METODOLOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Transcrição

METODOLOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
40
METODOLOGIA DE PROJETOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: VALORES,
SABERES E DESAFIOS
MONTEIRO, Ana Maria Gutierrez1
OLIVEIRA ,Alexandra M .da Silva2
RONDON, Gislei A.de Souza3
RESUMO
Este artigo é resultado de um trabalho apresentado ao Curso de Especialização das Faculdades
Integradas –ICE , a qual se buscou demonstrar a importância da prática com projetos na
educação infantil, com o intuito de gerar nos educadores atitude reflexiva em torno das
especificidades da criança pequena junto a este mecanismo de trabalho. Para realização do
estudo, optou-se por uma abordagem de cunho bibliográfico, com diferentes autores que
contextualizam o tema com muita propriedade. Ao final da pesquisa pode-se perceber a
importância desse mecanismo na construção de conhecimento dos pequenos aprendizes e que
não só eles saem ganhando em sabedoria e valores mais toda a comunidade escolar envolvida
neste processo.
Palavras-chave: Projetos, Infância, educador, aprendizagem.
ABSTRACT
This article is the result of a paper presented at the Specialization Course of Integrated
Colleges-ICE, which we sought to demonstrate the importance of practice with projects in
early childhood education, in order to generate reflexive attitude on educators around the
specifics of the child along this mechanism work. To conduct the study, we chose an
approach of bibliographic nature, with different authors that contextualize the topic very
properly. At the end of the study we can realize the importance of this mechanism in the
construction of knowledge of young learners and that they not only wins in wisdom and
values over the entire school community involved in this process.
Word – key: Projects, Childhood, educator, learning.
1
Pedagoga, Especialista em Educação Infantil e Alfabetização – e-mail [email protected]
Pedagoga, Especialista em Educação Infantil e Alfabetização. E-mail [email protected]
3
Pedagoga Professora das Faculdades Integradas – ICE. E-mail [email protected]
2
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
41
INTRODUÇÃO
O presente trabalho se constituiu em uma pesquisa bibliográfica, a qual se buscou
demonstrar a importância da prática com projetos na educação infantil, com o intuito de gerar
nos educadores atitude reflexiva em torno das especificidades da criança pequena junto a este
mecanismo de trabalho.
A educação infantil é uma modalidade que desafia os profissionais que nela
trabalham, pois o contexto trazido pelas crianças precisa ser entendido e estudado com
seriedade e compromisso. Neste sentido, trabalhar com a metodologia de projetos é algo que
pode enriquecer as experiências tanto das crianças, como do educador, pois os dois terão a
oportunidade de socializar e criar seus conhecimentos durante as etapas do trabalho.
Aliás as crianças da educação infantil necessitam de educadores competentes, que
queiram trabalhar com elas
e principalmente que goste de crianças, ou seja , que tenha
sensibilidade, que saiba intervir quando necessário, saiba impor regras e limites com
paciência e sabedoria.
Em outras palavras que acredite na sua metodologia de trabalho e a partir dela
instigue e desafie as crianças com situações enriquecedoras garantindo a elas
um processo
de maturação alicerçado em diferentes conhecimentos e valores. E principalmente que este
educador
conheça muito bem o seu
instrumento de trabalho utilizado, fazendo bom uso
dele durante as atividades oferecidas as crianças no espaço da educação infantil.
1. Metodologia de projetos na primeira infância: uma prática educativa ampla e
diversificada.
Primeiramente antes de iniciarmos uma discussão acerca dos projetos educacionais
na primeira infância, é de grande valia esclarecer o que é projeto, Assim segundo
o
dicionário Aurélio apud Nogueira (2011, p.30) :
A palavra projeto origina-se do latim projectu, ‘lançado para diante’, e que
se refere a:Idéia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano,
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
42
intento, desígnio. Empreendimento a ser realizado dentro de determinado
esquema. Esboço ou risco de obra a se realizar; plano.
A partir desse conceito, compreende-se que projeto é um caminho em construção,
onde inúmeras etapas são seguidas para que futuramente se consiga o resultado daquilo que se
almejava. Na educação, o projeto pode ser o alicerce do conhecimento, onde os aprendizes
atravessam etapas formando o esqueleto do objeto desejado e a partir deste pesquisar, trocar
idéias e experiências conquistando assim o resultado final, neste caso: a aprendizagem.
Nesta perspectiva a prática educativa com projetos tem muito a colaborar no
processo de ensino/aprendizagem, principalmente na primeira etapa da educação básica
(educação infantil), que por sua vez, acolhe os futuros cidadãos de uma sociedade tão
exigente. Esta ferramenta é um importantíssimo ingrediente para o amadurecimento das
habilidades e potencialidades dos pequenos aprendizes, pois é durante as etapas do projeto
que as crianças participarão ativamente do seu próprio conhecimento, tornando-se
protagonistas das suas próprias descobertas.
Em consonância a este contexto trazemos a contribuição de Barbosa e Horn que
asseveram:
A pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com
um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa,
duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua
volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. Para as
crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas das suas
aprendizagens, de aprender em sala de aula, para além dos conteúdos, os
diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos
conhecimentos (2008, p. 87).
De acordo com as palavras das autoras, a educação infantil é um período em que a
criança vivencia grandes desafios e descobertas, que por sua vez, garante o amadurecimento
dos seus aspectos físicos, psíquicos e sociais, ampliando assim cada vez mais sua visão de
mundo. Além do mais a pedagogia de projetos faz com que a criança tenha participação ativa
em todas as etapas da construção do seu conhecimento. Assim trabalhar com projetos na
educação infantil é uma excelente forma de atrair o interesse pelo conhecimento, pois é neste
momento que o educador oferece uma gama de estratégias, oportunizando o fazer mútuo,
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
43
onde não só ele e os alunos como toda a comunidade escolar participe constantemente e
ativamente de cada etapa do projeto.
Nesse sentido segundo Barbosa e Horn (2008, p. 89), “a comunidade educativa
precisa tornar-se uma comunidade de aprendizagem aberta, onde os indivíduos aprendem uns
com os outros e onde as investigações sobre o emergente têm nessas trocas papel
fundamental”. As autoras deixam claro que a postura de se trabalhar coletivamente traz
benefícios promissores para todos e que cada cidadão tem algo novo, diferente e importante
para compartilhar. Portanto, faz-se necessário ressaltar que todo e qualquer projeto tem a
necessidade de ser trabalhado em conjunto, onde a troca constante de pensamentos tome conta
desse processo, criando caminhos, desafios e soluções.
Registra-se ainda que esta visão de compartilhar saberes é imprescindível para a
formação da criança pequena, pois é nesta fase que os valores são adquiridos através daquilo
que elas observam no seu dia- a -dia. E o educador sendo companheiro nesta caminhada de
descobertas é quem vai preparar está criança para explorar o mundo a sua volta. Dessa forma
na pedagogia de projetos o educador não será a peça fundamental para desencadear o saber,
pelo contrário, ele se juntará as crianças na busca pelo conhecimento, onde cada um em seu
papel busque formas de alcançar o resultado daquilo que deseja. Principalmente porque “para
se trabalhar com projetos, é essencial que desapareça o educador infantil proprietário único do
saber e da cultura, que olhe seu aluno como ‘lousa não preenchida ou mente vazia’ dos
ensinamentos que transfere” (ANTUNES, 2012, p.17).
Nesta perspectiva podemos perceber de forma clara e objetiva que o educador não
pode e nem deve ser ou se sentir um ser pronto e acabado nas suas atribuições profissionais
junto às crianças, pois ele deverá sempre estar buscando adquirir novos conhecimentos tendo
a consciência de que quanto mais ele se sentir incompleto buscara aprender cada vez mais .
Sendo assim quando falamos em projetos educacionais, falamos em possibilidades de
alcançar uma aprendizagem significativa das crianças e nesta questão, devemos estar atentos a
quais tipos de projetos trabalharemos para alcançar este objetivo. Acredita-se que para
estimular a curiosidade infantil, o melhor caminho são os projetos temáticos, que por sua vez
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
44
acabam por chamar atenção em temas que já fazem parte do cotidiano das crianças e que elas
já têm um conhecimento prévio.
Vale salientar que esses projetos também contribuem para a ampliação das
competências infantis, no qual permite que a criança experimente um vasto repertório de
materiais. Podendo assim, estimular o processo de maturação em todos os aspectos. Pois a
criança que aprende por meio da pedagogia de projetos, jamais ficará inerte nas suas
inquietudes, pois a partir desta ferramenta, ela aprende a ter autonomia, a argumentar, a
socializar, a solucionar, a compreender, a se posicionar durante suas pesquisas educativas e
principalmente na sua vida lá fora.
Além do mais a aprendizagem infantil baseada nos projetos educativos abrange
inúmeras competências e habilidades construtivas e fortalecedoras do desenvolvimento
integral da criança pequena e entre muitos desses fatores, está envolvido um indispensável
componente: a leitura. Está maravilhosa fonte de sabedoria pode ser apreciada durante as
pesquisas do tema envolvido no projeto, formando vínculos imprescindíveis com o pequeno
público leitor. Isto é a leitura é uma fonte de sabedoria inesgotável, dela nascem os
pensamentos, a imaginação, a fantasia, os sonhos e isso tudo faz parte do mundo infantil, um
mundo cheio de expectativas. Assim quando lemos uma história para uma criança estamos
ampliando suas dimensões cognitivas, afetivas, sociais e culturais.
Para além de tantos atributos, a pedagogia de projetos é uma estratégia que amplia a
visão de mundo daqueles que fazem uso dela “é uma possibilidade interessante em termos de
organização pedagógica porque, entre outros fatores, contempla uma visão multifacetada dos
conhecimentos e informações” (BARBOSA; HORN, 2008 p.53).
Sendo assim, esta metodologia é uma entre muitas outras formas de atingir a
aprendizagem significativa, ela vem somar com o corpo docente e seus aprendizes, ampliando
caminhos e propondo desafios relevantes, contemplando formas inovadoras de buscar e
atingir o amadurecimento pessoal, profissional e intelectual.
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
45
1.1 O papel do educador e o planejamento na prática educativa com projetos na
educação infantil.
O planejamento é um ato constante do ser humano no decorrer das suas tarefas
cotidianas, pois mesmo sem perceber ele planeja suas ações mentalmente e automaticamente.
Planejar é necessário quando se trata de querer que algo saia da maneira correta, sem que haja
surpresas no caminho. Segundo o Dicionário Luft (2000, p.524) planejar significa “fazer o
plano, a planta, o esboço de; projetar, estabelecer o desígnio, o fito de; tencionar”.
De acordo com o conceito acima, podemos dizer que todos os dias independentes da
situação nós fazemos o uso desse instrumento, seja no trabalho, em casa ou em qualquer outro
lugar. Quando planejamos nossas ações fica claro que caminho deveu traçar. Dessa forma o
ato de planejar na prática com projetos educacionais é fator importantíssimo, pois, não só as
etapas do processo ganham uma direção, como também as crianças aprendem a planejar suas
próprias ações e a partir delas compreender melhor o que estão aprendendo.
Em comentário a essa questão Nogueira aponta sobre o ato de planejar para os alunos
em qualquer idade:
Para os alunos o ato de planejar é também uma aprendizagem e uma forma
de possibilitar sua autonomia em traçar planos e projetos. É preciso fazer os
alunos entenderem e aprenderem que o ato de planejar não significa que
colocamos uma camisa de força no projeto, que tudo terá de ser exatamente
conforme foi pensado e sonhado inicialmente. Nesse processo de
aprendizagem em planejamento, eles precisam compreender sua importância
e necessidade, porém entendendo o conceito de flexibilidade e
maleabilidade. Utilizando essa estratégia, conseguimos que até os alunos da
educação infantil realizem seus planejamentos, pelo simples fato de
contarem o que querem e como querem fazer (2011, p.79).
De acordo com as palavras do autor, fica evidente a relevância desse instrumento no
processo de ensino/aprendizagem, ainda mais podendo utilizá-lo desde a educação infantil,
deixando que as crianças aprendam por si só, busquem alternativas e se pronunciem sobre o
que pode ser mudado ou acrescentado durante o projeto. Além disso, é de suma importância
destacar a postura do educador nesse processo, pois é ele quem vai instigar as crianças nessa
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
46
etapa do projeto, dialogando, questionando, e argumentando fatos necessários para um
trabalho bem elaborado.
Devido a isso na educação infantil é necessário que o educador planeje as
possibilidades com cautela, estudando cada etapa com paciência, podendo acrescentar ou
retirar algo que não esteja de acordo com o propósito do projeto. Para tanto, o planejamento é
um instrumento que cabe tanto ao educador, como a criança, ambos podem planejar o que
querem e o que pretendem fazer no decorrer do projeto, é uma forma de ambos entrarem em
sintonia, contribuindo ativamente para uma aprendizagem mútua. Assim em cada idade o
educador tem diferentes possibilidades para se trabalhar e é a partir de tantas características
que a criança amplia seus horizontes.
Nesse sentido para se trabalhar com a pedagogia de projetos na educação infantil é
necessário que o educador esteja preparado para tal desafio, pois esta tarefa não é fácil,
precisa de muita paciência, companheirismo, responsabilidade, compreensão, estudo,
conhecimento e acima de tudo comprometimento com aqueles que estão em constante
formação: as crianças.
Para além de muitos atributos profissionais (ANTUNES, 2012, p. 75) cita algumas
outras facetas que são imprescindíveis na pedagogia de projetos:

O conhecimento de diferentes teorias pedagógicas e sua implicação no
desenvolvimento infantil. Que ao optar pela pedagogia de projetos ou uma
linha de estímulos cognitivos, sociais e afetivos possa contextualizar essa
linha de ação com as características pessoais dos alunos.

Que conheça muito bem os saberes que os alunos trazem para a escola
e que faça sempre desses saberes a ponte de ligação com os que em sua
atividade possa desenvolver.

Que jamais confunda a aprendizagem significativa que promove com
saberes mecânicos que levam a criança a conquistar informações, sem o
devido conhecimento.

Que saiba avaliar significativamente seus alunos, explorando suas
diferentes linguagens e percebendo seu progresso em face da Zona de
Desenvolvimento Proximal.

Que sua ação se mostre interrogativa, desafiadora e sempre pronta
para estudar e aprender cada vez mais. Que se destaque aos olhos dos seus
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
47
alunos menos como o que ‘tudo sabe e bem conhece’ e bem mais como o
pesquisador ávido por respostas coerentes e que esteja sempre disposto a
ajudar os alunos a encontrar as respostas que procuram.

Que domine diferentes estratégias de ensino e possibilite a estrutura de
projetos, sempre consistentes e com objetivos claramente definidos. Existem
inúmeros modelos de projetos e faz-se necessário que os alunos possam
aprendê-los não somente pelo que em sua essência ensinam, mas como
estratégias de ação para seu uso pessoal, suas descobertas e pesquisas
mesmo se não solicitadas pela escola.

Que se mostre aberto a construir relacionamento transparente com os
pais e com a comunidade, acolhendo-os com os subsídios necessários a
processos de interação significativos.
Extrai do pensamento do autor que o bom educador infantil deve saber que trabalhar
com crianças pequenas é trabalhar com múltiplas culturas, é se reconhecer em cada uma
delas, é viver ou reviver partes da sua infância, é estar infiltrado num mundo cheio de
dinamismo, que precisa ser entendido das mais diferentes formas.Sobre essa questão, Filho
compactua com o seguinte pensamento:
Assim, entendemos que as crianças precisam ser compreendidas em suas
fantasias, em sua imaginação, em suas múltiplas linguagens, em seus
constantes movimentos, em suas várias expressões, em suas manifestações
espontâneas, em suas criações, suas produções e também recriações e
reproduções... e salientamos que tudo isto só é possível pela inserção do
professor nesse mundo inusitado e fantástico, pois assim ele poderá entender
o que as meninas e os meninos desejam para si, e ainda perceber o que as
crianças nos revelam do que conhecem do mundo, e também ser parceiro de
suas expectativas, alegrias, emoções, brincadeiras, sentimentos, silêncio,
choro, olhares, tudo o que é representado neste período da vida, tão singular
e plural ao mesmo tempo... a o qual estamos chamando de infância (2005,
p.25).
Como se nota a sociedade contemporânea exige um docente que seja multifacetado,
que saiba falar cem linguagens (assim como as crianças), que saiba interagir, encarar e
resolver desafios, que saiba se pronunciar, que saiba intervir e principalmente, que saiba lidar
com crianças. Este facilitador deve ter sede de conhecimento, buscar o saber nas mais
diferentes teorias e procurar contemplar a sua prática por meio destas, saber que a missão de
formar cidadãos não é fácil e que por isso precisa estar sempre atualizado, com idéias novas e
estratégias interessantes, pois cada vez fica mais difícil acompanhar a criançada que vive no
mundo das tecnologias.
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
48
A respeito aduz Libâneo:
Os professores não podem mais ignorar a televisão, o vídeo, o cinema, o
computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de
comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o
livro didático deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. Ou seja,
professores, alunos, pais, todos precisam aprender a ler sons, imagens,
movimentos e a lidar com eles (2009, p.40).
De acordo com o ponto de vista do autor, o professor tem que se juntar aos meios de
comunicação, pois eles se transformaram em recursos didáticos, gerando uma forma
inovadora de abordar os conteúdos escolares. E nas temáticas que serão escolhidas para o
desenvolvimento do projeto é indispensável esses artifícios na busca de informações e
conhecimento.
Logo a metodologia dos projetos também é uma forma de interagir com a
comunidade interna e externa da instituição infantil, podendo compartilhar idéias e enriquecer
o aspecto cognitivo. É uma abertura, para pais, professores, alunos, diretores e outros
indivíduos falarem a mesma língua, buscando formas de chegar a um único objetivo. Os pais
são companheiros importantíssimos nessa caminhada, pois eles podem instigar os filhos nesse
processo de descobertas.
Para que o educador infantil consiga transformar a vida das suas crianças, é preciso
que ele olhe cada um com muito cuidado, que acredite neste ser humano, na sua capacidade
de construir o mundo a sua volta, que veja está criança como protagonista nas suas diversas
tarefas e que é regado de conteúdos valiosos que podem e devem ser reconhecidos por seus
facilitadores.
É nesta visão de criança ativamente participante do seu processo de aprendizagem
que o educador tem que traçar os projetos educacionais, buscando a partir destes, inculcar o
máximo de valores e atitudes, buscando temáticas que influenciem o contexto de vida dos
alunos, fazendo com que eles demonstrem de várias maneiras lá fora o que aprenderam na
escola.
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
49
1.2 A formação do educador nas práticas educativas com projetos na primeira infância.
Na educação infantil o educador pode trabalhar com projetos desde o berçário,
levando em conta que a metodologia aplicada será bastante diferenciada e que ele terá que
estudar todas as possibilidades para promover a aprendizagem dos bebês envolvidos. Visto
que, trabalhar com este grupo exige um amplo conhecimento em função das suas dimensões
cognitivas, afetivas, sociais e culturais. Ainda de acordo com Barbosa e Horn (2008, p. 72):
Com essas características, fica evidente que as crianças bem pequenas
necessitam de um modo muito específico de organização do trabalho
pedagógico e do ambiente físico. Nessa perspectiva, os projetos podem
constituir-se em um eficiente instrumento de trabalho para os educadores
que atuam com essa faixa etária. Os projetos com bebês têm seus temas
derivados basicamente da observação sistemática, da leitura que a educadora
realiza do grupo e de cada criança. Ela deve prestar muita atenção ao modo
como as crianças agem e procurar dar significado às suas manifestações. É a
partir dessas observações que vai encontrar os temas, os problemas, a
questão referente aos projetos.
Como podemos verificar, o educador infantil tem que se submeter a um estudo
detalhado em torno das crianças antes de programar o que será aprendido e assim
proporcionar projetos voltados para o que elas precisam adquirir durante o seu
desenvolvimento integral. Portanto, para que o educador seja um facilitador competente nas
suas atribuições é de extrema importância focar-se na sua atualização permanente, alicerçando
sempre o seu fazer pedagógico nos quatro pilares da educação, sendo estes: aprender a
conhecer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a fazer.
Soma-se a isto adquirir na carreira profissional múltiplas competências e habilidades
é essencial para se destacar no mercado de trabalho e um dos caminhos para adquirir este
atributo é ter a atitude de aprender a prender, pois “para ser professor, mais do que ensinar é
preciso gostar de aprender, o que implica compreender que formação científica, cultural e
política não para, mas continua” (MACHADO, p. 129).
Por isso na formação continuada o educador tem que ter em mente que a prática se
faz juntamente com a pesquisa, é nela que ele tem que focar o seu conhecimento, buscando
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
50
sempre inovar seu modo de agir em sala de aula e o ato de questionar o saber-fazer é fator
primordial no seu condicionamento.
A respeito disso Freire contribui com as seguintes palavras:
Não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres
se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e
me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade (1996, p. 29).
Para tanto é importante salientar que a formação permanente se faz no elo entre
teoria e prática, uma complementando a outra, principalmente porque é difícil e praticamente
impossível desenvolver um trabalho eficiente e promissor com somente um desses
conhecimentos. Neste processo de revigorar a prática docente, o formador tem que utilizar
constantemente da ação reflexiva, reestruturar sua metodologia, mostrar para que veio e que é
um cidadão ativo e participante do seu próprio crescimento. Como enfatiza Alarcão:
A noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de
pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não
como mero reprodutor de idéias e práticas que lhes são exteriores. É central,
nesta conceptualização, a noção do profissional como uma pessoa que, nas
situações profissionais, tantas vezes incertas e imprevistas, atua de forma
inteligente e flexível, situada e reativa (2003, p.41).
A autora destaca bem o lado do professor criativo, envolvido com o seu trabalho, que
saiba lidar com as diferentes situações existentes na sala de aula e que reage de acordo com o
que está acontecendo ao seu redor. O desenvolvimento profissional do facilitador infantil só é
garantido por meio de uma aprendizagem que norteia, ou melhor, que envolve o mundo da
criança pequena, ele tem que pensar na criança que irá formar e amadurecer seu pensamento
no sentido de que seu crescimento se dará em sintonia com este pequeno ser humano.
De acordo com Machado (2008, p. 149):
Um mundo onde a profissionalidade é tão complexo exige, com certeza, uma
jornada de crescimento e de desenvolvimento ao longo do ciclo de vida.
Envolve crescer, ser, sentir, agir permanentemente; é um processo de
desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida. Envolve crescimento,
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
51
como o da criança, requer empenhamento, com a criança, sustenta-se na
integração do conhecimento e da paixão. Esta perspectiva de aprendizagem
ao longo da vida leva-nos a conceptualizar o desenvolvimento profissional
como uma caminhada que decorre ao longo de toda a vida; uma caminhada
que tem fases, que tem ciclos, que pode não ser linear, que se articula com os
diferentes contextos sistêmicos que a educadora vai vivenciando.
Nesse sentido o educador que desenvolve seu trabalho junto com o desenvolvimento
de suas as crianças, não articula somente saberes, mais também sentimentos que fazem uma
enorme diferença nesta caminhada. As crianças aprendem muito mais quando o educador
demonstra interesse por eles, pelo que estão sentindo e passando e é a partir da empatia que
ele conquistará o respeito e o carinho eterno das mesmas.
Em vista disso a formação dos educadores precisa de um ‘choque térmico’ para que
possa suprir as necessidades dos alunos e isso só será possível com muita força de vontade
por parte dos educadores, principalmente porque “não há ensino de qualidade, nem reforma
educativa, nem renovação pedagógica sem uma adequada formação de professores” (NÓVOA
apud MACHADO, p. 195).
Sendo que está adequada formação docente também se faz nos espaços tempos da
instituição infantil, onde não só educador e criança trocam experiências, mais todos os outros
(as) profissionais que fazem parte da instituição infantil, utilizando assim da reciprocidade
aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, tornando-se praticantes ativos nesse processo
continuo.
Conforme sustentam Azevedo e Alves:
Conversas entre professores/as sobre suas experiências cotidianas nas salas
de aula, incluindo, sem grandes formalidades, algumas declarações
catárticas, ocorrem nos diferentes espaços tempos da Escola. Essas
conversas, que ocorrem entre uma e outra aula, na hora do recreio, da
entrada ou da saída, demonstram que o aprender e o ensinar são partes de um
mesmo processo, que não exclui o professorado; ao contrário, amplia e
ressignifica seus saberes construindo e orientando sua formação, tecida pelas
e nas redes de relações/interações vivenciadas no cotidiano. Naquele espaço
tempo, há pistas e situações concretas que nos ensinam e desvelam os
caminhos da formação (2004, p. 44).
Por conseguinte este papel de educador aprendente de novas contribuições precisa
basear-se em questões que norteiam sua ação docente, principalmente nesta questão de lidar
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
52
com crianças em permanente desenvolvimento. É neste sentido, que os profissionais da
educação têm que repensar a sua prática, indagando seus saberes para que o seu trabalho seja
desenvolvido com grande propriedade e eficácia. Assim, seja qual for a metodologia de
ensino aplicada aos alunos, fica claro a necessidade de profissionais altamente capacitados
para lidar com qualquer modalidade de ensino e isso só será possível se eles potencializarem
seus ensinamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto fica evidente que a pedagogia de projetos na educação infantil
realmente trás grandes benefícios para o desenvolvimento das competências e habilidades da
criança pequena. A partir dela, as crianças se transformam em protagonistas do seu próprio
conhecimento, desabrochando a cada nova etapa do percurso percorrido. Oportuno destacar
também neste contexto, que o educador tem que se encontrar durante o projeto, tem que
questionar a sua própria prática junto às crianças e entender que elas contribuem ativamente
neste trabalho, que também podem e devem ser questionadas sobre seus pensamentos e ainda
que sabem construir conhecimento a partir daquilo que vivenciam.
Portanto quando o educador escolhe esta estratégia de ensino, ele escolhe revigorar
seus ensinamentos, escolhe mergulhar em um “rio” cheio de novos contextos, novos valores e
novos desafios. É um momento de grande impacto para o docente, pois ele terá que reviver
fatos da sua infância e se encontrar na infância de hoje, estruturando a sua prática na infância
da contemporaneidade.
Todavia a formação continuada deste facilitador tem que estar totalmente situada ao
seu ambiente de trabalho, para que a partir dos seus novos saberes ele possa favorecer seus
alunos com o máximo de habilidades possíveis, contribuindo ativamente e significativamente
para a formação de cidadãos críticos perante a sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266
53
ANTUNES, C. Projetos e práticas pedagógicas na educação infantil. Petrópolis, RJ: Vozes,
2012.
AZEVEDO, J. G.; ALVES, N. G. (orgs.). Formação de professores: possibilidades do
imprevisível. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
FILHO, A. J. M. (org.). Criança pede respeito: temas em educação infantil. Porto Alegre:
Mediação, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e terra, 1996.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, Adeus professora? : novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 2009.
LUFT. C. P. Minidicionário. São Paulo: Ática, 2000.
MACHADO, M. L. A. (org.). Encontros e desencontros em educação infantil. São Paulo:
Cortez, 2008.
NOGUEIRA, N. R. Pedagogia dos projetos: etapas, papéis e atores. São Paulo: Érica, 2011.
___________. Pedagogia dos projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento
das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2009.
Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013) Disponível:
http://www.ice.edu.br/TNX/index.php?sid=266