gordon lindsay

Transcrição

gordon lindsay
Série heróis do Antigo Testamento Retratos dos personagens notáveis
Volume 2
GORDON LINDSAY
L748e
Lindsay, Gordon, 1906-1973
Enoque e Noé - Patriarcas do dilúvio/ Gordon Lindsay;
traduzido por Josué Ribeiro - Rio de Janeiro: Graça, 2001.
48 p.; 14x21 cm. - (Heróis do Antigo Testamento; vol.2)
ISBN 85-7343-546-1
Tradução de: Enoch and Noah - Patriarchs of the deluge
1. Enoque (Patriarca hebreu). 2. Noé (Patriarca hebreu). I. Título. II. Série.
CDD-222.11
Série heróis do Antigo Testamento Retratos dos personagens notáveis
Volume 2 GORDON LINDSAY
Traduzido por Josué Ribeiro
Editado pela Graça Artes Gráficas e Editora Ltda.
Graça Editorial
Rio de Janeiro, 2001[
Enoque e Noe
Patriarcas do dilúvio
© Gordon Lindsay, 1998
ORIGINAL:
"Enoch and Noah - Patriarchs of the deluge" Gordon Lindsay Christ for the Nations, Inc. P. O. Box 769000 Dallas,
Texas 75376-9000
Tradução:
Coordenação:
Revisão:
Original Prova Supervisão
Direção de Arte:
Diagramação:
Capa:
Graça Editorial
Design
Josué Ribeiro
Eber Cocarelí
Célia Cândido
Magdakna Bezerra Soares
Elaine Nascimento
Jonas Lemos
Uma Martins de Souza
Kleber Ribeiro Bruno Vieira
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SUMÁRIO
Capítulo 1
Enoque, o homem que andou com Deus ..........................5
Capítulo 2
Os filhos de Deus e as filhas dos homens........................11
Capítulo 3
O chamado de Noé..............................................................23
Capítulo 4
O dilúvio..............................................................................29
Capítulo 5 A dispensação do governo humano.................................35
Capítulo 6
Um resumo da vida de Noé...............................................43
Capítulo 1
ENOQUE, O HOMEM QUE ANDOU COM DEUS
E
andou
Enoque
com
Deus;
e
não
se
viu
mais,
porquanto
Deus
para
si
o
tomou.
Génesis 5.24
Ao considerarmos a história de Noé e sua época, é bom começarmos com seu bisavô, Enoque, o homem que
andou com Deus. Enoque é referido por Judas como o sétimo depois de Adão (v. 14) - sendo que sete é o número da
perfeição e realização.
O breve texto de Génesis mencionado é o único encontrado no Antigo Testamento sobre Enoque. Ele andou
com Deus, e Deus o tomou para si. Na mesma época em que a linhagem dos cananeus apostatava e o registro de suas
gerações era abruptamente interrompido, encontramos um homem que se separou do mal que havia ao redor e
escolheu andar com Deus.
Embora as informações sobre Enoque em Génesis sejam escassas, felizmente temos mais uma menção dele no
Livro de Judas, a qual embora também seja breve, acrescenta informações valiosas concernentes ao seu caráter
notável:
E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com
milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos c condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras
de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.
Judas 14,15
Há ainda mais uma referência a Enoque em Hebreus 11.5. O versículo diz que foi trasladado para não ver a
morte.
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Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
Elias também foi arrebatado para o céu, mas Enoque é o único homem de quem a Bíblia afirma que não viu a
morte, com exceção daqueles que estão em Cristo e permanecerem vivos no momento de Sua segunda vinda (1 Ts
4.13-17).
A trasladação de Enoque serviu, dentro do plano divino, a dois propósitos importantes. Primeiro, ele é uma
figura daqueles que serão trasladados no arrebatamento dos santos -um evento que ocorrerá pouco antes da vinda
visível de Cristo. O fato de que o arrebatamento das primícias dos santos ocorrerá antes da volta de Cristo é indicado
na profecia: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos (Jd 14b). E óbvio que o Senhor teria de vir para os
Seus santos para depois vir com eles! Em outro aspecto, Enoque é também uma figura das primícias do arrebatamento.
Ele foi tomado do mundo antes do juízo representado pelo dilúvio. Noé, por outro lado, ficou e superou-o, protegido
pela arca.
O que teria acontecido se Adão e Eva não tivessem pecado?
O segundo propósito divino na trasladação de Enoque foi que ele demonstrou o que teria ocorrido se Adão e
Eva não pecassem. A experiência de Enoque responde à pergunta feita com frequência: Adão e Eva teriam vivido para
sempre no corpo mortal, se não tivessem desobedecido a Deus? Obviamente, ambos não teriam morrido, embora
também não tivessem vivido perpetuamente em um corpo mortal com suas limitações físicas. Paulo fala do corpo
físico como corpo abatido (Fp 3.21). O corpo está sujeito à mortalidade e a degeneração, principalmente pelo fato de
ser feito de carne. O corpo humano foi criado com um propósito específico, e quando este propósito for realizado, ele
dará lugar ao corpo perfeito - um corpo como o do Senhor glorificado. Tudo isso é lindamente explicado em 1
Coríntios 15.45-50:
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Enoque, o homem que andou com Deus
Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante.
Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois, o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o
Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como
trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial. E, agora, digo isto, irmãos: que carne e sangue
não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção.
Carne e sangue não podem herdar o Reino eterno de Deus. Assim, a trasladação de Enoque foi uma
demonstração de como a existência de Adão e Eva teria terminado se não pecassem. Eles, provavelmente, seriam
levados por meio da trasladação, não pela morte. Se tivessem continuado a andar com Deus como Enoque fez, ao
deixar este mundo, teriam sido trasladados para o paraíso celestial, como Enoque, em vez de descer para a terra dos
mortos, o Sheol.
Enoque e seus contemporâneos
Enoque nasceu menos de 500 anos depois do nascimento de Sete. Entretanto, uma civilização antediluviana,
ímpia, já se tinha desenvolvido por meio de Caim, o qual, presume-se que ainda vivia naquela época. Adão foi
contemporâneo de Enoque durante a maior parte da vida deste, e Sete ainda viveu vários anos depois que Enoque foi
trasladado. Provavelmente, havia um bom relacionamento entre Adão, Sete e Enoque, o primeiro entregando a Enoque
a custódia das grandes verdades relacionadas às alianças edênica e adâmica. Como Adão e Sete já eram de idade
avançada, coube a Enoque assumir em sua geração a responsabilidade que Deus dera à linhagem de Sete.
Certamente, Adão e Eva devem ter sentido uma profunda tristeza ao observarem como tantos dos seus
descendentes
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Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
tinham apostatado e seguido os maus passos do filho primogénito deles. Caim, o assassino de Abel,
provavelmente, não mais gozou da comunhão com os pais. A civilização por ele fundada era mundana, materialista e
ímpia. Na época em que Enoque nasceu, a violência e o derramamento de sangue tomavam conta da Terra. Lameque,
contemporâneo de Enoque e o último patriarca da linhagem de Caim mencionado na Bíblia, orgulhava-se dos seus
crimes e, aparentemente, foi quem introduziu a poligamia, uma instituição que seria a fonte de muitos males para a
humanidade.
Como profeta de um juízo iminente, Enoque advertiu ousadamente o mundo antediluviano do castigo que se
aproximava. Embora o dilúvio ainda fosse demorar 600 anos, muitos dos que estavam vivos nos dias de Enoque ainda
estariam vivos, devido à longevidade dos homens naquela época.
A pregação direta de Enoque não foi bem aceita pelo povo e instigou intensa animosidade entre os
antediluvianos. O profeta denunciou com ousadia a impiedade dos seus dias e profetizou que o Senhor ia fazer juízo
contra todos e condenar, dentre eles, todos os ímpios por todas as suas obras de impiedade que cometeram e as duras
palavras que disseram contra Ele (Jd 15).
A impiedade era enorme e piorava rapidamente. O apóstolo Judas, que teve acesso a documentos que não
conhecemos, fornece-nos informações concernentes ao povo dos seus dias, os quais se assemelham aos antediluvianos:
Esíes são manchas em vossas festas de caridade, banqueteando-se convosco e apascentando-se a si mesmos sem temor;
são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas,
desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações, estrelas errantes, para os quais está
eternamente reservada a negrura das trevas.
Judas 12,13
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Enoque, o homem que andou com Deus
Essas palavras devem ter sido similares à linguagem empregada por Enoque ao dirigir-se aos ímpios da sua
época, pois Judas segue com a descrição do seu ministério. O profeta era um homem corajoso, pois em uma era de
violência como aquela, corria risco de vida ao censurar a maldade. Mesmo assim, é possível que as pessoas tivessem
medo de causar-lhe mal, pois suas ameaças nunca foram além das palavras.
Não devemos pensar que os antediluvianos fossem totalmente profanos, pois eles adoravam o Criador. Caim,
de fato, reconheceu a Deus e Lhe ofereceu uma oferta com as primícias dos seus frutos. Tal oferta, porém,
fundamentava-se na sua vontade própria. Caim ignorou ou rejeitou a exigência divina da redenção por meio do sangue.
A trasladação de Enoque, provavelmente, teve um efeito solene sobre o povo, embora tenha sido apenas
temporário; a corrupção da raça continuou em seu passo acelerado. A reação do povo, aparentemente, não foi diferente
daquela que se seguiu à trasladação de Elias. Os jovens de Betei, em vez de ficarem maravilhados com a tremenda
revelação do poder divino, saíram e zombaram de Eliseu, o profeta sucessor de Elias, dizendo: Sobe, calvo, sobe,
calvo! (2 Rs 2.23b). Tal atitude, evidentemente, era uma blasfémia contra a trasladação de Elias. Indica que, no
arrebatamento dos santos, evento que deveríamos supor que causará um efeito solene sobre os ímpios, pelo contrário,
será ocasião de zombaria por parte de uns e de racionalização por parte de outros.
Há mais referência importante relacionada a Enoque:
Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como,
antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus. Hebreus 11.5
No versículo acima, temos a declaração de que pela fé, Enoque foi trasladado. Muitas questões têm sido
levantadas com relação às qualificações daqueles que participarão do arrebatamento.
'i
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
Certamente, uma delas é a fé. Pela fé, os santos serão trasladados para não verem a morte.
Enoque não foi achado porque Deus o trasladara. Talvez, grupos de busca tenham sido formados para
localizá-lo ou descobrir o que lhe acontecera, assim como os profetas fizeram quando Elias foi trasladado (2 Rs
2.17,17). Entretanto, ele não foi encontrado, porque Deus o trasladara.
Enoque deu testemunho que agradou a Deus. Há somente uma forma de agradar a Deus: fazer coisas que são
agradáveis aos Seus olhos. Qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus
mandamentos e fazemos o que é agradável a sua vista (1 Jo 3.22).
Como o grande profeta do período antediluviano, Enoque previu eventos que ocorreriam no final da nossa era,
inclusive, a vinda do Senhor com milhares dos seus santos (Jd 14). Sua própria trasladação ocorreu 69 anos antes do
nascimento de Noé, um homem que também andaria com Deus e que, como pregoeiro da justiça (2 Pe 2.5), levaria
adiante o seu ministério.
Capítulo 2
OS FILHOS DE DEUS E AS FILHAS DOS HOMENS
Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram fará si mulheres de todas as que
escolheram [...] Havia, naqueles dias, gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos
homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama.
Génesis 6.2,4
Para compreender o significado dos eventos que levaram ao dilúvio e o papel que Noé desempenhou neles, é
necessário considerar o significado dessa passagem, talvez, a mais controvertida de toda a Bíblia. Referimo-nos à
identidade dos filhos de Deus mencionados no segundo versículo. Existem duas explicações principais. A primeira os
identifica como seres angelicais caídos, que se casaram com as filhas dos homens; é notável o número de especialistas
que adotam essa visão, o que indica que ela tem um apelo popular incomum.
A segunda adota a visão de que os versículos acima indicam os casamentos mistos entre membros da linhagem
piedosa de Sete e a linhagem de Caim. Em qualquer um dos dois casos, o resultado foi uma descendência impiedosa,
cujas obras malignas resultaram no julgamento do dilúvio.
A explicação dos filhos de Deus e filhas dos homens como anjos-homens
Cremos que a segunda visão é a mais correta. Entretanto, desde que muitos comentaristas respeitados
sustentam a crença de que eram anjos caídos que coabitaram com as filhas dos homens, estamos citando um trecho da obra
Dispensational truths [Verdades da dispensação], de Clarence Larkin, a qual consideramos representar o mais forte argumento
para essa posição. Larkin diz:
Assim, os filhos de Deus de Génesis 6.2,4 não podiam ser os filhos de Sete, como alguns afirmam, porque os filhos de
Sete eram somente homens, e podiam ser chamados apenas de filhos dos homens e não filhos de Deus. No meio da civilização
ímpia, ocorreu um evento surpreendente: Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si
mulheres de todas as que escolheram (Gn 6.2).
A relação polígama não foi entre os filhos de Sete e as filhas de Caim, uma mistura de pessoas piedosas e ímpias, como
alguns supõem, mas tinha um significado muito mais profundo. A expressão filhas dos homens inclui filhas de Sete bem como as
filhas de Caim; então, a expressão filhos de Deus deve significar seres diferentes da raça humana.
O título filhos de Deus não tem, no Antigo Testamento, o mesmo significado que tem no Novo. No NT, aplica-se àqueles
que se tornaram filhos de Deus pelo novo nascimento. No AT, aplica-se aos anjos, e é empregado cinco vezes desta forma: duas
vezes em Génesis (Gn 6.2-4) e três vezes em Jó (Jó 1.6; 2.1; 38.7). Um filho de Deus denota um ser trazido à existência por um
ato criativo de Deus. Tais eram os anjos, bem como Adão, chamado assim em Lucas 3.38. Entretanto, os descendentes naturais de
Adão, não são uma criação especial de Deus. Adão foi criado à imagem de Deus (Gn 5.1), mas seus descendentes nasceram à sua
semelhança, conforme lemos em Génesis 5.3: [Adão] gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem. Portanto, todos
os homens nascidos de Adão e seus descendentes por meio da geração natural são os filhos dos homens, e somente nascendo de
novo (Jo 3.3-7) e tor-nando-se novas criaturas, eles se tornam filhos de Deus no sentido neotestamentário.
Então, os filhos de Deus mencionados em Génesis 6.2,4 não poderiam ser filhos de Sete, como alguns defendem, porque
os filhos de Sete são simplesmente homens e só poderiam ser filhos de homens, não filhos de Deus. Isso prova sem deixar
qualquer dúvida que os filhos de Deus de Génesis 6.2,4 eram anjos, e não os descendentes piedosos de Sete [...]
Embora possamos questionar a possibilidade de intercurso sexual entre anjos e seres humanos, o relato de Génesis parece
ensinar isso. Temos somente de apelar para as Epístolas de Pedro e de Judas para ter a confirmação: Porque, se Deus não perdoou
aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o
Juízo (2 Pe 2.4). E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão
e em prisões eternas até o juízo daquele grande Dia (Jd 6).
Os anjos mencionados nesses textos não podem ser os anjos de Satanás, pois estes estão em liberdade. Não estão
confinados em cadeias eternas, na escuridão, mas serão lançados no lago de fogo (Geena), preparado para o diabo e seus anjos,
quando este for definitivamente derrotado (Mt 25.41). Esses anjos, então, devem pertencer a uma classe especial, condenados por
algum pecado em particular; quando lemos o contexto das duas passagens bíblicas, a natureza do pecado deles fica evidente.
Foi o pecado de fornicação, indo após outra carne (Jd 7). O tempo do pecado é dado como pouco antes do dilúvio (2 Pe
2.5). Foi o mesmo pecado que causou a destruição de Sodoma e Gomorra, cujos habitantes exigiram que Ló lhes entregasse os
dois anjos que abrigara em sua casa, para que os conhecessem, ou seja, para terem relações sexuais com eles (2 Pe 2.6-8; Jd 7;
Gnl9.5).
A Bíblia ensina claramente que anjos podem assumir forma humana (com corpos de carne e osso), bebendo e comendo
com os homens (Gn 18.1-8). Assim, a dificuldade se dissipa quando vemos que os filhos de Deus assumiram forma humana e,
como homens, casaram-se com as filhas dos homens.
Não sabemos qual era a habitação que eles tinham deixado. Podiam ser alguns dos anjos que já tinham perdido seu estado
original de santidade e de submissão a Deus, por aderirem à rebelião de Satanás. Entretanto, não devemos esquecer que, até onde
sabemos, o jardim do Éden não foi destruído até o dilúvio e como os descendentes de Adão, sem dúvida, viviam nos seus
arredores, os guardas celestiais do jardim, os filhos de Deus (chamados de querubins, conforme Génesis 3.24), de tempos em
tempos, viam as filhas dos homens, podendo ter abandonado sua própria habitação (o Éden) e se misturado com as filhas dos
homens, indo assim após outra carne e perdendo seu primeiro estado, como seres angelicais e guardiões do jardim.
Outro argumento que sustenta essa visão é o fato de que o resultado de tais uniões foi uma raça de gigantes, homens
poderosos, heróis de renome (Gn 6.4). Se os descendentes piedosos dos homens se casassem com mulheres ímpias, seus
descendentes jamais seriam criaturas monstruosas como os descendentes dos filhos de Deus e das filhas dos homens dos dias de
Noé. A palavra traduzida como gigantes significa caídos, os nefelins. Fica claro que aqueles homens poderosos e de renome não
eram os descendentes ordinários das filhas dos homens; se assim fosse, por que não apareceram antes? Os filhos de Sete e as filhas
de Caim, sem dúvida, já se tinham envolvido em casamentos antes, mas não houve tais filhos. Com a entrada de seres angelicais
no mundo dos homens, temos a fonte de onde os escritores clássicos da Antiguidade extraíram suas noções sobre os romances
entre deuses e semideuses, e as lendas sobre seres meio humanos e meio divinos.
Os anjos, que perderam seu estado original, são os espíritos em prisão sobre os quais Pedro fala (2 Pe 3.18-20) e aos
quais Cristo pregou, não em pessoa, mas pelo Espírito Santo, por intermédio de Noé nos dias anteriores ao dilúvio.
O resultado dessa invasão da terra pelas potestades do ar foi o dilúvio, pelo qual o contorno e o relevo da terra
antediluviana foi modificado, destruindo assim o jardim do Éden. Isso colocou um fim na Era Antediluviana.
A explicação da linhagem de Sete versus a linhagem de Caim
Temos de admitir que Clarence Larkin apresenta argumentos geniais, que requerem um exame minucioso. Ao
fazer isso, queremos reconhecer também a obra de J. Sidlow Baxter, que fez um estudo exaustivo sobre esse assunto e
apresentou habilmente suas conclusões em seu livro Studies in problem texts [Estudos em textos complicados].
Quão defensável é a posição que sustenta que os filhos de Deus são, de fato, os anjos caídos que coabitaram
com mulheres nos dias anteriores ao dilúvio? Não cremos que tal interpretação seja correta, e damos as seguintes
razões:
1. Os anjos são assexuados.
Sidlow Baxter, a quem nos referimos acima, abre o assunto em seu livro, fazendo uma observação
significativa:
Se o que está registrado em Génesis 6 era, de fato, o voluptuoso assédio de anjos sobre as mulheres da Terra,
então, essa é uma história prodigiosa, aberta a todo tipo de especulação.
Para começar, a Bíblia ensina que os anjos são seres puramente espirituais, e que eles nem se casam, nem são
dados em casamento.
Porque, na ressurreição, nem casam, nem são dados em casamento; mas serão como os anjos no céu.
Mateus 22.30
Essa afirmação indica que os anjos são assexuados, incapazes de qualquer processo sexual, e não têm a
capacidade de procriar. Portanto, a sugestão de que anjos maus de alguma forma assumiram forma humana e se
tornaram capazes de ter relação sexual parece absurda. Mesmo assim, a passagem não somente indica que esses filhos
de Deus tinham capacidades sexuais, mas também que tomaram esposas e desenvolveram uma vida conjugal e familiar
como seres humanos. Parece incrível que anjos pudessem fazer isso.
2. A possessão de corpos humanos por seres angelicais é improvável.
J. Sidlow Baxter destaca que, em termos filosóficos, é estranha a ideia de que anjos assumissem corpos
humanos. O corpo e a alma do homem, que chegam juntos no processo do nascimento, são unidos por esse misterioso
processo na personalidade humana. Somente dessa maneira as sensações do corpo se tornam as experiências da mente.
Além disso, qualquer corpo que os anjos pudessem ter adotado não poderia ser um corpo real, de carne e osso,
pois, se não é habitado pelo espírito humano, o corpo de carne e osso morre.
Isso é mais bem-ilustrado na encarnação do Senhor, a qual não foi meramente uma ocupação de um corpo
humano. Nos dias do Antigo Testamento, o Cristo pré-encarnado apareceu algumas vezes em uma forma corpórea (Gn
19). Este fenómeno é conhecido como teofania. Há vários registros de tais aparições nas Escrituras. Nenhum deles,
porém, foi uma encarnação real como aquela ocorrida em Belém, quando Cristo entrou na vida humana pelo processo
do nascimento. Para que os anjos pudessem submeter-se a um nascimento humano, teriam de encarnar e nascer de uma
mãe humana, mas sem pais humanos. A ideia de um evento tão memorável, ocorrendo não apenas uma vez, mas
centenas de milhares de vezes, é fantástica. Tal coisa não poderia ocorrer, exceto com permissão divina, pois somente
Deus tem o poder de criar a vida.
3. O Espírito de Deus não luta com anjos, mas com os homens.
Além do mais, sejam quem forem os filhos de Deus, o versículo três de Génesis, capítulo seis, diz que o
Espírito do Senhor estava contendendo com os homens e não com os anjos.
Então, disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é
carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. Gênesis 6.3
Se havia anjos maus pecando, então, o versículo deveria dizer que o Espírito de Deus estava contendendo com
anjos malignos e não com o homem.
4. Seres angelicais caídos não são mencionados na Bíblia como filhos de Deus.
Anjos maus não são mencionados na Bíblia como filhos de Deus. Embora os filhos de Deus, mencionados em
Jó, sem dúvida, sejam anjos, Satanás é claramente destacado deles. Vindo um dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles (Jó 1.6; veja 2.1). Satanás é um anjo caído, criado
diretamente pelas mãos de Deus, mas não é chamado de filho de Deus. Devemos, portanto, estabelecer em nossa
mente que o título filhos de Deus jamais é usado, em lugar algum, em referência a anjos maus. Em Jó 38.7, verifica-se
que os filhos de Deus se rejubilavam com as obras criativas de Deus.
5. Os nefelins
Podemos observar que Larkin (e outros autores como Pember e Bullinger) afirma que os nefelins eram
descendentes de anjos caídos e de mulheres. O Dr. Bullinger ressalta:
Seus filhos, chamados de nefelins, eram monstros da iniquidade; sendo sobre-humanos em altura e caráter,
tinham de ser destruídos. Este foi o único objetivo do dilúvio.
Devemos destacar, porém, que os nefelins estavam na terra antes da existência dos descendentes da suposta
união de anjos-humanos. As palavras também depois (Gn 6.4) deixam isso bem claro.
Além disso, fossem quem fossem os nefelins, eles não foram todos destruídos no dilúvio, pois lemos em
Números
13.33 que os nefelins (mencionados como filhos de Anaque) eram um povo que vivia em Canaã. Isso nos leva
a supor, se aceitarmos a teoria dos anjos-humanos, que houve outro assédio de anjos caídos nos dias do Êxodo. De
fato, isso é ensinado pelos proponentes dessa visão. Pember diz:
Uma ocorrência similar depois do dilúvio concorda com a passagem de Números, quando os filhos de Anaque
são mencionados como sendo gigantes, e parecem explicar a ordem divina para que toda a raça dos cananeus fosse
extirpada.
Mesmo assim, essa não foi a razão para a destruição dos cananeus. Eles foram extirpados por causa da própria
impiedade (Lv 18.24,25; 20.25).
6. Os anjos que caíram do primeiro estado (Jd 6) não eram os espíritos em prisão (2 Pe 3.19), os quais
pecaram nos dias de Noé. Muito se fala acerca dos textos de 1 Pedro 3.19,20; 2 Pedro
2.4 e Judas 6, nos quais se supõe que os anjos que pecaram
são os mesmos espíritos que estão em prisões, os quais
apostataram nos dias de Noé.
Um estudo cuidadoso desses textos, porém, mostra que os espíritos em prisão que pecaram na época de Noé
não são anjos, mas seres humanos. Em 1 Pedro 4.6, constata-se que foi a homens que Cristo pregou:
Por isto, foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem jiãgados segundo os homens, na
carne, mas vivessem segundo Deus, em espírito.
Quem, então, eram os filhos de Deus?
1. Cremos que os filhos de Deus de Génesis 6 eram os homens da linhagem de Sete. O contexto mostra que a
linhagem de Sete e a linhagem de Caim eram claramente distintas. Nos capítulos quatro e cinco de Génesis, vemos os
descendentes de Adão traçados em duas linhagens separadas - uma por meio do excluído Caim e a outra por
meio de Sete, que leva até Noé. Imediatamente depois, no sexto capítulo, lemos sobre os filhos de Deus e as filhas dos
homens, o que dá a impressão de que se continuou fazendo uma distinção.
2. A linhagem de Sete tem aspectos muito especiais, o que faz com que o título filhos de Deus seja adequado e
apropriado. Sete foi nomeado por Deus para assumir o lugar de Abel, assassinado por Caim. Portanto, ele pertencia à
linhagem messiânica, da qual viria a semente da mulher. Por outro lado, Caim era do maligno (1 Jo 3.12). Sete,
Enoque e Noé eram da linhagem escolhida e não seria impróprio se fossem chamados de filhos de Deus.
3. Caim, por outro lado, saiu [...] de diante da face do SENHOR (Gn 4.16). Seus descendentes eram
totalmente voltados para o materialismo, ignorando Deus e Seus ensinos. Lameque, o último membro dessa civilização
mencionado na Bíblia, foi culpado de assassinato, e foi quem introduziu a poligamia.
4. Há, como já vimos, uma continuidade de raciocínio nos primeiros capítulos de Génesis. O desenvolvimento
das duas linhagens é traçado e depois, no sexto capítulo, as duas se cruzam - os filhos de Deus se unem às filhas dos
homens. Esses casamentos mistos entre as duas linhagens, resultando em uma descendência extremamente perversa,
acarretaram o dilúvio.
5. O Dr. Baxter destaca por que esses casamentos mistos ocorreram durante a última parte da era
antediluviana. Génesis 6.1 declara que aconteceu quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra.
Por muitos anos, as duas famílias viveram totalmente separadas geograficamente. Entretanto, quando a humanidade
começou a aumentar, as duas linhagens começaram a aproximar-se uma da outra.
19
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
6. O termo filhos de Deus indicaria que eram homens, não anjos. Moisés, escritor do Pentateuco, sempre
chamava os seres celestiais de anjos e não de filhos de Deus. Parece estranho que fizesse uma exceção nesse único
caso.
7. O versículo dois menciona que os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram formosas. A filha de
Lameque chamava-se Naamá, que significa bela. Esses filhos de Deus viram aquelas lindas mulheres e tomaram para
si mulheres de todas as que escolheram (Gn 6.3). A própria linguagem do texto parece supor que eram homens que já
habitavam na Terra e não criaturas celestiais vindas do céu.
Parece algo fantástico e altamente improvável que os anjos assumissem a forma humana, constituíssem família
e continuassem na Terra como maridos e pais. Por outro lado, a ênfase sobre sexo, casamentos mistos e esposas
tomadas à própria escolha claramente refere-se ao casar-se e dar-se em casamento, mencionado por Jesus em Mateus
24.37,38:
Como foi nos dias de Noé, assim será também na vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias
anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca.
De acordo com esses versículos, fica claro que o povo dos dias de Noé estava entregando-se à sensualidade,
glutonaria e à busca desenfreada do prazer, ignorando Deus e Seus mandamentos. Segundo Jesus, essa condição se
repetiria nos últimos dias. Entretanto, se o relato de Génesis 6 se refere a algo que ocorreu entre anjos e mulheres, não
temos paralelo entre esses relatos e os acontecimentos dos nossos dias.
8. Em nossa versão, temos a palavra nefelins traduzida como gigantes porque os nefelins, em Números 13,
eram homens de grande estatura. De acordo com os melhores eruditos do hebraico, a palavra nephilim deriva-se de
naphal, que pode ser traduzida como cair em cima. O pensamento parece ser
20
Os filhos de Deus e as filhas dos homens
que eram homens violentos, confirmando o versículo 11 de Génesis 6: A terra, porém, estava corrompida
diante da face de Deus, e encheu-se a terra de violência. Entretanto, já havia nefelins na Terra antes do cruzamento
das duas linhagens, como podemos depreender das palavras também depois (Gn 6.4).
9. Finalmente, o termo filhos de Deus de forma alguma é inadequado ou sem base bíblica para os filhos de
Sete. Embora não seja usado com frequência no Antigo Testamento, termos sinónimos são empregados em várias
ocasiões e aplicados ao povo de Deus, como aparece no hebraico literal. Por exemplo:
Filhos sois do Senhor, vosso Deus. Deuteronômio 14.1a
Vós outros sois todos filhos do Altíssimo. Salmos 82.6b
Trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra.
Isaías 43.6b
Vós sois filhos do Deus vivo. Oséias 1.10c
Essas expressões são praticamente equivalentes ao termo filhos de Deus. Além disso, Cristo usou o
equivalente grego exato no Sermão do Monte: Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos
de Deus (Mt 5.9). Jesus disse isso antes do início da Era da Igreja.
Talvez o principal perigo que surge do ensino que anjos caídos coabitaram com mulheres, seja que ele leva a
uma especulação desnecessária e desvia a atenção da maior lição proposta no texto: a quebra da separação entre o
povo de Deus e o povo do mundo leva à apostasia e ao juízo. Esta tem sido uma das lições que o povo de Deus tem
mais dificuldade para aprender. A multidão mista que subiu do Egito se misturou com as filhas de Moabe e o resultado
foi juízo sobre os filhos de Israel. A opressão e escravidão na época dos Juízes eram, em grande parte, causadas pela
associação de Israel com
21
Enoque e Nóe - Patriaxças do dilúvio
povos pagãos, principalmente por meio do casamento. A história da Igreja, durante os últimos 1900 anos, traz
essa lição repetidamente: quando o povo de Deus se torna complacente com o mundo, há uma perda de espiritualidade
e poder, e o resultado final é a apostasia.
O fato é que a causa principal do dilúvio foi que a linhagem piedosa de Sete cedeu e se misturou com a
linhagem de Caim por meio de casamento e perdeu seu bom testemunho. Seus filhos se uniram às hostes ímpias, e
toda a Terra tornou-se corrompida diante de Deus.
22
Capítulo 3
O CHAMADO DE NOÉ
Então, disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne; porém
os seus dias serão cento e vinte anos. Génesis 6.3
Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Estas são as gerações de Noé: Noé era varão justo e reto em suas
gerações; Noé andava com Deus.
Génesis 6.8,9
Cento e vinte anos antes do dilúvio, Deus chamou Noé para uma missão especial. Considerando-se a natureza
da missão, vamos notar alguns aspectos desse homem de Deus.
Na época, Noé tinha 480 anos e não tinha filhos. Tal fato parece indicar que sua esposa era estéril. Assim, na
ocasião em que recebeu o chamado, de fato havia apenas duas pessoas vivas que entrariam na arca - Noé e sua esposa.
Supomos que Metusalém, filho de Enoque, era um homem piedoso. Ele morreu poucos meses antes do
dilúvio. Lameque, pai de Noé, era temente a Deus, como fica claro pelas palavras de Génesis 5.28,29. Ele morreu
cinco anos antes do dilúvio. Portanto, nenhum desses homens entrou na arca, depois que ficou pronta.
Quando Deus deu o chamado especial a Noé, limitou o período de provação da Era Antediluviana a 120 anos.
O Espírito de Deus vinha contendendo com os homens por muitos anos, mas estes tinham endurecido o coração.
Mesmo em nossos dias, os jovens tendem a pensar que a velhice é um tempo distante à frente, por isso acreditam que
terão muito tempo para dar livre vazão aos desejos e prazeres. Na época antediluviana, deveria haver uma tendência
ainda maior para o pecado, pois os homens olhavam adiante e sabiam que ainda viveriam 900 anos
23
Enoque e Nóe
- Patriarcas do dilúvio
ou mais! Se os indivíduos atingissem tal idade nos dias de hoje, ainda haveria pessoas vivas que teriam
participado da Reforma Protestante do século XVI! Em outras palavras, se atualmente as pessoas atingissem tal
longevidade, haveria apenas uma geração entre nós e os apóstolos!
Mesmo assim, os pecadores dos dias de Noé retribuíam os muitos anos de vida que Deus lhes concedia,
resistindo ao mover do Seu Espírito! Assumiam a atitude de quem sabe que terá muito tempo para pensar em Deus no
futuro. Deus viu que seria sábio, juntamente com o chamado de Noé, começar a colocar limites na expectativa de vida
da humanidade. Como primeiro passo, dentro de 120 anos enviaria o dilúvio e destruiria toda aquela geração.
Noé aceita o chamado para construir a arca
Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Gênesis 6.8
Então, disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e
eis que os desfarei com a terra. Faze para ti uma arca de madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por
dentro e por fora com betume.
Génesis 6.13,14
Com uma catástrofe mundial aproximando-se, Deus ordenou que Noé construísse a arca. Além da
consideração do propósito da arca, essa comissão para a construção de um navio de tais dimensões mostra a extensão
dos avanços científicos e criativos na Era Antediluviana.
Há evidências de que a Grande Pirâmide de Gize foi construída naquele período. Esse grande monumento de
pedra envolveu em sua construção conhecimentos de astronomia e de matemática que só foram superados pela
genialidade humana em um período muito recente.
Noé aceitou o chamado, e a Bíblia diz que ele foi pregoeiro da justiça (2 Pe 2.5). Enquanto a arca estava
sendo construída, ele advertia os homens do juízo iminente. Talvez sua pregação
24
O chamado de Noé
tenha causado um desconforto momentâneo em algumas pessoas. Sem dúvida, lembraram-se das profecias de
Enoque, o qual tinha desaparecido de forma misteriosa da Terra, alguns séculos antes. Homens sábios, porém, logo
provaram que algo como uma inundação universal era impossível. As pessoas respiraram aliviadas e marcaram Noé
como um fanático que tinha enlouquecido por causa da religião.
Entretanto, seus preparativos para construir um enorme barco em terra seca, sem dúvida, atraíram muita
atenção -inclusive dos zombadores. Noé e seus filhos - nascidos durante a construção da arca - tiveram de suportar as
constantes piadas e insinuações, enquanto a grande arca lentamente ia tomando forma. O patriarca, porém, continuava
com sua pregação fiel, apesar de pouquíssimas pessoas (ou ninguém) levarem a sério suas advertências.
Finalmente, chegou o tempo em que a arca ficou pronta. Pouco antes de Noé entrar nela, ocorreu um milagre
que deve ter feito o povo antediluviano parar e pensar. Por alguma estranha razão, uma longa procissão de animais
começou a caminhar em direção à arca. Era um fenómeno notável e, provavelmente, deve ter atraído muitos
comentários. Sem dúvida, os sábios da época deram explicações bem elaboradas. Por outro lado, alguns indivíduos
ficaram perturbados -talvez fosse possível que, afinal de contas, Noé estivesse certo. Entretanto, ninguém se dispôs a
enfrentar a perseguição que, certamente, viria se aceitasse a pregação do velho profeta, o qual tinha sido motivo de
brincadeiras e de piadas.
O estranho desfile de animais finalmente terminou. Grandes quantidades de alimentos foram levadas para a
arca, para alimentar os numerosos ocupantes, e finalmente todos os preparativos foram completados. Era um barco
grande, mesmo para os padrões dos nossos dias, com cerca de 182 metros de comprimento, 30 metros de largura e 19
metros de altura.
25
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
Podemos imaginar os eventos que estavam ocorrendo naquele momento. Provavelmente, havia uma grande
multidão reunida ao redor da arca. Alguns rostos olhavam muito sérios, enquanto Noé e seus familiares entravam no
grande barco. Talvez, depois que estava lá dentro, Noé tenha sentido que devia fazer um último apelo. Entretanto,
quando tentou sair, descobriu que porta estava trancada. Quem tinha trancado a porta? A Bíblia diz que o SENHOR a
fechou por fora (Gn 7.16).
Do lado de fora, as piadas e brincadeiras foram parando. A forma misteriosa como a porta fora trancada deve
ter causado um efeito perturbador na multidão. A Bíblia não dá detalhes, mas podemos imaginar os efeitos dos
acontecimentos sobre as pessoas.
Noé passou anos pregando que o dilúvio ocorreria, mas até aquele momento nunca havia chovido. Mesmo
assim, enquanto as pessoas observavam, começaram a ver estranhas formações de nuvens no céu. Viram grandes
clarões de luz e ouviram o ruído ensurdecedor dos trovões. Alguns correram para a porta da arca, mas estava bem
trancada e não conseguiram movê-la. Gritaram por Noé pedindo ajuda. Entretanto, aquele que passara anos tentando
ajudar as pessoas, agora não podia fazer coisa alguma. Disse que a porta tinha sido misteriosamente trancada por fora e
ninguém podia abri-la. Havia oito pessoas dentro, e ninguém mais podia entrar. Apavoradas, as pessoas se lembraram
das advertências de Noé e de como ele pregara que o Espírito de Deus não contenderia mais com os homens. Será que
afinal de contas ele tinha razão?
Em outros locais, as pessoas continuavam indiferentes aos dramáticos eventos que se desenrolavam. Não
tinham tempo a perder com a loucura de Noé. O lema delas era: "Comamos, bebamos, porque hoje estamos vivos".
Jesus disse: Comiam, bebiam [...] e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos (Mt 24.38,39).
26
O chamado de Noé
Até na manhã daquele dia fatídico, os ruídos de festa não tinham diminuído. Os risos e o alarido de festa
continuaram até o último minuto. Somente quando o céu escureceu, as pessoas perceberam que algo estava
acontecendo e saíram para observar as nuvens. Então, pela primeira vez, começaram a tomar consciência de que algo
terrível estava para acontecer. Os gritos de alegria se desvaneceram quando os primeiros pingos de chuva começaram
a cair. As pessoas começaram a ajoelhar-se e orar. Entretanto, o som das orações logo se perdeu no meio dos raios e
trovões. Gritos de terror encheram o ar, mas não havia quem ouvisse.
A chuva aumentou até que se transformou em uma tempestade. A terra estremecia, como se as fontes do
grande abismo (Gn 7.11) estivessem sendo abertas. As pessoas corriam para os locais que pareciam proporcionar um
abrigo temporário. Os que estavam em volta da arca ainda imploravam a Noé que abrisse a porta. Entretanto, não
obtiveram resposta.
Dentro da arca, Noé e sua família ouviam a chuva caindo. Durante um tempo, podiam ouvir os gritos,
lamentos e orações do lado de fora. Contudo, não havia o que pudessem fazer. Finalmente, os últimos gritos
silenciaram quando a arca começou a flutuar sobre a água. Subia cada vez mais alto. Durante 40 dias, a chuva caiu
sem parar, até que finalmente as águas cobriram até as mais altas montanhas.
A causa do dilúvio
Quais foram as causas do dilúvio? G. H. Pember, em seu livro Earth's earliest ages [As primeiras eras da
Terra], que defende a teoria dos anjos caídos com relação aos filhos de Deus, faz um excelente sumário das maiores
causas da apostasia antedilu-viana, o qual transcrevemos aqui:
1. A tendência para adorar a Deus como Elohim - ou seja, simplesmente como Criador e Benfeitor, e não
como Yahweh,
27
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
o Deus da aliança e da misericórdia, que lida com os transgressores destinados à destruição e paga um resgate
por eles.
2. A proeminência indevida do sexo feminino e o desrespeito para com a lei primária do matrimónio.
3. O rápido progresso nas artes mecânicas e a consequente invenção de muitas ferramentas, de forma que as
dificuldades da maldição [do trabalho árduo] foram mitigadas e a vida tornou-se mais fácil e indulgente. Também, a
proficiência nas artes, a qual cativou a mente dos homens e induziu ao total desprezo para com Deus.
4. Uma aliança entre a igreja nominal e o mundo, o que rapidamente resultou em completa amalgamação.
5.0 grande aumento da população.
6. A rejeição da pregação de Enoque, cujas advertências se tornaram um sabor de morte para o mundo e
endureceram o coração dos homens além do ponto de restauração.
A essas seis causas, acrescentaremos uma sétima: A derrubada do muro de separação entre a linhagem piedosa
de Sete e a linhagem de Caim.
Agora, vamos considerar o tipo de pessoa que Noé era. Em primeiro lugar, era um homem de grande fé.
Pela fé, Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu, e, para salvação da sua família,
preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que ê segundo a fé. Hebreus 11.7
Noé foi um homem que sabia o que era ficar sozinho. E verdade que seu pai, Lameque, e seu avô, Metusalém,
estavam vivos durante a maior parte do tempo na construção da arca. A obra de Deus estava passando de suas mãos
para as mãos de Noé.
E provável que Noé fosse um homem relativamente rico, ou não poderia ter empreendido uma tarefa de tal
magnitude No dia em que entrou na arca, deixou tudo para trás, exceto as poucas posses que pôde carregar. Entretanto,
tinha realizado algo de extrema importância. Tinha salvado a vida de toda a sua família.
28
Capítulo 4
O DILÚVIO
Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites; e desfarei de
sobre a face da terra toda substância que fiz [...] No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete
dias do mês, naquele mesmo dia, se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram.
Génesis 7.4,11
Houve duas causas físicas principais para o dilúvio. A primeira foi a chuva: as nuvens derramaram torrentes
de água durante 40 dias. Entretanto, não foi somente a chuva que produziu o resultado final. Se as nuvens tivessem
derramado uma quantidade de água muitas vezes superior aos maiores índices pluviométricos já registrados na
História, as inundações seriam catastróficas, mas não chegariam a tanto (além disso, a maior parte da água teria
escoado). Evidentemente, Deus poderia ter criado água nas nuvens de forma miraculosa, mas geralmente Ele age pelos
meios mais simples. Por exemplo, quando determinou que as águas retrocedessem, fez passar um vento sobre a terra
(Gn 8.1).
As janelas dos céus e as fontes do grande abismo
Havia duas forças em operação: (1) As janelas dos céus se abriram (v. 11). Esse foi o imenso temporal que
durou 40 dias. (2) Se romperam todas as fontes do grande abismo (v. 11). Evidentemente, foi uma força gravitacional
que fez com que uma onda gigantesca se elevasse, até que os montes foram cobertos (Gn 7.20). Um corpo celeste,
como um grande asteróide, produziria esse efeito ao passar perto da Terra. Não é segredo que tais corpos celestes
ocasionalmente passam pelo nosso planeta. Houve um pequeno asteróide, chamado Hermes,
29
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
que se aproximou da Terra em 1937. Entretanto, não chegou perto o bastante para causar mudanças
gravitacionais significativas nos oceanos. Um corpo maior, que chegasse mais perto, produziria tal efeito.
O resultado do grande dilúvio foi destruir toda a vida sobre a face da Terra.
Assim, foi desfeita toda substância que havia sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao
réptil e até à ave dos céus; e foram extintos da terra; e ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca.
Génesis 7.23
Ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca. Noé estava seguro porque buscou o lugar onde havia
segurança. Os antediluvianos achavam que estavam seguros. Entretanto, sua segurança estava em outra coisa fora da
arca e, por isso, pereceram. O cristão está seguro porque escolheu descansar em Cristo, de quem a arca é um tipo.
Aqueles que colocam a confiança em algum dogma conveniente, em vez de Cristo, e vivem segundo os próprios
prazeres, não enganam a ninguém além de si mesmos. Aceitar a Cristo significa renunciar ao pecado e segui-Lo. Ele
disse: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos (Jo 8.31b).
O direito que Deus tinha de destruir o mundo antediluviano tem sido questionado pelos céticos e pelos infiéis.
Teólogos liberais negam a autenticidade de Génesis, declarando que o relato do dilúvio é um mito. Mesmo assim, o
fato é que a história antiga secular está repleta de registros de tal catástrofe. Evidências geológicas mostram que todos
os mares atingiram uma elevação máxima ao mesmo tempo, deixando para trás muitos resíduos marítimos.
Os argumentos dos céticos são enganosos. E absolutamente claro que, se Deus tem o poder para criar a vida,
tem também o direito de estabelecer as regras pelas quais as criaturas devem viver. Se as criaturas deliberadamente
desobedecem ao Seu
30
O dilúvio
Criador, recusando-se a cumprir os propósitos da criação, e mesmo tentando frustrar os planos divinos, então
Deus tem o direito de removê-las de cena. Mesmo assim, sendo infinitamente mais bondoso e misericordioso do que o
homem, Deus demonstra grande disposição de perdoar. Seu Espírito Se moveu sobre as pessoas nos dias de Noé,
suportando sua maldade e rebelião, ano após ano, na esperança de que se arrependessem. Entretanto, quando
finalmente toda a raça humana se desviou para a apostasia, e somente uma família foi encontrada para dar testemunho
da fé em Yahioeh, Deus não somente tinha o motivo, mas também foi compelido a colocar um ponto final em tamanha
maldade. Uma raça depravada e corrupta devia ser destruída, para que houvesse um novo começo (veja Lv 18.24,25).
Foi por um ato de misericórdia que Deus enviou o dilúvio. Se não toda a raça humana ter-se-ia corrompido;
não sobraria quem pudesse dar testemunho de Yahweh. Os filhos dos ímpios cresceriam para compartilhar a maldade
dos pais e compartilhar sua condenação. Deus vindicou Sua misericórdia e Sua justiça enviando o dilúvio. Se Ele
tivesse permitido que o mundo antediluviano continuasse por mais uma geração, atualmente haveria o dobro de
pessoas no Sheol.
Os animais e a arca
Tem havido considerável especulação quanto à questão da preservação na arca de todas as espécies animais. O
barco tinha o espaço de um transatlântico moderno. Dependendo do tamanho do cúbito (o qual, de acordo com
registros antigos, variava de 46 a 50 cm), o comprimento da arca era de 164 a 183 metros, e sua largura de,
aproximadamente, 31 metros. Tinha três andares, sendo que, no total, tinha 54 mil metros de espaço no convés.
Havia sete exemplares de cada animal limpo. Moisés fez uma lista de dez espécimes assim considerados,
dando um
11
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
total de 70 animais. Enciclopédias relacionam cerca de 100 espécies principais de animais. Pode-se bem
acreditar que a arca tinha condições de acomodar tal número.
Há conjecturas sobre a abrangência do dilúvio sobre toda a Terra. Seu propósito era destruir a civilização do
mundo habitado. Em Génesis 7.20, somos informados de que as águas estavam 15 cúbitos acima das montanhas da
região. É duvidoso que essa medida tenha ficado acima do Monte Everest. A atmosfera naquela altitude (quase nove
mil metros) seria rarefeita demais para suportar a vida.
A mudança na contagem dos anos
O dilúvio foi um evento tão memorável que, aparentemente, afetou o tamanho do ano. Com base no registro
de Génesis, muitos comentaristas da Bíblia consideram que o ano antediluviano era contado em 12 meses, de 30 dias
cada, ou um total de 360 dias. Abaixo apresentamos uma tabela com as referências necessárias para se estabelecer tal
fato:
Referência
Ano
Idade de Noé
Dia/mês/ano
Gn
7.1,4,11
Gn
Noé recebe instrução para
entrar na arca
Começa o dilúvio
10/
2/600
17/
7.11
2/600
Gn
A chuva pára
7.17
27/
3/600
Gn
A arca pousa sobre o monte
8.3,4
Ararate
Gn
17/
7/600
Aparecem os topos das
8.5
montanhas
Gn
1/1
0/600
Pássaros são enviados
8.6
10/
11/600
Gn
A pomba é enviada novamente
8.10
17/
11/600
Gn
A pomba é enviada pela última
8.12
vez
Gn
24/
11/600
A cobertura da arca é retirada
8.13
1/1/
601
Gn
Noé sai da arca
8.14
27/
2/601
32
O dilúvio
Um exame da tabela acima mostra que o ano antediluviano era composto por 12 meses, de 30 dias cada, ou
360 dias. As referências revelam que os primeiros cinco meses do dilúvio foram exatamente de 150 dias; cada período
adicional de dias se encaixa somente em um calendário que emprega meses de 30 dias, exclusivamente.
Desde que Deus criou todas as coisas boas, não seria surpresa que o ano original fosse de 360 dias. O
calendário que usamos, atualmente, abrange um ano de 365 dias e 6 horas, as quais equivalem a um quarto do dia.
Trata-se de um número primo (não é divisível por nenhum outro). Repetidamente, o calendário tem sido modificado
para acomodar alguns dias extras, para que o ano não fique além ou aquém das estações. O ano perfeito de 360 dias,
por outro lado, pode ser dividido pelos números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 12, 15, 18, 20 etc.
Aparentemente, o pecado, a apostasia e o juízo resultante por meio do dilúvio tiraram a Terra do seu
equilíbrio. O Salmo 82.5 diz: Todos os fundamentos da terra vacilam. Consequentemente, temos agora um ano de 365
dias e 6 horas, as quais equivalem a um quarto do dia, em vez de um ano de 360 dias.
Há um fato curioso que deve ser notado com relação a Enoque no relato de Génesis. O profeta foi trasladado
com 365 anos de idade. O número 365 é significativo, pois é o número de dias do ano solar - o ano que passou a existir
depois do dilúvio. O fato de que o número 365 está ligado à vida de Enoque prefigura o fato de que o juízo já estava
guardado depois que ele deu seu testemunho e foi rejeitado.
O envio do corvo e da pomba
Depois de um período de 270 dias, abriu Noé a janela da arca que tinha feito (Gn 8.6). Como um teste para
ver o quanto a água sobre a terra já tinha baixado, Noé soltou um corvo e uma pomba. O corvo voou de um lado para o
outro até que
;'■
Enoque e Nóe Patriarcas do dilúvio
as águas baixaram; a pomba, não tendo onde pousar, voltou para a arca.
Os comentaristas vêem no corvo a analogia da antiga natureza do cristão, satisfeita com o mundo sob
julgamento. Por outro lado, a pomba é vista como representando o novo homem, que encontra satisfação somente nas
coisas da nova criação.
O envio da pomba: tipo das três dispensações
Os estudiosos das Escrituras também vêem no fato da pomba ser enviada três vezes como uma figura do
ministério do Espírito Santo durante as três dispensações. A primeira é a dispensação do Pai. A pomba, uma figura do
Espírito Santo, sai somente para encontrar a terra sob julgamento e assim retorna ao Pai.
Na dispensação do Filho, o Espírito Santo sai e desce sobre Cristo no rio Jordão.
E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus
descendo como pomba e vindo sobre ele.
Mateus 3.16
Esse evento é ilustrado no ato de Noé enviar a pomba pela segunda vez. Ela pousa sobre a oliveira, tira uma
folha, a qual leva de volta para a arca.
A pomba foi enviada pela terceira vez, e não voltou mais. Nessa dispensação, o Espírito Santo sai para
repousar sobre o cristão e habitar nele para sempre (Jo 14.16).
No final do 370° dia, poucos dias a mais do que um ano, a terra estava seca; Noé, sua família e todos os
animais saíram da arca.
Havia sete exemplares de cada animal limpo. Noé pegou o sétimo e ofereceu-o como holocausto ao Senhor
(Gn 8.20).
34
Capítulo 5
A DISPENSAÇÃO DO GOVERNO HUMANO
Adispensação da consciência terminou em fracasso e julgamento. Esse fato provou que era necessário haver
um governo humano. Permitir que todo homem fizesse o que considerava certo aos próprios olhos tinha levado ao
caos e à anarquia. A terra está cheia de violência (Gn 6.13). O primeiro membro da linhagem cananita foi homicida; o
último, Lameque, também foi assassino e, além disso, polígamo. Na nova dispensação, o homem precisava de limites.
C. I. Scofield faz um excelente resumo das circunstâncias envolvidas na dispensação do governo humano:
Sob a consciência, como na inocência, o homem fracassou e o juízo do dilúvio marca o final da segunda
dispensação e o início da terceira. A declaração da aliança noêmica sujeita a humanidade a um novo teste. Seu aspecto
distintivo é a instituição, pela primeira vez, do governo humano - o governo do homem pelo homem. A função mais
elevada de um governo é preservar a vida no aspecto judicial. Todos os outros poderes governamentais estão
implicados nesse. Segue-se que a terceira dispensação é distintamente a do governo humano. O homem é responsável
por governar o mundo de Deus. A responsabilidade estava sobre toda a raça, judeus e gentios, até que o fracasso de
Israel sob a aliança palestina (Dt 28, 29, 30.1-10) trouxe o julgamento do cativeiro. Naquele momento, começou o
tempo dos gentios, e o governo do mundo passou exclusivamente para suas mãos (Dn 2.36-45; Lc 21.24; At 15.1417).
Podemos somente imaginar as emoções de Noé quando ele e sua família caminharam para fora da arca e
colocaram
15
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
os pés sobra a terra seca. Eram os únicos seres humanos vivos sobre a face da Terra. Para Noé, de fato, era um
pensamento perturbador saber que toda a atividade fervilhante que tinha presenciado em seus 600 anos de vida na
Terra tinha silenciado.
Assim, a lição de que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23) foi ensinada a ele e à sua família com
impressionante força. Os zombadores não se reuniam mais ao redor deles gritando insultos. Ninguém mais chamava a
arca de a "loucura de Noé".
Onde estavam aqueles que tinham passado seus dias comendo, bebendo e escolhendo cônjuges, envolvendo-se
em orgias e na busca do prazer? Onde estavam aqueles que quando surgia o assunto da arca de Noé, consideravam-no
motivo de riso? Onde estavam naquele momento? Pedro nos dá uma resposta solene, quando fala sobre a descida de
Jesus Cristo ao Hades:
Mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em
prisão, os quais em outro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé,
enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.1 Pedro 3.18-20
Os desobedientes que zombaram de Noé estavam na prisão da morte. Mais de dois mil anos depois, quando
Cristo pregou a eles, ainda estavam lá. Todas as evidências indicam que ainda estão nas regiões tenebrosas do Hades.
A aliança noêmica
Quando Noé ofereceu holocaustos, depois que saiu da arca, Deus fez com ele uma aliança, ou um pacto
especial que incluiu vários aspectos importantes:
1. Deus determinou: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem (Gn 8.21). Quando o
Senhor cheirou o suave cheiro (Gn 8.21), não era cheiro de fumaça, como afirmam
36
A dispensação do governo humano
os teólogos liberais. O cheiro suave era Cristo, como é claramente mostrado em Efésios 5.2. A oferta de Noé
era uma figura de Cristo, o qual tornou-se maldição, para poder remover a maldição (Gl 3.13).
2. Houve uma promessa de continuidade das estações, primavera, verão, outono e inverno, como noite e dia
sucedendo-se, seguindo um ao outro na ordem determinada.
Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão.
Génesis 8.22
As palavras enquanto a terra durar indicam que o período da vida do homem sobre a Terra teria um limite
definido. Pedro confirma isso na sua Segunda Epístola, capítulo três. Ele destaca que, nos últimos dias, os
escarnecedores deliberadamente esqueceriam o juízo do dilúvio e diriam: Todas as coisas permanecem como desde o
princípio da criação (v. 4). Pedro, porém, declara que o mundo atual será, no tempo apropriado, julgado pelo fogo.
Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se guardam para o
fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios. 2 Pedro 3.7
3. O mesmo mandamento, que fora dado a Adão, foi dado a Noé e a seus descendentes: Frutificai, e
multiplicai-vos, e enchei a terra (Gn 9.1b). Também deviam ter domínio sobre todos os animais da terra, assim como
Adão.
E será o vosso temor e o vosso pavor sobre todo animal da terra e sobre toda ave dos céus; tudo o que se
move sobre a terra e todos os peixes do mar na vossa mão são entregues.Génesis 9.2
O domínio sobre os animais não tem sido exercido com frequência. Daniel o reivindicou quando foi atirado na
cova dos leões. Sansão fez o mesmo. O Espírito de Deus desceu sobre ele quando um filho de leão, bramando, lhe saiu
ao encontro. Então [...] o fendeu de alto a baixo, como quem fende um cabrito (Jz 14.5,6). Davi assumiu esse domínio
quando um leão e um
I
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
urso tentaram devorar suas ovelhas (1 Sm 17.34,35). A promessa de domínio sobre os animais da terra é
mencionada no Salmo 91.13.
4. Quando Noé saiu da arca, a questão da provisão de alimentos era prioritária. Sob a aliança adâmica, o
homem recebeu as ervas do campo. Agora, em adição, Noé recebia a carne dos animais do campo como alimento.
Mesmo assim, o homem não devia comer o sangue, pois era onde estava a vida. O sangue serve aos propósitos da
expiação (Lv 17.11).
5. A pena capital foi instituída. Durante a dispensação adâmica, a pena de morte não existia (Gn 4.15,23,24).
Entretanto, as gerações antediluvianas não deram valor a essa provisão de misericórdia, e o espírito da iniquidade
continuou a crescer até que a Terra se encheu de violência (Gn 6.13). Na nova dispensação, houve uma mudança na lei
divina. Se um homem deliberadamente tirasse a vida de outro, sua própria vida seria também tirada.
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a
sua imagem.
Génesis 9.6
A lei divina, porém, leva em consideração todas as circunstâncias relacionadas. Quando os filhos de Israel
entraram na terra prometida, foram designadas cidades de refúgio. Nelas, um homem que tivesse cometido um
homicídio não-premedi-tado podia esconder-se e estaria seguro (Nm 35.11-32). Mortes acidentais levam consigo uma
forma de culpa, mas não de responsabilidade (Dt 19.4-6).
6. Deus prometeu estabelecer Sua aliança com Noé e seus descendentes, colocando um arco-íris no céu:
E disse Deus: Este é o sinal do concerto que ponho entre mim e vós e entre toda alma vivente, que está convosco, por
gerações eternas. O meu arco tenho posto na nuvem; este será por sinal do concerto entre mim e a terra. E acontecerá que,
quando eu trouxer nuvens sobre a terra, aparecerá o
38
A dispensação do governo humano
arco nas nuvens. Então, me lembrarei do meu concerto, que está entre mim e vós e ainda toda alma vivente e
toda carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio, para destruir toda carne. E estará o arco nas nuvens, e eu o
verei, para me lembrar do concerto eterno entre Deus e toda alma vivente de toda carne, que está sobre a terra.
Génesis 9.12-16
O arco-íris é visto nas nuvens. Entretanto, antes de surgir, a chuva pode cair. O efeito das cores é causado
pelas gotas d'água que refletem os raios solares em vários ângulos. O arco-íris nunca fora visto antes do dilúvio, e
também não houvera chuva até aquele momento (Gn 2.5,6). A aparição do arco-íris foi uma promessa de que a Terra
estaria livre de outro juízo por meio da água.
A vergonha de Noé
7. A Era Noêmica foi marcada pela maldição sobre a família de Cam, e por uma bênção especial sobre a
família de Sem. A maldição ocorreu em consequência da bebedeira de Noé e a resposta de Cam à embriaguez e nudez
do pai. Seu comportamento foi suficientemente mau para levar um pai a amaldiçoar o próprio filho e toda a sua
posteridade.
Em Génesis 9.20, verifica-se que começou Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha.
Uma vez que a civilização anterior tinha perecido, era importante que Noé suprisse as necessidades de sua
família. Os suprimentos de comida que restavam na arca logo acabariam. Os filhotes dos animais limpos poderiam ser
usados como alimento, mas seria preciso tempo até que estivem disponíveis. Era imperativo que começassem a lavrar
o solo. Animais domésticos como cavalos e jumentos seriam empregados para implementar o trabalho.
Dentre as primeiras plantações de Noé existia uma vinha, No tempo apropriado, ele espremeu o suco das uvas
e bebeu, o que não lhe causou efeito nocivo. Entretanto, parte do SUCO
39
Enoque e Nóe - Patriarcas do dilúvio
foi guardada e fermentou, tornando-se alcoólica. Mais tarde, quando Noé o bebeu, ficou embriagado.
Ocorreram várias mudanças físicas na Terra durante o dilúvio. Uma delas talvez tenha sido a aceleração do
processo de fermentação. É possível que as mudanças nas condições climáticas fossem favoráveis aos fenómenos
químicos. Pelo menos, não encontramos referência alguma a bebidas alcoólicas ou que houve casos de embriaguez
antes do dilúvio.
É provavelmente significativo que o primeiro incidente registrado, depois que Noé deixou a arca e fez a oferta
de sacrifícios, esteja relacionado ao uso de bebida alcoólica. Na Bíblia, temos aquilo a que chamamos de Lei da
primeira menção. Quando um assunto é introduzido pela primeira vez, os principais fatos conectados a ele são
mencionados. Na passagem, vemos que o uso de vinho fermentado fez com que um homem piedoso ficasse
embriagado. Como resultado da perda da consciência, Noé ficou nu em sua tenda. Seu filho Cam, vendo a nudez do
pai, fez zombaria da cena, atraindo uma maldição sobre si mesmo e seus filhos (Gn 9.21-26). De fato, o álcool
provaria ser um dos piores inimigos do homem. É interessante notar que seu poder de degradar os seres humanos foi
ilustrado de forma enfática logo na primeira vez em que foi mencionado. Evidentemente, trata-se de uma advertência
para todas as futuras gerações, para que evitem o uso do álcool e não atraiam uma maldição.
Cam, quando viu a nudez do pai, pensou em fazer uma boa piada. Quando, porém, contou aos irmãos Sem e
Jafé, eles entraram na tenda caminhando de costas e cobriram o pai.
A profecia de Noé
Quando Noé acordou de sua embriaguez, o espírito de profecia veio sobre ele. Discerniu o pecado do filho
mais novo, Cam, e profetizou.
40
A dispensação do governo humano
Antes de considerarmos sua profecia, devemos notar que, a despeito do fato de que Noé estivera embriagado,
o Espírito de Deus não o abandonou. Isso explica por que alguns profetas modernos cometem pecados similares e,
aparentemente, a bênção de Deus continua sobre eles. O que alguns parecem não entender é que, se continuarem na
prática do pecado, finalmente o Espírito Santo os abandonará, como aconteceu com Saul.
Noé, ao acordar, fez a profecia fatídica, que resultou em bênção para os dois filhos mais velhos, mas em
escravidão para o filho mais novo.
Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e
seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
Génesis 9.25-27
Em conexão com a bênção de Noé sobre Sem, é usado o nome redentor de Deus, Yahweh Elohim. Da
linhagem de Sem viria o Redentor.
Ninrode e a Torre de Babel
Há outro personagem importante que devemos tomar nota: Ninrode, neto de Cam e bisneto de Noé. Não temos
uma genealogia da linhagem de Cam, mas por comparação com a de Sem, podemos fazer uma estimativa razoável de
que Ninrode nasceu 30 ou 50 anos depois do dilúvio. Se ele viveu tanto quanto os outros patriarcas daquele período,
pode ter vivido, aproximadamente, 400 anos, o que o situaria nos dias de Abraão.
Ao considerar a vida de Ninrode, temos a ajuda não somen te do registro bíblico, mas também da história
secular. Ele foi 0 fundador do primeiro reino, de Babel ou Babilónia. Embora OS registros seculares daquele período
sejam bem confusos e permeados de mitos, o nome de Ninrode surge repetidamente
41
Enoque e Nóe
- Patriarcas do diluvio
Parece que esteve envolvido na fundação do sistema peculiar de religião idólatra que caracterizou a Babilónia.
A menos que Ninrode tenha morrido relativamente jovem, certamente esteve associado à construção da Torre
de Babel. Isso é evidente pelo fato de que seu reino ficava na terra de Sinar (Gn 10.10). Compreendia a terra onde a
torre foi erigida (Gn 11.2). Portanto, podemos supor que Ninrode (ou seu sucessor imediato) era o líder quando
começou a construção da torre de Babel.
42
Capítulo 6
UM RESUMO DA VIDA DE NOÉ
O melhor sumário do caráter de Noé é feito pelo Espírito Santo em Génesis 6.9: Noé era varão justo e reto em
suas gerações; Noé andava com Deus. Ele não era perfeito no mesmo sentido em que Deus e os anjos são perfeitos.
Paulo disse: Não que já a tenha alcançado [a ressurreição] ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo
para o que fui também preso por Cristo Jesus (Fp 3.12). A palavra perfeito, quando usada em relação aos homens,
implica pleno desenvolvimento da maturidade e piedade. Não denota uma condição de isenção de pecado. Noé era
perfeito em sua geração. Em outras palavras, representou o que podia se esperar de melhor do povo de sua época,
dentro do nível de luz existente. O fato de não possuir uma perfeição isenta de pecado justifica-se pela sua embriaguez,
a qual foi a causa indireta da maldição que sobreveio ao seu filho Cam.
A partir de Génesis 5.29, podemos concluir que Noé, como um filho, foi um grande conforto para seu pai.
Nem todas as pessoas proporcionam alegria e consolo para os pais. Muitos filhos são a causa de tristeza, sendo que
muitos, na velhice, olham com desgosto para trás, para os anos em que semearam sementes ruins. Jacó, por exemplo,
que na velhice foi um homem piedoso, teve uma amarga colheita dos anos da juventude.
É maravilhoso que Noé tenha mantido o testemunho inabalável registrado nas Escrituras (Noé andava com
Deus), durante todos aqueles anos difíceis antes do dilúvio (como vi mos, um evento maculou seu testemunho depois
do dilúvio). Seu bisavô, Enoque, também andou com Deus e, embora tenha sido trasladado cerca de 70 anos antes do
seu nascimento,
43
Enoque e Nóe
- Patriarcas do dilúvio
seu testemunho e sua vida tiveram uma grande influência sobre o bisneto. Houve somente uma geração entre
Adão e Noé. Metusalém, filho de Enoque, foi contemporâneo de Adão e Sete por 200 a 300 anos e viveu até o tempo
do dilúvio. Sem, o filho piedoso de Noé, também conheceu Metusalém, e deve ter vivido até os dias de Abraão.
Assim, houve apenas dois elos entre Adão e Abraão! Consequentemente, a revelação divina daquele período foi
mantida intacta, transmitida de geração a geração durante dois milénios inteiros!
Foi um empreendimento maravilhoso de Noé, em meio à corrupção quase total daquela época, ter sido bemsucedido em manter sua família intacta e levá-la à segurança da arca. Noé tornou-se um exemplo daqueles pais que se
dedicam, pela fé e pelas obras, a reivindicar toda a sua família para Deus.
É interessante notar que Noé é incluído no trio de homens especialmente justos: Noé, Daniel e Jó (Ez 14.1420). Jó, como Noé, é mencionado como um homem perfeito (Jó 1.1). A Bíblia não faz uma única declaração
depreciativa contra Daniel em todos os seus longos anos de vida.
Noé, como Enoque, foi profeta e pregoeiro da justiça (2 Pe 2.5). Advertiu o mundo antediluviano do
julgamento que se aproximava, embora sem muito sucesso. A perseverança era outro traço do seu caráter. Deve ter
havido muitos desapontamentos e momentos de desânimo em uma tarefa que levou 120 anos para ser concluída.
Construir um grande barco em terra seca logo atrairia muita atenção. Noé seria classificado como tolo. Teria de pagar
altas somas de dinheiro aos seus carpinteiros para mantê-los no trabalho. E interessante que nenhum dos homens que
trabalharam na construção da arca entrou nela com Noé e sua família. Todos eles recolheram suas ferramentas,
receberam o pagamento e foram embora. O ministério de pregação de Noé tinha fracassado completamente fora de sua
família.
44
Um resumo da vida de Noé
Se Noé foi um consolo para seu pai, podemos ter certeza de que Lameque também foi um conforto para ele.
Lameque viveu durante quase todo o período em que a arca estava sendo construída. Entretanto, por alguma razão,
morreu consideravelmente mais jovem do que os outros patriarcas antediluvianos. Sem dúvida, foi um choque para
Noé. Seu velho avô, Metusalém, que lhe entregou os antigos registros da raça humana, inclusive, a história de Adão e
Eva, Caim, Abel e Sete (e, provavelmente, do seu pai Enoque) - sobreviveu, certamente frágil e cansado, até a época
em que a arca ficou pronta. Quando estavam dando os últimos retoques, Noé recebeu a notícia da morte do avô.
Significava que, naquele momento, toda a responsabilidade estava sobre ele.
O fato de que Noé só teve filhos aos 500 anos de idade pode significar que sua esposa fosse estéril. Se ela se
tornou fértil aos 500 anos de idade, certamente seus filhos seriam de fato um prodígio. Noé não violou a Lei de Deus
tomando outra esposa enquanto a primeira era viva. Contudo, é possível que ela tenha morrido e os três filhos fossem
de uma segunda esposa, com quem ter-se-ia casado cerca de cem anos antes do término da arca. Entretanto, não há
certeza quanto a isso.
Depois do dilúvio, vemos Noé caminhando fielmente com Deus. Seu primeiro pensamento, ao sair da arca, foi
oferecer sacrifícios de ações de graças. Depois do dilúvio, houve um breve período no qual sua palavra era lei absoluta
na Terra. Isso, porém, não durou muito tempo. Seu filho Cam mostrou pouco respeito, ou não teria feito piada da
nudez e embriaguez do pai. O estilo de vida de Cam seguiu o mesmo curso que o de Caim - um caminho com base na
vontade própria e no desrespeito pelo próximo. Seu neto, Ninrode, iria fundar o reino de Babel, onde foi construída
uma torre em desafio I Deus. A influência de Noé, durante aqueles anos, foi declinando rapidamente. Os descendentes
de Cam, sem dm i.l.i sabiam que Noé não tinha simpatia por seu estilo de vida tf
Enoque e Nóe - Patriarcas do diluvio
provavelmente, evitavam-no. Noé deve ter observado todas essas coisas com tristeza, enquanto via a apostasia
dos descendentes de Caim sendo repetida.
Noé, sendo um profeta, pode ter tido conhecimento de que se aproximava sua morte, e um menino iria nascer,
o qual receberia o nome de Abrão (ou Abraão). Apesar disso, Noé não viveu para ver Abraão, nascido apenas dois ou
três anos depois de sua morte. Entretanto, seu filho Sem viveu mais 500 anos depois do dilúvio, tendo sido, durante
muito tempo, contemporâneo de Abraão.
Fim.

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