fot ó grafo - Eder Chiodetto
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fot ó grafo - Eder Chiodetto
F O T Ó G R A 1 7 s et e m bro a 2 0 d e z e m bro 2 0 0 9 F O Gare Saint Lazare. Paris. 1932 © Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos Em 2005, a França acolheu o Brasil, com grande prazer e imenso sucesso, um Brésil-Brésils múltiplo, enraizado no presente e na modernidade, sem nada perder de sua influência sobre o imaginário. Em 2009, o Brasil abre generosamente suas portas à França. Algumas centenas de eventos estão sendo organizados por todo o país, em todas as áreas, refletindo uma sede de compreendermos, de trabalharmos, de criarmos em conjunto. Mas qual França o Brasil vai receber? Uma França orgulhosa de sua memória, evidentemente, uma memória viva, que ela gosta de partilhar muito além de suas fronteiras. O Brasil, aliás, na sua alegre antropofagia, buscou a França ao longo de toda a sua história, assimilando-a e metamorfoseando-a à sua maneira. Desse interesse que os países têm um pelo outro resulta o desejo de reencontrar as ideias, as imagens e os sabores, para prolongar esta alegria de se conhecerem e de se surpreenderem mutuamente. A ambição do Ano da França no Brasil é também a de mostrar imagens e proporcionar sensações de uma França diferente, mais contrastante e aventureira do que poderíamos imaginar. Uma França que adora provar outras culturas, explorar outros territórios. Uma França que se inquieta e se questiona, em constante mutação, ao ritmo da evolução de sua sociedade, que é tão diversa quanto a brasileira. Uma França que cria a partir de suas interrogações, contemplando o mundo. Uma França, sobretudo, que olha para o Brasil com admiração, sabendo também o que ela ainda pode lhe oferecer. Uma França que, desde Jean de Léry até o rapper MC Solaar, passando por Blaise Cendrars e Claude Lévi-Strauss, se nutre da cultura brasileira, multiplicando assim suas reflexões e seus impulsos. O nome deste Ano é França.Br 2009. A França é convidada a percorrer o Brasil e seu imaginário tão rapidamente quanto nos permitem as navegações na Internet, e assim continuar a construir uma relação forte e ativa, permitindo que franceses e brasileiros atuem em conjunto sobre o mundo. Yves Saint-Geours Presidente do Comissariado Francês Danilo Santos de Miranda Presidente do Comissariado Brasileiro Anne Louyot Comissária-Geral do Comissariado Francês Embaixador Roberto Soares de Oliveira Comissário-Geral do Comissariado Brasileiro O que nos toca de modo tão profundo diante de uma fotografia? Se for um álbum de família, talvez o que nos atinja seja o passado, memórias que pareciam já soterradas nos movimentos dos dias e que, por alguns momentos, descobrimos tão presentes em lágrimas que se formam nas lembranças de nossos corpos. Porém, por que ainda nos emocionamos com o trabalho de artistas como Henri Cartier-Bresson? Podemos ficar horas observando a ínfima parte de segundo captada pela máquina fotográfica. Aquele gesto incompleto, a luz perfeita que seria desfeita enquanto piscássemos as pálpebras, um olhar que se perdeu enquanto o redemoinho de concreto gira em nossa volta. Neste olhar apreendido, inusitadas linhas e sombras do mundo nos atingem com a rapidez estática de uma aparente insignificância do tempo. Fazendo parte da programação do Ano da França no Brasil, a exposição de parte da obra de Cartier-Bresson será um elemento a mais a nos guiar para a contemplação da vida, do tempo, de céus e infernos que nos compõem. Pois parece ser assim, criando um tempo-espaço que não se restringe às cercas geopolíticas erguidas, junto às ampulhetas distorcidas das horas fugidias, que o fotógrafo francês compôs sua obra. Faz, portanto, com que possamos dividir impressões que propriamente não nos pertencem como indivíduos, mas que são componentes de tempo-espaço bem maior do que as íntimas piscadelas de nossas lembranças domésticas; fazem parte de uma memória coletiva que o humano carrega como espécie povoadora da vida. Para o SESC, apresentar ao público a oportunidade de nos encontrar nas fotografias de CartierBresson é trazer a sensação de que, por mais que nos julguemos ser diferentes uns dos outros, há uma extrema força de igualdade que explode quando nos deparamos com gestos, lugares e rostos tão estranhos quanto imensamente próximos. Não é um álbum de família frente ao qual nos comovemos, mas imagens de um conjunto de nós mesmos cujas emoções eclodem de uma única e mesma célula que compõe a humanidade. Simiane-la-Rotonde. France. 1969 © Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos SESC São Paulo A vida, uma dança! Bankers Trust. New York City. 1960 © Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos “Tirar fotos é prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz. É organizar rigorosamente as formas visuais percebidas para expressar o seu significado. É pôr numa mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. Esta imbatível definição de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) para o ato de fotografar é o melhor ponto de partida para entender a magnitude e a repercussão de sua obra. De posse de uma Leica, a câmera que dotou os fotógrafos do poder da “invisibilidade” graças ao tamanho e ao peso diminutos se comparados aos equipamentos de época, CartierBresson encarnou um autêntico flâneur. Celebrado pelo poeta Charles Baudelaire (1821-1867), o “personagem” se deixa seduzir e ser conduzido aleatoriamente pelos erráticos caminhos das ruas parisienses enquanto contempla histórias e imagens. Cartier-Bresson não fez diferente e dizia o seguinte: “A foto em si não me interessa, mas sim a reportagem, a comunicação entre o mundo e o homem comum. E há este instrumento maravilhoso, a câmera, que passa despercebida. Pelo visor, a vida é como uma dança!” Com faro peculiar para flagrantes, Cartier-Bresson fotografa com o gosto de um caçador que persegue instintivamente sua presa. Incansável, busca o momento em que a harmonia do universo conspira a favor do artista, a fração mínima de tempo em que forma e conteúdo atingem o limite da expressão e da perfeição diante da câmera. “Para mim, o aparelho fotográfico é um caderno de notas, um instrumento da intuição e da espontaneidade, senhor do instante que _em termos visuais _ pergunta e responde a um só tempo. Para expressarmos o mundo temos de nos sentir envolvidos com aquilo que descobrimos no visor. Esta atitude exige concentração, disciplina mental, sensibilidade e senso de equilíbrio geométrico. É pela grande economia de meios que se chega à simplicidade de expressão.” Dito por CartierBresson, tudo parece simples. Livourne. Italie. 1933 © Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos A foto, um tiro! A paixão pelo prosaico e pela fugacidade da vida são evidentes na obra de Cartier-Bresson. Sua investigação não deseja a grandiosidade da fotografia, mas a descoberta da beleza escondida no caos, a delicadeza dos gestos cotidianos. Ainda assim, ele não escapa de outra missão: o registro de momentos históricos _alguns grandiosos _, como os que estão expostos nesta sala. Dessa forma, ele abre caminhos para uma linhagem de “fotógrafos humanistas”. Alguns deles se reúnem em torno da agência Magnum, fundada em 1947 por ele, Robert Capa e David Seymour, entre outros profissionais. Antes disso, em 1931, Cartier-Bresson começa a fotografar influenciado pelos surrealistas. “Não pela pintura deles, mas pela percepção do subconsciente”, afirmava. No início dos anos 1970, depois de uma conversa com o amigo e crítico de arte Tériade, ele praticamente para de fotografar: “Ele me dizia: você já disse tudo o que podia. Não deve se repetir. Você precisa se questionar. Isso é uma atitude libertária”, revelou o fotógrafo. Ao aposentar a câmera, o artista se abriga no desenho e na pintura. “Não tenho saudades. O desenho é uma meditação enquanto a foto é um tiro”. Com meditação e reclusão, ele passa a fugir do assédio público. “A fama é horrível, horrível. Ficamos acorrentados”, dizia. Bresson morreu em 2004, quando a fotografia já havia sido impactada por profundas transformações em virtude das novas tecnologias. Calcada na sensibilidade, na argúcia e no rigor estético, a visão de mundo de Cartier-Bresson e seus pares pode, ao primeiro olhar, parecer desconectada desses novos tempos. Mera ilusão. Ainda que a era da informação e da velocidade se iluda com a crença de que o instante decisivo ocorre o tempo todo, on line, Cartier-Bresson e sua obra permanecem como o fio da meada para o resgate de uma sensibilidade em aparente extinção. Eder Chiodetto Coordenador Geral PROGRAMAÇÃO INTEGRADA Mesas de debate Sala de Leitura, 2º andar. 200 vagas. Acesso livre até o limite de vagas. Mediação de Eder Chiodetto FOTOGRAFAR É COLOCAR NA MESMA LINHA DE MIRA A CABEÇA, O OLHO E O CORAÇÃO O Acaso Objetivo 18/09, sexta. 20h Jean-Luc Monterosso, diretor e curador da Maison Européenne de la Photographie e Profª. Helouise Costa (MAC/USP) 19/09, sábado. 18h Prof. Maurício Lissovsky (UFRJ) e Gabriel Bauret, crítico e curador francês Filmes Sala de Exibição, Térreo L’Aventure Moderne: Henri Cartier-Bresson [A Aventura Moderna: Henri Cartier-Bresson] 29 minutos. Preto-e-branco. 1962 Dirigido por Roger Kahane. Produção: ORTF Entrevista do artista com cenas raras de seu trabalho no meio da multidão anônima de Paris. H.C.B. Point d’interrogation? [H.C.B. Ponto de Interrogação?] Henri Cartier-Bresson extraído do L’Imaginaire d’après nature, Fata Morgana, Paris, 1996 38 minutos. Preto-e-branco. 1994 Realizado por Sarah Moon. Produção: Take Five Perfil de Cartier-Bresson pela fotógrafa Sarah Moon em momentos de intimidades do artista. Contacts: Henri Cartier-Bresson [Contatos: Henri Cartier-Bresson] 15 minutos. Cor. 1994 Realizado por Robert Delpire, Centre National de la Photographie, Paris. Produção: KS Vision Apresentação das folhas de contatos dos filmes do fotógrafo desvelando seu processo criterioso de edição. Áudio original em francês e legendas em português Minicontos de Cartier-Bresson A proposta da oficina é a criação de pequenos contos a partir de fotografias de Henri Cartier-Bresson. Com a escritora Andréa DelFuego. 21 e 28/10, quarta e quinta, 19h. Internet Livre, 2º andar Fotografias literárias Criação de pequenos contos, poemas e histórias a partir de saídas fotográficas. Com o escritor Samir Mesquita e o fotógrafo Eduardo Muylaert OFICINAS E CURSOS Inscrições no balcão da Sala de Leitura, 2º andar Pratas da Casa Oficina de produção de retrato. Os participantes percorrem a Unidade para produzir retratos dos freqüentadores. Noções técnicas de fotografia e formas de abordagem. Com a fotógrafa Daniela de Moraes. 26/09, sábado, 10h30. Internet Livre, 2º andar Fotojornalismo: todo mundo pode? Oficina sobre as transformações técnicas e a massificação dos aparelhos eletrônicos. A capacidade de registrar criticamente acontecimentos do cotidiano pode nos transformar em fotojornalistas? Com o fotógrafo Otávio Valle. 04, 10 e 11/10, sábado e domingos, 15h. Internet Livre, 2º andar Retratos em Pinheiros Oficina destinada à Terceira Idade. Por meio de aulas e saídas fotográficas, os participantes desta oficina irão aprender a produzir retratos dos moradores de Pinheiros em seu cotidiano. Com o fotógrafo e educador Daniel Queiroz. 07, 08 e 09/10, quarta, quinta e sexta, 14h. Internet Livre, 2º andar 17 e 18/10, sábado e domingo, 11h. Internet Livre e Sala de Leitura, 2º andar Crônicas Fotográficas Com exercícios de percepção e interpretação de imagens, a proposta da oficina é trabalhar a construção de crônicas a partir de fotografias levadas pelos participantes. Com orientação do escritor Fabrício Carpinejar 30/10, sexta, 20h. Sala de Leitura, 2º andar A construção da imagem na arte ocidental Minicurso sobre os processos históricos de construção de imagem: da pintura ao desenvolvimento da fotografia. Pretende desenvolver uma leitura crítica do universo imagético produzido pela arte ocidental a partir do Renascimento, até o século XIX, momento em que esse gênero se expande da linguagem pictórica para a fotográfica. Com a profª Paula Palhares. 10 a 19/11, terças e quintas, 20h às 22h. Sala de Atividades, 3º andar ENCONTROS SAÍDAS FOTOGRÁFICAS Acesso livre até o limite de vagas. 200 vagas Inscrições no balcão da Sala de Leitura, 2º andar. É necessário trazer câmera fotográfica. Relatos do Submundo: Encontros da Madrugada Centro Fotojornalistas que batem o cartão após a meia-noite, contam sua experiência de fotografar a cidade durante a madrugada. Durante a conversa, eles mostram algumas imagens que marcaram suas carreiras. Com os fotojornalistas Apu Gomes, Flavio Florido, Lawrence Bodnar Avenida Nove de Julho e Praça da Bandeira. Com o fotógrafo Tuca Vieira. 23/10, sexta, 20h. Sala de Leitura, 2º andar Retratos Urbanos A fotografia e a cidade são os temas principais dessa conversa com o fotógrafo Cristiano Mascaro. 06/11, sexta, 20h. Sala de Leitura, 2º andar Fotojornalismo: realidades construídas e ficções documentais Bate-papo com Eder Chiodetto, organizador da exposição e ex-editor do jornal Folha de S.Paulo. Eder problematiza o atual estágio da fotografia na imprensa sob diversos aspectos, tais como a imposição de um olhar hegemônico, mitos e verdades sobre a manipulação na era da fotografia digital. 27/11, sexta, 20h. Auditório, 3º andar. Retirada de ingressos no local com 30 min de antecedência. 20/09, domingo, 11h. Sala de Atividades, 3º andar Avenida Paulista Com o fotógrafo Daniel Kfouri. 24/10, sábado, 10h30. Internet Livre, 2º andar Elevado Costa e Silva Com o fotógrafo Sérgio Barzaghi. 01/11, domingo, 11h. Internet Livre, 2º andar APRESENTAÇÃO Sarau Fotográfico Os escritores Fabrício Carpinejar e Marcelino Freire escolhem trabalhos de Cartier-Bresson e outros fotógrafos, criam poesias e recitam obras conhecidas. 29/10, quinta, 20h30. Praça, térreo INTERVENÇÃO Histórias de Elevador O momento de indecisão por Samir Mesquita. De setembro a dezembro, no elevador B da Ala Paes Leme SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO SESC Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini GERÊNCIAS Ação Cultural Rosana Paulo da Cunha Adjunto Simone Avancini Estudos e Desenvolvimento Marta Colabone Adjunto Andréa Nogueira Artes Gráficas Hélcio Magalhães SESC Pinheiros Cristina Riscalla Madi Adjunto Denise Lacroix Rosenkjar ASSISTENTES Ação Cultural Juliana Braga e Nilva Luz SESC Pinheiros Sueli Guimarães, Elisabete Folgati, Cristina Tobias Alessandra Fialho, William Moraes e Silvan Silva HENRI CARTIER-BRESSON: FOTÓGRAFO FUNDAÇÃO HENRI CARTIER-BRESSON, PARIS Presidente da Fundação Henri Cartier-Bresson Martine Franck Diretora da Fundação Henri Cartier-Bresson Agnès Sire MAGNUM PHOTOS, PARIS Responsável do Departamento Cultural Emmanuelle Denavit-Feller Coordenadora das exposições Emmanuelle Hascoët Curadoria Robert Delpire Coordenação Geral Eder Chiodetto Produção Executiva Marie Hippenmeyer Direção de Produção Escamilla Soluções Culturais Museografia Marta Bogéa Assistente de Museografia Marcus Vinicius Santos Colaboradores Mônica Silva e Daniele Cubinhetz Tradução Bureau Translations e Marie Hippenmeyer Agradecimentos Jean-Luc Monterosso, Elise Jasmin, Tuca Vieira, Fernanda Diamant, Lydie Vannier (mk2), Alessandra Domingues, Adelmo Botto de Barros Filho Realização F O N D A T I O N Essa exposição é parte integrante da temporada francesa do SESC SP SESC PINHEIROS Rua Paes Leme, 195 • Tel.: 3095 9400 www.sescsp.org.br • 0800 118220