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Concursos Perdidos CONCURSOS PERDIDOS LOST COMPETITIONS CONC U R SOS PE R D I D OS PROAP Arquitectura Paisagista PROAP Landscape Architecture Autoria Author João Nunes Carlos Ribas Iñaki Zoilo Nuno Jacinto Direcção Direction CONC U R SOS PE R D I D OS Lost Competitions Título Title Tiago Torres Campos Edição Geral General Edition Carla Silva Revisão Geral General Revision Margarida Sobral Cid Edição Gráfica Graphic Edition 2 3 Ana Margarida Henriques Bernardo Faria Raquel Coutinho As imagens presentes nas páginas seguintes foram retiradas dos programas dos respectivos concursos: The images on the following pages were extracted from the respective competitions’ briefs: 20, 22, 35, 40, 51, 70, 73, 95, 95, 103, 112, 122, 123, 135, 150, 153, 160, 161, 169, 173, 181, 182, 210 lost competitions lost competitions Apoio Gráfico Graphic Support Créditos Imagens Images Credits Instituto de Inglês de Vila Real David James Peace Tradução para Inglês English Translation Carla Silva Tradução para Português Portuguese Translation Peres Soc-Tip Indústrias Gráficas S.A. Impressão Print 978-989-20-2767-8 Este livro foi realizado ao abrigo do antigo acordo ortográfico. This book was writen with the former portuguese spelling agreement. ISBN 337024/11 Depósito Legal Duty Copies Dezembro 2011 Data de Edição Edition Date Agradecemos a todos as equipas e instituições que colaboraram na concretização deste livro. We thank all the teams and institutions that collaborated in realizing this book. O poder de participar Condutores Europeus SOBRE CONCURSOS CONCURSOS PERDIDOS Introdução íNDICE Introduction contents THE POWER OF PARTICIPATING European Drivers ABOUT COMPETITIONS LOST competitions P. 5 P. 6 Michael Van Gessel Lisa Diedrich João Nunes Tiago Torres Campos P. 8 P. 10 P. 12 P. 16 PAISAGEM: MÚLTIPLAS DEFINIÇÕES Landscape: multiple definitions PAISAGEM EM MOVIMENTO ArtIfÍcio e Natureza Paisagem e Beleza O Melhor de Dois Mundos A Pulsação dE UMA CIDADE ANTIGA Memory and Oblivion Landscape in Movement Artifice and Nature Landscape and Beauty The Best of T wo Worlds The Pulse of an Ancient City Westhoek, Bélgica Westhoek, Belgium Antuérpia, Bélgica Antwerp, Belgium Seoul, Coreia do Sul Seoul, South Korea Balangero, Itália Balangero, Italy Milão, Itália Milan, Italy Cairo, Egipto Cairo, Egypt P. 20 P. 32 P. 40 P. 48 P. 58 P. 70 Paisagem Monumento Tempestade e Rumo Escalas Relacionais da Paisagem Momentos de Encontro Público e Privado Landscape Monument Storm and Steering Relational Scales of the Landscape Meeting Moments Public and Private Gorizia, Itália Gorizia, Italy Londres, Reino Unido London, United Kingdom Sines, Portugal Sines, Portugal Roeselare, Bélgica Roeselare, Belgium Leuven, Bélgica Leuven, Belgium P. 82 P. 92 P. 100 P. 110 P. 118 Território de Transição A Vida Inundável Ligar Desligar Redefinindo o Litoral Urbano Transitional Territory Floodable Life Switch On Switch Off Redefining the Urban Coast Olhão, Portugal Olhão, Portugal Verona, Itália Verona, Italy Pantelleria, Itália Pantelleria, Italy Bari, Itália Bari, Italy P. 130 P. 140 P. 150 P. 158 Celebração do Vazio Fazer um Parque Parque Museu Agricultura e Cidade Coesão de Retalhos The Celebration of Emptiness Making a Park Museum Park Agriculture and City Cohesion of Patchwork Berlim, Alemanha Berlin, Germany Nápoles, Itália Naples, Italy Málaga, Espanha Malaga, Spain Pamplona, Espanha Pamplona, Spain Recife, Brasil Recife, Brazil P. 168 P. 180 P. 188 P. 198 P. 206 mapas de relação de escala peças de concurso 20 palavras-chave biografia prémios e Concursos scale Relation maps competition elements 20 keywords biography P. 242 P. 244 P. 220 P. 222 A PAISAGEM COMO SUPORTE Landscape as support Paisagem enquanto macro-infraestrutura de transformação, sobrevivência e compatibilização da vida humana Landscape as macro infrastructure of transformation, survival and human life compatibility 6 PAISAGEM e litoral Landscape and Coastline lost competitions A paisagem na resolução dos problemas das dinâmicas de ocupação humana no litoral The landscape in the resolution of problems of the dynamics of human occupation of the coast projectar um parque designing a Park Territórios públicos consagrados à vida humana Public territories devoted to human life peças técnicas technical elements Awards and Competitions P. 250 7 contents Memória e EsquecimentO í ndice CONC U R SOS PE R D I D OS Temas nucleares da prática na arquitectura paisagista Nuclear issues of the practice of landscape architecture SOBRE CONCURSOS ABOUT COMPETITIONS Competitions are, at their best, moments of great cooperation, of the formation of a team. They are moments of incredible intensity and emotion, of tremendous effort and goodwill on the part of all the participants. They are equally occasions of intensive training for the less experienced, and of the construction of relationships of understanding and collaboration that, in essence, constitute a project team. To speak of competitions is to speak of our practise, and for that reason, to speak of the people who conceive, think and help shape them. People united by a well-defined goal, who immerse themselves deeply in the organized chaos of the definition of a proposal until they know it intimately, until they become obsessed with new ideas, until they dream about them. Teams that have something to show, who have doubted themselves at certain moments, only to find themselves again engaged in something that they believe in, individually, and above all, collectively. This publication is a celebration of our teams, who have made these projects viable, and are proud of them as valuable apprenticeships for the formation of what we are today, in a clear realisation that nothing is lost. A landscape architecture project is teamwork. Nowadays there is no other way of proceeding, and the figure of the solitary, isolated and autocratic projector, followed by a humble draughtsman who simply follows and obeys, is an image as anachronistic as it is inadequate. Even though competitions are fleeting and even abstract moments of bustling creativity, they are enthusiastic lines of thought destined to improve life in a particular place, to study a new site, to get to know it, fathoming its habits and its workings. In this sense, they are projects, however embryonic, and they must, like any project, coincide with an improvement in the existing conditions, and their adaptation to new ways of life, to new appropriation mechanisms, to new demands and needs of the diverse participants in the landscape. The reasoning we present in competitions is a result which has been considered, digested, tested and purified. It does not follow a previously-established line of thought, but is the result of somewhat unstable processes, with cyclical advances and retreats, with all the necessary chaos for its justification, with different levels of intensity and different productivity rhythms. Nevertheless, this instability must generate a form of communication both clear and effective. To work in a team means to communicate. To communicate constantly and in every direction. Communicate, communicate, communicate. And communication is only easy if there is a full understanding of what is being done. Competitions are also the most stimulating, pragmatic and efficient way of managing a commission. They are the moments in which a question is asked by a community to a world of professionals, in due course capable of and responsive to returning a suitable answer. In the end, they are projects which the client must previously think about and believe in, opportunities structured according to what he wants or needs, which makes the entire process more organized. Sometimes, however, that is also a delicate question, the conciliation of the program commitments – the desires of the communities that promoted the competition – with the nature of the place, its reality and the actual possibilities for its transformation. A conciliation that will in due course be evaluated. The evaluation of the quality of the proposal we make, of its adaptability, and of its full potential constitutes in itself a solution. One of the several hypotheses that we were presented with from the start. The answer is, or should be, the prime motive for taking part in the competition. It emerges directly from the relation between a site and a program, a fundamental link, never to be broken. 13 ABOUT COMPETITIONS lost competitions 12 Os concursos são, por excelência, momentos de grande cumplicidade, de formação de uma equipa. São situações de uma intensidade e vibração incríveis e de enorme esforço e boa vontade de todos os intervenientes. São, igualmente, momentos de intensa formação para os elementos menos experientes e de construção das relações de entendimento e cumplicidade que constituem, na sua essência, a equipa de projecto. Falar de concursos é falar da nossa prática e, por isso mesmo, é falar das pessoas que os conceberam, pensaram, ajudaram a dar-lhes forma. Pessoas reunidas em torno de um objectivo bem definido e que se deixam mergulhar com bastante profundidade no caos organizado de definição de uma proposta até a conhecerem intimamente, até ficarem obcecadas com as novas ideias, até sonharem com elas. Equipas que tinham algo para mostrar, que duvidaram de si em determinados momentos para, logo a seguir, se encontrarem de novo em algo em que acreditam, individual e, acima de tudo, colectivamente. Esta publicação é uma celebração das nossas equipas que os viabilizaram e que deles se orgulham enquanto aprendizagens valiosas para a formação daquilo que hoje somos, num claro reconhecimento de que nada se perde. Projectar em arquitectura paisagista é algo que é feito em equipa. Não há, nos nossos dias, outra forma de o fazer e a figura do projectista solitário, isolado e autocrático, seguido pelo humilde desenhador que entra e, simplesmente, cumpre é uma imagem tão anacrónica como desadequada. Os concursos, apesar de se constituírem enquanto momentos fugazes e até abstractos de criação fervilhante, são raciocínios entusiásticos destinados a melhorar a vida num determinado lugar, de estudar um sítio novo, de o conhecer, de aprofundar os seus hábitos, os seus funcionamentos. Neste sentido, são projectos, ainda que embrionários, e um projecto deve coincidir sempre com uma melhoria das condições existentes e a sua adequação a novas formas de vida, a novos mecanismos de apropriação, a novas exigências e necessidades dos diferentes protagonistas da paisagem. Os raciocínios que apresentamos em competições são um resultado pensado, digerido, testado e depurado. Não seguem uma linha de pensamento previamente definida, mas resultam antes de processos com alguma instabilidade, com avanços e recuos cíclicos, com todo o caos necessário para a sua fundamentação, com diferentes níveis de intensidade e diferentes ritmos de produtividade. Mas dessa instabilidade deve nascer uma forma de comunicação que se quer clara e eficiente. Trabalhar em equipa significa comunicar. Comunicar constantemente e em todas as direcções. Comunicar, comunicar, comunicar. E comunicar só é fácil se o entendimento for pleno. Os concursos são, também, a forma mais estimulante, pragmática e eficiente de gerir uma encomenda. São os momentos em que uma pergunta é lançada por uma comunidade a um universo de profissionais, eventualmente, capazes e susceptíveis de executar uma resposta adequada. São, no fundo, projectos nos quais o cliente tem previamente de pensar e acreditar; são oportunidades estruturadas segundo aquilo que quer, ou que precisa, e isso torna todo o processo mais organizado. Mas, por vezes, essa é também uma questão delicada, a da conciliação dos compromissos programáticos – os desejos da comunidade que promoveu o concurso – com a natureza do lugar, a sua realidade e as reais possibilidades da sua transformação. Uma conciliação que será, no seu devido momento, avaliada. A avaliação da qualidade da resposta que damos, da sua adaptabilidade e de todo o seu potencial constitui, em si mesmo, uma solução. Uma de entre algumas hipóteses que, desde o início, se nos afiguram. A resposta é, ou deve ser, a primeira motivação de querer participar no concurso. Ela emerge directamente da relação entre um sítio e um programa, um elo fundamental que não pode, nunca, ser quebrado. SOBRE CONCURSOS CONC U R SOS PE R D I D OS João Nunes 18 19 Lost competitions concursos perdidos Landscape: Multiple Definitions PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES Paisagem: Múltiplas Definições L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s Memória e Esquecimento PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES De volledige Studieopdracht voor de Conceptuele Uitwerking van een Geïntegreerd en Omvattend Cultuurtoeristisch Project ‘Herinneringspark 2014-2018’ in de Frontstreek (Westhoek) Open Oproep 18-2009 20 Memória e Esquecimento Memory and Oblivion 21 Região, País Region, Country Memory and oblivion L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s Westhoek, Bélgica Westhoek, Belgium Flemish Community Promotor Developer 2009 Data Date 20.000 ha Área de Intervenção Intervention Area João Nunes Iñaki Zoilo Andrea Menegotto Sílvia Basílio Ana Margarida Henriques Bernardo Faria Tiago Torres Campos David Sampaio David Fonseca Ana Marques Helena Palma Rita Barros Sofia Jorge Equipa PROAP PROAP Team Ward Verbakel Nathan Ooms Arie De Fijter Pieter Thibaut Equipa plusoffice architects plusoffice architects Team Miguel Branco José Pedro Croft Equipa de Consultores de Arte Art Consultants Team Fiorenzo Meneghelli Tom Wouters Steven Delva Equipa de Consultores Militares e Locais Military and Local Consultants Team LIMITe LIMIT P. 5 8 P A R Q U E par k P. 1 8 0 The marks on / of the landscape Cada intervenção, cada gesto, cada decisão das nossas vidas resulta de uma escolha entre lembrar e esquecer, entre aquilo que queremos preservar connosco e, eventualmente, legar às gerações seguintes e tudo aquilo que optamos por enterrar, consciente ou inconscientemente. Essas marcas que produzimos e, posteriormente, apagamos ou deixamos ficar são sinais da nossa sobrevivência, rastos deixados pelos nossos gestos no repetido esforço de nos mantermos vivos, de alimentarmos os nossos filhos. Marcas que se sobrepõem no mundo dia após dia, ano após ano, geração após geração. Ao transformar o Mundo, o Homem constrói a paisagem, precisamente em acções de sobreposição de sinais que se anulam, reforçam, contradizem uns aos outros na interminável sucessão de obstáculos à nossa sobrevivência e de respostas para, urgentemente, os contornar. Cada momento tem os seus problemas urgentes e o mundo redesenha-se para os resolver. Frequentemente, os problemas urgentes de uma geração não têm qualquer sentido para outra, frequentemente porque se conseguem resolver mas, também frequentemente, porque não eram problemas. Outras vezes, as situações perpetuam-se e as aparentes soluções, ou as sucessivas tentativas de resolução, deixam sinais que, rapidamente, são elas próprias um problema para as gerações seguintes. Paisagem pode, neste contexto, ser entendida como um grupo de marcas deixadas no território por diversas comunidades que o compartilham, enquanto suporte individual ou colectivo de sobrevivência, sobrepostas às marcas da génese do próprio território e às deixadas pelas transformações a que é alheia a comunidade viva. Paisagem poderá ser ainda o complexo sistema de relações a que tais marcas correspondem enquanto manifestações perceptíveis da vida, enquanto sinais que codificam relações desenvolvidas entre indivíduos da mesma comunidade, entre indivíduos de comunidades diferentes, entre comunidades diferentes, colectivamente, e entre todos e o território. Each intervention, each gesture and decision in our lives results from a choice between remembering and forgetting, between what we want to preserve and eventually bequeath to future generations and what we consciously or unconsciously choose to bury. The marks we make and then erase or let be are signs of our survival, traces left by our gestures in the repeated effort to stay alive and nurture our children; they are marks that overlap in the world day after day, year after year, generation after generation. In transforming the world, Man builds a landscape precisely in actions of superimposing signs. These cancel out, reinforce and contradict each other in the endless succession of obstacles to our survival and our urgent responses to overcome them. Every moment has its urgent problems and in order to solve them the world redesigns itself. Frequently the urgent problems of one generation do not make any sense to another, often because they can be solved or because they are no longer problems. At other times, the situations are perpetuated, and apparent solutions, or the repeated attempts to resolve them, leave signs that quickly become in themselves a problem for future generations. Landscape can be viewed, in this context, as a set of marks left in the territory by several communities sharing it as their collective, or individual, support for survival. These are superimposed on the original marks of the territory and the marks left by transformations alien to the living community. Landscape can also be the complex system of relationships to which such marks correspond as perceptible manifestations of life, as signs that encode relationships developed between individuals of the same community, between individuals of different communities, between different communities, collectively, and between everyone and the territory. TERRITÓRIO TERRITORY P. 1 3 0 23 Memory and oblivion L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s 22 AS MARCAS NA / DA PAISAGEM Memória e Esquecimento PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES TEMPo TIME P. 3 2 Fotografias antes, durante e após a guerra Aerial photographs before, during and after the War UM CONCURSO SOBRE A MEMÓRIA MAR d o NORTE NORT H SEA MAR d o NORTE NORT H SEA O concurso do Remembrance Park centrava-se num palco resiliente – a Primeira Guerra Mundial, a sua memória, o seu esquecimento. Um território profundamente marcado por uma história de trauma e sacrifício, no qual duas trincheiras de faces opostas da guerra definiram durante quatro anos uma terra de ninguém, uma faixa inabitada com aproximadamente setenta quilómetros de comprimento e uma largura variável que, em alguns pontos, chegava aos quatro quilómetros. Uma cicatriz de destruição no território e na memória daquele lugar. E, além disso, uma forte vontade de recordação dos quase três milhões de pessoas que ali perderam a vida. A guerra destruiu por completo um tecido anterior, de cariz agrícola. Mas a paisagem pós-guerra começou de imediato a apagar os vestígios da guerra, em pequenos e sucessivos actos de apropriação contínua, restando alguns lugares pontuais de memória, como os inúmeros cemitérios. Um dos âmbitos deste concurso era a definição de uma forma territorial capaz de transformar o carácter avulso destes pontos disseminados numa rede articulada em torno da memória deste lugar, do não esquecimento – um parque celebrativo da Memória. E, neste contexto, entendemos a paisagem enquanto ferramenta para curar um território ferido, como um conjunto de processos determinantes dos impulsos diários de todas aquelas pessoas que lá viviam e continuam a viver. The competition of Remembrance Park centred on a resilient stage – the First World War, its memory and its oblivion. A territory deeply marked by a history of trauma and sacrifice, where the two opposing lines of trenches in the war defined an uninhabited noman’s-land for four years. This territory has a range of approximately seventy kilometres of variable widths, reaching at some points four kilometres. A scar of destruction on the territory and on the memory of that place. And beyond this, a strong desire to remember the almost three million people who lost their lives here. The war completely destroyed a previous fabric of agricultural aspects. But the post-war landscape immediately started to erase vestiges of the war in small, successive acts of continuous appropriation, leaving only some points of memory, like the enumerable cemeteries. One aspect of this competition was to define a territorial form capable of transforming the unconnected character of these points disseminated in an articulated web around the memory, and not the oblivion of this place - a park celebrating Memory. And, in this context, we understood the landscape as an instrument to cure a wounded territory, as a set of processes determined by the daily impulses of all the people that lived and continue to live there. 25 Zona de devastação da guerra War devastation zone Zona de batalha Battle zone Frente de guerra 1914-1918 War front 1914-1918 5 km 20 km O território na leitura da Memória e Esquecimento The territory in the reading of memory and oblivion Terra de ninguém No-Man’s-Land Localização hipotética dos cemitérios Hypothetical location of the cemeteries Memory and oblivion L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s 24 MAR d o NORTE NORT H SEA Memória e Esquecimento PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES A competition about Memory MEMÓRIA E ESQUECIMENTO What if the oblivion of the landscape were as important as its memory? What if it were really fundamental at some traumatic moments of our lives, simply as a form of survival? As the project developed, we understood that the oblivion of the traces of war had not been a mere accident on the road, nor was it related to the gradual passage of time. Instead, the oblivion was also voluntary. People wanted to erase forcibly the memories of the brutality and trauma, precisely because it was the only way to continue living in this place. In recognizing that the erasure of the marks was not, here, an involuntary act of letting time go by, but a surviving mechanism that made possible the reconstruction of a territory, we found the need to include it in the conceptual process of our proposal. We came to understand that Memory and Oblivion are in fact two parallel processes in our lives and, in that sense, also in the design of landscape itself. In each day, each minute, each decision, what we do is debate what remains and distinguish it from what is erased. It therefore became fundamental that this process should not only be the celebration of Memory, reducing Oblivion to an automatic result not apparent in the survival of people. On the contrary, the park should, above all, reflect that dialectic. To make this idea operational we designed not one but two parks in the territory – one that would embody the path of Memory, and one that would correspond to the path of Oblivion. The area covered would, naturally, always be the same, but the users would see distinct arguments build into the time tunnels. To Memory would belong all paths evoking war and the destruction associated with it, and to Oblivion, evidence of the mark erasing processes and the awareness of the possibility of life they made possible. It would be strongly based on themes contemporary with the place – art, landscape, ecology, botany, gastronomy or photography. The two ‘tunnels’ would meet in specific points of artistic celebration, like wells of temporal compression. In these special places, constructed of abstract evocations, both those who cross the territory by way of Memory and those who followed the way of Oblivion would be alerted to the true dimension of the territory by the strangeness of the events that would took place there. The structure of the park was endowed with elasticity, above all because we tried not to delineate a specific beginning or end. Instead, we focused on the allocation of territorial densities, creating the sense of being ‘inside’ or ‘outside’ the park. The construction of Doors was planned as entry zones to the park, galleries to create an awareness of the park’s existence, and to guide the users to different the paths and themes. The complexity of these doors would be suited to the type of function planed for that area, which could include small reception areas, car parks, restaurants, bars, museums or interpretation centres. The Paths make up another family of elements included in the structure of the park. As linear structures they had the function of connecting the doors to one or several Sacred Places. The same path could be associated with more than one theme, either in the area of Memory or in that of Oblivion. Finally, we defined the Sacred Places as spaces in the territory where the abstract character, in the form of artistic expression, reaches its maximum tension. Inside this project family we included both already existing places – cemeteries and monuments alluding to the memory of war – and projected ones. In the latter we were talking of artistic landscape interventions which would evoke dimensions related not only to that landscape but also to the war. Its evocative nature led us to reject direct relationships, having resorted to elements such as music, sounds, rhythms or light. In effect, one of the strong ideas of the proposal was to combine the invocation of certain marks in the 27 Fases de desenvolvimento do parque no território development Phases of the park in the territory 5 km 20 km de intervenções paisagísticas de âmbito artístico que evocavam dimensões não apenas daquela paisagem, mas também da própria guerra. A sua natureza evocativa levounos a rejeitar relações de carácter directo, recorrendo, para isso, a elementos como a música, os sons, os ritmos ou a luz. Com efeito, uma das ideias fortes da proposta era a combinação da evocação de determinadas marcas na paisagem com músicas (ou outros elementos sonoros), já que, em boa verdade, a vida nas trincheiras não eliminou nunca manifestações culturais, como peças de teatro ou peças musicais. Bem pelo contrário, a música é um dos vários exemplos de como um elemento artístico uniu, por diversas vezes, facções opostas naquela frente de guerra. Na impossibilidade absoluta de localizar os locais precisos onde a guerra se manifestou, optámos por efectuar um reconhecimento temporal desses momentos. Sabíamos que determinado acontecimento teria ocorrido há 100 anos, embora não soubéssemos a sua localização exacta. Nasce, desta forma, a nossa proposta de sobreposição de dois calendários a correr paralelamente - 1914/1918 e 2014/2018. A compressão temporal seria exacerbada por meio de acontecimentos e manifestações culturais – concertos, representações, exposições. A nossa proposta para este concurso foi, aparentemente, muito elaborada para o âmbito em que ele tinha sido definido, que apenas pretendia uma simples rede de parque neste território. A proposta vencedora tentou delinear uma linha clara onde ela nunca existiu – a linha de uma eventual frente de batalha – e, ao longo dessa linha, evidenciar um programa denso de acontecimentos e evocações. No entanto, acreditamos que, ao contrário do que tentou fazer essa proposta, o território não é estanque, isto é, o parque teria sempre necessidade de evoluir ao sabor de novos intervenientes, novas vontades e novas decisões. Se se justificar, a determinada altura de vida do parque, a inclusão de uma nova zona capaz de gerar uma qualquer activação económica adicional, não haverá razão nenhuma para não o fazer. Portas Gates Percursos Paths Lugares sagrados Sacred Places landscape with music (or other sound elements), as in truth, life in the trenches never eliminated cultural manifestations, such as plays or musical pieces. On the contrary, music is one of several examples of how an artistic element united opposing factions of the war front on several occasions. As it was absolutely impossible to locate the exact places where war was made manifest, we opted for the creation of a temporal recognition of these moments. We knew that a certain event had taken place 100 years ago, without knowing its exact location. This generated our proposal of superimposing two calendars running parallel to each other – 1914/1918 and 2014/2018. The time compression would be heightened by means of events and cultural manifestations – concerts, performances and exhibitions. Our proposal for this competition was apparently too elaborate for the scope which had been defined, which only intended a simple park network on this territory. The winning proposal tried to draw a clear line where one had never existed - the line of a possible battle front – and along that line to present a dense program of events and invocations. However, we believe that, contrary to what was attempted in this project, the territory is not water-tight. That is, the park would always have the need to adapt to the taste of new mediators, new desires and new decisions. If the inclusion of a new area capable of generating any additional economic activity could be justified at a certain time in the life of the park, there is no reason why it should not be done. Memory and oblivion L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s 26 E se o esquecimento for tão importante na paisagem como a sua memória? E se ele for mesmo fundamental em alguns momentos traumatizantes das nossas vidas, como forma de, simplesmente, as continuarmos? No decorrer do desenvolvimento da proposta, compreendemos que o esquecimento dos vestígios da guerra não tinha sido um mero acidente de percurso, nem estava relacionado com a paulatina passagem do tempo. Em vez disso, o esquecimento foi, também, voluntário. As pessoas quiseram forçosamente apagar as memórias da brutalidade, do trauma, exactamente por ser essa a única forma de continuar a viver neste lugar. Assim sendo, e reconhecendo que o apagamento dos sinais não foi, aqui, um acto involuntário de deixar o tempo passar, mas sim um instrumento de sobrevivência potenciador da reconstrução de um território, passou a haver em nós a necessidade de o incluir no processo conceptual da proposta. Apercebemo-nos de que Memória e Esquecimento são, na verdade, dois processos que correm em paralelo nas nossas vidas e, nesse sentido, no desenho da própria paisagem. Em cada dia, em cada minuto, em cada decisão das nossas vidas, aquilo que fazemos é discutir aquilo que se mantém e distingui-lo daquilo que se apaga. Tornou-se, por isso, fundamental que este processo não fosse unicamente a celebração da Memória, diluindo o Esquecimento num resultado automático e não evidente da sobrevivência das pessoas. Bem pelo contrário, o parque deveria ser, acima de tudo, a evidência dessa dialéctica. Para operacionalizar esta ideia desenhámos no território não um parque, mas dois – um que evidenciasse o percurso da Memória e um que correspondesse ao percurso do Esquecimento. O território percorrido seria, naturalmente, sempre o mesmo, mas os utilizadores viam embutidos nos túneis temporais argumentos distintos: à Memória agarrarse-iam todos os percursos evocativos da guerra e da destruição a ela associada; e ao Esquecimento, uma evidência dos processos de apagamento dos sinais e de consciência da possibilidade de vida que ele potenciou, alicerçar-se-iam temas contemporâneos daquele lugar – arte, paisagem, ecologia, botânica, gastronomia ou fotografia. Os dois ‘túneis’ encontrar-se-iam em pontos específicos de celebração artística, como poços de compressão temporal. Nestes lugares especiais, construídos por meio de evocações abstractas, tanto aqueles que percorressem o território por meio da Memória, como os que o fizessem por meio do Esquecimento, conseguiriam ser chamados para a verdadeira dimensão territorial, pela estranheza dos próprios acontecimentos que ali tomariam lugar. A estrutura do parque foi dotada de elasticidade, sobretudo porque procurámos não delinear um início e um fim específicos. Em vez disso, centrámo-nos na atribuição de densidades no território, criando a sensação de estar ‘dentro’ ou ‘fora’ do parque. Como zonas de entrada no parque foi prevista a construção de Portas, galerias de consciencialização da existência do parque e de encaminhamento dos utilizadores para os diferentes percursos e temas. A complexidade dessas portas adequava-se ao tipo de funções previstas naquele ponto, podendo incluir pequenas recepções, parques de estacionamento, restaurantes, bares, museus ou centros interpretativos. Os Percursos constituíam outra família de elementos incluídos na estrutura do parque. Enquanto estruturas lineares, tinham a função de ligar as portas a um ou vários pontos sagrados. A um mesmo percurso poderia ser associado mais do que um tema, tanto a nível do argumento da Memória, como do argumento do Esquecimento. Por fim definimos os Pontos Sagrados como espaços no território onde o carácter abstracto, sob a forma de manifestações artísticas, atinge a sua tensão máxima. Dentro desta família de projecto incluímos tanto os locais existentes – os cemitérios e monumentos alusivos à memória da guerra – como os propostos. Neste último caso falávamos Memória e Esquecimento PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES Memory and Oblivion PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES As portas surgem como elementos de entrada no parque e pontos de convergência dos diferentes percursos The gates are entrance features to the park and convergence points of the different paths 28 Memória e Esquecimento PORTAs Gates 29 PERCURSOs PATHS Memory and oblivion L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s Os percursos permitem um reconhecimento do parque, associado tanto à Memória como ao Esquecimento The paths allow an awareness of the park, associated both to memory and oblivion LUGARES SAGRADOS Sacred places Os sinais de guerra e as características desta paisagem são celebrados nos lugares sagrados, pontos de compressão temporal The signs of war and the features of this landscape are celebrated in the sacred places, points of temporal compression PAISA G EM : M Ú L TIP L AS DEFINI Ç Õ ES L a n d s c a p e : m u lt i p l e d e f i n i t i o n s A atitude conceptual determinante para a leitura deste território foi única e abriu a possibilidade de novos raciocínios dentro da nossa actividade profissional: novas fórmulas de gestão paisagística, social e económica de territórios traumatizados ou feridos; a incorporação do som na paisagem sem manifestações físicas tangíveis; a proposta de parque enquanto open source, um território elástico com limites dinâmicos e uma estrutura capaz de absorver cada novo momento, cada novo acontecimento daquele lugar. A dialéctica entra Memória e Esquecimento definiu um novo mote de exploração do conceito de Tempo como escultor da paisagem; de Limite como noção basilar na evolução territorial; e de Arte como ferramenta eficiente para a criação de relação emocional com o espaço físico. O desenvolvimento da nossa proposta procurou ainda outras formas de comunicação no contexto da arquitectura paisagista. Neste caso, a comunicação focou-se no conceito de parque enquanto oportunidade de demonstração da paisagem como processo. A abordagem consistiu na definição de um modelo territorial aberto e transversal na área de intervenção, que aprofundou o código genético da paisagem, garantindo, ao mesmo tempo, uma maior variedade de leituras e interpretações daquele lugar. Um projecto de comunicação de forte coerência torna-se particularmente importante quando o objecto a comunicar é um território de tão grande extensão, dado que se revela como um auxiliar eficiente no reconhecimento do esforço de existência do parque. Num período onde as tecnologias estão a ser preparadas enquanto plataformas de conexão entre entidades e utilizadores, a informação pode encontrar expressão tanto em formatos físicos como virtuais: de guias e livros inovadores à criação de aplicações específicas para smartphones e tablets; de eventos contemporâneos no local às elásticas bases de dados sediadas na rede web; de projectos estratégicos de sinalização interactiva a simulações de realidade virtual, ou mesmo aumentada, onde o tempo e o espaço possam encontrar novas relações. The determining conceptual attitude for the reading of this territory was unique, and opened up the possibility of new lines of thought reasoning in our professional activity: new formulae for the social, economic and landscape management of wounded or traumatized territories, and the incorporation of sound in the landscape with no physical tangible expression; the proposal of a park as an open source, an elastic territory with dynamic limits and a structure capable of absorbing each new moment and event in that place. The dialectic between Memory and Oblivion defined a new motto for exploiting the concept of Time as sculptor of the landscape; of Limit as a basic notion of land evolution; and of Art as an efficient instrument for the creation of emotional relationships with the physical space. The development of our project searched for yet other forms of communication in the context of landscape architecture. In this case, the communication focused on the concept of a park as an opportunity to demonstrate the landscape as a process. The approach consisted of defining an open and transversal territorial model in the area of intervention, which deepened the genetic code of the landscape, guaranteeing at the same time a greater diversity of readings and interpretations of that place. A project of strong coherent communication becomes particularly important when the object to be communicated is a territory of such great extent, given that it reveals itself as an effective aid in the recognition of the park’s endeavour to exist. In a period when technologies are being prepared as connection platforms between entities and users, information can find expression in both physical and virtual formats: from guide-books and innovative books to the creation of specific applications for Smartphones and tablets; from on-the-spot contemporary events to the elastic data bases located in the web; from strategic projects of interactive signalling to simulations of virtual or even augmented reality, where time and space can find new relationships. PERFIL DE SOLO COM 1,5 METROS DE PROFUNDIDADE Soil profile with a depth of a meter and a half 31 Memory and oblivion process of research and communication Memória e Esquecimento 30 PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO E COMUNICAÇÃO 219 218 CONCURSOS PERDIDOS Technical Elements p e ç as T É C N I C A S TECNICAL ELEMENTS LOST COMPETITIONS Peças Técnicas relação entre o central park (340ha), nova iorque, EUA, e as áreas de intervenção relation bet ween central park (340ha), new york, USA, with and the intervention areas Um campo de futebol tem 1ha A football field has 1ha a. Memória e Esquecimento — 20.000ha (SEM RELAÇÃO GRÁFICA) Memory and Oblivion — 20.000ha (WITHOUT GRAPHIC RELATION) b. Paisagem em Movimento Landscape in Movement c. Artifício e Natureza Artifice and Nature d. Paisagem e Beleza Landscape and Beauty f. A Pulsação de uma cidade antiga The Pulse of an Ancient City g. Paisagem Monumento Landscape Monument B. 350ha C. 120ha D. 400ha E. 24ha F. 316ha G. 270ha H. 330ha h. Tempestade e Rumo Storm and Steering peças técnicas i. Escalas Relacionais da Paisagem Relational Scales of the Landscape j. Momentos de Encontro Meeting Moments L. Público e Privado Public and Private m. Território de Transição Transitional Territory ma p as de rela ç ã o de escala e. O Melhor de Dois Mundos The Best of T wo Worlds n. A Vida Inundável Floodable Life o. Ligar Desligar Switch On Switch Off p. Redefinindo o Litoral Urbano Redefining the Urban Coast q. Celebração do Vazio The Celebration of Emptiness r. Fazer um Parque Making a Park s. Parque Museu Museum Park 220 t. Agricultura e Cidade Agriculture and City 221 I. 560ha J. 8ha O. 3ha P. 21ha L. 8ha Q. 390ha M. 9.6ha scale R elation ma p s technical elements u. Coesão de Retalhos Cohesion of Patchwork N. 40ha R.160ha S. 26ha T. 23ha U. 11ha Paisagem Monumento Tempestade e Rumo Landscape Monument Storm and Steering Gorizia, Itália Gorizia, Italy P.82 Londres, Reino Unido London, United Kingdom P.92 peças técnicas peças de concurso 229 C O M P ETITI O N ELEMENTS technical elements 228 4 Painéis (A0) 1 Dossier (A3) com memória descritiva Estimativa orçamental (a3) 4 Panels (A0) 1 Book (A3) with project description Estimated budget (a3) 1 Painel (A1) 1 Dossier (A3) 1 Panel (A1) 1 Book (A3)