INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS

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INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.86-96
INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS LABORATÓRIOS DE
REFERÊNCIA NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA NO PERÍODO DE JANEIRO
DE 2009 A JUNHO DE 2011
¹Karina Angélica Alvarenga Ribeiro; ²Rosália da Conceição Moura; ³Sheza Mayara dos Santos Oliveira
RESUMO
A Candida albicans é um agente comum da flora vaginal e é responsável por inúmeras visitas de
mulheres ao consultório médico a cada ano. Existem estatísticas que pelo menos metade das jovens
universitárias tenham tido um episódio confirmado até os 25 anos de idade. A candidíase
vulvovaginal é um problema de saúde publica mundial, pois acomete milhões de mulheres por ano
prejudicando a vida sexual, afetiva e no trabalho. O presente estudo teve como objetivo principal
verificar a incidência de candidíase vaginal em dois laboratórios de referência no município de
Santarém no período de janeiro de 2009 à junho de 2011. Trata-se de um estudo retrospectivo de casos
positivos para cândida a partir de exames colpocitológicos de mulheres do município de SantarémPA. Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total analisados 4.167
foram positivos para candidíase vaginal. A faixa etaria de maior incidência é de 24 à 33 anos (35%)
considerando que essas mulheres tem baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o
primeiro grau incompleto (31%) e residem na zona rural (65,4%). Neste estudo, a porcentagem de
positividade para infecção causada pela cândida albicans detectou incidência significativa como já
era esperado, o que nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de maneira bastante semelhante
em mulheres de diversas cidades de nosso país, independente do clima em que vivem.
Palavras-chave: candidíase vaginal – cândida albicans – exame colpocitológico
ABSTRACT
Candida albicans is a common agent from the vaginal flora and it is responsible for numerous of
the women's visits to gynecologists yearly. There are statistics showing that at least half of the
young college students have had one case confirmed prior to the age of 25. Candida vulvovaginal is
a worldwide public health problem that affects millions of women da maging their sexual life/
affection and work. The main objective of the actual study was to verify the incidence of Vaginal
Cândida based on two labs in Santarém from January 2009 until June 2011. This is a retrospective
study of positive Candida cases resulting from women colpocitologico exams in the city of
Santarém – PA. 26.666 medical SISCOLO were analyzed during the period from January 2009 to
June 2011 from which 4.167 were positive. The age range most affect was between 24 and 33 years
old (35%). Most of the women had low educational level – mostly having only completed 8th grade
(31%) – and residing out of the city limits (65,4%). This study presents a significant incidence of
Cândida albicans as expected. The conclusion is that “vaginal candidiase” proliferates similarly in
all women from different Brazilian cities regardless of the clime where they reside.
Key words: vaginal candidiasis – cândida albicans – pap test
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¹ Enfermeira pela UNIFENAS. Docente da Universidade do Estado do Pará do curso de Medicina, em Saúde Coletiva/Interação Comunitária-INC.
Especialista em Trauma, Emergências e Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG. Pós-graduando em Saúde
Coletiva pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Gama Filho(UGF); ² Discente do 8º
semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós; ³ Discente do 8º semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós.
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I. Introdução
A Candida albicans que também é chamada de Monilía está presente no nosso
corpo em pequena quantidade e quando ocorre redução do mecanismo de defesa há um
crescimento considerável destes microorganismos causando o crescimento intenso da
candidíase vaginal, deste modo há a multiplicação populacional desse microorganismo
definindo-se então como superinfecção (BURTON; ENGELKIRK, 2005).
Segundo estudos realizados por Trabulsi e Alterthum (2005), ocorrem dois
tipos de infecções vulvovaginosas que são causadas pela Candida albicans, sendo
que uma delas é transmitida pela origem endógena, do próprio paciente, e a outra são
aquelas transmitidas pela origem exógena, infecção hospitalar, encontradas em
pacientes internados em área hospitalar.
A Candida albicans é um fungo freqüente encontrado na flora vaginal, na
boca, no tubo digestivo, intestino, na pele e na orofaringe onde a sua ocorrência está
associada há muitos fatores como o uso de anticoncepcionais orais, gravidez,
diabetes mellitus, uso constante de antibióticos, corticoides, roupas apertadas e
outros (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).
Para Tortora (2005), a Candida albicans é um agente comum da flora
vaginal, e é responsável por inúmeras visitas de mulheres ao consultório médico a
cada ano. Assim Tortora (2005, p. 755) relata que:
[...] Cândida albicans é a causa de candidíase oral ou sapinho. Ela
também é responsável por casos ocasionais de UNG em homens e pela
candidíase vulvovaginal, que é a causa mais comum de vaginite. Cerca
de 75% de todas as mulheres sofreram na mínimo um episódio.
A candidíase vulvovaginal é um dos diagnósticos mais comuns na prática em
ginecologia e casos positivos têm aumentado drasticamente, tornando-se a segunda
infecção genital mais frequente nos Estados Unidos e no Brasil (ALVARES;
SVIDZINSKI; CONSOLARO, 2007).
Assim, durante a vida acadêmica, se observou em campo de estágio a alta
prevalência de exames positivos de candidíase vaginal nos resultados de
Colpocitologia Oncológica. Como se sabe, a candidíase é conhecida como uma
infecção sexualmente transmissível e está incluída como umas das doenças que faz a
população feminina buscar ajuda de profissionais da saúde. Portanto, fez-se
necessário desenvolver uma pesquisa referente ao quantitativo da população
feminina que apresenta candidíase vaginal no município de Santarém/PA.
No presente estudo optou-se por uma pesquisa quantitativa retrospectiva,
onde o tema foi delimitado no contexto de variáveis que permitam através de sua
análise obtenção de resposta.
O estudo tem como objetivo verificar a incidência de candidíase vaginal em
dois laboratórios de referência no município de Santarém/PA no período de janeiro
de 2009 a junho de 2011, com o intuito de descrever a realidade do município através
de levantamento de dados proporcionando o interesse de novas pesquisas.
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II.A candidíase vaginal
Em 1949 Wilkinson descreveu pela primeira vez a Candida Vulvovaginal e
relacionou os fungos da vagina com o aparecimento da vaginite, após essa descoberta
evoluíram os conhecimentos a respeito da doença (ALVARES; SVIDZINSKI;
CONSOLARO, 2007). De acordo com Conceição et al (2005, p. 107):
Em 1842, Gruby já descrevia, perante a Academia de Ciências de
Paris, “o sapinho das crianças”. Robin, em 1853, descreveu o
parasito como sendo Oidium albicans, denominação que
perdurou, juntamente com a Monilia albicans em 1890 ate 1923,
quando Berkhout criou o gênero cândida, aceito até hoje.
Segundo Scechter e Marangoni (1998), infecções por Candida sp. ganharam
importância médica a partir dos anos 40 e foram introduzidos antibióticos no
tratamento clínico e, devido ao seu uso indiscriminado, houve um grande aumento
da frequência dessas infecções em procedimentos cirúrgicos constante em
transplante de órgãos e próteses valvulares cardíacas. Para Black (2002, p.503):
[...] A cândida pode invadir os pulmões, os rins e o coração ou ser
transportada pelo sangue, onde causa uma grande reação toxica.
A candidíase a mais comum das infecções hospitalares causadas
por fungo é encontrada em pacientes com doenças tais como
tuberculose, leucemia e AIDS.
Segundo Trabulsi e Alterthum (2005), o principal agente etiológico da
cândida vulvovaginal é a Candida albicans; porém existem outras espécies
identificadas como:
Candida tropicalis, Candida glabrata, Candida krusei,
Candida parapsilosis, Candida kefyr, Candida guilliermondii, Candida lusitanae.
Segundo Freitas et al (2001, p.146):
A maior parte da literatura específica atual demonstra que 85 e
90% da flora fúngica vaginal é constituída por Candida albicans.
O restante é atribuído a outras espécies, sendo mais comuns a C.
glabata (9 a 15%) e a C. tropicalis (até 15% dos casos) [...].
De acordo com Oliveira e Lembruber (2001, p. 772), “em um estudo
envolvendo 2.184 mulheres, a Candida albicans foi isolada em 84,2%; a Candida
tropicalis em 5,3% e a Candida glabrata em 5,5% das pacientes”.
Para Scecter e Marangoni (1998), a cândida albicans se reproduz por
brotamento e são leveduras pequenas de paredes finas; as pseudo-hifas e hifas se
proliferam facilmente na hemocultura e em placas de ágar.
De acordo com Moreira (2003, p. 216), “a candidíase vaginal é doença
genital feminina provocada por fungos, cândida. É das queixas ginecológicas, a
mais frequente, que acomete a mulher”.
Segundo Moreira (2003), a paciente pode vir apresentar: prurido vaginal,
secreção branco leitosa, dispareunia, ardor vulvar, disúria, polaciúria, irritabilidade
vaginal, edema, eritema, hiperemia, fissuras, aumento do conteúdo vaginal, que
muitas das vezes aderente á parede vaginal.
Segundo Oliveira e Lembruder ( 2001, p. 86):
[...] O sintoma predominante é o prurido, ás vezes, ocorrendo
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clinicamente na fase pré-menstrual. O corrimento vaginal branco
(tipo leite talhado ou aquoso) pode estar ou não presente, estando
presente em 50% dos casos sem odor fétido. A dispareunia e a
disúria externa também pode fazer parte do quadro. Algumas
pacientes são assintomáticas, porém com achados positivos no
exame ginecológico [...].
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A vagina sofre mudanças fisiológicas devido a hormônios, tornando-se
úmida e alterando o conteúdo do pH; conforme esta mudança ocorre há descamação
do epitélio vaginal muco cervical, transudação vaginal e presença de flora vaginal
contendo pH ácido de 3,8 a 4,5 principalmente durante estes períodos: gestação,
puerpério e durante o período fértil, o neonato poderá apresentar devido á ação
hormonal através da placenta (OLIVEIRA E LEMGRUBER, 2001).
De acordo com Moreira (2003), independente da idade há ações que podem
propiciar a manifestação da cândida como: Promiscuidade sexual, o uso de roupas
excessivamente apertadas e de produto sintético, falta de higiene íntima, uso de DIU
e outros como diabetes, gravidez, uso de contraceptivo oral, uso de antibiótico, de
corticóide e imunossupressores, alergias a perfumes, desodorante íntimos, prémenarca, pós-menopausa, uso indiscriminado de ducha vaginal, HIV e outras
imunodeficiências.
Segundo Valadares-Neto Apud Barros (1995), a gravidez se torna um grande
fator de risco para infecções vaginais, devido a mudanças que ocorrem no
ecossistema vaginal durante a gestação, o que favorece o desenvolvimento de
patógenos que causam infecções vulvovaginais.
Segundo Glass (1978), as mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais
são mais susceptíveis á candidíase, pois devido à ingestão de estrogênio e de
progesterona cria-se um ambiente vaginal semelhante ao ocorrido no período
gestacional, além de acontecer a descamação da parede vaginal o que leva a um
aumento considerável de fragilidade à infecção.
De acordo com Conceição et al (2005), a Diabetes mellitus e AIDS são
alterações importantes que favorecem o aparecimento da candidíase, por este motivo
a taxa de glicemia deve ser pesquisada rotineiramente assim como o teste para HIV.
O trato gastrointestinal é o principal causador de leveduras vaginais, essa
transmissão acontece através de um processo endógeno em que ocorre o auto
contágio, se inoculam para a vagina, aonde vão se desenvolver e sofrer um processo
adaptativo. Durante a ação das enzimas proteases e hidralases, essas leveduras se
alojam na vagina e penetram superficialmente no seu epitélio realizando ali sua
moradia e consegue causar distúrbios de ação imediata ou até mesmo confeccionar
um reservatório para reinfecções posteriores. A Candida vulvovaginal também é
considerada uma doença sexualmente transmissível (ALVARES; SVIDZINSKI;
CONSOLARO, 2007).
Segundo Piato (1993), a transmissão pode ocorrer através da relação sexual
uma vez que o homem pode albergar a candidíase no prepúcio ou
sucobalanoprepucial. A transmissão também pode acontecer por contato em locais
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que o fungo poderá sobreviver por mais tempo como: toalha úmida, assentos de vaso
sanitários, borda de piscinas, entre outros.
De acordo com Trabulsi e Alterthum (2005, p. 495), “no homem, a balanite,
infecção na glande, por Candida albicans, pode ser encontrada, sendo comumente
considerada como sexualmente adquirida”.
Já para Bastos et al (2003, p. 27) “A transmissão por via sexual não é aceita
como dado importante, embora alguns parceiros de mulheres com candidíase
vulvovaginal apresentem balanite fúngica”.
De acordo com Moreira (2003), a Candida albicans é considerada uma das
espécies mais patogênicas devido à grande capacidade de se aderir na célula através
de seus próprios mecanismos bioquímicos contidos na sua membrana celular. Tornase mais maléfica quando há imunodepressão, como nos casos de pacientes com vírus
da AIDS. As cepas de Candida albicans têm o privilégio de alterar a própria
estrutura de formas e maneiras diferentes invadindo os tecidos do hospedeiro. Elas
são resistentes aos agentes antifungos na alteração da capacidade antigênica do
fungo, na transformação dos mecanismos em resposta ao fungo e a fatores
ambientas. Ao se introduzir na vagina, o microrganismo se adere a células epiteliais,
principalmente no pH vaginal elevado, ou seja ácido, onde o fungo se alberga e
multiplica-se.
Segundo Piato (1993), a flora vaginal normal possui um importante papel no
combate do crescimento da Candida albicans, pois qualquer interferência que possa
destruir ou diminuir a população do bacilo Doederlein favorecerá o crescimento do
fungo, que além de eliminar a flora normal inibi a fagocitose do fungo. A cândida
albicans prejudica a membrana citoplasmática das células epiteliais do colo,
mucosas vaginais, períneo e pele da genitália externa, sendo estas as localizações
mais comprometidas pela inflamação, porém esse processo também pode se
estender a outras localizações na vagina como: região perianal, pequenos lábios,
clitóris, vestíbulo da vagina, toda vagina e colo.
Segundo Piato (1993), o diagnóstico pode ser realizado clinicamente através
do exame da genitália externa que frequentemente é encontrado hiperemia, edema
no introito vaginal, vestíbulo da vagina, lábios menores e fissuras pelo ato de coçar.
O exame ar fresco demonstra a presença dos filamentos de pseudo-hifas que
é de suma importância para o diagnostico da Candida albicans. Este exame é
realizado através da análise microscópica em lâminas que contém secreção vaginal e
que devem ser misturadas numa solução contendo hidróxido de potássio de 10 a
20%. Quando há a prevalência de lactobacilos apresentando prurido em um caso de
vulvovaginite devemos evidenciar a presença de candidíase (GLASS, 1978).
Já para Freitas et al. (2001, p. 147), “o exame microscópica a fresco ou á
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coloração de gram demostram em 40 a 60% dos casos a presença de hifas e pseudohifas, as formas mais comumente encontradas na fase sintomática”.
De acordo com Oliveira e Lemgruber (2001), o teste de cultura é sensível e
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deverá ser usado somente quando o teste for negativo para hifas, porém apresente
sinais e sintomas é importante não esquecer que caso a cultura seja positiva para
pacientes assintomáticos é sinal normal da flora vaginal.
Segundo Moreira (2003), o exame da citologia (Papanicolau) também serve
para diagnosticar leveduras do gênero cândidas albicans ou outros métodos de
coloração. O mesmo autor recomenda tratamento sistêmico, pois exterminam os
albergues genitais e extragenitais e principalmente, nos casos recidivas, onde orienta-se
tratar o casal com derivados midazólicos como: clotrimazol, econazol, miconazol,
putoconazol, cetoconazol, itraconazol e fluconazol que atuam diretamente na membrana
celular fúngica impedindo a sua reprodução. Há também outras medicações utilizadas
de ação local como: nistatina, anfotericina B e mepartricina. Existem formas de Candida
albicans que não tem respostas positiva aos imidazolicos nesta situação é necessário o
uso dos pirimidínicos usando-se 5-flucitocina. Os antiinflamatórios que não possuem
hormônios ajudam a aumentar a ação dos linfócitos contra os fungos.
Segundo Bastos et al. (2003) o tratamento de candidíase vaginal nos últimos
anos evoluiu bastante, sendo que não há comprovação de resistência da Candida
albicans aos antibióticos poliênicos e derivados midazólicos; porém alguns fatores
devem ser analisados para um bom resultado de tratamento como: começar o
tratamento com terapêutica local, evitar que o tratamento seja interrompido durante
o período menstrual, ter o controle dos fatores predisponentes, não associar outros
medicamentos principalmente o metronidazol. Em caso de mulheres que possuam
casos de candidíase vulvovaginal é necessário o tratamento do casal, caso contrário
não será obrigatório.
Para Freitas et al. (2001, p. 147), “o tratamento do parceiro não tem
demonstrado reduzir a frequência de recorrência de candidíase e deve ser realizado
somente nos sintomáticos”. De acordo com o Ministério da Saúde (2002, p. 23):
recomenda-se isoconazol (nitrato), uso tópico sob a forma de creme
vaginal, durante 7 dias ou ovulo, em dose única; como 2º alternativa,
tioconazol pomada ou ovulo em dose única. Outras substancias
também são eficazes: clotrimazol, miconazol, derconazol, tioconazol
ou nistatina, em aplicação tópica.
Para Moreira (2003), a profilaxia consiste em ter cuidados dietéticos como:
evitar doces, refrigerantes, vinho, leite e derivados, ou seja, ter uma alimentação
saudável, além da alimentação é importante ter uma higiene adequada e alcalinização do
pH vaginal com banho de bicarbonato de sódio, evitar desodorante intimo e uso de
roupas sintéticas e justas.
Segundo o Ministério da saúde (1999), as mulheres devem adotar algumas
medidas profiláticas dentre as quais estão inclusas a realização da higiene pessoal no
sentido da vulva para o ânus nunca do ânus para a vulva, evitar calças apertadas; não usar
toalhas ou roupas de outras pessoas; não lavar calcinhas durante o banho, pois facilita a
manutenção de fungos; nunca colocar roupa íntima para secar atrás da geladeira; evitar
uso de roupa de lycra e sempre manter relação sexual com uso de preservativo.
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III. Método
O presente estudo trata-se de uma pesquisa retrospectiva com abordagem
quantitativa. Esta pesquisa foi realizada no período de janeiro de 2009 a junho de
2011, em dois laboratórios de referência no município de Santarém-PA, após
autorização dos responsáveis dos laboratórios A e B mediante o objetivo da pesquisa.
Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total, 4.167
foram positivos para candidíase vaginal. A população de referência foi de mulheres
que realizaram o exame de colpocitologia, onde os resultados foram representados em
05 gráficos divididos em: comparação de casos positivos segundo laboratórios A e B,
zona de residência, grau de escolaridade, variável de raça e variável de faixa etária e o
item sem informação (SI); sendo realizada em duas etapas. Primeiramente foi
realizada a pesquisa documental facilitando o entendimento do tema estudado durante
a pesquisa através de livros disponíveis de: microbiologia, ginecologia, patologia,
metodologia da pesquisa, manual do Ministério da Saúde e através de 29 artigos
científicos publicados nas bases de dados LILACS, nos seguintes periódicos: Jornal
Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, Acta Paulista de Enfermagem, DST- Jornal Brasileiro de Doenças
Sexualmente Transmissíveis, Revista NewsLab, Revista de Saúde Pública, Revista
Brasileira de Análises Clínicas sendo que destes utilizamos apenas 14 artigos. A
segunda etapa trata de dados coletados nos laboratórios A e B através do levantamento
quantitativo dos exames colpocitológicos, em que foram utilizados para a construção
de gráficos e tabelas. A análise teve duração de 37 dias ininterruptos.
III. Resultados e discussão
Em um dos estudos realizados por Barros em 1995, a citologia identificou
microrganismos presentes em 54,3% do total de uma população, contendo em seus
resultados a Cândida albicans (32,7%), Gardinerela vaginalis (29,9%) e
Trichonomas vaginalis (25,8%), observando que a Cândida albicans predomina
como sendo o caso mais comum na genitália feminina. Dessa forma o exame
Papanicolau é um dos exames mais importantes de rotina em uma unidade de saúde
por ser um método simples, de baixo custo e identifica agentes patogênicos da
mulher.
Durante o período de janeiro de 2009 a 30 de junho de 2011 foram
registrados 26.666 exames citopatológicos de mulheres em diferentes faixas etárias,
em dois laboratórios de referência do município de Santarém-PA; sendo que destes
exames 4.167 (15,6%) foram positivos para candidíase vaginal.
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GRÁFICO 1
Percentual (%) de casos confirmados por zona de residência
Conforme observa-se no GRÁFICO 1, acima, a zona de maior incidência de
casos positivos foi a Rural com 2.726 casos (65,4%) e a de menor incidência foi a
zona urbana com 1.436 casos (34,5%). Neste item não foi possível realizar discussão
com outros artigos, pois não encontramos nenhuma pesquisa publicada referente a
zona de residência para que houvesse uma comparação de dados. Este fato mostra que
pesquisas relacionadas a candidíase vaginal não tem sido direcionadas a este dado.
GRÁFICO 2
Percentual (%) de casos confirmados segundo faixa etária
De acordo com o GRÁFICO 2, a faixa etária de maior incidência de casos
positivos foi de 24 a 33 anos (35%). O presente trabalho está de acordo com os
resultados encontrados na pesquisa de Bastos et al (2003) em Niteroi-RJ onde a
prevalência de casos ocorreu na faixa etária de 21 a 30 anos (36,7%); com Mendes et
al (2005) na Universidade Federal de Pernambuco com a maior incidência de faixa
etária de 21 a 30 anos e com Boatto et al (2007) em São Paulo com a prevalência em
mulheres na faixa etária de 18 a 34 anos.
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GRÁFICO 3
Percentual (%) de casos confirmados segundo grau de escolaridade
Conforme o GRÁFICO 3, o grau de escolaridade de maior incidência de casos
positivos foi 1° grau incompleto com 1291 casos (31%), discordando com o estudo
realizado por Barcelos et al (2008) em Vitoria –ES, que relatam que 70% possuem o
oitavo ano de escolaridade discordando também com a pesquisa de Neto, Hamdan e
Souza (1999) em Minas Gerais onde a maioria 86,1% era de escolaridade primaria
completa ou incompleta; em contrapartida concorda com a pesquisa realizado por
Guerreiro et al (1986) na Universidade Federal da Bahia 38,1% em sua maior parte
eram de mulheres com baixo grau de escolaridade e com o Bastos et al (2003) em
Niterói-RJ dentre as mulheres estudadas 28,6% tinham o 1º grau incompleto.
IV. Conclusão
Neste estudo, a porcentagem de positividade para infecção causada pela
Cândida albicans detectou incidência significativa como já era esperado. Sendo a
faixa etária de maior incidência de 24 a 33 anos. Considerando que essas mulheres
têm baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o primeiro grau
incompleto e residem na zona rural. Em relação á raça não foi possível alcançar o
objetivo deste item em virtude da falta do preenchimento adequado da ficha do
SISCOLO, tendo em vista também, os diferentes impressos disponíveis que não
apresentam o item raça.
A incidência de portadoras de candidíase vaginal descrita em trabalhos
consultados para a realizaçao de nossa pesquisa se mostrou bastante semelhante ao
encontrado por nós. Este fato nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de
maneira bastante semelhante em mulheres de diversas cidades de nosso país,
independente do clima em que vivem. O número de informações na literatura sobre
infecção por levedura é insatisfatória, por este motivo outras pesquisas podem ser
realizadas nesta area.
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