influência da nutrição da ovelha na mortalidade perinatal

Transcrição

influência da nutrição da ovelha na mortalidade perinatal
VI SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA
VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA
DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010
REVISÃO DE LITERATURA
INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO DA OVELHA NA MORTALIDADE PERINATAL
DE CORDEIROS
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Pilan, G.J.G. ; Aono, N.M. ; Fernandes, S. ; Siqueira, E.R. , Mendes, M. M. , Martins, B.B.
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Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Unesp – Botucatu – SP
INTRODUÇÃO
A rentabilidade da ovinocultura está intimamente ligada, entre outros
fatores, à eficiência na produção de cordeiros por ovelha, influenciada
principalmente pela taxa de mortalidade perinatal de ovinos.
Uma das principais causas dessa mortalidade é o denominado complexo
inanição/exposição, o qual atribui a morte do cordeiro à falta de reservas
energéticas suficientes para manter sua temperatura corporal oriunda do baixo
peso ao nascer (RIET-CORREA; MÉNDEZ, 2001). A inanição, ou seja, a falta
do consumo de alimento agrava a condição do cordeiro, impedindo-o de chegar
ao úbere e mamar (AZZARINI, M.; PONZONI, R, 1971).
As causas das mortes, estão muitas vezes associadas à nutrição precária
da ovelha. Se ela for nutrida adequadamente no terço final da gestação,
quando o cordeiro ganha 85% do seu peso de nascimento (BRAND; FRANK,
2000), ele nascerá mais pesado, com maiores chances de sobrevivência, já
que suas reservas energéticas fornecerão boa condição para enfrentar o frio e
conseguir mamar.
Como o correto manejo alimentar contribui para a redução da mortalidade
perinatal de cordeiros, o sistema torna-se, portanto, mais eficiente
economicamente, pois a nutrição representa um dos maiores custos da
produção. Objetivamos, assim, reunir informações a respeito da adequada
nutrição da ovelha, pois esta é a ferramenta mais apropriada ao alcance do
produtor.
DESENVOLVIMENTO
O peso do cordeiro ao nascimento e à desmama está intimamente
relacionado à taxa de sobrevivência e ao histórico nutricional da ovelha durante
os períodos de gestação e lactação (ROSA et al., 2007).
Durante este período, as exigências nutricionais são maiores, sendo
necessária uma suplementação alimentar. Segundo Rosa et al. (2007), ovelhas
suplementadas no pré-parto apresentam maior peso e melhor condição
corporal ao parto, o que diminui a alta taxa de mortalidade de cordeiros até o
desmame. Resultados semelhantes também foram observados por Boucinhas
(2004), que observou que ovelhas submetidas à suplementação no final da
gestação apresentaram maiores pesos ao parto e desmame.
Em contrapartida, Rosa et al. (2007) verificou que, apesar da
suplementação, ovelhas perderam condição corporal ao desmame em relação
ao parto, provavelmente em virtude da oxidação das suas reservas para
produção de leite. Esse resultados estão de acordo com Montossi et al. (1998),
que afirmaram que essa diminuição corporal durante a lactação deve-se à
mobilização de reservas corporais para suprir a carência energética provocada
pelo desbalanço entre o requerimento e a capacidade de ingestão das ovelhas.
Bento et al. (1981) demonstraram que ovelhas suplementadas no final
da gestação proporcionaram maior vigor aos cordeiros ao nascer o que
resultou em altos índices de sobrevivência destes nas primeiras horas de vida.
A sobrevivência do cordeiro quando não alimentado após o parto varia
de 16 horas a cinco dias, dependendo de diversos fatores, como nutrição prénatal das ovelhas e a temperatura ambiente (CORREA et al., 1979).
O colostro é essencial nas primeiras horas de vida de um cordeiro, já que
é sua única fonte de energia e imunoglobulinas, cujos níveis são decisivos para
sua sobrevivência. Segundo Sawyer et al. (1977), a mortalidade neonatal é
freqüentemente associada à falha na transferência de imunidade passiva, o
que afeta diretamente a proteção contra doenças infecciosas.
Para que o colostro seja fornecido suficientemente, é imprescindível uma
nutrição adequada da mãe no terço final da gestação, que poderá gerar um
aumento do volume do colostro, e na concentração de imunoglobulinas
(MELLOR & MURRAY, 1985).
O atendimento aos requerimentos nutricionais da ovelha é indispensável
também para que o cordeiro nasça com vigor para procurar o úbere e ingerir o
colostro rapidamente, pois a perda da capacidade de absorção das
imunoglobulinas pelo seu intestino ocorre dentro de 24 a 48 horas pós-parto.
Dessa forma, se o consumo de colostro for demorado ou seus níveis de
imunoglobulinas forem baixos, o neonato perde a oportunidade de absorvê-las
e de se proteger contra agentes infecciosos que podem ser fatais (MELLOR, D.
J.; STAFFORD, K. J, 2004).
Mellor e Murray (1985) observaram ainda, que ovelhas sub-alimentadas
em energia e proteína no final de gestação tiveram uma queda na produção de
colostro durante as primeiras 18 horas após o parto, enquanto aquelas
submetidas a uma dieta adequada 10 dias antes da parição tiveram um
aumento de 30% no volume do colostro, além de mudanças na concentração
de gordura, lactose e proteína.
A deficiência de proteína na alimentação de ovelhas lactantes reduz a
produção de leite, prejudicando a nutrição de seus filhotes. As mortes mais
tardias por inanição (1ª a 3ª semana de vida) estão provavelmente ligadas a
essa deficiência (ROOK et al., 1990).
CONCLUSÃO
A partir dos dados apresentados, pode-se concluir que o atendimento às
exigências nutricionais da ovelha, juntamente com uma suplementação durante
o último terço da gestação é decisivo para a sobrevivência dos cordeiros. Obter
uma taxa de mortalidade perinatal baixa significa maior viabilidade econômica
e sustentabilidade da atividade. Assim, deve-se atentar às condições
nutricionais para que a mortalidade de cordeiros não seja um gargalo na
produção ovina.
REFERÊNCIAS
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