Portifólio Cíntia Guimarães - NUPEA

Transcrição

Portifólio Cíntia Guimarães - NUPEA
Portifólio
Cíntia Guimarães
Fone: (34) 99615816
[email protected]
[email protected]
Peregrinação
Xilogravura, Gravura em Metal, Xerox,
Frotage,Instalação, Técnicas Mistas
“Sem Título” – Xerox, Técnica Mista – 0,75m x 1,00m -1998
“Sensibilidade a Flor da Pele” – Xerox, Técnica Mista – 0,65m x 0,85m -1998
“Eu e minha filha” – Xerox, Técnica Mista – 0,60m x 0,70m -1998
“De mãe para filha” – Xerox, Técnica Mista – 0,84m x1,61m -1999
“De onde viemos?” – Xerox, Técnica Mista – 2,60m x 1,40m -1999
“Sem título” – Xerox, frotage – 0,80m x 0,80m -2000
“Sem título” – Xerox, frotage – 0,80m x 0,80m -2000
Peregrinação
Por onde caminham os pés das idéias?
Onde e como pisamos sem perceber que somos construtores
do chão que nos suporta?
Cíntia Guimarães cria coragem para caminhar por entre
estas questões e se habilita a peregrinar pelas descobertas
da sua memória,
memória mesmo que isso lhe custe ferimentos e
questionamentos a respeito de seus conhecimentos
adquiridos, de suas histórias vividas.
Cíntia compara a peregrinação do fazer e pensar Arte ao ato
da caminhada ritualística que conduz à fé.
Calços, percalços, descalços.
Em sua obra, os pés deixam de ser pés e viram gente. São
Personagens presentes, jeitos deixados, marcas de vida.
Falando da parte ela diz do todo, de todos.
Uma aura reveste o diálogo de seus pés – imagens:
São pés da busca, são pés do desejo, é o encontro do que eu
vejo com o que eu não vejo.
Seus pés caminham e falam
dela,
e de nós.
Alexandre França, 19 de Junho de 1998
Peregrinação
A exposição Peregrinação contou com imagens de xerox de pés, que contava
sobre acontecimentos do passado, referências que marcaram minha vida,
pessoas ligadas ao meu cotidiano. As imagens dos pés criavam visualidades
justapostas, os pés xerocados e recortados foram montados lado a lado,
dialogando com fragmentações e repetições deles próprios, construindo
diversas formas. No espaço da exposição foi montada a instalação de uma
capela, com fotos de pessoas em procissão em louvor à “Nossa Senhora da
Abadia” e em algumas dessas fotos encontrava registros de minha infância na
qual me vestia de anjo e ficava descalça para pagar promessa feita por meus
familiares.
Cíntia Guimarães, junho 1998.
Maria Pé No Chão
Fotografias, Textos, Instalações, Vídeo.
Instalação Maria Pé No Chão - 2002/2004
Instalação Maria Pé No Chão - 2002/2004
Instalação Maria Pé No Chão - 2002/2004
Crônicas de Cruzamentos da Arte a Pé
Cíntia a caminha.
Ao parar, se vê no eixo de um cruzamento/cruzeiro/cruzado.
Atrás, em rastros pisados, carrega a memória vivida, os percalços das caminhadas de fé, lisas faces
dos anjos infantis de procissão que flutuam com suas asas brancas. A caminhada é leve, os pés não
tocam o chão.
Cíntia caminha.
Ao olhar por sobre os ombros do lado esquerdo, se dá conta que a plasticidade dos materiais, a
erudição sobre aspectos da arte, Rauschemberg ao longe, Hudinilson Jr. ao perto, vão confluindo
em direção aos pés de seus pés, aos pés de suas mãos,
aos pés de sua mente.
Cíntia caminha.
Ao girar a cabeça para a direita, como que a defender os direitos de ir e vir, os trabalhos/ obras/
imagens já podem também caminhar entre espaços e meios: paredes, chãos, colagens, reprografias,
plotagens. O pé está no chão. Podem ser os das Marias que temos em todos nós. O pé é a pele, o
pé é a casca, o pé é o casco, como uma ferramenta que nos habilita
ao exercício do caminhar/ viver. Será que Cíntia fala dos pés, de pessoas ou da vida?
Cíntia caminha.
Ao levantar os olhos pra o que está a frente, ela treme.
O tropeço, o adiamento, tentativas de ré, o pensamento sobre ser uma obreira de última hora
parece inevitável.
Mas é nesse momento que se estabelece a compreensão de seus percursos e seus processos.
No centro dos cruzamentos entre passado, tecnologia, conhecimento acadêmico e
vida, Cíntia vai fincando os pés em sua identidade.
Suas identificações/ intuições/ intenções apontam que manter a caminhada para fora e para dentro
de si é seu modo de
pisar forte nos trajetos que almeja para sua existência.
Caminhe Cíntia.
Alexandre P. França
Artista Plástico, Professor do Departamento de Artes
da Universidade Federal de Uberlândia – MG. Março de 2003
Maria Pé No Chão
A exposição “Marcações”, que aconteceu em outubro de 2002, no Museu Universitário de Artes da
Universidade Federal de Uberlândia, em 2003 na Galeria de Artes da Cemig, Belo Horizonte e em 2004 Goiânia,
foi uma instalação do trabalho “Maria Pé No Chão”, realizado através da fotografia digital, em preto e branco,
plotada em pvc, em cinco placas medindo 50 x 250 cm cada e com espessura de 2 milímetros, formando um
único painel.
Essa obra teve o prêmio especial do júri no XI Salão Municipal de Artes Plásticas, promovido pela
Prefeitura Municipal de João Pessoa - FUNJOPE, no dia 14 de Outubro de 2003.
A proposta era reproduzir imagens, com uma máquina fotográfica digital, da mulher “Maria Pé No Chão”, nome
dado a ela por nunca ter calçado sapato. Dona Maria Pé No Chão tem uma vida comum, como várias mulheres;
ela é aposentada, cria seus netos e leva uma vida marcada por conflitos, desencontros, diferenças e preconceitos.
Todas essas características justificaram a escolha dessa senhora para a mostra denominada Marcações. As
MARCAS e AÇÕES causadas pela própria vida da “Maria Pé No Chão”, que podem remeter às Marias da rua, do
picolé, da padaria, da mãe de Jesus e protetora de um determinado povo; remete, enfim, a todas as Marias
dispersas pelo mundo. Marias marcadas pelas ações do tempo, da esperança, das angústias, das perdas e da solidão.
“Maria Pé No Chão” tem o propósito de fazer as pessoas refletirem sobre suas próprias marcas provocadas
pelo tempo, tanto o cronológico quanto o sensível, perceptível.
O painel foi montado no chão em uma sala de, aproximadamente, 4 metros quadrados, restando,
portanto, 50 cm para as pessoas circularem ao redor do trabalho. Essa era uma opção, a outra era que as pessoas
poderiam passar por cima da obra. A instalação contou com uma intervenção sonora da fala da “Maria Pé No
Chão”. Com a ajuda de um profissional de áudio foram feitos recortes e pausas, construindo, assim, uma
montagem sonora.
O som vinha de um lugar alto, no canto oposto à entrada da sala. No momento em que o espectador
entrava no local percebia que não havia nada nas paredes e, depois de alguns instantes, via que a obra estava no
chão. Uma vez dentro da sala, o espectador escutava ou não as falas da “Maria Pé No Chão” devido à utilização
das pausas na montagem sonora. Com isso, os visitantes ficavam curiosos e começaram a circundar a obra.
Depois de percorrer todo o painel e compreender a montagem sonora, o olhar de desconfiança era o que
artista e monitores mais percebiam. Outros olhares, mais curiosos, como o das crianças e de alguns adultos, fizeram
com que as pessoas andassem sobre as imagens, brincassem e sentassem sobre elas.
A intenção era provocar uma determinada ação, ou interação do visitante: andar por cima das imagens,
senti-las com os pés, brincar de montar imageticamente as partes do corpo da “Maria Pé No Chão”. A partir daí,
reelaborar suas próprias marcas.
Cíntia Guimarães, novembro de 2003.
Série Poses
Fotografias
“Auto Retrato” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre lona – 1,50m x 2,00 m - 2004
“O dia na praça I” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre lona – 0,27x 0,40 m -2004
“O dia na praça II” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre lona – 0,27x 0,40 m -2004
“O dia na praça IV” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre lona – 0,27x 0,40 m -2004
“Sem título” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre lona – 0,27x 0,40 m -2004
“Nós dois” – Fotografia (filme slide, revelação C41)plotada sobre foan – 0,40 x 1,00 m -2004
Corpos Percursos
Fotografias, Textos, Vídeo (Diário
Visual)
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,50 m x 1,00m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,10 m x 1,50m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 2,00m 2004
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50m 2004
Corpos Percursos, de Cíntia Guimarães.
A exposição Corpos Percursos traz um recorte da pesquisa que tem como título provisório
“120DIAS”, integrando a pesquisa no campo das Poéticas Visuais, no curso de Mestrado em Cultura
Visual (FAV-UFG), sob orientação do Prof. Dr. Marcio Pizarro. A proposta consiste na realização
de uma experiência de troca e convivência com um grupo de outros artistas, no campo das artes
do corpo (teatro-dança-performance visual e audiovisual), durante um período de 120 dias, com
intervalos regulares e locais marcados para tais eventos.
A exposição traz uma parte do que foi e é vivido no espaço, no qual aconteceram os encontros
com o grupo Castra Doloris. O que se pretende é, neste momento da pesquisa, experimentar as
relações que o público pode sustentar, a partir do contato com as imagens que se referem aos
corpos e ao espaço, gerando novas relações, percursos, ensaios fotográficos, audiovisuais, corporais
e cênicos. São diferentes momentos de ensaios proporcionando momentos ricos de discussões,
desentendimentos, direções, concentrações, desconcentrações, fome, ansiedades, desejos,
revelações, apaixonamentos, caminhos, labirintos, cansaços, acordos, trocas, olhares, descobertas,
relações carnais, espaciais, sonoras, cromáticas. As imagens colhidas e registradas em forma de
fotografia visual, audiovisual e de um diário textual são realizadas a partir dos encontros, ensaios e
discussões feitos pelo grupo. A minha função é observar, registrar e, ao mesmo tempo, participar.
Desde a entrada do local até a sala, os corpos, os objetos, as falas, os acontecimentos, enfim, tudo
o que se passa dentro da sala é registrado. Sou um outro que se integra ao grupo e fico, tal como
nomeia o antropólogo Luiz E. Achutti (UFRGS – IA), com um olhar de viajante, onde tudo se vê e
se registra.
Em um dos momentos em que estava com o grupo fotografando, um integrante do grupo diz que
se sentiu visto, olhado e até para mexer pensa em como deve ficar seu corpo. Sinto que os
fortifico, os torno vistos por outros – como sustenta Pizarro, nas artes do corpo estamos diante de
um palco giratório, onde todo o artista grita de uma posição subjetiva, “Veja-me aqui!”.
Ao final desses encontros haverá propostas de trocas com o grupo e uma produção de uma fusão
entre as imagens e o áudio coletado, visando construir narrativas audiovisuais e visuais. Os diários
deverão resultar na produção de um espaço instalacional destinado à vivência / convivência para
grupos de recepção abrangentes.
Existe uma relação de troca entre o grupo e a artista-pesquisadora e é neste domínio que se pensa e
se constrói esta pesquisa, envolvendo o visitante numa mistura e ao mesmo tempo nas trocas de
sensações, envolvimentos e relações humanas entre obra, artista e público. Como disse Nicolas
Bourriaud, arte é um espaço de imagem, objetos e parte humana.
Cíntia Guimarães
Exposição Corpos Percursos de Cíntia Guimarães
Este trabalho é um trecho de uma história e um instante no registro de um processo. A perspectiva adotada pela artista-pesquisadora Cíntia
Guimarães é a de traçar um caminho na direção da Estética Relacional (Bourriaud).
O campo relacional possui uma grande tradição nas formas do pensamento antropológico clássico. Marcel Mauss, Bronislaw Malinowski e
Claude Lévi-Strauss, para ficar com os mais conhecidos, já estudaram estas formas de economia do simbólico e seus sistemas de trocas. A
perspectiva geral é a de que um presente dado só aumenta mais o ciclo de poder do próprio doador. Assim, o objeto passa a ter uma
função mágica e conversacional, uma ponte entre sujeitos e um motivo para o estabelecimento de uma conversação acerca das coisas do
mundo, do entorno, das experiências, da vida cotidiana.
Nesta perspectiva relacional, não estamos falando exatamente de formas da interatividade, nem de uma comunicação de idéias através de
objetos, incluindo agente e receptor. Estamos falando da instalação de circuitos de compromissos entre artista, obra e seus fruidores.
A importante exposição TOUCH (Curadoria de Nicolas Bourriaud) reinstala estas questões – marcas das formas artísticas dos anos 1960 e
1970 – no interior da produção da arte contemporânea e nos modos como esta se apresenta ao público, detendo-se em investigar quais
seriam os novos modos de conecção entre o público e o artista.
Na ampliação evidente da esfera comunicacional – a partir das novas tecnologias – a arte passa a organizar-se num intervalo entre as
transformações do mundo da comunicação, das formas científicas e, de seus desdobramentos nos modelos possíveis de interação social que
estes equipamentos tornam-se geradores e responsáveis.
O que a Estética Relacional procura é justamente os pontos de transmissão da idéia de arte no interior das vidas comuns, as soluções e as
formas artísticas apresentadas aos olhos do público a partir de sua própria experimentação. O acompanhar da existência é tarefa
antropológica – etnográfica – que funciona como o modelo dessa reflexão acerca da arte. O artista é o público.
Por outro lado, há uma tarefa do artista propriamente dito – daquele que afigura sua identidade social no interior do campo das relações
institucionais, mercadológicas, etc. – e esta consiste em olhar para o funcionamento do mundo e encontrar ali as suas lógicas estéticas.
Descobrir a arte em gestos banais.
Descobrir a arte nos registros da existência.
Uma tarefa deveras difícil e que requer uma sensibilidade à estética dos acontecimentos.
Ser capaz de acompanhar a mágica da feitura de um café passado.
Ser capaz de escutar as mudanças de um corpo.
E, por vezes, proporcionar espaços, zonas, instalações, lugares onde se possa reencenar o vivido. E apreender dele a sua dimensão estética.
Estas fotografias são o primeiro passo na direção da construção deste experimento.
Elas procuram oferecer aos artistas, das quais foram colhidas as imagens – invasivas, por vezes – de corpos à procura de estados que
sustentassem qualitativamente a produção do seu próprio espetáculo – performance, teatro, vídeo, fotografia, registros.
São fotografias que capturam alguns instantâneos de uma busca.
Para os artistas, esta busca resulta sempre em longas pesquisas, em jogos de tentativa-e-erro, desacertos, descompassos.
O que a pesquisadora e também artista quer ressaltar são pequenos instantes em que o acontecido ultrapassa em muito o que é vividolembrado, tomando um rumo particular, mostrando qualidades invisíveis feitas visíveis, por conta de um processo de acúmulo de registros
e de seu posterior congelamento.
Estas imagens são um oferecimento – um dom – uma vontade de devolver num patamar diferenciado aquilo que foi colhido e vorazmente
consumido pelo olhar da artista enquanto convivia com seus colegas – tomados vez por outra enquanto verdadeiros objetos de uma
pesquisa plástica.
Esta primeira devolução é o presente dado ao grupo.
É a provocação de Cíntia Guimarães, solicitando novas respostas.
Eis um caminho.
Muitas perguntas.
E um desafio que se abre agora a outra relação, noutro círculo de troca e de conversação.
Novas recepções acontecerão.
O que teremos?
Depois desta colheita de imagens, novo tempo de produção.”
Marcio Pizarro,
Curador e Orientador da Pesquisa Visual
Dos Trajetos Aos Lugares Para
Repouso Do Corpo
Fotografias, Vídeo, Instalação, Dissertação,
Ações Corporais.
“Sem Título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 2,00m - 2005
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 2,00m - 2005
“Sem título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 2,00m - 2005
“Sem Título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x 1,50 m - 2005
“Sem Título” – Fotografia plotada sobre pvc – 1,00 m x1,50 m - 2005
Vista da exposição Dos Trajetos Aos Lugares Para Repouso Do Corpo – Ateliê Cíntia Guimarães - 2005
Instalação “Dos Trajetos Aos Lugares Para Repouso Do Corpo 2ª sala - 2005
Instalação “Dos Trajetos Aos Lugares Para Repouso Do Corpo 2ª sala - 2005
Instalação “Dos Trajetos Aos Lugares Para Repouso Do Corpo 2ª sala - 2005
Ações Corporais
Ações Corporais
Ações Corporais
Ações Corporais
Ações Corporais
Ações Corporais
Dos trajetos aos lugares para repouso do corpo
É a construção de um espaço instalacional de convivência e relações sociais, resultante do processo
de pesquisa em poéticas visuais, no programa de Mestrado em Cultura Visual. O método utilizado
no processo de construção desta pesquisa toma parcialmente estratégias etnográficas e a construção
da interação entre artista, público e obra. A Estética Relacional de Bourriaud, a Arte Participativa
como referência no campo historiográfico, as questões pontuadas por Chateau e Mauss e o
referencial de obras e de artistas ajudaram-me a pensar nas relações que poderiam ser estabelecidas
nesse ambiente da instalação, considerando os conceitos operacionais do corpo e da troca. A
pesquisa desenvolvida busca nas relações humanas, nas situações de trocas e nos conceitos de
corpo, os conteúdos, as formas e os meios para a produção de uma instalação que envolva a
integração entre artista-obra-público. O estudo do corpo se concretiza em uma abordagem visual e
física e na coleta de imagens de um corpo para a montagem da instalação que propõe sensações no
ato do percurso, provocando situações relacionais entre as pessoas ou mesmo entre a obra e o
visitante. A instalação é sensorial e aberta, ou seja, só se completa com a participação do outro,
que nesse caso é o visitante. Ao visitante será necessário percorrer toda montagem para se
(re)encontrar. A instalação foi montada e criada no meu ateliê, o qual é uma extensão de minha
residência. Os elementos encontrados na instalação, isto é, as fotografias, os objetos, os móveis, os
livros, o café e o pão de queijo, e as várias atividades desenvolvidas com os visitantes fizeram parte
de um processo que contribuiu para um trabalho pensado dentro das questões da corporeidade,
das relações sociais e da participação coletiva e ativa do visitante. A instalação contou com três
salas, a primeira uma sala visual, a visão plena, na qual o sentido da visão é privilegiado porque
estavam expostas fotografias de grandes dimensões, de um corpo nu em repouso. Na segunda sala,
logo após a primeira, encontrava-se o material em fotos, vídeos, livros, armários com desenhos,
esboços, gravuras, papéis, obra Maria Pé no Chão, enfim, a minha memória. Meu processo prático
e teórico estava ali, aberto para as pessoas folhearem, tomarem para si para que pudessem
estabelecer relações e compreensões. Na terceira sala acontecia o que denominei de Ações
Corporais onde convidei profissionais que trabalham de alguma forma com terapias corporais,
exercícios físicos, treinamentos do corpo para propor atividades corporais com os visitantes.
Trago também um vídeo de aproximadamente seis minutos, que traz imagens desse processo aqui
relatado. Esse vídeo integra a pesquisa de mestrado.
Cíntia Guimarães, abril de 2005
CÍNTIA GUIMARÃES
das dobras e superfícies de um corpo
Cíntia Guimarães é mineira, artista, pesquisadora, professora universitária. Sua
formação começou na pintura, na cor e nos materiais e hoje se faz presença de um
intenso contato com o vivo, estado de curiosidade permanente pelas coisas do
mundo. Tudo que é humano lhe pertence, mesmo quando longe, vai-se tornando
próximo, e, o distante é alegre e eroticamente aproximado. Foi daí que veio o
interesse por TOUCH (Bourriaud) e por tudo aquilo que diz respeito à estética
relacional, numa busca de integração entre uma idéia de arte no interior da vida
comum e em comum.
Para adentrar neste universo, ela escolhe a perspectiva da intimidade, olhando no
doméstico e buscando nele a fonte atrativa da vida glorificada. Então, ela passa a
fotografar a sua própria vida, seus objetos de afeto, fazendo do ato fotográfico um
comentário da vida privada. Cíntia elege seu marido e suas filhas. Estes corpos íntimos
mostram-se relaxados, em estado de repouso, protegidos. Oferecidos enquanto
imagens transformam-se em linhas, em massas, em montes, em terrenos, como as
linhas do horizonte de uma paisagem. Por vezes, terminam por configurar-se em
outras gestalts, oferecidas a nosso olhar erotizador, provocadas pela intensidade das
dobras da pele. Suas imagens colorem, aquecem, amortecem.
Através da fotografia e, posteriormente, da manipulação digital das imagens e suas
aplicações a superfícies de tecidos, a artista promove uma produção que circula entre
o volátil – leveza, delicadeza – e a densidade – peso existencial - entre o familiar e o
estranho – uma intimidade tornada obscena. Nesta obscenidade, frequentemente
marca da pós-modernidade, a artista sorri dos efeitos causados, das passagens entre o
erótico e o pornográfico, do modo como estes chegam a seu público. Trata-se de uma
“insustentável leveza de ser” que prepondera e circunda o conceito destes trabalhos
aqui exibidos.
Marcio Pizarro Noronha
novembro/2006