Repercussões sociais das seqüelas físicas em adolescentes

Transcrição

Repercussões sociais das seqüelas físicas em adolescentes
1
ISSN 1679-9941
Nº
Volume 5
Março 2008
publicação trimestral
revista oficial do núcleo de estudos da saúde do adolescente / uerj
Repercussões sociais das seqüelas físicas em adolescentes vítimas de acidentes de trânsito
Maternidade na adolescência e nascidos vivos: análise temporal (2000 a 2004) segundo o
SINASC de um município do Nordeste do Brasil
Relação entre a ginecomastia puberal e o índice de massa corporal
Comunicação entre a família e seus filhos adolescentes: construindo uma
relação dialógica
Estado nutricional no final da adolescência como fator determinante da situação
nutricional na vida adulta de indivíduos do sexo masculino em Viçosa, MG
Desvendando mitos sobre anticoncepção hormonal oral
na adolescência
Transtornos mentais comuns em adolescentes
grávidas: um estudo piloto
www.nesa.uerj.br
ISSN 1679-9941
volume 5  nº 1  março 2008
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL EDITADA PELO NÚCLEO DE ESTUDOS DA SAÚDE DO ADOLESCENTE (NESA) DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Reitor: Nival Nunes de Almeida
Vice-Reitor: Ronaldo Martins Lauria
NÚCLEO DE ESTUDOS DA SAÚDE DO ADOLESCENTE
Diretor: José Augusto Messias
Coordenador da Atenção Terciária: José Henrique Aquino
Coordenadora da Atenção Secundária: Kátia Nogueira
Coordenadora da Atenção Primária: Stella Taquette
CONSELHO EDITORIAL
Editora: Isabel Cristina Bouzas
Editora-Científica: Evelyn Eisenstein
Co-Editores: Claudia Braga, Kátia Nogueira, Marília Mello
Colaboradores: Celise Meneses, Cláudio Abuassi, Eloisa Grossman, Flávio Stanjzbok, José Augusto Messias, Márcia Soares,
Maria Cristina Kuschnir, Rejane Araújo, Selma Correia, Stella Taquette
Conselho Consultivo: Daniella Santini, Darci Bonneto, Denise Monteiro, Marcia Fernandes, Maria de Fátima Coutinho, Maria
Teresa Maldonado, Maria Verônica Coates, Ricardo Barros, Riva Rozemberg, Rosangela Magalhães, Simone Assis, Therezinha
Cruz, Viviane Castelo Branco, Walter Marcondes Filho, Robert Brown (University of Columbia, Ohio, EUA), Richard MacKenzie
(University of Los Angeles, Califórnia, EUA), Jane Rees (University of Washington, Seattle, EUA), Irene Jillson (University
of Georgetown, Washington, EUA), Marc Jacobson (Children’s Hospital, Long Island, NY, EUA), Helena Fonseca (Lisboa,
Portugal), Leonor Sassetti (Lisboa, Portugal), David Bennett (Westmead, Sydney, Austrália), Michael Kohn (Parramatta,
Austrália), Nicholas Woolfield (Children’s Hospital Queensland, Austrália), Rafiq Lockhat (Cidade do Cabo, África do Sul), Sue
Bagshaw (Nova Zelândia), Sérgio Buzzini (University of Chapel Hill, EUA), Matilde Maddaleno (OPAS/OMS, Washington),
Robert Blum (Johns Hopkins University, Baltimore)
Coordenação Editorial (Diagraphic Editora): Jane Castelo
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Adolescência & saúde
/ órgão oficial do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente
HUPE/UERJ. – V. 1, n. 1 (Jan./Mar. 2004) – . – Rio de Janeiro :
Diagraphic, 2003
Trimestral :
Descrição baseada em: V. 1, n. 1 (Jan./Mar. 2004)
Inclui bibliografia
ISSN 1679–9941
1. Adolescentes – Saúde e higiene – Periódicos.
I. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Núcleo de Estudos da
Saúde do Adolescente.
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Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
SUMÁRIO
EDITORIAL . ...............................................................................................................................................................................................
5
REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES VÍTIMAS DE
ACIDENTES DE TRÂNSITO.............................................................................................................................................................
6
Lucimar Aparecida Françoso; Verônica Coates
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A
2004) SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL ...................................
14
Karine E. P. de Souza; Maria C. O. Costa; Rosely C. Carvalho; Nilma L. A. Cruz
RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL . .....................
23
Nádia Ferreira Rivera Alves
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES: CONSTRUINDO UMA
RELAÇÃO DIALÓGICA.......................................................................................................................................................................
29
Maria Helena Ruzany; Carla Cristina Coelho Augusto Pepe; Hilde Sant’Anna Cantinho; Livia Batista Leis; Raquel Barroso da
Silva; Rodrigo Amaral de Lima
ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA
SITUAÇÃO NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM
VIÇOSA, MG..............................................................................................................................................................................................
39
Renata Maria Souza Oliveira; Sylvia do Carmo Castro Franceschini; Gilberto Paixão Rosado; Silvia Eloiza Priore
DESVENDANDO MITOS SOBRE ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL NA ADOLESCÊNCIA.....
45
Sandra de Morais Pereira; Stella R. Taquette
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO......
50
Celise Meneses; Claudia Lopes; Vera Cristina Magalhães
NORMAS EDITORIAIS ......................................................................................................................................................................
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Adolescência & Saúde
57
EDITORIAL
Tráfico humano e exploração sexual:
crimes que envergonham toda a humanidade
no mundo globalizado
Tráfico humano é definido pelas Nações Unidas como recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou receptação de pessoas, por meio de ameaças ou uso da força, ou de outras formas de coação,
rapto, fraude, engano ou abuso de poder, em troca de pagamentos ou benefícios, em situações de vulnerabilidade para fins de exploração. As principais manifestações dessas violências ocorrem como formas de
trabalho forçado, escravidão disfarçada ou exploração sexual, principalmente de mulheres, adolescentes e
até crianças, que se tornam “produtos” de um mercado de adoção ilegal, em práticas abusivas nas quais
a pessoa envolvida fica sem alternativa a não ser submeter-se à exploração para garantir a sobrevivência.
O preço da ilusão se torna a chave da prisão de muitos que caem nessa rede e desaparecem no mapa das
cidades, principalmente as turísticas, e também nos grotões da miséria urbana, em regiões de fronteiras.
Adolescentes e jovens adultos são as vítimas, em sua maioria, em mais de 130 países, inclusive o
Brasil. O número real é desconhecido, mas estima-se que aproximadamente 2,5 milhões de pessoas sejam
traficadas ou exploradas para fins comerciais, inclusive sexuais. Os traumas da violência corporal e sexual
sofrida e do abandono social aumentam a exclusão e a segregação, com perdas da dignidade e do sentido
de cidadania, tornando-se marcantes, indeléveis, com repercussões médicas e mentais, por toda a vida.
Assim, os direitos humanos assegurados em tantas convenções e acordos nacionais e internacionais são
desafiados ou esquecidos em meio a tanta corrupção e impunidade.
O lucro advindo do tráfico e da exploração sexual é estimado em torno de 30 bilhões de dólares
anuais. Esse dinheiro circula em economias industrializadas ou nações empobrecidas, mediante redes associadas ao crime organizado, inclusive de drogas e armas; e na internet, estimulando os conflitos entre os
diferentes grupos sociais ou étnicos.
Instrumentos legais e jurídicos existem, como o Protocolo das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional relativo a prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas. No Brasil há uma
política nacional de enfrentamento, que aos poucos vai saindo do papel e sendo implementada local e
intersetorialmente, mas sem a urgência necessária para driblar os entraves burocráticos que pulverizam os
recursos. Como se a vida dos outros nada valesse num mundo de interesses imediatos!
O compromisso de enfrentar a violência e evitar todas as formas de abuso é coletivo, pois os crimes de
tráfico humano e exploração sexual são de tal magnitude que ninguém poderá alcançar a liberdade que a cidadania plena de direitos oferece sem receber ajuda ou suporte social. Cabe a cada um de nós denunciar e recusar
o silêncio que essa escravidão humana impõe, degradando a todos que se calam diante de tantos absurdos!
As estratégias de mudanças necessárias foram temas de debates durante a realização do Fórum
Internacional das Nações Unidas, que aconteceu entre 13 e 15 de fevereiro em Viena, com a participação
de governos, instituições não-governamentais, empresas do setor turístico, agências de mídia e de comunicação, conselhos de mulheres e de jovens, além de lideranças expressivas do mundo médico, cultural,
artístico e religioso. Para consultas, acesso público ao website www.ungift.org.
A vulnerabilidade do ciclo vicioso da pobreza e as ações de impacto para prevenção, proteção e
punição devem ser direcionadas à participação de toda a sociedade na construção de um mundo melhor,
livre e digno para todos cidadãos, sem exceções, até a erradicação da exploração humana sob qualquer
circunstância social ou política.
O corpo humano não está à venda nem é mercadoria ou objeto a ser possuído por ninguém!
Evelyn Eisenstein
Editora científica
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
ARTIGO ORIGINAL
Lucimar Aparecida
Françoso1
Verônica Coates2
Repercussões sociais das seqüelas
físicas em adolescentes vítimas de
acidentes de trânsito
Social repercussions of physical sequelae in adolescents
victims of traffic accidents
RESUMO
Os acidentes de trânsito constituem importante causa de morbimortalidade. Este estudo avaliou as seqüelas físicas decorrentes de
acidentes de trânsito e suas repercussões sociais em indivíduos de 10 a 19 anos. Realizou-se levantamento dos prontuários de adolescentes vítimas de acidentes de trânsito. Desses, 185 participaram de entrevista e avaliação de seqüelas um a três anos após o acidente.
Predominaram o sexo masculino (74,6%) e os acidentes com motocicletas (38,9%). Dos 56 condutores de veículos ou motocicletas,
32,1% tinham menos de 18 anos de idade e, entre os com 18 anos ou mais, 58,8% não eram habilitados. Além disso, não usavam
equipamentos de segurança 72,2% dos motociclistas e 92,3% dos ocupantes de autos. Quanto maior a gravidade do trauma, mais
sequelas (p = 0,008). As seqüelas físicas surgiram em 34,1% das vítimas e interferiram de forma significativa em aspectos da vida
social dos jovens. Outros dados observados no estudo foram: no grupo com seqüelas ocorreu maior porcentagem de abandono
escolar (p = 0,025); abandono ou mudança do tipo de práticas esportivas (p < 0,001); mudanças de atividades de lazer (p < 0,001);
perda de amizades (p = 0,020); dificuldade nos relacionamentos amorosos (p = 0,033) e familiares (p = 0,01). Também se observou
maior proporção de sentimento de infelicidade (p < 0,001) e de alterações do sono (p < 0,001). Os acidentes de trânsito constituíram
importante causa de morbidade na amostra estudada, deixando seqüelas físicas em um de cada três acidentados.
UNITERMOS
Acidentes de trânsito; morbidade; avaliação da deficiência; adolescente
ABSTRACT
Traffic accidents represent important cause of morbimortality. This study evaluated the physical sequelae secondary to traffic accidents, and
their social consequences to 10 to 19-year-old adolescents. A retrospective study was done on the medical reports of the adolescents who
were victims of traffic accidents. Of these, 185 adolescents participated in interviews and evaluation of the sequelae from one to three years
after the accident. Most of the victims were men (74.6%); motorcycle accidents were predominant (38.9%). Of these, 56 were drivers and
riders and 32.1% were younger than 18; of those 18 or older, 58.8% didn’t have driver’s license and 72.2% of the motorcyclists and 92.3%
of the car occupants didn’t use safety equipment. The occurence of sequelae (p = 0.008) was positively related to the trauma severity; 34.1%
had physical sequelae. The presence of sequelae interfered in aspects of social life of the adolescents. The group with sequelae presented
significant differences when compared with the group without sequelae, in relation to dropping school (p = 0.025); less or no sport activities
(p < 0.001); changes in leisure (p < 0.001); loss of friends (p = 0.020); family (p = 0.01) and affectionate (p = 0.033) relationships, and
more feelings of unhappiness (p < 0.001) and sleep disorders (p < 0.001). The traffic accidents were an important cause of morbidity in the
sample studied and they left physical sequelae in one out of three injuried adolescents.
KEY WORDS
Traffic accidents; morbidity; disability; adolescent
INTRODUÇÃO
A violência vem adquirindo relevância
como causa de morbimortalidade na adolescênProfessora doutora em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo (FCMSCSP); assistente da Clínica de Adolescência do Departamento de
Pediatria e Puericultura da FCMSCSP.
2
Professora titular de Pediatria da FCMSCSP; chefe da Clínica de Adolescência do
Departamento de Pediatria e Puericultura da FCMSCSP.
1
volume 5  nº 1  março 2008
cia em todo o mundo, de forma que as causas
externas constituem o principal motivo de mortalidade nesses jovens. No Brasil, desde 1983,
entre as causas externas de morte na adolescência, os acidentes de trânsito ocupam a primeira
colocação na faixa etária de 10 a 14 anos, e a
segunda na faixa de 15 a 19 anos, perdendo
apenas para as agressões físicas, principalmente
os homicídios(1).
Adolescência & Saúde
Françoso & Coates REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
Dados estatísticos mostram que nos EUA os
acidentes com veículos motores constituem a principal causa de morte de jovens de 15 a 20 anos,
sendo responsáveis por cerca de um terço de todas
as fatalidades nessa faixa etária(2).
Estima-se que para cada adolescente morto
num acidente com veículo motorizado, ocorram
cerca de 100 lesões não-fatais. Esses acidentes
constituem a principal causa de incapacidades e
deficiências, sobretudo decorrentes de lesões cranianas e de coluna vertebral, nesse grupo etário(3).
Estudos mostram que as incapacidades funcionais são comuns no primeiro ano pós-trauma
em crianças e adolescentes(4-7). Embora o traumatismo craniencefálico (TCE) esteja associado
à maioria das seqüelas incapacitantes, crianças e
adolescentes com outros tipos de lesões traumáticas também apresentam alta prevalência de limitações funcionais(4). As lesões de membros inferiores, por exemplo, levam a importantes limitações
físicas(7). Além disso, TCE e limitação física permanente estão associados a morbidade psicossocial,
incluindo problemas escolares, de comportamento
e desajustes familiares(6).
Um estudo sueco com adolescentes e adultos vítimas de acidentes de trânsito observou
que, dois anos após o trauma, 68% dos pacientes
apresentavam seqüelas físicas, como instabilidade,
fraqueza e restrição de mobilidade em diferentes
partes do corpo, bem como distúrbios de visão,
audição, tato, olfato e/ou desconforto com cicatrizes. Também observou que 57% apresentavam
estresse psicológico e 7% necessitavam de ajuda
para realização de atividades rotineiras(8).
Outro estudo de acompanhamento em longo
prazo de crianças e adolescentes de até 15 anos vítimas de politraumas graves mostrou que, um ano
após, 22% estavam incapacitados e 32% necessitavam de classe especial para os estudos. Após sete
a 11 anos de seguimento, o grau de incapacidade
física foi de 12% e foi identificada deficiência cognitiva em 42% dos pacientes(9).
Os avanços na triagem e no transporte préhospitalar, assim como nas técnicas de ressuscitação, de diagnóstico e de tratamento das lesões melhoraram a sobrevida de vítimas de trauma, o que
Adolescência & Saúde
levou ao aumento do número de pacientes com
seqüelas permanentes.
São poucos os estudos sobre morbidade relacionada com acidentes de trânsito na adolescência. Os
trabalhos publicados não focalizam especificamente
essa faixa etária. O fato motivou o presente estudo,
que procura avaliar as seqüelas físicas decorrentes
desse tipo de agravo, assim como suas conseqüências sociais em indivíduos de 10 a 19 anos de idade.
MÉTODO
Realizou-se estudo retrospectivo e transversal
no qual foram avaliados adolescentes de 10 a 19
anos de idade (ambos os sexos), vítimas de acidentes de trânsito entre janeiro de 2001 e março de
2003, hospitalizados em dois hospitais do município de São Paulo (Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo e Santa Marcelina de Itaquera) e atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto
de pesquisa foi aprovado pelas comissões de ética
em pesquisa dos dois hospitais.
Os critérios para inclusão na amostra foram:
• apresentar qualquer tipo de lesão traumática decorrente de acidente de trânsito;
• hospitalização por no mínimo 24 horas;
• ter se submetido a pelo menos um procedimento
cirúrgico;
• apresentar escore de gravidade do trauma leve,
moderado ou grave;
• o acidente ter ocorrido no mínimo há um ano
e, no máximo, há três anos do momento da avaliação;
• não-ocorrência de distúrbio neurológico e de limitações do aparelho locomotor previamente ao
acidente.
Os critérios de exclusão foram:
• vítimas fatais;
• presença de qualquer dúvida em relação à existência de distúrbio neurológico;
• limitação do aparelho locomotor previamente ao
acidente.
Realizou-se o levantamento nos dois hospitais
de 1.131 prontuários, dos quais 323 correspondevolume 5  nº 1  março 2008
REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
ram a vítimas de acidente de trânsito que preencheram os critérios de inclusão. Desses prontuários
foram obtidas informações relacionadas aos procedimentos médicos, gravidade das lesões, evolução e acompanhamento, sendo utilizado o Injury
Severity Score (ISS) para determinar o escore de
gravidade do trauma sofrido pelas vítimas(10).
Na segunda parte do estudo (prospectiva)
dos 323 pacientes que preencheram os critérios
de inclusão, para avaliação clínica e entrevista no
hospital de origem, 185 compareceram. Nesse
momento, foram avaliados quanto à presença de
seqüelas físicas e, em seguida, realizadas as comparações entre os que permaneceram com seqüelas
e aqueles sem seqüelas, em relação aos diferentes
aspectos sociais.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para as variáveis quantitativas (como idade
e ISS), a análise foi realizada pela observação dos
valores mínimos e máximos e do cálculo de médias e desvios-padrão (DP) e medianas. Já para as
variáveis qualitativas, como sexo e tipo de usuário,
foram calculadas as freqüências absolutas e relativas. Além disso, para testar a homogeneidade de
grupos em relação às proporções, foram utilizados
o teste qui-quadrado (χ2) ou o teste exato de Fisher.
Para a comparação entre dois grupos foi utilizado o
teste não-paramétrico de Mann-Whitney para duas
amostras independentes. Todos os testes foram
realizados admitindo-se o nível de significância de
5%, de forma que níveis descritivos inferiores a esse
valor foram considerados significantes (p < 0,05).
RESULTADOS
Foram avaliados 185 adolescentes vítimas
de acidentes de trânsito em dois hospitais: 92
(49,7%) do Santa Marcelina de Itaquera (SP), e
93 (50,3%) da Santa Casa da Misericórdia de São
Paulo (SCMSP).
A idade das vítimas variou de 10 a 19 anos
(média de 14,38 anos; DP: 2,98 anos; mediana:
volume 5  nº 1  março 2008
Françoso & Coates
16 anos). Quarenta e sete pacientes (25,4%) eram
do sexo feminino e 138 (74,6%), do masculino. A
Tabela apresenta a distribuição das vítimas quanto
ao tipo de usuário das vias.
Tabela
FREQÜÊNCIAS ABSOLUTAS E RELATIVAS DAS VÍTIMAS SEGUNDO O
TIPO DE USUÁRIO DA VIA
Tipo de usuário
n
%
Pedestre
40
21,6
Motociclista
72
38,9
Ciclista
40
21,6
Ocupante de automóvel
26
14,1
Ocupante de ônibus
2
1,1
Ocupante de caminhão
1
0,5
Ocupante de caminhonete
1
0,5
Patins, patinete e esqueite
Total
3
1,6
185
100
Entre os acidentes avaliados predominaram
as colisões e quedas de motocicleta (38,9%), nas
quais 72,2% dos adolescentes eram os condutores no momento do trauma. A seguir, surgiram os
atropelamentos (23,2%), os acidentes com ciclistas
(21,6%) e, finalmente, aqueles com ocupantes de
automóveis, caminhões, ônibus e/ou caminhonetes
(16,2%), dos quais apenas 13,3% dos adolescentes
conduziam automóveis no momento do acidente.
Dos 52 condutores de motocicleta, 18 (34,6%)
eram menores de 18 anos e, entre os 34 com 18
anos ou mais, 20 (58,8%) não eram habilitados.
Quanto ao uso de equipamentos de segurança, observou-se que, dos 72 motociclistas, 52
(72,2%) não usavam capacete no momento do
acidente; nenhum dos 40 ciclistas usava capacete;
dos 26 ocupantes de automóveis, 24 (92,3%) não
usavam cinto de segurança.
Em relação à gravidade do trauma, as vítimas foram classificadas de acordo com o valor do
ISS, assim distribuídas: 126 (68,1%) apresentaram
trauma leve; 30 (16,2%), trauma moderado; e 29
(15,7%), trauma grave.
Observaram-se ainda seqüelas físicas (sensoriais, neurológicas ou ortopédicas) em 63 adolesAdolescência & Saúde
Françoso & Coates REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
centes (34,1%). Houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos com e sem seqüelas
em relação ao escore de gravidade do trauma
(ISS), de forma que o grupo com seqüelas apresentou traumas mais graves do que aqueles do grupo
sem seqüelas (teste não-paramétrico de MannWhitney; p = 0,008).
Dos 72 motociclistas, 20 (27,8%) usavam
capacete no momento do acidente, enquanto 52
(72,2%) não usavam esse equipamento de segurança. Dos 20 que estavam com capacete, sete
(35%) apresentaram seqüelas e dos 52 sem capacete, 16 (30,8%) tiveram seqüelas (χ2, p = 0,73). O
ISS daqueles que usavam capacete variou de 2 a 13
(média de 6,85; DP: 3,34; mediana: 7) e dos que
não usavam capacete variou de 4 a 43 (média: 16;
DP: 8,89; mediana: 13,5). Portanto observou-se
que o grupo dos que usavam capacete apresentou
valores de ISS significativamente menores do que
o sem capacete (teste não-paramétrico de MannWhitney; p < 0,001). Entre os que não usavam capacete e permaneceram com seqüelas, 25% sofreram trauma grave.
Dos 26 casos envolvendo ocupantes de automóveis, apenas dois (7,7%) usavam cinto de segurança no momento da colisão. Desses, nenhum
apresentou seqüelas e todos tiveram trauma leve
ou moderado. Em relação aos 24 acidentados
(92,3%) que não usavam cinto de segurança no
momento do acidente, oito (33,3%) apresentaram
seqüelas, principalmente relacionadas à perda de
visão unilateral (dois casos), a lesões e limitações
em membros inferiores (quatro casos) e a lesões e
limitações em membros superiores (dois casos).
Dos 56 casos de condutores de veículos ou
motocicletas, 18 (32,1%) tinham idade abaixo de
18 anos e 38 (67,9%), entre 18 e 19 anos.
Dos 18 casos de condutores com menos de
18 anos de idade, cinco (27,8%) apresentaram seqüelas e, entre os com 18 ou 19 anos, 11 (29%)
as apresentaram (teste χ2; p = 0,928). O ISS dos
adolescentes menores de 18 anos de idade variou
de 3 a 43 (média de 12,89; DP: 10,09; mediana:
9,5), enquanto entre os indivíduos com idade ≥ 18
anos a variação foi dois a 38 (média: 13,39; DP:
9,12; mediana: 10), não havendo diferença estaAdolescência & Saúde
tisticamente significativa (teste não-paramétrico de
Mann-Whitney; p = 0,711).
Portanto, objetivando abordar mudanças nos
aspectos sociais dos jovens após o acidente, foram
avaliados os seguintes critérios: escolaridade após
o trauma, prática de esportes, lazer, amizades, namoro, atividade sexual e relacionamento familiar,
a fim de detectar como a presença de seqüelas secundárias ao trauma interferiu nesses aspectos da
vida social dos adolescentes.
Observou-se que houve diferença estatisticamente significativa entre aqueles que apresentaram
seqüelas e os que não as apresentaram em todos
os aspectos estudados. As repercussões sociais encontradas foram: maior porcentagem de abandono
escolar no grupo dos que apresentaram seqüelas,
quando em comparação com aqueles sem seqüelas (18% vs. 38,1%; p = 0,025); os indivíduos com
seqüelas apresentaram também mais abandono de
práticas esportivas do que aqueles sem seqüelas (9%
vs. 44,4%; p < 0,001); maior porcentagem de mudança para atividades de lazer mais brandas quando
em comparação com o grupo sem seqüelas (5,7%
vs. 22,6%;pp < 0,001); maior número de casos de
amigos que se afastaram do que no grupo sem
seqüelas (4,1% vs. 16,1%; p = 0,020); maior porcentagem de casos em que houve interferência nos
relacionamentos amorosos, dificultando-os, quando comparados ao grupo sem seqüelas (0,8% vs.
9,7%; p = 0,033); mais casos de diminuição da atividade sexual secundária às conseqüências do trauma
do que no grupo sem seqüelas (0% vs. 6,5%; p =
0,002); maior porcentagem de casos em que o adolescente referiu interferência na vida familiar, com
piora do seu relacionamento, especialmente com
os pais, do que o referido no grupo sem seqüelas
(0,8% vs. 6,5%;p = 0,010).
Houve ainda associação significativa entre a
presença ou não de seqüelas e o sentimento de felicidade (teste exato de Fisher; p < 0,001). Doze (19,4%)
pacientes com seqüela referiram sentir-se infelizes
após o acidente, por outro lado, apenas um (0,8%)
do grupo sem seqüela referiu esse sentimento.
Também se observou associação significativa
entre a presença ou não de seqüelas e a ocorrência de alterações do sono (teste exato de Fisher;
volume 5  nº 1  março 2008
10
REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
p < 0,001). Quatro (6,5%) pacientes com seqüelas
passaram a apresentar dificuldades para conciliar o
sono após o trauma, enquanto apenas um (0,8%)
entre aqueles sem seqüelas referiu esse problema.
Cinco (8,1%) pacientes com seqüelas referiram
insônia após o trauma contra apenas um (0,8%)
daqueles sem seqüelas.
Em relação às expectativas para o futuro, não
foram observadas diferenças significativas entre os
grupos com e sem seqüelas (teste exato de Fisher;
p = 0,196).
DISCUSSÃO
No conjunto das causas externas, os acidentes
de trânsito destacam-se pela sua magnitude, tanto
em termos de mortalidade quanto de morbidade,
com especial importância na população jovem e
masculina. Em decorrência da elevada freqüência
com que ocorrem entre adolescentes e adultos jovens, esses acidentes representam grave problema
de saúde pública mundial, sendo responsáveis pelo
grande número de anos potenciais de vida perdidos.
Neste estudo houve predomínio do sexo
masculino (74,6%), na proporção de aproximadamente 3:1 em relação ao feminino, dado também
consistente com as estatísticas nacionais dos últimos anos, cuja proporção de vítimas não-fatais de
acidentes de trânsito foi, em média, de 2,6 do sexo
masculino para um feminino(11).
A alta freqüência de condutores menores de
18 anos de idade e de jovens não-habilitados é extremamente preocupante. A literatura mostra que
adolescentes condutores de 16 anos têm probabilidade 20 vezes maior de sofrer uma colisão do que
a população geral de motoristas, enquanto para a
faixa etária de 17 anos essa probabilidade é seis
vezes maior(3). A imaturidade e a limitada experiência para dirigir resultam em taxas desproporcionalmente altas de acidentes envolvendo esses jovens.
Outro aspecto que chamou a atenção foi a
grande porcentagem da não-utilização de equipamentos de segurança entre os adolescentes
da amostra estudada: dos motociclistas, apenas
volume 5  nº 1  março 2008
Françoso & Coates
27,8% usavam capacete; entre os ocupantes de
automóvel, 7,7% usavam cinto de segurança e nenhum ciclista usava capacete.
No Brasil, o uso de capacete pelos ocupantes de motocicletas (condutor e acompanhante)
é obrigatório em todo o território nacional desde
1982, conforme a Lei Federal nº 7.031 de 20 de
setembro de 1982, regulamentada pela Resolução
nº 602 de 4 de outubro de 1982, sendo o uso
do cinto de segurança obrigatório para o território nacional desde 1998, segundo determinação
do novo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), Lei
Federal nº 9.503 (vigente desde 21 de janeiro de
1998). Ainda não há obrigatoriedade para o uso de
capacetes por ciclistas.
Cabe aqui a questão: se as leis existem, por
que elas não estão sendo cumpridas pelos jovens?
Seriam a falta de fiscalização e a certeza da impunidade as únicas responsáveis por esse comportamento? Esse fato merece profunda reflexão para
adoção de medidas adequadas de prevenção, que
deveriam começar pela educação para o trânsito de
forma continuada, iniciada no ensino fundamental,
associada a campanhas de sensibilização para condutas coerentes e corretas no trânsito, bem como
à melhora na fiscalização.
Entre as vítimas de acidentes com motocicleta
observou-se, neste estudo, que o grupo que usava
capacete no momento do trauma apresentou valores do escore de gravidade (ISS) significativamente
menores do que o que não usava equipamento de
segurança (p < 0,001). De acordo com a literatura,
motociclistas que não usam capacete têm de três
a quatro vezes mais riscos de traumatismo craniano(12, 13).
A literatura também mostra que condutores
que não usam cinto de segurança têm cinco vezes
mais chance de sofrer acidente fatal do que aqueles que usam esse equipamento de proteção. O risco de ejeção para fora do veículo aumenta com a
falta do uso do cinto de segurança e, conseqüentemente, eleva o risco de óbito(14, 15). Os adolescentes
utilizam menos os equipamentos de segurança do
que qualquer outra faixa etária(16, 17).
Na amostra estudada observou-se que 34,1%
das vítimas (63 casos) apresentavam seqüelas físiAdolescência & Saúde
Françoso & Coates REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
cas no momento da avaliação, um a três anos após
a ocorrência do acidente. Vale ressaltar que nessa
casuística as cicatrizes secundárias ao trauma e/ou
aos procedimentos cirúrgicos, isoladamente, não
foram consideradas seqüelas.
A presença de seqüelas físicas relacionou-se
positivamente com a gravidade do trauma sofrido
pelas vítimas, de forma que o grupo de pacientes
com seqüelas apresentou valores de ISS significativamente maiores do que os sem seqüelas (p = 0,008).
Observou-se também que a presença de seqüelas físicas interferiu de forma significativa em
vários aspectos da vida social dos jovens avaliados.
Em relação à escolaridade, ocorreu maior porcentagem de abandono escolar após o acidente de
trânsito entre os que permaneceram com seqüelas
físicas (38,1%), em comparação aos casos evolvendo não-seqüelados (18%) (p = 0,025).
Andersson et al.(8) encontraram 8,3% de abandono escolar nas vítimas de acidentes de trânsito
estudantes, e 29% dos que estavam empregados
necessitaram mudar suas condições de trabalho
devido às conseqüências do acidente.
Foi observado também que o grupo com seqüelas abandonou as práticas esportivas em maior
proporção (p < 0,001), assim como necessitou
mudar para atividades de lazer mais brandas, em
maior porcentagem (p < 0,001), do que as que
esse grupo costumava participar antes do acidente,
em comparação com os jovens que não apresentavam seqüelas.
Os adolescentes com seqüelas vivenciaram de
forma significativa, em relação ao grupo sem seqüelas (p = 0,02), a perda de amizades e o afastamento de amigos, o que os levou, em alguns casos, à
percepção do real significado da amizade, fato que
pôde ser observado por depoimentos como “depois
do acidente eu percebi quem eram os verdadeiros
amigos, aqueles que realmente me apoiaram e ficaram comigo em todos os momentos difíceis”.
A explicação para o afastamento dos amigos
talvez esteja no fato de o adolescente necessitar
pertencer a um grupo de iguais, no qual todos os
componentes se identificam entre si e participam
do mesmo tipo de atividades, vestem-se de forma
muito semelhante e têm muitas outras afinidades.
Adolescência & Saúde
11
O jovem que, por qualquer motivo, mesmo
que esse seja a seqüela de um acidente, não puder
participar das atividades do grupo, acaba sendo
rejeitado e excluído pelo mesmo.
O adolescente que apresenta seqüelas físicas,
além de enfrentar as turbulências e as inquietações
próprias desse período da vida, terá de aprender a
conviver com a limitação física decorrente da seqüela, o que certamente modificará e confundirá
sua imagem corporal. Ele não mais poderá espelhar-se no grupo de iguais; pelo contrário, possivelmente terá a difícil tarefa de entender e aceitar
a rejeição do grupo.
Seis jovens na amostra estudada referiram
que as seqüelas físicas secundárias ao trauma interferiram nos relacionamentos amorosos, dificultando o início de novas relações. Por esse motivo, não
namoravam desde a ocorrência do acidente.
Apesar de esse aspecto ter ocorrido em pequeno número de casos, houve diferença significativa na comparação com o grupo de vítimas sem
seqüelas (p = 0,033). Não foi possível detectar as
verdadeiras razões para as referidas dificuldades de
relacionamento, pois esses indivíduos mereceriam
avaliação e apoio psicológico, o que não foi o objetivo do estudo. Situação semelhante ocorreu entre
os com seqüelas, em relação à atividade sexual.
Também se observou que o grupo que permaneceu com seqüelas físicas referiu, de forma
significativa, quando comparado àquele sem
seqüelas (p = 0,010), piora no relacionamento
familiar, especialmente com os pais; outrossim,
referiram sentirem-se infelizes após o acidente de
forma significativamente maior do que os sem seqüelas (p < 0,001).
Por outro lado, foi interessante observar
que não houve diferenças significativas entre os
grupos com e sem seqüelas no que se refere às
expectativas para o futuro (p = 0,196). A presença
de seqüelas físicas poderia causar distorções na
auto-imagem dos adolescentes e, conseqüentemente, interferir na sua auto-estima a ponto de
comprometer suas expectativas para o futuro,
uma vez que, em decorrência das limitações físicas e sociais secundárias às seqüelas, esses indivíduos poderiam se sentir rejeitados pela sociedade
volume 5  nº 1  março 2008
12
REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
e incapazes de obter sucesso. Contudo, esse fato
não foi observado.
Aceitar-se como é, ou como será a partir do
momento que resultou em seqüela, tentar superar
as próprias limitações e ultrapassá-las são possibilidades que existem em cada adolescente e precisam ser estimuladas.
Os resultados deste estudo mostraram que
os acidentes de trânsito e suas seqüelas físicas
interferiram de forma significativa em vários aspectos sociais e emocionais da vida dos jovens.
Infelizmente não há bancos de dados nacionais
de coleta sistemática e contínua sobre morbidade, especialmente no que se refere às seqüelas físicas decorrentes desses agravos, para que nossos
resultados possam ser comparados a estatísticas
do país. Além disso, os trabalhos sobre morbidade secundária a esses acidentes publicados na literatura (nacional e estrangeira) enfocam sempre
a adolescência de forma parcial, como parte de
estudos que abrangem a faixa etária pediátrica ou
adulta, e geralmente abordam os vários tipos de
trauma, o que muitas vezes dificulta a comparação de dados.
Portanto, no que se refere à morbidade por
acidentes de trânsito, existe precariedade de dados
estatísticos e de estudos disponíveis nas literaturas
nacional e estrangeira, especialmente em relação à
faixa etária da adolescência.
Por outro lado, o acidente de trânsito não deve
ser considerado uma fatalidade, mas um evento nãointencional e evitável, causador de lesões físicas e
emocionais, que é previsível e passível de prevenção.
Entretanto, caso a amostra estudada reflita a
realidade epidemiológica dos acidentes de trânsito
Françoso & Coates
na cidade, deve-se considerar o grave problema de
saúde pública que os mesmos representam para o
município de São Paulo, com todas as suas implicações socioeconômicas, decorrentes das conseqüências das seqüelas físicas, do tempo e dos recursos
despendidos com a perda temporária e/ou permanente de produtividade em indivíduos tão jovens,
além da interferência na vida social e emocional
dessas vítimas.
CONCLUSÕES
• Seqüelas físicas foram observadas em 34,1% dos
adolescentes vítimas de acidentes de trânsito, avaliados um a três anos após o trauma, na proporção
de um jovem com seqüela para cada três jovens
acidentados.
• Houve significativa correlação entre a presença
de seqüelas e o escore de gravidade do trauma.
Dessa forma, o grupo que apresentou seqüelas
sofreu traumas mais graves do que o grupo sem
seqüelas.
• As seqüelas físicas interferiram de forma significativa em aspectos sociais da vida dos jovens, de
forma que no grupo de indivíduos com seqüelas
ocorreram:
– maior porcentagem de abandono escolar;
– abandono ou mudança do tipo de práticas esportivas e de atividades de lazer;
– perda de amizades;
– dificuldades nos relacionamentos amorosos e familiares;
– maior proporção de sentimento de infelicidade e
de alterações do sono.
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Françoso & Coates REPERCUSSÕES SOCIAIS DAS SEQÜELAS FÍSICAS EM ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO
13
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Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
14
ARTIGO ORIGINAL
Karine E. P. de Souza1
Maria Conceição
Oliveira Costa2
Rosely C. Carvalho3
Nilma L. A. Cruz4
Maternidade na adolescência e nascidos
vivos: análise temporal (2000 a 2004)
segundo o SINASC de um município do
Nordeste do Brasil
Maternity in adolescence and respective liveborn infants: temporal analysis
(2000 to 2004) according to SINASC of a municipality of Northeastern Brazil
RESUMO
Objetivo: Analisar associações entre baixo peso de nascimento e variáveis de mães adolescentes segundo o Sistema de Informação
sobre Nascidos Vivos (SINASC) de Feira de Santana, BA, no qüinqüênio 2000 a 2004. Método: Estudo epidemiológico de caráter
temporal, utilizando análises univariada, bivariada e multivariada. A regressão logística foi realizada para controlar fatores de confusão
(pré-natal e idade gestacional) e associar faixa etária materna a peso de nascimento. Resultados: Os recém-nascidos (RNs) de adolescentes totalizaram 9.963, 21% dos nascidos vivos no município nesse período, Prematuridade e baixo peso foram mais freqüentes
na faixa de 10 a 16 anos com menos de sete consultas de pré-natal. Foi observada associação positiva e estatisticamente significante
entre baixo peso e faixa etária materna. Na análise de regressão logística, para verificar tal associação, houve interação estatística
da co-variável tipo de parto, enquanto as co-variáveis idade gestacional e número de consultas pré-natais foram confundidoras.
Conclusões: Ao longo do qüinqüênio, 21% dos nascidos vivos do município são filhos de adolescentes, a regressão logística apontou
associação positiva entre baixo peso com pré-natal insuficiente e faixa etária materna, e os prematuros e de baixo peso foram mais
freqüentes entre mães da faixa 10 a 16 anos, em comparação com as de 17 a 19 anos, nas mesmas condições de vida.
UNITERMOS
Adolescência; maternidade; nascidos vivos; SINASC
ABSTRACT
Objective: To analyze associations between low weight of birth, age and other variables of adolescent mothers, according to data of liveborn infants
National System (SINASC) of Feira de Santana, Bahia, in the period of 2000 to 2004. Method: Epidemiologic study of temporal character, carried
through with data of SINASC. The data had been processed using unvaried and multivariate analyses to evaluate associations between mother’s
variables and gestational results. The analysis of logistic regression was carried through to control factors of confusion (prenatal and gestational
age) and to associate mother’s age and weight of birth. Results: The liveborn infants of adolescents totalized 9,963, 21% of newborns in the city,
in this period; the premature and the low weight had been more frequent between those 10 to 16 years old and less than seven consultations
of prenatal care; positive and statisticaly significant association was observed between low weight of newborn and mother’s age. In the analysis
of logistic regression, to evaluate such association there was statisticals interaction of co-variable type of childbirth, while co-variables gestational
age and prenatal number of consultations were the confouding factor. Conclusions: During the period of the study, maternity in adolescence was
responsible for 21% of the liveborns of the city; the premature and low weight of birth were more frequent between mothers 10 to 16 years old
compared with the ones 17 to 19 years, in the same conditions of life.
KEY WORDS
Adolescence; maternity; liveborn infants; SINASC
1. Mestra em Saúde Coletiva; pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas na
Infância e Adolescência da Universidade Estadual de Feira de Santana (NNEPA/UEFS).
2. Professora titular; doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP); pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC)
do NNEPA/UEFS.
3. Professora adjunta da UEFS; doutora em Saúde Pública pela Universidade de São
Paulo (USP); pesquisadora do PPGSC/NNEPA/UEFS.
4. Médica; professora assistente da UEFS; mestra em Saúde Coletiva; pesquisadora
do NNEPA/UEFS.
Pesquisa apoiada pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES).
volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Souza et al. MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
INTRODUÇÃO
No Brasil, nas últimas décadas, verificou-se
redução na taxa de fecundidade total de 6,2 para
2,2 filhos, que se mantém elevada na faixa adolescente, em especial nas regiões pobres do país(3).
No município de Feira de Santana, no período de 1970 a 1980, foram verificadas duas tendências de fecundidade: moderada diminuição
(5,6 para 5,2 filhos) e subseqüente redução de 3,2
filhos por mulher, sendo que na faixa adolescente
não tem sido observada redução dessas taxas(4). Em
2000, no grupo das adolescentes de 15 a 19 anos,
foram verificados 7,2 filhos em comparação com
a população feminina fértil dessa faixa, índice que
significa uma proporção 225% superior à taxa de
fecundidade geral. Isso indica que a maternidade
na adolescência antecipa o ciclo esperado da reprodução humana, contribuindo, portanto, para o
aumento da prevalência de morbimortalidade materna e complicações peri e neonatais.
A gravidez na adolescência como problema
social e de saúde pública não se restringe às implicações biológicas e de saúde materna e fetal, mas,
sobretudo, significa a perpetuação do ciclo de pobreza, o aumento do número de famílias monoparentais e de proles numerosas e não-planejadas, a
esterilização feminina precoce, a baixa escolaridade,
o abandono escolar pré ou pós-gestacional, a precária inserção no mercado de trabalho, a baixa renda
e a exposição à vulnerabilidade social(1). A rede de
eventos sociais, familiares e pessoais subseqüentes
à gravidez não-planejada constitui um desafio social
cuja atenção aos aspectos preventivos e de intervenção ultrapassa os limites dos serviços de saúde. O
planejamento e a implementação de ações requerem considerar fatores culturais, psicossociais, interpessoais e econômicos como determinantes que
envolvem a gravidez na adolescência(12).
A magnitude dos registros de nascidos vivos
e a situação de saúde materno-infantil na adolescência ganham visibilidade a partir dos sistemas
nacionais de registros, em especial o Sistema de
Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), implantado em 1990, que tem como instrumento a
Declaração de Nascido Vivo (DN), que contém daAdolescência & Saúde
15
dos sociodemográficos das mães, além de variáveis
relacionadas com gestação, parto e condições de
nascidos vivos, informações importantes e necessárias para subsidiar tanto a elaboração de indicadores
de saúde como políticas públicas voltadas a gravidez e maternidade precoces. Este estudo tem como
objetivo analisar associações entre o baixo peso de
nascimento, a faixa etária e outras variáveis de mães
adolescentes, segundo dados do SINASC de Feira de
Santana, BA, no período de 2000 a 2004.
MÉTODO
Estudo epidemiológico, de corte transversal,
realizado em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, com população de 500 mil habitantes(13). Foram utilizados dados de uma série histórica do SINASC, com o total de registros de recémnascidos (RNs) de adolescentes (10 a 19 anos) no
qüinqüênio de 2000 a 2004. A população de mães
foi subdividida por faixa etária (10-14 anos, 15-16
anos e 17-19 anos)(16) e os dados foram coletados
das DNs disponibilizadas pela 3a Diretoria Regional
de Saúde (DIRES).
As variáveis foram sociodemográficas (faixa
etária materna, estado civil, nível de escolaridade),
gestação e parto (número de consultas pré-natais,
tipo de parto), RN (índice de Apgar, peso de nascimento e idade gestacional).
Para a análise multivariada utilizou-se a regressão logística, expressando-se os resultados em
termos da razão de chances (RC). Dessa forma, obteve-se a força da associação entre as variáveis causa (faixa etária materna) e efeito (peso ao nascer),
ajustada para os fatores de confusão (realização de
pré-natal e idade gestacional) mantidos no modelo. Foram estabelecidos dois modelos: o primeiro,
em que foram avaliados os RNs com peso insuficiente, e o segundo, no qual foram incluídos os
RNs com peso adequado, comparando-os com os
nascidos vivos de baixo peso ao nascer.
Na análise de regressão logística múltipla foram utilizados os critérios de importância científica
para faixa etária materna e de significância estatística, adotando-se um valor de p ≤ 0,2 para as demais
volume 5  nº 1  março 2008
16
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
variáveis no modelo, por meio do teste de Wald e
da razão de verossimilhança. A interação estatística
foi avaliada pela introdução dos termos-produtos,
utilizando-se os testes de Wald e a razão de verossimilhança. O confundimento foi avaliado a partir
da variação provocada na associação principal pelas
co-variáveis inseridas no modelo por meio da comparação do modelo completo com o sem confundidores. O diagnóstico do modelo foi realizado pelo
teste da bondade do ajuste do modelo, com base na
análise dos resíduos, por meio do teste de Hosmer
e Lemeshow. Posteriormente foi avaliada a capacidade de discriminação do modelo por meio da área
abaixo da curva receive operator caracteristic (ROC).
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS) e obteve aprovação sob o protocolo no 025/2005.
RESULTADOS
No período de 2000 a 2004, em Feira de
Santana, foram totalizados 9.963 nascidos vivos de
adolescentes, representando 21% dos registros no
SINASC do município. Desse total, 7.341 (73,7%)
eram filhos de mães de 17 a 19 anos; 6.290 (63,1%)
o eram de mães solteiras; 3.517 (35,3%) daquelas
que possuíam de quatro a sete anos de estudo concluídos; 3.165 (31,8%) de mães com quatro a seis
consultas de pré-natal; 7.764 (78%) dos partos foram realizados por via vaginal; 8.178 (82,1%) RNs
nasceram a termo; 982 (9,9%) apresentaram baixo peso e 3.114 (31,3%), peso insuficiente (dados
não apresentados em tabelas).
De acordo com a Tabela 1, no período entre
2000 e 2004, as proporções de RN de mães da faixa de 17 a 19 anos reduziram-se em 5,3%, sendo
responsáveis por mais de 70% do total, e o grupo
de 15 e 16 anos, cerca de 22%. O percentual de
mães sem escolaridade reduziu-se de 63 (3%), em
2000, para 7 (0,4%), em 2004; as mães com oito a
11 anos de estudo representaram cerca de 20%, e
aquelas com 12 ou mais anos de estudo, em torno
de 3%, muito embora a ausência de registro tenha
ficado em torno de 19% em 2000, elevando-se
volume 5  nº 1  março 2008
Souza et al.
para 33% nos anos subseqüentes. As solteiras representaram 60%, aumentando para mais de 70%
no decorrer do tempo estudado.
A maior parte das adolescentes realizou prénatal de forma insuficiente (≤ sete consultas), e
em torno de 40% fizeram quatro a seis consultas
(Tabela 2). Ao longo do período, foi verificado
aumento de 27% das proporções de sete ou mais
consultas, em 2000, para cerca de 39% em 2004.
No período, houve discreta redução no percentual
da abstenção ao pré-natal: de 192 (9,2%), em
2000, para 81 (4,2%) em 2004. Apesar desses
índices, ressalta-se que a maioria das adolescentes (55,4%) realizou menos de sete consultas no
qüinqüênio estudado, e o percentual de DN com
ausência desses dados manteve-se elevado ao longo do tempo, variando de 16,9% a 25,7%.
Ainda em relação à Tabela 2, verificou-se
que, em todos os grupos etários maternos, a
maior parte dos RNs era a termo e o percentual
de DN sem registro variou de 9,9% (207), em
2000, para 5,9% (113), em 2004, totalizando
783 casos. A prematuridade variou de 12,2%, em
2000, para 7,3% em 2004, sendo que, no período
de 2001 a 2003, esteve em torno de 5%. Com
relação ao peso do RN, as proporções de peso
adequado (> 3.000 g) foram superiores a 50%; o
peso insuficiente (2.501 g-3.000 g), em torno de
30%; o baixo peso (1.500 g-2.500g), em torno
de 10%; e de muito baixo peso (< 1.500g), entre
1% e 2% no período. O índice de Apgar mostrou
redução do escore inferior a 7, com melhora dos
índices no quinto minuto, embora a ausência desse registro tenha comprometido a análise (dados
não apresentados em tabelas).
No geral, as maiores proporções de RNs com
peso abaixo de 2.500 g e entre 2.501 g e 3.000 g
foram observadas no grupo de 10 a 14 e de 15 a 16
anos, no período estudado (Tabela 3). Na faixa de
10 a 14, as proporções do peso de 1.500 a 2.500 g
totalizaram 14,6%, com aumento, no período, de
cerca de 9%, em 2000, para 20% em 2004, em
comparação com as outras idades, 12,4% e 9,4%,
respectivamente. Na faixa de 15 a 16 anos, as proporções de baixo peso mantiveram-se entre 11%
e 13% (Tabela 3). Esses resultados mostraram diAdolescência & Saúde
Souza et al. 17
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1
DISTRIBUIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DE MÃES ADOLESCENTES POR ANO DE REGISTRO DO NASCIDO VIVO
(FEIRA DE SANTANA, BA, 2000-2004)
Período
2000
2001
2002
2003
2004
Total
n
%
n
%
n
%
n
%
n
%
n
%
70
13,3
79
13,7
70
13,7
71
13,7
78
4
368
13,7
15-16
442
21,1
471
22,5
434
22,7
440
22,7
467
24,3
2.254
22,6
17-19
1.581
75,6
1.546
73,8
1.407
73,6
1.428
73,6
1.379
71,7
7.341
73,7
Total
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
Faixa etária materna
10-14
Anos de estudo concluídos
Nenhum
63
3
33
1,6
23
1,2
11
0,6
7
0,4
137
1,4
1a3
317
15,2
192
19,2
162
18,5
139
17,2
148
17,7
958
19,6
4a7
886
42,3
739
35,2
637
33,3
615
31,7
640
33,2
3.517
35,3
8 a 11
386
18,4
408
19,5
403
21,1
462
23,8
410
21,3
2.069
20,8
≥ 12
52
12,5
68
13,2
66
13,5
76
13,9
67
13,5
329
13,3
Ignorado
389
18,6
656
31,3
620
32,4
636
32,8
652
33,9
2.953
29,6
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
Solteira
1.296
61,9
1.211
57,8
1.084
56,7
1.303
67,2
1.396
72,5
6.290
63,1
Casada
431
20,6
352
16,8
284
14,9
304
15,7
288
15
1.659
16,7
União consensual
208
19,9
319
15,2
334
17,5
87
14,5
–
–
948
19,5
Total
Estado civil
Outros
Ignorado
Total
6
10,3
13
10,6
3
10,1
5
10,2
4
10,2
31
10,3
152
17,3
201
19,6
206
10,8
240
12,4
236
12,3
1.035
10,4
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
ferenças significantes em comparação com os RNs
das mães de 17 a 19 anos.
Na análise de regressão logística foi verificada
associação entre faixa etária materna e baixo peso
ao nascer nos dois modelos estudados, mesmo
após ajustamento pelas variáveis confundidoras
(Tabela 4). No modelo 1 (peso insuficiente), a regressão logística múltipla revelou que RNs de mães
de 10 a 16 anos apresentaram RC 1,38 vez maior
de apresentar baixo peso, em comparação com
RNs de mães da faixa de 17 a 19 anos, ajustados
pelos confundidores idade gestacional e número de
consultas pré-natais. A interação estatística observada entre o tipo de parto e a associação principal
demonstrou que RNs de parto cesáreo, de mães
Adolescência & Saúde
de 10 a 16 anos, apresentaram chance 3,36 vezes
maior de baixo peso em comparação com RNs de
mães de 17 a 19 anos que nasceram de parto normal. No modelo 2 (peso adequado), a regressão
logística múltipla demonstrou que RNs de mães de
10 a 16 anos demonstraram chance 1,66 vez maior
de apresentar baixo peso em comparação com RNs
de mães da faixa de 17 a 19 anos, ajustados pelos
confundidores idade gestacional e consultas prénatais. A interação estatística observada entre tipo
de parto e associação principal demonstrou que os
RNs de parto cesáreo de mães de 10 a 16 anos
apresentaram chance 3,36 vezes maior de baixo
peso em comparação com RNs de mães de 17 a 19
anos nascidos de parto normal.
volume 5  nº 1  março 2008
18
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
Souza et al.
Tabela 2
DISTRIBUIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS COM A GESTAÇÃO E O PARTO DE MÃES ADOLESCENTES POR ANO DE REGISTRO
DO NASCIDO VIVO (FEIRA DE SANTANA, BA, 2000-2004)
Período
2000
2001
n
%
2002
n
%
2003
n
%
2004
n
Total
n
%
%
n
%
< 37 semanas
256
12,2
114
5,4
96
5
117
6
140
7,3
723
7,2
37-41 semanas
1.515
72,4
1.764
84,2
1.558
81,6
1.694
87,4
1.647
85,6
8.178
82,1
≥ 42 semanas
115
15,5
52
12,5
73
13,8
15
10,8
24
11,2
279
12,8
Ignorada
207
19,9
166
17,9
184
19,6
113
15,8
113
15,9
783
17,9
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
Nenhuma
192
19,2
173
18,3
117
16,1
93
14,8
81
14,2
656
16,6
1a3
201
19,6
148
17,1
122
16,4
100
15,2
130
16,8
701
7
4a6
771
36,8
724
34,5
584
30,6
491
25,3
595
30,9
3.165
31,8
≥7
575
27,5
596
28,4
652
34,1
756
39
747
38,8
3.326
33,4
Ignorado
354
16,9
455
21,7
436
22,8
499
25,7
371
19,3
2.115
21,2
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
< 1.500
20
10,9
21
1
18
10,9
23
11,2
34
11,8
116
11,2
1.500-2.500
195
19,3
185
18,8
195
10,2
217
11,2
190
19,9
982
19,9
2.501-3.000
600
28,7
679
32,4
600
31,4
612
31,5
623
32,4
3.114
31,2
> 3.000
1.195
57,1
1.159
55,3
984
51,5
1.012
52,2
1.031
53,5
5.381
54
Ignorado
83
4
52
12,5
114
6
75
13,9
46
12,4
370
13,7
2.093
100
2.096
100
1.911
100
1.939
100
1.924
100
9.963
100
Idade gestacional
Total
Número de consultas pré-natais
Total
Peso (g) ao nascer
Total
DISCUSSÃO
Em nível nacional, os sistemas de informação
de mortalidade e nascidos vivos foram implantados há mais de uma década. Entretanto, nas diferentes regiões e municípios, a operacionalização
apresenta dificuldades relacionadas com a universalização na captação das informações e a qualidade dos dados, em particular nas regiões Norte
e Nordeste. Em Feira de Santana, o SINASC foi
implantado em 1996 e tem contribuído na realização de pesquisas, na elaboração de indicadores
locais e regionais, na implementação de políticas
e programas voltados à saúde materno-infantil.
Entretanto estudos apontam dificuldades operavolume 5  nº 1  março 2008
cionais nesse sistema, como baixa captação e irregularidade nos registros das DNs(4, 6, 8).
Na presente pesquisa foi utilizado o SINASC,
vislumbrando conhecer a realidade local, ao longo
de um período, e visando contribuir com novos estudos para a melhoria da qualidade de captação
e registro, assim como para a implementação de
políticas setoriais voltadas à realidade do município
e da região do semi-árido.
No que diz respeito à saúde materno-infantil na adolescência, dados do Ministério da Saúde
(MS) apontam proporções de nascidos vivos de
adolescentes de 23,4% em 2000 e 21,9% em
2004(2), concordando com dados do SINASC de
Feira de Santana de 1998 (21,6%)(8). Na presente
Adolescência & Saúde
Souza et al. MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
19
Tabela 3
DISTRIBUIÇÃO DO PESO AO NASCER DOS NASCIDOS VIVOS DE ADOLESCENTES POR FAIXA ETÁRIA MATERNA E ANO DE REGISTRO DO
NASCIDO VIVO (FEIRA DE SANTANA, BA, 2000-2004)
Faixa etária /período
Peso (g) ao nascer
< 1.500
1.500-2.500
2.501-3.000
> 3.000
Total
n
%
n
%
n
%
n
%
n
1
1,5
6
9
24
35,8
36
53,7
67
10-14
2000
2001
–
–
11
14,1
25
32,1
42
53,8
78
2002
1
1,5
7
10,4
29
43,3
30
44,8
67
2003
1
1,4
13
18,8
22
32
33
47,8
69
2004
2
2,6
15
19,7
25
32,9
34
44,7
76
Total
5
1,4
52
14,6
125
35
175
49
357
2000
8
1,9
56
13
129
30,1
236
55
429
2001
5
1,1
54
11,7
175
37,9
228
49,3
462
2002
2
0,5
49
12
145
35,4
213
52,1
409
2003
6
1,4
48
11,5
150
36
213
51,1
417
2004
13
2,9
61
13,6
152
33,9
223
49,7
449
Total
34
1,6
268
12,4
751
34,7
1.113
51,3
2.166
2000
11
0,7
133
18,8
447
29,5
923
61
1.514
2001
16
1,1
120
8
479
31,8
889
59,1
1.504
2002
15
1,1
139
10,6
426
32,2
741
56,1
1.321
2003
16
1,2
156
11,3
440
31,9
766
55,6
1.378
2004
19
1,4
114
18,4
446
33
774
57,2
1.353
Total
77
1,1
662
19,4
2.238
31,6
4.093
57,9
7.070
15-16
17-19
Para cálculo do valor de p foram agrupadas as categorias de peso < 1.500g e 1.500-2.500g.
Tabela 4
ANÁLISE DE REGRESSÃO LOGÍSTICA DA ASSOCIAÇÃO ENTRE FAIXA ETÁRIA MATERNA E BAIXO PESO DE NASCIMENTO (CATEGORIAS DE
REFERÊNCIA 17-19 ANOS, PESO INSUFICIENTE E PESO ADEQUADO) (FEIRA DE SANTANA, BA, 2000-2004)
Co-variável
Modelo 1 (peso insuficiente)
β
RC
Modelo 2 (peso adequado)
β
Valor de p
RC
Valor de p
Constante
-1,784
0,168
0
-2,523
0,08
0
Faixa etária materna
0,325
1,384
0,002
0,508
1,662
0
Idade gestacional
2,307
10,048
0
2,881
17,816
0
Pré-natal
0,137
1,147
0,161
0,373
1,453
0
Tipo de parto
0,311
1,351
0,037
-0,003
0,996
0,98
Faixa etária e tipo de parto
-0,457
0,633
0,098
-0,354
0,702
0,175
RC: razão de chance.
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
20
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
pesquisa, com série temporal de cinco anos (20002004), os dados ratificam esses estudos e apontam
a importante participação das adolescentes nos índices de nascidos vivos, sugerindo a necessidade
de implementação e reformulação de políticas locais e regionais voltadas à saúde materno-infantil.
De modo geral, pesquisas indicam que a
maioria absoluta das mães adolescentes é solteira, principalmente nas faixas mais precoces(18, 19).
Ribeiro et al.(18), comparando duas coortes de mães
adolescentes em Ribeirão Preto, SP, observaram
que o percentual de mães sem companheiro nos
grupos de 13 a 17 anos e 18 a 19 anos foi maior em
1994, em comparação com 1978-1979. No presente estudo, os elevados percentuais de solteiras
verificados em 2004 podem ter sido decorrentes
da mudança da categorização da DN, que excluiu
a categoria “união consensual”, considerando solteirismo a convivência marital. Essa mudança prejudicou a análise do estado civil com o resultado
gestacional do nascido vivo.
Segundo dados do presente estudo, no período
2000 a 2004 foram observados redução percentual
de adolescentes sem escolaridade e aumento na proporção de 8 a 11 anos e 12 ou mais anos concluídos.
Pesquisadores apontam que, embora adolescentes
apresentem posição desfavorável quanto à instrução, o grupo de 17 a 19 anos têm situação favorável
em comparação com mães muito jovens(5).
No que diz respeito aos aspectos da gestação,
o pré-natal é reconhecido como um dos principais
determinantes da evolução gestacional normal.
Segundo o Programa de Assistência Integral à
Saúde da Mulher (PAISM/MS), o pré-natal deve garantir o mínimo de seis consultas, ressaltando início
precoce, acompanhamento das curvas de peso, altura uterina e avaliação de parâmetros vitais(2, 11, 17).
Os resultados dessa pesquisa concordam com os
estudos que verificaram alta proporção de ausência
ao pré-natal entre adolescentes(9, 11). É importante
ressaltar que o percentual de DN sem registro dessa variável manteve-se elevado em todo o período,
concordando com estudo sobre o SINASC de 1998,
em Feira de Santana, onde 29,6% das adolescentes
realizaram pré-natal insuficiente, com percentual de
DN sem registro de 25,2%(6). Gama(10), estudando
volume 5  nº 1  março 2008
Souza et al.
resultados perinatais da gravidez na adolescência
(RJ), apontou que assistência pré-natal insuficiente aparece como a principal associação estatística
com desfechos negativos do nascimento.
No que diz respeito aos nascidos vivos, na
presente pesquisa, os RNs a termo (37-41 semanas) foram mais freqüentes em todas as faixas
etárias maternas, com proporções diferenciadas.
Na faixa de 17 a 19 anos houve redução de RNs
prematuros entre 2000 e 2001 e no restante do
período. Estudos indicam maiores proporções de
prematuridade entre adolescentes e mulheres com
mais de 40 anos(5, 10).
Alguns estudiosos relatam que RNs de adolescentes apresentam características antropométricas
semelhantes aos de mulheres adultas nas mesmas
condições de vida. Entretanto os filhos do grupo
mais jovem tendem a apresentar maior proporção
de peso insuficiente, baixo peso e muito baixo peso
em relação ao adequado. Esse resultado pode estar
relacionado com fatores como baixo peso materno
anterior, pouco ganho na gestação, intercorrências
clínicas, pré-natal insuficiente, todos associados a
fatores psicossociais, relações familiares e com o
parceiro, os quais interferem nos cuidados da gestante com a saúde(5, 7). Outro grupo de estudiosos
afirma que resultados gestacionais podem estar
relacionados com imaturidade endócrina (idade
ginecológica, órgãos da reprodução), crescimento
incompleto, composição corporal (verificada na
faixa ≤ 15 anos), fatores que podem interferir na
transferência de nutrientes para o feto pela insuficiência uteroplacentária(9, 10, 15).
O SINASC de 1998, em Feira de Santana,
mostrou peso adequado em 55,8% dos RNs e
maior prevalência de baixo peso entre nascidos de
adolescentes(6). No presente estudo, entre 2000 a
2004, foi observada associação positiva e estatisticamente significante entre baixo peso e faixa etária
materna nos grupos de nascidos vivos com peso
insuficiente e peso adequado, concordando com
estudos realizados no mesmo município. Kilsztajn
et al.(14), estudando assistência pré-natal, baixo
peso e prematuridade, observaram que mães com
menos de 20 anos devem ser consideradas de risco
para baixo peso ao nascer.
Adolescência & Saúde
Souza et al. MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
CONCLUSÕES PARA O PERÍODO
ESTUDADO (2000- 2004)
Verificou-se alta freqüência de partos e nascidos vivos entre adolescentes (21%), mantendo as
proporções do SINASC de 1998. Houve também
elevada proporção de falta de registro nos itens
da DN (estado civil, escolaridade, consulta prénatal, índice de Apgar), o que dificultou a análise
desses dados.
A maior parte das mães adolescentes era solteira e realizou o pré-natal de forma insuficiente
(≤ seis consultas), apesar da redução das proporções daquelas que não freqüentaram o pré-natal.
O peso adequado dos RNs foi superior a 50%
(3.000 g); os de baixo peso (1.500 g-2.500g) representaram 9% a 10%.
Os modelos de regressão logística ajustados a
partir da avaliação da bondade do ajuste e da curva
ROC apontaram: associação entre baixo peso ao
nascer e faixa etária materna, mesmo após ajuste
pelos confundidores (idade gestacional e consultas
de pré-natal); confirmação, pela regressão logística
múltipla, da presença de interação estatística entre
a co-variável tipo de parto e a associação principal
(faixa etária materna e baixo peso ao nascer); idade
gestacional e consultas de pré-natal como confundidoras da associação entre baixo peso ao nascer e
faixa etária materna nos dois modelos estudados.
1
1
0,75
0,75
0,5
0,5
0,25
0
0
0,25
0,5
0,75
1
1 - Especificidade
Modelo 1 (peso insuficiente) – área 0,663
Sensibilidade
Sensibilidade
O índice de Apgar constitui importante indicador da assistência perinatal e das condições clínicas
do RN. Entretanto o elevado percentual de dados
ignorados para essa variável comprometeu a análise
dos resultados, advertindo quanto à necessidade de
sensibilização dos profissionais de saúde nas maternidades para o preenchimento adequado da DN, importante estratégia para a elaboração de indicadores,
assim como quanto ao planejamento e à execução
de políticas e ações voltadas à assistência na sala de
parto e à redução da mortalidade perinatal, principal
causa de mortalidade infantil em nosso meio.
Na análise de regressão logística múltipla foi
confirmada a presença de interação entre a co-variável tipo de parto e a associação principal (faixa
etária materna e baixo peso ao nascer), todavia as
co-variáveis idade gestacional e consultas de prénatal foram confundidoras da associação principal
nos dois modelos de análise. Esses resultados concordam com estudo de Costa et al.(6) com o SINASC,
em que foi verificada associação significante entre
faixa etária materna e baixo peso, com proporções
de baixo peso superiores entre RNs de mães de 10
a 16 anos e tendo como variáveis confundidoras
escolaridade, pré-natal e idade gestacional. Simões
et al.(20), em São Luís, MA, encontraram associação
entre faixa etária materna (adolescentes mais jovens) e baixo peso, comparando adolescentes com
mulheres de 25 a 29 anos.
21
0,25
0
0
0,25
0,5
0,75
1
1 - Especificidade
Modelo 2 (peso adequado) – área 0,661
Figura 1 – Curva ROC dos modelos 1 e 2
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
22
MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E NASCIDOS VIVOS: ANÁLISE TEMPORAL (2000 A 2004)
SEGUNDO O SINASC DE UM MUNICÍPIO DO NORDESTE DO BRASIL
Souza et al.
REFERÊNCIAS
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
ARTIGO ORIGINAL
Nádia Ferreira Rivera
Alves
23
Relação entre a ginecomastia puberal e
o índice de massa corporal
Relationship between pubertal gynaecomastia and body mass index
RESUMO
Objetivo: Avaliar a associação entre a ginecomastia puberal e o índice de massa corporal (IMC) por idade. Métodos: Realizou-se um
estudo transversal no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) no Rio de janeiro, entre 2003 e 2006, envolvendo 143 adolescentes
recrutados na unidade ambulatorial de adolescentes do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA). A amostra final de
109 casos foi selecionada, com pacientes na faixa etária de 11 a 19 anos, após história médica detalhada e exame físico completo,
demonstrando ginecomastia puberal. Foram excluídos pacientes em uso de medicamentos, drogas ilícitas ou com hipogonadismo.
Como dados antropométricos utilizaram-se peso, altura, diâmetro mamário horizontal e estágio de maturação sexual. A análise do
IMC por idade foi baseada nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo adotou os percentis 85 e 95 para
caracterizar o sobrepeso e a obesidade. O nível de significância foi < 0,005. Resultados: A porcentagem de adolescentes com sobrepeso e obesidade foi de 50,4%. Os valores médios do diâmetro mamário aumentaram de 1,5 ± 1 cm a 4,86 ± 2,2 cm, com correlação
estatisticamente significante para os percentis 5 a 95 do IMC por idade (Pearson = 0,59). Conclusão: O estudo confirmou a associação
de ginecomastia puberal com IMCs mais altos e demonstrou diâmetros crescentes, conforme o aumento ponderal excessivo.
UNITERMOS
Adolescência; antropometria; ginecomastia; obesidade; imagem corporal
ABSTRACT
Objective: To evaluate the relationship between pubertal gynaecomastia and body mass index (BMI) for age. Methods: This was a crosssectional study carried out at Pedro Ernesto University Hospital (PEUH) in Rio de Janeiro city, since 2003 to 2006, enrolling 143 adolescents,
recruited from the adolescent outpatient health unit (NESA). The final sample of 109 cases was selected, with ages between 11 and 19
years, after detailed medical history and complete physical exam demonstrating pubertal gynecomastia. Patients in use of any medication,
illicit drugs, or with hypogonadism were excluded. Anthropometric measures of weight, height, mammary horizontal diameter and sexual
maturation stage were documented. The analysis of the BMI for age was based on the recommendations from the World Health Organization
(WHO). The 85th and 95th percentiles were used to assess overweight and obesity. The significance level was < 0.005. Results: The percentage
of adolescents with overweight and obesity was 50.4%. The median mammary diameters increased from 1.5 ± 1 cm to 4.86 ± 2.2 cm,
with statistically significant correlation to BMI for age 5th to 95th centiles (Pearson = 0.59). Conclusions: The study confirmed that pubertal
gynaecomastia is associated with a high higher BMI, and demonstrated increasing diameters in accordance with excessive weight gain.
KEY WORDS
Adolescence; anthropometry; gynaecomastia; obesity; body image
INTRODUÇÃO
A ginecomastia puberal é definida como aumento visível da glândula mamária do homem no
período de maturação sexual(3, 13). A proliferação tissular mamária subareolar é observada precocemente na puberdade cerca de seis meses após o início do
aumento do volume testicular e do surgimento dos
pêlos pubianos(5). A prevalência em adolescentes
normais é de até 75%(16). O diagnóstico diferencial
mais comum é com a lipomastia, na qual ocorre acúmulo de tecido adiposo palpável na região mamária
Adolescência & Saúde
sem haver disco de consistência elástica subareolar,
correspondente às proliferações ductal e estromal
presentes na ginecomastia(3, 5, 13, 14).
Ambas as mamas são afetadas de forma seqüencial em 95% dos casos(13) e a duração habitual é de
seis meses a dois anos(5, 16), acompanhando a fase do
Médica especialista em Clínica Médica; mestranda em Medicina pela Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Trabalho realizado no Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente do Hospital
Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/
HUPE/UERJ).
volume 5  nº 1  março 2008
24
RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
estirão puberal. A involução é espontânea na maioria
dos casos e o volume glandular costuma restringir-se
ao perímetro areolar. Cerca de 4% dos adolescentes
apresentam formas graves de ginecomastia puberal,
com diâmetros horizontais de 4 cm (macromastia)
ou > 5 cm (macroginecomastia). Nesses casos, apresentam mamas que se assemelham às femininas em
estágios 3 e 4 de Tanner(6), porém não costuma haver regressão(5, 13).
A fisiopatologia da ginecomastia puberal é
de natureza multivariada, sujeita a influências de
origens genética e ambiental. A explicação mais
freqüente é a de que, no início da puberdade, a
concentração sérica de estradiol (E2), que estimula
o desenvolvimento mamário, triplica em relação
aos níveis de E2 da criança. A testosterona (T),
que antagoniza esse efeito, só alcançará níveis
adultos – 30 vezes maiores que os níveis pré-puberais – ao final da puberdade(3, 5, 13, 14, 16).
Outra explicação reconhecida é o papel da
enzima aromatase, responsável pela biossíntese
do E2, que, em situações nas quais encontra-se
elevada, promoveria o estímulo para a ginecomastia(3, 7, 12, 13, 17) (Figura 1). Estados como obesidade,
resistência insulínica e casos descritos de mutação
afetando o gene da aromatase apresentam alta incidência de ginecomastia(8, 15, 18).
5
Estradiol
Tecidos
Periféricos
Estrona
6
Testosterona
6
5
Androstenediona
Testosterona
Circulação
Androstenediona
Estrona
Estradiol
Colesterol
1
Tecidos
secretores
de esteróides
Pregnenolona
2
Célula de
Leydig
Testículo
Progesterona
3
17α-Hidroxiprogesterona
4
Androstenediona
Adrenal
5
Testosterona
6
Estradiol
Figura 1 – Fisiopatologia da ginecomastia puberal: origens glandular e periférica e metabolização
de testosterona, androstenediona, estrona, e estradiol. Os números nos círculos denotam as
enzimas responsáveis por cada passo: 1. citocromo P450scc, a enzima clivadora da cadeia lateral
do colesterol; 2. 3β-hidroxiesteróide desidrogenase e ∆5,∆4-isomerase; 3. citocromo P450c17
(mediando 17α-hidroxilase); 4. citocromo P450c17 (mediando 17,20-liase); 5. 17-cetosteróide
redutase; 6. aromatase.
Fonte: Braunstein(3), autorizada a publicação. Traduzida e adaptada pela autora.
volume 5  nº 1  março 2008
Alves
Outro aspecto relevante da ginecomastia
puberal, considerando-se o estágio precoce de desenvolvimento em que ela incide, é a repercussão
na formação da imagem corporal e na busca pela
identidade, tarefa central da adolescência(6).
Diante da relevância dada ao papel da obesidade entre os fatores associados à ginecomastia
puberal, este estudo objetivou analisar a influência
desse estado nutricional no desenvolvimento do
aumento mamário nos adolescentes da amostra
selecionada. Uma abordagem sobre repercussões
na imagem corporal é apresentada para reflexão.
PACIENTES E MÉTODOS
Realizou-se estudo descritivo e transversal de
amostra de 109 casos de ginecomastia puberal,
consecutivamente selecionados entre 143 adolescentes com idades entre 11 e 19 anos, atendidos
no ambulatório do Serviço de Atenção Secundária
do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente do
Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (NESA/HUPE/UERJ), de
outubro de 2003 a junho de 2006. A amostra foi
composta por pacientes encaminhados para tratamento de ginecomastia por unidades de saúde do
município do Rio de Janeiro e de outros municípios do estado, bem como por encaminhamento
interno do NESA e de outros serviços do hospital.
Qualquer massa palpável subareolar foi considerada para avaliação no estudo.
O critério de inclusão adotado foi o diagnóstico clínico de ginecomastia puberal, feito pela
mesma pesquisadora em todos os pacientes, considerando-se a história, o exame físico e a avaliação
do estágio de maturação sexual pela inspeção e
palpação da genitália segundo critérios de Tanner.
Os critérios de exclusão foram uso de qualquer medicamento, de maconha (não houve casos de uso
de outras drogas), suspeita de hipogonadismo, hepatopatia, nefropatia, doenças da tireóide, suspeita
de síndrome de Cushing ou de Klinefelter e casos
de lipomastia. Os pacientes selecionados apresentavam o diagnóstico de ginecomastia puberal.
Todos os participantes eram estudantes, atendidos
gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
e não houve distinção de classe social.
Avaliou-se a ginecomastia pela medida do
Adolescência & Saúde
Alves RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
diâmetro horizontal das mamas, estando o adolescente em posição supina, com as mãos trançadas
atrás da cabeça e de frente para o examinador. A
mão do examinador palpava a mama, fazendo deslizar os dedos em direção ao mamilo. O disco de tecido elástico, subareolar, não-aderido a planos profundos, era pinçado entre o polegar e o indicador,
sendo tracionado suavemente e medido em seu
diâmetro horizontal(2). Utilizou-se régua milimetrada e a leitura foi realizada com precisão de 0,5 cm.
O diâmetro mamário foi estratificado em faixas de
até 1,9 cm, de 2 a 3,9 cm e de 4 cm ou maiores. A
lipomastia foi diagnosticada e excluída do estudo
pela ausência de tecido mamário à palpação.
Os dados antropométricos foram obtidos e
analisados seguindo-se as recomendações do comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS),
usando-se como referência o National Health and
Nutrition Examination Survey I (NHANES I)(12, 19)
para classificar os percentis de índice de massa corporal (IMC) por idade para o sexo masculino – percentil 85 a < 95 para sobrepeso, e 95 ou > 95 para
obesidade. Para confirmar o sobrepeso e a obesidade também foram utilizados os limites propostos
por Cole et al.(7), aplicando-se a tabela de pontos
de corte de IMC por idade para adolescentes do
sexo masculino deste autor.
A medida do peso corpóreo foi realizada
numa balança digital eletrônica da marca Filizola
em quilograma (kg), com os adolescentes descalços, despido de agasalhos, bonés e adereços. A
estatura foi aferida em régua antropométrica vertical, estadiômetro Harpenden, estando os jovens
em posição ereta, com os calcanhares próximos e
a postura alinhada.
A leitura foi realizada com a precisão de
0,1 cm. O IMC foi calculado como a razão da massa corporal (kg) pelo quadrado da estatura (m2).
O percentil < 5 foi considerado anormal, magreza
e/ou baixo IMC por idade, e, quando ≥ 85, foi considerado risco de sobrepeso. A obesidade foi confirmada pelo percentil > 85 no NHANES I e pelos
pontos de corte de Cole para IMC por idade(7, 12, 19).
A maturação sexual foi avaliada de acordo com os
critérios de Tanner durante o exame físico(17). A duração da ginecomastia foi calculada por inquérito
recordatório, mas a referência à mastalgia no início
da ginecomastia contribuiu para maior precisão na
coleta dessa informação. Os adolescentes responderam a um questionário sobre ginecomastia.
Adolescência & Saúde
25
Para a análise estatística, utilizou-se o programa
de computador SPSS (versão 11.0) para Windows.
Os dados descritivos foram expressos como média ± desvio padrão (DP) ou como porcentagem.
A correlação entre o percentil de IMC por idade e
o diâmetro mamário foram calculados mediante o
coeficiente r de Pearson (valor do r de Pearson).
Todos os pacientes e seus responsáveis assinaram o consentimento informado para participação
do estudo, o qual foi previamente aprovado pelo
comitê de ética em pesquisa do HUPE, seguindo
as recomendações da Declaração de Helsinque
de 1975, conforme revisão de 2000, para pesquisas com seres humanos. Este trabalho é parte de
tese de mestrado do curso de pós-graduação da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (FCM/UERJ).
RESULTADOS
A média de idade dos adolescentes que participaram do estudo foi 15 ± 1,9 anos, variando de
11 a 19 anos. Em relação à maturação sexual, conforme os critérios de Tanner, encontrou-se maior
número de casos nos estágios de desenvolvimento
sexual 3 e 4 (Tabela 1).
A avaliação do IMC relacionado à idade revelou 50% de prevalência de excesso de peso, sendo
encontrados 19 adolescentes (17,4%) com percentil 85 e 36 (33%) com percentil 95, o que corresponde a sobrepeso e obesidade, tanto nas curvas
da OMS/NHANES I como nos pontos de corte de
Cole. A freqüência do baixo IMC por idade ou percentil < 5 foi de cinco casos (4,6%) (Tabela 2).
A distribuição dos pacientes em relação ao
diâmetro mamário revelou 25 adolescentes (23%)
na faixa até 1,9 cm, 36 (33%) com diâmetros de 2
a 3,9 cm e 29 (27%) com mamas de 4 a 5,9 cm.
Observamos ainda 19 (17%) com diâmetros de
6 cm ou maiores, semelhantes à mama feminina
nos estágios 3 e 4 de Tanner. O diâmetro mamário
médio foi de 3,7 ± 2,2 cm.
A correlação entre o IMC por idade e a média
do diâmetro mamário apresentou significância estatística (r de Pearson = 0,59) (Figura 2).
Foi observada acantose nigricans no exame
físico de 19 pacientes (17,4%), dos quais 18 apresentavam sobrepeso e obesidade. Em 10 desses
casos os diâmetros mamários eram ≥ 4 cm.
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RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
Tabela 1
ESTÁGIO DE MATURAÇÃO SEXUAL, NÚMERO DE PACIENTES,
PERCENTUAL E MÉDIAS DE IDADE E DE DIÂMETRO MAMÁRIO DOS
ADOLESCENTES ESTUDADOS
Estágios de
Tanner G
(n e %)
Pacientes
Média de idade
(anos)
Diâmetro
mamário médio
(cm)
2
14 (11)
13 ± 1
2,8 ± 1,5
3
42 (38)
14,3 ± 1,5
3,8 ± 2,3
4
29 (28)
15,3 ± 1,4
3,3 ± 2,3
5
24 (23)
16,9 ± 1,8
4,1 ± 2
109 (100)
15 ±1,9
3,6 ± 2,2
Total
Alves
Quanto à duração da ginecomastia, a amostra teve 19 adolescentes (17,4%) com relato de até
seis meses; 14 (12,8%) de seis meses a um ano; 17
(15,5%) de um a dois anos; e 13 casos (12%) de
dois a quatro anos. Houve 33 pacientes (30%) que
já apresentavam o quadro há mais de quatro anos.
O questionário respondido pelos adolescentes revelou preocupação com a imagem corporal
(Figura 3).
O que você sente a respeito do aumento das mamas?
Vergonha
Tristeza
Tabela 2
DISTRIBUIÇÃO DOS PACIENTES ESTUDADOS SEGUNDO OS
PERCENTIS DO IMC POR IDADE
n
<5
5
4
5
9
8
15
13
12
50
27
25
85
19
17
95
36
33
40
20
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
DISCUSSÃO
60
6
8
diâmetro mamário
10
Figura 3 – Respostas à pergunta de número 7 do questionário: “O que você sente a respeito
do aumento das mamas?”
80
4
6%
0
100
percentil de IMC/idade*
12%
Frustração
120
12
Figura 2 – Correlação entre o diâmetro mamário médio e as curvas do percentil do IMC por
idade
IMC: índice de massa corporal. Cálculo utilizado: r de Pearson = 0,59.
*Fonte: National Health and Nutrition Examination Survey I (NHANES I).
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8%
Outros
%
IMC: índice de massa corporal.
*Fonte: National Health and Nutrition Examination Survey I (NHANES I).
2
2%
Raiva
Percentil do IMC por
idade*
0
72%
Os 109 pacientes selecionados no estudo
apresentaram média de idade de 15 ± 1,9 anos,
mais avançada do que a esperada, segundo
Neinstein(13), que avalia em 19,6% os adolescentes de 10,5 anos apresentando ginecomastia, com
máxima prevalência, de 64%, aos 14 anos, diminuindo progressivamente.
O estudo revelou apenas 14 pacientes (11%)
no estágio 2 de Tanner, considerado o de maior
incidência de ginecomastia puberal, com 50% dos
casos, conforme a literatura. O maior número de
pacientes, 42 adolescentes (38%), encontrava-se
no estágio 3 de Tanner, quando seria de 20% o
percentual referido pela literatura para esse estágio. A média de idade no estágio 3 foi 14,3 ± 1,5
anos, sendo maior que o descrito pela OMS para
G3 no Brasil, que é de 12,4 anos (Tabela 1)(11).
A amostra em estudo registrou 53 adolescentes ou 48,6% dos casos nos estágios 4 e 5 de
Tanner, enquanto os pesquisadores observaram giAdolescência & Saúde
Alves RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
necomastia em 8% a 10%(2, 6) dos adolescentes nos
estágios finais de maturação sexual.
Apenas cinco pacientes (4,6%) encontravamse abaixo do percentil 5 para o IMC por idade,
considerado como desnutrição, responsável pelo
atraso do desenvolvimento puberal, e que pode
ser recuperado pela realimentação. Nesses adolescentes desnutridos, a ginecomastia puberal costuma surgir na fase de realimentação e recuperação,
sendo autolimitada(16, 17).
O excesso de peso observado na Tabela 2 serve como alerta para o aumento da obesidade e suas
repercussões sobre a saúde dos adolescentes(18).
A ginecomastia pode ser considerada um risco relacionado à obesidade, que pode ocorrer durante o desenvolvimento da resistência insulínica
em crianças nas quais o ganho excessivo de peso e
o hiperinsulinismo precedem o quadro de diabetes
resistente à insulina (tipo 2) por vários anos(9).
A acantose nigricans observada em 19 adolescentes do estudo é considerada um marcador de
resistência insulínica, encontrando-se associada à
obesidade e a maiores diâmetros da ginecomastia,
conforme visto em 18 dos 19 pacientes.
Apesar de a amostra concentrar pacientes
mais graves, como característica inerente a hos-
27
pitais universitários e de referência, o número relevante e a gravidade dos casos de ginecomastia
puberal nos estágios finais de maturação sexual
chamam a atenção. Tal resultado pode ser interpretado como conseqüência da resolução espontânea dos casos de menores diâmetros apresentados em estágios iniciais da maturação sexual, ou
devido ao agravamento provocado pelo sobrepeso visto nessa amostra, ou, ainda, em função da
decisão de se adiar o encaminhamento até maior
maturação sexual.
As respostas ao questionário colocam a ginecomastia como um risco ao desenvolvimento da imagem corporal e, conseqüentemente, da identidade,
afetando a auto-imagem, a autoconfiança e a independência dos adolescentes(1). O perfil que um adolescente tem de si, ou seja, a percepção de si mesmo
determina muitas de suas reações emocionais.
O estudo revelou que a obesidade está associada a outros fatores, como um fator agravante
e de cronicidade da ginecomastia puberal, e evidenciou a necessidade de o pediatra ou hebiatra
estar atento durante o curso arrastado e desgastante da ginecomastia puberal de maiores diâmetros para oferecer escuta e apoio ao adolescente
e sua família.
NÚCLEO DE ESTUDOS DA SAÚDE DO ADOLESCENTE
ATENÇÃO SECUNDÁRIA
QUESTIONÁRIO
1- Você está satisfeito com seu corpo?
( ) muito satisfeito
( ) satisfeito
( ) insatisfeito
( ) muito insatisfeito
2- Seu corpo o impede de namorar?
( ) não
( ) muito pouco
( ) um pouco
( ) sim
3- Você deixa de fazer esporte ou aulas de educação física na escola por não gostar do seu corpo?
( ) não
( ) poucas vezes
( ) muitas vezes
( ) sempre
4- Você deixa de ir à praia ou piscina por causa da insatisfação com as mamas?
( ) nunca
( ) algumas vezes ( ) muitas vezes
( ) sim
5- Você fica sem camisa na presença de amigos?
( ) sim
( ) muitas vezes
Adolescência & Saúde
( ) poucas vezes
( ) não
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RELAÇÃO ENTRE A GINECOMASTIA PUBERAL E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
Alves
6- Você fica sem camisa em casa, na presença de seus pais e irmãos?
( ) sim
( ) muitas vezes
( ) poucas vezes
( ) não
7- O que você sente a respeito do aumento das mamas?
( ) vergonha
( ) raiva
( ) tristeza
Quais?
( ) frustração
( ) outros
8- Se pudesse, qual parte do seu corpo mudaria? Por quê?
9- Você acha que alguém compreende seu problema corporal? Quem?
( ) minha família
( ) só meu pai
( ) algumas pessoas ( ) ninguém
10- Qual o recado que você gostaria de deixar para as pessoas que estão passando pelo mesmo
problema que você?
Av. 28 de Setembro, 109 – fundos – Pavilhão Floriano Stoffel – Vila Isabel – Cep: 20551-030 – Rio de Janeiro
Tels: (021) 2587-6570 / 2587-6571 / Fax: 2264-2082 e-mail: [email protected]
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
ARTIGO ORIGINAL
Maria Helena Ruzany1
Carla Cristina Coelho
Augusto Pepe2
José Henrique Whiters
Aquino3
Hilde Sant’ Anna
Cantinho4
Livia Batista Leis5
Rachel Barroso da Silva6
Rodrigo Amaral de Lima7
29
Comunicação entre a família e seus
filhos adolescentes: construindo uma
relação dialógica
Communication between the family and their adolescent children: building
a dialogical relationship
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar um estudo sobre situações vivenciadas pelos adolescentes e o grau de conhecimento dos
responsáveis. Trata-se de um estudo transversal com adolescentes e seus familiares, que utilizou dois questionários publicados pela
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), criados a partir dos indicadores de adaptabilidade e vulnerabilidade diante das crises.
Neste estudo foram entrevistados 140 adolescentes hospitalizados no Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) e 152
responsáveis. Nas perguntas “o responsável sabia de algumas situações vividas pelo adolescente” e “o adolescente já havia vivenciado
alguma delas”, para “tentar contra a própria vida” obteve-se um nível de correlação de 0,22. Com níveis mais significativos de concordância, correlação de 0,06, estava o “sentimento de tristeza”. Quanto à questão “as idéias do adolescente são consideradas”, houve
discordância nas informações com um nível de correlação de 1,04. Os autores concluíram que há uma variação entre a percepção que
o adolescente e seus responsáveis têm quanto a diversos aspectos da vida, bem como existem situações de divergência de valores e
desconhecimento das necessidades entre os componentes da mesma família.
UNITERMOS
Adolescência; hospitalização; comunicação; família
ABSTRACT
The objective of this paper is to present a study about situations faced by adolescents and the knowledge by their sponsors. A cross/transversal
study with hospitalized adolescents and their families was performed by using two questionnaires created from the indicators of adaptability and
vulnerability while in crisis of the Pan American Health Organization (PAHO). One hundred forty adolescents admitted at the Center of Adolescent
Health Care and one hundred fifty-two sponsors were interviewed. “The sponsor knew about some of the situations faced by the adolescent” –
was taken as an answer to the questionnaire – and “the adolescent had already faced some of the situations” for “attempting against his own
life” obtained a correlation level of 0.22. With more significant levels of agreement, correlation of 0.06, there it was a “sadness feeling”. In relation
to the question “the adolescent´s ideas are taken into account” was a disagreement in the information with a level of correlation of 1.04. The
authors concluded that there is a variation between the perception that the adolescent and their sponsors have about different aspects of life, as
well as there are situations when their values differ and the needs of the family members are unknown by each other.
KEY WORDS
Adolescence; hospitalization; communication; family
Professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas do Núcleo de Estudos da
Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM/NESA/UERJ);
doutora em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo
Cruz (ENSP/FIOCRUZ).
2
Tecnologista da Coordenação de Saúde do Trabalhador da FIOCRUZ; mestra em
Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ.
3
Coordenador da Enfermaria Aloysio Amâncio da Silva do NESA; professor auxiliar
da FCM/UERJ.
4
Recreadora da Enfermaria Aloysio Amâncio da Silva do Hospital Universitário Pedro
Ernesto (HUPE), NESA/UERJ.
5
Estudante da FCM/UERJ; bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC).
6
Estudante da Faculdade de Enfermagem; bolsista PIBIC/UERJ.
7
Estudante da FCM; bolsista PIBIC da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
1
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
30
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
INTRODUÇÃO
A adolescência é a fase da vida marcada por
intensas mudanças físicas, cognitivas e psicossociais, que impulsionam o sujeito para um período
irrequieto de busca por novas sensações. Diante
das situações que se apresentam os adolescentes
muitas vezes omitem da família algumas atividades, problemas e preferências, aumentando assim
sua vulnerabilidade.
A família, por sua vez, quando consegue manter
seus vínculos internos, é um núcleo cujos membros
se situam numa estrutura, respeitando a hierarquia
e evitando desarmonia. Até a adolescência a criança
depende integralmente da família, porém, a partir
dessa fase, a família é obrigada a redimensionar seu
papel por meio de uma série de adaptações em sua
dinâmica interna. Acontecem neste período a perda progressiva da autoridade dos pais e a crescente
autonomia de seus filhos. Esse redimensionamento,
aliado às diversas questões culturais, econômicas,
sociais, religiosas e afetivas, pode criar nos pais uma
grande dificuldade de comunicação com seus filhos
e, conseqüentemente, a falta de oportunidade de
conhecer suas atitudes e experiências de vida.
Quando ocorre um incidente, como a internação de um filho(a) adolescente ou jovem, esperase que a estrutura familiar já comprometida pelas
dificuldades do dia-a-dia venha a se desestruturar
ainda mais e lançar mão de mecanismos variados
de adaptação.
Nesse sentido, foi criado o Projeto Cristal, com
o propósito de estudar as repercussões da hospitalização na vida do adolescente e de seus responsáveis,
bem como conhecer o grau de entendimento entre
eles. A denominação do projeto foi escolhida pelo fato
de o cristal ser uma pedra de alta resistência e porque,
por mais que se o triture, sua estrutura interna permanece inalterada. Dessa forma, buscou-se simbolizar a
fragilidade e ao mesmo tempo a beleza da resistência
humana diante de adversidades da vida.
Este artigo tem como objetivos apontar os
resultados desse projeto em relação a algumas
situações vivenciadas pelos adolescentes, assim
como o grau de conhecimento sobre elas de seus
responsáveis.
volume 5  nº 1  março 2008
Ruzany et al.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal com adolescentes hospitalizados no período de outubro
de 2002 a março de 2004 na Enfermaria Aloysio
Amâncio da Silva, do Núcleo de Estudos da Saúde do
Adolescente do Hospital Universitário Pedro Ernesto
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/
HUPE/UERJ). A equipe de pesquisa era formada por
médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, estudantes
de iniciação científica e por uma recreadora.
Para a coleta de dados foram utilizados dois
questionários criados a partir dos indicadores de
adaptabilidade e vulnerabilidade diante das crises,
publicados pela Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) em 1996.
O instrumento completo abordava vários aspectos:
• situação socioeconômica do adolescente e seu
responsável, grau de escolaridade, ocupação e características da residência;
• vulnerabilidade e adaptabilidade do adolescente
e seu responsável perante a hospitalização, relações
inter e intrafamiliares, forma de enfrentamento dos
problemas, impacto da hospitalização, grau de satisfação com a vida e comportamento.
O projeto de pesquisa e os questionários foram
avaliados e aprovados pelo comitê de ética do HUPE/
UERJ. Para o treinamento da equipe de entrevistadores e o debate das situações ocorridas durante o desenvolvimento da pesquisa, estabeleceu-se uma rotina
de reuniões periódicas. Um termo de consentimento
livre e esclarecido foi fornecido, e assinado pelos pacientes e familiares que participaram do estudo.
Somente os pacientes internados pela primeira vez no período do estudo foram convidados a
participar. Quanto aos responsáveis, o convite para
a entrevista ocorria independente da participação
do adolescente, porém era realizado apenas uma
vez. As situações de gravidade do quadro clínico
e/ou impossibilidade de comunicação foram critérios de exclusão.
Para a garantia da qualidade dos instrumentos, realizaram-se testes de validade e confiabilidade, com base no coeficiente de kappa, que mede
Adolescência & Saúde
Ruzany et al. os níveis de concordância entre respostas fornecidas duas vezes pelos mesmos entrevistados.
Os dados foram armazenados e analisados estatisticamente nos softwares Epi-Info 2000 e SPSS
13.0. Na análise qualitativa das informações foram
utilizadas tabelas de qualificação e categorização
dos dados.
RESULTADOS
No período estudado a enfermaria, que conta
com 20 leitos, recebeu 369 internações (278 pela
primeira vez e 91 reinternações), 225 decorrentes de
questões médicas e 144 cirúrgicas, com média de internação de 8,46 dias e taxa de ocupação de 80%.
Além dos critérios de exclusão anteriormente
descritos, alguns adolescentes e responsáveis não
participaram devido à alta hospitalar na ausência
de algum entrevistador disponível. Portanto, dos
278 adolescentes candidatos ao estudo, 140 participaram. Entre os responsáveis, 152 responsáveis
foram entrevistados. Do público convidado, somente 5% se recusaram a participar da entrevista.
Entre os adolescentes participantes, 56,3%
eram do sexo masculino e 43,7% do feminino. No
que se refere à faixa etária, 35,4% tinham entre 12
e 14 anos; 42,7% entre 15 e 17 anos; e 21,9%, entre 18 e 20 anos. Quanto à escolaridade, 60,4% tinham o ensino básico incompleto e 28,1% tinham
o ensino fundamental incompleto.
Entre os responsáveis, o questionário foi respondido pelas mães, em sua maioria (63,8%), seguido pelos pais (11,8%), tios e avós (17,4%) e
outros com 10,5%. Quanto ao grau de instrução
dos familiares, predominou a faixa de nível fundamental incompleto, com 55,7%. E em relação à
ocupação dos pais, não havia uma profissão predominante, entretanto a maior parte das mães foi
classificada como “do lar” (38,1%).
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
31
54,2% responderam positivamente, 37,5% disseram que não haveria efeito algum e 8,3% não responderam. No tocante ao tipo de conseqüência,
44% não souberam especificar. Já em relação aos
que responderam afirmativamente a esse quesito,
houve predominância de preocupação com o atraso escolar, tendo em vista as limitações impostas
pela doença e pela internação, além do isolamento
e da estética.
Embora 76% contassem com a mãe como
acompanhante e 12% com a companhia do pai,
quando inquiridos sobre seus sentimentos de isolamento social e afetivo durante a internação, 28,1%
responderam positivamente.
A variável isolamento afetivo durante a internação
apresentou relação direta com a presença da família,
com p < 1,5% (variância) e Q2 < 1,77 (χ² de Pearson),
portanto o isolamento era menor à medida que a
presença da família era maior. Essa mesma variável
apresentou relação quanto à ausência da família e no
que diz respeito ao sentimento de falta de pessoas. A
variância foi p < 1,5 e χ² < 1,45 (χ² de Pearson), mostrando relação mais relevante que a anterior entre a
ausência da família e o sentimento de falta de pessoas
(a mais apontada foi família e amigos).
Na questão que abordava a quem os adolescentes procuravam para enfrentar seus problemas,
65,6% referiram que eles mesmos resolviam, seguido de 47,5% que referiram recorrer aos parentes. Pessoas com problemas parecidos e programas
comunitários foram procuradas por 12% dos entrevistados.
As variáveis da questão a quem você recorre
quando está com dificuldade e com que aspectos de
sua vida você está satisfeito não apresentaram relação estatística significante, com nível de significância girando em torno de p > 2,33, rejeitando assim
a hipótese.
RESPOSTAS DOS FAMILIARES
RESPOSTAS DOS ADOLESCENTES
Ao serem questionados se achavam que haveria conseqüências da internação em suas vidas,
Adolescência & Saúde
No item que procura detectar redes de apoio
da família, assim como os adolescentes, 73% dos
responsáveis responderam que resolviam seus
problemas sozinhos, 34% buscavam ajuda dos
volume 5  nº 1  março 2008
32
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
parentes, 27% dos amigos, 22% de profissionais,
13% pessoas que tinham um problema parecido
e 8% programas da comunidade. Quanto à religião, 84% referiram que seguiam alguma religião.
No entanto, não a identificavam prioritariamente
como parte da rede de apoio, pois somente 36%
buscavam apoio de religiosos. Em relação aos sentimentos dos adolescentes, 73% dos familiares
perceberam que ultimamente esses estavam tristes
ou nervosos e 7% relataram saber que eles haviam
tentado suicídio.
A resposta positiva à questão você acha que
a doença está trazendo alguma conseqüência para
a vida do adolescente apresentou relação estatisti-
Ruzany et al.
camente mais significativa com o sexo feminino
(χ² de Pearson < 0,88). A mesma resposta positiva
teve relação com a questão está havendo alguma
dificuldade na família em relação à internação (χ²
de Pearson < 1,27). A primeira questão apresentou relação com a resposta afirmativa da questão:
tem se sentido triste ultimamente (χ² de Pearson <
1,79), contudo, como se observa, é menos significativa do que a resposta da primeira na relação
com o sexo.
No sentido de avaliar o grau de concordância
entre as respostas dos questionários (do adolescente e do responsável), foram correlacionadas as
respostas dos dois grupos (Tabela 1).
Tabela 1
FREQÜÊNCIA E PERCENTUAL DE RESPOSTAS POSITIVAS DOS FAMILIARES E ADOLESCENTES SEGUNDO O TIPO DE RELACIONAMENTO
Aspectos relevantes estudados
Família*
Adolescente**
n
%
n
%
Gostam de passar o tempo livre juntos
135
90
112
80, 6
Falam facilmente o que desejam
137
91,3
120
86,3
Pedem ajuda uns aos outros
139
92,7
121
87,1
Consideram as idéias dos filhos
121
81,8
83
61
Dividem as tarefas e responsabilidades
108
71,5
109
77,9
O pai/padrasto dedica tempo aos filhos
84
57,9
86
65,2
A mãe/madrasta dedica
tempo aos filhos
134
90,5
119
87,5
Uma das refeições é feita em família
112
74,2
104
74,3
Conversam sempre em família
139
92,1
104
74,3
Programam as atividades familiares em conjunto
96
64
81
57,9
Amigos
34
27,4
34
25,2
Pessoas com problemas
semelhantes
16
13,6
13
9,7
Profissionais de saúde
9
7,8
7
5,2
Parentes
58
47,2
60
44,1
Religiosos
51
41,5
60
44,1
Enfrentam os problemas
sozinhos
112
82,4
97
71,3
Convivência familiar
Atividades em família
Redes sociais de apoio para o enfretamento de problemas
*n = 152; **n = 140.
volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Ruzany et al. COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
Ao comparar as respostas dos 140 adolescentes com a dos 152 responsáveis, verificou-se que
os níveis de significância para as relações familiares
sobre os hábitos cotidianos, como levar em consideração as idéias dos adolescentes, foi 1,04, enquanto
em relação à freqüência de conversas em família
sempre foi 1,24 (Tabela 2).
No item como a família enfrenta os problemas
observou-se a correlação de 0,05 para resolvemos
sozinhos, ambos responderam em primeiro lugar a
esse item (71,3% adolescentes e 82,4% familiares).
Quanto à busca de ajuda de profissionais, a correlação foi 0,65.
Em relação ao conhecimento dos sentimentos
dos adolescentes, os seguintes níveis de significância foram apresentados nas respostas dos adolescentes e dos seus responsáveis. Sobre a concordância de a doença estar trazendo alguma conseqüência
para a vida do paciente, encontrou-se 0,06 e 0,84.
O padrão de significância foi maior para os adolescentes do que para os seus familiares.
Sobre os sentimentos e atitudes observaramse os seguintes resultados, tanto para adolescentes
quanto para os familiares: o fato de o adolescente
33
sentir-se triste foi 0,06; de o adolescente ter brigado
ou brigar constantemente foi 0,52; e haver tentado
contra a própria vida foi 0,22. Neste último item as
distâncias entre as percepções nos níveis de correlação foram menores.
Percebe-se que, apesar de não se ter observado p < 0,05, as variáveis mostraram-se relevantes, principalmente no que tange às respostas dos
adolescentes ou de seus familiares, com χ² menor
(Tabela 2).
Constatou-se que em algumas variáveis ambos apresentaram percepção diferenciada. No entanto, identificou-se semelhança quando a questão
estava relacionada com as variáveis associadas à
doença (p < 1). Assim, nas perguntas se o responsável sabia de algumas situações vividas pelo adolescente e se o adolescente já havia vivenciado alguma
delas obteve-se nível de correlação de 0,22; para
tentar contra a própria vida, 0,22; e, em relação a
brigar constantemente, a correlação foi 0,52. Com
níveis mais significativos de concordância, com
correlação de 0,06, estava o sentimento de tristeza.
Sobre a forma como procuraram ajuda para resolver problemas, houve concordância significativa de
Tabela 2
NÍVEIS DE SIGNIFICÂNCIA DAS VARIÁVEIS DAS RESPOSTAS DA FAMÍLIA E DO ADOLESCENTE CORRELACIONADAS COM A POSITIVIDADE
DAS REPERCUSSÕES DA DOENÇA NA VIDA DO ADOLESCENTE (p < 1)
Variáveis
Nível de significância:
família*
Nível de significância:
adolescente**
Nível de significância
da correlação
0,75
1,15
1,04
0,99
1,34
1,24
Convivência familiar
As idéias são consideradas
Atividades em família
Conversam em família sempre
Redes sociais de apoio para o enfretamento de problemas
Profissionais de saúde
0,74
0,55
0,65
Enfrentam os problemas sozinhos
0,05
0,03
0,05
0,06
0,05
0,06
Se envolveu/envolve em brigas
0,62
0,61
0,52
Tentou contra a própria vida
0,11
0,2
0,22
Situações vivenciadas
Tem se sentido triste e/ou nervoso
*n = 152; **n = 140.
O teste realizado foi o de χ2 de Pearson.
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
34
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
0,05 entre as respostas de ambos, familiares e adolescentes (Tabela 3).
Por outro lado, algumas variáveis apresentaram
discordância, nas respostas correlacionadas (p > 1),
entre o responsável e o adolescente. Desse modo,
quando perguntados como é sua família ou as pessoas
que convivem em sua casa, obteve-se um nível de significância da correlação de 1,04 e sobre as atividades
que ocorrem no seu dia-a-dia, nível de 1,24.
DISCUSSÃO
O processo de adoecimento e internação se
caracteriza muitas vezes por curso demorado, progressão constante e necessidade de tratamentos
prolongados. Sabe-se que o adolescente portador
de doença crônica pode ter seu desenvolvimento
emocional afetado decorrente da enfermidade e
do tratamento, podendo apresentar, inclusive, desajustes psicológicos(3, 5). Vale destacar que, neste
estudo, os autores optaram por incluir pacientes de
diferentes perfis, ou seja, tanto com doenças agudas quanto crônicas.
O papel da família no bem-estar do sujeito
portador de doença crônica que requer internação
tem sido estudado por diversos autores(6, 11, 14). A
doença crônica pode ser vista como um fator causador de estresse, afetando o desenvolvimento
normal da criança e também atingindo as relações
sociais no sistema familiar. A rotina da família muda
Ruzany et al.
com a necessidade de freqüentes visitas ao médico,
medicações e hospitalizações(7) e acaba atingindo
todas as pessoas que convivem com a criança(4, 6).
Ao entrar na adolescência o indivíduo tem
suas próprias inspirações, utopias, momentos de
crise, ânsia de aproveitar a vida, fantasia da imortalidade, entre outros. A procura de ajuda nessas
ocasiões é muito disfarçada e, o que poderia ser
facilmente elaborado no âmago da família, muitas
vezes é guardado com medo de rejeição. Na verdade, o jovem só quer ser ouvido, expor suas idéias.
Todavia, por dúvida interna ou por insegurança
quanto ao que esperam dele, evita se expor aos
membros da família, principalmente naquelas em
que não há uma relação dialógica entre todos os
seus integrantes.
Sabe-se que a adolescência é uma época de
conflitos e que muitas famílias acabam enfrentando dificuldade em estabelecer um grau de comunicação eficiente. Em outras, observa-se a criação
de estigmas, como o do “adolescente-problema”,
que acabam também sendo identificados durante
o processo de internação/hospitalização.
No momento que o adolescente se vê obrigado a pensar na sua doença e nas suas implicações, é comum o relato de sintomas desconexos
ou simplesmente de frases do tipo “não estou
sentindo nada” e “já está tudo bem”. Por outro
lado, os familiares passam a dedicar mais tempo a
esse componente da família, o que pode estreitar
laços afetivos e estimular o entendimento. Nessa
Tabela 3
FREQÜÊNCIA E PERCENTUAL DE RESPOSTAS POSITIVAS SOBRE O CONHECIMENTO DOS FAMILIARES ACERCA DAS SITUAÇÕES VIVENCIADAS
PELO ADOLESCENTE
Situações vivenciadas
Família*
Adolescente**
n
%
n
%
Fumou/fuma cigarro
15
10
19
13,6
Usou/usa drogas
15
10
22
15,7
Tem se sentido triste e/ou nervoso
108
72,5
73
48
Se envolveu/envolve em brigas
53
28,9
51
11,4
Tentou contra a própria vida
9
6
16
11,4
112
75,2
71
53,8
Conseqüência da doença na vida do adolescente
*n = 152; ** n = 140.
volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Ruzany et al. reaproximação os responsáveis podem até mesmo
detectar lacunas que estejam dificultando ou impedindo a compreensão do impacto do adoecimento
na vida do adolescente.
De acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) todo adolescente tem direito a
um acompanhante durante a internação, portanto
no NESA esse benefício é garantido. Na pesquisa observou-se que nesta enfermaria a mãe é quem fica
com maior freqüência como acompanhante, expressando sua maior disponibilidade no cenário familiar.
Wagner et al.(16) apontam que a mãe em relação ao pai tem maior capacidade de entendimento
e de realizar acordos e trocas. Esses autores confirmam que é com a mãe que o adolescente mais dialoga, seguida dos irmãos mais velhos e do pai(17).
Por meio de novas relações estabelecidas,
como durante a internação, é possível o responsável identificar ou ter um conhecimento mais claro
dos sentimentos do adolescente. Segundo Wagner
et al.(17), muitos adolescentes consideram a comunicação familiar relevante e a principal maneira de
resolver conflitos na família. Também consideram
a abertura e a compreensão dos pais aspectos que
facilitam a comunicação, sendo fatores que a dificultam a falta de tempo e a incompreensão.
Durante a hospitalização ocorrem modificações no cotidiano do adolescente, que incluem
desde novos limites de desempenho, como o
afastamento de amigos, de suas atividades de rotina, da escola. Aparecem sentimentos como o de
inferioridade frente à discriminação, a sensação
de ser estranho e até isolamento. Queixas como
preocupação com a escolarização, a aparência e
as implicações da doença foram identificadas nos
pacientes estudados e também no estudo realizado no estado de Mato Grosso por Viera e Lima(15),
mostrando que existe concordância entre as preocupações dos adolescentes, mesmo moradores de
cidades distantes como Rio de Janeiro e Cuiabá.
Vieira e Lima(15) ratificam que, devido à hospitalização recorrente dos adolescentes, há perda nas relações sociais, dificuldades financeiras,
sentimento de ameaça, falta de lazer e alterações
na aparência física. Embora aprendam a conviver
com o ambiente hospitalar e passem a entender
Adolescência & Saúde
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
35
a necessidade do tratamento, outros sentimentos
aparecem, ocasionando sofrimentos específicos a
esse grupo etário.
Quando nos referimos à escola, primeiramente nos remetemos à impossibilidade de o adolescente freqüentá-la, acarretando atrasos no processo do aprendizado no ano letivo, o que é uma
das questões que mais preocupa pais e pacientes.
Contudo, participando mesmo que temporariamente da rotina escolar, o adolescente portador de
doenças crônicas muitas vezes passa por momentos de dificuldade de socialização, uma vez que
suas limitações e sua aparência física podem lhe
causar sentimentos de baixa auto-estima. Ressaltese que é na escola que o adolescente amplia seu
convívio social e precisa da aprovação do grupo
para a construção e a reafirmação de uma autoimagem positiva. Essa relação é importante para
seu desenvolvimento social e psicológico, já que
predispõe ao ajustamento e à competência durante a adolescência e a vida adulta(17).
Em relação à aparência física, já tão modificada pelo desenvolvimento fisiológico, o adolescente, influenciado pela mídia, se preocupa ou deseja um corpo perfeito, muitas vezes impossível por
causa de sua condição de saúde. Esses sentimentos
podem originar tristezas, que muitas vezes levam
à depressão.
Para Vieira e Lima(15), a doença, o tratamento
e os efeitos colaterais dos medicamentos interferem na vida escolar, assim como a discriminação
dos colegas interfere na construção e na manutenção da auto-estima positiva.
As famílias estudadas demonstraram a ausência de uma rede social de apoio, à medida que
declararam que procuram resolver seus problemas sozinhos. Assim, observa-se que o impacto
do processo de hospitalização acaba afetando
todo o núcleo familiar, suscitando mudanças em
sua própria organização, com alternância dos papéis exercidos e revisão de atitudes para com o
adolescente doente.
Ao lidar com a família do paciente adolescente,
Armond e Boemer(1) destacam pontos semelhantes
em seu estudo. Apontam também que é freqüente a
reivindicação pelo adolescente da presença da mãe
volume 5  nº 1  março 2008
36
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
ou de uma figura materna substituta, bem como a
manifestação de seus sentimentos aos pais.
Esses sentimentos nem sempre são demonstrados apenas pela linguagem verbal, mas também pela gestual, corporal e silenciosa, passando
a ser compartilhada pelos pais. A presença de um
responsável diminui a sensação de distanciamento
da família, além de auxiliar na aceitação das normas impostas pela rotina hospitalar.
Durante todo esse processo de internações e
tratamentos, a religião freqüentemente torna-se um
locus de conforto espiritual para os pais, no qual eles
se fortalecem para enfrentar o sofrimento da doença
partilhado por ambos. É importante ressaltar que a
convivência dos responsáveis com outros familiares
na mesma situação favorece sentimentos de solidariedade. A conseqüência disso é o estabelecimento
de uma nova rede de apoio até então impensada
para o enfrentamento de problemas.
Com referência às preocupações dos responsáveis, Armond e Boemer(1) nos mostram exemplos
sobre a visão dos pais quanto aos anseios dos filhos, como a preocupação em relação aos estudos,
e sobre as conseqüências da doença na família.
Também apontam a percepção dos pais quanto
à preocupação dos filhos sobre imagem corporal,
à aceitação ou não do tratamento, ao tempo de
internação, e aos sentimentos despertados, como
mal-estar, constrangimento, vergonha, alterações
de humor e tristeza. Esses autores acrescentam que
os pais acreditam que o filho, por estar na adolescência, pode perceber o significado de sua doença,
assim como saber o que deseja ou não deseja.
Embora a melhora da relação com os pais seja
capaz de propiciar alívio no penoso processo de
hospitalização, ao observar os resultados obtidos
em nosso estudo, constatamos certa discordância a respeito da qualidade da comunicação entre
adolescentes e responsáveis. Da mesma forma que
os pais sentem dificuldade em conversar com seus
filhos e de alcançá-los, os adolescentes, não obstante compreendam algumas atitudes dos pais e as
achem importantes, não se sentem confortáveis na
relação com eles.
A comunicação e sua qualidade são muito
importantes no ambiente familiar(17). O entendivolume 5  nº 1  março 2008
Ruzany et al.
mento dessa dinâmica permite que as regras e
os papéis no núcleo familiar sejam definidos e
redefinidos continuamente. Esses pactos são indicativos da capacidade de resiliência da família
durante as crises, além de favorecer a coesão e o
processo de independência de cada um dos seus
membros.
Papalia e Olds(13) relatam que nas famílias em
que a comunicação interativa se estabelece percebe-se um desenvolvimento global do núcleo, pois
pais e filhos dividem informações e afetos, tomando decisões de forma harmoniosa. Além disso, as
diferenças são sobrepujadas dentro do contexto da
cooperação mútua.
É importante ressaltar que o processo de comunicação não é o mesmo que o processo educacional.
Segundo Marshall(12), a atuação educacional,
como dar informações de uma determinada maneira, é unidirecional, enquanto a comunicação é
bidirecional quando envolve as pessoas em um diálogo mútuo, com o ponto de vista de ambos sendo valorizado. Lembramos que, para muitos pais, o
importante é apenas oferecer aos filhos boa educação no âmbito escolar, isentando-se de transmitir
valores ou de participar da vida de seu filho(2).
Em um estudo feito por Kerr et al.(10), os pais
por vezes estabelecem formas de se comunicar
com seus filhos como, por exemplo, perguntando
sobre suas atividades diárias. O mais importante
nessa situação é como isso ocorre. Em famílias nas
quais há bom entendimento, os jovens se expressam espontaneamente, sem blefe.
Outro estudo, realizado por Jackson et al.(8), revela que o tipo de comunicação pode variar de acordo com o desenvolvimento do adolescente, isto é, à
medida que o jovem cresce, os assuntos discutidos e
o tipo de autoridade paterna se modificam.
Em nosso estudo observamos grande divergência de respostas quando perguntamos se as
idéias dos jovens são respeitadas e se a família conversa entre si.
Alguns artigos apontam que muitos pais
buscam conhecer melhor seu filho. No entanto,
as opiniões entre eles divergem por apresentarem
visões diferentes sobre o assunto, que envolve a
Adolescência & Saúde
Ruzany et al. “autoridade paterna” versus a “liberdade do adolescente”.
A importância de se manter boa comunicação advém do fato de que essa é uma das principais formas de interação, capaz de propiciar
boa auto-estima e desenvolver a independência
do adolescente(8). Além disso, quanto melhor é a
habilidade para se comunicar, mais facilmente os
problemas são resolvidos dentro e fora da família, e
há facilitação para que o adolescente decida sobre
ele mesmo e o que deverá ficar ainda submetido
ao controle dos pais(9).
Sobretudo pode-se destacar que o respeito
às idéias do adolescente ajuda na construção de
sua própria autonomia, do estabelecimento dos
seus limites, no modo como lida com seus relacionamentos e na satisfação com sua família(9). O processo de individualização, tão almejado na adolescência, é construído com base no desenvolvimento do senso de independência, pelo aprendizado
da capacidade de se comunicar e pela confiança
entre os membros do núcleo familiar.
O aspecto da comunicação foi destacado neste artigo devido ao fato de as perguntas
discordantes estarem ligadas ao não-respeito às
idéias dos jovens e à forma como os problemas
são resolvidos em família. A pesquisa na literatura
científica nos mostra que esse assunto tem estado presente nas discussões da área de saúde, não
somente pelo impacto psicológico e social, mas
também pelo próprio suporte que a família costuma oferecer durante o processo de adoecimento
e recuperação.
Embora, os adolescentes e seus responsáveis
apontassem a existência de conversas em família,
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
37
não foi possível identificar se havia conhecimento mútuo de sentimentos e atitudes. Do mesmo
modo, até a forma de ajuda utilizada para resolver os problemas apresenta discordâncias entre as
respostas. Assim, podemos avaliar superficialmente
a existência de dificuldade de entendimento no
núcleo familiar, que enfrenta não somente um momento de crise causado pelo processo de doença/
internação, mas também pela crise instalada pela
adolescência de um de seus membros e a adaptação da família a essa mudança.
Os níveis de significância entre as respostas
dos adolescentes e dos seus responsáveis nos assinalam que há uma distância entre a percepção
que o familiar e o adolescente têm do seu papel
dentro do núcleo familiar, uma divergência de valores e um desconhecimento das necessidades de
seus integrantes. A dificuldade de comunicação e
compreensão é um dos principais obstáculos nessa
fase da vida do adolescente e de sua família.
Uma das limitações deste estudo foi o pequeno espaço amostral, contudo a pesquisa apontou
dados relevantes. Sabe-se que muito mais deve ser
investigado, porém observa-se que a dinâmica da
comunicação não se restringe apenas a adolescentes saudáveis: também está presente em adolescentes hospitalizados, mostrando a universalidade
do processo da adolescência.
O adolescente passa por crises, e seus familiares também, mas o modo como elas serão enfrentadas é essencial na formação do perfil do adulto
do futuro e na sua maneira de lidar com as situações cotidianas como jovem do presente.
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Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
38
COMUNICAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E SEUS FILHOS ADOLESCENTES:
CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO DIALÓGICA
Ruzany et al.
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
ARTIGO ORIGINAL
Renata Maria Souza
Oliveira1
Sylvia do Carmo Castro
Franceschini2
Gilberto Paixão Rosado3
Silvia Eloiza Priore4
39
Estado nutricional no final da adolescência
como fator determinante da situação
nutricional na vida adulta de indivíduos
do sexo masculino em Viçosa, MG
The nutritional state at adolescence as determinant factor on the nutritional
situation of adult individuals in Viçosa, MG
RESUMO
O aumento da prevalência de obesidade na adolescência tem se constituído numa grande preocupação em saúde pública, visto que a
literatura científica indica que o excesso de peso nessa faixa etária pode persistir na vida adulta. Com o objetivo de investigar essa relação, neste trabalho foram avaliados cem homens do município de Viçosa (MG) em duas fases de suas vidas: no final da adolescência e
na vida adulta. Realizaram-se avaliações antropométrica na adolescência e da antropometria, bem como perfil lipídico na vida adulta,
sendo encontrada correlação entre o peso e o índice de massa corporal (IMC) na adolescência e todas as variáveis antropométricas na
vida adulta, com exceção da estatura. A análise de risco relativo (RR) mostrou que indivíduos com risco de sobrepeso/sobrepeso na
adolescência apresentaram chances 3,67 vezes maiores de terem excesso de peso (RR = 3,67; intervalo de confiança (IC): 2,46-3,74)
e risco 9,17 vezes maior de apresentarem circunferência da cintura (CC) aumentada quando adultos. Obteve-se também correlação
significante entre IMC e CC na adolescência, com perfil lipídico na idade adulta. Os resultados deste trabalho permitem concluir que
o estado nutricional na adolescência é determinante da situação nutricional de indivíduos adultos.
UNITERMOS
Adolescente; estado nutricional; antropometria
ABSTRACT
The upswing from prevalence of obesity in adolescence is a big preoccupation in public health , since scientific literature indicates that
overweight on this age group can persist in adult life. Aiming at the investigation of the influence from nutritional state in adolescence on the
individuals’ nutritional situation in adult life, one hundred male individuals residing in Viçosa county- MG were evaluated at two life phases:
at the final adolescence phase, and at beginning of adult life. Were collected anthropometric assessment on adolescence and anthropometric
assessment and profile lipid in adult life. Was found correlation between weight and IMC in adolescence with all anthropometric variables in
adulthood, except for stature. From the relative risk analysis, the following results were found for those individuals presenting IMC above the
percentile 85 of the IMC/age curve (CDC/2000) at adolescence: risk 3.67 times higher to be excessively weighty at adulthood (RR = 3.67;
IC = 2.46-3.74) and risk 9.17 times higher to have increased CC (IC = 4.52-18.6). A significant correlation between IMC at adolescence
and lipidic profile in adulthood was also found. Those results demonstrate the influence of the nutritional state during the adolescence phase
as a determinant of the nutritional situation in adulthood.
KEY WORDS
Adolescence; nutrition state; anthropometry
Nutricionista; mestra em Ciências da Nutrição pela Universidade Federal de
Viçosa (UFV).
2
Nutricionista; professora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV; mestra
em Nutrição; doutora em Ciência pela Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP).
3
Nutricionista; professor do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV; mestre
em Nutrição Experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); doutor em
Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
4
Nutricionista; professora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV; mestra em
Nutrição; doutora em Ciência pela EPM/UNIFESP; coordenadora do Programa de
Atenção à Saúde do Adolescente (PROASA) da UFV.
Trabalho realizado no Departamento de Nutrição e Saúde da UFV com apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estdo de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
1
Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
40
ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA SITUAÇÃO
NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM VIÇOSA, MG
INTRODUÇÃO
A transição nutricional ocorrida em diferentes países é decorrente de mudanças nos estilos
de vida, nos quais pode ser observado aumento
do consumo de alimentos mais ricos em gorduras, açúcares e refinados, além do declínio progressivo da atividade física dos indivíduos, promovendo alterações concomitantes na composição corporal(5, 8).
Quanto mais prevalente se torna a obesidade, maior o estímulo para investigação de grupos
populacionais vulneráveis ao problema. Um desses
grupos é o de adolescentes, que, quando obesos,
apresentam grande probabilidade de se tornarem
adultos com excesso de peso corporal(4).
No Brasil, Wang et al.(15), comparando os
dados do Estudo Nacional da Despesa Familiar
(ENDEF), realizado de 1974 a 1975, com os da
Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada em
entre 1996 e 1997 somente nas regiões Sudeste e
Nordeste, verificaram aumento na prevalência de
sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9% em
crianças e adolescentes de 6 a 18 anos.
Em estudo de coorte, Wright et al.(18) investigaram o excesso de peso na infância e adolescência (entre 9 e 13 anos de idade) como fator de risco
para obesidade futura, encontrando correlação positiva entre o índice de massa corporal (IMC) nessa
faixa etária e o alcançado pelos indivíduos aos 50
anos (r = 0,24; p < 0,001).
Adolescentes obesos provavelmente permanecerão acima do peso na idade adulta, porém
com mais possibilidades de desenvolver algumas
das complicações clinicometabólicas encontradas
em adultos obesos. Além disso, adolescentes obesos já apresentam fatores de risco clinicometabólicos para desenvolvimento da síndrome de resistência insulínica antes mesmo de atingir a maturidade,
visto que o excesso de peso corporal predispõe à
elevação dos níveis séricos de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), lipoproteína de baixa
densidade (LDL), triglicérides (TG) e à diminuição
de lipoproteína de alta densidade (HDL). Também
predispõe a níveis elevados de pressão arterial sistólica e diastólica (PAS/PAD)(1).
volume 5  nº 1  março 2008
Oliveira et al.
Portanto objetivou-se neste estudo o estado
nutricional do final da adolescência como fator determinante da situação nutricional dos indivíduos
quando adultos.
METODOLOGIA
Medidas de peso, estatura e circunferência
da cintura (CC) na adolescência foram coletadas
do banco de dados dos alistados no Tiro-de-guerra
de Viçosa (MG), nos anos de 1996, 1997 e 1999.
Analisou-se o IMC dos indivíduos nessa fase, segundo a classificação proposta pelo Center for Disease
Control and Prevention (CDC)(2) de 2000. Os indivíduos adultos foram procurados a partir dos
endereços do banco de dados do Tiro-de-guerra
e/ou por lista telefônica, a partir de seus próprios
nomes ou de seus pais, obtidos do mesmo banco.
Cem homens com idade média de 26,1 anos foram avaliados. Aferiram-se na vida adulta o peso e
a estatura, a partir dos quais foi calculado o IMC,
utilizando-se para a classificação os pontos de cortes propostos pela Organização Mundial da Saúde
(OMS)(17) e a CC.
Foram coletadas amostras de sangue para
análise de colesterol total (CT), TG, colesterol da
lipoproteína de alta densidade (HDL-C) e relação
CT/HDL.
Para análise estatística foram utilizados os
softwares Epi Info 6.04 e Sigma Stat 2.0, adotandose nível de significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 mostra os resultados da análise de
correlação entre o peso, a estatura e o IMC apresentados no final da adolescência e as variáveis
antropométricas, aferidas dos mesmos indivíduos
quando adultos.
Como pode ser visto, verificou-se correlação
positiva e estatisticamente significante entre o peso
e todas as variáveis estudadas. De acordo com a
literatura, a principal conseqüência em longo prazo do estado nutricional dos adolescentes diz respeito ao excesso de peso, que tende a persistir na
Adolescência & Saúde
Oliveira et al. ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA SITUAÇÃO
NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM VIÇOSA, MG
41
Tabela 1
CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS ANTROPOMÉTRICAS NA ADOLESCÊNCIA E AS INVESTIGADAS NA VIDA ADULTA
Variáveis na adolescência
Peso
Estatura**
IMC
Variáveis na vida adulta
Peso
Estatura**
IMC
r = 0,777
r = 0,445
0,67
p < 0,001*
p < 0,001*
p < 0,001*
r = 0,449
r = 0,262
r = 0,109
p < 0,001*
p = 0,008*
p = 0,281
r = 0,634
r = 0,071
r = 0,678
p < 0,001*
p = 0,477
p = < 0,001*
IMC: índice de massa corporal.
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas; correlação de Spearman = variáveis não-paramétricas, p < 0.
*Resultados estatisticamente significantes; **variáveis com distribuição normal.
vida adulta, contribuindo significativamente para a
morbimortalidade(13).
Em relação à estatura alcançada no final da
adolescência, esta se correlacionou de forma positiva com o peso e a estatura na vida adulta.
A relação entre baixa estatura na infância e
adolescência e risco de obesidade futura tem sido
mencionada na literatura científica(4), no entanto,
neste trabalho, tal associação não foi observada.
Pelo contrário, encontrou-se que, aqueles com déficit estatural na adolescência, ou seja, estatura abaixo do percentil 5 da curva do CDC (2000), segundo
índice de estatura para idade, apresentaram na vida
adulta valores inferiores, estatisticamente significantes, de estatura e massa livre de gordura (MLG).
Apesar das correlações observadas entre peso
e estatura na adolescência e das variáveis na vida
adulta, poucos são os estudos que investigam a influência dessas variáveis isoladamente. Essa análise
tem sido discutida na literatura a partir do estado
nutricional, que é representado pelo IMC e por indicadores de gordura corporal.
O IMC como indicador do estado nutricional
na adolescência, embora apresente importante variação no que tange à idade e à maturidade sexual,
tem sido considerado bom indicador de sobrepeso
em adolescentes, apresentando importante relação
com medidas antropométricas futuras(12).
Adolescência & Saúde
Foram encontradas associações positivas
e significantes entre o IMC na adolescência e as
variáveis peso, IMC e CC na vida adulta.
Em estudo de revisão, Reilly et al.(12) apresentaram, entre outros trabalhos, resultados de uma
coorte na qual foi encontrado que IMC > 25 kg/m2
aos 18 anos esteve associado a aumento significativo da mortalidade observada 20 anos mais tarde.
A fim de confirmar a influência do estado
nutricional na adolescência sobre as condições nutricionais na vida adulta, realizou-se análise das variáveis que apresentaram relação estatisticamente
significante com o IMC na adolescência, segundo
estado nutricional, e obtiveram-se diferenças significativas entre todas elas (Tabela 2).
Como pode ser visto na Tabela 2, adolescentes com excesso de peso corporal apresentaram
na vida adulta valores superiores estatisticamente
significantes de peso, IMC e CC.
De acordo com a análise do risco relativo (RR),
indivíduos que na adolescência possuíam IMC acima
do percentil (P) 85 da curva IMC/idade da curva do
CDC (2000) apresentam chances 3,67 vezes maiores
de apresentarem excesso de peso (RR = 3,67; intervalo
de confiança (IC): 2,46-3,74) e risco 9,17 vezes maior
de apresentarem CC aumentada quando adultos.
O trabalho de Whitaker et al.(16), realizado em
1997, em Washington, mostrou que, após ajustavolume 5  nº 1  março 2008
42
ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA SITUAÇÃO
NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM VIÇOSA, MG
Oliveira et al.
Tabela 2
VALORES MÉDIOS OU MEDIANOS DE PESO, IMC E CC, SEGUNDO IMC NA ADOLESCÊNCIA
Variáveis
IMC na adolescência
Vida adulta
Peso (kg)
IMC (kg/m )
2
CC (cm)**
Baixo peso
Eutrofia
Excesso de peso
p
60
72,7
97,3
< 0,001* a
19,4
23,9
31
< 0,001* a
76,4 ± 6,3
83,8 ± 8,9
100,2 ± 9,1
< 0,001* b
IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura.
Análise de variância = variáveis paramétricas; p < 0,05; Kruskal Wallis: variáveis não-paramétricas; p < 0,05.
*Resultados estatisticamente significantes.
a – teste de comparação: Dun’s; b – teste de comparação: Tuckey
mento para obesidade dos pais, adolescentes entre
15 e 17 anos apresentaram 17,5 vezes mais chances (razão de chance [RC]: 17,5; IC: 7,7-39,5; p <
0,05) de se tornarem adultos obesos (21-29 anos).
A Tabela 3 apresenta a prevalência de baixo peso, eutrofia e excesso de peso corporal na
vida adulta dos avaliados neste trabalho, de acordo com o IMC apresentado pelos voluntários na
adolescência. Entre aqueles que apresentavam IMC
para idade segundo a curva do CDC (2000) abaixo do percentil 5, 88% encontravam-se eutróficos
na vida adulta. Entre os que apresentavam risco
de sobrepeso (> P 85 e < P 95) na adolescência,
12,5% eram eutróficos e os demais (87,5%) apresentavam excesso de peso corporal na vida adulta.
Vale ressaltar ainda que todos os adolescentes com
sobrepeso (≥ P 95) foram encontrados com sobrepeso (75%) ou obesos (25%) na avaliação na vida
adulta.
Essa associação tem sido descrita na literatura e reafirma a influência que o IMC alcançado no
final da adolescência pode exercer sobre o estado
nutricional futuro.
Guo et al.(6), avaliando o IMC na infância e
na adolescência como preditor do sobrepeso/obesidade na vida adulta, encontraram associação significante e positiva, concluindo que aqueles que se
encontram no percentil 95 na infância e/ou adolescência têm até 80% de probabilidade de manter o
excesso de peso corporal na vida adulta.
A CC é forte indicador de obesidade abdominal,
que, por sua vez, está diretamente relacionada com
importantes alterações metabólicas. No entanto a falta
de ponto de corte específico para o grupo dos adolescentes dificulta a análise dessa variável. Neste estudo,
optou-se por utilizar o ponto de corte proposto para a
população adulta, porquanto os indivíduos investigados encontravam-se no final da adolescência.
Tabela 3
PREVALÊNCIA DE BAIXO PESO, EUTROFIA E EXCESSO DE PESO CORPORAL, SEGUNDO O IMC APRESENTADO NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA
Percentil do IMC na adolescência
Estado nutricional na vida adulta
Baixo peso (%)
Eutrofia (%)
Sobrepeso (%)
Obesidade (%)
< P 5 (n = 9)
11,2
88,8
–
–
≥ P 5 e ≤ 50 (n = 67)
1,4
73,1
22,3
2,9
> P 50 e ≤ P 85 (n = 12)
–
66,6
33,4
–
> P 85 e < P 95 (n = 8)
–
12,5
12,5
75
≥ P 95 (n = 4)
–
–
75
25
P: percentil.
volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Oliveira et al. Conforme a Tabela 4, encontrou-se associação
estatisticamente significante entre a CC na adolescência e as demais variáveis investigadas na vida adulta.
Em relação à análise bioquímica realizada
com indivíduos adultos, as correlações desses paramétricos com IMC e CC no final da adolescência
são apresentadas nas Tabelas 5 e 6.
Esses resultados confirmam a indicação de
que o excesso de peso corporal e o acúmulo da
gordura na região abdominal na adolescência se
comportam como fatores de risco para alterações
metabólicas.
Tabela 4
CORRELAÇÕES ENTRE CC NA ADOLESCÊNCIA E VARIÁVEIS
ANTROPOMÉTRICAS NA VIDA ADULTA
Variável na
adolescência
CC
Variáveis na
vida adulta
r
p
Peso (kg)
0,551
< 0,001*
Estatura (cm)**
0,281
0,004*
IMC (kg/m2)
0,522
< 0,001*
CC (cm) **
0,54
< 0,001*
CC = circunferência da cintura; IMC: índice de massa corporal.
Correlação de Pearson: variáveis paramétricas; correlação de Spearman: variáveis nãoparamétricas; p < 0.
*Resultados estatisticamente significantes.
**Variáveis com distribuição normal.
Tabela 5
CORRELAÇÃO ENTRE IMC NA ADOLESCÊNCIA E VARIÁVEIS DA
ANÁLISE BIOQUÍMICA REALIZADA NA VIDA ADULTA
Variável na
adolescência
Variáveis na
vida adulta
r
p
Colesterol**
0,213
0,033*
-0,2
0,045*
LDL**
0,27
0,006*
VLDL
0,238
0,017*
Colesterol/HDL
0,292
0,002*
LDL/HDL
0,298
0,002*
TG
0,118
0,242
Glicemia
-0,092
0,332
HDL**
IMC
HDL: lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; VLDL:
lipoproteína de muito baixa densidade; TG = triglicérides.
Correlação de Pearson: variáveis paramétricas; p < 0,05; correlação de Spearman: variáveis
não-paramétricas; p < 0,05.
*Resultados estatisticamente significantes.
**Variáveis com distribuição normal.
Adolescência & Saúde
43
ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA SITUAÇÃO
NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM VIÇOSA, MG
Tabela 6
CORRELAÇÃO ENTRE CC NA ADOLESCÊNCIA E VARIÁVEIS DA
ANÁLISE BIOQUÍMICA REALIZADA NA VIDA ADULTA
Variável na
adolescência
CC
Variáveis na
vida adulta
r
p
Colesterol**
0,127
0,209
HDL**
-0,258
0,009*
LDL**
0,136
0,177
VLDL
0,232
0,020*
Colesterol/HDL
0,302
0,002*
LDL/HDL
0,267
0,007*
TG
0,28
0,004*
-0,033
0,745
Glicemia
HDL: lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; VLDL:
lipoproteína de muito baixa densidade; TG: triglicérides.
Correlação de Pearson: variáveis paramétricas; p < 0,05.
*Resultados estatisticamente significantes.
**Variáveis com distribuição normal.
Como conseqüência do aumento na prevalência do sobrepeso/obesidade entre adolescentes, já
é possível encontrar alterações metabólicas características do excesso de peso, como hiperglicemia,
dislipidemia e hipertensão arterial, que são fatores
de risco para a doença coronariana e se manifestarão principalmente na fase adulta(14).
A associação entre obesidade e dislipidemia
observada em adultos também tem sido documentada em crianças e adolescentes(3).
Em Viçosa (MG), Faria et al.(3), estudando
adolescentes atendidos no Programa de Atenção à
Saúde do Adolescente (PROASA), observaram que
o perfil lipídico foi inadequado em 63% dos estudados, sendo o percentual mais elevado para o CT
(47,4%). Além disso, o sexo feminino apresentou
valores significantes e maiores para CT (p = 0,009)
e LDL (p = 0,02), enquanto o sexo masculino apresentou valores menores para HDL (p = 0,0009).
Observou-se ainda CT maior para o grupo de eutróficos em relação ao baixo peso (p = 0,02).
Considerou-se então excesso de peso na adolescência como risco (exposição) para análise do
qui-quadrado (χ2) e encontrou-se associação entre
este e as seguintes variáveis na vida adulta:
• IMC > 25 kg/m2 (χ2 = 21,23; p = < 0,001);
• HDL reduzido (χ2 = 8,36; p = 0,003).
volume 5  nº 1  março 2008
44
ESTADO NUTRICIONAL NO FINAL DA ADOLESCÊNCIA COMO FATOR DETERMINANTE DA SITUAÇÃO
NUTRICIONAL NA VIDA ADULTA DE INDIVÍDUOS DO SEXO MASCULINO EM VIÇOSA, MG
As demais associações não foram estatisticamente significantes.
Esse resultado confirma estudos da literatura,
que apresenta a influência do estado nutricional na
adolescência como fator de risco para a situação
nutricional de indivíduos adultos.
Em investigação sobre os riscos em longo prazo da obesidade na infância e adolescência, Power et
al.(11) encontraram evidências indicativas de que a associação do estado nutricional na adolescência com
acúmulo de gordura entre adultos torna-se mais forte
à medida que a idade aumenta. Essa indicação pode
explicar a associação observada neste trabalho entre
Oliveira et al.
indivíduos com média de 18 anos de idade e quase
todas as variáveis antropométricas investigadas.
CONCLUSÃO
Constatou-se nesta análise que a adolescência, especificamente o final desse período, exerce
importante influência na determinação do estado
nutricional futuro. Portanto os adolescentes tornam-se um grupo relevante em termos de saúde
pública, sendo estratégico na promoção de saúde
e prevenção de doenças.
REFERÊNCIAS
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
ARTIGO ORIGINAL
Sandra de Morais
Pereira1;
Stella R. Taquette2
45
Desvendando mitos sobre anticoncepção
hormonal oral na adolescência
Dispelling myths about oral hormonal contraception during adolescence
RESUMO
A anticoncepção hormonal oral é o método de escolha das adolescentes. Embora ainda permaneçam muitos mitos sobre a sua utilização nessa faixa etária, uma orientação segura pode eliminar medos infundados, informações errôneas e demonstrar seus variados
benefícios. Portanto é preciso desmitificar a utilização desse contraceptivo pelos profissionais que trabalham com adolescentes, a fim
de proporcionar maior adesão a esse método, muito eficaz e seguro para as jovens.
UNITERMOS
Adolescência; contracepção
ABSTRACT
Oral hormonal contraception is the method of choice of adolescents. Although many myths about its use in this age still remain, a safe
orientation can eliminate unfounded fears, confusing information and to show its varied benefits. Therefore it is necessary demystify the
utilization of this contraceptive by the professionals who work with adolescents, in order to provide greater adhesion to this method, very
efficient and safe for the youths.
KEY WORDS
Adolescence; contraception
HISTÓRICO
Os anticoncepcionais hormonais orais começaram a ser comercializados no início da década de
1960, nos EUA. Ao longo da história não houve medicamento que tenha causado maior controvérsia
social, moral e ética do que o preparado que dá à
mulher o direito de controlar sua fertilidade(7). Talvez
por isso tenham sido criados tantos mitos sobre esse
método, alguns dos quais permanecem ainda hoje.
Quando introduzidas no mercado, as primeiras pílulas continham 150 µg de estrogênio e 10 mg
de progestogênio. A segunda geração surgiu com
50 µg de estrogênio. Na tentativa de diminuir os
efeitos colaterais, aumentar a segurança e manter bom controle do ciclo, reduziu-se para 30 µg
o conteúdo estrogênico, surgindo então as pílulas
de terceira geração. Os produtos com menos de
50 µg de estrogênio e 1,5 mg de progestogênio
Adolescência & Saúde
têm sido chamados de “baixa dosagem”(14). O declínio das doses de estrogênio e progesterona em
todos os tipos de formulações foi acompanhado de
mudanças nos tipos de esteróides utilizados.
Em 40 anos de história da pílula, ambos, conteúdo e dose de componentes esteróides, passaram por modificações significativas(4). Os anticoncepcionais atuais, com baixas doses de estrogênio
e progestogênio, tendo como componentes o desogestrel e o gestodeno, são chamados de quarta
geração e representam a melhor opção para a adolescência devido à boa tolerabilidade e à eficácia
proporcionadas(16, 19).
1
Médica ginecologista do Hospital Geral de Bonsucesso; mestra em Medicina pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
2
Professora adjunta da disciplina de Medicina de Adolescentes da Faculdade de
Ciências Médicas da UERJ; médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente
(NESA); doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP/USP).
volume 5  nº 1  março 2008
46
DESVENDANDO MITOS SOBRE ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL NA ADOLESCÊNCIA
ORIENTAÇÃO CONTRACEPTIVA
A orientação anticoncepcional é um trabalho educativo que transcende o fornecimento de
informações e os conhecimentos sobre saúde reprodutiva. É um processo que envolve o resgate
do indivíduo, a promoção da auto-estima e a conscientização dos riscos vivenciados. Apenas dessa
maneira se estabelece uma postura saudável em
relação à vida sexual(10).
A desinformação quanto à contracepção ainda é grande entre as adolescentes. Tal circunstância fica mais evidente ainda quando se consideram
as que engravidam em tenra idade. Os jovens recebem precocemente muita informação, às vezes
de forma truncada, sem dispor de maturidade suficiente para melhor elaborá-la, resultando então
na possibilidade de uma sexualização prematura,
associada ao desejo de experimentar(13).
O custo da gravidez é mais elevado do que
qualquer eventual e remota complicação do uso
da pílula. Por isso não se justificam as hesitações
na prescrição de anticoncepcionais eficientes
para uma adolescente que deseja manter relações
sexuais e não quer engravidar(7).
A adolescente grávida desvia seu processo de
desenvolvimento e amadurecimento social. Não
raro, interrompe o estudo e o trabalho, deixando
de conviver e de crescer com seu grupo de iguais,
perdendo assim um elemento de apoio afetivo
muito importante em sua vida. Ela perde a autonomia e torna-se quase totalmente dependente da
família, quando acreditava que estava a caminho
de sua independência, já que precisa da ajuda dos
pais. Apesar de a atividade sexual e a gravidez serem prerrogativas de adultos, conduzem a jovem a
uma condição de criança(20).
A atividade sexual acarreta riscos que podem
estar relacionados com o uso dos métodos contraceptivos ou com gravidez não planejada. Assim,
considerando esse raciocínio, devemos levar em
conta as altas taxas de mortalidade, tanto materna
quanto fetal e infantil, bem como as incidências de
aborto no Brasil, para se ter uma avaliação mais
correta do risco relativo da contracepção hormonal
e de outros métodos contraceptivos(7).
volume 5  nº 1  março 2008
Pereira & Taquette
Os contraceptivos hormonais orais, devido
às maiores dosagens utilizadas na época de sua
criação, causavam alguns eventos adversos pouco
tolerados, o que não ocorre com os medicamentos
atuais. Porém observamos ainda, em nossa prática diária, um grande temor, não só por parte de
nossas pacientes, como também por alguns profissionais de saúde, quanto à intensidade dos efeitos
colaterais causados às adolescentes. É preciso, portanto, desmitificar a utilização do medicamento a
fim de proporcionar maior adesão a esse método,
muito eficaz e seguro para as jovens(16, 19).
Devem ser aliviados os medos infundados e
eliminadas as informações equivocadas, encorajando-se o uso apropriado do anticoncepcional, pois os
benefícios são pouco reconhecidos pelas pacientes.
Muitas mães de adolescentes podem hoje desestimular suas filhas quanto ao uso do contraceptivo
devido as suas próprias experiências negativas com
as primeiras formulações. Elas acreditam que alguns
riscos do passado associados às altas taxas de hormônio ainda possam existir. O medo de ganhar peso
e a percepção de que não é natural colocar uma
“química” em seu corpo freqüentemente fazem a
adolescente relutar em usar anticoncepcionais(2).
A cultura médica apresenta ainda preconceitos fortemente enraizados, porém sem fundamento científico. Não há método anticoncepcional que
não possa ser utilizado na adolescência depois da
menarca(12). Os critérios de elegibilidade médica da
Organização Mundial da Saúde (OMS) publicados
em 1996, com base em uma ampla revisão de literatura, estabeleceram que a idade não deve constituir restrição ao uso de qualquer método(22).
Outro problema que pode surgir quanto à
prescrição de contraceptivos diz respeito aos aspectos éticos do atendimento à saúde da adolescente.
Pode haver conflitos no sigilo da consulta quando a
família não permite que o médico fique a sós com
a paciente adolescente. Em nosso país, o sigilo é
regulamentado pelo código de ética médica e sua
quebra se impõe nos casos de risco à saúde da jovem. Nesse caso, a paciente deve ser informada e
os motivos para essa atitude, justificados(15). Outra
questão ética é a prescrição de contraceptivos a
menores de 15 anos de idade, pois, segundo o
Adolescência & Saúde
Pereira & Taquette DESVENDANDO MITOS SOBRE ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL NA ADOLESCÊNCIA
Código Penal Brasileiro (CPB), há violência presumida nas relações sexuais nessa faixa etária.
Segundo Saito, quando se trata de prescrição
de anticoncepcionais para menores de 15 anos
de idade, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) se confronta, em seu artigo 103, com o CPB
e, a seu ver, supera-o, à medida que esse preconiza
que os direitos básicos de saúde e liberdade predominam sobre outros que possam prejudicá-los.
No atendimento aos jovens os profissionais
devem:
• avaliar seu grau de entendimento;
• conhecer leis e estatutos;
• documentar cuidadosamente as informações;
• discutir os casos em equipe para que haja maior
proteção dessa população adolescente e mais segurança por parte de quem a atende(21).
BENEFÍCIOS E EVENTOS ADVERSOS
A experiência das autoras demonstra que a
anticoncepção hormonal oral, além de ser o método mais escolhido pelas jovens, representa a
melhor opção em termos de êxito contraceptivo.
A eficácia teórica do anticoncepcional hormonal
combinado oral (AHCO) é de 0,3 a 0,7 gestação
por 100 mulheres/ano, obtida quando não há
falha na ingestão das pílulas. Seu mecanismo de
ação reside na inibição da ovulação pelo bloqueio
do pico do hormônio luteinizante (LH); por modificações do endométrio, dificultando a nidação;
por alterações no muco cervical, tornando-o hostil
à ascensão dos espermatozóides; por modificações
no peristaltismo tubário, interferindo no transporte
ovular e causando alterações na resposta ovariana
às gonadotropinas hipofisárias(9).
Os profissionais de saúde, ao prescreverem os
anticoncepcionais, devem orientar melhor sobre
seus potenciais benefícios, que vão além do controle da fecundidade. Esse conhecimento, não só
dos riscos, mas também dos benefícios, somado ao
procedimento correto de utilização, pode levar ao
máximo efeito contraceptivo(3).
É importante lembrar que, com o advento
dos anticoncepcionais, houve diminuição de um
Adolescência & Saúde
47
terço no número de abortamentos(7). Além da diminuição da morbidade e mortalidade femininas, o
anticoncepcional oferece uma série de benefícios:
• ciclos mais regulares, com alívio da dismenorréia,
da tensão pré-menstrual, do fluxo abundante e da
anemia;
• diminuição dos casos de doença inflamatória
pélvica devido a modificações no muco cervical,
impedindo a passagem de bactérias;
• inibição da ovulação e, portanto, decréscimo do
número de gravidezes ectópicas e da incidência de
doenças trofoblásticas;
• redução da incidência de cirurgias em usuárias de
contraceptivos devido à rápida regressão de cistos
funcionais;
• menor risco de câncer endometrial, de doenças
benignas de mama e de câncer de ovário;
• melhora relativa da acne, da seborréia e do hirsutismo(1, 7).
Eventos adversos podem ser observados entre
usuárias de AHCO, sendo muitas vezes motivo para
o abandono do método. Em ordem de importância, os principais efeitos são náuseas, sangramento
inesperado, mastalgia, labilidade emocional, cefaléia, ganho de peso, acne e tonturas(16).
É necessário informar que, além dos benefícios,
alguns efeitos colaterais podem ocorrer, mas muitos
deles são passageiros e melhoram com o decorrer
do uso, sendo mais bem tolerados quando já previstos(11). Reações adversas como náuseas, mastalgias,
alterações do humor e ganho de peso ocorrem com
menor freqüência nas formulações atuais e normalmente cessam após os primeiros ciclos(19).
Quando usuárias de pílulas apresentam efeitos colaterais, a redução das doses contraceptivas
pode beneficiá-las. Observa-se taxa significativamente menor de efeitos adversos com pílulas de
20 mcg, em comparação com as de 30 mcg de
etinilestradiol(8).
A redução do risco de tromboembolia é possível, desde que a dose de estrógenos não ultrapassasse 50 mcg e que nenhum aumento do evento
seja atribuído ao tempo de uso. A probabilidade
de ocorrência de doença coronariana não aumenta
em usuárias, exceto quando houver outros fatores
predisponentes(7).
volume 5  nº 1  março 2008
48
DESVENDANDO MITOS SOBRE ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL NA ADOLESCÊNCIA
As pacientes usuárias dos contraceptivos hormonais orais apresentam bom controle do ciclo e,
conseqüentemente, há aumento significativo do
hematócrito e da hemoglobina(16). A literatura médica relata que os contraceptivos hormonais orais
de baixa dosagem não têm impacto significativo
sobre o perfil das lipoproteínas. Eles apresentam
alta eficácia e efeito cardiovascular reduzido.
Os novos AHCOs com baixa dosagem hormonal podem oferecer alterações favoráveis no perfil
lipídico. O efeito sobre o metabolismo da glicose,
semelhante ao sobre os lipídios, está relacionado
à potência androgênica do progestogênio e à sua
dose. As formulações de baixa dosagem possuem
efeitos adversos mínimos sobre os lipídios, e as
novas formulações com desogestrel produzem
alterações que podem ser benéficas pela elevação
da lipoproteína de alta densidade (HDL) e redução
da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Quanto
aos efeitos hepáticos, pode ser observado aumento
da ocorrência de cálculos biliares no primeiro ano
de uso apenas nas pacientes suscetíveis à doença
calculosa biliar. Não foi constatado aumento do
risco de carcinoma hepatocelular em usuárias de
AHCOs(7, 11, 19).
Pereira & Taquette
Uma das principais queixas da paciente que
inicia o uso da pílula anticoncepcional é o ganho
ponderal, porém estudos comprovam que as medicações de baixa dosagem não levam a aumento
do peso corporal(16). Quando avaliada a pressão
arterial (PA), as atuais pílulas de baixa dosagem
demonstram efeitos mínimos, como observado em
algumas pesquisas(16, 19).
As recomendações-padrão a respeito da ingestão nutricional e energética apropriada devem ser
feitas de forma enfática, para que não haja correlação equivocada sobre o aumento ponderal em usuárias de contraceptivos. Os contraceptivos hormonais
orais estão sendo usados cada vez mais cedo pelas
jovens, portanto a detecção precoce das alterações
lipídicas é importante para guiar as medidas preventivas, como modificação dos hábitos alimentares,
iniciação da atividade física e exames periódicos(5).
Os mitos negativos referentes à contracepção
hormonal oral na adolescência precisam ser desfeitos
pelos profissionais que trabalham com pacientes dessa
faixa etária, já que, sem dúvida, o método produz uma
anticoncepção segura, bem tolerada e eficaz. Também
apresenta bom nível de satisfação e grande adesão pelas jovens, quando devidamente orientadas.
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Adolescência & Saúde
Pereira & Taquette DESVENDANDO MITOS SOBRE ANTICONCEPÇÃO HORMONAL ORAL NA ADOLESCÊNCIA
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Adolescência & Saúde
volume 5  nº 1  março 2008
50
ARTIGO ORIGINAL
Celise Meneses1
Claudia Lopes2
Vera Cristina
Magalhães3
Transtornos mentais comuns em
adolescentes grávidas: um estudo piloto
Common mental disorders among pregnant adolescents: a pilot study
RESUMO
A adolescência é um período caracterizado por grandes transformações físicas, psicológicas e sociais. Contudo a gravidez na adolescência não é um fenômeno recente. Historicamente, as mulheres vêm tendo filhos nessa etapa e, mesmo num contexto de intensa
redução da fecundidade, não se constatou no Brasil um deslocamento correspondente da reprodução para faixas etárias mais elevadas, tal como ocorreu em países industrializados centrais. A maioria das mulheres brasileiras vem tendo, em média, dois filhos, e
parte significativa delas tem encerrado precocemente suas carreiras reprodutivas por meio de uma laqueadura tubária, segundo a
Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil (BEMFAM)/Demographic and Health Surveys (DHS), em 1997. Nesse contexto demográfico, a gravidez na adolescência passa a ter grande visibilidade social, principalmente ao se exibirem os dados do Sistema Nacional
de Nascidos Vivos (SINASC), em que se observa aumento relativo dos nascimentos de mães com menos de 20 anos.
O objetivo deste estudo é avaliar a presença de transtornos mentais comuns (TMCs) numa população de gestantes adolescentes atendidas no serviço de pré-natal de uma maternidade pública no Rio de Janeiro, bem como descrever o perfil sociodemográfico da referida
população. Foi aplicado o questionário autopreenchível General Health Questionnaire (GHQ-12), instrumento amplamente utilizado
para rastreamento de patologias psiquiátricas não-psicóticas, em uma amostra de 60 adolescentes grávidas. Foram igualmente aplicados questionários visando a obtenção de dados sociodemográficos, como renda familiar, raça, escolaridade e religião. A prevalência
de TMCs na população do estudo foi de 60%, dado bastante relevante quando observamos a literatura. Concluímos, pois, que a
gravidez na adolescência precisa receber maior atenção por parte das políticas públicas no sentido de minimizar o impacto sobre a
saúde mental das jovens mães.
UNITERMOS
Gravidez na adolescência; depressão; ansiedade
ABSTRACT
Adolescence is a period when great physical, social and psychological transformations occur. Pregnancy in adolescence is not a recent
phenomenon, historically women have been given birth during this time of life. Even though, all over the world birth levels showed important
decrease during past years in Brazil we could not observe change in the trends of reproduction to higher ages like occurred in developed countries.
Most Brazilian women have an average of two children and have been submitted to premature hysterectomy (BEMFAM/DHS,1997).
Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC) show an increase in births from women under 20 years of age. Pregnancy in adolescence has
become an important issue regarding this demographic context. The goal of this study is to assess the presence of common mental disorders
among pregnant adolescents attending a public hospital in Rio de Janeiro, Brazil and describe the social and demographic profile of this
population. The General Health Questionnnaire (GHQ-12) and a brief instrument regarding social and demographic issues have been applied
to 60 pregnant adolescents. The prevalence of common mental disorders was 60% in the studied population and we concluded that adolescent
pregnancy should receive more attention from public authorities in order to minimize the impact on mental health of young mothers.
KEY WORDS
Pregnancy in adolescence; depression; anxiety
Médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (NESA/UERJ); mestra em Epidemiologia pelo Instituto de Medicina
Social (IMS) da UERJ; doutoranda em Epidemiologia pelo IMS/UERJ.
2
Professora adjunta do IMS/UERJ; doutora em Epidemiologia pela London University.
3
Professora adjunta do Instituto de Nutrição (INU) da UERJ; doutora em Epidemiologia
pelo IMS/UERJ.
Trabalho realizado na Maternidade Municipal Carmela Dutra, no Rio de Janeiro.
1
volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
Meneses et al. TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO
INTRODUÇÃO
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
A partir de 1985, definido pela Organização
das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional
da Juventude, a adolescência despertou grande interesse no mundo, quando iniciativas foram desencadeadas visando o levantamento das necessidades sociais dos jovens. Esse processo de institucionalização refletiu mudanças que vinham ocorrendo
quanto às expectativas sociais diante dessa etapa
da vida, no sentido de reservá-la prioritariamente
aos estudos, com vistas a capacitar os adolescentes
para o ingresso, em melhores condições, no mercado de trabalho(28).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a adolescência como o intervalo de tempo compreendido entre os 10 e os 19 anos de idade, período que se considera caracterizado por grandes
transformações físicas, psicológicas e sociais(34).
A gravidez na adolescência não é um fenômeno recente. Historicamente, as mulheres vêm tendo filhos nessa etapa e, mesmo em um contexto
de intensa redução da fecundidade, não se constatou no Brasil um deslocamento correspondente
da reprodução para faixas etárias mais elevadas, tal
como ocorreu em países industrializados centrais.
No Brasil, dados do censo de 1991 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam
uma tendência à diminuição do número de filhos
por mulher em idade reprodutiva, que era de 5,8
em 1970, passou para 4,8 em 1980, para 2,9 em
1991 e 2,3 em 2000(17).
Um estudo realizado por Gama et al.(12) indica
que o município do Rio de Janeiro acompanhou, entre 1980 e 1995, a tendência ao aumento de gravidez precoce observada no país. Dado preocupante
é que a faixa etária entre 10 e 14 anos, embora com
menores taxas de fecundidade, foi a que apresentou
a maior variação positiva (7,1% ao ano).
A maioria das mulheres brasileiras vem tendo, em média, dois filhos, e parte significativa
delas tem encerrado precocemente suas carreiras
reprodutivas mediante laqueadura tubária, segundo a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no
Adolescência & Saúde
51
Brasil (BEMFAM)/Demographic and Health Surveys
(DHS), em 1997. Nesse contexto demográfico, a
gravidez na adolescência passa a ter grande visibilidade social, principalmente ao se exibirem os
dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos
(SINASC), no qual se observa aumento relativo dos
nascimentos de mães com menos de 20 anos.
Com o movimento de liberação sexual, intensificado a partir da década de 1960, o início das
relações sexuais se tornou cada vez mais precoce e,
concomitantemente, pôde-se observar aumento da
freqüência de gestações de adolescentes, fenômeno
que vem sendo observado em diversos países.
A taxa de fecundidade no Brasil em mulheres
na faixa etária entre 15 e 19 anos, no período de
1986 a 1991, chegou a ser 40% maior entre aquelas que apresentavam renda familiar de até um salário mínimo, quando em comparação com aquelas com renda familiar de 10 salários mínimos(5).
O declínio das taxas de fecundidade desde a
década de 1970 parece caminhar contrariamente
à crescente incidência de gestação na adolescência(5), evento considerado em vários países um sério problema de saúde pública em virtude do impacto que pode trazer à saúde materno-fetal e ao
bem-estar social e econômico de um país(19, 26).
Em um estudo que avaliou os perfis sociodemográfico e psicossocial das adolescentes puérperas no Rio de Janeiro entre 1999 e 2001, Sabroza(29)
observou que as condições sociais das puérperas
que pertenciam ao grupo etário mais precoce (12
a 16 anos), que não possuíam união consensual,
tendiam a ser bem piores. No mesmo estudo, das
adolescentes que abandonaram a escola, 26,9%
o fizeram por causa de gestações anteriores. Em
estudo desenvolvido na Argentina, Geldstein e
Pantelides(13) observaram o comportamento sexual de jovens adolescentes provenientes de diferentes classes sociais e constataram que aquelas
oriundas dos estratos sociais mais baixos tendiam
a ter comportamento sexual de risco, com maior
prevalência de gestações não-planejadas, como
também de doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs), ao contrário das procedentes de estratos
sociais mais elevados, em que o maior e melhor
acesso à educação propicia comportamentos
volume 5  nº 1  março 2008
52
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO
que levam a maior proteção, tanto em relação à
gravidez, quanto às DSTs. Em geral, adolescentes
provenientes de famílias disfuncionais pobres, de
pouca instrução, e cujas mães tiveram precocemente seu primeiro filho, correm maior risco de
engravidar. Famílias com história de violência,
abuso de drogas e doença crônica de um dos
pais podem predispor as adolescentes à relação
sexual prematura. Diversos autores constataram
altas porcentagens de repetição das gestações entre adolescentes(6, 27). As meninas que apresentam
reduzida auto-estima, baixo rendimento escolar e
falta de aspirações profissionais também constituem um grupo de risco(25).
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS E
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Nas últimas décadas tem aumentado o número de estudos que avaliam os transtornos mentais na população em geral. Entre eles, os mais importantes foram conduzidos nos países ocidentais
e demonstraram que 90% da morbidade psiquiátrica nessas populações compõem-se de distúrbios
não-psicóticos, principalmente depressão e ansiedade, incluindo uma série de queixas inespecíficas
e somáticas(2, 8, 10).
Existe consenso quanto ao fato de que os distúrbios mentais não-psicóticos representam importante fator de incapacitação e sofrimento e que, nos
serviços primários de saúde, são uma parcela significativa dos gastos(14). Villano(32) observou a presença
desses distúrbios em cerca de um terço dos pacientes de um ambulatório geral universitário no Rio de
Janeiro. Coutinho(8) avaliou as principais pesquisas
realizadas em população geral nos últimos 30 anos,
demonstrando que, em 13 estudos, as prevalências
de transtornos mentais comuns variaram entre 7%
e 26%, com média de 17%, sendo 12,5% no sexo
masculino e 20% no feminino.
Muitos trabalhos desenvolvidos nessa área
têm referido dificuldades que, em sua maioria,
são geradas a partir de questões metodológicas e
conceituais no que diz respeito à distinção entre
quadros depressivos e de ansiedade, principalmenvolume 5  nº 1  março 2008
Meneses et al.
te na população geral. Isso ocorre em função do
modelo diagnóstico usado nesses estudos, modelo
esse que se baseia em categorias nosológicas, apresentando critérios nos quais os transtornos mentais
não-psicóticos não se enquadram. Do ponto de vista teórico, os transtornos mentais comuns (TMCs),
como depressões e ansiedades, costumam gerar
grandes controvérsias(4, 24). A natureza e a classificação desses transtornos têm suscitado discussões
sobre se seriam eles doenças ou tipos de reações;
entidades independentes ou conceitos arbitrários;
se sua classificação deveria ser feita quanto a sintomatologia, etiologia ou patogenia(18).
As medidas usadas para o diagnóstico de
depressão e ansiedade possuem alta correlação e
fraca validade de discriminação. Parecem existir
características em comum entre as formas leves
de depressão e ansiedade, o que não permite sua
diferenciação. Tais questões vêm sendo estudadas
em amostras clínicas e não-clínicas, sugerindo que
ansiedade e a depressão sejam componentes de
um processo de estresse psicológico geral(1).
A gravidez é a primeira causa de internação (66%) de moças com idade entre 10 e 19
anos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Aproximadamente um quarto do total de partos
realizados envolve adolescentes nessa mesma faixa
etária. A segunda causa de internação nessa mesma população corresponde ao grupo de causas externas, entre as quais a tentativa de suicídio(9).
Alguns autores sugerem que a gravidez na
adolescência associa-se a um risco suicida elevado,
tanto na gestação quanto no pós-parto, paralelamente a uma maior incidência de depressão(31).
Freitas e Botega(11) realizaram um estudo para
determinar a prevalência de depressão, ansiedade
e ideação suicida em adolescentes grávidas, verificando possíveis associações com variáveis psicossociais e observando prevalências de 23,3% para
ansiedade, 20,8% para depressão e 16,7% para
ideação suicida, que apresentou relação estatisticamente significante com depressão e com o fato de
a adolescente não ter um companheiro.
Maskey(22) avaliou adolescentes grávidas no
Reino Unido por meio da aplicação do General
Health Questionnaire (GHQ), em sua versão de 28
Adolescência & Saúde
Meneses et al. TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO
itens, e observou que cerca de 25% das gestantes
apresentavam-se positivas para TMCs e que o fato
guardava estreita relação com a incerteza sobre
como seriam o desenrolar da gravidez e o parto.
METODOLOGIA
Este estudo é um piloto que faz parte de um
projeto de tese que ora se desenvolve e que tem
como título “Fatores associados a transtornos mentais comuns em adolescentes grávidas”. Trata-se de
um estudo de corte transversal e base ambulatorial
para investigação de fatores associados à ocorrência
de TMCs numa população de adolescentes grávidas.
A população de estudo constituiu-se de 60 jovens
gestantes atendidas regularmente na Maternidade
Municipal Carmela Dutra, no Rio de Janeiro.
O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de TMCs e descrever o perfil sociodemográfico da população estudada. As características
sociodemográficas foram obtidas por instrumento
próprio, elaborado pela autora, que foi devidamente preenchido pelas gestantes adolescentes. Os
dados socioeconômicos e demográficos incluíram
idade, sexo, escolaridade, renda familiar, situação
conjugal, raça ou cor, se é a primeira gravidez, se
a gravidez foi desejada e se a mãe da adolescente
também foi gestante quando era adolescente. Para
avaliação dos TMCs foi utilizado o GHQ-12(14), que
é estruturado e autopreenchível.
O instrumento citado (GHQ-12) já está bem
estabelecido e tem sido amplamente utilizado em
pesquisas internacionais e nacionais para rastreamento de distúrbios psiquiátricos menores – depressão e ansiedade – em todas as faixas etárias,
principalmente na população adulta(21, 33). Ele foi
escolhido por ser simples, com poucos itens e de
fácil compreensão quanto às perguntas e respectivas opções de resposta. O tipo de ponto de corte
utilizado neste estudo foi aquele que considerou
cada item como presente ou ausente, segundo o
método do GHQ. Aqueles positivos para três itens
do GHQ (em 12 itens) foram considerados casos de
TMC(15). As respostas marcadas nas duas primeiras
opções da pergunta foram julgadas negativas (auAdolescência & Saúde
53
sentes), enquanto as que tiveram como resposta as
duas últimas opções foram consideradas positivas
(presentes). As duas semanas anteriores ao preenchimento do questionário representaram o período
de referência do GHQ.
RESULTADOS
Foram avaliadas 60 adolescentes grávidas que
concordaram em responder ao questionário após
serem esclarecidas sobre a importância do estudo
e assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. No caso de serem menores de idade, o consentimento foi solicitado também aos responsáveis.
A prevalência de TMCs nessa população foi
de 60% (36 gestantes). A média de idade entre as
participantes foi de 17,5 anos, e o tempo médio
de gravidez, 6,4 meses. A maioria das adolescentes grávidas entrevistadas (27 meninas ou 45%)
se declarou parda; 20 delas (33%), brancas; nove
(15%), negras; três (5%) afirmaram ser “amarelas” e apenas uma (1,7%) se declarou indígena.
Com relação à escolaridade, 19 meninas (31,7%)
tinham o ensino fundamental (EF) incompleto;
sete (11,7%), EF completo; 18 (30%) possuíam
o ensino médio (EM) incompleto; 15 (25%), EM
completo e apenas uma (1,7%) possuía o ensino
superior incompleto. Entre as 60 participantes do
estudo, 44 (73,3%) estavam na primeira gravidez e
16 (26,7%) já haviam ficado grávidas anteriormente, e, dessas, 13 declararam já terem tido duas gestações anteriores. A maior parte das entrevistadas
(34 gestantes ou 56,7%) declarou que a gravidez
não foi desejada. Com relação à situação conjugal,
41 adolescentes (68,3%) se declararam casadas ou
vivendo em união, 17 (28,3%) disseram ser separadas e duas (3,3%), solteiras. Entre as 60 participantes do estudo, 40 (66,7%) não abandonaram
a escola por causa da gravidez e 20 (33,3%) o
fizeram. A renda familiar das participantes teve a
maioria de 33 entrevistadas (55%) na faixa entre
um e três salários mínimos; 20 (33,3%) na faixa de
um; três (5%) entre três e cinco salários; e quatro
entrevistadas (6,7%) na faixa de cinco ou mais salários mínimos mensais. Entre as 60 adolescentes
volume 5  nº 1  março 2008
54
TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO
entrevistadas, 36 (60%) tinham mães que engravidaram antes dos 20 anos (Tabela).
DISCUSSÃO
A prevalência de TMCs encontrada neste estudo foi maior que as relatadas em estudos semelhantes realizados com gestantes adolescentes(11, 22, 31).
Também foi bastante superior aos valores encontrados para a população geral em estudo desenvolvido
por Coutinho(8), em que as prevalências de TMCs
variaram entre 7% e 26%, com média de 17%,
Tabela
PREVALÊNCIA DE TMCS ENTRE GESTANTES ADOLESCENTES E
CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DA AMOSTRA (n = 60)
Idade em anos
n
%
13
1
1,7
14
4
6,7
15
7
11,7
16
11
18,3
17
6
10
18
5
8,3
19
7
11,7
20
19
31,7
Primeiro trimestre
6
10
Segundo trimestre
20
33,3
Terceiro trimestre
34
56,6
Negra
9
15
Parda
27
45
Asiana
3
5
Branca
20
33,3
Indígena
1
1,7
Ensino fundamental incompleto
19
31,7
Ensino fundamental completo
7
11,7
Ensino médio incompleto
18
30
Ensino médio completo
15
25
Tempo de gravidez
Cor ou raça
Escolaridade
volume 5  nº 1  março 2008
Meneses et al.
sendo 20% para o sexo feminino. Isso nos chama
a atenção para o fato de que as jovens gestantes
possivelmente enfrentam desafios concomitantes
ao período que atravessam (a adolescência), o que,
por si só, já é um fator gerador de estresse com
tantas transformações acontecendo.
Das gestantes avaliadas neste estudo, um
percentual significativo (33,3%) havia abandonado a escola por conta da gravidez, semelhante
àquele encontrado por Sabroza(29) em estudo que
avaliou o perfil sociodemográfico de adolescentes grávidas e apontou que 26,9% das meninas
que abandonaram a escola o fizeram por causa da
Ensino superior incompleto
1
1,7
Ensino superior completo
0
0
< 1 salário mínimo
20
33,3
Entre 1 e 3 salários mínimos
33
55
Entre 3 e 5 salários mínimos
3
5
> 5 salários mínimos
4
6,7
Sim
44
73,3
Não
16
26,7
Sim
26
43,3
Não
34
56,7
Casada ou vivendo em união
41
68,3
Separada
17
28,3
Solteira
2
3,3
Sim
20
33,3
Não
40
66,7
Sim
36
60
Não
24
40
Sim
36
60
Não
24
40
Renda familiar
Se é a primeira gravidez
Se a gravidez foi desejada
Situação conjugal
Se abandonou a escola devido à gravidez
Se a mãe engravidou antes dos 20 anos
TMC
TMC: transtornos mentais comuns.
Adolescência & Saúde
Meneses et al. TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM ADOLESCENTES GRÁVIDAS: UM ESTUDO PILOTO
gravidez. Tal fato é muito relevante no sentido de
que, ao largarem os estudos, essas jovens mães
tendem à perpetuação da situação de pobreza em
que muitas delas se encontram, pois ficam fora do
mercado de trabalho e dificilmente voltam a estudar. A situação socioeconômica das adolescentes
avaliadas revelou que a maioria (55%) se encontrava na faixa de renda familiar entre um e três
salários mínimos e 33,3% estavam numa faixa de
renda familiar menor ainda (menos de um salário
mínimo). Tais valores corroboram o estudo citado
anteriormente no qual os autores identificaram
que adolescentes oriundas de estratos sociais mais
baixos tendiam a ter comportamento sexual de
risco, com maior incidência de gestações não-planejadas(13).
Camarano(5) observou que a taxa de fecundidade no Brasil em mulheres na faixa etária entre 15
e 19 anos, no período de 1986 a 1991, chegou a ser
40% maior entre aquelas que apresentavam renda
familiar de até um salário mínimo, quando em comparação com aquelas com renda familiar de até 10
salários mínimos.
Neste estudo, um percentual significativo
(56,7%) das jovens avaliadas revelou que a gravidez atual não foi desejada e 60% delas afirmaram
que suas mães ficaram grávidas antes dos 20 anos,
o que concorda com Pinto e Silva(27) e Coard et al.(6),
que revelaram em seus estudos que adolescentes
oriundas de famílias disfuncionais pobres, de pouca instrução, cujas mães tiveram precocemente seu
55
primeiro filho, correm maior risco de gravidez precoce e não-desejada. Os autores citados também
constataram altas porcentagens de repetição de
gestações entre adolescentes. Na amostra do atual
estudo observamos que 26,7% das jovens avaliadas já haviam engravidado anteriormente.
Outros autores afirmam que as adolescentes que apresentam reduzida auto-estima e baixo
rendimento escolar também constituem grupo de
risco para gestações não-planejadas(25). Na amostra estudada observamos que 31,7% das gestantes
entrevistadas não haviam sequer concluído o ensino fundamental e que somente uma delas (1,7%)
cursava o superior.
Os resultados encontrados nos levam a afirmar que é necessário haver maior atenção à saúde
mental das adolescentes que engravidam precocemente, tentando-se identificar fatores relacionados
que possam ser efetivamente trabalhados, permitindo-se, assim, que nossas adolescentes possam viver
essa fase tão importante da vida em sua plenitude,
estudando e evitando sua transformação precoce
em adultas, o que a elas é imposto no momento
em que são responsáveis por uma nova vida, no
entanto muitas nem estão preparadas para tal.
É preciso que as políticas públicas de saúde
contemplem essa parte tão significativa da população e que merece ter a chance de um futuro mais
promissor, o que, necessariamente, passa por ter a
opção de escolha em vários aspectos da vida, entre
eles a hora de ser mãe.
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volume 5  nº 1  março 2008
Adolescência & Saúde
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Swain SM, Lippman ME. Locally advanced breast cancer.
In: Bland KI, Copeland EM. The Breast. Comprehensive
management of benign and malignant diseases.
Philadelphia: WB Saunders. 1991; 843-62.
c) Livros:
Hughes LE, Mansel RE, Webster DJT. Benign disorders
and diseases of the breast. Concepts and clinical
management. London: Baillière-Tindall. 1989.
d) Referências de trabalhos apresentados em evento:
Tarricone V, Novaes SP, Pinto RC, Petti DA. Tratamento
conservador do câncer de mama. XI Congresso Brasileiro
de Mastologia. Foz do Iguaçu; 1998.
e) Referências de trabalhos de autoria de entidade:
American Medical Association. Mammographic criteria
for surgical biopsy of nonpalpable breast lesions. Report
of the AMA Council on Scientific Affairs. Chicago:
American Medical Association. 1989; 9-20.
f) Referências de teses:
Narvaiza DG. Expressão do antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA) no epitélio da mama de usuárias e
não-usuárias de anticoncepcional hormonal combinado
oral. São Paulo: 1998. Tese de Mestrado, Unifesp-EPM.
g) Artigos de periódico em formato eletrônico:
Morse SS. Factors in the emergence of infectious
diseases. Emerg Infect Dis [serial online] 1995 Jan-Mar
[cited 1996 Jun 5]; 1(1): [24 screens]. Available from:
URL:http://www.ede.gov/neidod/EID/eid.htm.
ILUSTRAÇÕES
Solicita-se que tabelas, gráficos, figuras e fotografias
sejam apresentados em folhas separadas, com legendas
individualizadas, ao final do trabalho. Preferencialmente
as fotografias devem ser em preto-e-branco, em slide ou
volume 5  nº 1  março 2008
papel, e as despesas com eventual reprodução de fotografias coloridas correrão por conta dos autores. Fotos eletrônicas só serão aceitas em formato jpg com 300dpi de
resolução. Os desenhos em traço precisam ter qualidade
profissional para permitir sua reprodução.
PONTOS A CONFERIR
Antes de enviar seu artigo para publicação, verifique os seguintes pontos:
1. O resumo está de acordo com o abstract?
2. Os unitermos estão de acordo com as key words?
3. Na terceira página consta o título em inglês?
4. A carta de autorização para publicar o artigo, com a
assinatura do autor e dos co-autores, foi enviada?
5. A divisão de tópicos está correta?
6. O artigo está dentro do número máximo de laudas?
7. Referências
a) O número de referências está correto?
b) Todos os artigos citados no texto estão presentes nas
referências?
c) Todos os artigos presentes nas referências estão citados no texto?
d) Os artigos estão digitados de acordo com as normas
da revista?
e) Os nomes dos autores estão em ordem alfabética?
8. Tabelas
a) As legendas são auto-explicativas?
b) As tabelas apresentam autores que não estão presentes nas referências?
9. Figuras e fotos
a) As legendas são auto-explicativas?
b) Todas as figuras e fotos estão citadas no texto e viceversa?
10. Os valores numéricos (principalmente porcentagens)
estão calculados corretamente?
11. O disquete a ser enviado contém todo o texto do
artigo em Word?
12. As fotos eletrônicas estão em formato jpg com
300dpi?
Adolescência & Saúde

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