Cogeração verde, “a energia do futuro”

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Cogeração verde, “a energia do futuro”
EFICIÊNCIA&ENERGIA EUROPA
EFICIÊNCIA&ENERGIA EUROPA
por | FILIPA CARDOSO
Projecto CHP Goes Green
Cogeração verde, “a energia do futuro”
©Berliner Energieagentur
A cogeração é uma das opções mais prometedoras para construir um futuro
de baixo carbono. Se lhe juntarmos fontes de energia renováveis, as vantagens
aumentam significativamente. O projecto europeu “CHP Goes Green” concorda
e pretende apostar na promoção da cogeração verde.
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M
uito se tem falado sobre a
grande contribuição que a
cogeração (produção combinada de energia eléctrica e energia térmica de forma eficiente) pode
dar para alcançar as metas europeias
para a eficiência energética e para a
redução de emissões de gases com
efeito de estufa em 2020. A proposta
para a nova Directiva europeia para
a Eficiência Energética, apresentada
pela Comissão a 22 de Junho, reforça esse mesmo potencial, prevendo
medidas que impulsionem o recurso à
cogeração de elevada eficiência. Para
além disso, a cogeração representa
também uma oportunidade inegável na contribuição para a quota de
20% de energias renováveis a que a
Europa se propôs. Para isso basta que
no processo da cogeração sejam utilizadas fontes de energia renováveis.
Face a esta oportunidade, em Julho do
ano passado, a agência de energia de
Berlim, na Alemanha, Berliner Energieagentur, avançou com o projecto
“CHP Goes Green – A cogeração torna-se verde”, sob o apoio do Programa
Energia Inteligente Europa.
O projecto tem a duração de três anos,
terminando em Junho de 2013. Durante esse tempo, o objectivo central
será aumentar o conhecimento sobre a
cogeração “verde” junto dos principais
stakeholders e também do público.
Dentro deste objectivo principal, a
acção do “CHP Goes Green” propõe-se
a alcançar outros resultados, nomeadamente o aumento da utilização
de fontes de energia renováveis nos
processos de cogeração. “Aplicações
de cogeração com base em energias
renováveis deviam ser implementadas
nos edifícios e também para as redes
urbanas de distribuição de calor e frio”,
refere o coordenador do projecto, Frithjof Reul.
Nesse sentido, explica o responsável,
estão já a ser levadas a cabo campanhas ao nível regional pelos parceiros
envolvidos. “Serão feitas coisas variadas no contexto destas campanhas,
as palavras-chave são: workshops,
visitas guiadas a, por exemplo, centrais com unidades de cogeração ou
a biogás, estudos de viabilidade para
potenciais clientes de unidades de
cogeração ‘verde’, desenvolvimento
de material de marketing quer a nível regional, quer a nível europeu”,
destaca. Estas iniciativas pretendem
tornar mais claras as vantagens do
uso das renováveis na cogeração,
em particular o facto de a “cogeração verde evitar emissões de CO2, ser
sustentável e de melhorar a imagem
dos seus utilizadores, uma vez que
mostra responsabilidade social”. Para
Frithjof Reul, esta é uma “forma confortável de ser sustentável e de usar
a energia do futuro (pós-petróleo)”,
resultando também em benefícios
económicos e sociais, já que permite
poupanças de custos e cria postos de
trabalho ao nível local. “A produção
de energia numa região tem impacto
positivo na economia dessa região. Há
muitos vencedores e apenas pouco
perdedores”, aponta, “o que torna o
conceito tão atractivo”.
O principal público-alvo das iniciativas são as empresas de habitação e
indústria alimentar, os agricultores,
a indústria da madeira (que podem
A Alemanha tem um dos enquadramentos políticos que
mais apoia a cogeração na Europa, contou à Climatização
Frithjof Reul. “A lei nacional para a energia proporciona
transparência e segurança nos preços de electricidade
para a cogeração num período de tempo que permite o
retorno do investimento e representa uma proposta de
negócios razoável para atrair novos agentes de mercado”,
esclarece. “Além disso, as renováveis são muito incentivadas pela estrutura da política alemã com valores de bónus
adicionais para unidades de bio-cogeração”.
Dentro da actividade do “CHP Goes Green”, Berlim tem já
em funcionamento um projecto exemplo de boas práticas.
Trata-se do quartel de bombeiros de Charlottenburg-Nord,
no qual a Berliner Energieagentur opera a sua primeira
central de cogeração a biogás. A instalação tem uma
potência de 240kWel e 365kWth, o que faz dela uma
das maiores deste género na cidade. Para o funcionamento da unidade, o biogás é fornecido pela GASAG,
sendo proveniente de várias centrais em Brandenburgo,
Saxónia-Anhalt e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
A electricidade gerada na instalação é injectada na rede
pública e paga de acordo com aquilo que é definido na lei
alemã (Renewable Energies Act). Em termos de emissões
de dióxido de carbono, este sistema permite poupanças
©Berliner Energieagentur
O exemplo em Berlim
anuais que chegam às 1,350 toneladas.
No edifício, o calor é fornecido através de um sistema
centralizado de aquecimento, instalado na cave. Para
responder às alturas em que há uma maior procura de
calor ou de águas quentes sanitárias, apoiando a caldeira
de baixas temperaturas existente, foi também instalada
uma nova caldeira de condensação a gás natural com
uma capacidade térmica de 854 kW.
Para mais informações sobre a actividade da Berliner
Energieagentur, visite www.b-e-a.de (Berliner Energieagentur GmbH, Französische Straße 23, 10117 Berlin, Tel: +49
(0)30-29333-0, E-Mail: [email protected]).
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produzir os seus próprios combustíveis) e os autoridades municipais que
“pretendam usar novas tecnologias
e dar exemplos de boas práticas”.
O projecto direcciona-se ainda para
projectistas e arquitectos que pretendam saber mais sobre esta aplicação
da tecnologia. Segundo Frithjof Reul,
face ao trabalho que foi já desenvolvido, os stakeholders “observam
os desenvolvimentos em termos da
cogeração verde, sendo que, em algumas regiões, há já projectos de boas
práticas em vista e que farão parte
da campanha promocional do ‘CHP
Goes Green’. Isto irá convencer mais
e mais stakeholders dos benefícios da
cogeração verde”, sublinha.
Como parceiros, o projecto conta com
as regiões de Frankfurt, Hanover (Alemanha), Steiermark-Graz (Áustria),
Rhône-Alpes, Île-de-France (França),
Praga (República Checa) e Riga (Letónia). Segundo o coordenador, foram
já identificadas boas práticas ao nível
local e no futuro “cada uma destas regiões terá um ou dois projectos-piloto
para mostrar que as boas soluções
ainda existem”. Exemplo tem sido a
actividade da Berliner Energieagentur
(ver caixa), que colabora actualmente
com o Senate Department for Urban
Development e com o fornecedor
energético da capital alemã, a GASAG.
Para além disso, trabalha também com
empresas de habitação, no sentido de
realizar workshops e seminários. “Eles
são clientes, utilizadores de unidades
de cogeração e, por isso, potenciais
parceiros para a implementação de
soluções de bio-cogeração”, explica
o responsável.
A associação europeia para a cogeração, Cogen Europe, integra também a
lista dos parceiros e, inicialmente, será
um intermediário com os stakeholders
europeus, passando depois à disseminação dos resultados do projecto
nessa escala e ao apoio à difusão em
redes europeias.
No que toca ao futuro da cogeração
verde, o responsável pelo projecto
é optimista: “vai tornar-se cada vez
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mais popular. É um dos tijolos do
futuro energético da Europa”, afirma
Frithjof Reul. Para o desenvolvimento da cogeração verde o responsável
realça a importância do apoio dos
stakeholders de cada região, “por essa
razão é importante desenvolver critérios que visem a sustentabilidade
e a cogeração verde”. Outro desafio
é o da produção de biomassa, onde
é importante encontrar “o equilíbrio
entre os objectivos de protecção da
Natureza e a agricultura. É preciso encontrar e desenvolver formas sustentáveis de agricultura para a produção
de biomassa para a energia”, alerta.
“Esta é uma tarefa de qualquer região
que procure autonomia energética e
o equilíbrio local entre a protecção
ambiental, economia e a participação
dos seus habitantes”.
AIE aponta vantagens
da cogeração renovável
Num relatório recente, a Agência Internacional para a Energia (AIE) considera
o uso de fontes de energia renováveis
no processo de cogeração como uma
solução óbvia face a um futuro de
energia de baixo carbono e também
perante a procura de electricidade e
de calor. O documento, com o título
“Cogeração e Renováveis: soluções
para um futuro de energia de baixo
carbono”, apresenta as vantagens de
combinar a cogeração com o uso de
fontes de energia renováveis, nomeadamente benefícios energéticos,
ambientais e económicos, incluindo
um aumento significativo da eficiência
energética, a redução significativa das
emissões de CO2 e de outros poluentes
(que se revela ainda maior quando são
usadas fontes de energias renováveis),
aumento da segurança energética
através da redução da dependência
da importação de combustíveis, poupanças nos custos dos consumidores e
o uso benéfico de recursos energéticos
locais (em particular através do uso de
recursos como resíduos, biomassa e
geotermia em redes de aquecimento
e arrefecimento urbano).
No que toca ao futuro da cogeração verde, o responsável pelo
projecto é optimista: “vai tornar-se cada vez mais popular. É um
dos tijolos do futuro energético
da Europa”, afirma Frithjof Reul.

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