Sobre a resistência do fraturamento do concreto e do - LMC
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Sobre a resistência do fraturamento do concreto e do - LMC
LUIZ EDUARDO TEIXEIRA FERREIRA SOBRE A RESISTÊNCIA AO FRATURAMENTO DO CONCRETO E DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do Título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia de Estruturas. Orientador: Prof. Dr. Túlio Nogueira Bittencourt. São Paulo 2002 II Dedico este trabalho aos membros da tribo a qual pertenço, dádivas que ao longo do tempo Deus me concedeu: ao pequeno sub chefe, grande índio Touro Sentado, às indiazinhas Nuvem Branca, Fogo na Aldeia e Brisa Suave (Luiz Felipe, Lídia Maria, Letícia Maria e Larissa Maria). Meus filhos, meus encantos. III Presto aqui uma homenagem a essa preciosidade que Deus me permitiu conhecer: Ravindra Gettu. IV AGRADECIMENTOS Nesta oportunidade, agradeço à FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que viabilizaram financeiramente a etapa de estudos que agora encerro. Ao finalizar a minha carreira acadêmica torno público o meu reconhecimento e a minha gratidão aos expoentes que de certa forma conheci e que, ao longo do tempo ouviram as minhas confissões de incompetência, ignorância e de fragilidade, confissões que renovo nesta oportunidade, entretanto, com maior intensidade: Ao Engenheiro José Dalmy Magalhães (in memorian); Aos meus Orientadores (competentes, dedicados e motivados), Professores Drs. Túlio N. Bittencourt e José Luis Antunes de O. e Sousa; Aos Professores Drs. Newton de O. P. Jr., Francisco Meneses, e Itamar Ferreira; A todos os colegas do Grupo de Modelagem de Materiais da EP-USP, e em especial, a Antonio Carlos dos Santos, Eduardo P. Prado e a querida Marly Coimbra (anjo da guarda infalível!); Aos companheiros do Laboratório de Estruturas e Materiais Estruturais da EP-USP, do Lab. de Estruturas da FEC-UNICAMP e do Lab.de Materiais da FEM-UNICAMP, em especial a José Luiz Lisboa (grande sujeito!) Cada um deles, cada qual à sua maneira, certamente influenciou a estruturação da minha formação intelectual. Espero, finalmente, não tê-los decepcionado totalmente. V RESUMO Neste trabalho, o comportamento de materiais cimentícios a solicitações de fraturamento é investigado através do uso das Curvas de Resistência ao Fraturamento. Para tanto, um modelo efetivo com base nos conceitos clássicos da Mecânica da Fratura Elástica Linear, fundamentado nas relações existentes entre a carga aplicada,P, e os deslocamentos relevantes, de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, e Vertical da Linha de Carga, δLC, assim como na relação que esses deslocamentos guardam entre si, é analiticamente desenvolvido. Nesta etapa dos trabalhos, as equações fundamentais da Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL) são derivadas para o corpo-de-prova de (15x15x50) cm, com entalhe central reto passante, solicitado à flexão em 3 pontos. Computacionalmente implementado, o modelo é utilizado para a análise das respostas de fraturamento de rochas, dos concretos convencionais, do concreto de alta resistência (CAR) e do concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) com diversos teores de fibras incorporados à matriz. Para o desenvolvimento das análises, informações laboratoriais de ensaios realizados por diversos pesquisadores assim como outras, decorrentes de programas experimentais conduzidos pelo autor, são utilizadas. Paralelamente, uma nova ferramenta computacional, em fase preliminar de desenvolvimento e destinada à automação da análise da Tenacidade Flexional, é apresentada. Ao longo das análises verifica-se que o modelo concebido é capaz de capturar, dentre outras coisas, o regime de crescimento subcrítico da fissura, o efeito da variação da escala estrutural, a elevação dos níveis de Resistência ao Fraturamento quando do aumento do teor de fibras de aço ao concreto, bem como as fases de transição entre as respostas dominadas pela matriz e pelas fibras, dos concretos reforçados com fibras de aço, viabilizando a determinação de parâmetros VI de Resistência ao Fraturamento desses materiais para o uso em atividades de projeto. Paralelamente, as equações fundamentais da MFEL relativas aos CMODs, para as vigas curtas, são disponibilizadas e os Índices Adimensionais de Tenacidade Flexional da ASTM, investigados quanto ao efeito de escala. Na segunda parte do trabalho, um novo corpo-de-prova, com origem no chevron-bending proposto pela ISRM (International Society for Rock Mechanics) para ensaios de rochas, adaptado ao cilindro convencional de (15x30) cm para ensaios de fraturamento dos concretos e argamassas, é proposto. Inicialmente, as equações relativas à descrição geométrica do corpo-de-prova são proporcionadas assim como são apresentados novos dispositivos desenvolvidos para o apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova, com vistas à diminuição da dissipação energética nos pontos de contato. Posteriormente a geometria proposta é numericamente modelada em 3 dimensões, com vistas ao estabelecimento das condições de carregamento e a calibragem do corpo-de-prova, ocasião em que as equações fundamentais da MFEL são derivadas para o espécime. Com base nessas equações, a construção das Curvas de Resistência sob o enfoque da MFEL em análises bidimensionais de fraturamento é apresentada e seus aspectos teóricos relevantes, discutidos. Finalmente, é levado a efeito um programa experimental comparativo de determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto convencional, com vistas à validação do corpo-de-prova proposto. As análises comparativas dos resultados apurados com os diferentes corpos-de-prova indicam, embora pequenas, algumas discrepâncias de valores, demonstrando, entretanto, não somente a uniformidade das respostas obtidas bem como a factibilidade e reprodutibilidade dos ensaios procedidos com o novo corpo-de-prova. VII ABSTRACT In this thesis, the behavior of cementitious material under fracture is investigated through the use of Fracture Resistance Curves. For this, an effective model based on the classical principles of Linear Elastic Fracture Mechanics and on the existing relations between the applied load, P, and the relevant displacements, the Crack Mouth Opening Displacement, CMOD and the Load Line Displacement, δLC, as well on the relation kept by then, is analytically developed. At this stage, the Lineal Elastic Fracture Mechanics (LEFM) fundamental equations are derived for the (15x15x50)cm specimen with a straight through notch, in three-point bending. The model is used to analyze the fracture response of rocks, plain concrete, high strength concrete (HSC) and steel fiber reinforced concrete (SFRA) with several fiber contents. For the development of the analysis, experimental information of tests performed by several researchers, together with those resulting from author’s investigations, have been used. In parallel, a new computational tool for the automation of Flexural Toughness computation is presented. Through the analyses process it becomes clear that the model is able to capture, besides other things, the subcritical crack grow, the effect of structural scaling, the increasing on fracture resistance due to the increment on fiber content, as well as the transition between the matriz and fiber dominated regimens of SFRC, providing the determination of Fracture Resistance parameters of these materials, to be used for design purposes. In parallel, the fundamental equations from LEFM related to the CMOD for short beans where provided, and the Dimensionless Toughness Index from ASTM, investigated regarding the size effect. The second part of this thesis deals with a new specimen, based on the chevron-bending proposed by ISRM (International Society for Rock Mechanics) for VIII tests with rocks, adapted to the (15x30) cm cylinder for fracture tests of concrete and mortar. Firstly, the equations related to the geometrical description of the specimen are provided. In addition, it is shown the new apparatus developed for supporting and loading the specimen, in order to minimize energy dissipation at the contact points. After this, the proposed geometry is numerically modeled in three dimensions, in order to find the load conditions and to calibrate the specimen, occasion when the fundamental equations of LEFM are derived for the specimen. Based on these equations, the R-Curve construction under the focus of LEFM in bidimensional fracture analyses is presented and its relevant aspects, discussed. Finally, a comparative experimental program for the determination of Fracture Toughness of plain concrete is performed, in order to validate the specimen proposed here. Even of small magnitude, the comparative analysis points to some divergences between the computed values, showing, however not only the uniformity of the responses obtained, as well as the factibility and reproductibility of tests performed with the specimen. IX SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO, RELEVÂNCIA E OBJETIVOS DA PESQUISA 1 2. QUANTIFICAÇÃO DA TENACIDADE 9 2.1 Aspectos relativos aos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de flexão 12 2.1.1 Corpos-de-prova entalhados e não entalhados 12 2.1.2 Corpos-de-prova com entalhes em “V” (chevron notch) 15 2.2 A multiplicidade de critérios de avaliação dos parâmetros de tenacidade do CRFA 20 2.3 Implementação computacional da avaliação da tenacidade do CRFA 28 2.4 Modelo de referência para o estudo e a avaliação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos 2.4.1 O Modelo dos Dois Parâmetros 2.5 Sumário do capítulo 39 39 43 3. MODELAGEM DAS CURVAS DE RESISTÊNCIA SOB O ENFOQUE DA MECÂNICA DA FRATURA ELÁSTICA LINEAR 45 3.1 Curvas de Resistência no Fraturamento unidimensional 45 3.2 Equações da MFEL para vigas entalhadas 55 3.2.1 Relação Elástica Linear entre a Carga Aplicada, os Deslocamentos 67 de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, e os Deslocamentos Verticais, δLC,da Linha de Carga. 67 3.2.2 Relação Elástica Linear δ - CMOD. 71 3.4 Curvas de resistência sob o enfoque da MFEL 3.4.1 Curvas de resistência fundamentadas na relação P – CMOD 73 74 X 3.4.2 Curvas de resistência fundamentadas na relação P - δ 3.4.3 Curvas de resistência fundamentadas na relação CMOD - δ 77 78 3.5 Aplicabilidade dos conceitos da MFEL e transgressão do princípio de Tenacidade ao Fraturamento 79 3.6 Sumário do capítulo 92 4. O USO DAS CURVAS-R PARA A REPRESENTAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO FRATURAMENTO DE MATERIAIS CIMENTÍCIOS 93 4.1 Casos preliminares de estudo. 93 4.1.1 Aplicação das Curvas-R para o estudo do fraturamento de rochas, do concreto de alta resistência e do CRFA 93 4.1.2 Aplicação da Curvas-R ao estudo do Efeito de Escala 103 4.1.3 Resultados e análises preliminares 115 4.2 Programa experimental para o estudo do fraturamento de CRFA 122 4.2.1 Material utilizado na pesquisa 124 4.2.2 Programa de ensaio 125 4.2.3 Resultados dos ensaios 126 4.2.4 Implementação computacional 128 4.2.5 Aplicações aos resultados de ensaio 130 4.2.6 Discussão 134 4.3 Sumário do capítulo 136 5. ADAPTAÇÃO DO CORPO-DE-PROVA CILÍNDRICO PARA ENSAIOS DE DETERMINAÇÃO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO DO CONCRETO 139 5.1 Geometria do corpo-de-prova 150 5.1.1 Equações relativas à geometria e determinação das dimensões relevantes do corpo-de-prova V-CEV 152 XI 5.2 Dispositivos de apoio e transmissão de carga 154 5.2.1 Dispositivos de apoio 155 5.2.2 Dispositivos de transmissão de carga ao corpo-de-prova 156 5.3 Simulações numéricas tridimensionais 158 5.3.1 Objetivos das simulações numéricas 158 5.3.2 Análise não-linear das condições de transmissão de carga ao corpo-de-prova 160 5.3.3 Análise não-linear da influência do atrito entre as partes em contato, no processo de transmissão de carga 169 5.4 Análise tridimensional do processo de fraturamento do corpo-de-prova V-CEV 175 5.4.1 Fatores de Intensidade de Tensão – Determinação da constante de calibragem do corpo-de-prova. 186 5.4.2 Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe – CMOD 194 5.4.3 Análise do comportamento do corpo-de-prova na fase anterior a carga máxima - Determinação do Módulo de Elasticidade 199 5.4.4 Deslocamentos Verticais da Linha de Carga – δLC 205 5.5 Relação Elástica Linear δ-CMOD para o corpo-de-prova V-CEV 218 5.6 Sumário do capítulo 220 6. ESTUDO DAS CURVAS DE RESISTÊNCIA NO FRATURAMENTO BIDIMENSIONAL, SOB O ENFOQUE DA MFEL 223 6.1 Representação geométrica do processo de fissuração 223 6.2 Curvas de Resistência baseadas na relação Carga-CMOD 226 6.3 Curvas de Resistência baseadas na relação δ-CMOD 229 6.4 Limitações relativas à construção das curvas efetivas de resistência ao fraturamento, quando da utilização de entalhes em “V” 230 6.5 Sumário do capítulo 231 7. PROGRAMA EXPERIMENTAL PARA A DETERMINAÇÃO XII E ANÁLISE DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO DO CONCRETO, UTILIZANDO A V-CEV 233 7.1 Material utilizado no programa experimental 233 7.2 Corpos-de-prova produzidos 234 7.3 Ensaios de fraturamento 235 7.4 Determinação dos parâmetros de tenacidade e análise dos resultados 7.5 Sumário do capítulo 253 8. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 255 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 261 XIII LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Corpo-de-prova cilíndrico com entalhe em “V”. 5 Figura 2.1.1-1 –Corpo-de-prova adotado pela RILEM 14 Figura 2.1.1-2 –Crescimento lateral da fissura (viga com entalhe reto passante). 14 Figura 2.1.2-1 – Corpo-de-prova com entalhe assimétrico em “V”. 15 Figura 2.1.2 -2 – Viga de seção retangular com entalhe em “V”. 15 Figura 2.1.2-3 Corpos-de-prova tridimensionalmente similares, com entalhes em “V”. 17 Figura 2.1.2-4 - Corpo-de-prova do tipo CEV. Geometria e maneiras usuais de carregamento. 18 Figura 2.1.2-5 – Primeiros corpos-de-prova do tipo CEV moldados no Brasil. 19 Figura 2.2-1 – Critérios do ACI para a determinação de parâmetros de tenacidade. 21 Figura 2.2-2 – Critérios da ASTM para a determinação de parâmetros de tenacidade. 22 Figura 2.2-3 – Critérios da RILEM para avaliação da parcela de tenacidade 23 devidas às fibras. Figura 2.2.4 – Cargas Máxima de Afastamento para compósitos de diferentes comportamentos. 25 Figura 2.2-5 – Distribuição de tensões na seção transversal. 26 Figura 2.3-1 – Diagramas Pxδ para concreto com diferentes teores de fibras de aço. 31 Figura 2.3-2 – Tangente à rampa ascendente, calculada pelo programa TENAC. 31 Figura 2.3-3 – Curva côncava e convexa para cima – Diagrama Pxδ. 32 Figura 2.3-4 – Ajustes sucessivos para a determinação da Carga de Primeira Fissura. 34 Figura 2.3-5 - Taxas de mudança dos Coeficientes Angulares das retas dos ajustes sucessivos. 34 Figura 2.3-6 – Tela gerada pelo programa TENAC, ilustrando a tangente de primeira fissura. 35 Figura 2.3.7 – Determinação da Carga Máxima de Afastamento (Offset) -RILEM TC 162 37 Figura 2.3-8 Parâmetros de tenacidade flexional adotados pela ASTM. 38 Figura 2.3-9 Parâmetros de tenacidade flexional adotados pela RILEM. 38 Figura 2.4.1-1 – Fases do diagrama P- CMOD de um ensaio de fraturamento. 40 Figura 2.4.1-2 – Diagrama P - CMOD indicando os parâmetros de flexibilidade do corpo-de-prova 42 Figura 3.1.1 –Curva de Resistência para um material elasto-frágil. 47 Figura 3.1.2 – Curva de Resistência para materiais de ruptura quase-frágil. 48 Figura 3.1.3 – Fissura coesiva. 49 Figura 3.2-1. Geometria do corpo-de-prova e pontos de referência para a XIV determinação dos deslocamentos. 57 Figura 3.2-2. Fatores de conversão para CMOD. 62 Figura. 3.2.1-1. Relação Carga x CMOD para um material elástico linear (KIC=80daN.cm-1. 5). 69 Figura. 3.2.1-2. Relação Carga x δ para um material elástico linear (KIC=80daN.cm-1. 5). -1. 5 Figura. 3.2.1-3. Relações P x δ e PxCMOD (KIC=80daN.cm , αo = 0.25 ou ao= 3,75cm). 70 71 Figura. 3.2.2-1. Relações δ x CMOD (KIC=80daN.cm-1. 5 ). 72 Figura. 3.2.2-2. Relações δxCMOD para diferentes valores de KIC (αo =0.25 ou ao=3,75cm). 73 Figura 3.4.1-1 – Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência baseadas nos CMODs. 75 Figura 3.4.1-2– Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência 76 com a conversão do CMOD. Figura 3.4.2-1 – Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência baseadas na relação Pxδ. 77 Figura 3.5-1 –Curvas P-CMOD e KR-CMOD para um material elástico linear. 81 Figura 3.5-2 - Curvas P- CMOD e KR- CMOD para materiais com diferentes características de deformabilidade 82 Figura 3.5-3 - Curvas P-CMOD e KR- CMOD para materiais com diferentes cargas críticas 83 Figura 3.5.4 – Curvas P- CMOD para um material elástico linear e outros, com diferentes valores de β. 85 Figura 3.5-5 – Gráfico Pi*/Pi versus CMOD para o modelo hipotético. 86 Figura 3.5-6 – Curvas KR-CMOD para o material elástico linear e outros, com diferentes valores de β. 87 Figura 3.5-7 – Curvas KR-α para o material elástico linear e outros, com diferentes valores de β. 88 Figura 3.5-8-Curvas P-CMOD para materiais hipoteticamente menos resistentes após a carga máxima 89 Figura 3.5-9 Curvas KR-α para materiais hipoteticamente menos resistentes após a carga máxima. 89 Figura 4.1.1-1 – Corpo-de-prova de rocha sedimentar. Orientação do plano de fraturamento. 94 Figura 4.1.1-2 Ensaio de flexão em 3 pontos sob condições de controle do CMOD. 95 Figura 4.1.1-3 - Curvas experimentais P-CMOD. Ensaios de fraturamento à flexão em 3 pontos. 96 Figura 4.1.1-4 – Curvas P-CMOD- Ensaios contínuo (CP1) e cíclico (CP4). 96 Figura 4.1.1-5 - Curva de resistência baseada na relação P-CMOD. 97 Figura 4.1.1-6 – Curvas P - CMOD e de resistência – Material: Arenito. 98 Figura 4.1.1-7 – Curvas P-CMOD –Material: Concreto de Alta Resistência. 99 XV Figura 4.1.1-8 – Curvas de Resistência – Material: concreto de alta resistência. 100 Figura 4.1.1-9 – Curvas P–CMOD, Experimental e reconstituída ( 1kgf ≈ 10N). 100 Figura 4.1.1.10 – Curvas P-CMOD para o concreto simples e CRFAs com diferentes teores de fibras. 101 Figura 4.1.1-11- Curvas de Resistência para o CRFA (0, 40 e 80kg / m3). 102 3 Figura 4.1.1-12- Curvas de Resistência para o CRFA – Trechos iniciais (0, 40 e 80kg / m ). 102 Figura 4.1.2-1 – Curvas P-CMOD de vigas com similaridades bidimensionais - Material : CAR. 104 Figura 4.1.2-2 Curvas P-CMOD dos ensaios das vigas com similaridades bidimensionais –CRFA. 104 Figura 4.1.2-3 – Gráfico da Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, f(α), para Fatores de Intensidade de Tensão. 105 Figura 4.1.2-4 – Gráfico da Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, g(α), para CMODs. 106 Figura 4.1.2-5 – Valores de Kd para as vigas curtas com S/W=2.5. 107 Figura 4.1.2-6 – Curvas KR-CMOD para o concreto de alta resistência. 108 Figura 4.1.2-7 – Curvas KR-CMOD para o CRFA. 108 Figura 4.1.2-8 – Curvas KR-α para o concreto de alta resistência – CAR. 109 Figura 4.1.2-9 – Curvas KR-α para o CRFA. 109 Figura 4.1.2-10 - Curvas KR-α para o concreto de alta resistência - α<0.5. 111 Figura 4.1.2-11 - Curvas KR-α para o CAR - α<0.5 (Modelo de Weibull). 111 Figura 4.1.2-12 - Curvas KR-α para o CRFA - α<0.5. 112 o Figura 4.1.2-13 - Curvas KR-α para o CAR - α<0.5 (Polinômios do 5 grau). 112 Figura 4.1.2-14 – Índices Adimensionais da ASTM e valores de MOR para os CRFA estudados em escala. 114 Figura 4.2.3-1 – Corpos-de-prova prismáticos ensaiados à flexão. 126 Figura 4.2.3-2 – Ensaio de fraturamento à flexão em 3 pontos. 127 3 Figura 4.2.3-3 Curvas Carga-CMOD “médias” – Teores de fibra entre 0 e 100 kg/m . 128 Figura 4.2.5-1 – Curvas de KR-α para o CRFA com diferentes teores de fibras metálicas. 130 Figura 4.2.5-2 – Curvas de T-α para o CRFA com diferentes teores de fibras metálicas. 131 Figura 4.2.5-3 – Curvas de T-α para o CRFA - Estágios iniciais. 131 Figura 4.2.5-4 – Curvas de KR-α para o CRFA - Estágios iniciais. 132 Figura 4.2.5-5 – Relação KR - T para o CRFA com diversos teores de fibras de aço. 133 Figura 4.2.5-6 – Relação KR - T para o CRFA - Estágios iniciais. 133 Figura 5-1 – Função dos Fatores de Intensidade de Tensão para uma viga com entalhe em “V”. 141 Figura 5-2 – Corpo-de-prova V-CEV (Viga Cilíndrica com entalhe em “V”). 143 Figura 5-3 – Corpo-de-prova SECRBB. 144 XVI Figura 5-4 – Ciclos sucessivos de carregamento e descarregamento do corpo-de-prova. 146 Figura 5.-5 – Seção transversal central do corpo-de-prova chevron-bending na carga máxima. Observe-se o fronte curvo da fissura (Ouchterlony, 1987). 148 Figura 5-6 – Distribuição das tensões principais σ1 na seção média do corpo-de-prova (seção que contém o entalhe em “V”). 149 Figura 5.1-1 – Dimensões relevantes da V-CEV – Dimensões em milímetros. 151 Figura 5.1-2 - Seção Transversal da região entalhada. 152 Figura 5.2.1-1 –Dispositivos de apoio do corpo-de-prova. 156 Figura 5.2.2-1 – Dispositivo de transmissão de carga (dimensões construtivas em mm). 157 Figura 5.2.2-2 – Dispositivo de transmissão de carga ao corpo-de-prova. 157 Figura 5.2.2-3 – Conjunto de aparatos alternativos, para o apoio e solicitação dos corpos-de-prova. 158 Figura 5.3.2-1 - Modelo geométrico e condições de contorno consideradas no problema. 161 Figura 5.3.2-2 – Malhas inicial e final da região de contato, adotadas para o corpo-de-prova. Elementos tetraédricos quadráticos. 164 Figura 5.3.2-3 - Malhas inicial e final da região de contato, adotadas para o dispositivo de transmissão de carga (atuador). Paralelepípedos de 20 nós. 164 Figura 5.3.2-4 – Gráfico: Deslocamento Vertical do Pto ”A” versus Número de Graus de Liberdade Ativos. 166 Figura 5.3.2-5 – Gráfico: Reação Horizontal de Contato, FH, versus Número de Graus de Liberdade. 166 Figura 5.3.2-6 – Gráfico: Reação Vertical de Contato, FV, versus Número de Graus de Liberdade. 167 Figura 5.3.2-7 Malha final de elementos finitos (seção central entalhada). 168 Figura 5.3.3-1 – Hipóteses para a consideração do atrito entre sólidos em contato. 170 Figura 5.3.3-2 – Espaço de representação das forças de atrito, desenvolvidas nas superfícies de sólidos em contato. 171 Figura 5.3.3-3 – Deslocamentos verticais do ponto “A”, de controle, e reações de contato para diferentes valores do coeficiente de atrito. 172 Figura 5.4-1 – Condições de contorno adotadas para os casos de estudo. 179 Figura 5.4-2 – Detalhes da ponta do entalhe, em 3 diferentes estágios da propagação. 184 Figura 5.4-3 – Evolução das malhas de elementos de contorno. 186 Figura 5.4.1-1 – Fatores de Intensidade de Tensão para as linhas de frente estudadas. Distribuição ao longo da extensão normalizada. 187 Figura 5.4.1-2 – Fatores de Intensidade de Tensão para os frontes estudados. Distribuição ao longo da extensão normalizada. 188 Figura 5.4.1-3 – Valores dos Fatores de Intensidade de Tensão computados. 190 Figura 5.4.1-4 - Função de Dependência Geométrica e de Carregamento do corpo-de-prova, para Fatores de Intensidade de Tensão – Caso ”B”. Figura 5.4.1-5 – Pontos de mínimo das Funções A(α) de Dependência Geométrica e de 191 XVII Carregamento. 193 Figura 5.4.2-1 – Funções g(α)de Dependência Geométrica e de Carregamento do corpo-de-prova, para CMODs. 196 Figura 5.4.2-2- Curvas kd x α para diferentes alturas da lâmina de suporte do clip gauge. -1.5 Figura 5.4.3-1 – Curva P-CMOD para um material elástico linear com KIC=100 daN.cm Figura 5.4.3-2 – Curva Carga-CMOD para materiais elástico lineares ( KIC variável). 198 . 201 201 Figura 5.4.4-1 – Malha de elementos de contorno com as arestas utilizadas para o estudo dos deslocamentos verticais, δ. 206 Figura 5.4.4-2 – Deslocamentos computados no plano de fraturamento. 207 Figura 5.4.4-3 – Funções de Dependência Geométrica e de Carregamento, para deslocamentos verticais, relativas aos casos de estudo. 211 Figura 5.4.4-4 – Gráficos da função polinomial de dependência e das derivadas das 213 funções ajustadas. Figura 5.4.4-4 – Funções de Dependência Geométrica e de Carregamento, para Fatores de Intensidade de Tensão, relativas aos casos de estudo. 214 Figura 5.4.4-5 - Funções de Dependência A(α) resultantes da adoção de funções de diferentes naturezas para a descrição da flexibilidade adimensional CED – Caso dois. 216 Figura 5.5-1 – Relação δ - CMOD para o corpo-de-prova V-CEV. 220 Figura 6.1-1 – Curva αAi x αi para o corpo-de-prova proposto. 225 Figura 6.2-1 – Fluxograma simplificado para a construção da Curva-R sob o enfoque da MFEL 227 Figura 6.2-2 – Curvas P-CMOD e KR-CMOD para o material elástico linear do exemplo 4.3-1. 228 Figura 7.2-1 – Corpos-de-prova cilíndricos com entalhe em “V”: seção transversal central. 234 Figura 7.3-1 – Ensaio de flexão em “3 pontos” do corpo-de-prova V-CEV. 236 Figura 7.3-2 – Ensaio de flexão do corpo-de-prova V-CEV –esquema “aresta superfície” (caso “B”). 237 Figura 7.3-3 – Ensaio de flexão do corpo-de-prova V-CEV –esquema “aresta superfície” (caso “B”). 237 Figura 7.3-4 Corpos-de-prova ensaiados à flexão em 3 pontos –Caso ”A” de estudos. 238 Figura 7.3-5 – Corpo-de-prova no. 1. 239 Figura 7.3-6 – Corpo-de-prova no. 2. 239 Figura 7.3-7 – Corpo-de-prova no. 3. 240 Figura 7.3-8 – Corpo-de-prova no. 4. 240 Figura 7.3-9 – Corpo-de-prova no. 5. 241 Figura 7.3-10 – Corpo-de-prova no. 6. 241 Figura 7.3-11 - Ensaio de fraturamento de viga – Flexão em três pontos. 242 Figura 7.3-12 Curvas Carga-CMOD - Corpos-de-prova 1 e 2. 243 Figura 7.3-13 - Curvas Carga-CMOD - Corpos-de-prova 3 e 4. 243 XVIII Figura 7.4-1 – Curvas KR-CMOD para as vigas com entalhes retos passantes. Figura 7.4-2 – Curvas KR-CMOD, valor de referência KSIC 246 e gráfico da função exponencial representativa dos ensaios da vigas com entalhes retos passantes. 247 XIX LISTA DE TABELAS Tabela 3.2-1 – Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, f (α). 60 Tabela 3.2-2 – Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, g (α). 61 Tabela 3.2-3 – Coeficientes para as equações de conversão de CMOD 63 Tabela 3.2-4– Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, V (α). 65 Tabela 3.2-5 - Desvios percentuais médios, em números absolutos, dos valores das funções adimensionais de dependência geométrica, f(α), g(α) e V(α). 66 Tabela 3.2-6 – Coeficientes para as funções de dependência geométrica e de carregamento (0.05≤α≤0.75) 67 Tabela 3.5-1 - Valores de Pi*/Pi para diferentes valores de α e β e W=15 cm. 85 Tabela 4.1.1-1 – Características geométricas dos corpos-de-prova e cargas máximas dos ensaios. 94 Tabela 4.1.2-1 – Informações geométricas dos corpos-de-prova Estudo do efeito de escala. 103 Tabela 4.1.2-2 – Coeficientes para as equações e estatísticas dos ajustes procedidos. 110 Tabela 4.1.2-3 - Índices adimensionais computados para o CRFA. 113 Tabela 4.1.2-4 - Variações percentuais dos Índices adimensionais e do MOR, com a variação da escala do corpo-de-prova. 114 Tabela 5.1.1-1 - Informações geométricas de interesse, relativas à seção transversal entalhada. 154 Tabela 5.3.2 - 1 Propriedades Mecânicas dos Materiais. 161 Tabela 5.3.2-2 – Características das malhas de elementos finitos adotadas. 165 Tabela 5.3.2-3 – Valores das respostas das variáveis de controle. 165 Tabela 5.3.2-4 - Características das malhas finais de elementos finitos e valores das variáveis de controle. 169 Tabela 5.3.3-1- Valores das respostas das variáveis de controle (ciclo completo de carregamento). 173 Tabela 5.3.3-2 Respostas das variáveis de controle, para diferentes valores de Coeficientes de Atrito. 173 Tabela 5.3.3-3 – Trabalhos realizados pelas forças nodais nas direções dos eixos coordenados. 173 Tabela 5.4-1 – Análise da variação da flexibilidade do corpo-de-prova, entre refinos sucessivos da malha global de elementos de contorno. 181 Tabela 5.4-2 – Variação dos Fatores de Intensidade de Tensão e de outras variáveis de controle, com a discretização crescente da linha de frente da fissura. Tabela 5.4.1-1- Coeficientes da equação de Dependência Geométrica e de 182 XX Carregamento, para Fatores de Intensidade de Tensão – Casos “A” e “B” de condições de contorno. 192 Tabela 5.4.1-2 – Constantes significativas do corpo-de-prova para os casos de estudo A e B. 193 Tabela 5.4.2-1 - Coeficientes da equação de Dependência Geométrica e de Carregamento, g(α), para Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe – CMOD. 195 Tabela 5.4.2-2 – Coeficientes para as equações kd=f(α), de conversão do CMOD. 197 Tabela 5.4.3-1-Valores do fator kE,d para a determinação do Módulo de Elasticidade -Casos A e B. 203 Tabela 5.4.4-1 – Deslocamentos Verticais computados em posições de interesse. 207 Tabela 5.4.4-2 – Resultados apurados nas análises dos deslocamentos verticais. 214 Tabela 5.4.4-3 – Resultados para a constante Amin de calibragem do corpo-de-prova. 215 Tabela 5.4.4-4 Coeficientes para as equações de dependência, V(α), e de conversão de deslocamentos, Kv. 218 Tabela 7.4-1 –Resultados do Módulo de Elasticidade (vigas). 245 Tabela 7.4-2 –Resultados da Tenacidade ao Fraturamento (vigas). 246 Tabela 7.4-3 - Resultados do Módulo de Elasticidade (V-CEV) . 248 Tabela 7.4-4 - Resultados da Tenacidade ao Fraturamento (V-CEV). 249 Tabela 7.4-5 ; Valores de referência para o módulo de elasticidade, com base na resistência à compressão. 250 Tabela 7.4-6 – Correção da constante de calibragem para as V-CEV solicitadas à flexão em 3 pontos. 251 Tabela 7.4-7 – Valores de Tenacidade aparente determinados com as V-CEV (flexão em 3 pontos). 251 XXI LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E OUTROS TERMOS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACI – American Concrete Institute. ASTM – American Society for Testing and Materials Carga de Offset – Carga de Afastamento CEB - Comite Euro-International du Beton CEV – Cilindro entalhado em “V” ou Cilindro com Entalhe em “V” chevron-bending – Corpo-de-prova cilíndrico com entalhe em “V”, para ensaios de fraturamento à flexão clip gauge – Extensômetro eletrônico CMOD – (Crack Mouth Opening Displacement) – Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe (valor teórico, referido à face do corpo-de-prova). m CMOD - Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, usualmente medido durante o ensaio, a uma distância d da face do corpo-de-prova. CMODmax - Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, na carga máxima. CMODC - Deslocamento Crítico de Abertura da Entrada do Entalhe CMODu - Deslocamento Crítico de Abertura da Entrada do Entalhe, na carga de descarregamento CMODr - Deslocamento Crítico de Abertura da Entrada do Entalhe, residual CP – Corpo-de-prova CTOD – (Crack Tip Opening Displacement) – Deslocamento de Abertura da Ponta da Fissura. CTODC - Deslocamento Crítico de Abertura da Ponta da Fissura First Peak Load- Carga de Primeiro Pico HFR – Hipótese da Fissura Reta Passante ISRM – International Society for Rock Mechanics JCI – Japanese Concrete Institute JSCE – Japanese Society of Civil Engineers LVDT –Linear Variable Differential Transducer - (extensômetro de curso reto) MEC – Método dos Elementos de Contorno. XXII MEF – Método dos Elementos Finitos. MFEL – Mecânica da Fratura Elástica Linear MOR – Módulo de ruptura MTS – Material Testing System Offset - Afastamento pré-definido pull-out –Arrancamento da fibra metálica RILEM – Réunion Internationale des Laboratoires d’Essais et de Recherches sur les Matériaux et les Constructions RILEM TC 162-TDF – Comitê da RILEM para ensaios do CRFA SECRBB (single edge crack round bar in bending) –Corpo-de-prova cilíndrico com entalhe reto passante, para ensaios à flexão. short rod - Corpo-de-prova cilíndrico para ensaios de fraturamento, por abertura diametral (à tração, encunhamento ou compressão excêntrica) SI – Sistema Internacional de Unidades Split-Cylinder – “Ensaio Brasileiro”, para a determinação indireta da Resistência à Tração do material STCA (Straight-Through Crack Assumption) - Hipótese da Fissura Reta Passante TENAC (Toughness Analyser Code) – Programa para a análise da Tenacidade Time-to-peak-load - Tempo para a carga máxima, usualmente associado à uma taxa de deslocamento. V-CEV – Viga Cilíndrica com Entalhe em “V”. XXIII LISTA DE SÍMBOLOS aC (o mesmo que amax ou acrit )– Extensão crítica da fissura ai – Extensão da fissura (considerando-se o comprimento do entalhe), no iézimo estágio da propagação da fissura ap - Extensão da interface coesiva da fissura. aT - Extensão total da fissura a – Extensão efetiva da fissura a0 – Extensão do entalhe ou da fissura inicial a1 – Distância desde a face inferior do corpo-de-prova até a base do entalhe AENT – Área do entalhe em “V” Ai - Área ou área acumulada da fissura, no iézimo estágio da propagação ALIG - Área do ligamento AMIN - Constante adimensional de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova (fator de intensidade de tensão adimensional na carga máxima) ATOT - Área da seção transversal plena A(α) – Função adimensional de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova, para fatores de intensidade de tensão bi – Coeficiente linear da iézima reta (que passa por um valor conhecido de deslocamento) boff - Ponto de interceptação da carga (coeficiente linear da reta) B - Base do corpo-de-prova B1 - Extensão da base do entalhe c - Extensão da fissura (não considerada a extensão do entalhe inicial) ci – Extensão da fissura (não considerada a extensão do entalhe inicial), no iézimo estágio da propagação Ci – Flexibilidade do corpo-de-prova, usualmente da fase inicial do ensaio (=δi/Pi ou CMODi/Pi) Cu – Flexibilidade do corpo-de-prova, usualmente da fase de descarregamento do ensaio (=δu/Pu ou CMODu/Pu) XXIV d – Altura da lâmina de suporte do clip gauge, relativamente à face do corpo-deprova D – Diâmetro do corpo-de-prova DfBZ,2,I – Tenacidade (ou área sob a curva P-δ) relativa à contribuição das fibras de aço. E –Módulo de Young (ou Módulo de Deformação dos materiais de comportamento inelástico) Ek,d –Idem, determinado através da metodologia da correção dos CMODs ES –Idem, determinado através da metodologia do Modelo dos Dois Parâmetros E´ - Módulo de Young para Estado Plano de Deformação f(α) - Função adimensional de dependência geométrica do corpo-de-prova, para Fatores de Intensidade de Tensão feq.2 – Resistência equivalente,avaliada para o nível 2 de deslocamento feq.3 - Resistência equivalente, avaliada para o nível 3 de deslocamento F - Trabalho realizado pelas forças externas; Força aplicada F2 – Força média, avaliada para o nível 2 de deslocamento F3 – Força, avaliada para o nível 3 de deslocamento g(α) - Função adimensional de dependência geométrica do corpo-de-prova, para CMODs G -Taxa de Liberação (ou dissipação) de Energia de Deformação Gc - Taxa Crítica de Liberação (ou dissipação) de Energia de Deformação – Tenacidade ao Fraturamento ou Energia Específica de Fraturamento Gq - Taxa Crítica de Liberação de Energia para materiais de ruptura quase-frágil Fator de Intensidade de Tensão na ponta da fissura coesiva hsup – Distância desde a linha neutra da seção até a fibra mais comprimida do corpode-prova It – Índice de Tenacidade In – Índice de Tenacidade (n assume diferentes valores, em função de um deslocamento ou área, pré-fixados) JR – Resistência ao Fraturamento, em termos da Integral de Caminho Independente “J” XXV kd - Fator teórico de correção que deve ser aplicado para a conversão dos valores os CMODm, nominais, para valores de CMOD referidos à face do corpo-de-prova kE,d – Fator elástico para o cálculo do Módulo de Elasticidade, que incorpora a influência da altura da lâmina de suporte do extensômetro KCB - Tenacidade ao Fraturamento, obtida com o corpo-de-prova V-CEV (chevron bending) KI – Fator de Intensidade de Tensão para o Modo I de solicitação ao Fraturamento KIC – Tenacidade ao fraturamento ou fator de intensidade de tensão crítico, para o fraturamento no Modo I KIC* - Idem, considerando-se a correção para estado plano de deformação KI i– Fator de Intensidade de Tensão para o Modo I de solicitação ao Fraturamento, no iézimo estágio da propagação da fissura KSIC (o mesmo que KIC(S))– Idem, determinado através do Modelo dos Dois Parâmetros KN - Rigidez normal Kq - Fator de Intensidade de Tensão decorrente do carregamento externo Kσ, Fator de Intensidade de Tensão (teórico), necessário ao cancelamento das pressões que se originam na interface coesiva KR (ou Kr) – Resistência ao Fraturamento (ou Tenacidade ao Fraturamento, em termos de Fator de Intensidade de Tensão crítico) KS - Rigidez tangencial kv – Coeficiente de Conversão de deslocamentos L ou l – Comprimento do corpo-de-prova lp – extensão total da fissura coesiva M2 – Momento fletor no centro do vão, correspondente à força F2 M3 – Momento fletor no centro do vão, correspondente à força F3 p - Fator de correção da não-linearidade (fator de correção não-linear) P – Carga; método de refino, por modificação das funções de interpolação, utilizado no método dos elementos finitos Pi – Valor da carga, no iézimo estágio do carregamento Plim, E - Carga limite para a avaliação do módulo de elasticidade PMAX - Carga máxima do ensaio XXVI Pu – Carga última; carga de descarregamento do corpo-de-prova r - Coeficiente de Correlação (ou coeficiente de Pearson) de uma regressão R – Resistência ao fraturamento, em termos de Taxa de Liberação de Energia S - Vão-Livre do corpo-de-prova t - largura adotada para o entalhe: espessura da chapa ou placa T - Tenacidade Flexional U - Energia Potencial Elástica ou Energia de Deformação V(α) – Função adimensional de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova, para deslocamentos verticais w - Abertura da fissura W - Energia requerida para a formação da fissura (Energia de Decoesão); altura do corpo-de-prova; comprimento do corpo-de-prova cilíndrico; trabalho de fraturamento Y* - Fator de Intensidade de Tensão adimensional Y*min - Fator de intensidade de tensão adimensional mínimo (constante do corpo-deprova, na carga máxima) XXVII LETRAS GREGAS α - Extensão da fissura, normalizada relativamente à altura ou ao diâmetro do corpode-prova (também, extensão normal ou extensão relativa) αi - Extensão da fissura, normalizada relativamente à altura ou ao diâmetro do corpode-prova, no iézimo estágio da propagação da fissura αAi – Área da fissura, normalizada relativamente à outra área, no iézimo estágio da propagação da fissura αcrítico - Extensão crítica da fissura, normalizada relativamente à altura ou ao diâmetro do corpo-de-prova (também, extensão crítica normal ou extensão crítica relativa) αC -Idem αo - Extensão do entalhe, normalizado relativamente a altura ou ao diâmetro do corpo-de-prova (também, extensão normal ou extensão relativa do entalhe inicial). δ - Deslocamento vertical δf – Deslocamento vertical, na carga de primeira fissura δi - Deslocamento vertical, na força Pi do ensaio δINF - Deslocamento vertical medido na face inferior do corpo-de-prova δLC - Deslocamento Vertical da linha de carga δmax – Deslocamento Vertical Máximo ou deslocamento vertical na força máxima do ensaio δs - Deslocamentos relativos de deslizamento, entre os sólidos em contato δu – Deslocamento vertical último ou aquele medido na carga de descarregamento do corpo-de-prova δ2 e δ3 – Níveis de deslocamento fixados pela RILEM, para ensaios de tenacidade flexional δ150 – Nível de deslocamento, relativo a L/150 ∆a – Acréscimo, avanço ou extensão de pequena monta da fissura θ - Ângulo relacionado à ponta do entalhe em “V” (chevron notch) µ - Coeficiente de Atrito XXVIII ν - Coeficiente de Poisson do material π ou Π - Potencial Energético σ - Tensão σ(w) - Pressão coesiva de fechamento, atuante na interface coesiva da fissura fictícia σb - Resistência flexional (JSCE) σB - Fator de tenacidade flexional (JSCE) τ – Tensão de cisalhamento; Trabalho φMAX - Dimensão Característica (diâmetro máximo) do agregado XXIX APÊNDICES Apêndice A – Análise da tenacidade flexional, procedida com o auxílio ao programa TENAC. Apêndice B – Curvas de Resistência baseadas na relação P-CMOD para o CRFA. Apêndice C – Caracterização do material utilizado no primeiro programa experimental. Apêndice D – Curvas P-CMOD dos ensaios do CRFA e Índices Adimensionais da A.S.T.M. Apêndice E – Curvas KR-α e P-α para o CRFA ensaiado por Saldívar. Apêndice F – Fator de Correção Inelástica: embasamento teórico. Apêndice G – Relatórios de determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto. 1 1. INTRODUÇÃO, RELEVÂNCIA E OBJETIVOS DA PESQUISA Definida por Kanninen (1985) como um tópico da engenharia fundamentado na mecânica aplicada e na ciência dos materiais, a mecânica do fraturamento ganhou impulso como ramo da engenharia estrutural somente há algumas décadas, em decorrência de acidentes catastróficos envolvendo obras de engenharia. Quando preocupado com a integridade estrutural, este ramo da mecânica dedica-se ao estudo da formação, propagação e arrestamento das fissuras. Quando preocupado com a sua utilização racional, estuda como formá-las e como propagá-las adequadamente, a exemplo do fraturamento hidráulico em rochas destinado à estimulação de produtividade em reservatórios de petróleo. Como se sabe, os materiais falham. Por mais perfeito que possa parecer um elemento estrutural, pequenas regiões com irregularidades, descontinuidades externas ou internas, defeitos de fabricação ou mesmo decorrentes de detalhes mal projetados, são regiões potencialmente concentradoras de tensões que podem levar uma estrutura ao colapso por formação e propagação instável de fissuras. Nem sempre estes fatores responsabilizam-se, isoladamente, pela fissuração e fraturamento de um elemento estrutural. Fatores como temperatura, adversidade ambiental ou efeitos mecânicos inerentes à utilização inadequada da estrutura (como por exemplo, solicitações não previstas à fadiga) podem ser decisivos na formação e propagação de fissuras. Broek (1986), observa que estruturas construídas com materiais de alta resistência normalmente apresentam baixa resistência ao fraturamento, podendo romper em níveis de tensão muito abaixo daqueles para os quais foram projetadas. Segundo o autor, a ocorrência de fraturamento a baixos níveis de tensão em estruturas construídas com estes materiais, induziu de fato o desenvolvimento da mecânica do fraturamento como disciplina da engenharia estrutural. Em fase acelerada de desenvolvimento, a Mecânica do Fraturamento já faz parte da base de novos conceitos de projeto estrutural, de forma complementar aos critérios de resistência utilizados, uma vez que, de uma forma geral interessa à engenharia o 2 conhecimento do processo de formação das fissuras, de forma a preveni-las (ou produzi-las). Inevitáveis do ponto de vista prático, as estruturas fissuradas devem ser avaliadas quanto à segurança e à vida útil, especialmente sob os enfoques da preservação e da conservação que constituem as perspectivas do mundo moderno. Desta forma, os conceitos da Mecânica do Fraturamento destacam-se nas técnicas utilizadas para a avaliação da Tolerância de Dano, fazendo-se necessário para tanto, o conhecimento prévio de parâmetros resistentes associados à fissuração e ao colapso do material, como a Tenacidade e a Tenacidade ao Fraturamento. Material de simples preparo, de resistência considerável, propício à modelagem arquitetônica de baixo custo, o concreto constitui-se, de uma forma geral, num dos principais materiais utilizados na construção civil nos dias atuais. Versátil, no que diz respeito à construção de estruturas quer esbeltas, quer massivas, esse compósito vem sendo estudado relativamente às suas propriedades mecânicas de resistência, quanto ao seu comportamento químico e desenvolvimento tecnológico, já há bastante tempo. Do ponto de vista da utilização estrutural, entretanto, destaca-se como séria desvantagem, o regime de ruptura quase-frágil por ele apresentado. De particular interesse é o estudo dos concretos de cimento Portland, reforçados com fibras de aço, descontínuas, denominados CRFA. A utilização desse compósito vem ganhando, desde os últimos anos, um grande impulso, com diversas aplicações em obras hidráulicas, de pavimentos viários rígidos, de túneis ferroviários e rodoviários e de pisos industriais, uma vez que o material potencialmente pode conduzir a estruturas mais duráveis, esbeltas, e, em conseqüência, a obras mais econômicas. Sob um enfoque diferente daquele dado ao concreto armado convencional, as fibras de aço descontínuas são adicionadas aos concretos, fundamentalmente com o objetivo de modificar o regime de ruptura do material, conferindo ao material final, uma resposta mais dúctil no regime pós-pico do carregamento. 3 Nos concretos não reforçados (concretos simples), a propagação instável da fissura ocorre logo após a sua nucleação. Já nos CRFA, essas fissuras são atravessadas (ou “costuradas”) pelas fibras, de tal forma que passam a ser arrestadas. Portanto, os mecanismos de transferência de tensões entre as faces da fissura conferem ao compósito a habilidade de suportar carga em níveis de deslocamentos muito superiores àqueles onde a fissuração da matriz é verificada. Por outro lado, o fraturamento terá lugar somente após a dissipação de uma parcela substancial de energia, normalmente envolvida com o processo de arrancamento ou pull-out das fibras de aço. Sendo assim, as restrições à abertura e propagação de fissuras promovidas pelas fibras de aço, tornam o compósito mais tenaz ao aumentar sua capacidade de absorção e dissipação de energia durante o processo de fraturamento, decorrendo do anteriormente apontado, a grande versatilidade desse material no que diz respeito a sua capacidade de absorção de esforços localizados de complexa determinação analítica. Por sua vez, a abertura de uma fissura liga-se à profundidade da descontinuidade geométrica a ela associada, ao comprometimento dos níveis de recobrimento de armaduras, à diminuição das seções resistentes ou ao aumento da permeabilidade estrutural. Desta maneira, um determinado nível de deslocamento estrutural e, por conseqüência, a Tenacidade Flexional do material, passam a ser vistos sob um outro enfoque, o da limitação da abertura das fissuras até níveis estruturais, funcionais ou esteticamente aceitáveis, indicando que o entrelaçamento entre os estudos da Tenacidade Flexional e da Tenacidade ao Fraturamento, parece inevitável. Portanto, a necessidade de aprofundamento dos conhecimentos relativos aos complexos mecanismos envolvidos na fissuração e fraturamento de materiais de ruptura quase frágil, bem como a necessidade de determinação dos valores de Tenacidade e Tenacidade ao Fraturamento destes materiais com o intuito de aferir-se não só diretrizes de projeto assim como níveis mínimos de tenacidade como 4 parâmetro de qualidade para o recebimento e aceitação do material, torna imperativo o desenvolvimento de um programa continuado de investigações voltadas ao desenvolvimento de técnicas apropriadas de ensaios, que viabilizem a determinação destas importantes propriedades mecânicas do material, de forma prática, econômica e principalmente, factível. Ao lado dos estudos teóricos da Mecânica do Fraturamento e da perspectiva de aplicação dos conceitos fundamentais que dela decorrem aos materiais anteriormente discutidos, o avanço na direção desse aprofundamento é o que se pretende nesta pesquisa. Com o discernimento de que esta tese deva ser entendida essencialmente como um trabalho de Mecânica da Fratura, os principais objetivos passam a ser apresentados: A) Modelagem analítica e computacional das Curvas de Resistência ao Fraturamento do concreto simples e do concreto reforçado com fibras de aço, dentro da abordagem da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear, subentendendo: • Investigação da fissuração e do fraturamento unidimensionais através da utilização de respostas de vigas entalhadas, solicitadas à flexão em três pontos. • Investigação do fraturamento bidimensional, através da utilização de respostas obtidas em ensaios executados com um novo corpo-de-prova, apresentado no item seguinte. B) Adaptação, para ensaios de fraturamento do concreto e outros materiais assemelhados, do cilindro padrão de 150mm x 300mm preconizado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para ensaios de determinação das resistências do concreto à compressão simples e à tração (indireta), ao corpo-deprova denominado chevron-bending, adotado pela ISRM (International Society for Rock Mechanics) para ensaios de determinação da Tenacidade ao Fraturamento de rochas, corpo-de-prova que apresenta um entalhe central do tipo chevron, ilustrado na Fig. 1 e discutido no capítulo 5 deste trabalho. 5 Figura 1 – Corpo-de-prova cilíndrico com entalhe em “V”. As investigações relativas a essa adaptação subentenderam o desenvolvimento das atividades a seguir relacionadas: • Desenvolvimento e construção de aparatos destinados ao apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova proposto. • Simulações numéricas tridimensionais do corpo-de-prova utilizando o método dos elementos finitos, com vistas à otimização das condições de apoio e carregamento do corpo-de-prova. • Simulação numérica do processo de fissuração e fraturamento do corpo-deprova, em três dimensões, utilizando o método dos elementos de contorno, com vistas à calibragem da geometria proposta e determinação das equações relevantes da Mecânica da Fratura Elástica Linear para o espécime, relativas aos Fatores de Intensidade de Tensão e Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe (CMOD). C) Validação, através de análises comparativas dos resultados de Tenacidade ao Fraturamento do concreto simples, obtidos com o corpo-de-prova proposto, 6 comparativamente àqueles obtidos através da realização de ensaios de fraturamento de vigas convencionais, utilizando-se a metodologia preconizada pela RILEM (1990). 1.1 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Abordando dois diferentes temas, o presente trabalho foi organizado em oito capítulos, suplementados por sete Apêndices. Embora distintos, os capítulos que constituem o trabalho acabam por interconectar-se ao longo do texto, interligando, por conseqüência, também os temas principais. No Capítulo 2 uma análise dos aspectos relativos aos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de determinação da tenacidade dos concretos, uma revisão relativa à multiplicidade de critérios existentes para a determinação dessa propriedade mecânica dos materiais cimentícios, assim como uma ferramenta computacional desenvolvida para esse fim, são apresentadas. Neste capítulo, são revistos e discutidos os principais modelos e metodologias utilizados para a determinação da Tenacidade dos concretos e empregues ao longo do trabalho. No Capítulo 3 é proposta a modelagem das Curvas de Resistência ao Fraturamento, sob o enfoque da mecânica da Fratura Elástica Linear. Para tanto, as principais equações da MFEL que relacionam as cargas aos Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMODs, e aos Deslocamentos Verticais da Linha de Carga, δLC, são desenvolvidas. Da mesma maneira, a relação existente entre esses deslocamentos significativos é equacionada. Com base nas equações e relações da MFEL estabelecidas, três diferentes modelos efetivos são propostos para a construção das curvas de resistência. Finalmente nesse capítulo, a aplicabilidade dos conceitos da MFEL, dentro do enfoque efetivo proposta, é analisada. 7 No Capítulo 4, as Curvas-R assim desenvolvidas são implementadas para a análise da resistência ao fraturamento de diversos materiais cimentícios, como as rochas, os concretos convencionais, os de alta resistência e os concretos reforçados com fibras de aço. Neste capítulo são apresentados os resultados de um programa experimental levado a efeito pelo autor. O novo corpo-de-prova, com origem no chevron-bending proposto pela ISRM para ensaios de rochas, adaptado ao cilindro convencional de (15x30) cm para ensaios de fraturamento dos concretos e argamassas, é apresentado no Capítulo 5. Inicialmente, as equações relativas à descrição geométrica do corpo-de-prova são proporcionadas. Posteriormente, são apresentados novos dispositivos desenvolvidos para a transmissão de carga e apoio do corpo-de-prova. Em etapa posterior, duas séries de simulações numéricas tridimensionais são desenvolvidas. A primeira delas, com vistas à determinação das condições de transmissão de carga ao corpo-de-prova e a segunda, objetivando a simulação do processo de fissuração e fraturamento do espécime, etapa em que a constante de calibragem geométrica e de carregamento do corpo-de-prova é estabelecida para dois diferentes conjuntos de condições de contorno. Nesta etapa de simulações as equações relevantes da MFEL para o corpo-deprova, assim como as relações elásticas lineares de interesse, relativas aos CMODs e aos Deslocamentos Verticais, são determinadas. No Capítulo 6 uma extensão do estudo das Curvas de Resistência desenvolvido no Capítulo 3 para as vigas convencionalmente entalhadas, é procedida com vistas à análise bidimensional do processo de fissuração e fraturamento utilizando o corpo-de-prova V-CEV desenvolvido, cujo desenvolvimento se apresenta no capítulo 5. 8 No sétimo capítulo, é apresentado um programa experimental comparativo preliminar, procedido com vistas à determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto convencional fazendo uso do novo corpo-de-prova. O oitavo capítulo reúne as principais conclusões sobre o trabalho e apresenta as sugestões do autor para pesquisas futuras sobre os temas abordados. 9 2. QUANTIFICAÇÃO DA TENACIDADE De uma forma simplificada, a Tenacidade (Flexional) de um material pode ser definida como sendo a sua capacidade de absorção de energia. A Tenacidade ao Fraturamento, por outro lado, é a propriedade mecânica que o material apresenta de absorver e dissipar energia durante o processo de fraturamento, indicando a resistência por ele apresentada, em termos de intensificação de tensões, ao avanço da fissura. A quantificação da Tenacidade e da Tenacidade ao Fraturamento podem ser procedidas em ensaios de diferentes naturezas, como os de Tração Direta, Compressão Simples e de Flexão de Vigas. Habitualmente os ensaios de determinação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos, à tração direta e à compressão simples, são feitos utilizando-se corpos-de-prova cilíndricos com diâmetros que variam desde 7,5 até 15 cm (Hsu,1994 ; Stang, 1999). Esses cilindros envolvem pequena quantidade de material, são de simples manuseio e fartamente disponíveis nos laboratórios e obras, por todo o mundo. De uma forma geral, os ensaios de tração direta são vistos com maior simpatia para a determinação das propriedades mecânicas de interesse ao estudo da mecânica do fraturamento dos concretos simples, especialmente no Modo I (abertura). No caso dos concretos reforçados com fibras de aço, para a investigação dos principais mecanismos de dissipação de energia, associados ao arrancamento (pull-out) das fibras. Entretanto, esses ensaios são a baixos custos e do ponto de vista técnico, de difícil realização, se todas as variáveis relativas à forma de execução do ensaio e interpretação dos resultados forem adequadamente consideradas. 10 Talvez a principal dificuldade associada ao ensaio de tração direta do concreto decorra da própria natureza do material. Ainda que as deformações de tração, na fase de resposta resiliente do material, fossem satisfatoriamente uniformes na seção transversal do corpo-de-prova, devido à heterogeneidade desses compósitos torna-se inevitável a ocorrência de gradientes de deformação ao longo da seção transversal. Assim, a fissuração no regime pós-pico nunca é simétrica e a condução do ensaio em condições de estabilidade torna-se difícil. No caso dos concretos reforçados com fibras de aço soma-se ao fato, a possibilidade de macrofissuração múltipla, decorrente dos complexos mecanismos de redistribuição de tensões, promovidos pelas fibras. Muitas tentativas foram feitas no sentido de procurar controlar esses fenômenos, a exemplo da indução da fissuração em um plano preferencial. Isso pode ser conseguido através da introdução de um entalhe contínuo, circunferencialmente serrado ou moldado no corpo-de-prova (Stang, 1999). No caso de entalhes circunferenciais serrados, o processo aparenta ser extremamente laborioso e muitas vezes impreciso. Por sua vez, os entalhes moldados mostraram-se inconvenientes, devido ao fenômeno de segregação dos materiais que muitas vezes ocorre durante o processo de adensamento, em especial a que se verifica com as fibras de aço (Barragán et al., 2000). Soma-se ao anteriormente apontado, a necessidade de aparatos sofisticados para a transmissão da carga e uma farta instrumentação do corpo-de-prova para a realização do ensaio (Stang, 1999). Outros corpos-de-prova, a exemplo do corpo-de-prova “em oito” (corpos-deprova de pequeno volume e com forma semelhante à de um osso), conhecido como dog-bone usualmente requerem formas especiais e são utilizados em ensaios específicos de arrancamento ou pull-out de fibras de aço. Já o ensaio indireto de tração (Split-Cylinder Test ou Ensaio Brasileiro) dado à sua simplicidade de execução, apresenta-se como uma alternativa aparente para a determinação 11 experimental de parâmetros de tenacidade dos concretos, se realizados sob condições de controle dos deslocamentos, em ciclo fechado com a aplicação da carga. Os complexos mecanismos de ruptura de materiais cimentícios verificados nesse tipo de ensaio, especialmente aqueles relacionados com o regime de pós-pico da ruptura foram investigados por diversos pesquisadores, dentre eles por Rocco et al. (1998). Nesse trabalho conclui-se que a ruptura do corpo-de-prova acontece através de dois diferentes mecanismos. O mecanismo principal, associado à coalescência das microfissuras (que constituem a zona de processo inelásticos) e a formação da macrofissura (fissura principal que se verifica no centro do corpo-de-prova), é governado pela máxima tensão de tração, normal ao plano de carregamento. O mecanismo subseqüente, responsável pela formação de macrofissuras secundárias (paralelas à fissura principal) em ambos os lados do plano de carregamento, acontece somente após a carga máxima e é responsável por um segundo pico de carregamento, cujo valor depende das dimensões do espécime e da largura da faixa de carregamento, podendo, inclusive, governar a carga máxima do ensaio. Já os CRFA apresentam, para o mesmo corpo-de-prova, um plano de fraturamento bem definido, eventualmente justificado pela atuação das fibras na redistribuição de tensões na fase pós-pico do carregamento. A primeira utilização desse tipo de ensaio, com vistas a determinação de parâmetros de tenacidade do CRFA, foi apresentado recentemente por Carmona et al. (1998). Por outro lado os ensaios de flexão, por serem de execução mais simples que os ensaios de tração direta, tanto para concretos simples como para os concretos reforçados com fibras de aço e talvez por simularem mais realisticamente as condições de solicitação de muitas situações práticas (Barr et al., 1996), ganharam maior popularidade. Esse assunto passará a ser discutido nos próximos capítulos deste trabalho. 12 2.1 Aspectos relativos aos corpos-de-prova utilizados nos ensaios de flexão Os corpos-de-prova destinados à determinação da Tenacidade do CRFA de acordo com a maioria das normas e recomendações atuais são habitualmente prismáticos, não entalhados e predominantemente ensaiados à flexão em 4 pontos, sob condições de deslocamento controlado. Durante o processo de carregamento, o terço central do corpo-de-prova encontra-se submetido a um estado de flexão pura (sem cisalhamento transversal), podendo a localização da deformação ocorrer em qualquer posição (ou várias) ao longo da extensão onde o momento fletor é constante. Já para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos simples, são habitualmente utilizados corpos-de-prova prismáticos dotados de entalhes retos passantes, ensaiados à flexão em 3 pontos, freqüentemente sob condições de controle do Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD (Karihaloo e Nalathambi, 1991), conceito que recentemente foi estendido aos ensaios de determinação da tenacidade dos concretos reforçados com fibras de aço pela RILEM, a ser discutido no capítulo 2.2. 2.1.1 Corpos-de-prova entalhados e não entalhados Para o concreto simples, durante a solicitação em 3 pontos de um corpo-deprova entalhado (ao contrário dos corpos-de-prova não entalhados), a deformação é sempre localizada no plano que contém o entalhe e a dissipação da energia é predominantemente planar. Abstrai-se deste raciocínio, a característica volumétrica da zona de processos inelásticos (Hu e Wittmann, 1992) ou seja, a dissipação energética que ocorre ao longo da largura da banda de microfissuração. Dessa maneira, o restante do corpo-de-prova não apresenta deformações inelásticas 13 significativas, e como conseqüência, a dissipação energética volumétrica (que ocorre predominantemente na fase pré-pico de carregamento), é minimizada. Desconsiderando ainda a parcela de energia que inevitavelmente é dissipada nos pontos de contato do corpo-de-prova (Karihaloo e Nalathambi, 1991; Guinea, et al, 1992; Shah et al., 1995), toda a energia absorvida durante o ensaio pode ser diretamente atribuída ao fraturamento ao longo do “plano” do entalhe e correlacionada à resposta do material e aos seus parâmetros de fraturamento (Gopalaratnam e Gettu, 1995). Assim, o corpo-de-prova entalhado possibilita, de uma maneira mais fundamental, a avaliação de propriedades relacionadas à capacidade do compósito de dissipar energia (Gopalaratnam e Gettu, 1995a, b; Barr, et al., 1996; Saldívar, 1999). Como mencionado, os corpos-de-prova solicitados à flexão em 4 pontos exibem um comportamento diferente. Usualmente a fissuração, que ocasionalmente ocorre no centro do vão, na maioria das vezes tem início numa das arestas da face inferior do corpo-de-prova. Essa propagação assimétrica da fissura, quase sempre acompanhada de um estado múltiplo de fissuração (macrofissuras), ocasiona a descompensação dos deslocamentos verticais relativos das arestas longitudinais superiores do corpo-de-prova, dificultando um procedimento adequado da medida dos deslocamentos verticais ou introduzindo erros de valores não desprezíveis nos resultados dos ensaios (Barr et al., 1996). Observe-se ainda que esses ensaios requerem carregamentos externos mais elevados, comparativamente ao ensaio de flexão em 3 pontos. Naturalmente, maiores valores de carregamento ocasionarão maiores dissipações volumétricas de energia bem como a dissipação uma parcela maior de energia nos pontos de contato do corpo-de-prova. Ainda, o aumento do número de pontos de contato faz também aumentar as imprecisões nas atividades de ensaio. Não obstante serem evidentes as vantagens apresentadas pelos corpos-deprova entalhados relativamente aos demais, especialmente em situações onde a 14 solicitação de flexão é feita em 3 pontos, somente recentemente esses espécimes foram prescritos pela RILEM TC 162-TDF, para utilização em ensaios de concretos reforçados com fibras de aço. Trata-se de uma viga retangular com 150mm x 150mm x 550mm, 500mm de vão-livre e um entalhe central reto, passante, com profundidade de 25mm (largura de 3mm). O corpo-de-prova é solicitado à flexão em 3 pontos e o ensaio controlado pela imposição de uma taxa de deslocamento vertical ou, opcionalmente, pela taxa de abertura da entrada do entalhe (CMOD), conforme ilustrado na Fig. 2.1.1-1. Figura 2.1.1-1 –Corpo-de-prova adotado pela RILEM Mesmo significando um grande avanço para ensaios de tenacidade do CRFA, os corpos-de-prova dotados de entalhes retos passantes esbarram há tempos, em diversas dificuldades, dentre as quais se destaca a questão do desconhecimento da posição de início da fissura. Muitas vezes, em decorrência de pequenas excentricidades do carregamento ou de condições de apoio não adequadas, verificase o fenômeno de crescimento lateral da fissura. Figura 2.1.1-2 –Crescimento lateral da fissura (viga com entalhe reto passante). 15 2.1.2 Corpos-de-prova com entalhes em “V” (chevron notch) Sabe-se que os conceitos envolvidos na utilização de entalhes em “V” em ensaios de corpos-de-prova submetidos à flexão amadureceram desde os primeiros experimentos levados a efeito por Nakayama (1965) apud Newman (1984), objetivando a determinação do trabalho de fraturamento, WF. Na ocasião foram utilizados espécimes prismáticos de seção retangular com entalhes assimétricos em “V”, conforme ilustra a Fig. 2.1.2-1. Figura 2.1.2-1 – Corpo-de-prova com entalhe assimétrico em “V”. Posteriormente Tattersall e Tappin (1966), apud Newman (1984), propuseram a primeira geometria com entalhe em “V”, simétrico relativamente ao plano de carregamento do corpo-de-prova. A Fig. 2.1.2-2 ilustra esse tipo de espécime, solicitado à flexão em 3 pontos. Figura 2.1.2 -2 – Viga de seção retangular com entalhe em “V”. 16 Os corpos-de-prova com entalhe em forma de “V” (chevron notch ou Vnotch), apresentam algumas vantagens relativamente àqueles com entalhes retos passantes. Aparentemente, a principal delas é o maior nível de confiabilidade que se tem relativamente à trajetória de crescimento da fissura, uma vez que, em princípio, a mesma inicia-se na ponta do entalhe. Sob a óptica da mecânica do fraturamento, outros aspectos de relevância se apresentam. Durante os ensaios de fraturamento, o entalhe em forma de “V” proporciona uma pré-fissuração natural e estável, uma vez que a geometria do entalhe proporciona frontes crescentes para a fissura. Ainda, para materiais de resposta elástica linear, a Tenacidade ao Fraturamento, KIC, do material, obtida utilizando-se esse tipo de corpo-de-prova, é função exclusiva da carga máxima obtida no ensaio, Pmax, da geometria e da forma de carregamento do corpo-de-prova. Munz et al. (1980), utilizaram este tipo de corpo-de-prova para a determinação da tenacidade ao fraturamento da alumina (Al2O3). Na ocasião analisaram a Tenacidade ao Fraturamento do material fazendo uso do que se denomina Hipótese da Fissura Reta Passante (Straight-Through Crack Assumption), hipótese denominada HFR ao longo deste trabalho. Essa hipótese admite, como uma primeira aproximação, que a taxa de variação da flexibilidade do corpo-de-prova com entalhe em “V”, relativamente à extensão da fissura, ∂CV/∂ α, pode ser considerada idêntica àquela verificada para um corpo-de-prova com entalhe reto passante. Krause e Fuller (1984), para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, de concretos poliméricos em ensaios de flexão em quatro pontos, também lançaram mão da HFR. Bluhm (1975), levou a efeito o primeiro procedimento analítico rigoroso do espécime, tratando a seção transversal do corpo-de-prova contendo o entalhe, como uma série de “fatias”, estudando os efeitos da flexão e do cisalhamento na 17 flexibilidade de cada uma delas e posteriormente avaliando a flexibilidade total do corpo-de-prova. Com efeito, Newman (1984), observa, após detalhada revisão histórica da utilização de corpos-de-prova dotados de entalhes do tipo chevron notch submetidos à flexão, que as metodologias de Bluhm e Munz para a determinação da tenacidade ao fraturamento apresentam ainda, resultados bastante divergentes daqueles obtidos através de calibragens experimentais. Na oportunidade, o autor afirma que os resultados obtidos utilizando-se os modelos anteriormente descritos, não foram comparados a resultados de uma análise elástica tridimensional rigorosa. Observa-se ainda que as pesquisas relacionadas à utilização de vigas retangulares com esse tipo de entalhe como corpos-de-prova destinados à avaliação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos não evoluíram significativamente desde a realização dos últimos trabalhos citados. A Fig. 2.1.2-3 ilustra uma série de vigas tridimensionalmente similares com entalhe em “V”, ensaiadas pelo autor em 1998 (pesquisa não publicada) para a investigação do efeito de escala do corpo-de-prova sobre os resultados de Tenacidade ao Fraturamento do concreto simples. Figura 2.1.2-3 Corpos-de-prova tridimensionalmente similares, com entalhes em “V”. 18 Alternativamente às vigas com entalhes centrais em “V”, Barker, (1979) pesquisou a Tenacidade ao Fraturamento de metais em condições de estado plano de deformação e sugeriu a utilização de corpos-de-prova destinados à determinação da tenacidade ao fraturamento, na carga máxima. Esse espécime, denominado Cilindro com Entalhe em “V” ou simplesmente CEV (internacionalmente conhecido como short rod) teve desde então, grande aceitação nos meios técnicos e científicos. A Fig. 2.1.2-4 ilustra, esquematicamente, o corpo-de-prova e diferentes formas de carregamento para a realização do ensaio. Figura 2.1.2-4 - Corpo-de-prova do tipo CEV. Geometria e maneiras usuais de carregamento. A primeira aplicação prática desse tipo de corpo-de-prova na determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto deu-se em 1983, em pesquisas conduzidas por Catalano (1983) dentro de uma abordagem da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear. Posteriormente, o processo de fraturamento do corpo-de-prova foi simulado computacionalmente, em três dimensões, por Bittencourt (1994, 1995), ocasião em que se estabeleceu um avanço ao considerar-se nas simulações numéricas o comportamento inelástico do compósito. No Brasil, as primeiras experiências relativas à adaptação e utilização desse tipo de corpo-de-prova para a determinação da tenacidade ao fraturamento de concretos e argamassas foram levada a efeito por Santos (1998) ocasião em que a 19 técnica de Abertura Diametral por Tração Direta foi utilizada (Fig. 2.1.2-4a). A Fig. 2.1.2-5 ilustra os primeiros corpos-de-prova produzidos no Brasil utilizando formas de moldagem e técnicas de transmissão de carga desenvolvidas pelo autor e por Santos em 1997. Figura 2.1.2-5 – Primeiros corpos-de-prova do tipo CEV moldados no Brasil. Nos Estados Unidos, outras experiências ocorreram dentro de um programa de cooperação internacional conduzidas por Ingraffea (Hanson e Ingraffea, 1997 e 1998) e por Hanson (2000). Nessas oportunidades a técnica de Abertura Diametral por Compressão Excêntrica Simétrica foi utilizada (Fig.2.1.2-4, b). Nos anos de 1998 e 1999, Bittencourt e pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (dentre os quais o autor), também fizeram uso dessa técnica, implementando ainda os procedimentos de ensaios preconizados por Tschegg (1990), de Abertura Diametral por Encunhamento, conforme ilustrado na Fig. 2.1.2-4, c. Sobre os corpos-de-prova com entalhes em “V”, se falará, de forma mais detida, no capítulo 5. 20 2.2 A multiplicidade de critérios de avaliação dos parâmetros de Tenacidade do CRFA De forma geral, a determinação da tenacidade dos CRFA vem sendo procedida em ensaios de flexão de vigas, em 3 ou 4 pontos, com a tomada das cargas e Deslocamentos Verticais, δ, em ensaios conduzidos sob condições de controle desses deslocamentos ou do deslocamento de abertura da entrada do entalhe, CMOD. Entretanto, os critérios de avaliação da tenacidade, segundo as normas e recomendações existentes, são bastante diferentes, podendo ser enquadrados em 3 grupos principais: • Índices Energéticos Adimensionais • Capacidade de absorção de Energia • Resistências Flexionais Equivalentes Outros parâmetros como Resistências Residuais e os Índices Adimensionais de Resistência são também sugeridos. Índices Energéticos Adimensionais. Os índices adimensionais relativos à capacidade de absorção de energia são determinados relacionando-se a área sob o diagrama Carga-Deslocamento Vertical, delimitada por uma posição de deslocamento previamente estabelecida e a área, sob o mesmo diagrama, computada na posição onde se verifica o Deslocamento de Primeira Fissura, δf. Por definição o Deslocamento de Primeira Fissura é a posição de deslocamento onde o diagrama do ensaio apresenta o primeiro desvio brusco da linearidade, em tese, o final da fase resiliente da resposta. Entende-se por resiliência, a propriedade que o material apresenta de deformar-se em regime elástico. Assim, 21 para o concreto e para o CRFA a noção de Deslocamento de Primeira Fissura constitui uma aproximação simplificadora, tecnicamente aceita dessa definição. O estabelecimento do nível de deslocamento que delimita a área a ser relacionada, ou seja, o deslocamento limite, vem sendo procedido de diferentes maneiras. O ACI (ACI 544 4R,1998) por exemplo, adota um limite arbitrariamente fixado em 1.9mm (0.075 in), conforme ilustrado na Fig. 2.2.-1. Figura 2.2-1 – Critérios do ACI para a determinação de parâmetros de tenacidade Outro índice recomendado pelo ACI e denominado It, aparentemente mais efetivo para a avaliação da contribuição das fibras no aumento da capacidade de absorção de energia do compósito, é definido pela relação entre a energia absorvida por um corpo-de-prova de CRFM e a capacidade de absorção de energia de um corpo-de-prova construído com o mesmo concreto, entretanto não reforçado com fibras, ensaiados até a ruptura total. A ASTM C1018-94b (1994) fixou níveis de deslocamento, múltiplos do Deslocamento de Primeira Fissura, 3δf, 5.5δf e 10.5δf. Esses deslocamentos conduzem aos índices I5, I10 e I20, ou seja, áreas sob o diagrama 5, 10 e 20 vezes maiores que a área sob o diagrama, no Deslocamento de Primeira Fissura, para um material de comportamento elasto-plástico perfeito. 22 A norma Espanhola, por outro lado, fixa um deslocamento limite da ordem de 15.5δf que conduz a uma área 30 vezes maior que a do deslocamento de primeira fissura, talvez por admitir que os índices adimensionais só reflitam a tenacidade do CRFA, quando avaliados em níveis de deslocamento mais elevados. Figura 2.2-2 – Critérios da ASTM para a determinação de parâmetros de tenacidade Relativamente aos índices adimensionais, Gopalaratnam e Gettu (1995) lembram que, mesmo aparentemente não apresentando comportamento dependente da escala do corpo-de-prova (em condições de pequenos deslocamentos), em princípio, esses índices não podem ser vistos como independentes de tamanho, uma vez que a resistência e a ductilidade de compósitos cimentícios de ruptura quasefrágil são, por natureza, dependentes de escala. Ainda, os deslocamentos que delimitam as áreas deveriam ser baseados em limites de utilização, específicos de cada aplicação estrutural do CRFA. 23 Capacidade de Absorção de Energia. A capacidade de absorção de energia, entendida como a área sob a curva P-δ, talvez seja o parâmetro de tenacidade mais difundido e dentre outros adotado pela Alemanha, Bélgica, Holanda e Japão. Habitualmente o deslocamento máximo para a avaliação da tenacidade é uma fração do vão-livre e em recomendações mais recentes como as da RILEM TC 162-TDF (baseada nas normas alemãs), a contribuição das fibras para a tenacidade do compósito é diretamente avaliada através da subtração da parcela de tenacidade proveniente da resposta da matriz. Esse conceito está ilustrado na Fig. 2.2-3. Figura 2.2-3 – Critérios da RILEM para avaliação da parcela de tenacidade devidas às fibras. De acordo com a RILEM TC 162-TDF (em impressão), as parcelas de tenacidade são transformadas em Forças Médias para os dois diferentes níveis de deslocamento, δ2 e δ3, por meio das seguintes equações: 24 F2 = F3 = f DBZ , 2, I 0.65 DBZf ,3, I 2.65 + + f DBZ , 2 , II 0.50 (2.2-1) DBZf ,3, II 2.50 (2.2-2) Para que as equações anteriores possam ser diretamente utilizadas, observa-se a necessidade de que os Deslocamentos sejam expressos em milímetros e que a Tenacidade (área sob a curva) seja computada utilizando-se a mesma unidade. Assim, as grandezas F2 e F3 representam valores médios (efetivos) das forças verificadas durante o ensaio, para os níveis de deslocamento pré-estabelecidos. Observa-se ainda que os divisores 0,50 e 0,65 apresentados na equação 2.2-1 para a determinação de F2, incorporam ao deslocamento limite, δ2, respectivamente, a parcela de 50% e a totalidade do deslocamento máximo padrão convencionado para o caminho de amolecimento do concreto (0,3mm), fato que também ocorre com a equação 2.2-2. Posteriormente esses valores de Forças são utilizados para o cálculo de Momentos e Resistências Flexionais Equivalentes. Relativamente ao pico de carregamento e seguindo uma tendência européia, a RILEM descartou o conceito de Força de Primeira Fissura e passou a adotar a Carga Máxima de Offset ou simplesmente Carga Máxima de Afastamento. Esse nível de carregamento é definido como sendo a máxima carga verificada dentro do intervalo limitado por um deslocamento de valor pré-fixado (offset), calculada com o auxílio de uma reta paralela à tangente inicial, passando pelo ponto que caracteriza o deslocamento convencional. A Carga Máxima de Afastamento é ilustrada, para CRFA de diferentes comportamentos, na Fig. 2.2-4. 25 Figura 2.2.4 – Cargas Máxima de Afastamento para compósitos de diferentes comportamentos. Resistências Flexionais Equivalentes e Momentos Fletores no centro do vão. Considerada por diversos pesquisadores, a exemplo de Gopalaratnam e Gettu (1995), como a melhor proposta para a implementação prática do projeto estrutural baseado na tenacidade, o conceito de resistência flexional equivalente foi inicialmente adotado pelos japoneses e posteriormente pelos Holandeses, Belgas e Alemães. Recentemente a RILEM o incorporou em suas recomendações para CRFA. Nesse caso específico, as resistências equivalentes, avaliadas em dois níveis de deslocamentos, são dadas por: f eq.2 = 1.5.F2 .S 2 B.hsup (2.2-3) f eq.3 = 1.5.F3 .S 2 B.hsup (2.2-4) 26 onde: F= Força média ou equivalente; S= Vão-livre da viga; B= Base da viga; hSUP = Altura do ligamento (altura da viga menos a profundidade do entalhe). As equações anteriores refletem o tratamento linear dado à distribuição de tensões na seção transversal da viga, conforme ilustra a Fig. 2.2-5. Observa-se que no cálculo dessas grandezas, o módulo ou momento resistente da seção, mesmo a elevados níveis de deslocamentos, é considerado com base na extensão primitiva do ligamento (ligamento não fissurado), o que naturalmente conduz a resultados de resistência bastante conservadores. Figura 2.2-5 – Distribuição de tensões na seção transversal. As equações 2.2-3 e 2.2-4 da RILEM são equivalentes à equação apresentada nas recomendações do JCI (1984) e da JSCE (1984), para ensaios de flexão em 4 pontos de vigas não entalhadas. Nesse último caso, o deslocamento limite é fixado em função do vão-livre. O Fator de tenacidade flexional recomendado pela JSCE é dado por: 27 σB = T δ 150 . S B.W 2 (2.2-5) onde: ‗ σB = Fator de tenacidade flexional; T = Área sob o diagrama, delimitada pelo deslocamento de valor S/150; δ150= S/150; S = Vão-livre da viga; W = Altura da viga. A resistência flexional, nesse caso será dada por: σb = PS B.W 2 (2.2-5a) onde P é a carga máxima do ensaio. Essa última equação equivale, de certa forma, às equações 2.2-3 e 2.2-4 da RILEM. Relativamente aos momentos Fletores no centro do vão, correspondentes às forças médias F2 e F3, a RILEM sugere a utilização das expressões que se seguem: M2 = F2 .S 4 (2.2-6) M3 = F3 .S 4 (2.2-7) 28 2.3 Implementação computacional da avaliação da tenacidade do CRFA Como parte integrante das pesquisas em desenvolvimento, relativas ao Concreto Reforçado com Fibras de Aço encontra-se a normalização de ensaios de avaliação das respostas mecânicas do material, em especial, a Tenacidade do compósito. Entretanto, a análise das informações que decorrem dos ensaios, necessárias à determinação de parâmetros de tenacidade, tais como as áreas sob as curvas P x δ, os Índices Adimensionais e em especial as Cargas e Deslocamentos de Primeira Fissura, transforma-se na maioria das vezes em tarefa tediosa, imprecisa, subjetiva e também influenciável pela decisão do analista (Chen et al., 1994; Saldívar, 1999; Gopalaratnam et al. 1995, a; Barr et al., 1996). Neste capítulo, uma ferramenta computacional denominada TENAC (Ferreira et al., 2000) com recursos gráficos que possibilitam ao usuário, de forma interativa, analisar as informações obtidas em ensaios de flexão de vigas é apresentada em seus aspectos relevantes. As análises automatizadas são feitas com base nas atuais recomendações da ASTM, e nos novos critérios da RILEM TC 162-TDF, já discutidas anteriormente. Concebida com a finalidade específica de auxiliar no desenvolvimento do desta tese, a primeira versão programa TENAC encontra-se ainda em fase de desenvolvimento, implementação de novos recursos e especialmente de testes com vistas a depuração de erros. O programa foi originalmente escrito com o auxílio da linguagem FORTRAN 90/95 e até que o mesmo atinja um nível mais elevado de desempenho, os displays de tela apresentarão a desvantagem de não fazerem uso de caixas de diálogo, menus automáticos ou de outras ferramentas gráficas sofisticadas. Durante a operação do 29 programa, todos os comandos são executados a partir de um menu variável que se apresenta de forma contínua, na janela principal. As análises são executadas diretamente a partir dos arquivos de dados dos ensaios, aos quais são acrescentadas, unicamente, informações relativas à geometria do corpo-de-prova. As principais implementações destinadas ao processo de análise, passam a ser descritas. Linearização da primeira rampa ascendente da curva P–δ Tanto os concretos comuns como os concretos reforçados com fibras de aço, usualmente apresentam, durante o ensaio de flexão em três pontos, uma fase onde a microfissuração é dispersa e a resposta do material, aproximadamente resiliente. Assim, do ponto de vista prático, eventuais não linearidades podem ser ignoradas (Shah et al., 1995; Brandt, 1995). Entretanto, mesmo dentro da fase supostamente resiliente da resposta, os pares P-δ obtidos nos ensaios não são perfeitamente (ou satisfatoriamente) alinhados. Para a regularização da rampa inicial de carregamento, objetivando a determinação de um caminho médio que melhor represente a resposta do material na fase inicial do ensaio, o programa executa uma regressão linear pelo método dos Mínimos Quadrados. A regressão linear é procedida após a definição de um intervalo de carregamento, representado por dois pares P-δ que constituem os limites, superior e inferior desse intervalo. O limite inferior de carregamento foi pré-fixado em 15% da carga máxima. 30 O limite superior, por outro lado, pode ser definido de duas maneiras distintas: A adoção automática de 50% da carga máxima atingida no ensaio ou um par P-δ, qualquer, definido pelo usuário através de seleção gráfica. O primeiro critério implementado, usualmente conduz a bons resultados no caso de corpos-de-prova de concretos com conteúdos de fibra baixos ou moderados. Nesse caso verifica-se um único máximo de carregamento durante o ensaio, bem como a inexistência de “pseudo encruamento” na fase pós-pico (concretos A e B ilustrados na Fig. 2.3-1). Por outro lado, para teores elevados de fibras de aço, os corpos-de-prova usualmente apresentam mais de um máximo local de carregamento ao longo do ensaio. Assim, a seleção automática da Carga de Primeiro Pico (First Peak Load) poderia conduzir a soluções imprecisas ou mesmo erradas. Nesse caso, a seleção do nível máximo de carga para a definição do extremo superior do intervalo de regressão deve ser feita pelo usuário, para maior exatidão, manualmente (concreto C, na Fig. 2.3-1). As ferramentas gráficas disponibilizadas no programa para a ampliação das escalas dos eixos ordenados do diagrama resultante do ensaio permitem a visualização de detalhes do ensaio, viabilizando a escolha arbitrária do ponto ordenado (Carga e Deslocamento), com o auxílio do mouse. 31 Figura 2.3-1 – Diagramas Pxδ para concreto com diferentes teores de fibras de aço. A Fig. 2.3-2 ilustra a tangente inicial calculada pelo programa TENAC, com base no critério da carga máxima do ensaio. Figura 2.3-2 – Tangente à rampa ascendente, calculada pelo programa TENAC. 32 Correção da Curva Original Como é sabido, é muito difícil, ou mesmo impossível iniciar um ensaio laboratorial no nível zero de Carga e/ou deslocamento (Hillerborg,1985; ASTM, 1994). Da mesma forma, efeitos iniciais devidos à acomodação do corpo-de-prova devem ser corrigidos (Johnston, 1982). Para prevenir a influência dessas anomalias no processo global de análise, todos os pares P-δ têm o seu deslocamento corrigido através da soma ou subtração do valor da raiz da equação da reta de regressão (indicativa do afastamento da curva relativamente à origem). Para considerar ainda que a curva experimental pode ser côncava ou convexa para cima em seu trecho inicial conforme ilustra a Fig. 2.3-3 (ASTM, 1994) e uma vez que após a correção dos deslocamentos a curva passa a “tender” para a origem, todos os pares de dados apresentando carga menor que 50% da Carga Máxima de Primeiro Pico, são, para fins de análise da tenacidade, eliminados da base de dados. Figura 2.3-3 – Curva côncava e convexa para cima – Diagrama Pxδ. 33 Carga e Deslocamento de Primeira Fissura A denominada Tangente de Primeira Fissura é a reta que passa pelo ponto onde supostamente ocorre a localização da deformação. Essa reta tangente é fixada para a determinação da Carga e do Deslocamento de Primeira Fissura, informações necessárias aos cálculos da tenacidade utilizando-se a metodologia da ASTM. Para a determinação do valor dessa carga o programa utiliza uma técnica baseada na análise das tangentes à curva ascendente, passando por diversos pontos, até a Carga Máxima de Primeiro Pico. Pequenas mudanças nos coeficientes angulares das tangentes à curva poderão ser observadas, se sucessivas regressões lineares utilizando pares de dados superiores a 50% da Carga Máxima de Primeiro Pico forem procedidas. O programa TENAC executa esses sucessivos ajustes usando 7 pontos de dados por vez (um máximo, um mínimo e outros 5 dentro do intervalo), desde 50% até 97.5% da Carga Máxima de Primeiro Pico, conforme ilustra a Fig. 2.3-4. O coeficiente angular ai de cada ajuste é armazenado para ser comparado posteriormente com o coeficiente angular ai+1 da regressão posterior, formando um conjunto de Taxas de Variação dos Coeficientes Angulares entre ajustes sucessivos. Observou-se que após uma significativa quantidade de mudança na inclinação da reta, algo próximo de 70% da inclinação da tangente inicial, as Taxas de Mudança dos coeficientes angulares sofrem um aumento abrupto, acompanhado de uma diminuição também significativa do Coeficiente de Correlação Linear, r, do ajuste. O local onde ocorre a maior Taxa Negativa de Mudança do Coeficiente Angular, que é da ordem de 50% da inicial, é assumido como o ponto de localização da deformação, ou seja, a Carga de Primeira Fissura, conforme se observa na Fig. 2.3-5. 34 Figura 2.3-4 – Ajustes sucessivos para a determinação da Carga de Primeira Fissura Figura 2.3-5 - Taxas de mudança dos Coeficientes Angulares das retas dos ajustes sucessivos. É importante observar que a técnica de cálculo automático da Força de Primeira Fissura adotada mostrou-se eficaz para uma série de curvas experimentais analisadas durante o desenvolvimento do programa, originária dos experimentos conduzidos por Saldívar (1999). Esses ensaios, realizados na Universitat Politècnica de Catalunya, foram levados a efeito sob condições severas de controle de 35 deslocamentos, de ajuste do equipamento, de ausência de ruídos no sistema fechado que controla a Carga em função da Taxa de Deslocamento imposta bem como utilizando-se um tempo para a carga máxima (time-to-peak-load) bastante favorável, o que viabilizou a aquisição de um grande volume de informações, antes da Carga Máxima de Primeiro Pico. A Fig.2.3-6 traz um display do programa, com a ilustração da tangente de primeira fissura. Figura 2.3-6 – Tela gerada pelo programa TENAC, ilustrando a tangente de primeira fissura Não se sabe, entretanto, como essa técnica responderia sob diferentes condições de ensaio, dimensões do corpo-de-prova ou da natureza do compósito. É de se esperar que a mesma apresente desempenho insatisfatório ou mesmo que não funcione em circunstâncias especiais, ainda não conhecidas. Assim, maiores informações relativas ao desempenho do programa, transmitidas por seus possíveis usuários, continuam sendo necessárias para o seu aprimoramento. 36 Carga Máxima de Afastamento (Carga de Offset). A determinação da Carga Máxima de Primeiro Pico é algumas vezes tarefa difícil devido a diversas razões, a exemplo do comportamento de “pseudo encruamento” do material, oscilações das cargas e deslocamentos próximas à região de instabilidade ou mesmo em decorrência do equipamento utilizado para a aquisição de dados. De forma a considerar essas possibilidades, muitas normas e recomendações técnicas européias (em especial a RILEM TC 162) fazem uso da denominada Carga Máxima de Offset. Esse nível de carregamento é definido como sendo a máxima carga verificada dentro de um limite de deslocamento pré-fixado (offset), calculada com o auxílio de uma reta paralela à tangente inicial (já conhecida), passando pelo ponto que limita o deslocamento. A determinação desse nível de carregamento foi implementada, forçando-se a raiz da equação da reta tangente (inicial) a assumir o valor do deslocamento máximo prescrito, ou seja, o offset. Como o coeficiente angular da reta já é conhecido das primeiras manipulações dos dados, torna-se simples a determinação do novo ponto de interceptação da carga (coeficiente linear da reta), boff, passando pelo deslocamento limite. O programa TENAC calcula seqüencialmente, usando o coeficiente da tangente inicial e a equação da reta, todos os coeficientes lineares, bi , relativos a todos os pontos de dados (Pi ; δi) e compara esses valores ao valor principal boff, que passa pelo deslocamento limite. Simultaneamente e por comparação, o código armazena o maior valor de carregamento. A rotina se encerra quando um dado valor de bi torna-se igual ou menor que boff. A Fig. 2.3-7 mostra os diversos passos envolvidos nessa parte da análise. 37 Figura 2.3.7 – Determinação da Carga Máxima de Afastamento (Offset) -RILEM TC 162. Cálculo dos parâmetros de Tenacidade Como mencionado anteriormente, o programa TENAC calcula automaticamente os parâmetros de tenacidade, de conformidade com a formulação apresentada, relativa aos critérios da ASTM e da RILEM. Os parâmetros de deslocamentos e de tenacidade assim calculados são automaticamente gravados em arquivos, juntamente com outras informações de interesse. Finalmente, as Fig.2.3-8 e 2.3-9 ilustram a determinação dos parâmetros de tenacidade flexional, para os modelos da ASTM e da RILEM. O Apêndice A deste trabalho traz uma análise completa procedida com o auxílio do programa, juntamente com o conjunto de relatórios por ele gerados. 38 Figura 2.3-8 Parâmetros de tenacidade flexional adotados pela ASTM. Figura 2.3-9 Parâmetros de tenacidade flexional adotados pela RILEM 39 2.4 Modelo de referência para o estudo e a avaliação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos Como explicado no início do trabalho, um dos objetivos deste trabalho é apresentação de metodologias e critérios alternativos para a avaliação da Resistência ao Fraturamento dos concretos e materiais assemelhados, além do desenvolvimento de um novo corpo-de-prova cilíndrico destinado à realização de ensaios de fraturamento. Sob essa perspectiva, tornou-se necessária a escolha de uma metodologia para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento que fosse suficientemente conhecida e que, ao mesmo tempo, servisse como parâmetro de comparação para as análises de resultados, ao longo do trabalho. Para tanto optou-se, dentre as diversas técnicas existentes, por aquela que faz uso do Modelo dos Dois Parâmetros (Jenq e Shah, 1985, 1985a) que se apresenta a seguir, cuja fundamentação teórica embasa as recomendações apresentadas pela RILEM em 1990, para a determinação da tenacidade ao fraturamento dos concretos e argamassas (RILEM, 1990) e como metodologia de ensaio um ano após (RILEM, 1991). 2.4.1 O Modelo dos Dois Parâmetros Este modelo trata da determinação do Fator de Intensidade de Tensões Crítico, KSIC, e do Deslocamento Crítico de Abertura da Ponta da Fissura, CTODC, em ensaio de fraturamento de vigas solicitadas à flexão em três pontos, sob condições de CMOD controlado. Este modelo considera as parcelas (elástica e inelástica) que constituem a história de deslocamentos obtida de um ensaio de Carga-Deslocamento, ou equivalentemente, de um ensaio de Carga-CMOD, quando o corpo de prova é 40 descarregado por ocasião da obtenção da carga máxima, sob condições de CMOD controlado. No ensaio de flexão de vigas de concreto e de outros materiais cimentícios, verifica-se que o diagrama Carga x Deslocamento ou, equivalentemente CargaCMOD, apresenta três fases distintas, cada uma delas significativa de uma etapa do processo global de fraturamento, de acordo com a Fig. 2.4.1-1. Figura 2.4.1-1 – Fases do diagrama P- CMOD de um ensaio de fraturamento Na primeira etapa, o desenvolvimento do ramo ascendente do diagrama P- CMOD dá-se de maneira aproximadamente linear. Assim, a micro-fissuração no concreto ocorre de maneira dispersa e por questões de simplificação, usualmente é desprezada. Neste estágio e por conseqüência, admite-se que também o CTOD seja desprezível. Num segundo estágio e com o crescimento das tensões, a microfissuração torna-se mais acentuada, dando origem à formação da zona de processos inelásticos (ou zona de processamento da fissura), caracterizada por uma resposta não-linear do corpo de prova. Este processo de crescimento da fissura ocorre de forma lenta e estável (slow stable crack growth), onde os deslocamentos inelásticos, embora significativos, não conduziram a um CTOD crítico e, por conseqüência, o fator de Intensidade de Tensões, KI, não atingiu o seu valor limite. 41 Este estágio é conhecido como subcrítico (ou pré-crítico) e antecede a formação da fissura principal, que ocorre por coalescência das microfissuras. Como se sabe, a parcela inelástica do deslocamento total deve-se a uma série de motivos, dentre outros, a microfissuração, a fluência, o atrito associado à rugosidade das faces da fissura e ao intertravamento geométrico do agregado. O crescimento estável verifica-se até que se atinja um ponto crítico, onde o CTOD assume um valor também crítico, CTODC, e o Fator de Intensidade de Tensões, KI, atinge o valor KSIC. (s de stable, c de critical). Neste ponto, a carga do ensaio também é máxima. A terceira e última fase descreve o regime de ruptura final do corpo-de-prova, tendo início na carga máxima do ensaio e encerramento na separação das partes, se o corpo-de-prova não for descarregado. Por conseguinte, o Fator de Intensidade de Tensões Crítico, KSIC, é aquele calculado na ponta efetiva da fissura crítica, na carga máxima do ensaio. O Deslocamento Crítico de Abertura da Ponta da Fissura, CTODC, é definido como sendo o deslocamento de abertura da ponta da fissura, calculado no entalhe inicial do corpo de prova, utilizando-se a carga máxima atingida no ensaio e a extensão efetiva da fissura. Segundo o modelo, os dois parâmetros, KSIC e CTODC, juntamente com o Módulo de Elasticidade, E, são suficientes à caracterização da resistência ao fraturamento (tenacidade) e à dissipação de energia nos processos de fraturamento dos concretos e das argamassas. A determinação da extensão efetiva da fissura, a qual possibilita o cálculo da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, é procedida em duas etapas. Na primeira delas, calcula-se o Módulo de Elasticidade, E, do material, a partir do valor da flexibilidade inicial, Ci, (fase I do diagrama da Fig. 2.4.1-1), da forma que se segue: 42 E= 6.S .α 0 6.Pi Sα 0 g (α 0 ) = .g (α 0 ) m Ci .B.W CMODi .B.W (2.4.1-1) Na equação anterior, W é a altura, B a base e S o vão-livre do corpo-deprova, g(α0) a Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento e α0=a0/W a extensão inicial do entalhe, normalizada relativamente à altura do corpo-de-prova. Na segunda etapa (em que a “invariabilidade” do Módulo E é admitida), com o auxílio da mesma equação, da carga máxima do ensaio, PMAX, e da Flexibilidade de Descarregamento, Cu, calcula-se iterativamente a extensão (efetiva) da fissura, a (ou α = a / W), que conduz ao valor do Módulo de Elasticidade. A Fig. 2.4.1-2 ilustra um diagrama Carga-CMOD utilizado para esses cálculos. Figura 2.4.1-2 – Diagrama P - CMOD indicando os parâmetros de flexibilidade do corpo-de-prova Uma vez de posse do valor efetivo da extensão da fissura, a formulação clássica da Mecânica da Fratura Elástica Linear (discutida em detalhes no próximo capítulo) pode ser utilizada para o cálculo de KSIC e CTODC, parâmetros que teoricamente caracterizam o material relativamente a sua resistência ao fraturamento. 43 Esses parâmetros são calculados através das equações que se seguem: K S IC = 1.5.PMAX .S . π .a B.W 2 f (α ) (2.4.1-2) e: CTODC = 6 PMAX .S .a.g (α ) . f (α , β ) E.W 2 .B (2.4.1-3) sendo: [ ] f (α , β ) = (1 − β 2 ) + (1.081 − 1.149α )(β − β 2 ) (2.4.1-4) onde α=a /W, e β=a0/a. A Tenacidade ao Fraturamento do concreto assim obtida é vista por diversos pesquisadores como independente da escala do corpo-de-prova. 2.5 Sumário do capítulo Neste capítulo, os aspectos relevantes relativos aos diferentes tipos de ensaio de fraturamento e de determinação da tenacidade ao fraturamento e da tenacidade flexional, foram discutidos. Da mesma forma, a diversidade de corpos-de-prova destinados a esses ensaios, analisada. As vantagens e desvantagens dos corpos-deprova entalhados, comparativamente às vigas sem entalhe foram expostas e avaliadas e os corpos-de-prova dotados de entalhes centrais em “V” (chevron notch) foram revistos e discutidos. A multiplicidade de parâmetros de tenacidade flexional dos CRFA, como os Índices Energéticos Adimensionais, as Capacidades de Absorção de Energia e as Resistências Flexionais Equivalentes, parâmetros adotados por diversas organizações a exemplo da ACI, ASTM, RILEM e JCI, dentre outras, foram discutidos de forma 44 pormenorizada e uma ferramenta computacional desenvolvida pelo autor para o cálculo dos parâmetros de tenacidade flexional do CRFA com base nos procedimentos da ASTM e da RILEM, foi apresentada. Dentro desse programa e objetivando a automação do processo de análise das informações de ensaio, critérios para a linearização da rampa ascendente do diagrama P-δ, para a correção do diagrama de ensaio à origem do sistema de eixos, para a determinação da Carga de Primeira Fissura e da Carga Máxima de Afastamento (offset) além da determinação do parâmetros propriamente ditos, foram propostos e implementados, abrindo, dessa forma, uma nova perspectiva sobre o assunto, a ser avaliada e aperfeiçoada no futuro. Finalmente, com vistas ao desenvolvimento dos capítulos deste trabalho que dizem respeito à avaliação da resistência ao fraturamento dos materiais em estudo, a metodologia sugerida pela RILEM, fundamentada no Modelo do Dois Parâmetros, fori apresentada em seus aspectos relevantes. 45 3. MODELAGEM DAS CURVAS DE RESISTÊNCIA SOB O ENFOQUE DA MECÂNICA DA FRATURA ELÁSTICA LINEAR Os processos de fissuração e fraturamento dos materiais, considerando-se os diferentes regimes de ruptura, podem ser analisados por meio das Curvas de Resistência. As Curvas de Resistência, na maioria das vezes denominadas simplesmente Curvas-R, são, em princípio, diagramas utilizados para a descrição da resistência apresentada pelos materiais à formação e propagação da fissura, em termos de absorção de energia (Broek, 1986; Wecharatana e Shah, 1982, 1983; Ouyang et al., 1992). Esses diagramas são construídos, classicamente, através da representação gráfica da Taxa de Dissipação de Energia, R, requerida para o crescimento da fissura e da Taxa de Liberação de Energia de Deformação devida ao crescimento da fissura, G, em função da quantidade de avanço da fissura, ∆a. De forma análoga, podem ser representadas em função da extensão normalizada da fissura, α, relativamente à altura W do corpo-de-prova ou ainda em função do Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD. 3.1 Curvas de resistência no fraturamento unidimensional A condição necessária para que uma estrutura encontre-se em equilíbrio durante a propagação estável de extensão infinitesimal, ∂a, de uma fissura, é que a primeira derivada do Potencial Energético, ou seja, a derivada da Energia Potencial Elástica, π, relativamente à extensão a da fissura, seja nula, ou seja: 46 ∂ ∂π = (U − F + W ) = 0 ∂a ∂a (3.1-1) ∂ (F − U ) = ∂W ∂a ∂a (3.1-2) assim: onde: U= Energia Potencial Elástica ou Energia de Deformação do sistema. F= Trabalho realizado pelas forças externas. W= Energia requerida para a formação da fissura (Energia de Decoesão). O primeiro membro da equação 3.1-2, designado G, representa a Taxa de Liberação de Energia, necessária à propagação de uma fissura unitária. Para uma estrutura de espessura B tem-se, em condições críticas: G = GC = 1 ∂ (F − U ) B ∂a (3.1.3) O segundo membro da equação 3.1.2, designado R, reflete a resistência do material à propagação da fissura. Analogamente, essa grandeza pode ser equacionada para uma estrutura de largura definida B, da forma que se segue: R= 1 ∂W B ∂A (3.1-4) resultando de 3.1.2 que: GC = R (3.1-5) 47 A equação 3.1.5 é um parâmetro de resistência à propagação da fissura e dentro dos limites de aplicabilidade dos conceitos da Mecânica da Fratura Linear Elástica pode ser rescrita em função do Fator de Intensidade de Tensão Crítico, KIC, ou da Integral de Caminho Independente, nas mesmas condições, JIC, grandezas matematicamente equivalentes e representativas da Tenacidade ao Fraturamento do Material, para o Modo I de abertura em condições de Estado Plano de Tensão, da forma que se segue: GIC = J IC = KI C 2 E´ (3.1-6) ou simplesmente: R = JR = KR E´ 2 (3.1-7) Para o Estado Plano de Deformações E´=E / (1-ν2). Assim, o material entrará em colapso sempre que a Taxa de Liberação de Energia de Energia Potencial Elástica, G, atingir um valor Crítico, Gc, ou seja, a Tenacidade ao Fraturamento do material (Broek, 1986). No caso específico dos materiais de resposta elástica linear, o valor de R permanece constante para posteriores avanços da fissura, conforme indica a Fig. 3.1.1. Figura 3.1.1 –Curva de Resistência para um material elasto-frágil 48 O equacionamento anterior tem como base a Taxa Crítica de Liberação de Energia, GC. Entretanto, as curvas de resistência são usualmente construídas utilizando-se os parâmetros KR e JR, não obstante o fato de ser o parâmetro GC historicamente mais antigo. Para os materiais de resposta inelástica ao fraturamento, o valor de R não é uma constante e sim uma função dependente do avanço ∆a da fissura (Gross, 1990). Nesse caso, a Taxa Crítica de Liberação de Energia, denominada Gq, é influenciada pelo Efeito de Escala, bem como dependente da geometria estrutural (Bazant e Pfeiffer, 1987; Bazant e Kazemi, 1990; Bazant et al.,1991; Shah et al., 1995). Durante o processo de fissuração e fraturamento desses materiais observa-se, em maior ou menor grau e como conseqüência da formação e desenvolvimento da zona de processos inelásticos, a ocorrência de propagação estável da fissura, muito antes que a fissura tenha atingido as dimensões críticas necessárias ao colapso estrutural. Esse tipo de propagação é também denominado crescimento subcrítico da fissura e caracteriza a resposta inelástica do material ao fraturamento, conforme ilustrado na Fig. 3.1.2. Figura 3.1.2 – Curva de Resistência para materiais de ruptura quase-frágil. 49 A resposta inelástica do material pode ser modelada através da consideração de uma pressão coesiva de fechamento, σ(w), atuante nas faces da fissura. Essa pressão de fechamento, função monotonicamente decrescente da abertura da fissura, w, provêm de diversos e complexos mecanismos que atuam nas faces da fissura em materiais de ruptura quase-frágil, espelhando não só a capacidade de transmissão de tensões entre as faces da fissura, bem como a necessidade de dissipação de uma parcela adicional (muitas vezes predominante) de energia, para superar a ação inibidora da propagação, provocada por esses mecanismos de fechamento. Como exemplos são citados, dentre outros mecanismos de ganho de tenacidade, o intertravamento ou engrenamento de grãos ou agregados, a fricção interfacial, os arrestamentos localizados da fissura devidos a vazios, a bifurcação do caminho de propagação da fissura e a redistribuição de tensões promovida, por exemplo, pelas fibras de aço incorporadas ao concreto (fiber bridiging). Um exemplo de uma fissura dessa natureza, denominada Fissura Coesiva ou Fissura Quase-Frágil, é ilustrado na Fig. 3.1.3. Figura 3.1.3 – Fissura coesiva No caso dos materiais de ruptura quase-frágil, a identificação dos diferentes estados de equilíbrio do corpo fissurado pode ser procedida a partir das derivadas 50 segundas do Potencial Energético, π. Assim, o equilíbrio por ser estudado através da consideração da taxa de mudança da Taxa de Liberação de Energia potencial do sistema. Da análise do equacionamento anteriormente apresentado depreende-se que: ∂π = R−G ∂a (3.1-8) e: ∂ 2π ∂ = ( R − G) 2 ∂a ∂a (3.1-9) Uma análise mais aprofundada da equação 3.1-9 conduz a três situações distintas, relativas ao equilíbrio do corpo fissurado: 1. Se ∂2π / ∂a2 > 0 (o que requerer que ∂ ∂ R − G >0), o crescimento da ∂a ∂a fissura ocorrerá de forma estável. Assim, para que o crescimento da fissura se verifique, haverá sempre a necessidade de aumento do trabalho externo. Em outras palavras, a propagação cessará se a força externa diminuir. 2. Se ∂2π / ∂a2 = 0 (implicando também que ∂ ∂ R − G = 0 ), ocorrerá uma ∂a ∂a condição limite onde o crescimento da fissura será nulo mas em que a Taxa de Liberação de Energia será crítica, conforme apontado na equação 3.1.5. Esse caso, também denominado condição de iminência de instabilidade é dado por: ∂R ∂G = ∂a ∂a (3.1-10) 51 3. Se ∂2π / ∂a2 < 0 (o que pressupõe que ∂ ∂ R − G <0), a fissura crescerá ∂a ∂a em regime instável, isto quer dizer, o crescimento da fissura acontecerá ainda que não haja aumento do carregamento externo (ou mesmo que o carregamento seja diminuído). Em resumo, a propagação da fissura ocorrerá em regime instável, isto é, sem que haja aumento da solicitação externa, se a taxa de variação da Energia de Fraturamento for maior que a sua contraparte resistente, isto é: ∂ ∂ G > R ∂a ∂a (3.1-11) As condições limites para que isso ocorra são dadas pelas equações 3.1-5 e 3.1-10. A Taxa Crítica de Liberação de Energia para materiais de ruptura quase-frágil é usualmente denominada Gq e deve ser entendida como a composição de duas parcelas distintas, sendo a primeira, GIC, a Taxa Crítica de Dissipação de Energia no sentido dado por Griffith e Irwin, ou seja, a energia necessária à formação de duas novas faces da fissura (Energia Superficial do material) e a segunda, Gσ, a energia necessária à supressão da pressão coesiva de fechamento da fissura, σ(w), representativa do trabalho realizado pela interface coesiva. Assim: Gq = GIC + ∫ σ (w) dw wt 0 (3.1-12) Na equação anterior, os mecanismos de dissipação de energia de GriffithIrwin e Dugdale-Barenblatt são simultaneamente considerados. A ocorrência de propagação estável da fissura na fase pré-pico quando das solicitações ao fraturamento, por muitos referida como Comportamento-R 52 (Ouchterlony, 1990; Ouyang et al., 1992; Banthia e Sheng, 1996), impede, portanto, a utilização direta dos conceitos da Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL) nas análises dos mecanismos de ruptura dos materiais cimentícios e assemelhados, ao nível laboratorial. Dessa maneira, os conceitos clássicos da Mecânica da Fratura Elástica Linear seriam aplicáveis com certa aproximação a grandes estruturas (dentro de uma visão de extrapolação a estruturas de dimensões infinitas), onde o tamanho da zona de processos inelásticos torna-se desprezível relativamente a outros parâmetros geométricos relevantes da estrutura fissurada ou da própria fissura. Seria o caso, por exemplo, de fissuras em grandes barragens ou estruturas massivas de concreto. Objetivando o equacionamento das questões decorrentes das não-linearidades apresentadas pelos materiais de ruptura quase-frágil, modelos distintos de análise e determinação de parâmetros de tenacidade ao fraturamento foram propostos ao longo das últimas décadas e hoje encontram-se agrupados em duas principais categorias, de acordo com a dos Modelos Coesivos (Hillerborg et al., 1976; Bazant e Oh, 1983) e a dos Modelos Elásticos Efetivos, ou Elásticos Equivalentes (Jenq e Shah, 1985; Bazant e Kazemi, 1990; Karihaloo e Nalathambi, 1989, 1990). Em decorrência, a modelagem das Curvas de Resistência desses materiais é usualmente procedida com base nos modelos citados e são genericamente classificadas como: • Curvas de Resistência Fictícias ou Coesivas; • Curvas de Resistência Elásticas Equivalentes ou Efetivas As Curvas de Resistência para os materiais de ruptura quase-frágil usualmente consideram o Fator de Intensidade de Tensão na ponta da fissura coesiva, Kq, decorrente de uma composição de parcelas. A primeira delas pondera a intensificação de tensões, necessária à criação das faces da fissura, KIC, e a segunda, Kσ, representa a intensificação de tensões necessária ao cancelamento das pressões 53 que se originam na interface coesiva, ou, mais genericamente, na zona de processos inelásticos. Esse valor de Kq deve ser balanceado por KR, parâmetro resistente apresentado através da equação 3.1-6. Seguindo a linha de raciocínio dada pela equação 3.1-12, as Curvas de Resistência podem ser construídas com base nos diferentes mecanismos de dissipação de energia ali considerados, isto quer dizer, contemplando-se ambos os mecanismos de dissipação de energia ou desprezando-se um deles. Assim, a equação 3.1-12 pode ser rescrita em termos de fatores de intensidade de tensão, da forma a seguir: K q = K IC + Kσ (3.1-13) A parcela coesiva, Kσ, pode ser determinada, por exemplo, integrando-se uma função h(a,x), representativa do Fator de Intensidade de Tensão na ponta da fissura decorrente da pressão de fechamento (mas de sinal negativo) que atua ao longo da extensão da interface coesiva, da forma que se segue: Kσ = ∫ h(a, x ).σ ( x).dx a a0 (3.1-14) Na expressão anterior, σ(x) é a função que descreve o amolecimento na interface coesiva e h(a,x) é uma função de Green que representa o Fator de Intensidade de Tensão na ponta da fissura, devido a uma força concentrada, unitária, agindo a uma distância x da ponta da fissura (Shah et al.,1995). O valor dessa função pode ser encontrado nos manuais de Mecânica da Fratura (p. ex., Tada, Paris e Irwin, 1985). Observa-se que o Fator de Intensidade de Tensão total na ponta da fissura deve ser igual a zero, de forma a assegurar que as tensões nessa região sejam finitas (Cotterell e Mai, 1987; Hu e Cotterell, 1990; Cotterell e Lam, 1992). 54 Uma vez conhecidos os valores de KR, os deslocamentos da linha de carga, δ, ou os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMODs (e, por conseguinte, as extensões a da fissura) podem ser determinados, o que usualmente é feito através do uso de expressões decorrentes da aplicação do teorema de Castigliano ao corpo fissurado (Cotterell e Lam, 1992; Shah et al., 1995, Fett et al., 2000). Por outro lado, as curvas de resistência baseadas nos Modelos Efetivos tratam da determinação, para a descrição do processo de fraturamento, de extensões de fissura elasticamente equivalentes, nos diversos estágios do carregamento. Para a construção dessas curvas de resistência, o Modelo dos Dois Parâmetros (Jenq e Shah, 1985) é usualmente utilizado para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento. Uma proposta dessa natureza foi feita por Ouyang et al. apud Shah et al. (1995). Essa proposta parte da solução de uma equação diferencial que governa o problema, derivada a partir das equações 3.1-5 e 3.1-10. Outros enfoques que utilizam a equação 3.1-13 e que desprezam, entretanto, um ou outro mecanismo de dissipação de energia, surgiram na literatura e são relatados por Shah et al. (1995). Fisicamente, as curvas de Resistência podem ser interpretadas como indicadores da Tenacidade ao Fraturamento para o crescimento estável da fissura, para dadas estruturas e, matematicamente definidas como envoltórias de Taxas Críticas de Liberação de Energia, GIC, para certas categorias de estruturas (Shah, et al., 1995). De uma forma geral, a extensão da fissura é influenciada pela Tenacidade ao Fraturamento, pela forma de carregamento, pela geometria do corpo fissurado e pela extensão inicial da fissura, o que torna as curvas de resistência também dependentes desses parâmetros. 55 Assim, as curvas de resistência podem ser reunidas em três categorias básicas, de acordo com a extensão inicial da fissura, a0, e com uma dimensão característica da estrutura, no caso a altura W: • Curvas de Resistência para estruturas com o mesmo tamanho, mas com fissuras iniciais diferentes (a0=variável; W=constante), inicialmente sugeridas por Kraft et al. (1961), apud Shah et al. (1995); • Curvas de Resistência para estruturas com tamanhos diferentes e com fissuras iniciais de mesmo tamanho (a0=constante; W=variável), desenvolvidas por Ouyang e Shah (1991), apud Shah et al. (1995); • Curvas de Resistência para estruturas geometricamente similares, (onde a0 e W são variáveis, mas a0 /W =constante), propostas por Bazant e Kazemi (1990). Por outro lado, as Curvas de Resistência podem ser construídas de forma analítica, experimental ou através de um procedimento híbrido, semianalítico ou semiexperimental, em função da preponderância do enfoque adotado. No presente trabalho, as Curvas de Resistência são modeladas sob o enfoque da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear, através de uma abordagem semianalítica em que parâmetros experimentais auxiliares, decorrentes de ensaios flexão de vigas entalhadas submetidas à flexão em três pontos, são utilizados. 3.2 Equações da MFEL para vigas entalhadas Visando à determinação das equações fundamentais necessárias aos estudos da Curvas de Resistência, bem como à obtenção de conclusões preliminares relativas aos procedimentos de ensaios com vigas prismáticas entalhadas, análises baseadas nos conceitos da Mecânica da Fratura Elástica Linear (MFEL) foram desenvolvidas. 56 Dentro de uma abordagem da Mecânica da Fratura Elástica Linear, as cargas e deslocamentos associados à propagação das fissuras em corpos-de-prova entalhados podem ser estudados de maneira relativamente simples (Anderson, 1991; Karihaloo, 1995; Bazant and Planas, 1997), especialmente no caso de fraturamento no Modo I (abertura) em corpos-de-prova de geometria simples, como é o caso das vigas entalhadas analisadas. Para muitas geometrias, as equações relevantes são apresentadas nos manuais de mecânica da fratura (Tada, Paris e Irwin, 1985), entretanto as geometrias estudadas no presente trabalho não se encontram contempladas nos referidos textos (relação S/W). Por outro lado, expressões generalistas relativas às diferentes relações geométricas possíveis, muitas vezes não são completas no que diz respeito aos deslocamentos verticais (Guinea et al., 1998). Como conseqüência, uma análise do fraturamento elástico foi procedida utilizando-se a técnica dos Elementos Finitos para a determinação das equações de dependência geométrica que relacionam os Fatores de Intensidade de Tensão e os Deslocamentos, à carga aplicada, em função da extensão da fissura. A primeira geometria estudada (Ferreira et al., 2000) foi aquela adotada nas novas recomendações da RILEM TC 162-TDF que faz uso de um espécime prismático com vão S de 500 mm, base B de 150 mm e altura W de 150 mm e um entalhe serrado na posição central com extensão inicial a0 de 25 mm (Fig. 4.1.1-1). A segunda análise, que aqui se apresenta e cujos resultados são de grande importância para a construção das curvas de Resistência previstas no escopo deste trabalho, foi desenvolvida para corpos-de-prova com vão-livre S igual ao triplo da altura W (S=3W), como é o caso prisma padrão (150x150x500mm, 450mm de vãolivre) amplamente adotado na América Latina para a determinação das propriedades mecânicas do concreto simples e do concreto reforçado com fibras de aço, relação recomendada dentre outros pela ASTM C- 1018 (1994) , CUR RA-35 (1994) e NBN B 15-238 (1992), entretanto, com um entalhe reto passante na posição central (Ferreira et al., 2000). 57 Em ambos os casos o corpo-de-prova é solicitado à flexão em três pontos. Durante o ensaio, o Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, é determinado por meio de um transdutor de deslocamentos (clip gauge) simetricamente posicionado na entrada do entalhe, usualmente a uma pequena distância d da face inferior da viga, conforme ilustrado a Fig. 3.2–1 Figura 3.2-1. Geometria do corpo-de-prova e pontos de referência para a determinação dos deslocamentos. A determinação numérica dos parâmetros das equações da MFEL foi levada a efeito por meio de análises bidimensionais em Estado Plano de Tensão usando o programa FRANC2D/L (James e Swenson) desenvolvido nas Universidades Cornell e Estadual do Kansas, nos Estados Unidos. A viga foi modelada utilizando-se uma malha com aproximadamente 37000 graus de liberdade, composta de elementos finitos isoparamétricos quadráticos, quadrilaterais e triangulares. O entalhe e a fissura em propagação foram representados por uma fissura matemática e a singularidade de tensões e deformações na ponta da fissura analisada utilizando-se uma roseta com oito elementos finitos singulares triangulares (quarterpoint) ao redor da ponta da fissura “corrente”. A cada passo da propagação os Fatores de Intensidade de Tensão, KI, assim como diversos deslocamentos foram determinados: 58 • Deslocamento vertical da aresta horizontal inferior da viga, num dos vértices da entrada do entalhe (ponto 1 da Fig. 3.2-1), relativamente à semi-altura da viga, localizado acima de um dos apoios (ponto 2 da Fig. Fig. 3.2-1). Esta medida ,δ, corresponde ao valor do deslocamento vertical verificado entre o vértice inferior do entalhe e um suporte rígido do tipo yoke fixado sobre o apoio, a semi-altura da viga. • Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe (CMOD) dado pelo afastamento entre os dois vértices inferiores da entrada do entalhe. Os Deslocamentos Nominais de Abertura da Entrada do Entalhe, CMODm, foram computados em diferentes alturas d da face inferior da viga, como sendo o aumento da separação horizontal entre as extremidades internas das facas de suporte do transdutor de deslocamentos. Os valores dos CMODm correspondem aos deslocamentos medidos por transdutores fixados em facas ou suportes de diferentes espessuras d. As laterais das facas de suporte foram modeladas utilizando-se malhas secundárias compostas de pequenos elementos finitos rígidos, convenientemente acopladas à malha principal. O comprimento total da fissura (isto é, o comprimento do entalhe + extensão da fissura) foi designado a e a extensão normalizada da fissura relativamente à altura W da viga (a/W), designada α. As avaliações numéricas foram desenvolvidas para a extensão relativa da fissura no intervalo 0.05 ≤ α ≤ 0.90 (correspondendo a um intervalo total para a extensão da fissura 7.5 mm ≤ a ≤ 135 mm). Para o prisma de 150x150x500mm (450mm de vão-livre), foram obtidos os resultados apresentados a seguir. 59 Fatores de Intensidade de Tensão O Fator de Intensidade de Tensão, KI, para geometrias de vigas solicitadas ao fraturamento no Modo I, é normalmente dado pela equação 3.2-1 (Broek, 1986): KI = 1.5.P.S . π .a B.W 2 f (α ) (3.2-1) onde P é a Carga aplicada, a é a extensão total da fissura, α a extensão normalizada ou extensão relativa da fissura e S, B e W o vão livre, a base e a altura da viga, respectivamente. A Função Adimensional de Dependência Geométrica, f(α), foi obtida, para maior precisão numérica quando da construção das Curvas de Resistência, da soma de um ajuste inicial não-linear feito, utilizando-se uma função racional, e do ajuste dos resíduos dessa função, relativamente aos valores obtidos na análise por Elementos Finitos, procedido com um polinômio do quarto grau. Assim, f (α) é dada por : f (α ) = f1 (α ) + f 2 (α ) f 1 (α ) = (3.2-2) (a + b α ) (3.2-3) (1 + cα + d α ) 2 f 2 (α ) = A + Bα + Cα 2 + Dα 3 + Eα 4 ( 0.05 ≤ α ≤ 0.8) (3.2-4) 60 f 2 (α ) = 0 (0.80 < α ≤ 0.9) (3.2-5) Os coeficientes para as equações, decorrentes dos ajustes, são os apresentados na tabela. 3.2-1: Tabela 3.2-1 – Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, f (α). a b c d - 0.68037896 -0.74414798 -2.1551066 1.1610678 - A B C D E 0.36600854 -2.0887596 4.6108028 -6.4989059 4.2317536 Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe - CMOD No presente trabalho, também os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, foram determinados diretamente das informações da análise de elementos finitos, análise que da mesma forma serviu para a determinação dos m valores nominais de CMOD correspondentes a diferentes espessuras d do suporte do transdutor de deslocamentos. O CMOD é dado pela seguinte equação que recebeu tratamento análogo à equação destinada ao cálculo dos Fatores de Intensidade de Tensão (Shah et al., 1995): CMOD = 6.P.S .α .g (α ) E.B.W = 6.P.S .a .g (α ) E.B.W 2 (3.2-6) 61 A Função Adimensional de Dependência Geométrica, g(α), obtida de forma semelhante à função f(α) anteriormente descrita, é dada por: g (α ) = g1 (α ) + g 2 (α ) (3.2-7) sendo: g 1 (α ) = (a + b α ) (3.2-8) (1 + cα + d α ) 2 g 2 (α ) = A + Bα + Cα 2 + Dα 3 + Eα 4 ( 0.05 ≤ α ≤ 0.8) (3.2-9) g 2 (α ) = 0 (0.80 < α ≤ 0.9) (3.2-10) Os coeficientes para as equações, determinados através dos ajustes, são os apresentados na tabela. 3.2-3: Tabela 3.2-3 – Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, g (α). a b c d - 0.9944702 -0.57381717 -2.0599783 1.0632619 - A B C D E 0.34227062 -1.7613261 2.0977433 -1.437406 1.4550015 Como explicado anteriormente, o CMOD é normalmente medido no laboratório a pequenas distâncias, abaixo da face inferior do corpo-de-prova. O efeito dessa pequena distância d ( Fig. 3.2-1) é analisado considerando-se a relação entre o CMOD "real " e o nominal, CMODm, obtidos experimentalmente, da forma a seguir: CMOD = k d .CMOD m (3.2-11) 62 onde kd é o fator teórico de correção que deve ser aplicado para a conversão dos valores nominais para valores de CMOD. Os fatores de conversão, kd, foram obtidos nas análises numéricas para as espessuras de suporte do transdutor de deslocamentos, no intervalo 0 < d ≤ 6 mm. Essa correção varia com a extensão da fissura e diminui, assintoticamente, com o aumento da extensão da fissura, conforme se observa na Fig. 3.2- 2. 1.00 0.95 0.90 Kd 1mm 2mm 0.85 3mm 4mm 0.80 5mm 6mm 0.75 0.70 0.65 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 0.45 0.50 0.55 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90 ALFA Figura 3.2-2. Fatores de conversão para CMOD Os valores de kd podem ser computados em função de α e de d, utilizando-se a função racional obtida das análises numéricas, a seguir apresentadas: kd (d , α ) = a + b.α 1 + c.α + d .α 2 (3.2-12) Os coeficientes decorrentes dos ajustes a serem utilizados com a equação 3.212 são os que constam da tabela. 3.2-3. 63 Tabela 3.2-3 – Coeficientes para as equações de conversão de CMOD. W/d ou d (mm) a B c d 150 - 1 0.0049569232 275.07646 275.89796 0.039923684 75 - 2 -0.15080927 162.54076 163.59247 0.011782567 50 - 3 -0.10374864 104.07648 105.08914 0.016267311 37.5 - 4 -0.077651172 76.249418 77.240943 0.013713632 30 - 5 -0.062261685 60.152561 61.132121 0.011703888 25 - 6 -0.052149633 49.666196 50.637948 0.01059483 Nota-se que o para valores de d da ordem de 3mm (espessura usual das lâminas de suporte do clip gauge), o erro na medida do CMOD é bastante significativo isto é, entre 4,32% e 18,46% para valores de α compreendidos entre 0,05 e 0,30. Já para valores de d da ordem de 6mm esse erro varia entre 8,29% e 31,16% indicando claramente que a substituição do clip gauge por um LVDT, dispositivo que naturalmente requer um maior espaço para a instalação, não é indicada. O que aqui se apresenta parece ser extremamente relevante para o caso de ensaios de fraturamento que fazem uso das técnicas de variação de flexibilidade baseadas na monitoração dos CMODs, objetivando o cálculo do Módulo de Deformação, E, e posteriormente da extensão (efetiva) da fissura e da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, como é o caso do Modelo dos Dois Parâmetros (Jenq e Shah 1985). Observa-se ainda que a correção do CMOD é feita em função do valor corrente de α, também desconhecido na fase de ensaios, o que inviabiliza uma correção direta dos valores de CMOD lidos durante o ensaio. Como se demonstrará no decorrer deste trabalho, a correção pode ser feita utilizando-se técnicas de iteração numérica. 64 Do ponto de vista prático, a indicação de valores de d para utilização em ensaios correntes bem como a de critérios satisfatórios para a correção do CMOD, foi apresentada anteriormente pelo autor (Ferreira et al., 2000). Deslocamentos Verticais O deslocamento vertical total da linha de carga é uma composição de três parcelas distintas (Haggag e Underwood, 1984), sendo as duas primeiras relativas às deformações devidas à flexão e ao cisalhamento (considerando-se a seção transversal central sem o entalhe) e a última decorrente unicamente da presença da fissura (Haggag e Underwood, 1984; Guinea et al., 1998). Entretanto, a medida desse deslocamento está sempre acompanhada de erros que ocorrem em função das perturbações ocasionadas pela transmissão da carga ao corpo-de-prova, somando-se ao fato as dificuldades naturalmente encontradas para a instrumentação do espécime nessa região. Já as novas recomendações da RILEM TC 162-TDF sugerem a tomada dos deslocamentos em uma posição pouco abaixo da linha de carga e em outras Normas, na face inferior da viga. Os valores de deslocamentos computados nessas duas diferentes regiões (para o corpo-de-prova da RILEM) diferem algo em torno de 5%, variação anteriormente considerada satisfatória (Ferreira et al., 2000). Para o prisma de 150x150x500mm (450mm de vão-livre), os Deslocamentos Verticais globais, δ, referentes a face inferior do corpo-de-prova, podem ser calculados através da seguinte equação: δ INF = 1.5PS 2 BW 2 E V (α ) (3.2-13) 65 Analogamente ao tratamento dado aos Fatores de Intensidade de Tensões e ao CMOD, a Função Adimensional de Dependência Geométrica, V(α), é dada por: V (α ) = V1 (α ) − V 2 (α ) V1 (α ) = (3.2-14) (a + b α ) (1 + c x + d x ) (3.2-15) 2 V 2 (α ) = A + Bx + Cx 2 + Dx 3 + Ex 4 ( 0.05 ≤ α ≤ 0.8) (3.2-16) V 2 (α ) = 0 (0.80 < α ≤ 0.9) (3.2-17) Os coeficientes para as equações são os apresentados na tabela. 3.2-4: Tabela 3.2-4– Coeficientes para a Função Adimensional de Dependência Geométrica, V (α). a b c d - 0.5214121 0.089329995 -2.0130802 1.0138299 - A B C D E -0.070414595 0.34349265 -0.18451653 -0.33684499 0.14066034 Precisão das equações computadas e equações alternativas A tabela 3.2-5 apresenta os desvios percentuais médios, em números absolutos, dos valores das funções adimensionais de dependência geométrica, f(α), 66 g(α) e V(α), calculados com as equações (3.2-2), (3.2-7) e (3.2-14), relativamente aos valores determinados nas análises numéricas pelo método dos elementos finitos. Tabela 3.2-5 - Desvios percentuais médios, em números absolutos, dos valores das funções adimensionais de dependência geométrica, f(α), g(α) e V(α). α Desvios % abs. f(α) Desvios % abs. g(α) Desvios % abs. V(α) Média 0.065462 0.180067 0.079035 Como visto, as funções de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova aqui apresentadas e destinadas à determinação dos Fatores de Intensidade de Tensão, KI, e dos deslocamentos CMOD e δ, são expressões aplicáveis ao longo de quase toda a altura do corpo-de-prova ( 0.05 ≤ α ≤ 0.9). Para que a abrangência do conjunto de equações fosse a maior possível, tornou-se necessária a combinação de expressões matemáticas de diferentes naturezas que ponderassem, simultaneamente, características de simplicidade e de precisão das respostas, dentro do intervalo estudado. Em todos os casos apresentados, a expressão polinomial que se soma (ou subtrai) à expressão principal, a partir de um valor avançado de α, decorre de um segundo ajuste procedido a partir dos resíduos apresentado pelo ajuste principal. Em contrapartida à abrangência do intervalo de validade das equações, do ponto de vista prático estas expressões são de uso complicado, especialmente quando voltadas à solução de problemas usuais de mecânica da fratura, inconveniente que pode ser contornado mediante a diminuição do intervalo de validade das equações, com um ganho significativo de precisão e simplificação de procedimentos. 67 Com esse objetivo, três novas equações são apresentadas objetivando o aproveitamento da geometria do corpo-de-prova de 150x150x450mm em atividades cotidianas, equações válidas no intervalo 0.05≤α≤0.75: Expressão geral: f (α ), g (α ) ou V (α ) = a.α 5 + b.α 4 + c.α 3 + d .α 2 + e.α + f (3.2-18) Os coeficientes para o uso da equação 3.2-18, em função da natureza da grandeza de interesse, encontram-se reunidos na tabela. 3.2-6. Juntamente, são apresentados os principais indicadores dos ajustes procedidos. Tabela 3.2-6 – Coeficientes para as funções de dependência geométrica e de carregamento (0.05≤α≤0.75) a b c d e f Desv. Padrão f(α) 60.398928 -86.787007 47.418483 -8.234774 0.092058 0.998367 0.007733 g(α) 357.624760 -547.594400 321.190000 -77.968710 8.484876 1.049008 0.045024 V(α) 352.294990 -542.694230 321.336060 -80.619223 9.756626 0.292978 0.044038 Coef. Correl. 0.999962 0.999912 0.999909 3.2.1 Relação Elástica Linear entre a Carga Aplicada e os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, e Deslocamentos Verticais, δ, da Linha de Carga Com o auxílio das equações fundamentais da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear é possível determinar-se o valor da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, para um material homogêneo, isotrópico e elástico linear, a partir da carga 68 máxima, Pmax obtida no ensaio e da extensão da fissura, a, nesse nível de carregamento. Para uma viga entalhada de vão-livre S, base B e altura W submetida à flexão em 3 pontos (Modo I de solicitação ao fraturamento) essa determinação é feita com a equação que se segue: K IC = 1.5 Pmax S π a BW 2 f (α ) (3.2.1-1a) ou: Pmax = K IC .B.W 2 1.5.S . π a . f (α ) (3.2.1-1b) Fazendo a substituição de Pmax na 3.2-6 torna-se possível obter o valor do CMOD na Carga Máxima, CMODmax: CMODmax = 6 Pmax .S .α BWE g (α ) (3.2.1-2) Para um material de resposta elástica linear, a Tenacidade ao Fraturamento, KIC, permanece constante após a carga máxima permitindo que a análise da fase pós- pico do carregamento seja feita em função das diversas extensões relativas, αi, da fissura, ou seja, para cada valor de α = αi = ai/W obtém-se de 3.2.1-1 o valor da carga Pi correspondente à posição da ponta da fissura. Por outro lado, a equação 3.2.1-2 fornecerá o valor de CMODi nesse estágio de carregamento. O exemplo que se segue ilustra o exposto. 69 Exemplo 3.2-1 - Neste exemplo ilustra-se, através da Fig. 3.2.1-1, a relação P-CMOD para o prisma de 150x150x500mm (450 mm de vão-livre) com um entalhe inicial, a0, igual a 0,75 cm. Para tanto foram admitidos, arbitrariamente, os seguintes parâmetros para o material: • Tenacidade ao Fraturamento, KIC = 80,00 daN.cm-1.5 (0,8 MPa. m0.5); • Módulo de Elasticidade, E=300.000,00 daN/cm2 (30 GPa). 3000 2500 Carga (daN) 2000 1500 1000 500 0 0 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005 0.006 0.007 0.008 0.009 0.01 0.011 0.012 0.013 CMOD (cm) Figura. 3.2.1-1. Relação Carga x CMOD para um material elástico linear (KIC=80daN.cm-1. 5) Deslocamentos Verticais O tratamento dado para o deslocamento vertical no centro do vão, δ, é análogo ao anteriormente descrito para o CMOD. Procedendo-se a substituição de Pmax de 5.2-6 em 5.2-13 torna-se possível obter o valor de δ na Carga Máxima, δmax: δ max = 1.5.Pmax .S 2 B.W 2 .E V (α ) (3.2.1-3) 70 Para a fase pós-pico, com α = αi = ai/W obtêm-se de 3.2.1-1 o valor da carga Pi correspondente à posição da ponta da fissura e de 3.2.1-3, anterior, o valor de δi para o iézimo estágio de carregamento. A Fig. 3.2.1-2 ilustra a Relação P- δ para a geometria em estudo e Tenacidade ao Fraturamento, KIC, anteriormente considerada. 3000 2500 Carga (daN) 2000 1500 1000 500 0 0.0000 0.0010 0.0020 0.0030 0.0040 0.0050 0.0060 0.0070 0.0080 0.0090 0.0100 0.0110 Deslocamento (cm) Figura. 3.2.1-2. Relação Carga x δ para um material elástico linear (KIC=80daN.cm-1. 5) Na Fig. 3.2.1-2 observa-se inicialmente, a instabilidade geométrica do corpode-prova, evidenciada pela retro-ruptura (snap back) na fase pós-pico, onde a rampa de ruptura apresenta inicialmente um trecho positivo ( ∂P/∂δ > 0 ) fato que decorre da pequena profundidade adotada para o entalhe inicial (αo= ao/W= 0,05 ou ao= 0,75cm). Nessas condições geométricas o corpo-de-prova estudado não deve ser utilizado para ensaios de fraturamento de materiais que apresentem ruptura frágil, sob condições de controle do deslocamento vertical. Mesmo sendo o processo de ruptura, instável por natureza, observa-se que é perfeitamente possível a condução do ensaio (de forma estável), sob condições de controle do CMOD (Carpinteri, 1990). 71 A estabilidade geométrica seria atingida para uma carga máxima verificada no ponto de inflexão do caminho de ruptura apresentado na Fig. 3.2.1-2, onde a taxa de variação da Carga relativamente ao deslocamento volta a ser negativa (∂P/∂δ < 0). Esse ponto corresponde a um valor de αo = 0,25 ou ao= 3,75cm. Esta nova situação, ilustrada para Deslocamentos e CMODs na Fig. 3.2.1-3, indica ainda uma sensível redução da capacidade de carga do corpo-de-prova, mas que garante, entretanto, um caminho de ruptura regular (não catastrófica) a partir do ponto de carga máxima. 1400 1200 Deslocamentos Carga (daN) 1000 800 600 CMODs 400 200 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 Delta ; CMOD (cm) Figura. 3.2.1-3. Relações P x δ e PxCMOD (KIC=80daN.cm-1. 5 , αo = 0.25 ou ao= 3,75cm). 3.2.2 Relação Elástica Linear δ - CMOD As equações 3.2.1-2 e 3.2.1-3 podem ser utilizadas para a determinação do CMODmax e δmax na posição da carga máxima, valores que podem ser plotados um em função do outro. De fato, a combinação das duas equações, feita equacionando-se a carga P em uma delas e substituindo-se a expressão resultante na equação remanescente, conduz à relação δ - CMOD para a geometria estudada, que é dada pela expressão: 72 δ= CMOD.S 4W V (α ) α .g (α ) (3.2.2-1) A análise dessa expressão revela que a relação δ - CMOD para um material elástico linear é geométrica por excelência, governada indiretamente pela Tenacidade ao Fraturamento do material, KIC, que determina os valores das variáveis δ e CMOD na carga máxima assim como pelo valor da extensão relativa da fissura, α. A Fig. 3.2.2-1 ilustra essa relação para o mesmo corpo-de-prova com o valor de Tenacidade ao Fraturamento anteriormente adotado (KIC=80 daN.cm-1. 5). Observa-se que a curva δ-CMOD apresenta um ponto de mínimo, coincidente com os limites αo = 0.25 ou ao= 3,75cm anteriormente discutidos, indicando que a estabilidade geométrica requer que a taxa de variação do deslocamento δ relativamente ao CMOD seja monotonicamente crescente, ou seja, que apresente derivada maior que zero (∂δ/∂CMOD > 0). A Fig. 3.2.2-2 ilustra essa situação para diversos valores de Tenacidade ao Fraturamento, KIC. 0.01 0.009 0.008 Delta (cm) 0.007 0.006 0.005 0.004 0.003 0.002 0.001 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 CMOD (cm) Figura. 3.2.2-1. Relações δ x CMOD (KIC=80daN.cm-1. 5 ) 0.012 73 0.016 0.014 1.6Kic Delta (cm) 0.012 1.4Kic 0.01 1.2Kic 0.008 Kic 0.006 0.004 0.002 0 0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018 0.02 CMOD (cm) Figura. 3.2.2-2. Relações δxCMOD para diferentes valores de KIC (αo =0.25 ou ao=3,75cm). 3.4 - Curvas de resistência sob o enfoque da MFEL De uma forma geral, as relações P-CMOD, P-δ e δ-CMOD dadas pelas equações 3.2.1-2, 3.2.1-3 e 3.2.2-1 podem ser utilizadas para a construção das Curvas de Resistência ao Fraturamento, a partir das informações habitualmente obtidas em ensaios de fraturamento. Naturalmente, o enfoque de Mecânica da Fratura Elástica Linear só seria aplicável com boa aproximação para materiais que apresentam a zona de processos inelásticos, à frente da ponta da fissura, de dimensões suficientemente reduzidas. Isto quer dizer, por outro lado, que a zona onde K é dominante deve ser suficientemente grande para que a zona de processos inelásticos possa ser desconsiderada (Kanninen, 1985, Broek, 1986, Gross, 1990). Uma vez satisfeita essa condição, o valor da extensão a da fissura passa a ser de determinação imediata, e pode ser feita utilizando-se qualquer das relações referidas anteriormente, para o caso de vigas solicitadas à flexão em 3 pontos. O uso das relações P-CMOD e P-δ requer 74 que se conheça, a priori, o valor do Módulo de Elasticidade do material, E, cuja determinação pode ser procedida com o auxilio da equação (3.2-6), se os CMODs forem conhecidos, ou da (3.2-13) se os deslocamentos verticais foram medidos durante o ensaio, da forma que se segue: E= 6.Pi Sα g (α ) CMODi .B.W (3.4-1) E= 1.5.Pi .S 2 B.W 2 .δ i (3.4-2) V (α ) Nas equações anteriores, Pi são valores quaisquer de cargas da fase resiliente da resposta e CMODi e δi os deslocamentos relativos às cargas consideradas. O valor de α é determinado utilizando-se a extensão inicial do entalhe. Observa-se que uma determinação mais rigorosa do valor do módulo, empregando-se valores de CMODm, requer a conversão dos valores nominais resultantes do ensaio, para valores de CMOD, em função da altura d das lâminas de suporte do clip gauge. Isso deve ser feito com o auxílio da equação 3.2-11, aqui repetida por conveniência: CMOD = CMOD m .kd (3.2-11) 3.4.1 Curvas de resistência fundamentadas na relação P- CMOD Uma vez determinado o valor do módulo de elasticidade (ou adotado um valor conhecido), a equação 3.2-6 pode ser reescrita de forma a obter-se: α .g (α ) = e CMOD.B.W .E 6.P.S (3.4.1-1) 75 β = α .g (α ) (3.4.1-2) A quantidade β pode ser determinada para todos os pares P- CMOD obtidos no ensaio. Assim, com a utilização das equações 3.2-7 até 3.2-10 torna-se possível, dentro de um esquema iterativo, a determinação numérica do valor de α que satisfaz a igualdade dada pela equação3.4.1-1, de acordo com o diagrama de fluxo simplificado apresentado na Fig. 3.4.1-1. Figura 3.4.1-1 – Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência baseadas nos CMODs O valor de α assim obtido é uma primeira aproximação que não considera a conversão do CMOD. Para tratar adequadamente essa necessidade, um esquema posterior de aproximação de α, agora em função do fator de conversão kd é necessário. Com esse primeiro valor de α, digamos αi, pode-se, por meio das equações para kd, proceder-se a primeira conversão do CMOD. O valor de CMODm assim determinado viabiliza o cálculo de um novo valor de α, ou seja, αi+1. Esse processo é repetido até que a diferença entre valores subseqüentes de kd entre ciclos sucessivos de iteração (ou eventualmente de β), não seja significativa. 76 A convergência é rápida e função de tolerâncias previamente estabelecidas. Assim, a melhor aproximação atingida conduz ao valor da extensão a da fissura, posteriormente ao valor elástico linear de KR e ao do CMOD convertido. O processo iterativo passa a ser ilustrado no fluxograma simplificado apresentado na Fig. 3.4.12. Figura 3.4.1-2– Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência com a conversão do CMOD. Os valores de Kr podem ser obtidos para todos os pares (P;CMOD) do ensaio utilizando-se a equação (3.2-1) e a Curva de Resistência finalmente construída em função do CMOD, da extensão normalizada da fissura, α, relativamente à altura W da viga, ou ainda em função do avanço real c da fissura (c = a - ao). Usualmente as curvas de resistência são construídas em função de α. Posteriormente, a curva PCMOD pode ser totalmente reconstruída com os valores convertidos do CMOD e das cargas do ensaio, através da equação 3.2-6. 77 3.4.2 Curvas de resistência fundamentadas na relação P - δ As Curvas de Resistência podem ser obtidas também da relação P-δ, fazendo uso da equação (3.2-13). Nesse caso, o processo iterativo é bem mais simples, mas a necessidade de conhecer-se o módulo de elasticidade persiste. Reescrevendo a equação referida tem-se: v(α ) = β = δ .B.W 2 .E (3.4.2-1) 1.5.P.S 2 Assim, para cada par P-δ haverá um valor de α que satisfaz a equação anterior e o valor de Kr pode ser obtido para cada valor de α com o auxílio das equações 3.2-14 até 3.2-17 e a seqüência de procedimentos ilustrada no fluxograma simplificado que se segue: Figura 3.4.2-1 – Fluxograma simplificado para a construção das Curvas de Resistência baseadas na relação Pxδ 78 3.4.3 Curvas de resistência fundamentadas na relação CMOD - δ A relação existente entre os CMODs e os Deslocamentos Verticais, apresentada no início deste capítulo pode ser utilizada para a construção das curvas de Resistência. Equacionando-se as expressões 3.2-6 e 3.2-13 em função da carga P e resolvendo-se para δ, passa-se a ter: δ = CMOD.S V (α ) . 4.W α .g (α ) (3.4.3-1) β= V (α ) α .g (α ) (3.4.3-2) e Do equacionamento anterior observa-se que a relação δ-CMOD para um material elástico linear é geométrica por excelência, evidenciando o fato de que a determinação do Módulo de Elasticidade, E, torna-se desnecessária. Naturalmente, a afirmação anterior não pode ser generalizada, uma vez que todo o equacionamento é procedido em função da extensão normalizada da fissura, α. No caso dos materiais de ruptura quase-frágil, essa grandeza é intrinsecamente dependente de escala. Prosseguindo a abordagem da questão sob o enfoque da MFEL, observa-se que, para cada par δ-CMOD é possível determinar iterativamente e com o auxílio das equações 3.2-7 a 3.2-10 e 3.2-14 a 3.2-17, o valor de α que satisfaz a igualdade dada pela equação 3.4.3-2, persistindo, entretanto, a necessidade de converterem-se os valores de CMOD. Naturalmente, nesse caso, a rotina computacional ganhará complexidade. 79 3.5 Aplicabilidade dos conceitos da MFEL e transgressão do princípio de Tenacidade ao Fraturamento Como exposto no princípio deste trabalho, procura-se entender a Tenacidade ao Fraturamento como uma propriedade mecânica de resistência inerente aos materiais. No caso dos materiais elásticos lineares, onde a extensão da zona de processos inelásticos é desprezível comparativamente a outras dimensões significativas do corpo fissurado ou da própria fissura, a Tenacidade ao Fraturamento assim pode ser interpretada. Nesse caso específico, as equações 3.2-1 e 3.2-6 podem ser utilizadas para a descrição de todo o processo de fissuração e fraturamento do corpo-de-prova, o que melhor se visualiza com o auxílio da curva P -CMOD que simula o processo. Como visto, a construção dessa curva é levada a efeito através de procedimento bastante simples. Retoma-se aqui o exemplo 3.2-1 onde se admitiu um prisma de 150x150x500mm (450 mm de vão-livre) e a0=0,75cm, com Tenacidade ao Fraturamento, KIC, da ordem de 80,00 daN.cm-1.5 (0,8 MPa. m0.5) e Módulo de Elasticidade, E, igual a 300.000,00 daN/cm2 (30GPa) , submetido à flexão em três pontos. As etapas de construção da curva P -CMOD podem ser resumidas da forma que se segue: 1. No intervalo 0 ≤ P ≤ Pmax não há qualquer crescimento da fissura, (ou seja, α = α0 = a0 / W) e a resposta P -CMOD é linear. 2. No limite de instabilidade os valores críticos Pmax e CMODmax são funções exclusivas da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, do Módulo de Elasticidade, E, e da extensão inicial do entalhe, a0. Os valores críticos Pmax e CMODmax são computados com o auxílio equações 3.2-1 e 3.2-6. 80 3. Após a carga crítica, Pmax, inicia-se o processo de fissuração e o valor de KIC, por hipótese, permanece constante. Como a fissura cresce, cresce naturalmente o valor de α, ou seja, α= αi. Se KIC é constante, para cada valor de αi, calcula-se com o auxílio das equações 3.2-1 e 3.2-6 os valores de Pi e CMODi correspondentes, ficando determinada dessa maneira, toda a curva P -CMOD. Observa-se que a curva de resistência ao fraturamento, na primeira etapa do processo é uma reta vertical, se construída em função de α (pois α = α0 = constante e KI < KIC), ou uma reta com inclinação constante, se construída em função do CMOD uma vez que esses deslocamentos são linearmente proporcionais às cargas aplicadas na fase elástica. Nessa etapa, a Curva-R indica, unicamente, os Fatores de Intensidade de Tensão, KI, em cada estágio do carregamento, pois, no intervalo em discussão, Gi < Ri, fato que se verifica até o último ponto em que Pi < PMAX, CMODi < CMODmax e KIi < KIC. Teoricamente, a curva de resistência ao fraturamento, para um material de resposta elástica linear ao fraturamento, tem início no ponto onde P = PMAX, CMOD = CMODmax e KI = KIC. (etapa dois). Entretanto, ao longo deste trabalho e por uma questão de conveniência, os intervalos iniciais, relativos às primeiras etapas do processo de fissuração, são indicados nos traçados gráficos. Na última etapa (etapa 3) a Curva–R apresenta-se sob a forma de uma reta horizontal, em virtude da constância de KIC. Se conhecidos os valores de Pi e CMODi, os valores (constantes) de KR podem ser computados utilizando-se a equação 3.2-1. As curvas P-CMOD e KR-CMOD para exemplo em discussão são apresentadas na Figura 3.5-1. 81 3000 P (daN) ; KR x 10 (daN.cm^-1,5) 2500 2000 P x CMOD Kr x CMOD 1500 1000 500 Valores de KI (G<R) 0 0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090 0.100 CMOD (mm) Figura 3.5-1 –Curvas P-CMOD e KR-CMOD para um material elástico linear Dentro da simplicidade do problema analisado destaca-se um importante conceito, que é o da unicidade das soluções de Pi e CMODi após a carga máxima. Com o objetivo de verificar de forma mais objetiva os limites de aplicabilidade dos conceitos da MFEL à construção das curvas de resistência ao fraturamento, a seguir passam a ser analisadas, através de exemplos, diferentes possibilidades de comportamento dos materiais relativamente às respostas P-CMOD na carga de instabilidade e nos níveis de carregamento que se seguem a carga crítica, comparativamente às respostas elásticas lineares P-CMOD e KR-CMOD anteriormente apresentadas (exemplo 3.2-1). A determinação dos parâmetros das curvas P-CMOD e KR-CMOD dos exemplos a seguir apresentados foi procedida utilizando-se uma rotina computacional escrita em FORTRAN 90/95, fundamentada nos conceitos anteriormente apresentados. 82 Exemplo 3.5-1 - Neste primeiro exemplo analisa-se a influência da deformabilidade sobre as respostas de fraturamento de dois materiais hipotéticos. O comportamento desses materiais no regime pós-pico são variações daquele do exemplo 3.2-1, aqui denominado material de referência. Neste exemplo admite-se que os CMODs, no regime pós-pico (incluindo o verificado na carga de instabilidade) variem de forma crescente entre os materiais, relativamente a resposta do material de referência. A variação constante admitida para os CMODs (para cada nível de carregamento) foi inicialmente fixada em 20% (material A) e posteriormente em 40% (material B), relativamente aos valores apresentados pelo material de referência. Supõe-se, entretanto, que os níveis de carregamento na fase pós-pico do histórico sejam iguais àqueles determinados no exemplo 3.2-1. Em face da simplicidade do problema, as curvas pretendidas poderiam ter sido obtidas diretamente das equações da MFEL, sem a necessidade de utilização dos procedimentos iterativos computacionalmente implementados e sem quaisquer erros de aproximação numérica (mesmo que desprezíveis). As curvas obtidas passam a ser apresentadas na Fig. 3.5-2. 3000 Resposta Linear Elástica de referência P (daN) ; KR x 10 (daN.cm^-1.5) 2500 2000 Material A : CMODi = 1.2*CMODi referência 1500 Material B : CMODi = 1.4*CMODi referência CURVAS DE RESISTÊNCIA 1000 500 Valores de KI (G<R) 0 0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090 0.100 0.110 0.120 0.130 0.140 CMOD (mm) Figura 3.5-2 - Curvas P- CMOD e KR- CMOD para materiais com diferentes características de deformabilidade 83 Como inicialmente proposto observa-se que as curvas apresentadas são rigorosamente proporcionais entre si. Entretanto, com a variação dos CMODs a partir da carga máxima, os regimes anteriores à carga de instabilidade ficam alterados pois as inclinações das retas decorrem dos valores dos módulos de elasticidade dos materiais. Por outro lado, as curvas de resistência ao fraturamento resultantes das análises são rigorosamente horizontais e diferenciam-se umas das outras, unicamente pelos níveis dos CMODs nos quais os valores de KR foram computados. Se os valores dos CMODs apresentados pelo material de referência fossem mantidos fixos e agora uma variação do carregamento fosse procedida de conformidade com os mesmos critérios adotados anteriormente para os CMODs, as respostas ao fraturamento desse materiais, assim como as curvas P-CMOD respectivas seriam as apresentadas na Fig. 3.5-3, que se segue. 4000 P (daN); KR x 10 (daN.cm^-1,5) 3500 3000 Resposta Linear Elástica de referência 2500 Material C : Pi = 1.2*Pi referência 2000 Material D : Pi = 1.4*Pi referência 1500 CURVAS DE RESISTÊNCIA 1000 500 0 0.000 Valores de KI (G<R) 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 0.090 0.100 CMOD (mm) Figura 3.5-3 - Curvas P-CMOD e KR- CMOD para materiais com diferentes cargas críticas Nesse caso, as curvas de resistência para os diferentes materiais continuariam a apresentar-se sob a forma de retas horizontais, uma vez que a proporcionalidade 84 das curvas P-CMOD foi preservada. Entretanto, essas retas estariam situadas em diferentes níveis de resistência, em virtude das diferentes cargas críticas apresentadas pelos materiais, cargas governadas pela Tenacidade ao Fraturamento. O primeiro exemplo desenvolvido indica claramente que materiais com diferentes características de deformabilidade podem apresentar a mesma resistência ao fraturamento (no que diz respeito à iniciação da fissuração), unicamente se as cargas críticas forem idênticas (equação 3.2.1-1b), resistência que poderá permanecer constante ao longo do processo de fissuração e fraturamento se, complementarmente, as curvas P-CMOD desses materiais forem proporcionais entre si e relativamente à resposta elástica linear, após a carga crítica. Dos resultados obtidos (Fig. 3.5-2), depreende-se ainda que as curvas PCMOD dos materiais A e B apresentam os ramos descendentes sucessivamente mais elevados que o daquela do material de referência, não significando, entretanto, que esses materiais tenham que ser, necessariamente (e sucessivamente), mais resistentes ao fraturamento, quer entre si, que comparativamente ao material de referência. Esse raciocínio é oposto àquele que de certa forma e intuitivamente se faz, em termos de tenacidade flexional ou de trabalho de fraturamento. Exemplo 3.5-2 - Neste segundo exemplo analisa-se o caso em que, após a carga máxima, Pmax, os valores das cargas, Pi*, sejam, em cada estágio do carregamento, superiores aos valores Pi determinados de conformidade com as equações da MFEL, para o material de referencia. Admite-se ainda neste exemplo, que essa variação da capacidade de carga do material hipotético possa ser expressa através de um modelo arbitrário do tipo: (α i .W )1.5 Pi * = Pi .1 + 1 .5 β − α .i W − (α .i W ) (3.5-1) 85 Para o desenvolvimento do exemplo em pauta, os CMODs do material elástico linear de referência foram utilizados. Na equação anterior, Pi é o valor elástico linear da carga no iézimo estágio do carregamento, αi a extensão da fissura nesse estágio, normalizada relativamente a altura W do corpo-de-prova e β uma constante também arbitrária. A tabela. 3.5-1 apresenta os valores de Pi*/Pi para valores de αi variando de 0,75. Tabela 3.5-1 - Valores de Pi*/Pi para diferentes valores de α e β e W=15 cm W=15cm α= Pi*/Pi β=80 β=70 0.075 0.150 0.225 0.300 0.375 0.450 0.525 0.600 0.675 0.750 0.825 0.900 1.02 1.05 1.09 1.14 1.22 1.31 1.44 1.61 1.86 2.22 2.81 3.94 1.02 1.05 1.10 1.17 1.26 1.38 1.55 1.79 2.16 2.80 4.09 8.19 A Fig. 3.5-4 abaixo traz, além da curva relativa ao material elástico linear de referência, duas curvas P-CMOD para valores de β iguais a 70 e 80. 3000 2500 P (daN) 2000 1500 Beta=80 Beta=70 Material de Referência 1000 500 0 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 0.045 0.050 0.055 0.060 0.065 0.070 0.075 0.080 0.085 CMOD (mm) Figura 3.5.4 – Curvas P- CMOD para um material elástico linear e outros, com diferentes valores de β. 86 Da observação da figura depreende-se, como esperado, o aumento gradual e aparentemente pequeno de resistência do material, na fase pós-pico, relativamente à capacidade de carga do material. Na tabela. 3.5-1 entretanto, observa-se que a evolução (aparentemente pequena) desse aumento de resistência, nas etapas finais da propagação é da ordem de 4 vezes a capacidade de carga de um material elástico linear de referência, para β=80 ou de aproximadamente 8 vezes, para o caso de β=70. A Fig. 3.5-5 ilustra a evolução da relação Pi*/ Pi em função do CMOD, ao longo do processo de fissuração. 3.80 3.40 3.00 Beta=80 Beta=70 Pi*/ Pi 2.60 2.20 1.80 1.40 1.00 0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 CMOD (mm) Figura 3.5-5 – Gráfico Pi*/Pi versus CMOD para o modelo hipotético Portanto, o ganho de resistência ao fraturamento passa a ser mensurável a partir da diferença entre os níveis de carga teoricamente calculados para um material elástico linear e aqueles verificados em cada um dos estágios de carregamento que se seguem à carga máxima. Nesse exemplo, a determinação de cada um dos valores de resistência ao fraturamento, KRi, também é procedida a partir dos valores dos CMODi utilizando-se a relação elástica linear dada pela equação 3.4.1-1, 87 substituindo-se, entretanto, Pi por Pi* . Diferentemente da situação estudada no exemplo anterior, os valores de αi são agora computados de duas formas distintas, para fins de comparação: • Diretamente, através da utilização das equações 3.2.1-1 e 3.2.1-2 da MFEL; • De maneira efetiva, apurando-se valores de αi que satisfaçam a relação P-CMOD dada pela equação 3.4.1-1, em cada estágio de carregamento considerado. Para o caso hipotético em estudo, as curvas de resistência assim obtidas são as apresentadas na Fig. 3.5-6. 300 Material de referência (MFEL) 250 Beta=80, efetivo Beta=80, MFEL KR (daN.cm^-1.5) Beta=70, efetivo 200 Beta=70, MFEL 150 100 50 Valores de KI (G<R) 0 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 CMOD(mm) Figura 3.5-6 – Curvas KR-CMOD para o material elástico linear e outros, com diferentes valores de β Se construídas em função de α, as Curvas de Resistência apresentam o aspecto da Fig. 3.5-7. 88 300 KR (daN.cm^-1.5) 250 Material de referência (MFEL) Beta=80, efetivo Beta=70, efetivo Beta=80 MFEL Beta=70 MFEL 200 150 100 50 Valores de KI (G<R) 0 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 α Figura 3.5-7 – Curvas KR-α para o material elástico linear e outros, com diferentes valores de β As figuras anteriores (3.5-6 e 3.5-7) indicam transgressões claras do princípio de Tenacidade ao Fraturamento, violações que poderiam ser quantificadas em termos de Taxas Críticas de Liberação de Energia, necessárias aos avanços da fissura (uma vez que a taxa teórica deixaria de ser constante), a partir dos desvios da horizontalidade apresentados pelas Curvas–R nos estágios de carregamento posteriores às cargas de pico. Como uma última abordagem da construção das curvas efetivas de resistência ao fraturamento fundamentadas nos conceitos da MFEL, um problema oposto passa a ser analisado. Neste caso, supõe-se que dois materiais hipotéticos, E e F, apresentem, após a carga crítica, capacidades de carga reduzidas, relativamente ao material elástico linear de referência. No primeiro caso (material E) supõe-se que após a carga crítica os níveis de carregamento, Pi*, sejam da ordem de 90% daqueles do material de referência. No segundo caso uma minoração mais intensa após a carga 89 máxima é considerada através da relação Pi*=0,85. Pi-1*. As Fig. 3.5-8 e 3.5-9 ilustram as curvas P-CMOD e KR-CMOD para os materiais hipotéticos considerados. 3000 2500 P (daN) 2000 Pi (elast. linear) P*i=0.9.P (Mat. E) P*i=0.85.P*i-1 (Mat. F) 1500 1000 500 0 0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080 CMOD (mm) Figura 3.5-8-Curvas P-CMOD para materiais hipoteticamente menos resistentes após a carga máxima 90 80 KR (daN.cm^-1.5) 70 60 50 40 Material E Material F Material de referência 30 20 10 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 α Figura 3.5-9 Curvas KR-α para materiais hipoteticamente menos resistentes após a carga máxima 90 Nestes casos a transgressão do princípio da tenacidade é novamente observada, agora sob a forma de diminuições dos níveis de tenacidade ao fraturamento (apresentadas pelos materiais hipotéticos), relativamente ao material de referência. No primeiro caso (material E) a curva de resistência apresenta-se sob a forma de uma reta horizontal, entretanto situada em um patamar inferior àquele determinado por KIC na carga máxima. Essa horizontalidade decorre da proporção verificada entre as cargas Pi e Pi* (a ligeira falta de uniformidade dessa reta deve-se a erros de aproximação numérica). No segundo caso, a curva de resistência simplesmente decresce com o avanço da fissura. Da análise de situações opostas (Fig. 3.5-7 e 3.5-9) depreende-se ainda que as extensões efetivas da fissura, ai, computacionalmente determinadas para os diversos estágios da propagação, podem ser maiores ou menores que aquelas de referência, decorrentes da MFEL. Isso ocorre em função das discrepâncias verificadas entre as cargas Pi e Pi*, em cada estágio da propagação, e a necessidade de atender-se a igualdade dada pela equação 3.4.1-1. Os exemplos estudados permitem concluir, ao menos em termos preliminares, que a constância da resistência ao fraturamento, eventualmente representada por uma Curva-R horizontal, não é arbitrariamente esperada para qualquer material ou mesmo obtida a partir de qualquer curva P-CMOD, especialmente na escala laboratorial. Pelo contrário, para que um valor constante possa ser alcançado, uma série de prérequisitos deve ser atendida, dentre eles, eventualmente, os apontados nos exemplos anteriormente desenvolvidos. No caso particular dos materiais cimentícios analisados neste trabalho, o desvio da linearidade, em termos de resistência ao fraturamento, deve-se basicamente à formação da zona de processos inelásticos, ou zona de processamento da fissura cuja consideração conduz às seguintes conclusões preliminares, relativamente ao conjunto de informações obtidas no iézimo estágio da propagação, onde α=αi, e P=Pi : 91 1. Os valores dos deslocamentos CMODi e δi observados, são, de fato, menores que aqueles analiticamente calculados através da utilização dos conceitos da MFEL, para o nível de carregamento Pi. O fato decorre do desenvolvimento da interface coesiva que confere maior rigidez ao corpo-de-prova fissurado, ao longo da história de carregamento. Essa rigidez reflete o trabalho realizado pelas tensões de fechamento, σ(w) atuantes sobre as faces da fissura coesiva. De forma inversa, se os níveis de deslocamento CMODi ou δi forem adotados como valores de referência, decorrerá que o valor do carregamento Pi será superior àquele analiticamente calculado através da utilização dos conceitos da MFEL. 2. Sendo αi (ou ai) uma variável inter-relacionada às grandezas CMODi ou δi observadas no ensaio (grandezas que dependem da escala do corpo-deprova), os valores de KR, determinados pura e simplesmente de conformidade com as relações elásticas lineares serão, via de regra, diferentes dos valores reais de Tenacidade ao Fraturamento do material. As ponderações anteriores consideram as implicações decorrentes da formação da zona de processos inelásticos à frente da ponta da fissura, durante o processo de fraturamento, sobre os valores das respostas de cargas e deslocamentos laboratorialmente obtidas. Se a contribuição resistente da interface puder ser convenientemente interpretada, de forma que a mesma venha a representar um acréscimo constante de tenacidade no processo de fissuração e fraturamento, por exemplo, determinando-se a extensão de uma fissura equivalente que conduza a patamares relativamente constantes de tenacidade, então os modelos efetivos serão válidos para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento. Caso contrário, servirão à descrição do processo de fraturamento do material, refletindo, em cada caso, as transgressões anteriormente apontadas. 92 3.6 Sumário do Capítulo Neste capítulo, os principais aspectos teóricos relativos à resistência ao fraturamento dos materiais de resposta linear elástica e inelástica foram apresentados e analisados. Da mesma maneira, as Curvas de Resistência, que descrevem o comportamento dos sólidos durante as solicitações de fissuração e fraturamento foram revistas, em seus principais aspectos teóricos. As equações fundamentais da mecânica do fraturamento elástico linear para as vigas entalhadas foram reexaminadas e através delas, as relações existentes entre a Carga Aplicada, os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, e os Deslocamentos Verticais, δ, da Linha de Carga, equacionadas. Do procedimento referido, a relação elástica linear existente entre os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD e os Deslocamentos Verticais, δ, da Linha de Carga pôde ser estabelecida para o corpo-de-prova, ficando demonstrado que, para o caso de materiais que atendem os princípios da MFEL, a relação existente entre esses deslocamentos é puramente geométrica. Com base nos equacionamentos levados a efeito, três novos critérios para a construção das Curvas de Resistência, sob o enfoque da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear e com base nas relações P- CMOD, P-δ e δ-CMOD, foram propostos e os fluxogramas com os procedimentos necessários à construção das curvas, apresentados. Finalmente, considerações relevantes, referentes à aplicabilidade do modelo elástico linear desenvolvido à descrição do processo de fissuração e fraturamento dos materiais de ruptura quase frágil, foram tecidas. Nessas considerações, as limitações inerentes ao enfoque adotado, foram apontadas. 93 4. O USO DAS CURVAS-R PARA A REPRESENTAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO FRATURAMENTO DE MATERIAIS CIMENTÍCIOS 4.1 Casos preliminares de estudo O processo descrito nos capítulos anteriores para a construção das Curvas de Resistência fundamentadas na relação P-CMOD foi inicialmente aplicado a análise de resultados de ensaios de fraturamento, à flexão em três pontos, levados a efeito pelo autor e por outros pesquisadores. Esses ensaios, na grande maioria conduzidos em ciclo fechado, mediante o controle dos deslocamentos de abertura da entrada do entalhe, CMOD, foram realizados com corpos-de-prova constituídos de materiais cimentícios de diferentes naturezas, conforme se passa a expor. 4.1.1 Aplicação das Curvas-R para o estudo do fraturamento de rochas, do concreto de alta resistência e do CRFA As Curvas de Resistência fundamentadas na relação P- CMOD foram inicialmente aplicadas a resultados de ensaios de fraturamento de uma rocha sedimentar, um arenito rosa originário do estado do Paraná (Ferreira et al., 2002). Nesses ensaios os corpos-de-prova foram solicitados à flexão em três pontos. 94 A resistência média do material, à tração, obtida indiretamente em ensaios de compressão diametral, foi avaliada em 42,33 daN/cm2 (4,2MPa). Tendo em vista as características de isotropia transversal apresentada pela rocha e decorrente das camadas de sedimentação, os corpos-de-prova, quatro ao total, foram preparados orientando-se as linhas de frente das fissuras no sentido divisor (divider), conforme ilustra a Fig. 4.1.1-1. As características geométricas dos corpos-de-prova são as que se apresentam na tabela. 4.1.1-1. Figura 4.1.1-1 – Corpo-de-prova de rocha sedimentar. Orientação do plano de fraturamento. Tabela 4.1.1-1 – Características geométricas dos corpos-de-prova e cargas máximas dos ensaios. CP B (cm) W (cm) S (cm) ao (cm) Pmax (daN) 1 3.9 8.9 26.7 2.7 167.72 2 4.5 8.9 26.7 2.9 145.97 3 4.4 8.9 26.7 2.9 154.72 4 4.2 8.9 26.7 2.7 175.20 95 As vigas foram ensaiadas saturadas após 3 dias de submersão em água, em um equipamento servo-controlado MTS, utilizando-se uma célula de carga com capacidade para 100 kN, sob condições de controle do CMOD, conforme ilustra a Fig. 4.1.1-2. Figura 4.1.1-2 Ensaio de flexão em 3 pontos sob condições de controle do CMOD. O primeiro dos corpos-de-prova foi ensaiado até as proximidades do fraturamento em um único ciclo de carregamento. Os demais, submetidos a diversos ciclos de carregamento e descarregamento na carga máxima de cada ciclo, conforme ilustra a Fig. 4.1.1-3. 96 180 160 140 Carga ( daN ) 120 100 80 60 40 20 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 CMOD (mm) Figura 4.1.1-3 - Curvas experimentais P-CMOD. Ensaios de fraturamento à flexão em 3 pontos. Dos 3 corpos-de-prova ensaiados ciclicamente, um (CP4) foi escolhido para a elaboração deste estudo juntamente com o corpo-de-prova básico (CP1), levado à ruptura em carregamento contínuo. Os critérios para a escolha desse corpo-de-prova foram a proximidade da carga máxima atingida no ensaio e a semelhança da flexibilidade apresentada pela rampa inicial de carregamento, comparativamente aos mesmos parâmetros apresentados pelo corpo-de-prova básico. As curvas resultantes dos ensaios dessas vigas são apresentadas na Fig. 4.1.1-4. 180 160 140 Carga ( daN ) 120 100 80 60 40 20 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 CMOD (mm) Figura 4.1.1-4 – Curvas P-CMOD- Ensaios contínuo (CP1) e cíclico (CP4). 0.4 97 A figura 4.1.1-5, ilustra o resultado da aplicação do processo de construção da Curva-R ao material referido, baseada na relação P-CMOD. Para a construção dessa curva adotou-se o Módulo de Deformação do material, E= 96.230,13 daN/cm2 (9,6 GPa) valor obtido da flexibilidade da rampa ascendente do ensaio (CP1), na fase resiliente da resposta do corpo-de-prova Através da técnica de variação da flexibilidade entre as fases ascendente e a de descarregamento do corpo-de-prova auxiliar (CP4), extraídas do diagrama PCMOD do ensaio e utilizando-se a metodologia de cálculo do Modelo dos Dois Parâmetros (Jenq e Shah, 1985), foi possível determinar também a Tenacidade ao Fraturamento do material KSIC = 100,482 daN.cm –1.5 (1,00MPa.m0,5), destacada na figura que se segue. 110 Kic(s)=100.482 daN.cm^ -1.5 100 90 80 70 P max. 60 Kr (daN.cm^-1.5) 50 40 Crescimento sub-crítico 30 20 10 0 0.25 0.3 0.35 αo=ao / W 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 α Figura 4.1.1-5 - Curva de resistência baseada na relação P-CMOD. 0.85 0.9 98 A Fig. 4.1.1-6 ilustra duas curvas Carga-CMOD. A primeira delas é a curva original, decorrente da experimentação. A segunda curva é uma reconstituição da primeira, mas que faz uso dos CMODs convertidos (equações 3.2-11 e 3.2-6) e dos valores originais de carregamento. A curva de resistência anteriormente determinada, agora construída com os CMODs convertidos, também é ilustrada. 180 160 Experimental P ( daN ) ; Kr ( daN.cm^-1.5 ) K(r) x CMOD 140 120 Reconstruída 100 80 P max. 60 40 20 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 CMOD (mm) Figura 4.1.1-6 – Curvas P - CMOD e de resistência – Material: Arenito. Este mesmo procedimento foi aplicado a uma série de vigas de concreto de alta resistência, ensaiadas por Saldívar (1999). Trata-se de um concreto com resistência da ordem de 753 daN/cm2 (75,3 MPa) aos 60 dias, com um consumo de cimento, em massa, de 457 kg/m3 e relação água/cimento de 0,34. Em virtude do pequeno consumo de água e com o objetivo de assegurar-se boa trabalhabilidade à mistura, foram adicionados 17,8 litros de superplastificante 99 por m3 de concreto. A dimensão característica adotada para o agregado graúdo foi de 12mm, com um consumo de microssílica, em massa, da ordem de 46 kg/m3 de concreto. Os ensaios conduzidos por Saldívar fizeram uso de vigas de seção transversal quadrada, com 150mm de lado e 450 mm de vão-livre, solicitadas ao fraturamento à flexão em 3 pontos com o controle do CMOD. Esses corpos-de-prova guardam a relação entre o vão-livre S e a altura W, idêntica àquela adotada para as vigas de arenito aqui apresentadas, o que tornou possível a adoção das equações da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear, descritas anteriormente, à análise das informações experimentais obtidas por Saldívar. Os resultados obtidos para 3 vigas de concreto estudadas passam a ser apresentados. As Fig. 4.1.1-7 e 4.1.1-8 trazem, respectivamente, os diagramas PCMOD dos ensaios e as Curvas de Resistência fundamentadas na mesma relação. 3500 3000 P (daN) 2500 2000 1500 1000 500 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 CMOD (mm) Figura 4.1.1-7 – Curvas P-CMOD –Material: Concreto de Alta Resistência. 0.35 100 KR med.= 146.29 daN.cm^-1.5 200 180 160 120 100 80 60 40 20 0 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 α Figura 4.1.1-8 – Curvas de Resistência – Material: concreto de alta resistência. Por mera questão de clareza gráfica, a Fig. 4.1.1-9 apresenta uma única curva reconstruída com os valores de CMODs convertidos juntamente com a curva originalmente obtida no ensaio. Observe-se que as cargas são as mesmas, para as duas curvas. 3500 Experimental 3000 2500 P (daN) KR (daN.cm^-1.5) 140 2000 Reconstruída 1500 1000 500 0 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 CMOD (mm) Figura 4.1.1-9 – Curvas P–CMOD, experimental e reconstruída 0.09 0.10 101 À mesma matriz, Saldívar (1999), adicionou diferentes teores de fibras de aço para o estudo da tenacidade flexional do CRFA. As fibras utilizadas foram do tipo ZC 30/0.50 da BEKAERT, com 30mm de comprimento e esbeltez, isto é, a relação entre o comprimento e o diâmetro da fibra, igual a 80. Para a matriz referida, dois diferentes teores de fibras de aço foram estudados pelo pesquisador, objetivando, dentre outras coisas o estudo do efeito de escala do corpo-de-prova, das profundidades dos entalhes retos passantes e da forma de carregamento, sobre as respostas da Tenacidade Flexional, assim como a avaliação dos Índices Adimensionais de Tenacidade e Resistências Equivalentes determinadas com o auxílio do CMOD. Os diferentes teores de fibras de aço incorporadas foram, em massa, iguais a 40 e 80 kg por m3 de concreto. Para cada um desses materiais, três novas Curvas de Resistências ao Fraturamento foram construídas utilizando-se a abordagem até aqui explorada. Os resultados dessas análises podem ser encontrados no Apêndice B deste trabalho. Das 9 curvas P-CMOD anteriormente analisadas, relativas ao concreto simples e aos CRFAs com diferentes teores de fibra (40 e 80 kg/m3), separou-se a curva média de cada material e um novo conjunto foi constituído. A Fig. 4.1.1.10 ilustra as curvas P-CMOD para a matriz e para os diferentes CRFAs. 6000 5000 80 kg/m3 P ( daN ) 4000 40 kg/m3 3000 2000 1000 concreto sem fibras 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 CMOD (mm) Figura 4.1.1.10 – Curvas P-CMOD para o concreto simples e CRFAs com diferentes teores de fibras 102 As Fig. 4.1.1.11 e 4.1.1.12 trazem o conjunto de Curvas de Resistência ao fraturamento, relativas às curvas médias desses materiais. A última delas refere-se aos trechos iniciais dos diagramas, para uma melhor visualização. 2500 2000 Kr ( daN.cm^-1.5 ) 80 kg/m3 1500 40 kg/m3 1000 500 Concreto simples 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 α Figura 4.1.1-11- Curvas de Resistência para o CRFA (0, 40 e 80kg / m3) 700 80 kg/m3 600 Kr (daN.cm^-1.5) 500 400 40 kg/m3 300 200 Concreto simples 100 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 α Figura 4.1.1-12- Curvas de Resistência para o CRFA – Trechos iniciais (0, 40 e 80kg / m3) 103 4.1.2 Aplicação das Curvas-R ao estudo do Efeito de Escala Objetivando a avaliação do desempenho das curvas de resistência fundamentadas na relação P- CMOD propostas neste trabalho, foi procedida uma aplicação da metodologia desenvolvida à vigas bidimensionalmente similares, com vistas ao estudo do efeito de escala. As informações analisadas decorreram de ensaios de flexão em 3 pontos executados por Jamet et al.(1995), disponibilizadas ao autor para tal fim na Universitat Politècnica de Catalunya. Tratam-se de “vigas curtas” com entalhes centrais retos passantes alturas W, variando entre 90 e 320 mm e base B de valor constante. O vão-livre adotado pelo referido pesquisador manteve a relação S=2,5W, proporções geométricas usualmente adotadas pelos pesquisadores da área para o estudo do efeito de escala. No presente estudo foram analisados dois materiais. O primeiro deles, um concreto de alta resistência (CAR) com fc28 = 730 daN/cm2 (73 MPa), Módulo de Elasticidade, E=353000 daN/cm2 (35,3 GPa) e relação água/cimento igual a 0,42. A composição unitária da mistura, em massa, foi 1:1,32:2,2:0,1:0,42 (cimento, areia, pedra 1, microssílica e água). O segundo material, um CRFA, foi preparado com a matriz anteriormente descrita e fibras de aço do tipo ZC30/0.5 com um teor da ordem de 40kg/m3. As informações geométricas relativas aos corpos-de-prova ensaiados são as reunidas na tabela 4.1.2-1. Tabela 4.1.2-1 – Informações geométricas dos corpos-de-prova - Estudo do efeito de escala. W (mm) 90 180 320 B (mm) 90 90 90 S (mm) 225 450 800 a0 α0 S/W (mm) 25 50 88 0.278 0.278 0.275 2.500 2.500 2.500 104 Informações dos ensaios As curvas P-CMOD para o CAR e para o CRFA, relativas à 18 corpos-deprova ensaiados, passam a ser apresentadas nas Fig. 4.1.2-1 e 4.1.2-2. 1600 1400 1200 CP1-90 CP2-90 P (daN) 1000 CP3-90 CP1-180 800 CP2-180 CP3-180 CP1-320 600 CP2-320 CP3-320 400 200 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 CMOD (mm) Figura 4.1.2-1 – Curvas P-CMOD de vigas com similaridades bidimensionais- Material : CAR 2500 2000 CP_90-1 CP_90-2 1500 P (daN) CP_90-3 CP_180-1 CP_180-2 CP_180-3 CP_320-1 1000 CP_320-2 CP_320-3 500 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0.95 1 CMOD (mm) Figura 4.1.2-2 Curvas P-CMOD dos ensaios das vigas com similaridades bidimensionais –CRFA. 105 Equações da MFEL As equações relevantes da MFEL utilizadas para a construção das Curvas-R fizeram uso, no caso da determinação dos Fatores de Intensidade de Tensão, da Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, f(α), determinada por Gettu et al. (1995). Entretanto, não se encontrou na literatura uma expressão relativa a essa função de dependência para os CMODs. Assim, uma nova etapa de simulações numéricas foi procedida, com vistas à determinação de uma nova expressão de g(α) para a geometria utilizada por Jamet. Os gráficos das funções de dependência computadas, válidas no intervalo 0.05≤α≤ 0.9 (zero, inclusive, para f(α)) passam a ser apresentados nas Fig 4.1.2-3 e 4.1.2-4. 25 20 Gettu et. al. 1995 Novo Ajuste f(α ) 15 10 5 0 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 α Figura 4.1.2-3 – Gráfico da Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, f(α), para Fatores de Intensidade de Tensão. 106 70 60 50 g(α) 40 30 20 10 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 0.45 0.50 0.55 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90 α Figura 4.1.2-4 – Gráfico da Função Adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, g(α), para CMODs. As equações determinadas, assim como os coeficientes necessários à aplicação das mesmas, são as mostrados abaixo: f (α ) = (1.847 + a.α + b.α + c.α 3 + d .α 4 (1 + 2α )(. 1 − α )1,5 2 ) (4.1.2-1) com: a = -1,6663576; b = 4,2715779; c = -3,7306657; d = 1,2628721 e: e g (α ) = a + b.α + c.α 2 + d .α 3 + 2 ( ) 1 α − (4.1.2-2) com: a =0,66975538; b = -1,6829294; c =2,2891155; d= -1,4375145; e =0,65476364 107 A influência da altura da lâmina de fixação do transdutor de deslocamentos, sobre os valores de CMOD medidos em laboratório, expressos neste trabalho sob a forma do fator de conversão kd, é ilustrada na figura abaixo. 1.00 0.95 0.90 d=1 d=2 0.85 kd d=3 d=4 0.80 d=5 d=6 0.75 0.70 0.65 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 α Figura 4.1.2-5 – Valores de Kd para as vigas curtas com S/W=2.5 Curvas de Resistência ao Fraturamento As curvas de resistência ao fraturamento determinadas para os diferentes materiais analisados foram construídas em função dos CMODs e da extensão normalizada da fissura, α. Os gráficos dessas curvas passam a ser apresentados nas Figuras 4.1.2-6 a 4.1.2-9. 108 350 300 250 KR (daN.cm^-1,5) CP1_90 CP2_90 CP3_90 200 CP1_180 CP2_180 CP3_180 150 CP1_320 CP2_320 CP3_320 100 50 0 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 CMOD (mm) Figura 4.1.2-6 – Curvas KR-CMOD para o concreto de alta resistência 1300 1200 1100 1000 KR (daN.cm^-1,5) 900 800 CP_90-1 CP_90-2 CP_90-3 CP_180-1 CP_180-2 CP_180-3 CP_320-1 CP_320-2 CP_320-3 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 CMOD (mm) Figura 4.1.2-7 – Curvas KR-CMOD para o CRFA 0.7 109 350 300 KR (daN.cm^-1,5) 250 CP1-90 CP2-90 CP3-90 200 CP1-180 CP2-180 CP3-180 150 CP1-320 CP2-320 CP3-320 100 50 0 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 α Figura 4.1.2-8 – Curvas KR-α para o concreto de alta resistência - CAR 1400 1300 1200 1100 KR (daN.cm^-1,5) 1000 900 CP_90-1 CP_90-2 CP_90-3 CP_180-1 CP_180-2 CP_180-3 CP_320-1 CP_320-2 CP_320-3 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 α Figura 4.1.2-9 – Curvas KR-α para o CRFA 0.65 0.7 0.75 110 A partir dos pontos KR-α computados para os corpos-de-prova de diferentes tamanhos, uma série de ajustes não lineares foi procedida com o objetivo de conhecer o comportamento dos materiais relativamente às respostas de resistência ao fraturamento, em termos de tendência, quando da variação da escala do corpo-deprova. Para isso, as informações foram reunidas por tamanho do corpo-de-prova e por material analisado. Com o objetivo de uniformizar os ajustes, dois critérios de seleção das informações foram adotados, o primeiro deles foi o de considerar somente os pontos computados até o valor limite de α=0,5 e o segundo, o de excluir-se os pontos com valores de KI inferiores a 50 daN.cm-1.5 (0,5 MPa.m0,5). Os melhores ajustes conseguidos, a seguir apresentados, foram os polinomiais do quinto grau para o CRFA e o Modelo de Weibull, para o concreto de alta resistência. As estatísticas relativas aos ajustes procedidos bem como os coeficientes necessários ao uso das equações são apresentadas na tabela. 4.1.2-2. CAR: d K R = a − b. e (− c.α ) (4.1.2-3) K R = aα 5 + bα 4 + cα 3 + dα 2 + eα + f (4.1.2-3) CRFA: Tabela 4.1.2-2 – Coeficientes para as equações e estatísticas dos ajustes procedidos Material CAR CRFA W (mm) 90 180 320 90 180 320 a b 199.82712 231.7096 238.06701 981603.41 4813569.7 6380197.5 4392.6433 1224033.6 244514.72 -1943296 -9603725.3 -12707444 c d e 16.27135 1.2083581 19.591496 0.60864713 24.043943 0.91640907 1545370.1 -619222.82 125940.25 7616638.1 -3002776.1 589483.79 10063788 -3960922.5 775476.14 f -10317.937 -46002.775 -60276.312 Des. Padrão Coef. Corr. S r 5.997 10.741 9.806 8.959 13.052 9.897 0.991 0.981 0.986 0.986 0.984 0.993 111 As curvas de resistência ao fraturamento para o intervalo mencionado assim como os gráficos dos ajustes procedidos passam a ser apresentados nas Figuras 4.1.210 a 4.1.2-13. 350 300 KR (daN.cm^-1,5) 250 CP1-90 CP2-90 CP3-90 200 CP1-180 CP2-180 CP3-180 150 CP1-320 CP2-320 100 CP3-320 50 0 0.250 0.275 0.300 0.325 0.350 0.375 0.400 0.425 0.450 0.475 0.500 α Figura 4.1.2-10 - Curvas KR-α para o concreto de alta resistência - α<0.5 350 300 KR (daN.cm^-1.5) 250 200 W=90 W=180 W=320 Proj. W= 640 150 100 50 0 0.250 0.275 0.300 0.325 0.350 0.375 0.400 0.425 0.450 0.475 0.500 α Figura 4.1.2-11 - Curvas KR-α para o CAR - α<0.5 (Modelo de Weibull) 112 450 400 350 KR (daN.cm^-1,5) 300 CP_90-1 CP_90-2 CP_90-3 CP_180-1 CP_180-2 CP_180-3 CP_320-1 CP_320-2 CP_320-3 250 200 150 100 50 0 0.25 0.275 0.3 0.325 0.35 0.375 0.4 0.425 0.45 0.475 0.5 α Figura 4.1.2-12 - Curvas KR-α para o CRFA - α<0.5 450 400 KR (daN.cm^-1,5) 350 300 W= 90 250 W=180 W=320 Proj. W= 640 200 Proj. W=1280 150 100 50 0 0.25 0.275 0.3 0.325 0.35 0.375 0.4 0.425 0.45 0.475 α Figura 4.1.2-13 - Curvas KR-α para o CAR - α<0.5 (Polinômios do 5ograu) 0.5 113 O CRFA estudado nesta etapa do trabalho também foi analisado relativamente à Tenacidade Flexional, o que se fez com o auxílio do programa TENAC e a formulação da A.S.T.M apresentada no capítulo 2. Com vistas à comparação de resultados, esse parâmetros foram computados também nos níveis de deslocamentos referentes a valores de α iguais a 0,5. Os resultados determinados encontram-se reunidos na tabela 4.1.2-3 e podem ser melhor visualizados na Fig. 4.1.2-14. Observa-se, entretanto, que as recomendações da RILEM não foram aqui aplicadas em virtude dos pequenos valores de deslocamentos verificados em ensaios de corpos-de-prova com a relação S/W=2,5. Tabela 4.1.2-3 - Índices adimensionais computados para o CRFA CP I5 I10 I20 Iα MOR 90-1 90-2 90-3 4.21 4.68 4.26 4.38 4.88 8.63 8.45 7.96 8.35 3.41 18.73 15.96 15.87 16.85 7.86 1.93 3.05 2.16 2.38 20.22 0.38 0.30 0.36 0.35 9.23 4.45 4.76 4.90 4.70 4.00 8.67 10.03 9.81 9.50 6.28 18.00 21.73 20.61 20.11 7.77 2.73 2.63 2.94 2.77 4.63 0.32 0.33 0.29 0.31 6.20 4.79 4.91 5.33 5.01 4.62 9.51 10.21 11.67 10.46 8.58 19.51 21.18 25.95 22.21 12.28 3.60 3.79 4.48 3.95 9.55 0.26 0.24 0.23 0.25 5.14 Média: Desv.Pad.%: 180-1 180-2 180-3 Média: Desv.Pad.%: 320-1 320-2 320-3 Média: Desv.Pad.%: 114 I5; I10; I20; Iα; MOR x10 (daN/mm^2) 25 20 15 I5 I10 I20 I(alfa) MOR 10 5 0 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 Altura W (mm) Figura 4.1.2-14 – Índices Adimensionais da ASTM e valores de MOR para os CRFA estudados em escala. As variações dos Índices Adimensionais e do Módulo de Ruptura, quando da variação da escala do corpo-de-prova são apresentadas na tabela 4.1.2-4. Tabela 4.1.2-4 - Variações percentuais dos Índices adimensionais e do MOR, com a variação da escala do corpo-de-prova. CP I5 I10 I20 Iα MOR 90 para 180 180 para 320 7.32 6.48 13.83 10.12 19.34 10.44 16.32 42.84 -9.62 -21.20 90 para 320 14.28 25.35 31.80 66.15 -28.78 115 4.1.3 Resultados e análises preliminares Dos resultados obtidos nas análises procedidas, algumas considerações podem ser preliminarmente apresentadas, relativamente aos materiais investigados. Arenito Um dos aspectos considerados relevantes, observados durante a implementação da metodologia, foi a constatação da habilidade do modelo em capturar o regime de crescimento subcrítico da fissura. Esse fato ficou fortemente evidenciado nos resultados obtidos para os corpos-de-prova de arenito, material que apresenta grande regularidade ao longo do processo de fissuração, especialmente durante o regime de amolecimento. Para esse material observa-se também alguma constância no nível de resistência ao fraturamento, quando a curva de resistência é construída em função dos CMODs (Fig. 4.1.1-6), nível de resistência ao fraturamento superior àquele obtido com o auxílio de métodos como o do Modelo dos Dois Parâmetros. Concreto de alta resistência Assim como verificado para os outros materiais, as curvas de resistência ao fraturamento do concreto de alta resistência, também são capazes de explicitar o regime de crescimento da fissura no regime pré-crítico. Uma certa constância dos níveis de resistência ao fraturamento também foi observada nesse caso, entretanto para um intervalo relativamente curto de crescimento da fissura (α<0,5), característica que posteriormente se perde com o comportamento ascendente da 116 curva de resistência, fato especialmente verificado para valores elevados de α (Fig. 4.1.1-8). Igualmente relevante é a observação de que os patamares de aparente constância dos níveis de resistência ao fraturamento ocorrem, para esse material, após a carga máxima. A existência desse patamar é uma indicação clara da maior fragilidade do material (comparativamente aos concretos convencionais), característica bastante conhecida do material. Ainda, após as cargas máximas o material continua a apresentar ganhos de resistência ao fraturamento, fato evidenciado pelo comportamento ascendente da Curva-R nos estágios finais, eventualmente indicando o trabalho exercido pelas pressões de fechamento que se originam na interface coesiva, fato que promove a discussão quanto à legitimidade do CTODc, obtido na carga máxima, como parâmetro de tenacidade do material. Concretos reforçados com fibras de aço - CRFA As observações anteriores tecidas, relativas à rocha estudada e ao concreto de alta resistência analisado aplicam-se igualmente aos CRFAs investigados dentro desta pesquisa, no regime pré-crítico do ensaio. Do exame da Fig. 4.1.1-12, onde os trechos iniciais das curvas de resistência ao fraturamento dos diversos concretos são postos em comparação, observa-se que, mesmo para pequenos crescimentos da fissura (isto é, α<0,2), as resistências ao fraturamento, KR, dos CRFAs são superiores (de 15 a 30%, em função do teor de fibra incorporado), comparativamente àquela do concreto sem fibras de aço. Por outro lado, após a carga máxima de primeiro pico e dentro de uma escala substancialmente diferente, os CRFAs apresentam um ganho contínuo de resistência 117 ao fraturamento com o crescimento da fissura, atingindo valores dezenas de vezes maiores que o do concreto. Assim, quando comparadas às curvas de resistência dos CRFAs, a curva de resistência ao fraturamento do concreto sem fibras, apresenta uma certa característica de horizontalidade, constância aparente que se observa unicamente em virtude das magnitudes relativas das resistências ao fraturamento dos diferentes materiais envolvidos na comparação. Da mesma forma como ocorre com o concreto convencional (a ser abordado no último capítulo deste trabalho), com os concretos de alta resistência ou com a rocha estudada, os trechos finais (ascendentes) das Curvas-R computadas para os CRFA explicitam, em menor ou maior grau e de acordo com o volume de fibras incorporado a cada concreto, o ganho de resistência do material na fase pós-pico do carregamento. Nesse caso específico, o fato deve-se de forma muito limitada, à mecanismos como os de intertravamento e arrancamento dos agregados e, preponderantemente, à grande quantidade de dissipação de energia envolvida no processo de arrancamento das fibras de aço. Efeito de Escala do corpo-de-prova • Concreto de Alta Resistência Da observação das informações decorrentes dos ajustes procedidos, constatase que para esse material as curvas de resistência, em suas fases iniciais (Figuras 4.1.2-10 e 4.1.2-11) apresentam comportamentos assintóticos em diferentes patamares de valores de resistência. Observa-se ainda que, com o crescimento da 118 altura W do corpo-de-prova, as diferenças verificadas entre esses patamares diminui rapidamente, especialmente nos trechos finais do intervalo 0,275≤α≤0,5 analisado. Como informado na tabela 4.1.2-1, a cada uma das curvas corresponde um corpo-deprova cuja altura W é aproximadamente o dobro daquela referente ao corpo-de-prova da curva anterior. Utilizando as equações computadas, tornou-se possível a avaliação das diferenças existentes entre os valores de KR apurados com as vigas de diferentes alturas, ao longo da extensão normal analisada. Entre as curvas de resistência, relativas às vigas com altura de 90mm (W90) e aquelas com 180mm de altura (W180), constatou-se que a diferença média dos valores de KR é da ordem de 17,95%, com um desvio padrão de 3,04%. No trecho final do intervalo, ou seja, 0.4≤α≤0.5 esse valores são 15,14% e 0,71%, respectivamente. Para a segunda mudança da escala, a diferença média encontrada entre os valores computados para as vigas W180 e aquelas com 320mm de altura (W320), foi de 8,40% com um desvio padrão da ordem de 3,95% sendo que no trecho final esses valores caem, respectivamente, para 4,90% e 0,87%. Da manipulação das informações anteriores, depreende-se que para duas variações sucessivas da escala, a razão entre as variações de KR computadas (W90W180 e W180-W320) é de 2,14, isto quer dizer, aproximadamente a metade. Aqui cabe observar que infelizmente, a variação da escala entre W180-W320 adotada por Jamet não foi exatamente o dobro, como ocorreu com W90-W180. Com base nas variações dos valores de KR observadas entre as sucessivas curvas, tornou-se possível a determinação, por projeção, de uma terceira variação da escala do corpos-de-prova, representativa de vigas com alturas de 640mm (W640), infelizmente não contempladas nos ensaio de Jamet. O procedimento de projeção adotado teve por base as taxas de variação dos valores de KR sucessivamente verificadas entre as curvas, para os valores de α do 119 intervalo considerado, desprezando-se o fato de que vigas com altura de 360mm teriam sido mais convenientes que as W320 ao estudo do efeito de escala. Se assim o fosse, a projeção seria para W720 e não W640. Abstraindo-se a correção não procedida dos valores de KR (necessária a uma análise rigorosa, em virtude da questão da variação das alturas das vigas), a curva representativa da projeção para W640 levada a efeito é a que se apresenta, pontilhada, na figura 4.1.2-11. Agora, a diferença média encontrada entre os valores computados para as vigas W320 e aqueles verificados para a projeção W640 passa a ser de 4,03%, com um desvio padrão da ordem de 2,97% sendo que, no trecho final, esses valores caem respectivamente para 1,59% e 0,48%. Se computada para todo o intervalo, a razão entre as duas últimas variações de KR (W180-W320 e W320-W640) passa a ser de 2.09, isto quer dizer, um valor ainda mais próximo da metade. As análises anteriores permitem concluir que, de uma forma geral, com a variação da escala do corpo-de-prova a convergência das curvas de resistência a patamares constantes é muito rápida, para materiais como o concreto estudado. Ainda, que essa variação ocorre de forma consistente, uma vez que as variações da respostas de resistência ao fraturamento são progressivamente menores, com a variação da escala do corpo-de-prova. Essas análise permitem ainda, o entendimento de que vigas com alturas da ordem de 90mm são insuficientes ao estudo da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos, mesmo que para tanto sejam utilizados modelos efetivos como o implementado neste trabalho. Com efeito, Karihaloo e Nalathambi (1995) sugerem em seu modelo efetivo fundamentado nos deslocamentos verticais da linha de carga, a adoção da menor dimensão do corpo-de-prova com tamanho da ordem de 5 vezes a dimensão característica do agregado (graúdo). No caso de um concreto preparado com pedra 120 britada com ФMAX da ordem de 25mm, a altura do ligamento deveria ser, no mínimo, de 12,5 cm. Somando um entalhe com 0.3W, a altura W se aproximaria de 18 cm. Com efeito, observa-se que os valores de Resistência ao Fraturamento obtidos com as vigas W180 no trecho final do intervalo analisado (0.4≤α≤0.5), distanciam-se daqueles obtidos através da curva projetada para W640 (altura 3,55 vezes maior), algo em torno de 6,8%, o que de certa forma avaliza a opinião dos autores citados. • Concreto reforçado com fibras de aço As informações dos ensaios procedidos por Jamet com o CRFA foram consideradas de forma análoga ao tratamento dado ao CAR. Nesse caso, as diferenças encontradas quando da comparação dos níveis de KR computados para as curvas de resistência de cada tamanho de corpo-de-prova apresentaram comportamento bastante diferente. As diferenças médias calculadas no intervalo analisado entre as curvas W90W180, W180-W320 e W320-W640 (projetada) foram de 24,82%, 12,33% e 6,03% (desvios iguais a 2,39%, 3,58% e 3,60%), respectivamente. Para o trecho final do intervalo ( 0.4≤α≤0.5) esse valores foram 24.44%, 10,78% e 4,62% (desvios de 0,43%, 1,69% e 1,40%). Tendo em vista esses resultados, uma última curva relativa a vigas com alturas de 1280mm foi procedida. Essa altura corresponderia a um elemento com vão-livre de 3,20m. Para esse último caso a diferença média teórica, relativamente à projeção anterior, seria ainda da ordem de 2,97% com um desvio padrão de 2,86%. Comparativamente ao concreto sem fibras, conclui-se que a influência das fibras de aço sobre a resistência ao fraturamento do CRFA, em termos de variabilidade, só seria desprezível para vigas (ou estruturas) com alturas 121 extremamente elevadas, eventualmente superiores a 2m. Conclui-se igualmente, que a Resistência ao Fraturamento dos CRFAs, mesmo para pequenas fibras como as utilizadas no preparo do compósito analisado, é uma função da escala do corpo-deprova, o que impede, do ponto de vista das atividades cotidianas da engenharia estrutural, imaginá-la como uma propriedade mecânica do material, desvinculada das dimensões da estrutura. Da análise dos Índices Adimensionais computados para as vigas de diferentes alturas, observa-se que esses parâmetros são fortemente influenciados pela escala do corpo de prova. Uma leitura vertical dos índices apresentados na tabela 4.1.2-3 indica que esses indicadores crescem, com o crescimento da escala do corpo-de-prova. A forma como isso ocorre ao longo do processo de variação da escala não está muito clara para o autor, em virtude dos desvios estatisticamente apurados. Entretanto, as taxas de crescimento desses Índices parecem apontar para uma “dependência crônica” dos mesmos, relativamente à escala do corpo-de-prova (tabela 4.1.2-4). Na tabela referida, uma exceção é feita aos valores dos MORs. Tendo em vista que os mesmos são calculados na carga máxima do ensaio (isto que dizer, na carga de colapso estrutural para os concretos não reforçados) e considerando-se que as fibras exercem uma influência muito pequena sobre as propriedades mecânicas do CRFA nos níveis de carregamento que antecedem a carga máxima do ensaio, é de se esperar que com o aumento da altura da estrutura, os valores das tensões máximas (ou de colapso), decresçam gradualmente, como explicado por Bazant e colaboradores (Bazant e Pfeiffer, 1987; Bazant e Kazemi, 1990) na formulação da Lei do Efeito de Escala. 122 4.2 Programa experimental para o estudo do fraturamento do CRFA Como discutido anteriormente, a determinação da capacidade do material de absorver (e dissipar) energia, antes e durante o processo de fissuração e fraturamento, vem sendo procedida laboratorialmente através da adoção de conceitos fundamentais da mecânica, a exemplo do monitoramento e da quantificação do trabalho realizado pela carga aplicada, até determinados níveis de deslocamentos verticais apresentados pelo corpo-de-prova, observando-se dessa forma, o comportamento global do corpo. Por sua vez, a fixação desses patamares de deslocamentos ocorre de forma relativamente arbitrária, isto quer dizer, sem uma motivação suficientemente fundamentada, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista técnico. Um corpo de prova (suponha-se, por exemplo, uma viga não entalhada), será levado ao colapso; a energia necessária para tanto será computada, se desejado, ao longo de todo o processo, restando, entretanto, a discussão de até que ponto esse corpo de prova deve ser solicitado e, a partir de quando, qualquer análise torna-se, de fato, inútil. Como um avanço claro na direção de aperfeiçoar os procedimentos de quantificação da Tenacidade, diversos passos foram dados recentemente. Toma-se como exemplo, a análise minuciosa dos corpos-de-prova entalhados e de suas aplicações aos ensaios do CRFA, levadas a efeito por Saldívar (1999). De igual importância são as propostas desenvolvidas por Gettu, Gopalaratnam, Carmona e Jamet (em trabalhos já citados ao longo deste texto) de condução dos ensaios mediante o controle dos CMODs, não somente objetivando a realização dos ensaios de fraturamento de maneira estável, mas principalmente com vistas à avaliação da Tenacidade do material, a partir desse parâmetro de fraturamento. 123 Adequado do ponto de vista laboratorial e consistente do ponto de vista técnico, este procedimento, fisicamente amparado pela equação 3.2.2-1, é o que melhor encaminha a questão anteriormente discutida, no entendimento do autor, por aproximar a Tenacidade Flexional de parâmetros fundamentais de resistência e de segurança estruturais, que são os parâmetros de resistência ao fraturamento. A abertura de uma fissura liga-se à profundidade dessa descontinuidade, comprometendo níveis de recobrimento de armaduras, ocasionando a diminuição das seções resistentes ou aumentando a permeabilidade estrutural. Assim, um determinado nível de deslocamento estrutural e, por conseqüência, a Tenacidade Flexional do material, passam a ser vistos sob um outro enfoque, o da limitação da abertura das fissuras até níveis estruturais, funcionais ou esteticamente aceitáveis. Dessa maneira, o entrelaçamento entre os estudos da Tenacidade Flexional e da Tenacidade ao Fraturamento, parece inevitável (e desejável), e passa a ser preliminarmente abordada neste trabalho, mediante o uso das Curvas de Resistência, concatenando-se, desta maneira, os tópicos abordados nos capítulos anteriores. Com o objetivo de complementar os estudos anteriormente expostos, relativos à aplicação das Curvas de Resistência ao entendimento do processo de fissuração e fraturamento do CRFA, um segundo programa experimental de ensaios de fraturamento foi conduzido pelo autor. Esse programa incluiu a moldagem de corpos-de-prova prismáticos para ensaios de fraturamento à flexão em três pontos, bem como corpos-de-prova cilíndricos, destinados aos ensaios de determinação de outras propriedades mecânicas de interesse, como as resistências à compressão simples e à tração, além de ensaios de caracterização do material em estudo, conforme se passa a expor. 124 4.2.1 Material utilizado na pesquisa Concreto O material escolhido para o desenvolvimento do programa experimental da pesquisa foi um concreto de baixa granulometria. Como agregado graúdo, utilizou-se o granito britado com Dimensão Característica da ordem de 9,5 mm (porcentagem máxima retida na peneira com abertura de 9,5 mm igual a 1,33%). A areia utilizada foi a lavada, proveniente de rio. A composição unitária desse concreto, em massa, foi 1:1,75:2,75 (cimento, areia e pedra britada) com uma relação água/cimento igual a 0,55 e resistência à compressão, aos 63 dias, da ordem de 305 daN/cm2 (30,5MPa). A escolha dessa faixa granulométrica para o agregado graúdo deveu-se às dimensões características das fibras de aço utilizadas. Uma caracterização mais pormenorizada do material é apresentada no Apêndice C, deste trabalho. Fibras de aço incorporadas ao concreto As fibras de aço incorporadas ao concreto e disponibilizadas pela empresa Belgo-Mineira Bekaert Arames S.A., foram do tipo RC 65/35 BN. São fibras de aço de baixo teor de carbono, coladas umas às outras, com as seguintes características geométricas: • Comprimento (L): 35 mm • Diâmetro (d): 0.54 mm • Esbeltez ou razão de aspecto (L/d): 65 125 Quatro diferentes teores de fibra de aço foram incorporados ao concreto, em 3 etapas de concretagem, ocorridas em 03/04/2001. Os teores de fibras de aço utilizados, em massa, foram de 20, 40, 60, 80 e 100 kg de fibras de aço por m3 de concreto. O processo de adensamento adotado foi o manual, de forma a evitar-se a segregação e o alinhamento das fibras de aço no fundo das formas (Saldívar, 1999). 4.2.2 Programa de ensaios Para o estudo da tenacidade do material, submetido à ensaio de flexão em 3 pontos sob condições de controle do deslocamento de abertura da entrada do entalhe, CMOD, 24 vigas de seção quadrada (10cm de lado por 45 cm de comprimento) foram preparadas, sendo 4 para cada material (concreto simples e CRFAs). Os entalhes iniciais foram serrados utilizando-se um disco adiamantado, com profundidades nominais de 2,5 cm (profundidade normalizada relativamente à altura a0/W=0.25) e espessuras nominais de corte, da ordem de 0,3 cm. Para a determinação da resistência à compressão simples e da resistência à tração, 12 cilindros de 15 x 30 cm foram preparados, sendo 2 para cada material. Outros 12 cilindros de 10 x 20 cm foram moldados, objetivando a determinação das massas específicas (seca, submersa e saturada) dos 6 diferentes materiais testados. 126 4.2.3 Resultados dos ensaios Ensaios de fraturamento Os ensaios de fraturamento foram conduzidos no Laboratório de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas, aos 63 dias da data da moldagem dos corpos-de-prova. Para tanto, utilizou-se um equipamento servo-controlado MTS, modelo TESTSTAR II, empregando uma célula de carga com capacidade de 100KN. Os ensaios foram conduzidos sob condição de controle dos deslocamentos de abertura da entrada do entalhe (CMOD), utilizando-se um extensômetro eletrônico do tipo clip gauge com comprimento de alcance de 4 mm. As Fig. 4.2.3-1 e 4.2.3-2 ilustram os corpos-de-prova ensaiados e o andamento de um dos ensaios realizados. Figura 4.2.3-1 – Corpos-de-prova prismáticos ensaiados à flexão 127 Figura 4.2.3-2 – Ensaio de fraturamento à flexão em 3 pontos O conjunto global de curvas obtidas nos ensaios de flexão em 3 pontos, relativo aos corpos-de-prova com diferentes teores de fibras de aço encontram-se reunido no Apêndice D. A partir dos grupos de curvas obtidas nos ensaios de fraturamento, seis curvas “médias”, eventualmente representativas dos diversos materiais ensaiados (no que diz respeito ao teor de fibras de aço), foram selecionadas de forma a obter-se um conjunto final, “médio” (Fig.4.2.4-1). A escolha das diversas curvas deu-se a partir da média das forças médias de ensaio, de cada um dos grupos (0, 20, 40, 60, 80 e 100 kg/m3). A curva selecionada para cada um dos grupos foi aquela cuja força média menos se afastou da média geral do grupo. Posteriormente, a curva escolhida de conformidade com o critério apresentado e referente ao teor de fibras de 80 kg/m3 (desvio de 1.93% relativamente à média do grupo) foi substituída pela curva subseqüente, em virtude da melhor adaptação dessa última, ao aspecto geral do conjunto final. 128 O conjunto final com as curvas selecionadas para análises que se seguem, é o que se apresenta na Fig. 4.2.3-3. 850 800 750 700 650 600 550 P (daN) 500 20 kg/m3 40 kg/m3 450 60 kg/m3 400 80 kg/m3 350 0 kg/m3 100 kg/m3 300 250 200 150 100 50 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 CMOD (mm) Figura 4.2.3-3 Curvas Carga-CMOD “médias” – Teores de fibra entre 0 e 100 kg/m3 Os resultados dos ensaios dos corpos-de-prova selecionados de acordo com o critério apresentado, foram posteriormente analisados com o auxílio do programa TENAC, programa discutido no capítulo 2 deste trabalho. Os parâmetros relevantes de Tenacidade Flexional para os materiais ensaiados, preconizados pela ASTM considerando-se, entretanto, a adoção dos critérios de CMODs sugeridos por Saldívar (1999), encontram-se organizados no Apêndice D. 129 4.2.4 Implementação computacional Objetivando a análise simultânea dos parâmetros de Tenacidade Flexional e de Tenacidade ao Fraturamento dos materiais, partes das rotinas computacionais escritas para a construção da Curvas de Resistência, assim como daquelas integrantes do programa TENAC, foram aproveitadas e reunidas em um novo programa. O procedimento de análise é simples e levado a efeito em duas etapas. Na primeira delas, para cada ponto P – CMOD do ensaio considerado, determina-se os valores do CMOD convertido, CMODm, da extensão normalizada da fissura, relativamente à altura da seção, α, obtendo-se, em decorrência, a extensão da fissura, c, e a Resistência ao Fraturamento, KR, para o nível de carregamento considerado. Essas informações deram origem, anteriormente, à Curva de Resistência. Posteriormente, para cada nível de carregamento, P, obtêm-se, com o auxílio do programa referido, a Tenacidade Flexional, T, dada pela área sob a curva P – CMOD para a carga P considerada (se desejado, a equação 3.2.2-1 pode ser usada para a conversão do trabalho, em termos de deslocamentos verticais da linha de carga, δ). Assim, os parâmetros T e α podem ser relacionados, de forma a considerarse a Tenacidade Flexional em função do avanço c da fissura. Esse avanço, determinado a partir dos conceitos fundamentais da MFEL permite ter-se uma idéia da profundidade da fissura (uma vez que os mesmos são valores efetivos), assim como a associação dos níveis de Tenacidade Flexional à abertura da fissura, propriamente dita, através dos CMODs, para qualquer nível de carregamento (envolvendo-se, nesse caso, as questões pertinentes ao efeito de escala do corpo-de-prova). 130 4.2.5 Aplicações aos resultados de ensaio Os procedimentos anteriormente descritos foram aplicados ao conjunto de informações relativo aos corpos-de-prova com diferentes teores de fibras selecionados (Fig. 4.2.4-1). As Fig. 4.2.5-1 a 4.2.5-6 ilustram, para os corpos-de-prova com diferentes teores de fibras de aço, as variações da Resistência ao Fraturamento, determinadas ao longo do processo de fissuração, para os diferentes teores de fibras de aço consideradas. Nessa figura, os valores de α foram escalonados de forma a proporcionar a justaposição das curvas, relativamente ao valor inicial α=0,25. 1400 1200 KR (daN.cm^-1.5) 1000 100kg/m3 80 kg/m3 60 kg/m3 40 kg/m3 20 kg/m3 0 kg/m3 800 600 400 200 0 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 α Figura 4.2.5-1 – Curvas de KR-α para o CRFA com diferentes teores de fibras de aço. 131 A Fig. 4.2.5-2 ilustra o aspecto das “Curvas de Fraturamento”, baseadas na Tenacidade Flexional, obtidas para os diversos materiais ensaiados. A Fig. 4.2.5-3 e 4.2.5-4 ilustram os estágios iniciais dessas curvas. 450 400 350 T (daN.mm) 300 F-00 F-20 250 F-40 F-60 200 F-80 F-100 150 100 50 0 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 α Figura 4.2.5-2 – Curvas de T-α para o CRFA com diferentes teores de fibras de aço 60 50 T (daN.mm) 40 F-00 F-20 F-40 30 F-60 F-80 F-100 20 10 0 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 α Figura 4.2.5-3 – Curvas de T-α para o CRFA - Estágios iniciais 0.5 132 Figura 4.2.5-4 – Curvas de KR-α para o CRFA - Estágios iniciais Com o objetivo de avaliar simultaneamente o comportamento da Resistência ao Fraturamento e da Tenacidade Flexional ao longo do processo de fissuração, essa duas grandezas foram plotadas, uma versus a outra, para idênticos valores de α . Isso foi feito a partir do ajuste de uma família de funções racionais aos dados obtidos computacionalmente. A Fig. 4.2.5-5 ilustra a relação existente entre a Resistência ao Fraturamento e a Tenacidade Flexional para a geometria utilizada e os diversos teores de fibras de aço adicionados ao concreto. A Fig. 4.2.5-6 traz os estágios iniciais das curvas que resultam da relação KRT, para uma melhor elucidação da questão. 133 800 700 KR (daN.cm^-1,5) 600 500 F-00 F-20 F-40 400 F-60 F-80 F-100 300 200 100 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 T (daN.mm) Figura 4.2.5-5 – Relação KR - T para o CRFA com diversos teores de fibras de aço 500 450 400 KR (daN.cm^-1,5) 350 F-00 F-20 F-40 F-60 F-80 F-100 300 250 200 150 100 50 0 0 50 100 T (daN.mm) Figura 4.2.5-6 – Relação KR - T para o CRFA - Estágios iniciais 150 134 4.2.6 Discussão A construção das curvas de resistência a partir das informações decorrentes dos ensaios procedidos nesta fase das pesquisas permitiu a avaliação da evolução da Resistência ao Fraturamento do CRFA, quando do aumento do teor de fibras de aço incorporados à matriz. Da análise das Fig. 4.2.5-1 e 4.2.5-4 observa-se que o aumento progressivo do teor de fibras de aço conduz a aumentos significativos dessa resistência, comparativamente à da matriz utilizada, mesmo para valores intermediários de α (como 0,5, por exemplo, para o material investigado). Observa-se que a partir dessa posição, o crescimento da Resistência ao Fraturamento assume proporções quase exponenciais. Analisando-se, por exemplo, a ponta da fissura efetiva situada a 80% da altura, depreende-se que a Resistência ao Fraturamento alcança valores aproximadamente 5 vezes superiores àqueles verificados à meia-altura da seção, se considerado o maior dos teores de fibras investigado. Para teores intermediários esse ganho chega a 3 vezes, aproximadamente. Em que pese o extraordinário aumento da resistência ao fraturamento verificado em termos globais nos estágios finais dos ensaios, observa-se que a evolução desse ganho ocorre, no estágio inicial da fissuração que se segue à carga de pico (0,27<α< 0,35 ou 0,42, dependendo do teor de fibras), de forma bem mais lenta e aproximadamente linear (fase 1). Como nesse intervalo a resposta da matriz é aproximadamente linear, contudo em níveis inferiores de resistência, tudo leva a crer que nessa fase ocorra o tensionamento das fibras e o início de transmissão de tensões entre as faces da fissura promovida pelas fibras de aço. Ainda, após a região onde α situa-se entre 0,4 e 0,5 (fase 2) nota-se que tem início o processo de crescimento rápido da resistência ao fraturamento, o qual certamente associa-se ao processo de arrancamento das fibras de aço e que reflete a efetividade das fibras em termos de acréscimo de resistência ao fraturamento. Esse 135 processo, sabidamente não linear, é responsável pela maior parte da dissipação de energia envolvida no fraturamento. Observa-se que o crescimento de resistência ao fraturamento, além de não linear, é um processo regular, isto é, com características claramente definidas pelo teor de fibras incorporado ao concreto, fato que se constata através da conformação das curvas de resistência. Para uma melhor elucidação dessa questão, dois outros casos estudados e relativos aos ensaios procedidos por Saldívar, são apresentados no Apêndice E. As observações anteriores conduzem à constatação de outro aspecto relevante, associado à metodologia aqui desenvolvida de construção das Curvas-R, que é a habilidade do modelo em capturar o regime inicial de transferência de tensões entre as faces da fissura (e do conseqüente tensionamento das fibras de aço), assim como aquele relativo ao processo de arrancamento das fibras de aço, nos estágios finais do processo de fraturamento. Por outro lado, o gráfico da Tenacidade Flexional (Fig. 4.2.5-2 e 4.2.5-3) construído em função de um parâmetro da Mecânica da Fratura (α, no caso) permite a visualização, ao longo do processo de fissuração, do comportamento do trabalho realizado pela carga externa, em termos acumulados. Além de não linear, o trabalho acumulado aumenta vertiginosamente e com regularidade também definida pelo teor de fibras de aço incorporado à matriz, oferecendo assim, a comprovação ao que se afirmou anteriormente com relação ao crescimento da Resistência ao Fraturamento, no que diz respeito ao suprimento da energia dissipada no processo de arrancamento das fibras de aço (em termos de G e R). Se essas grandezas, KR e T se associam, delas naturalmente devem emanar uma relação. Com o intuito de esboçar essa relação, construiu-se um gráfico onde KR é plotado em função de T (Fig. 4.2.5-4 e 4.2.5-5). Como essas grandezas foram determinadas para idênticos valores de α, teoricamente as curvas computadas têm a mesma extensão normal (o número de pontos em cada uma delas é exatamente o mesmo e referem-se ao mesmo semi-intervalo normal 0,3≤ α ≤0,80). 136 Em virtude do pequeno número de curvas P-CMOD utilizado neste estudo (apenas a curva “média” de cada um dos grupos representativos dos teores de fibras de aço), o comportamento dessas curvas KR-T dentro do intervalo delimitado pelas curvas mais externas (superior e inferior) não ficou suficientemente claro. Entretanto, tudo indica que a relação KR-T aqui estabelecida seria um importante subsídio às atividades de projeto. 4.3 Sumário do capítulo Neste capítulo, a formulação desenvolvida para a construção da Curvas de Resistência fundamentadas na relação P-CMOD foi aplicada à análise do processo de fraturamento de materiais cimentícios de interesse. Inicialmente, o comportamento de uma rocha sedimentar foi monitorado ao longo do processo de fissuração, ocasião em que se constatou a habilidade do modelo em capturar o regime de crescimento subcrítico da fissura, conhecido entre os pesquisadores da área como Comportamento-R. Ainda, os valores de Resistência ao Fraturamento, KR, determinados de conformidade com o modelo implementado mostraram-se comparáveis, até certos limites, àqueles determinados de conformidade com o Modelo dos Dois Parâmetros, revisto no princípio deste trabalho. Posteriormente, procedeu-se a retro-análise de informações decorrentes de ensaios de concretos de alta resistência, material que apresenta regime de ruptura relativamente frágil. Nesse caso, os valores de KR computados após a carga máxima deram origem à formação de patamares de relativa constância da Resistência ao Fraturamento ao longo do processo de fissuração, demonstrando a consistência do modelo relativamente à aproximação de situações de fragilidade. Constatou-se ainda que, mesmo nos casos onde um comportamento de relativa fragilidade do material é esperado, em seus estágios finais a Curva de Resistência apresenta comportamento ascendente, refletido o “ganho” de resistência do material que eventualmente decorre 137 da manifestação de mecanismos como os de engrenamento e arrancamento dos agregados. Nos casos anteriormente referidos constatou-se também que os maiores níveis de Resistência ao Fraturamento ocorrem bem após a carga máxima, fato suficientemente comprovado por outros pesquisadores (p. ex. Banthia e Sheng, 1996), através do uso de diferentes técnicas de determinação da Resistência ao Fraturamento. Em etapa posterior, o modelo desenvolvido foi preliminarmente aplicado à descrição do processo de fraturamento do CRFA com teores diversos de fibras de aço, a partir de informações de ensaio realizados por Saldívar (1999). Nessa ocasião verificou-se o acréscimo de resistência ao fraturamento promovido pelas fibras de aço nas fases anterior e posterior à carga máxima de primeiro pico, assim como a variabilidade dessa resistência em função do teor de fibras de aço incorporadas ao concreto. A essa etapa sucedeu-se uma detalhada análise do efeito de escala do corpode-prova sobre as respostas de Resistência ao Fraturamento, levada a efeito através da aplicação das Curvas-R para a descrição dos processos de fissuração dos concretos de alta resistência e do CRFA, ensaiados por Jamet et al.(1995) utilizando vigas com similaridades bidimensionais. Para a viabilização desses estudos foram determinadas as equações da MFEL para as “vigas curtas”. Essas análises permitiram concluir que para materiais como o CAR, com a variação da escala do corpo-de-prova a convergência das curvas de resistência a patamares constantes é muito rápida. Ainda, que essa variação ocorra de forma consistente, uma vez que as variações das respostas de resistência ao fraturamento são progressivamente menores, com a variação da escala do corpo-de-prova. Por outro lado, esses estudos conduziram ao entendimento de que vigas com alturas da ordem de 90mm são eventualmente insuficientes ao estudo da Tenacidade ao 138 Fraturamento dos concretos, mesmo que para tanto sejam utilizados modelos efetivos como o implementado neste trabalho. Relativamente ao CRFA concluiu-se que a influência das fibras de aço sobre a resistência ao fraturamento, em termos de variabilidade, só seria desprezível para vigas (ou estruturas) com alturas extremamente elevadas, eventualmente superiores a 2m, mesmo que em termos efetivos, o que eventualmente a tornaria dificilmente desvinculável, em termos práticos, da escala da estrutural. Da análise dos Índices Adimensionais computados para as vigas de diferentes alturas, observa-se que esses parâmetros são fortemente influenciados pela escala estrutural, crescendo, com o crescimento da escala estrutural. Posteriormente, um programa experimental para o estudo do CRFA foi levado a efeito. Como principal variável, a influência da variação do teor de fibras incorporado à matriz sobre as respostas de Resistência ao Fraturamento e de Tenacidade Flexional, foi estuda. Nesta etapa das investigações identificou-se a habilidade do modelo de capturar o regime inicial de transferência de tensões entre as faces da fissura (e do conseqüente tensionamento das fibras de aço), assim como aquele relativo ao processo de arrancamento das fibras de aço nos estágios finais do processo de fraturamento, tendo ficado o comportamento do material, relativamente às solicitações de fraturamento, convenientemente demonstrado através do modelo. Finalmente, a relação existente entre a Tenacidade Flexional e a Tenacidade ao fraturamento foi preliminarmente exposta. Entretanto, o primeiro desses parâmetros, além de altamente suscetível às questões de escala, não apresenta a consistência da Resistência ao Fraturamento como a verificada na avaliação de detalhes do processo de fraturamento, evidenciando o fato de que a Resistência ao Fraturamento, KR, parece tratar-se de um parâmetro, além de mais fundamental, também mais consistente. 139 5. ADAPTAÇÃO DO CORPO-DE-PROVA CILÍNDRICO PARA ENSAIOS DE DETERMINAÇÃO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO DO CONCRETO A consolidação da aplicação dos corpos-de-prova cilíndricos aos ensaios de determinação de parâmetros de resistência mecânica dos materiais de construção civil parece um fato irreversível. A idéia de estender-se a utilização dos corpos-de-prova do tipo CEV às atividades diretamente relacionadas à determinação da Tenacidade ao Fraturamento dos concretos (com vistas ao controle de qualidade do material), vem ganhando força nos últimos anos, em função das vantagens verificadas quando da comparação desses corpos-de-prova com aqueles convencionais (vigas) propostos, dentre outros, pela ASTM e pela RILEM. Destacam-se, dentre as vantagens referidas, as que se seguem: • Baixo consumo de material utilizado na moldagem dos corpos-de-prova; • Facilidade de estocagem dos corpos-de-prova em atividades laboratoriais; • Certeza da trajetória de crescimento da fissura, uma vez que, a mesma tem início, via de regra, no ápice do entalhe; • Possibilidade de adaptação do cilíndrico de 15cm x 30 cm, amplamente difundido entre os engenheiros civis para a determinação das resistências à compressão e tração (indireta) do concreto; • Utilização de corpos-de-prova convencionalmente produzidos, se os entalhes puderem ser produzidos a posteriori; • Geometria básica coincidente com a dos testemunhos extraídos de estruturas existentes. Entretanto, do ponto de vista laboratorial esses corpos-de-prova também reúnem desvantagens, tais como: 140 Maior fragilidade do corpo-de-prova (do ponto de vista geométrico), no que diz respeito ao manuseio inevitável do mesmo, ao longo da sua vida útil (produção, transporte e procedimentos de ensaio). Produção do entalhe em “V”: o Quando serrados, esses entalhes significam um maior dispêndio de trabalho técnico especializado e incertezas relativas à qualidade geométrica final do corpo-de-prova. o Quando moldados, via de regra requererem formas e outros dispositivos especiais, como placas de inserção e aparatos de fixação (se alguma precisão geométrica for desejada). Nesse caso específico, reúnem ainda outros inconvenientes, tais como: Risco de segregação do material junto às placas de inserção; Fechamento do entalhe, por aproximação dos braços, se as placas forem removidas prematuramente; Aprisionamento das placas de inserção, se a tentativa de remoção for tardia (após o endurecimento do concreto). Tecnicamente, os corpos-de-prova com entalhe em “V” parecem preferíveis às vigas convencionais. De uma forma geral, para corpos-de-prova com entalhes em “V” de diferentes tamanhos, mas geometricamente similares (com mesmas proporções geométricas), os Fatores de Intensidade de Tensões durante o processo de fraturamento podem ser escritos da forma que se segue (Barker, 1979, Munz et al., 1980): KI = P .Y * B. W (5-1) onde P é carga vertical aplicada, B é o diâmetro do corpo-de-prova cilíndrico ou a base da viga de seção retangular e W o comprimento do cilindro ou a altura da seção transversal, no caso das vigas. Y* é o Fator de Intensidade de Tensão Adimensional de dependência geométrica e da forma de carregamento do corpo-de-prova, 141 usualmente escrito em função da extensão a da fissura e da profundidade inicial do entalhe, ao (normalizadas relativamente à altura do corpo-de-prova, ou seja, α=a/W e αo= ao/W). Ainda, durante um ensaio de fraturamento e mesmo sob condições de controle da carga, o entalhe em forma de “V” produz a sua própria pré-fissuração de forma estável, uma vez que a geometria do entalhe proporciona frontes crescentes para a fissura. Nesse caso, durante os primeiros estágios de propagação da fissura, a função dos Fatores de Intensidade de Tensão, Y*, decresce, conforme ilustrado na Fig. 5-1. Figura 5-1 – Função dos Fatores de Intensidade de Tensão para uma viga com entalhe em “V”. Ao se assumir que a Curva de Resistência do material seja ascendente até a carga máxima do ensaio e que posteriormente mantenha-se horizontal (constante), decorrerá que em estágios de solicitação inferiores ao da carga de pico, via de regra haverá a necessidade de aumentar a carga externa para que a fissura apresente algum crescimento. Abstrai-se desse raciocínio outros fenômenos de crescimento da fissura, como o subcrítico (em materiais de comportamento inelástico) e o crescimento metaestável. 142 A calibragem da geometria e das condições de carregamento a que está submetido o corpo-de-prova é usualmente feita utilizando-se métodos numéricos, (como o dos elementos finitos e dos elementos de contorno, dentro de análises elásticas tridimensionais do corpo-de-prova), analiticamente, assumindo-se hipóteses simplificadoras ou ainda, com menor precisão, através da calibragem experimental que faz uso de técnicas de análise da variação de flexibilidade. Durante o processo de fissuração e fraturamento desse tipo de corpo-deprova, observa-se que, por ocasião da carga de pico a função dos Fatores de Intensidade de Tensão passa por um valor mínimo e a extensão da fissura nesse estágio atinge um valor crítico aC, onde α= αcrítico. Após a carga máxima, a referida função volta a crescer (isto é, ∂KI/∂α > 0) e o regime de propagação da fissura passa a ser instável, isto é, o crescimento da fissura ocorre sem que haja aumento do carregamento externo. Dessa maneira, o cálculo da Tenacidade ao Fraturamento para materiais de comportamento elástico linear, no Modo I (abertura), pode ser procedido a partir da carga máxima do ensaio, e é representada pelo valor do Fator de Intensidade de Tensão Crítico, KIC, verificado na extensão crítica da fissura, aC. Assim, a equação 5-1 pode ser reescrita em função dos parâmetros críticos referidos, da forma que se segue: K IC = Pmax .Y *min B. W (5-2) Para materiais de resposta elástica linear, em que a extensão da zona de processos inelásticos pode ser considerada desprezível relativamente a outras dimensões significativas do corpo-de-prova fissurado ou da própria fissura, os valores de Tenacidade ao Fraturamento, KIC, assim obtidos, aparentemente não são afetados pelo efeito de escala (no sentido estrito dado ao termo, embora persistam as limitações relativas às dimensões mínimas do corpo-de-prova), sendo função exclusiva da carga máxima obtida no ensaio, Pmax, e do Fator de Intensidade de 143 Tensões Adimensional Mínimo, Y*min, cuja solução decorre da calibragem do corpode-prova. Observa-se finalmente que, tanto Y*min quanto a extensão crítica da fissura, aC, “praticamente” independem das propriedades do material (elástico linear), relacionando-se exclusivamente com a geometria e com a forma de carregamento do corpo-de-prova. A calibragem da geometria (e das condições de carregamento a que está submetido o corpo-de-prova) é usualmente feita utilizando-se métodos numéricos, como o dos elementos finitos e dos elementos de contorno, dentro de análises elásticas tridimensionais do corpo-de-prova ou analiticamente, assumindo-se hipóteses simplificadoras. Com menor precisão, também pode ser procedida experimentalmente, através da utilização de técnicas de análise da variação de flexibilidade, para sucessivos avanços da fissura. A utilização de entalhes em “V” vem sendo praticada já há algum tempo pela International Society for Rock Mechanics (ISRM, 1988), para a determinação da tenacidade ao fraturamento de rochas, em corpos-de-prova cilíndricos construídos de testemunhos de sondagens, quer em ensaios de abertura diametral, utilizando-se o CEV (short rod), quer em ensaios de flexão de vigas aqui denominadas V-CEV (Viga Cilíndrica com entalhe em “V”), internacionalmente conhecidas como chevron-bending (Ouchterlony, 1980, 1987, 1990). Esse corpo-de-prova é ilustrado na Fig. 5-2. Figura 5-2 – Corpo-de-prova V-CEV (Viga Cilíndrica com entalhe em “V”) 144 Esse corpo-de-prova, originário do SECRBB (single edge crack round bar in bending) introduzido por Bush (1976), apud Ouchterlony (1980) parece o mais adequado para ensaios de rochas, uma vez que as amostras desse tipo de material, usualmente estão disponíveis sob a forma de testemunhos cilíndricos. Uma ilustração do SECRBB é feita na Fig. 5-3. Figura 5-3 – Corpo-de-prova SECRBB Dentre as vantagens apresentadas pelo V-CEV, cita-se a simplicidade como são conduzidos os ensaios, isto é, à flexão em 3 pontos, comparativamente aos procedimentos de ensaio do CEV (short rod), preconizados pela ISRM (abertura diametral por tração direta). Cita-se ainda, a possibilidade de construção desses últimos, utilizando o mesmo material, a partir das partes remanescentes do ensaio da V-CEV. Esse fato parece bastante significativo no caso de ensaios de determinação da resistência ao fraturamento, em direções ortogonais. Assim, pode-se afirmar que os corpos-de-prova anteriormente mencionados se complementam. A equação 5-1 pode ser particularizada para os corpos-de-prova cilíndricos, que apresentam o diâmetro como principal dimensão característica, da forma que se segue: 145 KI = P .A D1.5 (5-3) Na expressão anterior, KI é o Fator de Intensidade de Tensão verificado no nível P de carregamento e A, o fator de dependência geométrica e de carregamento do estágio considerado, análogo à Y. De acordo com Ouchterlony (1990), a Tenacidade ao Fraturamento determinada com a V-CEV para um material de resposta elástica linear, obtida em condições críticas, é dada por: K CB = Pmax .Amin D1.5 (5-4) onde: KCB= Tenacidade ao Fraturamento, obtida com o corpo-de-prova V-CEV; PMAX= Carga máxima do ensaio; AMIN= Constante geométrica do corpo-de-prova. e: a a S AMIN = 1.835 + 7.15. o + 9.85.( o ) 2 . D D D (5-5) com: S=3.33D ± 0.02D; a0=0.15D ± 0.10D; 2θ=900 ± 10 (ângulo da ponta do chevron); t ≤ 0.03D ou 1mm (maior valor, para a abertura do entalhe). A determinação da Constante de Dependência Geométrica ou Fator de Intensidade de Tensão Adimensional, AMIN, para a geometria da V-CEV adotada pela ISRM, foi procedida inicialmente por Ouchterlony (1980), ocasião em que diversas relações a0 / D para o corpo-de-prova foram estudadas. Posteriormente, Gerstle (1985) apud Ouchterlony (1987) levou a efeito a primeira análise numérica tridimensional da geometria do espécime usando o método 146 dos elementos de contorno. Em 1987, Takahashi et. al. desenvolveram a calibragem experimental do corpo-de-prova usando técnicas de análise de variação de flexibilidade. Aparentemente, a última verificação dessa constante foi procedida computacionalmente, em 3 dimensões e através do método dos elementos finitos, por Ouchterlony (1987). Como exposto anteriormente, para o concreto, algumas rochas e materiais cimentícios de ruptura quase-frágil, a Tenacidade ao Fraturamento deve ainda ser corrigida relativamente ao comportamento inelástico do material, o que é feito através da utilização de um Fator de Correção da Não-Linearidade, p, cujo embasamento teórico se apresenta no Apêndice F. Esse fator de correção é obtido de diversos ciclos de carregamento e descarregamento do corpo-de-prova conforme ilustra a Fig. 5-4. Assim, a Tenacidade ao Fraturamento passa a ser obtida da forma que se segue: K C CB 1+ p = 1− p 0.5 Pmax . Amin D1.5 (5-6) Figura 5-4 – Ciclos sucessivos de carregamento e descarregamento do corpo-de-prova. 147 A respeito dos corpos-de-prova dessa natureza, considerações complementares devem ser feitas. Dos conceitos fundamentais da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear sabe-se que a Taxa de Dissipação de Energia relacionase com o Fator de Intensidade de Tensão, para o Modo I de fraturamento em estado plano de deformação, através da equação: K I2 G I = (1 − ν ). E 2 (5-7) Por sua vez, o cálculo de KI pode ser procedido através da análise da variação de flexibilidade do corpo-de-prova, através do cálculo da Taxa de Dissipação de Energia Potencial Elástica para a extensão elementar ∂a de uma fissura reta passante, utilizando-se a equação: GI = P 2 ∂C . 2 B ∂a (5-8) onde: P= Carregamento externo; B= Base ou espessura do corpo-de-prova; C= δ / P = Flexibilidade do corpo de prova; δ= Deslocamento vertical da linha de carga; E= Módulo de Elasticidade do Material; ν= Coeficiente de Poisson do material. Sabe-se já há algum tempo que a magnitude dos Fatores de Intensidade de Tensão, KI, não é constante ao longo da linha de frente da fissura. Por exemplo, em corpos-de-prova de materiais metálicos com entalhes retos passantes e submetidos à flexão em três pontos, verifica-se que durante o processo de fraturamento a fissura progride mais rapidamente na região central da linha de frente, eventualmente em 148 função do estado de confinamento de tensões que se verifica nessa região, comparativamente às regiões próximas às faces laterais da viga. Curiosamente, para materiais cimentícios constata-se que o crescimento ocorre mais rapidamente nos flancos da fissura, fato suficientemente comprovado experimentalmente através da utilização de diferentes técnicas, como as de penetração de fluidos de baixa viscosidade e de emissão acústica (Swartz e Go, 1984; Bascoul et al., 1985 apud Shah et al., 1995). Para corpos-de-prova com entalhe em “V” (chevron notch) carregados da forma usual (Modo I, de abertura), os valores de KI são mais elevados nas extremidades da linha de frente da fissura, se comparados àqueles computados em outras posições. Esse fato, naturalmente, ocasiona a antecipação do avanço da fissura nos flancos da fissura e que confere à linha de frente da fissura uma curvatura acentuada (Ingraffea et al., 1984; Gerstle, 1985; Ouchterlony, 1987; Bittencourt, 1990), conforme ilustrado na Fig. 5-5. Figura 5.-5 – Seção transversal central do corpo-de-prova chevron-bending na carga máxima. Observe-se o fronte curvo da fissura (Ouchterlony, 1987). 149 O raio de curvatura da linha de frente da fissura, por sua vez, é uma variável que depende não só da Tenacidade ao Fraturamento do material (pelas razões anteriormente expostas), mas também da geometria do entalhe, a ser abordado no próximo capítulo desta tese. Com efeito, a distribuição de tensões na região da ponta do entalhe em “V”, numericamente obtida com o auxílio do Método dos Elementos Finitos, sugere a natureza naturalmente curva da linha de frente da fissura, conforme se visualiza na Fig. 5-6. Figura 5-6 – Distribuição das tensões principais σ1 na seção média do corpo-de-prova (seção que contém o entalhe em “V”) Dessa forma, a análise do processo de fissuração e fraturamento a partir da conjugação das equações 5-7 e 5-8, deve ser realizada mediante o entendimento prévio de que as Taxas de Liberação de Energia Potencial Elástica, envolvidas nos sucessivos avanços elementares da fissura e calculadas através das conseqüentes variações de flexibilidade do corpo-de-prova quando desses avanços, retratam respostas globais (médias, por assim dizer) do corpo-de-prova, implicando (implícita ou explicitamente) a consideração de uma linha de frente reta, média, para a fissura em questão, configuração fictícia que raramente se verificaria em situações reais. Conseqüentemente, valores de KI obtidos através de técnicas de análise de variação da flexibilidade, usualmente utilizados para a calibragem experimental dos corpos-de-prova destinados a ensaios de fraturamento, podem ser comparados com 150 aqueles decorrentes de análises do campo local de tensões no fronte da fissura (por exemplo, os numericamente computados utilizando-se o Método dos Elementos Finitos ou o Método dos Elementos de Contorno), apenas de forma aproximada. A adoção de valores médios para os Fatores de Intensidade de Tensão, isto quer dizer, a desconsideração dos Fatores de Intensidade de Tensões computados nas regiões próximas às extremidades da linha de frente da fissura, onde valores de KI são mais elevados, vem sendo procedida pela maioria dos pesquisadores, conduta que também se adota ao longo deste trabalho. 5.1 – Geometria do corpo-de-prova Como explicado, um dos objetivos deste trabalho é a adaptação do cilindro de 150mm x 300mm ao corpo-de-prova V-CEV (chevron-bending) para a realização de ensaios de fraturamento dos concretos. As razões para a utilização desse cilindro também já foram apontadas e pormenorizadas. A geometria adotada neste trabalho faz uso de um entalhe central em “V”, serrado, com largura de 3mm. A largura desse corte decorre da espessura das fitas de aço, adiamantadas, usualmente encontradas nos equipamentos (serras) refrigerados à água existentes no mercado, bem como dos discos rotativos usados para a confecção de corpos-de-prova de concreto e rocha (abertura de entalhes ou desdobramento de testemunhos). Observa-se que a largura t adotada para o entalhe atende às recomendações da ISRM (1988), isto é, t ≤ 0.03D, no caso 4,5 mm. Outras razões justificam o entalhe serrado em detrimento ao entalhe moldado, a exemplo da fragilização do corpo-de-prova em idades recentes do concreto e da necessidade de formas e aparatos especiais para a moldagem do corpode-prova. 151 A entrada do entalhe foi posicionada a uma distância de 25mm da extremidade do ligamento (dimensão característica usual do agregado graúdo). O ângulo do ápice do entalhe em “V” foi fixado, por razões de ordem prática, em 900. A adoção do ângulo reto viabiliza a execução de cortes mutuamente perpendiculares, o que implica na simplificação dos procedimentos com conseqüente redução do tempo gasto com o preparo do corpo-de-prova e diminuição das imprecisões naturalmente existentes no processo. A Fig. 5.1-2 ilustra a geometria adotada para a V-CEV, para ensaios à flexão em 3 pontos, com um vão livre de 260mm. Figura 5.1-2 – Dimensões relevantes da V-CEV – Dimensões em milímetros. 152 5.1.1 Equações relativas à geometria e determinação das dimensões relevantes do corpo-de-prova V-CEV A seção transversal do corpo-de-prova que contém o entalhe em “V” com ângulo central 2θ=90o, ilustrada na Fig. 5.1-2, apresenta parâmetros geométricos relevantes que podem ser avaliados através das equações que se seguem. Figura 5.1-2 - Seção Transversal da região entalhada • Profundidade relativa do entalhe inicial ou profundidade normalizada do entalhe inicial, relativamente ao diâmetro do corpo-de-prova: αo = • ao D (5.1.1-1) Profundidade relativa da base do entalhe em “V” ou profundidade normalizada da base do entalhe em “V”, relativamente ao diâmetro do corpo-de-prova: 153 α1 = a1 D α1 = 1 1 + 2α o + 1 + 4α o − 4α o2 4 (5.1.1-2) onde: • [ ( 0.5 ] (5.1.1-3) Extensão B1 da base do entalhe, dada por: ( B1 = 2 D α1 − α 12 • ) ) 0.5 (5.1.1-4) Área total do ligamento, ALIG de acordo com a equação: ALIG = [ ] 1 2 D .(π − 2.β ) + 2.B1.D.(1 − 2.α o ) 8 (5.1.1-5) com: β= π 180 . arcsen(2α1 − 1) (5.1.1-6) Se desmembrada em duas parcelas, representativas respectivamente das áreas superior e inferior do ligamento, ALIG pode ser escrita da forma que se segue: D2 π β D B ALIG = ASUP + AINF = . − − B1 a1 − + 1 .(a1 − ao ) 2 2 2 4 2 (5.1.1-7) 154 Para o corpo-de-prova cilíndrico em estudo (15cmx30cm) obtem-se, com o auxílio das equações 5.1.1-1 até 5.1.1-7, as dimensões relevantes da seção transversal a seguir apresentadas na tabela. 5.1.1-1: Tabela 5.1.1-1 - Informações geométricas de interesse, relativas à seção transversal entalhada. ao d (cm) (cm) 2.5 15 αo 0.1667 α1 0.6451 a1 b1 ASUP AINF 2 2 ALIG (cm) (cm) (cm ) (cm ) (cm2) 9.6771 14.3541 56.1658 51.5104 107.6762 Nesse caso, a proporção entre as áreas da seção transversal plena, ATOT, e a área do ligamento, ALIG, é da ordem de 0,6093, ou seja, aproximadamente 61%. 5.2 – Dispositivos de apoio e transmissão de carga Aparentemente, um dos problemas apresentados pela metodologia da ISRM (1988) reside na maneira como o corpo-de-prova é apoiado e solicitado. Por simplicidade, cilindros metálicos são utilizados pra esse fim. Em ensaios de mecânica da fratura, a energia, o tanto quanto possível, deve ser dissipada com o crescimento da fissura, ou seja, a dissipação energética nos pontos de contato do corpo-de-prova deve ser minimizada para que a Tenacidade ao Fraturamento possa ser avaliada corretamente (Karihaloo e Nalathambi, 1991; Guinea et al., 1992; Shah et al., 1995). No caso de corpos-de-prova cilíndricos submetidos à flexão, a questão ganha maior importância, em virtude da forma geométrica apresentada pelas partes em contato. A concentração de tensões nessas regiões conduz a uma dissipação de energia acentuada, usualmente envolvida com o esmagamento do material. 155 Nota-se, entretanto, que essa questão central não foi suficientemente tratada até a presente data, em função, não só das naturais dificuldades inerentes ao desenvolvimento e construção de aparatos especiais de apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova, bem como em função do nível de dificuldades associadas à modelagem numérica do corpo-de-prova, no que diz respeito à indisponibilidade de ferramentas computacionais eficientes (software e hardware) à ocasião em que pesquisas relevantes sobre o assunto foram levadas a efeito. Com o objetivo de minorar o problema da dissipação energética nos pontos de contato, novos aparatos foram investigados neste trabalho. Dentre as diversas possibilidades estudadas pelo autor, optou-se por aquela que faz uso de cilindros torneados (ou parte deles), de forma a acomodar geometricamente o corpo-de-prova nas regiões de apoio e aplicação da carga, substituindo os pontos de contato por linhas e superfícies. Algumas combinações de diferentes dispositivos de apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova, incluindo o uso de cilindros convencionais são abordadas nas fases experimentais e de simulações numéricas deste trabalho. 5.2.1 - Dispositivos de apoio Para a confecção dos dispositivos alternativos de apoio dos corpos-de-prova, foram utilizados cilindros maciços de aço com 50mm de diâmetro e 125mm de comprimento, torneados na região central de forma a poderem acomodar cada extremidade do CP, sobre extensões, em projeção horizontal, da ordem de 60 mm. A profundidade máxima de corte adotada foi de 6,26 mm, na seção central, decorrente de um raio de curvatura de 75mm. 156 Após a usinagem, os cilindros receberam polimento superficial e foram fixados com o vão-livre previsto de 26 cm e o conjunto posteriormente adaptado ao equipamento de ensaio. A Fig. 5.2.1-1 ilustra o dispositivo construído. Figura 5.2.1-1 –Dispositivos de apoio do corpo-de-prova 5.2.2 - Dispositivos de transmissão de carga ao corpo-de-prova Alternativamente ao cilindro de raio usualmente adotado para a transmissão da carga e com o objetivo de minorar ao máximo a dissipação de energia na região de transmissão de carga ao corpo-de-prova, diversos aparatos que substituíssem o contato ponto-a-ponto por um contato superficial foram estudados. Para tanto, diferentes dispositivos foram concebidos, simulados computacionalmente pelo método dos elementos finitos e finalmente construídos. As dimensões do dispositivo de transmissão de carga finalmente utilizado para a realização dos ensaios passam a ser ilustradas na Fig.5.2.2-1. 157 Figura 5.2.2-1 – Dispositivo de transmissão de carga (dimensões construtivas em mm). Esse dispositivo, capaz de proporcionar ajuste na direção transversal do corpo-de-prova, por translação, foi fixado a um prisma de aço de grande rigidez (100mmx100mmx400mm), e conectado à célula de carga do equipamento de ensaio, conforme mostra a Fig. 5.2.2-2. Figura 5.2.2-2 – Dispositivo de transmissão de carga ao corpo-de-prova. 158 O conjunto de aparatos alternativos, para apoio e solicitação do corpo-deprova, é o que se apresenta na Fig. 5.2.2-3. Figura 5.2.2-3 – Conjunto de aparatos alternativos, para o apoio e solicitação dos corpos-de-prova 5.3 – Simulações numéricas tridimensionais 5.3.1 – Objetivos das simulações numéricas As simulações numéricas foram subdivididas em duas etapas distintas. A primeira delas, desenvolvidas com o auxílio de programas baseados no Método dos Elementos Finitos (MEF), objetivou a avaliação dos aparatos de apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova. O processo de fissuração e fraturamento do corpo-deprova foi estudado através do Método dos Elementos de Contorno (MEC). As 159 simulações foram conduzidas utilizando-se, em ambos os casos, modelos tridimensionais. A primeira série de análises foi procedida utilizando-se o programa ANSYS (1996), código de análise baseado nas técnicas do MEF, e pode ser resumida, de conformidade com os objetivos básicos, da forma que se segue: • Análise não-linear da transmissão de carga ao corpo-de-prova pelos dispositivos de apoio e carregamento concebidos, considerando-se as condições de contato entre os diferentes sólidos. Nesse estágio das análises foram avaliadas as concentrações de tensões e a uniformidade da transmissão de carga ao longo da história de carregamento. • Análise não-linear da influência do atrito entre as partes em contato no processo de transmissão de carga. • Avaliação comparativa dos níveis de dissipação de energia nos pontos de contato do corpo-de-prova quando da utilização dos aparatos concebidos, relativamente à solicitação em 3 pontos com cilindros metálicos simples. • Determinação dos níveis de carregamento do corpo-de-prova, em função da geometria proposta para os dispositivos de transmissão de carga, objetivando a fixação dos dados de contorno, posteriormente utilizados nas análises dos processos de fissuração e fraturamento do corpo-de-prova, pelo método dos elementos de contorno. 160 5.3.2 – Análise não-linear das condições de transmissão de carga ao corpo-de-prova Modelo geométrico e condições de contorno Para a análise das condições de transmissão de carga ao corpo-de-prova construiu-se, explorando a dupla simetria apresentada pelo problema, um modelo tridimensional representativo da geometria das partes de interesse, isto é, a do aparato de transmissão de carga (ou simplesmente “atuador”) e a do corpo-de-prova propriamente dito. Assim, apenas 1/4 do conjunto corpo-de-prova/atuador foi geometricamente representado para a análise das questões relativas à transmissão de carga ao corpode-prova. Tendo em vista os objetivos preliminares dessa primeira análise, a existência do entalhe em “V” foi desprezada na modelagem geométrica. Além das condições de contorno, necessárias à exploração da dupla simetria apresentada pelo conjunto de sólidos (corpo-de-prova e atuador), um conjunto de nós, representativo da linha de apoio do corpo-de-prova, foi vinculado através da prescrição de deslocamentos nulos nas direções vertical e transversal (uX = uY = 0). O carregamento do modelo foi procedido através da prescrição de um deslocamento vertical δ de valor arbitrário, no caso 0,003 cm, a um dos nós da superfície horizontal do atuador. Os demais nós dessa superfície tiveram seus deslocamentos verticais acoplados ao deslocamento vertical do nó submetido ao deslocamento imposto (constrain equation), situação que simula a hipótese de deslocamento rígido dessa superfície do dispositivo de transmissão de carga, na direção vertical. 161 A Fig. 5.3.2-1 ilustra o modelo geométrico adotado, bem como as condições de contorno consideradas no problema. Figura 5.3.2-1 - Modelo geométrico e condições de contorno consideradas no problema. Propriedades Mecânicas dos Materiais A análise numérica foi procedida em regime elástico linear, considerando-se valores usuais para as propriedades mecânicas do concreto (corpo-de-prova) e do aço (atuador), de acordo com as informações que constam da tabela 5.3.2-1. Tabela 5.3.2 – 1 Propriedades Mecânicas dos Materiais. Material Módulo de Elasticidade Coef. de Poisson (ν) Concreto 300.000 daN/cm2 0.175 Aço 2.100.000 daN/cm2 0.300 162 Malha de Elementos Finitos A parcela do modelo representativa do corpo-de-prova foi discretizada tridimensionalmente utilizando-se elementos finitos tetraédricos quadráticos que, por natureza, descrevem com maior simplicidade e precisão a geometria do contorno de sólidos que apresentam faces curvas. A parcela do modelo representativa do dispositivo de transmissão de carga foi discretizada com o auxílio de elementos finitos paralelepídicos quadráticos. Para a simulação do contato entre os sólidos foram utilizados elementos de contato tridimensionais, do tipo “ponto-superfície”, capazes de modelar situações de estabelecimento ou perda de contato entre sólidos de diferente natureza, com a consideração, se desejada, do atrito, rígido ou elástico, entre as partes em contato. Otimização da Malha de Elementos Finitos Como o principal objetivo dessa etapa de análises foi a determinação dos dados de contorno necessários à análise numérica do processo de fissuração e fraturamento do corpo-de-prova pelo Método dos Elementos de Contorno, todas as decisões relativas à otimização da malha de elementos finitos deram-se em estrita observância às restrições decorrentes da utilização dos elementos de contato disponíveis no programa ANSYS, conforme se expõe a seguir. Infelizmente, o programa ANSYS não admite a análise de modelos que fazem uso desses elementos de contato pelo método de refino “P”. Dentro da técnica de refino “P”, a ordem dos polinômios utilizados para as interpolações é sucessivamente aumentada, em função da tolerância imposta para a norma do erro (Zienkiewics e Taylor, 1994). 163 O uso da técnica de refino “H” automático da malha, onde a densidade da malha de elementos finitos é progressivamente aumentada em regiões que experimentam rápidas variações das respostas de tensão (e conseqüente aumento da norma do erro energético) não foi possível, em virtude da destruição automática das condições de contorno aplicadas diretamente aos nós, bem como dos elementos de contato propriamente ditos, por ocasião de cada processo de otimização da malha (esses elementos são definidos pelos nós dos elementos finitos pré-existentes). De qualquer forma, o procedimento de refino “H” não seria o mais recomendável no presente caso, em virtude não só da utilização de elementos finitos com rigidez diferentes (paralelepípedos e tetraedros quadráticos), bem como em função da presença, no modelo global, de materiais com diferentes características elásticas ( Zienkiewicz e Taylor, 1994). Tendo em vista as limitações apontadas, optou-se pela análise direta dos efeitos do aumento progressivo do nível de discretização do modelo (refino da malha) na região de contato, sobre os valores das respostas de variáveis pré-fixadas. O refino da malha foi procedido (observando-se ainda a limitação de memória física do computador utilizado) até níveis em que as taxas de mudança dos valores dessas respostas, entre refinos sucessivos da malha, deixaram de ser significativas.Para o desenvolvimento da análise, as seguintes variáveis de controle foram adotadas: • O deslocamento vertical δA de um ponto A na face oposta à região de carregamento do corpo-de-prova. • As forças nodais transversais, vertical, FV, e horizontal, FH, totais, verificadas na superfície de contato entre o corpo-de-prova e o aparato de transmissão de carga, avaliadas no corpo-de-prova. Essas forças nodais representam reações de contato do corpo-de-prova, decorrentes da ação do dispositivo de transmissão de carga sobre o corpo-de-prova, em virtude do deslocamento vertical arbitrário δ, imposto à esse dispositivo. • A relação entre as forças nodais transversais, vertical FV e horizontal, FH. 164 As Fig. 5.3.2-2 e 5.3.2-3 ilustram as malhas inicial e final, adotadas para a discretização do corpo-de-prova e do dispositivo de transmissão de carga (atuador), com destaque da região de contato entre os sólidos. Figura 5.3.2-2 – Malhas inicial e final da região de contato, adotadas para o corpo-de-prova. Elementos tetraédricos quadráticos. Figura 5.3.2-3 - Malhas inicial e final da região de contato, adotadas para o dispositivo de transmissão de carga (atuador). Paralelepípedos de 20 nós. As análises numéricas nessa etapa de otimização da malha foram levadas a efeito desprezando-se o atrito existente entre as partes (µ=0), de forma a assegurar uma maior velocidade de processamento. As principais características das malhas de elementos finitos, utilizadas no processo de discretização, passam a ser apresentadas na tabela. 5.3.2-2. 165 Tabela 5.3.2-2 – Características das malhas de elementos finitos adotadas Malha No. de Nós 1 2 3 4 5 6 7 Graus de Liberdade 36848 43836 47948 53297 57573 62673 68582 109655 125752 137623 153145 165444 180185 197112 Elementos de Contato Elem. Finitos-Atuador Elem. Finitos - Corpo-de-Prova ( / 10) (paralelepípedos quadráticos) (Tetraedros quadráticos) 1864.3 3990.0 7020.0 11030.8 15786.3 21391.8 27640.0 3150 4025 4900 5775 6650 7525 8640 14201 16204 16269 17207 17370 18125 18611 Como anteriormente referido, o refino progressivo da malha foi procedido até níveis em que as taxas de mudança dos valores das respostas das variáveis de controle, entre refinos subseqüentes da malha, deixaram de ser significativos. Os resultados do refino progressivo da malha de elementos finitos e as taxas de mudanças dos valores das variáveis de controle entre as diversas etapas da análise numérica procedida passam a ser apresentados na tabela. 5.3.2-3 e podem ser melhor visualizados através das Fig. 5.3.2-4, 5.3.2-5 e 5.3.2-6. Tabela 5.3.2-3 – Valores das respostas das variáveis de controle. Número de Força Horiz. Força Vert. Deslocamento Pto A Taxa Variação de FH Taxa Variação de FV Taxa Variação do Desloc. Pto A Gr. de Liberdade (Kgf) (Kgf) (cm) % % % 109655 125752 137623 153145 165444 180185 197112 44.927 48.025 49.914 51.142 52.097 52.417 52.699 238.45 242.62 245.11 246.6 248.04 248.61 248.53 0.00151103 0.00153732 0.00155309 0.00156247 0.0015716 0.0015752 0.00158279 6.45 3.78 2.40 1.83 0.61 0.54 1.72 1.02 0.60 0.58 0.23 -0.03 1.71 1.02 0.60 0.58 0.23 0.48 166 0.001600 0.001560 0.001540 0.001520 0.001500 105000 115000 125000 135000 145000 155000 165000 175000 185000 195000 205000 Graus de Liberdade Figura 5.3.2-4 – Gráfico: Deslocamento Vertical do Pto ”A” versus Número de Graus de Liberdade Ativos 54 52 50 Força Horizontal (kgf) Desloc. Vertical Pto A (cm) 0.001580 48 46 44 42 105000 115000 125000 135000 145000 155000 165000 175000 185000 195000 Graus de Liberdade Figura 5.3.2-5 – Gráfico: Reação Horizontal de Contato, FH, versus Número de Graus de Liberdade 205000 167 250 248 Força Vertical (Kgf) 246 244 242 240 238 236 105000 115000 125000 135000 145000 155000 165000 175000 185000 195000 205000 Graus de Liberdade Figura 5.3.2-6 – Gráfico: Reação Vertical de Contato, FV, versus Número de Graus de Liberdade Tendo em vista o nível de precisão atingido, dentro do enfoque adotado para a aproximação da solução, técnicas mais sofisticadas (em que pese serem mais trabalhosas) como as de sub-modelagem ou sub-estruturação por condensação, que naturalmente conduziriam a resultados mais precisos em função da possibilidade de utilização de um maior número de elementos finitos nas regiões de interesse, foram entendidas como desnecessárias. Consideração do entalhe em “V” Uma vez determinada a malha preliminar de elementos finitos, procedeu-se à modificação do modelo geométrico primitivo com o objetivo de considerar a existência do entalhe central em “V” que, por reduzir a rigidez flexional do corpo- 168 de-prova, acaba por introduzir modificações significativas nas condições de transmissão de carga entre os sólidos. Dessa maneira, parte da malha utilizada para representar a seção transversal central do corpo-de-prova (região do corte em “V”), foi suprimida, e elementos finitos, em número crescente, dispostos na região do entalhe (especialmente da ponta do “V”), região que experimenta grandes variações e concentração de tensões, dentro de um procedimento de discretização análogo ao anteriormente adotado. Observa-se que, nessa fase das análises, as características de densidade das malhas de elementos finitos, representativas das regiões de transmissão de carga e de controle dos deslocamentos verticais, permaneceram inalteradas. Duas etapas de refino efetuadas foram consideradas suficientes, pelo autor. As principais informações relativas às últimas malhas de elementos finitos analisadas encontram-se reunidas na tabela. 5.3.2-4. A Fig. 5.3.2-7 ilustra a malha final de elementos finitos utilizada. Figura 5.3.2-7 Malha final de elementos finitos (seção central entalhada) 169 Tabela 5.3.2-4 - Características das malhas finais de elementos finitos e valores das variáveis de controle. N. Nós 69495 71282 G. Lib. Elem. (ativos) Contato 198962 204054 276400 276400 El. Paralelep. El. Tetraédricos (atuador) (corpo-de-prova) 8640 8640 18851 19999 Fx Fy δ Pto "A" Kgf Kgf (cm) 45.96 214.99 0.00200260 45.70 214.43 0.00199789 Tx. Var. Fx Tx. Var. Fy δ Pto "A" % % % 0.583 0.260 0.235 As respostas nodais de deslocamentos obtidas para o conjunto de 246 nós da superfície do corpo-de-prova em contato com o dispositivo de transmissão de carga (ou seja, um total de 891 nós, se considerada a expansão da dupla simetria explorada nas simulações), foram adotadas como parte das condições de contorno necessárias à análise de fraturamento do corpo-de-prova pelo Método dos Elementos de Contorno 5.3.3 - Análise não-linear da influência do atrito entre as partes em contato no processo de transmissão de carga Como mencionado, para a análise da influência do atrito na transmissão de carga ao corpo-de-prova, foram utilizados elementos tridimensionais de contato que podem considerar, se desejado, os efeitos do atrito existente entre as partes em contato. Dois são os modelos de atrito de Coulomb, disponíveis no programa ANSYS. O primeiro deles parte do pressuposto de que os deslocamentos relativos de deslizamento entre os sólidos em contato, δs, ocorram elasticamente, até que a razão entre as forças nodais, normal e tangencial, supere o valor crítico do Coeficiente de Atrito µ. Após esse estágio do carregamento, os deslocamentos passam a ocorrer de forma constante. Assim, a rigidez, tangencial, KS, e rigidez normal, KN, devem ser consideradas. 170 O segundo modelo admite que os deslocamentos relativos mencionados ocorram, inelasticamente, somente após a razão entre as forças nodais, tangencial e normal, ter superado o valor crítico do Coeficiente de Atrito µ (atrito rígido). Dessa forma, a rigidez tangencial, KS, é ignorada. A Fig. 5.3.3-1 ilustra, de forma simplificada, a consideração do atrito em situações planas. Figura 5.3.3-1 – Hipóteses para a consideração do atrito entre sólidos em contato. Em procedimento análogo ao anteriormente adotado, as reações de contato, verticais e horizontais bem como o deslocamento vertical do ponto “A”, de controle, foram monitorados em cada etapa das simulações. Tendo em vista a condição não ideal de transmissão dos esforços assumida, essas reações globais de contato, fY e fX, assumem diferentes valores, em função do Coeficiente de Atrito, µ, considerado . Em situações tridimensionais como é a que se analisa no presente trabalho, as componentes locais fX e fY das forças nodais oriundas da situação de atrito decorrem do deslocamento nodal tangencial, δs, considerado em duas direções sobre a superfície do elemento receptor do contato. O espaço de representação dessas forças é o que se ilustra na Fig. 5.3.3-2. 171 Figura 5.3.3-2 – Espaço de representação das forças de atrito, desenvolvidas nas superfícies de sólidos em contato A hipótese de atrito inelástico é a que se adota nas fases subseqüentes de análises numéricas procedidas para o desenvolvimento desta tese, tendo em vista as características apresentadas pelos corpos-de-prova de concreto e argamassa em idade e condições habituais de ensaio. Para o estudo dos efeitos do atrito entre as parte em contato, adotou-se uma malha de elementos finitos intermediária, com 47.948 nós (137.623 graus de liberdade ativos) e 91.369 elementos finitos, sendo 70.200 deles, elementos de contato. A solicitação do modelo foi procedida como anteriormente, isto é, através da imposição de um deslocamento uniforme à superfície do atuador. O deslocamento total, δ=0.003 cm, arbitrariamente prescrito ao modelo, foi aplicado em três estágios de carregamento de igual valor, isto é δ/3, objetivando a avaliação do processo de carregamento. Três diferentes valores de Coeficientes de Atrito, iguais a 0,0, 0,15 e 0,30 foram utilizados nesta etapa de análises. Os valores das respostas das variáveis de controle (deslocamentos verticais do ponto “A” e reações de contato fX, fY e fZ), obtidos para os três estágios de 172 carregamento, isto é, δ/3, 2δ/3 e δ, relativos à consideração, por uma questão de simplificação, de dois dos valores de coeficientes de atrito adotados, são apresentados na tabela. 5.3.3-1. A Fig. 5.3.3-3 ilustra as relações entre as respostas das forças nodais de contato e o deslocamento vertical do ponto “A”, ao longo do ciclo de carregamento. 250.000 Fy (mi=0) Fy (mi=0.15) Forças Nodais de contato (kgf) 200.000 150.000 100.000 Fz (mi=0.15) 50.000 Fx (mi=0) Fx (mi=0.15) Fz (mi=0) 0.000 0.000000 0.000200 0.000400 0.000600 0.000800 0.001000 0.001200 0.001400 0.001600 Desloc. Vertical Pto "A" (cm) Figura 5.3.3-3 – Deslocamentos verticais do ponto “A”, de controle, e reações de contato para diferentes valores do coeficiente de atrito. É interessante observar que em uma experiência levada a efeito, onde o deslocamento total prescrito ao modelo foi aplicado em dez passos consecutivos, as respostas de interesse apresentaram valores idênticos àqueles obtidos quando da solicitação do modelo em um único passo, o que demonstra que essa subdivisão do carregamento em pequenos passos não essencial, quando as partes já se encontram em contato. Os valores dessas variáveis de controle, apurados no estágio final de carregamento (δ=0.003cm), para os diferentes coeficientes de atrito considerados, passam a ser apresentados na tabela. 5.3.3-2. 173 Tabela 5.3.3-1- Valores das respostas das variáveis de controle (ciclo completo de carregamento) mi=0.0 passo 1 2 3 Desloc. (cm) Fx (kgf) Fy (kgf) Fz (kgf) 0.000518 0.001035 0.001553 16.640 33.278 49.914 81.696 163.400 245.110 11.418 22.860 34.323 mi=0.15 passo 1 2 3 Desloc. (cm) Fx (kgf) Fy (kgf) Fz (kgf) 0.000526 0.001054 0.001582 9.082 15.541 23.641 82.934 166.340 249.500 15.114 32.094 48.098 Tabela 5.3.3-2 Respostas das variáveis de controle, para diferentes valores de Coeficientes de Atrito Coef. Atrito Desloc. Verical (cm) 0.00 0.15 0.30 0.001553 0.001582 0.001602 Fx (kgf) Fy (kgf) Fz (kgf) 49.914 23.641 17.517 245.110 249.500 252.720 34.323 48.098 66.653 De forma a analisar mais detidamente as respostas globais das reações de contato, avaliou-se para o conjunto dos 246 nós contatores, o trabalho global realizado pelas forças nodais, a partir do trabalho realizado por cada uma das forças reativas (fX, fY e fZ) atuantes em cada um dos nós na superfície de contato, através da equação de Clapeyron. Nessa equação, o trabalho τi total realizado pelas forças nodais atuantes nos n nós considerados, na direção i, são calculados considerando-se as forças e os deslocamentos nodais, fi e δi, respectivamente, na mesma direção. Os resultados apurados passam a ser apresentados na tabela. 5.3.3-3. Tabela 5.3.3-3 – Trabalhos realizados pelas forças nodais nas direções dos eixos coordenados. µ 0.000 0.150 0.300 τx τy τz τ(µ)=Στi (Kgf.cm) (Kgf.cm) (Kgf.cm) (Kgf.cm) 0.008679 0.002881 0.001235 0.335697 0.346163 0.353067 0.000012 0.000798 0.000869 0.344389 0.349842 0.355170 τ(µ)/τ(µ=0) 1.0000 1.0158 1.0313 174 A partir dos resultados apresentados é possível observar que, com o aumento do valor do coeficiente de atrito, µ, ocorre, para o dispositivo de transmissão de carga em estudo e em termos globais, uma diminuição gradual das forças nodais horizontais, fX, acompanhada do aumento das forças nodais verticais, fY. Observa-se ainda que o deslocamento vertical do ponto “A” cresce, como esperado, com o crescimento dessas forças verticais, evidenciando que, para níveis iguais de deslocamento imposto, δ, a força externamente aplicada é capaz de realizar uma maior quantidade de trabalho, ao aumentar-se o valor do coeficiente de atrito entre as partes. Em contrapartida ao aumento de eficiência dos ensaios, no que tange aos menores níveis de carregamento necessários ao fraturamento do corpo-de-prova, duas novas questões emergem do fato: • a primeira delas diz respeito à necessidade de determinação (ou eventualmente, da consideração aproximada) do valor do coeficiente de atrito, µ, significando a introdução de novos erros ou incertezas, mesmo que de pequena monta, na avaliação da Tenacidade ao Fraturamento do material. • A segunda é relativa à necessidade de “reduzir-se” a força máxima determinada no ensaio, PMAX, a uma situação ideal, ou seja, determinar uma força de pico, equivalente ou efetiva, relativa à situação em que se desconsidera o atrito existente entre as partes em contato. Para todos os efeitos, a diferença máxima verificada nos resultados, se levado em consideração o atrito existente entre as partes em contato, é da ordem de 3 por cento, comparativamente a uma situação ideal. 175 5.4 Análise tridimensional do processo de fraturamento do corpo-deprova V-CEV Uma vez determinada a maneira como os sólidos em estudo (corpo-de-prova e atuador) estabelecem contato durante o processo de carregamento, assim como a distribuição e a magnitude dos esforços transmitidos entre eles através da superfície de contato, no presente capítulo passa-se a apresentar os estudos do processo de fissuração e fraturamento do corpo-de-prova, desenvolvidos com o objetivo de calibrar a geometria proposta para o corpo-de-prova. As simulações numéricas foram levadas a efeito utilizando o programa FRANC3D (FRacture ANalysis Code), sistema que explora recursos gráficos e de processamento de estações de trabalho de alto desempenho para a modelagem e visualização tridimensionais de sólidos, contendo fissuras arbitrárias, atualmente adaptados (com todos os recursos existentes nas versões destinadas à computadores de maior porte) aos microcomputadores de uso pessoal. O programa FRANC3D (Wawrzynek, 88; Martha, 89), em contínuo desenvolvimento pelos membros do Cornell Fracture Group, da Cornell University, segundo Moretti e Bittencourt (1998), é um programa que incorpora: • Ferramentas de modelagem de sólidos; • Uma estrutura de dados topológicos que permite que a topologia seja separada da geometria; • A associação de atributos do modelo com as primitivas topológicas; • Uma hierarquia de modelos topológicos para organizar e guiar o processo de discretização; • Uso de computação gráfica interativa em estações de trabalho de alto desempenho; • Uma interface amigável com o usuário. 176 Esse programa (um pré e pós-processador), trabalha em conjunção com dois outros códigos: o OSM (Object Solid Modeler), um modelador sólido destinado à criação de modelos topológicos e geométricos e o BES, ou Boundary Element System (Martha, 1989; Lutz, 1991), programa destinado à análise de problemas elásticos pelo Método dos Elementos de Contorno (solver). A segunda série de análises numéricas levada a efeito, pode ser resumida, de conformidade com os objetivos básicos, da forma que se segue: • Determinação das equações fundamentais da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear para o corpo-de-prova V-CEV, relativas aos Fatores de Intensidade de Tensão, aos Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, e aos Deslocamentos Verticais da Linha de carga, δLC, em função das diferentes condições de contorno adotadas e da geometria proposta; • Determinação da relação elástica linear existente entre a Carga Aplicada e o Deslocamento de abertura da Entrada do Entalhe, CMOD; • Determinação da relação elástica linear existente entre os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe (CMOD) e os Deslocamentos Verticais. As análises procedidas passam a ser apresentadas, da forma que se segue: Modelagem Sólida De forma análoga aos procedimentos adotados na etapa de análises do corpode-prova pelo Método dos Elementos Finitos (MEF), apenas 1/4 do corpo-de-prova foi geometricamente representado para a análise das questões relativas à determinação das equações de dependência geométrica do corpo-de-prova. 177 Condições de Contorno Como abordado, diferentes aparatos de ensaio foram concebidos e utilizados ao longo do desenvolvimento desta tese. Dentre os aparatos convencionais, o autor fez uso de cilindros de aço para o apoio e carregamento dos corpos-de-prova, com o objetivo de prover as equações fundamentais da MFEL para a eventual utilização do corpo-de-prova proposto, também em condições de maior simplicidade. Além das condições de contorno necessárias à representação da simetria estrutural passível de exploração, a presente etapa de análises considera as diferentes condições de contorno geradas pelos dispositivos utilizados, de acordo com as combinações que seguem: Caso “A” – Apoio do corpo-de-prova e transmissão da carga através do uso de cilindros comuns (flexão em “3 pontos”): Para a simulação dessas condições de contorno, o modelo representativo do corpo-de-prova foi carregado, considerando-se o princípio de Saint Venant, através da solicitação de uma pequena área de valor arbitrariamente fixado em 0,044 cm2, por uma pressão uniformemente distribuída, de valor também arbitrário, da ordem de 6000,00 daN/cm2. A força correspondente e necessária à calibragem do modelo foi obtida da consideração de um valor quatro vezes maior que aquele decorrente da relação entre o valor da pressão prescrita e o valor da área solicitada. Um tratamento mais adequado da simetria explorada na modelagem estrutural deveria considerar os valores das pequenas forças atuantes sobre as arestas da área solicitada, contidas nos planos de simetria, assim como a força nodal verificada no vértice onde cruzam essas arestas.Tendo em vista a fina discretização procedida na região de aplicação da carga, essa correção, de pequeníssima monta, foi ignorada. 178 A vinculação do modelo, para esse caso de estudos, foi procedida através da prescrição de deslocamentos verticais (uy) nulos aos nós de uma pequena aresta com extensão da ordem de 1mm, representativa da posição de apoio do corpo de prova. No entendimento do autor, a abordagem global adotada nesse caso, aproxima satisfatoriamente a representação das condições de carregamento, relativamente àquelas que de fato ocorrem durante os ensaios. • Caso “B” – Apoio do corpo-de-prova sobre cilindros modificados e transmissão de carga através do aparato de carregamento (flexão “arestasuperfície”); A vinculação do modelo foi procedida através da prescrição de deslocamentos nulos nas direções vertical (uy=0) e transversal (ux=0), aos nós de uma aresta com extensão igual àquela de apoio do corpo-de-prova sobre o cilindro modificado, isto é, 30mm em projeção horizontal, considerando-se a simetria explorada. O procedimento mais adequado para a aplicação das condições de contorno de carregamento do modelo, seria através da transformação das tensões nodais verificadas nos nós representativos da região de contato, diretamente em forças trativas, através da relação tensão-força trativa de Cauchy: t i = σ ij . n j ~ (5.4-1) ~ onde t i é a componente do vetor tensão na direção i, σij o tensor das tensões no ponto ~ considerado e n j a componente do vetor normal, a direção j. Isso é feito dentro do ~ programa FRANC3D utilizando-se um arquivo de dados denominado MRP (Mesh RePresentation), através do qual transfere-se ao programa a representação geométrica da região de interesse, bem como a natureza e os valores das variáveis de campo associadas à região, no caso, os valores das tensões nodais. Da forma como está implementado na atual fase de desenvolvimento do programa, esse 179 procedimento é extremamente trabalhoso e, ainda, altamente suscetível a erros grosseiros. Tendo em vista a complexidade dos procedimentos necessários à adoção dessa metodologia, para o carregamento do modelo optou-se pela consideração das tensões decorrentes das forças nodais verificadas na região de contato entre o corpode-prova e o atuador, que, por simplificação, foi subdividida em 24 partes ou blocos de tensão (96 blocos, no total, se considerada a expansão da dupla simetria apresentada pelo no problema). A força vertical adotada, necessária à calibragem do modelo e correspondente às tensões consideradas, foi obtida da multiplicação das forças nodais aplicadas às áreas (somas individuais dos blocos) pelos valores das áreas respectivas. Também neste caso, tanto o acréscimo das forças atuantes sobre as arestas das pequenas áreas contidas nos planos de simetria como a força nodal verificada no vértice onde cruzam essas arestas, foram desconsiderados. A Fig. 5.4-1 ilustra o modelo geométrico adotado, bem como as condições de contorno consideradas nos diferentes casos. Figura 5.4-1 – Condições de contorno adotadas para os casos de estudo 180 Tendo em vista os diferentes casos estudados, apenas um deles, o caso “B” será descrito ou ilustrado, reservando-se ao primeiro, a apresentação dos resultados apurados. Malha de Elementos de Contorno O modelo foi discretizado com o auxílio de elementos de contorno tridimensionais, quadrilaterais e triangulares. A tecnologia de elementos de contorno disponível na versão atual do programa FRANC3D (para o elevado número de elementos de contorno necessários ao estudo do processo de fraturamento), faz uso de funções de forma lineares. Por natureza, os elementos lineares são menos eficientes no que diz respeito à capacidade de descrição geométrica e de interpolação das variáveis de interesse, comparativamente aos elementos quadráticos (ou outros de ordem superior), o que, de certa forma, diminui as expectativas relativas à precisão alcançada nas análises numéricas (Brebbia et al. 1984; Brebbia e Domingues, 1992; Kane, 1995). Ao longo da linha de frente da fissura, por outro lado, foram dispostos elementos de contorno quadráticos singulares, capazes de capturar com precisão o comportamento dos deslocamentos e das tensões nessa região (Becker, 1992), compensando, até certos limites, as desvantagens anteriormente apontadas, em virtude do caráter local que predominantemente caracteriza as análises de determinação dos Fatores de Intensidade de Tensão, ao longo dos processos de fissuração, especialmente através do MEC, como se expõe mais à frente. Em virtude das altas concentrações de tensões presentes nos problemas de fraturamento, os critérios usuais de apuração da qualidade da malha de elementos de contorno (a exemplo da avaliação da norma do erro energético ou da norma do erro das forças trativas) usualmente não se aplicam com a eficiência esperada, emergindo 181 ainda a questão da qualidade do conjunto de malhas utilizadas nas análises numéricas. Uma vez que não há soluções analíticas fechadas para tensões ou deslocamentos, relativas à geometria em estudo e que pudessem ser utilizadas para fins de comparação, a definição da malha básica utilizada para a discretização do modelo não fissurado deu-se a partir de um processo de verificação de consistência, em 5 etapas sucessivas de refino, analisando-se, em cada uma delas, a variação de flexibilidade do corpo-de-prova em função do nível de discretização global adotado. Dentro desse processo, a região do vértice do entalhe, região altamente concentradora de tensões, foi discretizada até um nível tido como “satisfatório” e mantida inalterada entre as etapas sucessivas de refino, uma vez que o principal objetivo dessa etapa de análises foi a determinação da influência da dicretização global sobre os valores de uma variável de controle. De qualquer forma, a malha representativa dessa região, após a nucleação e durante a propagação da fissura, seria desfeita e passaria concentrar a maioria dos elementos de contorno. A variável adotada para a verificação da eficiência do refino da malha foi o deslocamento horizontal do ponto “A” (Fig. 5.4-1), representativo da metade do CMOD, para um determinado nível de carregamento. Tendo em vista o enfoque adotado, também a malha das vizinhanças desse ponto foi mantida inalterada, entre os refinos sucessivamente procedidos. Os resultados dessa etapa de estudos encontram-se reunidos na tabela. 5.4-1. Tabela 5.4-1 – Análise da variação da flexibilidade do corpo-de-prova, entre refinos sucessivos da malha global de elementos de contorno. Malha Graus de Liberdade No. Elementos CMOD (cm) 1 2 3 4 5 3996 4374 4548 5436 6207 2197 2379 2505 2848 3177 0.001311 0.001318 0.001319 0.001321 0.001320 182 Das informações anteriormente apresentadas depreende-se que o aumento global do número de graus de liberdade procedido, da ordem de 55%, pouco influenciou a variável de controle arbitrada (deslocamento horizontal do ponto “A”). Entretanto, a malha de número 5 foi escolhida para os estudos subseqüentes. Discretização da linha de frente da fissura À etapa de definição da malha básica de elementos de contorno seguiu-se um novo estudo com vistas à avaliação da influência do nível de discretização da linha de frente da fissura, sobre os valores dos Fatores de Intensidade de Tensão, bem como a determinação de uma “densidade” de elementos de contorno a ser observada ao longo de todo o processo de análise da fissuração do corpo-de-prova. Para esse estudo, a linha de frente da fissura foi posicionada a uma distância de 8 mm da ponta do entalhe, profundidade arbitrariamente escolhida. Os valores dos Fatores de Intensidade de Tensão computados nos diferentes níveis de discretização passam a ser apresentados na tabela. 5.4-2. Tabela 5.4-2 – Variação dos Fatores de Intensidade de Tensão e de outras variáveis de controle, com a discretização crescente da linha de frente da fissura Malha 1a 2a 3a 4a 5a Gr. Liberdade 9210 9390 9840 10134 10434 No. Elementos 5179 5299 5599 5795 5995 No. Elementos CMOD δ (Pto A) KI (Linha de Frente) (cm) (cm) (daN.cm^-1.5) 40 60 80 100 120 0.001421664 0.001421662 0.001421670 0.001421670 0.001421670 0.00187694 0.00187694 0.00187695 0.00187695 0.00187695 72.008 71.991 72.031 72.040 72.034 Do exame das informações anteriores (tabelas 5.4-1 e 5.4-2), depreende-se que a utilização de qualquer uma das malhas estudadas conduziria a resultados extremamente próximos (para qualquer uma das variáveis de controle analisadas). 183 Isso decorre do fato de que, no caso específico das análises numéricas pelo MEC (o que não ocorre com o MEF), as equações que governam o problema são satisfeitas de maneira exata no interior do domínio da solução (as aproximações no problema são a geometria, as condições de contorno e a variação dos deslocamentos superficiais). Assim, se a geometria e as condições de contorno, distantes da linha de frente da fissura, puderem ser satisfatoriamente modeladas por um número pequeno de elementos (mesmo que lineares), então os Fatores de Intensidade de Tensão serão relativamente insensitivos à malha de posições remotas (Bruce, 2001; Wawrzynek, 2002). A malha 3a (tabela 5.4-2), entretanto, foi a que subsidiou a escolha da densidade de 10 elementos de contorno por milímetro de linha de frente, em virtude das respostas apresentadas. Representação do processo de propagação da fissura A representação da evolução do processo de fissuração deu-se com o deslocamento progressivo da linha de frente para posições igualmente afastadas entre si por uma distância de 2mm, ao longo do plano preferencial de fraturamento, procedimento que implica a aceitação da hipótese de que a flexibilidade de um corpo assim fissurado seja aproximadamente equivalente àquela que se verifica quando da consideração de uma linha de frente com conformação curva, que de fato se desenvolve nesse tipo de corpo-de-prova. Em que pese a artificialidade do enfoque, essa conduta vem sendo utilizada por diversos pesquisadores da área já há algum tempo (p.ex. Ingraffea et al., 1984; Gerstle, 1985 apud Ouchterlony, 1987; Ouchterlony, 1987; Sarrafi-Nour et al., 1998; Hanson, 2000) e foi adotada neste trabalho. 184 Outras abordagens mais “naturais”, como a que considera curva a linha de frente da fissura, também foram procedidas no passado (p.ex. Ouchterlony, 1987). Com o objetivo de manter equilibrado o nível de discretização da linha de frente ao longo do processo de análise, a proporção de 10 elementos de contorno por milímetro, indicada no estudo de discretização da linha de frente foi preservada. O posicionamento da linha de frente da fissura, em três diferentes estágios da propagação, é ilustrado na Fig. 5.4-2. Figura 5.4-2 – Detalhes da ponta do entalhe, em 3 diferentes estágios da propagação Tendo em vista o aspecto semiartesanal do processo de discretização do modelo, especialmente o de discretização das faces e da linha de frente da fissura, dificilmente consegue-se, entre as etapas de propagação da fissura, uniformidade absoluta das malhas de elementos de contorno e, conseqüentemente, das respostas de deslocamentos, de tensões e de Fatores de Intensidade de Tensão apurados nas análises numéricas. Soma-se negativamente ao fato, a natureza linear dos elementos de contorno empregados, especialmente para a discretização das faces da fissura, onde a determinação da curvatura mostrou-se, ao longo das análises procedidas, ser de 185 extrema relevância. Assim, para obter-se maior precisão nos resultados numéricos, um número substancialmente maior de elementos de contorno deve ser utilizado nessa região, comparativamente a uma situação onde elementos quadráticos estão presentes. Por outro lado, com o crescimento da fissura, naturalmente cresce a malha de elementos de contorno, cresce também a necessidade de memória física para a solução do sistema de equações, se a mesma for direta (p. ex. eliminação de Gauss), ou a disponibilidade de tempo, para um número maior de elementos, utilizando-se soluções iterativas que, via de regra, são processadas computacionalmente com o auxílio de um meio de armazenamento intermediário. Mesmo neste último caso, a versão atual do programa BES (solver) está limitada a 6000 elementos de contorno, fronteira bastante ampla para a solução da maioria dos problemas cotidianos, entretanto, rapidamente atingida ao longo deste trabalho. Considerando a conjugação das questões apontadas, nos estágios finais da propagação procedida o número máximo de elementos de contorno aproximou-se e manteve-se vizinho do patamar máximo de 6000 elementos, fato evidenciado na Fig. 5.4-3. Em virtude das limitações computacionais enfrentadas, o fronte reto da fissura pôde ser deslocado e analisado, sem prejuízos relativos à precisão esperada, em 19 diferentes posições, no intervalo 0,18 ≤ α ≤ 0,467. Posições suplementares, certamente requereriam a utilização de um maior número de elementos de contorno ou seriam representadas por um número insuficiente de elementos. Da mesma forma, teriam sido desnecessárias à calibragem do corpo-de-prova, como se demonstrará a seguir. A Fig. 5.4-3 ilustra o crescimento da malha de elementos de contorno, ao longo do processo de análises. Nessa figura, o número de elementos de contorno e o número de graus de liberdade utilizados são mostrados nos diversos estágios da propagação. 186 11000 No. de Elementos; Gr. de Liberdade 10000 9000 8000 No. Elementos 7000 Graus de Liberdade 6000 5000 4000 3000 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 2.6 2.8 3 3.2 3.4 3.6 3.8 4 4.2 4.4 4.6 Extensão da Fissura (cm) Figura 5.4-3 – Evolução das malhas de elementos de contorno 5.4.1 Fatores de Intensidade de Tensão e determinação da constante Amin de calibragem do corpo-de-prova Como já abordado, ao longo do processo de fissuração, a função A dos Fatores de Intensidade de Tensão passa por um valor mínimo, Amin. Isso ocorre em uma posição onde teoricamente se verifica a magnitude da Tenacidade ao Fraturamento, KIC, do material (equação 5-2). Como discutido, optou-se neste trabalho pelo posicionamento da linha de frente da fissura (reto e passante) em posições convenientemente espaçadas ao longo do plano preferencial de fraturamento e pela avaliação, em cada uma delas, dos Fatores de Intensidade de Tensão em uma seqüência de pontos pré-definidos sobre a extensão normalizada da linha de frente da fissura. Por sua vez, a determinação computacional dos Fatores de Intensidade de Tensão, KI, pode ser procedida utilizando-se diferentes técnicas, a exemplo da 187 Técnica de Correlação de Deslocamentos, do Método Híbrido Direto, das Integrais J de Contorno Fechado, das Integrais de Fechamento ou do Método da Liberação Global de Energia, (Kanninen, 1985; Becker, 1992). As duas primeiras metodologias são baseadas na análise do campo elástico das vizinhanças da ponta ou da linha de frente da fissura (em análises bi e tridimensionais, respectivamente), enquanto os demais métodos fundamentam-se na análise energética do corpo fissurado (Bittencourt, 1992). O programa FRANC3D, calcula os Fatores de Intensidade de Tensão através da Técnica de Correlação de Deslocamentos, utilizando elementos singulares na linha de frente da fissura. A Fig. 5.4.1-1 ilustra as distribuições, ao longo das extensões normais, dos Fatores de Intensidade de Tensão obtidos para as linhas de frente estudadas (representadas pelas diferentes cores), observando-se a simetria do problema. Uma visão dessa distribuição, ao longo do processo de fissuração é a que se observa na Fig. 5.4.1-2. 100 0.180 80 0.193 0.207 0.220 0.233 KI (daN.cm^-1,5) 60 0.247 0.260 0.273 0.287 40 0.300 0.313 0.327 0.340 0.353 20 0.367 0.380 0.413 0.433 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0.467 -20 Posição Normal (metade do front) Figura 5.4.1-1 – Fatores de Intensidade de Tensão para as linhas de frente estudadas. Distribuição ao longo da extensão normalizada. 188 Figura 5.4.1-2 – Fatores de Intensidade de Tensão para os frontes estudados. Distribuição ao longo da extensão normalizada. A posição zero da frente normalizada (esquerda da Fig. 5.4.1-1 e direita da Fig. 5.4.1-2) refere-se à posição onde a linha de frente da fissura intersecta a face livre do entalhe, posição usualmente denominada flanco da fissura. A posição 1 da Fig. 5.4.1-1, ou seja, o ponto final da extensão normalizada, refere-se ao centro da seção transversal. Observa-se que nessas regiões, as variações dos Fatores de Intensidade de Tensão são pronunciadas. Na região central do corpo-de-prova (direita da Fig. 5.4.11), a qualidade numérica Fatores de Intensidade de Tensão diminui. Nessa região existe uma face de simetria. Variações de outra natureza podem ser observadas, na mesma figura, à esquerda. Este fato, bastante conhecido dos pesquisadores da área (p. ex. Ingraffea et al., 1984; Raju e Newmam, 1984; Sarrafi-Nour et al., 1998), se originam, por um lado, do processo de discretização da linha de frente da fissura e de outro, da eventual inabilidade dos métodos numéricos em capturar, adequadamente, 189 os Fatores de Intensidade de Tensão em posições onde o flanco da fissura intersecta um outro contorno (Raju e Newmam, 1984; Sarrafi-Nour, Coyle e Fett, 1998). Ainda, da Fig. 5.4.1-1 depreende-se que, ao longo do processo de fraturamento, as regiões próximas ao flanco da fissura passam a apresentar, progressivamente, Fatores de Intensidade de Tensão mais elevados, partindo de valores próximos a zero, que decorrem da natureza do estado de tensão nessa região (para a geometria em análise) e invertendo o comportamento global sobre a linha de frente, no decorrer do processo. Esse fato justifica o fenômeno já discutido anteriormente, relativo a reversão da concavidade da linha de frente da fissura. Como esperado para a geometria em estudo e para um front reto adotado, os Fatores de Intensidade de Tensão, KI, não apresentam magnitude constante ao longo da extensão da linha de frente. Ainda, além de não uniforme, a distribuição dos Fatores de Intensidade de Tensão não apresenta a mesma conformação entre passos consecutivos da propagação, fatos que certamente dificultam a escolha de um valor representativo de KI para um determinado estágio da propagação. Não há na literatura, entretanto, sugestões de critérios claros e suficientemente fundamentados para a definição desse valor. Usualmente, o valor representativo fixado é extraído de uma média que exclui as regiões onde as citadas “perturbações” ocorrem. Com o objetivo de melhor avaliar a questão, três diferentes critérios para o cálculo de um valor representativo de KI, foram investigados: 1. A média dos Fatores de Intensidade de Tensão calculados em 100 diferentes posições ao longo da linha de frente da fissura, excluindo-se aqueles computados nas extremidades da linha de frente da fissura (10% da semiextensão normalizada da linha de frente, em cada extremidade); 2. A média dos Fatores de Intensidade de Tensão calculados em 100 diferentes posições ao longo da linha de frente da fissura, excluindo-se aqueles computados nos primeiros 2/3 da linha de frente, contados a partir do flanco 190 da fissura, assim como aqueles computados nas proximidades da extremidade oposta da linha de frente (10% da semiextensão, junto ao plano de simetria) com um aproveitamento de 30% do total de valores computados; 3. A média dos Fatores de Intensidade de Tensão calculados em 100 diferentes posições ao longo da linha de frente da fissura, excluindo-se os valores negativos. Assim, para cada deslocamento da linha de frente da fissura e do conjunto de informações de Fatores de Intensidade de Tensão obtidos ao longo da mesma (de conformidade com os critérios apresentados), um valor representativo do estado de intensificação de tensão foi então fixado e, com o auxílio da equação 5-3, um valor de A, obtido. A Fig. 5.4.1-3 ilustra as curvas dos Fatores de Intensidade de Tensão determinadas de conformidade com os critérios adotados. 90 88 86 84 KI (daN.cm^-1,5) 82 80 78 76 74 72 Critério 3 70 Critério 1 68 66 64 Critério 2 62 0.18 0.23 0.28 0.33 0.38 0.43 α Figura 5.4.1-3 – Valores dos Fatores de Intensidade de Tensão computados 0.48 191 Da observação das curvas apresentadas na figura anterior depreende-se que a curva obtida através da utilização do segundo critério é a que melhor espelha os Fatores de Intensidade de Tensão, esperados nas etapas iniciais do processo de fissuração (valores mais elevados). Da mesma forma, é a que melhor indica os Fatores de Intensidade de Tensão mínimos (em termos de comportamento ao longo da extensão normal da fissura), computados para as diversas posições da linha de frente da fissura. Pelas razões expostas, esse critério foi o adotado nas etapas posteriores de análise. Aos pares A-α representativos das posições analisadas da linha de frente da fissura e para o caso “B” de estudos, ajustou-se inicialmente, com o auxílio da equação 5-3 para o intervalo 0,18≤α≤0,38, um polinômio do 5o grau que representa a Função de Dependência Geométrica e de Carregamento, A(α), do corpo-de-prova, para os Fatores de Intensidade de Tensão. Posteriormente, um novo ajuste cobrindo a totalidade do intervalo analisado (0.18≤α≤0.47), foi procedido. Essa estratégia de subdivisão do intervalo global foi levada a efeito com o objetivo garantir uma maior precisão numérica por ocasião da determinação da constante de calibragem do corpode-prova, Amin. A primeira das funções dependência determinadas é a que se apresenta na Fig. 5.4.1-4. 6.2 6 5.8 5.6 A(α) 5.4 5.2 5 4.8 4.6 4.4 4.2 0.18 0.2 0.22 0.24 0.26 0.28 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 0.42 0.44 0.46 0.48 α Figura 5.4.1-4 - Função de Dependência Geométrica e de Carregamento do corpo-de-prova, para Fatores de Intensidade de Tensão – Caso ”B”. 192 De forma análoga, uma expressão polinomial do 5o grau foi computada para o Caso “A” de condições de contorno, entretanto para o intervalo 0,18≤α≤0,43. Os coeficientes das equações polinomiais, assim como as estatísticas relevantes referentes aos ajustes procedidos encontram-se reunidos na tabela. 5.4.1-1. A(α ) = a.α 5 + b.α 4 + c.α 3 + d .α 2 + e.α + f (5.4.1-2) Tabela 5.4.1-1- Coeficientes da equação de Dependência Geométrica e de Carregamento, para Fatores de Intensidade de Tensão – Casos “A” e “B” de condições de contorno. Agora, a equação 5-4 pode se reescrita para descrever o processo de fissuração do corpo-de-prova, dentro dos intervalos considerados, da forma que se segue: KI = P . A(α ) D1.5 (5.4.1-3) A minimização da função de Dependência Geométrica e de Carregamento conduz à posição αC da linha de frente, sobre o plano de fraturamento, onde a extensão da fissura (incluindo o comprimento do entalhe inicial), é crítica, ou seja, a=ac. O valor mínimo de A, isto é, Amin, é obtido substituindo-se αC na equação 5.4.1-2. Nota-se que a partir dessa posição sobre o plano de fraturamento, ∂A/∂α > 0 (o mesmo ocorrendo com ∂KI/∂α) e a propagação da fissura ocorrerá de forma instável. Entende-se por propagação instável, a propagação que se verifica sem que haja acréscimos ao valor da força. Portanto, também nesse ponto, a força P terá valor 193 crítico, ou seja, P = Pmax. Para a V-CEV proposta e condições de contorno em estudo, as constantes significativas do corpo-de-prova são as que se apresentam na tabela. 5.4.1-2. Tabela 5.4.1-2 – Constantes significativas do corpo-de-prova para os casos de estudo A e B Caso αc Amin 4.293 4.326 A B 0.297 0.316 ac c (cm) (cm) 4.460 4.746 1.960 2.246 Observa-se que as diferentes condições de apoio consideradas nos casos “A” e “B” conduzem a constantes de calibragem, Amin, que diferem entre si algo em torno de 1%, fato que, do ponto de vista prático, pode ser negligenciado. Relativamente à extensão crítica da fissura, essa diferença salta para 6%, indicando que a avaliação da tenacidade ao fraturamento ocorre com um melhor aproveitamento do material, no caso “B” de condições de contorno.Os pontos estacionários das Funções de Dependência Geométrica e de Carregamento, para ambos os casos analisados, são apresentadas na Fig. 5.4.1-5. 6.2 6 5.8 5.6 A(α) 5.4 5.2 5 4.8 CASO B 4.6 4.4 CASO A 4.2 0.18 0.2 0.22 0.24 0.26 0.28 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 α Figura 5.4.1-5 – Pontos de mínimo das Funções A(α) de Dependência Geométrica e de Carregamento. 194 As pequenas diferenças observadas não querem dizer, que os aparatos de apoio e de carregamento possam ser utilizados indistintamente. Naturalmente, as análises elásticas procedidas, são incapazes de detectar as diferentes formas de dissipação energética envolvidas com os diferentes dispositivos considerados. 5.4.2 Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe – CMOD Tanto quanto conhece o autor, não há soluções analíticas completas para os deslocamentos de abertura da entrada do entalhe em corpos de prova cilíndricos com entalhe em “V”. No presente trabalho e ainda para o Caso “B” de estudo, os deslocamentos de abertura da entrada do entalhe, CMOD, foram monitorados ao longo do processo de fissuração. Assim, uma nova equação foi elaborada, com base equação da MFEL (Shah et al., 1995): CMOD = 4σ .a .g (α ) E (5.4.2-1) Para uma viga de seção circular solicitada à flexão em 3 pontos, as tensões nas fibras extremas são dadas, na seção central, pela equação: σ= 8.P.S π .D 3 (5.4.2-2) Dessa maneira, o CMOD pode ser calculado para a geometria em estudo, da forma que se segue: 195 CMOD = 32.P.S .α . g (α ) π .D 2 E . (5.4.2-3) e: g (α ) = π .D 2 .E.CMOD 32.P.S .α (5.4.2-4) Com o auxílio da equação 5.4.2-4, foram computados os valores para uma nova expressão de Dependência Geométrica e de Carregamento, g(α), para cada caso de condições de contorno, relativos aos deslocamentos de abertura da entrada do entalhe. Os valores iniciais de g(α) foram obtidos através da inversão da equação 5.4.2-3 computada com as informações numéricas referentes aos modelos não fissurados, e α=1/6. A equação resultante, escrita em função da extensão normal da fissura, α, para os intervalos estudados em cada caso de condições de contorno, passa a ser apresentada: g (α ) = a.α 5 + b.α 4 + c.α 3 + d .α 2 + e.α + f (5.4.2-5) Os coeficientes a serem utilizados com a equação 5.4.2-5, para os casos de estudo “A” e “B”, encontram-se reunidos na tabela. 5.4.2-1. As curvas representativas dessas funções são mostradas na Fig. 5.4.2-1. Tabela 5.4.2-1 - Coeficientes da equação de Dependência Geométrica e de Carregamento, g(α), para Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe - CMOD 196 2.4 2.3 2.2 g(α) 2.1 2 CASO B 1.9 1.8 CASO A 1.7 0.167 0.217 0.267 0.317 0.367 0.417 0.467 α Figura 5.4.2-1 – Funções g(α)de Dependência Geométrica e de Carregamento do corpo-de-prova, para CMODs Influência da altura da lâmina de fixação do transdutor de deslocamentos Como explicado no capítulo 6 deste trabalho, o CMOD é normalmente medido no laboratório a pequenas distâncias, abaixo da face inferior do corpo-deprova. O efeito dessa pequena distância d (Fig. 3.2-1) é novamente abordado para o corpo-de-prova em análise, considerando-se a relação existente entre o CMOD "real", ou seja, aquele referente à entrada do entalhe, e o nominal, CMODm, determinado experimentalmente. Essa relação é dada pela equação 3.2-11, aqui repetida por conveniência: CMOD = kd .CMOD m (3.2-11) Na expressão, kd é o fator teórico de correção que deve ser aplicado para a conversão dos valores nominais de CMODm. Os fatores de conversão, kd, foram computados nas análises numéricas para as espessuras de suporte do transdutor de 197 deslocamentos, no intervalo 0 < d ≤ 6 mm, através de considerações puramente geométricas aplicadas aos deslocamentos de dois pontos situados na região inferior do modelo (em posições teoricamente representativas da região de fixação das lâminas de suporte do transdutor de deslocamentos), e à uma seqüência de pontos posicionados sobre uma reta imaginária, perpendicular à face inferior da viga. Aos valores computados foram ajustadas curvas, cujas equações expressam os valores de kd em função da extensão normal da fissura,α, para diferentes valores de d. As curvas ajustadas são polinômios do 4o grau da forma: k d = a.α 4 + b.α 3 + c.α 2 + d .α + e (5.4.2-6) Os coeficientes a serem utilizados com a equação anterior, em função da altura d da lâmina de suporte do clip gauge, para o caso “B”, são apresentados na tabela. 5.4.2-2. Tendo em vista a natureza essencialmente geométrica do fator de conversão kd, esses valores podem ser utilizados também para os casos “A”. As curvas relativas ao caso “B” encontram-se ilustradas na Fig.5.4.2-2. Tabela 5.4.2-2 – Coeficientes para as equações kd=f(α), de conversão do CMOD d (mm) a b c d e 1 2 3 4 5 6 1.1573 2.2406 3.2550 4.2051 5.0954 5.9298 -1.5892 -3.0787 -4.4754 -5.7855 -7.0147 -8.1683 0.7717 1.4966 2.1777 2.8179 3.4198 3.9858 -0.1358 -0.2636 -0.3840 -0.4974 -0.6043 -0.7050 0.9910 0.9822 0.9734 0.9648 0.9563 0.9479 198 1 0.99 0.98 0.97 1mm 0.96 kd 2mm 3mm 0.95 4mm 5mm 0.94 6mm 0.93 0.92 0.91 0.9 0.167 0.217 0.267 0.317 0.367 0.417 0.467 α Figura 5.4.2-2- Curvas kd x α para diferentes alturas da lâmina de suporte do clip gauge Observando a figura anterior depreende-se que, mesmo para pequenas alturas d da lâmina de suporte do clip gauge (3 mm, p.ex.), a variação entre os CMOD medido e aquele reduzido à entrada do entalhe, é da ordem de 5%, para valores iniciais de α. Com efeito, o monitoramento do CMOD vem sendo utilizado para corpos-deprova do gênero, com diversos objetivos. Dentre eles, podem ser citados o controle dos ensaios, do ponto de vista da instabilidade pós-pico apresentada pelo material e a realização de operações de descarregamento e recarregamento do corpo-de-prova, objetivando a determinação do fator de correção do comportamento inelástico, p, apresentado por certos materiais, durante o processo de fissuração (equação 5-6, p.ex.). Considerando-se que nenhuma correção do CMOD (experimentalmente obtidos) vem sendo procedida, é de se esperar que uma parcela de erros com origem nesse fato, esteja sendo atualmente introduzida nos cálculos da Tenacidade ao Fraturamento. 199 5.4.3 Análise do comportamento do corpo-de-prova na fase anterior à carga máxima - Determinação do Módulo de Elasticidade De forma geral, é esperado que os ensaios de fraturamento possam oferecer as informações necessárias à determinação do valor do Módulo de Elasticidade, E, do material ensaiado. Como exposto no capítulo 6 deste trabalho, isso pode ser feito a partir do diagrama do ensaio (Carga-CMOD ou Carga-δ), na fase do ensaio onde a resposta do material é predominantemente resiliente, fato que parece ocorrer em patamares compreendidos entre 30 e 50% da carga máxima do ensaio. Para corpos-de-prova retangulares com entalhes retos passantes, admite-se ainda que o entalhe inicial seja bastante representativo de uma fissura de extensão ao. Nesse estágio, em que, supostamente predomina a resposta elástica do material, a evolução da fissura, à qualquer título, é desconsiderada. Assim, conceitos da MFEL (equação6.3-1, p. ex.) são diretamente aplicados para a determinação do Módulo de Elasticidade. No caso dos corpos-de-prova entalhados em “V”, a situação é oposta. Com a evolução do carregamento, uma pré-fissura é naturalmente produzida antes da carga máxima. Durante essa propagação subcrítica (a não ser confundida com aquela decorrente do comportamento inelástico de certos materiais), a intensificação das tensões diminui (com o crescimento da linha de frente da fissura), até que, numa posição de mínimo da Função de Dependência Geométrica e de Carregamento do corpo-de-prova, A(α), o Fator de Intensidade de Tensão, KI, atinge o valor da Tenacidade ao Fraturamento, KIC. Portanto, uma abordagem adequada do assunto deve considerar o crescimento da fissura na fase pré-pico do carregamento, implicando o conhecimento da história dos Fatores de Intensidade de Tensão, o conhecimento da evolução do carregamento 200 aplicado, os conseqüentes CMODs produzidos e a relação existente entre essas grandezas. A seguir um exemplo da construção de uma curva P-CMOD é ilustrado. EXEMPLO 4.3 – Neste exemplo, um material de comportamento elástico linear com tenacidade ao fraturamento, KIC, arbitrariamente fixada em 100 daN.cm-1.5 (1MPa.m0,5) é analisado. Considera-se também que o corpo-de-prova encontre-se submetido a um carregamento monotonicamente crescente com as condições de contorno do caso “B”. Para o Módulo de Elasticidade do material hipotético, assumese o valor E= 300.000,00 da N/cm2 (30 GPa). No estágio crítico, obtêm-se da equação 5-4, com Amin = 4,326, o valor da carga máxima, Pmax= 1342,921 daN. Ainda, αC = 0,316 e aC=4,746 cm. As cargas aplicadas, relativas aos diversos estágios do processo de fissuração podem ser determinadas através da inversão da equação 5.4.1-3. Admitindo-se então, KI=KIC em 5.4.1-3, para o iézimo estágio da fissuração, onde α = αi, decorre que: Pi = K IC .D 1.5 A(α i ) (5.4.3-1) Por sua vez, os CMODs respectivos podem ser diretamente obtidos com o auxílio da equação 5.4.2-3. Observa-se que a aplicação das equações referidas deve ocorrer no intervalo de validade das 5.4.1-2 e 5.4.2-5. Assim, para 0,18 ≤ αi ≤ 0,43, o histórico Carga-CMOD pode ser integralmente determinado. Ainda, com alguma aproximação, os níveis de carregamento em posições anteriores a α = 0,18, (0,1667< αi <0,18), podem ser obtidos por extrapolação utilizando-se as equações 5.4.2-5 e 5.4.3-1 (a posição α=1/6 corresponde à extremidade do entalhe não fissurado). Ainda, utilizando-se o modelo inicial não fissurado, valores de CMOD podem ser diretamente computados para níveis de carregamento arbitrários, inferiores àquele que caracteriza o início da fissuração. A reunião dessas informações dá origem ao diagrama das fases pré e pós-crítica do processo de fraturamento, conforme ilustra a Fig. 5.4.3-1. 201 1600 KIC=100 daN.cm^-1.5 1400 Primeiro estágio da fissura α=0.18 1200 800 Entalhe não fissurado - Extrapolação para α=0.1667 600 400 Resposta elástica linear - corpo-de-prova não fissurado 200 0 0 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005 0.006 CMOD (cm) Figura 5.4.3-1 – Curva P-CMOD para um material elástico linear com KIC=100 daN.cm-1.5 O mesmo raciocínio pode ser aplicado, para a geometria em estudo e diferentes valores de KIC, de forma a obter-se o conjunto de curvas apresentado na Fig. 5.4.3-2. 2000 1800 KIC=140 daN.cm^-1.5 1600 Início da fissuração 1400 KIC=120 daN.cm^-1.5 1200 P (daN) P (daN) 1000 KIC=100 daN.cm^-1.5 1000 800 600 400 200 0 0 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005 0.006 CMOD (cm) Figura 5.4.3-2 – Curva Carga-CMOD para materiais elástico lineares ( KIC variável) 0.007 202 Da observação da figura anterior, depreende-se que as curvas geradas para diferentes valores de KIC são rigorosamente proporcionais à Tenacidade ao Fraturamento do material. Também, as “fases elásticas” dessas curvas diferem entre si, unicamente no que diz respeito à carga crítica Plim, E, que caracteriza o início da fissuração pré-pico de cada uma delas. Analisando de forma mais detida as informações numericamente obtidas, observa-se que, teoricamente, o nível de carregamento onde tem início a fissuração relaciona-se com a carga máxima para cada material, de forma constante e intrinsecamente dependente da Tenacidade ao Fraturamento. Para os casos de estudo tem-se: (5.4.3-2) Plim, E = 0,625236.Pmax Assim, em se tratando de um material elástico linear e abaixo desse limite de carregamento, qualquer par ou o conjunto de pares P-CMOD pode ser utilizado para a obtenção do valor do módulo de elasticidade, E. Com esse objetivo, a equação 5.4.2-3 pode ser manipulada de forma a incorporar um fator que conduz ao valor do Módulo de Elasticidade. Esse fator considera, além do regime elástico do material, a influência da altura d da lâmina de suporte do transdutor, para que o Módulo de Elasticidade seja computado com precisão aceitável, da forma que se segue: E = kE,d . 32.Pi .S CMOD.π .D 2 ou E = k E ,d . 32.S π .D 2 .C (5.4.3-3) O fator kE,d, computado a partir das informações resultantes das análises numéricas do corpo-de-prova não fissurado, assume os valores apresentados na tabela. 5.4.3.-1, para as condições de contorno adotadas. 203 Tabela 5.4.3-1-Valores do fator kE,d para a determinação do Módulo de Elasticidade -Casos A e B d (mm) 0 1 2 3 4 5 6 KE,d 0.3922 0.3988 0.4054 0.4120 0.4186 0.4252 0.4319 Da comparação das equações 5.4.2-3 e 5.4.3-3 observa-se que o fator kE,d reflete ainda o produto α.g(α), considerado para as diversas alturas da lâmina do transdutor de deslocamentos. Para materiais de ruptura quase frágil, como é o caso dos concretos e de outros materiais assemelhados, simultaneamente à propagação pré-pico, anteriormente analisada e em função da natureza crescente do carregamento, ocorre o fenômeno de propagação subcrítica da fissura, em virtude da formação da zona de processos inelásticos. A posição exata no diagrama P-CMOD (ou P-δ), onde a microfissuração dispersa deixa de ser desprezível e o processo de danificação passa a ser predominante, ainda não é bem conhecida. Diversos autores (p.ex. Karihaloo e Nalathambi, 1991; Shah et al., 1995), sugerem patamares compreendidos entre 30 e 50% da carga máxima. Considerando-se o limite de 50%, tem-se, para materiais dessa natureza, a partir da equação 5.4.3-2: Plim,E ≈ 0.31.Pmax (5.4.3-5) Portanto, valores máximos de P da ordem de 30% da carga máxima do ensaio parecem satisfatórios à determinação do Módulo de Elasticidade de materiais cimentícios (para a geometria em estudo) utilizando-se a equação 5.4.3-3. Assim, a determinação do Módulo de Elasticidade do material pode ser procedida a partir de informações obtidas diretamente do ensaio de fraturamento, descartando-se a necessidade de realização de ensaios complementares como os de compressão de cilindros instrumentados ou de ensaios preliminares como os de 204 “flexão em baixos ciclos”, preconizados pela ISRM (1988), ao menos para a geometria em estudo. De acordo com o conhecimento o autor, a única expressão existente para a determinação do Módulo de Elasticidade através da utilização de corpos-de-prova do gênero é a expressão sugerida pela ISRM, que tem como base a análise da flexibilidade do corpo-de-prova não fissurado, em baixos níveis de carregamento. No entendimento do autor, pesam sobre a expressão da ISRM uma série de dúvidas, a exemplo da forma de apoio e carregamento (flexão em 3 pontos). Mesmo sendo o ensaio executado em baixos ciclos de carregamento, o esmagamento do material nas regiões de apoio e carregamento do CP parece inevitável, o que faz afetar a relação entre os valores de carregamento e de deslocamento. Ainda, a expressão sugerida pela ISRM decorre de um procedimento de calibragem experimental, onde, às questões inerentes ao ensaio propriamente dito (apontadas anteriormente), somam-se as imprecisões geométricas do corpo-de-prova, as dúvidas quanto a natureza do material utilizado, bem como os erros na determinação experimental das constantes elásticas de referência do material ensaiado (E, ν). Embora aplicável somente à corpos-de-prova com a relação S/D=3,33, a expressão sugerida é a que se apresenta: E= g 0 .S F 0 S 2 = (20.8 + 19.4α 0 + 142.3α 0 ). F 0 D D (5.4.3-6 ) onde g0 é a flexibilidade adimensional do corpo-de-prova não fissurado, SF0 a rigidez do corpo-de-prova no nível de carregamento F0 considerado, D o diâmetro do corpode-prova e α0 a extensão inicial do entalhe, normalizada relativamente ao diâmetro do corpo-de-prova. 205 5.4.4 Deslocamentos Verticais da Linha de Carga – δLC Como discutido no Capítulo 3 deste trabalho, a determinação experimental dos Deslocamentos Verticais da Linha de Carga, δ, ocorre, via de regra, acompanhada de erros geralmente ocasionados pelas perturbações decorrentes do processo de transmissão da carga ao corpo-de-prova. Muitas vezes a esse erro somam-se outros, como os que procedem das dificuldades naturalmente encontradas para a instrumentação do corpo-de-prova nessa região, ou os que têm origem nos equipamentos utilizados para esse fim. Do ponto de vista numérico, o primeiro deles, por associar-se à característica quase-singular do campo de deslocamentos da região carregada do corpo-de-prova, é o que passa a oferecer dificuldades para as análises necessárias ao equacionamento das grandezas de interesse da mecânica da fratura. Assim, a escolha de um ponto na seção transversal fissurada, com o objetivo de monitorar-se os deslocamentos verticais ao longo do processo de fissuração é, via de regra, uma tarefa duvidosa associada a uma decisão individual do analista. Com vistas à escolha da “melhor” posição de monitoramento dos deslocamentos verticais e avaliação dos desvios decorrentes desse arbitramento, relativamente a outras possibilidades, uma avaliação dessa grandeza, em diferentes posições da seção entalhada, foi levada a efeito e passa a ser apresentada. 206 Deslocamentos Verticais na seção entalhada Para o início desta etapa de estudos adotou-se o modelo com a linha de frente posicionada a 140mm da ponta do entalhe, escolha arbitrariamente procedida. Sobre o plano de fraturamento, duas arestas de interesse foram eleitas para as análises subseqüentes, a que representa o traço dos planos de simetria (portanto, na vertical sob a linha de carga) e a relativa a linha de frente da fissura. O posicionamento dessas arestas é mostrado na Fig. 5.4.4-1 Figura 5.4.4-1 – Malha de elementos de contorno com as arestas utilizadas para o estudo dos deslocamentos verticais, δ. O comportamento dos deslocamentos verticais avaliados em diversas posições ao longo das arestas AB e CD assim como nos pontos E e F, indicados na figura anterior, passam a ser ilustrados na Fig. 5.4.4-2. 207 1 Flanco da fissura - Pto D 0.9 Região de transmissão da carga - Pto A 0.8 Posição Normal 0.7 0.6 Aresta vertical Linha de frente 0.5 0.4 Centro da linha de frente - Pto C 0.3 0.2 Ápice do entalhe - Pto B 0.1 0 0.0018 0.0019 0.0020 0.0021 0.0022 0.0023 0.0024 0.0025 0.0026 0.0027 0.0028 0.0029 δ (cm) Figura 5.4.4-2 – Deslocamentos computados no plano de fraturamento Alguns valores de interesse, preliminarmente computados em regiões consideradas candidatas, foram reunidos na tabela. 5.4.4-1, dentre eles o valor médio computado para a linha de frente da fissura. Essa média exclui os valores determinados nas proximidades do flanco. Tabela 5.4.4-1 – Deslocamentos Verticais computados em posições de interesse. Linha de frente (média) 0.00202460 Ponto E Ponto F 0.05* W 0.10* W 0.15* W 0.20* W (sobre a aresta AB, abaixo da superfície de carregamento) 0.00195057 0.00185135 0.00222285 0.00202765 0.00193485 0.00188355 Das informações preliminarmente apresentadas depreende-se que a variação dos deslocamentos verticais computados nas diversas posições é significativa. Observa-se ainda que o deslocamento computado na posição 0.10W, abaixo da região de transmissão de carga, diferencia-se do valor médio computado para a linha 208 de frente, algo em torno de 0.15% para o estágio de fissuração considerado. Outros pesquisadores, a exemplo de Gerstle e Ouchterlony (já citados neste capítulo) utilizaram esses deslocamentos em suas pesquisas. Neste trabalho, ao longo do processo de fissuração os deslocamentos verticais do corpo-de-prova foram avaliados, em cada um dos estágios, mediante a consideração da diferença entre o valor do deslocamento do ponto analisado e daquele verificado em um outro ponto situado na metade da altura do corpo-deprova, diretamente sobre o aparato de apoio (ponto G da Fig. 5.4-1). Função de Dependência Geométrica e de Carregamento, V(α), para deslocamentos verticais. Como discutido anteriormente, os deslocamentos computados em certas regiões do corpo-de-prova são utilizados para a representação da flexibilidade do corpo-de-prova e, em termos aproximados, traduzir o Deslocamento Vertical da Linha de Carga, δLC. Ponderou-se também que a escolha dessa região representativa é usualmente uma tarefa duvidosa que se associa a uma decisão individual do analista. Com o objetivo de minorar a aleatoriedade dessa escolha, um procedimento inverso de determinação da constante de calibragem do corpo-de-prova, para fins de comparação com os resultados obtidos da análise do campo local de tensão foi levado a efeito. O procedimento adotado foi o de análise da flexibilidade do corpode-prova, a partir dos procedimentos de Irwin e Kies, a seguir expostos. Para estado plano de deformação, a Taxa de Liberação de Energia, para o Modo I de fraturamento é dada por: 209 K I2 GI = . 1 −ν 2 E ( ) (5.4.4-1a) ou: KI = E.G I (1 − ν 2 ) (5.4.4-1b) onde KI é o Fator de Intensidade de Tensão, E o Módulo de Elasticidade e ν, o Coeficiente de Poisson. Em termos de variação de flexibilidade do corpo fissurado, escreve-se que: GI = P 2 ∂C . 2.B ∂a (5.4.4-2) Para o corpo-de-prova em análise, B é a extensão da linha de frente da fissura, a, a profundidade da fissura e C=δ/P, a flexibilidade do corpo-de-prova. O deslocamento δ é o relativo à linha de carga. Substituindo-se agora a equação 5.4.42 na 5.4.4-1b decorre: K I = P. ∂C E . 2 2.B(1 − ν ) ∂a (5.4.4-3) Por sua vez, a variação de flexibilidade pode ser normalizada relativamente ao diâmetro do corpo-de-prova e tornada adimensional, da forma que se segue: ∂C 1 ∂ (CED ) = 2 . ∂a D .E a ∂ D (5.4.4-4) o que permite reescrever a equação 5.4.4-3 da forma que se segue: K I = P. 1 ∂ (CED ) . 2 a 2.B.D (1 − ν ) ∂( ) D 2 (5.4.4-5) 210 Ainda, o radicando da equação anterior pode ainda ser manipulado (multiplicado e dividido por D) de forma a tornar-se adimensional, resultando finalmente que: KI = P D ∂ (CED) . . 1, 5 2 D 2.B(1 − ν ) ∂ (α ) (5.4.4-6) Observa-se que o radical da equação 5.4.4-6 trata-se da função A(α) dada pela equação 5.4.1-3, escrita, entretanto, em termos de variação de flexibilidade do corpo-de-prova. Assim, com o auxílio da equação 5.4.4-6 os deslocamentos verificados em diversas posições eleitas puderam ser analisados ao longo do processo de fraturamento e as grandezas significativas resultantes dos procedimentos, comparadas com aquelas decorrentes da análise do campo local de tensão sobre a linha de frente da fissura, reunidas na tabela. 5.4.1-2. As cinco posições analisadas e os critérios adotados passam a ser elencados: 1. No centro do modelo e diretamente sobre a superfície de transmissão da carga (ponto A), corrigindo-se o deslocamento através da consideração do deslocamento do ponto G; 2. Idem, desconsiderando-se o deslocamento do ponto G; 3. Ainda sobre a aresta AB, a uma distância igual a 0.05.W abaixo do ponto A, corrigindo-se o deslocamento através da consideração do deslocamento do ponto G; 4. Sobre a linha de frente da fissura, corrigindo-se o deslocamento médio através da consideração do deslocamento do ponto G; 5. No ponto E, junto a face inferior do modelo, corrigindo-se o deslocamento através da consideração do deslocamento do ponto G. Para a geometria em estudo, o cálculo dos deslocamentos verticais pode ser procedido com o auxílio da equação que se apresenta: 211 8.P.S 2 . V (α ) δ = π .D 3 .E (5.4.4-7) onde V(α) é a função adimensional de Dependência Geométrica e de Carregamento, para os deslocamentos verticais. Reescrevendo a equação anterior tem-se que: V (α ) = π .D 3 .δ .E (5.4.4-8) 8.P.S 2 A aplicação da equação apresentada aos deslocamentos computados nas cinco posições de estudo possibilitou a determinação das expressões polinomiais de dependência para cada um dos casos. O gráfico das funções de dependência é mostrado na Fig.5.4.4-3. 2.8 2.6 2.4 Ponto A sem correção 2.2 Ponto A corrigido V(α) 2 1.8 1.6 0.05*W (abaixo da LC) corrigido 1.4 1.2 Linha de Frente da fissura corrigido 1 Ponto E - corrigido 0.8 0.18 0.2 0.22 0.24 0.26 0.28 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 0.42 0.44 0.46 0.48 α Figura 5.4.4-3 – Funções de Dependência Geométrica e de Carregamento, para deslocamentos verticais, relativas aos casos de estudo As equações de dependência foram utilizadas para a determinação das flexibilidades adimensionais C.E.D (equação 5.4.4.6), relativas aos sucessivos valores de α considerados. 212 Posteriormente, os valores de C.E.D, também considerados em função de α, viabilizaram novos ajustes de expressões analíticas que, uma vez diferenciadas, permitiram a complementação do radical da equação 5.4.4-6. Como dito, esse radical traduz a função adimensional para fatores de intensidade de tensão, A(α), em cada caso de estudo. Para um exame mais aprofundado das equações de dependência, um estudo relativo aos ajustes de funções aos pontos CEDi - αi foi levado a efeito. Para tanto, foram utilizadas expressões de diferente natureza, em quatro procedimentos. As funções utilizadas foram as seguintes: • Função polinomial do quarto grau CED = a.α 4 + b.α 3 + c.α 2 + d .α + e • Função racional CED = • Função recíproca quadrática CED = • a + b.α 1 + c.α + d .α 2 1 a + b.α + c.α 2 Modelo de Harris CED = 1 a + b.α c Dos estudos efetuados, observou-se que todos os ajustes foram procedidos com excelentes estatísticas, isto é, com desvios praticamente nulos e coeficientes de correlação de Pearson superiores a 0,999. 213 A Fig. 5.4.4-4 ilustra por simplicidade, a função polinomial do 4o grau ajustada (uma vez que as outras iriam se sobrepor a esta), assim como as derivadas das diversas equações encontradas. 42 37 CED; d(CED)/d(α) 32 CED - Função Polinomial (CED)'-Função Polinomial (CED)'-Função Racional (CED)'-Função Quad. Recíproca (CED)'-Modelo de Harris 27 22 17 12 7 2 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 α Figura 5.4.4-4 – Gráficos da função polinomial de dependência e das derivadas das funções ajustadas Da figura anterior depreende-se que as derivadas das diversas funções adotadas apresentam comportamentos distintos no intervalo pesquisado, em que pese as considerações tecidas relativamente aos ajustes procedidos. Esse fato, bem como as implicações que dele decorrem, serão comentados a seguir. Para o prosseguimento do trabalho, optou-se, entretanto, pela expressão polinomial do 4o grau. Uma vez de posse das equações de Flexibilidade Adimensional e das derivadas dessas equações, relativas às diversas posições de estudos, utilizando a equação 5.4.4-6 tornou-se possível a determinação, ao longo da extensão normal do ligamento, dos valores da função adimensional de dependência geométrica e de carregamento, A(α). 214 Observa-se ainda que os pontos de mínimo dessas funções representariam a constante de calibragem da geometria, Amin. O gráfico das funções A(α) determinadas é o que se apresenta na Fig. 5.4.4-5. 8.00 7.50 7.00 A(α) Ponto A - sem corr. Ponto A - corr. 6.50 Aresta AB-0.05W corr. 6.00 Linha de Frente corr. Ponto E - Face Inf. corr. 5.50 5.00 0.19 0.21 0.23 0.25 0.27 0.29 0.31 0.33 0.35 0.37 α Figura 5.4.4-4 – Funções de Dependência Geométrica e de Carregamento, para Fatores de Intensidade de Tensão, relativas aos casos de estudo Os resultados significativos dessa etapa de análises foram reunidos na tabela. 5.4.4-2, que a seguir se apresenta. Tabela 5.4.4-2 – Resultados apurados nas análises dos deslocamentos verticais CASO α V(α) δ C.E.D d(CED)/dα (cm) 1 2 3 4 5 B A (cm) KI (daN.cm^-1.5) 0.3000 1.9967 0.002912 15.2764 12.6334 4.00 4.94 0.3000 1.5743 0.002296 12.0448 12.4882 4.00 4.91 73.00 72.58 0.3000 1.2872 0.001878 9.8484 12.6060 4.00 4.94 72.92 0.2733 0.9835 0.001435 7.5245 11.3727 3.20 5.24 77.44 0.3133 1.0122 0.001476 7.7437 16.9029 4.40 5.45 80.51 Os valores de A(α) apresentados na tabela anterior tratam-se de mínimos aproximados, para cada um dos casos. As demais grandezas são aquelas que se verificam nessas posições (aproximadas). 215 Relativamente à função A(α), constata-se que a posição de tomada dos deslocamentos referente ao caso 2, é a que conduz a uma constante Amin mais realista. Portanto, as funções relativas a essa posição foram escolhidas para fins de comparação. Os resultados obtidos passam a ser apresentados na tabela. 5.4.4-3. Tabela 5.4.4-3 – Resultados para a constante Amin de calibragem do corpo-de-prova Valores de Referência Caso 2 Dif. Percentual αc B (cm) Amin 0.3164 0.2963 6.35 4.49 3.89 13.41 4.33 4.91 13.61 Neste ponto parece interessante observar que a constante de calibragem do corpo-de-prova, calculada através da expressão oferecida pela ISRM (Ouchterlony, 1990), entretanto para condições de contorno equivalentes à flexão em 3 pontos, é da ordem de 5,72, valor que se aproxima mais adequadamente daquele determinado nesta etapa de estudos para o caso 5 (deslocamentos de um ponto junto à face inferior do modelo), ou seja, aproximadamente 5,45. A expressão adotada pela ISRM é a que se reapresenta abaixo. [ ] DS AMIN = 1,835 + 7,15α 0 + 9,85α 0 . 2 (5.5) Com relação à escolha do tipo de função para a descrição da variação da flexibilidade adimensional CED, da natureza das derivadas dessas funções no intervalo de análise e às implicações dessa escolha sobre os valores da função A(α), novos ajustes aos pontos A(α)–α foram procedidos para as quatro hipóteses de verificação (Fig. 5.4.4-4), referentes ao caso de estudo número 2. As funções A(α) determinadas passam a ser apresentadas na Fig. 5.4.4-5. 216 10.0 9.5 9.0 Função Polinomial Função Racional 8.5 Função Quadr. Recíproca Modelo de Harris A(α) 8.0 7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 0.18 0.20 0.22 0.24 0.26 0.28 0.30 0.32 0.34 0.36 0.38 0.40 0.42 0.44 0.46 α Figura 5.4.4-5 - Funções de Dependência A(α) resultantes da adoção de funções de diferentes naturezas para a descrição da flexibilidade adimensional CED – Caso dois. Observando a figura anterior depreende-se que qualquer uma das funções poderia ser utilizada para a determinação da constante Amin. Entretanto a escolha de uma delas para a descrição da variação dos Fatores de Intensidade de Tensão ao longo do processo de fissuração e fraturamento estaria acompanhada de certa aleatoriedade. Tanto quanto sabe o autor, não há na literatura especializada qualquer referência ao assunto, restando, portanto, a necessidade de uma pesquisa teórica mais detalhada obre a questão. Das informações reunidas, relativas aos deslocamentos verticais tomados em diferentes posições do corpo-de-prova conclui-se, portanto, que nenhum dos critérios investigados conduz, de forma absolutamente satisfatória, ao valor da constante Amin do corpo-de-prova computada através da análise do campo de tensão ao longo da linha de frente da fissura. Embora conceitualmente corretos (abstraindo-se da discussão a questão do local adequado para a tomada dos deslocamentos), os resultados obtidos nesta etapa do trabalho refletem unicamente, a resposta global do sólido fissurado. 217 Em que pese a ponderação tecida, os resultados evidenciam os locais onde os deslocamentos não devem ser tomados, ou ainda, onde poderiam ser tomados com um menor grau de inexatidão. Analisando as tabelas anteriores conclui-se que a eleição do ponto A, sob a região de aplicação da carga parece a melhor, na situação em que os deslocamentos desse ponto são corrigidos relativamente ao ponto G, o que por sua vez sugere que a distribuição da carga, da forma como foi procedida, contribui de maneira satisfatória à minoração do comportamento quase-singular dos deslocamentos (e tensões), usualmente verificados, ao menos do ponto de vista teórico, em situações onde as cargas são aplicadas de forma concentrada. Ainda, a validade absoluta da formulação apresentada para a solução do problema é passível de questionamentos, em virtude da natureza distribuída, mesmo que em pequena escala, do carregamento aplicado. Portanto, uma discussão mais aprofundada da questão requereria uma revisão prévia da formulação teórica, o que de fato foge ao escopo deste trabalho. Assim, os deslocamentos do ponto A foram os escolhidos para o desenvolvimento das atividades posteriores e entendidos, para os fins a que se destinam, como suficientes à representação teórica dos deslocamentos da linha de carga. Entretanto, o relacionamento desses deslocamentos com outros, verificados em diferentes regiões do corpo-de-prova onde se pode proceder convenientemente a instrumentação do corpo-de-prova, é necessário. Assim, os deslocamentos do ponto E, sob o corpo-de-prova (Fig. 5.4-1), foram escolhidos para tal fim. Portanto, o inter-relacionamento procurado entre os deslocamentos dos pontos A e E é procedido neste trabalho com vistas às atividades práticas. Para as atividades estritamente teóricas, ele não é necessário, bastando a determinação da Função Adimensional de Dependência, V(α), para o ponto A (entretanto corrigida 218 relativamente aos deslocamentos do ponto G). A função de Dependência Geométrica e de Carregamento para Deslocamentos Verticais, V(α), determinada de conformidade com as considerações anteriores é a que se apresenta a seguir: V (α ) = a.α 4 + b.α 3 + c.α 2 + d .α + e (5.4.4-9) Por outro lado, os deslocamentos verticais tomados junto à face inferior do corpo-de-prova, δINF, em atividades laboratoriais, podem ser convertidos para valores teóricos, δLC, da forma que se segue: δ LC = K V .δ INF (5.4.4-10) K V (α ) = a.α 4 + b.α 3 + c.α 2 + d .α + e (5.4.4-11) e: Os coeficientes necessários à utilização das equações 5.4.4-10 e 5.4.4-11, anteriores, são apresentados na tabela. 5.4.4-4. Tabela 5.4.4-4 Coeficientes para as equações de dependência, V(α), e de conversão de deslocamentos, Kv. a V(α) Kv 28.479805 64.296216 b c d e -23.29076 11.866974 -2.27526 1.5870806 -52.466561 26.919278 -5.23179 4.7706428 Desv. Pad. Coef. Corr. 0.001 0.003 1.000 1.000 5.5 Relação Elástica Linear δ-CMOD para o corpo-de-prova V-CEV Assim como procedido no capítulo 3 deste trabalho, quando do estudo das vigas de seção retangular com entalhes retos passantes, nesta etapa a relação elástica 219 linear entre esses dois tipos de deslocamentos é equacionada, revelando novamente, que no caso dos materiais elásticos lineares, essa relação é geométrica por excelência. Como anteriormente justificado, para o caso dos materiais de ruptura quasefrágil, a relação δ-CMOD passa a ser dependente de escala, uma vez que todo o equacionamento se dá em função da extensão normalizada da fissura, α, grandeza por sua vez associada à extensão da zona de processos inelásticos da fissura. Aqui, o equacionamento é feito a partir das equações 5.4.2-3 e 5.4.4-7, por conveniência repetidas a seguir: CMOD = δ = 32.P.S .α . g (α ) π .D 2 E . 8.P.S 2 . V (α ) π .D 3 .E (5.4.2-3) (5.4.4-7) Equacionado-se uma delas em função de P e substituindo o resultado na equação remanescente, pode-se escrever que: δ = CMOD..S V (α ) . 4.D α .g (α ) (5.5-1) A relação dada pela equação 5.5-1 foi aplicada ao caso hipotético descrito no capítulo 5.4.3 (Fig.5.4.3-1) e a curva obtida é a que se apresenta na Fig. 5.5-1. 220 0.004 0.0035 KIC=100 daN.cm^-1.5 Início da fissuração 0.003 δ (cm) 0.0025 0.002 Entalhe não fissurado - Extrapolação para α =0.1667 0.0015 0.001 Resposta elástica linear - corpo-de-prova não fissurado 0.0005 0 0.0000 0.0005 0.0010 0.0015 0.0020 0.0025 0.0030 0.0035 0.0040 0.0045 CMOD (cm) Figura 5.5-1 – Relação δ - CMOD para o corpo-de-prova V-CEV 5.6 Sumário do Capítulo Neste capítulo, as principais características dos corpos-de-prova com entalhes em “V”, destinados aos ensaios de fraturamento foram apresentadas e analisadas. As vantagens e desvantagens desse tipo de entalhe comparativamente aos entalhes retos passantes, foram também pormenorizadas. A formulação básica da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear, necessária à utilização dos corpos-de-prova entalhados em “V”, assim como as respostas mecânicas dos materiais ao fraturamento, durante os ensaios, foram apresentadas e discutidas. 221 Com o objetivo de explorar os aspectos positivos desse tipo de entalhe, um novo corpo-de-prova, com origem no cilindro-padrão de (15x30) cm e raízes no corpo-de-prova denominado chevron-bending, sugerido pela ISRM para ensaios em rochas, foi apresentado. Os aspectos relevantes, relativos à geometria do corpo-de-prova proposto foram analisados e as equações que descrevem a sua geometria, antes e durante o processo de fissuração, apresentadas. De forma a atenuar a dissipação energética durante os ensaios, novos aparatos de apoio e transmissão de carga ao corpo-de-prova foram desenvolvidos e construídos. Simulações numéricas das condições de contorno decorrentes da utilização desses novos dispositivos, aproximando as situações reais de ensaio, foram conduzidas. Entretanto, uma avaliação numérica comparativa, relativa à quantificação da energia dissipada quando da utilização ou não dos aparatos desenvolvidos, expediente de implementação relativamente simples, fica ainda por ser procedida no futuro. Com vistas à calibragem da geometria proposta e das condições de carregamento idealizadas, o processo de fissuração e fraturamento do corpo-de-prova foi tridimensionalmente analisado para diferentes combinações de aparatos de ensaio e as equações fundamentais da mecânica do fraturamento elástico linear para as diferentes hipóteses deduzidas. Assim, as particularidades de desempenho do corpode-prova, relativamente às diversas combinações de condições de contorno estudadas, puderam ser detalhadas e avaliadas. A partir das equações deduzidas, o processo de fissuração do corpo-de-prova pôde ser descrito, antes e depois da carga máxima do ensaio, revelando de forma fundamentada, a não-linearidade do processo de fissuração dos corpos-de-prova com entalhes em “V”, antes mesmo da carga última. 222 Com base na análise do processo de fissuração do corpo-de-prova, novos critérios e uma expressão aproximada para o cálculo do Módulo de Elasticidade do material, foram propostos, solucionando, aparentemente, uma dificuldade inerente à utilização desse tipo de entalhe. Especial atenção foi dada ao estudo dos deslocamentos verticais da linha de carga, onde, através de uma detalhada abordagem do assunto demonstrou-se a necessidade de conversão dos deslocamentos determinados laboratorialmente para a obtenção de valores teoricamente representativos. Nesta etapa do trabalho, as principais equações da MFEL, relativas aos deslocamentos verticais, assim como aquelas necessárias às conversões dos deslocamentos medidos em laboratório, foram apresentadas. Finalmente, a relação elástica linear existente entre os Deslocamentos Verticais da Linha de Carga, δLC, e os CMODs foi equacionada para o corpo-deprova em estudo. 223 6. ESTUDO DAS CURVAS DE RESISTÊNCIA NO FRATURAMENTO BIDIMENSIONAL, SOB O ENFOQUE DA MFEL 6.1 Representação geométrica do processo de fissuração Naturalmente, todo processo de fissuração é tridimensional. Por simplificação, em situações onde as geometrias da fissura e do corpo fissurado podem ser representados no plano, do ponto de vista da mecânica do fraturamento a dimensionalidade do problema fica reduzida em uma dimensão. Assim, as faces da fissura são representadas por arestas e a linha de frente da fissura, por um ponto. Esse ponto confunde-se com os flancos da fissura, uma vez que a espessura do corpo é admitida constante. Os pesquisadores da área utilizam esse tipo de representação fazendo referência à “problemas unidimensionais” (Sarrafi-Nour et al., 1998, p.ex.). Nesse caso, a extensão ai da fissura é freqüentemente normalizada relativamente a uma dimensão característica do corpo fissurado. Para o caso das vigas retangulares, essa dimensão é a altura. Em corpos-de-prova cilíndricos, utilizase o diâmetro ou ainda, o comprimento. Por outro lado, quando o corpo fissurado é representado tridimensionalmente, a dimensionalidade das entidades geométricas da fissura mantém-se inalterada. Nesse caso, é freqüente o uso do termo “fissuração bidimensional”, dado ao fato de que a geometria da fissura deve ser descrita em duas dimensões. Dessa maneira, no estudo tridimensional da fissuração, o avanço da fissura é quantificado por uma área, denominada Área de Varredura da Fissura (Bittencourt, 224 1994). De forma análoga ao caso unidimensional, essa área pode ser normalizada relativamente à outra área significativa da seção transversal, eventualmente a área total do ligamento do corpo-de-prova, ALIG. Sendo assim, para o corpo-de-prova em estudo, os valores normais resultantes do procedimento seriam extremamente pequenos, para os níveis de carregamento que antecedem a carga máxima do ensaio. Tendo em vista o exposto, optou-se neste trabalho pela normalização da área de varredura, relativamente à área do entalhe em “V”. Portanto, a posição da linha de frente da fissura sobre o plano de fraturamento, no iézimo estágio da propagação, passa a ser obtida a partir da relação entre a área da fissura, Ai, e a área do entalhe em “V”, AENT, do corpo-de-prova, da forma que se segue: αA = I Ai AENT (6.1-1) Para a geometria em estudo e admitindo-se uma fissura com a linha de frente reta e perpendicular à direção da propagação, no iézimo estágio da progressão da fissuração, a área acumulada da fissura, Ai, relaciona-se com a profundidade, ci, da forma que se segue: Ai = ci 2 (6.1-2) A extensão total da fissura, ai, no estágio considerado, é obtida somando-se a extensão inicial do entalhe, a0, à profundidade ci da fissura. Observando-se ainda que essa extensão, ai, pode ser normalizada relativamente ao diâmetro D, a equação 6.1-1 pode ser rescrita da forma a obter-se: 225 αA = (α i .D − a0 )2 I (6.1-3) AENT Naturalmente, as equações 6.1-2 e 6.1-3 são aplicáveis à extensões αi contidas na parte inferior do ligamento, isto quer dizer, dentro do entalhe em “V”. Para o corpo-de-prova em estudo, AENT é da ordem de 51.51cm2 e a profundidade inicial do entalhe, a0, igual a 2,50 cm (tabela. 5.1.1-1). A Fig. 6.1-1 ilustra a relação existente entre αAi e αi, quando da substituição desses valores na equação 6.1-3. 1.000 0.900 0.800 0.700 0.600 αAi 0.500 0.400 0.300 0.200 0.100 0.000 0.000 0.050 0.100 0.150 0.200 α0 = 0.1667 0.250 0.300 0.350 0.400 0.450 0.500 αi Figura 6.1-1 – Curva αAi x αi para o corpo-de-prova proposto. 0.550 0.600 0.650 226 6.2 Curvas de Resistência baseadas na relação Carga-CMOD Como exposto anteriormente, o processo de fissuração da V-CEV pode ser descrito, do ponto de vista da MFEL, através das equações 5.4.1-3, para os Fatores de Intensidade de Tensão, KI, e 5.4.2-3 para os Deslocamentos de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD. Por conveniência, essas equações são aqui repetidas: KI = P . A(α ) D1.5 CMOD = 32.P.S .α . g (α ) π .D 2 E . (5.4.1-3) (5.4.2-3) A equação 5.4.1-3 pode ser reescrita de forma a obter-se: α .g (α ) = CMOD.π .D 2 .E 32.P.S (6.2-1) e β = α .g (α ) (6.2-2) Para a determinação da Curva de Resistência, a quantidade adimensional β é determinada para o par (Pi;CMODi) considerado, utilizando-se a equação 6.2-1. Para tanto, a função de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova, g(α), é calculada através das equações 5.4.2-4. O valor do módulo de Elasticidade, E, se não conhecido, pode ser aproximado através da aplicação da equação 5.4.3-3 a 227 uma série de ponto P- CMOD de forma a obter-se um valor médio representativo. Alternativamente, um valor conhecido dessa grandeza, poderia ser utilizado. Posteriormente e através de um esquema iterativo análogo ao sugerido no capítulo 3, determina-se numericamente o valor de αi que satisfaz a igualdade dada pela equação 6.2-2. Finalmente, de posse desse valor, as quantidades KR, αAi e CMOD(αi) podem ser computadas utilizando-se as equações 5.4.1-2, 5.4.1-3, 6.1-3 e 5.4.2-3 e a Curva-R então construída, em função da área normalizada, αAi, ou dos CMODs. Eventualmente, um esquema de conversão do CMOD poderia ser considerado. O fluxograma apresentado na Fig. 6.2-1 ilustra, de forma simplificada, os procedimentos necessários à determinação da Curva-R, utilizando-se o corpo-deprova V-CEV sob o enfoque da MFEL. Ainda, a conversão do CMOD se considerada, é feita, por exemplo, através do critério aproximado, anteriormente sugerido (equações 3.2-11 e 5.4.2-6). Figura 6.2-1 – Fluxograma simplificado para a construção da Curva-R sob o enfoque da MFEL 228 A Fig. 6.2-2 ilustra a Curva de Resistência construída de conformidade com os procedimentos anteriormente expostos relativa à fissuração do material hipotético explorado no exemplo 4.3-1. Ilustra-se também na figura, a curva P-CMOD anteriormente determinada. 1600 P x CMOD P (daN) ; KR x 10 (daN.cm^-1,5) 1400 1200 Pmax Valores de KI (G<R) 1000 Curva de Fraturamento (G > R) 800 Curva de Resistência 600 400 200 0 0.000 0.005 0.010 0.015 0.020 0.025 0.030 0.035 0.040 0.045 CMOD (mm) Figura 6.2-2 – Curvas P-CMOD e KR-CMOD para o material elástico linear do exemplo 4.3-1. Como se observa, as Curvas de Resistência para os corpos-de-prova com entalhes em “V” apresentam fases distintas daquelas estudadas para as vigas com entalhes retos passantes. No presente caso, o inicio da fissuração pré-pico ocorre sob condições onde os fatores de intensidade de tensão teóricos são extremamente elevados (ou hipoteticamente infinitos), fissuração que apresenta crescimento estável até a carga máxima. Neste trecho, a “Curva-R” é teoricamente substituída por uma curva de fraturamento propriamente dita. Na carga máxima do ensaio, Pmax, os parâmetros críticos Amin e αC são atingidos. Após a carga de instabilidade, para os materiais de resposta linear elástica ideal a Curva-R apresenta-se sob a forma de uma reta horizontal. 229 6.3 Curvas de Resistência baseadas na relação δ-CMOD De natureza bastante simples, a curva de resistência fundamentada na relação δ-CMOD pode ser construída a partir das equações 5.5-1, 5.4.2-3 ou 5.4.4-7 e 5.4.2- 3. A primeira delas é a que se segue: δ = CMOD..S V (α ) . 4.D α .g (α ) (5.5-1) Manipulando-se a equação anterior, é possível escrever: 4.δ .D V (α ) = α .g (α ) CMOD.S (6.3-1) e β= V (α ) α .g (α ) A Curva-R (6.3-2) é construída calculando-se inicialmente, a quantidade adimensional β para o par (δ;CMODi) considerado utilizando-se a equação 6.3-1. As funções de dependência geométrica e de carregamento do corpo-de-prova g(α) e V(α) são calculadas através das equações 5.4.2-4 e 5.4.4-9. Eventualmente, um esquema de conversão do CMOD poderia ser simultaneamente considerado. Observa-se que o valor do módulo de Elasticidade, E, não é necessário. Posteriormente, através de um esquema iterativo, análogo ao sugerido no capítulo 3, determina-se numericamente o valor de αi que satisfaz a igualdade dada pela equação 6.3-2. Finalmente, de posse desse valor, as quantidades KR e αAi podem ser computadas utilizando-se as equações 5.4.1-2, 5.4.1-3, 6.1-3 e a Curva-R então construída, em função da área normalizada, αAi, ou dos CMODs. 230 6.4 Limitações relativas à construção das curvas efetivas de resistência ao fraturamento, quando da utilização de entalhes em “V” Ao longo deste trabalho a construção da curvas de resistência ao fraturamento sob o enfoque da MFEL, tratou da determinação de extensões efetivas da fissura, a, para pares P-CMOD de um determinado ensaio. Assim, a partir dessas extensões efetivas os valores de KR puderam ser determinados para cada etapa do carregamento. Do ponto de vista elástico linear, os conceitos anteriormente expostos podem ser aplicados de forma generalizada, em virtude do pressuposto de que, nesse caso, a extensão da zona de processos inelásticos à frente da ponta da fissura é desprezível comparativamente a outras dimensões significativas da fissura ou do corpo fissurado (por conseqüência, as extensões efetivas e aparentes serão praticamente idênticas). Entretanto, no caso dos materiais cimentícios o avanço dessa zona (ou a sua formação, na fase subcrítica) impedem o cálculo da tenacidade a partir da extensão aparente da fissura (ou mesmo da extensão inicial do entalhe). Para os materiais cimentícios, via de regra essa extensão efetiva da fissura é maior que a extensão aparente no estágio de carregamento considerado, o que faz resultar (no caso das vigas regulares com entalhes retos passantes, por exemplo), Fatores de Intensidade de Tensão maiores que aqueles que seriam verificados se a extensão aparente fosse utilizada para tal fim. Na carga máxima, por exemplo, esse fator de intensidade de tensão (crítico) representará a Tenacidade ao Fraturamento do material. Assim, a “efetividade” do modelo trata-se, na realidade, de uma forma adequada de considerar-se o comportamento não linear desses materiais, relativamente ao ganho de resistência ao fraturamento. 231 Portanto, para que o princípio da efetividade possa ser aplicado, há a necessidade de que a derivada da Função dos Fatores de Intensidade de Tensão seja monotonicamente crescente, relativamente à extensão da fissura. Como também exposto, para os corpos com entalhes em “V” essa função é decrescente até a carga máxima. Mesmo que a extensão efetiva viesse a ser corretamente determinada a partir das relações anteriormente desenvolvidas, os Fatores de Intensidade de Tensão seriam calculados inconsistentemente, em virtude do fato de que esse valor efetivo (determinado para a fissura num dado estágio anterior à carga crítica) conduziria, incorretamente, a valores de KI menores, (inclusive que aquele calculado com a extensão aparente da fissura). Portanto, esse fato limita a construção das curvas efetivas de resistência ao fraturamento, aos estágios posteriores à carga de pico. Como exposto no caso das vigas ordinárias, nos estágios que antecedem a carga crítica por mera conveniência gráfica, os Fatores de Intensidade de Tensão são indicados nas curvas de resistência. Esse traçado “auxiliar” ajuda a descrever, dentre outras coisas, as intensificações de tensão e o crescimento subcrítico da fissura. Entretanto, a apresentação desses valores num traçado pertinente a um corpo de prova com entalhe em “V” significaria, em última análise, um equívoco conceitual. 6.5 Sumário do Capítulo Neste capítulo, foram apresentados os principais conceitos, relativos à representação do processo de fissuração em análises tridimensionais e a formulação necessária à representação geométrica desse processo. 232 Posteriormente, a formulação referente à construção das curvas de resistência fundamentadas nos conceitos da MFEL foi estendida ao caso da análise tridimensional. Nessa ocasião, também foram apresentadas as Curvas-R efetivas fundamentadas tanto nas relações elásticas lineares existentes entre a carga P e o Deslocamento de Abertura da Entrada do Entalhe, CMOD, quanto naquelas verificadas entre o Deslocamento Vertical da Linha de Carga, δLC e o CMOD nos diversos estágios do carregamento. Com base nesta formulação foi desenvolvida, uma análise de uma situação hipotética de fissuração, utilizando o corpo-de-prova VCEV. Finalmente, as limitações conceitualmente impostas à construção da CurvasR efetivas, quando da aplicação da técnica desenvolvidas ao estudo dos materiais de ruptura quase frágil, foi apresentada e discutida em seus principais aspectos teóricos. 233 7. PROGRAMA EXPERIMENTAL PARA A DETERMINAÇÃO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO DO CONCRETO, UTILIZANDO A V-CEV Com o objetivo de avaliar o desempenho do corpo-de-prova proposto, mesmo que de forma limitada, um segundo programa experimental de determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto foi levado a efeito. Naturalmente, um programa mais amplo de ensaios seria necessário para uma avaliação mais rigorosa da geometria e dos aparatos de ensaio propostos nesta pesquisa, programa que envolveria ainda, verificações de outras naturezas, a exemplo, da consideração da variação da escala do corpo-de-prova, da diversificação da natureza dos materiais ensaiados e da utilização de um número substancialmente maior de corpos-de-prova. Portanto, o autor gostaria de ressaltar que os ensaios realizados nessa última etapa de estudos espelham, em última análise, uma fase preliminar e despretensiosa de verificações práticas do corpo-de-prova. Dada à extensão da investigação necessária à perfeita validação do corpo-deprova e a impossibilidade prática de implementação de um programa experimental de envergadura, o programa experimental levado a efeito limitou-se ao ensaio de um numero restrito (entretanto significativo) de V-CEV, assim como de vigas convencionais com entalhes retos passantes, analisadas através do uso de uma metodologia suficientemente estabelecida, para efeitos de comparação de resultados. 7.1 Material utilizado no programa experimental Para a realização dessa segunda etapa de ensaios, um concreto de resistência intermediária foi escolhido. A mistura, de composição unitária, em massa, igual a 1:1,75:2,75 (cimento, pedra e areia), foi preparada com uma relação água/cimento 234 da ordem de 0,55. O cimento utilizado foi o da marca Votoran, CP II-E-32 e a dimensão característica do agregado graúdo de 19 mm. Os corpos-de-prova foram desmoldados aos três dias e curados em câmara úmida até o dia dos ensaios. Esse material apresentou resistência à compressão da ordem de 320 daN/cm2 aos 56 dias. 7.2 Corpos-de-prova produzidos Para a execução dos ensaios, 16 cilindros de (15x30cm) foram moldados. Desses corpos-de-prova, 10 foram aleatoriamente escolhidos para os ensaios de fraturamento. Os entalhes foram preparados utilizando-se uma serra de disco, refrigerada a água que proporcionou espessuras finais de corte da ordem de 4 mm. A Fig. 7.2-1 mostra os entalhes produzidos em três corpos-de-prova cilíndricos. Figura 7.2-1 – Corpos-de-prova cilíndricos com entalhe em “V”: seção transversal central 235 Os cilindros restantes foram utilizados, em parte, para a determinação da resistência à compressão do material e em parte para a caracterização física do material (ensaios de massas). A determinação indireta da resistência à tração, por compressão diametral, foi procedida utilizando-se 10 das 20 partes remanescentes das V-CEV ensaiadas ao fraturamento, após o desbaste dos restos dos entalhes centrais. Do mesmo concreto, foram preparadas 4 vigas de seção retangular, com 6,0 cm de base, 12 cm de altura e 54 cm de comprimento, ensaiadas com um vão-livre de 48 cm. Os entalhes centrais, retos e passantes, foram moldados utilizando-se placas de inserção metálicas. 7.3 Ensaios de fraturamento Como no primeiro programa experimental, os ensaios de fraturamento foram realizados no Laboratório de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP, 53 dias após a moldagem dos corpos-de-prova, utilizando-se o equipamento servo-controlado MTS, modelo TESTSTAR II descrito anteriormente neste trabalho. Os ensaios foram executados em ciclo fechado, sob condições de controle dos CMODs. Objetivando a eliminação de variáveis, todos os corpos-de-prova foram ensaiados saturados. 236 Ensaios das V-CEV As V-CEV foram ensaiadas utilizando-se as combinações de condições de contorno estudadas neste trabalho. A primeira série, composta de 4 corpos-de-prova, foi ensaiada à flexão em “3 pontos” , hipótese de apoio e carregamento que constitui o caso “A”. A segunda série, formada pelos outros 6 corpos-de-prova, foi ensaiada à flexão utilizando-se os aparatos especiais de apoio e carregamento desenvolvidos ao longo deste trabalho (caso “B”). As Fig. 7.3-1, 7.3-2 e 7.3-3 ilustram o andamento dos ensaios, sob as diferentes condições de apoio e carregamento. Figura 7.3-1 – Ensaio de flexão em “3 pontos” do corpo-de-prova V-CEV. 237 Figura 7.3-2 – Ensaio de flexão do corpo-de-prova V-CEV –esquema “aresta superfície” (caso “B”) Figura 7.3-3 – Ensaio de flexão do corpo-de-prova V-CEV –esquema “aresta superfície” (caso “B”) 238 Resultados dos ensaios V-CEV A seguir são apresentados os gráficos Carga-CMOD referentes aos ensaios de fraturamento procedidos. Os gráficos relativos às condições de contorno do caso “A”, isto é, a de flexão em “três pontos” são ilustrados, em conjunto, na Fig. 7.3-4. Para maior nitidez, as curvas obtidas nos ensaios e relativas ao caso “B” são apresentados em separado nas Fig. 7.3-5 a 7.3-10. 1200 1100 1000 900 P ( daN ) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 0.11 0.12 0.13 CMOD ( mm ) Figura 7.3-4 Corpos-de-prova ensaiados à flexão em 3 pontos –Caso ”A” de estudos. 0.14 239 V-CEV 1 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 COMD (mm) Figura 7.3-5 – Corpo-de-prova no. 1 V-CEV 2 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 CMOD (mm) Figura 7.3-6 – Corpo-de-prova no. 2 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 240 V-CEV 3 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 CMOD (mm) Figura 7.3-7 – Corpo-de-prova no. 3 V-CEV 4 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 CMOD (mm) Figura 7.3-8 – Corpo-de-prova no. 4 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 241 V-CEV 5 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 0.1 0.11 0.12 0.13 0.14 CMOD (mm) Figura 7.3-9 – Corpo-de-prova no. 5. V-CEV 6 1200 1100 1000 900 P (daN) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 CMOD (mm) Figura 7.3-10 – Corpo-de-prova no. 6 242 Ensaios das vigas convencionais As vigas convencionais moldadas com o mesmo material foram ensaiadas à flexão em três pontos utilizando-se a metodologia do Modelo dos Dois Parâmetros, recomendada pela RILEM. Os procedimentos de ensaio foram análogos aos descritos no capítulo 4, adotados anteriormente para ensaios de outros materiais. A Fig. 7.3-11 ilustra o andamento um dos ensaios e as Fig. 7.3-12 e 7.3-13 trazem os gráficos Carga-CMOD dos 4 ensaios realizados. Figura 7.3-11 - Ensaio de fraturamento de viga – Flexão em três pontos. 243 Figura 7.3-12 Curvas Carga-CMOD - Corpos-de-prova 1 e 2 Figura 7.3-13 - Curvas Carga-CMOD - Corpos-de-prova 3 e 4 244 7.4 Determinação dos parâmetros de tenacidade e análise dos resultados Vigas ensaiadas à flexão em três pontos A partir das informações de ensaio, os valores do Módulo de Elasticidade, E, e da Tenacidade ao Fraturamento,KIC, do material foram computados para as vigas entalhadas e para os corpos-de-prova V-CEV, com o auxílio de uma rotina escrita em FORTRAN 90/95 e passam a ser apresentados. Pormenores relativos aos resultados obtidos computacionalmente encontram-se reunidos no Apêndice G deste trabalho. • Módulo de Elasticidade Para o cálculo do Módulo de Elasticidade, duas metodologias foram empregadas. Inicialmente, os valores do Módulo de Elasticidade do material foram computados através da metodologia do Modelo dos Dois Parâmetros, apresentada no capítulo 2, para cada um dos corpos-de-prova ensaiados. Os valores assim obtidos passam a ser designados Es. Na segunda etapa de cálculos, a influência da altura da lâmina de suporte do extensômetro, através da constante de conversão kd, foi considerada. Nesse caso, o valor final, para cada corpo-de-prova, foi obtido da média dos valores computados em cada ponto P-CMOD da fase resiliente da resposta. Para o cálculo do Módulo adotou-se kd=f(α0), uma vez que no estágio onde se avalia o Módulo, a resposta do corpo-de-prova é considerada elástica. Esses valores passam a receber a designação Ek,d. Os valores apurados, segundo os dois critérios adotados, são apresentados na tabela. 7.4-1. 245 Tabela 7.4-1 –Resultados do Módulo de Elasticidade (vigas) Corpo-de-prova 1 2 3 4 Valores Médios: Desv. Padrão: Desv. Padrão %: • E (s) E (kd) (daN/cm2) (daN/cm2) 260452.870 252630.045 276208.430 253840.167 260782.878 249738.439 241966.319 261585.171 253840.167 251782.524 9390.507 7086.289 3.601 2.814 Tenacidade ao Fraturamento A Tenacidade ao Fraturamento foi determinada, para cada um dos corpos-deprova, através da metodologia dos Dois Parâmetros sugerida pela RILEM. De forma análoga à grandeza anteriormente analisada, os cálculos de KSIC foram procedidos em duas etapas, fazendo uso dos Módulos de Elasticidade computados pelos diferentes critérios. Posteriormente, os valores de KSIC foram minorados de forma a refletirem a variação da magnitude da Tenacidade ao Fraturamento, decorrente da consideração do Coeficiente de Poisson, ν, usualmente negligenciado na formulação desenvolvida para as vigas em flexão. Mesmo que significando uma correção de pequena monta, este procedimento foi adotado para que os valores de tenacidade obtidos nos ensaios de vigas, valores que se aproximam daqueles obtidos em condições de estado plano de tensão, pudessem ser comparados com os obtidos utilizando-se entalhes em “V”, que, por sua vez, aproximam-se da Tenacidade ao Fraturamento sob condições de estado plano de deformação. Nas simulações numéricas adotou-se ν = 0,175. Os valores convertidos, designados KSIC* (ou KIC*(S) ), foram determinados da forma que se segue: S K S IC * = K IC . 1−υ 2 (7.4-1) 246 O mesmo procedimento foi adotado para a conversão dos valores de Tenacidade ao Fraturamento obtidos com o Módulo Ek,d. Os valores calculados encontram-se reunidos na tabela. 7.4-2. Tabela 7.4-2 –Resultados da Tenacidade ao Fraturamento (vigas) Corpo-de-prova KIC(s) KIC (Mod.kd) KIC*(s) KIC*(Mod.kd) (daN.cm^ -1.5) (daN.cm^ -1.5) (daN.cm^ -1.5) (daN.cm^ -1.5) 105.810 117.584 117.060 102.077 110.633 101.824 112.846 111.419 98.195 106.071 104.178 115.769 115.253 100.502 108.926 100.253 111.104 109.700 96.680 104.434 Desv. Padrão: 6.82 6.22 6.72 6.12 Desv. Padrão %: 6.16 5.86 6.16 5.86 1 2 3 4 Valores Médios: Os procedimentos de construção de curvas de Resistência descritos ao longo deste trabalho foram aplicados às informações P-CMOD obtidas nos ensaios das quatro vigas. O conjunto de curvas é o que se ilustra na Fig. 7.4-1. 250 225 200 KR (daN.cm^-1,5) 175 150 125 CP 1 100 CP 2 CP 3 CP 4 75 50 25 0 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 CMOD (mm) Figura 7.4-1 – Curvas KR-CMOD para as vigas com entalhes retos passantes. 247 Observa-se na figura anterior que as curvas de resistência determinadas incluem os ciclos de descarregamento e recarregamento dos corpos-de-prova. Mesmo que representando unicamente fatores de intensidade de tensão, os valores de KI desses ciclos foram calculados de forma a poder ficar demonstrada a continuidade (em termos de tendência) das Curvas-R. Posteriormente, os valores de KI desses ciclos foram desconsiderados e ao conjunto de pontos KR-CMOD ajustou-se uma curva de comportamento exponencial, representativa dos ensaios procedidos. O gráfico dessa função assim como o valor de referência, KSIC, passam a ser apresentados na Fig. 7.4-2. A equação determinada (com S=6,6 e r=0,988) é a que se segue: ( K R = 175.1597 1 - e (-21.5761.CMOD ) ) (7.4-1) 250 225 200 KR (daN.cm^-1,5) 175 150 125 CP 1 100 CP 2 CP 3 CP 4 75 Kic (s) Ajuste Exponencial 50 25 0 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 CMOD (mm) S Figura 7.4-2 – Curvas KR-CMOD, valor de referência K IC e gráfico da função exponencial representativa dos ensaios da vigas com entalhes retos passantes. 248 Corpos-de-prova V-CEV • Módulo de Elasticidade De forma análoga ao caso das vigas, o Módulo de Elasticidade foi calculado para cada um dos corpos-de-prova. A equação 5.4.2-3 foi utilizada com a consideração da influência da altura d da lâmina de suporte do extensômetro através do uso da constante kd,com α=α0. Nesta etapa, somente os corpos-de-prova integrantes do caso “B”, quatro de um total de seis CPs moldados, foram analisados. Os resultados dos dois corpos-deprova remanescentes não foram considerados uma vez que as profundidades finais dos entalhes ficaram em desconformidade com a geometria calibrada. Os resultados determinados nas análises são apresentados na tabela. 7.4-3. Tabela 7.4-3 - Resultados do Módulo de Elasticidade (V-CEV) Corpo-de-prova E (daN/cm2) 1 2 337494.684 294506.257 3 4 295545.903 318213.077 311439.980 17777.057 5.708 Média: Desv. Padrão: Desv. Pad. %: • Tenacidade ao Fraturamento A determinação da Tenacidade ao Fraturamento foi procedida em duas etapas distintas, utilizando a formulação apresentada neste trabalho e a metodologia de 249 costume aplicada aos corpos-de-prova assemelhados. Inicialmente, a Tenacidade Aparente, KIQ, foi calculada de conformidade com os conceitos da MFEL, utilizando a constante de calibragem do corpo-de-prova determinada no capítulo 5 (tabela. 5.4.1-2) assim como as cargas máximas dos ensaios. Posteriormente, esse valores aparentes foram corrigidos através da consideração dos fatores de correção inelástica, determinados com o auxílio da relação δ-CMOD para o corpo-de-prova (equação 5.5-1). Os resultados apurados passam a ser apresentados na tabela. 7.4-4. Tabela 7.4-4 - Resultados da Tenacidade ao Fraturamento (V-CEV) Corpo-de-prova 1 2 3 4 Média: Desv. Padrão: Desv. Pad. %: • Pmax KIQ (daN) (daN.cm^-1.5) 943.944 817.323 890.541 856.462 877.068 46.497 5.301 69.589 60.858 65.652 64.415 65.129 3.119 4.789 p [(1+p)/(1-p)]^0.5 KIC (daN.cm^-1.5) 0.327 0.333 0.371 0.356 0.347 0.018 5.101 1.404 1.414 1.476 1.451 1.436 0.029 2.017 97.689 86.041 96.905 93.467 93.525 4.604 4.922 Outros Valores de referência para o Módulo de Elasticidade Uma vez que o Módulo do material não foi determinado por outras vias, como por exemplo, através de ensaios de cilindros instrumentados, alguns valores de referência foram calculados com o auxílio de relações empíricas baseadas na resistência à compressão do material, com o objetivo de estabelecer uma comparação. A resistência média à compressão do material, avaliada em 323.4 daN/cm2 (32.34 MPa) aos 53 dias, foi considerada. As relações utilizadas foram as sugeridas pelo CEB, pela RILEM, e por Carrasquillo, apud Shah (1995), Karihaloo (1995) e Saldívar (1999), respectivamente, e pela A.B.N.T apud Petrucci (1995). Os valores computados são os apresentados na tabela. 7.4-5. 250 Tabela 7.4-5 ; Valores de referência para o módulo de elasticidade, com base na resistência à compressão Referência E (daN/cm^2) CEB (EUROCODE-90) RILEM CARRASQUILLO: A.B.N.T. (M. Tangente) • 318601.595 272115.863 257803.483 377651.499 V-CEVs ensaiadas à flexão em 3 pontos De forma inversa à ocorrida com os corpos-de-prova solicitados com os aparatos especiais, os 3 espécimes preparados para os ensaios à flexão em três pontos, talvez por terem sido os primeiros entalhes produzidos, apresentaram, todos, entalhes com profundidades fora do padrão esperado. Assim, a formulação de calibragem desenvolvida dentro deste trabalho não pode ser diretamente aplicada aos resultados desses 3 ensaios. Objetivando contornar o problema, mesmo que parcialmente, a expressão geral da ISRM foi utilizada para a correção da constante AMIN, em função das profundidades relativas dos entalhes. Para tanto, um fator relacionando a constante determinada neste trabalho (para esse tipo de condições de contorno) e aquela decorrente da aplicação da equação 5.5 às dimensões do corpo-de-prova e dos entalhes produzidos, foi determinado. Esse fator foi posteriormente aplicado aos valores de AMIN determinados com a equação 5.5, para cada um dos corpos-deprova. Esse procedimento viabilizou a aproximação dos valores da Tenacidade Aparente, KIQ, para os corpos-de-prova ensaiados. 251 Os valores das constantes corrigidas, assim como os valores de KIQ calculados, são apresentados nas tabelas 7.4-6 e 7.4-7. Tabela 7.4-6 – Correção da constante de calibragem para as V-CEV solicitadas à flexão em 3 pontos Corpo-de-prova ao (cm) (cm) CEV-C2 CEV-C3 CEV-C4 Teórico 2.30 2.00 1.70 2.50 14.80 14.80 14.90 15.00 D α0 A min (ISRM) A min (corr.) 0.1554 0.1351 0.1141 0.1667 5.5936 5.2371 4.8493 5.7205 4.1976 3.9300 3.6390 4.2928 Tabela 7.4-7 – Valores de Tenacidade aparente determinados com as V-CEV (flexão em 3 pontos) Corpo-de-prova CEV-C2 CEV-C3 CEV-C4 Médias: Desv. Padrão: Desv. Padrão %: D (cm) 14.80 14.80 14.90 α0 0.1554 0.1351 0.1141 A min (corr.) 4.1976 3.9300 3.6390 Pmax KIQ (daN) (daN.cm^-1.5) 822.383 794.065 1003.812 873.420 92.923 10.64 60.629 54.810 63.512 59.650 3.619 6.07 Para que os valores recém apresentados não sejam confundidos com os resultados anteriores, na discussão que se segue quaisquer referências aos mesmos serão feitas de forma explícita, reservando-se os principais comentários aos resultados preliminarmente apresentados para as V-CEV solicitadas e apoiadas com os aparatos especiais do caso B de condições de contorno. Discussão Da análise dos resultados apresentados, relativos ao Módulo de Elasticidade do material e determinados nos ensaios de flexão de vigas, observa-se que os desvios percentuais, em torno dos valores médios computados através de cada um dos 252 critérios de análise, são relativamente baixos. Entre critérios, a diferença é da ordem de 5%, valor considerado satisfatório. Com relação aos valores determinados através da utilização das V-CEV, observa-se que o desvio padrão em torno da média também é baixo. Entretanto, os valores médios apurados com os diferentes corpos-de-prova diferem entre si em aproximadamente 19%, diferença considerada significativa. Comparativamente aos valores de referência alternativos, depreende-se que o resultado médio apurado com as vigas convencionais aproxima-se do obtido a partir da relação apresentada pela RILEM, com uma diferença da ordem de 7,5%. Comparativamente à relação proposta por Carrasquillo, essa diferença é menor, algo em torno de 2,3%. Por outro lado, o valor médio decorrente dos ensaios das V-CEV aproxima-se mais adequadamente daquele obtido com a fórmula do CEB, sugerida por Shah (1995). A diferença, nesse caso, é da ordem de 2,3%. Verifica-se, finalmente, que os valores do Módulo de Elasticidade determinados segundo as diferentes metodologias guardam uma certa uniformidade, confirmando, dentro dos limites esperados, a reprodutibilidade dos ensaios, não obstante a diferença verificada entre os valores apurados com os diferentes corposde-prova. As causas que originaram esta diferença, entretanto, ainda não estão claras para o autor. Relativamente aos valores de Tenacidade ao Fraturamento, observa-se que os valores apurados com as vigas convencionais através de critérios diversos, diferem algo em torno de 4,3%. Entre os diferentes corpos-de-prova, as variações encontradas foram de 11,7 e 16,5%, se considerados os diferentes critérios. Por sua vez, as Tenacidades Aparentes, KIQ, determinadas com as V-CEV ensaiadas de acordo com as diferentes condições de contorno diferem entre si algo da 253 ordem de 8,41%, valor considerado satisfatório, em que pesem as dúvidas eventualmente decorrentes dos critérios adotados para a correção da constante de calibragem do corpo-de-prova. De uma forma geral, os resultados de ensaios de determinação das propriedades mecânicas de resistência de materiais como os concretos e argamassas, usualmente apresentam variações de até 15 %, diferenças tecnicamente entendidas como “naturais” por estarem associadas à natureza desses compósitos. Aqui, entretanto, esse raciocínio talvez não se aplique. Da análise dos resultados individuais (de cada corpo-de-prova) depreende-se, sobretudo, a uniformidade das respostas obtidas, relativamente aos resultados médios dos grupos, fato refletido pelo baixo desvio padrão de cada um desses grupos. A discrepância verificada talvez se associe à estratégia adotada de determinação indireta do Fator de Correção Inelástica. Tendo em vista a natureza das equações utilizadas, acredita-se que a correção aplicada tenha apenas aproximado o valor real esperado, fato que ainda requer uma análise mais aprofundada. 7.6 Sumário do capítulo Neste capítulo, um programa experimental preliminar que objetivou a primeira utilização do corpo-de-prova, desenvolvido ao longo deste trabalho, foi implementado. Utilizando aparatos de apoio e transmissão de carga ao corpo-deprova, especialmente desenvolvidos para este fim, uma série de ensaios de fraturamento, foi procedida. Para uma caracterização adequada do material investigado relativamente ao às propriedades de fraturamento, diferentes ensaios como os de determinação das resistência à compressão e à tração, ensaios granulométricos dos agregados e aqueles 254 de determinação das massas secas, submersas e saturadas e por conseqüência, dos indicadores de porosidade, foram procedidos. Parâmetros relevantes de resistência como a Tenacidade ao Fraturamento além do Módulo de Elasticidade do material foram então computados através de diferentes metodologias consideradas ao longo do trabalho. Posteriormente, esses resultados foram comparados àqueles obtidos em uma outra série de ensaios simultaneamente levados a efeito pelo autor de flexão de vigas convencionalmente entalhadas, recomendados pela RILEM. De forma suplementar, outros valores de referência dessas grandezas de interesse foram tomados na literatura técnica e utilizados, com vistas a extensão das comparações. Uma discussão relativa à significância dos resultados apurados foi então tecida e as diferenças resultantes da comparação levada a efeito, embora decorrentes de uma série restrita de ensaios, foram apreciadas em seus aspectos significativos. Embora de pequena monta, a origem de pequenas divergências encontradas, fica por ser investigada. De forma geral, os resultados obtidos com esse tipo de corpo-de-prova demonstraram, por sua uniformidade, excelente reprodutibilidade, indicando que o espécime proposto pode ser convenientemente utilizado nas atividades laboratoriais cotidianas, restando entretanto, a necessidade de uma investigação experimental mais aprofundada, que levasse em consideração, para efeitos de comparação, corpos-deprova de outra natureza e materiais alternativos. 255 8. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS Dois foram os objetivos desta tese. Primeiro, a modelagem analítica e computacional das Curvas de Resistência ao Fraturamento sob o enfoque da Mecânica da Fratura Elástica Linear através do desenvolvimento de um modelo que pudesse ser aplicado à análise do processo de fissuração e fraturamento de materiais cimentícios em geral e, em particular, dos concretos comuns e dos concretos reforçados com fibras de aço. Nessa direção, inicialmente foram abordados os aspectos relevantes relativos aos diferentes tipos de corpos-de-prova utilizados para os ensaios de determinação das Tenacidades, Flexional e ao Fraturamento, assim como as metodologias existentes para a quantificação dessas grandezas. Complementarmente, a multiplicidade de parâmetros adotados pelas principais organizações, a exemplo da RILEM e da ASTM, foi discutida e uma ferramenta computacional desenvolvida pelo autor, objetivando a automação da análise da tenacidade flexional, apresentada. Esse programa computacional, embora em fase preliminar de desenvolvimento, mostrou-se eficiente para a determinação dos parâmetros básicos de tenacidade flexional, abrindo assim uma nova perspectiva sobre o assunto, requerendo, entretanto, um maior aprofundamento e uma maior maturação. A essa etapa de trabalhos, seguiu-se a análise dos principais aspectos teóricos referentes à Resistência ao Fraturamento, dos pontos de vista da MFEL e da MFNL, revisão que incluiu a abordagem dos principais conceitos relacionados à construção das Curvas de Resistência para a descrição do processo de fraturamento. Neste sentido, as equações fundamentais da Mecânica da Fratura Elástica Linear foram cuidadosamente reexaminadas e as relações existentes entre a carga aplicada e os deslocamentos, de abertura da entrada do entalhe (CMOD) e verticais da linha de 256 carga (δLC), puderam ser estabelecidas. Foi explicitada em especial, a relação existente entre esses deslocamentos (CMOD e δLC), e demonstrada a hipótese de que essa relação, para materiais obedecendo os princípios da MFEL, é puramente geométrica. Nessa ocasião, as equações fundamentais da MFEL, até então indisponíveis para a viga de 150x150x500mm com vão-livre de 450mm e solicitada à flexão em 3 pontos, corpo-de-prova extensamente utilizado pelos pesquisadores da área, foram determinadas. Ao longo dessa etapa do trabalho, especial atenção foi dada à influência da altura da lâmina de fixação do clip-gauge sobre os valores dos CMODs determinados experimentalmente e novas equações que viabilizam a consideração dessa influência, foram então deduzidas. Embora até agora negligenciada, a correção dessa influência revelou-se importante, uma vez que as quantidades associadas à mecânica da fratura usualmente apresentam magnitudes extremamente pequenas. Partindo das relações entre a carga aplicada e os deslocamentos, assim como daquelas que esses deslocamentos guardam entre si, 3 novas metodologias para a construção de Curvas Efetivas de Resistência ao Fraturamento foram propostas e os procedimentos necessários à implementação desses modelos, oferecidos. Ainda, tendo como marco central os conceitos da MFEL, a efetividade do principal modelo proposto, ou seja, daquele fundamentado na relação P-CMOD, foi fartamente discutida. Seguiu-se então a implementação do modelo através da aplicação das Curvas de Resistência ao Fraturamento, à análise do processo de fissuração de materiais cimentícios como rochas, concretos de alta resistência (CAR) e concretos reforçados com fibras de aço (CRFA). Nessa oportunidade, importantes habilidades do modelo implementado vieram à tona, dentre elas aquela de capturar o regime de crescimento subcrítico da fissura. Ainda, a constatação de que os maiores níveis de Resistência ao Fraturamento são atingidos após a carga máxima do ensaio, inclusive para materiais de 257 comportamento sabidamente frágeis, a exemplo do CAR, ficou claramente evidenciada, possibilitando a reabertura da discussão sobre a abrangência dos parâmetros de tenacidade computados na carga crítica. Nos estudos levados a efeito, especial atenção foi dada aos concretos reforçados com fibras de aço. Para tanto, dados de ensaios conduzidos por pesquisadores como Saldívar e Jamet et al. foram analisados, através da utilização da metodologia desenvolvida. Nesse caso, constatou-se que o modelo implementado aplica-se à descrição do regime de ruptura desses materiais não somente do ponto de vista da resposta global do corpo fissurado, bem como à elucidação dos mecanismos de mudança de comportamento do compósito ao nível da sua microestrutura, ao longo do processo de fissuração. Da forma análoga, o modelo mostrou-se extremamente eficaz no que diz respeito à capacidade de capturar o aumento da Resistência ao Fraturamento do compósito, com a evolução do teor de fibras de aço a ele incorporado. Nesse sentido, um programa experimental onde o teor de fibras de aço foi feito variar, evidenciou, não somente o ganho de resistência com a incorporação de diferentes teores de fibras de aço, bem como a associação entre esses diferentes teores e as profundidades efetivas da fissura, em cada caso estudado. Nessa oportunidade, a relação entre a Tenacidade ao Fraturamento e a Tenacidade Flexional foi também esboçada. Igualmente relevante foi a constatação da aplicabilidade do modelo desenvolvido, através do estudo da variação da escala estrutural, levado a efeito neste trabalho. Para que esses estudos pudessem ser procedidos, novas expressões da MFEL para “vigas curtas”, tiveram que ser computadas pelo autor, complementando assim as ferramentas analíticas necessárias a análises estruturais de importância que habitualmente fazem uso desse tipo de corpo-de-prova. 258 Nos estudos que se sucederam foi demonstrada a rápida convergência das respostas de Resistência ao Fraturamento de materiais como o CAR a patamares de relativa constância em virtude da mudança da escala estrutural. Nessa mesma oportunidade o comportamento oposto dos Índices Adimensionais da ASTM, determinados com o auxílio do programa TENAC, parece ter sido detectado, ao menos em termos das magnitudes das taxas de convergência desses índices à patamares de relativa constância. Da aplicação do modelo desenvolvido à análise do efeito de escala, constatou-se que corpos-de-prova com alturas avantajadas seriam necessários à “dissipação” desse efeito, em termos de determinação de valores de Resistência ao Fraturamento relativamente insensíveis à escala estrutural, mesmo para pequenas fibras de aço, fato que sugere a utilização de “curvas de escala” para a definição dessa propriedade resistente, o que possibilitaria a sua utilização racional da Resistência ao Fraturamento nas atividades de projeto. Dessa maneira, acredita-se que o modelo apresentado tenha sido fortemente verificado ao longo desta tese e que, ao menos como uma primeira aproximação, seja de fato eficaz, não somente para a descrição do processo de fissuração e fraturamento estrutural, mas também para a determinação da Resistência ao Fraturamento dos materiais cimentícios investigados. Entretanto, por questões inerentes à lógica científica, entende-se que se torna necessária uma pesquisa ainda mais exaustiva e aprofundada, no sentido de buscar-se o aprimoramento do modelo e a identificação rigorosa das situações de limitação do que aqui se propôs. Assim, um programa mais abrangente da aplicação do modelo efetivo desenvolvido nesta tese ao estudo do efeito de escala, tanto para o concreto de alta resistência, como para o CRFA é uma sugestão que finalmente se apresenta neste trabalho. Pela consistência apresentada e principalmente pelo enfoque adotado na sua concepção, acredita-se igualmente que o modelo possa ser naturalmente estendido 259 para utilização com corpos-de-prova de diferentes naturezas e mesmo aos outros modos de fraturamento (II e III), o que requereria, entretanto, a determinação das equações fundamentais da MFEL para o corpo-de-prova a ser utilizado nessas novas situações de solicitação ao fraturamento. Na segunda etapa desta tese, apresentou-se um novo corpo-de-prova originário do cilindro padrão de (15x30)cm, adaptado para os ensaios de determinação da Tenacidade ao Fraturamento do concreto em ensaios de flexão, explorando entretanto os aspectos positivos apresentados pelos entalhes em “V. Para o apoio e o carregamento do corpo-de-prova, novos aparatos de ensaio foram concebidos e desenvolvidos. Diferentes etapas de análises numéricas foram então levadas a efeito, objetivando a determinação das novas condições de carregamento e a calibragem da geometria proposta. Nessa etapa, as equações relevantes da MFEL, relativas aos CMODs, aos Deslocamentos Verticais, δLC, e aos Fatores de Intensidade de Tensões, foram determinadas para o corpo-de-prova, sob diferentes de condições de contorno. Dessa maneira, o processo de fissuração do corpo-de-prova pôde ser descrito nos regimes pré e pós-pico do ensaio, o que possibilitou o entendimento das não linearidades inerentes ao processo de colapso de corpos-de-prova com entalhes em “V”, assim como a determinação de uma expressão aproximada para a determinação do Módulo de Elasticidade do material, a partir das informações habitualmente decorrentes dos ensaios de fraturamento, aparentemente preenchendo uma lacuna até então existente. De forma complementar, as equações necessárias às correções dos CMODs, em virtude da altura da lâmina de suporte do clip-gauge, assim como as relações elásticas lineares existentes entre os deslocamentos significativos, também foram computadas para o corpo-de-prova proposto. Nessa oportunidade, os principais conceitos relativos à representação do processo de fissuração e fraturamento em 260 análises tridimensionais foram desenvolvidos e a formulação a ela necessária, apresentada em seus principais aspectos. Com o objetivo de validar a geometria proposta, uma série de experimentações foi levada a efeito e uma análise comparativa dos resultados obtidos, então estabelecida. Embora de pequena monta, os resultados das grandezas de interesse, determinados com o corpo-de-prova desenvolvido mostraram divergências relativamente uniformes, comparativamente aos valores de referência adotados. As origens dessas diferenças ainda não estão suficientemente claras, sugerindo que a exploração do espécime proposto seja aprofundada em novas pesquisas. Essas investigações deveriam considerar, para efeitos de comparação de resultados, além de vigas convencionalmente entalhadas, corpos-de-prova de diferentes naturezas, a exemplo dos short-rods (CEV) submetidos a ensaios de abertura diametral por tração direta ou por compressão excêntrica. Da mesma maneira e tendo em vista o caráter inicial das investigações do corpo-de-prova desenvolvido, ensaio de fraturamento de outros materiais de comportamentos extremos (no que diz respeito ao regime de ruptura), entretanto mais “regulares” que o concreto convencional, a exemplo das argamassas e do concreto de alta resistência, deveriam ser conduzidos objetivando a solução das dúvidas remanescentes quanto às diferenças verificadas nos resultados. De forma análoga, a eficiência dos novos aparatos de apoio e carregamento, embora evidente, necessita ser mensurada. Assim, uma avaliação numérica comparativa, relativa à quantificação da energia dissipada quando da utilização dos novos aparatos e daqueles regularmente adotados pela ISRM, fica ainda por ser procedida no futuro, o que poderia ser levado a efeito em paralelo a uma série de ensaios extensométricos, especificamente planejados para esse fim. 261 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anderson, T.L. (1991) Fracture Mechanics: Fundamentals and applications, CRC Press, Boca Raton, Florida, USA. ANSYS (1996) - ANSYS Computer Program, Release 5.3, Swanson Analysis Systems Inc., Houston, PA, USA. ASTM (1994) – “ASTM C1018-94b - Standard Test Method for Flexural Toughness and First-Crack Strength of Fiber-Reinforced Concrete (Using Beam with Third-Poin Loading)” –American Society for Testing and Material. Banthia, N., Sheng, J. (1996) – “Fracture Toughness of Micro-Fiber Reinforced Cements”, Special Insue, Int. Journal of Cement and Concr.Composites, 18, pp. 251-269. Barker, L. M. 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Teor de fibras: 40kg/m3 Corpo-de-prova: Viga prismática (15x15x50)cm – Vão-livre:45 cm ; entalhe:1,2cm Ensaio: Flexão em 3 pontos Variável de controle do ensaio: CMOD GRÁFICO DO ENSAIO 4500 4000 3500 P (daN) 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20 1.30 1.40 1.50 1.60 δ (mm) Figura A1 – Curva P-δ - Concreto reforçado com fibras de aço ; Flexão em 3 pontos. 2 ********** TENAC ANALYSIS REPORT ********** Version 1.1-06/00 - Beta PROCESSED FILE : f_70_40.dat GEOMETRY OF THE SPECIMEN TESTED: WIDTH: DEPTH: SPAN : INITIAL NOTCH : 151.0000000 150.0000000 450.0000000 12.0000000 AREA COMPUTED UNDER THE CURVE NUMBER OF DATA POINTS USED A : N : 4766.538001500 628 EXTREMS OF INTEREST MAXIMUM LOAD DISPLACEMENT INITIAL LOAD DISPLACEMENT FINAL LOAD DISPLACEMENT MEAN LOAD OF INTERVAL Fmax: : Fmin: : Fend: : Fmed: 4092.800000000 0.050360000 0.000000000 0.000000000 2750.900000000 1.527320000 2723.368471338 ---- LINEAR LEAST-SQUARE FIT UP TO 50 % OF PEAK LOAD ---PEAK LOAD ACCEPTED AS 50% OF MAX. LOAD NUMBER OF POINTS USED : MINIMUM LOAD OF INTERVAL DISPLACEMENT MAXIMUM LOAD OF INTERVAL DISPLACEMENT MAXIMUM LOAD ADOPTED : : : : : SLOPE : LOAD INTERCEPT : PEARSON´S COEF. OF CORREL. (R): CORRECTION FOR DISPLACEMENTS : 12 681.800000000 [ 16.659 % ] 0.007700000 2059.100000000 [ 50.310 % ] 0.024170000 4092.800000000 [100.000 % ] 82315.367012115 23.409932477 0.993921552 0.000284393 3 ----------------TOUGHNESS ANALYSIS---------------- ***** RILEM TC 162 - TDF ***** FIRST PEACK LOAD WITHIN OFF SET DISPLACEMENT DISPLACEMENT DELTA(2) DISPLACEMENT DELTA(3) : : : : 4092.800000000 0.050644393 0.700644393 2.700644393 AREA AREA AREA AREA AREA : : : : : 720.613045042 0.000000000 1428.840987369 0.000000000 0.000000000 Db,BZ (PLAIN CONCRETE) Df,BZ,2I (FIBER) Df,BZ,2II(FIBER) Df,BZ,3I (FIBER) Df,BZ,3II(FIBER) DISPLACEMENT DELTA(3)NOT REACHED IN THE TEST VALUES COMPUTED FOR THE LAST POINT OF THE CURVE: AREA Df,BZ,ULT,I (FIBER) AREA Df,BZ,ULT,II(FIBER) : : 0.000000000 4046.533377500 MEAN FORCE F2,I MEAN FORCE F2,II MEAN FORCE F2 : : : 0.000000000 2857.681974737 2857.681974737 MEAN FORCE F3,I MEAN FORCE F3,II MEAN FORCE F3 : : : 0.000000000 0.000000000 0.000000000 MEAN FORCE F ult,I MEAN FORCE F ult,II MEAN FORCE F ult : : : 0.000000000 1618.613351000 1618.613351000 : : : : : 460440.000000000 321489.222157938 0.000000000 0.960703063 182094.001987500 MOMENT AT MID SPAN, MOMENT AT MID SPAN, MOMENT AT MID SPAN, LIMIT OF PROPORC. , MOMENT AT MID SPAN, Mu M2 M3 f(fct),fl M ult FLEXURAL TENSILE STRENGTH, feq,2: FLEXURAL TENSILE STRENGTH, feq,3: FLEXURAL TENSILE STRENGTH, feq,ult: 0.670783773 0.000000000 0.379937159 4 ----------------TOUGHNESS ANALYSIS---------------- ***** A.S.T.M - C 1018 - 94b ***** WARNING : SPECIMEN TESTED PRESENTS A FIRST CRACK LOAD DISPLACEMENT AREA (F.CRACK LOAD) NOTCH. : : : 3627.600000000 0.044034393 81.070981042 DISPLACEMENT 3-DELTA LOAD ÁREA TOUGHNESS INDEX : : : I5 : 0.132103180 2546.515698003 299.410100542 3.693184623 DISPLACEMENT 5.5-DELTA LOAD ÁREA TOUGHNESS INDEX : : : I10: 0.242189163 2923.298156006 604.839813224 7.460620378 DISPLACEMENT 10.5-DELTA LOAD ÁREA TOUGHNESS INDEX : : : I20: 0.462361129 3427.763364732 1306.417647446 16.114491655 FIRST CRACK STRENGTH MOR: 0.567671103 *** RESIDUAL STRENGHT FACTORS *** FACTOR R5,10 : 75.348715103 FACTOR R10,20 : 86.538712768 5 APÊNDICE B – CURVAS DE RESISTÊNCIA BASEADAS NA RELAÇÃO P-CMOD PARA O CRFA 2500 KR (daN.cm^-1.5) 2000 1500 CP1 CP2 CP3 1000 500 0 0 20 40 60 80 100 120 c (mm) Figura B1 – Curvas de Resistência ao Fraturamento KR - Extensão da Fissura - CRFA-40kg/m3 2500 KR (daN.cm^-1.5) 2000 1500 CP1 CP2 CP3 1000 500 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 α Figura B2 – Curvas de Resistência ao Fraturamento KR - α- CRFA-40kg/m3 0.9 6 3000 2500 Kr (Kgf. cm^-1.5) 2000 CP1 1500 CP2 CP3 1000 500 0 0.00 20.00 40.00 60.00 80.00 100.00 120.00 c(mm) Figura B3 – Curvas de Resistência ao Fraturamento KR - Extensão da Fissura - CRFA-80kg/m3 3000 KR (Kgf. cm^-1.5) 2500 2000 CP1 1500 CP2 CP3 1000 500 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 α Figura B4 – Curvas de Resistência ao Fraturamento KR - α- CRFA-80kg/m3 0.9 7 APÊNDICE C – CARACTERIZAÇÃO DO MATERIAL UTILIZADO NO PRIMEIRO PROGRAMA EXPERIMENTAL O material escolhido para o desenvolvimento do programa experimental da pesquisa foi um concreto de baixa granulometria, com Dimensão Máxima Característica (diâmetro máximo do agregado,φMAX) da ordem de 9,5 mm (porcentagem máxima retida na peneira com abertura de 9,5 mm igual a 1,33%). A escolha dessa faixa granulométrica para o agregado graúdo foi procedida considerando-se as dimensões características das fibras de aço disponibilizadas pela BELGO-BEKAERT e utilizadas na pesquisa, assunto a ser apresentado neste capítulo. Granulometria dos agregados A distribuição granulométrica dos agregados graúdos, obtida com o conjunto de peneiras da série normal prevista na NBR 7211 (ABNT, 1983), bem como a faixa de variação (limites máximos e mínimos) previstos na NBR citada é a que se ilustra na Fig.7.2.1-1. A areia utilizada foi proveniente de rio, lavada, com granulometria variando de fina a muito fina, com Módulo da Finura da ordem de 2,24, seguindo a distribuição granulométrica apresentada na Fig. C-1. 8 100 % RETIDAS ACUMULADAS 80 60 Utilizado Limite Inf. Limite Sup. 40 20 0 2.4 2.7 3 3.3 3.6 3.9 4.2 4.5 4.8 5.1 5.4 5.7 6 6.3 6.6 6.9 7.2 7.5 7.8 8.1 8.4 8.7 9 9.3 9.6 ABERTURA DA PENEIRA (mm) Figura C-1 – Curva de distribuição granulométrica dos Agregados Graúdos A Tab. C-1 traz as distribuições granulométricas dos agregados, de conformidade com a ordem das peneiras da série normal da ABNT. Tabela C-1 – Distribuição granulométrica dos agregados Abertura das Peneiras (mm) 9.5 4.8 2.4 1.2 0.6 0.3 0.15 Fundo Porcentagens Retidas Acumuladas Agr. Graúdos Agr. Miúdos 1.33 85.66 0.75 97.55 2.40 98.24 6.35 98.62 44.97 98.75 73.20 98.96 95.94 100.00 100.00 9 100 95 90 85 80 Porcentagem Retida Acumulada (%) 75 70 65 60 55 Utilizado 50 Zona 1-Inf. Zona 1-Sup. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.8 2.1 2.4 2.7 3 3.3 3.6 3.9 4.2 4.5 4.8 Abertura das Peneiras (mm) Figura C-2 – Curvas de Distribuição granulométrica do agregado miúdo e da faixa 1 prevista pela ABNT. Relação Água-Cimento Para atingir-se a resistência fixada e tendo em vista o tipo de cimento utilizado, a relação água-cimento, x, adotada foi 0,55. Esse valor considerou a influência da adição dos diversos teores de fibra sobre a trabalhabilidade do compósito bem como a decisão de não se utilizar aditivos. Teor de Argamassa Seca O valor arbitrado para o teor de argamassa, α, foi de 0,50, de forma a garantir-se boa trabalhabilidade. Desse valor, bem como da relação cimento/agregados de 1:4,5 (em massa) inicialmente fixado procedeu-se ao desdobramento dos agregados graúdos (p) e miúdos (a), da forma que se segue: 10 Agregado miúdo – areia: α= 1+ a 1+ a ⇒ a = α (1 + 4,5) − 1 = 1,75 = 1+ a + p 1+ m Agregado Graúdo - pedrisco: p = m − a = 4,5 − 1,75 = 2,75 Relação Água/Materiais Secos (trabalhabilidade) H% = x 0,55 .100 = .100 = 10% 1+ a + p 5,5 Consumo de Cimento O consumo de cimento foi estimado em 389,85 kg/m3 a partir da expressão: C= 1 γc 1000 a p + + +x γa γp Para a massa específica absoluta do cimento adotou-se o valor γC= 3,15 kg/m3 e para os agregados γa= γp= 2,65 kg/m3. Fibras de aço incorporadas ao concreto As fibras de aço incorporadas ao concreto e disponibilizadas pela empresa BelgoMineira Bekaert Arames S.A., foram do tipo RC 65/35 BN. São fibras de aço de baixo teor de carbono, coladas umas às outras, com seguintes características geométricas: 11 • Comprimento (L): 35 mm • Diâmetro (d): 0.54 mm • Esbeltez ou razão de aspecto (L/d): 65 Cinco diferentes teores de fibra de aço foram incorporados ao concreto, em 3 etapas de concretagem, ocorridas em 03/04/2001. Os teores de fibras de aço foram 20, 40, 60, 80 e 100 kg de fibras de aço por m3 de concreto. Ensaios de resistência à compressão simples e à tração Os ensaios complementares, de determinação das resistências à compressão simples e à tração (determinada indiretamente, em ensaios de compressão diametral) foram conduzidos na Escola Politécnica, de acordo com as recomendações brasileiras, na mesma ocasião. A Fig. C-3 ilustra a variação dessas resistências em função da evolução do teor de fibras incorporado ao concreto. As informações numéricas de interesse encontram-se reunidas na Tab. C-2 350 325 300 275 Resistência ( Kgf/cm2) 250 225 200 Res. à Tração 175 Res. à Compressão 150 125 100 75 50 25 0 0 20 40 60 80 100 Teor de fibras (Kgf/m3) Figura C-3 Variação das resistências com a evolução do teor de fibras de aço 12 Tabela C-2-Resultados dos ensaios de Resistência à Tração e à compressão. Teor de Fibra 0 40 60 80 100 120 Carga de Ruptura CP1 CP2 (Kgf) (Kgf) 15300.00 21100.00 22600.00 23200.00 21900.00 23700.00 18500.00 19800.00 25200.00 23700.00 21500.00 21500.00 Média (Kgf) Resistência à Tração (Kgf/cm2) 16900.00 20450.00 23900.00 23450.00 21700.00 22600.00 23.91 28.93 33.81 33.17 30.70 31.97 Carga de Ruptura CP1 CP2 (Kgf) (Kgf) 52400.00 49400.00 47800.00 58100.00 54300.00 54600.00 55400.00 51400.00 58500.00 58700.00 53600.00 50200.00 Média (Kgf) Resistência à Compressão (Kgf/cm2) 53900.00 50400.00 53150.00 58400.00 53950.00 52400.00 305.01 285.21 300.77 330.48 305.29 296.52 Ensaios de determinação das massas específicas, volume de vazios permeáveis e porosidade dos concretos. Massa Específica (kg/m3) Os resultados desses ensaios passam a ser ilustrados nas Fig. C-4 e C-5. 2400 2350 2300 2250 2200 2150 2100 2050 2000 1950 1900 1850 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 1350 1300 Massa Esp. Imersa Massa Esp. Saturada Massa Esp. Seca 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Teor de fibras (kgf/m3) Figura C-4 Variações das massas seca, submersa e saturada com a evolução do teor de fibras. 13 17.00 16.50 16.00 15.50 15.00 14.50 14.00 13.50 13.00 Arsorçao 12.50 Volume de vazios 12.00 11.50 11.00 10.50 10.00 9.50 9.00 8.50 8.00 7.50 7.00 0.00 20.00 40.00 60.00 80.00 100.00 Figura C-5 Variações do Índice de absorção (%) e do volume de vazios permeáveis(%), com a evolução do teor de fibras. 14 APÊNDICE D – CURVAS P-CMOD DOS ENSAIOS DO CRFA E ÍNDICES ADIMENSIONAIS DA A.S.T.M. 700 600 P (daN) 500 400 CP1 CP2 CP3 300 200 100 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 CMOD (mm) Figura D1 – Curvas P-CMOD – Concreto sem fibras 700 600 P (daN) 500 400 CP1 CP2 CP3 CP4 300 200 100 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 CMOD (mm) Figura D2 – Curvas P-CMOD – CRFA – 20kg/m3 1.2 1.4 15 700 600 P (daN) 500 400 CP1 CP2 CP3 CP4 300 200 100 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 CMOD (mm) Figura D3 – Curvas P-CMOD – CRFA – 40kg/m3 1000 900 800 700 P (daN) 600 CP1 CP2 500 CP3 CP4 400 300 200 100 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 CMOD (mm) Figura D4 – Curvas P-CMOD – CRFA – 60kg/m3 1.2 1.4 16 1000 900 800 700 CP1 CP2 500 CP3 CP4 400 300 200 100 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 CMOD (mm) Figura D5 – Curvas P-CMOD – CRFA – 80kg/m3 1200 1000 800 P (daN) P (daN) 600 CP1 CP2 600 CP3 CP4 400 200 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 CMOD (mm) Figura D6 – Curvas P-CMOD – CRFA – 100kg/m3 1.20 1.40 17 850 800 750 700 650 600 550 P (daN) 500 20 kg/m3 40 kg/m3 450 60 kg/m3 400 80 kg/m3 350 0 kg/m3 100 kg/m3 300 250 200 150 100 50 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 CMOD (mm) Figura D7 – Curvas P-CMOD – CRFA com diversos teores de fibras de aço –resultados médios 18 20 18 16 I5; I10; I20 14 12 I5 10 I10 I20 8 6 4 2 0 0 20 40 60 80 100 Teor de Fibras (kg/m3) Figura D8 – Índices Adimensionais ASTM. CRFA com diversos teores de fibras de aço –resultados médios Tabela D1 – Índices Adimensionais ASTM ( baseados no CMOD) para o CRFA com diversos teores de fibras de aço Índice ASTM Corpo-de-prova (CMOD) I5 CP1 CP2 CP3 Média: Desv. Pad.: Teor de Fibras (kg/m3) 40 60 0 20 3.996 4.353 4.510 4.476 3.892 4.170 4.372 4.334 4.137 4.137 4.215 4.227 0.223 4.286 0.215 80 100 4.111 3.896 4.274 4.074 3.940 4.340 4.634 4.367 4.220 4.504 3.866 4.269 4.206 0.081 4.089 0.134 4.320 0.248 4.215 0.228 9.561 7.062 8.373 8.294 8.371 8.181 7.774 8.028 7.972 7.694 8.714 7.887 7.603 8.937 8.981 8.961 8.909 9.806 7.807 9.007 8.323 0.884 8.088 0.218 8.067 0.387 8.621 0.588 8.882 0.711 16.302 11.384 13.860 13.544 14.432 14.470 12.797 13.914 14.666 14.816 17.136 14.708 14.477 17.476 16.694 17.456 17.580 20.595 15.389 17.066 13.772 1.744 13.903 0.675 15.331 1.043 16.526 1.224 17.657 1.879 I10 CP1 CP2 CP3 Média: Desv. Pad.: 6.680 7.997 8.405 7.694 0.736 I20 CP1 CP2 CP3 Média: Desv. Pad.: 9.257 12.542 13.212 11.670 1.728 19 0.325 0.300 0.275 0.250 CMOD (mm) 0.225 0.200 0.175 I5 I10 I20 0.150 0.125 0.100 0.075 0.050 0.025 0.000 20 40 60 80 100 Teor de Fibras (kg/m3) Figura D9 –Gráfico CMOD versus Teor de Fibras de aço nas posições de apuração dos Índices Adimensionais ASTM. Figura D10 – Gráfico α-CMOD e faixas de abrangência dos Índices da ASTM para o CRFA com diversos teores de fibra de aço 20 Apêndice E – Curvas KR-α e P-α para o CRFA ensaiado por Saldívar. Figura E-1 - Curvas KR-α e P-α para o CRFA- 40kg/m3 21 Figura E-2 - Curvas KR-α e P-α para o CRFA- 80kg/m3 22 APÊNDICE F – FATOR DE CORREÇÃO INELÁSTICAEMBASAMENTO TEÓRICO Considere-se o diagrama de Carga x CMOD, da Fig. E-1. Figura E-1 Avanço ∆a da Fissura - Enfoque da MFEL. O cálculo da Tenacidade ao Fraturamento K IQ, ou K I “candidato” ou ainda, KIC “aparente”, é procedido a partir do cálculo da energia dissipada para um avanço ∆a da fissura. Isto é feito habitualmente, enfocando-se o problema dentro da Mecânica do Fraturamento Elástico Linear. Neste caso, a dissipação de energia necessária a este pequeno avanço, conforme indicado na Fig. E-1, é dada por: 23 ∆W = G IC .b∆a + U e = G IC .∆A + ∆U e ( E-1 ) onde: b= largura média do front da fissura, entre a e ∆a. ∆Ue = mudança de energia elástica residual, armazenada no corpo quando F=0. B.∆a= área de varredura por avanço da fissura GIC= Taxa Crítica de Liberação de Energia. Assim, o trabalho irrecuperável para ir-se de A até B, no diagrama carga-abertura, é dado pela seguinte expressão: ∆W = 1 F .∆x 2 (E- 2) e: F= Força média entre A e B ∆X= Distância entre A e B no caminho da relaxação de F A mudança de flexibilidade, ∆C entre A e B, vem dada por: ∆C = ∆x F ( E-3 ) Fazendo-se a substituição de E.2 em E. 1 decorre: ∆W = 1 2 .F .∆C 2 Substituindo-se agora a expressão anterior em E.1, obtêm-se: ( E-4 ) 24 1 2 F ∆C = G IC .b.∆a + ∆U e 2 (E-5) Equacionando-se em função de G IC e desprezando-se a parcela ∆U e, tem-se que: G IC = F 2 ∆C . 2b ∆a (E-6) Entretanto, quando ∆a → 0, a taxa de dissipação de energia resulta: G IC = F 2 ∂C 2b ∂a (E-7) Da relação existente entre K IC e G IC : ( G IC = 1 − ν 2 2 IC ) KE (E.P.D) (E-8) ou: 1 K IC G .E 2 = I 2 1 −ν ( (E-9) ) Para corpos de prova do tipo chevron bending a expressão da Tenacidade ao Fraturamento apresentada (E-9), pode ser rescrita da forma que se segue: K IC = F a .f 2 D . 1 −ν D 1, 5 ( ) (E-10) 25 Na expressão anterior, D é o diâmetro do corpo-de-prova. Neste caso, na força máxima, f ( a / B ) é uma função de configuração do corpo de prova que desconsidera o valor de (1 - ν 2 ) ou seja, f (a / B )=A e: K IC = Fc .A D1.5 (E-11) A constante A, recebe o nome de Fator Adimensional de Intensidade de Tensão, que é calibrada para o tipo de carregamento e geometria do corpo de prova. Entretanto, no caso dos concretos, argamassas e materiais assemelhados considerase a rigor, o comportamento inelástico do material, que a seguir passa-se a discutir. COMPORTAMENTO INELÁSTICO. Tendo em vista o comportamento inelástico do concreto, num ciclo de carregamento e descarregamento, existirão deformações residuais, para F=0. Neste caso, os caminhos de descarregamento AC e BD resultam agora, em diferentes aberturas residuais, e o trabalho não recuperável para ir-se de A a B, é dado pela área CABD, da Fig. E-2: 26 Figura E-2 Deformações residuais decorrentes do avanço da fissura. Neste caso, o ensaio para a determinação da Tenacidade ao Fraturamento, consiste basicamente na aplicação de uma força F ao corpo-de-prova, sob condições de deformação controlada. Esta força é crescente até o valor F = Fmax, onde tem início a propagação instável da fissura, ocasião em que o modelo é descarregado. O procedimento é cíclico (carregamento e descarregamento) e segue até a ruptura do corpo-de-prova. Como observado, o trabalho não recuperável para ir-se de A a B, é dado pela área CABD, ou seja: ∆W = onde: 1 1 F .(∆x + ∆x0 ) = (1 + p ).F .∆x 2 2 (E-12) 27 p= ∆x0 ∆x (E-13) Agora, a mudança de flexibilidade vem dada por : ∆C = (1 − p ) ∆x F (E-14) ou: ∆x = ∆C.F (1 − p ) (E-14a) Substituindo a equação E-14 na E-12 decorre: ∆W = 1 (1 + p ) 2 .F .∆C 2 1− p (E-15) Substituindo-se esta expressão em E-1 : G IC = (1 + p ) F 2 ∂C ∂U e . (1 − p ) 2b ∂a ∂a Tomando-se o limite quando ∆a → 0 e equacionando-se agora em função de KIC: K IC = ∂U e 1+ p 2 .K IQ − E ∂a 1− p (E-17) 28 Finalmente, desprezando-se a parcela E. (∂U e/∂A) tem-se que: K IC = 1+ p .K IQ 1− p (E-18) Desta forma, fica considerado o comportamento inelástico do material no cálculo do valor da tenacidade. KIQ é a tenacidade aparente ao fraturamento, calculada de conformidade com os conceitos da Mecânica da Fratura Elástica Linear. 29 APÊNDICE G –DETERMINAÇÃO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO DO CONCRETO TENACIDADE AO FRATURAMENTO - MODELO DOS DOIS PARÂMETROS ARQUIVO: viga_1a.dat INFORMAÇÕES SOBRE A GEOMETRIA DO CORPO-DE-PROVA BASE (cm)= ALTURA (cm)= VÃO-LIVRE (cm)= ENTALHE (cm)= ALTURA DO CLIP(cm)= 6.000 11.800 48.000 3.200 0.250 PARÂMETROS DE CARREGAMENTO E DE FLEXIBILIDADE CARGA MÁXIMA CARGA NO DESCARREGAMENTO CMOD NO DESCARREGAMENTO CMOD FINAL DO DESCARREGAMENTO CARGA FINAL DO DESCARREGAMENTO (Kgf)= (kgf)= (cm) = (cm) = (kgf)= 227.011 212.817 0.004979 0.001409 22.394 ******* CÁLCULO DO MODULO DE DEFORMAÇÃO ******* NUMERO DE PONTOS UTILIZADOS : 13 CARGA MÍNIMA DO INTERVALO : 26.399338000 [ 11.629 % ] DESLOCAMENTO : 0.000078511 CARGA MÁXIMA DO INTERVALO : 66.029854000 [ 29.087 % ] DESLOCAMENTO : 0.000374879 CARGA MÁXIMA DO ENSAIO : 227.011250000 [ 00.000 % ] COEFICIENTE ANGULAR : 133726.545625263 COEFICIENTE LINEAR : 17.318272344 COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO (R) : 0.994232284 ALFA[ENTALHE+clip] = 0.28630705 G_ALFA = 1.67232331 FLEX.INICIAL (Ci) = 0.0000074779 FLEXIB.DESCARREG.(Cu)= 0.0000187488 MÓDULO (2P) = 260452.869654 CÁLCULO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO MÓDULO RECALCULADO = ALFAc (ac/W ; cm) = Extensão Crítica, ac (cm)= KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 260452.77595 0.46105084 5.44039996 105.81044516 ****** CRITÉRIO DA CORREÇÃO DO CMOD ****** ALFA = 0.27118644 G_ALFA = 1.62815972 Kd = 0.96078054 MÓDULO MÉDIO (POR PONTO) : ALFAc (ac/W ; cm) = Extensão Crítica, ac (cm)= KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 249738.438844 0.44808831 5.28744206 101.82387860 30 TENACIDADE AO FRATURAMENTO - MODELO DOS DOIS PARÂMETROS ARQUIVO: viga_2a.dat INFORMAÇÕES SOBRE A GEOMETRIA DO CORPO-DE-PROVA BASE (cm)= ALTURA (cm)= VÃO-LIVRE (cm)= ENTALHE (cm)= ALTURA DO CLIP(cm)= 6.000 11.900 48.000 2.900 0.250 PARÂMETROS DE CARREGAMENTO E DE FLEXIBILIDADE CARGA MÁXIMA CARGA NO DESCARREGAMENTO CMOD NO DESCARREGAMENTO CMOD FINAL DO DESCARREGAMENTO CARGA FINAL DO DESCARREGAMENTO (Kgf)= (kgf)= (cm) = (cm) = (kgf)= 252.167 218.720 0.005758 0.001781 16.070 ******* CÁLCULO DO MODULO DE DEFORMAÇÃO ******* NUMERO DE PONTOS UTILIZADOS : CARGA MÍNIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO ENSAIO : : : : : COEFICIENTE ANGULAR COEFICIENTE LINEAR COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO (R) : : : 8 29.420813000 [ 11.667 % ] 0.000064726 73.899742000 [ 29.306 % ] 0.000361095 252.166780000 [100.000 % ] 151334.667776788 20.055758987 0.997389817 ALFA[ENTALHE+clip] = 0.25925926 G_ALFA = 1.59631289 FLEX.INICIAL (Ci) = 0.0000066079 FLEXIB.DESCARREG.(Cu)= 0.0000196243 MÓDULO (2P) = 252630.044847 CÁLCULO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO MÓDULO RECALCULADO = ALFAc (ac/W ; cm) = Extensão Crítica, ac (cm)= KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 252629.94861 0.46540891 5.53836602 117.58396898 ****** CRITÉRIO DA CORREÇÃO DO CMOD ****** ALFA = 0.24369748 G_ALFA = 1.55853780 Kd = 0.95738240 MÓDULO MÉDIO (POR PONTO) : 241966.318891 ALFAc (ac/W ; cm) = 0.45160299 Extensão Crítica, ac (cm)= 5.37407557 KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 112.84579632 31 TENACIDADE AO FRATURAMENTO - MODELO DOS DOIS PARÂMETROS ARQUIVO: viga_3a.dat INFORMAÇÕES SOBRE A GEOMETRIA DO CORPO-DE-PROVA BASE (cm)= ALTURA (cm)= VÃO-LIVRE (cm)= ENTALHE (cm)= ALTURA DO CLIP(cm)= 6.100 11.700 48.000 2.100 0.250 PARÂMETROS DE CARREGAMENTO E DE FLEXIBILIDADE CARGA MÁXIMA CARGA NO DESCARREGAMENTO CMOD NO DESCARREGAMENTO CMOD FINAL DO DESCARREGAMENTO CARGA FINAL DO DESCARREGAMENTO (Kgf)= (kgf)= (cm) = (cm) = (kgf)= 295.732 252.026 0.004345 0.001285 17.757 ******* CÁLCULO DO MODULO DE DEFORMAÇÃO ******* NUMERO DE PONTOS UTILIZADOS : CARGA MÍNIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO ENSAIO : : : : : COEFICIENTE ANGULAR COEFICIENTE LINEAR COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO (R) : : : 6 30.264015000 [ 10.234 % ] 0.000050942 82.191231000 [ 27.792 % ] 0.000264603 295.732240000 [100.000 % ] 237028.180215637 20.119427186 0.996370481 ALFA[ENTALHE+clip] = 0.19665272 G_ALFA = 1.46845350 FLEX.INICIAL (Ci) = 0.0000042189 FLEXIB.DESCARREG.(Cu)= 0.0000130626 MÓDULO (2P) = 276208.429797 CÁLCULO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO MÓDULO RECALCULADO = ALFAc (ac/W ; cm) = Extensão Crítica, ac (cm)= KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 276208.33166 0.40565184 4.74612652 117.05960198 ****** CRITÉRIO DA CORREÇÃO DO CMOD ****** ALFA = 0.17948718 G_ALFA = 1.44397993 Kd = 0.94556138 MÓDULO MÉDIO (POR PONTO) : 261585.171281 ALFAc (ac/W ; cm) = 0.38773673 Extensão Crítica, ac (cm)= 4.53651973 KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 111.41916702 32 TENACIDADE AO FRATURAMENTO - MODELO DOS DOIS PARÂMETROS ARQUIVO: viga_4a.dat INFORMAÇÕES SOBRE A GEOMETRIA DO CORPO-DE-PROVA BASE (cm)= ALTURA (cm)= VÃO-LIVRE (cm)= ENTALHE (cm)= ALTURA DO CLIP(cm)= 6.000 11.900 48.000 2.900 0.250 PARÂMETROS DE CARREGAMENTO E DE FLEXIBILIDADE CARGA MÁXIMA CARGA NO DESCARREGAMENTO CMOD NO DESCARREGAMENTO CMOD FINAL DO DESCARREGAMENTO CARGA FINAL DO DESCARREGAMENTO (Kgf)= (kgf)= (cm) = (cm) = (kgf)= 228.065 199.818 0.004703 0.001264 10.168 ******* CÁLCULO DO MODULO DE DEFORMAÇÃO ******* NUMERO DE PONTOS UTILIZADOS : CARGA MÍNIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO INTERVALO DESLOCAMENTO CARGA MÁXIMA DO ENSAIO : : : : : COEFICIENTE ANGULAR COEFICIENTE LINEAR COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO (R) : : : 7 22.956261000 [ 10.066 % ] -0.000045551 63.148914000 [ 27.689 % ] 0.000230141 228.065250000 [100.000 % ] 152059.575101120 28.911195415 0.995939935 ALFA[ENTALHE+clip] = 0.25925926 G_ALFA = 1.59631289 FLEX.INICIAL (Ci) = 0.0000065764 FLEXIB.DESCARREG.(Cu)= 0.0000181347 MÓDULO (2P) = 253840.166576 CÁLCULO DA TENACIDADE AO FRATURAMENTO MÓDULO RECALCULADO = ALFAc (ac/W ; cm) = Extensão Crítica, ac (cm)= KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 253840.07615 0.45165966 5.37474994 102.07731727 ****** CRITÉRIO DA CORREÇÃO DO CMOD ****** ALFA = 0.24369748 G_ALFA = 1.55853780 Kd = 0.95738240 MÓDULO MÉDIO (POR PONTO) : 243557.929877 ALFAc (ac/W ; cm) = 0.43839915 Extensão Crítica, ac (cm)= 5.21694987 KIc,s (kgf.cm^-1.5)= 98.19482280