À ConQuista Do euro 2012
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À ConQuista Do euro 2012
1 EDITORIAL “Não nos iludamos: a dignidade da profissão de futebolista depende de todos. De ti também. Não fiques de fora da nossa equipa” Joaquim Evangelista Presidente do SJPF “O futebol sou eu” É celebérrima a velha frase de Luís XIV “L`État c`est moi”. A história demonstrou quão falível e irrealista foi – e é – este caminho. Joaquim Evangelista, Presidente da Direcção Áreas de Intervenção Assessoria Jurídica e Fiscal Formação e Qualificação Profissional Protecção Social e Seguros Defesa da Saúde Fundo de Solidariedade Social Estágio do Jogador Football Jobs - O Portal do Emprego Futebol Feminino, Futsal e Futebol de Praia Acordos e Benefícios Há , no entanto, quem pretenda fazer renascer estas ideias arrogando-se o direito absoluto de tudo saber. O presidente demissionário da União Desportiva de Leiria, Futebol SAD, à boleia do senhor presidente da Liga, regressou às primeiras páginas do futebol nacional e internacional pelas piores razões. Confrontado, mais uma vez, com o incumprimento salarial, em vez de assumir as suas responsabilidades, quis vitimar-se usando de todos os truques e envolvendo toda a gente, criando um clima de suspeição e intriga inaceitável. A realidade da União de Leiria SAD é, infelizmente, conhecida de todos. O que agora sucedeu é o epílogo de uma gestão danosa. De costas voltadas para a cidade, perdeu o estádio, perdeu os adeptos, perdeu os treinadores e, finalmente, perdeu os jogadores. FC Porto, Estoril e 1.º Dezembro Parabéns pela vitória nos respectivos campeonatos. 2 João Bartolomeu é um homem só. João Bartolomeu é a Leiria SAD e a Leiria SAD é João Bartolomeu. Em síntese conclusiva poder-se-á dizer que ao contrário de João Bartolomeu, Leiria e o seu clube/SAD merecem, salvo melhor opinião, integrar o futebol no seu todo. Salários em atraso O incumprimento salarial é, infelizmente, um flagelo que atinge recorrentemente o futebol português. Na verdade, sem esquecer as ocorridas em anos anteriores, a situação vivida pelos jogadores da União Desportiva de Leiria, Futebol SAD - salários em atraso desde Novembro e a consequente rescisão colectiva – afecta irreparavelmente a credibilidade do futebol português no plano nacional e internacional. Ora, tudo isto não pode deixar ninguém indiferente. Portugal no Euro 2012 O Europeu está à porta. Portugal está com a sua Selecção. 03 O SJPF tem vindo, ano após ano, a tomar posição inequívoca contra o drama do incumprimento salarial em diversos clubes/ SAD’s, alertando para as consequências que, em várias vertentes, daí resultam, nomeadamente para o jogador – no plano pessoal e familiar – para as competições – integridade e verdade desportiva – e para o futebol. Face ao exposto, impõe-se mobilizar todos os agentes. Paralelamente, importa alertar as entidades competentes no plano nacional – Comissão Parlamentar da Educação, Cultura, Ciência, Desporto e Juventude, Conselho Nacional do Desporto, Federação Portuguesa de Futebol, Liga Portuguesa de Futebol Profissional - e internacional – FIFA, FIFPro, UEFA, EPFL, ECA – para a necessidade de conjugar esforços nesta matéria. João Bartolomeu Leira merece mais e melhor. memória HUGO VIANA “ Era bom discutir por que é que os clubes grandes em Portugal não contratam mais portugueses ASF - Agência de Serviços Fotográficos - [email protected], Imagens que fazem história ” Edição e propriedade SJPF, Rua Nova do Almada, nº 11 3º Drt., 1200-288 Lisboa www.sjpf.pt | [email protected] T: 213 219 590 | f: 213 431 061 Dossier: Incumprimento salarial P.16 Euro 2012: À conquista do campeonato da europa P.34 Prémios SJPF Março e Abril P.37 Hernâni, Miguel Arcanjo e Barbosa Director Joaquim Evangelista Director adjunto Vitor Crisóstomo Redacção Tiago Abreu Design Bruno Teixeira, M&M Design Paginação Bruno Teixeira Fotografia Bruno Teixeira, ASF, Lusa Colaboradores Gustavo Pires, José Neto e Manuel Sérgio Especial 40.º aniversário: Artur Jorge, Agostinho Oliveira, José Eduardo e Pedro Gomes P.48 As Nossas Internacionais: Edite Fernandes P.56 P.65 3 Editorial 4 Índice 5 Memória: Hernâni, Miguel Arcanjo e Barbosa 6 Zoom: FC Porto bicampeão nacional 10 Entrevista: Hugo Viana 16 Dossier: Incumprimento salarial 25 Gabinete Jurídico 26 Notícias 30 Opinião: Manuel Sérgio 30 Opinião: Gustavo Pires 32 Glórias: António Sousa 34 Euro 2012 36 Onze Remates: Nuno Santos (Sp. Covilhã) e Pacheco (St. Clara) 37 Prémios SJPF: Março e Abril 48 Especial 40.º aniversário: Artur Jorge, Agostinho Oliveira, José Eduardo e Pedro Gomes 56 As Nossas Internacionais: Edite Fernandes 58 1.º Dezembro campeão 59 Clipping 60 Lazer 65 O Meu Estádio: Carlos Carneiro 66 Regresso à infância: Bock Lazer: Mercedes-Benz SL 65 AMG membro P.60 Impressão Light Ideas, Lda. Tiragem 2000 Exemplares Dep. Legal 256825/07 O MEU ESTÁDIO: Carlos Carneiro 04 Faixas de campeão ostentadas pelos jogadores do FC Porto na sequência de campeonato ganho pelos “dragões” na já muito longínqua década de cinquenta. Em 1955/56, após 15 anos de jejum, o FC Porto sagrou-se campeão nacional (nessa época ganhou ainda a sua primeira Taça de Portugal). O brasileiro Yustrich foi o timoneiro do sucesso. Duas temporadas depois, em 1958/59, já com Bella Guttman como treinador, os portistas voltaram a celebrar a conquista do título. Hernâni, Miguel Arcanjo e Barbosa, entre outros, contribuíram de forma decisiva para esses triunfos. 05 zoom FC Porto bicampeão nacional Estavam as hostes portistas num tranquilo descanso quando foram “obrigadas” pelo Benfica – empatou com o Rio Ave, em Vila do Conde – a vir para a rua celebrar a conquista do 26.º título de campeão nacional. De imediato, milhares de adeptos do FC Porto rumaram em direcção à Avenida dos Aliados para dar vivas aos bicampeões mas a grande festa estava marcada para o exterior do Estádio do Dragão. A partir do varandim do recinto, os jogadores celebraram o feito e agradeceram aos adeptos o seu incondicional apoio. A festa continuou no relvado uma semana depois... Fotografia: Lusa 6 7 zoom Do varandim para o relvado Os jogadores e adeptos portistas não perderam a oportunidade de celebrarem a conquista do Campeonato no Estádio do Dragão. Pintados a rigor, receberam aTaça antes do jogo com o Sporting (2-0) e rejubilaram após o final do desafio. Parabéns FC Porto! 8 9 ENTREVISTA HUGO VIANA Gostava muito de ir ao Euro “ ” Após uma passagem algo infeliz pela liga espanhola, Hugo Viana escolheu o Sporting de Braga para relançar a sua carreira. E apostou bem. Aos 29 anos, é unanimemente considerado um dos melhores jogadores do campeonato português. Presente nas fases finais dos mundiais de 2002 e 2006, o médio ambiciona regressar à Selecção e estar no Euro 2012. Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: Bruno Teixeira Há 10 épocas, em 2001/02, sagrou-se campeão nacional pelo Sporting. Que balanço faz destes 10 anos? Um balanço muito positivo. É certo que durante estes 10 anos nem todas as coisas foram boas mas no global o balanço é positivo. Penso que no futebol, como em quase tudo na vida, a última imagem é que fica e acho que os últimos anos foram bastante positivos para mim. Mas não esqueço o passado. Tive duas pré-épocas no Valência onde fui colocado à parte, a treinar sozinho, e não contava para o clube. Foram anos difíceis. Com o passar dos anos, alterou a sua forma de jogar? Com a experiência melhora-se e altera-se um pouco a forma de jogar. Ao longo da carreira trabalhamos com treinadores diferentes e aprende-se um pouco com todos eles. Com o passar dos anos a experiência e o saber ficam mais refinados. Há alguns anos não pensava o 10 jogo tão tacticamente como o faço agora. No Sporting, no Newcastle e agora no Sp. Braga joga com o número 45. Por alguma razão em especial? Não, sempre tentei ter o mesmo número. No Valência e no Osasuna não estava disponível. Comecei com o 45 e gostava de acabar com esse número. Quando ingressou no Sp. Braga pediu o 45? Sim, foi “uma exigência” que fiz. 011 ENTREVISTA “ Com o passar dos anos a experiência e o saber ficam mais refinados. Há alguns anos não pensava o jogo tão tacticamente como o faço agora. O Sp. Braga foi o clube ideal para relançar a sua carreira após as épocas que jogou em Espanha? Neste momento posso dizer que sim mas também foi um passo arriscado para mim, não por ser o Sp. Braga clube, porque sabia que o próximo clube, após ter estado duas épocas no Valência com utilidade abaixo do normal, seria sempre um risco. Foi o Sp. Braga e sabia que o clube tinha todas as condições para eu relançar a minha carreira. Pode dizer-se que foi uma aposta ganha? Sim, foi a escolha mais acertada e não tive qualquer problema quando rescindi o contrato com o Valência e assinei pelo Braga. Assinei por três anos por saber também que o Braga é um grande de Portugal. Nota-se que o Sp. Braga está a crescer de ano para ano. Os jogadores têm a noção de que os adversários já olham para o Sp. Braga de maneira diferente? Nos últimos anos, o Braga tem feito coisas importantes e o jogo que demonstra é de equipa grande. Vai a qualquer campo sem receio e sem olhar com tanto “respeito” como fazia antigamente. Notamos ainda que as equipas que defrontam o Braga já não o fazem tão abertamente como no passado. Isso dificulta-nos em campo mas também é sinal de que o clube ” tem crescido e que já nos olham de maneira diferente. Independentemente da posição em que o Sp. Braga terminar a Liga, pode considerarse a época positiva? Sim, a época foi extremamente positiva. No clube bracarense foi treinado por Domingos Paciência e agora por Leonardo Jardim. Quais as principais diferenças entre os dois? São dois excelentes treinadores. O Domingos teve dois anos fabulosos – um segundo e um quarto lugares no campeonato e uma presença na final da Liga Europa – e ficará, juntamente com os jogadores, na história do clube. Espero que o mister Leonardo Jardim consiga ganhar algum título com o Braga e assim fazer ainda melhor do que o seu antecessor. Para mim, neste momento, Leonardo Jardim é, como foi o Domingos no seu tempo, o melhor treinador e os nossos jogadores são também os melhores. Espero que a próxima época seja importante para o treinador e para os jogadores. A derrota na final da Liga Europa frente ao FC Porto foi um momento difícil de superar? É um lugar-comum dizer-se que as finais não se jogam, ganham-se. Perder foi duro mas foi extremamente positivo termos lá chegado. Foi 12 uma época muito desgastante fisicamente porque tivemos que ganhar muitos pontos às outras equipas no campeonato e tivemos uma segunda volta brilhante, além de que ainda atingimos uma final europeia. Para nós, para o clube e para os adeptos foi excepcional. Perder a final não manchou a campanha que realizámos. Como é que digeriu a derrota? Uma derrota é sempre difícil de digerir. Quando perco custa-me a adormecer. Uma final é um pouco diferente porque sabíamos que se tivéssemos ganho iriamos ficar na história do clube, embora tenhamos ficado na mesma na por termos lá chegado. Se tivéssemos ganho a marca seria ainda maior. Volta a falar-se numa possível transferência para o estrangeiro. Tem espírito de emigrante? Não sei… fui para o estrangeiro muito novo – 19 anos – e voltaria a fazer a mesma coisa. Neste momento não me estou a ver a emigrar de novo mas na vida nunca podemos dizer nunca digas nunca. Tenho mais um ano de contrato com o Braga e não penso nesse assunto. Gostou mais da liga inglesa ou da espanhola? É difícil de escolher porque ambas são espectaculares. São diferentes mas talvez pelo “ Não vou ser hipócrita… o impacto do incumprimento num clube como o Valência é diferente daquele que se verifica num clube mais pequeno. respeito e pelo carinho que os adeptos têm pelos jogadores, se tivesse de escolher seria a inglesa. Em Portugal, todos os anos se fala de salários em atraso. Acontece o mesmo em Espanha e Inglaterra? No Valência cheguei a ter dois, três meses de salários em atraso. Mas embora isso por vezes aconteça e seja complicado, em clubes dessa dimensão, não sentimos tanto. Se olharmos para os clubes mais pequenos é muito mais difícil para estes do que para os clubes grandes. Se então me ” tivessem perguntado se acreditava que o Valência chegaria a essa situação eu diria que não. Mas chegou. É uma situação mais complicada para o clube do que para nós porque até aquele momento os salários estiveram sempre em dia. Não vou ser hipócrita… o impacto do incumprimento num clube como o Valência é diferente daquele que se verifica num clube mais pequeno. Nesses campeonatos é exigido mais aos jogadores estrangeiros do que em Portugal? Em Portugal é o contrário. O jogador estrangeiro 13 tem mais tempo para tudo e o português não tem tempo para nada. Acho ridículo o que muitos clubes portugueses fazem ao jogador português. Por exemplo, não compreendo que jogadores titulares da Selecção Nacional como o Carlos Martins ou o Hélder Postiga tenham de emigrar. Hélder Postiga foi titular em 70 ou 80 por cento dos jogos da fase de qualificação para o Euro e, apesar disso, para a maioria das pessoas a sua transferência era mais bem-vista do que a sua permanência. Tanto o Carlos Martins ENTREVISTA “ Uma derrota é sempre difícil de digerir. Quando perco custa-me a adormecer. como o Hélder Postiga foram para clubes espanhóis que lutam para não descer de divisão. Estamos a falar de jogadores titulares da Selecção, “obrigados” pelos adeptos a atingir uma final europeia, mas que ao mesmo tempo são “escorraçados” de clubes grandes. Não vejo o porquê, nem compreendo o facto de isso acontecer. Mas está à vista de todos. O Benfica não tem portugueses na equipa titular, o Sporting tem dois no onze base e o FC Porto é igual. Lá fora é diferente. O Real Madrid tem quatro/ cinco espanhóis na equipa base, o Barcelona está cheio de espanhóis. Era bom discutir por que é que os clubes grandes em Portugal não contratam mais portugueses. Marcou sempre mais golos em Portugal do que em Inglaterra ou em Espanha. É mais fácil jogar em Portugal? Não, claro que não, essencialmente penso que a principal razão se deve ao tempo de utilização que tive em Portugal e no estrangeiro. É considerado um dos melhores jogadores da Primeira Liga. Não acha que merecia ser convocado para o Euro 2012? Gostava muito de ir ao Euro. Se eu fosse responsável pela convocatória eu estaria na lista mas sempre respeitarei as opções, neste caso específico do seleccionador Paulo Bento. Se não for convocado sentir-se-á 14 ” injustiçado? Não. Só podem ser 23 convocados. Resta-me esperar pela convocatória. Foi colega de Paulo Bento no Sporting. Sempre tiveram uma boa relação? Sim, há pouco tempo cruzámo-nos num evento desportivo e estivemos a falar. Nunca tivemos, ou haverá, qualquer tipo de problema entre nós. Uma coisa é certa, nunca serei treinador porque imagino que o papel do treinador seja muito difícil e na hora de escolher seja muito complicado. Por isso, para Paulo Bento não será diferente. Está convicto de que nunca será treinador? Não me sinto com vontade para vir a ser treinador. Neste momento não vejo o meu futuro ligado ao futebol mas daqui a uns anos não se sabe. Já esteve presente em fases finais de mundiais. No Euro 2012, Portugal ficou num grupo com Alemanha, Dinamarca e Holanda. Esse grau de dificuldade motiva ou amedronta um jogador? O estar presente no Europeu já é uma motivação enorme. Portugal ficou num grupo complicado mas as outras equipas estarão a pensar o mesmo de Portugal. Nos últimos anos, a Selecção Nacional tem estado quase sempre bem em fases finais de europeus e mundiais e acho que neste momento, com a equipa e o treinador que Portugal tem, há razões para estarmos ao lado da Selecção. Devemos estar optimistas. 15 No Euro, Portugal precisa de um grupo de guerreiros? Sim, esses jogos não se decidem só pela técnica ou pela qualidade dos jogadores. São jogos que se definem em lances de bola parada e em pormenores importantes como a questão física. Portugal tem uma equipa tão bem preparada em qualidade técnica como ao nível do confronto físico se isso for necessário. “ Em Portugal, o jogador estrangeiro tem mais tempo para tudo e o português não tem tempo para nada. ” Hugo Miguel Ferreira Gomes Viana 15/01/1983 (29 anos) Naturalidade: Barcelos Posição: Médio Camisola nº: 45 Clubes: Sporting, Newcastle, Valência, Osasuna e Sporting de Braga Títulos: 1 liga portuguesa 1 Taça de Portugal (ambas em 2001/02) Internacional por Portugal dossier Incumprimento salarial Um flagelo que atinge o futebol português A temporada 2011/2012, no que ao incumprimento salarial diz respeito, não pode deixar ninguém indiferente. Na verdade, sem esquecer as ocorridas em anos anteriores, a situação vivida pelos jogadores do União Desportiva de Leiria, Futebol SAD - salários em atraso desde Novembro, consequente rescisão colectiva e a realização de um jogo com 8 jogadores - afecta irreparavelmente a credibilidade do futebol português no plano nacional e internacional. O SJPF tem vindo, ano após ano, a tomar posição inequívoca contra o drama do incumprimento salarial em diversos clubes/SAD’s, alertando para as consequências que, em várias vertentes, daí resultam. Na verdade, e em primeiro lugar, está em causa o direito ao salário - suporte económico do trabalhador e da sua família constitucionalmente consagrado. Releva, por outro lado, o respeito integral pela verdade desportiva posto em causa quando uns 16 cumprem e outros não tirando os últimos vantagens ilegítimas do incumprimento. Quanto ao primeiro aspecto, além da privação do salário, em si mesma jurídica e eticamente reprovável, acresce a ofensa à dignidade do trabalhador, quer em termos estritamente profissionais, quer, sobretudo, no que toca à sua dignidade e independência sob a óptica sócio-familiar. Com efeito, o jogador tem o dever de trabalhar e fá-lo com empenho e profissionalismo mas não lhe é conferido o direito à correspondente retribuição. Acresce que esta situação deixou de ser vista como um episódio esporádico, conjuntural, para se tornar permanente, estrutural. Isto deve-se, não apenas a uma atitude negligente, mas sobretudo, à ausência de um modelo de licenciamento capaz de fiscalizar e sancionar adequadamente os actos de má gestão dos clubes. Na vertente desportiva não cumprir implica, como se disse, tirar proveito. Na verdade, uma competição onde impera a concorrência desleal está intrinsecamente ferida de credibilidade porque põe em causa os princípios da igualdade de participação e da verdade desportiva. O Sindicato, está insatisfeito e 17 procuranda colocar o assunto na agenda desportiva. Para tanto solicitou uma audiência na Assembleia da República com a Comissão Parlamentar de Educação e Desporto; lançou a Petição Contra os Ordenados em Atraso no Futebol Português e preconizou soluções. Agora é tempo de agir. dossier Glossário da crise Afinal, o que está em causa? Ao longo do “processo União de Leiria SAD”, houve quem pretendesse justificar os seus actos lançado ruído e criando um clima de suspeição. Importa, por isso, recordar o essencial: os jogadores privados do seu salário (4 meses) e com o presidente demissionário exerceram um direito: a rescisão do contrato de trabalho desportivo; o Sindicato actuou quando foi chamado; e ao mesmo tempo lançou propostas para o futuro. A ver: Incumprimento Infelizmente o incumprimento salarial é um problema recorrente no futebol português. Neste final de época, cerca de “80 por cento dos clubes tinham ordenados em atraso.” diz Joaquim Evangelista. Em Portugal a banalização do incumprimento leva a que muitos clubes não assumam a situação ilegal em que vivem. Mas a lei é clara: o clube tem de pagar o ordenado até ao dia 5 do mês seguinte à prestação do trabalho. Esta temporada, foram públicas as situações graves da União de Leiria, Vitória de Setúbal, Vitória de Guimarães, Leixões, União da Madeira, etc... Fundo de garantia salarial Criado em 1998, com uma verba inicial de 100 mil euros disponibilizada pelo Sindicato dos Jogadores (A Liga e a Federação entrariam cada um também com 100 mil euros), este fundo foi constituído para fazer face ao problema do Estrela da Amadora. Hoje, como é do conhecimento geral, depois dos problemas verificados em vários clubes ao longo dos anos (Belenenses, Setúbal, Estoril, Rio Maior, Atlético de Valdevez,), está praticamente esgotado e necessita de ser reforçado – o Sindicato dos Jogadores já o propôs à Liga. O Sindicato propôs mais: a criação de um Fundo semelhante ao espanhol, da responsabilidade da Liga e gerido pela LPFP e o SJPF. João Bartolomeu É o presidente da União Desportiva de Leiria, Futebol SAD. Principal acionista, é também um presidente demissionário. A sua intervenção pública foi marcada por declarações polémicas e contraditórias envolvendo tudo e todos num clima de suspeição e intriga surpreendentes. “João Bartolomeu é um homem só. João Bartolomeu é o Leiria SAD e o Leiria SAD é João Bartolomeu. Leira merecia mais e melhor”, diz Joaquim Evangelista. Licenciamento (actual) Segundo o actual modelo de licenciamento aplicado pela Liga, o organismo faz dois controlos salariais aos clubes, o último em Novembro. Ao longo do “processo União de Leiria”, a Liga chegou a emitir um comunicado a garantir “que não havia salários em atraso na I e II Ligas”. Ora, o contrário é uma evidência. E isto significa que o actual modelo de licenciamento é um falhanço. Licenciamento (futuro) O Sindicato dos Jogadores defende um órgão de licenciamento numa entidade externa e independente, composto por elementos da Liga, Federação e Sindicato. A Liga, enquanto entidade patronal e, como tal, parte interessada e não pode fiscalizar-se a si própria. Mário Figueiredo É o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. É o homem do momento. O homem providencial 18 que descobriu as soluções para o futebol português. Quando se perspectivava um diálogo social participado, refém de promessas eleitorais, o presidente da Liga consegue de uma assentada dividir, clubes, Federação e Sindicato. Rescisão colectiva Os salários em atraso ( 3 e 4 meses) foram o fundamento invocado pelos jogadores para a rescisão unilateral. Sindicato O Sindicato acompanhou, acompanha e acompanhará sempre os jogadores de futebol, quer no plano humano, jurídico ou material. Politicamente preconiza as as soluções para erradicar o problema e na prática está sempre, em concordância com os jogadores, onde é chamado a intervir. União de Leiria SAD Infelizmente é um caso recorrente ao nível dos ordenados em atraso. Clube afastado da sua cidade, perdeu quatro treinadores e perdeu os jogadores. Depois das rescisões de Jô, Obradovic, Luís Leal e Hugo Alcantâra, 16 jogadores fizeram a rescisão colectiva. “Não é a primeira época que temos ordenados em atraso, mas é a primeira em que nos sentimos abandonados; estamos sozinhos, ninguém aparece, o presidente está demissionário, já houve jogadores que enviaram as famílias para os seus países...”, 19 explicou o capitão Marco Soares. Verdade desportiva Na jornada 28 da Liga, a União de Leiria SAD entrou em campo apenas com oito jogadores num jogo de má memória para o futebol português. Este episódio colocou em causa a integridade das competições e a verdade desportiva. dossier Rescisão colectiva Decisão histórica em Leiria O plantel da União de Leiria assumiu uma posição histórica, no dia 28 de Abril. 16 jogadores avançaram com um processo de rescisão colectiva, respondendo dessa forma ao incumprimento salarial por parte do clube (a caminho dos cinco meses de atraso) e à indiferença do futebol em geral, nomeadamente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Os futebolistas assumiram os seus direitos. Perceba todo o processo: 16 de Abril Depois dos contactos frustrados nos últimos meses e da ausência de qualquer acompanhamento por parte da direcção da SAD, para resolver o problema dos ordenados em atraso, nomeadamente nos casos mais dramáticos, os jogadores leirienses pedem ajuda ao Sindicato dos Jogadores e reúnem-se neste dia com o presidente Joaquim Evangelista. “Mandatamos o Sindicato para negociar uma solução junto da SAD e da Liga. Se dentro de uma semana não houver soluções para resolver a situação de incumprimento, então tomaremos novas medidas”. Os jogadores tinham equacionado avançar para a greve, mas essa decisão acabou por ser adiada na expectativa de uma solução. 23 de Abril Passada uma semana, e apesar dos contactos formais entre Joaquim Evangelista, Mário Figueiredo e João Bartolomeu, o incumprimento manteve-se e os jogadores solicitaram nova reunião, desta vez na Marinha Grande. Face ao impasse a vontade dos jogadores foi soberana: o plantel decidiu avançar com um pré-aviso de greve, que se aplicava a cada um dos três jogos que faltavam disputar no campeonato, caso não fossem pagos pelo menos três meses de ordenados em falta. Nesta altura, recorde-se, já havia jogadores a caminho dos cinco meses em atraso. A notícia do pré-aviso de greve teve um forte impacto. Os jogadores chegaram a ser alvo de pressão e houve dirigentes da SAD leiriense que vieram sugerir que estavam a faltar às suas obrigações. Mais foram ameaçados de que só receberiam se evitassem a despromoção. 27 de Abril Apesar das reuniões com a Liga e o Clube não houve resposta para os problemas dos jogadores que, desta forma, se viram obrigados a tomar uma posição definitiva: 16 futebolistas entregaram o pedido rescisão colectiva. 29 de Abril O União de Leiria-Feirense disputa-se com a equipa da casa a apresentar apenas 8 jogadores e a perder por 4-0. 20 21 dossier Hugo Alcântara O último salário que recebi “ recebi foi o de Novembro. Pagaram o mês de Dezembro a alguns jogadores, mas eu fiquei entre aqueles que não o receberam, o que desde logo demonstra a forma como actuou a administração da SAD. Não sentiu apoio por parte da administração? Falei várias vezes com o presidente, que me prometeu pagar esse mês de Dezembro, para conseguir suportar algumas despesas urgentes, mas depois não cumpriu a palavra. Depois pedi-lhe algum dinheiro, só para coisas como a renda e para a conta da Luz, disse-me que me ajudava, mas voltou a não passar-me nada. Cheguei a pedir-lhe dinheiro para a comida... Depois de Jô, Obradovic e Luis Leal, Hugo Alcântara foi o quarto jogador a rescindir com a União de Leiria. Veja a entrevista do defesa central brasileiro — ainda antes da recisão colectiva —, um futebolista que aos 32 anos e após sete temporadas em Portugal foi obrigado a abandonar a sua casa por não ter dinheiro para pagar a renda. Qual era a sua situação na União de Leiria? Muito difícil. Nos últimos dias tinha sido obrigado a sair de casa porque fiquei sem dinheiro para pagar a renda. Era um amigo meu que me estava a sustentar, o Elvis, que também jogava na União de Leiria. Era ele quem comprava a comida. Quantos meses de ordenado tinha em atraso? Havia casos de três meses mas eu tinha quatro. O último salário que “ Houve jogadores que foram contratados como reforços em Janeiro e não receberam um único salário ” E aí decidiu pedir a rescisão com justa causa. Sim, porque quando uma pessoa 22 não se esforça para cumprir com os seus deveres, então não há que fazer mais sacrifícios por essa pessoa. Devo dizer que os jogadores da União de Leiria são grandes profissionais e têm demonstrado grande profissionalismo, aguentaram até um ponto extremo e continuam a representar o clube, mas no meu caso concreto fiquei com o problema de estar sozinho, sem soluções – tenho a minha família no Brasil, não tenho mais ninguém e os sacrifícios que estava a fazer tornaram-se incomportáveis. O que me resta é ir embora. Como é que um plantel se mantém equilibrado perante uma situação destas, sabendo que há casos de tratamento diferenciados dentro do grupo? Toda a gente sabe que no futebol é normal haver um tratamento especial para um jogador mais importante, ou por exemplo para aqueles que podem vir a revelar-se bons negócios no futuro, dando dinheiro a ganhar aos clubes, mas isso não pode chegar ao ponto de lhes pagar e deixar outros sem nada. No meu caso, sendo um dos jogadores mais experientes da equipa, talvez me vejam como um foi o de Novembro” dos principais responsáveis pelo fracasso desta temporada. Qual era o ambiente na equipa? O ambiente no plantel não tem sido fácil nos últimos dias, nos treinos chegámos ao ponto de entrar em algumas picardias, porque muitos andam com a cabeça cheia. Psicologicamente não é fácil, estamos a falar de pais de família, pessoas com responsabilidades. Foi por isso que, em Abril, o grupo parou e reuniu: a situação não podia continuar! Estamos a falar de futebol profissional. Houve jogadores que foram obrigados a mandar a família de volta para os seus países, porque não tinham “ para o treino com uma sandes ou uma sopa. É lamentável. Havia jogadores que íam para o treino com uma sandes ou uma sopa ” dinheiro para mantê-la cá; houve jogadores que foram contratados como reforços em Janeiro e não receberam um único salário; iam Chegou a Portugal em 2001 e jogou em vários clubes. Como é que olha para o futebol português hoje em dia? Fico triste, quando cheguei a Portugal a realidade era bem diferente. Hoje os clubes não honram os seus compromissos, sabemos que existe uma crise muito grande mas creio que a razão principal é a falta de planeamento. Quando se faz um orçamento, esse orçamento tem de ser cumprido. Hoje em dia já se paga pouco, os orçamentos são pequenos, mas mesmo assim os dirigentes não são capazes de cumpri-los. Qual é o seu futuro imediato? Vou para junto da minha família no Brasil e logo se vê o que aparece. Um regresso a Portugal não está fora de hipótese, até porque nem todas as experiências serão como estas... Mas agora é serenar, para já só posso agradecer o apoio do Sindicato, é importante saber que existe este apoio para os jogadores. Rescisões Obradovic O defesa sérvio Milos Obradovic foi outro dos jogadores que avançaram com a rescisão unilateral do contrato que o ligava à União de Leiria, alegando justa causa devido a salários em atraso. “Recebemos Luís Leal muitas promessas mas a verdade é que continua tudo na mesma. A minha situação tornou-se insustentável, fiquei sem dinheiro para comer e tive de mandar a minha mulher e filho para a Sérvia”. afirmou Obradovic. 23 O avançado de 24 anos da União de Leiria, Luís Leal, avançou igualmente para a rescisão unilateral do contrato que o ligava à União de Leiria, alegando justa causa devido a ordenados em atraso. “Tinha três meses de ordenados em atraso, um filho e uma casa para pagar... O meu contrato durava até 2014 e se no primeiro ano a situação já era esta, só podia tomar esta decisão”, disse o futebolista. dossier Caso SC Praiense O exemplo de como se luta Gabinete Jurídico esclarece Organização Financeira das Competições Profissionais Em que consiste? A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) exerce o controlo financeiro dos clubes que participam nas suas competições definindo, no Regulamento de Competições e nos Pressupostos Financeiros de Participação nas Competições, regras que pretendem salvaguardar o cumprimento dos compromissos financeiros assumidos com jogadores e treinadores. Hélder Monteiro, Mário Vitorino e Danilson Ribeiro desvincularamse do SC Praiense com os seus direitos laborais garantidos, depois das ameaças de que foram alvo por parte de dirigentes do emblema açoriano. O diferendo entre o clube os jogadores atingiu maior gravidade quando estes se viram pressionados a abandonar a casa que lhes tinha sido cedida e na qual tinham direito de residência. Esta ameaça, que aliás é recorrente a jogadores que vivem nas ilhas e estão sozinhos , configura uma atitude inqualificável. Garantir a serenidade e o discernimento nestas circunstâncias é muito difícil e a maioria dos jogadores acaba por abdicar de parte ou a totalidade dos seus direitos. Neste caso, os jogadores não desistiram e não abdicaram dos seus direitos apesar do clima hostil que lhe foi criado. “Quando o clube me confrontou com a saída sem qualquer explicação já tinha entrado em contacto com o Sindicato e isso fez a diferença. Deu-me confiança e segurança. Não tive qualquer medo. Quando o Sindicato entrou em acção, o assunto ganhou dimensão pública e os dirigentes recuaram. Saí da ilha de cabeça erguida e com os meus direitos garantidos”, afirma Hélder Monteiro, realçando a importância de estar informado acerca dos seus direitos. “Resolvi não apenas a minha situação, mas também a dos meus colegas. Depois, recebemos muitas mensagens de apoio, daqueles que estão mais próximos de nós, mas também de muitos amigos que partilhamos no Facebook. Tudo isso provocou um grande 24 Texto: João Lobão (Jurista) impacto na ilha. Eu sei que é difícil mas espero que haja uma mudança de mentalidade e os dirigentes respeitem os jogadores e os compromissos assumidos.”, concluiu Hélder Monteiro. João Lobão, jurista do Sindicato dos Jogadores, destaca a importância da informação prévia, que os jogadores nem sempre procuram. “É bom que tenham noção que o Sindicato dos Jogadores não serve apenas de último recurso, mas que pode ajudá-los a estar precavidos para esta e para outras situações”, explicou. Como funciona? O controlo financeiro por parte da LPFP consubstancia “check points” em que os clubes têm de demonstrar o cumprimento das respectivas obrigações financeiras com jogadores e treinadores. Quando é que os clubes têm de comprovar que estão com a situação regularizada? A Liga Portuguesa de Futebol Profissional controla os clubes em dois momentos. O primeiro é em 15 de Dezembro da época em curso, onde os clubes devem demonstrar que os salários dos jogadores estão devidamente pagos de 31 de Maio até 10 de Novembro (da época em curso); o segundo é na altura da candidatura à sua participação na época seguinte. Aqui, os clubes têm de demonstrar que, até à data da candidatura, não se encontram em dívida quaisquer salários com os atletas e treinadores. Como se prova o pagamento aos jogadores? No primeiro momento através dos recibos de vencimento assinados pelos jogadores ou dos recibos de vencimento com prova de pagamento por parte do clube. No segundo momento, o clube deve apresentar à Liga Portuguesa de Futebol Profissional uma declaração de inexistência de dívidas a jogadores, subscrita pelos seus representantes legais. Quais os jogadores abrangidos pela declaração de inexistência de dívidas? A declaração de inexistência de situação de dívidas salariais apenas abrange os jogadores constantes da listagem entregue na Liga Portuguesa de Futebol Profissional que integravam o plantel do clube na época desportiva anterior e cujo vínculo se mantém na altura de apresentação de candidatura. INFORMA-TE Gabinete Jurídico Tel. 213219590 Tlm. 914393320 [email protected] Passaporte Clube indonésio tentou reter Moses O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol apoiou Moses Sakyi no processo desvinculação do Persib Bandung, da Indonésia. O futebolista ganês, que em Portugal jogou no Estoril, Estrela da Amadora, Olhanense e Gondomar, enfrentou uma situação complicada quando o clube indonésio lhe negou diligências para conseguir um novo visto e o impediu de vir a Portugal tratar do processo, chegando mesmo a reter o seu passaporte. A situação do jogador degradouse a partir do momento em que o treinador que promoveu a sua contratação, o croata Drago Mamic, foi despedido. Moses pediu apoio ao Sindicato dos Jogadores, o caso foi comunicado à FIFA e 25 “ Só posso agradecer. Eu telefonava para Portugal e atendiam-me o telefone no Sindicato. Queriam ficar com o meu passaporte, mas agora estou livre. “ os dirigentes do Persib Bandung recuaram. “Só posso agradecer. Eu telefonava para Portugal e atendiam-me o telefone no Sindicato. Queriam ficar com o meu passaporte, mas agora estou livre. Se voltarei a jogar em Portugal? Quem sabe! Estou à espera para ver o que acontece”, disse o jogador. notícias Portugueses campeões em Espanha e na Rússia Vítor Damas homenageado O estádio José Martins Vieira, na Cova da Piedade, em Almada, foi palco da mais que merecida homenagem a Vítor Damas (1947-2003), um dos maiores guarda-redes da história do futebol português. Inúmeras personalidades do futebol e do espectáculo fizeram questão de estar presentes no evento. “Vítor Damas confunde-se com a história do Sporting. Foi um jogador que marcou várias gerações, com uma dimensão superior e é muito provavelmente o maior símbolo do Sporting. O Damas está para o Sporting como o Eusébio está para o Benfica”, explicou Mário Jorge, ex-jogador do Sporting, ao SJPF. Também João Barnabé recordou Damas com saudade. “Ele foi um irmão que não tive”, disse emocionado, adiantando: “Ele vivia o jogo como ninguém. Muitas vezes foi Damas 1, Adversário 0. O próprio Eusébio reconheceu que Damas foi o adversário mais difícil que defrontou na sua carreira. Damas representa um valor desportivo mas também humano.” O universo sportinguista esteve muito bem representado na homenagem com as presenças “in loco” de Manuel Fernandes, Mário Jorge, João Barnabé, Lima, Pedro Gomes, António Bessone Bastos, Fernando Peres e John Toshack, entre muitos outros. Relativamente ao futebol jogado dentro das quatro linhas a equipa convidada contou nas suas fileiras com estrelas do quilate de Sérgio, Oceano, Chainho, Marinho, João Oliveira Pinto, Litos, Joaquim Evangelista (presidente do SJPF), Amaral, Cadete, Bruno Caires, Kapinha (actor) e os irmãos Sérgio e Nelson Rosado (Anjos), entre outras figuras. Já os Veteranos do Sporting não dispensaram os “serviços”, só para citar alguns, de Melo, Edel, Fernando Mendes, Virgílio, Freire e Pérides. O encontro, arbitrado por Pedro Henriques, acabou com uma igualdade a quatro golos. O resultado era o que menos interessava. Importava sim relembrar Vítor Damas. “O Damas partiu há nove anos, mas continua presente. É uma pessoa que fez parte da nossa comissão e seguramente não será esquecida. Temos um enorme carinho por quem ele foi. É motivo de satisfação poder contar com toda a gente. O que há de bom no futebol são os jogadores”, afirmou Edel, da Comissão de Veteranos do Sporting. 26 A qualidade do jogador português é indiscutível. Os clubes estrangeiros – ao contrário da maioria dos emblemas em Portugal – estão cada vez mais atentos a esta realidade e, de ano para ano, apostam de modo crescente no jogador português e com resultados positivos. Esta temporada, na Croácia, Tonel sagrou-se bicampeão pelo Dínamo de Zagreb. Na Rússia, o Zenit é igualmente bicampeão com a ajuda de três portugueses: Bruno Alves (na foto), Danny e Fernando Meira (este último jogou na fase regular da competição antes de se transferir para o Saragoça, de Espanha). Em Espanha, o Real Madrid finalmente conseguiu 27 quebrar a hegemonia do Barcelona e voltou a conquistar o título. Os merengues com o contributo de Cristiano Ronaldo, Pepe, Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho e Pedro Mendes venceram pela 32.ª vez a liga espanhola. Este triunfo foi também marcante para José Mourinho. O técnico português alcançou o feito de vencer quatro campeonatos diferentes, algo que apenas o italiano Giovanni Trapattoni e o austríaco Ernst Happel tinham conseguido até à data. Por fim, e para já, na Hungria, Marco Caneira, Gonçalo Brandão e Filipe Oliveira, orientados por Paulo Sousa, venceram a Taça da Liga ao serviço do Videoton. FIFPro Acordo histórico em Bruxelas A FIFPro, a UEFA, a EPFL (Associação de Ligas Europeias) e a ECA (Associação de Clubes Europeus) assinaram em Bruxelas, na Bélgica, um acordo histórico, estabelecendo os requisitos mínimos que vão orientar os contratos de trabalho dos jogadores nos países da União Europeia e nos restantes que integram a UEFA – Autonomous Agreement on Minimum Requirements Standard Players Contracts. As regras que passam agora a ser comuns foram alvo de grande debate ao longo dos últimos anos e vêm colmatar lacunas graves diagnosticadas, principalmente, em campeonatos da Europa de Leste. Ainda recentemente a FIFPro, no seu “black Book” denunciou casos de “terrível falta de respeito” pelos profissionais do futebol em clubes da Grécia e da Rússia. Com o novo acordo, todos os clubes dos 53 países que integram a UEFA deverão aplicar procedimentos a vários níveis – os contratos devem ser escritos e devem definir os direitos e deveres de clubes e de jogadores; devem prever as formas de remuneração, seguros e segurança social; as disposições relativas a rescisões, resolução de litígios e legislação aplicável devem ser claras. Os jogadores, por outro lado, terão de assumir compromissos ao nível da participação nos treinos, estilo de vida e de resposta aos procedimentos disciplinares em vigor. Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) e membro do Board da FIFPro Divisão Europa, assistiu à assinatura do acordo e realçou a sua importância. “É um momento único e histórico, foi dado um grande passo na defesa dos jogadores. Isto só foi possível porque estiveram à mesa os principais parceiros do futebol, em busca de um entendimento, com um resultado que desde logo prova como é possível dialogar. É 28 um bom exemplo para Portugal – se houver verdadeiro diálogo podemos superar vários problemas urgentesr”, afirmou. O acordo foi assinado por Michel Platini (presidente da UEFA), Frédéric Thiriez (presidente da EPFL), Karl-Heinz Rummenigge (presidente da ECA) e Philippe Piat (presidente da FIFPro Divisão Europa); e ainda por László Andor (comissário europeu para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão) e Androulla Vassiliou (comissária europeia para o Desporto). A Comissão Europeia apoia o diálogo social no futebol profissional e vai monitorizar a implementação do acordo. 29 opinião A Ascensão da Insignificância O livro “A Ascensão da Insignificância”, de Cornelius Castoriadis, traduzido para português pela Editorial Bizâncio, parece-me de grande atualidade. “Qual o exemplo que as sociedades do capitalismo liberal fornecem ao resto do mundo? O único valor que existe nelas é o dinheiro, a notoriedade mediática ou o poder, no sentido mais vulgar e irrisório do termo” (p. 70). A sociedade não degenerou, por isso, biologicamente, a tecnociência progride diariamente e, diariamente também, a medicina rasga novos horizontes – a sociedade degenerou, sim, ética e culturalmente, quando é de bom-tom entoar ladainhas ao conformismo diante do consumo, do deus-dinheiro, de um capitalismo demencial, da crise de sentido e significação. Não, não recebo o termo “actual”, com grande carga afetiva, dando-lhe um significado de mau, de falso, de execrável. Digamos antes que nunca, como hoje, uma crise económica e social e política se tornou tão visível (até nas próprias religiões). Não é por acaso que vivemos a Sociedade do Conhecimento da Era da Informação! Nos meus tempos de rapaz (bem me lembro), havia um sentimento de firme estabilidade e de radical confiança em MANUEL SÉRGIO Filósofo do Desporto “ O desporto de alta competição reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista ” determinados valores – e valores que eram uma continuidade do mundo clássico e do cristianismo. Vivíamos então, em Portugal, um regime político de ditadura e um clima social de catolicentrismo? Não o nego, mas quando se apontavam “os amanhãs que cantam”, no capitalismo ou no marxismo, uma grande esperança iluminava as palavras, porque se descortinavam Absolutos em que se acreditava: Deus (Senhor e Pai), a Razão, a Liberdade, a Democracia, a Luta de Classes. E o mundo, se era um mistério, não era um absurdo. Só que uma igreja sem cristianismo e um cristianismo sem igreja; o desmoronamento paulatino de muitas das ideologias de esquerda; o descrédito dos caudilhos que se dizem marxistas; o 30 triunfo da sociedade de consumo; o espírito quantitativista, sem uma réstea de solidariedade, do neoliberalismo que nos sufoca – tudo isto gerou um mundo onde os valores vitais de solidariedade e democracia desaparecem, diante dos valores numéricos, unicamente numéricos, do capital. O desenvolvimento supõe tudo para todos e não só para o Real Madrid, ou o Manchester United, ou o Manchester City, ou o Bayern de Munique, ou o Barcelona, ou o Chelsea. Mas não é próprio do neoliberalismo mundializado que nos governa, dar tudo a meia dúzia de endinheirados, conluiados com o poder, e umas migalhas aos outros? Até no futebol se pode vislumbrar a sociedade em que vivemos. Não é possível pensar o desporto, sem um quadro de valores. Ser pessoa e agir como tal implica a referência a valores, incluindo os valores morais. Mas não é amoral o mundo empresarial que preside ao futebol? Verdadeiramente, o que tem a ver a moral com as vitórias e as derrotas, nas competições desportivas? Repito o que venho dizendo, há muitos anos: o desporto de alta competição reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista. Esquecer isto é não compreender o futebol que entusiasma e apaixona o mundo de hoje. Para uma Cultura de Competição Os gregos antigos, como sabiam que, na sua pequenez perante os deuses, os homens necessitavam de violência para se sentirem realizados, a fim de suprirem essa necessidade sem os custos trágicos da guerra, inventaram os Jogos e, através do prazer lúdico da violência controlada, quer dizer, através do “agôn”(1) da competição e da “areté”(2) da excelência, tornaram a paz gloriosa. A agonística visava ultrapassar uma visão pessimista e decadente da vida pela constante superação das tensões entre os homens com o objetivo de afirmar a excelência humana na sua verdadeira glória. No mundo grego, era impossível separar a palavra “agôn” da tríade jogo, festa e sagrado. Assim sendo, o sentimento que devia resultar da disputa entre dois rivais valorosos não era o ódio ou a vingança, mas a amizade, na medida em que um antagonista de brio proporcionava ao outro a possibilidade de se conhecer e renovar continuamente as suas forças vitais em busca da excelência. Não se tratava do ridículo fair play que os ingleses descobriram para preservarem o seu estatuto de classe, mas de uma verdadeira ética de conflito que, hoje, em termos deontológicos, deve ser o campeonato da economia que se processa à escala global. Por isso, o País devia olhar melhor para o futebol a fim de tentar perceber como é O País devia olhar melhor para o que uma atividade que, ainda há pouco mais de futebol a fim de tentar perceber como é 20 anos, vivia de vitórias morais, hoje, passou a ser uma indústria de grande sucesso internacioque uma atividade que, ainda há pouco nal. Como disse Ortega y Gasset (1883-1955) mais de 20 anos, vivia de vitórias morais, o passado não nos dirá o que temos de fazer, hoje, passou a ser uma indústria de grande mas pode certamente dizer-nos o que temos de evitar.”(4) A serem verdadeiras as palavras do sucesso internacional. filósofo, os políticos de todos os quadrantes, para preservada por aqueles que fazem do espírito além de aparecerem nos palanques nos dias de competitivo o seu modo de vida. derby, deviam tentar compreender o êxito do Só através de uma cultura de competição é pos- futebol. Não ficariam a saber como ganhar o sível renovar, em cada geração, as forças vitais campeonato da política, mas ficariam seguraque garantem a excelência que pode promover o mente a saber como não o haviam de perder. progresso do País. Repare-se que, enquanto no 1) O protagonista (prot – primeiro; “agôn” – luta; sufixo – relatório da “Global Competitiveness - 2010ista), era aquele que entrava em competição, por isso, o 2011” Portugal ocupava o 46º lugar entre 139 “agôn” inclui, também, o sentido de combate. países, no ranking da FIFA a seleção nacional ocupava o 11.º lugar entre 208 países.(3) 2) A palavra é grega, “areté” significa “excelência, virtude”. O sucesso ou o fracasso de uma equipa, seja ela “Areté” é um nome feminino, e o seu plural é “aretai”. de futebol ou um país, em grande medida, de3) World Economic Forum - Geneva, Switzerland 2010. pende da qualidade do comportamento impoluto dos seus líderes condição sine qua non de so4) Gasset, Ortega .(1988). El Tema de Nuestro Tempo, brevivência no ambiente agónico que caracteriza Madrid, Espasa-Calpe, 1ª ed 1938. Gustavo Pires “ Presidente do Fórum Olímpico de Portugal ” 3131 glÓRIAs ANTÓNIO SOUSA Ganhou notoriedade na década de 80 com as camisolas de FC Porto, Sporting e Seleção Nacional e notabilizou-se pelo seu “pontapé canhão”. Em 1984, em França, marcou o primeiro golo de Portugal em fases finais de campeonatos da Europa. Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: Lusa António Augusto Gomes Sousa nasceu a 28 de Abril de 1957, em São João da Madeira. Começou a dar os primeiros pontapés na Sanjoanense, o clube da terra. Aos 16 anos ascendeu à equipa principal e em 1975 mudou-se para o Beira-Mar. No clube aveirense chegou a alinhar ao lado de Eusébio. Quatro épocas depois, em 1979, com 21 anos, foi contratado pelo FC Porto, então treinado por José Maria Pedroto. Representaria os azuis e brancos em duas fases da sua carreira: de 1979 a 1984 e de 1986 a 1989. Pelo meio uma aventura no Sporting. Na sua primeira passagem pelo FC Porto, Sousa realizou 138 jogos e marcou 29 golos. Participou na primeira final europeia dos azuis e brancos. Foi contra a Juventus, a 16 de Maio de 1984, em Basileia, na Suíça. A Vechia Signora arrecadou a Taça das Taças ao vencer por 2-1. Sousa marcou o golo da formação portuguesa. Nesse mesmo ano, em 1984, o médio integrou o lote de convocados para a fase final do Campeonato da Europa que se disputou em França. E Sousa O médio chegou a jogar com Eusébio no Beira-Mar entrou para a história. Apontou o primeiro golo de Portugal em europeus. Foi em Marselha, contra a Espanha – o encontro acabou empatado a uma bola. A Selecção Nacional acabaria eliminada nas meias-finais aos pés da França (equipa que ganhou a competição). Após a aventura de os “Patrícios” em terras gaulesas, Sousa regressou a Portugal e foi protagonista (juntamente com Jaime Pacheco) de uma transferência surpreendente: trocou o FC Porto pelo Sporting. Alegou salários em atraso e mudou-se das Antas para Alvalade. Jogou de leão ao peito durante duas épocas e após o Mundial do México, em 1986, voltou ao FC Porto. Nesta segunda passagem pelos “dragões” teve ainda tempo de vencer a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental. Em 1989, transferiu-se para o Beira-Mar. Representou posteriormente o Gil Vicente, a Ovarense e terminou a carreira em 1996, na Sanjoanense, precisamente o clube onde tudo tinha começado. Tinha 39 anos. Na “retina” fica a sua grande capacidade técnica... o seu pontapé canhão e o seu grande pulmão. Como treinador, uma Taça de Portugal com o Beira-Mar António Sousa somou 27 internacionalizações pela Selecção 32 Nacional. Estreou-se a 14 Abril de 1981, no Estádio das Antas, contra a Bulgária (1-1) e despediu-se no Estádio da Luz, a 15 de Novembro de 1989, contra a Checoslováquia (0-0). Nas fases finais do Euro 84 e do Mundial de 86 foi sempre titular. Como jogador conquistou nove títulos: um Campeonato Nacional, duas taças de Portugal, três supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental. Após abandonar os relvados enveredou pela carreira de treinador. Iniciou essa função ainda na Sanjoanense, como jogador-treinador. Seguiram-se o Beira-Mar, o Rio Ave, o Penafiel, novamente o Beira-Mar e o Trofense. Em 1998/99 alcançou o seu maior feito como técnico. O Beira-Mar ganhou a Taça de Portugal ao bater na final o Campomaiorense por 1-0. O golo foi marcado pelo seu filho Ricardo Sousa. 33 À CONQUISTA DO EURO 2012 GDANSK POZNAN VARSÓVIA WROCLAW KIEV Polónia Ucrânia KHARKIV LVIV DONETSK GRUPO A GRUPO B POLÓNIA RÚSSIA 08 Jun. 08 Jun. 12 Jun. 12 Jun. 16 Jun. 16 Jun. 17h00 19h45 18h00 19h45 19h45 19h45 Varsóvia Wroclaw Wroclaw Varsóvia Varsóvia Wroclaw GRÉCIA REPÚBLICA CHECA GRÉCIA REP. CHECA REP. CHECA RÚSSIA RÚSSIA POLÓNIA POLÓNIA RÚSSIA GRÉCIA POLÓNIA GRÉCIA REP. CHECA GRUPO C 10 Jun. 10 Jun. 14 Jun. 14 Jun. 18 Jun. 18 Jun. 09 Jun. 09 Jun. 13 Jun. 13 Jun. 17 Jun. 17 Jun. QUARTOS-DE-FINAL HOLANDA Dinamarca Jogo 25 Alemanha Portugal 2.º GRUPO b 17h00 19h45 17h00 19h45 19h45 19h45 Kharkiv Lviv Lviv Kharkiv Kharkiv Lviv Holanda Alemanha Dinamarca Holanda Portugal Dinamarca Dinamarca Portugal Portugal Alemanha Holanda Alemanha GRUPO D Itália Ucrânia Suécia Croácia Rep. da Irlanda França Inglaterra 17h00 19h45 17h00 19h45 19h45 19h45 Gdansk Poznan Poznan Gdansk Gdansk Poznan Espanha REP. Irlanda Itália Espanha Croácia Itália Itália Croácia Croácia REP. Irlanda Espanha REP. Irlanda 11 Jun. 11 Jun. 15 Jun. 15 Jun. 19 Jun. 19 Jun. 17h00 19h45 17h00 19h45 19h45 19h45 1.º GRUPO A Jogo 26 Donetsk Kiev Kiev Donetsk Kiev Donetsk França Ucrânia Suécia Ucrânia Suécia Inglaterra Inglaterra Suécia Inglaterra França França Ucrânia 22 Jun. 19h45 Gdansk 1.º GRUPO B 2.º GRUPO A Jogo 27 23 Jun. 19h45 Donetsk FINAL 1.º GRUPO C Jogo 31 2.º GRUPO D VENCEDOR jogo 29 Jogo 28 Espanha 21 Jun. 19h45 Varsóvia 24 Jun. 18h45 Kiev 01 Julho 19h45 Kiev VENCEDOR jogo 30 1.º GRUPO D 2.º GRUPO C MEIAS-FINAIS Jogo 29 27 Jun. 19h45 Donetsk VENCEDOR jogo 25 VENCEDOR jogo 27 Jogo 30 28 Jun. 19h45 Varsóvia VENCEDOR jogo 26 VENCEDOR jogo 28 34 35 Infografia: Bruno Teixeira ONZE REMATES PACHECO Santa Clara, médio, 27 anos Destino de férias: Dubai Um filme: 7 vidas Bebida: Coca-Cola Carro: Ferrari Jogo de PC/consola: Assassin Creed Marca: Adidas Se não fosse jogador de futebol o que gostaria de ser: Mergulhador Música: Chuck Berry Prato favorito: Polvo guisado Hobbie: Ler e passear Ídolo: Zinedine Zidane NUNO SANTOS Sp. Covilhã, guarda-redes, 33 anos Destino de férias: México Um filme: Braveheart Bebida: Sumo de laranja Carro: Hummer Jogo de PC/consola: Travian Marca: Rituals Se não fosse jogador de futebol o que gostaria de ser: Veterinário Música: Black, dos Pearl Jam Prato favorito: Arroz de pato Hobbie: Sexo Ídolo: O meu irmão 3636 O reconhecimento dos melhores Mossoró (Sp. Braga), Hulk (FC Porto), Salvador Agra (Olhanense), Candeias (Nacional), Pires (Desp. Aves), Wagner e Ricardo Ribeiro (ambos do Moreirense), Miguel Rosa (Belenenses), Sp. Braga, Gil Vicente, Atlético e Penafiel são os grandes vencedores de Março e Abril. 37 Liga ZON Sagres Março Abril jogador jogador MOSSORÓ HULK melhor melhor Sp. Braga FC Porto Nome: José Márcio da Costa Nascimento: 04/07/1983 Naturalidade: Mossoró Rio Grande do Norte - Brasil Posição: Médio Altura: 1,70 m Peso: 63 kg Clubes: Ferroviário; Santa Catarina; Paulista; Internacional PA; Marítimo e Sp. Braga Nome: Givanildo Vieira de Souza Nascimento: 25/07/1986 Naturalidade: Campina Grande Pernambuco - Brasil Posição: Avançado Altura: 1,80 m Peso: 80 kg Clubes: Vilanovense; São Paulo; Vitória; Kawasaki Frontale; Consadole Sapporo; Tokyo Verdi e FC Porto O médio atacante foi uma peça-chave na manobra da equipa no decorrer do mês de Março. Marcou três golos, curiosamente os primeiros de toda a presente temporada, ajudando desta forma a sua equipa a conseguir o recorde de 13 vitórias consecutivas e um lugar na luta pelo título. Mossoró está a concluir a quarta época com a camisola do Sp. Braga e neste mês provou que não se sente acomodado. Por estas razões, o SJPF atribuiu-lhe o prémio de melhor jogador da 1.ª Liga no terceiro mês do corrente ano. O avançado brasileiro foi a figura dos azuis e brancos no mês de Março. Marcou cinco golos que contribuíram de foram directa para conquista de nove pontos essenciais para a conquista de mais um campeonato do FC Porto. Hulk está a concluir a quarta época de Dragão ao peito e neste mês provou ser um dos melhores deste campeonato. Por isto, o prémio de melhor jogador da 1.ª Liga no mês de Abril é merecido. 38 39 Liga ZON Sagres jovem melhor jovem melhor Abril Março CANDEIAS SALVADOR AGRA Nacional Olhanense Nome: Salvador José Milhazes Agra Nacionalidade: Portuguesa Nascimento: 11/11/1991 Naturalidade: Vila do Conde – Portugal Posição: Extremo Altura: 1,66 m Peso: 60 kg Clubes: Varzim e Olhanense Nome: Daniel João Santos Candeias Nacionalidade: Portuguesa Nascimento: 25/02/1988 Naturalidade: Fornos de Algodres - Portugal Posição: Extremo Altura: 177 cm Peso: 76 kg Clubes: FC Porto (jun.), Varzim, Rio Ave, Recreativo, Paços de Ferreira, Portimonense e Nacional da Madeira A cumprir a estreia no principal escalão do futebol nacional, o internacional sub-21 tem mostrado ser um promissor jogador. E quem notou isso, foi o Bétis de Sevilha que o contratou já para a próxima época. Em Março, para além de cumprir os 90 minutos de todos os jogos, marcou dois golos e deu outros tantos a marcar ajudando a sua equipa a conseguir a manutenção na Primeira Liga. Salvador Agra é por isso, distinguido com o prémio de melhor jovem jogador por parte do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. A cumprir a primeira época no Nacional, o extremo voltou a conquistar o prémio de melhor jogador jovem da Primeira Liga. Em Abril, Candeias revelou-se bastante importante na manobra ofensiva da equipa da Ilha da Madeira, ao realizar várias jogadas de perigo nas áreas adversários que culminaram em assistências primorosas para os seus colegas fazerem golos que contribuíram para três triunfos neste mês. Daniel Candeias é por isso, premiado com o prémio de melhor jovem jogador na Primeira Liga por parte do SJPF. 40 41 LIGA ORANGINA Março Abril jogador melhor jogador melhor PIRES Wagner Desp. Aves Moreirense Nome: Wagner de Andrade Borges Nascimento: 03/04/1987 Naturalidade: São José de Campos - Brasil Posição: Avançado Altura: 1,79 m Peso: 67 kg Clubes: Rio Claro, Aliados do Lordelo e Moreirense Nome: Jorge Costa Pires Nascimento: 01/04/1981 Naturalidade: Braga – Portugal Posição: Avançado Altura: 1,76 m Peso: 73 kg Clubes: Amares, Sp. Braga B, Portosantense, Ribeirão, Vizela, Portimonense e Desportivo das Aves O atacante brasileiro que se estreia nos campeonatos profissionais, depois de uma incursão pela 2.ª B, tem sido importante no capítulo da finalização da sua equipa. Apesar de só ter marcado um golo em Abril, Wagner provou que não é só de golos que um avançado vive. Várias foram as assistências para os seus colegas que terminaram com remates certeiros no fundo da baliza contrários. Por tudo isto, o SJPF premeia o atleta com o prémio de melhor jogador jovem na Segunda Liga. Pires, tem estado em plano de evidência nesta competitiva Segunda Liga, com vários golos marcados que têm valido pontos importantes pela luta da subida de divisão da sua equipa. O avançado neste mês de Março, fez o gosto ao pé por três vezes (frente ao Santa Clara marcou o segundo “bis” da época). Por ser um jogador tão influente na manobra do Desportivo das Aves, esta atribuição torna-se justa para premiar o bom momento de forma do camisola “9” da formação de Vila das Aves. 42 43 LIGA ORANGINA jovem melhor jovem melhor Abril Março MIGUEL ROSA Ricardo Ribeiro Belenenses Moreirense Nome: Miguel Alexandre Jesus Rosa Nascimento: 13/01/1989 Naturalidade: Lisboa - Portugal Posição: Médio Altura: 1,74 m Peso: 65 kg Clubes: Benfica (jun.), Estoril, Carregado e Belenenses Nome: Ricardo Abreu Ribeiro Nascimento: 27/01/1990 Naturalidade: Moreira de Cónegos – Portugal Posição: Guarda-Redes Altura: 1,83 m Peso: 73 kg Clubes: Moreirense Costuma-se dizer que a defesa também é o melhor ataque. E prova disso é a conquista do prémio de melhor jovem jogador do mês de Março por parte do guardião da baliza do Moreirense, Ricardo Ribeiro. O jovem guarda-redes foi chamado ao onze inicial para colmatar o afastamento, por lesão, do então titular, Ricardo Andrade. Com apenas 22 anos e formado no emblema de Moreira de Cónegos, de onde aliás é natural, tem mostrado qualidades que têm surpreendido pela positiva não só os adeptos mas também a crítica desportiva. Com apenas quatro golos sofridos nos jogos realizados em Março, Ricardo Ribeiro tem sabido ajudar o clube a manter-se na luta pelo primeiro lugar da 2ª Liga. Miguel Rosa tem provado partida após partida ser um futebolista de grande qualidade e o patrão de todo o jogo da equipa do Restelo. No mês de Abril, o jovem médio marcou por duas vezes e ainda esteve na origem de vários golos do Belenenses, ajudando assim a formação lisboeta a obter a tão desejada manutenção. Daí que esta distinção feita pelo Sindicato torne-se praticamente obrigatória. 44 45 Prémio Fair Play Liga ZON SAGRES Sp. Braga Os Guerreiros do Minho são a equipa mais disciplinada da 1.ª Liga. Em Março, o Sp. Braga viu oito cartões amarelos e até à data continuava a ser a única equipa que não tinha sido admoestada com cartões vermelhos ou duplo amarelo. Gil Vicente Os jogadores da formação da cidade de Barcelos em Abril levaram quatro amarelos. Um bom exemplo do que é o respeito pelo adversário e por isso esta distinção do Sindicato encaixa que nem uma luva nesta equipa. Liga ORANGINA Atlético O emblema da Tapadinha tem conseguido promover dentro de campo o respeito pelo adversário, um valor que o Sindicato dos Jogadores aprova e defende e por isso atribuí esta distinção com o prémio Fair Play. Penafiel O Penafiel em Abril foi a equipa mais disciplina do segundo escalão profissional do futebol nacional. Durante este mês, os jogadores da equipa nortenha viram oito cartões amarelos e nenhum vermelho. 46 47 ESPECIAL ANIVERSÁRIO Artur Jorge Quando fui escolhido para presidente fiquei aflito “ ” Só deveres e praticamente sem direitos. Era esta a realidade dos jogadores em Portugal até meados da década de 70 do século passado. Mas os futebolistas “fartaram-se” e unidos lutaram por inverter a situação e fundar o Sindicato dos Jogadores. Eleito pelos colegas, Artur Jorge teve a difícil missão de ser o primeiro presidente do SJPF. Uma época que importa recordar… Quais os motivos que originaram à criação do Sindicato de Jogadores? Naquela altura havia grandes dificuldades. Os jogadores tinham muito menos coisas do que têm actualmente. Um jogador ia para um clube e nunca mais se via livre desse clube. Quando os jogadores viram que essa situação não avançava para um cenário diferente, foi preciso agir. E foi o que fizemos. Sabíamos que era algo importante para nós jogadores e que existia uma enorme desigualdade com o que havia no estrangeiro. Era importante fazermos qualquer coisa para dizermos que estávamos vivos, que tinha de haver regras, que os clubes tinham de olhar para nós de maneira diferente. Foi o primeiro presidente do Sindicato. Como é que chegou ao cargo? Existiram várias reuniões entre os jogadores e fui escolhido pelos meus colegas. Não sabíamos muito bem quem seria o presidente ou mesmo que iria haver um presidente. Escolheram-me a mim como poderiam ter escolhido outra pessoa. 48 Recebeu esse convite com agrado? Não fiquei assim tão agradado. Quando fui escolhido para presidente fiquei aflito, não estava à espera. Fui eu como poderia ter sido mais quatro ou cinco pessoas, como o Simões, o Pedro Gomes, entre outros. Além da criação do Sindicato, outra das suas maiores batalhas foi a filiação dos jogadores. Foi uma tarefa complicada? É sempre assim. Essas coisas não são fáceis e demoram o seu tempo. Durante a sua presidência aconselhou os jogadores a procurarem trabalhos paralelos de forma a acautelarem o futuro. Em situações difíceis todos pensamos em segunda ou terceira hipóteses. Nós não sabíamos os resultados do que ia acontecer. Deixou a presidência no final do seu mandato. Considerou que o seu trabalho estava concluído? Sim. Nessa altura tinha também outras coisas e achei que estava no momento de sair. Pareceume que era importante chegar alguém novo, com outras ideias e tentar fazer mais do que nós. O Sindicato foi sempre uma organização em que as coisas correram relativamente bem e estou convencido que as pessoas fizeram um grande esforço no sentido de melhorarem uma situação que não estava boa. 49 Passados 40 anos, pensa que o Sindicato cumpriu e está a cumprir o papel que levou à sua fundação? O Sindicato tem feito um bom trabalho. Está em cima daquilo que me parece mais importante. Estão a fazer um trabalho bom, sério e isso é importante para o futebol, para os jogadores, para o País, para tudo. Como é que vê o facto de em Portugal ainda existirem poucos ex-jogadores a ocuparem cargos de relevo no dirigismo desportivo? Era importante que pessoas com qualidade e com uma grande experiência como os jogadores de futebol conseguissem dar ao Sindicato de Jogadores cada vez mais força e para as pessoas entenderem que o Sindicato pode ser qualquer coisa mais. Penso que é isso que falta, no fundo, aos jogadores de futebol. Mas para mim, são situações normais que acontecem um pouco por todo o lado. Era importante que eles não se esquecessem que é importante estar presente, ajudar a gente mais nova para estes percebam que há coisas a fazer no futebol português. O Sindicato tem feito um óptimo trabalho mas é preciso que o seja ajudado por outras pessoas a quem o Sindicato faz. bem. Seria importante com toda a gente, com as pessoas interessadas nisso e se calhar com jogadores com maior nome que as pessoas conheçam. Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: ASF ESPECIAL ANIVERSÁRIO Agostinho Oliveira Os jogadores eram chamados de gandulos, “ apenas sabiam jogar futebol porque ” Artur Jorge saiu da presidência do Sindicato e Agostinho Oliveira continuou a luta dos jogadores. Totobola. Mas lá está, lembro-me que as reuniões e os entendimentos eram muito difíceis... O que lembra da sua passagem no Sindicato dos Jogadores? Naquela altura os tempos não eram fáceis, muito menos se estivermos a falar de questões sindicais. Eu vinha a ser uma espécie de braço direito do Artur Jorge, estávamos muito envolvidos no Sindicato e a nossa luta focava-se muito no problema da Lei de Opção. Queríamos libertar os jogadores dessa lei. Eu dei continuidade ao trabalho que vinha a ser realizado com o Artur Jorge, depois focado também noutras questões, como os descontos para a Segurança Social (porque a profissão dos jogadores tem muitas especificidades que não eram tidas em conta). Lembro-me que na altura não era fácil alcançar entendimentos políticos, nem sequer com a FPF. Fala em situação degradantes. A que ponto? Muitas vezes, no fundo, os jogadores estavam como desempregados, porque passavam meses sem receber. Depois, no final do ano lá apareciam os dirigentes a acenar com uma verba qualquer, que eles eram abrigados a aceitar, esquecendo tudo o que estava em atraso. Foi nessa altura que se discutiu muito, também, a questão das receitas do Totobola? É verdade, as receitas do Totobola! Queríamos parte dessas receitas para que depois nos fosse possível ajudar os jogadores em dificuldades. Havia situações degradantes, portanto era importante para nós garantir a existência de um fundo de maneio através das receitas do As reivindicações dos jogadores eram bem atendidas pela sociedade? A revolução trouxe outra abertura, trouxe discussão de novas ideias para a sociedade em geral, mas por outro lado nós também sofremos. Mas tínhamos o problema da ligação à CGTP Intersindical, o que depois nos dificultou a nossa vida. Aquele período pós-revolução tanto trouxe afirmação como, ao mesmo tempo, problemas com isso mesmo. Também mostraram insatisfação quando a alguns métodos de treino e regras nos estágios? Sim, às vezes o tempo de presença nos treinos e nos estágios era abusado ou mal aplicado. Os estágios eram muito longos, mas essas 50 reivindicações eram mais querelas no sentido de afirmarmos a nossa posição. Em algumas situações os treinadores demonstravam uma tremenda falta de conhecimento em relação ao treino – e os jogadores eram obrigados a lá estar para nada. De onde vinham exemplos para a vossa luta? Lembro-me de estar presente em algumas reuniões internacionais da FIFPro, onde nos deslocávamos com o nosso advogado e conhecíamos o que se fazia em organizações semelhantes, especialmente às nórdicas, anglosaxónicas ou a italiana. Que balança faz da evolução do Sindicato? No início do Sindicato dos Jogadores, mais do que qualquer reivindicação específica, o que estava em causa em termos globais era a afirmação do profissional de futebol, enquanto portador de uma profissão digna. Na altura os futebolistas eram conotados com uma certa ideia de marginalidade, eram os chamados “gandulos”, aqueles que não respeitavam as regras e apenas sabiam jogar futebol. Creio que conseguimos reclamar alguma dignidade para a profissão, que é hoje é vista de forma diferente, embora se prossigam algumas lutas com origem em problemas semelhantes aos dos anos 70. Fotografia: Bruno Teixeira 51 ESPECIAL ANIVERSÁRIO José Eduardo Foi a primeira vez que uma selecção nacional fez greve “ ” O mandato de José Eduardo como presidente do Sindicato dos Jogadores ficou marcado pelo célebre caso Saltillo, em pleno Mundial de 1986, no México, que acentuou o braçode-ferro entre os jogadores e a Federação Portuguesa de Futebol. É ainda com José Eduardo que o Sindicato confirma a sua adesão à FIFPro e colhe os benefícios da internacionalização. O que recorda do seu mandato enquanto presidente do Sindicato dos Jogadores? Os tempos eram complicados, passámos por muitas dificuldades. Havia duas pessoas decisivas, o João Arouca e o Dr. Luís Paulo Relógio... andávamos sempre à míngua de receitas, não havia a estrutura que há agora, portanto andávamos sempre com o credo na boca. A sede ainda era na 5 de Outubro... lembro-me que tínhamos uma posição ou presença forte na imprensa, sempre importante para a pressão que pretendíamos exercer. Em 1986, por ocasião do Mundial do México, rebentou o caso Saltillo. Sim, é durante o meu mandato e acabou por ser um marco histórico devido ao impacto que teve em tudo aquilo que devia ser o profissionalismo da Selecção Nacional. Antes tínhamos um grupo de grandes jogadores liderados por dirigentes amadores... lembro que em Saltillo os jogadores se equipavam em 52 balneários públicos, entre outras situações no mínimo caricatas. internacional, mas não tinham dirigentes nem condições de trabalho à altura. A imagem dos jogadores junto da sociedade levava a que as suas reivindicações não fossem valorizadas. Concorda? Há um grande braço-de-ferro entre o Sindicato e a Federação Portuguesa de Futebol. Houve quem tentasse fazer um aproveitamento político do caso, os jogadores foram muito criticados pelas suas posições, mas antes de Saltillo já tínhamos tomado uma decisão estratégica importante que nos deu vantagem e viria a ser decisiva para a nossa independência: já nos tínhamos desvinculado da CGTP. O caso chegou à Assembleia da República e os jogadores também tiveram oportunidade de mostrar ao que iam. Houve quem quisesse fazer de Saltillo uma rebelião de esquerda, mas nós já éramos independentes. Fui à Assembleia da República e disse que não havia direito de se dizer o que se dizia. Como sabe, o problema era essencialmente financeiro e de reconhecimento dos direitos dos jogadores. Tivemos a sorte de ter o processo conduzido pelo Dr. Jaime Cortesão, que teve uma postura sempre muito isenta e nos deus os parabéns pela forma como conduzimos a nossa luta. O processo só revelou todo o amadorismo que existia na selecção, porque estamos a falar de uma equipa que já tinha grandes jogadores, mesmo a nível No final, qual foi o balanço que retirou? A imprensa internacional montou base aqui, jornais de vários países enviaram correspondentes. Lembro que foi a primeira vez que uma selecção nacional fez greve. Portugal chegou a fazer dois jogos como uma espécie de selecção B. O caso acabou por resultar na demissão do presidente da Federação, Silva Resende. Tínhamos assinado tréguas, chegámos a um entendimento, mas aquela demissão veio a confirmar-se. Foi uma vitória estrondosa. 53 O seu mandato também fica marcado pela adesão à FIFPro. Sim. Tínhamos o objectivo de consumar a adesão e convidámos a FIFPro para fizessem uma reunião/congresso em Portugal. Foi no seguimento desse congresso que oficializámos a adesão. Foi um passo decisivo? A internacionalização ajudou-nos muito, começámos a ter mais contacto com outras realidades. Na altura criámos muitos dos fundamentos para objectivos que vieram a concretizar-se mais tarde. Depois, com a profissionalização e o talento e o mérito dos diferentes presidente que o Sindicato teve até hoje, realizou-se todo este percurso que conhecemos. ESPECIAL ANIVERSÁRIO Pedro Gomes Os jogadores estavam motivados “ alterar a sua relação laboral para ” Aos 70 anos, Manuel Pedro Gomes é uma das maiores figuras do futebol português. Alcançou a glória no Sporting e na Selecção e contribuiu de forma decisiva para a criação do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Como é que surgiu a ideia de fundar o Sindicato dos Jogadores? A situação contratual entre os jogadores e clubes começava e ser insuportável. A sequência dos casos (da impossibilidade por proibição das transferências de Eusébio, Simões e Peres) despoletou a necessidade de os jogadores procurarem uma solução que defendesse os seus legítimos direitos. Foi difícil avançar? Os jogadores estavam motivados para criar um sindicato? As dificuldades eram mais que muitas. Vivíamos em ditadura, o futebol desse tempo, tal como hoje, era e é um excelente meio de propaganda para os governantes e um anestésico social para as situações políticas. E as vitórias europeias do Benfica (duas Taças dos Clubes Campeões Europeus) e a do Sporting (Taça das Taças), tal como os feitos das selecções – título europeu de juniores em 1962, terceiro lugar no Europeu de Inglaterra de 1966 –, valorizaram o futebol português. Mas os benefícios dos jogadores continuaram prisioneiros da “Lei da Opção”, opção só para os clubes! Quanto aos jogadores, eles estavam motivados para alterar a sua relação laboral com os clubes e progressivamente integraram-se na luta pelos direitos! Houve problemas de liderança (do género ninguém querer chegar à frente)? Não houve qualquer problema de liderança. Aliás, a comissão instaladora votou democraticamente na distribuição dos corpos gerentes. Aproveitando “a pergunta chegar à frente”, ela foi mais voltar para trás. Porque da votação saiu um presidente, o qual desde logo acedeu a passar a secretário, porque estava em jogo a imagem, e a divulgação política do Sindicato. E foi nomeado o Artur Jorge! Integrou a primeira comissão directiva do SJPF. Desde então pensa que o Sindicato caminhou no sentido que esperava? O Sindicato depois do arranque inicial (já lá vão 40 anos), naturalmente evoluiu, e conquistou todos os direitos inerentes aos profissionais de futebol. Hoje é um dos Sindicato mais cotados no mundo do Futebol, como se comprovou com a eleição do presidente Joaquim Evangelista para o board da FIFPro. Falta sentido de classe aos futebolistas em Portugal? O exemplo dado na época passada pelos espanhóis Casillas, Puyol e Xabi Alonso ao aliarem-se à greve, mesmo sem estarem afectados, pois tinham os salários em dia, é uma demonstração de solidariedade e sentido de classe. Mais num campeonato, como o espanhol, onde os profissionais são pagos a peso de ouro. Só os jogadores mencionados foram a excepção, ao saírem em defesa dos colegas aos quais os clubes deviam 50 milhões de euros. E os 54 outros. os milionários? Fico feliz por saber por todos os jogadores da selecção portuguesa são sindicalizados. Mas por muito esforço que os dirigentes sindicais façam penso que é difícil existir coesão sindical numa profissão onde existe uma dicotomia salarial de ricos e pobres. Hoje a maioria dos jogadores da I Liga é de nacionalidade estrangeira. Fica chocado com este cenário? Não. Este fenómeno é global, passa-se o mesmo na maioria dos países. Quais as razões para esta realidade? Hoje o futebol é um negócio mercantil, onde existem vários agentes intermediários que ganham fortunas nas transferências de jogadores. Os clubes estão falidos, enquanto os funcionários (jogadores, treinadores, directores remunerados das SAD e intermediários) estão ricos. E há ainda a apatia das federações dos vários países perante a descaracterização do futebol dos seus países. Existem clubes que não apresentam um jogador nacional nas suas equipas. Quando se afirma que nada se faz para defender os jogadores portugueses, de quem é a culpa? Dos responsáveis do desporto e do futebol português! É urgente que em concertação desportiva que o SJPF proponha às várias entidades SEDJ, FPF, LPFP, CND, IDP, dois projectos a apresentar à UEFA e à FIFA. Primeiro: que nos campeonatos de cada país seja proibido que constem na ficha de jogo mais de quatro jogadores estrangeiros. Segundo: Para preservar os jogadores no seio dos clubes que os formaram. Texto: Vítor Crisóstomo | Fotografia: ASF 55 As nossas internacionais Edite Fernandes Vou continuar a jogar até“as pernas aguentarem ” Nacionalidade Portuguesa Naturalidade Gouveia (10/10/1979) Idade 32 anos Altura 1,54 m Peso 55 kg Posição Avançada Clubes Boavista; 1º Dezembro; Beijing Guon (China); Mérida (Espanha); Huelva (Espanha); Atlético de Madrid (Espanha); FK Donn (Noruega); Blue Heat (EUA) e Saragoça (Espanha) 56 Edite Fernandes, capitã da selecção nacional, conta já com mais de 100 internacionalizações. Começou a jogar futebol em Vila do Conde – nos batatais da avó – e hoje é reconhecida e admirada um pouco por todo o mundo. Com apenas cinco anos já pedia à sua mãe chuteiras como prenda de anos. Começou a jogar “mais a sério” no Boavista. Entrou no clube axadrezado pelas mãos dos seus tios que, embora sabendo que dava uns toques, nunca a tinham visto jogar. “Um dia levaram-me a um treino e nunca mais saí”, explica. Aos 17 anos, e na primeira época com a camisola do xadrez vestida, Edite foi chamada à Selecção Nacional. Um dia “de grande emoção”, adianta. Por altura da Expo 98, Edite veio trabalhar para Lisboa para este mesmo evento juntamente com Adília e Carla Couto – a embaixadora do SJPF para o futebol feminino – e surgiu a oportunidade de jogar no 1º Dezembro. No entanto, na primeira época não jogou – o Boavista não a libertou –, ou seja, treinava mas não jogava. Edite não se foi abaixo e nas duas épocas seguintes deu-se tão bem no clube de Sintra que surgiu a primeira oportunidade para emigrar. Mais precisamente, para a China. “Foi a primeira aventura no verdadeiro sentido da palavra, pelo país, pela cultura. Participei num jogo entre 57 estrangeiras e chinesas. Os treinadores chineses escolheram duas estrangeiras para cada equipa da Superliga e fiquei numa das melhores, o Beijing. Fomos à final, ganhámos e fui eleita a melhor jogadora”, revela. Posteriormente, Edite regressou 1º Dezembro. Ficou no clube de Sintra durante cinco épocas. Após a conquista e vários troféus voltou a sair do País, desta feita para o Mérida, de Espanha. A aventura além-fronteiras continua e Edite passou ainda pelo Huelva e Atlético de Madrid (ambos de Espanha), pelo FK Donn, da Noruega, e pelo Blue Heat, dos Estados Unidos da América. A terminar contrato com o Saragoça (Espanha), onde é uma das jogadoras mais acarinhadas pelos adeptos do clube, Edite vai agora regressar ao Blue Heat até Agosto deste ano. Sem hesitar, a internacional portuguesa conta que não se arrepende das decisões que tomou, voltaria a fazer o mesmo, e que tudo o que conseguiu foi com “dedicação e trabalho”. Mas revela que se tivesse continuado a estudar teria optado pela advocacia. Aos 32 anos, Edite ainda não pensa na retirada dos relvados. “Vou continuar a jogar até as pernas aguentarem”, confessa. Por realizar mantêm-se um sonho: participar num campeonato profissional com a integração dos três grandes e então jogar no seu Benfica. Texto: Tiago Abreu | Fotografia: ASF FUTEBOL FEMININO clipping Crise na União de Leiria em destaque na imprensa internacional Salvador Agra distinguido pelo SJPF com o prémio Holmes Place de melhor jovem de Março na 1.ª Liga Capitão da U. Leiria explica a rescisão colectiva Contratos de trabalhos dos Jogadores iguais em toda a Europa 1.º Dezembro União de Leiria coage jogadores estrangeiros 11.º título consecutivo Ao derrotar o Vilaverdense por 1-5, o 1.º Dezembro garantiu, a duas jornadas do final do campeonato, o título de campeão nacional - 11.º consecutivo – da Primeira Liga de futebol feminino. Além deste notável registo, a equipa de Sintra não perde há 130 jogos. Recorde-se que já na fase regular, o 1º Dezembro ficou no primeiro lugar com 48 pontos. Precisamente mais nove do que o Clube Albergaria, segundo classificado, formação com quem o 1.º Dezembro vai disputar a final da Taça de Portugal, no Estádio Nacional, no Jamor, a 13 de Maio. Em declarações ao SJPF, Filipa Patão, capitã do 1.º Dezembro, diz que após a conquista do título, novo objectivo está traçado: “Queremos chegar ao fim do campeonato invictas”. Há seis anos na principal equipa do 1º Dezembro, a defesa central de 23 anos que está a concluir o mestrado em Educação Cívica e Desporto Escolar realça que a conquista do campeonato representou “uma bofetada de luva branca” naqueles que disseram que a equipa não conseguiria o título nacional. “Pessoalmente, para além do primeiro que conquistei na formação principal, este foi muito 58 saboroso, não por ser o mais difícil mas porque não se deu hipóteses a ninguém. Não perdemos qualquer jogo e isso deu uma grande confiança ao grupo que viu sair muitas jogadoras. Apesar dessa condicionante, conseguimos dar a volta por cima e isso viu-se dentro de campo. Foi uma bofetada de luva branca a todos aqueles que duvidaram do nosso valor”, explicou Filipa Patão. Rescisão colectiva na União de Leiria 59 LAZER carros Poupar em tempo de crise Mercedes-Benz SL 65 AMG Performance excepcional, potência impressionante e uma dinâmica superior simbolizam o novo Mercedes-Benz SL 65 AMG, um roadster de sonho. Cerca de 170 quilos mais leve do que o seu antecessor, esta verdadeiro bólide está equipado com um V12 de 6.0 litros biturbo que debita uma potência de 630 cv e um binário máximo de 1000 Nm. Resultado? Aceleração dos 0 aos 100 km/h em apenas 4 segundos e atinge os 200 km/h após uns escassos 11,8 segundos - a velocidade máxima é de 250 km/h (limitada eletronicamente). o motor AMG de 12 cilindros biturbo dá nas vistas com o seu funcionamento suave e com o som inconfundível do motor V12. Tudo isto com um consumo combinado de 11,6 litros aos 100 quilómetros. Em qualquer automóvel a segurança é um item de importância fulcral e então num roadster nem Cilindrada (cc) 5980 Potência (CV) 630 Binário máximo (N.m) 1000 Velocidade máxima (km/h) 250 0-100 km/h (s) 4 Consumo médio (l/100 km) 11,6 Emissões de CO2 (g/km) 270 Preço (euros) 303 500 Um roadster de bradar aos céus Volvo C30 Drive R-Design Além do estilo, da exclusividade e do preço simpático, o Volvo C30 – que só existe formato coupé – é o compacto que consegue consumos mais baixos. O motor responsável pela boa relação entre potência, prestações e consumos é o 1.6d, de 115 CV. A caixa manual de seis velocidades está muito bem escalonada para tirar o melhor partido do motor. O trabalho aerodinâmico das versões Drive consegue baixar a resistência aerodinâmica, o que ajuda a gastar menos gasóleo. A carroçaria baixa, como é comum nos coupés, também ajuda. Mas na cidade, é o sistema stop&start que brilha. É suave a ligar e desligar e tem um funcionamento exemplar. Uma boa notícia tratando-se de uma versão ecológica é que as prestações são boas, com acelerações e recuperações muito razoáveis. se fala. O SL 65 AMG apresenta uma estrutura em alumínio optimizada para colisões e o sistema PRE-SAFE está incluído no equipamento de série - além dos sistemas de assistência semelhantes aos que equipam o Classe S. Caso o veículo capote, os pilares A, compostos por uma mistura de materiais em aço e alumínio e dois arcos de protecção automáticos, ajudam a proteger os ocupantes. O Mercedes-Benz SL 65 AMG chega ao mercado em Setembro e o valor de comercialização será de 303 500 euros. As linhas, com “ombros largos” e proporções desportivas, marcam a sua personalidade. Os lugares traseiros (apenas dois) são espaçosos mas a bagageira oferece apenas 251 litros. Esta versão R-Design acrescenta alguns itens de estilo, como o difusor traseiro e os espelhos retrovisores cromados. O ar mais desportivo é pouco comum em carros mais ecológicos e nem o preço é um entrave para o C30. Já com o pack R-Design custa 28 710 euros (a versão base custa 27 110 euros). Cilindrada (cc) 1560 Potência (CV) 115 Binário máximo (N.m) 270 Velocidade máxima (km/h) 195 0-100 km/h (s) 11,3 Consumo médio (l/100 km) 3,8 Emissões de CO2 (g/km) 99 Preço (euros) 28 710 60 61 LAZER LAZER relógios FIFA STREET Ao estilo de Messi e Ronaldo ULYSSE NARDIN Relógio de edição limitada que combina a arte do esmaltado, a tecnologia e a precisão mecânica. TUDOR O novo Heritage Black Bay, inspirado num modelo de mergulho de 1954, é a perfeita encarnação do espírito vintage da Tudor. PATEK PHILIPPE A Patek Philippe propõe um calendário perpétuo cuja sofisticação técnica e estética seduzirá as mulheres modernas amantes da bela relojoaria. As expressões de “muda aos cinco, acaba aos dez” ou “balizas de um passo feitas com duas pedras”, em jogos disputados na rua a qualquer hora, pertencem à adolescência da maioria de nós. Os videojogos tentaram recriar esse passado cada vez mais distante com o título “FIFA Street”. Esta é a quarta versão da saga, sendo que a primeira obteve um considerável sucesso ao contrário das duas seguintes. O novo “FIFA Street” quer descolar-se totalmente dos seus antecessores e quase o consegue. Ao contrário do futebol de 11, onde o colectivo dita leis, em “FIFA Street” reinam os “foções”. Mais do que marcar um golo o que interessa é driblar vezes sem conta e jogos humilhar o adversário. O jogo proporciona mais de 50 fintas diferentes – não falta a célebre “cueca”. E não tenha problemas em abusar do individualismo. É que se estiver à espera da ajuda dos seus companheiros o melhor é esperar sentado dadas as paragens cerebrais dos mesmos. World Tour é o modo onde irá passar mais tempo – pode ser complementado com o online. É necessário arranjar uma equipa, com jogadores criados pelo próprio jogador ou efectuando o download de avatares de amigos. Depois, é ir melhorando os atributos dos jogadores à medida que se ganham pontos de experiência nos jogos disputados. na prática era como o jogador ter uma raquete na mão. Ou seja, com o analógico esquerdo controla-se o movimento, com o direito o tipo de pancada e a força. Ao início a coisa estranha-se, mas ao fim de algum tempo entranha-se e torna-se intuitivo. Quem se baralhar com os dois analógicos, pode substituir o direito pelos tradicionais botões. A cereja no topo do bolo está no comando Move, este si parece que o jogador tem uma raquete na mão. Por fim, nota para os comentários de John McEnroe e Pat Cash, dois antigos campeões. É sempre bom ouvir os melhores. Para controlar o tempo GRAND SLAM TENNIS 2 Seja o rei do court BREGUET Modelo em ouro rosa que reúne as últimas inovações da marca e que tem uma frequência de 10Hz. L. U. CHOPARD Este modelo da Chopard é o primeiro mecanismo mecânico de alta frequência a receber o certificado de cronómetro da história. H. MOSER & CIE O Meridian - Dual Time apresenta uma interessante novidade: uma indicação AM/PM que troca automaticamente de 12 a 24 horas. 62 Se é jogador ou adepto de ténis, então “Grand Slam Tennis 2” foi feito à sua medida. Tem a oportunidade única de jogar os quatro torneios do Grand Slam e juntar estrelas actuais do ténis (como Rafael Nadal ou Roger Federer, por exemplo) com as do passado (John McEnroe, Borg, Sampras ou Martina Navratilova, entre outros). Pode dar uso à sua raquete de três formas: Escolher um torneio, iniciar uma carreira ou desafiar um qualquer tenista em todo o mundo. O melhor mesmo de “Grand Slam Tennis 2” é a jogabilidade. A EA muito falou no Total Racquet Control que 63 O MEU ESTÁDIO Estádio DA MATA REAL Carlos Carneiro Nacionalidade: Portuguesa Naturalidade: Paços de Ferreira Posição: Avançado Idade: 36 anos Clubes: Paços de Ferreira, Sporting da Covilhã, Vitória de Guimarães, Gil Vicente, Panionios, Walsall, Vizela e Penafiel Características: ção: 5.250 Medidas: 105M x 64 M - Lota bro de 1973 Ano de construção: 7 de Outu “Mata” por engano A história do Estádio da Mata Real, em Paços de Ferreira, reveste-se de alguns equívocos e comicidades. A 7 de Outubro de 1973 foi inaugurado o Parque Desportivo da Ponte Real. Era este o nome inicialmente pensado para este espaço. Porém, depois de realizado o jogo inaugural entre o Paços de Ferreira e o Vianense, a contar para o nacional da II Divisão (Zona Norte) e que terminou com nulo no marcador. Durante a cerimónia de abertura, o então presidente da autarquia pacense Pinto de Almeida enganou-se durante o seu discurso e trocou o nome do lugar onde está situado o estádio (Ponte Real), por “Mata Real”. O nome pegou e ficou até aos dias de hoje associado à equipa. Nos anos seguintes assistiu-se a constantes melhoramentos no estádio como a iluminação artificial (1974), a primeira bancada coberta (1975), balneários e posto médico (1977). Em 1992/93, então na I Divisão, foi inaugurada a sala de imprensa e o bar. Em 2000 foram introduzidas cadeiras em todas as bancadas. Foi ainda colocada a bancada amovível no topo que acabou por se tornar fixa. Actualmente, o Complexo Desportivo é constituído pelo relvado principal e por dois campos de treinos: um de relva natural e outro de relva sintética. Carlos Carneiro formou-se no Paços de Ferreira e jogou na equipa principal durante dez épocas (com algumas interrupções pelo 64 meio). Hoje, é o director desportivo do clube e curiosamente o episódio que destaca, não lhe ficou na memória. “Perdi os sentidos num jogo com o Gil Vicente. Quando recuperei vi na televisão que no momento em que marquei o golo de cabeça também choquei com o Lemos (defesa gilista). Na altura não achei muita piada mas hoje em dia já é diferente”, conta. A Mata Real é um palco bastante “sui generis” não só pelo seu tamanho mas também pelas bancadas muito próximas do relvado que conferem um ambiente hostil para os adversários que ali jogam. “É um estádio quase à inglesa. As bancadas estão muito próximas do relvado e há um contacto muito próximo entre jogadores e adeptos. Cria-se uma atmosfera muito própria”, confidencia o antigo avançado. Carlos Carneiro destaca ainda uma matreirice que ainda hoje é utilizada pelo Paços. “Por ser um campo estreito, faz-se muitos lançamentos rápidos. É uma espécie de arma secreta que usamos para enganar as outras equipas.” “Mas foi um orgulho jogar neste estádio. Quando era júnior e assistia aos jogos na bancada, o meu sonho era chegar à equipa principal e pisar aquela relva e sentir aquele ambiente. Concretizei esta ambição e estou muito feliz por isso e grato pelo que vivi e ganhei”, finaliza. 65 regresso à infância Quando teve noção de que gostava de futebol? Nasci na Ribeira do Porto, onde a paixão pelo futebol era mesmo muito grande. Como o meu pai também era jogador de futebol desde muito novo que o meu destino estava traçado. Muitos jogos de bairro? Sim, muitos. E onde jogavam? Na rua. Mas também havia uma casa velha e abandonada que tinha um terreno à volta. Lá fizemos o campo à nossa maneira e passávamos lá o tempo. Jogava em que posição posição? Não havia, o importante era marcar golos. Dividiam-se as equipas por clubes? Havia geralmente equipas de bairro e de ruas. Caso contrário, dois de nós escolhíamos e fazíamos as equipas. BOCK 36 anos, avançado, Freamunde “As redes das balizas eram as sacas das batatas” Texto: Tiago Abreu | Fotografia: ASF Alcunha? Nessa altura era o Bock Júnior porque o meu pai também era conhecido por Bock. Assumia que era algum jogador conhecido? Na altura não. Para além da bola, o que não podia faltar? Outra bola (risos). As balizas eram marcadas com pedras? As redes das balizas eram as sacas das batatas. Mudava e terminava aos quantos? Geralmente mudava aos 6 e terminava aos 12. Primeiro a bola ou a namorada? Primeiro a bola. O gordo é que ia à baliza? Por acaso não. Havia rotação na baliza, quando se sofresse golo ia outro à baliza. Muitos joelhos esfolados? Muitos mesmo. 66 67 68