2009 - Crea-GO

Transcrição

2009 - Crea-GO
CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA,
ARQUITETURA E AGRONOMIA DE GOIÁS
COMPÊNDIO DOS TRABALHOS PREMIADOS
Goiânia, 2010
FICHA CATALOGRÁFICA:
P 925 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2009: compêndio dos trabalhos
premiados / Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de Goiás. Goiânia : CREA, 2010. (260 páginas)p. : il., color.,
grafs., tabs.
Bibliografia.
1. Meio ambiente – Goiás 2. Proteção ambiental – Goiás 3. Desenvolvimento sustentável – Goiás I. Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia de Goiás.
CDU: 502.3(817.3)
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
COMISSÃO ESPECIAL DE JULGAMENTO
MODALIDADES URBANISMO E SANEAMENTO
• Arquiteta e Urbanista MARIA LUISA GOMES ADORNO
• Arquiteto MAURÍCIO MARQUES DE FARIA
• Engenheiro Civil JOSÉ VICENTE GRANATO DE ARAÚJO
• Engenheiro Sanitarista OSMAR MENDES FERREIRA
MODALIDADES GEOLOGIA E MINAS / PRODUÇÃO LIMPA
• Técnica em Mineração JULIANA PAULA GONZAGA
• Engenheiro de Minas AUGUSTO CÉSAR GUSMÃO LIMA
• Técnico em Mineração RODOLFO PINTO DE MENDONÇA
• Engenheiro Eletricista MARCOS ANTÔNIO CORRENTINO
MODALIDADES PRODUÇÃO AGRONÔMICA E MEIO AMBIENTE
• Engenheiro Agrônomo MARCOS TEIXEIRA
• Engenheira Florestal RAQUEL DE FÁTIMA BOAVENTURA
• Técnico em Agropecuária VALDIVINO ETERNO LEITE
• Engenheiro Agrônomo ODILON CLARO DE LIMA
• Engenheiro Agrônomo MÁRCIO NAVES
MODALIDADE IMPRENSA
• Engenheiro Agrônomo JOÃO DE DEUS DE SOUZA BERNARDINO
• Engenheiro Florestal DANIEL DEMORI
• Jornalista JOÃOMAR CARVALHO DE BRITO NETO
• Jornalista LÍDIA NOGUEIRA
MODALIDADE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
• Engenheiro Agrônomo JOEL CECÍLIO
• Engenheiro Civil IDALINO SERRA HORTÊNCIO
• Engenheira Agrônoma VALDETE VAZ TRONCHA
• Engenheiro Civil DIOGO VELOSO NAVES NETO
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DO CREA-GO / 2009
Efetivos:
Engenheiro de Minas AUGUSTO CÉSAR GUSMÃO LIMA
Engenheiro Agrônomo JOÃO DE DEUS DE SOUZA BERNARDINO
Engenheiro Agrônomo JOEL CECÍLIO
Engenheiro Agrônomo MARCOS TEIXEIRA (Coordenador)
Arquiteta MARIA LUISA GOMES ADORNO
Engenheiro de Computação e Segurança do Trabalho ROBSON IWAMOTO RIBEIRO DA
COSTA
Técnico Agropecuário VALDIVINO ETERNO LEITE
Suplentes:
Engenheiro Civil DIOGO VELOSO NAVES NETO
Arquiteto SÉRGIO EDWARD WIEDERHECKER
Geólogo WANDERLINO TEIXEIRA DE CARVALHO
Arquiteto MAURÍCIO MARQUES DE FARIA
Engenheiro Civil EDÉSIO DAHER FILHO
Técnica em Mineração JULIANA PAULA GONZAGA
DIRETORIA DO CREA-GO / 2009
PRESIDENTE:
Engenheiro Civil GERSON DE ALMEIDA TAGUATINGA
1º VICE-PRESIDENTE: Engenheiro Agrônomo CELEN REZENDE
2º VICE-PRESIDENTE: Engenheiro Eletricista LUIZ CARLOS CARNEIRO DE OLIVEIRA
1º SECRETÁRIO:
Arquiteto LUCIANO MENDES CAIXETA
2º SECRETÁRIO:
Técnico em Agrimensura ANTÔNIO DE PÁDUA FERREIRA
1º TESOUREIRO:
Engenheiro Florestal DANIEL DEMORI
2º TESOUREIRO:
Engenheiro Civil RICARDO LUIZ MACHADO
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Apresentação
Este compêndio apresenta os projetos e/ou programas vencedores do
Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente em 2009. A oitava edição do prêmio recebeu
87 indicações. Foram nove projetos agraciados e duas menções honrosas concedidas
pela Comissão Julgadora, divididos em nove modalidades: Arquitetura, Urbanismo,
Saneamento, Geologia e Minas, Produção Agronômica, Produção Limpa, Meio Ambiente Rural, Educação Ambiental e Imprensa.
Os trabalhos premiados foram apresentados à sociedade em cerimônia
realizada no dia 19 de novembro de 2009, no Oliveira`s Place, com a presença de 1200
convidados, dentre autoridades dos poderes executivo, legislativo, judiciário, federal,
estadual e municipal, representantes de entidades de classe não governamentais, representantes de instituições de ensino, representantes da imprensa goiana, presidentes de Creas, conselheiros federais e regionais, inspetores da Autarquia Goiana.
O Crea-GO instituiu o prêmio, em 2001, com o objetivo de conhecer e reconhecer aqueles que, por meio de suas iniciativas, defendem e lutam pela recuperação, preservação e conservação do meio ambiente. Por isso, premia pessoas físicas,
jurídicas, entidades de classe, Ongs, órgãos governamentais – municipais, estaduais e
federais – e veículos de comunicação do Estado.
O Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente mostra as soluções apontadas pelos profissionais e sociedade goiana em prol do meio ambiente. Todos os trabalhos
vencedores têm aplicabilidade dentro do Estado e são considerados projetos modelos para se atingir uma geração que já está dando os primeiros passos em busca da
prática do desenvolvimento sustentável.
Este compêndio é uma ferramenta importante que valoriza os trabalhos
premiados e também reconhece a dedicação e criatividade dos profissionais premiados. Este livro será distribuído às instituições de ensino técnico e superior do Estado,
às entidades de classe, autoridades políticas, Creas, bibliotecas e veículos de comunicação. A publicação deste compêndio é mais uma contribuição do Crea de Goiás
para promover a educação ambiental no Estado. Por isso, podemos afirmar que é uma
compilação de textos que beneficia a sociedade na sua qualidade de vida. Boa leitura!
Goiânia, agosto de 2010
Eng. Civil Gerson de Almeida Taguatinga
Presidente
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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SUMÁRIO
Menção Honrosa......................................................................................................09
Projeto: Viabilidade Economica da Individualização do Fornecimento de Água
em Condomínios de Goiânia, Goiás.
Premiados: Divino Lázaro de Souza Aguiar; Eduardo Queija de Siqueira; Ricardo
Prado Abreu Reis
Menção Honrosa......................................................................................................29
Projeto: Implantação do Parque Municipal Natural Cascavel
Premiadas: Agência Municipal do Meio Ambiente - AMMA e Prefeitura Municipal
de Goiânia
Prêmio Modalidade Urbanismo...............................................................................55
Projeto: Calçada Consciente
Premiadas: Consciente Construtora e Bambuí Negócios Imobiliários
Prêmio Modalidade Saneamento............................................................................69
Projeto: Saneamento Básico Rural na Região do Entorno do Distrito Federal
Premiadas: Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Apoio à Agricultura Familiar – Rede Terra
Associação para o Combate à Exclusão Social e Preservação Ambiental – ACESPA
CHICO MENDES
Prêmio Modalidade Geologia e Minas....................................................................77
Projeto: Preservação das Águas Termais
Premiada: AMAT – Associação das Empresas Mineradoras das Águas Termais de
Goiás
Prêmio Modalidade Produção Limpa.....................................................................95
Projeto: Análise Econômica e Balanço Energético do Biogás em Granjas de Suínos
Premiados: João Carlos Umbelino Lira; Enes Gonçalves Marra; Elder Geraldo Domingues; José Antônio Nogueira Júnior; Lourenço Matias
Prêmio Modalidade Produção Agronômica.........................................................151
Projeto: Criação e estabelecimento de processos Agroecológicos no município
de Itapuranga - GO
Premiado: Joel Orlando Bevilaqua Marin; Gislene Auxiliadora Ferreira; Vanderson
Giotti; Fabiano Vargas; Simone Pereira da Carvalho; Ricardo de Siqueira Camargo
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Prêmio Modalidade Meio Ambiente Rural...........................................................191
Projeto: Disposição de Eluente de Estação de Tratamento de Esgoto Industrial
em Solo Vegetado com Bambu
Premiados: Rogério de Araújo Almeida; Roberto Magno de Castro e Silva;
Eurivan Alves Mendonça; Thiago Name Chaul; Miriam Amâncio de Lima
Prêmio Modalidade Educação Ambiental............................................................209
Projeto: Cidadania e Consciência Através da Educação Ambiental
Premiado: Leandro Penachio Moreira; Construções & Comércio Camargo Corrêa
S/A
Prêmio Modalidade Imprensa Escrita...................................................................235
Projeto: Cerrado: O Patrimônio que Resiste
Premiado: Vinícius Jorge Carneiro Sassine
Prêmio Modalidade Imprensa Televisão .............................................................247
Projeto: Central do Cerrado
Premiado: Programa Ação - TV Globo
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Menção
Honrosa
Projeto:
Viabilidade Economica da Individualização do Fornecimento de Água em
Condomínios de Goiânia, Goiás.
Premiados:
Divino Lázaro de Souza Aguiar;
Eduardo Queija de Siqueira;
Ricardo Prado Abreu Reis
VIABILIDADE ECONÔMICA DA INDIVIDUALIZAÇÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA EM CONDOMÍNIOS DE GOIÂNIA, GOIÁS
Divino Lázaro de Souza Aguiar ; Eduardo Queija de Siqueira ;
Ricardo Prado Abreu Reis
RESUMO
Dentre as tecnologias empregadas para uma melhor gestão do consumo
de água em edifícios está a individualização do fornecimento de água. Tal sistema
consiste na instalação de um medidor no ramal de alimentação de cada unidade consumidora, de modo que a medição e a cobrança sejam proporcionais aos volumes
realmente consumidos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito dos sistemas de
individualização de água sobre o consumo mensal em 288 condomínios residenciais
verticais situados na cidade de Goiânia - Goiás. A metodologia adotada para o desenvolvimento desta pesquisa incluiu o estudo da documentação utilizada pela concessionária local na implementação e contratação dos serviços de individualização
do fornecimento de água, bem como a avaliação dos dados disponíveis no sistema
comercial, de gerenciamento de consumidores e em contratos celebrados entre os
condomínios e as empresas individualizadoras. Como resultado foi traçado um perfil
temporal da implantação. Foi feita uma análise do consumo de água com diferentes
classes de consumo mostrando a redução média ocorrida em cada condomínio da
amostra selecionada de onde foi obtida uma média geral da redução da demanda
de 23,66%. Também é apresentado o tempo de retorno dos investimentos realizados
pelos condomínios que submeteram seus imóveis a reformas para a implantação desta modalidade de fornecimento de água, sendo encontrado o prazo de 57 meses em
média para amortização das despesas ocorridas com as modificações estruturais realizadas. Embora a pesquisa tenha apresentado evidências de redução da produção de
efluentes, independentemente da classe de consumo, o tempo de retorno em alguns
casos foi considerado de longo prazo, entretanto, na maioria deles foi possível conciliar redução da demanda com significativa economia para o condomínio.
Palavras-Chave – Medição individualizada de água, uso racional de água,
hidrômetros individuais, sistemas prediais.
Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Goiás – UCG; Tecnólogo em Gestão Ambiental; Funcionário da Saneamento
de Goiás S/A - SANEAGO; Rua Flemington, Nº 1120, Apto 404H, Vila Alpes, CEP: 74.310-290, Goiânia - Go, Tel. (62) 3256-4116; (62) 9637-0761;
Fax.: (62) 3522-2197; E-mail:[email protected].
Doutor em Engenharia dos Recursos Hídricos, Professor Adjunto da Escola de Engenharia Civil/Universidade Federal de Goiás – E-mail:
[email protected].
Mestre em Engenharia Civil e Professor da Escola de Engenharia Civil/Universidade Federal de Goiás – E-mail:[email protected].
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I - INTRODUÇÃO
Segundo Lovell (2001 apud DANTAS, 2003), existem projeções para os
próximos 50 anos de que a população mundial atingirá 9,3 bilhões de habitantes. Se
isto ocorrer, mais de 45% da população mundial ficará submetida à condições de disponibilidade hídrica inferiores às necessárias para a sobrevivência, equivalente a 50
litros por habitante/dia para satisfazer suas necessidades básicas. No Brasil há vários
estudos que endereçam o problema da escassez, perdas e desperdício de água e várias cidades enfrentam frequentes racionamentos como Olinda (PE), Recife (PE) e São
Paulo (SP).
Dentre as soluções técnicas que podem ser utilizadas para implementar
um processo de uso racional de água em edificações, pode-se citar a individualização dos sistemas de fornecimento de água. Este processo tem sido realizado pelas
construtoras e por administradores de condomínios residenciais, de acordo com as
normas das empresas concessionárias ou, quando existir, legislação específica promulgada pelo poder público local. Segundo Coelho (2007), tal processo consiste na
instalação de hidrômetro no ramal de alimentação de cada unidade habitacional, em
condomínios multifamiliares, de modo que seja medido todo o seu consumo, com a
finalidade de fazer a cobrança proporcional ao volume consumido e racionalizar o seu
uso.
A macromedição da unidade multifamiliar, bem como a micromedição
unitária, pode ser de forma convencional ou remota. O sistema convencional adota a
leitura direta onde um funcionário faz a leitura de cada macro e micromedidor (hidrômetro) e registra os valores para que sejam posteriormente processados ou efetua-se
o faturamento simultâneo. No sistema remoto podem-se utilizar soluções via cabo ou
via rádio. Esta solução tem a vantagem da eliminação de circulação de pessoas pelas
dependências do condomínio e contribuir para a diminuição de erros no faturamento
da conta e custos com pessoal.
Dependendo da tipologia do projeto e concepção da edificação, se neste
pretende-se usar tubulação de água quente ou aproveitamento de água de chuva,
pode haver a necessidade de instalação de mais de um hidrômetro por apartamento.
A individualização visa substituir a forma mais comum de fornecimento
de água aos edifícios multifamiliares ou comerciais em que o volume fornecido pela
concessionária é disponibilizado e medido por meio de um único hidrômetro e o administrador da conta fica responsável por fazer o rateio entre os utilizadores. Com
este procedimento há uma distribuição dos custos entre os moradores, independentemente dos consumos dos mesmos.
Sem a individualização, os custos rateados por apartamentos habitados
por poucas pessoas, pagam o mesmo valor correspondente ao consumo de unidades
habitadas por mais pessoas. Aqui aparece um exemplo do dilema social apropriadamente abordado pelo biólogo Garrett Hardin (1968) no artigo “Tragedy of the commons”. Nesse artigo o autor discute a situação de pecuaristas que criam gado em uma
terra comunal. Para isto são motivados a colocar no mesmo espaço o maior número
possível de cabeças procurando obter grandes lucros com o crescimento do rebanho.
Uma vez que a lotação ideal do espaço é ultrapassada, a terra esgota-se com facilidaPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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de gerando prejuízos a todos que utilizam do espaço compartilhado.
De forma semelhante em um sistema de fornecimento de água onde exista apenas um dispositivo para medir a água que todos utilizam, e nenhum dos consumidores é o responsável direto pelo pagamento da conta, existe uma tendência
natural pela utilização máxima do recurso. Não existe, neste caso, preocupação aparente com pequenos vazamentos no interior dos apartamentos ou na parte comum
do condomínio. O consumo é comunal, porém, os prejuízos decorrentes do uso abusivo do recurso são compartilhados por todos os condôminos, não existindo, assim,
incentivos para que se faça o uso parcimonioso.
Na cidade de Goiânia, o pioneirismo do fornecimento de água na forma
individualizada deve-se aos incentivos de projetistas e às construtoras que iniciaram
a implementação desta modalidade de abastecimento dentro do planejamento de
construção de condomínios horizontais. Essa iniciativa aguçou a percepção de síndicos e administradores de condomínios verticais que se viram diante da possibilidade
da redução das taxas condominiais e ao mesmo tempo a oportunidade de levar aos
moradores dos condomínios uma cobrança pelo serviço prestado proporcional a seu
consumo. Desta forma evita-se que os mesmos tenham o fornecimento de água suspenso pela concessionária devido à inadimplência de alguns condôminos.
A percepção dos administradores de condomínios levou-os a procurar soluções com profissionais da área de sistemas prediais para que modificações fossem
implementadas em suas unidades multifamiliares. Esperava-se com isto um retorno
financeiro dos investimentos realizados por meio da economia de gastos com o pagamento da conta de água. Houve também a substituição de tubulações antigas que
abasteciam as bacias sanitárias contendo válvulas de descarga por tubulações novas
abastecendo caixas acopladas.
As modificações da forma de abastecimento de água dos condomínios
partem de uma análise prévia da situação encontrada no local. São analisados os sistemas hidráulicos dos prédios e é comum existir uma redução do consumo devido a
procedimentos simples de manutenção antes da reforma como, por exemplo, o reparo de válvulas de bacias sanitárias danificadas, reservatórios com infiltrações, torneiras
com reparos danificados, vazamentos em unidades habitacionais desabitadas, dentre
outros. Perdas físicas agregadas a desperdícios são negligenciadas em um modelo de
abastecimento onde existe apenas um medidor de água para todos os condôminos.
Em geral, tais desperdícios são rateados com os demais moradores do prédio (MENEZES, 2006).
Os volumes disponibilizados para consumo dos condôminos são faturados e arrecadados pela concessionária, porém, em tais volumes existe uma parcela
que é perdida na forma de vazamentos e outra decorrente dos hábitos de consumo
dos moradores do condomínio. Para Oliveira (1999), são considerados respectivamente perdas físicas e desperdício esta água que escapa antes de ser utilizada para uma
atividade fim e a que é utilizada de modo excessivo e inadequado. Desta forma, o total
do volume consumido pela unidade é formado do somatório dos usos com o desperdício gerado pela edificação.
Os procedimentos referentes ao processo de individualização são regulamentados pelo poder público em várias cidades como Recife – PE, São Paulo – SP,
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Campinas – SP, Natal – RN, Niterói – RJ, Campo Grande – MS e Brasília – DF dentre
outras. Em Goiânia, embora esteja em vigor a Lei Municipal 8.435, aprovada e sancionada em 10 de maio de 2006, que torna obrigatória a previsão da medição isolada
para aprovação dos novos projetos de edificações, ainda não existe uma norma que
obrigue as unidades multifamiliares a modificar os projetos hidráulicos de suas instalações e a concessionária local a disponibilizar para os condomínios o fornecimento
de água de forma individualizada.
Entretanto a demanda do mercado motivou a Saneamento de Goiás S/A –
SANEAGO, concessionária de água e esgoto do Estado de Goiás, a adotar procedimentos internos de acordo com as necessidades de empresas de engenharia e administradores condominiais contando com o apoio de instituições como o Conselho Regional
de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado – CREA-GO, que faz a Anotação da
Responsabilidade Técnica (ART) dos profissionais que projetam e executam as modificações nas edificações. Tal anotação faz parte das exigências para formalização do
contrato de prestação de serviços de fornecimento de água, coleta e tratamento de
esgotos entre os entes envolvidos, ou seja, entre a pessoa jurídica do condomínio e a
concessionária.
O Sindicato da Habitação do Estado de Goiás – SECOVI-GO divulga e estimula a individualização, bem como disponibiliza aos seus associados linha de crédito
para que os mesmos possam implementá-la. A SANEAGO segue também as Resoluções nº 002/2008 e 745/2008 (AGR, 2008) promulgadas pelo Conselho de Gestão da
Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos – AGR, que
tratam dos procedimentos para a cobrança de serviços em ligações individualizadas
em condomínios.
Quanto à aceitação do sistema de medição individualizada por parte dos
condôminos, Paula et al (2004) realizaram pesquisas de satisfação na cidade de Goiânia e chegaram ao índice de 89,3% de aprovação. Coelho (2007) também cita que em
visitas realizadas em três prédios monitorados por técnicos da SANEAGO, na mesma
cidade, o grau de satisfação dos usuários com a medição individualizada foi superior
a 85%.
Assim, é oportuno que neste trabalho se faça inicialmente uma caracterização do modelo de individualização adotado pela SANEAGO, descrevendo quais os
principais aspectos comerciais e técnicos dos procedimentos utilizados para que tal
sistema possa ser implantado.
Há também a necessidade de situar quantitativamente e dentro de um
intervalo de tempo a evolução das individualizações realizadas desde as primeiras até
a data de elaboração do presente estudo.
Para que a individualização seja economicamente viável é necessário que
os recursos investidos possam ser recuperados em um determinado tempo. Questiona-se em quanto tempo haverá o retorno destes investimentos e sobre a viabilidade
econômica das intervenções a serem realizadas, que podem demorar em decorrência
do posicionamento e quantidade de prumadas (colunas de abastecimento existentes
no prédio) e de acordo com as economias a serem conseguidas com a redução do
consumo. Para isto, é necessária uma estimativa para o tempo de retorno com base na
redução dos consumos nos sistemas implantados e nos valores dos contratos celebraPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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dos entre as empresas que efetuaram as modificações hidráulicas e os representantes
dos condomínios.
O objetivo geral desta pesquisa é avaliar o efeito da implantação da individualização do fornecimento de água potável para condomínios residenciais reformados em Goiânia, Goiás. Para tanto, o mesmo foi desdobrado nos seguintes objetivos
específicos: (1) caracterizar o tipo de individualização adotado pela concessionária de
abastecimento de água do Estado de Goiás; (2) avaliar a evolução temporal quantitativa do consumo de água antes e após a individualização em edificações na cidade
de Goiânia de 2003 a 2008; (3) estimar a redução média do consumo e o tempo de
retorno dos investimentos realizados pelos condomínios.
II – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Medição individualizada de água insere-se na área de conservação e economia de água tratada, que por sua vez está relacionada com a gestão da demanda
(OLIVEIRA, 2007). A atuação dos envolvidos visa minimizar pontualmente o problema
da escassez do produto e sua implementação consiste na instalação de um hidrômetro no ramal de cada unidade habitacional, de forma a permitir a medição do consumo, o faturamento e a emissão de contas individuais (COELHO, 2007).
Para Santos et al (2006) a individualização do abastecimento de água é
uma ação de conservação e tem por objetivo garantir o uso sustentável do recurso
através da redução da geração de efluentes e utilização de outras fontes de abastecimento para usos menos nobres como, por exemplo, o aproveitamento de águas de
chuvas e as consideradas águas cinzas (águas das pias de cozinhas e tanques).
Quanto à possibilidade de redução do consumo devido à adoção do sistema de individualização do fornecimento de água, vários autores conseguiram percentuais distintos em seus estudos. Veja o resumo apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 – Síntese de Estudos Sobre Redução de Consumo
Autor
Ano do
Trabalho
Cidade
Redução de
Consumo (%)
Tomaz
2001
Guarulhos (SP)
30
Albuquerque
2004
Campina Grande (PB)
25
Pio et al
2005
São Paulo (SP)
25
Coelho
2007
Olinda (PE) e Recife (PE)
31,72
Silva
2008
Salvador (BA)
45
Segundo Pio et al (2005) a redução do consumo pode ser de até 25%, enquanto que para Tomaz (2001), com base em sua experiência na implantação do sistema em alguns prédios de apartamentos na cidade Guarulhos, SP, que também possui
lei municipal que regula o assunto, datada em 27 de setembro de 1994, que exige
que os apartamentos com área superior a 100m² tenham hidrômetros individuais, foi
obtida uma economia média de 30% com implantação do sistema. Para Silva (2008),
que estudou a implementação da individualização em prédios antigos na cidade de
Salvador, BA, o mesmo obteve uma tendência de redução do consumo que chegou a
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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45% enquanto Coelho (2007), que iniciou seus trabalhos enfrentando períodos de escassez em 1991 nas cidades de Olinda (PE) e Recife (PE), obteve um percentual de redução do
consumo de 31,72 para os imóveis reformados que passaram a receber o fornecimento de
água na forma individualizada.
Os dados trabalhados nesta pesquisa mostram que no sistema adotado para
a cidade de Goiânia, (GO), passam a existir os medidores individuais no sistema de cadastro, faturamento e arrecadação, preservando-se o macromedidor como controlador (ou
hidrômetro mestre) do consumo para que a Empresa possa aferir os consumos individuais
e cobrar as diferenças geradas e demandadas na parte comum do condomínio.
Já o tempo de retorno (ou payback), é o período médio necessário para amortização dos investimentos realizados. Em função dos dados encontrados, foram considerados os tempos de retorno de curto, médio e longo prazo conforme pode ser observado
na Tabela 2.
Tabela 2 – Classificação do Tempo de Retorno
Intervalo de Meses
Tempo de Retorno
Menor que 24
Entre 25 e 60
Maior que 61
Curto Prazo
Médio Prazo
Longo Prazo
III - METODOLOGIA
Por meio de documentos utilizados para implementação e contratação dos
serviços de individualização do fornecimento de água, utilizados pela SANEAGO, foi realizada uma descrição sintética dos passos utilizados para implementação do sistema.
Tendo como base o sistema de banco de dados comercial da SANEAGO,
sistema de gerenciamento de dados dos grandes clientes, e uma planilha de controle
das individualizações em prédios novos e reformados, foram identificados e quantificados os condomínios que passaram pelo processo de individualização até dezembro de
2008. Os condomínios reformados foram separados dos novos e ficaram dispostos em
uma planilha eletrônica de onde foram retirados os dados para a geração do gráfico que
ilustra a evolução temporal do consumo e as análises referentes a redução da produção
de efluentes, redução do consumo e amortização dos investimentos financeiros realizados com a reforma dos imóveis.
Tabela 3 – Classes de Consumo dos Grandes Cliente
Classe
Faixa de Consumo
20% da Quantidade
de Edifícios
A
Acima de 2.000m³/mês
08
02
B
De 1.000 a 1999 m³/mês
29
06
C
De 400 à 999m³/mês
86
17
D
90 à 399m³/mês
165
33
288
58
TOTAL
16
Quantidade
de Edifícios
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Fez-se uma análise do histórico de consumo das unidades multifamiliares
reformadas e, posteriormente a isto, foram escolhidos vinte por cento de cada estrato de consumo para o acompanhamento da demanda. A estratificação do universo
estudado se deu a partir da classificação de grandes clientes adotada pela SANEAGO,
conforme pode ser observado na Tabela 3. Foram analisados os consumos durante
doze meses antes da individualização e doze meses após a reforma das instalações
em 58 edifícios. Foram reformados, até dezembro de 2008, um total de duzentos e oitenta
e oito condomínios na forma individualizada. Foram amostrados cinquenta e oito unidades multifamiliares deste universo (20,14%) as quais foram submetidas à análise de
consumo nos doze meses antes e após a individualização. Salienta-se que as primeiras
iniciativas de projetista e empresas engenharia para inserção desta modalidade de
distribuição de água se deram na década de noventa.
Os cálculos do tempo de retorno foram feitos conforme PIO et al (2005),
trabalho editado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP. Para
tanto, utilizou-se as equações 1, 2 e 3, descritas a seguir.
Foi calculada a redução do consumo ocorrida antes e após a implementação das reformas nas instalações hidráulicas utilizando-se a equação 1.
RC =
CAR - CDR
x100
CAR
(1)
Onde:
RC = Redução do consumo de água por condomínio em (%);
CAR = Consumo médio antes da reforma (m³/mês);
CDR = Consumo médio depois da reforma (m³/mês).
Foi calculada a média das médias dos percentuais de redução de consumo, ou seja, dentre todos os condomínios estudados foi gerada uma média onde,
comparada com as demais, obteve-se uma média geral da redução de consumo de
toda a amostra. Tal média serve de parâmetro para o síndico ou administrador que
estiver interessado em modificar o projeto hidráulico do seu condomínio alterando o
sistema de medição convencional de suprimento do fornecimento de água para a forma individualizada. Ao fazer este cálculo, responde-se ao seguinte questionamento:
ao individualizar, eu posso reduzir quanto do consumo em meu condomínio?
Para avaliar os ganhos obtidos com a economia de água e a conseqüente
redução do consumo foram considerados na análise os custos decorrentes da coleta,
afastamento e tratamento dos efluentes, já que os mesmos fazem parte da formação
da fatura total de água. Foram atualizados os valores das contas através da alteração
tarifária realizada a cada ano e levaram-se em consideração os valores cobrados antes
e após as intervenções que promoveram as reformas nos imóveis.
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Equação 2:
Assim, o cálculo do ganho em valores monetários (em R$) foi obtido pela
(2)
B = CsA - CsD
Onde:
B = Fluxo do Benefício é igual ao valor médio mensal economizado com
base nas tarifas praticadas pela SANEAGO (em R$/mês);
CsA = Valor médio mensal da conta de água antes da reforma (em R$/mês);
CsD = Valor médio mensal da conta de água após a reforma (em R$/mês).
O cálculo do tempo de retorno especificamente foi obtido dividindo-se
o valor total do contrato de individualização (em R$) por B (fluxo de benefício) e esta
operação é indicada pela Equação 3:
t=
VTC
B
(3)
Onde:
t = Tempo de Retorno (em meses);
VTC = Valor Total do Contrato de Individualização (em R$);
B = Fluxo de Benefício (valor médio de economia em R$/mês).
Os processos que geraram os contratos foram acessados (via sistema de
protocolo – banco de dados de gerenciamento de documentos e banco de dados de
gerenciamento de documentos digitalizados) e a partir de então identificados os custos que cada condomínio teve para a implementação do sistema. Posteriormente, tais
custos foram confrontados com os dados de consumos dos condomínios para que
fosse possível a obtenção do tempo de retorno do investimento realizado conforme
metodologia já descrita.
Uma análise dos RA’s (Registros de Atendimento), armazenados no banco de dados da SANEAGO – Sistema Comercial – foi realizada para obtenção de informações sobre intervenções que identificassem a presença de perdas físicas por
vazamentos ou inconsistências que produzam perdas comerciais devido a erros de
cadastro nos condomínios que realizaram as reformas objetivando a implantação do
sistema individualizado.
Os nomes dos condomínios permaneceram ocultos e quando existiu a
necessidade de se fazer referência, devido aos resultados encontrados, foi feito da
seguinte forma: C para condomínio mais um número sequencial com letra indicando
a classe de grande cliente conforme descrito na Tabela 1 (A, B, C ou D).
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
IV - PROCEDIMENTOS
O processo de individualização do fornecimento de água inicia-se com o
atendimento ao cliente via telefone ou quando o mesmo comparece à agência de
atendimento. Na segunda opção, além das informações necessárias para dar início
ao processo como, por exemplo, a contratação de uma empresa para a execução das
reformas nas instalações hidráulicas e da aprovação dos condôminos realizada em
ATA de reunião devidamente registrada em cartório, é fornecida uma relação de documentos necessários para a elaboração do contrato de individualização. Este caminho
pelo qual passa o síndico e o condomínio para ter o fornecimento de água individualizado pode ser observado na Figura 1.
INDIVIDUALIZAÇÃO DO FORNECIMENTO DE ÁGUA EM CONDOMÍNIOS
INÍCIO
ATENDIMENTO PERSONALIZADO
OU VIA TELEFONE
APRESENTA DOCUMENTOS PARA
MONTAGEM DE PROCESSO
REFORMADO
REALIZA ASSEMBLEIA
E CONTRATA EMPRESA
REALIZA VISTORIA
DE INDIVIDUALIZAÇÃO
NOVO
REALIZA VISTORIA
DE INDIVIDUALIZAÇÃO
TIPO?
REPROGRAMA VISTORIA
DE INDIVIDUALIZAÇÃO
NÃO
Ok?
SIM
SIM
Ok?
NÃO
CELEBRA CONTRATO
DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
NÃO
REPROGRAMA VISTORIA
DE INDIVIDUALIZAÇÃO
Ok?
CADASTRA
LIGAÇÕES INDIVIDUAIS
SIM
CELEBRA CONTRATO
DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
CADASTRA
LIGAÇÕES INDIVIDUAIS
LANÇA NO BANCO
DE DADOS DA SANEAGO
FIM
LANÇA NO BANCO
DE DADOS DA SANEAGO
FIM
Figura 1 – Individualização do Fornecimento de Água Tratada em Condomínios
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
19
Para os condomínios residenciais novos, aqueles que possuem ligações
adaptadas para o fornecimento na forma individualizada, são programadas visitas de
um técnico da SANEAGO para verificar se as instalações estão de acordo com o padrão adotado pela companhia (ver orientações sobre os requisitos técnicos – Figura
2). Caso positivo, o técnico libera a individualização para a realização do cadastro das
contas individuais e o setor de atendimento a grandes clientes, de posse de toda a documentação exigida, providencia o contrato de adesão para a prestação de serviços
de fornecimento de água, coleta, afastamento e tratamento de esgotos.
Caso existam pendências que impeçam a liberação e conclusão do processo, o cliente é orientado a saná-las e posteriormente entrar em contato para que
uma nova visita seja realizada. Após o cadastro das ligações individuais é realizada a
atualização no banco de dados corporativo, para que cada unidade habitacional receba sua conta a partir do próximo mês, obedecendo ao cronograma de faturamento
do departamento comercial.
O caminho pelo qual passa a individualização de edifícios reformados e
novos é distinto, e, possui certa morosidade, pois, depende de iniciativas por parte do
síndico, como, por exemplo, um trabalho preliminar de conscientização dos condôminos, antes de se fazer a assembleia para aprovação da individualização. A definição
de qual empresa contratar para fazer as modificações hidráulicas no condomínio é
algo que requer atenção do síndico. É necessário que o mesmo tenha uma noção de
quanto irá custar para os condôminos as intervenções para que se possa discutir com
segurança o assunto.
O padrão para individualização deverá seguir as especificações descritas
abaixo e de acordo com o apresentado na Figura 2.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Quanto ao atendimento das exigências técnicas necessárias, para que as
ligações sejam aprovadas, as principais, são as seguintes: (1) os prédios que possuírem
reservatórios cuja entrada de água esteja acima de 7,0 (sete) metros em relação ao nível da rua, deverão possuir reservatório inferior, coluna piezométrica e elevatória para
abastecer ao reservatório elevado; (2) a responsabilidade da concessionária (quanto à
manutenção) estará restrita apenas ao hidrômetro e ao registro de corte; (3) não será
permitido qualquer tipo de interligação entre as instalações hidráulicas das unidades
consumidoras (entre os apartamentos); (4) o projeto e o material da caixa de proteção
do cavalete ficam a critério da arquitetura do condomínio; (5) não é recomendada a
utilização de válvulas de descarga nos apartamentos com medição na forma individualizada; (6) o hidrômetro geral permanecerá instalado para medir consumos comuns
do condomínio; (7) o dimensionamento dos hidrômetros das ligações individualizadas e o geral deverão ser aprovados pela fiscalização; (8) os hidrômetros (inclusive
o medidor geral) deverão ser aferidos pela Oficina de Pitometria e Hidrômetros da
SANEAGO e o laudo da aferição deverá ser entregue ao fiscal quando da vistoria final.
Deve existir registro geral na derivação para abastecimento de cada conjunto de hidrômetros (item 07) que pode ser instalado dentro ou próximo à(s) caixa(s)
do(s) hidrômetro(s), para eventual manutenção em conexões instaladas antes do registro utilizado para realizar corte de fornecimento de água ou troca desse registro;
a caixa de proteção dos hidrômetros pode ser dimensionada para 01 (um) ou até no
máximo 06 (seis) medidores, respeitando as distâncias mínimas de 20 centímetros
entre o centro das tomadas de cada ligação. A altura mínima do fundo da caixa em relação ao piso deverá ser 30 de centímetros. A altura máxima do piso ao topo da caixa
será de 160 centímetros.
A largura mínima deve ser de 38 centímetros e a profundidade de 12 centímetros, conforme cotas apresentadas na Figura 2; a tranca da tampa da caixa de proteção dos hidrômetros e do registro geral deve ser em forma triangular, tipo macho
para chave fêmea; os cavaletes deverão ser de tubos e conexões com rosca, visando
dar condições para substituir o hidrômetro ou registro de corte (item 3 da Figura 2);
as conexões (rosca externa) deverão ser instaladas de modo que sobrem dois fios de
rosca e permita que sejam giradas, dando condições para afastamento dos tubetes,
possibilitando a retirada e instalação do hidrômetro; as extremidades (ítens 4 e 5) dos
joelhos e luvas do padrão devem estar fixadas com argamassa resistente ou braçadeiras de modo que não exista transmissão de esforços (giro) para tubos ou conexões
soldáveis, ou permita movimento que possa facilitar a quebra; que o registro de corte
(item 3) possua dispositivo para colocação de lacre e a fixação do mesmo seja na lateral, que esse lado não fique virado para o fundo da caixa; os hidrômetros (item 1)
sejam preferencialmente com relojoaria de 45º e de marcas aprovadas pela SANEAGO,
deverão ser instalados nivelados, obedecendo ao sentido do fluxo e não apresentar
vazamentos nas conexões; cada hidrômetro deverá ser identificado no fundo da caixa
a qual a unidade consumidora a ele pertença, a identificação deverá ser feita com tinta esmalte sintético, spray ou placa parafusada, com letras de no mínimo 1,5 centímetros; os tubetes do hidrômetro não poderão ser serrados visando adequar qualquer
erro que possa ter ocorrido na instalação do padrão de ligação individualizada.
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V - RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo análise realizada nas aplicações do banco de dados comercial da
SANEAGO no Estado de Goiás, até dezembro de 2008 existiam 610 condomínios que
haviam passado pelo processo de individualização do fornecimento de água. Destes,
424 (69,51%) encontravam-se localizados na cidade de Goiânia e os demais 30,49%
nas cidades de Aparecida de Goiânia, Valparaíso, Anápolis e Itumbiara. Em Goiânia,
no mesmo ano de 2008, existiam 419 condomínios residenciais com fornecimento
de água na forma individualizada. Destes, vinte e sete eram horizontais e trezentos
e noventa e dois verticais. Os últimos estão divididos em duas categorias: (1) os condomínios que programaram a individualização desde o planejamento da construção
- edifícios novos - e (2) os que realizaram reformas – edifícios habitados - para a implementação do sistema. Estes últimos constituíram a base de estudo para esta pesquisa.
Figura 3 – Individualizações em Condomínios Verticais em Goiânia de 2003 a 2008
Existe ainda na cidade de Goiânia um grande potencial de crescimento
para a individualização, haja vista que a SANEAGO possui mais de 37.000 economias
habitacionais e comerciais cadastradas no seu banco de dados corporativo que poderão passar pelo processo de individualização. Tais ligações não serão consideradas
incremento no total de ligações existentes, pois, as mesmas já estão sendo abastecidas. Existe, isto sim, um incremento no número total de clientes que passam a receber
os serviços da concessionária de forma diferenciada. A Figura 3 mostra o gráfico que
apresenta a quantidade das individualizações de hidrômetros realizadas na cidade de
Goiânia de 2003 a 2008 em condomínios verticais novos e reformados.
As comparações são realizadas através de duas escalas distintas para a
representação dos dados. Do lado esquerdo tem-se a evolução ano a ano da quantidade de condomínios que receberam os serviços de abastecimento de água, colePRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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ta, afastamento e tratamento de esgotos na forma individualizada (representada por
barras verticais). Pelo lado direito (representado por linhas) acompanha-se o aumento
da quantidade de unidades habitacionais. Como pode ser observado na Figura 3, tanto o número de unidades habitacionais como os de condomínios mantêm certa oscilação no decorrer dos anos compreendidos entre 2003 e 2008. O melhor desempenho
encontrado foi no ano de 2007 quando ocorreram 54 (cinquenta e quatro) individualizações em prédios novos com 3.339 (três mil, trezentas e trinta e nove) unidades habitacionais. Quanto aos condomínios reformados no mesmo ano de 2007, ocorreram 79
(setenta e nove) individualizações com 4.247 (quatro mil, duzentas e quarenta e sete)
unidades habitacionais. Pode-se constatar também na mesma Figura 3 que, exceto o
ano de 2003, em todos os demais a quantidade de imóveis reformados para o recebimento dos serviços de abastecimento de água, coleta, afastamento e tratamento de
esgoto foi superior ao de imóveis novos.
A seguir faz-se uma análise de trinta e cinco condomínios dos cinquenta
e oito selecionados que passaram pelo processo de individualização de suas ligações
de água, num total de 2.097 (duas mil e noventa e sete unidades habitacionais) e
tendo como foco a redução do consumo e o tempo de retorno dos investimentos
realizados. A redução do número de condomínios na amostra deve-se à ausência de
contratos de prestação de serviços para a reforma das edificações e empresas de individualização, fato que compromete a realização dos cálculos do tempo de retorno
do investimento. Em quatro deles, foi constatada a existência de submedição, ou seja,
leituras realizadas nos macromedidores (hidrômetro geral) inferiores à soma das medições realizadas em cada apartamento dos condomínios.
A média geral encontrada da amostra para a redução do consumo entre
todos os condomínios, com o auxílio da Equação 1, foi de 23,66%. No entanto, foi
constatada uma oscilação entre 6,67 e 55,81% distribuída entre os edifícios selecionados. A média geral do tempo de retorno, com base nos resultados obtidos através das
equações 2 e 3, foi de 57 meses. A tabela 04 mostra a síntese realizada deste levantamento.
Classe
Edifícios
Selecionados
Média de Redução
de Consumo – em %
t (Tempo Médio de
Retorno) – em meses
A
02
B
06
C
10
D
17
21,55
18,64
21,05
27,21
42
90
51
53
Tabela 04 – Avaliação da Redução de Consumo e Tempo de Retorno
A média geral de redução do consumo de água encontrada nesta pesquisa, a partir dos cálculos realizados em cada condomínio ficou próxima do valor
encontrado na referência bibliográfica adotada, onde Pio et al (2005), em trabalho realizado para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, obteve uma previsão
de redução da demanda que chegou a 25%. Esta redução de consumo também ficou
próxima dos trabalhos desenvolvidos por Albuquerque (2004), Tomaz (2001) e Coelho
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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(2007) que conseguiram redução de consumo respectivamente de 25%, 30 e 31,72%.
Silva (2008) obteve um melhor desempenho com seu trabalho realizado na cidade de
Salvador, (BA), obtendo 45% de redução da demanda.
Os dois condomínios considerados Classe A, com consumos mensais superiores a 2.000 m³/mês (C01A e C02A, com média de consumo de 4.415 e 3.946 m³/
mês, respectivamente, totalizando 8.361 m³/mês), embora representem apenas 5,7%
do total da amostra, tiveram analisados a redução de seus consumos devido ao grande volume demandado. A redução média, que neste caso ficou em 21,55%, significa
dizer que ocorreu uma diminuição na geração de efluentes domésticos em torno de
um mil e oitocentos metros cúbicos por mês – esgotos domésticos que deixaram de
ser encaminhados para as redes coletoras - e, em consequência, não chegaram à ETE
- Estação de Tratamento de Esgotos. Embora a média de retorno tenha ficado em 42
meses, o comportamento de ambos foi distinto, devido a negociação realizada com
a empresa responsável pelas adaptações dos projetos hidráulicos dos condomínios.
O condomínio C01A conseguiu uma redução do consumo de 18,44% com tempo de
retorno de 31 meses, enquanto o condomínio C02A obteve redução de 24,37% e retorno de 52 meses. A justificativa para um tempo de retorno mais dilatado para o
segundo condomínio está na negociação dos contratos de prestação de serviços realizados, onde a execução dos serviços para C01A f oi mais favorável do que para C02A.
Veja detalhamento da avaliação dos estratos da amostra na Figura 4.
Figura 4 - Avaliação dos Estratos da Amostra
Os seis condomínios considerados Classe B, com consumos mensais compreendidos entre 1.000 e 1.999m³/mês (C01B a C06B e consumos médios entre 1.186 e
1784m³/mês, totalizando 9.102 m³/mês) representando 17,14% da amostra analisada,
tiveram redução média da demanda em 18,64%, o que corresponde a uma redução
em conjunto das seis unidades multifamiliares de 1.697 m³/mês. Dois condomínios,
devido a situações específicas, contribuíram para que o tempo médio de retorno das
amostras da Classe B ficasse mais alto – 90 meses. Tal situação será apropriadamente
analisada mais à frente, através da análise da Figura 4 – Comparativo Redução de Consumo X Tempo de Retorno.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Para os dez condomínios considerados Classe C, com consumos mensais compreendidos entre 400 e 999m³/mês (C02C e C03C; C05C à C12C, consumos
médios entre 480 e 930m³/mês, totalizando 7.997m³/mês) representando 28,57% da
amostra, tiveram redução média de 21,05% o que corresponde a uma redução de
efluentes equivalente a 1.683m³/mês.
Já para os dezessete condomínios da Classe D, com consumos mensais
compreendidos entre 90 a 399 m³/mês (C01D e C02D; C04D à C08D e C10D à C19D
e consumos médios entre 72 e 389 m³/mês, totalizando consumo de 5.242 m³/mês)
representando 48,57% da amostra, tiveram redução média de 27,21% da amostra, o
que corresponde a uma redução de 1.426 m³/mês.
Outro fator que contribui para o aumento dos custos das modificações
dos projetos hidráulicos dos condomínios é a característica do imóvel. A quantidade
de banheiros, quantidade de prumadas, o tipo de material utilizado (tubos e conexões), tempo de utilização das tubulações, bem como os tipos de bacias sanitárias
utilizadas nesses imóveis podem alterar a planilha de custos de qualquer empresa
que trabalhe com individualização de hidrômetros.
Foi o que ocorreu com alguns condomínios da amostra, conforme gráfico
mostrado na Figura 5 onde é apresentada a redução de consumo com seus respectivos tempos de retorno.
Figura 5 - Comparativo Redução de Consumo X Tempo de Retorno
A percepção que se tem inicialmente é que a redução do consumo não
significa necessariamente um retorno de curto prazo para o investimento realizado,
levando-se em consideração que parte dos custos da adaptação é regulada também
pelo mercado, ou seja, o valor cobrado pelas empresas de individualização e a negociação com os síndicos e administradores de condomínios tem impacto relevante
sobre o valor do contrato a ser celebrado entre as partes envolvidas. Quanto menor
este valor cobrado, menor será o tempo de recuperação do investimento.
Para ilustrar a evidência encontrada de que o valor cobrado por unidade
habitacional tem um impacto significativo sobre o retorno dos investimentos realizados com as reformas dos imóveis foi construído um gráfico que avalia esta situação
– Veja Figura 6.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Figura 6 - Avaliação do Tempo de Retorno x R$ Cobrado por Unidade Habitacional (U.H.)
A média geral para amortização dos investimentos, como já exposto acima, ficou em 57 meses existindo uma oscilação entre 15 e 184 meses para o retorno
investimentos. Dos prédios reformados apenas cinco (14,29%) tiveram retorno dos
investimentos no curto prazo (com tempo menor que 24 meses); a maioria (57,14%)
conseguiu uma amortização num prazo compreendido entre 25 e 60 meses (médio
prazo) e o retorno para 10 prédios reformados (28,57%) se deu no longo prazo (acima
de 61 meses).
Das trinta e cinco unidades multifamiliares avaliadas, sete, ou 20%, tiveram
o tempo de retorno superando em cem meses para que houvesse recuperação dos investimentos realizados. Para a unidade C02B, as singularidades que contribuíram para
o aumento dos custos de implantação das individualizações foram as seguintes: (1) no
condomínio existiam três prumadas de abastecimento dos apartamentos, cujo material era de ferro galvanizado e cada unidade habitacional possui quatro banheiros; (2)
os vasos eram abastecidos por válvulas de descarga. As condições de abastecimento
ficaram comprometidas com o passar do tempo, devido à perda de carga ocasionada
com a redução das seções das tubulações e conexões de ferro. Esta situação melhorou
após as intervenções e substituição das tubulações por PVC (poli vinil clorado). A unidade C04B, embora não tivesse ferro como elemento constituinte de suas tubulações,
o que contribuiu para alteração do custo foi a quantidade de prumadas, em número
de quatro, e os três banheiros por apartamento, situação que também ocorreu com as
unidades C03C, C05C e C15D.
Cabe ainda salientar que, nesta amostra, foram calculados os custos para a
execução dos serviços em cada unidade habitacional, sendo obtido um custo médio
de R$791,41 para cada U.H. É interessante também observar que os custos calculados
ficaram próximos dos encontrados por Holanda (2007), que apresentou orçamento
constituído por materiais, mão de obra, acabamento e o hidrômetro devidamente
instalado com custo individual por U.H. de R$737,50.
A característica que marcou as unidades que obtiveram o melhor desempenho com relação à redução de consumo, ocorrendo caso que superou os 50%, com
excelente tempo de retorno – inferior a 20 meses – foi a quantidade de apartamentos
(entre oito e vinte) por unidade multifamiliar.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Uma verificação realizada no banco de dados comercial, sobre os eventos
que antecederam às alterações dos projetos hidráulicos, mostrou que em 18 dezoito
prédios (51,43%), ocorreu algum evento que contribuiu para a decisão pela individualização do fornecimento de água. Tais eventos envolveram desde o corte de fornecimento de água por falta de pagamento, vazamentos internos e ocorrência de irregularidades, como a colocação de dispositivos não autorizados no ramal alimentador
bem como a existência de fonte alternativa abastecendo os imóveis.
VI – CONCLUSÕES
A forma como é realizada a individualização do fornecimento de água
para edifícios reformados na cidade de Goiânia, Goiás, é definida pela concessionária
de abastecimento de água no Estado de Goiás - SANEAGO. O modelo adotado pela
SANEAGO difere de outras soluções implementadas pelas demais companhias de saneamento visto que, após a conclusão das reformas realizadas por empresas da área
de instalações prediais, o setor comercial da empresa cadastra os novos clientes que
eram antes do início do processo abastecidos por uma única ligação de água.
Nesta pesquisa constatou-se o incremento constante ano a ano de novas
ligações na modalidade individualizada entre 2003 e 2008. Percebeu-se, entretanto,
que não existe uma linearidade no cadastramento de novas ligações no decorrer dos
anos o que impede uma previsão aproximada de quantas ligações poderão ser feitas
no ano subsequente.
Foram analisados, por meio de procedimentos estatísticos, utilizando-se
planilhas e gráficos, os investimentos realizados para a implantação das reformas nos
imóveis doze meses antes e após a conclusão dos trabalhos. Desta análise e através
dos cálculos realizados obteve-se média geral de 23,66% de redução de consumo nas
diversas unidades residenciais que oscilou entre 6,67 e 55,81% nas unidades multifamiliares.
Quanto à amortização dos investimentos realizados houve uma oscilação
entre 15 e 184 meses entre os condomínios o que gerou média de 57 meses.
As informações contidas nesta pesquisa apontam para a viabilidade da
medição de água na modalidade individualizada para diversos entes. Quais sejam: (1)
a empresa de saneamento que promove a gestão da demanda e por isto é beneficiada
pela diluição da responsabilidade pelos pagamentos das contas com mais clientes, o
que propicia a redução da inadimplência, atualmente compreendida entre 0,5 e 2,0%
para condomínios individualizados; (2) os condomínios, com a implementação das
reformas, deixam de colocar na taxa de condomínio o item água, fazendo com que
a valor cobrado na taxa seja reduzido por condômino; (3) os moradores, responsáveis pelo pagamento proporcional aos seus consumos são motivados a acompanhar
o consumo, promovendo assim o uso parcimonioso da água que utiliza e reduzindo
o consumo; (4) a sociedade é beneficiada, pois existe, conforme ficou demonstrada,
uma redução do consumo, independente da classe, fazendo com que seja reduzida
a produção de efluentes que teriam como destino os mananciais de abastecimento
público.
Ao incentivar a gestão da demanda de água, através da individualização
dos hidrômetros nos condomínios, a sociedade começa a utilizar o recurso com sustentabilidade, porém os motivos que levam os administradores de condomínios a
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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procurar pela modificação dos projetos hidráulicos ainda são frágeis, ou seja, a redução no valor da conta, o que imprime pouca celeridade e perenidade para as solicitações realizadas.
Diversos entes, como CREA-GO, SECOVI-GO, AGR-GO e Agência Nacional
de Águas – ANA, bem como instituições de ensino e pesquisa, contribuem para que
esta modalidade de fornecimento de água se popularize na sociedade, porém isto
não é suficiente. É necessário existir obrigatoriedade por parte do Poder Público local, como já aconteceu em muitas cidades do Brasil, estabelecendo norma que defina
prazos para que os condomínios habitados façam as adequações de seus projetos
hidráulicos disponibilizando aos moradores o fornecimento de água na forma individualizada.
VIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Serviços Públicos – AGR, Resoluções 002 e 745/2008. Goiânia, GO, 2008.
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PE, Editora do Autor, 2007.
DANTAS, Carlos Tadeu; Análise dos Custos de Implementação do Sistema de Medição
Individualizada em Edifícios Residenciais Multifamiliares. Campinas, SP, 2003.
GUEDES, F. Maria Josicleide e RIBEIRO, R. Márcia Maria; Avaliação de Alternativas de Gerenciamento da Demanda Urbana de Água na Escala de um Bairro. Campina Grande, PB, 2004.
HAFNER, V. Ana; Conservação e Reúso de Água em Edificações – Experiências Nacionais e
Internacionais. Rio de Janeiro, RJ, 2007.
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MENEZES, V. André; Estudo do Impacto da Inclusão de Sistemas de Conservação de Água
na Qualidade do Investimento para Edifícios Residenciais na de São Paulo. São Paulo, SP, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2006.
OLIVEIRA, Lúcia Helena; Metodologia para a Implantação de Programa de Uso Racional
de Água em Edifícios. São Paulo, SP, USP, 1999.
OLIVEIRA, S. Marina; Evolução do Conhecimento na Área dos Sistemas Prediais Hidráulicos e Aplicações Práticas. São Paulo, SP, UNICAMP, 2007.
PAULA, M. Heber; REIS, P. A. Ricardo; OLIVEIRA, Lúcia Helena; Sistema de Medição Individualizada em Edifícios Residenciais: Aspectos Técnicos e Construtivos. Revista A Construção em Goiás.
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UFBA, 2008.
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Menção
Honrosa
Projeto:
Implantação do Parque Municipal
Natural Cascavel
Premiadas:
Agência Municipal do
Meio Ambiente - AMMA
e Prefeitura Municipal de Goiânia
CONCORRENTE:
Prefeitura de Goiânia
Íris Rezende Machado
Agência Municipal do Meio Ambiente – Goiânia
Clarismino Luiz Pereira Júnior
Diretoria de Áreas Verdes e Unidades de Conservação – DIRUC
Ronaldo Vieira
Gerência de Arquitetura e Engenharia Ambiental – DIRUC/GEARQ
Antonio Esteves dos Reis
Ficha Técnica
Obra:
Implantação do Parque Municipal Cascavel – I Etapa
Área total de intervenção : 230.150,97 m²
Perímetro: 2.928,82 m.
Localização:
O Parque Cascavel localiza-se entre as Avenidas Guarapari, Independência, Guarujá e Copacabana no Setor Jardim
Atlântico, Goiânia – Go.
Recurso Financeiro e Execução:
AMMA – Fundo Municipal do Meio Ambiente: Compensação Ambiental Voluntária das Empresas GOLD PURPLE EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, TRIPOLI CONSTRUTORA LTDA e TERRANO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA.
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Equipe técnica
Projeto Arquitetura e Paisagismo
Fiscalização de Obra
Luiz Fernando C. Teixeira
Juliana Borges dos Santos
Márcia Araújo
Flávio Martins Dias
Arquiteto e Urbanista
Arquiteta e Urbanista
Yara Emy Tanimitsu Hasegawa
Arquiteta e Urbanista
Colaboradores
Cláudia Márcia Monteiro da Silva
Arquiteta Urbanista
Rogério Ubirajara di Machado
Arquiteto Urbanista
Projeto Estrutural
Cinthya Gomes da Costa Moreira
Engenheira Civil
Engenheira Civil
Engenheiro Civil
Sistema Viário
DERMU – PREFEITURA DE GOIÂNIA
Execução da Avenida Guarapari
Diagnóstico Ambiental Preliminar
da Bacia do Córrego Cascavel
Equipe Técnica
Aline Stival Victoy
Tecnóloga em Saneamento Ambiental
Karla Maria Silva de Faria
Msc. em Geografia
Carlos AugustoBarbosa Gomes
Colaboradores
Projeto Hidro-sanitário
Lívia da Silva Lopes
Engenheiro Civi, Msc
Cinthya Gomes da Costa Moreira
Engenheira Civil
Tecnóloga em Saneamento Ambiental
Cristiane Ribeiro da Silveira
Estagiária em Saneamento
Quemuel Gomes de Mello
Estagiário em Gestão Ambiental
Projeto Elétrico
Márcio Gabriel Nunes Ribeiro
Cinthya Gomes da Costa Moreira
Maurício José Falcão Moreno
Engenheira Civil
Projeto Luminotécnico
Willian Saraiva de Azevedo
Engenheiro Eletricista
Projeto Paisagístico
Márcia Araújo
Arquiteta e Urbanista
Maria das Mercêdes Brandão de Oliveira
Arquiteta e Urbanista
Recomposição Florística
Antonio Esteves dos Reis
Estagiário em Gestão Ambiental
Estagiário de Geografia
Acelo Nardine
Estagiário de Geografia
Elaboração e montagem da apresentação:
Andiara Machado de Paiva
Arquiteta e Urbanista
Ângela Cristina Paredes
Arquiteta e Urbanista
Maria Amélia Amorim
Arquiteta e Urbanista
Márcia Araújo
Arquiteta e Urbanista
Yara Emy Tanimitsu Hasegawa
Arquiteta e Urbanista
Colaboração:
Engenheiro Florestal
Análise e Aprovação de Projetos
Celina Fernandes Almeida Manso
Antonio Queiroga Galvão Filho
Chefe da divisão de Topografia
Daniel Cardoso Brandão
Estagiário de Arquitetura
Arquiteta e Urbanista
Maria Amélia Pereira de Amorim
Arquiteta e Urbanista
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
“Criar jardins, e paisagens, é uma
arte maravilhosa, possivelmente
uma das mais antigas
manifestações da arte. A Bíblia
registra e descreve um paraíso
onde havia equilíbrio entre as
plantas, os animais, e o homem.
Infelizmente o homem procurou
dominar a natureza e perdeu seu
paraíso. Com o conhecimento que
hoje possuímos da ecologia e da
importância de nos relacionarmos
com as árvores e as plantas,
procuramos reconquistar aquele
paraíso perdido e corrigir os erros
das gerações passadas.”
(Burle Marx, 1991)
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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I – APRESENTAÇÃO
A idealização deste trabalho e a sua realização resultaram da participação
de diversas equipes que deram a sua contribuição no sentido de dar continuidade a
todo um processo de conservação, preservação e recuperação do meio ambiente do
Parque Municipal Natural Cascavel.
Os problemas ambientais identificados, o interesse dos administradores
municipais e da comunidade, a valiosa contribuição dos empresários e a participação técnica e operacional dos profissionais especializados fazem desta proposta de
intervenção uma iniciativa que norteará muitas outras na defesa das áreas verdes e
unidades de conservação do Município de Goiânia.
A água, o solo, a fauna e a flora compõem os bens naturais mais preciosos
que possui a Terra – local onde o homem reside e do qual também faz parte. Por esta
razão, segundo Degreas (1996), seu planejamento, proteção, desenho e intervenção
devem objetivar a composição ideal do ambiente humano.
Todas as informações que contribuem para reforçar essas premissas devem ser apreciadas, valorizadas e aplicadas para resgatar, preservar e conservar os
elementos naturais tão importantes para a vida humana, como afirma Abbud (2007),
“A visão acompanha a dança das ramagens e das copas ao vento. Encanta-se como
o brilho do sol que aparece e ilumina, com a chuva que escurece e molha e também
com a escuridão da noite, pontuada pelas luzes da lua e das estrelas”.
II – INTRODUÇÃO
Ao tratar-se do espaço urbano como parque, faz-se necessária uma releitura por meio da história, sobre o que levou ao surgimento dos primeiros parques,
como essa idéia chegou ao Brasil, os seus reflexos, suas influências na formação das
cidades e, principalmente, como foi concebida em Goiânia.
Há algumas décadas, as questões ligadas ao ambiente urbano ainda não
se encontravam delineadas com precisão e não incluíam a relação entre crescimento
urbano, preservação ambiental e qualidade de vida.
Em virtude de sua natureza edificada, as cidades possuem seus ambientes
muito alterados. Com o aumento dos níveis de poluição aérea, hídrica, do solo, sonora, especialmente nos grandes centros urbanos, a arborização de ruas e a vegetação
de parques, praças, jardins públicos, juntamente com as unidades de conservação localizadas nas áreas urbanas, assumiram papel fundamental na qualidade de vida do
homem (Paiva, 2003).
Ao contrário da maioria das cidades brasileiras, Goiânia já foi concebida na
década de 30 com a preocupação ecológica de preservar as nascentes, os fundos de
vale e as áreas de matas. Com a aceleração do crescimento urbano parte dessas áreas
foi perdida, mas o pensamento do plano original permaneceu e foi iniciado o processo
inverso de resgate e recuperação das mesmas que permaneceram, transformando-as
em parques urbanos. Mesmo com a urbanização de novos setores essa concepção se
manteve. É um ganho muito grande para a sociedade e para os administradores, o fato
da cidade de Goiânia ter nascido com esta função de preservação dos recursos naturais.
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Estudos recentes são realizados sobre a importância ambiental urbana dos
parques e a sua contribuição para a qualidade de vida. Para o melhor entendimento
da gestão desses espaços e também proporcionar ao homem da cidade condições
favoráveis ao seu bem estar. Esses espaços, segundo Macedo (1999), ajudam a construir a paisagem urbana da cidade como um produto, porque resulta de um processo
social de ocupação e gestão de determinado território. Estão presentes no parque as
necessidades de conforto climático, de satisfação estética e de presença da paisagem
natural dando suporte à fauna, que são atendidas pela arborização viária e pelos grupos arbóreos, além de equipamentos que atendem ao lazer ativo e contemplativo.
Grande parte dos trabalhos com a paisagem vem se associando ao planejamento dos espaços livres públicos, funcionando como um sistema integrado de
recursos naturais que, conectados os fragmentos, cria-se um sistema de unidade ecológica.
As propostas relacionadas a esses espaços variam, sendo estruturadas de
acordo com a vocação, a finalidade, as características e os recursos financeiros destinados à sua implantação. Portanto, pode-se considerar que o parque urbano é um
componente imprescindível na malha urbana, que possibilita ao homem um encontro com a natureza, o descanso desejado e a mobilidade necessária.
Na definição de ações com o intuito de proporcionar uma melhor qualidade ambiental e de vida para os habitantes de Goiânia, o Parque Municipal Natural Cascavel é uma, dentre uma série de áreas, que já foram ou que estão sendo trabalhadas
e reconquistadas como patrimônio ambiental para o uso da população. Devido à sua
grande extensão, ao grau elevado de antropização da área e ao alto custo da obra em
sua totalidade, o projeto do Parque Municipal Natural Cascavel foi elaborado para ser
implantado em etapas, sendo que a primeira foi concluída em agosto de 2009.
III – A CIDADE E O LUGAR
Goiânia, cidade criada na década de 1930, veio com a intenção de ser um
elemento impulsionador do progresso e da modernidade do Estado de Goiás e, como
elemento urbano, foi uma síntese de correntes do urbanismo significativas naquele
período histórico. O plano de urbanização de Goiânia representou uma nova maneira
de ver o urbanismo em Goiás. Traduzia o ideal da cidade funcional e produtiva caracterizado pelo zoneamento e pela adoção de princípios clássicos de concepção urbana.
Attílio Corrêa Lima adotou a definição do zoneamento, a observação de
regras de urbanismo, de higiene e de salubridade, bem como a aplicação de teorias
como as green belts (anéis verdes), as cidades satélites e a desprivatização do solo,
características que remetem ao Movimento Moderno e percorrem as propostas do
arquiteto.
O Plano Diretor inicial de Goiânia organizava a cidade em cinco setores: o
Setor Central concentrava as atividades administrativas e o comércio. O Setor Norte
era destinado a atividades industriais. O Setor Sul era destinado a atividades residenciais e à implantação da Catedral. Os setores Leste e Oeste não estavam definidos e
apareciam no projeto apenas em esboços.
Attílio, atento aos critérios modernistas, propôs em seu plano, a criação de
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espaços livres para cidade destinando 34,6% do total da área projetada. Esse índice
extrapola a relação aconselhável pela prática que era de 25% e associa o ideal de proporcionar à cidade um cinturão verde. Essa solução visava dotar a cidade de espaços
verdes com o intuito de constituírem reservas de oxigênio. Os cursos d’água existentes integravam essas áreas e juntos estabeleciam um sistema de áreas verdes com a
função higienizadora e recreativa correspondendo a 14 % do total da área projetada.
Fig. 1 – Limites do Parque Municipal Natural Cascavel.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento – SEPLAM
O arquiteto também demonstrou preocupação com a preservação dos
mananciais bem como apresentou proposições para a coleta e tratamento do lixo.
Segundo Manso (2001), a construção de Goiânia representou, naquele
momento, um marco para o desenvolvimento da engenharia nacional e, no âmbito
do interesse político, serviu para legitimar a “Marcha para o Oeste” implementada pelo
governo do Presidente Getúlio Vargas.
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A cidade foi concebida para 50.000 habitantes distribuídos na área urbana. Inicialmente foram implantados os setores Central e Norte, dimensionados para
abrigar uma população de 15.000 pessoas. Na década de 1940, de acordo com o
Censo, apresentava uma população urbana de 18.889 habitantes.
O período compreendido entre 1950 e 1964 corresponde à ampliação
do espaço urbano da cidade. Em 1950 o governo deixa a cargo dos loteadores a
responsabilidade pela locação e abertura de logradouros. Os proprietários de terras
promovem o parcelamento de suas glebas,
O resultado é a proliferação de loteamentos particulares, destituídos de
quaisquer infra-estrutura ou serviços urbanos, a efervescência dos negócios industriais e o crescimento desordenado dos loteamentos em torno do núcleo originalmente urbanizado de Goiânia” (MANSO, 2001, p. 239).
No período de 1964 a 1975, Goiânia consolida-se como pólo de desenvolvimento regional. A prefeitura ganha independência em relação ao governo do
Estado, entre 1961 a 1966, cabendo-lhe, então, as competências de urbanização, de
conservação da cidade e de cadastro imobiliário. Manso aponta que,
Nessa fase, [...] o aumento populacional provoca expansão horizontal
dos bairros periféricos, com áreas residenciais para as famílias de menor renda, resultando em uma densidade relativamente baixa para o conjunto da cidade (MANSO, 2004, p. 63)
Uma característica desse período identificada pelo Plano de Desenvolvimento Integrado (PDIG-1969) é a distribuição desigual na ocupação do solo - áreas
bastante ocupadas e vazios inexplicáveis. Esse fato foi atribuído por Vaz (2002), ao
descompasso entre infra-estrutura e crescimento e a ação do Mercado imobiliário
(retenção e especulação do solo). Havia oferta de loteamentos em setores díspares
e aleatórios que resultou em uma atomização residencial.
É neste período de expansão horizontal que, em 22/10/1961 através do
Decreto n°33411 é criado o loteamento Jardim Atlântico. Neste bairro, integrante da
região Sudoeste, está situada a nascente do Córrego Cascavel, importante manancial da cidade de Goiânia.
Fig. 2 – Região Sudoeste, onde se localiza o
Jardim Atlântico e o Parque.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento
– SEPLAM
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Esta Unidade de Conservação foi criada pela Lei n°7.884, de 18 de maio
de 1999 que “dispõe sobre a criação e denominação do Parque Ecológico Atlântico”,
posteriormente alterada pela Lei nº33, de 05 de maio de 2009, para “Parque Municipal Natural Cascavel”. Sua área total é de 361.234,36m² e a área de intervenção de
230.150,97m².
Durante o processo de Parcelamento do Setor Jardim Atlântico não houve preocupação em relação à área de preservação permanente do córrego Cascavel,
sendo autorizados lotes em áreas de preservação permanente ou contíguas a esta,
não havendo uma via separando à área parcelável da área de preservação ambiental.
No dia 17 de maio de 2000, foi publicado o Decreto nº 879, que declara
de utilidade pública para fins de desapropriação a área de 43 (quarenta e três) lotes,
objetivando a implantação da referida Unidade de Conservação, localizada no Setor
Jardim Atlântico. No dia 11 de setembro de 2000 foi publicado no Diário Oficial do
Município o Decreto nº 1754, que declara de utilidade pública para fins de desapropriação a área de 27 (vinte e sete) chácaras, objetivando a implantação da referida
Unidade de Conservação, localizada no Setor Jardim Atlântico e Vila Rosa.
Para a implantação do Parque Municipal Natural Cascavel (Etapa I) houve
a necessidade desapropriação de 22 (vinte e dois) lotes, localizados ao longo da Avenida Copacabana, Rua Palombeta e Rua do Siri no Setor Jardim Atlântico.
Fig. 4 e 5 – Permuta de áreas para definição do perímetro do Parque.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento – SEPLAM
A paisagem é constituída de várias espécies nativas com vegetação característica do cerrado, árvores de grande porte como: angico, ipê, mandiocão, jatobá,
pau-d’óleo, embaúba, entre outras. A área encontra-se em grande parte antropizada,
mas em torno da nascente principal, localizada próxima a Avenida Aliança, identificase remanescente de mata com tipologia de mata estacional semidecidual. Ao longo
do córrego Cascavel, existe vegetação com característica de mata de galeria, existente
em alguns pontos com largura entre 5 e 20 metros e em outros pontos é inexistente.
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O leito do córrego Cascavel encontra-se em processo de erosão devido à retirada de
grande parte desta mata para o cultivo de hortaliças e o lançamento das redes de
águas pluviais do entorno para a parte interna do Parque.
Fig. 6 e 7 – Cultivo de hortaliças – uso inadequado da área
Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008). Fonte: Grupo 4 Arquitetura
Fig. 8 e 9 – Lançamento de água pluvial, que foi transferido para galeria externa ao Parque, permanecendo apenas a estrutura física. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura
O presente objeto de estudo, denominado Projeto de Implantação do Parque Municipal Natural Cascavel, foi desenvolvido pelo Grupo Quatro Arquitetura e
Consultoria S/S Ltda, e trata da urbanização e implantação de equipamentos públicos
e elementos naturais na área destinada a parque urbano na cidade de Goiânia/GO.
O desenvolvimento deste projeto teve como meta principal o manejo do
uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável e a recuperação do ambiente natural, em bases sustentáveis desta
Unidade de Conservação Ambiental associadas ao lazer e à melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos. O programa arquitetônico, paisagístico e ecológico teve como
principio o respeito aos elementos naturais existentes, bem como a adequação dos
equipamentos a serem instalados à topografia local e ao estudo de zoneamento, para
que todos os objetivos da unidade tenham condições de serem alcançados de forma
harmônica e eficaz.
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Fig. 10 – Limites do Parque Municipal Natural Cascavel.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento – SEPLAM
O projeto propõe a preservação da vegetação remanescente local e uma
recomposição florística para resgatar a flora e a fauna, favorecendo o retorno e abrigo
dos animais silvestres. As áreas de mata onde se localizam as árvores de grande porte
e algumas espécies remanescentes foram preservadas e as áreas próximas ao curso
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d’água foram recompostas. Foi executada a recomposição florística com plantio de
3.700 mudas de espécies nativas, distribuídas nas áreas próximas à mata e ao curso
d’água. O tratamento paisagístico foi realizado com o plantio de 2.032 mudas entre
espécies arbóreas, palmáceas, arbustivas e herbáceas nativas, distribuídas de forma a
compor a paisagem no entorno e borda do lago, junto aos equipamentos urbanos e
ao longo da pista de caminhada.
Todos os equipamentos foram implantados a fim de promover a interação
do homem com a natureza. Os espaços construídos foram desenvolvidos de modo
que as árvores existentes fossem mantidas, sem a necessidade de qualquer derrubada.
Na parte mais ao norte e a parte mais ao sul do parque, onde se encontram
as cotas de nível mais baixas e uma área alagadiça respectivamente, foram concebidos lagos de contenção que ajudam a represar as águas e evitam a formação de áreas
de inundação, colaborando com o sistema de drenagem da região. Considerando que
as margens do Córrego Cascavel formam um fundo de vale e as águas pluviais têm o
escoamento superficial em direção a ele, essa unidade de conservação é uma solução
natural para tal problemática porque não interfere nas condições de impermeabilização do solo. Pelo contrário, a vegetação auxilia no processo de percolação da água.
As tubulações de águas pluviais canalizadas para dentro do parque foram desviadas e
lançadas para galeria externa a ele.
No projeto de Implantação do Parque Cascavel foi considerada a preocupação com a ocupação racional do uso do solo resultante de um estudo de zoneamento, bem como a saúde publica e meio ambiente. Para isso, todas as ações implantadas visam preservar, resgatar e melhorar os aspectos originais do local.
As diretrizes gerais que nortearam a elaboração do projeto foram as seguintes: aplicação da legislação proposta pelo Zoneamento Urbano em faixa de preservação de fundo de vale; preservação do córrego Cascavel e suas nascentes com a
recomposição florística com espécies nativas; recuperação e conservação dos ecossistemas; implantação de equipamentos para atividades de lazer ativo e contemplativo; compatibilização de relações harmônicas e adequadas do Parque com os usos e
ocupações do entorno e das edificações, equipamentos, mobiliários com os recursos
naturais e edificados existentes; utilização de materiais que não comprometam a permeabilidade e a qualidade do solo; e promoção de programas de educação ambiental
na sensibilização da comunidade local.
Os elementos componentes da obra de arquitetura e engenharia ambiental foram projetados e construídos utilizando as áreas livres destinadas às atividades
de lazer, convivência e administração, que apresentam uma estrutura física composta
por lago com bordas enrocadas, pista de caminhada, estação de ginástica, caminhos
internos, remanso do pergolado, estar de convivência, estar do lago, belvedere, parque infantil, administração/sanitário público (equipamentos urbanos), escada, ponte,
bancos com encosto, bancos de alvenaria, mesas com banquetas, coletores de lixo e
placas informativas e educativas (mobiliários urbanos).
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Fig. 11 e 12 – Vista aérea. Crédito imagens: Google, (2009). Fonte: AMMA/DIRUC/GEARQ
A sede administrativa é um edifício que serve de apoio à Administração,
vigilância e às atividades promovidas no Parque. A edificação possui uma área de
248,24m2 dividida em dois módulos interligados por uma cobertura. É composto dos
seguintes ambientes: núcleo ambiental, administração, ferramentaria, sala de vigilantes, lavabo, copa, sanitário público para portadores de necessidades especiais e sanitários públicos masculino e feminino.
Fig. 13 e 14 – Acesso principal. Destaque para a Sede Administrativa, totem e a placa de inauguração.
Crédito imagens: Mauro Junio, (2009). Fonte: AMMA/DIRUC/GEARQ
Os lagos de contenção foram definidos pelas cotas de inundação. As saídas de água são conduzidas por vertedouros tipo monge. O embasamento das bordas dos lagos foi executado em pedras marroadas, assentadas com argamassa de cimento e areia artificial.
Fig. 15 e 16 - Lagos de contenção que ajudam a represar as águas e evitam a formação de áreas de
inundação, Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura
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Fig. 17 – Vista noturna do Parque. Crédito imagens: Mauro Junio, (2009). Fonte: AMMA/DIRUC/GEARQ.
Com a finalidade de contemplação, os caminhos internos permeiam as
áreas internas do Parque que recebeu uma recomposição florística esparsa. Possui
aproximadamente 2.672,57 metros de comprimento.
Fig. 18 e 19 – Caminhos Internos. Crédito imagens: Yara Hasegawa (2008.) e Mauro Junio (2009) respectivamente. Fonte: Grupo 4 Arquitetura e AMMA.
Fig. 22 e 23 – Pista de Caminhada trecho interno. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
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Apresentando 4 metros de largura e 1.793,80 metros de comprimento, a
pista de caminhada acompanha o perímetro do Parque nos trechos entre a Avenida
Guarujá, Avenida Copacabana, Rua do Parque paralela à Avenida Copacabana (ainda
sem nome), Avenida Guarapari, Rua do Parque paralela à Avenida Leblon (ainda sem
nome), e Avenida Leblon. Cul-de-sacs permitem o retorno dos usuários que fazem à
caminhada.
Fig. 22 e 23 – Pista de Caminhada trecho interno. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
Todo o percurso da pista de caminhada é acompanhado de faixas de grama esmeralda nas duas bordas. A largura mínima da faixa gramada é de 1 metro, com
variações de largura em alguns trechos.
Fig. 24 e 25 – Pista de Caminhada trecho externo. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.)
Fonte: Grupo 4 Arquitetura
O parque infantil agrega um espaço de convivência e totaliza uma área de
804,24m2 divididos em áreas gramadas e áreas com piso em concreto intertravado.
Nele, foram instalados brinquedos em madeira e distribuídos elementos em concreto
com alturas e cores variadas, garantindo o aspecto lúdico de que este ambiente necessita.
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Fig. 26 e 27 – Parque Infantil. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e
Mauro Junio (2009) respectivamente.
O estar do lago, com área de 283,54m² está localizado próximo às margens
do lago, com a finalidade de contemplação e propiciar encontros e permanências
para todas as faixas etárias. O acesso a ele é pela pista de caminhada.
Fig. 28 e 29 – Estar do Lago. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura
É um estar contemplativo com 133,82m2 implantado sobre o lago. É formado por um pergolado com banco, guarda-corpo de proteção, escada e rampa de acesso.
Fig. 30 e 31 – Belvedere. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro
Junio (2009) respectivamente.
Foram construídas duas estações de ginástica, e estão localizadas ao longo da pista de caminhada. A primeira localiza-se na Avenida Leblon e a segunda na
Avenida Guarujá.
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Fig. 32 e 33 – Estação de Ginástica. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
Fig. 34 e 35 – Estação de Ginástica localizada ao longo da pista de caminhada. Crédito imagens: Yara
Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
O estar de convivência com pergolado e bancos, está localizado próximo à
pista de caminhada e à Avenida Copacabana.
Fig. 36 e 37 – Estar do Pergolado localizada ao longo da pista de caminhada. Crédito imagens: Yara
Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
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Fig. 38 e 39 – Escada que faz a ligação da calçada da Avenida Leblon com a pista de caminhada próxima ao lago. Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009)
respectivamente.
Fig. 40 e 41 – A Ponte tem 25,00x5,10 m estruturada em tora de eucalipto tratado sobre curso d’água.
Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.) Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
Fig. 42 – Vista Geral do Parque. Crédito imagens: Mauro Junio (2009) respectivamente.
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V – REFERÊNCIAS TEÓRICAS PROJETUAIS
Uma Unidade de Conservação não se restringe apenas ao seu espaço territorial, ela é parte integrante de um sistema de áreas verdes de uma cidade. Trata-se de
um conjunto de espaços interligados, seja pelos seus cursos d’água ou pela sua influência ambiental na cidade no que tangencia a preservação da diversidade biológica,
o seqüestro de carbono e a conservação dos recursos naturais.
Com esta premissa, Olmsted projeta em Boston o “Emerald
Necklace”, um conjunto de parques
interligados por corredores ecológicos
que teve como preocupação, além da
questão do lazer, a questão do saneamento do ambiente urbano e da sua
recuperação.
Mapa do Sistema Emerald Necklace
Fonte: Emerald Necklace Conservancy
A implantação do Parque do Povo em São Paulo/SP, projeto de Aflalo &
Gasperini, Moraes e Brenna, foi uma parceria entre a Prefeitura e a iniciativa privada
com o intuito de resgatar uma área
pública ocupada irregularmente
há mais de 20 anos que teve a vegetação quase toda dizimada. A
sua recuperação aliou recomposição ambiental, lazer, cultura e envolvimento dos moradores da vila
vizinha.
Fig. 43 – Vista aérea do Parque do Povo
Fonte: WTorre
Outro exemplo são os parques projetados na Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro/RJ por Fernando Chacel. Através do método chamado de “ecogênese”, Chacel
vem criando Parques, como o Parque Gleba e o Parque Ecológico Mello Barreto, onde
se procura recuperar o ecossistema do mangue e da restinga, através da reintrodução
de espécies vegetais nativas. Aos poucos, espécies da avifauna e pequenos mamíferos
nativos vão reaparecendo, garantindo a restauração de um ambiente com características similares ao original. O zoneamento dos parques busca garantir um convívio harmonioso entre as áreas de parque típicas, visitadas diariamente, e as áreas protegidas,
separadas por uma zona tampão, ou de transição.
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Fig. 44 – Vista aérea da Gleba E
Fonte: Fernando Chacel
Fig. 45 – Vista de caminhos do Parque Ambiental
Professor Mello Barreto
Fonte: Eduardo Lage Santos
O Parque Municipal Victório Siqueirolli em Uberlândia é outro exemplo de
alteração de dominialidade de áreas. A área
constituída por esta unidade de conservação
com a predominância do cerrado na paisagem é composta de áreas públicas derivadas
de loteamentos aprovados pela Prefeitura de
Uberlândia/MG e áreas privadas que foram
doadas pelos seus proprietários ao município.
A maior destas áreas é remanescente de uma
antiga fazenda banhada por cursos d’água Córregos Liso e Carvão - de propriedade do Sr.
Victório Siqueirolli, que deu nome ao parque.
A recomposição da mata foi o eixo estruturador do projeto, que até implantou um Museu
com a temática Cerrado.
Fig. 46 – Vista aérea do Parque Municipal
Victório Siqueirolli. Fonte: Prefeitura de
Uberlândia - SEPLAMA
Já no Parque do Abaeté em Salvador/BA, o projeto de Rosa Kliass e Luciano Fiaschi, propôs a retirada das habitações irregulares e a relocação das famílias.
Como a área encontrava-se degradada, a recomposição da vegetação foi feita com
espécies da flora nativa, mantendo o caráter da paisagem natural. Foram implantados equipamentos recreativos e contemplativos e um sistema de percursos que
conectam a área a outro parque localizado no bairro de Nova Brasília.
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Fig. 44 – Vista aérea da Gleba E
Fonte: Fernando Chacel
Fig. 45 – Vista de caminhos do Parque Ambiental Professor Mello Barreto
Fonte: Eduardo Lage Santos
VI – EFEITOS POSITIVOS GERADOS PELA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE
MUNICIPAL NATURAL CASCAVEL
Segundo pesquisa relacionada por Frances Kuo e seus colegas do Laboratório de Paisagem e Saúde Humana da Universidade de Illinois sobre os efeitos das
áreas verdes nos moradores urbanos, os parques e jardins são essenciais também ao
bem estar social e psicológico das pessoas. Sem acesso a grama e árvores os seres humanos são muito diferentes, afirma Frances. Eles descobriram que os moradores dos
prédios próximos das áreas verdes tinham um espírito comunitário mais acentuado e
suportavam melhor o estresse e as dificuldades do cotidiano. Eram menos agressivos
e menos violentos, saiam-se melhor em testes de concentração e lidavam melhor com
seus problemas. Quanto mais verde o lugar, afirma Frances, menor o índice de crimes
contra a pessoa e a propriedade. E a equipe também encontrou menos lixo e pichações nos lugares com áreas verdes.
Jennifer Ackerman (2006), em matéria publicada pela revista National Geographic, informa a realização de um estudo nacional nos Estados Unidos, por um
grupo de cientistas, após pesquisa mais recente com um grupo de 450 crianças e jovens, de 5 a 18 anos, que constatara que crianças com distúrbios de déficit de atenção apresentavam redução dos sintomas quando expostas à ambientes naturais. Os
pais relataram que, após seus filhos brincarem em áreas verdes, sua capacidade de
concentrar-se, concluir tarefas e seguir instruções aumentara notavelmente, isso em
todos os grupos etários e em todas as partes do país.
A referida autora desta matéria ainda cita as suspeitas dos cientistas sobre
o efeito restaurador que as áreas verdes exercem sobre a nossa atenção voluntária - o
tipo de concentração intensa necessária para trabalhar ou estudar. Essa atenção voluntária é responsável pela qualidade do nosso raciocínio e o modo de lidarmos com
situações difíceis. Viver na cidade, massacrados pelo barulho, trânsito, conflitos e exigências, nos torna “irritados e impulsivos”, afirma Frances. O contato com a natureza
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nos permite relaxar, dar um descanso à atenção voluntária e nos entregar à atenção
involuntária, reparando sem esforço e em geral com prazer nos estímulos sensitivos
do nosso meio.
Estudos realizados recentemente sobre moradores de centros urbanos
populosos na Holanda e no Japão, revelam que os residentes em zonas de fácil acesso
às áreas verdes para caminhadas, apresentavam saúde melhor e taxas de mortalidade
mais baixas que as pessoas desprovidas dessa facilidade. Indicam ainda que mesmo
um contato passivo com a natureza reduz a pressão arterial e os níveis de ansiedade.
Um número crescente de pesquisas indica que os espaços preenchidos
com vegetação filtram a poluição e retêm partículas de poeira e fuligem. Arvoredos
de maior porte podem ter um efeito ainda mais benéfico, como pulmões das cidades,
limpando o ar de substâncias químicas perigosas. Além disso, as folhas das árvores
bloqueiam a luz solar, refrigerando as “ilhas” de calor geradas pelas duras superfícies
urbanas. A temperatura no asfalto ou no concreto à sombra de uma árvore pode estar
20 graus menor do que a encontrada na calçada a céu aberto sob o Sol de verão, e o
ar embaixo da rica ramada das árvores maduras pode ser de 3 a 4 graus mais fresco.
Atualmente, com todas as pressões da vida moderna, o contato com a natureza em ambientes urbanos pode ser mais importante do que nunca. Uma metrópole rica em parques contribui para nos manter em forma.
A percepção destes benefícios que as áreas verdes proporcionam na vida
do ser humano está se desenvolvendo em todas as comunidades e em todos os níveis
de atuação, de forma mais ou menos intensa.
Goiânia, pela sua origem, já traz uma preocupação com a preservação dos
recursos naturais. E, se houve algumas perdas no passado, de alguns anos para cá esta
luta pela recuperação e preservação dessas áreas constitui um desafio para a administração pública. E a participação da comunidade como um todo se faz imprescindível,
especialmente a participação dos empresários que, junto ao poder público, podem
transformar estas áreas verdes em parques urbanos, tratando o meio ambiente com
as medidas de que este necessita e os benefícios resultantes são para todos.
O Parque Municipal Natural Cascavel, com a primeira etapa entregue à
comunidade, é um exemplo de parceria entre administração pública e empresa particular que, conscientes de seu papel, trabalham com a recuperação de espaços para
que a cidade de Goiânia possa “respirar”. Esta parceria tratou da aplicação de uma
compensação ambiental voluntária em uma área pública degradada, propiciando a
sua recuperação e foi assinado no dia 2 de junho de 2008 o Termo de Compromisso
de Parceria Público-Privada, entre o Município de Goiânia e as empresas Tripoli Construtora Ltda. e Goldfarb SPE Purple Empreendimentos Imobiliários Ltda., tendo como
objetivo formalizar esta parceria para a implantação do Parque Municipal Natural Cascavel,.
O parque transcende a vida familiar, é elaborado a partir do agir coletivo
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
51
cotidiano onde se pratica o lazer e se estabelecem os grupos. É um ambiente muito
favorável ao desenvolvimento de atividades de alto valor agregado à preservação do
ambiente natural e a sua recuperação. Nele o lazer proporciona momentos para os
indivíduos extravasarem, recomporem e harmonizarem as energias, eliminando o estresse.
Fig. 49 e 50 – A Ponte tem 25,00x5,10 m estruturadas em tora de eucalipto tratado sobre curso d’água.
Crédito imagens: Yara Hasegawa, (2008.)
Fonte: Grupo 4 Arquitetura e Mauro Junio (2009) respectivamente.
Todos os benefícios descritos nas pesquisas que reproduzimos na abertura deste tema são válidos como efeitos positivos na implantação deste Parque. A
paisagem é sempre socialmente construída, uma via de mão dupla que influencia e
é influenciada pela sociedade, o que possibilita uma interação com as pessoas que
moram na cidade.
Fig. 51 – Vista Geral do Parque. Crédito imagens: Mauro Junio (2009)
52
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Precioso é o tempo que se dedica em
respeito e idados com os ambientes
que nos acolhem.
Maria Amélia Amorim (2008)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo, 2007.
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BRASIL, Lei N° 9.985, De 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.
Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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VAZ, Maria Diva A. Coelho. Transformação do Centro de Goiânia: Renovação ou Reestruturação. 195f.
Dissertação (mestrado em Geografia). Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2002.
Sítios da Internet:
http://www.slideshare.net/JoseSimas/paisagismo-meio-ambiente
http://www.eps.ufsc.br/disserta97/pilotto/cap2.htm
http://www.epp.etc.br/artigo_07.htm
Andiara Machado de Paiva – arquiteta e urbanista
Ângela Cristina Paredes – arquiteta e urbanista
Maria Amélia Pereira de Amorim – arquiteta e urbanista
Gerência de Arquitetura e Engenharia Ambiental – GEARQ/DIRUC/AMMA
Goiânia, 11 de setembro de 2009.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Modalidade
Urbanismo
Projeto:
Calçada Consciente
Premiadas:
Consciente Construtora e
Bambuí Negócios Imobiliários
PROJETO CALÇADA CONSCIENTE
I - INTRODUÇÃO
A Calçada Consciente é um trabalho de revitalização das calçadas em um
quarteirão compreendido entre a avenida T-9 e as ruas T-30 e T-33. Este trabalho foi
dividido em quatro partes: diagnóstico dos problemas existentes, elaboração dos projetos individuais para cada lote, aprovação da reforma por parte do proprietário em
consonância com a construtora e por fim execução dos projetos.
O projeto é uma iniciativa da Construtora Consciente e tem como prioridade não somente a acessibilidade, mas também a questão ambiental com a preocupação quanto à permeabilidade do solo e com o entulho gerado com os materiais
retirados das calçadas existentes.
Vale ressaltar que os custos oriundos de todo o processo são de inteira
responsabilidade da construtora, ou seja, os proprietários dos dez lotes que sofrerão
as intervenções apenas aprovarão o seu respectivo projeto.
Os trabalhos se iniciaram em agosto com a detecção dos problemas existentes e fazendo os primeiros contatos com os proprietários dos lotes. A previsão de
término de toda obra se dará em outubro do corrente ano.
Estão envolvidos neste projeto a AMMA (Agencia Municipal do Meio Ambiente) para autorização de retirada de três árvores, a CMTC (Companhia Municipal
de Transporte Coletivo) para a autorização da realocação e reforma de um ponto de
ônibus e o Dermu/Compav para utilização do britador para que seja processado parte
do entulho gerado.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
57
II - OBJETIVO
O objetivo da Calçada Consciente não se limita apenas em reformá-la
tornando-a acessível, mas fazendo com que todas as inovações possíveis possam ser
incorporadas neste trabalho. Dentre elas está um sistema de captação de água pluvial
através da sarjeta para que seja reinserida no solo.
Outra inovação está na reutilização de parte do entulho gerado na retirada dos materiais presentes nas calçadas (concreto, ladrilho hidráulico e pedra portuguesa) para confecção do novo piso. Também foi incorporado ao projeto uma reforma
do ponto de ônibus existente na calçada na Av. T-9 propiciando um modelo acessível
com espaço destinado a pessoas em cadeira de rodas e com sinalização tátil e visual
conforme a Norma Brasileira de Acessibilidade. Apesar de inicialmente acharmos que
a retirada de três arvores sadias e adultas da espécie sibipiruna possa parecer um contra-senso no que diz respeito ao aspecto ambiental, a proposta é em substituir estas
árvores por espécies adequadas ao passeio público.
III - DESENVOLVIMENTO
A primeira etapa do projeto foi o diagnostico de todos os lotes procurando detectar os problemas envolvendo a questão da acessibilidade bem como da permeabilidade do solo.
Abaixo iremos apresentar todas as calçadas com os problemas iniciais e
descrever a solução indicada para cada caso.
Antes faremos um breve relato de como deve ser uma calçada ideal para
que possam perceber a real dimensão dos problemas envolvidos em cada caso e que
se estende por praticamente todas as calçadas da cidade de Goiânia.
Uma calçada acessível deve compreender pelo menos duas partes distintas: à primeira parte dá-se o nome de faixa de serviço e é compreendida entre o meio
fio e a faixa livre. Esta faixa possui largura variando de 50 a 70cm ao longo da calçada
e é utilizada para a colocação de mobiliário urbano tais como orelhão, placas de sinalização, postes, lixeiras etc. podendo ser utilizada também como área permeável.
Após a faixa de serviço deve existir outra área de no mínimo 1,20m (podendo variar para mais conforme o fluxo de pedestres) e deverá ser obrigatoriamente
livre, contínua sem nenhum obstáculo ou desnível. A inclinação transversal deverá ter
no máximo 3%.
Após a faixa livre poderá existir outra faixa onde podemos chamá-la de
faixa de acesso e sua existência dependendo da largura da calçada. Esta faixa poderá
ser utilizada pelo imóvel como área permeável, ou de acesso à edificação. Ver detalhe
da calçada na foto 01.
58
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Área técnica utilizada como área permeável
Dentre algumas inovações da Calçada Consciente irá ser implementado
no início e final das ruas T-30 e T-33 uma área de captação da água pluvial junto à sarjeta passando por um processo inicial de filtragem no bidim e posteriormente entrar
em um tubo de concreto poroso de 200mm para finalmente ser incorporado ao lençol freático. Esta mesma tubulação será utilizada também para receber a água pluvial
proveniente das residências e que seriam encaminhadas para a sarjeta. Ver detalhe
do projeto na foto 02.
Percebemos no detalhe que existe um espaço de 50cm abaixo da tubulação de concreto poroso preenchida com brita 1. Assim haverá inicialmente uma retenção de água neste local possibilitando uma permeabilidade gradativa para o solo.
Calçada 1
Quando o projeto teve início no mês de agosto alguns itens da calçada
da obra em construção se encontravam em desacordo com os quesitos de acessibilidade. Assim, imediatamente os trabalhos foram interrompidos e refeitos conforme a
proposta sugerida no projeto.
Podemos perceber na foto abaixo
que existe uma rampa que dá acesso à garagem
da edificação e que excede completamente a
inclinação transversal do leito carroçável. Esta
prática é muito comum de se encontrar em
toda a cidade de Goiânia. Percebemos também que a calçada mais à frente possui uma
inclinação transversal acima dos 3% e não possui nenhuma área técnica permeável.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
59
Portanto, a solução para este caso será a demolição da rampa com a elevação de parte da calçada de modo que possa ter uma inclinação transversal aceitável.
Foi incluída também a faixa de serviço que será utilizada neste caso para inserir o
sistema de retenção de água pluvial. A foto seguinte mostra a sequência das obras de
implementação faltando instalar o sistema de retenção de água pluvial.
Na foto a seguir temos a continuidade da calçada pela Av. T-9 onde percebemos que não existe a faixa de serviço definida e mais à frente percebemos que
o ponto de ônibus está invadindo a faixa livre. Assim, foi providenciado junto a CMTC uma
autorização para que a empresa
responsável pela obra fizesse
a realocação do ponto de ônibus e a adaptação deste conforme os parâmetros exigidos
pela norma de acessibilidade
NBR 9050 em relação a sinalização tátil para deficientes visuais
bem como permitir um espaço
reservado para cadeira de rodas.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
60
Podemos perceber na foto abaixo que foi feita a faixa de serviço e está será
semipermeável com a colocação do paver como revestimento definitivo.
Na foto em seqüência podemos ver que o ponto de ônibus já foi realocado
e já estão preparando para fazer o piso definitivo que será de granitina branca. Foi
plantado grama provisoriamente na faixa de serviço para que os pedestres pudessem
ter um melhor conforto até que o material definitivo fosse comprado e produzido.
Abaixo podemos ver em perspectiva a demarcação tátil do ponto de ônibus e o espaço reservado para cadeira de rodas ou carrinho de bebê.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
61
Na foto a seguir podemos perceber que todo o passeio é revestido com
pedra portuguesa sendo que esta não é recomendada no que se refere ao quesito
acessibilidade. A solução para este caso foi criar ao longo do passeio a mesma faixa
livre existente no passeio anterior. O detalhe do projeto está a seguir.
Dando continuidade ao passeio vimos que todo o passeio é feito de pedra
portuguesa e não possui faixa de serviço apesar de possuir local para o plantio de árvores. Desta forma será proposta a criação da faixa de serviço preenchida com paver
mantendo os dois locais para plantio de arvores.
62
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Na foto a seguir vemos um passeio de ladrilho hidráulico sem faixa livre
com inclinação transversal acima de 3%. Neste caso será criada a faixa livre semelhante ao acesso à garagem relatado anteriormente.
Semelhante à calçada anterior percebemos o mesmo problema ao longo
de toda a rua T-33.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
63
Na rua ao longo da quadra podemos perceber uma completa ausência
de acessibilidade e o abandono da calçada. Constatamos logo no início um desnível
para dar acesso à calçada. Em seguida existem plantas próximas ao muro dificultando
a passagem do pedestre e a base de uma lixeira dificultando a passagem. Por fim podemos perceber que o piso é totalmente inadequado, pois existem juntas com grama
ao meio. A solução para este caso é o modelo existente na calçada ao lado. A única
acessível e ecologicamente correta em todo o quarteirão.
64
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Na foto abaixo constatamos novamente um problema de acessibilidade e
manutenção do passeio público. Neste caso iremos criar a faixa livre e faixa de serviço
com paver e serão plantadas duas árvores com porte adequado para essa largura de
calçada. Iremos conservar a área permeável próxima ao muro, porem será plantada
uma outra vegetação.
Dando sequência ao quarteirão constatamos que existem plantas impróprias para serem plantadas nas calçadas, pois contêm espinhos. Estas serão todas
substituídas. Na faixa de serviço que contém grama será instalado o sistema de captação da água da chuva para ser inserida no lençol freático diminuindo o volume de
água que irá para a boca de lobo. E após a boca de lobo será construído um rebaixamento de meio fio.
Em seguida, vemos a próxima residência que possui uma árvore bastante
frondosa, com dimensões acima do porte da calçada. E podemos detectar também
que a rampa de acesso à garagem se encontra dentro da faixa livre. Portanto, a solução para este caso será transferir a rampa para dentro da garagem e retirada da árvore
com plantio de uma espécie mais apropriada para este tipo de calçada.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
65
Logo após podemos perceber que, além da rampa de acesso a garagem
se encontrar dentro da faixa livre, existe um outro agravante que é o revestimento do
piso da calçada feito todo em ardósia. Neste caso a rampa deverá constar apenas na
faixa de serviço e faixa de acesso. O piso deverá ser todo substituído e criada em parte
da faixa de serviço uma área permeável com grama similar ao próximo imóvel.
Na calçada a seguir vemos que existe uma faixa livre definida porém interrompida com uma árvore. Existe também uma faixa de serviço permeável sendo
que o acesso à garagem está invadindo a rua. A solução para este caso será a retirada
da arvore e substituição do piso que se fizer necessário e a reformulação do acesso à
garagem.
66
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
A casa mostrada abaixo possui uma calçada revestida com pedra portuguesa sem faixa de serviço definida. Neste caso serão substituídas as pedras portuguesas da faixa livre por um piso adequado sem trepidação.
Por fim, temos a ultima calçada que está completamente desgastada e
possui uma árvore também na faixa livre. Neste caso será retirada a árvore (com a autorização da AMMA) e refeito todo o piso respeitando a faixa de serviço e a faixa livre.
V - CONCLUSÃO
Podemos concluir que a Calçada Consciente, que se encontra atualmente com 20% dos seus trabalhos iniciados, será uma referência em termos de calçada
acessível na cidade de Goiânia e, porque não dizer, no Brasil.
O objetivo é fazer com que cada quadra seja hidrologicamente auto-sustentável, fazendo com que a área de serviço consiga absorver todo o volume de água
que seria jogado na sarjeta. Pensando nisso foi criado o dispositivo de retenção de
água pluvial.
Outro diferencial que será imediatamente notado por toda a população
é a questão da acessibilidade na calçada. Em qualquer trecho qualquer pessoa com
tipos diferenciados de mobilidade poderá usufruir dela com autonomia e segurança.
Por fim, faremos o aproveitamento de 80% do material retirado das calçadas reaplicando-os na reforma das mesmas.
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Modalidade
Saneamento
Projeto:
Saneamento Básico Rural na Região
do Entorno do Distrito Federal
Premiadas:
Instituto de Desenvolvimento Sustentável
e Apoio à Agricultura Familiar – Rede Terra
Associação para o Combate à Exclusão
Social e Preservação Ambiental – ACESPA
CHICO MENDES
1. Projeto
Saneamento Básico Rural na Região do Entorno do Distrito Federal
2. Entidades Responsáveis
• Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Apoio à Agricultura Familiar
– Rede Terra
• Associação para o Combate à Exclusão Social e Preservação Ambiental –
ACESPA CHICO MENDES
3. Municípios atendidos pelo projeto
Cristalina, Cidade Ocidental, Santo Antônio do Descoberto, Luziânia, Alexânia, Vila Boa, todas no Estado de Goiás e Paracatu (MG).
4. Caracaterização das entidades
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Apoio à Agricultura Familiar
– Rede Terra é uma entidade da sociedade civil, de direito privado e sem fins lucrativos. Iniciou suas atividades em 1999, fruto do trabalho de técnicos agrícolas, educadores, produtores rurais e profissionais liberais com o objetivo de contribuir para o
desenvolvimento da região do Entorno do Distrito Federal.
Em 2005, por conta de forte demanda dos agricultores familiares, mudamos a nossa estratégia de ação e passamos a trabalhar em rede com instituições da
sociedade civil e poder público local para desenvolver projetos que promovam o desenvolvimento sustentável da agricultura e a conservação do Cerrado. Desenvolvemos projetos nas seguintes áreas temáticas:
• Fortalecimento das organizações de trabalhadores e trabalhadoras rurais;
• Preservação ambiental e qualidade de vida;
• Desenvolvimento de sistemas agroecológicos;
• Processamento da produção agrícola.
A Missão do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Apoio à Agricultura Familiar – Rede Terra é fomentar agricultores familiares a se organizarem, na criação e
replicação de tecnologias sociais e sistemas de comercialização inovadores e criativos.
Atualmente o trabalho da Rede Terra abrange mais de 500 famílias, de 22
comunidades rurais, em 5 municípios no Entorno do Distrito Federal, uma das regiões
mais violentas do Brasil.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
71
Nossas ações estão no sentido de congregar agricultores familiares e extrativistas para beneficiar e comercializar os seus produtos associados quer in natura,
quer artesanal, disponibilizando insumos, bens de produção e produtos de primeira
necessidade aos associados, visando promover o desenvolvimento social e econômico sustentável, para melhorar sua qualidade de vida, com formação, qualificação
e assessoria técnica específica, levando-se em conta a preservação do meio ambiente buscando alternativas econômicas dentro dos princípios agroecológicos. Durante
estes anos de atuação, a Rede Terra desenvolveu vários projetos, sempre em parceria
com outras entidades da sociedade civil e órgãos públicos.
A Associação para o Combate à Exclusão Social e Preservação Ambiental – Acespa Chico Mendes, é uma entidade de busca, produção de conhecimento e
de implantação de soluções viáveis, dos pontos de vista ecológico, social e tecnológico, para os problemas locais, imediatos e de longo prazo.
Primordialmente, é pela via da educação, sem descuido da legislação, que
busca difundir uma ética para as ações utilitárias sobre os recursos naturais deste Estado. Difunde, como pressuposto básico, o uso e a utilização equilibrados e sustentáveis
do bioma Cerrado.
Os princípios que balizam a atuação da Acespa Chico Mendes são:
• Ter um compromisso com a perpetuidade;
• Servir de exemplo na preservação do meio ambiente;
• Preservar o bioma Cerrado;
• Incentivar a pesquisa científica e tecnológica;
• Compatibilizar preservação do meio ambiente e uso dos recursos naturais;
• Ser elemento de mobilização social;
• Promover os valores humanos;
• Elevar a consciência ambiental;
• Manter o espaço aberto para o livre debate de idéias;
• Desenvolver e preservar a cultura do Cerrado;
• Promover a educação ambiental; e
• Valorizar as águas.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
A Acespa Chico Mendes foi criada em 2002 tendo, como finalidade primeira, a de combater a exclusão social e promover a preservação ambiental. Portanto, tem
desenvolvido atividades educacionais, mobilização social e difusão de tecnologias, no
sentido do desenvolvimento sustentável do Cerrado acoplado a melhoria da qualidade
de vida da população.
5. Caracterização
O Brasil apresenta um sério déficit de acesso a serviços de saneamento básico. Essa situação é prejudicial ao desenvolvimento econômico do país, uma vez que
serviços inadequados de saneamento básico – ou a ausência destes – geram uma série
de externalidades negativas sobre a saúde pública e o meio ambiente. Dessa forma, é
de suma importância que o acesso aos serviços seja universalizado. Contudo, há uma
série de questões institucionais, fiscais e internas ao setor que limitam os investimentos
necessários para que a universalização ocorra.
No meio urbano, a população brasileira produz, em média, 8,4 bilhões de
litros de esgoto por dia. Desse total, 5,4 bilhões não recebem nenhum tratamento, ou
seja, apenas 36% do esgoto gerado nas cidades do país é tratado. No Estado de Goiás esse número cai para 33%. O restante é despejado sem nenhum cuidado no meio
ambiente, contaminando solo, rios, mananciais e praias do país inteiro, sem contar nos
danos diretos que esse tipo de prática causa à saúde da população.
No meio rural, é muito comum o uso de “fossas negras” que contaminam
águas subterrâneas e os poços de água. Assim, a probabilidade de contração de doenças - como salmonela, hepatite, diarréias e cólera - é considerável.
6. Fossa Séptica Biodigestora
Para enfrentar a falta de saneamento rural, a EMBRAPA Instrumentação
Agropecuária desenvolveu uma tecnologia social que de maneira simples,
barata e eficiente trata o esgoto doméstico. A tecnologia social compreende produtos,
técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e
que representem efetivas soluções de transformação social. A tecnologia “Fossa Séptica
Biodigestora” foi desenvolvida pra ser utilizada por produtores rurais, mas também está
sendo empregada em condomínios residenciais localizados na zona rural, onde não há
tratamento de esgoto e, portanto, os riscos de contaminação de solo e recursos hídricos
por coliformes fecais são elevados.
Com o sistema, o dejeto humano, canalizado direto do vaso sanitário, é
transformado em adubo orgânico, pelo processo da biodigestão. Este processo, destinado apenas ao tratamento do esgoto proveniente dos vasos sanitários, substitui as
fossas negras que contaminam o lençol freático e poços caseiros com coliformes fecais.
O adubo orgânico produzido pela fossa é totalmente isento de germes patogênicos,
rico em nitrogênio, fósforo e potássio, podendo ser usado para aplicação direta no solo
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
73
como adubo orgânico líquido.
Cada unidade da fossa instalada é dimensionada para atender uma família
de cinco pessoas. O adubo produzido pela fossa no período de um ano é suficiente para
fertilizar até dois hectares de área cultivada. Isto representa uma grande economia para
o agricultor familiar, que deixa de ter gastos com a compra de adubos químicos.
A fossa séptica é composta por três caixas feitas com manilhas de concreto
de 1.000 litros cada, conectadas entre si por tubulações de PVC. Apenas o encanamento dos vasos sanitários é conectado ao sistema de caixas, que são enterradas no solo e
vedadas para que não haja entrada de ar. Na primeira caixa é adicionado um volume de
esterco fresco para que o processo fermentativo se desenvolva em ambiente anaeróbico. Ao final do processo fermentativo, os coliformes fecais são eliminados. Por fim, o
efluente produzido por ação da digestão bacteriana das fezes é utilizado como adubo
líquido orgânico, com elevado potencial nutricional.
Descrição
Unid.
Quant.
R$
Total
Pç
06
R$ 40,00
R$ 240,00
metro
06
R$ 4,00
R$ 24,00
Válvula retenção de PVC – 100mm
Pç
01
R$ 25,00
R$ 25,00
Curva 90º longa de PVC – 100mm
Pç
02
R$ 8,00
R$ 16,00
Luva de PVC – 100mm
Pç
03
R$ 7,50
R$ 22,50
Tês de inspeção de PVC – 100mm
Pç
02
R$ 6,00
R$ 12,00
Peças de o´ring – 100mm
Pç
10
R$ 4,80
R$ 48,00
Manilha de concreto
Tubo PVC para esgoto - 100mm
Tubo de PVC soldável – 25mm
metro
02
R$ 11,00
R$ 22,00
Cap de PVC soldável
Pç
02
R$ 7,50
R$ 15,00
Flanges de PVC soldável 25mm/50mm
Pç
02
R$ 7,50
R$ 15,00
metro
01
R$ 8,80
R$ 8,80
Pç
01
R$ 42,00
R$ 42,00
Cola de silicone – 300g
tubo
01
R$ 16,00
R$ 16,00
Borracha de vedação
metro
25
R$ 3,20
R$ 80,00
Pasta lubrificante para juntas elásticas em PVC rígido – 400g
tubo
01
R$ 12,00
R$ 12,00
Adesivo para PVC – 100g
tubo
01
R$ 8,40
R$ 8,40
Neutrol
litro
01
R$ 14,00
R$ 14,00
Tubo de PVC soldável – 50mm
Registro de esfera de PVC – 50mm
Total
74
R$ 620,70
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Custo do material – unidade:
7. Resultados
A Rede Terra/ACESPA, por meio de parcerias com agências financiadoras,
já viabilizou a instalação de 574 fossas em comunidades rurais do entorno do Distrito
Federal, beneficiando 574 famílias de agricultores familiares.
A experiência adquirida com a instalação de várias unidades permitiu à Rede
Terra/ACESPA avaliar e aprimorar essa tecnologia social. O projeto original desenvolvido
pela EMBRAPA se constituía de caixas de fibra de amianto e atualmente utilizamos manilhas de concreto feitas localmente. Esta mudança gerou diminuição do custo, o não
uso do amianto tóxico, durabilidade maior e, ainda, a geração de renda pela fabricação
local das manilhas. Essa mudança foi reconhecida e aprovada pela EMBRAPA, passando
a ser adotada em projetos semelhantes implantados em todo o país.
8. Datas, locais e número de famílias beneficiadas
Saneamento Básico Rural – Paracatu
Período de Execução: 12/2006 a 5/2007
Cidade Beneficiada: Paracatu – MG
Beneficiários Diretos: 67 famílias
Situação Atual: Projeto executado.
Resumo: projeto realizado em assentamentos rurais localizados no município de Paracatu.
Saneamento Básico Rural – Luziânia
Período de Execução: 6/2006 a 8/2007
Cidade Beneficiada: Luziânia – GO
Beneficiários Diretos: 51 famílias
Situação Atual: Projeto Executado.
Resumo: projeto realizado em comunidades rurais de pequenos agricultores de Luziânia/GO.
Saneamento Básico Rural – Vila Boa – GO
Período de Execução: 12/2006 a 8/2007
Cidade Beneficiada: Vila Boa – GO
Beneficiários Diretos: 80 famílias
Situação Atual: Projeto Executado.
Resumo: projeto realizado em assentamentos rurais Banco da Terra/Crédito Fundiário.
Saneamento Básico Rural – Corumbá IV
Período de Execução: 01/09/2007 a 01/09/2008
Cidades Beneficiadas: Luziânia, Santo Antônio do Descoberto e Alexânia – GO
Beneficiários Diretos: 290 famílias
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Situação Atual: Projeto Executado
Resumo: projeto realizado em comunidades rurais ao redor da represa da usina Corumbá IV.
Saneamento Básico Rural – Cristalina – GO
Período de Execução: 3/9/2008 a 03/08/2009
Cidade Beneficiada: Cristalina – GO
Beneficiários Diretos: 56 famílias
Situação Atual: Projeto Executado
Resumo: projeto realizado no assentamento rural Casa Branca.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Modalidade
Geologia e Minas
Projeto:
Preservação das Águas Termais
Premiada:
AMAT – Associação das Empresas
Mineradoras das Águas Termais
de Goiás
I - RESUMO DO PROJETO
A existência de uma insegurança quanto à explotação das águas termais
por falta de maiores conhecimentos sobre os aquíferos termais de Caldas Novas e Rio
Quente, na região sudeste do Estado de Goiás, justificou a criação do PROJETO DE
PRESERVAÇÃO DAS ÁGUAS TERMAIS DE GOIÁS.
Iniciado em novembro de 2006 este projeto de pesquisa tem como objetivo propiciar uma explotação segura, embasada em conhecimentos sólidos das condições de infiltração, aquecimento e circulação das águas termais, garantindo um uso
perpétuo.
O projeto tem como estratégia o levantamento de dados, o desenvolvimento de pesquisas e estudos, a realização de ensaios e testes pilotos nas áreas da
Hidrogeologia, da Geologia, da Geologia Estrutural, da Geofísica, da Modelagem Matemática, entre outras ciências, visando o conhecimento mais completo possível dos
aquíferos termais de Caldas Novas e Rio Quente.
Este grande trabalho de investigação trará como resultado o uso sustentável das águas termais, uma explotação realizada através de conhecimentos sólidos e
dará a segurança necessária para toda uma comunidade, principalmente dos municípios de Caldas Novas e Rio Quente que, direta ou indiretamente, vivem e dependem
das águas termais.
II - RESUMO DO ORÇAMENTO DO PROJETO
Para a realização do Projeto foi feita uma cotização entre os membros da
AMAT, onde o usuário que utiliza uma maior quantidade de água ou uma maior temperatura paga mais que outro usuário que utiliza um volume menor de água ou menor temperatura.
O valor de R$ 1.083.000,00 (Um milhão, oitenta e três mil reais) foi dividido
com os associados, a serem pagos através de 36 parcelas mensais.
O projeto já realizou a aquisição de equipamentos automatizados para o
monitoramento das águas, como estações meteorológicas, divers, piezômetros, flooters, molinete; levantamento geológico e estrutural da área de influência dos aquíferos; 45 mil metros de levantamentos geofísicos e análises químicas.
Já com mais de dois terços realizado, o projeto encontra-se na fase de estudo dos dados obtidos para a modelagem numérica dos aquíferos, realização de testes de infiltração de águas e análises isotópicas das águas entre outros. Os estudos
ambientais e de recarga artificial, nesta etapa final, concluirão o projeto.
Ao final a AMAT disponibilizará uma central de monitoramento dos dados
onde será possível acompanhar, através do modelo matemático e dos equipamentos
de campo, as variações dos parâmetros hidráulicos dos aquíferos, podendo desta forma tomar decisões visando a explotação correta e a perpetuação das águas termais.
III - JUSTIFICATIVA DA PROPOSIÇÃO
A insegurança quanto à explotação das águas termais por falta de maiores
conhecimentos sobre os aquíferos termais de Caldas Novas e Rio Quente na região
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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sudeste do Estado de Goiás, levou um grupo de pessoas, preocupadas com o possível fim das águas termais a decidirem, com coragem e com seus próprios recursos,
conhecer melhor este bem natural renovável, mas não inesgotável, para assim decidirem a maneira correta de explorá-lo.
As águas termais se constituem também no principal sustentáculo econômico dos municípios de Caldas Novas e Rio Quente. A garantia do seu uso de forma
racional dará segurança a toda uma população que, direta ou indiretamente, depende deste bem natural para a sua subsistência.
Com o comportamento das águas sendo conhecido seu uso poderá ser
feito com níveis e vazões seguras, garantindo sua perpetuação.
IV - IDENTIFICAÇÃO DA QUESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
As águas termais de Caldas Novas e Rio Quente, conhecidas desde 1777
pelo bandeirante Martinho Coelho também foram motivo de interesse por Dom João
VI, quando este enviou à região o naturalista francês Auguste de Sant-Hilaire para
conhecê-la em 1818. Até a década de 1950 essas águas foram usadas preferencialmente para cura, devido a suas propriedades medicinais. No final da década de 1980
a construção de poços e o bombeamento sem um maior controle provocaram um
forte rebaixamento do nível das águas para mais de 50 metros abaixo da superfície
do terreno. Várias medidas foram tomadas na época de forma a reverter o problema,
mas o desconhecimento dos aquíferos termais (Paranoá, mais profundo com 58 ºC e
Araxá, mais superficial com 40º C) persistia, gerando a insegurança quanto aos seus
potenciais e a forma correta de explorá-los. Novas autorizações de exploração foram
suspensas pelo DNPM, as pressões para liberação de novos poços se intensificaram
e o questionamento e a preocupação da sociedade com o possível fim das águas se
tornaram constantes.
A AMAT iniciou, em novembro de 2006, este projeto de pesquisa diante
de um quadro onde os trabalhos conhecidos, como Hidrogeologia de Caldas Novas –
CPRM, 1980, Mapeamento da Serra de Caldas Novas – UnB, 1999, Novas Contribuições
aos Aquíferos Termais de Caldas Novas – Troeger et al., 1999 e Trabalho da Portaria
DNPM nº 231, Geocaldas/Geocenter, 2000, entre outros, não davam os esclarecimentos suficientes quanto à continuidade da exploração das águas, aliada à preocupação
pelo crescimento da cidade de Caldas Novas e a conseqüente impermeabilização de
grandes áreas de recarga natural dos aquíferos.
Para isso foi contratada a consultoria do Prof. Dr. Uwe Troeger, renomado
hidrogeólogo da Universidade Técnica de Berlin, tendo sido criada uma comissão executiva e definido um projeto e um cronograma onde se prevê, entre vários trabalhos:
• tratamento dos dados já existentes;
• compra e instalação de equipamentos necessários;
• correlação de dados e perfis dos poços existentes;
• elaboração de um modelo hidrológico sobre o funcionamento o aquífero
e sua recarga;
• instalação de piezômetros e medições de drenagens;
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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• ensaios de bombeamento nos poços;
• instalação de tensiômetros;
• realização de testes de infiltração nos níveis freáticos;
• instalação de sondas de pressão e temperatura nos poços termais e nos
piezômetros da Serra de Caldas Novas;
• executar análises químicas nas águas;
• coletar amostras para análises isotópicas 14C,3H,2H,18 O, 3He-Excess,
CFC em diferentes estações climáticas;
• realização de testes com traçadores;
• levantamentos geofísicos;
• levantamento geológico e estrutural;
• geração de um modelo conceitual;
• elaboração e geração de um modelo numérico para a gestão dos Aquíferos;
• realização de um estudo de impacto ambiental para fins de possível implantação da recarga artificial;
• estabelecimento de um programa de medidas e a determinação das áreas pilotos para da recarga artificial;
• análise das águas de efluentes (piscinas);
• sugestão de tipos de tratamento de efluentes;
• a determinação de poços para uma possível recarga;
• monitoramento das estações de recarga;
• treinamento de técnicos para a continuidade dos trabalhos de monitoramento através do modelo numérico e da recarga artificial;
• elaboração de relatórios ao final do projeto.
V - OBJETIVO GERAL
Ao final do projeto, previsto para junho de 2010, a somatória das descobertas científicas sobre os aquíferos termais permitirá a elaboração de uma modelagem
geológica e matemática dos aquíferos. Este modelo tridimensional, instalado em uma
sala informatizada, permitirá o monitoramento e uso das águas de forma moderna
e cientificamente correta, possibilitando a tomada de decisões, quando necessárias.
Constatada a viabilidade técnica e ambiental da recarga artificial dos Aquíferos Termais esta será iniciada em estações pilotos e em locais determinados pelos
estudos.
Todas estas medidas permitirão o acompanhamento e a PRESERVAÇÃO
DAS ÁGUAS TERMAIS.
VI - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para se atingir os objetivos finais, deverão ser conhecidos de forma detalhada os dados sobre a precipitação das águas de chuva nas regiões de recarga, sua
infiltração, evaporação, escoamento superficial e por drenagens. Os aquíferos serão
mais conhecidos através da análise e datação de suas águas, da determinação de seu
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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ciclo de infiltração e ascensão nas rochas. Os levantamentos geofísicos, geológicos e
estruturais, os dados físicos e hidráulicos dos poços associados ao modelo geológico
levarão ao modelo matemático tridimensional. As realizações destes objetivos levarão a decisões sobre a implantação da recarga artificial dos aquíferos.
VII - METODOLOGIA GERAL
As atividades desenvolvidas na realização do Projeto são inúmeras, sendo
que algumas exigem um maior tempo, havendo sobreposições. Até a fase final do
projeto as etapas técnicas e legais a serem seguidas são as seguintes:
• Fase inicial preparatória
• Compra de materiais
• Executar tratamento e análise das informações já existente/disponível
• Correlação dos dados e perfis dos poços com os níveis piezométricos
• Instalar piezômetros e outros aparelhos
• Executar medidas de vazão em poços termais
• Executar ensaios de bombeamento
• Instalação de tensiômetros
• Executar testes de infiltração
• Instalar sondas de pressão e da temperatura
• Análises químicas em estações do ano diferente
• Amostragem isotópicas 14C,3H,2H,18 O, 3He-Excess, CFC em diferentes
estações climáticas
• Realizar testes com traçadores
• Executar levantamentos geofísicos
• Correlação dos resultados usando o programa GeoDin
• Levantar dados de geologia estrutural
• Interpretar os resultados obtidos
• Gerar um modelo conceitual
• Elaborar e gerar um modelo numérico para a gestão do aquífero termal
• Elaborar um modelo hidrológico como funcionará recarga do aquífero
• Estudo ambiental
• Determinar áreas piloto para a recarga artificial
• Estabelecer programa de medidas da recarga artificial
• Análise química e bacteriológica das águas de efluentes de piscinas
• Sugestões para o tratamento das águas efluentes de piscinas
• Ensaios de recarga artificial do aquífero em dois poços existentes
• Monitoramento da recarga artificial em poços existentes
• Locação dos pontos de perfuração para poços profundos para recarga
• Curso para treinamento de pessoal da AMAT
• Instalação final de aparelhos
• Escrever relatório final do projeto
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Reuniões periódicas são realizadas para o encaminhamento das atividades e interação dos Associados.
VIII - RESULTADOS ESPERADOS
O real conhecimento do comportamento dos Aquíferos Termais, aliado a
um monitoramento permanente e controlado de forma científica, permitirá, com a
antecedência exigida, a tomada de decisões corretas.
Eventuais anomalias e comportamentos inesperados, durante a explotação das águas termais, serão constatados, dando aos usuários a condição de saber
qual o “tratamento” a ser adotado para o restabelecimento das condições normais dos
Aquíferos.
IX - BENEFÍCIOS
A normalidade e o estabelecimento de condições saudáveis para as águas
termais de Caldas Novas e Rio Quente é o grande benefício que o PROJETO PRESERVAÇÃO DAS ÁGUAS TERMAIS trará para a esta região.
Assim, o reflexo na economia e no crescimento dos municípios envolvidos
será positivo, afastando temores quanto ao futuro destes.
X - BENEFICIÁRIOS
A segurança do uso racional e perene das águas beneficiará toda a população dos dois municípios e da região do entorno.
A comunidade diretamente envolvida estará mais esclarecida quanto aos
cuidados exigidos com as águas, suas limitações e regras de uso.
O explotador, responsável pela preservação das águas e grande beneficiário, se sentirá também seguro e consciente do cumprimento de suas obrigações.
XI - PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE
Em virtude do grande caráter científico do Projeto, as Universidades e Faculdades da redondeza se tornaram as principais participantes do projeto, que hoje
conta com estagiários e estudantes.
O interesse em participar e aprender tem motivado estudantes a acompanhar os trabalhos científicos desde o início.
Atualmente o Projeto conta com estagiários que já auxiliam na coleta de
dados e controle dos dados nos sensores espalhados pela região.
Alguns já desenvolvem trabalhos no nível de monografia, aproveitando as
fases de um determinado experimento científico em implantação.
Trabalhos de mestrado e doutorado também estão sendo desenvolvidos,
auxiliando mais nas análises e interpretação dos resultados.
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XII - DISSEMINAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir do primeiro ano do Projeto, com a garantia de sua continuidade, a
AMAT procurou intensificar a divulgação e a interação com a sociedade local.
A participação através de palestras e discussões ajudou a divulgar o projeto e despertar o interesse sobre o tema.
A movimentação dos trabalhos, quando realizados dentro da região urbana, já motiva comentários e questionamentos sobre as águas termais.
O debate e explicações em rádios locais, a gravação de programas de televisão onde são mostrados o projeto e a importância das águas termais já foram realizados e ajudam na conscientização da população.
As palestras no ambiente universitário têm sido realizadas com freqüência, sendo que nesta fase final deverá ser feito um trabalho junto ao ensino fundamental e médio.
XIII - SUSTENTABILIDADE DAS AÇÕES
A operacionalidade da central de monitoramento das águas e da possível
recarga artificial deverá ser coordenada pela AMAT, através de uma comissão técnica,
com o apoio técnico e financeiro dos órgãos municipais, estaduais e federais, visando
à preservação das águas termais.
Os recursos para estas operações deverão vir dos mineradores, do Conselho Municipal de Meio Ambiente e das demais entidades que possam colaborar nesta
área.
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ANEXOS
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Modalidade
Produção Limpa
Projeto:
Análise Econômica e Balanço Energético
do Biogás em Granjas de Suínos
Premiados:
João Carlos Umbelino Lira;
Enes Gonçalves Marra;
Elder Geraldo Domingues;
José Antônio Nogueira Júnior;
Lourenço Matias
RESUMO
Este trabalho apresenta a análise de um caso baseado no aproveitamento
do biogás gerado a partir de rejeitos de suínos. A análise mostra que a energia do biogás produzido nos processos da granja pode ser parcialmente aproveitada através de
mecanismos de desenvolvimento limpos (MDL) com a finalidade de aumentar a eficiência energética do sistema. O processo utilizado apresenta benefícios ambientais
e econômicos, já que as emissões de carbono são reduzidas e seus créditos podem
ser negociados. O estudo foi realizado entre os anos de 2007 e 2008, tomando como
base a Granja Monte Alegre, localizada em Rio Verde – GO. Inicialmente realizou-se o
balanço energético da granja e posteriormente desenvolveu-se a análise econômica
a partir da energia disponível determinada pelo balanço energético. A análise econômica de alternativas de geração energética do biogás é apresentada considerando-se
aspectos técnicos, ambientais e financeiros. As seguintes alternativas de aproveitamento do gás foram avaliadas: queima total do biogás; geração de energia elétrica;
aquecimento; ou a combinação de aquecimento e geração de energia elétrica. Além
de apresentar-se como uma importante alternativa na questão do gerenciamento de
resíduos, o aproveitamento energético do biogás possui um potencial significativo
para geração de energia elétrica. O trabalho mostra que a região sudoeste do Estado
de Goiás apresenta um potencial em torno de 23 GWh/mês de energia possível de ser
obtida a partir do biogás produzido em granjas de suínos. Os resultados deste trabalho podem ser aplicados nas granjas de suinocultura do Estado de Goiás como MDL.
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LISTA DE ABREVIATURAS
ABIPECS – Associação da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína.
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental.
LP – Licença Prévia.
LI – Licença de Instalação.
LO – Licença de Operação
IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.
GWP – Potencial de Aquecimento Global.
DBO5 – Demanda Bioquímica de Oxigênio.
NH3 – Amônia.
CH4 – Metano.
H2S – Sulfeto de Hidrogênio.
N2O – Óxido Nitroso.
CO2 – Dióxido de Carbono.
SH2 – Gás Sulfídrico
H2 – Hidrogênio
C/N – Relação Carbono/Nitrogênio.
pH – Potencial de Hidrogênio.
PVC – Cloreto de Polivinila.
VE – Valor Energético.
Fe-EDTA – Solução Química de Ferro e Ácido Etileno Diamino Tetra Acético.
VPL – Valor Presente Líquido.
TIR – Taxa Interna de Retorno.
ha – Hectare
LISTA DE SÍMBOLOS
c – Consumo.
p – Peso total.
eq – Equivalente Energético.
VE – Valor Energético.
S – Coeficiente de Eficiência Energética.
h - Somatório.
Fn – Valor de Pagamentos de um Fluxo de Caixa.
i – Taxa de Desconto
n – Número do Período.
P – Valor Presente.
VPL – Valor Presente Líquido.
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Capítulo 1
Introdução
A energia tem sido através da história a base para o desenvolvimento humano. Atualmente é cada vez maior a necessidade energética para a produção de
alimentos, bens de consumo, serviços e lazer, promovendo o desenvolvimento econômico, social e cultural.
É dentro deste cenário que as fontes renováveis de energia vêm se tornando uma alternativa viável ante a situação mundial de instabilidade econômica e
técnica no setor energético (preço do petróleo, racionamento de energia, danos ao
meio ambiente, etc).
O Brasil é um país que apresenta tradição no uso destas fontes renováveis,
com destaque para a energia hidrelétrica, responsável pela maior parte de geração de
eletricidade e o etanol, proveniente da cana de açúcar e utilizado como combustível.
Existe ainda um enorme potencial para o aproveitamento de outras fontes, tais como
a energia solar, eólica e biomassa.
Das fontes de biomassa existentes, uma que vem ganhando importância
devido a questões ambientais e sanitárias é o aproveitamento energético do biogás
proveniente de suinocultura. Sabe-se que a suinocultura é um dos segmentos do
agronegócio que mais cresce neste país. Segundo dados da ABIPECS – Associação da
Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, o Brasil possui cerca de 40.000.000
de suínos, o que o coloca em destaque no mercado mundial. Entretanto, existe um
desafio a ser vencido pelas granjas criadoras, que é a redução dos impactos ambientais e sanitários gerados pela produção dos dejetos. Sabe-se que os dejetos de suínos
são causadores de doenças no ser humano, além de produzirem na sua formação gases como o metano que são lançados na atmosfera.
Uma das alternativas utilizadas a fim de resolver estes problemas é o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que trata os resíduos (dejetos)
de forma ambientalmente correta, aproveitando o gás gerado de forma a reduzir efeitos globais de aquecimento.
1.1 Objetivo Geral
Diante deste cenário, este trabalho teve como objetivo geral mostrar as
potencialidades energéticas do uso do biogás proveniente de dejetos de suinocultura, tanto nos aspectos técnicos, ambientais e sanitários quanto no aspecto econômico.
De modo a se obter as informações desejadas, foi feita uma pesquisa
abrangente na literatura existente sobre o tema e foram levantadas informações de
campo através de um modelo já implantado, a fim de identificar quais as reais possibilidades de seu aproveitamento energético.
1.2 Objetivos Específicos
Em decorrência do objetivo geral, podem-se citar como objetivos específicos alcançados:
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
99
• Mostrar os aspectos técnicos, econômicos, ambientais e energéticos que
devem ser considerados para implantar um sistema sustentável de geração de energia a partir do biogás proveniente de dejetos de suinocultura;
• Identificar aspectos relativos a custos de instalações direta e indiretamente ligadas à produção do biogás, tais como sistemas de purificação e de compressão, analisando a viabilidade econômica do empreendimento;
• Comparar possibilidades de aplicações energéticas do biogás em granjas
de suínos;
• Analisar a eficiência energética do sistema de produção através da aplicação do balanço energético;
• Mostrar a potencialidade energética na região estudada;
Este trabalho buscou responder a seguinte questão:
O aproveitamento energético do biogás proveniente de dejetos de suinocultura é viável tecnicamente e economicamente?
1.3 Metodologia
O estudo de caso foi realizado na Granja Monte Alegre, localizada na Fazenda Monte Alegre, no município de Rio Verde, em Goiás.
A granja foi escolhida para a realização deste estudo por já possuir uma
produção constante de biogás, através de dois biodigestores construídos para o tratamento dos dejetos. O biogás produzido ainda não é utilizado como alternativa energética, sendo somente queimado via flare. Sua produção diária é de cerca de 460 m³.
Existe também interesse por parte da granja em converter o gás gerado em energia
elétrica para abastecimento próprio.
Inicialmente foi feito um estudo da eficiência energética do biogás proveniente de suinocultura, a fim de identificar sua potencialidade de geração de energia.
Foi utilizada a metodologia do balanço energético.
Para o estudo de viabilidade do potencial energético da Granja Monte
Alegre, foi utilizado o programa Biogás: Geração e Uso Energético – Efluentes e Resíduo Rural, Versão 1.0. da CETESB, cujo programa está disponível no site <http://www.
cetesb.sp.gov.br/biogas/default.asp>, que tem como objetivo analisar quais são as
alternativas para o uso energético do biogás proveniente de dejetos rurais, no caso
da suinocultura, avaliando também as estimativas de investimento e de emissões de
metano, e a possibilidade comercial de seus créditos.
Com base nestas informações, e aplicando conceitos de engenharia econômica, foi feita uma análise de viabilidade econômica para determinar qual seria o
tempo de retorno do investimento, o valor presente líquido e a taxa interna de retorno para cada uma das possíveis alternativas energéticas do uso do biogás proveniente de granjas de suínos.
1.4 Relevância
Ao serem produzidos, os dejetos de suínos apresentam significativo teor
energético que pode ser reaproveitado pelo sistema de produção. Além de melhorar
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a eficiência do processo, seu tratamento adequado possibilita redução nos impactos
sanitários pelos efluentes prejudiciais ao ser humano, além de diminuir consideravelmente os impactos ambientais provocados pelo lançamento dos gases provenientes
destes dejetos na atmosfera, gerando assim condições sustentáveis de desenvolvimento.
1.5 Organização do Trabalho
Para melhor compreensão do texto, este trabalho foi dividido nos seguintes capítulos:
Este capítulo inicial apresentou uma visão geral do trabalho e motivação
para sua realização, bem como sua proposta e contribuições. Descrevem-se os objetivos gerais e específicos sobre o tema estudado, expõe-se a metodologia utilizada e o
estudo de caso, e mostra a relevância para sua realização.
O Capitulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica dos temas de suinocultura, tais como biogás, biodigestores, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
e Créditos de Carbono, mostra a questão sanitária referente a dejetos de suínos como
vetor de transmissão de doenças, como agente poluidor de lençóis freáticos e cursos
d’água; descreve a regulação ambiental para o estudo, descreve a questão ambiental
referente à emissão de gases de efeito estufa (CO2, CH4) proveniente do tratamento
de dejetos de suínos e mostra as tecnologias utilizadas atualmente.
O Capítulo 3 determina a eficiência energética do caso em estudo, com
base no balanço energético; apresenta conceitos referentes à produção de energia
elétrica e à necessidade de purificação do gás metano, abrangendo também a questão dos custos envolvidos; o uso direto do gás para geração energética e seus equipamentos; a produção de biofertilizante; além de levantar a capacidade de geração de
energia da granja em estudo.
O Capítulo 4 faz uma análise de viabilidade econômica do potencial energético da granja realizando estudos de investimentos e comércio de créditos de carbono. Determina o período de retorno do investimento, o valor presente líquido, a
taxa interna de retorno das seguintes alternativas de aproveitamento energético: a
utilização exclusiva do gás para aquecimento; utilização do gás para aquecimento e
geração de energia elétrica para consumo próprio; utilização exclusiva do gás para
geração de energia elétrica para consumo próprio; e queima do volume total do gás
metano produzido.
O Capítulo 5 destaca os principais aspectos do trabalho, as conclusões referentes ao estudo.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Capítulo 2
Aspectos Sanitários, Ambientais e Tecnológicos da Suinocultura
2.1 Aspectos Sanitários
A poluição ambiental por dejetos é um problema que vem se agravando
na suinocultura moderna. Diagnósticos recentes têm demonstrado um alto nível de
contaminação de rios e lençóis de água superficiais que abastecem tanto o meio rural
quanto o urbano, sendo que a capacidade poluente dos dejetos suínos, em termos
comparativos, é muito superior a de outras espécies.
O equivalente populacional de um suíno equivale a cerca de 3,5 pessoas,
sendo que o grau de poluição do dejeto suíno é cerca de 200 vezes maior que o doméstico (TECPAR, 2002). CASAGRANDE (2003), aumenta este potencial poluidor para
cerca de 4,2 vezes maior do que o esgoto doméstico. BEZERRA (2002) afirma que um
suíno possui um potencial poluidor quatro vezes maior que um humano, e conclui
exemplificando que um suinocultor médio com 3.000 animais permanentemente instalados em sua granja, é responsável pela poluição de esgotos equivalente a uma
cidade com 12 mil habitantes.
Outro aspecto importante é o correto manejo da água em granja de suínos, adequado à disponibilidade deste recurso, seja por reaproveitamento da água
servida utilizada na limpeza da granja, por eliminação de dejetos via raspagem e manutenção periódica no sistema hidráulico (KUNZ, 2003).
Segundo FÁVERO (2003), a segurança sanitária é um item que também
deve ser levado em conta no tratamento dos dejetos. A fim de diminuir os riscos envolvidos neste procedimento e a disseminação de organismos potencialmente prejudiciais a humanos, animais e ao ambiente, além de todos os cuidados sanitários aplicados aos rebanhos, mostra-se prudente assegurar um tempo mínimo de retenção
de 30 dias para a decomposição dos dejetos em sistemas anaeróbios ativos, antes de
utilizá-los como fertilizante.
Já RANZI (2002), afirma que o lançamento direto de dejetos frescos em
cursos de água permite uma diminuição do oxigênio dissolvido na água e aumenta
a mortandade de peixes, além de impossibilitar o uso da água para diversos fins, elevando também o número de moscas devido à falta de tratamento destes dejetos. As
moscas são responsáveis por transmitirem os agentes veiculadores da diarréia, da cólera e da meningite, sendo que um grande número de microorganismos, como bactérias, vírus, protozoários e ovos de helmintos, presentes no trato digestivo dos animais
são geralmente encontrados nos efluentes da suinocultura, onde muitos deles são
potenciais causadores de doenças.
102
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AGNOESE (2006a) mostra que os dejetos não tratados, lançados no solo e
nos mananciais de água, podem causar desequilíbrios ambientais e trazer problemas
de saúde às pessoas e animais. Complementa que 20% das enfermidades que atingem o homem, estão direta ou indiretamente ligadas às contaminações da água. A
proliferação de insetos indesejáveis e surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos é outro aspecto que também vêm sendo associadas à inadequação dos sistemas
convencionais de tratamento de dejetos, ocasionando maior incidência de doenças
respiratória, gastrintestinal, visuais, irritações da membrana da mucosa, dor de cabeça, dor de garganta, dentre outras.
Segundo OLIVEIRA et al (2003) e TOBIAS (2002), a poluição por dejetos
é proveniente do lançamento dos mesmos sem o devido tratamento nos cursos de
água, o que acarreta desequilíbrios ecológicos, tais como a redução de teor de oxigênio dissolvido na água, disseminação de patógenos como cólera, amebíase, ascaridíase, febre tifóide, hepatite infecciosa e esquistossomose, além de insetos e moscas,
contaminação de águas potáveis com amônia, nitratos, coliformes fecais e outros elementos tóxicos, além de emitir odores desagradáveis devido à evaporação de gases
contaminantes, tais como amônia (NH3), metano (CH4), sulfeto de hidrogênio (H2S),
óxido nitroso (N2O) e dióxido de carbono (CO2). A tabela 2.1 apresenta os limites de
tolerância para alguns agentes químicos.
TABELA 2.1
Limites de tolerância para alguns agentes químicos.
Fonte: SAMPAIO, 2004.
SAMPAIO (2004) afirma que, a exposição a estes gases pode desencadear
o aparecimento de doenças alérgicas e respiratórias com efeitos tóxicos diretos, podendo até ser letal. Doenças respiratórias em suínos e nos trabalhadores são causadas
principalmente pela amônia, sulfeto de hidrogênio, dióxido de carbono e monóxido
de carbono. A amônia e o sulfeto de hidrogênio causam perda de apetite (anorexia) e
conseqüentemente redução na produtividade animal. A tabela 2.2 apresenta as infecções que podem ser transmitidas por dejetos de suínos.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
103
TABELA 2.2
Classificação ambiental de infecções transmitidas por dejetos.
Fonte: GAMA, 2003.
KONZEN (2006) relata que o desenvolvimento da suinocultura intensiva
trouxe a produção de grandes quantidades de dejetos, que são depositados em lagoas e depósitos abertos, nos quais há uma produção intensiva de gases nocivos que
são lançados na atmosfera, entre eles o biogás cujo principal componente é o metano
104
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
(CH4). Boa parte destes dejetos é lançada diretamente no solo e nascentes de água
sem o devido tratamento, o que ocasiona a sua contaminação.
Sendo assim, a suinocultura deve priorizar, além de sua produtividade e aspectos de mercado, questões relativas à proteção sanitária e ambiental,
não somente pela exigência de legislação aplicada ao setor, mas também visando
minimizar impactos negativos ao ambiente.
Para que isto ocorra é necessário avaliar estes impactos gerados, com base em ações que têm como premissas estudos de acompanhamento da
situação ambiental local, desenvolvimento de alternativas energéticas e rurais em
função do volume de resíduos produzidos, adequação a distâncias de granja e manejo de dejetos com base na legislação federal, estadual e municipal (TAKITANE, 2000).
KUNZ (2003) mostra uma relação de Legislações aplicadas ao licenciamento ambiental para o funcionamento de granjas:
• Constituição Federal Brasileira - 1998 - Art. 225.
• Decreto Federal nº 0750/93 - Mata Atlântica.
• Lei Federal nº 9.605/98 - Lei dos Crimes Ambientais - Art. 60.
• Código das Águas - Decreto Federal nº 24.645 de 10/07/34 e alterações.
• Código Florestal Federal - Lei 4.771/65 e alterações.
• Lei Federal nº 6.766/79 - Disciplinamento do solo urbano.
• Legislações e Códigos Sanitários Estaduais e Municipais.
Apresenta também as principais autorizações para funcionamento de empreendimentos:
• LP (Licença Prévia): Determina a possibilidade de instalação da granja em
determinado local;
• LI (Licença de Instalação): Faz a análise do projeto quanto a conformidade com a legislação ambiental;
• LO (Licença de Operação): Concede a licença de funcionamento da granja após conferência do projeto executado com base na LI e prevê um plano de monitoramento.
2.2 Aspectos Ambientais
2.2.1 O Efeito Estufa
Outra consequência relativa ao tratamento inadequado de dejetos de suínos é a emissão de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, o que acarreta
um aumento significativo de temperatura no planeta. Atualmente muito discutida e
estudada, a mudança do clima representa como um dos maiores desafios ao desenvolvimento. O reconhecimento da importância deste problema firmou-se em 1979
em Genebra, Suíça, na primeira conferência mundial sobre o tema - World Climate
Conference - onde se introduziu o conceito de que o ser humano pode afetar o clima
e prejudicar sua qualidade de vida.
No decorrer destes mais de 30 anos, várias conferências focaram o tema da
mudança climática no planeta. Entretanto, o Painel Intergovernamental de Mudanças
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
105
Climáticas – IPCC, estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente gerou em 1990 o primeiro relatório onde se confirmaram evidências científicas
sobre a mudança do clima. Em seu relatório de 2005, o IPCC afirma que o aquecimento observado durante os últimos 50 anos se deve muito provavelmente a um aumento dos gases do efeito estufa, sendo incrementado de 1 a 3,5 ºC durante os próximos
100 anos, caso as medidas de prevenção não sejam tomadas (COSTA, 2006).
O gás metano é o segundo maior contribuinte para o aumento do efeito
estufa e sua parcela só perde apenas para a do gás carbônico (CO2). No entanto, as
características de absorção térmica do CH4 são cerca de 20 vezes maior que a do CO2
(ALVIN, 2006).
A figura 2.1 apresenta um panorama mundial das emissões de gases de
efeito estufa.
FIGURA 2.1 – Emissões de gases de efeito estufa.
Fonte: USCCTP, 2005
2.2.2 Crédito de Carbono e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
O tratamento adequado dos dejetos possibilita uma redução significativa
dos impactos citados anteriormente, com destaque para aqueles projetos destinados
à redução dos gases formadores do efeito estufa – Estes projetos se enquadram no
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Através do mecanismo de flexibilização, é possível certificar as reduções destas emissões por entidades e procedimentos
definidos pelo tratado de Kyoto, sendo viabilizadas para venda pelos chamados créditos de carbono. Na maioria dos casos os créditos de carbono são comprados pelos
países, os chamados países do anexo I. (GUARDABASSI, 2006).
Esta quantificação é feita com base em cálculos, os quais determinam a
quantidade de CO2 a ser removida ou a quantidade de gases do efeito estufa que
106
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
deixará de ser lançada na atmosfera. Cada crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Essa medida internacional foi criada com o
objetivo de medir o potencial de aquecimento global dos gases causadores do efeito
estufa. Tem-se como exemplo o metano, que possui um Potencial de Aquecimento
Global (PAG) igual a 21, pois seu potencial causador do efeito estufa (capacidade de
absorção térmica) é 21 vezes maior que o CO2 (MENDES, 2005).
Existe a possibilidade do Brasil se colocar como país sede de projetos de
tecnologia limpa que contribuam para a redução de emissão de gases do efeito estufa. Por não ter compromisso formal desta redução até 2012, conforme tratado de
Kyoto, o país pode tornar-se vendedor de créditos de carbono, além de ser alvo de
investimentos de países que necessitam reduzir suas emissões (COSTA, 2006).
A tonelada de carbono é comercializada por cerca de US$ 15, podendo
valer até US$ 40. Estima-se que nos próximos cinco anos, o mercado de crédito de
carbono terá um potencial, só nos Estados Unidos, de cerca de US$ 50 bilhões (NORDHAUS, 2008).
Este trabalho adotará o valor de R$ 30,00 por tonelada de carbono em
virtude do primeiro leilão realizado para venda no Brasil, no qual o valor oscilou entre
€ 12,00 e € 16,00 .
2.3 Aspectos Tecnológicos
2.3.1 Lagoa de Decantação
Um sistema primário de tratamento de dejetos de suinocultura pode ser
feito utilizando-se uma lagoa de decantação. Estes reservatórios possuem profundidade de quatro a cinco metros, valor que é justificado pela redução de possibilidade
de penetração do oxigênio produzido na superfície para as camadas inferiores. O material orgânico aplicado deve ser de tal forma que sua taxa de consumo de oxigênio
seja superior à de produção, criando condições anaeróbias neste ambiente.
Estas instalações chegam a remover em média 50% do valor da DBO5, que
é a demanda bioquímica de oxigênio ou quantidade de oxigênio necessária para oxidar a carga orgânica por um período de 5 dias. Dejetos de suínos possuem DBO5 de
40.000 mg/L (TECPAR, 2002). Este valor ainda é baixo, o que possibilita a instalação de
lagoas posteriores para tratamento, visto que o efluente ainda possui grandes taxas
de matéria orgânica.
Embora seja de fácil construção e operação, as lagoas de decantação apresentam aspetos desfavoráveis, tais como formação de maus odores em suas proximidades, surgimento de moscas e insetos no local, além da liberação direta do gás metano no ambiente. Estes fatores prejudicam seu funcionamento, o que faz com que seja
implementado pelo empreendimento tecnologias de auxílio a este sistema (SERAFIM
et al, 2003). A figura 2.2 ilustra o aspecto de uma lagoa de decantação.
2
LEOPOLDO, Ricardo. Kassab: resultado do leilão de carbono foi ‘excepcional’. Folha de São Paulo. São Paulo/SP, 26 set. 2007. Disponível
em:<http://noticias.uol.com.br/ultnot/brasil/2007/09/26/ult4469u11860.jhtm>, acesso em 26/09/2007.
€ 1,00 equivale a R$ 2,78 conforme cotação do dia 03/06/2009.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
107
FIGURA 2.2 – Lagoa de decantação com formação de gás metano (bolhas) lançado diretamente na
atmosfera. Fonte: AGCERT, 2007.
Um sistema de tratamento biológico adequado torna-se eficiente para reduzir e estabilizar a matéria orgânica dos dejetos de suínos, além de aumentar a produção diária de biogás (AGNOESE, 2006b). A tabela 2.3 apresenta a classificação dos
métodos de tratamento de dejetos de suínos de acordo com o tipo de tratamento.
TABELA 2.3
Classificação dos métodos de tratamento de dejetos suínos de acordo com o tipo de tratamento.
Fonte: GAMA, 2003
No trabalho desenvolvido por SAMPAIO (2004) foram feitas medidas referentes às emissões de CH4 provenientes do entorno das instalações de suínos (maternidade e terminação) e da lagoa de decantação. Verificou-se que ao redor das instalações, a concentração foi cerca de cinco vezes menor do que ao redor da lagoa de
decantação de dejetos.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
108
BEZERRA (2002) e CASAGRANDE (2003) definem Biosistema Integrado
como um sistema onde se procura a aplicação de métodos e técnicas que eliminem
os resíduos produzidos em determinado processo produtivo, transformando-os em
matérias primas úteis em outros processos, de forma a minimizar os impactos gerados
por estes resíduos. A figura 2.3 apresenta um exemplo de Biosistema Integrado.
FIGURA 2.3 – Exemplo de um biosistema integrado.
Fonte: CASAGRANDE, 2003.
No exemplo mostrado acima, os resíduos do biodigestor são depositados
no tanque de sedimentação para a formação do biofertilizante, que em seguida é
levado para um tanque para o desenvolvimento de algas, que por contribuem na oxigenação da água quando inseridas em um tanque de peixes.
2.3.2 Biodigestores e Biogás
Uma maneira de se tratar os dejetos de suínos, e complementar a forma
simplificada e pouco eficaz da lagoa de decantação, é através do uso dos biodigestores. Estes sistemas são câmaras nas quais, fora do contato da luz e do ar, se processam
os fenômenos bioquímicos para a obtenção do biogás e o biofertilizante, denominado de digestão anaeróbia (MACINTYRE, 1996). A figura 2.4 mostra o processo de
biodigestão anaeróbica.
FIGURA 2.4 – Processo de biodigestão anaeróbia.
Fonte: AGCERT, 2007.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
109
Este processo ocorre devido a ações de tipos de bactérias que atuam em
estruturas orgânicas na falta de oxigênio, com a finalidade de produzir substâncias
simples (CH4 e CO2), deixando na parte líquida subprodutos como NH3, sulfetos e
fosfatos. Estes microrganismos produtores apresentam alta sensibilidade à variação
de temperatura, dificultando o processo anaeróbio. A estabilidade térmica pode ser
conseguia através do isolamento térmico da câmara de digestão nos meses de inverno, evitando assim baixa produção de biogás. Outro fator de grande influência na
digestão é o pH existente no meio. Em um ambiente ácido, não há ação de bactérias
sobre o material, enquanto que em meio alcalino, existe produção de H2 e anidrido
sulfuroso. Este valor deve ser neutro (pH = 7,0) para que se obtenha uma ação ideal e
produção homogênea (ALMEIDA et al, 2002). A figura 2.5 apresenta as fases do processo de biodigestão.
FIGURA 2.5 – Fases da ação das bactérias anaeróbicas no processo de biodigestão.
Fonte: BEZERRA, 2002.
Através deste processo o efluente, ao passar pelo biodigestor, libera carbono na forma de CH4 e CO2. Verifica-se assim uma diminuição na relação entre carbono
e nitrogênio (relação C/N) da matéria orgânica, o que melhora as características do
material para finalidades agrícolas. No entanto, a aplicação deste efluente deve levar
em conta critérios técnico-financeiros de forma a evitar impactos no meio ambiente.
Custos com transporte, topografia ondulada, propriedades de pequeno tamanho e a
escassez de áreas agrícolas apropriadas para a mecanização, constituem barreiras ao
uso de dejetos suínos na forma de biofertilizante (COSTA, 2006).
No caso do biogás, a composição em volume é de cerca de 60 a 70% de
metano (CH4), 30 a 40% de gás carbônico (CO2), 0 a 1% de gás sulfídrico (SH2) e amônia (NH4), e de 1 a 3 % de hidrogênio (H2) (CAMPOS, 2005). Já CAMPOS (2003) apresenta a tabela 2.4 que descreve a composição do biogás segundo análise de diferentes autores.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
110
TABELA 2.4
Composição do biogás.
Fonte: CAMPOS, 2003
A potência calorífica do biogás depende do teor de metano que contém,
podendo variar de 20.950 a 25.140 kJ/m³, sendo que 1 m³ deste gás (cerca de 0,716
kg) apresenta os seguintes equivalentes energéticos (DEGANUTTI et al, 2006) (MACINTYRE, 1996):
0,735 a 1,5 kg de carvão de lenha;
0,553 l de óleo diesel;
0,613 l de gasolina comum;
1,538 a 3,5 kg de lenha;
0,579 l de querosene;
0,454 kg de GLP;
1,55 kWh de energia elétrica
O biodigestor compõe-se basicamente de um tanque digestor que contém a biomassa no qual se processa a biodigestão anaeróbia, um armazenador para
o biogás produzido (gasômetro) e dois reservatórios, um instalado antes do tanque
digestor e outro após o gasômetro para armazenar o biofertilizante, que é utilizado
como adubo natural na fertilização de solos agrícolas, constituindo uma vantagem
adicional no uso de biodigestores no meio rural. O tempo de retenção dos dejetos
para a produção do biogás pode variar entre 20 a 50 dias, dependendo do sistema e
tipo de carga a processar (OLIVEIRA, 2007).
Os biodigestores classificam-se conforme o sistema de alimentação dos
mesmos em sistemas contínuos, os quais recebem carga de biomassa sob forma semilíquida diariamente ou periodicamente sendo que a remoção e suprimento do biofertilizante e biogás se fazem de forma contínua, e em sistemas intermitentes, que
recebem a carga total de biomassa que fica retida até que seja completado o processo
de biodigestão. Os modelos conhecidos são o chinês, que é construído com alvenaria, o indiano, que possui câmara de gás móvel, e o de gasômetro de PVC, que utiliza
lona plástica para armazenamento do gás. Este último tipo é mais utilizado no Brasil,
devido à sua maior facilidade de construção e instalação, além de apresentar a relação
custo x benefício mais atrativo (DEGANUTTI et al, 2006).
A tabela 2.5 apresenta uma comparação dos modelos chinês e indiano
de biodigestores, e a tabela 2.6 apresenta as especificações gerais de biodigestor de
gasômetro (câmara de gás) de PVC.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
111
TABELA 2.5
Comparação dos modelos de biodigestores Chinês e Indiano
Fonte: GASPAR, 2003.
TABELA 2.6
Especificações gerais de Biodigestor de gasômetro de PVC modelo Sansuy.
Fonte: OLIVEIRA, 2007.
112
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
As figuras 2.6, 2.7 e 2.8 ilustram respectivamente os modelos chinês, indiano e com câmara de gás em PVC.
FIGURA 2.6 – Biodigestor modelo chinês em corte.
Fonte: DEGANUTTI et al, 2006.
FIGURA 2.7 – Biodigestor modelo indiano em perspectiva.
Fonte: DEGANUTTI et al, 2006.
FIGURA 2.8 – Modelo de Biodigestor de gasômetro de PVC adotado pela empresa Agcert em planta
baixa (A) e construído (B).
Fonte: KONZEN, 2006.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
113
O tratamento de dejetos por biodigestão anaeróbia apresenta vantagens
quanto a aspectos sanitários, ambientais, e energéticos, pois destrói organismos patogênicos e parasitas, produz metano que pode ser usado como uma fonte de energia, reduzindo a emissão deste gás na atmosfera (MMA, 2006).
2.4 Considerações Finais
Neste capítulo, foram apresentados os impactos gerados pelo tratamento
inadequado de dejetos de suínos em seus aspectos sanitários e ambientais, sendo
dada ênfase na proliferação de doenças provenientes dos dejetos e o lançamento dos
gases resultantes na atmosfera, ocasionando o chamado efeito estufa. Foram mostradas também as tecnologias existentes para o tratamento adequado destes dejetos
através dos biodigestores. No capítulo seguinte serão mostrados os aspectos de produção do biogás e a análise energética para seu aproveitamento.
Capítulo 3
Balanço Energético e Produção de Energia
3.1 Balanço Energético
O balanço energético é uma metodologia relevante para avaliar o potencial de produção de biogás energeticamente disponível. É definido como sendo a
apuração da energia envolvida em um sistema de produção. O balanço energético é
realizado por meio da análise das principais matrizes de entrada e saída de energia
no processo de produção, as quais são calculadas por meio do poder calorífico das
matérias-primas envolvidas. O balanço energético permite também a determinação
da eficiência energética do processo (LUCAS JR., 2004; BRASIL, 2006).
A produção de suínos gera resíduos armazenadores de energia, que podem ser revertidos, reduzindo custos, melhorando o equilíbrio energético do sistema e aumentando o rendimento do processo. Como exemplo, tem-se a produção de
energia elétrica gerada através do uso do biogás em uma granja de suínos com custos
bastante competitivos (SOUZA, 2004).
3.1.1 Metodologia
Determinaram-se os valores mensais de entradas e saídas de energia no
processo de criação de leitões da Granja Monte Alegre , localizada no município de
Rio Verde/Goiás, que possui 2 biodigestores de gasômetro de PVC (manta de vinil)
que já produzem biogás, o qual é queimado em flare (chama), mas ainda não é aproveitado como energia útil nos processos da granja.
Foram quantificados os poderes caloríficos dos principais componentes
envolvidos no processo de produção de biogás na planta (granja), utilizados posteriormente no cálculo do coeficiente de eficiência energética. Não foram considerados
114
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
os componentes energéticos das instalações e mão de obra, sendo determinados os
seguintes consumos diretos e indiretos:
a) Ração (kg);
b) Água (l);
c) Óleo Diesel (l);
d) Energia Elétrica (kWh);
e) Leitões produzidos (kg);
f ) Biofertilizante (m³);
g) Biogás gerado (m³);
A construção e operação de um sistema de biodigestão aneróbica (metanização ou biogaseificação) para produção de biogás (metano ou CH4) é composto
pela seguinte etapas:
1) Escavação dos biodigestores;
2) Construção dos sistemas de escoamento de dejetos (tubulação) dos
galpões até a caixa de passagem (coleta de dejetos);
3) Construção da caixa de coleta de dejetos, tubulação de alimentação
dos biodigestores;
4) Impermeabilização dos biodigestores com manta interna de PVC;
5) Cobertura dos biodigestores com manta de PVC (manta de vinil), partida e enchimento do biodigestor;
6) Eliminação do metano (biogás) por combustão.
O biogás deve ainda passar por um processo de purificação, antes da queima, caso se pretenda realizar sua eliminação através de motores de combustão interna ciclo Otto, a fim de prolongar a vida do motor e reduzir a taxa de manutenção.
A energia térmica produzida no processo de combustão pode ser aproveitada para finalidades energéticas úteis, a fim de aumentar a eficiência da planta.
Estes processos úteis podem compreender a geração de energia elétrica através de
grupos geradores acionados por motores de ciclo Otto, acionamento de aspersores
para lançamento de biofertilizantes, sistemas de aquecimento de água, climatização
de ambientes, secagem de grãos, cozimento de alimentos, bombeamento de água
ou efluentes, combustível para automotores ou em processos de produção de ração.
3.1.2 Componentes Energéticos Envolvidos no Processo – Dados de Entrada
3.1.2.1 Consumo de Energia Elétrica
Foram feitos levantamentos de carga para estimativa de consumo nas seguintes instalações:
Fábrica de Rações;
Gestação 1;
Gestação 2;
Maternidade 1;
Maternidade 2;
Creche;
Barreira;
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
115
Habitações.
O consumo médio mensal é de 23.000 kWh.
3.1.2.2 Consumo de Óleo Diesel
A partir dos veículos utilizados, foi feito o levantamento do consumo mensal médio de óleo diesel, conforme mostrado na tabela 3.1.
TABELA 3.1
Descrição
Consumo (l)
Caminhão 1313
800
Camionete D 10
250
Trator MF 275
100
TOTAL
1.150
Relação de veículos e consum1o.
Fonte: Granja Monte Alegre – Rio Verde GO.
3.1.2.3 Consumo de Ração
Foram levantados os consumos de ração por tipo utilizado nas fases de
crescimento dos leitões, indicados na tabela 3.2.
TABELA 3.2
Tipo de Ração
Consumo (kg)
Inicial Medicada
45.300
Pré I
2.130
Pré II
10.360
Pré III
19.020
Lactação
37.720
Gestação
66.570
TOTAL
181.100
Relação de consumo de ração por tipo.
Fonte: Granja Monte Alegre – Rio Verde GO.
3.1.2.4 Consumo de Água
O consumo de água foi determinado através de medidor de vazão de água
instalado no poço artesiano da granja, cujo valor médio mensal é de 15.000 m³.
3.1.3 Componentes Energéticos Envolvidos no Processo – Dados de Saída
3.1.3.1 Produção de Leitões
Foi feito o levantamento da produção de leitões, determinando seu peso
116
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
médio com base nas classes de pesos intermediários de suínos até 22,0 kg, de 22,1 kg
a 24,0 kg, de 24,1 a 26,0 kg, e maiores que 26,0 kg. O valor mensal determinado foi de
3.160 leitões com peso médio por cabeça de 23,25 kg totalizando 73.470 kg.
3.1.3.2 Produção de Biogás
Determinou-se a produção de biogás através do medidor de vazão de gás
instalado entre a saída do gasômetro do biodigestor e o flare. Foram coletadas inicialmente as medições diárias durante cada mês, sendo feita em seguida a média dos 3
últimos meses consecutivos. O valor médio mensal encontrado foi de 13.975,8 m³/
mês.
3.1.3.3 Produção de Biofertilizante
Foi determinado o volume adicionado ao volume já armazenado na lagoa
através da régua de medição. A produção mensal média com base nos 3 últimos meses é de 1.392,80 m³/mês.
3.1.4 Determinação dos Equivalentes Energéticos Envolvidos no Processo
Para os componentes de entrada e saída do processo, foram apresentados
seus respectivos equivalentes energéticos, indicados na tabela 3.3 e 3.4 respectivamente.
3.1.4.1 Componentes de entrada do processo
TABELA 3.3
Componentes de entrada.
Componente
Equivalente Energético
Energia Elétrica
3.602,50 kJ/ kWh
Óleo Diesel
38.376,40 kJ/ l
Ração
13.593,55 kJ/ kg
Água
0,00085 kJ/ m³
Fonte: (Macintyre, 1996); (Lucas Jr., 2004); (Nunes, R. C. et al, 2005)
3.1.4.2 Componentes de saída do processo
TABELA 3.4
Componentes de saída.
Componente
Equivalente Energético
Leitões
9.313 kJ/kg
Biogás
22.370,50 kJ/m³
Biofertilizante
18.603,68 kJ/m³
Fonte: (Lucas Jr., 2004); (Roppa, 2000); (Bezerra, 2002)
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117
3.1.5 Determinação do Valor Energético dos Componentes
O valor energético (VE) é determinado para cada componente do processo, conforme Lucas (2004), e apresentado a seguir.
3.1.5.1 Dados de Entrada
Energia elétrica: calculada pelo produto do consumo de energia elétrica
[kWh] e seu equivalente energético [kJ/kWh], conforme equação 3.1.
VE Elétrica = c [kWh] • eq.[kJ/kWh] (3.1)
Óleo diesel: calculado pelo produto do consumo [l] e seu equivalente
energético [kJ/litro], conforme equação 3.2.
VE Óleo diesel = c [l] • eq.[kJ/litro] (3.2)
Ração: calculado pelo produto do consumo total de rações [kg] e seu equivalente energético [kJ/kg], conforme equação 3.3.
VE Ração = c [kg] • eq.[kJ/kg] (3.3)
Água: calculado pelo produto do consumo mensal [l] e seu equivalente
energético [kJ/l], conforme equação 3.4.
VE Água = c [l] • eq.[kJ/ m³] (3.4)
3.1.5.2 Dados de Saída
Leitões: Calculado pelo peso total [kg] e seu equivalente energético [kJ/
kg], conforme equação 3.5.
VE Leitões = p [kg] • eq.[kJ/kg] (3.5)
118
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Biogás: Calculado pela produção mensal [m³] e seu equivalente energético [kJ/m³], conforme equação 3.6.
VE Biogás = p [m³] • eq.[kJ/m³] (3.6)
Biofertilizante: Calculado pela produção mensal [m³] e seu equivalente
energético [kJ/m³], conforme equação 3.7.
VE Biofertilizante = p [m³] • eq.[kJ/m³] (3.7)
3.1.6 Coeficiente de Eficiência Energética
Calculado pela relação entre energia produzida e consumida, ou seja, pela
relação entre a somatória dos valores energéticos dos componentes de saída e dos
componentes de entrada (BRASIL, 2006).
3.1.7 Resultados
Nas tabelas 3.5 e 3.6 são mostrados respectivamente os valores energéticos dos componentes de entrada e saída envolvidos no processo de produção de
biogás na granja, aplicando as equações de (3.1) a (3.7).
TABELA 3.5
Dados de entrada.
Componente
Valor Energético (MJ)
Energia Elétrica
3.602,50 kJ/ kWh
Óleo Diesel
38.376,40 kJ/ l
Ração
13.593,55 kJ/ kg
Água
0,00085 kJ/ m³
TOTAL
2.588.836,92
TABELA 3.6
Dados de saída.
Componente
Valor Energético (MJ)
Leitões
615.681,53
Biogás
312.645,88
Biofertilizante
25.677,78
TOTAL
954.005,20
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
119
= 0,37. (3.9)
Desprezando o uso do biogás:
= 0,25. (3.10)
3.1.8 Produção de energia elétrica utilizando biogás
No caso do biogás, a energia química é convertida em energia mecânica
através de um processo de combustão interna com ciclo Otto, que aciona um gerador elétrico, convertendo a energia mecânica em energia elétrica. Outra alternativa
seria converter diretamente a energia química do biogás em energia térmica, sendo
utilizado em aquecimento ou resfriamento de ambientes, bombeamento de água ou
biofertilizante, caldeira, cozimento de alimentos, aquecimento de água, secagem de
grãos ou outra finalidade que demande energia térmica (OLIVA ET AL, 2001).
Conforme tabelas 3.3 e 3.4, a relação entre equivalentes de biogás e energia elétrica, é de cerca de 6,2 kWh/m³. Entretanto, sua conversão para energia elétrica
utilizando grupo geradores (motores de ciclo Otto) reduz este valor para cerca de 25%
(1,55 kWh/m³), em função do rendimento dos motores de combustão de ciclo Otto
operando com biogás (MACINTYRE,1996; SOUZA, 2004).
A potência elétrica instalada da granja é de aproximadamente 200 kW e
seu consumo médio mensal de energia elétrica é 23.000 kWh, o que resulta em um
consumo médio diário aproximado de 766 kWh.
A produção média mensal aproximada de biogás da granja é de 13.900
m³, resultando em produção média diária aproximada de 460 m³. A instalação de um
grupo gerador alimentado por motor de combustão de biogás pode suprir quase
toda a energia para o funcionamento do sistema, reduzindo custo de produção e aumentando a eficiência energética do processo.
3.1.9 Custos de utilização
O custo de produção da eletricidade com aproveitamento do biogás é
composto do capital investido na construção e manutenção do biodigestor e do grupo gerador. O biogás pode ser comparado com outras fontes alternativas de energia.
Seu custo de geração pode ser competitivo inclusive com outros tipos de biomassa,
sendo vantajoso em relação às fontes eólica e fotovoltaica conforme pode ser verificado na tabela 3.7 (SOUZA, 2004).
TABELA 3.7
Comparação dos custos mínimo e máximo do biogás com outras fontes alternativas de energia.
120
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Sistema
Energia (R$/MWh)
Biogás
67 a 190
Fotovoltaico
200 a 400
Eólico
50 a 80
Biomassa
40 a 70
Motor Diesel
100 a 300
Microcentral Hidrelétrica
20 a 40
Fonte: SOUZA, 2004.
Outra questão importante quanto ao custo de utilização do biogás é tratarse de uma tecnologia considerada um mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL),
podendo ter o volume equivalente de carbono não emitido na atmosfera negociado
em bolsas de valores. Esta negociação pode inclusive se dar através da reunião de
produtores de suínos em cooperativas ou associações. Tendo-se em conta que o efeito estufa produzido pelo gás metano (CH4) é cerca de vinte vezes superior ao do gás
carbônico (CO2), sua combustão deve gerar dividendos concretos na remuneração
dos seus créditos de carbono.
A planta utilizada como caso estudo tem seus créditos de carbono já emitidos e é periodicamente auditada pela Organização das Nações Unidadas (ONU). Os
custos de instalação dos dois biodigestores apresentados foi pago por uma empresa
parceira que recebeu o direito de negociar 90% dos papeis de crédito de carbono gerados pela planta, pelo período de dez anos.
A produção de biogás representa cerca de 32,77 % do total de saídas de
energia, 19,20 % do fluxo líquido de energia e 8,84 % da energia total do sistema estudado.
A eficiência do sistema sem o uso do biogás (lançado diretamente na lagoa), seria de 0,25, conforme a expressão 3.10. A conversão do biogás gerado, exclusivamente em energia elétrica, elevaria a eficiência energética para 0,37, conforme
expressão 3.9. Neste caso, a Granja teria uma economia financeira mensal de cerca de
R$ 5.500,00 referente à fatura paga para a concessionária de energia. O gás gerado
poderia também ser aproveitado para alimentar sistemas de climatização nos pavilhões de maternidade e creche, através de aquecedores e refrigeradores a biogás, no
aquecimento de água e na secagem de grãos para a produção de ração e em outras
finalidades já mencionadas.
Vale destacar que a escolha da utilização do gás para produção de energia
elética ou de energia para outros processos deve se basear em um estudo econômico, tendo-se em conta o baixíssimo rendimento (25%) da conversão do biogás para
energia elétrica, em função da utilização de motores de combustão. Mesmo assim, a
combustão útil do biogás pode tornar a propriedade auto suficiente em geração de
energia para seus processos de criação, de maneira limpa.
A queima do metano (biogás) contribui significativamente para a redução
do efeito estufa, representando uma redução equivalente na emissão de gás carbôPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
121
nico. Assim sendo, a negociação dos seus créditos de carbono é um importante fator
econômico para justificar a combustão do biogás, por se tratar de um mecanismo de
desenvolvimento limpo (MDL), conforme previsto no Protocolo de Quioto.
3.2 Levantamento da Capacidade de Geração de Energia Elétrica da Granja
O estudo de caso apresentado neste trabalho analisa o aproveitamento
energético do biogás proveniente de dejetos de suínos para geração de energia na
Granja Monte Alegre, que possui 1500 matrizes com sistema de confinamento e giro
de 3500 leitões para entrega aos 60 dias mais 25 kg de peso vivo. Conforme visto no
item anterior, já estão instalados 2 biodigestores de gasômetro de PVC, marca SANSUY que já produzem biogás, o qual é queimado em flare, e ainda não é aproveitado
como energia útil no processo da granja. A capacidade de produção diária de biogás
em média, é de 460 m³/dia. Sendo o equivalente energético elétrico do gás igual a
1,55 KWh/m³ (SOUZA, 2004), a granja possui um potencial de geração mensal de energia que pode chegar à ordem de 23.000 KWh. Os detalhes de construção e operação
dos biodigestores são mostrados nas figuras 3.1 a 3.14.
FIGURA 3.1 – Escolha da área para início do projeto.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2004
FIGURA 3.2 – Terraplanagem.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2004
122
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
FIGURA 3.3 – Escavação.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2004.
FIGURA 3.4 – Abertura de valas para tubulações.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
123
FIGURA 3.5 – Instalação de tubulações.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
FIGURA 3.6 – Caixa de carga e reservatórios.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
FIGURA 3.7 – Instalação manta de PVC interna.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
124
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
FIGURA 3.8 – Acabamento das tubulações.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
FIGURA 3.9 – Início de enchimento do biodigestor.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
FIGURA 3.10 – Instalação de gasômetro de PVC (câmara de gás).
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
125
FIGURA 3.11 – Início do enchimento do gasômetro.
Fonte: NOGUEIRAJR. ,2005.
FIGURA 3.12 – Captação do biogás para queima.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
FIGURA 3.13 – Armazenamento do biogás.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
126
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
FIGURA 3.14 – Queima do biogás pelo flare.
Fonte: NOGUEIRA JR., 2005.
3.3 Produção de Energia Elétrica
Os grupos geradores são equipamentos que se compõem basicamente de
um motor ciclo Otto a biogás, turbo alimentado e com intercooler acoplado diretamente ao gerador, um sistema de alimentação com ignição eletrônica e um gerador.
Nos modelos modernos, utiliza-se um sistema de aspiração feita por conjunto motor
booster, dispensando unidades auxiliares de sucção do biogás. Sistemas de filtração e
desumidificação são utilizados, além de possuírem unidade de aquecimento e resfriamento e controle de temperatura do gás.
A figura 3.15 ilustra a produção de energia elétrica utilizando o
motor a biogás operando com ciclo Otto.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
127
FIGURA 3.15 – Sistema de geração elétrica e motor de automóvel a gasolina adaptado para biogás
com detalhes construtivos.
Fonte: TRIGAS, 2005
3.4 Purificação do Gás Metano
Os sistemas de purificação dos gases são desenvolvidos para corrigir as
propriedades naturais do biogás para que o mesmo atenda as especificações técnicas
dos equipamentos de conversão, principalmente os motores de combustão.
A presença de substâncias não combustíveis no biogás, tais como água e
dióxido de carbono, prejudica o processo de queima tornando-o menos eficiente. Estas substâncias entram no lugar do combustível no processo de combustão e absorvem parte da energia gerada. Nos biodigestores anaeróbios verifica-se uma produção
de biogás que contém entre 0,3 e 2% de H2S e traços de N2 e H2 (MACINTYRE 1996).
Existem diferentes alternativas de purificação aplicáveis ao biogás, devendo ser definida a mais adequada para a aplicação energética que se pretende. Para a
aplicação em motores de combustão interna e posterior geração de energia, é necessário um processo no qual o biogás passa por um filtro de óxido de ferro, responsável
pela retirada de enxofre, sendo enviado então para um compressor de baixa pressão
que tem por finalidade enviá-lo para uma torre de absorção de CO2 onde por intermédio de água pulverizada forma-se H2CO3 que é levado para caixa de eliminação onde
CO2 e água se separam e o gás carbônico é liberado para atmosfera (COSTA, 2006).
MAGALHÃES (2004) e PERGHER (2006), afirmam que a remoção de CO2,
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
128
H2S e água possibilita melhor utilização do biogás na geração de energia elétrica,
além de proporcionar aumento em seu poder calorífico com diminuição de sua densidade e aumento de vida útil dos sistemas que o utilizam. Cada componente da uma
mistura é dissolvido unitariamente em um líquido. Essa operação pode envolver reações químicas (absorção em carbonato de potássio, hidróxido de cálcio e hidróxido de
sódio), ou ser essencialmente físicas (crivos moleculares, separação por membranas e
em colunas absorção).
Para a remoção de H2S, utiliza-se uma planta, na qual é constituída de
colunas de absorção (semelhantes as de CO2), bombas de recalque, compressor de
ar, solução química de ferro-ácido etileno diamino tetra acético (Fe-EDTA) e sistema
de separação de partículas e acessórios. A figura 3.16 ilustra o processo de purificação
do biogás.
FIGURA 3.16 – Detalhe de unidade de purificação e compressão de biogás. A) coletor de umidade; B)
Filtro de H2S; C) Espuma; D) Totalizador de gás; E) Compressor. Fonte: KUNZ, 2006
Com base na relação entre o valor do investimento da planta mais os custos anuais de consumo de energia elétrica e o volume de biogás tratado anualmente,
é possível estimar um valor do custo do biogás purificado. Segundo FRARE (2006),
este valor tende a estabilizar entre R$ 0,10 e R$ 0,15 por metro cúbico para vazões
superiores a 200 m³/h de biogás produzido.
3.5 Uso Direto do Biogás
Entende-se por conversão energética o processo que transforma um tipo
de energia em outro. No caso do biogás a energia química é convertida em energia
mecânica através de um processo de combustão, que ativa um alternador convertendo em energia elétrica. Pode-se também converter diretamente em energia térmica,
sendo utilizado em aquecimento ou resfriamento de ambientes, caldeiras e sistemas
de co-geração.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
129
A geração de energia elétrica a partir do biogás pode ser considerada
como alternativa por suas vantagens estratégica, econômica e ambiental. No campo
estratégico tem-se a geração descentralizada, próximo aos pontos de carga (biodigestores). Já na parte econômica pode-se ter a utilização do combustível disponível
no local e de baixo custo (dejetos suínos). E por fim, na área ambiental pode-se utilizar uma energia renovável (biomassa) com menores emissões de poluentes (COSTA,
2006).
As opções para utilização do biogás estão representadas na figura 3.17.
FIGURA 3.17 – Principais opções para utilização/conversão do biogás.
Fonte: COLDEBELLA, 2006
3.5.1 Turbinas e Motores de Combustão Interna
Para a geração de energia elétrica a partir do biogás existem basicamente
dois tipos de tecnologias disponíveis comercialmente: Turbinas a gás e grupo geradores de combustão interna.
No caso das turbinas a gás, podem ser divididas em micro turbinas, com
faixa de potência de até 100 kW e turbinas de médio e grande porte, com faixas de
potências acima de 100 kW até quase 300 MW. As turbinas de pequeno porte não são
encontradas com facilidade no mercado. As figuras 3.18 e 3.19 ilustram um exemplo
de uma turbina a gás de pequeno porte.
130
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
FIGURA 3.18 – Interior da Turbina Capstone.
Fonte: CAPSTONE, 2007
FIGURA 3.19 – Microturbina a Biogás em Perspectiva.
Fonte: CAPSTONE, 2007
Já os motores de combustão interna são máquinas que transformam energia térmica em energia mecânica, sendo o ciclo de operação do tipo Otto.
Outra alternativa tecnológica é a conversão de motores ciclo Diesel para
ciclo Otto, cuja vantagem é aproveitar a alta taxa de compressão dos motores Diesel
para compensar o baixo poder calorífico do biogás. Atualmente além da alta disponibilidade de motores a gás, os motores Otto apresentam taxas de compressão próximas àquelas dos motores Diesel, a um custo menor.
GOMIDE (2006), afirma que o biogás possui um baixo poder calorífico em
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
131
relação aos outros combustíveis, o que se deve à presença de dióxido de carbono
(CO2) no biogás. Sendo assim, não é indicado o seu uso em motores automotivos,
pelo fato de gerar perda de potência. Mas, em questão de segurança, ele é um combustível bastante seguro, possuindo alta temperatura de ignição no ar e também uma
boa taxa de compressão, quando comparado com outros combustíveis do ciclo Otto.
Assim sendo, pode-se indicar seu uso, mesmo em motores do ciclo Otto estacionários,
como combustível para a geração de energia elétrica, bem como o seu uso direto em
fogões, aquecedores e incubadoras, conforme mostrado na tabela 3.8:
TABELA 3.8
Correlação das características térmicas do biogás
e metano com outros combustíveis convencionais.
Fonte: GOMIDE, 2006
3.5.2 Produção de Biofertilizante
Após o período de produção de biogás, determinado pelo tempo de retenção da carga orgânica, o resíduo formado e retirado do biodigestor para uma lagoa auxiliar constitui em um excelente fertilizante para o solo, o que compõe uma
vantagem adicional no emprego de sistemas de biodigestão. Segundo WINTER et al.
(2005), na utilização do biofertilizante, é de grande importância a elaboração de um
plano de manejo e adubação, considerando sua composição química adequada, a
área a ser utilizada, o tipo de solo e as exigências do tipo de cultura a ser implantada.
MEISTER (2005) afirma que a produção de biofertilizante, após a realização da digestão anaeróbia em biodigestores, é ressaltada como um dos meios mais
adequados de tratamento de efluentes com alta concentração de material orgânico e
com possibilidades de utilização na produção agrícola, complementando fertilizantes
minerais.
Já FÁVERO (2003) diz que o reaproveitamento dos dejetos como biofertilizante na propriedade requer área disponível e distanciamento de mananciais de
água. A disposição do resíduo no solo deve obedecer aos critérios de analise do solo,
não ultrapassar a capacidade de absorção do sistema na planta e uso do plantio de
132
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
espécies consumidoras de Nitrogênio (N2) e Fósforo (P).
GOMIDE (2006) relata que depois de passarem no biodigestor, os resíduos apresentam alta qualidade para uso como fertilizante agrícola, devido, principalmente, aos aspectos de diminuição no teor de carbono do material, pois a matéria
orgânica ao ser digerida perde exclusivamente carbono na forma de CH4 e CO2; ao
aumento no teor de nitrogênio e demais nutrientes em conseqüência da perda de
carbono; à diminuição da relação C/N da matéria orgânica, o que melhora as condições do material para fins agrícolas, e à maior facilidade de absorção do biofertilizante
pelos microrganismos do solo, devido ao material já se encontrar em grau avançado
de decomposição aumentando a eficiência do mesmo. Afirma ainda que, o resíduo
decorrente da decomposição da matéria orgânica, por processo anaeróbio, apresenta
as seguintes vantagens:
O conteúdo de matéria orgânica do resíduo resulta em uma capacidade
de retenção de umidade pelo solo, evitando demora no crescimento das plantas durante o tempo seco;
Melhoria na estrutura do solo, especialmente no argiloso, permitindo
maior penetração de ar e, conseqüentemente, um estímulo de oxidação da matéria
orgânica pelos organismos do solo;
Introdução de minerais necessários ao crescimento das plantas.
No caso da Granja Monte Alegre, determinou-se a capacidade de produção de biofertilizante com base na quantidade de dejetos a serem decompostos,
obtendo-se um valor de cerca de 1.400 m³/mês. Segundo dados da empresa, o biofertilizante é utilizado na adubação em pastagens para rebanho bovino, com resultados
significativos e redução de aplicação de adubos químicos.
A utilização dos dejetos suínos numa propriedade agrícola permite o desenvolvimento de sistemas integrados de produção que podem corresponder a um
somatório de alternativas produtivas que diversificam as fontes de renda, promovendo maior estabilidade econômica e social. Assim, os sistemas que produzem o biogás,
podem adicionalmente tornar a exploração pecuária auto-suficiente em termos energéticos (MEISTER, 2005), contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
3.6 Potencial Energético
As perspectivas para o desenvolvimento no setor da suinocultura apontam para um crescimento de cerca de 20 % da produção de suínos para o estado de
Goiás nos próximos cinco anos. Na região de Rio Verde existe cerca de 1.000.000 animais em regime de criação / terminação .
Junto a este desenvolvimento, tem-se uma grande perspectiva quanto
ao aproveitamento energético do biogás gerado na suinocultura. Segundo SOUZA
(2004), os rejeitos de um suíno produzem em média cerca de 0,50 m³ de gás metano
por dia obtido dos dejetos após processo de biodigestão. Sendo assim, a região sudoeste do estado possui um potencial de geração de energia elétrica mensal da ordem
de 1.000.000 x 0,50 x 1.55 x 30 = 23,25 GWh, onde cada granja tornaria uma unidade
auto-sustentável, consumindo a energia que ela mesmo produz, gerando o mínimo
de impacto ao meio ambiente.
2
Informação fornecida pela AGIGO – Associação dos Granjeiros Integrados de Goiás em 12/09/2007.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
133
3.7 Considerações Finais
Neste capítulo foi feita uma análise do potencial energético do biogás
com base no estudo do balanço energético e determinação de sua eficiência na granja em estudo. Foram mostradas também as tecnologias utilizadas para a produção do
gás e seu aproveitamento como combustível, passando por etapas de purificação e
compressão do gás e seu uso final, seja para geração de energia elétrica ou térmica.
Adicionalmente, foram também apresentados estudos sobre a produção de biofertilizante e o potencial energético da região estudada. A análise econômica será mostrada no capítulo seguinte.
Capítulo 4
Análise Econômica
Neste capítulo, será feita uma análise econômica do potencial energético
do biogás produzido na granja Monte Alegre com base em alternativas de conversão
de energia no sistema. São fornecidas as seguintes informações preliminares:
a) Números de suínos da Granja: 5.000;
b) Consumo mensal de energia elétrica: 23.000 kWh;
c) Fatura mensal de energia elétrica: R$ 5.500,00;
d) Produção mensal de biogás: 13.900 m³.
e) Período de estudo: 10 anos
No programa utilizado para este estudo, Biogás: Geração e Uso Energético
– Efluentes e Resíduo Rural da CETESB, cujo programa está disponível no site http://
www.cetesb.sp.gov.br/biogas/default.asp , é preenchida uma planilha de demandas
de energia da instalação, sendo feita também a escolha da tecnologia de uso energético, que é dividida em duas etapas: a escolha das quantidades de energia que serão
utilizadas; e a escolha da tecnologia de conversão e uso da energia, que no caso em
estudo, apresenta quatro alternativas:
a) Manter a situação atual (queima pelo flare);
b) A utilização do biogás para aquecimento;
c) A utilização combinada do biogás para aquecimento e geração de
energia elétrica;
d) A utilização exclusiva do biogás para a geração de energia elétrica.
Foi feito um projeto simplificado do sistema de coleta e tratamento do
biogás, que inclui quantidades e custos de diferentes componentes desse sistema.
Um relatório de investimentos é gerado, onde se verificam o custo da geração energética, e os potenciais ganhos pela venda de créditos de carbono.
Em seguida é feita a análise econômica para determinar o tempo de retorno do investimento (payback), o valor presente líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR), considerando economias de energia, biofertilizante gerado e créditos de
carbono para um período de 10 anos (n=10) a uma taxa mínima de atratividade (TMA)
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
134
de 11,5 % ao ano (i = 0,115 a.a.) para cada uma das alternativas citadas anteriormente.
O programa utilizado é baseado na metodologia de linha de base para as
reduções de emissões de gases de efeito estufa (ACM0010) provenientes de sistema
de manejo de esterco, com a existência de tratamento anaeróbio dos dejetos.
4.1 Manter a situação atual (Queima do Biogás pelo Flare)
A situação atual apresenta somente a queima do gás pelo flare, sem investimentos com instalações para geração de energia térmica e elétrica.
Utilizando o programa Biogás: Geração e Uso Energético – Efluentes e Resíduo Rural, é feita a geração dos resumos de custo e investimento em utilização exclusiva do biogás para aquecimento, e possibilidades de comercialização de créditos
de carbono.
A tabela 4.1 apresenta o resumo do investimento necessário para
queima do biogás pelo flare.
TABELA 4.1
Resumo de custo e investimentos para a queima do biogás no flare.
Fonte: CETESB, 2006.
A tabela 4.2 apresenta o potencial de créditos de carbono.
TABELA 4.2
Potencial de créditos de carbono.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
135
custos foram obtidos através de valores de referência do programa.
4.1.1 Determinação do período de payback descontado (ou Tempo de
retorno de investimento descontado)
Segundo BALARINE (2004), o tempo de retorno do investimento descontado é definido como sendo a medida do tempo requerido para o retorno do investimento inicial de um projeto, através da utilização de uma taxa de desconto que transforma os fluxos de caixa em valores equivalentes a uma data presente ou futura. Para
o seu cálculo, é aplicada a seguinte expressão:
Onde P é o valor presente, Fn é o valor do pagamento do fluxo de caixa no
período n, e i é a taxa de desconto.
Com base em informações das tabelas anteriores, dados preliminares da
granja e informações de mercado de fertilizantes, têm-se:
a) investimento total: R$ 97.800,00;
b) custos anuais de operação e manutenção (cerca de 20 % do
valor do investimento): R$ 19.560,00;
c) custo anual com energia elétrica: R$ 66.000,00 (R$ 5.500,00/mês x 12 meses);
d) economia anual com uso de biofertilizante:
Sabendo-se que o custo médio por tonelada de fertilizante é de R$ 700,00 e
que se gasta por plantio cerca de 200 kg por hectare, e que a área de plantio da granja
é de 300 ha, tem-se: 300 ha x 200 kg = 60.000 kg/ha = 60 ton/ha = 60 x R$ 700,00 = R$
42.000,00;
e) receita anual com créditos de carbono (Tabela 5.2): R$ 70.406,30;
f) Fluxo de Caixa anual antes dos tributos e impostos: R$ 42.000,00 + R$
70.406,30 – R$ 66.000,00- R$ 19.560,00 = R$ 26.846,30. Este resultado corresponde ao
lucro bruto quando desprezadas as deduções.
A tabela 4.3 apresenta o fluxo de caixa para determinação do tempo de retorno descontado da utilização do biogás para queima no flare.
TABELA 4.3
Fluxo de caixa para determinação do Payback descontado na situação atual
136
Ano
Invest. (R$)
Result. (R$)
Desc. (R$)
Saldo (R$)
0
-97.800,00
-97.800,00
-97.800,00
-97.800,00
1
26.846,30
24.077,40
-73.722,60
2
26.846,30
21.594,08
-52.128,52
3
26.846,30
19.366,89
-32.761,63
4
26.846,30
17.369,41
-15.392,23
5
26.846,30
15.577,94
185,72
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Utilizando-se interpolação linear, obtêm-se, o período de payback descontado do projeto de 4 anos e 1 mês.
4.1.2 Determinação do Valor Presente Líquido (VPL)
Calculado pela diferença entre o valor presente das entradas e saídas do
projeto Dt, aplicando-se uma taxa de desconto (i) ao longo de um tempo t variando
de zero até n, e calculado através da seguinte expressão:
Projetos são viáveis quando apresentam VPL > 0.
Com base nas informações anteriores, dados preliminares da
granja e informações de mercado de fertilizantes, é calculado o valor presente líquido
para um período de 10 anos.
VPL = R$ 57.043,30.
Este valor é livre de taxas, impostos, depreciação, etc. Deve-se ressaltar
que muitas vezes, desprezar estes dados pode levar a uma avaliação equivocada. Um
projeto pode apresentar um VPL < 0 ao considerar impostos e tributos.
4.1.3 Determinação da Taxa Interna de Retorno (TIR)
A taxa interna de retorno é a taxa de desconto que zera o VPL do projeto.
Determinada pela seguinte expressão:
Projetos são viáveis pelo critério da TIR, quando a TIR > TMA (taxa mínima
de atratividade).
Para a alternativa em estudo, tem-se:
TIR = 24 % > 11,5 %.
4.2 Utilização do Biogás para Aquecimento
O gás utilizado para aquecimento abastecerá dois pavilhões de maternidade e dois pavilhões de creche da granja. Não foram contabilizados investimentos
em purificação e compressão do gás, pois este é um processo de queima, que envolve
instalação de tubulações (gasoduto) para o transporte do biogás até os locais de uso,
não sendo utilizado para o acionamento de motores de combustão interna.
Utilizando o programa Biogás: Geração e Uso Energético –
Efluentes e Resíduo Rural, é feita a geração dos resumos de custo e investimento em
utilização exclusiva do biogás para aquecimento, e possibilidades de comercialização
de créditos de carbono.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
137
A tabela 4.4 apresenta o resumo do investimento necessário para utilização de biogás para aquecimento.
TABELA 4.4
Resumo de custo e investimentos para utilização do biogás para aquecimento.
Fonte: CETESB, 2006.
A tabela 4.5 apresenta o potencial de créditos de carbono.
TABELA 4.5
Potencial de créditos de carbono.
Fonte: CETESB, 2006.
Os custos foram obtidos através de valores de referência do programa.
4.2.1 Determinação do período de payback descontado (ou tempo de
retorno de investimento descontado)
Com base em informações das tabelas anteriores, dados preliminares da
granja e informações de mercado de fertilizantes, têm-se:
a) investimento total: R$ 103.800,00;
b) custos anuais de operação e manutenção (cerca de 20 % do valor do
138
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
investimento): R$ 20.760,00;
c) custo anual com energia elétrica: R$ 66.000,00 (R$ 5.500,00/mês x 12
meses);
d) economia de energia com produção de calor: R$ 27.000,00;
e) economia anual com uso de biofertilizante:
Sabendo-se que o custo médio por tonelada de fertilizante é de R$ 700,00
e que se gasta por plantio cerca de 200 kg por hectare, e que a área de plantio da granja é de 300 ha, tem-se: 300 ha x 200 kg = 60.000 kg/ha = 60 ton/ha = 60 x R$ 700,00 =
R$ 42.000,00;
f ) receita anual com créditos de carbono (Tabela II): R$ 70.406,30;
g) Fluxo de Caixa anual antes dos tributos e impostos: R$ 42.000,00 + R$
70.406,30 + R$ 27.000,00 - R$ 66.000,00 – R$ 20.760,00 = R$ 52.646,30. Este resultado
corresponde ao lucro bruto quando desprezadas as deduções.
A tabela 4.6 apresenta o fluxo de caixa para determinação do tempo de
retorno descontado da utilização do biogás para aquecimento.
TABELA 4.6
Fluxo de caixa para determinação do Payback descontado na utilização de biogás para aquecimento.
Ano
Invest. (R$)
Result. (R$)
Desc. (R$)
Saldo (R$)
0
-103.800,00
-103.800,00
-103.800,00
-103.800,00
1
52.646,30
47.216,41
-56.583,59
2
52.646,30
42.346,56
-14.237,03
3
52.646,30
37.978,98
23.741,95
Utilizando-se interpolação linear, obtêm-se, o período de payback descontado do projeto de 2 anos 4 meses e 15 dias.
4.2.2 Determinação do Valor Presente Líquido (VPL)
Calculado pela diferença entre o valor presente das entradas e saídas do
projeto (Dt), aplicando-se uma taxa de desconto (i), e calculado através da expressão
4.2.
Com base nas informações anteriores, dados preliminares da
granja e informações de mercado de fertilizantes, é calculado o valor presente líquido
para:
VPL = R$ 199.851,37.
Este valor é livre de taxas, impostos, depreciação, etc. Deve-se ressaltar
que muitas vezes, desprezar estes dados pode levar a uma avaliação equivocada. Um
projeto pode apresentar um VPL < 0 ao considerar impostos e tributos.
4.2.3 Determinação da Taxa Interna de Retorno (TIR)
A taxa interna de retorno é a taxa de desconto que zera o VPL do projeto.
Calculada pela expressão 4.3.
Para a alternativa em estudo, tem-se:
TIR = 50 % >11,5 %.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
139
trica
4.3 Utilização do Biogás para Aquecimento e Geração de Energia Elé-
Nesta alternativa, foi considerado que a metade da produção mensal de
biogás será utilizada para aquecimento, ficando a outra metade para utilização em
geração de energia elétrica.
O gás utilizado para aquecimento abastecerá dois pavilhões de maternidade e dois pavilhões de creche da granja.
Foi considerado o potencial uso do biogás para eletricidade no atendimento de metade de seu consumo mensal, que é de 23.000 kWh.
Para a geração de energia elétrica com biogás, foi utilizado um grupo gerador com motor ciclo Otto nacional de 35 kW, com custo de kilowatt instalado de
1.000,00 R$/kW. Foram feitos também levantamentos de custos de instalações de biodigestores, do queimador, do tratamento e compressão do biogás, sendo que o custo
do tratamento é determinado com base em tecnologias de purificação existentes no
mercado, vazão e volume de gás e seu custo de purificação. Os custos de compressão
são estimados em função da vazão horária do gás e do tipo de equipamento utilizado.
Utilizando o programa Biogás: Geração e Uso Energético – Efluentes e Resíduo Rural, é feita a geração dos resumos de custo e investimento em utilização do
biogás para geração de energia elétrica e aquecimento, e possibilidades de comercialização de créditos de carbono.
A tabela 4.7 apresenta o resumo do investimento necessário para geração
de energia elétrica e aquecimento.
TABELA 4.7
Resumo de custo e investimentos para geração de energia elétrica e aquecimento.
Fonte: CETESB, 2006.
A tabela 4.8 apresenta o potencial de créditos de carbono.
140
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
TABELA 4.8
Potencial de créditos de carbono.
Fonte: CETESB, 2006.
Os custos foram obtidos através de valores de referência do programa.
4.3.1 Determinação do período de payback descontado (ou Tempo de retorno de investimento descontado)
Com base em informações das tabelas mostradas anteriormente, dados iniciais da granja e informações de mercado de fertilizantes, tem-se para o
cálculo do tempo de retorno do investimento descontado:
a) Investimento total: R$ 198.185,00;
b) Custos anuais de operação e manutenção (cerca de 20% do valor do
investimento): R$ 39.637,60;
c) Economia anual com energia elétrica: R$ 33.000,00 (R$ 2.750,00/mês x
12 meses);
d) Fluxo de Caixa anual antes dos tributos e impostos: R$ 42.000,00 + R$
70.406,30 +R$ 27.000,00 + R$ 33.000,00 – R$ 39.637,60 – R$ 66.000,00 = R$ 66.766,00.
Este resultado corresponde ao lucro bruto quando desprezadas as deduções.
A tabela 4.9 apresenta o fluxo de caixa para determinação do tempo de
retorno descontado da geração de energia elétrica e aquecimento.
TABELA 4.9
Fluxo de caixa para determinação do Payback descontado
para geração de energia elétrica e aquecimento.
Ano
Invest. (R$)
Result. (R$)
Desc. (R$)
Saldo (R$)
0
-198.185,00
-198.185,00
-198.185,00
-198.185,00
1
66.766,00
59.879,82
-138.305,18
2
66.766,00
53.703,88
-84.601,30
3
66.766,00
48.164,91
-36.436,39
4
66.766,00
43.197,23
6.760,83
Utilizando-se interpolação linear, o período de payback descontado do
projeto é de 3 anos e 15 dias.
4.3.2 Determinação do Valor Presente Líquido (VPL)
Com base nas informações anteriores e utilizando a expressão 4.2, tem-se
que o valor presente líquido encontrado foi de R$ 196.905,98.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
141
Este valor é livre de taxas, impostos, depreciação, etc. Deve-se
ressaltar que muitas vezes, desprezar estes dados pode levar a uma avaliação equivocada. Um projeto pode apresentar um VPL < 0 ao considerar impostos e tributos.
4.3.3 Determinação da Taxa Interna de Retorno (TIR)
Utilizando a expressão 4.3 para a alternativa em estudo, tem-se:
TIR = 32 % > 11,5 %.
4.4 Utilização do Biogás na Geração de Energia Elétrica
Para o estudo de caso da granja, o biogás produzido pode atender todo o
consumo mensal de 23.000 kWh, sendo que o valor da potência instalada é de 200 kW,
conforme mostrado anteriormente.
Para a geração de energia elétrica com biogás, foi utilizado neste estudo
um grupo gerador com motor ciclo Otto nacional, de 70 kW, com custo de kilowatt
instalado de 1.000,00 R$/kW. Foram feitos também levantamentos de custos de instalações de biodigestores, do queimador, do tratamento e compressão do biogás, sendo que o custo do tratamento é determinado com base em tecnologias de purificação
existentes no mercado, vazão e volume de gás e seu custo de purificação. Os custos
de compressão são estimados em função da vazão horária do gás e do tipo de equipamento utilizado.
Em seguida é feita a geração dos resumos de custo e investimento em geração de energia elétrica e possibilidades de comercialização de créditos de carbono.
A tabela 4.10 apresenta resumo do investimento necessário para a utilização do biogás na geração de energia elétrica.
TABELA 4.10
Resumo de custo e investimentos em geração de energia elétrica.
Fonte: CETESB, 2006.
142
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
A tabela 4.11 apresenta o potencial de créditos de carbono.
TABELA 4.11
Potencial de créditos de carbono.
Fonte: CETESB, 2006
Os custos foram obtidos através de valores de referência do programa.
4.4.1 Determinação do período de payback descontado (ou Tempo de
retorno de investimento descontado)
Com base em informações das tabelas mostradas anteriormente, dados iniciais da granja e informações de mercado de fertilizantes, tem-se para o cálculo
do tempo de retorno do investimento descontado:
a) Investimento total: R$ 221.183,00;
b) Custos anuais de operação e manutenção (cerca de 20% do valor do
investimento): R$ 44.236,60;
c) Economia anual com energia elétrica: R$ 66.000,00 (R$ 5.500,00/mês x
12 meses);
d) Fluxo de Caixa anual antes de tributos e impostos: R$ 66.000,00 + R$
42.000,00 + R$ 70.406,30 – R$ 44.236,60 – R$ 66.000,00 = R$ 68.170,00. Este resultado
corresponde ao lucro bruto quando desprezadas as deduções.
A tabela 4.2 apresenta o fluxo de caixa para determinação do tempo de
retorno descontado da utilização do biogás para geração de energia elétrica.
TABELA 4.12
Fluxo de caixa para determinação do Payback descontado para geração de energia elétrica.
Ano
Invest. (R$)
Result. (R$)
Desc. (R$)
0
-221.183,00
Saldo (R$)
-221.183,00
-221.183,00
-221.183,00
1
68.170,00
67.162,56
-154.020,44
2
68.170,00
66.170,01
-87.850,43
3
68.170,00
65.192,13
-22.658,30
4
68.170,00
64.228,70
41.570,40
Utilizando-se interpolação linear, obtém-se o período de payback descontado do projeto de 4 anos, 3 meses e 18 dias.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
143
4.4.2 Determinação do Valor Presente Líquido (VPL)
Com base nas informações anteriores e utilizando a expressão 4.2, temse que o valor presente líquido encontrado foi de R$ 172.005,93. Este valor é livre de
taxas, impostos, depreciação, etc. Deve-se ressaltar que muitas vezes, desprezar estes
dados pode levar a uma avaliação equivocada. Um projeto pode apresentar um VPL <
0 ao considerar impostos e tributos.
4.4.3 Determinação da Taxa Interna de Retorno (TIR)
Aplicando a expressão 4.3 para a alternativa em estudo, tem-se:
TIR = 28 % > 11,5 %.
4.5 Análise de Risco
BALARINE (2004) descreve que o risco pode ser definido como uma possibilidade de perda. Entretanto, em uma análise de tomada de decisões, deve-se definir
claramente as diferenças entre os termos certeza, incerteza e risco.
Certeza é vista como a expectativa de geração de valores únicos nas análises geradas.
Já a incerteza é caracterizada como a expectativa de obtenção de uma variável no qual não se conhece seus valores atuais e sua distribuição de probabilidade.
E finalmente o risco é caracterizado por alternativas onde é conhecida a
distribuição de probabilidade de uma variável, porém não se conhece o seu valor presente.
Os cenários analisados neste estudo caracterizam por situações onde se
verificam condições de certeza, onde cada componente de cada fluxo de caixa apresentado assume apenas um valor. No entanto, quando se atribuiu valor monetário
ao longo do tempo, não foi definido um período mínimo de retorno do investimento
para cada alternativa.
Em situações de análise econômica sob condições de incerteza, os retornos de investimentos podem ser associados a prazos mínimos de realização e os valores do fluxo de caixa tanto podem sofrer variações ao longo do tempo quanto ocorrerem ou não.
O período de retorno de investimento descontado é uma medida de risco
do empreendimento, pois quanto maior o prazo de retorno do capital empregado,
maior o risco do projeto. Isto se deve ao fato de que as estimativas de retorno diminuem o grau de certeza à medida que se distanciam da data inicial do projeto. Já a
análise de sensibilidade é empregada na verificação dos efeitos de variações de valores no fluxo de caixa, que estejam sujeitos a imprevistos.
Sendo assim, para as alternativas de investimento apresentadas, é feita
uma análise considerando os seguintes aspectos:
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
144
I) O período de retorno dos investimentos, de cada uma das alternativas,
conforme mostrado na tabela 4.13.
TABELA 4.13
Resumo do período de retorno de investimento.
Alternativa
Energética
Situação
Atual
Aquec.
Aquec /
Eletric
Eletric.
Invest. (R$)
97.800,00
103.800,00
198.185,00
221.183,00
Payback (anos)
4 a, 1 m
2 a, 4 m, 14 d
3 a, 15 d
4 a, 3 m, 18 d
II) Redução de 50 % nos componentes dos fluxos de caixa, com exceção
do investimento inicial, considerando agora taxas de 14, 16 e 18 % ao ano para o cálculo do VPL em um período de 10 anos:
Havendo uma redução significativa nos negócios, os novos cenários teriam comportamento descrito de acordo com a tabela 4.14.
TABELA 4.14
Novos cenários das alternativas energéticas.
Alternativa
Energética
Situação
Atual
Aquec.
Aquec /
Eletric
Eletric.
Invest. (R$)
97.800,00
103.800,00
198.185,00
221.183,00
Pagamentos (R$)
13.423,15
26.323,15
33.383,00
34.085,00
VLP a 14% (R$)
-27.783,30
33.504,39
-24.055,41
-43.391,70
VLP a 16% (R$)
-32.922,86
23.425,77
-36.837,37
-56.442,44
VLP a 18% (R$)
-37.475,21
14.498,51
-48.158,92
-68.002,07
4.6 Considerações Finais
Através das informações obtidas anteriormente, para as alternativas energéticas de uso do biogás, obtém-se a tabela 4.15 com os principais resultados.
TABELA 4.15
Resumo de valores das alternativas energéticas.
Alternativa
Energética
Situação
Atual
Aquec.
Aquec /
Eletric
Eletric.
Investimento (R$)
97.800,00
103.800,00
198.185,00
221.183,00
Valor Presente Líquido (R$)
57.043,30
199.851,79
186.905,98
172.005,93
Payback
4 a, 1 m
2 a, 4m, 14 d
3 a, 15 d
4 a, 3 m, 18 d
Taxa Interna de Retorno (%)
24
50
32
28
Custo Eletricidade (R$/MWh)
Créditos de Carbono (R$)
-
-
36,62
36,07
704.063,00
704.063,00
704.063,00
704.063,00
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
145
A alternativa de manter a situação atual apresenta o menor valor presente
líquido, visto que ela apresenta apenas as economias de uso do biofertilizante gerado
e dos créditos de carbono. Em consequência, apresenta a menor taxa interna de retorno do investimento.
A alternativa de utilização exclusiva do biogás para aquecimento apresenta um custo de uso do gás menor que a alternativa de aquecimento e geração de
energia em virtude de não computar instalações de purificação e compressão em seu
investimento. Seu período de retorno do investimento aplicado é o mais atraente e
apresenta o menor risco diante do cenário de retração econômica apresentado sendo, portanto, a melhor alternativa de investimento.
O custo de geração de eletricidade da alternativa de aquecimento e geração de energia foi próximo em relação à alternativa de uso exclusivo para geração
de energia elétrica, devido ao fato dos investimentos em equipamentos e instalações
serem semelhantes, o que ocasionam também riscos elevados.
Observa-se ainda que, a alternativa referente ao uso exclusivo para geração de energia elétrica apresenta o maior risco devido ao seu alto investimento e ao
maior tempo de retorno.
Outro aspecto a considerar nesta análise é que, para todas as alternativas
de aproveitamento energético apresentadas, o fator significativo é a possibilidade
de comercialização dos créditos de carbono pela queima do biogás. Dependendo do
mercado comprador, este valor tende a aumentar, gerando dividendos para o empreendimento.
Outra economia importante mostrada nas alternativas é a utilização do
biofertilizante nas pastagens em substituição ao fertilizante industrial. Existe também
a possibilidade de comercializar o excedente do adubo orgânico produzido para outras propriedades.
Não foi considerado nas análises o fator de emissão da rede a partir do
consumo de eletricidade.
Foram determinados neste capítulo os principais valores econômicos para
o aproveitamento energético do biogás considerando as quatro alternativas de conversão energética, seus custos de implantação, os retornos esperados para o período
de 10 anos de funcionamento do sistema. Foi feita também uma análise de risco para
os cenários analisados e apresentados os seus resultados e discussões. As conclusões
finais serão mostradas no próximo capítulo.
Capítulo 5
Conclusões
O aproveitamento energético do biogás proveniente de dejetos de suinocultura apresenta impactos benéficos, uma vez que colabora com aspectos de sustentabilidade no meio rural.
Uma vez que as granjas de suínos estruturadas apresentem condições
para implantar tal projeto, este irá motivar questões relacionadas ao gerenciamento
sanitário, ambiental e financeiro destes empreendimentos. Verifica-se que nestes loPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
146
cais a disponibilidade de biogás é imediata, onde os sistemas de biodigestão para o
aproveitamento do gás gerado poderão ser implantados em pouco tempo.
Inclui-se ainda neste contexto a possibilidade de reduzir as emissões de
metano na atmosfera, podendo ser convertidas em créditos comercializados no mercado internacional.
De forma geral, a produção e aproveitamento do biogás de suinocultura
apresentam as seguintes vantagens:
Vantagens sanitárias na redução na geração de odores provenientes do
tratamento adequado dos dejetos, e consequente redução de insetos e moscas transmissores de doenças originadas dos próprios dejetos;
Vantagens técnicas na melhoria da qualidade do biofertilizante produzido
pelo processo de biodigestão anaeróbia, podendo ser utilizado em pastagens como
excelente adubo orgânico;
Vantagens ambientais na redução das emissões de carbono na atmosfera,
uma vez que o metano é queimado para a produção de calor ou energia elétrica;
Vantagens econômicas com a redução, ou eliminação da compra de energia elétrica consumida pela granja, no caso de geração parcial ou total de energia;
Contribuição significativa na redução de custos financeiros do empreendimento, uma vez que este sistema possibilita a queima do metano como moeda ambiental na comercialização dos créditos de carbono.
Além de apresentar-se como uma importante alternativa na questão do
gerenciamento de resíduos, o aproveitamento energético do biogás possui um potencial significativo para geração de energia elétrica. Conforme mostrado neste trabalho, a região sudoeste do estado de Goiás apresenta um potencial em torno de 23
GWh/mês de energia possível de ser obtida a partir do biogás produzido em granjas
de suínos.
mentos:
Os dados deste trabalho permitiram a publicação dos seguintes docu-
1) LIRA, JOÃO CARLOS U. Análise Econômica e Balanço Energético do Biogás em Granja de Suínos. Dissertação de Mestrado. UFG, Goiânia/GO, 2009.
2) LIRA et al. (2007). Eficiência Energética e Aproveitamento do Biogás em
Granjas de Suínos. Artigo publicado no II Congresso Brasileiro de Eficiência Energética
em Vitória/ES, setembro de 2007.
3) LIRA et al. (2008 a). Análise Econômica e Balanço Energético do Biogás
em Granja de Suínos – Estudo de caso. Artigo publicado na VIII Conferência Internacional de Aplicações Industriais em Poços de Caldas/MG, agosto de 2008.
4) LIRA et al. (2008 b). Análise Econômica do Potencial Energético do Biogás em Granja de Suínos – Estudo de caso. Artigo publicado no Congresso Brasileiro
de Automática em Juiz de Fora/MG, setembro de 2008.
Os artigos publicados em congressos encontram-se em um anexo separado para consulta do leitor.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
147
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150
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Modalidade
Produção Agronônica
Projeto:
Criação e estabelecimento de
processos Agroecológicos no
município de Itapuranga - GO
Premiados:
Joel Orlando Bevilaqua Marin;
Gislene Auxiliadora Ferreira;
Vanderson Giotti;
Fabiano Vargas;
Simone Pereira da Carvalho;
Ricardo de Siqueira Camargo
DESENVOLVIMENTO AGROECOLÓGICO NO MUNICÍPIO DE ITAPURANGA
Autores e Responsáveis pelo Projeto:
Joel Orlando Bevilaqua Marin, Gislene Auxiliadora Ferreira
INSTITUIÇÃO PROPONENTE Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás
Execução do Projeto:
Diversas pessoas participaram na execução do projeto (responsável pela
implementação das atividades de desenvolvimento agroecológico), na equipe de
pesquisa (responsáveis por estudos sócio-ambientais previstos no projeto) e equipe
de estudantes de graduação (acompanharam o desenvolvimento das atividades do
projeto, como bolsistas do CNPq ou voluntários).
Equipe Técnica:
Gislene Auxiliadora Ferreira, Agrônoma, Doutora em Produção Vegetal ;
Vanderson Giotti, Agrônomo, Bolsista do CNPq; Fabiano Vargas, Agrônomo, Bolsista
do CNPq; Simone Pereira de Carvalho, Agrônoma, Bolsista do CNPq; Ricardo de Siqueira de Camargo, Agrônomo, Bolsista do CNPq; Aurélio Ludovico de Almeida Martinez,
Agrônomo, Bolsista do CNPq; Ana Izabel Passarela, Veterinária, Residência Veterinária
na EV/UFG; Ronaldo Veloso Naves, Agrônomo, professor da EA/UFG; Lindomar da Silva Costa, Agrônomo, Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Equipe de Pesquisa:
Joel Orlando Bevilaqua Marin, Doutor em Sociologia, Professora da EA/
UFG Francis; Lee Ribeiro, Economista, Professora da EA/UFG; Glays Rodrigues Matos,
Agrônomo, Mestre em Agronegócio pela UFG; Gislene Auxiliadora Ferreira, Agrônoma, Doutora em Produção Vegetal; Claudia Aparecida Campos, Bacharel em Administração, Mestre em Agronegócio pela UFG; Simone Pereira de Carvalho, Agrônoma,
Mestre em Agronegócio pela UFG; Olímpia Maria de Carvalho Ignácio, Bacharel em
Administração, Mestre em Agronegócio pela UFG; Sinnara Gomes de Godoy, Bacharel
em Biologia, Mestre em Agronomia pela UFG; Fernanda Rodrigues Vieira, Bacharel em
Administração em Hotelaria, Mestre em Agronegócio pela UFG; Patrícia Guimarães
Santos Melo, Agrônoma, Professora da EA/UFG; Eliane Paula Fernandes, Agrônoma,
Professora da EA/UFG; Wilson Mozena Leandro, Agrônomo, Professor da EA/UFG
Equipe de estudantes de graduação (Bolsistas do CNPq)
Jackeline Marques Faria, Estudante de Agronomia da UFG; Jonas Santos
Sousa, Estudante de Agronomia da UFG; Tássia Balbina Pereira Sousa Silva, Estudante
de Biologia da UEG
Resumo
O projeto é desenvolvido pela Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, em parceria com a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Itapuranga, GO – (COOPERAFI) e Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Itapuranga, com financiamento do CNPq. O projeto teve início em 2005 e se
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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estenderá até maio de 2010. O objetivo é propor alternativas de produção agroecológica para os agricultores familiares de Itapuranga, visando a transição dos sistemas
convencionais de produção para um novo modelo de desenvolvimento sustentável.
O projeto fundamentou-se nas metodologias participativas, privilegiando o saber
local e o desenvolvimento dos processos a partir da realidade dos agricultores. Os
agricultores experimentadores recebiam do projeto os insumos orgânicos, sementes
e mudas para a produção e a orientação técnica, com o compromisso de seguir as recomendações da equipe técnica. As atividades desenvolvidas foram a implantação de
unidades experimentais de produção agroecológica de frutíferas e hortaliças, sistemas
agroflorestais, resgate de sementes crioulas, coberturas vegetais para recuperação do
solo, manejo racional de pastagens, experimentos com compostagem orgânica e biofertilizantes e ações de melhoria da qualidade do leite. Os principais resultados foram
a incorporação de técnicas agroecológicas pelos agricultores familiares e a compreensão da necessidade de praticar um novo modelo de agricultura, sem o uso produtos
químicos. Conclui-se que o principal impacto dos processos agroecológicos experimentados em Itapuranga foram a redução dos custos de produção com produtos químicos e o aumento da preocupação com a preservação do meio ambiente.
Introdução
O projeto “Desenvolvimento Agroecológico no Município de Itapuranga/
GO” é coordenado pela Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, em parceria com a Cooperativa dos Agricultores Familiares de
Itapuranga/GO (COOPERAFI) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapuranga, com
recursos obtidos no CNPq. Em 2005, foi aprovado, no CNPq, o primeiro projeto intitulado Criação e estabelecimento de processos agroecológicos no Município de Itapuranga/GO, Processo 554109/05-0. Em 2007, obteve-se o financiamento do segundo
projeto intitulado Desenvolvimento agroecológico no Município de Itapuranga/GO,
Processo 551596/2007-4, que dará continuidade às atividades de extensão universitária até o mês de maio de 2010. Além do ensino e da pesquisa, a Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal de Goiás, como instituição pública,
tem a missão de transmitir conhecimentos para a sociedade, por meio de projetos de
extensão universitária, com vistas ao desenvolvimento de alternativas e soluções de
problemas produtivos, ambientais e sociais.
O objetivo geral do projeto é propor alternativas de desenvolvimento sustentável, com base nos princípios da agroecologia, aos agricultores familiares, filiados
à COOPERAFI e ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Itapuranga. Os objetivos específicos do projeto são desenvolver processos de transição dos atuais sistemas de
produção utilizados pelos agricultores familiares para um novo modelo produtivo,
fundamentado em princípios agroecológicos, com destaque para a implantação de
unidades experimentais de sistemas de produção agroecológico de frutas e hortaliças, implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), resgate de sementes tradicionais;
a recuperação de pastagens degradadas, melhoria da qualidade do leite e atividades
de educação ambiental.
Para atingir os objetivos propostos, a equipe se baseou nos princípios da
metodologia participativa, privilegiando o saber local e o desenvolvimento dos processos a partir da realidade dos agricultores e agricultoras. As atividades iniciaram
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
com uma reunião de apresentação do projeto, que contou com a participação dos
representantes da direção da Cooperafi, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Itapuranga, secretário da agricultura do município de Itapuranga, de lideranças de
associações da região e cerca de trinta agricultores familiares filiados à Cooperafi. Na
ocasião, foram apresentados os objetivos e as responsabilidades da instituição promotora (EA/UFG), da Cooperafi, do Sindicato e dos agricultores familiares envolvidos
no projeto. Ademais, destacou-se a duração e a disponibilidade de recursos financeiros e humanos para o desenvolvimento do projeto.
Para tanto, foram realizadas visitas aos agricultores para entrevistá-los
com intuito de conhecer seus problemas produtivos, ambientais e o interesse de implantação de unidades experimentais agroecológicas em sua propriedade. Na sequência, foram selecionados os possíveis agricultores cooperados que se disponibilizaram em desenvolver unidades experimentais agroecológicos nas suas propriedades.
Esses agricultores que aceitaram o desafio de experimentar, em suas propriedades, as
alternativas agroecológicas foram denominados “agricultores experimentadores”, na
medida em que eles contribuíam na execução, observação e anotação dos resultados
das atividades de desenvolvimento agroecológico. Os agricultores experimentadores
recebiam pelo projeto os insumos necessários para a produção e a orientação técnica,
com o compromisso de seguir as recomendações da equipe técnica.
Os agricultores tinham as opções de implantar, em suas propriedades, unidades experimentais de produção agroecológica de olerícolas ou frutíferas, sistemas
agroflorestais, de campos de sementes crioulas, campos de coberturas vegetais para
recuperação do solo, campos de manejo racional de pastagens, experimentos com
compostagem orgânica e biofertilizantes, bem como participar de ações de melhoria sanitária do rebanho e da qualidade do leite. Concomitantemente, foram realizadas atividades de sensibilização para uso de alternativas outrora abandonadas, bem
como a integração das atividades da propriedade.
Após a instalação das unidades experimentais agroecológicas, a equipe
realizava visitas periódicas aos produtores, com o objetivo de avaliar os problemas
e resultados alcançados junto aos agricultores, estimulando-os a pensar e desenvolver alternativas adequadas aos seus sistemas de cultivos. Foi realizado acompanhamento técnico nas olerícolas, frutíferas, sistemas agroflorestais, campos de sementes
crioulas e de adubação verde, manejo rotacional de pastagens, melhoria da qualidade
sanitária do rebanho e da qualidade do leite, procurando compreender, junto com
os agricultores familiares, os aspectos ecológicos dos sistemas produtivos, seus desequilíbrios e suas causas. A partir destas análises, procurava-se elaborar propostas
de soluções que visassem a produção de alimentos saudáveis e gerassem renda aos
produtores. Como nem todos os cooperados desenvolveram unidades experimentais
agroecológicas em suas propriedades adotou-se uma metodologia de estimular os
produtores a divulgarem entre si as experiências e os resultados econômicos e ambientais atingidos por aqueles que adotavam as orientações.
Além da implantação das unidades experimentais nas propriedades dos
agricultores familiares, foram utilizadas outras metodologias para envolver e socializar
as experiências desenvolvidas pelo projeto tais como: dias de campo participativos,
reuniões nas propriedades, visitas técnicas, cursos e excursões educativas para outras
regiões produtoras e o diagnóstico participativo. O diagnóstico participativo das uniPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
155
dades produtivas para conhecer a realidade econômica, ambiental e social dos agricultores familiares associados à Cooperafi e do Sindicato foi um processo contínuo,
sendo que os principais resultados foram alcançados pela defesa de seis dissertações
de mestrado, vinculadas ao Programa de Pós-graduação em Agronegócio e de Agronomia da UFG, defendidas entre 2007 e 2009. Também foi produzido um Relatório de
Estágio Curricular Obrigatório, realizado na COOPERAFI, por um estudante do curso
de Agronomia da UFG, em dezembro de 2008.
As atividades programadas projeto foram desenvolvidas pelos docentes,
discentes e bolsistas, vinculados à Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da
Universidade Federal de Goiás. O projeto contou com uma “Equipe Técnica” (composta pelos técnicos bolsistas do CNPq responsáveis pela implantação e assessoria técnica das atividades agroecológicas em Itapuranga), com uma “Equipe de Pesquisa”, (formada por professores e estudantes de Pós-graduação que desenvolveram pesquisas
relacionadas ao desenvolvimento sustentável) e “Equipe de Estudantes” (alunos de
graduação com bolsa de iniciação à pesquisa do CNPq, alunos sem bolsa interessados
no aprendizado da agroecologia). O projeto ainda envolveu a participação de profissionais ligados ao desenvolvimento sustentável, como engenheiros agrônomos e
veterinários que ministraram algumas aulas de campo e palestras para os agriculotres
familiares de Itapuranga. Todas as atividades desenvolvidas preconizavam o respeito
às limitações e o aproveitamento máximo de cada unidade produtiva, com a intenção
de demonstrar melhores alternativas, para que essas sejam conduzidas de maneira
sustentável. A formação dos estudantes se deu pelo acompanhamento e participação
nas atividades de campo, por leituras dirigidas, reuniões, troca de informações entre
o grupo e viagens técnicas.
Na sequência, apresenta-se o relatório de cada atividades desenvolvida
no projeto: 1) Desenvolvimento agroecológico da fruticultura; 2) Produção agroecológica de hortaliça; 3) Implantação de Sistemas Agroflorestais; 4) Resgate de sementes e propágulos de variedades tradicionais; 5) Implantação de campos de plantas
recuperadoras do solo e experimentação de compostos orgânicos e biofertilizantes;
6) Manejo ecológico de pastagem no cerrado; 7) Controle sanitário dos bovinos e da
qualidade do leite; 8) Atividades educativas agroecológicas; 9) Desenvolvimento de
pesquisas. Nos itens 10 e 11, são apresentadas as Conclusões e a Bibliografia, respectivamente.
1 DESENVOLVIMENTO AGROECOLÓGICO DA FRUTICULTURA
O município de Itapuranga é um dos maiores produtores de frutas no Estado de Goiás, especialmente de banana, mamão e maracujá. Todavia, a continuidade
da fruticultura de Itapuranga está comprometida, devido à alta incidência de pragas
e ao uso excessivo de produtos químicos, que resultam na elevação dos custos de
produção, contaminação dos agricultores e do meio ambiente.
O objetivo desta atividade foi experimentar, junto com os agricultores
familiares, algumas técnicas de produção que podem contribuir com a redução do
uso de adubos químicos e agrotóxicos, com base nos princípios agroecológicos. Contrariando a tecnologia que se utiliza de produtos químicos, procurou-se desenvolver
processos agroecológicos, fazendo que os agricultores familiares remetam seu pensar
e ações em prol da natureza, para colher frutos de boa qualidade, a baixo custo e com
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
preservação do meio ambiente. Esse trabalho parte do princípio da trofobiose, segundo o qual a planta bem nutrida é uma planta biologicamente sadia. Com um metabolismo normal, a planta não oferece substâncias que insetos e microorganismos
possam usar. Elas estão fora do alcance de suas enzimas, então não podendo nutrir-se
delas (PRIMAVESI, 1992), o que justifica o manejo que o projeto prega às propriedades
buscando o equilíbrio em cada local.
Para implantação das unidades experimentais de fruticultura agroecológicas, foram visitadas seis áreas para observar as características de solo, declividade, disponibilidade de uso dessas áreas, cultivos anteriores e disponibilidade de água para
irrigação. Dessa forma, junto ao produtor fez-se referência às possíveis culturas que
melhor se adaptariam a situação observada. É importante para produção agroecológica e bom andamento das atividades, que se conheça muito bem região como: o
microclima (temperatura, ventos, chuvas, insolação e mananciais de água), os cultivos
vizinhos ao da área escolhida, bem como os locais para adquirir matéria orgânica e
para comercializar a produção (PENTEADO, 2007). Após escolha das áreas, observouse, principalmente, a declividade do local para definir se haveria a necessidade de
terraços ou apenas plantios em nível, para evitar o escoamento superficial das águas
das chuvas. Foram indicados, pela Cooperafi e pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais
de Itapuranga, seis agricultores experimentadores para o cultivo da fruticultura agroecológica.
Após definição dos agricultores que se dispunham experimentar as técnicas agroecológicas, realizou¬se amostragem de solo, com o auxílio de um enxadão e
um balde de plástico, coletou-se sub-amostras de 0 a 20 cm de profundidade, compondo assim uma única amostra para cada área e enviadas para analise laboratorial.
Em todas as áreas foram realizadas coletas de solo para análise, seguindo a metodologia citada por SANZONOWICZ (2004). Efetuamos as coletas de solo de 0 a 20 cm, com
20 sub amostras, para formar uma amostra composta para cada área, e então foram
enviadas para o Laboratório de Análise de Solo da Universidade Federal de Goiás, para
realização de análises químicas e físicas. Já em posse dos referidos resultados de cada
propriedade, indicamos as devidas recomendações.
De posse dos resultados das análises de solo, foram realizadas as interpretações e então utilizou-se calcário dolomítico para elevar a saturação por bases e
fornecer Ca e MG. Para suprir a carência de fósforo utilizou-se nas áreas Termofosfato
(Yoorin) e Fosfato de Arade e, como fonte de Nitrogênio, foi orientado o uso de Biofermentados, esterco de galinha e compostos orgânicos. Em todas as áreas utilizou-se
de leguminosas, como forma de adubar e melhorar as características químicas, físicas e biológicas dos solos. Para áreas de pastejo incentivou-se o uso de leguminosas
como Estilozantes e Feijão Guandu, para aumentar o teor de proteína ingerido pelos
animais. De maneira preventiva, às doenças fungicas, utilizou-se calda bordaleza a
1,5% nas mudas de Citrus, caju e manga dos SAFs e mamão. Realizaram-se visitas periódicas aos agricultores experimentadores, com verificação empírica dos resultados,
estimulando-os a realizarem e pensarem alternativas que poderiam adequar ao próprio sistema de cultivo. Como nem todos os cooperados experimentaram as práticas
agroecológicas trabalhadas, adotou-se uma política de estimular os produtores a divulgarem entre si as experiências, os resultados econômicos e ambientais, atingidos
por aqueles que adotavam as orientações agroecológicas.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
157
A região de Itapuranga-GO tem a variedade de banana maçã como a mais
consumida. No entanto, essa variedade está ficando cada vez mais difícil de cultivar
devido sua alta susceptibilidade ao Mal do Panamá, doença causado pelo agente Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E.F. Smith). Por esta razão, na instalação de duas unidades experimentais agroecológicas de banana utilizou-se mudas de banana micro
propagadas, das variedades nanicão IAC 2001, resistente à Micosphaerella fijiensis e
Mycosphaerella musicola, Tropical, resistente M. musicola e ao Fusarium oxysporum
fsp. cubense, FHIA 18, resistente à Mycosphaerella (Figura 1). Para o plantio usou-se
como adubação, Termofosfato Yoorin e esterco bovino curtido nas covas e algumas
coberturas com biofermentado de esterco bovino e urina de vaca. Em uma das áreas
plantou-se Crotalaria Juncea durante o período chuvoso e, no ano seguinte, implantou-se um Bananal. Com o uso da leguminosa, foi possível observar que houve a descompactação do solo, que também recebeu um bom aporte de matéria orgânica e
material fibroso, o que garantiu o bom desenvolvimento das plantas de banana. Também procurou-se estabelecer um manejo da broca da bananeira (Cosmopolite sordidus), por meio da realização do caminhamento nos bananais, identificação de plantas
atacadas pelo inseto, captura de larva e adultos da broca, confecção e distribuição de
armadilhas de captura de broca nos bananais e a capacitação dos produtores para
realização do manejo, evitando assim a aplicação de produtos químicos para controle.
A área experimental da banana foi implantada por meio de mudas micropropagadas, sendo que a aclimatação das mudas foi realizada na propriedade do
produtor que conduziu o trabalho. Esse campo demonstrativo não obteve o êxito
esperado. A aclimatação foi realizada satisfatoriamente, tendo sido transplantada ao
campo mudas de 25 cm a 30 cm, bem estabelecida. Com 65 dias de aclimatação as
mudas foram transplantadas para a área definitiva. A área foi irrigada manualmente
durante a seca e adubadas com biofertilizante líquido preparado no local. As mudas
estão ainda com porte pequeno e terão colheita reduzida no primeiro ciclo de produção, devendo-se recuperar seu potencial no segundo ciclo.
A cova foi adubada apenas com termofosfato e calcário. As adubações de
cobertura foram realizadas com biofertilizante líquido à base de esterco bovino, termofosfato, caldo-de-cana e leite. O potássio foi fornecido pelo emprego de cinzas. O
resultado desse cultivo foi surpreendente em termos de sanidade vegetal, uma vez
que a produção atingiu níveis bem acima dos sistemas usualmente utilizados pelos
agricultores de Itapuranga. No mesmo período, observou-se outras áreas de maracujá de cooperados com problemas fitossanitários que não estava sendo controlado
sequer por fungicidas.
Figura 1. Unidades de banana implantadas em propriedades de agricultores cooperados.
Foi implantada uma unidade experimental de mamão onde foram plantadas
100 covas com mudas de mamão formosa
(Figura 2). A adubação de plantio foi realizada com Termofosfato Yoorin e esterco de galinha curtido. Cada cova continha três mudas,
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
para que no início da floração pudesse ser realizada a sexagem, deixando apenas uma
muda, de preferência hermafrodita. Para essa medida, é de fundamental importância
conhecer a botânica das flores, para discernir entre uma planta de flores hermafroditas, feminina ou até mesmo masculina. Segundo Manica (2006), as flores hermafroditas têm suas pétalas soldadas na base ou até a metade do seu comprimento. O órgão
feminino possui um ovário alongado, de formato periforme a cilíndrico, formado por
cinco estigmas em forma de leque; o órgão masculino tem as anteras de cor amarela
com 5 a 10 estames funcionais e tem a capacidade de realizar auto-fecundação, originando frutos alongados de formato periforme. Já as flores femininas são maiores
em tamanho, não possuem estames (portanto, necessitam de pólen de outra planta),
e dão origem a um fruto mais arredondado, denominado na região de Itapuranga
como frutos de formato de bola ou frutos bola, que tem baixo valor comercial. Em
algumas plantas observou-se manchas foliares, causadas pelo fungo Asperisporium
caricae (Speg.) Maubl., causador da doença conhecida como varíola ou pinta preta.
Por isso, iniciou-se a prática de controle desse fungo que consiste na retirada das folhas mais atacadas e a aplicação via pulverização de Calda-Bordaleza na concentração
de 0,5% e aumentando até 1,5%, aplicado sempre nas horas mais frescas do dia para
evitar possível fitotoxidez.
O trato cultural da desbrota dos mamoeiros foi iniciado a partir de 30 dias
do plantio das mudas, desde então se tornou constante na área. Essa prática objetiva
a eliminação manual dos brotos laterais que se inserem nas axilas foliares e causam
prejuízos ao desenvolvimento do mamoeiro e também pode tornar-se um foco de
infestação de ácaros, principalmente o ácaro branco (Polyphagotarsonemuis latus
(Banks 1904), Tarsonemidae) (MANICA, 2006).
Nas entrelinhas da unidade experimental agroecológica de mamão utilizou-se leguminosas como adubação verde, com o propósito de fixar nitrogênio no
solo, descompactá-lo e protegê-lo das intempéries. Nessa unidade ocorreu o estiolamento dos mamoeiros devido o sombreamento exercido pelas leguminosas, e para
sanar o problema foi necessária adiantar a roçagem dos adubos verdes abaixo do
nível das folhas da cultura, essa medida fez com que as plantas se desenvolvessem
normalmente. O cultivo do mamão com técnicas agroecologicas apresentou resultados satisfatórios, atribuída pela melhoria da qualidade do solo proporcionada pelas
adubações verde com leguminosas.
Figura 2. Unidades de mamão implantadas em propriedades de produtores cooperados.
O município de Itapuranga é um
dos pólos de produção de maracujá em Goiás. Há muitos anos a cultura vem sofrendo
com doenças desfolhadoras como Colletotrichum gloeosporioides e Cladosporium hebarum (LIMA, 2002), desta forma é utilizada uma
grande quantidade de agrotóxicos para controle dessas doenças. Com o intuito de produzir maracujá sem agrotóxicos, foi implantada uma área experimental com manejo orgânico, aproveitando o local onde havia
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
159
sido cultivada e colhida a Crotalaria juncea.
Foram implantados dois sistemas de produção de maracujá: o primeiro
acompanhando o modelo implantado pelos produtores acrescido de adubação verde, manutenção de flores de crotalaria no meio do maracujazeiro para atração da mamangava, principal polinizador do dessa espécie; o segundo sendo as mudas plantadas sob as arvores espalhadas no meio das lavouras e quintais, usando essas arvores
como espaldadeiras.
A unidade experimental de maracujá de cultivo em espaldeira vertical foi
implantada numa área previamente preparada com leguminosas recuperadoras do
solo. Ou seja, as mudas foram plantadas em palhada de Crotalaria Juncea. A variedade
de maracujá utilizada foi FB-200, por ser de mesa, com casca grossa, tamanho grande e 38% de rendimento de poupa. A adubação de plantio foi de 5 litros de esterco
de gado curtido e 300 gramas de Termofosfato Yoorin por cova e como cobertura
foi feito apenas aplicações com biofermentados de esterco bovino nas dosagens de
2 litros do biofermentado em 6 litros de água. Dessa solução foi aplicado cerca de
500ml por planta. Essa plantação também já se encontra em produção, e com baixa
incidência de doenças, demonstrando que há um equilíbrio nutricionais das plantas
fazendo com que essas sejam mais resistentes, isso segundo a Teoria da Trofobiose de
CHABOUSSOU (1987).
Outra técnica de cultivo do maracujá experimentada com os agricultores
familiares de Itapuranga foi
o plantio próximo às árvores, de forma que elas servissem de estaleiro
para os maracujazeiros. Neste sistema, as mudas de maracujá foram plantadas em
covas adubadas com 300 gramas de Termofosfato Yoorin e 5 litros de esterco bovino
curtido. A técnica de cultivo do maracujá com plantio próximo às árvores alcançou
resultados muito satisfatórios. As plantas cresceram muito bem e deram ótimos resultados produtivos. Em algumas propriedades observou-se que essas plantas quando
nesse sistema, são menos atacadas por doenças, por ficarem mais isoladas, arejadas e
em um ambiente semelhante ao seu habitat, que são as florestas.
Figura 3. Unidade implantada de maracujá no município de Itapuranga, Goiás.
Alguns os agricultores solicitaram
a produção de abacaxi e, por isso, foram adquiridas com recursos do projeto do CNPq 500
mudas clonadas de abacaxi da variedade Imperial que foram distribuídas a dois produtores, para que esses estabelecessem um viveiro
que vem sendo conduzido de forma agroecológica. O agricultor familiar que recebeu mudas tinha o compromisso de retornar três
novas mudas, para que possamos redistribuí-las a outros produtores e assim propagar
o material adquirido pelo projeto de agroecologia.
Outros agricultores de Itapuranga queriam experimentar o cultivo de
Figo, daí que o projeto de Agroecologia desenvolvido pela Escola de Agronomia da
Universidade Federal de Goiás, distribuiu a 6 produtores 120 mudas de figo que fo160
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
ram plantadas e estão sendo cultivadas em regime agroecológico. As mudas foram
obtidas em viveiro idôneo no município de Anápolis-GO, propagadas por estaquia e
em recipientes plásticos. Os espaçamentos utilizados dependeram da área disponibilizada pelo agricultor, pois em algumas propriedades utilizaram-se as plantas para
formar cordões de proteção no entorno de outras culturas. Mas, em média, utilizou-se
o plantio em espaçamento de 3m x 2m, pois espaçamentos assim são usados para
produção de frutos destinados a mesa. No coveamento confeccionaram-se covas de
40x40x40cm. Na confecção das covas, o solo dos primeiros 20cm foi separado dos
20cm inferiores. O solo da parte superior foi destinado a ser misturado junto aos adubos de plantio, pois se houvesse a necessidade de preencher as covas, essas seriam
preenchidas com solo de superfície das laterais. Essa medida foi adotada devido o
solo da superfície apresentar uma maior concentração de nutrientes e matéria orgânica. O solo dos 20cm inferiores foi destinado a formação de uma bacia de retenção de
água no envolto das covas; essas bacias de retenção foram desfeitas no início das chuvas para evitar o excesso de água. As covas foram adubadas com composto orgânico
ou esterco bovino curtido, ainda foi acrescentado fosfato de Arade mais Yoorin para
suprir a carência de alguns microelementos e principalmente Fósforo. Após noventa
dias após o plantio realizou-se a primeira poda de formação da planta. Essas podas
prosseguem até o quarto ou quinto ano pós-plantio, duplicando-se anualmente o número de ramos da planta. As estacas retiradas nas podas foram plantadas em sacos
plásticos, as mudas serão utilizadas na composição do pomar e o excedente será distribuído a outras pessoas da comunidade que se interessem pela cultura.
No cultivo de goiaba, a equipe do projeto foi chamada por um produtor
para realizar algumas podas. Existem, basicamente, três tipos de podas em goiabeiras:
poda de formação, poda de limpeza e poda de frutificação. Como as primeiras podas
não tinham sido feitas nas plantas, essas estavam com má formação das copas. Dessa forma, a poda assegurou a boa formação da copa, e como as plantas já estavam
em fase reprodutiva, também fizemos a poda de frutificação pois segundo SOUZA,
MANCINI E MELO (2009) a goiabeira produz em ramos, em crescimento, a poda de frutificação consiste no encurtamento dos ramos que já produziram, de modo a manter
a planta em atividade, pelo estimulo à nova brotação, que deverá ser frutífera. Após
a poda realizamos um pincelamento dos locais podados com pasta bordaleza, feita
com 100gramas de sulfato de Cobre e 200 gramas de cal virgem. Os dois produtos
foram adicionados a uma quantidade mínima de água a fim de formar uma pasta, essa
possui características fúngistáticas que ajudam na cicatrização dos locais podados.
A equipe do projeto de agroecologia também experimentou, numa propriedade de um agricultor de Itpuranga, o uso de armadilha luminisa para o controle
de coleóptero no parreiral. O coleóptero, Maecolaspistrivialis (BOHEMAN,1858) Coleóptera: Chrysomelidae), causou danos severos às plantas de uva em 2007. Seu ataque causou o rendilhamento das folhas e desbrota das plantas, ocasionando danos
ao crescimento. Seu controle, em 2007, foi feito com aplicação de produtos naturais
repelentes, mas também foi necessário o uso de produtos químicos. Em novembro
de 2008, logo no início do aparecimento dos primeiros insetos na lavoura de uva, foi
instalado armadilhas luminosas. As mesmas apresentaram boa eficiência e nesse ano
não houve a necessidade de aplicar produtos químicos nessa área, o que demonstrou
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
161
a eficiência da armadilha luminosa, quando instalada logo no início do período propício ao ataque dos coleópteros.
Como resultado, teve-se a incorporação de técnicas agroecológicas pelos produtores, a boa aceitação e compreensão da necessidade de praticar um novo
modelo de agricultura, que não utilize produtos químicos, agrotóxicos e adubos altamente solúveis. Com isso percebemos que houve um aumento na procura por informações por parte desses produtores. Obtive-se como resultado a boa aceitação
dos produtores pela adubação verde, demonstrando a eficácia do uso no controle e
plantas indesejadas, e também no condicionamento de solo e proteção, tornando-o
visualmente mais vivo, ou seja, com maior presença de insetos e bolores benéficos.
Durante a realização dos trabalhos tivemos a preocupação que as tecnologias utilizadas fossem acessíveis aos produtores. Assim, como princípio da sustentabilidade, foi dada prioridade para utilização de insumos da propriedade ou que estivesse disponíveis na região. A constância nas propriedades, a vivência da realidade
dos agricultores familiares proporcionaram maiores possibilidades de entendermos
e superarmos as dificuldades que constantemente apareciam, o que é normal para
áreas desequilibradas ecologicamente.
Como citado anteriormente, procurou-se refletir com os produtores sobre seus sistemas produtivos, buscando constantemente a melhoria da qualidade
no trabalho e nos resultados para obtenção de produtos com ótima aparência e boa
aceitação no mercado local. Isso foi feito intensamente com a produção de frutícolas,
visando o comércio na feira da agricultura familiar em Itapuranga -GO que representa
importante fonte de renda para muitos cooperados.
Os principais produtos gerados foram os pomares em pleno desenvolvimento, com boas expectativas para produção de melhor qualidade, que serão oferecidas na feira do Produtor Rural de Itapuranga e à comunidade em geral, uma vez
que a Cooperafi adquire frutas e verduras dos agricultores e as repassam às escolas,
hospitais e asilos, por meio de acordo firmado com a Conab.
O convívio com a realidade da agricultura familiar implica em um constante desafio. As famílias possuem diversas ocupações em áreas limitadas, exigindo
busca constante de conhecimentos para auxiliá-los na melhor realização de seus trabalhos, obter da terra melhores resultados e conservar o meio ambiente, utilizando-o
de forma racional.
Foi observado que, como os produtores da Cooperafi e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, há muitos outros em situações semelhantes, tendo que retirar de
uma pequena superfície de terra o sustento da família, sem praticamente nenhum
auxílio governamental. Isso fez com que a e equipe de esforçasse todos os dias para
tentar sanar os problemas agrícolas produtivos, econômicos e ambientais enfrentados pelos agricultores familiares de Itapuranga.
2 PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA DE HORTALIÇAS
Alguns agricultores de Itapuranga fazem o cultivo comercial de hortaliças,
que são vendidas nos verdurões, na CONAB e, principalmente, na tradicional Feira do
Produtor de Itapuranga, que se realiza em todas as quintas-feiras, à tarde. As verduras
também são produzidas para atender ao autoconsumo dos agricultores familiares.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
162
Assim, as hortaliças têm grande importância na geração de renda e na alimentação
das famílias dos agricultores.
O nosso objetivo foi implantar unidades experimentais de olerícolas, cultivadas sob os princípios da produção agroecológica, especialmente entre os agricultores que fazem o cultivo comercial. Para atingir o objetivo de uma produção orgânica
de hortaliças, foram desenvolvidas áreas experimentais com horticultura, especialmente na produção de hortaliças, cujos insumos foram substituídos por recursos das
propriedades e outros produtos de baixo impacto ambiental, com a finalidade de suprir as necessidades minerais das plantas de maneira equilibrada, segundo preceitos
descritos por PRIMAVESI (1988a). Essas áreas eram acompanhadas periodicamente
para verificação de resultados e solução de eventuais problemas. Foi constatado que
alguns produtores estavam colhendo alfaces muito pequenas, em decorrência do espaçamento inadequado entre plantas e suprimento insuficiente de fósforo no canteiro (FILGUEIRA, 2003). Além disso, foi proposto a rotação de culturas, como mecanismo
de diminuição de pragas e doenças nas culturas exploradas. Essa prática é importante
mecanismo no controle de diversas pragas (PRIMAVESI, 1988b). Também foi realizado
um dia de campo sobre compostagem, com o propósito de auxiliar a confecção e
uso do composto orgânico em três propriedades, procurando estimular os demais a
realizarem tal prática.
Em alguns produtores foi proposta a substituição do adubo NPK, utilizado
em doses elevadas que até causava deficiências especialmente de micronutrientes,
pelo termofosfato em adubação de base, juntamente com os estercos disponíveis e,
biofertilizantes líquidos para suplementação de nitrogênio em substituição da uréia e
sulfato de amônio. Os próprios produtores observaram que a eliminação dos adubos
químicos proporcionou boas colheitas e com menores custos, proporcionando também maior receita financeira.
Foram criadas duas unidades experimentais de olericultura, sendo que
em uma área plantou-se principalmente couve que foram adubadas no plantio com
Termofosfato Yoorin, esterco de gado curtido. As aplicações de fermentado de esterco bovino e urina fermentada foram usados como adubos foliares e repelentes de
pragas, também com a intenção de evitar o ataque de fungos. Na outra propriedade utilizou-se adubos verdes em parte da área destinadas à horta, e na outra área
utilizou-se Termofosfato Yoorin, esterco bovino e fermentado de esterco bovino nos
canteiros. Nessa área ainda incentivou-se o uso de cerca viva de flor do mel, para que
formasse uma barreira natural para a entrada de insetos e doenças nas áreas, além de
atrair polinizadores. O plantio foi no entorno das áreas, no entanto o desenvolvimento
das plantas foi prejudicado pelo longo período de estiagem.
Na área onde se utilizava o manejo convencional no plantio de alface, com
fórmulas de adubos altamente solúveis de N-P-K, foram substituídos pelo Termofosfato Yoorin em adubação de plantio. Na cobertura foi utilizado o fermentado de esterco
bovino, com a intenção de suplementar a carência de nitrogênio, em substituição à
uréia e sulfato de amônio. Para um agricultor familiar, a equipe técnica do projeto
dispôs variedades de pimentas, que foram cultivadas com adubação verde como medida de aumento da biodiversidade e adubação.
As áreas experimentais com horticultura orgânica, especialmente na proPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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dução de hortaliças, permitiram a substituição de insumos químicos por recursos orgânicos das propriedades e outros produtos de baixo impacto ambiental, com a finalidade
de suprir as necessidades minerais das plantas de maneira equilibrada, segundo preceitos propostos por PRIMAVESI (1988a). Essas áreas eram acompanhadas periodicamente
para verificação de resultados e solução de eventuais problemas. Em alguns produtores
foi proposta a substituição do adubo NPK, utilizado em doses elevadas causando, em
alguns casos, deficiências de micronutrientes, pelo termofosfato em adubação de base,
juntamente com os estercos disponíveis e, biofertilizantes líquidos para suplementação
de nitrogênio em substituição da uréia e sulfato de amônio. Os próprios produtores observaram que a eliminação dos adubos químicos proporcionou boas colheitas e com
menores custos, proporcionando também maior receita financeira.
Durante a vigência do projeto, também foi realizado acompanhamento
técnico em diversas unidades produtivas dos agricultores familiares de Itapuranga,
procurando compreender os aspectos ecológicos dos sistemas produtivos, seus desequilíbrios e suas causas. Foi constatado que alguns produtores estavam colhendo
alfaces muito pequenas, em decorrência do espaçamento inadequado entre plantas
e suprimento insuficiente de fósforo no canteiro. Dessa forma orientou-se o aumento do espaçamento e uso de Termofosfato Yoorin nos canteiros das hortaliças. Além
disso, a rotação de culturas foi muito difundida, como mecanismo de diminuição de
pragas e doenças nas culturas exploradas.
O acompanhamento técnico das olerícolas permitiu compreender os aspectos ecológicos dos sistemas produtivos, seus desequilíbrios e suas causas, com
vistas a elaborar soluções para a produção de alimentos saudáveis e gerassem renda
para os produtores. A melhoria da qualidade da produção das hortaliças foi possível
pela adoção de espaçamento adequado entre plantas e suprimento suficiente de fósforo no canteiro. Essa prática foi um importante mecanismo no controle de diversas
pragas, conforme recomendações de PRIMAVESI (1988b).
O resultado mais surpreendente foi a adoção da prática de produção orgânica de hortaliças pelo produtor José Luiz “Zico”, acostumado ao uso de agrotóxicos
em todos os cultivos, inclusive nas frutíferas que possui no quintal. Seus filhos,
horticultores na mesma propriedade,
porém em áreas separadas, observaram
os resultados e a economia do processo
e técnica utilizada e estão adotando as
práticas iniciadas pelo pai (Figura 4).
Figura 4. Unidades de produção de hortaliças
para comercialização na feira livre do município
e venda direta para o Governo Federal pelo
programa PAA.
3 IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF’S)
Um dos focos do Projeto “Desenvolvimento Agroecológico em Itapuranga” refere-se à formação e recuperação das APPs e RL. A alternativa encontrada para
a recuperação destas áreas degradadas, conciliando o incremento na renda agrícola
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
164
dos agricultores familiares, se dá por intermédio da implantação de Sistemas agroflorestais (SAF’s). A implantação dos Sistemas Agroflorestais (SAF’s) visa incrementar
a produtividade dos agricultores familiares, por intermédio de sistemas produtivos
que integra a produção agrícola com a preservação ambiental e recuperação de áreas
degradadas de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reserva Legal (RL), com o
plantio de espécies de árvores nativas do cerrado.
Os SAF caracterizam-se por um sistema de cultivo que combina o plantio
numa mesma área de espécies anuais de ciclo curto como as leguminosas responsáveis pela “adubação verde” do solo, com espécies de ciclo médio, principalmente
frutíferas e espécies arbóreas de ciclo longo (frutíferas e/ou madeireiras) que interagem econômica e ecologicamente de forma simultânea e em sequência temporal.
As espécies de árvores nativas do Cerrado são escolhidas para o plantio dos SAF’S de
Itapuranga. Um de seus aspectos positivos é a sustentabilidade desses sistemas com
a presença de árvores, que têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais
profundas do solo, reciclando com uma maior eficiência e uma cobertura maior do
solo. Os SAF`s implantados em Itapuranga são estruturados em função dos interesses
e necessidades dos agricultores das peculiaridades da região. Nos cerrados, leva-se
em consideração a riqueza de espécies do bioma, as possibilidades de criar desenhos
diferentes, a combinação de espécies, a criação de metodologias e o conhecimento das interações interespecíficas, além da ampla utilização das plantas do Cerrado
como: corticosas, medicinais, produtoras de frutos para diversos fins, ornamentais,
tintureiras.
De acordo com VIANA e PINHEIRO (1998), a conservação da biodiversidade representa um dos maiores desafios deste século, em função do elevado nível de
perturbações antrópicas dos ecossistemas naturais. A implantação de sistemas agroflorestais é uma das alternativas para reestruturação desses ecossistemas, com a inclusão de sistemas de produção com elevada densidade de espécies arbóreas, preferencialmente espécies de ciclo longo, altas, perenifólias, com flores e frutos utilizados
pela fauna nativa possibilita considerável retorno econômico.
Os sistemas agroflorestais (SAF’s) conduzidos sob uma lógica agroecológica visam instaurar a sustentabilidade a partir de conceitos básicos fundamentais de
ecologia, aproveitando os conhecimentos locais e desenhando sistemas adaptados
para as particularidades natural do lugar. O resgate cultural e do conhecimento local
adquiridos pela comunidade local, através de gerações, fruto de séculos de convívio
com o ecossistema é de extremo valor e importância para a elaboração de sistemas
de produção sustentáveis. “O produto final necessário a uma agricultura ecológica é
um ser humano desenvolvido e consciente, com atitudes de coexistência e não de
exploração para com a natureza” (ALTIERI, 1989: 211).
A implantação dos SAF’s em Itapuranga se dá por meio de visitas às unidades produtivas, observações e diagnóstico da degradação, seguidas do planejamento de ações mitigadoras em espaços de decisões coletivas. A proposta metodológica
para implantação dos Sistemas Agroflorestais fundamenta-se nos princípios da sustentabilidade ambiental, econômica e social, baseado na utilização de metodologias
participativas que possibilitam uma visão holística e uma compreensão de diversos
aspectos da realidade da comunidade. Uma das premissas da metodologia participaPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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tiva é estimular a participação dos agricultores familiares em todas as fases do projeto
desde o diagnóstico, planejamento, seleção da área, seleção de espécies agroflorestais de interesse das famílias e a implantação das unidades de experimentação. Todas
as visitas às propriedades têm por objetivo o desenvolvimento de sistemas produtivos viáveis economicamente que conciliam a preservação ambiental e a promoção de
ações educativas associadas às atividades desenvolvidas.
As unidades experimentais de SAF’s estão sendo desenvolvidas de forma
sincronizada em unidades familiares de seis agricultores experimentadores, a saber:
Sr. José Luis da Silva – mais conhecido por Zico – (Fazenda Água Espraiada), Sr. José
Carvalho (Fazenda Córrego Grande), Sr. Ailton Freitas da Silva (Fazenda Laranjal II),
Sr. Aldair Ferraz de Souza (Fazenda Córrego Grande), Sr. Ilzo Lucas da Costa (Fazenda
Goiabeira) e Sra. Maria Augusta Queiroz.
Primeiramente, fez-se visitas introdutórias com o propósito de conhecer
as unidades de exploração e estabelecer relacionamentos de confiança entre a agrônoma e as famílias integrantes do projeto. Após as visitas às unidades produtivas, iniciou-se a observação e o diagnóstico da degradação ambiental nas propriedades em
questão, sendo seguido pelo planejamento e discussão de ações mitigadoras. Depois
de selecionadas o local de implantação do SAF’s, todas as áreas foram medidas e esquematizadas em croqui. Na sequência, foram colhidas amostras de solo, que foram
submetidas às análises físicas e químicas, com a subsequente correção do solo com
calcário e fosfato de Arad.
Uma atividade contínua desenvolvida nas unidades experimentadoras
envolve a coleta de semente de plantas nativas do cerrado, existentes na região de
Itapuranga. As sementes obtidas são plantadas em saquinhos contendo substrato
e manejadas até o momento e época apropriada para plantio definitivo na área do
SAF’s. Como nem todos os agricultores conseguem êxito na produção de mudas, implantamos um mini-viveiro para produção de mudas, no qual somos responsáveis
pelo plantio e manejo das mudas.
Com o intuito de melhorar as condições nutricionais e estruturais dos solos, foram distribuídas sementes de leguminosas de feijão de porco (Canavalia ensiformis) e feijão guandu (Cajanus cajan) aos agricultores, para promoção da adubação
verde do solo e produção de sementes dessas leguminosas.No período seco (estiagem) foi realizado o manejo dos sistemas agroflorestais implantados.
Ademais, foram desenvolvidas atividades educacionais paralelas, para que
os agricultores aprendessem a fazer e manusear produtos agroecológicas para substituição do uso de agrotóxicos e insumos químicos; e técnicas de manejo ecológico dos
agroecossistemas, bem como técnicas de manejo de SAF’s, a saber: coleta de semente
e produção de mudas, princípios agroecológicos e manejo de sistemas agroflorestais.
O início dos trabalhos em Itapuranga se deu com visitas introdutórias com
o propósito de conhecer as unidades de exploração e estabelecer relacionamentos de
confiança entre os técnicos extensionista e as famílias integrantes do projeto, nessa
ocasião foi exposto os objetivos do projeto, as explanações acerca da importância da
agricultura agroecologia suas potencialidades e desafios, bem como as premissas dos
sistemas agroflorestais. Ademais, procurou-se, nessa primeira visita, apreender por
meio das percepções, anseios, valores e práticas a consciência ecológica dos agriculPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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tores para com a natura e os recursos naturais do quais lidam em suas unidades.
Nas visitas posteriores às unidades produtivas procedera-se à observação
e o diagnóstico da degradação ambiental nas propriedades, sendo seguido pelo planejamento e discussão de ações mitigadoras. As áreas com fitofisioma mais comprometidos e/ou com peculiaridades e relevante importância ambiental como as áreas
de preservação permanente foram priorizadas e selecionadas para a implantação dos
SAF´s, uma vez que as pesquisas indicam que os SAF’s envolvem processos capazes
de promover o recondicionamento ambiental, com vista à recuperação de áreas degradadas.
Depois de selecionadas o local de implantação do SAF’s entre os agricultores experimentadores de Itapuranga, todas as áreas foram medidas e esquematizadas em croqui. Na sequência, foram colhidas amostras de solo, nas áreas de manejo
convencional e nas áreas de recuperação, sendo colhidas dez amostras simples para
formar uma amostra composta. As amostras compostas foram submetidas às análises
físicas e químicas do solo em profundidade de 0-20 cm seguindo metodologia proposta pela Embrapa (1979). De posse dos resultados das análises do solo, procedeu-se
o cálculo da quantidade necessária para correção do solo com calcário e fosfato de
Arad.
Para o desenvolvimento dos trabalhos cogitamos a possibilidade de uma
parceria entre a UFG/CNPq e a Secretaria do Meio Ambiente do Município de Itapuranga, com intuito de viabilizar as mudas de plantas nativas do cerrado necessárias
para iniciar a implantação dos SAF’s. Sendo assim, encaminhamos uma proposta à
Prefeitura de Itapuranga e conseguimos a doação de 300 mudas, estas foram divididas e distribuídas entre os agricultores experimentadores de SAF’s. Algumas dessas
mudas foram oriundas do sistema prisional do município, fruto de uma parceria na
qual a prefeitura disponibiliza o substrato (terra de subsolo e esterco) o sistema prisional entra com a mão de obra dos reeducandos e o presente projeto participa com
a assistência técnica e sementes, para produção de espécies nativas.
As mudas das espécies conseguidas até o momento, por meios das
parcerias listadas acima, foram plantadas
e estão sendo manejada na forma de sistemas agroflorestais. Foram plantadas de
forma consorciada com outras espécies
anuais de ciclo curto e espécies de ciclo
médio, principalmente frutíferas (Figura 5).
Figura 5 – Sistemas Agroflorestais em desenvolvimento no município de Itapuranga.
Ainda para ampliar o número de plantas dos SAF’S, encaminhamos à Secretaria da Agricultura do Estado de Goiás uma solicitação de doação de 8000 (oito
mil) mudas de espécies vegetais produzidas no viveiro estadual – localizado em Goiânia, GO. Recebemos a confirmação da liberação de um total de 4000 mudas de espécies nativas e frutíferas diversas. Parte dessas mudas vai compor SAF’s dos agricultores
familiares que já vem desenvolvendo os sistemas e a outra para será destinada à rePRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
167
composição de APPs e RL dos demais agricultores que compõem o projeto, beneficiando ao cerca de 30 agricultores.
Outra atividade contínua desenvolvida nas unidades experimentadoras
envolve a coleta de semente. Os agricultores são ensinados e estimulados a coletar
sementes, conforme a ocorrência da frutificação na natureza. Ressaltamos a importância da incorporação desse hábito à rotina das atividades da propriedade, uma vez
que as espécies produzem frutos de forma escalonada, ou seja, determinadas espécies frutificam em uma época do ano, outras em outra época etc. Sendo assim, a coleta de semente deve ser uma atividade contínua ao longo do ano. A coleta de semente
e a produção de mudas integram os objetivos de promoção da auto-suficiência das
unidades familiares que visam o máximo aproveitamento de recursos internos e presente no ambiente local. Trabalhamos a coleta de sementes de forma integrada entre
os agricultores dos SAF’s, quando um agricultor dispõe de sementes excedentes, estas
são repassadas e divididas com os demais agricultores visando à obtenção de espécies diferentes, e dessa forma aumentar a diversificação do sistema e a integração dos
agricultores.
As sementes obtidas são plantadas em saquinhos contendo substrato
e manejadas até o momento e época apropriada para plantio definitivo na área do
SAF’s. Todos os agricultores possuem, em maior ou menor proporção, um mini-viveiro
rústico e adaptado à realidade local, que, aos poucos, os agricultores vão melhorando-o e adequando-o para uma melhor produção das mudas.
Como nem todos os agricultores conseguem êxito na produção de mudas,
implantamos um mini¬viveiro para produção de mudas, no qual somos responsáveis
pelo plantio e manejo das mudas. As mudas produzidas são divididas e distribuídas
entre os agricultores e irão para o campo ainda nesse período chuvoso.
A maioria dos agricultores de Itapuranga não conhece as premissas e
os benefícios das leguminosas para recomposição da fertilidade natural dos solos e
manejo das plantas invasoras. Visando difundir essa prática e melhorar as condições
nutricionais e estruturais dos solos, o projeto comprou e distribuiu sementes de leguminosas de feijão de porco e feijão guandu aos agricultores, para promoção da
adubação verde do solo e implantação de campo de sementes para uso subseqüente
na área dos agricultores. Além da utilização da adubação verde, os agricultores são
ensinados a fazer e manusear produtos agroecológicas em substituição do uso de
agrotóxicos e insumos químicos, como os elaborados de neem (Azadirachta indica) e
de outras espécies para controle de pragas e doenças, e
o preparo de calda bordaleza.
No período de estiagem, os agricultores experimentadores de Itapuranga recebem orientações dobre o manejo dos sistemas agroflorestais já implantados.
Também, são desenvolvidas atividades educacionais paralelas de forma acompanhada nas unidades familiares, além de um curso dirigido à comunidade de Itapuranga
em geral, que contou com a participação de trinta pessoas, principalmente agricultores e estudantes universitários. Nessa ocasião os presentes aprenderam sobre a importância da preservação das APPs e RL, técnicas de manejo conservacionista do solo,
premissas agroecológicas ecológico bem como técnicas de manejo de SAF’s, a saber:
coleta de semente e produção de mudas, princípios agroecológicos e manejo de sistemas agroflorestais.
168
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Os sistemas agroflorestais implantados em Itapuranga vêm atingindo os
objetivos de ampliar a biodiversidade natural do cerrado e recuperar áreas degradadas. Nestes SAF’S foram plantadas diversas mudas de plantas frutíferas, nativas e de
madeira, para atender os interesses de melhorar a alimentação das famílias dos agricultores, comercializar as frutas excedentes e atender as necessidades de lenha e madeira nas propriedades. Além disso, os SAF’S estão contribuindo para a recuperação
de nascentes, que estavam em áreas de pastagem sob pisoteio do gado bovino, com
a construção de cercas e o plantio de diversas mudas de espécies arbóreas e frutíferas
nativas e exóticas foram plantadas. No entanto, nem todos os produtores que se propuseram a experimentar os SAF’S tiveram o devido cuidado com essas mudas, o que
dificultou as ações. Os mutirões para plantio das mudas de banana foram efetivados
com muito sucesso devido à grande participação dos agricultores. A estiagem prolongada no ano de 2007 prejudicou visualmente o bom desenvolvimento dos SAF’S.
Os que foram implantados em meio a outras plantas já existentes no local resistiram
mais, tendo um maior índice de pegamento das mudas, já os demais tiveram maiores
perdas de mudas. Vale ressaltar que os resultados dos SAF’S poderão ser melhor avaliados num prazo de três a quatro anos, pois as plantas têm um longo ciclo vegetativo
e as mudas plantas eram pequenas, com idade de seis meses a um ano. No entanto, o novo projeto financiado pelo CNPq está aperfeiçoando os Safs já implantados,
bem como ampliando o número de unidades experimentais de SAF’S. Em suma, a
implantação de SAF’S em Itapuranga se mostrou relevante no âmbito da difusão e
estabelecimento de sistemas produtivos que conciliam a produção agrícola com a
preservação ambiental da vegetação de espécies nativas do cerrado.
4 RESGATE DE SEMENTES E PROPÁGULOS DE VARIEDADES TRADICIONAIS
Com a modernização da agricultura, muitas sementes e propágulos de
variedades tradicionais foram sendo substituídas por variedades hibridas ou geneticamente melhoradas, com considerável redução da biodiversidade natural de certos
cultivos que entravam na composição da alimentação da família dos agricultores e ou
dos animais domésticos. Muitas dessas variedades já estavam esquecidas pelos agricultores familiares. Nesta atividade, nosso objetivo foi disponibilizar para os agricultores dispor diversas sementes e propágulos tradicionais ou também denominados
crioulas, de milho, feijão, arroz, mandioca, batata-doce, pimentas, abóbora, melancia,
melão, cabaça, dentre outras.
Os agricultores familiares utilizam técnicas alternativas eficientes para armazenamento e conheciam algumas sementes tradicionais de milho, melancia, maracujá e arroz. Entretanto, não valorizavam as mesmas, uma vez que elas não possuem
as características que o mercado determina. Para incentivar a valorização de suas sementes foram apresentadas algumas experiências consolidadas no uso das sementes
crioulas. Para resgatar sementes e propágulos tradicionais a equipe do projeto estabeleceu diversas estratégias: 1) Promoção de intensa troca de sementes e propágulos
entre os agricultores familiares; 2) Busca de materiais disponíveis na Embrapa e UFG;
3) Compra, com recursos do projeto, de sementes crioulas nas feiras de Goiânia e outros municípios; 3) Organização de uma viagem, em setembro de 2006, para o estado
do Paraná, com vistas a participar de uma Feira de Sementes Crioulas em Porto União,
Estado do Paraná. Nesta viagem de formação, os agricultores familiares tiveram oporPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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tunidade de participar de diversas palestras e adquirir sementes crioulas, para cultivar
em suas unidades produtivas.
A viagem ao Estado do Paraná possibilitou o intercâmbio com agricultores
familiares que utilizam sementes crioulas, demonstrando que é possível desprender
a produção agrícola dos pacotes tecnológicos existentes, produzindo suas próprias
sementes sem depender de grandes empresas. Nesta oportunidade foi possível participar da feira de sementes crioulas, onde foram adquiridas sementes de milho, milho
de pipoca, amendoim, feijão, arroz, mandioca e diversas sementes crioulas.
Os agricultores familiares que receberam as sementes e propágulos disponibilizados pelo projeto foram orientados para fazer o plantio correto, realizar a
colheita e guardar sementes para o próximo plantio. Também se procurou incentivar
o repasse de sementes para outros agricultores interessados, despertando a preservação da biodiversidade natural e a diversificação da dieta alimentar da família. Alguns produtos como o milho crioulo, o feijão, a mandioca de farinha e mesa, pimenta
e batata doce foram os produtos mais valorizados pelos agricultores familiares. Em
visita às propriedades e na feira dos agricultores de Itapuranga, muitos agricultores
demonstraram muita satisfação em recuperar variedades de sementes (as raças como
denominam os agricultores) e comercializar a produção excedente (Figura 6). Uma
variedade de feijão disponibilizado foi um produto que passou a ter boa produção,
sendo que parte foi destinada ao repasse
para outros agricultores e parte dos excedentes foi comercializada na feira. Porém,
os agricultores familiares da região de
Itapuranga trabalhada pelo projeto demonstraram certa resistência, pois perderam a tradição dos cultivos diversificados
de cereais para consumo familiar.
Figura 6. Propágulo de abacaxi crioulo plantado
pelos produtores e sementes de feijão produzidas nas unidades de agricultura família.
5 IMPLANTAÇÃO DE CAMPOS DE PLANTAS RECUPERADORAS DO
SOLO E EXPERIMENTAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS E BIOFERTILIZANTES
A trofobiose é um dos princípios fundamentais da agroecologia. Esse
princípio garante que uma planta bem nutrida é uma planta saudável e resistente ao
ataque das pragas. Segundo CHABOUSSOU (1999), plantas mal nutridas ou nutridas
com elementos de alta solubilidade, como o caso de adubos sintéticos, ficam mais
propícias ao ataque de pragas e doenças devido a maior proteólise no interior dos tecidos vegetais. Por sua vez a adubação orgânica, por sua maior proteosíntese, contribuiria para uma menor suscetibilidade das plantas. Por isso, a melhoria da qualidade
do solo das hortas e pomares dos agricultores familiares de Itapuranga poderia gerar
plantas mais saudáveis e produtivas. Os estudos e as visitas realizadas na região e nas
propriedades dos cooperados constataram que a maioria dos cooperados possui propriedades pequenas, que variam de 2 ha até 50 ha, e utiliza mão-de-obra quase que
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
170
exclusivamente familiar. Assim, a melhoria da qualidade do solo era uma necessidade
dentro do desenvolvimento agroecológico.
O objetivo foi implantar em todas as unidades experimentais de hortaliças
e frutíferas campos de plantas recuperadoras do solo, especilamente as leguminosas, bem como produzir compostos orgânicos e biofertilizantes. Para a produção de
campos de semente recuperadoras do solo, o projeto desenvolvido em Itapuranga
possibilitou a aquisição e distribuição de sementes de adubos verdes, com a finalidade de melhorar o solo e produzir sementes para reutilização e intercâmbio entre
produtores. Também confeccionou-se juntos ao produtores compostos orgânicos,
biofertilizantes e o supermagro.
Em todas as áreas experimentais procurou-se dispor para os agricultores
sementes de leguminosas para uso como adubação verde para melhorar as características químicas, físicas e biológicas dos solos. O manejo dos adubos verdes realizouse no auge da floração, onde foram roçados ou incorporados. Ainda houve a preocupação de orientar os produtores a deixar parte das leguminosas plantadas para a
produção de sementes. Assim, pode-se acompanhar a colheita dessas sementes e sua
redistribuição na cooperativa. As principais espécies utilizadas como alternativas de
adubação verde foram leguminosas, como o feijão de porco (Canavalia ensiformis),
crotalaria (Crotalaria Juncea), Feijão Guandu (Cajanus cajan) e Estilozantes Campo
Grande (Figura 7). Essas espécies foram semeadas nas áreas com o objetivo de fixar
nitrogênio no solo, criar uma camada de proteção contra as intempéries e evitar o
crescimento de plantas indesejáveis nas áreas, diminuindo assim, o número de capinas e melhorando as características químicas, físicas e biológicas do solo (CARVALHO;
AMABILE, 2006). Procurou-se estimular, nas propriedades familiares, algumas áreas de
produção de sementes de Feijão guandu, Feijão de Porco e Estilozantes. As sementes
dos feijões foram colhidas e repassadas para outros interessados. Já as do Estilozantes
foram colhidas para a formação de pastagem na própria propriedade e o excedente
será redistribuído entre os cooperados.
Figura 7. Ensaios com adubação verde.
A produção do composto orgânico foram utilizados restos de capinas,
cinzas, esterco de aviário, esterco bovino,
casca de arroz, que foram dispostos em
camadas até uma altura de 1 metro, umedecido e revolvido periodicamente, para
acelerar a atividade microbiana (Figura 8).
Os agricultores também foram orientados,
em um Dia de Campo, para a produção do
biofertilizantes, com base no esterco de animais, micronutrientes e açúcar-de-cana.
Preparou-se também alguns adubos líquidos como o Super Magro que é
um fertilizante foliar, isto é, um adubo para ser pulverizado sobre as folhas das plantas
serve para adubar e melhorar a saúde das plantas, aumentando a brotação e a produção das lavouras. As vantagens desse tipo de adubação são: 1) utilização em qualquer
tipo de cultura ou plantação, inclusive em plantas ornamentais; 2) contém todos os
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
171
nutrientes que as plantas precisam, é um alimento bastante completo; 3) controla o
desenvolvimento de algumas doenças, mas não é um agrotóxico; 4) deixa as plantas
mais resistentes aos insetos; 5) melhora a brotação e o crescimento das plantas. O
produto é composto basicamente de: 1) Água, que deve ser limpa e fresca; 2) Esterco
fresco de gado, que contém milhões de microorganismos, que são benéficos para as
plantas; 3) Mistura de Sais Minerais, que são os micronutrientes dos quais as plantas
necessitam, em pequenas quantidades, para crescerem fortes e sadias; 4) Mistura Protéica, que são os materiais orgânicos ricos em proteínas, que alimentarão o microorganismos que vêm no esterco do gado. Os sais utilizados foram: Ácido bórico; Cloreto
de cálcio; Molibdato de sódio; Sulfato de cobalto; Sulfato de cobre; Sulfato ferroso;
Sulfato de magnésio; Sulfato de manganês; Sulfato de zinco (CTA-ZM,2000).
Figura 8. Confecção de compostagem em propriedades de agricultores familiares de Itapuranga.
Os agricultores observaram resultados imediatos nas áreas em
que havia o plantio e incorporação das
leguminosas utilizadas como adubo
verde. As sementes de adubos verdes,
distribuídas para os agricultores familiares, atingiram a finalidade de melhorar o solo e produzir sementes para
reutilização e intercâmbio entre produtores. Assim, pode-se acompanhar
a colheita dessas sementes e sua redistribuição na cooperativa. Infelizmente,
nem todos os produtores compreenderam a necessidade de produzir e compartilhar
tais sementes, não realizando a colheita. Em parte justificada pela sobrecarga de tarefas que a propriedade familiar impõe, sobretudo no período da seca (maio – outubro)
em que os bovinos demandam atenção com a suplementação alimentar. A continuidade do projeto em Itapuranga este reforçando a importância da adubação verde e
os próprios agricultores estão mais conscientes da importância dos bancos de sementes e do plantio de plantas recuperadoras do solo.
6 MANEJO ECOLÓGICO DE PASTAGEM NO CERRADO
Uma importante atividade dos agricultores familiares de Itapuranga é a
produção de leite. No entanto, os agricultores familiares enfrentam problemas com a
degradação da pastagem e falta de alimentação dos animais, especialmente no período da seca. Esses fatores resultam na baixa produção do leite e na baixa qualidade do
rebanho leiteiro. Para solucionar estes problemas, a equipe técnica se propôs a implementar unidades experimentais com manejo ecológico de pastagem, com o uso do
Sistema Racional Voisin, que pressupõe o manejo das pastagens em piquetes.
A implantação do Sistema Racional Voisin (PRV) tem por objetivo proporcionar alimentação aos animais, de quantidade e qualidade, durante todo o ano, com
a observância do manejo do ciclo biológico da pastagem e as condições naturais do
172
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
cerrado, proporcionando sombra e água para os animais.
O projeto de manejo ecológico de pastagem no cerrado está sendo desenvolvido com sete agricultores, que aceitaram experimentar o Sistema de Pastejo Racional Voasin (PRV). Em cada propriedade foi montado quinze piquetes em um
hectare, sendo que catorze seriam para o pastoreio e um ficaria como descanso e nele
teria sombra e água para os animais. Estes piquetes foram planejados para uma área
de dez mil metros quadrados, equivalente a um hectare. Nos piquetes foram plantado o capim brachiarião (espécie marandu), o capim mambaça, que foram misturados
com as leguminosas Estilosantes (Stylosanthes guyanensis) e Calopogônio (Calopogonium mucunoides Desv.). O solo foi arado e incorporado calcário na proporção de
três toneladas por hectare, mas não foi feita correção em relação ao fósforo. Os capins, misturados com as leguminosas, foram plantados no início de dezembro 200.
Nas áreas que foram removidas o solo, em alguns piquetes, a aração ficou em forma
de torrões que, inicialmente, dificultaram o desenvolvimento radicular das culturas
trabalhadas. Isto levou a um atraso ao período da entrada do pastoreio nesses piquetes para evitar uma degradação nas pastagens pelo pastoreio dos animais. Como
o solo foi removido para o plantio das culturas, foi necessário um atraso na entrada
dos animais no primeiro pastoreio para que o sistema radicular do capim estivesse
melhor estruturado para receber o corte pelos animais. Este período variou em média
de trinta dias entre os agricultores, com isto a entrada inicial dos animais para efetuar
o desnate ocorreu com o objetivo de aproximar o corte do capim até os vinte e cinco
centímetros de altura. Ao atingir esta altura, os próximos pastoreios seguiram as indicações do PRV, que recomenda um período de repouso de quarenta dias para o capim
braquiaria brizanta, respeitado o tempo fisiológico necessário para sua recomposição
de reservas nas raízes e o desenvolvimento das folhas para produção de fotossíntese.
Para cada agricultor, recomendou-se o lotação de seis a oito animais, com o peso médio de quatrocentos e quinhentos quilogramas por animal.
Para o melhor aproveitamento do PRV implantado em Itapuranga, foi necessário trabalhar alguns conteúdos e recomendações novas para os agricultores:
1) O horário da mudança do gado nas parcelas: Durante o dia as plantas
acumulam açúcar pela ação da fotossíntese que, em parte é gasta pela respiração durante a noite. A qualidade e o sabor da forragem variam no período da tarde, quando
possui mais carboidratos (açúcar) e, por esta razão, o pasto pastoreado a tarde produz
mais leite e ganho de peso do que de manhã. A melhor hora para a mudança dos lotes é a tarde, uma ou duas horas antes do por do sol. Se o pasto da parcela ocupada
terminar pela manhã, os animais devem ser mudados nesse horário.
2) Desnate e repasse: O lote de maior exigência nutricional faz o desnate (o
ponto mais nutritivo no capim), geralmente com 30% da área total, e o lote de repasse
(o ponto mais e menos nutritivo do capim), com os restantes 70% e as roçadeiras biológicas completam o pastoreio.
3) A troca de parcelas: A troca de parcelas pelo gado é uma atividade permanente em PRV, visando tirar o maior proveito possível da pastagem, sendo necessário um controle por fichas ou caderno de registros das entradas e saídas dos lotes,
do tempo de ocupação e de repouso, do número de cabeças e seus pesos.
4) Plantas tóxicas e plásticos: No PRV, os animais modificam o seu comporPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
173
tamento alimentar e passam a ser menos seletivos ( não escolhem o que irão alimentar) e ficam mais vorazes (comem tudo
o que encontrar). Por esta razão, é necessário cuidado para evitar acidentes, quase sempre fatais, com ingestão de plantas tóxicas e plásticos. Assim, antes das
ocupações das parcelas e importantes dar uma revisada para evitar problemas.
5) Comportamento do capim na seca: Devido a falta de umidade, o capim
diminui o seu crescimento, frutifica precocemente e o endurece o colmo (lignificação
da celulose), isto resulta em pastagem de menor qualidade. O capim solta as chamadas labaretas (crescimento das folhas), que devem ser pastoreadas pelos animais,
obedecendo o ponto de corte. Neste período, recomenda-se diminuir a lotação de
animais por hectare.
6) Leguminosa: Calopogônio (Calopogonium mucunoides Desv.) é uma
planta vigorosa, trepadora, que forma uma massa de folhagem de 30 a 40 cm de altura, cuja florecência ocorre em maio e frutificação em junho. Se a estação seca for
longa pode morrer a cada ano, mas se não morrer torna-se uma planta perene (que
não precisa plantar todo ano). O objetivo dessa leguminosa é fornecer forragem aos
animais no período da seca.
7) Leguminosa: Estilosantes (Stylosanthes guyanensis) é planta perene
(não precisa plantar todo ano), herbácea (caule macio), erecta (reta), com caules herbáceos de 60 a 90 cm e florescimento em maio. Não e muito palatável quando verde
e possui 18,76 % de proteína bruta e 29,28% de fibra bruta em 100 % de matéria seca.
Propagação utiliza de 2 a 3 quilos por hectare.
8) Cana-de-açúcar: O alimento mais barato para o gado na seca para vacas
com produção de até 15 litros de leite. Um canavial de um hectare consegue alimentar em torno de 10 vacas leiteiras num período de seis meses. A cana possui em torno
de 4 % de proteína bruta e 50% de açucares (extrato não nitrogenado). Isto faz com
que ela forneça toda a energia para os animais no período da seca e exigindo um
complemento de proteína (ex: farelo de soja) para os animais em lactação.
9) Comportamento dos animais: Os bovinos de leite têm em vivência de
grupos e possuem hábitos para alimentarem e beberem água, de acordo com a dominância entre as vacas lideres. Isto significa que mesmo tendo água e alimento em
abundância, alguns animais irão comer e beber bastante água e outros não. As vacas
que vivem em grupo possuem um ou mais dominante que orientam o seu deslocamento e as prioridades no acesso e consumo de água nas represas ou bebedouros. Ao
chegarem nas represas, os animais mais altos na hierarquia entram na água até meia
canela, saciam a sede, movimentam-se dentro da água, urinam, defecam, sujando-a.
Ao saírem, dão lugar aos animais de posição mais baixa na hierarquia, que fazem o
mesmo. Assim, seguindo até as últimas do rebanho. As últimas vacas irão encontrar a
água suja, o que limita a sua ingestão de água ao mínimo. Pode ocorrer também, que
as vacas líderes ao saciar sua necessidade de água iniciem um novo deslocamento
para outro local impedindo que as derradeiras saciam sua sede. Por conseqüência, os
animais submissos poucas vezes bebem a água que devem beber em quantidade e
qualidade adequadas. Isto reflete no ganho de peso e na produção de leite. Também
pode ocorrer que alguns animais bebam água com fezes e provocar acidez no leite de
algumas vacas. Por estas razões, quando se discute este sistema de manejo dos aniPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
174
mais tenta inverter o normal que é levar a vaca até a água para levar a água até a vaca.
As vantagens de ter o bebedouro perto dos animais são: 1) Os animais
gastam menos energia para deslocarem até os bebedouros influenciando na produção de leite e ganho de peso; 2) Fornecimento de água suficiente para a sua demanda
que é 80 litros, por dia para animal até 500 quilogramas, e para cada litro de leite produzido aumenta 5 litros de água. Então, uma vaca que produz 10 litros de leite terá
que beber os 80 litros mais 50 litros de água, totalizando 130 litros finais de água por
dia; 3) A água fornecida será de boa qualidade e com facilidade para todo o grupo de
vacas ingerirem a vontade. Por isto algumas pesquisas demonstram que bebedouro
circular é o mais adequado para permitir o acesso de todos os animais.
Os conteúdos apresentados anteriormente foram trabalhados com os
agricultores através de material informativo contendo apenas quatro assuntos. Esta
proposta teve como objetivo de não descarregar muitas informações de uma única
vez para os agricultores familiares. Estes conteúdos são apresentados aos agricultores
através de material escrito e discutido pessoalmente pelo técnico para esclarecimento de dúvidas em relação a sua implantação ao sistema no campo. O técnico visita os
agricultores experimentadores do PRV pelo menos uma vez ao mês, com a forma de
abordagem individual com a presença do agricultor e, sempre que possível, com demais integrantes da família. Nesta oportunidade é realizada uma caminhada na área
dos piquetes, fazendo as discussões do andamento da aplicação das ferramentas propostas pelo PRV. Em cada visita individual é entregue o material didático com conteúdos necessários naquele período para o manejo dos animais nos piquetes dentro da
proposta do PRV. Estas estratégicas metodológicas buscam subsidiar os agricultores
experimentadores com conhecimentos teóricos e práticas para que contribuam para
aumentar a renda familiar e preservar os recursos naturais existentes em cada propriedade. Há também há preocupação de incentivar a observação pelo agricultor nas
aplicações de cada etapa do sistema no campo, para que ele seja também um pesquisador do projeto e não um mero objeto da pesquisa.
Outra técnica de apreensão de conhecimentos foi a excursão educativa
na propriedade de um agricultor familiar, no município de Palmeira de Goiás, que já
utiliza o sistema do PRV, com objetivo de facilitar trocas de informações e de experiências práticas. Nesta atividade, participaram seis agricultores experimentadores do
PRV, o agrônomo responsável pelo PRV, um estudante bolsista e três agricultores que
estão interessados em implantar o PRV em suas propriedades. A visita à propriedade
de Belkior Viana Gonçalves, no assentamento Canudos, GO, visou conhecer o sistema
Voasin adotado há em torno de três anos, com utilização do manejo das pastagens no
período chuvoso e a cana com uréia como base para o período seco, pois, segundo as
orientações das pesquisas da EMBRAPA, para produções diárias de até doze litros de
leite por animal, cana com uréia se torna o manejo mais eficiente e econômico.
Com a implantação do PRV em quinze piquetes, sendo catorze de pastoreio e um de descanso, com o capim braquiária, estilosantes e o calopogonio, ocupando uma área media de um hectare, os agricultores experimentadores de Itapuranga
conseguiram aumentar a quantidade de animais de um animal (peso médio de 500
quilogramas) para até cinco animais (Figura 9).
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
175
Figura 9. Implantação de sistema de pastagem voisin e avaliação de desenvolvimento de gramíneas
e leguminosas em piquete de pastagem voisin em
propriedades de agricultores familiares de Itapuranga, Goiás.
Outro resultado observado foi
que a pastagem antes do PRV era pastoreada até maio, no manejo convencional,
onde o capim já estava com seu ponto de
altura em torno de 10 cm. Com a mudança
do manejo nas pastagens, foi identificado,
na propriedade do agricultor Bertolino João de Souza que a pastagem apresentava
características fisiológicas nutritivas para os animais e em alguns piquetes o rebanho
poderia ainda fazer outro pastoreio. Nesta propriedade, o agricultor aumentou os piquetes para vinte e dois e mais o piquete de repouso, totalizando vinte e três piquetes
em uma área total de um hectare e meio, sendo o tempo de ocupação de dois dias,
com lotação de oito animais com média de quatrocentos e cinquenta quilogramas/
animal.
Outra mudança importante em relação ao manejo foi a não utilização de
vermífugos a base de vermectina que estereliza as bostas dos animais, mumificando
no solo. Com isto, foi possível observar que o bosteamento pelos animais se decompõem no solo com incidência de insetos e parasitas que transformam estas fezes em
fertilidade ao solo e criando reboleiras de capim em torno delas.
Ainda em relação às fezes dos animais, os agricultores ao perceberam este
aumento da fertilidade utilizando o próprio animal introduziram técnicas de manejo
para melhorarem este bosteamento, como ao retirar os animais dos piquetes para
ordenhar ou mudança de piquetes faz com que o rebanho levante e permaneça alguns minutos no local para que defequem que ao voltar neste piquete novamente as
bostas já humificaram e o gado alimentara do capim em volta destes bolsões de fezes.
Nas visitas às propriedades, pode-se constatar, junto com os agricultores,
o incremento de cada etapa do PRV que o sistema estimula o agricultor a observar o
comportamento dos animais, o comportamento das pastagens, a mudança de conceito de utilização da água e a utilização de produtos naturais como vermífugos e
carrapatos, etc. Esta proposta permite o desenvolvimento da produção leiteira em Itapuranga dentro de um modelo de sustentabilidade, preservação do solo, da água, da
vegetação do cerrado, com redução da entrada de insumos externos à propriedade.
7 CONTROLE SANITÁRIO DOS BOVINOS E DA QUALIDADE DO LEITE
No contexto contemporâneo, os produtores de leite passaram a ter maior
preocupação com o controle sanitário do rebanho de bovinos e da qualidade do leite.
A edição da Instrução Normativa 51 passou a exigir parâmetros de qualidade pouco
utilizados no passado. Dentro destes parâmetros, estão a contagem de células somáticas (CCS), a contagem padrão em placas (CPP), ausência de resíduos de antibióticos,
entre outros (ARASHIRO et al, 2007). Por esta razão, os agricultores filiados à Cooperafi
e ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Itpauranga demandaram orientações soPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
176
bre o controle sanitário do rebanho bovino e a qualidade do leite. O leite produzido
pelos agricultores familiares de Itapuranga é depositado em tanques de resfriamento
coletivos e transportado em caminhão a granel. Assim, se o leite tem boa qualidade,
todos os agricultores são beneficiados, mas se o leite não tiver qualidade definida na
Instrução Normativa 51, todos os agricultores são penalizados. Para encaminhar soluções para o controle sanitário do rebanho leiteiro e melhoria da qualidade do leite
produzido em Itapuranga, procurou-se inserir uma médica veterinária que atualmente faz Residência Veterinária, na Escola de Veterinária da UFG.
O objetivo desta atividade foi estabelecer um programa de controle sanitário do rebanho bovino e da qualidade do leite dos agricultores filiados à Cooperafi e
ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Itapuranga e, nessas propriedades, determinar o perfil do produtor, determinar CCS (Contagem de Células Somáticas) e o perfil
de bactérias comuns ao leite local.
A metodologia utilizada procura trabalhar com os produtores e colaboradores da cadeia de leite de Itapuranga, através de visitas as propriedades dos agricultores familiares e de palestras que abordam os tópicos ligados a qualidade do leite.
Foram visitadas diversas propriedades para se conhecer o perfil do produtor cooperado e testar os animais com teste de CMT e, nestas oportunidades, coletaram-se doze
amostras de leite, uma de cada tanque de expansão vinculado a Cooperativa, para
cultura e isolamento de bactérias. Também foram realizadas três palestras, uma sobre
os custos da mastite e duas sobre a qualidade do leite.
As visitas foram realizadas no período da manhã ou tarde, conjuntamente
com a primeira ou segunda ordenha do dia. Verificou-se que os produtores possuem
produção familiar que é enquadrada, de acordo com a Embrapa (2005), como produção extensiva. A alimentação é quase que exclusivamente a base de pasto, suplementando apenas com sal. Os animais são cruzados e o aleitamento dos bezerros é natural
com o desmame sendo realizado aos oito
meses.Um dos principais problemas da produção de leite de Itapuranga é a falta de um
programa de assistência técnica. A ordenha
é manual com balde ao pé (Figura 10).
Figura 10 – Ordenha balde ao pé e ordenha seguida
da avaliação de qualidade do leite em propriedades de agricultores cooperados do município de
Itapuranga, GO.
Até o mês de agosto de 2009, foram analisados, com o teste CMT, o total
43 animais, de idade e períodos de lactação variados. A idade média dos animais é de
7,09 anos e a produção média no dia do teste foi de 6,05 litros/vaca. O teste de CMT
foi escolhido por ser popular, rápido e barato para identificar animais-problemas e o
resultado é quase imediato. O seu princípio é baseado na estimativa de contagem
das células somáticas presentes no leite. Para isso é utilizado um detergente aniônico
neutro, que atua rompendo a membrana presente nas células do leite e liberando
o material genético (DNA) o qual possui certa viscosidade. Dessa forma o resultado
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
177
é avaliado em função do grau de gelatinização ou viscosidade (SANTOS; FONSECA,
2007). Os testes foram realizados no momento da ordenha (Figura 11).
Figura 14 -Realização do Teste CMT.
Como o CMT é apenas uma estimativa da quantidade de células somáticas
do leite, existe uma tabela que correlaciona o score do CMT com o número médio
de células somáticas presentes no leite. A tabela abaixo apresenta essa relação, e foi
adaptada a partir da tabela elaborada por PHILPOT e NICKERSON (1991), citada por
SANTOS e FONSECA (2007).
Tabela 1 – Estimativa da Contagem de Células Somáticas (CCS) a partir do resultado de CMT
Escore
Viscosidade
0
CCS (células/ml)
Ausente
100.000
+
Leve
300.000
++
Leve / Moderada
900.000
+++
Moderada
2.700.000
++++
Intensa
8.100.000
Fonte: PHILPOT e NICKERSON (1991)
Com os resultados obtidos e de acordo com os valores acima apresentada
foi elaborada a Tabela 2 que demonstra o resultado do CMT já correlacionado com a
CCS, sendo que as vacas foram divididas em três extratos de acordo com a produção
diária apresentada no momento do exame.
Produção
Vacas CCS Média Estimada
do dia
(litros)
Vaca (cels/ml)
Teto(cels/ml)
0-5
21
4.504.761,90
1.126.190,40
6 - 10
19
2.868.421,05
726.666,60
11 - 13
3
1.200.000
300.000
Tabela 2. CCS Média Estimada X Produção do dia
Pode-se observar, de acordo com a Tabela 2, que os animais de maior pro178
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
dução no dia apresentam uma menor CCS, estimada a partir do CMT. KITCHEN (1991)
verificou que animais sadios apresentam em média 50-200 mil células somáticas na
contagem total. EBERHART et al. (1981) verificaram que, conforme o aumenta da CCS,
o prejuízo ao produtor pode variar de 6% em rebanhos com CCS de 500.000 e de 29%
em CCS de 1.500.000. Ou seja, de acordo com os autores, os produtores, cujos animais
foram testados, estão com prejuízos de até 29% na produção de leite. Em termos práticos, um produtor que entrega, em média, 400 litros de leite por mês, se tiver com
problema de CCS alto pode estar perdendo até 116 litros.
Com o objetivo de identificar as bactérias predominantes no leite produzido em Itapuranga, foram coletadas um total de doze amostras, uma de cada tanque
de expansão comunitário, vinculados a Cooperativa, para análises microbiológicas do
leite. Foram isoladas as seguintes bactérias: Staphylococcus aureus, Escherichia coli e
Pseudomonas spp. Essas são bactérias presentes no ambiente que a vaca vive e são
causas comuns de mastite clínica e sub-clínica. A mastite como o principal fator de
elevação da CCS e o seu controle, de acordo com Muller (2002), é uma ferramenta valiosa na avaliação do nível de mastite subclínica no rebanho, na estimativa das perdas
quantitativas e qualitativas de produção do leite e derivados, como indicativo da qualidade do leite produzido na propriedade e para estabelecer medidas de prevenção e
controle da mastite.
Foram realizadas três palestras com o objetivo de explicar a respeito dos
testes realizados nos animais e no intuito de apresentar os parâmetros atuais de qualidade do leite. Em uma palestra foi abordado o tema mastite, em que se apresentou a
definição, os custos e a importância de se realizar um controle desse problema, de forma objetiva e prática. Na outra palestra foram apresentados tópicos sobre a qualidade
do leite, com destaque para a contaminação microbiológica. Discutiu-se a ação das
bactérias e seu efeito deletério sobre o leite. Com o auxilio de placas de petri contaminadas, para que visualizassem as colônias bacterianas, o modo de ação das mesmas.
Para os responsáveis pelo o recebimento do leite nos tanques comunitários foi realizado um treinamento abordando mais profundamente tópicos sobre a
qualidade do leite, procedimentos de controle de qualidade e noções sobre higiene/
sanitização industrial. Na parte de controle de qualidade frisou-se mais ainda como
ocorre a contaminação bacteriana e para tal foi preparada uma pequena demonstração. Com 48 horas de antecedência e com o auxílio de zaragatoas esterilizadas coletou-se bactérias das superfícies de mãos, coadores e tampas dos tanques de expansão e semearam-se 3 placas de petri.
Com as visitas nas propriedades, os exames laboratoriais e as palestras, os
agricultores passaram a entender alguns princípios do controle sanitário do rebanho de
bovinos e da qualidade do leite produzida pelos agricultores familiares de Itapuranga.
8 ATIVIDADES EDUCATIVAS AGROECOLÓGICAS
Durante o projeto foram realizadas diversas atividades educativas dirigidas aos agricultores familiares de Itapuranga, bolsistas e equipe técnica para aprofundar os conhecimentos e o intercâmbio de experiências em agroecologia, tais como:
1) Realização do Dia de Campo sobre compostagem. Foi realizado um dia
de campo com confecção demonstrativa de compostagem orgânica, em que o composto foi montado junto com os produtores em uma unidade. Os ingredientes foram
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
179
adquiridos e colocados a disposição para a confecção pelos próprios agricultores, que
posteriormente foi supervisionada. Utilizou-se como recursos na montagem dos canteiros de compostagem: Bagaço de cana produzido no engenho da propriedade, cinzas, esterco de aviário e casca de arroz que foram dispostos em camadas até uma altura de 1m, foram umedecidos e revolvidos periodicamente para acelerar a atividade
microbiana. Após 120 dias, o composto orgânico estava pronto e foi utilizado como
aporte de adubação nas culturas do maracujá e da banana.
2) Dia de Campo para a produção de biofertilizantes. Os biosfertilizantes
foram produzidos num dia de campo que contou com a participação de muitos agricultores, destacando sua importância para a adubação e proteção das plantas contra
ataque de insetos.
3) Planejamento da produção agropecuária dos Cooperados. Essa atividade de formação foi dirigida aos técnicos e administradores da Cooperafi, com o
propósito de planejar a produção agropecuária direcionado para venda direta para o
Governo Federal.
4) Confecção de caldas (bordaleza, sulfocalcica). A atividade foi realizada com
os agricultores familiares, para ensiná-los tanto na confecção das caldas como na aplicação, objetivando proteger a planta contra insetos e doenças, assim como adubação.
5) Manejo de moscas-frugívoras (Anastrepha spp.). Foram fixadas armadilhas para moscas-das¬frutas em pomares domésticos, objetivando redução e manejo
da principal praga das frutíferas levantadas pelos produtores como um dos principais
entraves para comercialização de frutas dos quintais.
6) Cursos de criação e manejo de galinhas caipiras. Considerando a importância da produção de galinhas no mercado local e feiras de Itapuranga, o projeto proporcionou a realização de cursos de galinhas caipiras para os agricultores familiares
e técnicos envolvidos no projeto. Os cursos foram realizados em Guapo, na fazenda
Galo, sob a orientação do veterinário Cristhian Grand-Siri. O outro curso foi realizado
em Itapuranga, sob a orientação da Professora Nadja Suzana Mogyca Leandro da UFG.
7) Viagem de intercâmbio com os agricultores orgânicos de Silvania. Os
agricultores de Silvânia estão produzindo e comercializando produtos orgânicos com
muita eficiência técnica e organizacional e conseguem abastecer os supermercados
de Brasília e cidades do entorno. A visita dos agricultores familiares de Itapuranga permitiu conhecer e discutir a possibilidade de expandir os cultivos de frutas e legumes
orgânicos.
8) Confecção de vassoura feita de sorgo-vassoura – Foi realizada distribuição de semente de sorgo¬vassoura para os produtores com o intuito de produzirem
suas próprias vassouras, assim como, complementação energética para os animais.
Após plantio e produção foram confeccionadas vassouras com o produtor, tecnologia
que será difundida pelo produtor.
9) Excursão educativa de Pastejo Racional Voisin – Viagem organizada uma
excursão educativa para conhecer o manejo de pastagem racional voisin, no município de Palmeira de Goiás, especialmente o uso da cana-de-açúcar para manutenção
no período da estiagem em Goiás, quando os animais emagrecem e reduzem o leite
por carestia alimentar.
O conjunto de atividades educativas do projeto proporcionou diversos espaços de vivências, discussões e socialização de conceitos e técnicas agroecológicas.
180
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Além disso, possibilitou o intercâmbio de conhecimentos e experiências em agroecologia entre os agricultores de Itapuranga, agricultores de outras regiões de Goiás e do
Brasil, bolsistas, técnicos especialistas e professores da UFG.
Pode-se dizer que a produção de composto orgânico e dos biofertilizantes
nas unidades dos agricultores familiares foi adotada, principalmente pelos agricultores que cultivam hortaliças. Assim, os agricultores perceberam a importância destas
técnicas para a melhoria do solo, nutrição das plantas e proteção das plantas contra
ataque de insetos.
A confecção de caldas bordaleza e sulfocalcica foi adotada por alguns
agricultores familiares, que notaram sua importância na proteção das plantas contra
insetos e doenças, assim como adubação. O manejo de moscas-frugívoras (Anastrepha spp.), com base nas armadilhas para moscas-das-frutas, também foi adotado por
alguns agricultores em seus pomares domésticos e lavouras, pois eles perceberam a
redução da principal praga das frutíferas.
Com base no curso de Planejamento da produção agropecuária dos Cooperados, a Cooperafi e os agricultores familiares conseguiram iniciar um programa
de planejamento da produção agropecuária para atender as direcionado para venda
direta para o Governo Federal.
Nas visitas às propriedades, pode-se constatar que os agricultores que
participaram dos cursos de criação e manejo de galinhas caipiras incorporaram novas técnicas de produção e manejo, com a introdução de novas raças, melhoria das
instalações e da alimentação. Com as informações recebidas agricultores familiares
conseguiram melhorar suas criações e já pensam ampliar esta atividade para atender
o mercado local e aumentar seus rendimentos.
As viagens de intercâmbio para conhecer as experiências dos agricultores
orgânicos de Porto União (Paraná) e de Silvania (Goiás) e Palmeira de Goiás possibilitaram a apreensão de novos conhecimentos e recursos genéticos (sementes crioulas) que foram experimentados pelos agricultores de Itapuranga, com apoio da equipe técnica do projeto. Além disso, estas viagens têm importância festiva, ao mesmo
tempo em que fortalece a integração entre os agricultores familiares, equipe técnica
e agricultores de outras regiões que estão comprometidos com o desenvolvimento
agroecológico.
9 DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS
O projeto Desenvolvimento Agroecológico de Itapuranga é um projeto de
extensão universitária, com o objetivo de contribuir com desenvolvimento de processos agroecológicos, visando o aumento da renda dos agricultores, a preservação do
meio ambiente e a promoção social. Considerando que a missão fundamental da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal de Goiás é o
desenvolvimento do Ensino, da Pesquisa e da Extensão Universitária, o projeto de Desenvolvimento Agroecológico de Itapuranga procurou integrar professores, alunos da
pós¬graduação e da graduação, visando a produção científica de dissertações, artigos
e relatórios de final de curso. O conjunto destas pesquisas acadêmicas contribuiu significativamente para a reflexão das atividades práticas de extensão universitária. Da
mesma forma, a interação da equipe técnica e de pesquisa com os agricultores de Itapuranga facilitou o levantamento de dados da realidade para os estudos acadêmicos.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
181
No projeto, foram concluídos sete trabalhos acadêmicos, sendo seis em
nível de mestrado e um de graduação, sob a orientação dos professores Joel Orlando
Bevilaqua Marin, Francis Lee Ribeiro, Ronaldo Veloso Naves, Gislene Auxiliadora Ferreira e Eliane de Paula Fernandes. As dissertações de mestrado foram defendidas no
Programa de Pós-Graduação em Agronegócio da UFG e no Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UFG.
Outro trabalho acadêmico resultante do projeto que integra o diagnóstico
da realidade dos agricultores de Itapuranga é de autoria de Vanderson Giotti (Bolsista
do projeto), denominado Relatório do Estágio Curricular Obrigatório na COOPERAFI,
defendido na Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, no mês de dezembro
de 2008. Diversos alunos do Curso de Agronomia da UFG, interessados no aprofundamento sobre a agroecologia, participaram do Projeto de Desenvolvimento Agroecológico de Itapuranga e apresentaram “Relatórios de Atividades”, com vistas a fazer que
os estudantes elaborem um relatório técnico e desenvolvam estudos e a reflexões
sobre a agroecologia e desenvolvimento sustentável.
A primeira dissertação, de autoria de Glays Rodrigues Matos, intitulada Sistema de produção de agricultores familiares fruticultores de Itapuranga, foi defendida
no dia 28 de setembro de 2007. Ainda em 2007, foi defendida a segunda dissertação
de mestrado por Olímpia Maria Ignácio intitulada Gestão estratégica aplicada ao cooperativismo solidário: uma alternativa de fortalecimento dos agricultores familiares.
Em 2008, foi apresentada a terceira dissertação foi defendida por Cláudia Aparecida
Campos, sob o título Indicadores Dashboard para estudo da sustentabilidade ambiental da agricultura familiar de Itapuranga. A quarta dissertação de mestrado foi
defendida por Simone Pereira de Carvalho intitulada Agricultores familiares e agroindústria canavieira: integrações e contradições. Em 2009, Fernanda Rodrigues Vieira
apresentou a dissertação Valoração econômica de quintais rurais – o caso dos agricultores associados à Cooperafi (Cooperativa de Agricultura Familiar de Itapuranga-GO),
no Mestrado em Agronegócio da Universidade Federal de Goiás. Ainda em 2009, Sinnara Gomes de Godoy apresentou a dissertação Atributos da qualidade do solo sob
cultivo de bananeira em sistema de transição agroecológico – Dissertação (Mestrado
em Agronomia: Solo e Água) – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás.
Vale ressaltar que a dissertação de Simone Pereira de Carvalho recebeu o
Prêmio Sober, de Melhor Dissertação de Mestrado em Sociologia Rural, conferido pela
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, em 2009, durante 47 Encontro Anual da SOBER, realizado em Porto Alegre.
A partir dos trabalhos acadêmicos, produzidos com apoio do Projeto de
Desenvolvimento Agroecológico no município de Itapuranga/GO, foram publicados
artigos em revistas científicas e muitos outros serão publicados em breve. Além disso,
todos os relatórios acadêmicos, dissertações de mestrado e artigos científicos foram
disponibilizados na sede da Cooperafi para consulta pelos produtores e demais atores
envolvidos, bem como na Biblioteca Central da UFG ou no Programa de Pós-Graduação em Agronegócio.
Na sequência, apresentamos o resumo das dissertações apresentadas em
Programas de Pós-Graduação da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da
Universidade Federal de Goiás.
182
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
MATOS, Glays Rodrigues intitulada Sistema de produção de agricultores
familiares fruticultores de Itapuranga. 2007. Dissertação – Mestrado em Agronegócio,
Universidade Federal de Goiás.
RESUMO: Na agricultura familiar a organização social da produção e do
trabalho é realizada predominantemente pela família, o que lhe confere capacidade
adaptativa a diferentes ambientes sócio-econômicos. Para compreender a sua organização é necessário colocar em evidência as diferentes lógicas sociais que se definem
em relação aos sistemas de produção socialmente construídos. No Estado de Goiás, o
município de Itapuranga tem uma representação significativa da agricultura familiar,
com o desenvolvimento de sistemas de produção de frutas, especialmente de maracujá, mamão e banana. O objetivo da pesquisa é analisar o sistema de produção dos
agricultores familiares fruticultores de Itapuranga. A metodologia utilizada no estudo
de caso está fundamentada na teoria dos sistemas agrários, sendo que as técnicas
de pesquisa para o levantamento de dados de campo foram: pesquisa documental,
entrevistas e observação participante. Inicialmente, os sistemas de produção dos agricultores familiares de Itapuranga estavam organizados em torno de lavouras diversificadas, orientados ao consumo da família e à comercialização dos excedentes. A partir da década de 1990, os agricultores familiares passaram a desenvolver sistemas de
produção especializados na fruticultura, integrados a outros sistemas de cultivo e ao
sistema de criação de bovinos de leite. A pesquisa conclui que, apesar das limitações,
a fruticultura desenvolvida em Itapuranga, representa um potencial de sustentabilidade da agricultura familiar.
Palavras-chave: agricultura familiar; sistemas agrários; sistemas de produção; fruticultura; Goiás.
IGNÁCIO, Olímpia Maria. Gestão estratégica aplicada ao cooperativismo
solidário: uma alternativa de fortalecimento dos agricultores familiares. 2007. Dissertação – Mestrado em Agronegócio, Universidade Federal de Goiás.
RESUMO: Acompanhando as mudanças ocorridas em nossa sociedade,
tanto na economia como nos aspectos sociais, percebe-se as mais diversas ações dos
indivíduos, muitos dessas baseadas em esforços coletivos e solidários, para se manterem ou se inserirem no espaço produtivo do mercado atual. Isso tem possibilitado
o surgimento de novas formas organizacionais, como cooperativa e associações que
estão atuando dentro de perspectivas solidárias. Esta dissertação teve como objetivo investigar, sob a ótica da administração, a Gestão Estratégica aplicada ao cooperativismo solidário como alternativa de fortalecimento organizacional. A intenção é
conhecer as controvérsias a respeito da aplicação de ferramentas de gestão estratégica nos empreendimentos dessa natureza, mantendo suas características essenciais
de cooperação, solidariedade e auto-gestão. Parte-se do pressuposto de que, para
entender e desenvolver modelos adequados de gestão para as cooperativas solidárias que atuam no agronegócio brasileiro, é preciso compreender as relações sociais
dos seus agentes, saber como esses agentes definem as estratégias e os mecanismos
desses processos produtivos. Nesse sentido, fez-se uma revisão de literatura sobre o
cooperativismo, a administração dos empreendimentos de economia solidária e gestão estratégica. Utilizou-se o estudo de caso como método de pesquisa, tendo como
objeto de análise uma pequena cooperativa de agricultores familiares. Para avaliar
esta cooperativa foi utilizado o Balanced Scorecard, que permite, por meio de reprePRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
183
sentação de mapas estratégicos, avaliar e projetar suas perspectivas de crescimento
e fortalecimento, através da definição de estratégias e indicadores, para essa organização em cinco perspectivas (social, dos clientes, do aprendizado e crescimento,
financeira e dos processos internos). Analisou-se a aplicabilidade de instrumentos de
gestão estratégica nas pequenas cooperativas, concluindo que os mesmos ajudam no
desenvolvimento dos cooperados e da organização, sem necessariamente descaracterizar a cooperativa como empreendimento solidário.
Palavras-chave: Gestão Estratégica. Solidariedade. Agronegócio. Cooperativismo de Agricultura Familiar.
CAMPOS, C. A. Estruturação do indicador de sustentabilidade Dashboard
aplicado à produção familiar de frutas orgânicas no município de Itapuranga – GO.
2008. Dissertação – Mestrado em Agronegócio, Universidade Federal de Goiás.
RESUMO: Os produtores familiares de frutas em Itapuranga – GO vêem
suas atividades ameaçadas devido a baixa rentabilidade associada ao uso intensivo
de produtos químicos (agrotóxicos e fertilizantes), elevando os custos da atividade e
reduzindo a qualidade do produto, causando problemas de ordem social, econômica
e ambiental. Este cenário de ameaças torna-se mais complexo com a implantação de
uma usina de cana-de-açúcar no município e seu projeto de expansão. Portanto, os
agricultores familiares buscam alternativas para permanecerem no campo e o processo de transição da produção moderna de frutas para a produção orgânica, em que
estes se encontram pode ser uma oportunidade. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi analisar a sustentabilidade da produção moderna e da produção orgânica de
frutas dos agricultores familiares do município de Itapuranga, por meio do indicador
de sustentabilidade Dashboard. Foram entrevistados os agricultores pioneiros no processo de transição da fruticultura no município, buscando conhecer a realidade dos
mesmos, para que o indicador pudesse ser adaptado a esta realidade específica. O
modelo de análise Dashboard of Sustainability foi escolhido por ser uma ferramenta metodológica de relevância, pois permite avaliar, medir e monitorar o desenvolvimento sustentável de um agrossistema e também auxilia os tomadores de decisão
a elaborarem políticas públicas compatíveis com as necessidades dos agricultores e
com o desenvolvimento local. De acordo com os resultados obtidos, conclui-se que o
sistema de fruticultura orgânica é mais sustentável do que o de fruticultura moderna.
O sistema de fruticultura orgânica, mesmo se encontrando em fase inicial, apresentou
por meio do Indicador de Sustentabilidade Dashboard um Índice de Desenvolvimento Sustentável Global (IDS) com performance razoável. Isto indica que a implantação
da fruticultura orgânica em Itapuranga, juntos aos agricultores familiares, já dá sinais
de que a atividade está sendo desenvolvida em bases mais sustentáveis. Portanto, a
fruticultura orgânica pode ser uma alternativa economicamente viável e sustentável
ambientalmente permitindo que os agricultores familiares de Itapuranga permaneçam no campo, sem ter que abandonar as suas atividades e arrendar suas terras para
a usina de cana-de-açúcar.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável, Dashboard of Sustainability, Agricultura Familiar e Agricultura Orgânica.
CARVALHO, Simone Pereira. Agricultores familiares e agroindústria canavieira: integrações e contradições. 2008. Dissertação – Mestrado em Agronegócio,
Universidade Federal de Goiás.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
RESUMO: Recentemente, o Estado brasileiro retomou as políticas agroenergéticas de estímulo à produção de cana-de-açúcar, em decorrência dos problemas de abastecimento de petróleo. O Estado de Goiás entrou nas principais rotas de
expansão da cana. Os cultivos estão adentrando não somente nas grandes extensões
territoriais, mas também em regiões de agricultura familiar. O objetivo dessa dissertação é compreender as formas de integração dos agricultores familiares à agroindústria canavieira, bem como as contradições sociais e ambientais desencadeadas pelo
processo de expansão da cultura da cana-de-açúcar no município de Itapuranga – GO.
Para o desenvolvimento do tema proposto, utilizou-se uma abordagem qualitativa,
realizada com base na combinação de técnicas de pesquisa, especialmente a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, as entrevistas e a observação. Conclui-se que
as políticas agroenergéticas contribuíram para transformar o contexto socioeconômico de Itapuranga. Apesar de recente, as novas relações intermediadas pelos contratos
de integração foram suficientes para provocar alterações consideráveis na dinâmica
social, organizacional e produtiva dos agricultores, desencadeando processos contraditórios na geração de empregos, no processo migratório, nas polêmicas em torno da
violência, na oferta e nos preços dos gêneros alimentícios e nas relações da sociedade
com o meio ambiente.
Palavras-chave: agricultura familiar, políticas agroenergéticas, agronegócio, agroindústria canavieira.
VIEIRA, Fernanda Rodrigues. Valoração econômica de quintais rurais – o
caso dos agricultores associados à Cooperafi (Cooperativa de Agricultura Familiar de
Itapuranga-GO). 2009. Dissertação – Mestrado em Agronegócio, Universidade Federal
de Goiás.
RESUMO: A valorização da agricultura familiar pela sociedade brasileira constitui-se uma importante ferramenta de desenvolvimento local, uma vez que
utiliza os recursos escassos, como a terra, a mão-de-obra, de forma eficiente e em
conformidade com a preservação do meio ambiente. Os quintais rurais são importantes sistemas de produção complementar às outras formas de utilização da terra, que
além de possibilitar a segurança alimentar dos agricultores familiares, desempenham
funções estéticas, de lazer, e de preservação da biodiversidade local. Dessa forma, o
trabalho buscou analisar o valor econômico total (VET) dos quintais rurais do universo
dos agricultores familiares associados à Cooperativa de Agricultura Familiar de Itapuranga, observando as suas principais funções econômicas, ambientais e culturais.
Por meio do Método de Avaliação Contingente procurou-se captar também os valores de extra-mercado desses quintais, conforme a percepção e as preferências dos
agricultores entrevistados. Com isso, foram aplicados 40 questionários e visitadas 36
propriedades rurais, onde foi possível observar diretamente a interação das famílias
com esse ambiente. Para as funções econômicas, fez-se o levantamento dos principais itens (brutos) consumidos e vendidos durante outubro de 2007 e outubro de
2008, chegando-se a um valor médio de uso direto de R$ 420,70 mensais. Os demais
benefícios provenientes dos quintais foram mensurados pela DAP dos agricultores
entrevistados, obtida através do MAC, apresentando um valor médio de R$ 493,75
mensais. Esses valores correspondem também aos aspectos socioculturais ligados à
tradição dessas famílias, onde a mulher responde pelo manejo e pelas escolhas dos
cultivos, conforme os gostos e costumes do grupo familiar. Quanto aos aspectos amPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
185
bientais, os quintais são considerados importantes sistemas agroecológicos, já que na
maior parte das vezes não são utilizadas substâncias tóxicas ou químicas em sua produção. Nos últimos anos, frente à problemática ambiental de uma forma geral e com
a reabertura da agroindústria canavieira no município de Itapuranga, cresce também
a importância dos quintais enquanto conservador da biodiversidade e do equilíbrio
da fauna e da flora local.
Palavras Chave: quintais rurais; desenvolvimento sustentável; agricultura
familiar;
GODOY, S. G. Atributos da qualidade do solo sob cultivo de bananeira em
sistema de transição agroecológico. 2009. Dissertação (Mestrado em Agronomia: Solo
e Água) – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de
Goiás.
RESUMO: O alcance da sustentabilidade de agroecossistemas é a manutenção e/ou melhoria da qualidade do solo, que pode ser mensurada por meio de atributos químicos, físicos e microbiológicos. O objetivo deste trabalho foi avaliar os atributos físicos, químicos e microbiológicos, sob uma abordagem biológica, em cultivo
de bananeira sob irrigação no sistema de transição agroecológico em referência a um
sistema em equilíbrio. O experimento foi realizado entre o inverno de 2008 e o verão
de 2009 em duas áreas sob cultivo de bananeira com e sem a aplicação de insumos
químicos associados a insumos orgânicos, no município de Itapuranga – GO. Foram
coletadas amostras na profundidade de 0 – 10 cm nos meses de setembro de 2008 e
março de 2009 na região da rizosfera da bananeira. Os atributos avaliados foram: textura, pH em CaCl2, macronutrientes (P, K, Ca e Mg) e teor de matéria orgânica do solo,
densidade, porosidade, biomassa microbiana, respiração basal, quociente metabólico
e atividade enzimática total. A estatística clássica foi aplicada para identificar o efeito
da aplicação de insumos químicos nas diferentes ares sob avaliação. O solo apresentou características químicas, físicas e microbiológicas diversificadas em função do ambiente de transição agroecológico no cultivo da bananeira, em que a área onde houve
a aplicação de insumos químicos não impactou negativamente a qualidade do solo,
já a área em que houve apenas a aplicação de insumos orgânicos ainda necessita de
adequação no sistema de cultivo da bananeira para o alcance de sua sustentabilidade.
Palavras-chave: agroecologia, Cerrado, banana, atributos da qualidade do
solo.
10 CONCLUSÃO
O conjunto das atividades agroecológicas experimentadas em Itapuranga
são facilmente aplicáveis, de baixo custo e, ao mesmo tempo, preservam o meio ambiente do cerrado. Durante a realização dos trabalhos, a equipe procurou desenvolver e transmitir as tecnologias acessíveis aos produtores. Assim, foi dada prioridade
para utilização de insumos da propriedade ou que estivessem disponíveis na região,
o cultivo agroecológico de frutas e verduras, o resgate de sementes crioulas, o uso
de composto e biofertilizantes orgânicos, o cultivo de plantas recuperadoras do solo,
o plantio de árvores nativas do cerrado, a recuperação de pastagens degradadas, o
manejo sanitário rebanho bovino e controle da qualidade do leite, em conformidade
com os princípios da agroecologia e da sustentabilidade socioambiental.
Nas diversas atividades propostas no projeto, procurou-se refletir com os
186
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
produtores sobre os problemas dos seus sistemas produtivos e a necessidade de melhorar a biodiversidade natural e experimentar técnicas agroecológicas. As metodologias participativas possibilitaram a socialização e multiplicação dos conhecimentos
proporcionados nas unidades experimentais de frutas, olerícolas, sementes de plantas recuperadoras do solo, dos SAF’S, dos cultivos de sementes crioulas e das diversas
atividades educativas vivenciadas nas visitas as propriedades, nos dias de campo, nas
viagens de intercambio, nos cursos e palestras. A instalação de unidades experimentais nas propriedades dos agricultores familiares conferiu maior confiança e credibilidade necessária sobre os diversos processos agroecológicos desenvolvidos em Itapuranga. As técnicas foram trabalhadas de forma participativa com vários produtores,
com acompanhamento da equipe técnica.
O projeto deu inicio e mostrou que é possível fazer a produção de alimentos (frutas, hortaliças e cereais) orgânicos em Itapuranga. No entanto, no mercado
esses produtos ainda não receberam o rótulo de Produto Orgânico, embora tenham
os processos de produção experimentado nas propriedades tenham contribuído para
reduzir os custos de produção. Os principais produtos gerados foram às hortaliças,
frutas e cereais de melhor qualidade, as quais são oferecidas para a feira, para os mercados locais ou para a Conab. Vale lembrar que Cooperafi adquire frutas, verduras e
cereais dos agricultores, para repassá-las para as escolas, hospitais e asilos, por meio
de acordo firmado com a Conab.
O projeto permitiu um grande intercâmbio entre professores os Departamentos da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da UFG, bem como
permitiu a participação de discentes de Graduação e Pós-graduação nas atividades de
extensão universitária e na pesquisa. No Programa de Pós-graduação em Agronegócio foram apresentadas quatro dissertações, que atendiam ao objetivo do diagnóstico
socioeconômico dos agricultores familiares de Itapuranga. O projeto também proporcionou maior intercambio entre a UFG e os agricultores familiares de Itapuranga,
uma vez que tem um caráter de projeto de extensão universitária. De mesma forma, o
projeto oportunizou situações de maior interação entre os agricultores de Itapuranga
que se visitaram constantemente para observar as unidades experimentais implantadas nas unidades produtivas ou participar das atividades educativas agroecológicas
que reunia um grande número de agricultores. O projeto também viabilizou encontros dos agricultores de Itapuranga com agricultores familiares do Estado do Paraná
ou de outros municípios goianos.
O principal impacto dos processos tecnológicos, experimentados pelos
agricultores familiares, sob os fundamentos da agroecologia, foi a redução dos custos de produção com adubos químicos e agrotóxicos pela produção de compostos
orgânicos, biofertilizantes, armadilhas de insetos, plantio de plantas recuperadoras
da qualidade do solo. As sementes crioulas disponibilizadas no projeto auxiliaram os
agricultores familiares na redução dos gastos com a compra de sementes geneticamente melhoradas nas lojas de produtos agropecuários e diversificou a dieta alimentar das famílias. Vale ressaltar que os agricultores familiares passaram a discutir a necessidade de diferenciar os produtos orgânicos dos convencionais, encaminhando-se
para a agregação de valor aos produtos orgânicos comercializado nos mercados e
feiras de Itapuranga.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
187
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Modalidade
Meio Ambiente Rural
Projeto:
Disposição de Eluente de Estação
de Tratamento de Esgoto Industrial
em Solo Vegetado com Bambu
Premiados:
Rogério de Araújo Almeida;
Roberto Magno de Castro e Silva;
Eurivan Alves Mendonça;
Thiago Name Chaul;
Miriam Amâncio de Lima
8º Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente
Projeto indicado:
DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO
INDUSTRIAL EM SOLO VEGETADO COM BAMBU
Projeto apoiado com recursos financeiros do CNPq
Rogério de Araújo Almeida (coordenador) – Engenheiro Agrônomo, doutor, professor Adjunto da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos/UFG e do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia do Meio Ambiente da Escola de Engenharia Civil/UFG. Membro da Rede Goiana de Pesquisa em Tratamento de Efluentes e
Reuso na Agricultura – Repetra. [email protected]
Roberto Magno Castro e Silva – Engenheiro Agrônomo, mestre, especialista em bambu, Diretor Técnico da Embambu Agroindústria e Comércio.
Eurivan Alves Mendonça – Gerente de Monitoramento Ambiental da
Agência Ambiental do Estado de Goiás – Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos - Semarh.
Thiago Name Chaul – Engenheiro Ambiental da Companhia de Distritos
Industriais de Goiás - Goiasindustrial.
Stephan Posch – Diretor – Agência de Desenvolvimento Econômico e Social de Caldas Novas – Adescan
Miriam Amâncio de Lima – Gestora Ambiental da Secretaria Municipal de
Meio Ambiente de Senador Canedo – Semma.
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DISPOSIÇÃO DE EFLUENTE DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE
ESGOTO INDUSTRIAL EM SOLO VEGETADO COM BAMBU
1 INTRODUÇÃO
Considerando a Terra como o planeta água, com dois terços de sua superfície ocupada pelo líquido, fica difícil imaginar como um planeta tão azul pode
sofrer escassez de água. Entretanto, apenas uma pequena fração da água do planeta está sempre se transformando em água doce por meio de um contínuo processo
de evaporação e precipitação, transferindo água dos oceanos para os continentes e
renovando o suprimento de água doce mundial. Assim, a quantidade de água doce
disponível ao consumo humano é bastante limitada e o problema é agravado pela má
distribuição da água na superfície nas regiões do planeta e pela sua má utilização e
contaminação.
A escassez da água apresenta-se sob duplo aspecto: quantidade e qualidade. Há uma demanda crescente por água, decorrente da expansão das atividades econômicas e do aumento da população, que tem resultado na poluição cada vez maior
dos recursos hídricos. O desenvolvimento nos moldes atuais não é sustentável, pois a
quantidade já escassa de água passa a ter a sua qualidade comprometida, limitando
ainda mais sua possibilidade de uso. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de
tecnologias que possam reverter esse processo, preservando a qualidade das águas.
A Resolução nº 357 de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA, 2005), estabelece que os efluentes só poderão ser lançados nos corpos de água após o devido tratamento e que suas concentrações de contaminantes não podem ultrapassar os limites impostos pela lei e, tampouco, podem
elevar os níveis nos corpos receptores acima dos limites estabelecidos para cada classe de enquadramento do corpo d’água.
Segundo Imhoff e Imhoff (2002), para os esgotos tipicamente domésticos,
não é necessário mais que um tratamento primário seguido de um secundário, para
atender às exigências legais. Todavia, os sistemas atuais de tratamento não têm conseguido o nível de eficiência necessário, principalmente para os efluentes industriais,
estes mais concentrados. Assim, os corpos receptores têm recebido cargas poluidoras
acima da sua capacidade de autodepuração, tornando-se poluídos.
Elevar o nível de tratamento das estações demanda vultosos investimentos na construção e operação de unidades complementares. Como alternativa tecnológica ao problema, este projeto propõe solucioná-lo dispondo efluentes de estações de tratamento de esgoto industrial em solo vegetado com bambu, evitando
que sejam lançados nos corpos d’água. Assim, teve por objetivo avaliar a eficiência
do bambu no tratamento do efluente da Estação de Tratamento de Esgoto do Distrito
Industrial de Senador Canedo-GO.
De outro lado, deve ser considerado que por melhor que seja a eficiência
do sistema de tratamento de esgoto, sempre haverá algum resíduo e, consequentemente, sempre haverá algum dano ao ambiente aquático do corpo receptor. Dispondo os efluentes em solo vegetado com bambu, não haverá mais a poluição dos corpos
d’água. Os resíduos remanescentes do tratamento do esgoto serão convertidos em
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bambu e a água, agora tratada pelo perfil do solo, irá propiciar a recarga do lençol
freático, chegando aos mananciais devidamente limpa.
2 REVISÃO DE LITERATURA
As substâncias que podem liberar nutrientes nos corpos receptores dos
efluentes das estações de tratamento vêm assumindo importância cada vez maior
para o saneamento (DACACH, 1991), destacando-se as fontes de nitrogênio e fósforo
que podem contribuir para a eutrofização de corpos de água e trazer consideráveis
prejuízos econômicos e ambientais. De outro lado, nitrogênio e fósforo são de fundamental importância na reutilização do esgoto quando na irrigação (fertirrigação)
de plantas, sendo classificados como macro nutrientes essenciais, indispensáveis ao
desenvolvimento das plantas e absorvidos em grandes quantidades. Inúmeras pesquisas têm discutido o reuso de esgotos na irrigação de plantas e na disposição no
solo (ANDRADE NETO, 1997; WHITE; HOWE, 1998; IMHOFF; IMHOFF, 2002; FANE; ASHBOLT; WHITE, 2002; CORAUCCI FILHO et al., 2003; REUSO..., 2003; TELLES, 2003; WHITE;
TURNER, 2003).
O nitrogênio é um componente de grande importância em termos da geração e de controle da poluição das águas. É indispensável ao crescimento de algas,
podendo conduzir à eutrofização dos mananciais. Os processos de conversão de amônia a nitrito, e deste a nitrato, implicam no consumo de oxigênio dissolvido na água.
Na forma de amônia livre é altamente tóxico aos peixes. É um elemento indispensável
para o crescimento dos microorganismos responsáveis pelo tratamento de esgotos
(VON SPERLING, 1996).
O fósforo é parte integrante do protoplasma das células dos microrganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica, sendo um dos elementos
essenciais para a síntese bacteriana (NUVOLARI, 2003). Assim como o nitrogênio, o
fósforo causa eutrofização (DACACH, 1991; MCGHEE; STEEL, 1991) e não é totalmente
removido nos processos convencionais de tratamento dos esgotos, o que obriga algumas estações a prover o tratamento a nível terciário, com a finalidade de removê-lo
(NUVOLARI, 2003).
As formas mais comuns para a disposição final de efluentes líquidos são
os cursos d’água e o mar. No entanto, a disposição no solo é também um processo
viável e aplicado em diversos locais do mundo, sendo a forma mais antiga de depuração controlada de esgotos (ANDRADE NETO, 1997). O procedimento é previsto pela
Resolução nº 357 (CONAMA, 2005), condicionado ao fato de que “não poderá causar
poluição ou contaminação das águas”.
A aplicação de esgotos no solo pode ser considerada uma forma de disposição final, de tratamento ou ambos. Os esgotos aplicados no solo são fonte de água e
nutrientes para o sistema solo-planta e conduzem à recarga do lençol subterrâneo e à
evapotranspiração. Os poluentes no solo têm basicamente três possíveis destinos: adsorção à matriz do solo, absorção pelas plantas e aparecimento na água subterrânea.
Vários mecanismos, de ordem física (sedimentação, filtração, radiação, volatilização, desidratação), química (oxidação, redução, precipitação, adsorção, troca
iônica e complexação) e biológica (biodegradação e predação) atuam na remoção
dos poluentes no solo (VON SPERLING, 1996).
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Dentre as formas mais comuns de aplicação no solo, segundo Von Sperling (1996), Andrade Neto (1997) e Telles (2003), tem-se a infiltração lenta ou fertirrigação. Nessa forma os esgotos são aplicados no solo para fornecer água e nutrientes,
necessários ao desenvolvimento das plantas. Algum líquido pode ser evaporado ou
percolado além do alcance das raízes das plantas, mas a maior parte é incorporada ao
tecido vegetal ou transpirada para a atmosfera. Pode ser realizada por aspersão, por
sulcos ou por inundação. A infiltração lenta é o sistema que requer maior área superficial por unidade de esgoto tratado. Todavia é o sistema natural com maior eficiência.
No Brasil, assim como em todo o mundo, cresce a consciência em torno da
importância do uso racional da água, da necessidade de controle de perdas e desperdícios e da introdução definitiva da reciclagem da água na agenda nacional. O reuso
de águas é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em
alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas
ou não (LAVRADOR FILHO, 1987).
A reutilização de esgotos tratados é uma prática antiga em muitas partes
do mundo, mas ainda pouco usada em nosso país. De acordo com Mancuso (1992),
no Brasil o reuso de águas é um assunto ainda tratado com certa reserva e até com
preconceito. Na Europa, a utilização de esgoto em pequenos sistemas de irrigação
desenvolveu-se a partir do século XVIII, enquanto nos Estados Unidos da América isso
aconteceu no século seguinte (POUND; CRITES, 1973).
Na natureza existem vários ecossistemas que ficam parcial ou totalmente
inundados durante o ano. Nesses ecossistemas pode-se observar que as águas, após
passar pelo solo, sofrem um processo de purificação, sendo que a ação depuradora é
devida a três fatores principais (TRATAMENTO..., 2002):
a) ação de filtragem mecânica – a qual depende fundamentalmente da
estrutura e granulometria do solo e da sua composição química;
b) ação físico-química – para retenção de ânions e cátions. Esta ação está
intimamente ligada com a capacidade de troca catiônica dos solos;
c) ação biológica – que pode ser ativa através dos seguintes mecanismos:
c.1) ação dos microorganismos do solo – que decompõem a matéria orgânica, ativam os processos biogeoquímicos e atuam sobre microorganismos que existem nas águas poluídas;
c.2) ação das plantas – que crescem e retiram nutrientes ao mesmo tempo
em que o sistema radicular melhora as condições físico-químicas do solo.
Utilizando os princípios básicos de modificações da qualidade da água
nesses ecossistemas naturais, foram desenvolvidos sistemas artificiais com diferentes
tecnologias (TRATAMENTO..., 2002), que podem ser aplicados na depuração de esgoto
doméstico e de diversos outros tipos de efluentes (DIAS et al., 2002). Esses sistemas
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representam uma tecnologia emergente, de baixos custos energéticos, eficiente e estética, susceptível de se revelar como uma boa alternativa aos sistemas convencionais
no tratamento.
Várias espécies vegetais têm se mostrado eficientes no tratamento de
efluentes (ALMEIDA, 2005; ALMEIDA et al., 2007), dentre elas, o bambu (Bambusa sp.)
(De VOS, 2004). O bambu é uma planta milenarmente conhecida pela diversidade dos
seus usos, que se estendem do artesanato à grande indústria. Devido à sua plasticidade, baixo custo e facilidade no processo de transformação, em boa parte do mundo
milhares de artesãos se apropriam deste material para a confecção de objetos utilitários e móveis. São pequenos empreendedores que, a partir de ferramentas simples
e pouco investimento, têm no bambu uma fonte de renda permanente. O bambu é
também matéria-prima capaz de aportar grandes indústrias no campo da celulose
e madeira, devido a um fluxo contínuo de produção. No Brasil, mais de quarenta mil
hectares são cultivados por uma indústria de celulose que se dedica à produção de
sacos folheados e papel cartão, em duas cidades nordestinas (ITAPAGÉ, 2007). Na China e Taiwan são produzidos parquetes de bambu laminado que dado à sua qualidade
ganharam o mercado mundial. Esses produtos têm resistência e dureza superiores
aos produtos similares obtidos de diversas madeiras nobres (KOGA; BITTENCOURT;
GONÇALVES, 2002).
Na área da construção civil destaca-se o fato de que mais de um bilhão de
pessoas moram em casas de bambu. A Colômbia detém a melhor tecnologia na área
da construção civil e naquele país o bambu é homologado pela Associação Colombiana de Engenharia Sísmica, como material capaz de suportar terremotos de grande
intensidade (AIS, 2002). Alguns países da América Latina têm programas nacionais de
construções de habitações populares com bambu (LONGHI; RODRÍGUEZ, 1998).
Casagrande Jr.; Umezawa e Takeda (2007) demonstraram como uma comunidade agrícola e população de entorno podem ser beneficiadas com a geração
de emprego e renda utilizando o bambu, pelo desenvolvimento de um modelo de
Arranjo Produtivo Local Sustentável, associando a idéia de “cluster” e inovação tecnológica aos princípios da sustentabilidade.
O bambu além de sua milenar utilização como planta ornamental e com
aproveitamento na construção e fabricação de móveis, pode ser aproveitado também
como uma planta capaz de tratar efluentes (De VOS, 2004).
De Vos (2004) comparou o bambu com plantas aquáticas tradicionais nos
sistemas de tratamento de esgotos por zona de raízes e confere ao bambu: mesmo
nível de tratamento; menor densidade de plantas (1 planta/m2 contra 6-11 plantas/
m2); manter-se verde o ano todo (Phragmites australis seca no inverno e dá um aspecto ruim à estação por 4-5 meses); resistir à competição com outras espécies vegetais
(várias espécies de gramíneas têm invadido as estações de tratamento de esgoto com
plantas e dominado o ambiente); e possuir manutenção mais simplificada.
O bambu, por apresentar uma taxa de crescimento do colmo superior a
20 cm por dia (AZZINI; CIARAMELLO; SALGADO, 1981) e um sistema radicular bem
distribuído, é altamente eficiente na remoção de elementos nocivos presentes nos
esgotos. O corte constante desta planta, visando atender o mercado consumidor, estimula o crescimento de novos colmos que durante o seu rápido crescimento terá
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no efluente uma excelente fonte de nutrientes. Este grande incremento de biomassa
redunda em uma fonte energética de alto valor, tendo em consideração que o bambu
tem um poder calorífico semelhante às melhores espécies destinadas para este fim.
O emprego do bambu em sistemas de tratamento de efluentes por zona
de raízes representa, além do benefício ambiental, um ganho extra, dado a possibilidade de seu uso, tanto artesanal como industrial. Desta forma, tem-se a conversão de
um passivo ambiental em um ativo de valor econômico e social. Neste sentido, este
projeto se justifica por buscar o desenvolvimento e a utilização de uma alternativa
tecnicamente eficiente, ecologicamente correta e socialmente justa, para o tratamento final do esgoto, evitando que seja encaminhado a corpos d’água e os polua.
O bambu tem uma imagem muito difundida como produto ecológico,
usado amplamente pelos povos indígenas e também pelos povos da Ásia. O seu cultivo dispensa o uso de adubos, agrotóxicos e de equipamentos pesados e está livre da
rotina do constante replantio na mesma área. O forte emaranhado formado pelas raízes do bambu permite usar esta planta no combate à erosão e na formação de matas
ciliares ao longo dos corpos de água. Também é empregado com sucesso no margeamento de rodovias, porque proporciona bastante sombra, sem o risco de queda sobre
a estrada que apresentam as árvores em épocas de fortes ventos. No caso de veículos
que saem da estrada, o bambu pode até funcionar como amortecedor, sem causar
o mesmo impacto de uma árvore. Nos reflorestamentos de pinus e de eucalipto ele
também pode ser usado para reduzir o impacto visual das monoculturas, plantando-o
nos lugares onde as estradas passam por áreas reflorestadas.
Os bambus do gênero Guadua são endêmicos das Américas, se destacam
entre os bambus lenhosos do Novo Mundo por sua importância social, econômica e
cultural e o seu uso remonta à época pré-colombiana. Reúne as espécies com maior
potencial de desenvolvimento industrial na América, como é o caso do Guadua angustifolia e G. chacoensis, exploradas sempre dentro de um manejo sustentável com
vistas à conservação dos seus bosques nativos. O gênero Guadua foi estabelecido em
1822 pelo botânico alemão Karl Sigismund Kunth, quem utilizou o vocábulo indígena
“guadua” que era empregado pelos indígenas da Colômbia e Equador. Este gênero
reúne aproximadamente 30 espécies que se distribuem desde os 23º de latitude Norte em San Luis de Potosí, México, até os 35º de latitude Sul, na Argentina (LONDOÑO,
2004).
Na Colômbia e Equador a palavra guadua é empregada, na linguagem popular, com sentido semelhante à palavra taboca ou taquara no Brasil. Para muitos, tanto guadua naqueles dois países, como taboca ou taquara no Brasil, não são sinônimos
de bambu. O termo bambu é reservado, por estas pessoas, para designar as espécies
exóticas.
A espécie Dendrocalamus giganteus é tida como a maior espécie entre todos os bambus. Seu centro de origem é o Myanmar, onde geralmente ocorre associado à Tectona grandis (teca) em altitudes em torno de 1.200 metros. Apresenta colmos
eretos, com entrenós variando de 30 a 55 cm. Pode alcançar o comprimento de até 30
m, diâmetro de 30 cm e 90 kg de peso, antes de secar. O florescimento é esporádico e
há relatos que aconteceria em intervalos de 40 anos (SEETHALAKHMI; KUMAR, 1998).
É um bambu com grande amplitude de utilidades. Pode ser empregado na produção
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de papel, brotos para alimentação humana, móveis, laminados, construção civil, artesanato e outros usos.
3 METODOLOGIA
O presente projeto está sendo conduzido numa parceria entre a Universidade Federal de Goiás, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hidricos – Semarh, a
Companhia de Distritos Industriais de Goiás - Goiasindustrial e a empresa Embambu,
em área da Estação de Tratamento de Esgotos – ETE, do Distrito Industrial do Município de Senador Canedo, no Estado de Goiás; com recursos financeiros do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
Está sendo avaliada a eficiência de três espécies de bambu gigante no tratamento do efluente da ETE do Distrito Industrial. As plantas de bambu são cultivadas
em tambores de plástico, com capacidade volumétrica de 200 l, preenchidos por solo
da região e cultivado com um espécime individual da planta (Figura 1). No fundo dos
tambores há um tubo de drenagem (Ø 50 mm, perfurado), coberto por uma camada
de brita número um (100 mm), que auxilia na drenagem e evita o entupimento do
tubo de drenagem. Acima da brita há uma camada de areia lavada (100 mm) e, finalmente, a camada de solo da região. Na parte
externa do tubo de drenagem há um tubo na
vertical, que serve de extravasor e, também, define o nível de líquidos dentro do tambor. Nesse
tubo vertical foi adaptado um registro de esfera, destinado à coleta de amostras do efluente
tratado (Figura 2).
Figura 1 - Módulo de tratamento para avaliação de eficiência do bambu na purificação de efluente de estação
de tratamento de esgoto industrial.
O efluente da ETE do Distrito Industrial é captado após o decantador secundário da estação de tratamento (Figura 3) e bombeado para cada um dos tambores, de
oito em oito, conforme a lâmina de aplicação específica. A regulagem de vazão dá-se
mediante o tempo de bombeamento em cada linha e é uniformizada mediante abertura ou fechamento de uma torneira (Figura 4), existente em cada um dos tambores.
Figura 2 Detalhe do tubo vertical que regula o nível de líquidos
dentro do tambor e o registro de esfera utilizado nas amostragens.
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Figura 3 - Local de captação do efluente para bombeamento nas unidades experimentais. Veja
que, embora tratado, ainda há muito poluente no efluente, o que acaba por poluir o corpo receptor.
Figura 4 Aplicação do efluente nos tambores. Em detalhe a torneira reguladora de vazão.
Estão sendo avaliadas as espécies Guadua angustifolia Kunth; Guadua
chacoensis e Dendrocalamus giganteus Munro (todos bambus gigantes de comprovado interesse comercial), submetidas a quatro lâminas de aplicação de efluente. A
aplicação ocorre automaticamente (bomba acionada por temporizador) cinco vezes
ao dia (um quinto da lâmina por aplicação), na superfície do solo.
O efluente da ETE foi caracterizado e estão sendo coletadas amostras periódicas da água de drenagem em cada um dos tambores, para efeito de monitoramento da qualidade, do nível de contaminação e da eficiência do tratamento. As amostras
são coletadas semanalmente, oito unidades por semana, totalizando as 32 unidades a
cada mês. Em cada coleta é amostrado, também, o efluente da ETE.
Os dados obtidos são analisados estatisticamente para comparação entre tratamentos (análise de variância e teste de média). As análises do efluente e da
água de drenagem são realizadas no laboratório da Secretaria de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, conforme o Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater1. São analisados: alcalinidade, aspecto, cloretos, condutividade elétrica,
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cor, demanda bioquímica de oxigênio, demanda química de oxigênio, fosfatos, nitrogênio amoniacal, nitrato, nitrito, odor, oxigênio dissolvido, potencial hidrogeniônico,
resíduos sedimentáveis, resíduos fixos, resíduos voláteis, resíduos totais, sólidos totais
dissolvidos, temperatura e coliformes termotolerantes.
A implantação do projeto iniciou-se no primeiro semestre de 2008, com
a preparação da área, instalação do sistema hidráulico, instalação do sistema elétrico, montagem das unidades experimentais, plantio das mudas de bambu, plantio de
grama e instalação da cerca de proteção da área (Figura 5). Em seguida iniciaram-se os
testes de aplicação de efluentes e regulagens de vazão.
As análises laboratoriais preliminares iniciaram-se em julho de 2008, com
objetivo de treinar a equipe, validar métodos, ter uma noção do funcionamento e
eficiência do sistema, tendo em vista o desenvolvimento das plantas encontrar-se em
fase inicial.
Os resultados das análises preliminares dos principais parâmetros indicadores de poluição (Tabela 1) confirmaram a potencialidade do uso do bambu no tratamento do efluente da estação de tratamento de esgoto industrial de Senador Canedo.
Mesmo o bambu ainda não tendo se desenvolvido plenamente, as concentrações dos
atributos do esgoto na saída dos tambores representam uma melhoria excepcional na
qualidade do efluente (Figura 6) do Distrito Industrial de Senador Canedo - GO.
Figura 5 - Vista geral do projeto mostrando o solo gramado e
os módulos experimentais devidamente distribuídos e plantados.
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 17 th ed. American Public Health Association, American Water Works
Association and the Water Environment Federation. 1998. 1.220 p. ISBN 0-87553-235-7
1
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Tabela 1 - Concentrações médias e eficiência percentual da remoção de atributos de esgoto do distrito industrial de Senador Canedo por espécies de bambu gigante.
Entrada
Saída
Eficiência (%)
Entrada
Saída
Eficiência (%)
Entrada
Saída
Eficiência (%)
Entrada
Saída
Eficiência (%)
Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg/L)
G. angustifolia
D. giganteus
477
477
25
34
94,7
92,8
Demanda Química de Oxigênio (mg/L)
G. angustifolia
D. giganteus
1.799
1.799
131
291
92,6
83,7
Coliformes Termotolerantes (VMP/100mL)
G. angustifolia
D. giganteus
140.000
140.000
1.020
610
99,2
99,5
Cor (mg/L/Pt)
G. angustifolia
D. giganteus
2.220
2.220
305
284
86,2
87,2
G. chacoensis
477
42
91,2
G. chacoensis
1.799
107,0
94,0
G. chacoensis
140.000
870
99,3
G. chacoensis
2.220
308
86,1
Verificou-se que a pequena camada de solo vegetado com bambu presente nos tambores foi suficiente para uma remoção média de poluentes superior a 90%.
Assim, supõe-se que em condições de campo, onde o perfil do solo é bastante maior
e o sistema radicular do bambu é mais vigoroso e extenso, a remoção dos poluentes
seja completa, não resultando na contaminação do lençol freático.
Figura 6 - Qualidade do efluente de esgoto industrial tratado por bambu.
Detalhe da cor límpida do líquido dentro do balde.
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Considerando tal premissa, iniciou-se uma segunda etapa do projeto, com
vistas a avaliar a eficiência das três espécies de bambu gigante a campo e confirmar
a eficiência no tratamento. Foram utilizadas parcelas grandes, sendo cada parcela (Figura 7) constituída por 24 plantas de uma mesma espécie, com plantio de mudas em
covas individuais. A área foi preparada mediante roçagem da vegetação existente e
posterior dessecação da rebrota. Não houve preparo físico do solo (aração ou gradagem), sendo realizado apenas o coveamento e o plantio das mudas (Figura 8).
Figura 7 Desenho esquemático de uma parcela
do plantio de bambu a campo. Detalhes de espaçamento, posição de piezômetros e declive
do terreno.
Figura 8 Plantio de muda de bambu em covas abertas em solo sem preparo físico.
Após seis meses do plantio das mudas (Figura 9), iniciou-se a aplicação do
efluente da estação de tratamento de esgoto industrial na área vegetada com bambu, via aspersão convencional, em lâmina que permite a percolação de líquidos até o
lençol freático. Para monitorar a qualidade da água do lençol, foram perfurados poços
piezométricos fora e dentro de cada uma das parcelas. Periodicamente são retiradas
amostras da água do lençol nos piezômetros e enviadas a análises laboratoriais. Os resultados das análises confirmarão a eficiência das espécies na remoção dos poluentes
do efluente, uma vez que o lençol não pode sofrer contaminação.
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Figura 9 - Segunda etapa do projeto de tratamento de efluente de esgoto
industrial em solo vegetado com bambu, após seis meses do plantio.
Ao fim do projeto, espera-se possuir dados e informações capazes de subsidiar o dimensionamento e a implantação de sistemas de tratamento de esgotos pelo
sistema estudado, com vistas a oferecer aos meios científico e empresarial os parâmetros para projetos e utilização, nas condições edafoclimáticas da região do estado de
Goiás. E, desta forma, dar uma contribuição significativa à melhoria da qualidade das
águas dos mananciais do Estado. Até o momento, já é possível concluir que o solo vegetado com bambu é eficiente na remoção dos poluentes remanescentes no esgoto
tratado e que o bambu irrigado com o esgoto tratado apresenta um desenvolvimento
excepcional (Figura 10).
Figura 10 - Excepcional desenvolvimento do bambu gigante submetido a aplicações de esgoto tratado. Com pouco mais de um ano do plantio das mudas, as brotações estão com quinze centímetros de
diâmetro.
Embora as avaliações ainda devam continuar por vários anos, os resultados até então obtidos já subsidiaram a implantação de três estações de tratamento de
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efluentes com bambu: uma no clube Lagoa Quente, no município de Caldas NovasGO (600 m2 de área, para tratar esgoto doméstico); uma na empresa Anglo American,
em São Félix do Xingu-PA (1.000 m2 de área, para tratar esgoto doméstico) e outra
no Distrito Industrial de Senador Canedo-GO (6.000 m2 de área, para tratar efluente
de uma empresa recicladora de papel – em fase de implantação). Todas as estações
foram implantadas por membros da equipe deste projeto, que colocam Goiás em posição pioneira e de destaque nacional no tratamento de efluentes com bambu. Tratar
esgoto com bambu é utilizar a natureza em favor da vida (Figura 11) e Goiás dá o
exemplo de respeito ao ambiente.
Figura 11 - Tratamento de esgoto com bambu: a natureza a serviço da vida.
REFERÊNCIAS
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
207
Modalidade
Educação Ambiental
Projeto:
Cidadania e Consciência Através da
Educação Ambiental
Premiados:
Leandro Penachio Moreira
Construções & Comércio Camargo
Corrêa S/A
Construções & Comércio Camargo Corrêa S/A
Programa Cidadania e Consciência
Através da Educação Ambiental
UHE Serra do Facão e UHE Batalha
Responsável: Eng. Miller Soares Rufino Pereira
Gerente de Obras
DAVINÓPOLIS e CRISTALINA - GO
2009
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
211
CONSTRUÇÕES & COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA S/A
PROJETO CIDADANIA E CONSCIÊNCIA
ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Projeto apresentado ao
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de Goiás,
como exigência para concorrer ao 8º Prêmio CREA –
GO de Meio Ambiente, pelas
obras UHE Serra do Facão e
UHE Batalha sob a responsabilidade do Eng. Miller Soares Rufino Pereira.
Construções & Comércio Camargo Corrêa S/A
UT- 450 – UHE Serra do Facão
Rodovia GO 301 – KM 07 – Zona Rural
Davinópolis – GO
Fone: (64) 3441-7300
212
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
I - INTRODUÇÃO
A questão ambiental é hoje amplamente discutida em diversas esferas
da sociedade e muitas vezes abordada como prioridade nas discussões políticas nacionais e internacionais. Um exemplo disto foi a recente realização da Conferência
Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – RIO + 10, em
Johannesburgo, na África do Sul. O Brasil possui um dos maiores patrimônios naturais
do planeta. Contudo, se por um lado somos detentores da maior biodiversidade já
vista, por outro ainda há muito que se fazer para superarmos nosso desconhecimento
a respeito dessa mesma biodiversidade. O fato de estarmos abaixo da média mundial
no que diz respeito à proporção do nosso território destinado à proteção legal de
ecossistemas representativos apenas reflete o descaso com as questões ambientais.
Cabe a nós brasileiros assumirmos a responsabilidade sobre nosso patrimônio natural.
Com o objetivo de garantir a qualidade de vida para as gerações presentes e futuras, é preciso instituir metodologias de conservação dos recursos naturais.
Para isto, torna-se imprescindível o envolvimento consciente e crítico da sociedade.
Esta busca pode ser conquistada através de uma convivência harmoniosa do homem
com o meio ambiente. Conviver harmonicamente implica em conhecer e reconhecer a dinâmica dos processos naturais e valorizar o meio ambiente como um todo,
respeitando-o e assumindo-se como parte integrante do mesmo.
Diante da falta de contato do homem moderno com a natureza e seus ciclos e da degradação acelerada dos ecossistemas, as Unidades de Conservação (UC’s)
aparecem como laboratórios naturais onde o contato com o ambiente preservado
facilita a sensibilização ambiental e disponibiliza recursos para tal. A Educação Ambiental torna-se indispensável, principalmente nestas áreas onde o reconhecimento
ecológico e a convivência harmônica com o meio são obrigatórios para assegurar sua
manutenção e preservação.
Sendo assim, a Construções e Comércio Camargo Corrêa, através da Usina Hidrelétrica Serra do Facão e Usina Hidrelétrica Batalha, ambas localizadas no Rio
São Marcos, juntamente com sua Diretoria de Energia, em parceria com as escolas
públicas e privadas dos municípios abrangidos pelos canteiros de obras, implantaram o “Programa Cidadania e Consciência Através da Educação Ambiental”, projeto
de conservação do cerrado e de produção de mudas nativas nos viveiros instalados
nos Centros Integrados de Educação Ambiental Serra do Facão e Batalha (CIEA), verdadeiros laboratórios de ciências localizados nos canteiros das obras, aptos a difundir
conhecimentos sobre meio ambiente, biomas brasileiros, mudanças climáticas, energia limpa etc.
Tal projeto é sustentável uma vez que integra ações educativas, ambientais
e sociais. Produz matéria-prima (mudas nativas e plantas medicinais) importante para
recomposição florestal do cerrado, contribui com a recuperação de áreas degradadas e
minimiza impactos ambientais, aborda temas importantes como aqueles relacionados
às alterações climáticas e funciona como laboratório de campo para a rede de ensino
escolar. Até o momento participaram do projeto mais de três mil alunos e visitantes
dos municípios atingidos pelo empreendimento, contribuindo assim com práticas de
conscientização e equilíbrio do bioma cerrado e seu complexo ecossistema.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
213
Além de alunos e demais visitantes das comunidades abrangidas pelos
empreendimentos, os CIEA’s funcionam com o intuito de levar aos profissionais das
obras os cuidados necessários que se deve ter com o meio ambiente. Cuidados estes
que deverão ser levados em consideração durante o decorrer das atividades desenvolvidas para a construção das hidrelétricas e mesmo em suas residências podendo,
inclusive, difundi-los aos seus familiares. O contato inicial do profissional no CIEA
acontece nas Integrações de Meio Ambiente, Saúde, Segurança do Trabalho e Responsabilidade Social, obrigatórias para que os profissionais estejam aptos a executar
suas atividades. No decorrer da obra estas informações são reforçadas periodicamente durante os treinamentos teóricos e práticos específicos de meio ambiente, bem
como DDE’s (Diálogo Diário de Excelência), SIPATMA’s (Semana Interna de Prevenção
de Acidentes do Trabalho e Meio Ambiente), campanhas de assuntos diversos etc.,
atividades estas inseridas nos Sistemas de Gestão Ambiental das obras, ambos certificados na ISO 14001.
II. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
O CIEA teve início em março de 2007 na UHE Serra do Facão localizada no
município de Davinópolis/GO e posteriormente, em 2009, foi inaugurado o CIEA da
UHE Batalha localizado em Cristalina/GO. Ambos têm como principal objetivo o desenvolvimento de ações sustentáveis que permitam, ao mesmo tempo, a recomposição florestal do cerrado e a maior conscientização da comunidade e dos profissionais
das obras quanto ao equilíbrio do planeta.
2.2. Objetivos Específicos:
- Desenvolver treinamentos e atividades educacionais e ambientais de
integração para todos os funcionários recém contratados nas obras e treinamentos
periódicos relativos ao sistema de gestão ambiental das obras e da empresa.
- Disponibilizar para a comunidade as informações sobre o cerrado, através da capacitação de jovens estudantes;
- Despertar nos alunos o senso crítico, a criatividade e a capacidade de
gerar mudanças no meio em que vivem;
- Amenizar os problemas sócio-ambientais através da construção e ressignificação de conhecimentos referentes às práticas prevencionistas;
- Organizar e monitorar visitas aos viveiros de mudas nativas da UHE Serra
do Facão e UHE Batalha para capacitar pessoas que possam atuar na própria comunidade como agentes prevencionistas difusores da informação e personagens que irão
sensibilizar a comunidade;
- Proporcionar o plantio de árvores nativas nas áreas degradadas pela
construção dos canteiros de obras, realizado através de alunos das escolas das regiões abrangidas pelos empreendimentos e dos próprios funcionários contratados,
conscientizando os mesmos sobre a importância da conservação florestal e suas resPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
214
ponsabilidades ambientais;
- Desenvolver projetos educacionais ecopedagógicos, despertando a
consciência ambiental e aprendizado sobre o tema;
- Elaborar documentos informativos e de divulgação;
- Desenvolver treinamento e orientação sobre temas básicos tais como
cultivo de plantas, poluição do ar, coleta seletiva do lixo e saneamento básico;
- Produção de mudas nativas e plantas medicinais do cerrado – viveiros de
mudas;
- Difundir a prática e plantio de mudas nativas do cerrado em RPPN’s (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) ou APP’s (Áreas de Preservação Permanente) com propósito de compensar a emissão de gases que provocam o efeito estufa.
III. METODOLOGIA
3.1. Procedimentos
Viveiro de Mudas
Anteriormente ao desmatamento das áreas utilizadas para a instalação
dos canteiros de obras, com autorização do IBAMA, foram realizadas atividades de salvamento de epífitas. Estas epífitas estão presentes nos Centros Integrados de Educação Ambiental de Serra do Facão e de Batalha (Bromeliários) e estão sendo utilizadas
nos projetos de educação ambiental, apresentando-se adaptadas aos locais. As bromélias, orquídeas e cactáceas serão utilizadas na restauração das áreas degradadas e
translocadas para os fragmentos florestais do entorno das obras.
Para o processo de plantio de mudas inicialmente coletam-se as sementes
na natureza em busca da manutenção da diversidade genética das espécies florestais.
As sementes são coletadas ao longo de todo o ano, durante a execução das obras,
garantindo um maior número de matrizes possíveis por espécie que posteriormente
serão preparadas para a semeadura nos Viveiros de Produção de Mudas, buscando
sempre a alta qualidade genética.
O plantio de mudas é realizado nas áreas dos canteiros de obras para restauração e recuperação de áreas degradadas, com assessoria de empresa especializada contratada para tal (Orbi – Organização e Planejamento em Biodiversidade). São
utilizadas diversas técnicas inovadoras, aplicando na prática os resultados cientificamente comprovados no meio acadêmico. As técnicas nucleadoras que estão sendo
utilizadas são: transposição de solo, transposição de galharias, cultivo de herbáceas e
o plantio de mudas em Grupos de Anderson (formação de ilhas). Todas essas técnicas
visam a restauração ambiental não só do ponto de vista quantitativo, mas qualitativo também, principalmente do ponto de vista genético, quando desde a coleta de
sementes segue-se critérios de coleta da maior quantidade de diversidade existente.
Um dos pontos inovadores do CIEA da UHE Batalha foi a disponibilização de uma coleção de plantas medicinais com o objetivo de difundir conhecimentos aos profissionais, comunidades e alunos em visita à obra.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
215
Nos CIEA’s as mudas servem também para multiplicar ao público informações sobre biodiversidade e a importância das florestas, combate ao aquecimento
global e a importância do programa de compensação de CO2 adotado pelas obras.
O cálculo para compensação foi determinado conforme modelo científico informado
pelo Núcleo de Florestas Tropicais, da Universidade Federal de Santa Catarina em que
resumidamente:
- Cada árvore é capaz de neutralizar 1.381 kg de CO2;
- Cada litro de diesel queimado emite 2,62 kg de CO2;
Portanto, cada árvore compensa a queima de 527 litros de diesel. Para
saber a quantidade de mudas a ser plantada, basta multiplicarmos a quantidade de
litros consumidos por 0,0019: (número de árvores = litros consumidos x 0,0019). A
quantidade prevista de consumo na UHE Serra do Facão é de 8.000.000 de litros de
diesel, necessitando o plantio de 15.180 mudas nativas.
Na UHE Batalha a quantidade prevista para consumo de óleo diesel é de
4.500.000 sendo necessário o plantio de 8.539 mudas nativas para compensação.
Palestras com visitantes
As palestras realizadas nos CIEA’s são ministradas por profissionais das áreas de meio ambiente das obras, que buscam despertar nos alunos o senso crítico para
promoverem as mudanças no meio em que vivem, com a disponibilização de informações sobre o cerrado e o que se deve fazer para preservar e recuperá-lo. Diversas
atividades lúdicas são realizadas, conforme será apresentado a seguir.
São disponibilizadas informações sobre desenvolvimento sustentável, a
importância das hidrelétricas para o crescimento do país e todas as ações executadas
nas obras de Serra do Facão e Batalha visando a minimização dos impactos ambientais decorrentes das atividades desenvolvidas, tais como coleta seletiva, destinação
adequada dos resíduos, preparação e atendimento a emergências, restauração e recuperação de áreas degradadas e compensação de gás carbônico, dentre outras informações. Os visitantes têm a oportunidade de conhecer grandes obras sendo construídas de maneira sustentável e consciente.
Os CIEA’s, de acordo com as características e peculiaridades de cada turma
de visitantes, tem os seguintes recursos:
- Visita à RPPN integrada à visita à obra;
- Visita ao canteiro de obras e recuperação de áreas;
- Visita à ETE – Estação de Tratamento de Esgotos;
- Visita à UTR – Usina de triagem de resíduos e compostagem de lixo orgânico;
- Visita à ETA – Estação de Tratamento de Água;
- Programa de estágio para estudantes universitários;
- Cursos de capacitação para professores, alunos, profissionais e comunidade;
- Álbum de fotografias das visitas;
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
216
- Materiais didáticos, cartazes e banners sobre biodiversidade, biomas brasileiros e sustentabilidade;
- Maquete da obra;
- “Casa da Energia” para conscientização da utilização racional e redução
do consumo de energia elétrica.
Oficina de Reciclagem de Papel
Os CIEA’s também transmitem conhecimentos através das Oficinas de Reciclagem de Papel, onde os participantes aprendem técnicas de reciclagem de parte
do papel descartado nas atividades administrativas das obras, transformando-o em
artesanato local, cartões e outros objetos que podem auxiliar como fonte alternativa
de renda familiar.
A técnica utilizada é bem simples, permitindo aos educandos o desenvolvimento da seguinte prática em suas residências ou escolas:
1 - Os papéis são cortados em partes pequenas e colocados de molho em
recipiente com água;
2 - Posteriormente o papel é batido em liquidificador até que se atinja a
textura desejada;
3 - A polpa formada é despejada no alguidar com água até o meio e agitada com as mãos para que as partículas do papel não assentem no fundo;
4 - O escorredor é mergulhado no alguidar pela lateral e retirado da água
lentamente até que surja uma camada de papel.
5 - O escorredor deve ser colocado em cima de folhas de jornal e posteriormente enxugado com esponja para retirar o excesso de água. Depois de seco, o papel
deve ser retirado do jornal e pode ser utilizado para diversos fins. Além de folhas,
pode-se criar pasta de papel com cola e moldar caixas, porta-retratos, imagens etc.
Integração dos Funcionários no Centro Integrado de Educação Ambiental
Quando da integração de novos funcionários, a Camargo Corrêa se preocupa em se apresentar a todos em vídeo e palestra. O trabalho é acompanhado de
muita expectativa, principalmente por aqueles que estavam desempregados e reconhecem na empresa sua grandeza, seus valores, filosofias e políticas adotadas. O treinamento de integração é fundamental para passar informações que, até mesmo por
falta de prática, a pessoa não procura saber antes da contratação.
Com oito horas de duração, a palestra trata também de questões como meio
ambiente, segurança do trabalho e noções básicas de primeiros socorros, sempre visando o aumento da produtividade, diminuição do número de acidentes e cumprimento
da legislação ambiental. Conforme citado anteriormente, este é o primeiro contato do
profissional com o Centro Integrado de Educação Ambiental e Viveiro de Mudas.
Treinamentos e Campanhas Diversas
Freqüentemente, além das Integrações, os profissionais recebem treinaPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
217
mentos diversos em sala de aula, nas frentes de trabalho e nos CIEA’s de acordo com
as necessidades das obras, sempre buscando a conscientização e o aperfeiçoamento
do desempenho ambiental das mesmas.
3.2. Recursos Utilizados – UHE Serra do Facão
Recursos Humanos
Engenheiro Agrônomo
Engenheira Ambiental
Instrutora de Artesanato (Oficina de Reciclagem de Papel)
Técnico em Meio Ambiente
Auxiliar Técnico com formação em Biologia
Ajudante de Serviços Diversos
Encarregado
Materiais e equipamentos
Viveiro para produção de mudas
Sala de aula
Quatro computadores
Data show
Material didático infantil para educação ambiental (material de colorir, lápis de cor, jogos, etc.)
Materiais utilizados na Oficina de Reciclagem de Papel (liquidificador industrial,
telas, estrutura para secagem de papel etc.)
Adubo orgânico
Ferramentas diversas
Placas e banners educativos
3.3. Recursos Utilizados – UHE Batalha
Recursos Humanos
Engenheiro Agrônomo
Engenheiro de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente
Dois Técnicos em Meio Ambiente
Auxiliar Técnico com formação em Biologia
Ajudante de Serviços Diversos
Encarregado
Materiais e equipamentos
Viveiro para produção de mudas e plantas medicinais
Sala de aula
Maquete da obra
Data show
Materiais utilizados na Oficina de Reciclagem de Papel (liquidificador in218
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
dustrial, telas, estrutura para secagem de papel, etc.)
Quatro computadores
Material didático infantil para educação ambiental (material de colorir, lápis de cor, jogos, etc.)
Adubo orgânico
Ferramentas diversas
Placas e banners educativos
Ao final da construção das obras de Serra do Facão e Batalha as estruturas
físicas dos CIEA’s poderão ser repassadas às hidrelétricas que entrarão em operação
ou transferidas para outro empreendimento da Construções e Comércio Camargo
Corrêa (CCCC). Com estas ações a CCCC está demonstrando a sua capacidade de construir grandes obras respeitando a maior de todas elas, a natureza, compatibilizando o
crescimento econômico do nosso país com a conservação dos recursos naturais.
3.4. Avaliação
A avaliação das ações desenvolvidas na recuperação de áreas será possível
após a conclusão e reconfiguração das áreas afetadas na poligonal dos canteiros, num
prazo máximo de 43 meses após a realização das atividades causadoras da degradação, através da avaliação do percentual de “pega” das mudas ou germinação das
sementes após 90 dias da conclusão de cada fase de revegetação. Todas as áreas que
sofreram processo de revegetação deverão apresentar cobertura do solo superior a
90%.
As atividades dos CIEA’s são avaliadas continuamente constituindo uma
ferramenta importante para o planejamento estratégico da equipe e para o acompanhamento por parte da Camargo Corrêa. No monitoramento são avaliados os seguintes itens, dentre outros:
- Avaliação do grau de satisfação dos visitantes, incluindo os pré agendados;
- Avaliação da assimilação de temas/conteúdos trabalhados nas atividades do CIEA direcionados aos professores e alunos atendidos;
- Materiais didáticos e artísticos produzidos em oficinas.
A meta é atingir o maior número possível de participantes que servirão
como multiplicadores ambientais na sociedade em que vivem, levando também para
as salas de aulas o que viram na prática.
Para os demais treinamentos realizados com os funcionários das obras a
avaliação se dá através das notas de desempenho ambiental e demais indicadores
dos Sistemas de Gestão Ambiental das obras que, direta ou indiretamente, refletem a
conduta dos profissionais e o grau de conscientização dos mesmos.
IV. RESULTADOS OBTIDOS
Inicialmente as obras se preocuparam em discutir internamente assuntos
relacionados aos aspectos sócio-ambientais, diagnóstico ambiental da área de influência, valorização dos impactos e proposição de medidas mitigadoras de responsaPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
219
bilidade social e ambiental. Assim se instituiu o Centro Integrado de Educação Ambiental Serra do Facão e em seguida o de Batalha para a efetivação do projeto em
discussão.
Centro Integrado de Educação Ambiental Batalha
A primeira ação realizada foi o dimensionamento dos viveiros de mudas
de cada obra para o recebimento das plantas resgatadas durante o desmatamento
dos canteiros.
Após o dimensionamento dos viveiros foram construídas as estruturas físicas contendo áreas específicas para realização das atividades como palestras e cursos
que envolvam os estudantes das regiões abrangidas pelos empreendimentos e os
próprios funcionários. A partir daí foram se estabelecendo as ações que serão destacadas a seguir, a sua programação e seus resultados.
Viveiro de Mudas Nativas
220
Viveiro de Plantas Medicinais
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Bromeliários
Em paralelo, nas obras de construção de hidrelétricas da Construções e
Comércio Camargo Corrêa (UHE Foz do Chapecó/SC, UHE Serra do Facão e UHE Batalha), foram implantados Sistemas de Gestão integrando as áreas de Meio Ambiente,
Qualidade, Segurança do Trabalho e Responsabilidade Social sendo, este último, exclusivo da obra UHE Batalha.
Certificados do Sistema de Gestão Ambiental das obras de hidrelétrica
4.1. Programação básica das atividades nos Centros Integrados de Educação Ambiental:
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
221
1. Palestras de Meio Ambiente
- 09:00: Chegada ao canteiro de obras
- 09:10: Distribuição de lanches no refeitório
- 10:00: Visita ao Viveiro de Mudas Nativas e Bromeliário
- 10:30: Início da Palestra sobre Meio Ambiente
- 11:00: Visita às estruturas das obras
- 12:00: Almoço
- 13:00: Retorno às escolas/instituições
2. Curso de Reciclagem de Papel
- 08:00: Saída da escola e/ou entidade
- 09:00: Chegada ao canteiro de obras
- 09:10: Distribuição de lanches no Refeitório
- 09:40: Início das atividades: Palestra e atividades na Oficina de Reciclagem de Papel
- 12:30: Almoço
- 1330: Retorno às atividades na Oficina de Reciclagem de Papel
- 15:30: Retorno às escolas/ instituições
Buscando o aprimoramento e o alinhamento dos trabalhos de educação
ambiental entre as obras, em outubro de 2008 foi promovido em uma RPPN de Cristalina um treinamento técnico para os profissionais da área de Meio Ambiente da UHE
Batalha, da UHE Serra do Facão e da empresa Orbi. O
treinamento foi ministrado pela Drª. Ana Maria Soares Pereira, da Universidade de Ribeirão Preto.
Participantes e ministrantes do Treinamento de Educação Ambiental
4.2. Resultados Alcançados nos Trabalhos realizados com os visitantes do
CIEA e Viveiro de Mudas
Em novembro de 2008 foi assinado o Termo de Cooperação Técnica entre
a Construções e Comércio Camargo Corrêa e a Superintendência de Água e Esgoto
222
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
de Catalão, cujo objetivo foi celebrar a doação de 19 mil mudas nativas do Cerrado a
serem plantadas em uma Área de Preservação Permanente.
RESULTADOS DO PROJETO ATÉ SETEMBRO DE 2009
Em novembro de 2008 foi assinado o Termo de Cooperação Técnica entre
a Construções e Comércio Camargo Corrêa e a Superintendência de Água e Esgoto
de Catalão, cujo objetivo foi celebrar a doação de 19 mil mudas nativas do Cerrado a
serem plantadas em uma Área de Preservação Permanente visando, além da compensação do total de CO2 emitido pela frota de equipamentos da Construções e Comércio Camargo Corrêa durante a construção da UHE Serra do Facão, a revitalização da
nascente do Ribeirão Pirapitinga em atendimento ao Projeto Pirapitinga Vivo.
O Projeto Pirapitinga Vivo foi idealizado por instituições e empresas de Catalão, que se uniram para a proteção do Ribeirão Pirapitinga tendo como objetivos
principais:
a) despoluir e preservar o Ribeirão Pirapitinga, que atravessa Catalão de
leste a oeste;
b) investir na educação ambiental da população, visando o desenvolvimento de uma consciência ecológica que leve a ações de preservação.
Para isto estão sendo desenvolvidas atividades de revitalização das nascentes e todo o alto do ribeirão, arborização das margens até o setor industrial de Catalão, implantação de parques e viveiros, implantação de corredores ecológicos para
interligar as áreas verdes, além de centros de educação ambiental.
Fizeram-se presentes no evento de assinatura do Termo diversas autoridades políticas, tais como o Prefeito eleito - Velomar Rios, Secretário de Meio Ambiente Célio Mariano e o Gerente Regional do IBAMA - César do Nascimento, além do Diretor
Presidente da SEFAC - Eduardo Bueno, Superintendente da SAE - Fernando Vaz Ulhôa,
Gerente de Obras da Camargo Corrêa – Roberto Giuseppe Viviani dentre outros gestores da UHE Serra do Facão e representantes de outras empresas e instituições.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
223
Assinatura do Termo de Compromisso firmado entre a SAE e a
Construções e Comércio Camargo Corrêa
O plantio simbólico dessas mudas foi realizado no dia 5 de dezembro de
2008 por crianças do Colégio Objetivo e da Escola Municipal Cleonice Evangelista do
Nascimento, ambos de Catalão, o que possibilitou a conscientização ambiental desses
alunos e da população em geral sobre a importância do plantio para o restabelecimento da mata ciliar do ribeirão e colaboração com a recuperação do corredor de
biodiversidade local, além do auxílio à reposição florestal do Cerrado brasileiro.
Crianças realizando plantio de mudas
Ainda em dezembro de 2008, o Colégio Objetivo de Catalão homenageou
a Camargo Corrêa em sua festa de encerramento de ano, como forma de agradecimento e reconhecimento pelas diversas atividades educativas que foram realizadas
com seus alunos. O Gestor de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente Leandro Penachio recebeu a placa de homenagem e, logo após, foi apresentado um vídeo com
diversas imagens dos alunos no CIEA e fotos do plantio supracitado.
224
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Além das visitas semanais, são comemoradas nos CIEA’s algumas datas importantes como,
por exemplo, o dia do Cerrado em 11 de setembro de
2007 na UHE Serra do Facão. Nesta data, foi realizada
uma apresentação sobre a construção e a finalidade
das hidrelétricas, bem como as riquezas existentes no
Planeta. Estiveram presentes cerca de setenta pessoas
dentre alunos e funcionários da Escola Allan Kardec,
gerência do empreendimento e membros das prefeituras das cidades vizinhas (Catalão e Davinópolis). No
mesmo dia foram plantadas cem mudas de árvores
nativas dando início ao programa de compensação
de CO2 emitido pelas atividades dos maquinários da
obra.
Recebimento da Placa de
Homenagem
Diversas outras datas foram comemoradas em 2007 na UHE Serra do Facão através de palestras de conscientização ambiental e do plantio de mudas por
crianças e adolescentes de Catalão e Davinópolis, como o Dia da Árvore em 21 de
setembro, com apresentação de peça teatral e plantio de mudas.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
225
O Dia Mundial da Água de 2008 foi comemorado em um evento que
se iniciou no dia 22 de março e se estendeu até o dia 24, quando foram realizadas
palestras em conjunto com o cliente (Serra do Facão Energia S.A.). Neste evento foi
destacada a importância da preservação deste recurso natural cada vez mais ameaçado de escassez. Em 2009 o Dia Mundial da Água foi comemorado através de um
teatro desenvolvido por voluntários da obra, cujo tema foi: “O Futuro sem Água”.
Mais uma vez, o cliente (Sefac) esteve presente ministrando palestra sobre a água.
Alunos em palestra sobre a “Preservação da Água”
No dia 15 de abril de 2009 a UHE Serra do Facão, juntamente com alunos
da Escola CAIC de Catalão, comemorou o Dia Nacional da Conservação do Solo, oficialmente instituído pela Lei 7.876 de 13 de novembro de 1989. Na ocasião, a equipe
de Meio Ambiente da obra ministrou palestra sobre o tema “A Importância do Solo”,
destacando desde seu processo de formação até as principais causas e conseqüências
de sua degradação, assim como a importância de sua conservação para a sustentabilidade ambiental e desenvolvimento do país.
Foi realizada ainda uma atividade pedagógica visando despertar em cada
aluno a sua interação com o solo, fazendo com que os mesmos sentissem o valor
desse recurso natural cada vez mais ameaçado devido às atividades agricultura predatória, tecnologias inadequadas, uso intensivo de produtos químicos, queimadas e
desmatamentos. Além disso, foi feita uma atividade de educação ambiental através
da música “Solo” (Vide letra no Anexo I) em que cada aluno pôde cantar e aprender
um pouco mais sobre o tema.
226
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Crianças em palestra sobre “Conservação do Solo”
O mês de abril tornou-se referência para a comemoração do tema Sustentabilidade no Grupo Camargo Corrêa. Há três anos, nesse mesmo período, foi expresso
pelos acionistas, por meio da “Carta da Sustentabilidade – O Desafio da Inovação” (Anexo II), o desejo de que a corporação fosse tão bem-sucedida na área socioambiental
quanto em seus negócios.
Diante disso, o Grupo tem se empenhado em fortalecer e aprofundar o conhecimento de seus profissionais, familiares e comunidade em geral sobre o tema da
sustentabilidade e abrir espaço para debates e atividades que promovam o entendimento e participação de todos.
Na UHE Serra do Facão o Mês da Sustentabilidade foi uma oportunidade
para a mobilização de profissionais e os filhos destes para o enfoque no tema, cujo mote
foi: pensar, olhar e fazer a diferença, e assim contribuir para um mundo melhor.
Realizou-se então, uma visita à obra no dia 25 de abril onde estiveram presentes cerca de 30 filhos e parentes de funcionários. Após conhecerem as principais
estruturas civis, os visitantes foram recebidos pela equipe do Meio Ambiente e assistiram ao filme do Greenpeace,
“Mudanças do Clima, Mudanças
de Vidas”, um alerta à população
sobre os riscos do aquecimento
global.
No CIEA, os visitantes participaram da Mostra Cultural Infantil “O Que Vou Fazer
Para o Mundo Ser Mais Legal”.
As crianças e adolescentes desenharam suas idéias de como deixar o mundo mais legal e mais
Filhos e parentes de profissionais da obra desenhando suas
sustentável.
idéias de como deixar o mundo mais legal e sustentável
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
227
Ainda no mês de abril a obra de Batalha recebeu no CIEA sua primeira turma de visitantes, formada por trinta e sete alunos e três professores da Escola Municipal Paroquial São Vicente de Paulo da cidade de Cristalina/GO. Os alunos participaram
de palestra, realizaram plantio de mudas e passearam pela obra.
Primeira turma de alunos recebidos no CIEA da UHE Batalha
O Dia da Biodiversidade foi comemorado em 20 de maio de 2009 na UHE
Serra do Facão com a realização da Feira da Biodiversidade, atividade esta que desenvolve nos alunos a percepção sobre a importância da biodiversidade do planeta (Vide
metodologia no Anexo III).
Alunos da Feira da Biodiversidade
Em Serra do Facão, a Semana Interna de Meio Ambiente de 2009 (de 1o a 5
de junho) foi comemorada através de diversas atividades de conscientização ambiental, tanto para os colaboradores da obra, quanto para crianças de escolas das comu228
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
nidades atingidas pelo empreendimento. Dentre estas atividades, pode-se destacar a
realização de palestras, apresentação de vídeos, plantio de mudas, jogos de perguntas e respostas sobre meio ambiente, distribuição de brindes, etc.
Palestra e apresentação de vídeo na Semana do Meio Ambiente 2009
No dia 4 de junho foi feita a entrega dos equipamentos necessários para a
instalação de uma Oficina de Reciclagem de Papel na Escola Santa Clara, mantida pela
Sociedade Pestalozzi de Catalão, cujos alunos são portadores de deficiências mentais
e múltiplas.
Estes alunos foram os pioneiros a participar da Oficina de Reciclagem de
Papel do CIEA da obra. As atividades foram tão bem sucedidas que a Associação quis
levá-las para seu próprio espaço, onde as atividades são voltadas a oficinas de diversos tipos, até mesmo para geração de renda aos alunos e à própria escola.
Todo material a ser usado na oficina foi custeado pelo Instituto Camargo Corrêa através do Programa Ideal Voluntário e quinzenalmente, até dezembro de
2009, voluntários de diversos setores da obra participarão juntamente com os alunos
das atividades de reciclagem de papel e produção de artesanato, como cartões, caixas, luminárias, porta retratos e utensílios de decorações diversas.
Entrega da Oficina de Reciclagem de Papel à Escola Santa Clara
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
229
Na UHE Batalha a Semana do Meio Ambiente foi comemorada com um
concurso de desenho para os alunos dos assentamentos localizados no entorno da
obra. Os ganhadores receberam seus prêmios na obra e em seguida plantaram mudas
no Viveiro de Mudas e conheceram as estruturas da hidrelétrica.
Alunos dos Assentamentos em visita à UHE Batalha
Também foi realizada na APAE de Cristalina um evento alusivo ao Dia do
Meio Ambiente. O evento contou com a participação de funcionários da Camargo
Corrêa, seus familiares e representantes do Cliente (Furnas). Durante todo o dia foram
realizadas várias atividades com aproximadamente 160 alunos no período da manhã
e da tarde. Entre as atividades realizadas destacam-se:
- Palestras;
- Apresentação de vídeo educativo com o foco na destinação correta de
resíduos;
- Atividades lúdicas como pintura e desenhos de animais silvestres e confecção de máscara de papel;
- Distribuição de bolsas para armazenar material escolar cedido por Furnas;
- Plantio de mudas nativas;
- Distribuição de lanches.
Ainda no início no mês de junho de 2009 e com prazo para terminar em
novembro deste ano, a Usina Hidrelétrica Serra do Facão, promove a campanha: “Combata o Aquecimento Global, Plante uma Árvore” com a finalidade de desenvolver a
consciência ecológica e divulgar o programa de compensação de CO2 desenvolvido
pela Diretoria de Projetos de Energia. Voltada para crianças e adolescentes da rede de
ensino municipal, estadual e privada nas comunidades de Catalão e Davinópolis (GO),
a campanha tem estimativa de plantar 2.000 mudas nativas do cerrado em escolas e
demais locais nas cidades atingidas pelo empreendimento até o final da mesma.
Além de alunos de Escolas Públicas e Privadas, o CIEA recebeu em suas
instalações visitas de diversas outras entidades sociais como asilos, associação de pessoas portadoras de deficiências físicas e mentais, orfanatos de crianças e adolescentes, associação de diabéticos, rotarianos, autoridades políticas, APAE’s etc. (vide anexo
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
230
IV), sempre buscando, além da educação ambiental, a possibilidade de proporcionar
a estes visitantes momentos de aprendizagem, lazer, descontração e inclusão social.
No Anexo V serão apresentadas diversas imagens de outras visitas realizadas nos Centros Integrados de Educação Ambiental Serra do Facão e Batalha.
4.3. Resultados Alcançados com os Trabalhos de Conscientização dos
Profissionais das Obras
Diversos foram os trabalhos realizados nas obras visando o despertar da
consciência ambiental de cada profissional admitido, tanto da Camargo Corrêa como
de seus subcontratados.
Foram realizadas campanhas ambientais de temas variados como a Campanha para Redução no Consumo de Água, Campanha de Conservação do Solo e do
Planeta Terra, Campanha para Divulgação da Política Integrada da Empresa, incluindo
a Ambiental, Campanha para Destinação Adequada de Resíduos com visitas à Usina
de Triagem de Resíduos, Campanha para Diminuição da Geração de Resíduos, Campanha para Redução do Consumo de Papel, Campanha sobre o PAE (Plano de Atendimento à Emergências), Campanha para Destinação Adequada de Pilhas e Baterias,
Campanha de Conscientização sobre Coleta Seletiva, Campanha para Redução no
Consumo de Copos Plásticos e Campanha para Divulgação dos Aspectos e Impactos
Ambientais das obras.
DDE Coletivo realizado na Campanha de Conscientização sobre Coleta Seletiva na UHE Batalha
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
231
Nas campanhas são distribuídos pelos canteiros das obras e aos encarregados, materiais de divulgação dos temas propostos como fixação de faixas e banners
em pontos estratégicos, adesivos colantes, cartilhas e boletins informativos dentre
outras formas. Além disso, as informações chegam aos profissionais através de DDE’s
nas frentes de trabalho, treinamentos em salas específicas e nos CIEA’s.
Banners sobre os Biomas Brasileiros
Além das campanhas de conscientização, acontecem anualmente nas
obras as SIPATMA’s (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho e de Meio
Ambiente) e SEMA’s (Semanas do Meio Ambiente) quando são realizadas palestras de
Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho para os profissionais e comunidade, conforme comentado anteriormente. São realizados também torneios, sorteios
de prêmios, teatros, jogos de perguntas e respostas, concursos de frases, desenhos e
diversas outras ações de lazer e conscientização.
SIPATMA 2007 – UHE Serra do Facão
232
SEMA 2009 – UHE Serra do Facão – Plantio de
mudas realizado por profissionais da obra
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
SIPATMA 2009 – UHE Batalha – Concurso de
artesanato com materiais reciclados
SEMA 2009 – UHE Batalha – Palestra de Meio
Ambiente
Foram realizados também diversos treinamentos práticos de combate a
emergências ambientais tais como combate a incêndio, contenção de vazamentos
de óleo e demais produtos químicos, acidentes com fontes radioativas, dentre outros.
Anteriormente ao treinamento prático os profissionais recebem orientações em salas
de aula sobre o PAE (Plano de Atendimento a Emergências) e instruções de trabalho
diversas como a de Manuseio, Transporte e Armazenamento de Produtos Químicos.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
233
Modalidade
Imprensa Escrita
Projeto:
Cerrado: O Patrimônio que Resiste
Premiado:
Vinícius Jorge Carneiro Sassine
GOIÂNIA, sexta-feira, 5 de junho de 2009
O POPULAR
CERRADO
1
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2009
O PATRIMÔNIO QUE RESISTE
Desconhecidoeameaçado
Vinicius Jorge Sassine
A contradição define o Cerrado, não só por
sua peculiar condição ecológica. O patrimônio
latente se opõe à devastação impiedosa. As descobertas científicas – de novas espécies e de novas propriedades das plantas – contrastam com
o ritmo de desmatamento mais veloz do País. O
incremento da renda local, a partir de iniciativas de desenvolvimento sustentável, são a imagem oposta do crescimento econômico ancorado em monoculturas e em extensas pastagens,
a perder de vista, cuja existência não convive
com o Cerrado em pé.
Dos laboratórios da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, surgiram
informações sobre um patrimônio ainda escondido, mas já intensamente procurado. O Cerrado tem 3,3 mil espécies de plantas com alguma
substância que, se estudada, pode gerar renda.
São propriedades medicinais, cosméticas, aromáticas, alimentícias e ornamentais que despertam, ao mesmo tempo, a atenção econômica de
comunidades locais e de grandes indústrias,
principalmente farmacêuticas e cosméticas.
No Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), a informação
que surgiu é bem diferente. O último alerta de
desmatamento do laboratório mostra que
23,4 mil quilômetros quadrados de Cerrado viraram pó. São 146,5 mil estádios do tamanho
do Serra Dourada, antes ocupados por uma rica matéria-prima, agora com 14% sob risco de
desertificação.
O POPULAR publica hoje, Dia Mundial do
Meio Ambiente, um retrato dessa contradição.
São pesquisas inéditas de diferentes instituições, um levantamento do patrimônio genético
e das espécies que só ocorrem no bioma, boas
iniciativas de uso sustentável e as perspectivas
científicas para as próximas décadas. O Cerrado se contradiz, cotidianamente, e paga-se um
preço alto por isso.
A DESTRUIÇÃO QUE PERSISTE
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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[OJC_102: CAD_ESPECIAIS-TRABALHO <PAG02_03> [CAPITAL] ... 05/06/09]
Author:ANDRE
Date:04/06/09
Time:19:36
CERRADO
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2009
Cobiçadoporgigantes
Indústrias farmacêutica e de cosméticos travam disputa pelo patrimônio genético do bioma
Brosimum gaudichaudii - A mama-cadela tem a
raíz rica em cumarina, que ajuda a repigmentar a
pele. Medicamentos são produzidos fora do País.
Cyanocorax cristatellus - A gralha-do-campo é
descrita em levantamentos científicos como
espécie exclusiva do Cerrado (só é encontrada
no bioma, principalmente em Goiás).
Lafoensia pacari - Conhecida como pacari, a
planta ainda é pouco estudada. A casca e a raiz
são utilizados na cicatrização, e outras
propriedades são analisadas.
Kentropyx paulensis - É um dos lagartos
descritos como endêmicos do Cerrado nos
levantamentos científicos realizados.
Espécie é rara.
Tabebuia impetiginosa - O lapaxol encontrado
no ipê-roxo, que ocorre em todo o País, é
utilizado no tratamento de câncer. A casca é
vendida para outros países por meio da
internet, sem controle.
Há uma movimentação silenciosa
de grandes indústrias, interessadas
em chegar cada vez mais perto do patrimôniogenéticodo Cerrado. Obarulho é mínimo, mas a ofensiva é grande, com patrocínio de pesquisas e fomento ao comércio local de plantas
identificadas como ricas em propriedades medicinais, cosméticas e aromáticas, principalmente. O bioma é
um fornecedor de matérias-primas
disputadas, muitas vezes, sem controle nenhum. Ao mesmo tempo, ainda é
inexplorado: a ciência corre contra a
lógica da devastação acelerada.
Uma grande indústria farmacêutica comprade vendedores intermediários a fava d’anta. O que a empresa
procura é o alto teor de rutina da fava,
descrita como anti-hemorrágica.
Uma outra indústria estava interessada no mulungu, mais especificamente
em sua casca. O potencial medicinal
dacasca jáfoi descrito em diversosestudos. Para detalhar o potencial afrodisíaco do nó-de-cachorro, uma empresa financia um projeto de pesquisa
sobre a planta. Outro grupo compra a
candeia porque descobriram a riqueza do alfa-bisabolol, presente no óleo
extraído da planta. A substância é matéria-prima para produtos de higiene
infantis e para cremes indicados para
peles mais sensíveis.
Outras espécies têm uma riqueza
Anemopaegma arvense - Com ocorrência restrita no
Cerrado, mas facilmente cultivada, a catuaba é um
popular afrodisíaco e fortificante.
genética variada que desperta a atençãoempresarial.Éocasodoalgodãozinho-do-cerrado, com incontáveis propriedades:éumanti-inflamatóriouterinoeovariano; éum depurativodo sangue;temação analgésicaeantibactericida; e uma possível propriedade anticâncer é estudada em laboratórios. O
barbatimão, conhecido cicatrizante, é
vendido sem controle por intermediáriosentreascomunidadeslocaiseasindústrias.Éimpossívelmensurarovolu-
me comercializado da planta medicinalmaisconhecidadoCerrado.
“Nossas matérias-primas são vendidas sem valor agregado nenhum”,
afirma Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Recursos Genéticos e Biotecnologia, sediada em Brasília (DF). Roberto coordena o projeto Plantas do Futuro, que relacionou as milhares de plantas do
Cerrado com algum potencial genéti-
co e econômico a ser estudado. “Não
há uma estrutura organizada para o
fornecimento da matéria-prima. Falta
controle”,afirma.
Roberto Fontes diz que é muito raro uma indústria farmacêutica ou de
produtos cosméticos procurar a Embrapa para ter acesso ao patrimônio
genético das plantas do Cerrado.
“São muito difíceis as negociações
com as empresas, que sublocam as
comunidadeslocais parafazer o trabalho de campo.”
A desigual relação entre iniciativa
privada, institutos de pesquisa e comunidades locais é apenas um dos
problemas para a garantia e uso dos
recursosgenéticos doCerrado. O desmatamento acelerado está interrompendo algumas pesquisas. Já houve
casos em que a planta foi mapeada,
com todas as suas propriedades químicas descritas, e depois os pesquisadores não encontraram as espécies
para a extração da matéria-prima.
“É uma pena e um apelo precisa
ser colocado: necessitamos de projetos mais arrojados, porque essas plantas estão desaparecendo cada vez
mais rápido, junto com o avanço das
fronteiras agrícolas. É uma corrida
contra o tempo”, ressalta Roberto
Fontes. No Centro-Oeste, 700 espécies foram descritas como medicinais
eoutras 800 como ornamentais.
fica. É nesta direção que boa parte dos
pesquisadoresvematuando,natentativa de mobilizar a comunidade científica,ascomunidadeslocaiseopoderpúblico quanto à importância da preservaçãodobioma.
As aves têm ocorrência expressiva de endemismo. Em todo o Cerrado, estão registradas 850 espécies.
Mais65nãoestão relacionadasnaliteratura especializada e, assim que isso
ocorrer, devem aumentar a lista. Pelo
menos 4% de todas essas espécies
são endêmicas, só existem no bioma.
Os pesquisadores já sabem quais são
os chamados centros de endemismo
das aves:Cadeia do Espinhaço (Minas
Gerais e Bahia), Vão do Paranã (Goiás
e Tocantins), Vale do Araguaia (Mato
Grosso, Tocantins e leste do Pará),
Chapada dos Veadeiros (nordeste de
Goiás) e região de Cristalina (ao sul do
DistritoFederal).
No caso dos répteis, em especial
dos lagartos, a proporção de espécies
endêmicas é bem maior: 45%. Novas
descobertas são registradas a cada
ano, mesma realidade dos anfíbios
(50% de endemismo). Nos últimos 20
anos, 340 novas espécies de vertebrados foram descritas por pesquisadores
no Cerrado. A quantidade corresponde a um quarto de todos os vertebradosdescobertosnoPaísnomesmoperíodo.
“Existe uma tendência de que as
novas espécies descritas no Cerrado
O Cerrado é um importante dreno de carbono, em razão das
raízes profundas das plantas. Essa peculiaridade, porém, não
garante ao bioma a condição de sumidouro pleno de CO2,
determinante para as mudanças climáticas. Pelo contrário: a
devastação gera uma emissão que vale por quatro. Libera-se o
carbono do solo, da parte subterrânea das plantas e da estrutura
exposta. O CO2 não é retido porque as raízes não vivem mais.
A professora Mercedes Bustamante, que faz suas pesquisas
no Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (Unb)
e que coordena a área científica do projeto ComCerrado, do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), quantificou essas
emissões. A chamada biomassa aérea, desmatada, gera 55
Pfaffia glomerata - É conhecido como o ginseng
toneladas de CO2 e equivalentes por hectare, por 100 anos. A
brasileiro. Com os processos de extração e substâncias
biomassa subterrânea, mais 35 toneladas. O solo, outras 110
patenteados em outros países, o revigorante é muito
toneladas. Ao todo, são 220 toneladas de CO2 por hectare. “Se
os intervalos de desmatamentos e queimadas são mais longos, vendido ao Japão.
o Cerrado funciona como um dreno de carbono”, diz Mercedes.
SITUAÇÃO-LIMITE NA EMISSÃO DE CO2:
CERRADO RESPONDE POR 25% NO PAÍS
“Chegamos literalmente ao limite.” Assim o professor
Manuel Ferreira, que conduz pesquisas sobre o ciclo do carbono
no Cerrado para um pós-doutorado nos Estados Unidos, define
o nível a que se chegou a conversão de plantas em CO2. “A
partir de agora, estamos comprometendo seriamente a
biodiversidade, os recursos hídricos e o clima de toda a região.”
Os cientistas já sabem que o Cerrado é responsável por, pelo
menos, 25% das emissões brasileiras de carbono. Em 40 anos de
devastação, o bioma contribuiu com uma emissão de CO2 que
equivale à metade das emissões na Amazônia brasileira. “A
manutenção da cobertura nativa garante o equilíbrio no
balanço de carbono na natureza, diferente dos demais usos da
terra”, ressalta Manuel Ferreira.
FOGO, ANTES
ESSENCIAL
Espécies exclusivas,
raras e insistentes
Asarmadilhasfotográficasdospesquisadores fizeram um registro surpreendente– quando se leva em conta
olocaldoregistro,apalavra“surpreendente” é desprovida de qualquer exagero. Em 11 fragmentos de vegetação
ao longo do Rio Araguaia, principalmentenaregiãodeAruanã,44dispositivos foram espalhados para analisar a
presença da onça-pintada nessa região de Cerrado. Não só as onças foram fotografadas, mas também 15 espécies de presas dos animais, de médioegrandeporte.
“Os resultados preliminares indicam que os fragmentos ainda possuemqualidadesuficienteparaamanutenção de espécies com altas exigências ecológicas, como a própria onçapintada”, concluem os pesquisadores
responsáveis pelo experimento, Analice Maria Calaça e Fabiano Rodrigues
de Melo, da Universidade Federal de
Goiás (UFG). Ao longo do Rio Araguaia, restaram apenas fragmentos de
vegetação. Na região do Alto e Médio
Araguaia, 62% da cobertura de Cerrado já foram devastados. Mesmo assim, a fauna – incluindo a mais exigente, em termos ecológicos – resiste à
perdadeespaço.
Uma prova incontestável da riquezadabiodiversidadenoCerradoéoendemismo de boa parte das espécies.
São espécies que só são encontradas
no bioma, em razão das condições de
clima,vegetaçãoelocalizaçãogeográ-
MORTE DE RAÍZES DIMINUI
CAPACIDADE DE DRENAGEM DE CO2
Tupinambis duseni - É uma espécie endêmica, que só
ocorre no Cerrado, em especial em Goiás. Chama a
atenção pela coloração e pelo grande porte. Os teiús,
como são conhecidos, ocorrem em regiões campestres.
sejam endêmicas ou mesmo de formas de distribuição restrita”, conclui
uma pesquisa da organização não-governamental (ONG) Conservação Internacional. “É possível que uma parcela importante das espécies descritas recentemente já esteja sofrendo
efeitos bastante severos das perdas
de habitat, gerando sérias ameaças à
riqueza biológica das savanas do Brasil Central.”
Na pesquisa, a Conservação Internacional estimou perdas de espécies
– entre elas as endêmicas – em dois
cenários: no primeiro, leva-se em conta o atual estágio de ocupação do Cerrado (de 40% a 50% já foram desmatados), e, no segundo, a perda vegetal
permitida pelo Código Florestal Bra-
sileiro (ocupação de até 75% pela
agricultura e pela pecuária). Das
1.325 espécies de anfíbios, répteis,
aves e mamíferos descritas, 168
(12,6%) deixariam de existir no primeiro cenário e 315 (23,7%) no segundo cenário. As maiores perdas se
dariam entre anfíbios e aves.
Os pesquisadores da Conservação
InternacionalconcluemqueabiodiversidadedoCerradotemtrêscaracterísticas que a diferenciam: “alta riqueza”,
“grandeendemismo”e“grandeheterogeneidadeespacial”.Masessapeculiaridade corre riscos. “Avanços na ocupação do espaço por atividades antrópicas poderão causar a perda de espécies, caso medidas compensatórias
nãosejamadotadas.”
A vida no Cerrado, dentre
os biomas brasileiros, é a que
melhor convive com o fogo.
Os ciclos de vida das plantas
dependem desse elemento,
mas não da forma como hoje é
praticado. Nos últimos 365
dias, os satélites captaram
mais de 18 mil focos de calor
em todo o Cerrado, uma
quantidade incompatível com
a vida.
Ao analisar onde estão
acontecendo esses incêndios,
os pesquisadores descobriram
que 4,5 mil focos foram
registrados a menos de dois
quilômetros de áreas
desmatadas. O fogo consome
as formações savânicas, que
são a identidade do Cerrado.
PERDA DE VEGETAÇÃO, CIDADES
POBRES, RIQUEZA CONCENTRADA
Um mito persiste, mesmo com o desmentido científico: a
abertura de vastas áreas para a monocultura e para a pecuária,
mesmo com a perda da biodiversidade, é garantia de
desenvolvimento econômico, como se sustenta há 40 anos. Se o
desenvolvimento for encarado como a geração de riqueza para
comunidades locais, com melhoria dos principais indicadores
sociais e econômicos, o desmatamento não gera nem distribui
renda. É o que provaram os pesquisadores goianos Pedro
Novaes, Fábio Lobo e Manuel Ferreira, ao compararem o
Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios goianos e os índices
municipais de devastação do Cerrado.
Boa parte dos 30 municípios com menor PIB em Goiás
apresenta significativas perdas ambientais. “Muitos
desmatamentos são realizados sem qualquer ganho
socioeconômico”, concluem os pesquisadores. Eles citam as
cidades de Santo Antônio de Goiás (com apenas 8,28% de
vegetação nativa), Caldazinha (7,39%), São Patrício (6,66%),
Jesúpolis (4,76%), Aloândia (0,96%) e Adelândia (0,95%),
todos com perda de biodiversidade quase total e, mesmo assim,
entre os municípios mais pobres do Estado.
Melanopareia torquata - A
tapaculo-de-colarinho está somente no
Cerrado, incluindo Goiás.
Butia capitata - Rico em carotenóide, o
coquinho azedo é base para sorvete e
polpas. O óleo é pouco estudado.
Comunidades locais
extraem renda da
biodiversidade
As comunidades tradicionais têm as principais respostas que grandes indústrias farmacêuticas, alimentícias e de
produtos cosméticos e aromáticos procuram. Os grupos locais sabem muito, já exploram a biodiversidade do Cerrado e fazem isso de forma sustentável. Nas regiões onde ainda resta mata nativa, os resultados econômicos aparecem,
com incrementos de renda para pequenos produtores.
Agricultores de Diorama e
região, por exemplo, fornecem seus produtos fitoterápicos para postos de saúde de
seis municípios goianos, tudo
pelo Sistema Único de Saúde
(SUS). São 22 fórmulas, elaboradas com plantas do Cerrado
que têm propriedades medicinais, utilizadas em produtos líquidos e pomadas. No atendimento básico de saúde da região, portanto, o conhecimento local está presente.
O trabalho do Centro de
Tecnologia Agroecológica de
Pequenos Agricultores (Agrotec) não se restringe à produção farmacêutica. Os 15 agricultores envolvidos fabricam
barrinhas de cereal com a semente do baru, produzem farinha da polpa do jatobá e desidratam o cajuzinho para que
sirva de ingrediente na preparação de alimentos. Do quebra-pedra é extraído um óleo
que serve de base para algumas das pomadas fornecidas
aos postos de saúde.
“Trabalhamos com o que já
tem validação científica comprovada”, afirma o diretorpresidente da Agrotec, Antônio Carlos da Costa. O excedente da produção é encaminhado à Central do Cerrado,
sediada em Brasília e com
mais de 30 produtores associados, de seis Estados. A central
é mais uma entidade especializada em aproveitar a potencialidade econômica do Cerra-
do de forma sustentável e local. Sua função é identificar
mercados, comercializar os
produtos, torná-los vendáveis. E vem dando certo.
“Já atendemos o mercado
internacional. A Itália compra o óleo de babaçu e a castanha do baru. Os Estados Unidos, o pequi e o artesanato do
capim-dourado”, diz Paulo
Henrique de Morais, responsável pela área de comercialização e vendas da Central do
Cerrado. Grandes cozinhas de
São Paulo compram o óleo de
pequi da central. A indústria
de cosméticos adquire os
óleos do buriti e da macaúba.
“O interesse é grande por matérias-primas diferentes, que
agreguem valor aos produtos”, afirma Paulo.
Ele cita uma empresa norteamericana, que compra o óleo
de babaçu para fabricar produtos vendidos a países da
América Central e da Europa.
Nas regiões de Cerrado, a produção também existe, pelos
próprios associados da central, inclusive em larga escala. Isso já ocorre com a fabricação de sabonetes e loções para a pele à base do óleo de babaçu. Testes começam a ser
feitos com a macaúba, para a
produção de biodiesel.
A Agrotec e a Central do
Cerrado são financiadas pelo
Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-Ecos),
com recursos do Fundo para o
Ambiente Global das Nações
Unidas. O programa está no
Brasil há 14 anos e é coordenado pelo Instituto Sociedade,
População e Natureza (ISPN).
Vinte e sete associações comunitárias estão aplicando os recursos no extrativismo de
plantas medicinais, na troca
de sementes, no artesanato
com produtos nativos e no
aproveitamento de frutas típicas para a produção de doces,
geleias e castanhas torradas.
Nothura minor - A distribuição da
codorna-mineira é bem restrita. Apesar
do nome, é encontrada em Goiás.
Dimorphandra mollis - É a fava d’anta,
que tem alto teor de rutina, substância
anti-hemorrágica. Indústria já explora.
Phyllomedusa oreades - Pesquisadores
descrevem essa exótica espécie de
anfíbio como endêmica de Goiás. A
distribuição está restrita ao Estado.
Scinax centralis - Só há registro dessa
espécie de anfíbio na Floresta
Nacional de Silvânia, em Goiás,
segundo a pesquisadora Kátia Kopp.
Pterodon emarginatus - A sucupira-branca é apontada
no levantamento da Embrapa Recursos Genéticos como
uma das plantas com mais propriedades medicinais.
238
Anolis meridionalis - Alguns estudiosos descrevem o réptil como
uma das quatro espécies endêmicas do Cerrado. Outros dizem que
ele é encontrado, além do bioma brasileiro, no Paraguai.
Bothrops moojeni - É uma cobra que só se manifesta em
regiões de Cerrado. É exclusiva do bioma, com forte
presença nas matas de Goiás.
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
4
GOIÂNIA, sexta-feira, 5 de junho de 2009
O POPULAR
CERRADO
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2009
Dorstenia asaroides - O
carapiá é matéria-prima
para expectorante infantil.
Saltator atricollis - A ave,
endêmica, é conhecida
como mineirinho.
Cercomacra ferdinandi Tem um nome popular
curioso: chororó-de-goiás.
Xenopholis undulatus - É
mais uma espécie de cobra
endêmica do bioma.
Especialistasalertam:
tendênciaéquedestruição
dabiodiversidadeseacelere
Patrimônio dilapidado, os
olhos se voltam ao que resta
de Cerrado em pé. E os prognósticos são desanimadores.
Pesquisas inéditas a que O POPULAR teve acesso fazem um
minuciosomapeamento da devastação do bioma e projetam
oque deve ocorrer coma metade da vegetação que ainda resiste. Os estudos se concentramno fenômenoda desertificação, na penetração da canade-açúcar e no desmatamento, exatamente as grandes e vigentes ameaças ao bioma.
A devastação avança num
ritmo acelerado, como mostram os alertas do Laboratório
de Processamento de Imagens
e Geoprocessamento (Lapig)
da Universidade Federal de
Goiás (UFG), em parceria com
o Ministério do Meio Ambiente (MMA). O último alerta, inédito, não deixa dúvidas sobre
a agressão ambiental. Entre
2002 e 2008, o desmatamento
consumiu 23,44 mil quilômetros quadrados do bioma. No
perído de 2003 a 2007, analisado no penúltimo alerta, a devastação consumiu 18,9 mil
quilômetros quadrados.
Os maiores desmatadores
são Mato Grosso, Bahia,
Goiás, Tocantins e Minas Gerais, nesta ordem. Os cinco respondem por 74% da área desmatada nos últimos sete anos.
Mato Grosso é o líder absoluto, com mais de 7 mil quilômetros quadrados. Em Goiás, foram 2,53 mil quilômetros quadrados. Três cidades da Bahia
lideram o ranking dos mais devastadores: Formosa do Rio
Pseudolopex vetulus - Ainda se sabe muito pouco
sobre os mamíferos exclusivos do bioma. A
raposa-do-campo é descrita como rara e endêmica.
Preto, Correntina e São Desidério. Depois aparecem Nova
Ubiratã e Brasnorte, no Mato
Grosso. As cidades goianas
que mais desmataram o Cerrado foram Iaciara, Nova Crixás
e São Miguel do Araguaia.
“O desmatamento do Cerrado fragmenta as paisagens,
com impactos sensíveis sobre
a biodiversidade”, diz o coordenador do Lapig, professor
Laerte Guimarães Ferreira. A
fragmentação provoca impactos severos sobre os recursos
hídricos. O laboratório da UFG
detalhou a situação da cobertura vegetal nas microbacias
hidrográficas do Cerrado. Em
146 das 15,6 mil microbacias
identificadas, o desmatamento é de 100%. Esses cursos
d’água, portanto, estão integralmente desprotegidos.
Em outras 3,1 mil microbacias (20% do total), a conversão parapastagens e agricultu-
Presidente: Jaime Câmara Júnior
Diretores: Tasso José Câmara, Marcos
Tadeu Câmara, Cristiano Roriz Câmara,
Guliver Augusto Leão, Ronaldo Borges
Ferrante, Luiz Fernando Rocha Lima,
Fátima Roriz e Breno Machado
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
ra já ultrapassou 70%. Sem a
cobertura vegetal, a infiltração de água no solo sofre redução,oque eleva deforma negativa a vazão dos rios. O Rio Tocantins, por exemplo, já tem
uma vazão 30% maior, conforme constatação do professor
MarcosHeil Costa,daUniversidade Federal de Viçosa (UFV).
O pico da vazão no rio, agora,
ocorre um mês mais cedo.
O solo também responde ao
atual ritmo de devastação. A
desertificação, com a conversão de solos antes produtivos
em bancos de areia, é uma realidade em Goiás. Cerca de 7,5
mil hectares já estão desertificados, em Mineiros e Serranópolis. São 75 quilômetros quadrados que viraram areia.
“Adesertificaçãono CentroOeste é induzida. As terras são
degradadas pelouso inadequado dos solos e dos recursos hídricos”, diz a geógrafa Selma
Coordenação editorial:
João Unes, Cileide Alves
e Silvana Bittencourt
Projeto gráfico:
André Rodrigues
Simões de Castro, professora
do doutoradoem Ciências Ambientais da UFG. Selma calculou o tamanho da área desertificada em Goiás e realizou um
prognóstico para o bioma. Se
o atual ritmo de devastação e
uso do solo permanecer, a desertificação pode atingir 14%
da área do Cerrado.
A formação de bancos de
areia é relativamente rápida e
recente,o que mostra o uso inadequado do solo. Em Mineiros, os primeiros areais surgiram em 2000. Em Serranópolis, a conversão de matas em
plantações de soja, feijão, arroz e cana desertificou fazendas a partir de meados da década de 80. “O Cerrado está incluído nas áreas de risco de desertificação. Até 2050, o que é
subúmido seco pode se trans-
formar em semiárido”, reforça
José Roberto de Lima, coordenador do Programa de Ação
Nacional de Combate à Desertificação do MMA.
A cana contribui para o processo. A Conservação Internacional, em pesquisa recente,
constatou que a matéria-prima do etanol já avançou por
200 mil hectares (2 mil quilômetros quadrados) de Cerrado, entre 2003 e 2008. Até
2035, serão pelo menos mais
61,3 mil hectares ocupados pela cana, segundo estudo do
professor Nilson Ferreira, do
Lapig. Quase 2 milhões de hectares ocupados pela agricultura e por pastagens também cederão espaço à cana. “A tendência é que a agricultura ocupe mais áreas remanescentes
do bioma”, diz o professor.
PROJETOS PODEM SER DECISIVOS AO
BIOMA. PARA O BEM E PARA O MAL
O Cerrado está no centro do debate legislativo. Um projeto na
Câmara dos Deputados tenta alterar a lei para preservar o
bioma. Existente desde 1995, uma proposta de emenda à
Constituição (PEC) tenta incluir o Cerrado e a Caatinga entre os
biomas considerados patrimônios nacionais. Por falta de
acordo, a PEC – pronta para entrar na pauta do plenário desde
2006 – ainda não foi votada. Já as propostas de mudança do
Código Florestal Brasileiro são criticadas por ambientalistas e
defendidas pela bancada ruralista.
Edição: Rodrigo Hirose
Reportagem e textos: Vinícius Sassine
Fotos: Weimer Carvalho e pesquisadores*
Arte: Christie Queiroz, Adriana Mendonça
e Ricardo Rodrigues
* OPOPULAR agradece aos pesquisadores, autores dasfotos de
espécies publicadas,que enviaram as imagens devidamente
identificadas: Roberto Fontes Vieira e Phillipe Bucher, autores das fotos
deplantas, e Katia Kopp e Systema Naturae Consultoria, responsáveis
pelos animais. Fotos de Nunes d’Acosta,Adriano Gambarini e
Bertrando Campos foram retiradas de sites especializados.
239
CERRADO: O PATRIMÔNIO QUE RESISTE
Desconhecido e ameaçado
Vinicius Jorge Sassine
A contradição define o Cerrado, não só por sua peculiar condição ecológica. O patrimônio latente se opõe à devastação impiedosa. As descobertas científicas
– de novas espécies e de novas propriedades das plantas – contrastam com o ritmo de
desmatamento mais veloz do País. O incremento da renda local, a partir de iniciativas
de desenvolvimento sustentável, são a imagem oposta do crescimento econômico
ancorado em monoculturas e em extensas pastagens, a perder de vista, cuja existência não convive com o Cerrado em pé.
Dos laboratórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, surgiram informações sobre
um patrimônio ainda escondido, mas já intensamente procurado. O Cerrado tem 3,3
mil espécies de plantas com alguma substância que, se estudada, pode gerar renda.
São propriedades medicinais, cosméticas, aromáticas, alimentícias e ornamentais que
despertam, ao mesmo tempo, a atenção econômica de comunidades locais e de grandes indústrias, principalmente farmacêuticas e cosméticas.
No Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), a informação que surgiu é bem diferente. O último alerta de desmatamento do laboratório mostra que 23,4 mil quilômetros quadrados de Cerrado viraram pó. São 146,5 mil estádios do tamanho do Serra
Dourada, antes ocupados por uma rica matéria-prima, agora com 14% sob risco de
desertificação.
O POPULAR publica hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, um retrato dessa contradição. São pesquisas inéditas de diferentes instituições, um levantamento
do patrimônio genético e das espécies que só ocorrem no bioma, boas iniciativas de
uso sustentável e as perspectivas científicas para as próximas décadas. O Cerrado se
contradiz, cotidianamente, e paga-se um preço alto por isso.
Cobiçado por gigantes
Indústrias farmacêutica e de cosméticos travam disputa pelo patrimônio
genético do bioma
Há uma movimentação silenciosa de grandes indústrias, interessadas em
chegar cada vez mais perto do patrimônio genético do Cerrado. O barulho é mínimo,
mas a ofensiva é grande, com patrocínio de pesquisas e fomento ao comércio local de
plantas identificadas como ricas em propriedades medicinais, cosméticas e aromáticas, principalmente. O bioma é um fornecedor de matérias-primas disputadas, muitas
vezes, sem controle nenhum. Ao mesmo tempo, ainda é inexplorado: a ciência corre
contra a lógica da devastação acelerada.
Uma grande indústria farmacêutica compra de vendedores intermediários
a fava d’anta. O que a empresa procura é o alto teor de rutina da fava, descrita como
anti-hemorrágica. Uma outra indústria estava interessada no mulungu, mais especificamente em sua casca. O potencial medicinal da casca já foi descrito em diversos esPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
240
tudos. Para detalhar o potencial afrodisíaco do nó-de-cachorro, uma empresa financia
um projeto de pesquisa sobre a planta. Outro grupo compra a candeia porque descobriram a riqueza do alfa-bisabolol, presente no óleo extraído da planta. A substância
é matéria-prima para produtos de higiene infantis e para cremes indicados para peles
mais sensíveis.
Outras espécies têm uma riqueza genética variada que desperta a atenção
empresarial. É o caso do algodãozinho-do-cerrado, com incontáveis propriedades: é
um anti-inflamatório uterino e ovariano; é um depurativo do sangue; tem ação analgésica e antibactericida; e uma possível propriedade anticâncer é estudada em laboratórios. O barbatimão, conhecido cicatrizante, é vendido sem controle por intermediários entre as comunidades locais e as indústrias. É impossível mensurar o volume
comercializado da planta medicinal mais conhecida do Cerrado.
“Nossas matérias-primas são vendidas sem valor agregado nenhum”, afirma Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Recursos Genéticos e Biotecnologia, sediada em Brasília (DF). Roberto
coordena o projeto Plantas do Futuro, que relacionou as milhares de plantas do Cerrado com algum potencial genético e econômico a ser estudado. “Não há uma estrutura
organizada para o fornecimento da matéria-prima. Falta controle”, afirma.
Roberto Fontes diz que é muito raro uma indústria farmacêutica ou de
produtos cosméticos procurar a Embrapa para ter acesso ao patrimônio genético das
plantas do Cerrado. “São muito difíceis as negociações com as empresas, que sublocam as comunidades locais para fazer o trabalho de campo.”
A desigual relação entre iniciativa privada, institutos de pesquisa e comunidades locais é apenas um dos problemas para a garantia e uso dos recursos genéticos do Cerrado. O desmatamento acelerado está interrompendo algumas pesquisas.
Já houve casos em que a planta foi mapeada, com todas as suas propriedades químicas descritas, e depois os pesquisadores não encontraram as espécies para a extração
da matéria-prima.
“É uma pena e um apelo precisa ser colocado: necessitamos de projetos
mais arrojados, porque essas plantas estão desaparecendo cada vez mais rápido,
junto com o avanço das fronteiras agrícolas. É uma corrida contra o tempo”, ressalta
Roberto Fontes. No Centro-Oeste, 700 espécies foram descritas como medicinais e
outras 800 como ornamentais.
Espécies exclusivas, raras e insistentes
As armadilhas fotográficas dos pesquisadores fizeram um registro surpreendente – quando se leva em conta o local do registro, a palavra “surpreendente” é
desprovida de qualquer exagero. Em 11 fragmentos de vegetação ao longo do Rio
Araguaia, principalmente na região de Aruanã, 44 dispositivos foram espalhados para
analisar a presença da onça-pintada nessa região de Cerrado. Não só as onças foram
fotografadas, mas também 15 espécies de presas dos animais, de médio e grande
porte.
“Os resultados preliminares indicam que os fragmentos ainda possuem
qualidade suficiente para a manutenção de espécies com altas exigências ecológicas,
como a própria onça-pintada”, concluem os pesquisadores responsáveis pelo experiPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
241
mento, Analice Maria Calaça e Fabiano Rodrigues de Melo, da Universidade Federal de
Goiás (UFG). Ao longo do Rio Araguaia, restaram apenas fragmentos de vegetação. Na
região do Alto e Médio Araguaia, 62% da cobertura de Cerrado já foram devastados.
Mesmo assim, a fauna – incluindo a mais exigente, em termos ecológicos – resiste à
perda de espaço.
Uma prova incontestável da riqueza da biodiversidade no Cerrado é o endemismo de boa parte das espécies. São espécies que só são encontradas no bioma,
em razão das condições de clima, vegetação e localização geográfica. É nesta direção
que boa parte dos pesquisadores vem atuando, na tentativa de mobilizar a comunidade científica, as comunidades locais e o poder público quanto à importância da
preservação do bioma.
As aves têm ocorrência expressiva de endemismo. Em todo o Cerrado, estão registradas 850 espécies. Mais 65 não estão relacionadas na literatura especializada e, assim que isso ocorrer, devem aumentar a lista. Pelo menos 4% de todas essas
espécies são endêmicas, só existem no bioma. Os pesquisadores já sabem quais são
os chamados centros de endemismo das aves: Cadeia do Espinhaço (Minas Gerais e
Bahia), Vão do Paranã (Goiás e Tocantins), Vale do Araguaia (Mato Grosso, Tocantins e
leste do Pará), Chapada dos Veadeiros (nordeste de Goiás) e região de Cristalina (ao
sul do Distrito Federal).
No caso dos répteis, em especial dos lagartos, a proporção de espécies
endêmicas é bem maior: 45%. Novas descobertas são registradas a cada ano, mesma
realidade dos anfíbios (50% de endemismo). Nos últimos 20 anos, 340 novas espécies
de vertebrados foram descritas por pesquisadores no Cerrado. A quantidade corresponde a um quarto de todos os vertebrados descobertos no País no mesmo período.
“Existe uma tendência de que as novas espécies descritas no Cerrado sejam endêmicas ou mesmo de formas de distribuição restrita”, conclui uma pesquisa
da organização não-governamental (ONG) Conservação Internacional. “É possível que
uma parcela importante das espécies descritas recentemente já esteja sofrendo efeitos bastante severos das perdas de habitat, gerando sérias ameaças à riqueza biológica das savanas do Brasil Central.”
Na pesquisa, a Conservação Internacional estimou perdas de espécies –
entre elas as endêmicas – em dois cenários: no primeiro, leva-se em conta o atual
estágio de ocupação do Cerrado (de 40% a 50% já foram desmatados), e, no segundo,
a perda vegetal permitida pelo Código Florestal Brasileiro (ocupação de até 75% pela
agricultura e pela pecuária). Das 1.325 espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos
descritas, 168 (12,6%) deixariam de existir no primeiro cenário e 315 (23,7%) no segundo cenário. As maiores perdas se dariam entre anfíbios e aves.
Os pesquisadores da Conservação Internacional concluem que a biodiversidade do Cerrado tem três características que a diferenciam: “alta riqueza”, “grande
endemismo” e “grande heterogeneidade espacial”. Mas essa peculiaridade corre riscos. “Avanços na ocupação do espaço por atividades antrópicas poderão causar a perda de espécies, caso medidas compensatórias não sejam adotadas.”
Morte de raízes diminui capacidade de drenagem de CO2
O Cerrado é um importante dreno de carbono, em razão das raízes profundas das plantas. Essa peculiaridade, porém, não garante ao bioma a condição de
242
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
sumidouro pleno de CO2, determinante para as mudanças climáticas. Pelo contrário:
a devastação gera uma emissão que vale por quatro. Libera-se o carbono do solo, da
parte subterrânea das plantas e da estrutura exposta. O CO2 não é retido porque as
raízes não vivem mais.
A professora Mercedes Bustamante, que faz suas pesquisas no Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (Unb) e que coordena a área científica do projeto ComCerrado, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), quantificou
essas emissões. A chamada biomassa aérea, desmatada, gera 55 toneladas de CO2 e
equivalentes por hectare, por 100 anos. A biomassa subterrânea, mais 35 toneladas. O
solo, outras 110 toneladas. Ao todo, são 220 toneladas de CO2 por hectare. “Se os intervalos de desmatamentos e queimadas são mais longos, o Cerrado funciona como
um dreno de carbono”, diz Mercedes.
Situação-limite na emissão de CO2: cerrado responde por 25% no País
“Chegamos literalmente ao limite.” Assim o professor Manuel Ferreira, que
conduz pesquisas sobre o ciclo do carbono no Cerrado para um pós-doutorado nos
Estados Unidos, define o nível a que se chegou a conversão de plantas em CO2. “A
partir de agora, estamos comprometendo seriamente a biodiversidade, os recursos
hídricos e o clima de toda a região.”
Os cientistas já sabem que o Cerrado é responsável por, pelo menos, 25%
das emissões brasileiras de carbono. Em 40 anos de devastação, o bioma contribuiu
com uma emissão de CO2 que equivale à metade das emissões na Amazônia brasileira. “A manutenção da cobertura nativa garante o equilíbrio no balanço de carbono na
natureza, diferente dos demais usos da terra”, ressalta Manuel Ferreira.
Fogo, antes essencial
A vida no Cerrado, dentre os biomas brasileiros, é a que melhor convive
com o fogo. Os ciclos de vida das plantas dependem desse elemento, mas não da forma como hoje é praticado. Nos últimos 365 dias, os satélites captaram mais de 18 mil
focos de calor em todo o Cerrado, uma quantidade incompatível com a vida.
Ao analisar onde estão acontecendo esses incêndios, os pesquisadores
descobriram que 4,5 mil focos foram registrados a menos de dois quilômetros de
áreas desmatadas. O fogo consome as formações savânicas, que são a identidade do
Cerrado.
Perda de vegetação, cidades pobres, riqueza concentrada
Um mito persiste, mesmo com o desmentido científico: a abertura de vastas áreas para a monocultura e para a pecuária, mesmo com a perda da biodiversidade, é garantia de desenvolvimento econômico, como se sustenta há 40 anos. Se o
desenvolvimento for encarado como a geração de riqueza para comunidades locais,
com melhoria dos principais indicadores sociais e econômicos, o desmatamento não
gera nem distribui renda. É o que provaram os pesquisadores goianos Pedro Novaes,
Fábio Lobo e Manuel Ferreira, ao compararem o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios goianos e os índices municipais de devastação do Cerrado.
Boa parte dos 30 municípios com menor PIB em Goiás apresenta significaPRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
243
tivas perdas ambientais. “Muitos desmatamentos são realizados sem qualquer ganho
socioeconômico”, concluem os pesquisadores. Eles citam as cidades de Santo Antônio
de Goiás (com apenas 8,28% de vegetação nativa), Caldazinha (7,39%), São Patrício
(6,66%), Jesúpolis (4,76%), Aloândia (0,96%) e Adelândia (0,95%), todos com perda de
biodiversidade quase total e, mesmo assim, entre os municípios mais pobres do Estado.
Comunidades locais extraem renda da biodiversidade
As comunidades tradicionais têm as principais respostas que grandes indústrias farmacêuticas, alimentícias e de produtos cosméticos e aromáticos procuram. Os
grupos locais sabem muito, já exploram a biodiversidade do Cerrado e fazem isso de
forma sustentável. Nas regiões onde ainda resta mata nativa, os resultados econômicos
aparecem, com incrementos de renda para pequenos produtores.
Agricultores de Diorama e região, por exemplo, fornecem seus produtos fitoterápicos para postos de saúde de seis municípios goianos, tudo pelo Sistema Único
de Saúde (SUS). São 22 fórmulas, elaboradas com plantas do Cerrado que têm propriedades medicinais, utilizadas em produtos líquidos e pomadas. No atendimento básico
de saúde da região, portanto, o conhecimento local está presente.
O trabalho do Centro de Tecnologia Agroecológica de Pequenos Agricultores (Agrotec) não se restringe à produção farmacêutica. Os 15 agricultores envolvidos
fabricam barrinhas de cereal com a semente do baru, produzem farinha da polpa do
jatobá e desidratam o cajuzinho para que sirva de ingrediente na preparação de alimentos. Do quebra-pedra é extraído um óleo que serve de base para algumas das pomadas
fornecidas aos postos de saúde.
“Trabalhamos com o que já tem validação científica comprovada”, afirma
o diretor-presidente da Agrotec, Antônio Carlos da Costa. O excedente da produção é
encaminhado à Central do Cerrado, sediada em Brasília e com mais de 30 produtores
associados, de seis Estados. A central é mais uma entidade especializada em aproveitar
a potencialidade econômica do Cerrado de forma sustentável e local. Sua função é identificar mercados, comercializar os produtos, torná-los vendáveis. E vem dando certo.
“Já atendemos o mercado internacional. A Itália compra o óleo de babaçu e
a castanha do baru. Os Estados Unidos, o pequi e o artesanato do capim-dourado”, diz
Paulo Henrique de Morais, responsável pela área de comercialização e vendas da Central do Cerrado. Grandes cozinhas de São Paulo compram o óleo de pequi da central. A
indústria de cosméticos adquire os óleos do buriti e da macaúba. “O interesse é grande
por matérias-primas diferentes, que agreguem valor aos produtos”, afirma Paulo.
Ele cita uma empresa norte-americana, que compra o óleo de babaçu para
fabricar produtos vendidos a países da América Central e da Europa. Nas regiões de
Cerrado, a produção também existe, pelos próprios associados da central, inclusive em
larga escala. Isso já ocorre com a fabricação de sabonetes e loções para a pele à base
do óleo de babaçu. Testes começam a ser feitos com a macaúba, para a produção de
biodiesel.
A Agrotec e a Central do Cerrado são financiadas pelo Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-Ecos), com recursos do Fundo para o Ambiente Global das
Nações Unidas. O programa está no Brasil há 14 anos e é coordenado pelo Instituto
Sociedade, População e Natureza (ISPN). Vinte e sete associações comunitárias estão
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
244
aplicando os recursos no extrativismo de plantas medicinais, na troca de sementes, no
artesanato com produtos nativos e no aproveitamento de frutas típicas para a produção de doces, geleias e castanhas torradas.
se acelere
Especialistas alertam: tendência é que destruição da biodiversidade
Patrimônio dilapidado, os olhos se voltam ao que resta de Cerrado em pé.
E os prognósticos são desanimadores. Pesquisas inéditas a que O POPULAR teve acesso fazem um minucioso mapeamento da devastação do bioma e projetam o que deve
ocorrer com a metade da vegetação que ainda resiste. Os estudos se concentram no
fenômeno da desertificação, na penetração da cana-de-açúcar e no desmatamento,
exatamente as grandes e vigentes ameaças ao bioma.
A devastação avança num ritmo acelerado, como mostram os alertas do
Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
O último alerta, inédito, não deixa dúvidas sobre a agressão ambiental. Entre 2002 e
2008, o desmatamento consumiu 23,44 mil quilômetros quadrados do bioma. No perído de 2003 a 2007, analisado no penúltimo alerta, a devastação consumiu 18,9 mil
quilômetros quadrados.
Os maiores desmatadores são Mato Grosso, Bahia, Goiás, Tocantins e Minas Gerais, nesta ordem. Os cinco respondem por 74% da área desmatada nos últimos
sete anos. Mato Grosso é o líder absoluto, com mais de 7 mil quilômetros quadrados. Em Goiás, foram 2,53 mil quilômetros quadrados. Três cidades da Bahia lideram
o ranking dos mais devastadores: Formosa do Rio Preto, Correntina e São Desidério.
Depois aparecem Nova Ubiratã e Brasnorte, no Mato Grosso. As cidades goianas que
mais desmataram o Cerrado foram Iaciara, Nova Crixás e São Miguel do Araguaia.
“O desmatamento do Cerrado fragmenta as paisagens, com impactos sensíveis sobre a biodiversidade”, diz o coordenador do Lapig, professor Laerte Guimarães Ferreira. A fragmentação provoca impactos severos sobre os recursos hídricos. O
laboratório da UFG detalhou a situação da cobertura vegetal nas microbacias hidrográficas do Cerrado. Em 146 das 15,6 mil microbacias identificadas, o desmatamento
é de 100%. Esses cursos d’água, portanto, estão integralmente desprotegidos.
Em outras 3,1 mil microbacias (20% do total), a conversão para pastagens
e agricultura já ultrapassou 70%. Sem a cobertura vegetal, a infiltração de água no
solo sofre redução, o que eleva de forma negativa a vazão dos rios. O Rio Tocantins,
por exemplo, já tem uma vazão 30% maior, conforme constatação do professor Marcos Heil Costa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O pico da vazão no rio, agora,
ocorre um mês mais cedo.
O solo também responde ao atual ritmo de devastação. A desertificação,
com a conversão de solos antes produtivos em bancos de areia, é uma realidade em
Goiás. Cerca de 7,5 mil hectares já estão desertificados, em Mineiros e Serranópolis.
São 75 quilômetros quadrados que viraram areia.
“A desertificação no Centro-Oeste é induzida. As terras são degradadas
pelo uso inadequado dos solos e dos recursos hídricos”, diz a geógrafa Selma Simões
de Castro, professora do doutorado em Ciências Ambientais da UFG. Selma calculou o
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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tamanho da área desertificada em Goiás e realizou um prognóstico para o bioma. Se
o atual ritmo de devastação e uso do solo permanecer, a desertificação pode atingir
14% da área do Cerrado.
A formação de bancos de areia é relativamente rápida e recente, o que
mostra o uso inadequado do solo. Em Mineiros, os primeiros areais surgiram em 2000.
Em Serranópolis, a conversão de matas em plantações de soja, feijão, arroz e cana desertificou fazendas a partir de meados da década de 80. “O Cerrado está incluído nas
áreas de risco de desertificação. Até 2050, o que é subúmido seco pode se transformar
em semiárido”, reforça José Roberto de Lima, coordenador do Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação do MMA.
A cana contribui para o processo. A Conservação Internacional, em pesquisa recente, constatou que a matéria-prima do etanol já avançou por 200 mil hectares (2 mil quilômetros quadrados) de Cerrado, entre 2003 e 2008. Até 2035, serão
pelo menos mais 61,3 mil hectares ocupados pela cana, segundo estudo do professor
Nilson Ferreira, do Lapig. Quase 2 milhões de hectares ocupados pela agricultura e
por pastagens também cederão espaço à cana. “A tendência é que a agricultura ocupe
mais áreas remanescentes do bioma”, diz o professor.
Projetos podem ser decisivos ao bioma. Para o bem e para o mal
O Cerrado está no centro do debate legislativo. Um projeto na Câmara dos
Deputados tenta alterar a lei para preservar o bioma. Existente desde 1995, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) tenta incluir o Cerrado e a Caatinga entre os
biomas considerados patrimônios nacionais. Por falta de acordo, a PEC – pronta para
entrar na pauta do plenário desde 2006 – ainda não foi votada. Já as propostas de
mudança do Código Florestal Brasileiro são criticadas por ambientalistas e defendidas
pela bancada ruralista.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Modalidade
Imprensa Televisão
Projeto:
Central do Cerrado
Premiado:
Programa Ação - TV Globo
APRESENTAÇÃO:
Com estréia em 1999, o Programa Ação tem por objetivo mostrar a iniciativa de pessoas e empresas que emprestam sua experiência profissional e doam seu
tempo para ajudar na construção de um futuro melhor. Apresentado por Serginho
Groisman, o programa surgiu como um projeto do Brasil 500 anos promovido pela
rede Globo, mas se fixou na grade pelo seu conteúdo educativo. O programa Ação
pode ser visto aos sábados na Rede Globo às 7 horas e 40 minutos, com reprise no
canal Futura aos sábados às 13 horas.
No programa do dia 11 de abril de 2009, a “Central do Cerrado”, uma iniciativa sem fins lucrativos, apresentou sua iniciativa de integrar comunidades que vivem
no Cerrado ao Meio Ambiente sustentável.
A equipe do Programa Ação que trabalhou no programa sobre o Cerrado
brasileiro foi:
Serginho Groisman - apresentador
Lúcia Sant’Anna – editora executiva
Aline Almeida – produção e edição
Marco Gudolle – produção e edição
Marina Mantovani – produção e edição
Virgínia Queiroz – produção e edição
Evani Viali – editora de internet
Edson Santos – imagem
Edvaldo Simão – assistente de imagens
Toninho Asa – edição e finalização
Luís Inácio Bezerra – áudio
Alexandre Ferracini – operador de câmera
André Pequeno – operador de câmera
Flávio Garilli – operador de câmera
Andressa Pelachi – assistente de estúdio
William Angel – iluminação
Marcelo Eddie – direção de imagens
Odair Auger – videografismo
Ricardo Meneghello – arte
Kiko Martins Dias – ilustrador chefe
Andrei Jiro – gerente de ilustração e arte
Milton Encarnação – supervisão de operações
Fernando Gueiros – gerente de operações
Cristina Piasentini – diretora de jornalismo – SP
Renato Ribeiro – diretor de jornalismo – RJ
Ali Kamel – diretor executivo de jornalismo
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Programa Ação – Central do Cerrado
Apresentador – Abertura do programa:
Oi! No programa de hoje um projeto de uso sustentável do cerrado brasileiro. Milhares de famílias vivem em harmonia com a natureza. O sustento e a renda
vêm da agricultura e do meio ambiente. O projeto atua em seis estados; moradores
exploram a vegetação nativa sem agredir o meio ambiente. O cerrado é rico em frutas,
fibras, sementes e plantas.
Apresentador – Chamada de matérias do programa do dia:
A produção de fitoterápicos distribuídos pelo SUS, cosméticos fabricados
com o óleo de coco da guariroba, dutos agroecológicos vão direto da horta para a
fábrica de conserva.
Uma associação de agricultores de Goiás faz uma experiência inédita de
aproveitamento dos recursos naturais do Cerrado. A AGROTEC atua em várias frentes
produz até remédios distribuídos pelo Ministério da Saúde em 6 cidades do estado.
Vamos lá ver.
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Diorama – GO:
Apresentador em off:
Diorama fica no oeste de Goiás, a 250
quilômetros de Goiânia. A população
já se acostumou com o uso dos remédios fitoterápicos receitados no posto
de saúde.
Rafael Ferreira Silva – médico do programa Saúde da Família de Diorama,
clínico geral: “O paciente já chega:
doutor, eu vim aqui porque eu quero os medicamentos da planta. Então você vê que
tem resultados.”
Valdivino José dos Reis – agricultor: “Olha o que eu posso dizer pra você
que eu achei vantagem, muito melhor, porque eu já tava cansado, fui lá, foi beleza, os
remédios de lá foi bom mesmo. Não só pra mim mas como pela minha família que
usou, foi bom demais.”
Voz em off do apresentador:
Os fitoterápicos distribuídos pelo SUS são produzidos na Associação
AGROTEC. Quatorze agricultores se revezam no cultivo de ervas medicinais, na produção dos remédios, manejo de animais e venda de produtos alimentícios.
Solange Santos Castro
(agricultora familiar): “Foi um projeto
que a gente elaborou através de um
programa de governo e que foi aprovado esse projeto para produção de
medicamentos fitoterápicos, mas ligado a agricultura familiar e amparado também com o protocolo. E a gente foi amparado nesse protocolo pra
estar subsidiando os municípios envolvidos nesse programa para entrega dos medicamentos fitoterápicos.”
cinco anos.
Voz em off do apresentador:
Helena trabalha na colheita e na secagem das plantas. Está no grupo há
Helena Joana de Jesus (trabalha com colheita e secagem das plantas): “Eu
não conhecia muito das plantas, e quando eu vim pra cá eu aprendi que a gente pode
sobreviver só das plantas sem precisar tomar remédios químicos, você pode ter uma
saúde bem melhor.”
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Voz em off do apresentador:
Carlos sabe bem como fazer uso das plantas...
Antônio Carlos da Costa: “Esse é o passiflora incarnata, é uma espécie de
maracujá pra uso medicinal na forma de calmante. Aqui nós temos a equinácia púrpura e entra no medicamento de reforço imunológico, aqui nós temos o confrei que
entra na composição de pomadas, cicatrizantes, antiinflamatórios e aqui a alpine especiose entra no tratamento de hipertensão.”
Voz em off do apresentador:
No laboratório, o que vem da horta se transforma...
Polliana Conceição Garcia (farmacêutica bioquímica): “Nós temos a produção de plantas secas que vem lá da lavoura, já a planta desidratada, seca. Temos
também a produção de óleo essencial que a gente faz a recepção dessa matéria prima
aqui no laboratório. A gente tem hoje 22 fórmulas que atendem várias patologias.”
Voz em off do apresentador:
Os alimentos também são poderosos remédios. Josefina prepara pães, doces, granolas e farinhas com os frutos do cerrado.
Josefina da Costa (agricultora associada): “O baru, ele é muito rico em proteínas. O jatobá também em proteínas, fibras, ferro. O baru também é energético, uma
série de coisas.”
Voz em off do apresentador:
Os produtos também complementam a renda das famílias.
Josefina da Costa: “A gente ainda tá com pequena escala, a gente tá tentando juntar produtos com outras comunidades, pra gente fazer uma escala maior
porque a gente ainda não tem demanda de toneladas.”
Voz em off do apresentador:
Para a manutenção das árvores nativas, o manejo de animais é muito eficiente. Os queixadas, uma espécie de porco do mato, foram escolhidos para realizar
essa função.
José Milton da Costa (associado): “Com a criação dos animais, vai dispersando as sementes. A criação aqui é semi-extensiva, com o trato também pra complementar a comida do cerrado, que também eles tiram do cerrado também.”
Voz em off do apresentador:
Além de proteger o cerrado, os animais podem ser vendidos como matrizes para outros produtores.
José Milton da Costa: “Aqui é legalizado pelo Ibama, com autorização do
Ibama. Por isso que a gente tá aqui com esse criadouro, pra enriquecer a natureza
também.”
Apresentador de volta ao estúdio:
Muito bem, aqui no estúdio está o Luís Roberto Carrazza, coordenador da
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PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Central do Cerrado, que reúne trinta organizações comunitárias. Muito obrigado por
ter vindo aqui. Eu gostaria de saber quando, ou melhor, onde começou este projeto e
quando e esta relação que vocês tem com a ONU.
Luís Roberto Carrazza:
“Tá ótimo. Bom Serginho, primeiro
é uma satisfação enorme estar aqui.
Quero agradecer a oportunidade e
a Central do Cerrado tem origem
no Programa de Pequenos Projetos Ecossociais, que é um programa
das Nações Unidas que acontece
em quase 130 países do mundo.
No Brasil ele acontece
há 14 anos e é coordenado por uma
organização não-governamental
em que eu trabalho, o ‘Instituto
Sociedade, População e Natureza’. E este programa apóia projetos comunitários que
conciliam conservação ambiental no cerrado com geração de renda, inclusão social e
segurança alimentar pras famílias, principalmente agricultores familiares e comunidades tradicionais no cerrado.
É importante dizer que o Programa de Pequenos Projetos Ecossociais, que
é o PPPECOS, ele concede pequenas doações para as comunidades estruturarem e
promoverem os meios de vida sustentáveis. Então, como a gente viu o caso da AGROTEC, são projetos que as pessoas conseguem combinar o convívio harmônico com o
cerrado com a geração de alimentos, com a geração de remédios e que no fim traz
melhoria de qualidade de vida para estas famílias com conservação ambiental.”
Serginho Groisman:
Agora, como é que estas comunidades são escolhidas?
Luís Roberto Carrazza: “Tá ok. Anualmente, o Programa de Pequenos Projetos lança um edital, então este edital é publicamente divulgado e ele é exclusivamente para organizações da sociedade civil. Então, associações, cooperativas, grupos
de trabalhadores rurais, ONGs e outras formas de organização da sociedade apresentam as propostas, existe o comitê de seleção, que é independente, não é do instituto.
O programa, ele tem financiamento do Fundo pro Meio Ambiente Mundial, a nível
global.
Então, o Brasil se enquadra na linha de conservação da biodiversidade. Então os projetos apoiados pelo Programa de Pequenos Projetos têm que gerar algum
tipo de impacto ambiental global e no caso do Brasil, grande parte dos projetos atendem à linha de biodiversidade. Exclusivamente no Brasil, nós temos o apoio também
da Comissão Européia que dá um complemento pra gente poder fazer um trabalho
de assessoria pras comunidades e organizar e poder fazer a parte técnica-administrativa do programa.”
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
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Serginho Groisman:
Muito bem! Bom, depois do intervalo, o óleo de guariroba, uma novidade
na indústria dos cosméticos. As mulheres apanham o coco no cerrado e retiram o óleo
usado na composição de diversos produtos. As famílias que vivem da agricultura orgânica. E a castanha do baru ganha reconhecimento internacional pelo valor nutritivo.
Ação volta já!
Segundo Bloco:
Serginho Groisman:
Ação de volta, hoje mostrando a produção sustentável no Cerrado brasileiro. Em Buriti de Goiás, um grupo de mulheres usa o conhecimento popular a favor
da beleza. Vamos ver!
Dona Aristela: “Boa tarde!
Nóis queria os cocos, você dá pra nós?”
Resposta: “Pode, pode pegar os cocos aí.”
Voz em off do apresentador:
As mulheres da associação
Pacarí coletam matéria prima em propriedades rurais, pastos e campos do
cerrado.
Aristela Aguiar (dona de
casa): “Esse aqui cura doença do rim,
tira até pedra. Um tio Abílio que ensinou isto. Um véio, muitos anos pra trás, ele foi no
mato e apanhou a folha, eu tava passando mal, apanhou a folha e trouxe pra mim, eu
usei e sarei. E eu ensino pra qualquer pessoa que tá passando mal.”
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Dona Aristela: “É bom pra infecção e pra uso ele como antibiótico. Pra tudo.”
PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE 2009
Voz em off do apresentador:
Elas têm o consentimento e a simpatia dos fazendeiros da região.
Valdir José da Cruz (proprietário rural): “Já é como uma reserva e elas tando coletando e fazendo a preservação também ajuda a gente a preservar esse meio
ambiente.”
Voz em off do apresentador:
Esse grupo de mulheres encontrou uma maneira de usar os saberes populares para produzir cosméticos e ganhar dinheiro.
Jaqueline Dias (agrônoma): Há 3 anos, 4 mais ou menos a gente iniciou
esse projeto de tá trazendo geração de renda pra essas mulheres. Então o cosmético
foi uma saída pra geração de trabalho e renda. Então a gente uniu o que a medicina
popular já experimenta em produtos que possam ser levados para o mercado em
produtos cosméticos.
Voz em off do apresentador:
O óleo da guariroba usado em vários cosméticos foi a grande descoberta
do grupo Pacari e é uma novidade no mercado.
Aledina (dona de casa): “O povo antigamente achava que tinha que tirar
pra cortar, comer o palmito. Agora não, a gente ta usando o óleo, e tá protegendo as
gueroba em pé.”
Voz em off do apresentador:
A castanha é processada em uma máquina que extrai o óleo usado no
hidratante para o corpo. O produto é preparado com uma base para cosméticos misturada com água, óleo essencial de alecrim e a guariroba.
Lourdes Cardoso Laureano (farmacêutica): “hoje a gente oferece essa loção que foi a nossa primeira formulação, um sabonete e o óleo. O próprio óleo que
ele em si é muito hidratante, é especialmente utilizado pra massagem corporal, ele
hidrata, e shampoo e condicionador.”
Gerais.
Voz em off do apresentador:
As fórmulas desenvolvidas pela associação são industrializadas em Minas
Loudes Cardoso Laureano: “extraímos o óleo em uma quantidade maior e
enviamos a formulação para uma fábrica em Juíz de Fora que tem todas as condições
sanitárias, legais, pra ela desenvolver o produto em uma escala industrial já e deu
certo.”
Voz em off do apresentador:
Para as mulheres do cerrado, o coco de guariroba tem 1001 utilidades.
Dona Maristela: “Nóis tá fazendo aqui um sabão da borra do óleo. E aí nos
faz com a borra do óleo e a diquada das cinzas, da casca do coquinho.”
Outra mulher: “A gente do coco aproveita tudo, e aí o farelinho da castanha a gente vai tirar e fazer um doce.”
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Dona Maristela: “Tudo que depende da gueroba nos aproveita tudinho.”
Apresentador no estúdio:
Puxa, que ótimo! Aqui no estúdio eu continuo conversando com o coordenador da Central do Cerrado, Luís Roberto Carrazza.
Bom, a gente viu aí essa maravilha da sabedoria popular aproveitando
e fazendo um trabalho sustentável também, de preservação e ao mesmo tempo de
aproveitamento geral. E você trouxe aqui alguns produtos que não são muito conhecidos no eixo mais do sul e do sudeste. Então, vamos por favor: aqui a gente tem os
bombons. De que eles são?
Luís Roberto Carrazza: “Aqui a gente tem bombom de buriti, bombom de
pequi, bombom de araticum, que é uma fruta também do cerrado. Aqui está o jatobá.
Pouca gente conhece o jatobá. A farinha de jatobá é rica, nutritiva, um produto com
potencial pra combate à anemia, super rica em algumas vitaminas. A gente tem o
mesocarpo de babaçu, que é a farinha do coco de babaçu.
Este trabalho aqui envolve as quebradeiras de coco, são centenas de milhares de mulheres que extraem o sustento e sua renda a partir do uso do coco do
babaçu e este produto aqui é incrivelmente nutritivo. Ele é super energético, super
vitamínico. Então, na Central do Cerrado, a gente está buscando, além de fazer a comercialização, promover estes produtos no mercado.
Para isso, nós utilizamos de algumas estratégias e em uma das estratégias,
a gente tá fazendo uma frente com restaurantes e com chefes de cozinhas de renome
que possam divulgar este produto nos cadernos de gastronomia, em palestras, nos
cardápios do restaurante e o desafio da Central além de fazer a promoção e a comercialização é ajudar as organizações a se estruturarem para o mercado de forma mais
planejada, de forma organizada, com logística. Então, tem toda uma logística complicada, que se não tivesse uma central de comercialização como a Central do Cerrado,
dificilmente este produto chegaria ao mercado e as pessoas não teriam acesso.”
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Serginho Groisman:
A agricultura familiar orgânica é fonte de renda para os moradores da zona
rural de Pirenópolis, Goiás. Vamos lá, vamos ver.
Voz em off do apresentador:
Há mais de vinte anos, seu
Biel não come e nem planta nada que
não seja orgânico. Ele tem lá suas razões...
Gabriel de Mesquita (agricultor): “Seria na questão de respeitar o
meio ambiente, que a gente tá vendo o
que tá acontecendo com a natureza, e
por outro lado a forma dos alimentos,
que tão sentindo que os alimentos que
a gente produz nessa forma aqui, além
de ser mais saudável, tão falando que é mais gostoso.”
Voz em off do apresentador:
A agricultura familiar de subsistência transformou-se em um projeto de
vida. É a Associação Promessa de Futuro, que beneficiou outras famílias da região.
Maria Albertina de Freitas Mesquita (presidente da Ass. Promessa de Futuro): “Nós paramos e pensamos que antigamente meu pai, meus avós, plantavam praticamente tudo. O princípio do projeto foi esse. Depois acabou a gente se juntando e
até dá pra comercializar de tudo um pouco: por exemplo as frutas do cerrado, a gente
começou a aproveitar, que não aproveitava.
Voz em off do apresentador:
O grupo produz e vende
uma grande variedade de produtos
alimentícios.
Érica Daniele de Mesquita
(agricultora): “A gente trabalha com
geléias e picles. Aí tem o baru, o hibiscos e feijão azuki, sendo que os picles
são quatro variedades e geléias são
seis.”
Voz em off do apresentador:
Da lavoura, os legumes vão direto para a mini-fábrica. Recebem tratamentos especiais e se transformam em conservas.
Dona Maria: “Dá uma limpezinha, tira assim alguma coisinha pretinha que
tem aqui assim e é só. Depois leva lá na água quente, joga ele lá, ele não fica nem um
minuto lá não, senão ele fica molinho.”
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Voz em off do apresentador:
As conservas são preparadas com cuidado. Os legumes recebem um choque de água quente e fria. Depois, são colocados um a um dentro dos vidros. São
temperados com uma calda de vinagre, água e especiarias.
Leosina: “Dá um pouquinho de trabalho, mas a gente acostuma né?”
Voz em off do apresentador:
Muito representativa para as comunidades do Centro-Oeste, a castanha
do baru tem alto valor valor nutricional. É rica em fósforo, cálcio e manganês. Em 2008,
o grupo Promessa de Futuro foi convidado a participar de uma feira de slow food na
Itália.
Erica Daniele de Mesquita: “Aí esse baru a vácuo foi desenvolvido pra essa
feira. A gente fez um rótulo em inglês pra levar e tal...”
Voz em off do apresentador:
O movimento slow food prega a alimentação consciente de produtos saudáveis. Está crescendo no mundo e tem muitos adeptos no Brasil.
Erica Daniele de Mesquita: “O que eles trabalham é justamente isso: o resgate desses produtos que estavam sendo meio perdido, correndo risco de extinção.
Eles trabalham justamente nisso, a continuidade desse trabalho, a continuação das
pessoas ficarem no campo, dar valor no nosso alimento, e a gente mesmo também,
não só pra venda mas também pro nosso consumo também.”
Maria Albertina de Freitas
Mesquita: “Se eu tivesse essa idéia mais
antes, talvez muita coisa eu tinha evitado. Que a gente trabalha com biodiversidade, respeitando o meio ambiente,
isso pra mim é que é o mais importante.”
Serginho Groisman de volta ao estúdio:
Muito bem, quando se fala
em preservação do meio ambiente e
em economia sustentável, acho que a gente acabou de ver um exemplo prático. Cabe
à gente ter a sabedoria e também uma visão mercadológica, de geração de emprego,
de geração de renda e os exemplos estão aí, não é isso?
Bom, da matéria que a gente acabou de ver, queria que você destacasse
um outro exemplo aqui.
Luís Roberto Carrazza: “Essa aqui é, vamos dizer assim, a vedete do cerrado. É a castanha de baru, a gente tá chamando de castanha do cerrado. É um produto
rico em proteína, delicioso para comer como aperitivo, ele tem um óleo polisaturado, bastante saudável. Nós precisamos capacitar e conscientizar nossa população e
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principalmente o brasileiro para os nossos produtos para a nossa diversidade, para a
nossa fauna, para a nossa flora.”
O apresentador:
Muito bem! Bom, na página do nosso programa estão outras informações
sobre a Central do Cerrado. O endereço é g1.com.br/acao.
Se você quiser sugerir uma reportagem, escreva para acao@redeglobo.
com.br.
Eu queria agradecer muito você ter vindo mesmo, parabenizar pelo trabalho, mandar um beijo e um abraço para todo mundo que produz, que são pessoas que
estão ligadas muito à natureza. Obrigado pela vinda aqui.
Luís Roberto Carrazza: “A gente que agradece, e é uma grande oportunidade da gente divulgar a nossa diversidade, o nosso saber popular, as nossas comunidades.”
O apresentador:
Muito bem! Agora eu gostaria que você deixasse a sua assinatura. Obrigado!
Bom, por hoje é só, semana que vêm a gente volta. Tchau, obrigado!
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