SED165 - Francisco F. C. Sudau
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SED165 - Francisco F. C. Sudau
MAPEAMENTO DE RIP CURRENTS COM DERIVADORES GEORREFERENCIADOS Francisco F. C. Sudaua, Douglas D. Nemesb, Marcos N. Galloc a,b,c Universidade Federal do Rio de Janeiro,e-mail: [email protected]; b [email protected]; [email protected]; Palavras-chave: Rip current; Derivadores Georreferenciados; Células de Circulação Introdução As rip currents estão presentes na zona de surfe da maioria das praias oceânicas ao redor do mundo, sendo considerada a principal causa de resgates e afogamentos neste tipo de praias (Lushine, 1991; Scott et al., 2008; Leatherman e Fletemeyer, 2011; MacMahan et al., 2011; Kumar e Prasad, 2014). Fazem parte da hidrodinâmica das células de circulação do sistema praial e influenciam a morfodinâmica das praias arenosas, caracterizando-se por serem correntes no sentido offshore que sofrem a influência de eventos oceanográficos (Scott et al., 2014). Tais eventos, combinados com as variações da batimetria ao longo da costa, resultam em gradientes longitudinais de altura de onda que geram as rip currents (Bowen, 1969). Neste sentido, estas correntes dependem da existência de variações longitudinais dos gradientes de pressão (set-up), causados pelas variações na tensão de radiação ao longo da costa (Aagaard e Vinther, 2008). Mesmo com muitos trabalhos publicados sobre rip currents (Shepard, 1936; Lushine, 1991; Vagle et al., 2001; MacMahan et al., 2005; MacMahan et al., 2006; Leatherman e Fletemeyer, 2011; Castelle et al., 2009; Macmahan et al., 2011; Murray et al., 2013; Scott et al., 2014; entre outros), ainda existem poucos estudos que tenham dados medidos in situ (MacMahan et al., 2006; Aagaard e Vinther, 2008). Esta lacuna de informações deve-se às muitas dificuldades de instalar instrumentos na zona de surfe de praias arenosas, principalmente sob condições de alta energia de onda e considerando a variação espacial dos canais ao longo do tempo. Avanços tecnológicos nos sistemas de posicionamento geográfico (GPS) e sua aplicação em trabalhos de campo utilizando o método lagrangeano, incrementaram a cobertura espacial que até então se tinha das rip currents, mudando a compreensão tradicional deste tipo de correntes (Leatherman e Fletemeyer, 2011). O presente estudo tem como objetivo principal a criação de mapas que representem o comportamento das células de circulação, através da identificação da estrutura hidrodinâmica, estados de mar e maré, geradoras das rip currents. Estes mapas poderão ser aplicados tanto para um melhor entendimento dos processos hidrosedimentológicos costeiros, como ser uma ferramenta para as equipes de salvamento. Material e Métodos A área de estudo está localizada em um trecho da Praia da Reserva (23°00’S e 43°23’ W), pertencente às praias da zona oeste do Rio de Janeiro, Brasil. Os motivos que influenciaram a decisão pela escolha deste local foram a orientação geográfica E-O da Praia da Reserva, que a deixa exposta aos eventos meteoceanográficos mais importantes e energéticos do Atlântico Sul Ocidental (Nemes e Marone, 2013). As campanhas de monitoramento ocorreram entre janeiro e julho de 2015, em estados de mar do tipo windsea, swell e eventos extremos. Cada uma delas cobriu um ciclo completo de maré, visando obter dados durante as marés enchente e vazante. Para a obtenção dos dados de correntes foram utilizados dois derivadores convencionais (GPS flutuando na superfície da água, com contrapeso para ser transportado pela corrente) e dois derivadores humanos equipados com um GPS Garmim eTrex 10. Este tipo de derivadores já foram usados em estudos pretéritos (MacMahan et al.,2010 e Miloshis e Stephenson, 2011) apresentando resultados satisfatórios. Mediante observação visual prévia foram localizadas e quantificadas as rip currents, para realizar o posicionamento dos derivadores. Resultados e Discussão As variabilidades de estados de mar que incidem na Praia da Reserva determinaram a forma, intensidade e estrutura das rip currents. Como resultado, foram identificadas um total de três zonas de rip currents (figura 1), ao longo de 480 metros da Praia da Reserva. As zonas A e C apresentaram rip currents com maior frequência (64% das campanhas realizadas), em todos os estados de mar monitorados. Já na zona B, estas correntes foram observadas apenas em um 18% das campanhas realizadas, coincidindo com a maioria dos eventos extremos e sendo considerada como zona de caráter temporário. Não foram registradas rip currents em 27% das campanhas realizadas, sendo, nestes casos, a deriva litorânea a corrente dominante da hidrodinâmica praial. As zonas A e C alcançaram comprimentos máximos de até 202 metros da linha de costa em direção offshore com velocidades médias de 0,75 m/s e 0,65 m/s, respectivamente. Velocidades máximas de até 2 m/s foram medidas nas zonas A e C. Já a zona B apresentou uma largura de 58 metros, velocidades médias de 0,63 m/s e velocidades máximas de até 1,7 m/s. Figura 1: Classificação das três zonas quanto à presença de rip currents. Zonas A e C mostraram maior frequência de rip currents (64%). Zona B apresentou menor frequência de rip currents (18%). Em 27% das campanhas existiu uma dominância da deriva litorânea na hidrodinâmica praial, não sendo registradas rip currents. As células de circulação encontraram-se a maior parte do tempo comprimidas pela ação das ondas, dentro da zona de surfe. Apenas nas zonas A e C os derivadores conseguiram registrar células de circulação completas, chegando, em alguns casos, a ultrapassar a zona de arrebentação (figura 2). As medições registradas de determinados pulsos que conseguiram atravessar a zona de surfe externa é um fenômeno que vem sendo observado também por outros autores (MacMahan et al.,2004 e Reniers et al.,2009), podendo ser associado a ondas de infragravidade ou a diferenças energéticas entre determinados grupos de onda. Tabela 1: Resumo de ondas e correntes: 1) Altura significativa, Hs; 2) Período médio, Tm; 3) Ângulo de incidência, φ; 4) Comprimento máximo das rip currents, Cmax; 5) Comprimento médio durante a enchente, Cme; 6) Comprimento médio das rip currents durante a vazante, Cmv; 7) Velocidade média enchente, Vme; 8) Velocidade média vazante, Vmv; 9) Área com presença de rip currents. Medições Inexistentes (*); Deriva Litorânea (D.L); Sem registro de rip currents (-). Data Hs (m) T (s) φ (º) Cmax (m) Cme (m) Cmv (m) Vme (m/s) Vmv (m/s) Área com rip currents 29/01/15 1,5 7 180º 110 * 86 * 0,47 A,C 28/04/15 2,5 11 180º 188 144 116 0,90 0,64 A,C 06/05/15 2 11 180º 145 84 98 0,69 0,44 C 10/05/15 0,3 9 180º 193 * 144 * 0,59 A,C 11/05/15 0,2 9 180º 157 * 106 * 0,60 A,B,C 18/05/15 1,85 8 168º D.L D.L D.L D.L D.L - 25/05/15 0.2 6 180º D.L D.L D.L D.L D.L - 01/06/15 3,2 10 186º 145 78 86 0,64 0,86 A,C 08/06/15 0,4 9 170º D.L D.L D.L D.L D.L - 17/06/15 2 10 180º 115 95 * 0,74 * A,C 01/07/15 1 8 175º 138 97 20 0,38 0,72 A,B Através dos resultados observados, pode-se dizer que a mudança da localização das rip currents esteve diretamente relacionada com a variação da batimetria sendo, portanto, dependente do estágio morfodinâmico da praia, sugerindo que as zonas A e C são propensas a apresentar canais, enquanto a zona B é propensa a apresentar bancos de areia. Não foi observada uma tendência clara no comportamento das correntes para os diferentes estados de maré. A partir da caracterização das zonas A, B e C foi criado um mapa (figura 3) que classifica as zonas em função da maior ou menor segurança para os banhistas, como uma das possíveis aplicações destes resultados. Figura 2: Células de circulação durante enchente e vazante. A linha branca tracejada representa os limites da zona de arrebentação. Na tabela 1 são apresentados os parâmetros das ondas incidentes e as características das rip currents, discriminando as fases de enchente e vazante da maré, assim como as datas nas que foram registradas rip currents para cada uma das três zonas. Figura 3: Mapa de segurança para os banhistas, em função da presença de rip currents na área de estudo, representando as zonas de maior risco para banhistas em vermelho, e as zonas de risco baixo em amarelo. Considerações Finais O presente estudo conseguiu delimitar as áreas com maior frequência de ocorrência de rip currents, mediante a criação de mapas. Podendo ser aplicados tanto para um melhor entendimento dos processos sedimentológicos e morfológicos costeiros, como ser uma ferramenta para as equipes de salvamento, determinando as áreas de maior risco para os banhistas. As elevadas velocidades médias e máximas obtidas no estudo mostram que as rip currents observadas podem ter uma influência considerável no transporte de sedimentos e supor um risco para banhistas. Isto porque as velocidades máximas observadas de 2 m/s superam a velocidade média de um bom nadador estimada em 1,1 m/s. O uso de derivadores humanos apresentaram vantagens quando comparados com os derivadores convencionais. Em primeiro lugar, porque ao atingir uma estrutura vertical de aproximadamente 1,5 metros e não apenas umas camadas de poucos centímetros da superfície, esta metodologia permitiu representar o comportamento das rip current em maior profundidade. Em segundo lugar, pelos derivadores humanos sofrerem uma menor influência do vento, apresentando uma maior capacidade de estabilidade na passagem das ondas e, portanto, sendo transportados apenas pelas correntes. Isso proporciona medidas mais representativas do comportamento estrutural das células de circulação presentes na zona de surfe. Agradecimentos Os autores agradecem ao laboratório de dinâmica de sedimentos coesivos da Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE, pelo suporte e infraestrutura. Referências bibliográficas Aagaard, T.; Vinther, N.; 2008. Cross-shore currents in the surf zone: rips or undertow?. Journal of Coastal Research, v.24, pp.561–570. Kumar, A.; Prasad, R.; 2014. Rip current-related fatalities in Índia: a new predictive risk scale for forecasting rip currents. Nat Hazards, v.70, pp.313-335. Leatherman, S. P.; Fletemeyer, J. R.; (Eds.).; 2011. Rip currents: Beach safety, physical oceanography, and wave modeling. Boca Raton, Florida: CRC Press International. Lushine, J.B.; 1991. A study of rip current drownings and related weather factors. Natl. Weather Dig, v.16, pp. 13–19. MacMahan, J.H.; Reniers, A.J.H.M.; Thornton, E.B. et al.; 2004. Infragravity rip pulsations. Journal of Geophysical Research, v.109, pp.1-9. MacMahan, J.H.; Thornton, E.B.; Reniers, A.; 2006. Rip current review. Coastal Engineering,v.53, pp.191–208. MacMahan, J.; Brown, J.; Thornton, E. et al.; 2010. Mean Lagrangian flow behavior on an open coast rip-channeled beach: a new perspective. Marine Geology, v.268, pp.1–15. MacMahan, J.H.; Reniers, A.; Brown, J. et al.; 2011. An Introduction to Rip Currents Based on Field Observations. Journal of Coastal Research, v.27, pp.3-6. Miloshis, M.; Stephenson, W.J; 2011.; Rip current escape strategies: lessons for swimmers and coastal rescue authorities. Nat Hazards,v.59, pp.823–832. Nemes, D. D.; Marone, E.; 2013. Caracterização das ondas de superfície na plataforma interna do Estado do Paraná, Brasil. Boletim Paranaense de Geociências, v.68, pp.12-25. Reniers, AJHM.; MacMahan JH.; Thornton EB. et al.; 2009. Surf zone retention on a rip-channeled beach. Journal of Geophysical Research, v.114, pp.1-12. Scott, T.; Masselink, G.; Austin, M.J, Russel. P.; 2014. Controls on macrotidal rip current circulation and hazard. Geomorphology, v.214, pp.198-215.