Da contextualização à prática educativa
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Da contextualização à prática educativa
Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 1 Da contextualização à prática educativa Experiências da RECASA* em municípios Alagoanos * Rede de Educação Contextualizada do Agreste e Semiárido Alagoano Caderno1_Experiencias_arte.indd 1 25/11/2014 17:25:37 2 | Da contextualização à prática educativa Caderno1_Experiencias_arte.indd 2 25/11/2014 17:25:37 Da contextualização à prática educativa Autor | Editor MPDC – Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário Caderno1_Experiencias_arte.indd 1 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos 1ª Edição Palmeira dos Índios, 2014 25/11/2014 17:25:38 2 | Da contextualização à prática educativa Presidenta da República Federativa do Brasil Dilma Vana Rousseff Ministro do Desenvolvimento Agrário Laudemir André Muller Secretária de Desenvolvimento Territorial Andrea Lorena Butto Zarzar Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário Rua Chico Nunes, 161, Bairro Alto do Cruzeiro CEP: 57600-460 | Palmeira dos Índios | Alagoas Fone: 82-3421-3480 [email protected] | [email protected] Blog: www.projeto-oasis.blogspot.com Diretoria Presidente Maria Gorete de Souza Orestes Tesoureira Maria Alves da Silva Conselho Fiscal Consultivo Cícero José da Silva Genilda Maria Bispo Jeane Vieira da Silva Rosemary Lopes dos Santos Vanuzia Moreira da Silva Coordenação do Projeto Maria Eunice de Jesus Escola Municipal Mary Sampaio Caparica Palmeira dos Índios | AL Diretora Auta Tânia do Nascimento Coordenadora Pedagógica Eunícia de Fátima Gonçalves Escola Municipal Antônio Pinto de Araújo Estrela de Alagoas | AL Diretora Maria Julieta da Silva Coordenadora Pedagógica Luziene Maria da Silva Escola Municipal Cirilo Pedro da Silva Igaci | AL Diretora Telma Souza Luz Siqueira Coordenadora Pedagógica Hercília Ribeiro de Souza Bezerra Escola Municipal Benjamim Felisberto Arapiraca | AL Diretora Maria Rejane da Trindade Silva Coordenadora Pedagógica Ednalva Pinheiro dos Santos Colaboração Cristianlex Soares dos Santos Jeane Vieira da Silva Salete Barbosa de Oliveira Fotos Arquivo do MPDC | Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário RECASA | Rede de Educação Contextualizada do Agreste e Semiárido Alagoano Edição Final Ana Maria Andrade de Azevedo – FENAJ 1702-PE Revisora Maura Dourado Projeto Gráfico Via Design www.viadesign.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Da contextualização à prática educativa : experiências da RECASA em municípios alagoanos. -1. ed. -- Palmeira dos Índios, AL : MPDC Movimento Pró-Desenvolvimento Comunitário, 2014. 1. Educação 2. Participação social 3. Pedagogia 4. Rede de Educação Contextualizada do Agreste e Semiárido Alagoano - RECASA (Brasil). 14-11939 CDD-370.115 Índices para catálogo sistemático: 1. Rede de Educação Contextualizada do Agreste e Semiárido Alagoano - RECASA : Prática Educativa 370.115 Caderno1_Experiencias_arte.indd 2 25/11/2014 17:25:38 5 Apresentação 7 Introdução 11 Eixo 1 Planejando numa perspectiva de contextualização Experiências Estrela de Alagoas 16 Eixo 2 Aproximando o currículo com a realidade local Experiências Igaci 21 Eixo 3 Construindo um novo fazer na educação do campo Experiências Arapiraca 25 Eixo 4 Avaliação Experiências Palmeira dos Índios Caderno1_Experiencias_arte.indd 3 25/11/2014 17:25:38 4 | Da contextualização à prática educativa Caderno1_Experiencias_arte.indd 4 25/11/2014 17:25:39 Apresentação Este caderno educativo é fruto de um intenso e gratificante trabalho coletivo realizado pelos educadores (as) da Rede de Educação Contextualizada do Agreste e Semiárido – RECASA. Desde 2003, a rede articula escolas públicas do semiárido alagoano, mobiliza e promove a formação continuada em educação contextualizada para crianças, adolescentes, jovens, professores(as), coordenadores pedagógicos, diretores e educadores sociais. Do conjunto das experiências, selecionou quatro para evidenciar os resultados das práticas educativas desenvolvidas por equipes municipais que acreditaram na filosofia, nos princípios e nos métodos da educação contextualizada para a convivência com o semiárido. As experiências demonstram a luta constante das pessoas por uma educação ressignificada no estado de Alagoas. Os eixos trabalhados pela RECASA são caracterizados por escolas dos municípios de Estrela de Alagoas, Palmeira dos Índios, Igaci e Arapiraca. Cada município possui uma escola de referência, com educadores sensibilizados e dispostos a inovar o modelo de educação concebido pelo sistema nacional de educação, considerando o não atendimento às especificidades das crianças do semiárido. A seleção contou com a colaboração de uma comissão de sistematização responsável por articular com os municípios, visitar todas as escolas, aplicar questionários e ouvir o público diretamente envolvido. Para guiar todo o processo, foram construídas questões sobre a contribuição do trabalho da RECASA na melhoria dos indicadores educacionais, identificação de métodos e práticas, resultados alcançados, opiniões de estudantes, gestores e educadores, suas motivações e aprendizagens. A coordenação colegiada da RECASA reconhece que este trabalho só foi possível graças à colaboração de muitas pessoas e instituições. Em primeiro lugar agradece aos educadores e educadoras que assiduamente participaram de todo processo de formação, mobilizando-se com a comunidade local, organizações sociais e poder público para implantar uma proposta de educação desafiadora para a região. Às organizações da sociedade civil organizada, em especial a Associação de Agricultores Alternativos – AAGRA e Movimento Pró Desenvolvimento Comunitário – MPDC, pela contribuição contínua aos trabalhos em rede. E às organizações parceiras como o UNICEF e o Projeto Fazer Valer os Direitos das Crianças e Adolescentes em Alagoas, a Visão Mundial, a Universidade Federal de Alagoas, a Universidade do Estado de ALAGOAS, a Rede de Caderno1_Experiencias_arte.indd 5 25/11/2014 17:25:39 6 | Da contextualização à prática educativa Educação do Semiárido e ao Serviço de Tecnologia Alternativa por suas contribuições no processo de formação da rede, construindo uma nova perspectiva de educação para o semiárido. E às prefeituras e secretarias de educação e agricultura dos municípios do Território Agreste que acreditaram no trabalho da rede e investiram na formação do quadro técnico e suas iniciativas no ambiente escolar e comunitário. E ao Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA que aportou recursos que fortaleceram a rede e sua proposta de intervenção no Território através do Colegiado de Desenvolvimento Territorial. A RECASA espera que este caderno possa trazer contribuições satisfatórias para todos os educadores e educadoras de nosso estado e região. Ele foi organizado com a intenção de disponibilizar um material didático capaz de demonstrar os conteúdos ensinados na escola e suas relações com o contexto dos estudantes e pretende exemplificar que a aprendizagem pode ser mais significativa para todos (as) quando o semiárido é visto com outro olhar, um olhar de prazer e crença. As experiências afirmam que é possível viver e ter sustentabilidade de forma digna e prazerosa, e o melhor de tudo, construir a partir da EDUCAÇÃO. Comissão Editorial Municípios atendidos pela RECASA PERNAMBUCO Inhapi Poço das Trincheiras Estrela Santana do Ipanema Cacimbinhas Igací Craíbas SÃ SERGIPE Caderno1_Experiencias_arte.indd 6 O FR O C I T N Â L T A O IO AN N R C IS C A Traipu O E Pão de Açúcar Coité Taquarana do Nóia Arapiraca Limoeiro de Anadia Lagoa da Canoa Girau do Junqueiro Feira Ponciano Teotônio Grande Vilela Campo São Grande Sebastião Olho D’Água Grande C Monteiropólis BAHIA ALAGOAS O São José da Tapera Palmeira dos Índios Olho D’Água das Flores 25/11/2014 17:25:40 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 7 Introdução A REDE DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA DO AGRESTE E SEMIÁRIDO ALAGOANO – RECASA A RECASA caracteriza-se pelo formato de organização em rede, constituída por educadores, representantes do poder público e de organizações da sociedade civil organizada. Seu principal objetivo educativo é consolidar um núcleo de formação continuada em Educação Contextualizada para atuar nos territórios do Agreste e Semiárido. Suas ações são voltadas à formação, à mobilização intermunicipal e à articulação política, visando firmar compromissos do poder público com a Educação para o Desenvolvimento Sustentável em Alagoas. Objetivos da RECASA Fortalecer as ações coletivas para implantação da Proposta de Educação Contextualizada para Convivência com o Agreste e o Semiárido; Desenvolver processo de formação continuada em Educação Contextualizada para educadores e jovens; Mobilizar a sociedade para tornar a Proposta de Educação para Convivência com o Agreste e o Semiárido em Política Pública. Eixos de atuação Eixo 01 | Planejando numa perspectiva de contextualização – Experiências Estrela de Alagoas; Eixo 02 | Aproximando o currículo com a realidade local - Experiências Igaci; Eixo 03 | Construindo um novo fazer na educação do campo – Experiências Arapiraca; Eixo 04 | Avaliação – Experiências Palmeira dos Índios. Como tudo começou... Em 1995, o MPDC- Movimento Pró Desenvolvimento Comunitário e a AAGRA- Associação de Agricultores Alternativos iniciaram um trabalho de referência na educação formal junto a turmas de educação infantil. Como objetivos, definiram estudar e disseminar a metodologia construtivista, contando com o apoio da Visão Mundial. Caderno1_Experiencias_arte.indd 7 25/11/2014 17:25:41 8 | Da contextualização à prática educativa Em oito anos, as experiências educativas conquistaram novas parcerias. Dentre as principais, destaca-se o projeto Fazer Valer os Direitos em Alagoas, apoiado pelo UNICEF para fortalecer a educação contextualizada e promover os direitos das crianças e adolescentes do Semiárido em municípios alagoanos. A parceria possibilitou a ampliação da área de atuação e maior colaboração com as iniciativas municipais para potencializar a ação educativa. Outro destaque dos primeiros anos foi a consolidação da RECASA como resultado da dinâmica de organização territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, em 2007. A rede passou a atuar nos 19 municípios do Território Agreste e 10 municípios do Semiárido, juntamente com entidades parceiras que atuam em Alagoas, como Visão Mundial, CACTUS, NUDEC, entre outros. A trajetória da RECASA demonstra que continua firme em seu propósito de promover a educação do campo, a partir dos princípios da convivência e da contextualização do ensino-aprendizagem, como indicam as ações abaixo: Ano Ações Realizadas 2003 | 2004 Mobilização para construção dos planos municipais de educação e proposta político-pedagógica das escolas dos municípios: Viçosa, Igaci, Quebrangulo, Estrela de Alagoas, Cacimbinhas e Palmeira dos Índios. Uma ação vinculada ao Projeto Fazer Valer os Direitos das Crianças e Adolescentes em Alagoas, financiado pelo UNICEF. 2005 | 2007 Cessão de dois funcionários públicos para atuação na RECASA, a partir de convênios com as prefeituras de Igaci e Palmeira dos Índios, por período indeterminado. Formação dirigida a 60 professores das redes municipais para implantação do Projeto FICAI (Ficha de Acompanhamento ao Aluno Infrequente), em parceria com o Ministério Público de Alagoas, nos 06 municípios atendidos pelo Projeto Fazer Valer os Direitos das Crianças e Adolescentes. Encontros pedagógicos para estudo e monitoramento das ações do Projeto Fazer Valer os Direitos, reunindo representantes de 06 municípios. Inserção no Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Intercâmbio de experiências de 40 educadores sobre Educação do Campo no SERTA/PE. Inserção da RECASA na Rede de Educação do Semiárido Brasileiro – RESAB. Participação nos fóruns de discussão da RESAB. Pesquisa de recepção sobre a leiturabilidade e conteúdos do livro didático produzido pela RESAB, com apoio do UNICEF. A pesquisa foi aplicada em duas turmas, uma em Igaci (Escola Municipal Manoel Teotônio da Silva) e, em Estrela de Alagoas ( Escola Municipal Antônio Pinto de Araújo). 2008 | 2010 Caderno1_Experiencias_arte.indd 8 Realização de 14 seminários municipais de sensibilização em Educação do Campo, envolvendo 1400 educadores e líderes comunitários de 14 municípios do Território Agreste. 25/11/2014 17:25:41 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 9 Realização de 04 encontros de estudo sobre educação contextualizada, envolvendo 32 educadores de 16 municípios. Realização de 04 seminários de Educação Contextualizada dirigidos a 120 educadores de 18 municípios do semiárido alagoano. Realização de 03 intercâmbios sobre Educação do Campo, em Gloria do Goitá, unidade do SERTA/PE, com participação de 105 educadores. Realização de um Curso de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável para 40 jovens do Território Agreste. Mobilização social pela implementação do projeto Toda Escola com Água, Banheiro e Cozinha, promovido por membros de 11 estados signatários do Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido. Apoio técnico para construção de cisternas, modelo em escolas de três municípios (Arapiraca, Jirau do Ponciano e Traipu). Participação de representantes da RECASA nas Conferências Municipais, Estadual e Nacional da Educação, como parte das estratégias da RECASA em defesa da proposta de Educação Contextualizada com o Campo (2010). Apoio aos municípios do Estado de Alagoas no desenvolvimento das ações da mobilização Selo UNICEF Município Aprovado, referente ao eixo de Educação Contextualizada. Participação no II Salão Nacional dos Territórios da Cidadania- Brasília, com palestra sobre a formação dos educadores no Território do Agreste Alagoano. 2011 | 2014 Realização de um Curso de Formação em Educação Contextualizada dirigido a 150 educadores de 19 municípios do semiárido alagoano, em parceria com as Universidades Estadual e Federal de Alagoas. Realização de 05 intercâmbios de experiências com a equipe do SERTA/PE sobre Educação do Campo, envolvendo 322 educadores, jovens e líderes comunitários. Realização de reuniões bimestrais itinerantes em municípios integrantes da RECASA. Reestruturação do grupo de estudo da RECASA para aperfeiçoamento das tecnologias de ensino-aprendizagem. Participação na gestão da secretaria executiva da RESAB- Rede de Educação do Semiárido, como titular do estado de Alagoas, compondo com instituições não governamentais da Paraíba, Bahia e Piauí. Participação como delegado nas conferências municipais e estadual de Educação (2013). Participação com palestra sobre as atividades da RECASA no seminário nacional promovido pela RESAB. Caderno1_Experiencias_arte.indd 9 25/11/2014 17:25:41 10 | Da contextualização à prática educativa Resultados evidenciados no monitoramento das ações da RECASA: Implantação de forma direta da proposta de Educação Contextualizada com o Campo em 10 Escolas do semiárido alagoano. Implantação parcial da Proposta de Educação Contextualizada com o Campo em 30 escolas municipais. Implantação da disciplina Ciências Agroecológicas na grade curricular de 03 municípios do Território do Agreste (Igaci, Teotônio Vilela e Coité do Nóia). Inserção de 30 educadores da RECASA no Curso de Especialização em Educação do Campo, promovido pela UFAL. Inserção de 12 jovens e educadores na Licenciatura em Educação do Campo do PROCAMPO/UNEAL. Participação no Fórum Estadual Permanente de Educação-FEPEC para a formulação de políticas dirigidas às escolas do campo em Alagoas. Fortalecimento do trabalho em rede com a mobilização e promoção de troca de experiências, visitas intermunicipais, alimentação do blog da RECASA, divulgação de oportunidades de parcerias com os municípios e socialização de tecnologias de ensino-aprendizagem. Inserção de 12 pessoas no Curso Técnico de Agroecologia realizado pelo SERTA. Produção de materiais sobre a sistematização das experiências educativas no Território Agreste para edição de cinco números do boletim informativo da RECASA. Parceria com a UNEAL-Universidade Estadual de Alagoas e UFAL- Universidade Federal de Alagoas para palestras dirigidas aos alunos dos cursos de Pedagogia, Geografia e Procampo, além do curso de Especialização em Educação do Campo-campus Arapiraca. Treze educadores da rede com experiências sistematizadas em formato de artigos científicos. Adesão de dezesseis municípios ao programa da RECASA, com responsabilidade de contrapartida dos gestores públicos. Aprovação no Ministério de Desenvolvimento Agrário de dois projetos de formação em educação contextualizada e mobilização da rede. Próximas ações Realização do IV Programa de Formação da RECASA para vinte municípios. Promoção do curso de formação em educação contextualizada, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe, a ser realizado em um município sergipano. Promoção do curso de formação de Jovens Empreendedores- Primeiros Passos, em parceria com o SEBRAE, dirigido a professores e estudantes das escolas Mário Sampaio Caparica e Eloi Barbosa, ambas em Palmeira dos Índios. Caderno1_Experiencias_arte.indd 10 25/11/2014 17:25:42 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 11 Eixo 1 Planejando numa perspectiva de contextualização Cuidado Rio Poluído Giovana Caderno1_Experiencias_arte.indd 11 25/11/2014 17:25:44 12 | Da contextualização à prática educativa Para desenvolver este caderno de experiências, a RECASA propôs aos educadores uma metodologia para definição dos conteúdos, como modo de agregar interesses das escolas. Em um dos seminários de formação foram identificadas as principais questões por eixos de atuação, cabendo aos educadores desenvolver respostas sobre os processos educativos construídos em suas escolas. Estrela de Alagoas Escola Municipal Antônio Pinto de Araújo A Escola Municipal Antônio Pinto de Araújo, uma das primeiras a incrementar a experiência integral de educação contextualizada no campo, apresentou as seguintes respostas: Planeja a partir de um tema gerador, vinculado ao atendimento das demandas da comunidade local. Definido o tema, os professores elencam os conteúdos convencionais do bimestre e incluem temáticas no trabalho interdisciplinar. São acordados os períodos de desdobramento e de devolução, bem como as formas de interação com a comunidade e lideranças. A participação da comunidade acontece, principalmente, na realização das pesquisas e devolução das atividades desenvolvidas. A equipe escolar, visando dinamizar o processo educativo, concentra esforços na identificação de dificuldades dos estudantes em leitura, escrita, interpretação, produção de textos etc., como também no resultado das avaliações. Essas informações servem ao planejamento das atividades dentro ou fora da sala de aula, compondo a agenda de atividades semanais para a educação infantil e o ensino fundamental. A equipe planeja, além das atividades normais em sala de aula, seminários de estudos, aulas de informática no telecentro cedido pelo ITEC-AL, atividades esportivas em espaço disponibilizado por um morador e atividades da sala de leitura. Essa sala possui um acervo bibliográfico considerável, com livros do programa Arca das Letras/MDA, do PDE e doados por pessoas do município. Toda a agenda de trabalho planejada por bimestre/ ano é afixada em cartaz na sala dos professores. Anualmente são realizados dois seminários de estudo, com temáticas demandadas pela equipe escolar. Em 2014, o primeiro seminário aconteceu no dia 20 de março e tratou das temáticas: sexualidade infantil, Estatuto da Criança e do Adolescente, jogos e brincadeiras no processo de ensino/aprendizagem e indisciplina em sala de aula. A conclusão do processo também incorporou a socialização das experiências de educação contextualizada vivenciadas no Serta-Ibimirim e na escola Benjamim Felisberto, de Arapiraca. Cinco professores (Edson Rio, Alan, Rejane, Gideon e Pedro) visitaram essas instituições, sistematizaram as informações e socializaram as experiências com os demais educadores da EMAPA, denominando a apresentação de Educação Contextualizada na Perspectiva da Educação do Campo. Todo o planejamento é fundamentado no artigo 28 da LDB- Lei 9394/96, das diretrizes operacionais da educação básica do campo – DOEBEC-Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril de 2002, o PEE-AL – 2005-2015- Lei n° 144, de 15 de dezembro de 2004 e no projeto político- pedagógico da escola. Exemplos da aproximação do currículo à comunidade escolar: 1|Ao contemplar as temáticas de interesse local no planejamento da escola. Caderno1_Experiencias_arte.indd 12 25/11/2014 17:25:44 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 13 “ Os conhecimentos prévios dos educandos precisam ser levados em conta no processo de construção de saberes para que haja aprendizagem significativa, ou seja, para que os educandos agreguem valor ao que está sendo ensinado e atribuam sentido/ significado. A educação contextualizada com o campo, a meu ver, torna a escola mais viva e necessária aos alunos, dando vida e movimento aos espaços rurais, ressignificando a história da educação no/do campo.” Professora Maria Julieta da Silva 2|Na participação de pessoas da comunidade para orientar o plantio de hortaliças e árvores nativas, seguindo os princípios da agroecologia. 3|Em viagens de intercâmbio com professores, alunos, pais e outros moradores que não têm filhos na escola, na perspectiva de fortalecer os laços de amizade, a exemplo da viagem a Penedo, em 17/05/2014. 4|Ao ofertar cursos de geração de renda, arte e cultura nos finais de semana. 5|Na promoção das atividades da Caravana da Escola nas comunidades atendidas, com atividades de teatro, histórias e oficinas. As mudanças no aprendizado escolar estão relacionadas ao desenvolvimento do senso crítico dos estudantes, habilidades de leitura, escrita e produção de textos, melhor desempenho em lógica/matemática, na sistematização e comparação de dados das pesquisas e resoluções de problemas do cotidiano. A EMAPA começou a trilhar o caminho da educação contextualizada com o campo em 2004, seguindo todos os passos da metodologia do PEADS, orientada pelo SERTA. Era época de construção da proposta de educação camponesa, a PECEMEAL, uma política pública municipal para o decênio 2005-2015. Após alguns anos, as escolas de Estrela de Alagoas recuaram no desenvolvimento da PECEMEAL, mas algumas resistiram e, até hoje, continuam a trabalhar na proposta de modo espontâneo. Nessa caminhada foram feitas adaptações metodológicas na PEADS, baseadas na pesquisa, desdobramento, devolução e avaliação. A EMAPA passou a pesquisar o tema que requer maior atenção da escola, seguindo depois os demais passos da PEADS. Os temas desenvolvidos foram meio ambiente, nordestinidade, prevenção do uso do álcool e outras drogas por adolescentes, além da pesquisa sobre os saberes da nossa gente. Caderno1_Experiencias_arte.indd 13 25/11/2014 17:25:46 14 | Da contextualização à prática educativa “ O que mais gostei sobre o meio ambiente foi a construção de maquetes porque demos ideias e também a nossa boa vontade de fazer as coisas. Foi fácil porque os professores explicaram e nos ajudaram muito. Gostamos muito das aulas. A escola pode melhorar em muitas coisas, como na infraestrutura com a recuperação do muro, construção de uma área de esportes ,pintura das salas e ter uma sala para o projeto Mais Educação.” Giovana de Oliveira Silva, 11 ANOS, 7ª série EF. A temática drogas contou com a parceria da Universidade Federal de Alagoas-UFAL e constou de palestras, oficinas, exposição e conferência. No processo de estudo com os alunos, foram utilizados data show, livros, jogos, rádio escolar, pesquisas , internet, micro system , vídeos e revistas. A EMAPA acredita que o jeito tradicional não dialoga com a realidade dos estudantes, ignora totalmente o contexto em que eles vivem, além de não dar espaço para que os alunos sejam protagonistas no processo de construção de conhecimentos. Limita-os a uma cadeira, ouvindo tudo em silêncio, de preferência sem se mexer. Os conteúdos ensinados obedecem aos parâmetros urbanos, que pouco ou nada se relacionam com o campo. A EMAPA defende que o ensino na perspectiva da educação contextualizada com o campo vivencia e valoriza democraticamente os saberes dos educandos e das famílias, permite uma relação mais igualitária entre professor e aluno, estreita a relação escola e comunidade e, o mais importante, é que há uma preocupação com a educação integral das crianças e adolescentes. A escola oferece instrumentos necessários para que seus estudantes participem das lutas pela melhoria da comunidade e por seu desenvolvimento pessoal e profissional. Para avaliar o desenvolvimento da aprendizagem, a escola leva em consideração o rendimento nas avaliações, os avanços na realização das atividades de modo geral, a participação e o desempenho nas tarefas, melhorias na conduta, dedicação e esforços nos estudos, criatividade, frequência às aulas, liderança nas atividades de grupo, respeito aos professores e colegas, sensibilidade e envolvimento nas causas alheias/sociais e iniciativa na solução de problemas, ou seja, a solidariedade. Caderno1_Experiencias_arte.indd 14 25/11/2014 17:25:46 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 15 “ O destaque está na dinâmica de trabalho e na mudança na organização curricular do ensino-aprendizagem. Consideramos que a dinâmica de trabalho é voltada para a clientela cem por cento rural. A nossa preocupação é trabalhar a realidade local para que os estudantes conheçam e valorizem sua cultura. Como vantagens, aponto o conhecer e aprimorar o ensino de conteúdos mais úteis; desenvolver as potencialidade das crianças rurais como protagonistas do desenvolvimento pessoal ,familiar e comunitário. A dinâmica de ensino-aprendizagem permite maior participação, estímulo e interesse, tornando o ensino mais prazeroso. O aluno aprende observando o concreto, não perdendo de vista o universal.” “ “ Luziene Maria da Silva Coordenadora O que mais aprendi foi sobre a cultura na comunidade. Fizemos uma pesquisa para conhecer um pouco sobre a vida deles e reconhecemos que eles fazem parte da cultura. A escola precisa de pintura, ser murada e ter uma área de esportes.” Laine Tavares da Silva, 12 anos, 8ª série EF. O que mais me interessou foi o lixo como estudo do meio ambiente. Aprendi que através de atos simples de jogar um papel no chão posso prejudicar o meio ambiente. Ficou mais fácil aprender matemática, pela maneira de interação e explicação do professor.” Iara Ferreira da silva, 13 anos, 9ª EF. “ A sustentabilidade porque aprendi que devemos viver a modernidade sem agredir a natureza. Com o programa aprendi a ter mais cuidado com a lição do mesmo jeito que precisamos ter com o meio ambiente. A nossa escola precisa de uma reforma, principalmente nos banheiros, de um muro, de quadros novos e de uma biblioteca com mais livros.” Beatriz Caetano Silva de Oliveira, 14 anos, 9ª série EF. “ O projeto que me chamou atenção foi o de Leitura em evidência quando as crianças leem e escrevem. O projeto Droga foi muito intenso. A escola precisa melhorar na limpeza, ter cisterna para combater a dengue e precisa de lâmpadas nas salas de aula e consertar fechaduras.” Jadson Manoel da Silva, 13 anos, 9ª série EF. Caderno1_Experiencias_arte.indd 15 25/11/2014 17:25:48 16 | Da contextualização à prática educativa Eixo 2 Aproximando o currículo da realidade local Stefany Caderno1_Experiencias_arte.indd 16 25/11/2014 17:25:51 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 17 Experiências Igaci A Escola Municipal Cirilo Pedro da Silva, localizada na zona rural de Igaci, participa das atividades de formação da RECASA desde os primeiros tempos do projeto Fazer Valer os Direitos das Crianças e dos Adolescentes em Alagoas. A narrativa ilustra o Eixo 2 da metodologia RECASA – aproximando o currículo da realidade local - por trazer informações sobre a estratégia de atuar com a temática meio ambiente rural. Também inclui uma série de depoimentos da equipe sobre todo o processo educativo. Caderno1_Experiencias_arte.indd 17 A Escola Municipal Cirilo Pedro da Silva ressignifica o jeito de fazer Educação A Escola Municipal Cirilo Pedro da Silva, situada na zona rural, sítio de Mata Amarela, distante 12 km da sede do município de Igaci, é preocupada com a preservação ambiental e em tornar a escola um local arborizado e produtivo. O quadro de funcionários conta com dez professores e atende 194 alunos da comunidade local e das comunidades circunvizinhas nos segmentos de Educação Infantil, Ensinos Fundamental, 1º ao 8º ano. A gestora educacional é a Sr.ª Telma Souza Luz Siqueira e a coordenadora pedagógica Hercília Ribeiro de Souza Bezerra. Na semana do Meio Ambiente, realizada de 2 a 5 de junho de 2013, surgiu o programa Cuidado com o Meio Ambiente, desenvolvido com todas as turmas da escola. As atividades despertaram o interesse pela preservação ambiental, contribuindo para o ensino-aprendizagem e estimulando a integração da família e comunidade. 25/11/2014 17:25:51 18 | Da contextualização à prática educativa “ Aprendi muito sobre a sustentabilidade ambiental porque agora sei como cuidar do meio ambiente, como preservar e conheci as causas da devastação, do desperdício da água e da perda das plantas. Ontem tínhamos muitas árvores e hoje desapareceram. Para melhorar, a escola precisa de muro, banheiros, salas, cantina, telhados e pintura nova. Já os professores, coordenador, diretor, serviçais e o lanche e materiais estão em perfeito estado.” Stefany Laís dos Santos, 14 anos, 9ª série EF. O objetivo do programa Cuidado com o Meio Ambiente foi oportunizar a construção de conhecimentos para solucionar os problemas vivenciados pela comunidade escolar e seu entorno. Seguindo os princípios da educação contextualizada, adotou uma linha de pensamento baseada nos estudos de Paulo Freire. A experiência partiu da concepção de que os alunos são sujeitos de sua própria história, com foco no cotidiano dos mesmos na região semiárida e estudo das perspectivas de desenvolvimento sustentável. Com o programa foram criadas as seguintes tecnologias no espaço escolar: Horta sustentável medicinal com uso de garrafas de plástico tipo PET, para os estudantes da educação infantil e do 1º e 2º ano do ensino fundamental. Plantio de mudas frutíferas com os estudantes do 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental. Composto orgânico desenvolvido com os alunos do 6º ano do ensino fundamental. Horta com canteiro direto, com estudantes do 7º e 8º ano do ensino fundamental. Todos os grupos foram orientados por um técnico em Agroecologia e professores, em continuidade ao processo educativo que considera as ideias coletivas e proporciona transformações no ambiente educacional. Uma característica marcante do processo foi a adoção da multidisciplinaridade no estudo da temática. Cada professor/a, a partir do planejamento coletivo, construiu sua metodologia para trabalhar diversos gêneros textuais (Português), tempo de decomposição dos resíduos sólidos, gráficos e tabelas sobre altitude, fauna e flora (Matemática), Caderno1_Experiencias_arte.indd 18 25/11/2014 17:25:53 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 19 “ Uma das nossas aulas de campo aconteceu na Serra do Coité. A aula permitiu a troca de conhecimentos sobre a vegetação local, o relevo, o clima, as relações climáticas com a vegetação. A descoberta de novas plantas, o conhecimento sobre os cupins, o estágio de devastação em relação à vegetação nativa e o processo de reflorestamento animaram o grupo de estudantes e os professores e permitiram avanços na aprendizagem.” visita a uma reserva florestal para estudo do clima, tipos de vegetação, fauna e solo (Geografia e Ciências), estudo das origens da população (História), construção de maquetes , painéis, objetos e cartazes ilustrados para sistematizar os resultados da pesquisa do programa Cuidado com o Meio Ambiente (Artes). Como resultados foram identificados o aumento da participação dos alunos e professores em todas as etapas, além da identificação de lideranças, demonstração de atitudes cidadãs, todos integrados em ações que possam contribuir para o cuidado e o preparo da terra, sem agredir o meio ambiente. E um dos maiores resultados constatados foi a importância dada às diferenças entre o saber formal e popular e à metodologia contextualizada, tida como ferramenta primordial no ensino- aprendizagem dos alunos. Toda a equipe verificou que a abordagem metodológica permitiu o desenvolvimento de atitudes responsáveis com o meio ambiente, demonstrações de respeito e solidariedade e a valorização do professor como mediador e enriquecedor das atividades. A escola passou a se reconhecer como um sistema que tem por objetivos preparar o aluno para conviver com a região e apoiar o desenvolvimento de sua visão crítica como sujeito de direitos e de saberes. A escola cumpriu sua missão e obteve resultados significativos no âmbito educacional, contribuindo para a progressão do conhecimento dos estudantes como pesquisadores e protagonistas, e estimulou a realização de outras experiências. Estudantes, professores, pais de alunos e pessoas da comunidade demonstraram mais interesse e compromisso com a escola, houve aumento da assiduidade nas aulas e maior responsabilidade com as atividades, com especial interesse pelas questões ambientais. Hercília Ribeiro de Souza Bezerra. Caderno1_Experiencias_arte.indd 19 25/11/2014 17:25:53 20 | Da contextualização à prática educativa “ “ O assunto mais estudado foi a cultura na comunidade. Pesquisamos um pouco sobre a vida dos moradores e o que faziam. Foi mais fácil aprender História. E , para ser melhor, a escola precisa de muro, pintura e de área para esportes.” Laine Tavares da Silva, 12 anos, 8ª série EF As vantagens da educação contextualizada nas escolas do campo são a assimilação dos conteúdos, a partir da teoria e das relações com a própria realidade. Os desafios existem, a exemplo da necessidade de estimular o interesse dos educandos/ as pelos conteúdos.” “ O que mais me interessou foi o tema sustentabilidade porque aprendi que podemos viver sem precisar desmatar ou destruir a natureza. Aprendi muito porque agora tenho mais cuidado e responsabilidade com o meio ambiente. Mas a escola precisa de uma reforma, principalmente nos banheiros, além de um muro, quadros novos e de uma biblioteca para os alunos aprenderem mais.” Jacielma Barros dos Santos Beatriz Caetano Silva de Oliveira, 14 anos, 9ª série EF “ O importante é a busca gradativa dos conhecimentos sobre a metodologia contextualizada, a partir da orientação da coordenação pedagógica. O desafio é alcançar bons resultados e estimular o aluno a conhecer sua própria história. E a vantagem é a valorização da comunidade , a partir de temas que abordam as questões locais e do desenvolvimento de experiências inovadoras no contexto escolar. A RECASA possibilitou a visita dos universitários, o intercâmbio das comunidades, os seminários e o planejamento mensal das atividades.” O que mais gostei foi o trabalho com as maquetes sobre o meio ambiente porque integrou e houve participação de todos os alunos com ideias e tarefas. E foi fácil aprender os conteúdos de Português, Matemática, História ....porque trabalhou o modo de viver que queríamos e como estava o meio ambiente. Mas a escola precisa melhorar com espaço para educação física e pintar as paredes.” Rozimeire Pereira do Nascimento Flávio dos Santos Silva, 11 anos, 7ª série EF “ Caderno1_Experiencias_arte.indd 20 25/11/2014 17:25:53 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 21 Eixo 3 Construindo um novo fazer na educação do campo Flávia Caderno1_Experiencias_arte.indd 21 25/11/2014 17:25:53 22 | Da contextualização à prática educativa Arapiraca traz sua experiência em forma de relato, apoiado nas questões definidas com todos os participantes da RECASA. O novo fazer volta-se à comunidade e a práticas diversas sobre a vida no campo, buscando seu aperfeiçoamento e valorização. Caderno1_Experiencias_arte.indd 22 Experiência Arapiraca A equipe da Escola Municipal Benjamim Felisberto promove formações continuadas para desenvolver conhecimentos e habilidades em práticas inovadoras . As formações objetivam atender as diferentes necessidades e os ritmos de aprendizagem dos estudantes e professores/as. Sua equipe planeja a adequada utilização dos recursos didáticos e das tecnologias educacionais, de modo a favorecer o trabalho de todos no processo de contextualização para apropriação de saberes e o aperfeiçoamento da educação do campo. Apoiada na proposta da PEADS e na pedagogia de Paulo Freire, atua a partir das pesquisas sobre a realidade do aluno/a. A integração com a comunidade ocorre espontaneamente, propiciando a troca de saberes entre pais e moradores. Quando a escola realiza a devolutiva com os alunos e comunidade, realiza ações objetivas que permitem o aprofundamento coletivo sobre a temática e não apenas uma simples apresentação formal. A aproximação do currículo com a comunidade requer o respeito mútuo às diferenças dos seus habitantes. Cada comunidade é caracterizada por atividades econômicas, culturais e tradicionais. O currículo é enriquecido com fatos e acontecimentos do cotidiano e da comunidade local, e seu desenvolvimento possibilita a participação de todos os envolvidos. Um exemplo da participação foram as discussões realizadas sobre a necessidade de resgatar a cultura milenar das plantas medicinais, resultando na inserção de todas as disciplinas na contextualização. 25/11/2014 17:25:53 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 23 “ Meu projeto preferido é o Saúde Que Vem da Terra porque resgatou a cultura das plantas medicinais na escola e na nossa família. Converso com minha avó sobre as plantinhas medicinais que fazem sua farmácia viva. Aprendi a pesquisar, fazer gráficos, produzir textos, fazer contas a partir das plantações, preparar adubo sem veneno, usar as plantas medicinais para proteger das pragas, produzir livrinhos com a nossa história e muito mais.” Elizeu José dos Santos 10 anos, 5º ano A escola segue os conteúdos curriculares nacionais e o referencial curricular do município de Arapiraca; mas, a todo o momento, valoriza os conhecimentos e as práticas do cotidiano. A horta, o nosso laboratório vivo, possibilita que os alunos/as aprendam a medir os canteiros, saber quantos pés de alface se pode plantar, qual a profundidade, espaçamento, qual a época melhor para o plantio etc. Desse modo vivenciam uma infinidade de situações onde se pode trabalhar a interdisciplinaridade de forma prazerosa. Os estudantes aprendem sobre a preparação da terra para o plantio, a colheita, características das plantas medicinais, formas de organizar uma horta, como produzir mudas, construir um fogão solar, cuidados com os animais, preservação e uso da água e vários outros assuntos do cotidiano comunitário. Todas as temáticas são desdobradas em estudos específicos das disciplinas, uma forma concreta de promover a interdisciplinaridade e também a interdimensionalidade, considerando que não se trata apenas de ensinar disciplinas, mas de ensinar valores, estimular atitudes solidárias, alimentar a autoestima. O novo fazer da escola se traduz no estudo aprofundado das plantas medicinais da região e no acompanhamento da produção de remédios caseiros, realizados no laboratório do Centro de Apoio às Escolas de Campo, em parceria com a prefeitura e CODEVASF e o apoio de outras instituições. Os produtos - xarope de Guaco, pomada de Confrei e repelente de Citronella - são distribuídos às famílias e escolas. Caderno1_Experiencias_arte.indd 23 25/11/2014 17:25:54 24 | Da contextualização à prática educativa “ Pouco a pouco, as inovações do projeto político-pedagógico e sua contextualização com o referencial curricular de Arapiraca adquiriram consistência, transformando a dinâmica da escola. O envolvimento com a RECASA fortaleceu toda a comunidade escolar. A escola e RECASA falam a mesma língua, o que estimula a novas aprendizagens e nos faz acreditar numa verdadeira educação do campo, com respeito às especificidades dos nossos meninos e meninas do campo ”. A grande diferença entre o fazer a partir da realidade comunitária e do cotidiano do estudante e o jeito tradicional de ensino está na capacidade de enriquecer o currículo baseado numa concepção de construção social. Os conteúdos são concretos e não abstratos. Têm sentido e são enriquecidos com fatos e acontecimentos. As práticas de análise dos resultados de aprendizagem, avanços e dificuldades enfrentados pelos alunos/as e professores/as, são realizadas de forma coletiva e permitem a troca de experiências, tendo como objetivo a melhoria contínua do rendimento escolar. Um resultado é que a Benjamim Felisberto da Silva apresenta um IDEB-Índice de Desenvolvimento da Educação Básica superior às demais escolas de Arapiraca. Essas experiências precisam ser disseminadas e reconhecidas em sua plenitude e diversidade, buscando superar a fragmentação e o seu isolamento para que possam alcançar um grau de institucionalização e de articulação, na perspectiva de contribuir com a política educacional municipal e possibilitar a reconstrução do projeto político-pedagógico das escolas do campo. Edinalva Pinheiro dos Santos Oliveira, Coordenadora Caderno1_Experiencias_arte.indd 24 25/11/2014 17:25:54 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 25 Eixo 4 Avaliação Igor Silva de Oliveira Caderno1_Experiencias_arte.indd 25 25/11/2014 17:25:58 26 | Da contextualização à prática educativa A comunidade escolar selecionada pela RECASA para representar Palmeira dos Índios foi a da Escola Municipal Mary Sampaio Caparica. A coordenação, os professores e os estudantes participaram da sondagem de opiniões sobre as questões ligadas aos 4 eixos de trabalho da proposta de educação contextualizada no campo, conforme decidido pelos membros da rede. A característica maior do grupo está no eixo avaliação, como demonstram as respostas a seguir. Caderno1_Experiencias_arte.indd 26 Palmeira dos Índios A escola Mary Sampaio Caparica planeja a partir de diversas interações com a comunidade (reuniões de pais, pesquisas de campo utilizando questionários elaborados pelos professores, aulas de campo etc.) e consolida as experiências da equipe escolar em reuniões frequentes que visam a identificação das descobertas de ensino-aprendizagem e do atendimento direto aos estudantes e pais. Além disso, o planejamento segue as disposições legais para estudo de metas e construção da proposta pedagógica. As pesquisas na comunidade são contínuas, constando de entrevistas com moradores para identificação de problemas que interferem na vida das pessoas e observações em visitas de campo. Os resultados são utilizados em sala de aula. Exemplos de temáticas para aplicação do currículo contextualizado são o projeto de preservação do rio Coruripe, as gincanas para coletar doações, como a destinada ao conserto de bomba d’água; a contribuição de morador para uso da água para a horta; estudo sobre os agrotóxicos, perigos que afetam a saúde das pessoas e plantações; estudo sobre o solo, entre outros. Como resultados de todo o processo, são percebidas mudanças na aprendizagem escolar. Há demonstrações de novos comportamentos sobre a vida no campo, maiores cuidados com o meio ambiente, questionamentos sobre necessidades de melhorias nas condições de vida e demonstração de interesse pela história da comunidade e da cidade onde vivem. Como os projetos interdisciplinares são a característica maior da educação contextualizada, a escola realiza encontros pedagógicos com os professores e pesquisas sobre 25/11/2014 17:25:58 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 27 “ O que mais me chamou atenção foi o projeto Escola Sustentável. Foi mais fácil estudar as disciplinas porque ficou mais interessante e as pessoas foram conscientizadas sobre o mal que fazem ao meio ambiente. A escola precisa melhorar no tratamento do lixo, ensinando aos alunos a jogar o lixo no lugar certo.” Igor Silva de Oliveira, 11 anos, 6ª A EF temáticas que integram diversas disciplinas. Os projetos são implementados por meio de inúmeras atividades na sala de aula e na comunidade. Como apoio pedagógico, são utilizados os materiais didáticos dirigidos aos alunos do 1° ao 5° livros da Educação do Campo, além de jogos, gincanas, prática de horta, estudo do percurso das aulas de campo, maquetes, mapas falantes. Para a equipe escolar, a diferença entre o ensino baseado na educação contextualizada e o tradicional está na vivência dos alunos nas suas comunidades, na procura de identificação dos anseios das pessoas por mudanças e no conhecimento delas sobre o potencial que possuem para mudar a realidade. Ao contrário do jeito tradicional de estudo que distancia os alunos da realidade. A Mary Sampaio Caparica avalia o desenvolvimento da aprendizagem por um contínuo processo de observação das atitudes no dia a dia, graus de apreensão de conhecimentos e participação nas atividades. Uma característica da avaliação é a discussão com os estudantes sobre o uso do patrimônio escolar (cadeiras, quadros, laboratório, quadra etc.) e sua conservação. Há um acompanhamento compartilhado da preservação de cada sala e dos espaços abertos, observação das atitudes com o lixo, limpeza dos ambientes e organização geral. O debate provocou mudanças nas atitudes, resultando em maiores cuidados com as hortas e jardins suspensos, construídos pelos estudantes com materiais reutilizados. O coletivo da escola também planejou novos usos para objetos de madeira com defeitos (grades, portas e janelas). Como evidência do novo fazer na escola, a comunidade aumentou sua participação, estimulou novas parcerias e provocou ações coletivas para melhorias de espaços públicos e da escola. Caderno1_Experiencias_arte.indd 27 25/11/2014 17:25:58 28 | Da contextualização à prática educativa “ O que destaco na dinâmica do planejamento é a maior preocupação dos professores com os conteúdos, suas adaptações e participação dos estudantes em todo o processo de aprendizagem. Os desafios do trabalho pedagógico de um currículo contextualizado estão vinculados à compreensão da contribuição da metodologia para aumento da aprendizagem. A maior participação, a possibilidade de opinar, de trazer resultados e de integração de todos são mudanças evidentes. E a RECASA nos fortalece nas ações do dia a dia e contribui para as mudanças em todo o processo.” Eunícia de Fátima Gonçalves Coordenadora Caderno1_Experiencias_arte.indd 28 “A reciclagem foi o melhor tema. Aprendi o que é bom para o nosso planeta porque o projeto das disciplinas facilitou a nossa aprendizagem. E a escola deveria trabalhar mais a reciclagem.” Alberto Silva da Costa, 11 anos, 5ª série EF “O melhor projeto foi o de reciclagem. Os professores foram muito eficientes e deram aulas mais dinâmicas e todos aprenderam. A escola precisa reciclar mais, utilizar material reciclável nas aulas e fazer mais para ajudar o rio Coruripe.” Luana Sampaio Nunes da Silva “O que mais me chamou a atenção foi o projeto de recuperação da nascente do rio Coruripe porque as aulas ficaram mais dinâmicas. A escola precisa trabalhar conteúdos que favoreçam a conscientização dos alunos e suas famílias sobre a importância do rio Coruripe.” José Antônio N. da Silva “A dinâmica da educação contextualizada permite que o ensino tenha um significado tanto para os professores como para os alunos. O resultado maior está nas ações do dia a dia. A vantagem é reconhecer que esse aprendizado conduz a um futuro melhor, com desafios constantes na busca de novos caminhos. Há mudanças na forma de pensar e agir de todos da escola. A RECASA estimula leituras sobre a realidade que contribuem para as práticas contextualizadas.” Welber Angelo de Araújo | Professor “O que destaco na dinâmica do planejamento são as atividades pedagógicas inseridas nas vivências dos alunos. Todos da escola percebem a aprendizagem através das ações. As mudanças no trabalho pedagógico são visíveis nas atitudes e atos da comunidade escolar. A RECASA contribui para a mudança de posturas, no planejamento das atividades pedagógicas e na convivência com todos da comunidade escolar.” Elba Siqueira Gomes | Professora 25/11/2014 17:25:59 Experiências da RECASA em municípios Alagoanos | 29 Agradecimentos A coordenação colegiada da rede agradece primeiramente aos educadores e educadoras que assiduamente participaram de todo processo de formação, mobilizando-se com a comunidade local, organizações sociais e poder público para implantar uma proposta de educação desafiadora para a região. Às organizações da sociedade civil organizada, em especial a Associação de Agricultores Alternativos – AAGRA e Movimento Pró Desenvolvimento Comunitário – MPDC que tem conduzido de forma persistente os trabalhos em rede. Às organizações parceiras como o UNICEF e o Projeto Fazer Valer os Direitos das Crianças e Adolescentes em Alagoas, Visão Mundial, UFAL, UNEAL, RESAB e o SERTA que contribuíram com o processo de formação da rede, construindo uma nova perspectiva de educação para o semiárido. Às prefeituras e secretarias de educação e agricultura dos municípios do Território Agreste que acreditaram no trabalho da rede e investiram na formação do quadro técnico e suas iniciativas no ambiente escolar e comunitário. Ao Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA que aportou recursos que fortaleceram a rede e sua proposta de intervenção no Território através do Colegiado de Desenvolvimento Territorial. Caderno1_Experiencias_arte.indd 29 25/11/2014 17:25:59 Caderno1_Experiencias_arte.indd 30 25/11/2014 17:26:00