A lúa e a reencarnagäo

Transcrição

A lúa e a reencarnagäo
Hans B e c h e r
A lúa e a reencarnagäo
A c r i a g S o do hörnern na imaginagao
dos indios S u r á r a , Noroeste do Brasil
L o s S u r á r a consideran c o m o S e r s u p r e m o y p a r a í s o de l o s muertos a la luna, a la que imaginan de d o ble s e x o . C o m o intermediarios entre la luna y los h o m b r e s existen los Hekurá (espíritus gigantes de a n i m a les y plantas) que viven en las montañas, invocados p o r
l o s h o m b r e s en estado de e m b r i a g u e z . En la c e r e m o nia fúnebre el cuerpo del difunto que yace s o b r e la c o pa de un árbol e s quemado junto con e s t e . Acto s e g u i do se bebe la ceniza de los h u e s o s . El alma sube con
el humo a la luna, retornando a la t i e r r a en f o r m a de
gota de s a n g r e , que al a t r a v e s a r las nubes s e c o n v i e r t e en gota de lluvia. Los h o m b r e s tienen el pene
atado con una cinta hacia a r r i b a , debido a que el p r e pucio s i r v e de embudo r e c e p t o r , llegando el alma al
c u e r p o de la mujer p o r medio del acto s e x u a l .
O mito de criagSo destes indios, urna tribo dos Yanonámi, no n o r o e s t e
b r a s i l e i r o , me fei contado pelo c h e f e dos S u r á r a e m 1955, quando e s t i v e lá
pela p r i m e i r a v e z , p o r um estágio de nove m e s e s e consta o s e g u i n t e :
A cria^äo
dos
Yanonámi
(1)
A terra j á existia e e r a cheia de plantas e animais mas ainda s e m h o m e n s . P o r é m , c e r t o dia, apareceu o p r i m e i r o h o m e m , Uruhí, f e i t o d a p e r na do X i a p ó , um pequeño p á s s a r o c o m penas pretas e a m a r e l a s , s e m e l h a n te ao J a p í m , P o u c o tempo depois a perna d o p a s s a r o pariu um segundo h o m e m , a s e g u i r um t e r ^ e i r o , um quarto e finalmente uma mulher, . P e t á .
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Estes quatro homens e a mulher viviam juntos numaperfeita harmonía. P e ta era a espSsa de Uruhí, o p r i m o g é n i t o , p o r é m o s outros t r e s i r m a o s t a m bem tiveram o direito de manter r e l a g o e s sexuais c o m ela (2). A p ó s u m a n o ,
Peta deu a luz a um menino f o r t e e sadío que s e desenvolveu rápidamente e
que passou a chamar o s quatro homens de " p a i " (3). O divertimento p r i n cipal do menino era c a g a r psissarinhos c o m o seu a r c o e f l e c h a . Uma noite
p o r é m , atirou uma flecha contra a lúa c h e i a . ¡mediatamente surgiu uma e c l i p s e da lúa. Sangue comegeu a c a i r e inundou c o m o uma m a r é enchente
toda a s u p e r f i c i e da t e r r a (4). Déste sangue s u r g i r a m todos o s Yanonámi,
s e n d o : o s S u r á r a , Pakidái, P u s e h e w e t e r i , A r a m a m e s t e r i , X i r i á n a , K a rauaterí, Waiká e t c .
E m torno disto, deu-mi Hewemäo em 1966, d u r a n t e o m e u segundo e s t á gio que durou sete m e s e s , uma interpretagao bem significante. O pequeño
p á s s a r o , mandado p o r P o r é , o dono da lúa, v e i o a t e r r a p a r a c o l o n i z a - l a c o m
o s p r i m e i r o s Yanonami. T o d o s os outros m e m b r o s deste grupo cultural e
lingüístico s u r g i r a m entao do sangue que c o r r e u da lúa.
A lúa é em ligagao c o m P o r e , o Senhor da lúa, o S e r Maximo; o paraíso
dos m o r t o s e o r e s e r v a t o r i o das almas para o s Yanonami que c r e e m na r e encarnagao.
Junto c o m as fumagas do queimamento dos f a l e c i d o s da t r i b o , as almas
chegam á lúa e p e r m a n e c e m aqui por algum tempo s o b as m a i s f e l i z e s c i r cunstancias; nunca s o f r e m de f o m e ou s e d e . Elas téem oportunidade de d e s cansar das díficuldades da vida t e r r e s t r e . A s e g u i r , a pedido de P o r e , e l a s
devem mergulhar num dos inumeros lagos lunáticos e l e v a r aqui, p o r algum
tempo, a vida em f o r m a de pequeña c o b r a aquática. Os lagos lunáticos nao
contém água, p o r é m sangue e nele, as almas s e r S o r e j u v e n e s c i d a s . Daquí,
por intermedio da chuva, que, na v e r d a d e , e sangue dos lagos lunáticos que
s e t r a n s f o r m a em agua ao a t r a v e s s a r as nuvens, elas (as almas) chegam á
t e r r a . Uma alma pode se r e d u z i r tanto, que cabe fácilmente num pingo d'
água que caí no pénis de um c e r t o h o m e m . Este é um dos motivos p r i n c i páis pelo qual todos o s homens dos Yanonámi p r e c i s a m f i x a r o penis c o m
uma cinta e virado para c i m a pois o prepucio s e r v i r á c o m o um funil. No
ato sexual c o m a sua mulher a alma entrará no c o r p o d a m e s m a ; é , p o r c o n sequencia, o motivo da formagSo de um lactante.
^ P o r é m , a alma rejuvenescida necessita alguns anos para d e s e n v o l v e r - s e .
E s t e p r o c e s s o nao esta terminado c o m o nascimento. P o r isto, o lactante
faz parte da c a r n e , do sangue e da alma da m ä e , nos p r i m e i r o s t r e s anos
de vida. P o r este motivo ainda nao r e c e b e um n o m e . S ó o r e c e b e no c o m e 50 do quarto ano de vida. O nome é indicado p o r P o r e ao pai quando e l e s e
encontra em estado de alucinagäo, provocada p o r e r v a s entorpecentes e
é s e m p r e um nome do reino animal ou vegetal. C o m a doagäo do nome a c r i anza d.ispöe a g o r a de uma p r o p r i a al ma porque depois do estado da r e j u v e nescenga esta agora esta completamente desenvolvida.
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o número de cabe9as dos Yanonámi nao pode aumentar, s ó diminuir pois
os m e m b r o s da tribo que nao s e r a o queimados, s e j a por motivos de g u e r r a
ou p o r castigo em c a s o s de t r a n s g r e s s o e s i n c e s t u o s a s , n a o f a z e m m a i s p a r te do c í r c u l o continuo do r e n a s c i m e n t o . Suas almas andam s e m destino e n tre a T e r r a e a Lúa num estado latente e m o r r e r a o e m algum dia de f o m e
e sede p o i s nao teem possibílidades de r e c e b e r c o m i d a s e bebidas. Antes
p o r e m , elas tratam de p r e j u d i c a r o s m e m b r o s da tribo o máximo p o s s i v e l
pois a continua f o m e e s e d e tornou-as e n f u r e c i d a s . Urna c r i a n z a que nasce
c o m defeitos f is i c o s s e r á matada logo após o parto e jogada no r i o . Estas
falhas sao o comprovante de que a alma está doente s e m r e c u r s o s de d e s envolver uma c r i a n z a s a d i a . P o r é s t e motivo deve s e r afogada.
A s s i m , na v e r d a d e , toda a vida na t e r r a vem da lúa e o s Yanonámi que
s e c o n s i d e r a m descendentes da lúa c r e e m f i r m e m e n t e que o seu sangue e s tá idéntico c o m o líquido dos lagos lunáticos, c o m o está sendo contado no
mito de c r i a g a o .
P o r isto s e dá grande v a l o r ao sangue menstrual; Sste é considerado s a n to e s e e r é que é p o s s i v e l r e a l i z a r todo ato no sentido b o m ou mal c o m o
m e s m o . É possivel c u r a r c o m o m e s m o um doente ou a d o e c e r um s a o . P o r
é s t e motivo o s homens t e m e m - o e d e s c o n f i a m que as mulheres m i s t u r a m no ñas b e b i d a s . Com isto, €is mulheres téem todo o poder s o b r e o h o m e m .
Os homens p r o c u r a m p r o t e g e r - s e de tal f o r m a que exigiram das mogas
ao c o m e t o da p r i m e i r a menstruagao um rito de iniciagao que ainda hoje e x i s t e . Neste tempo a mo^a está sendo isolada da tribo e e n c o n t r a - s e na c a bana de menstruapao. Sua mäe a f r i c c i o n a c o m o sangue e quando é s t e nao
f o r s u f i c i e n t e , u s a r á Urucú (bixa orellana) um corante vegetal v e r m e l h o c o mo substituiqao. Ao m e s m o tempo sua mäe espicaga c o m uma espinha de
p a l m e i r a uma tatuagem p o r c i m a do lábio s u p e r i o r representando a arcada
lunar. O material da tatuagem é genipapo um corante vegetal azul.
Devido a esta tatuagem, a s s i m c r é e m o s h o m e n s , t o d o p e r i g o p r o v e n i e n te de sangue menstrual, está r e p r i m i d o . As mulheres p o r é m o s a b e m m e I h o r : O sangue, na v e r d a d e , possui o m e s m o poder e o a r c o lunar tatuado
p o r c i m a do lábio s u p e r i o r r e f o r g a éste p o d e r , pois agora até e x t e r n a m e n te sao reconhecidas c o m o mulheres lunares.
Além disto há um outro sinal para ambos o s s e x o s a partir do quarto ano
de v i d a : a tonsura, muitas v é z e s pintada c o m v e r m e l h o : o s í m b o l o de lúa.
P o r motivos r e l i g i o s o s , ñas cagas e e m estado de g u e r r a h o m e n s , mulher e s e criangas s e pintam c o m c í r c u l o s , pontos e linhas onduladas. T a m b e m
muitos artigos de uso e j o i a s estao sendo ornamentados c o m estes a t r i b u tos.
Os c í r c u l o s representam a lúa, o s pontos seus a l i a d o s , todos o s a s t r o s
(5) e a linha ondulada s i m b o l i z a uma s e r p e n t e e ao m e s m o tempo o penis
v i r a d o para c i m a , um s í m b o l o de unificagao entre lúa e t e r r a .
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Quando estive junto c o m o s S u r á r a e m 1966, v i m o s no céu tropical noturno a p a s s a g e m lenta de s a t é l i t e s . Eu expliquei aos indios que o s mes mos
f o r a m enviados pelos a m e r i c a n o s e r u s s o s para fins de pesquisas c o m a f i nalidade de enviar homens á lúa que s e r i a entao uma evolugiío magnífica e
sensacional.
Meu a m i g o , H e w e m a o , embalangava lentamente a c a b e r a e achava de que
nao s e tratava, de modo algum, de uma evolu9ao, p o i s ele m e s m o , ou m e Ihor a sua alma e aquelas de todos os outros Yanonámi, j á e s t i v e r a m n a lúa
p o r muitas v e z e s . A vida lá é c o n s i d e r a v e l m e n t e m e l h o r do que na t e r r a
mas P o r é determinou que e l e s p r e c i s a m voltar s e m p r e para c á .
NOTAS
(1) Hans B e c h e r : Die S u r á r a und Pakidái. Z w e i Y a n o n a m i - S t ä m m e in N o r d westbrasilien. " Mitteilungen aus dem Museum f ü r Völkerkunde in H a m b u r g " , V o l . X X V I : 113-114. Hamburg I960.
(2) Os i r m ä o s mais novos e s o l t e i r o s dos S u r á r a e Pakidái t e e m o direito
de r e l a 9 5 e s sexuais c o m as m u l h e r e s d o s i r m ä o s mais v e l h o s . Além d i s to o s m e m b r o s d e ambos as t r i b o s vivem na imagina9ao de que uma m u Iher so pode p r o d u z i r filhos f o r t e s s e tiver r e l a 9 o e s frequentes c o m o u tros homens durante a sua g r a v i d e z .
(3) Os filhos S u r á r a e Pakidái denominam de " p a i " o i r m a o s o l t e i r o de pai
e nSo " t i o " .
(4) P o r este motivo está terminantemente proibido aos filhos S u r á r a e P a kidai de atirar c o m a flecha em dire9äo á lúa.
(5) O sol nao ocupa lugar nenhum na vida r e l i g i o s a destes indios p o r s e e n contrar completamente isolado no c é u . C r e - s e , que ele esta apenas c o n tornando o d i s c o t e r r e s t r e c o m o um vagabundo.
ESTAMPAS
F i g . 1 : Hewemao - chefe e p a g é d a t r i b o S u r á r a durante a festa em m e m o r i a
dos m o r t o s , em traje c e r e m o n i a l .
F i g . 2 : Chefes das tribos S u r á r a e Pakidái durante a festa em m e m o r i a d o s
m o r t o s , e m traje c e r e m o n i a l .
Fig. 3: Guerreiros Surára.
F i g . 4 : Hewemao, chefe e page da tribo S u r á r a c o m alguns g u e r r e i r o s .
F i g . 5 : Xaniwö, menino "Surára.
F i g . 6 : Y a x o í m a , filha do chefe da g u e r r a da tribo S u r á r a c o m tatuagem t í pica.
F i g . 7 : R i o p e m í , mulher da tribo Pakidái c o m tatuagem típica.
F i g . 8 : Menina S u r á r a c o m tonsura.
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Fig.
7
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Fig.4
Fig.
7
Fig. 6
Fig. 7
Fig.
7

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