue-se um
resumo de Os Efésios, destacando-se os lugares mais importantes (em negrito), por onde
passaram Habrócomes e Antia, desde o começo da história, até o seu regresso a Éfeso.
A leitura do resumo pode ser acompanhada, seguindo-se o mapa no Anexo 2, onde é
sugerido o percurso da odisseia de Os Efésios. Também é assinalada a influência de
Eros (em itálico), onipresente ao longo do romance, com a força do desejofazendo com
que determinadas personagens se apaixonem, particularmente, por Antia ou
Habrócomes. Igualmente fundamental é o destaque conferido às divindades que
desempenham um papel decisivo na narrativa (as passagens são sublinhadas),
realçando-se, assim, o sincretismo religioso característico do ecúmeno greco-romano,
mais precisamente o mundo do Mediterrâneo Oriental.
Livro I
Em Éfeso, a cidade consagrada à deusaÁrtemis, Habrócomes e Antia, rebentos
belíssimos de cidadãos ilustres, se conhecem, ao participarem da procissão em honra
da deusa. Ao ver a bela jovem, Habrócomes, inicialmente orgulhoso de sua aversão
à influência de Eros, se apaixona imediatamente, o mesmo acontecendo com Antia.
A vingança do deus é terrível: apaixonados, e sem poder desfrutar do objeto de
desejo, os jovens sofrem muito, passam as noites em claro e definham a olhos
vistos. Os pais, então, bastante preocupados, e sem poder atinar com o motivo de
tanto sofrimento, enviam mensageiros ao santuário de Apolo, em Cólofon, para se
informar a respeito de quais providências teriam de ser tomadas. O oráculo do deus
revela, então, a profecia, e após a revelação, os pais dos jovens resolvem casar os
filhos. Feitos os preparativos, com toda a cidade em festa, Habrócomes e Antia se
51
casam, vivem intensamente a noite de núpcias e amanhecem felizes e satisfeitos.
Seus pais, então, de comum acordo, decidem enviar o casal apaixonado numa
viagem de núpcias pelomar do Egito. Habrócomes e Antía despedem-se dos seus,
embarcam na nau adrede preparada, percorrem águas tranquilas e chegam à ilha de
Samos, consagrada à deusa Hera. Aí, eles fazem sacrifícios e elevam preces à
divindade, juram fidelidade mútua e seguem viagem. O barco passa ao longo das
cidades de Cós e Cnido, e atraca em Rodes, onde eles desembarcam e são muito
bem recebidos pelos ródios, com uma grande festa; Habrócomes e Antia aí
permanecem alguns dias, visitando o templo do deus Hélio, fazendo oferendas e
deixando registrado um epigrama. Retomam, enfim,a viagem, e então tem início a
profecia do oráculo de Apolo: o barco é atacado por piratas fenícios, liderados por
Corimbo. Muitos membros da tripulação morrem durante o assalto; outros são feitos
prisioneiros, o mesmo ocorrendo com Habrócomes e Antía,tornados reféns dos
bandidos. A nau dos piratas se dirige a Tiro, na Fenícia, e, ao longo do percurso,
Corimbo se apaixona por Habrócomes, e seu amigo Euxino, por Antía. Corimbo
conta a Euxino o que sente por Habrócomes, e Euxino lhe fala então do seu amor
por Antia. Os dois combinam então conversar, em particular, com cada um dos
jovens: Euxino fala a Habrócomes da paixão de Corimbo, e das vantagens em
aceder aos seus desejos; o mesmo faz Corimbo, contando a Antia o quanto Euxino a
ama. Assustados, os jovens pedem aos senhores tempo para pensar, e eles ficam
esperando pela resposta.
Livro II Chega então ao local do cativeiro, Apsirto, o chefe do bando de piratas; na
partilha do botim, ele fica com Habrócomes e Antía, e com os escravos do casal,
Leucón e Rode. Na cidade de Tiro, a beleza de Habrócomes e Antia causagrande
admiração, e praticamente todos os habitantes chegaram a acreditar que estavam
52
diante de deuses recém-chegados. Apsirto leva o casal para a sua casa. Em seguida,
ele viaja para a Síria. Manto, a filha de Apsirto, se apaixona por Habrócomes, e lhe
escreve uma carta, falando da sua paixão. O jovem lhe responde também com uma
carta, recusando-se a ceder aos seus desejos.Ao tomar ciência da recusa, Manto se
encoleriza e jura vingar-se de Habrócomes. Aí então, Apsirto retorna da Síria
trazendo consigo Méris, o noivo da filha. Vingando-se de Habrócomes, Manto diz
ao pai que o jovem tentou possuí-la a força, tirando-lhe a virgindade. Apsirto então
castiga Habrócomes, com terríveis torturas. Enquanto isso, Manto se casa com
Méris e leva consigo Antia como escrava para a Síria, junto com Rode e Leucón.
Habrócomes permanece em Tiro, encarcerado e bastante machucado. Leucón e
Rode são vendidos como escravos e levados para Xanto, na Lícia. Manto ordena
que Antía se case com Lâmpon, um velho cabreiro; Lâmpon leva então a moça para
o campo, mas acaba se compadecendo da jovem, quando ela lhe conta a sua história,
e decide protegê-la, conservando-a imaculada. Algum tempo depois, Méris, o
marido de Manto, vai ao campo, e acaba se apaixonando por Antía. Manto, ao saber
da paixão do esposo por Antía, ordena que Lâmpon carregue com a jovem para
omais denso dos bosques, e aí então,ponha fim a sua vida. Lâmpon, no entanto, mais
uma vez se apieda da bela moça, e não a mata; entretanto, temendo que Manto
descobrisse que ele não cumpriu a sua ordem, decide vendê-la no porto da cidade,
afastando-a dali. Antía então é vendidaa um comerciante da Cilícia, e segue com
ele, numa viagem marítima. O barco que levava Antia, porém, acaba naufragando,
em meio a uma tempestade; a jovem, acompanhada de alguns tripulantes, consegue
chegar a uma praia, mas eles são capturados pelo bando de Hipótoo, um bandido
perigoso. Enquanto isso, Habrócomes, ao saber da paixão de Méris por Antia,
consegue fugir de Tiro, e se dirige àCilícia, ansiando por notícias da esposa.
53
Hipótoo e seu bando, por sua vez, tomam a decisão de sacrificar Antia, mas a jovem
escapa, graças a Perilao, o Irenarca da Cilícia, e seus comandados, os quais
surpreenderam os bandidos e os mataram, com exceção de uns poucos, feitos
prisioneiros, e de Hipótoo, que consegue fugir com suas armas. Perilauentão leva
Antía para Tarso, na Cilícia; aí, ao atentar mais detidamente para a beleza da moça,
o Irenarca fica encantado, e acaba se apaixonando por Antia. Pressionada por
Perilau, Antía resolve aceitar o pedido de casamento, mas lhe pede que ele esperasse
trinta dias, conservando-a pura, até o dia da cerimônia. Enquanto isso, Habrócomes,
a caminho da Cilícia, acaba se perdendo, e segue desorientado. Aí, ele encontra
Hipótoo, que o convence a deixar aCilícia, e seguir com ele para a Capadócia.
Livro III
Habrócomes e Hipotóo atravessam a Cilíciae chegam a Mazaco. Hipotóo diz a
Habrócomes que nasceu em Perinto, uma cidade vizinha da Trácia, e em seguida
conta ao amigoa história de seu amor por Hipérantes.Habrócomes, por seu turno, diz
a Hipótoo que é da cidade de Éfeso, e conta a suahistória de amor com Antia. Aí,
Hipótoorevela a Habrócomes a captura de uma moça muito bonita pelo seu bando e,
pela descrição dos fatos,e Habrócomes renova as esperanças de que essa moçasó
pode ser a sua Antía. Hipotóo promete, então, ajudar Habrócomes a encontrar a
amada, e os dois resolvem voltar para a Cilícia.Enquanto isso, em Tarso, decorridos
os trinta dias, Antía não vê outro remédio senão se preparar para o casamento com
Perilau. Nesse momento decisivo, ela recorre aum médico, chamado Eudoxo, e
também efésio, como ela. Desesperada com a iminência do casamento com Perilau,
Antia implora a Eudoxo que lhe providencie um veneno que a liberte de tantas
desgraças. Eudoxo entrega a Antia,um sonífero, e não um veneno letal. Ao ingerir a
droga, ela mergulha num sono profundo. Ao encontrá-la caída no chão, Perilaupensa
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que ela está morta. Cheio de pesar, ele a sepulta em uma tumba, juntamente com
muitos objetos preciosos, cumprindo assim com o ritual prescrito pela lei da cidade.
Na tumba, Antía desperta e percebe então que a droga não era mortal. Ao anoitecer,
aentrada da tumba é arrombada por ladrões, que se apoderam dos objetos,
encontram Antia e a levam,como prisioneira, navegando para Alexandria, onde a
entregam a mercadores. Entrementes, na Cilícia, procurando por Antía, Habrócomes
fica sabendo, por Crísio, uma anciã, da morte de Antía e do ataque dos malfeitoresà
tumba. Desesperado, Habrócomes parte em uma embarcação rumo àAlexandria,
deixando Hipótoo e seu bando para trás. Hipotóo,por sua vez, resolve ir à Síria e à
Fenícia. Enquanto isso, em Alexandria, os mercadores vendem Antía a um rei da
Índia, chamado Psamís, oriundo de uma cidade da Índia.Ao ficar com Antia,
Psamissente forte atração por ela, e tenta obrigá-la a satisfazer a sua paixão. Mas
Antía, sabendo que os bárbaros eram supersticiosos, disse a Psamis ter sido ela
consagrada à deusa Ísis. Psamis então recuou de seus propósitos, temendo e
acatando a deusa, e levou Antía para sua casa. E o navio que levava Habrócomes
para Alexandria, perdeu o rumo, passando pelo Delta do Nilo, e indo parar numa
região chamada Paralia, situada na costa da Fenícia.Aí então, um grupo de pastores
ataca o navio, rouba todos os pertences e aprisiona os sobreviventes, inclusive
Habrócomes, carregando com eles para Pelúsio, no Egito. Aí, Habrócomes é
comprado por Araxo, um velho soldado da reserva. E Cino, mulher de Araxo, ao se
deparar com Habrócomes, se apaixona pelo jovem. Cino mata Araxo para se casar
com Habrócomes, mas Habrócomes se revolta com o ato de Cino e deixa a casa.
Vingativa, Cino,então, responsabiliza Habrócomes pela morte de Araxo, e os
cidadãos de Pelúsio, acreditando nela, prendem Habrócomes e o enviam ao
governador do Egito, residente em Alexandria, para que o jovem seja punido.
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Livro IV
Hipótoo e seus homens marcham até a Síria, chegando à Laodiceia. Hipótoo
procura Habrócomes, mas não consegue nenhuma informação a respeito dele.
Hipótoo resolve então partir, com seu bando, para a Fenícia, e daí, para o Egito;ao
chegarem aoEgito, eles seguem para Pelúsio, navegando pelo rio Nilo, passando
por Hermópolis, Esquedia, e entrando no canal do rio construído por Menelao, vão
para a cidade de Mênfis, consagrada à deusa Isis, de onde se dirigem a Mendes,
Taua, Leonto e Copto, na Etiópia. Enquanto isso, Habrócomes chega à
Alexandria, eaí o governador ordena que ele seja crucificado. Habrócomes então
dirige uma prece ao deus Hélio, e acaba se salvando da morte. E quando o levam ao
governador, e este ordena que ele seja queimado, Habrócomes reza de novo, e o rio
Nilo se agita, erguendo-se um vagalhão que se abate sobre a pira, apagando as
chamas.Ainda em Alexandria, Psamis resolve voltar para casa, levando Antia
consigo; depois de deixar Alexandria, eles chegam a Mênfis, e ali Antia vai ao
templo de Ísis e pede àdeusa que a ajude a continuar fiel a Habrócomes.Psamis e
Antia saem então de Mênfis, e passam por Cópto, na fronteira da Etiópia. Aí,
Hipótoo e seu bando atacam a caravana de Psamis. Hipótoo mata Psamis, mas não
reconhece Antía, e ela também não o reconhece. Entrementes, Habrócomes conta a
sua história ao governador do Egito, que dele se compadece, e ainda lhe dá dinheiro
para retornar a Éfeso; Habrócomes parte então para aItália, em busca de Antía. E no
esconderijo do bando de Hipotóo, o bandido Anquilau, perdidamente apaixonado
por Antia, tenta violentá-la, mas a moça reage e mata o agressor; Hipótoo e seu
bando decidem, então, punir Antia, colocando-a num fosso com dois cães
egípcios,enormes e assustadores; mas Anfínomo, o bandido encarregado de tomar
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conta do fosso, se apaixona por Antia e dela se apieda, dando comida e água para os
cães, e conseguindo, assim, evitar que eles a ataquem.
Livro V
Habrócomes sai do Egito em direção à Itália, mas a ventania faz com que a nau
perca a rota, e o jovem vai parar na cidade de Siracusa, na Sicília.Aí, Habrócomes
conhece um velho pescador de origem espartana, chamado Egialeo. O ancião conta
a Habrócomes a sua história de amor com Telxínoe.Os dois, apaixonados, fugiram
de Esparta e foram parar em Siracusa, onde viveram por muitos anos.
Telxínoehavia morrido recentemente, porém Egialeu embalsamou o corpo da
mulher e o conservava, junto a si, apaixonado. Habrócomes passou um bom tempo
em Siracusa, na casa de Egialeo. Enquanto isso, Hipotóo resolveu sair da Etiópia e
seguir para o Egito,mais precisamente, Alexandria; ele pensava que Antía tivesse
morrido no fosso. Anfínomo, entretanto, apaixonado por Antía, não seguiu o bando
de Hipótoo; libertou então a jovem, e eles seguiram para Copto.E Hipótoo e seu
bando atacam e saqueiam a cidade de Ária.Depois, seguem pelo rio Nilo, até
Esquedia.Querendo por fim à desordem causada pelos malfeitores, o governador do
Egito enviou muitos soldados,liderados por Políido, no encalço do bando,
deparando-se com os bandidos nas proximidades de Pelúsio. Hipótóo, no entanto,
consegue fugir, e alcança Alexandria. Políido, por sua vez, chega a Copto, ainda
atrás de Hipótoo. Entrementes, Antía e Anfínomo, que estavam em Copto, são
surpreendidos por Políido,que não demora a também se apaixonar por Antia, que
lhe diz ser egípcia. Antía vai então ao templo de Ísis e pede a deusa que a auxilie a
manter-se fiel a Habrócomes. Já a caminho de Alexandria, Políido leva Antía para
Mênfis; aí, a jovem vai ao templo de Ápis, de onde sai renovada, ao ouvir algumas
crianças dizerem que ela vai rever o marido, dentro de pouco tempo. Chega, enfim,
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a Alexandria, conduzida por Políido. A esposa de Políido, Renea, no entanto,
temerosa de que a jovem possa vir a substituí-la, corta os cabelos de Antia e bate
muito nela, ordenando enfim a Clito, um escravo fiel, que a levasse para a Itáliae a
vendesse a um traficante de escravas. Antia e Clito chegam a Tarento, na Itália, e
aí, Antia é vendida a um traficante. Enquanto isso, Hipótoo chega aTauromênio, na
Sicília. Habrócomes, que ainda se encontrava em Siracusa, resolve ir para a
Itália,em busca de notícias de Antía, decidido a regressar a Éfeso, se não
conseguisse encontrar a esposa. Em Éfeso, os velhos pais de Antía e de Habrócomes
acabam morrendo, desesperados e muito tristes, por não terem conseguido,
malgrado todos os esforços, uma simples notícia dos filhos tão queridos.
Entrementes, em Xanto, o senhor de Leucón e Rode morre, e eles recebem de
herança, muitos bens, decidindo então voltar a Éfeso. Ao chegarem a Rodes,no
entanto, eles ficam sabendo que Habrócomes e Antia não haviam regressado a
Éfeso, e que os pais dos jovens estavam mortos. Leucón e Rode decidem então
permanecer por um tempo em Rodes. Enquanto isso, Antia é obrigada pelo
traficante a se expor publicamente, diante de um casa de prostituição. Assediada por
homens dispostos a pagarem uma fortuna para a terem consigo, Antia se joga ao
chão e se contorce toda, fingindo ter um ataque, à maneira dos doentes possuídos
pela doença sagrada.Enquanto isso, Habrócomes chega a Nucéria, na Itália. E
Hipótoo vendo-se em nececessidades, acaba se casando com uma rica anciã que se
apaixonara por ele. Depois de algum tempo, a velha morre, e Hipótoo herda toda a
sua fortuna. Ele decide, então, ir para a Itália, em companhia de Clístenes, um belo
e nobre jovem de sua predileção. E o traficante, depois de cuidar de Antía,supondo-a
curada, resolve vendê-la e leva-a para a ágora de Tarento.Nesse momento, Hipótoo,
de passagem pela cidade, vê Antia e reconhece a jovem, por ele capturada no Egito,
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e que ele mandara matar, para vingar a morte de Anquilao. Hipótoo compra a
jovem, e acaba se apaixonando por ela também.Antía, então, lhe conta a sua
verdadeira história, e lhe fala de Habrócomes. Aí, Hipótoo se emociona, abraça
Antía e fala de sua amizade com Habrócomes. Enquanto isso, Habrócomes ganha a
vida, trabalhando como cortador de pedras, em Nucéria,e afinal resolvevoltar para
Éfeso. Viaja então de barco e chega à Sicília, sendo informado da morte do velho
Egialeo. Seguindo viagem, Habrócomes chega a Creta e, pouco depois, aChipre.
Aí, o jovem suplica à deusa Cípria, Afrodite, pedindo que o auxilie a encontrar
Antia.Habrócomes segue adiante, e chega aRodes,onde, no templo de Hélio, vê as
oferendas deixadas por Leucón e Rode, e acaba reeencontrando-os aí mesmo, no
templo.Enquanto isso, Hipótoo resolve levar Antía da Itália para Éfeso,e no meio
do caminho, eles desembarcam em Rodes, para descansar, por ocasião das
festividades do deus Hélio. Saudosa, Antía vai ao templo de Hélio, corta os cabelos
e os oferece ao deus. Leucón e Rode, que participavam da procissão, também se
dirigem ao templo, e aí encontram a oferenda de Antía. Saem então pela cidade, à
sua procura, mas não a encontram; voltam então para casa, e contam tudo a
Habrócomes, renovando-lhe as esperanças. Antía ser retorna ao templo,
acompanhada de Hipotóo. Leucon e Rode também para lá se dirigem, e terminam se
reencontrando. Os ródios então ficam sabendo que o famoso casal de Éfeso,
Habrócomes e Antia, ainda vivia. E ao saber que Antia se encontra sã e salva, ali,
tão pertinho dele, Habrócomes sai correndo pela cidade, clamando pelo nome de
Antia. E os dois amantes, finalmente, se reeencontram! O povo de Rodesse enche
então de júbilo, e saúda Ísis como a Grande Deusa. Habrócomes e Antía entram no
templo de Ísis, e agradecem à Deusa.Realiza-se,então, um grande banquete, a fim de
celebrar o reencontro do casal. Habrócomes e Antia retornam, enfim a Éfeso, e junto
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com eles, vem Leucón e Rode, e Hipótoo e Clístenes. A cidade inteira os aguardava,
oferencendo a eles uma suntuosa festa. Habrócomes e Antía vão, então, ao templo
de Ártemis, para agradecer e dedicar à deusa uma inscrição, onde estavam
registradas todas as coisas vividas por eles em sua odisseia de amor. E em Lesbos,
Hipótoo ergueu um magnífico mausoléu em homenagem a Hipérantes.
4.3 Lugares comuns
Levando em consideração as observações de LÉTOUBLON (1993), constatouse, na presente pesquisa, a ocorrência dos seguintes lugares comuns (tópoi) na
narrativa de Os Efésios:o nascimento do amor dos adolescentes, a pirataria, os
naufrágios, os sequestros, os aprisionamentos, os sonhos, os oráculos, os
reconhecimentos e a beleza excepcional. Destacam-se aqui os sonhos e a pirataria.
. Sonhos
Os sonhos e o seu significado sempre impressionaram os homens desde os
primórdios de sua história. Entre os antigos gregos não era diferente, e os sonhos
eram abordados pelos intérpretes e por eles interpretados, muitas vezes, como sinais
importantes do que estaria por vir.
O excerto abaixo relata um sonho de Habrócomes, pouco antes de o barco no
qual ele viajava com Antia ser atacado por piratas fenícios, iniciando-se assim a
profecia de Apolo.
4- Nesse momento, apareceu a Habrócomes uma mulher assustadora, de estatura
sobre-humana, trajando um vestido de púrpura fenícia. E depois que ela surgiu, o
barco pareceu estar pegando fogo, e todos os outros passageiros estarem morrendo,
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menos ele, Habrócomes, e Antia, que saíram nadando pelo mar. Ao ver essas coisas
acontecendo tão rapidamente, ele se perturbou e pressentiu, a partir daquele sonho,
que uma coisa terrível estava para acontecer. E essa coisa terrível aconteceu. (Livro
I. 12. 4)
4-ΤῷδὲἉβροκόµῃἐντούτῳἐφίσταταιγυνὴὀφθῆναιφοβερά,
τὸµέγεθοςὑπὲρἄνθρωπον,
ἐσθῆταἔχουσαφοινικῆν: ἐπιστᾶσαδὲτὴνναῦνἐδόκεικάεινκαὶτοὺςµὲνἄλλουςἀπόλλυσθαι,
αὐτὸνδὲµετὰτῆςἈνθείαςδιανήχεσθαι.
Ταῦταὡςεὐθὺςεἶδενἐταράχθηκαὶπροσεδόκατιδεινὸνἐκτοῦὀνείρατος:
καὶτὸδεινὸνἐγίνετο.
Segue-se outro sonho de Habrócomes, quando ele se encontrava sozinho na
prisão, após Antia, de partida para a Síria, juntamente com Leucón e Rodes, na comitiva
de Manto, ter se despedido, como se fosse a última vez que o via vivo.
2- Enquanto Habrócomes assim se lamentava, veio o sono e dele se apoderou, e então
lhe apareceu um sonho. Pareceu-lhe ver o próprio pai, Licomedes, com roupas pretas,
vagando por toda terra e mar, e chegando à prisão para libertá-lo, tirava-o da cela. E
ele, Habrócomes, transformando-se num cavalo, disparava por muitas terras,
perseguindo uma égua e, finalmente, encontrava a égua, e ela se transformava num
homem. Depois de ter sonhado com essas coisas, ele se levantou de repente, e
vislumbrou uma pequena esperança. (Livro II. 8. 2)
2-Ταῦταλέγοντααὐτὸνὕπνοςκαταλαµβάνει,
καὶαὐτῷὄναρἐφίσταται.
ἜδοξενἰδεῖναὐτοῦτὸνπατέραΛυκοµήδηνἐνἐσθῆτιµελαίνῃπλανώµενονκατὰπᾶσανγῆνκ
αὶθάλατταν,
ἐπιστάνταδὲτῷδεσµωτηρίῳλῦσαίτ̓αὐτὸνκαὶἀφιέναιἐκτοῦοἰκήµατος:
αὐτὸνδ̓ἵππονγενόµενονἐπὶπολλὴνφέρεσθαιγῆνδιώκονταἵππονἄλληνθήλειαν,
καὶτέλοςεὑρεῖντὴνἵππονκαὶἄνθρωπονγενέσθαι.
ἀνέθορέτεκαὶµικρὰεὔελπιςἦν.
Ταῦταὡςἔδοξενἰδεῖν,
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Quando estava em Tarento, na condição de escrava de um traficante de
mulheres, prestes a ser exposta numa casa de prostituição, Antia teve o seguinte sonho:
Enquanto isso, em Tarento, Antia teve um sonho quando dormia. Parecia que ela
estava com Habrócomes, a bela junto com o belo, no tempo em que o amor entre eles
começou. 6- Aí apareceu uma outra mulher, também bela, e lhe arrancou Habrócomes
de junto dela. E enfim, gritando e chamando pelo nome do amado, Antia se levantou e
então o sonho acabou. 7- Ainda com a impressão de estar vendo todas essas coisas, ela
se levantou imediatamente e começou a chorar, acreditando serem verdadeiras as
coisas que tinha visto no sonho: – Ai de mim, com todos esses males! – dizia ela – Eu
me submeto a todos os trabalhos e, desditosa, experimento as mais variadas desgraças,
e intrigas acima das forças de uma mulher, para quando encontrar Habrócomes; e
talvez tu, Habrócomes, tenhas encontrado outra bela mulher, e isso o sonho me
mostrou claramente. 8- Por que, então, ainda estou viva? Por que me aflijo desse jeito?
Assim, é melhor morrer e libertar-me desta vida infeliz, libertar-me dessa escravidão
vergonhosa e perigosa. 9- E se, de fato, Habrócomes violou seus juramentos, que os
deuses não o castiguem por isso, pois pode ser que ele tenha feito isso por necessidade.
Quanto a mim, é bom morrer, que sou sensata. Ela dizia essas coisas, se lamentando, e
procurava um meio de por fim à vida. (Livro V. 8. 5-9).
τῇδὲἈνθείᾳὄναρἐπέστηἐνΤάραντικοιµωµένῃ.
ἘδόκειµὲναὑτὴνεἶναιµετὰἉβροκόµου,
6-
καλὴνοὖσανµετ̓ἐκείνουκαλοῦκαὶτὸνπρῶτονεἶναιτοῦἔρωτοςαὐτοῖςχρόνον:
φανῆναιδέτιναἄλληνγυναῖκακαλὴνκαὶἀφέλκειναὐτῆςτὸνἉβροκόµην:
καὶτέλοςἀναβοῶντοςκαὶκαλοῦντοςὀνοµαστὶἐξαναστῆναίτεκαὶπαύσασθαιτὸὄναρ.
Ταῦταὡςἔδοξενἰδεῖν,
‘οἴµοιτῶνκακῶν’
7-
εὐθὺςµὲνἀνέθορέτεκαὶἀνεθρήνησεκαὶἀληθῆτὰὀφθένταἐνόµιζεν
λέγουσα,
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‘ἐγὼµὲνκαὶπόνουςὑποµένωπάνταςκαὶποικίλωνπειρῶµαιἡδυστυχὴςσυµφορῶνκαὶτέχνας
σωφροσύνηςὑπὲργυναῖκαςεὑρίσκωἉβροκόµῃ:
ταῦταγάρµοισηµαίνειτὰὀνείρατα.
σοὶδὲἴσωςἄλληπουδέδοκταικαλή:
8-Τίοὖνἔτιζῶ;
τίδ̓ἐµαυτὴνλυπῶ;
κάλλιονοὖνἀπολέσθαικαὶἀπαλλαγῆναιµὲντοῦπονήρουτούτουβίου,
ἀπαλλαγῆναιδὲτῆςἀπρεποῦςταύτηςκαὶἐπισφαλοῦςδουλείας.
Ἁβροκόµηςµὲνεἰκαὶτοὺςὅρκουςπαραβέβηκε,
ἴσωςἀνάγκῃτιεἴργασται:
9-
µηδὲνοἱθεοὶτιµωρήσαιντοτοῦτον:
ἐµοὶδὲἀποθανεῖνκαλῶςἔχεισωφρονούσῃ.’
Ταῦταἔλεγεθρηνοῦσακαὶµηχανὴνἐζήτειτελευτῆς.
. Piratas
Abordando a história dos piratas, na Antiguidade, desde os tempos micênicos até
o império romano, MIGUENS (2014, p. 72-73) ressalta a importância da região da
Cilícia, no contexto do Mediterrâneo Oriental, como uma verdadeira “capital da
pirataria”:
“Na época em que o mundo grego competia em crescimento com osfenícios,
Cartago se transformava num dos principais centros decomércio e Roma começava
a estender seus domínios por terra e mar, no extremo oriental do Mediterrâneo,
surgia com maior impulso uma força marginal que colocava em apuros os
poderosos.
Essa nova entidade política era a Cilícia. Situada na zona sul daregião costeira
da península da Anatólia, se estendia terra adentrodesde a costa sul oriental da Ásia
Menor (atual Turquia) até o norteda ilha de Chipre. Possuía terras férteis e uma
localização privilegiada muito próxima das principais rotas comerciais, com
umagrandequantidade de pequenos portos resguardados entre ilhas ealcantilados, e
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facilitou o crescimento de várias gerações de piratasque dela fizeram a sua pátria e o
seu refúgio”.
A secular duração das práticas de pirataria nessa regiãoinfluenciou, sem dúvida,
o imaginário das narrativas romanescas, destacando-se a atuação dos bandidos do
mar como um tema recorrente entre os cultores do gênero.
O excerto abaixo mostra a tática seguida pelos piratas chefiados por Corimbo,
desde o litoral de Tiro até a abordagem do barco de Habrócomes e Antia, seguindose cenas de grande violência e crueldade.
-
XIII. 1- Por acaso, quando eles estiveram em Rodes, piratas de estirpe fenícia
estiveram ancorados por perto, numa grande trirreme. Levantaram âncora como se
estivessem carregando mercadorias; a tripulação era grande, e eles eram muito
destemidos. Esses piratas ficaram sabendo que no barco de Habrócomes e Antía havia
ouro e prata em abundência, além de muitos escravos valiosos. 2- Eles decidiram, então,
atacar o barco, matar os que resistissem, e levar os sobreviventes para a Fenícia, com a
intenção de vendê-los juntamente com as riquezas. Os piratas os desprezavam, pois não
os consideravam capazes de enfrentá-los. O chefe dos piratas chamava-se Corimbo, um
jovem alto, de aspecto terrível, e seus cabelos sujos se derramavam sobre os ombros. 4Quando os piratas tomaram essa decisão, começaram a navegar tranquilamente próximo
ao barco de Habrócomes, até que enfim, por volta do meio-dia, quando todos no barco
estavam descansando, por causa da bebedeira e do desânimo, uns dormindo e outros,
exaustos, foram contra eles os homens de Corimbo, conduzindo a trirreme com grande
rapidez. 5-E ficando emparelhados com o barco, eles pularam dentro da embarcação,
empunhando as espadas. Aí então, uns, assustados, se jogaram ao mar e se afogaram;
outros, que tentaram se defender, foram degolados. 6-Habrócomes e Antia correram até
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Corimbo, o pirata, apertaram seus joelhos e disseram: - Dispõe, senhor, de nossas
riquezas e faz de nós teus escravos, mas não sacrifiques as nossas vidas nem mates os
que se submeteram a ti voluntariamente. Por este mar, por tua destra! Leva-nos para
onde quiseres e ponha-nos à venda como teus escravos! Apenas tem compaixão de nós,
fazendo-nos servir a um só senhor. (1.13.1-6)
Φοίνικεςτὸγένος,
ἐντριήρειµεγάλῃ:
παρώρµουνδὲὡςφορτίονἔχοντεςκαὶπολλοὶκαὶγεννικοί.
Οὗτοικατεµεµαθήκεσαντῇνηὶὅτιχρυσὸςκαὶἄργυροςκαὶἀνδράποδαπολλὰκαὶτίµια.
2∆ιέγνωσανοὖνἐπιθέµενοιτοὺςµὲνἀντιµαχοµένουςἀποκτιννύειν,
τοὺςδὲἄλλουςἄγεινεἰςΦοινίκηνπραθησοµένουςκαὶτὰχρήµατα:
κατεφρόνουνδὲὡςοὐκἀξιοµάχωναὐτῶν. 3-ΤῶνδὲπειρατῶνὁἔξαρχοςΚόρυµβοςἐκαλεῖτο,
νεανίαςὀφθῆναιµέγας,
φοβερὸςτὸβλέµµα:
κόµηἦναὐτῷαὐχµηρὰκαθειµένη.
4Ὡςδὲταῦταοἱπειραταὶἐβουλεύσαντο, τὰµὲνπρῶταπαρέπλεονἡσυχῆτοῖςπερὶἉβροκόµην:
τελευταῖονδὲ῾ἦνµὲνπερὶµέσονἡµέρας,
ἔκειντοδὲπάντεςοἱἐντῇνηὶὑπὸµέθηςκαὶῥᾳθυµίαςοἱµὲνκαθεύδοντες,
οἱδὲἀλύοντες᾿ἐφίστανταιδὲαὐτοῖςοἱπερὶτὸνΚόρυµβονἐλαυνοµένῃτῇνηὶσὺνὀξύτητιπολλ
ῇ. 5-Ὡςδὲπλησίονἐγένοντο, ἀνεπήδησανἐπὶτὴνναῦνὡπλισµένοι, τὰξίφηγυµνὰἔχοντες:
κἀνταῦθαοἱµὲνἐρρίπτουνἑαυτοὺςὑπ̓ἐκπλήξεωςεἰςτὴνθάλαττανκαὶἀπώλλυντο,
οἱδὲἀµύνεσθαιθέλοντεςἀπεσφάζοντο.
6ὉδὲἉβροκόµηςκαὶἡἌνθειαπροστρέχουσιτῷΚορύµβῳτῷπειρατῇ,
καὶλαβόµενοιτῶνγονάτωναὐτοῦ
‘τὰµὲνχρήµατα’
ἔφασαν,
‘ὦδέσποτα,
καὶἡµᾶςοἰκέταςἔχε,
φεῖσαιδὲτῆςψυχῆςκαὶµηκέτιφόνευετοὺςἑκόνταςὑποχειρίουςσοιγενοµένους:
µὴπρὸςαὐτῆςθαλάσσης,
µὴπρὸςδεξιᾶςτῆςσῆς:
ἀγαγὼνδὲἡµᾶςὅποιθέλεις,
ἀπόδουτοὺςσοὺςοἰκέτας: µόνονοἴκτειρονἡµᾶςὑφ̓ἑνὶποιήσαςδεσπότῃ.’
XIII.
1-ἜτυχονµὲνἐνῬόδῳπειραταὶπαρορµοῦντεςαὐτοῖς,
4.4 O sincretismo religioso
Quando se fala de sincretismo religioso, deve-se atentar para a constatação de
que não existe religião “pura”. Qualquer sociedade, num estágio mínimo de
desenvolvimento, não deixa de interagir com outros grupos, e o contato com as
diversas culturas, propicia, não apenas a nível interno, mas também externo, a
assimilação, por parte do grupo, de variados costumes e modos de pensar. Daí o
sincretismo cultural, característico das sociedades em processo de maior ou menor
expansão, resultante do constante intercâmbio do comércio humano.Nesse sentido, a
história dos grandes impérios e civilizações propicia múltiplas “globalizações” ao
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longo dos tempos, num processo não linear de formação de identidades culturais,
através de trocas, assimilações e desafios sempre instigantes.
As culturas mais avançadas surgem assim, e se desenvolvem, formando a sua
identidade étnica e cultural, de maneiras as mais diversas, não deixando de
assimilar, de um modo ou de outro, influências econômicas, políticas e culturais particularmente religiosas, resultantes do contato com sociedades diferentes, e
tendo, por conseguinte, de “crescer junto” e aprender com as alteridades.
Considerando-se os deuses genuinamente gregos, em suas mais diversas aspectos,
por exemplo, constata-se,de imediato,a influência, ou mesmo a assimilação, não raro
desde a origem, de aspectos e características de divindades não helênicas.
Todo cenário religioso, qualquer que ele seja, chega a um momento de
“estagnação”, de “engessamento”, demandando, então, tempos de mudança, e
ensejando assim novas crenças e ideias religiosas, e, concomitantemente, novos
sincretismos.
Em relação a esse aspecto, o mundo do ecúmeno greco-romano, em sua ampla
formação social abrangendo diversas etnias, dá margem a um rico sincretismo
religioso, onde vários cultos convivem uns com os outros e exercem influências
recíprocas, destacando-se, entre eles, os cultos de Ártemis, Cibele, Ísis, Ápis, Mitra,
Hélio e muitos outros (não esquecendo o cristianismo primitivo).
No presente estudo, levando-se em consideração o sincretismo religioso como
ele apareceemOs Efésios, aborda-se, particularmente, a presença das seguintes
divindades: Eros, Ártemis, Apolo, Hera, Hélio, Ísis, Ápis e o Nilo.
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4.4.1 Eros
Eros é conhecido como o deus do amor. O nome 1Erwj significa “desejo
sensual”, e está semanticamente associado ao verboe0raw - “estar inflamado de
amor”.
As faces de Eros são muitas.Os variados mitos, no entanto, desde os tempos
arcaicos da Hélade até a época helenística (do séc. IX a.C. ao séc. VI) o apresentam
como elo de ligação entre os seres. Eros aparece assim como a força fundamental do
mundo, e essa característica do deus marcará indelevelmente o pensamento grego
em todas as suas realizações.
Na Teogonia de Hesíodo, Eros (o mais belo dos deuses imortais, ) advém do
Caos; em seguida, ele passa a reger as uniões entre os Titãs e, posteriormente, entre
os deuses do Olimpo, assim como de homens e mulheres, e de todos os viventes.
Eros aflora entãocomo o princípio que assegura a geração e a reprodução das
espécies, bem como a coesão interna do cosmo.Eros enfraquece a força dos
membros, em todos os deuses, em todos os homens:o poder criativo de Eros tira
assim do caos a forma e a vida etraz ao homem vitalidade, mas exige a paixão além
da inteligência, e destrói, tanto assim como cria.
Numa das versões da cosmogonia órfica, onde Caos e Noite estão na origem do
mundo, a Noite põe um ovo; esse ovo se parte, e nasce Eros, enquanto das duas
metades da casca partida, provêm Urano (o Céu) e Geia (a Terra). Na sua origem,
Eros se apresenta como um ser duplo, bissexuado, apto a reunir, através do seu
poder, os aspectos diferenciados, ou seja, contrários, de um mundo concebido como
fragmentação e degradação da inteirezado Ser inicial.
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No Banquete de Platão, a personagem Sócrates, valendo-se de um discurso
atribuído a Diotima, apresenta Eros como um daímon (um demônio), espécie de
intermediário entre deuses e homens, nascido da união entre Poros (o Recurso)e
Penia (a Carência). Eternamente insatisfeito, como a mãe, e astucioso, como o pai,
Eros reconhece não ser sábio, mas busca saber, e nessa busca, supera a ignorância
(amathía). Eros é carência em busca da plenitude. Eros é filófoso. Eros ama o Belo,
e o desejo pelo Belofaz com que ele, gradativamente, ascenda da beleza física dos
belos corpos, à beleza das belas almas, e daí às ciências e à contemplação das
formas, na constante busca pela totalidade divina.
Outra genealogia apresenta Eros ainda como o filho de Ares e de Afrodite (agora
filha de Zeus e Dione). Nessa versão, Eros tem como irmão Antero (o Amor
Contrário ou Recíproco).
Com o tempo, Eros vai se tornando a figura do garotinho, quase sempre alado,.
Esse garotinho travesso, entretanto, não deixa de ser um deus perigoso, lançando
divertidamente as setas certeiras, envenenadas de amor e paixão no coração indefeso
das vítimas incautas.Entre os romanos, o menino alado passa a ser conhecido como
Cupido.
4.4.1.1 O Amor: fio condutor da narrativa
Podemos afirmar que Eros, o Amor, é uma espécie de fio condutor que
movimenta a trama do relato amoroso (erotiká), (30) onde a týkhe é onipresente.
(31)
Ao tratar dos relatos amorosos de viagem, BRANDÃO (2005, p. 235), aborda a
questão da relação entreÉros e týkhe:
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“... o que esses romances têm de específico é a presença do elemento erótico não
apenas como um dos aspectos de conteúdo, mas como uma função narrativa. O Eros
exerce neles, de fato, uma função comparada à da týkhe, enquanto o fio a partir do
qual se constitui a lógica do relato”.
Sendo o Amor associado à aventura, não há padadoxo maior do que o Amor,
ressalta ainda BRANDÂO (ibidem, p. 236), acrescentando que, nas narrativas
amorosas, onde a týkhe não é buscada, mas sofrida,
“...de certo modo, o amor é a týkhe por excelência que se representa nesse tipo de
romance, e o amor não se busca, o amor acontece... É nesse sentido que o amor é
um páthos que os protagonistas contraem por acaso, da mesma forma como se
contrai uma doença, sendo seus primeiros sintomas percebidos efetivamente como
enfermidade em Efesíacas (Os Efésios)...”.
Também destaca BRANDÃO que Eros é filokeinoj (amante da disputa) e
filokainoj (amante das novidades), identificando-se assim com a týkhe.
Assim sendo, o Amor enseja a odisseia de Habrócomes e Antia, emOs Efésios, e
têm início as provações dos amantes. Eros é uma força necessária e vital, mas
perversa e perturbadora. (32).O deus fica muito ressentido com o orgulhoso
Habrócomes, e a sua raiva não deixa de evocar acélebreira de Aquiles, que Homero
anuncia na primeiro verso da Ilíada.Eros incorpora, assim, as qualidades de um
individualismo hostil, que o grego considera destrutivo para a unidade da pólis.Eros,
portanto, num determinado nível, é um deus, e noutro,como uma força externa que
aflige os indivíduos contra a sua vontade; nesse outro nível, ele se afigura a uma
espécie de turbulência psíquica, associada à arrogância, à competitividade, à
frustração e à confusão de identidadeque vêm com a adolescência. Eros interfere
69
assim em toda a narrativa, que,daí em diante, se desenvolve à sua feição. Eros
mostra o seu poder e a sua força, e nada vem a acontecer sem ele. Eros é um
estrategista que concebe um meio (tékhne),e então parte para o ataque e pune a
arrogância do jovem Habrócomes. Nesse sentido, o desejo está sempre presente no
início de uma narrativa romanesca – conforme sustenta Peter Brook (1984), (33)
muitas vezes num estado de excitação inicial – como quando Habrócomes vê Antia
na procissão de Ártemis. Essa excitação inicial é de uma intensidade tal que
desencadeia a ação,dando ensejo à mudança: Habrócomes e Antia se encontram na
procissão de Ártemis, sentem-se atraídos um pelo outro e acabam se apaixonado.
Eros incorpora, consequentemente, o processo mágico pelo qual a energia narrativa
aparentemente é criada. E a partir dessa criação, advém o caos, repentinamente.
Os excertos que se seguem são bastante ilustrativos dessa situação inicial,
evidenciado-se a arrogância do belo Habrócomes, a vingança de Eros e o encontro
de Habrócomes e Antia, durante a procissão de Ártemis:
-
Nem mesmo a Eros ele considerava um deus, e o descartava completamente,
julgando-o de nenhum valor, e dizendo que jamais amaria ou se submeteria ao deus,
a não ser se ele próprio quisesse. E se encontrasse uma estátua ou um santuário de
Eros, ele debochava e se exibia, dizendo sersuperior a qualquer Eros. E assim era:
por onde Habrócomes passasse, nenhuma estátua se afigurava bela, nenhuma
imagem era exaltada. (Livro I. 1.5)
Ἔρωτάγεµὴνοὐδὲἐνόµιζενεἶναιθεόν,
ἀλλὰπάντηἐξέβαλενοὐδὲνἡγούµενος,
λέγωνὡςοὐκἄνποτέτιςἐρασθείηοὐδὲὑποταγείητῷθεῷµὴθέλων:
εἰδέπουἱερὸνἢἄγαλµαἜρωτοςεἶδε,
κατεγέλα,
70
ἀπέφαινέτεἑαυτὸνἜρωτοςπαντὸςκαλλίονα.
Καὶεἶχενοὕτως:
ὅπουγὰρἉβροκόµηςὀφθείη, οὔτεἄγαλµακαλὸνἐφαίνετοοὔτεεἰκὼνἐπῃνεῖτο.
-
II.1- Eros andava muito ressentido por causa dessas coisas. O deus, amante da
discórdia e implacável com os orgulhosos, buscava uma maneira de apanhar o
jovem, pois este, até para um deus como ele, afigurava-se difícil de pegar.Assim
sendo, tendo se armado, e com toda a força das poções de amor, Eros partiu para
atacar Habrócomes. (Livro I. 2.1)
ΜηνίειπρὸςταῦταὁἜρως:
φιλόνεικοςγὰρὁθεὸςκαὶὑπερηφάνοιςἀπαραίτητος:
ἐζήτειδὲτέχνηνκατὰτοῦµειρακίου:
καὶγὰρκαὶτῷθεῷδυσάλωτοςἐφαίνετο.
Ἐξοπλίσαςοὖνἑαυτὸνκαὶπᾶσανδύναµινἐρωτικῶνφαρµάκωνπεριβαλόµενοςἐστράτευ
ενἐφ̓Ἁβροκόµην.
-
E Antia era aclamada por todos os espectadores como “Antia, a bela”. 8- E
enquanto passava o grupo das moças, ninguém falou outro nome senão o de Antia,
mas quando Habrócomes apareceu à frente dos efebos, daí em diante, apesar da
beleza do cortejo das moças, todos se esqueceram delas ao ver Habrócomes, e
voltaram os seus olhos para ele, gritando, impressionados com o espetáculo, e
exclamando: “Belo é Habrócomes! Como nenhum outro, ele é tão belo quanto a
imagem de um deus!”. 9- E alguns ainda comentavam: “Que casamento seria o de
Habrócomes e Antia!”. Tais foram os primeiros sintomas da arte de Eros. E logo
chegou, a cada um dos dois, Antia e Habrócomes, a fama de um e de outro. E Antia
desejava ver Habrócomes, e Habrócomes, até então insensível ao amor, queria ver
Antia. (Livro I. 2. 7-9)
ἦνδὲδιαβόητοςτοῖςθεωµένοιςἅπασινἌνθειαἡκαλή.
Ὡςδὲπαρῆλθετὸτῶνπαρθένωνπλῆθος,
ὡςδὲἉβροκόµηςµετὰτῶνἐφήβωνἐπέστη,
8οὐδεὶςἄλλοτιἢἌνθειανἔλεγεν:
τοὐνθένδε,
71
καίτοικαλοῦὄντοςτοῦκατὰτὰςπαρθένουςθεάµατος,
πάντεςἰδόντεςἉβροκόµηνἐκείνωνἐπελάθοντο,
ἔτρεψανδὲτὰςὄψειςἐπ̓αὐτὸνβοῶντεςὑπὸτῆςθέαςἐκπεπληγµένοι,
‘καλὸςἉβροκόµης’
λέγοντες,
‘καὶοἷοςοὐδὲεἷςκαλοῦµίµηµαθεοῦ.’
9-Ἤδηδέτινεςκαὶτοῦτοπροσέθεσαν
‘οἷοςἂνγάµοςγένοιτοἉβροκόµουκαὶἈνθείας.’
Καὶταῦτ̓ἦνπρῶτατῆςἜρωτοςτέχνηςµελετήµατα.
Ταχὺµὲνδὴεἰςἑκατέρουςἡπερὶἀλλήλωνἦλθεδόξα:
καὶἥτεἌνθειατὸνἉβροκόµηνἐπεθύµειἰδεῖν,
καὶὁτέωςἀνέραστοςἉβροκόµηςἤθελενἌνθειανἰδεῖν. (I. 2. 7-9).
A partir de agora, até o fim da narrativa, a vida, para os protagonistas –
Habrócomes e Antia -, é para ser vivida (experienciada) intensa e aceleradamente, e
pontuada por abruptos “de repentes”. Ao mesmo tempo, Eros incorpora a intenção de
encerramento definitivo da consumação da energia da narrativa erótica. Existe o desejo,
pelo menos para os protagonistas do romance, que tem de ser, finalmente, satisfeito.
Segue-se então o caos decorrente das profundas e desencontradas emoções
vividas pelos jovens. É o que constata nos seguintes excertos:
-
III. 1- Quando a procissão terminou, toda a multidão se dirigiu ao templo, para
realizar o sacrifício, e a ordem do cortejo se desfez. Homens e mulheres, moças e
efebos, se reuniram então no mesmo lugar, e aí, os dois jovens se encontraram.
Antia foi surpreendida por Habrócomes, e este, apanhado por Eros, olhava
fixamente para a moça e não conseguia se desvencilhar da visão impressionante.
Atormentando o efebo, o deus Eros se apoderava dele. 2- Antia, por sua vez, se
sentia muito desconfortável. Toda olhos para a beleza irradiante de Habrócomes, ela
entregava os pontos, e chegava até a se comportar de um modo não conveniente
para uma jovem. Dizia qualquer coisa, só para que Habrócomes a ouvisse, e
descobria as partes do corpo que lhe era pospivel mostrar, só para que Habrócomes
as visse. E ele, prisioneiro do deus, se entregava à visão fascinante. 3- Realizado o
sacrifício, eles se afastaram pesarosos, lamentando a rapidez da separação. E
querendo olhar um para o outro, eles se voltavam e retrocediam, inventando mil
pretextos para se demorar mais um pouco. 4- E quando os dois foram embora, cada
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um para a sua casa, eles reconheceram, então, porque não estavam se sentindo bem.
E cada um se recordava da visão do outro, e eles ardiam de amor, e o desejo só fazia
aumentar pelo resto do dia. E quando Antia e Habrócomes conseguiram, afinal,
conciliar o sono, eles seguiram, cada um a seu modo, na mesma agonia, pois o amor
era irresistível. (I. 3. 1-4).
1-Ὡςοὖνἐτετέλεστοἡποµπή,
ἦλθονδὲεἰςτὸἱερὸνθύσοντεςἅπαντὸπλῆθοςκαὶὁτῆςποµπῆςκόσµοςἐλέλυτο,
ᾔεσανδὲἐςταὐτὸνἄνδρεςκαὶγυναῖκες, ἔφηβοικαὶπαρθένοι, ἐνταῦθαὁρῶσινἀλλήλους,
καὶἁλίσκεταιἌνθειαὑπὸτοῦἉβροκόµου,
ἡττᾶταιδὲὑπὸτοῦἜρωτοςἉβροκόµηςκαὶἐνεώρατεσυνεχέστεροντῇκόρῃκαὶἀπαλλαγῆναι
τῆςὄψεωςἐθέλωνοὐκἐδύνατο:
κατεῖχεδὲαὐτὸνἐγκείµενοςὁθεός.
2∆ιέκειτοδὲκαὶἌνθειαπονήρως,
ὅλοιςµὲνκαὶἀναπεπταµένοιςτοῖςὀφθαλµοῖςτὸἉβροκόµουκάλλοςεἰσρέονδεχοµένη,
ἤδηδὲκαὶτῶνπαρθένοιςπρεπόντωνκαταφρονοῦσα:
καὶγὰρἐλάλησενἄντι,
ἵναἉβροκόµηςἀκούσῃ, καὶµέρητοῦσώµατοςἐγύµνωσενἂντὰδυνατά, ἵναἉβροκόµηςἴδῃ:
ὁδὲαὑτὸνἐδεδώκειπρὸςτὴνθέανκαὶἦναἰχµάλωτοςτοῦθεοῦ.
3Καὶτότεµὲνθύσαντεςἀπηλλάττοντολυπούµενοικαὶτῷτάχειτῆςἀπαλλαγῆςµεµφόµενοι:
καὶἀλλήλουςβλέπεινἐθέλοντεςἐπιστρεφόµενοικαὶὑφιστάµενοιπολλὰςπροφάσειςδιατριβῆ
ςεὕρισκον.
4-Ὡςδὲἦλθονἑκάτεροςπαῤἑαυτόν,
ἔγνωσαντότεοἷκακῶνἐγεγόνεσαν:
καὶἔννοιαἐκείνουςὑπῄειτῆςὄψεωςθατέρουκαὶὁἔρωςἐναὐτοῖςἀνεκαίετοκαὶτὸπεριττὸντῆς
ἡµέραςαὐξήσαντεςτὴνἐπιθυµίαν,
ἐπειδὴεἰςὕπνονᾔεσαν,
ἐνἀθρόῳγίνονταιτῷδεινῷ,
καὶὁἔρωςἐνἑκατέροιςἦνἀκατάσχετος.
III.
-
IV. 1- Habrócomes, puxando os cabelos e amarrotando as vestes, dizia: - Ai de
mim! Quantos males! O que sofro, infeliz? Eu que até agora era o viril Habrócomes, o
que sempre depreciava Eros, eu que vivia insultando-o duramente, me vejo dominado
e vencido por ele, e obrigado a ser escravo de uma moça. E me parece que existe
alguém mais belo do que eu, e o chamo de deus Eros. 2- Ó, eu sou tão covarde e vil!
Não serei capaz de resistir? Não me manterei forte? Não serei mais belo que Eros? É
preciso que eu vença agora esse deus que não é nada. 3- É bela essa moça. E o que tem
isso? Ela é bela para teus olhos, Habrócomes, mas não será se tu não quiseres. Isso já
está decidido: nunca Eros será capaz de me vencer. 4- Habrócomes dizia essas coisas e
o deus com mais força o pressionava, apesar da resistência, e o atormentava contra a
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sua vontade. E não mais podendo resistir, Habrócomes, jogando-se no chão, disse: Eros, tu venceste! Eros, um grande troféu ergueste por tua vitória sobre o virtuoso
Habrócomes, tu já tens em mim um suplicante. 5- Pois então, salva agora aquele que
em ti busca refúgio, Senhor de todas as coisas. Não me abandones nem leves tua
vingança às últimas consequências contra a minha arrogância. Por não haver
experimentado ainda, Eros, a tua força, eu me mostrava orgulhoso. Mas, agora,
entrega-me a Antia. Não sejas somente um deus severo contra quem te opõe, mas sejas
compassivo com o vencido. Assim ele falou, mas Eros ainda estava muito irritado e
arquitetava uma grande vingança contra as depreciações de Habrócomes. 6- Antia, por
sua vez, também estava passando mal, e quando não podia mais resistir, tratava de se
reanimar para que os que a rodeavam não percebessem. – O que sofro, - dizia ela - ,
infeliz de mim! Eu, uma virgem, amo minha juventude acima de tudo e sofro um mal
novo e que não convém a uma moça. Estou louca por Habrócomes, que é belo, porém
orgulhoso. 7- Qual será o limite do meu desejo e qual será o fim desse mal? Meu
amado é arrogante e eu sou uma virgem resguardada. A quem pedirei ajuda? A quem
contarei essas coisas? Onde poderei ver Habrócomes? (I. 4. 1-7)
IV. 1-ΛαβὼνδὴτὴνκόµηνὁἉβροκόµηςκαὶσπαράξαςτὴνἐσθῆτα ‘φεῦµοιτῶνκακῶν’ εἶπε,
‘τίπέπονθαὁδυστυχής;
ὁµέχρινῦνἀνδρικὸςἉβροκόµης,
ὁκαταφρονῶνἜρωτος,
ὁτῷθεῷλοιδορούµενοςἑάλωκακαὶνενίκηµαικαὶπαρθένῳδουλεύεινἀναγκάζοµαι,
καὶφαίνεταίτιςἤδηκαλλίωνἐµοῦκαὶθεὸνἜρωτακαλῶ.
2Ὦπάνταἄνανδροςἐγὼκαὶπονηρός:
οὐκαρτερήσωνῦν;
οὐµενῶγεννικός;
οὐκἔσοµαικαλλίωνἜρωτος; νῦνοὐδὲνὄνταθεὸννικῆσαίµεδεῖ. 3-Καλὴπαρθένος: τίδέ;
τοῖςσοῖςὀφθαλµοῖς, Ἁβροκόµη, εὔµορφοςἌνθεια, ἀλλ̓, ἐὰνθέλῃς, οὐχὶσοί.
∆εδόχθωταῦτα:
οὐκἂνἜρωςποτέµουκρατήσειε.’
4-Ταῦταἔλεγε,
καὶὁθεὸςσφοδρότεροςαὐτῷἐνέκειτοκαὶεἷλκενἀντιτείνοντακαὶὠδύναµὴθέλοντα.
Οὐκέτιδὴκαρτερῶν,
ῥίψαςἑαυτὸνεἰςγῆν
‘νενίκηκας’
εἶπεν,
‘Ἔρως,
µέγασοιτρόπαιονἐγήγερταικαθ̓Ἁβροκόµουτοῦσώφρονος:
ἱκέτηνἔχεις.
5Σὺδὲσῶσοντὸνἐπὶσὲκαταπεφευγότατὸνπάντωνδεσπότην.
Μήµεπεριίδῃςµηδὲἐπὶπολὺτιµωρήσῃτὸνθρασύν.
Ἄπειροςὤν,
Ἔρως,
ἔτιτῶνσῶνὑπερηφάνουν:
ἀλλὰνῦνἌνθειανἡµῖνἀπόδος:
γενοῦµὴπικρὸςµόνονἀντιλέγοντι,
ἀλλ̓εὐεργέτηςἡττωµένῳθεός.’
Ταῦταἔλεγεν,
ὁδὲἜρωςἔτιὠργίζετοκαὶµεγάληντῆςὑπεροψίαςἐνενόειτιµωρίανεἰσπράξασθαιτὸνἉβροκ
όµην. 6-∆ιέκειτοδὲκαὶἡἌνθειαπονήρως: καὶοὐκέτιφέρεινδυναµένηἐπεγείρειἑαυτήν,
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πειρωµένητοὺςπαρόνταςλανθάνειν.
‘Τί’
φησὶν
‘ἡδυστυχὴςπέπονθα;
παρθένοςπαῤἡλικίανἐρῶκαὶὀδυνῶµαικαινὰκαὶκόρῃµὴπρέποντα.
Ἐφ̓Ἁβροκόµῃµαίνοµαικαλῷµέν,
ἀλλ̓ὑπερηφάνῳ.
7Καὶτίςἔσταιὁτῆςἐπιθυµίαςὅροςκαὶτίτὸπέραςτοῦκακοῦ;
Σοβαρὸςοὗτοςἐρώµενος,
παρθένοςἐγὼφρουρουµένη:
τίναβοηθὸνλήψοµαι;
τίνιτἀµὰκοινώσοµαι;
ποῦδ̓Ἁβροκόµηνὄψοµαι;’
- V.1- Assim se lamentava cada um deles durante toda a noite e ambos tinham diante
dos olhos o rosto do outro, pois cada um tinha a imagem do outro formada na alma.
Quando o dia nasceu, Habrócomes foi para os seus exercícios usuais, e a moça foi
celebrar o culto da deusa, como de costume. 2- Seus corpos estavam esgotados por
causa da noite anterior, os rostos pálidos e abatidos. E isso durou muito tempo e não
havia nada que eles pudessem fazer. 3- Passavam o dia no templo da deusa, olhando
um para o outro, mas não ousavam dizer a verdade, porque tinham medo. E não tinha
jeito: Habrócomes suspirava, chorava e suplicava, para que a moça o ouvisse com
compaixão. 4- E Antia sofria a mesma coisa, mas tinha de suportar uma infelicidade
ainda maior, pois via que outras moças e mulheres olhavam para ele. E todas elas
olhavam para Habrócomes! Era evidente o sofrimento da jovem, pois ela temia parecer
inferior às outras mulheres. E ambos dirigiam preces à deusa, sem saber, no entanto,
que essas preces eram semelhantes.
5- Algum tempo depois, o rapaz já não podia mais suportar, com o corpo extenuado
e a alma abatida, de modo que Licomedes e Temisto ficaram muito preocupados,
pois eles não sabiam o que estava acontecendo com Habrócomes, e temiam o pior
com o que estavam vendo. 6- Um temor semelhante tinham Megamedes e Evipe por
causa de Antia, ao verem a sua beleza se consumir e não atinarem com a causa
daquela infelicidade. Finalmente, levaram até Antia adivinhos e sacerdotes para que
encontrassem uma solução para o seu mal. 7- E eles sacrificaram, fizeram libações e
75
pronunciaram palavras incompreensíveis, a fim de aplacar, com essas palavras,
certas divindades, pois acreditavam que o mal provinha de deuses subterrâneos.8As pessoas próximas de Licomedes também fizeram muitos sacrifícios e preces por
Habrócomes, mas não houve solução para o mal; em vez disso, o amor ardia, cada
vez mais inflamado. 9- Ambos caíram doentes, e a sua saúde piorou, e eles ficaram
acamados, fazendo as pessoas pensarem que eles fossem morrer a qualquer
momento, pois não podiam diagnosticar que mal os afligia. (I. 5. 1-9)
1-Ταῦθ̓ἑκάτεροςαὐτῶνδἰὅληςτῆςνυκτὸςὠδύρετο,
V.
εἶχονδὲπρὸὀφθαλµῶντὰςὄψειςτὰςἑαυτῶν,
τὰςεἰκόναςἐπὶτῆςψυχῆςἀλλήλωνἀναπλάττοντες:
ὡςδὲἡµέραἐγένετο,
ᾔειµὲνἉβροκόµηςἐπὶτὰσυνήθηγυµνάσµατα,
2-
ᾔειδὲἡπαρθένοςἐπὶτὴνἐξἔθουςθρησκείαντῆςθεοῦ.
Ἦνδὲαὐτοῖςκαὶτὰσώµαταἐκτῆςπαρελθούσηςνυκτὸςπεπονηκότακαὶτὸβλέµµαἄθυµον
καὶοἱχρῶτεςἠλλαγµένοι:
καὶτοῦτοἐπὶπολὺἐγίνετοκαὶπλέονοὐδὲναὐτοῖςἦν.
3-
Ἐντούτῳἐντῷἱερῷτῆςθεοῦδιηµερεύοντεςἐνεώρωνἀλλήλοις,
εἰπεῖντἀληθὲςφόβῳπρὸςἑκατέρουςαἰδούµενοι:
τοσοῦτοδέ:
ἐστέναξενἄνποτεἉβροκόµηςκαὶἐδάκρυσεκαὶπροσεύχετοτῆςκόρηςἀκουούσηςἐλεειν
ῶς:
4-ἡδὲἌνθειαἔπασχεµὲντὰαὐτά,
πολὺδὲµείζονιτῇσυµφορᾷκατείχετο:
εἰδέποτεἄλλαςπαρθένουςἢγυναῖκαςἴδοιβλεπούσαςεἰςἐκεῖνον῾ἑώρωνδὲἅπασαιεἰςἉβρ
οκόµην̓,
δήληἦνλυπουµένη,
µὴπαρευδοκιµηθῇφοβουµένη.
Εὐχαὶδὲαὐτοῖςἑκατέροιςἦσανπρὸςτὴνθεὸνκοινῇ,
ἀλλ̓ἐγίνοντοὅµοιαι.
λανθάνουσαιµέν,
5-Χρόνουδὲπροϊόντοςοὐκέτιτὸµειράκιονἐκαρτέρει,
ἤδηδὲαὐτῷκαὶτὸσῶµαπᾶνἠφάνιστοκαὶἡψυχὴκατεπεπτώκει,
ὥστεἐνπολλῇἀθυµίᾳτὸνΛυκοµήδηνκαὶτὴνΘεµιστὼγεγονέναι,
76
οὐκεἰδόταςµὲνὅτιεἴητὸσυµβαῖνονἉβροκόµῃ,
δεδοικόταςδὲἐκτῶνὁρωµένων.
6-
ἘνὁµοίῳδὲφόβῳκαὶὁΜεγαµήδηςκαὶἡΕὐίππηπερὶτῆςἈνθείαςκαθειστήκεσαν,
ὁρῶντεςαὐτῆςτὸµὲνκάλλοςµαραινόµενον,
τὴνδὲαἰτίανοὐφαινοµένηντῆςσυµφορᾶς.
Τέλοςδ̓εἰσάγουσιπαρὰτὴνἌνθειανµάντειςκαὶἱερέας, ὡςεὑρήσονταςλύσιντοῦδεινοῦ.
7-Οἱδὲἐλθόντεςἔθυόντεἱερεῖακαὶποικίλαἐπέσπενδονκαὶἐπέλεγονφωνὰςβαρβαρικάς,
ἐξιλάσκεσθαίτιναςλέγοντεςδαίµονας,
καὶπροσεποιοῦντοὡςεἴητὸδεινὸνἐκτῶνὑποχθονίωνθεῶν.
8-
ΠολλὰδὲκαὶὑπὲρἉβροκόµουοἱπερὶτὸνΛυκοµήδηνἔθυόντεκαὶεὔχοντο:
λύσιςδὲοὐδεµίατοῦδεινοῦοὐδὲἑτέρῳαὐτῶνἐγίνετο,
ἀλλὰκαὶἔτιµᾶλλονὁἔρωςἀνεκάετο.9-Ἔκειντοµὲνδὴἑκάτεροινοσοῦντες,
πάνυἐπισφαλῶςδιακείµενοι,
ὅσονοὐδέπωτεθνήξεσθαιπροσδοκώµενοι,
κατειπεῖναὑτῶντὴνσυµφορὰνµὴδυνάµενοι.
Ainda em relação ao amor como uma espécie de fio condutor na trama do
romance, apresentam-se aqui quatro passagens, onde uma ou outra personagem se
sente atraída por um dos dois amantes -Habrócomes ou Antia -, chegando mesmo a
apaixonar-se perdidamente. Em todas essas passagens selecionadas, destaca-se o
emprego do verbo e0ra~
a~n, acompanhado da expressão σφοδρὸνἔρωτα. Ei-las:
-
Enquanto navegava (em direção a Tiro), Corimbo, de tanto ver Habrócomes
todos os dias, se apaixonou perdidamente por ele, e a convivência com o rapaz só
fez inflamar mais ainda essa paixão. (Livro I. 14. 7)
Ἐνδὲτῷτοῦπλοὸςδιαστήµατιἐκπολλῆςτῆςκαθ̓ἡµέρανὄψεωςἐρᾷὁΚόρυµβοςτοῦἉβροκ
όµουσφοδρὸνἔρωτα, καὶαὐτὸνἡπρὸςτὸµειράκιονσυνήθειαἐπὶπλέονἐξέκαε.
77
-
4- Euxino escutou com muita atenção as coisas que Corimbo lhe disse, pois ele,
por sua vez, estava sofrendo muito por Antia, perdidamente apaixonado pela moça.
(Livro I. 15. 4)
ὉδὲΕὔξεινοςἄσµενοςἀκούειτὰπερὶτοῦΚορύµβου:
καὶγὰραὐτὸςἐπ̓Ἀνθείᾳδιέκειτοπονήρωςκαὶἤρατῆςκόρηςσφοδρὸνἔρωτα:
-
XI. 1- Antia já morava com o cabreiro há algum tempo, quando Méris, o marido
de Manto, foi ao sítio e desejou Antía, apaixonando-se perdidamente. (Livro II.
11.1)
ἩδὲἌνθειαἦνµέντιναχρόνονπαρὰτῷαἰπόλῳ,
συνεχὲςδὲὁΜοῖριςὁἀνὴρτῆςΜαντοῦςεἰςτὸχωρίονἐρχόµενοςἐρᾷτῆςἈνθείαςσφοδρὸν
ἔρωτα.
- Políido, então, ficou perdidamente apaixonado por Antia, logo ele, que tinha uma
esposa em Alexandria. (Livro V. 4. 5)
ἘντούτῳἐρᾷκαὶὁΠολύιδοςἈνθείαςἔρωτασφοδρόνἦνδὲαὐτῷἐνἈλεξανδρείᾳγυνἤ:
Cabe ainda mencionar a relação de profunda e desinteressada amizade (philia),
que a ambígua figura do bandido Hipótoo nutre pelo jovem Habrócomes,
praticamente desde o momento em que o conheceu, se esforçando o tempo todo para
encontrá-lo, sobretudo, depois de saber que ele tem consigo Antia, até o momento
culminante do reconhecimento e do reencontro dos amantes em Rodes. De volta a
78
Éfeso, ele ali fixa residência, acompanhado do belo Clístenes, passando a conviver
com Antia e Habrócomes daí em diante.
O excerto selecionado, é ilustrativo do sentimento de amizade que Hipótoo nutre
por Habrócomes:
13- Hipótoo, então, ao ouvir que ela era Antía, e que ela era a esposa do amigo que
ele mais amava, abraçou-a e exortou-a a ter confiança, e, assim, lhe contou da sua
amizade com Habrócomes. Daí em diante, ele a conservou em sua casa, cercando-a
de todos os cuidados, em consideração a Habrócomes. E passou a investigar, ele
mesmo, a fim de reencontrar Habrócomes.(Livro V. 9. 13)
13-ὁδὲἹππόθοοςἀκούσαςὅτιτεἌνθειαεἴηκαὶὅτιγυνὴτοῦπάντωναὐτῷφιλτάτου,
ἀσπάζεταίτεαὐτὴνκαὶεὐθυµεῖνπαρεκάλεικαὶτὴναὑτοῦπρὸςἉβροκόµηνφιλίανδιηγεῖτ
αι.
Καὶτὴνµὲνεἶχενἐπὶτῆςοἰκίας,
πᾶσανπροσάγωνἐπιµέλειαν,
Ἁβροκόµηναἰδούµενος: αὐτὸςδὲπάνταἀνηρεύνα, εἴπουτὸνἉβροκόµηνἀνεύροι.
4.4.2 Ártemis
Ártemis, filha de Zeus e de Leto, é a irmã de Apolo. Com o arco, que ela recebeu
do pai, juntamente com as flechas, Ártemis torna-se a deusa da caça. Como sustenta
OTTO (2005, p. 71), a deusa Ártemis, associada a liberdade feminina, se espelha na
natureza virginal,
“... com seu esplendor e sua selvageria, sua pureza sem culpa e sua insólita
estranheza. {Ártemis} é maternal e delicadamente solícita, mas à maeira de uma
autêntica virgem, ao mesmo tempo pudica, dura e cruel”.
Ártemis é, ainda, considerada a casta (a1gnh). A deusa protege, por conseguinte,
a castidade dos jovens. Também vinculado à lua, o culto de Ártemis pode ter sido
79
associado a outros cultos do Mediterrâneo Oriental, particularmente o da deusa
egípcia Ísis.
“ Ártemis era a deusa da vida selvagem, uma virgem caçadora, acompanhada
por um séquito de ninfas, e também uma deusa do parto e de todas as criaturas
muito jovens. Identificava-se também essa deusa com a lua. Um centro famoso de
seu culto era Éfeso, onde se destacava seu caráter maternal, e onde ela pode ter sido
originariamente uma deusa asiática da fertilidade.”.(HARVEY, p.61)
A paixão de Habrócomes e Antia suscita uma crise na comunidade. (34) O amor
como doença vivenciada pelos amantes pode ser projetado a nível cívico, como um
conjunto de emoções negativas e destrutivas, ameaçando a coesão do grupo social.
Daí as práticas rituais na Éfeso da obra de Xenofonte, as quais tentam dar conta do
modo como as comunidades procuravam manter o grupo coeso e preparado para
lidar com a possibilidade do desencadeamento de todas essas emoções. .
A descrição da procissão de Ártemis em Os Efésios, apresenta todos os temas de
educação cívica na abertura do romance, realçando o relacionamento entre indivíduo
e comunidade, sob o aspecto visual. Os objetos levados na procissão reforçam
ritualmente a harmonia da ocasião: moças e efebos são separados, a procissão é
organizada em filas; e o casamento é o resultado que se espera, uma vez que era
costume naquele festival, que os noivos fossem escolhidos. Com a reunião de
mulheres e homens nessa procissão, o festival propiciava o lugar de encontro - de
noivos para as moças, e de noivos para os efebos. O casamento consolidava a
harmonia social, reunindo-se homens e mulheres, moças e efebos, no sacrifício
culminante no templo, viabilizando a complementaridade dos opostos. A
comunidade, por sua vez, investe as suas aspirações no casamento,aclamando a
80
possibilidade de um casamento entre os seus dois jovens mais belos: Habrócomes e
Antia.
Em Os Efésios, onde os amantes se encontram na procissão,a ideia de que os
festivais são ocasiões de oportunidades amorosas é, inegavelmente, um marco da
literatura erótica (erotiká). E presumivelmente, baseado na realidade cotidiana da
vida que se levava no Mediterâneo do ecúmeno greco-romano, onde tais ocasiões
ofereciam uma real oportunidade para que mulheres e homens se encontrassem,
Xenofonte retoma esse lugar comum (tópos) em sua narrativa romanesca.
O seguinte excerto mostra a procissão de Ártemis, em Os Efésios:
-
2-Celebrava-se então a festa de Ártemis, que se estendia da cidade até o templo,
distante sete estádios. Tinham de participar da procissão todas as moças nativas,
suntuosamente adornadas, assim como os efebos da idade de Habrócomes. Com
cerca de dezesseis anos, ele estava com os efebos na mesma faixa etária. Na
procissão, o jovem vinha entre os primeiros. 3- Uma grande multidão acorrera à
festa da deusa: muitos nativos e muitos estrangeiros. Na festa nacional, era um
costume encontrar noivos para as moças e noivos para os efebos. 4- O cortejo
passava em fila: primeiro os objetos sagrdos, as tochas, os cestos com as oferendas e
os incensos; em seguida, os cavalos, os cães e os apetrechos da caça, os quais, para
uns eram atributos de guerra, e para outros, atributos de paz. E cada uma das jovens
estava muito bem arrumada, como se fosse uma dádiva para o seu amado. 5- Ia à
frente das filas das moças, Antia, filha de Megamedes e Evipe, naturais de Éfeso. A
beleza de Antia era a mais admirada e superava de longe a das outras moças. A
jovem tinha quatorze anos de idade. Seu corpo florescia em boa forma e o adorno da
figura contribuía em muito para os seus encantos. 6- A cabeleira ruiva, solta, em
81
boa parte, e com algumas tranças, movendo-se ao sabor dos ventos; os olhos
ardentes, brilhantes como os de uma donzela, tímidos como os de uma mulher casta;
a sua vestimenta, uma túnica cor de púrpura, fechada até os joelhos; caindo-lhe
pelos braços, uma pele de corça a envolvia; um carcás lhe pendia dos ombros, e ela
carregava arcos e flechas seguida pelos cães. 7- Frequentemente, os efésios, quando
a viam no recinto sagrado, prostravam-se diante dela, como se ela fosse a própria
deusa Ártemis. (I. 2. 2-9)
2-ἬγετοδὲτῆςἈρτέµιδοςἐπιχώριοςἑορτὴἀπὸτῆςπόλεωςἐπὶτὸἱερόν:
στάδιοιδέεἰσινἑπτά:
ἔδειδὲποµπεύεινπάσαςτὰςἐπιχωρίουςπαρθένουςκεκοσµηµέναςπολυτελῶςκαὶτοὺςἐφή
βους,
ὅσοιτὴναὐτὴνἡλικίανεἶχοντῷἉβροκόµῃ.
Ἦνδὲαὐτὸςπερὶτὰἓξκαὶδέκαἔτηκαὶτῶνἐφήβωνπροσήπτετοκαὶἐντῇποµπῇτὰπρῶταἐφ
έρετο.
3-Πολὺδὲπλῆθοςἐπὶτὴνθέαν,
πολὺµὲνἐγχώριον,
πολὺδὲξενικόν:
καὶγὰρἔθοςἦνἐνἐκείνῃτῇπανηγύρεικαὶνυµφίουςταῖςπαρθένοιςεὑρίσκεσθαικαὶγυναῖκ
4-Παρῄεσανδὲκατὰστίχονοἱποµπεύοντες:
αςτοῖςἐφήβοις.
πρῶταµὲντὰἱερὰκαὶδᾷδεςκαὶκανᾶκαὶθυµιάµατα:
ἐπὶτούτοιςἵπποικαὶκύνεςκαὶσκεύηκυνηγετικὰὧδεπολεµικά,
τὰδὲπλεῖσταεἰρηνικά.
ἑκάστηδὲαὐτῶνοὕτωςὡςπρὸςἐραστὴνἐκεκόσµητο.5ἮρχεδὲτῆςτῶνπαρθένωντάξεωςἌνθεια,
θυγάτηρΜεγαµήδουςκαὶΕὐίππης,
ἐγχωρίων.
ἮνδὲτὸκάλλοςτῆςἈνθείαςοἷονθαυµάσαικαὶπολὺτὰςἄλλαςὑπερεβάλλετοπαρθένους.
Ἔτηµὲντεσσαρεσκαίδεκαἐγεγόνει,
ἤνθειδὲαὐτῆςτὸσῶµαἐπ̓εὐµορφίᾳ,
καὶὁτοῦσχήµατοςκόσµοςπολὺςεἰςὥρανσυνεβάλλετο:
ἡπολλὴκαθειµένη,
ὀλίγηπεπλεγµένη,
6-κόµηξανθή,
πρὸςτὴντῶνἀνέµωνφορὰνκινουµένη:
ὀφθαλµοὶγοργοί, φαιδροὶµὲνὡςκόρης, φοβεροὶδὲὡςσώφρονος: χιτὼνἁλουργής,
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ζωστὸςεἰςγόνυ, µεχρὶβραχιόνωνκαθειµένος, νεβρὶςπερικειµένη, γωρυτὸςἀνηµµένος,
τόξα,
ἄκοντεςφερόµενοι,
κύνεςἑπόµενοι.
7-
ΠολλάκιςαὐτὴνἐπὶτοῦτεµένουςἰδόντεςἘφέσιοιπροσεκύνησανὡςἌρτεµιν.
4.4.3Apolo
Apolo é o deus do calor solar e da beleza. É filho de Zeus e de Leto, e irmão de
Ártemis. Associado à música e à poesia. Um dos mitos incluídos em seu ciclo acentua a
sua estadia entre os Hiperbóreos. Apolo retorna e mata a Pítia. Está associado a vários
oráculos, dos quais o mais importante é o de Delfos. Dirige ainda a dança e o coro das
Musas.Apolo é o brilhante, o luminoso, o deus do calor solar, que faz germinar e
morrer os frutos. O seu poder é terrível, tal qual o do Sol. Apolo é o conhecedor, santo,
puro e luminoso (foi~boj).
O excerto seguinte evidencia a importância e a reputação do oráculo de Apolo:
- Finalmente, os pais de ambos os jovens enviaram mensageiros para consultar o
oráculo do deus sobre a causa da doença e como ela poderia ser curada.
- VI.1- O templo de Apolo em Cólofon não ficava muito longe de Éfeso, mas a ele só
se chegava viajando pelo mar, mais ou menos oitenta estádios. Ali, os mensageiros de
cada uma das famílias pediram ao deus que profetizasse a verdade; afinal, eles tinham
ido ao templo com o mesmo objetivo. E o deus lhes deu a mesma resposta em forma
de versos. Ei-los:
Por que desejais saber o fim desse mal e o seu início?
Ambos têm uma só doença. Eis a solução:
Para eles vejo terríveis sofrimentos e trabalhos sem fim.
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Ambos terão de fugir pelo mar, perseguidos por piratas,
Sofrerão ao serem agrilhoados, nas mãos dos homens do mar.
E de ambos o tálamo será o túmulo e o fogo destruidor.
Junto às correntes do rio Nilo, à veneranda Ísis
Salvadora, tereis de oferecer depois, afortunadas dádivas.
Mas após as provações, eles terão um destino ainda melhor.
VII.1-Assim que a resposta chegou a Éfeso, logo os pais dos jovens ficaram sem
saber o que fazer, pois não conseguiam entender, de jeito nenhum, qual era a
doença. Não compreendiam as palavras do deus: qual era a doença, a fuga, a prisão,
o túmulo, o rio ou a ajuda da deusa. 2- Depois de muito deliberar, pareceu-lhes
então conveniente atender ao oráculo na medida do possível, e unir os filhos em
matrimônio, supondo ser isso que o deus queria dizer, ao profetizar essas coisas.
Tomaram, então, essa decisão, e pensaram em fazê-los viajar por algum tempo, logo
após o casamento. (Livro I. 5. 9 – 7. 1 – 2).
Τέλοςδὲπέµπουσινοἱπατέρεςἑκατέρωνεἰςθεοῦµαντευσόµενοιτήντεαἰτίαντῆςνόσουκα
ὶτὴνἀπαλλαγήν.
ὈλίγονδὲἀπέχειτὸἱερὸντοῦἐνΚολοφῶνιἈπόλλωνος:
διάπλουςἀπ̓Ἐφέσουσταδίωνὀγδοήκοντα.
Ἐνταῦθαοἱπαῤἑκατέρωνἀφικόµενοιδέονταιτοῦθεοῦἀληθῆµαντεύεσθαι:
ἐληλύθεσανδὴκατὰταὐτά.
Χρᾷδὲὁθεὸςκοινὰἀµφοτέροιςτὰµαντεύµαταἐµµέτρως.
Τὰδ̓ἔπητάδε:
Τίπτεποθεῖτεµαθεῖννούσουτέλοςἠδὲκαὶἀρχήν;
Ἀµφοτέρουςµίανοῦσοςἔχει, λύσιςἔνθενἀνέστη.
∆εινὰδ̓ὁρῶτοῖσδεσσιπάθηκαὶἀνήνυταἔργα:
ἀµφότεροιφεύξονταιὑπεὶρἅλαλυσσοδίωκτοι,
δεσµὰδὲµοχθήσουσιπαῤἀνδράσιµιξοθαλάσσοις
καὶτάφοςἀµφοτέροιςθάλαµοςκαὶπῦρἀΐδηλον,
καὶποταµοῦΝείλουπαρὰῥεύµασινἼσιδισεµνῇ
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σωτείρῃµετόπισθεπαραστῇςὄλβιαδῶρα.
Ἀλλ̓ἔτιπουµετὰπήµατ̓ἀρείοναπότµονἔχουσι.
ΤαῦταὡςἐκοµίσθητὰµαντεύµαταεἰςἜφεσον,
εὐθὺςµὲνοἱπατέρεςαὐτῶνἦσανἐνἀµηχανίᾳκαὶτὸδεινὸνὅτιἦνπάνυἠπόρουν:
συµβάλλεινδὲτὰτοῦθεοῦλόγιαοὐκἐδύναντο:
οὔτεγὰρτίςἡνόσοςοὔτετίςἡφυγή,
οὔτετίνατὰδεσµὰοὔτεὁτάφοςτίςοὔτεὁποταµὸςτίςοὔτετίςἡἐκτοῦθεοῦβοήθεια.
Ἔδοξενοὖναὐτοῖςπολλὰβουλευσαµένοιςπαραµυθήσασθαιτὸνχρησµὸνὡςοἷόντεκαὶσυζεῦ
ξαιγάµῳτοὺςπαῖδας,
ὡςτοῦτοκαὶτοῦθεοῦβουλοµένουδἰὧνἐµαντεύσατο.
Ἐδόκειδὴταῦτακαὶδιέγνωσανµετὰτὸνγάµονἐκπέµψαιχρόνῳτινὶἀποδηµήσονταςαὐτούς.
Como destaca BRANDÃO (2005, p. 235), comentando a presença do elemento
erótico, não só como um dos aspectos do conteúdo, mas também como umafunção
narrativa, acrescenta:
“Não deve, portanto, causar estranheza que, mesmo alertados pelo oráculo, os pais de
Antia e Habrócomes os enviaram em viagem, para mitigar as predições, mas também,
ao mesmo tempo, para que pudessem, como Ulisses, “ver outras terras e outras
cidades”..
4.4.4 Hera
Filha de Cronos e de Reia, Hera é irmã e esposa de Zeus. Hera protege o
casamento e as mulheres casadas. A sua filha, Ilítia, auxilia as mulheres no parto.
Ciumenta, Hera vinga-se das conquistas amorosas de Zeus. Na Ilíada, era a protetora de
Aquiles e, se posicionou contra os troianos, para se vingar de Paris.Etambém os
Argonautas.O seu culto era dos mais difundidos na antiga Grécia.
Deusa protetora do casamento, Hera é também cultuada pelos jovens amantes,
Habrócomes e Antia, como evidencia o excerto a seguir:
-
2- E naquele dia lhes soprou um vento favorável, e eles navegaram rapidamente
até Samos, a ilha sagrada de Hera. Ali então, realizaram os sacrifícios, cearam e fizeram
muitas preces, e quando a noite chegou, partiram novamente. (Livro I. 11. 2).
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Κἀκείνηνµὲντὴνἡµέρανοὐρίῳχρησάµενοιπνεύµατι,
διανύσαντεςτὸνπλοῦνεἰςΣάµονκατήντησαντὴντῆςἭραςἱερὰννῆσον:
κἀνταῦθαθύσαντεςκαὶδειπνοποιησάµενοι,
πολλὰεὐξάµενοιτῆςνυκτὸςἐπιγινοµένηςἐπανήγοντο.
4.4.5 Hélio
Hélio é o deus grego do Sol. Filho de Hipério e Teia, ele tem por irmãs Aurora e
Selene (a Lua). Hélio uniu-se à Oceânida Perseida, com quem teve Eetes, Circe e
Pasífae. Com Climene, Hélio tem oito filhos: as sete Helíades e Faetes. Dedicado
servidor de Zeus, Hélio percorre os céus diuturnamente: depois da aurora, ele
aparece todas as manhãs, a Oriente, num carro de fogo, puxado por quatro cavalos
luminosos; percorre o céu; e chega, ao cair da noite, ao Oceano; durante a noite, ele
atravessa, num barco, o Oceano que rodeia o mundo. O culto oficial do Sol surgiu
bastante tarde, desempenhando uma função muito importante no chamado
paganismo tardio, etendendo, gradativamente, a uma espécie de monoteísmo solar.
Hélio não deve ser confundido com Apolo, embora este também seja associado ao
Sol.
A heliolatria helenística é característica de uma época em que o próprio
imperador romano adora o Sol (Aureliano chegará a erguer um templo ao “Sol
Invencível”). Em Os Efésios, Habrócomes é protegido pelo deusHélio. Nesse sentido, o
autor de Os Efésios, acentua o espírito religioso da obra.
Os excertos abaixo exemplificam a importância do deus Hélio para os jovens
amantes, na narrativa de Os Efésios, não faltando o típico reconhecimento dos relatos
amorosos, no templo dedicado ao deus, na ilha de Rodes:
86
E eles (Habrócomes e Antia) visitaram toda a cidade, onde dedicaram ao templo de
Hélio uma armadura de ouro e nela inscreveram um epigrama, para que fossem sempre
lembrados:
Os estrangeiros,a ti, essas armas cinzeladas a ouro, dedicaram,
Os famosos Antía e Habrócomes, cidadãos da sagrada Éfeso. (Livro I. 13.2)
ΟἱδὲτήντεπόλινἅπασανἐξιστόρησανκαὶἀνέθεσανεἰςτὸτοῦἩλίουἱερὸνπανοπλίανχρυσῆνκ
αὶἐπέγραψανἐπίγραµµαεἰςὑπόµνηµατῶνἀναθέντων
Οἱξεῖνοιτάδεσοιχρυσήλατατεύχἐἔθηκαν,
ἈνθίαἉβροκόµηςθ̓, ἱερῆςἘφέσοιοπολῖται.
Enquanto dizia essas coisas, Habrócomes vagava pela cidade, meio fora de si, sem
notícias de Antía e sem recursos para ir adiante. 6- Entretanto, Leucón e Rode, ao
passarem pela cidade de Rodes, dedicaram oferendas no templo de Hélio, junto à
armadura de ouro, depositada anteriormente por Antia e Habrócomes. Eles ofereceram,
então, uma estela gravada com inscrições em ouro, em honra de Habrócomes e Antia,
não deixando de nela escrever os nomes dos oferentes: Leucón e Rode. 7- Habrócomes
encontrou essa estela por acaso, quando se dirigiu ao templo para orar diante do deus.
Ao ler a inscrição, ele reconheceu os nomes dos oferentes e as boas intenções dos seus
servos, e examinando o local, ele viu também a armadura, e começou a se lamentar
profundamente, assentando-se junto dela. 8- Tudo dá errado! – dizia então – Eu sou um
desgraçado! Chego ao fim da vida, recordando as minhas próprias desventuras! Aqui
está a armadura que eu ofereci, com Antia, antes de deixar Rodes, emsua companhia, e
agora, volto aqui sem tê-la comigo. Se essa estela é uma oferenda de nossos
companheiros, a nós dois dedicada, o que, então, me acontecerá, a mim, aqui tão
sozinho? Onde poderei encontrar os caríssimos amigos?
87
9- Enquanto dizia essas coisas, Habrócomes chorava muito; então, nesse momento,
chegaram Leucón e Rode, como de costume, para adorar ao deus, e depararam com
Habrócomes sentado junto da estela e olhando para a armadura, mas não o
reconheceram, admirados de que que alguém pudesse permanecer assim junto à
oferendas alheias. E Leucón disse: 10- Ó rapaz! Por que estás sentado aí junto a
oferendas, que não te dizem respeito, chorando e se lamentando? Que importância têm
essas coisas para ti? Que tens a ver com os que aqui estão inscritos? Habrócomes, então,
lhes respondeu: - São as minhas – disse ele – as minhas oferendas e as de Leucón e
Rode, que imploro ao deus para rever, juntamente com Antía, eu, Habrócomes, este
desgraçado! 11- Ao ouvir-lhe, Leucón e Rode ficaram assombrados, mas, recobrando-se
pouco a pouco, reconheceram Habrócomes pelo porte, pela voz, pelo que ele estava
dizendo e por ele ter lembrado o nome de Antia, e então os dois caíram aos seus pés e
contaram as coisas que lhes aconteceram: a viagem de Tiro até a Síria, a cólera de
Manto, o que sofreram nas mãos dela, como foram vendidos na Lícia, a morte do seu
senhor, a fortuna que herdaram e a sua chegada a Rodes. 12- Aí então, eles levaram
Habrócomes para a casa onde estavam hospedados, lhe deram tudo que possuíam,
cuidaram dele e o serviram, exortando-o a ter coragem. Para ele, no entanto, nada havia
de mais preciosos que Antía, e ele chorava o tempo todo. (Livro V. 10. 5-12)
Ταῦταἔλεγεκαὶπεριῄειτὴνπόλινἀλύων,
ἀπορίᾳδὲτῶνἐπιτηδείων.
ἀπορίᾳµὲντῶνκατὰτὴνἌνθειαν,
6ὉδὲΛεύκωνἐντούτῳκαὶἡῬόδηδιατρίβοντεςἐνῬόδῳἀνάθηµαἀνατεθείκεσανἐντῷτοῦἩλί
ουἱερῷπαρὰτὴνχρυσῆνπανοπλίαν,
ἣνἌνθειακαὶἉβροκόµηςἀνατεθείκεσαν:
ἀνέθεσανστήληνγράµµασιχρυσοῖςγεγραµµένηνὑπὲρἉβροκόµουκαὶἈνθείας,
ἀνεγέγραπτοδὲκαὶτῶνἀναθέντωντὰὀνόµατα,
ὅτεΛεύκωνκαὶἡῬόδη.
7ΤαύτῃτῇστήλῃὁἉβροκόµηςἐπιτυγχάνει,
ἐληλύθειδὲπροσεύξασθαιτῷθεῷ.
Ἀναγνοὺςοὖνκαὶγνωρίσαςτοὺςἀναθένταςκαὶτὴντῶνοἰκετῶνεὔνοιαν,
πλησίονδὲκαὶτὴνπανοπλίανἰδών, µέγαἀνωδύρετοπαρακαθεσθεὶςτῇστήλῃ. 8-‘Ὦπάντα’
ἔλεγεν‘ἐγὼδυστυχής:
ἐπὶτὸτέρµαἥκωτοῦβίουκαὶεἰςἀνάµνησιντῶνἐµαυτοῦσυµφορῶν:
ἰδοὺταύτηνµὲντὴνπανοπλίανἐγὼµετ̓Ἀνθείαςἀνέθηκακαὶµετ̓ἐκείνηςἀποπλεύσαςῬόδουἥκ
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ωνῦνἐκείνηνοὐκἄγων:
εἰδὲαὕτηἡστήλητῶνσυντρόφωντῶνἡµετέρωνὑπὲρἀµφοτέρωντὸἀνάθηµα,
τίςοὖνγένωµαιµόνος; ποῦδὲτοὺςφιλτάτουςἀνεύρω;’
9-Ταῦταἐθρήνειλέγων:
καὶἐντούτῳἐφίστανταιὁΛεύκωνκαὶἡῬόδησυνήθωςεὐχόµενοιτῷθεῷκαὶθεωροῦσιτὸνἉβρ
οκόµηντῇστήλῃπαρακαθεζόµενονκαὶεἰςτὴνπανοπλίανἀποβλέποντακαὶγνωρίζουσιµὲνοὐ
χί,
θαυµάζουσιδὲὅστιςὢνἀλλοτρίοιςἀναθήµασιπαραµένοι.
10-ΚαὶδὴὁΛεύκωνἔφη
‘ὦµειράκιον,
τίβουλόµενοςἀναθήµασινοὐδένσοιπροσήκουσιπαρακαθεζόµενοςὀδύρῃκαὶθρηνεῖς;
τίδὲσοὶτούτωνµέλει;
τίδὲτῶνἐνταῦθαἀναγεγραµµένωνκοινωνεῖσοί;’
ἈποκρίνεταιπρὸςαὐτὸνἉβροκόµης ‘ἐµὰ’ φησὶν ‘ἐµὰτὰἀναθήµαταΛεύκωνοςκαὶῬόδης,
οὓςἰδεῖνεὔχοµαιµετὰἈνθειανἉβροκόµηςὁδυστυχής.11ἈκούσαντεςοἱπερὶτὸνΛεύκωναεὐθὺςµὲνἀχανεῖςἐγένοντο,
ἀνενεγκόντεςδὲκατὰµικρὸνἐγνώριζονἐκτοῦσχήµατος,
ἐξὧνἈνθείαςἐµέµνητο,
ἐκτῆςφωνῆς,
ἐξὧνἔλεγεν,
καὶπίπτουσιπρὸτῶνποδῶναὐτοῦκαὶτὰκαθ̓αὑτοὺςδιηγοῦνται,
τὴνὁδὸντὴνεἰςΣυρίανἀπὸΤύρου,
τὴνΜαντοῦςὀργήν,
τὴνἔκδοσιν,
τὴνπρᾶσιντὴνεἰςΛυκίαν, τὴντοῦδεσπότουτελευτήν, τὴνπεριουσίαν, τὴνεἰςῬόδονἄφιξιν:
12-καὶδὴπαραλαβόντεςἄγουσινεἰςτὴνοἰκίαν,
ἔνθααὐτοὶκατήγοντο,
καὶτὰκτήµατααὑτῶνπαραδιδόασικαὶἐπεµελοῦντοκαὶἐθεραπεύοντοκαὶθαρρεῖνπαρεκάλο
υν: τῷδὲἦνοὐδὲνἈνθείαςτιµιώτερον, ἀλλ̓ἐκείνηνἐθρήνειπαῤἕκαστα.
3- Leucón e Rode compareceram ao local, mas não para participar da festa, e sim para
investigar se alguém sabia de alguma coisa sobre Antia. Aí então, Hipótoo chegou ao
templo, trazendo consigo Antía, e ela, ao ver as oferendas e se recordar do passado,
disse: 4- Ó tu, que vês as ações de todos os homens, - dizia ela – , ó Hélio, eu sou a
única desgraçada esquecida por ti, embora tenha estado aqui em Rodes, anteriormente,
89
exultando de tanta felicidade, prostei-me diante de ti e ofereci um sacrifício, juntamente
com Habrócomes, e então eu me considerava muito feliz. E agora então, sou uma
escrava, em vez de uma mulher livre, conquistada pela desgraça, e não pela bemaventurança, e estou indo a Éfeso sozinha, e me apresentarei aos meus familiares sem
ter comigo Habrócomes.
5- Enquanto ela dizia essas coisas, Antía derramava muitas lágrimas e implorou a
Hipotóo que lhe deixasse cortar os cabelos, oferecê-los a Hélio e rezar por Habrócomes.
6- Hipótoo consentiu; e ele mesmo cortou, como podia, os cabelos dela, e esperando a
ocasião propícia, quando todos já tinham se retirado do templo, ela fez a oferenda com a
seguinte inscrição: POR SEU ESPOSO, HABRÓCOMES, ANTIA, OS PRÓPRIOS
CABELOS AO DEUS DEDICOU. Depois de fazer essas coisas e rezar, ela foi embora
com Hipótoo.
XII. 1- Leucón e Rode, que, até então, acompanhavam a procissão, voltaram ao templo,
viram as oferendas e reconheceram os nomes dos senhores, e então beijaram os cabelos
e choraram muito, como se estivessem diante da própria Antia, e, finalmente, voltaram a
percorrer a cidade, para ver se a encontravam em algum lugar (os cidadãos de Rodes já
os conheciam pelos nomes, por eles terem estado na cidade anteriormente). 2- E não
encontrando nada naquela dia, eles voltaram para casa e revelaram a Habrócomes o que
havia no templo. Ele sentiu a alma profundamente perturbada, por causa de algo tão
inesperado, mas lhe veio uma grande esperanças de reencontrar Antía.
3- No dia seguinte, Antía veio novamente ao templo, acompanhada de Hipótoo, pois o
tempo não estava bom para viajar por mar; ela, então, sentando-se diante das oferendas,
começou a chorar e a se lamentar muito. Nesse momento, Leucón e Rode, tendo
deixado Habrócomes em casa, bastante desanimado com o que lhe estava acontecendo,
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entraram no templo e viram Antía, e ainda não a reconheceram, mas entenderam tudo:
o amor, as lágrimas, as oferendas, os nomes, a forma... 4- E assim, pouco a pouco, eles
a foram reconhecendo, e enfim, caindo de joelhos, quedaram-se boqiabertos. 5- Ela
ficou assombrada, sem saber quem eles eram, nem o que queriam, pois jamais esperara
rever Leucón e Rode. Eles caíram em si e lhe exclamaram: Ó, senhora! – e continuaram
emocionados -, Antía, nós somos teus criados, Leucón e Rode, os que contigo
compartilharam do exílio e da desgraça da pirataria. Mas, que Sorte te traz a este lugar?
Coragem, senhora, Habrócomes está salvo e está aqui, sempre chorando por ti. 6- Ao
ouvir-lhes, Antía não conseguia falar de tão aturdida, e foi com dificuldade que
conseguiu se recobrar, e reconhecendo-lhes, abraçou-os e beijou-os, e, ficou sabendo
deles todas as coisas que tinham acontecido a Habrócomes. (Livro V. 11. 3-6; 12. 1-6).
.
3-ἘνταῦθαπαρῆσανὁΛεύκωνκαὶἡῬόδη,
ὅσονἀναζητήσοντεςεἴτιπερὶἈνθείαςπύθοιντο.
οὐτοσοῦτοντῆςἑορτῆςµεθέξοντες,
ΚαὶδὴἧκενὁἹππόθοοςεἰςτὸἱερόν,
ἄγωντὴνἌνθειαν: ἡδὲἀπιδοῦσαεἰςτὰἀναθήµατακαὶἐνἀναµνήσειτῶνπρότερονγενοµένη4‘ὦτὰπάντων’
ἔφησεν
‘ἀνθρώπωνἐφορῶνἭλιε,
µόνηνἐµὲτὴνδυστυχῆπαρελθών,
πρότερονµὲνἐνῬόδῳγενοµένηεὐτυχῶςτέσεπροσεκύνουνκαὶθυσίαςἔθυονµετὰἉβροκόµο
υκαὶεὐδαίµωντότεἐνοµιζόµην:
νυνὶδὲδούληµὲνἀντ̓ἐλευθέρας,
αἰχµάλωτοςδὲἡδυστυχὴςἀντὶτῆςµακαρίας,
καὶεἰςἜφεσονἔρχοµαιµόνηκαὶφανοῦµαιτοῖςοἰκείοιςἉβροκόµηνοὐκἔχουσα.’
5ΤαῦταἔλεγεκαὶπολλὰἐπεδάκρυεκαὶδεῖταιτοῦἹπποθόουἐπιτρέψαιαὐτῇτῆςκόµηςἀφελεῖντ
ῆςαὑτῆςκαὶἀναθεῖναιτῷἩλίῳκαὶεὔξασθαίτιπερὶἉβροκόµου.
ΣυγχωρεῖὁἹππόθοος:
καὶἀποτεµοῦσατῶνπλοκάµωνὅσαἐδύνατοκαὶἐπιτηδείουκαιροῦλαβοµένη,
πάντωνἀπηλλαγµένων,
ἀνατίθησινἐπιγράψασα
“ΥΠΕΡ.
ΤΟΥ.
ΑΝ∆ΡΟΣ.
ΑΒΡΟΚΟΜΟΥ. ΑΝΘΕΙΑ. ΤΗΝ. ΚΟΜΗΝ. ΤΩΙ. ΘΕΩΙ. ΑΝΕΘΗΚΕ”.
ΤαῦταποιήσασακαὶεὐξαµένηἀπῄειµετὰτοῦἹπποθόου.
XII.
1-
ὉδὲΛεύκωνκαὶἡῬόδητέωςὄντεςπερὶτὴνποµπὴνἐφίστανταιτῷἱερῷκαὶβλέπουσιτὰἀναθήµ
91
ατακαὶγνωρίζουσιτῶνδεσποτῶντὰὀνόµατακαὶπρῶτονἀσπάζονταιτὴνκόµηνκαὶπολλὰκατ
ωδύροντοοὕτωςὡςἌνθειανβλέποντες,
τελευταῖονδὲπεριῄεσαν,
εἴπουκἀκείνηνεὑρεῖνδυνήσονται῾ἤδηδὲκαὶτὸπλῆθοςτῶνῬοδίωνἐγνώριζεντὰὀνόµαταἐκτ
ῆςπροτέραςἐπιδηµίας.
2ΚἀκείνηνµὲντὴνἡµέρανοὐδὲνεὑρίσκοντεςἀπηλλάγησανκαὶτῷἉβροκόµῃτὰἐντῷἱερῷὄντ
αἐµήνυσαν:
ὁδὲἔπαθεµὲντὴνψυχὴνἐπὶτῷπαραδόξῳτοῦπράγµατος,
εὔελπιςδὲἦνὡςἌνθειανεὑρήσων.
3-ΤῇδὲἑξῆςἧκενἡἌνθειαπάλινεἰςτὸἱερὸνµετὰτοῦἹπποθόου,
οὐκὄντοςαὐτοῖςπλοός,
προσκαθίσασαδὲτοῖςἀναθήµασινἐδάκρυέτεκαὶἀνέστενεν:
ἐντούτῳδὲἐπεισίασινὁΛεύκωνκαὶἡῬόδητὸνἉβροκόµηνκαταλιπόντεςἔνδον,
ἀθύµωςἐπὶτοῖςαὐτοῖςδιακείµενον:
ἐλθόντεςδὲὁρῶσιτὴνἌνθειανκαὶἦνµὲνἔτιἄγνωστοςαὐτοῖς,
συµβάλλουσιδὲπάνταἅµα,
τὰδάκρυα, τὰἀναθήµατα, τὰὀνόµατα, τὸεἶδος. 4-Οὕτωςκατὰβραχὺἐγνώριζοναὐτήν:
προσπεσόντεςδὲτοῖςγόνασινἔκειντοἀχανεῖς: ἡδὲἐτεθαυµάκειτίνεςτεἦσανκαὶτίβούλοιντο:
οὐγὰρἄνποτεΛεύκωνακαὶῬόδηνἤλπισεν. 5-Οἱδ̓ἐνἑαυτοῖςγενόµενοι ‘ὦδέσποινα’ ἔφασαν
‘Ἄνθεια,
ἡµεῖςοἰκέταισοί,
ΛεύκωνκαὶῬόδη,
οἱτῆςἀποδηµίαςκοινωνήσαντεςκαὶτοῦλῃστηρίου: ἀλλὰτίςἐνταῦθαἄγεισετύχη; θάρρει,
δέσποινα,
Ἁβροκόµηςσώζεταικαὶἔστινἐνταῦθαἀείσεθρηνῶν.’
6ἈκούσασαἡἌνθειαἐξεπλάγητοῦλόγου,
µόγιςδὲἀνενεγκοῦσακαὶγνωρίσασαπεριβάλλειτεαὐτοὺςκαὶἀσπάζεταικαὶσαφέστατατὰκα
τὰἉβροκόµηνµανθάνει.
4.4.6 Ísis
Ísis é a deusa mais popular dentre as deusas egípcias. O seu culto acabou por se
difundir por várias outrasregiões. Deusa mãe, irmã e esposa de Osíris, Ísis desempenhou
um papel crucial na ressurreição do esposo, assinado por Seth, ao recolher, após muitas
provações, o corpo do amado. Ísis é o tipo de esposa fiel, mesmo depos da morte. Mãe
de Hórus, ela é também modelo de mãe devotada.
Na época do Baixo Egito,Ísis é adorada em vários lugares do país dos faraós,
sobressaindo a ilha de File, onde se ergueu o seu mais famoso e duradouro santuário.
Mas não se pode afirmar com certeza que esse é o lugar de seu nascimento. E no
período helenístico dos Ptolomeus e dos Romanos, a crença em Ísis se irradia, do Egito,
pelo mundo globalizado do ecúmeno. Assim sendo, em sua honra, dedicam-se templos,
festas, ritos de mistérios, alcançando Ísis o status de uma deusa universal.
92
MENDOZA (1979, p. 224-5) também defende a existência de um sincretismo
entre os cultos de Ísis e de Ártemis, em Os Efésios, sustentando que toda a narrativa é
perpassada de intenção religiosa. Com efeito, a trama do relato amoroso tem lugar e se
desenvolve na vasta região do Mediterrâneo Oriental, onde a religiosidade,
particularmente o culto de Ísis, desempenha um papel fundamental. E prossegue:
“... Xenofonte nos proporciona, em sua obra, não apenas informações sobre cultos
concretos, que conferem colorido a determinadas cenas, como o culto de Ártemis, no
livro I, ou o culto de Ápis, em Mênfis, no livro V, 4, 8-11, mas também sobre o espírito
religioso de sua época, caracterizado pela grande difusão dos cultos egípcios,
principalmente o de Ísis, e de algumas divindades gregas que chegam a identificar-se
com a deusa. A esse espírito isíaco correspondem a valorização da fidelidade
matrimonial e a importância atribuída à morte, concebida pelos protagonistas como uma
passagem a um novo estado, a uma nova vida, na qual vão poder reunir-se de novo,
assim como Ísis com o seu esposo morto, Osíris”. (35)
A deusa grega, Ártemis, e a deusa egípcia, Ísis, associadas à Lua, poderiam ser,
assim, consideradas, em Os Efésios, como duas faces de uma única divindade. Desse
modo, sugere ainda MENDOZA (1979), Antia, provavelmente uma sacerdotisa efésia
da deusa Ártemis, em seu longo périplo tortuoso, se depara com variadas cidades,
conhecidas no antiguidade como centros famosos de adoração a Ísis: Rodes, Tarso,
Alexandria e Mênfis. E dando tudo de si para permancer casta e fiel a Habrócomes, a
jovem invoca, ainda que só depois de ter chegado ao Egito, a deusa Ísis, para que esta a
proteja e a salve, como profetizara o oráculo de Apolo, em Cólofon. Ela, inclusive,
sempre ansiando manter-se fiel a Habrócomes, dissera a Psamís, um rei da Índia que a
havia comprado no Egito, que ela era consagrada a Ísis; e, posteriormente, tentando
93
escapar ao assédio de Políido, ela refugiou-se, como suplicante, num templo dedicado a
Ísis).
REGULA (2004, p. 149), por sua vez, propõe que as deusas Ártemis e Ísis
chegaram a ser consideradas aspectos da mesma divindade, em muitos lugares dos
mundos grego e romano. Assim sendo, o autor de Os Efésiosteria narrado as aventuras
de uma sacerdotisa dedicada a ambas as deusas, e para quem as duas são,
fundamentalmente, nomes diferentes da uma única deidade. Ártemis, obviamente, como
uma caçadora virgem, afigura-se muito distante dos aspectos maternais e eróticos de
Ísis. Não obstante, muitos santuários e templos eram erguidos em honra às duas deusas,
onde se faziam oferendas tanto a Ísis-Ártemis quanto a Ártemis-Ísis. Na antiga Roma, a
identificação da deusa Diana com a deusa Ártemis era tão forte que as duas divindades
eram, geralmente, consideradas idênticas. E o fato de Diana e Ártemis serem dividades
lunares é mais uma característica a aproximá-las de Ísis e seu complexo ritual.
O tema do amor, como o de Habrócomes e Antia, constitui um dos fundamentos
da devoção depositada em Ísis. O Amor está presente em muitos romances de ação e de
aventura, em que os amantes são separados, vindo a passar por uma série de provações,
mas mantêm-se firmes em seu amor e no cumprimento dos juramentosrecíprocos que
sustentam a fé diante das divindades às quais recorrem. Em Os Efésios, particularmente,
esses amantes, Habrócomes e Antia, conseguem se reencontrar sob as bênçãos de Ísis, e
alcançam o ansiado final feliz. E REGULA (ibidem, p 187-188 )conclui:
“Com apenas algumas mudanças, essas histórias poderiam ser transformadas em
um filme moderno ou ser vendidas nas livrarias, ao lado dos mais recentes romances.
Um exemplo desse tipo de romance, as Efesíaca (Os Efésios) de Xenofonte é, na maior
parte, dedicado aos esforços da heroína Antia em preservar a castidade para o seu
94
amado Habrócomes. Antia é tão bela que é considerada a manifestação da deusa
Ártemis, que, na história, é vista como sendo idêntica a Ísis. Antia defende com firmeza
sua castidade contra homens indesejados, enquanto Habrócomes é quase crucificado nas
margens do Nilo. Quando finalmente encontram segurança e são unidos sob a bênçãode
Ísis, Antia abraça Habrócome em um ritual de acasalamento semelhante aos atos de Ísis
para reviver Osíris. O tempo da castidade acabou, e agora, a história nos diz que a vida
do casal é um longo dia sagrado. Antia é quem toma a iniciativa erótica, sugerindo a
postura de Ísis quando esta ressucistou Osíris”.
Os excertos que se seguem atestam a presença e importância do culto de Ísis na
narrativa de Os Efésios:
3- E depois de passar por Alexandria e chegar a Mênfis, Antia suplicou à deusa Ísis,
postando-se diante do templo: - Ó maior de todas as deusas! Até agora me mantenho
pura, pois sou consagrada a ti, e conservo sem mácula o casamento com Habrócomes.
Estou indo daqui para a Índia, tão longe da terra dos efésios, tão longe dos restos
mortais de Habrócomes! 4- Assim sendo, salva-me agora, a mim, esta desgraçada, e
devolve-me Habrócomes, se este ainda estiver vivo! Ou então, se é nosso destino
morrermos separados um do outro, concede, pelo menos, que eu permaneça fiel ao
morto. 5- Ela fez essa oração, e eles retomaram o seu caminho. (Livro IV. 3. 3-5)
3-ἩδὲὡςἈλεξάνδρειανπαρελθοῦσαἐγένετοἐνΜέµφει,
εὔχετοτῇἼσιδιστᾶσαπρὸτοῦἱεροῦ
µέχριµὲννῦνἁγνὴµένωλογιζοµένησή,
τοὐντεῦθενδὲἐπὶἸνδοὺςἔρχοµαι,
‘ὦµεγίστηθεῶν,
καὶγάµονἄχραντονἉβροκόµῃτηρῶ:
µακρὰνµὲντῆςἘφεσίωνγῆς,
µακρὰνδὲτῶνἉβροκόµουλειψάνων.
ἪσῶσονοὖνἐντεῦθεντὴνδυστυχῆκαὶζῶντιἀπόδοςἉβροκόµῃ,
4-
95
ἢεἰπάντωςεἵµαρταιχωρὶςἀλλήλωνἀποθανεῖν,
ἔργασαιτοῦτο,
µεῖναίµεσωφρονοῦσαντῷνεκρῷ.’
XIII. 1- Todo o povo de Rodes se reuniu em festa, quando soube que Antía e
Habrócomes haviam sido encontrados. Nessa ocasião, Hipótoo se encontrava presente, e
os que estavam com ele apresentaram-no a Leucón, e este ficou sabendo quem eles
eram. E tudo o mais lhes parecia ir muito bem, mas faltava Habrócomes, que ainda não
sabia de nada. 2- Correram então o mais que puderam até chegar à casa onde ele estava.
E assim que Habrócomes ouviu um dos ródios dizer que haviam encontrado Antía, ele
saiu correndo, saiu correndo pela cidade, gritando “Antia”!, como se tivesse
enlouquecido. E, enfim, ele se encontrou com os que estavam com Antia, diante do
templo de Ísis, e uma grande multidão de ródios o seguia. 3- Quando se viram, um
diante do outro, eles se reconheceram imediatamente, pois esse era o desejo de suas
almas, e abraçando-se, eles caíram ao chão. Dominados, ao mesmo tempo, por
incontáveis sentimentos: alegria, tristeza, medo, as recordações do passado, o medo do
futuro... O povo da cidade de Rodes irrompeu em aclamações e gritos de alegria,
saudando Ísis como a Grande Deusa. – Novamente, – diziam todos – podemos ver
Habrócomes e Antía, os belos! 4- Eles se levantaram, e refeitos da emoção, entraram no
templo de Ísis: - A ti - disseram os dois – ó Grande Deusa, damos graças por nossa
salvação. Por causa de ti, para nós a mais apreciada de todos os deuses, nós nos
reencontramos. E assim, eles se ajoelharam no recinto sagrado e se prostraram diante do
altar. (Livro V. 13. 1-4)
XIII.
1-ΣυνέρρειδὲἅπαντὸπλῆθοςτῶνῬοδίων,
πυνθανόµενοντὴνἈνθείαςεὕρεσινκαὶἉβροκόµου:
παρῆνδὲἐντούτῳκαὶὁἹππόθοος,
ἐγνωρίσθητετοῖςπερὶτὸνΛεύκωνακαὶαὐτὸςἔµαθενοἵτινέςεἰσι:
καὶἦντὰµὲνἄλλαἐναὐτοῖςἐπιτηδείως,
τὸδὲὅτιµηδέπωἉβροκόµηςταῦταἐπίσταται:
ἔτρεχονδὲὡςεἶχονἐπὶτὴνοἰκίαν.
2ὉδὲὡςἤκουσενπαράτινοςτῶνῬοδίωντὴντῆςἈνθείαςεὕρεσιν, διὰµέσηςτῆςπόλεωςβοῶν
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‘Ἄνθεια’
ἐοικὼςµεµηνότιἔθει.
ΚαὶδὴσυντυγχάνειτοῖςπερὶτὴνἌνθειανπρὸςτῷἱερῷτῆςἼσιδος,
πολὺδὲτῶνῬοδίωνπλῆθοςἐφείπετο.
3-Ὡςδὲεἶδονἀλλήλους,
εὐθὺςἀνεγνώρισαν:
τοῦτογὰραὐτοῖςἐβούλοντοαἱψυχαί:
καὶπεριλαβόντεςἀλλήλουςεἰςγῆνκατηνέχθησαν:
κατεῖχεδὲαὐτοὺςπολλὰἅµαπάθη, ἡδονή, λύπη, φόβος, ἡτῶνπροτέρωνµνήµη,
τὸτῶνµελλόντωνδέος:
ὁδὲδῆµοςὁῬοδίωνἀνευφήµησέτεκαὶἀνωλόλυξε,
µεγάληνθεὸνἀνακαλοῦντεςτὴνἾσιν,
‘πάλιν’
λέγοντες
‘ὁρῶµενἉβροκόµηνκαὶἌνθειαντοὺςκαλούς.’
4-Οἱδὲἀναλαβόντεςἑαυτούς,
ἐξαναστάντεςεἰςτὸτῆςἼσιδοςἱερὸνεἰσῆλθον
‘σοὶ’
λέγοντες,
‘ὦµεγίστηθεά,
τὴνὑπὲρτῆςσωτηρίαςἡµῶνχάρινοἴδαµεν:
διὰσέ,
ὦπάντωνἡµῖντιµιωτάτη,
ἑαυτοὺςἀπειλήφαµεν:’ προυκυλίοντότετοῦτεµένουςκαὶτῷβωµῷπροσέπιπτον.
4.4.7 Ápis
Dentre os animais aos quais os egípcios prestavam culto, o mais famoso era o
boi Ápis. O seu culto era muito antigo, possivelmente remontando aos primeiros faraós,
e o seu templo maior ficava em Mênfis. Do Egito, o culto de Ápis difundiu- se por todo
o Mediterrâneo.
O boi era um símbolo de fertilidade importante, e também estava associado ao
deus Sol. Do Novo Império em diante, o boi Ápis foi associado ao deus Ptah, e como o
seu ba (alma magnífica), era adorado em Mênfis, próxima de Saqqara, onde se edificou
um cemitério para os bois Ápis. A partir da XXVI Dinastia, assistimos a um
renascimento do culto de Ápis, centralizado em torno dos oráculos. Ápis também foi
associado a Osíris. E o deus Serápis, fusão de Ápis e Zeus, passou a ser promovido com
a Dinastia Lágida dos Ptolomeus, transferindo-se o seu culto para a cidade de
Alexandria. O culto de Ápis e Serápis perdurou até ser proibido por um decreto do
imperador Teodósio, em 380.
Segue-se o excerto abaixo, quando Antia se dirige ao templo de Ápis no Egito, e
fica sabendo, por um oráculo, que pode vir a reencontrar Habrócomes dentro de pouco
tempo:
97
Antia foi ao templo de Ápis, o deus mais famoso do Egito, e que ali fazia
profecias aos consulentes. 9- Quem quisesse, chegava diante do templo, orava e
suplicava ao deus, e então umas crianças egípcias, em frente ao templo, prediziam cada
uma das coisas que estavam por vir, em prosa ou em verso. 10- Antia, então, indo ao
santuário, prostrou-se diante de Ápis e exclamou: - Ò tu, dentre os deuses, o mais
benévolo para os homens, o que se compadece dos estrangeiros, tem piedade também de
mim, a desafortunada, e dize-me um oráculo verdadeiro a respeito de Habrócomes. Se
vou revê-lo novamente, e se continuarei sendo sua esposa, se permanecerei firme nas
dificuldades e se continuarei viva! Mas se ele está morto, é melhor que eu também deixe
essa vida miserável! E dizendo essas coisas, ela saiu do templo chorando, e nesse
momento, as crianças que brincavam em frente ao recinto sagrado gritaram a uma só
voz:
Antia vai rever Habrócomes, seu marido, dentro de pouco tempo!
Ao ouvir essas palavras, Antia recobrou o ânimo e ergueu preces aos deuses. E
depois, ela partiu com Políido para Alexandria. (Livro IV. 4. 8-10)
ἔρχεταιἡἌνθειαεἰςτὸτοῦἌπιδοςἱερόν.
∆ιασηµότατονδὲτοῦτοἐνΑἰγύπτῳ,
καὶὁθεὸςτοῖςβουλοµένοιςµαντεύεται.
9Ἐπειδὰνγάρτιςπροσελθὼνεὔξηταικαὶδεηθῇτοῦθεοῦ,
αὐτὸςµὲνἔξεισιν,
οἱδὲπρὸτοῦνεὼπαῖδεςΑἰγύπτιοιἃµὲνκαταλογάδηνἃδ̓ἐνµέτρῳπρολέγουσιτῶνἐσοµένωνἕκ
αστα.
10-ἘλθοῦσαδὴκαὶἡἌνθειαπροσπίπτειτῷἌπιδι. ‘Ὦθεῶν’ ἔφη ‘φιλανθρωπότατε,
ὁπάνταςοἰκτείρωνξένους,
ἐλέησονκἀµὲτὴνκακοδαίµονακαίµοιµαντείανἀληθῆπερὶἉβροκόµουπρόειπε.
11Εἰµὲνγὰραὐτὸνἔτιὄψοµαικαὶἄνδραλήψοµαι, καὶµενῶκαὶζήσοµαι: εἰδὲἐκεῖνοςτέθνηκεν,
ἀπαλλαγῆναικἀµὲκαλῶςἔχειτοῦπονήρουτούτουβίου.’
Εἰποῦσακαὶκαταδακρύσασαἐξῄειτοῦἱεροῦ:
κἀντούτῳοἱπαῖδεςοἱπρὸτοῦτεµένουςπαίζοντεςἅµαἐξεβόησαν
‘ἈνθίαἉβροκόµηνταχὺλήψεταιἄνδρατὸναὑτῆς.’
98
Ἀκούσασαεὐθυµοτέραἐγένετοκαὶπροσεύχεταιτοῖςθεοῖς:
καὶἅµαµὲνἀπῄεσανεἰςἈλεξάνδρειαν
4.4.8O NILO
Hapi, o deus do Nilo, estava primordialmente associado às suas cheias, tão
fundamentais para a própria existência do Egito. Os egípcios sempre cultuaram o rio
Nilo como uma grande fonte de vida. Afinal de contas, o Egito é uma “dádiva do
Nilo”.
Em seu estudo da obra de Eurípides, como precursor do romance grego, SILVA
(2011, p. 11) ressalta a importância do rio Nilo como um lugar exótico,
profundamente marcante na imaginação dos antigos helenos:
“No teatro, como mais tarde na novela,o desenho desse lugar exótico é feito com
traços breves, mas expressivos. A audiência é alertada, na Helena [de
Eurípides],para este objetivo inovador desde a primeira palavra da peça, Neílou‘do
Nilo’, de que se referem as belas correntes e a vitalidade de um Egito que o rio
fertiliza à falta de chuva (v. 1-3, 89, 462). O Nilo funciona no imaginário grego
como o logotipo essencial no país dos faraós”.
A presente pesquisa detém-se assim nos dois milagres que salvaram
Habrócomes, às margens do grande rio do Egito. Os estudiosos consultados se
dividem, ora considerando que o jovem foi salvo pelo deus Hélio nas duas
oportunidades, ora atribuindo ao deus Nilo essa salvação. Levando-se em
consideração que, quando estava para ser crucificado, “olhando fixamente para o
sol, e vendo a correnteza doNilo”, Habrócomes rezou para que o deus o salvasse, e o
deus se apiedou dele e o salvou, e que, quando estava para ser queimado às margens
do Nilo, o jovem “rezou de novo, e o Nilo gitou-se, e um vagalhão se abateu sobre a
99
pira, fazendo extinguir as chamas”, considera-se aqui a possibilidade de, em meio ao
sincretismo religioso da época, o deus Hélio ter salvado o seu devoto, com a ajuda
providencial do deus Nilo.
Segue-se o excerto abaixo, para que o leitor avalie por si mesmo as várias
possibilidades de leitura dos fenômenos em questão:
4- Habrócomes, então, olhando fixamente para o sol, e vendo a correnteza do Nilo,
exclamou: - Ó tu, que, dentre os deuses, és o que tens mais amor para com os
homens! Tu, que reges o Egito, e através de quem a terra e o mar se manifestam a
todos os homens! Se Habrócomes foi injusto, que morra miseravelmente! E se for
possível, manda-me uma castigo ainda maior do que este! 5- Mas, se fui traído por
uma mulher perversa, não permitas que manchem a correnteza do Nilo com o corpo
de um homem que morreu injustamente, e nem que tu vejas o lamentável espetáculo
de um homem inocente ser punido com a morte aqui mesmo, na tua própria terra! 6Ele assim rezou, e o deus se apiedou dele; subitamente, irrompeu um vendaval que
derrubou a cruz e fez ceder o terreno à beira do precipício, onde fora erguida a cruz,
e Habrócomes caiu e foi arrastado pela correnteza; contudo, as água não o afogaram
injustamente, nem as amarras o imobilizaram, nem as feras do rio o atacaram, mas
ele foi conduzido pela correnteza. 7- Levado pelas águas, ele chegou à foz do Rio
Nilo, onde ele desemboca no mar, e ali então as sentinelas o recolheram e o levaram,
como se ele fosse um fugitivo, até o governador do Egito. 8- Este, ainda mais
encolerizado, e considerando Habrócomes um verdadeiro criminoso, ordenou enfim
que acendessem uma pira, para que Habrócomes fosse queimado. E quando tudo já
estava preparado, puseram Habrócomes sobre a pira, erguida perto da embocadura
do Nilo, e acenderam o fogo. E quando as chamas estavam prestes a lamber-lhe o
corpo, novamente ele suplicou ao deus, com as poucas forças que ainda lhe
100
restavam, que o salvasse de mais uma desgraça. 9- Aí então, o Nilo agitou-se, e um
vagalhão se abateu sobre a pira, fazendo extinguir as chamas. Os que se achavam ali
presentes ficaram assombrados. E tomando consigo Habrócomes, eles o levaram até
o governador do Egito. E contaram a ele o que tinha acontecido, descrevendo,
pormenorizadamente, como o Nilo ajudara o rapaz a se salvar.10- O governador do
Egito ficou muito admirado ao ouvir o relato, e ordenou que mantivessem
Habrócomes na prisão, mas sem deixarem de prestar-lhe toda a assitência possível,
acrescentando ainda: - Cuidemos dele, até que saibamos quem é esse homem, e por
que os deuses se preocupam tanto com ele. (Livro IV.2.4-10)
4-ὉδὲἀναβλέψαςεἰςτὸνἥλιονκαὶτὸῥεῦµαἰδὼντοῦΝείλου
‘ὦθεῶν’
φησὶ
‘φιλανθρωπότατε, ὃςΑἴγυπτονἔχεις, δἰὃνκαὶγῆκαὶθάλασσαπᾶσινἀνθρώποιςπέφηνεν,
εἰµέντιἉβροκόµηςἀδικῶ,
καὶἀπολοίµηνοἰκτρῶςκαὶµείζονατιµωρίανεἴτιςἐστὶταύτηςὑποσχοῖµι:
5εἰδὲὑπὸγυναικὸςπροδέδοµαιπονηρᾶς,
µήτετὸΝείλουῥεῦµαµιανθείηποτεἀδίκωςἀπολοµένουσώµατος,
µήτεσὺτοιοῦτονἴδοιςθέαµα, ἄνθρωπονοὐδὲνἀδικήσανταἀπολλύµενονἐπὶτῆςσῆς.’ 6Ταῦταεὔξατο,
καὶαὐτὸνὁθεὸςοἰκτείρει,
καὶπνεῦµαἐξαίφνηςἀνέµουγίνεταικαὶἐµπίπτειτῷσταυρῷκαὶἀποβάλλειµὲντοῦκρηµνοῦτὸ
γεῶδες,
εἰςὃἦνὁσταυρὸςἐρηρεισµένος,
ἐµπίπτειδὲὁἉβροκόµηςτῷῥεύµατικαὶἐφέρετοοὔτετοῦὕδατοςαὐτὸνἀδικοῦντοςοὔτετῶνδε
σµῶνἐµποδιζόντωνοὔτετῶνθηρίωνπαραβλαπτόντων, ἀλλὰπαραπέµποντοςτοῦῥεύµατος:
7-φερόµενοςδὲεἰςτὰςἐκβολὰςἔρχεταιτὰςεἰςτὴνθάλασσαντοῦΝείλου,
κἀνταῦθαοἱπαραφυλάσσοντεςλαµβάνουσιναὐτὸνκαὶὡςδραπέτηντῆςτιµωρίαςἄγουσιπαρ
ὰτὸνδιοικοῦντατὴνΑἴγυπτον.8Ὁδὲἔτιµᾶλλονὀργισθεὶςκαὶπονηρὸνεἶναινοµίσαςτελέωςκελεύειπυρὰνποιήσαντας,
ἐπιθένταςκαταφλέξαιτὸνἉβροκόµην.
Καὶἦνµὲνἅπανταπαρεσκευασµένα,
καὶἡπυρὰπαρὰτὰςἐκβολὰςτοῦΝείλου,
καὶἐπετέθειτοµὲνὁἉβροκόµηςκαὶτὸπῦρὑπετέθειτο,
ἄρτιδὲτῆςφλογὸςµελλούσηςἅπτεσθαιτοῦσώµατοςεὔχετοπάλινὀλίγα,
ὅσαἐδύνατο,
σῶσαιαὐτὸνἐκτῶνκαθεστώτωνκακῶν.
9-ΚἀνταῦθακυµατοῦταιµὲνὁΝεῖλος,
ἐπιπίπτειδὲτῇπυρᾷτὸῥεῦµακαὶκατασβέννυσιτὴνφλόγα:
θαῦµαδὲτὸγενόµενοντοῖςπαροῦσινἦν,
καὶλαβόντεςἄγουσιτὸνἉβροκόµηνπρὸςτὸνἄρχοντατῆςΑἰγύπτουκαὶλέγουσιτὰσυµβάντα
καὶτὴντοῦΝείλουβοήθειανδιηγοῦνται.10Ἐθαύµασενἀκούσαςτὰγενόµενακαὶἐκέλευσεναὐτὸντηρεῖσθαιµὲνἐντῇεἱρκτῇ,
ἐπιµέλειανδὲἔχεινπᾶσαν,
‘ἕως’
ἔφη
‘µάθωµενὅστιςὁἄνθρωπόςἐστινκαὶὅτιοὕτωςαὐτοῦµέλειθεοῖς.’
4.5Éfeso: começo e fim da odisseia amorosa
101
Começo e fim da odisseia amorosa de Habrócomes e Antia através do ecúmeno
helenístico-romano, mais precisamente pela bacia do Mediterrâneo Oriental, a Éfeso
de Os Efésiosnão deixa de evocar, de certa forma,a Ítaca de Homero, como o ponto
de reencontro e chegada tão ansiado pelos amantes. Nesse sentido, os dois excertos
abaixo, extraídos, respectivamente, do Livro I(I.10.3.3–11.1), quando Habrócomes
e Antia deixam Éfeso e partem para o longo périplo povoado de vicissitudes e
desgraças terríveis, e do Livro V(V.15.2), quando eles regressam à cidade natal, não
sem antes terem experienciado (em Rodes) o reconhecimento típico das narrativas
romanescas, podem ser considerados emblemáticos da grande viagem de aventuras,
atestando o constante fascínio da autêntica odisseia. Senão vejamos: .
3- Depois de algum tempo, os pais dos jovens resolveram fazer com que eles
saíssem da cidade, como acordado anteriormente. Eles poderiam assim conhecer
outras terras e outras cidades, e atenuar o oráculo do deus, na medida do possível,
ausentando-se por algum tempo de Éfeso. 4- Providenciou-se assim todas as coisas
necessárias para a partida: um grande barco e marinheiros preparados para conduzilo. Puseram no barco muitas e variadas roupas, muito ouro e prata e víveres em
grande quantidade. 5- Fizeram-se sacrifícios a Ártemis pelo êxito da viagem, e todo
o povo fez preces e derramou lágrimas, como se os que estavam prestes a partir
fossem filhos de todos eles. Havia sido preparada para eles uma viagem pelo mar, ao
longo do Egito. 6- Quando chegou o dia da partida, muitos serviçais e muitas
criadas embarcaram no navio, e quando a nau estava prestes a partir, todo o povo de
Éfeso, uma verdadeira multidão, acorreu para escoltá-los, bem como muitas das
sacerdotisas portando tochas e objetos sagrados. 7- Nesse momento, Licomedes e
Temisto lembraram-se de todas as coisas: do oráculo, do filho, do afastamento do
102
país, e caíram ao chão, desfalecidos. Megamedes e Evipe, por sua vez, sentiram a
mesma coisa, embora mais bem dispostos, ao constatarem o cumprimento da
profecia. 8- Por fim, os marinheiros passaram a gritar, e soltaram as amarras,
enquanto o piloto assumia o comando, e o barco partiu. 9- Ouviu-se então um
imenso clamor, miturando-se as vozes dos que estavam terra com as dos que
estavam no barco: - Ó queridos filhos! - diziam uns, Será que ainda os veremos, nós,
os seus pais? - Ó, pais!, diziam outros, Será que voltaremos a revê-los? Havia
lágrimas e lamentação, enfim, e cada um gritava, chamando pelo nome a seus
parentes, e conservando na memória o nome uns dos outros. 10- Megamedes, então,
tomou de uma taça e fez uma libação, orando como se pudesse ser ouvido pelos que
estavam no barco: - Ó filhos! – dizia ele – Que possais ser bem sucedidos e que
escapeis das agruras da profecia, e que os efésios possam receber-vos, ao
regressardes a salvo, e que possais ter de novo a querida pátria. Mas se alguma
coisa acontecer convosco, sabei que nós também não estaremos salvos, e que os
enviamos por um caminho desafortunado, mas necessário.
XI.1-As lágrimas não deixaram que ele continuasse falando. E eles, então, voltaram
para a cidade, enquanto a multidão os exortava a ter coragem; Habrócomes e Antia,
por sua vez, seguiam abraçados pensando, ao mesmo tempo, em muitas coisas,
cheios de compaixão pelos pais, desejosos da pátria, temendo o oráculo e
desconfiando do afastamento do país. Mas o fato de estarem navegando juntos lhes
encorajava para o que viesse. (I. 10.3 – 11.1)
3Χρόνουδὲδιελθόντοςὀλίγουἔγνωσανοἱπατέρεςἐκπέµπειναὐτοὺςτῆςπόλεωςκατὰτὰβεβου
λευµένα:
ἤµελλόντεγὰρἄλληνὄψεσθαιγῆνκαὶἄλλαςπόλειςκαὶτὸντοῦθεοῦχρησµόν,
ὡςοἷόντεἦν,
παραµυθήσεσθαιἀπαλλαγέντεςχρόνῳτινὶἘφέσου.
4Παρεσκευάζετοδὴπάντααὐτοῖςπρὸςτὴνἔξοδον,
ναῦςτεµεγάληκαὶναῦταιπρὸςἀναγωγὴνἕτοιµοι,
καὶτὰἐπιτήδειαἐνεβάλλετο,
πολλὴµὲνἐσθὴςκαὶποικίλη,
πολὺςδὲἄργυροςκαὶχρυσός,
103
ἥτετῶνσιτίωνὑπερβάλλουσαἀφθονία.
5ΘυσίαιδὲπρὸτῆςἀναγωγῆςτῇἈρτέµιδικαὶεὐχαὶτοῦδήµουπαντὸςκαὶδάκρυαπάντων,
ὡςµελλόντωνἀπαλλάττεσθαιπαίδωνκοινῶν.
Ἦνδὲὁπλοῦςαὐτοῖςἐπ̓Αἴγυπτονπαρεσκευασµένος.
6-῾Ωςδ̓ἦλθενἡτῆςἀναγωγῆςἡµέρα,
πολλοὶµὲνοἰκέται,
πολλαὶδὲθεράπαιναιµελλούσηςδὲτῆςνεὼςἐπανάξεσθαι,
πᾶνµὲντὸἘφεσίωνπλῆθοςπαρῆνπαραπέµπον,
πολλαὶδὲκαὶτῶν
...
µετὰλαµπάδωνκαὶθυσιῶν.
7-ἘντούτῳµὲνοὖνὁΛυκοµήδηςκαὶἡΘεµιστώ,
πάντωνἅµαἐνὑποµνήσειγενόµενοι,
τοῦχρησµοῦ,
τοῦπαιδός,
τῆςἀποδηµίας,
ἔκειντοεἰςγῆνἀθυµοῦντες:
ὁδὲΜεγαµήδηςκαὶἡΕὐίππηἐπεπόνθεσανµὲντὰαὐτά,
εὐθυµότεροιδὲἦσαν,
τὰτέλησκοποῦντεςτῶνµεµαντευµένων.
8Ἤδηµὲνοὖνἐθορύβουνοἱναῦται,
καὶἐλύετοτὰπρυµνήσια,
καὶὁκυβερνήτηςτὴναὑτοῦχώρανκατελάµβανε,
καὶἡναῦςἀπεκινεῖτο.
9Βοὴδὲτῶνἀπὸτῆςγῆςκαὶτῶνἐντῇνηὶπολλὴκαὶσυµµιγής, τῶνµὲν ‘ὦπαῖδες’ λεγόντων
‘φίλτατοι, ἆραἔτιὑµᾶςοἱφύντεςὀψόµεθα;’ τῶνδὲ ‘ὦπατέρες, ἆραὑµᾶςἀποληψόµεθα;’
∆άκρυαδὴκαὶοἰµωγή,
καὶἕκαστοςὀνοµαστὶτὸνοἰκεῖονἐκάλει,
εἰςὑπόµνησινἀλλήλοιςἐγκαταλείποντεςτοὔνοµα.
10ὉδὲΜεγαµήδηςφιάληνλαβὼνκαὶἐπισπένδωνεὔχετοὡςἐξάκουστονεἶναιτοῖςἐντῇνηὶ
‘ὦπαῖδες’
λέγων
‘µάλισταµὲνεὐτυχοῖτεκαὶφύγοιτετὰσκληρὰτῶνµαντευµάτων,
καὶὑµᾶςἀνασωθένταςὑποδέξαιντοἘφέσιοι,
καὶτὴνφιλτάτηνἀπολάβοιτεπατρίδα:
εἰδὲἄλλοτισυµβαίη,
τοῦτοµὲνἴστεοὐδὲἡµᾶςἔτιζησοµένους:
προΐεµενδὲὑµᾶςὁδὸνµὲνδυστυχῆἀλλ̓ἀναγκαίαν.’
XI.
1-Ἔτιλέγονταἐξιόνταἐπέσχετὰδάκρυα:
καὶοἱµὲνἀπῄεσανεἰςτὴνπόλιν,
τοῦπλήθουςαὐτοὺςθαρρεῖνπαρακαλοῦντος,
ὁδὲἉβροκόµηςκαὶἡἌνθειαἀλλήλοιςπεριφύντεςἔκειντοπολλὰἅµαἐννοοῦντες,
τοὺςπατέραςοἰκτείροντες,
τῆςπατρίδοςἐπιθυµοῦντες,
τὸνχρησµὸνδεδοικότες,
τὴνἀποδηµίανὑποπτεύοντες: παρεµυθεῖτοδ̓αὐτοὺςεἰςἅπανταὁµετ̓ἀλλήλωνπλοῦς.
A viagem foi rápida e, em poucos dias, eles chegaram a Éfeso. 2- Toda a cidade
já fora informada de que Habrócomes e Antia tinham conseguido se salvar, e assim que
desembarcaram, eles se dirigiram imediatamente ao templo de Ártemis e, depois de
terem rezado bastante e sacrificado, depositaram uma oferenda para a deusa, com uma
inscrição, narrando tudo que eles tinham feito e sofrido. 3- E depois de fazer essas
coisas, eles voltaram à cidade e mandaram erguer grandes mausoléus para seus pais, que
tinham morrido, velhos e desassossegados. E assim, Habrócomes e Antía passaram o
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resto das suas vidas juntinhos, numa festa constante. E Leucón e Rode
compartilharamde todas essas coisas com seus companheiros de sempre. E Hipotóo
decidiu também passar o resto da sua vida em Éfeso; mandou erguer uma grande
mausoléu, em Lesbos, em homenagem a Hipérantes; e, depois de adotar Clístenes, ele
viveu em Éfeso, com Habrócomes e Antía. (Livro V. 15.2)
FIM DAS HISTÓRIAS EFESÍACAS DE ANTIA E HABRÓCOMES
DE XENOFONTE
καὶἡµέραιςὀλίγαιςδιανύσαντεςτὸνπλοῦνκατῆρανεἰςἜφεσον.
2Προεπέπυστοτὴνσωτηρίαναὐτῶνἡπόλιςἅπασα:
ὡςδὲἐξέβησαν,
εὐθὺςὡςεἶχονἐπὶτὸἱερὸντῆςἈρτέµιδοςᾔεσανκαὶπολλὰεὔχοντοκαὶθύσαντεςἄλλατεἀνέθεσ
ανἀναθήµατακαὶδὴκαὶγραφῇτῇθεῷἀνέθεσανπάνταὅσατεἔπαθονκαὶὅσαἔδρασαν:
3καὶταῦταποιήσαντες,
ἀνελθόντεςεἰςτὴνπόλιντοῖςγονεῦσιναὑτῶντάφουςκατεσκεύασανµεγάλους῾ἔτυχονγὰρὑπὸ
γήρωςκαὶἀθυµίαςπροτεθνηκότες᾿,
καὶαὐτοὶτοῦλοιποῦδιῆγονἑορτὴνἄγοντεςτὸνµετ̓ἀλλήλωνβίον.
4ΚαὶὁΛεύκωνκαὶἡῬόδηκοινωνοὶπάντωντοῖςσυντρόφοιςἦσαν,
διέγνωδὲκαὶὁἹππόθοοςἐνἘφέσῳτὸνλοιπὸνδιαβιῶναιχρόνον.
ΚαὶδὴὙπεράνθουςτάφονἤγειρεµέγανκατὰΛέσβονγενόµενος,
καὶτὸνΚλεισθένηπαῖδαποιησάµενοςὁἹππόθοοςδιῆγενἐνἘφέσῳµεθ̓ἉβροκόµουκαὶἈνθεί
ας.
Ξενοφῶντος
τῶνκατὰἌνθειανκαὶἉβροκόµηνἘφεσιακῶνλόγων
τέλος
5. OS EFÉSIOS
Livro I
I.1- Vivia em Éfeso um homem chamado Licomedes, um dos mais poderosos do lugar.
Esse Licomedes teve com Temistos, a sua esposa nativa, um filho chamado
Habrócomes, de grande beleza e corpo fenomenal, algo jamais visto até então, na Jônia
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ou em qualquer outro lugar. 2-Habrócomes, a cada dia, crescia em beleza, florescia
num corpo bonito e em nobreza espiritual; ele se dedicava a todos os conhecimentos e
se exercitava em variadas artes, pois, para ele, a caça, a equitação e as práticas marciais
eram exercícios físicos habituais. 3- Ele era muito estimado em toda Éfeso e também
pelos demais habitantes da Ásia, e depositavam nele grandes esperanças de que ele
viria a ser um cidadão distinto. Veneravam o jovem como a um deus, e alguns
chegavam a se prosternar diante dele e a lhe dirigir preces. 4- O jovem se orgulhava
muito de si mesmo e glorificava-se das virtudes do espírito, e muito mais ainda da
beleza do corpo. Desprezava como inferiores todos os outros que se diziam belos, e
nada, ainda que agradável de ser visto, ou digno de ser ouvido, impressionava
Habrócomes. 5- E se ele ouvisse dizer que um jovem era belo ou que uma moça era
atraente, ele zombava dos que diziam essas coisas, como se eles não soubessem que só
ele era belo. Nem mesmo a Eros ele considerava um deus, e o descartava
completamente, julgando-o de nenhum valor, e dizendo que jamais amaria ou se
submeteria ao deus, a não ser se ele próprio quisesse. E se encontrasse uma estátua ou
um santuário de Eros, ele debochava e se exibia, dizendo sersuperior a qualquer Eros.
E assim era: por onde Habrócomes passasse, nenhuma estátua se afigurava bela,
nenhuma imagem era exaltada.
II.1- Eros andava muito irritado por causa dessas coisas. O deus, amante da discórdia e
implacável com os orgulhosos, buscava uma maneira de apanhar o jovem, pois este,
até para um deus como ele, afigurava-se difícil de pegar. Assim sendo, tendo se
armado, e com todo o poder das poções de amor, Eros partiu para o ataque. 2Celebrava-se então a festa de Ártemis, que se estendia da cidade até o templo, distante
sete estádios. Tinham de participar da procissão todas as moças nativas, suntuosamente
adornadas, assim como os efebos da idade de Habrócomes. Com cerca de dezesseis
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anos, ele estava com os efebos na mesma faixa etária. Na procissão, o jovem vinha
entre os primeiros. 3- Uma grande multidão acorrera à festa da deusa: muitos nativos e
muitos estrangeiros. Na festa nacional, era um costume encontrar noivos para as moças
e noivos para os efebos. 4- O cortejo passava em fila: primeiro, os objetos sagrados, as
tochas, os cestos com as oferendas e os incensos; em seguida, os cavalos, os cães e os
apetrechos da caça, os quais, para uns, eram atributos de guerra, e, para outros,
atributos de paz. E cada uma das jovens estava muito bem arrumada, como se fosse
uma dádiva para o seu amado. 5- Ia à frente das filas das moças, Antia, filha de
Megamedes e Evipe, naturais de Éfeso. A beleza de Antia era a mais admirada e
superava de longe a das outras moças. A jovem tinha quatorze anos de idade. Seu
corpo florescia em boa forma e o adorno da figura contribuía em muito para os seus
encantos. 6- A cabeleira ruiva, solta, em boa parte, e com algumas tranças, movendose ao sabor dos ventos; os olhos ardentes, brilhantes como os de uma donzela, tímidos
como os de uma mulher casta; a sua vestimenta, uma túnica cor de púrpura, fechada
até os joelhos; caindo-lhe pelos braços, uma pele de corça a envolvia; um carcás lhe
pendia dos ombros, e ela carregava arcos e flechas seguida pelos cães. 7Frequentemente, os efésios, quando a viam no recinto sagrado, prostravam-se diante
dela, como se ela fosse a própria deusa Ártemis. E agora, a multidão, ao vê-la, gritava
muito, e eram muito variados os comentários dos espectadores que acompanhavam a
procissão: uns diziam, profundamente emocionados, que ela era a própria deusa;
outros, que ela fora criada pela deusa. Todos lhe dirigiam preces e prostravam-se
diante dela. E louvavam a felicidade dos pais da jovem. E Antia era aclamada por
todos os espectadores como “Antia, a bela”. 8- E enquanto passava o grupo das moças,
ninguém falou outro nome senão o de Antía, mas quando Habrócomes apareceu à
frente dos efebos, daí em diante, apesar da beleza do cortejo das moças, todos se
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esqueceram delas ao ver Habrócomes, e voltaram os seus olhos para ele, gritando,
impressionados com o espetáculo, e exclamando: “Belo é Habrócomes! Como nenhum
outro, ele é tão belo quanto a imagem de um deus!”. 9- E alguns ainda comentavam:
“Que casamento seria o de Habrócomes e Antia!”. Tais foram os primeiros sintomas
da arte de Eros. E logo chegou, a cada um dos dois, Antia e Habrócomes, a fama de
um e de outro. E Antia desejava ver Habrócomes, e Habrócomes, até então insensível
ao amor, queria ver Antia.
III.1- Quando a procissão terminou, toda a multidão se dirigiu ao templo, para realizar
o sacrifício, e a ordem do cortejo se desfez. Homens e mulheres, moças e efebos, se
reuniram então no mesmo lugar, e aí, os dois jovens se encontraram. Antia foi
surpreendida por Habrócomes, e este, apanhado por Eros, olhava fixamente para a
moça e não conseguia se desvencilhar da visão impressionante. Atormentando o efebo,
o deus Eros se apoderava dele. 2- Antia, por sua vez, se sentia muito desconfortável.
Toda olhos para a beleza irradiante de Habrócomes, ela entregava os pontos, e chegava
até a se comportar de um modo não conveniente para uma jovem. Dizia qualquer
coisa, só para que Habrócomes a ouvisse, e descobria as partes do corpo que lhe era
possivel mostrar, só para que Habrócomes as visse. E ele, prisioneiro do deus, se
entregava à visão fascinante. 3- Realizado o sacrifício, eles se afastaram pesarosos,
lamentando a rapidez da separação. E querendo olhar um para o outro, eles se
voltavam e retrocediam, inventando mil pretextos para se demorar mais um pouco. 4E quando os dois foram embora, cada um para a sua casa, eles reconheceram, então,
porque não estavam se sentindo bem. E cada um se recordava da visão do outro, e eles
ardiam de amor, e o desejo só fazia aumentar pelo resto do dia. E quando Antia e
Habrócomes conseguiram, afinal, conciliar o sono, eles seguiram, cada um ao seu
modo, na mesma agonia, pois o amor era irresistível.
108
IV.1- Habrócomes, prendendo os cabelos e amarrotando as vestes, dizia: -Ai de mim!
Quantos males! O que sofro, infeliz? Eu que até agora era o viril Habrócomes, o que
sempre depreciava Eros, eu que vivia insultando-o duramente, me vejo dominado e
vencido por ele, e obrigado a ser escravo de uma moça. E me parece que existe alguém
mais belo do que eu, e o chamo de deus Eros. 2- Ó, eu sou tão covarde e vil! Não serei
capaz de resistir? Não me manterei forte? Não serei mais belo que Eros? É preciso que
eu vença agora esse deus que não é nada. 3- É bela essa moça. E o que tem isso? Ela é
bela para teus olhos, Habrócomes, mas não será se tu não quiseres. Isso já está
decidido: nunca Eros será capaz de me vencer. 4- Habrócomes dizia essas coisas e o
deus com mais força o pressionava, apesar da resistência, e o atormentava contra a sua
vontade. E não mais podendo resistir, Habrócomes, jogando-se no chão, disse: - Eros,
tu venceste! Eros, um grande troféu ergueste por tua vitória sobre o virtuoso
Habrócomes, tu já tens em mim um suplicante. 5- Pois então, salva agora aquele que
em ti busca refúgio, Senhor de todas as coisas. Não me abandones nem leves tua
vingança às últimas consequências contra minha arrogância. Por não haver
experimentado ainda, Eros, a tua força, eu me mostrava orgulhoso. Mas, agora,
entrega-me a Antia. Não sejas somente um deus severo contra quem se opõe a ti, mas
sejas compassivo com o vencido. Assim ele falou, mas Eros ainda estava muito
irritado e arquitetava uma grande vingança contra as depreciações de Habrócomes. 6Antia, por sua vez, também estava passando mal, e quando não podia mais resistir,
tratava de se reanimar para que os que a rodeavam não percebessem. – O que sofro, dizia ela -, infeliz de mim! Eu, uma virgem, amo minha juventude acima de tudo e
sofro um mal novo e que não convém a uma moça. Estou louca por Habrócomes, que é
belo, porém orgulhoso. 7- Qual será o limite do meu desejo e qual será o fim desse
109
mal? Meu amado é arrogante e eu sou uma virgem resguardada. A quem pedirei ajuda?
A quem contarei essas coisas? Onde poderei ver Habrócomes?
V.1- Assim se lamentava cada um deles durante toda a noite e ambos tinham diante
dos olhos o rosto do outro, pois cada um tinha a imagem do outro formada na alma.
Quando o dia nasceu, Habrócomes foi para os seus exercícios usuais, e a moça foi
celebrar o culto da deusa, como de costume. 2- Seus corpos estavam esgotados por
causa da noite anterior, os rostos pálidos e abatidos. E isso durou muito tempo e não
havia nada que eles pudessem fazer. 3- Passavam o dia no templo da deusa,olhando
um para o outro, mas não ousavam dizer a verdade, porque tinham medo. E não tinha
jeito: Habrócomes suspirava, chorava e suplicava, para que a moça o ouvisse com
compaixão. 4- E Antia sofria a mesma coisa, mas tinha de suportar uma infelicidade
ainda maior, pois via que outras moças e mulheres olhavam para ele. E todas elas
olhavam para Habrócomes! Era evidente o sofrimento da jovem, pois ela temia parecer
inferior às outras mulheres. E ambos dirigiam preces à deusa, sem saber, no entanto,
que essas preces eram semelhantes. 5- Algum tempo depois, o rapaz já não podia mais
suportar, com o corpo extenuado e a alma abatida, de modo que Licomedes e Temisto
ficaram muito preocupados, pois eles não sabiam o que estava acontecendo com
Habrócomes, e temiam o pior com o que estavam vendo. 6- Um temor semelhante
tinham Megamedes e Evipe por causa de Antia, ao verem a sua beleza se consumir e
não atinarem com a causa daquela infelicidade. Finalmente, levaram até Antia
adivinhos e sacerdotes para que encontrassem uma solução para o seu mal. 7- E eles
sacrificaram, fizeram libações e pronunciaram palavras incompreensíveis, a fim de
aplacar, com essas palavras, certas divindades, pois acreditavam que o mal provinha de
deuses subterrâneos.8- As pessoas próximas de Licomedes também fizeram muitos
sacrifícios e preces por Habrócomes, mas não houve solução para o mal; em vez disso,
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o amor ardia, cada vez mais inflamado. 9- Ambos caíram doentes, e a sua saúde
piorou, e eles ficaram acamados, fazendo as pessoas pensarem que eles fossem morrer
a qualquer momento, pois não podiam diagnosticar que mal os afligia. Finalmente, os
pais de ambos os jovens enviaram mensageiros para consultar o oráculo do deus sobre
a causa da doença e como ela poderia ser curada.
VI.1- O templo de Apolo em Cólofon não ficava muito longe de Éfeso, mas a ele só se
chegava viajando pelo mar, mais ou menos oitenta estádios. Ali, os mensageiros de
cada uma das famílias pediram ao deus que profetizasse a verdade; afinal, eles tinham
ido ao templo com o mesmo objetivo. E o deus lhes deu a mesma resposta em forma
de versos. Ei-los:
Por que desejais saber o fim desse mal e o seu início?
Ambos têm uma só doença. Eis a solução:
Para eles vejo terríveis sofrimentos e trabalhos sem fim.
Ambos terão de fugir pelo mar, perseguidos por piratas,
Sofrerão ao serem agrilhoados, nas mãos doshomens do mar.
E de ambos o tálamo será o túmulo e o fogo destruidor.
Junto às correntes do rio Nilo, à veneranda Ísis
Salvadora, tereis de oferecer depois, afortunadas dádivas.
Mas após as provações, eles terão um destino ainda melhor.
VII.1-Assim que a resposta chegou a Éfeso, logo os pais dos jovens ficaram sem saber
o que fazer, pois não conseguiam entender, de jeito nenhum, qual era a doença. Não
compreendiam as palavras do deus: qual era a doença, a fuga, a prisão, o túmulo, o rio
ou a ajuda da deusa. 2- Depois de muito deliberar, pareceu-lhes então conveniente
atender ao oráculo na medida do possível, e unir os filhos em matrimônio, supondo ser
isso que o deus queria dizer, ao profetizar essas coisas. Tomaram, então, essa decisão, e
pensaram em fazê-los viajar por algum tempo, logo após o casamento. 3- A cidade
inteira já estava em festa, guirlandas por toda parte, e se anunciava o casamento que
estava para acontecer. O casal era felicitado por todos; ele, por se unir a uma mulher
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assim como Antía; ela, por ser acolhida no leito de um jovem assim. 4- Habrócomes,
quando ficou sabendo do oráculo e do casamento, se sentiu imensamente feliz por ter
Antia, e de modo algum temeu a profecia, mas o presente se lhe afigurou mais doce que
qualquer perigo. Da mesma maneira, Antia se comprazia em ter Habrócomes e não se
preocupava com as desgraças, tendo Habrócomes como um consolo para todos os males
futuros.
VIII.1-Quando chegou o dia do casamento, realizaram-se as festas noturnas e
sacrificaram muitas vítimas à deusa. E depois que terminaram todas essas cerimônias,
chegando a noite, - e para Antia e Habrócomes, tudo lhes parecia transcorrer muito
lentamente -, conduziram a moça ao tálamo, portando tochas, cantando o himeneu e
proferindo palavras de bom augúrio, e, fazendo-a entrar, ajeitaram-na no leito. 2- E o
tálamo estava assim preparado: o leito de ouro estava coberto com colchas de cor
púrpura, e sobre esse leito pairava uma tenda da Babilônia,com muitos bordados:
Amoresbrincando, unsservindo a Afrodite (também havia a imagem de Afrodite
bordada), outros montados em passarinhos, outros trançando coroas de flores, outros
ainda trazendo flores. Isso numa parte da tenda. Na outra parte, estava Ares, desarmado,
mas adornado como se fosse receber a desejada Afrodite, e coroado com um manto de
lã. Eros o conduzia, portando uma lamparina acesa. Sob essa tenda, reclinaram Antia,
entregando-a a Habrócomes, e então fecharam as portas.
IX.1-Cada um deles sentia as mesmas emoções, eles não conseguiam dizer nada um ao
outro, nem olhar nos olhos um do outro, e estando juntos ali, eles permaneciam
imobilizados de tanto prazer, com a respiração ofegante, cheios de pudor e de medo. Os
corpos estavam trêmulos; as almas, agitadas. 2- Depois de algum tempo, Habrócomes,
recobrando-se, abraçou Antia; ela começou a chorar, e as lágrimas vertidas por sua alma
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eram como sinais do desejo que ela sentia pelo amado. Aí então, Habrócomes disse: - Ó
noite mais desejada por mim, e que só consegui depois de ter sofrido tantas noites! 3- Ó
virgempara mim mais doce que a luz, e a mais feliz, da qual jamais se ouviu falar! A um
homem apaixonado tens por marido. Com quem poderás viver e morrer como uma
esposa virtuosa! Depois de dizer essas coisas, Habrócomes começou a beijá-la e a
enxugar as suas lágrimas, e essas lhe pareciam mais doces que o néctar, e mais eficazes
contra a dor que qualquer medicação. 4- E ela, dirigindo-se a ele,suavemente, disse: Sim, Habrócomes, eu pareço bela para ti, e diante da tua própria beleza, será que eu lhe
agrado? Covarde! Medroso! Quanto tempo tardaste em teu amor, quanto desperdiçaste?
Por meus próprios males, fui eu quem mais sofri. 5- Mas, vamos, recolhe as minhas
lágrimas, e que teus lindos cabelos bebam desse filtro de amor, e que, ao nos unirmos,
nós façamos parte um do outro! Reguemos as guirlandas com as nossas lágrimas, para
que, assim como nós, elas também venham a se amar. 6- Depois de dizer isso, ela
acariciou-lhe o rosto,deixou caírem os cabelos sobre os olhos dele, retirou as guirlandas
de suas cabeças,juntou os lábios aos dele, e seus pensamentos passaram da alma de um
para a de outro, através dos lábios. 7- E ela, beijando os olhos dele, lhe disse: -Ó vós,
que tanto me fizestes sofrer! Ó tu, que, pela primeira vez. cravaste o aguilhão em minha
alma, antes tão arrogante e agora tão amoroso! Bem me servistes, bem levastes meu
amor à alma de Habrócomes. 8- Por isso, vos cubro de beijos, servidores de
Habrócomes! Que vejais sempre somente a mim, e que não mostreis a Habrócomes
nenhuma outra bela mulher, e nem a mim me pareça belo um outro homem. Vós
possuístes as almas que vós mesmos inflamastes; então, guardai-as da mesma maneira.
9- Assim ela falou, e eles se deitaram abraçados e, pela primeira vez,gozaram dos
prazeres de Afrodite. E por toda a noite, eles competiram um com o outro, rivalizando
no amor, a fim de mostrar quem estava mais apaixonado.
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X.1-Quando o dia amanheceu, eles se levantaram bem mais animados e felizes, depois
de gozarem das coisas boas por tanto tempo desejadas. 2- A vida lhes parecia uma festa
constante, repleta de benesses, e eles já tinham até se esquecido do oráculo. Mas o que
lhes fora reservado pelo Destino não fora esquecido, e nem o deus descuidara do que
havia decretado. 3- Depois de algum tempo, os pais dos jovens resolveram fazer com
que eles saíssem da cidade, como acordado anteriormente. Eles poderiam assim
conhecer outras terras e outras cidades, e atenuar o oráculo do deus, na medida do
possível, ausentando-se por algum tempo de Éfeso. 4- Providenciou-se assim todas as
coisas necessárias para a partida: um grande barco e marinheiros preparados para
conduzi-lo. Puseram no barco muitas e variadas roupas, muito ouro e prata e víveres em
grande quantidade. 5- Fizeram-se sacrifícios a Ártemis pelo êxito da viagem, e todo o
povo fez preces e derramou lágrimas, como se os que estavam prestes a partir fossem
filhos de todos eles. Havia sido preparada para eles uma viagem pelo mar,ao longo do
Egito. 6- Quando chegou o dia da partida, muitos serviçais e muitas criadas embarcaram
no navio, e quando a nau estava prestes a partir, todo o povo de Éfeso, uma verdadeira
multidão, acorreu para escoltá-los, bem como muitas das sacerdotisas, portando tochas e
objetos sagrados. 7- Nesse momento, Licomedes e Temistolembraram-se de todas as
coisas: do oráculo, do filho, do afastamento do país, e caíram ao chão, desfalecidos.
Megamedes e Evipe, por sua vez, sentiram a mesma coisa, embora mais bem dispostos,
ao constatarem o cumprimento da profecia. 8- Por fim, os marinheiros passaram a gritar,
e soltaram as amarras, enquanto o piloto assumia o comando, e o barco partiu. 9Ouviu-se então um imenso clamor, miturando-se as vozes dos que estavam terra com as
dos que estavam no barco: - Ó queridos filhos! - diziam uns - Será que ainda os
veremos, nós, os seus pais? -Ó, pais! - diziam outros -Será que voltaremos a revê-los?
Havia lágrimas e lamentação, enfim, e cada um gritava, chamando pelo nome a seus
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parentes, e conservando na memória o nome uns dos outros. 10- Megamedes, então,
tomou de uma taça e fez uma libação, orando como se pudesse ser ouvido pelos que
estavam no barco: - Ó filhos! – dizia ele – Que possais ser bem sucedidos e que escapeis
das agruras da profecia, e que os efésios possam receber-vos, ao regressardes a salvo, e
que possais ter de novo a querida pátria. Mas se alguma coisa acontecer convosco, sabei
que nós também não estaremos salvos, e que os enviamos por um caminho
desafortunado, mas necessário.
XI.1-As lágrimas não deixaram que ele continuasse falando. E eles, então, voltaram
para a cidade, enquanto a multidão os exortava a ter coragem. Habrócomes e Antia,por
sua vez, seguiam abraçados pensando, ao mesmo tempo, em muitas coisas, cheios de
compaixão pelos pais, desejosos da pátria, temendo o oráculo e desconfiando do
afastamento do país. Mas o fato de estarem navegando juntos lhes encorajava para o que
viesse. 2- E naquele dia lhes soprou um vento favorável, e eles navegaram rapidamente
até Samos, a ilha sagrada de Hera. Ali então, realizaram os sacrifícios, cearam e fizeram
muitas preces, e quando a noite chegou, partiram novamente. 3- E a viagem seguia
favorável. Muitas vezes, eles se perguntavam, um ao outro: - Nos será permitido passar
a vida juntos? Habrócomes, então, lamentando-se profundamente, recordava-se
dascoisas pelas quais tinha passado: -Antia, - dizia ele - és mais desejada por mim que a
própria vida! Tomara que possamos ser bem sucedidos e nos salvarmos um ao outro!4Mas se nos está destinado sofrer, quem sabe até nos separarmos, que então juremos, um
ao outro, caríssima esposa, tu, que continuarás pura para mim e nunca suportarás um
outro homem, e eu, que não coabitarei com outra mulher. 5- Ao ouvi-lo, Antiatambém
começou a se lamentar profundamente: - É isso – disse ela – Habrócomes, que tu estás
pensando, que, se eu me separar de ti, ainda vou cogitar de me casar com outro homem,
eu que, absolutamente, não posso viver sem ti? Eu te juro pela deusa de nossos
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antepassados, a grande Ártemis dos Efésios, por este mar que estamos percorrendo, e
pelo deus que nos uniu,um ao outro, nessa bela loucura, que eu, se for afastada de ti,
ainda que por pouco tempo, não mais poderei viver e ver a luz do sol. 6- Antia dizia
essas coisas, e Habrócomes também lhe jurava fidelidade, e a ocasião fazia os
juramentos dos amantes cada vez mais fortes. Nesse momento, o barco passava por Cós
e Cnido, e já se via a ilha de Rodes, grande e bela. E eles tiveram de desembarcar ali,
pois os marinheiros disseram ser necessário pegar água e que eles tinham de descansar,
já que, daliem diante, a travessia seria mais longa.
XII.1-O barco atracou em Rodes, os marinheiros desembarcaram, e Habrócomes saiu,
tomando Antia pela mão; aí então, todos os ródios se reuniram, deslumbrados com a
beleza dos jovens, e ninguém conseguia passar por eles sem dizer nada, mas uns diziam
que os deuses estavam chegando, e outros se prosternavam e caíam de joelhos aos seus
pés. E logo, por toda a cidade, ouviu-se falar dos nomes de Habrócomes e Antia. 2Dirigiram-se preces, pulbicamente,em seu louvor, fizeram-se muitos sacrifícios, e
providenciou-se uma festa para comemorar a sua chegada. E eles visitaram toda a
cidade, dedicaram ao templo de Hélios uma armadura de ouro e nela inscreveram um
epigrama, para que fossem sempre lembrados:
Os estrangeiros,a ti, essas armas cinzeladas a ouro, dedicaram,
Os famosos Antía e Habrócomes, cidadãos da sagrada Éfeso.
3- Depois de fazerem a oferenda, eles permaneceram poucos dias na ilha, pois os
marinheiros tinham pressa, e eles partiram, depois de terem carregado o barco de
víveres. E todo o povo dos ródios os acompanhava. A princípio, o vento favorável os
impulsionou, e a navegação lhes era prazerosa. E durante todo aquele dia e na noite
seguinte,foram levados paulatinamente pelo mar chamado “Egípcio”. No segundo dia,
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porém, o vento cessou, veio a calmaria, o barco seguiu mais devagar, e então, os
marinheiros relaxaram, começaram a beber e se embebedaram. Era o início da profecia.
4- Nesse momento, apareceu a Habrócomes uma mulher assustadora, de estatura sobrehumana, trajando um vestido de púrpura fenícia. E depois que ela surgiu, o barco
pareceu estar pegando fogo, e todos os outros passageiros estarem morrendo, menos ele,
Habrócomes, e Antia,que saíram nadando pelo mar. Ao ver essas coisas acontecendo
tão rapidamente, ele se perturbou e pressentiu, a partir daquele sonho, que uma coisa
terrível estava para acontecer. E essa coisa terrível aconteceu.
XIII.1- Por acaso, quando eles estiveram em Rodes, piratasde estirpe feníciaestiveram
ancorados por perto, numa grande trirreme. Levantaram âncora como se estivessem
carregando mercadorias; a tripulação era grande, e eles eram muito destemidos. Esses
piratas ficaram sabendo que no barco de Habrócomes e Antía havia ouro e prata em
abundância, além de muitos escravos valiosos. 2- Eles decidiram, então, atacar o barco,
matar os que resistissem, e levar os sobreviventes para a Fenícia, com a intenção de
vendê-los juntamente com as riquezas. Os piratas os desprezavam, pois não os
consideravam capazes de enfrentá-los. O chefe dos piratas chamava-se Corimbo, um
jovem alto, de aspecto terrível, e seus cabelos sujos se derramavam.. 4- Quando os
piratas tomaram essa decisão, começaram a navegar tranquilamente próximo ao barco
de Habrócomes, até que enfim, por volta do meio-dia, quando todos no barcoestavam
descansando, por causa da bebedeira e do desânimo, uns dormindo e outros, exaustos,
foram contra eles os homens de Corimbo,conduzindo a trirreme com grande rapidez. E
ficaram emparelhados com o barco, eles pularam dentro da embarcação, empunhando as
espadas. Aí então, uns, assustados, se jogaram ao mar e se afogaram; outros, que
tentaram se defender, foram degolados. Habrócomes e Antía correram até Corimbo, o
pirata, apertaram seus joelhos e disseram: - Disponha, senhor, de nossas riquezas e faça
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de nós seus escravos, mas não sacrifiques as nossas vidas nem mates os que se
submeteram a ti voluntariamente. Por este mar, por tua destra! Leva-nos para onde
quiseres e põe-nos à venda como teus escravos! Apenas tem compaixão de nós,
fazendo-nos servir a um só senhor.
XIV.1- Ao ouvi-los, Corimbo ordenou imediatamente que os piratas os poupassem, e
depois de transferir para a trirreme os objetos mais valiosos, incluindo Habrócomes e
Antía, e alguns escravos,tocou fogo no barco, e os que ali ficaram morreram queimados,
pois ele não podia levar todos na trirreme, nem lhe parecia seguro. 2- Era uma cena
lastimável: uns, levados na trirreme, outros,queimando no barco, erguendo os braços e
gritando desesperadamente. 3- E diziam os que estavam nobarco: - Para onde vos
levarão, senhores? Que terra vos receberá? E que cidade habitareis? E os outros, na
trirreme, respondiam–Ó bem-aventurados, que, por sorte, vais morrer, e não
experimentareis os grilhões nem conhecereis a servidão nas mãos de piratas! E dizendo
essas coisas, uns se afastavam, outros morriam queimados. Aí então, o aio de
Habrócomes, já idoso, de aparência venerável e digno de compaixão por sua velhice,
não suportando mais a perda de Habrócomes, se jogou ao mar, e nadando com grande
esforço tentava alcançar o trirreme: - Para onde estás indo, meu filho, - dizia ele -,
deixando para trás este velho, o teu pedagogo? 5- Para onde estás indo, Habrócomes?
Mata-me tu mesmo, a mim, este desgraçado, e sepulta-me! Para mim, não há vida sem
ti! Ele dizia essas coisas enquanto nadava, e quando, enfim, perdeu a esperança de ainda
ver Habrócomes, cedeu à força das ondas e pereceu. 6- Esse momento foi o mais
doloroso para Habrócomes. O jovem estendia os braços para o velho esuplicava aos
piratas para que o resgatassem. Eles, no entanto, nada disseram e seguiram
adiante.Depois de terem navegado três dias, desembarcaram em Tiro, uma cidade da
Fenícia, onde os piratas tinham a sua morada. 7- Não levaram os prisioneiros para a
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cidade, mas para uma propriedade próxima, do chefe do bando, cujo nome era Apsirto;
aí, Corimboservia por dinheiro e recebia também uma parte do botim. Enquanto
navegava em direção a Tiro, Corimbo de tanto ver Habrócomestodos os dias, se
apaixonou perdidamente por ele, e a convivência com o rapaz só fez inflamar mais
ainda essa paixão.
XV.1- Durante a viagem, pareceu a Corimbo impossível convencer Habrócomes, pois
ele não apenas via que o jovem estava abatido e sofrendo muito, mas também que ele
amava Antía. A Corimbo também parecia ser muito difícil forçá-lo a ceder, pois temia a
reação de Habrócomes. 2- Quando chegaram a Tiro, não mais podendo resistir,
Corimbo começou a tratar Habrócomes com bondade;exortava-o a ter confiança, e
mostrava-se muito solícito para com o jovem. 3- Por sua vez, Habrócomes pensava
que, ao tratá-lo com generosidade, Corimbo era movido pela compaixão. E Corimbo
acabou falando de sua paixão por Habrócomes a um colega de bando, cujo nome era
Euxino; ele, então, pediu ajuda ao companheiro para que, juntos, encontrassem uma
maneira de convencer o rapaz. 4- Euxino escutou com muita atenção as coisas que
Corimbo lhe disse, pois ele, por sua vez, estava sofrendo muito por Antía, perdidamente
apaixonado pela moça. Assim, então, contou a Corimbo o que se passava com ele,e
aconselhou-o a não se afligir tanto assim, mas traçar um plano para conseguir o seu
objetivo. 5- Pois – disse Euxino – seria muito vergonhoso, se depois de passarmos por
tantos perigos e expormos as nossas vidas, não pudéssemos gozar com tranquilidade das
coisas que conquistamos com tanto esforço. Podemos – acrescentou ainda Euxino –
pedir a Apsirto, um de cada vez, que nos conceda a nossa parte no botim. 6- Com essas
palavras, ele convenceu facilmente o apaixonado Corimbo. E assim eles combinaram
falar com os jovens, um em favor do outro, para que Euxino convencesse Habrócomes e
Corimbo, Antia.
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XVI.1- Enquanto isso, Habrócomes e Antía seguiam abatidos, na expectativa de muitos
outros sofrimentos, conversando e jurando o tempo todo que iam cumprir o que haviam
prometido um ao outro. Foram até eles Corimbo e Euxino, e disseram que gostariam de
ter uma conversa em particular com cada um deles. Assim, um levou Antia consigo, e o
outro, Habrócomes. As almas de Habrócomes e Antía estremeceram, pois pressentiam
que não era coisa boa. 3- Euxino, então, falou com Habrócomes em favor de Corimbo: –
Rapaz, é natural suportar a desgraça com muita dificuldade, tornando-se um escravo
depois de ter sido um homem livre, e ficar pobre, em vez de rico. Mas é preciso que tu
saibas que todas essas coisas são obra da Sorte, que te contentes com o que a divindade
reservou para ti e que ames aqueles que agora são seus senhores. 4- Sabe que é possível
recobrares a felicidade e a liberdade, se te deixares persuadir pelo teu senhor, Corimbo,
pois ele te ama com paixão e está disposto a fazer de ti senhor de todos os seus bens.
Não sofrerás nenhum castigo e, em troca, farás com que teu senhor te seja favorável. 5Pensa bem na situação em que te encontras agora: sem defensor, em terra estrangeira, e
tendo piratas por senhores, sem chance de escapar da vingança, se menosprezares
Corimbo. Que necessidade tens de mulher agora,e de mais problemas? Por que desejas
assimuma mulher, com a idade que tens? Deixa de lado todas essas coisas, pois é
preciso que teus olhos se voltem apenas para o teu senhor, e que obedeças as suas
ordens. 6- Ao ouvir essas palavras, Habrócomes ficou logo assustado e não sabia como
responder a Euxino; começou, então, a chorar e a gemer,ao ver a que situação havia
chegado. E enfim, ele disse a Euxino: Deixe-me, senhor, refletir um pouco, e te
responderei sobre todas essas coisas que acabaste de me dizer. 7- Euxino, então, se
retirou. Corimbo, por sua vez, havia falado a Antia sobre o amor que Euxino sentia por
ela, da necessidade em que ela se encontrava, e que era preciso, acima de tudo, obedecer
aos seus senhores. E ele prometeu muitas coisas, um bom casamento e muitas riquezas.
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E ela lhe respondeu de modo semelhante ao qual Habrócomes havia respondido a
Euxino: pediu a Corimbo um pouco de tempo para decidir. E assim, Euxino e Corimbo
ficaram aguardando as respostas, na esperança de que os jovens se deixariam convencer
com facilidade.
Livro II
I. 1- Habrócomes e Antía voltaram para a pequena casa onde estavam alojados, e
depois que um contou ao outro exatamente o que ouvirade Euxino e de Corinto, eles se
jogaram ao chão, e,começando a chorar, se lamentavam profundamente: 2- Ó pai!-
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exclamavam - Ó mãe!Ó pátria caríssima! Amigos e parentes! E, finalmente, refazendose, Habrócomes disse: - Infelizes de nós! O que teremos de passar em terra
estrangeira,à mercê de piratas tão brutais? As profecias estão começando a se cumprir.
O deus já me faz pagar pelo meu orgulho. Corimbo me ama, e Euxino te ama. 3- Ó
formosuratão inoportuna para cada um de nós!Então, foi para isso que me conservei
puro até agora, para me submeter ao vergonhoso desejo de um pirata apaixonado? E
que vida me resta, se eu me tornar uma prostituta, e não mais um homem, e ter de me
separar da minha Antia?4- Mas não, pela virtude que, desde criança, me acompanha
até hoje, eu não me submeterei a Corimbo! Antes morrercomo um morto virtuoso!5Enquanto ele dizia essas coisas, derramava muitas lágrimas; e então Antía lhe disse: Ai de nós! Quantos males! – e prosseguia – tão rápido somos coagidos a recordar os
nossos juramentos, e tão rápido experimentamos a servidão. Um homem me ama e
espera convencer-me a recebê-lo em meu leito, depois de Habrócomes, e deitar
comigo, a fim de satisfazer os seus desejos. 6- Mas que eu não seja tão apegada à
vida,pois não poderia mais suportar, depois de ultrajada, ainda ver o sol. Já está
decidido:vamos morrer, Habrócomes!Teremos um ao outro, depois da morte, sem
sermos molestados por ninguém.
II. 1- Enquanto eles tomavam essa decisão, Apsirto, o chefe do bando de piratas,
sabendo que os homens de Corimbo haviam chegado, trazendo muitas preciosidades,
foi até o campo, viu Habrócomes e Antia, e ficou impressionado com a sua formosura,
e logo pensando em tirar grande vantagem, reclamou-os para si. 2- E o restante do
dinheiro e dos objetos preciosos, assim como as moças que haviam capturado, ele os
repartiu entre Corimbo e seus piratas. Euxino e Corimbo cederam de má vontade
Habrócoomes e Antía a Apsirto, mas foram obrigados a ceder. 3- Eles então se
retiraram, e Apsirto, tomando consigo Habrócomes e Antía, e mais dois escravos,
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Leucón e Rode, levou-os para Tiro. 4- O grupo formava um cortejo que chamava a
atenção, e todos lhes admiravam a beleza, e os bárbaros,que nunca tinham visto antes
tamanha formosura, pensaram serem deuses as pessoas que estavam vendo, e
felicitavam Apsirto por ter adquirido tais escravos. 5- Ele os conduziu até sua casa, e
os entregou a um escravo fiel, ordenando~lhe que dedicasse a eles uma atenção
especial, pois pensava em ganhar muito, se conseguisse vendê-los por um preço justo.
III. 1- O grupo de Habrócomes estava nessa situação. E depois de alguns dias, Apsirto
partiu para a Síria, a fim de tratar de outros negócios, e sua filha, Manto, se apaixonou
por Habrócomes. Ela era bela e já estava na idade de se casar, mas a sua beleza nem de
longe alcançava a de Antía. 2- Manto,ao conviver diariamente com Habrócomes, não
resistiu aos seus encantos, e não podendo mais se conter, não sabia o que fazer. Não se
atrevia a falar com o jovem, pois sabia que ele tinha uma esposa, e Manto não tinha
esperanças de convencê-lo, nem como falar do seu amor a algum outro dos de sua
casa, porter medo do pai. 3- Por causa disso, Masto se consumia cada vez mais, e
sofria muito, e não podendo mais suportar, ela resolveu falar do seu amor a Rode, a
companheira de Antía, que era da mesma idade e bem moça, pois chegou à conclusão
de que somente ela a ajudaria a realizar o seu desejo. 4- Assim que encontrou uma
oportunidade, ela levou a moça até o altar doméstico que havia em sua casa, e lhe
pediu que jurasse não dizer nada a ninguém, e então falou do seu amor por
Habrócomes,e lhe implorou que a ajudasse, pois, se o fizesse seria muito bem
recompensada. 5- E Manto acrescentou ainda: - Sabes que és minha escrava, sabes que
poderás provar da ira de uma mulher bárbara e injuriada! Depois de dizer todas essas
coisas, Manto dispensou Rode. A escrava se viu então numa situação muito difícil,
pois se recusava a falar com Habrócomes, logo ela, que amava Antía, mas temia muito
aira de umamulher bárbara. 6- Pareceu-lhe, então, ser melhor falar primeiro com
123
Leucón sobre as coisas que Manto lhe dissera. Rode tinha uma relação de intimidade
com Leucón, decorrentedo amor, e eles haviam se unido, um ao outro,ainda em Éfeso.
7- Assim, quando se viu a sós com ele, Rode lhe disse: - Ó Leucón! – e foi em frente Estamos completamente perdidos! Agora não mais teremos os nossos companheiros. A
filha do nosso senhor, Apsirto,ama Habrócomes, com grande paixão, e nos ameaça, se
não o conseguir, com terríveis castigos. 8- Considera então o que é preciso fazer, pois
contrariar a bárbara é perigoso, e separar Habrócomes de Antía, impossível! Ao ouvila, Leucón caiu em prantos, pois compreendeu que esse era o começo de grandes
desgraças, mas logo ele se recompôs e disse: - Fica calada, Rode, pois eu me
encarregarei de cada uma dessas coisas.
IV. 1- Depois de dizer isso, Leucón foi ter com Habrócomes. Este não se ocupava de
mais nada, a não ser beijar Antía e ser beijado por ela, falar com ela e ouvi-la falar. 2Pondo-se diante deles, Leucón falou: - O que estamos fazendo, companheiros? O que
estamos deliberando, se somos escravos? Pareces belo, Habrócomes, a um de nossos
senhores. A filha de Apsirto está sofrendo muito por causa de ti, e contradizer uma
moça bárbara apaixonada é muito difícil. Tu, então, toma a decisão que te parece
melhor, salva a todos nós, e não deixes que sejamos abatidos pelaira de nossos
senhores. 3- Ao ouvir as palavras de Leucón, Habrócomes, imediatamente, foi tomado
pela ira, e, olhando fixamente para o companheiro, lhe disse: - Ó homem perverso! – e
acrescentou –E mais bárbaro que os fenícios deste lugar!Como ousas dizer tais coisas a
Habrócomes, na presença de Antía,insinuando-me para uma outra moça!4- Sou
escravo, mas sei honrar meus compromissos. Eles têm poder sobre o meu corpo, mas a
minha alma, eu a tenho livre. Que Manto me ameace agora, se quiser, com a espada,
com as amarras, com o fogo e com o que mais for necessário para coagir o corpo de
um escravo, pois nunca me deixarei persuadir de espontânea vontade, e ser injusto com
124
Antía. 5- Enquanto ele dizia essas coisas, Antía não esboçou reação, diante de tamanho
infortúnio, e não conseguia dizer nada. Por fim, com dificuldade, ela reagiu e tomou a
palavra: - Tenho, Habrócomes, a tua ternura, e estou convencida de que sou, acima de
tudo, amada por ti. Mas te suplico, dono da minha alma, não traias a ti mesmo nem te
exponhas à ira de uma bárbara. 6- Ceda ao desejo da senhora. 6- Eu vos deixarei livres,
entregando-meà morte. Só te farei um pedido: enterra-me tu mesmo, dá-me um beijo
quando eu tombar sem vida, e lembra-te de Antia. Todas essas coisas fizeram com que
Habrócomes se sentisse ainda mais desgraçado, e ele não conseguia atinar com o que
ainda estava por vir.
V.1 - Eles não sabiam como sair dessa situação. Manto, por sua vez,diante da demora
de Rode, não pode mais resistir e escreveu uma carta para Habrócomes, cujo teor era o
seguinte:
Ao belo Habrócomes, tua senhora te saúda. Manto te ama, e já não pode mais
suportar. Talvez isso seja inconveniente para uma moça, mas necessário para uma
amante. Suplico-te, não me desdenhes, nem maltrates aquela que quer o teu bem. 2- Se
me escutares, eu convencerei ao meu pai, Apsirto,a me casar contigo, e ficaremos
livres daquela que agora é tua mulher, e assim ficarás rico e serás muito feliz. Mas se
te opuseres, pensa no quanto sofrerás, se a mulher desprezada se vingar, ela mesma, de
ti, e também de teus companheiros,cúmplices da tua insolência.
3- Manto pegou a carta e, selando-a, entregou a uma de suas escravas estrangeiras,
dizendo que a entregasse a Habrócomes. Ele recebeu, leu, e ficou muito aflito com
tudo o que leu, e a menção à Antía atormentou-o ainda mais. 4- Então, ele guardou
acarta, escreveu a resposta e entregou a escrava. A resposta era a seguinte:
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Senhora, faz como quiseres, trata meu corpo como o de um escravo. Se queres
me matar, estou pronto, ou então torturar, tortura-me como quiseres, mas no teu leito
eu não me deitaria, nem poderia obedecer-te, se exigisses isso de mim.
5- Manto, quando recebeu a carta, ficou furiosa e descontrolou-se, tomada das mais
desencontradas emoções: vingança, ciúme, dor e medo, e ficou pensando num meio de
se vingar daquele que a estava menosprezando.
6- Nesse momento, Apsirto voltou da Síria, trazendo de lá um noivo para a sua
filha,chamado Méris. E assim que ele chegou, Manto armou uma intriga contra
Habrócomes: depois de arrancar os cabelos e rasgar as vestes,foi ao encontro do pai
e,agarrando-se aos seus joelhos, exclamou: 7- Compadece-te, pai, da tua filha,
ultrajada por um escravo! Pois o casto Habrócomes, tentou tirar a minha virgindade, e
atentou também contra ti, dizendo que me amava. Tu, então, para que sirva de exemplo
aos jovens insolentes, vinga-te dele, aplicando-lhe o merecido castigo, ou, então, se
deixares a tua filha à disposição dos escravos, eu me matarei primeiro.
VI. 1- Ao ouvi-la, Apsirto, acreditando que ela dizia a verdade, não quis mais saber de
nada do que tinha acontecido, mandou buscar Habrócomes e interpelou-o:- Ó homem
insolente e desprezível! – exclamou - Ousaste ultrajar os teus senhores, e tentaste
violar uma virgem, não passando de um escravo? Mas não te regozijarás com isso de
modo algum. Eu me vingarei de ti e farei do teu suplício um exemplo para os outros
escravos. 2- Depois de dizer essas coisas, ele, não suportando ouvir mais nada de quem
quer que fosse, ordenou aos escravos que arrancassem as roupas do rapaz, trouxessem
fogo e chicotes eo torturassem.3- Era um cena digna de compaixão: as chicotadas lhe
deixaram o corpo irreconhecível, pois, não estava afeito a torturas de escravos, e o
sangue jorrava e a beleza se esvaía. 4- Puseram-lhe terríveis grilhões, queimaram-no e
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açoitaram-no, a fim de mostrar ao noivo da filha do senhor que ele levaria consigo uma
virgem sensata. 5- Foi então que Antía, agarrando-se aos joelhos de Apsirto,intercedeu
por Habrócomes, mas ele não atendeu ao pedido: - Mas ele, por tua causa, será ainda
mais castigado, - justificava – porque foi indigno de ti, apaixonando-se por outra,
quando tinha uma esposa. E então, Apsirto ordenou que, depois de acorrentá-lo, o
trancafiassem numa cela escura.
VII. 1- Habrócomes seguia agrilhoado no cárcere, e um desânimo terrível se abateu
sobre ele, sobretudo porque não podia ver Antía. Buscou a morte de todas as formas,
mas não descobriu um meio de por fim à vida, pois era vigiado por muitos guardiões.
Apsirto realizou o casamento da filha, e eles festejaram por muitos dias. 2- Antía, por
sua vez,era toda sofrimento, e quando conseguia convencer os guardiões da prisão, ia
silenciosamente até Habrócomes e lamentava a sua desgraça. 3- Quando, finalmente,
os recém-casados se preparavam para ir à Síria, Apsirto fez a filha partir com muitos
presentes, dando-lhe vestidos da Babilônia, ouro puro e muita prata. E deu ainda de
presente Antía, Rode e Leucón, à sua filha, Manto.4- E quando Antía soube disso, e de
que teria de ser levada para a Síria, com Manto, ela conseguiu entrar na prisão, e
abraçando Habrócomes, lhe disse: - Meu senhor, estou sendo levada para a Síria,pois
fui dada de presente a Manto, e agora estou nas mãos daquela que me inveja. 5- Tu, no
entanto, permanecendo na prisão, morrerás miseravelmente, sem ter alguém que possa
cuidar doteu corpo. Mas te juro, pelo gênio que vela pornós dois, que eu permanecerei
tua, viva ou ameaçada de morte. Dizendo isso, ela o beijava,abraçava, acariciava as
correntes e se jogava aos seus pés.
VIII. 1- Finalmente Antia deixou a prisão, e Habrócomes, quando se viu sozinho,
jogou-se ao chão, e começou a chorar: - Ó pai caríssimo! – exclamava! – Ó minha
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mãe, Temisto!Onde está aquela felicidade, que parecia inabalável, em Éfeso? Onde
estão os esplendorosos Antía e Habrócomes, tão belos? Ela partiu para uma terra
longínqua, como prisioneira. E eu, que perdi meu único consolo, morrerei desgraçado,
sozinho nesta prisão!
2- Enquanto Habrócomes assim se lamentava, veio o sono e dele se apoderou, e então
lhe apareceu um sonho. Pareceu-lhe ver o próprio pai Licomedes, com roupas pretas,
vagando por toda terra e mar, e chegando à prisão para libertá-lo, tirava-o da cela. E
ele, Habrócomes, transformando-se num cavalo, disparava por muitas terras,
perseguindo uma égua e, finalmente, encontrava a égua, e ela se transformava num
homem. Depois de ter sonhado com essas coisas, ele se levantou de repente, e
vislumbrou uma pequena esperança.
IX. 1- Habrócome seguiaencarcerado na prisão, enquanto Antia era levada para a
Síria,juntamente com Leucón e Rode. Quando a comitiva de Manto chegou à
Antioquia - pois Méris era de lá -,ela ainda estava ressentida com Rode e odiava a
Antía. 2- E imediatamente, ela ordenou que pusesse Rode, acompanhada de Leucón,
num navio, a fim de que eles fossem vendidos em algum lugar o mais distante possível
da Síria; quanto a Antía, ela pensava em fazê-la coabitar com o escravomais
desprezível, ou então com um campônio, um pastor de cabras,tencionando com isso
vingar-se dela. 3- Ela então mandou buscar o cabreiro, chamado Lâmpon, e lhe
entregou Antía, ordenando–lhe que fizesse dela sua mulher, e caso ela não lhe
obedecesse, que a possuísse à força. 4- E assim, Antia foi levada ao campo para unir-se
ao cabreiro; elá no sítio onde Lâmpon apacentava as cabras, ela se agarrou aos seus
joelhos e suplicou que se compadecesse dela e a mantivesse pura. Contou-lhe querm
era ela, da sua anterior nobreza, do seu marido e da sua condição de prisioneira.
128
Depois de ouvi-la, Lâmpon se compadeceu da moça, e jurou-lhe então que a guardaria
imaculada, e lhe recomendou que confiasse nele.
X. 1- Antia então ficou no campo, com o cabreiro, chorando o tempo todo por
Habrócomes. Enquanto isso, Apsirto revistando a habitação onde Habrócomes esteve,
antes de ter sido castigado, topou com o bilhete que Manto enviara a Habrócomes,
reconheceu-lhe a escrita e descobriu que havia punido Habrócomes injustamente.
Então, mandou logo que o soltassem e o trouxessem à sua presença. 2- Habrócomes,
marcado por sofrimentos atrozes e lastimáveis, agarrou-se aos joelhos de Apsirto, mas
este soergueu-o e disse: - Coragem, rapaz! Eu te acusei injustamente, enganado pelas
palavras de minha filha, mas agora farei de ti um homem livre, em vez de um escravo,
confiando-te a administração da minha casa, e providenciarei para ti uma esposa, a
filha de um dos meus concidadãos. Não guardes rancor de mim pelo que te aconteceu,
pois não fui injusto contigo porque quis. 3- Quando Apsirto acabou de falar,
Habrócomes lhe respondeu: - Mas foi graças a ti, senhor, que descobriste a verdade, e
me recompensaste pela discreção. Todas as pessoas da casa se alegraram por
Habrócomes e deram graças por ele, ao seu senhor. Mas Habrócomes estava sofrendo
muito por causa de Antia, e sem dizer nada, ficava o tempo todo pensando: - De que
me serve a liberdade? De que me servem as riquezas e o cuidado com os bens de
Apsirto? Não devo me acomodar com isso... E tomara que eu a encontre! Viva ou
morta!
4- Habrócomes vivia seu dia a dia, tomando conta da casa de Apsirto, mas não
deixando de pensar quando e onde poderia encontrar Antia. Por sua vez, Leucón e
Rode foram levados para a Lícia, mais precisamente, a cidade de Xanto, situada a uma
boa distância do mar, e ali então, foram vendidos a um velho que os tratava com todo
129
cuidado, como se eles fossem seus próprios filhos, pois ele não os tinha. Eles viviam
uma vida farta, mas sofriam muito, por não terem consigo Antia e Habrócomes.
XI. 1- Antía já morava com o cabreiro há algum tempo, quando Méris, o marido de
Manto, foi ao sítio e desejou Antía, apaixonando-se perdidamente. No começo, ele
tentou esconder os seus sentimentos, mas, finalmente,falou ao cabreirodo seu amor
pela moça, prometendo-lhe muitas coisas, se aceitasse cooperar com ele. 2- Ele deu
sua palavra a Méris, mas, como temia a Manto, procurou-a e lhe contou sobre o amor
de Méris. E ela reagiu com raiva: - De todas as mulheres, eu sou a mais desgraçada!
Tenho de conviver com a minha rival, a qual, primeiro, lá na Fenícia, me fez perder o
meu amado, e agora ainda estou correndo o perigo de perder o marido!Mas Antía não
vai ficar contente por ter parecido bela para Méris. Pois eu farei com que ela me pague
por tudo que me fez, aqui e em Tiro.
3- Manto procurou manter a calma. E quando Méris teve de partir, em mais uma de
suas viagens, ela mandou buscar o cabreiro e lhe ordenou que pegasse Antía, a levasse
para o mais denso dos bosques e a matasse, prometendo-lhe pagar por isso. 4- Ele
tinha pena da moça, mas temendo Manto, foi até Antía e lhe contou o que a rival havia
decidido fazer com ela. EAntia começou a gemer e a chorar copiosamente: - Ai! –
lamentava-se - Essa beleza conspira contra nós dois, onde quer que estejamos. Por
causa dessa formosura tão inoportuna, Habrócomes está morto, em Tiro, e eu, aqui
neste lugar. 5-Mas, eu te suplico, pastor Lâmpon, até agora, tu me respeitaste, e se me
matares, podes sepultar-me com poucas honras fúnebres. Cerra-me os olhos com as
tuas mãos, e, ao me enterrares, não pares de chamar pelo nome de Habrócomes. Esse
sepultamento seria de grande felicidade para mim, se Habrócomes pudesse estar
comigo.
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6- Enquanto a moça dizia essas coisas, o cabreiro era tomado de profunda compaixão
por ela, pensando que cometeria um crime, se matasse uma jovem tão bonita assim, e
que, ainda por cima, nenhum mal fizera. 7- Segurando a moça, o pastor não foi capaz
de matá-la, e disse a ela o seguinte: - Antia, tu sabes que a senhora Manto me ordenou
que eu te pegasse e te matasse. Mas eu também sou temente aos deuses e me
compadeci de tua beleza, e por isso, prefiro vender-te a alguém que a leve para bem
longe destas terras, pois se Manto souber que não te matei, ela será capaz de me fazer
muito mal. 8-Antia, então, caindo aos seus pés,e chorando muito, disse: - Ó deuses! Ó
Ártemis, padroeira! Recompensa esse pastor de cabras por suas ações tão nobres! E
então, ela pediu a ele que a vendesse. 9- Ocabreiro tomou Antia consigo, se dirigiu ao
porto, encontrou ali alguns comerciantes da Cilícia, vendeu-lhes a moça, e pegando o
dinheiro que lhe pagaram por ela, retornou ao campo. 10- Os comerciantes pegaram
Antía, levaram-na para o barco, e ao cair da noite, tomaram o rumo da Cilícia. Mas um
vento contrário pegou-os de surpresa, e o barco não resistiu às intempéries; com muito
esforço, alguns dos passageiros se salvaram, conseguindo chegar a uma praia. E com
eles também estava Antía. 11-Havia naquele lugar um bosque muito denso. Depois de
vagar por esse bosque, durante aquela noite, eles foram capturados peloshomens de
Hipótoo, o Bandido.
XII. 1- Enquanto tudo isso acontecia, chegou da Síria um escravo trazendo uma carta
de Manto para o pai, Apsirto:
Tu me entregaste a um marido em terra estrangeira. A Antia, que me
presenteaste com os demais escravos, me fez tanto mal, que acabei mandando-a para o
campo. E quando o belo Mérisfoi ao sitio, viu Antia e apaixonou-se por ela; e eu, não
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podendo mais suportar essa situação, mandei buscar o cabreiro e lhe ordenei que
vendesse a moça novamente, em alguma cidade da Síria.
2. Quando tomou ciência dessas coisas, Habrócomes não pode mais continuar ali;
então, sem que Apsirto e os outros moradores da casa percebessem, ele partiu em
busca de Antia. E chegando ao campo onde Antia havia morado com o cabreiro, ele
procurou por Lâmpon, a quem Manto havia dado a moça em casamento, e então pediu
a ele para dizer se sabia de alguma coisa sobre a moça de Tiro. 3- O cabreiro lhe disse
que o seu nome era Antia, e falou também do casamento, do seu respeito por ela, do
amor de Méris, da ordem que recebeu para matá-la e da partida para a Cilícia. E disse
também que a moça se lembrava sempre de um tal Habrócomes. O rapaz preferiu não
dizer ao cabreiro que esse Habrócmes era ele. E quando veio a manhã, ele se levantou,
montou em um cavalo e partiu para a Cilícia, mantendo a esperança de encontrar Antía
por lá.
XIII.1- Os homens de Hipótóo, o Bandido,passaram aquela noite festejando com um
banquete; e no dia seguinte, fizeram o sacrifício. Estava tudo preparado: as imagens de
Ares, a lenha e as guirlandas de flores. 2- O sacrifício deveria ser relizado de acordo
com o costume. A vítima que deveria ser sacrificada, fosse homem ou animal, era
dependurada de uma árvore, e tomando uma certa distância, eles lhe atiravam os seus
dardos. E eles acreditavam que,quando acertavam, o deus acolhia favoravelmente o
sacrifício; e quando erravam, eles atiravam de novo, para aplacar o deus. E era Antia
que teria de ser assim sacrificada. 3- Quando tudo estava pronto, e queriam dependurar
a jovem, ouviu-se um barulho no bosque, e o vozerio de muitos homens. Eis que
chegaPerilau, o Irenarca da Cilícia, um dos homens mais poderosos da região!4- Este
Perilau, com numerosos soldados, caiu sobre os malfeitoresa, e matou praticamente a
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todos eles, deixando vivos muito poucos. E somente Hipótoo conseguiu escapar,
levando consigo as suas armas. 5- Tomando consigo Antiia, Perilauficou sabendo da
desgraça que quase se abateu sobre ela, e então se compadeceu da moça. Mas essa
compaixão por Antía daria ensejo a outra grande desgraça. Perilau levou-a consigo,
juntamente com os bandidos capturados, para a cidade de Tarso, na Cilícia. 6- E a
convivência com a jovem tão encantadora, fez com que ele fosse tocado pelo amor, e
pouco a pouco, Perilau foi se deixando conquistar por Antia. E quando chegaram a
Tarso, ele mandou os bandidos para a prisão, e passou a cuidar de Antia. Perilau não
tinha mulher nem filhos; e a sua fortuna não era pequena. 7- Assim, ele acabou
dizendo a Antía que “ela poderia ser tudo isso para Perilau: a esposa, a senhora e a mãe
de seus filhos”. 8- No começo, Antia se lhe opôs, mas, não sabendo o que ele seria
capaz de fazer, obrigando-a e forçando-a a muitas outras coisas, ela teve medo de que
ele se atrevesse a fazer alguma coisa ainda mais violenta, e acabou consentindo no
casamento; mas lhe implorou que esperasse só mais um pouco, mais ou menos uns
trinta dias, e que, enquanto isso, a mantivesse pura. Antia justificou o pedido alegando
um pretexto qualquer, e Perilau acreditou e jurou que a manteria pura até a
consumação do prazo.
XIV. 1- Antia continuava em Tarso, com Perilau, esperando pelo dia do casamento;
por sua vez, Habrócomes seguia seu caminho, em direção à Cilícia. E não muito
distante da caverna dos bandidos, pois ele também se desviou do caminho certo, o
jovem topou com Hipótoo, que trazia consigo as suas armas. 2- E este, ao vê-lo, correu
em sua direção e o tratou amistosamente, pedindo ainda que o acompanhasse em sua
jornada. – Estou vendo, rapaz, quem quer que sejas, que és muito formoso e também
corajoso, e a tua errância me leva a crerque tenhas sido muito injustiçado. 3- Sigamos
então, deixando a Cilícia, para a Capadócia e o Ponto, pois dizem que ali habitam
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homens felizes. 4- Habrócomes não lhe contou que estava procurando Antía, e diante
da insistência de Hipótoo, concordou em acompanhá-lo; e eles juraram cooperar e
ajudar um ao outro. E Habrócomes ainda mantinha a esperança de encontrar Antia no
decorrer de toda aquela errância. 5- Naquele mesmo dia, eles foram à caverna, para ver
se ali ainda havia alguma coisa que lhes pudesse ser útil. E eles mesmos se
encarregaram de preparar os cavalos, pois Hipótoo também tinha um cavalo escondido
no bosque.
Livro III
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I. 1- No dia seguinte, Hipótoo e Habrócomes perorreram a Cilícia e seguiram o caminho
de Mazaco, uma grande e bela cidade da Capadócia. 2-Ali, Hipótoo planejava reunir
jovens robustos para reconstituir o bando. Ao passarem pelos grandes povoados da
região, eles encontraram muitos dos que lhes eram necessários, pois Hipótoo conhecia
bem a língua dos capadócios, e todos o tratavam como se fosse de casa. 3- Percorreram
o caminho em dez dias e chegaram a Mazaco, e ali então se instalaram nas
proximidades dos portões da cidade, decidindo descansar por alguns dias, para se
recuperar do cansaço. 4- E então, quando todos comemoravam com um banquete,
Hipótoo começou a gemer e caiu em prantos. E Habrócomes lhe perguntou qual era o
motivo de ele estar chorando assim. EHipótoo explicou: - A minha história é longa e
digna de uma grande tragédia. Habrócomes, então, pediu a ele que a contasse,
prometendo, por sua vez, contar também a sua história. E Hipótoo, desde o começo
(estando eles a sós) narrou toda a sua história.
II. 1- Eu, - começou ele -, sou de uma família da cidade de Perinto (uma cidade vizinha
da Trácia), uma das mais poderosas da região.Certamente, a fama de Perinto já chegou
aos teus ouvidos, e de como são felizes os homens do lugar. 2- Ali mesmo, quando era
jovem, apaixonei-me por um belo rapaz. E esse rapaz era também de lá, e seu nome era
Hipérantes. Apaixonei-me por ele de imediato, no ginásio, ao vê-lo lutar com aplicação,
e não pude resistir. 3- Assim que teve lugar a festa noturna da cidade, aproximei-me de
Hipérantes, e lhe supliquei que se compadecesse de mim. Ao ouvir-me, o rapaz se
apiedou de mim e me prometeu tudo. Desse modo, arriscamos os primeiros passos pelos
caminhos do amor, com beijos, carícias e muitas lágrimas de minha parte; até que,
finalmente, nos foi possível escolher a ocasião mais apropriada para ficarmos a sós, um
com o outro, e essa não seria uma atitude suspeita, posto que éramos da mesma idade.
Assim sendo, convivemos, durante muito tempo, um com o outro, amando-nos com
135
extrema afeição, até que um deus teve inveja do nosso amor. 5- Um dia, chegou um
homem de Bizâncio (uma cidade vizinha de Perinto), dos mais poderosos de lá, e que se
orgulhava muito de sua riqueza e prosperidade. Chamava-se Aristômaco. 6- Esse
homem, assim que chegou a Perinto, como se tivesse sido enviado contra mim por
algum deus, viu Hipérantes comigo e, imediatamente,sentiu-se por ele atraído,
admirando a beleza do rapaz – e essa beleza era tal, que podiaseduzir a qualquer um. 7Apaixonado,Aristômaco não pode mais se conter com o seu amor, mas, no começo,
passou a mandar recados ao rapaz, e como isso não deu resultado (pois Hipérantes, por
afeição a mim,não se deixava influenciar por ninguém),acabou convencendo o pai do
rapaz, homem vil e que se vendia por dinheiro. 8- Este pai, então, entregou o filho,
Hipérantes, a Aristômaco,com o pretexto de educá-lo, pois Aristômaco se apresentava
como um mestre na arte da oratória. E quando Aristômaco teve Hipérantes em suas
mãos, a primeira coisa que ele fez foi aprisionar o rapaz, e em seguida, partiu com ele
para Bizâncio. 9- E eu os segui, deixando tudo para trás, e sempre que podia, me
encontrava com Hipérantes. Mas foram pouquíssimas as oportunidades de fazê-lo;
raramente,eu conseguiaum beijo, e uma conversa com ele era ainda mais difícil, pois ele
era muito vigiado.10- Enfim, não podendo mais suportar essa situação, enraivecido,
regressei a Perinto, e depois de vender todas as coisas que eu tinha e pegar o dinheiro,
voltei para Bizâncio,trazendo comigo um punhal (de comum acordo com Hipérantes),
entrei, durante a noite, na casa de Aristómaco, e o encontrei deitado com o garoto; cheio
de cólera, feri mortalmente a Aristômaco. 11- Como tudo estava tranquilo, e todos
repousavam, saí sem ser percebido, levando comigo Hipérantes. E depois de caminhar,a
noite toda, até Perinto, tão logo chegamos, embarcamos sigilosamente numa nau e
rumamos para a Ásia. 12- Durante um certo tempo, a viagem transcorreu muito bem,
porém, quando já nos aproximávamos de Lesbos, caiu sobre nós um fortíssimo
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vendaval,que fez a nau soçobrar. E eu conservei Hipérantes comigo, segurando-o, e me
esforçandopara nadar o mais rápido que eu podia. Mas quando veio a noite, o rapaz não
aguentou mais e,exausto de tanto nadar, veio a perecer. 13- Tudo que eu pude fazer foi
resgatar o corpo, levá-lo até a praia e sepultá-lo. E depois de derramar muitas lágrimas e
lamentar-me bastante, recolhi alguns de seus pertences, e escolhendo uma pedra
apropriada, ergui uma estela em sua sepultura, e, em memória ao desafortunado rapaz,
gravei um epigrama que compus ali mesmo:
Hipótoo ergueu este túmulo ao glorioso Hipérantes,
Sepultura de morte indigna de tão bom cidadão.
Nofundo da terra, jaz a flor ilustre, que, uma vez, um deus
Arrebatou no pélago, ao soprar terrível vendaval.
14- Não pensei em voltar dali para Perinto, mas resolvi seguir Ásia adentro, até chegar à
grande Frígia e à Panfília; ali então, sem recursos e combalido com tantas desgraças,
aderi à bandidagem. No começo, eu era apenas mais um integrante do bando, mas com
o tempo, na Cilícia, consegui reunir o meupróprio bando, vindo a tornar-me muito
famoso, até que meus homens foram capturados, não muito tempo antes de te conhecer.
15- Essaé a história da minha vida. E tu, caríssimo amigo, conta-me agora a tua história.
Pois é evidente que uma grande necessidade te obrigou a essa vida errante.
III. 1- Habrócomes lhe contou, então, que era efésio, que se apaixonara por uma moça e
se casara com ela; e falou também do oráculo, da viagem, do ataque dos piratas, de
Apsirto e de Manto, da prisão, da fuga, do cabreiro e da cavalgada até a Cilícia. 2- E,
enquanto ele ainda falava, Hipótoo passou a se lamentar com ele, dizendo: - Ó meus
pais, ó pátria, que nunca mais verei! Ó Hipérantes, para mim, o mais querido de todos!
Tu, ao menos, Habrócomes, verás a tua amada e a terás de volta, quem sabe um dia.
Mas eu nunca mais poderei ver Hipérantes. 3- Dizendo essas coisas, ele mostrava os
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cabelos de Hipérantes a Habrócomes e os enxarcava de lágrimas. E quando os dois já
tinham se lamentado bastante, Hipótoo, olhando para Habrócomes, disse: - Tem outra
história que não lhe contei. 4- Pouco antes de meu bando ser desbaratado, esteve aqui
na caverna uma bela moça, que andou perdida pelo bosque, que tinha a tua idade e dizia
ser também efésia. Foi o que fiquei sabendo dela. Decidi, então, sacrificá-la ao deus
Ares. E já estava tudo preparado, quando chegaram os soldados do Irenarca. Eu
consegui escapar, mas não sei dizer o que lhe aconteceu. 5- Ela era muito bonita,
Habrócomes, e estava vestida com muita simplicidade. Tinha cabelos ruivos e olhos
encantadores. E Hipotóo ainda falava, quando Habrócomes gritou: - Viste a minha
Antia, Hipotóo? Para onde ela poderia ter fugido? Que terra a esconde agora? Voltemos
à Cilícia! Vamos buscá-la! Ela não deve estar longe do vosso esconderijo. 6- Sim, pela
alma de Hipérantes, teu bem amado, não me sejas deliberadamente injusto, mas sigamos
juntos, para que possamos encontrar Antía! Hipótoo prometeu fazer de tudo para ajudálo, mas disse que teria de reunir mais alguns homens para que pudessem seguir adiante
com segurança.
7- Enquanto Hipótoo e Habrócomes seguiam juntos,pensando em como poderiam
regressar à Cilícia, Antia, decorridos os trinta dias, se preparava para o casamento com
Perilau. Traziam a carne dos animais abatidos nos sítios; nada faltava, em meio à tanta
fartura. Compareceram ao casamento os da casa de Perilaue os parentes, e a maioria dos
cidadãos festejaram o seu casamento com Antia.
IV. 1- Na época em que Antia foi resgatada no esconderijo dos bandidos, chegou a
Tarso um ancião efésio, médico de ofício. O seu nome era Eudoxo. Chegou ali, após ter
sobrevivido de um naufrágio, quando navegava para o Egito. 2- Este Eudoxo saiu então
a procurar os homens mais notáveis de Tarso,a uns, pedindo roupas, a outros, dinheiro,
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e,ao fazê-lo, não deixava de contar a cada um a história da sua desgraça. Ele também foi
pedir ajuda a Perilau, e lhe disse que era efésio e desempenhava o ofício de médico. 3Perilau, então, o acolheu e o levou até Antia, pensando em impressionar a moça,
apresentando-a a um efésio. Ela recebeu Eudoxo com grande alegria e quis saber se ele
podia lhe dar alguma notícia a respeito dos seus familiares. Ele, porém, de nada sabia,
pois andava longe de Éfeso há muito tempo. Mas isso em nada diminuiu o júbilo de
Antia com a sua presença, pois lhe trazia de volta as recordações das coisas do seu
país.4- Em pouco tempo, Eudoxo se habituou a conviver com as pessoas da casa, e,
constantemente, vinha ter com Antia, dela conseguindo tudo de que ele precisava, e
aproveitando ainda para lhe implorarque o ajudasse a regressar a Éfeso, pois tinha ali
mulher e flhos.
V. 1- E então, quando tudo ficou pronto para a realização do casamento de Perilau, e
chegou finalmente o dia aprazado, ofereceu-se um suntuoso banquete aos convidados, e
Antia preparou-se para a cerimônia, com o vestido e os adornos da noiva. Ela, porém,
vinha chorando dia e noite, pois só tinha diante dos olhos a imagem de Habrócomes. 2Lembrava-se de muitas coisas ao mesmo tempo: oamor, os juramentos, a pátria, os pais,
as necessidades, o casamento. E quando se encontrou sozinha, aproveitou a ocasião e
começando a puxar os cabelos, dizia: - Ó, eu sou tão injusta e perversa, que não posso
retribuir Habrócomes agindo do mesmo modo que ele agiu!3- Pois ele, para continuar
sendo meu esposo, suportou a prisão, as torturas e, talvez, até já esteja morto. Enquanto
eu me esqueci dele e vou me casar, desgraçada que sou, e cantarão para mim o himeneu,
e serei conduzida ao leito de Perilau. 4- Mas, ó alma de Habrócomes, para mim a mais
querida de todas! Não te atormentes nem um pouco por mim, pois eu não seria capaz de
ser injusta contigo, deliberadamente. Vou partir, e até na morte, continuarei sendo a tua
mulher.
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5- Assim que Antia acabou de dizer essas coisas, Eudoxo, o médico efésio, apresentouse a ela; e ela então o levou a uma casa um pouco afastada, e segurando-lhe os joelhos,
suplicou-lhe que não revelasse a ninguém nada do que ela ia lhe dizer, e lhefez jurar,
pela deusa de sua pátria, Ártemis, fazer tudo quanto ela lhe pedisse. Eudoxo, então, a
fez levantar-se, e como ela ainda chorava muito, ele a exortou a ter confiança e lhe
jurou,mais uma vez, que faria todas as coisas que acabara de prometer. E aí então, ela
lhe falou do amor de Habrócomes, dos juramentos dele, e das promessas de fidelidade
mútua.7- - E se, em vida, - disse ela, pudesse trazer Habrócomes de volta, vivo, ou
mesmo sair daqui sem ser vista, eu mesma poderia decidir como proceder em relação a
essas coisas. No entanto, ele está morto,não posso fugir daqui, e não há como suportar
esse casamento que se avizinha (pois não quebrarei as promessas que fiz a
Habrócomes,nem farei pouco caso do juramento). Sê então, tu, agora, um alívio para
nós, providenciando um veneno que me liberte desses malefícios. 8- Em troca, serás
aquinhoado com muitas dádivas da parte dos deuses, pois, antes de morrer, rogarei
constantemente por ti,junto a eles, eeu mesma te pagarei e providenciarei o teu regresso.
Então poderás, antes que descubram o que aconteceu, embarcando em uma nau, navegar
até Éfeso. E quando lá chegares, procura por meus pais, Megamedes e Evipe, e anuncia
a eles o meu fim e todas as coisas que me aconteceram na viagem, e diz também que
Habrócomes pereceu.
9- Depois de dizer essas coisas, ela se jogou aos pés de Eudoxo e lhe suplicou que não
se recusasse a dar a ela o veneno. E pegando vinte minas de prata e os seus colares (ela
possuía de tudo em abundância, pois Perilaulhe permitia dispor de tudo o que
quisesse),ela os entregou a Eudoxo. E ele se pôs a refletir, compadecendo-se da
desgraça da moça e ansiando por tomar o caminho de Éfeso. Enfim, deixando-se
convencer pela prata e por tantos presentes, ele prometeu dar-lhe o veneno, esaiu para
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buscá-lo. 10- Nesse momento, Antia prorrompeu em lamentações: chorava a sua
juventude, pois estava para morrer antes da hora, por estar sofrendo muito, e ela não
parava de chamar por Habrócomes, como se ele estivesse ali presente. 11- Não demorou
muito, e Eudoxo estava de volta, trazendo uma droga que não era mortal, mas uma
espécie de sonífero, para que a jovem não sofresse mal algum, e ele, já tendo consigo os
recursos necessários, tivesse a sorte de regressar a salvo à sua pátria. Antia, então,
recebeu a droga, e dizendo-se muito agradecida, deixou-o partir.
Ele, então, embarcou imediatamente num barco, e se fez ao mar; e ela, por sua
vez, buscava o momento apropriado para ingerir a droga.
VI. 1- Já era noite; o tálamo já estava preparado; e já haviam chegado os que estavam
designados para conduzir Antia ao leito nupcial. E ela, chorando muito, e contra a
vontade, levava a droga escondida na mão. E quando ela se aproximou do tálamo, os de
casa entoaram o himeneu. 2- Ela, então, começou a se lamentar e a chorar, enquanto
dizia: - Assim eu fui conduzida ao meu esposo, Habrócomes, e nos acompanhava o fogo
do amor, e cantavam o himeneu dos casamentos felizes. 3- E agora? O que farás, Antia?
Desonrarás Habrócomes, o marido, o amado, o que morreu por ti? Não! Eu não sou
assim tão vil! Nem covarde, em meio a tantos males! Já está resolvido: bebamos a
droga! É preciso que Habrócomes seja meu único homem! É ele quem eu quero, ainda
que esteja morto!4- Enquanto dizia essas coisas, ela ia sendo conduzida para o tálamo.
Assim, Antia ficou sozinha, enquanto Perilau ainda participava do banquete com
os amigos. Alegando estar com muita sede, devido àagitação da festa, ela ordenou a um
dos criados que lhe trouxesse água para beber. E quando trouxeram o copo com água,
Antia pegou-o e, vendo-se novamente sozinha, pôs o veneno na água e caiu em prantos:
- Ó alma do meu caríssimo Habrócomes! – lamentava-se –Eis-me aqui, cumprindo as
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promessas que te fiz, e seguindo pelo caminho que conduzirá a ti, um caminho
desgraçado, mas necessário. Recebe-me bem contente, e dá-me uma vida feliz aí, junto
a ti.
Assim que acabou de dizer essas coisas, Antia bebeu do veneno, e logo o sono
foi se apoderando dela, até que ela caiu ao chão, sob o efeito poderoso da droga.
VII. 1- Quando Perilau entrou e viu Antía caída, ficou muito assustado e começou a
gritar.Houve um grande tumulto pela casa toda, e uma profunda comoção tomou conta
de todos, com muita lamentação, medo e perplexidade. Uns choravam a suposta morte
de Antia, outros se solidarizavam com Perilau, e todos lamentavam o ocorrido. 2- E
Perilau, depois de rasgar as vestes, jogou-se sobre o corpo de Antia, dizendo: - Ó minha
menina tão querida!Que abandonaste o amado ainda antes do casamento, e que por tão
poucos dias foste noiva de Perilau!Nós te levaremos para o túmulo que é teu leito
nupcial! 3- Feliz desse Habrócomes, quem quer que tenha sido; ele foi,
verdadeiramente, um bem-aventurado, pois pôde desfrutar,junto com a amada,dos
encantos da juventude.
Assim, Perilau se lamentava, e tomando-a nos braços,a beijava inteira, das mãos
até os pés, dizendo: - Noiva infeliz, tu és a mais desgraçada das mulheres!4- E ele, a
adornou, vestindo-a com ricas túnicas e cobrindo-a com muito ouro; e não mais
suportando vê-la assim, quando veio o dia, ele pôs Antia numa cama (e ela ainda dormia
sob o efeito da droga) e a levou até as tumbas próximas à cidade. Ali então, ele
depositou o corpo num jazigo, depois de sacrificar muitas vítimas e queimar muitos
vestidos e variados objetos preciosos.
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VIII. 1- Depois de cumprir o que determinava a lei, Perilau foi levado de volta para a
cidade, pelos parentes. E Antia, abandonada na tumba, voltou a si e, ao se dar conta de
que a droganão era mortal, começou a se lamentar e a chorar: - Ó veneno, - dizia - tu me
enganaste! E me impediste de seguir o afortunado caminho que me levaria até
Habrócomes! Desgraçadamente enganada, até ao desejar a morte! 2- Mas ainda é
possível, permanecendo na tumba, concluir o trabalho do veneno, deixando-me morrer
de fome. Pois ninguém poderia me tirar daqui, nem eu ter o sol de volta, nem tornar a
ver a luz. Depois de dizer essas coisas, ela tomou coragem e permaneceu ali deitada, à
espera da morte.
3- Ao cair da noite, no entanto, alguns ladrões, sabendo que uma jovem havia sido
suntuosamente sepultada, e que, com ela, haviam sido deixados muitos adornos
femininos, assim como muita prata e ouro bastante, foram até a túmulo e, depois de
arrombar as portas, entraram e recolheram os adornos, e aí viram que Antia estava viva.
E pensando que ela seria uma presa valiosa, fizeram-na levantar e decidiram leválaconsigo. 4- Mas ela, caindo aos seus pés, suplicava desesperadamente: - Homens,
quem quer que sejais, - implorava - pegai todos os objetos preciosos e levai convosco,
mas deixai o meu corpo. 5- Fui consagrada a dois deuses, Eros e Tânatos; deixai-me
dedicar a eles o meu descanso. Sim, pelos deuses de vossos pais, não me deixeis ver o
dia, pois já passei por desgraças dignas da noite e das trevas. Ela dizia essas coisas, mas
não conseguiu convencer os ladrões, e eles a retiraram da tumba, levaram-na até o mar,
puseram-na num navio e partiram com ela para Alexandria. E no navio, cuidavam dela,
e a exortavam a ter confiança. 6- Ela, então, ao se aperceber de que viera a cair em
novas desgraças, começou a se lamentar e a chorar muito: – Mais uma vez, – dizia – os
piratas e o mar, mais uma vez, aprisionada, eu, mas dessa vez, ainda mais desgraçada,
pois não estou com Habrócomes. Que terra me acolherá? Que gente verei? Se eu
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pudesse, nunca mais veria Méris, nem Manto, nem Perilau e nem a Cilícia! Eu iria até
onde está o túmulo de Habrócomes, apenas para vê-lo. E assim, Antía chorava sem
parar, e não queria provar nem da bebida, nem da comida, mas os piratas a obrigavam a
se alimentar.
IX. 1- Os navegantes, depois de uma longa travessia, chegaram a Alexandria e, ao
desembarcar, decidiram entregar Antia aos mercadores do lugar. Enquanto isso,
Perilau,depois de saber da violação do sepulcro e do desaparecimento do corpo de
Antia, sentiu imensa tristeza. 2-E Habrócomes seguia procurando, e fazia de tudo para
encontrar alguém que soubesse de uma moça estrangeira que fora capturada e levada
por bandidos, e, como nada conseguiu, voltou desanimado ao lugar onde se
encontravam os companheiros. Hipótoo e seus homens haviam preparado a refeição. 3E enquanto os outros comiam, Habrócomes, muito abatido, e prostrado no leito, chorava
e se deixava ficar, sem nada comer. 4- E enquanto os homens de Hipótoo bebiam sem
parar, uma velha ali presente, chamada Crísio, começou a contar uma história: -Prestai
atenção, estrangeiros, – dizia ela – para os dolorosos eventos que, não faz muito tempo,
ocorreram aqui na cidade. 5- Um tal de Perilao, homem dos mais poderosos, foi
escolhido para exercer o cargo de Irenarca da Cilícia, e ao sair em perseguição de
bandidos, chegou ecapturou alguns deles, e com esses bandidos estava uma bela jovem,
e ele a convenceu a se casar com ele. 6- E depois de realizadas todas as cerimônias
associadas ao casamento, ela se recolheu ao leito nupcial; mastalvez,por ter
enlouquecido, ou por estar apaixonada por outro homem, bebeu um veneno e morreu,
sabe-se lá como. Dizem que foi assim que ela morreu. Ao ouvi-la, Hipótoo exclamou: Essa é a moça que Habrócomes está procurando!7- Habrócomes, por sua vez, ouvia a
história, mas continuava abatido. Porém, ao ouvir a voz de Hipótoo, ele se levantou e
disse: - Mas agora tenho certeza de que Antía está morta, que a sua tumba fica perto
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daqui e que preserva o seu corpo. 8- E dizendo essas coisas, Habrócomes implorava à
velha Crísio que o levasse até a tumba e lhe mostrasse o corpo, mas ela começou a
gemer e a se lamentar: - Essa, na verdade, - disse - é a desgraça maior que poderia ter
acontecido com essa moça infeliz! Perilau a sepultou com muito luxo e prodigalidade, e
aí então, alguns ladrões, ao saberem dos objetos preciosos que com ela haviam sido
sepultados, violaram a tumba, levaram as joias e desapareceram com o corpo. Perilau,
então, fez tudo o que podia para investigar o ocorrido.
X. 1- Ao ouvir as palavras de Crísio, Habrócomes rasgou a túnica e começou a se
lamentar, em voz alta, dizendo que Antía havia morrido bela e virtuosamente, mas que,
depois de morrer, o seu corpo, desgraçadamente, desaparecera:2- Que ladrão é esse,
assim tão apaixonado, a ponto de ainda te desejar, mesmo depois de morta? E a ponto
de carregar com o teu corpo? Desgraçado de mim, que me levaram o teu cadáver, o meu
único consolo!3- Mas está decidido: eu vou morrer! Antes disso, porém, não
descansarei enquanto não encontrar o teu corpo e poder então deixar-me
sepultarabraçado com ele!Habrócomes dizia essas coisas, lamentando-se muito, e os
homens de Hipótoo o exortavam a ter confiança.
4- Então, eles repousaram durante toda a noite, mas Habrócomes não conseguia deixar
de pensar em tudo que ouvira: os sofrimentos de Antia, a morte, o sepultamento, o
desaparecimento do corpo. E enfim, não podendo mais suportar, sem ser notado por
ninguém (pois os homens de Hipótoo dormiam embriagados),Habrócomes saiu como se
estivesse precisando de alguma coisa, e deixando os companheiros para trás, foi até o
mar, e lá encontrou uma nau que estava de partida para Alexandria. Depois de
embarcar, ele se fez ao mar, esperando vir a encontrar no Egito os ladrões que haviam
violado e roubado a sepultura de Antia. Era uma vaga esperança que guiava
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Habrócomes em sua jornada. 5- Quando veio a manhã, enquanto o jovem navegava para
Alexandria, Hipótóo e seus homens ficaram muito preocupados, ao perceber a ausência
de Habrócomes, mas, depois de alguns dias, eles se animaram e decidiram ir até a
Síria,e depois, à Fenícia,a fim de retomar as atividades.
XI. 1- Em Alexandria, os ladrões venderam Antia a mercadores, recebendo em troca
muitas moedas de prata. Os mercadores, por sua vez, trataram Antia com muita
delicadeza e cuidaram de seu corpo, buscando assim o comprador que pudesse pagar
por ela o preço justo. 2- Chega, então, à Alexandria, um dos reisda Índia, chamado
Psamis, querendo conhecer a cidade e fazer negócios. 3- Esse Psamis viu Antia à venda
e sentiu-se atraído pela jovem; então, dando muito dinheiro aos mercadores, ele a
comprou e fez dela sua escrava. 4- Depois de tê-la comprado, esse homem bárbaro
tentou imediatamente forçá-la a ter com ele relações íntimas.Recusando-se a fazê-lo,
Antia, a princípio, resistiu, mas acabou se justificando (pois sabia que os bárbaros são
supersticiosos por natureza), dizendo a Psamis que, quando ela nasceu, o pai a
consagrou à deusa Ísis, até que estivesse preparada para o casamento, e queainda faltava
um ano para chegar a hora. 5- - E então, - acrescentou ainda Antia – se violentaresa
moça,à deusa consagrada, essa deusa ficará muito ressentida, e terrível será a vingança!
Psamis,então, deixou-se convencer, reverenciou a deusa e se absteve de tocar em Antia.
XII. 1- Antia era conservada junto de Psamis, por ser considerada uma jovem
consagrada à deusa Ísis. Enquanto isso, a nau que trazia Habrócomes errou o caminho
de Alexandria, passou pelo delta do Nilo, e foi parar na região chamada Paralia, situada
na costa da Fenícia. 2- Quando os passageiros desembarcaram, foram atacados por um
bando de pastores da região, que roubaram todo o carregamento da embarcação,
agrilhoaram os homens e os levaram por um longo caminho através do deserto, até
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Pelúsio, uma cidade do Egito, e ali então, eles venderam os prisioneiros, cada um para
um dono diferente. E Habrócomesfoi comprado por um velho soldado da reserva,
chamado Araxo. 3- Esse Araxo tinha uma mulher chamada Cino,de aparência
repugnante, de voz ainda mais insupotável, e cuja desfaçatez ia além de qualquer
imaginação.
Cino se apaixonou por Habrócomes,assim que ele chegou à sua casa; e não
podia mais se conter, loucamente apaixonada e ansiando por satisfazer os seus desejos.
4- Araxo acolheu Habrócomes com carinho e como se fosse seu filho. Mas Cinopropôs
ao jovem que ele se tornasse seu amante, e insistiu para que ele cedesse, prometendo
casar-se com ele e matar Araxo. Tudo isso pareceu terrível para Habrócomes, e ele, ao
mesmo tempo, pensava muito em Antía, nos juramentos, na virtude que já lhe causara
tantas desgraças; por fim, diante da insistência de Cino, ele acedeu. 5- Ao chegar a
noite, Cino, pensando que teria Habrócomes como marido, matou Araxo e contou
aHabrócomes o que ela fizera.Não podendo suportar tamanha insolência, Habrócomes
deixou a casa, abandonandoa mulher, e dizendo que não seria capaz de se deitar com
uma assassina tão repugnante.6- E Cino, refazendo-se da recusa de Habrócomes, assim
que o dia amanheceu, foi até onde estavam reunidos os cidadãos de Pelúsio. Aí ela
chorou amargamente a morte do marido, disse que o escravo recém-adquirido o
assassinara, e se queixou ainda de muitas outras coisas, fazendo assim com que a
multidão nela acreditasse. Saíram imediatamente em busca de Habrócomes e o
prenderam, acorrentaram e enviaram ao então governador do Egito. E ele foi então
levado para Alexandria, a fim de que lhe aplicassem o castigo, pois acreditavam que ele
tinha assassinado o seu senhor, Araxo.
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Livro IV
I.1- Os homens de Hipótoo partiram de Tarso, e se dirigiram para a Síria, apoderando-se
de tudo que encontravam pelo caminho; incendiaram aldeias e assassinaram muitos
homens. E assim, depois de chegarem a Laodiceia da Síria, ali se estabeleceram, não
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mais como ladrões, mas como viajantes recém-chegados à cidade. 2- Aí então,Hipótoo
aproveitou para investigar a possibilidade de Habrócomes se encontrar no local. E como
nada conseguiu, ele e seu bando, retomando a viagem,se dirigiram à Fenícia, e dali, ao
Egito, onde acreditavam poder realizar vantajosas incursões.3- E, depois de reunir um
bando bem maior, Hipótoo e seus homens foram até Pelúsio, e navegando pelo rio Nilo,
passaram por Hermópolis do Egito e por Esquerdia, e entrando pelo canal do rio,
construído por Menelau, passaram ao largo de Alexandria e foram para Mênfis, a cidade
consagrada a Ísis, e dali então, para Mendes. 4- Ali, tomaram consigo alguns nativos,
para reforçar o bando e servir de guias pelo caminho. E depois de atravessar Taua, eles
foram até a cidade de Leonto, passando ao largo de numerosas aldeias, a maioria delas
desconhecidas, e assim chegaram a Copto, perto da Etiópia. 5- Ali então, eles decidiram
voltar a saquear, pois era grande a quantidade de mercadores que iam e vinham por
aquela região, uns, da Etiópia, outros, da Índia. O bando de Hipótoo já reunia
quinhentos homens. Depois de se estabelecerem nas regiões montanhosas da
Etiópia,escondendo-se em cavernas, eles decidiram saquear os transeuntes.
II.1- Habrócomes foi levado à presença do governador do Egito (os cidadãos de Pelúsio
lhe contaram sobre o ocorrido: o assassinato de Araxo, com o agravante de
Habrócomes, um escravo, ter se atrevido a matar o seu senhor). E o governador, tendo
se informado a respeito dessas coisas, deu-se por satisfeito, e ordenou que levassem
Habrócomes e o pendurassem numa cruz. 2- Habrócomes desfalecia com tantas
desgraças, mas se consolavacom o fim que iria ter, pois ele acreditava que Antia estava
morta. Os encarregados de cumprir a ordem do governador levaram-no até as barrancas
do rio Nilo. Ali havia um precipício escarpado, de onde se via a correnteza do rio. 3- Os
homens ergueram a cruz e pendurararam Habrócomes, com as mãos e os pés amarrados,
pois esse era o modo de se realizar a cruxificação naquele lugar. Então, eles o
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abandonaram na cruz e foram embora, acreditando que o condenado não tinha como
fugir. 4- Habrócomes, então, olhando fixamente para o sol, e vendo a correnteza do
Nilo, exclamou: - Ó tu, que, dentre os deuses, és o que tens mais amor para com os
homens! Tu, que reges o Egito, e através de quem a terra e o mar se manifestam a todos
os homens! Se Habrócomes foi injusto, que morra miseravelmente!E se for possível,
manda-me uma castigo ainda maior do que este!5- Mas, se fui traído por uma mulher
perversa, não permitas que manchem a correnteza do Nilo com o corpo de um homem
que morreu injustamente, e nem que tu vejas o lamentável espetáculo de um homem
inocente ser punido com a morte aqui mesmo, na tua própria terra! 6- Ele assim rezou, e
o deus se apiedou dele; subitamente, irrompeu um vendaval que derrubou a cruz e fez
ceder o terreno à beira do precipício, onde fora erguida a cruz, e Habrócomes caiu e foi
arrastado pela correnteza; contudo, aságuas não o afogaram injustamente, nem as
amarras o imobilizaram, nem as feras do rio o atacaram, mas ele foi conduzido pela
correnteza. 7- Levado pelas águas, ele chegou à foz do rio Nilo, onde ele desemboca no
mar, e ali então as sentinelas o recolheram e o levaram, como se ele fosse um fugitivo,
até o governador do Egito. 8- Este, ainda mais encolerizado, e considerando
Habrócomes um verdadeiro criminoso,ordenou enfim que acendessem uma pira, para
que Habrócomes fosse queimado. E quando tudo já estava preparado, puseram
Habrócomes sobre a pira, erguida perto da embocadura do Nilo, e acenderam o fogo. E
quando as chamas estavam prestes a lamber-lhe o corpo, novamenteele suplicou ao
deus, com as poucas forças que ainda lhe restavam, que o salvasse de mais uma
desgraça.9- Aí então, o Nilo agitou-se, e um vagalhão se abateu sobre a pira, fazendo
extinguir as chamas. Os que se achavam ali presentes ficaram assombrados. E tomando
consigo Habrócomes, eles o levaram até o governador do Egito. E contaram a ele o que
tinha acontecido, descrevendo, pormenorizadamente, como o Nilo ajudara o rapaz a se
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salvar. 10- O governador do Egito ficou muito admirado ao ouvir o relato, e ordenou
que mantivessem Habrócomes na prisão, mas sem deixarem de prestar-lhe toda a
assitência possível, acrescentando ainda: - Cuidemos dele, até que saibamos quem é
esse homem, e porque os deuses se importam tanto com ele.
III.1- Habrócomes permanecia na prisão. Enquanto isso, Psamis, o comprador de Antía,
decidiu voltar para casa, e tratou de providenciar todo o necessário para a viagem. Era
necessário que ele atravessasse o Alto Egito e passasse pela Etiópia, onde justamente se
encontrava o bando de Hipotóo. 2- Estava tudo preparado: muitos camelos, asnos e
cavalos carregados; levavam também uma grande quantidade de ouro, muita prata e
numerosas vestimentas; e ele levava consigo também Antía. 3- E depois de passar por
Alexandria e chegar a Mênfis, Antia suplicou à deusa Ísis, postando-se diante do
templo: - Ó maior de todas as deusas! Até agora me mantenho pura, pois sou
consagrada a ti, e conservo sem mácula o casamento com Habrócomes. Estou indo
daqui para a Índia, tão longe da terra dos efésios, tão longe dos restos mortais de
Habrócomes!4- Assim sendo, salva-me agora, a mim, esta desgraçada, e devolve-me
Habrócomes, se este ainda estiver vivo! Ou então, se é nosso destino morrermos
separados um do outro, concede, pelo menos, que eu permaneça fiel ao morto. 5- Ela
fez essa oração, e eles retomaram o seu caminho. Já haviam passado por Copto e
enveredado pelas montanhas da Etiópia, quando o bando de Hipótoo os atacou.
Hipotóo matou Psamis e a maioria dos seus homens, apoderou-se das riquezas e fez
Antia prisioneira. 6- E depois de reunir todo o tesouro apreendido, ele o levou para o
antro escolhido por eles para esconder o espólio. E com ele foi Antia. Mas ela não
reconheceu Hipótoo, nem ele reconheceu Antía. E quando perguntaram a ela quem ela
era e de onde vinha, ela não disse a verdade, mas afirmou ser egípcia, e que se chamava
Menfitis.
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IV-1.- Antía continuava com Hipótoo no antro dos bandidos. Enquanto isso, o
governador do Egito mandou buscar Habrócomes, pediu a ele que contasse a sua
história, e ao tomar conhecimento do que tinha acontecido, ele se compadeceu do
jovem, deu-lhe dinheiro e prometeu mandá-lo de volta para Éfeso. 2- Habrócomes
agradeceu de todas as maneiras ao governador por tê-lo salvado, mas lhe implorou que
o deixasseir em busca de Antia. Assim, depois de receber muitos presentes,
Habrócomes embarcou em um navio e partiu para a Itália, esperando conseguir ali
alguma informação a respeito de Antia. O governador do Egito, por sua vez, tomando
conhecimento do que realmente havia acontecido com Araxo, mandou buscar Cino e
crucificou-a.
V.1- Quando Antiaestava na caverna,um dos bandidos que a vigiava se apaixonou por
ela. Esse bandido, chamado Anquilau, era um dos que haviam se reunido com Hipótoo
na Síria. Laodiceu de origem, ele era muito estimado por Hipotóo, por ser valoroso e
pelo grande poder de liderança que exercia sobre o bando. 2- Apaixonado por Antia,
Anquilau, no começo, tentou persuadi-la com discursos cativantes, acrescentando ainda
que a conquistaria pela palavra, e que pediria a Hipótoo que lhe desse a moça de
presente. 3- Antia, porém, recusava todas essas coisas, e nada a fazia retroceder, nem a
caverna, nem os grilhões, nem as ameaças do bandido. Guardava-se ainda para
Habrócomes, mesmo supondo que ele estava morto, e muitas vezes ela gritava,quando
podia fazê-lo sem ser ouvida: - Quero continuar sendo a esposa de Habrócomes, ainda
que tenha de morrer,e ainda que tenha de sofrer coisas piores que as que já sofri. 4- Isso
atormaentava ainda mais a Anquilau, pois a convivência diária com Antia tornava ainda
mais ardente a sua paixão. E não podendo mais suportar essa situação, ele tentou
possuí-la à força. 5- E certa noite, quando Hipótoo não se encontrava ali, pois
empreendera uma incursão com os outros homens do bando, Arquilau atacou Antia e
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tentou violentá-la. Mas ela, numa reação inesperada,pegando um punhal que tinha junto
de si, desferiu em Anquilau um golpe certeiro. Eleestava totalmente inclinado sobre ela,
pois queria abraçá-la e beijá-la, mas Antia, atacando-o com o punhal, feriu-o no peito.
6- Anquilau sofreu o justo castigo por sua paixão criminosa, mas Antia sentiu medo
pelo que acabara de fazer, e pensou muito em se matar (embora ainda tivesse esperanças
em relação a Habrócomes) ou em fugir da caverna (mas isso era impossível, pois o
caminho não era fácil, e ela não tinha quem lhe mostrasse que rumo tomar). Decidiu,
portanto, permanecer na caverna, e suportar o que a divindade quisesse.
VI.1- Ela passou aquela noite acordada, insone e pensativa. E quando veio o dia, os
homens de Hipótoo chegaram,viram Anquilau morto e Antia junto ao seu corpo;
imaginaram então o que havia ocorrido, interrogaram-na e ficaram sabendo de tudo. 2Furiosos com o que tinha acontecido, eles decidiram então vingar o amigo morto e
puseram-se a deliberar sobre como aplicar a Antía os mais variados castigos: um queria
que mandassem matá-la e enterrá-la com o corpo de Anquilau; outro, que a
crucificassem; 3- E Hipótoo, por sua vez, muito abalado com a morte de Anquilau,
deliberou que aplicassem em Antía um castigo ainda maior; e ordenou que cavassem
um fosso grande e bem fundo, e que aí pusessem Antía, com dois cães, a fim de que ela
fosse submetida a um grande castigo por ter ousado fazer o que fez.
4- Os homens de Hipótóo fizeram tudo como ele ordenou; e levaram Antia e os cães até
o fosso. Os cães eram egípcios, enormes e assustadores. E depois de atirá-los no fosso,
cavado próximo ao Nilo, eles o cobriram comgrandes toras, e designaram também, para
tomar conta do fosso, um dos bandidos, chamado Anfinomo. 5- Só que esse Anfinomo
também já vinha se sentindo atraído por Antía, e então ele se apiedou ainda mais da
moça e se comoveu com a sua desgraça. E aí pensouem como poderia conseguir que ela
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sobrevivesse, e em como poderia fazer com que os cães não a molestassem. E a cada
dia, ele afastava as toras que cobriam o fosso,atirava os pães e oferecia água, exortando
a jovem a ter confiança. 6- E assim, bem alimentados, os cães não faziam mal a Antía e
acabaram mansos e domesticados. E Antia, olhando para si mesma, e refletindo sobre a
sua sorte, dizia: - Ai de mim! – exclamava - Quantos males! Que castigo é este? O
fosso, a prisão e os cães trancafiados aqui comigo estão muito mais mansos que os
bandidos! Assim como tu, Habrócomes, eu também estou sofrendo! Pois uma vez, tu
tivestes a mesma sorte. Eu te deixei na prisão, em Tiro, mas se ainda estás vivo, todos
esses males são suportáveis, pois talvez, algum dia, teremos um ao outro, novamente.
Mas, se já estás morto, é em vão que eu me apego à vida, é em vão que este homem,
quem quer que ele seja, se compadece de mim, tão desgraçada que sou!- E enquanto
falava, ela se lamentava sem cessar. Assim, Antia permanececia encerrada no fosso com
os cães, mas Anfinomo a consolava todo dia, e mantinha os cães mansos, alimentandoos.
Livro V
I.1- Habrócomes, navegando desde o Egito, acabou chegando não propriamente à Itália,
pois o vento desviou a nau de sua rota, e a conduziu à Sicília, e aí os passageiros
desembarcaram em Siracusa, uma cidade grande e bela.2-Então, já que se encontrava
ali, Habrócomes decidiu percorrer a ilha e retomar a busca, para ver se conseguia
alguma notícia de Antia. 3-Assim, ele passou a residir próximo ao mar, como vizinho de
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um ancião chamado Egialeu, um homem que exercia o ofício de pescador. Esse Egialeu
era pobre e estrangeiro, e se sustentava apenas com o seu ofício. Ele recebeu
Habrócomes mutio gentilmente, tratou-o como a um filho, e o amava acima de tudo.
Um dia, quando já estavam bastante acostumados um com o outro, Habrócomes lhe
contou das coisas que lhe tinham acontecido, falou de Antia, do seu amor, da sua
errância, e Egialeu, então, também começou a contar a sua história.4-. Eu, - disse o
ancião - , Habrócomes, meu filho, não sou um siciliota, nem dessa terra aqui, mas um
espartano, um lacedemônio, dos mais poderosos de lá, e possuidor de grande riqueza. 5Quando jovem, me apaixonei por Telxínoe, uma moça lá da cidade. E Telxínoe
correspondia ao meu amor. E na cidade, por ocasião das festas noturnas, nos
encontramos, conduzidos por um deus, e desfrutamos das coisas que nos levaram a nos
encontrarmos. 6-E por algum tempo, gozamos do amor sem que ninguém soubesse, e
juramos, muitas vezes, sermos um do outro até a morte. Aí então algum deus sentiu
inveja de nós. Eu ainda era um efebo, e os pais de Telxínoe a deram em casamento a um
rapaz chamado Ândrocles... E Ândrocles também amava Telxínoe!7-A moça começou,
então, a alegar mão de muitos pretextos para adiar o casamento, até que, quando
ela,enfim, pôde se encontrar comigo, concordou em fugir comigo da Lacedemônia,
durante a noite. Vestimo-nos como homens, e eu cortei os cabelos de Telxínoe. 8Assim, na mesma noite do casamento, saindo da cidade, passamos por Argos e Corinto,
e dali então, embarcamos e navegamos para a Sicília. Os lacedemônios, quando
souberam da nossa fuga, nos condenaram à morte.Nós vivíamos aqui apenas com o
necessário, mas éramos felizes, e achávamos que desfrutávamos de tudo, porque
estávamos juntos. 9- Eaqui mesmo, não faz muito tempo, Telxínoe morreu e nãosepultei
o seu corpo, mas o tenho comigo ainda hoje, beijo-o sempre e convivo com ele.10-E
enquanto falava, Egialeu conduziu Habrócomes ao aposento mais secreto da casa e lhe
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mostrou Telxínoe, a esposa já envelhecida, mas que ainda se afigurava uma bela jovem
para ele. O seu corpo estava embalsamado à maneira egípcia, pois o velho conhecia essa
técnica. 11-Aí está ela, -disse -, ó meu filho Habrócomes, sempre falo com ela como se
ela estivesse viva, me deito com ela e como com ela; e quando chego exausto, de tanto
pescar, a sua visão me consola.Pois ela não me aparece assim como tu a estás vendo
agora, mas eu a vejo, meu filho, como ela era na Lacedemônia, como na ocasião em que
fugimos. Ainda vejo as festas noturnas, vejo a nossa aliança. 12-Egialeu ainda estava
falando, quando Habrócomes começou a chorar. A ti, -dizia ele- ó mais desafortunada
das moças, será que te encontrarei, ainda que morta? Para Egialeu, o grande consolo da
vida é o corpo de Telxínoe, e, acabei de aprender, de verdade, que o amor verdadeiro
não tem limite de idade.Eu vivo errante por toda terra e mar, e não consigo ouvir nada a
teu respeito. Ó oráculos infelizes, ó Apolo, que nos predisseste os piores males, tem
compaixão de nós e faça com que se realizem, a partir de agora, as profecias do oráculo!
II. 1- Assim chorando seus males, Habrócome vivia em Siracusa, sendo consolado por
Egialeu. E ele já exercia o ofício de Egialeu. Enquanto isso, Hipótoo e seu bando
chegaram à conclusão de queo seu botim já era grande o suficiente, e eles decidiram
deixar a Etiópia para realizar ações para eles mais significativas. A Hipótoo, assaltar os
viajantes não parecia bastante, se não atacasse também as aldeias e as cidades. Ele,
então, reuniu o seu bando e, de posse de todo o botim, pois tinha muitos animais de
carga e boa quantidade de camelos,
deixou a Etiópia e se dirigiu ao Egito e à
Alexandria, cogitando em regressar à Fenícia e à Síria. Quanto à Antia, ele a julgava
morta. 3- Anfínomo, por sua vez, que tomava conta do fosso e estava perdidamente
apaixonado por Antia, não podendo separar-se da moça por causa do amor que sentia
por ela, e também da infeliz situação em que ela se encontrava, não seguiu Hipótoo,
conseguiu passar despercebido dos companheiros do bando,e se escondeu numa cova
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com os víveres que tinha conseguido pegar. Quando veio a noite, os homens de Hipótoo
chegaram a uma aldeia do Egito, chamada Ária, com a intenção de destruí-la. Anfínomo
abriu então o fosso;tirou Antia dali e exortou-a a ter confiança. Antia, porém, ainda
sentia medo e desconfiança. Mas Anfínomo jurou pelo Sol e pelos deuses do Egito que
a guardaria intocada (pura para o casamento), até que, de espontânea vontade, ela lhe
desse o seu consentimento. Antia se deixou convencer pelos juramentos de Anfínomo e
seguiu com ele, mas eles não abandonaram os cães que estavam na fosso com Antia,
tratando-os muito bem e tornando-os mais amistosos. 6- Os dois foram, então, para
Copto, e decidiram permancer ali por alguns dias, até que o bando de Hipótoo se
afastasse do caminho deles. E eles cuidavam dos cães para que não lhes faltasse o
necessário. 7- Os homens de Hipótoo atacaram a aldeia de Ária, mataram muitos dos
seus habitantes, incendiaram as casas e não seguiram o mesmo caminho de Anfinomo e
Antia, mas foram pelo Nilo, pois haviam reunido todas as embarcações das aldeias pelas
quais tinham passado; embarcaram, então, e navegaram até Esquedia e (...)
desembarcando ali, percorreram o restante do Egito, seguindo pelas margens do rio
Nilo.
III. 1- Entretanto, o governador do Egito tomou ciência do que havia acontecido em
Ária, de Hipótoo e seu bando, e de que eles estavam vindo da Etiópia; mandou, então,
preparar muitos soldados e designou como chefe um de seus parentes, Políido, um
jovem de bela aparência e hábil na arte da guerra, e os enviou contra os malfeitores. 2Este Políido, depois de receber o exército, encontrou o bando de Hipótoo perto de
Pelúsio, e logo teve início uma batalha às margens do rio Nilo. Tombaram muitos
combatentes de cada lado, e ao chegar a noite, os bandidos debandaram, e uns foram
mortos pelos soldados, e outros, capturados vivos. 3- Apenas Hipótoo, largando as
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armas, conseguiu escapar durante a noite e chegou à Alexandria. Ali ele ficou
escondido, e acabou embarcando em uma nau que estava de partida, seguindo pelo mar.
Tudo que ele queria era chegar à Sicília, pensando que ali poderia passar despercebido e
se sustentaria mais facilmente, pois ele ouvira dizer que a ilha era grande e rica.
IV- 1- Políido, por sua vez, pensou que não era suficiente derrotar o bando de
malfeitores, e decidiu que era necessário fazer mais investigações e livrar o Egito da
bandidagem, se pudesse encontrar Hipótoo ou algum outro que estivesse com ele no
bando. 2- Tomou consigo, pois, uma parte da tropae alguns dos bandidos capturados,
pois ele acreditava que, se aparecesse algum outro malfeitor, os prisioneiros o
denunciariam. Assim, ele retornou ao rio Nilo e vasculhou as cidades da região,
chegando a pensar em ir à Etiópia. 3- Políido e seus homens chegaram então a Copto,
onde se encontrava Antia, acompanhada de Anfínomo. E aconteceu de ela estar em
casa, sozinha. Os prisioneiros reconheceram Anfínomo e informaram a Políido.
Anfínomo foi apanhado e contou o que tinha acontecido a Antia. 4- Políido, depois de
ouvir Anfínomo, ordenou que ele o levasse até Antia. E quando ela veio, Polídio quis
saber quem ela era e de onde vinha. Mas Antia só fez mentir: disse que ela era egípcia e
que fora capturada pelos bandidos. Políido, então, ficou perdidamente apaixonado por
Antia, logo ele, que tinha uma esposa em Alexandria. E apaixonado, ele, de início,
tentou seduzi-la com grandes promessas, e finalmente, quando eles passaram ´por
Alexandria e chegaram à cidade de Mênfis, Políido tentou possuir Antia a força. 6- Mas
ela, conseguindo escapar, foi ao templo de Ísis, e se apresentou como suplicante: - Ò tu,
senhora do Egito, disse ela, salva-me de novo, livra-me de Políido, eu que, por causa de
ti, me mantenho casta para Habrócomes. 7- Políido, ao mesmo tempo,temia a deusa e
desejava Antia, e se compadecia de sua sorte. Então, ele foi ao templo, sozinho, e jurou
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a Antia que jamais a forçaria nem faria alguma violência contra ela, mas a conservaria
pura, durante o tempo que ela quisesse. Pois,para ele, que a amava, lhe parecia ser
suficiente vê-la e falar com ela. 8- Antia se deixou convencer pelos juramentos de
Políido e saiu do templo; como eles haviam decidido descansar, em Mênfis, três dias,
Antia foi ao templo de Ápis, o deus mais famoso do Egito, e que ali fazia profecias aos
consulentes. 9- Quem quisesse, chegava diante do templo, orava e suplicava ao deus, e
então umas crianças egípcias, em frente ao templo, prediziam cada uma das coisas que
estavam por vir, em prosa ou em verso. 10- Antia, então, indo ao santuário, prostrou-se
diante de Ápis e exclamou: - Ò tu, dentre os deuses, o mais benévolo para os homens, o
que se compadece dos estrangeiros, tem piedade também de mim, a desafortunada, e
pronuncia um oráculo verdadeiro a respeito de Habrócomes. Se vou revê-lo novamente,
e se continuarei sendo sua esposa, se permanecerei firme nas dificuldades e se
continuarei viva!Mas se ele está morto, é melhor que eu também deixe essa vida
miserável! E dizendo essas coisas, ela saiu do templo chorando, e nesse momento, as
crianças que brincavam em frente ao recinto sagrado gritaram a uma só voz:
Antia vai rever Habrócomes, seu marido, dentro de pouco tempo!
Ao ouvir essas palavras, Antia recobrou o ânimo e ergueu preces aos deuses. E
depois, ela partiu com Políido para Alexandria.
V. 1- A mulher de Políido soube que ele estava trazendo para casa uma mulher pela
qual se apaixonara, e temendo que a estrangeira a substituísse, sem dizer nada ao
marido, pensou numa maneira de se livrar dela, de modo a parecer que ela estava
pensando em acabar com o casamento deles. 2- Políido comunicou ao governador do
Egito as coisas que tinham acontecido, e depois reassumiu a função de comandante do
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exército. Assim sendo, estando ele ausente, Renea – pois assim se chamava a esposa de
Políido -, mandou buscar Antia, que já estava em casa, rasgou-lhe as vestes e lhe
maltratou o corpo, dizendo: 3- Ó miserável,quiseste destruir o meu casamento, porém
de nada adiantou pareceres bela para Políido, pois essa beleza não te protegerá. Talvez
possas seduzir bandidos, deitar-te com um bando de jovens embriagados, mas jamais te
regozijarás por ter ultrajado o leito de Renea.
4- Dizendo essas coisas, Renea cortou os cabelos de Antia, acorrentou-a e entregou-a a
um escravo de sua confiança, chamado Clito. E ordenou que ele embarcasse numa nau,
levasse Antia para a Itália e a vendesse a um traficante de mulheres. Desse modo, disse
Renea, poderás, a bela jovem, saciar os teus desejos. 5- Antia, então, aos prantos, e
lamentando a sorte, foi levada por Clito. – Ó beleza traidora! – dizia ela – Ó encanto
funesto que me traz tantos males! Por que insistes em me maltratar tanto assim? Por que
foste a origem de tantas de desgraças? Não bastaram os túmulos, os assassinatos, os
grilhões, os piratas, e agora ainda melevam para uma casa de prostituição, onde um
traficante de mulheres me obrigará a arruinar a pureza que até aqui conservei para
Habrócomes? 6- Mas, senhor! – ela seguindo dizendo, deixando-se cair aos pés de Clito
– Não me submetas a essesuplício, mas mata-me, tu mesmo! Eu não suportarei ter como
senhor um traficante de mulheres. Eu estou acostumada com a castidade, acredita-me!
Ela assim suplicava, e então Clito sentiu pena da moça.
7- Antia foi levada para a Itália, enquanto Renea, quando Políido retornou à casa, disse
a ele que a moça havia fugido, e ele acreditou, por causa das coisas que tinham
acontecido antes entre ele e a jovem. Antia desembarcou em Tarento, cidade da Itália. E
ali, Clito, cumprindo as ordens de Renea, vendeu-a a um traficante. 8- Ao se deparar
com uma beleza que nunca vira antes, o traficante pensou no quanto poderia ganhar
com a moça. Por alguns dias, ele deixou que ela se recuperasse do cansaço da longa
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viagem e das pancadas de Renea. Clito, por sua vez, voltou a Alexandria econtou a
Renea o que ele fizera.
VI. 1- Hipótoo, por sua vez, tendo realizado a travessia, chegou à Sicília, não
precisamente à Siracusa, mas a Tauromênio, e aí, ficou aguardando uma oportunidade
de conseguir o necessário para o sustento. Enquanto isso, Habrócomes, que vivia em
Siracusa, já há um bom tempo, sentiu-se muito abatido, e mergulhou num desespero
profundo, por não ter encontrado Antia, nem poder retornar à pátria. 2- Decidiu, assim,
sair da Itália, e dali então, se ele nada encontrasse do que estava procurando,
empreender a desafortunada viagem a Éfeso. Durante todo esse tempo, os pais de
Habrócomes e de Antia, assim como os demais efésios, viviam muito aflitos, e eles
tinham enviado pessoas de confiança por toda parte, a fim de procurá-los e conseguir
alguma notícia a seu respeito, pois nem um mensageiro, nem mesmo uma carta, da parte
de Habrócomes e Antia, havia chegado a Éfeso. 3- Desesperados e idosos, os pais dos
jovens não podiam mais resistir a tanto infortúnio, e acabaram se deixando levar pela
vida. E enquanto Habrócomes tomava o rumo da Itália, Leucón e Rode, os
acompanhantes de Habrócomes e Antia, após a morte do seu senhor, em Xanto,
receberam uma vultosa herança, e decidiram retornar a Éfeso, pensando que ali seus
senhores estariam sãos e salvos, depois de terem experimentado suficientemente as
desgraças do exílio. Eles fizeram embarcar todas as suas posses, e seguiram por mar, na
direção de Éfeso. Depois de alguns dias, tendo feito uma boa viagem, chegaram a
Rodes.Ali então, aos saberem que Habrócomes e Antia ainda não haviam retornado, e
que os pais dos jovens estavam mortos, Leucón e Rodes decidiram não mais ir a Éfeso,
mas permancer em Rodes por mais algum tempo, até saber de alguma coisa a respeito
dos seus senhores. VII. 1- O traficante que havia comprado Antia, por sua vez, obrigou-
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a, depois de algum tempo, a se expor, publicamente, diante de uma casa de prostituição.
Assim sendo, realçou ainda mais a beleza da jovem com um suntuoso vestido e muito
ouro, com a intenção de deixá-la diante da entrada do estabelecimento. Antia, então,
começou a se lamentar profundamente: - Ai de mim! Quantos males! – dizia ela – Já
não bastam as desgraças, os grilhões, a bandidagem? E agora ainda serei obrigada a me
prostituir? Ó beleza justamente ultrajada! Por que continuas a nos importunar? Mas
afinal, por que fico lamentando tudo isso, em vez de tentar encontrar um meio de
guardar a pureza que até agora consegui preservar? 3- Enquanto dizia essas coisas, ela
ia sendo levada até à casa de prostituição pelo traficante, que a exortava a ter confiança
e, ao mesmo tempo, lhe fazia ameaças. E assim que ela chegou e foi exposta
publicamente, logo uma multidão começou a rodeá-la, e a grande maioria desses
homens estavam dispostos a pagar um bom preço para satisfazer os seus desejos. 4Antia, então, diante de tamanha desgraça, aparentemente sem saída, encontrou, de
repente, um meio de escapar àquela situação. Jogou-se então ao chão, sacudiu o corpo
todo e passou a imitar os pacientes acometidos da doença sagrada. E os homens ali
presentes sentiram, simultaneamente, medo e muita pena; e perderam a vontade de se
unir a Antia, mas não deixaram de lhe prestar socorro. 5- O traficante, ciente da
desgraça que havia ocorrido, e acreditando que a moça estivesse realmente enferma,
levou-a para casa, acolheu-a em seu leito e passou a cuidar dela. E quando lhe pareceu
que Antia estava voltando a si, ele quis saber a causa da enfermidade. E ela, então, lhe
disse: 6- Eu quis falar da minha desgraça antes, senhor, e explicar o que estava me
acontecendo, mas acabei escondendo a verdade, por sentir vergonha dessa situação. Mas
agora, já não me é tão doloroso contar-te a verdade, pois assististe a tudo com teus
próprios olhos. 7- Quando ainda era criança, em meio a uma festa noturna, eu me afastei
dos meus pais e me aproximei da tumba de um homem recentemente falecido; aí, um
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desconhecido saiu correndo da tumba e tentou me agarrar. Eu tentei fugir e saí gritando,
mas ele me pegou. 8- O homem tinha uma aparência horrorosa e uma voz ainda mais
pavorosa, até então, para mim, inaudita. E quando,enfim, o dia amanheceu, ele me
soltou e me bateu no peito, dizendo que havia posto essa doença dentro de mim. 9Desde então, este mal me acompanha, de uma maneira ou de outra. Mas te suplico,
senhor, não te aborreças comigo, pois eu não tenho culpa de estar nessa situação. Podes
me vender e nada perder da quantia que pagaste por mim. Ao ouvir a jovem, o traficante
ficou aflito, mas reconheceu que ela não sofria desse mal voluntariamente.
VIII. 1- Antia era tratada na casa do traficante, como se realmente estivesse doente. E
Habrócomes, tendo deixado a Sicília, fez-se ao mar e aportou em Nucério da Itália, e
diante da dificuldade em conseguir o necessário para a sobrevivência, ficou indeciso a
respeito de como proceder naquela situação; e passou então a percorrer toda a região, à
procura de Antia. 2- De fato, a esposa era a razão de toda a sua vida, e o motivo de sua
existência errante. Como nada conseguisse descobrir (pois a moça se encontrava em
Tarento, com o traficante), ele se ofereceu para trabalhar com os cortadores de pedra,
um ofício muito mal remunerado.3- O trabalho era muito penoso para o rapaz, pois ele
não estava acostumado a submeter o corpo a tarefas assim tão árduas e pesadas. Ele se
sentia um desgraçado e ficava se lamentando da própria sorte: - Eis aqui, Antia, - dizia o teu Habrócomes, exercendo um ofício miserável e submetendo o próprio corpo à
escravidão!4- E se tivesse uma esperança de te encontrar e passar então o resto da vida
contigo ao meu lado, essa seria a melhor coisa que poderia me acontecer e me
consoloria. Agora, porém, talvez eu, este desgraçado, também esteja me esforçando à
toa e inutilmente, e tu bem podes estar morta por teres desejado estar com teu
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Habrócomes. Mas estou convencido, caríssima esposa, de que nunca, nem mesmo na
morte, te esquecerás de mim.
5- Ele lamentavaessas coisas, e suportavadolorosamente o trabalho pesado. Enquanto
isso, em Tarento, Antia teve um sonho quando dormia. Parecia que ela estava com
Habrócomes, a bela junto com o belo, no tempo em que o amor entre eles começou. 6Aí apareceuuma outra mulher, também bela, e lhe arrancou Habrócomesde junto dela. E
enfim, gritando e chamando pelo nome do amado, Antia se levantou e então o sonho
acabou. 7- Ainda com a impressão de estar vendo todas essas coisas, ela se levantou
imediatamente e começou a chorar, acreditando serem verdadeiras as coisas que tinha
visto no sonho. – Ai de mim, com todos esses males! – dizia ela – eu me submeto a
todos os trabalhos e experimento as mais variadas desgraças, suportando intrigas acima
das forças de uma mulher,para encontrar Habrócomes. E talvez tu tenhas encontrado
outra bela mulher, e isso o sonho me mostrou claramente. 8- Por que, então, ainda estou
viva? Por que me aflijo desse jeito? Assim, é melhor morrer e libertar-me dessa vida
infeliz, libertar-me dessa escravidão vergonhosa e perigosa. 9- E se, de fato,
Habrócomes violouseus juramentos, que os deuses não o castiguem por isso, pois pode
ser que ele tenha feito isso por necessidade. Quanto a mim, é bom morrer, que sou
sensata. Ela dizia essas coisas, se lamentando, e procurava um meio de por fim à vida.
IX. 1- Em Tauromênio, Hipótoo, o períntio, a princípio, passou muitas dificuldades, por
falta de recursos, mas,depois de algum tempo, uma velha se apaixonou por ele, e ele se
casou com ela, coagido pela necessidade. E depois de conviver com ela por algum
tempo, ela morreu e lhe deixou uma grande fortuna e bens em abuncância,: grande
quantidade de escravos, muitas roupas e esplêndidosmóveis. 2- Ele, então, decidiu
navegar para a Itália, comprar belos escravos e escravas e todo tipo de móveis e outros
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objetos de luxo, apropriados para um homem próspero. Ele se lembrava sempre de
Habrócomes e desejava muito reencontrá-lo, pois o estimava muito, e gostaria de
compartilhar com ele de toda sua vida e riqueza.
3- Então, ele se fez ao mar echegou à Itália em companhia de um jovem de família
nobre da Sicília, chamado Clístenes, que estava incluído entre as riquezas de Hipótoo,
pois era belo. 4- Entrementes, o traficante, supondo que Antía já estava curada, cogitava
vendê-la, e assim levou-a até à agora, e a exibiu aos compradores. 5- Nesse momento,
Hipótoo passeava pela cidade de Tarento, à procurade algo belo para comprar; aí, ele
viu Antia, a reconheceu, se espantou, ao vê-la naquela situação, e perguntou a si
mesmo: - Não foi essa moça que eu enterrei, no Egito, em um fosso, para vingar a morte
de Anquilau, juntamente com dois cães ferozes? Que mudança é essa? Como ela se
salvou? Como conseguiu fugir do fosso? Salvar-se de maneira tão prodigiosa?6Dizendo essas coisas, ele foi se aproximando como se quisesse comprá-la, e se pondo
ao seu lado,lhe disse: - Ó, jovem, não estivesteno Egito? Não foste apanhada por
bandidos, no Egito? E não correste algum outro perigo naquela terra? Dize-me a
verdade, pois estou te reconhecendo. 7- Ouvindo falar do Egito, e se lembrando de
Anquilau, do bando de piratas e do fosso, Antia começou a gemer e a chorar bastante, e
olhando para Hipótoo, sem reconhecê-lo, ela respondeu: - Sofri muitos tormentos, ó
estrangeiro, e coisas terríveis, e quem quer que sejas, também fui apanhada por
bandidos. Mas tu, – concluiu - , como sabes da minha história? 8- De onde é que
conhecesa mim, esta desgraçada? Sofri, de fato, coisas muito divulgadas e notáveis, mas
não te conheço de modo algum. 9- Hipótoo, ao ouvi-la e reconhecê-la, mormente pelas
coisas que ela lhe estava dizendo, manteve a calma, e comprando-a do traficante, e
levando-a para casa,exortou-a a ter confiança; disse quem ele era, recordou o que
acontecera no Egito, e contou também como ele havia enriquecido e conseguido fugir.
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10- Antia, por sua vez, implorou que ele a perdoasse, e lhe explicou que matara
Anquilau porque ele não a respeitou. Também falou do fosso, de Anfinomo, de como os
cães foram amansados, e de como ela havia se salvado. 11- Hipótoo se apiedou dela e
não mais procurou saber quem era ela. Contudo, convivendo diariamente com a moça,
ele também veio a desejar Antia, quis se unir a ela e lhe fez muitas promessas. 12- Ela,
no começo, se recusou a ceder, dizendo ser indigna do leito de seu senhor, mas como
Hipótoo seguia pressionando-a, e não sabendo ainda o que fazer, ela concluiu ser
melhor dizera eleo que escondera, que violar o pacto com Habrócomes. Então, ela falou
de Habrócomes, de Éfeso, do seu amor, dos juramentos, das desgraças e da pirataria, e
enquanto falava, ela não parava de suspirar por Habrócomes. 13- Hipótoo, então, ao
ouvir que ela era Antía, e que ela era a esposa do amigo que ele mais amava,abraçou-a e
exortou-a a ter confiança, e, assim, lhe contou da sua amizade com Habrócomes. Daí em
diante, ele a conservou em sua casa, cercando-a de todos os cuidados, em consideração
a Habrócomes. E passou a investigar, ele mesmo, a fim de reencontrar Habrócomes.
X. 1- Habrócomes, de início, trabalhou penosamente em Nucério, mas, enfim, não
suportando mais um trabalho tão árduo, decidiu, então, embarcar em uma nau e
regressar a Éfeso. 2- E quando veio a noite, ele foi até o mar, e encontrou um barco
prestes a levantar âncora; ele embarcou então, e navegou, mais uma vez, até à Sicília,
com a intenção de, ao ali chegar, seguir para Creta, passando por Chipre, e chegando a
Rodes, de onde então, poderia, enfim, seguir para Éfeso; ao empreender tão longa
viagem, Habrócomes não perdia as esperanças de conseguir notícias de Antia. 3Empreendia o périplo dispondo apenas de parcos recursos, e, no começo, a viagem
correu bem, e Habrócomes chegou à Sicília, onde ficou sabendo que o velho
estrangeiro, Egialeu, havia morrido. Depois de fazer libações em sua tumba e chorar
muito, Habrócomes seguiu viagem, passou por Creta e veio ter a Chipre. Ali, ele passou
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alguns dias, dirigindo preces à deusa protetora dos Cíprios, e partiu novamente,
chegando a Rodes, onde ficou alojado próximo ao porto. 4- Ele já estava pertinho de
Éfeso, e aí lhe vieram as recordações de todos as coisas terríveis que experimentou: a
ausência da pátria, dos pais, de Antía, dos escravos. E ele começou a se lamentar, cada
vez mais sentido: - Ai de mim! – exclamava - Quantos males! A Éfeso retornarei
sozinho, e meus pais me verão de novo, sem Antia, e terei, este desgraçado, viajado pelo
mar em vão, e contarei histórias, nas quais, talvez, ninguém acredite, pois não tenho
comigo uma prova sequer dos meus infortúnios!5- Mas sê forte, Habrócomes, a fim de
ali erguer um túmulo em homenagem a Antia; pranteia-a e derrama libações por ela, e,
finalmente, conduz a ti mesmo para junto dela. Enquanto dizia essas coisas,
Habrócomes vagava pela cidade, meio fora de si, sem notícias de Antia e sem recursos
para ir adiante. 6- Entretanto, Leucón e Rode, ao passarem pela cidade de Rodes,
dedicaram oferendas no templo de
Hélio, junto à armadura de ouro, depositada
anteriormente por Antía e Habrócomes. Eles ofereceram, então, uma estela gravada com
inscrições em ouro, em honra de Habrócomes e Antía, não deixando de nela escrever os
nomes dos oferentes: Leucón e Rode. 7- Habrócomes encontrou essa estela por acaso,
quando se dirigiu ao templo para orar diante do deus. Ao ler a inscrição, ele reconheceu
os nomes dos oferentes e as boas intenções dos seus servos, e examinando o local, ele
viu também a armadura, e começou a se lamentar profundamente, assentando-se junto
dela. 8- Tudo dá errado! – dizia então – Eu sou um desgraçado! Chego ao fim da vida,
recordando as minhas próprias desventuras! Aqui está a armadura que eu ofereci, com
Antia, antes de deixar Rodes, em sua companhia, e agora, volto aqui sem tê-la comigo.
Se essa estela é uma oferenda de nossos companheiros,a nós dois dedicada, o que,
então, me acontecerá, a mim, aqui tão sozinho? Onde poderei encontrar os caríssimos
amigos?
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9- Enquanto dizia essas coisas, Habrócomes chorava muito; então, nesse momento,
chegaram Leucón e Rode, como de costume, para adorar ao deus, e depararam com
Habrócomes sentado junto da estela e olhando para a armadura, mas não o
reconheceram, admirados de que alguém pudesse permanecer assim junto à oferendas
alheias. E Leucón disse: 10- Ó rapaz! Por que estás sentado aí,junto a oferendas que não
te dizem respeito, chorando e se lamentando? Que importância têm essas coisas para ti?
Que tens a ver com os que aqui estão inscritos? Habrócomes, então, lhes respondeu: São as minhas – disse ele – as minhas oferendas e as de Leucón e Rode, que imploro ao
deus para rever, juntamente com Antía, eu, Habrócomes, este desgraçado!11- Ao ouvirlhe, Leucón e Rode ficaram assombrados, mas, recobrando-se pouco a pouco,
reconheceram Habrócomes pelo porte, pela voz, pelo que ele estava dizendo e por ele
ter lembrado o nome de Antía, e então os doiscaíram aos seus pés e contaram as coisas
que lhes aconteceram, a viagem de Tiro até a Síria, a cólera de Manto, o que sofreram
nas mãos dela, como foram vendidos na Lícia, a morte do seu senhor, a fortuna que
herdaram e a sua chegada a Rodes. 12- Aí então, eles levaram Habrócomes para a
casaonde estavam hospedados, lhe deram tudo que possuíam, cuidaram dele e o
serviram, exortando-o a ter coragem. Para ele, no entanto, nada havia de mais precioso
que Antía, e ele chorava o tempo todo.
XI. 1- Habrócomes estava vivendo em Rodes com os seus companheiros, e deliberando
sobre o que tinha de fazer. Por sua vez, Hipótóo decidiu levar Antía da Itália para Éfeso,
com a intenção de devolvê-la a seus pais, e ali procurar notícias de Habrócomes.
Embarcando todos os seus bens numa grande nau efésia,ele partiu com Antia. 2Fizeram uma viagem muito tranquila, e em poucos dias chegaram a Rodes, quando já
tinha anoitecido, e ali então eles se hospedaram na casa de uma anciã, cujo nome era
Altea. Acasa era próxima ao mar, e a anciã conduziu Antía aos seus aposentos. Naquela
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noite, Hipótoo descansou, pois na noite seguinte, eles já teriam de partir. No entanto,
estava acontecendo na cidade uma grandiosa festa, dedicada pelos ródios ao deus Hélio,
com procissão e sacrifícios, e com a presença de uma grande multidão aproveitando a
festa. 3- Leucón e Rode compareceram ao local, mas não para participar da festa, e sim
para investigar se alguém sabia de alguma coisa sobre Antia. Aí então, Hipótoo chegou
ao templo,trazendo consigo Antía, e ela, ao ver as oferendas e se recordardo passado,
disse: 4- Ótu, que as ações de todos os homens, - dizia ela – , vês, ó Hélio!Eu sou a
única desgraçadaesquecida por ti, embora tenha estado aqui em Rodes, anteriormente, e
exultando de tanta felicidade, prostei-me diante de ti e ofereci um sacrifício, juntamente
com Habrócomes, e então eu me considerava muito feliz. E agora então, sou uma
escrava, em vez de uma mulher livre, conquistada pela desgraça, e não pela bemaventurança, e estou indo a Éfeso sozinha, e me apresentarei aos meus familiares sem
ter comigo Habrócomes.
5- Enquanto ela dizia essas coisas, Antia derramava muitas lágrimas e imploravaa
Hipótoo que lhe deixasse cortar os cabelos, oferecê-los a Hélio e rezar por Habrócomes.
6- Hipotóo consentiu; e ele mesmo cortou, como podia, os cabelos dela, e esperando a
ocasião propícia, quando todos já tinham se retirado do templo, ela fez a oferenda com a
seguinte inscrição:POR SEU ESPOSO, HABRÓCOMES, ANTIA, OS PRÓPRIOS
CABELOS AO DEUS DEDICOU. Depois de fazer essas coisas e rezar, ela foi embora
com Hipótoo.
XII.1- Leucóne Rode, que, até então,acompanhavam a procissão, voltaram ao templo,
viram as oferendas e reconheceram os nomes dos senhores, e então beijaram os cabelos
e choraram muito, como se estivessem diante da própria Antia, e, finalmente, voltaram a
percorrer a cidade, para ver se a encontravam em algum lugar (os cidadãos de Rodes já
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os conheciam pelos nomes, por eles terem estado na cidade anteriormente). 2- E não
encontrando nada naquela dia, eles voltaram para casa e revelaram a Habrócomes o que
havia no templo. Ele sentiu a alma profundamente perturbada, por causa de algo tão
inesperado, mas lhe veio uma grande esperanças de reencontrar Antía.
3- No dia seguinte, Antía veio novamente ao templo,acompanhada de Hipótoo, pois o
tempo não estava bom para viajar por mar; ela, então, sentando-se diante das
oferendas,começou a chorar e a se lamentar muito. Nesse momento, Leucón e Rode,
tendo deixado Habrócomes em casa,bastante desanimado com o que lhe estava
acontecendo, entraram no templo e viram Antía, e ainda não a reconheceram, mas
entenderam tudo: o amor, as lágrimas, as oferendas, os nomes, a forma... 4- E assim,
pouco a pouco, eles a foram reconhecendo, e enfim caindo de joelhos, quedaram-se
boquiabertos. 5- Ela ficou assombrada, sem saber quem eles eram, nem o que queriam,
pois jamais esperara rever Leucón e Rode. Eles caíram em si e lhe exclamaram: Ó,
senhora! – e continuaram emocionados -, Antía, nós somos teus criados, Leucón e
Rode, os que contigo compartilharam do exílio e da desgraça da pirataria. Mas, que
sorte te traz a este lugar? Coragem, senhora, Habrócomes está salvo e está aqui, sempre
chorando por ti. 6- Ao ouvir-lhes, Antía não conseguia falar de tão aturdida, e foi com
dificuldade que conseguiu se recobrar, e reconhecendo-lhes, abraçou-os e beijou-os, e,
ficou sabendo deles todas as coisas que tinham acontecido a Habrócomes.
XIII. 1- Todo o povo de Rodes se reuniu em festa, quando soube que Antia e
Habrócomes haviam sido encontrados. Nessa ocasião, Hipótoo se encontrava presente, e
os que estavam com ele apresentaram-no a Leucón, e este ficou sabendo quem eles
eram. E tudo o mais lhes parecia ir muito bem, mas faltava Habrócomes, que ainda não
sabia de nada. 2- Correram então o mais que puderam até chegar à casa onde ele
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estava.E assim que Habrócomes ouviu um dos ródios dizer que haviam encontrado
Antía, ele saiu correndo, saiu correndo pela cidade egritando: “Antia”!, como se tivesse
enlouquecido. E, enfim, ele se encontrou com os que estavam com Antia, diante do
templo de Ísis, e uma grande multidão de ródios o seguia. 3- Quando se viram, um
diante do outro, eles se reconheceram imediatamente, pois esse era o desejo de suas
almas, e abraçando-se, eles
caíram ao chão. Dominados, ao mesmo tempo, por
incontáveis sentimentos: alegria, tristeza, medo, as recordaçõesdo passado, o medo do
futuro... O povo da cidade de Rodes irrompeu em aclamações e gritos de alegria,
saudando Ísis como a Grande Deusa. – Novamente, – diziam todos – podemos ver
Habrócomes e Antia, os belos! 4- Eles se levantaram, e refeitos da emoção, entraram no
templo de Ísis: - A ti - disseram os dois – ó Grande Deusa, damos graças por nossa
salvação! Por causa de ti, para nós a mais apreciada dentre os deuses, nós nos
reencontramos. E assim, eles se ajoelharam no recinto sagrado e se prostraram diante do
altar.
5- Então, os amigos de Leucón levaram o casal para casa, e Hipótoo também levou
todas as suas coisas para a casa de Leucón, estando todos decididos a seguir viagem
para Éfeso. Naquele mesmo dia, depois de oferecerem sacrifícios e celebrarem com
umagrande festa, contaram uns aos outros muitas e variadas histórias: o que cada um
tinha sofrido eo que fez, e o banquete se estendeu, pois eles estavam novamente
reunidos, depois de tanto tempo. 6- E quando a noite chegou, todos foram repousar,
cada um como lhe aprouve: Leucón e Rode, Hipótoo e o jovem da Sicília que o havia
seguido desde a Itália, Clístenes, o belo. E Antía se deitou com Habrócomes.
XIV. 1- Quando todos os outros já estavam dormindo, e se fez o silêncio, Antia,
abraçando-se a Habrócomes, começou a chorar, dizendo: - Meu esposo e senhor, te
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reencontrei depois de vagar errante por tanta terra e mar, depois de ter conseguido
escapar de ameaças de bandidos, de ataques de piratas, de ultrajes de traficantes,de
cadeias, de fossos, de troncos, de venenos e de tumbas. 2- Mas eis que estou de novo
aqui contigo, Habrócomes, dono da minha alma, tal como, no começo, te deixei em
Tiro, ao partir para Síria. Ninguém conseguiu me convencer a me perder de ti, nem
Méris, na Sicília, nem Perilau, na Cilícia, nem Psamis e nem Políido, no Egito, nem
Anquilau, na Etiópia, e nem o meu senhor em Tarento, mas permaneço pura para ti, pois
lancei mão de todos os recursos que pude conceber, para preservar a minha honra. 3- E
tu, Habrócomes, permaneceste puro também, ou será que alguma outra bela me
substituiu? Ou será que alguém te obrigou a esquecer de mim e dos juramentos que me
fizeste? 4- Ela dizia essas coisas sem parar de beijá-lo, e aí Habrócomes lhe respondeu:
- Mas eu te juro, por este dia do reencontro tão desejado por nós, que virgem nenhuma
me pareceu bela, nem outra mulher me conquistou com o olhar, mas tu reencontraste o
teu Habrócomes tão puro como o deixaste na prisão, em Tiro.
XV. 1- Durante toda a noite, cada um se justificou diante do outro, e eles se
convenceram facilmente de que estavam dizendo a verdade, pois era isso que eles
queriam. E quando o dia nasceu, depois de embarcar na nau, trazendo todos os seus
pertences, eles partiram, com todo o povo de Rodes se despedindo deles. E com
eles,seguiu também Hipótoo, levando todos os seus bens, em companhia de Clístenes. A
viagem foi rápida e, em poucos dias, eles chegaram a Éfeso. 2- Todaa cidade já fora
informada de que Habrócomes e Antia tinham conseguido se salvar, e assim que
desembarcaram,eles se dirigiram imediatamente ao templo de Ártemis e, depois de
terem rezado bastante e sacrificado, depositaram uma oferenda para a deusa, com uma
inscrição,narrando tudo que eles tinham feito e sofrido. 3- E depois de fazer essas
coisas, eles voltaram à cidade e mandaram erguergrandes mausoléus para seus pais, que
172
tinham morrido, velhos e desassossegados. E assim, Habrócomes e Antia passaram o
resto das suas vidas juntinhos, numa festa constante. E Leucón e Rode compartilharam
de todas essas coisas com seus companheiros de sempre. E Hipótoo decidiu também
passar o resto da sua vida em Éfeso. Mandou erguer ummausoléu, em Lesbos, em
homenagem a Hipérantes; e,depois de adotar Clístenes, ele viveu em Éfeso, com
Habrócomes e Antía.
FIM DAS HISTÓRIAS EFESÍACAS DE ANTIA E HABRÓCOMES
DE XENOFONTE
6. CONCLUSÃO
Retomandoa pesquisa iniciada no Mestrado, com a dissertação intitulada O
Romance Pastorais - Dáfnis e Cloé: a influência das estações do ano no significado da
obra, atribuído a Longo, selecionou-se, para esta tese, como corpus,o romance
OsEfésios de Xenofonte de Éfeso, com o intuito de se verificar em que medida a
odisseia amorosa de Habrócomes e Antia pelo Mediterrâneo Oriental tem como fio
condutor o deus Eros, num ambiente dokósmos oikoúmenos, do mundo greco-romano,
permeado de sincretismo religioso.Assim sendo, adotou-se o percurso metodológico que
se segue.
No Capítulo 1, Introdução, apresentou-se a hipótese - as viagens de Os Efésios
não só representam uma característica do romance grego como tal, mas também um
recurso de que se vale o autor para acentuar a aventura amorosa, ao longo de um
percurso marcado pelo sincretismo religioso, os objetivos(retomar-se a pesquisa
iniciada com a dissertação de Mestrado e incentivar o estudo do romance grego) e a
173
metodologiaseguida para a elaboração da presente tese (um enfoque pragmático, com o
estudo da língua “em contexto”), e anunciando os capítulos que se seguiriam. Incluiu-se
também uma abordagem do contexto espácio-temporal da sociedade helenística onde
novas práticas discursivas ensejariam o que viria ser conhecido como romance grego.
No Capítulo 2, O romance grego: origens e características, tratou-se, em 2.1
Origens, mais detalhadamente do contexto sócio-político e cultural helenístico, sob a
égide dos Ptolomeus. O novo mundo das bibliotecas é marcado pela erudição e pela
pesquisa, possibilitando, assim, noplano da literatura, o culto dos gêneros clássicos e
novas práticas artísticas; e em 2.2 Características, foram abordados alguns dos
principais aspectos do chamado romance grego de aventuras, recorrendo-se a autores
consagrados no estudo da teoria do romance.
No Capítulo 3, Os Efésios de Xenofonte de Éfeso,foram avaliados, em 3.1 O
autor, os escassos dados disponíveis a respeito do autor do romance, e em 3.2A obra, a
questão do epítome (resumo), a estrutura e o estilo da obra estudada.
No Capítulo 4, A odisseia amorosa de Habrócomes e Antia: um kósmos
oikoúmenos, em 4.1 Uma abordagem pragmática, ressaltou-se o estudo da linguagem
“em contexto”, procurando-se destacar determinados pontos que possibilitassem
elucidar a trama amorosa da obra em questão. Em 4.2 Resumo de Os Efésios,
apresentou-se um resumo da obra em questão, buscando-se assinalar o percurso seguido
pelo casal, e destacar os lugares - cidades ou regiões - , inseridos na trajetória amorosa
(em negrito), ressaltando-se ainda a influência de Eros como articulador e fio condutor
das peripécias vividas pelos jovensapaixonados (em itálico), em meio a outras
divindades atuantes no relato amoroso (sublinhado), num mundo marcado pelo
sincretismos religioso. Em 4.3 Lugares comuns,enumerou-se alguns tópoi, como pontos
recorrentes na narrativa de Os Efésios, destacando-se, em seguida, os sonhos (excertos
1.12.4, 2.8.2 e 5.8.5-9) e os piratas (excerto 1.13.1-6).Em 4.4 O sincretismo religioso,
abordou-se, particularmente, a presença e a atuação das seguintes divindades: Eros,
Ártemis, Apolo, Hélio, Ísis, Ápis e o rio Nilo. Em 4.4.1 Eros, enumerou-se algumas das
características do deus do Amor, mencionando ainda certos mitos a ele relacionados.
Em 4.4.1.1 O Amor: fio condutor da narrativa, ressaltou-se o papel desempenhado por
Eros no desenvolvimento da trama romanesca: além de philóneikos (amante da disputa),
Eros é também filókainos (amante das novidades), assemelhando-se, nesse caso, à sorte
174
(týkhe); foram destacadas a arrogância de Habrócomes (excerto 1.1.5), a vingança de
Eros (excerto 1.2.1), o encontro de Habrócomes e Antia durante a procissão de Ártemis
(excerto 1.2.7-9) e o caos instaurado com as profundas e desencontradas emoções
vividas pelos amantes (excertos 1.3.1.4, 14.1.7 e 1.5.1-9). Também se destacaram
algumas passagens onde uma ou outra personagem se apaixona por um dos amantes –
por Habrócomes ou por Antia; nessas passagens é recorrente a expressão e0ra~n sfodron
e1rwta - “apaixonar-se perdidamente”, “desejar com amor violento” (excertos 1.14.7,
1.15.4, 11.11.1 e 5.4.5). Foi igualmente enfatizada a amizade (philia) de Hipótoo por
Habrócomes (excerto 5.9.13). Em 4.4.2Ártemis, focalizou-se a procissão da deusa dos
efésios, ocasião que enseja o encontro de Habrócomes e Antia (excerto 1.2.2-9). Em
4.4.3, Apolo,privilegiou-se o momento em que os pais dos jovens enviam mensageiros
ao oráculo do deus, em Cólofon, para se informar a respeito do mal que afligia os seus
filhos (excerto 1.5.9-7.1-2).. Em 4.4.4Hera, focalizou-se o culto que os jovens
prestaram à deusa, em Samos, como protetora do casamento (1.11.2). Em 4.4.5Hélio,
acentuou-se a importância do culto do deus do Sol, reverenciado pelos jovens com
devoção, na ilha de Rodes, e dos reconhecimentos que aí têm lugar (excertos 1.13.2,
5.10.5-12 e 5.11.3-6; 12.1.6). Em 4.4.6Ísis, ressaltou-se a reverência de Antia pela
deusa do Egito, no próprio país dos faraós (excerto 4.3.3-5) e o agradecimento dos
jovens, no final da narrativa, à esposa de Osíris, na própria Éfeso (excerto 5.13.1-4),
mencionando-se a possibilidade, sugerida por alguns autores, de sincretismo religioso
dos cultos de Ártemis e de Ísis.Em 4.4.7Ápis, focalizou-se a importância desse deus, no
Egito, desde o início, e no tempo dos Ptolomeus, como Serápis, com destaque para o
momento em que Antia vai ao templo do deus, e um oráculo, proferido pelas crianças,
confirma que, em breve, a jovem vai rever o seu Habrócomes (excerto 4.8-10). Em
4.4.8O rio Nilo, faz-se uma leitura dos milagres que salvaram Habrócomes, sugerindo
que, tanto o deus Hélio quanto o deus Nilo intervieram para redimir o jovem (excerto
4.2.4-10). Em 4.5 Éfeso: começo e fim da odisseia amorosa, conclui-se que a cidade de
Éfeso não deixa de evocar, na trama amorosa de Os Efésios, a famosa Ítaca de Homero
(excertos 1.10.3-11.1 e 5.15.2).
.
No Capítulo 5, Os Efésios, tem-se a tradução integral de Os Efésios, com base no
texto estabelecido pelo helenista francês George Dalmeyda, Les Ephésiaques ou Le
Roman d’ Habrocimès et d’ Anthia, em2ª edição, publicado, em 1962, pela Société d’
Edition Les Belles Lettres. Cotejou-se o texto da edição francesa com o texto espanhol
175
publicado pela Editora Gredos e traduzido por Julia Mendoza, e, ainda, com o estudo de
James N. O’Sullivan, intitulado Xenophon of Ephesus: His Compositional Technique
and The Birth of Novel.
Após a Bibliografia e as Notas, seguiram em anexo o texto grego de Os Efésios
(Anexo 1) e os mapas com o percurso geográfico de Habrócomes e Antia em sua
odisseia amorosa pelo Mediterrâneo Oriental (Anexo 2).
Concluiu-se assim que a hipótese da pesquisa veio a ser corroborada com a
abordagem pragmática do texto em questão: as viagens de Os Efésios não só
representam uma característica do romance grego enquanto tal, mas também um recurso
de que se vale o autor para acentuar a aventura amorosa, ao longo do percurso marcado
pelo sincretismo religioso.
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182
8. NOTAS
1. A palavra ephesiaká, um adjetivo de gênero neutro,no plural, pode ser traduzida
como“coisas relativas a Éfeso”, ou ainda “fatos efésios”, sendo formada por
derivação, com o acréscimo do sufixo –iká ao radical ephesia-. Nesse sentido, o
título Os Efésios, para o romance em questão, pode ser considerado apropriado.
2. O substantivo gregokósmos significa “enfeite”, “adorno”, e consequentemente,
uma “disposição para a ordem”. Os antigos gregos, ciosos em sua busca de um
ordenamento político (uma cidade bem ordenada apresenta-se assim como uma
cidade “cósmica”), projetam a pólis no universo circundante. Daí o significado de
kósmos como “mundo”. Por outro lado, o particípio presente do verbo oikeîn
(“habitar”, “morar”), em sua forma passiva – oikoúmenos -, caracteriza essa ordem
como “habitada”, ou seja, ao interagirem uns com os outros (atentemos para o
aspecto durativo do presente), os homens (aqui, particularmente, os helenos) vão
coabitando pelo mundo e disseminando a civilização, como eles a entendiam. A esse
kósmos oikoúmenos corresponde o substantivo kosmópolís (“cosmópole”, “cidade
universal”), caracterizando-se a nova ordem mundial(kósmos) por uma atividade
política centrada nas póleis, embora, no mundo helenístico greco-romano – esse
kósmos oikoúmenos (“mundo habitado”), as póleis já não se apresentam, de modo
geral, com a importância política dos séculos imediatamente anteriores, posto que
183
inseridas agora num mundo globalizado sob a égide dos soberanos dos reinos
helenísticos e dos governantes romanos, em suas mais variadas realizações.
Obviamente, a inclusão das póleis na ampla e diversificada formação social do
ecúmeno não significa que a vida cotidiana dos cidadãos cosmopolitas, em maior ou
menor grau, não deixe de contribuir para a governança, com vista ao ordenamento
do todo.
3. Ptolomeu IIFiladelfo(283-246 a. C.) sucedeu ao pai, Ptolomeu I, no trono deo
Egito, em 283 a. C..É denominado Filadelfo, por ter se casado com a irmã, Arsínoe
II, adotando o seu título (“o/a que ama a irmã/o irmão”).Após ter se envolvido em
várias guerras, destancando-se a primeira e a segunda Guerra Síria, dedicou-se
profundamente à helenização do Egito, atuando na economia do império com
sucesso, e fazendo com que viessem a Alexandria, atraídos pela Biblioteca e pelo
Museu, muitos gregos importantes no âmbito da cultura, particularmente Calímaco
de Cirene (c. 270 a.C.), Teócrito de Siracusa (c. 270 a.C.) e Apolônio de Rodes (c.
295 a.C.).
4.. Ptolomeu I Sóter (morto em 283/2 a.C.) acompanhou Alexandre desde a
juventude, na Macedônia, até a sua morte, após as imorredouras conquistas do
Magno. Após muitas vicissitudes e conflitos, pela divisão territorial do legado de
Alexandre. assumiu o título de rei do Egito em 305-4 a.C. e, posteriormente, o de
Sóter (“Salvador”). Dedicou-se com afinco à organização militar e administrativa do
Egito. Fundou o culto de Serápis e, provavelmente aconselhado por Demétrio de
Falero (séc. IV/III a.C.), criou o Museu e a Biblioteca, fazendo de Alexandria o
centro cultural do mundo helenístico. Escreveu ainda uma biografia de Alexandre
que, mais tarde, viria a influenciar Arriano.
5. O Museu, originalmente, era um templo dedicado às Musas, numa colina de
Atenas. A palavra mousiké, formada por derivação a partir de Mousa, siginifica
“arte das Musas”, com canto e dança associados, e, posteriormente, também os sons
por si mesmos. Substantivo de gênero neutro, incluído na segunda declinação do
antigo idioma grego, e formado por derivação, através o acréscimo do sufixo –eion,
Mouseion quer dizer “lugar dedicado às Musas”, ou ainda “morada das Musas”,
onde se praticam o canto e as artes em geral.Associa-se, como tal, à preservação da
memória, sobressaindo aqui o Museu de Alexandria, como ummonumento cultural
por excelência, misto de templo e instituição colegial. O Museu tinha como anexo a
Biblioteca, e sob a égide dos Prolomeus, muitos pesquisadores puderam aí se
dedicar à pesquisa e a cência. O Museu teve seu auge na passagem do terceiro para
o segundo século a. C., e permaneceu como referência cultural por muito tempo,
destacando-se ainda nos tempos do Império Romano.
6. A palavra grammatikoí, formada por derivação sucessiva, a partir do verbo
gráphein (no caso, escrever), acrescido do sufixos – mat (resultado do processo) e –
ikós (relação ou aptidão), signica, basicamente, “relativoà leitura e,
184
consequentemente, à escrita”, “apto a ler e a escrever”, ou ainda “o gramático – que
ensina a ler e a escrever”, e, por conseguinte, “pesquisadores”.
7.Zenódoto de Éfeso (nascido por volta de 325 a. C.), desempenhou a função de
bibliotecário em Alexandria, destacando-se pela erudição, tomando como base os
antigos textos que lhe chegaram. Estudou profundamente a obra de Homero,
produzindo uma revisão crítica com bastantes notas explicativas. Também se
dedicou ao estudo das variantes constatadas em textos de Hesíodo e de Píndaro.
Estabeleceu a cruz como sinal indicando uma pasagem suspeita, sem suprimi-la.
8. Aristófanes de Bizâncio (nascido por volta de 260 a. C.) também foi bibliotecário
em Alexandria. Complementou os catálogos (pínakes) de Calímaco. Revisou a obra
de Homero, de trágicos e comediógrafos. Desenvolveu também o estudo da métrica,
Editou a obra de Píndaro. Aperfeiçoou a pontuação e introduziu a acentuação nos
textos de idioma grego. Foi também autor de introduções, glossários e espécies de
catálogos de autores clássicos.
9. Aristarco de Samotrácia (c. 216 – c. 144 a. C.), um grande erudito, sucedeu a
Aristófanes de Bizâncio, como bibliotecário em Alexandria. Crítico e gramático,
destacou a importância de se atentar para os costumes do autor, quando se interpreta
a sua obra. São famosos os seus comentários sistemáticos e abrangentes acerca dos
textos antigos, os hypomnémata. Estudou a fundo a obra de Homero, voltando-se
ainda para poetas clássicos e prosadores, particularmente Heródoto.
10. Perseu, rei da Macedônia (178 – 168 a.C.), buscou reforçar a posição do seu
reino, estabelecendo um equilíbrio interno entre as facções rivais, aliando-se aos
romanos, e seguindo uma política de conciliação com as Selêucidas e os gregos.
Quando estes últimos, diante da ameaça romana, tentaram colocar-se sob a égide de
Perseu, Êumenes II de Pérgamo enviou uma embaixada a Roma, em 172 a. C.,
sendo, posteriormente, assassinado em Delfos, no ano de 171 a. C.. Os romanos e
seus aliados, então, declararam guerra a Perseu, que resistiu bravamente. Em 168 a.
C., L. Emílio Paulo, auxiliado pelas tropas de Pérgamo, derrotou Perseu na batalha
de Pidna, em 168 a. C.
11.Para os séculos depois de Cristo, apenas é indicada a numeração em algarismos
romanos.
12. Luciano de Samosata (125 – 181). Sírio de origem, cuja língua nativa seria o
arameu, Luciano tornou-se um escritor em grego ático. Esteve em Roma, voltou a
Antioquia e estabeleceu-se em Atenas. Destacou-se pela variadíssima produção
literária, particularmente as suas obras de cunho satírico, como, por exemplo, O
diálogo dos mortos.
13. Ptolomeu III Evérgete governou o Egito de 246 a 222/1 a. C. Apesar das longas
guerras travadas com os potentados vizinhos (Terceira Guerra Síria e intervenção
nas questões decorrentes da perene rivalidade entre as póleis gregas) e da repressão
185
contra sedições intestinas (como uma revolta no Delta), Ptolomeu III não deixou de
acompanhar e incentivar o incremento do acervo da Biblioteca de Alexandria, a qual
durante o seu reinado talvez tenha chegado a incluir uma quantidade de rolos até
então jamais alcançada em qualquer centro cultural da Antiguidade.
14. Calímaco de Cirene (c, 270 a. C.), poeta de prodigiosa.Além de ter organizado o
famoso catálogo (Pínakes) de toda a literatura grega disponível, escreveu também
várias obras em prosa, destacando-se pela notável erudição, e muitos poemas, entre
eles, cerca de sessenta epigramas e seis hinos: Hino a Zeus,Hino a Apolo, Hino a
Ártemis, Hino a Delos, Hino ao banho de PalaseHino a Deméter. Com Calímaco, a
poesia pública passa assim a ser poesia de gabinete, destinada ao consumo de um
público de elite, sob a égide de Ptolomeu II. Destacam-se também as Origens
(Aitía), em quatro livros, com relatos etiológicos os mais variados, em versos
elegíacos. Também teorizou sobre a literatura, ao escrever, entre outras afirmações,
que “um poema grande era uma grande mal”, ou ainda, “não escrevo nada que não
fosse documentado”. .
15.BRANDÃO (2005, p. 82-83), propondo a invenção do romance, provavelmente em
língua e forma grega, entre os séculos I e II, afirma que dispomos apenas de “um corpus
que pode ser datado a partir da época referida e se apresenta com as feições próprias de
um gênero novo”. Ressalta ainda que, como qualquer produção poética, o romance é
pepoioménon (fabricado), resultando assim de “determinadas estratégias discursivas que
tornam romanceadas todas as matérias que aborda, venham elas de onde vierem”.
Em sua primeira tentativa de classificar o corpus disponível para o estudo do que
teria sido o romance grego, BRANDÃO (ibidem, p. 86), propõe o seguinte quadro:
EROTIKÁ
Dáfnis e Cloé
EROTIKÁ + PARÁDOXA
Quéreas e Calírroe
Leucipe e Clitofonte
As efesíacas
As etiópicas
As babilônicas
PARÁDOXA
As coisas incríveis além da Tule
(de Antônio Diógenes)
Lúcio ou o asno
(de Luciano)
Das narrativas verdadeiras
(de Luciano)
Nesse esquema, as formas puras de erotiká conteriam basicamente entrechos de
amor; as formas puras de parádoxa conteriam narrativas extraordinárias, incluindo o
tema da viagem; e nas formas mistas de erotiká + parádoxa, tem-se a mescla de
narrativa erótica e narrativas paradoxográficas.
Na presente pesquisa, voltada basicamente para Os Efésios, entende-se que as
obras muito bem arroladas no quadro acima como erotikáe erotiká + parádoxa incluem,
basicamente, os romances de viagem e de amor, optando-se assim por seguir
considerando o romance em questão (Os Efésios) como um relato amoroso de viagens.
16. Trata-se do romance Queréas e Calírroe, de Cáriton de Afrodísias.
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17. A tradução é da autora da tese.
18. A tradução é da autora da tese.
19. A tradução é da autora da tese.
20.. Safo (c. 600 a. C.), poetisa lírica e cantora do amor, uma das maiores artistas da
Antiguidade, destacou-se poeticamente, num mundo grego de supremacia
masculina. Originária da ilha de Lesbos, Safo ganhou fama, por, aparentemente,
conviver com as jovens de seu círculo mais íntimo, dando ensejo a paixões
homoafetivas. Assim sendo, os poemas dedicados às companheiras enfoca, quase
que exclusivamente, o amor que a poetisa maior sente por cada uma delas. São
variadas as versões sobre a sua vida, como, por exemplo, as histórias de que ela teria
rejeitado o poeta lírico Alceu (590 a. C.), ou ainda que teria cometido suicídio por
amor a Fáon.
21. Teócritode Siracusa (c. 270 a. C.)imortalizou-se com a composição de variada
poesia pastoral. Após o começo promissor em Siracusa, conheceu Cós e radicou-se,
finalmente em Alexandria, a convite de Prolomeu II. Talento da nova poética,
Teócrito destacou-se na composição de Idílios- poemas curtos de temas variados, de
epigramas, de hinos, de epitalâmios, de epílios mitológicos, de poemas de amor no
estilo eólio e de mimos. Além da notória erudição, o talento literário, de raro quilate,
alçou voos dramáticos dignos de nota, sobressaindo também, não raro, pelo humor.
22.Virgílio (70 -19 a. C.) é um dos mais notáveis escritores romanos. Em sua vasta
produção, destacam-se: as Éclogas, (ouBucólicas), inspiradas na obra de Teócrito;
as Geórgicas, em quatros livros, tendo como tema a agricultura, e dedicados a
Mecenas; e a Eneida, a gloriosa epopeia nacional romana inacabada.
23.Apud HORTA, p. 61.
24. Xenofonte, o famoso ateniense que conviveu com Sócrates e participou como
mercenário na desastrosa campanha de Artaxerxes contra o irmão pelo trono da
Pérsia, e escreveu obras importantes para o conhecimento da história e da cultura da
época, tais como Econômico, Apologia de Sócrates, Anábase e Ciropedia, entre
outras.
25.O Suda, um escrito bizantinodo século X, é uma fonte inestimável para os
estudos clássicos, apesar dos numerosos erros nele contidos.Também conhecido
por“Suidas” ou “Suídas”, ele pode ser considerado a primeira enciclopédia,
contendo um léxico e numerosos textos gregos.
26.Apud Sullivan (1995, p. 1). A tradução é da autora da tese.
27. A tradução é da autora da pesquisa.
28. Cf. MENDOZA (1998, 221) – T. Hagg, Classica et Mediaevalia 37 (1966), 118161.
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29. Cf. MENDOZA (1998 , p. 223) – T. Hagg, Narrative technique in ancient greek
romances.
30. O adjetivo e0rwtika, utilizado para qualificar os relatos amorosos característicos
dos romances gregos, significa “o que tem relação com Eros”, ou seja, “eróticos”.
Daí a expressão e0rwtika dihghmata (“narrativas amorosas”).
31. Segundo HARVEY (1998, p. 506), a Týkherepresenta
“... no pensamento religioso grego, a sorte ou o acaso, o elemento imprevisível da
vida, que pode trazer o bem e o mal; trata-se de uma concepção que se desenvolveu
à proporção que a antiga crença nos deuses entrou em declínio. A palavra (derivada
do verbotugkhánein) significa “o que acontece”. Píndaro chama Týkhe uma das
Parcas (Moîras), mais forte que suas irmãs, mas ela nunca se tornou plenamente
personificada ou um assunto mitológico”.
Já de acordo com MARTIN (1995, p. 234) a Týkhe é a
“Divindade grega da Fortuna (boa ou má), isto é, do Acaso que governa a vida
dos homens. Trata-se de uma divindade sem mitologia, mas que é objeto de um
culto importante na Grécia helenística. Ela corresponde à Fortuna dos Latinos”.
É ainda MARTIN (ibidem, p.116) qua acrescenta:
“... Fala-se de Fortuna bona ou de Fortuna Mala, porque se trata de uma divindade
mutável, que encarna sobretudo o imprevisto e o inesperado da existência humana”.
(32) Segue-se aqui as observações de WHITMARSH, Tim. Narrative and Identity
in the Ancient Greek Novel: Returning Romance.
(33) Apud WHITMARSH, Tim. Narrative and Identity in the Ancient Greek
Novel: Returning Romance.
(34) Cf. WHITMARSH, Tim. Narrative and Identity in the Ancient Greek Novel:
Returning Romance.
(35) A tradução é autora da tese.
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Anexo 1 - Texto grego de Os Efésios
Livro I
Λυκοµήδηςὄνοµα.
I.1ἮνἐνἘφέσῳἀνὴρτῶντὰπρῶταἐκεῖδυναµένων,
ΤούτῳτῷΛυκοµήδειἐκγυναικὸςἐπιχωρίουΘεµιστοῦςγίνεταιπαῖςἉβροκόµης,
µέγατιχρῆµακάλλουςοὔτεἐνἸωνίᾳοὔτεἐνἄλλῃγῇπρότερονγενοµένου.
2ΟὗτοςὁἉβροκόµηςἀεὶµὲνκαὶκαθ̓ἡµέρανεἰςκάλλοςηὔξετο,
συνήνθειδὲαὐτῷτοῖςτοῦσώµατοςκαλοῖςκαὶτὰτῆςψυχῆςἀγαθά:
παιδείαντεγὰρπᾶσανἐµελέτακαὶµουσικὴνποικίληνἤσκει,
θήραδὲαὐτῷκαὶἱππασίακαὶὁπλοµαχίασυνήθηγυµνάσµατα.
3ἮνδὲπερισπούδαστοςἅπασινἘφεσίοις,
ἀλλὰκαὶτοῖςτὴνἄλληνἈσίανοἰκοῦσι,
καὶµεγάλαςεἶχονἐναὐτῷτὰςἐλπίδαςὅτιπολίτηςἔσοιτοδιαφέρων.
Προσεῖχονδὲὡςθεῷτῷµειρακίῳ:
καίεἰσινἤδητινὲςοἳκαὶπροσεκύνησανἰδόντεςκαὶπροσεύξαντο.
4Ἐφρόνειδὲτὸµειράκιονἐφ̓ἑαυτῷµέγακαὶἠγάλλετοµὲνκαὶτοῖςτῆςψυχῆςκατορθώµασι,
πολὺδὲµᾶλλοντῷκάλλειτοῦσώµατος:
πάντωνδὲτῶνἄλλων,
ὅσαδὴἐλέγετοκαλά,
ὡςἐλαττόνωνκατεφρόνεικαὶοὐδὲναὐτῷ,
οὐθέαµα,
οὐκἄκουσµαἄξιονἉβροκόµουκατεφαίνετο:
5καὶεἴτιναἢπαῖδακαλὸνἀκούσαιἢπαρθένονεὔµορφον,
κατεγέλατῶνλεγόντωνὡςοὐκεἰδότωνὅτιεἴηεἷςκαλὸςαὐτός.
Ἔρωτάγεµὴνοὐδὲἐνόµιζενεἶναιθεόν,
ἀλλὰπάντηἐξέβαλενοὐδὲνἡγούµενος,
λέγωνὡςοὐκἄνποτέτιςἐρασθείηοὐδὲὑποταγείητῷθεῷµὴθέλων:
6-
189
εἰδέπουἱερὸνἢἄγαλµαἜρωτοςεἶδε,
κατεγέλα,
ἀπέφαινέτεἑαυτὸνἜρωτοςπαντὸςκαλλίονα. Καὶεἶχενοὕτως: ὅπουγὰρἉβροκόµηςὀφθείη,
οὔτεἄγαλµακαλὸνἐφαίνετοοὔτεεἰκὼνἐπῃνεῖτο.
II.
1-ΜηνίειπρὸςταῦταὁἜρως:
φιλόνεικοςγὰρὁθεὸςκαὶὑπερηφάνοιςἀπαραίτητος:
ἐζήτειδὲτέχνηνκατὰτοῦµειρακίου:
καὶγὰρκαὶτῷθεῷδυσάλωτοςἐφαίνετο.
Ἐξοπλίσαςοὖνἑαυτὸνκαὶπᾶσανδύναµινἐρωτικῶνφαρµάκωνπεριβαλόµενοςἐστράτευενἐφ̓
Ἁβροκόµην.
2-ἬγετοδὲτῆςἈρτέµιδοςἐπιχώριοςἑορτὴἀπὸτῆςπόλεωςἐπὶτὸἱερόν:
στάδιοιδέεἰσινἑπτά:
ἔδειδὲποµπεύεινπάσαςτὰςἐπιχωρίουςπαρθένουςκεκοσµηµέναςπολυτελῶςκαὶτοὺςἐφήβου
ς,
ὅσοιτὴναὐτὴνἡλικίανεἶχοντῷἉβροκόµῃ.
Ἦνδὲαὐτὸςπερὶτὰἓξκαὶδέκαἔτηκαὶτῶνἐφήβωνπροσήπτετοκαὶἐντῇποµπῇτὰπρῶταἐφέρετ
ο.
3Πολὺδὲπλῆθοςἐπὶτὴνθέαν,
πολὺµὲνἐγχώριον,
πολὺδὲξενικόν:
καὶγὰρἔθοςἦνἐνἐκείνῃτῇπανηγύρεικαὶνυµφίουςταῖςπαρθένοιςεὑρίσκεσθαικαὶγυναῖκαςτ
οῖςἐφήβοις.
4-Παρῄεσανδὲκατὰστίχονοἱποµπεύοντες:
πρῶταµὲντὰἱερὰκαὶδᾷδεςκαὶκανᾶκαὶθυµιάµατα:
ἐπὶτούτοιςἵπποικαὶκύνεςκαὶσκεύηκυνηγετικὰὧδεπολεµικά,
τὰδὲπλεῖσταεἰρηνικά.
ἑκάστηδὲαὐτῶνοὕτωςὡςπρὸςἐραστὴνἐκεκόσµητο.
5ἮρχεδὲτῆςτῶνπαρθένωντάξεωςἌνθεια, θυγάτηρΜεγαµήδουςκαὶΕὐίππης, ἐγχωρίων.
ἮνδὲτὸκάλλοςτῆςἈνθείαςοἷονθαυµάσαικαὶπολὺτὰςἄλλαςὑπερεβάλλετοπαρθένους.
Ἔτηµὲντεσσαρεσκαίδεκαἐγεγόνει,
ἤνθειδὲαὐτῆςτὸσῶµαἐπ̓εὐµορφίᾳ,
καὶὁτοῦσχήµατοςκόσµοςπολὺςεἰςὥρανσυνεβάλλετο: 6-κόµηξανθή, ἡπολλὴκαθειµένη,
ὀλίγηπεπλεγµένη,
πρὸςτὴντῶνἀνέµωνφορὰνκινουµένη:
ὀφθαλµοὶγοργοί,
φαιδροὶµὲνὡςκόρης,
φοβεροὶδὲὡςσώφρονος:
χιτὼνἁλουργής,
ζωστὸςεἰςγόνυ,
µεχρὶβραχιόνωνκαθειµένος,
νεβρὶςπερικειµένη,
γωρυτὸςἀνηµµένος,
τόξα,
ἄκοντεςφερόµενοι,
κύνεςἑπόµενοι.
7ΠολλάκιςαὐτὴνἐπὶτοῦτεµένουςἰδόντεςἘφέσιοιπροσεκύνησανὡςἌρτεµιν.
Καὶτότ̓οὖνὀφθείσηςἀνεβόησετὸπλῆθος,
καὶἦσανποικίλαιπαρὰτῶνθεωµένωνφωναί,
τῶνµὲνὑπ̓ἐκπλήξεωςτὴνθεὸνεἶναιλεγόντων, τῶνδὲἄλληντινὰὑπὸτῆςθεοῦπεριποιηµένην:
προσεύχοντοδὲπάντεςκαὶπροσεκύνουνκαὶτοὺςγονεῖςαὐτῆςἐµακάριζον:
ἦνδὲδιαβόητοςτοῖςθεωµένοιςἅπασινἌνθειαἡκαλή.
8
Ὡςδὲπαρῆλθετὸτῶνπαρθένωνπλῆθος,
οὐδεὶςἄλλοτιἢἌνθειανἔλεγεν:
ὡςδὲἉβροκόµηςµετὰτῶνἐφήβωνἐπέστη,
τοὐνθένδε,
καίτοικαλοῦὄντοςτοῦκατὰτὰςπαρθένουςθεάµατος,
πάντεςἰδόντεςἉβροκόµηνἐκείνωνἐπελάθοντο,
ἔτρεψανδὲτὰςὄψειςἐπ̓αὐτὸνβοῶντεςὑπὸτῆςθέαςἐκπεπληγµένοι,
‘καλὸςἉβροκόµης’
λέγοντες, ‘καὶοἷοςοὐδὲεἷςκαλοῦµίµηµαθεοῦ.’ 9 -Ἤδηδέτινεςκαὶτοῦτοπροσέθεσαν
‘οἷοςἂνγάµοςγένοιτοἉβροκόµουκαὶἈνθείας.’
Καὶταῦτ̓ἦνπρῶτατῆςἜρωτοςτέχνηςµελετήµατα.
Ταχὺµὲνδὴεἰςἑκατέρουςἡπερὶἀλλήλωνἦλθεδόξα:
καὶἥτεἌνθειατὸνἉβροκόµηνἐπεθύµειἰδεῖν,
καὶὁτέωςἀνέραστοςἉβροκόµηςἤθελενἌνθειανἰδεῖν.
III.
1-Ὡςοὖνἐτετέλεστοἡποµπή,
ἦλθονδὲεἰςτὸἱερὸνθύσοντεςἅπαντὸπλῆθοςκαὶὁτῆςποµπῆςκόσµοςἐλέλυτο,
ᾔεσανδὲἐςταὐτὸνἄνδρεςκαὶγυναῖκες, ἔφηβοικαὶπαρθένοι, ἐνταῦθαὁρῶσινἀλλήλους,
καὶἁλίσκεταιἌνθειαὑπὸτοῦἉβροκόµου,
ἡττᾶταιδὲὑπὸτοῦἜρωτοςἉβροκόµηςκαὶἐνεώρατεσυνεχέστεροντῇκόρῃκαὶἀπαλλαγῆναι
τῆςὄψεωςἐθέλωνοὐκἐδύνατο:
κατεῖχεδὲαὐτὸνἐγκείµενοςὁθεός.
2∆ιέκειτοδὲκαὶἌνθειαπονήρως,
190
ὅλοιςµὲνκαὶἀναπεπταµένοιςτοῖςὀφθαλµοῖςτὸἉβροκόµουκάλλοςεἰσρέονδεχοµένη,
ἤδηδὲκαὶτῶνπαρθένοιςπρεπόντωνκαταφρονοῦσα:
καὶγὰρἐλάλησενἄντι,
ἵναἉβροκόµηςἀκούσῃ, καὶµέρητοῦσώµατοςἐγύµνωσενἂντὰδυνατά, ἵναἉβροκόµηςἴδῃ:
ὁδὲαὑτὸνἐδεδώκειπρὸςτὴνθέανκαὶἦναἰχµάλωτοςτοῦθεοῦ.
3Καὶτότεµὲνθύσαντεςἀπηλλάττοντολυπούµενοικαὶτῷτάχειτῆςἀπαλλαγῆςµεµφόµενοι:
καὶἀλλήλουςβλέπεινἐθέλοντεςἐπιστρεφόµενοικαὶὑφιστάµενοιπολλὰςπροφάσειςδιατριβῆ
ςεὕρισκον.
4-Ὡςδὲἦλθονἑκάτεροςπαῤἑαυτόν,
ἔγνωσαντότεοἷκακῶνἐγεγόνεσαν:
καὶἔννοιαἐκείνουςὑπῄειτῆςὄψεωςθατέρουκαὶὁἔρωςἐναὐτοῖςἀνεκαίετοκαὶτὸπεριττὸντῆς
ἡµέραςαὐξήσαντεςτὴνἐπιθυµίαν,
ἐπειδὴεἰςὕπνονᾔεσαν,
ἐνἀθρόῳγίνονταιτῷδεινῷ,
καὶὁἔρωςἐνἑκατέροιςἦνἀκατάσχετος.
IV. 1-ΛαβὼνδὴτὴνκόµηνὁἉβροκόµηςκαὶσπαράξαςτὴνἐσθῆτα ‘φεῦµοιτῶνκακῶν’ εἶπε,
‘τίπέπονθαὁδυστυχής;
ὁµέχρινῦνἀνδρικὸςἉβροκόµης,
ὁκαταφρονῶνἜρωτος,
ὁτῷθεῷλοιδορούµενοςἑάλωκακαὶνενίκηµαικαὶπαρθένῳδουλεύεινἀναγκάζοµαι,
καὶφαίνεταίτιςἤδηκαλλίωνἐµοῦκαὶθεὸνἜρωτακαλῶ.
2Ὦπάνταἄνανδροςἐγὼκαὶπονηρός:
οὐκαρτερήσωνῦν;
οὐµενῶγεννικός;
οὐκἔσοµαικαλλίωνἜρωτος; νῦνοὐδὲνὄνταθεὸννικῆσαίµεδεῖ. 3-Καλὴπαρθένος: τίδέ;
τοῖςσοῖςὀφθαλµοῖς, Ἁβροκόµη, εὔµορφοςἌνθεια, ἀλλ̓, ἐὰνθέλῃς, οὐχὶσοί.
∆εδόχθωταῦτα: οὐκἂνἜρωςποτέµουκρατήσειε.’
4-Ταῦταἔλεγε,
καὶὁθεὸςσφοδρότεροςαὐτῷἐνέκειτοκαὶεἷλκενἀντιτείνοντακαὶὠδύναµὴθέλοντα.
Οὐκέτιδὴκαρτερῶν,
ῥίψαςἑαυτὸνεἰςγῆν
‘νενίκηκας’
εἶπεν,
‘Ἔρως,
µέγασοιτρόπαιονἐγήγερταικαθ̓Ἁβροκόµουτοῦσώφρονος:
ἱκέτηνἔχεις.
5Σὺδὲσῶσοντὸνἐπὶσὲκαταπεφευγότατὸνπάντωνδεσπότην.
Μήµεπεριίδῃςµηδὲἐπὶπολὺτιµωρήσῃτὸνθρασύν.
Ἄπειροςὤν,
Ἔρως,
ἔτιτῶνσῶνὑπερηφάνουν:
ἀλλὰνῦνἌνθειανἡµῖνἀπόδος:
γενοῦµὴπικρὸςµόνονἀντιλέγοντι, ἀλλ̓εὐεργέτηςἡττωµένῳθεός.’
Ταῦταἔλεγεν,
ὁδὲἜρωςἔτιὠργίζετοκαὶµεγάληντῆςὑπεροψίαςἐνενόειτιµωρίανεἰσπράξασθαιτὸνἉβροκ
όµην.
6-∆ιέκειτοδὲκαὶἡἌνθειαπονήρως:
καὶοὐκέτιφέρεινδυναµένηἐπεγείρειἑαυτήν,
πειρωµένητοὺςπαρόνταςλανθάνειν.
‘Τί’
φησὶν
‘ἡδυστυχὴςπέπονθα;
παρθένοςπαῤἡλικίανἐρῶκαὶὀδυνῶµαικαινὰκαὶκόρῃµὴπρέποντα.
Ἐφ̓Ἁβροκόµῃµαίνοµαικαλῷµέν, ἀλλ̓ὑπερηφάνῳ.
7-Καὶτίςἔσταιὁτῆςἐπιθυµίαςὅροςκαὶτίτὸπέραςτοῦκακοῦ;
Σοβαρὸςοὗτοςἐρώµενος,
παρθένοςἐγὼφρουρουµένη:
τίναβοηθὸνλήψοµαι;
τίνιτἀµὰκοινώσοµαι; ποῦδ̓Ἁβροκόµηνὄψοµαι;’
1-Ταῦθ̓ἑκάτεροςαὐτῶνδἰὅληςτῆςνυκτὸςὠδύρετο,
εἶχονδὲπρὸὀφθαλµῶντὰςὄψειςτὰςἑαυτῶν,
τὰςεἰκόναςἐπὶτῆςψυχῆςἀλλήλωνἀναπλάττοντες:
ὡςδὲἡµέραἐγένετο,
ᾔειµὲνἉβροκόµηςἐπὶτὰσυνήθηγυµνάσµατα,
ᾔειδὲἡπαρθένοςἐπὶτὴνἐξἔθουςθρησκείαντῆςθεοῦ.
2Ἦνδὲαὐτοῖςκαὶτὰσώµαταἐκτῆςπαρελθούσηςνυκτὸςπεπονηκότακαὶτὸβλέµµαἄθυµονκαὶ
οἱχρῶτεςἠλλαγµένοι:
καὶτοῦτοἐπὶπολὺἐγίνετοκαὶπλέονοὐδὲναὐτοῖςἦν.
3Ἐντούτῳἐντῷἱερῷτῆςθεοῦδιηµερεύοντεςἐνεώρωνἀλλήλοις,
εἰπεῖντἀληθὲςφόβῳπρὸςἑκατέρουςαἰδούµενοι:
τοσοῦτοδέ:
ἐστέναξενἄνποτεἉβροκόµηςκαὶἐδάκρυσεκαὶπροσεύχετοτῆςκόρηςἀκουούσηςἐλεεινῶς:
4-ἡδὲἌνθειαἔπασχεµὲντὰαὐτά,
πολὺδὲµείζονιτῇσυµφορᾷκατείχετο:
V.
191
εἰδέποτεἄλλαςπαρθένουςἢγυναῖκαςἴδοιβλεπούσαςεἰςἐκεῖνον῾ἑώρωνδὲἅπασαιεἰςἉβροκό
µην̓,
δήληἦνλυπουµένη,
µὴπαρευδοκιµηθῇφοβουµένη.
Εὐχαὶδὲαὐτοῖςἑκατέροιςἦσανπρὸςτὴνθεὸνκοινῇ, λανθάνουσαιµέν, ἀλλ̓ἐγίνοντοὅµοιαι.
5-Χρόνουδὲπροϊόντοςοὐκέτιτὸµειράκιονἐκαρτέρει,
ἤδηδὲαὐτῷκαὶτὸσῶµαπᾶνἠφάνιστοκαὶἡψυχὴκατεπεπτώκει,
ὥστεἐνπολλῇἀθυµίᾳτὸνΛυκοµήδηνκαὶτὴνΘεµιστὼγεγονέναι,
οὐκεἰδόταςµὲνὅτιεἴητὸσυµβαῖνονἉβροκόµῃ,
δεδοικόταςδὲἐκτῶνὁρωµένων.
6ἘνὁµοίῳδὲφόβῳκαὶὁΜεγαµήδηςκαὶἡΕὐίππηπερὶτῆςἈνθείαςκαθειστήκεσαν,
ὁρῶντεςαὐτῆςτὸµὲνκάλλοςµαραινόµενον,
τὴνδὲαἰτίανοὐφαινοµένηντῆςσυµφορᾶς.
Τέλοςδ̓εἰσάγουσιπαρὰτὴνἌνθειανµάντειςκαὶἱερέας, ὡςεὑρήσονταςλύσιντοῦδεινοῦ. 7Οἱδὲἐλθόντεςἔθυόντεἱερεῖακαὶποικίλαἐπέσπενδονκαὶἐπέλεγονφωνὰςβαρβαρικάς,
ἐξιλάσκεσθαίτιναςλέγοντεςδαίµονας,
καὶπροσεποιοῦντοὡςεἴητὸδεινὸνἐκτῶνὑποχθονίωνθεῶν.
8ΠολλὰδὲκαὶὑπὲρἉβροκόµουοἱπερὶτὸνΛυκοµήδηνἔθυόντεκαὶεὔχοντο:
λύσιςδὲοὐδεµίατοῦδεινοῦοὐδὲἑτέρῳαὐτῶνἐγίνετο, ἀλλὰκαὶἔτιµᾶλλονὁἔρωςἀνεκάετο.
9-Ἔκειντοµὲνδὴἑκάτεροινοσοῦντες,
πάνυἐπισφαλῶςδιακείµενοι,
ὅσονοὐδέπωτεθνήξεσθαιπροσδοκώµενοι,
κατειπεῖναὑτῶντὴνσυµφορὰνµὴδυνάµενοι.
Τέλοςδὲπέµπουσινοἱπατέρεςἑκατέρωνεἰςθεοῦµαντευσόµενοιτήντεαἰτίαντῆςνόσουκαὶτὴ
νἀπαλλαγήν.
1-ὈλίγονδὲἀπέχειτὸἱερὸντοῦἐνΚολοφῶνιἈπόλλωνος:
διάπλουςἀπ̓Ἐφέσουσταδίωνὀγδοήκοντα.
Ἐνταῦθαοἱπαῤἑκατέρωνἀφικόµενοιδέονταιτοῦθεοῦἀληθῆµαντεύεσθαι:
ἐληλύθεσανδὴκατὰταὐτά.
2-Χρᾷδὲὁθεὸςκοινὰἀµφοτέροιςτὰµαντεύµαταἐµµέτρως.
Τὰδ̓ἔπητάδε:
VI.
Τίπτεποθεῖτεµαθεῖννούσουτέλοςἠδὲκαὶἀρχήν;
Ἀµφοτέρουςµίανοῦσοςἔχει, λύσιςἔνθενἀνέστη.
∆εινὰδ̓ὁρῶτοῖσδεσσιπάθηκαὶἀνήνυταἔργα:
ἀµφότεροιφεύξονταιὑπεὶρἅλαλυσσοδίωκτοι,
δεσµὰδὲµοχθήσουσιπαῤἀνδράσιµιξοθαλάσσοις
καὶτάφοςἀµφοτέροιςθάλαµοςκαὶπῦρἀΐδηλον,
καὶποταµοῦΝείλουπαρὰῥεύµασινἼσιδισεµνῇ
σωτείρῃµετόπισθεπαραστῇςὄλβιαδῶρα.
Ἀλλ̓ἔτιπουµετὰπήµατ̓ἀρείοναπότµονἔχουσι.
VII.
1-ΤαῦταὡςἐκοµίσθητὰµαντεύµαταεἰςἜφεσον,
εὐθὺςµὲνοἱπατέρεςαὐτῶνἦσανἐνἀµηχανίᾳκαὶτὸδεινὸνὅτιἦνπάνυἠπόρουν:
συµβάλλεινδὲτὰτοῦθεοῦλόγιαοὐκἐδύναντο:
οὔτεγὰρτίςἡνόσοςοὔτετίςἡφυγή,
οὔτετίνατὰδεσµὰοὔτεὁτάφοςτίςοὔτεὁποταµὸςτίςοὔτετίςἡἐκτοῦθεοῦβοήθεια.
2Ἔδοξενοὖναὐτοῖςπολλὰβουλευσαµένοιςπαραµυθήσασθαιτὸνχρησµὸνὡςοἷόντεκαὶσυζεῦ
ξαιγάµῳτοὺςπαῖδας,
ὡςτοῦτοκαὶτοῦθεοῦβουλοµένουδἰὧνἐµαντεύσατο.
Ἐδόκειδὴταῦτακαὶδιέγνωσανµετὰτὸνγάµονἐκπέµψαιχρόνῳτινὶἀποδηµήσονταςαὐτούς.
3-Μεστὴµὲνἤδηἡπόλιςἦντῶνεὐωχουµένων,
πάνταδ̓ἦνἐστεφανωµένακαὶδιαβόητοςὁµέλλωνγάµος:
ἐµακαρίζετοδὲὑπὸπάντωνὁµὲνοἷανἄξεταιγυναῖκα, ἡδὲοἵῳµειρακίῳσυγκατακλιθήσεται.
4-ὉδὲἉβροκόµηςὡςἐπύθετοκαὶτὸνχρησµὸνκαὶτὸνγάµον,
ἐπὶµὲντῷτὴνἌνθειανἕξεινµεγάλωςἔχαιρεν:
ἐφόβειδὲαὐτὸνοὐδὲντὰµεµαντευµένα,
ἀλλ̓ἐδόκειπαντὸςεἶναιδεινοῦτὰπαρόνταἡδίονα.
ΚατὰταυτὰδὲκαὶἡἌνθειαἥδετοµὲνὅτιἉβροκόµηνἕξει:
192
τίςδὲἡφυγὴκαὶτίνεςαἱσυµφοραὶκατεφρόνει,
πάντωντῶνἐσοµένωνκακῶνἉβροκόµηνἔχουσαπαραµυθίαν.
VIII.
1-Ὡςοὖνἐφέστηκενὁτῶνγάµωνκαιρός,
καὶπαννυχίδεςἤγοντοκαὶἱερεῖαπολλὰἐθύετοτῇθεῷ.
Καὶἐπειδὴταῦταἐξετετέλεστο,
ἡκούσηςτῆςνυκτὸς῾βραδύνεινδὲπάνταἐδόκειἉβροκόµῃκαὶἈνθείᾀἦγοντὴνκόρηνεἰςτὸνθ
άλαµονµετὰλαµπάδων,
τὸνὑµέναιονᾄδοντες,
ἐπευφηµοῦντες,
καὶεἰσαγαγόντεςκατέκλιναν.
2-Ἦνδ̓αὐτοῖςὁθάλαµοςοὕτωςπεποιηµένος:
κλίνηχρυσῆστρώµασινἔστρωτοπορφυροῖςκαὶἐπὶτῆςκλίνηςΒαβυλωνίαἐπεποίκιλτοσκηνή:
παίζοντεςἜρωτες,
οἱµὲνἈφροδίτηνθεραπεύοντες῾ἦνδὲκαὶἈφροδίτηςεἰκών̓,
οἱδὲἱππεύοντεςἀναβάταιστρουθοῖς, οἱδὲστεφάνουςπλέκοντες, οἱδὲἄνθηφέροντες: 3ταῦταἐντῷἑτέρῳµέρειτῆςσκηνῆς:
ἐνδὲτῷἑτέρῳἌρηςἦνοὐχὡπλισµένος,
ἀλλ̓ὡςπρὸςἐρωµένηντὴνἈφροδίτηνκεκοσµηµένος,
ἐστεφανωµένος,
χλανίδαἔχων:
Ἔρωςαὐτὸνὡδήγει, λαµπάδαἔχωνἡµµένην. Ὑπ̓αὐτῇτῇσκηνῇκατέκλιναντὴνἌνθειαν,
ἀγαγόντεςπρὸςτὸνἉβροκόµην, ἐπέκλεισάντετὰςθύρας.
IX.
1-Τοῖςδὲἑκατέροιςπάθοςσυνέβηταὐτόν,
καὶοὔτεπροσειπεῖνἔτιἀλλήλουςἠδύναντοοὔτεἀντιβλέψαιτοῖςὀφθαλµοῖς,
ἔκειντοδὲὑφ̓ἡδονῆςπαρειµένοι,
αἰδούµενοι,
φοβούµενοι,
πνευστιῶντες:
ἐπάλλετοδὲαὐτοῖςτὰσώµατακαὶἐκραδαίνοντοαὐτοῖςαἱψυχαί.
2ὈψὲδὲὁἉβροκόµηςἀνενεγκὼνπεριέλαβετὴνἌνθειαν:
ἡδὲἐδάκρυετῆςψυχῆςαὐτῆςσύµβολαπροπεµπούσηςτῆςἐπιθυµίαςτὰδάκρυα.
ΚαὶὁἉβροκόµης
‘ὢτῆςἐµοὶ’
φησὶ
‘ποθεινοτάτηςνυκτός,
ἣνµόλιςἀπείληφα,
πολλὰςπρότεροννύκταςδυστυχήσας.
3Ὢφωτὸςἡδίωνἐµοὶκόρηκαὶτῶνπώποτελαλουµένωνεὐτυχεστέρα: τὸνἐραστὴνἔχειςἄνδρα,
µεθ̓οὗζῆνκαὶἀποθανεῖνὑπάρξειγυναικὶσώφρονι.’
Εἰπὼνκατεφίλειτεκαὶὑπεδέχετοτὰδάκρυα,
καὶαὐτῷἐδόκειπαντὸςµὲνεἶναινέκταροςποτιµώτερατὰδάκρυα,
παντὸςδὲτοῦπρὸςὀδύνηνφαρµάκουδυνατώτερα.
4-Ἡδὲὀλίγααὐτὸνπροσφθεγξαµένη
‘ναὶ’ φησὶν ‘Ἁβροκόµη, δοκῶσοικαλή, καὶµετὰτὴνσὴνεὐµορφίανἀρέσκωσοι;
Ἄνανδρεκαὶδειλέ,
πόσονἐβράδυναςἐρῶνχρόνον;
πόσονἠµέλησας;
ἀπὸτῶνἐµαυτῆςκακῶνἃπέπονθαςοἶδα.
5-Ἀλλ̓ἰδού,
δάκρυαµὲνὑποδέχουτἀµά,
καὶἡκαλήσουκόµηπινέτωπῶµατὸἐρωτικόν,
καὶσυµφύντεςἀλλήλοιςἀναµιγῶµεν,
καταβρέχωµενδὲκαὶτοὺςστεφάνουςτοῖςπαῤἀλλήλωνδάκρυσιν,
ἵν̓ἡµῖνκαὶοὗτοισυνερῶσιν.’
6-Εἰποῦσαἅπανµὲναὐτοῦτὸπρόσωπονἠσπάζετο,
ἅπασανδὲτὴνκόµηντοῖςαὑτῆςὀφθαλµοῖςπροσετίθεικαὶτοὺςστεφάνουςἀνελάµβανεκαὶτὰχ
είλητοῖςχείλεσιφιλοῦσασυνηρµόκει,
καὶὅσαἐνενόουν,
διὰτῶνχειλέωνἐκψυχῆςεἰςτὴνθατέρουψυχὴνδιὰτοῦφιλήµατοςπαρεπέµπετο.
7Φιλοῦσαδὲαὐτοῦτοὺςὀφθαλµοὺς
‘ὦ’
φησὶ
‘πολλάκιςµελυπήσαντεςὑµεῖς,
ὦτὸπρῶτονἐνθέντεςτῇἐµῇκέντρονψυχῇ,
οἱτότεµὲνσοβαροί,
νῦνδὲἐρωτικοί,
καλῶςµοιδιηκονήσατε, καὶτὸνἔρωτατὸνἐµὸνκαλῶςεἰςτὴνἉβροκόµουψυχὴνὡδηγήσατε.
8-Τοιγαροῦνὑµᾶςπολλὰφιλῶκαὶὑµῖνἐφαρµόζωτοὺςὀφθαλµοὺςτοὺςἐµούς,
τοὺςἉβροκόµουδιακόνους:
ὑµεῖςδὲἀεὶβλέποιτεταῦτα,
καὶµήτεἉβροκόµῃἄλληνδείξητεκαλήν, µήτεἐµοὶδόξῃτιςἄλλοςεὔµορφος: ἔχετεψυχάς,
ἃςαὐτοὶἐξεκαύσατε: ταύταςὁµοίωςτηρήσατε.’
9-Ταῦταεἶπε,
καὶπεριφύντεςἀνεπαύοντοκαὶτὰπρῶτατῶνἈφροδίτηςἀπέλαυον:
ἐφιλονείκουνδὲδἰὅληςτῆςνυκτὸςπρὸςἀλλήλους, φιλοτιµούµενοιτίςφανεῖταιµᾶλλονἐρῶν.
ἀνίσταντοπολὺµὲνἡδίονες,
1-Ἐπειδὴδὲἡµέραἐγένετο,
ἀπολαύσαντεςὧνἐπεθύµησανχρόνῳκαλῶς.
X.
πολὺδὲεὐθυµότεροι,
2-
193
Ἑορτὴδὲἦνἅπαςὁβίοςαὐτοῖςκαὶµεστὰεὐωχίαςπάντακαὶἤδηκαὶτῶνµεµαντευµένωνλήθη:
ἀλλ̓οὐχὶτὸεἱµαρµένονἐπελέληστο, οὐδ̓ὅτῳἐδόκειταῦταθεῷἠµέλει.
3Χρόνουδὲδιελθόντοςὀλίγουἔγνωσανοἱπατέρεςἐκπέµπειναὐτοὺςτῆςπόλεωςκατὰτὰβεβου
λευµένα:
ἤµελλόντεγὰρἄλληνὄψεσθαιγῆνκαὶἄλλαςπόλειςκαὶτὸντοῦθεοῦχρησµόν,
ὡςοἷόντεἦν,
παραµυθήσεσθαιἀπαλλαγέντεςχρόνῳτινὶἘφέσου.
4Παρεσκευάζετοδὴπάντααὐτοῖςπρὸςτὴνἔξοδον,
ναῦςτεµεγάληκαὶναῦταιπρὸςἀναγωγὴνἕτοιµοι,
καὶτὰἐπιτήδειαἐνεβάλλετο,
πολλὴµὲνἐσθὴςκαὶποικίλη,
πολὺςδὲἄργυροςκαὶχρυσός,
ἥτετῶνσιτίωνὑπερβάλλουσαἀφθονία.
5ΘυσίαιδὲπρὸτῆςἀναγωγῆςτῇἈρτέµιδικαὶεὐχαὶτοῦδήµουπαντὸςκαὶδάκρυαπάντων,
ὡςµελλόντωνἀπαλλάττεσθαιπαίδωνκοινῶν.
Ἦνδὲὁπλοῦςαὐτοῖςἐπ̓Αἴγυπτονπαρεσκευασµένος.
6-῾Ωςδ̓ἦλθενἡτῆςἀναγωγῆςἡµέρα,
πολλοὶµὲνοἰκέται,
πολλαὶδὲθεράπαιναιµελλούσηςδὲτῆςνεὼςἐπανάξεσθαι,
πᾶνµὲντὸἘφεσίωνπλῆθοςπαρῆνπαραπέµπον,
πολλαὶδὲκαὶτῶν
...
µετὰλαµπάδωνκαὶθυσιῶν.
7-ἘντούτῳµὲνοὖνὁΛυκοµήδηςκαὶἡΘεµιστώ,
πάντωνἅµαἐνὑποµνήσειγενόµενοι,
τοῦχρησµοῦ,
τοῦπαιδός,
τῆςἀποδηµίας,
ἔκειντοεἰςγῆνἀθυµοῦντες:
ὁδὲΜεγαµήδηςκαὶἡΕὐίππηἐπεπόνθεσανµὲντὰαὐτά,
εὐθυµότεροιδὲἦσαν,
τὰτέλησκοποῦντεςτῶνµεµαντευµένων.
8Ἤδηµὲνοὖνἐθορύβουνοἱναῦται,
καὶἐλύετοτὰπρυµνήσια,
καὶὁκυβερνήτηςτὴναὑτοῦχώρανκατελάµβανε,
καὶἡναῦςἀπεκινεῖτο.
9Βοὴδὲτῶνἀπὸτῆςγῆςκαὶτῶνἐντῇνηὶπολλὴκαὶσυµµιγής, τῶνµὲν ‘ὦπαῖδες’ λεγόντων
‘φίλτατοι, ἆραἔτιὑµᾶςοἱφύντεςὀψόµεθα;’ τῶνδὲ ‘ὦπατέρες, ἆραὑµᾶςἀποληψόµεθα;’
∆άκρυαδὴκαὶοἰµωγή,
καὶἕκαστοςὀνοµαστὶτὸνοἰκεῖονἐκάλει,
εἰςὑπόµνησινἀλλήλοιςἐγκαταλείποντεςτοὔνοµα.
10ὉδὲΜεγαµήδηςφιάληνλαβὼνκαὶἐπισπένδωνεὔχετοὡςἐξάκουστονεἶναιτοῖςἐντῇνηὶ
‘ὦπαῖδες’
λέγων
‘µάλισταµὲνεὐτυχοῖτεκαὶφύγοιτετὰσκληρὰτῶνµαντευµάτων,
καὶὑµᾶςἀνασωθένταςὑποδέξαιντοἘφέσιοι,
καὶτὴνφιλτάτηνἀπολάβοιτεπατρίδα:
εἰδὲἄλλοτισυµβαίη,
τοῦτοµὲνἴστεοὐδὲἡµᾶςἔτιζησοµένους:
προΐεµενδὲὑµᾶςὁδὸνµὲνδυστυχῆἀλλ̓ἀναγκαίαν.’
XI.
1-Ἔτιλέγονταἐξιόνταἐπέσχετὰδάκρυα:
καὶοἱµὲνἀπῄεσανεἰςτὴνπόλιν,
τοῦπλήθουςαὐτοὺςθαρρεῖνπαρακαλοῦντος,
ὁδὲἉβροκόµηςκαὶἡἌνθειαἀλλήλοιςπεριφύντεςἔκειντοπολλὰἅµαἐννοοῦντες,
τοὺςπατέραςοἰκτείροντες,
τῆςπατρίδοςἐπιθυµοῦντες,
τὸνχρησµὸνδεδοικότες,
τὴνἀποδηµίανὑποπτεύοντες: παρεµυθεῖτοδ̓αὐτοὺςεἰςἅπανταὁµετ̓ἀλλήλωνπλοῦς. 2Κἀκείνηνµὲντὴνἡµέρανοὐρίῳχρησάµενοιπνεύµατι,
διανύσαντεςτὸνπλοῦνεἰςΣάµονκατήντησαντὴντῆςἭραςἱερὰννῆσον:
κἀνταῦθαθύσαντεςκαὶδειπνοποιησάµενοι,
πολλὰεὐξάµενοιτῆςνυκτὸςἐπιγινοµένηςἐπανήγοντο.
3-Καὶἦνὁπλοῦςαὐτοῖςοὔριος:
λόγοιδὲἐναὐτοῖςπολλοὶπρὸςἀλλήλους
‘ἆραἡµῖνὑπάρξεισυγκαταβιῶναιµετ̓ἀλλήλων;’
ΚαὶδήποτεὁἉβροκόµηςµέγαἀναστενάξας, ἐνὑποµνήσειτῶνἑαυτοῦγενόµενος ‘Ἄνθεια’
ἔφησε, ‘τῆςψυχῆςµοιποθεινοτέρα, µάλισταµὲνεὐτυχεῖνεἴηκαὶσώζεσθαιµετ̓ἀλλήλων: 4ἂνδ̓ἄρατιᾖπεπρωµένονπαθεῖν,
καίπωςἀλλήλωνἀπαλλαγῶµεν,
ὀµόσωµενἑαυτοῖς,
φιλτάτη,
ὡςσὺµὲνἐµοὶµενεῖςἁγνὴκαὶἄλλονἄνδραοὐχὑποµενεῖς,
ἐγὼδὲὅτιοὐκἂνἄλλῃγυναικὶσυνοικήσαιµι.’
5-ἈκούουσαδὲἌνθειαµέγαἀνωλόλυξεκαὶ
‘τίτοῦτο’
ἔφησεν
‘Ἁβροκόµη,
πεπίστευκαςὅτιἐὰνἀπαλλαγῶσοῦ,
περὶἀνδρὸςἔτικαὶγάµουσκέψοµαι,
ἥτιςοὐδὲζήσοµαιτὴνἀρχὴνἄνευσοῦ;
Ὡςὀµνύωγέσοιτὴνπάτριονἡµῖνθεόν,
τὴνµεγάληνἘφεσίωνἌρτεµιν,
καὶταύτηνἣνδιανύοµενθάλαττανκαὶτὸνἐπ̓ἀλλήλουςἡµᾶςκαλῶςἐκµήνανταθεόν,
194
ὡςἐγὼκαὶβραχύτιἀποσπασθεῖσασοῦοὔτεζήσοµαιοὔτετὸνἥλιονὄψοµαι.’
6ΤαῦταἔλεγενἡἌνθεια:
ἐπώµνυεδὲκαὶὁἉβροκόµης,
καὶὁκαιρὸςαὐτῶνἐποίειτοὺςὅρκουςφοβερωτέρους.
ἘντούτῳδὲἡναῦςΚῶµὲνπαραµείβεικαὶΚνίδον,
κατεφαίνετοδ̓ἡῬοδίωννῆσοςµεγάληκαὶκαλή: καὶαὐτοὺςἐνταῦθαἔδεικαταχθῆναιπάντως:
δεῖνγὰρἔφασκονοἱναῦταικαὶὑδρεύσασθαικαὶαὐτοὺςἀναπαύσασθαι,
µέλλονταςεἰςµακρὸνἐµπεσεῖσθαιπλοῦν.
1-ΚατήγετοδὴἡναῦςεἰςῬόδονκαὶἐξέβαινονοἱναῦται,
ἐξῄειδὲὁἉβροκόµηςἔχωνµετὰχεῖρατὴνἌνθειαν:
συνῄεσανδὲπάντεςοἱῬόδιοι,
τὸκάλλοςτῶνπαίδωνκαταπεπληγότες,
καὶοὐκἔστινὅστιςτῶνἰδόντωνπαρῆλθεσιωπῶν:
ἀλλ̓οἱµὲνἔλεγονἐπιδηµίανθεῶν,
οἱδὲπροσεκύνουνκαὶπροσεποιοῦντο.
ΤαχὺδὲδἰὅληςτῆςπόλεωςδιεπεφοιτήκειτοὔνοµαἉβροκόµουκαὶἈνθείας.
2Ἐπεύχονταιδὲαὐτοῖςδηµοσίᾳκαὶθυσίαςτεθύουσιπολλὰςκαὶἑορτὴνἄγουσιτὴνἐπιδηµίαναὐ
τῶν.
ΟἱδὲτήντεπόλινἅπασανἐξιστόρησανκαὶἀνέθεσανεἰςτὸτοῦἩλίουἱερὸνπανοπλίανχρυσῆνκ
αὶἐπέγραψανἐπίγραµµαεἰςὑπόµνηµατῶνἀναθέντων
XII.
Οἱξεῖνοιτάδεσοιχρυσήλατατεύχἐἔθηκαν,
ἈνθίαἉβροκόµηςθ̓, ἱερῆςἘφέσοιοπολῖται.
3-Ταῦταἀναθέντες,
ὀλίγαςἡµέραςἐντῇνήσῳµείναντες,
ἐπειγόντωντῶνναυτῶνἀνήγοντοἐπισιτισάµενοι:
παρέπεµπεδὲαὐτοὺςἅπαντὸῬοδίωνπλῆθος.
Καὶτὰµὲνπρῶταἐφέροντοοὐρίῳπνεύµατι,
καὶἦναὐτοῖςὁπλοῦςἀσµένοις,
κἀκείνηντετὴνἡµέρανκαὶτὴνἐπιοῦσαννύκταἐφέροντοἀναµετροῦντεςτὴνΑἰγυπτίανκαλου
µένηνθάλατταν:
τῇδὲδευτέρᾳἐπέπαυτοµὲνὁἄνεµος,
γαλήνηδὲἦνκαὶπλοῦςβραδὺςκαὶναυτῶνῥᾳθυµίακαὶπότοςκαὶµέθηκαὶἀρχὴτῶνµεµαντευµέ
νων.
4-ΤῷδὲἉβροκόµῃἐντούτῳἐφίσταταιγυνὴὀφθῆναιφοβερά,
τὸµέγεθοςὑπὲρἄνθρωπον,
ἐσθῆταἔχουσαφοινικῆν:
ἐπιστᾶσαδὲτὴνναῦνἐδόκεικάεινκαὶτοὺςµὲνἄλλουςἀπόλλυσθαι,
αὐτὸνδὲµετὰτῆςἈνθείαςδιανήχεσθαι.
Ταῦταὡςεὐθὺςεἶδενἐταράχθηκαὶπροσεδόκατιδεινὸνἐκτοῦὀνείρατος:
καὶτὸδεινὸνἐγίνετο.
XIII.
1-ἜτυχονµὲνἐνῬόδῳπειραταὶπαρορµοῦντεςαὐτοῖς,
Φοίνικεςτὸγένος,
ἐντριήρειµεγάλῃ:
παρώρµουνδὲὡςφορτίονἔχοντεςκαὶπολλοὶκαὶγεννικοί.
Οὗτοικατεµεµαθήκεσαντῇνηὶὅτιχρυσὸςκαὶἄργυροςκαὶἀνδράποδαπολλὰκαὶτίµια.
2∆ιέγνωσανοὖνἐπιθέµενοιτοὺςµὲνἀντιµαχοµένουςἀποκτιννύειν,
τοὺςδὲἄλλουςἄγεινεἰςΦοινίκηνπραθησοµένουςκαὶτὰχρήµατα:
κατεφρόνουνδὲὡςοὐκἀξιοµάχωναὐτῶν. 3-ΤῶνδὲπειρατῶνὁἔξαρχοςΚόρυµβοςἐκαλεῖτο,
νεανίαςὀφθῆναιµέγας,
φοβερὸςτὸβλέµµα:
κόµηἦναὐτῷαὐχµηρὰκαθειµένη.
4Ὡςδὲταῦταοἱπειραταὶἐβουλεύσαντο, τὰµὲνπρῶταπαρέπλεονἡσυχῆτοῖςπερὶἉβροκόµην:
τελευταῖονδὲ῾ἦνµὲνπερὶµέσονἡµέρας,
ἔκειντοδὲπάντεςοἱἐντῇνηὶὑπὸµέθηςκαὶῥᾳθυµίαςοἱµὲνκαθεύδοντες,
οἱδὲἀλύοντες᾿ἐφίστανταιδὲαὐτοῖςοἱπερὶτὸνΚόρυµβονἐλαυνοµένῃτῇνηὶσὺνὀξύτητιπολλ
ῇ. 5-Ὡςδὲπλησίονἐγένοντο, ἀνεπήδησανἐπὶτὴνναῦνὡπλισµένοι, τὰξίφηγυµνὰἔχοντες:
κἀνταῦθαοἱµὲνἐρρίπτουνἑαυτοὺςὑπ̓ἐκπλήξεωςεἰςτὴνθάλαττανκαὶἀπώλλυντο,
οἱδὲἀµύνεσθαιθέλοντεςἀπεσφάζοντο.
6ὉδὲἉβροκόµηςκαὶἡἌνθειαπροστρέχουσιτῷΚορύµβῳτῷπειρατῇ,
195
καὶλαβόµενοιτῶνγονάτωναὐτοῦ
‘τὰµὲνχρήµατα’
ἔφασαν,
‘ὦδέσποτα,
καὶἡµᾶςοἰκέταςἔχε,
φεῖσαιδὲτῆςψυχῆςκαὶµηκέτιφόνευετοὺςἑκόνταςὑποχειρίουςσοιγενοµένους:
µὴπρὸςαὐτῆςθαλάσσης,
µὴπρὸςδεξιᾶςτῆςσῆς:
ἀγαγὼνδὲἡµᾶςὅποιθέλεις,
ἀπόδουτοὺςσοὺςοἰκέτας: µόνονοἴκτειρονἡµᾶςὑφ̓ἑνὶποιήσαςδεσπότῃ.’
XIV.
1-ἈκούσαςὁΚόρυµβοςεὐθὺςµὲνἐκέλευσεφείσασθαιφονεύοντας,
µεταθέµενοςδὲτὰτιµιώτερατῶνφορτίωνκαὶτὸνἉβροκόµηνκαὶτὴνἌνθειανἄλλουςτετινὰςτ
ῶνοἰκετῶνὀλίγουςἐνέπρησετὴνναῦν,
καὶοἱλοιποὶπάντεςκατεφλέχθησαν:
τὸγὰρπάνταςἄγεινοὔτεἐδύνατοοὔτεἀσφαλὲςἑώρα.
2-Ἦνδὲτὸθέαµαἐλεεινόν,
τῶνµὲνἐντῇτριήρειἀναγοµένωντῶνδὲἐντῇνηὶφλεγοµένωντὰςχεῖραςἐκτεινόντωνκαὶὀλοφ
υροµένων. 3-Καὶοἱµὲνἔλεγον ‘ποῖποτεἀχθήσεσθε, δεσπόται; τίςὑµᾶςὑποδέξεταιγῆ,
καὶτίναπόλινοἰκήσετε;’
οἱδὲ
‘ὦµακάριοι,
µέλλοντεςἀποθνήσκεινεὐτυχῶςπρὸτοῦπειραθῆναιδεσµῶν,
πρὸτοῦδουλείανλῃστρικὴνἰδεῖν.’ Ταῦταλέγοντεςοἱµὲνἀνήγοντο, οἱδὲκατεφλέγοντο. 4ἘντούτῳδὲὁτροφεὺςτοῦἉβροκόµουπρεσβύτηςἤδη, σεµνὸςἰδεῖνκαὶδιὰτὸγῆραςἐλεεινός,
οὐκἐνεγκὼνἀναγόµενοντὸνἉβροκόµην,
ῥίψαςἑαυτὸνεἰςτὴνθάλασσανἐνήχετοὡςκαταληψόµενοςτὴντριήρη ‘τίνιµεκαταλείπεις,
τέκνον’ λέγων, ‘τὸνγέροντα, τὸνπαιδαγωγόν; 5-ποῖδὲἀπερχόµενος, Ἁβροκόµη;
αὐτὸςἀπόκτεινόνµετὸνδυστυχῆκαὶθάψον:
τίγάρἐστίµοιζῆνἄνευσοῦ;’
ΤαῦταἔλεγεκαὶτέλοςἀπελπίσαςἔτιἉβροκόµηνὄψεσθαι,
παραδοὺςἑαυτὸντοῖςκύµασινἀπέθανε.
6-ΤοῦτοδὲἉβροκόµῃπάντωνἦνἐλεεινότατον:
καὶγὰρτὰςχεῖραςἐξέτεινετῷπρεσβύτῃκαὶτοὺςπειρατὰςἀναλαµβάνεινπαρεκάλει:
οἱδὲοὐδέναλόγονποιησάµενοι,
διανύσαντεςἡµέραιςτρισὶτὸνπλοῦνκατήχθησανεἰςπόλιντῆςΦοινίκηςΤύρον,
ἔνθαἦντοῖςπειραταῖςτὰοἰκεῖα.
7-Ἦγονδὲαὐτοὺςεἰςαὐτὴνµὲντὴνπόλινοὐχί,
εἰςπλησίονδέτιχωρίονἀνδρὸςἄρχοντοςλῃστηρίου,
Ἀψύρτουτοὔνοµα,
οὗκαὶὁΚόρυµβοςἦνὑπηρέτηςἐπὶµισθῷκαὶµέρειτῶνλαµβανοµένων.
Ἐνδὲτῷτοῦπλοὸςδιαστήµατιἐκπολλῆςτῆςκαθ̓ἡµέρανὄψεωςἐρᾷὁΚόρυµβοςτοῦἉβροκόµο
υσφοδρὸνἔρωτα, καὶαὐτὸνἡπρὸςτὸµειράκιονσυνήθειαἐπὶπλέονἐξέκαε.
XV.
1-Καὶἐνµὲντῷπλῷοὔτεπεῖσαιδυνατὸνἐδόκειεἶναι:
ἑώραγὰρὡςδιάκειταιµὲνὑπ̓ἀθυµίαςπονήρως,
ἑώραδὲκαὶτῆςἈνθείαςἐρῶντα:
ἀλλὰκαὶτὸβιάζεσθαιχαλεπὸνεἶναιαὐτῷκατεφαίνετο:
ἐδεδοίκειγὰρµήτιἑαυτὸνἐργάσηταιδεινόν:
2-ἐπεὶδὲκατήχθησανεἰςΤύρον,
οὐκέτικαρτερῶντὰµὲνπρῶταἐθεράπευετὸνἉβροκόµηνκαὶθαρρεῖνπαρεκάλεικαὶπᾶσανἐπι
µέλειανπροσέφερεν:
3ὁδὲἐλεοῦντατὸνΚόρυµβονἐνόµιζεναὐτοῦποιεῖσθαιτὴνἐπιµέλειαν:
τὸδεύτερονδὲἀνακοινοῦταιὁΚόρυµβοςτὸνἔρωτατῶνσυλλῃστῶντινι, Εὐξείνῳτοὔνοµα,
καὶδεῖταιβοηθὸνγενέσθαικαὶσυµβουλεῦσαιτίνιτρόπῳδυνήσεταιπεῖσαιτὸµειράκιον.
4ὉδὲΕὔξεινοςἄσµενοςἀκούειτὰπερὶτοῦΚορύµβου:
καὶγὰραὐτὸςἐπ̓Ἀνθείᾳδιέκειτοπονήρωςκαὶἤρατῆςκόρηςσφοδρὸνἔρωτα:
λέγειδὲπρὸςτὸνΚόρυµβονκαὶτὰαὑτοῦκαὶσυνεβούλευσεµὴἐπὶπλέονἐπανιᾶσθαι,
ἀλλ̓ἔργουἔχεσθαι:
5-‘καὶγὰρ’
ἔφη
‘σφόδραἀγεννὲςκινδυνεύονταςκαὶπαραβαλλοµένουςµὴἀπολαύεινµετὰἀδείαςὧνἐκτησάµ
εθαπόνων: δυνησόµεθαδὲαὐτοὺς’ ἔλεγεν ‘ἐξαιρέτουςπαρὰἈψύρτουλαβεῖνδωρεάν.’ 6Ταῦταεἰπὼνῥᾳδίωςἔπεισεναὐτὸνἐρῶντα.
ΚαὶδὴσυντίθενταικατὰταὐτὰτοὺςὑπὲρἀλλήλωνποιήσασθαιλόγουςκαὶπείθεινοὗτοςµὲνἉβ
ροκόµην, ΚόρυµβοςδὲἌνθειαν.
196
πολλὰπροσδοκῶντες,
ἀλλήλοιςδιαλεγόµενοι,
συνεχὲςὀµνύοντεςτηρήσειντὰσυγκείµενα.
2ἜρχονταιδὴπρὸςαὐτοὺςὁΚόρυµβοςκαὶὁΕὔξεινοςκαὶφράσαντεςἰδίᾳτιθέλεινεἰπεῖν,
ἀπάγουσικαθ̓αὑτοὺςὁµὲντὴνἌνθειαν,
ὁδὲτὸνἉβροκόµην.
Τοῖςδὲαἵτεψυχαὶἐκραδαίνοντοκαὶοὐδὲνὑγιὲςὑπενόουν.
XVI.
1-Ἐντούτῳτῷχρόνῳἔκειντοἄθυµοι,
3-ΛέγειοὖνὁΕὔξεινοςπρὸςτὸνἉβροκόµηνὑπὲρΚορύµβου
‘µειράκιον,
οἰκέτηνµὲνἐξἐλευθέρουγενόµενον,
εἰκὸςµένσεἐπὶτῇσυµφορᾷφέρεινχαλεπῶς,
πένηταδὲἀντ̓εὐδαίµονος:
δεῖδέσετῇτύχῃπάνταλογίσασθαικαὶστέργειντὸνκατέχονταδαίµονακαὶτοὺςγενοµένουςδε
σπόταςἀγαπᾶν.
4-Ἴσθιγὰρὡςἔνεστίσοικαὶεὐδαιµοσύνηνκαὶἐλευθερίανἀπολαβεῖν,
εἰθελήσειςπείθεσθαιτῷδεσπότῃΚορύµβῳ:
ἐρᾷγὰρσοῦσφοδρὸνἔρωτακαὶπάντωνἕτοιµόςἐστιδεσπότηνποιεῖντῶνἑαυτοῦ.
Πείσῃδὲχαλεπὸνµὲνοὐδέν,
εὐνούστερονδὲσεαυτῷτὸνδεσπότηνἐργάσῃ.
5Ἐννόησονδὲἐνοἷςὑπάρχεις:
βοηθὸςµὲνοὐδείς,
γῆδὲαὕτηξένηκαὶδεσπόταιλῃσταὶκαὶοὐδεµίατιµωρίαςἀποφυγὴὑπερηφανήσαντιΚόρυµβο
ν. Τίδέσοιγυναικὸςδεῖνῦνκαὶπραγµάτων; τίδὲἐρωµένηςτηλικῷδεὄντι; πάνταἀπόρριψον,
πρὸςµόνονδεῖσετὸνδεσπότηνβλέπειν,
τούτῳκελεύσαντιὑπακούειν.’
6ἈκούσαςὁἉβροκόµηςεὐθὺςµὲνἀχανὴςἦνκαὶοὔτετιἀποκρίνεσθαιεὕρισκεν,
ἐδάκρυεδὲκαὶἀνέστενεπρὸςαὑτὸνἀφορῶν,
εἰςοἷαἄραἐλήλυθε:
καὶδὴλέγειπρὸςτὸνΕὔξενον
‘ἐπίτρεψον,
δέσποτα,
βουλεύσασθαιβραχύ,
καὶπρὸςπάνταἀποκρινοῦµαίσοιτὰῥηθέντα.’
7-ΚαὶὁµὲνΕὔξεινοςἀνεχώρει:
ὁδὲΚόρυµβοςτῇἈνθείᾳδιείλεκτοτὸνἔρωτατὸνΕὐξείνουκαὶτὴνπαροῦσανἀνάγκηνκαὶὅτιδ
εῖπάντωςαὐτὴνπείθεσθαιτοῖςδεσπόταις:
ὑπέσχετοδὲπολλάκαὶγάµοννόµιµονκαὶχρήµαταπεισθείσῃκαὶπεριουσίαν.
Ἡδὲαὐτῷτὰὅµοιαἀπεκρίνατο,
αἰτησαµένηβραχὺνβουλεύσασθαιχρόνον.ΚαὶὁµὲνΕὔξεινοςκαὶὁΚόρυµβοςµετ̓ἀλλήλωνἦσ
ανπεριµένοντεςὅτιἀκούσονται, ἤλπιζονδ̓αὐτοὺςῥᾳδίωςπείσειν:
197
Livro II
I.1-ΚαὶὁµὲνΕὔξεινοςκαὶὁΚόρυµβοςµετ̓ἀλλήλωνἦσανπεριµένοντεςὅτιἀκούσονται,
ἤλπιζονδ̓αὐτοὺςῥᾳδίωςπείσειν:
ὁδὲἉβροκόµηςκαὶἡἌνθειαἧκονεἰςτὸδωµάτιονἔνθασυνήθωςδιῃτῶντο,
καὶπρὸςἀλλήλουςεἰπόντεςἅπερἠκηκόεσαν, καταβαλόντεςἑαυτοὺςἔκλαον, ὠδύροντο.
2-Ὦπάτερ’
ἔλεγον,
‘ὦµῆτερ,
ὦπατρὶςφιλτάτηκαὶοἰκεῖοικαὶσυγγενεῖς.’
ΤελευταῖονδὲἀνενεγκὼνὁἉβροκόµης
‘ὦκακοδαίµονες’
ἔφησεν
‘ἡµεῖς,
τίἄραπεισόµεθαἐνγῇβαρβάρῳ,
πειρατῶνὕβρειπαραδοθέντες;
Ἄρχεταιτὰµεµαντευµένα:
τιµωρίανἤδηµεὁθεὸςτῆςὑπερηφανίαςεἰσπράττει:
ἐρᾷΚόρυµβοςἐµοῦ, σοῦδὲΕὔξεινος. 3-Ὢτῆςἀκαίρουπρὸςἑκατέρουςεὐµορφίας.
εἰςτοῦτοἄραµέχρινῦνσώφρωνἐτηρήθην,
ἵναἐµαυτὸνὑποθῶλῃστῇἐρῶντιτὴναἰσχρὰνἐπιθυµίαν;
Καὶτίςἐµοὶβίοςπεριλείπεταιπόρνῃµὲνἀντὶἀνδρὸςγενοµένῳ,
ἀποστερηθέντιδὲἈνθείαςτῆςἐµῆς;
4Ἀλλ̓οὐµὰτὴνµέχριςἄρτισωφροσύνηνἐκπαιδόςµοισύντροφον,
οὐκἂνἐµαυτὸνὑποθείηνΚορύµβῳ:
τεθνήξοµαιδὲπρότερονκαὶφανοῦµαινεκρὸςσώφρων.’ 5-Ταῦταἔλεγεκαὶἐπεδάκρυεν:
ἡδὲἌνθεια
‘φεῦτῶνκακῶν’
εἶπεν,
‘ταχέωςτιτῶνὅρκωνἀναγκαζόµεθα,
ταχέωςτῆςδουλείαςπειρώµεθα:
ἐρᾷτιςἐµοῦκαὶπείσεινἤλπιζενκαὶεἰςεὐνὴνἐλεύσεσθαιτὴνἐµὴνµετὰἉβροκόµηνκαὶσυγ
κατακλιθήσεσθαικαὶἀπολαύσεινἐπιθυµίας. 6-Ἀλλὰµὴοὕτωςἐγὼφιλόζωοςγενοίµην,
µηδ̓ὑποµείναιµιὑβρισθεῖσαἰδεῖντὸνἥλιον.
∆εδόχθωταῦτα:
ἀποθνήσκωµεν.,
Ἁβροκόµη: ἕξοµενἀλλήλουςµετὰθάνατον, ὑπ̓οὐδενὸςἐνοχλούµενοι.’
II.
1-Καὶτοῖςµὲνταῦταἐδέδοκτο:
ἐνδὲτούτῳἌψυρτοςὁπροεστὼςτοῦλῃστηρίουπυθόµενοςὅτιτεἥκουσινοἱπερὶτὸνΚόρυµβο
νκαὶὅτιπολλὰεἶενκαὶθαυµάσιακοµίζοντεςχρήµατα,
ἧκενεἰςτὸχωρίονκαὶεἶδέτετοὺςπερὶτὸνἉβροκόµηνκαὶκατεπλάγητὴνεὐµορφίανκαὶεὐθὺςµ
έγακέρδοςνοµίζωνᾐτήσατοἐκείνους.
2Τὰµὲνοὖνἄλλαχρήµατακαὶκτήµατακαὶπαρθένουςὅσαισυνελήφθησανδιένειµετοῖςπερὶτὸ
νΚόρυµβονπειραταῖς:
ὁδὲΕὔξεινοςκαὶὁΚόρυµβοςἄκοντεςµὲνσυνεχώρουντοὺςπερὶτὸνἉβροκόµηντῷἈψύρτῳ,
συνεχώρουνδ̓οὖνἀνάγκῃ.
3-Καὶοἱµὲνἀπηλλάσσοντο:
198
ὁδὲἌψυρτοςπαραλαβὼντὸνἉβροκόµηνκαὶτὴνἌνθειανκαὶοἰκέταςδύο,
ΛεύκωνακαὶῬόδην,
ἤγαγενεἰςτὴνΤύρον.
4Περίβλεπτοςδὲἦναὐτῶνἡποµπὴκαὶπάντεςἐτεθαυµάκεσαντὸκάλλος,
καὶἄνθρωποιβάρβαροιµήπωπρότεροντοσαύτηνἰδόντεςεὐµορφίανθεοὺςἐνόµιζονεἶναιτοὺ
ςβλεποµένους,
ἐµακάριζονδὲτὸνἌψυρτονοἵουςοἰκέταςεἴηκεκτηµένος.
5Ἀγαγὼνδὲαὐτοὺςεἰςτὴνοἰκίανπαραδίδωσινοἰκέτῃπιστῷδἰἐπιµελείαςκελεύσαςἔχειν,
ὡςµεγάλακερδανῶνεἰἀπόδοιτοτῆςἀξίαςαὐτοὺςτιµῆς.
III.
1-ΚαὶοἱµὲνπερὶτὸνἉβροκόµηνἐντούτοιςἦσαν:
ἡµερῶνδὲδιαγενοµένωνὀλίγωνὁµὲνἌψυρτοςἐπ̓ἄλληνἐµπορίανεἰςΣυρίανἀπῆλθε,
θυγάτηρδὲαὐτοῦ, Μαντὼὄνοµα, ἠράσθητοῦἉβροκόµου: ἦνδὲκαλὴκαὶὡραίαγάµωνἤδη,
πολὺδὲτοῦἈνθείαςκάλλουςἀπελείπετο.
2ΑὕτηἡΜαντὼἐκτῆςσυνήθουςµετὰτοῦἉβροκόµουδιαίτηςἁλίσκεταικαὶἀκατασχέτωςεἶχεκ
αὶἠπόρειὅτιποιήσαι:
οὔτεγὰρπρὸςτὸνἉβροκόµηνεἰπεῖνἐτόλµα,
γυναῖκαεἰδυῖαἔχοντακαὶπείσεινοὐδέποτεἐλπίζουσα,
οὔτεἄλλῳτινὶτῶνἑαυτῆςδέειτοῦπατρός:
3δἰἃδὴκαὶµᾶλλονἀνεκάετοκαὶδιέκειτοπονήρως:
καὶοὐκέτικαρτεροῦσαἔγνωπρὸςτὴνῬόδην,
τὴνσύντροφοντῆςἈνθείας,
οὖσανἡλικιῶτινκαὶκόρην,
κατειπεῖντὸνἔρωτα:
ταύτηνγὰρµόνηνἤλπιζεσυνεργήσειναὐτῇπρὸςτὴνἐπιθυµίαν.
4Καὶδὴσχολῆςλαβοµένηἄγειτὴνκόρηνπρὸςτὰπατρῷαἐπὶτῆςοἰκίαςἱερά,
καὶδεῖταιµὴκατειπεῖναὐτῆςκαὶὅρκουςλαµβάνεικαὶλέγειτὸνἔρωτατοῦἉβροκόµουκαὶἱκετε
ύεισυλλαβέσθαικαὶπολλὰὑπέσχετοσυλλαβοµένῃ. 5-Ἔφηδ̓ ‘ἴσθιµὲνοἰκέτιςοὖσαἐµή,
ἴσθιδὲὀργῆςπειρασοµένηβαρβάρουκαὶἠδικηµένης.’ ΤαῦταεἰποῦσαἀπέπεµπετὴνῬόδην:
ἡδὲἐνἀµηχάνῳκακῷἐγεγόνει: τὸγὰρεἰπεῖνἉβροκόµῃπαρῃτεῖτο, φιλοῦσατὴνἌνθειαν:
πάνυδὲἐδεδοίκειτῆςβαρβάρουτὴνὀργήν.
6ἜδοξενοὖναὐτῇκαλῶςἔχεινΛεύκωνιπρῶτονἀνακοινῶσαιτὰὑπὸτῆςΜαντοῦςεἰρηµένα.
ἬνδὲκαὶτῇῬόδῃκοινωνήµαταἐξἔρωτοςγενόµεναπρὸςΛεύκωνα,
καὶσυνῆσανἀλλήλοιςἔτιἐνἘφέσῳ.
7-Τότεδὴλαβοµένηµόνου
‘ὦΛεύκων’
ἔφη,
‘ἀπολώλαµεντελέως:
νῦνοὐκέτιτοὺςσυντρόφουςἕξοµεν:
ἡτοῦδεσπότουθυγάτηρἈψύρτουἐρᾷµὲνἉβροκόµουσφοδρὸνἔρωτα, ἀπειλεῖδέ, εἰµὴτύχοι,
δεινὰἡµᾶςἐργάσεσθαι: 8-σκόπειτοίνυντίδεῖποιεῖν: τὸγὰρἀντειπεῖντῇβαρβάρῳσφαλερόν,
τὸδὲἀποζεῦξαιἉβροκόµηνἈνθείαςἀδύνατον.’
ἈκούσαςὁΛεύκωνδακρύωνἐνεπλήσθη,
µεγάλαςἐκτούτωνσυµφορὰςπροσδοκῶν: ὀψὲδὲἀνενεγκὼν ‘σιώπα’ ἔφη, ‘Ῥόδη,
ἐγὼγὰρἕκασταδιοικήσω.’
IV.
1-ΤαῦταεἰπὼνἔρχεταιπρὸςἉβροκόµην.
ΤῷδὲἄραοὐδὲνἔργονἦνἢφιλεῖνἌνθειανκαὶὑπ̓ἐκείνηςφιλεῖσθαικαὶλαλεῖνἐκείνῃκαὶἀκούει
νλαλούσης. Ἐλθὼνδὲπαῤαὐτοὺς ‘τίποιοῦµεν, σύντροφοι;’ ‘Τίδὲβουλευόµεθα, οἰκέται;’
2-‘∆οκεῖςτινιτῶνδεσποτῶν,
Ἁβροκόµη,
καλός:
ἡθυγατὴρἡἈψύρτουπονήρωςἐπὶσοὶδιάκειται,
καὶἀντειπεῖνἐρώσῃβαρβάρῳπαρθένῳχαλεπόν:
σὺοὖνὅπωςσοιδοκεῖβουλευσάµενοςσῶσονἡµᾶςἅπανταςκαὶµὴπεριίδῃςὀργῇδεσποτῶνὑπο
πεσόντας.’
3-ἈκούσαςὁἉβροκόµηςεὐθὺςµὲνὀργῆςἐνεπλήσθη,
ἀποβλέψαςδὲἀτενὲςεἰςτὸνΛεύκωνα
‘ὦπονηρὲ’
ἔφη
‘καὶΦοινίκωντῶνἐνταῦθαβαρβαρώτερε,
ἐτόλµησαςεἰπεῖνπρὸςἉβροκόµηντοιαῦταῥήµατακαὶπαρούσηςἈνθείαςἄλληνπαρθένονµο
ιδιηγῇ; 4-∆οῦλοςµένεἰµιἀλλὰσυνθήκαςοἶδατηρεῖν. Ἔχουσινἐξουσίανµουτοῦσώµατος,
τὴνψυχὴνδὲἐλευθέρανἔχω.
Ἀπειλείτωνῦν,
εἰθέλει,
199
Μαντὼξίφηκαὶβρόχουςκαὶπῦρκαὶπάνταὅσαδύναταισῶµαἐνεγκεῖνοἰκέτου:
οὐγὰρἄνποτεπεισθείηνἑκὼνἌνθειανἀδικῆσαι.’
5-Καὶὁµὲνταῦταἔλεγεν,
ἡδὲἌνθειαὑπὸτῆςσυµφορᾶςἔκειτοἀχανής,
οὐδὲφθέγξασθαίτιδυναµένη:
ὀψὲδὲκαὶµόλιςαὑτὴνἐγείρασα
‘ἔχωµὲν’
φησίν,
‘Ἁβροκόµη,
τὴνεὔνοιαντὴνσὴνκαὶστέργεσθαιδιαφερόντωςὑπὸσοῦπεπίστευκα:
ἀλλὰδέοµαισοῦ,
τῆςψυχῆςτῆςἐµῆςδέσποτα,
µὴπροδῷςσεαυτὸνµηδὲεἰςὀργὴνἐµβάλῃςβαρβαρικήν,
συγκατάθουδὲτῇτῆςδεσποίνηςἐπιθυµίᾳ:
6-κἀγὼὑµῖνἄπειµιἐκποδών,
ἐµαυτὴνἀποκτείνασα.
Τοσοῦτονσοῦδεήσοµαι,
θάψοναὐτὸςκαὶφίλησονπεσοῦσανκαὶµέµνησοἈνθείας.’
ΤαῦταπάνταεἰςµείζονασυµφορὰντὸνἉβροκόµηνἦγεκαὶἠπόρειὅστιςγένηται.
1-Καὶοἱµὲνἐντούτοιςἦσαν:
ἡδὲΜαντὼχρονιζούσηςτῆςῬόδηςοὐκέτικαρτεροῦσαγράφειγραµµατίδιονπρὸςτὸνἉβροκό
µην: ἦνδὲτὰἐγγεγραµµένατοιάδε
V.
ἉΒΡΟΚΟΜΗιΤΩιΚΑΛΩι∆ΕΣΠΟΙΝΑΗΣΗΧΑΙΡΕΙΝ.
Μαντὼἐρῶσου,
µηκέτιφέρεινδυναµένη:
ἀπρεπὲςµὲνἴσωςπαρθένῳ,
ἀναγκαῖονδὲφιλούσῃ:
δέοµαι,
µήµεπεριίδῃςµηδὲὑβρίσῃςτὴντὰσὰᾑρηµένην.
2Ἐὰνγὰρπεισθῇς,
πατέρατὸνἐµὸνἌψυρτονἐγὼπείσωσοίµεσυνοικίσαι,
καὶτὴννῦνσοιγυναῖκαἀποσκευασόµεθα, πλουτήσειςδὲκαὶµακάριοςἔσῃ: ἐὰνδὲἀντείπῃς,
ἐννόειµὲνοἷαπείσῃτῆςὑβρισµένηςἑαυτὴνἐκδικούσης,
οἷαδὲοἱµετὰσοῦ,
κοινωνοὶτῆςσῆςὑπερηφανίαςκαὶσύµβουλοιγενόµενοι.
3Ταῦτατὰγράµµαταλαβοῦσακαὶκατασηµηναµένηδίδωσιθεραπαίνῃτινὶἑαυτῆςβαρβάρῳ,
εἰποῦσαἉβροκόµῃκοµίζειν: ὁδὲἔλαβεκαὶἀνέγνωκαὶπᾶσιµὲνἤχθετοτοῖςἐγγεγραµµένοις,
µάλισταδὲαὐτὸνἐλύπειτὰπερὶτῆςἈνθείας.
4-Κἀκείνηνµὲντὴνπινακίδακατέχει,
ἄλληνδὲγράφεικαὶδίδωσιτῇθεραπαίνῃ: ἦνδὲτὰἐγγεγραµµένατοιάδε
∆έσποινα, ὅτιβούλειποίει, καὶχρῶσώµατιὡςοἰκέτου: καὶεἴτεἀποκτείνεινθέλεις,
ἕτοιµος, εἴτεβασανίζειν, ὅπωςἐθέλειςβασάνιζε: εἰςεὐνὴνδὲτὴνσὴνοὐκἂνἔλθοιµι,
οὐδ̓ἂντοιαῦταπεισθείηνκελευούσῃ.
5ΛαβοῦσαταῦτατὰγράµµαταἡΜαντὼἐνὀργῇἀκατασχέτῳγίνεταικαὶἀναµίξασαπάντα,
φθόνον, ζηλοτυπίαν, λύπην, φόβον, ἐνενόειὅπωςτιµωρήσεταιτὸνὑπερηφανοῦντα.
6-ΚαὶδὴἐντούτῳἔρχεταιµὲνἀπὸΣυρίαςἌψυρτος,
ἄγωντινὰτῇθυγατρὶνυµφίονἐκεῖθεν,
Μοῖρινὄνοµα:
ὡςδὲἀφίκετο,
εὐθὺςἡΜαντὼτὴνκατὰἉβροκόµουτέχνηνσυνετάττετο,
καὶσπαράξασατὰςκόµαςκαὶπεριρρηξαµένητὴνἐσθῆτα,
ὑπαντήσασατῷπατρὶκαὶπροσπεσοῦσαπρὸςτὰγόνατα
‘οἴκτειρον’
ἔφη,
‘πάτερ,
θυγατέρατὴνσὴνὑβρισµένηνὑπ̓οἰκέτου:
7ὁγὰρσώφρωνἉβροκόµηςἐπείρασεµὲνπαρθενίαντὴνἐµὴνἀφανίσαι,
ἐπεβούλευσεδὲκαὶσοί,
λέγωνἐρᾶνµου.
Σὺοὖνὑπὲρτηλικούτωντολµηµάτωνεἴσπραξαιπαῤαὐτοῦτιµωρίαντὴνἀξίαν,
ἢεἰδίδωςἔκδοτονθυγατέρατὴνσὴντοῖςοἰκέταις, ἐµαυτὴνφθάσασαἀποκτενῶ.’
VI.
ἈκούσαςὁἌψυρτοςκαὶδόξαςἀληθῆλέγειναὐτὴνἠρεύνησεµὲντὸπραχθὲνοὐκέτι,
1-
200
µεταπεµψάµενοςδὲτὸνἉβροκόµην
‘ὦτολµηρὰκαὶµιαρὰ’
εἶπε
‘κεφαλή,
ἐτόλµησαςεἰςδεσπόταςτοὺςσοὺςὑβρίσαικαὶδιαφθεῖραιπαρθένονἠθέλησαςοἰκέτηςὤν;
ἀλλ̓οὔτιχαιρήσεις:
ἐγὼγάρσετιµωρήσοµαικαὶτοῖςἄλλοιςοἰκέταιςτὴνσὴναἰκίανποιήσοµαιπαράδειγµα.’
2Εἰπὼνοὐκέτιἀνασχόµενοςοὐδὲλόγουἀκοῦσαιἐκέλευσεπεριρρῆξαιτὴνἐσθῆτααὐτοῦτοῖςοἰ
κέταιςκαὶφέρεινπῦρκαὶµάστιγαςκαὶπαίειντὸµειράκιον.
3-Ἤνδὲτὸθέαµαἐλεεινόν:
αἵτεγὰρ...
τὸσῶµαπᾶνἠφάνιζονβασάνωνἄηθεςὂνοἰκετικῶν,
τότεαἷµακατέρρεικαὶτὸκάλλοςἐµαραίνετο.
4Προσῆγεναὐτῷκαὶδεσµὰφοβερὰκαὶπῦρκαὶµάλισταἐχρῆτοταῖςβασάνοιςκατ̓αὐτοῦ,
τῷνυµφίῳτῆςθυγατρὸςἐνδεικνύµενοςὅτισώφροναπαρθένονἄξεται.
5ἘντούτῳἡἌνθειαπροσπίπτειτοῖςγόνασιτοῦἈψύρτουκαὶἐδεῖτοὑπὲρἉβροκόµου:
ὁδὲ
‘ἀλλὰκαὶµᾶλλον’ ἔφη ‘διὰσὲκολασθήσεται, ὅτικαὶσὲἠδίκησε, γυναῖκαἔχωνἄλληςἐρῶν.’
Καὶτότεἐκέλευσεδήσανταςαὐτὸνἐγκαθεῖρξαίτινιοἰκήµατισκοτεινῷ.
VII.
1-Καὶὁµὲνἐδέδετοκαὶἦνἐνεἱρκτῇ,
δεινὴδὲαὐτὸνἀθυµίακαταλαµβάνεικαὶµάλισταἐπεὶἌνθειανοὐχἑώρα:
ἐζήτειδὲθανάτουτρόπουςπολλούς, ἀλλ̓εὕρισκενοὐδένα, πολλῶντῶνφρουρούντωνὄντων.
ὉδὲἌψυρτοςἐποίειτῆςθυγατρὸςτοὺςγάµουςκαὶἑώρταζονπολλαῖςἡµέραις.
2Ἄνθειαδὲπάνταπένθοςἦν,
καὶεἴποτεδυνηθείηπεῖσαιτοὺςἐπὶτοῦδεσµωτηρίου,
εἰσῄειπρὸςἉβροκόµηνλανθάνουσακαὶκατωδύρετοτὴνσυµφοράν.
3ὩςδὲἤδηπαρεσκευάζοντοεἰςΣυρίανἀπιέναι,
προύπεµψενὁἌψυρτοςτὴνθυγατέραµετὰδώρωνπολλῶν,
ἐσθῆτάςτεΒαβυλωνίαςκαὶχρυσὸνἄφθονονκαὶἄργυρονἐδίδου:
ἐδωρήσατοδὲτῇθυγατρὶΜαντοῖτὴνἌνθειανκαὶτὴνῬόδηνκαὶτὸνΛεύκωνα.
4ὩςοὖνταῦταἔγνωἡἌνθειακαὶὅτιεἰςΣυρίανἀναχθήσεταιµετὰΜαντοῦς,
δυνηθεῖσαεἰσελθεῖνεἰςτὸδεσµωτήριον, περιπλεξαµένητῷἉβροκόµῃ ‘δέσποτα’ εἶπεν,
‘εἰςΣυρίανἄγοµαιδῶρονδοθεῖσατῇΜαντοῖκαὶεἰςχεῖραςτῆςζηλοτυπούσηςἄγοµαι:
5σὺδὲἐντῷδεσµωτηρίῳµείναςοἰκτρῶςἀποθνήσκεις,
οὐκἔχωνοὐδὲὅστιςσουτὸσῶµακοσµήσει:
ἀλλ̓ὀµνύωσοιτὸνἀµφοτέρωνδαίµοναὡςἐγὼµενῶσὴκαὶζῶσακἂνἀποθανεῖνδεήσῃ.’
Ταῦταλέγουσαἐφίλειτεαὐτὸνκαὶπεριέβαλλεκαὶτὰδεσµὰἠσπάζετοκαὶτῶνποδῶνπρ
ουκυλίετο.
VIII. 1-Τέλοςδὲἡµὲνἐξῄειτοῦδεσµωτηρίου, ὁδὲὡςεἶχενἑαυτὸνἐπὶγῆςῥίψαςἔστενεν,
ἔκλαεν
‘ὦπάτερ’
λέγων
‘φίλτατε,
ὦµῆτερΘεµιστώ:
ποῦµὲνἡἐνἘφέσῳδοκοῦσάποτ̓εὐδαιµονία;
ποῦδ̓οἱλαµπροὶκαὶοἱπερίβλεπτοιἌνθειακαὶἉβροκόµης,
οἱκαλοί;
ἡµὲνοἴχεταιπόρρωποιτῆςγῆςαἰχµάλωτος,
ἐγὼδὲκαὶτὸµόνονἀφῄρηµαιπαραµύθιον,
καὶτεθνήξοµαιὁδυστυχὴςἐνδεσµωτηρίῳµόνος.’
2-Ταῦταλέγοντααὐτὸνὕπνοςκαταλαµβάνει,
καὶαὐτῷὄναρἐφίσταται.
ἜδοξενἰδεῖναὐτοῦτὸνπατέραΛυκοµήδηνἐνἐσθῆτιµελαίνῃπλανώµενονκατὰπᾶσανγῆνκαὶ
θάλατταν,
ἐπιστάνταδὲτῷδεσµωτηρίῳλῦσαίτ̓αὐτὸνκαὶἀφιέναιἐκτοῦοἰκήµατος:
αὐτὸνδ̓ἵππονγενόµενονἐπὶπολλὴνφέρεσθαιγῆνδιώκονταἵππονἄλληνθήλειαν,
καὶτέλοςεὑρεῖντὴνἵππονκαὶἄνθρωπονγενέσθαι.
Ταῦταὡςἔδοξενἰδεῖν,
ἀνέθορέτεκαὶµικρὰεὔελπιςἦν.
IX.
1-Ὁµὲνοὖνἐντῷδεσµωτηρίῳκατεκέκλειστο,
ἡδὲἌνθειαεἰςΣυρίανἤγετοκαὶὁΛεύκωνκαὶἡῬόδη.
ὩςδὲἧκονοἱπερὶτὴνΜαντὼεἰςἈντιόχειαν῾ἐκεῖθενγὰρἦνΜοῖρις᾿, ἐµνησικάκειµὲνῬόδην,
201
ἐµίσειδὲκαὶτὴνἌνθειαν.
2ΚαὶδὴτὴνµὲνῬόδηνεὐθὺςµετὰτοῦΛεύκωνοςκελεύειἐµβιβάσαντάςτιναςπλοίῳὡςπορρωτά
τωτῆςΣύρωνἀποδόσθαιγῆς,
τὴνδὲἌνθειανοἰκέτῃσυνουσιάζεινἐνενόεικαὶταῦτατῶνἀτιµοτάτων, αἰπόλῳτινὶἀγροίκῳ,
ἡγουµένηδιὰτούτουτιµωρήσεσθαιαὐτήν.
3-Μεταπέµπεταιδὲτὸναἰπόλον,
Λάµπωνατοὔνοµα,
καὶπαραδίδωσιτὴνἌνθειανκαὶκελεύειγυναῖκαἔχειν,
καὶἐὰνἀπειθῇπροσέταξεβιάζεσθαι.
4-Καὶἡµὲνἤγετοἐπ̓ἀγρὸνσυνεσοµένητῷαἰπόλῳ:
γενοµένηδὲἐντῷχωρίῳἔνθαὁΛάµπωνἔνεµετὰςαἶγας,
προσπίπτειτοῖςγόνασιναὐτοῦκαὶἱκετεύεικατοικτεῖραικαὶτηρῆσαι:
διηγεῖταιδὲἥτιςἦν,
τὴνπροτέρανεὐγένειαν,
τὸνἄνδρα,
τὴναἰχµαλωσίαν:
ἀκούσαςδὲὁΛάµπωνοἰκτείρειτὴνκόρηνκαὶὄµνυσινἦµὴνφυλάξεινἀµόλυντον,
καὶθαρρεῖνπαρεκελεύετο.
X.
1-ΚαὶἡµὲνπαρὰτῷαἰπόλῳἦνἐντῷχωρίῳπάνταχρόνονἉβροκόµηνθρηνοῦσα:
ὁδὲἌψυρτοςἐρευνώµενοςτὸοἰκηµάτιονἔνθαὁἉβροκόµηςπρὸτῆςκολάσεωςδιῆγεν,
ἐπιτυγχάνειτῷγραµµατιδίῳτῷΜαντοῦςπρὸςἉβροκόµηνκαὶγνωρίζειτὰγράµµατα,
καὶὅτιἀδίκωςἉβροκόµηντιµωρεῖταιἔµαθεν:
εὐθὺςοὖνλῦσαίτεαὐτὸνπροσέταξεκαὶἀγαγεῖνεἰςὄψιν.
2ΠόνηραδὲκαὶἐλεεινὰπεπονθὼςπροσπίπτειτοῖςγόνασιτοῖςἈψύρτου, ὁδὲαὐτὸνἀνίστησικαὶ
‘θάρρει’
ἔφη,
‘ὦµειράκιον:
ἀδίκωςσουκατέγνωνπεισθεὶςθυγατρὸςλόγοις:
ἀλλὰνῦνµένσεἐλεύθερονἀντὶδούλουποιήσω,
δίδωµιδέσοιτῆςοἰκίαςἄρχειντῆςἐµῆςκαὶγυναῖκαἄξοµαιτῶνπολιτῶντινοςθυγατέρα:
σὺδὲµὴµνησικακήσῃςτῶνγεγενηµένων,
οὐγὰρἑκώνσεἠδίκησα.’
3ΤαῦταἔλεγενὁἌψυρτος:
ὁδὲἉβροκόµης
‘ἀλλὰχάρις’
ἔφη
‘σοι,
δέσποτα,
ὅτικαὶτἀληθὲςἔµαθεςκαὶτῆςσωφροσύνηςἀµείβῃµε.’
ἜχαιρονδὲπάντεςοἱκατὰτὴνοἰκίανὑπὲρἉβροκόµουκαὶχάρινᾔδεσανὑπὲραὐτοῦτῷδεσπότ
ῃ:
αὐτὸςδὲἐνµεγάλῃσυµφορᾷκατ̓Ἄνθειανἦν:
ἐνενόειδὲπρὸςἑαυτὸνπολλάκις
‘τίδεῖἐλευθερίαςἐµοί;
τίδὲπλούτωνκαὶἐπιµελείαςτῶνἈψύρτουχρηµάτων;
οὐτοιοῦτονεἶναίµεδεῖ: ἐκείνηνἢζῶσανἢτεθνεῶσανεὕροιµι.’
4-Ὁµὲνοὖνἐντούτοιςἦν,
διοικῶνµὲντὰἈψύρτου,
ἐννοῶνδὲὅπωςκαὶποῦτὴνἌνθειανεὑρήσει:
ὁδὲΛεύκωνκαὶἡῬόδηἤχθησανεἰςΛυκίανεἰςπόλινΞάνθον῾ἀνώτερονδὲθαλάσσηςἡπόλις᾿κ
ἀνταῦθαἐπράθησανπρεσβύτῃτινί,
ὃςαὐτοὺςεἶχεµετὰπάσηςἐπιµελείας,
παῖδαςαὑτοῦνοµίζων,
καὶγὰρἄτεκνοςἦν:
διῆγονδὲἐνἀφθόνοιςµὲνπᾶσιν,
ἐλύπουνδὲαὐτοὺςἌνθειακαὶἉβροκόµηςοὐχὁρώµενοι.
XI.
1-ἩδὲἌνθειαἦνµέντιναχρόνονπαρὰτῷαἰπόλῳ,
συνεχὲςδὲὁΜοῖριςὁἀνὴρτῆςΜαντοῦςεἰςτὸχωρίονἐρχόµενοςἐρᾷτῆςἈνθείαςσφοδρὸνἔρωτ
α.
Καὶτὰµὲνπρῶταἐπειρᾶτολανθάνειν,
τελευταῖονδὲλέγειτῷαἰπόλῳτὸνἔρωτακαὶπολλὰὑπισχνεῖτοσυγκύψαντι.
2ὉδὲτῷµὲνΜοίριδισυντίθεται,
δεδοικὼςδὲτὴνΜαντὼἔρχεταιπρὸςαὐτὴνκαὶλέγειτὸνἔρωτατὸνΜοίριδος.
Ἡδὲἐνὀργῇγενοµένη ‘πασῶν’ ἔφη ‘δυστυχεστάτηγυναικῶνἐγώ: τὴνζήληνπεριάγοµαι,
δἰἣντὰµὲνπρῶταἐνΦοινίκῃἀφῃρέθηντοῦἐρωµένου,
νυνὶδὲκινδυνεύωπερὶτοῦἀνδρός:
ἀλλ̓οὐχαίρουσάγεἌνθειαφανεῖταικαλὴκαὶΜοίριδι:
ἐγὼγὰραὐτὴνκαὶὑπὲρτῶνἐνΤύρῳπράξοµαιδίκας.’
3-Τότεµὲνοὖντὴνἡσυχίανἤγαγεν:
ἀποδηµήσαντοςδὲτοῦΜοίριδοςµεταπέµπεταιτὸναἰπόλονκαὶκελεύειλαβόντατὴνἌνθειανε
ἰςτὸδασύτατονἀγαγόντατῆςὕληςἀποκτεῖναικαὶτούτουµισθὸναὐτῷδώσεινὑπέσχετο.
4Ὁδὲοἰκτείρειµὲντὴνκόρην,
202
δεδοικὼςδὲτὴνΜαντὼἔρχεταιπαρὰτὴνἌνθειανκαὶλέγειτὰκατ̓αὐτῆςδεδογµένα.
Ἡδὲἀνεκώκυέτεκαὶἀνωδύρετο
‘φεῦ’
λέγουσα,
‘τοῦτοτὸκάλλοςἐπίβουλονἀµφοτέροιςπανταχοῦ:
διὰτὴνἄκαιρονεὐµορφίανἉβροκόµηςµὲνἐνΤύρῳτέθνηκεν,
ἐγὼδὲἐνταῦθα:5ἀλλὰδέοµαισοῦ,
Λάµπωναἰπόλε,
ὃςµέχρινῦνεὐσέβησας,
ἂνἀποκτείνῃς,
κἂνὀλίγονθάψονµετῇπαρακειµένῃγῇκαὶὀφθαλµοῖςτοῖςἐµοῖςχεῖραςἐπίβαλετὰςσὰςκαὶθάπ
τωνσυνεχὲςἉβροκόµηνκάλει: αὕτηγένοιτ̓ἂνεὐδαίµωνἐµοὶµεθ̓Ἁβροκόµουταφή.’
6-Ἔλεγεταῦτα,
ὁδὲαἰπόλοςεἰςοἶκτονἔρχεταιἐννοῶνὡςἀνόσιονἔργονἐργάσεταικόρηνοὐδὲνἀδικοῦσανἀπ
οκτείνωνοὕτωκαλήν.
7-Λαβὼνδὲτὴνκόρηνὁαἰπόλοςφονεῦσαιµὲνοὐκἠνέσχετο,
φράζειδὲπρὸςαὐτὴντάδε.
‘Ἄνθεια,
οἶδαςὅτιἡδέσποιναΜαντὼἐκέλευσέµοιλαβεῖνκαὶφονεῦσαίσε:
ἐγὼδὲκαὶθεοὺςδεδιὼςκαὶτὸκάλλοςοἰκτείραςβούλοµαίσεµᾶλλονπωλῆσαιπόρρωποιτῆςγῆ
ςταύτης,
µὴµαθοῦσαἡΜαντὼὅτιοὐτέθνηκας,
ἐµὲκακῶςδιαθήσει.’
8Ἡδὲµετὰδακρύωνλαβοµένητῶνποδῶναὐτοῦἔφη
‘θεοὶκαὶἌρτεµιπατρῴα,
τὸναἰπόλονὑπὲρτούτωντῶνἀγαθῶνἀµείψασθε,’
καὶπαρεκάλειπραθῆναι.
9ὉδὲαἰπόλοςλαβόµενοςτῆςἈνθείαςᾤχετοἐπὶτὸνλιµένα:
εὑρὼνδὲἐκεῖἐµπόρουςἄνδραςΚίλικαςἀπέδοτοτὴνκόρην,
καὶλαβὼντὴνὑπὲραὐτῆςτιµὴνἧκενεἰςτὸνἀγρόν.
10ΟἱδὲἔµποροιλαβόντεςτὴνἌνθειανεἰςτὸπλοῖονἦγονκαὶνυκτὸςἐπελθούσηςᾔεσαντὴνἐπὶΚι
λικίας:
ἐναντίῳδὲπνεύµατικατεχόµενοικαὶτῆςνεὼςδιαρραγείσηςµόλιςἐνσανίδιτινὲςσωθέντεςἐπ̓α
ἰγιαλοῦτινοςἦλθον:
εἶχονδὲκαὶτὴνἌνθειαν.
11-Ἦνδὲἐντῷτόπῳἐκείνῳὕληδασεῖα.
ΤὴνοὖννύκταἐκείνηνπλανώµενοιἐναὐτῇὑπὸτῶνπερὶτὸνἹππόθοοντὸνλῃστὴνσυνελήφθησ
αν.
XII.
1-
ἘνδὲτούτῳτιςἧκενἀπὸτῆςΣυρίαςοἰκέτηςπαρὰτῆςΜαντοῦςγράµµατακοµίζωντῷπατρὶἈψ
ύρτῳτάδε
Ἔδωκάςµεἀνδρὶἐνξένῃ: Ἄνθειανδέ, ἣνµετὰτῶνἄλλωνοἰκετῶνἐδωρήσωµοι,
πολλὰδιαπραξαµένηνκακὰεἰςἀγρὸνοἰκεῖνἐκελεύσαµεν.
ΤαύτηνσυνεχῶςἐντῷχωρίῳθεώµενοςὁκαλὸςΜοῖριςἐρᾷ:
µηκέτιδὲφέρεινδυναµένηµετεπεµψάµηντὸναἰπόλονκαὶτὴνκόρηνπραθῆναιἐκέλευσαἐνπό
λειτινὶτῆςΣυρίας.
2-ΤαῦταµαθὼνὁἉβροκόµηςοὐκέτιµένεινἐκαρτέρει:
λαθὼνοὖντὸνἌψυρτονκαὶπάνταςτοὺςκατὰτὸνοἶκονεἰςἐπιζήτησιντῆςἈνθείαςἔρχεται.
ἘλθὼνοὖνἐντῷἀγρῷἔνθαµετὰτοῦαἰπόλουἡἌνθειαδιέτριβεν,
ἄγειδὴπαρὰτὸναἰγιαλὸντὸνΛάµπωνατὸναἰπόλον,
ᾧπρὸςγάµονἐδεδώκειτὴνἌνθειανἡΜαντώ,
ἐδεῖτοδὲτοῦΛάµπωνοςεἰπεῖναὐτῷεἴτιοἶδεπερὶκόρηςἐκΤύρου.
3ὉδὲαἰπόλοςκαὶτοὔνοµαεἶπενὅτιἌνθειακαὶτὸνγάµονκαὶτὴνεὐσέβειαντὴνπερὶαὐτὴνκαὶτὸ
νΜοίριδοςἔρωτακαὶτὸπρόσταγµατὸκατ̓αὐτῆςκαὶτὴνεἰςΚιλικίανὁδόν:
ἔλεγέτεὡςἀείτινοςἉβροκόµουµέµνηταιἡκόρη.
Ὁδὲαὐτὸνὅστιςἦνοὐλέγει,
ἕωθενδὲἀναστὰςἤλαυνετὴνἐπὶΚιλικίαςἐλπίζωνἌνθειανεὑρήσεινἐκεῖ.
XIII.
ΟἱδὲπερὶτὸνἹππόθοοντὸνλῃστὴνἐκείνηςµὲντῆςνυκτὸςἔµεινονεὐωχούµενοι,
τῇδὲἑξῆςπερὶτὴνθυσίανἐγίνοντο.
ΠαρεσκευάζετοδὲπάντακαὶἀγάλµατατοῦἌρεοςκαὶσῦλακαὶστεφανώµατα:
1-
2-
203
ἔδειδὲτὴνθυσίανγενέσθαιτρόπῳτῷσυνήθει.
Τὸµέλλονἱερεῖονθύεσθαι,
εἴτεἄνθρωποςεἴτεβόσκηµαεἴη,
κρεµάσαντεςἐκδένδρουκαὶδιαστάντεςἠκόντιζον:
καὶὁπόσοιµὲνἐπέτυχον, τούτωνὁθεὸςἐδόκειδέχεσθαιτὴνθυσίαν: ὁπόσοιδὲἀπέτυχον,
αὖθιςἐξιλάσκοντο:
ἔδειδὲτὴνἌνθειανοὕτωςἱερουργηθῆναι.
3Ὡςδὲπάνταἕτοιµαἦνκαὶκρεµᾶντὴνκόρηνἤθελον,
ψόφοςτῆςὕληςἠκούετοκαὶἀνθρώπωνκτύπος. ἮνδὲὁτῆςεἰρήνηςτῆςἐνΚιλικίᾳπροεστώς,
Περίλαοςτοὔνοµα,
ἀνὴρτῶντὰπρῶταἐνΚιλικίᾳδυναµένων.
4ΟὗτοςὁΠερίλαοςἐπέστητοῖςλῃσταῖςµετὰπλήθουςπολλοῦκαὶπάνταςἀπέκτεινεν,
ὀλίγουςδὲκαὶζῶνταςἔλαβε: µόνοςδὲὁἹππόθοοςἠδυνήθηδιαφυγεῖνἀράµενοςτὰὅπλα. 5ἜλαβεδὲτὴνἌνθειανΠερίλαοςκαὶπυθόµενοςτὴνµέλλουσανσυµφορὰνἠλέησεν:
εἶχεδὲἄραµεγάληςἀρχὴνσυµφορᾶςὁἔλεοςἈνθείας:
ἄγειδὲαὐτὴνκαὶτοὺςσυλληφθένταςτῶνλῃστῶνεἰςΤαρσὸντῆςΚιλικίας.
6Ἡδὲσυνήθηςαὐτὸντῆςκόρηςὄψιςεἰςἔρωταἤγαγε,
καὶκατὰµικρὸνἑαλώκειΠερίλαοςἈνθείας.
ὩςδὲἧκονεἰςΤαρσόν,
τοὺςµὲνλῃστὰςεἰςτὴνεἱρκτὴνπαρέδωκε,
τὴνδὲἌνθειανἐθεράπευεν.
ἮνδὲοὔτεγυνὴτῷΠεριλάῳοὔτεπαῖδες,
καὶπεριβολὴχρηµάτωνοὐκὀλίγη.
7ἜλεγενοὖνπρὸςτὴνἌνθειανὡςπάνταἂναὐτὴγένοιτοΠεριλάῳ,
γυνὴκαὶδεσπότιςκαὶπαῖδες.
8-Ἡδὲτὰµὲνπρῶταἀντεῖχεν,
οὐκἔχουσαδὲὅτιποιήσειεβιαζοµένῳκαὶπολλῷἐγκειµένῳ,
δείσασαµὴκαίτιτολµήσῃβιαιότερον,
συγκατατίθεταιµὲντὸνγάµον,
ἱκετεύειδὲαὐτὸνἀναµεῖναιχρόνονὀλίγονὅσονἡµερῶντριάκοντα, καὶἄχραντοντηρῆσαι:
καὶσκήπτεταιὁδὲΠερίλαοςπείθεταικαὶἐπόµνυταιτηρήσειναὐτὴνγάµωνἁγνὴνεἰςὅσονἂνὁχ
ρόνοςδιέλθῃ.
XIV.
1-ΚαὶἡµὲνἐνΤαρσῷἦνµετὰΠεριλάου,
τὸνχρόνονἀναµένουσατοῦγάµου:
ὁδὲἉβροκόµηςᾔειτὴνἐπὶΚιλικίαςὁδόν:
καὶοὐπρὸπολλοῦτοῦἄντρουτοῦλῃστρικοῦ῾ἀπεπεπλάνητογὰρκαὶαὐτὸςτῆςἐπ̓εὐθὺὁδοὖσυν
τυγχάνειτῷἹπποθόῳὡπλισµένῳ.
2Ὁδὲαὐτὸνἰδὼνπροστρέχεικαὶφιλοφρονεῖταικαὶδεῖταικοινωνὸνγενέσθαιτῆςὁδοῦ.
‘Ὁρῶγάρσε,
ὦµειράκιον,
ὅστιςποτὲεἶ,
καὶὀφθῆναικαλὸνκαὶἄλλωςἀνδρικόν:
καὶἡπλάνηφαίνεταιπάντωςἀδικουµένου.
3ἼωµενοὖνΚιλικίανµὲνἀφέντεςἐπὶΚαππαδοκίανκαὶτὸνἐκεῖΠόντον:
λέγονταιγὰροἰκεῖνἄνδρεςεὐδαίµονες.’ 4-ὉδὲἉβροκόµηςτὴνµὲνἈνθείαςζήτησινοὐλέγει,
συγκατατίθεταιδὲἀναγκάζοντιτῷἹπποθόῳ,
καὶὅρκουςποιοῦσισυνεργήσειντεκαὶσυλλήψεσθαι:
ἤλπιζεδὲκαὶὁἉβροκόµηςἐντῇπολλῇπλάνῃτὴνἌνθειανεὑρήσειν.5Ἐκείνηνµὲνοὖντὴνἡµέρανἐπανελθόντεςεἰςτὸἄντρον,
εἴτιαὐτοῖςἔτιπεριττὸνἦν,
αὑτοὺςκαὶτοὺςἵππουςἀνελάµβανον: ἦνγὰρκαὶτῷἹπποθόῳἵπποςἐντῇὕλῃκρυπτόµενος:
77
204
Livro III
I.1-Th~|δὲἑξῆςπαρῄεσανµὲνΚιλικίαν,
ἐποιοῦντοδὲτὴνὁδὸνἐπὶΜάζακον,
πόλιντῆςΚαππαδοκίαςµεγάληνκαὶκαλήν.
2ἘκεῖθενγὰρἹππόθοοςἐνενόεισυλλεξάµενοςνεανίσκουςἀκµάζονταςσυστήσασθαιπάλιντὸ
λῃστήριον.
Ἰοῦσιδὲαὐτοῖςδιὰκωµῶνµεγάλωνπάντωνἦνἀφθονίατῶνἐπιτηδείων:
καὶγὰρὁἹππόθοοςἐµπείρωςεἶχετῆςΚαππαδοκῶνφωνῆς,
καὶαὐτῷπάντεςὡςοἰκείῳπροσεφέροντο.
3∆ιανύσαντεςδὲτὴνὁδὸνἡµέραιςδέκαεἰςΜάζακονἔρχονταικἀνταῦθαπλησίοντῶνπυλῶνεἰσ
ῳκίσαντοκαὶἔγνωσανἑαυτοὺςἡµερῶντινωνἐκτοῦκαµάτουθεραπεῦσαι.
4ΚαὶδὴεὐωχουµένωναὐτῶνἐστέναξενὁἹππόθοοςκαὶἐπεδάκρυσεν:
ὁδὲἉβροκόµηςἤρετοαὐτὸντίςἡαἰτίατῶνδακρύων.
Καὶὃς
‘µεγάλα’
ἔφη
‘τἀµὰδιηγήµατακαὶπολλὴνἔχοντατραγῳδίαν.’
5-ἘδεῖτοἉβροκόµηςεἰπεῖν,
ὑπισχνούµενοςκαὶτὰκαθ̓αὑτὸνδιηγήσεσθαι.
Ὁδ̓ἀναλαβὼνἄνωθεν῾µόνοιδ̓ἐτύγχανονὄντες᾿διηγεῖταιτὰκαθ̓αὑτόν.
II.
1-‘Ἐγὼ’
ἔφη
‘εἰµὶτὸγένοςπόλεωςΠερίνθου῾πλησίονδὲτῆςΘρᾴκηςἡπόλις᾿τῶντὰπρῶταἐκεῖδυναµένων:
ἀκούειςδὲκαὶτὴνΠέρινθονὡςἔνδοξος,
καὶτοὺςἄνδραςὡςεὐδαίµονεςἐνταῦθα.
2Νέοςὢνἠράσθηνµειρακίουκαλοῦ:
ἦνδὲτὸµειράκιοντῶνἐπιχωρίων:
ὄνοµαὙπεράνθηςἦναὐτῷ.
Ἠράσθηνδὲτὰπρῶταἐνγυµνασίοιςδιαπαλαίονταἰδὼνκαὶοὐκἐκαρτέρησα.
3Ἑορτῆςοὖνἀγοµένηςἐπιχωρίουκαὶπαννυχίδοςἐπ̓αὐτῆςπρόσειµιτῷὙπεράνθῃκαὶἱκετεύωκ
ατοικτεῖραι:
ἀκοῦσανδὲτὸµειράκιονπάνταὑπισχνεῖταικατελεῆσάνµε.
4Καὶτὰπρῶτάγετοῦἔρωτοςὁδοποιεῖφιλήµατακαὶψαύσµατακαὶπολλὰπαῤἐµοῦδάκρυα:
τέλοςδὲἠδυνήθηµενκαιροῦλαβόµενοιγενέσθαιµετ̓ἀλλήλωνµόνοικαὶτὸτῆςἡλικίαςἀνύποπ
τονἦν.
Καὶχρόνῳσυνῆµενπολλῷ,
στέργοντεςἀλλήλουςδιαφερόντως,
ἕωςδαίµωντιςἡµῖνἐνεµέσησε.
5ΚαὶἔρχεταίτιςἀπὸΒυζαντίου῾πλησίονδὲτὸΒυζάντιοντῇΠερίνθᾠἀνὴρτῶντὰπρῶταἐκεῖδυν
αµένων,
ἐπὶπλούτῳκαὶπεριουσίᾳµέγαφρονῶν:
Ἀριστόµαχοςἐκαλεῖτο.
6ΟὗτοςεὐθὺςἐπιβὰςτῇΠερίνθῳ,
ὡςὑπότινοςἀπεσταλµένοςκατ̓ἐµοῦθεοῦ,
ὁρᾷτὸνὙπεράνθηνσὺνἐµοὶκαὶεὐθέωςἁλίσκεται,
τοῦµειρακίουθαυµάσαςτὸκάλλος,
πάνταὁντινοῦνἐπάγεσθαιδυνάµενον.
7-Ἐρασθεὶςδὲοὐκέτιµετρίωςκατεῖχετὸνἔρωτα,
ἀλλὰτὰµὲνπρῶτατῷµειρακίῳπροσέπεµπεν:
ὡςδ̓ἀδύνατονἦναὐτῷ῾ὁγὰρὙπεράνθηςδιὰτὴνπρὸςἐµὲεὔνοιανοὐδέναπροσίετὀ,
πείθειτὸνπατέρααὐτοῦ,
πονηρὸνἄνδρακαὶἐλάττοναχρηµάτων:
8ὁδὲαὐτῷδίδωσιτὸνὙπεράνθηνπροφάσειδιδασκαλίας:
ἔλεγεγὰρεἶναιλόγωντεχνίτης.
Παραλαβὼνδὲαὐτὸντὰµὲνπρῶτακατάκλειστονεἶχε, µετὰτοῦτοδὲἀπῆρενἐςΒυζάντιον. 9Εἱπόµηνκἀγώ,
πάντωνκαταφρονήσαςτῶνἐµαυτοῦ,
καὶὅσαἐδυνάµηνσυνήµηντῷµειρακίῳ:
ἐδυνάµηνδὲὀλίγα,
καίµοιφίληµασπάνιονἐγίνετοκαὶλαλιὰδυσχερής:
ἐφρουρούµηνγὰρὑπὸπολλῶν.
10Τελευταῖονδ̓οὐκέτικαρτερῶν,
ἐµαυτὸνπαροξύναςἐπάνειµιεἰςΠέρινθονκαὶπάνταὅσαἦνµοικτήµαταἀποδόµενος,
συλλέξαςἀργύριονεἰςΒυζάντιονἔρχοµαικαὶλαβὼνξιφίδιον῾συνδοκοῦντοῦτοκαὶτῷὙπερά
νθᾐεἴσειµινύκτωρεἰςτὴνοἰκίαντοῦἈριστοµάχουκαὶεὑρίσκωσυγκατακείµενοντῷπαιδὶκαὶ
ὀργῆςπλησθεὶςπαίωτὸνἈριστόµαχονκαιρίαν.
11Ἡσυχίαςδὲοὔσηςκαὶπάντωνἀναπαυοµένωνἔξειµιὡςεἶχονλαθών,
ἐπαγόµενοςκαὶτὸνὙπεράνθην,
καὶδἰὅληςτῆςνυκτὸςὁδεύσαςεἰςΠέρινθον,
205
εὐθὺςνεὼςἐπιβὰςοὐδενὸςεἰδότοςἔπλεονεἰςἈσίαν.
12Καὶµέχριµέντινοςδιηνύετοεὐτυχῶςὁπλοῦς:
τελευταῖονδὲκατὰΛέσβονἡµῖνγενοµένοιςἐµπίπτειπνεῦµασφοδρὸνκαὶἀνατρέπειτὴνναῦν.
ΚἀγὼµὲντῷὙπεράνθῃσυνενηχόµηνὑπιὼναὐτὸνκαὶκουφοτέραντὴννῆξινἐποιούµην:
νυκτὸςδὲγενοµένηςοὐκέτιἐνεγκὸντὸµειράκιονπαρείθητῷκολύµβῳκαὶἀποθνήσκει. 13Ἐγὼδὲτοσοῦτονἠδυνήθηντὸσῶµαδιασῶσαιἐπὶτὴνγῆνκαὶθάψαι:
καὶπολλὰδακρύσαςκαὶστενάξας,
ἀφελὼνλείψανακαὶδυνηθεὶςεὐπορῆσαίπουἑνὸςἐπιτηδείουλίθουστήληνἐπέστησατῷτάφῳ
καὶἐπέγραψαεἰςµνήµηντοῦδυστυχοῦςµειρακίουἐπίγραµµαπαῤαὐτὸνἐκεῖνοντὸνκαιρὸνπλ
ασάµενος
Ἱππόθοοςκλεινῷτεῦξεντόδεσῆµ̓Ὑπεράνθῃ,
οὐτάφονἐκθανάτουἀγαθὸνἱεροῖοπολίτου
ἐςβάθοςἐκγαίης, ἄνθοςκλυτόν, ὅνποτεδαίµων
ἥρπασενἐνπελάγειµεγάλουπνεύσαντοςἀήτου.
14.ΤοὐντεῦθενδὲεἰςµὲνΠέρινθονἐλθεῖνοὐδιέγνων,
ἐτράπηνδὲδἰἈσίαςἐπὶΦρυγίαντὴνµεγάληνκαὶΠαµφυλίαν:
κἀνταῦθαἀπορίᾳβίουκαὶἀθυµίᾳτῆςσυµφορᾶςἐπέδωκαἐµαυτὸνλῃστηρίῳ.
Καὶτὰµὲνπρῶταὑπηρέτηςλῃστηρίουγενόµενος,
τελευταῖονδὲπερὶΚιλικίαναὐτὸςσυνεστησάµηνλῃστήριον,
εὐδοκιµῆσανἐπὶπολύ,
ἕωςἐλήφθησανοἱσὺνἐµοὶοὐπρὸπολλοῦτοῦσεἰδεῖν.
15Αὕτηµὲνἡτῶνἐµῶνδιηγηµάτωντύχη:
σὺδέ,
ὦφίλτατε,
εἰπέµοιτὰσεαυτοῦ:
δῆλοςγὰρεἶµεγάλῃτινὶἀνάγκῃτῇκατὰτὴνπλάνηνχρώµενος.’
III.
1-
ΛέγειδὲὁἉβροκόµηςὅτιἘφέσιοςκαὶὅτιἠράσθηκόρηςκαὶὅτιἔγηµεναὐτὴνκαὶτὰµαντεύµατ
ακαὶτὴνἀποδηµίανκαὶτοὺςπειρατὰςκαὶτὸνἌψυρτονκαὶτὴνΜαντὼκαὶτὰδεσµὰκαὶτὴνφυγ
ὴνκαὶτὸναἰπόλονκαὶτὴνµέχριΚιλικίαςὁδόν.
2ἜτιλέγοντοςαὐτοῦσυνανεθρήνησενὁἹππόθοοςλέγων
‘ὦπατέρεςἐµοί,
ὦπατρίς,
ἣνοὔποτεὄψοµαι,
ὦπάντωνµοιὙπεράνθηφίλτατε:
σὺµὲνοὖν,
Ἁβροκόµη,
καὶὄψειτὴνἐρωµένηνκαὶἀπολήψειχρόνῳποτέ: ἐγὼδὲὙπεράνθηνἰδεῖνοὐκέτιδυνήσοµαι.’
3-Λέγωνἐδείκνυέτετὴνκόµηνκαὶἐπεδάκρυεναὐτῇ.
Ὡςδὲἱκανῶςἐθρήνησανἀµφότεροι,
ἀποβλέψαςεἰςτὸνἉβροκόµηνὁἹππόθοος ‘ἄλλο’ ἔφη ‘σοὶδιήγηµαπαρῆλθονοὐκεἰπών: 4πρὸὀλίγουτοῦτὸλῃστήριονἁλῶναιἐπέστητῷἄντρῳκόρηκαλὴπλανωµένη,
τὴνἡλικίανἔχουσατὴναὐτὴνσοί,
καὶπατρίδαἔλεγετὴνσήν:
πλέονγὰροὐδὲνἔµαθον:
ταύτηνἔδοξετῷἌρειθῦσαι. Καὶδὴπάνταἦνπαρεσκευασµένακαὶἐπέστησανοἱδιώκοντες:
κἀγὼµὲνἐξέφυγον,
ἡδὲοὐκοἶδαὅτιἐγένετο.
5-Ἦνδὲκαλὴπάνυ,
Ἁβροκόµη,
καὶἐσταλµένηλιτῶς:
κόµηξανθή,
χαρίεντεςὀφθαλµοί.’
ἜτιλέγοντοςαὐτοῦἀνεβόησενἉβροκόµης
‘τὴνἐµὴνἌνθειανἑώρακας,
Ἱππόθοε:
ποῖδὲἄρακαὶπέφευγε; τίςδὲαὐτὴνἔχειγῆ; ἘπὶΚιλικίαντραπώµεθα, ἐκείνηνζητήσωµεν,
οὐκἔστιπόρρωτοῦλῃστηρίου.
6-Ναί,
πρὸςαὐτῆςσεψυχῆςὙπεράνθους,
µήµεἑκὼνἀδικήσῃς,
ἀλλ̓ἴωµενὅπουδυνησόµεθαἌνθειανεὑρεῖν.’
ὙπισχνεῖταιὁἹππόθοοςπάνταποιήσειν,
ἔλεγεδὲἀνθρώπουςδεῖνὀλίγουςσυλλέξασθαιπρὸςἀσφάλειαντῆςὁδοῦ.
7-Καὶοἱµὲνἐντούτοιςἦσαν,
ἐννοοῦντεςὅπωςὀπίσωτὴνεἰςΚιλικίανἐλεύσονται:
τῇδὲἈνθείᾳαἱτριάκονταπαρεληλύθεσανἡµέραικαὶπαρεσκευάζετοτῷΠεριλάῳτὰπερὶτὸνγ
άµον,
καὶἱερεῖακατήγετοἐκτῶνχωρίων,
πολλὴδὲἡτῶνἄλλωνἀφθονία:
συµπαρῆσανδὲαὐτῷοἵτεοἰκεῖοικαὶσυγγενεῖς:
πολλοὶδὲκαὶτῶνπολιτῶνσυνεώρταζοντὸνἈνθείαςγάµον.
206
IV.
1-
ἘνδὲτῷχρόνῳὃνἡἌνθειαληφθεῖσαἐκτοῦλῃστηρίουἦλθενεἰςτὴνΤαρσὸνπρεσβύτηςἘφέσι
οςἰατρὸςτὴντέχνην, Εὔδοξοςτοὔνοµα: ἧκεδὲναυαγίᾳπεριπεσὼνεἰςΑἴγυπτονπλέων. 2ΟὗτοςὁΕὔδοξοςπεριῄειµὲνκαὶτοὺςἄλλουςἄνδρας,
ὅσοιΤαρσέωνεὐδοκιµώτατοι,
οὓςµὲνἐσθῆτας,
οὓςδὲἀργύριοναἰτῶν,
διηγούµενοςἑκάστῳτὴνσυµφοράν,
προσῆλθεδὲκαὶτῷΠεριλάῳκαὶεἶπενὅτιἘφέσιοςκαὶἰατρὸςτὴντέχνην.
3ὉδὲαὐτὸνλαβὼνἄγειπρὸςτὴνἌνθειαν,
ἡσθήσεσθαινοµίζωνἀνδρὶὀφθέντιἘφεσίῳ.
ἩδὲἐφιλοφρονεῖτότετὸνΕὔδοξονκαὶἀνεπυνθάνετοεἴτιπερὶτῶναὑτῆςλέγεινἔχοι:
ὁδὲὅτιοὐδὲνἐπίσταιτοµακρᾶςαὐτῷτῆςἀποδηµίαςτῆςἀπὸἘφέσουγεγενηµένης:
ἀλλ̓οὐδὲνἧττονἔχαιρεναὐτῷἡἌνθεια,
ἀναµιµνησκοµένητῶνοἴκοι.
4ΚαὶδὴσυνήθηςτεἐγεγόνειτοῖςκατὰτὴνοἰκίανκαὶεἰσῄειπαῤἕκασταπρὸςτὴνἌνθειαν,
πάντωνἀπολαύωντῶνἐπιτηδείων,
ἀεὶδεόµενοςαὐτῆςεἰςἜφεσονπαραπεµφθῆναι:
καὶγὰρκαὶπαῖδεςἦσαναὐτῷκαὶγυνή.
V. 1- ὩςοὖνπάντατὰπερὶτὸνγάµονἐξετετέλεστοτῷΠεριλάῳ, ἐφειστήκειδὲἡἡµέρα,
δεῖπνονµὲναὐτῷπολυτελὲςἡτοίµαστοκαὶἡἌνθειαἐκεκόσµητοκόσµῳνυµφικῷ:
ἐπαύετοδὲοὔτενύκτωροὔτεµεθ̓ἡµέρανδακρύουσα,
ἀλλ̓ἀεὶπρὸὀφθαλµῶνεἶχενἉβροκόµην.2- Ἐνενόειδὲἅµαπολλά, τὸνἔρωτα, τοὺςὅρκους,
τὴνπατρίδα, τοὺςπατέρας, τὴνἀνάγκην, τὸνγάµον. Καὶδὴκαθ̓αὑτὴνγενοµένη,
καιροῦλαβοµένη, σπαράξασατὰςκόµας ‘ὦπάνταἄδικοςἐγὼ’ φησὶ ‘καὶπονηρά,
ἥτιςοὐχὶτοῖςἴσοιςἉβροκόµηνἀµείβοµαι.3Ὁµὲνγὰρἵναἐµὸςἀνὴρµείνῃκαὶδεσµὰὑποµένεικαὶβασάνουςκαὶἴσωςπουκαὶτέθνηκεν:
ἐγὼδὲκαὶἐκείνωνἀµνηµονῶκαὶγαµοῦµαιἡδυστυχής,
καὶτὸνὑµέναιονᾄσειτιςἐπ̓ἐµοί,
καὶἐπ̓εὐνὴνἀφίξοµαιτὴνΠεριλάου.4-Ἀλλ̓,
ὦφιλτάτηµουπασῶνἉβροκόµουψυχή,
µηδέντιὑπὲρἐµοῦλυπηθῇς,
οὐγὰρἄνποτεἑκοῦσαἀδικήσαιµίσε:
ἐλεύσοµαι,
καὶµέχριθανάτουµείνασανύµφησή.’
5.ΤαῦταεἶπεκαὶἀφικοµένουπαῤαὐτὴντοῦΕὐδόξουτοῦἘφεσίουἰατροῦἀπαγαγοῦσ
ααὐτὸνἐπ̓οἴκηµάτιἠρεµαῖονπροσπίπτειτοῖςγόνασιναὐτοῦκαὶἱκετεύειµηδενὶκατειπεῖντῶν
ῥηθησοµένωνµηδὲνκαὶὁρκίζειτὴνπάτριονθεὸνἌρτεµινξυµπράξεινπάνταὅσαἂναὐτοῦδεη
θῇ.
6-ἈνίστησιναὐτὴνὁΕὔδοξοςπολλὰθρηνοῦσανκαὶθαρρεῖνπαρεκάλεικαὶἐπώµνυε,
πάνταποιήσεινὑπισχνούµενος.
ΛέγειδὴαὐτῷτὸνἉβροκόµουἔρωτακαὶτοὺςὅρκουςτοὺςπρὸςἐκεῖνονκαὶτὰςπερὶτῆςσωφρο
σύνηςσυνθήκας:
7-καὶ
‘εἰµὲνἦνζῶσαν’
ἔφη
‘µεἀπολαβεῖνζῶνταἉβροκόµηνἢλαθεῖνἀποδρᾶσανἐντεῦθεν,
περὶτούτωνἂνἐβουλευόµην:
ἐπειδὴδὲὁµὲντέθνηκε,
φυγεῖνδὲἀδύνατονκαὶτὸνµέλλονταἀµήχανονὑποµεῖναιγάµον῾οὔτεγὰρτὰςσυνθήκαςπαρα
βήσοµαιτὰςπρὸςἉβροκόµηνοὔτετοὺςὅρκουςὑπερόψοµαἰ,
σὺτοίνυνβοηθὸςἡµῖνγενοῦ,
φάρµακονεὑρώνποθεν,
ὃκακῶνµεἀπαλλάξειτὴνκακοδαίµονα.
8Ἔσταιδὲἀντὶτούτωνσοιπολλὰµὲνκαὶπαρὰτῶνθεῶν,
οἷςἐπεύξοµαικαὶπρὸτοῦθανάτουπολλάκιςὑπὲρσοῦ,
αὐτὴδέσοικαὶἀργύριονδώσωκαὶτὴνπαραποµπὴνἐπισκευάσω.
∆υνήσῃδὲπρὸτοῦπυθέσθαιτινὰἐπιβὰςνεὼςτὴνἐπ̓Ἐφέσουπλεῖν:
ἐκεῖδὲγενόµενος,
ἀναζητήσαςτοὺςγονεῖςΜεγαµήδητεκαὶΕὐίππηνἄγγελλεαὐτοῖςτὴνἐµὴντελευτὴνκαὶπάντα
τὰκατὰτὴνἀποδηµίαν, καὶὅτιἉβροκόµηςἀπόλωλελέγε.’
9Εἰποῦσατῶνποδῶναὐτοῦπρουκυλίετοκαὶἐδεῖτοµηδὲνἀντειπεῖναὐτῇδοῦναίτετὸφάρµακον
.
Καὶπροκοµίσασαεἴκοσιµνᾶςἀργυρίουπεριδέραιάτεαὑτῆς῾ἦνδὲαὐτῇπάνταἄφθονα,
πάντωνγὰρἐξουσίανεἶχετῶνΠεριλάοὐδίδωσιτῷΕὐδόξῳ.
207
ὉδὲβουλευσάµενοςπολλὰκαὶτὴνκόρηνοἰκτείραςτῆςσυµφορᾶςκαὶτῆςεἰςἜφεσονἐπιθυµῶ
νὁδοῦκαὶτοῦἀργυρίουκαὶτῶνδώρωνἡττώµενοςὑπισχνεῖταιδώσειντὸφάρµακον,
καὶἀπῄεικοµιῶν.
10-Ἡδὲἐντούτῳπολλὰµὲνκαταθρηνεῖ,
τήντεἡλικίανκατοδυροµένητὴνἑαυτῆςκαὶὅτιµέλλοιπρὸὥραςἀποθανεῖσθαιλυπουµένη,
πολλὰδὲἉβροκόµηνὡςπαρόνταἀνεκάλει.
11ἘντούτῳὀλίγονδιαλιπὼνὁΕὔδοξοςἔρχεταικοµίζωνθανάσιµονµὲνοὐχὶφάρµακον,
ὑπνωτικὸνδέ,
ὡςµήτετιπαθεῖντὴνκόρηνκαὶαὐτὸνἐφοδίωντυχόνταἀνασωθῆναι.
ΛαβοῦσαδὲἡἌνθειακαὶπολλὴνγνοῦσαχάριναὐτὸνἀποπέµπει.
Καὶὁµὲνεὐθὺςἐπιβὰςνεὼςἐπανήχθη,
ἡδὲκαιρὸνἐπιτήδειονἐζήτειπρὸςτὴνπόσιντοῦφαρµάκου.
VI.
1-Καὶἤδηµὲννὺξἦν,
παρεσκευάζετοδὲὁθάλαµος,
καὶἧκονοἱἐπὶτούτῳτεταγµένοιτὴνἌνθειανἐξάξοντες: ἡδὲἄκουσακαὶδεδακρυµένηἐξῄει,
ἐντῇχειρὶκρύπτουσατὸφάρµακον:
καὶὡςπλησίοντοῦθαλάµουγίνεται,
οἱοἰκεῖοιἀνευφήµησαντὸνὑµέναιον: 2-ἡδὲἀνωδύρετοκαὶἐδάκρυεν ‘οὕτωςἐγὼ’ λέγουσα
‘πρότερονἠγόµηνἉβροκόµῃνυµφίῳ,
καὶπαρέπεµπενἡµᾶςπῦρἐρωτικόν,
καὶὑµέναιοςᾔδετοἐπὶγάµοιςεὐδαίµοσι.
3-Νυνὶδὲτίποιήσεις,
Ἄνθεια;
ἀδικήσειςἉβροκόµηντὸνἄνδρα,
τὸνἐρώµενον,
τὸνδιὰσὲτεθνηκότα;
Οὐχοὕτωςἄνανδροςἐγὼοὐδ̓ἐντοῖςκακοῖςδειλή. ∆εδόχθωταῦτα, πίνωµεντὸφάρµακον:
Ἁβροκόµηνεἶναίµοιδεῖἄνδρα:
ἐκεῖνονκαὶτεθνηκόταβούλοµαι.’
4Ταῦταἔλεγεκαὶἤγετοεἰςτὸνθάλαµον.
Καὶδὴµόνηµὲνἐγεγόνει,
ἔτιγὰρΠερίλαοςµετὰτῶνφίλωνεὐωχεῖτο:
σκηψαµένηδὲτῇἀγωνίᾳὑπὸδίψουςκατειλῆφθαιἐκέλευσεναὑτῇτινιτῶνοἰκετῶνὕδωρἐνεγκ
εῖν,
ὡςδὴπιοµένη:
καὶδὴκοµισθέντοςἐκπώµατος,
λαβοῦσαοὐδενὸςἔνδοναὐτῇπαρόντοςἐµβάλλειτὸφάρµακονκαὶδακρύσασα5-‘ὦφιλτάτου’
φησὶν ‘Ἁβροκόµουψυχή, ἰδούσοιτὰςὑποσχέσειςἀποδίδωµικαὶὁδὸνἔρχοµαιτὴνπαρὰσέ,
δυστυχῆµὲνἀλλ̓ἀναγκαῖαν:
καὶδέχουµεἄσµενοςκαὶµοιπάρεχετὴνἐκεῖµετὰσοῦδίαιτανεὐδαίµονα.’
Εἰποῦσαἔπιετὸφάρµακον,
καὶεὐθὺςὕπνοςτεαὐτὴνκατεῖχεκαὶἔπιπτενεἰςγῆν,
καὶἐποίειτὸφάρµακονὅσαἐδύνατο.
VII.
1-ὩςδὲεἰσῆλθενὁΠερίλαος,
εὐθὺςἰδὼντὴνἌνθειανκειµένηνἐξεπλάγηκαὶἀνεβόησε,
θόρυβόςτεπολὺςτῶνκατὰτὴνοἰκίανἦνκαὶπάθησυµµιγῆ, οἰµωγή, φόβος, ἔκπληξις.
Οἱµὲνᾤκτειροντὴνδοκοῦσαντεθνηκέναι,
οἱδὲσυνήχθοντοΠεριλάῳ,
πάντεςδὲἐθρήνουντὸγεγονός.
2-ὉδὲΠερίλαοςτὴνἐσθῆταπεριρρηξάµενος,
ἐπιπεσὼντῷσώµατι ‘ὦφιλτάτηµοικόρη’ φησίν, ‘ὦπρὸτῶνγάµωνκαταλιποῦσατὸνἐρῶντα,
ὀλίγαιςἡµέραιςνύµφηΠεριλάουγενοµένη,
εἰςοἷόνσεθάλαµοντὸντάφονἄξοµεν;
3εὐδαίµωνἄραὅστιςποτεἉβροκόµηςἦν:
µακάριοςἐκεῖνοςὡςἀληθῶς,
τηλικαῦταπαῤἐρωµένηςλαβὼνδῶρα.’
Ὁµὲνοὖντοιαῦταἐθρήνει, περιεβεβλήκειδὲἅπασανκαὶἠσπάζετοχεῖράςτεκαὶπόδας
‘νύµφη’
λέγων
‘ἀθλία,
γύναιδυστυχεστέρα.’
4Ἐκόσµειδὲαὐτὴνπολλὴνµὲνἐσθῆταἐνδύων,
πολὺνδὲπεριθεὶςχρυσόν:
καὶοὐκέτιφέρωντὴνθέαν,
ἡµέραςγενοµένηςἐνθέµενοςκλίνῃτὴνἌνθειαν῾ἡδὲἔκειτοἀναισθητοῦσἀἦγενεἰςτοὺςπλησί
οντῆςπόλεωςτάφους: κἀνταῦθακατέθετοἔντινιοἰκήµατι, πολλὰµὲνἐπισφάξαςἱερεῖα,
πολλὴνδὲἐσθῆτακαὶκόσµονἄλλονἐπικαύσας.
VIII.
1-Καὶὁµὲνἐκτελέσαςτὰνοµιζόµεναὑπὸτῶνοἰκείωνεἰςτὴνπόλινἤγετο:
καταλειφθεῖσαδὲἐντῷτάφῳἡἌνθειαἑαυτῆςγενοµένηκαὶσυνεῖσαὅτιµὴτὸφάρµακονθανάσ
208
ιµονἦν,
στενάξασακαὶδακρύσασα
‘ὦψευσάµενόνµε’
φησίν,
‘ὦκωλῦσανὁδεῦσαιπρὸςτὸνἉβροκόµηνὁδὸνεὐτυχῆ:
ἐσφάληνἄρα῾πάντακαινἂκαὶτῆςἐπιθυµίαςτοῦθανάτου.
2Ἀλλ̓ἔνεστίγεἐντῷτάφῳµείνασαντὸἔργονἐργάσασθαιτοῦφαρµάκουλιµῷ.
Οὐγὰρἂνἐντεῦθένµέτιςἀνέλοιτο,
οὐδ̓ἂνἐπίδοιµιτὸνἥλιονοὐδ̓εἰςφῶςἐλεύσοµαι.’
Ταῦταεἰποῦσαἐκαρτέρει, τὸνθάνατονπροσδεχοµένηγενναίως.
3Ἐνδὲτούτῳνυκτὸςἐπιγενοµένηςλῃσταίτινεςµαθόντεςὅτικόρητέθαπταιπλουσίως,
καὶπολὺςµὲναὐτῇκόσµοςσυγκατάκειταιγυναικεῖος,
πολὺςδὲἄργυροςκαὶχρυσός,
ἦλθονἐπὶτὸντάφονκαὶἀναρρήξαντεςτοῦτάφουτὰςθύρας,
εἰσελθόντεςτόντεκόσµονἀνῃροῦντοκαὶτὴνἌνθειανζῶσανὁρῶσι:
µέγαδὲκαὶτοῦτοκέρδοςἡγούµενοιἀνίστωντεαὐτὴνκαὶἄγεινἐβούλοντο.
4Ἡδὲτῶνποδῶναὐτῶνπροκυλιοµένηπολλὰἐδεῖτο ‘ἄνδρες, οἵτινέςποτ̓ἐστὲ’ λέγουσα,
‘τὸνµὲνκόσµοντοῦτονἅπανταὅστιςἐστὶκαὶἅπαντατὰσυνταφένταλαβόντεςκοµίζετε,
φείσασθεδὲτοῦσώµατος.
5-∆υοῖνἀνάκειµαιθεοῖς,
ἜρωτικαὶΘανάτῳ:
τούτοιςἐάσατεσχολάσαιµε.
Ναὶπρὸςθεῶναὐτῶντῶνπατρῴωνὑµῖν,
µήµε.
ἡµέρᾳδείξητετὴνἄξιανυκτὸςκαὶσκότουςδυστυχοῦσαν.’
Ταῦταἔλεγεν:
οὐκἔπειθεδὲτοὺςλῃστάς,
ἀλλ̓ἐξαγαγόντεςαὐτὴντοῦτάφουκατήγαγονἐπὶθάλαττανκαὶἐνθέµενοισκάφειτὴνεἰςἈλεξά
νδρειανἀνήγοντο:
ἐνδὲτῷπλῷἐθεράπευοναὐτὴνκαὶθαρρεῖνπαρεκάλουν.
6Ἡδὲἐνοἵοιςκακοῖςἐγεγόνειἐννοήσασα,
θρηνοῦσακαὶὀδυροµένη
‘πάλιν’
ἔφησε
‘λῃσταὶκαὶθάλαττα,
πάλιναἰχµάλωτοςἐγώ:
ἀλλὰνῦνδυστυχέστερον,
ὅτιµὴµετὰἉβροκόµου.
7-Τίςµεἄραὑποδέξεταιγῆ;
τίναςδὲἀνθρώπουςὄψοµαι;
µὴΜοῖρινἔτι,
µὴΜαντώ,
µὴΠερίλαον,
µὴΚιλικίαν:
ἔλθοιµιδὲἔνθακἂντάφονἉβροκόµουµόνονὄψοµαι.’
Ταῦταἑκάστοτεἐδάκρυεκαὶαὐτὴµὲνοὐπότον, οὐτροφὴνπροσίετο, ἠνάγκαζονδὲοἱλῃσταί.
IX.
1-
ΚαὶοἱµὲνἀνύσαντεςἡµέραιςοὐπολλαῖςτὸνπλοῦνκατῆρανεἰςἈλεξάνδρειανκἀνταῦθαἐξεβί
βασαντὴνἌνθειανκαὶδιέγνωσανἐκτοῦπλοῦἀνενεγκοῦσανπαραδοῦναίτισινἐµπόροις:
ὁδὲΠερίλαοςµαθὼντὴντοῦτάφουδιορυγὴνκαὶτὴντοῦσώµατοςἀπώλειανἐνπολλῇκαὶἀκατα
σχέτῳλύπῃἦν.
2ὉδὲἉβροκόµηςἐζήτεικαὶἐπολυπραγµόνειεἴτιςἐπίσταιτοκόρηνποθὲνξένηναἰχµάλωτονµε
τὰλῃστῶνἀχθεῖσαν:
ὡςδὲοὐδὲνεὗρεν,
ἀποκαµὼνἦλθενοὗκατήγοντο.
∆εῖπνονδὲαὑτοῖςοἱπερὶτὸνἹππόθοονπαρεσκεύασαν. 3-Καὶοἱµὲνἄλλοιἐδειπνοποιοῦντο,
ὁδὲἉβροκόµηςπάνυἄθυµοςἦνκαὶαὑτὸνἐπὶτῆςεὐνῆςῥίψαςἔκλαεκαὶἔκειτοοὐδὲνπροσιέµεν
ος.
4-Προιόντοςδὲ.
τοῦπότουεὐκαίρωςτοῖςπερὶτὸνἹππόθοονπαροῦσάτιςπρεσβῦτιςἄρχεταιδιηγήµατος,
ᾗὄνοµαΧρυσίον. ‘Ἀκούσατε’ ἔφη, ‘ὦξένοι, πάθουςοὐπρὸπολλοῦγενοµένουἐντῇπόλει.
5-Περίλαόςτις,
ἀνὴρτῶντὰπρῶταδυναµένων,
ἄρχεινµὲνἐχειροτονήθητῆςεἰρήνηςτῆςἐνΚιλικίᾳ,
ἐξελθὼνδὲἐπὶλῃστῶνζήτησιν,
ἤγαγέτιναςσυλλαβὼνλῃστὰςκαὶµετ̓αὐτῶνκόρηνκαλὴνκαὶταύτηνἔπεισεναὐτῷγαµηθῆναι.
6-Καὶπάνταµὲντὰπρὸςτὸνγάµονἐξετετέλεστο:
ἡδὲεἰςτὸνθάλαµονεἰσελθοῦσα,
εἴτεµανεῖσαεἴτεἄλλουτινὸςἐρῶσα,
πιοῦσαφάρµακόνποθενἀποθνήσκει:
οὗτοςγὰρὁτοῦθανάτουτρόποςαὐτῆςἐλέγετο.’ ἈκούσαςὁἹππόθοος ‘αὕτη’ ἔφησεν
‘ἐστὶνἡκόρη,
ἣνἉβροκόµηςζητεῖ.’
7-ὉδὲἉβροκόµηςἤκουεµὲντοῦδιηγήµατος,
παρεῖτοδὲὑπὸἀθυµίας:
ὀψὲδὲκαὶἀναθορῶνἐκτῆςτοῦἹπποθόουφωνῆς
‘ἀλλὰνῦνµὲνσαφῶςτέθνηκενἌνθειακαὶτάφοςἴσωςαὐτῆςἐστινἐνθάδεκαὶτὸσῶµασώζεται.
’ 8-ΛέγωνἐδεῖτοτῆςπρεσβύτιδοςτῆςΧρυσίουἄγεινἐπὶτὸντάφοναὐτῆςκαὶδεῖξαιτὸσῶµα:
ἡδὲἀναστενάξασα
‘τοῦτογὰρ’
ἔφη
‘τῇκόρῃτῇταλαιπώρῳτὸδυστυχέστατον:
209
ὁµὲνγὰρΠερίλαοςκαὶἔθαψεναὐτὴνπολυτελῶςκαὶἐκόσµησε:
πυθόµενοιδὲτὰσυνταφένταλῃσταί,
ἀνορύξαντεςτὸντάφοντόντεκόσµονἀνείλοντοκαὶτὸσῶµαἀφανὲςἐποίησαν:
ἐφ̓οἷςπολλὴκαὶµεγάληζήτησιςὑπὸΠεριλάουγίνεται.’
X.
1-
ἈκούσαςὁἉβροκόµηςπεριερρήξατοτὸνχιτῶνακαὶµεγάλωςἀνωδύρετοκαλῶςµὲνκαὶσωφρ
όνωςἀποθανοῦσανἌνθειαν,
δυστυχῶςδὲµετὰτὸνθάνατονἀπολοµένην.
2Τίςἄραλῃστὴςοὕτωςἐρωτικός, ἵνακαὶνεκρᾶςἐπιθυµήσῃσου; ἵνακαὶτὸσῶµαἀφέληται;
Ἀπεστερήθηνσοῦὁδυστυχὴςτῆςµόνηςἐµοὶπαραµυθίας.
3Ἀποθανεῖνµὲνοὖνἔγνωσταιπάντως:
ἀλλὰτὰπρῶτακαρτερήσω,
µέχριοὗτὸσῶµαεὕρωτὸσὸνκαὶπεριβαλὼνἐµαυτὸνἐκείνῳσυγκαταθάψω.’
Ταῦταἔλεγενὀδυρόµενος: θαρρεῖνδὲαὐτὸνπαρεκάλουνοἱπερὶτὸνἹππόθοον.
4Καὶτότεµὲνἀνεπαύσαντοδἰὅληςτῆςνυκτός:
ἔννοιαδὲπάντωνἉβροκόµηνεἰσήρχετο, Ἀνθείας, τοῦθανάτου, τοῦτάφου, τῆςἀπωλείας.
Καὶδὴοὐκέτικαρτερῶν,
λαθὼνπάντας῾ἔκειντοδὲὑπὸµέθηςοἱπερὶτὸνἹππόθοον̓ἔξεισινὡςδήτινοςχρῄζων,
καὶκαταλιπὼνπάνταςἐπὶτὴνθάλαττανἔρχεταικαὶἐπιτυγχάνεινεὼςεἰςἈλεξάνδρειανἀναγοµ
ένης,
καὶἐπιβὰςἀνάγεταιἐλπίζωνδὴτοὺςλῃστὰςτοὺςσυλήσανταςπάνταἐνΑἰγύπτῳκαταλήψεσθα
ι:
ὡδήγειδὲαὐτὸνεἰςταῦταἐλπὶςδυστυχής.
5-Καὶὁµὲνἔπλειτὴνἐπ̓Ἀλεξανδρείας,
ἡµέραςδὲγενοµένηςοἱπερὶτὸνἹππόθοονἠνιῶντοµὲνἐπὶτῷἀπαλλαγῆναιτοῦἉβροκόµου,
ἀναλαβόντεςδ̓αὑτοὺςἡµερῶνὀλίγωνἔγνωσαντὴνἐπὶΣυρίαςκαὶΦοινίκηςλῃστεύοντεςἰέναι.
XI.
1-
ΟἱδὲλῃσταὶτὴνἌνθειανεἰςἈλεξάνδρειανπαρέδωκανἐµπόροιςπολὺλαβόντεςἀργύριον:
οἱδὲἔτρεφόντεαὐτὴνπολυτελῶςκαὶτὸσῶµαἐθεράπευον,
ζητοῦντεςἀεὶτὸνὠνησόµενονκατ̓ἀξίαν.
2ἜρχεταιδήτιςεἰςἈλεξάνδρειανἐκτῆςἸνδικῆςτῶνἐκεῖβασιλέωνκατὰθέαντῆςπόλεωςκαὶκα
τὰχρείανἐµπορίας,
Ψάµµιςτοὔνοµα.
3ΟὗτοςὁΨάµµιςὁρᾷτὴνἌνθειανπαρὰτοῖςἐµπόροιςκαὶἰδὼνἁλίσκεταικαὶἀργύριονδίδωσιτο
ῖςἐµπόροιςπολὺκαὶλαµβάνειθεράπαιναναὐτήν.
4Ὠνησάµενοςδὲἄνθρωποςβάρβαροςεὐθὺςἐπιχειρεῖβιάζεσθαικαὶχρῆσθαιπρὸςσυνουσίαν:
οὐθέλουσαδὲτὰµὲνπρῶταἀντέλεγε,
τελευταῖονδὲσκήπτεταιπρὸςτὸνΨάµµιν῾δεισιδαίµονεςδὲφύσειβάρβαροἰὅτιαὐτὴνὁπατὴρ
γεννωµένηνἀναθείῃτῇἼσιδιµέχριὥραςγάµωνκαὶἔλεγενἔτιτὸνχρόνονἐνιαυτῷτίθεσθαι. 5‘Ἢνοὖν’ φησὶν ‘ἐξυβρίσῃςεἰςτὴνἱερὰντῆςθεοῦ, µηνίσειµὲνἐκείνη, χαλεπὴδὲἡτιµωρία.’
ΠείθεταιΨάµµιςκαὶτὴνθεὸνπροσεκύνεικαὶἈνθείαςἀπέχεται:
ἱερὰτῆςἼσιδοςνοµιζοµένη.
ἩδὲναῦςἡτὸνἉβροκόµηνἔχουσατοῦµὲνκατ̓Ἀλεξάνδρειανπλοῦδιαµαρτάνει,
ἐκπίπτειδὲἐπὶτὰςἐκβολὰςτοῦΝείλουτήντεΠαραίτιονκαλουµένηνκαὶΦοινίκηςὅσηπαραθα
λάσσιος.
2Ἐκπεσοῦσιδὲαὐτοῖςἐπιδραµόντεςτῶνἐκεῖποιµένωντάτεφορτίαδιαρπάζουσικαὶτοὺςἄνδρα
ςδεσµεύουσικαὶἄγουσινὁδὸνἔρηµονπολλὴνεἰςΠηλούσιοντῆςΑἰγύπτουπόλιν,
κἀνταῦθαπιπράσκουσινἄλλονἄλλῳ.
ὨνεῖταιδὴτὸνἉβροκόµηνπρεσβύτηςστρατιώτης῾ἦνδὲπεπαυµένος᾿, Ἄραξοςτοὔνοµα. 3ΟὗτοςὁἌραξοςεἶχεγυναῖκαὀφθῆναιµιαράν,
ἀκουσθῆναιπολὺχείρω,
ἅπασανἀκρασίανὑπερβεβληµένην,
Κυνὼτοὔνοµα.
ΑὕτηἡΚυνὼἐρᾷτοῦἉβροκόµουεὐθὺςἀχθέντοςεἰςτὴνοἰκίανκαὶοὐκέτικατεῖχε:
XII
1-ἡδὲἔτιπαρὰΨάµµιδιἦνφρουρουµένη,
210
δεινὴκαὶἐρασθῆναικαὶἀπολαύεινἐθέλειντῆςἐπιθυµίας.
4ὉµὲνδὴἌραξοςἠγάπατὸνἉβροκόµηνκαὶπαῖδαἐποιεῖτο,
ἡδὲΚυνὼπροσφέρειλόγονπερὶσυνουσίαςκαὶδεῖταιπείθεσθαικαὶἄνδραἕξεινὑπισχνεῖτοκαὶ
Ἄραξονἀποκτενεῖν. ∆εινὸνἐδόκειτοῦτοἉβροκόµῃ, καὶπολλὰἅµαἐσκόπει, τὴνἌνθειαν,
τοὺςὅρκους,
τὴνπολλάκιςαὐτὸνσωφροσύνηνἀδικήσασανἤδη:
τέλοςδὲἐγκειµένηςτῆςΚυνοῦςσυγκατατίθεται.
5ΚαὶνυκτὸςγενοµένηςἡµὲνὡςἄνδραἕξουσατὸνἉβροκόµηντὸνἌραξονἀποκτιννύεικαὶλέγε
ιτὸπραχθὲντῷἉβροκόµῃ, ὁδὲοὐκἐνεγκὼντὴντῆςγυναικὸςἀσέλγειανἀπηλλάγητῆςοἰκίας,
καταλιπὼναὐτήν, οὐκἄνποτεµιαιφόνῳσυγκατακλιθῆναιφήσας. 6-Ἡδὲἐναὑτῇγενοµένη,
ἅµατῇἡµέρᾳπροσελθοῦσα%5ἔνθατὸπλῆθοςτῶνΠηλουσιωτῶνἦν,
ἀνωδύρετοτὸνἄνδρακαὶἔλεγενὅτιαὐτὸνὁνεώνητοςδοῦλοςἀποκτείνειεκαὶ.
πολλὰὅσαἐπεθρήνεικαὶἐδόκειλέγειντῷπλήθειπιστά.
ΟἱδὲεὐθὺςσυνέλαβοντὸνἉβροκόµηνκαὶδήσαντεςἀνέπεµποντῷτῆςΑἰγύπτουτότεἄρχοντι.
ΚαὶὁµὲνδίκηνδώσωνεἰςἈλεξάνδρειανἤγετοὑπὲρὧνἐδόκειτὸνδεσπότηνἌραξονἀποκτεῖνα
ι:
Livro IV
I.1Oi99
δὲπερὶτὸνἹππόθοονἀπὸΤαρσοῦκινήσαντεςᾔεσαντὴνἐπὶΣυρίας,
πᾶνὅτιἐµποδὼνλάβοιενὑποχείριονποιούµενοι:
ἐνέπρησανδὲκαὶκώµαςκαὶἄνδραςἀπέσφαξανπολλούς.
ΚαὶοὕτωςἀπελθόντεςεἰςΛαοδίκειαντῆςΣυρίαςἔρχονταικἀνταῦθαἐπεδήµουνοὐκέτιὡςλῃσ
ταί,
ἀλλ̓ὡςκατὰθέαντῆςπόλεωςἥκοντες.
2ἘνταῦθαὁἹππόθοοςἐπολυπραγµόνειεἴποθενἉβροκόµηνεὑρεῖνδυνήσεται:
ὡςδ̓οὐδὲνἤνυε, ἀναλαβόντεςαὑτούς, τὴνἐπὶΦοινίκηςἐτράποντο, κἀκεῖθενἐπ̓Αἴγυπτον:
ἐδόκειγὰραὐτοῖςκαταδραµεῖνΑἴγυπτον.
3ΚαὶσυλλεξάµενοιµέγαλῃστήριονἔρχονταιτὴνἐπὶΠηλουσίουκαὶτῷποταµῷτῷΝείλῳπλεύσ
αντεςεἰςἙρµοῦπόλιντῆςΑἰγύπτουκαὶΣχεδίαν,
ἐµβαλόντεςεἰςδιώρυγατοῦποταµοῦτὴνὑπὸΜενελάουγενοµένηνἈλεξάνδρειανµὲνπαρῆλθ
ον,
ἦλθονδὲἐπὶΜέµφιντὴνἱερὰντῆςἼσιδος,
κἀκεῖθενἐπὶΜένδην:
4παρέλαβονδὲκαὶτῶνἐπιχωρίωνκοινωνοὺςτοῦλῃστηρίουκαὶἐξηγητὰςτῆςὁδοῦ.
∆ιελθόντεςµὲνδὴταῦταἐπὶΛεόντωνἔρχονταιπόλινκαὶἄλλαςπαρελθόντεςκώµαςοὐκὀλίγας
211
,
ὧναἱπολλαὶἀφανεῖς,
εἰςΚοπτὸνἔρχονταιτῆςΑἰθιοπίαςπλησίον.
5Ἐνταῦθαἔγνωσανλῃστεύειν:
πολὺγὰρπλῆθοςἐµπόρωντὸδιοδεῦονἦντῶντεἐπ̓ΑἰθιοπίανκαὶτῶνἐπὶἸνδικὴνφοιτώντων:
ἦνδὲαὐτοῖςκαὶτὸλῃστήριονἀνθρώπωνπεντακοσίων.
ΚαταλαβόντεςδὲτῆςΑἰθιοπίαςτὰἄκρα,
καὶπάντακαταστησάµενοιδιέγνωσαντοὺςπαριόνταςλῃστεύειν.
II.
1ὉδὲἉβροκόµηςὡςἧκεπαρὰτὸνἄρχοντατῆςΑἰγύπτου῾ἐπεστάλκεσανδὲοἱΠηλουσιῶταιτὰγ
ενόµενααὐτῷκαὶτὸντοῦἈράξουφόνονκαὶὅτιοἰκέτηςὢντοιαῦταἐτόλµησἐµαθὼνοὖνἕκαστ
α,
οὐκέτιοὐδὲπυθόµενοςτὰγενόµενακελεύειτὸνἉβροκόµηνἀγαγόνταςπροσαρτῆσαισταυρῷ
.
2-Ὁδὲὑπὸµὲντῶνκακῶνἀχανὴςἦν,
παρεµυθεῖτοδὲαὐτὸντῆςτελευτῆςὅτιἐδόκεικαὶἌνθειαντεθνηκέναι.
ἌγουσιδὲαὐτὸνοἷςτοῦτοπροσετέτακτοπαρὰτὰςὄχθαςτοῦΝείλου:
ἦνδὲκρηµνὸςἀπότοµοςεἰςτὸῥεῦµατοῦποταµοῦβλέπων:
3καὶἀναστήσαντεςτὸνσταυρὸνπροσαρτῶσι, σπάρτοιςτὰςχεῖραςσφίγξαντεςκαὶτοὺςπόδας:
τοῦτογὰρτῆςἀνασταυρώσεωςἔθοςτοῖςἐκεῖ:
καταλιπόντεςδὲᾤχοντο,
ὡςἐνἀσφαλεῖτοῦπροσηρτηµένουµενοῦντος.
4ὉδὲἀναβλέψαςεἰςτὸνἥλιονκαὶτὸῥεῦµαἰδὼντοῦΝείλου ‘ὦθεῶν’ φησὶ ‘φιλανθρωπότατε,
ὃςΑἴγυπτονἔχεις,
δἰὃνκαὶγῆκαὶθάλασσαπᾶσινἀνθρώποιςπέφηνεν,
εἰµέντιἉβροκόµηςἀδικῶ,
καὶἀπολοίµηνοἰκτρῶςκαὶµείζονατιµωρίανεἴτιςἐστὶταύτηςὑποσχοῖµι:
5εἰδὲὑπὸγυναικὸςπροδέδοµαιπονηρᾶς,
µήτετὸΝείλουῥεῦµαµιανθείηποτεἀδίκωςἀπολοµένουσώµατος,
µήτεσὺτοιοῦτονἴδοιςθέαµα, ἄνθρωπονοὐδὲνἀδικήσανταἀπολλύµενονἐπὶτῆςσῆς.’ 6Ταῦταεὔξατο,
καὶαὐτὸνὁθεὸςοἰκτείρει,
καὶπνεῦµαἐξαίφνηςἀνέµουγίνεταικαὶἐµπίπτειτῷσταυρῷκαὶἀποβάλλειµὲντοῦκρηµνοῦτὸ
γεῶδες,
εἰςὃἦνὁσταυρὸςἐρηρεισµένος,
ἐµπίπτειδὲὁἉβροκόµηςτῷῥεύµατικαὶἐφέρετοοὔτετοῦὕδατοςαὐτὸνἀδικοῦντοςοὔτετῶνδε
σµῶνἐµποδιζόντωνοὔτετῶνθηρίωνπαραβλαπτόντων, ἀλλὰπαραπέµποντοςτοῦῥεύµατος:
7-φερόµενοςδὲεἰςτὰςἐκβολὰςἔρχεταιτὰςεἰςτὴνθάλασσαντοῦΝείλου,
κἀνταῦθαοἱπαραφυλάσσοντεςλαµβάνουσιναὐτὸνκαὶὡςδραπέτηντῆςτιµωρίαςἄγουσιπαρ
ὰτὸνδιοικοῦντατὴνΑἴγυπτον.
8Ὁδὲἔτιµᾶλλονὀργισθεὶςκαὶπονηρὸνεἶναινοµίσαςτελέωςκελεύειπυρὰνποιήσαντας,
ἐπιθένταςκαταφλέξαιτὸνἉβροκόµην.
Καὶἦνµὲνἅπανταπαρεσκευασµένα,
καὶἡπυρὰπαρὰτὰςἐκβολὰςτοῦΝείλου,
καὶἐπετέθειτοµὲνὁἉβροκόµηςκαὶτὸπῦρὑπετέθειτο,
ἄρτιδὲτῆςφλογὸςµελλούσηςἅπτεσθαιτοῦσώµατοςεὔχετοπάλινὀλίγα,
ὅσαἐδύνατο,
σῶσαιαὐτὸνἐκτῶνκαθεστώτωνκακῶν.
9-ΚἀνταῦθακυµατοῦταιµὲνὁΝεῖλος,
ἐπιπίπτειδὲτῇπυρᾷτὸῥεῦµακαὶκατασβέννυσιτὴνφλόγα:
θαῦµαδὲτὸγενόµενοντοῖςπαροῦσινἦν,
καὶλαβόντεςἄγουσιτὸνἉβροκόµηνπρὸςτὸνἄρχοντατῆςΑἰγύπτουκαὶλέγουσιτὰσυµβάντα
καὶτὴντοῦΝείλουβοήθειανδιηγοῦνται.
10-
212
Ἐθαύµασενἀκούσαςτὰγενόµενακαὶἐκέλευσεναὐτὸντηρεῖσθαιµὲνἐντῇεἱρκτῇ,
ἐπιµέλειανδὲἔχεινπᾶσαν,
‘ἕως’
‘µάθωµενὅστιςὁἄνθρωπόςἐστινκαὶὅτιοὕτωςαὐτοῦµέλειθεοῖς.’
ἔφη
III.
1-Kai
o9
men
ἦνἐντῇεἱρκτῇ:
ὁδὲΨάµµιςὁτὴνἌνθειανὠνησάµενοςδιέγνωµὲνἀπιέναιτὴνἐπ̓οἴκουκαὶπάνταπρὸςτὴνὁδοι
πορίανπαρεσκευάζετο:
ἔδειδὲαὐτὸνὁδεύσαντατὴνἄνωΑἴγυπτονἐπ̓Αἰθιοπίανἐλθεῖν,
ἔνθαἦντὸἹπποθόουλῃστήριον.
2-Ἦνδὲπάνταεὐτρεπῆ,
κάµηλοίτεπολλαὶκαὶὄνοικαὶἵπποισκευαγωγοί:
ἦνδὲπολὺµὲνπλῆθοςχρυσοῦ,
πολὺδὲἀργύρου,
πολλὴδὲἐσθής:
ἦγεδὲκαὶτὴνἌνθειαν.
3ἩδὲὡςἈλεξάνδρειανπαρελθοῦσαἐγένετοἐνΜέµφει, εὔχετοτῇἼσιδιστᾶσαπρὸτοῦἱεροῦ
‘ὦµεγίστηθεῶν,
µέχριµὲννῦνἁγνὴµένωλογιζοµένησή,
καὶγάµονἄχραντονἉβροκόµῃτηρῶ:
τοὐντεῦθενδὲἐπὶἸνδοὺςἔρχοµαι,
µακρὰνµὲντῆςἘφεσίωνγῆς,
µακρὰνδὲτῶνἉβροκόµουλειψάνων.
4ἪσῶσονοὖνἐντεῦθεντὴνδυστυχῆκαὶζῶντιἀπόδοςἉβροκόµῃ,
ἢεἰπάντωςεἵµαρταιχωρὶςἀλλήλωνἀποθανεῖν,
ἔργασαιτοῦτο,
µεῖναίµεσωφρονοῦσαντῷνεκρῷ.’
5-Ταῦταεὔχετο,
καὶπροῄεσαντῆςὁδοῦ,
καὶἤδηµὲνδιεληλύθεσανΚοπτόν,
ἐνέβαινονδὲτοῖςΑἰθιόπωνὅροις,
καὶαὐτοῖςἹππόθοοςἐπιπίπτεικαὶαὐτὸνµὲντὸνΨάµµινἀποκτιννύεικαὶπολλοὺςτῶνσὺναὐτῷ
καὶτὰχρήµαταλαµβάνεικαὶτὴνἌνθειαναἰχµάλωτον:
6συλλεξάµενοςδὲτὰληφθένταχρήµαταἦγενεἰςἄντροντὸἀποδεδειγµένοναὐτοῖςεἰςἀπόθεσιν
τῶνχρηµάτων:
ἐνταῦθαἤγετοκαὶἡἌνθεια:
οὐκἐγνώριζεδὲἹππόθοον,
οὐδὲἹππόθοοςτὴνἌνθειαν.
Ὁπότεδὲαὐτῆςπύθοιτοἥτιςτεεἴηκαὶπόθεν,
τὸµὲνἀληθὲςοὐκἔλεγεν, ἔφασκεδὲΑἰγυπτίαεἶναιἐπιχώριος, τοὔνοµαΜεµφῖτις.
IV.
1-ΚαὶἡµὲνἦνπαρὰτῷἹπποθόῳἐντῷἄντρῳτῷλῃστρικῷ:
ἐντούτῳδὲµεταπέµπεταιτὸνἉβροκόµηνὁἄρχωντῆςΑἰγύπτουκαὶπυνθάνεταιτὰκατ̓αὐτὸνκ
αὶµανθάνειτὸδιήγηµακαὶοἰκτείρειτὴντύχηνκαὶδίδωσιχρήµατακαὶεἰςἜφεσονἄξεινὑπισχν
εῖτο.
2-Ὁδὲἅπασανµὲνᾔδειχάριναὐτῷτῆςσωτηρίας,
ἐδεῖτοδὲἐπιτρέψαιζητῆσαιτὴνἌνθειαν.
Καὶὁµὲνπολλὰδῶραλαβών,
ἐπιβὰςσκάφουςἀνήγετοτὴνἐπ̓Ἰταλίας,
ὡςἐκεῖπευσόµενόςτιπερὶἈνθείας.
ὉδὲἄρχωντῆςΑἰγύπτουµαθὼντὰκατὰτὸνἌραξον,
µεταπεµψάµενοςἀνεσταύρωσετὴνΚυνώ.
V.
1-ΤῆςδὲἈνθείαςοὔσηςἐντῷἄντρῳἐρᾷτῶνφρουρούντωναὐτὴνλῃστῶνεἷς,
Ἀγχίαλοςτοὔνοµα.
ΟὗτοςὁἈγχίαλοςἦνµὲντῶνἀπὸΣυρίαςἹπποθόῳσυνεληλυθότων,
Λαοδικεὺςτὸγένος,
ἐτιµᾶτοδὲπαρὰτῷἹπποθόῳνεανικόςτεκαὶµεγάλαἐντῷλῃστηρίῳδυνάµενος.
2Ἐρασθεὶςδὲαὐτῆςτὰµὲνπρῶταλόγουςπροσέφερενὡςπείσωνκαὶἔφασκελόγῳλήψεσθαικαὶ
παρὰτοῦἹπποθόουδῶροναἰτήσειν.
3-Ἡδὲπάνταἠρνεῖτο,
καὶοὐδὲναὐτὴνἐδυσώπει,
οὐκἄντρον,
οὐδεσµά,
οὐλῃστὴςἀπειλῶν:
ἐφύλασσεδὲἑαυτὴνἔτιἉβροκόµῃκαὶδοκοῦντιτεθνηκέναι,
καὶπολλάκιςἀνεβόαεἴποτελαθεῖνἠδύνατο
‘Ἁβροκόµουµόνουγυνὴµενῶ,
κἂνἀποθανεῖνδέῃ,
κἂνὧνπέπονθαχείρωπαθεῖν.’
4ΤαῦταεἰςµείζωσυµφορὰνἦγετὸνἈγχίαλον,
καὶἡκαθ̓ἡµέραντῆςἈνθείαςὄψιςἐξέκαεναὐτὸνεἰςτὸνἔρωτα: οὐκέτιδὲφέρεινδυνάµενος,
ἐπεχείρειβιάζεσθαιτὴνἌνθειαν.
5-Καὶνύκτωρποτέ,
οὐπαρόντοςἹπποθόου,
213
ἀλλὰµετὰτῶνἄλλωνὄντοςἐντῷλῃστηρίῳ,
ἐπανίστατοκαὶὑβρίζεινἐπειρᾶτο:
ἡδὲἐνἀµηχάνῳκακῷγενοµένη,
σπασαµένητὸπαρακείµενονξίφοςπαίειτὸνἈγχίαλον,
καὶἡπληγὴγίνεταικαιρία: ὁµὲνγὰρπεριληψόµενοςκαὶφιλήσωνὅλοςἐνενεύκειπρὸςαὐτήν,
ἡδὲκατεγκοῦσατὸξίφοςκατὰτῶνστέρνωνἔπληξε.
6-ΚαὶἈγχίαλοςµὲνδίκηνἱκανὴνἐδεδώκειτῆςπονηρᾶςἐπιθυµίας,
ἡδὲἌνθειαεἰςφόβοντῶνδεδραµένωνἔρχεταικαὶπολλὰἐβουλεύετοποτὲµὲνἑαυτὴνἀποκτεῖν
αι῾ἀλλ̓ἔτιὑπὲρἉβροκόµουτιἤλπιζἐ, ποτὲδὲφυγεῖνἐκτοῦἄντρου῾ἀλλὰτοῦτοἀµήχανονἦν:
οὔτεγὰρἡὁδὸςαὐτῇεὔποροςἦνοὔτεὁἐξηγησόµενοςτὴνπορείαν̓.
Ἔγνωοὖνµένἑ̣̣̓ἐντῷἄντρῳκαὶφέρεινὅτιἂντῷδαίµονιδοκῇ.
VI.
1-Κἀκείνηνµὲντὴννύκταἔµεινεν,
οὔτεὕπνουτυχοῦσακαὶπολλὰἐννοοῦσα:
ἐπεὶδὲἡµέραἐγένετο,
ἧκονοἱπερὶτὸνἹππόθοονκαὶὁρῶσιτὸνἈγχίαλονἀνῃρηµένονκαὶτὴνἌνθειανπαρὰτῷσώµατ
ικαὶεἰκάζουσιτὸγενόµενονκαὶἀνακρίναντεςαὐτὴνµανθάνουσιπάντα.
2Ἔδοξενοὖναὐτοῖςἐνὀργῇτὸγενόµενονἔχεινκαὶτὸντεθνηκόταἐκδικῆσαιφίλον:
καὶἐβουλεύοντοκατὰἈνθείαςποικίλα,
ὁµέντιςἀποκτεῖναικελεύωνκαὶσυνθάψαιτῷἈγχιάλουσώµατι, ἄλλοςδὲἀνασταυρῶσαι:3ὁδὲἹππόθοοςἠνιᾶτοµὲνἐπὶτῷἈγχιάλῳ,
ἐβουλεύετοδὲκατὰἈνθείαςµείζονακόλασιν:
καὶδὴκελεύειτάφρονὀρύξανταςµεγάληνκαὶβαθεῖανἐµβάλλειντὴνἌνθειανκαὶκύναςµετ̓αὐ
τῆςδύο, ἵναἐκτούτουµεγάληνδίκηνὑπόσχῃτῶντετολµηµένων.
4-Καὶοἱµὲνἐποίουντὸπροσταχθέν,
ἤγετοδὲἡἌνθειαἐπὶτὴντάφρονκαὶοἱκύνες:
ἦσανδὲΑἰγύπτιοι,
καὶτἆλλαµεγάλοικαὶὀφθῆναιφοβεροί.
Ὡςδὲἐνεβλήθησαν,
ξύλαἐπιτιθέντεςµεγάλαἐπέχωσαντὴντάφρον῾ἦνδὲτοῦΝείλουὀλίγονἀπέχουσἀκαὶκατέστη
σανφρουρὸνἕνατῶνλῃστῶν,
Ἀµφίνοµοντοὔνοµα.
5ΟὗτοςὁἈµφίνοµοςἤδηµὲνκαὶπρότερονἑαλώκειτῆςἈνθείας,
τότεδ̓οὖνἠλέειµ̣̔̓λλοναὐτὴνκαὶτῆςσυµφορᾶςᾤκτειρεν:
ἐνενόειδὲὅπωςἐπὶπλέοναὐτὴζήσεται,
ὅπωςτεοἱκύνεςαὐτῇµηδὲνἐνοχλήσουσι,
καὶἑκάστοτεἀφαιρῶντῶνἐπικειµένωντῇτάφρῳξύλωνἄρτουςἐνέβαλλεκαὶὕδωρπαρεῖχεκαὶ
ἐκτούτουτὴνἌνθειανθαρρεῖνπαρεκάλει.
6Καὶοἱκύνεςτρεφόµενοιοὐδέντιδεινὸναὐτὴνεἰργάζοντο,
ἀλλ̓ἤδητιθασοὶἐγίνοντοκαὶἥµεροι:
ἡδὲἌνθειαἀποβλέψασαεἰςἑαυτὴνκαὶτὴνπαροῦσαντύχηνἐννοήσασα
‘οἴµοι’
φησὶ
‘τῶνκακῶν,
οἵανὑποµένωτιµωρίαν;
τάφροςκαὶδεσµωτήριονκαὶκύνεςσυγκαθειργµένοιπολὺτῶνλῃστῶνἡµερώτεροι: τὰαὐτά,
Ἁβροκόµη,
σοιπάσχω:
7-ἦςγάρποτεἐνὁµοίᾳτύχῃκαὶσύ:
καὶσὲἐνΤύρῳκατέλιπονἐνδεσµωτηρίῳ:
ἀλλ̓εἰµὲνζῇςἔτι,
δεινὸνοὐδέν:
ἴσωςγάρποτεἀλλήλουςἕξοµεν:
εἰδὲἤδητέθνηκας,
µάτηνἐγὼφιλοτιµοῦµαιζῆν,
µάτηνδὲοὗτος,
ὅστιςποτέἐστιν,
ἐλεεῖµετὴνδυστυχῆ.’
Ταῦταἔλεγεκαὶἐπεθρήνεισυνεχῶς.Καὶἡµὲνἐντῇτάφρῳκατεκέκλειστοµετὰτῶνκυνῶν,
ὁδ̓Ἀµφίνοµοςἑκάστοτεκἀκείνηνπαρεµυθεῖτοκαὶτοὺςκύναςἡµέρουςἐποίειτρέφων:
214
Livro V
I.1-9O
δὲἉβροκόµηςδιανύσαςτὸνἀπ̓ΑἰγύπτουπλοῦνεἰςαὐτὴνµὲνἸταλίανοὐκἔρχεται῾τὸγὰρπ
νεῦµατὴνναῦνἀπῶσαντοῦκατ̓εὐθὺἀπέσφηλεπλοὖ,
ἤγαγεδὲεἰςΣικελίανκαὶκατήχθησανεἰςπόλινΣυρακούσαςµεγάληνκαὶκαλήν.
2ἘνταῦθαὁἉβροκόµηςγενόµενοςἔγνωπεριιέναιτὴννῆσονκαὶἀναζητεῖνεἴτιπερὶἈνθεία
ςπύθοιτο.
ΚαὶδὴἐνοικίζεταιπλησίοντῆςθαλάττηςπαρὰἀνδρὶΑἰγιαλεῖπρεσβύτῃ,
ἁλιεῖτὴντέχνην.
ΟὗτοςὁΑἰγιαλεὺςπένηςµὲνἦνκαὶξένοςκαὶἀγαπητῶςαὑτὸνδιέτρεφενἐκτῆςτέχνης:
ὑπεδέξατοδὲτὸνἉβροκόµηνἄσµενοςκαὶπαῖδαἐνόµιζεναὑτοῦκαὶἠγάπαδιαφερόντως.
3ΚαὶἤδηποτὲκαὶἐκπολλῆςτῆςπρὸςἀλλήλουςσυνηθείαςὁµὲνἉβροκόµηςαὐτῷδιηγήσατ
οτὰκαθ̓αὑτόν,
καὶτὴνἌνθειανεἰρήκεικαὶτὸνἔρωτακαὶτὴνπλάνην,
ὁδὲΑἰγιαλεὺςἄρχεταιτῶναὑτοῦδιηγηµάτων.
4-‘Ἐγὼ’
ἔφη,
‘τέκνονἉβροκόµη,
οὔτεΣικελιώτηςοὔτεἐπιχώριος,
ἀλλὰΣπαρτιάτηςΛακεδαιµόνιοςτῶντὰπρῶταἐκεῖδυναµένων,
καὶπεριουσίανἔχωνπολλήν. 5-ΝέοςδὲὢνἠράσθηνκόρηςπολίτιδοςΘελξινόηςτοὔνοµα,
ἀντερᾷδέµουκαὶἡΘελξινόη. Καὶτῇπόλειπαννυχίδοςἀγοµένηςσυνήλθοµενἀλλήλοις,
ἀµφοτέρουςὁδηγοῦντοςτοῦθεοῦ,
καὶἀπελαύσαµενὧνἕνεκασυνήλθοµεν.
6Καὶχρόνῳτινὶἀλλήλοιςσυνῆµενλανθάνοντεςκαὶὠµόσαµενἀλλήλοιςπολλάκιςστέρξειν
καὶµέχριθανάτου:
ἐνεµέσησεδέτιςἄραθεῶν.
Κἀγὼµὲνἔτιἐντοῖςἐφήβοιςἤµην,
τὴνδὲΘελξινόηνἐδίδοσανπρὸςγάµονοἱπατέρεςἐπιχωρίῳτινὶνεανίσκῳἈνδροκλεῖτοὔν
οµα:
ἤδηδὲαὐτῆςκαὶἤραὁἈνδροκλῆς.
7Τὰµὲνοὖνπρῶταἡκόρηπολλὰςπροφάσειςἐποιεῖτοἀναβαλλοµένητὸνγάµον:
τελευταῖονδὲδυνηθεῖσαἐνταὐτῷµοιγενέσθαισυντίθεταινύκτωρἐξελθεῖνΛακεδαίµονο
ςµετ̓ἐµοῦ.
Καὶδὴἐστείλαµενἑαυτοὺςνεανικῶς,
ἀπέκειραδὲκαὶτὴνκόµηντῆςΘελξινόης.
8Ἐναὐτῇοὖντῇτῶνγάµωννυκτὶἐξελθόντεςτῆςπόλεωςᾔειµενἐπ̓ἌργοςκαὶΚόρινθον,
κἀκεῖθενἀναγόµενοιἐπλεύσαµενεἰςΣικελίαν.
Λακεδαιµόνιοιδὲπυθόµενοιτὴνφυγὴνἡµῶνθάνατονκατεψηφίσαντο.
Ἡµεῖςδὲἐνταῦθαδιήγοµενἀπορίᾳµὲντῶνἐπιτηδείων,
ἡδόµενοιδὲκαὶπάντωνἀπολαύεινδοκοῦντες,
ὅτιἦµενµετ̓ἀλλήλων.
9ΚαὶτέθνηκενἐνταῦθαοὐπρὸπολλοῦΘελξινόηκαὶτὸσῶµαοὐτέθαπται,
ἀλλ̓ἔχωγὰρµετ̓ἐµαυτοῦκαὶἀεὶφιλῶκαὶσύνειµι.’
10ΚαὶἅµαλέγωνεἰσάγειτὸνἉβροκόµηνεἰςτὸἐνδότερονδωµάτιονκαὶδεικνύειτὴνΘελξινό
ην,
γυναῖκαπρεσβῦτινµὲνἤδη,
καλὴνδὲγενοµένηνἔτιΑἰγιαλεῖκόρην:
τὸδὲσῶµααὐτῆςἐτέθαπτοταφῇΑἰγυπτίᾳ:
ἦνγὰρκαὶτούτωνἔµπειροςὁγέρων.
11‘Ταύτῃοὖν’
ἔφη,
‘ὦτέκνονἉβροκόµη,
ἀείτεὡςζώσῃλαλῶκαὶσυγκατάκειµαικαὶσυνευωχοῦµαι:
κἂνἔλθωποτὲἐκτῆςἁλιείαςκεκµηκώς,
αὕτηµεπαραµυθεῖταιβλεποµένη:
οὐγὰροἵανῦνὁρᾶταισοὶτοιαύτηφαίνεταιἐµοί:
ἀλλ̓ἐννοῶ,
τέκνον,
οἵαµὲνἦνἐνΛακεδαίµονι, οἵαδὲἐντῇφυγῇ: τὰςπαννυχίδαςἐννοῶ, τὰςσυνθήκαςἐννοῶ.’
12.ἜτιλέγοντοςτοῦΑἰγιαλέωςἀνωδύρετοὁἉβροκόµης
‘σὲδὲ’
λέγων,
‘ὦπασῶνδυστυχεστάτηκόρη,
πότεἀνευρήσωκἂννεκράν;
ΑἰγιαλεῖµὲνγὰρτοῦβίουµεγάληπαραµυθίατὸσῶµατὸΘελξινόης,
καὶνῦνἀληθῶςµεµάθηκαὅτιἔρωςἀληθινὸςὅρονἡλικίαςοὐκἔχει:
13-
215
ἐγὼδὲπλανῶµαιµὲνκατὰπᾶσανγῆνκαὶθάλασσαν,
οὐδεδύνηµαιδὲοὐδὲνἀκοῦσαιπερὶσοῦ.
ὦτὰπάντωνἡµῖνἌπολλονχρήσαςχαλεπώτατα,
οἴκτειρονἤδηκαὶτὰτέλητῶνµεµαντευµένωνἀποδίδου.’
II.
Ὦµαντεύµαταδυστυχῆ,
1-ΚαὶὁµὲνἉβροκόµηςταυτὶκατοδυρόµενος,
παραµυθουµένουαὐτὸνΑἰγιαλέωςδιῆγενἐνΣυρακούσαις,
ἤδηκαὶτῆςτέχνηςΑἰγιαλεῖκοινωνῶν:
οἱδὲπερὶτὸνἹππόθοονµέγαµὲνἤδητὸλῃστήριονκατεστήσαντο,
ἔγνωσανδὲἀπαίρεινΑἰθιοπίαςκαὶµείζοσινἤδηπράγµασινἐπιτίθεσθαι.
2ΟὐγὰρἐδόκειτῷἹπποθόῳαὔταρκεςεἶναιλῃστεύεινκατ̓ἄνδρα,
εἰµὴκαὶκώµαιςκαὶπόλεσινἐπιβάλοι.
Καὶὁµὲνπαραλαβὼντοὺςσὺναὐτῷκαὶἐπιφορτισάµενοςπάντα῾ἦνδὲαὐτῷκαὶὑποζύγιαπολλ
ὰκαὶκάµηλοιοὐκὀλίγαἰΑἰθιοπίανµὲνκατέλιπεν,
ᾔειδὲἐπ̓ΑἴγυπτόντεκαὶἈλεξάνδρειανκαὶἐνενόειΦοινίκηνκαὶΣυρίανπάλιν:
τὴνδὲἌνθειανπροσεδόκατεθνηκέναι: 3-ὁδὲἈµφίνοµος, ὁφρουρῶνἐντῇτάφρῳαὐτήν,
ἐρωτικῶςδιακείµενος,
οὐχὑποµένωνἀποσπασθῆναιτῆςκόρηςδιὰτὴνπρὸςαὐτὴνφιλοστοργίανκαὶτὴνἐπικειµένην
συµφοράν,
Ἱπποθόῳµὲνοὐχεἵπετο,
λανθάνειδὲἐνπολλοῖςτοῖςἄλλοιςκαὶἀποκρύπτεταιἐνἄντρῳτινὶσὺντοῖςἐπιτηδείοιςοἷςσυνελ
έξατο.
4-ΝυκτὸςδὲγενοµένηςοἱπερὶτὸνἹππόθοονἐπὶκώµηνἐληλύθεσαντῆςΑἰγύπτου,
Ἀρείανκαλουµένην,
πορθῆσαιθέλοντες:
ὁδὲἈµφίνοµοςἀνορύσσειτὴντάφρονκαὶἐξάγειτὴνἌνθειανκαὶθαρρεῖνπαρεκάλει.
5τῆςδὲἔτιφοβουµένηςκαὶὑποπτευούσης,
τὸνἥλιονἐπόµνυσικαὶτοὺςἐνΑἰγύπτῳθεοὺςἦµὴντηρήσεινγάµωνἁγνήν,
µέχριἂνκαὶαὐτήποτεπεισθεῖσαθελήσῃσυγκαταθέσθαι.
ΠείθεταιτοῖςὅρκοιςἈµφινόµουἌνθειακαὶἕπεταιαὐτῷ:
οὐκἀπελείποντοδὲοἱκύνεςἀλλ̓ἔστεργονσυνήθειςγενόµενοι.
6-ἜρχονταιδὴεἰςΚοπτόν,
κἀνταῦθαἔγνωσανἡµέραςδιαγαγεῖν,
µέχριἂνπροέλθωσινοἱπερὶτὸνἹππόθοοντῆςὁδοῦ:
ἐπεµελοῦντοδὲτῶνκυνῶνὡςἔχοιεντὰἐπιτήδεια.
7ΟἱδὲπερὶτὸνἹππόθοονπροσβαλόντεςτῇκώµῃτῇἈρείᾳπολλοὺςµὲντῶνἐνοικούντωνἀπέκτε
ινανκαὶτὰοἰκήµαταἐνέπρησανκαὶκατῄεσανοὐτὴναὐτὴνὁδὸνἀλλὰδιὰτοῦΝείλου:
πάνταγὰρτὰἐκτῶνµεταξὺκωµῶνσκάφησυλλεξάµενοι, ἐπιβάντεςἔπλεονἐπὶΣχεδίαν, καὶ
...... κἀντεῦθενἐκβάντεςπαρὰτὰςὄχθαςτοῦΝείλουδιώδευοντὴνἄλληνΑἴγυπτον.
III.
1-
ἘντούτῳδὲὁἄρχωντῆςΑἰγύπτουἐπέπυστοµὲντὰπερὶτὴνἈρείανκαὶτὸἹπποθόουλῃστήριον
καὶὅτιἀπ̓Αἰθιοπίαςἔρχονται:
παρασκευάσαςδὲστρατιώταςπολλοὺςκαὶἄρχοντατούτοιςἐπιστήσαςτῶνσυγγενῶντῶναὑτο
ῦΠολύιδον, νεανίσκονὀφθῆναιχαρίεντα, δρᾶσαιγεννικόν, ἔπεµψενἐπὶτοὺςλῃστάς. 2ΟὗτοςὁΠολύιδοςπαραλαβὼντὸστράτευµα, ἀπήντακατὰΠηλούσιοντοῖςπερὶτὸνἹππόθοον,
καὶεὐθὺςπαρὰτὰςὄχθαςµάχητεαὐτῶνγίνεταικαὶπίπτουσινἑκατέρωνπολλοί:
νυκτὸς.
δὲἐπιγενοµένηςτρέπονταιµὲνοἱλῃσταὶκαὶπάντεςὑπὸτῶνστρατιωτῶνφονεύονται:
εἰσὶδὲοἳκαὶζῶντεςἐλήφθησαν.
3-Ἱππόθοοςµόνος,
ἀπορρίψαςτὰὅπλα,
ἔφυγετῆςνυκτὸςκαὶἦλθενεἰςἈλεξάνδρειαν:
κἀκεῖθεν,
δυνηθεὶςλαθεῖν,
ἐπιβὰςἀναγοµένουπλοίουἐπανήχθη.
ἮνδὲαὐτῷἡπᾶσαἐπὶΣικελίανὁρµή:
ἐκεῖγὰρἐδόκειµάλισταδιαλήσεσθαίτεκαὶδιατραφήσεσθαι:
ἤκουεδὲτὴννῆσονεἶναιµεγάληντεκαὶεὐδαίµονα.
216
IV.
1-ὉδὲΠολύιδοςοὐχἱκανὸνεἶναιἐνόµισεκρατῆσαιτῶνσυµβαλόντωνλῃστῶν,
ἀλλ̓ἔγνωδεῖνἀνερευνῆσαίτεκαὶἐκκαθῆραιτὴνΑἴγυπτον,
εἴπουἢτὸνἹππόθοονἢτῶνσὺναὐτῷτιναἀνεύροι.
2Παραλαβὼνοὖνµέροςτιτοῦστρατιωτικοῦκαὶτοὺςεἰληµµένουςτῶνλῃστῶν,
ἵν̓,
εἴτιςφαίνοιτο,
οἱµηνύσειαν,
ἀνέπλειτὸνΝεῖλονκαὶτὰςπόλειςδιηρεύνακαὶἐνενόειµέχριΑἰθιοπίαςἐλθεῖν.
3ἜρχονταιδὴκαὶεἰςΚοπτόν,
ἔνθαἦνἌνθειαµετὰἈµφινόµου.
Καὶαὐτὴµὲνἔτυχενἐπὶτῆςοἰκίας,
τὸνδὲἈµφίνοµονγνωρίζουσινοἱτῶνλῃστῶνεἰληµµένοικαὶλέγουσιτῷΠολυΐδῳ:
καὶἈµφίνοµοςλαµβάνεταικαὶἀνακρινόµενοςτὰπερὶτὴνἌνθειανδιηγεῖται.
4Ὁδὲἀκούσαςκελεύεικαὶαὐτὴνἄγεσθαικαὶἐλθούσηςἀνεπυνθάνετοἥτιςεἴηκαὶπόθεν:
ἡδὲτῶνµὲνἀληθῶνοὐδὲνλέγει, ὅτιδὲΑἰγυπτίαεἴηκαὶὑπὸτῶνλῃστῶνεἴληπτο.
5ἘντούτῳἐρᾷκαὶὁΠολύιδοςἈνθείαςἔρωτασφοδρόν῾ἦνδὲαὐτῷἐνἈλεξανδρείᾳγυνἤ:
ἐρασθεὶςδὲτὰµὲνπρῶταἐπειρᾶτοπείθεινµεγάλαὑπισχνούµενος:
τελευταῖονδὲὡςκατῄεσανεἰςἈλεξάνδρειανἐγένοντοδὲἐνΜέµφει,
ἐπεχείρησενὁΠολύιδοςβιάζεσθαιτὴνἌνθειαν:
6-ἡδὲἐκφυγεῖνδυνηθεῖσα,
ἐπὶτὸτῆςἼσιδοςἱερὸνἔρχεταικαὶἱκέτιςγενοµένη ‘σύµε’ εἶπεν, ‘ὦδέσποιναΑἰγύπτου,
πάλινσῶσον,
ᾗἐβοήθησαςπολλάκις:
φεισάσθωµουκαὶΠολύιδοςτῆςδιὰσὲσώφρονοςἉβροκόµῃτηρουµένης.’
7ὉδὲΠολύιδοςἅµαµὲντὴνθεὸνἐδεδοίκει, ἅµαδὲἤρατῆςἈνθείαςκαὶτῆςτύχηςαὐτὴνἠλέει:
πρόσεισιδὲτῷἱερῷµόνοςκαὶὄµνυσιµήποτεβιάσασθαιτὴνἌνθειαν,
µηδὲὑβρίσαιτιεἰςαὐτήν,
ἀλλὰτηρῆσαιἁγνὴνἐςὅσοναὐτὴθελήσει:
αὔταρκεςγὰραὐτῷφιλοῦντιἐδόκειεἶναικἂνβλέπεινµόνονκαὶλαλεῖναὐτῇ.
8-ἘπείσθητοῖςὅρκοιςἡἌνθειακαὶκατῆλθενἐκτοῦἱεροῦ:
κἀπειδὴἔγνωσανἡµέραιςτρισὶναὑτοὺςἀναλαβεῖνἐνΜέµφει,
ἔρχεταιἡἌνθειαεἰςτὸτοῦἌπιδοςἱερόν.
∆ιασηµότατονδὲτοῦτοἐνΑἰγύπτῳ,
καὶὁθεὸςτοῖςβουλοµένοιςµαντεύεται.
9Ἐπειδὰνγάρτιςπροσελθὼνεὔξηταικαὶδεηθῇτοῦθεοῦ,
αὐτὸςµὲνἔξεισιν,
οἱδὲπρὸτοῦνεὼπαῖδεςΑἰγύπτιοιἃµὲνκαταλογάδηνἃδ̓ἐνµέτρῳπρολέγουσιτῶνἐσοµένωνἕκ
αστα. 10-ἘλθοῦσαδὴκαὶἡἌνθειαπροσπίπτειτῷἌπιδι. ‘Ὦθεῶν’ ἔφη ‘φιλανθρωπότατε,
ὁπάνταςοἰκτείρωνξένους,
ἐλέησονκἀµὲτὴνκακοδαίµονακαίµοιµαντείανἀληθῆπερὶἉβροκόµουπρόειπε.
11Εἰµὲνγὰραὐτὸνἔτιὄψοµαικαὶἄνδραλήψοµαι, καὶµενῶκαὶζήσοµαι: εἰδὲἐκεῖνοςτέθνηκεν,
ἀπαλλαγῆναικἀµὲκαλῶςἔχειτοῦπονήρουτούτουβίου.’
Εἰποῦσακαὶκαταδακρύσασαἐξῄειτοῦἱεροῦ:
κἀντούτῳοἱπαῖδεςοἱπρὸτοῦτεµένουςπαίζοντεςἅµαἐξεβόησαν
‘ἈνθίαἉβροκόµηνταχὺλήψεταιἄνδρατὸναὑτῆς.’
Ἀκούσασαεὐθυµοτέραἐγένετοκαὶπροσεύχεταιτοῖςθεοῖς:
καὶἅµαµὲνἀπῄεσανεἰςἈλεξάνδρειαν.
V.
1-ἘπέπυστοδὲἡΠολυΐδουγυνὴὅτιἄγεικόρηνἐρωµένην,
καὶφοβηθεῖσαµήπωςαὐτὴνἡξένηπαρευδοκιµήσῃ,
Πολυΐδῳµὲνοὐδὲνλέγει,
ἐβουλεύετοδὲκαθ̓αὑτὴνὅπωςτιµωρήσεταιτὴνδοκοῦσανἐπιβουλεύειντοῖςγάµοις.
2ΚαὶδὴὁµὲνΠολύιδοςἀπήγγελλέτετῷἄρχοντιτῆςΑἰγύπτουτὰγενόµενακαὶτὰλοιπὰἐπὶτοῦστ
ρατοπέδουδιῴκειτὰτῆςἀρχῆς:
ἀπόντοςδὲαὐτοῦῬηναία῾τοῦτογὰρἐκαλεῖτοἡτοῦΠολυΐδουγυνἢµεταπέµπεταιτὴνἌνθειαν
217
῾ἦνδὲἐπὶτῆςοἰκίας᾿καὶπεριρρήγνυσιτὴνἐσθῆτακαὶαἰκίζεταιτὸσῶµα3-‘ὦπονηρὰ’ λέγουσα
‘καὶτῶνγάµωντῶνἐµῶνἐπίβουλε,
µαταίωςἔδοξαςΠολυΐδῳκαλή,
οὐγάρσεὀνήσειτὸκάλλοςτοῦτο.
Ἴσωςµὲνγὰρπείθεινλῃστὰςἐδύνασοκαὶσυγκαθεύδειννεανίσκοιςµεθύουσιπολλοῖς:
τὴνδὲῬηναίαςεὐνὴνοὔποτεὑβριεῖςχαίρουσα.’
4Ταῦταεἰποῦσαἀπέκειρετὴνκόµηναὐτῆςκαὶδεσµὰπεριτίθησικαὶπαραδοῦσαοἰκέτῃτινὶπιστ
ῷ,
Κλυτῷτοὔνοµα,
κελεύειἐµβιβάσανταεἰςναῦν,
ἀπαγαγόνταεἰςἸταλίανἀποδόσθαιπορνοβοσκῷτὴνἌνθειαν.
‘Οὕτωγὰρ’
ἔφη
‘δυνήσῃἡκαλὴτῆςἀκρασίαςκόρονλαβεῖν.’
5ἬγετοδὲἡἌνθειαὑπὸτοῦΚλυτοῦκλάουσακαὶὀδυροµένη ‘ὦκάλλοςἐπίβουλον’ λέγουσα,
‘ὦδυστυχὴςεὐµορφία, τίµοιπαραµένετεἐνοχλοῦντα; τίδὲαἴτιαπολλῶνκακῶνµοιγίνεσθε;
οὐκἤρκουνοἱτάφοι,
οἱφόνοι,
τὰδεσµά,
τὰλῃστήρια,
ἀλλ̓ἤδηκαὶἐπὶοἰκήµατοςστήσοµαικαὶτὴνµέχρινῦνἉβροκόµῃτηρουµένηνσωφροσύνηνπο
ρνοβοσκὸςἀναγκάσειµελύειν;
6-Ἀλλ̓,
ὦδέσποτα,’
προσπεσοῦσαἔλεγετοῖςγόνασιτοῦΚλυτὁ̣̣̓,
‘µήµεἐπ̓ἐκείνηντὴντιµωρίανἅµαπροαγάγῃς,
ἀλλ̓ἀπόκτεινόνµεαὐτός: οὐκοἴσωπορνοβοσκὸνδεσπότην: σωφρονεῖν, πίστευσον,
εἰθίσµεθα.’ Ταῦταἐδεῖτο, ἠλέειδὲαὐτὴνὁΚλυτός.
7-ΚαὶἡµὲνἀπήγετοεἰςἸταλίαν,
ἡδὲῬηναίαἐλθόντιτῷΠολυΐδῳλέγειὅτιἀπέδραἡἌνθεια,
κἀκεῖνοςἐκτῶνἤδηπεπραγµένωνἐπίστευσεναὐτῇ. ἩδὲἌνθειακατήχθηµὲνεἰςΤάραντα,
πόλιντῆςἸταλίας:
ἐνταῦθαδὲὁΚλυτὸςδεδοικὼςτὰςτῆςῬηναίαςἐντολὰςἀποδίδοταιαὐτὴνπορνοβοσκῷ.
8Ὁδὲἰδὼνκάλλοςοἷονοὔπωπρότερονἐτεθέατο,
µέγακέρδοςἕξειντὴνπαῖδαἐνόµιζε,
καὶἡµέραιςµέντισιναὐτὴνἀνελάµβανενἐκτοῦπλοῦκεκµηκυῖανκαὶἐκτῶνὑπὸτῆςῬηναίαςβ
ασάνων: ὁδὲΚλυτὸςἧκενεἰςἈλεξάνδρειανκαὶτὰπραχθένταἐµήνυσετῇῬηναίᾳ.
VI.
1-ὉδὲἹππόθοοςδιανύσαςτὸνπλοῦνκατήχθηµὲνεἰςΣικελίαν,
οὐκεἰςΣυρακούσαςδέ,
ἀλλ̓εἰςΤαυροµένιονκαὶἐζήτεικαιρόν,
δἰοὗτὰἐπιτήδειαἕξει.
ΤῷδὲἉβροκόµῃἐνΣυρακούσαιςὡςχρόνοςπολὺςἐγένετο, ἀθυµίαἐµπίπτεικαὶἀπορίαδεινή,
ὅτιµήτεἌνθειανεὑρίσκοιµήτεεἰςτὴνπατρίδαἀνασώζοιτο.
2∆ιέγνωοὖνἀποπλεύσαςἐκΣικελίαςεἰςἸταλίανἀνελθεῖνκἀκεῖθεν,
εἰµηδὲνεὑρίσκοιτῶνζητουµένων,
εἰςἜφεσονπλεῦσαιπλοῦνδυστυχῆ.
ἬδηδὲκαὶοἱγονεῖςαὐτῶνκαὶοἱἘφέσιοιπάντεςἐνπολλῷπένθειἦσαν,
οὔτεἀγγέλουπαῤαὐτῶνἀφιγµένουοὔτεγραµµάτων:
ἀπέπεµπονδὲπανταχοῦτοὺςἀναζητήσοντας.
3Ὑπὸἀθυµίαςδὲκαὶγήρωςοὐδυνηθέντεςἀντισχεῖνοἱγονεῖςἑκατέρωνἑαυτοὺςἐξήγαγοντοῦβί
ου.
ΚαὶὁµὲνἉβροκόµηςᾔειτὴνἐπὶἸταλίαςὁδόν:
ὁδὲΛεύκωνκαὶἡῬόδη,
οἱσύντροφοιτοῦἉβροκόµουκαὶτῆςἈνθείας,
τεθνηκότοςαὐτοῖςἐνΞάνθῳτοῦδεσπότουκαὶτὸνκλῆρον῾ἦνδὲπολὺς᾿ἐκείνοιςκαταλιπόντος
,
διέγνωσανεἰςἜφεσονπλεῖν,
ὡςἤδηµὲναὐτοῖςτῶνδεσποτῶνσεσωσµένων,
ἱκανῶςδὲτῆςκατὰτὴνἀποδηµίανσυµφορᾶςπεπειραµένοι.
4ἘνθέµενοιδὲπάντατὰαὑτῶννηὶἀνήγοντοεἰςἜφεσον,
καὶἡµέραιςοὐπολλαῖςδιανύσαντεςτὸνπλοῦνἧκονεἰςῬόδον:
κἀκεῖµαθόντεςὅτιοὐδέπωµὲνἉβροκόµηςκαὶἌνθειασώζοιντο,
τεθνήκασιδὲαὐτῶνοἱπατέρες,
διέγνωσανεἰςἜφεσονµὴκατελθεῖν,
χρόνῳδέτινιἐκεῖγενέσθαι, µέχριοὗτιπερὶτῶνδεσποτῶνπύθωνται.
VII.
1-
ὉδὲπορνοβοσκὸςὁτὴνἌνθειανὠνησάµενοςχρόνουδιελθόντοςἠνάγκασεναὐτὴνοἰκήµατο
ςπροεστάναι.
218
Καὶδὴκοσµήσαςκαλῇµὲνἐσθῆτιπολλῷδὲχρυσῷἦγενὡςπροστησοµένηντέγους:
ἡδὲµέγαἀνακωκύσασα2-‘φεῦµοιτῶνκακῶν’ εἶπεν, ‘οὐχἱκαναὶγὰραἱπρότερονσυµφοραί,
τὰδεσµά, τὰλῃστήρια, ἀλλ̓ἔτικαὶπορνεύεινἀναγκάζοµαι; ὦκάλλοςδικαίωςὑβρισµένον,
τίγὰρἡµῖνἀκαίρωςπαραµένεις;
Ἀλλὰτίταῦταθρηνῶκαὶοὐχεὑρίσκωτινὰµηχανήν,
δἰἧςφυλάξωτὴνµέχρινῦντετηρηµένηνσωφροσύνην;’
3Ταῦταλέγουσαἤγετοἐπὶτὸοἴκηµατοῦπορνοβοσκοῦτὰµὲνδεοµένουθαρρεῖντὰδὲἀπειλοῦντ
ος.
Ὡςδὲἦλθεκαὶπροέστη,
πλῆθοςἐπέρρειτῶντεθαυµακότωντὸκάλλος,
οἵτεπολλοὶἦσανἕτοιµοιἀργύριονκατατίθεσθαιτῆςἐπιθυµίας.
4Ἡδὲἐνἀµηχάνῳγενοµένηκακῷεὑρίσκειτέχνηνἀποφυγῆς:
πίπτειµὲνγὰρεἰςγῆνκαὶπαρεῖταιτὸσῶµακαὶἐµιµεῖτοτοὺςνοσοῦνταςτὴνἐκθεῶνκαλουµένη
ννόσον: ἦνδὲτῶνπαρόντωνἔλεοςἅµακαὶφόβοςκαὶτοῦµὲνἐπιθυµεῖνσυνουσίαςἀπείχοντο,
ἐθεράπευονδὲτὴνἌνθειαν:
5ὁδὲπορνοβοσκὸςσυνεὶςοἷκακῶνἐγεγόνεικαὶνοµίσαςἀληθῶςνοσεῖντὴνκόρην,
ἦγενεἰςτὴνοἰκίανκαὶκατέκλινέτεκαὶἐθεράπευε,
καὶὡςἔδοξεναὑτῆςγεγονέναι,
ἀνεπυνθάνετοτὴναἰτίαντῆςνόσου. 6-ἩδὲἌνθεια ‘καὶπρότερον’ ἔφη, ‘δέσποτα,
εἰπεῖνπρὸςσὲἐβουλόµηντὴνσυµφορὰντὴνἐµὴνκαὶδιηγήσασθαιτὰσυµβάντα,
ἀλλὰἀπέκρυπτοναἰδουµένη:
νυνὶδὲοὐδὲνχαλεπὸνεἰπεῖνπρὸςσέ,
πάνταἤδηµεµαθηκότατὰκατ̓ἐµέ.
7Παῖςἔτιοὖσαἐνἑορτῇκαὶπαννυχίδιἀποπλανηθεῖσατῶνἐµαυτῆςἧκονπρόςτινατάφονἀνδρὸς
νεωστὶτεθνηκότος:
κἀνταῦθαἐφάνηµοίτιςἀναθορῶνἐκτοῦτάφουκαὶκατέχεινἐπειρᾶτο:
ἐγὼδ̓ἀπέφευγονκαὶἐβόων:
8-ὁδὲἄνθρωποςἦνµὲνὀφθῆναιφοβερός,
φωνὴνδὲπολλῷεἶχεχαλεπωτέραν:
καὶτέλοςἡµέραµὲνἤδηἐγίνετο,
ἀφεὶςδέµεἔπληξέτεκατὰτοῦστήθουςκαὶνόσονταύτηνἔλεγενἐµβεβληκέναι.
9Ἐκεῖθενἀρξαµένηἄλλοτεἄλλωςὑπὸτῆςσυµφορᾶςκατέχοµαι. Ἀλλὰδέοµαίσου, δέσποτα,
µηδένµοιχαλεπήνῃς:
οὐγὰρἐγὼτούτωναἰτία.
∆υνήσῃγάρµεἀποδόσθαικαὶµηδὲνἀπολέσαιτῆςδοθείσηςτιµῆς.’
Ἀκούσαςὁπορνοβοσκὸςἠνιᾶτοµέν, συνεγίνωσκεδὲαὐτῇ, ὡςοὐχἑκούσῃταῦταπασχούσῃ.
VIII.
1-Καὶἡµὲνἐθεραπεύετοὡςνοσοῦσαπαρὰτῷπορνοβοσκῷ:
ὁδὲἉβροκόµηςἀπὸτῆςΣικελίαςἐπαναχθεὶςκαταίρειµὲνεἰςΝουκέριοντῆςἸταλίας,
ἀπορίᾳδὲτῶνἐπιτηδείωνἀµηχανῶνὅτιποιήσειε, τὰµὲνπρῶταπεριῄειτὴνἌνθειανζητῶν: 2αὕτηγὰρἦναὐτῷτοῦβίουπαντὸςκαὶτῆςπλάνηςἡὑπόθεσις:
ὡςδὲοὐδὲνεὕρισκεν῾ἦνγὰρἐνΤάραντιἡκόρηπαρὰτῷπορνοβοσκᾦ,
αὑτὸνἀπεµίσθωσετοῖςτοὺςλίθουςἐργαζοµένοις.
3-Καὶἦναὐτῷτὸἔργονἐπίπονον,
οὐγὰρσυνείθιστοτὸσῶµαοὐδὲαὑτὸνὑποβάλλεινἔργοιςεὐτόνοιςκαὶσκληροῖς:
διέκειτοδὲπονήρωςκαὶπολλάκιςκατοδυρόµενοςτὴναὑτοῦτύχην ‘ἰδοὺ’ φησὶν ‘Ἄνθεια,
ὁσὸςἉβροκόµηςἐργάτηςτέχνηςπονήραςκαὶτὸσῶµαὑποτέθεικαδουλείᾳ:
4καὶεἰµὲνεἶχόντιναἐλπίδαεὑρήσεινσὲκαὶτοῦλοιποῦσυγκαταβιώσεσθαι,
τοῦτοπάντωνἂντῶνδεινῶνµεπαρεµυθεῖτο:
νυνὶδὲἴσωςκἀγὼὁδυστυχὴςκενὰκαὶἀνόνηταπονῶ,
καὶσύπουτέθνηκαςπόθῳτῷπρὸςἉβροκόµην.
Πέπεισµαιγάρ,
φιλτάτη,
ὡςοὐκἄνποτεοὐδὲἀποθανοῦσαἐκλάθοιόµου.’
5-Καὶὁµὲνταῦταὠδύρετοκαὶτοὺςπόνουςἔφερενἀλγεινῶς,
τῇδὲἈνθείᾳὄναρἐπέστηἐνΤάραντικοιµωµένῃ.
ἘδόκειµὲναὑτὴνεἶναιµετὰἉβροκόµου,
καλὴνοὖσανµετ̓ἐκείνουκαλοῦκαὶτὸνπρῶτονεἶναιτοῦἔρωτοςαὐτοῖςχρόνον:
6φανῆναιδέτιναἄλληνγυναῖκακαλὴνκαὶἀφέλκειναὐτῆςτὸνἉβροκόµην:
καὶτέλοςἀναβοῶντοςκαὶκαλοῦντοςὀνοµαστὶἐξαναστῆναίτεκαὶπαύσασθαιτὸὄναρ.
7Ταῦταὡςἔδοξενἰδεῖν, εὐθὺςµὲνἀνέθορέτεκαὶἀνεθρήνησεκαὶἀληθῆτὰὀφθένταἐνόµιζεν
‘οἴµοιτῶνκακῶν’
λέγουσα,
‘ἐγὼµὲνκαὶπόνουςὑποµένωπάνταςκαὶποικίλωνπειρῶµαιἡδυστυχὴςσυµφορῶνκαὶτέχναςσ
219
ωφροσύνηςὑπὲργυναῖκαςεὑρίσκωἉβροκόµῃ:
σοὶδὲἴσωςἄλληπουδέδοκταικαλή:
ταῦταγάρµοισηµαίνειτὰὀνείρατα.
8-Τίοὖνἔτιζῶ;
τίδ̓ἐµαυτὴνλυπῶ;
κάλλιονοὖνἀπολέσθαικαὶἀπαλλαγῆναιµὲντοῦπονήρουτούτουβίου,
ἀπαλλαγῆναιδὲτῆςἀπρεποῦςταύτηςκαὶἐπισφαλοῦςδουλείας.
9Ἁβροκόµηςµὲνεἰκαὶτοὺςὅρκουςπαραβέβηκε,
µηδὲνοἱθεοὶτιµωρήσαιντοτοῦτον:
ἴσωςἀνάγκῃτιεἴργασται:
ἐµοὶδὲἀποθανεῖνκαλῶςἔχεισωφρονούσῃ.’
Ταῦταἔλεγεθρηνοῦσακαὶµηχανὴνἐζήτειτελευτῆς.
IX.
1-
ὉδὲἹππόθοοςὁΠερίνθιοςἐντῷΤαυροµενίῳτὰµὲνπρῶταδιῆγεπονήρωςἀπορίᾳτῶνἐπιτηδεί
ων:
χρόνουδὲπροϊόντοςἠράσθηπρεσβῦτιςαὐτοῦ,
καὶἔγηµέτεὑπ̓ἀνάγκηςτῆςκατὰτὴνἀπορίαντὴνπρεσβῦτιν, καὶὀλίγῳσυγγενόµενοςχρόνῳ,
ἀποθανούσηςαὐτῆςπλοῦτόντεδιαδέχεταιπολὺνκαὶεὐδαιµονίαν:
πολλὴµὲνοἰκετῶνπαραποµπή,
πολλὴδὲἐσθήτωνὕπαρξιςκαὶσκευῶνπολυτέλεια.
2∆ιέγνωδὲπλεῦσαιµὲνεἰςἸταλίαν,
ὠνήσασθαιδὲοἰκέταςὡραίουςκαὶθεραπαίναςκαὶἄλληνσκευῶνπεριβολήν,
ὅσηγένοιτ̓ἂνἀνδρὶεὐδαίµονι: ἐµέµνητοδὲἀεὶτοῦἉβροκόµουκαὶτοῦτονἀνευρεῖνεὔχετο,
περὶπολλοῦποιούµενοςκοινωνῆσαίτεαὐτῷτοῦβίουπαντὸςκαὶτῶνκτηµάτων.
3-ΚαὶὁµὲνἐπαναχθεὶςκατῆρενεἰςἸταλίαν,
εἵπετοδὲαὐτῷµειράκιοντῶνἐνΣικελίᾳεὖγεγονότων,
Κλεισθένηςτοὔνοµα,
καὶπάντωνµετεῖχετῶνἹπποθόουκτηµάτων,
καλὸςὤν.
4ὉδὲπορνοβοσκὸςἤδητῆςἈνθείαςὑγιαίνεινδοκούσηςἐνενόειὅπωςαὐτὴνἀποδώσεται,
καὶδὴπροῆγεναὐτὴνεἰςτὴνἀγορὰνκαὶτοῖςὠνησοµένοιςἐπεδείκνυεν.
5Ἐντούτῳδ̓ὁἹππόθοοςπεριῄειτὴνπόλιντὴνΤάραντα,
εἴτικαλὸνὠνήσασθαιζητῶν:
καὶὁρᾷτὴνἌνθειανκαὶγνωρίζεικαὶἐπὶτῷσυµβάντικαταπλήσσεταικαὶπολλὰπρὸςἑαυτὸνἐλ
ογίζετο
‘οὐχαὕτηἡκόρη,
ἣνἐγώποτεἐνΑἰγύπτῳτιµωρῶντῷἈγχιάλουφόνῳεἰςτάφρονκατώρυξακαὶκύναςαὐτῇσυγκ
αθεῖρξα;
Τίςοὖνἡµεταβολή;
πῶςδὲσώζεται;
τίςἡἐκτῆςτάφρουφυγή;
τίςἡπαράλογοςσωτηρία;’
6-Εἰπὼνταῦταπροσῆλθενὡςὠνήσασθαιθέλων,
καὶπαραστὰςαὐτῇ
‘ὦκόρη’
ἔφησεν,
‘ΑἴγυπτονοὐκοἶδαςοὐδὲλῃσταῖςἐνΑἰγύπτῳπεριπέπτωκαςοὐδὲἄλλοτιἐνἐκείνῃτῇγῇπέπον
θαςδεινόν;
εἰπὲθαρροῦσα,
γνωρίζωγάρσε.
7ΑἴγυπτονἀκούσασακαὶἀναµνησθεῖσαἈγχιάλουκαὶτοῦλῃστηρίουκαὶτῆςτάφρουἀνῴµωξέ
τεκαὶἀνωδύρατο, ἀποβλέψασαδὲεἰςτὸνἹππόθοον῾ἐγνώρισεδὲαὐτὸνοὐδαµῶς᾿ ‘πέπονθα’
φησὶν
‘ἐνΑἰγύπτῳπολλά,
ὦξένε,
καὶδεινά,
ὅστιςποτεὢντυγχάνεις,
καὶλῃσταῖςπεριπέπτωκα:
ἀλλὰσὺπῶς’
εἶπε
‘γνωρίζειςτὰἐµὰδιηγήµατα;
8πόθενδὲεἰδέναιλέγειςἐµὲτὴνδυστυχῆ;
διαβόηταµὲνγὰρκαὶἔνδοξαπέπονθα,
ἀλλὰσὲοὐγινώσκωτὸσύνολον.’
9ἈκούσαςὀἹππόθοοςκαὶµᾶλλονἐξὧνἔλεγενἀναγνωρίσαςαὐτὴντότεµὲνἡσυχίανἤγαγεν,
ὠνησάµενοςδὲαὐτὴνπαρὰτοῦπορνοβοσκοῦἄγειπρὸςἑαυτὸνκαὶθαρρεῖνπαρεκελεύετοκαὶὅ
στιςἦνλέγεικαὶτῶνἐνΑἰγύπτῳγενοµένωνἀναµιµνήσκεικαὶτὸνἑαυτοῦπλοῦτονδιηγεῖταικαὶ
τὴνφυγήν.
10ἩδὲᾐτεῖτοσυγγνώµηνἔχεινκαὶαὐτῷδιηγεῖτοὅτιἈγχίαλονἀπέκτεινεµὴσωφρονοῦντα,
καὶτὴντάφρονκαὶτὸνἈµφίνοµονκαὶτὴντῶνκυνῶνπραότητακαὶτὴνσωτηρίανδιηγεῖται. 11ΚατῴκτειρεναὐτὴνὁἹππόθοοςκαὶἥτιςµὲνἦνἐπέπυστοοὐδέπω,
ἐκδὲτῆςκαθηµερινῆςσὺντῇκόρῃδιαίτηςεἰςἐπιθυµίανἈνθείαςκαὶἹππόθοοςἔρχεταικαὶσυνε
λθεῖνἐβούλετοκαὶπολλὰὑπισχνεῖταιαὐτῇ.
12-Ἡδὲτὰµὲνπρῶταἀντέλεγεναὐτῷ,
ἀναξίαεἶναιλέγουσαεὐνῆςδεσποτικῆς:
τελευταῖονδὲὡςἐνέκειτοἹππόθοος,
οὐκέτ̓ἔχουσαὅτιποιήσειε,
κάλλιονεἶναινοµίζουσαεἰπεῖνπάντααὐτῷτὰἀπόρρηταἢπαραβῆναιτὰςπρὸςἉβροκόµηνσυν
220
θήκας, λέγειτὸνἉβροκόµην, τὴνἜφεσον, τὸνἔρωτα, τοὺςὅρκους, τὰςσυµφοράς,
τὰλῃστήριακαὶσυνεχὲςἉβροκόµηνἀνωδύρετο:
13ὁδὲἹππόθοοςἀκούσαςὅτιτεἌνθειαεἴηκαὶὅτιγυνὴτοῦπάντωναὐτῷφιλτάτου,
ἀσπάζεταίτεαὐτὴνκαὶεὐθυµεῖνπαρεκάλεικαὶτὴναὑτοῦπρὸςἉβροκόµηνφιλίανδιηγεῖται.
Καὶτὴνµὲνεἶχενἐπὶτῆςοἰκίας,
πᾶσανπροσάγωνἐπιµέλειαν,
Ἁβροκόµηναἰδούµενος:
αὐτὸςδὲπάνταἀνηρεύνα, εἴπουτὸνἉβροκόµηνἀνεύροι.
X.
1-ὉδὲἉβροκόµηςτὰµὲνπρῶταἐπιπόνωςἐντῷΝουκερίῳεἰργάζετο,
τελευταῖονδὲοὐκέτιφέρωντοὺςπόνουςδιέγνωνεὼςἐπιβάςεἰςἜφεσονἀνάγεσθαι.
2Καὶὁµὲννύκτωρκατελθὼνἐπὶθάλασσανἐπιτυγχάνειπλοίῳἀναγοµένῳκαὶἐπιβὰςἔπλειτὴνἐ
πὶΣικελίαςπάλιν,
ὡςἐκεῖθενἐπὶΚρήτηντεκαὶΚύπρονκαὶῬόδονἀφιξόµενοςκἀκεῖθενεἰςἜφεσονγενησόµενος
:
ἤλπιζεδὲἐντῷµακρῷπλῷκαὶπερὶἈνθείαςτιπεύσεσθαι.
3ΚαὶὁµὲνὀλίγαἔχωντὰἐπιτήδειαἀναγαγόµενοςκαὶδιανύσαςτὸνπλοῦντὰµὲνπρῶταἐπὶτῆςΣι
κελίαςἔρχεταικαὶεὑρίσκειτὸνπρότερονξένοντὸνΑἰγιαλέατεθνηκότα:
ἐπενέγκαςδὲαὐτῷχοὰςκαὶπολλὰκαταδακρύσας,
ἀναχθεὶςπάλινκαὶΚρήτηνπαρελθών,
ἐνΚύπρῳγενόµενος,
ἡµέραςδιατρίψαςὀλίγαςκαὶεὐξάµενοςτῇπατρίῳΚυπρίωνθεῷἀνήγετοκαὶἧκενεἰςῬόδον:
ἐνταῦθαπλησίοντοῦλιµένοςεἰσῳκίσατο.
4ΚαὶἤδητεἐγγὺςἐγίνετοἘφέσουκαὶπάντωναὐτὸνἔννοιατῶνδεινῶνεἰσήρχετο, τῆςπατρίδος,
τῶνπατέρων, τῆςἈνθείας, τῶνοἰκετῶν: καὶἀναστενάξας ‘φεῦ’ ἔφη ‘τῶνκακῶν:
εἰςἜφεσονἵξοµαιµόνοςκαὶπατράσινὀφθήσοµαιτοῖςἐµαυτοῦχωρὶςἈνθείαςκαὶπλεύσοµαιπ
λοῦνὁδυστυχὴςκενὸνκαὶδιηγήσοµαιδιηγήµαταἴσωςἄπιστα,
κοινωνὸνὧνπέπονθαοὐκἔχων:
5-ἀλλὰκαρτέρησον,
Ἁβροκόµη,
καὶγενόµενοςἐνἘφέσῳτοσοῦτονἐπιβίωσονχρόνον:
τάφονἔγειρονἈνθείᾳκαὶθρήνησοναὐτὴνκαὶχοὰςἐπένεγκονκαὶσαυτὸνἤδηπαῤαὐτὴνἄγε.’
Ταῦταἔλεγεκαὶπεριῄειτὴνπόλινἀλύων,
ἀπορίᾳµὲντῶνκατὰτὴνἌνθειαν,
ἀπορίᾳδὲτῶνἐπιτηδείων.
6ὉδὲΛεύκωνἐντούτῳκαὶἡῬόδηδιατρίβοντεςἐνῬόδῳἀνάθηµαἀνατεθείκεσανἐντῷτοῦἩλί
ουἱερῷπαρὰτὴνχρυσῆνπανοπλίαν,
ἣνἌνθειακαὶἉβροκόµηςἀνατεθείκεσαν:
ἀνέθεσανστήληνγράµµασιχρυσοῖςγεγραµµένηνὑπὲρἉβροκόµουκαὶἈνθείας,
ἀνεγέγραπτοδὲκαὶτῶνἀναθέντωντὰὀνόµατα,
ὅτεΛεύκωνκαὶἡῬόδη.
7ΤαύτῃτῇστήλῃὁἉβροκόµηςἐπιτυγχάνει,
ἐληλύθειδὲπροσεύξασθαιτῷθεῷ.
Ἀναγνοὺςοὖνκαὶγνωρίσαςτοὺςἀναθένταςκαὶτὴντῶνοἰκετῶνεὔνοιαν,
πλησίονδὲκαὶτὴνπανοπλίανἰδών, µέγαἀνωδύρετοπαρακαθεσθεὶςτῇστήλῃ. 8-‘Ὦπάντα’
ἔλεγεν‘ἐγὼδυστυχής:
ἐπὶτὸτέρµαἥκωτοῦβίουκαὶεἰςἀνάµνησιντῶνἐµαυτοῦσυµφορῶν:
ἰδοὺταύτηνµὲντὴνπανοπλίανἐγὼµετ̓Ἀνθείαςἀνέθηκακαὶµετ̓ἐκείνηςἀποπλεύσαςῬόδουἥκ
ωνῦνἐκείνηνοὐκἄγων:
εἰδὲαὕτηἡστήλητῶνσυντρόφωντῶνἡµετέρωνὑπὲρἀµφοτέρωντὸἀνάθηµα,
τίςοὖνγένωµαιµόνος; ποῦδὲτοὺςφιλτάτουςἀνεύρω;’
9-Ταῦταἐθρήνειλέγων:
καὶἐντούτῳἐφίστανταιὁΛεύκωνκαὶἡῬόδησυνήθωςεὐχόµενοιτῷθεῷκαὶθεωροῦσιτὸνἉβρ
οκόµηντῇστήλῃπαρακαθεζόµενονκαὶεἰςτὴνπανοπλίανἀποβλέποντακαὶγνωρίζουσιµὲνοὐ
χί,
θαυµάζουσιδὲὅστιςὢνἀλλοτρίοιςἀναθήµασιπαραµένοι.
10-ΚαὶδὴὁΛεύκωνἔφη
‘ὦµειράκιον,
τίβουλόµενοςἀναθήµασινοὐδένσοιπροσήκουσιπαρακαθεζόµενοςὀδύρῃκαὶθρηνεῖς;
τίδὲσοὶτούτωνµέλει;
τίδὲτῶνἐνταῦθαἀναγεγραµµένωνκοινωνεῖσοί;’
ἈποκρίνεταιπρὸςαὐτὸνἉβροκόµης ‘ἐµὰ’ φησὶν ‘ἐµὰτὰἀναθήµαταΛεύκωνοςκαὶῬόδης,
οὓςἰδεῖνεὔχοµαιµετὰἈνθειανἉβροκόµηςὁδυστυχής.11-
221
ἈκούσαντεςοἱπερὶτὸνΛεύκωναεὐθὺςµὲνἀχανεῖςἐγένοντο,
ἀνενεγκόντεςδὲκατὰµικρὸνἐγνώριζονἐκτοῦσχήµατος,
ἐκτῆςφωνῆς,
ἐξὧνἔλεγεν,
ἐξὧνἈνθείαςἐµέµνητο,
καὶπίπτουσιπρὸτῶνποδῶναὐτοῦκαὶτὰκαθ̓αὑτοὺςδιηγοῦνται,
τὴνὁδὸντὴνεἰςΣυρίανἀπὸΤύρου,
τὴνΜαντοῦςὀργήν,
τὴνἔκδοσιν,
τὴνπρᾶσιντὴνεἰςΛυκίαν, τὴντοῦδεσπότουτελευτήν, τὴνπεριουσίαν, τὴνεἰςῬόδονἄφιξιν:
12-καὶδὴπαραλαβόντεςἄγουσινεἰςτὴνοἰκίαν,
ἔνθααὐτοὶκατήγοντο,
καὶτὰκτήµατααὑτῶνπαραδιδόασικαὶἐπεµελοῦντοκαὶἐθεραπεύοντοκαὶθαρρεῖνπαρεκάλο
υν: τῷδὲἦνοὐδὲνἈνθείαςτιµιώτερον, ἀλλ̓ἐκείνηνἐθρήνειπαῤἕκαστα.
XI.
1-ΚαὶὁµὲνἐνῬόδῳδιῆγεµετὰτῶνσυντρόφων,
ὅτιπράξειβουλευόµενος:
ὁδὲἹππόθοοςδιέγνωτὴνἌνθειανἀγαγεῖνἀπὸἸταλίαςεἰςἜφεσον,
ὡςἀποδώσωντετοῖςγονεῦσικαὶπερὶἉβροκόµουἐκεῖτιπευσόµενος:
καὶδὴἐµβαλὼνπάντατὰαὑτοῦεἰςναῦνµεγάληνἘφεσίαν,
µετὰτῆςἈνθείαςἀνήγετο,
καὶδιανύσαςµάλαἄσµενοςτὸνπλοῦν2οὐπολλαῖςἡµέραιςεἰςῬόδονκαταίρεινυκτὸςἔτικἀνταῦθακατάγεταιπαράτινιπρεσβύτιδι,
Ἀλθαίᾳτοὔνοµα,
πλησίοντῆςθαλάσσης,
καὶτήντεἌνθειανἀνάγειπαρὰτὴνξένηνκαὶαὐτὸςἐκείνηςµὲντῆςνυκτὸςἀνεπαύσατο,
τῇδὲἑξῆςἤδηµὲνπερὶτὸνπλοῦνἐγίνοντο,
ἑορτὴδέτιςἤγετοµεγαλοπρεπὴςδηµοσίᾳτῶνῬοδίωνἀγόντωντῷἩλίῳ,
καὶποµπήτεκαὶθυσίακαὶπολιτῶνἑορταζόντωνπλῆθος.
3ἘνταῦθαπαρῆσανὁΛεύκωνκαὶἡῬόδη,
οὐτοσοῦτοντῆςἑορτῆςµεθέξοντες,
ὅσονἀναζητήσοντεςεἴτιπερὶἈνθείαςπύθοιντο.
ΚαὶδὴἧκενὁἹππόθοοςεἰςτὸἱερόν,
ἄγωντὴνἌνθειαν: ἡδὲἀπιδοῦσαεἰςτὰἀναθήµατακαὶἐνἀναµνήσειτῶνπρότερονγενοµένη4‘ὦτὰπάντων’ ἔφησεν ‘ἀνθρώπωνἐφορῶνἭλιε, µόνηνἐµὲτὴνδυστυχῆπαρελθών,
πρότερονµὲνἐνῬόδῳγενοµένηεὐτυχῶςτέσεπροσεκύνουνκαὶθυσίαςἔθυονµετὰἉβροκόµο
υκαὶεὐδαίµωντότεἐνοµιζόµην:
νυνὶδὲδούληµὲνἀντ̓ἐλευθέρας,
αἰχµάλωτοςδὲἡδυστυχὴςἀντὶτῆςµακαρίας,
καὶεἰςἜφεσονἔρχοµαιµόνηκαὶφανοῦµαιτοῖςοἰκείοιςἉβροκόµηνοὐκἔχουσα.’
5ΤαῦταἔλεγεκαὶπολλὰἐπεδάκρυεκαὶδεῖταιτοῦἹπποθόουἐπιτρέψαιαὐτῇτῆςκόµηςἀφελεῖντ
ῆςαὑτῆςκαὶἀναθεῖναιτῷἩλίῳκαὶεὔξασθαίτιπερὶἉβροκόµου.
ΣυγχωρεῖὁἹππόθοος:
καὶἀποτεµοῦσατῶνπλοκάµωνὅσαἐδύνατοκαὶἐπιτηδείουκαιροῦλαβοµένη,
πάντωνἀπηλλαγµένων,
ἀνατίθησινἐπιγράψασα
“ΥΠΕΡ.
ΤΟΥ.
ΑΝ∆ΡΟΣ.
ΑΒΡΟΚΟΜΟΥ. ΑΝΘΕΙΑ. ΤΗΝ. ΚΟΜΗΝ. ΤΩΙ. ΘΕΩΙ. ΑΝΕΘΗΚΕ”.
ΤαῦταποιήσασακαὶεὐξαµένηἀπῄειµετὰτοῦἹπποθόου.
XII.
1-
ὉδὲΛεύκωνκαὶἡῬόδητέωςὄντεςπερὶτὴνποµπὴνἐφίστανταιτῷἱερῷκαὶβλέπουσιτὰἀναθήµ
ατακαὶγνωρίζουσιτῶνδεσποτῶντὰὀνόµατακαὶπρῶτονἀσπάζονταιτὴνκόµηνκαὶπολλὰκατ
ωδύροντοοὕτωςὡςἌνθειανβλέποντες,
τελευταῖονδὲπεριῄεσαν,
εἴπουκἀκείνηνεὑρεῖνδυνήσονται῾ἤδηδὲκαὶτὸπλῆθοςτῶνῬοδίωνἐγνώριζεντὰὀνόµαταἐκτ
ῆςπροτέραςἐπιδηµίας.
2ΚἀκείνηνµὲντὴνἡµέρανοὐδὲνεὑρίσκοντεςἀπηλλάγησανκαὶτῷἉβροκόµῃτὰἐντῷἱερῷὄντ
αἐµήνυσαν:
ὁδὲἔπαθεµὲντὴνψυχὴνἐπὶτῷπαραδόξῳτοῦπράγµατος,
εὔελπιςδὲἦνὡςἌνθειανεὑρήσων.
3-ΤῇδὲἑξῆςἧκενἡἌνθειαπάλινεἰςτὸἱερὸνµετὰτοῦἹπποθόου,
οὐκὄντοςαὐτοῖςπλοός,
προσκαθίσασαδὲτοῖςἀναθήµασινἐδάκρυέτεκαὶἀνέστενεν:
ἐντούτῳδὲἐπεισίασινὁΛεύκωνκαὶἡῬόδητὸνἉβροκόµηνκαταλιπόντεςἔνδον,
ἀθύµωςἐπὶτοῖςαὐτοῖςδιακείµενον:
ἐλθόντεςδὲὁρῶσιτὴνἌνθειανκαὶἦνµὲνἔτιἄγνωστοςαὐτοῖς,
συµβάλλουσιδὲπάνταἅµα,
222
τὰδάκρυα, τὰἀναθήµατα, τὰὀνόµατα, τὸεἶδος. 4-Οὕτωςκατὰβραχὺἐγνώριζοναὐτήν:
προσπεσόντεςδὲτοῖςγόνασινἔκειντοἀχανεῖς: ἡδὲἐτεθαυµάκειτίνεςτεἦσανκαὶτίβούλοιντο:
οὐγὰρἄνποτεΛεύκωνακαὶῬόδηνἤλπισεν. 5-Οἱδ̓ἐνἑαυτοῖςγενόµενοι ‘ὦδέσποινα’ ἔφασαν
‘Ἄνθεια,
ἡµεῖςοἰκέταισοί,
ΛεύκωνκαὶῬόδη,
οἱτῆςἀποδηµίαςκοινωνήσαντεςκαὶτοῦλῃστηρίου: ἀλλὰτίςἐνταῦθαἄγεισετύχη; θάρρει,
δέσποινα,
Ἁβροκόµηςσώζεταικαὶἔστινἐνταῦθαἀείσεθρηνῶν.’
6ἈκούσασαἡἌνθειαἐξεπλάγητοῦλόγου,
µόγιςδὲἀνενεγκοῦσακαὶγνωρίσασαπεριβάλλειτεαὐτοὺςκαὶἀσπάζεταικαὶσαφέστατατὰκα
τὰἉβροκόµηνµανθάνει.
XIII.
1-ΣυνέρρειδὲἅπαντὸπλῆθοςτῶνῬοδίων,
πυνθανόµενοντὴνἈνθείαςεὕρεσινκαὶἉβροκόµου:
παρῆνδὲἐντούτῳκαὶὁἹππόθοος,
ἐγνωρίσθητετοῖςπερὶτὸνΛεύκωνακαὶαὐτὸςἔµαθενοἵτινέςεἰσι:
καὶἦντὰµὲνἄλλαἐναὐτοῖςἐπιτηδείως,
τὸδὲὅτιµηδέπωἉβροκόµηςταῦταἐπίσταται:
ἔτρεχονδὲὡςεἶχονἐπὶτὴνοἰκίαν.
2ὉδὲὡςἤκουσενπαράτινοςτῶνῬοδίωντὴντῆςἈνθείαςεὕρεσιν, διὰµέσηςτῆςπόλεωςβοῶν
‘Ἄνθεια’
ἐοικὼςµεµηνότιἔθει.
ΚαὶδὴσυντυγχάνειτοῖςπερὶτὴνἌνθειανπρὸςτῷἱερῷτῆςἼσιδος,
πολὺδὲτῶνῬοδίωνπλῆθοςἐφείπετο.
3-Ὡςδὲεἶδονἀλλήλους,
εὐθὺςἀνεγνώρισαν:
τοῦτογὰραὐτοῖςἐβούλοντοαἱψυχαί:
καὶπεριλαβόντεςἀλλήλουςεἰςγῆνκατηνέχθησαν:
κατεῖχεδὲαὐτοὺςπολλὰἅµαπάθη, ἡδονή, λύπη, φόβος, ἡτῶνπροτέρωνµνήµη,
τὸτῶνµελλόντωνδέος:
ὁδὲδῆµοςὁῬοδίωνἀνευφήµησέτεκαὶἀνωλόλυξε,
µεγάληνθεὸνἀνακαλοῦντεςτὴνἾσιν,
‘πάλιν’
λέγοντες
‘ὁρῶµενἉβροκόµηνκαὶἌνθειαντοὺςκαλούς.’
4-Οἱδὲἀναλαβόντεςἑαυτούς,
ἐξαναστάντεςεἰςτὸτῆςἼσιδοςἱερὸνεἰσῆλθον
‘σοὶ’
λέγοντες,
‘ὦµεγίστηθεά,
τὴνὑπὲρτῆςσωτηρίαςἡµῶνχάρινοἴδαµεν:
διὰσέ,
ὦπάντωνἡµῖντιµιωτάτη,
ἑαυτοὺςἀπειλήφαµεν:’ προυκυλίοντότετοῦτεµένουςκαὶτῷβωµῷπροσέπιπτον.
5ΚαὶτότεµὲναὐτοὺςἄγουσιπαρὰτὸνΛεύκωναεἰςτὴνοἰκίανκαὶὁἹππόθοοςτὰαὑτοῦµετεσκευ
άζετοπαρὰτὸνΛεύκωνα,
καὶἦσανἕτοιµοιπρὸςτὸνεἰςἜφεσονπλοῦν:
ὡςδὲἔθυσανἐκείνηςτῆςἡµέραςκαὶεὐωχήθησαν,
πολλὰκαὶποικίλαπαρὰπάντωντὰδιηγήµατα,
ὅσατεἔπαθενἕκαστοςκαὶὅσαἔδρασε,
παρεξέτεινόντεἐπὶπολὺτὸσυµπόσιον,
ὡςαὑτοὺςἀπολαβόντεςχρόνῳ.
6Ἐπεὶδὲνὺξἤδηἐγεγόνει, ἀνεπαύοντοοἱµὲνἄλλοιπάντεςὅπωςἔτυχον, ΛεύκωνµὲνκαὶῬόδη,
ἹππόθοοςδὲκαὶτὸµειράκιοντὸἐκΣικελίαςτὸἀκολουθῆσανεἰςἸταλίανἰόντιαὐτῷὁΚλεισθέν
ηςὁκαλός: ἡδὲἌνθειαἀνεπαύετοµετὰἉβροκόµου.
XIV.
1-Ὡςδὲοἱµὲνἄλλοιπάντεςκατεκοιµήθησαν,
ἡσυχίαδὲἦνἀκριβής,
περιλαβοῦσαἡἌνθειατὸνἉβροκόµηνἔκλαεν
‘ἄνερ’
λέγουσα
‘καὶδέσποτα,
ἀπείληφάσεπολλὴνγῆνπλανηθεῖσακαὶθάλασσαν,
λῃστῶνἀπειλὰςἐκφυγοῦσακαὶπειρατῶνἐπιβουλὰςκαὶπορνοβοσκῶνὕβρειςκαὶδεσµὰκαὶτά
φρουςκαὶξύλακαὶφάρµακακαὶτάφους:
2-ἀλλ̓ἥκωσοιτοιαύτη,
τῆςἐµῆςψυχῆςἉβροκόµηδέσποτα,
οἵατὸπρῶτονἀπηλλάγηνεἰςΣυρίανἐκΤύρου:
ἔπεισεδέµεἁµαρτεῖνοὐδείς,
οὐΜοῖριςἐνΣυρίᾳ,
οὐΠερίλαοςἐνΚιλικίᾳ,
οὐκἐνΑἰγύπτῳΨάµµιςκαὶΠολύιδος, οὐκἈγχίαλοςἐνΑἰθιοπίᾳ, οὐκἐνΤάραντιὁδεσπότης,
ἀλλ̓ἁγνὴµένωσοιπᾶσανσωφροσύνηςµηχανὴνπεποιηµένη:
3-σὺδὲἆρα,
Ἁβροκόµη,
σώφρωνἔµεινας,
ἢµέτιςπαρευδοκίµησενἄλληκαλή;
ἢµήτιςἠνάγκασέσεἐπιλαθέσθαιτῶνὅρκωντεκἀµοῦ;’ 4-Ταῦταἔλεγεκαὶκατεφίλεισυνεχῶς,
ὁδὲἉβροκόµης
‘ἀλλ̓ὀµνύωσοι’
φησὶ
‘τὴνµόγιςἡµῖνἡµέρανποθεινὴνεὑρηµένηνὡςοὔτεπαρθένοςἐµοίτιςἔδοξενεἶναικαλή,
223
οὔτ̓ἄλλητιςὀφθεῖσαἤρεσεγυνή,
οἷονἐνΤύρῳκατέλιπεςἐνδεσµωτηρίῳ.’
XV.
ἀλλὰτοιοῦτονεἴληφαςἉβροκόµην,
1-
Ταῦταδἰὅληςτῆςνυκτὸςἀλλήλοιςἀπελογοῦντοκαὶῥᾳδίωςἔπειθονἀλλήλουςἐπεὶτοῦτοἤθελ
ον:
ἐπειδὴδὲἡµέραἐγένετο,
ἐπιβάντεςνεώς,
πάνταἐνθέµενοιτὰαὑτῶνἐπανήγοντοπαραπέµποντοςαὐτοὺςπαντὸςτοῦῬοδίωνπλήθους:
συναπῄειδὲκαὶὁἹππόθοοςτάτεαὑτοῦπάνταἐπαγόµενοςκαὶτὸνΚλεισθένη:
καὶἡµέραιςὀλίγαιςδιανύσαντεςτὸνπλοῦνκατῆρανεἰςἜφεσον.
2Προεπέπυστοτὴνσωτηρίαναὐτῶνἡπόλιςἅπασα:
ὡςδὲἐξέβησαν,
εὐθὺςὡςεἶχονἐπὶτὸἱερὸντῆςἈρτέµιδοςᾔεσανκαὶπολλὰεὔχοντοκαὶθύσαντεςἄλλατεἀνέθεσ
ανἀναθήµατακαὶδὴκαὶγραφῇτῇθεῷἀνέθεσανπάνταὅσατεἔπαθονκαὶὅσαἔδρασαν:
3καὶταῦταποιήσαντες,
ἀνελθόντεςεἰςτὴνπόλιντοῖςγονεῦσιναὑτῶντάφουςκατεσκεύασανµεγάλους῾ἔτυχονγὰρὑπὸ
γήρωςκαὶἀθυµίαςπροτεθνηκότες᾿,
καὶαὐτοὶτοῦλοιποῦδιῆγονἑορτὴνἄγοντεςτὸνµετ̓ἀλλήλωνβίον.
4ΚαὶὁΛεύκωνκαὶἡῬόδηκοινωνοὶπάντωντοῖςσυντρόφοιςἦσαν,
διέγνωδὲκαὶὁἹππόθοοςἐνἘφέσῳτὸνλοιπὸνδιαβιῶναιχρόνον.
ΚαὶδὴὙπεράνθουςτάφονἤγειρεµέγανκατὰΛέσβονγενόµενος,
καὶτὸνΚλεισθένηπαῖδαποιησάµενοςὁἹππόθοοςδιῆγενἐνἘφέσῳµεθ̓ἉβροκόµουκαὶἈνθεί
ας.
Ξενοφῶντος
τῶνκατὰἌνθειανκαὶἉβροκόµηνἘφεσιακῶνλόγων
τέλος
224
Anexo 2
Mapa 1
A Geografia do Romance Antigo (Grécia e Roma)
225
In: Cambridge Collections Online © Cambridge University Press, 2008
Mapa 2
Percurso das Viagens de Habrócomes e Antia
Legenda:
(-------------) Habrócomes e Antia juntos (partindo de Éfeso, passando por
Samos, Rodes até Tiro onde o casal se separa; reencontro em Rodes e o
retorno a Éfeso)
(................) Percurso de Antia
226
(- - - - - - - ) Percurso de Habrócomes
227
228