As Ideias Educacionais de Pestalozzi e Froebel no
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As Ideias Educacionais de Pestalozzi e Froebel no
Universidade Federal de São Carlos Centro de Educação e Ciências Humanas Curso de Licenciatura em Pedagogia Débora Cássia Candian As Ideias Educacionais de Pestalozzi e Froebel no contexto educacional da antiga Escola Normal de São Carlos: uma análise dos periódicos Excelsior! (1911-1916) e Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923) SÃO CARLOS - SP 2010 Universidade Federal de São Carlos Centro de Educação e Ciências Humanas Curso de Licenciatura em Pedagogia Débora Cássia Candian As Ideias Educacionais de Pestalozzi e Froebel no contexto educacional da antiga Escola Normal de São Carlos: uma análise dos periódicos Excelsior! (1911-1916) e Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923) Trabalho apresentado à Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, como Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Arce SÃO CARLOS - SP 2010 Débora Cássia Candian As Ideias Educacionais de Pestalozzi e Froebel no contexto educacional da antiga Escola Normal de São Carlos: uma análise dos periódicos Excelsior! (1911-1916) e Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923) Trabalho apresentado à Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, como Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Arce Examinadores __________________________________________________________ Maria Cristina dos Santos Bezerra – Profª Adjunta UFSCar __________________________________________________________ Manoel Nelito Matheus Nascimento – Profº Adjunto UFSCar SÃO CARLOS - SP 2010 Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui. AGRADECIMENTOS A concretização desse trabalho se deu com muito esforço e dedicação e me proporcionou experiências e aprendizagens que ficarão marcadas em minha memória e que muito contribuíram para a minha formação. Por essa razão, não poderia deixar de manifestar aqui os meus agradecimentos. Primeiramente, gostaria de agradecer à minha orientadora Profª Dr.ª Alessandra Arce, pelo suporte e orientação dados ao longo dos últimos anos e pela oportunidade de estar ao seu lado, podendo usufruir um pouco de seu conhecimento e de sua experiência, me dando a possibilidade de pesquisar sobre um assunto que era de meu grande interesse. Também agradecer à Escola Estadual Dr. Álvaro Guião, que abriu suas portas, permitindo que eu tivesse acesso e pesquisasse obras que fazem parte de seu acervo documental e bibliográfico. Às minhas amigas, que ao longo de todo o curso de Pedagogia estiveram ao meu lado, me apoiando e me incentivando a enfrentar os desafios que encontrava pelo caminho. Enfim, quero agradecer a todos aqueles que compartilharam esses momentos comigo e que de uma forma ou de outra ajudaram a tornar isso possível, como meu namorado Alessandro, meus amigos e minha família que me deram todo o suporte necessário. RESUMO Esse trabalho surge como parte integrante de um conjunto de investigações realizadas por minha orientadora e o seu grupo de orientandas dentro da linha de pesquisa História das Ideias Pedagógicas, em que se pretende uma maior compreensão sobre diferentes correntes do pensamento pedagógico levando-se em consideração os contextos culturais, sociais, políticos e econômicos do Brasil nas diferentes décadas a serem estudadas. O eixo norteador dos trabalhos que estão em realização e, por conseguinte desta pesquisa é a busca por desvelar como as ideias pedagógicas inserem-se e produzem ao mesmo tempo o contexto educacional das instituições escolares no Brasil em determinado período histórico. Objetivase, com isso, contribuir para a construção da história da educação pública brasileira. Nesta pesquisa procurou-se compreender e analisar de que forma os ideais educacionais de Pestalozzi e Froebel foram incorporados e trabalhados no interior de uma instituição escolar do estado de São Paulo, a antiga Escola Normal de São Carlos pertencente a atual Escola Estadual Dr. Álvaro Guião, durante as décadas de 10 e 20 do século XX. Para tanto, nos dedicamos a investigar como as ideias educacionais desses autores expressaram-se em dois veículos privilegiados de divulgação da produção de discentes e docentes dessa escola: as revistas Excelsior! e Revista da Escola Normal de São Carlos. Entende-se que esses periódicos refletiam muito daquilo que era ensinado aos futuros professores, representando importante meio de comunicação entre professores, alunos e comunidade e de divulgação de ideais da época. As discussões sobre Pestalozzi e Froebel também aparecem no Livro de Ouro da antiga Escola Normal, documento em que eram transcritos pelos próprios alunos trabalhos e provas que obtivessem nota máxima, sendo em seguida autenticado pelo professor responsável, o que demonstra que esses ideais estavam mesmo presentes na formação dos alunos. O período estudado marcou-se, portanto, pelo da produção e veiculação desses periódicos, ou seja, de 1911 a 1923. Palavras-chave: Ideias Pedagógicas, Pestalozzi, Froebel, Escola Normal, Periódicos Educacionais. Lista de Quadros Quadro 1: Cadeiras e Lentes da Escola Normal de São Carlos (1917)...............29 Quadro 2: Números da Revista Excelsior!..........................................................42 Quadro 3: Números da Revista da Escola Normal de São Carlos......................46 Lista de Ilustrações Ilustração 1: Vista frontal da antiga Escola Normal de São Carlos.....................30 Ilustração 2: Capa Revista Excelsior! Ano I, n. 1................................................41 Ilustração 3: Capa Revista da Escola Normal de São Carlos, Ano IV, n. 8........46 Ilustração 4: Termo de Abertura do Livro de Ouro..............................................55 SUMÁRIO Introdução............................................................................................................10 A Educação na Primeira República e a antiga Escola Normal de São Carlos.....15 1.1 A Educação na Primeira República................................................................................18 1.2 A antiga Escola Normal de São Carlos nos primeiros anos da República.....................27 As ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel veiculadas no interior da antiga Escola Normal de São Carlos..............................................................................33 2.1 Quem foram Pestalozzi e Froebel?................................................................................33 2.2 As ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel no interior da antiga Escola Normal de São Carlos............................................................................................................................39 Considerações finais............................................................................................60 Referências..........................................................................................................62 Anexos.................................................................................................................64 Introdução Esse trabalho surge como parte integrante de um conjunto de investigações realizadas por minha orientadora e o seu grupo de orientandas dentro da linha de pesquisa História das Ideias Pedagógicas, em que se pretende uma maior compreensão sobre diferentes correntes do pensamento pedagógico levando-se em consideração os contextos culturais, sociais, políticos e econômicos do Brasil nas diferentes décadas a serem estudadas. O eixo norteador dos trabalhos que estão em realização e, por conseguinte desta pesquisa é a busca por desvelar como as ideias pedagógicas inserem-se e produzem ao mesmo tempo o contexto educacional das instituições escolares no Brasil em determinado período histórico. Objetivase, com isso, contribuir para a construção da história da educação pública brasileira. Nesta pesquisa, procurou-se compreender e analisar de que forma os ideais educacionais de Pestalozzi e Froebel foram incorporados e trabalhados no interior de uma instituição escolar do estado de São Paulo, a antiga Escola Normal de São Carlos pertencente a atual Escola Estadual Dr. Álvaro Guião, durante as décadas de 10 e 20 do século XX. Para tanto, nos dedicamos a investigar como as ideias educacionais desses autores expressaram-se em dois veículos privilegiados de divulgação da produção de discentes e docentes dessa escola: as revistas Excelsior! e Revista da Escola Normal de São Carlos. Entende-se que esses periódicos refletiam muito daquilo que era ensinado aos futuros professores, representando importante meio de comunicação entre professores, alunos e comunidade e de divulgação de ideais da época. As discussões sobre Pestalozzi e Froebel também aparecem no Livro de Ouro da antiga Escola Normal, documento em que eram transcritos pelos próprios alunos trabalhos e provas que obtivessem nota máxima, sendo em seguida autenticado pelo professor responsável, o que demonstra que esses ideais estavam mesmo presentes na formação dos alunos. O período a ser estudado marcou-se, portanto, pelo da produção e veiculação desses periódicos, ou seja, de 1911 a 1923. Entretanto, compreendemos que para que possamos apreender e analisar como as ideias de Pestalozzi e Froebel se expressaram na produção de docentes e discentes da escola necessitamos conhecer como esses autores apareceram no contexto brasileiro. Para tanto, neste estudo, embora delimitemos sua periodização nas duas primeiras décadas do 10 século XX, retrocedemos no tempo. Voltamos ao século XIX na busca de reconstituir um pouco o cenário multifacetado que compõe a divulgação dos ideais dos autores no Brasil e em especial no estado de São Paulo. Consequentemente nos apropriamos de pesquisas já realizadas por outros pesquisadores da área de História da Educação. Como mencionado anteriormente, este trabalho insere-se no campo das pesquisas da História das Ideias Pedagógicas. Mas como definir este campo de pesquisa na história da educação? Poderíamos aproximar a “História das Ideias Pedagógicas” das discussões efetivadas pela Nova História e a Escola dos Annales, poderíamos também compreendê-la como correspondente a história dos grandes pedagogos. Contudo a definição que foi tomada neste capítulo e utilizada para a realização de nossas pesquisas fundamenta-se na definição feita por Dermeval Saviani (2007) em sua obra “História das Idéias Pedagógicas no Brasil”. Saviani (2007, p. 6-7) diferencia ideias educacionais de ideias pedagógicas. Para o autor enquanto as ideias educacionais compreendem, por um lado, a (a) análise dos fenômenos educativos, ou seja, as ideias produzidas no campo das ciências sendo a educação o objeto de pesquisa e, por outro, (b) a determinação filosóficas das concepções de homem, de sociedade e de educação; as ideias pedagógicas referem-se à estreita ligação entre as ideias educacionais inseridas na prática educativa com as ideias pedagógicas que se referem à teoria. O termo ideias pedagógicas incorpora os dois conceitos apresentados acima, contemplando assim a prática educativa e a teoria que a embasa. Portanto, quando se pensa o termo “pedagógico” sua referência é também a forma como este se materializa, ou seja, é operacionalizado no ato cotidiano de educar. Assim o “pedagógico” forma-se não só dos discursos e das ideias dos autores, mas também do como fazer, de sua práxis. Não podemos deixar de ressaltar que o trabalho com história das ideias pedagógicas ao procurar apreender o teórico-metodológico traduzido na práxis educativa o faz tendo como ponto de partida a práxis social na qual estas ideias são gestadas. Ou seja, o olhar do historiador observará todas as nuances e matizes que constituem o fazer pedagógico, mergulha-se em uma riqueza de detalhes, entrelaces, interfaces que só desvelam-se na realidade. O todo caótico transforma-se na síntese de múltiplas determinações sem distanciarse da busca pela verdade (tendo-se em mente que nada é absoluto) por intermédio da razão. Saviani (2007) apresenta categorias para pesquisa e análise que auxiliam na busca por caminhos para melhor contemplarmos o objeto de pesquisa. Estas categorias 11 elencadas pelo autor constituem-se em preocupações já presentes nas discussões de autores da Escola dos Annales e da História Cultural. Como por exemplo a questão da periodização e o distanciamento necessário do presente para que o trabalho do historiador possa acontecer, o que levaria a opção pela longa duração na periodização. Para Certeau (2008), o trabalho com longa duração demanda distanciamento pessoal, pois o historiador ao escrever encontra a morte residente nos fatos, nos lugares, nos documentos, nos fenômenos sociais. Este encontro a faz ressuscitar por intermédio de relações presentes que nos conduzem a ela. Contudo o historiador trava a batalha que exige o domínio intelectual de seus quereres particulares e forças atuais para que o passado possa revelar-se como síntese de múltiplas determinações, apontando as condições e possibilidades de produção nele contidas. Certeau (2008) , então adverte que ao tratarmos os fatos, reconstruí-los por meio das categorias, devemos empreender uma vasta revisão da literatura do objeto a fim de reconhecer a distância entre o fato e a ideologia nele encarnada e por vezes distorcida com sua “morte”. Este movimento de compreensão histórica deve ser feito no micro e no macro, como garantia da inteligibilidade da história. Possibilita-se assim abarcar com amplitude o objeto de estudo e o conjunto de ideias e práticas que o circundam. Quando pensamos em uma pesquisa que se propõem a desvelar e a reconstruir a trajetória de ideias pedagógicas materializadas em instituições escolares, não podemos deixar de voltar nosso olhar de pesquisador para além do macro centrando-o no micro contido nas práticas cotidianas, ou como afirma Faria Filho (2003, p.87) Por outro lado, não podemos apenas ver a floresta; é preciso calibrar o olhar para ver, sempre que necessário, cada árvore em particular. Ou seja, não podemos deixar que a visão macroscópica nos impeça de compreender a sua constituição por meio de experiências singulares, as quais, necessariamente, exigem um olhar refinado e categorias de análise adequadas. (FARIA FILHO, 2003, p. 87) Nesta busca por caminhos que consigam trazer a superfície a relação dialética que deve ser travada entre o micro e macro na pesquisa faz-se mister não perder de vista cuidados necessários para não cairmos em reducionismos. Procuramos tomar como diretrizes teóricas gerais para a realização desse trabalho as apresentadas por Buffa (2007, p. 155): “considerar a relação entre escola e sociedade, a relação entre o geral e o particular e escrever uma história não apenas narrativa, mas também interpretativa”. Assim procedendo acreditamos iniciar uma jornada na direção de repelirmos as constatações feitas por Buffa (2007, p. 155) a respeito de pesquisas sobre a história de Instituições Escolares: 12 “Constatamos que esse tipo de pesquisa apresenta sérios perigos metodológicos, pois o envolvimento do estudioso com um objeto de pesquisa tão sedutor é fácil. Difícil é produzir um resultado final crítico e proveitoso. Frequentemente, o pesquisador resvala em reducionismos teóricos tais como particularismos, culturalismo ornamental, saudosismo, personalismo, descrição laudatória ou apologética da instituição escolar. De fato, estudos e pesquisa que retratam aspectos singulares da instituição escolar, em tempos passados, são fascinantes. Todos gostam de ver enaltecidos os fundadores de uma escola significativa para a própria cidade. Todos gostam de ver, consagrados em livros, nomes e fotografias de seus antepassados. No entanto, por mais sedutoras que sejam essas pesquisas, não se pode aceitar que a descrição pormenorizada de uma dada instituição escolar deixe de levar o leitor à compreensão da totalidade histórica. Essa é exatamente a dificuldade maior: conseguir evidenciar, de forma adequada, o movimento real da sociedade.” (BUFFA, 2007, p.155) Atentos a esse perigo e às dificuldades que dele decorrem partimos do pressuposto, concordando com Saviani (2007, p. 05), de que as Instituições são criadas para a satisfação de necessidades humanas. Necessidades, essas, sempre em mudança, constantemente manifestando-se em suas criações. Este ponto de partida define as Instituições como sociais e capazes de revelarem o conjunto de relações travadas pelos atores sociais que as criaram, modificaram e as mantém. Consequentemente o historiador não pode contentar-se com visões particularizadas, fragmentadas e superficiais do cotidiano, ele deve sempre inserirse no contexto mais amplo onde o micro e macro se entrelaçam. “O quotidiano só tem valor histórico e científico no seio de uma análise dos sistemas históricos, que contribuem para explicar o seu funcionamento.” (LE GOFF, 1994, p. 93). Procuramos, portanto, nessa pesquisa avançar na “construção da identidade histórica” (NORONHA, 2007, p.167) da instituição a ser investigada, ou seja, apreendê-la, compreendê-la inserida na história da educação e na história das ideias pedagógicas brasileiras. Sendo assim, Saviani (2007) por meio da explicitação de categorias teórico metodológicas nos fornece pistas para como se pode realizar o trabalho de compreensão, apreensão e análise das ideias pedagógicas tais como: o princípio de caráter concreto do conhecimento da História da Educação; a perspectiva de longa duração (movimentos orgânicos e conjunturais); a investigação analítico sintética das fontes (articulação entre sincronia e diacronia); articulação entre singular e universal (local, nacional e internacional) e o princípio da atualidade da pesquisa histórica. Nesse sentido, a pesquisa foi dividida em três fases distintas de investigação: a primeira delas que consistiu no levantamento, leitura e análise de obras que nos ajudassem a 13 compreender a história da educação brasileira no século XIX e início do século XX, juntamente com a história do Brasil e em especial do estado de São Paulo, além do estudo da história de São Carlos e da própria escola tomada como referência. A segunda fase que marcou-se pela leitura de obras que tratam das ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel. E a terceira e última fase que se caracterizou pelo trabalho de leitura e análise dos periódicos Excelsior! e Revista da Escola Normal de São Carlos, juntamente com a leitura dos trabalhos já realizados sobre esses periódicos e sobre a antiga Escola Normal de São Carlos. Ao término dessa investigação chegamos ao trabalho que aqui se apresenta e que foi dividido em dois capítulos. O primeiro deles onde procurou-se realizar, a princípio, uma breve contextualização sobre a Primeira República Brasileira ou República Velha em busca de oferecer uma maior compreensão sobre o período histórico tomado como referência durante a elaboração deste trabalho, para logo em seguida, expor quais foram as principais questões educacionais existentes nesse momento e como se encontravam relacionadas à política e ao pensamento que se tinha na época, não deixando de evidenciar a importância da antiga Escola Normal de São Carlos. E o segundo capítulo que teve como objetivo principal apresentar como as ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel foram incorporadas e veiculadas no interior da antiga Escola Normal de São Carlos, principalmente através da análise dos periódicos Excelsior! (1911-1916) e Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923). Para tanto e para que houvesse um melhor entendimento sobre essa temática, tornou-se necessário trazer, a princípio nessa parte do trabalho, alguns esclarecimentos sobre quem foram Pestalozzi e Froebel e quais eram os ideais educacionais pensados por eles. Ao final, encontram-se a análise dos resultados obtidos e algumas conclusões a que chegamos. Também tem-se os anexos onde podem ser observados os sumários dos periódicos estudados. 14 Capítulo 1 A Educação na Primeira República e a antiga Escola Normal de São Carlos Neste capítulo faz-se, a princípio, uma breve contextualização sobre a Primeira República Brasileira ou República Velha em busca de oferecer uma maior compreensão sobre o período histórico tomado como referência durante a elaboração deste trabalho, para logo em seguida, expor quais foram as principais questões educacionais existentes nesse momento e como se encontravam relacionadas à política e ao pensamento que se tinha na época, não deixando de evidenciar a importância da antiga Escola Normal de São Carlos. O século XX foi um momento de muita agitação em todo o mundo, advinda, principalmente, das modificações do capitalismo e da transferência da hegemonia mundial da Inglaterra para os Estados Unidos. Sendo assim, do período que vai de 1889 a 1930, dentre outros fatos, tem-se a Primeira Guerra Mundial (1914/1918), a Revolução Russa (1917) e a Crise Mundial (1929/1930). A Primeira República ou República Velha período da história do Brasil que se estende do ano de 1889 com a Proclamação da República até a Revolução de 1930, é um momento em que o país também vivencia uma série de mudanças que dizem respeito a sua conjuntura política, social e econômica, provocando também transformações educacionais. A sociedade brasileira que nesse momento é patriarcal, baseada na grande propriedade de terra e no cultivo do café, passa em 1888 pela abolição da escravidão, deixando de ter a mão-de-obra escrava para ter a assalariada vinda, principalmente dos imigrantes. Apenas um ano depois, essa sociedade abandona a monarquia para se tornar República. É um momento em que cresce a importância dada ao café, que representava a força e o poder político no país, principalmente no estado de São Paulo, responsável pela maior parte da produção de café1. Segundo Basbaum (1975-76, p. 252), “Quando o café padecia, sofria o Brasil com ele. Em torno dele girou toda a nossa economia e nossa política até 1930. O café elegia os presidentes da República e mobilizava para ele os recursos do Tesouro”. 1Durante os primeiros anos da República prevaleceu no Brasil a Política do Café com Leite em que se revezam na Previdência da República políticos do estado de Minas Gerais, maior produtor de leite e de São Paulo, grande responsável pela produção de café no país. 15 Além disso, em 1891 é promulgada a Primeira Constituição da República, inspirada na dos Estados Unidos, fundamentada na descentralização do poder que se dividia entre os estados. Durou até 1930 e Rui Barbosa foi o grande responsável que copiou a constituição norte-americana sem considerar nossas diferenças. Estabelece-se, então, o Federalismo, o Estado laico, o voto universal para homens maiores de 21 anos e que saibam ler e escrever, o governo de três poderes, entre outros, destacando aqui a separação entre Igreja e Estado. O novo sistema de governo fica, então, sob o comando dos coronéis e o voto que antes era direito de quem tinha renda passa a ser direito de quem sabe ler e escrever, portanto, para votar agora é preciso ser alfabetizado o que exige a expansão do ensino. Sobre a participação popular para a instauração da República, embora existam divergências, alguns autores chegam a afirmar que talvez o povo tenha assistido bestializado, sem nem mesmo entender o que estava acontecendo. Para compreender melhor essa questão, Basbaum (1975-76) nos mostra que apesar do Brasil ter uma população, faltava nesse momento a formação do povo. Segundo esse autor: “População é mera expressão geográfica, mas povo já é uma expressão política e como tal é o principal agente, aquele que realiza os fatos e em torno do qual os mesmos evoluem.” p. 137. Quanto a isso, Basbaum explica que a população era muita esparsa, o que dificultava a formação de uma unidade que tivesse vida e ação política. Para ele, 1930 é um ano que marca o fim desse período, em que a população aparentemente passiva começa a se impor. Esse povo, que aos poucos se ia formando, concentrando-se, criando um mínimo de idéias políticas comuns, assistiu à proclamação da República, “bestificado”, apático. Mas, com o correr dos anos ele iria deixar de ser simples espectador: passaria a ser ator, e dos mais ativos, dentro da História nacional. Podemos, pois, afirmar que a formação de um povo, elemento novo na nossa história política, ao lado do empobrecimento da aristocracia rural, da proletarização das classes médias e da formação do proletariado, foi sem dúvida um dos fenômenos mais significativos e mais decisivos do período que estudamos. (BASBAUM, 1975-76, p. 177) É nesse momento que ocorre também grande movimentação no campo das mentalidades e das ideias, embora na República não se tenham produzido correntes ideológicas novas. O que houve foi numa maior abertura para a livre circulação de ideias 16 como o liberalismo, o positivismo, o socialismo e o anarquismo, importadas de modelos estrangeiros, sem levar muito em consideração à nossa diversidade cultural, política e econômica. Carvalho (1987) sob inspiração de Evaristo Moraes e Sérgio Porto chama essa fase de felicidade de porre ideológico ou de maxixe do republicano doido, pois se misturavam, sem muita preocupação com a lógica e com a coerência, várias vertentes do pensamento europeu. Um destaque deve ser dado ao positivismo que “quando da Proclamação da República, tornar-se-á uma quase religião do Estado.” (MONARCHA, 1999, p. 134) Tinha como base a “lei dos três estados” em que se argumenta que o espírito humano percorre três etapas sucessivas e ascendentes: a teológica ou fictícia, estado em que dominam as forças sobrenaturais; a metafísica ou abstrata, estado caracterizado pela crítica vazia e desordem espiritual; e a positiva ou real, estado de superação das críticas insuficientes e substituição das explicações religiosas ou metafísicas pelas leis científicas, essa última deveria ser o fim da educação. A idéia de educação positiva apóia-se na doutrina de aperfeiçoamento da natureza humana, comportando uma pedagogia da criança e do adolescente presidida pelo princípio geral da recapitulação da experiência e originando uma concepção de método didático fundada no binômio natureza e arte. (MONARCHA, 1999, p. 151.) O país estava, também, imbuído no espírito francês da Belle époque com forte inspiração em tudo que era americano ou europeu. Segundo Carvalho (1987, p. 39), “o entusiasmo pelas coisas americanas limitaram-se às fórmulas políticas. O brilho republicano expressou-se em fórmulas européias, especialmente parisienses”. Nesse sentido, embora ao se tornar República o Brasil tenha alcançado certa autonomia, sua organização ainda se apoiava em moldes europeus, sendo a principal preocupação dos republicanos a de elevar o Brasil ao nível das nações tidas como mais civilizadas. Para isso, procurou difundir a Instrução Pública e diminuir o analfabetismo deixado pelo Império, iniciando um processo de reformas educacionais. É, portanto, diante de tudo isso que surge um aspecto bastante característico desse período da história brasileira: o entusiasmo pela escolarização e o marcante otimismo pedagógico, com os quais se passa a ter forte crença na instrução pública vista como um ato 17 de espargir a luz, de democratizar a sociedade, capaz de dar a formação cívica e moral para o cidadão que deveria fazer parte do novo sistema político. (…) de um lado, existe a crença de que, pela multiplicação das instituições escolares, da disseminação da educação escolar será possível incorporar grandes camadas da população na senda do progresso nacional, e colocar o Brasil no caminho das grandes nações do mundo; de outro lado, existe a crença de que determinadas formulações doutrinárias sobre a escolarização indicam o caminho para a verdadeira formação do novo homem brasileiro (escolanovismo) (NAGLE, 1974, p. 99 - 100) A escola representava, então, no ideário republicano, a instauração da nova ordem, ferramenta eficaz para o progresso, que deixaria para traz um passado obscuro e traria um futuro luminoso. Para tanto, os edifícios escolares precisavam ser o espelho da nova ordem demonstrando através de sua arquitetura a grandiosidade, a força e a vitalidade da República, um espaço majestoso, amplo e bem iluminado construído para despertar a devoção. Nessa direção, faz-se necessário, neste momento, buscar compreender quais foram as principais decisões tomadas para que de fato se alcançasse as transformações desejadas na educação durante os primeiros anos da República, algo que será realizado no tópico seguinte. 1.1 A Educação na Primeira República A princípio, para melhor compreender como se deu a educação na Primeira República é preciso retomar brevemente algumas medidas realizadas ainda durante o período imperial . Declarada a Independência em 1822, surgia a necessidade de elaborar e promulgar uma Constituição. Em 1823, Dom Pedro I convoca a Assembleia Nacional Constituinte e Legislativa, onde é destacada a necessidade de uma legislação especial sobre a instrução pública. Para tanto, era preciso organizar um sistema nacional de escolas públicas que tivessem um plano comum em todo o território nacional. Alguns projetos são criados, mas 18 a maioria é deixada de lado. Reaberto o Parlamento em 1826, retoma-se a discussão sobre o problema nacional da instrução pública, dentre as várias propostas, sobressai o projeto de Januário da Cunha Barbosa que por ter uma proposta bem ambiciosa também acaba sendo deixado de lado. A Câmara dos Deputados prefere, então, ater-se a um projeto mais modesto, que se limitava à escola elementar, o qual resultou na Lei de 15 de outubro de 1827 que determinava a criação de “Escolas de Primeiras Letras”. Dentre seus 17 artigos, destaca-se, além do primeiro que determina a criação das Escolas de Primeira Letras “em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos”, os artigos 4º e 5º, que se referiam à adoção obrigatória do método e da forma de organização baseados no “ensino mútuo”, no qual alunos mais adiantados, depois de instruídos pelo seu mestre, atuavam como monitores, ensinando outros alunos. Essa foi uma tentativa de acelerar o ensino, o ampliando para um grande número de alunos e de uma forma menos custosa. Segundo Saviani (2007), se realmente essa lei tivesse viabilizado a instalação de escolas elementares, como se propunha inicialmente teria dado origem a um sistema nacional de instrução pública, mas isso não aconteceu. O Ato Adicional de 1834, ainda do período imperial, “conferiu às Províncias o direito de legislar sobre a instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê-la”, tirando, assim, do governo central a obrigação de cuidar das escolas primárias e secundárias. Desse modo, as províncias se tornaram responsáveis pela instrução pública, pela preparação dos professores e pela construção de escolas, excluindo de suas competências as escolas superiores. Isso suscitou a criação de sistemas de ensino paralelos, provincial e central. Por estarem desamparadas financeiramente, essa responsabilidade dada às províncias não fez com que, de fato, se começasse a construir escolas. Juntavam-se a isso os problemas decorrentes da descontinuidade administrativa, a falta de pessoal docente devidamente habilitado, poucas escolas e grande dispersão populacional. Isso tudo acabou por impossibilitar que as províncias tivessem uma rede organizada de ensino, condenando o ensino primário ao abandono e delegando o ensino secundário à iniciativa privada. O fato de muitos colégios do ensino secundário pertencer à iniciativa privada acentuou ainda mais o caráter classista do ensino, pois somente as famílias mais abastadas poderiam pagar a educação para seus filhos. Essa tendência foi firmada mais 19 tarde pela Reforma Leôncio de Carvalho que propunha o “ensino livre”, abrindo espaço para que qualquer um pudesse abrir uma escola. Sendo assim, pode-se dizer que na primeira metade do século XIX não houve muitos avanços no que diz respeito à instrução pública, o que tornava cada vez mais urgente a existência de reformas mais eficazes. Foi, então, que Couto Ferraz, então ministro do Império, teve como tarefa baixar o Decreto n. 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854, que aprovou o “Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário do Município da Corte” que ficou conhecido como “Reforma Couto Ferraz”. Um aspecto importante dessa reforma diz respeito à adoção do princípio da obrigatoriedade do ensino em que se determinava uma multa para os pais ou responsáveis pelas crianças que não garantissem o ensino elementar. Quanto à formação de professores, Couto Ferraz se mostrava descrente em relação às Escolas Normais, que para ele eram muito custosas e insuficientes, logo, podiam ser dispensadas. Apresenta, então, o que se pode considerar como a ideia fundamental da Reforma Couto Ferraz, a formação dos professores pela prática, em que aqueles que se mostrassem mais capazes através de exames eram admitidos. Os anos que seguem o Regulamento de 1854 demonstram pouca efetividade das propostas enunciadas. Segue-se, então, a Reforma Leôncio de Carvalho de 1879 onde em seu primeiro artigo se faz uma referência à moralidade e a higiene, o que segundo Saviani (2007, p. 132), “traz à tona um elemento que ocupou lugar central no ideário pedagógico brasileiro no Segundo Império e ao longo da Primeira República: o higienismo”, através do qual a educação é vista como “salutar remédio para curar as doenças da sociedade e da civilização”, “a disseminação das escolas é o único meio para nos livrar da chaga do analfabetismo”, “o espalhamento das luzes da instrução é um poderoso antídoto para curar as doenças da ignorância e da pobreza”. Contrariamente à reforma anterior, essa reforma regulamenta o funcionamento das Escolas Normais, fixando seu currículo e nomeando docentes. A nova reforma prevê também: (...) a criação de jardins de infância para as crianças de 3 a 7 anos (artigo 5º); caixa escolar (artigo 6º); biblioteca e museus escolares (artigo 7º); subvenção ao ensino particular, equiparação de Escola Normais particulares às oficinas e de escolas 20 secundárias privadas ao Colégio Pedro II, criação de escola profissionais, de bibliotecas populares e de bibliotecas e museus pedagógicos onde houver Escola Normal (artigo 8º); regulamentação do ensino superior abrangendo a associação de particulares para abrir curso livre em salas dos edifícios das Escolas ou Faculdades do Estado (artigo 22), faculdades de direito (artigo 23); e faculdades de medicina (artigo 24). (SAVIANI, 2007, p. 138) Se na Reforma Couto Ferraz se optava pelo método do ensino mútuo, a Reforma Leôncio de Carvalho se voltava para o método do ensino intuitivo. Trata-se de um procedimento pedagógico, também conhecido como lição de coisas, que parte da percepção sensível, procurando utilizar os mais diversos materiais ilustrativos, estimulando-se a impressão sensorial. Mais tarde esse método de ensino também aparece na reforma da instrução pública paulista realizada por Caetano de Campos no final do século XIX para organizar as escolas-modelos e os grupos escolares. Esse método se manteve como referência durante a Primeira República se tornando mais forte na década de 20 com o movimento da Escola Nova, influenciando várias reformas da instrução pública do final dessa década. No tópico seguinte pretende-se ampliar ainda mais essas discussões a partir das reformas no ensino realizadas durante o período republicano e que foram difundidas principalmente através da Reforma Geral da Instrução Pública Paulista. A Reforma Republicana do Ensino e a Reforma Geral da Instrução Pública Paulista Com a Proclamação da República não houve grandes mudanças no sistema educacional, apenas uma continuação daquilo que se havia iniciado no Império. Logo, ainda existia uma descentralização do ensino, a ausência de uma política nacional de educação e a instrução popular continuou sob responsabilidade das antigas províncias. Porém, no que diz respeito à organização do ensino destinada aos estados não se pode desconsiderar a existência de alguns progressos. O Estado de São Paulo foi durante esse período um grande difusor das reformas no ensino primário e na formação do magistério. Reis Filho (1995) nos fornece elementos bastante pertinentes através do seu estudo sobre o ensino público paulista durante a implantação da Reforma Republicana do Ensino nos anos de 1890 a 1896, momento posterior 21 à Proclamação da República, no qual busca compreender o esforço realizado no estado de São Paulo, nos primeiros anos da República, para criar uma estrutura de ensino público capaz de atender às aspirações do regime republicano. É em 1892, através da Lei n. 88 de 8 de setembro, regulamentada pelo Decreto n. 144B de 30 de dezembro que se coloca em execução a reforma geral do ensino público paulista em que se abrange toda a instrução pública, tendo como foco a escola primária, cuja grande inovação reside na criação dos grupos escolares. Segundo Reis Filho (1995) as influências no processo de reformas em São Paulo, tanto de Rangel Pestana redator do capítulo sobre a instrução pública do programa de propaganda republicana, quanto de Caetano de Campos Diretor da Escola Normal tiveram curta duração. No entanto, a reforma na Escola Normal de São Paulo durante administração de Caetano de Campos, pode ser melhor analisada a partir do Decreto de 12 de Março de 1890 que tem servido como base para análise da Reforma Caetano de Campos. Nesse decreto apresenta-se a necessidade de ter professores bem preparados e instruídos nos mais modernos processos pedagógicos, para que pudessem atender as necessidades da vida atual. Daí surge a explicação do por que a reforma geral da instrução pública ter começado pela Escola Normal. “Trata-se, portanto, antes de qualquer reforma geral da Instrução Pública, de reformar o programa de estudo da Escola Normal e dar preparo prático aos seus alunos.” (REIS FILHO, 1995, p. 51). Caetano de Campos foi diretor da Escola Normal de São Paulo de janeiro de 1890 a setembro de 1891. Foi durante esse período que ele iniciou as reformas nessa escola. O princípio pedagógico que orientou seu pensamento era o de escola pública, gratuita, universal, obrigatória e laica, ideias liberais que refletem uma das inúmeras correntes do pensamento europeu do século XIX que se difundiram no Brasil. E é a partir do Decreto de 12 de Março que se propõe, então, curso gratuito para ambos os sexos, com duração de três anos e com duas seções para cada ano: uma masculina e uma feminina. O curso normal passa a ter dez cadeiras e oito aulas distribuídas de acordo com o seguinte plano de estudo2: 2 Informações obtidas a partir da leitura do livro A Educação e a Ilusão Liberal: Origens da Escola Pública Paulista, de Casemiro dos Reis Filho, escrito em 1995. 22 Primeiro ano: português; aritmética; geografia e cosmografia; exercícios militares (seção masculina); caligrafia e desenho. Segundo ano: português; álgebra e escrituração mercantil (seção masculina); geometria; física e química; ginástica; música; desenho; economia doméstica e prendas (seção feminina). Terceiro ano: história do Brasil; biologia; educação cívica e economia política; organização das escolas e sua direção; exercícios práticos. Para os exercícios práticos de ensino destinados para os alunos do 3º ano da Escola Normal, é criada a Escola-Modelo anexa, base de toda a reforma da instrução pública paulista nos primeiros anos da República e que se estruturava em três graus de ensino: 1º grau para crianças de 7 a 10 anos, 2º grau para os alunos de 10 a 14 anos e 3º grau para as idades de 14 a 17 anos. No entanto, sua organização só atingiu o 1º grau, tendo o seguinte programa de ensino: • Lições de coisas com observação espontânea. • Instrução cívica. • Leitura: ensino proporcionado ao desenvolvimento das faculdades do aluno a ponto de ler corretamente, prestando o professor atenção à prosódia. • Exercício de análise sobre pequenos trechos lidos, de modo a poder o aluno compreender e ficar conhecendo a construção de frases e sentenças, sem decorar regras gramaticais. • Escrita graduada até a aplicação das regras de ortografia. • Aritmética elementar, incluindo as quatro operações fundamentais, frações ordinárias e decimais, regras de três simples com exercícios práticos, problemas graduados de uso comum. • Ensino prático do sistema legal de pesos e medidas. • Desenho à mão livre. • Exercícios de redação de carta, faturas e contas comerciais. • Noções de geografia geral e geografia física, concernente aos fenômenos da evaporação, formação das nuvens, das chuvas, dos ventos, das serras e montanhas e de sua influência na formação de rios, guiando os alunos ao conhecimento do mapa do Estado. • Ginástica, compreendendo marchas escolares e exercícios militares. • Canto oral. • Trabalhos manuais – construções, trabalhos à cola, papel dobrado, recortes, trabalhos em papelão, em cordas, em vime. Para o sexo feminino acresce: costura simples (REIS FILHO, 1995, p. 53-54) 23 Segundo Caetano de Campos era através dessa prática que os alunos obtinham na escola-modelo que se iria firmar a formação do futuro professor. Nota-se, portanto, a preocupação com o preparo prático, com pouca ou nenhuma preocupação com a formação teórica Quanto ao ensino secundário que nesse momento encontrava-se completamente nas mãos de particulares e representava uma pobre preparação para o ensino superior, o que se focava era a formação do cidadão. Caetano de Campos propunha um ensino secundário dividido em dois tipos de escolas, as do 2º grau para alunos de 10 a 15 anos e 3º grau, para alunos de 15 a 18 anos. Na base de toda estrutura das escolas de 1º, 2º e 3º graus, Caetano de Campos colocou um curso de três anos para o “Jardim Infantil”, completando assim a estrutura do ensino público proposto por ele. Os Jardins de Infância, através do processo de Froebel, objetivavam preparar o desenvolvimento dos sentidos das crianças de ambos os sexos, maiores de três anos e menores de sete, antes de ingressarem na Escola-Modelo Preliminar. (...) a Escola Normal de São Paulo estava agora organizada para atender a criança a partir dos três anos de idade, no Jardim de Infância; a partir dos sete, na Escola Preliminar “Caetano de Campos”; a partir dos doze, na Escola Complementar anexa, a partir dos dezesseis anos, no Curso Normal Secundário. (REIS FILHO, 1995, p. 169) Quanto ao método e conteúdo de ensino, Caetano de Campos retoma o método intuitivo de Pestalozzi, já desenvolvido durante a Reforma Leôncio de Carvalho de 1879 e que surgia de modelos vindos da Europa. No entanto, Caetano de Campos chega a ressaltar: Eis um primeiro ponto que tive sempre em vista: estudar nesses povos a maneira de ensinar. Isso, porém, não basta. Por lá se faz muita coisa que não precisamos fazer, e não se faz muitas outras que são indispensáveis. Daí decorre a necessidade não de adotar, mas sim adaptar esses métodos à nossa necessidade. É um segundo princípio que tive de contemplar na nossa reforma. (103) Surge, então, uma nova discussão sobre o transplante cultural, algo que ficou muito comum em nosso país, em vez de simplesmente copiar a risca os modelos estrangeiros, 24 observa-se, agora, a importância de adaptá-los as condições brasileiras. Para Caetano de Campos, a educação revolucionária só era possível graças aos princípios de Pestalozzi e para orientar a prática do novo método de ensino, considerada, portanto, base da renovação do ensino paulista, foram contratadas duas professoras que conheciam bem o método intuitivo, Dona Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, que havia estudado nos Estados Unidos e Miss Márcia Browne, ex-diretora de high school em Malden, próximo a Boston, que assumiram respectivamente uma classe feminina e uma masculina. No entanto, essas professoras dominavam a técnica, mas não os princípios teóricos, o que dificultou a experimentação pedagógica. Gabriel Prestes, diretor da Escola Normal de 1893 a 1898, deu continuidade ao pensamento de Caetano de Campos, e Cesário Mota Júnior, Secretário do Interior, iniciou a fase de execução da reforma. Para eles a educação consistia no mais eficiente instrumento para a construção de um Estado republicano democrático. As escolas-modelo serviram, então, como um padrão de ensino e organização. E em 1892, tem-se, nessa mesma direção, a reforma do ensino primário, cuja principal inovação foi a criação dos Grupos Escolares que segundo Monarcha (1999, p. 230), foram designados por um observador da época como “a criação mais feliz da República”, os grupos escolares constituem um dos elementos do padrão de excelência do ensino paulista durante a Primeira República, costumeiramente representados como centros de luz radiosa. Os grupos escolares consistiam de um ensino graduado e dividido em classes nas quais as crianças eram inseridas de acordo com seu adiantamento, ou seja, crianças com idades semelhantes eram colocadas numa mesma classe, ingressando na instituição aos 7 anos. Além disso, a criação dos grupos escolares reuniu escolas que antes eram isoladas e nos locais onde foram criados ocorria uma redução das classes multisseriadas, embora ainda não fossem classes mistas. Esses grupos deveriam seguir a orientação pedagógica das Escolas Modelo, para isso, a figura dos Diretores e Inspetores era essencial. Os grupos Escolares fundaram uma representação de ensino primário que não apenas regulou o comportamento, reencenado cotidianamente, de professores e alunos no interior das instituições escolares, como disseminou valores e normas sociais e educacionais. (VIDAL, 2006, p.9) 25 Esse sistema graduado de ensino tornou mais eficiente a divisão do trabalho escolar, formando classes com alunos que apresentavam um mesmo nível de aprendizagem, os quais demonstravam um melhor rendimento escolar, por outro lado aumentou-se a seleção e os padrões de exigência, o que provocou um grande número de repetências de uma série para outra. Sendo assim, uma questão ainda se mostrava. Nessas escolas se objetivava a seleção e a formação da elite, não englobando, portanto, a educação das massas populares. Isso vem a ser discutido mais adiante durante a Reforma Sampaio Dória de 1920, a qual instituiu uma escola primária cuja primeira etapa tinha duração de dois anos e seria gratuita e obrigatória para todos, procurando, desse modo, garantir a alfabetização de todas as crianças em idade escolar. No entanto, propunha uma educação aligeirada, que recebeu muitas críticas, o que fez com que não fosse plenamente implantada. Os grupos escolares ao introduzir uma série de mudanças na educação pública e se tornar um marco na história da educação do país tiveram importância fundamental para a consolidação da República o que possibilitou que a diferenciasse do Império, uma necessidade existente desde o momento em que foi proclamada. Com a expansão das Escolas Normais e dos Grupos Escolares houve a necessidade de se renovar os métodos de ensino. Segundo Silva (2007), as influências teóricas observadas nos primeiros anos do ensino normal pós-república são: (...) de um lado, das filosofias cientificistas e, de outro, da introdução dos primeiros ensaios de renovação pedagógica na instrução pública, ressaltando o valor da observação, da experiência sensorial, da educação dos sentidos, das lições das coisas, do método intuitivo de Pestalozzi. (SILVA, 2007, p. 18). Os republicanos tinham a visão de que a boa escola seria aquela que procurasse se basear na pedagogia moderna, definida pelo método intuitivo divulgado por Comenius e Pestalozzi, e que iria compor, por volta dos anos 20, uma das características do Movimento Escola Nova que chega, nesse momento, ao Brasil influenciando a formação dos professores e demonstrando a necessidade de modificar os métodos de ensino. De acordo com Saviani: 26 Tal método, que surgira na Alemanha no final do século XVIII e que fora divulgado pelos princípios de Pestalozzi no decorrer do século XIX na Europa e nos Estados Unidos, esteve na pauta das propostas de reforma da instrução pública formuladas no final do Império. Rui Barbosa foi um grande defensor desse método, cujos princípios e fundamentos foram por ele sistematicamente apresentados em seus célebres “Pareceres”, culminando com a tradução do livro de Calkins sobre Lição das coisas, que é a essência do método intuitivo. Caetano de Campos foi um entusiasta desse método e por ele guiou-se na organização das escolas-modelo e dos grupos escolares. (SAVIANI, 2008, p. 173) E foi para essa direção que se voltou à reforma educacional dos primeiros anos da República, difundida, principalmente, através das reformas do ensino realizadas no estado de São Paulo que se tornou referência para outros estados do país. Expandi-se, então, a importância das escolas normais e nesse período é construída a Escola Normal de São Carlos tomada como referência para este trabalho e que será melhor apresentada no tópico seguinte. 1.2 A antiga Escola Normal de São Carlos nos primeiros anos da República A antiga Escola Normal de São Carlos, do período que vai de 1911 até aproximadamente 1930, desfrutou de um grande prestígio, se tornando referência para a cidade e para a região. Prestígio esse que ainda pode ser notado nos dias atuais quando se observa sua majestosa e imponente arquitetura, semelhante a de muitas outras escolas normais construídas nesse momento. Sendo assim, faz-se necessário investigar agora: por que essa escola se tornou tão importante, o que, afinal, representou para a sociedade de sua época. São Carlos durante os primeiros anos da República era uma cidade que se destacava dentre as maiores exportadoras de café do estado de São Paulo, produto de grande representação nacional na época, e “toda a dinâmica da produção cafeeira determinava o desenvolvimento da cidade, atendendo às exigências sociais dos fazendeiros liderados pela família Botelho, principalmente pelo Conde do Pinhal, considerado seu fundador”. (SILVA, 2007, p. 21 / NEVES, [19]). Portanto, o café tornou a cidade de São Carlos uma das mais prósperas e ricas do Estado e tudo girava em torno desse produto, incluindo a rede de escolas que se destinava à formação de trabalhadores que direta ou indiretamente estavam envolvidos com a produção 27 de café: (…) do braço escravo aos técnicos e profissionais mais qualificados. Em que pesem as grandes diferenças entre o escravo e o técnico, a filosofia educacional é a mesma: braços e mentes a serviço do trabalho. Tanto a falta absoluta de escola quanto o exíguo currículo da escola elementar e até mesmo o conteúdo das “boas” escolas profissionalizantes negavam ao trabalhador uma cultura humanista clássica própria da formação do dirigente. (BUFFA e NOSELLA, 2002, p. 30-31) Quanto à formação da elite cafeeira, quando crianças, os filhos dos cafeicultores geralmente eram educados por preceptores que ensinavam a eles música e línguas. As meninas aprendiam também trabalhos manuais, noções de economia e medicina. Quando mais velhos eram mandados para colégios de padres e freiras situados em outras cidades, onde ficavam, geralmente, sob regime de internato. Nessas escolas os rapazes se preparavam para ingressar em cursos superiores, no Brasil ou na Europa, principalmente Direito, Medicina e Engenharia, ressaltando que eram cursos que procuravam formar o dirigente político. Já as moças, aprimoravam seus hábitos preparando-se para se tornar uma futura esposa de fazendeiro, sendo capaz de realizar todas as tarefas ligadas à administração da Casa Grande. Desse modo e para que não precisassem mais se deslocar para outras cidades, fazia-se necessário para São Carlos um colégio adequado para atender as exigências de formação das filhas dos fazendeiros, o que foi conquistado em 1904, quando São Carlos passou a contar com um colégio de freiras, Colégio das Irmãs Sacramentinas. No entanto, de acordo com o que pode ser observado após leitura do n. 5 da Revista da Escola Normal de São Carlos, no artigo Historia da Instrucção e da Educação no Brasil – II, Carlos da Silveira, autor do texto, demonstra que era preciso para a instrução muito mais do que os colégios dirigidos por freiras ofereciam. Penso não existirem, como seria de desejar, collegios femininos dirigidos não por irmãs de caridade, ou freiras estrangeiras, mas sim por senhoras brasileiras cuja orientação pedagógica permitisse obter, ao lado de uma cultura superior e moderna que attendesse ás necessidades do Paiz da época, um elevado civismo e um alto ás coisas nacionaes. As meninas brasileiras educadas por estrangeiras teem não só um notável desinteresse pelo Brasil como ainda manisfestam desprezo pelo que é de sua Pátria. Demais, os collegios de irmãs francesas mais afamados incutem, no espírito das alumnas, numerosos preconceitos europeus só prejudiciaes a quem nasceu na livre América e se prepara para viver num regime republicano democrático. (p-24-25) 28 Portanto, ainda faltava a realização de ter uma Escola Normal, algo que representava um desejo ambicioso de toda e qualquer cidade do interior de São Paulo. É, então, que no auge da escola pública e da formação do professor e em plena propagação dos ideais republicanos foi criada na cidade de São Carlos a Escola Normal Secundária. Segundo Buffa e Nosella (2002), O Colégio das Irmãs Sacramentinas apresenta uma profunda organicidade com a Escola Normal Secundária de São Carlos, seja em sua gênese, pois são os mesmos atores políticos que determinam sua criação; em sua arquitetura e localização, ambos apresentam prédios majestosos e próximos um do outro; em seus objetivos e métodos educacionais; e, sobretudo, sua clientela. Além disso, observa-se que a primeira turma do Colégio de freiras formou-se em 1910 e a Escola Normal iniciou suas atividades em 1911, o primeiro oferecia uma formação moral e religiosa e a segunda enfatizava a formação intelectual. É em 3 de fevereiro de 1911 que se faz, então, as primeiras nomeações do pessoal docente e administrativo para a Escola Normal Secundária de São Carlos, que passou a fornecer um curso de formação de professores com duração de quatro anos. Em 1912 foi criada a Escola Modelo Anexa para que as normalistas pudessem passar por um treinamento prático, e em 1918 começou a funcionar a Escola Complementar Anexa que oferecia um curso intermediário entre o primário e o normal. Lentes Cadeiras 1ª cadeira – Português e Latim Dr. Atugasmin Médici 2ª cadeira – Português e Latim Arthur Raggio Nobrega 3ª cadeira – Francês Juvenal Penteado 4ª cadeira – Inglês Dr. Teodorico de Camargo 5ª cadeira – Matemática Dr. Mario Natividade 6ª cadeira – Matemática Dr. Francisco Z. Penteado 7ª cadeira – Física e Química Sebastião Paulo de Toledo Pontes 8ª cadeira – História Natural Dr. Astor Dias de Andrade 9ª cadeira – Geografia Ezequiel de Moraes Leme 10ª cadeira – História da Civilização Dr. Dagoberto Salles 11ª cadeira – Psicologia Dr. Carlos da Silveira 12ª cadeira – Psicologia João Augusto de Toledo 13ª cadeira - Metodologia Antonio Firmino de Proença Quadro 1: Cadeiras e Lentes da Escola Normal de São Carlos (1917) Fonte: Revista da Escola Normal de São Carlos 29 Com a Lei n. 1.750 de 08 de dezembro de 1920 – Reforma Sampaio Dória – unificam-se as escolas normais primárias e secundárias e com isso a Escola Secundária de São Carlos passa a denominar-se Escola Normal de São Carlos. Ter conseguido implantar na cidade de São Carlos uma Escola Normal Secundária demonstrava a força dos grupos de poder locais ligados à elite cafeeira e que no momento estavam fortemente vinculados aos ideais republicanos. O prédio, onde apenas em 1916 a Escola Normal foi instalada e que ainda se mostra presente na cidade de São Carlos, espelha como muitos outros prédios da época construídos pelos barões do café a imponência que a República queria demonstrar. Como se sabe, as escolas normais deveriam representar os valores e ideais desse novo sistema político que se implantava no país. Para tanto, não só sua arquitetura foi devidamente pensada, mas como sua localização que permitia que fosse sempre visível e notada. Ilustração 1: Fonte: BUFFA, E. & NOSELLA, P. (2002) – Schola Mater. A Antiga Escola Normal de São Carlos, 1911-1933 - primeira reimpressão. São Carlos: EDUFSCar/FAPESP. Para Buffa e Nosella (2002, p. 82), a Escola Normal de São Carlos preocupava-se em formar um profissional competente e imbuído de valores republicanos, por essa razão, grande parte das disciplinas do currículo voltava-se para a cultura geral, às letras e 30 às ciências modernas. Já para a formação pedagógica existiam disciplinas como Psicologia, Didática e o estágio na Escola Modelo Anexa. Sobre a clientela de alunos, os autores a caracterizaram como sendo: As mulheres, em sua maioria, eram filhas de fazendeiros (...) ou de ricos negociantes. Os rapazes pertenciam a grupos menos favorecidos, pois os filhos dos fazendeiros dirigiam-se às Faculdades de Direito, Medicina, Engenharia, no Brasil ou no exterior. (BUFFA e NOSELLA, 2002, p. 60). Dentre as conclusões obtidas por Buffa e Nosella durante seus estudos, tem-se que o grande prestígio da velha Escola Normal não decorria da formação do professor e sim do rigor nos estudos da cultura geral. Grande parte do currículo dessa Escola era voltada para a formação do dirigente e tinha como função proporcionar uma distinção entre aqueles que lá se formavam e os outros grupos sociais que lá não poderiam estar, pois a Escola Normal apesar de ser pública, não era gratuita. A Escola Normal, portanto, se afastava do trabalho mecânico e manual, se distanciando, até mesmo, do trabalho intelectual que correspondia à profissão a qual os estudantes eram preparados e que ao final acabava por servir apenas como um ornamento para a elite, pois muitos dos alunos não se engajavam no trabalho para o qual foram formados. Apesar disso, para esses autores, a Escola Normal da República Velha é denominada como uma “schola mater”, por ter representado a matriz pedagógica do ensino fundamental brasileiro. Devido à sua grande importância para o período, tornou-se um marco na memória do ensino no país, sendo ainda referência nas discussões sobre formação de professores. A antiga Escola Normal de São Carlos representou, então, a típica escola da Primeira República, exercendo importante papel para a formação dos futuros professores, responsáveis por moldar a nação republicana. E é por essa razão que pode ser considerada como uma referência pedagógica para a região e para o Estado de São Paulo. Enfim, levando-se isso em consideração, ao estudar essa instituição nota-se que ela representou a síntese das múltiplas determinações sociais de sua época histórica, o que possibilita a compreensão e o olhar sobre aquilo que é local sem desvinculá-lo do âmbito da totalidade. Desse modo, desvela-se como um lócus privilegiado para olhar a sociedade e suas 31 práticas sociais em um determinado momento histórico, ou seja, desnudam-se como unidades de ação a revelar os objetivos e finalidades perseguidas pelos homens que as construíram. Nesse sentido e pensando mais especificamente no nosso objeto de estudo, pode-se, portanto, apreender em movimento as ideias pedagógicas, compreendendo como os pensamentos de Froebel e Pestalozzi chegaram ao Brasil e como foram adaptados à nossa realidade, algo que será melhor desenvolvido mais adiante nesse trabalho. 32 Capítulo 2 As ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel veiculadas no interior da antiga Escola Normal de São Carlos Este capítulo tem como objetivo principal apresentar como as ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel foram incorporadas e veiculadas no interior da antiga Escola Normal de São Carlos, principalmente através da análise dos periódicos Excelsior! (1911-1916) e Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923) que representaram importantes meios de comunicação entre professores, alunos e comunidade e de divulgação de ideais da época. Para tanto e para que haja um melhor entendimento sobre essa temática, torna-se necessário trazer, a princípio, alguns esclarecimentos sobre quem foram Pestalozzi e Froebel e quais eram os ideais educacionais pensados por eles. 2.1 Quem foram Pestalozzi e Froebel? Pestalozzi e Froebel viveram num período histórico denominado por Eric Hobsbawm como “A Era das Revoluções” por compreender um momento marcado por guerras e revoluções, tais como a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, as Guerras Napoleônicas e as Revoluções de 1848. Também foi um período de “Contra-revoluções”, pois a burguesia conservadora precisava lutar contra o proletariado e os camponeses que agora reivindicavam o cumprimento das promessas de liberdade, igualdade e fraternidade. De acordo com Arce (2002), em seu livro A Pedagogia na “Era das Revoluções”: uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel, obra que servirá como principal base para essa apresentação, ambos os autores contribuíram, através de suas propostas educacionais, para a disseminação do ideário burguês presente na sociedade de sua época a qual refletia um conjunto de contradições advindas do capitalismo e na qual se tornava cada vez mais impossível a efetivação dos ideais iluministas. De um lado existia o ideal de formação plena e livre do homem e, do outro, intensa alienação presente na lógica da reprodução das relações entre capital e trabalho. 33 Johann Heinrich Pestalozzi Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em 12 de janeiro de 1746 em Zurich, uma cidade situada na parte germânica da Suíça e morreu em fevereiro de 1827. De acordo com Krüsi (1875, apud in ARCE, 2002) Pestalozzi sempre se preocupou com a miséria e a pobreza que o cercava e considerava que isso era consequência da ausência da moral cristã. Embora tivesse essa preocupação, não pensava em uma distribuição igualitária da riqueza e no fim da exploração entre as classes sociais, mas sim numa espécie de doação vinda dos mais ricos para os mais pobres para que esses pudessem ter o mínimo para a sua sobrevivência. Numa tentativa de abrir uma escola para os pobres em uma fazenda de Neuhof, Pestalozzi decreta falência por não saber lidar com assuntos financeiros e sua família passa a viver na pobreza. É, então, que decide escrever para mudar essa situação e transformar seus escritos em um instrumento pedagógico que divulgasse valores que ajudassem as pessoas a ter uma vida mais digna e moralmente mais elevada. Em 1781 escreve uma de suas mais importantes obras o romance Leonardo e Gertrudes o qual revela muito sobre sua época e seu pensamento. Em 1798, Pestalozzi recomeça seu trabalho com crianças pobres na cidade de Stanz. Nesta escola a convivência era baseada no amor, no respeito e no bom exemplo, todas as decisões eram tomadas em conjunto com as crianças e as brincadeiras eram muito utilizadas para manter a atenção delas. Sobre a educação intelectual, tudo tinha que ter um significado para as crianças e estar relacionado com o seu cotidiano. Foi com esse trabalho que Pestalozzi percebeu a importância da intuição na educação. No entanto, foi numa escola criada em um castelo em Burgdorf que Pestalozzi fica conhecido em toda Suíça e Alemanha e em 1801 publica sua mais importante obra educacional Como Gertrudes cria seus filhos. É nesta escola que ele desenvolve o seu método de alfabetização, o “ABC da Intuição” o qual se baseia no ensino dos sons antes do nome das letras e demonstra a importância da intuição para a educação. 34 Friedrich Froebel Friedrich Froebel nasceu em 21 de abril de 1782, na vila de Oberweissbach, do Principado de Schwarzburg – Rudolstadt, situada na floresta da Turíngia, região sudeste da Alemanha. Devido a algumas circunstâncias foi uma criança quase que entregue a si mesma o que fez com que tivesse uma atitude autodidata. Apesar disso, foi com o pai que Froebel aprendeu a ler, a escrever e a calcular e foi de quem recebeu fortes influências da religiosidade tomando-a como princípio em sua concepção educacional. Em Frankfurt tornou-se professor, levando consigo os ideais da auto-educação e do auto-aperfeiçoamento os quais incorporaria em sua proposta educacional voltada, principalmente, para uma metodologia de trabalho baseada na prática, era o “aprender fazendo”. Através da baronesa Caroline Von Holzhausen conhece as ideias de Pestalozzi e em 1808 vai para Iverdon conhecê-lo, ficando até 1810 quando atritos constantes com o grande educador o obrigam a partir. Segundo Froebel, Pestalozzi ao se preocupar com questões políticas, sociais e econômicas estaria deixando de lado o que era mais importante, a espiritualidade do homem. Além disso, discordava da metodologia utilizada por Pestalozzi com a qual as crianças aprendiam a ler e a escrever desde muito cedo. Froebel acreditava que as crianças deveriam ser deixadas livres para expressar seu interior. Em 1826 escreve sua mais importante obra com caráter filosófico A educação do homem e em 1837 funda, em Blankenburg, o Instituto de Educação Intuitiva para a AutoEducação que depois passa a se chamar Instituto Autodidático. Para a realização do autoconhecimento com liberdade, Froebel se utiliza do jogo e da brincadeira como instrumentos, proporcionando através deles um exercício de exteriorização e interiorização da essência divina de cada criança, levando-a a conhecer e a aceitar a Unidade Vital, isto é, a tríade formada pela Humanidade, Deus e a Natureza. Os brinquedos criados por Froebel para esse fim foram chamados de “dons” por serem vistos como “presentes” dados às crianças para que pudessem se descobrir. Em junho de 1840, Froebel funda o primeiro jardim de infância (kindergarten) na cidade de Blankenburg o qual constituía os princípios da pedagogia frobeliana aplicados a 35 crianças menores de seis anos. Em 1851 são proibidos na Alemanha todos os jardins de infância, pois Froebel é acusado de ateísmo e de ser socialista. Apesar de ter negado as acusações, morre em 1852 sem que seus jardins de infância tenham voltado a funcionar. Arce (2002) ao analisar e contextualizar esses autores e suas obras se volta para a seguinte pergunta: Como Pestalozzi e Froebel viam a função da educação dentro da sociedade e que tipo de homem desejavam formar? Ao estudar essa questão observou que não se podia descartar, em momento algum, a forte relação com a religião protestante seguida fervorosamente pelos dois autores. Pestalozzi em sua obra A educação do homem – aforismos demonstra sua crença de que o homem nasce bom, mas é corrompido pela sociedade, por isso todos eram vistos como iguais, com o mesmo potencial, se diferenciando apenas em sua dedicação, transfere-se, assim, para o sujeito, a responsabilidade por seu sucesso ou por seu fracasso. Além disso, defende que a grande vitória que o homem pode ter é a vitória sobre si mesmo, pois o conflito do homem está dentro dele próprio, por isso, os desejos devem ser controlados, apenas o amor, a solidariedade e a humildade podem ser alimentados. Para Arce (2002), a moral de Pestalozzi reside nesse ponto: “no respeito à nossa Natureza, no conhecimento, na prática e no desejo de Deus, este leva a desejar o certo que vale mais do que o simples cultivo do intelecto” (2002, p. 143). Froebel em seu livro com o mesmo título A educação do homem também compartilha de ideias semelhantes. Para ele, Deus é o princípio de tudo e o homem deve procurar se harmonizar com sua divindade e com as criações divinas. Tanto Pestalozzi quanto Froebel buscavam o princípio a partir do qual os homens seriam considerados como iguais. Para Froebel esse princípio encontrava-se na relação entre infância, natureza e Deus. Já para Pestalozzi estava na bondade inata do homem que deveria ser cultivada. Apesar disso, ambos acreditavam que a igualdade dos homens residia na sua essência divina. Por essa razão, era retirada do ser humano toda sua historicidade, desconsiderando toda a transformação na natureza que vem sendo realizada pelos homens ao longo da história. Sua vida em sociedade passa a ser notada como algo dado, já determinado e que não pode mudar, ocorrendo um processo de naturalização. “Naturalização” que não significa uma busca do que é genuinamente natural, mas do que passa a ser considerado como 36 natural. Assim naturalização, ao invés de significar uma tentativa de retorno a um primitivo estágio natural, significa a tentativa de justificação, através da eternização e da universalização, de uma determinada realidade, apresentando-a como correspondente à natureza humana (...) (NEWTON DUARTE, ARCE, 2002. p 135) De acordo com os princípios educativos de Pestalozzi a educação deveria seguir o desenvolvimento natural do ser humano, por isso era preciso dividi-la em estágios. O professor deveria seguir e respeitar essa divisão, não se colocando como um obstáculo, seu ensino deveria se voltar para aquilo que as crianças vivenciavam em seu cotidiano, partindo dos conhecimentos que elas já possuíam. Portanto, a criança se tornava o centro de todo o processo educativo. Além disso, seu método de ensino estava ligado ao trabalho com os sentidos. Chamado de ABC da intuição era um método que orientava as crianças a se conhecerem e a descobrirem o mundo que as cercava através dos sentidos. Objetivava-se, com isso, superar o ensino livresco e a mera transmissão de informações e definições que nunca seriam utilizadas na vida real dos alunos, propondo até o seu abandono para a aquisição de conhecimentos diretamente da natureza. Pestalozzi defendia, também, que o homem além de conhecer e pensar precisava agir, desenvolvendo atitudes ligadas ao caráter moral e à formação de virtudes adquiridas através da prática e, principalmente, da relação em família. Através dessas propostas, Pestalozzi acreditava proporcionar a educação integral do homem, o objetivo de toda sua metodologia, formar homens que estivessem em harmonia com Deus, com a natureza e com os outros homens. Froebel apesar de discordar de Pestalozzi em alguns pontos também compartilha de ideais parecidos. Para ele a educação deve levar a criança, vista como uma semente que deve ser cuidada com muita atenção, a descobrir-se enquanto criatura divina capaz, também, de criar assim como seu Criador. A escola deve promover, para isso, o livre desenvolvimento da criança, orientando-a para o caminho correto onde suas potencialidades serão desenvolvidas em harmonia com a natureza, Deus e a Humanidade. Os processos de exteriorização e interiorização devem nortear toda metodologia educativa que deve estar 37 alicerçada a experiência e a atividade espontânea da criança. O processo de interiorização consiste no recebimento de conhecimentos do mundo exterior, já com o contrário, a exteriorização, a criança exterioriza o seu interior através da arte e do jogo. Ao adulto cabe apenas satisfazer e incentivar a curiosidade natural das crianças. Esse papel de educador era dirigido, especialmente, para as mulheres, tidas, por Froebel como as únicas capazes de educar com liberdade e amor, respeitando o desenvolvimento natural das crianças, por terem naturalmente o sentimento materno. Após fazer esse levantamento, Arce (2002) observa que as ideias educacionais de Froebel e Pestalozzi trazem consigo a contradição existente na ideologia burguesa apresentando uma pedagogia da resignação, acrítica e antiescolar, direcionada, principalmente, para as classes populares. Segundo a autora, a sedimentação da burguesia foi aos poucos individualizando a sociedade, depositando no indivíduo toda a responsabilidade por seu fracasso ou sucesso dentro dessa nova organização social onde é dito que todos têm as mesmas chances, o indivíduo só não obterá sucesso se não tiver se empenhado o bastante. Naturalizam-se, então, o papel da escola e do professor e restringe-se a educação ao mínimo possível de conhecimentos, valorizando-se apenas o que é necessário para a vida cotidiana. A escola deixa de ser o centro do processo educativo em benefício dos processos espontaneístas. Não há uma preocupação com a transmissão de conhecimentos, o que rebaixa o nível do ensino e empobrece os conteúdos. Contudo isso se impossibilita a compreensão sobre as verdadeiras determinações da ordem social na qual as pessoas estão envolvidas, transformando-as em seres que aceitam o que está pré-determinado, sem que discutam e enxerguem de forma crítica o que faz parte de sua realidade. Arce (2002) acredita que não se pode deixar de considerar que tanto Pestalozzi, quanto Froebel fizeram descobertas importantes para sua época, tais como a necessidade da brincadeira para o desenvolvimento infantil, a inutilidade dos castigos físicos, a necessidade dos professores discutirem sobre o que será realizado em sala de aula e a importância do desenvolvimento infantil, pensando na criança como um ser diferente do adulto. E muito das características observadas nos ideias educacionais de ambos os autores viriam a constituir, mais tarde, o movimento escolanovista. 38 2.2 As ideias educacionais de Pestalozzi e Froebel no interior da antiga Escola Normal de São Carlos Após esclarecer quem foram Pestalozzi e Froebel e o que pensavam sobre educação, parte-se agora para uma descrição de como seus ideais começaram a se inserir no Brasil e foram incorporados aos discursos veiculados no interior da antiga Escola Normal de São Carlos, aparecendo, principalmente, nos periódicos Excelsior! e Revista da Escola Normal de São Carlos. Como já mencionado no capítulo anterior, foi com a Reforma Leôncio de Carvalho que se optou pela primeira vez no Brasil pelo método do ensino intuitivo ou lições de coisas. Método tomado novamente como foco durante a reforma da instrução pública paulista realizada por Caetano de Campos no final do século XIX e que se manteve como referência durante a Primeira República, tornando-se mais forte na década de 20 com o movimento Escola Nova. O método do ensino intuitivo, cujos principais influenciadores foram Pestalozzi e Froebel, se expressou no Brasil principalmente através da tradução e adaptação realizada por Rui Barbosa do livro de Norman Allison Calkins, sob o título Primeiras lições de coisas, manual destinado aos pais e professores que representou o desejo de se adotar um método que estivesse de acordo com a renovação pedagógica que se pretendia. Segundo Valdemarin (2004), esse manual apresentava propostas para a transformação das práticas pedagógicas, trazendo conteúdos a serem ministrados na instrução elementar que eram acompanhados de prescrições sobre como deveriam ser transmitidos ao aluno. Dentre os princípios fundamentais das lições de coisas apontados por Calkins, admitiam-se os sentidos como o principal instrumento de aprendizagem, justificando, então, o ensino pela intuição. Sendo assim, a observação e a experimentação se tornavam algo essencial. Através da manipulação dos objetos as crianças iriam explorar sua percepção sobre as semelhanças e as diferenças, “distinguindo formas, tamanho, sons, sabores, cheiros e contatos, apreendendo sua variedade e quantidade por meio da experiência e não dos vocábulos que os designam.” (VALDEMARIN, 2004, p. 121), para tanto, torna-se de extrema importância a utilização dos mais diversos materiais que pudessem auxiliar e estimular a educação dos sentidos. 39 Além disso, o ensino deveria levar em consideração as etapas do desenvolvimento humano, portanto deveria ser graduado, seguindo a ordem da natureza e indo sempre do saber mais simples para o mais complexo. Incentiva-se a educação da mão que aprimorava a coordenação motora, tão necessária para a aprendizagem da escrita e consideravam-se os jogos e as brincadeiras como estratégias para a produção do conhecimento. Resumindo, o método do ensino intuitivo (…) tem como princípio filosófico serem os sentidos a origem do conhecimento e das idéias intuídas a partir da experiência, base geral da reflexão. O método de ensino, assim como o método de conhecimento, constitui-se nessa proposição como um recurso auxiliar criado para garantir a eficácia e a validade da aprendizagem, prescrevendo passos metódicos numa atividade que reproduz, com eficiência, os mecanismos humanos desencadeados no processo de conhecimento. A escola vai elaborar experiências para que a percepção dos objetos particulares ali apresentados gere idéias que vão, posteriormente, ser transformadas em idéias gerais e universais, garantindo assim uma concepção de mundo coesa e articulada. (VALDEMARIN, 2004, 123) Sabe-se que a educação está intimamente ligada ao tipo de sociedade e ao ideal de formação humana que se tem. Durante a Primeira República, como a sociedade passava por um processo de transformação, começou-se a desejar um novo tipo de cidadão que estivesse de acordo com os valores culturais e políticos que iriam consolidar e garantir a continuidade do novo sistema de governo. Para tanto, era preciso criar meios para formar esse cidadão o que trouxe a necessidade de renovação dos métodos de ensino. O método do ensino intuitivo surgiu, então, como a solução capaz de formar pessoas que estivessem adequadas às transformações políticas e econômicas que estavam em curso. Desse modo, a antiga Escola Normal de São Carlos, representando a típica escola da Primeira República, não podia ficar de fora das discussões que se travava no momento. Ao exercer importante papel na formação dos futuros professores, responsáveis por moldar a nação republicana e por possuir status que a engrandecia como uma formadora de intelectualidade no interior paulista, produziu inúmeros periódicos3 com o objetivo de debater com a comunidade os ideais que precisavam ser difundidos. 3 É importante mencionar que, além da Revista Excelsior! e da Revista da Escola Normal de São Carlos, foram publicadas também outras revistas em datas diferentes. Na ordem cronológica, encontram-se O estudo, em 1916; O raio Verde, em 1917; O Sorriso, em 1928; O Normalista, em 1929; O Paulista, em 1933; Sociologia, em 1936; Anuário, em 1939; Suplemento Estudantino, em 1940; Boletim do Clube de Sociologia e História do Brasil, em1941; O Estudante, em 1963, O Fenômeno, O Atletário e O Pernilongo, em 1972; e O Curioso, em 1973 (Silva, 2007, p. 28). 40 Entre estas publicações destacam-se: a revista Excelsior! (1911 – 1916) e a Revista da Escola Normal de São Carlos (1916 – 1923), objetos de análise desse estudo, através das quais objetiva-se compreender de que modo os pensamentos de Pestalozzi e Froebel foram inseridos no contexto da antiga Escola Normal de São Carlos e estiveram presentes durante o processo de formação dos futuros professores. Tais publicações são importantes para a história da educação no Brasil, pois em suas páginas encontra-se gravado o embate educacional do período em que foram editadas. Estes periódicos já tiveram algumas temáticas exploradas por outros pesquisadores4 da área, entretanto, a presença do pensamento de Pestalozzi e Froebel ainda não tinha sido analisada mais profundamente. Nesse sentido, começo, então, pela revista Excelsior! que foi publicada entre os anos de 1911 e 1916 pelo Grêmio Normalista “Vinte e Dois de Março” da Escola Normal de São Carlos, tendo um número especial no ano de 1939, pelo Centro Estudantino Sancarlense. Iniciou sua publicação juntamente com a criação da escola, sendo sua primeira revista pedagógica escrita antes mesmo da Revista da Escola Normal de São Carlos Ilustração 2: Capa Revista Excelsior! Ano I, n. 1 4 Um exemplo destas pesquisas são os seguintes trabalhos: SILVA, Emerson Correia da. A CONFIGURAÇÃO DO HABITUS PROFESSORAL PARA O ALUNO MESTRE: A ESCOLA NORMAL SECUNDÁRIA DE SÃO CARLOS (1911-1923), dissertação de mestrado - Ano de Obtenção: 2009; SILVA, Emerson Correia da; NERY, Ana Clara Bortoleto. O periódico Excelsior! (1911-1916) como ponto de observação do campo de formação de professores. Série-Estudos (UCDB), v. 26, p. 173-185, 2008; NERY, Ana Clara Bortoleto; SILVA, Emerson Correia da. Associativismo Discente nas Escolas Normais do Brasil e de Portugal. Revista Educação e Cidadania, v. 5, p. 25-37, 2006; SILVA, Emerson Correia da. O professor ideal em Excelsior! (1911-1916): a revista dos alunos da Escola Normal de São Carlos. 1. ed. São Carlos/SP: Rima, 2007. v. 1. 96 p.; NERY, Ana Clara Bortoleto ; OZELIN, Jaqueline Rampeloti ; SILVA, Emerson Correia da ; INOUE, Leila Maria . Divulgando Práticas e Saberes: a produção impressa dos docentes das Escolas Normais do Brasil e Portugal (1911-1950). Marília/SP: M3T, 2007. v. 1; DIAS, Eneas B. Revista da Escola Normal de São Carlos (19161923): um estudo sobre idéias e práticas educacionais – dissertação de mestrado – 2009. 41 Ano 1 1 2 2 2 3 4 Número 1 2 3 4 5 6 7 Data 15/11/1911 22/03/1912 02/1913 18/10/1913 15/11/1913 09/1914 07/09/1916 Nº de páginas 26 p. ----------16 p. 19 p. 18 p. ------ Quadro 2: Números da Revista Excelsior! Foi uma revista literária pedagógica que buscava promover uma maior relação entre alunos e sociedade. Era de responsabilidade discente e consistia em artigos escritos pelos alunos, professores e alguns convidados, onde eram discutidas questões educacionais e tendências pedagógicas da época. Ao ler alguns de seus números5, pois nem todos se encontravam a disposição para o presente estudo, nota-se que ela transbordava em suas páginas o discurso pedagógico do período estudado. Segundo Silva (2007), em sua pesquisa em torno da revista Excelsior! podia-se descobrir que tipo de professor constituía a comunidade escolar da época e quais as concepções educacionais esse professor possuiria ou deveria possuir. Seu trabalho nos permite vislumbrar como os saberes educacionais que circulavam na escola durante o período em que a revista foi escrita transcreviam-se por meio dos artigos de discentes e docentes. Embora não fosse o enfoque de seu trabalho, Silva (2007) chega a comentar brevemente sobre a presença de Pestalozzi e Froebel nas páginas da Excelsior!, pois estes autores foram referência para muitos colaboradores da revista e não tinha como deixar de dar destaque a eles. Para Silva (2007), a revista Excelsior! apresentou-se, então, como divulgadora de um ideal de formação de professores, sendo o professor ideal aquele que era conhecedor do método analítico, estudioso da psicologia experimental e que fundamentava seu pensamento em autores como Pestalozzi e Froebel. Além disso, deveria representar o modelo de civilidade e patriotismo a ser seguido pela sociedade. De acordo com esse autor, a revista Excelsior! teve duas fases distintas, a 5 Foram lidos os números: 1 do ano de 1911, número 5 de 1913, número 6 de 1914 e número 7 de 1916. 42 primeira fase, na qual se percebe uma maior ação dos professores e diretores, que se preocupavam com cada passo dos alunos. E a segunda fase, na qual a atenção não está voltada para a revista, mas para os exercícios de aula, por isso, os alunos passam a se expressar com mais liberdade. É na segunda fase, que se observa a valorização da psicologia experimental, mantendo-se as influências de Pestalozzi e Froebel, no entanto, para que possamos apreender o movimento das ideias pedagógicas deste período em sua complexidade nos dedicamos a trabalhar com os dois períodos. Sendo assim, é no artigo Fazer para Aprender escrito por João Lourenço Rodrigues, no número 1 dessa revista, que se pode observar o primeiro texto de ordem didático-pedagógica, onde é feita uma breve análise dos processos educativos de Pestalozzi. Nota-se, entre outras, a importância que deve ser dada à intuição durante o processo educativo e a necessidade de se modificar a forma como o professor deveria agir dentro da sala de aula. O que pode ser observado com a seguinte citação: Foi nessas circunstâncias que surgiu Pestalozzi. Elle não quer que a creança aprenda mais de outiva, mas por intuição, isto é, vendo as coisas ao natural. Era o primeiro gérmen das lições ee coisas, que tão largo desenvolvimento deviam tomar na obra da educação. Aprender vendo: segundo a nova orientação, a creança côr, a sonoridade, o gosto, aprende-lhes os nomes. O papel do preceptor se modifica. Seu monólogo de outrora transforma-se num diálogo vivo, animado com a creança. Aparece ainda uma outra ideia de Pestalozzi, a de que a criança deveria realizar por si mesma o processo de descoberta. Nunca ensineis a uma creança, preceituária Pestalozzi, aquillo que elle puder descobrir por si mesma; e sob a impulsão da curiosidade, continuamente estimulada, o espírito da creança torna-se insaciável. Ella fala continuamente, mas já não é um phonographo, um puro écho da palavra de outrem. O que ella diz é a repercussão das suas próprias impressões. No entanto, discute-se que faltava a Pestalozzi a educação da mão, algo que foi resolvido mais tarde com os estudos de Froebel. 43 Coube a Froebel, contemporaneo e collaborador de Pestalozzi, a gloria de descobrir aquillo que faltava para integralisar-lhe o plano educativo. Com meios de conseguir a educação da mão, Froebel inventou um certo número de trabalhos manuais muitos simples. Esses trabalhos são antes brinquedos de que propriamente occupações, e ficaram conhecidos com o nome de dons froebelianos. Ao final desse artigo, João Lourenço conclui chamando a atenção dos futuros preceptores e atuais estudantes da Escola Normal de São Carlos para a importância que deve ser dada a função do trabalho manual na escola, como fator essencial para a promoção de uma educação integral. Em outro artigo, agora escrito por Jacy Penteado, no nº 6 da revista, com título: Pedagogia, a aluna discorre sobre a importância da ginástica e do jogo durante o processo educativo, tendo um ideal de pedagogia fundamentado em Froebel, em que o professor é visto como um jardineiro, que procura entender a natureza de cada criança, respeitando o seu desenvolvimento natural. Froebel compara sua escola a um jardim, em que se cultivam plantas e flores de toda espécie. O jardineiro não terá bom êxito, senão estudar, observar a natureza de cada uma de suas plantas. Os professores, como o jardineiro, deverão guiar, auxiliar e sustentar o menino, não forçando o seu desenvolvimento e não exigindo fructos prematuros; em suma, é preciso preparal-o a attigir gradualmente a sua maturidade. Em No dominio da technica – Lições inductivas de A. Proença, escrito no nº 7 da Excelsior!, o autor apresenta alguns modelos ou exemplos, um para o curso secundário e outro para o curso primário, baseados no método do ensino intuitivo e que deveria se dar por etapas. Desse modo, Ao ensino intuitivo, que faz o alumno adquirir factos e idéas, deve-se seguir-se o ensino que o leva do particular ás generalizações: das percepções às concepções, dos factos individuaes às leis e princípios, dos processos particulares às regras geraes. Também em A pedagogia de S. Rocha, o autor discorre sobre uma visita realizada à Dona Eulalia, esposa do Major Botelho, e diz que em conversa com Dona Eulalia sobre os métodos modernos, essa comenta que está lecionando seu filho Juquinha através do método intuitivo e que ele está dando esplendidos resultados. 44 É verdade, porém, que D. Eulalia fala, com conhecimento de causa, dos methodos antigos e dos hodiernos; critica-os com sensatez. Refere-se com entusiasmo ao erudito Herbart, ao meigo Fröebel, ao doce Pestalozzi. Conhece de cór os aphorismos deste último e encontra sempre ocasião para os atar. E durante a conversa, quando seu filho a questiona sobre determinado assunto, Dona Eulalia diz: “Não ensino, não ensino: o Pestalozzi manda que não se ensine o que a creança pode aprender por si só.” Segundo Silva (2007), a partir da leitura do nº 4 da revista Excelsior!, o qual não tive acesso, aparecem outros artigos em que também podem ser notadas influências dos pensamentos de Pestalozzi e Froebel. Um desses artigos intitulado Noção de fração foi escrito pelo aluno Luiz de Arruda Camargo, nele se discute algumas técnicas do método intuitivo para o ensino de frações. Já a aluna Philomena Fagnani escreve o artigo Jogos escolares – Classificação – Psychologia (Exame de Pedagogia), no qual a autora desenvolve sua argumentação com base em Froebel, mostrando a utilização de jogos na educação das crianças. No ano da última publicação da revista Excelsior!, 1916, a Escola Normal de São Carlos lança uma nova revista agora de responsabilidade dos professores, a Revista da Escola Normal de São Carlos, que circulou até o ano de 1923, tendo um total de 13 números. Também se constituiu como uma divulgadora de um ideário pedagógico, apresentando artigos que expressavam os conhecimentos que precisavam ser privilegiados e o tipo de comportamento que deveria ter o professor ao ensinar. Esse periódico foi encontrado na íntegra, no acervo do Museu do Livro da Escola Estadual Dr. Álvaro Guião. A Revista da Escola Normal de São Carlos pode ser considerada uma das primeiras revistas de educação e ensino publicadas no interior de São Paulo durante os primeiros anos da República. Segundo estudo realizado em 2009 por Enéias Borges Dias e que teve como objeto a análise desse periódico6 a “Revista pretendia intervir significativa e produtivamente no âmbito das questões de educação e ensino das matérias do currículo da escola primária, articuladamente à difusão do ideário republicano, objetivando impulsionar o desenvolvimento cultural do Estado e da Nação.” 6 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp / Araraquara (2009), intitulada Revista da Escola Normal de São Carlos (19161923): um estudo sobre idéias e práticas educacionais. 45 Em seu primeiro número escrito em 1916, aparece logo de início sobre o que pretende tratar a revista: “trabalhos sobre pedagogia, crítica de livros, ensaios philosophicos”. A Revista teria como autoria o corpo docente da Escola Normal e demais membros do magistério primário, seria publicada duas vezes por ano, apresentando somente trabalhos inéditos e tendo sua distribuição gratuita. Ilustração 3: Capa Revista da Escola Normal de São Carlos, Ano IV, n. 8 Ano 1 1 2 3 3 3 4 4 5 6 6 7 8 Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Data 12/11/1916 11/06/1917 12/1917 06/1918 12/1918 06/1919 12/1919 06/1920 11/1920 06/1921 12/1921 12/1922 12/1923 Nº de páginas 33 p. 33 p. 158 p. 56 p. 90 p. 54 p. 69 p. 112 p. 55 p. 65 p. 71 p. 79 p. 79 p. Quadro 3: Números da Revista da Escola Normal de São Carlos Ao longo da revista, predominam assuntos de caráter nacionalista tais como civismo, patriotismo, alma nacional, aparecendo também discussões sobre questões de ensino, história da educação, escolas normais, festas nacionais. E em vários momentos podem ser observadas citações diretas ou indiretas sobre alguns dos conceitos base contidos nos ideais de Pestalozzi e Froebel. Ressalto que descreverei aqui apenas alguns desses momentos, os quais 46 julguei mais importante para a análise que aqui se pretende. Sendo assim, já no primeiro número desse periódico, no artigo O estudo da natureza nas classes primarias - Ligeiras considerações à cerca do assunto, escrito pelo professor Antônio Firmino Proença, lente da 13ª cadeira – Metodologia – aparece a seguinte citação a qual demonstra a necessidade de que a criança esteja em contato com a natureza, aprendendo diretamente dela, observando todos os seus atributos: Abandonemos o livro e as gravuras que não falam à alma das crianças a linguagem que lhes convem, deixemos as classificações scientificas para mais tarde, ponhamos a criança em contacto direto com a natureza para que a observe por si e lhe descubra os segredos, e ela aprenderá alguma coisa mais do que meras palavras. Ainda nesse sentido, aparece no mesmo número da revista, mas em outro artigo intitulado Linguagem - Apontamentos para meus alumnos, de João Augusto de Toledo, lente da 12ª cadeira – Psicologia: A escolha dos qualificativos demanda aptidões que as crianças não possuem. Dahi a necessidade e a utilidade das lições de cousas. Apresentar-lhes objectos, solicitar para elles a sua attenção, fazê-las salientar os attributos todos de cada cousa examinada, a começar pelos mais sensíveis – é dar-lhes os recursos indispensáveis para se communicarem com o meio em que vivem. No artigo A escola brasileira, também escrito por João A. Toledo, agora na revista de nº 3, se demonstra a importância de se utilizar o ensino intuitivo na escola elementar, sempre seguindo das concepções mais simples para as abstratas e utilizando dos mais diversos materiais ilustrativos, algo fundamental para a pedagogia de Pestalozzi e Froebel. Não nos esqueçamos ainda de que na escola elementar, o ensino a princípio intuitivo para se ir elevando pouco a pouco a concepções abstractas, deverá ser objectivo sempre. Dahi decorre a necessidade de um material adaptado ás exigências do programma a executar. Os museus escolares, que tantos serviços nos prestam, formar-se-ão de espécimes de todos os productos brasileiros, de modo que os mestres tenham á mão com que ilustrar suas lições. Cartas do paiz que o representem sob o ponto de vista dos accidentes do solo; da agricultura, da população, das vias de comunicação; quadros eschemáticos que demonstrem o poder da indústria, o desenvolvimento do commercio e da instrucção; retratos dos beneméritos que se immortalizaram trabalhando por nós; gravuras representativas das maiores bellezas naturaes que possuímos; e algumas copias, modestíssimas embora, de obras de arte 47 nos contemplarão esse aparelhamento que fará nossa escola verdadeiramente brazileira. Em Hereditariedade e Educação, também de João A. Toledo, artigo publicado na revista de nº 4, em que se faz citações de Darwin, Mendel, Ribot e Montessori, pode-se notar a importância que deve ser dada ao desenvolvimento natural da criança e da necessidade de tratá-la de acordo com suas características, pois a aprendizagem evolui em etapas parecidas com a evolução da sociedade, por isso não se pode contrariar os fatores naturais. Queremos apenas que cada mestre saiba exigir de seu alumno o que este póde dar; e saiba adaptar o seu trato com elle, guiando-se, tanto quanto possível, pela índole que elle revelar. E’ obedecendo ás leis naturaes, que o homem chega a dominar a natureza – todo o mundo o diz. A divisão do trabalho distribui as crianças em classes e uma idea superficial de justiça manda que sejam todas tratadas no mesmo pé de igualdade. Entretanto, um indivíduo não é o mesmo no decorrer de um anno, de um mez, de uma semana, ás vezes. Como queremos que todas as crianças sejam iguaes? Desiguaes, como são. Devem ser tratados desigualmente. Para ellas, não só variam os methodos de aprendizagem, como deve variar a disciplina. Ao longo de alguns números da revista aparecem artigos que buscam expor um pouco da história da instrução e da educação no Brasil. Todos eles foram escritos por Carlos da Silveira, lente da 11ª cadeira – Psicologia e Pedagogia – que diz ter tomado como referência os trabalhos realizados por Dr. M. D. Moreira de Azevedo na Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro. Seus artigos aparecem em números diferentes do periódico e foram apresentados da seguinte forma: Parte I, revista de n. 4: Seculo XVI (1501-1600) onde há a notar o trabalho dos padres da companhia de Jesus; Seculo XVII (1601-1700) que, por ser o período das invasões, vê nascer o espírito nacionalista; Seculo XVIII (1701-1800) em que, á influencia pombalina, vem juntar-se a das escolas superiores europeas, - desenvolvendo se nos nossos intellectuaes a idea de separação; Seculo XIX (1801-1900), primeiro seculo da nossa vida como povo independente, e em que há fortes surtos pedagógicos, principalmente em alguns Estados e na ultima decada. 48 Parte II, revista n. 5: Século XVII (1601-1700) Século XVII (1701-1800) Século XIX (1801-1900) Parte III – Conclusão: o ensino no estado de São Paulo, revista n. 6: Summario O ensino em São Paulo desde 1835 – Varias reformas – Decreto n. 27 de 12 de Março de 1890, a lei n. 88 de 8 de Setembro de 1892 e o seu Regulamento (Decreto 218 de 27 de Novembro de 1893) – Outras reformas – Escolas preliminares, escolas complementares, escolas de artes e officios – Cursos secundários – Escolas profissionaes – A iniciativa privada – Escolas estrangeiras – Bibliothecas – Material didactico – Individualidades salientes – Falhas e pessimismo do professorado – Apreciação geral do ensino no Estado. Dentro desse trabalho quando o autor discorre sobre o século XIX (18011900), ele apresenta alguns importantes nomes que devem ser levados em consideração para o período quando se discute educação, o de João Henrique Pestalozzi e Augusto Guilherme Frederico Froebel. João Henrique Pestalozzi (1746-1827) por seu turno mostrava, à saciedade, com um amor e entranhado, que a intuição sensível, intellectual e moral é o verdadeiro caminho para falar-se á alma da criança e que a volta á natureza é obrigação absoluta em matéria educativa. A instrucção publica estava na ordem do dia e, do meio propicio, surgem individualidades inconfundíveis taes como o padre João Baptista Girard (1775-1850) suisso, o notável allemão João Frederico Herbart (1776-1841) e o meigo Augusto Guilherme Frederico Froebel (1782-1852), outra gloria da Allemanha. Como já dissemos anteriormente nesse trabalho muito do pensamento de Pestalozzi e Froebel viriam a constituir, mais tarde, os ideais da Escola Nova que tinha com base os denominados métodos ativos. É principalmente na revista de nº 6 que os métodos ativos são discutidos e notados como algo fundamental para a educação moderna, capaz de formar os cidadãos de uma República. Em Aprendizado activo, de João A. Toledo, se faz uma crítica aos métodos de ensino utilizados até então, que apresentam superficialismo, valorização da memorização e não atende ao processo natural de aquisição de conhecimentos. Em contraposição a isso, o autor diz que: 49 Não falhará, porêm, o aprendizado activo, isto é, aquelle que puzer a criança em acção, movendo-se no meio dos objectos, tocando-os, examinando-os, manuseandoos e, ao mesmo tempo, pensando, induzindo, apenas guiada pelo mestre e nunca ensinado por elle. “O trabalho intellectual não será aproveitável á criança dizia Comenius, si não for uma obra pessoal sua”. Irá ella á escola para aprender, exercitando suas actividades naturaes, e não para receber silenciosa, immovel, passiva como um fantoche, as lições do professor. Esta é uma mudança de methodo que se reclama, uma vez que as condições actuaes da vida collocam em primeiro plano – a aquisição de experiências, relegando para plano inferior – a simples assimilação de conhecimentos. Além disso, o autor apresenta que só se aprende a fazer fazendo, por essa razão “As coisas antes das palavras” – é como ensinava Pestalozzi. O hábito de fazer pensar a criança com palavras meramente ou com ideas por estas formadas e pernicioso.” Sendo assim, os jogos infantis, o movimento se tornam essenciais para o conhecimento e se mostram como um transformador de energias. Essas reacções, movimentos feitos pela criança (...), são necessárias, inilludiveis, fataes; e já a intuição soberba de Pestalozzi as reconhecera, quando o fazia dizer que “a actividade é uma lei de meninice”. Sem ellas, o crescimento se prejudicaria, pois que ellas são as condições de desenvolvimento de um núcleo de potencialidades que lutam pela sua eclosão. Resumindo os princípios da pedagogia de Froebel, diz elle: “A primeira raiz de todos os esforços educativos está nas attitudes e actividades impulsivas e instictivas da criança, e não na apresentação ou aplicação de material externo, atravez de ideas de outrem ou atravez dos sentidos; e deste modo, suas numerosas actividades espontâneas, brincos, jogos, esforços mímicos, até os movimentos, apparentemente insignificativos dos pequenitos (...) são aproveitados na educação, mais que isso, são os alicerces do methodo educativo. Com isso, o autor conclui que: Passou-se a época do aprendizado passivo, que já vae sendo velharia para os museus pedagógicos. Embora ha muito tempo a orientação mais salutar tenha sido concebida e exposta, só de há pouco para cá, as escolas começam a praticá-la. Comenius, Pestalozzi e Froebel já a conheciam muito bem. Em continuação a esse trabalho na revista nº 7, o autor assume a importância de que o ensino leve em consideração o interesse e as necessidades da criança, parta de conhecimentos já adquiridos anteriormente com a família e com os amigos, estabeleça uma conexão entre os conhecimentos antigos e os novos, possibilitando, assim, a significação, o 50 sentido para o que é ensinado. Lembra, também, que o conhecimento adquirido deve ter aplicação imediata para que não seja esquecido facilmente. Além disso, o autor apresenta momentos ou passos de ensino, tais como: intuição – comparação – generalização – aplicação, e argumenta que o ensino precisa sair sempre: do fácil para o difícil, do concreto para o abstrato, do próximo para o remoto, do todo para as partes, do particular para o geral, pois “Os maiores mestres já ensinaram que aos pequeninos, “uma difficuldade em cada vez” para que elles possam ir 'das intuições simples ás concepções claras', isto é, do que é fácil para elles ao que lhes é diffícil.” Esse ideal de educação também é colocado em Desenho e Linguagem, de Ataliba de Oliveira, publicado no periódico de nº 13. Nesse artigo, o autor se refere ao ensino realizado com crianças do primeiro ano do primário e que acabaram de ingressar na escola em “estado de completa analphabetização”. Antes de falar sobre o ensino de desenho propriamente dito, Ataliba de Oliveira, esclarece que para se compreender melhor o que propõe para o ensino do desenho é necessário pensar, a principio, na linguagem escrita. Sendo assim, demonstra alguns passos do programa dessa disciplina e que procuram seguir a lógica apresentada anteriormente, sempre do mais fácil para o mais difícil: 1º passo: Copiar sentenças (Cópia de sentenças da lição de leitura, cópia da data do dia ou do próprio nome) 2º passo: Completar sentenças 3º passo: Formar sentenças com palavras conhecidas 4º passo: Dictado de sentenças 5º passo: Modificar sentenças 6º passo; Ampliar sentenças 7º passo: Descripções de objectos e gravuras É no desenvolvimento da argumentação sobre o 2º passo que se faz mais diretamente uma referência a Pestalozzi. E’ um passo um pouco mais difficil, que exige um esforço maior da parte do alumno, o professor começa por á prova de capacidade infantil. Até aqui a creança imitou á vista de um modelo; de ora diante, ella terá de escrever de memória uma parcella da sentença. O professor intelligente que conhece o velho aphorismo de Pestalozzi (UMA DIFFICULDADE DE CADA VEZ), não exige muito de seu esforço vacilante. 51 É, então, que o autor parte para a discussão sobre o ensino do desenho. Segundo ele, o problema principal é falta de métodos, portanto, chega a questionar por que não se pode seguir no ensino do desenho os mesmos ou quase os mesmos passos que se seguem no ensino da língua escrita, finalizando seu texto com a apresentação de algumas opções. Também em outro artigo, desse mesmo número, se discute o desenho, atividade essencial ao método intuitivo e importante para a educação da mão. Em O desenho nas classes infantis de Raphael Falco, professor de Caligrafia e Desenho, a princípio se faz uma análise de alguns desenhos produzidos pelas crianças, partindo disso, argumenta-se que as crianças tem ideias pré-concebidas e que o ensino do desenho deve seguir o desenvolvimento natural da criança, partindo do todo para as partes, do fácil para o difícil. “Como nas demais disciplinas preliminares, todo o aprendizado será analytico, isto é, do tôdo para as partes e do fácil para o diffícil. A incapacidade syntetica da criança não permite aliaz outra maneira de aprendizado.” Já no artigo em Questões de Ensino Normal, de Carlos da Silveira, publicado na revista nº 8, outro ponto é colocado, agora com relação ao trabalho manual, tomado por Froebel como fundamental para o processo educativo. Nesse texto, Carlos da Silveira analisa alguns programas e conteúdos ensinados em três Escolas Normais Secundárias: a de São Paulo, a da Praça, a de Itapetininga e a de São Carlos, tais como: 1ª aula: música 2ª aula: escripturação mercantil 3ª aula e 4ª: calligraphia e desenho 5ª aula e 6ª: gynnastica educativa 7ª aula e 8ª: trabalhos manuaes Sobre a 7ª e 8ª aula, que se refere mais especificamente aos trabalhos manuais, o autor se fundamenta naquilo que é desenvolvido pelos norte americanos e toma como referência o livro “Méthodes Ámericaines d’Education” de Omer Buyse, no qual encontramse quatro sistemas, dentre eles: “o systema pedagógico de origem sueca, conhecido por slojd ou sloyd. Este systema “repousa sobre o princípio de FROEBEL: a educação pela acção, e 52 tem a sua fonte na obra escolar de COEGNUS, da Finlândia (...)” Para ampliar a discussão sobre o Slojd, Carlos da Silveira faz uma transcrição de um artigo também de sua autoria, escrito em 25 de dezembro de 1916, intitulado “O Slojd no Brasil” e que, segundo ele, teve como base o livro “O Slojd” escrito por Sr. Apregio de Almeidfa Gonzaga, professor normalista secundário e diretor da Escola Profissional Masculina de São Paulo. Dada, porêm, a superior comprehensão que os americanos têm da organização do ensino, deixando a cada professor a iniciativa para orientar o curso de modo que intelligente e proveitosa emulação logo surge, duas vias caracterizaram-se depressa nas escolas da América do Norte, por onde o trabalho manual canalizou por todo o paiz. Omer Buyse, de Charleroi, no seu magistral relatório intitulado “Méthodes Américaines d’ Education” refere com palavras de admiração estes factos dignos de vulgarização. Foram estas as duas vias: 1ª) A vida froebeliana, que começa no jardim da infância e conduz, alargando-se, á escola primaria, onde ella attinge ao “sloyd” nas classes superiores 2ª) A via technica de origem russa, conhecida pelo nome de systema Della-Voss; partida da escola technica superior, ella desceu pelas escolas secundárias para as classes superiores das escolas primarias, lutando, neste terreno, com o “sloyd” de origem sueca. Neste artigo o autor apresenta o Slojd, palavra sueca que significa trabalho manual, demonstrando algumas opções de ensino que, de acordo com o autor, tem fim puramente educativo sem intenção de formar profissionais hábeis. Como se pode observar uma das bases fundamentais do Slojd está extremamente relacionada aos ideais de Froebel. Em outros momentos da Revista da Escola Normal de São Carlos também se destaca a importância do entusiasmo na hora de ensinar. Em Como realisar a pratica de ensino? Trabalho apresentado á reunião dos directores das Escolas Normaes convocada para julho de 1921, no edificio do Jardim da Infancia de S. Paulo, de Duilio Ramos, lente da 7ª cadeira, são apresentados alguns princípios como: I – Entusiasmo de seu ensinante II – O conhecimento da creança como base do estudo III – O plano e o bosquejo da lição IV – A Lição Ideal 53 V – Aplicação prática VI – A filosofia dos métodos VII – Algumas objeções No primeiro item podemos observar a questão do entusiasmo que comentamos. Já no segundo, quando se discute sobre o conhecimento da criança e a necessidade de um estudo sobre o aluno e suas características, pergunta-se em como se deve orientar o ensino e a resposta é a seguinte: “Seguindo a naturesa”, chave do pensamento de Froebel, pois “Antes de lançar a semente do ensino é mister se conhecer o terreno onde ella deve germinar. E’ mister um estudo do local onde ella vae ser lançada, onde deve florescer e dar fructo. Tal qual se faz na lavoura, segundo a lição da naturesa.” Ampliando as discussões sobre o entusiasmo, em Discurso Pronunciado na solennidade de entrega de diplomas ás Professorandas da Escola Normal do Braz, turma de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo pelo paranympho Dr. Carlos da Silveira, publicado por Carlos da Silveira, no nº 13 da revista, ressalta-se a grande influência que as Escolas Normais exerciam para transformar para melhor a cultura da sociedade, o que procurava demonstrar a importância da missão dos normalistas e da necessidade de não se perder o entusiasmo ao ensinar. Compenetrai-vos da importancia da vossa missão. Lêde a vida dos grandes educadores, porque, se há leitura propria para os mestres de qualquer grau, é essa, cheia dos mais ricos ensinamentos. A biographia de João Henrique Pestalozzi, a de João Baptista Girard, a de Horacio Mann são maravilhosas pelo que deixam de confôrto a energia em nós. Convivei em espírito, com os grandes educadores e com os philosophos da educação. Se ao lerdes a vida daquelles tres vultos que acabei de citar, não sentirdes um frémito de enthusiasmo, alliado a uma sympatia immensa pela causa que defenderam, então abandonai o magisterio, porque não nascestes para essa emprêsa; elle será um clima inadequado para as vossas tendências. Desse modo, destacam-se os compromissos, deveres e responsabilidades dos normalistas para com o destino da Pátria, procurando evitar ao máximo o pessimismo que contagia os discípulos. (...)tantas e tão variadas são as formas do pessimismo na vida e, as vezes no magistério onde, melhor do que em qualquer outra classe, devêra se religiosamente respeitado o conceito de óptima pedagogia contido na sátyra (XIV, 47) de Juvenal: “Máxima debetur puero reventia”. 54 Esta sentença do verso daquelle agudo engenho poético latino parece ter sido a inspiradora de João Jacques Rousseau, o genial autor do Emílio, incontestavelmente um dos factores do renovamento pedagógico do século XIX, visto como, nas páginas roussonianas do livro revolucionário, encontra-se, a cada passo, a idea fundamental do respeito que deve ser tido pela pureza das crianças, as quaes não é lícito perverter com ensino maldoso, pessimismo, arremêdo de escola, contrafacção das ideas – mães prégadas e seguidas pelos delicados espíritos dos Gerson, Montaigne, Comenius, Fénélon, Froebel e tantos mais, ideas que são o alicerce da pedagogia clássica. Com todas essas citações acredito ter demonstrado o quanto às discussões estavam girando em torno daquilo que propunha Pestalozzi e Froebel, através do método do ensino intuitivo. Ressalta-se que se prolongou mais aqui com relação à Revista da Escola Normal de São Carlos por conta da maior quantidade de números disponíveis para a análise e por se tratar, também, de um periódico mais longo que Excelsior! No entanto, pode-se ainda demonstrar a presença de Pestalozzi e Froebel em algumas páginas do Livro de Ouro7 da antiga Escola Normal de São Carlos, documento em que eram transcritos pelos próprios alunos os trabalhos e as provas que obtivessem nota máxima, sendo em seguida, autenticados com a assinatura do professor responsável, o que demonstra que esses ideais estavam mesmo presentes na formação dos futuros docentes e não apenas nas discussões dos periódicos. Ilustração 4: Termo de Abertura do Livro de Ouro Ao se folear o Livro, nota-se que nem todos os conteúdos ensinados aparecem, 7 Para uma leitura mais aprofundada sobre o Livro de Ouro da antiga Escola Normal de São Carlos, ver o trabalho realizado por Thais Maria Manieri e Alessandra Arce, O Livro de Ouro da antiga Escola Normal de São Carlos (1911-1945): pistas e rastros para se apreender as idéias pedagógicas presentes na formação das normalistas. 55 observam-se somente provas de Psicologia; História; História Natural, Agricultura, Zootecnia e Higiene; Pedagogia e Didática. Dando um destaque maior para as provas de Pedagogia, temos ao longo de todo o Livro 8 provas. Abaixo se pode observar algumas delas, respectivamente, com seus títulos, autores, data e as páginas em que se encontram no Livro. Os comentários são feitos somente para aquelas onde se notou citações mais explícitas de Froebel e Pestalozzi. Prova de Pedagogia 1. Título: Froebel e sua obra. Aluna: Alice Brandão – nº 8 – 4º anno. Data: 30 de outubro de 1914. Páginas: 88, 89, 90, 91 Nessa prova a aluna faz uma descrição da biografia de Froebel, apresentando sua relação com Pestalozzi e alguns de seus princípios educacionais. Para ela, Froebel é tido como “o grande pedagogista que tantas inovações introduziu no ensino”. Elle apresentou para seu ensino, principalmente, a curiosidade infantil, a actividade e a tendencia que as creanças manifestam de apalpar tudo quanto encontram. Elle empregou, então, os methodos objectivos, experimental, acha que os conhecimentos devem ser dados de accordo com o desenvolvimento infantil. Elle acha que Deus está em tudo, por isto está também nas creanças, que consequentemente são doces, por isso precisamos arranjar um meio de educal-as de modo que se não pervertam. Sendo assim, a aluna enumera alguns dos princípios educacionais de Froebel, tais como: 1. A cultura do jardineiro, 2. Combinação de objetos e suas transformações que educa a vista, o tato, o gosto artístico e a observação, 3. Palestras, contos e recitativos, que educam a voz e a linguagem, 4. Trabalhos manuais que educam a mão, 5. Ginástica acompanhada de canto (inclusão dos jogos), 6. Desenho, importante para a caligrafia. Além disso, faz algumas pontuações sobre os dons frobelianos, demonstrando a importância de Froebel para educação, principalmente com a criação dos Jardins de Infância. Neste sentido, ao final de seu texto comenta que Froebel É admiradissimo, não só na Allemanha, mas também no mundo todo, sendo que os paízes civilizados adoptam o seu methodo e imitaram-no principalmente quanto a creação dos Jardins de Infância, cujo movimento é enorme na Suissa, Japão, Allemanha, Estados Unidos, etc. O nosso paiz neste ponto não prima pelo progresso, pois aqui só temos um estabelecimento d'essa natureza, em São Paulo. 56 Prova de Pedagogia 4. Título: Como calcar o ensino sobre o interesse. Aluna: Maria do Carmo Tenido Monteiro – nº 1 – 3º anno. Data: 18 de outubro de 1918. Páginas: 109, 110, 111 Aqui a aluna procura demonstrar a importância de se promover o interesse do aluno para aquilo que é ensinado, pois, segundo ela, todo ensino para ser bem feito deve ser calcado no interesse, assim, se tem conseguido excelentes resultados. É preciso, então, que o professor saiba relacionar os conteúdos com os conhecimentos anteriores que a criança possui, visando despertar sempre sua curiosidade para os assuntos que ainda não conheça, (...) “os trabalhos manuaes são optimos meios de se fazer um ensino interessante e proveitoso para as creanças”. Para tanto, é preciso transformar a escola num lugar agradável, onde as crianças possam ser alegres e guardar para sempre boas recordações. Prova de Pedagogia 5. Título: O jogo como factor da formação mental. Aluna: Celina Maria dos Santos – nº 1 – 3º anno. Data: 20 de outubro de 1919. Páginas: 127, 128, 129, 130 A aluna começa sua prova dizendo que O jogo é um elemento precioso que a creança lança mão para se desenvolver e constitue o aspecto mais saliente da vida infantil. Froebel dizia que o jogo não é uma cousa frívola para a creança, mas, pelo contrário, é de muita importância e encerra uma significação tão profunda que elle affirma que o jogo é o mais alto grao do desenvolvimento infantil. É, com effeito, pelo jogo que a creança manifesta suas tendências e inclinações. É o primeiro elemento de que a creança lança mão para se desenvolver; logo que a creança pode agir, joga; pelos sentidos, pelos movimentos diversos e ... pelos primeiros exercícios vocaes. Em seguida, a aluna apresenta algumas concepções de diversos autores sobre o jogo. Dentre essas concepções tem-se que o jogo é apenas algo recreativo; que ajuda a criança a descansar o corpo; que nos possibilita gastar a energia acumulada; é imitação das ações do adulto. No entanto, diz que a concepção mais aceita pelos modernos é a de que o jogo é a preparação para a vida real, é o prelúdio, a iniciação da vida e que, além disso, tem uma função biológica, pois ajuda a desenvolver o homem física e psicologicamente, melhorando a percepção, a motricidade, a ideação e o sentimento. Segunda a autora, os jogos podem ser “sensoriaes, motores, psychicos e de inhibição.” 57 Os sensoriais visam especificamente a cultura dos sentidos, o desenvolvimento da habilidade manual, a rapidez e a exatidão num golpe de vista. Taes são os brinquedos a que as creanças se entregam em pequenas, como: provar substancias para ver que gosto têm; fazer ruídos com cornetas, examinar côres, apalpar objetos, etc. Já os jogos motores ajudam a desenvolver o organismo e a sustentar os músculos. Os psíquicos podem ser intelectuais ou afetivos. Os intelectuais, ao promover a experimentação, ajudam a desenvolver a inteligência, a curiosidade e a observação, e os afetivos visam à cultura da sensibilidade, da dor, do sentimento e do medo. Por fim, os jogos inibidores, que objetivam reprimir os movimentos. Depois de toda sua explanação, conclui, dizendo que o jogo se refere a um trabalho intelectual e não é apenas algo “frívolo” para a criança. Retomando a citação sobre Froebel feita inicialmente. Prova de Pedagogia 6 – Prova da 11ª cadeira. Título: Rabelais e Montaigne. Aluna: Lucilla Hermani – nº 9 – 4º anno. Data: sem data. Páginas: 145, 146 Nesta prova a autora apresenta um pouco da biografia de Rabelais e Montaigne e da contraposição feita à Pedagogia Escolástica. Sobre Rabelais, comenta que ele, por ser padre, seguia e conhecia admiravelmente a Pedagogia Escolástica, no entanto, fazia duras críticas a ela e apontava todos os seus erros, como o ensino dedutivo e mnemônico, com o qual se abolia a experimentação e a observação e se menosprezava a língua pátria. Segundo a aluna, ao escrever Gargântua e Pantagruel, Rabelais influenciou vários pedagogistas e filósofos da educação em obras como Emílio de Rousseau e Como Gertrudes educava seus filhos de Pestalozzi. Prova de Pedagogia 7. Título: Rabelais e Montaigne. Aluna: Celina Maria dos Santos – nº 2 – 4º anno. Data: 10 de maio de 1920. Páginas: 147, 148, 149 A autora também apresenta um pouco da biografia de Rabelais e Montaige e as críticas desses teóricos com relação à Pedagogia Escolástica. Ao fazer isso, ela diz que “Segundo a educação moderna, toda creatura é da natureza, e para approximar-se della é preciso agir e experimentar.” Ao final conclui, que ambos os autores, por viverem numa mesma época, compartilhavam dos mesmos ideais. 58 Prova de Pedagogia 8. Título: A segunda renascença do séc. XII. Pedagogia escolástica. Aluno: Paulo de Andrada Fortes – nº 7 – 4º anno. Data: 18 de maio de 1920. Páginas: 156, 157 Aqui se apresenta de forma crítica a Pedagogia Escolástica baseada nos princípios de Aristóteles, “pae da deducção”. De acordo com o aluno, a educação tem fim religioso e muito se utiliza da memorização e do raciocínio, sem levar em consideração a natureza da criança. Nota-se, então, que nesse momento, procurava-se uma contraposição à pedagogia tradicional utilizada até então. É nesse sentido que começa-se a adotar os pensamentos de Pestalozzi e Froebel. As citações feitas com relação a eles nos trabalhos e provas dos alunos comprovam que esses ideais estavam mesmo inseridos nas práticas escolares que iriam formar os futuros professores, ficando claro o quanto seus pensamentos se encontravam mesmo presentes nas discussões levantadas na antiga Escola Normal no período tomado como referência. 59 Considerações finais Como diz Saviani (2007) quando se refere ao “Princípio da Atualidade Histórica” não há pesquisa histórica neutra, sem interesses que a conduzem. Interesses esses que surgem no tempo presente, nos questionamentos que surgem na atualidade e que buscam respostas no passado para compreendê - los como construções históricas. “Trata-se, antes de própria consciência da historicidade humana, isto é, a percepção de que o presente se enraíza no passado e se projeta no futuro” Saviani (2007, p. 4). No entanto, ressalta-se a importância de procurar olhar os fenômenos do passado não com os olhos do presente, mas sob uma ótica que consiga captá-los em seu tempo histórico e em sua prática real. Foi nesse sentido, então, que procurou-se direcionar esta investigação sobre como os ideais educacionais de Pestalozzi e Froebel encontravam-se presentes na formação dos futuros professores da antiga Escola Normal de São Carlos. Sendo assim, o estudo sobre as obras que tão bem retrataram a história do período e da instituição tomada como referência, assim como as revistas Excelsior! e Revista da Escola Normal de São Carlos se tornaram fontes que auxiliaram no processo de descoberta das múltiplas determinações do objeto de estudo. E embora a delimitação do período a ser estudado se referisse as duas primeiras décadas do século XX, foi preciso voltar ao século XIX para que melhor se pudesse captar a construção do conjunto de ideias pedagógicas que se constituiriam a partir dos ideais educacionais de Pestalozzi e Froebel, procurando entender como esses ideais foram interpretados e incorporados em nosso país e como se deram em nosso contexto e mais, especificamente, dentro da antiga Escola Normal de São Carlos. Percebeu-se, então, ao final deste trabalho que os ideais educacionais de Pestalozzi e Froebel estavam mesmo presentes não só nas discussões apresentadas em alguns dos artigos dos periódicos analisados como também nas avaliações e trabalhos realizados pelos alunos como pode ser constatado após leitura do Livro de Ouro da antiga Escola Normal de São Carlos. Pôde-se perceber que os periódicos tomados como objeto de estudo refletiam muitas das questões e preocupações que estavam sendo postas no período e muitos dos debates promovidos diziam respeito às mudanças que se desejava em âmbito nacional. É por 60 isso, que grande parte dos artigos se referem ao nacionalismo, ao civismo, ao patriotismo, educação moral, etc, temas que poderiam garantir a confirmação do novo sistema político. Além disso, o novo ideal de formação humana exigia que a escola e seu sistema de ensino se modificasse e se adequasse às necessidades da nova sociedade. É nesse sentido, que aparecem, também, as discussões sobre novos métodos e processos de ensino-aprendizagem capazes de formar o novo cidadão e atenuar os diversos problemas sociais. E é assim que se assumem os ideais de Pestalozzi e Froebel, únicos capazes de realizar essa renovação. Embora possa se notar, ao ler e analisar todo o material disponível, que não havia um estudo muito aprofundado das teorias de Pestalozzi e Froebel, suas ideologias foram utilizadas para realizar uma contraposição com o modelo tradicional que se tinha até o momento e que não cabia mais dentro dos interesses do novo sistema político que se instaurava na sociedade. Observa-se, portanto, que muitos dos conceitos desse autores aparecem em vários momentos dos periódicos, tais como o ensino pela intuição, com o qual os sentidos são o principal instrumento de aprendizagem e a observação e a experimentação se tornam essenciais; a manipulação de objetos para estimular a percepção; utilização dos mais diversos materiais ilustrativos; passar a considerar as etapas do desenvolvimento humano, através de um ensino graduado e que seguisse a ordem da natureza, indo sempre do saber mais simples para o mais complexo, incentivo a educação da mão que ajudava a aprimorar a coordenação motora; e a importância dos jogos e das brincadeiras como estratégias para a produção do conhecimento. Logo, não há como deixar de considerar que tanto Pestalozzi, quanto Froebel fizeram descobertas importantes e que muito influenciaram na educação. E algumas das características observadas nos ideias educacionais de ambos os autores viriam a constituir, mais tarde, o movimento Escola Nova. 61 Referências ARCE, A. A Pedagogia na “Era das Revoluções”: uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. BASBAUM, L. História Sincera da República: de 1889 a 1930. 4ª ed. São Paulo: AlfaOmega, 1975-1976. BUFFA, E. & NOSELLA, P. (2002) – Schola Mater. A antiga Escola Normal de São Carlos, 1911-1933 - primeira reimpressão. São Carlos: EDUFSCar/FAPESP. BUFFA, E & NOSELLA, P (2009) – Instituições Escolares – Por que e como pesquisar – Campinas / SP: Editora Átomo e Alínea CARVALHO, J. M. de. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. 3ª ed. 17ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras. 1987. CARVALHO, M. M. C. de (1989) – A Escola e a República – São Paulo: Brasiliense. CERTEAU, M. (2008) – A escrita da história – Rio de Janeiro: Forense. FARIA FILHO, L. M. 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Revista da Escola Normal de São Carlos (1916-1923): a formação do professor. Marília, SP: 2006. 63 Anexos Anexo I - Levantamento sobre os periódicos Revista Excelsior! Revista do Grêmio Normalista “Vinte e Dois de Março” da Escola Normal de São Carlos Ano 1 1 2 2 2 3 4 Número 1 2 3 4 5 6 7 Data 15/11/1911 22/03/1912 02/1913 18/10/1913 15/11/1913 09/1914 07/09/1916 Nº de páginas 26 p. ----------16 p. 19 p. 18 p. ------ Revista Excelsior! Anno I, n. 1, nov. 1911. 26p. Summario Acta da fundação do gremio. …............................................................................................. 6-7 Instrucção e imprensa. - Paulo Camargo ….......................................................................... 8-9 Escola Normal de São Carlos – Sua creação e installação - J. Camargo .......................... 10-11 Fazer para Aprender. - J. L. Rodrigues .............................................................................. 12-13 Pelago invesivel. - Raymundo Corrêa ............................................................................... 14-15 Oscillações da taxa cambial. - Argemiro Pacheco ............................................................. 16-17 Estimulando. - A. Santos …..................................................................................................... 18 Um beijo, apenas... - A. O. B. ….............................................................................................. 19 Sonho de abril. - C. N. …......................................................................................................... 20 Amores, amor... - Alceste ....................................................................................................... 20 Cena Jagunça. - J. P. J. …........................................................................................................ 21 Bons auspicios. - Sebastiana Masagão …............................................................................... 22 O mestre. - E. S. ...................................................................................................................... 23 Salve 15 de novembro! - Adalgisa Putti ................................................................................ 24 Justificando … A. …................................................................................................................ 25 Miniaturas - Jenny Maia …..................................................................................................... 25 Aos jovens professores. - Dr. Menezes Vieira …..................................................................... 25 A Instrução em São Paulo - Ruy Barbosa …........................................................................... 25 Noticiario. ............................................................................................................................... 26 Revista Excelsior! Anno II, n. 2, fev. 1913. Sem números de página. Summario Excelsior! Tradução Excelsior! Poesia A mulher - Yáyá Braga Tres paginas.- P. Hocion Pascal Professor João Lourenço - s.a O trabalho - Aluizio de Azevedo Homenagem do Excelsior! O interesse (discurso) - Professor Roldão Lopes de Barros Primeiro amor (poesia) - Benedicto S. Rocha Os meus amigos (poesia) - Castelo Branco L’Angélus. - W. C. V. Rosa que se desprende (poesia) - Jacy Penteado Em meu caminho - Carolina Cezar O rouxinol - Alcidia A. Silva Revista Excelsior! Anno II, n. 4, out. 1913.16p. Summario O “Excelsior!” - A redacção …................................................................................................. 1 Paisagem - Dr. Mario Natividade …......................................................................................... 2 Uma questão pedagógica - Hydeá Aracy de Arruda …............................................................. 3 Noção de fracção - Luiz de Arruda Camargo …...................................................................... 4 Teorias da vontade - Isabel Botelho de Camargo …................................................................ 5 Uma aula de psychologia - Maria Amelia Silva ….................................................................... 7 Jogos Escolares. Classificação Psichologica - Maria Amelia Silva …..................................... 8 Aos meus colegas - S. Rocha ….............................................................................................. 10 Mãe - Stella Freire de Lima …................................................................................................ 10 Os inqueritos pedagogicos em São Carlos - Sebastião Pinto …......................................... 10-11 Uma composição de aula - J. Aranha …................................................................................. 11 A instrucção - Suzanna Mattos …............................................................................................ 12 Lançamento da pedra fundamental do novo prédio da Escola Normal - O. Penteado ............13 Édipo - J. Esse …..................................................................................................................... 14 Notas s.a. …............................................................................................................................. 15 Tedio - J. A. …......................................................................................................................... 16 Revista Excelsior! Anno II, n. 5, nov. 1913. 19p. Summario Excelsior! - A. P. ….................................................................................................................... 1 15 de novembro - Romão de Campos Junior …........................................................................ 2 O valor de um symbolo - Euclydes da Cunha …...................................................................... 3 Impressões de aula - Joaquim Siqueira …................................................................................. 4 Soledade - João Aranha …........................................................................................................ 5 Camaradagem e coeducação - Maria Sampaio e Souza …....................................................... 6 Bibliothecas infantis - Argemiro Pacheco …......................................................................... 6-7 Trabalho de methodologia - Architiclino dos Santos …............................................................ 7 A escola moderna - Mario C. Leite ….................................................................................... 7-8 A atenção sensorial e introspectiva, suas variações e suas bases physiologicas I A attençao sensorial e introspectiva, suas variações e suas bases phisiologicas - Jacy M. de Oliveira Penteado ….............................................................................................................. 8-9 II Medidas de atenção - Walinda da Cunha Vieira …........................................................ 12-13 Vantagens pedagógicas decorrentes do estudo da attenção - Marina Novaes.................... 14-15 Importancia do habito na educação - José Ferraz de Sampaio ......................................... 15-16 A bandeira nacional - A. Proença ...................................................................................... 16-17 Antes da Luta - s.a ............................................................................................................. 18-19 Concurso literário …................................................................................................................ 19 Revista Excelsior! Anno III, n. 6, set. 1914.18p. Summario Datas nacionaes - R. C. …..................................................................................................... 3-4 28 de Stenbro - R. C. …............................................................................................................. 4 Medidas de intelligencia - Lazaro Camargo …...................................................................... 4-5 Os Lusíadas - M. Leite …....................................................................................................... 5-6 A Escola Normal, o professor, a instrucção em geral - José S. Penteado …......................... 6-7 Um soneto - Machado de Assis ….......................................................................................... 8-9 Qual o vestuario mais conveniente ás creanças? (Uma sabbatina) - Olga Valentie de Oliveira ... 9-10 Festas na escola - R. C. …....................................................................................................... 10 Excelsior! - A Redacção …...................................................................................................... 10 O medo - Maria Botelho …................................................................................................ 11-12 Visão - N. Sampaio de Souza …......................................................................................... 12-13 Pedagogia - Jacy Penteado …............................................................................................ 13-15 Breve noticia sobre o gabinete de Psychologia - Yáyá Braga …....................................... 15-16 A preguiça - Zuleika Valentie de Oliveira …...................................................................... 16-17 A polemica - Xavier Marques …............................................................................................. 17 A bordo do “Araguaya” - B. Simões da Rocha …................................................................... 18 Revista Excelsior! Anno IV, n. 7, set. 1916. Sem números de páginas Summario Excelsior! - A. Na escola - M. Natividade Audição - N. Novaes Como o professor primário falla a seus alumnos - W. C. Vieira René Barreto - R. Campos Despedida - Stella F. Lima Soneto - O. Penteado O soldado - A. Barreto No dominio da technica - A. Proença Henriquinho - J. Siqueira Doutrina da evolução (Prova de Exame) – Primeiras idéas – Lamarck – Darwin – O néo lamarckismo e o néo darwinismo – Conclusões para a educação - N. S. Souza A pedagogia - S. Rocha Nossa gente e seu futuro - F. Martins Educação dos anormaes - Lazaro Camargo Revista da Escola Normal de São Carlos Propriedade e redacção do Corpo Docente Ano 1 1 2 -----3 3 4 4 5 6 6 7 8 Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Data 12/11/1916 11/06/1917 12/1917 06/1918 12/1918 06/1919 12/1919 06/1920 11/1920 06/1921 12/1921 12/1922 12/1923 Nº de páginas 33 p. 33 p. 158 p. 56 p. 90 p. 54 p. 69 p. 112 p. 55 p. 65 p. 70 p. 73 p. 79 p. Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 1, n.1, nov., 1916. 33p. Summario I – As Escolas Normaes no Estado de S. Paulo - Carlos da Silveira ….............................. 1-13 II – Como deve ser a sala de Desenho - Raphael Falco …................................................ 13-17 III – Orientação do ensino da musica elementar - Lazaro R. Lozano …............................ 17-20 IV – Filologia Portuguesa (Colossal abismo) - A. Raggio Nóbrega ….............................. 21-24 V – O estudo da natureza nas classes primarias Ligeiras considerações à cerca do assunto - A. Firmino Proença …............................................................................................................ 24-26 VI – A Geometria Sua origem – Seus progressos – Seu ensino - F. Penteado ….............. 26-27 VII – Linguagem Apontamentos para meus alumnos - João de Toledo …........................ 28-30 VIII – Henry Bergson - Waldomiro Caleiro ….................................................................. 31-33 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 1, n.2, jun., 1917. 33p. Summario Evolução e Pedagogia - João Toledo ….............................................................................. 1-10 Historia da Pedagogia Um programa - Carlos da Silveira …............................................ 10-13 Pela Pátria Discurso lido por occasião da sessão civica realizada no dia 3 de maio de 1917, no amphitheatro da Escola Normal de S. Carlos. - Ezequiel de Moraes Leme …................... 13-17 A Geometria Os factores da Geometria - Francisco de Oliveira Penteado ...................... 17-20 Discurso pronunciado na festa inaugural da Sociedade de Estudos e Conferencias, no dia 9 de setembro de 1916 - Mario Natividade …........................................................................... 20-24 Methodo didactico - A. Proença …..................................................................................... 25-26 Rusticidade - Waldomiro Caleiro …................................................................................... 27-28 Escola Normal Ligeiros apontamentos sobre a sua fundação e funcionamento …............ 28-33 Revista da Escola Normal de São Carlos. Numero Especial. Anno 2, n.3, dez., 1917. 158p. Summario I- Série de nove palestras cívicas feitas na Escola Normal, de 18 de Setembro a 15 de Outubro p.findo - 1. Bellezas naturaes do Brasil - Ezequiel de Moraes Leme …............................... 1-11 2.a Desertos e Climas; a devastação das matas - Francisco Penteado ….......................... 12-21 3.a Typos brasileiros; a alma nacional - Waldomiro Caleiro …......................................... 22-29 4.a O problema do urbanismo no Brasil e a volta aos campos – T.de Camargo …............ 30-40 5.a A medicina escolar e o futuro da nossa nacionalidade - Astor Dias de Andrade ......... 41-49 6.a Vida de um brasileiro, que é uma lição de civismo (Campos Salles) - Dagoberto Salles................................................................................................................................... 50-61 7.a A lingua patria e a unidade nacional - 7ª palestra cívica realizada no amphitheatro da Escola Normal em 9 de Outubro de 1917 - Carlos da Silveira …..................................... 62-76 8ª. A escola brasileira - João Augusto de Toledo …........................................................... 77-83 9ª. Mestres e soldados - Atugasmin Medici …................................................................... 84-92 II- Instituições Patrióticas Conferencia realizada no amphitheatro da Escola Normal, em 1º de Novembro de 1917, pelo Sr. Prof. Elisiario Fernandez de Araujo, M. D. Director do Grupo Escolar “Paulino Carlos” - Elisiario Fernandes de Araújo …......................................... 93-107 III- Pela Pátria Conferencia realizada no amphitheatro da Escola Normal de São Carlos, em 15 de Novembro de 1917 - Sebastião Paulo de Toledo Pontes …................................. 108-122 IV- Professorandos de 1917 (Escola Normal de São Carlos) Discurso de paranynpho - Mario Natividade ….................................................................................................................. 123-133 V- Culto á Bandeira Conferencia realizada no amphitheatro da Escola Normal de São Carlos, em 19 de Novembro de 1917 - Mariano de Oliveira …................................................ 134-148 VI- Quadro de medidas tomadas no Gabinete de Psychologia Experimental - Manoel de Toledo Silva …....................................................................................................................... 149 VII- Pessoal docente, administrativo e relação dos alumnos diplomados em 1914, 1915, 1916 e 1917 - Waldomiro Caleiro …....................................................................................... 150-158 Revista da Escola Normal de São Carlos. n.4, jun., 1918. 56p. Summario Historia da instrucção e da educação, no Brasil Este trabalho, compilação na sua quasi totalidade, foi lido na sessão de 17 de Setembro de 1916 da “Sociedade de Estudos e Conferencias”, de São Carlos - Carlos da Silveira ….......................................................... 3-11 Hereditariedade e Educação - João Toledo ….................................................................... 12-24 A Geometria - F. Penteado …........................................................................................... 25-30 Arte e seu objecto - Raphael Falco …............................................................................... 31-38 Transmutação de valores - Waldomiro Caleiro ….............................................................. 39-43 ENSINO PRIMARIO Secção organizada pelo prof. A. Proença Estudo da natureza …......................................................................................................... 47-48 O milho Estudo individual e biographico …...................................................................... 48-56 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 3, n.5, dez., 1918. 90p. Summario Historia da Instrucção e da Educação no Brasil - II - Carlos da Silveira …........................ 3-30 Nossa gente Notas pedagogicas para meus alumnos - João Toledo ….............................. 31-42 A Geometria A Geometria Geral - F. Penteado …............................................................. 43-46 Ruy Barbosa - Arthur Raggio Nobrega …......................................................................... 47-68 A Moral Cívica Conferencia realizada, em nome da Liga Nacionalista, em Jahú, a 7 de Setembro de 1918, pelo Dr. Dagoberto Salles - Dagoberto Salles …................................ 69-79 Campos Salles e o civismo - Ezequiel de Moraes Leme …............................................... 80-88 Media das medidas anthropometricas dos alumnos das Escolas Modelo, Isolada e Grupo Escolar - Manoel de Toledo da Silva …................................................................................... 89 Professores formados pela Escola Normal de S. Carlos – turma de 1918 ….......................... 90 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 3, n.6, jun., 1919. 54p. Summario Juvenal Penteado Elogio fúnebre, lido a 22 de Abril de 1919, 30º dia do seu passamento, em sessão solenne promovida pelo corpo docente da Escola Normal de São Carlos. - Antônio Firmino Proença …...............…........................................................................................... 3-12 Historia da Instrucção e da Educação, no Brasil - Carlos da Silveira …........................... 13-32 Povoamento e educação Discurso lido a 3 de Maio de 1916 - Ezequiel de M. Leme ….... 33-36 Aprendizado activo - João Toledo …................................................................................. 37-54 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 4, n.7, dez., 1919. 69p. Summario Culto cívico Conferencia realizada no Polytheama de Araraquara, no dia 7 de Setembro de 1918, por incumbencia da Liga Nacionalista - Carlos da Silveira ….................................. 3-21 A Geographia e o seu ensino - Ezequiel de Moraes Leme …............................................. 22-25 O ensino da lingua franceza em nossas escolas - Domingos de Vilhena …........................ 26-29 Aprendizado activo Continuação do trabalho publicado no n.6 desta Revista – Junho de 1919 - João Toledo …................................................................................................................. 30-48 A Republica no Brasil Conferencia realisada a 15 de Novembro de 1919, em Ribeirão Bonito - Dagoberto Salles …......................................................................................................... 49-60 ENSINO PRIMARIO Secção organizada pelo prof. A. Proença Lições inductivas …........................................................................................................... 63-67 Professores formados pela Escola Normal de São Carlos – 1919 …................................. 68-69 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 4, n.8, jun., 1920. 112p. Summario Os ideaes nacionaes e as escolas elementares - João Toledo …........................................... 3-20 Escolas Normais Idéas contidas no relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Secretario do Interior, em 1º de Fevereiro de 1920 - Mariano de Oliveira …......................................... 21-31 Questões de Ensino Normal - Carlos da Silveira ….......................................................... 32-57 Questões do ensino - Ezequiel de Moraes Leme …........................................................... 58-62 A escola e a caserna Discurso pronunciado na sessão solemne de entrega das cadernetas de reservistas aos atiradores da Escola, realizada em 11 de abril de 1920 - A. Proença ….... 63-70 Pedagogia Conceitos antigos(medievaes) x Reacção moderna(critico-naturalistica) - J. & C 71 21 de abril Discurso proferido no anphitheatro da Escola Normal – 1920 - Sebastião Paulo de Toledo Pontes …................................................................................................................. 72-81 Um problema de annuidades - Mario Natividade ….......................................................... 82-85 Fim do desenho nas escolas primarias e normaes - Raphael Falco ….............................. 86-94 ENSINO PRIMARIO Secção organizada pelo prof. A. Proença Linguagem nas classes inferiores – Vocabulário Linguagem nas classes adiantadas – Composição ..................................................................................................................... 97-107 No Semestre …...................................................................................................................... 108 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 5, n.9, nov., 1920. 55p. Summario Questões do Ensino - Ezequiel de Moraes Leme …............................................................... 3-6 Luiz Alves de Lima e Silva (culto civico) - Carlos da Silveira …....................................... 7-32 Bases para a elaboração e execução de um programma de História em nossas escolas primárias e normaes - João Toledo …................................................................................ 33-49 Desperdicio de energia nas escolas - A. Proença ….......................................................... 50-54 Professores formados pela Escola Normal de São Carlos – 1920 …...................................... 55 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 6, n.10, jun., 1921. 65p. Summario D. Pedro II através do sentimento Conferencia lida na Escola Normal de São Carlos, por occasião de inaugurar-se o retrato do ex-imperador, na galeria daquelle estabellecimento. João Toledo …...................................................................................................................... 3-12 Questões do Ensino - Ezequiel de Moraes Leme …........................................................... 13-17 O escotismo como meio educativo - Domingos de Vilhena ….......................................... 18-24 A letra do Hymno Nacional - Elisiario de Araujo …......................................................... 25-27 Morphologia historica do artigo - Fausto de Sousa …....................................................... 28-33 Assumptos escolares (cultura civica – suggestões) - Carlos da Silveira …....................... 34-46 Quantidades algebricas reaes - F. Penteado ….................................................................. 47-55 ENSINO PRIMARIO Secção organizada pelo prof. A. Proença (Director e lente da Escola Normal de Pirassununga) Suggestões Para o estudo da natureza no 1º anno preliminar …........................................ 59-65 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 6, n.11, dez., 1921. 70p. Summario Escolas Complementares - Mariano de Oliveira …............................................................... 3-6 Do papel educativo da escola primaria - Carlos da Silveira …........................................... 7-21 Aprendizado de Physica nas escolas normaes - Sebastião Paulo de T. Pontes …............. 22-25 O Imperador Commemoração popular, no Paço da Municipalidade, em Casa Branca, a 9 de Janeiro de 1921 - F. Azzi …................................................................................................ 26-41 A Questão Social Discurso proferido pelo Dr. Dagoberto Salles, lente da 10ª cadeira e paranympho dos professorandos de 1921, na sessão solemne de entrega de diplomas, realisada na Escola Normal de São Carlos - Dagoberto Salles ….................................................... 42-54 O desenho nas Escolas Normaes - Raphael Falco …........................................................ 55-63 Introdução aos programmas de Psychologia, Pedagogia e Methodologia das Escolas Normaes Paulistas Trabalho apresentado á Reunião dos Directores do Ensino, realizada em S. Paulo, em julho de 1921. Professores diplomados pela Escola Normal de São Carlos – turma de 1921- João Toledo …......................................................................................................... 64-70 Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 7, n.12, dez., 1922. 73p. Summario John Casper Branner - Francisco Z. Penteado …................................................................ 3-22 Suggestões e programma para o ensino de Francez nas escolas complementares e normaes João Toledo ….................................................................................................................... 23-33 Do papel educativo da escola primaria - Carlos da Silveira ….......................................... 34-52 Como realisar a pratica de ensino? Trabalho apresentado á reunião dos directores das Escolas Normaes convocada para julho de 1921, no edificio do Jardim da Infancia de S. Paulo Duilio Ramos …................................................................................................................. 53-60 O lente de Physica De Maria Ângela - paginas de vida escolar, inéditas – A. de Oliveira 61-64 A mosca - A. Proença ........................................................................................................ 65-71 Methodos de ensino elementar - A. Proença …................................................................ 72-73 Professorandos de 1922 - Escola Normal de São Carlos Revista da Escola Normal de São Carlos. Anno 8, n.13, dez., 1923. 79p. Summario Discurso Pronunciado na solennidade de entrega de diplomas ás Professorandas da Escola Normal do Braz, turma de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo pelo paranympho Dr. Carlos da Silveira - Carlos da Silveira …............................................................................ 3-15 O desenho nas classes infantis - Raphael Falco …............................................................ 16-32 O sonho - Mello Ayres ….................................................................................................... 33-42 Desenho e Linguagem - Ataliba de Oliveira …................................................................. 43-53 Lições de Arithmetica - Antonio F. Proença ….................................................................. 54-59 Discurso pronunciado na collação de grao das professorandas de 1922 – J. F. Motta ….. 60-78 Anexo II Anotações sobre o Livro de Ouro da Escola Normal de São Carlos Termo de abertura Servirá este livro para transcrição de provas de exames que obtiverem nota optima – doze (12), devendo essa transcripção ser feita pelo próprio alumno, cuja prova tiver conseguido aquella nota. Esta, será authenticada pelo respectivo lente. Para constar, eu, José de Camargo, official servindo de secretario, lavrei este termo. São Carlos, 12 de agosto de 1911. O Director Assinatura Termo de encerramento Contém este livro, trezentas folhas numeradas, que foram rubricadas com o fac símile __________, de que usa o Snr. Dr. Director e destina-se ao fim indicado no termo de abertura. Para constar, eu, José de Camargo, official servindo de secretário, lavrei este termo. São Carlos, 12 de agosto de 1911. O Director Assinatura Provas de Pedagogia Prova de Pedagogia 1 Título: Froebel e sua obra Aluna: Alice Brandão – nº 8 – 4º anno Data: 30 de outubro de 1914 Páginas: 88, 89, 90, 91 Prova de Pedagogia 2 Título: Doutrina da evolução Primeiras idéas. Lamarck. Darwin. O néo-lamarchismo e o néo darwinismo: conclusões para a educação Aluna: Noemia Sampaio de Souza – nº 1 – 3º anno Data: 25 de maio de 1916 Páginas: 98, 99, 100 Prova de Pedagogia 3 Título: O feudalismo e a educação dos cavalheiros Aluna: Maria Lourdes F. de Paula Ramos – nº 3 – 4º anno Data: 28 de julho de 1917 Páginas: 104, 105, 106, 107, 108 Prova de Pedagogia 4 Título: Como calcar o ensino sobre o interesse Aluna: Maria do Carmo Tenido Monteiro – nº 1 – 3º anno Data: 18 de outubro de 1918 Páginas: 109, 110, 111 Prova de Pedagogia 5 Título: O jogo como factor da formação mental Aluna: Celina Maria dos Santos – nº 1 – 3º anno Data: 20 de outubro de 1919 Páginas: 127, 128, 129, 130 Prova de Pedagogia 6 – Prova da 11ª cadeira Título: Rabelais e Montaigne Aluna: Lucilla Hermani – nº 9 – 4º anno Data: sem data Páginas: 145, 146 Prova de Pedagogia 7 Título: Rabelais e Montaigne Aluna: Celina Maria dos Santos – nº 2 – 4º anno Data: 10 de maio de 1920 Páginas: 147, 148, 149 Prova de Pedagogia 8 Título: A segunda renascença do séc. XII. Pedagogia escolástica Aluno: Paulo de Andrada Fortes – nº 7 – 4º anno Data: 18 de maio de 1920 Páginas: 156, 157