recursos minerais metlicos no-renovveis

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recursos minerais metlicos no-renovveis
ENG06631-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos-I A - 2007/1
Nestor Cezar Heck / DEMET - EE - UFRGS
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3 - GEOGRAFIA POLÍTICA DOS RECURSOS MINERAIS
3-1. Elementos químicos na crosta terrestre
“Metais e água são os dois alvos mais promissores da exploração inicial dos recursos do
espaço sideral. Uma fonte de metais, no espaço, são os asteróides ferrosos próximos da Terra, que
contêm Fe como constituinte principal e Ni e Co como constituintes menores.” 1
Enquanto a citada exploração espacial não acontece, todos os metais que produzimos
industrialmente, à exceção do Mg – retirado da água do mar, mas que também pode ser extraído de
um mineral (como é feito no no Brasil) –, têm origem na região superficial sólida do nosso planeta, a
crosta terrestre 2.
A crosta contém virtualmente ‘todos’ os elementos químicos, porém, a abundância de cada um
deles varia de forma descomunal, Figura 3-1. É comum a apresentação da abundância em termos de
massa. A faixa de valores – como nos demais casos – é ampla, desde alguns pontos percentuais até
poucas partes por milhão, como, por exemplo, os metais Al, com 8,1 [%], e o W, com 1 [ppm] em
massa; a Tabela 3-1 mostra os elementos mais abundantes na crosta e no mar.
Elementos formadores
de rochas: principais
(região cinza escuro) e
secundários (região cinza
claro)
Elementos
formadores de
‘terras raras’
(em cinza)
Metais (e metalóide)
muito raros (região
cinza claro)
Número atômico, Z
Fig. 3-1. Abundância relativa dos elementos (número de átomos do elemento para 1 E6 átomos de
Si) na crosta continental superior em função do numero atômico; estão destacados por
manchas: os elementos formadores de rochas e os elementos muito raros; em negrito: os
metais de grande relevância industrial (produção mundial maior do que aproximadamente
3x10 7 [kg/ano]); e, em itálico: os metais preciosos
Fonte: http://pubs.usgs.gov/fs/2002/fs087-02/images/fig04.gif
Não se deve esquecer que um ordenamento – como, por exemplo, a abundância dos
Subra Muralidharan, Dept. de Química, Western Michigan University; http://www.finds-space.org/Murali.html
A crosta terrestre, a capa sólida exterior do nosso planeta, tem uma espessura entre 35 a 70 [km] nos continentes e 5 a
10 [km] no fundo dos oceanos
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elementos na crosta terrestre – com base na massa pode dar uma idéia distorcida da ‘quantidade’ –
embora o mesmo problema também se repita com quaisquer outros índices como, por exemplo, o
volume.
Crosta
[%, massa]
O 46,6
Si 27,1
Al 8,1
Fe 5,0
Ca 3,6
Na 2,8
K 2,6
Mg 2,1
Ti 0,46
H 0,22
C 0,03
Mar
[%, átomos]
O 85.84
H 10,82
Cl 1.94
Na 1,08
Mg 0,1292
S 0,091
Ca 0,04
K 0,04
Br 0,0067
C 0,0028
Corpo humano
[%, massa]
H 62,9
O 25,4
C 9,5
N 1,4
Ca 0,31
P 0,22
Cl 0,03
K 0,06
S 0,05
Na 0,03
Mg 0,01
Tab. 3-1. Abundância aproximada dos principais elementos químicos na crosta terrestre, no
mar e no corpo humano
Fonte: http://icg.harvard.edu/~chem15/lectures/1_nuclear.pdf e http://en.wikipedia.org/wiki/Sea_water
O perfil multifacetado da nossa civilização necessita dessa ampla diversidade de elementos
químicos, isoladamente ou na forma de compostos químicos, ligas metálicas, etc.
Materiais metálicos de grande uso são produzidos a partir de elementos abundantes, baratos, e
com propriedades adequadas para a construção de máquinas e equipamentos, etc. Materiais caros,
para os quais as propriedades (ou funções) são muito mais importantes que o preço, podem fugir
dessa diretriz, mas, normalmente, são usados em menor quantidade.
De qualquer modo, genericamente, a produção dos metais tende a refletir: (i) as dificuldades
intrínsecas dos procedimentos da indústria extrativa e (ii) o quanto a sociedade esta disposta a pagar
para poder utilizar um determinado metal.
3-2. Classes químicas das fontes minerais
Os elementos presentes na crosta terrestre – com raras exceções – estão combinados
formando compostos. Os elementos formadores de rochas já foram destacados na Fig. 3-1; na
Tabela 3-3 podem ser vistos os principais compostos da classe dos óxidos, que constituem 99,2% de
qualquer rocha da crosta (sobre os continentes, a crosta é chamada sial – por causa da sílica e alumina
– e, sobre o leito dos oceanos, sima – por causa da sílica e magnésia, embora contenha também
óxidos de ferro).
Composto
SiO2 Al2O3 CaO MgO Na2O FeO K2O Fe2O3 H2O TiO2 P2O5
Teor [%, massa] 59,71 15,41 4,90 4,36 3,55 3,52 0,18 2, 63 1,52 0,60 0,22
Tabela 3-2. Onze óxidos que compõem 99,22 % de todas as rochas da crosta, segundo
o geoquímico norte-americano F.W. Clarke
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Earth
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3-3. Províncias minerais metálicas
Ainda não temos tecnologia capaz de extrair industrialmente os metais nas concentrações
existentes na crosta. Nessas condições, o preço dos metais – excetuando-se talvez o Fe e o Al – seria
igual ou maior do que os preços atuais do Au e da Ag. Os teores ‘de corte’ – uma das ‘fronteiras’ na
definição de reserva – são, normalmente, várias vezes mais elevados do que aqueles das respectivas
abundâncias. Para a nossa sorte, alguns fenômenos naturais concentram os metais em depósitos
minerais. A metalogênese – ramo da Ciência que estuda esses fenômenos – classifica-os em quatro
grandes grupos:
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
processos magmáticos;
processos hidrotermais;
processos sedimentares;
intemperismo e erosão.
Os depósitos (e as reservas) se localizam em regiões limitadas – muitas vezes montanhosas –
espalhadas sobre a face da Terra, chamadas províncias minerais metálicas.
Em 1967, uma equipe de geólogos que sobrevoava a Amazônia a bordo de um helicóptero (a
serviço da companhia siderúrgica norte-americana United States Steel) em busca de manganês
descobriu o que, depois, se denominou Projeto Carajás, Figura 3-4. Ele constitui uma das províncias
minerais metálicas mais recentemente descobertas e importantes do planeta. Algumas, muito antigas,
já foram exploradas até a exaustão como, por exemplo, a província Erzgebirge (literalmente,
montanhas de minérios), na Alemanha.
Metal
Fe
Mn
Cu
Al
Ni
Sn
W
Au
Reserva
Teor
[t]
[%, massa]
17 800 000 000
66,1
70 000 000
43,0
2 000 000 000
1,0
4 000 000 000
35,0
100 000 000
1,7
11 000
66,0
1 000 000
1,0
100
8*
*[g/t]
Tab. 3-3. Potencial mineral metálico de Carajás
Em 1970, os minérios da Serra dos Carajás, no leste do Pará já tinham sido identificados,
Tabela 3-3, e a empresa Amazônia Mineração S.A., que associava empresas estrangeiras com a
Companhia Vale do Rio Doce (hoje sob o nome de Vale), foi constituída. Ao final dos anos 70, a
companhia Vale pagou uma vultosa indenização às suas parceiras, assumindo o controle total do
empreendimento, lançando o Programa Grande Carajás.
Além do ferro, a região também é rica em outros metais. O nome do distrito mineral
Paragominas está ligado ao alumínio, contudo, outras áreas na região norte (Oriximaná, Almeirim e
Tiracambú) também devem ser lembradas como detentoras de grandes reservas desse metal.
Por fim, normalmente grandes obras de engenharia estão associadas com as províncias
minerais, especialmente se elas estão localizadas em regiões economicamente pouco desenvolvidas.
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Fig. 3-4. Localização aproximada da província mineral Carajás e das regiões
associadas às reservas de alumínio, no mapa parcial da região norte do
Brasil
Fonte: ttp://allchemy.iq.usp.br/pub/metabolizando/bb57004i.doc
3-4. A distribuição dos metais na Terra e seus efeitos
O grupo líder dos países industrializados do planeta, auto intitulado ‘G-8’, composto por:
Canadá, EUA, Rússia, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália (além dos países europeus
participantes, a União Européia tem um representante com o status de ‘observador’), detém algo em
torno de 60% do produto interno bruto (PIB) mundial. Estes países têm como característica, o consumo
de grandes quantidades de matéria-prima, dentre as quais se encontram os minérios.
Para contraste, a Tabela 3-4 mostra a distribuição política das reservas mais importantes de
alguns metais básicos sobre a superfície da Terra.
Cr
Kasaquistão 290 000
África do Sul 100 000
Índia 25 000
Mundo 810 000
Cu
Chile 140 000
EUA 35 000
Indonésia 35 000
Mundo 470 000
Ni
Austrália 22 000
Cuba 5 600
Rússia 6 600
Mundo 62 000
Austrália
China
Índia
Mundo
Mn
Fe**
Índia 93 000
Brasil 14 000
Ucrânia 140 000
Rússia 14 000
China 40 000
Austrália 11 000
Mundo 380 000
Mundo 80 000
*Ilmenita, massa equivalente de TiO2
**Fe contido, em milhões de toneladas
Sn
China 1700
Malásia 1 000
Peru
700
Mundo 6 100
China
Canadá
Rússia
Mundo
Ti*
200 000
200 000
85 000
660 000
W
1 800
260
250
2 900
Austrália
China
EUA
Mundo
Pb
15 000
11 000
8 100
67 000
Zn
China 33 000
Austrália 33 000
EUA 30 000
Mundo 220 000
Tab. 3-4. Reservas mundiais de alguns dos principais metais e sua distribuição por países (estão
mostradas apenas as três primeiras posições), em milhares de toneladas
Fonte: diferentes arquivos do ‘Mineral Commodity Summaries’ do ano 2005, disponíveis em:
http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/
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Dentre os países do G8, o Japão possui reservas significativas de apenas alguns metais de
que necessita, Tabela 3-5. Por causa disso, importa uma quantidade expressiva de minérios, metais e
matérias-primas intermediárias, Tab. 3-6.
Cu
40
Au [t]
180 000
Pb
600
Ag
2 400
Zn
3 200
Tab. 3-5. Reservas do Japão, em 2001, em milhares de toneladas (exceto Au)
Fonte: http://minerals.er.usgs.gov/minerals/pubs/country/asia.html#ja
Elem.
Forma
Al
minério
metal
Cr
Cu
Massa [t]
Exportadores
2 000 Austrália 1 000; Indonésia 1 000
2 605 000 Rússia 695 000; Austrália 624 000; Brasil 257 000
min./conc.
501 727 África do Sul 297 075; Índia 107 998; Irã 33 957
Fe-Cr
776 327 Kasaquistão 114 222; África do Sul 424 616; Zimbabue 73 561
min./conc.
4 469 000 Chile 1 898 000; Indonésia 1 024 000; Canada 528 000
metal
198 916 Singapura 27 944; Malásia 22 097; Filipinas 19 352; EUA 16 036
minério
122 000 Austrália 71 000; Brasil 24 000; Índia 17 000
metal
321 000 EUA 58 000; Taiwan 57 000; Rússia 35 000; Austrália 21 000
gusa
919 000 China 520 000; Brasil 128 000; África do Sul 114 000
Pb
min./conc.
185 584 EUA 76 122; Austrália 52 785; Peru 22 632; Bolívia 16 816
Mg
metal
38 221 China 30 546; Noruega 5 828
Mo
ustulado
32 389 Chile 14 127; China 4 500; EUA 4332
Mn
metal
43 270 China 33 491; África do Sul 8 494
Sn
metal
32 483 China 13 675; Indonésia 10 571; Tailândia 4 681
Ni
matte
Zn
min./conc.
Fe
111 690 Indonésia 73 536; Austrália 38 154
1 063 000 Austrália 450 000; Peru 149 000; EUA 136 000; Canadá 84 000
Tab. 3-6. Importações do Japão (significativas para o ramo metalúrgico), no ano 2000, com
origem discriminada por país
A origem desses materiais chama a atenção, Tab. 3-6, pois eles provêm de muitos países, de
todos os continentes.
A participação do Brasil como exportador de minério de Fe, ferro metálico e de alumínio,
como se pode ver, não é decisiva para o país importador, mas é significativa para o Brasil. Analisada
em maior profundidade, ela revela ao menos dois aspectos interessantes. Em primeiro lugar, é o
resultado de um importante empenho de desenvolvimento de mercado, que incluiu até a criação de
uma empresa de transporte marítimo, a Docenave, em 1962, capaz de colocar minério de ferro com
preços competitivos com aqueles da Austrália nos portos do Japão. Em segundo, mostra um esforço do
gigante industrial do oriente para amenizar os efeitos da sua situação de dependência em relação às
matérias-primas (o tema será expandido, genericamente, mais adiante) – no Brasil, o Japão participa
ativamente de empreendimentos muito significativos nas áreas de mineração e metalurgia.
O grau de dependência dos países industrializados em matérias-primas pode ser
exemplificado usando-se dados sobre os Estados Unidos, Tabela 3-7.
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Elemento / min.
Bauxita e alumina
Nb
Mn
V
Pt
Ti (concentrado)
Ta
Sn
Co
W
Pd
Cr
Ag
Zn
Re
Be
Mg
Ti (esponja)
Ni
Sb
Al
Cu
Pb
Fe
minério de Fe
Dep. [%]
100
100
100
100
93
82
80
79
75
70
69
63
61
60
59
55
54
54
43
41
39
37
18
14
11
25
Maiores fornecedores (1998-2001)
Austrália, Guine, Jamaica, Brasil
Brasil, Canada, Alemanha, Estônia
África do Sul, Gabão, Austrália, México
África do Sul, Canada, China, República Tcheca
África do Sul, Reino Unido, Alemanha, Rússia
África do Sul, Austrália, Canada, Ucrânia
Austrália, China, Japão, Tailândia
Peru, China, Indonésia, Brasil, Bolívia
Finlândia, Noruega, Rússia, Canada
China, Rússia
Rússia, África do Sul, Reino Unido, Bélgica
África do Sul, Kasaquistão, Zimbabue, Turquia, Rússia
Canada, México, Peru, Reino Unido
Canada, México, Kasaquistão
Chile, Kasaquistão, Alemanha, Rússia
Kasaquistão, Rússia, Brasil, Filipinas
Canada, China, Rússia, Israel
Japão, Rússia, Kasaquistão
Canada, Noruega, Rússia, Austrália
China, México, Bélgica, África do Sul, Hong Kong
Canada, Rússia, Venezuela, México
Canada, Chile, Peru, México
Canada, México, Austrália, Peru
União Européia, Canada, Japão, México
Canada, Brasil, Austrália, Venezuela
Tab. 3-7. Grau de dependência dos EUA, em 2002, com relação a alguns metais e
minérios de metais (em ordem decrescente), e os maiores fornecedores
Fonte: http://minerals.er.usgs.gov/minerals/pubs/mcs/2003/mcs2003.pdf
A pressão exercida pelo elevado grau da dependência de parte dos países industrializados em
algumas matérias-primas metálicas acabou por fazê-los tomar algumas medidas preventivas ou
remediadoras, capazes de livrá-los dessa situação de dependência ou, ao menos, amenizar os seus
efeitos, dentre elas:
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
contratos comerciais;
financiamentos condicionados a fornecimentos;
joint-ventures;
posse de jazidas;
controle de preços no mercado internacional (LME, COMEX);
estoques reguladores (estratégicos?);
substituições; e
guerras.
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Um exemplo muito significativo desse tipo de problema é dado pelo metal Cr, Tabela 3-8.
Material
Minério (cromita)
Químico
Metalúrgico
Refratário
Fe-Cr
Fe-Cr-Si
Fe-Cr-AC
Fe-Cr-BC
Cr metálico
Aluminotérmico
Eletrolítico
2000
2001*
Variação**
Quantidade [t]
%
203 000
193 000
241 000
203 000
193 000
241 000
0
0
0
0
0
0
34 200
615 000
270 000
31 600
615 000
295 000
-2 630
0
-10 900
-8
0
-4
2 500
5 050
2 370
5 050
-125
0
-5
0
* Dados estimados; ** Em relação ao ano 2000
Tab. 3-8. Inventário anual e variação dos estoques do governo dos E.U.A. para o Cr e materiais que
contenham Cr, na virada do século XX (inclui materiais com e sem especificação; dados
arredondados para, no máximo, três dígitos significativos)
Fonte: http://minerals.er.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/chromium/chromyb01.pdf
Como os metais competem naturalmente entre si (e com outros materiais) quanto ao seu
emprego na confecção de objetos, máquinas, veículos ou construções, a substituição também pode ser
considerada, por um determinado país, como um instrumento de alívio do grau de dependência em um
dado metal ou grupo de metais.
A substituição, contudo, tem casos críticos, pois nem sempre é total, e leva tempo para ser
implementada. Veja, por exemplo, algumas conclusões do governo norte-americano após um estudo 1
sobre as possibilidades de substituição do metal cromo:
ƒ O minério cromita não tem sucedâneo na produção de ferrocromo, produtos químicos
contendo Cr ou refratários à base de cromita.
ƒ O Cr é insubstituível no aço inoxidável – o seu maior uso final – ou em superligas – o maior
uso final com objetivos ‘estratégicos’.
ƒ Sucata contendo cromo pode substituir o ferrocromo em aplicações metalúrgicas.
ƒ Substitutos para ligas contendo cromo, produtos químicos contendo Cr ou refratários à
base de cromita geralmente aumentam o custo ou limitam a performance.
ƒ Em 1978, a Academia Nacional de Ciências concluiu que a substituição de produtos
contendo cromo por materiais sem cromo poderia economizar cerca de 60% do cromo
usado na produção de ligas, cerca de 15% do cromo usado em produtos químicos, e 90%
da cromita usada em refratários, dando-se um prazo de 5 a 10 anos para o
desenvolvimento de sucedâneos tecnicamente aceitáveis e para a absorção do aumento
nos custos.
Em resumo, reservas de metais que possuem grande importância industrial ou na defesa, cujas
reservas estão em grande parte no estrangeiro, especialmente concentradas em um único país, não
possuem bons substitutos e nem fontes alternativas são considerados com atenção pelos países
industrializados.
As reações por parte dos países detentores de reservas (principalmente daquelas localizadas
em países do chamado ‘terceiro mundo’), visando o desenvolvimento harmônico das nações, são
1
http://minerals.er.usgs.gov/minerals/pubs/commodity/chromium/180303.pdf
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tipicamente: a cartelização e os acordos (incipientes ou formais) envolvendo o fornecimento de
matérias primas. Alguns exemplos de organizações criadas com essa finalidade podem ser citados:
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
Associação Internacional da Bauxita, IBA;
Conselho Intergovernamental dos Países Exportadores de Cobre, CIPEC;
Conselho Internacional do Estanho, ITC; e,
Cartel do Mercúrio (mantido, em 1920, pela Itália e Espanha).
O Brasil é o maior produtor de minério de ferro no mundo e o segundo maior produtor mundial
de bauxita, ficando atrás apenas da Austrália. O país também é um grande produtor de caulim, mineral
utilizado, entre outros, pela indústria papeleira, e vem intensificando, ultimamente, sua atuação nos
mercados de concentrado de cobre e na mineração de níquel e cobalto. A situação das reservas de
metais, em relação àquelas de outros países, pode ser vista na Tabela 3-9.
Posição
1o
3o
Mineral
Nióbio
Tantalita
Alumínio
Estanho
Participação [%]
91,1
49,4
8,1
12,4
4º
Manganês
3,0
5o
Ferro
Lítio
6,7
1,9
Tab. 3-9. Posição das reservas brasileiras em 2002 e sua participação, em
relação às reservas mundiais
Fonte: http://www.dnpm.gov.br/suma2002/Sumário%20Parte1(INTRODUÇÃO).doc
Além de países, empresas transnacionais também podem ter grande relevância neste tema;
um caso interessante é aquele apresentado pelo minério de ferro, onde três companhias detêm
praticamente todo o comércio de minério de ferro que é transportado por via marítima no mundo
(Tabela 3-10).
Companhia
Produção
Vale
Rio Tinto
BHP Billiton
Total
18,5
9,2
8,7
36,4
Comércio
marítimo
33
19
16
68
Tab. 3-10. Controle corporativo da produção e exportação de minério de ferro, em 2004
(participação em %, em relação aos valores mundiais)
Fonte: http://www.baffinland.com/investors/pdf/050930-iron-ore-industry-review-update.pdf
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Q3 – QUESTÕES E EXERCÍCIOS
3-1. Elementos químicos na crosta terrestre
Questão 3-1.1 Os meteoritos ferrosos (entre outros fatores) nos fazem supor que o núcleo (intangível)
do nosso planeta seja metálico. Assim, já houve quem comparasse o planeta inteiro
com um imenso reator metalúrgico – como se explicaria essa idéia?
Questão 3-1.2 Qual é a base da classificação da abundância, na Figura 3-1?
Exerc. 3-1.1
A Tabela 3-1 mostra a abundância (concentração em massa) dos elementos na crosta
terrestre. Se considerarmos apenas os elementos: O, Si, Al, Fe, Ca, Na, K, Mg, Ti, etc.,
quanto haveria do elemento “etc.”?
Exerc. 3-1.2
Em 1 tonelada de rocha, o que significam esses valores: 8,1 [%] e 1 [ppm], em
quilogramas e gramas, respectivamente?
Exerc. 3-1.3
A crosta terrestre contém quantidades imensas de metais – mesmo daqueles contidos
em menor concentração como, por exemplo, o Sn, com ~2 [ppm]. Calcule quantas
toneladas de Sn existem em ‘apenas’ 1 [km3] de rochas da crosta (considere apenas a
rocha granito – material continental típico – que tem uma densidade variável, entre 2,7
e 3,0 [g/cm3]).
Exerc. 3-1.4
Em 3 333 [t] de crosta terrestre encontram-se cerca de 270 [t] de Al, ou seja,
aproximadamente 100 [m3] desse metal. Calcule o volume [m3] de Fe, Mg e Ti que há
em 3 333 [t] de crosta, preencha a Tabela Q3-1, e mostre qual seria o novo
ordenamento da abundância dos primeiros metais se ele fosse tomado com base no
volume.
Metal
(massa)
Al
Fe
Mg
Ti
Abundância
[%, massa]
Densidade*
[g/cm3]
Massa
[t]
Volume
[m3]
2,7
7,874
1,74
4,54
270
100
8,1
5,0
2,1
0,46
Ordem
(base:
volume)
* à temperatura de 300 [K]
Tabela Q3-1. Massa e volume de alguns metais contidos em 3 333 [t] de crosta
Exerc. 3-1.5 Busque dados sobre a produção anual dos metais na literatura. Escreva, para cada um
deles, sobre a Figura. Q3-1, o símbolo químico para denotar aproximadamente a
produção em função da abundância na crosta (base: massa). Use os limites dados
pelas linhas como guia. Procure entender o resultado com base nos comentários feitos
no texto, ao final do tópico 3-1.
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Fig. Q3-1. Produção dos metais em função da abundância dos elementos na crosta
3-2. Classes químicas das fontes minerais
Questão 3-2.1 A composição dos minerais da crosta terrestre reflete basicamente dois fatos; quais
são eles?
Exerc. 3-2.1
Assinale, na Tabela Q3-2, com um ‘X ’, a(s) classe(s) química(s) do(s) minerais do(s)
qual(is) os metais são extraídos.
Fonte
Metal:
Ag Al
Au Co Cu Cr Fe Hg Mo Mg Mn Nb Ni
Pb Sn Ti
V
Óxido \ hidróxido
Sulfeto
Oxi-sal*
Arsenieto
Metal (nativo)
Íon (água do mar)
* Inclui carbonatos, silicatos, óxidos mistos, etc.
Tab. Q3-2. Classes químicas das fontes minerais dos metais
Questão 3-2.2 Observando a Tabela Q3-2, o tu poderias concluir (a respeito dela própria, e de uma
comparação dos seus dados, com os dados da Tab. 3-2)?
W
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3-3. Províncias minerais metálicas
Exerc. 3-3.1
Observe a Tabela Q3-3 e calcule o fator de concentração tendo em vista o teor que um
metal apresenta numa reserva em relação ao seu teor na crosta.
Metal
Al
Fe
Mn
Cr
Zn
Ni
Cu
Pb
Sn
Teor na crosta
[%, massa]
8,23
5,36
0,1
0,096
0,007
0,007
0,0055
0,0013
0,0002
Teor de corte
[%, massa]
30
25
15
15
4
1
0,4
4
0,5
Fator de
concentração
Tab. Q3-3. Teores na crosta, teores mínimos nas reservas e fator de concentração
para alguns metais escolhidos
Fonte: Bodsworth, C.; The Extraction and Refining of Metals
Exerc. 3-3.2
Localize sobre o mapa (Figura Q3-1) algumas províncias minerais que são (ou foram)
importantes para a civilização ocidental e comente o resultado.
1-Midlands (Inglaterra);
2-Erzgebirge (Alemanha);
3-Platô centro-africano (Zimbabue e Zaire);
4-Witwatersrand (África do Sul);
5-Escudo canadense (Canadá);
6-Montanhas Rochosas (EUA);
7-Lago Superior (EUA);
8-Andes (Bolívia e Chile);
9-Quadrilátero Ferrífero (MG);
10-Carajás (PA);
11-Paragominas (PA)
Fig. Q3-1. Províncias minerais metálicas do ocidente
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Exerc. 3-3.3
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Verifique, na Tabela 3-3, o potencial mineral metálico de Carajás – em termos de
espécies, quantidade e teores –, depois compare os dados referentes ao estanho com
os valores já vistos anteriormente, e comente.
Questão 3-3.1 Além de dois minerodutos (um na região sudeste – associado ao ferro – e outro na
região norte – associado ao alumínio), outras obras de infra-estrutura já foram
construídas em associação com as províncias minerais brasileiras. Observe o mapa
mostrado na Figura 3-4 e responda: quais são as três grandes obras da engenharia
civil executadas em função da província e distrito minerais de Carajás e Paragominas
(a última associada com o alumínio de Oriximaná),
Questão 3-3.2 Qual a obra associada ao ‘Quadrilátero ferrífero’?
3-4. A distribuição dos metais na Terra e seus efeitos
Questão 3-4.1 Compare os países do grupo G8 com as reservas (Tabela 3-4) e responda: como se
poderia classificar a distribuição política dos metais na terra?
Questão 3-4.2 Observe a Tabela 3-4 e responda: em que grau os metais se repetem nas províncias
minerais? (Compare com o comentário solicitado no Exercício 3-3.2)
Exerc. 3-4.1
Analise as importações (Tabela 3-6) do Japão no ano 2000; depois, use o mapa mundi
(Figura Q3-2) e trace, sobre ele, linhas para denotar o fluxo de massa em direção ao
Japão.
Fig. Q3-2. Fluxo de metais, minérios e substâncias similares em direção ao Japão
Exerc. 3-4.2
O Japão participa ativamente de empreendimentos muito significativos nas áreas de
mineração e metalurgia no Brasil. Por outro lado, o Brasil teve atitudes pró-ativas
nessa interação, tendo inclusive criado a empresa de transporte marítimo Docenave.
Faça uma pesquisa para conhecer esse tema mais profundamente.
Exerc. 3-4.3
Analise o grau de dependência dos EUA em 2002 (Tabela 3-7) em relação aos metais
e minérios de metais e comente.
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Questão 3-4.3 Uma lista de ações tomadas pelos países industrializados, visando a garantia de
suprimentos de recursos minerais metálicos, foi vista no texto; tu saberias explicar
todas elas?
Questão 3-4.4 A qual tipo de ação corresponde aquela mostrada na Tabela 3-8?
Questão 3-4.5 “Em princípio, um país que detenha ‘todos’ os recursos minerais metálicos de um certo
metal determina o seu preço.” Essa afirmação é correta? Pondere-a, usando como
exemplo as reservas do metal nióbio no Brasil, mostradas na Tabela 3-9.
Exerc. 3-4.4 Procure conhecer melhor as três empresas citadas na Tabela 3-10; veja onde estão as
suas reservas, quais são e onde se localizam as suas subsidiárias, e quanto produzem
anualmente.

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