Bazuca do BCE cobre emissões de dívida pública de 2015

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Bazuca do BCE cobre emissões de dívida pública de 2015
Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Bazuca do BCE cobre emissões de dívida pública
de 2015
Rui Peres Jorge | [email protected]
O BCE poderá comprar pelo menos 8 a 9 mil milhões de euros de dívida pública, tanto
quanto falta emitir a médio e longo prazo. Economistas dizem que efeitos para famílias e
empresas chegarão por juros mais baixos e mais exportações.
O programa de compra de dívida pública do BCE equivale às emissões de dívida pública de médio
e longo prazo do Estado português a fazer este ano, estimadas entre 12 e 14 mil milhões de euros,
dos quais já foram emitidos 5,5 mil milhões a 10 e 30 anos.
Isto não significa que o BCE comprará toda esta nova dívida e muito menos em mercado
primário - as regras limitam as compras do banco central a 25% de cada emissão e 33% de toda a
dívida emitida (93 mil milhões de euros), e o BCE só pode actuar no mercado secundário. Mas dá
um noção da dimensão da intervenção do banco central.
Mário Draghi anunciou a compra de 60 mil milhões de euros de títulos por mês na Zona
Euro a partir de Março (e pelo menos até Setembro de 2016), o que se traduz em cerca de 1.450 a
1.500 milhões de euros por mês em Portugal.
Este montante inclui compras de dívida pública, de dívida emitida por instituições europeias
(12% das compras totais) e também dos programas de dívida titularizada privada (estes já
iniciados em Outubro).
Usando como indicador o ritmo de compras da dívida titularizada nos últimos meses na
Zona Euro e descontando o impacto da dívida das instituições europeias, Portugal poderá esperar
aquisições de dívida pública na casa dos 1.100 milhões de euros por mês. Nos dez meses de 2015 o
total somará 10 a 11 mil milhões de euros. Mesmo admitindo um cenário conservador para o limite
de 33% (dada a dívida que o BCE já tem em carteira), o banco central poderia ainda comprar entre
8 a 9 mil milhões de euros de dívida, um valor em linha com as emissões que falta fazer. Paula
Carvalho, economista-chefe do BPI, comenta que se trata de "um montante significativo por
comparação com as necessidades de financiamento do Estado português".
Além de baixar juros e facilitar o financiamento do Estado, os
benefícios deste programa estender-se-ão ao sector privado,
explicam os economistas ouvidos pelo Negócios. "A política
monetária expansionista e o firme compromisso do BCE com a
moeda única tenderá a favorecer a convergência entre os "spreads"
da periferia e os dos países do centro" e logo "nos spreads
bancários", diz Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio.
Além da liquidez a que terão para emprestarem à economia, os
bancos beneficiarão também da valorização da dívida pública que
têm nos seus balanços.
Paula Carvalho, do BPI, alinha na identificação de possíveis
impactos positivos "no mercado de capitais (suporte das bolsas
europeias), melhoria no mercado de crédito (redução de spreads de
crédito), desvalorização do euro (aumentando competitividade
externa das exportações portuguesas) e reforço dos níveis de confiança".
O economista do Montepio realça ainda um outro efeito: "esta política monetária é
excessivamente expansionista para países como a Alemanha, gerando aí maiores pressões
inflacionistas", o que contribuirá "para uma perda de competitividade da economia alemã face à
da periferia". Tal ajudará ao reequilibro das contas externas dentro da Zona Euro e contribuirá
"para uma convergência entre as taxas de juro de longo prazo da dívida alemã e as das demais
economias", conclui.
2015-01-23

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