Conjunto e Pormenores: na vida, na vocação
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Conjunto e Pormenores: na vida, na vocação
Boletim Semestral - Janeiro a Junho de 2015 Conjunto e Pormenores: na vida, na vocação S empre que se observa algo, tem-se priTomemos como exemplo uma música tocada meiro uma impressão do seu todo, em num órgão. Cada registro desse instrumento emite seguida dos pormenores e, finalmente, um bonito som, mas o conjunto deles produz a mevolta-se para o conjunto. Mesmo quan- lodia, de beleza superior à das notas isoladas. Ora, do examina as partes, o bom analista não perde de quem vive imerso dentro dos pormenores da coisa vista o composto geral: ele as considera em função palpável, concreta, e não se interessa pelos conjundo todo, embora este ocupe o segundo plano de sua tos, assemelha-se a alguém que não ouve a música, atenção. E ao observar o conjunto, ele não abstrai os mas apenas sons desconexos. detalhes, os quais, por sua vez, passam para o plano Aliás, seria uma experiência muito agradável visecundário. Compreende- se, sitar alguma igreja que tivespois se ele não vê nenhum se um excelente órgão e ali, pormenor, não percebe o após se venerar o Santíssimo todo, que é a soma daqueles. Sacramento recolhido no saPode-se dizer que há, crário, pedir ao organista que portanto, uma espécie de alacionasse cada registro para ternância de planos — do se analisar, degustar, estudar primeiro para o segundo, e e comentar o instrumento. vice-versa — a respeito de Em seguida, ouvir uma linda tudo o que se examina: as música tocada nele. Assim, pessoas que conhecemos, os cada pormenor — as diversas países que visitamos, a obra notas — se encaixaria numa apostólica para a qual somos visão de conjunto, isto é, a chamados e, sobretudo, a melodia. Santa Igreja Católica ApostóCumpre salientar, tamlica Romana. bém, que uma das coisas mais É interessante salientar, prejudiciais à Contra-revoluporém, a importância maior ção e ao progresso das almas do conjunto, em relação aos na vida de piedade é certo pormenores. estado de espírito por onde Com efeito, diz a Escrituo indivíduo — e a sociedara que Deus, ao criar todas de contemporânea como um “Cada registo do Órgão, emite um bonito as coisas, verificou que cada todo — torna-se habituado a som. Mas o conjunto, emite a melodia” uma era boa e o conjunto era prestar mais atenção nos pormelhor (cf. Gn 1, 3 1). Ou seja, a consideração do menores do que nos conjuntos. Pior. Ele quer para conjunto nos conduz a uma clave superior àquela sua própria alma, como clave, a mera perfeição da que se obtém pela análise dos pormenores. Cada ser minúcia, contenta-se com isso e perde a visão do possui em essência uma beleza que é diferente da conjunto. Fomentando essa tendência, a Revolução dos demais; trata-se de uma distinção na linha ho- forma pessoas medíocres, caracterizadas por um rizontal. O conjunto, entretanto, apresenta um es- egoísmo rasteiro, cúpidas das pequenas delícias, que plendor mais elevado, que difere verticalmente da lhes proporcionam, não uma grande, mas uma dibeleza de cada parte. minuta satisfação que satura o dedalzinho de suas Jan/Jun 2015 TFP lusa 2 almas acanhadas. Têm vistas curtas, olfato breve, Assim, cada membro de nosso movimento deve ouvido amortecido, língua distraída, tato entorpeci- ver no outro a vocação, olvidando os defeitos pesdo. E tudo que se lhes apresenta de grandioso, mag- soais, compreendendo ser aquela incomparavelmennífico, elas olham sem admirar... te mais valiosa que estes. Se observa apenas as falhas, Ora, só é capaz desprezando de admirar quem o chamado de possui a noção Deus, passa a ter do conjunto. Poruma desilusão, que a coisa midizendo: “Não é núscula, isolada, esta a obra dos não pode ser promeus sonhos...” priamente adE a resposta mirada. Quem, que lhe deveria pelo contrário, ser dada é: “Nem nutre a elevada você é dos sovisão do conjunnhos de nossa to, torna-se capaz obra”. Desejamos de se encantar, e cumprir a vocacompreende que ção ao lado de viver é, antes de pessoas que tetudo, conhecer, nham, no mais admirar e amar alto grau, a noção os conjuntos de conjunto, procomo tais. Olhancurando sempre Sainte Chapelle, Paris do o conjunto, vê realçar as coisas também os pormenores, mas estes, conforme acima bonitas, de primeira ordem, e dar menos atenção às analisamos, permanecem num segundo plano. secundárias. Portanto, pessoas capazes de ver mais Nessa perspectiva, pode-se dizer que a alma habi- as qualidades do que os defeitos, embora estes sejam tuada a considerar os conjuntos — portanto, a con- protuberantes. templar maravilhas — reside dentro de um arco-íris. As lacunas são, de fato, como um pequeno caco E o indivíduo viciado em apenas observar minudên- de uma alma com vocação esplêndida. Suponhamos cias, não tendo nada para admirar, como que mora que alguém jogasse uma bomba na Sainte Chapelle, no topo da chaminé de uma fábrica, da qual sai a em Paris, reduzindo a fragmentos seus maravilhopior fuligem: sua mediocridade. sos vitrais, os quais fossem depois jogados no lixo. Esse princípio cabe no tocante a um chama- Se eu tivesse condições, compraria esse lixo e pasdo para uma vida de apostolado, como a do nosso saria a admirar os restos da Sainte Chapelle, seus movimento. Pode- se afirmar que o vemos no seu azuis magníficos, seus vermelhos incomparáveis, conjunto quando sentimos admiração pela obra etc. Alguém poderia me dizer: “Mas, Dr. Plinio, isso evangelizadora à qual a Providência, pelas mãos de é exatamente o pormenor e não o conjunto, que foi Maria Santíssima, nos convida. Admiração esta que fraturado.” começa a fenecer quando deixamos de contemplar Sucede entretanto que tive um conhecimento do o conjunto e nos apegamos desordenadamente aos conjunto, e em função deste revejo cada pormenor. pormenores. Para mim, cada um daqueles cacos tem maior valor Para compreendermos o equivocado dessa ati- do que um vitral inteiro de outros lugares. tude de espírito, imaginemos o olho humano mais A Santíssima Virgem trouxe a cada um de nós bonito que tenha existido na Terra: extirpado de para habitarmos dentro de um arco-íris e cultivar sua órbita, torna-se uma monstruosidade. E a órbi- sempre essa visão de conjunto. E quando for necesta ocular mais bem feita e harmoniosa, sem o olho, sário descer aos pormenores, devemos fazê-lo de não merece ser considerada. No conjunto reside a modo a que eles nos levem a admirar melhor o conbeleza. junto. Insisto: todo pormenor excluído do conjunto que Queira Nossa Senhora nos alcançar esse estado lhe é natural acarreta, desde logo, uma visão de me- de espírito, e que nele nos conserve e faça progredir. diocridade e, em seguida, de feiura. (Revista Dr. Plínio, nº103. Editora Retornarei. S. Paulo, Out. 2006.) O maior surto, do vírus mais mortal O Ébola continua a meter medo ao mundo. Em agosto passado, em apenas dois dias, fez mais 108 vítimas mortais. Os infetados somam 1779 e os mortos ascendem aos 961. Desde a descoberta do vírus, em 1976, esta foi a pior epidemia. Comparado aos surtos anteriores, a disseminação deste está muito mais rápida. Por enquanto ainda se restringe a alguns países da África, mas chegará à nossa Europa? Eis o grande medo dos Ocidentais “conformados”. Enquanto os únicos a morrer estão no continente menos “importante” e desenvolvido, a preocupação é pouca, mas se um dia chegar até nós... Yazidis e Cristãos, Novas vítimas do ISIS A história do mundo tende a repetir-se. Uns dizem que a história é cíclica, outros optam por uma solução mais popular: “o ser humano é o único animal que cai no mesmo buraco duas vezes”. Seja qual for a explicação antropológica, o fato é que mais uma vez um autoproclamado estado islâmico volta a surgir. As suas características utópicas, violentas, suicidas com um “salzinho” de covardia, estão enriquecidas, claro. Mortes, execuções, torturas, são o rasto que eles deixam para trás. Além disso, tentam agora eliminar da face da terra duas minorias: os Yazidis e os cristãos. O mais curioso, é o fato de que cada vez mais Muçulmanos vão entrando na Europa, em busca de “uma qualidade de vida melhor”. Será mesmo isso que eles procuram? Não é necessária muita observação para se ver que os que entram na Europa são tão “tolerantes” como os outros, o que ficou demonstrado com o horrível assassinato de 12 cristãos que vinham num desses barcos com destino à Sicília, e que foram atirados ao mar por não serem Muçulmanos. Rezemos pelos nossos irmãos muçulmanos, para que Deus os faça ver a luz da sua bondade. Rezemos pelos nossos irmãos no cristianismo, para que Deus nos dê a prudência para não permitir que se apague a luz do Evangelho. melhante aconteceu foi nos Gulag Russos e nos campos de Concentração Alemães, em que os prisioneiros eram conhecidos pelo número. Tornar-se-á o mundo um grande campo de concentração? “Se não fordes como crianças”… O canadiano Paul Bloom, professor de ciências cognitivas da Universidade Yale, nos Estados Unidos, ao fazer experiências com bebés de até um ano, pôde comprovar a existência de uma ética universal e como as crianças têm um senso moral inato, sendo capazes, desde o nascimento, de diferenciar o bem e o mal. Em seu livro “O que nos faz bons ou maus”, da Editora Best Seller, ele desenvolve o tema e mostra como os bebés têm inclusiBiochips: ve senso de justiça, querenEvolução ou Controlo? do que as ações boas sejam Uma nova tecnologia, recompensadas e as más, que há anos vem sendo punidas. projetada, saiu: o Biochip. Cada pessoa poderá ter O que Marx não sabia um, com todos os seus daTheodore Dalrymple, dos inseridos (BI, Carta de psiquiatra inglês com mais Condução, histórico médi- de 20 títulos publicados e co, cadastro, e muito mais). larga experiência de trabaJá começou a ser implan- lho em hospitais, prisões e tado! Inclusive, em certas nas camadas sociais mais empresas, apenas é autori- baixas de diversos países, zada a entrada para traba- após ouvir a história da lho de pessoas com o chip! vida de mais de 70 mil pesInovação! Desenvolvi- soas, demonstra, em seu mento! Técnica! Ou con- livro “A Vida na Sarjeta”, trolo obsessivo de massas? que a “pobreza da alma” é No futuro teremos todos muito pior do que a pobreque ter esse chip? Aonde za material, e mostra como quer que formos, seremos a orientação materialista rastreados? E a privacida- quanto à educação e à asde? sistência social tem efeitos A ultima vez que algo se- desastrosos. A R E A L I D A D E CONCISAMENTE Tfps em ação Conferência sobre a Civilização Cristã Jan/Jun 2015 A Sociedade Portuguesa da defesa da Tradição Família e Propriedade promoveu uma conferência para os seus correspondentes, realizada pelo Dr. José Carlos Carriço, presidente nacional da TFP, que contou com a presença do Dr. Marcelo Gomes e do Dr. Manuel de Abreu, membros veteranos da TFP portuguesa. TFP lusa 4 A conferência versou sobre temas da atualidade e a relação do mundo hodierno com a Civilização Cristã. O conferencista referiu que “cada vez mais a Europa vai-se afastando das suas raízes Católicas”, e a ameaça de um ressurgimento da URSS, sob as mãos de Putin, coloca-nos na perspetiva de um terrível agravamento desta situação. Os expositores desenvolveram, com grande riqueza de exemplos históricos, a tese de Santo Agostinho sobre a sociedade ideal: aquela onde todos cumprem os mandamentos da Lei de Deus. Mos- traram como todas as instituições florescem e se desenvolvem sadiamente, sempre que se abrem à influência da Igreja; pelo contrário, quando dela se afastam, a deterioração é inevitável, produzindo todo o género de problemas por vezes os mais inextrincáveis, e é precisamente isto que ocorre nos nossos dias. Entretanto, apesar do horizonte nebuloso que se nos apresenta, a esperança de Fátima ressoa em nossas almas: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!” Os Santos Anjos Custódios Protetores e advogados do homem N tários. Plinio Corrêa de Oliveira o dia 2 de outubro celebra-se a festa dos santos anjos da guarda, a respeito dos quais poderíamos tecer alguns comen- Por outro lado, em consequência das concepções de uma piedade errónea, em muitas pinturas que representam o anjo da guarda em ação, há sempre uma criancinha, insinuando vagamente que tal amparo se destina apenas às crianças. Portanto, apenas estas últimas acreditam em anjo, e um espírito “emancipado”, mais “evoluído”, nele não crê nem precisa de ajuda. Lembro-me de ter visto uma estampa onde aparecia um bonito riacho, tendo à margem graciosas plantinhas, e uma criança rechonchuda, tez rosada, com ar de quem recentemente saíra da cama e fora lavada, frisada e enfeitada. Ela passa sobre uma ponte onde existe uma tábua quebrada na qual poria o pé, mas o anjo da guarda, atrás dela, a protege. Tem-se a impressão de que aquilo é o mundo das imaginações da criancinha, e indica o estado de espírito com que ela atravessa a ponte. Com muito favor, poder-se-ia pensar que o anjo da guarda faz o mesmo com adultos. Então, para evitar desastre de automóvel, doenças, pequenos acidentes, etc., é bom recorrer ao anjo da guarda. Em suma, este serve para as necessidades materiais; quanto às espirituais, não se fala da proteção angélica. Razão pela qual muitos pedem a cura de alguma enfermidade, outros, que favoreça uma reconciliação e coisas do género. Poucos têm noção de que os anjos da guarda nos foram dados sobretudo para aquilo que existe de mais importante: velar por nossa alma, lutar e agir conosco para vencermos nossas dificuldades espirituais. Nunca estamos sós E contudo, quanto conforto nos daria nas horas das tribulações, tentações, em que nos sentimos sozinhos, termos a certeza de que um anjo da guarda está junto de nós! Embora não o sintamos nem o percebamos, ele não nos abandona um minuto sequer, e se acha à espera de nossas orações para agir por nós. Muitas vezes ele atua sem que o peçamos, mas fá-lo-á ainda mais se implorarmos sua assistência. Enquanto tecemos essas considerações, o recinto em que nos encontramos está repleto de anjos da guarda que velam por nós, além do anjo destinado a 5 TFP lusa Enquanto o otimismo moderno, devido à mentalidade obsessiva do happy end (“final feliz”), é muito propenso a achar que em nada existe luta, dificuldades e perigos, a Igreja, pelo contrário, nos ensina que esta vida é um combate semeado de riscos materiais e espirituais. Por isso, a Providência Divina dispôs um anjo para velar sobre cada um de nós. E o fez com tanta munificência que há também um anjo para cada cidade e nação, além daquele que tutela a própria Santa Igreja Católica, o Arcanjo São Miguel. Não será descabido pensar que, provavelmente, para grupos, famílias de almas, sociedades, etc., existem igualmente anjos da guarda, de tal forma que todos os seres são amparados por um espírito angélico. Destas considerações decorre uma primeira lição, de caráter sobrenatural, que nos leva a compreender como é errada a posição condenada por Dom Chautard1, daqueles que dizem: “Sou muito capaz, inteligente, jeitoso, esperto; por causa disso, desde que não me sobrevenham obstáculos muito grandes, não preciso nem na minha vida espiritual, nem na material, do auxílio de Deus. Dou conta por mim mesmo daquilo que preciso fazer.” Ora, se o Altíssimo delegou um ente celeste para Distorções de uma falsa piedade Jan/Jun 2015 Sérgio Holman Para nos socorrer acompanhar e proteger cada um de nós, é porque a todo momento e para tudo o que fazemos, necessitamos do auxílio d’Ele. amparar o conjunto do nosso movimento, a ser verdade o que acima cogitamos a respeito das famílias de almas, sociedades, etc. Compreendemos, assim, quanta alegria desfrutaríamos se tivéssemos essa ideia sempre presente em nosso espírito! Ao fazermos apostolado, ao passarmos por problemas interiores, por aborrecimentos e contrariedades de toda ordem, nos sentimos sós. Tal solidão é uma ilusão: junto a cada um está o seu anjo da guarda. Não obstante imaginarmos que entre nós e ele há uma distância como entre o céu e a terra, ele de fato está perto, rezando, vigiando, protegendo o homem cuja guarda lhe foi confiada por Deus. Nosso intercessor particular A compenetração dessa verdade proporciona alento à vida espiritual, pois sentimos a mão de Deus nos acompanhando a cada passo. E ilustra as afirmações de Nosso Senhor no Evangelho: não cai um fio de cabelo de nossa cabeça nem uma folha de árvore, não morre um passarinho sem a permissão do Criador. Quer dizer, a conexão entre a missão do anjo da guarda e a doutrina católica sobre a Divina Providência é admirável, própria a estimular em nós a virtude da confiança, pois nesta crescemos ao termos sempre presente que o anjo custódio nos foi dado não apenas para as horas de perigo e provação, como também para rezar e interceder por nós a todo instante. O anjo da guarda é nosso mediador e advogado junto ao trono do Altíssimo e roga continuamente por nós. Portanto, é de todo congruente pedirmos a ele que nos obtenha graças e afaste de nós os perigos. Jan/Jun 2015 Estímulo e conforto TFP lusa 6 Os antigos, aliás, possuíam profunda noção da presença e da intercessão dos anjos custódios, e por isso construíam igrejas em seu louvor, e alguns lugares onde eles apareciam se tornavam objeto de peregrinação. Por exemplo, a Abadia do Monte Saint-Michel, na Normandia. São Miguel Arcanjo é o padroeiro da nação francesa, e também o de Roma, depois que se fez presente no alto do outrora mausoléu do Imperador Adriano, e onde hoje se vê o castelo chamado Sant’Angelo. Em outras ocasiões, viam-se anjos secundando os católicos em seus confrontos contra hereges e adversários da ortodoxia cristã. Haveria mil coisas a se considerar a respeito do papel dos anjos, baseando-se na Bíblia e na história da Cristandade. Infelizmente, tudo isso é pouco ou nada recordado. Razão pela qual é extremamente belo rememorarmos essas verdades e tê-las sempre em vista para o estímulo e conforto de nossas almas. Modelo de Santidade Restar-me-ia apresentar uma última reflexão, a qual submeto ao juízo da Igreja por se tratar de uma opinião pessoal, que me parece conveniente e razoável. Deus tudo faz com conta, peso e medida, de modo ordenado, e não é provável que a designação de um anjo da guarda para atender uma pessoa se produza de maneira automática. De fato, não é possível imaginar uma espécie de ponto de táxi de anjos no Céu, à espera de que nasça um homem e, a um aceno de Deus, o anjo A ou o X se dirige à Terra e começa a proteger aquele novo ser humano... Essa forma de agir em Deus não nos soa como própria de sua infinita sabedoria. Mais inclinado sou a pensar que Deus delega a cada pessoa um anjo da guarda cuja santidade tem relação com a luz primordial1 daquela alma. De maneira que o anjo é um celeste modelo das virtudes que ela deve praticar ao longo da vida terrena. Se pudéssemos ver nosso anjo da guarda, contemplaríamos provavelmente a personificação de nossa luz primordial, ou seja, algo que seria de certo modo parecido conosco, mas num grau de beleza ontológica e sobrenatural inconcebível. O “alter ego” do homem Compreendemos, então, a simpatia, a afinidade e o desejo de servir que teríamos para com ele e, reciprocamente, o vínculo especial do anjo da guarda conosco. Quer dizer, o anjo custódio é o celeste alter ego, o outro “eu mesmo” de cada protegido. Esta é uma razão particular para que, antropomorficamente falando, tenhamos ainda mais facilidade de compreender como o anjo da guarda nos ampara. Imaginemos que encontrássemos alguém necessitado de ajuda, sumamente parecido conosco: não é verdade que nos apressaríamos em socorrê-lo, impelidos por essa semelhança? Ora, é o que sucede entre o anjo da guarda e cada um de nós. (Extraído de conferêcia em 2/10/1964. Subtítulos são da Revista Dr. Plinio, nº 115, Editora Retornarei. S. Paulo, Out. 2007) ) Autor da obra “A alma de todo apostolado”, muito recomendada por Dr. Plinio. 1 ) Segundo o pensamento de Dr. Plinio, posto que todo o homem é criado para louvar a Deus, concede Ele a cada pessoa uma luz primordial, isto é, uma aspiração para contemplar as verdades, virtudes e perfeições divinas de um modo próprio e único, pelo qual dará sua glória particular ao Criador. 1 Ambientes, Costumes e Civilizações Que havemos de fazer para atrair multidões como esta? Plinio Corrêa de Oliveira 7 TFP lusa antigos, o culto, o púlpito, o confessionário, etc. E especialmente a devoção a Nossa Senhora. * * * Algum leitor progressista se contorcerá de cólera. E exclamará: precisamos de novos métodos! Nada se alcança no mundo moderno se não se apela para o moderno. Nossa Senhora morreu há quase vinte séculos, e não interessa mais. O povo de hoje só quer gente de hoje. * * * Há uma obsessão do moderno, que, como toda obsessão, impede a lúcida visão da realidade. As multidões modernas, assoladas pelas preocupações, pelo febricitar da luta quotidiana, pela sensaboria de uma existência votada só ao econômico, se vão tornando cada vez mais apetentes de sobrenatural. E muitos dos tradicionais métodos da Igreja, tão impregnados de nobreza, piedade e senso do sobrenatural, se vão revelando sempre mais eficazes para atrair as massas. Alguém sorrirá com desdém. Onde e quando os métodos tradicionais poderiam atrair tanta gente quanto a que está na foto? Pois bem... esta gente está reunida em Fátima, para assistir a Missa celebrada em louvor de Nossa Senhora por Sua Santidade o Papa Paulo VI, na elevada beleza do ritual católico. Contra fatos não há argumentos. Maria atrai a Si as multidões, e se se quer atrair o povo, basta convidá-lo a louvar Maria. Em torno do Vigário de Cristo, ei-lo que reza enlevadamente à Virgem Mãe, sem que para atrai-lo fosse necessário fazer concessões à bossa-nova, ao ié-ié-ié etc. (Revista Catolicismo, nº 200. S. Paulo, Ag. 1967) Jan/Jun 2015 Em matéria de apostolado, a preocupação essencial do “aggiornamento” parece consistir em atrair para a Igreja as multidões. Nosso século, mais do que os anteriores, pode ser chamado o século das multidões. Por toda parte, vemos multidões que se reúnem. E a todo propósito: comícios políticos, competições esportivas, exibições pagãs da beleza feminina, mil outras ocasiões enfim. Ao considerar essas multidões, é natural que alguém faça a seguinte reflexão: que bom seria, se igual quantidade de pessoas se reunisse a propósito da Religião, para um ato público de culto, um grande sermão, ou uma solene manifestação de fé. E daí flui naturalmente a grande questão: que meio moderno encontrar, que técnica nova usar, para atrair num sentido religioso tão enormes conglomerados humanos? Como, por exemplo, atrair para uma manifestação católica o mar de gente, que figura no clichê desta página? Formulada a pergunta, as respostas começa a afluir. Bem entendido, se é por meios modernos que os modernos atraem as modernas multidões, antes de tudo convém postergar os velhos métodos de apostolado para lançar mão do que haja de mais atual: nada há de suficientemente moderno em tal matéria. Quanto a usar meios modernos, desde que isso se faça com espírito sacral, com toda a dignidade e ele elevação, é ótimo e não há o que objetar. Mas quanto a relegar os meios antigos, a coisa está muito longe de ser tão simples. Com efeito, somos de opinião que os meios mais eficazes para atrair as multidões continuam a ser os Estatuto Editorial TFP Lusa Informa assume-se como uma publicação de informação geral, dirigida ao público nacional e às comunidades portuguesas no estrangeiro, que tem como principais finalidades a promoção dos autênticos valores humanos e cristãos, e a valorização da Tradição, da Família e da Propriedade. TFP Lusa Informa tem como objetivo a difusão de informação diversificada, de carácter doutrinário, científico, cultural, pedagógico e lúdico, de inspiração cristã, destinada a todas as idades. TFP Lusa Informa visa ser um veículo de ligação às comunidades portuguesas no estrangeiro e promover o intercâmbio de informação com os países lusófonos, pelo que será prioritariamente divulgada em Portugal e nos principais destinos de emigração portuguesa. TFP Lusa Informa procurará divulgar atividades desenvolvidas pelas comunidades católicas, particularmente o labor missionário de instituições orientadas para o apoio aos grupos minoritários, desfavorecidos e marginalizados. TFP Lusa Informa é propriedade da Associação dos Custódios de Maria. Não tem fins lucrativos, não tem vínculos partidários, nem é órgão oficial de qualquer religião. 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