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Tese PREVALÊNCIA DE OBESIDADE E OUTROS FATORES DE RISCO PARA CARDIOPATIA ISQUÊMICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PORTADORAS DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS EM AMBULATÓRIO DE REFERENCIA Sandra Mari Barbiero INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia PREVALÊNCIA DE OBESIDADE E OUTROS FATORES DE RISCO PARA CARDIOPATIA ISQUÊMICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES PORTADORAS DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS EM AMBULATÓRIO DE REFERENCIA Autor:Sandra Mari Barbiero Orientador: Drª Lucia Pellanda Tese submetida como requisito para obtenção do grau de Doutor ao Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde, Áreade Concentração: Cardiologia, da Fundação Universitária de Cardiologia/ Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, agosto de 2014 Agradecimentos.... Por onde começar um agradecimento quando a gente tem tantos “queridos” torcendo por este término? À minha orientadora Drª Lucia Campos Pellanda pela paciência interminável, pelo carinho de professora e amiga e, pelo estímulo constante para termos um olhar de pesquisador. Aos colegas do Ambulatório de Cardiologia Pediátrica Preventiva, ao grupo PREVINA, que participaram da grande experiência de trabalhar em equipe. Muitos destes colegas foram importantes no desenvolvimento deste trabalho, ora nas coletas, nas discussões das análises, nas dificuldades de pesquisador e no retorno à realidade após os momentos de desânimo: Nut.DanielaSchuch e Caroline Sica; Acad.Nut. Aline Dalmazo e Daniela Peña; Fisiot. Gabriela Feltz; Odont. Suziane Raupp; Enferm. Fátima Cecchetto Às amigas de trabalho e risadas: Claudia Cesa, Rosemary Petkowicze Evelyn Vigueras, que muito auxiliaram nesta caminhada sendo ouvintes e debatedoras nos momentos de “petit-comité”. A todos os colegas da Unidade de Ensino por estarem sempre disponíveis para resolver os problemas que surgiam, quer com horários nos estatísticos (Sergio e Vânia sempre atenciosos) quer com orientações gerais. Aos professores do Programa de Pós-Graduação que além de mestres e orientadores, se tornaram colegas de trabalho. Aos queridos colegas do PPG: FernandaPoester Oliveira da Costa, Madalena Espindola e Rafael Pereira que foram incansáveis nas orientações e sempre disponível para auxiliar os alunos. Aos colegas do Centro Cultural, todos em geral, onde conheci muitas pessoas que se tornaram queridos colegas de convivência diária. Aos pacientes que aceitaram participar desta pesquisa e disponibilizaram parte do seu tempo para responder aos múltiplos questionamentos feitos por nós. E a DEUS.........por me dar a maravilhosa família que tenho: meus filhos Pedro e Raquel, meu companheiríssimo e amado Portella e minha mãezinha Lourdes, que está sempre na retaguarda para auxiliar na minha ausência. Sumário 1 RESUMO GERAL 3 2_ BASE TEÓRICA 5 2.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................6 2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS FATORES DE RISCO .........................................7 2.3 OBESIDADE..................................................................................................9 2.4 DIABETES MELITO....................................................................................12 2.5 TABAGISMO................................................................................................13 2.6 SEDENTARISMO.........................................................................................14 2.7 DISLIPIDEMIA............................................................................................17 2.8 HIPERTENSÃO............................................................................................19 2.9INTERAÇÕES ENTRE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS E FATORES DE RISCO.................................................................................................................23 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................27 3_ OBJETIVOS 35 3.1 OBJETIVO GERAL.....................................................................................35 3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO............................................................................35 4 ARTIGO 1 36 Fatores de risco para aterosclerose em crianças e adolescentes com Cardiopatias Congênitas Cianóticas e Acianóticas.............................................................................37 RESUMO...........................................................................................................38 ABSTRACT........................................................................................................40 INTRODUÇÃO..................................................................................................41 MÉTODOS..........................................................................................................42 RESULTADOS...................................................................................................45 DISCUSSÃO.......................................................................................................49 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................53 5 ARTIGO 2 _ 58 Excesso de peso e outros fatores de risco em crianças com cardiopatia congênita: somação de riscos?..........................................................................................................59 RESUMO.............................................................................................................60 ABSTRACT.........................................................................................................62 INTRODUÇÃO...................................................................................................64 MÉTODOS..........................................................................................................65 RESULTADOS...................................................................................................68 DISCUSSÃO.......................................................................................................73 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................77 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS _81 7 APÊNDICES 84 I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO....................85 II – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..............................................86 III – ANEXO I.....................................................................................................92 3 1. RESUMO GERAL DA TESE Objetivos: estimar a prevalência de excesso de peso, dislipidemias, elevação da pressão arterial e sedentarismo comparando cardiopatias cianóticas e acianóticas. Além disso, descrever os fatores de risco associados, incluindo hábitos alimentares, história familiar e pressão arterial sistêmica em crianças portadores de cardiopatias congênitas em atendimento ambulatorial. Métodos: Estudo transversal com 316 pacientes portadores de cardiopatias congênitas, com idade entre 2 e 18 anos, atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica de um hospital de referência. Foram coletados dados sobre a doença, história familiar de doenças crônicas, atividade física, antropometria, pressão arterial sistêmica, hábitos alimentares e exames laboratoriais. Resultados: A maioria dos entrevistados era do sexo masculino (55,7%), da cor branca (81,6%), com idade entre 2 e 13 anos (77,22%) , sendo 19% portadores de cardiopatias cianóticas. A doença cianótica mais prevalente foi a Tetralogia de Fallot (71,7%), e a acianótica foi Comunicação Interventricular (CIV- 29,7%) seguida de Comunicação Interatrial (CIA- 23,8%). Dos entrevistados, 50% haviam sido submetidos a algum procedimento cirúrgico. A prevalência de baixo peso foi de 3,5% e excesso de peso (IMC≥P85) em 26,9%, sendo 17,4% com sobrepeso (IMC˃P85≤95) e 9,5% com obesidade (IMC˃P95). A prevalência de crianças irregularmente ativas ou sedentárias foi de 41,14 %. Observou-se que 46,9% da amostra estudada apresentou Colesterol Total ˃150mg/dl e 35,3% tinham o HDL-colesterol abaixo do ideal (<46mg/dl). A pressão arterial sistólica apresentou-se alterada em 21,2% dos avaliados. %). Na história 4 de fatores de risco para doença cardiovascular dos familiares, foram observados: excesso de peso 44,3%, dislipidemia 53,8%, diabetes 49,7%, hipertensão 83,2% e doença isquêmica 52,2%. Em relação aos hábitos alimentares, observou-se que um percentual elevado ingerem habitualmente alimentos não saudáveis, como: guloseimas (54,7%), embutidos (47,7%), alimentos fritos (33,2%) e refrigerantes (32,8%). Além disto, 46,9% apresentaram colesterol alterado, 32,7% HDL alterado, 23,6% LDL alterado e 20,0% triglicerídeos elevados. O grupo com excesso de peso apresentou maiores proporções de história familiar positiva para obesidade (42,6%; p=0,001), dislipidemia (48,1%; p= <0,001), diabetes (47,4% p=0,002), hipertensão (39,2% p=0,006) e doença isquêmica (43,7% p=0,023), além de valores significativamente maiores de triglicerídeos (p=0,017), glicemia (p=0,004) e proteína C reativa (p=0,002). Conclusão: Há alta prevalência de fatores de risco para doença isquêmica no grupo estudado, tanto no grupo cianótico quanto acianótico, apresentando semelhança à descrita na literatura para crianças saudáveis. Considerando os fatores inerentes à doença congênita, mudanças nos hábitos de vida faz-se necessária para prevenir a persistência desse fatores de risco e suas comorbidades na vida adulta. Palavras-chaves: crianças, adolescentes, doença cardíaca congênita, cardiopatia isquêmica, excesso de peso, dislipidemia, hábitos alimentares. 5 Base Teórica Cardiopatias congênitas e a exposição aos fatores de risco para aterosclerose 6 2.1 INTRODUÇÃO A American Heart Association define cardiopatia congênita ou defeito congênito cardiovascular quando o coração ou os vasos sanguíneos perto do coração não se desenvolvem normalmente antes do nascimento. 111 A etiologia da doença cardíaca congênita ainda não é totalmente compreendida. Sua incidência varia de 19 a 75por mil nascimentos vivos. 2 O tratamento cirúrgico das cardiopatias congênitas, sejam acianóticas ou cianóticas, visa, sempre que possível, a correção definitiva dos defeitos, buscando o controle dos sintomas e a melhora da qualidade de vida, além de prevenir futuros eventos. 3 A desnutrição é um problema frequentemente associado às doenças congênitas, levando ao retardo de crescimento e à redução dos mecanismos de defesa imunológica, com consequente predisposição à infecção. 4 No entanto, nos últimos anos, vem se discutindo na literatura o fato de que este grupo vem sendo atingido por uma condição adicional de risco, decorrente de características próprias e da mudança dos hábitos de vida. Por exemplo, quando há a correção da cardiopatia estas crianças continuam a ser incentivadas ao ganho de peso, por circunstâncias psicológicas e familiares peculiares especialmente na primeira infância, quando hábitos alimentares começam a desenvolver-se e podem persistir em longo prazo. O impacto destes hábitos alimentares inadequados e do excesso de peso na saúde cardiovascular pode ser particularmente importante para crianças com preexistência de cardiopatia congênita ou adquirida. 5 7 Estima-se um aumento de 5% ao ano na prevalência mundial da população de adultos com cardiopatia congênita, cirurgicamente corrigida ou não corrigida. Nas últimas três décadas, surgiram grandes progressos no diagnóstico e tratamento de cardiopatias congênitas em crianças. Como resultado, muitas crianças com essa doença sobreviveram até a idade adulta. 6-8 2.2 EPIDEMIOLOGIA DOS FATORES DE RISCO As doenças cardiovasculares são a maior causa de morbimortalidade no mundo,9 representando a principal causa de morbimortalidade nos países industrializados de alta renda e a principal causa não transmissível de morbimortalidade entre os países de baixa e de média renda, respondendo por quase 25% do total de mortes nesses países. 10 Um dos mais importantes avanços na pesquisa cardiovascular do século 20 foi a identificação de fatores de risco associados com a doença cardiovascular, possibilitando o desenvolvimento de tratamentos a fim de preveni-la. 10, 11 Os fatores de risco podem ser divididos em modificáveis e não modificáveis. 11 O estudo INTERHEART, ao examinar mais de 27.000 casos e controles de 52 países, mostrou que mais de 90% do risco para o desenvolvimento do infarto do miocárdio pode ser explicado por nove fatores de risco potencialmente modificáveis: relação LDL/HDL, tabagismo, diabetes, hipertensão, obesidade abdominal, fatores psicossociais, hábitos alimentares, atividade física e consumo de bebidas alcoólicas 10 . Os fatores de risco mais prevalentes são a obesidade, a hipertensão, o tabagismo e dislipidemia. 12 8 Os principais fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares já podem ser encontrados desde a infância e, se não forem manejados adequadamente, podem acompanhar os indivíduos até a fase adulta, tornando-os mais propensos ao desenvolvimento de diabetes e de coronariopatias. 13 A persistência desses fatores da infância até a vida adulta, chamado de fenômeno de trilha, ou tracking, pode fazer com que doenças observadas anteriormente em adultos em uma fase bem mais posterior tornem-se causa de morbidade em adultos jovens e adolescentes, sugerindo que a manutenção de uma vida saudável por meio da alimentação equilibrada e a atividade física regular desde os primeiros anos de vida contribuiu substancialmente para a redução da incidência de doenças cardiovasculares na vida adulta. 14-16 Estima-se que o tracking do excesso de peso entre os jovens pode acarretar em 25 anos um acréscimo de 10% nas taxas de obesidade e um aumento das mortes por doenças cardiovasculares de 13%, gerando expectativas de aumento de morbimortalidade por doenças cardiovasculares de 100.000 casos para 2035. 15 No clássico Bogalusa Heart Study, 9167 crianças e adolescentes (5 a 17 anos) foram examinados em sete estudos transversais conduzidos entre 1973 e 1994. Em torno de 11% dos estudantes examinados foram considerados com sobrepeso. Destes, 475 (58%) tinham no mínimo um fator de risco para o desenvolvimento da doença cardiovascular quando adultos, confirmando a necessidade de iniciar a prevenção ainda na infância. 17 A aterosclerose é uma doença crônica, complexa, multifatorial, progressiva, com um longo período assintomático que pode atingir diferentes órgãos e sistemas durante a sua evolução e que depende, além dos fatores genéticos, do estilo de vida e das escolhas do dia a dia de cada indivíduo. 15, 18 Conforme tem sido demostrado, a aterosclerose 9 inicia nos primeiros anos de desenvolvimento. A avaliação de corações de autópsias de homens jovens (média de idade de 22,1 anos) demonstrou que quase 50% tinham alguma evidência de aterosclerose coronariana. 19 Até o final da adolescência, cerca de 61% dos indivíduos apresentam algum tipo de lesão aterosclerótica nas artérias coronárias. Após os 40 anos, essas lesões estão presentes em quase 95% da população. 14 A extensão da aterosclerose está diretamente associada com altas concentrações de colesterol de baixa densidade (LDL) e baixas concentrações de colesterol de alta densidade (HDL). 19 A progressão da doença aterosclerótica ao longo dos anos não se dá basicamente por apenas um fator de risco, mas pelo conjunto deles. A presença de fatores de risco precursores de doença aterosclerótica na infância e na adolescência reforça a preocupação com a morbimortalidade e com as projeções dos gastos em cuidados de saúde. 13 O excesso de peso, o sedentarismo e a alimentação inadequada são considerados hoje os principais fatores modificáveis na prevenção da aterosclerose. 15 2.3 OBESIDADE A obesidade se tornou uma das principais ameaças à saúde em todo o mundo, tendo aumentado sua prevalência em quase todos os continentes. É um fator de risco independente, pois os obesos tendem a apresentar valores alterados de colesterol, de glicose e de níveis pressóricos, sendo estes fatores considerados também potenciais causadores de aterosclerose. 15 No Brasil, segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde e, 2008-2009, a taxa de prevalência de excesso de peso (indivíduos com Índice de Massa Corporal ≥ 25 kg/m²) em adultos entre 20 e 59 anos foi de 48,5%. 20 Nas crianças, a prevalência de 10 sobrepeso e obesidade está aumentando rapidamente, representando um problema de saúde pública mundial. Um estudo que avaliou 511 crianças com idade média de 12,57 anos em Porto Alegre encontrou prevalência de 27,6% de excesso de peso nos escolares, semelhante à prevalência em outras capitais brasileiras. 14 Foi demonstrada presença significativa de fatores de risco entre os familiares de primeiro grau das crianças avaliadas, mostrando que o estilo de vida da família influencia nos hábitos das crianças e dos adolescentes. 21 Relatos mostram que em torno de 60% dos produtos alimentícios anunciados na televisão pertencem aos grupos de doces e de gorduras; em contrapartida, há ausência quase total de publicidade envolvendo frutas e vegetais. Nos últimos anos, houve crescimento de cerca de 400% no consumo de alimentos não saudáveis, tais como doces biscoitos e refrigerantes. Este aumento do consumo de alimentos não saudáveis representa uma profunda mudança na qualidade nutricional da população, especialmente das crianças e dos adolescentes. 21 A introdução de restaurantes fast-food, durante a década de 1990, comprometeu o padrão tradicional de alimentação, levando à substituição de refeições por lanches rápidos com gordura e alto teor de açúcar. 17 Até a década de 70, a desnutrição era altamente prevalente no Brasil. Hoje o excesso de peso é maior que o baixo peso, principalmente no sul e sudeste, provavelmente influenciado pelo melhor poder aquisitivo. Como consequência, pode-se observar que alimentos como o arroz e o feijão foram substituídos por preparações industrializadas. 15 A obesidade acompanha um conjunto de fatores de risco cardiovascular que incluem intolerância à glicose, hipertensão e dislipidemia. 16 A associação entre obesidade e doença cardiovascular é complexa e não está limitada somente a esses fatores. Nos últimos anos, vários estudos têm mostrado que a obesidade pode causa 11 r doenças cardiovasculares através de múltiplos mecanismos como a inflamação subclínica, a disfunção endotelial, o aumento do tônus simpático, o perfil lipídico aterogênico, o aumento dos fatores trombogênicos e também através da apneia obstrutiva do sono. Os indivíduos obesos apresentam qualidade de vida e expectativa de vida reduzidas em relação a indivíduos com peso adequado. 22, 23 A gordura visceral, associada com a obesidade central, é o tecido adiposo mais metabolicamente ativo que causa aumento da resistência à insulina, aumento das concentrações de triglicérides, aumento dos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e redução das concentrações de lipoproteínas de alta densidade (HDL). 22 Os mecanismos pelos quais o excesso de gordura provoca resistência à insulina são complexos, envolvendo diferentes vias fisiopatológicas mediadas por citocinas e outros mediadores inflamatórios. A resistência à insulina pode levar ao surgimento do diabetes mellitus tipo 2, uma condição, que por si só, pode iniciar ou acelerar o processo aterogênico por vários mecanismos adicionais, como a hiperglicemia. 22 Um estudo recente indica que os efeitos adversos da obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) sobre a pressão arterial e os níveis de colesterol poderiam explicar cerca de 45% do aumento total de risco de doença cardíaca coronariana. Portanto, parte do aumento do risco de doença cardíaca coronariana em obesos é independente dos efeitos da obesidade sobre a pressão arterial e o colesterol. Isto mostra que, mesmo se os indivíduos obesos fossem tratados para a hipertensão e a hipercolesterolemia, eles ainda teriam um risco elevado de doença coronariana. 23 12 2.4 DIABETES MELITO A doença cardiovascular é uma complicação bem reconhecida do diabetes tipo 2 em ambos os sexos 24 representando a principal causa de morte em indivíduos com essa doença. 24 Um grande número de estudos tem mostrado evidências de risco aumentadas para doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 em comparação com a população em geral. 25 O diabetes tipo 2 é uma disfunção do metabolismo intermediário caracterizada por níveis aumentados de glicose no sangue resultantes da deficiência absoluta da secreção de insulina e/ou resistência periférica aumentada à ação da insulina. 25 O diabetes aumenta o risco de infarto do miocárdio e do acidente vascular cerebral em duas a três vezes. Sua incidência está aumentando em todo o mundo; dessa forma, a prevenção e o tratamento dessa doença são de extrema importância. 24 Estimativas atuais mostram que 439 milhões adultos serão afetados pela doença no mundo em 2030. 26 A prevalência de diabetes no Brasil no ano de 2009 em indivíduos acima de 35 anos conforme dados do Ministério da Saúde foi de 9,5%. 27 O aumento na prevalência da obesidade na adolescência registrado nas últimas duas décadas explica, em grande parte, o avanço do diabetes tipo 2 em populações jovens. Estudos relacionam as elevadas taxas de obesidade na infância e na adolescência ao sedentarismo e à mudança nos hábitos alimentares, frequentemente com dietas hipercalóricas e hiperlipídicas. O diabetes tipo 2 está, de forma rápida, se transformando em uma doença de crianças e de adolescentes. 14 13 A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de risco que têm como base a resistência à ação da insulina. Aumenta em até 7 vezes o risco de o paciente desenvolver diabetes e pode estar, independentemente, associada às doenças cardiovasculares. 2.5 TABAGISMO O tabagismo é um importante fator de risco modificável para o desenvolvimento de doença cardiovascular. 28 Estima-se que esse hábito seja a principal causa de morte evitável no mundo em função de sua atuação como precursor de diversas patologias e sua alta prevalência. A magnitude do problema é identificada ao se considerar a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que cerca de 1/3 da população mundial adulta seja fumante. 28 O uso do tabaco tem sido estabelecido como um fator de risco para doença cardiovascular desde os anos 1940, tanto em fumantes ativos quanto em passivos. 12 Segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência em 2009 de fumantes ativos acima de 18 anos no Brasil foi de 15,5%. 29 As campanhas agressivas antitabagismo têm diminuído significativamente o uso de tabaco nos Estados Unidos nos últimos 40 anos. Infelizmente, em países em desenvolvimento, ocorre o inverso com uma tendência de experimentação de cigarros cada vez mais precoce. Em várias capitais brasileiras, a média de idade de experimentação é de 10 anos. Algumas das razões para o aumento incluem a urbanização e o marketing agressivo pelas empresas de tabaco. 12 14 O risco de doença cardiovascular aumenta com o número de cigarros tragados e com a duração do ato de fumar. Ocorre uma redução da mortalidade por doença arterial coronariana, do risco de infarto do miocárdio e do risco de acidente vascular cerebral isquêmico em indivíduos ex-tabagistas em relação aos indivíduos que continuam fumando. O fumo age sinergicamente com outros fatores de risco, tais como idade, sexo, pressão arterial elevada, dislipidemia e diabetes. 30 Em crianças, além da experimentação de cigarros propriamente dita, também é importante avaliar a presença de fumo passivo. Pesquisa realizada ao longo da década passada mostra que mais de 25% das crianças vivem em uma casa com pelo menos um pai que fuma. A exposição ao fumo passivo em crianças resulta em maiores taxas de pneumonia, infecções de ouvido, síndrome da morte súbita infantil, asma e outros efeitos negativos à saúde. 31 A esse fato, soma-se o de que as vias aéreas infantis são mais vulneráveis, sofrendo acentuadamente com os efeitos do tabagismo passivo. 32 Os dados coletados no início da década de 2000 mostram que as crianças expostas à fumaça do tabaco em uma idade jovem são mais propensas a se tornarem fumantes e continuar o ciclo de fumar. 31 2.6 SEDENTARISMO Engajar-se em uma atividade física regular é amplamente aceito como uma medida preventiva e eficaz para uma variedade de fatores de risco à saúde em todas as idades e etnias, em ambos os gêneros e em todos os subgrupos socioeconômicos. No 15 entanto, em todas as faixas etárias, os níveis de atividade física permanecem baixos e as taxas de obesidade continuam a subir. 33 Segundo dados do DATASUS, a taxa de prevalência de atividade física no Brasil é de 14,7%. O Rio Grande do Sul apresenta uma taxa maior do que a média nacional, 15,5%, e Porto Alegre fica abaixo da média nacional, com uma taxa de 14,6%. 29 Já em um estudo realizado em Minas Gerais, quanto à prática de atividade física,78,7% das crianças e dos adolescentes disseram praticar atividade física de locomoção, sendo a mais comum a caminhada; 9,6% disseram praticar atividades físicas ocupacionais; 97,0% manifestaram fazer aulas de educação física; 72,3% relataram praticar atividade física no recreio; e 89,8% disseram praticar atividade física de lazer, sendo a mais comum a brincadeira de rua. 34 No entanto, em um estudo realizado pela Escola Paulista de Medicina, chama a atenção a elevada proporção de jovens (62,0% das estudantes e 57,0% dos estudantes) que não têm aulas de educação física na escola, apesar de a Lei de Diretrizes e de Bases estabelecer a sua obrigatoriedade nos ensinos fundamental e médio (Educação Básica). 35 Como consequência, o jovem não criará o hábito de praticar exercícios físicos. O comportamento sedentário possui inúmeros componentes, dos quais o tempo dedicado à assistir TV contribui em 81,0%. Visivelmente, este hábito não requer gasto energético acima da taxa metabólica basal e, consequentemente, reduz o tempo diário a ser investido em atividades com maior dispêndio energético. Além disso, a propaganda veiculada pela televisão propicia a elevação do consumo de alimentos de alto conteúdo energético, frequentemente apresentados em comerciais e em programas exibidos em horários de maior assistência. 35 Esse fato também se reproduz nos países desenvolvidos, com porcentagens significativas. Crianças e jovens canadenses estão 16 gastando uma média de 8,6 horas por dia, ou 62% de suas horas de vigília, sendo sedentários. Tendências similares estão sendo relatadas nos EUA, onde crianças e jovens passam uma média de 6 a 8 horas por dia sendo sedentários. 29 Também podemos notar que as camadas sociais mais carentes têm tendência a ser mais sedentárias. Isso de deve tanto ao reduzido número de espaços públicos destinados à promoção da prática de exercícios físicos quanto à dificuldade de deslocamento em grandes centros urbanos. Associado a isso, também existe a preocupação dos pais em relação à segurança e as barreiras enfrentadas pelas escolas em promover esse tipo de atividade. 14 Bauman et al, em estudo transversal conduzido em 20 países, incluindo o Brasil, entre 2002 e 2004, concluíram que os maiores níveis encontrados nos países desenvolvidos devem-se ao fato de que estes apresentavam maior disponibilidade de recursos para a realização de atividades recreativas e maior tradição na promoção da prática de exercícios físicos. Nesse estudo, resultados referentes ao Brasil indicaram que a prevalência de prática insuficiente de atividade física foi de 25,6% entre os homens e de 34,3% entre as mulheres. Em Ribeirão Preto, as respectivas prevalências foram ainda mais elevadas (62,5% e 67,9% em homens e mulheres, respectivamente). Os resultados sugerem a necessidade de implantação de programas específicos de incentivo à atividade física. 36 Várias evidências mostram que, independentemente dos níveis de atividade física, comportamentos sedentários estão associados a risco aumentado de doenças cardiometabólicas, com todas as causas de mortalidade e com uma variedade de problemas fisiológicos e psicológicos. 33 17 2.7 DISLIPIDEMIA As principais implicações patológicas das dislipidemias são a aterosclerose e a doença arterial coronariana, as quais constituem, atualmente, uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos. Muitas evidências sugerem que o processo de formação da placa aterosclerótica inicia-se na infância e progride lentamente até a vida adulta, quando ocorrerão as manifestações clínicas da doença, verificando-se um longo período assintomático. 37, 38 A prevalência da obesidade no Brasil, a qual possui uma forte relação com a dislipidemia, tem seguido a tendência dos países desenvolvidos. Importante salientar que a obesidade adquirida na infância tende a persistir na idade adulta. 37 Em um trabalho realizado em Porto Alegre, pela faculdade de nutrição da PUCRS, o total de pacientes atendidos entre os anos 2000 a 2007 foi de 893 indivíduos. Dentre estes, 46,6% apresentaram uma alta concentração de lipídeos no sangue. Em relação ao gênero, dos 308 pacientes homens atendidos nesse período, 48% apresentaram dislipidemia. Os resultados foram semelhantes para as mulheres, pois, das 585 atendidas, 46% apresentaram a doença. Considerando a idade de tais pacientes, a dislipidemia prevaleceu em indivíduos maiores de 50 anos. Contudo, em jovens com idade até 20 anos, foram encontrados casos de manifestação da doença. 39 Já em um estudo realizado no Rio de Janeiro, apenas 59% dos pacientes entre 2 e 19 anos apresentam níveis de colesterol total dentro da faixa desejável. Trata-se de um dado alarmante diante das evidências das vinculações das dislipidemias com doenças arteriais. O mesmo pode-se dizer com relação aos dados de LDL (lipoproteína de baixa densidade), em que apenas 67% dos pacientes encontram-se na faixa considerada desejável. No mesmo estudo, observa-se que os dados de triglicerídeos mostram 18 resultados elevados, com predomínio no grupo abaixo de 10 anos (40%). Já os resultados de HDL (lipoproteína de alta densidade), evidenciam predomínio de casos reduzidos na faixa etária abaixo 10 anos (31%), resultado também semelhante ao encontrado na literatura. Os resultados deste estudo, realizado com usuários do serviço público de saúde, são semelhantes aos de estudos realizados com pacientes da rede privada de saúde, mostrando a extensão da dislipidemia nesse grupo etário e na população geral. 37 Para evitar que essa prevalência aumente e para conter os desfechos dessa doença, faz-se uso do tratamento não farmacológico, que inclui modificações de hábitos alimentares e de atividade física e, não havendo resultados satisfatórios, é utilizado o tratamento farmacológico. No tratamento não farmacológico, a atividade física aeróbica regular é talvez a medida não farmacológica mais importante para elevar o HDL, parecendo ser a duração do exercício mais importante do que sua intensidade para promover tal elevação. No entanto, para elevar o HDL em pacientes com níveis basais abaixo de 40 mg/dl, o condicionamento aeróbico é menos eficaz. 40 Outra ênfase que devemos dar a essa doença é que há uma significativa agregação familiar dos fatores de risco. Este fato pode representar uma interação dos hábitos de vida da família com os aspectos genéticos, o que pode potencializar o aumento do risco de doenças crônicas no futuro. 15 Uma melhor compreensão das influências genéticas e dietéticas subjacentes a dislipidemia aterogênica pode fornecer pistas para melhores intervenções, reduzindo, assim, o risco de doença cardiovascular de alto risco individual. 41 Por exemplo, pacientes com diabetes mellitus tipo 1 possuem risco duas a quatro vezes maior de 19 desenvolver aterosclerose em relação à população não diabética e, nestes pacientes, os eventos cardiovasculares são responsáveis por até 44% da mortalidade total. Assim, todos os diabéticos, independentemente da idade, com hipercolesterolemia familiar e hiperlipidemia familiar, devem ser tratados, assim como indivíduos maiores de 40 anos com outros fatores de risco. 42 2.8 HIPERTENSÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. 43 A prevalência dos fatores de risco cardíaco está aumentando na sociedade moderna, tanto em crianças e em adolescentes quanto em adultos. Estudos epidemiológicos têm relatado prevalências que variam consideravelmente na população jovem em diferentes cidades brasileiras. Por exemplo, a prevalência de pressão arterial alterada foi de 3,9% em Ouro Preto e de 28% em Campinas. Segundo dados de 2009 do DATASUS, há uma prevalência de 24,4% de hipertensos no Brasil, sendo a maior porcentagem na região sudeste (26,8%) e a menor porcentagem na região norte (18,9%). A região sul tem uma taxa de prevalência de 22,8%, - em Porto Alegre, a taxa é de 25,4%. 44 20 A hipertensão arterial na infância está associada com uma incidência maior de causas secundárias do que nos adultos, entretanto, na última década, os estudos têm mostrado um aumento da incidência de hipertensão essencial na população pediátrica, principalmente na adolescência, sendo a obesidade, que está se tornando um problema epidêmico, 14 o fator mais importante implicado na gênese da hipertensão essencial na infância. É importante salientar que as leituras de pressões arteriais de adolescentes são preditivos de hipertensão no adulto, por isso o início da detecção da doença é de grande importância. Com base em dados da literatura, podemos afirmar que a pressão arterial adolescente é um fator de risco não só para a hipertensão, mas também para doenças cardiovasculares na idade adulta. 45 Infelizmente, em muitas ocasiões, os pacientes desenvolvem essa doença por falta de comunicação. Muitos indivíduos negaram acesso a informações sobre risco cardiovascular, indicando que a população não se encontra suficientemente esclarecida sobre esse aspecto. Possivelmente, na falta de diagnóstico de doenças associadas a maior risco cardiovascular, o acesso a informação específica é muito menor. Portanto, é válido sugerir que esses indivíduos não frequentam os serviços de saúde ou o fazem de forma inadequada. Um dado interessante é a maior porcentagem de mulheres com acesso a informações sobre fatores de risco. Embora não tenham sido encontrados estudos abordando esse aspecto específico, parece oportuno sugerir que as campanhas de esclarecimento e de prevenção de doenças cardiovasculares levem em conta que as mulheres podem estar mais atentas e sensibilizadas para esta questão. 46 Em um estudo realizado em Santa Catarina, referentes aos 66 municípios, 25 (37,8%) foram eficientes na produção de serviços relacionados a HAS e 41, ineficientes 21 (62,2%). Em relação à produção de resultados, 11 municípios (16,7%) foram eficientes quanto aos cuidados com HAS na atenção básica; os demais 55 (83,3%) foram ineficientes. 47 Nesse sentido, podemos observar a consequência disso: em um estudo realizado em Ribeirão Preto, foi possível identificar os hábitos relacionados aos fatores de risco para hipertensão arterial em indivíduos com esta patologia, podendo-se concluir que: - 35,7% dos sujeitos consideraram que o exercício físico interfere positivamente na pressão arterial; 28,6% não souberam se há relação entre tais fatores; 22,8% referiram que a interferência é maléfica e 12,9% destes mencionam não haver interferência. Contudo, 62,8% dos sujeitos disseram que não fazem exercício; dentre os que realizavam atividade física, a maioria (28,6%) praticava a caminhada diária. - 90,0% responderam que há interferência do nervosismo na pressão arterial. A maioria dos sujeitos considerava-se nervosa (82,9%), sendo que 52,9% deles não desenvolvia atividades que contribuiriam para reduzir tal situação. - 85,7% acreditam que o sal interferia na pressão arterial; 74,3% relataram ingerir pouco sal; não foi possível quantificar o sal utilizado. - 72,8% julgaram que há interferência da gordura na pressão arterial; 14,3% não sabiam e 12,9% consideraram que não interfere. Destaca-se que, 47,1% mencionaram não gostar deste tipo de alimento, enquanto 45,8% afirmaram consumir alimentos ricos em gorduras. Contudo, ao serem indagados sobre consumo de carnes, leite e ovos, mais de 70% dos sujeitos confirmaram consumir tais alimentos frequentemente. 22 - 74,3% responderam que há interferência do álcool sobre a pressão arterial. Dos sujeitos 72,9% mencionaram que não bebem; 17% bebiam, preferencialmente cerveja, de forma esporádica. - 67,2% declararam que o fumo interferia na pressão arterial. A maioria (74,3%) mencionou que não fuma; dos 25,8% que afirmaram que fumam, grande parte consome até 10 cigarros/dia 48. Em estudo mais recente, realizado em Florianópolis, aproximadamente nove anos após o anterior, foi observado que os dados ainda não melhoraram adequadamente. Neste, a maioria dos familiares tinham como condutas o uso adequado de sal (90,2%) e uso adequado de gordura vegetal (62%); no entanto, o maior número de condutas saudáveis eram desconhecidas, tais como o uso de adoçantes dietéticos (86,5%), a ingesta adequada de café (82,3%), o peso controlado (80,7%), a abstenção do álcool (71,5%), a abstenção do tabaco (68%), a preferência por vegetais (67%) e por carnes brancas (63,2%) e o gerenciamento do estresse (56%). 49 Não tendo uma boa abordagem sobre os malefícios da hipertensão, pessoas mais idosas, acima de 75 anos, elevam 25% a chance de possuir pressão elevada. O mesmo ocorre para falta de disponibilidade de dinheiro, cor da pele informada não branca, ter três filhos ou mais e possuir cônjuge, elevando as chances de desenvolver hipertensão arterial em 34%, 35%, 56% e 10%, respectivamente. 50 Outro fator que eleva demasiadamente a pressão arterial é a baixa adesão ao tratamento (causa frequente de hipertensão resistente), que poderia ser associada a pior qualidade de vida, a condições de saúde geral e a alta incidência de efeitos adversos dos medicamentos de redução da pressão arterial. Diante de tal realidade, é de suma importância a capacidade clínica para convencer o paciente de que a doença é 23 absolutamente tratável e de que os eventos adversos das drogas raramente correspondem a reais efeitos adversos. Além disso, muitas vezes, a não adesão ao tratamento possibilita a ideia de que uma menor qualidade de vida poderia ser secundária à consciência de hipertensão e não que a pressão arterial elevada em si requer uma investigação mais aprofundada. 51 Sendo assim, é importante alertar os pacientes em relação a esta doença. Dessa forma, será possível evitar a projeção de 23 milhões de mortes cardiovasculares, devido à hipertensão no ano de 2030 – estima-se que cerca de 85% delas aconteçam em países de baixa e de média renda. 52 2.9 INTERAÇÃO ENTRE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS E FATORES DE RISCO A associação de algumas alterações fisiológicas desencadeadas pela doença congênita (CHD) com a aterosclerose na vida adulta e, consequentemente, o aumento de morbidade e mortalidade por doença cardiovascular isquêmica, ainda não é clara. Adicionalmente, alterações provocadas pela própria correção cirúrgica ou percutânea da doença congênita pode predispor estas crianças, no futuro, a modificações fisiológicas. 5 O risco cardiovascular pode variar por tipo de defeito cardíaco. Por exemplo, é possível que as condições específicas em que as artérias coronárias devem ser manipuladas cirurgicamente podem conferir maior risco de doença prematura aterosclerótica da artéria coronária. O reimplante das artérias coronárias no reparo cirúrgico da transposição de grandes vasos (cirurgia de Jatene) pode resultar em fluxo de reserva coronário anormal, e estudos com ultrassom intracoronário revelam que 24 alguns pacientes desenvolvem proliferação da íntima, um precursor para a aterosclerose. Lesões obstrutivas do lado esquerdo podem também estar associadas a um risco cardiovascular acentuado. A coarctação da aorta, mesmo após o reparo, é comumente associada com hipertensão arterial sistêmica, 53 a estenose aórtica pode ser associada com a hipertrofia ventricular esquerda e disfunção diastólica, fatores de risco conhecidos para a morbimortalidade cardiovascular em adultos. 54 Além das alterações associadas à cardiopatia congênita em si, tem-se observado que este grupo apresenta uma elevada frequência de fatores de risco comportamentais relacionados aos aspectos psicossociais e ambientais presentes nas doenças Congênitas, quais sejam, cuidados excessivos da família, dificuldades de manejo familiar, restrições de atividade física, entre outros. Por exemplo, Moons et al, em estudo com adultos com cardiopatias congênitas, relatam que apenas 20,4% dos homens e 21,0% das mulheres tinham estilo de vida saudável e o restante apresentavam, como fator de risco, sedentarismo, hipertensão, diabetes e obesidade. 55 A partir de uma revisão de prontuários de pacientes do Programa de um Centro Urbano de Cardiologia Pediátrica, em Nova York, foi observado que as taxas de excesso de peso e obesidade em crianças com doença congênita foram semelhantes aos dados nacionais de crianças americanas sem doença cardíaca ( p = 0,50). Este estudo mostra que crianças com doença cardíaca não são imunes aos indicadores comuns de obesidade, tais como gênero e etnia, e que o cuidado futuro das crianças com doença cardíaca deve incluir discussões gerais sobre os riscos para a obesidade. 56, 57 A obesidade pode afetar indivíduos com doença congênita. Exemplo disso é o paciente após a reparação de Fontan (ventrículo único): esta reparação pode exacerbar a disfunção diastólica em mais de 70% das crianças e jovens. Tal alteração é explicada 25 pelo aumento do volume de fluido ou de apneia do sono associada à obesidade, elevando o volume e as pressões de enchimento e levando a um risco aumentado de edema e ascite. 54 A epidemia da obesidade também está afetando crianças e adolescentes com doença congênita. Mais de um quarto dessa população já está com excesso de peso, principalmente porque na infância foi estimulada ao ganho de peso e à restrição de exercício. 58 Um estudo feito com adolescentes com doença congênita mostrou a alta prevalência de fatores de risco modificáveis (23% eram tabagistas, apenas 15% tinham 30 minutos de atividade física fora da escola, 18,2% apresentaram excesso de peso) além de história familiar positiva para a doença cardíaca. 59 Stefan 60 relata que a atividade física restrita em crianças com cardiopatia congênita foi associada com o desenvolvimento da obesidade, mesmo naquelas que no início do estudo tinham peso adequado e que ao longo do tempo tiveram sua atividade física restrita. Fatores comportamentais parecem influenciar a inatividade mais do que a gravidade da condição patológica. Pais de crianças com doença coronária muitas vezes limitam o exercício ou o esporte desnecessariamente, impedindo o desenvolvimento de aptidão física, o que se estende até a idade adulta. 61 Atividade física diária está intimamente associada com risco diminuído de doença cardiovascular, obesidade, diabetes mellitus e hipertensão. McMurray et al., apontaram que o grande desejo do adolescente cardiopata é ter uma vida normal, visto que, na maioria das vezes, as limitações da condição de cardiopata são poucas, sendo a família, os amigos e os próprios professores os maiores limitadores desses pacientes. 62 Monteiro (2003) observou casos em que se percebia uma incompatibilidade entre a situação real da criança (condição clínica e física) e os sentimentos e atitudes da 26 mãe. Quando a cardiopatia congênita era corrigida, por exemplo, era comum observar a dificuldade das mães em se libertarem da imagem estigmatizada de que os seus filhos continuavam doentes e que, por isso, ainda precisavam de limites e cuidados especiais. Segundo o autor, esta relação repercutia negativamente no desenvolvimento da criança, pois não propiciava um ambiente que potencializasse o seu desenvolvimento. 63 Estimular a autonomia mostra-se benéfico no sentido de facilitar o autocuidado dos adolescentes, permitindo que o conhecimento adequado sobre a doença congênita ajude a manter um estilo de vida saudável, estabelecendo um comportamento de promoção de saúde durante e após o período da adolescência. 64 Embora as crianças com cardiopatia congênita possam apresentar esta interação entre os riscos próprios da doença e os fatores de risco modificáveis, há poucos estudos descrevendo fatores de risco para a DAC nesta população. Como a própria doença envolve um cuidado maior e o protecionismo dos pais, estas crianças podem apresentar elevada prevalência de fatores de risco comuns às crianças saudáveis: sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e obesidade, dentre outros. 65 Assim, torna-se essencial estudar mais detalhadamente esta população, tanto com o objetivo de elaborar estratégias preventivas como para um melhor entendimento dessas interações, que podem estender-se a outros grupos com doenças crônicas. 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Association AH. congenital cardiovascular defects. 2013;capturado em 22/01/2013 2. Richards AA, Garg V. Genetics of congenital heart disease. Curr Cardiol Rev. 2010;6:91-97 3. Jatene MB. Surgical treatment of acyanotic and cyanotic congenital heart diseases. Rev. Soc. Cardiol. Estado de São Paulo. 2002.;12:763-775 4. Hansen SR DI. energy and nutrient intakes in congenital heart disease. Acta Paediatr. 1993;82:166-172 5. Nelangi M. 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France; 2007:448-453. 35 3 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Estimar a prevalência de obesidade e de outros fatores de risco para cardiopatia isquêmica, em crianças portadores de cardiopatias congênitas, atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica do Instituto de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia (IC/FUC). 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Avaliar medidas antropométricas para identificar crianças com sobrepeso e obesos; - Investigar a concomitância de fatores de risco para cardiopatia isquêmica em crianças com e sem história familiar de cardiopatia isquêmica precoce ou fatores de risco; - Descrever os alimentos mais freqüentemente consumidos nesta faixa etária; - Comparar crianças obesas e não obesas em relação à agregação de outros fatores de risco e história familiar; - Relacionar o sobrepeso infantil com o sobrepeso dos pais; 36 Artigo 1 Fatores de risco para aterosclerose em crianças e adolescentes com Cardiopatias Congênitas Cianóticas e Acianóticas 37 Artigo original – a ser enviado ao Internacional Journal of Cardiology FATORES DE RISCO PARA ATEROSCLEROSE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS CIANÓTICAS E ACIANÓTICAS RISK FACTORS FOR ATHEROSCLEROSIS IN CHILDREN AND ADOLESCENTS WITH CYANOTIC AND ACYANOTIC CONGENITAL HEART DISEASE. Sandra Mari Barbiero Gabriela Feltz Daniela Barbieri Penã Claudia Ciceri Cesa Rosemary de Oliveira Petkowicz Lucia Campos Pellanda Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA Porto Alegre – RS, Brasil Correspondência para autor: Unidade de Pesquisa do IC/FUC – sandra Mari Barbiero Av.Princesa Isabel, 370 – Santana Porto Alegre, RS, Brasil 90620-001 Fone/Fax: 51-32303600Email: [email protected] / [email protected] 38 RESUMO: Objetivos: estimar a prevalência de excesso de peso, dislipidemias, elevação da pressão arterial e sedentarismo em crianças e adolescentes portadoras de cardiopatias congênitas em atendimento ambulatorial, comparando cardiopatias cianóticas e acianóticas. Métodos: Estudo transversal com 316 pacientes portadores de cardiopatias congênitas, com idade entre 2 e 18 anos, atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica de um hospital de referência. Foram coletados dados sobre a doença, atividade física, antropometria, pressão arterial sistêmica e exames laboratoriais. Resultados: A maioria dos entrevistados era do sexo masculino (55,7%), da cor branca (81,6%), com idade entre 2 e 13 anos (77,22%) , sendo 19% portadores de cardiopatias cianóticas. A doença cianótica mais prevalente foi a Tetralogia de Fallot (71,7%), e a acianótica foi Comunicação Interventricular (CIV- 29,7%) seguida de Comunicação Interatrial (CIA- 23,8%). Dos entrevistados, 50% haviam sido submetidos a algum procedimento cirúrgico. A prevalência de excesso de peso (IMC≥P85) no grupo com cardiopatia cong~enita cianótica foi de 23,3% versus 27,7% no grupo dos acianóticos. A prevalência de crianças irregularmente ativas ou sedentárias foi de 41,14% sem diferença estatística entre os grupos. No grupo com cardiopatia cianótica, a prevalência de colesterol total e LDL (34.6% e 17.3%, respectivamente) foi significativamente menor que nos acianóticos (49.6% e 25%, respectivamente). A pressão arterial sistólica apresentou-se alterada em 21,2% dos avaliados. Conclusão: Observou-se alta prevalência de fatores de risco para doença isquêmica no grupo estudado, tanto no grupo cianótico quanto acianótico. 39 Palavras-chaves: doença cardíaca congênita, cardiopatia isquêmica, excesso de peso, dislipidemia, obesidade. 40 ABSTRACT Objectives: To estimate the prevalence of excess weight, dyslipidemias, high blood pressure and physical inactivity in children with cyanotic and acyanotic congenital heart disease. Methods: Cross-sectional study with 316 patients with congenital heart disease, aged between 2 and 18 years, seen in the Pediatric Cardiology Clinic of a reference hospital. Data on the disease, physical activity, anthropometry, systemic blood pressure and laboratory tests were collected. Results: Most of the participants were male (55.7%), white (81.6%) and aged between 2 and 13 years (77.22%), and 19% had cyanotic heart defects. The most prevalent cyanotic disease was Tetralogy of Fallot (71.7%), and the most prevalent acyanotic lesions were Ventricular Septal Defect (VSD - 29.7%) and Atrial Septal Defect (ASD - 23.8%). Fifty percent of the participants had undergone some kind of surgical procedure. The prevalence of excess weight in the group of cyanotic congenital heart disease patients was 23.3% versus 27,7% in acyanotic children. The prevalence of children with irregular physical activity or sedentary was 41.14% no statistical difference between groups. In the cyanotic heart disease group, the prevalence of total cholesterol and LDL (34.6% and 17.3%, respectively) was significantly lower than in acyanotic (49.6% and 25%, respectively). The systolic blood pressure was elevated in 21.2% of the patients. Conclusion: There is a high prevalence of acquired risk factors for ischemic disease both in cyanotic and acyanotic patients. Keywords: atherosclerosis congenital heart disease, cyanosis, acyanosis, overweight, 41 INTRODUÇÃO A prevalência de cardiopatia congênita na população mundial é de 4 a 9 /1000 crianças nascidas vivas.1 Devido à evolução no tratamento das cardiopatias congênitas, estima-se aumentar a sobrevida destes pacientes em 5% ao ano 2-4 com consequente prolongamento da exposição a outros fatores de risco para doença aterosclerótica além daqueles inerentes à cardiopatia.5 São relatadas alterações fisiológicas de endotélio relacionadas a intervenções terapêuticas, porém não estão esclarecidas as consequências de tais intervenções no longo prazo envolvendo doença aterosclerótica. Pode-se formular hipóteses de que a manipulação cirúrgica das artérias coronárias (ex: cirurgia de Jatene ou correção de coronárias com origem anômala), o comprometimento do endotélio e o aumento da espessura da intima carotídea (observado, por exemplo, após reparação da coartação da aorta) e, possivelmente, outras alterações inflamatórias possam estar envolvidas nestas mudanças fisiológicas.6 Além das alterações associadas à cardiopatia congênita em si, tem se observado que este grupo apresenta uma elevada frequência de fatores de risco comportamentais, relacionados aos aspectos psicossociais e ambientais presentes nas doenças congênitas, quais sejam, cuidados excessivos da família, dificuldades de manejo familiar e restrições de atividade física, entre outros. Por exemplo, Moons et al, em estudo com adultos com cardiopatias congênitas, relatam que em torno de 79% dos participantes apresentavam estilo de vida não saudável e apresentavam como fatores de risco, inatividade física, hipertensão, diabetes e obesidade.1 No entanto, existem poucas evidências sobre esses fatores de risco em crianças com doença arterial coronariana, e nenhuma descrição de possíveis diferenças entre lesões cianóticas e acianóticas. Portanto, este estudo tem por objetivo estimar a prevalência de excesso de peso, dislipidemias, elevação da pressão arterial e 42 sedentarismo em crianças portadoras de cardiopatias congênitas em atendimento ambulatorial, comparando cardiopatias cianóticas e acianóticas. MÉTODOS Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição sob o nº 4470/2010 Trezentos e dezesseis pacientes portadores de cardiopatias congênitas, com idade entre 2 e 18 anos, atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica de um hospital de referência participaram de um estudo transversal que ocorreu no período de setembro de 2010 a março de 2013 (Anexo I). Pacientes com cardiopatia congênita que compareceram às consultas ambulatoriais de rotina e com idade entre 2 e 18 anos foram incluídos no estudo. Foram excluídos da coleta aqueles que apresentaram sopro inocente, condições clínicas que impediam a avaliação antropométrica (cadeirantes, malformação de membros inferiores), com síndrome genética ou sem o diagnóstico de cardiopatia estrutural. A partir da lista semanal de pacientes agendados para consulta de rotina no ambulatório, foi realizado contato telefônico com o responsável, no qual o paciente foi convidado a participar da pesquisa. Aos que aceitaram o convite, solicitou-se jejum de 12 horas para a coleta de exames laboratoriais. Os pacientes com os quais não foi possível o contato telefônico prévio eram convidados a participar no próprio dia da consulta, sendo os exames laboratoriais agendados para outro momento. Todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido após receberem as informações referentes ao estudo. Após isso, seguiu-se a coleta de exames sanguíneos (hemograma, perfil lipídico, glicemia de jejum e proteína C reativa), 43 de acordo com a rotina da Instituição, avaliação antropométrica, medida de pressão e informações sóciodemográficas e hábitos de atividade física (Internacional Physical Activity Questionaire - IPAQ versão curta). O estado nutricional das crianças e dos adolescentes foi avaliado pelo Índice de Massa Corporal (IMC), calculado e classificado através do programa Anthro e Anthro Plus, de acordo com a referência da Organização Mundial de Saúde (OMS). Foram utilizados os pontos de corte de sobrepeso (percentil > 85) e obesidade (percentil > 95) de acordo com OMS-2006/2007 para o diagnóstico de IMC.7 Para a aferição da pressão arterial foram utilizados aparelhos de pressão do tipo aneroide, manômetro com graduação de 0 a 300 mmHg. As pressões foram avaliadas de acordo com o Report of Second Task Force on Blood pressure Control in Children.8 O nível de atividade física das participantes foi mensurado por meio do IPAQversão curta, do inglês Internacional Physical Activity Questionaire, validado e adaptado para a realidade brasileira. O questionário foi administrado em entrevistas de individuais, conforme recomendação de uso em países em desenvolvimento, o que permite a classificação dos indivíduos, de acordo com a pontuação, em muito ativos, ativos, irregularmente ativos e sedentários.9 Todas as amostras de sangue foram coletadas por punção venosa periférica após 12h de jejum. A análise bioquímica de colesterol total, colesterol LDL, colesterol HDL e triglicerídeos foram determinados no soro obtido por centrifugação das amostras de sangue, através do método enzimático num analisador automático (Selectra E, Vital Scientific, EUA), utilizando os kits de reagentes e protocolos de acordo com as instruções do fabricante. Os níveis de PCRs foram determinados no soro por nefelometria, utilizando um Behring Nephelomefer 100 Analyzer (Dade Behring, EUA). O número de hematócrito e hemoglobina foram determinados utilizando sangue 44 total recolhido com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), em um analisador automático (Coulter Act, Coulter, EUA). Para os exames laboratoriais, foram considerados os valores de referencia segundo as diretrizes Americana (2011) e Brasileira (2005) de redução do risco cardiovascular em crianças e adolescentes, de 2011: Colesterol total ˃ 170 mg/dl, HDL/colesterol < 45 mg/dl, LDL/colesterol ˃ 110 mg/dl, Triglicerídeos ˃ 75mg/dl (2 a 9 anos) ou ˃ 90mg/dl (10 a 18 anos), Glicemia de jejum ˃ 100mg/dl, PCR ˃ 0,30 mg/dl, Hematócrito <35% e Hemoglobina <11,0g/dl 10, 11 , bem como pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) superior ao percentil 90 foram considerados elevados. Os dados foram coletados em formulário próprio, por profissionais treinados, após duas oficinas específicas e sempre que havia dúvida, novas oficinas eram realizadas. O tamanho da amostra foi calculado como 50 cianótica e 150 crianças e adolescentes acianóticas, com base numa diferença de 10 mg/dl estimado no LDLcolesterol e um desvio padrão de ±20, a prevalência de fatores de risco observados em um estudo anterior,12 com 80% de energia e nível de confiança de 95%. As prevalências foram descritas sob a forma de proporções com respectivos intervalos de confiança de 95%. As variáveis contínuas (percentil de IMC, peso, altura, idade, PAS, PAD) foram descritas através de médias e desvios-padrão. A associação entre fatores de risco foi avaliada através do teste do qui quadrado ou Exato de Fisher. As diferenças entre os grupos cianóticos e acianóticos foram avaliadas através dos testes t de Student ou Mann Whitney para variáveis contínuas e teste do qui quadrado ou Exato de Fisher para variáveis categóricas (gênero, presença de hipertensão, dislipidemia, glicemia, percentil de IMC e sedentarismo). Foi estabelecido como 45 significância estatística o valor de p ≤0,05. Os dados foram armazenados e analisados no programa SPSS versão 17.0. Ao final da avaliação, os participantes que apresentaram alterações nos dados coletados foram encaminhados para atendimento em ambulatório especializado na prevenção e tratamento dos fatores de risco para doença cardiovascular isquêmica em crianças e adolescentes. RESULTADOS Foram entrevistados 316 pacientes, sendo 55,7% do sexo masculino, a maioria da cor branca (81,6%), com idade entre 2 e 13 anos (77,22%) e 82,3% nascidos a termo. A proporção de famílias com até oito anos de escolaridade foi de 67,47% para os pais e 60,73% para as mães (Tabela 1). Das crianças e adolescentes avaliados, 19% apresentaram cardiopatia congênita cianótica, sendo a mais prevalente foi a Tetralogia de Fallot (Tabela 2). Quando avaliado o estado nutricional dos cardiopatas congênitos, foi observada a prevalência de baixo peso em 3,5% e excesso de peso (IMC≥P85) em 26,9%, sendo 17,4% com sobrepeso (IMC˃P85≤95) e 9,5% com obesidade (IMC˃P95). O grupo de cardiopatas congênitos cianótico apresentou 23,3% de excesso de peso (Tabela 3). A prevalência de crianças ativas, irregularmente ativas e totalmente sedentárias foi de 38,6%, 37,4% e 4,5%, respectivamente. Não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os grupos cianóticos e acianóticos. A pressão arterial sistólica apresentou-se elevada em 21,2% dos avaliados, porém sem diferença entre os grupos (Tabela 3). 46 Em relação à análise sanguínea, os percentuais de valores alterados nos níveis de colesterol total, LDL-c, HDL-c, triglicerídeos, glicemia de jejum, hematócrito, hemoglobina e proteína C reativa na amostra total estão apresentados na Tabela 4. Foi observado que 18,4% da amostra estudada apresentou colesterol total elevado e 35,3% tinha o HDL-colesterol abaixo do preconizado. Houve diferença significativa entre os grupos em relação a médias de colesterol total (141,8±26,4 vs 151,5±27,6; p=0,021), LDL (77,3±21,5 vs 86,7±23,9; p=0,010,), hematócrito (40,9±5,2 vs 38,6±3,5; p=< 0,001) e hemoglobina (13,9±1,7 vs 13,0±1,8; p= 0,002). No grupo dos cardiopatas cianóticos foi observada uma menor prevalência de colesterol total e LDL, 34,6% e 17,3% respectivamente, em relação aos acianóticos, que foram de 49,6% e 25% respectivamente (p=0,021; p=0,010) 47 Tabela 1 – Características gerais da população estudada Cardiopatia Cardiopatia Cianótica Acianótica n=60 (%) n=256 (%) P Gênero Masculino 40 (66,7) 176 (55,7) 0,079 Cor de pele branca 52 (88,1) 206 (81,4) 0,456 Pré-escolar (2 a 5 anos) 13 (21,7) 54 (21,1) Escolar (6 a 11 anos) 22 (36,7) 116 (45,3) Adolescente (12 a 18 anos) 25 (41,7) 86 (33,6) 48 (81,4) 215 (85,0) 0,624 54 (90) 104 (40,6) < 0,001 Até Fundamental completo 43 (71,7) 183 (71,5) Médio completo 16 (26,7) 63 (24,6) 1 (1,7) 10 (3,9) Até Fundamental completo 42 (70,0) 154 (60,2) Médio completo 11 (18,3) 83 (32,40) Superior incompleto/completo 7 (11,7) 19 (7,4) Variáveis Idade Nascidos à termo Procedimento cirúrgico 0,419 Escolaridade do pai Superior incompleto/completo 0,676 Escolaridade da mãe 0,079 48 Tabela 2: Cardiopatias cianóticas e acianóticas Cardiopatia n (%) Cianótica Tetralofia de Fallot 43 (13,6) Atresia Pulmonar 6 (1,9) Hipertensão pulmonar 3 (0,9) Outras 8 (2,5) Acianótica Comunicação Interventricular (CIV) 76 (24,1) Comunicação Interatrial (CIA) 61 (19,3) Estenose Pulmonar 46 (14,6) persistência do canal arterial (PCA) 25 (7,9) Coartação de Aorta 23 (7,3) Outras 25 (7,9) Tabela 3 – Distribuição de excesso de peso, atividade física e pressão arterial sistólica de acordo com o grupo de cardiopatia Variáveis Cardiopatia Cardiopatia Cianótica Acianótica n (%) n (%) 14 (23,3) 71 (27,7) Muito ativo 15 (25,4) 46 (18,3) Ativo 21 (35,6) 99 (39,3) Irregularmente Ativo 22 (37,3) 94 (37,3) 1 (1,7) 13 (5,2) Sistólica 11 (18,3) 56 (21,9) Diastólica 16 (26,7) 67 (26,2) Excesso de peso p 0,596 IPAQ Sedentário 0,441 Alteração de pressão arterial IPAQ= Internacional Physical Activity Questionaire 1,0 49 Tabela 4: Exames laboratoriais de acordo com o grupo da cardiopatia Variáveis Colesterol Cianótico Média ±DP 141,8±26,4 Acianótico Média ±DP 151,5±27, p 0,021 6 HDL 49,3±10,4 50,1±11,8 0,671 LDL 77,3±21,5 86,7±23,9 0,010 Triglicerídeos 76,2±38,0 75,6±35,4 0,913 Glicemia 88,2±9,5 87,9±9,5 0,837 Proteína C reativa 0,2±0,2 0,1±0,2 0,182 Hematócrito 40,9±5,2 38,6±3,5 < 0,001 Hemoglobina 13,9±1,7 13,0±1,8 0,002 p < 0,05; teste t DISCUSSÃO: O presente estudo relata a prevalência de excesso de peso, dislipidemia hipertensão e inatividade física em uma população referenciada de pacientes com cardiopatia congênita em um país em desenvolvimento, demonstrando que este grupo específico apresenta elevados índices desses fatores. O excesso de peso, nos cianóticos, pode estar vinculado ao aumento de oferta alimentar em função do baixo peso antes da intervenção cirúrgica13, porém desnecessária após esta correção.14 O excesso de peso pode afetar indivíduos com doença congênita. O paciente após a reparação de Fontan (ventrículo único), por exemplo, pode ter exacerbada sua disfunção diastólica – isso pode ocorrer em mais de 70% de crianças e jovens. Esta alteração é explicada pelo aumento do volume de fluido 50 ou de apneia do sono associada à obesidade, elevando o volume e as pressões de enchimento, tendo como consequência um risco aumentado de edema e ascite.15 Há uma carência de estudos que discutam tais alterações alimentares após intervenção cirúrgica, pois os cuidados alimentares feitos pelo cuidador muitas vezes continuam por muitos anos, mesmo sem haver essa necessidade nutricional. Os resultados encontrados no presente estudo em relação à presença regular de atividade física confirmam resultados de outros trabalhos 16, 17 , independentemente do tipo de alteração estrutural cardíaca, são poucos os cardiopatas congênitos que se mantêm fisicamente inativos. Já Moola, discutindo as barreiras psicológicas em relação à atividade física, descreve que os cardiopatas congênitos são menos ativos que seus pares saudáveis colocando-os em risco de se tornarem adultos sedentários e de adquirir doenças crônicas no futuro. Além da melhoria física, há o beneficio da percepção de autoestima e confiança na realização das tarefas, atitude esta que deve ser estimulada pelos familiares e médicos.18 Stefan relata que os pacientes devem ser orientados contra esforço físico, quando necessário, mas eles também precisam ser educados sobre a importância da atividade física adequada.19 A alteração da pressão arterial sistólica do grupo estudada, apresentou valores muito superiores à da população sem cardiopatia desta faixa etária.1, 20 Este valor alterado pode estar vinculado à cardiopatia de base bem como ao fenômeno do jaleco branco visto que muitas destas crianças apresentam algum tipo de sofrimento relacionado a antigas internações hospitalares.21 O presente estudo demonstrou uma menor prevalência de colesterol total e LDL aumentados no grupo dos cardiopatas cianóticos, conforme foi relatado por outros estudos. 22, 23 Tal prevalência pode estar relacionada à hipoxemia, aliada à menor oxidação de frações lipídicas aterogênicas, além da presença de hiperbilirrubinemia, do 51 aumento do óxido nítrico e da baixa contagem de plaquetas nestes pacientes. A bilirrubina sérica é considerada antiaterosclerótica, pois é um antioxidante endógeno.24 A persistência de hipocolesterolemia, após o procedimento cirúrgico, sugere um determinante genético protetor neste grupo de cardiopatas.23 Já em outro estudo foram avaliados artérias e fluxo sanguíneo coronariano em cardiopatas cianóticos adultos e, da mesma forma, não foram encontrados ateromas nesta população.25 A hipótese de que a cirurgia cardíaca invasiva pode levar á alteração do endotélio vascular e da íntima da carótida é discutida como um fator de risco para o desenvolvimento de doença isquêmica precoce discordância entre autores 27 6, 26 em pacientes acianóticos, porém há e dúvida quanto ao papel destas anormalidades: causal ou facilitador para a doença isquêmica. Neste estudo a presença de perfil lipídico alterado (Colesterol Total/LDL/Triglicerídeo elevados, HDL baixo) e o excesso da população infantil em geral para tornarem-se adultos cardiopatas isquêmicos.5, 6, 16, 22, 28 Estes fatores de risco modificáveis já estão bem discutidos na literatura envolvendo crianças e adolescentes sem cardiopatia.29-33 A prevalência de cardiopatas cianóticos foi bem superior ao mostrado em uma revisão.34 Provavelmente, este índice elevado se dê pelo fato de serem pacientes alocados de um ambulatório de referencia e, por isso, com mais frequência esses pacientes se consultam, aumentando o valor estimado. Neste estudo, o pequeno número de crianças e adolescentes com baixo peso se deu pelo fato que a grande maioria possuía cardiopatia acianótica tendo um melhor estatus nutricional desde o nascimento.35 Além disso, é uma população de acompanhamento ambulatorial e, em sua maioria, já teve corrigida a cardiopatia. Possíveis vieses de confusão podem estar envolvidos com a memória e o subrelato de informações por parte do entrevistado. Adicionalmente, a medida da pressão 52 arterial foi realizada após a coleta sanguínea e talvez alguns dos pacientes tenham tido alterações pressóricas decorrentes deste sofrimento emocional já vivenciado por muitos durante internações hospitalares longas. No entanto, estes dados devem servir de alerta, pois essas variáveis, mesmo com possíveis vieses, são de extrema importância quando avaliamos uma população que já apresenta uma doença (cardiopatia congênita), bem como fatores de risco para cardiopatia isquêmica no futuro. Concluindo, o acompanhamento destes pacientes demonstrou a necessidade de rastreamento desta população frente à alta prevalência de fatores de risco para doença isquêmica. Novos estudos devem ser realizados com o objetivo de relacionar este conhecimento com os possíveis potenciais de risco em face de lesão dos vasos, manipulação coronariana e outros procedimentos a que esta população está exposta pela própria patologia de base. Assim, torna-se essencial estudar mais detalhadamente esta população, tanto com o objetivo de elaborar estratégias preventivas como para um melhor entendimento dessas interações, que podem estender-se a outros grupos com doenças crônicas. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Moons P, Deyk KV, Dedroog D, Troost E, Budts W. Prevalence of cardiovascular risk factors in adults with congenital heart disease. European Journal of Cardiovascular Prevention & Rehabilitation. 2006;13:612-616 2. Berghammer M, Dellborg M, Ekman I. Young adults experiences of living with congenital heart disease. Int J Cardiol. 2006;110:340-347 3. 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J Pediatr Endocrinol Metab. 2011;24:483-487 58 Artigo 2 Excesso de peso e outros fatores de risco em crianças com cardiopatia congênita: somação de riscos? 59 Artigo original – a ser enviado para Arquivos Brasileiros de Cardiologia EXCESSO DE PESO E FATORES ASSOCIADOS EM CRIANÇAS COM CARDIOPATIA CONGÊNITA: SOMAÇÃO DE RISCOS? Overweight and factors associated in children with congenital heart disease: risk summation? Sandra Mari Barbiero Carolina Sica Gonçalves Daniela Schneid Schuh Claudia Ciceri Cesa Rosemary de Oliveira Petkowicz Lucia Campos Pellanda Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA Porto Alegre – RS, Brasil Correspondência para autor: Unidade de Pesquisa do IC/FUC – sandra Mari Barbiero Av.Princesa Isabel, 370 – Santana Porto Alegre, RS, Brasil 90620-001 Fone/Fax: 51-32303600Email: [email protected] / [email protected] 60 RESUMO: Objetivos: estimar a prevalência de obesidade e descrever os fatores de risco associados, incluindo hábitos alimentares, história familiar e pressão arterial sistêmica em crianças portadores de cardiopatias congênitas em atendimento ambulatorial. Métodos: estudo transversal com 316 crianças e adolescentes portadores de cardiopatias congênitas atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica de um hospital de referência. Foram coletados dados sociodemográficos, incluindo história familiar de doenças crônicas, antropometria, hábitos alimentares, medidas de pressão arterial sistêmica e exames laboratoriais. A antropométrica dos cuidadores foi baseado em dados relatados Resultados: A prevalência de excesso de peso nos 316 participantes foi de 26,9%, sendo maior entre os meninos (60%). Na história de fatores de risco para doença cardiovascular dos familiares, foram observados: excesso de peso 44,3%, dislipidemia 53,8%, diabetes 49,7%, hipertensão 83,2% e doença isquêmica 52,2%. Em relação aos hábitos alimentares, observou-se que um percentual elevado ingerem habitualmente alimentos não saudáveis, como: guloseimas (54,7%), embutidos (47,7%), alimentos fritos (33,2%) e refrigerantes (32,8%). Além disto, 32,7% apresentaram HDL baixo, 18,4% colesterol aumentado, 11,4% LDL aumentado e 32,0% triglicerídeos elevados. O grupo com excesso de peso apresentou maiores proporções de história familiar positiva para obesidade (42,6%; p=0,001), dislipidemia (48,1%; p= <0,001), diabetes (47,4% p=0,002), hipertensão (39,2% p=0,006) e doença isquêmica (43,7% p=0,023), além de valores significativamente maiores de triglicerídeos (p=0,017), glicemia (p=0,004) e proteína C reativa (p=0,002). Conclusão: A presença de fatores de risco modificáveis associada a variável excesso de peso nesta população foi semelhante à descrita na literatura para crianças 61 saudáveis. Como essas crianças já apresentam os riscos inerentes à cardiopatia, o acompanhamento destes pacientes demonstrou a importância de desenvolver ações para promover um estilo de vida saudável. Palavra-chave: Child, Adolescent, Atherosclerosis, Food Habits, Congenital Heart Disease,Overweight 62 ABSTRACT Objectives: To estimate the prevalence of obesity and describe the associated risk factors, including dietary habits, family history and systemic arterial pressure in children with congenital heart disease in outpatient care. Methods: A cross-sectional study with 316 children and adolescents with congenital heart disease seen in the Pediatric Cardiology Clinic of a reference hospital. Collected sociodemographic data included family history of chronic diseases, dietary habits, laboratory tests (total cholesterol, HDL and LDL/cholesterol, triglycerides, fasting glucose, CRP, hematocrit and hemoglobin), anthropometric assessment and blood pressure measurement. Results: The prevalence of excess weight among the 316 participants was 26.9% A high percentage of the patients consumed unhealthy foods, such as: sweets (54.7%), sausages (47.7%), fried foods (33.2%) and soft drinks (32.8%). Altered levels of cholesterol were observed in 46.9%, of HDL in 32.7%, LDL in 23.6% and high triglycerides levels in 20.0%. A higher frequency of family history of obesity (42.6%; p=0.001), dyslipidemia (48.1%; p= <0.001), diabetes (47.4%; p=0.002), hypertension (39.2%; p=0.006) and ischemic disease (43.7%; p=0.023), as well as significantly higher values of triglycerides (p=0.017), glycemia (p=0.004) and C-reactive protein (p=0.002) were observed among excess weight patients. Conclusion: The presence of modifiable risk factors and the variables associated to excess weight in this population was similar to that described in the literature for children without congenital disease. As these children already present the risks associated to heart disease, it is particularly important to promote a healthy lifestyle in this group. 63 Keywords: child, adolescent, congenital heart disease, dietary habits, overweight, ischemic disease 64 INTRODUÇÃO Atualmente, a obesidade e o excesso de peso estão entre os principais problemas de saúde pública para as crianças em todo o mundo. Durante as últimas três décadas, houve um aumento considerável na prevalência da obesidade em países desenvolvidos1 e em desenvolvimento, dentre os quais podemos citar México, 41,8%; Brasil, 22,1%; Índia, 22,0%; e Argentina, 19,3%. 2 Crianças que apresentam estilos de vida não saudáveis estão predispostas ao desenvolvimento de hipertensão (2-3%), dislipidemia (10%), sedentarismo (20%) e histórico familiar para doença cardiovascular (10%). 3 Dentre os fatores de risco modificáveis para a doença isquêmica, vários autores têm discutido a epidemia da obesidade, que está afetando também a população de crianças com cardiopatia congênita. 4, 5 Mais de um quarto desta população já está com excesso de peso, principalmente porque na infância foi estimulada ao ganho de peso e à restrição de exercício.5 Quando se discute o estado nutricional de crianças cardiopatas congênitas, com frequência desnutridas, os profissionais muitas vezes consideram o estímulo ao ganho de peso 6, 7 com preparações bastante calóricas e muitas vezes não saudáveis (excesso de gordura e sódio). Porém, com o passar do tempo e a correção da cardiopatia, as necessidades nutricionais sofrem modificações, mas os comportamentos e escolhas alimentares inadequadas podem persistir até a vida adulta. São exemplos de tais comportamentos a inatividade física; a ingestão excessiva de carboidratos, gordura e sódio; e a não ingestão de verduras e frutas. 8-10 Assim, este estudo tem por objetivo estimar a prevalência de obesidade e descrever os fatores de risco associados, incluindo hábitos alimentares, história familiar 65 e pressão arterial sistólica em crianças portadoras de cardiopatias congênitas em atendimento ambulatorial. MÉTODOS O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição sob o nº 4470/2010. Foi realizado um estudo transversal com os 316 pacientes portadores de cardiopatias congênitas, com idade entre 2 e 18 anos, atendidos no Ambulatório de Cardiologia Pediátrica de um hospital de referência, no de período de setembro de 2010 a março de 2013 (Anexo 1). Foram incluídos pacientes com cardiopatia congênita que compareceram às consultas ambulatoriais de rotina, com idade de 2 anos a 18 anos. Os pacientes que apresentaram sopro inocente, condições clínicas que impediam a avaliação antropométrica (cadeirantes, malformação de membros inferiores, etc), com síndrome genética ou nos quais foi descartado o diagnóstico de cardiopatia estrutural foram excluídos da coleta. A coleta de dados foi realizada a partir da lista semanal de pacientes agendados para consulta de rotina no ambulatório. A partir desta lista, foi realizado contato telefônico com o responsável, no qual o paciente foi convidado a participar da pesquisa. Aos que aceitaram o convite, solicitou-se jejum de 12 horas para a coleta de exames laboratoriais. Os pacientes com os quais não foi possível o contato telefônico prévio eram convidados a participar no próprio dia da consulta, sendo os exames laboratoriais agendados para outro momento. 66 Todos os pacientes receberam informações pertinentes ao estudo e, após o aceite, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguido de coleta de exames sanguíneos (hemograma, perfil lipídico, glicemia de jejum e proteína C restiva) de acordo com a rotina da Instituição, avaliação antropométrica, medida de pressão, informações sóciodemográficas, hábitos alimentares e histórico familiar de doenças crônicas não degenerativas. Os dados foram coletados em formulário próprio, por profissionais treinados, após duas oficinas específicas de treinamento, com atualizações periódicas dos treinamentos. Para avaliação do estado nutricional das crianças e dos adolescentes foi realizado o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), calculado e classificado através do programa Anthro e Anthro Plus, de acordo com a referência da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para os valores de IMC foram utilizados os pontos de corte de sobrepeso (percentil > 85) e obesidade (percentil > 95) de acordo com OMS-2006/200711. Para a aferição da pressão arterial, foram utilizados aparelhos de pressão do tipo aneroide, manômetro com graduação de 0 a 300 mmHg. As pressões foram avaliadas de acordo com o Report of Second Task Force on Blood pressure Control in Children12 O cuidador presente no momento da coleta foi quem respondeu acerca dos fatores de risco familiares e dados antropométricos dos pais do paciente. Foram coletadas, por punção venosa periférica, após 12h de jejum, as amostras de sangue. O número de hematócrito e da hemoglobina foram determinados utilizando sangue total recolhido com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), em um analisador automático (Coulter Act, Coulter, EUA). A análise bioquímica de colesterol total, colesterol LDL, colesterol HDL e triglicéridos foram determinados no soro obtido por centrifugação das amostras de sangue, através do método enzimático num analisador automático (Selectra E, Vital Scientific, EUA), utilizando os kits de reagentes e 67 protocolos de acordo com as instruções do fabricante. Os níveis de PCR-as foram determinadas no soro por nefelometria, utilizando um Behring Nephelomefer 100 Analyzer (Dade Behring, EUA). Foram considerados alterados os exames sanguíneos de acordo com a diretriz americana (2011) de pediatria e da I Diretriz Brasileira de Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência (2005): colesterol total ˃ 170 mg/dl, HDL/colesterol < 45 mg/dl, LDL/colesterol ˃ 110 mg/dl, Triglicerídeos ˃ 75mg/dl (2 a 9 anos) ou ˃ 90mg/dl (10 a 18 anos) 13 , glicemia de jejum 100mg/dl, PCR 0,30 mg/dl, hematócrito <35% e hemoglobina <11,0g/dl 14 , bem como pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica(PAD) maior que o percentil 90 15. Para o cálculo do tamanho de amostra, estimou-se que aproximadamente 250 crianças e adolescentes seriam necessárias ao estudo, de acordo com estudo anterior. 16 Com este tamanho de amostra seria possível estimar uma prevalência com margens de erros absolutos variando de 3% a 6% com um nível de confiança de 95%. Os dados foram armazenados e analisados no programa SPSS versão 17.0. As prevalências foram descritas sob a forma de proporções com respectivos intervalos de confiança de 95%. As variáveis contínuas (percentil de IMC, peso, altura, idade, PAS, PAD) foram descritas através de médias e desvios-padrão. A associação entre fatores de risco foram avaliada através do teste do qui quadrado ou Exato de Fisher. As diferenças entre os grupos com e sem fatores de risco foram avaliadas através dos testes t de Student ou Mann Whitney para variáveis contínuas e teste do qui quadrado ou Exato de Fisher para variáveis categóricas (gênero, classificação de hipertensão, dislipidemia, glicemia, percentil de IMC). A regressão logística múltipla de Poisson ajustada para história familiar de doenças (obesidade, dislipidemia, diabetes, hipertensão e doença 68 isquêmica), excesso de peso da mãe, excesso de peso de ambos os pais e idade dos adolescentes. Foi estabelecido como significância estatística o valor de p≤0,05. Após a avaliação, os participantes que apresentaram alterações foram encaminhados para atendimento em ambulatório específico para prevenção e tratamento dos fatores de risco para doença cardiovascular isquêmica em crianças e adolescentes. RESULTADOS A maioria da população era composta de meninos (55,7%), brancos (81,6%), em idade escolar com 6 a 11 anos (43,7%), com irmãos (78,8%), nascidos a termo (83,2%) e com doença cardíca congênita acianótica (81,1%). A presença de fumantes no domicílio foi de 43,7% (Tabela 1). Em relação à história de fatores de risco para doença cardiovascular nos familiares, foram observados os seguintes percentuais: excesso de peso 44,3%, dislipidemia 53,8%, diabetes 49,7%, hipertensão 83,2% e doença cardiovascular ou isquêmica 52,2% (Tabela 1). A prevalência de excesso de peso (IMC≥P85) foi de 26,9%, sendo 17,4% com sobrepeso (IMC˃P85≤95) e 9,5% com obesidade (IMC˃P95). O excesso de peso esteve mais presente entre os meninos (60%). No grupo de escolares, com idade entre 6 a 11 anos, 34,1% apresentaram excesso de peso (p=0,009). (Tabela 2). Os dados de excesso de peso dos pais foram apresentaram as proporções de 37,2%, 59,4% e 58,3% para pais, mães e para ambos, respectivamente. O excesso de peso da mãe e de ambos os progenitores teve relação significativa com o excesso de peso dos filhos (p=0,003 e 0,049 respectivamente). A razão de prevalência de uma mãe 69 com excesso de peso ter filho também com excesso de peso foi de 1,24 (IC 1,08-1,43) conforme Tabela 3. O grupo com excesso de peso apresentou história familiar positiva (familiar em primeiro grau) para obesidade (34,1%; p=0,002), dislipidemia (29,4%; p= <0,001), diabetes (21,2% p=0,005), hipertensão (34,1% p=0,010) e doença isquêmica (16,5% p=0,040) (Tabela 3). A razão de prevalências para excesso de peso da criança foi de 1,92 (IC 1,22±3,02; p=0,005) quando havia excesso de peso da mãe e 1,74 (IC 1,15±2,62; p=0,009) para a presença de dislipidemia familiar, ambas ajustadas para faixa etária da criança (Tabela 4). Em relação aos hábitos alimentares, o número de refeições diárias relatado foi de 4 a 5 refeições (58,2%) e apenas 19,9% dos participantes faziam 6 refeições/dia. Na Tabela 5, é demonstrada a frequência de ingestão habitual (ingestão de 4 ou mais vezes por semana) dos grupos de alimentos. Observou-se que um percentual elevado ingerem habitualmente alimentos não saudáveis, que são: 54,7% guloseimas, 47,7% embutidos, 33,2% alimentos fritos e 32,8% refrigerantes. Não houve significância estatística quando comparados os grupos de alimentos e a classificação do IMC. Nos exames laboratoriais coletados, foi observado que 32,7% apresentavam HDL baixo, 18,4% apresentaram colesterol elevado, 11,4% LDL aumentado e 32,0% triglicerídeos aumentado (Tabela 6). O grupo com excesso de peso apresentou valores significativamente maiores de triglicerídeos (p=0,017), glicemia (p=0,004) e proteína C reativa (p=0,002). Não houve diferença significativa entre os grupos em relação aos demais exames laboratoriais. 70 Tabela 1 – Características gerais da população estudada Variáveis n=316 (%) Gênero Masculino 176 (55,7) Cor Branco 258 (81,6) Idade Pré-escolar (2 a 5 anos) 67 (21,2) Escolar (6 a 11 anos) 138 (43,7) Adolescente (12 a 18 anos) 111 (35,1) Nascidos à termo 263 (83,20) Doença Cardíaca Acianótica Comunicação Interventricular (CIV) 76 (24,1) Comunicação Interatrial (CIA) 61 (19,3) Outras 119 (37,7) Cianótica Tetralofia de Fallot 43 (13,6) Atresia Pulmonar 6 (1,9) Outras 11(3,4) Escolaridade do pai Até Fundamental completo Médio completo 61 (19,3) Superior incompleto/completo Escolaridade da mãe Até Fundamental completo 184 (60,7) Médio completo 94 (31,0) Superior incompleto/completo 25 (8,3) Número irmão Filho único 67 (21,2) Com irmãos 249 (78,8) História familiar positiva para excesso de peso 140 (44,3) História familiar positiva para dislipidemia 170 (53,8) História familiar positiva para diabetes 157 (49,7) História familiar positiva para hipertensão 263 (83,2) História familiar positiva para cardiopatia/isquemia 165 (52,2) Presença de fumantes no domicílio 138 (43,70) 71 Tabela 2 – Distribuição das características gerais da população de acordo com as categorias de IMC dos indivíduos com cardiopatias congênitas Variáveis Total Peso Excesso 316 (%) adequado de peso 231(%) 85 (%) RP IC (95%) p Sexo masculino 176 (55,7) 125 (54,1) 51 (60) 0,94 0,82 – 1,07 0,420 Filho único 67 (21,2) 49 (21,2) 18 (21,2) 0,99 0,85 – 1,18 1,0 Nascimento prematuro 49 (15,5) 31 (13,4) 18 (21,2) 1,18 0,94 – 1,47 0,147 Pré-escolar (2 a 5 anos) 67 (21,2) 57 (24,7) 10 (11,8) 1,0 - - Escolar (6 a 11 anos) 138 (43,7) 91 (39,4) 47 (55,3) 2,28 1,23 – 4,23 0,009 Adolescente (12 a 18anos) 111 (35,1) 83 (35,9) 28 (32,9) 1,69 0,88 – 3,25 0,117 PAS 67 (21,2) 51 (22,1) 16 (23,9) 0,96 0,85 – 1,09 0,637 PAD 83 (26,3) 59(25,5) 24 (28,9) 1,04 0,89 – 1,21 0,735 Idade Pressão Arterial Sistêmica aumentada PAS(Pressão arterial sistólica); PAD(pressão arterial diastólica); RP: razão de prevalência; IC: intervalo de confiança Tabela 3 – História familiar e excesso de peso dos pais de acordo com as categorias de IMC dos indivíduos com cardiopatias congênitas Variáveis Total Peso Excesso 316 (%) adequado de peso 231(%) 85 (%) RP IC (95%) P Pai com Excesso de Peso 92 (37,2) 71 (38,6) 21 (33,3) 0,94 0,82 – 1,09 0,553 Mãe com Excesso de Peso 165 (59,4) 110 (53,9) 55 (74,3) 1,24 1,08 – 1,43 0,003 Ambos os pais com Excesso de Peso 137 (58,3) 109 (62,3) 28 (46,7) 0,85 0,72 – 0,99 0,049 Familiar Obeso em 1ºgrau 68 (21,5) 39 (16,9) 29(34,1) 1,26 1,07 – 1,49 0,002 Familiar Dislipidêmico em 1ºgrau 52 (16,5) 27 (11,7) 25(29,4) 1,25 1,08 – 1,45 <0,001 Familiar Diabético em 1ºgrau 38 (12,0) 20 (8,6) 18 (21,2) 1,16 1,03 – 1,3 0,005 Familiar Hipertenso em 1ºgrau 74 (23,4) 45 (19,5) 29 (34,1) 1,22 1,04 – 1,44 0,010 32 (10,1) 18 (7,8) 14 (16,5) 1,1 0,99 – 1,22 0,040 Familiar Cardiopata/Isquêmico em 1ºgrau RP: razão de prevalência; IC: intervalo de confiança 72 Tabela 4: Análise regressão múltipla para excesso peso em crianças e adolescentes Variáveis RP IC (95%) p Excesso de peso das mães 1,92 1,22 - 3,02 0,005 Dislipidemia familiar 1,74 1,15 - 2,62 0,009 Idade escolar (6 a 11 anos) 1,82 0,97 - 3,41 0.06 Adolescente (12 a 18 anos) 1,32 0,68 - 2,57 0,41 RP: razão de prevalência; IC: intervalo de confiança. Regressão logística múltipla de Poisson ajustada para obesidade familiar, dislipidemia familiar, diabetes familiar, hipertensão familiar, doença isquêmica familiar, excesso de peso da mãe, excesso de peso de ambos os pais e idade dos adolescentes. Tabela 5 – Ingestão habitual de grupos de alimentos segundo distribuição de peso Ingestão Total habitual* n (%) Baixo peso/ Excesso de Eutrófico Peso n (%) n (%) P** Carnes 269 (89,1) 195 (87,8) 74 (92,5) 0,35 Produtos lácteos 251 (81,5) 190 (84,1) 61 (74,4) 0,08 Frutas 205 (65,5) 152 (66,4) 53 (63,1) 0,68 Verduras 176 (55,7) 131 (56,7) 45 (52,9) 0,64 Guloseimas 173 (54,7) 132 (57,1) 41 (48,2) 0,20 Embutidos 148 (47,7) 107 (47,6) 41 (48,2) 1,0 Frituras 105 (33,2) 76 (32,9) 29 (34,1) 0,94 Refrigerante 102 (32,8) 74 (32,7) 28 (32,9) 1,0 Salgadinhos 43 (13,6) 31 (13,4) 12 (14,1) 1,0 * Ingestão habitual: 4 ou mais vezes por semana; Guloseimas: doces, chocolates, balas ** P = peso adequado x excesso de peso 73 Tabela 6: Exames laboratoriais de acordo com as categorias do IMC dos indivíduos com cardiopatias congênitas Peso Excesso de adequado peso Média ±DP Média ±DP Colesterol (˃ 150 mg/dl) 148,1±25,6 154±32,2 0,106 HDL (< 46mg/dl) 50,3±11,3 48,9±12,2 0,352 LDL (˃100mg/dl) 83,3±21,7 89,3±27,8 0,053 Triglicerídeos (˃100mg/dl) 72,6±34,3 83,7±38,8 0,017 Glicemia (˃100mg/dl) 87±9,5 90,6±9,0 0,004 Proteína C reativa (˃ 0,30mg/dl) 0,1±0,1 0,2±0,2 0,002 Hematócrito (< 35%) 39,1±4,1 38,8±3,4 0,523 Hemoglobina (< 11mg/dl) 13,3±1,9 12,9±1,5 0,099 Variáveis p DISCUSSÃO: Este estudo relata a alta prevalência de excesso de peso relacionado à história familiar positiva para doenças crônicas não transmissíveis e outros fatores de risco para doença isquêmica em crianças e adolescentes portadores de cardiopatias congênitas. Há poucas informações na literatura mundial relacionadas ao estado nutricional dessa população. O excesso de peso foi semelhante à descrita na literatura para crianças não congênitas. 16, 17 Em uma população de portadores de cardiopatias congênitas nos EUA, foi encontrada uma prevalência de mais de 25% de crianças com obesidade e 74 sobrepeso18. Porém, em um estudo publicado há seis anos, o excesso de peso nesta mesma população de crianças e adolescentes da Bélgica foi de 7,6%.8 No Brasil a alta prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes em geral, tem preocupado os gestores públicos, pois, associado ao peso elevado, têm surgido outros fatores de risco para a doença isquêmica no futuro: hipertensão, intolerância à glicose, dislipidemia e sedentarismo.5, 12, 19-22 A obesidade dos familiares em primeiro grau, relatada pelo familiar presente na consulta, foi menor do que a relatada em outros estudos.19, 23 Talvez o fato de sub- relatos se deva à confusão entre a palavra obesidade e a imagem corporal destes adultos, que relataram a imagem corporal que eles gostariam de ter.24 A presença de doenças familiares crônicas em cardiopatas congênitos já está sendo discutida como um fator de risco para doença isquêmica 5, 18, 25, 26 , da mesma forma que é apresentado em crianças/adolescentes saudáveis 19, 27 e adultos em geral. 28, 29 A razão de prevalência de mães obesas neste estudo está diretamente relacionada com o excesso de peso dos filhos e seus hábitos de vida, com o desenvolvimento de hábitos obesogênicos. Estes hábitos obesogênicos se dão pelas escolhas alimentares inadequadas e pelas quantidades excessivas de alimentos ingeridos em um determinado horário ou no decorrer do dia.30-32 Em um estudo em que foram comparadas três gerações de famílias, observou-se uma forte relação de significância entre Índice de Massa Corporal da mãe e dos filhos, trazendo a discussão da hereditariedade de padrões familiares e de estilo de vida, bem como seus fenótipos.31 Em outro estudo que avaliou o papel dos pais no tratamento da obesidade infantil, observou-se que a percepção materna distorcida leva a perceber o excesso de peso do filho como normal, dificultando o reconhecimento da necessidade de tratamento para a criança.32 75 A presença de fatores de risco modificáveis para doença isquêmica nesta população com exames de perfil lipídico alterado (colesterol total/LDL/triglicerídeo elevados, HDL baixo) e o excesso de peso colocam os cardiopatas congênitos estudados com as mesmas características da população infantil em geral para tornarem-se adultos cardiopatas isquêmicos.3, 25 Estes fatores de risco modificáveis já estão bem discutidos na literatura envolvendo crianças e adolescentes sem cardiopatia.2, 17 Este estudo apresentou uma alta prevalência de consumo de alimentos ricos em açúcar, sal e gordura, tais como refrigerantes, guloseimas e embutidos, corroborando com pesquisa feita com a população em geral.33 Nas ultimas décadas, houve um aumento na produção e disponibilidade de alimentos industrializados no Brasil, acarretando modificações na alimentação de grande parcela da população e estimulando um maior consumo de alimentos não saudáveis. No decorrer dos últimos 30 anos, houve um aumento significativo do consumo dos grupos de alimentos industrializados, com 317,64% de alimentos preparados e 584,61% de refrigerante.34 Uma pesquisa feita na década passada por instituição governamental 35 apresentou um aumento de 400% na ingestão de alimentos industrializados. Existem vários fatores que, associados à dieta, poderiam contribuir para a elevação do excesso de peso dos brasileiros ao ocasionarem mudanças nos padrões alimentares tradicionais, que são a migração interna, a alimentação fora de casa, o crescimento na oferta de fast food e a ampliação do uso de alimentos industrializados.36 O país vivencia uma fase de transição nutricional, em que a disponibilidade de alimentos está levando a uma substituição de índices de desnutrição, vivenciada no passado, à obesidade atual. O fumo passivo estava presente em quase metade da população estudada, valor este bastante superior à pesquisa feita ao longo da década passada, em que mais de 25% das crianças conviviam em casa com pelo menos um dos pais fumantes. A exposição ao 76 fumo passivo em crianças resulta em maiores taxas de pneumonia, infecções de ouvido, síndrome da morte súbita infantil, asma e outros efeitos negativos à saúde.37 A esse fato, soma-se o de que as vias aéreas infantis são mais vulneráveis, sofrendo acentuadamente com os efeitos do tabagismo passivo.38 Os dados coletados no início da década de 2000 mostram que as crianças expostas à fumaça do tabaco em uma idade jovem são mais propensas a se tornarem fumantes e continuar o ciclo de fumar na vida adulta.39 Possíveis vieses de confusão podem estar envolvidos com a memória e o subrelato de informações por parte do entrevistado. Adicionalmente, a medida da pressão arterial foi realizada após a coleta sanguínea e talvez alguns dos pacientes tenham tido alterações pressóricas decorrentes deste sofrimento emocional já vivenciado por muitos durante internações hospitalares longas. Concluindo, a epidemia da obesidade não excluiu as crianças e os adolescentes com cardiopatia congênitas. Nesta população, os fatores inerentes à cardiopatia podem somar-se a outros fatores de risco tradicionais para o desenvolvimento da doença isquêmica no futuro. A mudança nos hábitos de vida é necessária para alterar estes fatores de risco e suas comorbidades na vida adulta desta população, que está tendo maior longevidade. 77 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Kelishadi R, Hashemipour M, Sheikh-Heidar A, Ghatreh-Samani S. Changes in serum lipid profile of obese or overweight children and adolescents following a lifestyle modification course. ARYA Atheroscler. 2012;8:143-148. 2. Gupta N, Goel K, Shah P, Misra A. 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Family history of coronary heart disease and markers of subclinical cardiovascular disease: Where do we stand? Atherosclerosis. 2013. 81 Conclusão e Considerações Finais 82 CONCLUSÃO Na avaliação desta população de crianças e adolescentes foi possível observar a alta prevalência de excesso de peso e de outros fatores de risco para o desenvolvimento de cardiopatia isquêmica no futuro. A presença de doenças crônicas não transmissíveis nos familiares, dentre elas diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e doença isquêmica, agrega a estes pacientes com cardiopatia congênita mais fatores de risco para o futuro, tornando-os mais expostos ao adoecimento pois somam-se ainda, as alterações vasculares causadas pelos procedimentos executados em função da patologia de base. Havia a hipótese de que esta população apresentasse maior cuidado em relação a alimentação e sua relação com a saúde, uma vez que são atendidas com mais frequência em ambulatório especializado. Porém, foi observado um elevado percentual de ingestão de alimentos não saudáveis, levando a associar estes hábitos alimentares com a presença de perfil lipídico alterado. Observou-se relação direta do peso das crianças com o peso dos pais, principalmente com o excesso de peso da mãe e de ambos os progenitores. As crianças obesas apresentaram maiores níveis de familiares em primeiro grau com obesidade, dislipidemia, diabete, hipertensão e doença isquêmica além do perfil lipídico elevado quando comparadas as não obesas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluindo, estes dados tornam-se extremamente relevantes para o desenvolvimento de novas pesquisas para conhecer melhor esta população, onde possam associar os fatores de risco familiares, ambientais e da cardiopatia congênita 83 durante as diferentes etapas de crescimento e da vida adulta. Estes dados auxiliariam no desenvolvimento de ações preventivas e educativas direcionados aos pacientes portadores de cardiopatia congênita. 84 Apêndices 85 I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezados pais e responsáveis: A desnutrição é um problema frequentemente associado às doenças congênitas. Porém, após a correção da cardiopatia estas crianças são incentivadas ao ganho de peso, muitas delas apresentando excesso de peso em adição a outros fatores de risco para aterosclerose, como sedentarismo, dislipidemia e alteração da pressão arterial. O objetivo desta pesquisa é iniciar a prevenção das doenças do coração desde a infância, com orientações sobre uma vida saudável. Para isto, é importante identificar como é o perfil das crianças após a correção da cardiopatia. O seu filho será submetido a um exame médico, que inclui medida de peso, altura, pressão arterial, ausculta cardíaca, coleta de exames laboratoriais (hemograma, perfil lipídico e Proteina C reativa) e será solicitado ao responsável responder um questionário sobre doenças familiares e hábitos de vida. Se houver qualquer dúvida, estamos à disposição para esclarecê-la, através do telefone 32303600 ramal 3863 ou 84149328 (Nutricionista Sandra Mari Barbiero). Informamos que a pesquisa não traz riscos à saúde e que pode desistir de participar sem que isso acarrete alteração no atendimento do paciente na Instituição. Esclarecemos que os dados fornecidos serão mantidos em absoluto sigilo e serão utilizados somente para fins do estudo. Concordando em participar do estudo, solicitamos que um dos pais ou responsáveis pela criança assine a autorização abaixo e preencha o questionário. Autorização Eu concordo em participar deste programa respondendo às questões abaixo formuladas e autorizando a avaliação de meu filho ___________________________. Nome do responsável:___________________________________________________ Ass:____________________________________________ Pesquisador: Sandra Mari Barbiero Data: _________ Contato: 32303600 ramal 3863 Ass:_________________________________________________________________ Lucia Campos Pellanda Contato: 32303600 ramal 3863 Ass: __________________________________________________________________ 86 II – QUESTIONÁRIO DE HISTÓRICO FAMILIAR E HÁBITOS DE VIDA INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL- FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA SERVIÇO DE CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA AMBULATÓRIO DE CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA PREVENTIVA Nºquestionário Estudo Colaborativo: ESTRATÉGIA AMBULATORIAL DE PREVENÇÃO PRIMORDIAL EM PORTADORES DE CARDIOPATIA CONGÊNITA QUESTIONÁRIO PARA CONSULTAS PRESENCIAIS Número do prontuário:_____________ Data: ____/____/______ Identificação do Paciente Nome completo: _________________________________________________ Data de nascimento: ___/___/____ Idade na consulta:_________ Sexo:_______________Cor:_________________Escolaridade:________anos de estudo Rua: _________________________________________ Nº________ Complemento:________ Bairro:______________________ Cidade: _____________________ Estado:_____ Telefones de contato (residencial, comercial, celular, vizinho): 1) _______________________Tipo:___________ Falar com:______________ 2) _______________________Tipo:___________ Falar com:______________ 3) _______________________Tipo:___________ Falar com:______________ Dados e História Familiar Profissão pai: _________________mãe: __________________________ Escolaridade pai:_______________mãe: _________________________ Peso pai____________________ mãe____________________ Altura pai: ___________________ mãe: _____________________ Idade pai: ___________________ mãe: _________________ Irmãos: número ______ Irmão 1: Idade:______ Peso:_______ Altura:_______ Irmão 2: Idade:______ Peso:_______ Altura:_______ Irmão 3: Idade:______ Peso:_______ Altura:_______ Para as perguntas abaixo se você responder sim indique o grau de parentesco (pai, mãe, avó, avô, tios ou irmãos) e a idade desta pessoa: Sim Não QUAL FAMILIAR / IDADE Fam Id. Fam Id. Fam Id. Fam Id. Fam. Obesidade Dislipidemia Diabete mellitus HAS CI, AVC, morte súbita ( 1)Vó ( 1)Vó ( 1)Vó ( 1)Vó ( 1)Vó (2)Vô (2)Vô (2)Vô (2)Vô (2)Vô (3)Pai (3)Pai (3)Pai (3)Pai (3)Pai Pré-natal: Peso máximo da mãe durante a gestação: ______________ Diabetes gestacional: ( 1 ) sim ( 2 ) não Hipertensão: ( 1 ) sim ( 2 ) não Valor: _________________ Problemas na gestação:_______________________________ Ao Nascimento: Idade gestacional: ( 1 ) a termo ( 2 ) prematuro ______meses Peso:___________ Comprimento:__)_______ Seu filho foi amamentado? ( )Sim ( ) Não Quanto tempo?_________ (4)Mãe (4)Mãe (4)Mãe (4)Mãe (4)Mãe (5)Irmãos (5)Irmãos (5)Irmãos (5)Irmãos (5)Irmãos Id 87 Tabagismo Familiar: ( 1 )sim ( 2 )não Há quanto tempo?_____ Quantos cigarros por dia? _______ Fumo passivo (outras pessoas que moram na mesma casa): ( ) sim ( ) não Seu filho(a) já fez exame de colesterol? ( 1 ) sim ( 2 ) não Quando? _________________________ Quais foram os valores? __________ Seu filho(a) já fez exame de glicose? ( 1 ) sim ( 2 ) não Quando? _______________________ Qual foi o valor? _______________ O médico orientou qual exercício ele pode fazer? ( ) Sim ( )Não Qual?_______________ Antropometria: Data da Consulta Data PA sentado PA deitado Manguito utilizado CT HDL LDL TG Glicemia Hematócrito Hemoglobina Proteína C reativa Peso Altura IMC/percentil Atividades diárias(Tempo em min) Deslocamento p/escola Recreio (brincar) Dorme à tarde Tempo de sono – noite (hs) Dados do PRONTUÁRIO do paciente: Cardiopatia: Descrever: Cardiopatia 1:_________ Cardiopatia 2:_________ Cardiopatia 3:_________ Cardiopatia 4:_________ Cardiopatia 5:_________ Intervenções: Cateterismo ( 1 )Diagnóstico ( 2 ) Terapêutico ( 3 ) Ambos ( 4 ) Não Data:____ Cirurgia 1: CEC: ( 1 ) Sim Tempo/min?_______ ( 2 ) Não Cirurgia 2: CEC: ( 1 ) Sim Tempo/min?_______ ( 2 ) Não Cirurgia 3: CEC: ( 1 ) Sim Tempo/min?_______ ( 2 ) Não Descrever: Data: _______________ Data: _______________ Data: _______________ Cirurgia 1:_____________ Cirurgia 2:_____________ Cirurgia 3:_____________ Cirurgia 4:_____________ Cirurgia 5:_____________ 88 Medicações:– Seu filho usa medicação diária? ( ) Sim ( ) Não (1) AAS (2)Warfarin (3) Clopidogrel (4) Furosemida (5) Hidroclorotizida (6)Fenitoina (7)Fenobarbital (8) Captopril (9) Espironolactona (10) Carbamazepina (11) Digoxina (12)Propranolol (13) Outros (especificar marca comercial): ____________ Estado clínico atual/sintomas:( ) Cianose ( )Dispnéia ( ) Fadiga ( ) Dor torácica ( ) Outros_________ 89 QUESTIONÁRIO SOBRE ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA Nome da criança__________________________________________ Prontuário:________ Data de nascimento_________________ Idade_______ Sexo: M F 1) Quantas refeições a criança faz por dia? ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) Mais que 6 Sim ou não 2) Você come salgadinhos? 3) Você come ovo frito? 4) Você come batata frita? 5) Você come outras frituras? 6) Você come bolachas recheadas? 7) Você come chocolates ou outros doces? 12) Você come alguma sobremesa ou doce feito com leite 11) Você toma leite ou outro alimento feito com leite? 8) Você come frutas? 9) Você come verduras e legumes? 10) Você come carne? 12) Você toma refrigerante? 13) Você come frios/embutidos? Quantas vezes? Todos os 2 dias na dias semana 4 dias na semana ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim desnat ( 2 ) sim integral ( 3 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 1 ) sim diet ( 2 ) sim normal ( 3 )não ( 1 ) sim ( 2 ) não 14) Qual a carne que você come? ( 1 ) gado ( 2 ) galinha ( 3 ) peixe ( 4 ) todas 15) Qual a carne que você come mais vezes na semana? ( 1 ) gado ( 2 ) galinha ( 3 ) peixe 16) Que alimento feito de leite você come ou toma? ( 1 ) leite c/achocolatado ( 2 ) leite c/café ( 3 ) iogurte ( 4 ) queijo ( 5 ) outro, qual?____________ 17) Seu filho faz as refeições vendo TV? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não Só no fim de semana 90 QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA – VERSÃO CURTA Nome:_______________________________________________________ Data: ______/ _______ / ______ Idade : ______ Sexo: F ( ) M ( ) Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão ativos nós somos em relação à pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As perguntas incluem as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são MUITO importantes. Por favor responda cada questão mesmo que considere que não seja ativo. Obrigado pela sua participação ! Para responder as questões lembre que: atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o normal atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo menos 10 minutos contínuos de cada vez. 1a Em quantos dias da última semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para outro, por lazer, por prazer ou como forma de exercício? dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum 1b Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou caminhando por dia? horas: ______ Minutos: _____ 2a. Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar, dançar, fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou qualquer atividade que fez CENTRO COORDENADOR DO IPAQ NO BRASIL– CELAFISCS INFORMAÇÕES ANÁLISE, CLASSIFICAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS NO BRASIL Tel-Fax: – 011-42298980 ou 42299643. E-mail: [email protected] Home Page: www.celafiscs.com.br IPAQ Internacional: www.ipaq.ki.se 91 aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do coração (POR FAVOR NÃO INCLUA CAMINHADA) dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum 2b. Nos dias em que você fez essas atividades moderadas por pelo menos 10 minutos contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? horas: ______ Minutos: _____ 3a Em quantos dias da última semana, você realizou atividades VIGOROSAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica, jogar futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer atividade que fez aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração. dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum 3b Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? horas: ______ Minutos: _____ Estas últimas questões são sobre o tempo que você permanece sentado todo dia, no trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante seu tempo livre. Isto inclui o tempo sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição de casa visitando um amigo, lendo, sentado ou deitado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando durante o transporte em ônibus, trem, metrô ou carro. 4a. Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana? ______horas ____minutos 4b. Quanto tempo no total você gasta sentado durante em um dia de final de semana? ______horas ____minutos PERGUNTA SOMENTE PARA O ESTADO DE SÃO PAULO 5. Você já ouviu falar do Programa Agita São Paulo? ( ) Sim ( ) Não 6.. Você sabe o objetivo do Programa? ( ) Sim ( ) Não CENTRO COORDENADOR DO IPAQ NO BRASIL– CELAFISCS INFORMAÇÕES ANÁLISE, CLASSIFICAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS NO BRASIL Tel-Fax: – 011-42298980 ou 42299643. E-mail: [email protected] Home Page: www.celafiscs.com.br IPAQ Internacional: www.ipaq.ki.se 92 ANEXO I - FLUXOGRAMA 338 pacientes entrevistados 22 pacientes excluídos: sopro inocente, sopro de Still, 316 pacientes entrevistados: - 292 com exames laboratoriais 60 pacientes com cardiopatia congênita cianótica 256 pacientes com cardiopatia congênita acianótica 93