A ilusão do sufrágio universal

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A ilusão do sufrágio universal
A ilusão do sufrágio universal
Michael Bakunin (in Ouvres, vol II, 1907)
Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantiria a liberdade dos povos. Infelizmente esta era
uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e desmoralização do partido radical. Os radicais
não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles
estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por esta
convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje, depois de aprender com
experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos.
Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma
eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem-estar entre a
população?
Toda decepção com o sistema representativo esta na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular
deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior
prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos
interesses econômicos populares e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização
política se destina à negação da liberdade. Estes são desejos básicos do povo.
Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são opostos por estarem numa posição excepcional.
Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade
da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento
de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite
ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande
parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra
escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam.
Esta é a eterna história do saber político, desde que poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os
democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais
retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e,
portanto, de perspectiva.
Na Suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa de governados.
Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem
suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem
de fato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países, a igualdade política é apenas uma
ficção pueril, uma mentira.
Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo,
os sentimentos, as idéias e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a
burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo.
É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais, são eleitos, direta ou
indiretamente, pelo povo.
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua
Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às
intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e
ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos
eleitores aos seus representantes eleitos é purificação, já que, no sistema representativo, o controle popular é apenas uma
garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.
É frequente ouvir-se dizer que os anarquistas vivem no mundo da lua, no meio de sonhos futuristas, sem
ter em conta as causas do presente. É talvez o fato de as vermos de mais, sob as suas verdadeiras cores, em
fim, como elas são, que nos leva a assentar o machado nessa floresta de preconceitos autoritários que nos
assediam por todos os lados.
Longe de vivermos em um mundo fantástico e de imaginarmos os homens melhores do que realmente são,
vemos-los tais como são. E por assim os vermos é que afirmamos que o melhor dos homens torna-se
essencialmente mau pelo exercício da autoridade e que a teoria do “equilíbrio dos poderes” e da “inspeção
das autoridades” é uma fórmula hipócrita inventada pelos detentores do poder para fazer crer ao “povo
soberano”, que, no fundo, detestam, que ele é quem governa. Precisamente porque conhecemos os homens é
que declaramos aos que imaginam que sem esses protetores os homens se comeriam uns aos outros:
racionais como aquele rei que,tendo perdido o trono e sido posto na fronteira, exclamava: “que vai ser dos
meus pobres vassalos sem mim!”
Ah, sim, se os homens fossem esses seres superiores com que os utopistas autoritários nos martelam os
ouvidos, se pudéssemos fechar os olhos à realidade e viver, como eles, em um mundo de ilusões acerca da
decantada superioridade dos que julgam predestinados ao mando, talvez então fizéssemos como eles:
acreditaríamos nas virtudes mirabolantes dos que nos governam.
III Feira Anarquista de São
Paulo - Novembro 2012
A Biblioteca Terra Livre e o Ativismo
ABC estão iniciando as atividades para
a realização da 3º Feira Anarquista de
São Paulo. A data e o local já estão
escolhidos, a feira ocorrerá no dia 04 de
Novembro no auditório Paulinho
Nogueira no Parque da Água Branca,
das 10h as 20h, com entrada gratuita.
O Fenikso Nigra e a Barricada
Libertária realizará lá o Espaço da
Dádiva por Uma Consciência
Anticonsumo, e assim pedimos a tod@s
que tenham qualquer coisa que não use
mais (roupas, livros, aparelhos
eletrônicos, etc mas em bom estado) que
levem na feira para disponibilizar para
outr@s e quem sabe não tenha algo que
também lhe agrade!
Entrem em contato para mais informações:
[email protected] ou [email protected]
Contatos:
Barricada Libertária:
CP: 5005 - CEP 13036-970
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