e agora, presidente?
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e agora, presidente?
www.cartapolis.com.br Nº 1042 - OUTUBRO/2014 | CIRCULAÇÃO NACIONAL | R$ 9,90 E AGORA, PRESIDENTE? PROMESSAS VAZIAS, COMPROMISSOS IMPOSSÍVEIS Ensaio de Romulo F. Federici OCASO DO PATRIARCA Como José Sarney saiu do palco da política brasileira para ocupar lugar obscuro na história . POR QUE PAROU? O Brasil parou de crescer, agora é recessão técnica, e as análises são pessimistas. LOBBY O clamor por regularizar uma atividade que envergonha os lobistas institucionais. PÁGINAS AZUIS Fernando Vasconcelos traduz em números e projeções sua crença na ampliação do mercado da propaganda do país em 2015 SAÚDE - O embuste dos planos privados chega á sensação absoluta de impunidade das operadoras que agem sem fiscalização rigorosa. 10 OS MAIS INFLUENTES NA POLÍTICA E PODER EM SETEMBRO ORANI TEMPESTA CARMEN LÚCIA Cardeal-arcebispo da cidade do Rio de Janeiro foi assaltado na mesma e não reagiu, exibindo alta dose de prudência e agindo como todo cidadão deve agir diante de uma situação semelhante. Subiu à vice-presidência do STF. Candidata a ser a segunda mulher presidente da Corte em futuro próximo (a primeira foi Ellen Gracie). Será um algodão entre os cristais. MAÍLSON DA NÓBREGA HENRIQUE MEIRELLES NIZAN GUANAES Sempre citado para ministro da Fazenda, é o preferido do mercado em voz uníssona pelos exemplos de energia e equilíbrio que passou enquanto presidência do Banco Central. O publicitário conhecido por sua criatividade teve sua agência de propaganda, África, recentemente escolhida entre as dez melhores do mundo. Análise pontiaguda na revista VEJA sobre a economia, tem sido um farol para o empresariado com seu texto vertido em clareza, ironia e situações comparativas com tempos melhores vividos pelo país. GIL CASTELO BRANCO RODRIGO JANOT HUMBERTO COSTA Diretor do portal Contas Abertas, tem sido uma referência do acompanhamento do desempenho fiscal do governo, cujas análises sobre a transparência representam a sociedade em matéria de vigilância. Com responsável independência, o chefe do Ministério Público Federal avançou na pedagogia do entendimento firmado pela Constituição 98 quanto ao papel da Procuradoria-Geral da República. Líder do PT no Senado se desincumbe da função sempre com serenidade, como na CMPI da Petrobras e pontuando suas intervenções com a visão da relatividade entre política e poder. BENJAMIN STEINBRUCH Intervenções marcantes para definir o atual estado de ânimo do setor privado, voltaram a ser voz predominante de uma geração empreendedora que só precisa dos governos que não atrapalhem. RICARDO LEWANDOWSKI Em sua posse na Presidência do STF, proferiu um verdadeiro discurso de método sobre o papel do Judiciário face aos confrontos da judicialização da política e politização do Supremo Tribunal Federal. Assumiu a Presidência da República em exercício. (*) Esse ranking será publicado mensalmente para compor os 10 MAIS INFLUENTES DO PODER DO ANO DE 2014, na edição de dezembro próximo. NESTA EDIÇÃO 4 8 10 24 SARNEY: O OCASO DO PATRIARCA PROMESSAS VAZIAS E COMPROMISSOS IMPOSSÍVEIS CONSELHOS DE SHAKESPEARE AOS RECÉM-ELEITOS 12 20 34 42 50 54 CAPA COLUNA LEONARDO MOTA NETO OS “BRUXOS” DE BRASÍLIA VERA BRANT SONAR ALBERTO CAEIRO FÓRUM POLÍTICO DAS MULHERES 14 22 36 SAÚDE - O EMBUSTE DOS PLANOS PRIVADOS PÁGINAS AZUIS FERNANDO VASCONCELOS SWING POLÍTICO FRASES DO MÊS POLIS CONFIDENCIAL 44 52 EDITORIAL -TUDO VALE A PENA, QUANDO A URNA NÃO É PEQUENA 16 32 40 O NOVO SENADO: QUEM ÉQUEM? ECONOMIA POR QUE O BRASIL PAROU DE CRESCER? 18 33 ÁREA SOCIAL A FOME DA VERDADE MARINA, REFERÊNCIA DA ELEIÇÃO LOBBY – CLAMOR POR REGULAMENTAÇÃO O MELHOR DOS CONTEÚDOS DO SITE www.cartapolis.com.br 48 O JULGAMENTO DE CESARE BATTISTI ÚLTIMO SONAR ÁLVARO DE CAMPOS 55 OPINIÃO - ELLEN BARBOSA OUTUBRO ROSA EXPEDIENTE CARTA POLIS revista mensal de bastidores do poder em Brasília. Editor-responsável: Leonardo Mota Neto ([email protected]) Diretora: Ellen Rôse Aguiar Barbosa ([email protected]) Editora de Arte: Ana Ingrid Ruckschloss ([email protected]) Fotos: Divulgação e Internet Comercial: ([email protected]) 61- 8103-4210 Diagramação e projeto gráfico: Gn1 Comunicação (www.gn1comunicacao.com.br) - 61 - 3542-7461. Redação, Comercial e Administração: SCN, Qd 1, Lote 50, Bl. E, Sala 512, Ed. Central Park, CEP: 70.711.903. Tel: 61 3201 1224 - CARTA POLIS é uma publicação da POLIS.COM; Todos os direitos reservados. *Os artigos assinados nesta edição são de responsabilidade de seus autores. CARTA POLIS não se responsabiliza pelos conceitos neles emitidos. DO LEITOR conomia iva, sobre e ra m e s a c ti sobre e sobre polí gressão e a m e s s a o “Léo escrev pess gia, sobre sem ideolo m emoção”. Brasília co orgulho Silvestre G POLÍTICA SARNEY: O OCASO DO PATRIARCA A TEMPOS DE SARNEY ssim como foi poucas vezes ao Amapá enquanto ocupou a cadeira de senador pelo Estado, José Sarney ocupou poucas vezes a tribuna para defender os interesses amapaenses. Ao que se lembra uma única vez. O governo Sarney, eleito em 65 com 35 anos, foi um deslumbramento. Antes do pleito, a Justiça Eleitoral fez uma revisão que resultou na eliminação de dois quintos do eleitorado. Era falso. O vitorinismo (de seu figadal adversário Vitorino Freire) entrou na disputa dividido: com os candidatos Renato Archer, pela coligação PTB/PSD, e Costa Rodrigues, prefeito de São Luís, pelo PTN, apoiado governador Newton Bello. A eleição se travou sob a proteção de tropas federais. José Sarney percorreu o Maranhão de ponta a ponta e teve uma vitória esmagadora: recebeu 120 mil votos ou mais que a soma dos votos dados aos dois outros candidatos (103 mil). O governador exercia uma enorme influência federal, tanto pela mensagem renovadora de sua eleição como por conta de seus antigos laços com a UDN nacional, após atuar como deputado federal na famosa “banda de música”, composta por Carlos Lacerda, Afonso Arinos de Melo Franco, Adauto Lúcio Cardoso, Olavo Bilac Pinto, José Bonifácio Lafayette de Andrada, Aliomar Baleeiro e Prado Kelly. Era o movimento renovador de jovens insatisfeitos com o “status quo”. No governo do general Humberto de Alencar Castello Branco, Sarney um dia foi chamado ao Palácio do Planalto. O presidente estava amuado com as repetidas mordacidades que o governador constantemente disparava em direção a seu maior adversário, o senador Vitorino Freire, amigo de peito do general, colaborador da revolução de março de 64. Uma dessas ironias era a condição de analfabeto do velho demiurgo. - Presidente, para constatar o que digo, mande chamar o Vitorino e faça um ditado a ele - lhe teria dito Sarney. Teria, pois há controvérsias. Quando o fez, teve uma atuação brilhante na alocução em que narrou a epopeia da construção do estado como nunca um político havia feito de tão brilhante e completa eloquência na sua narrativa histórica da conquista do Amapá. Assim é José Sarney: o político de 83 anos que chega a seu ocaso depois de 60 anos de vida pública. Foi lenta a progressão do banimento do clã Sarney da política do Maranhão. Aconteceu agora depois de uma fermentação de quase duas décadas de movimentos em oposição ao Sarney. Começou lá atrás quando Epitácio Cafeteira, um folclórico populista conhecido somente em São Luiz, impôs acachapante derrota a José Sarney, tornando-se governador. O que terá feito aquele jovem político que aos em 65 foi eleito governador, saudado como uma esperança de renovação de ideias e métodos na política brasileira, cuja posse provocou as vivas expectativas da intelectualidade nacional de que iria transformar o chão bruto da província socialmente paupérrima, em nova fronteira de riquezas? Hoje, 50 anos depois, o Maranhão continua o mesmo. Não é novo. É uma síndrome repetitiva de adiadas novações. E até piorado em seus índices sociais como o IDH. O que fez aquele refinado intelectual, escritor e jornalista, ótimo orador, decair tanto na escala do conformismo? Carlos Castelo Branco, o genial cronista político, saudou seu desembarque no governo destacando o apurado gosto estético de José Sarney por ter levado de Brasília para São Luiz sua imensa coleção de santos barrocos, como símbolo de uma nova atmosfera renascentista da sede do governo antes ocupada por homens rudes como Vitorino Freire. 4 Fale com os Correios: correios.com.br/falecomoscorreios CAC: 3003 0100 ou 0800 725 7282 (informações) e 0800 725 0100 (sugestões e reclamações) Ouvidoria: correios.com.br/ouvidoria Correios. As melhores soluções que aproximam você e seu eleitor. • Mala Direta Postal • Serviços de Resposta • Selos Personalizados • e-DNE • SEDEX • PAC Em uma eleição, tem mais chance o candidato que for mais lembrado pelo eleitor. Por isso, conte com a capilaridade, os serviços e produtos dos Correios para fazer com que o seu nome chegue da melhor forma até quem você quer atingir. correios.com.br/candidato 5 TM Rio 2016. TM Rio 2016. SIC: correios.com.br/acessoainformacao POLÍTICA O OCASO DO PATRIARCA UM PALÁCIO SEM LEÕES: nhão, que era de 7.500 kW27 , menor que a do edifício Avenida Central, no Rio de Janeiro, passou para 237 500 kW. As estradas passaram de 13 km pavimentados para centenas de quilômetros, que incluíam a BR-135, São Luís – Teresina. Foi aberto o Porto do Itaqui e rompidas as amarras do crescimento urbano de São Luís, impedido a nordeste e sudoeste pelas rias Anil e Bacanga, com a construção da ponte do São Francisco, que abria caminho para as praias do norte da ilha, e a barragem que permitia o acesso à ponta do Itaqui. Tudo parecia encaixar-se para acertar o passo com o futuro. O governador requisitou uma brilhante equipe de técnicos para executar a gestão inovadora. Pela primeira vez fincou-se na bandeira do planejamento estratégico de longo prazo. Especialmente na educação, o jovem governador - também jornalista com carreira iniciada nos “Diários Associados”, jornal O Imparcial, e também escritor, obteve um largo destaque. O programa de educação “João de Barro” permitiu a criação de uma escola por dia, um ginásio por mês, uma faculdade por ano. Com a combinação de adaptações do método Paulo Freire com a introdução de uma TV Educativa — a primeira do Brasil — foi possível formar rapidamente professores e monitores que estenderam a educação a todo o Estado, que só tinha um ginásio. Ainda no governo Sarney, foi instalada a Universidade Federal do Maranhão e preparado o caminho para a mesma. Na área da saúde foi construído o Hospital Geral, em São Luís, e criado um grande número de postos médicos no interior maranhense. O jovem governador logo mostrou ao ocupar o Palácio dos Leões que seu discurso de redenção da miséria do Maranhão não era uma ideia sem ação. Suas promessas não ficariam encerradas no documentário de Glauber. Suas primeiras conquistas para o Maranhão serviram para demonstrar que o filho do promotor Sarney de Araújo Costa tinha chegado para mudar. Para fazer um registro de sua campanha, convidou o jovem cineasta Glauber Rocha, que realizou o filme Maranhão 66. Sarney acabou não usando o filme, por não servir a propósitos de propaganda. Em compensação, Glauber usaria dois planos de Maranhão 66 em Terra em Transe. As cenas foram usadas no comício do personagem Filipe Vieira (vivido por José Lewgoy), governador da província de Alecrim, no fictício país chamado Eldorado. Vieira era um político demagogo que se elege à custa do voto dos camponeses e operários e, após assumir o governo, ordena o fuzilamento dos líderes populares. Aparições brilhantes do governador na cena federal e junto aos órgãos federais, como a SUDENE, batizavam a nova gestão como um marco de mudança. Por uma favorável conspiração de sua geografia - e que deixou de ser otimizada por Sarney, uma metade do Maranhão é de vales úmidos, já na pré-Amazônia, o que tornou o Estado integrante dos SUDAM. Assim, recebe incentivos de duas autarquias federais, com a SUDENE canalizando os seus, para outra metade do estrado, a do cerrado e semi-árido. Durante o Governo Sarney, os investimentos foram aumentados em 2.000%. A oferta de energia elétrica no Mara- 6 POLÍTICA O OCASO DO PATRIARCA FRASES DE SARNEY “Sou apenas um menino do Maranhão que o destino disse: vai José, ser Presidente.” PAROU POR QUÊ? “No Maranhão, depois dos 50 (anos) não se pergunta a alguém como está de saúde. Pergunta-se onde é que dói.” “Consultei um futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos.” “Durante o meu mandato a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão.” “Parente em governo sempre cria problema. Para o governo ou para o parente.” Apesar de todas essas conquistas, o Maranhão depois de Sarney, foi uma pobreza humana, política e econômica. A incluir nessa conta de débito todos os representantes por ele indicados para prosseguir sua obra. O que teria falhado? O relógio do tempo teria parado no Estado, transformando-o numa brasileira Macondo? Por que mesmo tendo chegado mais tarde à Presidência da República e ocupado por 5 anos, o Maranhão não cresceu na proporção daqueles anos vertiginosos que Sarney foi seu governador - e o pior, evoluiu para um IDH vergonhoso? Uma tese para os historiadores do futuro, e certamente para algum “scholar” de qualquer departamento de ciência política de alguma universidade estrangeira que deseje vir ao Brasil pesquisar em campo um dos casos estupefacientes de um Estado jogado literalmente fora, devido ao evanescente atraso mental de suas lideranças pós-governo de José Sarney. O Maranhão precisa de um novo Glauber Rocha para dirigir em São Luiz um novo documentário que retrate um “portrait” realista de uma beira de época. Agora, não mais o épico barroco, mas algo a ver com um novo tempo de esperanças para o maranhense que deseja ter seu futuro assegurado em palavras de fogo. Não a visão estática da miséria em torno do Palácio dos Leões. “Herdei para administrar a maior crise política da história brasileira; a maior dívida externa do mundo; a maior dívida interna; a maior inflação que já tivemos; a maior dívida social e a maior dívida moral.” “Não me perdoam por ter chegado ao poder passando por cima do cadáver de Tancredo Neves.” “Escrever é uma compulsão.” “Posso conciliar a literatura com a política, porque hoje a política tem muito de ficção.” “Meu mandato é um mandato livre que me foi outorgado pela vontade popular. Tenho procurado exercê-lo com absoluta independência, e no dia em que não puder mais fazê-lo, não poderei prestar serviços ao Maranhão. Nessa hora, o meu caminho é o caminho da minha casa, de cabeça erguida, mas respeitado e sendo digno do nome e do povo desta terra. Não posso parecer nunca subalterno, omisso ou açodado. Tenho noção da grandeza do cargo que ocupo e das minhas responsabilidades com o passado, com o presente e com o futuro do Maranhão”. (Pronunciada em 12 de dezembro de 1968, um dia antes da edição pelo presidente Costa Silva do Ato Institucional nº 5) 7 POLÍTICA CONSELHOS DE Shakespeare AOS RECÉM-ELEITOS QUEM FOI SHAKESPEARE? William Shakespeare é um cartão de apresentação à melhor poesia já escrita pelo ser humano. Não se trata apenas de palavras, palavras, palavras. O bardo inglês também é o escritor que melhor entendeu e descreveu os sentimentos humanos em todas as épocas. Está tudo nas suas peças: ódio, rancor, inveja, ambição, cinismo, capacidade, licença, perfídia, malícia, hipocrisia, blandícia - mas também o esplendor dos heróis do caráter e da honra. Convertendo para a política essa força descritiva da beleza e da torpeza dos homens, Shakespeare nos abre uma porta de imensas possibilidades: entender melhor as ações e reações dos políticos. Aqui, extrai-se de suas obras conselhos dirigidos a esses profissionais da arte do possível. São trechos de seus dramas, comédias, tragédias, poesias e escritos que possam significar mensagens diretas e oblíquas à quem se julga político em nosso tempo e que política é uma maldição pela qual pagamos o preço de vivermos em democracia.. AMBIÇÃO AUTORIDADE “Conquanto possa a autoridade errar como os demais, encerra em sua natureza o remédio que a ferida logo faz sarar”. Medida por medida (1604-1605) Ato II- Cena: Isabela “Forçai-o com elogios. Mais água! Mais água! Sua ambição está seca”. Troilo e Cressida (1601-1602) Ato II – Cena III: Nestor BRIGA CERIMÔNIA “Foge de entrar na briga, mas se acaso brigares, faz com que o competidor te tema sempre”. Hamlet (1600-1601) Ato I – Cena III: Polônio CONCISÃO “A concisão é a alma do espírito”. Hamlet (1600-1601) Ato II – Cena II: Polônio “A cerimônia foi inventada para dar brilho aos atos pálidos”. Timão de Antenas (1607-1608) Ato I – Cena III: Timão CONSELHO “Não me aconselhes. Minhas desgraças gritam mais alto do que o teu fraseado”. Muito barulho por nada (1598-1599) Ato V – Cena I: Leonato DEFEITO “Felizes dos que ouvem enumerar seus defeitos e assim podem corrigir-se”. Muito barulho por nada (1598 – 1599) Ato II – Cena III: Benedito 8 CRUELDADE “Preciso ser cruel para ser bom”. Hamlet (1600-1601) Ato III – Cena IV: Hamlet POLÍTICA ENSINAR “É-me mais fácil ensinar a vinte pessoas como devem comportar-se do que ser uma das vinte a seguir minha própria doutrina”. Mercador de Veneza (1596-1597) Ato I – Cena II: Pórcia DEMORA “Quem consegue manter-se fiel a um senhor vencido, vence o vencedor”. Antônio e Cleópatra (1606-1607) Ato III – Cena XI: Enobardo “Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre. A experiência se adquire na prática”. Os dois cavalheiros de Verona (1594-1595) Ato I – Cena III: Antônio FRAUDE FIM “É sempre boa a fraude para apanhar quem é vezeiro em fraude”. Henrique VI – 2 Parte (1590-1591) Ato III – Cena I: Suffolk “É sempre bom tudo o que acaba bem. O fim coroa a obra”. Bem está o que bem acaba (1602-1603) Ato IV – Cena IV: Helena HABILIDADE GRITAR “É sinal certo de grande habilidade pôr a gente defeitos em seus talentos”. Muito barulho por nada (1598-1599) Ato II – Cena III: Dom Pedro “Quem perde tem direito de gritar”. Henrique VI – 2 Parte (1590-1591) Ato III – Cena I: Rainha Margarida “Os homens nunca esperam”. Troilo e Cressida (1601-1602) Ato IV – Cena II: Cressida “Os homens deveriam ser somente o que parecem”. Otelo (1604-1605) Ato III – Cena III: Iago HONRA “Que é a honra? Uma palavra. Que há nessa palavra, honra? Vento apenas”. Henrique IV – 1 Parte (1597- 1598) Ato V – Cena I: Falstaff INTENÇÃO “É bem frequente não cumprirmos a jura mais ardente. Da memória a intenção é simples serva”. Hamlet (1600-1601) Ato III – Cena II: O rei da peça IRRITAÇÃO “É próprio da natureza humana irritar-se por coisas despiciendas, quando se ocupa com razões de peso”. Otelo (1604-1605) Ato III – Cena IV: Desdêmona MUNDO “O exílio é aqui, e longe, a liberdade”. O Rei Lear (1605-1606) Ato I – Cena I: Kent FIDELIDADE EXPERIÊNCIA HOMEM EXÍLIO “Demora não é recusa”. Antônio e Cleópatra (1606-1607) Ato II – Cena I: Menécrates “O mundo é uma palavra, simplesmente”. Timão de Atenas (1607-1608) Ato II – Cena II: Flávio “Poderíeis ter sido inteiramente o homem que sois, sem tanto empenho em sê-lo”. Coriolano (1607-1608) Ato III – Cena II: Volúmnia IDEIA “Suas ideias razoáveis são como dois grãos de trigo perdido em dois alqueires de palha: gastais um dia inteiro para encontrá-los, mas uma vez achado, não compensam o trabalho”. O mercador de Veneza (1596-1597) Ato I – Cena I: Bassânio IMPOSSÍVEL “Não creias impossível o que apenas improvável parece”. Medida por medida (1604-1605) Ato V – Cena I: Isabela IMPACIÊNCIA “A impaciência só fica bem para um cachorro louco”. Antônio e Cleópatra (1606-1607) Ato IV – Cena XIII: Cleópatra LIMITE “Não há nada sob a vista do céu que não se mova num limite restrito”. A comédia dos erros (1592-1593) Ato II – Cena I: Luciana MEMÓRIA “Os defeitos dos homens são gravados no bronze, as boas qualidades escrevemo-las na água”. A famosa história da vida do Rei Henrique VIII (1612-1613) Ato IV – Cena II: Griffith POR QUÊ? ROUBAR “O porquê é tão batido como o caminho que vai ter à igreja”. Como gostais (1599-1600) Ato II – Cena VII: Jaques “O roubado que ri rouba do ladrão, o que chora, a si rouba outra porção”. Otelo (1604-1605) - Ato I – Cena III: Doge 9 POLÍTICA COLUNA LEONARDO MOTA NETO TUBOS LIGADOS A dica para os que apostam no afastamento defintivo entre a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula, estão no ministro Gilberto Carvalho. Até o dia em que o secretário-geral da Presidência permanecer no Palácio do Planalto os tubos estarão ligados. PEPINO DISTRITAL Pepino para o novo governador do DF descascar: atualmente o DF tem um orçamento de R$ 40 bilhões, porém, apenas R$ 300 milhões são para investimentos. O setor produtivo local está impedido de ampliar a economia e gerar emprego, porque a máquina pública está inchada e ineficaz. Esse foi o diagnóstico de um dos candidatos a governador, antes da eleição. Se ele venceu veremos se dá consequência ou se cederá à máquina de moer convicções. VENDA LITERAL O que se diz no mercado à guisa de anedota: agora o IBOPE foi mesmo vendido, para a alemã WPP. PRÉ-PREFEITOS Dessa eleição, entre ganhadores e perdedores surgem vários pré-candidatos a prefeituras das capitais e megalópoles do interior em 2016. O principal trono almejado é o de Fernando Haddad em São Paulo, uma vez que as cotações prévias do próprio PT são de que será um fiasco se apresentar-se para a reeleição. BARBOSA VAGA O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, vaga sem porto seguro, sem projeto e sem propósito. Acaba sendo uma vaga referência de um passado airoso. E sem vaga para nada de efetivo. SKAF DISSOLVIDO O presidente da FIESP, Paulo Skaf, nunca deveria ter sido candidato a governador de São Paulo, sussurram seus colegas de estabelecimento. Um presidente da FIESP - não disputa uma eleição a não ser para vencê-la. A FIESP é - ou agora, era um símbolo intocável do empresariado paulista e até nacional, mais importante que a CNI. Com a candidatura a governador, Skaf tornou-se uma parte e não se manteve como a parte. 10 POLÍTICA CIÚME EXTREMADO O general Golbery do Couto e Silva, do alto de sua proverbial sabedoria, dizia de certa feita que o pior ciúme é o que se instala entre homens perto do poder É a infinita desgraça que a política preparou para as “vivandeiras” dos poderosos. Nos derradeiros dias de sua campanha, antes de ser impedido de concorrer pelos tribunais a governador do DF, José Roberto Arruda mantinha junto a si um séquito de seguidores, cujo principal motivo era o ciúme extremado de quem se aproximava do candidato para lhe transmitir algum tipo der sugestão. Deu no que deu. “UMA OVA” A campanha eleitoral para presidente da República foi um primor para os colecionadores de frases do “febeapá” (o “Festival de Besteiras que Assola o Brasil”, livro de Stanislaw Ponte Preta, na década de 7O). Porém, nenhuma foi mais hilária que a da ex-candidata pelo Psol ,Luciana Genro, no debate na CNBB, respondendo a Aécio Neves, que lhe havia cutucado como “linha auxiliar do PT”. “Linha auxiliar do PT uma ova” – sacou a “irridescente psolista”, que tem lugar garantido na política brasileira. SONHADO PIJAMA Qualquer que seja o novo presidente, os três comandantes das Forças Armadas irão para casa assim que houver a pose exaurida. Estão nos postos de comando há pelo menos oito anos, cada um deles. No jargão militar, eles sonham com o dia de vestir o pijama. Deixarão o abacaxi da Comissão da Verdade nas mãos de uma geração de comandantes das três forças mais, digamos assim, “antenada” com a nova política. O IMEXÍVEL Com qualquer presidente da República, há um funcionário público imexível no Palácio do Planalto. Seu nome, Areolino Moreira de Castro, o funcionário que dá polimento ao Rolls-Royce presidencial que é utilizado somente uma vez ao ano, nas paradas de sete de setembro. De quatro em quatro anos, nas posses do novo presidente. De agora até janeiro, Areolino trabalhará em dobro para a posse - ou reposse - do próximo presidente. 11 POLÍTICA OS “BRUXOS” DE BRASÍLIA Vera Brant QUIETUDE INTERIOR À SERVIÇO DA ARTE DO ENCONTRO E la acolheu a todos os pioneiros de Brasília, arquitetos, jornalistas, intelectuais, boêmios, professores e todos quantos se chegassem a ela com alguma criação de espírito. Vera Brant foi mais do que uma co-fundadora da UNB, amiga e confidente de Juscelino Kubitschek, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer. Foi a animadora de pelo menos 50 anos da vida de Brasília, como escritora e promotora da vida cultural da capital. Nascida em Diamantina, Minas, sua chácara no Lago Sul serviu de ponto de encontro de grandes serões de conversas e opiniões de todas as tendências políticas ou ideológicas. Vera era plural, cosmopolita e nem um pouco preconceituosa em termos de temas de discussão. Controvertida, porém, como toda mulher adiante de seu tempo. Morreu sem deixar muitas pistas sobre sua personalidade. Empresária do ramo imobiliário por 36 anos, dirigia seus negócios no escritório do Edifício Oscar Niemeyer (não poderia ser outro endereço) na ponta da Quadra 1 do Setor Comercial Sul. Muitos diziam que ela era implacável na direção da sua imobiliária e estão certos. Não admitia falha na sua organização que chegou a ser a maior de Brasília. Como escritora, publicou vários livros, porém nenhum fez mais sucesso do que “A Ciclotímica”, esgotado nas livrarias. (Fizemos um teste sobre como encontra esse livro pela internet e constatamos que pelo menos dez sebos virtuais o estão vendendo por diferentes preços). Traduzido para o inglês, na Inglaterra recebeu o título “A Lump in the Throat”. Em francês, recebeu o batismo de “La Routine des Jours”. Muitos indicam seu outro livro, “A Solidão dos Outros”, como candidato a melhor de sua lavra. Com seu amigo Carlos Drummond de Andrade, manteve treze anos de correspondência com cartas consideradas hoje em dia uma notável literatura epistolar. Foram reunidas no livro “Carlos, Meu Amigo Querido”. Seu mito, JK, ela o conheceu ainda em Belo Horizonte, onde completou seus estudos, chegada de Diamantina. Com a inauguração de Brasília em 1960 mudou-se para cá. Manteve uma fraterna amizade e cooperativa amizade com Juscelino, sintetizada no livro “JK – o Reencontro com Brasília”. Era muito meiga com os amigos e convidados aos jantares na sua chácara do Lago Sul. Como grande anfitriã, circulava entre as mesas sempre puxando uma conversa diferente, instigando as ideias e narrativas de historias políticas. Nesses saraus, imperou Darcy Ribeiro até morrer. Foi sempre o farol reluzente de Vera Brant. Os dois trabalharam juntos no esforço de criar a Universidade de Brasília, e conseguiram. Professora da UNB, foi demitida pelo golpe militar de 64. Nunca mais colocou os pés na universidade que ajudou a criar. Com Darcy, constituiu uma dupla de parceiros que se considerava inseparável. Senador pelo Rio de Janeiro, em vez de apartamento funcional do Senado, Darcy mantinha uma suíte na chácara de Vera. Quando morreu, o antropólogo e político carioca foi saudado por Vera com um dos artigos mais emotivos já lidos pelo seu circulo de amigos. Muitos manterão uma legenda controvérsia em torno dela, mas o certo é que lidou com poderosos sem abandonar sua quietude interior de uma menina de Diamantina. (Leonardo Mota Neto). As veríadas (I) Vera Brant era uma mulher destemida. Quando Juscelino Kubitschek voltou do exílio, em 1973, ela o recebeu com festa, sem nenhum temor aos tentáculos poderosos da ditadura. Era mais do que colaboradora de JK - era sua confidente. O ajudava frequentemente. As veríadas (II) Vera escreveu em seus “Encontros com Darcy Ribeiro”: Darcy, exilado em Portugal, vai a Paris fazer exames após passar 12 POLÍTICA Muitos manterão uma legenda controvérsia em torno dela, mas o certo é que lidou com poderosos sem abandonar sua quietude interior de uma menina de Diamantina. mal. Descobre um câncer no pulmão. Quis voltar ao Brasil para ser operado. Os militares não queriam que ele viesse. Vera pede ajuda ao escritor mineiro Abgar Renault, era amigo do Golbery. Darcy desembarcou no Rio e foi direto para o hospital num camburão da polícia. Antes, pediu para dar uma voltinha por Copacabana a fim de ver o calçadão. Um dia ele disse a Vera: “- Filha, você não acha uma coisa seríssima a gente tirar um pulmão?” Vera pensou um pouco e se saiu com esta: “Mas, pensando bem, Darcy, para que intelectual precisa de dois pulmões? Para ler e escrever? Um só dá, perfeitamente”. As veríadas (III) Carmen Lúcia, sua amiga mineira, ministra do Supremo Tribunal Federal, eleita vice-presidenta da Corte, tem um depoimento especial sobre Vera. Trechos significativos: 1) “Arrepiava diante do que lhe parecia covardia ou medo”; 2) “Foram levas de amigos que ela acalentou. Não temeu brigas para defender os de sua alma ou até os amigos dos amigos que foi acolhendo como a plantar novas flores em sua chácara”; 3) “Vera falava manso e suave quando queria festejar”; 4) “Vera falava duro quando queria contestar. Não tinha cuidado quando era sua a opinião que queria bradar e a ideia que adulava tendo por ela que batalhar. Mas, distinguia ideias e gentes”; 5) Vera chegava junto. Na ventura ou na desventura, fazia parte. Protagonizava com os amigos. “Não lhe caía bem o papel de coadjuvante”; 6) “Vera tanto aclamava quanto reclamava. Tudo com igual paixão. Agastou-se até com gente enterrada com um seu colar emprestado. Pareceu-lhe um desplante: além de morrer, carregar o seu colar!”; 7) “Farta foi sua mesa, em roda de saberes, sabores e cantos. Farta foi sua vida, em fatos e atos que lhe valeram enfrentamentos e amores, e na qual soube ter coragem para entregar-se inteira. Coragem, aliás, é outro nome desta mulher dos gerais, destas Minas tão plurais”;8) “Há que ter coragem para amar como Vera soube”. As veríadas (V) A propósito de Vera Brant, a grande dama de Brasília, confidente de JK, Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro, e de uma geração inteira de políticos, jornalistas e intelectuais, cuja mansão serviu de templo para conversas de fundo e forma por 5O anos, morreu em setembro e deixou inúmeras histórias. Uma delas é de uma passagem com JK, cheia de presságios. Foi sobre a última noite de Juscelino em Brasília antes de viajar a São Paulo e morrer na estrada. Na segunda-feira que antecedeu o desastre, Juscelino e o colunista Gilberto Amaral foram jantar no Eron, restaurante Panorâmico, com seu dono, o empresário paulista Eron Alves de Oliveira e seu sobrinho Eraldo Alves da Cruz, então seu diretor-geral. JK estava feliz. Quis dançar. Eron argumentou que era segunda e a boate estava fechada. O ex-presidente insistiu. - Faça-me esse favor todo especial, abra a boate. E chame a Verinha (Vera Brant) Quero dançar com ela. Vera foi chamada de madrugada, e foi feliz atender o amigo. Mas precisavam de som: Eron mandou o sobrinho Eraldo buscar em casa o DJ da boate. Mora muito longe, numa cidade-satélite, mas o jovem estudante de Direito no CEUB foi, madrugada adentro. JK ainda teve tempo de lembrar Eraldo: - Peça ao rapaz para trazer o disco com o Peixe Vivo, mas quero a versão em espanhol, que gosto muito. Tudo foi providenciado. Juscelino parecia diante de um ato final. Disse-lhes que teria que viajar na manhã seguinte bem cedo para São Paulo a um compromisso inadiável. Gilberto pediu-lhe para ficar em Brasília, pois no sábado seguinte seria a festa de 15 anos de sua filha Bernadete, e JK era seu padrinho. Juscelino quase desistiu de viajar por conta da afilhada e mantendo a viagem pela alegada importância do compromisso. Mas, no dia seguinte, ao chegar a São Paulo, quase se arrependeu e telefonou a Gilberto dizendo-lhe que estava pensando em desmarcar tudo e ir para a festa da debutante em Brasília, que seria no sábado seguinte. Não deu tempo. Morreu na estrada para atender o tal compromisso inadiável. O Chevrolet Opala em que viajava de São Paulo ao Rio em companhia de seu motorista Geraldo Ribeiro bateu de frente com uma carreta na Via Dutra em 22 de agosto de 1976. As veríadas (IV) José Carlos Mello, amigo de Vera, como era amigo de Carlos Castello Branco, alugara um conjunto de salas no Edifício Oscar Niemeyer. Vai ao escritório da imobiliária, andares acima. Queixou-se de que os seus negócios de consultoria empresarial estavam parados. Vera fitou Mello com aquele olhar esverdeado de Diamantina. Viu que a solução era mais espiritual que material: - “Melinho, tenho uma solução pra você. Chamarei meu guru espiritual pra lhe consultar”. Dias depois o guru apareceu no escritório de Vera. Chamou Mello que lhe contou seu problema. O guru não disse palavra. Levou Mello à janela, abriu-a e apontou para outro edifício em frente ao Central que abrigava grandes bancas de advocacia. “Vá para lá”, disse-lhe simplesmente, o guru. Mello, aturdido, procurou sala para comprar lá. Caríssimas. Um dia, encontra o famoso advogado Hélio Doyle na rua: “Mello, que bom lhe encontrar, estou me aposentando e será que você não tem algum conhecido para me comprar meu conjunto de salas no 13º andar do Central”. Mello não acreditou, o preço pedido era uma barganha. Adquiriu-as naquele mesmo dia. Enriqueceu no novo endereço, graças à Vera e o seu guru. 13 SWING POLÍTICO O DIA EM QUE JÂNIO SENTOU-SE NUM BAR, BEBEU,DISSE QUE TINHA SIDO PRESIDENTE E NINGUÉM ACREDITOU Jânio Quadros voltou recentemente ao noticiário na campanha eleitoral como sinônimo de presidente que confrontou o Congresso Nacional e por isto caiu. Sem forças e apoio teve que renunciar. Muitas histórias ainda se contarão a respeito de Jânio, meio gênio, meio louco, mas sem dúvida um dos políticos mais populares que o país já teve. Acrescente-se a ele uma boa carga de sagacidade e esperteza também. Hélio Bloch, genial marqueteiro político, jornalista e diretor do departamento político da MPM, Propaganda nos anos 8O, já falecido, era imitador inveterado de Jânio (como de José Maria Alckmin). Fazia ambas com perfeição. Sobre Jânio, a quem conhecia intimamente, Helinho Bloch contava uma historieta que tinha a ver com o gosto do ex-presidente pela bebida – do malte escocês à pinga. - Um dia – pressagiava Helinho – um freguês de um botequim da Vila Maria, subúrbio de São Paulo, daqueles verdadeiros pés-sujos, encontrou um senhor sentado sozinho numa mesa diante de um copinho de pinga, com cabelos desgrenhados e vestido com um terno poído, cheio de caspa, e visivelmente embriagado, dizendo em palavras rotas ao desconhecido: -“Um dia eu fui presidente da República”. Ninguém acreditou. A cena não existiu porque Jânio da Silva Quadros morreu antes. ARRUDA FOI DESPACHADO NA PRIMEIRA AFIRMAÇÃO DE QUE É UM OUTRO HOMEM Enquanto não ocorria seu julgamento por uma turma de cinco ministros do STJ, o ex-candidato a governador José Roberto Arruda prosseguia sua campanha como se nada estivesse acontecendo. É a sua marca. Era seu pescoço que está em jogo. Ainda em campanha, esteve com um empresário muito conhecido seu para solicitar ajuda à campanha. Os advogados são caros, cada vez mais caros, a cada recurso e por cada liminar.Arruda precisava remunerá-los; Ele entrou naquela manhã no escritório do empresário. Este, chateado com o não cumprimento de promessas do passado pelo próprio Arruda. o então candidato a governador percebe o amuo e vai logo dizendo: - ” Hoje eu sou um outro homem…” O empresário, arisco após tanto ouvir promessas de mudanças de comportamento, responde na bucha: - “Então você mude primeiro, e eu vou ver, se depois eu lhe ajudo”. Millôr Fernandes diria: - “Pano rápido”! 14 SWING POLÍTICO SIMON DESCOBRIU QUE NOS FINS DA TARDE O PODER TUDO PODE A Medida Provisória, traquitana encontrada pela Constituição de 89 para substituir os decretos-leis da ditadura militar, tem sido usada atualmente com moderação, mas já foi uma corredeira de abuso pela quantidade e descaracterização de urgência ou relevância. O governo tem recaídas. Nada como o poder de editar uma lei e depois deixar tudo como está. Prometeu refrear o ímpeto das MPs, porém encontrou um novo truque, após abandonar outro – o dos “contrabandos no teor das medidas com a introdução de assuntos colaterais aio objetivo principal. Agora o truque é: editar a MP, fazer com que os efeitos entrem imediatamente em vigência e depois tentar obstruir a votação no Congresso, ou mesmo, deixar caducar o prazo. Aconteceu no começo do ano parlamentar, quando o governo editou uma MP que permitiu o envio à Bolívia de um empréstimo de US$ 60 milhões para financiamento de uma obra elétrica,. Um generoso empréstimo do Brasil – mais um – o qual não cobrará ressarcimento. A medida caducou – ou seja – a votação para aprová-la foi obstruída, mas o rico dinheirinho brasileiro já tinha ido para a Bolívia. O senador Pedro Simon, num de seus discursos, definiu bem esse recurso permissivo com as MPs: - Governo pode tudo. O presidente está num fim de expediente e pronto para ir embora pra casa quando vem um assessor e lhe diz: “Vamos criar mais uma lei no Brasil? Vamos editar ainda hoje uma medida provisória e mandar para o Congresso? Publicamos amanhã de manhã no Diário Oficial e já vira lei”. A tentação é grande. O governo pode tudo, mas corre um risco danado. SEM MARCAR AGENDA COM LULA, SILVIO SANTOS MANDOU TÁXI ESTACIONAR EM FRENTE À RAMPA No segundo mandato do presidente Lula, um passageiro sorridente ao extremo e do tipo de bem com a vida, entra num táxi do aeroporto de Brasília e manda tocar para o Palácio do Planalto. Senta-se no banco da frente e evidentemente conversa com o motorista durante todo o trajeto. Ao chegar pede ao motorista para estacionar na calçada do palácio, bem em frente da rampa, e para aguardá-lo. O profissional do volante argumenta que não pode, a segurança não deixa, que é proibido. - Para mim não é! - responde-lhe o senhor sorriso. Dirige-se à recepção do Palácio, recebe ordens para passar pelo raios-X, e logo os atendentes caíram na real. Sílvio Santos é cercado e os fãs começam a gritar ao reconhecê-lo. Silvio veio à Brasília sem marcar agenda com o presidente. Lá em cima em seu gabinete, Lula despachava com um ministro. Ao ouvir os gritos, pergunta o que está havendo na portaria. Dizem-lhe logo que é Silvio Santos. - “Manda subir!” - deu ordens peremptórias, expulsando o ministro. Conversaram quase uma hora, sem antes Lula mandar chamar repórteres e fotógrafos para documentar. Na saída, cercado de câmeras, Silvio é indagado sobre o motivo que o levou a Lula. - Vim convidá-lo para ir à abertura do Teleton. E o táxi, aguardando na parada proibida. E os “Dragões” lhe pedindo autógrafos. Cena brasileira perfeita 15 ARTIGO/ÁREA SOCIAL FOME DE VERDADE Denise Paiva A chegada da primavera, neste domingo, 21 de setembro, no Rio Janeiro, foi inesperadamente chuvosa, com o poder de nos deter em casa, nos impelindo a ler e refletir. Chamou minha atenção o artigo de Flávia Oliveira, no Globo, “Valeu, Betinho”, e também a informação da ONU de que o Brasil está excluído do Mapa da Fome. Não consegui deter a “traição dos meus dedos” e toquei alguns telefones. Sim, precisei compartilhar e constatar o sentimento de que há de fato, no Brasil, uma grande fome: a fome de verdade. Não temos mais aquela realidade que o Presidente Itamar fez questão de divulgar numa histórica reunião ministerial em fevereiro de 1993, através de uma socióloga de carreira, sua conterrânea de Juiz de Fora, chamada Ana Peliano. Tiramos, até com certo receio (eu participei deste trabalho), das prateleiras quase extintas do Ipea um estudo lá existente que passou a se chamar Mapa da Fome, para efeitos de divulgação, tendo sido, posteriormente, adotado pela FAO. Tal estudo revelou a estimativa de que 32 milhões de brasileiros passavam fome. Esta fome foi debelada, nos últimos 20 anos, por esforço conjunto de governo e sociedade, distribuição de cestas básicas, reforma agrária, Lei Orgânica da Assistência Social, universalização da alimentação escolar, programas de transferência de renda — como bolsa escola, bolsa alimentação e depois bolsa família —, mas especialmente pelo combate à inflação. Em particular, merece ser assinalada e reconhecida a grande mobilização social chamada Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, liderada pelo Betinho, que teve seu auge e existência vigorosa apenas no governo Itamar, na medida em que o próprio Presidente ordenava a todo o governo, ministérios e empresas públicas, a se engajarem na luta contra a fome e a miséria e assegurava instrumentos e mecanismos necessários para tal. A expressão maior, política e institucional, da politica de combate à fome foi, todavia, o Consea, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, instalado em 13 de maio de 1993 com a presença e as bênçãos de Dom Helder Câmara. O Conselho inaugura um modelo inédito de participação, com hegemonia da sociedade civil: 21 personalidades indicadas pelo Movimento pela Ética na Politica, principal protagonista do afastamento do ex-Presidente Collor, se organizaram ao lado de oito ministros de estado. Foi uma época pungente de percepção da realidade, mudança de paradigmas, quebra de preconceitos, realizações em parcerias, mediação de conflitos. Imaginem o agronegócio, representado por Ney Bittencourt, da Agroceres, ao lado de Plínio Arruda Sampaio. Imaginem CNA, CNC, CNI conversando e definindo pautas comuns com a Contag, MST, CUT. Construímos no governo Itamar, especialmente no âmbito do Consea, um espaço de convivência democrática, respeito às diferenças, explicitação e superação de contradições, espaço que elevou, no início dos anos 1990, o padrão civilizatório do Brasil, a autoestima dos brasileiros, bem como o desejo e a experiência de participar direta e ativamente da construção da cidadania e do futuro do Brasil, embalado no sonho real da participação popular. Tive a honra e o desafio, por decreto presidencial, de acumular minha função de Assessora de Assuntos Sociais da Presidência da República com a de coordenadora do Consea, ao lado de seu presidente, o incansável e competente bispo católico Dom Mauro Morelli — um ícone na luta pelos direitos humanos e inclusão social na Baixada Fluminense. Vivi tão intensamente esta experiência que escrevi um livro, Era outra história, contando com o incentivo e o apoio de Itamar para sua realização e lançamento em 2009, na Universidade Federal de Juiz de Fora, por ocasião do aniversário de 15 anos do Plano Real. O livro, editado pela Fundação Astrojildo Pereira, retrata os principais personagens dessa “aventura democrática” e 16 ARTIGO/ÁREA SOCIAL ainda pode ser encontrado na livraria da referida Universidade. A figura do Betinho foi central e até muito mais do que simbólica, como alguns preferiam definir. Ele foi, de fato, o que restou como emblema, embora devamos lembrar que alguns faleceram em profunda mágoa, como nosso querido Jamil Haddad, um dos personagens influentes no Consea, como ministro e como parlamentar. O Governo Itamar, breve e integro, foi para o limbo da história, se não para o lixo da história. Seus feitos não foram atribuídos a ele nem aos seus auxiliares mais próximos, chamados pejorativamente de República do Pão do Queijo ou de “pífios”. Na verdade, Betinho entra na história, quando a história já tinha um intenso desenrolar. Este desenrolar teve início com a Frente Nacional de Prefeitos, liderada pela então Prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, ainda em novembro de 1992, que traz para o governo propostas concretas e emergenciais de combate à fome e de inclusão social. Ainda na interinidade, Itamar se contrapôs ao discurso neoliberal da modernidade e indagou: “Que modernidade é esta que produz tanta fome e tanta miséria?”. Fez uma convocação instigante e agregadora pelo impeachment da fome e pela ética nas prioridades das politicas públicas, como proposto por Cristovam Buarque. Cristovam, então reitor da UNB e depois integrante do Consea, trouxe para nós a experiência do Núcleo de Combate à Fome na UNB, traduzida num jornal em que, em grandes letras, estava escrito: “Fome, vergonha nacional”. Entretanto, faz-se importante recordar o fato político antecedente mais importante, que se deu ainda em janeiro de 1993: o encontro Itamar e Lula. Este encontro, precedido de alguns percalços, só aconteceu pelo empenho e habilidade política de Pedro Simon, que contou com a colaboração de Eduardo Suplicy. Suplicy, autor da Lei de Renda Mínima, recém-aprovada no Congresso, lutava para que ela se tornasse de fato politica pública governamental de combate à fome. LULA MOSTRA A ITAMAR PLANO CONTRA A FOME Naquela histórica reunião, Lula apresentou a Itamar a proposta de combate à fome do governo paralelo do PT, coordenada por José Graziano, hoje na FAO. Itamar, por sua vez, apresentou um documento sobre aquilo que já vinha sendo feito, inclusive com a incorporação das propostas da Frente Nacional de Prefeitos, já em andamento e coordenadas com seu ministério. Daquela reunião resulta a decisão da elaboração de um Plano de Ação contra a Fome e a Miséria, a ser formulado por um pequeno grupo com representantes do governo e da sociedade, sob a coordenação da ministra do Planejamento Yeda Crusius. Lula indica Betinho como representante da sociedade civil, e Itamar indica minha pessoa. Iniciamos os trabalhos. Betinho indica Dom Mauro Morelli, e eu indico Ana Peliano, coordenadora de Politica Social do Ipea, e Josenilda Caldeira Brant, presidente do Inan (Instituto de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde). Itamar convida Betinho para presidir o Consea. Betinho alega problemas de saúde e pede apoio para articular e animar a ação da sociedade civil, que Dom Luciano Mendes de Almeida batiza de Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Em 24 de junho de 1993, é lançada oficialmente, em rede nacional de rádio e TV, a Ação da Cidadania. Em horário reservado pela Radiobrás para uma fala do Presidente da Republica, surgem, inédita e inesperadamente, dois representantes da sociedade, Betinho e Dom Mauro, convocando a cidadania brasileira a se engajar na luta contra a fome e a miséria. Tal quebra da liturgia do poder gerou muitas tensões internas e solavancos juntos aos que a defendiam nos próprios desvãos palacianos. Ações tipicamente de governo; ações em parceria, articuladas e efetivadas pelo Consea; e ações autônomas e suprapartidárias da cidadania, animadas por Betinho com suporte em organizações como Ibase, Fase, Inesc e tantas outras, formaram um tripé, que mereceu o aplauso e se tornou o modelo de intervenção não só para a FAO, mas todos, repito, todos os organismos da ONU, em moção divulgada ao final do mandato de Itamar. Itamar, o breve, deixa o governo sob um clima de indignação de muitos que desejavam que ele devesse ter buscado a reeleição em função dos altos e inesperados índices de aprovação. Itamar, em pouco tempo, foi reconhecido pelo exemplo de governabilidade sem barganha, lisura, simplicidade, combate à inflação e politicas sociais que colocaram o ordenamento social previsto na Constituição de 1988 na ordem do dia para todos os brasileiros. Até hoje fico a me indagar: a polarização entre PSDB e PT, que tomou conta do Brasil nos últimos 20 anos, terá jogado a experiência do governo Itamar no limbo da história? Esta polarização insidiosa é que nos mata dia a dia? Esta pergunta eu compartilho com alguns ministros e representantes da sociedade civil partícipes daquela experiência, testemunhas e protagonistas daquele tempo que foi, de fato, um tempo de “Nova Política”. Com eles, a palavra! Se fomos capazes de enfrentar e debelar a fome de “pão” e a inflação, podemos e devemos debelar a fome de verdade para que não sejamos canibais da nossa própria história! Denise Paiva Assistente social e ex-Assessora de Assuntos Sociais da Presidência da República no Governo Itamar Franco. 17 POLÍTICA O NOVO SENADO: OS 27 QUE CHEGAM S Teremos figuras de envergadura, no plenário e nas comissões, para garantir eletrizantes dias à nova legislatura. Os novos senadores polarizarão os meios de comunicação Teremos figuras de envergadura, no plenário e nas comissões, para garantir eletrizantes dias a nova sessão legislativa. Alguns chegarão ao Senado com legitimidade política e pessoal, respaldados pelas urnas com impressionantes votações. Serão seis do PMDB, seis do PSDB, quatro do PT, três do PSB, dois do DEM, dois do PDT e um do PTB, PR,PP e PSD. erá uma especial atração acompanhar o novo Senado que se empossará em fevereiro de 2015, como os recém-eleitos ávidos para mostrar serviço na nova sessão legislativa. Serão personalidades dispares. Serão 27 novas personalidades díspares, ungidas pelas urnas para atuar o junto aos demais 54 senadores, motivados a dizer a que vieram. Haverá quatro categorias: 1) os que se elegeram pela primeira vez; 2) os que obtiveram novo mandato após o intervalo; 3) os que se reelegeram; 4) os que se reelegeram. ROSE DE FREITAS DÁRIO BERGER JOSÉ MARANHÃO SIMONE TEBET KÁTIA ABREU JOSÉ SERRA A senadora eleita pelo Espírito Santo tem cinco mandatos como deputada federal, tendo chegado ao ápice da carreira quando chegou a primeiro vice-presidente da Câmara com invulgar prestígio junto a seus pares. Começou sua atuação parlamentar como Constituinte.É a primeira mulher eleita senadora por seu estado. É uma das surpresas dessa eleição, vencedora em Mato Grosso do Sul. Filha do falecido senador e presidente do Senado, Ramez Tebet. De família árabe-brasileira, professora e advogada, havia sido a primeira mulher eleita para a prefeitura de Três Lagoas. Ex-prefeito de Florianópolis, eleito por Santa Catarina, na reta final ultrapassou Paulo Bornhausen, integrante da antiga oligarquia política catarinense. Alinhado com o governador reeleito Raimundo Colombo, promete dedicar-se no Senado ao setor da Saúde. Reeleita pelo Tocantins, agora pelo PMDB, que não era seu partido originalmente (DEM). Vocalizará os interesses do agronegócio, uma vez que continuará presidente da Confederação Nacional da Agricultura. Voz dura, voz áspera. 18 O novo senador pela Paraíba é considerado uma “raposa política”. Ex-governador, era dado como aposentado e no ostracismo, sem apelo para enfrentar o ex-governador Ricardo Coutinho - PSB - com ótima imagem como mestre de obras. Porém, o velho cacique levantou o interior do Estado e garantiu sua eleição. Será um senador à moda antiga: fiel ao líder. Ótimo nas articulações. Ali estará para ser um figurante de primeira grandeza. Não desembarcará à toa em Brasília para seu segundo mandato como senador. Dali pulará certamente para uma eleição a governador de São Paulo em 2018 ou mesmo para presidente da República. Não será surpresa se Serra também pretenda alçar-se na presidente nacional do PSDB, para substituir seu triplamente derrotado Aécio Neves na presidência nacional do PSDB. POLÍTICA ANTONIO ANASTASIA TASSO JEREISSATI ÁLVARO DIAS REGUFFE ACIR GURGACZ TELMÁRIO MOTA Completará a fortíssima bancada do PSDB - que ainda terá Aloyzio Nunes Ferreira, e embora tenha perdido Cássio Cunha Lima, eleito governador da Paraíba - o mineiro e ex-governador será sem dúvida fadado a ter desempenho polarizador no Senado, por sua inegável capacidade de bom gestor. Uma novidade gerada pelo PDT do Distrito Federal, fará com Romário uma dupla que mais parecerá o meio de campo de um time de craques. Ambos bem votados, acostumados a jogar para a plateia. Será difícil contê-los quando se formar uma barreira de repórteres na frente deles. Reguffe formará com Cristovam Buarque uma bancada do DF de poderosa atração de imprensa. LASIER MARTINS Outra grande surpresa da eleição, superou o grande favorito Olivio Dutra, do PT, e venceu-o por dois pontos percentuais de diferença. Pedro Simon ficou em terceiro. Jornalista, com mais de 50 anos de carreira nos mais importantes veículos de comunicação do Sul. Jornalista. DAVI ALCOLUMBRE Eleito pelo Ceará, aporta novamente na casa, onde sempre foi um das figuras mais destacadas na casa, na legislatura em que pontuavam outros líderes tucanos como Sergio Guerra e Arthur Virgílio. Emprestará sua experiência para recuperar o moral partidário abatido com a derrota presidencial. Articulador de mão cheia, será uma âncora para coordenar o debate sobre os novos rumos da legenda em âmbito nacional. Reeleito por Rondônia, tem história de empreendedorismo: paranaense de Cascavel um dos muitos que chegaram ao Estado para aproveitar as oportunidades da nova fronteira de desenvolvimento do país. Iniciou sua carreira política como prefeito de Ji-Paraná em 2000 e 2 anos depois concorreu ao governo de Rondônia. Em 2006 conseguiu o segundo lugar na disputa para o Senado, e em razão da cassação do primeiro colocado foi diplomado senador seis meses depois da eleição. RONALDO CAIADO Eleito pelo DEM de Goiás, será o mais nítido e lídimo representante do agronegócio e da direita empresarial no Senado, ocupando o flanco do mato-grossense Blairo Maggi, que não tentou a reeleição, e nesse papel fará ala com a recém-eleita Kátia Abreu. Reeleito pelo Paraná com votação consagradora, continuará exercendo o mandato como senador com maior empatia com a mídia, mercê de uma extraordinário número de seguidores nas redes sociais de seu blog e pelas visualização de postagens no Facebook e Twitter, as quais chegaram em semana durante a campanha eleitoral a cerca de 30 milhões de cliques. Eleito por Roraima, derrotando os dois favoritos, o deputado federal Luciano Castro e o ex-governador José de Anchieta. Em sua carreira política, nunca passou de vereador em Boa Vista. MARIA DO CARMO A sergipana é um fenômeno na arte da sobrevivência política, para novo mandato de oito anos. Não se esperava que tivesse fôlego político-eleitoral para tanto, com seu estilo discretíssimo e com um comparecimento às sessões sempre ocupando as últimas fileiras do plenário. Mulher do prefeito de Aracaju, ex-governador e ex-ministro Joao Alves. FERNANDO BEZERRA COELHO ROMÁRIO PAULO ROCHA FÁTIMA BEZERRA OTTO ALENCAR OMAR AZIZ WELLINGTON FAGUNDES FERNANDO COLLOR ELMANO FÉRRER GLADSON CAMELI Eleito pelo Amapá, numa aliança inédita que juntou o DEM ao Psol para derrubar a influência do senador José Sarney, que lutava para eleger Gilvan Borges do PMDB. Alcolumbre teve três mandatos de deputado federal. ROBERTO ROCHA Eleito pelo Maranhão, venceu o candidato do clã Sarney, Gastão Vieira. Com três mandatos de deputado federal, foi apoiado por ampla coligação oposicionista que incluiu o PCdo B do governador eleito Flavio Dino. Sua eleição na Bahia foi a maior surpresa dessa eleição,pois seu principal adversário,Geddel Vieira Lima, do PMDB, liderava todas as pesquisas até duas semanas antes.Apoiado por Jaques Wagner, de quem foi importante secretário de Estado (Infraestrutura).É um braço do carlismo que volta à cena. Reeleito pelo PTB de Alagoas com certa dificuldade no enfrentamento nas urnas com Heloisa Helena, vem para o Senado com o gosto revanchista após ser citado na campanha para presidente como símbolo da velha política tanto por Eduardo Campos-Marina Silva e também por Dilma Rousseff. Imprevisível o que dirá, quando reocupar a tribuna pela primeira vez. Ex-ministro da Integração, deixou o cargo quando Eduardo Campos exigiu a saída do governo Dilma dos indicados pelo PSB. Eleito senador por Pernambuco, venceu o favorito João Paulo, ex-prefeito de Recife, de larga popularidade na capital e apoiado por Lula e Dilma. O senador eleito paraense havia sido um destacado deputado federal, com cinco mandatos, e um dos mais atuantes na bancada do PT, quando foi colhido por denúncias de participação no escândalo do mensalão. Era líder da bancada mas teve que renunciar à liderança e mais tarde ao mandato. Foi posteriormente absolvido das denúncias. Teve o mérito de suplantar nas urnas o polêmico senador tucano Mário Couto, que tentava a reeleição. Foi um ótimo governador do Amazonas, sempre referido nas pesquisas com o de melhor aprovação por sua população estadual. No quesito dos mais bem aprovados do país, ombreava-se com Eduardo Campos, de Pernambuco. O político do PSD de Gilberto Kassab - presidente do partido, que não foi eleito como senador por São Paulo - será a figura mais proeminente de sua legenda na casa. Eleito pelo Piauí, ex-prefeito de Teresina, derrotou o ex-governador Wilson Martins (PSB). 72 anos, recebeu o apelido de “Veín Trabalhador”. 19 Eleito pelo PSB do Rio, bem votado, acostumado â luz dos refletores. Como é controvertido, espera-se que produza intensos momentos de um jogo mais individual que coletivo, pois é dotado daquela chama que atrai a mídia. A petista potiguar atropelou no reta final a favorita Wilma de Farias, ex-governadora, apoiada pelo candidato a governador Henrique Alves, presidente licenciado da Câmara. A política e pedagoga desempenhou três mandatos na Câmara e na última eleição para deputada obteve a quinta melhor votação proporcional do país. No Senado, será um excelente quadro para os trabalhos parlamentares na área da educação. Integrante da coligação que elegeu o senador Pedro Taques governador do Mato Grosso, o deputado federal Wellington Fagundes, do PR, é o novo senador, depois de seis mandatos na Câmara dos Deputados, tendo sido na última o parlamentar mais votado no Estado. Tentará preencher o espaço deixado por Taques no Senado, que teve uma brilhante atuação. Com mandato de deputado federal, Gladson Cameli, do PP, é o novo senador pelo Acre. Ganhou de sua colega da Câmara, Perpétua Almeida (PCdoB) que foi um páreo duro. Com dois mandatos de deputado federal, ficou conhecido como parlamentar que mais recursos conseguiu aprovar para o Acre, apesar da atuação dos irmãos Tião e Jorge Viana, do PT, na política nacional. S NAR>>>>> Alberto Caeiro PRÍNCIPE AÉCIO I Umas razões alegadas para o fracasso do ex-candidato Aécio Neves foi a sacralidade com que seus seguidores do PSDB o ungiram. Como um verdadeiro príncipe com direito divino de não ser contestado. O ex-candidato sempre pairou como a incontestável última palavra, sobretudo: estratégia de campanha, marketing e finanças. Sua irmã Andréia, agiu como uma todo-poderosa coordenadora e repetiu o isolacionismo do governo de Minas: “uma coisa é governo e outra é campanha”. PRÍNCIPE AÉCIO II A vassalagem de Aécio não foi por ele correspondida com capacidade de polarização e liderança que vem do magnetismo e inventividade. Repetiu na campanha um discurso antigo, com certas características barrocas de um “manierismo” - ou será “mineirismo”? - que vinha de seu avô Tancredo. Abusou de uma eloquência pomposa que não era entendida por um eleitor nacional médio e que não costumava ser pronunciada nas ruas. PRÍNCIPE AÉCIO III Dentro do partido, Aécio Neves esqueceu o caráter piramidal de uma campanha presidencial: ele é o topo da construção, mas se apoia numa ase larga de apoio e sustentação. Aécio jogou tudo para si, no alto. Não cuidou das campanhas estaduais e dos candidatos a governador e senador. No programa de TV só uma vez deu espaço às lideranças regionais pudessem aparecer junto a ele. vice Aloyzio Nunes Ferreira, com sua eloquência marcante, pouco protagonizou. PRÍNCIPE AÉCIO IV Outra fragilidade de Aécio foi tentar ser vitorioso em duas frentes: uma nacional, outra em Minas - mas por vaidade tendo escolhido para candidato a governador um político bissexto que há pelo menos duas décadas morava, não mais frequentava o estado, como morador do Distrito Federal onde mantinha uma bem sucedida banca de advocacia. Pimenta da Veiga, um foi tirado de sua rotina burguesa de fazendeiro urbano e de profissional rico para enfrentar uma eleição dada inicialmente como ganha para ele ou qualquer outro “poste” “aécista”. 20 PRÍNCIPE AÉCIO V Na linha das comparações do papel representado por Aécio Neves na campanha, vem a tentação de remetê-lo à figura do príncipe Charles da Inglaterra: detinha todas as condições para aspirar ao trono, mas deixou-se levar pelas delícias das bajulações que todo reino sabe ofertar. O reino era o de Minas, perdido. PRÍNCIPE AÉCIO VI Aécio terá todas as condições de ambicionar ser candidato a presidente em 2018, mas antes será obrigado a mudar de partido. O PSDB não saiu esmigalhado das urnas, mas manteve a mesma estrutura nacional de governadores e das bancadas do Congresso. Acresça-se que o governador reeleito Geraldo Alckmin terá preferência para se apresentar como candidato. PRÍNCIPE AÉCIO VII Perdida a eleição federal e mineira, Aécio experimentará o ostracismo. Como não tem idade para se isolar em São del Rey, preferirá Ipanema, o que agravará a perspectiva de seu distanciamento do colégio eleitoral mineiro. PRÍNCIPE AÉCIO IX Aécio terá mais quatro anos de mandato como senador. Pouco apresentou de produção legislativa de qualidade e raramente usou da tribuna. Precisará mudar sua postura no Senado, onde não apresentou propostas relevantes e foi apenas uma sombra de figuração. PRÍNCIPE AÉCIO X Outro erro político contabilizado na campanha de Aécio Neves foi ter empolgado a presidência nacional do PSDB, do que decorre ter colocado a máquina partidária a serviço de sua candidatura e da campanha. O site oficial do PSDB passou a ser site pessoal de Aécio. Nenhum outro candidato “tucano” ás majoritárias nos estados teve espaço ali. A vaidade subiu à cabeça do tucano mineiro. Talvez aprenda para 2018. Terá idade para voltar à cena com as lições aprendidas. 21 FRASES DO MÊS “Lula já não tem aura de invencibilidade”. por y, em seu blog, publicada (Do senador José Sarne lha de São Paulo) Josias de Sousa, da Fo “Nem se a gente quisesse a gente não tem condições de perder a eleição”. (Do vice-presidente Michel Temer, em Campinas, segundo a Fol ha/UOL). esidência. “Não tem coitadinho na Pr a não é Quem vai para a presidênci se sente coitadinho, porque, se caso ar”. coitadinho, não pode cheg (Da presidenta Dilma, em segundo O Globo). entrevista coletiva, (De Henrique Alves, presid ente da Câmara, enquan to candidato ao governo do Rio Grande do Norte, segundo a Folha). “Voltar à classe média é um baque gigantesco”. (De Eike Batista, segundo “A partir de janeiro, se prep arem todos eles do Executivo, Legislativo e do Judiciário. Quem vai bater à porta deles sou eu”. o UOL). 22 “Se eleita Marina, o PMDB será oposição no primeiro momento”. hel Temer (Do vice-presidente Mic ). ulo Pa o Sã de à Folha SETEMBRO 2014 “Ninguém governa sem o ca PMDB, mas isso não signifi que seja preciso entregar o governo ao PMDB ou a qualquer partido. Temos um programa”. sabatina realizada no (De Beto Albuquerque, em lo). Pau S. jornal O Estado de to “O que houve não foi aumen da da corrupção. Foi aumento ”. investigação da corrupção usseff em sua sabatina com (Da presidenta Dilma Ro o). jornalistas do Estadã os “Não tinha informação de malfeito (na Pe tivesse, teria tomado medtrobras), porque se eu ida”. (Da presidenta Dilma, ao Estadão, ao responder sobre se havia suspeitas Petrobras, Graça Foster, quando, em 2012, a pre afastou diretores da em sidente da presa, segundo o G1). ova, “Linha auxiliar do PT, uma candidato Aécio!” ata do Psol à presidência (De Luciana Genro, candid TV ate da CNBB, segundo a da república durante o deb Aparecida). 23 ENSAIO POLÍTICO PROMESSAS VAZIAS E COMPROMISSOS IMPOSSÍVEIS A de-rede-de-protecao,1563912), um contingente populacional equivalente a duas argentinas, uma vez e meia a França ou toda a Alemanha. É um contingente populacional ainda carente de proteção que, sem os programas em curso, se constituiriam não num barril de pólvora, mas numa autêntica bomba atômica social, pronta para explodir a qualquer momento. 2. Temos um déficit ainda inaceitável na educação e saúde pública que, sim, mereceu avanços, mas ainda insuficientes. 3. Temos um enorme vazio territorial que, mesmo com programas específicos, ainda está a aguardar estradas, energia, água tratada, esgotos e inúmeros outros requisitos infra estruturais básicos. Esse é o quadro real sobre o qual deveriam estar debruçados e comprometidos todos os formuladores de políticas públicas e planos de governo. Não é o que se vê. s campanhas eleitorais no Brasil (e em quase todo mundo) têm uma característica patética: raramente conseguem fugir de um festival de promessas vazias e compromissos impossíveis. Desde uma simples eleição para vereador no rincão mais remoto, até eleições para a Presidência da República e Congresso Nacional, guardando as devidas proporções e com as exceções que justificam a regra, reproduzem-se os discursos repetitivos e carentes de substância em nível que respeite os eleitores, isto sem falar no trombetear de profecias macabras para o caso de um adversário ganhar. No momento estamos assistindo inúmeras análises, críticas e propostas que desconhecem uma realidade básica: O Brasil é um imenso subcontinente em construção, ainda muito pobre apesar do resgate social feito nas últimas duas décadas, contaminado, culturalmente, por resquícios do ranço escravagista em suas relações sociais sustentando um grande desnível social. Ademais, temos carências ainda enormes na área da saúde e da educação pública, apesar de algum progresso no período citado e com uma defasagem de infraestrutura monumental por omissão histórica da maioria dos governos. Em suma: 1. Temos 87 milhões de pessoas na rede de proteção social (http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,a-gran- Romulo F. Federici Consultor Empresarial, Político e Institucional Direito Político e Administrativo [email protected] www.facebook.com/romulo.federici 24 ENSAIO POLÍTICO E O CACOETE HIPER-LIBERAL: stamos assistindo propostas de cunho hiper liberal que regatam o discurso econômico financeiro da ditadura militar: “Primeiro o bolo tem de crescer para depois ser dividido” entre os sobreviventes inevitavelmente. Voltam a preconizar a postergação das políticas sociais para um futuro incerto e não sabido como que, aboletados num mundo virtual, brincassem com o mundo real. Discurso bom para afagar grande parte dos banqueiros e empresários em geral e, paralelamente, colocar em pânico o “povão”, afastando o segmento social que decide eleições. Isto porque, para o atendimento de tais propostas, seria inevitável uma virtual paralisação do país, com o corte profundo de despesas públicas que atingiriam, inevitavelmente, programas sociais, de infraestrutura e demais programas que fazem o Brasil evoluir (a duras penas) em vários aspectos. Mesmo a decantada redução do número de Ministérios é uma balela, pois os mais recentemente criados são micro entidades apesar de certa projeção política. São listados como “elimináveis” ministérios como os da PESCA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, DIREITOS HUMANOS, IGUALDADE SOCIAL e MULHERES. Na realidade têm estruturas pequenas e funcionários de carreira transferidos de outras áreas e que, portanto não seriam demitidos mas, simplesmente, retornariam aos seus lugares de origem. Os cargos de con- fiança muito poucos não representariam praticamente nada em termos de economia. Mas têm certa relevância política: quem iria indicar as áreas a serem extintas? Fácil, portanto, concluir que, salvo uma temeridade como a proposta recentemente apresentada por ARMINIO FRAGA, ninguém terá condições de fazer cortes dramáticos nas despesas públicas sob pena de perigoso estresse social e involução impensável em nossos projetos de infraestrutura. Aliás, mesmo tendo apresentado propostas que assustaram, ARMÍNIO diz, em entrevista à SILVIA AMORIM de O GLOBO (23/9) que ainda nem chegou a mostrar a sua “LISTA DE MALDADES”, pois estamos em um ambiente eleitoral”. Ficamos todos imaginando e padrão das “maldades” que ele estaria fermentando. Do Brasil cobram-se índices registrados, por exemplo, em Cingapura, uma cidade estado, uma ficção política, ou do CHILE, um pequeno país, com população igual à grande São Paulo. Mesmo assim, por ter sido submetido à políticas excessivamente liberais nos últimos anos, não conseguiu passar de uma irrelevância geopolítica. Foi atado a um acordo bilateral leonino com os Estados Unidos, onde exporta essencialmente frutas, cobre, peixes e vinho, e importa simplesmente tudo, por lhe faltar infraestrutura industrial. Mesmo sendo um país pequeno e com pouca população, ainda sofre com convulsões sociais periódicas principalmente por problemas na educação pública e distribuição de rendas. “CORTES IMPOSSIVEIS”, DISSE ARMINIO FRAGA 25 ENSAIO POLÍTICO AS AGÊNCIAS CLASSIFICADORAS DE RISCO E NOSSAS LIMITAÇÕES O nosso país, como de resto o mundo, vive sob pressão de agências internacionais que, no fundo, são controladas pelas maiores economias, por interesses dos investidores e por ciúmes de algumas potências que não querem a concorrência de novas potências emergentes. É um sistema bem articulado e destinado a impor parâmetros que, em muitos casos, condenariam os países a dar prioridade ao sistema econômico internacional em detrimento de interesses internos relevantes. Não dá para confrontar agressivamente essa realidade. Mas o Brasil, nas últimas décadas, tem adotado uma postura cautelosa e habilidosa que, sem desafiar o “establishment” internacional, procura dosar os interesses envolvidos: mantém, por exemplo, índices razoáveis de superávit destinados ao pagamento dos juros da dívida e/ou parte da própria dívida pública de forma a não enervar o mercado que, mesmo assim está sempre pedindo mais. Na verdade o país faz malabarismos, mas vai levando sem crises internas ou externas. Afinal, já passamos de devedor a credores do FMI, algo impensável algum tempo atrás. O país consegue, às vezes com certa dificuldade, a manutenção de saldo na balança de pagamentos porque o mundo rico, que movimenta a economia, está em crise, comprando pouco e querendo vender muito para salvar o próprio pescoço. Além do mais a CHINA entra pesado no jogo dos produtos com valor agregado, impondo preços e condições incomparáveis desde produtos de baixa complexidade até produtos sofisticados. E a indústria brasileira, com as exceções que confirmam a regra, não se preparou para competir, apesar de protegida durante décadas e amparada permanentemente pelo governo nos momentos mais complicados. Sobrou acomodação numa fase de lucros fáceis, baixa concorrência, sem necessidade de investimentos e sem necessidade de uma atualização de mentalidade. Grande número de industriais ainda gere indústrias obsoletas, com equipamentos defasados, sistemas superados e processos antieconômicos em razão da falta de investimentos em tempo hábil. Justificam-se, frequentemente, com meias verdades. Não assumem sua parte do problema e preferem dizer que não têm encontrado “incentivos”, que os juros são altos (agora), que a infraestrutura é superada e que a mão de obra está cara. No fundo, para esse grupo, tudo isso esconde o desejo simplista de voltar à época de mão de obra farta, barata e se possível desregulamentada, financiamentos subsidiados e benefícios dos quais não conseguem desmamar. 26 ENSAIO POLÍTICO QUEM QUER FAZ N Um exemplo: O Brasil foi o mercado em que a L´Oréal mais cresceu no ano passado, comparado aos outros 145 países em que o gigante de cosméticos atua. Por aqui, a companhia de cosméticos faturou 2,2 bilhões de reais, 13,3% mais em relação ao ano de 2012. No mundo, as vendas do grupo cresceram bem menos, 5%, e somaram 22,98 bilhões de euros em 2013” (EXAME). Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura da FIAT CHRYSLER veio pessoalmente ao Brasil para comandar in loco a fase final de construção da fábrica da empresa em GOIANA (PE), a mais moderna do mundo (VALOR 23/9). Foram três anos de trabalho e investimentos de, simplesmente, R$ 7 bilhões numa fábrica na zona da mata de Pernambuco, com potencial para dobrar a produção e que entra na fase final para inauguração no primeiro trimestre de 2015. O empreendimento é gigantesco e ocupa um terreno de quase 12 milhões de metros quadrados com uma fábrica de carros ocupando 260 mil metros quadrados e uma área de 270 mil metros quadrados ocupadas por fornecedores de peças e partes utilizadas na montagem dos veículos. Enquanto isso, outros choramingam. a realidade, porém, mesmo com contratempos, quem quer faz! O CEO de uma grande multinacional em recente entrevista numa dessas páginas amarelas, anunciou pesados investimentos no país no médio e longo prazo, mas como sempre ocorre, pediu uma redução no custo na mão de obra. Não especificou se falavam da remuneração dos trabalhadores do chão de fábrica que chegam de madrugada em trens superlotados ou da remuneração fixa e variável, bônus e benefícios dos níveis superiores que chegam às 10.30h em SUVs chiques. Pensava, provavelmente, em uma nova CHINA na América do Sul, no momento em que a CHINA original já tende a não ser tão barata no médio e longo prazo em face de declínio na disponibilidade de mão de obra semiescrava. Os investimentos, na realidade, continuam fluindo para o país porque, como disse recentemente um grande empresário estrangeiro, “não existe muitos outros países melhores que o Brasil para investir. Duzentos milhões de habitantes, classe média emergindo, pobreza diminuindo com gente entrando no mercado de consumo, estabilidade política, instituições independentes estáveis e funcionando. Até a Polícia Federal do governo é independente e investiga o próprio governo”, disse. 27 ENSAIO POLÍTICO AGRONEGÓCIO SORRISO, MATO GROSSO: EXIBERÂNCIA DOS GRÃOS S A grande verdade é que está em causa a fórmula mágica do “país do futuro”, de Stefan Zweig, recordada recentemente por LEONARDO MOTTA NETO (Editor da CARTA POLIS) e sustentada nos potenciais de água, terras, sol, minérios e mão de obra barata. Os recursos naturais, acrescentando-se o petróleo, estão aí não mais sendo apenas contemplados, mas em crescente ritmo de exploração, beneficiamento e exportação. O minério de ferro, por exemplo, é um dos mais importantes itens de nossa pauta de exportações, tendo a CHINA como o principal destino, mesmo num momento difícil de sua economia. Mas, a mão semiescrava daquela época já não mais existe. Desde Getúlio Vargas, as relações do trabalho vêm experimentando sucessivas “revoluções” até chegar aos dias de hoje quando a balança capital – trabalho está mais razoavelmente equilibrada. e existem alguns contratempos na indústria, temos o progresso extraordinário da AGROINDÚSTRIA. Os empresários do AGRONEGÓCIO, mesmo enfrentando os mesmos problemas, burocracia, fluxo decisório governamental lerdo, falta de mão de obra especializada, a conhecida corrupção que se combate, mas resiste, vai muito bem obrigado! Com vida comedida, às vezes espartana, vivem suas atividades intensamente. Não estão em outro planeta, estão aqui mesmo. Só que com mentalidade voltada para o negócio, metas audaciosas, planejamento profissional, aprimoramento da mão de obra e dos processos de gestão e, o que é importante, ambição e investimentos no próprio negócio. Nosso agronegócio é um dos mais modernos do mundo, competindo com os ESTADOS UNIDOS, servindo-se de equipamentos de ponta, sempre renovados e tecnologia das mais sofisticadas. 28 ENSAIO POLÍTICO DEFESA: UM APARATO DO TAMANHO DO BRASIL E agora temos de lidar com essa realidade de forma sábia. Uma coisa que poucos conhecem e analisam, por distorções históricas na abordagem do tema, é que tudo isso que temos dependerá cada vez mais de um aparato de DEFESA condizente com a realidade que enfrentaremos. Dentro de poucas décadas o BRASIL terá tudo que faltará no mundo: água doce, petróleo, combustíveis renováveis como o álcool, minerais, proteína animal e vegetal, produtos agrícolas, grandes florestas tropicais, entre outras coisas. No momento em que a falta desses itens se agravarem, quem precisar, vai buscar onde existir, utilizando os recursos e métodos que forem necessários. Por muito menos os ESTADOS UNIDOS e seus aliados ocidentais invadiram o IRAQUE, o AFEGANISTÃO, a LÍBIA, entre outros países, espalhando violência e desagregação política e social. Não vamos ser ingênuos a ponto de pensar que conosco seria diferente. E, para termos um sistema de defesa minimamente eficiente, temos de fazer investimentos. Já melhoramos nos últimos anos, mas o ritmo não pode arrefecer, pelo contrário, precisa acelerar nos próximos anos. Ainda não temos uma força aérea de combate capaz de proteger o nosso espaço aéreo, a marinha precisa de mais submarinos e renovar seus meios flutuantes, incorporando novas fragatas e corvetas e o exército precisa entre outros itens de uma artilharia antiaérea para baixa e média altura, e vários equipamentos mais condizentes com os padrões internacionais, pelo menos. Não podemos ficar desprotegidos como estamos agora. 29 ENSAIO POLÍTICO CUSTO BRASIL, PIB, Etc. INIMIGOS INTERNOS U ma análise minimamente lúcida revela que a diminuição do chamado CUSTO BRASIL não pode ser levada ao nível da insanidade. Somos um subcontinente em plena faina de construção, em várias frentes, todas inadiáveis, fruto de uma história de descasos que só começou a ser revertida nas últimas décadas. Mais do que isso, em face da combinação dos itens de toda a conjuntura mundial, estamos no pior ano da década que se iniciou com a crise de 2008 nos ESTADOS UNIDOS e que alastrou pelo mundo. Estamos no ano em que chegamos ao fundo do poço e que só dará tênues sinais de recuperação ao final do segundo semestre deste ano e uma tendência de melhora sustentável no ano que vem. Promessas de elevação substancial do PIB em curto prazo é um desdém com a inteligência alheia quando se sabe que o PIB dos países ricos da zona do euro e o Japão mal chegarão a 1%, com possibilidades de PIBs negativos e o dos Estados Unidos boiará em torno dos 2%. A crise chegou também à CHINA, cuja economia desaqueceu fortemente e fez desabar o preço não só do minério de ferro, este para baixo de US$ 80 por tonelada, como de todos os metais, tais como o níquel, o zinco, o cobre, etc. O reflexo no Brasil, o maior exportador de ferro para os chineses será e já está sendo muito grave. E estes são os países que movimentam os mercados mundiais. Com a contração dos mercados compradores, não há como se falar em grandes melhorias nos mercados que deles dependem, inclusive o nosso. Não existe novo presidente, novo partido, novo governo que, por si só, dê um jeito nisso. Só a combinação dos diversos fatores é que possibilitará uma reversão das tendências. As soluções pontuais heterodoxas seguraram a situação até agora, mas estão se esgotando. Temos de entrar, e entraremos, numa fase de contenções que terão de ser calibradas com sabedoria, sem fúria e sem a ânsia de gerar resultados estratosféricos em curtíssimo prazo. Não é hora de radicalismos, mas de prudência. 30 ENSAIO POLÍTICO CONCLUSÕES: NOVO PRESIDENTE, VELHAS ILUSÕES O fim do processo eleitoral é essencial para melhoria das expectativas porque vivemos, lastimavelmente, uma hora de semear o pânico para se obter votos. Isto, mesmo se sabendo que, objetivamente falando, existem duas mulheres essencialmente petistas na disputa, um detalhe sem precedentes. Há, no entanto, diferença entre as duas: uma já está familiarizada com a gestão pública e está dentro do partido, outra não tem essa experiência, trabalha com projetos que imagina viáveis, recentemente se indispôs com o partido que, agora, lhe faz e lhe fará oposição. Ambas, no entanto, guardam a essência petista e estão firmemente empenhadas na luta sem se livrarem de sua memória política, historicamente consolidada. Não se apaga um passado tão longo e tão intensamente vivido de uma hora para outra. A máquina do estado, que daria certo favoritismo para uma, é compensada pela emoção que cerca a figura da outra, ajudada também pelo “voto vingança” ou o “voto pirraça” dado pelos eleitores do terceiro candidato AÉCIO NEVES que, apesar de certa reação, parece ainda em situação crítica. Portanto, em conclusão, o Brasil entrou em fase de expectativa, munindo-se de paciência franciscana para ficar ouvindo “catilinárias” despejando promessas e juras de amor ou ódio de candidatos e de partidos em luta eleitoral. Não importa quem seja eleito: não haverá mudanças substanciais no país, notadamente em nível econômico-financeiro no curto prazo. Resta-nos esperar que qualquer uma das duas petistas por natureza que assumir o poder no início do ano próximo ou o conservador que ainda nutre esperanças, encontre a dose de sabedoria técnica e sensibilidade política para manter o país no rumo de dias melhores que certamente virão porque nos estão destinados. Até lá, pé no chão e sem ilusões, por favor. A máquina do estado, que daria certo favoritismo para uma, é compensada pela emoção que cerca a figura da outra 31 ARTIGO/ECONOMIA POR QUE O BRASIL PAROU DE CRESCER? A gora é oficial: o Brasil parou de crescer. É verdade que a desaceleração não ocorreu de repente. Nos últimos três anos, o PIB teve uma expansão tímida de 2,7%, 1% e 2,5%, respectivamente, menor do que na década de 2000 e 2010, quando, mesmo com duas crises financeiras internacionais, o crescimento médio foi de 3,7% ao ano. Mas foi o anúncio do IBGE de que a economia brasileira teve uma retração de 0,2% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo que parece ter feito até o governo admitir que o país chegou em uma encruzilhada. “Gostaria que o Brasil estivesse crescendo em um ritmo mais acelerado”, reconheceu a presidenta Dilma Rousseff. O dado levou Dilma a prometer mudanças em sua política e equipe econômica em um eventual segundo mandato, bem como analistas “do mercado” revisaram suas expectativas de expansão do PIB para este ano pela 15ª vez consecutiva - para 0,48%. Segundo o serviço Broadcast, da Agência Estado, até a estimativa oficial do governo de um crescimento de 1,8% em 2014, já estaria sendo revista - embora não esteja claro para quanto, especialmente depois da ligeira recuperação da economia em julho, registrada no índice IBC-Br, do Banco Central. A questão é que se há consenso de que temos um problema, suas causas ainda estão longe de ser unanimidade. O governo atribuiu a freada ao contexto internacional desfavorável e uma onda de “pessimismo” em parte motivada por questões políticas. Ao explicar o caso específico dos números negativos do segundo trimestre, também culpou os feriados da Copa do Mundo pela queda da atividade de setores como varejo e indústria. Já economistas, analistas de mercado e consultorias apontam erros na condução da política econômica – também destacados por candidatos da oposição. Numa tentativa de mapear esse debate, a BBC Brasil fez uma compilação das “hipóteses” sobre o que, afinal, teria contribuído para empurrar o país desse patamar de 3,7% de crescimento para o que internacionalmente se convenciona chamar de “recessão técnica”. Hipóteses para que a recessão técnica acontecesse: * Contexto internacional * Deterioração das Expectativas * Abandono do “tripé” Ruth Costas * Desgaste do modelo é da BBC Brasil em São Paulo * Problemas estruturais. 32 POLÍTICA MARINA É A REFERÊNCIA DESSA ELEIÇÃO GOSTEMOS DELA OU NÃO M arina Silva é a referência dessa eleição. Muitos a confundem como candidata, mas é uma referência, gostemos dela ou não. Ela é um novo paradigma proposto pelas mudanças de percepção da sociedade do que é política e do que deve ser um político. Se a maioria do eleitorado derrotá-la, cuidado com a apologia desta vitória, uma vez que a instalação entre nós da mensagem de Marina pode estar sendo apenas adiada por 4 anos.(Lula, que era a referência naquela época, perdeu três eleições sucessivas; porque Marina não poderá perder duas ou três também?) Se perder, o êxito do outro lado não deve ser interpretado como vitória do conservadorismo contra a aventura, da tábua de segurança (imagem portada por Dilma Rousseff ) contra o medo, do equilíbrio mediterrâneo (confundido com Aécio Neves ) contra a incerteza. Devemos analisar mais profundamente a referência Marina, como, aliás, toda referência merece. Nesse caso de derrota de Marina, o eleitor pedirá apenas mais tempo para amadurecer o processo que toma conta do subterrâneo da nação: o desejo de profundas mudanças, não as capilares. Mesmo porque o eleitorado de 140 milhões de brasileiros se torna cada vez mais renovado. Nessa eleição, um quociente inédito de jovens comparecerá às urnas pela primeira vez. O voto jovem decidirá essa eleição, e não os dos grotões mais pobres, afastados e de menos população do país – a grande esperança do PT. Essa será, graças à Internet, a primeira eleição que grotão – mesmo aquele alimentado somente pela bolsa-família – será um reduto de participação no debate dos grandes temas nacionais como se fosse um bairro da maior cidade do país. Marina não deve ser expelida do processo e execrada porque nos faz cogitar que o novo chegou, mesmo que não desta vez. O novo está às portas, e esta já é uma ótima noticia. 33 POLÍTICA FÓRUM POLÍTIC DAS MULHERES Há seis meses, Emma Watson foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, e, nesse fim de semana, fez um discurso emocionado na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Emma lançou a campanha HeForShe, que pretende divulgar entre os homens a ideia similar do feminismo e da luta pela igualdade de gêneros, ou seja, que os homens também tem suas fragilidades que precisam ser respeitadas. “Já vi homens sofrendo de doenças mentais e incapazes de pedir ajuda por medo de que isso soe menos ‘macho’. No Reino Unido o suicídio é a principal causa de mortes entre os homens entre 20 e 49 anos, superando acidentes de carro, câncer e doenças do coração”, iniciou. “Já vi homens serem frágeis e inseguros por terem uma imagem distorcida do que é o sucesso masculino. Eles não têm os benefícios da igualdade de gênero assim como nós”, disse avisando que seu discurso era como um “convite formal” para que eles se juntem à causa. Aos 39 anos, ministra do Tribunal Superior Eleitoral, desempenhou um papel destacado nos preparativos das eleições gerais em todo o país e no julgamento dos recursos. Foi particularmente ética no caso do ex-candidato a governador do DG José Roberto Arruda que pleiteava a manutenção de seu registro de candidato, mas acabou sendo impugnado pela aplicação da lei da ficha limpa.Luciana, que havia representado Arruda na época em que militava como advogada nos tribunais superiores, considerou-se impedida. Recentemente escreveu para a Folha de São Paulo um belo libelo em favor da participação ampla das mulheres na vida nacional. Título: Mulheres, onde estamos? LUCIANA, ISENÇÃO NA HORA DE JULGAR 34 POLÍTICA IZABELLA, FRUSTRAÇÃO NA ONU Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, nascida em Brasília esteve recentemente em Nova Iorque para a Cúpula do Clima das Nações Unidas, e se frustrou com a “Declaração de Nova York sobre Florestas”, uma vez que foi assinada por apenas 28 dos 130 países participantes. Não representou um Ministra Superior Tribunal de Justiça,afirmou teve histórica proacordo oficial dodoorganismo internacional, Izabella, tagonização em julgamento político do ano naquela corte: foi ao esclarecer os motivos que levaram o Brasil a não ratificar oa novidade na turma que julgou o futuro político de José Roberto documento. “Não houve acordo, não houve negociação, mas Arruda. Esteve em suas mãos o voto de desempate do recurso. Deapenas umasedeclaração. MasJosé nãoRoberto foi uma viagem perdida. Foi cidia-se o ex- candidato Arruda era ou não é uma maisficha-suja um round enfrentado. Afinal, estamos desmatando bem nesta eleição de governador. A cidade restou em susmenos nossas formou-se em Biologia pela pense dianteflorestas. do voto deIzabella desempate da ministra novata na turma, UnB. É mestre em Planejamento Energético e doutora ela emvotou Plapaulista de nascimento mas moradora de Brasília.Afinal, a favor doAmbiental aceitação dopela recurso de Arruda, mas o ex-candidato pernejamento COPPE/UFRJ. deu no cômputo final. REGINA, A NOVATA NA TURMA Ministra do Superior Tribunal de Justiça, teve histórica protagonização em julgamento político do ano naquela corte: foi a novidade na turma que julgou o futuro político de José Roberto Arruda. Esteve em suas mãos o voto de desempate do recurso. Decidia-se se o ex- candidato José Roberto Arruda era ou não é uma ficha-suja nesta eleição de governador. A cidade restou em suspense diante do voto de desempate da ministra novata na turma, paulista de nascimento mas moradora de Brasília.Afinal, ela votou a favor do aceitação do recurso de Arruda, mas o ex-candidato perdeu no cômputo final. 35 mais S NAR>>>>> Ricardo Reis “SANTINHA” MARINA I Quem assacou o termo “santinha” foi José Sarney, no único comício a que compareceu na campanha de seu candidato a governador no Maranhão. “A dona Marina, com essa cara de santinha, mas [não tem] ninguém mais radical, mais raivosa, mais com vontade de ódio do que ela. Quando ela fala em diálogo, o que ela chama de diálogo é converter você”, afirmou o senador pelo PMDB. Mas, não pegou, uma vez que nasceu de rancor do chefe do clã maranhense pelo apoio de Marina a Flávio Dino. “SANTINHA” MARINA II As contradições começaram na formação da chapa com Eduardo Campos. Era uma mistura, para muitos, improvável de êxito, menos para Eduardo e Marina. Um dos dois iria sobrar mais cedo ou mais tarde, porque nas pesquisas de intenções de votos Eduardo jamais passou de um patamar máximo de 1O%. Marina, nas pesquisas espontâneas, mesmo como candidata a vice sempre apareceu numa faixa de 15% a 2O% para presidente .Deixava Eduardo para trás. Um dia essa contradição iria estourar. “SANTINHA” MARINA II A contradição básica entre Eduardo e Marina não era do conhecimento nacional mas de programa. Com sua ascensão, a candidata mostrou dificuldades para justapor suas ideias ao programa de governo do PSB urdido por Eduardo. Está sendo um trabalho hercúleo e seus coordenadores temáticos oferecem corpo de ideias racional com os postulados revisionista da candidatura. Os recuos de propósitos estão sendo maiores que os avanços. ARINA II tos na “santinha” “SANTINHAla”rgM a intenção de vo o A essência da evangélico nem xalmente, o voto do ra pa é, o nã a Marin saída à exaustão . Ela oferece uma so io lig re oic ên vernos Lula e ecum s sacrificada nos go ai m a ia éd m se insatisfeitos da clas tantes altamente vo s vo no s ao e . Não tem a Dilma política brasileira da l ua at rio ná ce arcaram os com o ideológicos que m os nt ro nf co os m ver co do uma terceix PSDB, oferecen PT s to en am nt enfre idade gasta. ra via a essa rotativ 36 “SANTINHA” MARINA V Na campanha Marinha é a referência dessa eleição. Muitos a confundem como uma mera candidata, mas no caso é uma referência histórica, gostemos dela ou não. É um novo paradigma proposto pelas mudanças de percepção da sociedade do que é política e do que deve ser um político. “SANTINHA” MARINA VI INA VII te a HA” MApR “SANTIN rofundamen rência analisar mais Se a maioria do eleitorado derrotá-la, cuidado com a apologia desta vitória uma vez que a instalação entre nós da mensagem de Marina pode estar sendo apenas adiada por 4 anos. Se Marina perder, o êxito do (a) adversário (a) não deve ser interpretado como vitória do conservadorismo contra a aventura, da tábua de segurança (imagem portada por Dilma Rousseff) contra o medo, do equilíbrio contra a incerteza. da refe Devemos como, aliás, to a, in ar M a ci arina - o referên - derrota de M so ca se es N o para merece. as mais temp en ap á ir ed p conta do eleitor sso que toma ce ro p o r ce re e profundas amadu ão: o desejo d aç n a d eo ân subterr . ão as capilares mudanças, n “SANTINHA” MARINA VIII O eleitorado de 140 milhões de brasileiros se torna cada vez mais renovado. Nessa eleição, em primeiro turno um quociente inédito de jovens compareceu às urnas pela primeira vez. O voto jovem decidiu essa eleição, e não os dos grotões mais pobres, afastados e de menos população do país – a grande esperança do PT. INA X “SANTINHveAse” rMexApeRlida do processo Marina não de rrotada, eventualmente de político, mesmo egou gitar que o novo ch porque nos faz co às portas, vez. O novo está mesmo não desta vo muitas ima notícia. O no e esta já é uma ót chega o faz chegar. E quando vezes demora em timidade argamassa de legi renovado de uma três derrotas la experimentou Foi assim que Lu cia. tentou a Presidên seguidas quanto “SANTINHA” MARINA IX Foi, graças à Internet, a primeira eleição em que até mesmo o grotão – mesmo aquele alimentado somente pela bolsafamília – foi um reduto de participação no debate dos grandes temas nacionais como se fosse um bairro da maior cidade do país. 37 POLIS Confidencial SILVESTRE REVIVE OS NATURALISTAS Silvestre Gorgulho, jornalista, promotor de cultura, ambientalista, secretário de Estado no Distrito Federal por duas vezes, homem do mundo depois de ter nascido em São Lourenço, Minas está contando nas páginas de seu jornal “Folha do Meio Ambiente”, a série “Naturalistas Viajantes” que vai virar livro. A Expedição Landgsdorff, por exemplo, é uma das epopeias narradas. Já publicados, até agora, 11 capítulos. Ganharam luz: Marianne North, Peter Lung, Peter Brandt, Warming, Rugendas, Darwing e o próprio Langsdorff. Ao todo, a série conterá 16 perfis. Uma gigantesca contribuição de Silvestre Gorgulho à memória brasílica foi deixada pelos viajantes naturalistas. Interessados podem seguir pelo site da Folha www.folhadomeio.com.br SEBASTIÃO NERY, RAÇA DO GÊNIO Sebastião Nery, sempre lúcido e atento observador da política brasileira, autor de dezenas de livros (“Folclore Político” - “Pais e Padrastos da Pátria” - “A eleição da reeleição” - “Grandes pecados da Imprensa” - “A Nuvem”. E agora, o livro mais recente “Ninguém me contou, eu vi - Brasil de Getúlio a Dilma” - só para citar alguns) Ele festeja seus merecidos 82 anos pela Europa. Nery escreve sua coluna diária publicada em 22 jornais por esse Brasil afora. 38 GAYLE FORMAN, DONA DA FICÇÃO BRASILEIRA Quem mais vende livro de ficção no Brasil? É Gayle Forman, escritora norte-americano de 44 anos, autora de livros infantis e adultos jovens, além de novelas (nos Estados Unidos é o nome que se dá a aos contos). “Se Eu Ficar”, obra de Gayle Forman está no topo dos “best-sellers” da revista Veja, gênero ficção, editada pela Novo Conceito. Antes de estourar com seu livro, ela era jornalista “free lancer” para publicações como Details Magazine, Revista Jane, Glamour Magazine, The Nation, revista Elle e Cosmopolitan Magazine .Em 2009, Gale lançou “If I Stay”, sobre uma moça 7 anos, Mia, envolvida em um trágico acidente de carro. O romance segue a experiência de Mia enquanto está em coma mas plenamente consciente do que está acontecia ao seu redor e tudo seus visitantes dizem e fazem. Água com açúcar ? Bem, “Se Eu Ficar” vende à beça no Brasil. Vende mais que o “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry (4°. lugar) ou “Felicidade Roubada” de Augusto Cury (7° lugar). Quem quiser entrar no site para conhecê-la mais (mora no Brooklyn, New York): www.gayleforman.com SEU PEREIRA 100 ANOS, FUNCIONÁRIO, MORREU TRABALHANDO Era o funcionário público mais velho do Brasil em atividade. João Pereira da Silva, o Seu Pereira, morreu trabalhando no Ministério da Justiça em Brasília. Aos 100 anos, ele dirigia, trabalhava e tinha intimidade com o computador. Foi velado no salão negro do Ministério da Justiça e sepultado no Campo da Esperança com honras e glórias merecidas. Seu Pereira era sergipano, aposentado da Câmara dos Deputados, mas morreu ainda trabalhando na portaria privativa do Ministério da Justiça, que divulgou nota oficial sobre a importância deste funcionário que era o mais antigo do Brasil. Um dos seus segredos para manter a cabeça boa era ler muito e se manter sempre em atividade. Um exemplo para todos nós! (*) Apoiado no texto da jornalista Sonia Carneiro no seu perfil do Facebook. 39 POLÍTICA Lobby O CLAMOR PELA REGULARIZAÇÃO O que a atividade lobista no Congresso deveria ser regulamentada em resolução interna, e não em um projeto de lei, como pretendia Marco Maciel. O mandato de Alcântara terminou e o projeto foi arquivado. A regulamentação do lobby e dos grupos de pressão junto ao setor público costuma ocupar as páginas de jornal toda vez que há alguma denúncia envolvendo falta de transparência nas relações entre funcionários públicos e interesses privados. No final do ano passado, técnicos da Casa Civil discutiram o assunto com o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), autor de um amplo projeto (PL 1.202/07) sobre o lobby, o qual regula estas atividades não apenas no Congresso, mas também nos órgãos do Executivo. “Até agora, não aconteceu nada”, informou o deputado nesta sexta-feira (17), por intermédio de sua assessoria. O projeto de Zaratini que tramita junto com a proposta do senador Marco Maciel, esteve prestes a ser colocado na pauta de votações do Plenário da Câmara no final do ano passado, mas acabou deixado de lado por causa da urgência dos projetos que tratavam da exploração de petróleo na camada pré-sal. A Controladoria Geral da União (CGU) chegou a listar mudanças que considerava importantes para melhorar o projeto de Zaratini, entre elas a explicitação de que o trabalho de grupos organizados que buscam programar direitos previstos em lei não pode ser considerado lobby. Os autores dos projetos que tratam do assunto argumentam que a regulamentação irá estabelecer com “lobby” não é regulamentado no Brasil, mas existe. E como existe! Não é ilegal, mas é imoral e anti-ética. Enquanto o “lobby” norte-americano pode ser aditado por sua formalidade e registros, o nosso não. Está mais do que na hora, ou melhor, passou da hora de regulamentar o “lobby” no Brasil. O interessante é que as pessoas que representam grupos de interesse e empresas nas relações com o Poder Público, de um modo geral, são favoráveis a regulamentação. Belo assunto para ser encarado pelo Congresso Nacional que nós, eleitores, estaremos escolhendo em outubro próximo. Na verdade, no próximo dia 12 de dezembro serão completados 24 anos que o Senado aprovou e enviou à Câmara dos Deputados projeto de lei (PLS 203/89), do senador Marco Maciel (DEM-PE), que regula a atividade de lobby no Congresso Nacional. Desde então, ele foi discutido, recebeu emendas, passou a tramitar com propostas que têm a mesma finalidade, mas nunca chegou a ser colocado em votação no Plenário daquela Casa. Neste momento, existem dez propostas sob exame dos deputados - três projetos de lei e sete propostas de mudanças no Regimento Interno da Câmara. No Senado, desde a aprovação do PLS 203/89, que agora tramita na Câmara como PL 6.132/90, houve apenas uma tentativa do então senador Lúcio Alcântara (1995) de regular o assunto, por meio de um projeto de resolução. Ele apresentou sua proposta depois que os deputados da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara opinaram 40 POLÍTICA Todas as propostas que estão no Congresso determinam que os lobistas têm de se registrar no órgão público e devem portar crachás de identificação. Ao fazer o registro, têm de informar quais são os interessados em seus serviços e as matérias que querem ver aprovadas ou rejeitadas. As empresas de lobby serão obrigadas a informar seus gastos ao Congresso, em detalhes, caso a atividade seja regulamentada. clareza os limites da atuação de lobistas, prevendo punição para aqueles que extrapolarem. Zaratini argumenta que o lobby é uma atividade legal e regulada na Europa e nos Estados Unidos, onde os lobistas são pessoas autorizadas a defender determinadas causas junto ao Legislativo e, em alguns casos, junto a órgãos do Executivo. Eles devem pertencer a empresas da área e são autorizados a participar de audiências para defender o ponto de vista de grupos da sociedade ou de empresas. É uma atividade aberta, que não tem nada a ver com o tráfico de influência, que é crime. MESMO IMORAL, ATIVIDADE É LIVRE Mesmo sem regulamentação, a atividade de lobby é oferecida por dezenas de empresas no Brasil. A Universidade de Brasília mantém um curso de especialização em “assessoramento parlamentar” - na prática, um treinamento para a atividade de lobby nos três Poderes. Nos Estados Unidos e na Europa, existem milhares empresas de lobby. Na Câmara dos Deputados, o Regimento Interno (artigo 259) autoriza o credenciamento de representantes de ministérios, do Judiciário e de entidades sindicais de trabalhadores ou patrões, para a defesa de seus interesses. O Regimento Interno do Senado não trata do assunto. “Quem pede, tem preferência” Palmeirense fanático, Berzoini usou uma frase atribuída ao ex-técnico de futebol Gentil Cardoso, considerado um dos melhores na área nas décadas de 1950 e 1960 no país. “Quem se desloca, recebe, quem pede, tem preferência”, disse o petista, lembrando do treinador, que passou por vários clubes do futebol Disse isso depois de avaliar que regulamentar a profissão de lobista parece estar longe da prioridade dos parlamentares. Fora da pauta da CCJ, a proposta só deverá ser apreciada depois das eleições. Diz que os responsáveis pelo projeto do lobby não se empenham por ele: -“Quem se desloca, recebe” BERZOINI: “O SOL É O MELHOR DESINFETANTE” O ministro Ricardo Berzoini, quando LOBISTAS À VONTADE estava na Câmara, lutou muito pela reguOs lobistas circulam o tempo todo lamentação do “lobby”. Diz que gostaria pelo Congresso Nacional. De vez em de ver o lobby regulamentado. “Já é mais quando, alguns aparecem envolvidos em que hora de disciplinar a atividade. O sol escândalos que envolvem pagamentos de é o melhor desinfetante”, disse o peemepropina e entrega de caros presentes. Mesdebista. mo com a suspeita de que um senador da Hoje ministro da Articulação Política, República, Demóstenes Torres (ex-DEMfoi presidente da comissão de Constitui-GO) possa ser lobista de uma organização e Justiça. A prerrogativa de colocar o ção do crime, continua a patinar no Legisprojeto na pauta da CCJ era exclusiva dele. lativo a ideia de dar luz e transparência à Na última reunião os deputados analisaatividade do lobby. ram 90 de 127 propostas sugeridas para do O destino do projeto que regulamenprojeto. E foi justamente o alto volume de ta a atividade remunerada do lobby pare“Já é mais que proposições a justificativa usada por Bercia ser o arquivamento por conta de uma zoini para a demora de a regulamentação hora de disciplinar série de vícios de origem e inconstitucioser colocada em votação. nalidades. Com a apresentação de um a atividade. De acordo com o petista, ele despahá quase dois meses, parte O sol é o melhor substitutivo chava entre 30 e 40 projetos por semana dos problemas foi sanada. No entanto, papara integrar a pauta da comissão. Além desinfetante” rece que o principal ainda persiste: a falta daqueles que já entram na sugestão natude vontade política para votar a proposta. ralmente, Berzoini diz que a inclusão de Com isso, o mais provável é que o projeto outros projetos acaba dependendo da disposição dos só deva ser votado em novembro. Enquanto isso, o lugar responsáveis por eles em fazer pressão. Coisa que nem dos lobistas continuará sendo a sombra. o relator do projeto de regulamentação do lobby, César Colnago (PSDB-ES), muito menos seu autor Carlos Za(*) Apoiado em textos do Congresso ratini (PT-SP), segundo Berzoini, fizeram. Em Foco e da Câmara Hoje. 41 SAÚDE PLANOS DE SAÚDE PARTICULARES: COMEÇO DO EMBUSTE E FIM DA DECÊNCIA O Isto acontece nas barbas da agência governamental controladora - a ANS - que tem posturas burocráticas e se limita a fazer proibições passageiras de novos planos. Uma medida temporária fraca que não atinge os grandes grupos. Os consumidores que se sentem lesados pregam uma proibição geral de vendas enquanto o governo faz uma auditoria desse ramo de atividade e impõe novas exigências com penalidades draconianas. Além do mais, consumidores pressionam em favor de uma correlação entre o número de vendas entre planos coletivos e planos privados. Os usuários se sentem diante de um caso de calamidade pública, aguardando providências de uma ANS que não reage nem toma partido. sistema de planos de saúde particulares que prometiam um atendimento diferenciado aos que aderiam, virou um inferno para os que necessitam de atendimento. Suspenderam a venda de planos particulares, cujos reajustes são controlados e só oferecem o plano-empresa, que podem reajustar à vontade. Quem tem mais de 45 anos não consegue plano para aderir, salvo alguns de pessoa jurídica, a preços astronômicos e com enormes períodos de carência. A entrada de empresas financeiras no ramo, principalmente estrangeiras, está destruindo o sistema pela ganância e desprezo pelos usuários. No Rio, não se consegue internação salvo em algumas unidades de terceira linha na periferia, mesmo que se pague os caríssimos planos de primeira linha. 42 Informe publicitário Hemocentro em dia Captar e fidelizar é a meta do Hemocentro. A Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) desenvolve vários projetos para captar e fidelizar doadores voluntários de sangue, assegurando um atendimento humanizado, eficiente e de qualidade antes, durante e após a doação de sangue. Para cumprir essa missão, a Gerência do Ciclo do Doador desenvolve ações educativas voltadas para a conscientização pró doação de sangue. Uma destas ações consiste em trabalhar com os doadores do futuro, que são as crianças e adolescentes. “Com a ampliação da faixa etária para a doação de sangue, os adolescentes a partir dos 16 anos podem fazer sua primeira doação, sempre com o consentimento dos responsáveis legais. Para sensibilizarmos esses estudantes oferecemos palestras em escolas, onde repassamos a importância e as condições para se tornar um doador voluntário e oferecemos visitas ao Hemocentro (Hemotour) mostrando todas as etapas do nosso trabalho”, diz Rodolfo Firmino, Gerente do Ciclo do Doador. Para agendar uma palestra ou um Hemotour favor entrar em contato com o NCRO pelos telefones 3327-4413/4447 Doadores e usuários têm transporte gratuito para o hemocentro Desde 2013 a Fundação Hemocentro de Brasília(FHB) disponibiliza, para os doadores voluntários de sangue e pacientes do Ambulatório de Hemofilia uma linha de transporte gratuito que faz o percurso Rodoviária do Plano Piloto/Hemocentro/Rodoviária do Plano Piloto. Os ônibus ficam estacionados na plataforma inferior da Rodoviária do Plano Piloto, do lado Asa Sul e saem de lá a partir das 8h30, de meia em meia hora. Campanha interna traz parceiros para a FHB Este é um outro projeto do Hemocentro voltado para diversos segmentos da sociedade, com o objetivo de captar e fidelizar doadores. Podem ser nossos parceiros empresas, igrejas, órgãos públicos e privados, ONGs, entre outras instituições. Para isso, basta entrar em contato com a FHB pelos telefones 3327-4413/4447 e marcar um encontro com nossos profissionais que repassarão orientações sobre a doação de sangue, agendarão as coletas e, se necessário, disponibilizarão um transporte para trazer grupos de 15 a 70 pessoas. 43 JORNAL DE LEONARDO MOTA NETO 31 DE AGOSTO MATRIARCADO À VISTA FALTAM BIOGRAFIAS Se Marina Silva emplacar contra Dilma Rousseff e chegar à Presidência da República poderá instalar-se nesse país o matriarcado, que, aliás, não será nada mau. Imediatamente acender-se-á uma luzinha na cabeça de mulheres que se julgarem dotadas de tino e tutano: por que o sexo feminino não continuar disputando a presidência em 2022? Isso, porque a moça – e aí se explica que deve ter tino e tutano – assim raciocinará: se Marina chegar ao Planalto depois de outra mulher, a Dilma com certeza disputará a reeleição em 2018. Sobrarão então, 2022, em que se comemorarão os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, na qual despontaram Tarsila do Amaral e Anita Malfalti. Um estímulo a mais para as mulheres. A palavra mais feia da língua portuguesa é “defecção”. Ontem, a manchete de um portal era: “Em terceiro, Aécio tenta evitar defecções de seus aliados”. Arre! Falta nas estantes brasileiras uma boa biografia de algumas personagens da história republicana recente que estão a reclamar luz nas entrelinhas de suas vidas públicas. Uma acurada biografia de Golbery impõe-se. Outra, de Petrônio Portella. De Aureliano Chaves, Leonel Brizola, creio que não existe a não ser nos níveis de admiradores brizolistas ardorosos (não vale, porque não lhe apontam os defeitos). Por falar em defeitos, lembro a história havida com Antônio Carlos Magalhães, que também merece uma definitiva investigação biográfica. Fernando Moraes, nosso biógrafo maior, foi por ele contratado para pincelar sua vida. Moraes foi a Salvador. Reunião na casa de ACM. O biógrafo leva uma lista de pessoas que precisa entrevistar antes de fazê-lo com o próprio biografado. ACM lê a lista e reclama: - “Mas Fernando, nesta lista só tem inimigo meu! Não consinto!” - “Então não será biografia, será um texto laudatório”! (Se os diálogos não tiverem sido esses, perdão, pois como dizem os italianos: “Si non è vero, è ben trovato”) A biografia de ACM por Fernando Moraes nunca saiu da intenção e de um fim de semana em Salvador. WOODY E O RIO ODEBRECHT DEVE CALADO CARO Besteira. André Vargas está sendo pago, e regiamente pago, para ficar calado. DEFECÇÕES, NÃO Norberto Odebrecht Ainda no gênero biografias, a família Odebrecht deve ao país uma de seu fundador, Norberto, que morreu no mês passado. Não era um empreiteiro clássico, mas homem de empreendimentos, visionário, que ia materializando seus projetos sem perder a extrema simplicidade, quase franciscana, em que sempre viveu. Woody Allen declarou-se há anos, se não me engano em entrevista ao correspondente de O Globo em Nova York, seduzido pela obra de Machado Assis, nosso maior romancista. Mas nem por isso o gênio neurótico da noiva nervosa de Nova York ainda teve a pachorra de ir ao Rio e dirigir um roteiro sobre o autor de Dom Casmurro. Poderia chamar-se: “O Bebê da Mata-Cavalos”. Explica-se: Woody que filmou o notável “O Bebê de Rosemary”, poderia ter como inspiração o velho Machado, que descia todos os dias a pé o Morro do Livramento pela Rua Mata-Cavalos, hoje Rua do Riachuelo, no centro do Rio. E nessa descida da rua, Machado presenciaria o sequestro de um bebê, tomado dos braços da mãe por um bandido carioca. Machado então envergaria um boné “à la Sherlock” e iria investigar. Bem… ficção é com Woody Allen não comigo… SOLITÁRIO LUDWIG A propósito, lembrei-me de Daniel Ludwig o milionário norte-americano que criou o Projeto Jari, no Pará, nos anos 7o. Quando vinha ao Brasil para fiscalizar a megalômana traquitana, viajava sozinho em voo comercial na classe econômica. Em Brasília, que visitava para dar um abraço em seu amigo, o presidente Geisel, evitava os hotéis caros e hospedava-se no Eron. Quando morreu, o Jari definhou. 44 JORNAL DE LEONARDO MOTA NETO 7 DE SETEMBRO OS CÚMPLICES NUNCA CHEGARAM Em Brasília, “maitres” e garçons de bons restaurantes e motoristas de táxi que servem o aeroporto são os melhores guardiões de informações e segredos políticos que se conhecem. Enquanto atendem ou servem seus clientes geralmente ouvem-nos relatar façanhas e contar vantagens. Narram a uma pessoa que nunca viram – ou viram demais – o estado da arte de suas aventuras. Com um detalhe: “maitres”, garçons e motoristas não revelam nada a ninguém do que ouviram. Seu silêncio profissional é cúmplice daqueles que veem aqui, realizam um “lobby” do tipo Petrobras e vão a um ótimo restaurante para comemorar antes de item embora. Políticos de extrema sabedoria, ambição e poder de sedução jamais chegaram à Presidência da República embora tivessem passado a vida dedicada a esse projeto. Contam-se aí: Ulysses Guimarães, Magalhães Pinto. Petrônio Portella, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Mário Covas, Carlos Lacerda, Ademar de Barros, Teotônio Vilela e Antônio Carlos Magalhães. SINA MARANHENSE O Maranhão é hoje o estado mais freqüentado do país por agentes da Polícia Federal disfarçados, em buscas de clones de Alberto Youseff. Preferência das buscas: aeroportos e hotéis. Agradeça-se à delação do sr. Paulo Roberto Costa, envolvendo a governadora Roseana Sarney no “esquemão” da Petrobras, a intensificação dessas buscas. PLANTÃO ILUMINADO Na primeira fornada de vazamentos da VEJA com os nomes de Roberto Costa, o Palácio do Planalto e da Alvorada iluminaram-se na sexta à noite para um plantão. Um enxame de ministros e assessores da presidente, apressados em analisar a situação, varou a noite. Antigamente, quando política era política, dissimulavam-se os golpes fazendo-os parecerem sem importância. TODO BRASILEIRO Não vai demorar a aparecer um produtor de cinema com o projeto de filmar a vida e a morte de Eduardo Campos, da ascensão à morte trágica no desastre de jatinho. O cinema sempre teve fascínio pelas cenas de poderosos envolvendo aviões e tragédias. Oliver Store filmou JFK e incluiu uma cena de autor, surreal: Richard Nixon que após perder para Kennedy seria mais tarde eleito presidente, estava em Dallas, Texas, na mesma manhã do assassinato. Stone foi um gênio detalhista na cena que refletiu presságios, envolvendo atmosfera chuvosa, céu de chumbo e cantos de bruxas. Nixon chegou ao aeroporto bem cedo para tomar seu avião para Washington. Não queria se encontrar com seu rival das eleições de 59. Kennedy Kennedy e Jackie desceriam do avião presidencial uma hora depois. Nixon se afasta um pouco, sem guarda-chuvas, envergando pesado, sobretudo. Olha para cima, fita o céu carregado e inóspito, e quem sabe há de ter murmurado para si mesmo: - Não será um dia bom para um presidente… E não foi. Uma hora e meia mais tarde, JK seria baleado em frente ao Depósito de Livros de Dallas. O que teria se passado na cabeça de Eduardo Campos, antes de subir no jatinho rumo a Santos? Deixemos para o futuro filme sobre sua vida. Se um dia for filmado. MUY AMIGOS Da lista inteira de pessoas citadas por Paulo Roberto Costa, todos sem exceção – foram ou são amigos do ex-presidente Lula. Alguns mais, como o evanescido ex-governador Sergio Cabral – outros menos. Mas amigos. MARINA VAZ Marina Silva carrega o sobrenome Vaz, que por casamento incorporou de seu marido. Aproxima-se do tronco familiar do autor da primeira carta em terras brasileiras, escrita por Pero Vaz de Caminha, escriba da missão de descobrimento. Ao chegar em terras brasileiras pediu ao rei de Portugal um emprego para seu sobrinho. Marina promete resgatar a boa saga dos Vaz, Marina quer banir a entrada ela janela no serviço público. Claro, se for presidente. 45 JORNAL DE LEONARDO MOTA NETO 14 DE SETEMBRO O QUE MALUF TEM? tos para governador de São Paulo, no último Datafolha. A previsão de Lula é que chegará aos 2O% históricos do PT nas eleições de São Paulo, na véspera da eleição. Tudo isto sem precisar dos votos de Paulo Maluf, cuja casa visitou para fechar apoio na coligação e por quem foi mais tarde foi traído por um punhado de promessas de Paulo Skaf. E para maior contentamento de Padilha, Skaf está se “dismilinguindo”. Somente o gênio de Oliver Stone, cineasta mais paranoico de Hollywood (teoria da conspiração braba em sua mente), e que havia dirigido o impagável filme-documentário (“histoire verité”) JFK, seguiu o filão com um filme-biográfico Nixon tão patético quanto magistral na interpretação de Anthony Hopkins. (Nesta segunda,15, o canal a cabo Cult da Sky o reexibirá às 22hs). O que Nixon a ver com o Brasil de hoje? Tudo a ver. Primeiro aquele gesto do V da vitória ao deixar a Casa Branca quando renunciou na esteira do escândalo Watergate. Alusão aos riscos de se usar do governo para bisbilhotar a vida pessoal de adversários. Nixon fez e caiu por isso. Modernamente seria: para entrar no Wikipédia e alterar os perfis de jornalistas… Segundo: Nixon era comparativamente o que o nosso Paulo Maluf é para a política brasileira: um renomado cara de pau provinciano e “outsider” nos salões. Mas que se conservou no topo da onda, como Maluf aqui. Por quê? Cedo a palavra a Caetano: “Isto aqui, ô ô É um pouquinho de Brasil iá iá Deste Brasil que canta e é feliz, Feliz, feliz.” TARDES AGITADAS Vai ser interessantíssimo acompanhar pela TV Senado as tardes do Senado Federal na próxima legislatura. Ali estarão, com toda a probabilidade É gente tão difusa em comportamentos como imprevisíveis em reações, como Romário (PSB),Tasso Jereissati (PSDB), Reguffe (PDT),Álvaro Dias (PSDB),José Serra,(PSB).Olívio Dutra (PT),Paulo Bornhausen, (PSD),João Paulo (PT), Geddel Vieira Lima (DEM), Antonio Anastasia (PSDB). Não cito aqui Fernando Collor (PTB) entre os prováveis eleitos porque está pau a pau com Heloisa Helena (Psol). Como também tenho certa reserva em apostar em Olívio Dutra, pois Pedro Simon (PMDB) vem crescendo depois de voltar atrás na sua decisão de não mais se candidatar. Simon no Senado é garantia de qualidade da representação. Gente boa de frases picantes (Geddel, o genial frasista) e ironias pontiagudas. Gosto pelas manobras nos bastidores, outros, sonsos como um vigia de santuário. NOVO GETÚLIO? Uma das frases deixadas por José Roberto Arruda no ato de revelação de que está fora da disputa do governo do Distrito Federal, é intrigante: - “Meu último gesto na vida pública…”. Ora, ora, quantos na política não disseram a mesma coisa antes? Getúlio Vagas foi um deles. Retirou-se para sua fazenda em Itu, Rio Grande do Sul. Destronado em 1945, jurara não mais saber de política. Ademar de Barros então tomou um DC-3, com o jornalista Samuel Weiner, da “Última Hora” a bordo, e aterrissou na pista de terra batida. Levou apenas uma manhã e um churrasco de novilha para convencer Getúlio a voltar. Voltou e deu no que deu. Arruda é bom reler a História para não acertar conosco compromissos inócuos. RENATA ELEGE Não se deverá a Marina Silva a eventual vitória, que se desenha, de Paulo Câmara a governador de Pernambuco, porém a Renata Campos, que terá todo o direito à autoria de um fenômeno eleitoral, caso materializado. Em meio ao choque com a tragédia aérea Renata abdicou de uma candidatura a vice-presidência de Marina Silva para se dedicar a uma prioridade do falecido marido: eleger Câmara, seu mais próximo colaborador, chefe de sua Casa Civil. Naquele momento o biliardário candidato a governador e senador Armando Monteiro Neto estava tão distanciado na liderança das pesquisas que se comprazia em não fazer campanha no interior – que calor! Resultado: Renata está empurrando Câmara apenas na emoção. Sem Marina por perto. Bravo, Renata Campos. PADILHA SURFA Contra todos que haviam apostado que não passaria de seus 5%, Alexandre Padilha chegou a 8% das intenções de vo- 46 JORNAL DE LEONARDO MOTA NETO 21 DE SETEMBRO LIÇÕES DE WARREN BUFFET A EIKE BATISTA tucano, sofre a inclemência solar porque desprovido de cabelos que amenizariam o atentado cósmico. Já o Fernando Pimentel, esse tem mais cabelos, e poder ganhar a eleição por isso… Em tempo: os marqueteiros proíbem os candidatos a envergarem um boné nas campanhas para se protegerem do sol. Seria se esconder do eleitor. O que dirá a saúde pública disso? “Voltar à classe média é um baque gigantesco” professou nessa semana Eike Batista. Tem dó do Eike, gente. Nada semelhante a um dos maiores biliardários dos Estados Unidos, Warren Buffet, que em 2008, tornou-se o homem mais rico do mundo, passando na frente de Bill Gates, com uma fortuna estimada em US$ 60 bilhões. No ano seguinte Buffett foi o segundo homem mais rico, sendo que Bill Gates voltou a primeira posição. Só que – aprenda Eike! – Buffet, que tem seus 84 anos – os mesmos do Sarney – continua trabalhando com salário anual é de US$ 100 mil, sendo um salário pequeno, comparado aos salários de outros executivos. Ele vive na mesma casa, desde 1958, que comprou por US$ 31.500 (hoje vale mais de US$ 700 mil). E mais, meu caro Eike: o ex- presbiteriano Warren Buffet se auto-descreve como agnóstico, não usa celular, não tem um computador em sua mesa e dirige seu próprio automóvel, um Cadillac DTS. Doeu muito, Eike? SARNEY DESCE Para quem mantinha o que os ingleses chamam de “aplomb” (mais ou menos o tal do “fair play” da FIFA) o senador José saiu da linha no seu último comício de São Luiz em favor de Edison Lobão Filho, o “Lobinho”. Deu uma estocada violenta em Marina Silva, chamando-a de “santinha” e outras tantas baixarias verbais. Tudo porque Marina apoia o candidato da oposição a governador, Flávio Dino. Nem parecia o Sarney, tão elegante que beija as mãos das senhoras – seja a presidente, senadora ou deputada. O “fala-mansa” e “imortal” da Academia, desta vez, mostrou-se o verdadeiro o marimbondo de fogo, uma personalidade dissimulada no cotidiano. RISCO SUPREMO O ministro José Eduardo Cardozo levou um “chega-prá-lá” da presidenta Dilma, quando houve o vazamento do que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou em delação premiada. Ela queria ter sabido antes da publicação nos jornais dos nomes dos políticos denunciados. Cardozo levou um pito que jamais esquecerá. E muito menos na hora em que reivindicar seu apadrinhamento para ser ministro do STF. SHAKESPEARE EXPLICA DR. ULYSSES Quem conviveu com o Dr. Ulysses Guimarães (assim mesmo, Dr. pois ele gostava) lembra que ele tinha predileção por uma palavra arrevesada: despiciendo. Usava-a bastante em seus discursos. O que significa? Vamos recorrer ao velho bardo William Shakespeare (Otelo, Ato IV, Desdêmona): - “É próprio de a natureza humana irritar-se por coisas despiciendas, quando se ocupa com razões de peso”. E nem precisei consultar o Aurélio. FÁCIL, NÃO, CUNHA? A princípio os “marineiros” não queriam saber de PMDB. Foi o tom dos clarins de Eduardo Campos: não a Sarney, não a Collor, não a Renan. Negociar com eles, jamais. Vem agora Beto Albuquerque, do alto de seu lépido amadurecimento político, admitir: “Ninguém governa sem o PMDB”! Eduardo Cunha deve estar a considerar lá com seus botões: -“Jamais pensei que a aproximação fosse tão fácil”. SUBIRAM NA SEMANA * Delação premiada * Dom Orani Tempesta (nem se abalou com o assalto) * Chegada ao mercado do concorrente do IBOPE * Sotaque e tiradas da Luciana Genro DESCERAM NA SEMANA: * Centro de São Paulo * Bancada do Jornal Nacional * Eike Batista (e como desceu!) * Preço dos imóveis. ATENTADO SOLAR A PIMENTA Há meses em campanha sob o inclemente sol de Minas Pimenta da Veiga, candidato a governador pelo lado 47 JUDICIÁRIO O JULGAMENTO DE CESARE BATTISTI (*) Capítulo inédito do livro de Leonardo Mota Neto CAPÍTULO XIV O aparelhamento N ão houve na história do Judiciário Brasileiro caso algum parecido com o ocorrido no final do governo do Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva. Ao deixar de obedecer à Constituição, diante de uma insofismável decisão do Supremo Tribunal Federal – extraditar Cesare Battisti para a Itália – o primeiro magistrado da nação incorreu em solércia, determinando à Advocacia Geral da União que providenciasse um parecer que lhe permitisse manter Battisti no Brasil. A AGU, dirigida pelo advogado Luiz Adams, pressurosamente acedeu à voz de comando, e elaborou um parecer camaleônico em que alegou razões humanitárias para manter o prisioneiro no Brasil na condição de refugiado. E o fez no último dia de seu governo, em 31 de dezembro de 2010, como a deixar claro que havia permeado todos os recursos extralegais para satisfazer seu capricho. Desse mesmo capricho havia compartilhado o Ministro da Justiça, Tarso Genro, na época do julgamento do refúgio pelo CONARE, quando adotou uma oposição unilateral na esfera administrativa, ao passar por cima da decisão de seu próprio Conselho Nacional para os Refugiados. Lula não só desobedeceu a uma sentença expressa do STF, contida no Acórdão, lavrado cuidadosamente sobre os termos do julgamento do pedido de extradição, como, de fato, e capciosamente, aparelhou a corte suprema de Justiça do Brasil, com o estilo petista de agir para seus inconfessáveis desígnios. A Imprensa Brasileira e internacional, com a insistência em afirmar nas suas manchetes que o STF havia decidido por delegar a Lula a decisão final sobre Battisti (discricionalidade absoluta), caiu no logro do Presidente, ajudando a dissemi- 48 nar sua facciosa elaboração. Nada mais equivocado. Ao Poder Executivo – esse é o espírito correto da interpretação, expresso no Acórdão – cabe a tarefa executória do processo, para entregar o extraditando ao Estado requerente, no caso, Itália. Não foi reconhecida a submissão absoluta ou discricionalidade do Presidente da República. Essa opinião teve votos vencidos (quatro) contra a maioria que votou na “obrigação apenas de agir nos termos do Tratado celebrado com o Estado requerente” Eis o sumo da decisão, de acordo com a melhor tradição da Constituição Brasileira, do Direito Internacional, do Tratado de Extradição Brasil-Itália e da Convenção de Bruxelas do qual o Brasil é signatário. Não houve discricionalidade absoluta transferida a Lula, como a imprensa noticiou equivocadamente, porém, nos termos do Tratado que o limitava e o vinculava à decisão do julgamento. Daí Lula ter optado por aparelhar o Supremo, para garantir que sua decisão de manter Battisti, sustentada num parecer bem adequado da AGU, fosse mantida pelos Ministros da Corte, agora reforçada pelo décimo primeiro juiz, Luz Fux, nomeado em janeiro de 2011 para a vaga de Eros Grau pela Presidente Dilma Rousseff. Para efetivar o aparelhamento – tradução: uma Corte enquadrada pela vontade do então Presidente - Lula valeu-se de “emissários” que foram a São Bernardo do Campo, São Paulo, domicílio do ex-presidente, tramar com petistas locais a mudança de voto do Ministro Ricardo Lewandowski, um dos que havia votado originalmente com a maioria, como narrou o repórter do Estado de São Paulo Felipe Redondo, em matéria não desmentida até hoje. Mais fundo ainda foi a correspondente doII Fato Quotidiano, no Rio de Janeiro, Sofia Toscani, que especulou que não somente Lewandoswy era alvo dos aparelhadores, mas também a Ministra Ellen Gracie. Nos bastidores, correram suspeitas de que o próprio Luis Adams, chefe da AGU, havia sido o operador dos “emissários” a que Redondo se referiu. Por que Lula assim procedeu? Em confidências trocadas com pessoas de seu acesso íntimo ele sempre dava pistas de que suas duas maiores queixas ao longo dos dois mandatos foram as das derrotas sofridas nos poderes que não o Executivo: no Legislativo/Senado, a derrubada a CMPF (Contribuição Provisória para Movimentação Financeira), e no Judiciário/ Supremo, o julgamento de Cesare Battisti, que sentenciou a extradição contra sua decisão sobre o refúgio. Lula colocara em marcha plano vingativo contra essas duas ofensas à sua autoconsiderada pessoa. E engendrou maneira de obstruir a decisão do Supremo, valendo-se do parecer da aparelhada AGU, que lhe deu a chave para fechar a porta da legalidade e entrar na zona sombria da voluntariedade arbitrária. Já publicados os seguintes capítulos : Dezembro (Nº 1032) – Capítulo I e II - O PRO TEGIDO DO BRASIL Janeiro (Nº 1033) – Capítulo III – OS ANT ECEDENTES Fevereiro (Nº 1034) – Capítulo IV – OS ASSASSINATOS Março (Nº1035) – Capítulo V – A PRISÃO NO RIO DE JANEIRO Abril (Nº 1036) – Capítulo VI - O Palc o e Capítulo VII OS DEFENSORES DA ITÁLIA Maio (Nº 1037) – Capítulo IX – OS JULG ARES e Capítulo X O TRATADO DE EXTRADIÇÃO Junho (N° 1038) – Capítulo XI – EROS RETIFICA SEU VOTO Julho (Nº 1039) – Capítulo XII - O ACÓ RDÃO Agosto (Nº 1040) - Capítulo XIII - Reaç ões na Itália. 49 PÁGINAS AZUIS FERNANDO VASCONCELOS A “O BRASILEIRO GOSTA DA BOA PROPAGANDA” uto-considerado “servidor da indústria da propaganda”, Fernando Vasconcelos, jornalista, publicitário, dirigente sindical e atualmente editor do mais respeitado site de divulgação, análise de tendências e crítica do mercado do Distrito Federal e quiçá do país, abre o jogo nessa entrevista a CARTA POLIS sobre os temas em voga neste segmento da economia de serviços que gira uma fábula em faturamento das agências: cerca de bilhões/ano. CARTA POLIS - Como o Sr. define o atual momento da propaganda brasileira e do mercado publicitário em ano eleitoral? Fernando Vasconcelos - O momento não é dos melhores. Além do ano eleitoral que paralisa as campanhas dos governos Estaduais e Federais em razão da Lei Eleitoral, o quadro da nossa economia está complicado. No primeiro semestre deste ano houve um crescimento de apenas 14%, comparado ao mesmo período de 2013, que foi maior. Falta ânimo para o mercado terminar o ano. Vários ajustes ocorrerão em nossa economia com a chegada de tarifados, o que prejudicará os investimentos em Marketing. FV - Nossa criatividade não deixa nada a desejar à de outros países. Nossas peças publicitárias são admiradas, elogiadas e discutidas por grande parte da nossa população. O brasileiro gosta de boa propaganda. Os termômetros são a grande quantidade de prêmios conquistados, nacional e internacionalmente, como em Cannes, que no ano passado conquistamos 115 Leões. Este ano, estivemos presente em 14 das 17 categorias do festival, conquistando 107 Leões. Mesmo com essa pequena diferença, a propaganda brasileira teve uma participação importante no cenário criativo mundial. CARTA POLIS - O Sr que lida diariamente com o “crème de la crème” das peças publicitárias, como vê o panorama atual da criatividade publicitária brasileira? CARTA POLIS - A agência Africa, de Nizan Guanaes, foi recentemente escolhida entre as 1O melhores do mundo: que estímulos essa conquista trará ao mercado? 50 PÁGINAS AZUIS FV - Representa muito e tem um impacto muito positivo no mercado essa classificação. Uma agência como a África, que faz parte de um importante Grupo de Comunicação – o ABC tem receita de R$ 1 Bilhão por ano, motiva o mercado a investir, inovar, ousar na visão empresarial e deixar claro que o sucesso é fruto de muito trabalho. da população. É uma atividade meio e não uma atividade fim. E por ser uma atividade meio, não tem capacidade de resolver os problemas de governo, podendo, sim, agir em busca de soluções, dando ao povo todas as informações necessárias, em perfeita sintonia com seus ministérios, autarquias, empresas estatais e administração direta e indireta. CARTA POLIS - Qual o atual estágio do mercado da propaganda de Brasília: profissionalmente, tende a ocupar que tipo de nicho no mercado nacional? FV - Eu diria sem medo de errar que estamos numa posição de destaque no cenário nacional. Temos as maiores contas públicas do país. Profissionalmente, nosso mercado está muito bem preparado para atendê-las. Isso permite o surgimento de JOBs produzidos e finalizados na cidade, criando, inclusive, para clientes das matrizes das agências em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia entre outros. Tenho ouvido muitos elogios dos empresários da área a respeito das suas equipes brasilienses. CARTA POLIS - O que o Sr. faria para aperfeiçoar o mercado publicitário nacional ? FV - Às vezes sou taxado de radical com relação a esse tema. Na minha visão, como líder sindical que fui e fiz bem feito o dever de casa, o aperfeiçoamento do mercado passa pelo surgimento de novas lideranças que tenham dentro de si um ideal e que sejam comprometidas com a Indústria da Propaganda. Hoje, eu não vejo esse comprometimento 100% eficaz. Sem medo de errar afirmo que essa eficácia virá impor mais respeito ao nosso negócio, fator fundamental para o crescimento da nossa atividade econômica e que tem importante papel no desenvolvimento do nosso país. Precisamos impor mais respeito e ter uma convivência mais politicamente correta em benefício de toda a classe. CARTA POLIS - A publicidade governamental melhorou de padrão técnico neste ano? FV - Em minha opinião, ainda precisa melhorar. Vejo, hoje, a publicidade governamental mais voltada para a execução de um bom planejamento de mídia e preocupada com negociações. Acredito que uma equipe de Comunicação Social de governo deve ter em seu quadro profissionais envolvidos em planejamento, criação, marketing e mídia, especializados nas principais ferramentas do Marketing: propaganda, marketing promocional e mídias digitais. Nossa criatividade não deixa nada a desejar à de outros países. Nossas peças publicitárias são admiradas, elogiadas e discutidas por grande parte da nossa população CARTA POLIS - Que ideia o Sr. tem, da concentração da mídia em veículos eletrônicos: é uma tendência mundial que se agrava no Brasil? FV - Sim, é uma tendência mundial e não afirmaria que agrava. Pelo contrário, essa concorrência faz gerar novas estratégias de comercialização dos outros meios. Na verdade tem espaço para nossos jornais, revistas, rede de rádios, mídia exterior, mídia digital, etc. Cabe às agências adequarem as verbas dos seus clientes diante das suas necessidades. Um bom relacionamento comercial entre as partes também ajuda o surgimento de parcerias e de bons resultados. CARTA POLIS - O Sr. é favorável à regulamentação da mídia? FV - Sou contra essa ideia e o que está por trás disso. A liberdade de expressão é importante para a manutenção da criatividade publicitária para cada tipo de mídia adequada. A regulamentação para contenção de gastos é aceita. O que não pode acontecer é o engessamento de mecanismos que atrapalhem a liberdade de utilização de mídias corretas. A imposição de um sistema regulamentar sacrifica sempre o lado criativo em detrimento das regras gerais para conseguir aplicação ampla. Sistematizando escolhas, na prática, fica prejudicada uma decisão acertada que atingiria exatamente sua proposta em função da generalização. CARTAPOLIS - Que propostas o Sr. faria ao novo Governador do Distrito Federal? FV - Utilizar-se de uma comunicação bem feita em ação integrada (imprensa+publicidade+marketing+redes sociais) para todos os programas de governo (saúde, educação, trânsito, segurança). O GDF deve fornecer, através da Publicidade, do Marketing e das Redes Sociais, meios e mecanismos para motivarem a participação espontânea dos brasilienses e criar uma política de relacionamento com as comunidades. A comunicação publicitária governamental nada inventa. Ela cria mensagens geradas de um bom briefing que, por sua vez é gerado de realizações de obras, atitudes e programas governamentais. CARTA POLIS - Que ideias o Sr. levaria ao (à) novo (a) Presidente da República? FV - Fazer da Comunicação Publicitária de governo uma atividade empenhada no crescimento político, econômico e social 51 mais S NAR>>>>> Álvaro Campos DILMA RESOLUTA I Em francês há um ditado que diz: “Ce chien est très méchant. Quand on l’attaque il se défend!” Tradução: esse cão é muito malvado, quando se ataca, ele se defende!” Aplicado ao Brasil de hoje, termos que a candidata Dilma Rousseff passa seus dias se defendendo de todas as ilações possíveis e imaginárias. Poder-se-ía dizer dela: que mulher petulante! Quando se a ataca, ela se defende! DILMA RESOLUTA II Afirma a oposição que ela sabia da existência do assalto programado por uma quadrilha à Petrobras; foi parte na nomeação do funcionário de carreira Paulo Roberto Costa a diretor da estatal; foi cúmplice da compra da refinaria de Pasadena como presidente do Conselho de Administração da Petrobras E soube de muito mais. Soube de tudo, participou de tudo, foi cúmplice de tudo – essa, a visão oposicionista da coisa. DILMA RESOLUTA III DILMA RESOLUTA IV Ora, diante de todas as denúncias apresentadas pela imprensa brasileira nos últimos três anos e meio do governo Dilma – as quais são incontáveis – é improvável de que a presidente tenha sido a orquestradora de todos os malfeitos que lhe são apontados. Ou, mesmo que não fosse o cérebro maquinador, sabedora de que no seu governo, em algum momento, em algum departamento de alguma estatal ou ministério está sendo aplicado um golpe quadrilheiro contra o erário público. DILMA RESOLUTA VI DILMA RESOLUTA V Seria isso possível - participar de tudo, saber de tudo, orquestrar tudo? - quando ela ainda tem que governar o país, viajar para representá-lo em reuniões internacionais, conceder audiências e despachos a ministros, ler e estudar documentos? Não é crível que à presidente da República seja imputado todo um conjunto de responsabilidades com o sangradouro ético e moral que é a corrupção instalada no estado brasileiro-governo federal, estadual e municipal. DILMA RESOLUTA V II Seria bom para a op osição que ela fosse a grande culpada, m é.Dilma é vitima de as não um sistema do qual procurou excluir-se dia, quando demitiu um sete ministros por co rrupção (e mais um por corrupção), mas nã o teve que voltar atrás no mesmo passo, pr do pelo estado que nã emio favorecia exatamen te a “faxina”. 52 DILMA RESOLUTA VIII Nem assim, com essa impossibilidade ditada pela lei da física de estar presente em todos os danos cometidos contra o bem público, Dilma é absolvida. Tem instrumentos para, mesmo premida por forças de dentro, movidas, sobretudo do PT, ou externas, pelo Congresso Nacional dominado pelo PMDB chantageador protagonizar uma revolta interna de costumes e práticas pela qual possa ser enaltecida pela sociedade como um todo e não apenas pelos grotões do interior por gratidão ao Bolsa Família. OLUTA IX imeira mulher a se eleger à Presidência da Repúr -a DILMA RESria de ter sido a pr rrotada ao pleitea te a ser de Já tendo tido a gló r a primeira presiden se jar se de de aneceria. Daí ter há o nã blica, Dilma bém. Sua glória desv tam la Lu e os an 4 de FHC e Lula, e mais mo porque, diferente reeleição. FHC obtev es M o. rn tu o nd gu influência sobre ssar ao se jogado tudo para pa a derrota, de exercer um m co , ra tu fu a pectativ não tem nenhuma ex ica. lít po na ais ninguém m DILMA RESOLUTA X Os assessores mais próximos da presidente anotam uma mudança visível em se comportamentalismo durante a campanha eleitoral. Jamais será a mesma Dilma e antes. Aprendeu a ser mais solícita, a ouvir conselhos e a depender de terceiros, sem dar lições aos especialistas. Quem sabe, tenha aprendido finalmente a ser mais presidente e menos gerente. 53 EDITORIAL TUDO VALE A PENA, QUANDO A URNA NÃO É PEQUENA U ltrapassado o primeiro turno eleitoral o Brasil cumpriu mais um mandato cívico e fortaleceu sua democracia. Mais do que números espetaculares embandeirados pela candidata ao governo, ou números depreciados, alardeados pelos candidatos da oposição, temos agora o primado da cidadania. Comemoramos a cidadania. Demos um notável passo para estabelecer o que as ruas pediram - a mudança em movimento. O que fizemos no dia 5 último foi mudança, foi avanço, foi a sequência da ocupação das ruas. Não expulsamos “os fichas sujas” das urnas? Vitória. Não elegemos quem quisemos eleger pelo voto da maioria? Vitória. Não decidimos adiar para o segundo turno eleições que nos pareciam indefinidas? Vitória; Não fomos ás cabines eleitorais pacifica e convictamente? Vitória. Milhões não sabiam até o último momento em quem votar? Vitória. Outros milhões anularam seu voto, votaram em branco ou deixaram de votar, arrostando as consequências legais da abstenção? Vitória. Tudo é vitória quando a urna não é pequena. Somos 12O milhões de eleitores mobilizados para uma transformação pacífica e esperançosa dos costumes políticos. Valeu por uma revolução, porquanto evolução. Pusemos os candidatos presidenciais, governador, senador e proporcionais sob a mira dos nossos arbítrios. Pudemos escolher pesar e sobrepesar cada candidato, como nunca o fez, em eleições passadas. Não fomos tangidos. E não fomos tungados. A campanha eleitoral transcorreu absurdamente limpa. Até mesmo as formas mais usuais da corrupção eleitoral- como a derrama de dinheiro - desapareceram do mapa. Somos vitoriosos. Parabéns a nós, os eleitores. Eleger não é exaltar. Eleger é um ato sublime de distanciamento do benefício. Eleger é o sacrifício de uma cidadania construtiva 54 OPINIÃO OUTUBRO ROSA, COMPROMISSO COM A VIDA O movimento já conhecido entre nós, o Outubro Rosa, toma conta do país. O Outubro Rosa é um movimento mundial pela prevenção do câncer de mama. O evento cresce no Brasil a cada nova edição, desde 2008, tanto em termos de adesão de empresas, entidades, ONGs, instituições de saúde, órgãos públicos e privados, quanto como evento em si, com ações que acontecem em várias localidades brasileiras. Tem como foco a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama.. Todo câncer se caracteriza por um crescimento rápido e desordenado de células, que adquirem a capacidade de se multiplicar. Essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos (câncer), que podem espalhar-se para outras regiões do corpo Esse câncer afeta as mamas, que são glândulas formadas por lobos, que se dividem em estruturas menores chamadas lóbulos e ductos mamários. Existem Ellen Barbosa é diretora da POLIS.COM e da CARTA POLIS diferentes tipos de câncer de mama. Nem todos crescem da mesma forma. Por isso, é importante a realização da biópsia que permite uma análise patológica do tumor, a qual ajuda a identificar qual é o “estágio” ou “estadiamento” do câncer. O câncer de mama é uma doença grave, mas que pode ser curada. Quanto mais cedo ele for detectado, mais fácil será a sua cura. Apoiamos está causa, e que não seja somente nos outubros rosa mas em todo o decorrer do ano. Nós, editores desta revista, estamos engajados nas campanhas dos cuidadores da vida e dos curadores da saúde. 55 Agência de Comunicação Integrada Comunicação integrada e marketing, serviços a clientes dos âmbitos público e privado, com assessorias de imprensa, corporativa e de relacionamento institucional. Prepara seus clientes para o trato com a mídia. Marketing político para campanhas e ações institucionais. Consultoria de comunicação estratégica: • Assessoria de Imprensa • Auditoria de Imagem • Produção e editoração • Conteúdos para comunicação virtual 61 3201-1224 56