SISTEMAS DE MANEJO DE SOLO EM POMAR DE TANGERINA

Transcrição

SISTEMAS DE MANEJO DE SOLO EM POMAR DE TANGERINA
FITOTECNIA
SISTEMAS DE MANEJO DE SOLO
EM POMAR DE TANGERINA
‘PONKAN’ SOBRE LIMÃO ‘CRAVO’
EM LATOSSOLO ROXO (1)
CARMEN SILVIA V. J. NEVES (2) e ANTONIO ROQUE DECHEN (3)
RESUMO
Na escolha do sistema de manejo do solo do pomar,
deve-se levar em conta, além da produtividade da cultura,
a manutenção da fertilidade do solo, a proteção deste contra
o impacto da chuva e a economia da água do solo durante a
estação seca. Em um pomar de tangerina ‘Ponkan’ (Citrus
reticulata Blanco) sobre limão ‘Cravo’ [Citrus limonia (L.)
Osbeck] em latossolo roxo, em Londrina (PR), testaram-se
cinco tratamentos de manejo do solo, a saber: adubo verde
perene: indigófera (Indigofera campestris Benth.); adubo
verde perene: amendoim rasteiro (Arachis prostrata Bong.
ex Benth.); adubo verde anual: mucuna-cinza (Stizolobium
pruriens) durante a época de chuvas; uso alternado de
roçadeira e grade, e capina manual. Após dez anos, não foram alteradas a qualidade dos frutos e a nutrição das plantas. A produção foi ligeiramente superior com roçadeira/
(1)
Artigo extraído do trabalho NEVES et al. (1998).
Universidade Estadual de Londrina, Caixa Postal 6001, 86051-990 Londrina (PR).
(3)
Seção de Nutrição Mineral de Plantas, ESALQ/USP. Caixa Postal 9, 13416-980 Piracicaba (SP).
(2)
ARTIGO TÉCNICO
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CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
grade. A matéria orgânica do solo aumentou com os tratamentos amendoim-rasteiro e roçadeira/grade.
Termos de indexação: citros, controle de plantas daninhas,
leguminosas, cobertura vegetal.
SUMMARY
MANAGEMENT OF AN OXISOL UNDER ‘PONKAN’
MANDARIN ON ‘RANGPUR’ LIME ORCHARD
A trial with ‘Ponkan’ mandarin (Citrus reticulata
Blanco) on ‘Rangpur’ lime (Citrus limonia L. Osbeck)
rootstock was carried out in Londrina, State of Paraná,
Brazil, on an Oxisol to study the effect of soil management
on plant yield, nutrition, fruit quality, and soil chemical characteristics. Five treatments were used: permanent cover with
Indigofera campestris Benth; permanent cover with Arachis
prostrata Bong. ex Benth; “mucuna cinza” (Stizolobium
pruriens) during spring and summer; alternate mowing
(rainy season)/tillage (dry season); and fallow (by hand hoeing). After 9 years, yield, fruit quality and plant nutrition
were not affected by treatments. Soil organic matter was
increased by A. prostrata and by alternate mowing/tillage.
Other soil chemical characteristics were not affected by treatments.
Index terms: citrus, weed control, leguminous, ground
covers.
1. INTRODUÇÃO
As regiões do Estado do Paraná na quais a citricultura se tem estabelecido possuem clima tropical e subtropical, com maior ocorrência de
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chuvas durante a primavera e o verão, quando é importante manter o solo
protegido, reduzindo os riscos de erosão. Em condições semelhantes, o
sistema de manejo recomendado nos pomares cítricos no Estado de São
Paulo é o uso de roçadeira três a quatro vezes nas entrelinhas, durante o
período chuvoso, e uma gradeação no seco. Muitos citricultores, porém,
aumentam o uso da grade de disco, causando o empobrecimento do solo
e danos ao sistema radicular dos citros. A prática da adubação verde protege o solo contra a erosão, evita a infestação de ervas daninhas,
descompacta o solo (dependendo da espécie usada) e, no caso de
leguminosas, tem a vantagem de utilizar o nitrogênio da atmosfera. No
Paraná, várias espécies de leguminosas têm sido recomendadas para
cobertura do solo em pomares. Neste trabalho, mostra-se a importância
do manejo do solo, os principais fatores a considerar na escolha do sistema de manejo e os resultados de um experimento em um pomar de citros
no Norte do Paraná (NEVES et al., 1998).
2. IMPORTÂNCIA DO MANEJO DO SOLO
Um bom manejo é aquele que propicia boa produção no tempo presente e que também dá possibilidade ao solo de manter sua fertilidade,
garantindo a produção agrícola para o futuro.
Entre os fatores a considerar na escolha do sistema de manejo do
solo do pomar estão a conservação ou aumento do teor de matéria orgânica, a proteção do solo contra o impacto das gotas de chuva e a economia da água nele armazenada.
A matéria orgânica, ou húmus do solo, desempenha papel fundamental para as plantas e para o solo: atua como um cimento que faz a
união entre os grãos de terra, formando os agregados. Estes são importantes porque deixam o solo mais poroso, o que aumenta a entrada da
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CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
água da chuva no perfil, reduzindo a quantidade da água que vai com a
enxurrada. Os agregados também aumentam a resistência do solo ao impacto das gotas de chuva. Como resultado, ele estará mais resistente à
erosão. Sua matéria orgânica é importante também para aumentar a
capacidade de troca catiônica (CTC), que é a capacidade que o solo tem
de armazenar nutrientes para as plantas, como o cálcio, o potássio e o
magnésio. Além disso, a matéria orgânica é capaz de fornecer nitrogênio, fósforo e enxofre para a nutrição das plantas.
A proteção da superfície é muito importante, principalmente na
época chuvosa. O uso de cobertura verde ou morta protege do impacto
das gotas de chuva, evitando a destruição dos agregados do solo, reduzindo a erosão. A cobertura verde pode ser a própria vegetação natural
(mato) controlado mediante ceifa ou roçagem, ou plantas de adubo verde, como crotalária, guandu, etc. A cobertura morta (palha) também é
muito eficiente, mas seu uso em grandes áreas tem alto custo, por isso é
pouco adotada em pomares de citros. Além da proteção, a cobertura do
solo aumenta o teor de matéria orgânica.
Outro ponto importante a considerar na escolha do manejo do solo
é a economia da sua água, com o objetivo de manter a produtividade dos
citros. Nas regiões em que ocorre uma estação seca no ano, é importante
reduzir a competição pela água naquele período, para que não falte água
para os citros.
3. EFEITO DO MANEJO DO SOLO NA PRODUÇÃO
DE CITROS
Na Tabela 1 encontram-se trabalhos realizados no Brasil com o
objetivo de avaliar a produção de citros quando mantidos com diferentes
sistemas de manejo do solo.
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Hamlin/Caipira
9 safras
Rodriguez (1957)
e Caetano (1980)
Hamlin/Caipira
8 safras
Rodriguez (1969)
São Paulo
São Paulo
Copa/Porta-enxerto
N.o safras avaliadas
Autor e Local
dependendo do ano. Na
média dos anos, AV
(águas) foi mais produtivo.
3) Duas ceifas (águas) +
uma grade (seca)
Continua
produções diferentes,
Os tratamentos tiveram
preta
CM e grade + mucuna
Maiores produções com
Resultados
2) AV (guandu / soja perene) águas
1) Ceifa 2 vezes/ano
9) Duas ceifas
8) Duas arações
7) Grade + AV (guandu)
6) Grade + AV (mucuna preta)
5) Grade (seca) + ceifa (águas)
4) CM
3) Herbicida + AV
2) Herbicida
1) Grade
Sistemas de manejo testados
Tabela 1. Resumo de trabalhos realizados no Brasil sobre manejo do solo para pomares e sua influência
sobre a produção de citros
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o
o
AV e grade + ceifa.
5) Ceifa
a
1. e 2. safras
a
L. ‘Cravo’
3) AV (caupi) gradeado no floresc.
4) AV (caupi) ceifado no floresc.
2) Gradagem
dução com grade,
4) Grade
Minas Gerais
pendendo do ano. Na média dos 3 anos, maior pro -
amendoim, feijão vigna)
3) Grade (seca) + ceifa (águas)
Continua
gem e AV (caupi) gradeado no florescimento.
cobertura morta, grada-
Maiores produções com
produções diferentes, de
Sistemas de manejo com
os sistemas, exceto ceifa.
Maiores produções: todos
Resultados
2) CI (mandioca, fumo,
1) CM
5. , 6. e 7. anos
o
Baianinha/L.’Cravo’ 1) AV (calopogônio)
4) Grade
3) CI (milho ou feijão) verão
2) Uma grade
Pacheco et al. (1973) Baianinha/
Bahia
Passos et al. (1973)
6 safras
Rio Grande do Sul Valência/Caipira,
Baianinha/Caipira e 1) Ceifa
Dornelles (1971)
Sistemas de manejo testados
Copa/Porta-enxerto
N.o safras avaliadas
Autor e Local
Tabela 1. Continuação
172
CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
Rio de Janeiro
6) AV (puerária)
5) AV (centrosema)
4) Gradagem
3) Herbicida (pentaclorofenol)
2) CM (Colonião)
(1976)
5 safras
1) Capina
Vasconcellos et al. Pêra/ L. Cravo
6 safras
Continua
de e cob. morta (CM)
Maiores produções: Gra-
aração + 3 gradagens
Resultados
Rio Grande do Sul Baianinha/ Caipira 2) Ceifa
7) AV (soja-perene) ceif. no floresc.
6) AV (soja-perene) grad. no floresc.
5) Ceifa
Sistemas de manejo testados
Maior produção com uma
Copa/Porta-enxerto
N.o safras avaliadas
Koller et al. (1977) Valência/ Caipira e 1) Uma aração + três gradagens
Autor e Local
Tabela 1. Continuação
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São Paulo
o
1. , 2. , 3. e 4. anos
o
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p.167-184, 2001
9) AV (feijão-de-porco)
8) AV (lablabe)
7) AV (mucuna-anã)
6) AV (mucuna-preta)
5) AV (guandu)
4) AV (Crotalaria spectabilis)
2) Adubação 2N-P-K
3) AV (Crotalaria juncea)
1) Adubação N-P-K
o
Silva (1995)
o
5) Grade
São Paulo
Pêra/ Cleópatra
4) Herbicida pré-emergente
(1988)
2) Herbicida de contato
1) Capina
3) AV (lablabe)
1. , 2. e 3. safras
a
Sistemas de manejo testados
São José et al.
(1986) e
a
Hamlin/L. Cravo
Donadio et al.
a
Copa/Porta-enxerto
N.o safras avaliadas
Autor e Local
Tabela 1. Continuação
Continua
maiores com Crotalaria
juncea e guandu
Produções ligeiramente
emergente
mento herbicida pré-
Maior produção no trata-
Resultados
174
CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
1. safra
9) Ceifa (L) + grade (EL)
-de-porco) (EL)
8) glifosate (L) + AV (feijão-
ceifa (EL)
7) Diuron + glifosate (L) +
6) Diuron (L) + ceifa (EL)
5) Oxyfluorfen (L) + ceifa (EL)
4) Glifosate (L) + ceifa (EL)
grade (EL)
2) Capina (L) + ceifa (EL)
3) Capina (L) + ceifa +
1) Capina (L) + grade (EL)
Sistemas de manejo testados
AV= adubo verde, CM= Cobertura morta, CI = Cultura intercalar, L = linha, EL = entrelinha.
(1995)
Bahia
Laranja Pêra
Carvalho et al.
a
Copa/Porta-enxerto
N.o safras avaliadas
Autor e Local
Tabela 1. Conclusão
AV (feijão-de-porco) (EL).
capina (L) + ceifa + gra
de (EL) e glifosate (L) +
Maiores produções com
Resultados
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CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
O sistema mais prejudicial à produção dos citros foi o de vegetação natural ceifada durante todo o ano (RODRIGUEZ, 1969; PASSOS et
al., 1973; KOLLER et al., 1977). Isso ocorreu, provavelmente, pela competição entre os citros e o mato durante a estação seca. O uso de cobertura morta (CM) proporcionou as maiores produções em alguns trabalhos,
embora tenha sido apontado como pouco viável do ponto de vista econômico (RODRIGUEZ, 1957).
Os outros sistemas (adubos verdes ceifados ou incorporados,
gradagens, sistemas mistos de grade + ceifa) tiveram produções diferentes, dependendo da região e do ano em que foram avaliados. Não tem
sido reportada a redução na produção de frutas com o uso de adubos
verdes nos pomares, chegando, em alguns casos, a haver um aumento
(CASTRO e LOMBARDI NETO, 1992).
RODRIGUEZ (1969) obteve as maiores produções com o tratamento de adubo verde, vindo a seguir o tratamento de ceifa mais
gradeação, na média de oito safras. PASSOS et al. (1973) constataram,
numa das safras, a maior produção com grade no verão mais ceifa no
inverno; na seguinte, com grade permanente, enquanto, no terceiro ano
de observação, a maior produção foi com adubação verde (Calopogonio
mucunoides).
Como se observa, a presença de vegetação nas entrelinhas é importante para a conservação da fertilidade do solo, mas pode provocar
competição por água e nutrientes, reduzindo a produtividade dos citros.
Entretanto, se for bem manejada, a cobertura vegetal pode ter esse efeito
diminuído, protegendo o solo e contribuindo na nutrição e na produção
do pomar. Para isso, é importante buscar soluções adequadas para cada
situação, com base na experimentação local, tendo sempre em vista a
manutenção do sistema pomar + solo.
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4. EXPERIMENTO DE MANEJO DE SOLO
EM LATOSSOLO ROXO DO PARANÁ
Neste trabalho, avaliou-se o efeito de sistemas de manejo do solo
sobre suas propriedades químicas e sobre a nutrição e produção de tangerina ‘Ponkan’ enxertada sobre limão ‘Cravo’, em Londrina (PR). O clima da região é subtropical úmido, com chuvas em todas as estações, podendo ocorrer seca no período de inverno, e a temperatura média anual é
de 20,7°C. No experimento, instalado em dezembro de 1985, com
espaçamento 6,0 x 6,5 m, no câmpus da Universidade Estadual de
Londrina, em latossolo roxo distrófico muito argiloso, o pomar foi formado por plantas de tangerina ‘Ponkan’ (Citrus reticulata Blanco) sobre
limão ‘Cravo’ [Citrus limonia (L.) Osbeck]. A análise química do solo
na instalação do pomar indicou (camada 0-15 cm): pH (H2O) = 5,38;
mat. org. = 29,2 g dm -3 ; P (Mehlich-1) = 2,04 mg dm-3 ; K + = 2,3 mmolc
dm -3 ; Ca+2 = 45 mmolc dm -3; Mg+2 = 19 mmolc dm -3 ; H+ + Al+3 = 70 mmolc
dm-3. Para 15-30 cm: pH (H2O) = 5,02; mat.org. = 17,5 g dm-3 ; P(Mehlich1) = 0,92 mg dm -3 ; K+ = 1,1 mmolc dm-3; Ca+2 = 33 mmolc dm-3 ; Mg+2 =
32 mmol c dm-3 ; H+ + Al+3 = 61 mmolc dm-3 Os tratamentos, desde a instalação do pomar, foram os seguintes: a) leguminosa-perene indigófera
(Indigofera campestris Benth.); b) leguminosa-perene amendoim-rasteiro (Arachis prostrata Bong. ex Benth.); c) mucuna-cinza (Stizolobium
pruriens) na época de chuvas; d): uso alternado de uma gradagem a disco
(em maio-junho, no início do período seco) e de roçadeira (três a quatro
vezes no período de chuvas); e) capina. Realizaram-se tratamentos nas
entrelinhas, efetuando-se capinas manuais nas linhas de plantio. Os tratamentos de adubos verdes permanentes foram plantados com mudas e
mantidos com capinas eventuais para reduzir a população de plantas
invasoras, principalmente para indigófera, já que o amendoim-rasteiro
se mostrou mais agressivo. A mucuna foi semeada anualmente (0,5 x 0,5
m) em setembro/outubro e roçada em março/abril (florescimento), deixando-se a palha sobre o terreno. Os tratamentos foram realizados em
quatro repetições. A adubação mineral foi efetuada igualmente em todos
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os tratamentos com base nos teores dos elementos no solo e nas produções médias anuais, com N - P2O5 - K 2O nas seguintes quantidades (kg
ha-1ano-1): 1.° ano: 20-15-18; 2.° ano: 42-30-32; 3.° e 4.° anos: 46-38-46;
5.° e 6.° anos: 46-46-46; 7.° ano: 145-77-80; 8.° e 9.° anos: 115-75-85.
Utilizaram-se 3 t ha-1 de calcário dolomítico em 1986, 1989 e 1995, e 3,5
t ha -1 em 1992.
Os resultados de produção de frutas atingiram médias de 114 a 143
kg/planta/ano (média de 127 kg/planta/ano), consideradas satisfatórias
para a combinação ‘Ponkan’/Limão ‘Cravo’. Não houve diferença estatística de produção entre os tratamentos. Entretanto, a roçadeira/grade
proporcionou maior produção nas médias das safras (143,2 kg/planta/
ano). Isso pode ter ocorrido em vista da falta de vegetação durante a
estação seca do ano, reduzindo a competição por água e nutrientes. Esses
resultados já tinham sido observados nas primeiras safras do mesmo pomar (NILO GONZALEZ e NEVES, 1992).
O peso médio (média geral 196,2 g), o rendimento em suco (média
geral 43,5%) e a qualidade dos frutos (médias de 9,9 para Brix; 0,5%
para acidez e 19,8 para ratio) não apresentaram diferença estatística entre os tratamentos. Isso ocorreu, provavelmente, porque as condições climáticas é que desempenham um papel fundamental na qualidade dos frutos cítricos, enquanto as alterações no solo são um fator secundário.
VASCONCELOS et al. (1977) observaram que a característica de qualidade mais influenciada pelo manejo do solo foi o rendimento em suco,
que aumentou nos tratamentos em que se evitou a perda de água do solo.
A pequena diferença de produção entre os tratamentos do presente
trabalho está de acordo com os resultados de nutrição das plantas (Tabela 2). Observa-se que não houve grandes diferenças para os elementos:
apesar das diferenças de condições entre os tratamentos, as plantas
absorveram quantidade semelhante de nutrientes. Isso se deveu, provavelmente, à calagem e à adubação, que foram realizadas igualmente em todos
os tratamentos, o que mostra uma influência mais importante da adubação e da calagem do que do manejo do solo sobre a nutrição e a produção
dos citros.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p.167-184, 2001
28,7 a
27,6 a
28,2 a
29,2 a
Amendoim rast.
Mucuna-cinza
Roçadeira/Grade
Capina
1,2 a
1,1 a
1,2 a
1,3 a
1,2 a
P
7,2 a
6,7 a
8,2 a
7,1 a
Ca
33,2 a
38,3 a
33,1 a
39,6 a
43,8 a
g kg-1
6,0 a
K
3,3 a
3,0 a
2,9 a
3,2 a
3,2 a
Mg
1,4 b
1,4 b
1,6 ab
1,2 b
2,3 a
S
80 a
85 a
66 a
75 a
77 a
B
4a
5a
5a
5a
4a
Cu
228 a
188 a
199 a
201 a
224 a
mg kg -1
Fe
* Médias seguidas da mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de significância.
29,3 a*
N
Indigófera
Manejo
Tabela 2. Nutrientes nas folhas de tangerineira ‘Ponkan’. Londrina (PR) 1995
75 a
140 a
111 a
75 a
80 a
Mn
16 a
14 a
14 a
16 a
16 a
Zn
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179
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LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p.167-184, 2001
35,3 a
29,3 b
31,0 ab
27,1 b
23,3 a
27,2 a
24,1 a
25,0 a
22,3 a
Amendoim rast.
Mucuna-cinza ..
Roçad./grade ....
Capina ..............
Indigófera ........
Amendoim rast.
Mucuna-cinza ..
Roçad./grade ....
Capina ..............
mg dm
P
-3
5,24 a
5,58 a
5,33 a
5,48 a
5,55 a
5,66 a
5,78 a
5,63 a
5,88 a
3,45 a
4,48 a
4,73 a
2,78 a
5,85 a
9,05 a
9,15 a
9,53 a
6,45 a
6,15 a 11,50 a
pH
2,2 a
3,4 a
2,5 a
1,9 a
2,2 a
4,4 a
4,5 a
3,5 a
2,5 a
3,9 a
K
20,3 a
25,3 a
22,9 a
24,2 a
26,7 a
32,7 a
41,0 a
35,7 a
35,3 a
45,7 a
10,8 b
14,2 b
13,8 b
12,3 b
24,3 a
20-40 cm
51,0 a
58,1 a
49,4 a
64,7 a
66,3 a
39,5 a
24,0 a
27,1 a
26,7 a
33,0 a
32,6 a
21,5 a
26,7 a
24,3 a
25,5 a
-3
H+Al
mmolc dm
Mg
0-20 cm
Ca
T
45,8 a
58,5 a
52,3 a
49,5 a
85,0 a
82,8 a
79,3 a
76,3 a
72,3 a 105,3 a
75,7 a 108,0 a
87,9 a 109,0 a
75,8 a 102,0 a
91,1 a 116,0 a
96,9 a 122,0 a
SB
* Médias seguidas da mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de significância.
28,4 b*
g dm
-3
M.O.
Indigófera ........
Manejo
54,4 a
71,8 a
65,3 a
65,7 a
68,3 a
69,6 a
80,8 a
73,4 a
78,7 a
79,0 a
%
V
Tabela 3. Análise química do solo das entrelinhas do pomar (profundidades 0-20 e 20-40 cm) sob sistemas de manejo do solo. Londrina (PR), 1995
180
CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
26,4 a
26,7 a
24,8 a
24,7 a
25,6 a
26,0 a
23,9 a
25,0 a
22,3 a
Amendoim rast.
Mucuna-cinza .
Roçad./Grade ..
Capina .............
Indigófera .......
Amendoim rast.
Mucuna-cinza .
Roçad./Grade ..
Capina .............
99,65 a
66,83 a
mg dm-3
P
5,06 a
4,91 a
4,76 a
4,76 a
4,94 a
4,89 a
5,14 a
14,83 a
9,18 a
46,10 a
14,30 a
37,15 a
30,65 a
39,65 a
4,96 a 135,30 a
5,21 a
5,28 a
pH
3,5 a
2,7 a
4,0 a
3,1 a
3,9 a
2,4 a
3,8 a
3,7 a
3,7 a
3,4 a
K
41,9 a
29,4 a
34,3 a
31,8 a
13,9 b
11,6 b
11,6 b
12,5 b
48,7 a
48,2 a
61,2 a
57,1 a
53,4 a
20-40 cm
38,2 a
13,4 a
46,9 a
58,9 a
42,5 a
44,8 a
52,5 a
19,1 a
14,8 a
22,9 a
20,1 a
13,8 a
34,5 a
49,8 a
44,3 a
51,1 a
55,8 a
H+Al
mmolc dm-3
Mg
0-20 cm
Ca
T
59,5 a 107,8 a
43,5 a
91,8 a
49,8 a 111,0 a
47,3 a 104,5 a
55,8 a 109,0 a
50,5 a 103,3 a
72,8 a 119,8 a
63,0 a 121,8 a
77,8 a 120,0 a
79,5 a 124,3 a
SB
* Médias seguidas da mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente, pelo teste de Tukey, a 5% de significância.
26,9 a*
g dm-3
M.O.
Indigófera .......
Manejo
54,9 a
47,5 a
45,1 a
45,3 a
50,8 a
48,0 a
60,8 a
51,2 a
62,6 a
63,4 a
%
V
Tabela 4. Análise química do solo da projeção da copa do pomar (profundidades 0-20 e 20-40 cm) sob
sistemas de manejo do solo. Londrina (PR) ,1995
SISTEMAS DE MANEJO DE SOLO EM POMAR DE TANGERINA...
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LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p. 167-184, 2001
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CARMEN SILVIA V. J. NEVES e ANTONIO ROQUE DECHEN
A análise química do solo, realizada dez anos depois da instalação
do experimento, para as entrelinhas do pomar (Tabela 3) indicou que os
teores de nutrientes para as duas profundidades analisadas também não
foram alterados pelo manejo do solo. Entretanto, o teor de matéria orgânica do solo na profundidade 0-20 cm aumentou com amendoim-rasteiro
e com roçadeira/grade, refletindo a boa contribuição em massa verde
desses tratamentos. O teor de matéria orgânica passou de 29,2 g dm-3, no
início do experimento, para 35,3 g dm -3 com amendoim-rasteiro e para
31,0 g dm-3 com roçadeira/grade. Os tratamentos de indigófera e mucuna-cinza mantiveram aproximadamente o mesmo teor, enquanto o solo com
capina teve o teor de matéria orgânica diminuído em relação às condições do início do pomar.
Na projeção da copa dos citros (Tabela 4), os tratamentos não apresentaram diferenças para a análise química do solo, em vista das condições iguais que os tratamentos tiveram nesse local, pois todos eram capinados na linha de plantio.
Comparando-se a análise química na profundidade 0-20 cm das
entrelinhas (Tabela 3) com a da projeção da copa (Tabela 4), verifica-se
que na projeção da copa os valores de pH, Ca, Mg e soma de bases (SB) são
menores, e o valor de H+Al é mais alto, provavelmente em função da
dificuldade de espalhar o calcário mecanicamente na região. Da mesma
forma, na projeção da copa, observam-se maiores valores de P e K, indicando o local das adubações, realizadas manualmente. A matéria orgânica
do solo tem valores menores na projeção da copa do que na entrelinha para
todos os tratamentos, indicando que a contribuição em material vegetal das
plantas cítricas é menor do que a contribuição dos outros tratamentos testados.
5. COMENTÁRIOS FINAIS
É importante escolher um sistema de manejo do solo que garanta
boa produção para os citros e que ajude também na conservação do solo.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p.167-184, 2001
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Com esse objetivo, a adubação verde na estação chuvosa é uma prática
que se tem mostrado eficiente.
Os resultados aqui apresentados sobre sistemas de manejo de solo
utilizados em latossolo roxo, em Londrina (PR), apresentaram pequenas
diferenças para a produção de tangerina ‘Ponkan’ sobre limão ‘Cravo’.
A qualidade de frutos não teve diferenças. Amendoim-rasteiro e roçadeira/
grade aumentaram o teor de matéria orgânica do solo na camada de 0-20 cm.
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