ARTIGO O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A EDUCAÇÃO FISICA
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ARTIGO O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A EDUCAÇÃO FISICA
ARTIGO O DESENVOLVIMENTO MOTOR E A EDUCAÇÃO FISICA ESCOLAR Rodolfo Novellino ~ e n d a * RESUMO O desenvolvimento do ser humano ocorre de forma integrada, no qual estão presentes os desenvolvimentos cognitivo, sexual, social e motor. Um profissional de educação física precisa conhecer as etapas por que passam as crianças para poder atuar de forma coerente, conforme as suas carências. Assim, é apresentada uma abordagem descritiva de desenvolvimento, procurando destacar os principais aspectos da infância. Palavras-chave: desenvolvimento humano, seqüência de desenvolvimento motor, educação física escolar. É importante, inicialmente, conhecer alguns conceitos referentes aos termos desenvolvimento, crescimento e desenvolvimento motor, que irão nortear este estudo. O desenvolvimento "é um termo amplo que se refere a todos os processos de mudança pelos quais as potencialidades de um indivíduo se desdobram e aparecem como novas qualidades, habilidades, traços e características correlatas. Inclui os ganhos de longo prazo e relativamente irreversíveis do crescimento, maturação, aprendizagem e realização" (PIKUNAS, 1979, p. 24). Entende-se por crescimento "o aumento no número (hiperplasia) ou tamanho (hipertrofia) das células que compõem os diversos tecidos do organismo. Por desenvolvimento entendem-se as transformações funcionais que ocorrem nas células e, conseqüentemente, nos diferentes sistemas do organismo" (TANI, 1988, p. 50). Já desei~volvimentomotor "é um processo seqüencial e continuado, relativo a idade, de onde um indivíduo progride de um movimento simples sem habilidade, até o ponto de conseguir habilidades motoras complexas e organizadas e, finalmente, o ajustamento destas habilidades que acompanham o envelhecimento" (HAYWOOD, 1993, p. 7). CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento apresenta algumas características, que, de acordo com CORBIN (1980), são as seguintes: * Professor da Escola de Educação Física - UFMG. Bolsista de Doutorado PICDTICAPES. 114 R. min.Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 Princípio da Continuidade - o desenvolvimento se inicia antes do nascimento e prossegue até a morte. Princípio da Totalidade - o desenvolvimento ocorre em todos os seus aspectos simultaneamente, quais sejam: intelectual, motor, social, emocional, outros. Princípio da Especificidade - apesar de ser global, desenvolvendo sempre todos os aspectos (motor, intelectual, social, emocional e outros), o desenvolvimento será enfatizado em um aspecto em cada situação. Princípi? da Progressividade - o desenvolvimento não ocorre de forma rápida. E um processo longo e lento, porém está sempre em evolução. Princípio da Individualidade - o desenvolvimento é diferente para cada pessoa, respeitando suas características e experiências vivenciadas. Ainda há uma outra característica, conhecida como direção do desenvolvimento motor. Esta indica que a capacidade de controle dos movimentos inicia-se em algumas regiões do corpo primeiramente, para depois ter a capacidade de controlar movimentos em outras porções do corpo. Assim, o desenvolvimento é cefalocaudal (da cabeça em direção aos pés) e próximo-dista1 (eixo central do corpo em direção às extremidades). TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Desenvolvimento cognitivo Piaget, um biólogo e filósofo, foi um estudioso da inteligência e formulou uma importante teoria, descrevendo o desenvolvimento cognitivo em etapas. Cada fase apresenta uma característica peculiar, que possibilita compreender a criança de acordo com a evolução de sua inteligência. Etapa Sensoriomotora: este período inicia-se no nascimento e permanece até, aproximadamente, dois anos. A criança mantém contato com o meio ambiente através de suas percepções e de seus movimentos. Assim, ela começa a aprender conceitos básicos. Conforme sua capacidade de movimentar-se, ela poderá vivenciar diferentes situações. Nesta faixa etária, a criança depende de suas percepções e de seus movimentos. A medida que ela adquire experiência, consegue diferenciar melhor as situações e fazer relações entre estas. Dessa forma, constrói e organiza noções. Quando se aproxima dos dois anos, a criança aperfeiçoa seu processo de linguagem através da fala, comunicando-se melhor com as pessoas e chegando a uma nova etapa de desenvolvimento cognitivo. Etapa Pré-Operatória: com o início da linguagem oral, a criança pode formular algumas representações ou símbolos sobre experiências aprendidas. Nesta fase, o pensamento passa a ser sustentado por conceitos. Ocorre o egocentrismo, em que a criança só consegue raciocinar por si própria e não tem a capacidade de se colocar na posição de outra pessoa, realizando o pensamento como se não fosse ela mesma. Outra característica desta faixa etária é o "aniinismo", situação em que a criança coloca vida em 115 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 objetos inanimados, como mesa ou cadeira. Nesta etapa, o pensamento depende da percepção imediata. A criança não pondera ou analisa determinadas situações para mostrar sua posição. Na sua primeira percepção, ela decide seu posicionamento. Um exemplo disto é o copo de água fino e outro largo com a mesma altura. Os dois copos estão cheios de água até a borda superior. Ao perguntar à criança qual copo tem mais água, provavelmente ela responderá que os dois copos têm o mesmo volume de água, não analisando que o copo mais largo tem maior volume. Esta etapa inicia-se aproximadamente aos dois anos e perdura até próximo dos sete anos. Etapa Operatório-Concreta: nesta etapa irão ocorrer mudanças em relação à fase anterior, e algumas das características presentes nas crianças vão se modificando. O pensamento tona-se mais lógico e objetivo. O egocentrismo diminui e a criança passa a considerar e conhecer melhor o mundo ao seu redor. Uma nova característica é a reversibilidade, em que a criança tem condições de retomar ao início de uma operação. Nesta fase a criança aprende que A + B = C, logo, tem a capacidade de determinar que B = C - A. O pensamento passa a ter como base o raciocínio e não mais a percepção. Outra característica é a incapacidade de pensar de forma abstrata. O raciocínio segue condições concretas, devendo os exemplos e materiais fazerem parte da realidade da criança. Esta fase se inicia por volta dos sete anos e continua até, aproximadamente, 12/13 anos. Etapa Operatório-Formal: esta fase, que se inicia em torno de 12/13 anos, é a mais avançada no desenvolvimento cognitivo. A partir deste momento, o ser humano adquire maturidade para o ato de pensar. A criança passa a ter condições de pensar de forma abstrata. Os exemplos e conteúdos podem ser contrários a realidade e contradizer as leis da natureza que, mesmo assim, a criança será capaz de aceitar a informação e analisá-la. Se um professor em um exemplo convencionar que um leão demora 36 horas para chegar a lua, uma criança no estágio operatório-formal aceita e dá continuidade à discussão. Já uma criança no estágio operatório-concreto não concorda e tem grande dificuldade em dar seqüência ao tema. DAVIS e OLIVEIRA (1993, p. 46) apresentam "quatro fatores básicos responsáveis pela passagem de uma etapa de desenvolvimento mental para a seguinte: maturidade do sistema nervoso, interação social (através da linguagem e educação), experiência física com objetos e, principalmente, a equilibração (necessidade que a estrutura cognitiva tem de se desenvolver para enfrentar as demandas ambientais)". Desenvolvimento sexual Sigmund Freud introduziu novos conceitos na ciência, tornando-se um marco na psiquiatria. Seus estudos tiveram como base sua formação filosófica e niédica. Para compreender melhor a teoria da sexualidade infantil é interessante conliecer as estruturas dinâmicas da personalidade: TD - é considerado, basicamente, como a energia do indivíduo, constituído pelos impulsos instintivos inatos. Além de funcionar como 116 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 fonte das energias psíquicas, o id funciona canalizando-as. Busca a satisfação imediata das necessidades, seguindo o princípio do prazer. Atua tendo como base somente o tempo presente, desprezando o futuro e o passado. ECO - é a estrutura intermediária entre desejo e realidade. Mostra uma evolução daquilo que é somente instintivo para a possibilidade de realização. De acordo com FIORI (198 1:27), "cabe ao ego organizar uma síntese atual, tornando o indivíduo único e original e permitindo-lhe uma adaptação ativa ao mundo presente que vive". SUPEREGO - tem a responsabilidade de estruturar os valores morais, respeitando normas relacionadas a aceitação da sociedade. Estas normas dependerão de aspectos culturais e sociais da comunidade em que se vive. Atua com a valorização de virtudes e com a proibição ou punição de atos contrários a uma moral previamente estabelecida. ID - EGO SUPEREGO + REALIDADE Figura 1 - Processo interno (Id - Ego - Superego) e a relação com a realidade (FIORI, 1981, P. 26). Fases do desenvolvimento sexual Fase Oral: a criança sente prazer em estimular a cavidade oral e os lábios. Isto ocorre, principalmente, no primeiro ano de vida, devido a amamentação e ao contato com o seio materno. A excitação da mucosa oral ainda a caracteriza como um tecido erógeno. Fase Anal: a criança, entre 2 e 4 anos, destaca a fase anal como uma zona erógena. A isto soma-se a função de controle dos esfíncteres anais, tendo a capacidade de eliminar as fezes (produção própria da criança) e t p b é m o prazer de reter. Fase Fálica: a partir de 3 até 5 anos, as principais zonas erógenas se deslocam para os órgãos genitais. A criança descobre seu órgão sexual e se interessa em conhecer o sexo oposto. A criança ainda manipula seu órgão ,sexual, acompanhando diversas fantasias. Esta é a fase do Complexo de EdipoIElectra, em que o filho deseja ter uma relação exclusiva com o pai de sexo oposto, tendo ciúmes de seu próprio pai ou mãe. Quando o Complexo de Edipo/Electra se declina, inicia-se a fase de latência. Fase Latente: aproximadamente entre 5 anos e a puberdade, a criança interrompe seu desenvolvimento sexual, e suas necessidades sexuais tornam-se secundárias e menos importantes no seu cotidiano. Este período latente, sem grandes conflitos auxilia, inclusive, no desenvolvimento cognitivo. R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 117 Fase Genital: representa a etapa final de desenvolvimento sexual, em que o adolescente irá procurar um outro adolescente do sexo oposto com o objetivo de perpetuação da espécie. Nesta fase o adolescente já apresenta a potencialidade da reprodução e, assim, atinge a mais importante etapa do desenvolvimento da sexualidade no ser humano. Desenvolvimento social Os componentes do desenvolvimento evoluein de forma integrada e interdependente. Quanto maior o número de experiencias nas diferentes áreas e melhor a qualidade destas variadas vivências, possivelmente, melhor será o desenvolvimento, devido à inter-relação entre os seus componentes. Estes componentes (físico, motor, cognitivo, emocional, social e outros) demonstram a complexidade do ser humano. Uma criança, para se desenvolver, necessita ter experiências em todas estas áreas. O desenvolvimento ocorre de forma global, sendo cada componente imprescindível para a evolução da criança e do adolescente até a idade adulta. Assim, o fator social se destaca como um importante integrante deste processo. A partir do nascimento, a criança descobre um novo mundo. Encontra-se dependente dos pais, porém com uma presença real como um outro membro da família e não como um feto ainda em gestação. E neste novo mundo muitas descobertas estarão por vir. Conforme AJURIAGUERRA (1983, p.63), "a atividade social faz parte da evolução da criança. No conjunto de seu desenvolvimento pulsional, a criança se encontra durante toda sua evolução face a uma sociedade que, ao mesmo tempo, a forma e a oprime. A sociedade oferece à criança os pontos referenciais nos quais ela se amolda e contra os quais ela se revolta". Percebe-se que este aspecto do desenvolvimento é bastante interessante. Ele poderá ser o ponto-chave de um problema, a solução para a harmonia e o equilíbrio da criança no seu cotidiano. O ser humano vive em sociedade, em grupos. Estes grupos sociais podem variar. Como exemplo, existem a família, a escola, o trabalho, o lazer, os vizinhos, entre outros. Desde a infância o homem aprende a viver em grupos, respeitar opiniões, participar das decisões, defender seus direitos e cumprir seus deveres. De acordo com HERKOWITZ (1980, p.225), "socialização é o processo pelo qual a sociedade treina as crianças a se comportarem corno adultos. Através deste processo, as crianças aprendem que a sociedade tern certos valores ou idéias sobre o que é certo e errado". Esta citação traz um sentido de adestramento, o que, na realidade, se aproxima da função da socialização. Tornar crianças sociáveis, com hábitos e costumes que são passados de geração para geração, é o que tem sido realizado. Uina outra definição de socialização é colocada por PIKUNAS (1979, p.110), a qual "refere-se ao processo de aprendizagem para reconhecer valores e expectativas grupais e aumentar a capacidade do indivíduo para conformarse a eles. O grau em que uma criança ou adolescente satisfaz aos padrões dos grupos de pares depende do montante de sua atividade social". 118 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 SAMULSKI (1992, p.79) entende a socialização como "o desenvolvimento social, no qual durante seu transcorrer a pessoa adquire capacidades sociais como a percepção social, o idioma, motivos e atitudes sociais, integração e interação social, comunicação social que lhe permitem agir adequadamente em situações sociais". Assim, a socialização caracteriza-se como o processo de adaptação da criança a vida em sociedade, conforme suas tradições. Para compreender melhor este desenvolvimento, é fundamental discutir as ligações afetivas. Há uma distinção entre ligação afetiva e comportamento de ligação afetiva. De acordo com BEE (1986, p.272), "a ligação afetiva é o vínculo subjacente, o desejo de estabelecer ou manter contato com uma pessoa específica. Os comportamentos de ligação afetiva são as várias coisas que fazemos para estabelecer ou manter o contato, como sorrir, chegar perto da pessoa, tocá-la, chorar e estabelecer contato visual". Esta diferenciação separa de forma bem clara o desejo e a intenção da ação e da execução de comunicação para aproximar de uma outra pessoa. Dessa forma, nem em toda situação que um indivíduo tem desejos de ligações afetivas ocorrerá uma manifestação ou um comportamento que deixe clara esta intenção. BEE (1986) ainda descreve algumas fases de desenvolvimento da ligação afetiva, da seguinte forma: Fase 1 - Pré-ligação: nos primeiros 3-4 meses o bebê direciona seus comportamentos de ligação afetiva a qualquer pessoa que se aproxime. Fase 2 - Ligação Afetiva em Processo: a partir de 3-5 meses, o bebê começa a distinguir as pessoas mais familiares e sorri ou pode ser acalmado mais facilmente por estes. Fase 3 - Ligação Afetiva Definida: por volta de 6-7 meses a criança define uma pessoa como a mais importante, provavelmente a mãe. Esta pessoa trará uma base de segurança através da qual a criança terá coragem e apoio para explorar o ambiente. Fase 4 - Ligações Afetivas Múltiplas: a criança entre 6-12 meses amplia suas ligações afetivas para outros membros da família ou pessoas que compõem seu cotidiaiio. A essas novas ligações a criança dedica o inesmo "status" da ligação íiiiica anterior. Dos dois anos ein diaiite, as crianças mantêm um vínculo muito forte com os membros sigiiificativos de sua vida, porém o seu comportamento modifica, principalmente devido a sua capacidade de comunicação. A criança não continua tão dependente, podendo permanecer no seu quarto ou em outro local inesmo que a mãe não esteja exatamente ao seu lado. A participação dos pais no desenvolvimento da criança é imprescindível. Nesta participação, a mãe destaca-se como o primeiro contato de uina outra pessoa com a criança. Conforme CRATTY (1986, p.341), a mãe apresenta as seguintes funções: "(a) o primeiro objeto que pode ser tocado, empurrado e, de alguma forma, manipulado; (b) uma base emocional segura pela qual a criança evolui emocional e socialmente; (c) um modelo de interesse em objetos e atitudes de manipulação e desejo de ação nestes." Desse modo, a mãe praticamente encaminha a criança para o mundo e para o contato com o meio ambiente ao seu redor, e, 119 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 possivelmente, a criança irá brincar com objetos com os quais a mãe tem um contato maior. Uma outra questão interessante refere-se ao fato de o pai ser a pessoa que brinca com a criança mais tempo, tomando-se também muito importante. CRATTY (1986, p.342) observa que o pai é um influenciador direto e indireto de interações que utilizam locais em volta da casa, destacando o ambiente externo. CRATTY (1986, p.346) cita, ainda, outro item de função dos pais, em que "a quantidade de controle de atividade física exercido pelos pais parece influenciar a aquisição de movimentos adquiridos pelas crianças entre as idades de 2 e 6 anos". Este é um ponto muito importante, pois a medida que os pais têm condições de ampiiar a experiência motora das crianças, podem também ampliar a sua experiência social. O desenvolvimento social da criança apresenta uma nova característica. A relação da criança com seus companheiros é um passo decisivo para sua adaptação à vida em sociedade. Crianças a partir de 10-12 meses já brincam entre si. Mas um colega ainda não é o brinquedo mais interessante. Se a criança tem algum objeto para brincar, esta se mantém solitária; porém, caso não haja nenhum objeto, o colega se toma o próprio brinquedo (BEE, 1986, p.286). Entre 1 e 2 anos, as crianças já brincam juntas, sendo fundamental para sua evolução o maior contato possível com os colegas. Contudo, o fato de brincarem juntas não significa uma participação efetiva da criança na construção de grupos. De acordo com BEE (1986, p.286), "as crianças podem usar os mesmos materiais ou os mesmos brinquedos, mas cada uma trabalha independentemente brincadeira paralela. Em algum momento da fase intermediária do período pré-operacional (aos 3 anos ou mais) nós começamos a perceber a brincadeira cooperativa, na qual duas ou mais crianças estão juntas na mesma atividade. As brincadeiras cooperativas tornam-se mais frequentes a partir dessa idade". Assim, não são recomendadas atividades que exijam cooperação entre crianças com menos de 3 anos de idade, aproximadamente, pois a criança ainda não terá um bom desempenho na atividade, podendo escolher o individualismo para a solução de seus problemas. Devido ao aumento do tempo de contato, poderá haver aumento da agressividade. A imitação também aumenta e ocorre um interesse específico por um determinado colega (melhor amigo) a partir de 3-4 anos (BEE, 1986, p.286). " Estas relações entre crianças pré-escolares têm sido observadas com muito cuidado, pois podem responder muitas dúvidas dos estudiosos da área. Há uma definição dos tipos de atividades Iúdicas entre crianças préescolares. Conforme PAPALIA e OLDS (1981, p.256), são as seguintes: Comportamento desocupado: a criança procura observar qualquer coisa interessante. Se nada acontece, ela brinca com seu próprio corpo, sem um objetivo a atingir com os movimentos. Espectadora: a criança observa outras crianças brincando. Pode conversar, perguntar, e dar opiniões a estas crianças, mas, definitivamente, não participa ativamente das brincadeiras. Divertimento solitário independente: a criança brinca só e com brinquedos que não têm nenhuma relação com as brincadeiras dos 120 R. min. Educ. Fis., Viçosa, 7(1): 1 14-129, 1999 colegas. Atividade paralela: a criança brinca sozinha, mas com os mesmos objetos dos colegas. Brinca a sua própria maneira e não interfere nos colegas. De forma figurada, brinca ao lado e não com as outras crianças. Divertimento associativo: a criança brinca com as outras. Todas se empenham na mesma atividade, não havendo organização ou divisão de tarefas. Cada criança age da fonna que deseja. Divertimento suplementar cooperativo ou organizado: a criança brinca em um grupo bem determinado, que tem metas definidas. As brincadeiras exigem divisão de trabalho, que papéis sejam assumidos, enfim, que a atividade seja organizada. Para isso, o grupo tem um ou dois membros que dirigem esta estrutura. Esses tipos de atividade parecem seguir uma evolução do aspecto social, demonstrando que a criança modifica seu comportamento à medida que se adapta a um grupo. Neste momento, a criança tem oportunidade de definir algumas características de liderança. A postura que assume dentro de seu grupo mostra se a criança tem potencial ou não para ser um líder. O ambiente social também influencia a personalidade da criança. Conforme SAMULSKI (1992, p.78), "o desenvolvimento da personalidade pode ser influenciado num grau elevado através de processos de aprendizagem e de socialização". Assim, o grupo social de uma criança pré-escolar e sua função neste grupo podem ser determinantes na caracterização futura desta criança, como introvertida ou extrovertida e estável ou instável emocionalmente. A evolução no aspecto social ocorre a partir do nascimento, em que a criança se adapta ao seu meio de acordo com as experiências vivenciadas. Este processo é cumulativo e a criança tende a evoluir mais conforme vai se aproximando da faixa etária escolar. RAPPAPORT (1982, p.92) observa que "muitas respostas sociais são aprendidas simplesmente pela observação e reprodução dos comportamentos observados nos primeiros anos de vida e mesmo durante a época da freqüência a escola primária. Nesta fase, o comportamento dos pais serve como modelo para o comportamento dos fillios (não excluindo oiitros iiiodelos, tais como companheiros, professores ou personagens da TV e revistas em quadrinhos)". A criança eiii idadc escolar (aproximadamente entre 7 anos e a puberdade) continua a participar de grupos. Segundo PAPALIA e OLDS (1 981, p. 400), "os grupos dc ainigos ajudam as crianças a formar atitudes e valores. Embora a família aiiida faça uma grande parte disso, o grupo de ainigos proporcioiia uiii filtro para fazer uma triagem de valores derivados de nossos pais e decidir quais os que devem ser mantidos e quais os que devem ser ali-jados. Por intermédio de outras crianças de antecedentes e valores diferentes, podeinos testar nossas opiniões, nossos sentimentos ou nossas teorias, a fim de vermos o quanto elas se mantêm". As crianças continuam a ter uma grande influência do grupo social (amigos) no seu desenvolviinento, principalmente nesta faixa etária, porque, conforme PAPALIA e OLDS (1981, p.399), "na meninice intermediária, o grupo de companheiros passa a ter vida própria. Durante estes anos, as crianças gastam mais tempo longe dos pais e mais tempo com outras crianças. As 121 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 subculturas da meninice existem em todas as sociedades e sempre existiram". Outra característica interessante desta faixa etária diz respeito a organização destes grupos sociais. De acordo com BEE (1986, p.287), "além do aumento das amizades individuais, a coisa mais significativa a respeito do relacionamento entre companheiros durante os anos escolares é que os grupos que as crianças formam são quase que exclusivamente do mesmo sexo. Quando podem escolher seus companheiros de brincadeira, quase sempre escolhem crianças do próprio sexo". Esta formação dos participantes do grupo permanece até o início da puberdade. Na adolescência os grupos permanecem coesos, tornando-se mais unidos neste período. O fator principal da união do grupo deve-se a interesses e motivos comuns apresentados pelos seus componentes. BEE (1986, p.288) observa que "a maior mudança na adolescência é que o relacionamento entre companheiros passa de um grupo do mesmo sexo para um grupo heterossexual". Isto ocorre, principalmente, devido as modificações biológicas das características sexuais secundárias, havendo, a partir deste momento, a procura do sexo oposto. Ao estudar este tema, o professor de educação física deve conhecer, ainda, a importância da atividade física na formação de grupos e no próprio desenvolvimento social. Conforme CRATTY (1986, p. 349), "a criança é julgada socialmente de acordo com o que ela pode fazer; a capacidade de executar movimentos torna-se de grande importância na aceitação social, aprovação e auto-aceitação". O movimento destaca-se como uma tarefa de grande valor na popularidade e aceitação social. Isto também é confirmado por CRATTY' (1986, p.353), quando afirma que "evidências contemporâneas supõem que crianças participam com freqüência de atividades físicas e esportes para satisfazer necessidades sociais importantes". A atividade física é um momento especial para a criança. E uma ocasião diferenciada dentro da escola. E uma oportunidade de se relacionar com outras pessoas através de seu corpo. O tipo de contato social realizado através do movimento e da brincadeira é distinto e, muitas vezes, até mais significativo. Cabe ao professor 'de educação física programar atividades que proporcionem um bom entrosamento entre grupos sociais e prováveis novos componentes. Por estar em um ambiente diferente de sua casa ou das salas de aula, o desenvolvimento social deve ser considerado, pelo professor, como um dos objetivos secundários de sua disciplina. O movimento humano inicia-se antes do próprio nascimento. Ainda durante a gestação, a criança já apresenta características de desenvolvimento motor que permanecerão durante, aproximadamente, os seis primeiros meses de vida. Atualmente, as crianças se dirigem para o ambiente escolar mais cedo. As creches recebem crianças para uma função de assistência, 122 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 orientação e estimulação para a vida escolar e, futuramente, a vida adulta. As crianças são aceitas já com 3 meses e prosseguem até a idade de iniciar a la série do 1O grau, quase completando 7 anos. Nestas condições, pode ser observada a evolução completa dos movimentos das crianças nesta faixa etária, denominada pré-escola. Seguindo o desenvolvimento motor, os primeiros movimentos que a criança irá apresentar serão os movimentos reflexos (GALLAHUE e OZMUN, 1995). Os movimentos reflexos têm como característica principal a necessidade de um estímulo para que possam ocorrer. Se não houver este estímulo, o movimento não se realiza. Isto pode ser bem observado em crianças até, aproximadamente, 3 a 4 meses. Assim, como conseqüência do desenvolvimento motor, a característica reflexa do movimento cessa, não necessitando mais do estímulo para que ocorra o movimento. Observando alguns reflexos em crianças de 6 a 7 meses, vê-se que elas não respondem a todo estímulo aplicado. Alguns autores, como FLEHMIG (1987), BEE (1986), PAPALIA e OLDS (1981), entre outros, já estudaram e descreveram os reflexos, os quais podem ser: Reflexo da preensão palmar: apresenta-se quando há uma estimulação da palma da mão por um outro objeto, em que a criança irá fechar sua mão sobre esse objeto. Quando a criança já solta o objeto que a estimula, mostra que já há alguma voluntariedade. Este movimento ocorre como reflexo até, aproximadamente, 3 meses. Reflexo da busca ou da procura: o estímulo se dá com um toque no rosto com o dedo, mamilo ou até mesmo um bico ou uma mamadeira. A criança irá virar a cabeça em direção ao toque, abrir a boca e realizar movimentos de sucção. Este movimento será reflexo até por volta de 9 meses. Reflexo da marcha: a criança é sustentada verticalmente, tocando os pés no solo ou superfície plana. Neste momento, a criança executa um movimento de flexão e extensão das pernas, alternadamente, semelhante ao andar. Permanece até, aproximadamente, 2 meses. Reflexo de moro: sustentando a criança com os braços, realiza-se um movimento brusco, como se a criança perdesse o apoio e iniciasse uma queda. Haverá uma extensão dos braços e do pescoço, seguido de uma flexão total de braços, mãos e pescoço, lembrando a posição fetal. Este tipo de reflexo existe até, aproximadamente, o 4'. mês. Reflexo de babinski: toca-se levemente a base dos dedos na planta do pé de uma criança e ela respondera coin a extensão dos dedos do pé. Sua duração varia até 619 meses. Reflexo tônico-cervical: deitada em decúbito dorsal, a criança gira a cabeça para um dos lados. Os membros mais próximos da nuca se flexionam e os membros do lado do rosto permanecem estendidos. Esta posição é também chamada de esgrimista. Este reflexo termina por volta de 6 meses. Deste modo, é uma característica normal da evolução inotora, onde ocorre a inibição dos reflexos, cedendo espaço para os movimentos voluiitários. Conforme a seqüência do deseiivolvimento motor, o passo seguinte aos movimentos reflexos são os movimentos rudimentares (GALLAHUE e R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 123 OZMUN, 1995), que se iniciam no nascimento e permanecem até, aproximadamente, a idade de 2 anos. Esses movimentos ganham mais consistência a partir da inibição dos reflexos. GALLAHUE e OZMUN (1995) classificam os movimentos rudimentares em três níveis: equilíbrio, manipulativos e locomotores. O equilíbrio está relacionado a sustentação do pescoço e tronco e a capacidade de permanecer em determinadas posições. Com um ano de idade, a criança passa a ter um maior controle sobre esses movimentos. A capacidade de equilíbrio apresenta-se mais claramente a partir dos 7 meses, como a sustentação do corpo e da cabeça. Já conseguem sentar ou posicionar seus membros em outro local. Os movimentos manipulativos referem-se a movimentos mais refinados, como as mãos. A manipulação já está sob o controle voluntário, seguindo as intenções próprias das crianças. O contato com objetos torna-se mais intenso, havendo exploração destes através de habilidades manipulativas, segurando, alcançando e soltando seus brinquedos. Os movimentos locomotores dizem respeito ao deslocamento das crianças no meio ambiente; iniciam-se com o rastejar, para depois passarem por uma fase muito importante: o engatinhar. Esta liberdade alcançada pela criança é muito produtiva, pois ela tem a oportunidade de explorar novos espaços e formar novos conhecimentos. O engatinhar apresenta-se em um estágio mais desenvolvido quando é realizado de forma cruzada, ou seja, o deslocamento é feito com o braço e perna, alternados. Este movimento se mantém até a criança atingir seus primeiros passos na postura bípede. O início do andar acontece normalmente por volta dos 14 meses de idade, podendo, em alguns casos, ocorrer a pa,rtir dos 10 meses. A simples tarefa de ficar de pé não é tão simples assim. E necessário que os músculos coordenem uma sucessão de desequilíbrios que causam insegurança. As quedas passam a ser frequentes enquanto a criança não tem o domínio do movimento; porém, este é o caminho a ser seguido, até que o sucesso chegue. Dessa forma, com a prática e a repetição do movimento, este vai se aprimorando cada vez mais, e de forma bem rápida. Entre 2 e 3 anos, o ato de andar não apresenta muitas dificuldades; mas sua técnica evolui até aproximadamente 6 anos, quando o movimento já se assemelha ao andar de um adulto. A criança, em torno de 2 anos, já se desloca dentro de seu ambiente. Começa a deseiivolver outros tipos de movimentos naturais, porém mais organizados e complexos. A tendência é de que estes movimentos tornem-se estáveis, apresentando-se de forma padronizada. Esta etapa do desenvolvimento motor, conforme GALLAHUE (1982), denomina-se fase dos movimentos fundamentais. McCLENAGHAN e GALLAHUE (1985) descrevem, ainda, os movimentos fundamentais mais importantes.0 primeiro destes movimentos é o correr. Quando em seu estágio inicial, as pernas se encontram rígidas; não se percebe com clareza um inoviinento, pois os pés estão sem o contato com o solo. Os braços balançam rigidamente, com um pequeno grau de flexão de cotovelo. Na etapa seguinte, estágio elementar, o passo se alarga, aumenta a velocidade e se observa a ausêiicia de contato entre os pés e o solo. Os braços se elevam 124 R. rnin. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 1 14-129, 1999 mais, porém seu deslocamento para frente e para trás ainda é limitado. Na última fase, estágio maduro, as pernas apresentam um movimento mais amplo, elevando-se e permanecendo suspensas por um período maior. O próximo movimento fundamental é o salto com as pernas unidas, partindo da posição parada, que apresenta as seguintes características: no estágio inicial, os braços somente mantêm o equilíbrio durante o primeiro vôo, executando movimentos sem nenhuma direção; o tronco é mantido na posição vertical e as pernas apresentam uma limitada flexão inicial, havendo dificuldades para se utilizar os pés de forma simultânea. No estágio elementar, os braços participam mais do movimento, deslocando para a frente no momento de tirar os pés do solo; a flexão preparatória das pernas é mais acentuada, e estas se estendem mais durante a fase do vôo. No estágio maduro, os braços se deslocam primeiro para trás, para depois fazer o balanceio a frente. A flexão preparatória das pernas é bem acentuada, havendo sua extensão total durante a fase de vôo. Outro movimento fundamental é o arremessar. No estágio inicial, o movimento é realizado a partir do cotovelo, que se encontra em posição adiantada em relação ao corpo. O arremesso consiste em um movimento semelhante ao empurrar. O tronco permanece perpendicular ao solo, não havendo flexão. Sua rotação ainda é escassa. No estágio elementar, o braço executa uma flexão para trás, na altura do cotovelo, por trás da cabeça. Durante o arremesso, este se desloca a frente com um movimento por cima do ombro. O tronco executa uma pequena rotação seguindo o deslocamento do braço, flexionando-se um pouco a frente. A perna do mesmo lado do braço que arremessa se desloca para a frente, já havendo alguma transferência do peso do corpo.No estágio maduro, o braço se desloca para trás, quase que totalmente extenso. Durante o ato do arremesso o braço se direciona a frente, descrevendo um movimento horizontal. Após soltar a bola, ocorre a flexão do braço, cruzando a linha média do corpo. Quando se inicia o movimento a frente, o tronco realiza uma rotação, através do quadril, da coluna vertebral e dos ombros, envolvendo todo o corpo. Ocorre ainda uma grande flexão do tronco para a frente. A partir do ato de arremessar, o peso do corpo se desloca, proporcionando um pequeno desequilíbrio a frente. O próximo movimento é o receber. Na sua primeira fase, o estágio inicial, a cabeça apresenta uma reação de defesa, buscando se proteger, deslocando-se em direção oposta ao objeto que foi arremessado. Os braços se encontram estendidos a frente. Quando é realizado o contato com a bola, ocorre um movimento de flexão de cotovelo, com a intenção de prender a bola entre os braços e o peito. No próximo estágio, elementar, a criança fecha os olhos quando é feito o contato com a bola. Os braços se mantêm levemente flexionados a frente do corpo. A criança tenta segurar a bola somente com as mãos, porém o domínio completo do objeto arremessado ocorre com o auxílio dos braços e do peito. No estágic maduro, os olhos acompanham a trajetória da bola durante todo o seu deslocamento. Os braços se encontram flexionados na altura dos cotovelos e se mantêm relaxados. Estes executam uma pequena flexão quando entram em contato com a bola arremessada, para absorver seu impulso. Os braços ainda se R. min. Educ. Fis., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 125 adaptam às variações da trajetória, como altura, velocidade, direção, entre outras. No movimento chutar, no estágio inicial, o movimento de braços e do tronco é escasso. O corpo permanece erguido, com os braços estendidos ao seu lado. A perna que chuta apresenta um balanceio limitado para trás, na preparação do chute. O movimento à frente é curto, sendo até semelhante a um passo no andar. No estágio elementar, o movimento de braços e tronco não apresenta muitas mudanças em relação ao estágio inicial. Contudo, a diferença se localiza no movimento de perna, em que esta, na fase preparatória, se desloca para trás, realizando uma flexão de joelho. A perna ainda permanece flexionada até o contato com a bola. No estágio maduro, os braços se deslocam, com a função de manter o equilíbrio, enquanto o tronco se inclina na altura do peito após o contato com a bola. A perna se desloca para trás, com a extensão do quadril, mantendo-se o joelho um pouco flexionado; assim, ela irá descrever a trajetória de um arco, deslocando-se estendida para a frente do corpo. Estes cinco movimentos são os mais frequentes e observados. Contudo, WILLIAMS (1983) descreve ainda outros movimentos fundamentais: salto vertical, salto num só pé ("hopping"), galopar, "skipping" (saltito alternando as pernas), rebater (com um bastão) e quicar. A criança tem condição de desenvolver os movimentos fundamentais sozinha, sem que haja uma aula específica para que eles sejam ensinados. No entanto, não é somente a maturação que tem papel importante nesta evolução; fatores como oportunidade, motivação e orientação exercem uma importante função neste processo. A aula de educação física na pré-escola tem a capacidade de acompanhar a criança no seu desenvolvimento motor, proporcionando situações e unindo a prática e a experiência motora a brincadeiras e ao prazer. Brincando, a criança apresenta uma evolução em termos motores, pois todo o trabalho deve ser orientado para uma faixa etária específica, de acordo com sua capacidade; e, também brincando, ela se aproxima de outras pessoas, professor, colegas e todos que compõem o seu cotidiano, ampliando seu relacionamento social e definindo suas relações afetivas. Ainda brincando, a criança formula seu conhecimento e sua inteligência de acordo com as descobertas que seu corpo realiza. Todas estas características ocorrem no universo de uma aula de educação física. Esta atividade tão rica e produtiva deve ser oferecida às crianças da pré-escola. Quando olhamos para frente, prevendo o mundo que nos espera, muitas vezes esquecemos de pensar no que fazer para melhorá-lo. Partindo de uma disciplina que trabalha o ser humano como um todo, tendo o movimento como objetivo principal e instrumento, desenvolvem-se os três domínios (afetivo, cognitivo e motor). Assim, a educação física pode auxiliar na orientação de melhores condições de vida para as pessoas. No Brasil, a faixa etária correspondente a este segmento escolar 126 R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 situa-se entre 7 e 10111 anos, aproximadamente. Neste período, seguindo as etapas propostas por GALLAHUE (1982) e GALLAHUE e OZMUN (1995), a criança inicia a fase dos movimentos especializados. Estes movimentos referem-se a uma etapa de aperfeiçoamento dos movi-mentos fundamentais. em aue são refinados. combinados e elaborados (BOHME. 1988, p.42). Esta fase se divide em Estágio Geral, Estágio Específico e Estágio Especializado (BOHME, 1988; GALLAHLTE, 1982). Conforme BOHh4E (1988:42), no "Èstágio Geral ou Transitório (7-a 10 a'nos), a criança começa a combinar e aplicar as habilidades motoras fundamentais para o futuro desempenho nas habilidades especializadasy7. Esta faixa etária, correspondente ao período da I3 a 43 série, tem como objetivo principal a combinação dos movimentos fundamentais. As atividades que forem desenvolvidas neste período devem estar relacionadas com este conteúdo principal. Isso fica bem caracterizado quando estudamos a classificação apresentada por TANI et al. (1988) e MANOEL (1988), que assumiram esta subdivisão apresentada por GALLAHUE (1982) como fases distintas, correspondendo a fase de combinação de movimentos fundamentais (7 a 12 anos) e à fase dos movimentos determinados culturalmente (a partir de 12 anos). As crianças devem, então, entre a li! e a 4C série do ensino fundamental, seguir a seqüência dos movimentos fundamentais, aperfeiçoando-os e combinando-os entre si, proporcionando um aumento significativo no número de habilidades realizadas. Uma criança que realizava movimentos fundamentais separadamente agora amplia as possibilidades de execução, realizando-os de forma combinada. Esta evolução deve seguir uma ordem crescente de dificuldade, partindo de jogos e atividades mais simples até um grau mais elevado de complexidade. Este é um aspecto fundamental para o desenvolvimento motor, que muitas vezes se caracteriza pela manutenção de um grau de complexidade estável para crianças entre 7 e 10 anos (13 à 43 série). Como exemplo, podemos citar o jogo de "queimadà", que é utilizado da mesma forma nas quatro diferentes séries, sem que haja alguma adaptação ou modificação. A criança aprende a jogar "queimada" na li! série e segue praticando a mesma atividade, apesar de seu organismo estar em constante evolução. A sugestão é que haja adaptações nas regras e nos objetivos do jogo que acompanhem o desenvolvimento global da criança, incluindo a coordenação e a percepção. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após uma breve descrição sobre o desenvolvimento cognitivo, sexual, social e motor, acredita-se que o profissional de educação física deva ter acesso a esses conhecimentos e possa sintetizá-los para a sua aplicação em aulas. Parece estar claro que todos estes aspectos do desenvolvimento são importantes para essa profissão, mas é preciso haver o domínio daquele R. min. Educ. Fís., Viçosa, 7(1): 114-129, 1999 127 aspecto que, na escola, é de competência do professor de educação física: o desenvolvimento motor. Cabe ainda ressaltar que o desenvolvimento motor caracteriza-se por um conhecimento científico básico, ou seja, investiga como o processo de desenvolvimento ocorre. Não há uma preocupação em pesquisar qual o melhor procedimento a ser aplicado para favorecer o desenvolvimento, o que caracteriza um cunho mais aplicado. Assim sendo, para a formação do profissional, é também importante que os currículos incluam disciplinas de síntese que investiguem basicamente o conhecimento sobre os procedimentos de atuação dos profissionais na educação física escolar para a infância. ABSTRACT The development of human being occurs in an integrated way, which envolves motor, social, sexual and cognitive development. The physical education professional needs to know the stages that the children pass for acting in a coherent way, accordant to their necessiy. Then, it is presented a descriptive approach of development, searching detach the main aspects of childhood. Key words: human development, motor development sequence, physical education in the school. AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. 2. ed. Rio de Janeiro: Masson - Atheneu, 1983. BEE, H. 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