Educação a Distância: Noções conceituais e a formação docente

Transcrição

Educação a Distância: Noções conceituais e a formação docente
Educação a Distância:
Noções conceituais e a formação docente
Guilherme Pereira Lima Filho¹
Resumo
O artigo apresenta conceitos de educação a distância, destacando suas principais
características frente ao modelo de ensino presencial. Por se um sistema de ensino
flexível possibilita o acesso ao ensino superior daqueles profissionais que por razões
de trabalho ou isolamento geográfico não poderiam freqüentar as escolas
presenciais. O estudo defende a aplicação de sistemas de ensino a distância na
formação inicial e continuada de professores.
Palavras-chave: educação a distância; formação inicial e continuada de
professores.
Introdução
A educação a distância é derivada da evolução do tradicional ensino
presencial institucionalizado na sociedade moderna. Ao longo do desenvolvimento
da História da Educação, assim como na História da Humanidade, foram superados
muitos obstáculos, tanto no sistema produtivo quanto no sistema educacional.
Historicamente, a educação está dividida em quatro períodos: no Mundo Antigo, no
Mundo Medieval, no Mundo Moderno e no Mundo Contemporâneo (cf. Luzuriaga,
1985).
O aparecimento e o desenvolvimento da educação a distância têm início, a
partir do Mundo Contemporâneo. Para Litwin (200l), inicialmente através dos cursos
por correspondência até chegar aos nossos dias, incorporando o que há de mais
avançado em tecnologias da inteligência (cf. Levy, 1998).
O mundo atual, resultado de inúmeras transformações na cultura, na
economia, no mundo do trabalho, na política, no sistema educacional, enfim, em
todos os campos do conhecimento, está mudando muito rápido. Tudo pede
atualização constante, ou seja, um tipo de educação contínua ao longo da vida.
Nesse sentido Meister (1999), de acordo com estudos realizados, demonstra que a
1 Mestre em Engenharia da Produção. Professor do Departamento de Métodos e Técnicas/Faced/Ufam
educação a distância é um sistema dinâmico e eficiente, usado largamente para
atender às novas exigências de qualificação profissional: uma vez que os indivíduos
e suas organizações já estão sempre atualizando informações, pesquisando,
gerando novos conhecimentos, produzindo novos produtos e serviços e a educação
a distância responde muito bem ao conseguir conjugar uma multiplicidade de
recursos pedagógicos e tecnológicos, facilitando e flexibilizando o acesso, sem
rigidez de horário e local, para construção do conhecimento.
Conceituação histórico-social da educação a distancia
Historicamente, a educação a distância é recente, na medida em que sua
institucionalização, de acordo com Litwin (2001), data do final do século XIX, nos
Estados Unidos e Europa, com os chamados cursos por correspondência sem
nenhum valor acadêmico, entretanto:
Em 1892, a Universidade de Chicago instituiu um curso por
correspondência, incorporando os estudos da modalidade na universidade.
(...) a Calveft, em Baltimore - desenvolveram cursos para a escola primária.
Em 1930, identificamos 39 universidades norte-americanas que oferecem
cursos a distância (LITWIN, 2001, p.15).
A literatura não é precisa em relação a data exata das primeiras
experiências formais de ensino a distância, contudo, há registros documentais que
em 1840 é fundada a primeira escola por correspondência na Europa/Reino Unido Faculdades por Correspondências Sir Isaac Pitman (Trindade, 1997). Todavia,
continua o autor, efetivamente é a década de 60 que consolida um modelo de ensino
a distância a partir da fundação, em 1969, da Universidade Aberta da Grã-Bretanha,
mais conhecida como Open University, considerada, nos dias atuais, uma
megauniversidade pela complexidade de recursos e diversidade de cursos em
diferentes níveis que oferece em todo o mundo (Niskier, 1993, Trindade, 1997,
Litwin, 2001).
Na busca da conceição e entendimento da educação a distância, sob o
ponto de vista de alguns importantes pesquisadores sobre o tema EaD, começando
por ser um método alternativo de educação, assim caracterizado por Yalli (1984), é
viável pelas seguintes razões:
2
a) as escolas tradicionais não atendem de forma efetiva a crescente
demanda social para o trabalho;
b) o trabalhador, em geral, está sujeito a um regime de trabalho que o
impede de freqüentar uma escola formal;
c) a necessidade de qualificar pessoas para o trabalho;
d) em regiões geográficas dispersas; e
e) o trabalhador nem sempre pode ser afastado do local de serviço, no
horário de expediente.
Aretio (1994), após realizar um minucioso estudo a partir da seleção de
dezoito autores, formulou um conceito para a educação a distância caracterizado por
ser um sistema tecnológico de comunicação de massa bidirecional, em que a
interação pessoal professor/aluno em aula, como meio preferencial de ensino, é
substituída por uma ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e
pelo apoio de uma organização tutorial, possibilitando a aprendizagem autônoma do
aluno.
Armengol (1987) afirma que a educação a distância caracteriza-se
principalmente por ter uma população estudantil adulta, relativamente dispersa e
massiva. A metodologia dos cursos é orientada para favorecer o estudo
independente, através de recursos auto-instrucionais, possibilitando ao aluno ser o
responsável pela sua aprendizagem, desenvolvendo o “aprender-a-aprender”. Os
materiais possuem “linguagem didática guiada” fazendo assim a mediação
pedagógica da construção do conhecimento.
Segundo Bordinave (1988) é preciso reconhecer que a educação
presencial vem do tempo em que a “palavra, o gesto e o desenho eram os únicos
meios de comunicação disponíveis”. Este defende a incorporação dos novos meios
de comunicação, como o livro - com a invenção da imprensa em 1453. A partir de
então, o papel do professor, como agente educador exclusivo, passou a ser
compartilhado com os meios, primeiramente pelo texto didático e posteriormente
pelo correio e, depois, pelo rádio, pela televisão e por diversos outros meios mais
recentes, possibilitando a ampliação de diversas experiências da educação a
distância.
Na definição de Keegan (1988) são características da educação a distância:
a) separação entre professor e aluno; b) influência de uma organização educacional,
especialmente na elaboração e preparação de materiais de aprendizagem; c) uso de
3
recursos de mídia; e) provisão de comunicação em duas vias; f) possibilidade de
seminários ocasionais; e g) participação na forma mais industrializada de educação.
No conceito de Moore (1996), a educação a distância é a relação de
diálogo, estrutura e autonomia que exige meios, técnicos para mediar esta
comunicação; funciona como um sistema. A educação a distância é um subgrupo de
todos os programas educacionais, caracterizada por grande estrutura, menos
diálogo e maior distância transacional e inclui, também, o ensino e a aprendizagem.
A essas características Holmberg, por sua vez, indica que uma das
principais características da aprendizagem a distância é que - ela atribui papel
fundamental ao exercício da autonomia do aprendente. Nesse sentido, o estudante
assume parcela maior de iniciativa de sua própria aprendizagem, definindo seu
próprio ritmo e período de estudo, inclusive alterando a seqüência dos conteúdos
(apud Alava, 2001, p.74).
Holmberg (1995) desenvolveu a teoria da interação e comunicação a partir
de três décadas, trabalhando e pesquisando sobre educação a distância, cujos sete
princípios são os seguintes:
a) o coração do ensino é a interação entre aqueles que ensinam e os que
aprendem;
b) relações pessoais, prazer do estudo e empatia entre estudantes e
aqueles que os apóiam (tutores, professores, etc.) são centrais para o aprendizado
em educação a distância;
c) o envolvimento emocional no estudo e os sentimentos da relação entre
essas partes são as que mais contribuem para o prazer da aprendizagem;
d) o prazer de aprender apóia a motivação do estudante;
e) a participação nos processos de decisão relativos ao estudo é favorável à
motivação do estudante;
f) a forte motivação do estudante facilita o aprendizado;
g) enquanto meio de efetivo de treinamento, a educação a distância corre o
risco de levar ao mero aprendizado e reprodução de “verdades” aceitas. No entanto,
isso pode ser organizado e realizado de uma maneira que os estudantes sejam
encorajados a pesquisar, criticar e identificar opiniões por sua própria conta.
Gutierrez e Prieto (1994, p. 46-60), defendem a existência de programas
alternativos através da educação a distância, contudo chamam atenção para o
seguinte:
4
No que se refere aos sistemas de ensino à distância tradicionais, partimos
da evidência comprovada de que estão longe de ser prazerosos e lúdicos;
antes, pelo contrário, por sua própria estrutura organizativa, pede-se dos
estudantes muita força de vontade, sacrifício, disponibilidade e hábitos de
estudo. Para que funcione tal qual está estruturado, o ensino à distância
apela e tem de contar com a responsabilidade, e a capacidade de
autonomia e autocontrole, a liberdade, a independência e o desejo de se
comprometer do estudante. (Gutierrez e Prieto, p. 58).
A fim de dinamizar as propostas de educação a distância os autores
consideram indispensáveis as seguintes características na preparação, no
planejamento e na execução de cursos a distância, evitando-se de acordo com os
autores a mecanização das informações pelos estudantes e abrindo caminhos para
uma aprendizagem verdadeiramente autônoma e criativa, fundamental para o
exercício plena da cidadania participativa.
Sinalizando também favoravelmente à educação a distância, pela
flexibilização do acesso, pela flexibilização do ensino e pela flexibilização da
aprendizagem, e ainda flexibilização da oferta de cursos proporcionada aos
estudantes, Belloni, (1999, p.105-6) tem a seguinte opinião:
Flexibilização do acesso, numa perspectiva de democratização das
oportunidades, que significa fundamentalmente rever e tornar menos
restritos os requisitos de acesso ao ensino (especialmente o ensino
superior). Num país como o Brasil, esta flexibilização exigiria esforços no
sentido de expandir a oferta de cursos de preparação, de criação de
espaços de estudos (centros de recursos) e de disponibilização a preços
muito baixos dos materiais pedagógicos.
Flexibilização do ensino, numa perspectiva de promover o desenvolvimento
das habilidades de auto-aprendizagem, o que implicaria a oferta de cursos
diversificados e modularizados, com o uso adequado de mídias em blocos
coerentes, e de materiais efetivamente concebidos para autoaprendizagem, que pudessem ser utilizados por estudantes do ensino
presencial e a distância.
Flexibilização da aprendizagem, no sentido de exigir do estudante mais
autonomia e independência, propiciando o desenvolvimento de sua
capacidade de gerir seu próprio processo de aprendizagem.
Flexibilização da oferta de cursos em função das demandas sociais, numa
perspectiva de educação ao longo da vida, o que implicaria um grande
esforço de transformação dos atuais sistemas educacionais.
Esses argumentos são reafirmados por outros autores, sinalizando a
tendência da formação para os próximos anos, indicando para uma rápida expansão
5
da “formação na linha de sistemas de aprendizagem flexível, aberta, à distância e de
acordo com os modelos pedagógicos da autoformação”. (Sancho, 1998, p.202).
Em meio a tantas mudanças, o prazo de validade da informação tem ciclo
de vida cada vez mais curto, isto gera uma necessidade cada vez maior de
especialização na formação inicial e de re-qualificação profissional na formação
continuada ao longo da vida, atributo cada vez mais exigido na sociedade atual.
Dessa forma, não há diferença entre trabalho e aprendizagem uma vez que, tudo ou
quase tudo que aprendemos ou fazemos hoje, terá que ser atualizado amanhã, isso
vale para o chão-de-fábrica, aos níveis médios e estratégicos das organizações,
sejam elas da indústria ou serviços, como é caso da educação.
O livro de Sancho (1998, p. 204) traz uma análise de diferentes
experiências de aprendizagem com tecnologias interativas e pode-se afirmar que a
formação com a aplicação destas tecnologias apresenta as seguintes vantagens:
1. Redução do tempo de aprendizagem.
A partir de uma análise real de grande quantidade de experiências de
aprendizagem com tecnologias interativas, pode-se afirmar que o tempo investido na
aprendizagem pode chegar a ser reduzido em 50%, devido a diferentes fatores:
a) a autonomia anima o aluno a selecionar o roteiro mais eficiente;
b) a combinação de sistemas de apresentação de conteúdos reduz o
esforço de compreensão;
c) a oportunidade de uma interação imediata permite um reforço constante
na aquisição de conteúdos;
d) a flexibilidade deste sistema permite desenvolver diferentes estilos de
aprendizagem que maximizam a eficiência do processo de aquisição de
conhecimentos.
2. Redução do custo.
Quanto maior o número de estudantes que usarem um mesmo sistema,
mais rentável será o investimento inicial em projeto e produção. Aprendizagem por
meio de tecnologias interativas é, justamente, suscetível de chegar a um grande
número de destinatários e, portanto, a relação investimento! Estudante é
significativamente reduzida. Também são eliminados os custos de deslocamentos.
3. Coerência da instrução.
A qualidade e o nível de instrução são constantes, não há flutuações.
6
4. Intimidade.
Os estudantes sentem-se livres para fazer perguntas que teriam dificuldade
em fazer diante do grupo. Trata-se de um sistema que sempre pode dar resposta e
permite incidir em um mesmo aspecto ou questioná-lo tantas vezes quantas o
estudante precisar.
5. Domínio da própria aprendizagem.
É possível adquirir conteúdo gradativamente de forma que, se o aluno assim
o decidir, pode não passar para um novo objetivo enquanto não consolidou o
anterior. Cada um decide o que deseja aprender. Portanto, fica garantida a
adaptação às necessidades individuais.
6. Aumento da retenção.
A oportunidade de uma interação constante reforça significativamente a
aquisição de conhecimentos.
7. Aumento da segurança.
Os sistemas interativos permitem simulações e experimentações que não
oferecem nenhum tipo de risco nem de despesas para o aluno como poderia ocorrer
no caso de trabalhar itens como as explosões químicas, as drogas, etc.
8. Aumento da motivação.
Estes sistemas exigem um forte envolvimento dos alunos e uma boa
capacidade de resposta. Também favorecem a concentração.
9. Acessibilidade.
Os sistemas interativos proporcionam um amplo e igualitário acesso à
educação de qualidade. Em decorrência da capacidade de simulação, permitem
desenvolver experiências que, de outra forma, seriam muito dispendiosas ou
impossíveis de realizar, como por exemplo, a simulação de um laboratório.
10. Aprendizagem estimulante.
Os sistemas interativos contribuem para que o aprendiz tenha maior
controle e maior responsabilidade sobre o seu processo de aprendizagem. Desta
forma deixa de ser um sujeito passivo para passar a ser o protagonista na aquisição
de novos conhecimentos. Ou seja, trata-se de sistemas que contribuem para
“aprender a aprender”. Além disso, possibilita-se o trabalho cooperativo.
Conforme leituras realizadas as bases legais da Educação a Distância no
Brasil tem sua origem na LDBEN 9.394 de 20.12.1996, pelo Decreto 2494 de
10.02.1998, Decreto nº 2561 de 27.04.1998 e na Portaria Ministerial Nº. 301 de
7
07.04.1998, até então essa modalidade ensino na havia merecido por parte do poder
público nenhum tipo de regulamentação em lei ordinária.
Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente
organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados
isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de
comunicação. (Decreto 2.494, de 10.02.1998).
Como se observa a legislação brasileira definiu “educação a distância” para
designar a forma de ensino em que professor e estudante não precisam estar no
mesmo lugar e ao mesmo tempo para que a aprendizagem ocorra, dessa forma, a
terminologia adotada neste trabalho será a oficial, ainda que muitos autores
retratados neste artigo tenham usado outras expressões: ensino a distância,
aprendizagem a distância, aprendizagem, aprendizagem aberta e aprendizagem
aberta e a distâncias, estas expressões são usadas como sinônimo pelos autores.
Para Litwin (2001), a educação convencional assentada em edifícios
escolares pode ser ‘vista’ e inferida pela sociedade a partir de múltiplas dimensões.
O mesmo não ocorre na educação a distância. Embora exista nessa modalidade
lugares físicos estabelecidos para o desenvolvimento de determinadas atividades, o
espaço não cumpre as mesmas funções simbólicas que na educação presencial, na
media em que a sala de aula é desterritorializada, ou seja, o estudante pode estudar
em que hora e local serão mais apropriados.
Dessa forma, manifesta-se a teoria da autonomia e independência
formulada por Wedemeyer & Moore, “os adultos são, por definição, autoresponsáveis e, de acordo com isto, têm o direito a decidir sobre o quê e o como de
sua educação” (apud Aretio, 1994, p. 66). Esse princípio se aplica ao grupo de
professores amazonenses que irão fazer parte da clientela beneficiada da proposta
de educação a distância para a DA.
A escolha dos meios terá importância significativa no desenvolvimento das
estratégias pedagógicas na educação a distância, (cf. Magalhães, 1988; Rodrigues,
1998; Spanhol, 1999; Levy, 1999; Litwin, 2001) e a mediação pedagógica será
realizada usando distintos recursos tecnológicos. O suporte tecnológico viabilizará a
comunicação a distância entre professores e tutores, entre alunos e alunos, e todos
entre todos. Dessa forma o estudante contará com o auxílio desses recursos quando
precisar tirar dúvidas ou fazer alguma consulta.
8
Nesse sentido Litwin afirma o seguinte:
Um tema recorrente dos novos materiais, sejam páginas web ou os clássicos
textos impressos da educação a distância, nas novas universidades de todo o
mundo, é a orientação dos estudantes por meio da figura do tutor. (...) Dado o
impacto das novas tecnologias na modalidade, as atuais propostas de tutoria
foram substituindo os clássicos encontros presenciais pela utilização de
canais de comunicação como o correio eletrônico. (Litwin, 2001, p.21).
Por outro lado, para superar a desvantagem ocasionada pela ausência da
figura do professor, Magalhães (1988) sugere a aplicação de estratégias a fim de
minimizar tais deficiências:
a) elaboração de guias de estudo bem redigidos e estruturas que permitam
ao aprendente conhecer claramente quais objetivos do curso e as atividades a
serem desenvolvidas;
b) maior presteza na resposta aos pedidos de esclarecimento de dúvidas ou
orientação suplementar feita pelos alunos;
c) rapidez na avaliação dos trabalhos e pronta comunicação dos resultados
aos aprendentes;
d) utilização de um mix de meios à disposição dos alunos;
e) participação nos encontros organizados para reunir, face-a-face,
professores, tutores e alunos;
f) prática de estudo em grupo, com colegas que residam no mesmo bairro
ou cidade.
De acordo com Sancho (1998), a elaboração de materiais impressos exige
cuidados especiais com as seguintes características:
As atividades impressas em papel, colocadas à disposição dos estudantes,
devem ter enunciados muito claros, simples e breves, é aconselhável que
os exercícios sejam curtos e sobre conteúdos precisos, devem estar
claramente classificadas segundo o nível de dificuldade, conteúdo, assunto,
item, subitem, etc. e claramente codificadas com mensagens visuais
(ícones, marcas coloridas, número, letras...), para que o aluno receba todas
as informações necessárias para decidir e localizar facilmente a atividade
de que necessita ... (Sancho, 1998, p. 191).
Concordando com a mesma opinião Preti (1996), justifica da seguinte forma:
... apesar da tecnologia de comunicações à disposição hoje no mundo, a
maior parte dos cursos de Educação a Distância utiliza o material impresso
como principal via de comunicação e de estudo em seus cursos. Isso por
9
várias razões; em primeiro lugar, é a ele que o aluno dedica mais tempo e o
material escrito supera em muito os demais meios na Educação a Distância.
(Preti, 1996, p. 82).
Formação docente e aplicação de sistemas EaD
As educações a distância, como evidenciam os relatos dos autores
estudados, configura-se como um sistema aberto e flexível, capaz de atender
grandes contingentes humanos em diferentes níveis de ensino e em lugares e
tempos distintos. Desse modo, pode ser um aliado para viabilizar a formação de um
grande número de professores do ensino fundamental e médio, daí sua importância
estratégica em regiões como a amazônica, caracterizada por grandes extensões
territoriais, de grande dispersão populacional e com baixo nível de escolaridade da
população.
A LDBEN/96, em seus Artigos 61 e 62, afirma o seguinte em relação a
formação de professores:
Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos
objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características
de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamento:
I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação
em serviço;
II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de
ensino e outras.
Art. 62. A Formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidade e institutos superiores de educação. (...).
A Lei nº. 10.172, de 09.01.2001, que aprovou o Plano Nacional de
Educação, em suas Diretrizes, estabelece o seguinte em relação ao Poder Público
com relação à educação a distância:
E preciso ampliar o conceito de educação a distância para poder incorporar
todas as possibilidades que as tecnologias de comunicação possam
propiciar a todos os níveis e modalidades de educação, seja por meio de
correspondência, transmissão radiofônica e televisiva, programas de
computador, internet, seja por meio dos mais recentes processos de
utilização conjugada de meios como a telemática e a multimídia.
A Lei de Diretrizes e Bases considera a educação a distância como um
importante instrumento de formação e capacitação de professores em
serviço. Numa visão prospectiva, de prazo razoavelmente curto, é preciso
aproveitar melhor a competência existente no ensino superior presencial
para instrumentalizar a oferta de cursos de graduação e iniciar um projeto
de universidade aberta que dinamize o processo de formação de
profissionais qualificados, de forma a atender as demandas da sociedade
brasileira. ( Plano Nacional de Educação).
10
A formação inicial e continuada de um profissional da educação deve ser
estimulada a aprender o tempo todo, a pesquisar, a investir na própria formação e a
usar sua inteligência, criatividade, sensibilidade e capacidade de interagir com outras
pessoas. Logo, esta formação só é conseguida em cursos de nível superior.
(Perrenoud, 2000). Para Moraes (1997) é preciso agregar outros contornos
epistemológicos aos currículos das escolas para dar sentido e desenvolver uma
prática reflexiva permanente nos cursos de formação de professores, e defende o
seguinte:
A pedagogia reflexiva pressupõe uma educação voltada para a qualidade
do 'pensamento superior que está sendo gerado e, em decorrência, para a
qualidade do conhecimento que está sendo produzido, transformado e
aplicado no pensamento. Quando falamos no pensamento de ordem
superior, estamos nos referindo ao desenvolvimento de competências de
grau superior relacionadas à compreensão, ao desenvolvimento do
pensamento analítico e abstrato, dos pensamentos critico e criativo, da
flexibilidade de raciocínio, da riqueza e da coerência dos recursos utilizados.
Todos esses aspectos são condições fundamentais para a construção de
conhecimentos mais elaborados para que os indivíduos sejam capazes de
solucionar problemas, apresentar um melhor desempenho profissional, que
atenda aos novos padrões tecnológicos, às novas exigências do mercado
de trabalho e de participação, no mundo atual. Estamos preocupados em
assegurar a capacidade de sobrevivência do individuo num mundo de
incertezas, imprevistos, mudanças bruscas, novas capacidades de criar,
criticar, questionar e aprender de forma mais significativa, bem como novas
maneiras de viver e conviver”. (Moraes, 1997, p. 215).
Nessa perspectiva, a formação docente deve levar em conta um novo perfil
de profissional no âmbito da escola. Dessa forma, a prática pedagógica do professor
refletirá na vida profissional dos estudantes, futuros profissionais, num mundo
marcado por mudanças e possibilidades. Para tanto, o profissional da educação
deve ser formado em um currículo mediado por novos conteúdos epistemológicos,
na medida em que a escola e seus profissionais não são indiferentes às mudanças:
Com relação aos alunos do ensino fundamental e médio, é preciso que
aprendam a valorizar o conhecimento, os bens culturais, o trabalho e a ter
acesso a eles autonomamente; a selecionar o que é relevante, investigar,
questionar e pesquisar; a construir hipóteses, compreender, raciocinar
logicamente; a comparar, estabelecer relações, inferir e generalizar; a
adquirir confiança na própria capacidade de pensar e encontrar soluções.
(PDC/MEC, 2000, p.13)
Desenvolver a prática da pesquisa, no interior da escola é uma tarefa que
exige o delineamento de um novo projeto pedagógico para a formação dos novos
11
formadores, ou seja, quando se fala em mudanças é preciso incluir a escola nesse
processo natural de mudanças da sociedade, porém, é preciso materializar essas
mudanças no interior dos currículos dos cursos de formação de professores.
Assim, procura-se produzir mudanças nas escolas, com a crença
perseguida desde o século XVI por Lutero e Comenius, com Rousseau lançando
as bases da pedagogia moderna, através da publicação de Emílio, em 1762,
manifestando a preocupação em como tornar uma criança num adulto bom através
da vivência social e política; com Adam Smith em A Riqueza das Nações
defendendo a educação básica, o ingresso no processo produtivo da sociedade
moderna e a defesa da escola como requisitos necessários. Hoje, continuamos a
nos preocupar em melhorar a escola através da qualificação dos professores e
dotando as escolas com recursos tecnológicos, com a intenção de formação de
crianças, jovens e adultos para a convivência social e usufruto dos bens culturais e
naturais com responsabilidade planetária em uma cultura globalizada.
Considerações finais e preocupações em relação à educação a distância
Analisando a trajetória da educação a distância, com um olho no texto e
outro no contexto, alguns pontos foram identificados como negativos, ainda que a
grande maioria da argumentação dos autores estudados indiquem ser a educação a
distância vantajosa em relação ao ensino presencial tradicional, porém, algumas
preocupações emergem a partir dos seguintes pontos:
a) a separação entre professor e o aprendente e a produção de materiais
“pré-empacotados” podem deslocar o enfoque da tomada de decisões sobre o
currículo do aprendente para a instituição e seu staff;
b) os pacotes pré-preparados de materiais de cursos exercem uma
autoridade indevida para muitos estudantes, que se tornam, conseqüentemente,
menos aptos a questionar o que aprendem;
c) os cursos tendem a ser demasiado pesado em termos de conteúdos, o
que podem encorajar os estudantes a enfocarem a digestão dos conteúdos em
detrimento da busca dos significados e da aplicação dos conhecimentos;
d) os cursos em geral fornecem os materiais de referência prescritos, o que
é lógico e útil para estudantes isolados em casa (e de fontes de informação), mas
12
isto não os encoraja a buscar suas próprias fontes ou desenvolver ‘competências de
biblioteca’;
e) pacotes de cursos, produzidos centralizadamente, têm dificuldade de
incluir a infinita variedade de tipos de tutoria e serviços de apoio demandados pelos
aprendentes e oferecem pouco para suas diferenças individuais de experiências e
necessidade de estilos de aprendizagem;
f) embora a maioria das universidades abertas ofereça acesso a serviços de
tutoria e mesmo atividades presenciais de apoio, faltam aos estudantes um retorno
imediato vindo de uma interação mais regular com outros estudantes e com os
tutores, o que os torna menos aptos à reflexão, à discussão ou ao questionamento
com relação aos conteúdos da aprendizagem;
g) a ausência de contato com o ambiente de estudo da escola para a casa e
o isolamento com relação aos colegas podem não estimular as condições de estudo.
Referências
ARETIO, Lorenzo G. Educación a distancia hoy. Coleción permanente. Madrid:
UNED, 1994.
ARMENGOL. Casas. M. Universidade sin classes: educación a distancia en
America Latina. Caracas: OEA/UNA/Kapelusz, 1987.
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. São Paulo: Autores Associados,
1999.
BORDINAVE, Juan E. Diaz. Pode a educação distância ajudar a resolver
problemas educacionais no Brasil? In: Revista Tecnologia Educacional. Rio de
Janeiro: v. 17, p. 31-38, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 de
20.12.96.
BRASIL. Referencial Pedagógico e curricular para a formação de professores
da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino fundamental. Documento
Preliminar. Brasília: MEC, 1998.
13
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Brasília:
MEC, 1999.
BRASIL. INEP/MEC - www.inep.gov.br
GUTIERREZ, Francisco & PRIETO, Daniel. A mediação pedagógica: educação à
distância alternativa. Trad. Edilberto M. Sena & Carlos Eduardo Cortés. Campinas:
Papirus (Educação internacional do Instituto Paulo Freire), 1994.
HOLMBERG, Börje. Theory and practice of distance education. London :
Routledge, 1995.
KEEGAN, Desmond. Theories of distance education: introduction. In: D. Sewart, D.
Keegan & B. Holmberg (Eds.), Distance Education: International Perspectives.
New York: Routledge, 1988, p. 63-67.
LAASER, Wolfram. Manual de criação e elaboração de materiais para educação
a distância. Brasília: CEAD; Editora da Universidade de Brasília, 1997.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. 2ª ed. São Paulo: Ed. 34,
2000.
_____________. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço.
Trad. Luiz Paulo Rouanet. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1999.
_____________. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era
da informática. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1998.
LUZURIAGA, Lourenzo. História da Educação e Pedagogia. 16 ed., São Paulo:
Nacional, 1985. (Coleção Atualidades Pedagógicas, vol. 59).
MAGALHÃES, Maria Angelina B. Guias para o ensino a, distância: estrutura e estilo.
Revista de Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro: ABT, mai/jun 1988, p. 7.
MEISTER, Jeanne C. Educação Corporativa: A Gestão do Capital Intelectual
através das Universidades Corporativas. Trad. Maria Cláudia Santos Ribeiro
Ratto. São Paulo: Makron Books, 1999.
14
MOORE, Michel G., KEARSLEY, Greg. Distance education: a systems view.
Belmont (USA) : Wadsworth Publishing Company, 1996.
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas:
Papirus, 1997.
NISKIER, Arnaldo. Tecnologia Educacional: uma visão política. Petrópolis :
Vozes, 1993.
PERRENOUD, Philippe. Novas competências para ensinar. Trad. Patrícia Chittoni
Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
PRETI, Oreste. Educação a distância: inícios e indícios de um percurso. Cuiabá:
NEAD/IE-UFMT, 1996.
RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Modelo de avaliação para cursos de
educação a distância. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), 1998.
SANCHO, Juana M.(Org) Para uma tecnologia Educacional. Porto Alegre: Artmed,
1998.
SPANHOL, Fernando José. Estrutura tecnológica e ambiental de sistemas de
videoconferência na educação a distância: estudo de caso do laboratório de
ensino a distância da ufsc. Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), 1999.
TRINDADE, Armando Rocha. Fundamentos da educação a distância: panorama
conceitual da educação e treinamento à distância. Trad. José Geraldo Campos
Trindade. Brasília: UNB, março, 1997, (s/p).
YALLI, Juan Simón. Para uma definição de educação aberta. Revista de
Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro: ABT nov/dez, 1984, p.27.
15

Documentos relacionados