revis ta - SEST/SENAT

Transcrição

revis ta - SEST/SENAT
REVISTA
CNT
ÓRGÃO INFORMATIVO CNT - SEST/SENAT | ANO X | NÚMERO 112 | DEZEMBRO 2004
2004
TRANSPORTADOR DESTACA CRESCIMENTO
ECONÔMICO E RECUPERAÇÃO DE MODAIS, MAS A
INFRA-ESTRUTURA É AINDA O MAIOR ENTRAVE
O RECOMEÇO
LEIA ARTIGO EXCLUSIVO DO PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
REVISTA
CNT
ANO X | NÚMERO 112 | DEZEMBRO 2004
REPORTAGEM DE CAPA
SENNA EXPERIENCE
Exposição sobre o piloto
brasileiro acontece em São
Paulo. São mais de 600
itens, com simuladores e
vídeos em 3D
18
TRANSPORTE EM 2004
As principais vozes do setor transportador
fazem uma avaliação do ano de todos os
modais, dos investimentos em infra-estrutura
realizados e o que será necessário para que o
segmento cresça em 2005
10
AVIÃO A ÁLCOOL
O Brasil inova e lança em
escala comercial aeronave
destinada ao agronegócio
movida ao combustível da
cana-de-açúcar
44
DESTAQUES DO ANO
As empresas premiadas
pelo uso racional de
combustível, a Medalha
JK e vencedores do Prêmio
CNT de Jornalismo
54
CARTAS
EDITORIAL
OPINIÃO
PORTO SECO
PROGRAMA PARE
CABOTAGEM
CARGA TRIBUTÁRIA
ROUBO DE CARGA
LOGÍSTICA
SALÃO DO AUTOMÓVEL
INSPEÇÃO VEICULAR
CAMPANHA SEST/SENAT
MAIS TRANSPORTE
ALEXANDRE GARCIA
REDE TRANSPORTE
ARTIGO TÉCNICO
IDET
CHARGE
CAPA DUKE
4
7
8
24
25
28
34
36
40
42
48
60
62
65
67
71
72
74
4 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
DO LEITOR
[email protected]
PELA PAZ
Como instrutor de segurança
no trânsito, estudioso e apaixonado pelo assunto, vejo com
muita ressalva este esforço do
governo para a redução do quadro trágico de acidentes no Brasil, baseado na educação, conforme publicado na edição 110
desta revista. Quando analisamos as causas, verificamos que
quase a totalidade dos acidentes ocorre devido à imprudência, e não à ignorância da regulamentação. As principais causas de acidentes são o excesso
de velocidade, as ultrapassagens indevidas e o uso de álcool
por parte dos motoristas. É muito claro que estas regras não
são desconhecidas dos condutores. Sendo assim – e as estatísticas mostram isto com muita
clareza –, os índices reduzem
sempre quando há rigor na repressão. Educação funciona
para as crianças. Para as gerações adultas, infelizmente, só
funciona quando se pega pesado com a fiscalização e multas.
Ronaldo Alves Silva
Empresário e Instrutor de
Segurança no Trânsito
Belo Horizonte(MG)
PESQUISA RODOVIÁRIA 1
Mais uma vez, a CNT presta
um inestimável serviço à sociedade e ao país com a realização e divulgação da Pesquisa Rodoviária,
já em sua nona edição, como
pode ser conferido na edição 111
“TODAS AS
CONSTATAÇÕES
LEVAM A
CRER QUE
A INFRAESTRUTURA
RODOVIÁRIA É
DESMERECIDA
COMO
PRIORIDADE
EM NOSSO
PAÍS”
da Revista CNT. Posso dizer de
cadeira sobre a importância desta
iniciativa, uma vez que a acompanho desde sua primeira versão, interessado que sou diretamente no
assunto. Há que se registrar o fato
lamentável de que, ano após ano,
todas as constatações levam a
crer que a infra-estrutura rodoviária é desmerecida como prioridade em nosso país. Não percebem
nossos governantes a importância
fundamental que tem para o desenvolvimento de uma nação condições dignas de escoamento e
transporte, isso envolvendo todos
os modais. Não se faz um país desenvolvido sem estradas, sem portos, aeroportos e ferrovias em condições que garantam a trafegabilidade. Que mais esta edição da
Pesquisa Rodoviária sirva de alerta aos mandatários da nação de
que algo precisa ser feito.
Eduardo Souza Borges
Empresário do setor de
transporte de cargas
Piracicaba (SP)
PESQUISA RODOVIÁRIA 2
Muito interessante a reportagem
“Falta de Investimento Acentua
Desigualdade”, publicada na Revista CNT em sua edição 111. Um
ângulo de vista inteligente e que
muitas vezes passa desapercebido,
já que a preocupação com os rincões mais pobres de nosso país
não é necessariamente posto na
ordem do dia. É uma conseqüência
do modelo centralizador e concentrador (de rendas) adotado histori-
camente em nosso país. Com isso,
como bem explicado na reportagem, os grandes centros ficam
sempre na frente quando o assunto é prioridade de investimentos,
sejam eles estatais ou privados.
Henrique J. Duarte
Estudante universitário
Goiânia (GO)
MINISTRO
O artigo do senhor ministro
dos Transportes, Alfredo Nascimento, publicado na edição
111 desta revista, deixa claro
que o governo aposta em uma
retomada do crescimento econômico com o necessário investimento em infra-estrutura de
transportes para o próximo ano.
Fiquei satisfeito ao saber que
assim pensam as autoridades
centrais, já que, como mostra a
mesma revista em uma série de
reportagens sobre as condições
das estradas brasileiras, está
mais do que na hora de a infraestrutura virar prioridade.
José Gordilho
Transportador autônomo
Brasília (DF)
CARTAS PARA ESTA SEÇÃO
Rua Tenente Brito Melo, 1.341 - Conjunto 202
Belo Horizonte - Minas Gerais
Cep: 30.180-070
Telefax: (31) 3291-1288
E-mail: [email protected]
As cartas devem conter nome completo, endereço
e telefone. Por motivo de espaço, as mensagens
serão selecionadas e poderão sofrer cortes
CNT Confederação Nacional do Transporte
6 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
PRESIDENTE
Clésio Andrade
PRESIDENTE DE HONRA
Thiers Fattori Costa
CONSELHO FISCAL
Waldemar Araújo, David Lopes de Oliveira, Braz Paulo Salles,
Éder Dal’Lago, René Adão Alves Pinto, Getúlio Vargas de Moura
Braatz, Robert Cyrill Higgin e Luiz Maldonado Marthos
DIRETORIA
VICE-PRESIDENTES
SEÇÃO DO TRANSPORTE DE CARGAS
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues
SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior
SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
SEÇÃO DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS
Denisar de Almeida Arneiro, Eduardo Ferreira Rebuzzi, Francisco
Pelucio, Irani Bertolini, Jésu Ignácio de Araújo, Jorge Marques Trilha,
Oswaldo Dias de Castro, Romeu Natal Pazan, Romeu Nerci
Luft, Tânia Drumond, Augusto Dalçoquio Neto, Valmor Weiss,
Paulo Vicente Caleffi e José Hélio Fernandes
Benedicto Dario Ferraz
SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti
PRESIDENTES E
VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO
SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Otávio Vieira da Cunha Filho
e Ilso Pedro Menta
SEÇÃO DO TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti e Antônio Pereira de Siqueira
SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes e Mariano Costa
SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Renato Cézar Ferreira Bittencourt
Cláudio Roberto Fernandes Decourt
SEÇÃO DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Bernardo José Figueiredo Gonçalves de Oliveira
e Clóvis Muniz
SEÇÃO DO TRANSPORTE AÉREO
Wolner José Pereira de Aguiar
SEÇÃO DO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Aylmer Chieppe, Alfredo José Bezerra Leite, Narciso Gonçalves dos
Santos, José Augusto Pinheiro, Marcus Vinícius Gravina, Oscar
Conte, Tarcísio Schettino Ribeiro, Marco Antônio Gulin, Eudo
Laranjeiras Costa, Antônio Carlos Melgaço Knitell, Abrão Abdo
Izacc, João de Campos Palma, Francisco Saldanha Bezerra e
Jerson Antonio Picoli
SEÇÃO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Edgar Ferreira de Sousa, José Alexandrino Ferreira Neto, José
Percides Rodrigues, Luiz Maldonado Marthos, Sandoval Geraldino
dos Santos, José Veronez, Waldemar Stimamilio, André Luiz Costa,
Armando Brocco, Heraldo Gomes Andrade, Claudinei Natal
Pelegrini, Getúlio Vargas de Moura Braatz, Celso Fernandes Neto
e Neirman Moreira da Silva
SEÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Luiz Rebelo Neto, Moacyr Bonelli, Alcy Hagge Cavalcante,
Carlos Affonso Cerveira, Marcelino José Lobato Nascimento,
Maurício Möckel Paschoal, Milton Ferreira Tito, Silvio Vasco
Campos Jorge, Cláudio Martins Marote, Jorge Leônidas Pinho,
Ronaldo Mattos de Oliveira Lima, Glen Gordon Findlay e Bruno Bastos
FALE COM A CNT
Setor de Autarquias Sul, quadra 6, bloco J • Brasília (DF) • CEP 70070-916 • Telefone: (61) 315 7000
Na Internet: www.cnt.org.br • E-mails: [email protected][email protected]
Revista CNT
CONSELHO EDITORIAL
Aloísio Carlos Nogueira de Carvalho, Bernardino Rios Pim, Etevaldo
Dias, Hélcio Zolini, Jorge Sória Canela e Maria Tereza Pantoja
FALE COM A REDAÇÃO
Telefone • (31) 3291-1288
Envio de releases e informações • [email protected]
Cartas do leitor • [email protected]
REDAÇÃO
EDITORES-EXECUTIVOS
Ricardo Ballarine e Antonio Seara (Arte)
REPÓRTER
Eulene Hemétrio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Júnia Letícia, Marcelo Nantes, Patricia Giudice e Rogério Maurício
(reportagem), João Sampaio (edição), Soraia Piva (arte) e
Duke (ilustração)
DIAGRAMAÇÃO E PAGINAÇÃO
Antonio Dias e Wanderson Fernando Dias
FOTOGRAFIA
Paulo Fonseca e Futura Press
ASSINATURAS
Para assinar • 0800-782891
Atualize seu endereço • [email protected]
PUBLICIDADE
Remar Representação comercial S/C Ltda
Alameda Jurupis, 452, conjunto 71 - Moema (SP) - CEP 04088-001
CONTATOS E REPRESENTANTES
Diretor comercial • Celso Marino • (11) 9141-2938
Gerente de negócios • Fabio Dantas • (11) 9222-9247
Telefone: (11) 5055-5570
E-mail: [email protected]
Publicação mensal da CNT, registrada no Cartório do 1º Ofício
INFOGRAFIA
de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053,
Agência Graffo • www.graffo.inf.br
editada sob responsabilidade da AC&S Comunicação.
PRODUÇÃO
Rafael Melgaço Alvim • [email protected]
Sandra Carvalho
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem
necessariamente a opinião da Revista CNT
ENDEREÇO
Rua Tenente Brito Melo, 1341 – conjunto 202
Santo Agostinho • CEP 30.180-070 • Belo Horizonte (MG)
IMPRESSÃO Esdeva - Juiz de Fora (MG)
TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 40 mil exemplares
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 7
f
EDITORIAL
Ajuda aos governantes
CLÉSIO ANDRADE
PRESIDENTE DA CNT
É
CREIO QUE SERIA
OPORTUNO QUE
AS MUDANÇAS, JÁ
INICIADAS PELO
ATUAL GOVERNO,
SE ESTENDESSEM
AOS TRÂMITES
ADMINISTRATIVOS
fato que o presidente da República tem idéias e propostas da maior relevância tanto
para a área social como econômica, muitas vezes já expressas em seus pronunciamentos.
É preciso que a sociedade se mobilize para apoiar as propostas de mudanças, afinal, na maioria das vezes, estas
são sempre produtivas, principalmente,
quando o objetivo é nobre e se baseia
na necessidade de crescimento econômico do país.
Estou convencido de que o maior problema de nosso país está na estrutura da
administração pública, que o impede de
dar ação ao Brasil que se deseja.
É fato conhecido que a burocracia é soberana, no setor público, em suas várias
instâncias, desde as esferas municipais, o
que faz com que a atividade produtiva tenha mais desperdício, perda de tempo,
re-trabalho, redução da produtividade e
de qualidade, gerando insatisfação entre
os envolvidos. E não é só isso, na maior
parte das vezes, há necessidade de que
as decisões de política econômica ou
ações de interesse coletivo aconteçam
com celeridade. No entanto, o que, lamentavelmente, ocorre é que caem na
teia burocrática, nos milhares de trâmites
e procedimentos administrativos a ponto
de, em alguns casos, perderem sua eficácia e tempestividade, tão somente pela
falta de agilidade da administração.
A objetividade que caracteriza este governo acaba por ser pulverizada pelo tempo decorrido entre a decisão e o fazer
acontecer atendendo às necessidades da
sociedade atual.
No meu modo de ver, creio que seria
oportuno que as mudanças, já iniciadas
pelo atual governo, fossem estendidas
aos trâmites administrativos, com reorganização da estrutura gerencial, redução
de Ministérios, fusão de órgãos, simplificação de procedimentos e maior ênfase
à atividade fim.
Seria uma ampla e profunda reforma
de procedimentos administrativos com
aumento da informatização e da qualificação das pessoas, revisão dos papéis de
cada função e alocação de pessoas nas
áreas que mais carecem de trabalho.
Tais medidas, além de serem cruciais
na questão política, serão um verdadeiro
marco para essa administração, que já
está promovendo as devidas modernizações em algumas áreas importantes.
Assim, seríamos um país mais eficiente
com resultados satisfatórios para a sociedade. É o que desejamos.
8 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
O caminho do
desenvolvimento
m janeiro de 2003, assumi a Presidência da
República comprometido com a criação e a
implementação de políticas para criar os alicerces de um
Brasil sustentável, mais justo e menos desigual. Diante de tamanho desafio histórico e em uma conjuntura
de grave crise, o nosso primeiro ano
de gestão centrou-se no restabelecimento da normalidade no ambiente
econômico – com esforços intensos
para a consolidação do controle da
inflação e o resgate da credibilidade
internacional do país. Esse primeiro
objetivo foi atingido com sucesso.
Podemos dizer, sem nenhum exagero, que de lá para cá o Brasil criou as
condições para um novo ciclo de desenvolvimento sustentado, além de
reassumir sua importância no cenário mundial e da América do Sul.
Superado o desafio urgente, passamos a articular o enfrentamento
dos entraves à retomada do crescimento. Todo o esforço do governo
passou a ser o de cumprir seu papel
na sustentação do parque produtivo
brasileiro – perseguindo um modelo
distante tanto do velho nacional-desenvolvimentismo das décadas de
50, 60 e 70, quanto do neoliberalismo que marcou os anos 90. A cons-
E
trução desse novo modelo exige, entre outras premissas, a superação
efetiva dos estrangulamentos, ou
gargalos, na infra-estrutura do país.
É nesse contexto que se insere a
questão da melhoria dos transportes.
O nosso governo tem tomado as
medidas necessárias a uma política
nacional de transportes que atenda
tanto as demandas do mercado interno e exportador quanto as do cidadão comum que precisa se deslocar. Em nossa avaliação, ao longo de
décadas o setor de transportes no
Brasil manteve uma excessiva concentração no domínio rodoviário,
tanto no que diz respeito à movimentação de carga como de passageiros.
Por isso, além da recuperação da
malha viária, decidimos ampliar a
participação de outras modalidades
aptas a transportar grandes volumes
de carga, como as ferrovias, a navegação de cabotagem e as hidrovias.
Pavimentar o progresso
Os investimentos em transportes
deflagrados ao longo de 2004 foram
articulados no sentido de recuperar,
efetivamente, o patrimônio de infraestrutura federal e criar condições
para a ampliação de sua capacidade. Em nossa opinião, é preciso instituir no Brasil um modelo multimo-
ALÉM DE
RECUPERAR
A MALHA
VIÁRIA,
DECIDIMOS
AMPLIAR
OS OUTROS
MODAIS
dal eficiente, que garanta competitividade ao setor produtivo e segurança e conforto ao cidadão. Principalmente, é preciso fazer baixar os custos logísticos do transporte no Brasil,
que hoje representam 20% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Investir em transporte significa aumentar a competitividade de nossos
produtos e garantir que sua qualidade original será preservada no destino. Significa pavimentar o caminho
do desenvolvimento, contribuindo
para a geração e circulação das riquezas de que precisamos para a
melhoria da qualidade de vida da
população. Esse desafio está sendo
enfrentado não apenas pela destinação de um volume maior de recur-
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 9
ROSE BRASIL/ABR
minimizar as dificuldades de escoamento da safra agrícola. É um
plano a um só tempo ambicioso e
realista, que envolve investimentos
da ordem de R$ 2,2 bilhões.
Obras estratégicas como a BR101 Sul e a BR-163 estão saindo do
papel ou do estágio de paralisia em
que se encontravam. A maioria dessas ações governamentais envolve
articulação com a iniciativa privada,
que terá o direito de explorar economicamente importantes estradas do
Sul e Sudeste, mediante a contraprestação de serviços para capacitação e manutenção da infra-estrutura transferida. Recolocamos em
curso o processo de concessões de
rodovias federais. Já está prevista a
transferência de 2.584 km para exploração da iniciativa privada. Outros trechos que demonstrem viabilidade poderão, futuramente, seguir
o mesmo caminho.
sos fiscais, mas também na busca
de alternativas de investimento que
combinem interesses públicos e privados – seja por meio da Parceria
Público-Privada (PPP), seja pela retomada das concessões e fórmulas
exclusivamente privadas de investimento em transporte.
No ano de 2004 avançamos na
retomada das obras de efetiva recuperação das nossas rodovias,
patrimônio que não mereceu mais
que ações paliativas ao longo dos
últimos anos. Criamos o Programa
Nacional de Recuperação de Rodovias, do Ministério dos Transportes, que prevê a renovação completa de 7.000 km de estradas federais até março de 2005, de modo a
GASTANDO
MAIS E
MELHOR,
DAREMOS OS
PASSOS PARA
A REVOLUÇÃO
NA INFRAESTRUTURA
Portos seguros,
ferrovias eficientes
O governo também tem empenhado esforços para melhorar a operação dos nossos portos. Avançamos
muito na adequação do sistema portuário brasileiro às normas internacionais de segurança. Iniciamos, no
segundo semestre de 2004, uma intervenção cirúrgica nas principais
instalações portuárias do País, batizada de Agenda Portos. Essa ação
visa identificar problemas e implantar soluções para tornar mais eficientes os dez principais portos brasileiros – responsáveis pelo escoamento
de 89% de nossas exportações.
Apenas para sanar deficiências de
curto prazo, liberamos R$ 57 mi-
lhões adicionais este ano e, até
2006, a previsão de investimentos
chega aos R$ 220 milhões.
Outro setor que se encontrava
praticamente abandonado e ganhou
atenção especial do nosso governo
foi o sistema ferroviário nacional. Deflagramos um plano de revitalização
das ferrovias, para ampliar os corredores de transporte, expandir e modernizar as estradas de ferro – tanto
para transporte de carga como de
passageiros. Aqui, como nos outros
casos, a iniciativa privada também
foi chamada a colaborar. Essa decisão estratégica desencadeou o ressurgimento da indústria ferroviária,
com seus milhares de empregos,
despertando o interesse de grandes
grupos empresariais estrangeiros.
Obras como as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul, por exemplo,
outrora reputadas como sonhos distantes, hoje são objetos de investimentos maciços que possibilitarão
sua conclusão nos próximos anos.
Em resumo, o governo federal trabalha para que 2005 e 2006 sejam
anos de notáveis realizações. O desenvolvimento do país virá na esteira
da melhoria da infra-estrutura de
transportes. Vamos continuar aumentando a disponibilidade orçamentária para o setor no ano que
vem, gerando empregos e atendendo
às demandas de transporte, sem
comprometer o ajuste fiscal ou a solidez dos fundamentos da nossa economia. Gastando mais e melhor, daremos os passos decisivos para uma
revolução na infra-estrutura de transportes nacional, construindo uma
economia mais competitiva e uma
sociedade mais justa e solidária.
2004
APROVADO
COM RESSALVAS
SETOR TRANSPORTADOR AVALIA O ANO POSITIVAMENTE E PEDE MAIS ATENÇÃO E
INVESTIMENTOS DO GOVERNO FEDERAL PARA RECUPERAR SUA TOTAL CAPACIDADE
COMPOSIÇÃO GRÁFICA SORAIA PIVA
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 11
POR
EULENE HEMÉTRIO
o balanço do que
2004 trouxe para
o setor de transportes, o saldo
que fica é positivo, apesar
dos grandes gargalos que
ainda persistem, especialmente na área de infra-estrutura. Alguns avanços puderam ser observados em
todos os segmentos em
conseqüência, principalmente, do crescimento da
economia nacional e da
união de forças de todas as
categorias.
A campanha da CNT pela
aplicação dos recursos da
Cide, por exemplo, teve
adesão generalizada, mobilizando toda a sociedade
para que o governo federal
aplicasse efetivamente a
verba destinada a projetos
de melhoria da infra-estrutura de transportes e também aos relacionados à indústria do petróleo e a subsídios de combustível e gás.
A recuperação do mercado do álcool combustível, o
aumento do consumo do
GNV e os avanços na utilização do biodiesel também
foram pontos positivos na
área de energia, a despeito
dos constantes aumentos
de preços da gasolina, provocados pela alta do barril
de petróleo, que chegou a
patamares superiores a
US$ 50.
O crescimento da economia brasileira foi uma gran-
N
de notícia para o setor de
cargas – o índice de 5,5%
em 2004, recorde desde
1997, soma-se à previsão
de alta para 2005 de 3,5%
a 4%. O aquecimento da
demanda possibilitou uma
retomada do frete e trouxe
ânimo para as transportadoras rodoviárias.
O governo federal já
anunciou investimentos de
R$ 2,2 bilhões para tentar
recuperar parte das rodovias. Tanto o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já disseram que
os próximos dois anos serão
de investimentos em infraestrutura.
O presidente da ABTC
(Associação Brasileira dos
Transportes de Cargas),
Newton Gibson, lembra,
entretanto, que muitas reivindicações – como a liberação dos recursos da Cide
e a reformulação do Modecarga – não avançaram no
plano federal. "Fomos punidos com a reforma tributária e não tivemos nenhum
retorno em melhorias da infra-estrutura das estradas
ou em incentivos para a renovação da frota."
Outros fatos que merecem ser lembrados são a
elaboração da Política Nacional do Trânsito, a aplicação do Registro Nacional
dos Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC),
PAULO FONSECA
NEWTON GIBSON Presidente da ABTC
o "boom" de investimentos
nas ferrovias – R$ 11 bilhões até 2008 – e a união
de forças no combate ao
roubo de cargas, que teve
ação efetiva da Polícia Federal em seminários regionais realizados pelo Brasil.
Como pontos negativos,
vale ressaltar a demora na
aprovação das Parcerias
Público-Privadas (PPP), o
fracasso do programa de financiamento para renovação da frota de caminhões
(o Modecarga) e a crise no
setor aeroviário.
O panorama econômico e
político também propiciou
um incremento no número
de passageiros transportados nas empresas de ônibus interestaduais. Nada
muito significativo, conforme afirma o presidente da
Abrati (Associação Brasilei-
“FOMOS
PUNIDOS
COM A
REFORMA
TRIBUTÁRIA
E NÃO
TIVEMOS
RETORNO
EM INFRAESTRUTURA
OU EM
INCENTIVOS
PARA A
RENOVAÇÃO
DA FROTA”
ra das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros), Sérgio Augusto de Almeida Braga – os números
de 2004 ainda não estão fechados –, mas capaz de
mostrar claramente que o
país está se recuperando.
De acordo com Almeida
Braga, "é preciso destacar o
péssimo estado das rodovias, constatado pela Pesquisa Rodoviária CNT 2004,
que representa um custo de
até 30% a mais em algumas
rotas percorridas pelos ônibus". Segundo o executivo,
o setor também continua na
expectativa de uma solução
para a questão da prorrogação dos contratos, direito
assegurado pela Constituição Federal. "Esse fato tem
funcionado como um fator
de inibição de novos investimentos em volumes significativos. A nossa expectativa
é que, em 2005, algumas
questões de fundamental
importância para o setor sejam finalmente resolvidas."
Há ainda a instituição de
gratuidade para os idosos e
carentes, benefício que é
aplaudido por todo o setor,
mas que carece do estabelecimento de fonte de custeio
e de um cadastramento rigoroso por parte do governo federal para evitar as fraudes.
Essa reivindicação data de
longo período e era de se esperar que em 2004 o problema fosse sanado. Como se
vê, mais um problema fica
para o ano que vem.
À espera de investimentos
O balanço da navegação
pode ser resumido na expectativa que se tinha em relação
à medida provisória 177, que
estabelecia procedimentos
para o recolhimento e a destinação do Adicional ao Frete
para a Renovação da Marinha
Mercante (AFRMM). A medida acabou não sendo o elemento positivo do ano, como
se esperava, face aos vetos
da presidência da república,
orientados pela equipe econômica. Ao todo, foram vetados 14 artigos, caindo por
terra toda a esperança de revitalização da indústria naval
brasileira.
De positivo, o setor aquaviário comemora o crescimento da cabotagem em
mais de 20%, com expectativa de melhores resultados em
2005. Esse avanço, segundo
o vice-presidente da CNT
para o setor aquaviário, Meton Soares Júnior, se deve,
principalmente, à visão dos
empresários, que estão colocando mais navios para atender a demanda, especialmente de carga geral. "No longo
curso, entretanto, continuamos com falta de navios, com
cargas permanecendo nos
portos por falta de contêineres e embarcações entregues
à bandeira estrangeira", diz
Meton Soares.
CELSO AVILA / FUTURA PRESS
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 13
METON SOARES
JÚNIOR
Vice-presidente
da CNT para o
setor aquaviário
No sistema portuário também não houve avanços, conforme o executivo. "O governo
disse que ia investir no setor,
mas este ano não aconteceu.
Estamos preocupados que
esse investimento não se
concretize, o que vai provocar
um estrangulamento ainda
maior no escoamento da próxima safra."
Problemas nas cidades
No transporte público urbano, 2004 foi marcado pela
continuidade da crise que assola o setor há cerca de oito
anos, provocada pela perda
contínua de demanda e produtividade, com graves reflexos na saúde financeira das
empresas operadoras. A avaliação é do presidente da
NTU (Associação Nacional
das Empresas de Transportes
Urbanos), Otávio Vieira da
Cunha Filho.
De acordo com Cunha Filho, o setor deu continuidade
ao Movimento Nacional pelo
“É PRECISO
DESTACAR O
PÉSSIMO
ESTADO DAS
ESTRADAS,
CONSTATADO
PELA
PESQUISA
RODOVIÁRIA
CNT, QUE
REPRESENTA
UM CUSTO
DE ATÉ 30%
A MAIS”
SÉRGIO AUGUSTO
DE A. BRAGA
Presidente
da Abrati
Direito ao Transporte Público
com Qualidade para Todos
(MDT), no intuito de encontrar soluções para os graves
problemas estruturais que
afetam o setor oriundos, principalmente, do alto custo dos
serviços, da proliferação do
transporte ilegal e da falta de
investimentos na infra-estrutura. O movimento, iniciado
em 2003, reúne os representantes do Poder Público concedente, os operadores rodoviários e metroviários, a indústria fornecedora, os trabalhadores do setor e as representações dos usuários.
O dirigente da NTU avalia
que os resultados alcançados
pelo MDT e pela Frente Parlamentar do Transporte Público
ainda estão longe do esperado. "O governo federal, através do Ministério das Cidades
e da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, vem trabalhando
na construção de um pacto
federativo, envolvendo Estados e municípios com o objetivo de baratear as tarifas pela
desoneração dos custos do
setor. De concreto, até o momento, tem-se a inclusão do
transporte público urbano na
pauta de prioridades do governo federal e das prefeituras, representadas pela Frente Nacional de Prefeitos."
O presidente da Fetacesp
(Federação dos Taxistas Autônomos do Estado de São
Paulo), José Fioravanti, avalia
NTU/DIVULGAÇÃO
perdemos passageiros. Para
conseguir um salário razoável, temos que trabalhar até
20 horas por dia."
Política justa
OTÁVIO VIEIRA DA CUNHA FILHO Presidente da NTU
que a situação está cada vez
pior para o setor. "Nós somos
a segunda vitima do desemprego. Após receber o dinheiro do Fundo de Garantia,
muitos trabalhadores compram veículos para entrar
para setor, muitas vezes na
clandestinidade. Ninguém
toma providência porque os
desempregados são considerados coitadinhos, que têm
que sustentar família. Mas
ninguém se lembra que nós
também temos família para
sustentar", diz o dirigente.
Segundo Fioravanti, a única conquista do segmento em
2004 foi a isenção do ICMS
na aquisição de carro novo, o
que está possibilitando renovar a frota. Com a isenção de
IPI, que já era oferecida para
o setor, os veículos chegam a
ter quase 32% de desconto
no total. Ele considera, porém, que o aumento da gasolina está prejudicando muito
o setor. "Se aumentamos a tarifa por causa da gasolina,
O setor aeroviário foi marcado por obras nos aeroportos e pela crise do setor aeroviário, especialmente da
Vasp, que teve um prejuízo
de R$ 25,8 milhões no primeiro semestre, 198% maior
do que mesmo período de
2003. Atolada em dívidas e
com uma frota sucateada, a
empresa sofreu, em setem-
bro, uma grande greve de
funcionários por falta de pagamento de salários, o que
resultou no cancelamento de
dezenas de vôos.
A Vasp chegou a anunciar a
demissão de 380 funcionários
com o objetivo de reduzir custos, e a GE, que faz manutenção de aviões, pediu a falência
da empresa, em outubro. Com
a notícia, a Bovespa suspendeu temporariamente os negócios com ações da empresa
e os bilhetes de passagem foram até mesmo rejeitados pelas outras operadoras.
SNEA/DIVULGAÇÃO
A ISENÇÃO
DO ICMS NA
AQUISIÇÃO
DE CARRO
NOVO PARA
OS TAXISTAS
POSSIBILITA
RENOVAR A
FROTA, DIZ
FIORAVANTI
GEORGE
ERMAKOFF
Presidente do Snea
CNT/DIVULGAÇÃO
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 15
JOSÉ FIORAVANTI Presidente
da Fetacesp
Para o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas),
o setor precisa de condições
para atender a demanda sem
depender das flutuações do
mercado econômico e do
combustível. Segundo a assessoria de imprensa da entidade, presidida por George
Ermakoff, "as empresas de
transporte aéreo continuam
esperando a instituição de
uma política de preços justos
para o querosene de aviação,
pois a atualmente adotada
pela Petrobras é abusiva e lesiva ao setor".
A previsão, segundo o
Snea, é pessimista se medidas não forem tomadas: "A
crise estrutural se aprofundurá e o setor viverá novos abalos no futuro."
Apesar do tom fúnubre,
em alguns pontos o setor aeroviário conseguiu passar
bem no ano. A Infraero, responsável pela administração
dos aeroportos, continuou
seu programa de revitalização
dos terminais, projeto de
mais de R$ 5 bilhões. E a movimentação de passageiros
pode crescer entre 10% e
12% em relação a 2003.
Revigoramento
Em se tratando de fretamento e turismo, um passo
importante está sendo dado
em parceria com o governo
federal. Com a participação
de todos os segmentos (agências de viagens, empresas
transportadoras, organizadores de eventos, hotéis), o Ministério do Turismo está elaborando a Política Nacional
do Turismo, que define as
atribuições da União na coordenação e no estímulo ao setor, como também regula as
atividades e o funcionamento
dos serviços turísticos. O objetivo é facilitar a atividade no
Brasil, incentivando a prática
do turismo em todas as regiões do país.
"Várias minutas já foram
apresentadas e tudo o que
cria obstáculos para o desenvolvimento dos transportado-
O MINISTÉRIO
DO TURISMO
FOI “UM
ACERTO DO
GOVERNO
FEDERAL”
MARTINHO F.
DE MOURA
Presidente da
Anttur
res está sendo avaliado,
como também estão sendo
propostos artigos para proteger o mercado", diz o presidente da Anttur (Associação
Nacional de Transportadores
de Turismo e Fretamento),
Martinho Ferreira de Moura.
Segundo ele, hoje existem
cerca de 3.000 empresas cadastradas para esse serviço.
Moura frisa também que a
ANTT está revendo a resolução que regulamenta a prestação de serviços e procedimentos do transporte interestadual e internacional de passageiros, no regime de fretamento, para coibir a operação
por parte de empresas clandestinas.
Para o dirigente, a criação
do Ministério do Turismo foi
"um acerto muito grande do
governo federal", uma vez
que o setor está, finalmente,
recebendo a atenção que
ANTTUR/DIVULGAÇÃO
CNT/DIVULGAÇÃO
JOSÉ FONSECA
LOPES Presidente
da Abcam
merece por sua importância
estratégica. "Alguns entraves
ainda prejudicam o segmento, como a falta de infra-estrutura e de segurança. Mas a
interiorização do turismo,
com municípios sendo responsáveis pelo próprio desenvolvimento, vem envolvendo a comunidade e fazendo brotar vocações. Neste
ano, já sentimos um ligeiro
aquecimento da demanda e
estamos nos preparando para
absorver o fluxo gerado."
Reivindicações
No setor dos transportadores autônomos e de cargas, líderes regionais e nacionais
dos caminhoneiros se uniram
a representantes de empresas de transportes de cargas
e realizaram diversas reuniões com representantes do
governo para apresentar suas
reivindicações.
O presidente da Abcam
(Associação Brasileira dos
Caminhoneiros), José Fonseca Lopes, diz que as negociações ficaram sem as esperadas soluções para os proble-
mas citados. "Boa intenção a
gente está vendo de todos os
lados, mas alguma coisa está
atravancando o processo e
tornando as soluções morosas. Mas o setor está unido e
não vai ser possível tapar o
sol com a peneira. Vamos cobrar várias coisas em 2005,
entre elas a reformulação do
Modecarga. Também queremos discutir as novas normas
de inspeção veicular, pois se
for do jeito que está proposto,
não teremos mais ninguém
para fazer transporte,"
A Abcam também lançou o
serviço de disque-denúncias,
que recebe informações, inclusive anônimas, sobre roubo de cargas e de caminhões,
tráfico de drogas e qualquer
outra atividade ilícita registrada no setor de transportes.
A indústria montadora de
caminhões alcançou um dos
melhores resultados de sua
história, com cerca de 25 mil
unidades destinadas à exportação e 76 mil para abastecer
o mercado interno.
"Em pouco tempo a indústria preencheu sua capacida-
GERALDO VIANNA
Presidente da NTC
de ociosa e, nesse momento,
está se perguntando se vale a
pena fazer investimentos. Os
empresários sabem que, se a
economia continuar crescendo, o Brasil terá sérios problemas porque o setor não está
preparado para isso", diz o
presidente da NTC (Associação Nacional dos Transportes
de Cargas), entidade do sistema CNT, Geraldo Vianna.
Para o dirigente, os gargalos de infra-estrutura permanecem, mas ele frisa que todas as campanhas e movimentos realizados pelo setor
de transportes conseguiram,
finalmente, sensibilizar o goPAULO FONSECA
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 17
ANTF/DIVULGAÇÃO
verno federal. "Fizemos barulho e o recado chegou onde
tinha que chegar. O presidente Lula inseriu em seus
discursos o que nós vínhamos falando há muito tempo", diz Vianna. "O único problema é que o governo está
tendo dificuldades de transformar em realidade os projetos a que se propõe, mesmo
tendo dinheiro para a realização dos mesmos. Essa falta
de arranjo nos deixa preocupados, mas estamos esperançosos de que 2005 seja
um ano de boas notícias."
Vianna também avalia
como ponto positivo no ano a
implantação do RNTRC, com
o objetivo de conhecer o conjunto de operadores que atuam no mercado. A fiscalização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres)
será realizada a partir de
2005 e o transportador que
não estiver registrado terá de
pagar uma multa de R$ 500.
"Esse trabalho vai possibilitar
uma excelente radiografia do
setor para podermos planejar
melhor as nossas ações. O registro é um pré-requisito para
qualquer disciplinamento."
Hora da virada
Na avaliação da ANTF
(Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários), 2004 foi o marco da
concretização do trabalho
realizado pelas concessionárias no setor ferroviário, após
RODRIGO
VILAÇA
Diretor-executivo
da ANTF
O MODAL
FERROVIÁRIO
CONQUISTOU
DESTAQUE
POR SUA
IMPORTÂNCIA
NA CADEIA
LOGÍSTICA
DO PAÍS
o seu processo de desestatização, atingindo principalmente os seguintes resultados: captação de recursos
em torno de R$ 2 bilhões
para ampliação dos serviços,
acréscimo de 16% na produção do primeiro semestre,
redução de 18% do índice
de acidentes e a transformação do patrimônio líquido negativo para positivo, com exceções de duas das 11 concessões ferroviárias passadas à iniciativa privada.
"As concessionárias prestadoras dos serviços públicos
de transporte ferroviário conquistaram destaque pela importância dos seus serviços
na cadeia logística do país,
sendo vital para o escoamento da produção industrial e
agrícola, bem como para alavancar a competitividade do
país no comércio exterior",
diz o diretor-executivo da entidade, Rodrigo Vilaça.
Segundo ele, os recursos
captados foram aplicados em
infra-estrutura (construção de
linhas férreas e terminais, ampliação de pátios e terminais,
reconstrução de trechos e recuperação da infra e superestrutura da via permanente), no meio
ambiente, em novas tecnologias, na capacitação do pessoal
e na aquisição e remodelação
de material rodante.
Além das conseqüências
econômicas, como aumento
da produção e geração de
empregos indiretos, a atuação das empresas ferroviárias
está revitalizando toda a industria nacional de equipamentos ferroviários, que comercializou 104 locomotivas
e 4.951 vagões em 2004 para
atender o crescimento de volume de cargas.
t
18 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
UMA VOLTA PELA
EXPOSIÇÃO EM SÃO PAULO, QUE CONTA COM PARCERIA DO
“ESSE CARRO É DE VERDADE?”
criança pergunta ao pai ao se
deparar com um McLaren, em
pleno shopping center. O carro
da Fórmula 1, presente no imaginário como algo inatingível para muitos
e real para poucos, está lá, a centímetros
de distância do toque, a não ser pela faixa amarela que lembra à criança, ao pai
e a todos os visitantes de uma exposição
particularmente especial aos brasileiros
que ela é o limite.
A mostra “Senna Experience” é uma
das principais iniciativas na preservação
da memória do piloto Ayrton Senna, e a
CNT-Sest/Senat é um dos parceiros que
ajudou a viabilizar a exposição. Instalada
num dos pisos do Shopping Eldorado
(zona oeste de São Paulo), a mostra é
um coletivo da carreira e da vida pessoal
do tricampeão de F-1. São mais de 600
itens, distribuídos em 15 salas temáticas, cada uma intitulada com um valor
importante a Senna, 500 fotos e terminais de computador com um banco de
dados com 210 verbetes sobre o piloto.
A organização, capitaneada pelo Instituto
Ayrton Senna, uniu peças de arquivo pessoal a material cedido por colecionadores e
fãs. Resultado de um trabalho de 18 meses,
da idealização até o dia de abertura, a “Senna Experience” conta com 42 pessoas envolvidas diariamente na exposição, entre
FOTOS INSTITUTO AYRTON SENNA/DIVULGAÇÃO
A
coordenadores
e monitores – todas as salas possuem orientadores exclusivos –,
que passaram por um treinamento de
16 dias a partir do banco de dados do IAS,
da família do piloto da Base 7, a responsável pela curadoria do evento.
O visitante vai encontrar desde reproduções miniaturizadas de todos os
carros que Senna pilotou, do primeiro kart ao último Williams, até
peças de roupas de festa, macacões originais, todos os modelos de
capacetes (originais também), troféus, garrafas de champanhe e os
carros, como o McLaren que anunciou o espanto da criança lá de cima.
“Brasileiro só aceita título de campeão,
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 19
VIDA DE SENNA
SEST/SENAT, REÚNE MAIS DE 600 ITENS DO PILOTO
AS LOTUS
O modelo preto da
primeira vitória da
carreira; abaixo, do
triunfo em Mônaco
e eu sou brasileiro.” Essa frase, uma das
várias que estão nos painéis que cercam
os corredores, define o resultado da exposição, a sensação que toma o visitante
quando chega ao final das salas e se depara com a Lotus preta de 1985, o carro
original em que Senna venceu sua primeira prova na F-1. É um espaço digno da
história do piloto, algo para fazer esquecer
a máxima “brasileiro não tem memória”.
Deparar-se com um carro de F-1, para
quem nunca foi a Interlagos, é um dos
grandes atrativos da exposição. O primeiro a aparecer é a Lotus amarela, de
1987, o módulo que ganhou o GP de Mônaco pela primeira vez. Pura História,
desse pequeno conjunto saiu a lenda do
rei do principado, um dos poucos recordes que Michael Schumacher ainda não
ousou superar.
O segundo carro é a McLaren, o carro
que venceu o GP de Monza de 1990 e
que Senna ganhou em uma aposta com
Ron Dennis, o chefe da equipe. O brasileiro chegou à corrida com um
carro reserva, sem a configuração do principal.
Dennis disse a Senna
que, se ele vencesse a corrida,
poderia ficar
com o carro,
desculpandose pelo impre-
POR
RICARDO BALLARINE
visto. Senna topou, venceu e levou o histórico número 27 que está na exposição.
Para fechar a mostra, a Lotus preta, a única peça que pode ser fotografada, cedida
por um colecionador italiano.
Mônaco se faz presente em outras salas. Uma instalação com capacetes permite assistir a dois vídeos a bordo do carro de Senna. O primeiro é uma volta narrada em Interlagos (1993). Depois, acompanha-se uma volta em Mônaco (1988),
apenas com o som do motor do carro. A
sensação nesse caso é asfixiante, tem-se
a impressão de plena confusão provocada
pelo improvisado circuito de rua europeu,
com suas curvas estreitas, guard-rails tão
próximos que parecem colados.
“É impressionante, na TV a gente tem
uma sensação diferente, mas daqui, mesmo num vídeo, parece que correr sem bater é coisa para gênio ou milagre”, diz o
engenheiro mecânico Paulo Soares, que
“vestiu” um dos capacetes para acompanhar a volta de Senna, vencedor de seis
GPs no principado.
Na sala chamada “Superação”, o visitante assiste a um vídeo em 3D, com duração de 4 minutos, que resume as diversas fases de Senna. Do kart ao susto que
provocou no mundo ao desafiar a chuva já
nos circuitos da F-1, até chegar a um vazio silencioso: o ano, 1994; o carro, a Williams. “Fiquei emocionado, é como acompanhar a carreira de Senna através dos
TECNOLOGIA
A sala dos capacetes com vídeos
comentados (ao lado), os troféus e
o tecnígrafo (abaixo), que leva a
chancela CNT-Sest/Senat
seus carros. E quando chega a hora de
mostrar a Williams o vídeo acaba quieto.
Lembrei do dia em que ele morreu, quando estava assistindo à corrida”, diz o publicitário Márcio Hamilton.
A memória de Senna está presente, impregnada em todos os detalhes, em todos
os itens expostos. Do macacão de sua primeira vitória à série que vestiu na McLaren, nos diversos vídeos com entrevistas
com amigos, jornalistas, pilotos e membros das suas equipes – desfilam Ron
Dennis, Alain Prost, Frank Williams e Sid
Mosca, o designer dos seus capacetes.
E, sim, há Galvão Bueno, muitas vezes,
a voz é quase onipresente pelos corredores. Mas o motivo é justo e justificado.
Nas telas espalhadas pela mostra, o visitante pode assistir, por exemplo, a todas
as suas 65 largadas na pole-position (e
dá-lhe Galvão na narração). Pode ver cenas dos duelos com Prost e com Nigel
Mansel (tudo narrado...), pode se emocionar com os trechos das provas que deram
os três títulos a Senna – e, em algum mo-
mento da visita, em algum corredor, ecoa
o histórico “Eu sabia, eu sabia...”, a “premonição” de Galvão no momento em que
Senna deixa Berger ultrapassá-lo no GP
do Japão de 1991, ano do tri.
A emoção também dá espaço a outras
das obsessões de Senna. No espaço “Conhecimento”, com o selo CNT, é possível
esmiuçar o funcionamento de um carro de
F-1. Um aparelho chamado tecnígrafo permite ao visitante, por exemplo, ver como
funciona a suspensão de acordo com a velocidade empregada. São quatro telas
(motor, boxes, exterior do carro e interior
do carro), com visão 360º, cada uma com
um conjunto de réguas (como um mouse
de computador) que amplia o ponto selecionado: do cockpit aos pneus, da movimentação nos boxes à troca de marchas.
Jóbson Cerqueira, economista que
aproveitava um feriado para escapar da
Bolsa de Valores, onde trabalha, estava
atônito. “Parece um game de simulação, um programa de computador daqueles engenheiros que ficam testando
SENNA EXPERIENCE
Shopping Eldorado
Av. Rebouças, 3.970,
Pinheiros (zona oeste
de São Paulo)
Informações
(11) 6950-8899
Ingressos
R$ 10 (ter. a sex.) e
R$ 14 (sáb. e dom.)
Horários
13h às 19h (ter. e qua.),
13h às 21h (qui. e sex.) e
11h às 21h (sáb. e dom.)
Até 12/1/2005
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 21
carros novos. É a primeira vez que vejo
como uma suspensão reage à velocidade. Parece coisa do futuro, aquele filme
do (Steven) Spielberg com o Tom Cruise (sugestionado pelo repórter, Cerqueira lembrou do título: “Minority Report”).” Cerqueira é presença constante
no GP do Brasil desde que a prova voltou a Interlagos, em 1990.
A exposição é algo raro na história da
preservação da memória nacional, ao unir
intimidade à tecnologia. Bem montada,
com orientação clara ao visitante e monitores bem treinados, a Senna Experience
traça um circuito da vida do piloto com
cuidado e delicadeza, expondo sem vulgarizar, emocionando sem exagerar.
As salas com os temas caros ao brasileiro (Superação, Perfeccionismo, Inspiração, entre outros) fazem com que o fã, o
curioso ou o interessado no esporte co-
nheça Senna e o Ayrton (copyright Edson
e Pelé), faça parte, ainda que por um
momento, do universo que tomou conta
do país enquanto ele esteve nas pistas.
Não por acaso, uma das paradas preferidas do público, segundo um dos monitores, é o telão que exibe a vitória de Senna
em Interlagos, em 1993, quando no final
a pista foi invadida pelos torcedores e o
carro do piloto, cercado. Triunfante, Senna se ergue do meio da multidão e surge,
de braços estendidos, vitorioso. Os comentários vão ao extremo: “Nunca vi nada
igual”, “Foi impressionante”, “É de arrepiar”, fora outros não-publicáveis.
Há também um simulador, pequenos
carros em uma sala especial que funciona como um cinema 180º. A volta em Interlagos é exibida num telão, enquanto o
carro treme, tomba de lado, mas a sensação ilusória só ganha efeito para quem
está na primeira fila – os carros
dispostos mais atrás não provocam tal efeito.
Senna ainda é um marco,
um nome a rondar o circuito da
F-1 (seja nas cobranças e comparações a Rubens Barrichello,
seja nos recordes que Schumacher vai destruindo), a povoar o
imaginário esportivo nacional
(freqüentemente abalado com
escândalos ao redor de Pelé). A
exposição não causa o estímulo
de provação, mas deixa o visitante com a sensação de ter
passado pela História, com a
esperança de que o Brasil é capaz, sim, de preservar e cultivar
sua memória. Sem heroísmos.
Como diz Senna na frase
que abre a exposição: “Os limites estão aí por um único motivo: para serem superados”.
“AS CRIANÇAS SAEM APAIXONADAS”
“Senna Experience” é
uma exposição itinerante, mas ainda não encontrou parceiros para viajar pelo
país. Sucesso de público – em
um mês, mais de 40 mil pessoas
passaram pelo espaço –, a mostra é parte do Ano Ayrton Senna
do Brasil, que prevê, para março, a inauguração do Parque das
Esculturas Ayrton Senna, em
São Paulo, exposição com obras
de artistas plásticos renomados
inspiradas nos valores do piloto.
Os trabalhos ficarão expostos em
local a ser definido, que se tornará ponto turístico da cidade.
A irmã do piloto e presidente
do IAS, Viviane Senna, fala, em
entrevista à Revista CNT, sobre
o conceito da exposição, as reações das pessoas e dos projetos
do instituto.
A
Revista CNT: A exposição
“Senna Experience” é um exercício de memória, algo incomum no
Brasil. Ayrton Senna é um raro
caso de esportista que recebe tratamento digno do seu talento e de
sua carreira. Qual a importância
de se manter viva a história de
Senna e seus valores?
Viviane Senna – Ayrton Senna,
além de um grande esportista, era
também uma referência fora das
pistas, passando para todos que o
admiravam valores como determinação, ousadia, fé, superação e vitória, muitas vezes esquecidos em
nosso cotidiano. Ele se tornou um
herói em um país com poucos ídolos dessa magnitude e despertou
em cada um de nós o orgulho de
ser brasileiro. E isso era reforçado
cada vez que ele tremulava a nossa bandeira nas pistas e no pódio.
A PARCERIA
COM A CNTSEST/SENAT,
AJUDOU A
REALIZAR
O GRANDE
SONHO DE
LEVAR PARA
O BRASIL
ESSE AYRTON
QUE TANTOS
ADMIRAM
VIVIANE SENNA
À frente do IAS
há 10 anos com
trabalho social
A idéia da
“Senna Experience” é mostrar a construção da trajetória de sucesso de Ayrton Senna
dentro e fora das pistas, resultado
de muito esforço e dedicação, e
permitir que os visitantes, por meio
das experimentações e sensações
provocadas em cada espaço, vivam realmente essa trajetória.
Revista CNT: Tecnologicamente, a “Senna Experience” é uma
das melhores exposições já vistas
no país. Combinada com objetos
pessoais, tem-se a impressão de
um passeio pelas várias facetas
de Ayrton Senna. Tudo isso reflete
a personalidade dele?
Viviane Senna - O Ayrton foi
um tricampeão mundial de F-1
e, ao mesmo tempo, o irmão e
amigo de todos os que cruzaram seu caminho. De fato, a
exposição mostra essa diversidade, com o forte apelo tecnológico para que as pessoas tenham a chance de experimentar um pouco do que ele viveu
dentro e fora das pistas, para
que conheçam um pouco mais
do homem Ayrton. Na sala Intimidade/Emoção, por exemplo,
as pessoas têm a oportunidade
de conhecer um Ayrton Senna
descontraído, divertido, dedicado à família, à prática esportiva e ao convívio com amigos,
fãs e jornalistas, uma imagem
que muitas vezes contrasta
com o piloto sério e concentrado dentro do cockpit.
NORIO KOIKE
Revista CNT: Qual a importância dos patrocinadores e parceiros para a “Senna Experience”?
Viviane Senna - Nossos parceiros são os grandes responsáveis
pela viabilização desse projeto. Foram eles que permitiram a realização da exposição, que é única do
gênero no Brasil. Com a parceria,
como a estabelecida com a CNTSest/Senat, foi possível concretizar
esse grande sonho de levar para os
brasileiros esse Ayrton que tantos
admiram e reacender nos corações
os valores vividos pelo tricampeão e
que nutrem todos nós.
Revista CNT: Quais as reações
que a senhora recebe de quem visita a “Senna Experience”?
Viviane Senna - As respostas
têm sido muito positivas, superando as expectativas. Recebemos
muitos elogios de pessoas que
saem emocionadas, pois acreditam
que a exposição faz uma homenagem realmente à altura do nosso
tricampeão. E, principalmente, a
reação das crianças e dos adolescentes é um destaque. A maioria
deles não teve a oportunidade de
conhecer o Ayrton em ação, apenas conheciam aquilo que é contado pelos pais e, quando visitam a
exposição, saem apaixonadas pelo
Senna e por tudo que apresentamos aqui, mostrando que a “Senna
Experience” alcança o seu objetivo.
Para os amigos e os que conheceram o piloto, seja pela TV ou pessoalmente, é um momento de recordação, reflexão e respeito. A sala Ex-
TRAJETÓRIA
Dos tempos
de kart ao
tricampeonato
na McLaren
celência tem sido a concretização
do que falo: as pessoas sentam-se
para assistir às 41 vitórias que passam no videowall. Você as vê muito
emocionadas assistindo aos shows
que ele dava aos domingos pela TV.
Além desse fato que ocorre diariamente na exposição, muita gente
nos cumprimenta e agradece pela
oportunidade de ter um contato tão
íntimo com a vida e obra de Senna.
Revista CNT: A vontade de Senna de realizar projetos sociais só
veio a público após sua morte. O
Instituto Ayrton Senna é o caminho
e a forma desse desejo. Como o IAS
está presente na exposição?
Viviane Senna - O Instituto Ayrton Senna é a realização de um sonho de Ayrton, que acreditava que
todas as pessoas podem ser vitoriosas em suas vidas se a elas forem dadas as oportunidades para
o desenvolvimento de seus potenciais. A “Senna Experience” é mais
uma forma de apresentar os valores de meu irmão para todo o público, permitindo que seu legado
permaneça vivo e influenciando
positivamente a vida das pessoas.
Na sala Instituto Ayrton Senna/Legado, o visitante consegue conhecer em mais detalhes o valor
desse legado nos resultados das
ações do Instituto, que já atingiram,
em seus dez anos de existência, 3,9
milhões de crianças e jovens, envolvendo 206,7 mil educadores de
1.045 municípios de todo o Brasil.
Revista CNT: Quais os próximos
projetos de ação social que o IAS
planeja colocar em prática?
Viviane Senna - O Instituto
Ayrton Senna continuará atuando
de forma sistemática para criar
oportunidades de desenvolvimento humano a crianças e jovens do
nosso país. Por meio do Centro
Avançado de Tecnologias Sociais
Ayrton Senna, preparamos educadores e profissionais do terceiro
setor para abraçarem a causa e
atuar junto às novas gerações por
meio do conhecimento e das tecnologias sociais que criamos nessa década de atuação em todo
país. São tecnologias que respondem, em grande escala, ao maior
desafio do país: diminuir as desigualdades sociais.
t
24 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
INTERMODALIDADE
INFRA-ESTRUTURA
O MODELODE CACEQUI
PORTOS SECOS PASSAM DE 22 PARA 80 EM CINCO ANOS
retomada de investimentos no setor ferroviário traz de carona um
ponto importante na infra-estrutura do transporte e para
a eficiência da movimentação de
cargas. Desde 1996, funcionam
no Brasil os Entrepostos Aduaneiros do Interior, mais conhecidos
como portos secos. Hoje, com a
alta demanda de movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro, eles se multiplicaram. Até
1999, eram 22, instalados principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Cinco anos depois, esse número já chega aos 80, espalhados
em todo o país. Alguns aguardam
licitação para funcionar, outros foram construídos há poucos meses
e já dão resultados para os municípios próximos e produtores.
O mais recente é o porto seco
de Cacequi, inaugurado há pouco
mais de dois meses na cidade de
mesmo nome, região centro-oeste
do Rio Grande do Sul. Resultado
de uma parceria entre a ALL
(América Latina Logística) e a
Tuiuti Comercial de Insumos Agrícolas Ltda, o terminal intermodal
ainda está no final de sua fase de
implantação e se prepara para a
segunda etapa, em 2005.
O diretor-executivo da ANTF
(Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), Rodrigo
A
POR
PATRÍCIA GIUDICE
PORTO DE CACEQUI
Onde fica
Região centro-oeste
do RS
Zona de influência
38 municípios
Área
50 mil m2
Capacidade de
armazenamento
9.000 toneladas
de grãos em
6 silos verticais
Capacidade de
carregamento
2.000 toneladas ou
40 vagões de grãos
Principais produtos
transportados
Soja e arroz
Vilaça, compara o porto seco de
Cacequi ao de Uberlândia (MG),
feito pela Ferrovia Centro-Atlântica. Para ele, construir esses terminais de operadores logísticos é importante para integrar as formas
de transporte de cargas. “É disso
que o Brasil precisa. Proporcionar
resultados, reduzir custos e criar
alternativas para movimentar os
produtos”, diz Vilaça. Os portos
secos são instalados preferencialmente em regiões adjacentes às
produtoras e consumidoras.
Vilaça diz que os produtores da
região de Cacequi estão satisfeitos
com a iniciativa. “O porto está
atendendo às demandas dos
clientes com serviços otimizados e
está minimizando os custos logísticos”, diz o dirigente da ANTF. Ele
completa: “Os terminais intermodais significam uso racional do
modo de transporte.” Até o momento da construção do terminal,
a região de Cacequi era dependente do transporte rodoviário
para levar os grãos para os portos
de Rio Grande e Santos.
Para a região, o porto seco está
servindo de fomento também para
o comércio e a exportação, já que
é um local de intensa produção de
grãos. “A cidade virou um centro
de oportunidades e o porto está levando receita para a região”, diz o
diretor da ANTF.
Outro exemplo de operação de
porto seco que deu certo é o de
Santo André, em Utinga (SP). As
exportações aumentaram 400%
entre junho e outubro em relação
ao mesmo período de 2003.
Antes da criação dos portos secos, as empresas de logística de
importação e exportação de cargas tinham que aguardar em filas
nos portos convencionais. O resultado era prejuízo para as empresas e possível perda de embarque
da carga. Atualmente, somente a
conclusão da operação está sendo nos portos. Os armazéns instalados nos portos do interior oferecem um conjunto de serviços,
desde a coleta da carga até todo o
trâmite burocrático.
O maior porto seco da América
Latina, em Uruguaiana (RS), até
agosto deste ano, movimentou em
vendas externas US$ 2,65 bilhões. O número é 76% maior do
que o registrado no mesmo período de 2003, segundo a Receita
Federal. O aumento é reflexo da
agilidade nas liberações das mercadorias já que o tempo médio de
permanência em Uruguaiana é de
duas horas. A expectativa da gerência do porto seco é que mais
de 1 milhão de toneladas de produtos passem pelo porto seco
neste ano – em 2003, o número ficou em 900 mil toneladas.
t
PAULO FONSECA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE TRÂNSITO
PROJETO EM AGONIA
SEM APOIO, PARE PERDE FÔLEGO E SÓ SOBREVIVE EM MINAS
riado em 1993 pelo
Ministério
dos
Transportes, o Pare
(Programa de Redução de Acidentes no Trânsito) completou 11 anos em
julho e está agonizando. Um
dos únicos focos de resistência está em Minas Gerais,
onde o trabalho se mantém,
apesar das dificuldades. O
presidente da Fetram (Federação das Empresas de
Transportes de Passageiros
do Estado de Minas Gerais)
C
POR
ROGÉRIO MAURÍCIO
WALDEMAR JR.
Lentidão se deve
à transição
e coordenador do Pare-MG,
Waldemar Araújo, diz que o
programa “praticamente desapareceu em nível nacional
por total falta de apoio do
governo federal”. “Em Minas, foi possível manter o
trabalho porque contamos
com um grupo de parceiros
que já atuam no sistema de
prevenção (Polícia Militar,
Polícias Rodoviárias Estadual e Federal, DNIT-MG,
DER, Corpo de Bombeiros,
Detran-MG, Faculdade New-
ton Paiva, BHTrans, Trascon, Transbetim e Liga Mineira do Trauma).”
Segundo Araújo, o programa mineiro não recebe verba
federal para “fazer sequer
um panfleto educativo”. “Damos corpo ao trabalho de
educação e prevenção de
acidentes desenvolvido por
esses órgãos. Toda a ação de
um parceiro tem o apoio dos
demais. Cada um conta com
uma pequena estrutura, mas
todos atuam em conjunto
26 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
EDUCAR PARA REDUZIR ACIDENTES
m dos fatores que poderiam ser
apontados como desestimulante pelos agentes que atuam na prevenção de acidentes é o resultado demorado da
ação educativa. “É um trabalho gratificante,
embora seja de longo prazo. Às vezes, temos
até muita decepção. Fazemos um trabalho
bonito na véspera de um feriado e um irresponsável causa um acidente com cinco, dez
mortos. Isso deixa a gente meio de baixo astral, mas depois nos reanimamos e recobramos as energias. Temos que massificar cada
vez mais as informações para reeducar velhos e educar os jovens”, diz Waldemar
Araújo, coordenador do Pare em Minas Gerais. Ele ressalta o envolvimento de várias escolas no programa e o convênio firmado com
a Secretaria de Estado da Educação para a
inclusão da matéria “trânsito” em 120 escolas de ensino fundamental.
U
sem a preocupação de um se
sobrepor ao outro. O PareMG é totalmente independente. Conseguimos ter sucesso porque os parceiros
são pessoas que têm ideal e
fazem tudo voluntariamente
por acreditar na educação
para o trânsito”, diz o presidente da Fetram.
O coordenador geral de
projetos especiais do Ministério dos Transportes (MT),
Waldemar Fini Júnior, entretanto, garante que a lentidão
das ações do Pare se deve à
transição de governo – que
já está na metade do mandato. “Toda mudança de go-
O capítulo 4 do Código de Trânsito Brasileiro estabelece uma série de determinações relativas à educação para o trânsito, que são ignoradas em sua grande
maioria. O artigo 76, por exemplo, diz “a
educação para o trânsito será promovida
na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º
graus, por meio de planejamento e ações
coordenadas entre os órgãos e entidades
do Sistema Nacional de Trânsito e de
Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação”.
De acordo com Araújo, a educação para
o trânsito é a chave principal para reduzir o
número de acidentes. “Educando a criança, ela vai cobrar do pai uma conduta melhor no trânsito. É fundamental que as autoridades invistam, mesmo sabendo que o
resultado virá em longo prazo.”
“SÓ TEMOS
SUCESSO
PORQUE OS
PARCEIROS
TÊM IDEAL”
verno leva a uma necessidade de adaptação que pode
tornar a execução de algumas medidas mais lentas”,
diz. Segundo ele, as campanhas permanentes – como
“Amigo da Vez”, “Férias de
Verão” e “Viaje Bien” – continuam sendo executadas e
novos projetos serão implementados.
Para Araújo, a decadência
do Pare é mais antiga. “Há
uns seis, oito anos, os Estados começaram a abandonar. Há uma coordenação
nacional, mas a atuação é
mínima”, afirma.
Fini Júnior informa que o
Ministério dos Transportes
está avaliando a estrutura
organizacional do Pare.
“Essa estrutura ainda é muito modesta em comparação
com o tamanho de nosso
país e da abrangência da
questão acidente de trânsito
hoje considerado pela OMS
(Organização Mundial da
Saúde) como um problema
de saúde pública”, diz o
coordenador do MT.
Recorde negativo
E o Brasil é um dos campeões mundiais de violência
do trânsito. Segundo dados
da Unesco (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o
número de mortos no trânsito
brasileiro, que vinha diminuindo em 6% ao ano, aumentou na mesma proporção
pelas estatísticas de 2000 a
2002. Nesse período, a
quantidade de mortes cresceu 19,5%, passando de
27.839 para 33.265 por ano
(média de 91 por dia ou 3,8
por hora). Cerca de 350 mil
pessoas ficam feridas anualmente, sendo que 60% delas
adquirem lesões permanentes. Os acidentes custam ao
Brasil quase R$ 6 bilhões por
ano, só nas grandes cidades.
As estatísticas apontam que
90% dos acidentes são de
responsabilidade dos próprios motoristas, que muitas
vezes abusam da velocidade
e da bebida alcoólica.
Exatamente esses números dramáticos impulsionaram a criação do Pare. A
arma utilizada seria ações de
educação para o trânsito já
que simplesmente multar infratores não levaria a uma redução significativa nos índices de acidentes.
Em Minas, o calendário de
blitze educativas do Pare se
estende por todo o ano, principalmente em feriados prolongados e datas comemorativas. Entre elas: Operação
Carnaval (fevereiro/março),
Operação Semana Santa e
Dia Mundial da Saúde (abril),
Dia do Trabalho (maio) e Semana do Meio Ambiente (junho). Além da coordenação
estadual, com sede em Belo
Horizonte, o Pare-MG conta
com coordenações regionais
em Pouso Alegre, Uberaba,
Uberlândia, Montes Claros,
Caratinga, João Monlevade e
Sete Lagoas.
Araújo diz que, apesar de
o número de mortos ser
grande, houve redução de
acidentes em Minas nos dez
anos de trabalho do Pare no
Estado, ao mesmo tempo em
que o número de veículos
aumentou.”Muitos acidentes
que acontecem em Minas
são com condutores de outros Estados, já que Minas é
um corredor e tem a maior
malha federal. Esses condutores não procuraram conhecer as deficiências das
estradas, que estão em pést
simas condições.”
28 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
ons ventos na costa brasileira. A
cabotagem está ganhando um
sopro de vida e animando o setor aquaviário com um crescimento superior a 20% ao ano. Mais que
um ajuste de índices, esse aquecimento
representa o aumento da credibilidade no
setor e um maior equilíbrio da matriz de
transportes do país.
E não é por menos: o Brasil tem cerca de
90% do seu PIB gerado a menos de 500 km do
litoral, próximo a portos que estão se esforçando
verdadeiramente para melhorar a qualidade dos
serviços prestados de Norte a Sul. Segundo o
Anuário Estatístico da Navegação Matítima
2002, desenvolvido pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), foram transportadas 78,26 milhões de toneladas de cargas na
cabotagem em 2001 (carga geral e granéis), gerando US$ 327,38 milhões de fretes.
O vice-presidente da CNT para o setor
aquaviário, Meton Soares Júnior, diz que
esse impulso se deve a diversos fatores, entre eles, a abertura de linhas expressas entre
as regiões do país, especialmente do Sul
para o Norte e do Nordeste para o Norte.
“Essa ampliação proporcionou uma maior
credibilidade do setor, influenciada pela situação caótica das estradas. Tudo isso contribui para que o cliente prefira o sistema marítimo, mesmo ainda sendo mais lento, por
causa da segurança que ele oferece. Creio
que a cabotagem está, enfim, alcançando a
sua auto-suficiência.”
A preferência pela cabotagem ocorre, entre outras coisas, porque ela apresenta uma
grande economia quando se trata de distâncias acima de 1.000 km, chegando a reduzir
os fretes em até 50%, dependendo do produto, da origem e do destino final. Como o
transporte aquaviário é menos sujeito a roubo de cargas, as alíquotas de seguro também
são mais baratas e os produtos não sofrem
danos durante a viagem.
B
BONS NE
CABOTAGEM TEM CRESCIMENTO DE 20% E
GLOBAL/DIVULGAÇÃO
GÓCIOSÀVISTA
CATIVA CLIENTES COM VANTAGENS ECONÔMICAS
POR
EULENE HÉMETRIO
30 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
O diretor-executivo da Mercosul Line,
José Carlos Elias Júnior, diz que a cabotagem se torna mais econômica à medida
que aumenta o percurso do transporte.
“Quanto maior a distância, melhor o benefício para o cliente. A redução de custos não se dá somente no frete em si, mas
por meio da diminuição da incidência de
avarias e roubos, com conseqüente queda em custos de seguros.”
Indutor
A privatização das operações portuárias
também trouxe um aumento da produtividade e redução de despesas. Essa mudança
passou a viabilizar o transporte de contêineres e estimular, inclusive, um promissor serviço de “feeder” (navios alimentadores), que
liga grandes cargueiros a portos menores.
Segundo a Antaq, o “feeder service” deverá
ser o grande indutor do transporte marítimo,
mas ainda não foi implementado de forma
eficiente no Brasil.
Meton Soares diz que, no setor de granéis, a cabotagem sempre foi “necessária e
expressiva”. O crescimento mais significativo, segundo ele, está no transporte de carga geral, uma vez que a cabotagem está incorporando novos mercados. De acordo
com a Antaq, as três principais empresas
que operaram com o transporte de carga
geral (Aliança, Docenave e Mercosul Line)
atingiram, em 2002, um volume da ordem
de 170 mil TEUs (contêiner de 20 pés).
Mas apesar dos avanços, a cabotagem
ainda está muito distante das necessidades
do país. As outras cargas conteinerizadas,
movimentadas pelos demais modais ao longo
de 1.000 km ou mais em 2002, por exemplo,
situaram-se no patamar de 40 milhões de toneladas, enquanto a cabotagem movimentou
apenas 3,1 milhões de toneladas.
A baixa freqüência dos navios e a burocracia que ainda resiste no setor são gran-
BENEFÍCIOS A distância para a cabotagem é fundamental para aumentar seus
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 31
MERCOSUL LINE/DIVULGAÇÃO
des desmotivadores. Os 11 navios portacontêineres que atuam no mercado não são
capazes de oferecer a agilidade que as rodovias proporcionam. Essa limitação característica do setor aquaviário fica clara quando
é observado o volume de carga transportada
em cada modal. O setor rodoviário carrega
517 milhões de toneladas em um ano, ao
mesmo tempo que o de cabotagem carrega
1,2 milhão (0,2% da carga movimentada pelos caminhões).
“O sistema portuário precisa se adequar a
uma operação mais veloz, mais dinâmica,
com facilidades operacionais. Os navios que
hoje estão na cabotagem são os que vieram
do longo curso e foram adaptados a esse sistema. Mas o ideal seria ter navios específicos”, diz Meton Soares.
Para atravessar zonas portuárias de vigilância da Receita Federal, também são cobrados tantos carimbos, inspeções e autorizações, entre outros requerimentos, que os
empresários desanimam de qualquer tentativa (apesar de os armadores tratarem dessas
questões em nome de seus clientes). As principais cargas que hoje optam pela cabota-
MERCADO VASTO A SER EXPLORADO
pesar de ainda sentirem a resistência do
mercado em confiar no transporte aquaviário, os armadores brasileiros estão
percebendo de perto o avanço da cabotagem. O
gerente geral da área de cabotagem da Aliança,
Mathias Staübli, diz que o volume de cargas
transportadas pela empresa cresceu 25% de
2003 para 2004. “A lucratividade, porém, ainda
não veio na mesma proporção. Estamos investindo em novos navios e rotas, acreditando no
desenvolvimento do setor”, diz o Staübli.
A Global, empresa especializada no transporte
de granéis líquidos, também registrou um crescimento de 15% a 20% na demanda. A necessidade
de aumento de espaço nas embarcações fez a empresa estudar a construção de três novos navios
(dois químicos e um para carga geral), sendo que
um deles deve substituir navio de 27 anos, com capacidade para cerca de 10 mil toneladas.
Para o diretor geral da Global, Marco Aurélio
Guedes, esse aumento da demanda está atrelado
ao crescimento econômico do país. Guedes res-
A
ganhos e consolidar o transporte
salta, entretanto, que é preciso ter igualdade de
tratamento com os navios de bandeira estrangeira, para que haja uma concorrência saudável. Segundo ele, a cabotagem precisa ser remunerada
para crescer e só vai alavancar de vez com a melhoria na qualidade dos serviços em todos os modais. “O caminho para o desenvolvimento é a própria qualidade do serviço. A logística só vai ser eficiente com portos melhor regulamentados, com
bons acessos rodoviários e ferroviários, como
também com toda a infra-estrutura necessária ao
atracamento dos navios.”
Segundo Staübli, muitos clientes ainda não
vêem que a cabotagem é uma realidade no Brasil e há um grande mercado para ser desbravado. “O empresário precisa ser pioneiro e arriscar.” Ele frisa, no entanto, que a produtividade
dos portos (principalmente do Norte e do Nordeste), a política tributária e a diferenciação de
tratamento sobre os outros modais são obstáculos que ainda precisam ser superados para melhorar a qualidade no atendimento.
32 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
gem são produtos alimentícios, siderúrgicos,
químicos e eletro-eletrônicos.
Distribuição
Outro problema enfrentado pelo setor é
que não existe ainda um sistema eficiente de
transporte multimodal, no sentido de aprimorar a logística de distribuição e comercialização de mercadorias. Segundo a Antaq, entretanto, o mercado doméstico já se faz integrando 87% da carga movimentada pela cabotagem com os modais rodoviário e ferroviário, a curtas e médias distâncias.
O vice-presidente executivo do Syndarma
(Sindicato Nacional das Empresas de Nave-
A CABOTAGEM
APRESENTA UMA
GRANDE ECONOMIA
PARA DISTÂNCIAS
ACIMA DE 1.000 KM
E REDUZ OS FRETES
EM ATÉ 50%
gação Marítima), Cláudio Decourt, diz que o
crescimento do setor está animando empresas a fazerem operações de cabotagem. “A
demanda estava reprimida porque o histórico
do modal não dava credibilidade aos empresários. A operação de cabotagem não é simplesmente trocar de modal. É preciso adequar toda a logística da empresa e, algumas
vezes, adequar até o fluxo de produção.”
De acordo com Decourt, a limitação da
frota é um grande empecilho para a expansão da cabotagem. Segundo ele, é necessário expandir e renovar os navios para atender
a demanda. “Isso vai gerar aumento da freqüência das viagens, mas, à medida que fo-
“COSTA BRASILEIRA VIROU TERRA DE NINGUÉM”
ma grande preocupação do setor
aquaviário, com o crescimento da
cabotagem, é a possível penetração
de navios de bandeira estrangeira no mercado brasileiro. Apesar de serem proibidos por
lei navios de outras nações na cabotagem, algumas brechas estão deixando brancos os
cabelos das lideranças do transporte.
De acordo com o vice-presidente da
CNT para o setor aquaviário, Meton Soares
Júnior, há uma enorme briga no exterior
pelo mercado brasileiro. “Todos os países
querem a abertura da cabotagem brasileira, mas isso é inadmissível. Lá fora, eles
mantêm sua supremacia e não aceitam a
nossa bandeira. O Ministério das Relações
Exteriores tem a responsabilidade de evitar que esse espaço seja ocupado, pois já
basta o off-shore ser 75% dominado por
embarcações estrangeiras e o longo curso
U
sem nenhuma embarcação brasileira em
atividade.”
Os Estados Unidos e o Japão só permitem a exploração por empresas nacionais
com capital controlado por cidadãos desses
países, utilizando navios construídos no próprio país e operados em bandeira nacional.
“Desde 1990, a costa brasileira virou terra
de ninguém. São mais de US$ 6 bilhões remetidos ao exterior todo ano, relativo a afretamentos, especialmente no longo curso”,
diz Soares.
A resolução 193/2004 (Antaq) estabelece que não é necessária autorização para “o
afretamento de embarcação estrangeira a
casco nu, com suspensão de bandeira, neste caso limitado ao dobro da tonelagem de
porte bruto das embarcações de tipo semelhante, encomendadas, pela interessada no
afretamento, a estaleiro brasileiro instalado
no país, com contrato de construção em eficácia, adicionado de metade da tonelagem
de porte bruto das embarcações brasileiras
de sua propriedade, ressalvado o afretamento de pelo menos uma embarcação de porte equivalente”.
A Mercosul Line é hoje a única empresa
que afreta embarcações estrangeiras, enquanto o processo de construção de um navio de bandeira brasileira – previsto para
2006 – está em andamento. Mais de US$
20 milhões já foram investidos.
O diretor da empresa, José Carlos Elias
Júnior, avalia que o grande problema é “a
pouca disponibilidade de navios de bandeira brasileira” no mercado. “A frota brasileira
é escassa e antiga. Por outro lado, o investimento na construção de navios brasileiros
se revela bastante complexo, caro e, principalmente, arriscado.”
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 33
rem oferecidas mais escalas, ficará mais latente o problema do desbalanceamento da
carga, pois nem sempre os navios voltam
cheios do Nordeste.”
Segundo dados do Centro de Estudos
em Logística da Coppead/RJ (centro de estudos em gerência de negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro), a carga
que vai do Sul e do Sudeste para o Norte e
o Nordeste representa cerca de 58% do volume total movimentado, enquanto na viagem inversa esse percentual é de 13%.
“Isso tem um custo embutido que não podemos ignorar”, diz Decourt.
O dirigente do Syndarma informa que o
potencial de contêineres da cabotagem no
Brasil é hoje de 1,7 milhão de TEUs, sendo
transportados, efetivamente, pouco mais de
10% desse total. Para este ano, a estimativa do Syndarma é que sejam transportados
290 mil TEUs.
Na opinião de Meton Soares, é importante fomentar a marinha mercante e
preparar os estaleiros para a competição
internacional. “Nosso sistema de escoamento está passando por uma crise mui-
MARCO AURÉLIO
Executivo da Global quer
tratamento igual ao barco
de bandeira estrangeira
to séria. A exportação brasileira está
crescendo e a produção, aumentando.
Mas não estamos conseguindo botar
isso para fora.”
O diretor da Mercosul Line, Elias Júnior,
acredita que um dos problemas para o
desenvolvimento da marinha mercante no
Brasil é a estreita ligação da mesma com
o setor de construção naval. “Os interesses dos dois setores não são necessariamente convergentes e, ao se atrelar um
setor ao outro, estamos sufocando os
dois. A um armador interessa ter navios
técnica e economicamente eficientes, não
importando se o mesmo foi fabricado na
Coréia ou no Brasil. O ideal seria o armador ter a liberdade de encomendar o navio onde lhe fosse mais conveniente e colocá-lo sob a bandeira brasileira.”
Elias Júnior diz que, na situação atual,
os armadores se vêem obrigados a comprar navios mais caros e com prazo de
entrega superior ao que se encontra no
mercado internacional. “Isso não pode
fazer bem à marinha mercante. Para se
ter uma idéia, os navios da Mercosul Line
são as únicas embarcações mercantes
em construção no Brasil.” Para o executivo, a empresa está percebendo um nítido crescimento da cabotagem. “Os clientes que já utilizam nossos serviços nos
solicitam constantemente o aumento da
oferta de espaço.”
Atualmente, a Mercosul Line opera
com dois navios com capacidade nominal para 1500 TEUs. “Estamos estudando opções de expansão para os próximos anos, mas enfrentamos barreiras legislativas e de disponibilidade de embarcações brasileiras. Hoje em dia, mesmo
embarcações estrangeiras são difíceis
de se encontrar em virtude da alta demanda por transporte marítimo em todo
t
o mundo”, diz Elias Júnior.
PAULO FONSECA
ECONOMIA
POLÍTICA FISCAL
CARGA SUFOCANTE
O
FGV: IMPOSTOS PAGOS PELO TRANSPORTADOR CHEGAM A 52%
governo federal vem
batendo a cada mês recordes na arrecadação
de impostos. Segundo
dados da Receita Federal, até outubro foram arrecadados R$
264,19 bilhões. Esse valor representa aumento real (descontada a
inflação) de 11,22% comparativamente ao período de janeiro a outubro de 2003. Sem contar os
efeitos da inflação, o aumento nominal foi de 18%. Só em outubro
foram arrecadados R$ 29,3 bi-
POR
ROGÉRIO MAURÍCIO
lhões em tributos federais. Foi o
melhor resultado para o mês da
história e o segundo maior do ano,
atrás apenas dos R$ 29,62 bilhões arrecadados em janeiro.
Todo esse crescimento se dá
em cima do sacrifício, principalmente, do setor produtivo. Segundo estudo do economista e tributarista Marcos Cintra, vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas, a
carga tributária (somatória da arrecadação de todos os tributos federais, estaduais e municipais) vem
crescendo no Brasil desde a década de 50, quando ela foi, em média, de 16,1% do PIB (Produto Interno Bruto). A previsão para 2004
é de uma carga tributária em torno
de 38%. Em pesquisa da Federação de Serviços do Estado de São
Paulo (Fesesp) em parceria com a
FGV, observa-se que a situação
setor de transporte é ainda pior,
pois a carga tributária chega a
52% sobre o valor adicionado do
próprio setor, ou seja, de cada R$
100 que entram no caixa das
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 35
empresas, R$ 52 vão para pagamento de impostos.
O empresário Vander Francisco Costa, presidente do Sindicato
das Empresas de Transporte de
Carga do Estado de Minas Gerais,
estima que os impostos consomem entre 40% e 50% do faturamento das transportadoras de
carga. “Praticamente, metade da
receita das empresas do ramo vai
para o governo. O lucro, quando
se tem, é muito pequeno”, diz.
Costa elenca os principais impostos pagos pelas transportadoras: ICMS (18%, no caso de Minas), Cofins (7,6%), PIS (1,65%)
e CPMF (0,38%). Tem ainda o
INSS, que chega a 27% do valor
total da folha de pagamento,
FGTS (8,5% da folha) e a Cide
(R$ 0,21 por litro de diesel). “A
soma desses tributos ultrapassa
40% do faturamento da empresa.” Costa lembra que parte do
pequeno lucro ainda tem que ser
separado para investimentos em
equipamentos e sistemas de segurança. “Temos também que arcar com gastos de peças e pneus
destruídos pelas péssimas condições das estradas em geral.”
De acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributarista (IBPT), o aumento da
carga tributária neste ano foi puxado, principalmente, pela arrecadação de tributos federais. Do
total arrecadado no primeiro semestre (R$ 311,28 bilhões),
68,57% corresponderam à receita com tributos federais, 25,68%
com impostos estaduais e 5,75%
foram municipais.
“TEMOS
GASTOS
TAMBÉM
COM PEÇAS
E PNEUS
DESTRUÍDOS”
O principal alvo de reclamações dos empresários é o aumento da Cofins, que desde fevereiro
teve a alíquota reajustada de 3%
para 7,6%. Até outubro, só com a
Cofins entraram para os cofres públicos R$ 63 bilhões – um aumento real de 22,84% em relação a
janeiro a outubro do ano passado.
Segundo cálculos de técnicos
da NTC (Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística),
a nova alíquota da Cofins representou um impacto de cerca de
9% no custo de transporte rodoviário de mercadorias.
Encargos demais
Para o economista e tributarista Raul Velloso, a arrecadação
de impostos está distorcida com
encargos que travam a economia. Ele cita o PIS e a Cofins,
que incidem antes mesmo de a
renda ser gerada. Na avaliação
de Velloso, o excesso de impostos faz com que as pequenas e
médias empresas acabem indo
para a informalidade. Segundo
ele, o governo precisa cortar
gastos, reduzir a carga tributária
e mudar o tipo de imposto, reduzindo os que incidem sobre a
movimentação. Velloso defende, entre outras coisas, a adoção do Imposto sobre Valor
Agregado (IVA) e a remodelação
do Imposto de Renda.
O IVA estava previsto no
projeto de reforma tributária
do governo, que está emperrada no Congresso Nacional.
O relator da matéria, deputado Virgílio Guimarães (PTMG), acredita que a votação
possa ocorrer ainda neste
ano. Os governadores dos
principais Estados também
cobram do governo empenho
na aprovação da segunda fase
da reforma tributária, que prevê a unificação das alíquotas
do ICMS e pode acabar com a
guerra fiscal.
t
J. P. ENGELBRECHT/AJB/FUTURA PRESS
RAUL VELLOSO
Distorção trava
a economia
36 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
CRIME ORGANIZADO
3º SEMINÁRIO
NORTE SAQUE
EVENTO EM MANAUS REVELA: BANDIDOS ASSALTAM EM RIOS E ESTUPRAM
POR
EULENE HEMÉTRIO
região menos atingida
pelo roubo de cargas no
Brasil mostrou ao país
que não há limites físicos
para a ação das quadrilhas. O terceiro seminário “Repressão ao Crime Organizado: Roubo de Cargas
e Valores”, promovido pela Polícia
Federal em Manaus em novembro,
com o apoio da CNT, bancos e seguradoras, deixou claro que a organização dos bandidos ultrapassa
as rodovias e invade os rios.
As hidrovias são as principais
vias de acesso na região Norte e
abastece as cidades e povoados
que se situam no coração da Amazônia. Fortemente armadas, as
quadrilhas utilizam botes e saqueiam todo tipo de embarcação
de cargas ou passageiros. Além de
cigarros, medicamentos, vestuários
e eletro-eletrônicos, balsas carregadas com combustível são freqüentemente tomadas.
Essa característica geográfica
do Norte é um complicador para o
combate, segundo a superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Maria das Graças Malheiros
Monteiro: “Nosso Estado é diferen-
A
SEMINÁRIO EM MANAUS Getúlio Bezerra (PF), Paulo Lacerda (PF), desembargador Hosanah Florêncio
Thomáz Bastos (ministro da Justiça), Eduardo Braga (governador do AM), Luiz Fernando Corrêa (secretário de
Moreno (deputado estudual do PPS), Newton Gibson (CNT) e Maria das Graças Malheiros
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 37
0800 JÁ COOPEROU EM 30 AÇÕES
ADO
MULHERES DA REGIÃO
FOTOS CNT/DIVULGAÇÃO
m pouco mais de um mês de
atendimento, o disque-denúncia
do roubo de cargas já recebeu
mais de 2.000 ligações, auxiliando em
mais de 30 ações efetivas contra a criminalidade. Só primeiro dia do serviço, foram recebidas mais de 300 ligações.
O serviço é gratuito e pode ser feito de
qualquer lugar do país. As informações são
recolhidas por pessoal treinado e as denúncias são repassadas diretamente à Divisão de
Repressão aos Crimes contra o Patrimônio
(DPAT) da Polícia Federal, dirigida pelo delegado Antônio Celso dos Santos, sempre
mantendo o anonimato da fonte. Pelo telefo-
E
“SEM ESSA
UNIÃO, O
COMBATE
AO CRIME
ORGANIZADO
É MERA
ILUSÃO”
(Tribunal de Justiça do AM), Márcio
Segurança Pública), Liberman
(superintendende da PF no Amazonas)
ne 0800-773 1122, o motorista poderá informar à central sobre qualquer movimentação
estranha que perceber na estrada.
O 0800 faz parte da campanha “Caminhoneiros do Bem”, lançada pela Abcam
(Associação Brasileira dos Caminhoneiros),
no segundo seminário “Repressão ao Crime
Organizado”, em outubro, no Nordeste.
Segundo a Abcam, a maioria das ligações
até o momento são referentes a denúncias
de tráfico de drogas e, em seguida, de roubo
de cargas. Além disso, a associação tem recebido muitas denúncias de policiais rodoviários que pedem propina para ficarem calados frente às irregularidades.
te, pois a maioria das cargas é
transportada por via fluvial. É mais
difícil fazer o monitoramento já que
85% dos rios navegáveis do Brasil
estão concentrados na região Norte. Temos que ter um trabalho de
inteligência muito forte para driblar
as barreiras físicas que encontramos”, diz Maria das Graças.
As vítimas não são poupadas,
conforme conta o presidente da
Fetranorte (Federação das Empresas de Transportes Rodoviários da
Região Norte), Francisco Bezerra.
Mais que agressões físicas e psicológicas, as mulheres são estupradas e maltratadas pelos assaltantes. “No roubo, estão inseridos vários outros crimes como lavagem
de dinheiro, pirataria, assassinatos
e estupros. Discutir esse problema
é importante para a cidadania brasileira, e não só pelos prejuízos materiais que são gerados”, diz.
A rodovia Belém-Brasília é outro
ponto de grande ocorrência. Segundo o presidente da Fetramaz
(Federação das Empresas de
Transportes da Amazônia), Irani
Bertolini, as quadrilhas de roubo
de cargas “são muito bem organizadas e geralmente são formadas
por pessoas de vários Estados”.
O Norte centraliza 2,17% dos
roubos de cargas do país – segundo dados da Fetcesp, o prejuízo ficou entre R$ 600 milhões e R$
650 milhões em todo o Brasil. “Se
continuar assim, daqui a pouco os
custos vão se tornar tão altos que
muitas empresas irão quebrar,
como já ocorreu alguns anos
atrás. As que sobreviverem terão
preços impraticáveis de frete, contribuindo no final para o aumento
do Custo Brasil, que já é altíssimo
se comparado com o resto do
mundo”, diz Bertolini.
38 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
“O nível de organização das
quadrilhas impressiona até mesmo
a PF. Eles usam aparelhos de alta
tecnologia e armas avançadas.
Houve casos em que foram construídos túneis de 72 metros abaixo
do solo para escaparem dos rastreadores via satélite. Outro exemplo é a provocação de acidentes
para saquear produtos após o tombamento do caminhão”, diz o presidente da Fetramaz.
Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, as quadrilhas
estão “cada vez mais intercambiáveis”. “Quando a polícia investe no
combate a um determinado tipo de
crime, as quadrilhas mudam e atuam em outro tipo de crime”, diz.
O seminário serviu para mostrar
a necessidade de estrutura forte na
região Norte, uma área de fronteira, difícil de vigiar e com uma geografia limitadora. “O que a gente (a
PF) precisa efetivamente é ter mais
pessoal para investigar os casos. A
superintendência tem poucos
agentes e tudo o que chega tem
sido feito pela Polícia Civil. Quando
a carga ultrapassa os limites do Estado, no entanto, a responsabilidade é nossa. Mas nem mesmo os
equipamentos (aeronaves, embarcações etc) que temos disponíveis
são suficientes para a atender todo
o Estado”, diz Maria das Graças.
De acordo com Bertolini, o gerenciamento de risco passou a ser
o novo parceiro das empresas de
transporte. “Com ele, podemos
prever e visualizar no transporte de
cargas onde há maior probabilidade de roubo, como também ter informação sobre que rodovias de-
EM DEFESA
Newton Gibson
(ABTC), José
Fonseca Lopes
(Abcam) e
Francisco Bezerra
(Fetranorte) no
evento
QUADRILHAS
CONSTRUÍRAM
TÚNEIS DE 72
METROS
ABAIXO DO
SOLO PARA
DESPISTAR OS
RASTREADORES
VIA SATÉLITE
vemos seguir e horários a utilizar”,
diz o presidente da Fetramaz.
Os prejuízos, no entanto, são
contabilizados durante o ano. Além
do valor que é pago para as empresas de gerenciamento de risco e
segurança, ainda há o valor dos seguros das cargas que começam a
subir devido ao índice de roubos.
Para Bertolini, o seminário foi de
extrema importância nesse sentido, pois “os policiais federais puderam ver e sentir in loco que a realidade Amazônica é outra”.
Para Newton Gibson, representante da CNT no evento e presidente da ABTC (Associação Brasileira
dos Transportadores de Cargas), os
debates mostraram que a situação
do roubo de cargas no meio fluvial
“é muito preocupante”. “Os assaltantes tomam os barcos como se
fossem piratas, sacrificam a tribulação e deixam barcos a deriva, o
que pode até provocar acidentes.”
Gibson lembra que, se a Transamazônica for realmente prioridade do Ministério dos Transportes, é
preciso tomar cuidado, principalmente, com o tráfico de drogas entre as fronteiras e com as vias de
acesso e fuga das quadrilhas. “A
Transamazônica vai ser um grande
salto para a economia do país e
também para o setor de transportes. Mas, paralelamente à constru-
ção da rodovia, será preciso investir fortemente em segurança.”
Investigação
Como nos eventos que ocorreram em Belo Horizonte e Recife,
uma das soluções apontadas pelos
participantes do seminário foi a
criação de um banco de dados nacional, alimentado pelas empresas
de transporte com ocorrências de
roubo de cargas. Com esse sistema, a PF poderá fazer um trabalho
de rastreamento e investigação
para chegar nas quadrilhas.
Outra solução proposta foi a
abertura de um canal de comunicação maior e mais eficiente entre
as Polícias Federal, Rodoviária, Civil e Militar e o Exército, a Marinha
e a Aeronáutica. Bertolini acredita
que a união de forças de todas as
entidades é o único caminho para
resolver o problema. “Sem essa
união, o combate ao crime organizado é mera ilusão.”
O tema união foi defendido
pelo ministro da Justiça. “O século 21 não é marcado por iniciativas individuais. Não é possível
pensar em combater o crime com
iniciativas isoladas. É preciso organização, espírito de um trabalho conjunto, de parceria, de cooperação, de planejamento e de
mapeamento estatístico. Esse tra-
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 39
NAVEGANTES DO
BEM NA AMAZÔNIA
reocupados com o problema do roubo
de cargas no meio fluvial, as empresas
de navegação do Norte do país se reuniram no intuito de combater esse tipo de crime na região. Ao mesmo tempo em que as
autoridades e representantes do setor de
transporte se encontravam para discutir as soluções, trabalhadores e empresários fizeram
uma grande fluviata de apoio à iniciativa, com
a participação de mais de 30 barcos.
Inspirados na campanha lançada pelos caminhoneiros, com a criação de um disque-denúncias, o setor aquaviário promoveu o “Navegantes
do Bem”, com o objetivo de ajudar a Polícia Federal e demais entidades responsáveis a elucidar
crimes ocorridos no meio fluvial. De acordo com
o diretor-presidente do Sindarma (Sindicato das
Empresas de Navegação Fluvial no Estado do
Amazonas), Paulo Duarte Alecrim, a proposta é
aproveitar o 0800 da Marinha.
Enquanto o serviço não é disponibilizado,
as pessoas estão sendo orientadas a denunciar irregularidades pelo próprio sindicato, no
telefone (92) 232-5534 ou pelo e-mail [email protected]. Depois do evento em
Manaus, uma quadrilha já foi desbaratada por
informações do Sindarma e várias denúncias
estão chegando à entidade.
Segundo Alecrim, o Sindarma já havia emitido, por mais de 80 vezes, ofícios às autoridades
locais e federais pedindo providências para o pro-
P
PAULO ALECRIM Lançamento do
Navegantes do Bem
blema do roubo de cargas nos rios da Amazônia.
“A Polícia Federal e a CNT vieram atender os anseios da navegação de interior no Estado e na região Norte”, diz o dirigente.
Alecrim frisa, no entanto, que é importante fazer um trabalho em conjunto com a ANP (Agência Nacional do Petróleo) para que seja apreendido todo o combustível irregular que se encontra
armazenado ao longo das margens dos rios, em
especial do rio Madeira, e nos postos de gasolina.
“A expectativa é que haja o combate ao receptador, que é a fonte geradora do problema.”
O sindicalista conta que em cada roubo são
subtraídos de 100 mil a 230 mil litros de combustível das balsas. “Essas embarcações são deixadas à deriva, com a tripulação amarrada e todos
os equipamentos de comunicação danificados.
Caso haja uma colisão com outro navio, pode
ocorrer uma explosão que vai provocar um acidente ecológico de proporções nunca vistas no
mundo”, diz Alecrim.
balho é fundamental ao êxito do
combate ao roubo de carga.”
O diretor de Combate ao Crime
Organizado da PF, Getúlio Bezerra,
diz que houve uma grande mobilização na região, com participação
dos armadores e proprietários de
barcos, que se mostraram dispostos a ajudar na fiscalização dos
rios. “Seguindo a mesma linha dos
caminhoneiros, as empresas de
navegação estão se organizando
para centralizar as informações
que podem ajudar nas investigações de roubo de cargas para, em
seguida, repassá-las à polícia.”
O terceiro encontro sobre o
combate ao roubo de carga confirmou a conclusão dos eventos
anteriores, a necessidade de interação entre todos os órgãos de repressão ao crime. “O seminário
foi muito útil para aproximar todos
os órgãos. Quando precisarmos
de cooperação, já sabemos a
quem nos dirigir. Além disso, o
evento trouxe conhecimentos técnicos e operacionais de outros Estados”, diz Maria das Graças.
Francisco Bezerra diz que a iniciativa já vem dando certo e que o
número de ocorrências caiu desde
que a integração com a PF começou. “O seminário também incentiva a participação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em
nível nacional.”
Thomaz Bastos acredita que da
série de seminários “sairão caminhos na luta contra o crime organizado, uma guerra que não podemos perder”. O quarto seminário
será em Porto Alegre, com foco na
região Sul, em dezembro.
t
40 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
LOGISTICA
ADMINISTRAÇÃO
FISCALIZAÇÃO
DA BOA VIAGEM
TRANSPORTE DE ÔNIBUS, REGULAMENTADO PELA ANTT,
TEM ATENÇÃO ESPECIAL PELO VOLUME DE PASSAGEIROS
SOCICAM/DIVULGAÇÃO
POR
EULENE HEMEETRIO
transporte rodoviário de
passageiros é responsável por quase 95% dos
deslocamentos realizados no país, sendo a principal modalidade coletiva utilizada pela população nas viagens interestaduais
e internacionais. O dinamismo desse serviço, entretanto, torna a regulamentação do setor bastante vulnerável e sujeita a mudanças. Além
das alterações burocráticas e administrativas que se sucederam ao
longo dos últimos 15 anos, vários
fatores contribuem para a oscilação
nas normas que regem o serviço.
A ANTT (Agência Nacional de
Transportes Terrestres) é hoje o órgão competente pela outorga de
permissão e de autorização para a
operação do transporte rodoviário
interestadual e internacional de
passageiros. Essa função, no entanto, já passou pelas mãos de diversas siglas – foram pelo menos
seis, o que não diminuiu em nada
O
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 41
REGISTRO NACIONAL EM
BUSCA DE CONTROLE
transporte rodoviário de cargas opera
em regime de mercado livre, sem exigências para entrada e saída do mercado. Diferente da área de passageiros, o setor de
cargas não necessita de autorização, permissão
e concessão para operar, pois não existe legislação específica no campo dos transportes para o
exercício dessa atividade.
Para obter o mínimo de controle sobre esse
serviço, a ANTT está desenvolvendo o Registro
Nacional de Transportadores Rodoviários de
Cargas (RNTRC), que vai permitir o conhecimento do conjunto de operadores que atuam
no mercado. Esse registro, no entanto, tem o
objetivo apenas de facilitar a interação com outros setores que dependem dos serviços de
transporte.
Segundo informações da ANTT, o registro das
Empresas de Transporte Rodoviário de Carga
(ETC) e dos Transportadores Rodoviários Autônomos (TAC) vai possibilitar a caracterização
das pessoas físicas e jurídicas, quantidade, porte e distribuição espacial, podendo ainda considerar informações básicas para finalidades estatísticas, evitando duplicidade de procedimentos,
aumento de burocracia e imposição de custos
adicionais.
As normas existentes no setor dizem respeito
apenas ao transporte de produtos e cargas perigosas (Resolução 420/04), como também à regulamentação dos Operadores de Transporte
Multimodal (OTM). O exercício da atividade do
OTM depende de prévia habilitação e registro na
ANTT e, caso deseje atuar em âmbito internacional, deverá também se licenciar na Secretaria da Receita Federal.
O
o rigor em observar as leis e garantir uma logística que atenda ao
passageiro com eficiência. Essa é a
avaliação da principal entidade de
classe do setor de transporte de
passageiro, a Abrati (Associação
Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros).
Até 1990, a gestão desses serviços era responsabilidade do
DNER (Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem). A partir
desse período foi criado o DNTR
(Departamento Nacional de Transportes Rodoviários), especialmente para essa finalidade. Em 1991,
o DNTR foi extinto e a responsabilidade foi transferida para a Coordenação Geral de Transportes.
Pelo decreto 502, de 23 de abril
de 1992, foi criado o DNTT (Departamento Nacional de Transportes
Terrestres), na estrutura do então Ministério dos Transportes e Comunicações, que, em outubro do mesmo
ano, foi transformado em Ministério
dos Transportes. Com a edição do
decreto 731/93, foi transferida a
competência do DNTT para a Secretaria de Produção, que incluiu, em
sua organização, o DTR (Departamento de Transportes Rodoviários).
O Ministério dos Transportes foi
reestruturado com o decreto
1.642/95, tendo sido criada a STT
(Secretaria de Transportes Terrestres). Em 1998, o DTR – que passou a integrar a estrutura da STT –
recebeu delegação de competência
para praticar atos relativos à organização, coordenação, controle, outorga e fiscalização dos serviços de
transporte rodoviário interestadual e
internacional coletivo de passagei-
ros. A regulação e supervisão da
prestação desses serviços passou
para a ANTT em 2001, com a publicação da lei 10.233, que determinou a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre.
De acordo com dados preliminares do Anuário Estatístico 2004 (ano
base 2003) da ANTT, mais de 200
empresas prestam serviços regulares de transporte rodoviário coletivo
interestadual e internacional de
passageiros no Brasil. A frota era de
13.147 veículos, e foram realizadas
mais de 4 milhões de viagens,
transportando cerca de 130 milhões de passageiros no ano. Para
absorver 2.670 serviços básicos (linhas), complementares e diferenciados, são necessários quase 22
mil motoristas, que percorrem juntos mais de 1 bilhão de quilômetros
todo ano. Isso tudo faz com que o
faturamento anual do setor seja acima de R$ 2,5 bilhões. Toda essa logística é controlada pela ANTT.
O presidente da Abrati, Sérgio
Augusto de Almeida Braga, diz que,
devido a essas e outras oscilações,
“nenhuma legislação prevista para
essa atividade pode ser considerada
como definitiva, estando sempre sujeita a revisões regulares que a adapte às novas realidades surgidas”.
Outros exemplos dessa volatilidade são a criação do Estatuto do
Idoso, que passou a exigir a reserva de assentos gratuitos a maiores
de 65 anos, e a emissão de autorizações de viagem de fretamento
eventual e/ou turístico on-line, que
já está disponível 24 horas por dia,
todos os dias da semana, podendo
ser feito pela Internet.
t
42 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
TECNOLOGIA
LANÇAMENTO
PROTEÇÃO, A NOVA
MENINA-DOS-OLHOS
SEGURANÇA É O DESTAQUE DO 23º SALÃO DO AUTOMÓVEL
AUDI/DIVULGAÇÃO
POR
PATRÍCIA GIUDICE
s montadoras de veículos estão
sempre pesquisando e buscando adaptar os equipamentos a
novas situações. Com a engenharia de segurança não é diferente, e o
quesito se tornou um dos itens mais dinâmicos dos veículos. Durante o 23º Salão
do Automóvel, evento que aconteceu em
São Paulo em outubro, muitos dos novos
modelos apresentaram evoluções quando
o assunto é segurança.
Ao todo, 31 marcas expuseram 400 veículos, entre carros, caminhões e tratores.
A evolução ocorreu tanto em relação aos
itens de segurança ativa quanto passiva. O
primeiro se refere àqueles que são capazes
de evitar a ocorrência de um acidente,
como freio, retrovisor, iluminação, e o segundo, àqueles que não evitam, mas diminuem o efeito. São airbags, cinto de segurança e apoio de cabeça, por exemplo. No
Salão do Automóvel, foram justamente esses itens os mais especificados pelas montadoras (veja quadro).
A
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 43
Para o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Rogelio Golfarb, a
segurança veicular ativa e passiva é tema
de atenção da indústria automobilística
mundial. “A legislação é rigorosa, e a do
Brasil está em linha com a dos grandes
centros produtores e consumidores,
como Europa e Japão”. Golfarb diz ainda
que, ao lado da legislação, está o permanente esforço da indústria em desenvolver produtos que incorporem as novas
tecnologias de proteção veicular.
Segundo o diretor técnico de veículos
leves da AEA (Associação Brasileira de
Engenharia Automotiva), Marco Saltini, a
evolução dos equipamentos visa aumentar a segurança do usuário. “Há um tempo não existia o freio a disco, e hoje já temos o sistema ABS com controle de
pressão para evitar a perda de aderência
com o solo”, diz.
Outro exemplo é cinto de segurança. A
primeira exigência foi o cinto sub-abdominal com duas pontas, ainda presente
nos veículos fabricados até 1998. Depois, foi criado o de três pontas que segura o tronco e evita que, em uma colisão, a pessoa seja jogada no vidro dianteiro do veiculo. O primeiro causava desconforto e foi adaptado para o de três
pontas retrátil, que permite pequenos
movimentos. “Atualmente, criou-se um
dispositivo que reduz a tensão dos cintos
para dar conforto ao condutor e passageiros”, exemplifica Saltini.
Falta conquistar o público, que ainda
não se preocupa tanto com esses itens no
momento de escolha da compra. As montadoras seguem o artigo 103 do Código
Nacional de Trânsito, que prevê a obrigatoriedade do sistema de segurança, mas
para Saltini falta “cultura de segurança”.
“Se perguntar para as pessoas o que elas
ROGELIO GOLFARB
Segurança é tema
principal das montadoras
NOVIDADES DO SALÃO
Confira alguns destaques de segurança
A Audi apresentou o novo A6 (foto) equipado
com faróis de xenon plus, que acompanham
o traçado das curvas e tornam as
viagens noturnas mais seguras
O modelo Série 1 segmento compact
Premium, da BMW, vem com controle de
estabilidade dinâmica, controle dinâmico de
freios e airbags para todos os ocupantes
A Chrysler apresentou o 300C, que conta
com programa eletrônico de estabilidade,
oito airbags e controle de tração
A Citroën destacou o C4 VTR, com um
conjunto de sistemas de segurança como
alerta de ultrapassagem, faróis xenon
direcionais de dupla função, piloto
automático, limitador de velocidade
e alerta de calibragem baixa
No 307, da Peugeot, o destaque fica
para o acendimento automático
de luzes de emergência
verificam quando vão comprar um automóvel, a resposta da grande maioria será
o conforto, em detrimento da segurança.
Se tiver que optar pelo airbag ou sistema
de som, ele escolhe o som.”
O presidente da Anfavea acredita que
essa mentalidade está mudando e avalia
que os consumidores estão mais conscientes e exigentes com relação aos
itens de segurança veicular e de trânsito. “Certamente, os equipamentos de segurança estão na raiz da prevenção de
acidentes, assim como também as demais condições do trânsito saudável,
como engenharia, sistema e a formação
dos motoristas”, diz Golfarb.
Para Saltini, até mesmo as pessoas
que adquirem um caminhão para meio
de sobrevivência não dão tanta importância ao item segurança. “É uma ferramenta de trabalho, fatalmente o cliente estará focado em economia de combustível,
manutenção barata e conforto. Quem
tem veículo de passeio se preocupa mais
com o design, desempenho e depois a
segurança”, afirma.
A segurança veicular está calcada em
três pilares: o condutor, o veiculo e a situação da via. “Um acidente ocorre quando um desses itens falha. Não adianta ser
o melhor motorista se o veículo estiver
com problema ou a via com buracos, mal
sinalizada, com condições inadequadas”,
diz Saltini. Para que os itens de segurança e toda a tecnologia dêem resultado, é
necessário seguir os manuais de manutenção e que as condições de tráfego estejam boas. Para Golfarb, os acidentes
têm relação direta com descaso com a
manutenção tanto do veículo quanto da
via. “Nesse aspecto, é fundamental a
conscientização do cidadão em manter
seu veículo com a manutenção adequat
da”, diz o presidente da Anfavea.
ÁLCOOL PARA V
NOVO MODELO DE AERONAVE OBTÉM CERTIFICADO E CHEGA AO AGRI
POR
SANDRA CARVALHO
FOTOS EMBRAER/DIVULGAÇÃO
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 45
MODAL AEROVIÁRIO
AGRONEGÓCIOS
Brasil inova mais uma vez. Depois de desenvolver diversas
pesquisas, a Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária integral da
Embraer, recebeu a certificação de tipo do
Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para fabricar aeronaves movidas a álcool. O Ipanema será o primeiro avião de série no
mundo a sair de fábrica certificado para
voar com o álcool hidratado. A utilização
desse combustível caiu como uma luva
num momento em que o preço do barril de
petróleo vive nos US$ 50. Porém, as perspectivas de venda do novo modelo dependem da continuidade do bom momento
que o agronegócio registra hoje no país.
A justificativa se dá porque o novo modelo do Ipanema – existe sua versão gasolina – é da linha leve de aviões e destinado
exclusivamente à aviação agrícola, série
fabricada pela Neiva há quase 30 anos.
Com motor a pistão, a aeronave é uma das
mais utilizadas por produtores rurais para
a aplicação de defensivos agrícolas. Segundo informações da empresa que desenvolveu a tecnologia, entre outras vantagens, o motor a álcool garante aumento de
até 5% na potência do avião.
Mas a vantagem principal do modelo
está relacionada à economia de combustível. Embora seja mais cara – US$ 259
mil contra US$ 255 mil do avião a gasolina – o novo Ipanema pode gerar uma
economia de até 60% no custo do combustível para seu usuário quando se compara o preço da gasolina de aviação, que
chega hoje a R$ 5 por litro, contra o do álcool – R$ 1,20 em média. A estimativa é
de uma redução de até 20% no custo
operacional do avião. Além do fator ambiental, pois os gases emitidos na queima
do combustível não agridem a natureza já
que não contêm resíduos de chumbo,
emitidos pelo motor à gasolina.
O
OAR
CULTOR EM 2005
A Neiva investiu aproximadamente R$
3 milhões no projeto. Da fase de testes à
certificação do CTA foram cerca de dois
anos de espera. Segundo informações do
órgão, a certificação da aeronave desenvolvida com tecnologia nacional garante
que o novo Ipanema atende a todas as
normas de segurança e condições de aeronavegabilidade, sendo adequado à comercialização. A segurança em relação ao
modelo foi tanta que o CTA divulgou recentemente seus planos de estender a
tecnologia do motor a álcool a todas as aeronaves com motor a pistão, diminuindo o
custo operacional e a agressão ao meio
ambiente. Segundo dados da Neiva, o
avião movido a álcool já existe nos Estados
Unidos, mas o modelo norte-americano
usa álcool metanol e não o etanol utilizado
nos veículos. Portanto, o Ipanema é o primeiro avião do mundo movido a álcool hidratado (etanol) certificado.
Na data de entrega da certificação de
tipo do avião à indústria pelo CTA, em
outubro, o presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, enviou uma
carta que foi lida na solenidade. No documento, Lula diz que “a tecnologia de
ponta consolida a auto-sustentabilidade
e a utilização de combustível renovável
e de proteção ao meio ambiente”.
O avião a álcool só chegará ao consumidor no próximo ano, pois até dezembro a Neiva estará concluindo a montagem das 82 unidades a gasolina que
vendeu no exercício de 2004, 78% a
mais que em 2003 em função do crescimento do agronegócio. Segundo a
Embraer, já existem 15 encomendas feitas para o modelo a álcool.
Acessibilidade
A Neiva acredita que a tecnologia a álcool tornará o avião agrícola mais acessível
46 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
aos produtores rurais. É o que também
destaca o empresário Jonas Mage. Ele é
proprietário de uma empresa que faz aplicações de insumos agrícolas em fazendas,
com sede na cidade de Zapezal, interior
do Mato Grosso. Ele já encomendou um
Ipanema a álcool, que deve ser entregue
pela Embraer em maio de 2005. “Optei
pelo modelo em função da economia no
custo operacional e, principalmente, pela
garantia de maior vida útil do motor. Além
disso, o álcool é o mesmo utilizado em carros, podendo ser adquirido facilmente”,
diz Mage.
O empresário diz que está acompanhando o setor e aguarda novidades acerca da conversão de motores para aviões
de modelos diferentes. Se isso se confirmar, Mage pretende fazer a troca de motores nas duas aeronaves que utiliza para
pulverizar cerca de 100 mil hectares por
ano. Segundo a Embraer, quem já possui
a aeronave a gasolina já pode fazer a conversão do motor. A empresa já recebeu
neste ano 69 pedidos de conversão que
devem ser atendidos até dezembro.
Mas o sucesso de vendas do Ipanema a
álcool depende da continuidade de crescimento nos agronegócios. As expectativas
são as melhores possíveis, conforme informa o assessor técnico do departamento
econômico da Confederação Nacional da
Agricultura (CNA), José Ricardo Severo.
Segundo ele, que também é assessor da
comissão de cana-de-açúcar da CNA, o
novo modelo do Ipanema será uma propaganda institucional do álcool brasileiro em
todo o mundo, podendo ser responsável
pelo aumento de exportações do produto.
Severo destaca que, na produção de
grãos, carro-chefe das exportações na
agricultura brasileira, apenas 6% dos produtores rurais utilizam aviões agrícolas. “A
diminuição do custo operacional pode fa-
PARA A NEIVA, A
TECNOLOGIA A
ÁLCOOL TORNARÁ
O AVIÃO AGRÍCOLA
MAIS ACESSÍVEL
AOS PRODUTORES
zer com que mais produtores adquiram
aeronaves para pulverizar”, diz o técnico
da CNA. Mas Severo frisa que é necessário que sejam criadas linhas de financiamento por parte da Embraer para isso.
Para Severo, o avião agrícola é a forma mais eficiente de pulverizar a lavoura e também a mais econômica. “É
mais eficiente porque o herbicida é colocado na plantação de forma mais rápida e homogênea. E é mais econômico
porque necessita de menos insumos
para o serviço.”
Abastecimento
A descontinuidade das políticas de produção de álcool no país – como ocorreu no final
da década de 1980 – poderia representar um
risco para as vendas do novo modelo do Ipanema. Segundo a Embraer, caso isso ocorra, é
possível reverter o motor a álcool para gasolina
ao custo de 30% do montante cobrado hoje
para fazer a conversão contrária.
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 47
O NOVO MODELO
DO IPANEMA SERÁ
UMA PROPAGANDA
DO ÁLCOOL
BRASILEIRO EM
TODO O MUNDO
E PODE AUMENTAR
A EXPORTAÇÃO
DO PRODUTO
INOVAÇÃO
Parte interna do Ipanema
movido a álcool
Mas para o consultor da União da
Agroindústria Canavieira (Unica), Alfred
Szwar, esse risco é quase remoto, já que a
produção de álcool no Brasil, país que
mais produz o combustível no mundo, tende a crescer. A alta nas vendas dos carros
flex (com motores movidos a gasolina e álcool) garante a produção continuada, sem
problemas de desabastecimento.
A produção do avião, segundo ele, é
um nicho de mercado para a indústria
alcooleira, mas não deve, num primeiro
momento, provocar impacto no setor, já
que dos 14,7 bilhões de litros de álcool
produzidos por safra, 2 bilhões são exportados, 900 milhões se destinam ao
uso industrial e o restante é consumido
como combustível. “O álcool na aviação
é um mercado que passará a existir daqui para frente e não há ainda como fazer muitas projeções”, diz Szwar. O
consultor afirma que um volume de 50
milhões de litros deve ser destinado à
aviação por safra.
Szwar também estima que a exportação do modelo Ipanema a álcool vai
agregar valor ao combustível brasileiro. O Brasil é o líder na produção
mundial do álcool, seguido pelos Estados Unidos, que têm uma produção
de 12,5 bilhões de litros por safra.
“Há cinco anos, os norte-americanos
vêm investindo em produção de álcool
e contam hoje com 81 destilarias
prontas e outras 14 em construção. O
Brasil conta com 320 unidades produtoras, tem a indústria mais antiga e
grandes perspectivas de crescimento”, diz o consultor da Unica. Segundo
sua avaliação, as exportações das aeronaves brasileiras devem ocorrer,
principalmente, para os países que investem na produção do combustível,
t
como os EUA e a Índia.
O ARGUMENTO É A
PROJETO DE INSPEÇÃO VEICULAR VISA REDUZIR ACIDENTES , MAS
FOTOS PAULO FONSECA
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 49
POR
inda não será desta vez que o
governo federal conseguirá implantar a inspeção técnica veicular (ITV) no Brasil. Desde
dezembro de 2001, a comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados tenta aprovar um projeto de lei, de
sua autoria, que prevê a vistoria de itens
de segurança e de emissão de gases
poluentes na atmosfera nos cerca de 22
milhões de veículos que circulam no
país. Mas, mais uma vez, o projeto, cuja
aprovação tem caráter de urgência, está
novamente aberto a discussões e não
deve passar neste ano, conforme avaliação do seu relator, deputado federal
José Mentor (PT-SP).
O objetivo da ITV é garantir segurança nos veículos em circulação,
para evitar acidentes de trânsito causados por falhas mecânicas, além da
preservação do meio ambiente, reduzindo a emissão de monóxido de carbono e de particulados na atmosfera.
A polêmica reside sobre a questão dos
carros velhos, que poderiam sair de
circulação e prejudicar seus donos, a
maioria de classes mais baixas. Outra
discussão é sobre a criação de uma
nova taxa para o cidadão brasileiro,
em função da realização do serviço.
Ficará a cargo do Contran (Conselho
Nacional de Trânsito) a competência de
estabelecer as normas técnicas dos itens
de segurança, enquanto o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) se responsabilizá pelo controle de emissão de
gases poluentes e de ruídos. A inspeção irá
determinar uma classificação para o veículo e suas implicações (veja quadro).
Segundo o diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Ailton Brasiliense Pires, os itens de segurança e de
emissão de poluentes serão inspecionados
A
SEGURANÇA
NOVA TAXA E FROTA ANTIGA GERAM POLÊMICA
SANDRA CARVALHO
50 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
MEDO DE PERDER O CARRO
m dos grandes medos da
população em relação à
implantação da lei da Inspeção Técnica Veicular (ITV) no
país é o tratamento do mercado de
carros velhos e sua circulação. O
diretor do Denatran, Ailton Brasiliense Pires, diz que a ITV vai “moralizar o mercado dos carros usados”. “Um veículo aprovado, qualquer que seja a sua idade, merecerá a confiança de seu comprador”,
diz. Brasiliense Pires afirma que
não acredita na retirada de mercado de veículos muito antigos. “O
fato de um veículo ser velho não
significa que ele seja mal conservado. Existem carros novos em piores
condições mecânicas ou de controle de emissão de gases poluentes.”
A grande preocupação dos motoristas está relacionada à cobrança de
uma taxa para a realizar a inspeção.
Marcelo Alves, carreteiro e dono de
um perua Kombi 79, trabalha na zona
leste de São Paulo com pequenas mudanças e cargas: “Acho que isso (a
inspeção veicular) vai tirar o emprego
U
de forma a detectar defeitos ou funcionamento inadequado. “Um defeito será detectado conforme parâmetros determinados
pelo fabricante do veículo e/ou pelas normas vigentes, para que seja permitida ou
não, sua circulação em vias públicas”, diz
Brasiliense Pires.
Parte da vistoria, chamada de inspeção mecanizada, será feita com o auxílio
de equipamentos específicos, que vão
determinar, por meio de medidas de
grandezas físicas e químicas, as condições de desempenho de componentes
dos veículos. Assim será, por exemplo, a
verificação dos índices de emissão de poluentes, do alinhamento e da intensidade
luminosa dos faróis dos veículos.
O restante do processo, chamado de
inspeção visual, segundo Brasiliense Pires, será complementado com consulta a
bancos de dados e atuação sobre determinados comandos e componentes do
veículo, para verificar seu funcionamento
adequado ou se existem ruídos, vibrações anormais, folgas excessivas, desgastes, trincas e vazamentos. São exemplos desse tipo de inspeção a checagem
da documentação de propriedade do veículo e a verificação da existência e integridade dos cintos de segurança. Em momento algum, componentes dos veículos
serão desmontados na vistoria. O certificado de licenciamento anual só será obtido pelo motorista, após comprovar a
aprovação do carro na ITV.
Manutenção
Segundo o diretor do Denatran, antes da
implantação das inspeções, serão realizadas campanhas de educação para que os
proprietários e usuários de veículos adquiram o hábito de realizar a manutenção preventiva. Para Brasiliense Pires, a mudança
de comportamento vai incorporar também
ESTUDO DO
DETRAN-PR
INDICOU QUE
AS FALHAS
MECÂNICAS
REPRESENTAM 18%
DOS ACIDENTES
de muita gente. Como vou conseguir
comprar uma perua nova, não sei
nem se vou conseguir pagar os prováveis R$ 50 para fazer essa inspeção?”.
José Carlos de Alberto Soares, comerciante, proprietário de um Monza
84, tem uma mercearia em Santos (litoral de SP) e concorda com a lei:
“Concordo que os carros devem funcionar direito, sem barulho, sem fumaça, com toda a segurança. Mas
meu salário não paga um carro novo.”
Ele também é contra a cobrança de
uma taxa para a ITV. “Não tenho como
pagar, e se levar meu carro para a inspeção os caras vão querer tomar.”
Dono de um Fusca ano 1975, o
comerciário de Belo Horizonte Wanderson Etelvino Borges diz que a manutenção de seu carro é muito cara.
“Sei que é popular. Mas tudo estraga
com freqüência, pois as peças são
mais fracas e antigas. O Fusca é o
meio de locomoção de minha família e
anda cheio de problemas. Não tenho
como consertar e não podemos ficar a
pé, pegando esses ônibus que demoram muito e só andam cheios.”
um maior respeito à sinalização e às leis de
trânsito em geral. “O objetivo é a redução
imediata dos índices absurdos de acidentes,
com milhares de mortos e feridos anualmente. Hoje, no Brasil, morrem em acidentes 18 pessoas para cada grupo de 100 mil
habitantes”, diz.
A ITV, conforme o Código de Trânsito
Brasileiro, será realizada exclusivamente
por centros de inspeção credenciados
pelos órgãos executivos de trânsito, com
capacidade técnica reconhecida - hoje, a
vistoria é visual e feita nos Detrans. Os
centros não poderão ter nenhum tipo de
ligação com o setor automotivo, para evitar fraudes e avaliações tendenciosas.
NOS PAÍSES ONDE
A INSPEÇÃO FOI
ADOTADA, A
REDUÇÃO NO
NÚMERO GERAL
DE ACIDENTES FOI
EM MÉDIA DE 15%
Esses locais terão de ser totalmente informatizados e com acesso direto aos
bancos de dados dos Detrans, para sua
atualização imediata. “Isso vai eliminar,
por exemplo, a ocorrência de clonagem
de veículos”, diz Brasiliense Pires.
O diretor do Denatran acrescenta que
estudos elaborados na Europa e na América do Norte indicam que aproximadamente 15% dos acidentes têm como causas defeitos mecânicos. No Brasil, estudo
realizado pelo Detran do Paraná indicou
que as falhas mecânicas, associadas a
outros fatores, representam 18% dos acidentes. Nos países onde a ITV foi adotada, a redução no número geral de aciden-
tes foi em média de 15%. Nesses mesmos países, os acidentes que tiveram
como causa o fator mecânico foram reduzidos em 5%. “Um acidente pode ser
causado por falhas mecânicas, humanas
e de pista. A ITV se apresenta como prevenção às falhas mecânicas, ou seja,
controla uma das variáveis inerentes.”
Para realizar o serviço, conforme o
projeto, será necessário cobrar uma tarifa do proprietário do veículo. O diretor do
Denatran informa que ainda não dá para
estimar o valor, mas conforme estudos
ABTC (Associação Brasileira de Transporte de Cargas), estima-se um valor de
R$ 50 no Brasil, embora nos países onde
do. “Além disso, o momento para se criar a taxa não é propício, já que há queda
no poder aquisitivo do brasileiro e não há
aumento no salário.”
Competências
PELOS OLHOS
Hoje, a inspeção feita no
Detran é apenas visual
“IMAGINE O
QUANTO A UNIÃO
ARRECADARIA
COM A FROTA DE
22 MILHÕES DE
VEÍCULOS”
a inspeção já é praticada cobra-se algo
em torno de US$ 50 (R$ 150 em média).
“Imagine o quanto a União arrecadaria
com a frota de 22 milhões de veículos”,
diz o presidente da ABTC, Newton Gibson, que participou da audiência pública
sobre o tema realizada em junho na Câmara dos Deputados.
O deputado federal João Batista Oliveira Araújo (sem partido), o Babá, diz
que a finalidade da inspeção veicular é
“louvável”, mas que é contra a cobrança
da tarifa. “Isso é sobretaxar o brasileiro,
que paga imposto de renda, IPTU, IPVA,
sendo o cidadão com uma das maiores
cargas tributárias do mundo”, diz. Ele
sugere que uma parcela do IPVA, imposto que segundo ele é “meramente arrecadatório”, seja destinada à implantação
e manutenção da ITV. Babá também diz
temer a monopolização do serviço, que,
conforme o projeto, pode ser terceiriza-
A inspeção deve ser de competência única
da União, segundo informa o relator do projeto,
deputado José Mentor. De acordo com ele, se
ocorresse a estadualização, não haveria uma
uniformização de custos e cada Estado cobraria
uma tarifa diferente e poderia estabelecer critérios diferenciados de avaliação dos veículos,
com efeitos nocivos à segurança no trânsito.
“Além disso, alguns Estados com baixa densidade demográfica e pequena frota de veículos
não conseguiriam viabilizar o projeto sem praticar tarifas excessivamente caras.”
Após pareceres da Câmara dos Deputados,
conforme o relator do projeto, ficou determinado que os recursos arrecadados com a ITV
devem ser destinados à manutenção do serviço, ao Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ao
Fundo Nacional do Meio Ambiente e aos órgãos executivos de trânsito.
A criação da ITV não é um projeto novo no
Brasil. Conforme o diretor do Denatran, não
se trata de uma nova obrigação que está sendo criada pelo Contran e pelo Conama. A implantação da ITV ocorre em cumprimento ao
artigo 104 do Código de Trânsito Brasileiro,
de 1997, mas sua história começou em
1968. O antigo Código Nacional de Trânsito
(Lei 62127/68), em seu artigo 120, já tratava
da necessidade da inspeção obrigatória das
condições mecânicas dos veículos.
“Ocorreram inúmeras discussões nos
mais diversos fóruns técnicos sobre o assunto. De concreto, tiveram duas tentativas de implantar a ITV, a Resolução
809/1995 e a Resolução 84/1998 – ambas do Contran –, com a intenção de re-
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 53
REPROVAÇÃO DE 70% DA FROTA
ntre os caminhoneiros, as principais inimigas da manutenção
mecânica de um veículo são as
rodovias mal conservadas. Para o autônomo Adão José Alves, o faturamento da
categoria hoje não permite gastos altos
com a manutenção. “A gente anda no limite. Resolve um problema daqui, outro
ali, mas sempre temos algo a resolver na
parte mecânica”, diz Alves. Segundo o
motorista, os defeitos são continuados e
ocorrem em função das más condições
das rodovias. “Toda viagem gera um defeito e o frete, competitivo e muito baixo,
não paga os custos.”
Para Elvércio Ferreira Silva, a idéia de
garantir a segurança nos veículos é
“boa”, mas critica um novo imposto. “Já
andamos em estradas tão ruins que a
segurança no carro tem de estar a nosso favor para garantir a vida. Só não concordo com o pagamento de uma taxa
para essa inspeção porque hoje o caminhoneiro anda no limite.”
O presidente da Abcam (Associação
Brasileira de Caminhoneiros), José da
E
Fonseca Lopes, diz que, se a inspeção
veicular fosse implantada hoje, 70% da
frota nacional de caminhões de autônomos seria reprovada. São veículos com
mais de 18 anos de uso e que andam no
limite. “O que mais contribui para essa
situação são as rodovias, mas o frete
predatório não dá condições ao caminhoneiro de manter bem seu caminhão.” Segundo ele, a entidade prepara
um documento que será apresentado à
Comissão de Viação e Transportes da
Câmara sobre o assunto. “Nesse documento, cobramos do governo federal
condições melhores de financiamento
para a renovação da frota e a melhoria
nas condições das rodovias”, diz.
A mesma reclamação faz o presidente da ABTC, Newton Gibson. “É necessário que o governo pratique juros menores no Modercarga (programa de financiamento de caminhões), para que
as empresas tenham condições de renovar a frota, com veículos mais econômicos, garantindo recursos para manter os
caminhões em melhor estado.”
gulamentar as questões relativas aos itens
de segurança”, diz Brasiliense Pires.
Em meio a essas discussões antigas, segundo o diretor do Denatran, as questões
ambientais foram regulamentadas com sucesso, por meio de resoluções elaboradas
pelo Conama. “Entretanto, apenas o governo
do Estado do Rio de Janeiro implantou parcialmente, em alguns municípios, a inspeção de controle de emissão de gases poluentes e ruídos.” Por isso, a necessidade da implantação de uma política nacional.
Mas a adoção da ITV no país ainda tem
um longo caminho a trilhar, se rotina de modificações e debates continuarem. Desde
2001, o projeto de lei nº 5.979 é discutido e
já passou por modificações nas comissões de
Trabalho, Administração do Serviço Público,
Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, de Finanças e Tributação. O projeto
foi debatido na Câmara, submeteu-se a consultas públicas, mas ainda se encontra em
discussão e pode sofrer mais alterações, segundo seu relator.
t
ITENS QUE SERÃO AVALIADOS
Identificação
CLASSIFICAÇÃO
Equipamentos
Obrigatórios
Sem defeito
Sinalização
Iluminação
Defeito leve
Freios
Direção
Defeito grave
Eixos e Suspensão
Pneus e Rodas
Sistemas e Componentes
Complementares
Emissões de Gases e
Ruídos
Defeito muito
grave
Veículo conforme com a
norma e/ou especificação do
fabricante
Falha que não afeta a identificação e/ou a dirigibilidade e
segurança do veículo
EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL - ÍNDICE DE REPROVAÇÃO
Ano de Implantação
33%
24%
20%
20%
32%
23%
17%
Problema que afeta a identificação e/ou as condições de
segurança do veículo. Implica
restrições à sua circulação
Falha que afeta a identificação e/ou as condições de
segurança do veículo. Implica
impedimento à circulação
não
disponível
Alemanha
Bélgica
Espanha
França
R. Unido
Suécia
1950
1958
1985
1992
1961
1965
Coréia S. Argentina
1981
* A inspeção veicular é feita a cada 2 anos em veículos leves * Dados de 1998
Fonte: www.cidades.gov.br
1991
PRÊMIO NACIONAL
ENERGIA E MEIO AMBIENTE
ESFORÇO PREMI
EMPRESAS DE TRANSPORTE SÃO RECONHECIDAS PELO USO RACIONAL
Prêmio Nacional de Conservação e
Uso Racional de Combustível, instituído por decreto da Presidência da República e regulamentado pelo Ministério de Minas e Energia, é concedido anualmente
sob a coordenação da CNT/Idaq (Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade
em Transporte) e Petrobrás/Conpet (Programa
Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural). Como reconhecimento ao esforço das empresas de transporte na busca pelo aumento de eficiência energética, neste ano, foram concedidas seis premiações e três menções honrosas. Na categoria Cargas, o vencedor foi a Transportadora Binotto S/A,
de Santa Catarina. E na categoria Passageiros, o
primeiro lugar coube à empresa de Transportes
Flores Ltda, com sede no Rio de Janeiro.
O
POR
MARCELO NANTES
Ambas apresentaram invejáveis índices de
aproveitamento do combustível. A Binotto registrou um aumento de 27,53% em sua eficiência
energética. O percentual corresponde a uma
economia de 7,173 milhões de litros de combustível ao ano. Já a Transportes Flores obteve
um aumento de 11,6% em sua eficiência energética, o que corresponde a uma economia de
1,6 milhão de litros ao ano.
“Nós encaramos o Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Combustível como
uma grande honra, um reconhecimento do trabalho que estamos realizando ao enfocar a melhoria
contínua da qualidade e a redução de custos. Há
três anos que estamos investindo em tecnologia,
visando, fundamentalmente, o controle completo
de toda a nossa frota”, diz Edilson Binotto, diretor
de negócios e logística da empresa.
CELSO AVILA/FUTURA PRESS
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 55
ADO
DE COMBUSTÍVEL
Binotto prefere não falar de quanto foi necessário investir para chegar ao resultado alcançado.
Os administradores da empresa firmaram parceria com um sistema de gestão de logística, o Rodocred, para realizar monitoramento de todas as
viagens realizadas, tanto do ponto de vista de rota
– posicionamento dos veículos e prazos – como
dos principais indicadores de desempenho.
Segundo o executivo, com as informações disponibilizadas em tempo real, toda vez que o veículo faz um abastecimento é possível obter, imediatamente, sua média de consumo. Outro dado
diz respeito à conservação da frota. A manutenção, preventiva e corretiva, a informatização da telemetria (via satélite) e a otimização das viagens
sem cargas contribuíram para o desempenho.
“Num mercado que conta com mais de 115
provedores de serviços logísticos e um número
exorbitante de empresas de transporte, tal economia representa um importante diferencial
comercial. Isso nos permite afirmar que estamos à frente de nossos concorrentes. Quanto
ao nome da nossa empresa no mercado, podemos mais do que nunca garantir aos nossos
TRANSPORTADORA BINOTTO/DIVULGAÇÃO
clientes que o valor que estão nos pagando é
bem aplicado”, diz o diretor.
Por sua vez, os administradores da Transportes Flores justificam a premiação com o argumento da persistência. Eles dizem que vêm desenvolvendo um trabalho de acompanhamento do consumo de combustível “há muitos anos”. “Nossa
empresa está dividida em cinco áreas de atuação
na região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo
que cada uma é composta por um grupo de linhas com seu respectivo instrutor. Eles são responsáveis pelo acompanhamento individual dos
motoristas. Os profissionais com baixo desempenho são acompanhados e recebem instruções de
como melhorar seus rendimentos. Freqüentemente, são realizadas reuniões visando uniformizar os conhecimentos”, diz Marcos Antônio Pereira Guimarães, gerente de gestão da empresa.
Outros dois fatores foram preponderantes para
o cumprimento das metas: a manutenção dos veículos e o esforço em reconhecer os méritos dos
empregados. Segundo Guimarães, quando o problema é do veículo, o instrutor abre uma ordem
de serviço de manutenção e acompanha os procedimentos de correção. “Também temos cuidado em valorizar as iniciativas e atitudes positivas
dos nossos funcionários. Os profissionais com os
melhores desempenhos no mês, em cada linha,
recebem uma carta da diretoria agradecendo o
seu comprometimento. Formalizamos nosso reconhecimento, ao final do ano. E como incentivo
ao bom profissional, estamos mandando a Brasília, para receber o prêmio, o motorista com o melhor desempenho nos 12 últimos meses.”
Guimarães destaca que a média de consumo
da empresa vem apresentando padrão uniforme, o que faz a empresa utilizar diversos processos de melhorias. Entre eles, inovações tecnológicas, como a aquisição de novos carros. “Mas,
normalmente, quando entram na frota, esses
BINOTTO Transportadora que venceu o
Prêmio Nacional de Conservação e Uso
Racional de Combustível - categoria Cargas
56 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
FUTURO MIRA
NAS FONTES
RENOVÁVEIS
etróleo e gás natural são as duas principais fontes energéticas brasileiras
de acordo com o plano estratégico da
Petrobras – além do álcool como combustível. A tática corporativa da empresa, além de
almejar a liderança nos mercados de petróleo
e gás da América Latina, considera como um
de seus pilares a atuação nos mercados de
energia renovável. Os projetos com esse tipo
de fonte ainda estão em fase piloto, mas os
cálculos e estimativas projetam que em seis
anos 0,5% dos investimentos totais da companhia serão destinados à energia renovável:
biomassa (biodiesel) e eólica, por exemplo.
A biomassa é a menina-dos-olhos, a fonte de energia com maior volume de investimento. Segundo a assessoria de imprensa da
Petrobras, “em biomassa devemos estar participando do projeto de biodiesel, assim
como de projetos de geração de energia elétrica, também a partir de biomassa”. O plano
pode ser feito em consórcio com outras empresas que geram energia, entre outros modelos, a partir do bagaço da cana, “uma matéria-prima que está sendo desperdiçada”.
A dependência externa pelo petróleo é
considerada pequena, de apenas 10%.
Feitos os cálculos, os técnicos da empresa consideram que os preços elevados
não estão produzindo perdas de divisas.
Partem do princípio que há compensação
com as exportações de petróleo e seus
derivados, o que implica o equilíbrio das
contas externas do setor.
P
Há tanto otimismo por parte da estatal
que a auto-suficiência, tão propagada à
época em que o Brasil se tornou “o país
do futuro” e que era prevista para 2006,
“deverá ser alcançada no final do próximo
ano, pois a produção cresce, em média,
5,9% ao ano”. A expectativa se reforça
com a conclusão das plataformas P-43,
P-48, P-47, P-50 e P-34, “quando a produção atingirá 1,78 milhão de barris”,
prevêem os técnicos da empresa.
Segundo dados fornecidos pela Petrobras, com a produção atual já é possível
atender praticamente 90% da demanda
nacional. “Não há, portanto, qualquer risco para o Brasil em função da volatilidade
dos preços praticados nos últimos meses”, diz a gerente de comunicação institucional, Michelle Hervé.
Além do petróleo e seus derivados, o
carvão é outro combustível fóssil utilizado
no Brasil. Mas a situação dessas fontes
não é tão animadora quanto exaltam os
técnicos da Petrobras. “Há escassez progressiva. A polêmica gira em torno da pergunta quanto tempo o petróleo vai durar.
Mas me parece claro que em algumas décadas isso (a escassez) será inevitável. O
consumo está aumentando mais que as
reservas encontradas. A curva está na fase
descendente quando comparamos consumo com estoque”, diz Ruy de Góes, diretor
do Programa de Qualidade Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Góes explica que há várias reservas que
não são economicamente viáveis. “Não me
arrisco em falar no fim do petróleo, mas a
elevação do preço também é certa”, diz o
diretor do MMA. Ele cita o forte crescimento e desenvolvimento da China como um
fator novo para o desequilíbrio da demanda. Mas em um ponto ele concorda com as
projeções da Petrobras, de que o gás natural está aparecendo como uma alternativa
complementar no Brasil.
“Atualmente, enfrentamos uma crise
ambiental representada no efeito estufa.
Para o futuro, é necessário diminuir a emissão de gás carbônico, provocada em grande parte na queima de combustíveis fósseis. Diminuindo essa queima, conseqüentemente se reduz a poluição”, diz o diretor
do MMA. Góes vê como grande desafio
acabar com a dependência que se tem do
petróleo, seja por razões econômicas ou
ambientais, e sugere o uso da cana-deaçúcar, “cuja nossa tecnologia não tem rival em qualquer lugar do mundo”.
EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES/DIVULGAÇÃO
FLORES Frota da transportadora que economizou 1,6 milhão de litros
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 57
veículos apresentam um rendimento insatisfatório que é trabalhado ao longo do tempo.”
Outras quatro empresas foram premiadas.
Na categoria Cargas, o segundo lugar ficou
com a Transportes Pesados Minas Ltda, que
aumentou em 80,18% sua eficiência energética, percentual que corresponde a uma economia de combustível de 1.540.701 milhões de
litros ao ano. Em terceiro lugar ficou a Rios Unidos Transportes de Ferro e Aço, de São Paulo,
que economizou 494.689 mil litros.
Na categoria Passageiros, a Auto Viação Vera
Cruz, do Rio de Janeiro, ficou em segundo lugar
após aumentar sua eficiência energética em
11,8%, o que corresponde a uma economia de
combustível de 773.385 litros ao ano. O terceiro
prêmio ficou com a Auto Viação Fortaleza, que
economizou 483.643 mil litros de combustível.
Outras três empresas recebem menção
honrosa, por apresentarem índices de desempenho energético considerados como nível de
referência para o setor: a Transturismo Transportadora Oriental, do Rio de Janeiro, a Turismo Três Amigos, também fluminense, e a
Transportadora Rodomeu, de São Paulo.
Para a escolha dos vencedores, os critérios
de avaliação levaram em consideração os ganhos obtidos com a redução do consumo de
óleo diesel e/ou nos custos operacionais, originalidade e aplicabilidade das medidas, engajamento dos funcionários e a gestão permanente
da empresa com o uso racional do combustível.
O Prêmio Nacional de Conservação e Uso
Racional de Combustível é concedido, anualmente, pela Petrobras, por meio do Programa
Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet), sob
a coordenação da CNT, representada pelo Idaq.
A iniciativa do uso racional de energia no
meio empresarial representa economia de recursos, redução de custos e responsabilidade no
consumo de riquezas naturais, tão escassas no
planeta, além de elevar os níveis de qualidade
dos operadores de transporte de todo o país. t
A FESTA DO TRANSPORTE
MEDALHA JK HOMENAGEIA DESTAQUES DE 2004
setor transportador estará em festa em dezembro, quando o presidente da CNT, Clésio Andrade, confere a Medalha JK – Ordem do Mérito do Transporte. A
cerimônia irá premiar os destaques do ano, que contribuíram
para o desenvolvimento do
transporte brasileiro (confira no
quadro ao lado os perfis dos
homenageados).
Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, “as pessoas homenageadas refletem o espírito do
brasileiro”. “Um povo que amadurece no convívio com as adver-
O
sidades, dono de um otimismo e
uma confiança no futuro que o
fazem superar obstáculos.”
O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José
Alencar, receberá a medalha de
mais alto grau, a Grã-Cruz.
O evento contará com a presença de Ana Cristina Kubitschek, neta do presidente Juscilino. A entrega acontece no dia 7
de dezembro, às 16h30, no Memorial JK, em Brasília. Estarão
presentes empresários e representantes de entidades do setor
e autoridades de destaque no
cenário nacional.
“O DIA” LEVA GRANDE PRÊMIO
O jornal “O Dia” (RJ) foi o vencedor do Grande Prêmio CNT de
Jornalismo. A reportagem “Transporte preferido: os pés”, feita pela
repórter Viviane Barreto e equipe,
ganhou na principal categoria
(veja no quadro ao lado os vencedores nas outras categorias). A
matéria vencedora receberá R$
15 mil, além de troféu e diploma –
para as outras categorias, o prêmio é de R$ 5.000.
Para o presidente da CNT, Clésio
Andrade, “o Prêmio CNT de Jornalismo é um reconhecimento aos profissionais que revelam a realidade do
setor de transporte e conscientizam a
sociedade de sua importância como
atividade imprescindível para o desenvolvimento do país”.
A festa de premiação acontece
em 7 de dezembro, às 20h30, no
Hotel Blue Tree Park, em Brasília.
PRÊMIO CNT DE JORNALISMO
GRANDE PRÊMIO
Viviane Barreto (“O Dia”)
“Transporte preferido: os pés”
MÍDIA IMPRESSA
Luiz Ernesto Magalhães (“O Globo”)
“A máfia do transporte pirata
no Rio de Janeiro”
FOTO
Nauro Júnior (“Zero Hora”)
“Isolamento”
TELEVISÃO
Edimilson Ávila (Rede Globo)
“Passageiro Cidadão”
INTERNET
Giuliana Napolitano (Agência Brasil-Árabe)
“Brasil gasta com transporte
o dobro de países desenvolvidos”
RÁDIO
Giovani Grizotti (RBS/Rádio Gaúcha)
“Exército do crime”
MEDALHA JK - ORDEM DO MÉRITO DO TRANSPORTE
José Alencar Gomes da Silva (Grã-Cruz)
Vice-Presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar é natural de Muriaé ( MG). Tornou-se empresário atuante
em seu Estado, tendo o seu trabalho se destacado nos setores
do comércio e da indústria. Dentre as diversas atividades classistas das quais participou, está a presidência da Federação
das Indústrias do Estado de MG. Destacou-se também por
suas atividades políticas. Foi candidato ao governo de Minas
Gerais pelo PMDB e eleito senador da República. Participou
da CPI do Sistema Financeiro e presidiu a Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado.
Luiz Carlos de Urquiza Nóbrega (Grande Oficial)
Atual superintendente da Federação das Empresas de Transportes Rodoviárias do Leste Meridional do Brasil (Fetranspor),
Luiz Carlos de Urquiza Nóbrega já exerceu a diretoria de
Transporte Rodoviário de Passageiros e Cargas do DNER, de
1974 a 1979, e foi superintendente da Confederação Nacional
dos Transportes Terrestres (CNTT), de 1987 a 1989. A convite
do governo da Alemanha, participou do curso “Desenvolvimento Urbano e Administração Local” em 1994.
Luiz Anselmo Trombini (Grande Oficial)
Luiz Anselmo Trombini é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Guarapuava (SETCGUAR) e da
Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado
do Paraná (Fetranspar). É membro representante da Fetranpar
no Conselho das Federações do Estado do Paraná, na Seção
de Cargas da CNT e na Associação Brasileira do Transporte de
Cargas. É também delegado titular da Federação no Conselho
de Representantes da CNT.
José Veronez (Oficial)
Motorista de táxi dos mais antigos de Caxias do Sul (RS), José
Veronez tirou sua primeira habilitação em 1955, mesmo ano
em que adquiriu um táxi. Desde então, exerce a mesma atividade e é um dos profissionais mais atuantes da categoria na
sua cidade. Participou da fundação do Sindicato dos Taxistas
em 1962 e da fundação da Federação da Categoria em 1982.
Glen Gordon Findlay (Oficial)
Desde 1998, Glen Gordon Findlay é responsável pela vice-presidência do Sindicato das Agências de Navegação Marítima de
Santos. Em 2001, assumiu a presidência da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima. Atualmente, faz parte da diretoria da CNT.
Odayr Baptistella Elias (Oficial)
Empresário do transporte desde 1960, Odayr desenvolveu a liderança de classe em atividades sindicais e sociais. Foi sóciofundador da Associação das Empresas de Transporte de Cargas de Araraquara e Região (APETCAR). Presidiu o Sindicato
das Empresas de Transporte de Cargas de Araraquara e Região e até hoje integra a diretoria de entidade. Em 1989, fundou a Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo.
Eliezer de Freitas Guimarães (Oficial post mortem)
Eliezer nasceu no distrito de Canaã, município de Itapipoca
(CE), em janeiro de 1917, e morreu em Fortaleza, em setembro de 1981. Empresário reconhecido por seu empenho e perfil empreendedor, começou sua atividade no setor nos anos
1940. Na década seguinte, nascia a Organização Guimarães
Ltda. Eliezer ainda serviu à comunidade e à sua classe na direção do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo.
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 59
DIREITOS HUMANOS
TREINAMENTO
JÚLIO FERNANDES/CNT/DIVULGAÇÃO
60 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
O MOTORISTA
COMO AGENTE
DA CIDADANIA
PROGRAMA QUE COMBATE A EXPLORAÇÃO
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTINUA
Plano Nacional em
Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente, uma mobilização nacional contra o tráfico, o abuso e a exploração sexual dos jovens, continua em
prática no setor de transportes.
Os transportadores entraram
nessa luta em maio deste ano,
quando foi firmada uma parceria entre o Sest/Senat e a Secretaria Especial de Direitos
Humanos. A parceria é fundamental para que o objetivo seja
alcançado já que o motorista é
um importante agente na denúncia da violência sexual contra os jovens brasileiros.
Até setembro de 2005, segundo o Sest/Senat, 25 mil trabalhadores estarão capacitados
para atuarem no combate a
esse tipo de crime.
O
A CAPACITAÇÃO SERVIU
DE ESTÍMULO PARA A
PRÁTICA DA
DEFESA DOS
DIREITOS DA
CRIANÇA
O trabalhador em transporte
é um agente importante nessa
luta porque leva cargas a várias
partes do país e conhece bem a
realidade de muitas cidades e
estradas do território nacional.
O Plano Nacional é estratégico e composto de dois eixos. O primeiro foi o lançamento de um manifesto e
uma grande mobilização da
categoria em 18 de maio –
Dia Nacional de Combate ao
Abuso e à Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes.
Nesse dia, a mobilização
ocorreu em Brasília e nas
104 unidades do Sest/Senat.
Foram recolhidas 60 mil assinaturas num abaixo assinado entregue ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo o fim do crime contra
os jovens.
O segundo eixo trata das
ações de prevenção e tem o
objetivo de capacitar 25 mil
trabalhadores do transporte
até setembro de 2005, tornando-os agentes sociais na defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente. Os motoristas serão treinados por instrutores
capacitados em teleconferência que durou uma semana,
organizada pela Rede Transporte, canal de televisão da
CNT , em setembro.
A Rede Transporte transmitiu todos os dias cinco programas relativos ao tema. As teleconferências contaram com a
participação de representantes
de entidades de defesa dos direitos das crianças e adolescentes espalhadas por todo o Brasil
e de profissionais interessados
em discutir o assunto.
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 61
EM ARAÇATUBA, VÁRIAS
ENTIDADES
SOCIAIS IRÃO
PARTICIPAR
VOLUNTARIAMENTE DO
PROGRAMA
nhamos condições de difundir
esses conhecimentos na comunidade na qual estamos
inseridos, em especial para
aqueles que atuam no setor
de transporte”, diz a coordenadora de desenvolvimento
profissional da unidade da capital mineira, Glísia Pinto.
Enfrentamento
UNIÃO
A primeira etapa
da campanha
teve adesão de
65 mil motoristas
Durante o treinamento, os
educadores assistiram a conferências com os temas “Desenvolvimento da sexualidade das crianças e adolescentes nas dimensões: social,
psicológica, biológica e cultural”, “Violência sexual contra
crianças e adolescentes com
abordagem de gênero”,
“Marcos legais (envolvendo
toda a legislação direcionada
à defesa e aos direitos da
criança e do adolescente)”,
“Políticas públicas de enfrentamento à violência sexual
contra crianças e adolescentes” e “Planejamento das oficinas locais com os motoristas”. Participaram do treinamento cerca de 500 pessoas.
A coordenadora de promoção social da unidade de Araçatuba (interior de São Paulo),
Ivana Módena, diz que o treinamento serviu de estímulo
para a prática da defesa dos
direitos da criança e do adolescente. “Além dos educadores do Sest Araçatuba, outras
entidades, tais como a Diretoria de Ensino do Estado de
São Paulo, o Programa Sentinela, o Centro de Re-socialização de Araçatuba e a Associação de Re-inserção da Criança e do Adolescente de Araçatuba, participaram do treinamento dos motoristas voluntariamente”, afirma Ivana.
Na unidade Belo Horizonte, a teleconferência também
contou com a participação de
representantes de escolas públicas interessados em debater o tema. “Todos nós consideramos que o treinamento
foi um alicerce para que te-
SERVIÇO
Inscrições Gratuitas
Quem pode participar
Motoristas de transportes
de passageiros e de cargas
Duração
3 horas
Onde
Unidades do Sest/Senat
Informações
0800-990500
Abordar o sexo de forma esclarecedora foi um dos principais pontos positivos da teleconferência apontado pela diretora do Sest/Senat de Goiânia, Joabete Xavier de Souza
Costa. “Foi apresentada uma
nova forma de ver a questão,
que nos proporcionou uma visão de como fazer esse enfrentamento”, diz. Segundo
Joabete, depois de treinados,
os motoristas vão saber como
fazer a denúncia e passarão a
ser vistos como membros participantes no combate ao abuso sexual infanto-juvenil.
Ao participar do treinamento, os motoristas terão noções
dos direitos da criança e do
adolescente baseadas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), verão qual é a sua
importância na defesa e combate desses direitos e conhecerão os tipos de violência sexual.
Além disso, obterão informações de como denunciar o problema. A atividade será baseada em dinâmicas interativas
que simulam situações vivenciadas pelos motoristas em seu
cotidiano nas estradas.
t
62 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
MAIS
TRANSPORTE
POR
JOÃO SAMPAIO ([email protected])
DIVULGAÇÃO
NOVA ENTIDADE
Vinte empresas do setor de transporte
rodoviário de carga se reuniram em novembro
para a fundação da ATR-Brasil, associação
voltada para o desenvolvimento do agronegócio
nacional e de exportação. A ATR Brasil deve
representar os interesses comerciais, fiscais,
políticos e sociais do setor, acompanhando o
desenvolvimento da logística nacional. As
empresas que compõe a ATR Brasil atuam no
transporte de matéria-prima, principalmente
cana de açúcar, soja e laranja. Hoje, estas
empresas possuem um faturamento de mais
de R$ 700 milhões/ano e geram cerca de
2.500 empregos diretos. “Hoje, o transporte
rodoviário de carga enfrenta sérios problemas
que comprometem a ampliação de suas
atividades, como os altos valores das cargas
tributárias, infra-estrutura inadequada nas
rodovias e portos, além dos juros abusivos
e falta de apoio governamental”, afirma
Marcelo Camargo, presidente da associação.
A ATR Brasil conta com o apoio de
entidades como a NTC, Setesp e Frente
Nacional do Transporte.
PARABÉNS - O motorista Francisco da Silva Freire (centro), da Empresa Vitória, do Ceará, foi
o grande vencedor da quinta edição do Prêmio Nacional Modelo do Transporte Urbano 2004,
uma promoção conjunta da NTU e do Sest/Senat. Pelo primeiro lugar, Francisco recebeu um
carro 0 km. O prêmio, que contou com o patrocínio da Mercedes-Benz e Shell, teve a participação de profissionais de 147 empresas. A premiação foi em 19 de novembro, em Brasília. Na
foto, Francisco acompanhado do segundo colocado, José Júlio Caetano (esq.), da Viação Itaim
Paulista (SP), e do terceiro lugar, Ari Aguiar Júnior (dir.), da Insular Transportes Coletivos (SC)
RÁPIDAS
• Com uma logística de transportes responsável
por 16% da movimentação de cargas do Brasil,
a Companhia Vale do Rio Doce será anfitriã da
8ª Conferência Internacional de Ferrovias de
Transporte de Carga Pesada, que ocorrerá em
junho de 2005, no Rio. Trata-se do mais importante evento da indústria mundial do setor.
• Acidentes de trânsito causaram prejuízo de
R$ 480 milhões aos cariocas ano passado. A
conta é baseada nas despesas médicas,
ações judiciais, danos ao patrimônio e outros
dez itens analisados por estudo em parceria
entre o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e a Agência Nacional de
Transportes Públicos (ANTP).
• Segundo publicado em “O Estado de S. Paulo”
de 7 de novembro, nos próximos quatro anos, o
governo paulista deve investir, só em transportes
ou obras viárias com impacto direto na capital,
R$ 8,4 bilhões. Serão R$ 3,7 bilhões na extensão do metrô, R$ 600 milhões na ampliação da
CPTM, R$ 2,5 bilhões para o trecho sul do
Rodoanel e R$ 1,7 bilhão para o Expresso Aeroporto (Guarulhos-Barra Funda).
• Os agentes da BHTrans, empresa que gerencia
o trânsito em Belo Horizonte, estão proibidos de
atuar à paisana. Toda a fiscalização passará a ser
feita por agentes uniformizados, identificados e a
bordo de veículos caracterizados. Antes da
decisão, a BHTrans usava carros camuflados.
• Projeto do deputado federal Maurício
Rands (PT-PE) sugere que os radares em
rodovias federais e estaduais ou em vias
municipais sejam desligados de 22h às 5h,
por questão de segurança.
• A equipe do prefeito eleito de São Paulo, José
Serra, se comprometeu, no programa de governo do tucano, a fazer mudanças no transporte
de cargas na cidade que incluem a autorização
para que caminhões maiores circulem em bairros centrais, onde hoje há restrições. Trata-se de
uma reivindicação das empresas de transporte,
rejeitada na administração Marta Suplicy (PT)
sob a alegação de que os veículos acabariam
prejudicando a fluidez.
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 63
LOGÍSTICA
ÚLTIMOS DIAS
O economista Carlos Alberto
Mira lançou o livro “Logística –
O Último Rincão do Marketing” (ed.
Lettera.doc, 120 págs., R$ 25), que
pretende ser uma referência para os
iniciantes e especialistas no tema. A obra
trata das principais questões da logística
moderna, passando pela história da
técnica no Brasil e seus problemas. O livro
conta com depoimentos do presidente da
CNT, Clésio Andrade, e do ex-presidente
da Fiesp, Horácio Lafer Piva.
Dia 13 de dezembro encerra o prazo para
as empresas de transporte, transportadores autônomos e cooperativas de transporte encaminharem o Registro Nacional
de Transportadores Rodoviários de Carga
(RNTRC). O proprietário do caminhão
deve saber que é gratuito e tem validade
por quatro anos. A ausência do registro
resultará numa notificação de R$ 500.
Com validade vencida, R$ 400.
A ausência de identificação do registro
no veículo, a notificação será de R$ 300.
NOVAS PESQUISAS
OLHO VIVO
A CNT está preparando para 2005 a mais
abrangente Pesquisa Rodoviária feita até
então, já que toda a malha rodoviária
federal pavimentada será avaliada.
Também será feita uma inédita pesquisa
do modal aquaviário, avaliando os
principais portos brasileiros e a percepção
da qualidade, pelos usuários, dos
serviços e da infra-estrutura disponível.
A Agência Nacional do Petróleo realizou
ação de fiscalização em cidades da
região de Campinas (SP) e interditou 11
postos por problemas na qualidade
dos combustíveis. Este ano já foram
realizadas no Brasil 18.780 ações de
fiscalização, resultando em 5.920
autuações e 1.458 interdições. As
multas podem chegar a R$ 5 milhões.
• O prefeito reeleito de Belo Horizonte,
Fernando Pimentel (PT), anunciou em
Brasília que o governo federal deverá
incluir R$ 80 milhões no Orçamento
Geral da União de 2005 para a primeira
etapa das obras de recuperação do
caótico Anel Rodoviário, prevista para o
início do ano que vem.
• Cerca de 400 ônibus são assaltados
todos os anos nas rodovias brasileiras,
atingindo mais de 15 mil usuários. A
Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros) diz que os números podem ser
maiores, pois nem todos os casos são
registrados.
• Deu em “O Globo” de 12 de novembro:
os chineses estão dispostos a investir
US$ 2 bilhões no Brasil em dois projetos
na área de infra-estrutura: a ferrovia
Norte-Sul e a ampliação do Porto de
Itaqui (MA). Mas a lei que cria as PPPs
tem de estar aprovada.
• Um processo referente a uma dívida trabalhista calculada em R$ 3,3 milhões se
arrasta há 25 anos no TRT-MG, noticiou
o “Hoje em Dia”, de Minas. Seis dos sete
ex-funcionários da extinta RFFSA que
entraram na Justiça morreram sem
receber o dinheiro.
FRASES
“
Desde o período do regime militar, o país está
enfraquecido em sua capacidade de investir em
infra-estrutura. Não adianta aumentar a produtividade para
exportar, sem portos, ferrovias e rodovias adequadas.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao pedir a aprovação,
pelo Congresso, do projeto das Parcerias Público-Privadas
(PPPs). No “Correio Braziliense” de 12 de novembro.
”
“
Um empresário do setor de carnes me disse que já
pagou US$ 3 milhões em multas porque não conseguiu
entregar seu produto no prazo por conta de falhas nos
portos. É preciso definir logo uma pauta de melhoria
de infra-estrutura para acabar com esses gargalos.
”
Marconi Perillo, governador de Goiás pelo PSDB,
ao citar a falta de investimentos em infra-estrutura
como um dos principais débitos do governo.
Em “O Estado de S. Paulo” de 10 de novembro.
“
A nossa expectativa é que até junho, julho
do próximo ano, todo esse processamento
tenha sido concluído, e a gente possa
repassar essas rodovias para serem
administradas pela iniciativa privada.
”
Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, ao confirmar
que o governo espera concluir o processo de concessão de
oito rodovias federais até o final do primeiro semestre de
2005. No “Correio Braziliense” de 20 de novembro.
“
A média de velocidade das carretas é de 30 km/h,
às vezes 20 km/h. Isso atinge o Custo Brasil. Há a demora,
o risco de assalto, coisas materiais. E as vidas? Vão desviar
do buraco, vem outra carreta, morrem.
”
Mão Santa, senador pelo PMDB-PI, durante discurso no
plenário em que apresentou os resultados da Pesquisa
Rodoviária CNT 2004.
Na Agência Senado de 26 de novembro
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 65
OPINIÃO
ALEXANDRE GARCIA
Petróleo com preço turbinado
B
“O PETRÓLEO É
NOSSO, SIM, E
TEMOS RESERVAS
PARA SUSTENTAR A
AUTO-SUFICIÊNCIA.
MAS ATÉ QUANDO?
FAZ 30 ANOS QUE
A CRISE DO
PETRÓLEO NOS
DEU O PRIMEIRO
SUSTO. JÁ ERA
PARA TERMOS
APRENDIDO
ALGUMA COISA”
rasília (Alô) – O preço do petróleo sobe com Saddam. O
preço do petróleo sobe sem
Saddam. O preço do petróleo
sobe com a vitória de Bush.
Sobe por causa da explosão de um oleoduto no sul do Iraque. Sobe por causa da
ofensiva em Fallujah.
O preço do petróleo vai subir por causa
do inverno no Hemisfério Norte, que consome gasóleo de calefação. Vai subir por causa da demanda de transporte nas viagens de
fim de ano, que consomem gasolina nas estradas, querosene nos ares e diesel nas locomotivas e navios. Vai subir no futuro se a
China continuar crescendo e enchendo suas
cidades de carros coloridos, como acontece
com a festa consumista de hoje, que substitui a Era Comunista das bicicletas e dos caminhões azuis. (Já pensaram se 1 bilhão e
300 milhões de chineses tiverem o mesmo
número de carros per capita que os americanos? Eles rumam para isso...)
Enfim, sobem os preços do petróleo porque a demanda aumenta e as reservas diminuem. O combustível fóssil que levou milhões
de anos para ser feito vai acabar com alguma
rapidez. Podem apostar que os preços vão
continuar subindo e, algum dia, a gente vai
ter saudades dos US$ 50 por barril.
As oscilações não dependem apenas da
guerra no Iraque ou do escândalo na gigante
petrolífera russa Yukos. Petróleo escasso faz
aumentar os juros e os impostos, embora isso
arrepie a espinha de todos nós. Depois das
crises de 1974 e 1976, o mundo descobriu
que precisava aumentar a produtividade da
energia e aproveitar formas alternativas. O
Brasil começou, com estardalhaço, o Proálcool. Mas o planeta também descobriu que
os donos das jazidas, com juros convidativos,
extraíam mais petróleo para aplicar os lucros
e ganhar mais juros. Quando os juros ficam
baixos, eles deixam o petróleo embaixo da
terra. Assim, os juros subiram. E os governos
aproveitaram o pretexto e criaram impostos
sobre os combustíveis, com a desculpa de reduzir a demanda. Aí, ganhamos a Cide...
No Brasil, como no mundo, aumenta o
preço do petróleo, aumentam os preços dos
combustíveis e procura-se gastar menos em
outros itens para manter os orçamentos. Assim, o IBGE, quando mostra duplicação do
IPCA-15 em novembro, descobre que os
alimentos caíram de preço (no balanço oferta-procura) e os combustíveis foram a causa da elevação dos preços do transporte em
geral – de passagens aéreas a fretes – porque, afinal, os custos aumentaram. E não é
só isso. Investidores externos seguram seu
dinheiro e não mandam para o país carente
de poupança interna. Afinal, se os preços
do petróleo nos abatem, eles preferem aplicar em lugares mais seguros. Como a China, por exemplo, que vai crescer quase
10% neste ano, embora tenhamos por ela
as mesmas dúvidas que temos em relação
a nós: afinal, esse sistema de Estado pesado e muita burocracia pode ser considerado
economia de mercado?
Quando aumenta o petróleo, os economistas ameaçam com o necessário “alinhamento” de preços, para que haja equilíbrio
na conta petróleo. Isso significa subir menos a gasolina e mais o diesel. O petróleo é
nosso, sim, e temos reservas para sustentar
uma auto-suficiência. Mas até quando? O
consumo cresce aqui, como no mundo
todo. É a maior fonte de energia, mas não é
renovável. Ninguém planta um poço de petróleo como se planta uma lavoura de canade-açúcar. Faz 30 anos que a crise do petróleo nos deu o primeiro susto. Já era para
termos aprendido alguma coisa.
A TV DA CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DO TRANSPORTE
• Uma entrevista com Meton Soares Junior, diretor da Fenavega e
vice- presidente da CNT, que discute a situação da indústria
naval brasileira, hidrovias, navegação de cabotagem, entre
outros assuntos.
VOCÊ VAI VER
• O deputado federal Eduardo Gomes fala sobre a Frente
Parlamentar para defesa da infra-estrutura nacional,
orçamento, obras, PPP.
• CNT Responde recebe também neste mês o deputado federal
Romeu Queiroz, para falar sobre os trabalhos da Comissão
de Viação e Transporte.
• E ainda neste mês: Uuma entrevista com o advogado
Oswaldo Barbosa, que discute as mudanças do Código Civil.
EM NOVEMBRO
NOVIDADE NA PROGRAMAÇÃO
Estréia neste mês o Jornal do Transporte
Edições diárias com as notícias do setor de transporte,
os fatos mais importantes do dia, as decisões do
governo, dicas de trânsito, agenda de eventos, a opinião
de autoridades do setor, reportagens especiais
e muito mais. 17h45
ASSISTA À REDE
TRANSPORTE NA INTERNET
Acesse www.cnt.org.br e clique no banner da Rede Transporte,
onde está escrito “Ao vivo via web”.
É preciso ter o programa Real Player instalado no computador.
Este software está disponível para download abaixo da tela da web tv.
Telecurso 2000
Idaq
Ensino Fundamental
Segunda a Sexta - 7h30 às 8h00 - 19h00 às 19h30
Segunda a Sexta - 8h30 às 10h
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
30
31
Lingua Portuguesa (aulas 37 e 38)
Lingua Portuguesa (aulas 39 e 40)
Lingua Portuguesa (aulas 39 e 40)
Lingua Portuguesa (aulas 41 e 42)
Lingua Portuguesa (aulas 41 e 42)
Lingua Portuguesa (aulas 43 e 44)
Lingua Portuguesa (aulas 43 e 44)
Lingua Portuguesa (aulas 45 e 46)
Lingua Portuguesa (aulas 45 e 46)
Lingua Portuguesa (aulas 47 e 48)
Lingua Portuguesa (aulas 47 e 48)
Lingua Portuguesa (aulas 49 e 50)
Lingua Portuguesa (aulas 49 e 50)
Lingua Portuguesa (aulas 51 e 52)
Lingua Portuguesa (aulas 51 e 52)
Lingua Portuguesa (aulas 53 e 54)
Lingua Portuguesa (aulas 53 e 54)
Lingua Portuguesa (aulas 55 e 56)
Lingua Portuguesa (aulas 55 e 56)
Lingua Portuguesa (aulas 57 e 58)
Lingua Portuguesa (aulas 57 e 58)
Lingua Portuguesa (aulas 59 e 60)
Lingua Portuguesa (aulas 59 e 60)
DIA
TEMA
1
Sistema de Informação Gerencial
para Gestão da Qualidade e
Produtividade (03 aulas)
Empresa de Carga Rodoviária:
Fazendo Negócios no Mercosul
(04 aulas)
Análise Econômico-Financeira do
Desempenho da Empresa
(06 aulas)
O Uso de Contêineres no Transporte Rodoviário de Carga (12 min)
Controle da Demanda X Oferta no
Transporte Rodoviário (06 aulas)
Aula 1 a 3
Introdução de Novas Tecnologias
no Transporte Urbano (08 aulas)
Aula 1 a 4
Controle da Demanda X Oferta no
Transporte Rodoviário (06 aulas)
Aula 4 a 6
Introdução de Novas Tecnologias
no Transporte Urbano (08 aulas)
Aula 5 a 8
Privatização, Regulamentação e
Licitação no Transporte Urbano
(03 aulas)
Recursos Humanos: Ferramenta
para Aumento de Produtividade
(04 aulas)
Planejamento Estratégico
(05 aulas)
Roteirizadores Automáticos e
Eletrônica Embarcada (02 aulas)
Melhoria na Produtividade de
Veículos no Transporte Urbano
(06 aulas)
Aula 1 a 3
Gestão de Custos e Preços de
Fretes (08 aulas)
Aula 1 a 4
Melhoria na Produtividade de
Veículos no Transporte Urbano
(06 aulas)
Aula 4 a 6
Gestão de Custos e Preços de
Fretes (08 aulas)
Aula 5 a 8
Introdução de Novas Tecnologias
no Transporte Rodoviário (07 aulas)
Marketing e Planejamento
Estratégico para Empresas de
Transporte Rodoviário de Passageiros (15 aulas)
Aula 1 a 7
2
3
6
7
Telecurso 2000
Ensino Médio
Segunda a Sexta - 8h00 às 8h30 - 19h às 19h30
8
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
30
31
Física (aulas 49 e 50)
Física (aulas 49 e 50)
Física (aulas 01 e 02)
Física (aulas 01 e 02)
Inglês(aulas 01 e 02)
Inglês(aulas 01 e 02)
Inglês(aulas 03 e 04)
Inglês(aulas 03 e 04)
Inglês(aulas 05 e 06)
Inglês(aulas 05 e 06)
Inglês(aulas 07 e 08)
Inglês(aulas 07 e 08)
Inglês(aulas 09 e 10)
Inglês(aulas 11 e 12)
Inglês(aulas 11 e 12)
Inglês(aulas 11 e 12)
Inglês(aulas 13 e 14)
Inglês(aulas 13 e 14)
Inglês (aulas 15 e 16)
Inglês(aulas 17 e 18)
Inglês(aulas 17 e 18)
Inglês(aulas 17 e 18)
Inglês(aulas 19 e 20)
15
9
10
13
14
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte
Rodoviário de Passageiros
(15 aulas)
Aula 8 a 14
Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte
Rodoviário de Passageiros
(15 aulas)
Aula 15
Sistemas de Transporte Urbano
(03 aulas)
Sistemas de Transporte Rodoviário
(03 aulas)
Melhoria na Produtividade de
Veículos no Transporte Rodoviário
(07 aulas)
Financiamento, Renovação e
Gerenciamento da Frota no Transporte Urbano (05 aulas)
Código de Barras, EDI e Internet no
Transporte Rodoviário de Carga
(04 aulas)
Aula 1 e 2
Manutenção e Garagem no Transporte Urbano (05 aulas)
Código de Barras, EDI e Internet no
Transporte Rodoviário de Carga
(04 aulas)
Aula 3 e 4
Gestão de Recursos Humanos e
Seguros (03 aulas)
Recursos Humanos: Ferramenta
para Aumento de Produtividade
(04 aulas)
Gestão de Recursos Humanos e
Seguros (03 aulas)
Definição e Negociação Tarifária no
Transporte Urbano (08 aulas)
Aula 1 a 4
Armazéns: Localização, Dimensionamento e Estoques (03 aulas)
Definição e Negociação Tarifária no
Transporte Urbano (08 aulas)
Aula 5 a 8
Mecanização da Carga e Descarga
(07 aulas)
Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte
Urbano de Passageiros (14 aulas)
Aula 1 a 7
Marketing e Planejamento Estratégico para Empresas de Transporte
Urbano de Passageiros (14 aulas)
Aula 8 a 14
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 69
30
31
Informática (06 aulas)
O Uso de Contêineres no Transporte Rodoviário de Carga (12 min)
Introdução de Novas Tecnologias
no Transporte Rodoviário (07 aulas)
Auto Giro
Terça, Quinta - 10h às 10h30 - 16h às 16h30
CNT RESPONDE / CNT E O
CONGRESSO
Terça, Quinta - 10h30 às 11h e 16h30 às 17h
07
09
14
16
21
23
28
30
CNT RESPONDE//CNT E O
CONGRESSO
CNT RESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNT RESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNT RESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNT RESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNTRESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNTRESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNTRESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
CNTRESPONDE// CNT E O
CONGRESSO
VIVA LEGAL
Segunda, Quarta e Sexta - 10 às 10h30 - 16h às 16h30
27
28
29
30
31
Código de trânsito brasileiro
(aulas 15 a 19)
Código de trânsito brasileiro
(aulas 20 a 24)
Frentista / Abastecedor
(aulas 01 a 05)
Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 01 a 05)
Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 06 a 10)
Motorista de caminhão urbano autônomo (aulas 11 a 15)
Atividade Física
Higiene
Sono
Hipertensão
TPM
Câncer de Mama
Calvície
Disfunção Sexual
Trombose Venosa
Dengue
Saúde e Segurança
Exposição ao Sol
Contracepção
Gestação
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
Segunda, Quarta e Sexta - 10h30 às 11h - 16h30 às 17h
22
DIAS
Pimenta
Patins In Line
Mesa Brasil
Canal Saúde no asfalto
DIAS
VIVA VIDA
01
03
06
24
Pead SEST/SENAT
DIAS
01
03
06
08
10
13
15
17
20
22
24
27
29
31
Fitoterapia
Arte Terapia
Hockey
Almofada
Xadrex
Especiarias
Chibal
Gafieira
Queimadura
Tapioca
Aeromodelismo
Segunda a Sexta - 11:00 às 12:00
DIAS
02
08
10
13
15
17
20
22
24
27
29
31
23
Motorista de ônibus urbano
(aulas 01 a 05)
Motorista de ônibus urbano
(aulas 06 a 10)
Motorista de ônibus urbano
(aulas 11 a 13)
Ajudante de motorista de caminhão/ Ajudante coleta e entrega
(aulas 01 a 02)
Ajudante de motorista de caminhão/ Ajudante coleta e entrega
(aulas 03 a 07)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 01 a 05)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 06 a 10)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 11 a 15)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 16 a 20)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 21 a 25)
Desenvolvimento gerencial
(aulas 26 a 29)
Chefia e expedição (aula 1)
Chefia e expedição (aulas 02 a 06)
Motorista de ônibus de turismo
(aulas 01 a 05)
Motorista de ônibus de turismo
(aulas 06 a 10)
Motorista de ônibus de turismo
(aulas 11 a 15)
Motorista de ônibus de turismo
(aula 16)
Código de trânsito brasileiro
(aulas 01 a 04)
Código de trânsito brasileiro
(aulas 05 a 09)
Código de trânsito brasileiro
(aulas 10 a 14)
Segunda a Sexta - 12h às 13h - 22h30 às 23h30
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
Ligado em Saúde - Autismo
Unidiversidade - Turismo Ecológico
- UFMT Cuiabá (MT)
Comunidade em Cena - Teatro
Roça Caça Cultura
É Com Você Cidadão
Canal Aberto
Bate-Papo - Secretario Estadual de
Saúde (MT/MS)
Acervo - Trilhas da Sustentabilidade
Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos
Check UP - Mapa da Fome
TV Pinel
Ligado em Saúde - Primeira Infância
Viva Legal - Saúde Mental: Desospitalização
Programa de Palavra - Trema
É Com Você Cidadão - Novos Conselhos de Saúde - Palmas (TO)
Canal Saúde - Palmas (TO), Monte
Alegre de Goiás, Teresina de Goiás,
Goiânia (GO)
Ligado em Saúde - Auto-Estima
Unidiversidade - Goiânia - UFG (GO)
Comunidade em Cena - Teatro
Roça Caça Cultura
É Com Você Cidadão - Novos Conselhos de Saúde - Palmas (TO)
Canal Aberto
Bate-Papo - Secretário Estadual de
Saúde (GO/TO)
Acervo - Vacinar é Preciso
Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos
Check UP - Retrato da Aids
TV Pinel
13
14
15
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
Ligado em Saúde - Adolescência e
Sexualidade
Viva Legal - Cuidados com Crianças
Pequenas
Programa de Palavras - Maçaneta
É Com Você Cidadão - Vivendo da
Floresta - Presidente Figueiredo
(AM)
Canal Saúde - Santarém e Belém
(PA), Manaus (AM)
Ligado em Saúde - Filho Adolescente
Unidiversidade
Comunidade em Cena - Prevela
É Com Você Cidadão - Vivendo da
Floresta - Presidente Figueiredo
(AM)
Canal Aberto
Bate-Papo - Secretario Estadual de
Saúde (AM/PA)
Acervo - Municípios Saudáveis
Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos
Check UP - Desperdício de Água
TV Pinel
Ligado em Saúde - Micoses
Viva Legal - Memória
Programa de Palavra - Agorafobia
É Com Você Cidadão - Cotas para
negros na Universidade
Canal Saúde - Ciência e Tecnologia
Ligado em Saúde - Especial de
Natal
Unidiversidade
Comunidade e Cena - Prevela
É Com Você Cidadão - Cotas para
negros na Universidade
Canal Aberto
Bate-Papo
Acervo - Família dá Samba
Ligado em saúde - Canal Saúde 10 anos
Check Up - Medicina Estética
TV Pinel
Ligado em Saúde - Memória
Viva Legal - Depressão
Programa de Palavra - Onipotente
É Com Você Cidadão - Cotas para
negros na Universidade
Canal Saúde - Poluição Sonora
Ligado em Saúde - Câimbra
Unidiversidade
Comunidade em Cena
É Com Você Cidadão - Cotas para
negros na Universidade
30
31
Canal Aberto
Bate-Papo - Secretário Estadual de
Saúde (GO/TO)
Acervo - Vacinar é Preciso
Ligado em Saúde - Canal Saúde 10 anos
Check Up - Artrite Reumatóide
TV Pinel
24
27
28
29
30
31
De onde vem 2
Republica na TV - 1
Republica na TV - 2
Império / Republica Velha
Era Vargas / Regime Militar
Redemocratização / Brasil Democrático
BRASIL SOLIDÁRIO
Segunda a Sexta: 15h às 16h - 21h às 22h
Balaio Brasil
Segunda a Sexta - 13h às 14h - 18h às 19h00
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
30
31
TV Muro
Guerreiros
Abaetetuba
Projeto Jaraguá
Cultura Capixaba
Vila Curiaú
Escola de Circo
Artesanato Piauí
Escola de pesca
São Gonçalo
Fandango
Rock em Goiás
Caminhos de pedra
Banda Alagoana
Trem do Samba
Diversidade Brasileira
Festa do Ovo
Laranjeiras
Manezinhos
Ilha de Marajó
TV Muro
Guerreiros
Abaetetuba
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
22
23
24
27
28
29
30
31
Zoonoses
Informações para o terceiro setor
Proteção de florestas
Organizações comunitárias
Incentivo à leitura
Cultura da Paz
Doações
Tráfico de humano
Água
Saúde e informação
Gestão de projetos sociais
Trânsito e cidadania
Arte-educação
Violência doméstica
Desnutrição infantil
Paralisia cerebral
Profissionalização do terceiro setor
Arte e cidadania
Ações comunitárias
Saúde bucal
Comunicação e cidadania
Alfabetização solidária
Criança na escola
BRASIL AFORA
TV ESCOLA
Segunda a Sexta: 14h às 15h - 20h às 21h
DIAS
01
02
03
06
07
08
09
10
13
14
15
16
17
20
21
22
23
Terça, Quinta : 17h às 17h30 - 22h às 22h30
FILHOS
Segunda, Quarta e Sexta: 17h às 17h30 - 22h às 22h30
Escolhi viver aqui / Colônia
Império / Republica Velha
Era Vargas / Regime Militar
Redemocratização Brasil Democrático
Rondon e os Índios
Cidades Brasileiras
De onde vem 1
De onde vem 2
Republica na TV - 1
Republica na TV - 2
Escolhi viver aqui / Colônia
Império / Republica Velha
Era Vargas / Regime Militar
Redemocratização / Brasil Democrático
Rondon e os Índios
Cidades Brasileiras
De onde vem 1
DIAS
01
03
06
08
10
13
15
17
20
22
24
27
29
31
Férias
Idade da mãe
Morte
Talento Precoce
TOC
Personalidade
Agressividade
Utopias
Mentiras
Paternidade precoce
Puberdade
Separação
Obesidade
Sexualidade
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 71
ARTIGO TÉCNICO
OSVALDO MARTINES BARGA
Reforma sindical:
vitória da negociação
stamos comemorando mais um avanço
na construção de um país democrático:
concluímos a primeira parte das reformas sindical e trabalhista com a entrega da proposta de emenda à Constituição e do anteprojeto de lei da reforma sindical à
Casa Civil da Presidência da República. As propostas são resultantes do esforço de negociação de representantes dos trabalhadores, dos empregadores
e do governo para estender a democracia às relações de trabalho. Juntos, no Fórum Nacional do Trabalho (FNT), conseguimos definir novas bases para
a convivência entre o capital e o trabalho no Brasil.
Os consensos do FNT não refletem a posição
original do governo. Tampouco os demais atores
que se sentaram à mesa para negociar mantiveram suas propostas originais. E esse é um dos
maiores méritos do Fórum: conseguimos que as
partes abrissem mão de algumas posições de origem em nome do entendimento possível. Esperamos que tal nível de maturidade seja mantido nas
negociações da reforma trabalhista, já em curso.
Em 16 meses de intensos debates, estabelecemos princípios que fortalecem as entidades sindicais e a negociação coletiva. Assim, esperamos resolver os conflitos trabalhistas de modo ágil, beneficiando o maior número possível de cidadãos e
com a segurança jurídica necessária ao desenvolvimento econômico e social do país.
Quando as propostas do FNT forem transformadas em lei, trabalhadores e empregadores terão mais
liberdade para criar suas entidades de classe. Terão,
também, o direito de decidir quanto pagar às instituições que os representam e como fazer esse pagamento. A negociação no âmbito das relações de trabalho poderá ser feita em todas as instâncias.
E
UM DOS MAIORES
MÉRITOS DO
FÓRUM FOI
CONSEGUIR QUE
AS PARTES
ABRISSEM MÃO
DE POSIÇÕES DE
ORIGEM EM NOME
DE UM MELHOR
ENTENDIMENTO
Os mecanismos de conciliação, mediação e arbitragem estarão integrados no sistema de solução de
conflitos. A Justiça do Trabalho será fortalecida e terá
suas funções renovadas, abrindo espaço para atuar
como árbitro público. O direito de greve está assegurado, inclusive nos serviços essenciais, mas trabalhadores e empregadores serão responsáveis pela garantia do atendimento das necessidades básicas da
comunidade e da integridade do patrimônio das empresas. Os servidores públicos conquistaram, também, o direito à negociação coletiva.
Os resultados alcançados nas negociações
do Fórum superaram todas as expectativas.
Reconhecemos e saudamos o enorme esforço
de trabalhadores e empregadores, que souberam fugir das armadilhas ideológicas e negociar até o limite da exaustão, em busca de um
novo padrão de relações de trabalho.
Precisamos agora manter, durante a atuação no
Congresso Nacional quando da votação dos projetos,
os compromissos firmados, honrar a palavra empenhada na mesa de negociações, garantindo que os
acordos feitos serão defendidos nas votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Ou nos movimentamos para garantir a aprovação do que negociamos ou incorreremos no mesmo erro cometido na elaboração da Constituição
de 1988, quando alguns setores do mundo do trabalho preferiram manter velhos privilégios e criaram a confusão que impera no sistema que regulamenta a organização sindical brasileira.
Osvaldo Martines Bargas é secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e
Emprego e coordenador-geral do Fórum Nacional do Trabalho
72 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
ESTATÍSTICA
IDET
TRAJETÓRIA DE
ALTA NA RODOVIA
SETOR DE CARGA CONFIRMA CRESCIMENTO NA
MOVIMENTAÇÃO, ASSIM COMO O SEGMENTO DE PASSAGEIROS
movimentação de cargas pelas empresas de
transporte rodoviário
atingiu em outubro mais
de 40 milhões de toneladas, um
aumento de 4,57% sobre a movimentação do mês anterior – cabe
ressaltar que setembro possui
menos dias úteis que outubro, o
que torna o aumento mais significativo. Se comparado com o mesmo período de 2003, também há
uma elevação de 1,97% em trajetória ascendente, ao inverso do
ano passado. Observa-se que,
desde abril, o rodoviário de carga
apresenta uma movimentação
crescente, o que reflete a recuperação da atividade no segmento
industrial através da distribuição
da carga produzida, intensificada
nos últimos meses devido à recomposição de estoques para as
festas de final de ano.
Após sucessivos aumentos de
movimentação, acumulados em
16,8% desde o início do ano, o
modal ferroviário de carga apresentou uma pequena redução em
setembro (4,2%). Ainda assim, o
A
A ATIVIDADE
INDUSTRIAL
CRESCEU
DEVIDO AOS
ESTOQUES
DE FINAL
DE ANO
volume é 7,8% superior a igual
período de 2003 e com média, recorde, superior a 30 milhões de
toneladas, pelo sétimo mês consecutivo. Um menor número de
dias úteis de setembro em relação
a agosto e a baixa capilaridade da
malha são um dos principais limitadores do modal, fundamental
para a eficiência logística.
Nesse sentido, vale ressaltar a
significativa melhora desde a privatização da rede, em 1996. O es-
MODAL RODOVIÁRIO DE CARGA
40.000
forço por parte das concessionárias e seus clientes e operadores
podem gerar investimentos de R$
3 bilhões até o final de 2004.
A movimentação (embarque
mais desembarque) de carga nos
aeroportos e portos em setembro
foi, respectivamente, de 44.849
toneladas (4,3% menor que no
mês anterior) e de 36,8 milhões
de toneladas (6,4% inferior a
agosto). Apesar da queda, a carga
movimentada nos aeroportos su-
(TONELADAS TRANSPORTADAS • OUTUBRO/2004)
SUL
SUDESTE
CENTRO-OESTE
NORDESTE
NORTE
35.000
9.216
9.307
9.504
8.836
26.282
26.094
9.141
30.000
8.854
8.991
8.190
8.604
7.951
25.000
20.000
24.447
22.927
24.362
23.731
24.960
25.842
27.317
21.957
15.000
10.000
5.000
0
1.637
1.007
1.066
1.083
1.153
1.145
1.138
1.152
1.162
1.637
1.685
1.795
1.850
2.043
2.023
1.886
1.811
2.098
652
607
803
659
739
710
571
653
641
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
1.200
2.212
667
OUTUBRO
MODAL FERROVIÁRIO DE CARGA
(TONELADAS TRANSPORTADAS • SETEMBRO/2004)
SUL
SUDESTE
CENTRO-OESTE
NORDESTE
NORTE
35.000
2.344
2.049
2.379
2.159
2.395
2.392
2.339
30.000
DEZEMBRO 2004 CNT REVISTA 73
2.352
2.057
25.000
20.000
20.255
19.614
15.000
10.000
21.116
20.227
22.811
22.116
23.374
22.873
22.293
290
283
277
286
282
302
305
302
297
5.731
5.102
5.593
5.862
5.897
5.796
6.668
6.980
6.742
5.000
1.757
1.758
1.892
1.874
1.858
2.037
2.001
2.123
1.913
JAN/2004
FEV/2004
MAR/2004
ABR/2004
MAI/2004
JUN/2004
JUL/2004
AGO/2004
SET/2004
0
TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA
(TONELADAS EM MILHARES • SETEMBRO • 1996/2004)
40.000
35.000
33.624
31.188
30.000
25.428
26.608
25.000
22.954
23.719
26.306
22.958
20.925
20.000
15.000
10.000
5.000
MODAL DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO
MÊS
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NORTE
1.813
1.765
1.842
1.822
1.850
1.824
1.792
1.887
1.828
1.865
NORDESTE
1.813
1.811
1.910
1.885
1.904
1.930
1.861
1.929
1.928
1.973
CENTRO/OESTE
1.780
1.929
1.901
1.980
2.053
2.028
1.933
2.095
2.039
2.055
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
20
04
20
03
(IPK MÉDIO • 2004)
SUDESTE
1.464
1.463
1.511
1.493
1.489
1.495
1.442
1.561
1.554
1.543
MODAL DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO
MÊS /ANO
20
02
20
01
20
00
19
99
19
98
19
97
19
96
0
SUL
1.978
1.992
2.201
2.102
2.113
2.117
1.982
2.119
2.093
2.107
BRASIL
1.627
1.627
1.709
1.677
1.682
1.689
1.621
1.736
1.724
1.728
(IPK MÉDIO • OUTUBRO/2004)
PASSAGEIROS
QUILOMETRAGEM RODADA
31.906.304
17.111.608
IPK MÉDIO
1.865
187.862.243
95.216.545
1.973
31.908.592
15.525.029
2.055
SUDESTE
504.869.029
327.157.225
1.543
SUL
146.360.144
69.473.653
2.107
BRASIL
902.906.311
522.515.226
1.728
FONTES: CNT / FIPE-USP
pera as 424 mil de toneladas nos
primeiros três primeiros trimestres
de 2004, o que representa um volume 17,5% superior se comparado ao mesmo período de 2003. O
modal aquaviário, historicamente,
apresenta queda em algumas regiões entre setembro e fevereiro.
O modal rodoviário de passageiros (interestadual) registrou em
outubro aproximadamente 5,6
milhões de viagen, número
7,71% maior que em setembro,
percentual expressivo se comparado com as médias do período
(3% de 1997 a 2003). As elevações podem ser explicadas pelos
dois feriados prolongados no mês.
No transporte coletivo urbano
(ônibus), foram registrados aproximadamente de 902,9 milhões de
deslocamentos em outubro (38,8
milhões por dia útil) com aumento em todas as regiões (Sudeste
com 0,69%, Norte com 2,87%,
Centro-Oeste com 0,5%, Nordeste com 2,10% e Sul com 2,45%).
A quilometragem rodada pelas
concessionárias superou 519,2
milhões no período, com aumento
nas regiões, exceto Centro-Oeste
(-0,55%) e Nordeste (-0,33%).
Portanto, os volumes de passageiros e de quilômetros rodados registraram alta, respectivamente,
de 1,33% e 1,21% em outubro. O
Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) médio cresceu 0,24%
em relação ao mês anterior. t
Para maiores esclarecimentos e/ou para download das tabelas completas do Idet, acesse
www.cnt.org.br ou www.fipe.com
74 CNT REVISTA DEZEMBRO 2004
HUMOR
DUKE

Documentos relacionados

QUEM PAGA - SEST/SENAT

QUEM PAGA - SEST/SENAT Luiz Maldonado Marthos Sandoval Geraldino dos Santos José Veronez Waldemar Stimamilio André Luiz Costa Armando Brocco Heraldo Gomes Andrade Claudinei Natal Pelegrini Getúlio Vargas de Moura Braatz ...

Leia mais