Março/Abril 2014 - Impulso Positivo

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Março/Abril 2014 - Impulso Positivo
Informação para maior impacto social
N.20
Março/Abril 2014
O projeto Impulso Positivo é apoiado por:
Opinião • Entrevistas • Casos & Testemunhos • Artigos Técnicos • Prémios & Incentivos • Agenda
02 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
ÍNDICE
04 EDITORIAL
26 EXPERIÊNCIAS
10 VIVA VOZ
NACIONAIS
Entrajuda, Lipor, Cais Recicla, Fruta Feia, Ritz
Four Seasons, Moinho, Amb3E, Skeleton Sea,
Programa Voices
NACIONAL
A alma é o segredo do negócio
Por Pedro Norton de Matos, Greenfest
FÓRUM
“Quais os principais desafios que se impõem
atualmente em Portugal no que respeita a
economia da partilha?
Por Maria do Carmo Marques Pinto, SCML; Fernando de Macedo
Chaves, BUS; e Eduardo Graça, CASES
INTERNACIONAIS
Global Sharing Day e Zero Waste Europe
38 PRÉMIOS
& INCENTIVOS
44 ARTIGOS TÉCNICOS
Consumo Inteligente: a melhor arma contra o
desperdício
Por Sara Campos, Quercus
Desperdício: O Setor Agro-Alimentar e o
Consumidor
(c) Jorge Sarmento
Por Isabel Braga da Cruz, PortugalFoods
14 CAPA
ENTREVISTAS
Benita Matofska
Anupam Mishra
22 NO CENTRO
António Costa Pereira, Movimento Zero Desperdício
Conferência “O Impacto Social da Reabilitação Urbana”
50 FOTOFILANTROPIA
EDITORIAL
Hoje separamos o lixo. Acreditamos que pelo menos algum do lixo que separamos será reciclado.
Uns, mais que outros, acreditam que estão assim a contribuir para diminuir o impacto no
ambiente. Hoje as empresas refletem e atuam sobre o desperdício que geram, procurando que
este diminua. Olham para o ciclo de vida do produto de uma forma mais abrangente, da origem
das matérias primas e componentes que o integram até ao seu fim de vida. Além do evidente
impacto económico na redução do desperdício, sabem hoje que a sociedade (que consome e
escolhe a quem compra) valoriza esse tipo de postura nas empresas. Entidades públicas, como
por exemplo as autarquias, investem na promoção da educação para a redução de desperdício ou
para a sua separação e tratamento.
De facto, cada vez mais pessoas e entidades estão despertas para os problemas do desperdício
material. Mas não é só este o tema que nos ocupou ao longo da produção dos conteúdos desta
edição. A par da preocupação com o desperdício material há cada vez mais a preocupação com o
desperdício de sinergias, de competências, de conhecimento, de tempo. Quantos estão no terreno
a fazer o mesmo, a cometer os mesmos erros, sem aprendizagem mútua, sem partilha, ...? Tanto
que poderia ser evitado, acelerado, melhorado.
Partilhar é uma forma simples e inteligente de evitar o desperdício. O nosso saudoso Diogo
Vasconcelos sabia bem o significado disto. Aquele que foi um dos mentores na Europa dos
nossos dias, no mundo dos nossos dias, da integração da inovação social na definição de inovação
adotada pelas União Europeia, não se cansava de dizer – “We are what we share.”
“Somos o que
partilhamos.”
Diogo Vasconcelos, 1968-2011
“Somos o que partilhamos.” Seremos tanto melhores, faremos tanto melhor quanto mais
partilharmos, de forma generosa. Vai fazer 3 anos que o Diogo nos deixou. O mundo não parou, o
país não parou. São vários os exemplos de iniciativas que apostam na inovação para a redução de
desperdício – seja este material ou imaterial. O Diogo quereria ainda mais.
Partilhemos.
Raquel Campos Franco
diretora
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O projeto impulso positivo é apoiado por:
Março / Abril 2014
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Edição Rita Ribeiro | [email protected] • Colaboradores Leonor Rodrigues | [email protected]
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342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições Periódicas e
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BREVES
Fundação Montepio apoio CASA
Com área de atuação em Setúbal e Azeitão, o projeto do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo
(CASA) apoia, atualmente, cerca de 400 pessoas. “Por acreditar na boa vontade e empenho
do grupo de voluntários que integram o projeto”, o CASA é apoiado, desde o primeiro
momento, pela Fundação Montepio, que assegurou apoio financeiro, bem como a atribuição
de uma viatura, entregue no âmbito do projeto “Frota Solidária”.
O CASA tem como missão auxiliar as famílias carenciadas que procuram o centro para
apoio alimentar, ajuda nas áreas social e judicial, saúde, ensino, bem como em outras áreas,
de acordo com a zona geográfica de atuação; além de encontrar parcerias com entidades
que disponibilizem desperdícios criados no âmbito do seu negócio, nomeadamente
pastelarias, restaurantes, churrasqueiras/takeaways e hipermercados. Todo o tipo
de material que o CASA recebe destina-se a famílias carenciadas e referenciadas,
tendo recuperado, no concelho de Setúbal, ao longo dos últimos cinco anos, um valor
considerável de desperdícios que de outra forma não seriam aproveitados. Com este
projeto as famílias mais necessitadas passaram a aceder, na maioria dos casos, a uma
refeição digna, permitindo o acesso a uma quantidade de alimentos que, de outra forma,
dificilmente obteriam. Para tal, muito contribuem os hipermercados das zonas de atuação,
que disponibilizam bens (alimentares e outros), possibilitando, desta forma, o acesso a
produtos para além dos de primeira necessidade.
Todo este processo tem permitido às entidades dadoras, do ponto de vista da gestão
eficiente de recursos, a otimização dos seus procedimentos internos de distribuição já que,
após verificação dos excedentes disponibilizados, implementaram alterações logísticas e
tornaram a gestão dos bens alimentares disponíveis para venda muito mais eficiente.
300.000 refeições para
quem mais precisa
Graças à campanha realizada no fim-desemana de 5 e 6 de abril, o programa de
responsabilidade social Missão Sorriso,
em parceria com a Cruz Vermelha
Portuguesa, conseguiu reunir produtos
que representam o equivalente a 300.000
06 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
refeições destinadas a muitas famílias em
situação de carência alimentar.
Este resultado foi possível graças ao
contributo de milhares de portugueses,
que responderam positivamente ao apelo
da Missão Sorriso e ofereceram produtos
como enlatados, leite, açúcar, sal grosso,
bolachas, leite em pó, papas lácteas para
bebé, safe solúvel, chá, barras energéticas,
cereais, arroz e massa, entre outros.
A ação de angariação aconteceu em
simultâneo nas cerca de 285 lojas do
grupo Sonae em todo o país, e contou com
o apoio de mais de 3.500 voluntários da
Cruz Vermelha Portuguesa, do Continente,
do Meu Super e de parceiros. Estes bens
angariados irão ser distribuídos por
famílias carenciadas identificadas pelas
cerca de 100 delegações da Cruz Vermelha
em Portugal, mediante as necessidades
mais urgentes em cada ponto.
Portugal contraria
tendência europeia
e reduz Ajuda ao
Desenvolvimento
Portugal tem vindo a diminuir os
montantes atribuídos a Ajuda Pública ao
Desenvolvimento, sendo mesmo o líder
entre o grupo de países do Comité de
Ajuda ao Desenvolvimento da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (CAD / OCDE) que mais
diminuíram estes apoios. O alerta foi
dado pela Plataforma Portuguesa das
Organizações Não Governamentais para o
Desenvolvimento (ONGD), que representa
a nível nacional e internacional um grupo
de 65 ONGD registadas no Ministério
dos Negócios Estrangeiros. De acordo
com os dados divulgados pela OCDE, a
Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD)
portuguesa registou uma quebra de 20,4
pontos percentuais em 2013, situandose nos 335,6 milhões de euros (0,23%
do Rendimento Nacional Bruto), ou seja,
menos 87 milhões que em 2012. Por estas
contas, só nos últimos dois anos o nosso
país reduziu em 144 milhões de euros
os fundos para a APD. Um facto “ainda
mais preocupante quando sabemos que
do montante contabilizado como APD só
um quarto é considerado como genuína,
ou seja, desligada de outros interesses,
que não os da prioridade da luta contra a
pobreza e a promoção do desenvolvimento”
alerta a ONGD.
BREVES
BUS leva 75 mil objetos a
famílias carenciadas em 8 anos
Escolinha do IPO
de Lisboa fica mais
tecnológica com o
apoio da Microsoft
A Microsoft Portugal decidiu assinalar o
Dia Mundial da Saúde e, nesse âmbito, doou
seis tablets Surface à Associação Acreditar
para equipar a Escolhinha do IPO de Lisboa.
Desenvolvida no âmbito do programa de
Responsabilidade Social Corporativa da
Microsoft Portugal, esta ação veio reforçar
o compromisso da empresa em “colocar a
tecnologia ao serviço de todos”.
Recorde-se que desde o início do
ano passado, a empresa tem vindo a
desenvolver um projeto para ajudar as
crianças e jovens internados a continuarem
ligados às escolas e a poderem prosseguir
os seus estudos, mantendo-se em contacto
com a comunidade escolar, ao mesmo
tempo que lhes proporcionam momentos
de lazer. Além da Acreditar, neste âmbito
foram já também doados 25 tablets Surface
à Associação dos Amigos do Hospital
de Santa Maria e de 8 tablets Surface à
pediatria do Hospital de Santa Cruz.de
Voluntariado no Ensino Secundário.
Allianz já doou 1
milhão de euros à
UNICEF em Portugal
A Allianz Portugal voltou a reforçar a sua
parceria com o Comité Português para a Unicef,
para que juntas possam combater a exclusão
escolar e social através do apoio às crianças
que têm dificuldades de acesso à educação.
No âmbito deste compromisso conjunto, e
desde 1990, a seguradora já doou cerca de um
milhão de euros aquela organização das Nações
Unidas. O donativo da seguradora resulta da
partilha de resultados do seguro de acidentes
pessoais para crianças Allianz Proteção
Infantil, do qual são retirados 70% do total de
vendas realizadas em cada ano.
A BUS – Bens de Utilidade Social foi criada por um grupo de pessoas que desejavam apoiar
famílias carenciadas e instituições de solidariedade social através de um projeto que se
revelasse capaz de responder a uma necessidade real: fornecer bens de utilidade doméstica
a famílias e instituições. Ao longo dos seus oito anos de existência, esta entidade fez chegar
mais de 75 mil objetos a famílias e instituições carenciadas e a BUS espera que, “com o
esforço continuado de todos, seja possível, por muitos anos, contribuir para o combate ao
desperdício e levar um pouco de bem-estar a quem mais precisa”.
A ação da BUS nasce da convicção de que os bens que para uns são desnecessários e
supérfluos podem ter grande utilidade para outros. Assumindo-se a missão de ligar
empresas e pessoas, que detêm bens de que não necessitam, a instituições ou famílias
que deles necessitam, o modo de funcionamento da BUS é “simples, objetivo e ecológico e
permite à associação constituir-se como agente que permite concretizar o desejo de dar,
realizando o sonho de quem recebe”.
O Montepio apoiou a realização de um filme institucional que permitiu dar a conhecer a BUS
e que, através do projeto “Minuto Solidário”, ajudou a promover a associação junto de outros
parceiros e da comunidade.
“Crescer Fazendo” integra profissionalmente
jovens em risco de exclusão
A União Meridianos e a Associação Portuguesa para os Direitos das Crianças (CrescerSer)
uniram-se para dinamizar uma inovadora rede de colaboração empresarial para a integração
de jovens em risco de exclusão. Designada “Crescer Fazendo”, esta iniciativa procura
“promover a plena inserção social, educativa e profissional” através da formação em
contexto real de trabalho. Pioneiro no nosso país, este projeto está a ser desenvolvido
desde junho do ano passado e surgiu da constatação de que “a maioria das empresas tem
dificuldade em integrar jovens em risco de exclusão”, nota Ana Nóbrega, responsável pelas
relações institucionais da União Meridianos.
Assim, o projeto “Crescer Fazendo” procura “facilitar a jovens em risco de exclusão social
uma oportunidade profissional, através de bolsas personalizadas, com uma duração mínima
de três meses, assentes na formação em contexto real de trabalho e que contam com o
acompanhamento de técnicos especialistas em matéria de reinserção social”, sublinha a
responsável. Com arranque para maio, quando serão divulgados os nomes das empresas
parceiras, o projeto irá atribuir 80 bolsas a jovens entre os 16 e os 24 anos oriundos de
contextos sociais desfavorecidos, com escolaridade obrigatória e com dificuldades de acesso
ao mercado de trabalho. março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 07
BREVES
Azeite Solidário ajuda
à confeção de
refeições em Beja A Cáritas Diocesana de Beja lançou a
campanha “Azeite Solidário, Uma Gota
de Esperança”, que visa angariar 3.000
litros de azeite para ajudar à confeção de
refeições durante um ano no refeitório
da instituição. Contando com o apoio de
algumas empresas produtoras de azeite da
região, a iniciativa tem como objetivo ajudar
as “pessoas e famílias em situação de
exclusão e vulnerabilidade” que recorrem à
cantina social da Cáritas em Beja, afirmou
a presidente da entidade, Teresa Chaves.
Caso a Cáritas consiga ultrapassar a meta
estabelecida, o excedente de azeite será
distribuído pelas famílias carenciadas que
a instituição apoia todos dos dias. Em 2013
a cantina da Cáritas de Beja serviu mais
de 60.000 refeições, das quais apenas 100
financiadas pela Segurança Social.
Voluntariado Empresarial
cresce em Viana do Castelo
O movimento de voluntariado empresarial continua a crescer em Viana do Castelo. Sob o lema
“Quem ama cuida”, a autarquia vienense tem em curso um projeto dedicado ao voluntariado
empresarial, no âmbito do qual acaba de assinar 111 protocolos com 39 empresas do concelho.
Lançado em 2012, este projeto pretende aproximar as competências das empresas locais e as
necessidades das instituições particulares de solidariedade social e associações do concelho,
através da prestação voluntária de serviços pelas primeiras. E, confirmando o sucesso da
iniciativa, o número de entidades parceiras não tem parado de crescer desde o seu lançamento.
No primeiro ano, foram 27 as empresas voluntárias, número que cresceu para as 39 em 2014.
Cada vez mais portugueses fazem doações com o IRS
Nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de portugueses que mostram o seu
lado solidário aquando da entrega da declaração de IRS, destinando 0,5% deste imposto a
instituições sociais, diz a AMI. Só no ano passado, o número de agregados familiares que
consignaram esta parcela do imposto para as instituições sociais cresceu 56% em relação
a 2012. Assim, só em 2013 um total de 364.000 agregados familiares doaram 9 milhões de
euros a entidades de cariz social via IRS. Pelas contas da AMI, se todos os contribuintes
optassem por fazer esta consignação, os valores doados poderiam atingir os 58 milhões de
euros. O número de instituições autorizadas a receber doações por esta via também não tem
parado de aumentar nos últimos anos, evoluindo das 986 registadas em 2012 para as 1.724
autorizadas no ano passado.
SCML ajuda jovens e séniores a criar novas
oportunidades profissionais
Sair da Casca adere à
rede Convergences
A Sair da Casca acaba de aderir à rede de
parceiros da Convergences, a primeira
plataforma de reflexão na Europa
dedicada ao estabelecimento de novas
sinergias entre atores públicos, privados
e solidários. Uma plataforma única na
União Europeia, a Convergences dedica-se
à inovação societal (ambiental e social)
e reúne centenas de peritos, empresas,
académicos e ONG em torno do princípio
de colaboração e co-criação. Fundada
em 1194, a Sair da Casca foi a primeira
empresa em Portugal (e uma das primeiras
também na Europa) na área de consultoria
em desenvolvimento sustentável e
responsabilidade social.
08 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) lançou o programa “UAW – United at Work” que
tem como objetivo ajudar os jovens até 30 anos e séniores (entre os 50 e os 64 anos) qualificados a
promover novos negócios sociais e a criar novas oportunidades profissionais.
Este projeto de empreendedorismo intergeracional é uma iniciativa do Banco de Inovação Social
(BIS) da SCML. O objetivo é encontrar 200 candidatos com perfil empreendedor e proporcionarlhes a oportunidade de criar novos projetos e empresas vocacionados para a área dos negócios
sociais, tendo sempre em vista o combate ao desemprego. Puderam candidatar-se jovens com
menos de 30 anos, com formação académica superior, e séniores com idades entre os 50 e os 64
anos, qualificados pela experiência profissional. Finda a fase de seleção, que terminou a 27 de
abril, serão criadas 12 equipas mistas que possam tirar partido das caraterísticas de ambos os
grupos etários, os quais serão constituídos por um mínimo de duas pessoas e um máximo de cinco
elementos. Os finalistas selecionados para participar no programa vão aceder a um "catálogo de
oportunidades para a inovação social" que contém 60 oportunidades de negócios sociais em áreas
em que a SCML e os seus parceiros possuem grande conhecimento e experiência: saúde, ação
social, cultura e património.
Legião da Boa Vontade
apoia 500 famílias em
mês de Páscoa
Em Abril, o programa “Um Passo em
Frente” reforçou o seu apoio às famílias
que recorrem à ajuda da Legião da Boa
Vontade (LBV). Assim, nesta Páscoa mais
de 12 toneladas de alimentos, entre frutas,
legumes e não perecíveis, chegaram a cerca
de 500 agregados familiares em situação de
vulnerabilidade económica em todo o país.
Em comunicado, a LBV salientou a
“indispensável participação de benfeitores,
colaboradores e voluntários do Centro
Social da Legião da Boa Vontade” para a
realização desta ação. Além de minimizar as
carências alimentares daquelas famílias, a
LBV irá também lhes proporcionou o acesso
a palestras educativas na área da saúde,
educação, alimentação e gestão com vista
a promover a qualidade de vida das pessoas
atendidas pela instituição.
VIVA VOZ
Pepsi e Cristiano Ronaldo
lançam copos solidários
para a Casa dos
Rapazes
Parques Naturais
portugueses já
receberam 32.000
árvores “solidárias”
No âmbito do projeto de reflorestação que
a Água Serra da Estrela está a desenvolver
em parceria com a IKEA – integrado nas
suas estratégias de sustentabilidade e
cidadania - foram já plantadas cerca de
32.000 novas árvores no Parque Natural
da Serra de Sintra e no Parque Natural da
Serra da Estrela, concluindo assim a etapa
de 2014.
A plantação, assegurada pelo Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas,
I.P. (ICNF), decorreu em várias áreas do
Parque Natural da Serra da Estrela, tais
como Cortes do Meio, Vale de Amoreira,
Videmonte, Folgosinho, entre outras,
promovendo a reflorestação nas áreas
ambientais mais atingidas pelos incêndios
dos últimos anos. As árvores ali plantadas
correspondem a espécies selecionadas
pelo Parque, como o carvalho-negral,
azinheira, medronheiro, cerejeira, pinheironegro e o pinheiro-silvestre, assegurando
assim que será mantida a vegetação
característica da região. A parceria entre
Água Serra da Estrela e a IKEA nasceu em
2011, tendo arrancado com a plantação
simbólica de 200 árvores no Parque
Natural Sintra-Cascais, por centenas de
colaboradores de ambas as empresas. A
iniciativa consiste na plantação de uma
nova árvore por cada 30 garrafas de água
vendidas nas lojas IKEA em Portugal.
Em 2013, o número de árvores plantadas
correspondeu aos anos de 2011 e 2012.
Após terem completado o financiamento do
projeto de construção das novas instalações da
Casa dos Rapazes, a Pepsi e o Cristiano Ronaldo
lançam agora uma coleção de copos solidários
que visam dar a conhecer a Casa dos Rapazes.
Cada copo inclui um QR Code que remete
para uma aplicação daquela instituição, na
qual se poderá obter mais informações sobre
o seu trabalho, bem como fazer donativos à
instituição para ajudar a equipar o novo lar
da Casa dos Rapazes. Os copos solidários
já estão disponíveis para venda em diversos
pontos em todo o país. A Casa dos Rapazes
é uma instituição que acolhe, cuida e educa
rapazes com idades entre os 6 e os 18 anos
cujas famílias não tinham condições para os
ter consigo devido a situações de maus-tratos,
abusos, negligência ou abandono.
18,7% da população
portuguesa “em risco
de pobreza”
A pobreza tem vindo a aumentar em
Portugal e, no final de 2012 a taxa de
risco de pobreza aumentou para os 18,7%,
afetando quase dois milhões de portugueses
de acordo com os dados provisórios sobre o
rendimento e condições de vida revelados
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
De acordo com aquele organismo, trata-se
do valor mais alto atingido por este indicador
desde 2005, quando o risco de pobreza
atingia os 19% da população portuguesa.
Os mais afetados por esta condição são os
menores de 18 anos, as famílias com filhos a
seu cargo e os desempregados.
Associação de Mulheres
contra a violência
avança com projeto
inédito em Portugal
A Associação de Mulheres contra a Violência
(AMCV) vai avançar com um novo projeto
contra a violência sexual que integra, entre
outras iniciativas, a criação do primeiro
gabinete de apoio às vítimas de violação em
Portugal. Financiado pelo Programa Cidadania
Ativa do Mecanismo Financeiro do Espaço
Económico Europeu (EEA Grants), gerido pela
Fundação Calouste Gulbenkian, este é um
projeto há muito desejado pela associação,
que trabalha há vinte anos na área da violência
doméstica e da violência sexual. A decorrer
até fevereiro de 2016, o projeto da AMCV
engloba a criação de uma rede articulada e
integrada, a funcionar na região de Lisboa, a
criação de um gabinete especializado para
vítimas de violência sexual, a criação de um
grupo de autoajuda e a construção de um
'booklet', com informação acessível.
Milhas viajadas revertem
para solidariedade
Só nos últimos dois anos, os viajantes
membros do Programa Victoria da TAP
já doaram mais de 20 milhões de milhas,
contribuindo desta forma para instituições e
projetos de intervenção e inclusão social.
Através desta opção do Programa Victoria, a
TAP promove a solidariedade junto dos seus
clientes junto de um conjunto de instituições
e projetos selecionados todos os anos pelos
“Voluntários com Asas”, o movimento de
voluntariado empresarial da companhia
aérea portuguesa.
As instituições beneficiárias das Milhas
Solidária em 2014 também já foram
escolhidas. São elas: a Operação Nariz
Vermelho, Um Pequeno Gesto, Grupo
Dançando com a Diferença e AIDGlobal,
que apoiam crianças, jovens e pessoas com
deficiência em Portugal e em Moçambique.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 09
VIVA VOZ
Viva Voz nacional
A alma é o segredo
do negócio
Por Pedro Norton de Matos
Mentor e coorganizador do Greenfest
A
economia
da
partilha/economia
colaborativa,
é
indiscutivelmente uma tendência deste século. É o novo futuro.
É uma nova forma de participação cívica em que cada cidadão
tem um papel transformador. Trata-se fundamentalmente de
rentabilizar e utilizar de forma eficiente os diferentes recursos
que, por definição, são escassos. A partilha surge, por isso,
como lógica económica e racional. Enquanto conceito, tem um
alcance tão longo quanto a nossa imaginação e criatividade
para aplicá-lo em todos os setores da nossa vida.
Partilhamos o nosso tempo, os nossos conhecimentos, as
nossas ambições e causas. Partilhamos os próprios bens, as
nossas capacidades e o talento. Este regresso às raízes impõese nesta sociedade onde não são as pessoas que possuem as
coisas mas sim as coisas que possuem as pessoas. Há alguma
dúvida de que os hábitos e formas de consumo estão a ser
alterados? Partilhar é a palavra de ordem!
Vivemos uma época de consumo exacerbado e muitos artigos têm
assumidamente uma vida útil reduzida. Por que não dar-lhes
uma “nova” utilidade? O que nos impede verdadeiramente de
alargar a serventia desses artigos, partilhando-os? As respostas
são simples: É preciso apenas a vontade de querer mudar, de fazer
diferente, de contribuir para que se passe da palavra à ação.
Sem querer alongar-me em conceitos económicos, que podem
desviar a atenção daquilo que é fundamental num tema como
este, a verdade é que na economia da partilha as leis da procura
e da oferta perdem a rigidez de outros tempos. No interesse
das partes, prevalece o “ter acesso” ao que o outro oferece. Na
troca comercial, a palavra “troca” acaba por ganhar um novo
sentido. Pressupõe uma relação de confiança que a economia
tradicional tem tratado de fragilizar. Mais uma vez, a partilha
é a palavra de ordem!
10 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Pedro Norton de Matos
VIVA VOZ
Partilhar pelo exemplo
Um grande exemplo de partilha é precisamente o que todos os
anos, desde 2008 a esta parte, acontece no Greenfest, o maior
festival de sustentabilidade do país, do qual tenho a enorme
honra em ser mentor. Na edição do ano passado, o evento
não só deu palco à sustentabilidade no seu sentido lato mas
revelou-se essencialmente como um espaço de divulgação e de
partilha de melhores práticas a nível nacional e internacional
deste movimento emergente. Os conceitos de partilha e
de colaboração estiveram transversalmente presentes nos
diferentes espaços e ambientes do festival e irão continuar a
estar também na edição de 2014.
A conferência de abertura do Greenfest em 2013 contou com
alguns grandes nomes nesta matéria. A presença da Benita
Matofska, repórter premiada da BBC e fundadora da organização
“People who Share” trouxe-nos uma visão diferente da partilha,
cultivada em mais de 20 anos dedicados ao empreendedorismo
social. No caso de Rodrigo Baggio, presidente e fundador do
Comité para a Democratização da Informática – CDI, pudemos
testemunhar que a inovação e inclusão social podem “marcar
pontos” com a utilização das tecnologias de informação e
comunicação, em comunidades carenciadas. No plano nacional,
Maria do Carmo Marques Pinto, diretora do Banco de Inovação
Social e a presidente do GRACE, Paula Guimarães; partilharam
também com um auditório completamente cheio o trabalho
desenvolvido nas últimas décadas e que tem na base os conceitos
de colaboração e partilha. A presença destes e de outros oradores
tornou, a meu ver, mais clara esta mensagem de que é possível
fazer mais e melhor pelo planeta e pelas pessoas.
Sou, acima de tudo, um grande defensor de um modelo de
desenvolvimento sustentável. Acredito que através da cidadania
ativa todos podemos ser protagonistas e desempenhar um papel
transformador numa sociedade mais justa.
Soluções procuram-se… E encontram-se!
“Partilhamos o nosso tempo,
os nossos conhecimentos, as
nossas ambições e causas.
Partilhamos os próprios
bens, as nossas capacidades
e o talento. Este regresso
às raízes impõe-se nesta
sociedade onde não são as
pessoas que possuem as
coisas mas sim as coisas que
possuem as pessoas.”
Vislumbro sempre o lado positivo em qualquer que seja a mudança,
no entanto sei que existe um longo caminho a percorrer para que
a tal sociedade mais justa possa, de facto, ser real. O que me leva a
outro tema, sobre o qual não posso deixar de refletir: o desperdício.
Todos, sem exceção, temos um papel a desempenhar. Em nossas
casas, no nosso local de trabalho, na nossa rua ou cidade. Como é
possível que se continue a deitar para o lixo toneladas de produtos
frescos ou cozinhados, quando existe um número enorme de
famílias que passa fome? Como é possível que se desperdice água
sem pensar que em muitos países percorrem-se quilómetros para
conseguir ter acesso a um ou dois litros? O desperdício estende-se
a tantos setores da sociedade que é inevitável que se criem soluções
que ponham termo a este flagelo. É um dos grandes desafios para
as comunidades mas as soluções podem ser criadas e replicadas
um pouco por toda a parte. Haja vontade e criatividade.
Apostar nas sinergias entre serviços organizados e logística
apropriada, pode ser o caminho para minorar este profundo
desequilíbrio. Felizmente existem vários exemplos de mobilização
a este nível. No ramo alimentar, por exemplo, o movimento “Zero
Desperdício” ou o projeto “Refood” (ambos parceiros do Greenfest)
são a prova viva de que é possível articular vontades, encontrar
enquadramento legal e resolver problemas.
A alma é o segredo do negócio. E quando todos entendermos
o significado desta expressão estaremos a contribuir para um
mundo melhor na sua essência.
Pedro Norton de Matos é...
... mentor e coorganizador do Greenfest, o maior evento
de sustentabilidade de Portugal, e conta com uma vasta
experiência nas áreas de gestão, telecomunicações e tecnologias
de informação. É o organizador do Fórum Expresso XXI, sócio
fundador do Verde Movimento e membro da comissão de
remunerações da Brisa. É ainda membro do Advisory board da
Fábrica de Startups, administrador/fundador da Associação
para Inserção por Centros Digitais de Informação, uma ONG de
promoção da inclusão social através da literacia digital. Pedro
Norton de Matos desempenha funções na qualidade de consultor
estratégico nas áreas de mudança transformacional e coaching
e é vogal de direção da European Professional Women's Network
(EPWN) Em termos profissionais, Pedro Norton de Matos passou
pela Rank Xerox e pela tecnológica Unisys, onde desempenhou
funções na área comercial e, posteriormente o cargo de CEO na
Unisys Portugal, Espanha e Itália. Ocupou o cargo de Presidente
na operadora ONI, foi também administrador não-executivo da
Inapa e sócio fundador da MyChange, Gingko e da INCIRCLE,
além de membro do Advisory Board da Oracle Ibérica.
É licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE).
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 11
VIVA VOZ
FÓRUM
A ECONOMIA DE PARTILHA EM PORTUGAL
Numa edição em que abordamos o desperdício nas suas múltiplas facetas e exemplos de como o evitar, o Impulso
Positivo quis saber junto de diversas entidades de referência quais os principais desafios que se impõem atualmente
em Portugal no que respeita a economia da partilha ou colaborativa. Conheça a s respostas.
Eduardo Graça
Presidente da direção da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES)
Propõem-me que escreva acerca da economia da partilha. Nas sociedades contemporâneas, e não somos
exceção, fervilham iniciativas, projetos e discursos acerca da necessidade, e urgência, de praticar a
partilha. Como aproveitar melhor os recursos, e combater os desperdícios, nas sociedades de consumo.
O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica – Evangelli Gaudian -, de novembro de 2013, identifica
a raiz do problema a que a economia da partilha pretende dar resposta: “ Os mecanismos da economia
atual promovem uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado
à desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social”. A densificação da consciência, e
percepção política, dos perigos do crescimento das desigualdades sociais, e consequente pobreza,
potenciais geradoras de violência, tem vindo a colocar na agenda a economia social, em todas as suas
dimensões, na qual enquadro a economia da partilha, ou seja, conceitos, e respetivas práticas, que
incorporam dois lemas estruturantes das sociedades do futuro: cooperação e solidariedade.
Não creio nem na inevitabilidade da pobreza, nem na perdurabilidade da riqueza. Todos os mundos se
cruzam, ora acentuando os fatores de exclusão, extremando-se os campos nos quais se acantonam os seus
arautos, ora aproximando-os quando pela ação da natureza, ou do homem, se encontram pobres e ricos
fazendo frente aos dramas da condição humana. Só somos verdadeiramente autênticos quando formos
capazes de refletir, coletivamente, acerca dos novos caminhos, das novas oportunidades, que em cada época se abrem diante dos nossos
olhos. Estaremos então melhor preparados, por entre diferenças e desigualdades, para descobrir as virtualidades de alguns conceitos que
asseguram a esperança do sucesso da luta contra as injustiças que se escondem por detrás da pobreza. Não que acreditemos num mundo sem
diferenças, e na igualdade como ideal que conduz à felicidade, pois a experiência histórica se encarregou de nos desiludir acerca da bondade
absoluta desse caminho. Mas porque acreditamos que é possível lutar, com realismo, pela igualdade de oportunidades, ética na gestão das
instituições, em liberdade e com responsabilidade. Sabemos, por experiência própria e alheia, nacional e internacional, que a economia
social, e as suas organizações representativas, dispõem de um enorme potencial para contribuir, apoiadas nos seus princípios, tradição e
enraizamento na sociedade, para o desenvolvimento da economia, criando emprego e promovendo a coesão e a responsabilidade sociais. A
economia social, designação consagrada pela UE, é um sector aberto no qual se discute o próprio conceito, sendo denominado, conforme as
escolas de pensamento, os continentes, regiões e países como “economia social”, “economia solidária” ou “terceiro sector”, mantendo, no
entanto, em comum um conjunto de princípios distintivos:
- Primado da pessoa e do objeto social sobre o capital;
- Adesão voluntária e livre;
- Controlo democrático pelos seus membros;
- Defesa dos princípios de solidariedade e responsabilidade;
- Autonomia de gestão e independência face aos interesses públicos;
- Afetação dos excedentes a objetivos como o desenvolvimento sustentável, melhoria dos serviços prestados aos próprios
membros e ao interesse geral.
É no âmbito mais vasto da economia social, suas organizações e princípios, sem desdouro pelas empresas privadas que praticam, de verdade, a
responsabilidade social, e cujos modelos de gestão assentam numa filosofia que valoriza a realização pessoal, a promoção do desenvolvimento,
a coesão e o bem-estar social, que valorizo a economia da partilha. Como alguém um dia disse num dos fóruns de debate acerca do tema: “ A
economia social é uma economia da partilha ”. Na verdade, por questões de origem, de conceptualização e de praxis, as organizações da economia
social, em qualquer momento, circunstância e lugar, estão em condições de se assumirem como atores ou participante ativos em projetos e
iniciativas de economia da partilha que se projetem em benefício das comunidades e dos cidadãos. Pela parte que nos toca pretendemos tãosomente reafirmar a convicção que a nossa época, portadora de uma crise profunda do sistema económico e financeiro, tendo revelado, de forma
brutal, uma crise de consciência e de valores, é também uma época de novas esperanças, e oportunidades. E por isso estamos dando testemunho.
12 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
VIVA VOZ
Fernando de Macedo Chaves
Presidente da Direção da Associação BUS – Bens de Utilidade Social
Quando nos debruçamos sobre o extraordinário desenvolvimento que a economia
social tem tido no nosso país nas últimas décadas, não podemos deixar de
realizar os problemas que tiveram de ser resolvidos e as dificuldades que foram
corajosamente ultrapassadas.
De toda essa grande e diversificada experiência podemos e devemos extrair alguns
ensinamentos, sem pretensões de exaustivos, que podem ajudar a compreender e
vencer parte dos desafios impostos a quem pretender começar agora ou continuar a
desenvolver atividades neste já tão importante ramo da economia.
A escolha inicial da atividade deve ser criteriosa e sensata de modo a assegurar
a sua necessidade e utilidade e o melhor aproveitamento possível dos meios
humanos e materiais disponíveis. Será sempre útil uma boa análise de outras
atividades semelhantes já existentes com a preocupação de eventuais movimentos
associativistas; é que na economia de partilha não existe concorrência e há que
optimizar todos os esforços juntando-os sempre que possível.
Criar desde logo um sólido ambiente de confiança, incluindo a ideia de continuidade, junto de apoiantes e destinatários, parece
ser um dos factores importantes para o sucesso de qualquer iniciativa, especialmente se ela depender da comunidade de Mecenas
que é cada vez mais solicitada e está, por isso e não só, cada vez mais seletiva e exaurida.
Será altamente recomendável implementar uma boa e bem estruturada política de “fund raising”, para o que existem já
competentes e eficazes assessores profissionais, de modo a garantir a sustentabilidade de qualquer projeto.
Finalmente, após a cuidadosa adopção de saudáveis e corretos princípios de gestão, resistir, resistir sempre aos mesquinhos
e infundados ataques e criticas que sempre serão desencadeados, vindos até do mais ordinário aproveitamento político
e ideológico que se tem vindo a verificar contra Instituições altamente meritórias no socorro e solidariedade social, tão
necessárias e tantas vezes inexistentes.
Vale sempre a pena quando a alma não é pequena!...
Maria do Carmo Marques Pinto
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Diretora do Empreendedorismo e Economia Social e Presidente do Conselho Operacional do BIS
O principal desafio da economia da partilha em Portugal é saber levar até às últimas consequências, na
sociedade portuguesa, a realidade da partilha e da colaboração. Dito por outras palavras, o verdadeiro volt
face na economia portuguesa no sentido de um novo modelo de desenvolvimento económico, residirá
na capacidade dos seus agentes – institucionais, económicos, sociais, culturais e civis – de encontrarem
fórmulas, mecanismos e plataformas de colaboração e partilha dos recursos e ativos que cada um possui
para os investirem em respostas inovadoras para as necessidades da sociedade. Hoje, a economia da
partilha e da colaboração ainda é vista – e praticada – como uma “saída” da sociedade para a redução
drástica das disponibilidades financeiras das pessoas, das famílias e das organizações como consequência
da grave crise económica que assolou, em especial, os países europeus. Embora seja uma forma de resposta
a curto-prazo, que resolve parte do problema ou necessidade derivada da escassez de recursos disponíveis,
a partilha e colaboração podem configurar o novo paradigma de um modelo económico e social mais eficaz
e sustentável. O BIS-Banco de Inovação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa assenta nesse novo modelo de partilha de ativos e colaboração
entre Instituições, empresas e entidades da Economia Social e Cidadania, agregando-os numa Plataforma institucional organizada em torno de uma
missão e orientada para o desenvolvimento de programas que têm como objetivo investir esses recursos – ativos – na resolução de necessidades,
problemas e desafios societais. Desde o apoio ao empreendedorismo social e à criação de empresas sociais inovadoras e sustentáveis, à introdução
de novos mecanismos financeiros que investem em soluções inovadoras para as necessidades sociais, passando pelo reconhecimento e valorização
da participação cívica até aos programas educativos que introduzem uma cultura de inovação social entre os mais novos, o BIS pratica, promove e
desenvolve uma partilha sistemática e focalizada dos recursos e ativos que as 27 Instituições que dele formam parte e as 14 que se lhe associaram no
Porto colocaram em conjunto nesta Plataforma informal e colaborativa que é o Banco de Inovação Social.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 13
CAPA
Benita Matofska
14 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
CAPA
“O problema no Mundo
é a escassez de partilha”
Uma manhã, Benita Matofska acordou e pensou: “É isso! O problema no mundo é que existe uma
escassez de partilha!”. Mas pensou também que é possível dar resposta a esta escassez. Uma das
maiores dinamizadoras da economia da partilha no Reino Unido e uma ativista acérrima, em todas as
dimensões da sua vida, de partilhar, Benita é fundadora da organização “The People Who Share” e foi a
mentora do Global Sharing Day, que em 2013 chegou a 70 milhões de pessoas em 192 países de todo
o mundo. A Impulso Positivo entrevistou esta empreendedora social quando esteve em Lisboa, por
ocasião do último Greenfest.
Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues e Rita Ribeiro | Fotos: Greenfest
Impulso Positivo (IP): Como e quando teve a ideia de fundar a
organização “The People Who Share”?
Benita Matofska (BM): A ideia é de 2010. Estava a trabalhar na
“Global Entrepreneurship Week” e estava muito interessada
na área do empreendedorismo social e na forma como este
permite alcançar o bem no mundo, e construir negócios em
em torno das pessoas e do planeta. Devido ao meu cargo (Head
of Global Enterpreneurship na Entreprise UK), era convidada
para todo o tipo de eventos extraordinários e para entregar os
mais diversos prémios. Provavelmente, a maior honra que tive
durante esse tempo foi ter sido convidada como Counsellor para
o Congresso One Young World, um evento que pretende dar uma
voz política aos jovens. Todos os participantes da conferência
tinha menos de 25 anos, com representação da maior parte dos
países do mundo. E eu disse: é uma grande honra. E perguntei:
Quem mais convidaram para Counsellor? E a resposta foi Bob
Geldof e Desmond Tutu. Foi provavelmente a experiência mais
avassaladora e, ao mesmo tempo humilde, da minha vida.
IP: E depois?
BM: Fui e partilhei uma plataforma com Bob Geldof e Desmond
Tutu e foi uma experiência extraordinária. E, nesse momento,
ao ouvir estas duas personalidades falar das questões mundiais
complexas e do trabalho incrível que ambos têm feito em
questões de pobreza e igualdade, prometi que a próxima
coisa que faria seria lançar algum tipo de movimento que de
alguma forma pudesse também resolver problemas globais
mais complexos. Queria dedicar a minha vida a fazer do
mundo um lugar melhor. Depois de alguns meses a pensar
nisso, a palavra partilha (“sharing”) estava sempre a surgirme. Acordava a meio da noite com essa palavra em mente. E na
manhã, continuava lá. Tudo o que fazia, onde quer que fosse
e o que quer que pensasse que ia fazer a seguir, só conseguia
pensar que tinha que ver com partilha. E uma manhã acordei e
pensei: é isso! O problema no mundo é que existe uma escassez
de partilha! E quando cheguei a essa conclusão foi muito
enriquecedor, porque podemos fazer alguma coisa sobre isto,
para dar resposta a esta escassez. Comecei a pensar coisas como:
se partilhássemos responsabilidade, não teríamos a destruição
planetária que temos; se partilhássemos na nossa comunidade
competências e tempo com outras pessoas, conheceríamos os
nossos vizinhos e estaríamos a construir comunidades mais
fortes e mais unidas. Se partilhássemos recursos de forma
equilibrada, estaríamos a “atacar” estas situações reais de
termos uma população em crescimento num planeta com
recursos finitos. Então, todas a vezes, partilhar é a solução,
e essa ideia estava sempre comigo. Mas, fundamentalmente,
o que é preciso acontecer é uma mudança de cultura e o que
era necessário era uma organização. Então cheguei à conclusão
de que não existia uma organização para fazer campanha para
a construção de uma economia de partilha. Foi assim que
aconteceu. A “The People Who Share” nasceu oficialmente em
janeiro de 2011. Muito rapidamente conseguimos ter muitos
voluntários e começámos a organizar eventos muito locais, em
CAPA
que juntávamos as pessoas para esta experiência de partilha.
As mudanças culturais acontecem porque as pessoas têm uma
experiência positiva e isso leva-as a querer repetir. E por isso,
de forma muito suave e local, começámos com esta partilha
entre pessoas e cada vez que tínhamos um destes eventos,
tínhamos mais pessoas a comparecer. E isso foi realmente o
início de todo o movimento.
IP: E a sua vida, também mudou?
BM: A minha vida mudou por completo. Outro momento
determinante para foi quando decidi que queria lançar o
National Sharing Day (Dia Nacional da Partilha). Senti, depois
de ter a experiência de gerir a Global Entrepreneurship Week,
que os benefícios de ter uma campanha de grande impacto
público são muito importantes, pois podíamos inspirar as
pessoas, de forma muito alargada. Podíamos ter uma semana
ou um dia inteiro para celebrar a partilha e fazer com que as
pessoas se envolvessem na campanha num dia específico,
então pensei: vamos fazer algo chamado o National Sharing
Day. E muitos me disseram: Estás louca? Fazer uma campanha
nacional, sem dinheiro, com recursos muito limitados – na
altura, apenas uma ou duas pessoas estavam a trabalhar
comigo. Mas que tínhamos a perder? O que seria o pior que
poderia acontecer? Apenas algumas pessoas partilharem?
Isso é assim tão terrível? Não tínhamos mesmo nada a perder.
Então, organizámos alguns eventos e construímos uma rede
com 45 organizações, que realizou atividades em todo o Reino
Unido. O que aconteceu foi que no dia, à hora de almoço,
estávamos no Twitter de forma global e as pessoas estavam a
a “twitar-nos” das Filipinas, da Ucrânia, de todos os cantos
do mundo, a dizer que gostariam de ter um Dia Nacional de
Partilha. Utilizámos o hash tag “NationalSharingDay”, para
que as pessoas vissem imediatamente o que era e não ser um
código esquisito, que as pessoas teriam que decifrar. Então,
pensámos, vamos ser globais. Assim, em 2012, fizemos o
primeiro Global Sharing Day. Construímos uma rede de
parcerias globais com 165 parceiros, que alcançaram mais de
60 milhões de pessoas e 147 países e tivemos atividades em
todo o mundo. Em 2013 fizemos o segundo Global Sharing Day,
já envolvendo mais de 200 organizações parceiras e chegámos
a mais de 70 milhões de pessoas em 192 países. E continuamos
a ser uma organização sem fins lucrativos, uma empresa social
e fundamentalmente gerida por voluntários. Em 2013, tivemos
alguns patrocinadores corporativos. Enfim, estes foram alguns
momentos chave.
IP: Que tipo de eventos podem fazer parte do Global Sharing Day?
BM: Por exemplo, no último Global Sharing Day, lançamos o
desafio de partilha de comida. Inspirámos as pessoas em todo o
mundo a partilhar comida nas suas comunidades e 4,7 milhões
de pessoas aceitaram esse desafio. E isso pode ser desde um
mega-almoço a um piquenique pequeno. A ideia poderia ser
fazer um almoço em comunidade, de forma muito simples,
juntar as pessoas, colocar mesas nas ruas. Fiz um na minha
rua em Brighton. Descobrimos que temos pessoas a morar
na rua há 42 anos, que nunca se tinham reunido com outros
vizinhos. A pessoa mais nova tinha sete dias e a mais velha 92
anos. E isso prova que a partilha é intergeracional e pode ser
alcançada através de uma ação muito simples, como juntar as
pessoas num almoço.
16 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
"Ter uma campanha que
pretende aumentar a
sensibilização e educação da
população para a necessidade
da economia da partilha
é muito importante. Mas
tão importante é ter as
ferramentas que tornam
essa partilha fácil...A questão
é, se não tivermos essas
ferramentas práticas, as
pessoas vão dizer sim à ideia,
mas não necessariamente
colocá-la em prática".
IP: Explicou antes alguns momentos chave que levaram a fundar
a “The People Who Share”. Há outros marcos importantes?
BM: Ter uma campanha que pretende aumentar a sensibilização
e educação da população para a necessidade da economia
da partilha é muito importante. Mas tão importante é ter as
ferramentas que tornam essa partilha fácil e percebermos isso
foi outro momento chave. A questão é, se não tivermos essas
ferramentas práticas, as pessoas vão dizer sim à ideia, mas
não necessariamente colocá-la em prática. E assim nasceu
o “Compare and Share”. É uma empresa de tecnologia, um
negócio social. O que fazemos é construir as ferramentas e
a tecnologia para que pessoas e empresas possam partilhar
ativos e recursos de forma fácil. Para o consumidor,
construímos o compareandshare.com, que é um local online
único de comparação de mercado. A visão é colocar todas as
empresas com política/negócios de partilha num mesmo local,
abrindo para o consumidor o mercado da economia da partilha
da mesma forma que o Ebay abriu o mercado de bens segunda
mão. Neste momento, temos todas as entidades de partilha de
carro no Reino Unido na plataforma, agora estamos a construir
a seção para imóveis de alojamento e vamos construir outras
categorias, até termos um mercado de comparação online
completo da economia de partilha. Outra coisa que fazemos
no “Compare and Share” é que construímos tecnologia e
licenciamos tecnologia que permita às empresas partilhar
ativos. Neste momento, por exemplo, temos um contrato
com um grande IPSS do Reino Unido para ligar voluntários
que querem partilhar tempo e fazer tarefas para pessoas
carenciadas. Há muitas maneiras da tecnologia ser utilizada
nesta área. Mas em última análise, os que estão empenhados
na sustentabilidade, têm também que fazer um compromisso
com a partilha de recursos.
CAPA
Benita Matofska integrou a conferência de abertura do Greenfest sobre “Economia da Partilha: Oportunidades e Desafios”
IP: Quando começou a Economia da Partilha no Reino Unido,
como é que foi? Em Portugal ainda não temos esse “hábito”...
BM: Em 2011, quando falava da economia de partilha, as
pessoas pensavam que estava falar uma língua estrangeira.
Não faziam ideia do que é que eu estava a falar. Lembro-me
de quando utilizamos o hash tag no “SharingEconomy” no
Twitter – fomos os primeiros a fazê-lo. Havia um pequeno
nicho de pessoas que percebiam do que se tratava, de que havia
um movimento de consumo colaborativo. Havia interesse,
mas num setor de nicho. Mas a economia de partilha explodiu
nos últimos dois anos e, em especial no último ano, vimos
muita atividade nesta área. Uma das tendências e fatores que
estão a causar é a tecnologia. A tecnologia permitiu facilitar a
partilha de bens e por outro lado temos também a proliferação
das redes sociais, em que é normal partilhar o que acontece
na nossa vida. Inevitavelmente, essa tendência é um motor
enorme para que as pessoas acedam às coisas que precisam em
tempo real e quando estão em movimento. E isso é importante
para as pessoas. Toda a ideia de acesso on demand para um
consumo inteligente é baseada na partilha de recursos, e é
o caminho para onde estamos a seguir. E não há volta para
trás. A economia da partilha está aqui para ficar e explodiu
enormemente nos últimos dois anos. E é fabuloso como está a
caminhar para um lugar de primeira linha.
IP: Mas quem pode adotar esta postura/políticas? As pessoas,
as empresas, ONG’s?
BM: Fundamentalmente, a economia da partilha aplicase a todos os segmentos. É para indivíduos, comunidades,
empresas, ONG, IPSS, empresas públicas: é multissectorial.
O que estamos a falar, fundamentalmente, é fazer o mundo
funcionar melhor. Não ter uma situação em que temos
recursos desperdiçados e um mundo destruído. Falamos de
um sistema, de uma economia em círculo fechado em que não
existe desperdício. Tudo é regenerado para um propósito. É
disso que se trata na economia de partilha – mas é também
sobre uma sociedade saudável e feliz. De ligar as pessoas,
de sabermos quem são os nossos vizinhos, onde estão, os
seus nomes e estarmos ligadas a elas. As pessoas começam a
ligar-se e a reconhecer-se como seres humanos, construímos
comunidades sustentáveis. É assim que juntamos as pessoas,
através de ações de partilha.
IP: Pode dar-nos um exemplo de uma entidade do setor privado
que pratica a economia de partilha com sucesso?
BM: Existem muitos exemplos de empresas a fazê-lo. No Reino
Unido, o retalhista Marks & Spencer, que tem uma iniciativa
chamada “shwopping”, e que permite às pessoas devolver
roupa à loja para reciclar, que seria deitada fora. No ano
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 17
Benita Matofska e Pedro Norton de Matos durante o Greenfest 2013.
passado, reciclaram mais de 2 milhões de peças de roupa. E
essa roupa foi toda doada à Oxfam. Outro exemplo é a B&Q
(marca parte da King Fisher) que tem uma iniciativa chamada
Street Club, que permite às pessoas também partilhar roupas
nas suas ruas. O Marriott Hotel Group fez uma parceria com
uma empresa chamada LiquidSpace, em que os espaços
não utlizados no hotel são arrendados a empreendedores. É
extraordinário. As empresas estão a começar a reconhecer
que, em última análise, a economia da partilha está a mudar
o futuro do negócio. E os negócios não podem estar fora desta
economia. Com a tecnologia, as pessoas podem negociar de
igual para igual, de pessoa para pessoa. As empresas mais
inteligentes estão a reconhecer que precisam de facilitar que
essa partilha aconteça. Particularmente no setor automóvel,
por exemplo, a BMW, a AVIS, HERTZ, estão todos a entrar no
mercado de partilha de carros, porque reconhecem que essa é
a tendência. As pessoas estão a utilizar os carros assim – ter
acesso ao que necessitam quando necessitam é fulcral. Se estas
empresas querem ser rentáveis no futuro, têm que perceber
que as formas de mobilidades estão a mudar.
IP: Que conselhos daria às pessoas que não aderiram à economia
da partilha, mas gostariam de fazê-lo?
BM: Envolver-se na economia da partilha é sobre viver de
forma inteligente, sobre ser mais inteligente, sobre como
utilizamos as coisas que temos, mas que não necessitamos, para
conseguirmos as coisas de que necessitamos mais. É sobre fazer
mais com menos . Estes são tempos difíceis para muita gente em
todo o mundo e este é o momento para sermos mais inteligentes,
para todo este movimento de quanto mais partilharmos,
mais temos. No último verão, na minha família, fizemos uma
troca de casa por duas semanas com uma família italiana. E
foi extraordinário. Além do dinheiro que poupámos, quando
chegamos lá, tivemos toda a informação fabulosa deixada
18 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
pela família sobre os melhores sítios para levar as crianças,
restaurantes, mercados, etc. Além de contribuirmos para a
economia local, tivemos umas férias muito mais interessantes,
porque vivemos como os locais e experimentámos tudo o
que o país tem para oferecer e enquanto turista poderíamos
não ter essa vantagem. Quando voltámos a casa, tínhamos
comida no frigorífico, uma garrafa de vinho, presentes
para as crianças: quanto mais partilhamos, mais temos. É
verdade. Para as pessoas que estão nervosas em envolver-se na
economia da partilha, é preciso saber que é um modo de vida
mais inteligente, de termos as coisas que precisamos. O maior
obstáculo que temos que superar é a confiança – para as pessoas
partilharem, têm que ter confiança. Confiar nas empresas que
fornecem serviços de partilha, nas pessoas com que trocam
coisas - a confiança é absolutamente central. As empresas na
economia da partilha aprenderam que este aspeto é crítico. É
importante ter ratings online para fortalecer essa confiança.
O que fazemos no “Compare and Share” é precisamente
colocarmos todos estes serviços no mesmo espaço e para que
as pessoas saibam onde encontrá-los, para que seja fácil ter
acesso. Aliás, a facilidade em fazer é tão importante como a
confiança. É sobre tornar fácil, partilhar a experiência,. Para
quem ainda não experimentou nenhum serviço de partilha, a
primeira sugestão é, por exemplo, a partilha de carro.
IP: E que conselho daria às pessoas que já partilham, mas que
podem sentir-se desmotivadas devido à falta de aceitação do
conceito, por exemplo em Portugal?
BM: O que temos que pensar é que o que é pequeno agora, daqui
a um ano já não é. Nos últimos dois anos, a economia da partilha
cresceu e está agora avaliada em 330 biliões de libras globalmente.
Atualmente a economia da partilha no Reino Unido é 1,3% do PIB,
mas deverá crescer para 15% nos próximos 5 anos. Veja, por isso, a
capacidade de explosão. Pode ser pequeno agora em Portugal, pode
ser de nicho, mas não seria por muito tempo. Este é um movimento
em que o ritmo, a rapidez, é enorme. Existe atualmente mais de
8.500 plataformas e sites no mundo para partilha de bens e
produtos. E por isso é que achámos que era necessário ter um
ponto único de comparação. As pessoas começam a ver que há
estas iniciativas e isto não vai parar. A outra mensagem é que as
pessoas se envolvam no Global Sharing Day: ouvimos no Greenfest
lançar-se o repto para que hajam atividades e esforços no país para
este dia. Esta será uma oportunidade ótima para que as pessoas se
envolvam na partilha, organizem eventos desde almoços, partilha
de roupa ou de competências.... Há muita oportunidade para
participar e assim que as pessoas começarem a perceber que isto
é uma coisa que liga todo o mundo, irá explodir aqui também e o
ritmo será extraordinário. IP
“Este livro [...] tem condições para se revelar
como um instrumento
essencial não apenas
para todos aqueles
que trabalham nas
organizações sem fins
lucrativos, mas também
para um público mais
alargado que se revê e
se interessa pela missão
deste sector.”
Emílio Rui Vilar
in Prefácio
PVP
24 €
EN
ME___
ND___
AS_
___CO
______
Contactos:
[email protected]
m
telef.: 222 085 009
PEDIDOS PARA:
R. Gonçalo Cristóvão nº 185. 6º | 4049-012 Porto
Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 | [email protected]
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ASSINATURA
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 19
CAPA
“Temos que perceber o valor da água
e não apenas saber o seu preço”
Indiano Gandhi, autor, jornalista e ambientalista, Anupam Mishra viaja por aldeias dos diversos estados
indianos, descrevendo o valor dos sistemas de captação de água e defendendo a conservação de
estruturas tradicionais de água no seu país, como forma de disponibilizar este recurso durante todo o ano
nas regiões onde a água é absolutamente escassa. Já conquistou inúmeros prémios pelo seu trabalho e
escreveu vários livros sobre esta matéria, tendo uma notoriedade à escala mundial. O Impulso Positivo
entrevistou Anupam Mishra, que falou dos problemas na captação, recolha, distribuição e acesso à água,
num mundo onde as pessoas nos meios urbanos vão deixando de perceber o valor da água, para apenas
quererem saber do seu preço.
Impulso Positivo (IP): A água é um dos recursos mais preciosos e
está a ficar cada vez mais cara. O Anupam tem vindo a trabalhar há
vários anos na gestão de recursos hídricos na Índia e defende que
a água deverá ser sempre recolhida com processos tradicionais,
uma vez que os avanços tecnológicos apenas ajudam a distribuir
água. Pode explicar-nos mais sobre esta visão?
Anupam Mishra (AM): Vou continuar sempre a afirmá-lo: a água
terá sempre de ser recolhida, chamemos-lhe processo tradicional
ou não. E os avanços tecnológicos e equipamentos modernos
podem apenas ajudar-nos a distribuir água. Não podemos
produzir água, apesar de sabermos a sua fórmula química – o
H20. Desde os tempos mais remotos, a água foi-nos sempre dada
pela Natureza. E uma vez que não podemos produzir água, não
devemos comportarmo-nos como um consumidor. Devíamos até
ter uma melhor termo do que recursos hídricos.
Se não mudarmos a nossa atitude, enfrentaremos e estamos já
a enfrentar problemas de água quer nas areas urbanas quer nas
rurais. Todas as nossas grandes cidades como Deli ou Bombaim, e
tenho a certeza de que isso acontece também nas principais áreas
metropolitanas de Portugal, conseguem o seu fornecimento de água
de pontos localizados a centenas de quilómetros. E apesar de terem
um bom volume de águas pluviais, algumas vezes este fornecimento
de água dista mais de 300 quilómetros.
Não podemos esquecer-nos de que estas cidades conseguem a sua água
através dos “sistemas tradicionais”, e que são grandes lagos situados
em zonas rurais mais remotas. As chuvas das monções enchem esses
grandes lagos e, depois, através de grandes sistemas de canalização, a
água é trazida a estas grandes cidades. É assim que água se torna cara,
mas os governos não colocam os níveis de preços corretos neste bem,
ou, caso, contrário, perderiam o voto dos seus cidadãos.
Temos duas palavras na linguagem Hindi e tenha certeza que a vossa
língua também terá duas palavras semelhantes – uma é preço e a
outra é valor. Temos que perceber o valor da água, ou caso contrário e
se apenas soubermos o seu preço, não seremos capazes de conservar
este recurso. O preço da terra em tais cidades e em geral na áreas
urbanas está em picos elevadíssimos. Assim, devagarinho, as reservas
de água situadas nas zonas rurais e urbanas estão a desaparecer.
Novos projetos imobiliários e especulação de terrenos continuam
a eliminar estas reservas e não só não nos preocupamos com isso,
porque, de alguma forma, em cada uma destas crises, o Governo, de
alguma forma, traz água de alguma área distante para estas cidades,
20 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Anupam Mishra
mas não devíamos esquecer-nos de que não enviámos um SMS ao
deus da chuva, para não enviar chuva para estas cidades.
Temos um período de quatro meses de monções e agora não temos
reservas de água para coletar e conservar a chuva que cai sobre nós.
Portanto, vamos descobrir que nas nossas cidades grandes, as suas
estradas e aeroportos estão a enfrentar problemas de cheias. Seja Deli,
Londres ou Banguecoque – todas as grandes cidades estão a enfrentar
cheias durante as chuvas.
Outro problema está relacionado com os níveis de água nestas cidades
e também nas áreas rurais. Há uma corrida entre os nossos políticos e
os lençóis freáticos; não sabemos qual deles atingiu o nível mais baixo.
Como disse antes, o mundo inteiro depende do ciclo da água.
Esqueçam alguns slogans que prometem que a água do oceano pode
ficar sem sal. Temos que nos fiar apenas neste ciclo da água e a melhor
forma de a preservarmos é colocarmos a água nas lagos, lagoas e em
diferentes áreas. Mais uma vez cobram-nos pelas águas subterrâneas
para que as possamos utilizar de forma individual para beber, para
uso da agricultura ou para uso industrial. Aqui podemos utilizar
qualquer método moderno, até mesmo computadores sofisticados. E
por isso é que digo que recolher a água das chuvas não é tradicional,
mas sim uma maneira moderna.
CAPA
Apareceu ainda uma tradução francesa e uma inglesa também.
Alguns amigos disseram-nos que uma tradução árabe está a ser
preparada por uma ONG que trabalha em Marrocos.
Muitas pessoas, aldeias, pequenos grupos e ONGs espalharam esta
ideia nas suas regiões. Cerca de 40.000 reservatórios de água foram
adicionados desde que começamos este trabalho e deve notar-se
que isto acontece quase sem financiamento. Um pequeno apoio é
suficiente para adicionar centenas de reservatórios de água todos
os anos por causa desses livros. Alguns governos mudaram as suas
políticas em relação à água, criaram novos projetos quer para áreas
rurais quer urbanas.
IP: Pode dar-nos alguns exemplos desses sistemas ancestrais
que são mais populares na colheita de água?
AM: Como disse mais antes, não chamamos esses sistemas de
ancestrais e nem podemos dizer que são populares. São mais práticos
e modernos. Dependendo da disponibilidade de espaço, as pessoas
preferiram criar reservatórios de água nas suas áreas. Nalgumas
partes são novas estruturas, noutras foram renovadas e reparadas
estruturas abundantes. Os métodos de armazenamento de água são
limitados às áreas desertas. Não podem ser replicadas em outras
áreas. O céu, no deserto é muito claro, sem poluição, é livre de
poluição automóvel e das chaminés das indústrias.
Anupam Mishra
IP: O seu trabalho de base é estudar a aprender in loco sobre os
métodos ancestrais de recolha de água das chuvas. E além disso,
apresentar as suas conclusões às mais diversas organizações,
para permitir que este métodos sejam aplicados noutros pontos.
Como é que as organizações aceitam estas conclusões? E estão
abertas a utilizá-las e promover a sua utilização?
AM: Demorámos cerca de 10 anos a perceber os fundamentos
básicos da água. A nossa “escola aberta” foi a sociedade, inclusive
nas área do Deserto, que recebe a menor quantidade de chuva do
país. A chuva média é de 16 cms/ano para o Deserto, mas é uma
área muito vasta e em algumas zonas apenas 2 cms são recebidos
por ano. A água subterrânea está também a grande profundidade
– cerca de 100 metros – e é na sua maioria salina, mas aqui vivem
pessoas e pessoas dignas. E lentamente fomos aprendendo com
estas pessoas como recolher esta pequena quantidade de chuva,
de forma impactante, e também como desenharam o seu estilo de
vida com base nesta tradição.
Então, depois de quase 10 anos, produzimos dois livros - um para
o país e outro para o deserto em 1993 e 1995, respetivamente.
Desde então estamos a partilhar esta experiência rica com
diversas organizações, governos, indústrias e também com
amigos como vocês em Portugal.
Não recebemos direitos de autor sobre os nossos livros e
documentos, ou fotos. Qualquer pessoa pode utilizá-los.
Lançámos sete edições desse livros, mas além disso, diferentes
editores comerciais, ONG’s, governos e mesmo pequenas
organizações da sociedade civil produziram ou traduziram esses
livros para seu próprio uso. Originalmente escritos em Hindi,
estes livros estão escritos em 10 línguas diferentes no nosso país.
IP: Pensa que as populações mais pobres estão a ser privadas dos
seus direitos no que concerne o acesso aos recursos hídricos?
AM: Sim, as pessoas estão a ser privadas do seus direitos. Antes
eram as pessoas que mandavam nos recursos hídricos. A água
nunca esteve nas mãos dos governos. A sociedade e os indivíduos
criaram esses recursos e depois usaram-nos com o máximo
cuidado depois de os Britânicos terem vindo. Essas regras e
relações delicadas foram quebradas.
IP: Qual é o papel do trabalho das comunidades em garantir um
melhor acesso à água? Ou seja. Como é que as comunidades
locais podem trabalhar para impulsionar o uso desse sistemas de
recolha de água?
AM: O Governo não conseguiu cumprir a sua responsabilidade quer
nas áreas urbanas quer nas rurais. Está a começar a iniciar-se, de
forma lenta, um processo para devolver esta responsabilidade à
sociedade. Encontramos alguns exemplos nas grandes cidades, nas
cidades mais pequenas mas também muito desse bom trabalho está
a ser feito em áreas rurais onde as comunidades locais perceberam
o seu dever de recolher água e partilhar com toda a gente. Algumas
entidades de grande dimensão como o Institute of Technology e
o Institute of Management e algumas organizações comerciais e
industriais começaram também a adotar esses métodos, em parte
porque é uma boa prática, mas também porque o fornecimento
municipal de água local não é fiável e esses grandes utilizadores com
milhares de terão que enfrentar problemas de escassez de água.
IP: Por último, acha que as populações urbanas estão conscientes
de que a água é um recurso limitado?
AM: Temos um épico chamado “Mahabharata”. A personagem
principal, um aldeão, diz que sabe o que é a dharma (religião), mas
não pode praticá-la; e sabe o que é a adharma ( a negação da religião),
mas não pode deixar de praticá-la. Da mesma forma, a maioria da
população urbana sabe o valor da água, mas não quer pagar o seu
preço. De alguma forma, pensam que o Governo encontrará alguma
maneira de satisfazer a sua sede. Aamin: que deus os abençoe! IP
NO CENTRO
“A sociedade está a acordar para este
indigno e surreal desperdício”
As palavras são de António Costa Pereira, Presidente da Associação DariAcordar, e mentor e
impulsionador do Movimento “Zero Desperdício”, que assinala neste abril dois anos. Além do desperdício
material, preocupa-o o desperdício de sinergias, de saber trabalhar em equipa e de parcerias, revelou,
em entrevista, ao Impulso Positivo.
Impulso Positivo (IP): Quando iniciou esta “cruzada” para
combater o desperdício alimentar, além obviamente daquele
que foi o obstáculo de base que era o enquadramento legal que
impedia a recolha dos alimentos/refeições não consumidos,
quais foram os principais obstáculos com que se deparou?
António Costa Pereira (ACP): A principal dificuldade foi mesmo
a indiferença e a quase total falta de resposta por parte de quem
tinha a obrigação de se interessar e responder: justamente quem
concorreu e foi eleito para servir e representar os cidadãos.
Portugal não era/é o País mais fácil para se exercer uma cidadania
independente e apartidária, curiosamente sendo este (e o ano
passado), Ano Europeu dos Cidadãos. E afinal, nestes anos todos
nunca foi proibido recuperar refeições em perfeitas condições e
apenas por falta de informação/interesse público/querer saber se
desperdiçaram tantos anos desta verdadeira causa de sinergias e
parcerias que é o Movimento Zero Desperdício.
IP: O Movimento Zero Desperdício foi lançado e agilizado já
em período da chamada crise, durante a qual as situações
de pobreza se têm vindo agravar para muitas famílias e as
necessidades de bens alimentares também. Nestes dois
anos, foram recuperadas mais de 900 mil refeições. Ao
longo destes dois anos, sentiram o impacto deste aumento
de situações de maior carência?
ACP: As várias instituições receptoras que fazem parte do Movimento
ZD, têm-nos feito chegar as dificuldades e necessidades por que estão
a passar, bem como muitas outras que nos vão contactando – fruto
da crise socioeconómica porque estamos a passar. Outro aspeto, tem
sido mostrado por parte de quem doa refeições: sentem que estão
a contribuir para um bem comum e até hoje não tivemos nenhum
deste tipo de parceiros que tenha desistido – antes pelo contrário,
pois alguns deles, têm ajudado a trazer mais e mais parceiros a esta
causa. Sim, a sociedade em geral sente o impacto que o Movimento
Zero Desperdício tem trazido, com as suas várias vantagens sociais,
económicas, cívicas e ambientais que acompanham esta atitude.
IP: O modelo de envolvimento municipal é também uma
das bases do Movimento. Estão nestes dois anos em quatro
municípios e em 2014, o objetivo seria alargar esta “rede” a
mais concelhos. Quais são os planos ou novidades que podemos
esperar nesta área?
ACP: O Modelo Municipal tem sido uma das grandes inovações
e mais-valias do Movimento, pois é um bom exemplo da nossa
concepção de não desperdiçar tudo o que já existe e neste caso,
existe o Poder Local com a sua capacidade/responsabilidade
de identificar as famílias com necessidades, bem como a de
articular com as várias instituições locais (Centros Paroquiais,
Misericórdias, IPSSs, etc) que já têm carrinhas e voluntários e que
recebem formação específica em Higiene e Segurança Alimentar
para entrarem neste processo : nada se desperdiça, neste
movimento de sinergias/parcerias.
22 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
António Costa Pereira
Desta forma, foi possível começar este movimento num município
(Loures) e numa freguesia de Lisboa (Campolide) que rapidamente
serviram de exemplo e modelo para outros locais que se foram
juntando - Sintra, Cascais e mais 6 freguesias em Lisboa.
Justamente com estes exemplos e agora com o Novo Protocolo
estabelecido com o município de Lisboa no dia 16 de Abril 2014
(2º aniversário do Movimento ZD) e que pretende tornar Lisboa a
Primeira Capital Mundial Zero Desperdício, temos a vontade de
“levar esta atitude” a outros locais em Portugal - sendo para isto
absolutamente necessário que as diferentes Câmaras Municipais
se envolvam e apenas cumpram com as suas capacidades e
responsabilidades, ou seja, não depende da Dariacordar, mas
somente dos vários representantes municipais e locais que queiram
fazer parte desta causa.
NO CENTRO
IP: O Manual de Réplica está a ser terminado. Quando estará
concluído e porque é que decidiram lançá-lo?
ACP: Com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian e a colaboração
do Instituto de Empreendedorismo Social, contamos ter o Manual
de Réplica pronto dentro de poucas semanas. A ideia-base deste
manual, é mostrar o quão simples é este movimento (apenas envolve
trabalho), nomeadamente qual o papel de cada interveniente neste
processo (Câmaras Municipais/Juntas de Freguesia/Instituições
Sociais, etc), as normas de procedimento sobre Higiene e Segurança
Alimentar, os exemplos já concretizados nos primeiros municípios
aderentes, protocolos já estabelecidos com quem doa excedentes
alimentares, etc. Queremos que no futuro, a presença da nossa
associação não se torne necessária e que em cada local de Portugal,
com as suas especificidades próprias, seja possível replicar os
resultados concretos já alcançados nos primeiros municípios
aderentes; desta forma, acreditamos que o Manual de Réplica seja
um importante instrumento para esta intenção.
IP: No vosso filme institucional refere que os PALOP seriam
interessantes para aplicar esta ideia. Já existem esforços
desenvolvidos neste campo? Como é que poderiam “exportar”
o Movimento e para que destinos, numa primeira fase?
ACP: Este movimento começou por ser uma ideia portuguesa. Antes
de mais, queremos poder replicar esta atitude em outros locais de
Portugal, mas naturalmente não podemos desperdiçar a realidade
da Diáspora Lusitana, pois a língua tem esta capacidade de juntar
povos e neste caso, movimentos cívicos.
Neste sentido, a Dariacordar vai participar no II Congresso da
Cidadania Lusófona e mostrar aos representantes dos diferentes
países da CPLP de que forma o Movimento Zero Desperdício
começou e se implementou em Portugal. Curiosamente, a questão
da Segurança Alimentar é um dos temas CPLP para o ano de 2014.
Neste momento, estamos mais virados para a realidade nacional,
mas totalmente disponíveis para “exportar” esta atitude portuguesa
– até porque a FAO (organização das Nações Unidas dedicada às
questões da Agricultura e da Alimentação) tem acompanhado com
toda a atenção o Movimento Zero Desperdício. Também pretendemos
que em Portugal seja implementada uma Política Comum Contra o
Desperdício e que envolva as áreas da Saúde, Educação, Agricultura,
Economia, Turismo, etc. Este tipo de política global, não existe
em parte nenhuma do mundo e seria muito interessante que (não
desperdiçando o nosso trabalho e resultados já alcançados) Portugal
desse o exemplo ao mundo.
IP: Como é que comenta a forma como as sociedades atuais
lidam com as questões do desperdício?
ACP: Se os nosso avós nos vissem a desperdiçar como temos feito, de
certeza que nos colocavam de castigo, pois a verdade é que muitos
de nós fomos ensinados a não desperdiçar, mas por razões várias,
tais como como o consumismo e o não querer saber adormecemos a
nossa veia humanista e nosso ser social.
Finalmente começa-se a notar que a sociedade em geral está a
acordar para este indigno e surreal desperdício que nos atingiu e
de que são exemplo a campanha lançada pela FAO o ano passado,
a hipótese de 2015 vir a ser Ano Europeu Contra o Desperdício
Alimentar, a realização no próximo ano da EXPO Universal em
Milão em que o tema é “Como Alimentar o Planeta”, as recentes
declarações do Papa Francisco sobre o desperdício alimentar, etc.
A preocupação, a procura e o encontrar de soluções para problemas
sociais, tornam as pessoas mais felizes e completas enquanto
seres sociais que somos – sendo esta uma realidade que posso
testemunhar.
IP: E em Portugal? Pensa que estes últimos dois anos, e talvez
por razões que não são as melhores, tiveram algum impacto
na consciencialização das pessoas quanto a desperdício e à
necessidade de reutilizar recursos?
ACP: Para além de pôr em causa um imenso desperdício e de
conseguir criar uma solução global e sistemática para o recuperar,
um dos objectivos na Dariacordar era o de colocar este tema no ADN
de todos os cidadãos.
Neste sentido não nos quisemos ficar por soluções técnicas e
resultados de refeições recuperadas, mas também quisemos criar
um movimento para as pessoas – e assim num trabalho de parceria
com a J. Walter Thompson, criámos e desenvolvemos o Movimento
Zero Desperdício, do qual também fez parte o nosso Hino chamado
“Acordar” em que participaram pro bono mais de 50 artistas de
idades e estilos musicais diferentes. Ao mesmo tempo, quisemos
que surgissem outro tipo de iniciativas, com soluções diversas mas,
que também contribuíssem para diminuir o desperdício e penso
que também nesta matéria os nossos intentos foram alcançados. O
Movimento Zero Desperdício representa bem o que deve ser uma
PPP: Parcerias Pelas Pessoas. IP
IP: Além do Desperdício Alimentar, que outros tipos de
desperdício em Portugal o preocupam mais? E como é que
pensa que se pode atuar a esse respeito?
ACP: Para além dos óbvios desperdícios materiais (vestuário,
livros, mobílias, etc), preocupa-me essencialmente o desperdício
do saber trabalhar em equipe, das sinergias e parcerias que neste
caso, ficaram bem demonstradas no Movimento Zero Desperdício.
Muitas valências humanas perdem-se apenas porque ainda não
existe em Portugal uma cultura comum e virada para a sociedade
civil, estamos pouco organizados nesta matéria. Naturalmente que a
questão da Educação/Formação é vital e neste aspecto a Dariacordar
tem como objectivo tornar o tema do Desperdício numa matéria
curricular nas escolas; contamos começar já no próximo ano letivo,
uma experiência educativa com escolas do Ensino Básico do 1o Ciclo,
na região de Lisboa em mais um exemplo de sinergias/parcerias
entre a Dariacordar, Município de Lisboa e uma empresa parceira do
Movimento Zero Desperdício.
Ao mesmo tempo, também queremos não desperdiçar todo o know
how que as universidades podem dar à nossa causa, e.g., mostrar os
vários impactos e resultados sociais/económicos/cívicos/ambientais
já alcançados pelo Movimento Zero Desperdício.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 23
NO CENTRO
“Se não tivermos em conta as pessoas,
promovemos a exclusão social”
Responsável pela revitalização de espaços outrora cheios de vida e entretanto depreciados, o movimento
da reabilitação urbana acontece com e para as pessoas que ali vivem (ou querem viver). E, se estas
não forem tidas em conta, corre-se o risco de promover a exclusão, ao invés da coesão social. Esta foi
uma das principais questões abordadas na conferência “O Impacto Social da Reabilitação Urbana”, que
o Impulso Positivo coorganizou com a revista Vida Imobiliária no âmbito da Semana da Reabilitação
Urbana Lisboa 2014. O evento decorreu no dia 25 de março, no MUDE, em Lisboa e reuniu perto de duas
centenas de pessoas.
A “Habitação como fator de inclusão social” foi o tema abordado
por Miguel Graça, responsável pelo pelouro dos Direitos Sociais
da Câmara Municipal de Lisboa, o qual falou acerca da interligação
entre a estratégia de reabilitação urbana levada a cabo pela autarquia
e a inclusão social. “Muitas vezes, quando se fala de reabilitação
urbana faz-se uma associação imediata aos edifícios; mas há uma
grande ligação também às pessoas e que tem de ser tida em conta”
em qualquer estratégia, afirmou. Por seu turno, o diretor da direção
24 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
do Desenvolvimento, Intervenção e Proximidade da Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa, , Mário Rui André, salientou que nestes
processos de urbanização e reabilitação, “se não tivermos em conta
as pessoas, acabaremos por promover a exclusão social. Essa é desde
sempre a nossa preocupação, e é por isso que para a Santa Casa
reabilitar é também requalificar e revitalizar, e isso tem de ser feito
sempre de forma a promover a coesão, e não a exclusão social”.
Lembrando que um dos grandes objetivos da estratégia de reabilitação
NO CENTRO
urbana de Lisboa prende-se com o desenvolvimento do programa
local de habitação e a melhoria dos direitos sociais, Miguel Graça, da
CML, sublinhou que este é um movimento essencial também “para
melhorar as condições de habitabilidade enquanto determinante de
saúde pública de natureza social e ambiental”. Salientando o papel
da reabilitação do património como “catalisador económico e para
o bem-estar das populações”, o responsável autárquico salientou
ainda a sua importância no que toca “ao reforço da identidade social
dos bairros e das suas comunidades”.
A importância dos bairros: integrar a vida
contemporânea no edificado antigo A arquitetura social, e de que forma este pode ser um novo
paradigma na reabilitação urbana, foi outra das temáticas
abordadas nesta sessão, desta feita pela mão de Raquel Morais,
coordenadora da Associação FAS, que desenvolveu o projeto
“Moralá Castelo”.
Salientando que “qualquer ação de reabilitação urbana não deve
ser iniciada sem antes se identificar a sua pertinência social”, a
responsável partilhou a sua experiência na dinamização do bairro
do Castelo e Sé, chamando a atenção para a importância fulcral
de conseguir “integrar a vida contemporânea no edificado, em
comunhão com o antigo”.
Tendo em conta que “o estado do edificado não é igual em todos os
locais, não podemos a priori colocar tudo no mesmo bolo”, explicou
a responsável associativa. Além disso, para poder obter resultados,
antes de avançar há que “trabalhar no sentido do envolvimento
com a população, tentar perceber quais as necessidades sentidas
naquela comunidade”, afirma.
O projeto Moralá Castelo “começou com o levantamento de
informação sobre o bairro do Castelo: história, geografia,
estatísticas” e, a partir daí “foi fundamental a realização de
assembleias participativas com a população e de reuniões com as
instituições públicas e locais, para perceber se estavam abertas ao
tipo de intervenção que propúnhamos”.
Entre muitas outras ações, entre dezembro de 2013 e março de
2014 a Associação FAS tem promovido diversas iniciativas para
dinamizar a vida do bairro do Castelo e dos seus residentes. O
Magusto comunitário, a oficina de arquitetura do 1º ciclo na
Escola Básica EB1 Castelo, um de debates no palácio Belmonte e o
início dos trabalhos de preparação da Feira do Castelo são alguns
exemplos. Um dos próximos passos passa agora pela candidatura
da associação ao programa municipal BIP / ZIP.
A revitalização que está em curso no Bairro da Mouraria é outro
exemplo de como a regeneração urbana pode contribuir para
atenuar e resolver problemas de exclusão social. Filipa Bolotinha,
da Associação Renovar a Mouraria partilhou o trabalho que a
associação tem vindo a desenvolver nos últimos meses com o
objetivo de “revitalizar o bairro da Mouraria, que historicamente
é mal conotado”.
Fazendo um balanço positivo deste processo, a responsável
sublinhou que tem havido “um bom casamento entre a obra e as
pessoas”, ou seja, “há vontade política da parte do município em
fazer as coisas de forma diferente e, por seu lado, a população tem
vindo a responder positivamente ao trabalho que é feito para elas”,
algo essencial como disse, até porque, “se a população não estiver
envolvida e não responder, não faz sentido”.
Assim, a par com as obras que têm vindo a ser realizadas no local,
a Associação tem desenvolvido e promovido várias iniciativas para
“revitalizar a vivência” no bairro, de que são exemplo a abertura
de uma cafetaria, aulas de português para estrangeiros, um jornal
local gratuito realizado por jornalistas voluntários e membros
da comunidade, as visitas cantadas (fruto da associação entre o
Museu do Fado e autarquia).
Neste processo de “devolução e reintegração” da Mouraria a
Lisboa, a solidariedade não foi esquecida. E, um bom exemplo é
o da Casa da Mouraria, que foi possível graças ao trabalho de dois
anos na angariação de fundos, e que atualmente recebe centenas
de pessoas todas as semanas.
Políticas urbanísticas do passado resultaram em
“ilhas” de exclusão social
Profundo conhecedor das estratégias de desenvolvimento urbano
e dos programas de realojamento desenvolvidas em Lisboa nas
últimas décadas, Fernando Santo, atualmente administrador na
Montepio Gestão de Ativos Imobiliários, teceu algumas críticas
face às escolhas políticas feitas no passado. “Tratámos bem as
pessoas que viviam em barracas e investimos no seu realojamento,
mas nesse processo acabámos por abandonar os mais idosos que
hoje vivem isolados em apartamentos em prédios de vários andares
sem elevador e em muitos dos casos sem as mínimas condições de
habitabilidade, com infiltrações, sem casas de banho etc. Isto é
uma das consequências da política de congelamento das rendas
que vingou durante décadas”, considera.
“Seguimos um modelo de desenvolvimento cujas políticas tiveram
como resultado uma segmentação da cidade, tendo em conta os
terrenos melhor ou pior valorizados, em estratos sociais”, afirmou
o ex-Bastonário da Ordem dos Engenheiros e Ex-Secretário de
Estado. E, nesse processo “abandonámos as zonas históricas, que é
onde agora vivem as pessoas com menos recursos”.
Agora que a lei do arrendamento mudou e a da reabilitação também,
“não deveríamos ter preconceitos ao abordar a reabilitação urbana.
Deixemos de lado as ideias pré-concebidas” diz, defendendo que
“temos que dar alguma mobilidade aos investidores para que
possam recuperar o património nessas áreas, mas que consigam
criar produto imobiliário com rendas acessíveis que levem para lá
gente”. E, remata, “a reabilitação urbana permitirá que voltemos ao
conceito de bairro, com a coesão social que ele traz, permitindo que
coexistam numa mesma área lojas de pequena dimensão vocacionas
para serviços de proximidade, edifícios de diferentes usos e também
pessoas diferentes, com diferentes graus de rendimento”.
Para levar isso a cabo, defende o CEO da Fundação Aga Khan,
Karim Merali, “uma das primeiras lições que precisamos de
absorver é a de saber e de ter uma ética de parcerias”. O responsável
falou do trabalho desenvolvido pela Fundação Aga Khan em
diferentes pontos de globo, mas cujo principio base se mantém
independentemente do sítio: “temos de envolver a comunidade
local”, pois “há certos aspetos relacionados com a confiança e
o orgulho das comunidades que têm de estar presentes desde o
primeiro momento”.
Outro aspeto essencial a ter em conta, alertou Karim Merali, é
que “estes projetos têm que ter planeamento para além do óbvio.
Como é que vão ser sustentáveis e gerar rendimento depois de
concluídos? Como vão ser sustentados, com que dinheiro?” e,
para resolver estas questões, advoga, “o importante é que todos os
intervenientes trabalhem em conjunto”. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 25
EXPERIÊNCIAS
ENTRAJUDA
Partilhar para
combater a pobreza mas
também o desperdício
Com a partilha entre os seus valores de base, a
Entrajuda tem como missão fazer a ponte entre
quem quer dar e quem precisa de receber. A partilha
de conhecimentos, de bens não alimentares e de
tempo estão no seu ADN, sendo formas cruciais não
só para combater a pobreza como o desperdício.
O objetivo desta IPSS é criar uma verdadeira cadeia de
solidariedade onde voluntários, parceiros e benfeitores unem
esforços para melhorarem o funcionamento das instituições
de solidariedade social apoiadas, assim permitindo que estas
aumentem a sua eficiência de meios e a eficácia dos seus resultados,
ajudando mais pessoas.
Entre os projetos dinamizados pela Entrajuda vários são
aqueles nos quais o combate à pobreza é mais evidentemente
associado ao simultâneo combate ao desperdício. Um destes
projetos é o Banco de Bens Doados, que faz chegar às instituições
apoiadas pela Entrajuda produtos não alimentares doados quer
por empresas quer por particulares. Além do seu caráter social
– ao distribuir bens em estado novo ou passíveis de reutilização
às IPSS -, o programa tem um forte âmbito ambiental, ao
“contribuir para o aproveitamento ou correta destruição de bens
que deixaram de ter valor nas entidades doadoras e que de, outra
forma, seriam desperdiçados com os inerentes custos ambientais”,
refere a Entrajuda. Através do Banco de Bens Doados, empresas,
cadeias de distribuição ou hotéis poderão encaminhar bens para
a Entrajuda que apresentem pequenos defeitos ou que já tenham
sido objetivo de usos, mas que, em ambos os caso, se encontrem
em perfeitas condições de reutilização, dando-lhes uma nova
vida. Já este mês de abril, a Entrajuda lançou, em parceria com
a Caritas Portuguesa, a plataforma Dar e Receber.pt, que agrega
a Bolsa do Voluntariado e o Banco de Bens e Equipamentos, e
que permitirá estabelecer ligação entre quem tem alguma coisa
26 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
para dar – tempo ou bens – e quem precisa de receber. Conforme
explica Isabel Jonet, presidente da Entrajuda, um dos objetivos é
“ajudar a eliminar o desperdício e a sobreposição de iniciativas,
apoiando os mais necessitados, incentivando uma participação
da sociedade civil num projeto de solidariedade com recurso a
uma plataforma informática e ao Facebook”.
Outra resposta da Entrajuda é o Banco de Equipamentos,
o qual promove a recuperação de equipamentos elétricos e
electrónicos doados também por empresas e particulares, dandolhes nova vida, desde que se encontrem ainda aptos para uma nova
reutilização. Além da óbvia inclusão social e do impacto a nível de
capacitação das entidades apoiadas, este programa pretende ainda
contribuir para a redução dos impactos ambientais provocados
por uma incorreta destruição de resíduos e equipamentos
elétricos e electrónicos, recuperando e reciclando corretamente
equipamentos informáticos.
Um outro programa muito dinâmico na limitação do
desperdício é o “Restolho”, que a Entrajuda desenvolve em
parceria com a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares
e que promove a apanha de produtos horto frutícolas que não
seriam apanhados e seriam desperdiçados. Mais recentemente,
o programa passou pela Golegã, numa parceria com a Agromais.
Nesta ação foram apanhados Nabos na Golegã, por voluntários da
Escola Profissional de Torres Novas, no âmbito do programa de
voluntariado Young Volunteam. Outras ações com a Agromais vão
realizar-se até setembro, permitindo entregar legumes frescos a
famílias carenciadas apoiadas pelos Bancos Alimentares.
Numa outra ação do programa “Restolho” em parceria
com a “Parques de Sintra”, foram apanhadas laranjas nos
pomares dos Jardins do Palácio de Queluz em fevereiro,
envolvendo voluntários da Escola Secundária Miguel Torga, o
grupo motard “fogecomelas”, o grupo TU PODES, a Fidelidade
e outras pessoas que quiseram associar-se à iniciativa que
permitiu entregar fruta fresca a muitas famílias carenciadas
apoiadas pelo Banco Alimentar. IP
EXPERIÊNCIAS
LIPOR
Na vanguarda europeia
da gestão de resíduos
Não só em Portugal, mas também na Europa, a
LIPOR tem vindo a consolidar-se como uma das
entidades na vanguarda da gestão de resíduos
urbanos. E, os frutos da sua estratégia já se fazem
colher, com a empresa portuguesa a acumular
distinções internacionais.
Responsável pela gestão, valorização e tratamento dos resíduos
urbanos produzidos pelos municípios de Espinho, Gondomar,
Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do
Conde, a LIPOR trata anualmente de cerca de 500.000 toneladas
de resíduos sólidos produzidos por um milhão de habitantes.
No âmbito da sua atividade, a empresa desenvolveu uma
estratégia integrada de valorização, tratamento e confinamento
dos resíduos urbanos assente em três pilares: valorização
multimaterial, valorização orgânica e valorização energética.
Os resíduos rejeitados neste processo, bem como os resíduos
previamente preparados, são por seu turno encaminhados para
um moderno Aterro Sanitário.
Mas, o seu contributo para manter o nosso planeta um
local mais limpo e saudável não se fica por aqui. “Ciente do seu
papel na comunidade onde está inserida, a LIPOR materializa
a sua estratégia de sustentabilidade e de responsabilidade
social num sólido compromisso com uma gestão ética, social e
ambientalmente responsável”, esclarece a empresa no seu site.
Ainda recentemente a LIPOR viu a sua estratégia no campo
da gestão da qualidade a ser distinguida com a Certificação ISO
9001:2008, cujo âmbito é “gestão de resíduos urbanos e promoção
da educação e sensibilização ambiental”. Fonte oficial da empresa
explica que “consolidar a diferenciação positiva da LIPOR no que
respeita à Gestão da Qualidade, promovendo a melhoria interna
dos processos e o reconhecimento externo de que a Organização
satisfaz os seus clientes e as exigências legais e regulamentares de
forma eficaz e em todas as suas atividades foi, em 2013, o objetivo
A Educação Ambiental é uma das preocupações da Lipor.
Na foto o projeto de compostagem caseira, Horta da Formiga.
do projeto de certificação global ISO9001”.
Ao longo dos anos, a LIPOR tem vindo a acumular prémios e
distinções que reconhecem a sua estratégia. Entre estes incluiuse uma Menção Honrosa nos Prémios Europeus da Promoção
Empresarial, com o projeto “RLAB- Reuse Laboratory”; o Prémio
Desenvolvimento Sustentável na edição 2012/2013; o Galardão
Acessibilidades na IV Gala da Inclusão, com o projeto R+, ou uma
Menção Honrosa nos “Trofeus Luso-Franceses”. Recentemente
conquistou também o primeiro lugar na categoria das médias
empresas do Setor Público no Prémio Excelência no Trabalho 2013.
Já em 2014, a “Estratégia de Sustentabilidade da LIPOR” foi
distinguida no prémio EBAE – European Business Awards for
the Environment – Prémio de Inovação para a Sustentabilidade
(EBAEpis) na categoria Gestão. Um prémio que foi encarado como
“o reconhecimento da liderança da LIPOR e que constitui um
enorme orgulho para toda a sua equipa”, afirmou na ocasião fonte
oficial da empresa.
Envolver e sensibilizar a comunidade para a
educação ambiental é prioridade
A LIPOR é também conhecida por promover o envolvimento da
comunidade onde está inserida na causa ambiental, dinamizando
regularmente um vasto conjunto de ações multidisciplinares que
visam sensibilizar a população para a importância de questões
chave como a reciclagem, a racionalização e gestão dos resíduos e
a preservação do meio ambiente.
É o caso, por exemplo, das ações que está a promover na
sua área de influência no âmbito da campanha “Vamos Limpar
a Europa”, que terá lugar a 10 de maio, integrada na Semana
Europeia da Prevenção de Resíduos. O objetivo é envolver
os cidadãos dos seus concelhos de influência para a causa da
limpeza e preservação do meio ambiental, consciencializandoos para a quantidade de resíduos que está a ser abandonada
na sua área envolvente. Para tal, e em conjunto com alguns
parceiros, a LIPOR coordenará algumas ações de limpeza abertas
aos habitantes, proporcionando “uma oportunidade única de
aumentar a consciencialização do cidadão sobre o problema do
lixo e ajudar a mudar os seus comportamentos”. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 27
EXPERIÊNCIAS
CAIS RECICLA
Oficina criativa
para mudar vidas e
reduzir desperdício
Prestes a completar 3 anos, a iniciativa CAIS Recicla,
promovida pela Associação CAIS no âmbito do
programa de empregabilidade CAHO, tem o duplo
foco de ajudar a reduzir o desperdício e potenciar
a capacitação socioprofissional de pessoas que se
encontram em situação de pobreza ou exclusão social.
A oficina criativa CAIS Recicla foi lançada em maio de
2011, com o apoio da Unicer, apostando no desenvolvimento
de produtos de ecodesign através de materiais de desperdícios
cedidos por diversas empresas. Este negócio social integrado no
Programa de empregabilidade CAHO – Capacitar Hoje promovido
pela Associação CAIS visa a capacitação socioprofissional e
oportunidade de formação em contexto de trabalho de pessoas
que se encontram em situação de pobreza e /ou exclusão social.
Assim, procura-se através da produção e comercialização dos
seus produtos, formas de sustentabilidade da oficina.
O balanço é positivo, conforme revelou Cláudia Fernandes,
responsável por este projeto e Coordenadora da CAIS Porto
ao Impulso Positivo. “O projeto CAIS Recicla nasceu e tem-se
mantido com uma equipa de acompanhamento muito reduzida,
mas com muita paixão, dedicação, empenho e até mesmo
resiliência”. E acrescenta: “com muito pouco, criamos um valor
social e emocional de grandes dimensões, pelo menos dentro
das portas desta nossa casa que é a CAIS”.
Mas fora de portas este valor também emerge, já que o
projeto “muda vidas, estrutura e dá felicidade aos beneficiários
que por cá passam”, nota Cláudia Fernandes. Um dos exemplos
de mudança é o de “Maria”, que vivia numa casa a cair,
28 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
sem quaisquer condições. “Uma Maria fechada, vazia de
participação, que só precisou desta oportunidade para partilhar
as suas competências sociais, o seu carinho pelo outro e o
profissionalismo. Para viver o seu papel social. Hoje vive numa
casa arrendada, paga as suas contas e está a trabalhar. É feliz”,
diz a responsável do projeto ao Impulso Positivo.
Só em 2013, a CAIS Recicla produziu cerca de 5.000 peças.
O foco é na área do estacionário, uma vez que a maior parte dos
desperdícios são o papel, o plástico e as lonas, apostando-se no
desenvolvimento de notebooks, bookmarks, estojos, capas para
pc´s, lápis e pin´s, entre outros produtos que podem ser feitos de
acordo com pedidos mais concretos por parte dos clientes, e que
podem incluir bijuteria ou candeeiros, entre outros.
Mais parceiros rendidos
Inicialmente lançada com o apoio da Unicer, que foi a
primeira empresa a ceder os seus desperdícios, a CAIS Recicla
tem hoje parcerias com outras empresas e organismos, incluindo
a Casa da Música, a Fundação de Serralves, a Coats&Clark,
a Fundação Manuel António da Mota, a Cerealis, a APAN e o
Barclaycard. “Todos se renderam ao projeto no que respeita à
cedência de desperdícios” e novos parceiros deverão associarse em breve, já que “neste momento estamos a negociar com
a Câmara Municipal do Porto e a Ordem dos Engenheiros,
no Porto também, para selecionar e recolher desperdícios
úteis à produção de novas peças”. Conforme explicou Cláudia
Fernandes, “este ano continuaremos a aumentar a rede de
parceiros, fornecedores e clientes”. O objetivo estabelecido
passa por trabalhar a marca CAISRecicla, alargar a rede de
beneficiários do projeto e abrir uma loja nas instalações do
Centro CAIS Porto, onde funcionará a oficina de trabalho,
aberta ao público e a venda das peças CAIS Recicla. IP
EXPERIÊNCIAS
FRUTA FEIA
Ver além da aparência
Há cerca de seis meses no terreno, a cooperativa
Fruta Feia está a crescer em força e já conseguiu
evitar que 18 toneladas de frutas e legumes fossem
para o lixo apenas por questões de aparência. A ideia
de base foi criar um mercado alternativo para estas
frutas “feias”.
Em entrevista ao Impulso Positivo, Isabel Soares, uma das
mentoras do projeto sublinha que os resultados “têm superado
largamente as nossas expectativas”, tanto pelo "entusiasmo dos
agricultores como pela adesão dos consumidores e ainda pelo
desperdício já evitado”.
Os números não deixam dúvida. Desde 18 de novembro
passado, data de arranque da cooperativa Fruta Feia e abertura
da primeira delegação, já são cerca de 320 os consumidores
associados e, de acordo com Isabel Soares, cerca de outros
800 estão em lista de espera. E nas primeiras 21 semanas de
funcionamento, o desperdício evitado ascende a 18,2 toneladas
de frutas e hortícolas.
A Cooperativa Fruta Feia surge da necessidade de inverter o
desperdício que se gera na normalização de frutas e legumes, a qual
nada têm a ver com questões de segurança e qualidade alimentar.
O principio de base é combater a ineficiência de mercado que se
cria devido a esta normalização, criando um mercado alternativo
para as frutas e hortaliças que saem do circuito comercial apenas
por serem “feias”. Um mercado que ao mesmo tempo que combate
o desperdício alimentar e de recursos utilizados na produção –
como a água, as terras cultiváveis, a energia e o tempo de trabalho
-, além de gerar valor para os agricultores e consumidores. Evitase assim que alimentos de qualidade sejam devolvidas à terra,
apenas por não se enquadrarem nos padrões de normalização.
O modelo de funcionamento é muito simples: todas as semanas,
num trabalho direto com os produtores, a cooperativa recolhe
nas suas hortas e pomares os produtos que estes não conseguem
escoar apenas por desadequação ao parâmetros de normalização.
Estes produtos servem depois para preparar duas cestas de
tamanhos diferentes, com frutas e hortaliças de época, que serão
disponibilizadas aos associados da cooperativa. Os consumidores
associados pagam anualmente uma cota anual de 5 euros, paga na
recolha da primeira cesta. Da parte dos consumidores, é necessário
escolher a cesta mais adequada – a pequena com 7 a 5 variedades
de produtos num total de 3 a 4 kg e que tem um custo de 3,5€ ou
a grande, com 7 a 9 variedades de entre 6 a 8 kg por 7€ - e depois
recolhê-la no ponto de entrega predefinido.
Para já, a cooperativa conta com dois pontos de entrega, ambos
em Lisboa. O primeiro, a funcionar desde novembro de 2013 foi
a Casa Independente (no Largo do Intendente Pina Manique)
e o segundo, em funcionamento desde 15 de abril, funciona no
ateneu Comercial de Lisboa (na Rua das Portas de Santo Antão).
As entregas são sempre nos mesmos dias da semana: à segunda
feira no primeiro ponto e à terça feira no segundo, entre as 17h e
as 21 horas.
Com a abertura do segundo ponto de entrega, a cooperativa
pretendeu dar resposta a 210 consumidores que estavam em lista
de espera, e assim duplicar o desperdício evitado semanalmente,
revela Isabel Soares.
Mas os planos são ir além de Lisboa. A partir de setembro,
“gostávamos de começar a replicar o projeto noutras regiões
do país”, revela Isabel Soares ao Impulso Positivo. Isto porque
a Fruta Feia é uma “cooperativa e um movimento que almejam
alcançar uma escala nacional para dar resposta ao desperdício
a que se assiste, em todo o país, devido à aparência”. Recordese que o projeto da cooperativa Fruta Feia mereceu o 2ª prémio
no concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa em 2013, uma
iniciativa promovida pela Fundação Gulbenkian em parceria
com a COTEC. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 29
EXPERIÊNCIAS
RITZ FOUR SEASONS
Reduzir desperdício
em todas as frentes
O compromisso ambiental desta unidade hoteleira
de 5 estrelas em Lisboa envolve os vários
stakeholders da cadeia de valor. Parte desse
compromisso, o programa de gestão e redução do
desperdício “confunde-se com a própria história do
Hotel" e tem uma abrangência difícil de superar.
“Ao nível ambiental, o objectivo é reduzir o impacto da nossa
atividade no ambiente”, começa por explicar a direção do Hotel.
Para tal, a unidade hoteleira tem um vasto conjunto de programas
e procedimentos, contemplando um leque alargado de áreas,
numa abrangência difícil de igualar. Parte do compromisso
ambiental, o programa de gestão e redução de desperdício é um
reflexo dessa abrangência, e “confunde-se com a própria história
do hotel”, já que faz parte do seu ADN desde sempre, revela a
mesma fonte.
Uma das áreas abrangidas pelo programa da gestão de
desperdício é a de manutenção de equipamentos e do edifício, na
qual existe uma forte aposta em melhorar a eficiência e eficácia
energética. A redução de consumos é outra área, com “um
esforço constante para reduzir os nossos consumos ao nível do
papel, água, gás e eletricidade”, daí decorrendo a implementação
de diversas medidas, entre as quais se inclui, por exemplo, o
reaproveitamento de vapor em excesso para aquecimento de água
sanitária reduzindo o consumo de gás.
O tratamento e valorização de resíduos, com diversas
iniciativas implementadas, é uma prática do Hotel há já anos e
qual esta unidade tem “vindo a alargar, nomeadamente, com
a sensibilização que fazemos junto dos nossos colaboradores”,
aliás sendo este esforço de envolvimento e mobilização dos
colaboradores transversal a todas as facetas do programa
ambiental. Além da separação de lixo das diversas origens, a
recolha de pilhas, óleos alimentares e de outros consumíveis, no
Ritz Four Seasons, por exemplo, todo o material obsoleto como
impressoras ou computadores são enviados para as entidades
competentes da autarquia e organizações sociais.
Desde junho de 2012, o Hotel dinamiza também um projeto de
excedentes de produção alimentar, que consiste na recolha diária,
por parte de colaboradores voluntários, dos géneros alimentares
passíveis de serem doados a instituições sociais. Esta recolha
contempla ainda produtos resultantes das auditorias internas
efectuadas mensalmente nas áreas de comidas e bebidas. Com
este projeto, o Hotel apoiou no primeiro ano, 3 instituições locais
30 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
e cerca de 350 pessoas. Em 2013, a unidade hoteleira consolidou
o trabalho realizado neste âmbito, revendo os procedimentos
e alargando a recolha a todos os colaboradores do hotel, entre
outras medidas, que já permitiram apoiar 5 instituições, e ainda
reduzir o volume de lixo orgânico produzido.
Também em 2013, e ainda no âmbito do reforço das suas
práticas ambientais, o Ritz Four Seasons esteve envolvido em
campanhas de recolha de resíduos elétricos e electrónicos e
de recolha de medicamentos fora de uso ou de validade. Além
disso, o reaproveitamento de artigos descontinuados do hotel –
como têxteis ou artigos do lar - e encaminhamento dos mesmos
para instituições sociais saiu também reforçado. Em maio do
ano passado, foi implementada uma nova medida, passando a
encaminhar-se para incineração os sabonetes utilizados pelos
hóspedes. “Desde então encaminhámos cerca de 5.500 restos
de sabonete que geraram energia”, diz a direção do hotel. Já “no
âmbito do programa Greening Meetings, apoiámos clientes a
doarem os materiais excedentes dos seus eventos beneficiando 4
instituições sociais”, acrescenta.
Para este ano, a nível da gestão de desperdício e além das
medidas implementadas, o Ritz Four Seasons vai associar-se à
campanha “Papel por Alimentos” em parceria com a Associação
de Hotéis de Portugal, a favor do Banco Alimentar Contra a
Fome e vai, com base na conclusão do estudo de viabilidade
técnica e económica ao nível de consumos e práticas por parte
da EDP, implementar medidas corretivas e de melhoria em
termos de consumos de energia, água e gás. Alinhado para
este ano, está também a recuperação de calor dos chiller`s, um
equipamento que permite arrefecer a água das unidades de ar
condicionado centrais do hotel. “O calor gerado nesse processo
de arrefecimento é reaproveitado para o aquecimento da água dos
quartos e da piscina”, explica a direção do hotel. IP
EXPERIÊNCIAS
MOINHO
Roupa velha, papel novo
A partir de desperdícios têxteis, a Moinho produz papel
100% algodão utilizando um método de fabrico amigo
do ambiente que resulta da reinvenção de um processo
tão ancestral quanto artesanal. Sacos, embalagens,
papelaria, álbuns e livros são alguns dos produtos que a
fábrica localizada em Vouzela produz.
A funcionar desde 1993, a Moinho foi adquirida em 2010,
sofrendo um reposicionamento que alargou o seu leque de
produtos e a gama de papéis, tendo atualmente uma abrangência
bastante mais vasta. “Antes de adquirirmos a fábrica, em 2010, os
produtos estavam maioritariamente associados às belas-artes, o
conceito foi implementado a partir desta data”, revela Rui Silva,
CEO da Moinho. E acrescenta “quisemos recuperar processos
antigos de fabrico e recriá-los de forma sustentável nos dias de
hoje. Percebemos que podíamos oferecer ao mercado algo que
ainda não existia num regresso às raízes e, simultaneamente,
virando-nos para o futuro através do papel de algodão feito a
partir de desperdícios têxteis”.
Rui Silva explica ao Impulso Positivo que “ao lançar o
negócio focámo-nos essencialmente na recuperação do processo
de produção sempre com vista a aumentar a sua capacidade
produtiva2, apontando ainda como desafio a “formação de
pessoal especializado envolvido no processo”, que considera aliás
ser um “desafio contínuo e paralelo ao crescimento da Moinho”.
O CEO da Moinho dá ainda nota de que “outro dos nossos desafios
permanentes é acrescentar valor à marca através da qualidade do
papel e produtos, desde a matéria prima ao design”.
O método utilizado permite fabricar grandes quantidades
de papel, conservando, no entanto, todas as caraterísticas
artesanais do papel de algodão, tais como o grão, a textura e
sobretudo a durabilidade. A única matéria-prima é roupa usada
ou desperdícios têxteis industriais, que a Moinho recolhe,
reaproveitando ainda toda a água que consome durante o
processo de fabrico.
Uma das soluções da Moinho é por exemplo o papel
impregnado de sementes vivas para plantar, de que foi exemplo
recente a capa de uma revista de distribuição nacional. A ideia
é plantar a capa, ou por exemplo um saco de papel que utilize
esse material, após a sua utilização. Papéis aromatizados
ou texturados integram também a gama da Moinho, que
atualmente produz sacos, embalagens, papéis de embrulho,
papelaria e artes – incluindo envelopes, convites, cadernos ou
blocos -, ou álbuns e livros.
Para ensinar e reviver a história do papel, a Moinho abre
regularmente as suas portas para acolher quem deseje visitar a
fábrica, especialmente aos mais novos, também com o objetivo de
“promover a consciência ambiental divulgando um processo de
fabrico ancestral totalmente sustentável com impacto reduzido
na pegada de carbono”. A organização de visitas guiadas à fábrica
permite, também, revisitar a história e assistir à manufatura
deste papel, 2.000 anos depois da sua invenção, com recurso ao
mesmo processo de fabrico. De acordo com a Moinho, mais de
2.000 crianças visitam anualmente a fábrica.
As perspetivas de crescimento são muito positivas e a
aposta tem sido um sucesso. A equipa de colaboradores, que há
quatro anos era de apenas dois, está agora em quinze pessoas.
E, este ano, sobretudo devido às exportações, o crescimento da
Moinho deverá rondar os 30%, revelou Rui Silva, esclarecendo
que “temos apostado na internacionalização bem como no
reforço do mercado nacional”. Relativamente aos consumidores
portuguesas, Rui Silva refere que “são muito sensíveis à nossa
política de sustentabilidade e à recuperação de processos
ancestrais para a construção do futuro. Nem todo o mercado
está sensibilizado para um produto tão específico, mas temos
mercado que é fiel às características do nosso papel e produtos”.
Acima de tudo, “estamos empenhados em transmitir as
características únicas do nosso papel de algodão. O papel de
algodão dura pelo menos quinhentos anos e é o que acontece
também com as memórias que ficam gravadas e guardadas nos
produtos Moinho”. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 31
EXPERIÊNCIAS
Amb3E
Dar um novo uso aos
equipamentos elétricos
em fim de vida
A Amb3E – Associação Portuguesa de Gestão
de Resíduos está apostada em fazer com que
os portugueses deem uma nova vida aos seus
equipamentos elétricos e eletrónicos usados.
Uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que
tem como missão a gestão de resíduos de equipamentos elétricos
e eletrónicos (REEE) e de segmentos de pilhas e acumuladores
(RPA), contando com 60 empresas associadas e mais de 1.100
aderentes de norte a sul do país.
A sensibilização da sociedade civil para a problemática dos
REEE e das Pilhas e Acumuladores em fim de vida e para o seu
reencaminhamento é uma das grandes bandeiras da atividade da
Amb3E, que desde a sua criação tem vindo a desenvolver vários
projetos neste âmbito, caso da Escola Electrão, do Projeto POW –
Dá o Power, ou ainda recentemente, da participação no roadshow
do Projeto 80. Além disso, a associação faz a gestão da rede
nacional dos Ponto Electrão, que de norte a sul do país assegura a
recolha e o posterior encaminhamento dos REEE e RPA.
A educação dos mais jovens para esta causa é uma prioridade,
sendo as ações da Amb3E uma constante nas escolas portuguesas.
É o caso do jogo “Apanha os REEEs” que a associação promoveu
no âmbito da sua participação no roadshow do Projeto 80, que
passou por 18 escolas dos distritos de Portugal Continental
de 20 de janeiro a 3 de abril. Ao todo, foram 2.880 os alunos
que participaram ao longo das 288 horas do jogo “Apanha dos
REEs”, promovido pela Amb3E, no qual tiveram oportunidade
de apanhar todos os REEE no Ponto Eletrão criado para o efeito.
Este último consistia numa máquina árcade, ela própria feita a
partir de equipamentos elétricos, em que os jovens tinham que
colocar todos os REEE dentro do Ponto Electrão, tendo o cuidado
de evitar os outros resíduos, que os fariam perder vidas.
“Ao apoiarmos o Projeto 80 queremos promover as iniciativas
juvenis na área da sustentabilidade e incutir nos jovens a
32 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
ideia de que eles podem fazer a diferença. Os resultados que
alcançamos com as nossas campanhas de sensibilização têm
sido extremamente positivos e temos assistido a uma grande
adesão por parte dos mais novos. Basta pensar, por exemplo, na
Escola Electrão, na qual recolhemos quase 5.000 toneladas de
resíduos em quatro anos”, afirma Jorge Vicente, Diretor-Geral da
Amb3E. Por isso, acrescenta, “resultados como estes permitemnos concluir que, quando damos aos jovens algum incentivo,
conseguimos obter resultados e ideias muito positivas”.
Projeto POW – Dá Power ao Electrão
Um dos projetos que a Amb3E tem atualmente em curso é o
POW – Dá Power ao Electrão, que entrou recentemente na sua
terceira fase. Dirigida ao público mais jovem, esta é uma iniciativa
que incentiva os portugueses a participar num desafio de vídeos,
funcionando como elementos de mudança comportamental a
nível ambiental. O objetivo é chamar a atenção para a importância
do encaminhamento dos REEE através dos Pontos Electrão,
permitindo o seu tratamento e reciclagem.
Desenvolvido faseadamente, nas duas primeiras etapas o POW
contou com um total de 369 participações, que contabilizaram
mais de 52.438 visualizações. A terceira fase do projeto foi
lançada no início de abril, e tem como tema “Dá POWer ao
Electrão e deposita os teus REEE!”, que tem como embaixador o
apresentador Pedro Fernandes.
“Para incentivar as pessoas a adotar comportamentos
ambientalmente responsáveis, é fundamental informá-las sobre
o impacto das suas ações. Por isso mesmo, a Amb3E tem vindo
a apostar na sensibilização dos jovens para a importância do
correto encaminhamento dos REE. Neste momento, estamos
muito satisfeitos pelo sucesso do Projeto POW, não só pelo
número de participações que superou as nossas expetativas, mas
também pela qualidade dos projetos. Na terceira fase esperamos
ter ainda mais vídeos a concurso para que a mensagem chegue ao
maior número de pessoas”, disse o Diretor-Geral da Amb3E. IP
EXPERIÊNCIAS
SKELETON SEA
Lixo de praia transformado
em arte para manter os
oceanos limpos
Com cerca de nove anos, o grupo Skeleton Sea foi criado
por três surfistas e artistas plásticos que trabalham
exclusivamente com destroços, sucatas e qualquer outro
lixo encontrado nas praias de todo o mundo. As obras que
criam transmitem uma forte mensagem em torno de uma
causa comum a todos: “manter os oceanos limpos”.
João Parrinha, Luis de Dios e Xandi Kreuzeder são os três
elementos fundadores do coletivo de artistas Skeleton Sea e que
encontraram na arte uma forma de expressão, mas também um
meio para comunicar a importância de respeitarmos os direitos
humanos, mas também os da natureza, preservando-a.
Foi nas suas viagens e nos intervalos do surf que estes três
artistas começaram a resgatar aquilo que consideravam ser
objetos “preciosos” encontrados no mar e na praia, mas que
para a maioria ra apenas lixo: boias de vidro chinesas muito
antigas enroladas em cordas, imensos ossos de baleia e de peixes
polidos brilhantemente polidos, artefactos de pesca de todo o
género, pedaços de metal e de madeira de antigos barcos, peças
de porcelanas, entre muitas outras coisas… Juntar a criatividade
e a limpeza das praias, foi a ideia que serviu como semente que
viria depois a germinar num projeto artístico que utiliza “estes
tesouros do mar, usando-os em esculturas e instalação na
costa”, conta o Skeleton Sea na sua página oficial.
Ao longo dos anos, o coletivo já foi responsável pela recolha
de várias toneladas de resíduos das águas e praias, somando
já 20 esculturas no seu portfólio. Depois de alguns anos no
estrangeiro, Portugal é agora o porto de abrigo dos Skeleton Sea,
que têm quartel-general num ateliê na zona da Ericeira.
Bisnau, o novo “golfinho” de Setúbal
O lixo recolhido nas praias ganha uma nova vida nas
esculturas dos Skeleton Sea. E foi isso mesmo que aconteceu
com o Bisnau, um golfinho gigante com cinco metros e que
foi esculpido com recurso à enorme quantidade de material
poluente que foi recolhido na zona de Setúbal para o efeito, o
qual foi utilizado no seu revestimento.
Em exposição desde o passado mês de Dezembro junto
à marginal de Setúbal, esta é uma das obras mais recentes
deste coletivo e foi desenvolvida no âmbito do projeto de
responsabilidade social do futuro centro comercial Alegro
Setúbal (onde será posteriormente integrada).
O Bisnau representa um dos mamíferos mais acarinhados
no mundo: o golfinho ou roaz-corvineiro, e que podem ser
avistados no rio Sado junto a Setúbal. Como explica o coletivo
na sua página oficial, “a preservação da espécie está muito
dependente da nossa preocupação em manter os oceanos limos.
Várias espécies, entre as quais os golfinhos, morrem com os
seus estômagos cheios com os plásticos que poluem os nossos
rios e oceanos. Com esta obra de arte, a que chamámos Bisnau
num tributo a uma antiga famílias de pescadores de Setúbal,
tentámos promover a sensibilização para uma maior consciência
ambiental da nossa geração e consequentemente para a geração
dos nossos filhos para que possamos viver num mundo melhor,
com um maior respeito pela natureza e pela visa em si”.
O processo de criação da obra envolveu o trabalho de
recolha dos resíduos que foram utilizados na sua construção,
este processo aconteceu em outubro de 2013 e contou com a
participação de dezenas de voluntários que trabalharam lado a
lado com os Skeleton Sea a reunir toneladas de lixo, primeiro no
Portinho da Arrábida, depois nas Docas dos Pescadores.
“Ficamos sempre surpreendidos, porque olhamos para as
praias e parecem-nos limpas, ou relativamente limpas. Mas
mesmo nos sítios mais limpos, é impressionante a quantidade
de lixo que lá apanhamos”, realça João Parrinha. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 33
EXPERIÊNCIAS
CD: www.voicesforinnovation.eu
PROJETO VOICES
Portugueses querem
tratamento do lixo melhor
e mais tecnológico
Os cidadãos portugueses querem um melhor tratamento
do lixo e mais soluções tecnológicas a nível doméstico, de
acordo com as conclusões apuradas pelo projeto VOICES
no relatório sobre Portugal.
Conduzido pela Rede Europeia de Centros e Museus de
Ciência (Ecsite), o projeto VOICES (Views, Opinions and Ideas
of Citizens in Europe on Science) reuniu a opinião e as sugestões
de 1.000 cidadãos europeus, oriundos de 557 municípios de
27 países, no sentido de explorar o conceito do desperdício
urbano como um recurso aproveitável. Os resultados desta
consulta estão a ser usados pela Comissão Europeia para definir
aquelas que serão as prioridades europeias nos próximos anos
relativamente à forma como o desperdício urbano é gerido no
âmbito do programa de financiamento para a investigação em
ciência e tecnologia Horizonte 20 20 20.
Neste projeto financiado pela Comissão Europeia, foram
recolhidos ao longo de 2013 depoimentos de “pessoas comuns”
através de seis focus groups por cada um dos 37 Estados membro,
grupos esses divididos por diferentes faixas etárias (18-35 anos,
35-50 anos, mais de 50 anos). Face à sua abrangência, o VOICES
representa também o primeiro grande esforço europeu para dar
oportunidade aos seus cidadãos de influenciar diretamente as
políticas de investigação da União Europeia, que deverá ter em
conta aquelas que são as verdadeiras prioridades das pessoas.
Transformar lixo em biogás através da utilização de enzimas,
comida do tamanho de pílulas e novos tipos de embalagem feitas
de materiais comestíveis são algumas das principais ideias
sugeridas pelos cidadãos a nível europeu.
34 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Realizada em território nacional pelo Pavilhão do
Conhecimento-Ciência Viva, os portugueses também
participaram nesta consulta pública tendo partilhado as suas
ideias para uma sociedade sem desperdício. Para Carlos Catalão,
da Universidade Nova de Lisboa e coordenador da consulta em
Portugal, este foi um passo importante no sentido de “tornar
mais democrática a relação da sociedade com a ciência”.
De acordo com os resultados apresentados publicamente
em Lisboa no final do passado mês de novembro, no que toca
à gestão dos resíduos urbanos nosso país a tendência reportada
passa sobretudo “por soluções tecnológicas a nível doméstico e
não apenas industrial”, explicou aquele responsável à imprensa.
Maior aproveitamento do
desperdício é objetivo em Portugal
As ideias apresentadas pelos portugueses ao projeto VOICES
centram-se no melhor aproveitamento do desperdício, tendo
sido registados no relatório várias sugestões para o efeito.
É o caso, por exemplo, da criação de uma máquina coletiva
onde um grupo de pessoas depositaria o lixo para este ser
transformado em combustível – o qual seria depois utilizado
no abastecimento dos veículos dessa comunidade, por exemplo.
Outra sugestão apresentada consiste na criação de um sistema
que converte o lixo doméstico em energia para alimentar
prédios, casas ou infraestruturas.
“Estas ideias vão ser usadas para definir prioridades na
investigação europeia”, afirmou Carlos Catalão. IP
EXPERIÊNCIAS
GLOBAL SHARING DAY
Dia para partilhar
Em 2013, o segundo ano em que se realizou, o dia global
da partilha, numa tradução livre do Global Sharing Day,
envolveu mais de 70 milhões de pessoas em 192 países
de todo o mundo. Este ano é celebrado a 1 de junho.
Portugal ainda não aderiu, mas ficou a promessa de o
fazer no último Greenfest.
Promovido pela “The People Who Share”, sediada no
Reino Unido e criada por Benita Matofska, o Global Sharing
Day vai realizar-se este ano, o terceiro em que acontece, no
dia 1 de junho. O dia global da partilha assume-se como uma
campanha que pretende inspirar as pessoas, de forma alargada,
a celebrar a partilha, envolvendo-as através da criação de um
dia especifico para o fazer. Através de uma rede de parceiros
que se associam em todo mundo, são promvidos eventos
localmente e a adesão tem sido massiva. No primeiro ano em
que foi realizado (2012), o Global Sharing Day chegou a mais de
60 milhões de pessoas, contando com o envolvimento de 165
parceiros em 147 países. No segundo ano, em 2013, com o tema
“Partilha de Comida”, já foram mais de 70 milhões de pessoas
alcançadas em 192 países, através de mais de 200 entidades
parcerias, e mais de 4 milhões de pessoas partilharam uma
refeição nesse dia. Conforme explicou Benita Matofska, a
impulsionadora desta iniciativa, ao Impulso Positivo, as
iniciativas podem incluir eventos das mais diversas dimensões
e naturezas. A exemplo, um almoço de rua, que a própria
Benita promoveu na sua comunidade. De forma muito simples,
na sua rua, as pessoas colocaram mesas e juntaram-se num
almoço de comunidade. O resultado foi surpreendente: “Temos
pessoas a morar naquela rua há 42 anos, que nunca se tinham
reunido com outros vizinhos. Tínhamos desde um bebé de 7
dias a uma senhora de 92 anos, o que prova que a partilha “é
intergeracional” e pode ser alcançada através de “uma ação
muito simples, como juntar as pessoas num almoço”.
Este ano, o tema é “partilha na vizinhança”. O dia
marcado é 1 de junho e o objetivo é juntar as comunidades
para partilharem o que têm, demonstrando que a maior
parte do que necessitamos pode estar mesmo à nossa porta.
Na apresentação do evento de 2014, nota-se que existem
diversas maneiras através das quais as pessoas podem ligarse e partilhar no seio das suas comunidades: partilha de
ferramentas, de competências locais, vendas de rua, compras
coletivas de alimentos ou energia, partilha de sistemas wi-fi,
centros comunitários, projetos comunitários de jardinagem,
bancos de horas, projetos de partilha de bicicletas ou de boleias
de carro. Trocas de roupa, almoços ou picnics, atividades
colaborativas de música e artes ou limpeza de parques e jardins
também estão na lista de eventos que quem quiser associar-se
a este dia poderá organizar.
Portugal ainda está de fora dos países que aderiram ao
Global Sharing Day, mas o repto para que esta situação se
altere foi lançado durante o último Greenfest, em outubro
passado. “Ouvimos no Greenfest um pedido para que hajam
atividades e esforços no país para este dia (Global Sharing
Day). Esta será uma oportunidade ótima para que as pessoas
se envolvam na partilha, organizem eventos desde almoços,
partilha de roupa ou de competências, entre outras”, referiu
Benita Matofska ao Impulso Positivo. E conclui: “há muitas
oportunidades para participar na Economia da Partilha e
assim que as pessoas começarem a perceber que isto está
ligado a uma coisa que liga todo o mundo, irá explodir
também em Portugal e o ritmo será extraordinário”. IP
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 35
EXPERIÊNCIAS
ZERO WASTE EUROPE
Acabar de vez
com os resíduos
A Zero Waste Europe (ZWE) é uma iniciativa
europeia independente que reúne organizações e
municípios empenhados em lutar para eliminar, de
vez, resíduos na Europa.
Parte das organizações internacionais GAIA (Global
Alliance for Incinerator Alternatives) e da Zero Waste
International Alliance (ZWIA), a Zero Waste Europe considera
que a quantidade de resíduos produzidos pelas sociedades
atuais é simultaneamente sinal de ineficiência dos sistemas
produtivos e da falta de solidariedade para com as gerações
futuras. Acima de tudo, o “resíduo zero” (“Zero Waste”), “é
uma filosofia, uma estratégia e um conjunto de ferramentas
práticas que procuram eliminar os resíduos, e não geri-los”.
A ZWE é um movimento que pretende reunir os municípios
europeus, ligando organizações internacionais sem-fins
lucrativos a grupos Zero Waste locais, com objetivo de
reduzir os resíduos até eliminá-los, como forma de melhorar
a sustentabilidade, a resiliência económica e a coesão social.
Esta filosofia implica redesenhar e gerir produtos e processos
para reduzir o volume e a toxicidade de resíduos materiais,
conservar e recuperar todos os recursos, sendo contra a
incineração ou aterro destes resíduos.
Como forma de tornar as sociedades alinhadas com a
estratégia de “resíduo zero”, a ZWE defende que é necessário
promover a mudança cultural e o envolvimento das
comunidades. Na perspetiva da ZWE, “os atuais modelos de
produção, consumo e distribuição na Europa baseiam-se no
mito de que vivemos num mundo com recursos infinitos”, pelo
que é necessário mudar de paradigma, e ir além do “objetivo
atual de transformar a Europa numa sociedade de reciclagem.
É necessário adoptar a redução do uso de materiais e energia
de forma a transformá-la numa sociedade de resíduos zero”,
fator para o qual é indispensável “a participação e educação
das comunidades”.
A alteração das infraestruturas é outro passo necessário
para implementar este plano defendido pela ZWE, que defende
36 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
que os sistemas de produção e as infraestruturas de gestão
de resíduos na Europa devem ser desenhados para refletir
prioridades como a prevenção e separação de resíduos, e a
redução de resíduos residuais.
Na perspetiva desta organização, um dos principais desafios
que se coloca atualmente à Europa passa pela criação de uma
economia socialmente inclusiva e resiliente, de baixo carbono e
eficiente em termos de recursos, que respeite a diversidade dos
ecossistemas e aumente a coesão social. Para tal, é necessária
uma estratégia de “resíduo zero”, que, entre outras vantagens,
resultará na criação de postos de trabalho adicionais, na
redução da dependência europeia das importações, devolução
dos nutrientes ao solo, na redução do impacto ambiental
associado à gestão de resíduos, na motivação da inovação no
design de produtos e no envolvimento dos cidadãos na criação
de uma Europa melhor.
Desde 2011, que os grupos europeus da ZWE tem vindo
a colaborar, de forma voluntária, e a organizar eventos,
trabalhando em conjunto com os membros europeus da rede
GAIA. Mas até final de 2013, a rede da ZWE esteve a operar de
forma informal, sem gerir quaisquer fundos. Em dezembro do
ano passado foi formalmente registada e 2014 marca o primeiro
ano das operações oficiais desta entidade. Nos próximos
anos, o foco da ZWE será a consolidação das ações locais e
regionais para o “resíduo zero” na Europa e o alargamento da
rede de municípios que aderem a esta filosofia. Para que tal
aconteça, a ZWE vai promover o contacto com grupos locais
e internacionais para partilhar boas práticas e influenciar
a adopção de políticas para criação de mais emprego, menos
poluição e mais justiça, bem como para um futuro de baixo
carbono e eficiente em termos de recursos.
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PRÉMIOS & INCENTIVOS
em aberto
Prémio Gulbenkian recebe
candidaturas até 15 de Maio
Até 15 de maio estão abertas as nomeações para o Prémio
Calouste Gulbenkian 2014 que visa distinguir os melhores
trabalhos e projetos realizados em prol da defesa dos valores
essenciais da condição humana.
As nomeações serão avaliadas por um júri presidido pelo antigo
presidente da República Jorge Sampaio, cabendo a decisão final
ao Conselho de Administração da Fundação.
De periodicidade anual, este prémio tem o valor de 250.000 euros
e pode ser atribuído a instituições ou pessoas, portuguesas ou
estrangeiras. Uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian,
este galardão surge em substituição dos cinco prémios
Gulbenkian atribuídos entre 2007 e 2011 nas áreas dos Direitos
Humanos e Ambiente, Arte, Ciência, Beneficência e Educação.
Recorde-se que estes prémios foram criados em 2006 para
assinalar o cinquentenário da Fundação e ao longo de cinco anos
distinguiram mais de três dezenas de pessoas e instituições.
“O Século” lança
Prémio João Pereira da Rosa
Instituído pela primeira vez em 2014 pela Fundação O Século,
como homenagem ao seu patrono, o Prémio João Pereira da Rosa
visa distinguir entidades coletivas e individuais que se distingam
no decorrer do ano transato pelas suas atividades relevantes
no domínio da Solidariedade Social. De regularidade anual, o
galardão, cuja fase de candidaturas terminou a 30 de abril, anuncia
os vencedores a 20 de Maio na gala da Fundação O Século, no
Casino Estoril, coincidindo com o aniversário da instituição. Serão
premiadas três categorias: institucional, empresarial e mérito.
Green Project Awards
– 7ª edição está de volta
Até ao próximo dia 30 de maio está a decorrer o período de
candidaturas ao Green Project Awards, que nesta sétima edição
contempla duas novas categorias (Cidades Sustentáveis e
Consumo Sustentável), um ciclo de conferências e a expansão para
dois novos países.
Poderão concorrer a este prémio empresas, Organizações
Não Governamentais (ONG), associações, cooperativas e
estabelecimentos de ensino e de investigação, administração
pública, administração local e ainda cidadãos em nome individual.
Os interessados poderão submeter as suas candidaturas em www.
greenprojectawards.pt, sendo que as candidaturas à categoria
iniciativa jovem devem ser submetidas no âmbito do Projeto 80. Os
vencedores serão anunciados no término do ciclo de conferências
GPA 2014, que decorrerá no último trimestre do ano.
38 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
BPI tem um milhão de euros em
prémios para o terceiro setor
Em 2014, o banco BPI no âmbito da sua Política de
Responsabilidade Social volta a consagrar um milhão de euros para
premiar projetos e instituições no terceiro sector, através de duas
iniciativas distintas no valor de 500.000 euros cada: o Prémio BPI
Séniores – cujas candidaturas já estão abertas-, e o Prémio BPI
Capacitar – cujas candidaturas abrem a 16 de junho. Cada entidade
promotora só poderá candidatar-se a um dos galardões.
Nesta fase estão já a decorrer as candidaturas ao Prémio BPI
Seniores que destinou meio milhão de euros para apoiar iniciativas
que promovam a integração social e o envelhecimento ativo de
pessoas com idade superior a 65 anos. Até 18 de maio podem
candidatar-se todas as instituições privadas sem fins lucrativos
sedeadas em Portugal que apresentem projetos sólidos e
inovadores nesta área, sendo que as candidaturas serão depois
avaliadas pela sua qualidade técnica e pela sua sustentabilidade.
O primeiro prémio irá receber até 200.000 euros e as menções
honrosas até 50.000 euros cada.
“Sundance Institute Short
Film Challenge” procura
histórias inspiradoras
O Instituto Sundance e a Fundação Bill & Melinda Gates estão
à procura de curtas-metragens que deem a conhecer histórias
únicas, inspiradoras e otimistas sobre pessoas e projetos que
estejam a mudar o mundo. Abertas a propostas de todo o mundo, as
candidaturas estão abertas até 1 de julho. Para concorrer, as curtas
devem ter entre 3 a 8 minutos e podem ser apresentados em formato
documentário, ficção, imaginativa, pouco ortodoxa, desafiante ou
simples, podendo ter total liberdade em termos de estrutura.
O objetivo deste concurso é “inspirar um debate global à volta
de soluções inovadoras que pessoas reais estão a usar para
conquistar desafios” como a fome e pobreza, através destas curtas
históricas. Nesta primeira edição do “Sundance Institute Short
Film Challenge” serão selecionados pelo júri os cinco melhores
trabalhos, que serão premiados com 10.000 dólares (cerca de 7.200
euros) cada um. Posteriormente, uma das histórias será produzida
por um realizador reconhecido e o selecionado irá ver a sua estreia
à edição de 2015 no Festival Sundance, como convidado especial.
concursos em www.acreditaportugal.pt .
PRÉMIOS & INCENTIVOS
já atribuidos
Associação Laço atribui
bolsas de investigação
Microsof distingue
professores portugueses
A Associação Laço, que opera na área da prevenção e sensibilização
para o cancro da mama, já anunciou o nome dos premiados
com duas bolsas de investigação no valor de 25.000 euros para
o desenvolvimento de projetos na área do cancro da mama
metastático, uma mazela “atualmente incurável”. As vencedoras
foram Joana Paredes, do Instituto de Patologia e Imunologia
Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), que vai
desenvolver um projeto sobre o cancro de mama “Triplo-negativo”;
e Diana Gaspar, investigadora do Instituto de Medicina Molecular
(IMM) da Universidade de Lisboa, que irá desenvolver um projeto na
área das metástases do cérebro.
Ao todo concorreram a esta bolsa cerca de 30 candidatos, sendo
que a escolha do júri recaiu sobre estes dois projetos devido à
“sua originalidade e potencial impacto no desenvolvimento de
tratamentos inovadores para o cancro da mama metastático,
atualmente incurável”, refere fonte oficial.
Os portugueses João Cunha e José Marques foram distinguidos
entre os mais de 260 professores mais inovadores no mundo
no Concurso Mundial de Professores Inovadores da Microsoft
2014, que reconhece os docentes e escolas que estão a liderar a
inovação na educação em 97 países.
Assim, no evento que este ano decorreu em Barcelona, o
professor José Carlos Marques arrecadou o segundo lugar
na categoria “Utilização inovadora da tecnologia para a
aprendizagem”. O docente de Lisboa é o responsável pelo
projeto “Kodu na Sala de Aula”, desenvolvido com crianças
com necessidades educativas especiais. Este projeto tem
como principais objetivos: desenvolver o pensamento lógico e
estimular a criatividade, incentivar o processo de aprendizagem
encorajando o desenvolvimento intelectual e conceitos
matemáticos, e criar um jogo com base numa história que
tenham imaginado.
Por seu turno, o professor João Cunha, de Braga, foi distinguido
no concurso Learn-a-Thon na categoria “Combate à Pobreza”,
graças ao projeto “Hands on Robots” que pretende desenvolver
competências de colaboração e pensamento computacional, que
arrecadou o 2º lugar da competição.
Museu do Caramulo
vence Prémio Vivalva
O Museu do Caramulo (Tondela) foi distinguido com o Prémio Vilalva,
atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian pela sétima vez
consecutiva, por causa da "relevância, oportunidade e qualidade"
do projeto de requalificação. No valor de 50.000 euros, este prémio
pretende distinguir anualmente "um contributo importante no domínio
da recuperação do património".
Com 60 anos de história, o Museu do Caramulo distingue-se pela sua
coleção de arte, uma dedicada aos automóveis, motos e bicicletas e
outra de brinquedos antigos. Nesta sétima edição do prémio, o júri
destacou a "relevância e oportunidade do projeto" de requalificação,
do atelier da arquiteta Teresa Nunes da Ponte, e o "criterioso respeito
pelo edifício e museografias originais".
O júri integrou António Lamas, José Sarmento de Matos, José Pedro
Martins Barata, Dalila Rodrigues e Rui Esgaio.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 39
JÁ VIU?
SITES
United Nations Global Action for Sustainable
Consumption and Production
Think.Eat.Save
A campanha Think.Eat.Save, desenvolvida pela Save Food
Initiative, é fruto de uma parceria entre a UNEP, FAO e a Messe
Düsseldorf e que conta com o apoio do Desafio Fome Zero da
Secretaria Geral das Nações Unidas, o qual procura acrescentar
a sua autoridade e dar voz a estes esforços de modo a galvanizar
ações globais, regionais e nacionais de forma generalizada, e
a catalisar a atenção e a ação de mais setores da sociedade,
promovendo a partilha de ideias inspiradoras e de projetos entre
os operadores já envolvidos e os novos protagonistas que se
poderão juntar a bordo.
Disponibiliza online o site Think.Eat.Save, que é um portal
concebido para mostrar essas ideias e constituir-se como um
ponto de paragem obrigatório para consultar notícias e recursos,
e para lançar o apelo para que todos possam tomar medidas
sobre esta preocupação global.
http://www.thinkeatsave.org/
Esta é a página oficial do programa de ação global para o consumo
e produção sustentável de bens promovido pelas Nações Unidas,
parte integrando do programa ambiental desta organização. Nela
poderão ser consultados inúmeros documentos e atualizações
acerca de programa, bem como as últimas notícias sobre o mesmo.
Se quer saber quem são os países que mais se estão a destacar
nesta área ou aqueles que estão menos avançados consulte esta
página, e fique a saber mais sobre a estratégia das Nações Unidas
para reduzir o desperdício de recursos na Terra.
http://www.unep.org/10yfp/Home/tabid/106212/Default.aspx
Global Stewards
Criado em 1998, o objetivo da Global Stewards é disponibilizar um
vasto manancial de dicas e conselhos para que todos possamos
contribuir para um planeta mais saudável. A gestão do site é
assegurada por um conjunto de cidadãos sediados em diferentes
pontos do globo mas que têm em comum a preocupação com a
sustentabilidade do nosso planeta.
http://www.globalstewards.org/index.htm
United Against Food Waste
O United Food Waste foi o primeiro evento na Europa onde toda
a cadeia de valor esteve representada. Esta iniciativa é levada a
cabo no âmbito da colaboração europeia FUSIONS, que é a maior
aliança a nível mundial contra o desperdício alimentar. Ao todo,
21 parceiros de toda a Europa participam na FUSIONS, incluindo
entidades como a Feeding the 5000, UN, o Movimento dinamarquês
de consumidores Stop Wasting Food e a Communiqué.
A SAVE FOOD e a Think.Eat.Save também estão representadas
no evento Stop Wasting Food. “Estamos muito orgulhosos de
pela primeira vez conseguir reunir tantas forças importantes
representativas de toda a cadeia de valor alimentar neste evento
único”, afirmou o seu grande dinamizador, Selina Juul, que é
também o fundador do movimento dinamarquês Stop Wasting
Food. “No futuro, este evento poderá ser facilmente replicado
noutros países. E estamos já muito envolvidos em colaborações
internacionais – e todos são bem-vindos para nos contactar com
vista a cooperações futuras”.
www.unitedagainstfoodwaste.com
40 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Stop food waste – European Commision
No seu sítio oficial, a Comissão Europeia dedica uma página
à sensibilização contra o desperdício alimentar reunindo
um manancial de informação dirigido a todos os cidadãos
europeus acerca das ações que podem ter com vista à redução
do desperdício de comida, bem como as ações que a própria
Comissão tem em curso nesse sentido.
Ali podem também ser consultados casos de boas práticas neste
campo, bem como informação de caráter prático como legislação
em vigor na Europa. São também disponibilizados materiais
promocionais e educativos sobre o tema.
www.ec.europa.eu/food/foo/sustainability/index_en.htm
JÁ VIU?
FONTES
Waste Management & Research – Volume 32
Issue 4 – Abril 2014
Uma das mais prestigiadas publicações científicas sobre o tema
da Gestão de Desperdício, a Waste Management & Research
(WM&R) satisfaz a procura crescente de informação com base
científica que pode ser utilizada por todos os profissionais da área
da gestão de desperdício.
A WM&R é uma revista internacional que publica artigos originais
de investigação e de revisão bibliográfica relativos quer à teoria,
quer à prática da gestão de resíduos. Todos os artigos submetidos a
publicação são validados e revistos por um painel internacional de
pares, entre investigadores e especialistas de reconhecido renome.
Com esta publicação, o grupo editorial visa promover a inovação
e providenciar uma ponte entre os estudos académicos e os
problemas práticos. A revista pode ser acedida online no site da
SAGE Journals, em http://wmr.sagepub.com
Waste: a Hanbook for Management (1ª edição)
Publicado em 2011 pela Academic Press, este livro dos autores
Trevor Letcher e Daniel Vallero fornece uma visão abrangente
sobre a realidade do desperdício na nossa sociedade. Ao longo de
mais de 500 páginas, a obra examine um vasto leque de fluxos de
desperdício, começando nos resíduos que produzimos em nossas
casas, passando pelos resíduos industriais e societais. No livro
é também abordada a questão sobre os desafios futuros que se
colocam aos aterros sanitários e aos incineradores.
Abrangendo todos os temas relacionados com os resíduos
e desperdícios em apenas um volume, esta obra é uma
ferramenta útil para a criação de comparações, de soluções
sinérgicas e contribui para uma sociedade mais informada.
Complementarmente, oferece também aos leitores um conjunto
de sugestões relacionadas com as melhores práticas para fazer
uma gestão dos problemas dos resíduos através da reciclagem,
inceneração, aterro e outros processos.
Global Food Losses and Food Waste
Manual para Mudar o Mundo (1ª edição)
Realizado no âmbito do Congresso Internacional “Save Food”,que
teve lugar na Interpack 2011 (Düsseldorf, Alemanha), este estudo
coloca em destaque as perdas ocorridas ao longo de toda a cadeia de
produção alimentar, e avalia a sua magnitude. Além disso, identifica as
causas dessas perdas e possíveis soluções para as prevenir.
Os resultados deste estudo sugerem que quase um terço da comida
produzida para o consumo humano se perde ou é desperdiçado a nível
global, o que equivale a cerca de 1.3 biliões de toneladas por ano.
Inevitavelmente, isto significa que uma enorme parte dos recursos
usados na produção alimentar estão a ser desperdiçados em vão, tal
como acontece no que toca à emissão de gases de estufa causados
pela produção desses bens alimentares que são desperdiçados.
Isabel Lopo de Carvalho, João Cotter Salvado e Filipe Santos são
os autores do Manual para Transformar o Mundo, publicado em
2013 pelo Instituto de Empreendedorismo Social e da Fundação
Calouste Gulbenkian
Constituindo-se como um guia para o empreendedor social,
através desta obra o leitor é desafiado a repensar a forma como
se constroem soluções para problemas negligenciados da
sociedade, transformando uma ideia inspiradora numa solução
inovadora com elevado impacto social, em apenas dez passos.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 41
JÁ VIU?
LEGISLAÇÃO
REGIME JURÍDICO DE APOIO AO MOVIMENTO ASSOCIATIVO
DESPORTIVO (AÇORES)
Decreto Legislativo Regional nº 4/2014/A, DR, Série I, nº 34,
de 18 de fevereiro de 2014
Segunda alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 21/2009/A, de 2 de
dezembro, alterado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 2/2012/A, de 12 de
janeiro, que estabelece o regime jurídico de apoio ao movimento associativo
desportivo na Região Autónoma dos Açores.
PROGRAMA ERASMUS+ EM PORTUGAL
SMALL BUSINESS ACT
Declaração de Retificação nº 23/2014, DR, Série I, nº 70, de 09 de abril de 2014
Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 15/2014, de 24 de
fevereiro, da Presidência do Conselho de Ministros, que cria as agências
nacionais para a gestão do Programa Erasmus+ em Portugal, publicada em
Diário da República, Série I, n.º 38, de 24 de fevereiro de 2014. O documento
retifica alguma inexatidões constantes no referido Decreto-Lei.
REGIME TEMPORÁRIO PARA A REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS
Decreto-Lei nº 53/2014, DR, Série I, nº 69, de 08 de abril de 2014
Entrou em vigor, a 9 de abril de 2014, o Decreto-Lei n.º 53/2014, de 8 de abril,
que estabelece um regime excecional e temporário aplicável à reabilitação
de edifícios ou de frações, o qual visa agilizar, dinamizar e simplificar os
procedimentos administrativos de reabilitação urbana. Estabelece um
regime excecional e temporário por sete anos aplicável à reabilitação de
edifícios ou de frações, concluídos há pelo menos 30 anos ou localizados em
áreas de reabilitação urbana, sempre que se destinem a ser afetos total ou
predominantemente ao uso habitacional e desde que a operação urbanística
não origine desconformidades, nem agrave as existentes, ou contribua para
a melhoria das condições de segurança e salubridade do edifício ou fração.
ALTERAÇÃO AO DECRETO-LEI QUE CRIA A FUNDAÇÃO MATA
DO BUÇACO
Resolução do Conselho de Ministros nº 14/2014, DR, Série I, nº 36,
de 20 de fevereiro de 2014
Comete à reunião de coordenação dos assuntos económicos e do
investimento a função de Comité de Acompanhamento em Portugal do
«Small Business Act», para a Europa. O «Small Business Act» para a
Europa é uma iniciativa desenvolvida no âmbito da União Europeia para
estabelecer um quadro político abrangente para as PME’s, que promove o
empreendedorismo e a definição das políticas públicas com vista a reforçar
a competitividade das PME.
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA
Aviso nº 35/2014, DR, Série I, nº40, de dia 26 de fevereiro de 2014
Torna público que a República Portuguesa depositou, junto do SecretárioGeral das Nações Unidas, a 24 de setembro de 2013, o seu instrumento
de ratificação ao Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos
da Criança Relativo à Instituição de Um Procedimento de Comunicação,
adotado em Nova Iorque em 19 de dezembro de 2011.
CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS
AS PESSOAS CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS
Aviso nº 36/2014, DR, Série I, nº 40, de dia 26 de fevereiro de 2014
Decreto-Lei nº 58/2014, DR, Série I, nº 74, de 15 de abril de 2014
Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 120/2009, de 19 de maio,
que cria a Fundação Mata do Buçaco, adaptando os respetivos Estatutos
à Lei-Quadro das Fundações, aprovada pela Lei n.º 24/2012, de 9 de julho.
DOCUMENTOS ESTRUTURANTES SOBRE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Resolução da Assembleia da República nº 33/2014, DR, Série I, nº 71, de dia
21 de abril de 2014
A Assembleia da República recomenda ao Governo que disponibilize o
acesso fácil ao público, nomeadamente no site da Agência Portuguesa
do Ambiente, de todos os documentos estruturantes que saíram das
conferências das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sobre
desenvolvimento sustentável.
PROCESSO EXECUTIVO DO SISTEMA DE SOLIDARIEDADE E
SEGURANÇA SOCIAL
Torna público que a República Portuguesa depositou junto do SecretárioGeral das Nações Unidas, a 27 de janeiro de 2014, o seu instrumento de
ratificação à Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas
contra os Desaparecimentos Forçados, adotada em Nova Iorque em 20 de
dezembro de 2006
ALTO COMISSARIADO PARA AS MIGRAÇÕES, I.P.
Decreto-Lei nº 31/2014, DR, Série I, nº 41, de 27 de fevereiro de 2014
Aprova a orgânica do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo
Intercultural, I.P (ACIDI), organismo que, em Portugal, tem concretizado
a política de integração de imigrantes.
PROMOÇÃO DA IGUALDADE SALARIAL ENTRE MULHERES E
HOMENS
Decreto-Lei nº 63/2014, DR, Série I, nº 81, de 28 de abril de 2014
Resolução do Conselho de Ministros nº 18/2014, DR, Série I, nº 47,
de 7 de março de 2014
Procede à sétima alteração ao Decreto-Lei n.º 42/2001, de 9 de fevereiro,
que cria as secções de processo executivo do sistema de solidariedade e
segurança social, define as regras especiais daquele processo e adequa a
organização e a competência dos tribunais administrativos e tributários.
Adota medidas tendo em vista a promoção da igualdade salarial entre mulheres
e homens, reconhecendo que é necessário intensificar medidas específicas que
possam contrariar a tendência histórica de desigualdade salarial penalizadora
para as mulheres, tendo em vista alcançar-se uma efetiva igualdade de género.
42 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
JÁ VIU?
APROVAÇÃO DA CAMPANHA DE RECOLHA “VAMOS GRAVAR
ESTA IDEIA!”
Portaria nº 75/2014, DR, Série I, nº 57, de dia 21 de março de 2014
Aprova a Campanha de Recolha «Vamos Gravar Esta Ideia!», com o objetivo
de promover a recolha de suportes de informação descartáveis usados,
a desenvolver no âmbito de uma parceria estabelecida com diversas
entidades disponíveis para colaborar, no âmbito das suas atividades, e que
visa oferecer uma resposta de curto prazo de recolha destes suportes
informáticos utilizados, com vista ao seu encaminhamento para reciclagem.
Pretende-se replicar neste âmbito o sucesso de outras campanhas como o
Projeto Limpar Portugal que através da criação de um regime excecional
aplicável a ações de voluntariado visou a remoção de resíduos de zonas de
deposição indevida o seu encaminhamento para destino adequado.
II PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO
DE SERES HUMANOS 2014-2017
Declaração de Retificação nº 13/2014, DR, Série I, nº 42,
de dia 28 de fevereiro de 2014
Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 101/2013, de 31 de
dezembro, que aprova o III Plano Nacional de Prevenção e Combate ao
Tráfico de Seres Humanos 2014-2017, publicada no Diário da República n.º
253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013.
V PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E DE GÉNERO
Declaração de Retificação nº 12/2014, DR, Série I, nº 42,
de dia 28 de fevereiro de 2014
Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 102/2013, de 31 de
dezembro, que aprova o V Plano Nacional de Prevenção e Combate à
Violência Doméstica e de Género 2014-2017, publicada no Diário da
República n.º 253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013
V PLANO NACIONAL PARA A IGUALDADE, GÉNERO,
CIDADANIA E NÃO-DISCRIMINAÇÃO 2014-2017
Declaração de Retificação nº 14/2014 DR, Série I, nº 42,
de dia 28 de fevereiro de 2014
Retifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 103/2013, de 31 de
dezembro, que aprova o V Plano Nacional para a Igualdade, Género,
Cidadania e Não-discriminação 2014-2017, publicada no Diário da República,
n.º 253, 1.ª Série, de 31 de dezembro de 2013
NOVA LEI DE BASES DO AMBIENTE
Lei nº 19/2014, DR, Série I, nº73, de 14 de abril de 2014
Análise realizada por Vieira de Almeida & Associados
A Lei n.º 19/2014, de 14 de abril, define as bases da política de ambiente,
revogando a anterior Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 7 de abril),
aprovada há 27 anos. A Nova lei entrou em vigor a 19 de abril.
A Nova Lei de Bases do Ambiente caracteriza-se por uma significativa
simplificação e sistematização em comparação com a anterior lei, adaptandose à legislação publicada nas últimas décadas e atualizando conceitos,
princípios e instrumentos da política de ambiente. Objetivos da política de
ambiente: Nos termos da nova lei, a política de ambiente, cuja realização
compete ao Estado, visa a efetivação dos direitos ambientais através da
promoção do desenvolvimento sustentável, suportada na gestão adequada
do ambiente, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade de
baixo carbono e uma“economia verde”, racional e eficiente na utilização dos
recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria progressiva da
qualidade de vida dos cidadãos. Princípios materiais de ambiente: A atuação
pública em matéria de ambiente está subordinada aos seguintes princípios: (i)
Desenvolvimento Sustentável, (ii) Responsabilidade intra e intergeracional,
(iii) Prevenção e Precaução, (iv)Poluidor-pagador, (v)Utilizador-pagador, (vi)
Responsabilidade, (vii) Recuperação. Direito ao ambiente: A nova lei mantém
o princípio geral de que todos têm direito ao ambiente e à qualidade de vida,
nos termos constitucional e internacionalmente estabelecidos. O direito
ao ambiente é definido como o direito de defesa contra qualquer agressão
à esfera constitucional e internacionalmente protegida de cada cidadão,
bem como o poder de exigir de entidades públicas e privadas o cumprimento
dos deveres e das obrigações, em matéria ambiental, a que se encontram
vinculadas nos termos da lei e do direito. Direitos procedimentais em matéria
de ambiente: Passar a estabelecer-se, expressamente, que todos os cidadãos
gozam dos direitos de intervenção e de participação nos procedimentos
administrativos relativos ao ambiente, em especial: (i)Direito de participação
dos cidadãos, das associações não-governamentais e dos demais agentes
interessados, em matéria de ambiente; (ii) Direito de acesso à informação
ambiental detida por entidades públicas. Direitos processuais em matéria
de ambiente: Os direitos processuais foram clarificados e sistematizados,
sendo reconhecido o direito de todos à tutela plena e efetiva dos seus direitos
e interesses legalmente protegidos em matéria de ambiente, que incluem,
nomeadamente: (i)Direito de ação para defesa de direitos subjetivos e
interesses legalmente protegidos, assim como o direito de ação pública e de
ação popular; (ii)Direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação
de violações de bens e valores ambientais da forma mais célere possível; (iii)
Direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça ou
dano ao ambiente, bem como a reposição da situação anterior e o pagamento
da respetiva indemnização. Deveres Ambientais: Os deveres dos cidadãos
estão agora autonomizados, estabelecendo-se que o direito ao ambiente
está indissociavelmente ligado ao dever de o proteger, de o preservar e de
o respeitar, assegurando o desenvolvimento sustentável a longo prazo,
nomeadamente para as gerações futuras. É adotado uma definição de
cidadania ambiental, definida como o dever de contribuir para a criação de
um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado e para a sua proteção e
preservação. Âmbito de aplicação da política de ambiente – Componentes
ambientais, naturais e humanos: Mantém-se a distinção entre componentes
ambientais naturais e humanos, considerados indissociáveis da realização
da política de ambiente, tendo sido objeto de reformulação nos seguintes
termos: (i) Componentes Ambientais Naturais (Ar, Água, Mar, Biodiversidade,
Solo, Subsolo, Paisagem); (ii) Componentes associados a comportamentos
humanos (Alterações Climáticas, Resíduos, Ruído, produtos Químicos).
Instrumentos da política de ambiente: Os instrumentos da política de
ambiente foram revistos, encontrando-se agora organizados em 7 categorias:
(i)Informação ambiental (conhecimento e informação disponíveis,
monitorização e recolha de dados); (ii) Planeamento (estratégias, programas
e planos); (iii) Económicos e financeiros (instrumentos de apoio financeiro,
de compensação ambiental, contratuais, de fiscalidade ambiental, de
prestações e garantias financeiras e de mercado); (iv) Avaliação ambiental
(prévia à aprovação de programas, planos e projetos, públicos ou privados);
(v) Autorização ou licenciamento ambiental (atos permissivos prévios a
atividades potencialmente ou efetivamente poluidoras ou suscetíveis de
afetar significativamente o ambiente ou a saúde humana); (vi)Desempenho
ambiental (melhoria contínua do desempenho ambiental, designadamente a
pegada ecológica, a rotulagem ecológica, as compras públicas ecológicas e
os sistemas de certificação); (vii)Controlo, fiscalização e inspeção (controlo
das atividades suscetíveis de ter um impacto negativo no ambiente).
AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS
LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 43
ARTIGO TÉCNICO
Consumo inteligente:
A melhor arma contra o
desperdício
Sara Campos
O tema do desperdício não é novo, mas tem ganho ultimamente
uma maior expressão, em grande parte devido ao contexto atual.
Os momentos de crise obrigam, de facto a repensar e aprimorar
estratégias de poupança. Se, à partida, esta última se refere a
um plano económico, de contenção de despesas e ginástica
orçamental, não deixa de ser também um ponto de partida para
pôr em evidência os benefícios que um consumo mais inteligente
pode ter ao nível do desejado equilíbrio ambiental.
Quando se fala em poupança ou desperdício, enquanto dois
vértices entre os quais se move o consumidor moderno com um
vasto acesso a bens e serviços, podemos incluir nesse espectro
um leque alargado de recursos de consumo diário. Num nível
mais primário, água e energia. Mais à frente na cadeia, os bens
alimentares, um tema que está no centro das atenções em 2014,
considerado pelo Parlamento Europeu como o Ano Europeu
contra o Desperdício Alimentar.
Como podemos ser, então, consumidores inteligentes?
Seja qual for o bem que vamos consumir, desde a água da
torneira à lâmpada da sala, passando por uma peça de fruta,
a lógica é muito semelhante. Adequar o consumo às nossas
necessidades reais e reutilizar sempre que possível, criando
valor em vez de criar resíduos.
44 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Por Sara Campos, Quercus
Sem desperdício à mesa
Não é por acaso que o desperdício alimentar tem merecido
mais atenção mediática e servido de mote a vários projetos e
iniciativas de cariz social e ambiental. Infelizmente, os números
são demasiado expressivos para passarem despercebidos.
Segundo dados do Parlamento Europeu, todos os anos são
produzidas 89 milhões de toneladas de resíduos alimentares
nos Estados-Membros, um valor que poderá em 2020 chegar às
126 milhões de toneladas. Estamos, pois, perante um problema
ético, social, ambiental e económico. Convém não esquecer que
desperdiçar um alimento é sinónimo de desperdiçar também
o solo, a energia, a água e os recursos humanos envolvidos na
sua produção. Num mundo em que a capacidade agrícola e o
consequente acesso à alimentação básica são desiguais, estamos
perante um paradoxo, no qual alguns deitam fora o que muitos
não conseguem produzir e consumir.
Em Portugal, o cenário também não é animador: deitamos
para o lixo, todos os anos, 1 milhão de toneladas de alimentos,
ou seja, cerca que 17% do que produzimos. Enquanto 360 mil
portugueses passam fome, vão para o lixo, diariamente, à
volta de 50 mil refeições. Mais ainda, calcula-se que 10% das
emissões de gases com efeito de estufa provenham da produção
ARTIGO TÉCNICO
de alimentos que nunca chegarão a ser consumidos. Estes
números estão disponíveis, entre outros, na página na Internet
do movimento ‘Zero Desperdício’, uma iniciativa da Associação
DARiACORDAR, que tem vindo a desenvolver um esforço muito
positivo de voluntariado por forma a combater o problema do
desperdício alimentar em Portugal. Esforço esse que já está
a dar frutos e a chamar a atenção a nível internacional: ao
recolher refeições e bens alimentares em bom estado junto
de estabelecimentos como restaurantes, hotéis, cantinas e
supermercados, dá-lhes um destino muito mais válido do que
o caixote do lixo, oferecendo-os a quem precisa, sem qualquer
custo. Estamos a falar de comida que nunca saiu da cozinha,
cujo prazo de validade se aproxima do fim ou que não foi
exposta nem esteve em contacto com o público. Até agora já
foram ‘servidas’, através deste trabalho voluntário, quase 880
mil refeições. Um número que felizmente tem vindo a aumentar
todos os dias e o melhor é que todos podemos dar uma ajuda
enquanto voluntários. Basta uma visita à página oficial www.
zerodesperdicio.pt para saber como.
O papão das facturas mensais
É um estigma que as persegue, serem o papão que assombra
os últimos dias do mês. As faturas domésticas – água, gás,
eletricidade – caem-nos na conta, mas será que olhamos
verdadeiramente para elas? Quanto daqueles euros na soma
final poderiam ter sido evitados? Será que precisamos de gastar
tanto para manter o nosso estilo de vida? Estas são algumas
perguntas que podem, na verdade, ajudar a desmistificar o
estigma do papão.
O primeiro passo para restringir os nossos consumos ao
realmente necessário é fazer uma espécie de diagnóstico.
Para tal, existem já vários simuladores de poupança, como os
disponíveis em www.ecocasa.pt, nos quais é possível perceber
quão eficientes (ou ineficientes) somos ao nível do consumo de
água e dos hábitos de consumo energético, incluindo-se aqui
componentes como a substituição da iluminação, a anulação de
consumos standby e off-mode, a eficiência dos equipamentos e
eletrodomésticos ou ainda a opção por sistemas de produção de
energias renováveis.
O segundo passo será passar da teoria à prática, ajustando os
hábitos de utilização destes recursos no dia-a-dia.
Na verdade, é esse o grande desafio. Segundo dados do projeto
Ecocasa, da Quercus, uma grande percentagem de famílias
adquire, por exemplo, lâmpadas eficientes ou multitomadas com
corte de corrente, embora, ao longo da utilização, se ‘esqueça’
de desligar a iluminação quando ela não é necessária ou o
interruptor da tomada para anular os consumos standby e offmode. E, se nestes dois exemplos, o valor de compra envolvido
não é muito avultado, no caso de um frigorífico ou de uma
máquina de lavar de classe A+++ (muito eficiente) o investimento
é bastante significativo. Devemos, portanto, rentabilizarmos já
que sozinho o eletrodoméstico não consegue fazer o trabalho
todo. Assim, cuidados como evitar a abertura desnecessária
de portas, no caso do frigorífico, ou fazer lavagens na carga
máxima, no caso da máquina, podem parecer insignificantes,
mas acabam no seu conjunto por adelgaçar a fatura final.
Da cozinha ao escritório, passando ainda pelas zonas de lazer e
descanso, acaba por existir sempre algum potencial de poupança.
E a verdade é que temos a vida cada vez mais facilitada neste
aspeto, graças à preciosa ajuda que nos dá o avanço tecnológico.
Veja-se o caso dos televisores com sensores de luminosidade, das
iluminação com sensores de presença ou ainda das multi-tomadas
com corte de corrente equipadas com comando remoto.
No capítulo do consumo de água, o argumento da poupança
financeira pode não ser tão forte, é verdade, mas também aqui
temos já a tecnologia à disposição. Basta só mesmo tirar o melhor
partido de dispositivos como os redutores de caudal, as torneiras
com termostato ou os autoclismos com alta eficiência hídrica, não
esquecendo que há sempre uma quota parte que tem de ser feita
por nós para evitar desperdícios.
O aproveitamento de águas pluviais para usos não potáveis, como
a rega, lavagens ou descargas de autoclismo é também uma solução
cada vez mais ao alcance do consumidor.
Aliás, convém não esquecer que uma das grandes aliadas da
redução de desperdícios é a reutilização, pela criação de um ciclo
(quase) auto-suficiente. Isto é tanto possível com a água como
com os resíduos orgânicos, cujo potencial de valorização através
da compostagem permite reduzir a quantidade de resíduos no lixo
indiferenciado destinados a ir para a aterro ou incineração. Antes
pelo contrário, regressam à terra de onde vieram, ao darem origem
a composto – um adubo natural.
Basicamente, podemos apostar numa redução do desperdício em
praticamente todas as vertentes do quotidiano, sendo que em todas elas
o ganho ambiental vem de braço dado com uma poupança económica.
Alguns números
Água
- Lavar a loiça na máquina e não manualmente é 92% mais eficiente.
- Instalar redutores de caudal nas torneiras e no duche
economiza até 40%.
- Tomar duche em apenas 5 minutos de torneira fechada gasta
menos 80 litros.
- Usar a descarga curta do autoclismo é sinônimo de menos
50% de água consumida
- Não usar água corrente para lavar as mãos e os dentes poupa
10 litros por dia.
Energia
- Ao trocar uma lâmpada de halogéneo por uma lâmpada LED
pode poupar até 90%
- Lavar roupa na máquina a 30ºC em vez de 60ºC reduz o seu
consumo até 4 vezes.
- Se desligar a TV BOX durante toda a noite economiza 17€
na fatura anual.
- Baixar a temperatura do forno de 250ºC para 200ºC resulta
num cozinhado 37% mais eficiente.
- Ao subir a classe energética do frigorífico de A para A+++,
sobe também a eficiência em 40%.
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 45
ARTIGO TÉCNICO
Desperdício:
O Sector Agro-Alimentar
e o Consumidor
Isabel Braga da Cruz
Segundo projeções da FAO, a produção alimentar mundial terá
de aumentar em cerca de 60% até 2050, por forma a suprir as
necessidades alimentares de uma população em crescimento, que
segundo dados das Nações Unidas deve atingir os 9 biliões em 2050.
Este aumento da população tem repercussões multidimensionais
de eficiência produtiva e até de competição da água, que vão desde
a produção primária, passando pelas indústrias transformadoras
até aos meios urbanos. Atualmente, verifica-se que mais de um
terço da produção alimentar é perdida ou descartada, ou, uma
em cada quatro calorias produzidas no sistema agrícola mundial
não cumpre o seu propósito “do prado à mesa”, ou melhor, “do
prado à boca”. Por definição, o desperdício alimentar refere-se à
diminuição de alimentos edíveis desde a produção, pós-colheita,
passando pelos vários estágios de processamento alimentar e
toda a cadeia de distribuição, até aos momentos de consumo.
Verifica-se que este desperdício é muito distinto, nas diferentes
regiões do globo, e está intimamente relacionado com o estado
de desenvolvimento económico dos países. Nos países mais
desenvolvidos, as perdas ocorrem normalmente na segunda fase
do processo, i.e. mais perto do consumo, ao passo que nos países
menos desenvolvidos as maiores perdas ocorrem nas primeiras
fases (produção e colheira). Claramente o desperdício alimentar
representa uma perda de oportunidade em termos de segurança
alimentar, com um elevado preço ambiental e económico, em que
sistemas mais eficientes em termos de redução de desperdício
estão associados a maiores ganhos.
As preocupações com a redução de desperdício alimentar
têm história, em particular em momentos de forte contenção
económica, como são exemplo alguns slogans alusivos ao “não
46 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Por Isabel Braga da Cruz – Knowledge Division – PortugalFoods
desperdício”, no pós guerra. Um exemplo disto é o poster “waste
not-want not” da primeira guerra mundial – fazendo a apologia
à conservação dos alimentos perecíveis por meio de alternativas
de conservação e uma boa preparação para o inverno. Nos dias de
hoje, e face ao ambiente de forte recessão económica identificase uma mudança de atitude da indústria e dos consumidores.
A reação da indústria vai no sentido de otimizar os seus
processos, numa perspetiva de reduzir, reutilizar, recuperar
e reciclar. Surgem assim mercados secundários para a
reutilização de alimentos, que vão desde a reciclagem à
valorização destes. O desperdício passa a ser encarado como
um subproduto, e então, como uma matéria-prima para
outros ciclos produtivos, passando a estágios de valorização,
e que podem ter aplicação humana, animal e até energética.
Exploram-se assim outros destinos, que passam também
por atitudes de responsabilidade social, já que muitos destes
alimentos são encaminhados para instituições de caridade por
via de doações, entre outros. E estas atitudes são a norma. A
um nível mais operacional identificam-se algumas estratégias
da indústria para fazer face à redução de desperdício, como
a otimização da cadeia de fornecimento, mais curta e muito
reativa; inovações ao nível da embalagem para aumento de vida
útil dos produtos; reduções no tamanho destas embalagens
acompanhadas de ofertas unidose, bem como de mercados
secundários. De referir que a “pegada” de desperdício
poderá ser uma próxima medida ambiental a ser adotada pela
indústria. De facto o tema da sustentabilidade tem estado
presente nos últimos anos, assumindo diversos formatos.
Em paralelo, o consumidor tenderá a adaptar os seus hábitos
ARTIGO TÉCNICO
“A um nível mais operacional
identificam-se algumas
estratégias da indústria
para fazer face à redução de
desperdício, como a otimização
da cadeia de fornecimento,
mais curta e muito reativa;
inovações ao nível da embalagem
para aumento de vida útil
dos produtos; reduções no
tamanho destas embalagens
acompanhadas de ofertas
unidose, bem como de mercados
secundários. De referir que
a “pegada” de desperdício
poderá ser uma próxima medida
ambiental a ser adotada pela
indústria. De facto o tema da
sustentabilidade tem estado
presente nos últimos anos,
assumindo diversos formatos. ”
de consumo ao atual contexto económico, assumindo atitudes
de maior racionalização, e desta forma a indústria reage com
inovações ao nível do tamanho da embalagem, ou até mesmo
as embalagens que permitam uma maior extensão do prazo
de validade. Outro exemplo é o desenvolvimento de outros
produtos que incorporam na sua matriz ingredientes que são
subprodutos de outros processos produtivos, sempre num
alinhamento de sustentabilidade, para o qual a otimização de
desperdício contribui.
Num olhar sobre ciência e sobre o output científico sobre o tema
do desperdício alimentar, constata-se um crescente número de
publicações e patentes (desde 2009) sobre o tema do desperdício,
resíduo ou subproduto alimentar, e que se relacionam com
tecnologias para produção de biomassa, valorização de
subprodutos ou melhorias sanitárias durante o processamento
promovendo a redução de desperdício.
A PortugalFoods tem tido um papel ativo sobre esta
temática, facultando aos seus associados – empresas do setor
agroalimentar e entidades do sistema científico - informação
sobre os mercados e as reações da indústria mundial sobre o
tema. Ainda, a PortugalFoods tem desempenhando um papel
ativo na construção de consórcios que envolvem a academia e
o tecido produtivo, com objetivo de, sob um formato agregador
de projetos de IDT aplicado, trabalhar a vertente da valorização
económica dos subprodutos para a indústria, tendo por base a
investigação e desenvolvimento. A PortugalFoods acredita que
o maior retorno económico está indexado à endogeneização do
conhecimento por parte da indústria, sendo esta a missão da
PortugalFoods, enquanto promotor da competitividade do setor
agroalimentar, pelo aumento do índice tecnológico.
“Em paralelo, o consumidor
tenderá a adaptar os seus
hábitos de consumo ao atual
contexto económico, assumindo
atitudes de maior racionalização,
e desta forma a indústria reage
com inovações ao nível do
tamanho da embalagem, ou
até mesmo as embalagens que
permitam uma maior extensão do
prazo de validade. Outro exemplo
é o desenvolvimento de outros
produtos que incorporam na
sua matriz ingredientes que são
subprodutos de outros processos
produtivos, sempre num
alinhamento de sustentabilidade,
para o qual a otimização de
desperdício contribui. ”
março/abril 2014 | impulso positivo n. 20| 47
AGENDA
2ª Conferência – Uma Economia
Verde num Mundo Azul
XI Congresso Nacional das Misericórdias
Data: 29 a 31 de maio
Local: Évora Hotel, Évora
Organização: União das Misericórdias Portuguesas
Info: Sob o tema “Economia social – Esperança para os
Desafios do Futuro”, o congresso volta a reunir as Santas
Casas de Misericórdia de Portugal. www.umpcongresso.com
Data: 26 de setembro de 2014
Local: Lisboa
Organização: Coorganizada pela Fundação AMI e pela
Global Compact Network Portugal (rede portuguesa do
United Nations Global Compact)
Info: Esta iniciativa enquadra-se nas quatro conferências
anuais acerca de cada uma das áreas abordadas pelo UN
Global Compact. O primeiro evento aconteceu em 2013 e
foi dedicado ao tema do Trabalho, ao passo que este ano o
tema é o Ambiente. Em 2015 será abordada a questão dos
Direitos Humanos e em 2016 será a vez da Anticorrupção.
Em Portugal, a Fundação AMI ofereceu-se para organizar
uma conferência por ano sobre cada uma das áreas.
19ª Corrida Terry Fox – Correr é Viver
Data: 10 de maio, 11 horas
Local: Parque das Nações, Lisboa
Info: A Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional
do Sul vai realizar a 19ª edição da Corrida Terry Fox, uma
homenagem ao jovem canadiano Terry Fox que, apesar de
lhe ter sido diagnosticado um carcinoma ósseo, e motivado
pelo sofrimento espalhado ao seu redor, acreditou que era
possível lutar contra o cancro.
II Fórum Internacional de Jovens Equipas
de Futebol – Football For Friendship
Data: 23 a 25 de Maio
Local: Lisboa
Info: Na edição de 2014, o principal evento do projeto
FOOTBALL FOR FRIENDSHIP será o II Fórum
Internacional de jovens equipas de futebol, que vai decorrer
em Lisboa, onde terá lugar a final da Liga dos Campeões e
será conduzido pela lenda do futebol, Franz Beckenbauer.
Aí, os delegados dos 16 países representados no torneio
irão juntar-se para discutir ferramentas eficazes para a
promoção dos princípios-chave do projeto.
Festa da Solidariedade
Conferência Social Inovation:
European visions and trends,
local action and programs
Data: 8 de maio, 15 horas
Local: Fórum Eugénio de Almeida, Évora
Info: A Fundação Eugénio de Almeida convida Stuart
Thomason, Gestor de Programas da Young Foundation
(Londres, Reino Unido), um dos mais reputados centros
europeus na área da inovação social, a apresentar as
principais tendências sobre este tema.
48 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
Data: 6 e 7 de junho
Local: Porto
Organização: CNIS e UDIPSS-Porto
Info: A Festa da Solidariedade celebra este ano a sua oitava
edição e inclui o Congresso “Solidariedade: Novos Caminhos,
Valores de Sempre”, a decorrer no Auditório Almeida
Garrett, no Palácio de Cristal. Neste encontro anual dos
representantes de IPSS’s, a primeira parte da programação
será marcada pela tradicional chegada da Chama da
Solidariedade, que estabelece a ligação entre o último local
da Festa, Guarda, e o destino deste ano: o Porto.
(c) Jorge Sarmento
FOTOFILANTROPIA
Esta fotografia foi tirada em Cusco em Janeiro de 2009.
Alguns países nunca conheceram nada além de uma crise constante e, nesse prisma, encontram
quase sempre as melhores formas de combater o desperdício.
Jorge Morais Sarmento
50 | impulso positivo n.20 março/abril 2014
52 | impulso positivo n.20 março/abril 2014

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