Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental
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Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Organizado por: Fábio Munhoz, Psicólogo. CRP 45-100 Introdução à Psicologia Positiva ............................................................................ 01 Emoções positivas na Psicologia Positiva ..............................................................06 Flow e Psicologia Positiva .........................................................................................08 Abordagem das Forças e Virtudes do caráter .....................................................10 Otimismo Aprendido ................................................................................................16 Gratidão ....................................................................................................................19 Conexões sociais positivas ......................................................................................22 Psicologia Positiva nas Organizações .....................................................................29 Introdução à Psicologia Positiva A psicologia positiva é um termo amplo que abraça estudos científicos dos temas relacionados a um viver com mais qualidade e maior sentido. Sua característica central é que suas aplicações são todas empiricamente testadas e informadas. É um campo que estuda as experiências positivas, as forças e os traços positivos do caráter, os relacionamentos positivos e as instituições positivas. As licões e aplicações das pesquisas da psicologia positiva são amplas, abrangem, desde adolescentes à idosos, assim como, executivos, estudantes ou trabalhadores. Martim Seligmam A idéia central é a seguinte, você se concentrar unicamente em melhorar suas fraquezas, o melhor que você vai conseguir é acabar com uma fraqueza. Os resultados mais satisfatórios e produtivos 1 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva vêm quando você também maximizar seus pontos fortes. É importante frisar “também”, isso porque a psicologia positiva não desconsidera o valor de identificar e tratar as deficiências ou distúrbios. Psicologia com Foco nas Perturbações Por longo tempo a psicologia se concentrou no que havia de errado com os seres humanos, sua abordagem central foi reparar o que estava mal. Após a Segunda Guerra Mundial muita atenção foi dada ao tratamento de patologias psicológicas, como por exemplo, traumas e depressão. Este período foi fundamental para consolidar o legado da psicologia no campo da compreenção e do tratamento das patologias. A maioria das pesquisas e intervenção ao longo do último meio século tiveram como objetivo a resolução de problemas importantes como: ansiedade, depressão, esquizofrenia, suicídio e abuso de drogas. Tal abordagem da psicologia, de acordo com Martim Seligman, é apenas metade do que pode ser a psicologia, ao se concentrar mais sobre na doença mental, negligenciando o foco no estudo da saúde psicológica. Nascimento da Psicologia Positiva "A ciência da psicologia tem sido muito bem sucedida mais no negativo do que no lado positivo, isso nos revelou muito sobre as deficiências do homem, suas doenças, seus perturbações, mas pouco sobre suas potencialidades, suas virtudes e suas aspirações psicológicas alcançáveis. É como se a psicologia tenha voluntariamente se limitado apenas à metade da sua competência legítima, a metade mais escura, mais vil. " Abraham Maslow (1960) No final dos anos 1990, um grupo de psicólogos, liderados por Martin Seligman, então presidente da APA (American Psychological Association), perceberam que a grande maioria dos estudos da psicologia eram focados nas patologias. Eles defenderam a idéia de que os psicólogos deveriam também incluir em seus estudos o ótimo funcionamento do indivíduo, ou seja, a felicidade, a alegria, o lado positivo das pessoas. Foi este grupo de deu início ao movimento denominado Psicologia Positiva. 2 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Seligman não foi a primeira pessoa na história da psicologia a falar sobre o foco nos aspectos positivos do viver, nem foi o primeiro a cunhar a expressão "psicologia positiva". Este termo foi primeiramente utilizado por Maslow, em 1954. A Psicologia Positiva estuda o que flui bem com as pessoas, investiga como as pessoas alcançam uma vida mais feliz, com maior satisfação, fluidez e significado. A psicologia não serve somente para tratar doenças, serve também para nutrir as forças e virtudes humanas, a felicidade e a excelência. A Psicologia Positiva não é indiferente ao sofrimento A Psicologia Positiva não defende apenas uma perspectiva positiva de abordagem à vida. Existe uma sabedoria imensa identificar e tratar os problemas e ter consciência suficiente para ver problemas em seus estágios iniciais. Muitas vezes, no entanto, os risco de perda, os contratempos e as preocupações, ocupam a maior parte de nossa atenção. A Psicologia Positiva apenas apresenta a sugestão de que há muito a ser adquirido em expandir o foco, e incluir os pontos fortes e aspectos positivos do viver. Ela propõe não focar apenas nos problemas das pessoas, e sim, buscar compreender a ciência e a anatomia da felicidade, das experiências positivas, do otimismo e do altruísmo. Em vez de focar e lidar com problemas, a psicologia positiva sugere ser mais efetivo olhar para as oportunidades, para os sucessos e os pontos fortes. Vale ressaltar, essa abordagem esta além do olhar o mundo através de um óculos cor-de-rosa, hoje existe um enorme suporte empírico mostrando a eficácia de uma orientação voltada para soluções e para os pontos fortes do viver. A Psicologia positiva não é uma filosofia, ela é uma ciência, e traz consigo, as muitas virtudes da ciência, como por exemplo, possibilidade de replicação, estudos controlados e amostragens representativas. Psicologia Positiva e Auto-Ajuda O que distingue o psicologia positiva das abordagens ou livros de autoajuda está na ênfase na pesquisa empírica e cuidadosa. Em vez de depender da intuição, raciocínio, ou sabedoria popular, os pesquisadores da psicologia positiva são empíricos, olham para o observável, suas teorias são testáveis e fundamentadas na evidência. Representa de certa forma, uma mudança da fé para a evidência. 3 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Teoria do Bem Estar - Modelo PERMA O Modelo PERMA foi desenvolvido pelo psicólogo Martin Seligman e amplamente divulgado em seu livro "Florescer". Conhecido como Teoria do Bem Estar , "PERMA" representa os cinco elementos essenciais que devem estar presentes para a experiència de um bem estar efetivo e duradouro. Descritos à seguir: PERMA ( Martim Seligmam ) • P Positive Emotions - Emoções positivas • E Engagement (or flow) – Engajamento, Fluidez • R Relationships - Relacionamentos Sociais Positivos • M Meaning (and purpose) - Sentido no viver • A Accomplishment - Realização, Persistência, Metas. 1. Emoção positiva (P) Experimentar o bem-estar e a felicidade na vida, em geral, envolve a existência de uma emoção positiva. Uma ampla gama de emoções positivas se relacionam com o bem estar, como paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou amor. 2. Fluidez e Engajamento (E) Quando estamos verdadeiramente empenhados em uma situação, projeto ou tarefa, nós experimentamos um estado de fluidez: o tempo parece parar, esquecemos os problemas comuns, nos concentramos intensamente no presente. Quanto mais experimentamos este tipo de concentração, mais provável é que a experiência bem-estar aumente. 3. Relacionamentos positivos (R) Como seres humanos, somos "seres sociais", e dentro deste contexto, os relacionamentos positivos são fundamentais para o nosso bem-estar. Muitas pesquisas já demonstraram, as pessoas com mais relacionamentos significativos e positivos são mais felizes que as demais. Os Relacionamentos realmente importam! 4. Significado ou Sentido de viver (M) O sentido no viver, geralmente vem de servir a uma causa maior que nós mesmos. O encontro de um sentido para o que fazemos pode vir de uma crença, uma religião, uma causa humanidade ou 4 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva algum objetivo significativo. Qualquer pessoa se beneficia ao encontrar significado e sentido em suas vidas, isso se correlaciona com o bem-estar, a felicidade e o florescimento. 5. Realização (A) Muitos de nós dedicamos esforços para melhorar a nós mesmos de alguma forma, seja procurando dominar uma habilidade ou alcançar um objetivo significativo. Como tal, a realização é uma outra coisa importante e contribui para nosso bem estar e nossa capacidade de florescer. Bibliografia Livros Nacionais 1 - FLORESCER Autor: MARTIM SELIGMAM . Editora Objetiva 2 - PSICOLOGIA POSITIVA : UMA ABORDAGEM CIENTIFICA E PRATICA DAS QUALIDADES HUMANAS (Snyder & Lopez). Editora: ARTMED 3 - A Ciência da Felicidade: Como atingir a felicidade real e duradoura (Sonja Lyubomirsky)Editora: Campus 4 - Aprenda a ser Otimista. Seligman, Martin. Editora Nova Era. ISBN: 857701049X 5 - Felicidade Autentica. Seligman, Martin. Editora Objetiva. 336 páginas . ISBN: 8573025751 Publicações em Inglês 1 - Seligman, M.E.P. (2002). Authentic Happiness: Using the new positive psychology to realise your potential for lasting fulfillment. New York: Free Press. 2 - Maslow, A. (1954). Motivation and personality. New York: Harper. 3 - Rath, T. & Clifton, D. O. (2004). How full is your bucket? Positive strategies for work and life. New York: Gallup Press. 4 - Special Issue of American Psychologist (Vol. 55, Issue 1) on Positive Psychology, January 2000. 5 - Linley, P. A., Joseph, S., Harrington, S., & Wood, A. M. (2006). Positive psychology: Past, present, and (possible) future. Journal of Positive Psychology, 1, 3-16. 6 - Lopez, S. J., & Snyder, C. R. (Eds.). (2011). The Oxford handbook of positive psychology. Oxford University Press. 5 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Emoções positivas na Psicologia Positiva A felicidade, em geral, envolve a experiência de emoções positivas. Barbara Fredrickson, professora da University of North Carolina, é uma especialista no estudo das emoções positivas. Ela desenvolveu uma teoria sobre o efeito benéfico das emoções positivas, conhecido ‘broaden-and-build theory’. Para ela as emoções positivas são uma expressão da saúde e sanidade, permitem um florescimento ou expansão (broaden) cognitivo e comportamental e também propiciam a construção (Build) de recursos psicológicos e emocionais. Sua teoria explica pora que os humanos experienciam emoções positivas como amor, compaixão e alegria. Para que elas são boas? Qual é o seu valor funcional? As emoções positivas: - Ampliam o repertório cognitivo e comportamental; - Constroem recursos psicológicos e emocionais; - São Nutrientes das relações pessoias. Emoções negativas, como medo, raiva e desgosto, levam a comportamentos focados em evitar ou enfrentar a ameaça. Emoções positivas, por outro lado, aumentam a flexibilidade e a amplitude da cognição e do comportamento. Dentro das emoções positivas estariam, contentamento, alegria, satisfação, desfrute, gratidão e amor. Em dessa abodagem a proporção ideal entre as emoções positivas e negativas é de 3 para 1, respectivamente. O “número mágico” da felicidade seria 75% de emoções positivas para 25% de emoções negativas. Os estudos realizados em várias universidades mostram que as conseqüências das emoções positivas e da felicidade são amplas: · Sucesso na Escola e no trabalho · Melhores Relacionamentos Sociais · Melhor Saúde Física 6 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva · Melhor Saúde Mental · Vida mais Longa As emoções positivas expandem a consciência e constroem recursos. Estamos todos conectados socialmente, as emoções positivas são nutrientes para essas relações. As emoções positivas também nos ajudam a quebrar auto- absorção. Componentes físicos das emoções positivas (Amor gera Saúde). - Ocitocina, hormônio inicialmente correlacionado à amamentação, mais recentemente foi identificada a sua relação com o contato físico e o afeto em ambos os sexos; - Tonus Vagal, o nervo vagal conecta o coração ao cérebro. Quanto maior o tonus vagal, maior a estabilidade emocional, melhores relacionamentos e melhores parâmetros de saúde. Referências: Danner, D. D., Snowdon, D. A., & Friesen, W. V. (2001). Positive emotions in early life and longevity: findings from the nun study. Journal of personality and social psychology, 80(5), 804. Ekman, P., Davidson, R. J., & Friesen, W. V. (1990). The Duchenne smile: Emotional expression and brain physiology: II. Journal of personality and social psychology, 58(2), 342. Fredrickson, B.L. 2001, ‘The role of positive emotions in positive psychology: The broaden-and-build theory of positive emotions’, American Psychologist, vol. 56, no. 3, pp. 218-226. Fredrickson, B. L. & Losada, M. F. 2005, ‘Positive affect and the complex dynamics of human flourishing, American Psychologist, vol. 60, no. 7, pp. 678-686. Johnson, D. P., Penn, D. L., Fredrickson, B. L., Meyer, P. S., Kring, A. M., & Brantley, M. (2009). Loving‐ kindness meditation to enhance recovery from negative symptoms of schizophrenia. Journal of clinical psychology, 65(5), 499-509. Johnson, D. P., Penn, D. L., Fredrickson, B. L., Kring, A. M., Meyer, P. S., Catalino, L. I., & Brantley, M. (2011). A pilot study of loving-kindness meditation for the negative symptoms of schizophrenia. Schizophrenia research, 129(2), 137-140. 7 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Flow e Psicologia Positiva O conceito de flow foi introduzido na psicologia positiva pelo Dr. Mihalyi Csikzentmihalyi, PhD e professor da Universidade de Chigago, pode ser traduzido por fluir ou fluxo. É um estado onde a pessoa encontra-se completamente absorvida e fluindo em uma atividade agradável. É quando estamos totalmente absorvidos com o que fazemos e não vemos o tempo passar. São momentos em que experimentamos uma enorme satisfação. Praticamente qualquer tipo de atividade pode produzir um estado de fluidez. Neste estado, as pessoas conseguem produzir seus melhores resultados, a mente e o corpo estão completamente integrados e imersos no momento. Quando sua vida flui naturalmente, você fala com confiança e não se incomoda facilmente. Você se conecta melhor com as pessoas, entra mais intensamente em momentos amorosos com seu parceiro e filhos, a vida simplesmente flui e funciona. Segundo a abordagem utilizada por Bakker (2005), o constructo de “Flow” no contexto do trabalho caracteriza-se pelos seguintes pontos: - absorção ou engajamento, - satisfação no trabalho; e - motivação intrínseca para realizar as tarefas. Absorção ou engajamento refere-se a um estado de concentração total, em que o funcionário está totalmente imerso em seu trabalho. O tempo voa, e esquece-se de tudo ao redor. Os funcionários com satisfação no trabalho gostam e se sentem felizes com o que fazem, julgam como positiva a qualidade da sua vida. A satisfação no trabalho, envolve certo prazer e felicidade nas atividades e está relacionado às avaliações cognitivas positivas da experiência no trabalho. Finalmente, a motivação intrínseca no trabalho refere-se à executar uma determinada atividade, com um prazer e satisfação inerentes à atividade; ela por sí mesma traz satisfação para o colaborador. Funcionários intrinsecamente motivados estão continuamente interessados e envolvidos em seus trabalhos. Os funcionários motivados intrinsicamente, querem realmente realizar suas atividades e até se sentem “fascinados” pela realização das tarefas. C. Peterson (no livro Primer in Positive Psychology) sugere que o termo Flow esteja “casado” com o conceito de emoções positivas, ambos tem uma grande convergência e similaridade. As pesquisas 8 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva dentro destes temas são congruentes e descrevem esse estado psicológico de satisfação e engajamento como um recurso psicológico ou “capital psicológico”. Como conseguir mais FLOW na vida? Na verdade é dificil pensar em criar um fluxo intencionalmente, pois é algo inerente, já existe dentro e fora de nós. Precisamos apenas aprender a permitir que o fluxo natural da vida aconteça, retirar os obstáculos e fluir naturalmente, dar vazão ao que temos de melhor e usar nossas forças pessoais. Alguns princípios do Flow podem ser utilizados no contexto da terapia ou coaching (Delle Fave A & Massimini F; 2003). A pessoa pode ser incentivada a reestruturar suas atividades diárias, de maneira a ter mais momentos onde se sinta engajada e feliz, com mais Flow. Considere a idéia do seguinte contexto, assistir menos Tv e dedicar mais tempo para participar de alguma atividade voluntária ou se inscrever num curso. Os estudos demonstram que este tipo de intervenção minimiza sintomas depressivos. Não é de se estranhar que as pessoas deprimidas que conseguem dedicar mais tempo auxiliando outras pessoas ou aprendendo coisas novas irão ter os sintomas depressivos minimizados, nem que seja nos momentos em que esteja engajada em algo. Referências Bakker, A. B. (2005). Flow among music teachers and their students: The crossover of peak experiences. Journal of vocational behavior, 66(1), 26-44. Csikszentmihalyi, M., & Csikzentmihaly, M. (1991). Flow: The psychology of optimal experience (Vol. 41). New York: HarperPerennial. Fullagar, Clive J., and E. Kevin Kelloway. "Flow at work: An experience sampling approach." Journal of occupational and organizational psychology 82.3 (2009): 595-615. Peterson, C. (2006). A primer in positive psychology. Oxford University Press. Salanova, M., Bakker, A. B., & Llorens, S. (2006). Flow at work: evidence for an upward spiral of personal and organizational resources*. Journal of Happiness Studies, 7(1), 1-22. Delle Fave, A., & Massimini, F. (2003). Optimal experience in work and leisure among teachers and physicians: Individual and bio‐cultural implications. Leisure Studies, 22(4), 323-342. 9 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Abordagem das Forças e Virtudes do caráter Uma dos temas centrais da Psicologia Positiva é a proposta de focar em nos nossos pontos positivos. Forças e virtudes do caráter são capacidades pessoais pré-existentes que quando fazemos uso nos sentimos energizados. São coisas que nos sentimos bem fazendo, temos mais fluidez e uma melhor performance no que fazemos. Forças e virtudes pessoais estão nas coisas que fazemos naturalmente bem, e que escolhemos fazer mesmo sem ser pago financeiramente, geralmente quando praticamos estas forças de nosso caráter somos intrinsecamente recompensados. Estas forças se apresentam de diversas formas e tamanhos. A boa nova é que todos temos muitas destas forças e virtudes. Algumas virtudes do caráter são fáceis de se identificar – e geralmente nos reconhecem por estas qualidades – outras são menos desenvolvidas, porque não tivemos muitas oportunidades de desenvolve-las. Foco da Psicologia nas Doenças, o DSM-4. A psicologia como uma disciplina distinta nasceu por volta do final do século XIX, em geral tem se preocupado com os aspectos negativos da condição humana. Ao longo dos anos houve poucos estudos com foco de interesse em temas como criatividade, otimismo e sabedoria, foram estudos raros. O DSM proveu um vocabulário comum para os psicólogos e psiquiatras que trabalham com a doença mental.Observe também que o DSM está preocupado apenas com a doença psicológica, e não na saúde psicológica. Em termos de DSM, você seria considerado completamente saudável, se você não tem sintomas de doença psicológica. Você concorda com isso? Para os psicólogos positivos, pelo contrário, o interesse está em compreender o outro lado da equação - a presença da saúde psicológica e tudo que ela envolve. Uma importante iniciativa para resolver esta questão foi o desenvolvimento de uma classificação das forças e virtudes do caráter. A questão que motivou estes pesquisadores foi: se existe uma classificação das doenças por que não desenvolver uma classificação das forças que tornam a pessoal saudável e feliz. Valorizar as Virtudes é algo novo? A idéia de focar e investir nas forças e competências do cliente está longe de ser uma novidade. Por décadas consultores, coachs, professores em diversas abordagens têm focado na competência dos seus clientes para conquistarem suas metas. Vejamos por exemplo a força da liderança, uma competência fundamental para o sucesso em muitas áreas da vida, em especial 10 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva no campo empresarial. Uma grande quantidade de livros e estudos surgiram nos últimos anos para auxiliar as pessoas neste assunto. Podemos também olhar para as virtudes de humanidade, como a compaixão e o perdão, presentes nas sociedades através dos preceitos e valores religiosos e espiritualistas. O que a Psicologia Positiva traz de novo é uma abordagem organizada de se trabalhar com as forças e virtudes do caráter. Ela trouxe para a academia este assunto, o que vem gerando trabalhos empíricos avaliando e validando instrumentos para identificar e trabalhar com as diversas virtudes. Pontos fortes e pontos fracos A proposta de identificar e focar em nossos pontos fortes não implica em desconsiderar os nossos pontos fracos. Tudo bem levarmos em consideração as nossas fraquezas e vulnerabilidades, a questao é o quanto de tempo e energia dedicamos a isto. Sempre tendo em vista que nossa percepçãp pode estar distorcida por uma tendência humana de ver as coisas negativamente. Nesse sentido a importância de focar e nutrir nossos pontos fortes. Constelação Pessoal da Forças e Virtudes Cada indivíduo tem uma composição própria de suas principais virtudes ou forças pessoais. Dentre todas as forças e virtudes, cada indivíduo tem de 3 a 7 tipos de virtudes que mais usa e mais tem familiaridade, constituindo assim uma constelação pessoal. Por exemplo uma pessoa pode ter as seguintes forças como principais: amor ao aprendizado, liderança, criatividade, e coragem. Através do teste você poderá identificar as suas principais forças e virtudes. As principais forças que cada pessoa apresenta pode ser compreendida como traços de sua personalidade. Em psicologia, um traço da personalidade pode ser definido como padrão habitual de comportamento, pensamento e emoção. Segundo esta perspectiva, as características são relativamente estáveis ao longo do tempo, diferem entre os indivíduos (por exemplo, algumas pessoas estão extrovertidas, enquanto outras são tímidas), e influenciam o comportamento de cada um. Como identificar uma força do caráter? Você sentirá uma ou mais das alternativas abaixo quando estiver utilizando sua habilidade ou força pessoal. 1 – Senso de autenticidade (Isto é meu eu Real). 2 – Sentimento de excitação, satisfação, prazer ou júbilo em utilizar a habilidade/qualidade. 3 – Facilidade de aprendizado e eficiência enquanto usa sua habilidade. 11 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva 4 - Sentimento de que é inevitável usar tal qualidade. 5 – Sentir-se revigorado ao invés de exausto. 6 – Sentimento de ser internamente recompensado. VIA Strenghts - Uma classificação das Forças e Virtudes do Caráter A questão é: Existe uma lista das forças e virtudes do caráter que possam ser identificadas ao longo das culturas e da História? Para responder a esta pergunta os pesquisadores Martim Seligman, PhD e Christofer Peterson, PhD coordenaram um estudo com uma equipe de cientistas sociais procurando um consenso sobre as virtudes em diferentes culturas, religiões e filosofias. Este estudo foi apoiado pela Mayerson Fundation. O grupo estudou: - Taoismo, Budismo, Hinduismo, Islamismo e as tradições Judaicas e Cristãs. – Filosofias de Platão, Aristóteles, Confúcio, Lao-Tzé, entre outros. – No campo da Psicologia, autores como Ericson, Maslow, Geemberger, entre outros. O resultado deste estudo foi apresentado no livro “Character Strengths and Virtues: A Handbook and Classification”. A pesquisa foi realizada em inúmeras culturas ao redor do mundo. Os pesquisadores concluíram que as forças e virtudes do caráter são mais universais do que eles esperavam. O resultado foi uma lista com 24 forças pessoais. A esta classificação se deu o nome de VIA* Institute on Character (www.viacharacter.org). A lista de forças pessoais não é uma coisa rígida. Como a maioria das teorias científicas, está sempre sujeita a mudanças quando novas evidências são avaliadas. A seguir estão descritas as 24 forças de caráter agrupadas em 6 virtudes principais. A Classificação: Sabedoria e Conhecimento: Qualidades cognitivas que envolvem a aquisição e uso do conhecimento. 1 – Criatividade. (originalidade). Pensar em novas e produtivas formas de conceituar as coisas. Gostar de ser original e fazer invenções. 2 – Descobridor. (interesse e busca do novo, aberto à novas experiências).Interesse em novas experiências e descobertas. 3 – Mente Aberta. (visão imparcial e pensamento crítico). Pensar nas coisas, examinando-as de todos os ângulos, aberto a todas evidências e pontos de vista. 12 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva 4 – Amor ao aprendizado. Buscar novas habilidades, novos conhecimentos e estudos, seja através de ensino formal ou de maneira pessoal. 5 – Perspectiva. (sabedoria). Ser capaz de prover amplos conselhos e novas visões aos outros. Ter formas de ver o mundo que faça sentido para si e para os outros. Forças de Coragem. Força emocional que envolve a determinação de encarar propósitos e objetivos, não obstante à obstáculos e oposições internas e externas. 6 – Coragem, Bravura e valor. Não temer desafios, ameaças, dificuldades ou dor. Agir com convicção mesmo que seja incomum ou impopular. 7 – Perseverança. Ir até a conclusão do que se inicia, persistir no curso de uma ação ou propósito independente dos obstáculos. 8 – Integridade. (autenticidade, honestidade). Se mostrar de forma genuina, assumir responsabilidade pelos próprios atos e sentimentos. 9 – Entusiasmo. (Vitalidade, vigor e energia). Viver com entusiasmo e alegria, se sentir vivo e ativo. Forças humanitárias: forças pessoais que envolvem os relacionamentos humanos. 10 – Amor: valorização de relacionamentos próximos, especialmente os que envolvem o cuidar e o afeto recíproco. 11 – Generosidade ( gentileza, cuidado, compaixão, amor altruísta.]: Fazer favores e boas ações para os outros. 12. Inteligência social (Empatia): Estar consciente dos motivos e sentimentos de outras pessoas e também aos próprios. Justiça: forças ou virtudes cívicas que garantem uma vida saudável em comunidade. 13. Cidadania [responsabilidade social, a lealdade, o trabalho de equipe]: Trabalhar como um membro de um grupo ou equipe, sendo fiel ao grupo. 14. Igualdade: Tratar todas as pessoas com igualdade, com equidade e justiça, não deixando sentimentos pessoais criarem um viés nas decisões sobre os outros. 15. Liderança: Encorajar um grupo do qual é membro para fazer as coisas necessárias, ao mesmo tempo manter boas relações dentro do grupo. Temperança. Virtudes que nos protegem dos excessos. 16. Perdoar: Não carregar mágoas do que os outros nos fizeram, aceitar as limitações dos outros e as próprias, dar uma segunda chance às pessoas, não ser vingativo. 13 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva 17. Humildade (Modéstia): Deixar que nossas ações falem por nós mesmos, não acreditar e agir como se fossemos melhor que os outros. 18. Prudência. Ser cuidadoso sobre as escolhas que faz, não assumir riscos desnecessários, não fazer coisas que poderá se arrepender. 19. Auto-Controle. Ser disciplinado, ter certo controle sobre o que sente e faz, controle sobre os apetites e as emoções. Transcendência. São as virtudes pessoais que nos fazem uma conexão com a amplitude universo, nos provê de sentido na vida. 20. Apreciação de Beleza e da excelência. ( Sentir-se maravilhado, encantado, elevado). Apreciar as belezas da vida, assim como os talentos nos vários domínios da vida. 21. Gratidão. Estar ciente das boas coisas que acontecem na vida. Ter o hábito de agradecer às pessoas e à vida. 22. Otimismo. Esperança. Esperar o melhor do Futuro e ter ações neste sentido. Você acredita de alguma forma você pode influir no seu futuro. Expectativa positiva a respeito do futuro. 23. Humor. Gostar de fazer brincadeiras, de rir e se divertir, fazer as pessoas rirem, perceber o lado engraçado das coisas. 24. Espiritualidade. (Religiosidade, Fé, Propósito na Vida): Ter pensamentos e crenças coerentes com um propósito de vida. Encontrar um sentido na vida e no universo. Todas as virtudes são iguais? As “ TOP5” ! Será que as 24 forças ou virtudes pessoais têm o mesmo peso e importância na satisfação com a vida? Para responder a esta pergunta foi feito um estudo com 4000 indivíduos. Neste trabalho os pesquisadores Cristopher Peterson e Martin Seligman descobriram que existem 5 virtudes ou qualidades principais. Estas cinco forças pessoais apresentaram uma correlação maior com a satisfação e qualidade de vida. São elas: 1 – Gratidão 2 - Otimismo 3 – Entusiasmo 4 – Curiosidade (Interessado e Descobridor) 5 – Capacidade de Amar e ser Amado. 14 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Talento e Força Pessoal Ao se trabalhar com este tema é importante definir o que é talento em relação às virtudes e forças do caráter. Uma importante qualificação das forças e virtudes do caráter é que elas podem ser aprendidas e desenvolvidas. Uma pessoa pode aprender a ter uma visão em perspectiva, a ter mais entusiasmo e mais compaixão, a ser mais bem humorada e grata. Por outro lado, um talento pode ser definido como uma habilidade inata e relativamente estável ao longo da vida da pessoa. Como exemplo de talentos, podemos citar uma pessoa que tem o dom de tocar um instrumento, de compor, cantar, pintar ou esculpir. Uma força pessoal pode ter a combinação do talento com as habilidades e recursos, todos colocados em ação, em um comportamento que traga vitalidade e fluidez para a pessoa. Um talento sem uso não é uma força. As vezes é preciso de dedicação ao desenvolvimento de habilidades e ferramentas para compor uma força pessoal. Mesmo com o auxílio dos testes, somente o próprio indivíduo é capaz de indentificar e definir quando ele realmente está utilizando uma força pessoal. Plano de Ação Existem 3 fases no trabalho com as Forças e Virtudes: 1 – Identificação. O primeiro passo neste processo de desenvolvimento é identificar suas próprias virtudes, ter consciência das mesmas. Esta é uma fase fundamental que envolve se apropriar uma linguagem e de uma familiaridade com as forças do caráter. – O que é uma força e virtude? ; - Quais são as minhas principais forças? ; - Que forças estou usando nessa situação? 2 - Exploração. Nesta fase busca-se conectar mais vividamente com as virtudes que se relacionam com sua marca pessoal. – O que sente quando usa suas forças?; - Suas principais identificadas fazem sentido para você?; - Quando pensa em uma situação difícil que viveu, quais forças utilizou?; - Pense em pessoas importantes para você, quais forças usam ou usaram? 3 – Aplicação. Nesta fase está envolvido a utilização das suas principais forças no seu dia a dia. Esta é a fase da ação, quando se move do pensar e refletir para o agir. Requer um plano de ação concreto e integrado à suas metas e seus valores na vida. – Qual força você está interessado em utilizar mais no seu dia a dia?; - Em que situações pretende utilizar mais a força, na sua casa, no trabalho ou na escola? 15 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Atividades Práticas Prática – 1 Identificação dos Forças Pessoais através do teste VIA ou similar. Exploração da utilização das forças. Prática - 2 Utilizando suas Principais Forças Pense e escreva quais forças você pode usar e de que maneira nas seguintes situações: No trabalho:_________________________________________________________ Em casa:____________________________________________________________ Com amigos:_____________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ Otimismo Aprendido A expressão “otimismo aprendido” foi inicialmente concebida por Martim Seligman, pesquisador e precursor da psicologia positiva. Esta expressão está descrita em seus livros, Aprenda a ser Otimista e Felicidade Autêntica, e em linhas gerais se refere ao seguinte processo: a) Identificar os pensamentos e as crenças perturbadoras; b) Questionar e buscar as evidências destas crenças disfuncionais; c) Substituí-las por novas avaliações mais adaptativas e positivas. Estilo Explicativo O psicólogo Martin Seligman utiliza o conceito de “estilo explicativo” para entendermos melhor o que é o otimismo. Ou seja, a maneira como a pessoa explica as causas de suas adversidades. Dentro desta concepção, o otimismo não está nas frases positivas e nas imagens de sucesso, mas sim, na maneira de explicar as origens do que acontece em nossa vida. É por isto que a psicologia positiva não deve ser confundida com pensamento positivo ou afirmação de frases e imagens positivas. 16 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Cada indivíduo tem o seu próprio “estilo explicativo". Dentro do modelo cognitivo, (adversidade crença conseqüência), ele se situa no centro, ou seja, nos pensamentos e nas crenças que constituem nosso padrão de avaliar as situações. Desenvolvemos o nosso estilo ou padrão de pensamento durante a infância e caso não sejam tomadas algumas medidas no sentido de mudá-lo, o padrão poderá durar por toda uma vida. São respostas aprendidas, padrões prontos de explicar os problemas que vivemos, agem como um prisma através do qual vamos explicar o porquê das coisas acontecerem em nossas vidas, sejam elas boas ou más. Podemos mudar nosso estilo de pensar! Martim Seligmam e Karen Reivich, pesquisadores da psicologia positiva apontam para o fato de que podemos aprender a ser mais otimista: "...é importante salientar que estes padrões de pensamento não são traços fixos da personalidade, eles são estilos explicativos de pensamento e como tais são mutáveis. Portanto, mesmo se o seu estilo hoje é ser um pensador pessimista, temos dados sólidos para sugerir que aprendendo algumas habilidades de um estilo otimista, você pode absolutamente aumentar sua capacidade de se concentrar em outras causas dos problemas, particularmente naquelas que são mais transitórias circunstanciais...". O primeiro passo é identificar e aceitar nossa forma de pensar. Esta é uma questão essencial porque não podemos mudar nosso estilo de pensamento se em primeiro lugar não estivermos conscientes dele. É comum encontrar pessoas com um padrão pessimista acreditando ser otimista. Primeiro porque socialmente é mais aceitável ser otimista, segundo porque não aprendemos a perceber e ser críticos com relação aos nossos pensamentos. Para perceber melhor sua forma de pensar, faça a pergunta: O que eu digo para mim quando algo ruim acontece? Que tipo de explicação dou para a situação? Existem 3 Padrões de Estilos Explicativos: Padrão 1: Personalizar os problemas. ( eu x circunstâncias) A pessoa pessimista tende a personalizar os eventos negativos e culpar a si mesma. Você usualmente vê os problemas como causados por você mesmo ou pelas circunstâncias? Quando nos abrimos para novas possíveis causas de um infortúnio, que não seja a nossa culpa, estamos nos permitindo ser mais otimistas e resilientes. Por exemplo: você encontra o seu chefe e fala para ele “oi” e ele não reponde, como você reage? Você irá atribuir o silêncio dele a uma falha sua, do tipo: “Meu desempenho está péssimo, 17 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva ele deve estar furioso comigo”. Ou você irá explicar o silêncio dele por uma causa externa, do tipo: “Ele deve estar num péssimo dia, talvez esteja passando por algum problema”. Padrão 2: Generalizar os problemas. (específico x generalizado) Este estilo se refere à explicação de que o problema é específico de uma área ou é generalizado para todas as áreas de sua vida. Quando você atravessa um problema profissional, por exemplo, seus pensamentos se restringem ao problema ou você generaliza para o âmbito familiar e social. Ao generalizar os efeitos de uma adversidade estamos em um estilo pessimista, por outro lado, quando vemos a situação como específica e restrita estamos sendo otimistas e resilientes. Por exemplo: Uma pessoa não consegue cumprir o prazo para entrega de um projeto. Quando a pessoa generaliza, ela pensa: “Sou um irresponsável”, este sentimento de irresponsabilidade pode permear sua relação familiar e seus relacionamentos sociais. Quando ela se restringe à situação, apresenta um estilo mais resiliente de pensar, como: “Não pude cumprir o prazo combinado neste trabalho, no próximo vou me esforçar bem mais.” Padrão 3: Perpetuar os problemas (temporário x eterno) Você costuma pensar nas adversidades como algo temporário ou como algo que estará presente durante um longo período? Quando acreditamos que as situações ruins que acontecem em nossas vidas irão persistir e nos afetar para sempre estamos em um estilo pessimista. Mas, se acreditarmos que a situação é passageira e específica, estaremos em um estilo otimista e resiliente. Por exemplo, imagine que você tenha um desentendimento com alguém significativo para você, qual a tua reação? Uma explicação temporária: “Estamos passando por um momento de desentendimento”. Outra permanente: “Nunca conseguirei me entender com esta pessoa.” Referências: Seligman, Martin E. Learned optimism: How to change your mind and your life. Random House LLC, 2011. Reivich, Karen, and Jane Gillham. "Learned optimism: The measurement of explanatory style." (2003). Sujan, Harish. "Commentary: extending the learned helplessness paradigm: a critique of Schulman's “Learned Optimism”." Journal of Personal Selling & Sales Management 19.1 (1999): 39-42. 18 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Gratidão “A Gratidão não é só a maior das virtudes, é também parente próxima de todas as demais virtudes.” Cícero A Gratidão, em geral, pode ser definida como o apreciar e estar consciente das coisas boas que a vida nos apresenta. Tradicionalmente estudada por filósofos e humanistas, recentemente ela tem sido objeto de estudo de abordagens que utilizam a metodologia científica. Historicamente, a gratidão tem sido abordada por filisofias e religiões como uma virtude social e cívica, motivadora de benevolência, como um lembrete cognitivo e emocional da necessidade social de retribuir (Emmons and McCullough, 2004). No entanto, do ponto de vista da Psicologia Positiva, especificamente, a gratidão é cada vez mais entendida mais do que uma virtude moral mas também como recurso de adaptação evolutiva e método e incremento social. A psicologia positiva não estuda a gratidão apenas como uma disciplina acadêmica, mas também como uma atividade prática que pode ser incrementada. É um instrumento para incrementar o nível de felicidade e o equilibrio emocional. Um dos mais destacados pesquisadores do tema, o Dr. Emmons demonstrou que a gratidão é uma das maneiras mais poderosas e instantâneas para melhorar o estado emocional e aumentar o nível das emoções positivas. Seu estudo demonstrou que as pessoas que expressam ou praticam a gratidão são mais saudáveis, vivem mais, tem sono melhor e sentem-se mais jovens. (Emmons, 2004) A pesquisadora Barbara Fredrickson ressalta as qualidades funcionais da gratidão, como uma emoção positiva ela amplia a cognição e constrói recursos pessoais, de acordo com sua teoria “Broaden and Build”. ( Fredrickson, 2004) A gratidão nutre relacionamentos Dentro de uma perspectiva social e humanitária, a gratidão serve como nutrição. Alguém faz algo de bom e você diz: obrigado ou grato! Esta comunicação incentiva o realizador a fazer mais coisas boas. Ambas as partes são preenchidas por sentimentos positivos. Gratidão é fundamental para estabelecer e fortalecer relacionamentos. Imagine você sair com alguns amigos e no dia seguinte você recebe uma mensagem de um deles dizendo: “Obrigado pelo passeio na noite passada. Foi ótimo vê-lo!”. Como você se sentiria? Existe uma grande chance de você sentir-se muito bem e querer encontrar essa pessoa novamente e o vínculo mútuo fortalecer. Gratidão e Saúde 19 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Também em pacientes com câncer de mama gratidão está fortemente associado ao crescimento pós-traumático, reduziu angústia e aumento emoções positivas, mas, surpreendentemente, não para o bem-estar psicológico. Como a maioria dos pacientes relataram níveis baixos de gratidão, os resultados sugerem a importância de desenvolver intervenções para aumentá-los clinicamente também em oncologia. (Ruini, 2013) Gratidão e Estresse Como exemplo, temos os estudos que revelam a gratidão como um traço de personalidade clinicamente relevante. Esses trabalhos mostram que uma orientação de vida voltada para perceber, reconhecer e apreciar o lado positivo da vida leva a níveis mais baixos de estresse e depressão ao longo do tempo, a uma maior satisfação com a vida, melhores relações sociais e um melhor sono. (Wood, 2008) Intervenções Intervenções clínicas para promover o bem-estar através do cultivo gratidão apresentam eficácia semelhante às técnicas cognitivo-comportamentais na redução das perturbações emocionais (Wood, 2008; Emmons, 2004). Em geral, três métodos de indução da gratidão foram identificados: listas de gratidão, expressões comportamentais de gratidão, e contemplação de experiências gratificante (Wood et al., 2010). 1 - As listas de coisas boas são as intervenções mais utilizadas, em parte por causa de sua simplicidade, nas quais as pessoas constroem listas de coisas pelas quais são gratas. Por exemplo, no estudo de Emmons e McCullough (2003), os participantes foram distribuídos aleatoriamente em uma das três condições experimentais (ou seja, listar: aborrecimentos, gratidão e eventos neutros de vida), foram feitos registros semanais de várias medidas de bem-estar (o humor, comportamentos de enfrentamento, comportamentos de saúde, sintomas físicos, avaliações vida em geral, etc.). Os participantes que listaram coisas pelas quais tem Gratidão, classificaram as suas vidas de forma mais favorável, com menores níveis de sintomas de doenças e níveis mais elevados de afeto positivo, em comparação com os outros participantes. Estes estudos clínicos sugerem que as intervenções de gratidão são tão eficazes como terapias clínicas comumente usados no tratamento da insatisfação com imagem corporal e pensamentos de preocupação excessiva (Geraghty, Madeira, e Hyland). 2 - Um segundo tipo de indução de gratidão envolve expressões comportamentais de gratidão. Por exemplo, Seligman e colaboradores (2005) pediram para adultos escrever e entregar uma carta de gratidão a uma pessoa importante na vida de cada um. As pessoas que escreveram tais cartas, relataram níveis mais altos de felicidade e menores de depressão no pós-teste e após1 mês. 20 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Da mesma forma, Froh e colaboradores (2009)estudaram crianças e adolescentes divididos aleatóriamente em dois grupos. Em um grupo, os jovens foram convidados a escrever e entregar uma carta de gratidão a uma pessoa, à qual ainda não havia propriamente agradecido. No grupo controle, eles foram convidados a escrever sobre alguma coisa que fizeram recentemente. Como resultado aqueles que participaram do exercício gratidão apresentaram os maiores aumentos de afeto positivo e bem estar. 3 - Um terceiro tipo de intervenção para induzir a gratidão envolve a contemplação. Neste tipo de intervenção o participante é convidado a pensar e contemplar situações gratificantes. Os estudos demonstram um impacto de curto prazo sobre parâmetros fisiológicos de bem estar, embora, ainda não há estudos investigando o impacto a longo prazo de uma intervenção contemplativa de gratidão. Por exemplo, Tiller e colaboradores (1996) demonstraram que as pessoas que se concentram em pensamentos contemplativos de gratidão apresentam registros psicofisiológicos relacionados ao bem estar e ao baixo nível de estresse, medidos através dos seguintes parâmetros: respiratório, cardíaco e eletroencefalográfico. Esses registros ocorreram apenas no momento do experimento de contemplação. Dicas para aumentar a gratidão: 1. Procure identificar as coisas boas que lhe acontecem no seu dia a dia, por menores que sejam. Identifique os detalhes das coisas positivas de sua vida. 2. Pense nas pessoas que trazem coisas boas em sua vida. Caso decida manifestar sua gratidão, primeiro reconheça o sentimento antes de expressá-lo (as pessoas podem identificar um falso). 3. Olhe para as coisas que você costuma agradecer normalmente e adicione um toque extra. Por exemplo, em situações que diz apenas obrigado, reflita e descreva melhor o que de bom você pode reconhecer. 4. Utilize outras palavras e expressões, tipo: “eu aprecio muito quando você…”; “significa muito para mim você …”, seja criativo nos seus agradecimentos. 5. Mantenha um diário de gratidão por três coisas boas no seu dia, semana ou mês. Fica mais fácil ter acesso e se conectar com estes sentimentos no momento que precisar. Referências: Algoe, S. B., Haidt, J., & Gable, S. L. (2008). Beyond reciprocity: gratitude and relationships in everyday life. Emotion, 8(3), 425. Emmons, & McCullough. (2004). The Psychology of Gratitude. New York, NY: Oxford Press. 21 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Emmons, R. A., & McCullough, M. E. (2003). Counting blessings versus burdens: An experimental investigation of gratitude and subjective well-being in daily life. Journal of Personality and Social Psychology, 84, 377−389. Fredrickson, B. L. (2004). Gratitude, like other positive emotions, broadens and builds. The psychology of gratitude, 145-166. Froh, J.J., Sefick, W.J., & Emmons, R.A. (2008a). Counting blessings in early adolescents: An experimental study of gratitude and subjective well-being. Journal of School Psychology, 46, 213– 233. Geraghty, A.W.A., Wood, A.M., & Hyland, M.E. (2010a). Attrition from self-directed interventions: Investigating the relationship between psychological predictors, technique and dropout from a body image intervention. Social Science & Medicine, 71, 30–37. Seligman, M.E.P., Steen, T.A., Park, N., & Peterson, C. (2005). Positive psychology progress: Empirical validation of interventions. American Psychologist, 60, 410–421. Wood, A. M., Maltby, J., Stewart, N., & Joseph, S. (2008). Conceptualizing gratitude and appreciation as a unitary personality trait. Personality and Individual Differences, 44(3), 621-632. Wood, A. M., Maltby, J., Gillett, R., Linley, P. A., & Joseph, S. (2008). The role of gratitude in the development of social support, stress, and depression: Two longitudinal studies. Journal of Research in Personality, 42(4), 854-871. Wood, A.M., Froh, J.J., & Geraghty, A.W.A. (2010). Gratitude and well-being: A review and theoretical integration. Clinical Psychology Review, 30, 890–905. ___________________________________________________________________________________________ Conexões sociais positivas Criar e manter relacionamentos saudáveis trás muitos benefícios para a saúde física e emocional e nutre a resiliência pessoal. Temos muitas histórias, reais ou poéticas, escritas ou filmadas, onde por algum motivo o indivíduo é levado a sobreviver longe da civilização. Por exemplo, as estórias onde a pessoa é levada a viver em uma ilha deserta. Após vencer muitos desafios e aventuras o herói consegue atender as necessidades básicas, como alimento, água e abrigo, mas sempre surge a maior das necessidades do ser humano, re-encontrar alguém para sair do isolamento social. 22 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Podemos afirmar que, um ponto de consenso entre os estudos a respeito da resiliência é: a presença de bons vínculos sociais é um elemento fundamental para um desenvolvimento saudável. A rede de apoio social, a qualidade dos relacionamentos, o amar e o sentir-se amado, permitem a qualquer pessoa superar com maior facilidade situações adversas. A presença de relacionamentos afetivos que propiciam o suporte mútuo gera emoções positivas e um sentimento de felicidade autêntica. Ao sentir-se mais feliz temos facilidade em construir novas amizades, o que aumenta, ainda mais, nossa rede de apoio social e nossa resiliência, e um ciclo que se retro-alimenta. Por outro lado, temos muitos estudos que relacionam o isolamento social com: falta de esperança, tristeza, depressão, saúde debilitada e morte prematura. Estudos no campo do desenvolvimento infantil demonstraram que crianças que desenvolveram relações afetivas de boa qualidade na infância têm um melhor desempenho nas várias fases de seu desenvolvimento e uma maior resistência a infortúnios. Neste mesmo sentido, a visão humanista derivada de Carl Rogers nos mostra: os relacionamentos saudáveis e o sentir-se vinculado, constituem uma das três necessidades fundamentais para o desenvolvimento pleno do potencial humano. As outras duas são, a necessidade de competência, sentir-se capaz de realizar algo, e a necessidade de autonomia, sentir-se capaz de dar sua própria direção e não estar à mercê dos outros. A saúde e bem estar de uma pessoa está diretamente relacionada à sua capacidade de se conectar com outros e obter suporte em situações estressantes. Diante de adversidades, as conexões sociais nos auxiliam de diversas formas: alguém para conversar, expressar nossos sentimentos, ouvir opiniões diferentes, apresentar pessoas novas para um novo relacionamento, propiciar contatos para uma nova frente de trabalho, entre outras. Temos inúmeros estudos na literatura acadêmica que mostram o efeito benéfico dos vínculos sociais. Para ilustrar temos um amplo estudo feito com pacientes cardíacos, em seus resultados, o fator de maior relação com a doença cardíaca é o isolamento social, superando o tabagismo, a dieta incorreta, e a falta de exercícios. Da mesma forma, temos estudos com pacientes oncológicos, onde o fator de maior relação com a depressão, a ansiedade é a ausência de apoio social. Todos os relacionamentos sociais são benéficos para a resiliência? É claro que não. Nem todas as pessoas que temos simpatia ou somos confidentes podem nos trazer um suporte saudável em momentos de crise. Se o seu confidente for hostil, colocar-te para baixo e fazer-te sentir como um miserável, com certeza você precisa encontrar um outro amigo para auxiliá-lo. 23 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva A arte de fazer amigos Em muitos momentos de nossas vidas, necessitamos dos outros para nossa sobrevivência e sucesso. A conhecida frase de John Donne “nenhum homem é uma ilha” é uma verdade inquestionável. Ao pensar em algum momento importante de sua vida, provavelmente você vai encontrar alguém significativo por perto. A habilidade de criar e manter relacionamentos satisfatórios, imbuídos de sentido e significado, é um fator crucial na nossa capacidade de lidar com situações estressantes. Duas barreiras comuns impedem de dedicar-nos mais intensamente aos nossos relacionamentos, são os mesmos obstáculos presentes em outros setores de nossas vidas: 1 - Estamos muito estressados; 2 - Temos muito pouco tempo. Muitas vezes, passamos nossa vida priorizando metas materialistas que nos afastam de coisas importantes para nós, por exemplo, os nossos relacionamentos pessoais. E o pior, com o passar dos anos percebemos que aquelas metas não trazem a felicidade e a realização que esperávamos. As amizades não surgem do nada, têm que ser construídas. Dizem que o número mágico neste assunto é três, no mínimo três amigos ou familiares com quem podemos contar realmente, acredito que quanto mais, melhor! A seguir são apresentas algumas dicas úteis para aumentar seu círculo de relacionamentos: • Dedique tempo. Mostre interesse pelo outro. Invista seu tempo para encontrar seus amigos, e faça isto com uma freqüência regular. Não queira controlar a relação, deixe seu amigo escolher o filme ou o restaurante. • Dê suporte e apoio. Esteja presente nos momentos que seus amigos necessitem. Procure ser leal e respeitoso às confidências que por ventura receber de seus amigos. • Expresse admiração, gratidão e afeição. Manifeste sua apreciação e afeição diretamente. Tenha o hábito de ser grato. • Comunique-se. Nem sempre é fácil expor nossos pensamentos e sentimentos íntimos, mas é crucial para um vínculo efetivo e sincero. Faça contato com os olhos, dê toda a sua atenção no momento de ouvir • Abrace. O abraço fraterno trás entusiasmo, aumenta a felicidade e melhora a conexão com o outro. Como Nutrir uma Relação Íntima O que você quer de um relacionamento próximo? Se você é como a maioria das pessoas você quer afetividade e companheirismo, aceitação e amor. Você provavelmente quer ser compreendido e ficar sexualmente satisfeito, quer criar uma vida de sentido e propósitos 24 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva compartilhados. Os sentimentos de amar e ser amado são sem dúvida um valioso nutriente da resiliência. Existe uma abundância de estudos sobre os relacionamentos de casais, muitos avaliam os fatores do sucesso ou do fracasso de uma relação. Dois temas são recorrentes, os elementos que mais destroem uma relação são a falta de comunicação e a discussão destrutiva e desrespeitosa. O uso da psicologia positiva nos relacionamentos próximos pode ser bem útil. De acordo com Shelly Gable, da Universidade de Santa Bárbara, Califórnia, uma importante chave para o fortalecimento de uma relação está em focar no que está bem. Ao estudar centenas de casais durante anos, a Drª Gable descobriu que a maneira como um parceiro reage a uma boa notícia é muito importante. Para ela a reação proativa do parceiro amplifica os efeitos das emoções positivas, incrementa a confiança e o vínculo. De maneira semelhante, o pesquisador da Universidade de Washington, John Gottman, descobriu que nos casamentos onde se encontra uma maior satisfação e sucesso, os parceiros dizem pelo menos cinco vezes mais coisas positivas ao outro do que coisas negativas, por exemplo, o hábito de reconhecer virtudes, fazer elogios e agradecimentos. Uma resposta negativa ou de insignificante ao parceiro, por outro lado, diminui a confiança, a intimidade, e a satisfação com o relacionamento. Nesta concepção, diante de uma “boa notícia” trazida pelo parceiro, amigo querido ou filho, existem quatro formas diferentes de se responder. Uma forma positiva, ativa e construtiva e outras três neutras ou destrutivas. Imagine seu parceiro (a) chegando em casa com a notícia de que recebeu uma promoção no trabalho, você tem a possibilidade de responder das seguintes maneiras: Resposta ativa construtiva. "Isso é ótimo, você ganhou, eu estou tão orgulhosa de você!" Você faz uma pausa no que está fazendo, dedica sua atenção, faz perguntas e quer saber detalhes. Isso transmite entusiasmo, apoio e interesse. Resposta passiva construtiva. "Bom trabalho, querida(o)!" Em seguida, você passa para o próximo tópico. Como jantar, ler emails ou cuidar dos filhos. Resposta ativa destrutiva. "Uau! Isso significa que você estará trabalhando até mais tarde? Vão te pagar mais? Eu não posso acreditar que você foi escolhido dentre todos os candidatos.” Resposta passiva destrutiva. Pode ser de duas formas: "Uau, Espere, você não sabe o que aconteceu comigo hoje", ou, "O que vamos ter para o jantar?", Ignorando completamente o evento. 25 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva A arte da boa comunicação A comunicação é sem dúvida uma parte essencial de nossas vidas. Muitos livros e artigos já foram escritos sobre a comunicação efetiva, seja no campo profissional ou interpessoal. A habilidade de comunicar-se efetivamente permite a formação de vínculos autênticos que estão na raiz do desenvolvimento da resiliência pessoal. As pessoas hábeis nesta arte conseguem expressar seus sentimentos e pensamentos de forma clara e respeitosa; conseguem ouvir com atenção o que os outros têm a dizer; articulam de forma adequada suas expectativas, metas e valores; e conseguem resolver seus problemas com maior facilidade. A seguir são apresentadas algumas questões que servem de exercícios úteis para guiar uma comunicação efetiva: • Qual meta que eu quero chegar com esta conversação? • Estou falando ou fazendo coisas de uma maneira que as pessoas possam compreender? • Estou me dirigindo às pessoas da mesma maneira como eu gosto que elas se reportem a mim? • Como posso ouvir melhor o que os outros estão me dizendo? • O que os outros fazem ou dizem que me afastam da comunicação? • Mesmo que não concorde com o que está sendo dito, ao menos consigo validar e respeitar a opinião do outro? Habilidades da Comunicação Comunicar envolve o desenvolvimento habilidades interpessoais, como: iniciar e manter uma conversação, defender os próprios direitos com respeito e consideração ao outro, expressar sentimentos, criticar e receber crítica, empatia, pedir, negar, perdoar, etc. A seguir algumas dicas para aprimorar sua comunicação: • Seja um ouvinte ativo. Uma atitude comum nas conversações é buscar primeiro expressar as próprias idéias. Com certeza, a habilidade de manifestar-se com clareza é importante, mas é impossível se engajar em uma comunicação efetiva se falhar-mos em compreender o que o outro está dizendo. Lembremos de São Francisco: Primeiro compreender para depois ser compreendido! • Dê validade ao que o outro diz. Saber ouvir é importante, mas não é suficiente. É bom aprender a validar o que estamos ouvindo, isto não significa que estamos de acordo, mas sim, indica um respeito e consideração pela opinião do outro. 26 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental • Psicologia Positiva Evite considerações “tudo ou nada”. O uso das expressões “nunca” e “sempre”, são obstáculos para uma comunicação efetiva. Frases como: “Você nunca me dá atenção”; “Você sempre faz tudo errado”. Este tipo de afirmação ataca o caráter da pessoa e causam uma ruptura na comunicação. Opte por manifestações específicas ao comportamento indesejado, como: “naquela situação seu comportamento me fez sentir de determinada maneira”. • Faça do Humor um aliado. Um fato amplamente validado por estudos: a presença do humor torna a pessoa mais adaptada, comunicativa, e capaz de lidar melhor com as situações adversas. • Cultive a Empatia e saiba Perdoar. A empatia e a capacidade de perdoar são atributos saudáveis e importantes para uma boa comunicação e para a resilliência. Estes assuntos serão abordados com maiores detalhes a seguir. Ver com os olhos do outro A empatia está vinculada a uma boa qualidade na comunicação interpessoal e é outro componente vital da resiliencia. È difícil pensar em uma comunicação efetiva com falta de empatia. Ela é um ingrediente essencial, principalmente nos relacionamentos próximos, onde existe afeto e sentimento. Empatia pode ser definida como a habilidade de identificar ou perceber os sentimentos, pensamentos e atitudes do outro, colocando-se no lugar da pessoa. Um conceito que está associado a frases como: “como se estivesse na minha pele”; “ver com os olhos do outro”. A empatia facilita a comunicação, o respeito, a cooperação, a amizade e a compaixão, ela influencia significativamente a qualidade de nossas relações profissionais e pessoais. Ela permite superar nossos padrões e automatismos negativos quando temos o intuito sincero de aprimorar nossas interações sociais. A arte de perdoar Em nossas experiências de vida, é comum em algum momento sermos ofendidos, machucados ou atacados por outras pessoas. A injúria pode ser de nível físico, sexual, psicológico ou emocional. Respostas típicas e comuns à estas situações são: revidar na mesma moeda, evitar a pessoa ou buscar pela vingança. É óbvio que respostas desta natureza costumam ter conseqüências negativas e estressantes. Basta observar os resultados da busca por vingança ao longo dos anos: rupturas de relacionamentos, assassinatos e guerras. O que significa perdoar, porque e como perdoar? Este conceito tem a ver com interromper o ciclo de evitação, ressentimento e busca de vingança que muitas vezes nos colocamos. Por ser um termo usado em diferentes contextos, é importante deixar claro o que significa perdoar dentro 27 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva da psicologia positiva e da resiliência. Perdoar não é uma reconciliação, ela não envolve necessariamente o restabelecimento da relação com transgressor. Não é pedir desculpas nem negar a injúria recebida. Também não tem nada a ver com reprimir a raiva e a dor, como na concepção Freudiana de repressão. Tem a ver com olhar de frente para a raiva e a dor e buscar sua transformação. O ato de perdoar é algo que você faz para si mesmo e não para a pessoa que cometeu a injúria. Esta virtude também abrange a dimensão intrapessoal, ou seja, quando nós perdoamos a nós mesmos. Às vezes carregamos por anos sentimentos de culpa por atitudes indesejadas que praticamos e não aceitamos. Representam uma carga desnecessária que limita e obstruem nosso livre caminhar pela vida. Por que perdoar Existe evidência considerável sobre o benefício de perdoar, seja em estudos acadêmicos ou em abordagens religiosas e populares. Pode existir alguém que discorde da universalidade desta concepção, com argumentos suficientes para considerar determinada injúria como imperdoável, que seja respeitado. Considero importante frisar novamente, perdoar não precisa envolver o outro, é um ato interno, uma limpeza das mágoas que às vezes carregamos no coração. Para ilustrar o “porque” perdoar, cabe aqui citar uma história derivada do budismo: “Uma raiva ou mágoa mantida contra outra pessoa ou situação é como uma brasa ardente que carregamos com a intenção de ferir o outro e não se damos conta de que quem está se ferindo somos nós mesmos.” Bibliografia Altman, I., & Taylor, D. (1973). Social penetration: The development of interpersonal relationships. New York: Holt, Rinehart and Winston. Baxter, L. A., & Montgomery, B. M. (1996). Relating: Dialogues and dialectics. New York: Guilford. Gottman, J. (1994). What predicts divorce? The relationship between marital processes and marital outcomes. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Harvey, J. H., & Omarzu, J. (1997). Minding the close relationship. Personality and Social Psychology Review, 1, 223–239. Ickes, W. (Ed.). (1996). Empathic accuracy. New York: Guilford. Jacobson, N. S., & Christensen, A. (1996). Integrative couple therapy: Promoting acceptance and change. New York: Norton. 28 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva Kerns, Charles D. (2009). Forgiveness at Work: Managing the Dynamics and Reaping the Benefits,. Kravis Leadership Institute, Leadership Review, 9, 80-90. Madsen, Susan R., Gygi, J., Plowman, S. F., & Hammond, S. C. (2009). Forgiveness as a workplace intervention: The literature and a proposed framework. Journal of Applied and Behavioral Management, 10(2), 246-262. _______________________________________________________________________________________________ Práticas da Psicologia Positiva nas Organizações Aplicar a Psicologia Positiva no campo organizacional pode estar na identificação e no cultivo dos pontos fortes das organizações e de seus colaboradores ou no desenvolvimento de uma Cultura de colaboração. Em boa parte do mundo, a riqueza econômica cresce e aumentam os recursos materiais, mas em geral, o bem-estar emocional não. Isso gera uma demanda por uma atenção maior ao bem-estar emocional, quer a nível pessoal, quer ao nível organizacional. Existe uma tendência nas pessoas, e também nas organizações; dar maior ênfase aos problemas e falhas à serem reparadas. Aplicar a Psicologia Positiva no campo organizacional pode estar na identificação e no cultivo dos pontos fortes das organizações e de seus colaboradores. Isto não significa evitar a análise dos problemas e deficiências, mas sim lidar com eles numa perspectiva positiva e realista. O objetivo é levar os indivíduos e as organizações a explorar e atingir o seu maior potencial. Engajamento e satisfação no trabalho O engajamento pleno do trabalhador em seu ambiente de trabalho é um problema mundial. Uma pesquisa de âmbito mundial mostrou que apenas 14% dos trabalhadores se sentem plenamente engajados nas empresas que trabalham. 29 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva O estudo realizado pela empresa de consultoria internacional em RH, a Towers Perrin, mostrou que muitas pessoas interessadas em contribuir mais no trabalho, são desmotivadas e desencorajadas pelo comportamento dos seus gestores e pela cultura de suas organizações. A questão é como fazer com que a pessoa se sinta mais engajada em seu trabalho? A resposta da psicologia positiva é que quando a pessoa usa suas forças e competências, ela se sente mais engajada, seu desempenho aumenta e ela fica com mais vigor e energia. As pesquisas já demonstraram que quando as pessoas são consideradas mais pelas suas virtudes do que pelas fraquezas, elas são mais produtivas e geram maior lucratividade para a empresa. O Dr. Donald Clifton em uma pesquisa na fundação Gallup mostrou que quando a pessoa não está fluindo no campo de suas forças pessoais ela está aproximadamente seis vezes menos engajada do que quem está usando ativamente as suas competências. Quando a pessoa não usa suas habilidades naturais, aumentam as chances de: * Não sentir motivação para ir ao trabalho. * Se relacionar mal com os parceiros de equipe. * Tratar mal os clientes da empresa. * Dizer mal da empresa aos amigos. * Produzir menos. * Ser pouco criativo. Fora do âmbito da organização, esta pessoa também está sujeita a mais problemas de saúde e dificuldades em relacionamentos. Por outro lado, ao usar suas forças e talentos ativamente, os colaboradores aumentam a autoconfiança, a satisfação, a esperança e a gentileza para com os colegas de trabalho. Gentileza no ambiente de trabalho O valor da gentileza e da bondade transcende as barreiras de idade, circunstância, raça, sexo, religião, cultura e política e fala com o nosso elo comum ... o nosso "humanidade". Em outras palavras, a bondade e gentileza natural leva à cooperação, apoio mútuo e trabalho em equipe. Um uma ampla pesquisa a American Management Association pesquisou a associação de traços de caráter com produtividade e engajamento. A pesquisa revelou que os funcionários que 30 Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental Psicologia Positiva percebem gentileza na relação com seus superiores apresentam maior engajamento e produtividade. (fonte, http://www.amanet.org/news/1456.aspx ) Referências: Bakker, Arnold B., and Wilmar B. Schaufeli. "Positive organizational behavior: Engaged employees in flourishing organizations." Journal of Organizational Behavior 29.2 (2008): 147-154. Rodríguez-Carvajal, Raquel, et al. 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