Diapositivo 1
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III Jornadas da ASPOC V Jornadas Internacionais de Cunicultura da APEZ Qualidade da água nas explorações cunículas Ana Cláudia Correia Coelho 24 e 25 de Novembro de 2011 Universidade de Trás- os- Montes e Alto Douro Qualidade da água nas explorações cunículas Qualidade da água Conjunto de avaliações de qualidade que se traduzem em critérios de forma a garantir a sua potabilidade para consumo humano e animal. É considerada um dos elementos mais importantes para a manutenção da saúde dos seres vivos. Qualidade da água nas explorações cunículas Explorações cunículas Coelhos ingerem o dobro de água que de alimento Funcionamento correcto do aparelho digestivo Necessidades hídricas de manutenção e produção Qualidade da água nas explorações cunículas Corpo do coelho 75% de água Imprescindível Água de qualidade ad libitum Sem qualquer falha na sua administração Falta de água • Diminuição do consumo de alimento sólido • Prejuízo directo da produção • Fêmeas lactantes → subalimentação imediata dos láparos Qualidade da água nas explorações cunículas Prática % de problemas digestivos como diarreias por Escherichia coli - exclusivamente - má qualidade microbiológica Qualidade da água Controlo do consumo encontra-se na maioria das vezes nas mãos do cunicultor, que recorrem à água de poços e furos próprios para abastecimento Necessário conhecimento suficiente sobre águas para evitar os prejuízos associados Qualidade da água nas explorações cunículas Principais doenças de veiculação Hídrica Doenças transmitidas pela água Água actua como veículo propriamente dito do agente infeccioso, ex. febre tifóide, disenteria bacilar e diversas gastroenterites Doenças passíveis de serem transmitidas durante as actividades de higiene pessoal (contacto) Vector com parte de ciclo de desenvolvimento no ambiente aquático Doenças de origem hídrica Presença de certas substâncias químicas contidas na água ex. uso de pesticidas Qualidade da água nas explorações cunículas Tabela 1 – Principais doenças de veiculação hídrica (Fonte: adaptado de Brunkard et al., 2011). Doença Febres tifóide paratifoide Disenteria bacilar Disenteria amebiana Agente etiológico e Salmonella Typhi S. Paratyphi Shigella dydesnteriae Entamoeba histolytica Cólera Vibrio cholerae Giardíase Giardia lamblia Hepatite A e B Vírus da hepatite A eB Vírus da poliomielite Cryptosporidium parvum Cryptosporidium muris Poliomielite Criptosporidiose Gastroenterite Sintomas Fontes de contaminação Febre elevada Fezes humanas Diarreia Diarreia Fezes humanas Diarreia, abcessos no Fezes humanas fígado e intestino delgado Fezes humanas e águas costeiras Diarreia, náusea, Fezes humanas e de indigestão, flatulência animais Febre, icterícia Fezes humanas Paralisia Diarreia, anorexia, dor intestinal, náusea, indigestão, flatulência Escherichia coli, Diarreia Campylobacter jejuni, Yersinia enteroclitica, Aeromonas hydrophila, rotavírus, outros vírus entéricos Fezes humanas Fezes humanas animais e de Fezes humanas e animais Qualidade da água nas explorações cunículas Origem da água de consumo nas explorações cunícolas Rede pública Dois sistemas + Rede privada furos, poços Tratamento prévio Objectivo Evitar a contaminação à posteriori através das canalizações e bebedouros Qualidade da água nas explorações cunículas Concentração residual de desinfectantes, ex. cloro, que garante que a mesma chega livre de microrganismos Não será possível Canalizações ou os depósitos pouco limpos/sujos Necessidade de realização de desinfecções periódicas (ex. com agentes desinfectantes) que garantam a qualidade da água no momento da sua ingestão Qualidade da água nas explorações cunículas Bebedouros automáticos Contaminação por contacto com a boca ou com a região anal dos animais – contaminação para o resto das canalizações Resolução fácil limpeza e desinfecção em todos os bebedouros e canos Qualidade da água nas explorações cunículas Água da exploração: furo, poço ou fonte sem pré-tratamento Tratamento/desinfecção da água Exclusivamente a cargo dos proprietários/agricultores Problemas maiores Tratamento extremamente rigoroso Realizado mediante análise da qualidade da água na origem Estudar o tratamento com a ajuda do técnico que dá apoio à exploração Qualidade da água nas explorações cunículas Águas provenientes dos poços e furos podem ter um elevado grau de potabilidade e qualidade Isto não significa que não se faça o tratamento com cloro! As probabilidades de contaminação dentro da exploração são elevadas! Análise completa dos parâmetros da água • Avaliar a periódicas qualidade através de • Realização do tratamento mais indicado análises Qualidade da água nas explorações cunículas Parâmetros para análise da qualidade da água Decreto-Lei nº306/07 - 38 parâmetros divididos por 3 grupos CR1 (Controlo de Rotina 1) Parâmetros microbiológicos - analisados para detectar eventuais perigos para a saúde Qualidade da água nas explorações cunículas CR2 (Controlo de Rotina 2) Parâmetros organolépticos odor, sabor e turvação Água com sabor desagradável causa subconsumo de água e também de alimento! Parâmetros físico-químicos temperatura, pH, condutividade, cloretos, cálcio, magnésio, substâncias oxidáveis, entre outros. Ex. carbonato de cálcio relacionados com a dureza e mineralização da água de origem Qualidade da água nas explorações cunículas Ex. dureza excessiva favorece o aparecimento de hipoperistaltismo e de enterite. Preocupante em coelhas perto do parto que apresentam fisiologicamente um trânsito intestinal lento Qualidade da água nas explorações cunículas CI (Controlo de inspecção) Parâmetros relativos a substâncias tóxicas e indesejáveis Nitratos, nitritos e amoníaco Relação com a contaminação fecal ou com o uso de adubos Parâmetros tóxicos como metais pesados, insecticidas, fungicidas, herbicidas e a presença de compostos aromáticos Qualidade da água nas explorações cunículas Temperatura ideal: 10ºC - 25ºC Abaixo dos 10ºC pode ocorrer um baixo consumo de alimento (até 50%), para além de criar hipoperistaltismo e um meio favorável a uma excessiva fermentação bacteriana no intestino • Razões porque se observa mais frequentemente enterite-diarreia no Inverno. • A água também serve como refrigerante ao animal. Necessário isolar os depósitos e as canalizações e proteger da acção directa do sol Qualidade da água nas explorações cunículas Parâmetros microbiológicos Bactérias coliformes totais e fecais (Escherichia coli), enterococos fecais, Clostridium perfringens e microrganismos viáveis a 37ºC e a 22ºC. Descartar possível contaminação fecal O controlo de bactérias na água da bebida deve ser feito através de ensaios periódicos Isolamento de flora coliforme fecal, como, Escherichia coli indica uma contaminação fecal relativamente recente no tempo e espaço, ex. um poço com infiltrações intermitentes Qualidade da água nas explorações cunículas Enterococos - indicam uma contaminação fecal mais remota Clostridium perfringens - indicadores bacterianos mais duradouros e mais antigos Tabela 2 - Parâmetros microbiológicos da água potável (Fonte: adaptado de Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Concentração máxima admissível Microrganismos viáveis 37ºC ufc/ml <20 Microrganismos viáveis 22ºC ufc/ml <100 Coliformes totais ufc/100ml 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 0 Qualidade da água nas explorações cunículas Problemas de contaminação Resolução fácil utilizando produtos que eliminem os agentes indesejáveis Adição na água de bebida de quantidades ligeiramente em excesso de oxidantes: compostos clorados, iodados, etc., de maneira a que fiquem livres de microrganismos e não contenham o oxidante em excesso, visto que prejudicaria os requisitos de potabilidade. Qualidade da água nas explorações cunículas Desinfecção da água na exploração Princípio fundamental: mais importante que fazer a sua desinfecção é evitar a sua contaminação Uso de poços pode ser mais problemático que o de furos devido à captação a menor profundidade e ao diâmetro ser superior Importante que na exploração existam depósitos de armazenamento ligados à rede geral para evitar situações de emergência devido à falta de abastecimento Qualidade da água nas explorações cunículas Medidas de acção de correcção e melhoria da água de consumo Características físico-químicas (filtração e desodorização) Características microbiológicas (desinfecção) Composição (desmineralização, amaciação, processo de osmose inversa) Qualidade da água nas explorações cunículas A água não é o meio ideal para o desenvolvimento de microrganismos, mas existem bactérias adaptadas a viver neste ambiente Colonizam as paredes internas dos circuitos de canalizações e elaboraram estratégias para se protegerem dos desinfectantes mediante a formação de um biofilme que adere às paredes e que as impermeabiliza. Qualidade da água nas explorações cunículas Importante Utilizar canalizações e depósitos opacos para evitar o desenvolvimento de algas microscópicas que podem conduzir a enterites. Fazer a desinfecção periódica com lixívia ou similar de todo o equipamento do sistema de abastecimento Manter a água em permanente circulação dentro das canalizações e que não haja tubos cegos nas mesmas visto que permitem a proliferação descontrolada de certos microrganismos Qualidade da água nas explorações cunículas Desinfecção com agentes químicos • Desinfectante mais frequentemente utilizado cloro (Cl2), líquido ou gasoso • Outros desinfectantes químicos são considerados alternativos: – hipoclorito de sódio ou de cálcio – ozono (O3) – dióxido de cloro – permanganato de potássio (KMnO4) – mistura ozono/peróxido de hidrogénio (O3/H2O2) – ião ferrato (FeO2-4) – ácido peracético (CH3COOOH) Qualidade da água nas explorações cunículas Tabela 3 – Desinfectantes primários utilizados na produção de água potável (Fonte: adaptado de USEPA, 1999). Microrganismos Tratamento Grupo coliformes Cloro e hipocloritos Cloraminas Dióxido de cloro Ozono Oocistos de Giardia Cloro e hipocloritos Cloraminas Dióxido de cloro Vírus Cloro e hipocloritos Cloraminas Dióxido de cloro Ozono UV Oocistos de Cryptosporidium Dióxido de cloro Ozono Qualidade da água nas explorações cunículas Tipo e concentração do desinfectante • Qualidade da água • Sequência de tratamento, • Tempo de contacto • pH • Temperatura • Força iónica A grande maioria dos desinfectantes químicos é um forte oxidante que também pode ser utilizado para controlar o sabor e odor, manter os filtros limpos, controlar o crescimento bacteriano na rede e controlar algas. Qualidade da água nas explorações cunículas Desinfecção com agentes químicos O método mais adequado consiste em colocar um doseador automático de cloro O ozono juntamente com o peróxido de hidrogénio originam o peroxónio, é um potente oxidante capaz de oxidar compostos orgânicos e inorgânicos Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 1 - Problema na água de dois poços! Exploração com problemas de diarreia no ninho na engorda e nas fêmeas. Após o tratamento da água dos poços hoje é uma exploração de referência! Parâmetros microbiológicos (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Poço 1 Resultado Poço 2 Concentração máxima admissível* Microrganismos viáveis ufc/ml 124 >300 <20 ufc/ml >300 >300 <100 Coliformes totais ufc/100ml 15 >100 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 0 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 0 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 2 0 0 37ºC Microrganismos viáveis 22ºC Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 2 - Problema na água de um furo! Exploração com diarreias na engorda que persistiam mesmo com a medicação. Após o tratamento da água do furo desapareceram os problemas! Parâmetros microbiológicos (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Concentração admissível* Microrganismos viáveis 37ºC ufc/ml >300 <20 Microrganismos viáveis 22ºC ufc/ml >300 <100 Coliformes totais ufc/100ml 0 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 1 0 máxima Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 3 - Problema na água de um poço e de uma mina! Exploração em que ocorria diminuição da condição corporal na engorda e quadro de má digestão compatível com E. coli e enteropatia mucóide. Após o tratamento da água desapareceram os problemas! Parâmetros microbiológicos. (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Poço Resultado Mina Concentração máxima admissível* Microrganismos viáveis ufc/ml 159 26 <20 ufc/ml >300 58 <100 Coliformes totais ufc/100ml 0 >80 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 0 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 0 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 0 0 0 37ºC Microrganismos viáveis 22ºC Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 4 - Problema na água de um poço e de um furo! Exploração com E. coli de ninho recorrente e alguma diarreia em fêmeas. Fez medicação na ração e na água. Após tratamento da água com hipoclorito de sódio resolveu-se a situação. Não foi necessário mais tratamento na água nem na ração. Parâmetros microbiológicos. (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Poço Resultado Furo Concentração máxima admissível* Microrganismos viáveis ufc/ml 170 > 300 <20 viáveis ufc/ml 147 > 300 <100 Coliformes totais ufc/100ml 25 6 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 0 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 0 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 0 0 0 37ºC Microrganismos 22ºC Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 5 - Problema na água da rede pública! Exploração com problemas de diarreia, principalmente, na engorda. Após o tratamento da água melhorou muito! Parâmetros microbiológicos (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Rede Concentração Pública máxima admissível* ufc/ml 3 <20 ufc/ml 38 <100 Coliformes totais ufc/100ml 3 0 Escherichia coli ufc/100ml 0 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 0 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 0 0 Microrganismos viáveis 37ºC Microrganismos viáveis 22ºC Qualidade da água nas explorações cunículas Casos de estudo Caso 6 - Problema na água do poço! Exploração com problemas de diarreia, principalmente, na engorda. Após o tratamento da água houve melhoria significativa! Parâmetros microbiológicos (Decreto-Lei 306/2007). Microrganismos Unidade Resultado Poço Concentração máxima admissível* Microrganismos viáveis ufc/ml 125 <20 ufc/ml >300 <100 Coliformes totais ufc/100ml 22 0 Escherichia coli ufc/100ml 3 0 Enterococos intestinais ufc/100ml 11 0 Clostridium perfringens ufc/100ml 22 0 37ºC Microrganismos viáveis 22ºC Qualidade da água nas explorações cunículas Considerações finais A manutenção da qualidade da água numa exploração de coelhos não é difícil mas, depende muito da colaboração do cunicultor! • Manutenção de uma taxa correcta de cloro ou similar na água • Desinfecção periódica dos circuitos de bebida • Análises periódicas de qualidade (2 a 3 análises por ano) • Precauções no caso da existência de problemas infecciosos e parasitários nas explorações, visto que, a contaminação da água de bebida também aumenta! probabilidade de Qualidade da água nas explorações cunículas Bibliografia Ben Rayana A, Ben Hamouda M, Bergaoui R (2008). Effect of water restriction times of 2 and 4 hours per day on performances of growing rabbits. 9th World Rabbit Congress – June 1 0- 1 3 – Verona – Italy; 541546. Brunkard JM, Ailes E, Roberts VA, Hill V, Hilborn ED, Craun GF, Rajasingham A, Kahler A, Garrison L, Hicks L, Carpenter J, Wade TJ, Beach MJ, Yoder Msw JS (2011). Surveillance for waterborne disease outbreaks associated with drinking water---United States, 2007--2008. MMWR Surveillance Summaries, 60 (12), 3868. Carvalho, R.C. (2009). Caracterização da produção cunícula nas regiões de Trás-os-Montes, Minho e Galiza. Tese de Mestrado em Engenharia Zootécnica, UTAD, Vila Real. Decreto-Lei nº 306/2007 de 27-08-2007. Hurst CJ (1991). Disinfection of drinking water, swimming pool water, and treated sewage effluents. In: Disinfection, Sterilization, and Preservation. 4ª Ed. Block S.S. (Ed.), Lea & Febiger, Filadelfia, 713-729. Pinheiro VM, Mourão JL (2006). Alimentação do coelho. Série didáctica. UTAD. Vila Real, Portugal. 1-81. 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