N - Arautos em Portugal

Transcrição

N - Arautos em Portugal
Número 78
Novembro 2009
Sede de
transcendência
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 1
22/10/2009 14:10:59
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 2
22/10/2009 14:11:06
SumáriO
Flashes de
Fátima
Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
......................
Sede de transcendência (Editorial) . . . . . . . . .
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
A voz do Papa – A nova
geração sente sede
de transcendência
........................
Uma tese de teologia
sobre o “Big Bang”?
......................
......................
www.arautos.pt / www.arautos.org.br
E-mail: [email protected]
O que é a verdade?
10
......................
18
ARAUTOS DO EVANGELHO
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
......................
40
......................
46
Os santos de
cada dia
A grande misericórdia
de Deus
......................
Aconteceu na Igreja e
no mundo
História para crianças...
Salvo por um
amigo invisível
Assinatura anual: 24 euros
Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
37
6
Comentário ao Evangelho –
As três vindas do Senhor
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
R. Dr. António Cândido, 16
1050-076 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
32
5
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XI nº 78 - Novembro 2009
Carisma de sacerdote e
didática de pedagogo
24
Arautos no mundo
......................
48
A Grand-Place de Bruxelas
Membro da
......................
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
26
......................
50
Tiragem: 40.000 exemplares
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 3
22/10/2009 14:11:28
E SCREVEM
SÃO PEDRO JULIÃO EYMARD
Comunico-lhes meu sentimento
de gratidão pela citação da Consagração a Jesus Sacramentado por meio de
Maria, de autoria do fundador da minha Congregação, São Pedro Julião
Eymard, o Apóstolo da Eucaristia.
Este santo, pela vasta obra eucarística que produziu, é um verdadeiro Doutor da Igreja. Falta-lhe somente o título. Ao fundar a Congregação
e as Servas do Santíssimo Sacramento, além do ramo leigo dos Agregados
à obra eucarística, o Pe. Eymard deixou na Igreja uma pequena família religiosa com a missão de “viver e revelar o mistério da Eucaristia” (cf. Regra de Vida, 1). Estou convicto de que
a riqueza do seu pensamento eucarístico será cada vez mais explorado pela
Igreja, de modo especial pelos religiosos sacramentinos e por todos os que
anseiam pela espiritualidade eucarística eymardiana na vida cristã.
Mais uma vez, obrigado aos Arautos do Evangelho pela divulgação
desta Consagração na revista número
92, agosto de 2009.
Dom Jorge Alves Bezerra, SSS
Bispo de Jardim – MS
“HIPNOTIZOU” MEUS FILHOS
A chegada da revista dos Arautos do Evangelho ao meu lar foi um
verdadeiro presente de Deus. Quase
se poderia dizer um “milagre”, pelos
benéficos efeitos que produziu em
meus filhos, jovens estudantes universitários.
No início, não lhe davam muita importância, mas o fato de circular pela casa acabou despertando sua
curiosidade. É verdade que são ávidos leitores — eles gostam de ler de
tudo —, mas a revista dos Arautos os
“hipnotizou”. O colorido, a apresen4
OS LEITORES
tação e o conteúdo lhes serviram de
temas de conversa e levantaram interrogações próprias à idade em que
tudo se questiona.
Como cristã e como mãe, felicito-os por este trabalho precioso que
estão fazendo com a revista Arautos
do Evangelho. Pela imprensa, soube
da aprovação pontifícia de suas duas Sociedades de Vida Apostólica e
lhes envio aqui meus cumprimentos
também por este dom de Deus, que o
Santo Padre lhes concedeu.
María del Pilar Sánchez
Montevidéu – Uruguai
suas matérias cativam a atenção e enriquecem o espírito.
Como esposo e pai católico, sempre encontro nelas alimento e estímulo para bem conduzir minha família, num mundo onde os valores autênticos cada vez mais são esquecidos
e até desprezados. Nos comentários
ao Evangelho, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, sou contagiado
pelo transbordamento do amor que
ele transmite em suas apreciações da
vida de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Edson Marcos Azevedo Gomes
Vitória – ES
SEMPRE A LEIO MAIS DE UMA VEZ
INSTRUMENTO DA NOVA
Sinto-me muito ligada aos Arautos do Evangelho e fico muito contente por saber que aumentou o número dos arautos sacerdotes. Constituem uma grande riqueza para nossa
Igreja, pois são tão poucos os jovens
que querem servir a Deus!
Sua revista é maravilhosa em todo
o seu conteúdo. Sempre a leio mais
de uma vez, pois ela me transmite
muita paz e desejo fazer conhecer a
beleza inesgotável do Evangelho.
Alicia Valenzuela Farias
Talca – Chile
FELICITAÇÕES PELA MENSAGEM
Desde que assinamos a revista,
sentimos como ela nos enche espiritualmente cada vez que a temos em
mãos. Nossas felicitações pelos artigos, pela apresentação, pelo colorido, pela qualidade do papel, mas, sobretudo, pela mensagem que leva a
tantas pessoas...
Darwin e Rosário Lourdes Picón de Salas
Lima – Peru
ALIMENTO E ESTÍMULO
PARA MINHA FAMÍLIA
Tenho muito gosto em ser assinante desta revista desde seu primeiro
número. Com palavras simples, ensinamentos claros e uma fé profunda,
EVANGELIZAÇÃO
Estamos diante de uma revista genuinamente católica, que oferece
uma imensa gama de temas da maior
importância e relevância para o diaa-dia dos nossos meios católicos. Digo ainda que a reputo bastante eclética em seus artigos e matérias. E pela qualidade destes nunca se cansa de
lê-la. De tal ordem que, quando acabamos de ler a atual, já ficamos desejando a próxima. É uma edição
que nos faz sentir claramente a ação
do Espírito Santo na inspiração dos
arautos que a ela se dedicam. Esta revista revela-se para nós como um forte instrumento da nova evangelização
em curso na nossa Santa Igreja.
Edmilson Cardoso de Oliveira
Recife – PE
UMA REVISTA DE ORAÇÃO
Creio ter sido um biógrafo de São
Luís Grignion de Montfort que disse ser seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem um livro
“não de recomendação, mas de oração”. Digo algo análogo para esta revista, bem como para todas as outras
publicações inspiradas, orientadas e
conduzidas por Mons. João Scognamiglio Clá Dias.
Antônio Lobo Leite Filho
Salvador – BA
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 4
22/10/2009 14:11:37
Editorial
SEDE DE TRANSCENDÊNCIA
E
78
Número
ro 2009
Novemb
Sede de ência
transcend
Bento XVI na
Missa Solene
pela canonização
de cinco novos
santos no dia 11 de
outubro pp.
(Foto: L’Osservatore Romano)
nfastiados do mundo secularizado e sem valores morais em que vivemos,
uma parcela ponderável da juventude manifesta o desejo de elevar-se acima
dos limites do meramente terreno, em busca daquilo que há de superior, de
sublime, de elevado. No meio desta geração, vai crescendo o número daqueles que
optam por seguir o caminho do sacerdócio, e é necessário que se lhes atenda esses
nobres anseios de alma. Daí a urgência de formadores que sejam, eles mesmos, autênticos modelos segundo Jesus Cristo.
Eis uma das principais ideias do discurso do Papa Bento XVI aos Bispos brasileiros, das regiões Oeste 1 e 2, que realizavam a visita ad limina em setembro último.
Aproveitando o transcurso do Ano Sacerdotal, o Santo Padre destaca uma vez
mais a necessidade de os seminários oferecerem uma formação excelente a seus alunos, e para isto é necessário, antes de tudo, que os mestres levem vidas exemplares,
sendo “verdadeiros homens de Deus”, “que testemunhem o dom de si à Igreja, através
do celibato e da vida austera”. E devem ser, ao mesmo tempo, profundos conhecedores da doutrina, de modo a poderem ensinar com segurança e conhecimento, advertindo para os graves erros que hoje circulam, no tocante à teologia, razão e ciência,
e à relação entre esses três campos do conhecimento.
Por seu turno, a Congregação para a Educação Católica vem se esmerando em
divulgar e desenvolver as diretrizes pontifícias, a fim de impulsionar o aperfeiçoamento da formação do Clero por meio de iniciativas concretas.
Notamos com agrado que um número cada vez maior de seminários, atentos às
orientações pontifícias, demonstram um crescente empenho em preparar homens
de exemplar vida de piedade, devoção eucarística e comprovada idoneidade moral;
em suma, pessoas desejosas de fazer bem espiritual a seus dirigidos, conduzindo-os
à santificação. Isso requer não apenas elevada formação intelectual, mas também fino discernimento pedagógico.
Para os Arautos do Evangelho este último ponto é da maior importância. Se o jovem contemporâneo tem “sede da transcendência”, como destaca o Papa, também
se ressente da desestruturação e desarmonia da sociedade hodierna, com profundas
consequências psicológicas: é instável, faltam-lhe as regras do bem pensar, é incapaz
de solucionar seus problemas, e sobrevaloriza as sensações. Ademais, é inapetente
de estudos doutrinários meramente teóricos.
Foi por tal razão que o Presidente Geral dos Arautos elaborou métodos pedagógicos inovadores, que visam não apenas à transmissão de conhecimentos, mas à virtuosa maturação do caráter, e a incutir o amor aos estudos em vista de um fim mais
elevado, que é a evangelização. A base filosófica deste método está exposta na obra
A fidelidade ao primeiro olhar da inteligência, sua tese de Mestrado em Psicologia
Educacional, pela Universidade Católica da Colômbia (ver p. 30-37).
Seguindo as orientações de seu fundador, os Arautos do Evangelho estão intensificando a instrução acadêmica de seus formadores. Assim, 24 deles receberam recentemente o título de Mestre em Filosofia, pela Pontifícia Universidade Bolivariana, de Medellín, ao passo que outros 251 se graduaram em Teologia, pelo Centro
Universitário Ítalo-Brasileiro, de São Paulo.
Os Arautos do Evangelho procuram, desse modo, atender os desejos do Papa.
Pois quem tem sede de transcendência, procura aprofundar no conhecimento daquilo que ama. 
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 5
de Fátima
5
22/10/2009 14:12:32
A VOZ DO PAPA
A nova geração sente
sede de transcendência
Gustavo Kralj
Na audiência concedida ao primeiro grupo de Bispos
brasileiros em visita “ad limina”, Bento XVI lembrou a
necessidade de uma adequada formação dos seminaristas,
na fidelidade às normas universais da Igreja.
C
omo Sucessor de Pedro e Pastor universal, posso assegurar-vos que o meu coração vive dia a dia as vossas inquietudes e cansaços apostólicos, não cessando de lembrar junto a Deus os desafios que enfrentais no crescimento das
vossas comunidades diocesanas.
Em nossos dias, e concretamente
no Brasil, os trabalhadores na Messe do Senhor continuam a ser poucos para a colheita que é grande (cf.
Mt 9, 36-37). Não obstante a carência sentida, é verdadeiramente essencial uma adequada formação daqueles que são chamados a servir o Povo
de Deus. Por essa razão, no âmbito
do Ano Sacerdotal em curso, permiti que me detenha hoje a refletir convosco, amados Bispos do Oeste brasileiro, sobre a solicitude própria do
vosso ministério episcopal que é a geração de novos pastores.
O bom Deus tem pressa de que
todos os homens se salvem
Embora seja Deus o único capaz de
semear no coração humano a chamada para o serviço pastoral do Seu povo, todos os membros da Igreja deve6
riam interrogar-se sobre a urgência íntima e o real empenho com que sentem e vivem esta causa. Um dia, quando alguns dos discípulos temporizavam
observando que faltavam “ainda quatro meses” para a colheita, Jesus rebateu: “Pois Eu vos digo: Levantai os olhos
e vede os campos, como estão dourados,
prontos para a colheita” (Jo 4, 35).
Deus não vê como o homem! A
pressa do bom Deus é ditada pelo seu
desejo de que “todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2, 4). Há tantos que parecem querer consumir a vida toda em
um minuto, outros que vagueiam no
tédio e na inércia, ou abandonam-se a
violências de todo gênero. No fundo,
não passam de vidas desesperadas à
procura da esperança, como o demonstra uma difusa — embora às vezes confusa — exigência de espiritualidade,
uma renovada busca de pontos de referência para retomar a estrada da vida.
Após o Concílio, deixou-se
de falar de certas verdades
fundamentais da Fé
Prezados Irmãos, nos decênios
sucessivos ao Concílio Vaticano II,
alguns interpretaram a abertura
ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã, como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação.
Assistiu-se assim a intervenções
de alguns responsáveis eclesiais em
debates éticos, correspondendo às
expectativas da opinião pública, mas
deixou-se de falar de certas verdades
fundamentais da Fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos
novíssimos. Insensivelmente caiu-se
na autossecularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os
nossos contemporâneos, quando vêm
ter conosco, querem ver aquilo que
não veem em parte alguma, ou seja, a
alegria e a esperança que brotam do
fato de estarmos com o Senhor ressuscitado.
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 6
22/10/2009 14:12:37
A nova geração sente uma
grande sede de transcendência
Atualmente há uma nova geração
já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar
abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a
nova geração sente uma grande sede
de transcendência.
São os jovens desta nova geração
que batem hoje à porta do Seminário
e que necessitam encontrar formadores que sejam verdadeiros homens de
Deus, sacerdotes totalmente dedicados à formação, que testemunhem o
dom de si à Igreja, através do celibato e da vida austera, segundo o modelo do Cristo Bom Pastor. Assim esses jovens aprenderão a ser sensíveis
ao encontro com o Senhor, na participação diária da Eucaristia, amando
o silêncio e a oração, procurando, em
primeiro lugar, a glória de Deus e a
salvação das almas.
Amados Irmãos, como sabeis, é tarefa do Bispo estabelecer os critérios
essenciais para a formação dos seminaristas e dos presbíteros na fidelidade às normas universais da Igreja: neste espírito devem ser desenvolvidas as
reflexões sobre este tema, objeto da
assembleia plenária da vossa Conferência Episcopal, em abril passado.
Reproduzir na própria vida
a caridade do Bom Pastor
Certo de poder contar com o vosso zelo no tocante à formação sacerdotal, convido todos os Bispos, seus
sacerdotes e seminaristas a reproduzirem na vida a caridade de Cristo Sacerdote e Bom Pastor, como fez
o Santo Cura d’Ars. E, como ele, tomem por modelo e proteção da própria vocação a Virgem Mãe, que correspondeu de um modo único ao chamado de Deus, concebendo no Seu
coração e na Sua carne o Verbo feito
homem para doá-Lo à humanidade.
(Excerto do discurso aos Bispos
dos Regionais Oeste 1 e 2 da CNBB,
7/9/2009)
SACERDÓCIO MINISTERIAL E SACERDÓCIO COMUM
A função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio
da Palavra e a celebração dos Sacramentos. Urge, pois, pedir ao
Senhor que envie operários à sua messe.
N
os seus fiéis e nos seus ministros, a Igreja é sobre a
Terra a comunidade sacerdotal organicamente estruturada como Corpo de Cristo, para desempenhar eficazmente, unida à sua Cabeça, a sua missão histórica de salvação.
Assim no-lo ensina São Paulo: “Vós
sois Corpo de Cristo e Seus membros,
cada um na parte que lhe toca” (I Cor
12, 27).
Evitar a secularização
dos sacerdotes e a
clericalização dos leigos
Com efeito, os membros não têm
todos a mesma função: é isto que
constitui a beleza e a vida do corpo
(cf. I Cor 12, 14-17). É na diversidade
essencial entre sacerdócio ministerial
e sacerdócio comum que se entende
a identidade específica dos fiéis ordenados e leigos. Por essa razão é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos.
Nessa perspectiva, portanto, os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através
do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da
Igreja. Diversamente, os sacerdotes
devem permanecer afastados de um
engajamento pessoal na política, a
fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos.
É importante fazer crescer esta
consciência nos sacerdotes, religiosos e
fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado.
Papel insubstituível do sacerdote
como pastor da comunidade
O aprofundamento harmônico,
correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais
delicados do ser e da vida da Igreja.
É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a
resignarem-se a esta carência, talvez
consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos.
Mas, não é a falta de presbíteros
que justifica uma participação mais
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 7
de Fátima
7
22/10/2009 14:12:39
ativa e numerosa dos leigos. Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam
conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem
a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da
Fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação.
Sabemos que “a missão de salvação, confiada pelo Pai a seu Filho encarnado, é confiada aos Apóstolos e,
por eles, aos seus sucessores; eles recebem o Espírito de Jesus para agirem
em Seu nome e na Sua pessoa. Assim,
o ministro ordenado é o laço sacramental que une a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos
e, por eles, ao que disse e fez o próprio
Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.120).
Por isso, a função do presbítero é essencial e insubstituível para
o anúncio da Palavra e a celebração
dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o Seu Corpo
e o Seu Sangue. Por isso urge pedir
ao Senhor que envie operários à sua
Messe; além disso, é preciso que os
sacerdotes manifestem a alegria da
fidelidade à própria identidade com
o entusiasmo da missão.
Concentrar esforços para
que haja sacerdotes melhor
formados e mais numerosos
Amados Irmãos, tenho a certeza
de que, na vossa solicitude pastoral
e na vossa prudência, procurais com
particular atenção assegurar às comunidades das vossas dioceses a presença de um ministro ordenado.
Na situação atual em que muitos
de vós sois obrigados a organizar a vida eclesial com poucos presbíteros, é
importante evitar que uma tal situação seja considerada normal ou típica
do futuro. Como lembrei ao primeiro
grupo de Bispos brasileiros na sema-
na passada, deveis concentrar esforços para despertar novas vocações sacerdotais e encontrar os pastores indispensáveis às vossas dioceses, ajudando-vos mutuamente para que todos disponham de presbíteros melhor formados e mais numerosos para sustentar a vida de Fé e a missão
apostólica dos fiéis.
Por outro lado, também aqueles que receberam as Ordens sacras
são chamados a viver com coerência
e em plenitude a graça e os compromissos do Batismo, isto é, a oferecerem-se a si mesmos e toda sua vida em união com a oblação de Cristo. A celebração cotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da
Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho
de uma existência que se faz dom a
Deus e aos outros e torna-se assim
orientação para os fiéis.
(Excerto do discurso aos Bispos
do Regional Nordeste 2 da CNBB,
17/9/2009)
A ORAÇÃO, ALMA DA ATIVIDADE PASTORAL
O Bispo é chamado a alimentar nos sacerdotes a vida espiritual, para
favorecer neles a harmonia entre a oração e o apostolado, olhando
para o exemplo de Jesus e dos Apóstolos.
A
imitação de Jesus Bom Pastor é, para cada sacerdote,
o caminho obrigatório para
sua santificação e a condição essencial
para exercer responsavelmente o ministério pastoral.
Se isto é válido para os presbíteros, é ainda mais válido para nós,
estimados irmãos Bispos. Aliás, é
importante não esquecermos que
uma das tarefas essenciais do Bispo é precisamente a de ajudar, me-
8
diante o exemplo e o apoio fraterno, os sacerdotes a seguirem fielmente a sua vocação e a trabalharem com entusiasmo e amor na vinha do Senhor.
A união com Cristo, segredo
da fecundidade do ministério
A este propósito, na Exortação
Apostólica pós-sinodal Pastores gregis, o meu venerado predecessor João
Paulo II pôde observar que o gesto do
sacerdote, quando põe as suas mãos
nas mãos do Bispo no dia da ordenação presbiteral, compromete ambos: o
sacerdote e o Bispo. O neopresbítero
escolhe confiar-se ao Bispo e, por sua
vez, o Bispo compromete-se a salvaguardar aquelas mãos (cf. n. 47).
Em última análise, esta é uma tarefa solene que se configura para o
Bispo como responsabilidade paterna, ao conservar e promover a identidade sacerdotal dos presbíteros con-
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 8
22/10/2009 14:12:40
L’Osservatore Romano
L’Osservatore Romano
Bento XVI recebeu no Palácio de Castel Gandolfo diversos prelados brasileiros em visita “ad limina”.
À esquerda, com os Bispos dos Regionais Oeste 1 e 2; à direita com os do Regional Nordeste 2
fiados aos seus cuidados pastorais,
uma identidade que hoje, infelizmente, vemos posta à prova pela secularização crescente. Portanto, o Bispo
— continua a Pastores gregis — “procurará sempre comportar-se com os
seus sacerdotes como pai e irmão que
os ama, escuta, acolhe, corrige, conforma, busca a sua colaboração e cuida
o melhor possível do seu bem-estar humano, espiritual, ministerial e econômico” (Ibidem, n. 47).
De modo especial, o Bispo é chamado a alimentar nos sacerdotes a vida espiritual, para favorecer neles a
harmonia entre a oração e o apostolado, olhando para o exemplo de Jesus e dos Apóstolos, que Ele chamou,
como nos diz São Marcos, antes de
tudo para que “permanecessem com
Ele” (Mc 3, 14).
Efetivamente, uma condição indispensável para que produza frutos
de bem é que o presbítero permaneça unido ao Senhor; aqui está o segredo da fecundidade do seu ministério: somente se estiver incorporado em Cristo, autêntica Videira, dará fruto.
O tempo consagrado à oração
é sempre o melhor utilizado
A missão de um presbítero e, com
maior razão, de um Bispo, comporta
hoje em dia uma quantidade de trabalho que tende a absorvê-lo continua e totalmente. As dificuldades
aumentam e as incumbências vão-se
multiplicando, também porque nos
encontramos diante de realidades
novas e de maiores exigências pastorais.
Todavia, a atenção aos problemas
de todos os dias e às iniciativas destinadas a conduzir os homens pelo
caminho de Deus nunca devem distrair-nos da união íntima e pessoal
com Cristo, desta permanência com
Ele. O fato de estarmos à disposição
das pessoas não deve diminuir nem
ofuscar a nossa disponibilidade para
o Senhor.
O tempo que o sacerdote e o Bispo consagram a Deus na oração é
sempre o melhor utilizado, pois que
a oração é a alma da atividade pastoral, a “linfa” que lhe infunde vigor, é
o sustentáculo nos momentos de incerteza e de desânimo, e a nascente
inesgotável de fervor missionário e
de amor fraterno para com todos.
Modos de prolongar a ação
santificadora da Eucaristia
No centro da vida sacerdotal está
a Eucaristia. Na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, sublinhei o
modo como “a Santa Missa é formadora no sentido mais profundo do termo, enquanto promove a configuração
a Cristo e reforça o sacerdote na sua
vocação” (n. 80). Por conseguinte, a
celebração eucarística ilumine toda
a vossa jornada e a dos vossos sacerdotes, imprimindo a sua graça e a sua
influência espiritual nos momentos
tristes ou alegres, agitados ou tranquilos, de ação ou de contemplação.
Um modo privilegiado de prolongar no dia a misteriosa ação santificadora da Eucaristia é a recitação devota da Liturgia das Horas, assim como a adoração eucarística, a lectio
divina e recitação contemplativa do
Rosário. 
(Excerto do discurso por ocasião do
encontro com os Bispos ordenados durante o último ano, 21/9/2009)
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 9
de Fátima
9
22/10/2009 14:12:45
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério
dos Bens Culturais da República Italiana
“O Juízo Final”,
por Fra Angélico Museu de São
Marcos, Florença
a EVANGELHO A
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na
terra as nações ficarão angustiadas com pavor do
barulho do mar e das ondas. 26 Os homens vão
desmaiar de medo, só de pensar no que vai acontecer ao mundo porque as forças do céu serão abaladas. 27 Então eles verão o Filho do Homem vindo sobre uma nuvem com grande poder e glória.
28
Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça; porque a vossa liberta25
10
ção está próxima. 34 Tomai cuidado para que vossos
corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia
cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra. 36 Portanto, ficai atentos e orai a todo
momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21, 25-28.34-36).
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 10
22/10/2009 14:12:51
COMENTÁRIO AO EVANGELHO – PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
As três vindas do Senhor
No Natal, o Messias desceu à terra sob os véus da humildade.
No fim dos tempos, virá em todo esplendor e glória, como
supremo Juiz. Entre essas duas vindas, segundo São Bernardo
de Claraval, há uma “terceira vinda” de Jesus, que
ocorre a todo instante de nossa vida.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – AS DUAS VINDAS DE CRISTO
A despreocupação com que a criança vive e brinca lhe
advém em grande medida da confiança no apoio, para ela
infalível, do pai ou da mãe. Essa salutar segurança é, sem
dúvida, uma das razões para a desanuviada e contagiante
alegria infantil.
Relacionamento semelhante a esse entre filhos e pais,
na ordem natural, observa-se também entre o homem e
Deus, na ordem espiritual. É o que poeticamente exprime
a Sagrada Escritura ao dizer: “Mantenho em calma e sossego a minha alma, tal como uma criança no seio materno,
assim está minha alma em mim mesmo” (Sl 130, 2).
Deus é muito mais do que um pai terreno
Deus, como incomparável Pai, nos ama verdadeira e
incondicionalmente, e fica agradado sempre que pedimos Seu auxílio, não importa em que situações. Entretanto, ao contrário da criança, que jamais se esquece
dos seus progenitores, tendemos a levar a vida cotidiana sem considerar quanto dependemos da Divina Providência, a qual nunca deixa de velar por nós. E essa
propensão à autossuficiência seria muito maior se nossas debilidades, limitações e infortúnios não nos recordassem frequentemente o quanto precisamos da ajuda
divina.
Ora, Deus é para nós muito mais do que um pai terreno, pois dEle dependemos de forma absoluta, essencial e
única. Em primeiro lugar, Ele nos criou: devemos-Lhe nossa existência. Ademais, Ele nos conserva, nos sustenta no
ser, o que nenhum pai humano pode fazer a seu filho. Se
Deus, por assim dizer, cessasse de pensar em nós um instante, deixaríamos de existir, voltaríamos ao nada. Em relação a Ele, nossa dependência é total.
Além disso — mistério de amor! —, Deus Se encarnou
para nos remir. E o preço pago para essa Redenção foi a
morte na Cruz, derramando todo o Seu Sangue por nós.
Mais, verdadeiramente, não poderia Ele fazer pela humanidade.
É nessa perspectiva da Bondade de Deus que nos ama
como Pai e nos redime, que devemos entrar no período
do Advento que hoje começa, e é também nessa clave
que comemoramos, na Liturgia deste domingo, as duas
vindas de Nosso Senhor.
Uma vinda na humildade e outra na glória
Na primeira, que já se realizou, o Menino Jesus apresentou-Se pobre, humilde, sem qualquer manifestação de
grandeza: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar Seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”.1 De forma bem diversa se dará a seNovembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 11
de Fátima
11
22/10/2009 14:12:53
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério
dos Bens Culturais da República Italiana
capando, pela fuga, aos emissários de um tirano
sanguinário. Na segunda, descerá cercado de glória
e majestade, como Rei do Universo”.5
As quatro semanas de advento
Na Sua primeira vinda, Ele Se apresentou aos homens
na fraqueza da infância, na pobreza e na indigência
"Fuga ao Egito", por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença
Tão humilde
quanto foi o
nascimento
de Jesus,
gloriosa será
Sua segunda
vinda
12
gunda, no fim dos tempos, quando Nosso Senhor
vier para julgar os vivos e os mortos: “Revestido de
Sua glória, Ele virá uma segunda vez para concedernos em plenitude os bens prometidos, que hoje, vigilantes, esperamos”.2
Mostra o grande Bossuet como, ao assumir a
natureza humana, Deus quis fazê-lo nas condições mais modestas, humilhando-Se até o inconcebível: “Ele como que caiu, do seio de Seu Pai, no
de uma mulher mortal, daí num estábulo, e daí desceu, por sucessivos graus de rebaixamento, até a infâmia da Cruz, até a escuridão do túmulo. Reconheço que não era possível cair mais baixo”.3
Ora, tão humilde quanto foi o nascimento de
Jesus, gloriosa será Sua segunda vinda, a respeito da qual afirma São Gregório Magno: “Aquele
a Quem não quiseram escutar quando Se apresentou humilde, eles O verão descer em grande poder
e majestade, e experimentarão o Seu poder, tanto
mais rigoroso quanto menos dobrem agora a cerviz
do coração ante a paciência dEle”.4
O acentuado contraste entre essas duas situações leva o Pe. Dehaut a exclamar: “Que diferença entre esta segunda vinda de Jesus e a primeira!
Na primeira, Ele Se apresentou aos homens na fraqueza da infância, na pobreza e na indigência, es-
O Tempo do Advento compõe-se de quatro semanas, representando os séculos e milênios que esperou a humanidade pela vinda do
Redentor. Nesse período, tudo na Liturgia se
reveste de austeridade — omite-se o Glória,
os paramentos são roxos e as flores não enfeitam mais o interior dos templos — para lembrar
“nossa condição de peregrinos, ancorados ainda
na esperança”, como afirma o famoso liturgista
Manuel Garrido.6
A causa de estar dedicado o Evangelho deste
primeiro domingo à segunda vinda de Nosso Senhor é assim explicada por Dom Maurice Landrieux, Bispo de Dijon: “A Igreja nos fala do fim
do mundo, isto é, dos Novíssimos, para recordarnos o sentido da vida, desapegar-nos do pecado e
encorajar-nos à prática do bem. Deus nos criou para a vida eterna. Não temos morada permanente
nesta terra: aqui estamos de passagem, a caminho
do Céu”.7
Daí que, já no início da Celebração Eucarística, a Igreja faça esta oração: “Concedei aos Vossos fiéis o ardente desejo de possuir o Reino Celeste. Para que acorrendo com as nossas boas obras
ao encontro do Cristo, que vem, sejamos reunidos à
Sua direita na comunidade dos justos”.
Assim, nesta abertura de ano litúrgico, temos
duas preparações: uma para comemorar dignamente o nascimento de Jesus em Belém; outra,
para o grandioso ato de encerramento da História humana, que é o Juízo Final. Pois “a lembrança da última vinda de Nosso Senhor, inspirandonos um salutar pavor que nos afasta do pecado e
nos conduz ao bem, prepara-nos também para celebrar santamente a primeira vinda”.8
Na segunda e terceira semanas são considerados aspectos do Precursor; e na última a Liturgia
trata de uma preparação mais direta para o nascimento do Redentor, considerando toda a espera e as orações de Nossa Senhora, dos patriarcas,
dos profetas, como fatores que aceleraram a vinda do Messias à terra.
II – JESUS ANUNCIA SUA SEGUNDA VINDA
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra as nações ficarão angustiadas
com pavor do barulho do mar e das ondas.
25
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 12
22/10/2009 14:12:57
São João Crisóstomo faz uma interessante
consideração sobre estes versículos, ao dizer que
Nosso Senhor indica aqui uma série de sinais prenunciadores do fim do mundo enquanto, em outras passagens, afirma que este virá num momento inesperado (cf. Mt 24, 42).9
Para explicar esta aparente contradição, levanta o Crisóstomo a hipótese de que nos últimos tempos haverá guerras e perseguições, mas
em certo momento tudo entrará numa aparente tranquilidade em meio à desordem do pecado.
Os bons ficarão reduzidos a presenciar impotentes todo tipo de abominações. Quando, porém,
parecer evidente a todos o triunfo geral e definitivo do mal, dando a ideia de que Deus não existe, o Juiz Supremo Se apresentará inesperadamente para julgar os vivos e os mortos.10
Santo Agostinho, de sua parte, comenta que os
fenômenos da natureza descritos nestes versículos
“devem ser entendidos como se referindo à Igreja, pois
esta é o sol, a lua e as estrelas; ela tem sido chamada
de formosa como a lua, eleita como o sol, e não brilhará nessa época, devido à furiosa perseguição”.11
Mais circunstanciado é o comentário de Santo Agostinho, que considera duas possíveis interpretações para esse pormenor:
“Pode-se entender isso em dois sentidos. Ele poderá vir à Igreja como sobre uma nuvem, como não
cessa de vir agora, conforme diz a Escritura: ‘Vereis
doravante o Filho do Homem sentar-Se à direita do
Todo-Poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu’ (Mt
26, 64). Mas virá então com grande poder e majestade, porque manifestará mais nos santos Seu poder e
majestade divina, pois aumentou-lhes a fortaleza para não sucumbirem na perseguição. Pode-se entender também que venha em Seu Corpo, que está sentado à direita do Pai, no qual morreu, ressuscitou
e subiu ao Céu, conforme está escrito nos Atos dos
Apóstolos: ‘Dizendo isso, elevou-Se da terra à vista
deles e uma nuvem O ocultou aos seus olhos’. E ali
mesmo disseram os Anjos: ‘Voltará do mesmo modo
que O vistes subir ao Céu’ (At 1, 9.11). Temos, pois,
motivos para crer que virá, não só em Seu Corpo,
mas também sobre uma nuvem; virá como Se foi, e
ao ir-Se uma nuvem O ocultou. É difícil julgar qual
dos dois sentidos é o melhor”.14
Aquele a
Quem não
quiseram
escutar
quando Se
apresentou
humilde,
eles O verão
descer em
grande poder
e majestade
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério
dos Bens Culturais da República Italiana
Os homens vão desmaiar de medo, só
de pensar no que vai acontecer ao mundo
porque as forças do céu serão abaladas”.
26
“Então eles verão o Filho do Homem
vindo sobre uma nuvem com grande poder e glória”.
27
Vejamos a bela relação que faz o Pe. Julien
Thiriet entre este versículo e a primeira vinda do
Senhor: “Eles verão o Filho do Homem vindo com
grande poder e majestade. Ou seja, com força invencível, para confundir e castigar Seus inimigos,
mas também com uma glória resplandecente, uma
majestade divina, para recompensar e coroar Seus
eleitos. Assim, depois de ter aparecido sob uma forma humilde e desprezível na Sua primeira vinda —
‘aniquilou-se a Si mesmo, assumindo a condição
de escravo’ (Fl 2, 7) —, aparecerá na última vinda como poderoso Rei e soberano Senhor do Céu
e da terra. Todos os homens verão em Seu Corpo
as gloriosas cicatrizes de Suas chagas, e os pecadores, conforme disse o profeta Zacarias, reconhecerão Aquele que transpassaram”.12
O fato de Cristo vir sobre uma nuvem é relacionado pelo mesmo autor com o dia de Sua Ascensão: “As nuvens que Lhe serviram de carro triunfal para subir ao Céu, diz Orígenes, servir-Lhe-ão de
trono quando Ele descer para julgar a terra”.13
Ele virá com uma glória resplandecente para recompensar e
liberar os eleitos.
“Redenção dos justos”, por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 13
de Fátima
13
22/10/2009 14:12:59
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana
Quando estas coisas começarem a
acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça;
porque a vossa libertação está próxima”.
28 “
“Tomai
cuidado para
que vossos
corações não
fiquem
insensíveis
por causa
da gula, da
embriaguez
e das
preocupações
da vida”
14
As palavras de Jesus neste versículo convidam
e elevar o ânimo e ter confiança pois, junto com o
anunciado castigo, chegará para aqueles que tiverem permanecido fiéis a hora da libertação. Daí
que São Gregório Magno afirme: “Quando as pragas afligirem o mundo, levantai vossas cabeças, isto
é, alegrai vossos corações, porque enquanto acaba o
mundo, do qual na verdade não sois amigos, aproxima-se vossa redenção, que tanto tendes procurado”.15
A aumentar nossa esperança e alçar nossos corações para o Céu nessa hora, convida também
Dom Maurice Landrieux: “Se o dia do Juízo Final
deve ser terrível para os réprobos, será, ao contrário,
consolador para os eleitos, os quais entrarão de corpo e alma na glória completa, tão desejada. Portanto, quando essas coisas começarem a acontecer, enquanto os pecadores murcharão de terror e serão tomados de desespero, vós, Meus amigos e servidores,
levantai a cabeça e olhai; fortalecei vossa fé e vossa
esperança, desviai da terra vosso espírito e vosso coração e elevai-os ao Céu; alegrai-vos, pois está próxima a vossa libertação. Essa libertação ou redenção
será para os eleitos o fim absoluto de todos os males,
a perfeita satisfação da alma e do corpo, o gozo incomparável da eterna bem-aventurança”.16
E conclui com esta exclamação: “Dia de pavor
e desespero para os ímpios, os pecadores: dies iræ,
dies illa! Mas de indizível esperança para os justos
de Deus, para os pequenos e os humildes desconhecidos, desdenhados, rejeitados, execrados, explo-
rados, maltratados, oprimidos de todos os modos
nesta terra”.17
Ora, se no fim dos tempos os castigos de Deus
contra os maus significam a libertação dos bons,
a ponto de Santo Agostinho afirmar que “a vinda do Filho do Homem incute temor só aos incrédulos”,18 bem poderíamos tirar disso uma conclusão para nossa época: por mais que, nos dias atuais, as aflições e apreensões oprimam os bons, estes igualmente não devem temer, pois Deus jamais abandona quem nEle confia.
É o que afirma São Cipriano: “Quem espera
a recompensa divina deve reconhecer que em nós
não poderá haver medo algum ante as borrascas do
mundo, nenhuma vacilação, pois o Senhor predisse
e ensinou que isso aconteceria, exortando, instruindo, preparando e fortalecendo os fiéis de Sua Igreja
com vistas a suportar os acontecimentos futuros”.19
III – PREPARAÇÃO DOS CORAÇÕES
Tomai cuidado para que vossos corações
não fiquem insensíveis por causa da gula,
da embriaguez e das preocupações da vida,
e esse dia não caia de repente sobre vós; 35
pois esse dia cairá como uma armadilha
sobre todos os habitantes da terra”.
34 “
“Tomai cuidado para que vossos corações não
fiquem insensíveis!”. Nesta segunda parte do
Evangelho escolhido pela Igreja para este domingo, o Divino Mestre faz referência àquelas almas
que, mesmo não negando formalmente a Fé, já
não se enlevam, não vibram, nem se comovem
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 14
22/10/2009 14:13:06
Se o dia do Juízo
Final deve ser
terrível para os
réprobos, será,
ao contrário,
consolador para
os eleitos, os
quais entrarão de
corpo e alma na
glória completa,
tão desejada.
“Juízo Final”, por
Fra Angélico Museu de São
Marcos, Florença
com as mais belas doutrinas, cerimônias ou acontecimentos, ficando incapazes de reconhecer neles a voz ou a presença do Salvador.
“Como uma armadilha”, cairá o dia terrível do
Juízo Final sobre os habitantes da terra; portanto,
para não sermos apanhados de improviso, precisamos estar vigilantes para impedir que nossos corações se tornem insensíveis pelos vícios e pela preocupação com os efêmeros bens deste mundo.
Gula, embriaguez e preocupações da vida
Jesus menciona, em primeiro lugar, a gula. Pecado que, em nossos dias, pode ser considerado
inclusive no sentido inverso, ou seja, como a preocupação excessiva com o controle do peso, em
prejuízo da própria saúde. O equilíbrio consiste
em comer o necessário para manter-se e poder
enfrentar as dificuldades da vida.
Mas existe também uma gula dos olhos: a excessiva curiosidade; ou dos ouvidos: o desejo
imoderado de conversar, de querer estar a par
de todas as novidades. Para não estender demais
a lista dos vícios correlatos à gula, mencionemos
apenas mais um, e dos mais perniciosos: o anseio
de chamar a atenção sobre si.
Quanto à embriaguez, Orígenes nota quão
profunda é a degradação à qual ela conduz, por
afetar simultaneamente o corpo e a alma. “Em
outros casos pode acontecer que o espírito se fortaleça quando o corpo se debilite, como diz o Apóstolo (cf. II Cor 12, 10); e quando ‘o homem exterior
se enfraquece, o interior se renova’ (II Cor 4, 16).
Mas na enfermidade da embriaguez deterioramse ao mesmo tempo o corpo e a alma; o espírito se
corrompe como a carne. Debilitam-se os pés e as
mãos, embota-se a língua, as trevas lançam um véu
sobre os olhos, e o olvido envolve a mente, de modo
que o homem não conhece nem sente”.20
Em nossos dias, bem poderia este vício ser tomado como símbolo do inebriamento com as coisas materiais como o automóvel, o computador,
o telefone celular, a internet e outros aparelhos
que são úteis e até necessários, mas que, usados
sem o controle da virtude da temperança, contribuem para tornar o coração insensível às realidades sobrenaturais.
Uma eloquente metáfora do mesmo Orígenes
vem muito a propósito para realçar o quanto precisamos tomar em consideração a advertência feita pelo Divino Mestre no Evangelho deste domingo: “Imagine-se que um médico experiente e sábio
dê prescrições parecidas a esta, recomendando, por
exemplo: ‘Cuide de não tomar em excesso suco de
tal erva, pois isso pode causar morte repentina’. Não
duvido que, para preservar a própria saúde, todos
obedeceriam a essa advertência. Ora, Aquele que é
médico das almas e dos corpos, o Senhor, nos ordena tomar cuidado com a erva da embriaguez e da
crápula, bem como dos negócios mundanos e dos
sucos mortais que é preciso evitar”.21
Assim, não só quem se deixa levar pelos vícios degradantes como a gula e a embriaguez,
mas também quem se toma de excessivas preocupações pelos bens terrenos, acaba ficando com o coração insensível, pesado, incapaz
de elevar-se até Deus. É novamente Orígenes
quem faz esclarecedores comentários: “A última advertência de Jesus, no momento, incide soNovembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 15
Quem se toma
de excessivas
preocupações
pelos bens
terrenos,
acaba ficando
com o coração
insensível,
pesado,
incapaz
de elevar-se
até Deus
de Fátima
15
22/10/2009 14:13:11
“Emendaivos, mudai
vossos
costumes,
vencei as
tentações e
castigai com
lágrimas
os pecados
cometidos,
porque algum
dia vereis
a chegada
do eterno
Juiz com
tanto maior
segurança
quanto mais
tiverdes
prevenido
pelo temor
de Sua
severidade”
(São Gregório
Magno)
bre o cuidado que devemos ter com aquelas coisas da vida que — embora não sendo consideradas como pecados graves, mas sim como atividades aparentemente indiferentes — obnubilam
entretanto nossa consciência a respeito de Sua
volta iminente e da repentina chegada do fim do
mundo”.22
A este respeito, recomenda-nos São Basílio: “A curiosidade e os cuidados desta vida, embora não pareçam prejudiciais, devem ser evitados
quando não contribuem para o serviço de Deus”.23
E o douto Tito nos alerta: “Tomai cuidado para
não se obscurecerem as luzes de vossa inteligência,
porque as preocupações desta vida, a crápula e a
embriaguez afugentam a paciência, fazem vacilar a
fé e provocam o naufrágio”.24
Ao que Dom Landrieux acrescenta: “Prestai
muita atenção para não deixar vosso coração apegar-se à terra pelos prazeres grosseiros dos sentidos, pela fruição imoderada dos bens deste mundo, ou por um cuidado excessivo com vossa situação, que vos exporia a ser surpreendido de repente pela morte: et superveniat in vos repentina dies illa. Pelo contrário, vigiai e orai, sede prudentes, recorrei aos meios sobrenaturais para obter que a mão de Deus vos sustente nessas provações, de sorte a poderdes permanecer de pé no dia
do Juízo: stare ante filium hominis”.25
Vigilância e oração
“Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar
de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”.
36
Bem observam os professores de Salamanca
o fato de São Lucas não acompanhar seu relato
com parábolas, como fazem os outros sinópticos.
1
Prefácio do Advento, I.
2
Idem.
3
BOSSUET. Oeuvres choisies.
Versailles: Lebel, 1822, p. 156.
4
5
16
SAN GREGORIO MAGNO.
Obras de San Gregorio Magno.
Madrid: BAC, 1958, p. 538.
DEHAUT, P. Pierre Auguste
Teóphile. L’Évangile expliqué, défendu, médité. Paris : Lethielleux, 1868, vol. 4,
p. 405.
Ele traz apenas uma exortação geral. “Em compensação, exprime bem o sentido dessa vigilância
constante em pureza de vida e oração”.26
Ficar atento significa estar sempre preparado
para o encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, mantendo bem abertos, não
apenas os olhos do corpo, mas, sobretudo, os da
alma, pois são estes que poderão indicar a proximidade do Senhor. E para isto precisamos viver continuamente em estado de oração, mesmo
quando estivermos cumprindo nossas obrigações
habituais. Só assim poderemos estar preparados
para os grandes acontecimentos anunciados por
Jesus e nos apresentar “de pé diante do Filho do
Homem”, isto é, íntegros, honestos e virtuosos.
Em suma, permanecendo no estado de graça.
Na vida terrena, muito mais importante do
que conservar a saúde, o dinheiro ou qualquer
outro bem, é manter-se na graça de Deus. Portanto, esforçando-se por jamais ofendê-Lo; mas,
se tiver a desgraça de cair no pecado, procurando imediatamente reconciliar-se com Ele, pelo
sacramento da Confissão. A isso nos exorta São
Gregório Magno: “Emendai-vos, mudai vossos
costumes, vencei as tentações e castigai com lágrimas os pecados cometidos, porque algum dia vereis
a chegada do eterno Juiz com tanto maior segurança quanto mais tiverdes prevenido pelo temor Sua
severidade”.27
IV – A “TERCEIRA VINDA”
A Liturgia do Primeiro Domingo do Advento é toda ela penetrada pela perspectiva da comemoração da primeira vinda de Nosso Senhor,
com Seu nascimento na gruta em Belém, e pela preparação da segunda, que se dará no fim do
mundo para julgar toda a humanidade.
6
GARRIDO, Manuel. Iniciación
a la Liturgia de la Iglesia. Palabra, p. 275.
10
Cf. SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilias sobre el Evangelio de San Mateo, 76 e 77.
7
LANDRIEUX, Mgr. Maurice. Courtes gloses sur les
Evangiles du dimanche. Paris:
Beauchesne, 1918, p. 2-3.
11
Apud AQUINO, São Tomás
de. Catena Aurea.
12
THIRIET, Op. cit., p. 5.
13
Idem.
14
SAN AGOSTÍN, Carta 199,
41-45. In Comentarios de San
Agustín, Valladolid: Estudio
Agustiniano, 1986, p. 52-53.
8
9
THIRIET, P. Julien. Explication
des Evangiles du dimanche.
Hong-Kong: Société des Missions Étrangères, 1920, p. 2.
Veja-se também I Ts 5, 2; II Pd
3, 10; Ap 16, 15.
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 16
22/10/2009 14:13:12
De acordo com São Bernardo de Claraval, porém, são três as vindas de Nosso Senhor: “A primeira, quando Ele veio por Sua Encarnação; a segunda é cotidiana, quando Ele vem a cada um de
nós, pela Sua graça; e a terceira, quando virá para julgar o mundo”.28 Em outra passagem, especifica o Doutor Melífluo que o segundo advento
de Cristo é oculto e “somente os eleitos o veem em
si mesmos, e com ele salvam suas almas”. Ele está vindo constantemente a nós para ser “nosso repouso e consolo”.29
Assim, a todo instante somos chamados a ter
um encontro com Jesus. Será, sobretudo, na Eucaristia. Mas também, por exemplo, ao meditar
este Evangelho do Primeiro de Advento, ou escutando uma palavra inspirada de algum ministro de Deus. Por isso, nossa vida deveria em realidade girar em torno de um Natal permanente, que se iniciasse ao acordar pela manhã e não
terminasse sequer ao dormir à noite, porque para tudo dependemos da graça de Deus e devemos
estar continuamente esperando o auxílio que nos
vem dEle.
Fiquemos atentos e aproveitemos esses valiosos convites da graça de modo a estarmos em
condições de receber, não com pavor e desespero, mas com júbilo, o justo Juiz que descerá do
Céu em toda pompa e majestade e dirá àqueles
que nesta terra confiaram em Sua misericórdia e
cumpriram Seus Mandamentos: “Vinde, benditos
de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34).
Quem tiver sempre em vista esse fim, terá ânimo redobrado para praticar a virtude e comparecer sem temor ao encontro definitivo com Nosso Senhor.
Preparemo-nos, portanto, porque Ele virá
quando menos esperarmos! 
15
Apud AQUINO, São Tomás
de. Catena Aurea.
16
THIRIET, Op. cit., p. 6.
17
LANDRIEUX, Op. cit. p. 7
18
19
Apud ODEN, Thomas C.;
JUST, Arthur A. La biblia comentada por los Padres de la
Iglesia. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p. 431.
SAN CIPRIANO. Sobre la
mortalidad, 2 apud ODENJUST, Op. cit., p. 434.
Jesus está a todo instante batendo à porta
da nossa alma para ser nosso repouso e
consolo
Grupo escultórico do cemitério da Consolação,
São Paulo
20
Homilías sobre el Levítico, 7,
1-237. Apud ODEN-JUST, Op.
cit., p. 434-435.
26
TUYA, OP, Pe. Manuel de. Biblia comentada. Madrid: BAC,
1964, p. 904.
21
Idem.
27
22
Apud ODEN-JUST, Op. cit.,
p. 432.
SAN GREGORIO MAGNO,
Op.cit., p. 541.
28
Cf. THIRIET, Op. cit., p. 2.
29
SAN BERNARDO DE CLARAVAL. In Obras completas de San Bernardo. Madrid:
BAC, 1953, p. 177.
23
Apud AQUINO, São Tomás
de. Catena Aurea.
24
Apud idem.
25
LANDRIEUX, Op. cit. p. 8-9.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 17
Para tudo
dependemos
da graça
de Deus e
devemos
estar sempre
esperando o
auxílio que
nos vem
dEle.
de Fátima
17
22/10/2009 14:13:17
O que é a verdade?
O homem vive à procura da verdade. Ama-a quando ela se lhe
manifesta, e pode chegar a odiá-la quando ela o repreende... Tal é
o espírito humano, sem o auxílio da graça divina.
Diác. Winston de la Concepción Salazar Rojas, EP
C
onta-se que, certa feita, querendo pregar uma peça em
São Tomás de Aquino, alguns frades começaram a
chamá-lo com insistência:
— Vem ver um burro voando!
E aguardaram ansiosos sua reação, prontos a rir-se do irmão de hábito. Acorreu o santo ao local e pôsse a perscrutar os ares à procura do
inusitado fenômeno, enquanto os outros desatavam em gargalhadas, criticando-o:
— Mas, homem de Deus! Como
podes ser tão ingênuo? Tu, que pareces conhecer tudo, deverias saber
que é impossível burros voarem.
A brincadeira cessou de modo imprevisto, quando Frei Tomás respondeu com seriedade:
— É que me parece coisa mais
possível ver um burro voar do que religiosos mentirem...1
Essa curiosa história nos introduz
em um apaixonante tema: mentira,
verdade... o que é a verdade?
Se considerarmos com atenção,
veremos tratar-se do problema mais
elementar que todo homem se põe
no íntimo de seu ser. A todo momento, em tudo quanto observa ou pensa,
18
em tudo aquilo que sente, o homem
tem uma propensão, uma aspiração
ou uma inclinação a buscar uma certeza, uma verdade na qual se basear.
Daí vem o famoso “Por quê?” das
crianças, que querem saber de tudo;
em sua inocência, elas se admiram
e se encantam diante de um mundo
novo que oferece, às suas mentes ansiosas de conhecer, uma infinidade
de atraentes questões.
Conformidade entre a
realidade e o pensamento
Em vista disso, o que é a verdade?
Foi esta a pergunta, carregada de
ironia, feita por Pilatos Àquele que
afirmou de Si: “Eu nasci e vim ao
mundo para isto: para dar testemunho
da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz” (Jo 18, 37).
A mesma indagação, muitos a fazem hoje, sem encontrar resposta satisfatória. Habitualmente, conceitua-se a verdade como a conformidade entre o que se pensa e a realidade. Assim a entenderam fundamentalmente a Filosofia clássica e a escolástica, desde Aristóteles, para quem
a verdade consiste em afirmar o que
é e negar o que não é; e São Tomás a
define como a adequação da coisa e
do intelecto: “veritas est adæquatio rei
et intellectus”.2
A humildade, primeiro requisito
para alcançar a verdade
De sua parte, com seu característico estilo, Santa Teresa de Jesus vincula estreitamente a verdade à virtude da humildade. Assim escreve ela
em seu famoso livro As Moradas ou
Castelo:
“Certa vez estava eu refletindo sobre a razão pela qual Nosso Senhor é
tão amigo desta virtude da humildade,
e logo ocorreu-me o seguinte: é porque
Deus é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade”. Depois de explicar que “anda na verdade” quem não faz bom conceito de si
mesmo, mas reconhece que, de si, é
nada e miséria, a grande doutora da
Igreja acrescenta: “Quem não entende isso, anda na mentira. E a quem
mais entende isso, mais agrada a suma
verdade, porque anda nela”.3
Desse modo, a mística de Ávila
nos ensina a atitude que devemos assumir diante de nosso Deus e Criador. É necessário aceitar Sua soberania e onipotência, o que implica re-
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 18
22/10/2009 14:13:20
São Tomás de Aquino, o
“apóstolo da verdade”
É conhecida a afirmação do Aquinate: “Omne verum, a quocumque dicatur, a Spiritu Santo est” — “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem
do Espírito Santo”.4 Com isto nos ensina que, “para o conhecimento de
uma verdade, de qualquer ordem que
seja, alguém precisa do auxílio divino
para que o intelecto seja movido por
Deus ao seu ato”.5 Este anelo da verdade mereceu ao Doutor Angélico o
reconhecimento de vários Papas, entre os quais Paulo VI:
Gustavo Kralj
conhecer em nós — e nos outros —
tanto as qualidades, virtudes e dons
que o Criador nos tenha outorgado
em Sua infinita liberalidade, quanto
nossos pecados, defeitos e erros, que
devemos não somente detestar, mas
procurar corrigir. Ou seja, quem ama
e pratica a virtude da humildade, não
tergiversa nem manipula a verdade
de acordo com sua própria conveniência, mas encara a realidade como
ela é, objetivamente.
Com razão afirma o Papa Bento
XVI, na introdução de sua Encíclica
Caritas in veritate:
“Defender a verdade, propô-la com
humildade e convicção e testemunhála na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, ‘rejubila com a verdade’ (I Cor 13,
6). Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a
vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus
Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e
da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projeto
de vida verdadeira que Deus preparou
para nós. Em Cristo, a caridade na
verdade torna-se o Rosto da Sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para
amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projeto. De fato, Ele mesmo
é a Verdade (cf. Jo 14, 6)”.
“O que é a verdade? Foi esta a pergunta, carregada de ironia,
feita por Pilatos Àquele que afirmou de Si: “Eu nasci e vim
ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele
que é da verdade escuta a Minha voz”
“Jesus diante de Pilatos” - Mosaico italiano da Igreja Ortodoxa do Sangue
Derramado, São Petersburgo (Rússia)
“Esse afã de procurar a verdade,
entregando-se a ela sem regatear qualquer esforço — afã que São Tomás
considerou a missão específica de toda a sua vida, e cumpriu eximiamente em seu magistério e em seus escritos
— faz com que se possa denominá-lo
com toda razão ‘apóstolo da verdade’, e propô-lo como exemplo a todos
quantos desempenham a função de
ensinar. Contudo, ele brilha a nossos
olhos também como admirável modelo de erudito cristão que, para captar as novas preocupações e dar resposta às novas exigências do progresso cultural, não sente necessidade de
sair das vias da Fé, da Tradição e do
Magistério, que as riquezas do passado e o selo da verdade divina lhe proporcionam”.6
O princípio de não-contradição
Um princípio fundamental da Filosofia se encontra na base da verdade: o princípio de não-contradição, segundo o qual uma coisa não
pode ser e não ser, sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo. Como
princípio, é evidente e dispensa demonstração, pois, por assim dizer,
a inteligência pode apreendê-lo intuitivamente. Para alcançar a ver-
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 19
de Fátima
19
22/10/2009 14:13:22
Gustavo Kralj
“Por que Nosso Senhor é tão amigo da virtude da humildade? Porque Ele
é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade”
“Santa Teresa de Ávila” - Basílica de São Pedro (Vaticano)
dade, o homem deve construir seu
pensamento tendo como base este princípio, pois do contrário cairá no erro e na confusão. Princípio
proclamado pela própria Sabedoria
Eterna e Encarnada, ao advertir os
discípulos: “Seja o vosso sim, sim, e
o vosso não, não. O que passa disso
vem do Maligno” (Mt 5, 37). De forma mais categórica ainda, o livro do
Apocalipse manifesta quanto o Senhor aprecia a veracidade e a coerência: “Ao Anjo da igreja que está
em Laodiceia, escreve: ‘Assim fala o
Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
Conheço a tua conduta. Não és frio,
nem quente. Oxalá fosses frio ou
quente! Mas, porque és morno, nem
frio nem quente, estou para vomitarte de Minha boca’” (Ap 3, 14-16).
20
É obrigação moral
manter-se na verdade
Para esclarecer o assunto de como
pode a razão humana conhecer a verdade e de que, uma vez conhecida esta, tem-se o dever moral de segui-la,
o conceituado filósofo espanhol Jaime Balmes aborda o tema de como
o caráter racional do homem requer
que suas ações possuam um fundamento na razão, por ser esta a mais
importante de suas faculdades:
“É claro que a inteligência não pode ficar indiferente ante a verdade e o
erro, e sua perfeição consiste no conhecimento da verdade; por isso temos o
dever de buscá-la. E quando não empregamos a inteligência nesse objetivo, abusamos da melhor de nossas faculdades. O objeto da inteligência é a
verdade, porque a verdade é o ser; e o
nada não pode ser objeto de nenhuma faculdade. Quando conhecemos o
ser, conhecemos a verdade; por conseguinte, temos o dever de procurar o
conhecimento da realidade das coisas.
Se, por indolência, paixão ou capricho,
extraviamos nossa inteligência, fazendo-a consentir no erro — seja por criar
como existentes objetos que não existem, ou como não existentes os existentes; seja por atribuir-lhes relações que
não têm, ou negar-lhes as que têm —,
cometemos uma falta contra a lei moral, porque nos afastamos da ordem
prescrita à nossa natureza pela sabedoria infinita. O amor à verdade não é
uma simples qualidade filosófica, mas
um verdadeiro dever moral. Procurar ver nas coisas o que existe, e nada
mais do que aquilo que existe, que é no
que consiste o conhecimento da verdade, não é apenas um conselho da arte
de pensar: é também um dever prescrito pela lei do agir bem”.
De onde se compreende a advertência feita pelo Divino Mestre aos
que não querem andar nos caminhos da verdade: “O vosso pai é o diabo, e quereis cumprir o desejo do vosso pai. Ele era assassino desde o começo e não se manteve na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele
fala mentira, fala o que é próprio dele, pois ele é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).
A unidade da verdade: postulado
fundamental da razão humana
Assim, pois, já que toda verdade,
todo bem e toda beleza provêm de
Deus como de sua fonte, é impossível
haver contradição na verdade. O que
pode variar é o caminho para se chegar a ela, a partir da Fé, da Filosofia
ou da ciência. Mas, como ocorre em
toda a Criação, há uma hierarquia e
uma ordem admiráveis também na
esfera do conhecimento.
Somos criaturas especialmente
complexas, tendo algo de espiritual e
algo de material. Pois bem, o espírito
é superior à matéria, a ordem sobrenatural é superior à ordem natural,
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 20
22/10/2009 14:13:25
de maneira que o estudo daquilo que
se refere a Deus é superior, pelo seu
próprio objeto, a qualquer outro. Isso não tira nem diminui a importância, a utilidade e a necessidade do estudo do universo. Para isso, o ser humano — criatura racional feita à imagem e semelhança de Deus — possui
a inteligência, que o leva a querer investigar o universo. Bem ordenada,
essa inteligência, por si só, pode e deve conduzir a seu Criador; iluminada pela luz da Fé, chegará inclusive
a discernir os mistérios e as verdades
da ordem sobrenatural:
“Esta verdade, que Deus nos revela em Jesus Cristo, não está em contraste com as verdades que se alcançam filosofando. Pelo contrário, as duas ordens de conhecimento conduzem
à verdade na sua plenitude. A unidade da verdade já é um postulado fundamental da razão humana, expresso no princípio de não contradição. A
Revelação dá a certeza desta unidade,
ao mostrar que Deus criador é também o Deus da história da salvação.
Deus que fundamenta e garante o
caráter inteligível e racional da ordem natural das coisas, sobre o
qual os cientistas se apoiam
confiadamente, é o mesmo que Se revela como
Pai de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Esta
unidade da verdade, natural e revelada, encontra a sua
identificação viva
e pessoal em Cristo, como recorda o
Apóstolo Paulo: ‘A
verdade que existe em
Jesus’ (Ef 4, 21; cf. Cl 1,
15-20). Ele é a Palavra eterna, na qual tudo foi criado, e ao
mesmo tempo é a Palavra encarnada que, com toda a Sua pessoa, revela o Pai (cf. Jo 1, 14.18). Aquilo
que a razão humana procura ‘sem o
conhecer’ (cf. At 17, 23), só pode ser
encontrado por meio de Cristo: de fato,
o que nEle se revela é a ‘verdade plena’
(cf. Jo 1, 14-16) de todo o ser que, nEle e por Ele, foi criado e, por isso mesmo, nEle encontra a sua realização (cf.
Cl 1, 17)”.7
A verdade impõe deveres
Por isso, a razão humana, quanto
mais se aprofunda no estudo do universo, mais se admira ao conhecer
sua perfeição, sua harmonia e sua
beleza, que nunca podem ser produto do acaso, do mesmo modo como não pode acontecer que milhares de letras lançadas por uma janela componham, ao cair, a Divina Comédia, de Dante. De onde podemos
concluir que sábio e inteligente não
é somente quem muito conhece ou
entende, mas sobretudo quem, admirando a obra de arte que é a cria-
ção, remonta ao Criador. Pois ninguém é tolo a ponto de, contemplando uma maravilha da técnica ou uma
obra de arte, acreditar que não teve
autor ou causa.
Não obstante, quando o homem
orgulhosamente viola esse natural
afã pela verdade, instala-se em seu
espírito a desordem; na sua mente,
a confusão; em suas ideias, o caos; e
cairá mais tarde em crises psicológicas, morais e espirituais que podem
atingir todos os âmbitos de sua existência. De maneira que, quem erige “sua” verdade, constrói sua alma
sobre a areia movediça do individualismo e do egoísmo mais exacerbado, com as trágicas sequelas que derivam de quem se coloca como origem e medida da verdade. De outro
lado, quem adere à Verdade alcança,
junto com ela, a liberdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). O Papa Bento XVI, na Missa Crismal da QuintaFeira Santa deste ano, explica os deveres que a verdade impõe:
“Ser imersos na verdade e, deste
modo, na santidade de Deus significa para nós também aceitar o caráter exigente da verdade; contrapor-se, tanto nas coisas grandes como nas pequenas,
à mentira, que de modo
tão variado está presente no mundo; aceitar a
fadiga da verdade, porque a sua alegria mais
profunda está presente
em nós. Quando falamos de ser consagrados
na verdade, também não
devemos esquecer que, em
“Seja o vosso sim, sim, e o
vosso não, não. O que passa
disso vem do Maligno”
“Cristo Rei” - Igreja de Santo André,
Bayonne (França)
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 21
de Fátima
21
22/10/2009 14:13:31
Gustavo Kralj
“Toda verdade, dita por quem quer
que seja, vem do Espírito Santo”
“Glória do Espírito Santo” Museu Arquidiocesano de Arte Sacra,
Rio de Janeiro
Jesus Cristo, verdade e amor são uma
coisa só. Ser imersos nEle significa ser
imersos na Sua bondade, no amor verdadeiro”.8
De maneira que o homem, tendo
conhecido a verdade, deve segui-la,
e aceitar seus conselhos como se tratasse de seu melhor amigo, de acordo
com a famosa frase atribuída ao Estagirita: “Amicus Plato, sed magis amica veritas — Platão é amigo, porém,
mais amiga é a verdade”.9 Esse caminho em busca da verdade exige do
homem uma atitude de aceitação dela e de rejeição do erro, como explica
João Paulo II:
“‘Todos os homens desejam saber’
(Aristóteles, Metafísica, I, 1) e o objeto próprio deste desejo é a verdade. A
própria vida cotidiana demonstra o interesse que tem cada um em descobrir,
para além do que ouve, a realidade das
coisas. Em toda a criação visível, o homem é o único ser que é capaz não só
de saber, mas também de saber que sabe, e por isso se interessa pela verda22
de real daquilo que vê. Ninguém pode sinceramente ficar indiferente quanto à
verdade do seu saber. Se
descobre que é falso, rejeita-o; se, pelo contrário, consegue certificar-se da sua verdade, sente-se satisfeito. É a lição que nos
dá Santo Agostinho,
quando escreve: ‘Encontrei muitos com desejos de enganar outros,
mas não encontrei ninguém que quisesse ser enganado’ (Confissões, X, 23,
33: CCL 27,173). Considerase, justamente, que uma pessoa
alcançou a idade adulta, quando
consegue discernir, por seus próprios
meios, entre aquilo que é verdadeiro e
o que é falso, formando um juízo pessoal sobre a realidade objetiva das coisas. Está aqui o motivo de muitas pesquisas, particularmente no campo das
ciências, que levaram, nos últimos séculos, a resultados tão significativos,
favorecendo realmente o progresso da
humanidade inteira”.10
A verdade engendra o ódio
Diante desse panorama, como se
pode explicar o fato de Jesus Cristo
— o Caminho, a Verdade e a Vida —
ter sido perseguido por aqueles que
diziam procurar a verdade, a ponto
de crucificá-Lo entre dois ladrões?
A isso responde o imortal Doutor
da Graça. Comentando a famosa frase de Terêncio, “Veritas odium parit”
(A verdade engendra o ódio), Santo
Agostinho se pergunta como explicar
fato tão absurdo. Com efeito, pondera ele, o homem ama naturalmente
a felicidade e, dado que esta consiste na alegria nascida da verdade, seria uma aberração alguém tomar como inimigo quem prega a verdade
em nome de Deus. Enunciado assim
o problema, passemos à explicação.
A natureza humana é tão tendente à verdade que, quando o ho-
mem ama algo contrário à verdade, deseja que esse algo seja verdadeiro. Com isso engana-se a si mesmo, convencendo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falso. É
preciso, pois, que alguém lhe abra
os olhos. Ora, como o homem muitas vezes não admite que se lhe demonstre que se enganou, tampouco tolera que se lhe demonstre o erro no qual se encontra. E a Águia de
Hipona conclui:
“Assim, odeiam a verdade porque
amam aquilo que supõem ser a verdade.
Amam-na quando ela brilha, e a odeiam
quando ela os repreende. […] Mas a verdade sabe retribuir: como eles não querem ser por ela revelados, ela os denunciará contra a vontade deles, e não mais
se revelará a eles. Assim é o espírito humano: cego e preguiçoso, torpe e indecente; deseja permanecer escondido,
mas não quer que nada lhe seja ocultado. E sucede-lhe o contrário: ele não se
esconde da verdade, mas é esta que se
lhe oculta”.11
Relativismo
Ao discorrer sobre a verdade, não
se pode deixar de tratar também de
um fenômeno tão atual como a globalização, e muito ligado a ela, o relativismo. Este último, tão em moda hoje, propugna, em última análise, que: não existe uma verdade, mas
sim verdades; não se pode afirmar
nada como tendo uma validez eterna
e universal; as diversas e variadas circunstâncias históricas, culturais, sociais ou temporais podem modificar
os conceitos e as coisas.
De acordo com essa concepção
relativista, se justifica uma série de
comportamentos e situações que até
há pouco eram considerados reprováveis, mas que hoje reputam-se aggiornatti, uma vez que “os tempos
mudaram”, como se costuma dizer.
Embora os tempos mudem, sabemos e cremos que a Palavra de Deus
não muda (como também o homem é
sempre o mesmo em essência), pois
mais facilmente “passarão o céu e a
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 22
22/10/2009 14:13:32
Quem nos há de conduzir
à Verdade é o Espírito Santo,
segundo a promessa de Cristo aos Apóstolos: “Quando vier
o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por Si
mesmo, mas dirá o que ouvir, e
anunciar-vos-á as coisas que virão” (Jn 16, 13).
E a estrela que nos guia até
o Porto da Verdade é a Virgem
Imaculada. Ela nos indica como proceder, do mesmo modo
como nas bodas de Caná, quando disse aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
Essa singela frase resume todo
o itinerário cristão. Fazer o que
Jesus nos diz, como Maria, que
guardava todas as Suas palavras
e as meditava em Seu coração
(cf. Lc 2, 19.51). 
terra do que se perderá uma só letra da Lei” (Lc 16, 17).
A Igreja, coluna e
sustentáculo da verdade
Concluindo estas reflexões,
não podemos senão admirar e
ponderar como é maravilhoso
haver Deus dotado a Igreja de
uma voz infalível, que transmite a verdade cristalina, evitando-lhe naufragar na tempestade
de opiniões e de pareceres pessoais desordenados e desarmônicos, que acontece quando não
se segue a verdade. Alguém dirá
que isto constitui uma amarra, e
outro mais atrevido dirá que o
dogma cerceia a liberdade. Nada mais contrário à realidade.
Qual o insensato capaz de afirmar que as leis de trânsito escravizam os motoristas e lhes coarctam a “liberdade” de colidir com
outros veículos ou de atropelar
os pedestres? E quem não vê a
utilidade do corrimão na escada
para evitar acidentes?
Por isso, dignou-Se Deus ornar
Sua Igreja, “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3, 15), com
a preciosa joia que é a infalibilidade papal, graças à qual sabemos e
A estrela que nos guia até o Porto da
cremos que o Sumo Pontífice, asVerdade é a Virgem Imaculada
sistido diretamente pelo Espírito
“Nossa Senhora da Luz” - Convento da Luz,
Santo, não se equivoca em matéSão Paulo
ria de Fé e moral. Isso dá à Igreja
um fundamento sólido como uma ro- nhecer que somos seres débeis, limicha. Ainda que as tempestades amea- tados e contingentes; nossa inteligêncem submergi-la, podemos confiar em cia, com o pecado original, ficou obssua continuidade, pois não se deixará curecida e nossa vontade, inclinada
de cumprir a palavra do Senhor segun- ao mal. Contudo, Deus, em Sua mido a qual as portas do inferno não pre- sericórdia, dispôs a solução e nos convalecerão contra ela (cf. Jo 16, 18).
cedeu com infinita generosidade todos os meios de que necessitamos paQuem nos conduz à verdade
ra alcançar a felicidade à qual anelaé o Espírito Santo
mos. Sem embargo, enquanto o coraSomente na Verdade e no Amor — ção dos homens não se voltar para seu
em uma palavra, somente em Deus — Criador e Senhor, não encontrará a
pode a criatura humana saciar a fo- paz, a tranquilidade, a felicidade; pois,
me e sede de plenitude que leva em si. como disse Santo Agostinho: “FizesteDistante de Deus só se encontram tre- nos para Ti, e inquieto está o nosso covas, erro e confusão. Precisamos reco- ração, enquanto não repousa em Ti”.12
Cf. SILVEIRA, Pablo da. Historias de filósofos. Buenos Aires:
Ed. Alfaguara, 1997, p. 88.
1
Cf. AQUINO, São Tomás. De
Veritate q. 1a. 1; Summa Theologica I, q. 16, a. 1, Resp.
2
3
Sexta morada, cap. X.
AQUINO, São Tomás de. Summa Theologica. I-II, q. 109, a. 1,
ad 1.
4
5
Idem, ibidem.
6
Carta Apostólica Lumen Ecclesiæ,
20/11/1974, n. 10.
7
JOÃO PAULO II. Encíclica Fides et
ratio, 14/9/1998, n. 34.
8
Homilia, 9/4/2009.
9
Frase atribuída a Aristóteles por Ammonio em sua obra La vida de Aristóteles. Apud FRAILE, Guillermo. Historia de la Filosofia. Madrid:
Biblioteca de Autores Cristianos,
1975, p. 417.
10
JOÃO PAULO II, Op. cit., n. 25.
11
SANTO AGOSTINHO. Confissões,
livro X, cap. XXIII.
12
Idem I, 1, 1.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 23
de Fátima
23
22/10/2009 14:13:35
A grande m
Gustavo Kralj
Amor sob a
lei do temor e
sob a lei do amor
Nada é mais instrutivo, sob
este ponto de vista, que a história do profeta Jonas. Incumbido por Deus de fazer aos ninivitas o anúncio dos castigos divinos, o profeta primeiro se esquiva de sua missão e procura fugir
“Sagrado Coração de Jesus” - Catedral Maria Rainha do Mundo, Montreal (Canadá)
para o ocidente dos mares, quando deveria partir para o oriente. Coneus é Pai. Nessas três do, acompanha, apesar de tudo, até duzido à força a Nínive, pela vontapalavras está contida o extremo e com um olhar de ter- de do Alto, ele começa a percorrer as
toda a grandeza da divi- no apego, o filho mau e culpado; o ruas da grande cidade, gritando com
na misericórdia. E, pa- amor, enfim — último traço que re- força e convicção: “Daqui a quarenra ser mais preciso, devo acrescentar: mata a pintura — que esquece sua ta dias Nínive será destruída” (Jn 3,4).
Deus não é apenas um pai, mas um honra de pai ultrajado, seus direitos Mas o Senhor pretendia destruir esprofanados pela mais negra ingrati- sa cidade somente se ela perseveraspai e uma mãe ao mesmo tempo.
dão, pela mais indigna conduta, pa- se em sua malícia.
Ninguém é pai ou mãe como Deus ra correr, ele, o ofendido, rumo ao
Ora, os ninivitas fizeram penitênO amor paterno é aquele que se ofensor, se vê de longe o filho pró- cia sob o cilício e a cinza. Deus enaplica sobre quem não existe ain- digo voltando para ele arrependido. tão os perdoou, e isso causou ao proEis o amor paterno, tal qual a na- feta grande cólera: “Eu bem o sabia”
da, desejando ardentemente dar-lhe a vida. É o amor que envolve a tureza o dá aos verdadeiros corações — exclama ele — “e por isso eu queria fugir para Társis. Eu sabia bem que
criança com sua força, depois de tê- de pai nesta Terra.
Mas Deus tem sua maneira de Vós me faríeis ameaçar em vão e que
-la gerado; o amor que vela a todos
os instantes do dia e da noite, pre- ser pai e mãe ao mesmo tempo, que pouparíeis esse povo. Porque Vós sois
vine todos os perigos, apoia todos excede infinitamente tudo isso. Ne- um Deus clemente, misericordioso, paos pequenos passos desse ser frágil mo tam pater, tam mater nemo: nin- ciente, de uma compaixão extrema.
que tenta andar, dirige-o, suporta- guém é pai, ninguém é mãe como Agora, Senhor, tirai-me a vida, porque
o, faz-se pequeno com esse peque- Ele. E Ele mesmo nos diz, por meio é-me penoso viver depois do que acabo
no, à espera da hora de fazer-se he- da mais brilhante voz dos profetas de ver” (Jn 4, 1-3).
“Pensas tu que é justa tua cólera?”
roico e de imolar-se, se for preciso; do Antigo Testamento, Isaías: “Poo amor que às vezes pune, muitas de uma mãe esquecer-se do seu fi- (Jn 4,4) — responde-lhe simplesmenvezes mais perdoa, e não pune se- lho e não ter piedade do fruto de suas te o Eterno. E Ele conduz Jonas panão para fazer merecer o perdão; o entranhas? Pois bem, mesmo que is- ra fora da cidade, do lado do nascenamor que ama até o fim e que, me- to acontecesse, Eu não te esquecerei” te. Jonas ali se instala sob um espesso
feixe de hera, miraculosamente prenosprezado, insultado, amaldiçoa- (Is 49, 15).
D
24
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 24
22/10/2009 14:13:45
de misericórdia de Deus
“Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do
fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse,
Eu não te esquecerei” (Is 49, 15).
parada por Deus para resguardá-lo
dos raios abrasadores do Sol. Mas,
durante a noite o Senhor faz secar a
planta protetora, de maneira que o
Sol, tornando a subir ao céu de manhã, dardeja seus raios sobre a cabeça do profeta. Grande aflição deste, que de novo deseja a morte. “Ah,
bem!” — diz-lhe o Senhor — “tu te
afliges e te irritas pela perda de uma
planta que não plantaste, nem cultivaste, e Eu faria perecer toda esta multidão de homens de Nínive dos quais
sou o Criador e o pai?” (Jn 4,10).
Eis como, sob a Lei do temor,
Deus entendia seu papel de pai. Mas,
sob a nova Lei, seu amor de Pai, sua
misericórdia, vão revestir-se de uma
forma capaz de lançar nossos espíritos e nossos corações em maravilhamentos sem fim. Ele irá — mistério
adorável e três vezes incompreensível — ao ponto de abafar, se podemos dizer assim, o amor sem nome
que une-O no Céu a seu Verbo, a seu
Filho, e entregá-Lo a nós como vítima, para que, em seu sangue, se opere nossa Redenção.
Na Nova Aliança, Deus nos
enche de benefícios e graças
A Encarnação, a Redenção, esses
prodígios de amor do qual — diz-nos
o Apóstolo — ninguém nesta terra jamais saberá toda a altura, toda a largura, toda a profundidade, eis a verdadeira medida da misericórdia de
Deus por nós! Será demais, então, repetir com o Salmista que grande é a
misericórdia divina, grande a multidão de suas compaixões?
1 – Grande, ela o é no espaço. Ela
se estende a todos, não exclui ninguém. “Senhor” — diz o Salmista —
“Senhor, vossa bondade chega até os
céus” (Sl 35,6); “acima dos céus se eleva a vossa misericórdia” (Sl 107,5).
Ora, da mesma forma que a abóbada celeste nos envolve a todos, e de
todas as partes, assim é a divina misericórdia.
2 – Grande, ela o é no tempo. Salvo razões muito especiais, ela deixa
aos homens, aos pecadores, o tempo
de reconhecer sua culpa, de se converter, de se resgatar: “Eu não me
comprazo com a morte do pecador,
mas antes com a sua conversão, de
modo que tenha a vida” (Ez 33,11).
3 – Enfim, falando como o reiprofeta, grande é a misericórdia divina na multidão de suas operações,
de suas comiserações. Que chuva,
que dilúvio de graças naturais e sobrenaturais ela derrama cada dia sobre o menor de nós! “A filosofia observa que, em nossa existência, o primeiro momento não acarreta necessariamente o segundo, e que a mão de
Deus, por uma criação contínua, precisa nos manter incessantemente sobre este abismo do nada, do qual saímos e para o qual tendemos a retornar” (Mgr. Le Camus, Théologie populaire de N.S.J.C., 2ª Confér., Dieu).
Cada novo instante acrescentado à nossa vida, cada batida de nosso
coração é, portanto, um benefício da
misericordiosa Providência do Criador. Apesar do repouso no qual Ele
entrou no sétimo dia, depois da Criação, sua misericórdia está sem cessar
em atividade em torno de nós. Quem
contará essas maravilhosas atenções
e operações da misericórdia em relação a nós?
Ora, esses benefícios naturais, por
mais abundantes que sejam, são talvez infinitamente menos numerosos
que os socorros sobrenaturais prodigalizados à nossa alma: Graças atuais
de luz, de força, de resignação, de
compunção, que sei eu? Quem dirá o
que foi preciso de graças para povoar
o Céu de todos os santos que lá reinam com Deus, dos quais um grande número é de indignos pecadores?
Para um só pecador — seja ele Santo Agostinho, ou seja qualquer um de
nós — quem dirá o oceano de Graças com o qual Deus o inunda para
reconduzi-lo a Si?
Oh! À vista desta grande, desta
grandíssima misericórdia do Senhor,
não hesiteis mais, almas pecadoras,
ide até Ele com confiança. Quaisquer que sejam vossos pecados, mesmo vossos crimes, por mais arraigados que sejam vossos hábitos culposos, por mais desesperadoras que sejam vossas misérias, vinde, atirai tudo isso, e atirai-vos vós mesmos, nas
mãos da divina misericórdia. 
(Traduzido, com adaptações,
de L’Ami du Clergé,
23/01/1902, p. 68-69).
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 25
de Fátima
25
22/10/2009 14:13:47
Arautos em missão
promovem Oratórios
C
omposta por sacerdote e cerca de vinte missionários, a “Cavalaria de Maria” é uma comunidade dos Arautos do Evangelho dedicada exclusivamente ao anúncio querigmático. Sua
missão consiste em percorrer as paróquias de todo o Brasil, a convite dos Bispos e párocos, proclamando o Evangelho através das Missões Marianas.
Com zelo e empenho no labor pastoral, esta “comunidade móvel” inicia o dia com Missa e Adoração Eucarística na
Matriz, da qual podem participar todos os paroquianos que
desejarem. Após esse tempo dedicado à oração, percorrem
eles, de porta em porta, o território paroquial, conduzindo
uma bela imagem do Imaculado Coração de Maria. Ao ser
Ela acolhida em uma residência, escritório ou loja, os missionários rezam com os presentes e procuram saber se têm necessidade de algum Sacramento.
Essa visita de Nossa Senhora nos lares marca a vida
de muitos, que desejam prolongar de alguma forma es-
Itatinga
26
Anhembi
sa benfazeja e maternal presença. A eles, os missionários
oferecem o Oratório de Maria Rainha dos Corações.
Cada capelinha é venerada por um grupo de trinta famílias que a acolhem uma vez por mês, em data previamente combinada com o coordenador do grupo. No dia
em que o Oratório está na casa, são convidados amigos,
parentes e vizinhos para juntos fazerem a leitura de um
trecho do Evangelho, seguida de alguns minutos de reflexão, rezarem o terço e realizarem um ato de consagração
ao Imaculado Coração de Maria.
Os oratórios de Maria Rainha dos Corações difundidos pelos arautos missionários são abençoados e entregues pelo pároco ao respectivo coordenador durante a
Missa que encerra cada Missão Mariana. É uma bela forma de dar continuidade ao trabalho pastoral feito durante esses dias.
(Nas fotos, cerimônias de entrega do Oratório em diversas cidades do Estado de São Paulo.)
Várzea Paulista
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 26
22/10/2009 14:14:06
Itatiba
Areiópolis
Com entusiasmo, os novos coordenadores de Oratório assumem sua função evangelizadora.
À esquerda, antes da Celebração Eucarística, entrada solene da Imagem do Imaculado Coração de Maria na
igreja lotada, em Itatiba; à direita cortejo de novos coordenadores do Oratório, em Várzea Paulista.
Areiópolis
Botucatu
Pereiras
É costume o respectivo pároco abençoar e entregar o Oratório aos coordenadores.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 27
de Fátima
27
22/10/2009 14:14:20
Espanha – Em Saragoça, arautos participam da procissão organizada pela Adoração Noturna Espanhola e
presidida pelo Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos.
Brasil – No festa dos Santos Anjos da Guarda, 26 aspirantes provenientes da Argentina, Equador e nove Estados
do Brasil receberam das mãos de Mons. João Scognamiglio Clá Dias o hábito dos Arautos do Evangelho.
Colômbia – Após uma Missa
campal presidida pelo Bispo de
Zipaquirá, Dom Héctor Cubillos,
foi feito o lançamento da pedra
fundamental da igreja dos Arautos
do Evangelho na Colômbia, na
cidade de Tocancipá.
28
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 28
22/10/2009 14:14:54
Brasil – Irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum cantam em homenagem a Dom Odilo Pedro
Scherer após a Missa organizada pela Arquidiocese de São Paulo por ocasião do seu 60º aniversário. A
significativa data foi também comemorada durante a visita que o Cardeal fez ao Seminário dos Arautos, uma
semana antes, para jantar com todos os membros da comunidade.
Homenagem da
Câmara Municipal
de São Paulo
A
colhendo a proposta do vereador Dr. Gabriel
Chalita, a Câmara Municipal de São Paulo outorgou a Medalha Anchieta ao fundador dos
Arautos do Evangelho, Monsenhor João Scognamiglio
Clá Dias.
Considerada a mais alta honraria da cidade, ela é
concedida a personalidades cuja trajetória tenha conquistado a admiração e o respeito do povo paulistano.
Entre os que a receberam estão o Papa João Paulo II, o
jurista Miguel Reale, o cientista Milton Santos e o empresário Horácio Lafer Piva.
A entrega da medalha se deu na Igreja Nossa Senhora
do Rosário no Seminário dos Arautos do Evangelho têm
seu Seminário, em Caieiras.
Entre outras autoridades e personalidades estiveram
presentes o desembargador e presidente da Academia
Paulista de Letras, Mestre e Doutor em Direito Constitucional, Dr. José Renato Nalini, o deputado da Assembleia Legislativa de São Paulo, Dr. Sérgio Olímpio Gomes, o Prefeito de Caieiras, Dr. Roberto Hamamoto, e o
Vice-Prefeito, Dr. Gerson Romero.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 29
de Fátima
29
22/10/2009 14:15:42
251 arautos
bacharéis em Teologia
N
o dia 23 de setembro, 251
arautos receberam o título
de Bacharel em Teologia no Centro Universitário Ítalo-brasileiro
(UniÍtalo), em São Paulo. Foram
207 membros do ramo masculino
dos arautos e 44 membros da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum.
A colação de grau se deu no auditório Paulo Autran, do mesmo
Centro Universitário, e foi presidi-
da pelo Magnífico Reitor Prof. Dr.
Marcos Antônio Gagliardi Cascino.
Na homilia da Missa que precedeu
a cerimônia de formatura, o paraninfo da turma, Pe. Prof. Lourenço Isidoro Ferronatto, EP, frisou a responsabilidade de os formandos colocarem
a serviço da Igreja os conhecimentos adquiridos, transformando-os em
frutos de evangelização. Nesse sentido, não se pode dizer que o labor concluiu, mas sim que ele começa agora.
O representante dos estudantes
cumprimenta o Reitor do UniÍtalo,
Prof. Dr. Marcos Antônio
Gagliardi Cascino
Mestres em Filosofia
N
o dia 9 de outubro, vinte e quatro
arautos, entre os quais três sacerdotes e dois diáconos da Sociedade de
Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli, e
sete irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum, receberam o
título de Mestre em Filosofia na Universidade Pontifícia Bolivariana, em
Medellín (Colômbia).
A cerimônia de entrega dos diplomas
foi presidida pelo Reitor, Mons. Luis Fer-
30
nando Rodríguez Velásquez, quem agradeceu a presença de arautos de dez países diferentes e sublinhou o quanto isso enriquecia a própria Universidade. Estiveram também presentes o Revmo. Pe. Diego Alonso Marulanda Díaz, Decano da Escola de
Teologia, Filosofia e Humanidades, e Dr.
Luis Fernando Fernández Ochoa, Diretor
da Faculdade de Filosofia.
Na foto da esquerda, vemos a defesa
de uma das teses de Mestrado.
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 30
22/10/2009 14:16:09
Mestre
em Psicologia Educativa
N
o último dia 1 de outubro, Mons.
João Scognamiglio Clá Dias, EP,
recebeu, na igreja do Seminário dos
Arautos, em Caieiras, São Paulo, o título de Mestre em Psicologia Educativa pela Universidade Católica de Colômbia (UCC), bem como a Cruz de
Lorena com Cordão Dourado, máxima condecoração concedida por essa
Universidade (foto 2).
A entrega da comenda foi feita pelo
Prof. Dr. Carlos Vargas Ordóñez, Decano da Faculdade de Psicologia (foto 1). Participaram também do evento a Profa. Dra. Martha Lozano Ardi-
la, Diretora de Pós-Graduação e Diretora de Mestrado em Psicologia Educativa (foto 3), e o Dr. Carlos Arturo
Ospina Hernández, Diretor de Gestão
em Talento Humano da UCC, representando o Reitor, Prof. Dr. Francisco
Gómez Ortiz.
No final da solene Missa, o Dr. Carlos Vargas Ordóñez destacou a originalidade e importância da tese de
Mestrado apresentada por Mons. João
Scognamiglio Clá Dias, sob o título “A
fidelidade ao primeiro olhar da inteligência”. Nas páginas seguintes reproduzimos a íntegra desse discurso.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 31
1
2
3
de Fátima
31
22/10/2009 14:16:31
REFLEXÕES SOBRE A TESE DE MESTRADO EM PSICOLOGIA DO FUNDADOR DOS ARAUTOS
Carisma de sacerdote e
didática de pedagogo
Ciência, Filosofia, Teologia, mas, sobretudo, uma consagrada
experiência pedagógica e um conhecimento clarividente do
ser humano, fazem da tese de mestrado de Monsenhor João
Scognamiglio Clá Dias uma obra-prima.
Prof. Dr. Carlos Vargas Ordóñez
Decano da Faculdade de Psicologia da Universidade Católica da Colômbia
É
muito honroso para a Universidade Católica de Colômbia fazer hoje a entrega do título de Mestre em
Psicologia, com ênfase em Psicologia
Educativa, ao Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. Temos, além disso,
especial satisfação em proceder a essa
entrega, pois julgamos ser um dever da
Universidade e da Academia, não só
oferecer uma rigorosa formação em todas as disciplinas, mas também prestar
um merecido ato de reconhecimento
aos mestres mais destacados e insignes
servidores da Educação, como é o caso
de Monsenhor Scognamiglio.
Na leitura de sua obra, Monsenhor, vimos como o carisma do sacerdote consagrado ao serviço generoso
de sua comunidade se conjuga admiravelmente, e no mais alto grau, com
a mais elevada didática do pedagogo
experiente, com a sabedoria de quem
abeberou seus ensinamentos nas fontes do saber filosófico e teológico,
com a prudência iluminada pela luz
do Evangelho, com a mais profun32
da humildade de espírito — própria
dos grandes homens —, com admirável formação humanística que, no seu
caso, transcende as simples categorias da ciência e da reflexão filosófica, para penetrar nos mais complexos
e difíceis temas das várias ciências do
espírito.
Ciência, Filosofia, Teologia, mas,
sobretudo, uma consagrada experiência pedagógica e um conhecimento clarividente do ser humano, de suas riquezas e limitações, fazem certamente de sua tese de mestrado — A
fidelidade ao primeiro olhar da inteligência — uma obra-prima que ensina
a todos nós e levou-nos a uma reflexão muito profunda. Nós a lemos com
particular prazer e proveito espiritual,
e a ela devo referir-me agora, obviamente de modo bastante resumido.
É a fidelidade ao primeiro
olhar que permite harmonizar
a razão com a Fé
Nesse seu trabalho, encontra o
leitor um maravilhoso percurso in-
telectual que — à maneira do itinerário de São Boaventura, citado pelo senhor mesmo, Itinerarium mentis Deo — leva-nos quase pela mão,
de modo brilhante e documentado,
pelos diferentes momentos e caminhos que permitem ao menino e ao
adolescente iniciar sua trajetória a
partir do mundo do sensível; revela,
em seguida, “os fundamentos filosófico-antropológicos do conhecimento
e seu indiscutível impacto sobre o desenvolvimento da personalidade”; e
chega à proposta psicopedagógica
dos Arautos do Evangelho, que, iluminada e enriquecida pelo Magistério da Igreja, se fortalece e se torna
guia de seu modelo educativo.
É a fidelidade a esse primeiro
“olhar da inteligência”, é a fidelidade e a coerência com ela que permitirão ao ser humano articular e harmonizar em um só conjunto os dados
da razão com os da Fé, o mundo do
sensível com o mundo do espiritual,
a finitude das criaturas com a infinitude do Criador. Seu trabalho assina-
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 32
22/10/2009 14:16:35
Héctor Mattos
Um momento da Missa que precedeu a entrega do título. À esquerda, Dr. Arturo Ospina Hernández, representando
o Reitor da UCC, Dra. Martha Lozano, orientadora da tese de Monsenhor João e Dr. Carlos Vargas
la isso, com uma evidente articulação
lógica, ao concluir o primeiro capítulo: “Todas as riquezas do conhecimento humano, do raciocínio e dos atos
morais do homem adulto — e de quem
já entrou na ancianidade — consistem
na fidelidade a esse primeiro olhar ou
na sua restauração”.
O esquecimento do ser é um dos
maiores desastres da história
do pensamento ocidental
Contudo, o importante não é só
o enunciado; é sua demonstração
lógica e epistemológica no transcurso da obra que em cada página respiga sua riqueza conceitual e
prática tanto na filosofia perene como nas fontes da Revelação divina,
unidas — e de que modo! — a uma
estruturada reflexão de caráter teológico como também aos mais recentes desenvolvimentos da psicologia científica. O crescimento e desenvolvimento do ser humano, seu
comportamento nas diferentes etapas da vida, suas aspirações, suas limitações, em uma palavra, sua
grandeza e sua pequenez, sua in-
descritível complexidade, além de
serem enunciados com sábia interpretação e compreensão dos próprios fenômenos, sugerem profundas implicações que, entendidas e
analisadas de modo articulado e
complementar pelas várias disciplinas, permitem inferir o selo característico e os padrões básicos que
todo sistema educativo deveria ter.
O importante não
é só o enunciado
da tese, é sua
demonstração lógica
e epistemológica no
transcurso da obra
Todavia, tais fenômenos não podem ser compreendidos, e menos ainda explicados, se não se recorre e se começa pelo próprio estudo do ser; por isso, com Heidegger, sua tese nos recorda que “o es-
quecimento do ser é um dos maiores
desastres da história do pensamento
ocidental”.
As sensações não são subjetivas,
mas reais e objetivas
Posteriormente, no marco da filosofia tomista, faz um maravilhoso
itinerário desde a afirmação do ser,
passando por sua reconquista e descobrimento nos primeiros anos do
menino que, como objeto da intuição, é o primeiro a ser apreendido
pela inteligência através dos sentidos. “A única solução sensata — conclui com impecável lógica — é volver
os olhos novamente ao ser. Pois precisamente ele, em sua inabarcável variedade e rica unicidade, é objeto do conhecimento, entendido primordialmente pela inteligência através da experiência sensível”.
Como, porém, abordar o problema do conhecimento a partir dos sentidos e das próprias sensações? Eis
uma boa pergunta de investigação
científica que seu trabalho aborda
sem qualquer temor, assinalando os
limites da reflexão epistemológica e a
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 33
de Fátima
33
22/10/2009 14:16:42
Portanto, “só a contemplação de Deus, que é a Verdade
por essência, torna o homem
perfeitamente feliz”. Eis aqui
— conclui — um princípio
teológico da verdade que cabe acentuar: “O homem não
se aperfeiçoa intelectualmente,
de acordo com seu fim, a não
ser tendo em vista o movimento de sua inteligência em direção à contemplação da Verdade Suprema”.
Sérgio Miyazaki
necessidade da interdisciplinaridade. De modo imprescindível, precisamos recorrer aos estudos contemporâneos da Psicologia Científica, particularmente em seus
estudos e investigações associados com o campo da sensação e da percepção.
Por isso a tese salienta com muita propriedade:
“Ao primeiro olhar acrescenta-se também o que poderíamos chamar o primeiro ouvir,
o primeiro olfatear, o primeiro
degustar e o primeiro tocar”.
Portanto, as sensações —
conclui com Royo Marín —
“não são subjetivas, mas reais
e objetivas, como o demonstram a experiência, a própria
consciência e os procedimentos científicos da psicologia experimental moderna”.
Nostalgia da verdade
De outra parte, continua
o estudo em sua lógica argumentativa, ninguém poderia permanecer sinceramente indiferente à verdade do
seu saber. Se descobre que é
falso, rejeita-o; se pode con“Na sua obra, o carisma do sacerdote
firmar sua veracidade, sense conjuga admiravelmente com a sabedoria
te-se satisfeito. Esta é a lide quem abeberou seus ensinamentos nas fontes
ção de Santo Agostinho, ao
do saber filosófico e teológico”
Só a contemplação
escrever: “Encontrei muitos
de Deus torna o homem
que queriam enganar, mas ninguém
perfeitamente feliz
que quisesse deixar-se enganar”. Nostalgia da verdade. Feliz expressão enEntretanto, a apreensão do ser a
contrada por João Paulo II para despartir dos sentidos e a partir da racrever uma realidade de extrema imzão deve ter um direcionamento, um
portância.
norte que lhe permita avançar com
Por isso, “é necessário reconhecer
liberdade, mas por caminhos see atender ao chamado dessa nostalgia
guros. Por isso no itinerário do pri— perceptível no contato com as mulmeiro olhar sobre o ser em direção
tidões modernas — para proporcionar
ao Absoluto, uma etapa essencial é
ao homem de nossos dias a recuperao conhecimento da verdade, fundação do equilíbrio de alma. Ao contrámentada na capacidade humana de
apreender o ser.
sua própria “verdade” subjetiva, in- rio de tantas ‘nostalgias induzidas’, ou
letargias e depressões contemporâneHá mais: sua tese de mestrado consistente e contraditória.
acentua com o Papa João Paulo II
“Dentro de cada um de nós se sen- as, a nostalgia da verdade não é doloque “na vida real, essa certeza da ver- te o tormento de algumas questões es- rosa, no sentido estrito. Quanto mais
dade está ainda mais gravada na alma senciais e, ao mesmo tempo, se guar- o homem contemporâneo se aproxiinfantil”; o menino “conserva um in- da na alma, pelo menos, o esboço das ma da verdade, mais a deseja; e quanquebrantável senso da verdade, indis- respectivas respostas” (João Paulo II, to mais aplaca esse apetite, mais ele se
soluvelmente unido ao senso do ser”. Fides et ratio, n. 29). Sim a sede de acentua. Contudo, a busca da verdaSem embargo, como recorda o mes- verdade está profundamente enrai- de leva o espírito humano a procurar
mo Papa João Paulo II (Fides et ra- zada no coração humano, que de al- também o bem. Trata-se de mais uma
tio, n. 28), o homem pode ser defini- gum modo a discerniu em seu pri- etapa no caminho do primeiro olhar,
do como um ente que está à procura meiro olhar, e ele a encontrará com densa e cheia de consequências”.
Em síntese, “assim como o primeida verdade. E ele não deixará de se- uma facilidade tanto maior quanto
gui-la, mesmo que feche os olhos pa- maior tiver sido sua fidelidade a es- ro olhar da inteligência tem como objeto o ser, e leva à verdade, o primeira a verdade real e procure fabricar se olhar.
Sua formação
humanística
penetra nos mais
difíceis e complexos
temas das ciencias
do espírito
34
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 34
22/10/2009 14:16:45
Obrigado, Monsenhor,
por nos ter dado a feliz
oportunidade de nos nutrirmos de alimento tão
substancioso, por ternos permitido nos aproximarmos mais, como diz o
Evangelho, dessa “fonte de
água que jorrará até a vida
eterna” (Jo 4, 14).
Sérgio Miyazaki
ro olhar da vontade conduz ao bem — ou àquilo
que convém ao ser”. Como acontece com os primeiros princípios da razão especulativa, também
os primeiros princípios da
Lei Natural são verdades
evidentes. Na precoce fidelidade do menino a esse maravilhoso entrelaçamento está o segredo de
toda uma vida coerente e
virtuosa.
Em consequência, “reconhecer e promover os
princípios morais é a única maneira de respeitar a
dignidade da pessoa humana, ou seja, de promover realmente os direitos
do homem, que expressam essas exigências fundamentais inscritas na natureza humana”. Que importante desafio o de sua
tese para nós, educadores, independentemente
de nossas próprias crenças e ideologias!
Caloroso testemunho
de admiração e afeto
A Universidade Católica da Colômbia, particularmente nós que a representamos neste ato, aqui
estamos, mais do que para entregar-lhe seu merecido título de Mestre
em Psicologia, para prestar-lhe um caloroso testemunho de admiração,
de afeto e de congratulações por suas carismáticas
qualidades de “mestre de
mestres” e por sua extraordinária obra educativa
cujos ideais se respiram e
“Mais do que para entregar-lhe seu merecido título,
se vivem nesta acolhedora
estamos aqui para prestar-lhe um caloroso testemunho
casa e em todos os lugares
de admiração, de afeto e de congratulações”
Não foi fácil
por onde se estende a maavaliar um estudo de tal
ravilhosa obra dos Arautos do Evanriqueza de pensamento
gelho.
Sem dúvida alguma, Monsenhor,
Os trechos acima citados são obdesconhecemos muito do perfil e do
viamente apenas uma minúscula
tesouro de mestre que existe oculto
amostra do excelente trabalho elabono senhor; ignoramos, porque conrado e apresentado por Monsenhor
seguimos apenas vislumbrar, a altura
com vistas ao título de Mestre em
e a dimensão de sua entrega pessoal
Psicologia, que a Universidade Caàqueles que são ou foram seus discítólica da Colômbia hoje lhe confere
pulos. O que, porém, sabemos com
comprazida.
certeza é que, durante os muitos anos
Certamente não foi fácil, para os
de consagração à sua comunidade e
jurados que tiveram a seu cargo a
leitura da tese apresentada, avaliar tivemos o privilégio de fazer sua de- à educação, o senhor marcou e conum estudo de tal riqueza de pensa- talhada leitura, fecundas horas de tinua marcando indelevelmente o esmento e alcance acadêmico. Conju- estudo e de reflexão. Mas foi, so- pírito de seus alunos e de seus amigar a complexa riqueza de tão valio- bretudo, uma excepcional possibi- gos da Universidade Católica de Cosas contribuições do ponto de vis- lidade de rever nossas próprias ati- lômbia que hoje temos a felicidade
ta da Filosofia, da Teologia, da Psi- tudes frente ao nosso compromisso de nos reunirmos com o senhor.
Por este motivo, ao conferir-lhe
cologia, mas, sobretudo, da sua ad- de católicos, frente à experiência da
mirável experiência como educador vida, frente ao autêntico sentido da este título, sabemos que, além de
um simples reconhecimento acae guia espiritual, exigiu de nós, que educação.
Que importante
desafio o de sua tese
para nós, educadores,
independentemente
de nossas próprias
crenças e ideologias!
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 35
de Fátima
35
22/10/2009 14:16:48
dêmico, quiséramos que este ato
se constituísse para todos, de alguma maneira, num forte laço que nos
aproxime mais da semelhança e da
obra do autêntico mestre que perdura além dos limites do tempo e do
espaço. Daquele mestre cuja obra
permanece estando ele distante ou
ausente, daquele mestre em cuja recordação os discípulos se reconciliam com a vida.
Em nome de todos eles, de seus
estudantes e dos nossos lá na Colômbia, presentes ou ausentes, em
nome da Universidade Católica da
Colômbia, obrigado, Monsenhor,
pelo que deu de si mesmo, de sua
inteligência, de seu afeto, de seu
tempo, de sua vida, de suas expectativas, de suas esperanças, mas sobretudo de “sua fidelidade ao primeiro olhar”. Que Deus continue
inspirando-o e cumulando de Suas
bênçãos por muitos, muitos anos
mais. 
(Discurso pronunciado
em 1/10/2009, durante a Missa de entrega do título de Mestre em Psicologia
pela Universidade Católica da Colômbia a Mons. João Scognamiglio Clá
Dias, EP – Tradução: Revista Arautos do Evangelho)
“Uma maravilhosa experiência”
Em entrevista à agência “Gaudium Press”, o Prof. Carlos Vargas manifestou suas
impressões sobre o Seminário dos Arautos do Evangelho, no qual hospedou-se
durante sua estada no Brasil. Transcrevemos abaixo alguns de seus comentários.
T
Julgo que vocês conseguiram atingir aquilo que parece-me ter sido sempre a meta da Liturgia da Igreja: unir,
digamos assim, as possibilidades terrenas que temos,
com as possibilidades que nos oferece o Senhor na Glória eterna. É certamente algo indescritível. Queira Deus,
muitas outras pessoas tenham a feliz oportunidade de
participar de uma Missa como essa e poder, assim, ter
uma experiência pessoal como a que eu tive.
ive aqui uma maravilhosa experiência vivencial. Vejo
que vocês creem no homem, criatura de Deus, e por
isso cuidam de seu desenvolvimento com luxo de detalhes, com notável delicadeza em tudo, com grande disciplina, com uma inteligente formação. E os efeitos dessa formação se manifestam nos produtos de arte, como também na
disposição, na permanente disponibilidade de serviço.
Nos poucos dias que aqui passei, pude admirar as múltiplas aplicações que — sem explicitá-las — os arautos fazem da psicologia na formação dos jovens. Vocês têm um
modo de entender e de considerar o ser humano de forma
integral, em suas múltiplas dimensões.
Noto, por exemplo, com grande satisfação seu zelo não
só pelo aspecto físico, mas também pelo espiritual: o desenvolvimento do menino, o crescimento social e tudo quanto
tem a ver com a interação humana, um aspecto do qual não
se cuida suficientemente em outros modelos educativos.
Sérgio Miyazaki
Aplicações da psicologia à formação
O papel da Liturgia
Ontem tive oportunidade de assistir a uma Missa solene, celebrada por Mons. João Scognamiglio Clá Dias e
abrilhantada pela presença da comunidade, pela música e
numerosos detalhes que realmente elevam o espírito do
ser humano.
36
Dra. Martha Lozano, Dr. Carlos Vargas e Dr. Carlos Arturo
Ospina cumprimentam Mons. João antes da Missa
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 36
22/10/2009 14:16:51
Uma tese de teologia
sobre o “Big Bang”?
Entre as teses de licenciatura em Teologia apresentadas neste ano na
Universidade Gregoriana, de Roma, chamou a atenção, por sua originalidade,
uma intitulada “A teologia de interpretação do ‘Big Bang’”. Seu autor, que
recebeu a nota máxima — “Summa cum laude” — explica os
motivos pelos quais escolheu o sugestivo tema.
Pe. Eduardo Miguel Caballero Baza, EP
“N
a atualidade parece
que a ciência nunca será capaz de levantar o
véu que encobre o mistério da criação. Para o cientista que durante toda a sua vida se guiou pela crença no poder da razão, esta história termina como um pesadelo. Ele escalou as
montanhas da ignorância e está a ponto de chegar ao mais alto pico; quando
consegue alcançar a última rocha, é recebido por um grupo de teólogos que ali
estão sentados há séculos”.1
Esse testemunho pessoal de Robert Jastrow, renomado cientista norte-americano, fundador do Goddard
Institute for Space Studies (GISS) da
NASA, ilustra bem como a Teologia
não está alheia às questões científicas, mas as explica e transcende.
Aspecto pouco conhecido
da história científica
Os pioneiros das ciências naturais
no século XVII, assim como muitos de
seus continuadores nos séculos seguin-
tes, eram homens profundamente religiosos, persuadidos de que suas investigações não passavam de uma contribuição para desvendar a obra do Criador.
Basta pensar nos importantes estudos do Bispo dinamarquês Beato
Niels Stensen (1638-1686) sobre geologia e mineralogia, pelos quais ele
é considerado o fundador da geologia moderna. Ou nos filhos espirituais de Santo Inácio de Loyola — entre os quais o padre Athanasius Kircher (1602-1680), erudito em inúmeros campos científicos; o padre Giovanni Battista Riccioli (1598-1671),
cuja enciclopédia astronômica marcou época; o padre Francesco Maria
Grimaldi (1618-1663), descobridor
da difração da luz; o padre Ruggero Boscovich (1711-1787), considerado o criador da física atômica fundamental — que contribuíram significativamente para as conquistas da ciência e da técnica, e foram correspondentes assíduos de cientistas influentes de sua época.2
Depois desses pioneiros, não têm
faltado católicos fervorosos na vanguarda dos mais diversos campos da ciência. O francês Augustin Louis Cauchy (1789-1857) — cujo nome figura
inúmeras vezes nos livros de ciências
exatas, física e engenharia — era católico convicto, membro da Sociedade de
São Vicente de Paulo. Um dos maiores
cientistas da História, Louis Pasteur
(1822-1895), foi um católico exemplar
em pleno século do positivismo ateu
e do racionalismo agnóstico. Seu contemporâneo, o abade agostiniano austríaco Gregor Johann Mendel (18221884), é considerado o pai da genética. O físico italiano Alessandro Volta
(1745-1827), inventor da pilha elétrica,3 era homem de Missa e Rosário diários, enquanto seu contemporâneo, o
cientista francês André-Marie Ampère
(1775-1836), fundador da eletrodinâmica,4 tem uma obra intitulada Provas
históricas da divindade do Cristianismo.
E muitos outros poderiam ser citados
como exemplo até nossos dias.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 37
de Fátima
37
22/10/2009 14:16:57
A ciência e a Fé se complementam
Diz-se que a sã filosofia é aquela
que diz coisas evidentes, mas que não
são ditas por ninguém; pois bem, essa é a filosofia realista, a filosofia de
São Tomás de Aquino e de tantos outros pensadores católicos.
O cosmos: uma dimensão da
realidade inatingível pela ciência
A ciência — mesmo quando se
baseie numa filosofia realista e considere o universo como contingente — deve estar consciente de que
nunca poderá revelar todos os mistérios do cosmos, por mais que progrida a técnica, pois há toda uma série de dimensões da realidade que escapam completamente a seu alcance.
Por isso, a ciência jamais poderá demonstrar a existência de Deus nem
tampouco negá-la; simplesmente não
tem autoridade para se pronunciar
sobre tal matéria.
Quem observa o céu estrelado com
um mínimo de espírito contemplativo
é naturalmente levado a formular a si
mesmo uma série de perguntas para
as quais a astrofísica não tem resposta: Por que existe o universo? Por que
possui a ordem que observamos nele?
É fruto de um projeto inteligente? Teve origem? Quando e como? Sempre
foi assim como o vemos hoje?
NASA / WMAP Science Team
De outro lado, o Magistério Pontifício tem sido unânime em mostrar
como ciência e Fé convergem para a
única verdade, por vias diversas mas
complementares.5
O Concílio Vaticano II confirmou
isso, lembrando que as realidades
profanas e as da Fé têm origem no
mesmo Deus: “A investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente
oposta à Fé, já que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se esforça com
humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo
quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus,
o qual sustenta as coisas e as faz ser o
que são”.6
Ora, para ser possível uma relação
frutuosa entre ciência e Fé, é necessária a mediação de uma filosofia realista, reconhecedora de que as entidades
materiais observadas pela ciência são
reais, que existem independentemente do observador, que possuem uma
racionalidade coerente, que estão governadas por leis determinadas e que
formam um todo ordenado.
A ciência procura dar resposta a
essas e outras perguntas do gênero
por meio da cosmologia, um ramo do
saber que trata, de um lado, da formação do universo, de sua estrutura e
evolução (aspecto físico ou científico),
e de outro, de sua origem e finalidade
(aspecto filosófico-teológico). Na realidade, a cosmologia é uma disciplina
fronteiriça entre as ciências naturais, a
Filosofia e a Teologia. É uma ciência
da totalidade, que, entre outras coisas,
busca a resposta à pergunta sobre a
totalidade do universo no sentido ontológico. A resposta a essa pergunta,
porém, não se encontra na totalidade física do universo, que é o objeto
de estudo da cosmologia, mas fora dela; a totalidade do universo encontra
sua explicação somente em uma Causa superior que transcende sua realidade física.
As questões relacionadas com a origem do universo e sua evolução, portanto, suscitam fortemente perguntas
fundamentais como essas, que de um
modo natural põem em relação à Fé e
a ciência. Esta é a razão que me levou
a escolher o Big Bang como tema para
a tese de licenciatura em Teologia, na
Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Gregoriana, na especialidade de Teologia Fundamental, pois a
Teologia não só tem o direito
de dizer uma palavra no debate científico, mas, mais do
que isso, sua voz é indispensável para se poder entender
em profundidade a realidade
do universo.
Hoje os astrônomos
sustentam quase
unanimemente que o
universo começou a
expandir-se a partir
de uma minúscula e
incrívelmente quente
bola de fogo
Gráfico confeccionado pela
NASA para representar a
expansão do universo
38
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 38
22/10/2009 14:17:00
Aspectos filosóficos e teológicos
da origem do universo
Hoje, os astrônomos sustentam
quase unanimemente que o universo primitivo começou a expandir-se a
uma grande velocidade — num processo tão rápido quanto violento, denominado “inflação cósmica” — faz
uns 13 bilhões de anos, a partir de
uma minúscula e incrivelmente quente “bola de fogo”. É o denominado
“modelo standard” do universo, ou
“modelo do Big Bang”.
Em torno desta concepção e de
outros modelos cosmológicos, existe hoje em dia um aceso debate relacionado com os aspectos mais estritamente científicos, como a história
térmica do universo, a causa do deslocamento para o vermelho dos es1
Cf. R. Jastrow. God and
the Astronomers. New
York: 1978, p. 116.
2
Entre outros com os quais
mantinham frequente correspondência, cabe mencionar os seguintes: o matemático francês
Pierre de Fermat (16011665), pai do cálculo di-
L’Osservatore Romano
Influiu também poderosamente na
minha escolha o Revmo. Pe. Paul Haffner, da diocese de Portsmouth (Grã
Bretanha), licenciado em Física pela
Universidade de Oxford e doutor em
Teologia pela Pontifícia Universidade
Gregoriana, da qual é Professor convidado. Autor de mais de 30 livros e
150 artigos, estudou ele durante décadas as relações entre religião e ciência,
com especial ênfase na cosmologia e
na obra do Revmo. Pe. Stanley L. Jaki,
OSB, que conhece em profundidade.
Por fim, não foi alheia a essa escolha minha formação acadêmica de
Engenheiro Aeronáutico pela Universidade Politécnica de Madri, embora nunca tenha exercido a profissão,
pois, logo após o término de meus estudos, tive a graça de dedicar-me inteiramente ao serviço da Igreja.
A Teologia não está alheia às questões científicas,
mas as explica e transcende
O autor destas linhas, sendo ainda diácono, recebe o Evangelho das mãos de
Bento XVI durante a Missa do primeiro dia deste ano, na Basílica de São Pedro
pectros eletromagnéticos das radiações estelares, radiação cósmica de
fundo de microondas, a suposta existência da matéria escura e da energia
escura, a explicação da abundância
relativa dos elementos químicos que
se observa no universo, a descrição
do nucleossíntese estelar, bem como
dos processos de formação das estrelas e das galáxias, e tantos outros.
Mas o debate não se limita aos aspectos científicos da questão. Estão
em jogo concepções filosóficas e teológicas da maior importância.
Se o modelo do Big Bang explica
a origem do universo a partir do nada, que necessidade há de um Criador? Podem ser separadas a dependência temporal do universo e sua
dependência ontológica em relação
ao Criador? O cosmos é autossuficiente e conduzido exclusivamente
por uma causalidade cega, ou obedece à amorosa Providência Divina?
ferencial; o astrônomo,
matemático e físico holandês Christiaan Huygens (1629-1695), inventor do relógio de pêndulo; o alemão Gottfried
Wilhelm Leibniz (16461716), espírito multifacetado que formulou os
princípios fundamen-
Como justificar, então, a existência
de leis naturais imutáveis? Por outro
lado, se Deus intervém na criação,
que sentido têm os fenômenos puramente casuais? Como se harmonizam a autonomia das criaturas e sua
dependência essencial do Criador,
imanência e transcendência? Uma
das variantes do modelo do Big Bang
postula uma futura contração paulatina cada vez mais rápida do universo, culminando num colapso gravitacional sobre si mesmo. Quer isso dizer que o modelo do Big Bang prevê
o fim do mundo?
Responder aqui a cada uma dessas
perguntas alongaria demasiadamente esta matéria e me obrigaria a tratar de forma sumária um assunto rico
e apaixonante. Proponho, portanto,
voltar ao tema em outros artigos. Assim poderei compartilhar com nossos
leitores a preparação de minha futura tese de doutorado. 
tais do cálculo infinitesimal; ou o britânico Isaac
Newton (1642-1727), que
deduziu a lei da gravidade universal.
3
4
Em sua honra, chama-se
“volt” a unidade de medida da tensão elétrica.
Em sua honra, denominase “ampère” a unidade
de medida da intensidade
da corrente elétrica.
5
Neste sentido, ver por
exemplo, P. HAFFNER.
Creazione e scienze. Roma: 2008, p. 1-60.
6
Constituição pastoral Gaudium et spes, 7/12/1965,
n. 36.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 39
de Fátima
39
22/10/2009 14:17:01
virgendeitati.org
Cerca de 350 mil pessoas, na maioria jovens, participaram em 20 de setembro da tradicional peregrinação
anual à Basílica de Itatí na região ar40
Milagre atribuído à intercessão
do Venerável McGivney
Processo de beatificação de
cofundador dos Focolares
350 mil fiéis na peregrinação
para venerar a Virgem de Itatí
Knights of Columbus
O Arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Dom Jorge Ferreira da Costa
Ortiga, confirmou que o Papa Bento XVI visitará Portugal no dia 13
de maio de 2010, a convite do Episcopado português e do Presidente da
República, Aníbal Cavaco Silva. “O
amor dos católicos portugueses ao sucessor de Pedro é um elemento-chave
da nossa tradição católica e da nossa
fidelidade à Igreja”, afirma o Arcebispo em seu comunicado.
Esta será a quinta viagem de um
Papa ao Santuário Mariano de Fátima: Paulo VI lá esteve em 1967, e
João Paulo II nos anos de 1982, 1991
e 2000.
tinha 22 anos, na cama de um hospital militar, sobrevivente da Primeira Grande Guerra” — informa a página web dos Focolares. Destacouse como político casto e desinteressado, que exercia sua missão parlamentar como um “serviço social, caridade em ação”.
iginogiordani.info
Bento XVI visitará Fátima
em maio de 2010
gentina de Corrientes, segundo notícia do jornal La Nación.
Dom Andrés Stanovnik, OFM
Cap, Arcebispo de Corrientes, celebrou a Missa dos peregrinos. Após a
cerimônia, os jovens colocaram uma
oferta aos pés da imagem de Nossa
Senhora de Itatí e leram um manifesto no qual expressam seus anseios
e inquietações. “Queremos olhar para trás e Vos agradecer pelo que temos
e corrigir os erros, mas também vamos
olhar adiante para continuar desenvolvendo os valores morais e cristãos”—
diz o texto.
Após cinco anos de trabalhos, foi
concluída a fase diocesana do processo de beatificação de Igino Giordani,
jornalista, escritor e político italiano
que desempenhou importante papel
no desenvolvimento dos Focolares, a
ponto de ser considerado por Chiara
Lubich como um dos cofundadores
desse Movimento.
A fase diocesana concluiu-se com
2.500 páginas de atos processuais. Os
censores teólogos examinaram 98 livros e mais de 4 mil artigos. E os peritos históricos analisaram 120 brochuras de escritos inéditos, somando
mais de 60 mil páginas.
Igino Giordani nasceu em 1894 e
faleceu em 1980. “O desejo da santidade tinha-se acendido nele quando
O processo de beatificação do Venerável Michael McGivney, sacerdote diocesano fundador dos Cavaleiros de Colombo, teve um importante
avanço no mês de setembro.
Segundo informa o site dessa instituição (www.kofc.org), um tribunal suplementar da Arquidiocese de
Hartford (EUA), da qual o Pe. McGivney foi pároco, “enviou formalmente um novo relatório à Congregação para as Causas dos Santos” a respeito de um milagre atribuído à sua
intercessão. Esse tribunal entrevistou
várias testemunhas, inclusive médicos, que prestaram declarações sobre
o fato miraculoso.
“O Vaticano contará agora com
um valioso testemunho adicional que
acrescenta aspectos significativos à
apresentação inicial”, declarou à Zenit Carl Anderson, cavaleiro supremo
da Ordem.
Pe. Michael McGivney, nasceu em
1852, fundou os Cavaleiros de Colombo em 1882 e faleceu em 1890.
Em março de 2008 o Papa Bento
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 40
22/10/2009 14:17:17
Novo reitor do “Angelicum”
O Pe. Charles Morerod, OP, foi
nomeado reitor da Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, de Roma, mais conhecida como Angelicum.
Nascido na Suíça em 1961 e recebeu a ordenação sacerdotal em
1988, Pe. Morerod doutorou-se em
Teologia na Universidade de Fribourg (Suíça), em 1994, e em Filosofia no Instituto Católico de Toulouse (França), em 2004. Teólogo
de projeção internacional e autor
de vários livros, exerce também as
funções de secretário geral da Comissão Teológica Internacional e
consultor da Congregação para a
Doutrina da Fé.
A Pontifícia Universidade São
Tomás de Aquino se compõe atualmente de quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Direito Canônico e
Ciências Sociais. Fazem parte dela
também o Instituto Mater Ecclesiæ,
destinado à formação de catequistas
e professores de Religião, e o Instituto São Tomás, para estudar especificamente a obra do Aquinate. Seu
corpo docente conta com 150 professores, o corpo discente com cerca de 1600 alunos, os quais têm à sua
disposição uma biblioteca de 200 mil
volumes.
koreaconvention.org
XVI assinou o decreto de reconhecimento da heroicidade de suas virtudes, o que lhe confere o título de Venerável.
Reaberto ao público o Museu
dos Mártires Coreanos
Após dez anos de reformas e remodelação, reabriu suas portas o
Museu dos Mártires Coreanos em
Seul (Coreia do Sul).
Ciclos de palestras
sobre informação religiosa
O
iics.org.br
O segundo, Gestão da CoInstituto Internacional
municação na Igreja, visou de
de Ciências Sociais promodo especial as pessoas que
moveu em São Paulo, de 8 a
trabalham nas assessorias de
11 de setembro, dois ciclos de
comunicação das dioceses e
palestras dedicadas a aperfeiparóquias. Surgiu da necesçoar e enriquecer o noticiário
sidade de “informar corretasobre temas religiosos.
mente aos meios de comunicaO primeiro, intitulado Inção o que acontece na Igreja”,
formação Religiosa de Quaesclareceu Di Franco.
lidade, destinou-se a perioEntre os participantes, desdistas especializados. “Quetacou-se a presença do Carderemos oferecer aos jornalisProf. Carlos Alberto Di Franco
al Odilo Scherer, Arcebispo
tas que cobrem as notícias da
Igreja informações técnicas e precisas de como funciona de São Paulo; de Dom Orani João Tempesta, Arcebisa Religião. Boa parte das notícias hoje divulgadas con- po do Rio de Janeiro; do Prof. Juan Manuel Mora, vicetém informações erradas, por falta de conhecimento do reitor da Universidade de Navarra (Espanha); e do Prof.
ambiente da Igreja”, explicou o Prof. Carlos Alberto Di Diego Contreras, diretor da Faculdade de Comunicação
da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, de Roma.
Franco, coordenador dos eventos.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 41
de Fátima
41
22/10/2009 14:17:33
cerdotes das diversas dioceses representadas na Romaria. Outros pontos
importantes do programa foram a caminhada até a Basílica da Mãe das
Dores e a palestra de Dom Eugênio
sobre A mística da Romaria.
50º Congresso Eucarístico
Internacional
O Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais, da Santa Sé, divulgou em 22 de setembro a
aprovação do Papa Bento XVI ao tema e a data do 50º Congresso Eucarístico Internacional.
Sob o lema A Eucaristia: comunhão com Cristo e entre nós, o Congresso se realizará em Dublin (Irlanda), de 10 a 17 de junho de 2012.
Este lema encontra inspiração direta na Constituição Dogmática Lumen Gentium. “Ao participar realmente do Corpo do Senhor, na fração do Pão Eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós”, explicou à Rádio Vaticano o Arcebispo da capital irlandesa,
Dom Diarmuid Martin.
Participaram da cerimônia o governador de Goiás, Ademir Menezes,
o Arcebispo de Brasília, Dom João
Braz de Aviz, além de diversos Bispos e reitores de universidades.
Fundada em 1959, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás possui cinco campi: quatro em Goiânia e um em
Ipameri, no interior do estado. Oferece cinquenta cursos de graduação, setenta especializações, quinze mestrados e três doutorados. Dispõe de uma
biblioteca com 212 mil obras, centro de
idiomas, um canal de TV aberta, quatro centros de pesquisas e quatro clínicas-escola na área de saúde.
www.champagnat.org
“É um lugar de extraordinária importância para fazer conhecer a história da Igreja na Coreia e a Fé de nossos
predecessores”, declarou à agencia Fides o Cardeal Nicholas Choeng, Arcebispo de Seul.
O Museu-Santuário — assim designado porque contém também locais para oração — foi construído em
1967 no local onde morreram vários
mártires no período de 1866-1873,
quando milhares de católicos foram
vítimas de uma feroz era de perseguição. Nele os visitantes encontram documentos históricos, reconstruções
visuais, fotografias, imagens e vídeos que ajudam a refletir, despertar ou
renovar a Fé.
Ainda segundo Fides, o anúncio do
Evangelho chegou à Coreia no início
do século XVII, graças ao apostolado de alguns leigos que formaram uma
forte e fervorosa comunidade. Esta comunidade cristã sofreu duras perseguições, que fizeram mais de 10 mil mártires, 103 dos quais foram canonizados
em 1984.
ucg.br
cnbb.org.br
Novo Superior Geral dos
Irmãos Maristas
Romaria de cinco mil catequistas
Sob o tema A catequese como caminho para o discipulado, realizou-se em
27 de setembro na cidade de Juazeiro
do Norte (CE) a 2ª Romaria dos Catequistas do Regional Nordeste I da
CNBB. Dela participaram 5 mil catequistas da Arquidiocese de Fortaleza
e das dioceses de Itapipoca, Quixadá,
Crateús, Tianguá, Sobral, Iguatu, Limoeiro do Norte e Crato.
O Bispo de Goiás (GO) Dom Eugênio Rixen, presidiu a Missa oficial
do encontro, concelebrada pelos sa42
Brasil tem mais uma
Universidade Pontifícia
Em solenidade realizada no dia 9
de setembro, o prefeito da Congregação para a Educação Católica, Cardeal Zenon Grocholewski, entregou
ao reitor da Universidade Católica de
Goiás, Wolmir Amado, os documentos pelos quais a Santa Sé confere a
esta instituição de ensino o reconhecimento de Universidade Pontifícia.
Foi escolhido Superior Geral do
Instituto Marista o Irmão Emili Turú, natural da Catalunha, Espanha. A
eleição ocorreu durante o 21º Capítulo Geral, realizado em Roma de 8 de
setembro a 10 de outubro. Participaram da votação 83 irmãos capitulares.
Da grande família marista fazem
parte um pouco mais de 3.700 irmãos, em torno de 43.000 professores, administradores e colaboradores
leigos, atuando em 79 países na educação de mais de 660.000 crianças e
jovens em centros de assistência social, colégios de vários níveis e centros universitários.
O Irmão Emili Turú, 13º sucessor
de São Marcelino Champagnat, nasceu em 1955 e iniciou sua vida marista em 1968. É professor de Teologia,
foi provincial da Catalunha e, desde
2001, Conselheiro Geral do Instituto.
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 42
22/10/2009 14:17:47
Santa Sé condecora Madre Angélica
O
EWTN.com
Papa Bento XVI outorgou à Madre Angéli- de Nossa Senhora dos Anjos, e em 1981, instalou na
ca, fundadora do Eternal Word Television Ne- garagem desse mosteiro o primeiro estúdio do canal
twork (EWTN), e ao Diácono Bill Steltemeier, colabo- de televisão católico EWTN, o qual hoje leva sua menrador dessa instituição, a medalha Pro Ecclesia et Pon- sagem de Fé a mais de 150 milhões de lares de mais de
140 países. Com sua retifice. A entrega foi feide de televisão via satélita pelo Bispo de Birminte, cadeias de rádio AM
gham (EUA), Dom Roe FM, web site e editobert J. Baker, em cerimôra, EWTN é a maior renia realizada no Santuário
de de difusão católica do
do Santíssimo Sacramento
mundo.
em Hanceville (EUA), em
O diácono William
4 de outubro.
Steltemeier, 80 anos,
Rita Antoinette Franabandonou uma promiscis Rizzo, internaciosora carreira de advoganalmente conhecida codo para cooperar com
mo Madre Angélica, tem
Madre Angélica quan86 anos e pertence desdo o canal EWTN estade 1944 à Congregação
va em seu início. Atualdas Clarissas Pobres da
D. Robert Baker (ao centro), Diác. Bill Steltemeier e
mente preside o ConseAdoração Perpétua. Em
M. Margaret Mary, que representou a M. Angélica
lho Diretivo da rede.
1961, fundou o Mosteiro
Ano jubilar da Igreja no Vietnã
Episcopal Pastoral para a Doutrina
da Fé.
Victor Toniolo
Fides – 2010 será um ano jubilar
para os católicos no Vietnã: a Igreja
vietnamita celebrará o 50° aniversário da instituição da Hierarquia e, ao
mesmo tempo, os 300 anos da chegada do Cristianismo ao país.
Entre as iniciativas que nascem em vista do Ano Jubilar, foi já
anunciado e programado o evento culminante do Ano: o Congresso Nacional que se realizará em
Hué de 7 a 10 de outubro de 2010.
O congresso será ocasião para avaliar a vida e a missão da Igreja no
Vietnã, marcada novamente, nos
últimos meses, por alguns episódios
de difíceis relações com as autoridades civis locais.
No Ano Jubilar serão lembrados
alguns missionários que deram uma
importante ajuda à evangelização do
país, como Pe. Cardière, das Missões
Exteriores de Paris, e o Pe. Alessandro de Rhodes, jesuíta.
Processados por rezar no colégio
Dom Odilo Scherer no Pontifício
Conselho para a Família
O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, foi nomeado em 30
de setembro membro do Comitê de
Presidência do Pontifício Conselho
para a Família.
O Cardeal Odilo Scherer é membro também da Congregação para o Clero, da Pontifícia Comissão
de Vigilância sobre o Instituto para as Obras de Religião (IOR) e do
Conselho do Sínodo dos Bispos; e de
dois importantes órgãos da CNBB: o
Conselho Permanente e a Comissão
O diretor e um funcionário categorizado de um colégio da cidade de
Santa Rosa (Flórida, EUA) foram
processados por terem violado uma
ordem judicial que proíbe fazer orações nos estabelecimentos escolares.
Ambos ficaram sujeitos a multa, prisão e perda de benefícios de aposentadoria.
Em 28 de janeiro deste ano, Frank
Lay, diretor da Pace High School,
de Santa Rosa, pediu a Robert Freeman, diretor de atletismo, que fizesse uma rápida oração antes de iniciar
um almoço em homenagem aos doadores que contribuíram para a construção das instalações desportivas do
colégio. Freeman atendeu ao pedido
do diretor.
A American Civil Liberties Union
(ACLU) acusou os dois de terem,
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 43
de Fátima
43
22/10/2009 14:18:00
A família, sujeito da
Evangelização
O Pontifício Conselho para a Família promoveu em Roma, nos dias
10 e 11 de setembro, um seminário
sobre o tema Família, sujeito da evangelização. Dele participaram numerosos casais provenientes de diversos
países, bem como sacerdotes comprometidos com a pastoral familiar.
Na primeira conferência, o subsecretário do Pontifício Conselho para
a Família, Mons. Carlos Simón Vázquez, discorreu sobre os documentos
do Magistério da Igreja a respeito da
matéria em estudo. Constaram também no programa três seções de testemunhos: Experiências na paróquia,
Experiências nos Movimentos e Experiências nas Associações Familiares.
Madri espera dois milhões
de jovens para a JMJ
Em entrevista ao jornal ABC, o
Cardeal Antonio Rouco Varela, Arcebispo de Madri, calcula que nada menos de dois milhões de jovens estarão
44
com o Papa na XXVI Jornada Mundial da Juventude, a realizar-se em
agosto de 2011, na capital espanhola.
Para milhares de jovens, as JMJ
“significaram um reencontro com a
Fé, outros nelas descobriram sua vocação, e todos vislumbraram modos de
ser jovem, de querer viver com dignidade, nobreza e horizontes claros” — explicou o Cardeal Rouco Varela.
testimoni.org
com essa ação, desacatado uma ordem judicial exarada no ano de 2008.
Levados a julgamento no dia 17 de
setembro, Lay e Freeman alegaram
que a oração “criminosa” havia sido
fruto de um ato inadvertido de sua
parte, e assim acabaram sendo absolvidos pela juíza federal Margaret Casey Rodgers. Entretanto, a juíza advertiu que o diretor, Frank Lay, “tem
a responsabilidade de dar o bom exemplo” e, permitindo a oração, “abriu
um triste precedente”.
que se estendeu rapidamente por toda Palestina.
Governo cubano autoriza
Missas nas prisões
Após 50 anos de implantação do
regime castrista em Cuba, Raúl Castro autorizou que as instituições religiosas celebrem Missas e cultos nos
cárceres desse país, informa a agência argentina Infobae. A permissão
entrou em vigor no mês de setembro,
para os presos que solicitem a celebração nas respectivas celas.
De acordo com o Infobae, essa
medida é indício de uma aproximação entre a Igreja e o governo comunista cubano, já que a celebração de Missas nos cárceres é uma
reivindicação “histórica” dos religiosos. O próprio Cardeal Tarcisio
Bertone, Secretário de Estado da
Santa Sé, tratou desse assunto com
Castro, em sua viagem a Cuba no
ano passado.
Madre Maria Alfonsina
será beatificada
“Jesus Cristo e a Igreja”
atinge mais de um milhão
de “downloads”
Os católicos da Terra Santa se preparam para a beatificação da Madre
Maria Alfonsina Danil Ghattas, cofundadora das Dominicanas do Santíssimo Rosário de Jerusalém, que se
realizará no dia 22 deste mês, na Basílica da Anunciação de Nazaré.
“Esperamos com entusiasmo este dia. Estamos nos preparando não
somente no âmbito organizativo, mas
também, e sobretudo, no espiritual” —
informou à Rádio Vaticano a secretária geral da Congregação, Irmã Ildefonsa.
Maryam Soultaneh Danil Ghattas nasceu em 4 de outubro de 1843,
em Jerusalém, onde faleceu em 25
de março de 1927. Ingressou na vida religiosa aos 14 anos, na Congregação das Irmãs de São José da Aparição. Em 1880 fundou, junto com o
sacerdote Joseph Tannous, a Congregação das Irmãs Dominicanas do
Santíssimo Rosário de Jerusalém,
Um documento contendo resposta às 54 perguntas mais frequentes sobre Jesus Cristo e as origens
da Igreja já ultrapassou a cifra de
um milhão de “downloads”, contando apenas sua versão original em
espanhol.
O texto foi preparado por um grupo de professores do Departamento de Sagrada Escritura da Faculdade de Teologia da Universidade de
Navarra (Espanha) sob a direção de
Francisco Varo e responde questões
tão variadas como: Em que idioma
falou Jesus? Como foram escritos os
Evangelhos? Quais são as diferenças
entre os evangelhos canônicos e os
apócrifos? Quem foram os fariseus,
saduceus, zelotes e essênios?
Intitulado Jesucristo y la Iglesia,
o estudo está disponível para descarga em http://www.opusdei.es/art.
php?p=15203, nos formatos HTML e
PDF.
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 44
22/10/2009 14:18:12
FALECE MONS. ANGELO DI PASQUALE
Uma página viva da História da Igreja
N
o dia 2 de outubro, festa dos
Santos Anjos da Guarda, faleceu em Roma o Mons. Angelo
Di Pasquale, aos 84 anos de idade, após
mais de seis décadas de fecundo ministério sacerdotal.
Cerimonário de cinco Papas e
cônego da Basílica de São Pedro
Nascido em Gênova no dia 4 de janeiro de 1925, foi ordenado sacerdote
em 1948 e, já no ano seguinte, convidado a colaborar na Secretaria de Estado da Santa Sé,
onde trabalhou durante 41 anos.
De 1955 até 1997 serviu como Cerimoniário Pontifício a cinco Papas (Pio XII, João XXIII, Paulo VI,
João Paulo I e João Paulo II), e nessa função esteve
presente a quatro conclaves. Em 1997, o Papa João
Paulo II o nomeou Protonotário Apostólico e Cônego honorário da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Essa longa experiência a serviço do Vaticano, somada à sua prodigiosa memória, fez com que ele fosse
qualificado de “uma página viva da História da Igreja”.
Reitor de San Benedetto in Piscinula
Arquivo pessoal Mons. Di Pasquale
David Domingues
Em 2003, o Vicariato de Roma confiou aos Arautos do Evangelho a igreja de San Benedetto in Piscinula, da qual o Mons. Di Pasquale era reitor havia mais
de 20 anos. Pode-se dizer que começou,
naquele momento, uma nova etapa da
existência do ilustre sacerdote.
Castigado pelo passo dos séculos, o
histórico templo precisava de urgentes
reformas e os arautos se encarregaram
delas. Entre outras muitas tarefas, foram consolidados os muros, reparados
o telhado e as paredes internas do templo e recuperados os belos afrescos medievais. Mais importante do que isso,
as celebrações litúrgicas passaram a ser
cada vez maismais frequentes e o culto tomou nova vida. “Considero um verdadeiro dom da Virgem de Fátima, eu ter comigo, em San Benedetto in Piscinula, os caríssimos Arautos do Evangelho”, dizia Monsenhor Di
Pasquale em carta dirigida ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias.
Entre o Mons. Di Pasquale e os Arautos do Evangelho nasceu assim uma sólida amizade da qual são testemunha estas palavras por ele escritas ao Fundador dos
Arautos: “Considero um dom especial da Providência
Divina ter encontrado e conhecido o senhor e os Arautos,
colaborar nas suas atividades pastorais, dar a conhecer a
instituição e seu carisma, na fidelidade à Igreja e ao Papa. E sinto-me feliz e honrado por poder oferecer a minha
modesta, mas total, disponibilidade na difusão do Reino
de Cristo, de justiça, amor e paz”.
Acima, Mons. Di Pasquale com o
Servo de Deus João Paulo II, durante
uma de suas últimas atuações como
cerimoniário; à direita, em janeiro deste
ano, presidindo uma cerimônia de
Recepção de Cooperadores, em San
Benedetto in Piscinula
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 45
de Fátima
45
22/10/2009 14:18:24
HISTÓRIA PARA CRIANÇAS... OU ADULTOS CHEIOS DE FÉ?
Salvo por um
amigo invisível
M
atilde era uma jovem senhora, conhecida em toda a aldeia por sua caridade. Em sua casa, os mais necessitados sempre encontravam o que comer e suas roupas eram lavadas e remendadas com carinho. Além disso,
a boa mulher procurava ensinar-lhes
algum ofício para ajudá-los a sair da
miséria.
Seu filho Mateus ainda não completara quatro anos. Matilde o educava com ternura e desvelo incomparáveis.
Desde muito cedo, ensinou-lhe
a se encomendar sempre ao Anjo
da Guarda antes de sair de casa. E
o menino, piedoso e obediente, tomou por costume fazê-lo até quando saía ao jardim para brincar com o
gato Mimoso. Gostava de repetir de
memória, com as mãozinhas postas
sobre o peito, a oração que a mãe
46
Edith Petitclerc
Aquela megera havia batido em Mateus com tanta
força que o menino decidira fugir. Mas as janelas
tinham grades e as portas estavam bem trancadas...
Como sair da espelunca?
Stefanie Ellis Wegley
lhe ensinara: “Meu Anjo da Guarda,
minha doce companhia, tu és o meu
guarda e meu vigia. Meu Santo Anjo, meu grande Amigo, dize ao Senhor que quero ser bom e que sempre permaneça comigo. Guia-me pelo bom caminho, com todos os meus
queridos. Amém”.
Uma manhã ensolarada de inverno, Matilde ausentou-se de casa para
atender a uma enferma. Mateus foi
brincar ao ar livre com o gatinho e,
antes de fazê-lo, encomendou-se ao
seu guardião celestial.
Quando mais entretido estava com
seus jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente, chamou-o do outro lado do muro. Mimoso não gostou dela: retesou o corpo, mostrou as
unhas e rosnou ameaçador. Mas Mateus o aquietou. Não era mamãe sempre bondosa com todos os que dela se
aproximavam? Não tinha lhe ensinado a ser gentil com os desconhecidos?
Aproveitando a boa acolhida, a
inesperada visitante logo começou
uma conversa. Elogiou a beleza das
plantas do jardim, o bem arranjado
dos muros e janelas e, adivinhando logo o ponto fraco de Mateus, louvou o
quanto pôde a dona da casa, afirmando que deveria ser, certamente, uma
senhora muito afetuosa e diligente.
Conquistado o menino, a mulher lhe pediu para abrir o portão,
ao que ele acedeu sem nenhuma
desconfiança. Já dentro do quintal,
aquela megera esforçou-se por tornar a conversa mais atraente. Indagou pelo nome da mãe, e perguntou a Mateus se não estava sentindo
saudades dela.
— Sim! — respondeu ele em seguida. Mamãe sai muito pouco de casa sem mim... Quando o faz, me sinto
tão sozinho!
Aparentando ter ficado emocionada pelas palavras do menino, a desco-
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 46
22/10/2009 14:18:35
nhecida osculou-o com fingido cari- quial. Ali, uma senhora banhou-o, deu- nha doce companhia, tu és o meu
nho, e ofereceu-se a levá-lo até “on- lhe alimento e deixou-o dormir até re- guarda e meu vigia...” — e descobriu,
então, que o cadeado de uma porteide estava sua mãe”. Mateus deu um cuperar completamente as forças.
Quando, depois de algumas ho- ra lateral não tinha sido fechado...
pulo de alegria, estendeu sua mãoziAo ouvir a prece, o rosto do frade
ras, o menino despertou, frei Leonha e se dispôs a acompanhá-la.
A boa Maria, ajudante de Matil- nardo perguntou-lhe seu nome, de se iluminou, e pediu ao menino para
de, que se encontrava na cozinha, nem onde era, como se chamavam seus repeti-la. Não era aquela a cândida e
chegou a ver aquela cena. Afanava-se pais. O pobrezinho, porém, ainda piedosa oração que rezavam as criannesse momento em preparar uma de traumatizado, pouco sabia respon- ças de uma aldeia próxima, na qual tisuas deliciosas empadas de espinafre e der. Só lembrava de ter por nome nha pregado missões há alguns meses?
cenoura que tanta fama lhe traziam... Mateus. Falava do seu gatinho Mi* * *
No dia seguinte, a notícia chegou
moso, do lindo jardim em que cosmas que tanto trabalho lhe davam.
ao povoado de Matilde.
Ainda estava em plena
Um menino chamado Mafaina quando Matilde retorteus havia sido encontranou e chamou pelo menino:
do numa cidade não mui— Filhinho! Meu bem!
to distante dali. Estava sujo
Mamãe já voltou!
e maltrapilho, mas não feNinguém respondia...
rido, nem aleijado. Só falaMatilde insistiu, mas o
va de um gatinho chamado
silêncio continuava. ApeMimoso e tinha saudades
nas se ouviam na casa o
de sua mãe, que, segundo
bater de panelas de Maria
ele, era muitíssimo bondoe os estranhos rosnados de
sa. Frei Leonardo, o monge
Mimoso, nervoso por alguque estivera pregando ali
ma razão desconhecida.
na aldeia durante a primaA cozinheira, percebenvera, tinha-o encontrado
do que algo estranho se hana praça, e estava tomando
via passado, teve um palpiconta dele...
te e ficou gelada. Não tinha
Matilde não teve dúvivisto passar duas vezes peda. Era o seu filhinho! Tila frente da janela uma munha de sair logo ao seu enlher loura, de esquisito sorcontro!
riso? O que fazia ela por
perto da casa? Não teria al* * *
O
abraço
entre Matilgo a ver com a desaparição
Quando mais entretido estava Mateus com seus
de e Mateus foi mais do
da criança?
jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente,
que longo, quase intermi* * *
chamou-o do outro lado do muro
nável. Não paravam de se
Dias depois, numa cidade não muito distante daquela aldeia, tumava brincar e, sobretudo, de sua fitar e se agradar, e só de vez em
apareceu um menino sujinho, mal- extremosa mãe, doce e amorosa co- quando cessavam momentaneamente seus mútuos carinhos, para
trapilho, cansado e com fome. Sen- mo nenhuma outra.
tou-se na praça da Matriz, debaixo de
Narrou também como era feliz juntos agradecerem a frei Leonaruma grande árvore, e ali ficou cho- com ela, até que uma mulher má o do ter cuidado com tanto esmero
rando. Era de manhã muito cedo e arrancou da casa materna, trancan- do pobre menino.
Chegada a hora da partida, o bom
não havia ninguém na rua, mas seus do-o numa suja espelunca, da qual só
soluços não passaram despercebidos saía para pedir esmolas. Nessa noite, frade os reteve um instante. Levoupara frei Leonardo, que acabava de aquela megera havia batido nele com os à igreja matriz, ajoelhou-se com
eles diante do Santíssimo Sacramencelebrar a Santa Missa. Saiu o frade tanta força, que tinha decidido fugir.
da igreja para ver o que acontecia.
As janelas eram muito estreitas to e fê-los prometer solenemenAo se deparar com uma tão jovem e tinham grades. As portas estavam te que nunca deixariam de ter devocriança, de grandes e vivos olhos ne- bem trancadas. Mas rezou uma vez ção àquele amigo invisível que salvagros, inchados de tanto chorar, tomou- mais a oração que sua mãe lhe ensi- ra Mateus do infortúnio: o Anjo da
se de pena e levou-o para a casa paro- nara — “Meu Anjo da Guarda, mi- Guarda! 
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 47
de Fátima
47
22/10/2009 14:18:41
OS SANTOS DE CADA DIA _________
1. Solenidade de Todos os Santos.
Beato Teodoro Jorge Romzsa, Bispo e mártir (†1947). Por ter conservado a fidelidade à Igreja, foi vítima
de um atentado em Mukacevo, Ucrânia, e posteriormente, envenenado
no hospital.
2. Comemoração dos fiéis defuntos.
Santa Vinfreda, virgem (†séc.VII).
Instruída por seu tio São Beuno, progrediu rapidamente na prática da virtude, abraçando a vida monacal em
Holywell, País de Gales.
3. São Martinho de Porres, religioso (†1639).
São Joanício, monge (†846). Abandonou o exército imperial para viver
como eremita no
Monte Olimpo e
depois ingressou
“São
Martinho
de Tours” Catedral
de Colmar
(França)
no mosteiro de Antidium, Turquia.
Defendeu o culto das imagens e é autor de diversos ícones em honra da
Virgem Maria.
4. São Carlos Borromeu, Bispo
(†1584).
Beata Francisca de Amboise, religiosa (†1485). Desposada com Pedro
II, duque da Bretanha, ambos mantiveram castidade perfeita de comum
acordo. Após ficar viúva, fez-se carmelita e fundou os mosteiros de Bondón e Nantes, na França.
5. Beato Bernardo Lichtenberg,
presbítero e mártir (†1943). Vigário
capitular da Catedral de Berlim, por
ter denunciado os abusos nazistas,
passou dois anos encarcerado e morreu a caminho do campo de Dachau,
após muitos sofrimentos.
6. São Winoco, abade (†716). Discípulo de São Bertino no mosteiro
de Sithiu, próximo de Saint Omer,
França, fundou e regeu o cenóbio de
Wormhoudt.
7. Beato Antônio Baldinucci,
presbítero (†1717). Religioso jesuíta, desejou muito ser missionário no
Oriente, mas, por sua débil saúde, foram-lhe confiadas as missões na Itália, nas quais obteve notável êxito por
seu exemplo de virtude e suas ardorosas pregações.
Sergio Hollmann
8. XXXII Domingo do Tempo Comum.
São Godofredo, Bispo (†1115).
Abade beneditino eleito Bispo de
Amiens, França. Sofreu muito para apaziguar as disputas entre os governantes e a população da cidade, e
para reformar os costumes do clero e
do povo.
9. Dedicação da Basílica de Latrão.
48
Beata Joana de Signa, virgem
(†1307). Ainda na juventude, abandonou a vida pastoril e viveu cerca de
40 anos como reclusa numa cela próxima ao rio Arno, na Itália.
10. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja (†461).
Beato Acisclo Pina Piazuelo, mártir (†1936). Religioso da Ordem de
São João de Deus, assassinado em
Barcelona por ódio à Religião, na
Guerra Civil Espanhola.
11. São Martinho de Tours, Bispo
(†397).
São Verano, Bispo (†séc. V). Governou com sabedoria e santidade a
diocese de Vence, França, e apoiou
a carta de São Leão Magno contra o
monofisismo.
12. São Josafá, Bispo e mártir
(†1623).
Beato João Cini da Paz, penitente (†1335). Depois de cometer
um crime, arrependeu-se e tornouse terciário penitente franciscano. Seu exemplo atraiu muitos jovens para a Congregação dos Eremitas Terciários Franciscanos, por
ele fundada.
13. São Nicolau I, Papa (†867).
Consolidou a autoridade do Romano
Pontífice em toda a Igreja.
14. São Lourenço O’Toole, Bispo
(†1180). Arcebispo de Dublim, Irlanda, reformou a disciplina eclesiástica
e empenhou-se em obter a concórdia
entre os príncipes.
15. XXXIII Domingo do Tempo
Comum.
Santo Alberto Magno, Bispo e
doutor da Igreja (†1280).
São Rafael de São José Kalinowski, presbítero (†1907). Engenheiro militar, participou da insurreição
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 48
22/10/2009 14:18:54
____________________ NOVEMBRO
16. Santa Margarida da Escócia,
rainha (†1093).
Santa Gertrudes, virgem (†1302).
Beato Eduardo Osbaldeston, presbítero e mártir (†1594). Sacerdote de
Yorkshire, Inglaterra, executado durante o reinado de Isabel I por exercer seu ministério.
17. Santa Isabel da Hungria, religiosa (†1231).
Santo Hugo, abade (†séc.XII).
Discípulo de São Bernardo de Claraval, enviado a fundar os mosteiros
cistercienses na Itália.
18. Dedicação das Basílicas de São
Pedro e São Paulo, Apóstolos.
Beata Carolina Kózka, virgem e
mártir (†1914). Jovem catequista da
paróquia de Zabawa, Polônia. Morreu aos 16 anos, durante a Primeira
Guerra Mundial, resistindo a um soldado que atentava contra sua castidade.
19. Santos Roque González, Afonso Rodríguez e João del Castillo,
presbíteros e mártires (†1628).
São Barlaão, mártir (†303). Fervoroso cristão de Antioquia, condenado por ter muitas vezes recusado-se a
queimar incenso aos ídolos.
20. São Cipriano de Calamizzi,
abade (†1190). Médico de rica família, abandonou tudo e ingressou
no mosteiro do Santíssimo Salvador
de Calanna, Itália. Eleito abade de
São Nicolau em Calamizzi, foi severo consigo mesmo, generoso com os
pobres e bom conselheiro para todos.
21. Apresentação de Nossa Senho-
ra.
São Rufo. Discípulo de São Paulo e por ele qualificado de “eleito no
Senhor”, na epístola aos Romanos.
22. Solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo Rei do Universo.
Santa Cecília, virgem e mártir
(†séc. II).
Beato Tomás Reggio, Bispo
(†1901). Arcebispo de Gênova, Itália, e fundador da Congregação das
Irmãs de Santa Marta. Empenhouse na formação do clero e valorização
do apostolado leigo.
23. São Clemente I, Papa (†séc. I).
São Columbano, abade (†615).
Beato Miguel Agostinho Pro, presbítero e mártir (†1927). Sacerdote jesuíta, condenado sem processo e fuzilado no México durante a perseguição contra a Igreja.
24. Santo André Dung Lac, presbítero, e companheiros, mártires
(†1625-1886).
São Porciano, abade (†532). Jovem escravo que, guiado pela Providência, encontrou a liberdade num
mosteiro da região de Clermont-Ferrand, França, do qual se tornou monge e depois abade.
25. Santa Catarina de Alexandria,
virgem e mártir (†séc. III).
São Moisés de Roma, presbítero e mártir (†251). Junto com o colégio presbiteral, cuidou da Igreja após
o martírio do Papa São Fabiano. Passou longo tempo no cárcere antes de
testemunhar com o próprio sangue
sua fé em Cristo.
26. Beata Caetana Sterni (†1889).
Enviuvou-se muito jovem e fundou
a Congregação das Irmãs da Divina
Vontade, para assistência aos pobres
e enfermos.
©santiebeati.it
lituano-polonesa contra a Rússia, foi
capturado e condenado a trabalhos
forçados. Posto em liberdade, tornou-se carmelita e dedicou-se ao ministério da Confissão e à expansão da
ordem na Polônia.
Beata Caetana Sterni
27. Beato Bernardino de Fossa,
presbítero (†1503). Religioso franciscano nascido em Fossa, Itália, pertencente à antiga e nobre família dos
Amici. Autor de obras ascéticas e
cronista da ordem, foi Padre Provincial da região dos Abruzos e da Dalmácia e Bósnia.
28. Beato Tiago Thomson, presbítero e mártir (†1582). Executado em
York, Inglaterra, durante as perseguições de Isabel I da Inglaterra, depois de haver reconduzido muitas almas à Igreja.
29. I Domingo do Advento.
São Francisco Antonio Fasani,
presbítero (†1742). Religioso franciscano, Mestre em Teologia e professor
de Filosofia em Lucera, Itália, distinguiu-se como pregador e foi, por três
anos, foi provincial de Sant’Angelo
na Apulia.
30. Santo André, Apóstolo.
São Galgano Guidotti, eremita
(†1181). Após uma juventude devassa, viveu como penitente numa ermida sobre o monte Siepi, na Toscana,
Itália.
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 49
de Fátima
49
22/10/2009 14:19:04
A Grand-Place de Bruxelas
Guy Gabriel de Ridder
Getty Images
Dir-se-ia que seus esplendorosos
edifícios foram construídos para
manifestar o bom gosto de ilustres
príncipes ou ostentar a riqueza de
grandes potentados. A realidade,
entretanto, é bem diversa...
50
Flashes de Fátima · Novembro 2009
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 50
22/10/2009 14:19:16
Gettyimages
A
o apreciar a Grand-Place de
Bruxelas, na Bélgica, compreende-se o motivo pelo qual Victor Hugo a considerava a mais bela do mundo. Composta de esplendorosos edifícios harmônicos entre si, causa ela uma impressão das mais agradáveis pela distinção e nobreza do conjunto. Dir-se-ia
tratar-se de uma catedral com sua alta
torre, cercada de palácios que se aconchegam a seu redor, cada qual procurando manifestar o bom gosto do ilustre príncipe ou a riqueza do grande potentado que mandou construí-lo.
A realidade, entretanto, é bem diversa: a maior parte desses belos edifícios eram sedes de corporações de
ofício, erguidos em torno do Hôtel de
Ville, ou seja, em termos atuais, sedes de sindicatos de trabalhadores
manuais e do comércio, cercando a
Prefeitura Municipal. Para o homem
moderno, talvez seja difícil imaginar
algo assim, mas a Grand-Place é bem
um símbolo da dignidade que cercava o exercício das atividades dos artesãos, trabalhadores e comerciantes
na baixa Idade Média.
As corporações de ofício foram se
constituindo na Europa, a partir do
século XII, tendo em vista a necessidade que os artesãos e trabalhadores
no comércio sentiam de preservar a
identidade da respectiva categoria
profissional. Perante seus próprios
associados, a corporação exercia o
papel de reguladora da boa qualidade dos serviços, dos preços dos produtos, da margem de lucro, da aprendizagem, etc. Perante o poder público, e também de outras associações
particulares, ela era o órgão de defesa dos interesses de seus afiliados.
Em Bruxelas, concretamente, as corporações acabaram por tornar-se um
símbolo da autonomia burguesa face
ao governo dos Duques de Brabante.
Nem todos os atuais edifícios são
os originais: vários foram reconstruídos após o bombardeio das tropas francesas de Luís XIV, que arrasaram, em 1695, a maior parte das
construções medievais. A casa do
Rei, por exemplo, foi reerguida em
1873, em estilo neogótico.
Um costume relativamente recente tem contribuído a realçar de forma especial a beleza desse ímpar
conjunto arquitetônico. Desde 1976,
a cada dois anos, no dia 15 de agosto, um magnífico tapete composto de
cerca de um milhão de begônias de
vivas cores, cobre o piso da praça,
proporcionando um espetáculo verdadeiramente feérico! 
Novembro 2009 · Flashes
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 51
de Fátima
51
22/10/2009 14:19:25
“Nossa Senhora das Graças” Casa de Nossa Senhora da Divina
Providência, Mairiporã (SP)
Luis María B. Varela
E
_Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 52
nquanto
Maria vos
sustenta, não
caís; enquanto
vos protege, não
temeis; enquanto
vos conduz, não
vos fatigais; e,
sendo-vos propícia,
chegareis ao porto
da salvação.
(São Bernardo de Claraval)
22/10/2009 14:19:35

Documentos relacionados

Revista Arautos do Evangelho

Revista Arautos do Evangelho abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção” (Gn 12, 2). E em nossa era, Cristo, nosso Salvador atrai para Si todas as nações, formando um novo povo eleito — a Santa I...

Leia mais

Revista Arautos do Evangelho

Revista Arautos do Evangelho _Flashes_de_Fatima_76_RAE93.indb 1

Leia mais

Revista Arautos do Evangelho

Revista Arautos do Evangelho Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor...

Leia mais

Revista Arautos do Evangelho

Revista Arautos do Evangelho um rival a combater. No fundo, se refletirmos bem, também Deus parece-lhe um rival, e um rival particularmente perigoso, que quereria privar os homens do seu espaço vital, da sua autonomia, do seu ...

Leia mais

Revista Arautos do Evangelho

Revista Arautos do Evangelho Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor...

Leia mais