Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental

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Psicologia Positiva
Organizado por:
Fábio Munhoz, Psicólogo. CRP 45-100
Introdução à Psicologia Positiva ............................................................................ 01
Emoções positivas na Psicologia Positiva ..............................................................06
Flow e Psicologia Positiva .........................................................................................08
Abordagem das Forças e Virtudes do caráter .....................................................10
Otimismo Aprendido ................................................................................................16
Gratidão ....................................................................................................................19
Conexões sociais positivas ......................................................................................22
Psicologia Positiva nas Organizações .....................................................................29
Introdução à Psicologia Positiva
A psicologia positiva é um termo amplo que abraça estudos científicos dos temas relacionados a
um viver com mais qualidade e maior sentido. Sua característica central é que suas aplicações são
todas empiricamente testadas e informadas. É um campo que estuda as experiências positivas, as
forças e os traços positivos do caráter, os relacionamentos positivos e as instituições positivas. As
licões e aplicações das pesquisas da psicologia positiva são amplas, abrangem, desde
adolescentes à idosos, assim como, executivos, estudantes ou trabalhadores.
Martim Seligmam
A idéia central é a seguinte, você se concentrar unicamente em melhorar suas fraquezas, o melhor
que você vai conseguir é acabar com uma fraqueza. Os resultados mais satisfatórios e produtivos
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Psicologia Positiva
vêm quando você também maximizar seus pontos fortes. É importante frisar “também”, isso porque
a psicologia positiva não desconsidera o valor de identificar e tratar as deficiências ou distúrbios.
Psicologia com Foco nas Perturbações
Por longo tempo a psicologia se concentrou no que havia de errado com os seres humanos, sua
abordagem central foi reparar o que estava mal.
Após a Segunda Guerra Mundial muita atenção foi dada ao tratamento de patologias
psicológicas, como por exemplo, traumas e depressão. Este período foi fundamental para
consolidar o legado da psicologia no campo da compreenção e do tratamento das patologias.
A maioria das pesquisas e intervenção ao longo do último meio século tiveram como objetivo a
resolução de problemas importantes como: ansiedade, depressão, esquizofrenia, suicídio e abuso
de drogas. Tal abordagem da psicologia, de acordo com Martim Seligman, é apenas metade do
que pode ser a psicologia, ao se concentrar mais sobre na doença mental, negligenciando o foco
no estudo da saúde psicológica.
Nascimento da Psicologia Positiva
"A ciência da psicologia tem sido muito bem sucedida mais no negativo do que no lado
positivo, isso nos revelou muito sobre as deficiências do homem, suas doenças, seus
perturbações, mas pouco sobre suas potencialidades, suas virtudes e suas aspirações
psicológicas alcançáveis. É como se a psicologia tenha voluntariamente se limitado
apenas à metade da sua competência legítima, a metade mais escura, mais vil. "
Abraham Maslow (1960)
No final dos anos 1990, um grupo de psicólogos, liderados por Martin Seligman, então presidente
da APA (American Psychological Association), perceberam que a grande maioria dos estudos da
psicologia eram focados nas patologias. Eles defenderam a idéia de que os psicólogos deveriam
também incluir em seus estudos o ótimo funcionamento do indivíduo, ou seja, a felicidade, a
alegria, o lado positivo das pessoas. Foi este grupo de deu início ao movimento denominado
Psicologia Positiva.
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Psicologia Positiva
Seligman não foi a primeira pessoa na história da psicologia a falar sobre o foco nos aspectos
positivos do viver, nem foi o primeiro a cunhar a expressão "psicologia positiva". Este termo foi
primeiramente utilizado por Maslow, em 1954.
A Psicologia Positiva estuda o que flui bem com as pessoas, investiga como as pessoas alcançam
uma vida mais feliz, com maior satisfação, fluidez e significado. A psicologia não serve somente
para tratar doenças, serve também para nutrir as forças e virtudes humanas, a felicidade e a
excelência.
A Psicologia Positiva não é indiferente ao sofrimento
A Psicologia Positiva não defende apenas uma perspectiva positiva de abordagem à vida. Existe
uma sabedoria imensa identificar e tratar os problemas e ter consciência suficiente para ver
problemas em seus estágios iniciais. Muitas vezes, no entanto, os risco de perda, os contratempos e
as preocupações, ocupam a maior parte de nossa atenção. A Psicologia Positiva apenas
apresenta a sugestão de que há muito a ser adquirido em expandir o foco, e incluir os pontos fortes
e aspectos positivos do viver.
Ela propõe não focar apenas nos problemas das pessoas, e sim, buscar compreender a ciência e a
anatomia da felicidade, das experiências positivas, do otimismo e do altruísmo.
Em vez de focar e lidar com problemas, a psicologia positiva sugere ser mais efetivo olhar para as
oportunidades, para os sucessos e os pontos fortes.
Vale ressaltar, essa abordagem esta além do olhar o mundo através de um óculos cor-de-rosa,
hoje existe um enorme suporte empírico mostrando a eficácia de uma orientação voltada para
soluções e para os pontos fortes do viver.
A Psicologia positiva não é uma filosofia, ela é uma ciência, e traz consigo, as muitas virtudes da
ciência, como por exemplo, possibilidade de replicação, estudos controlados e amostragens
representativas.
Psicologia Positiva e Auto-Ajuda
O que distingue o psicologia positiva das abordagens ou livros de autoajuda está na ênfase na
pesquisa empírica e cuidadosa. Em vez de depender da intuição, raciocínio, ou sabedoria popular,
os pesquisadores da psicologia positiva são empíricos, olham para o observável, suas teorias são
testáveis e fundamentadas na evidência. Representa de certa forma, uma mudança da fé para a
evidência.
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Teoria do Bem Estar - Modelo PERMA
O Modelo PERMA foi desenvolvido pelo psicólogo Martin Seligman e amplamente divulgado em
seu livro "Florescer".
Conhecido como Teoria do Bem Estar , "PERMA" representa os cinco elementos essenciais que
devem estar presentes para a experiència de um bem estar efetivo e duradouro. Descritos à seguir:
PERMA ( Martim Seligmam )
•
P
Positive Emotions - Emoções positivas
•
E
Engagement (or flow) – Engajamento, Fluidez
•
R
Relationships - Relacionamentos Sociais Positivos
•
M
Meaning (and purpose) - Sentido no viver
•
A
Accomplishment - Realização, Persistência, Metas.
1. Emoção positiva (P)
Experimentar o bem-estar e a felicidade na vida, em geral, envolve a existência de uma emoção
positiva. Uma ampla gama de emoções positivas se relacionam com o bem estar, como paz,
gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou amor.
2. Fluidez e Engajamento (E)
Quando estamos verdadeiramente empenhados em uma situação, projeto ou tarefa, nós
experimentamos um estado de fluidez: o tempo parece parar, esquecemos os problemas comuns,
nos concentramos intensamente no presente. Quanto mais experimentamos este tipo de
concentração, mais provável é que a experiência bem-estar aumente.
3. Relacionamentos positivos (R)
Como seres humanos, somos "seres sociais", e dentro deste contexto, os relacionamentos positivos
são fundamentais para o nosso bem-estar. Muitas pesquisas já demonstraram, as pessoas com mais
relacionamentos significativos e positivos são mais felizes que as demais. Os Relacionamentos
realmente importam!
4. Significado ou Sentido de viver (M)
O sentido no viver, geralmente vem de servir a uma causa maior que nós mesmos. O encontro de
um sentido para o que fazemos pode vir de uma crença, uma religião, uma causa humanidade ou
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algum objetivo significativo. Qualquer pessoa se beneficia ao encontrar significado e sentido em
suas vidas, isso se correlaciona com o bem-estar, a felicidade e o florescimento.
5. Realização (A)
Muitos de nós dedicamos esforços para melhorar a nós mesmos de alguma forma, seja procurando
dominar uma habilidade ou alcançar um objetivo significativo. Como tal, a realização é uma outra
coisa importante e contribui para nosso bem estar e nossa capacidade de florescer.
Bibliografia
Livros Nacionais
1 - FLORESCER
Autor: MARTIM SELIGMAM . Editora Objetiva
2 - PSICOLOGIA POSITIVA : UMA ABORDAGEM CIENTIFICA E PRATICA DAS QUALIDADES
HUMANAS (Snyder & Lopez). Editora: ARTMED
3 - A Ciência da Felicidade: Como atingir a felicidade real e duradoura
(Sonja Lyubomirsky)Editora: Campus
4 - Aprenda a ser Otimista. Seligman, Martin.
Editora Nova Era. ISBN: 857701049X
5 - Felicidade Autentica. Seligman, Martin.
Editora Objetiva. 336 páginas . ISBN: 8573025751
Publicações em Inglês
1 - Seligman, M.E.P. (2002). Authentic Happiness: Using the new positive psychology to realise your
potential for lasting fulfillment. New York: Free Press.
2 - Maslow, A. (1954). Motivation and personality. New York: Harper.
3 - Rath, T. & Clifton, D. O. (2004). How full is your bucket? Positive strategies for work and life. New
York: Gallup Press.
4 - Special Issue of American Psychologist (Vol. 55, Issue 1) on Positive Psychology,
January 2000.
5 - Linley, P. A., Joseph, S., Harrington, S., & Wood, A. M. (2006). Positive psychology: Past, present,
and (possible) future. Journal of Positive Psychology, 1,
3-16.
6 - Lopez, S. J., & Snyder, C. R. (Eds.). (2011). The Oxford handbook of positive psychology. Oxford
University Press.
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Emoções positivas na Psicologia Positiva
A felicidade, em geral, envolve a experiência de emoções positivas.
Barbara Fredrickson, professora da University of North Carolina, é uma especialista no estudo das
emoções positivas. Ela desenvolveu uma teoria sobre o efeito benéfico das emoções positivas,
conhecido ‘broaden-and-build theory’.
Para ela as emoções positivas são uma expressão da saúde e sanidade, permitem um
florescimento ou expansão (broaden) cognitivo e comportamental e também propiciam a
construção (Build) de recursos psicológicos e emocionais.
Sua teoria explica pora que os humanos experienciam emoções positivas como amor, compaixão
e alegria.
Para que elas são boas? Qual é o seu valor funcional?
As emoções positivas:
- Ampliam o repertório cognitivo e comportamental;
- Constroem recursos psicológicos e emocionais;
- São Nutrientes das relações pessoias.
Emoções negativas, como medo, raiva e desgosto, levam a comportamentos focados em evitar
ou enfrentar a ameaça. Emoções positivas, por outro lado, aumentam a flexibilidade e a amplitude
da cognição e do comportamento.
Dentro das emoções positivas estariam, contentamento, alegria, satisfação, desfrute, gratidão e
amor.
Em dessa abodagem a proporção ideal entre as emoções positivas e negativas é de 3 para 1,
respectivamente. O “número mágico” da felicidade seria 75% de emoções positivas para 25% de
emoções negativas.
Os estudos realizados em várias universidades mostram que as conseqüências das emoções
positivas e da felicidade são amplas:
· Sucesso na Escola e no trabalho
· Melhores Relacionamentos Sociais
· Melhor Saúde Física
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· Melhor Saúde Mental
· Vida mais Longa
As emoções positivas expandem a consciência e constroem recursos. Estamos todos conectados
socialmente, as emoções positivas são nutrientes para essas relações.
As emoções positivas também nos ajudam a quebrar auto- absorção.
Componentes físicos das emoções positivas (Amor gera Saúde).
- Ocitocina, hormônio inicialmente correlacionado à amamentação, mais recentemente foi
identificada a sua relação com o contato físico e o afeto em ambos os sexos;
- Tonus Vagal, o nervo vagal conecta o coração ao cérebro. Quanto maior o tonus vagal, maior a
estabilidade emocional, melhores relacionamentos e melhores parâmetros de saúde.
Referências:
Danner, D. D., Snowdon, D. A., & Friesen, W. V. (2001). Positive emotions in early life and longevity:
findings from the nun study. Journal of personality and social psychology, 80(5), 804.
Ekman, P., Davidson, R. J., & Friesen, W. V. (1990). The Duchenne smile: Emotional expression and
brain physiology: II. Journal of personality and social psychology, 58(2), 342.
Fredrickson, B.L. 2001, ‘The role of positive emotions in positive psychology: The broaden-and-build
theory of positive emotions’, American Psychologist, vol. 56, no. 3, pp. 218-226.
Fredrickson, B. L. & Losada, M. F. 2005, ‘Positive affect and the complex dynamics of human
flourishing, American Psychologist, vol. 60, no. 7, pp. 678-686.
Johnson, D. P., Penn, D. L., Fredrickson, B. L., Meyer, P. S., Kring, A. M., & Brantley, M. (2009). Loving‐
kindness meditation to enhance recovery from negative symptoms of schizophrenia. Journal of
clinical psychology, 65(5), 499-509.
Johnson, D. P., Penn, D. L., Fredrickson, B. L., Kring, A. M., Meyer, P. S., Catalino, L. I., & Brantley, M.
(2011). A pilot study of loving-kindness meditation for the negative symptoms of schizophrenia.
Schizophrenia research, 129(2), 137-140.
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Psicologia Positiva
Flow e Psicologia Positiva
O conceito de flow foi introduzido na psicologia positiva pelo Dr. Mihalyi Csikzentmihalyi, PhD e
professor da Universidade de Chigago, pode ser traduzido por fluir ou fluxo.
É um estado onde a pessoa encontra-se completamente absorvida e fluindo em uma atividade
agradável. É quando estamos totalmente absorvidos com o que fazemos e não vemos o tempo
passar. São momentos em que experimentamos uma enorme satisfação.
Praticamente qualquer tipo de atividade pode produzir um estado de fluidez. Neste estado, as
pessoas conseguem produzir seus melhores resultados, a mente e o corpo estão completamente
integrados e imersos no momento.
Quando sua vida flui naturalmente, você fala com confiança e não se incomoda facilmente. Você
se conecta melhor com as pessoas, entra mais intensamente em momentos amorosos com seu
parceiro e filhos, a vida simplesmente flui e funciona.
Segundo a abordagem utilizada por Bakker (2005), o constructo de “Flow” no contexto do trabalho
caracteriza-se pelos seguintes pontos:
- absorção ou engajamento,
- satisfação no trabalho; e
- motivação intrínseca para realizar as tarefas.
Absorção ou engajamento refere-se a um estado de concentração total, em que o funcionário
está totalmente imerso em seu trabalho. O tempo voa, e esquece-se de tudo ao redor.
Os funcionários com satisfação no trabalho gostam e se sentem felizes com o que fazem, julgam
como positiva a qualidade da sua vida. A satisfação no trabalho, envolve certo prazer e felicidade
nas atividades e está relacionado às avaliações cognitivas positivas da experiência no trabalho.
Finalmente, a motivação intrínseca no trabalho refere-se à executar uma determinada atividade,
com um prazer e satisfação inerentes à atividade; ela por sí mesma traz satisfação para o
colaborador. Funcionários intrinsecamente motivados estão continuamente interessados e
envolvidos em seus trabalhos. Os funcionários motivados intrinsicamente, querem realmente realizar
suas atividades e até se sentem “fascinados” pela realização das tarefas.
C. Peterson (no livro Primer in Positive Psychology) sugere que o termo Flow esteja “casado” com o
conceito de emoções positivas, ambos tem uma grande convergência e similaridade. As pesquisas
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dentro destes temas são congruentes e descrevem esse estado psicológico de satisfação e
engajamento como um recurso psicológico ou “capital psicológico”.
Como conseguir mais FLOW na vida?
Na verdade é dificil pensar em criar um fluxo intencionalmente, pois é algo inerente, já existe
dentro e fora de nós.
Precisamos apenas aprender a permitir que o fluxo natural da vida aconteça, retirar os obstáculos
e fluir naturalmente, dar vazão ao que temos de melhor e usar nossas forças pessoais.
Alguns princípios do Flow podem ser utilizados no contexto da terapia ou coaching (Delle Fave A &
Massimini F; 2003). A pessoa pode ser incentivada a reestruturar suas atividades diárias, de maneira
a ter mais momentos onde se sinta engajada e feliz, com mais Flow. Considere a idéia do seguinte
contexto, assistir menos Tv e dedicar mais tempo para
participar de alguma atividade voluntária ou se inscrever num curso. Os estudos demonstram que
este tipo de intervenção minimiza sintomas depressivos. Não é de se estranhar que as pessoas
deprimidas que conseguem dedicar mais tempo auxiliando outras pessoas ou aprendendo coisas
novas irão ter os sintomas depressivos minimizados, nem que seja nos momentos em que esteja
engajada em algo.
Referências
Bakker, A. B. (2005). Flow among music teachers and their students: The crossover of peak
experiences. Journal of vocational behavior, 66(1), 26-44.
Csikszentmihalyi, M., & Csikzentmihaly, M. (1991). Flow: The psychology of optimal experience (Vol.
41). New York: HarperPerennial.
Fullagar, Clive J., and E. Kevin Kelloway. "Flow at work: An experience sampling approach." Journal
of occupational and organizational psychology 82.3 (2009): 595-615.
Peterson, C. (2006). A primer in positive psychology. Oxford University Press.
Salanova, M., Bakker, A. B., & Llorens, S. (2006). Flow at work: evidence for an upward spiral of
personal and organizational resources*. Journal of Happiness Studies, 7(1), 1-22.
Delle Fave, A., & Massimini, F. (2003). Optimal experience in work and leisure among teachers and
physicians: Individual and bio‐cultural implications. Leisure Studies, 22(4), 323-342.
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Abordagem das Forças e Virtudes do caráter
Uma dos temas centrais da Psicologia Positiva é a proposta de focar em nos nossos pontos
positivos. Forças e virtudes do caráter são capacidades pessoais pré-existentes que quando
fazemos uso nos sentimos energizados. São coisas que nos sentimos bem fazendo, temos mais
fluidez e uma melhor performance no que fazemos.
Forças e virtudes pessoais estão nas coisas que fazemos naturalmente bem, e que escolhemos fazer
mesmo sem ser pago financeiramente, geralmente quando praticamos estas forças de nosso
caráter somos intrinsecamente recompensados.
Estas forças se apresentam de diversas formas e tamanhos. A boa nova é que todos temos muitas
destas forças e virtudes. Algumas virtudes do caráter são fáceis de se identificar – e geralmente nos
reconhecem por estas qualidades – outras são menos desenvolvidas, porque não tivemos muitas
oportunidades de desenvolve-las.
Foco da Psicologia nas Doenças, o DSM-4.
A psicologia como uma disciplina distinta nasceu por volta do final do século XIX, em geral tem se
preocupado com os aspectos negativos da condição humana. Ao longo dos anos houve poucos
estudos com foco de interesse em temas como criatividade, otimismo e sabedoria, foram estudos
raros.
O DSM proveu um vocabulário comum para os psicólogos e psiquiatras que trabalham com a
doença mental.Observe também que o DSM está preocupado apenas com a doença
psicológica, e não na saúde psicológica. Em termos de DSM, você seria considerado
completamente saudável, se você não tem sintomas de doença psicológica. Você concorda com
isso?
Para os psicólogos positivos, pelo contrário, o interesse está em compreender o outro lado da
equação - a presença da saúde psicológica e tudo que ela envolve.
Uma importante iniciativa para resolver esta questão foi o desenvolvimento de uma classificação
das forças e virtudes do caráter. A questão que motivou estes pesquisadores foi: se existe uma
classificação das doenças por que não desenvolver uma classificação das forças que tornam a
pessoal saudável e feliz.
Valorizar as Virtudes é algo novo?
A idéia de focar e investir nas forças e competências do cliente está longe de ser uma novidade.
Por décadas consultores, coachs, professores em diversas abordagens têm focado na
competência dos seus clientes para conquistarem suas metas. Vejamos por exemplo a força da
liderança, uma competência fundamental para o sucesso em muitas áreas da vida, em especial
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no campo empresarial. Uma grande quantidade de livros e estudos surgiram nos últimos anos para
auxiliar as pessoas neste assunto. Podemos também olhar para as virtudes de humanidade, como a
compaixão e o perdão, presentes nas sociedades através dos preceitos e valores religiosos e
espiritualistas.
O que a Psicologia Positiva traz de novo é uma abordagem organizada de se trabalhar com as
forças e virtudes do caráter. Ela trouxe para a academia este assunto, o que vem gerando
trabalhos empíricos avaliando e validando instrumentos para identificar e trabalhar com as diversas
virtudes.
Pontos fortes e pontos fracos
A proposta de identificar e focar em nossos pontos fortes não implica em desconsiderar os nossos
pontos fracos. Tudo bem levarmos em consideração as nossas fraquezas e vulnerabilidades, a
questao é o quanto de tempo e energia dedicamos a isto. Sempre tendo em vista que nossa
percepçãp pode estar distorcida por uma tendência humana de ver as coisas negativamente.
Nesse sentido a importância de focar e nutrir nossos pontos fortes.
Constelação Pessoal da Forças e Virtudes
Cada indivíduo tem uma composição própria de suas principais virtudes ou forças pessoais. Dentre
todas as forças e virtudes, cada indivíduo tem de 3 a 7 tipos de virtudes que mais usa e mais tem
familiaridade, constituindo assim uma constelação pessoal. Por exemplo uma pessoa pode ter as
seguintes forças como principais: amor ao aprendizado, liderança, criatividade, e coragem.
Através do teste você poderá identificar as suas principais forças e virtudes.
As principais forças que cada pessoa apresenta pode ser compreendida como traços de sua
personalidade. Em psicologia, um traço da personalidade pode ser definido como padrão habitual
de comportamento, pensamento e emoção. Segundo esta perspectiva, as características são
relativamente estáveis ao longo do tempo, diferem entre os indivíduos (por exemplo, algumas
pessoas estão extrovertidas, enquanto outras são tímidas), e influenciam o comportamento de
cada um.
Como identificar uma força do caráter?
Você sentirá uma ou mais das alternativas abaixo quando estiver utilizando sua habilidade ou força
pessoal.
1 – Senso de autenticidade (Isto é meu eu Real).
2 – Sentimento de excitação, satisfação, prazer ou júbilo em utilizar a habilidade/qualidade.
3 – Facilidade de aprendizado e eficiência enquanto usa sua habilidade.
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4 - Sentimento de que é inevitável usar tal qualidade.
5 – Sentir-se revigorado ao invés de exausto.
6 – Sentimento de ser internamente recompensado.
VIA Strenghts - Uma classificação das Forças e Virtudes do Caráter
A questão é: Existe uma lista das forças e virtudes do caráter que possam ser identificadas ao
longo das culturas e da História?
Para responder a esta pergunta os pesquisadores Martim Seligman, PhD e Christofer Peterson, PhD
coordenaram um estudo com uma equipe de cientistas sociais procurando um consenso sobre as
virtudes em diferentes culturas, religiões e filosofias. Este estudo foi apoiado pela Mayerson
Fundation.
O grupo estudou:
- Taoismo, Budismo, Hinduismo, Islamismo e as tradições Judaicas e Cristãs.
– Filosofias de Platão, Aristóteles, Confúcio, Lao-Tzé, entre outros.
– No campo da Psicologia, autores como Ericson, Maslow, Geemberger, entre outros.
O resultado deste estudo foi apresentado no livro “Character Strengths and Virtues: A Handbook
and Classification”. A pesquisa foi realizada em inúmeras culturas ao redor do mundo. Os
pesquisadores concluíram que as forças e virtudes do caráter são mais universais do que eles
esperavam. O resultado foi uma lista com 24 forças pessoais. A esta classificação se deu o nome de
VIA* Institute on Character (www.viacharacter.org).
A lista de forças pessoais não é uma coisa rígida. Como a maioria das teorias científicas, está
sempre sujeita a mudanças quando novas evidências são avaliadas. A seguir estão descritas as 24
forças de caráter agrupadas em 6 virtudes principais.
A Classificação:
Sabedoria e Conhecimento: Qualidades cognitivas que envolvem a aquisição e uso do
conhecimento.
1 – Criatividade. (originalidade). Pensar em novas e produtivas formas de conceituar as coisas.
Gostar de ser original e fazer invenções.
2 – Descobridor. (interesse e busca do novo, aberto à novas experiências).Interesse em novas
experiências e descobertas.
3 – Mente Aberta. (visão imparcial e pensamento crítico). Pensar nas coisas, examinando-as de
todos os ângulos, aberto a todas evidências e pontos de vista.
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4 – Amor ao aprendizado. Buscar novas habilidades, novos conhecimentos e estudos, seja através
de ensino formal ou de maneira pessoal.
5 – Perspectiva. (sabedoria). Ser capaz de prover amplos conselhos e novas visões aos outros. Ter
formas de ver o mundo que faça sentido para si e para os outros.
Forças de Coragem. Força emocional que envolve a determinação de encarar propósitos e
objetivos, não obstante à obstáculos e oposições internas e externas.
6 – Coragem, Bravura e valor. Não temer desafios, ameaças, dificuldades ou dor. Agir com
convicção mesmo que seja incomum ou impopular.
7 – Perseverança. Ir até a conclusão do que se inicia, persistir no curso de uma ação ou propósito
independente dos obstáculos.
8 – Integridade. (autenticidade, honestidade). Se mostrar de forma genuina, assumir
responsabilidade
pelos próprios atos e sentimentos.
9 – Entusiasmo. (Vitalidade, vigor e energia). Viver com entusiasmo e alegria, se sentir vivo e ativo.
Forças humanitárias: forças pessoais que envolvem os relacionamentos humanos.
10 – Amor: valorização de relacionamentos próximos, especialmente os que envolvem o cuidar e o
afeto recíproco.
11 – Generosidade ( gentileza, cuidado, compaixão, amor altruísta.]: Fazer favores e boas ações
para os outros.
12. Inteligência social (Empatia): Estar consciente dos motivos e sentimentos de outras pessoas e
também aos próprios.
Justiça: forças ou virtudes cívicas que garantem uma vida saudável em comunidade.
13. Cidadania [responsabilidade social, a lealdade, o trabalho de equipe]: Trabalhar como um
membro de um grupo ou equipe, sendo fiel ao grupo.
14. Igualdade: Tratar todas as pessoas com igualdade, com equidade e justiça, não deixando
sentimentos
pessoais criarem um viés nas decisões sobre os outros.
15. Liderança: Encorajar um grupo do qual é membro para fazer as coisas necessárias, ao mesmo
tempo manter boas relações dentro do grupo.
Temperança. Virtudes que nos protegem dos excessos.
16. Perdoar: Não carregar mágoas do que os outros nos fizeram, aceitar as limitações dos outros e
as próprias, dar uma segunda chance às pessoas, não ser vingativo.
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17. Humildade (Modéstia): Deixar que nossas ações falem por nós mesmos, não acreditar e agir
como se fossemos melhor que os outros.
18. Prudência. Ser cuidadoso sobre as escolhas que faz, não assumir riscos desnecessários, não fazer
coisas que poderá se arrepender.
19. Auto-Controle. Ser disciplinado, ter certo controle sobre o que sente e faz, controle sobre os
apetites e as emoções.
Transcendência. São as virtudes pessoais que nos fazem uma conexão com a amplitude universo,
nos provê de sentido na vida.
20. Apreciação de Beleza e da excelência. ( Sentir-se maravilhado, encantado, elevado). Apreciar
as belezas da vida, assim como os talentos nos vários domínios da vida.
21. Gratidão. Estar ciente das boas coisas que acontecem na vida. Ter o hábito de agradecer às
pessoas e à vida.
22. Otimismo. Esperança. Esperar o melhor do Futuro e ter ações neste sentido. Você acredita de
alguma forma você pode influir no seu futuro. Expectativa positiva a respeito do futuro.
23. Humor. Gostar de fazer brincadeiras, de rir e se divertir, fazer as pessoas rirem, perceber o lado
engraçado das coisas.
24. Espiritualidade. (Religiosidade, Fé, Propósito na Vida): Ter pensamentos e crenças coerentes
com um propósito de vida. Encontrar um sentido na vida e no universo.
Todas as virtudes são iguais? As “ TOP5” !
Será que as 24 forças ou virtudes pessoais têm o mesmo peso e importância na satisfação com a
vida?
Para responder a esta pergunta foi feito um estudo com 4000 indivíduos. Neste trabalho os
pesquisadores Cristopher Peterson e Martin Seligman descobriram que existem 5 virtudes ou
qualidades principais. Estas cinco forças pessoais apresentaram uma correlação maior com a
satisfação e qualidade de vida. São elas:
1 – Gratidão
2 - Otimismo
3 – Entusiasmo
4 – Curiosidade (Interessado e Descobridor)
5 – Capacidade de Amar e ser Amado.
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Talento e Força Pessoal
Ao se trabalhar com este tema é importante definir o que é talento em relação às virtudes e forças
do caráter. Uma importante qualificação das forças e virtudes do caráter é que elas podem ser
aprendidas e desenvolvidas. Uma pessoa pode aprender a ter uma visão em perspectiva, a ter
mais entusiasmo e mais compaixão, a ser mais bem humorada e grata. Por outro lado, um talento
pode ser definido como uma habilidade inata e relativamente estável ao longo da vida da pessoa.
Como exemplo de talentos, podemos citar uma pessoa que tem o dom de tocar um instrumento,
de compor, cantar, pintar ou esculpir.
Uma força pessoal pode ter a combinação do talento com as habilidades e recursos, todos
colocados em ação, em um comportamento que traga vitalidade e fluidez para a pessoa. Um
talento sem uso não é uma força. As vezes é preciso de dedicação ao desenvolvimento de
habilidades e ferramentas para compor uma força pessoal.
Mesmo com o auxílio dos testes, somente o próprio indivíduo é capaz de indentificar e definir
quando ele realmente está utilizando uma força pessoal.
Plano de Ação
Existem 3 fases no trabalho com as Forças e Virtudes:
1 – Identificação. O primeiro passo neste processo de desenvolvimento é identificar suas próprias
virtudes, ter consciência das mesmas. Esta é uma fase fundamental que envolve se apropriar uma
linguagem e de uma familiaridade com as forças do caráter.
– O que é uma força e virtude? ; - Quais são as minhas principais forças? ; - Que forças estou
usando nessa situação?
2 - Exploração. Nesta fase busca-se conectar mais vividamente com as virtudes que se relacionam
com sua marca pessoal.
– O que sente quando usa suas forças?; - Suas principais identificadas fazem sentido para você?;
- Quando pensa em uma situação difícil que viveu, quais forças utilizou?; - Pense em pessoas
importantes para você, quais forças usam ou usaram?
3 – Aplicação. Nesta fase está envolvido a utilização das suas principais forças no seu dia a dia.
Esta é a fase da ação, quando se move do pensar e refletir para o agir. Requer um plano de ação
concreto e integrado à suas metas e seus valores na vida.
– Qual força você está interessado em utilizar mais no seu dia a dia?; - Em que situações pretende
utilizar mais a força, na sua casa, no trabalho ou na escola?
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Psicologia Positiva
Atividades Práticas
Prática – 1
Identificação dos Forças Pessoais através do teste VIA ou similar. Exploração da utilização das
forças.
Prática - 2
Utilizando suas Principais Forças
Pense e escreva quais forças você pode usar e de que maneira nas seguintes situações:
No trabalho:_________________________________________________________
Em casa:____________________________________________________________
Com amigos:_____________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Otimismo Aprendido
A expressão “otimismo aprendido” foi inicialmente concebida por Martim Seligman, pesquisador e
precursor da psicologia positiva. Esta expressão está descrita em seus livros, Aprenda a ser Otimista
e Felicidade Autêntica, e em linhas gerais se refere ao seguinte processo:
a)
Identificar os pensamentos e as crenças perturbadoras;
b)
Questionar e buscar as evidências destas crenças disfuncionais;
c)
Substituí-las por novas avaliações mais adaptativas e positivas.
Estilo Explicativo
O psicólogo Martin Seligman utiliza o conceito de “estilo explicativo” para entendermos melhor o
que é o otimismo. Ou seja, a maneira como a pessoa explica as causas de suas adversidades.
Dentro desta concepção, o otimismo não está nas frases positivas e nas imagens de sucesso,
mas sim, na maneira de explicar as origens do que acontece em nossa vida. É por isto que a
psicologia positiva não deve ser confundida com pensamento positivo ou afirmação de frases e
imagens positivas.
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Psicologia Positiva
Cada indivíduo tem o seu próprio “estilo explicativo". Dentro do modelo cognitivo, (adversidade
crença
conseqüência), ele se situa no centro, ou seja, nos pensamentos e nas crenças que
constituem nosso padrão de avaliar as situações.
Desenvolvemos o nosso estilo ou padrão de pensamento durante a infância e caso não sejam
tomadas algumas medidas no sentido de mudá-lo, o padrão poderá durar por toda uma vida. São
respostas aprendidas, padrões prontos de explicar os problemas que vivemos, agem como um
prisma através do qual vamos explicar o porquê das coisas acontecerem em nossas vidas, sejam
elas boas ou más.
Podemos mudar nosso estilo de pensar!
Martim Seligmam e Karen Reivich, pesquisadores da psicologia positiva apontam para o fato de
que podemos aprender a ser mais otimista:
"...é importante salientar que estes padrões de pensamento não são traços fixos da
personalidade, eles são estilos explicativos de pensamento e como tais são mutáveis. Portanto,
mesmo se o seu estilo hoje é ser um pensador pessimista, temos dados sólidos para sugerir que
aprendendo algumas habilidades de um estilo otimista, você pode absolutamente aumentar sua
capacidade de se concentrar em outras causas dos problemas, particularmente naquelas que são
mais transitórias circunstanciais...".
O primeiro passo é identificar e aceitar nossa forma de pensar. Esta é uma questão essencial
porque não podemos mudar nosso estilo de pensamento se em primeiro lugar não estivermos
conscientes dele. É comum encontrar pessoas com um padrão pessimista acreditando ser otimista.
Primeiro porque socialmente é mais aceitável ser otimista, segundo porque não aprendemos a
perceber e ser críticos com relação aos nossos pensamentos.
Para perceber melhor sua forma de pensar, faça a pergunta: O que eu digo para mim quando
algo ruim acontece? Que tipo de explicação dou para a situação?
Existem 3 Padrões de Estilos Explicativos:
Padrão 1: Personalizar os problemas. ( eu x circunstâncias)
A pessoa pessimista tende a personalizar os eventos negativos e culpar a si mesma. Você
usualmente vê os problemas como causados por você mesmo ou pelas circunstâncias? Quando
nos abrimos para novas possíveis causas de um infortúnio, que não seja a nossa culpa, estamos nos
permitindo ser mais otimistas e resilientes.
Por exemplo: você encontra o seu chefe e fala para ele “oi” e ele não reponde, como você
reage? Você irá atribuir o silêncio dele a uma falha sua, do tipo: “Meu desempenho está péssimo,
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Psicologia Positiva
ele deve estar furioso comigo”. Ou você irá explicar o silêncio dele por uma causa externa, do tipo:
“Ele deve estar num péssimo dia, talvez esteja passando por algum problema”.
Padrão 2: Generalizar os problemas. (específico x generalizado)
Este estilo se refere à explicação de que o problema é específico de uma área ou é generalizado
para todas as áreas de sua vida. Quando você atravessa um problema profissional, por exemplo,
seus pensamentos se restringem ao problema ou você generaliza para o âmbito familiar e social.
Ao generalizar os efeitos de uma adversidade estamos em um estilo pessimista, por outro lado,
quando vemos a situação como específica e restrita estamos sendo otimistas e resilientes.
Por exemplo: Uma pessoa não consegue cumprir o prazo para entrega de um projeto. Quando
a pessoa generaliza, ela pensa: “Sou um irresponsável”, este sentimento de irresponsabilidade pode
permear sua relação familiar e seus relacionamentos sociais. Quando ela se restringe à situação,
apresenta um estilo mais resiliente de pensar, como: “Não pude cumprir o prazo combinado neste
trabalho, no próximo vou me esforçar bem mais.”
Padrão 3: Perpetuar os problemas (temporário x eterno)
Você costuma pensar nas adversidades como algo temporário ou como algo que estará presente
durante um longo período? Quando acreditamos que as situações ruins que acontecem em nossas
vidas irão persistir e nos afetar para sempre estamos em um estilo pessimista. Mas, se acreditarmos
que a situação é passageira e específica, estaremos em um estilo otimista e resiliente.
Por exemplo, imagine que você tenha um desentendimento com alguém significativo para
você, qual a tua reação? Uma explicação temporária: “Estamos passando por um momento de
desentendimento”. Outra permanente: “Nunca conseguirei me entender com esta pessoa.”
Referências:
Seligman, Martin E. Learned optimism: How to change your mind and your life. Random House LLC,
2011.
Reivich, Karen, and Jane Gillham. "Learned optimism: The measurement of explanatory style." (2003).
Sujan, Harish. "Commentary: extending the learned helplessness paradigm: a critique of Schulman's
“Learned Optimism”." Journal of Personal Selling & Sales Management 19.1 (1999): 39-42.
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Psicologia Positiva
Gratidão
“A Gratidão não é só a maior das virtudes, é também parente próxima de todas as demais
virtudes.” Cícero
A Gratidão, em geral, pode ser definida como o apreciar e estar consciente das coisas boas que a
vida nos apresenta. Tradicionalmente estudada por filósofos e humanistas, recentemente ela tem
sido objeto de estudo de abordagens que utilizam a metodologia científica.
Historicamente, a gratidão tem sido abordada por filisofias e religiões como uma virtude social e
cívica, motivadora de benevolência, como um lembrete cognitivo e emocional da necessidade
social de retribuir (Emmons and McCullough, 2004). No entanto, do ponto de vista da Psicologia
Positiva, especificamente, a gratidão é cada vez mais entendida mais do que uma virtude moral
mas também como recurso de adaptação evolutiva e método e incremento social.
A psicologia positiva não estuda a gratidão apenas como uma disciplina acadêmica, mas
também como uma atividade prática que pode ser incrementada. É um instrumento para
incrementar o nível de felicidade e o equilibrio emocional.
Um dos mais destacados pesquisadores do tema, o Dr. Emmons demonstrou que a gratidão é uma
das maneiras mais poderosas e instantâneas para melhorar o estado emocional e aumentar o nível
das emoções positivas. Seu estudo demonstrou que as pessoas que expressam ou praticam a
gratidão são mais saudáveis, vivem mais, tem sono melhor e sentem-se mais jovens. (Emmons,
2004)
A pesquisadora Barbara Fredrickson ressalta as qualidades funcionais da gratidão, como uma
emoção positiva ela amplia a cognição e constrói recursos pessoais, de acordo com sua teoria
“Broaden and Build”. ( Fredrickson, 2004)
A gratidão nutre relacionamentos
Dentro de uma perspectiva social e humanitária, a gratidão serve como nutrição. Alguém faz algo
de bom e você diz: obrigado ou grato! Esta comunicação incentiva o realizador a fazer mais coisas
boas. Ambas as partes são preenchidas por sentimentos positivos.
Gratidão é fundamental para estabelecer e fortalecer relacionamentos. Imagine você sair com
alguns amigos e no dia seguinte você recebe uma mensagem de um deles dizendo: “Obrigado
pelo passeio na noite passada. Foi ótimo vê-lo!”. Como você se sentiria? Existe uma grande
chance de você sentir-se muito bem e querer encontrar essa pessoa novamente e o vínculo mútuo
fortalecer.
Gratidão e Saúde
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Psicologia Positiva
Também em pacientes com câncer de mama gratidão está fortemente associado ao crescimento
pós-traumático, reduziu angústia e aumento emoções positivas, mas, surpreendentemente, não
para o bem-estar psicológico. Como a maioria dos pacientes relataram níveis baixos de gratidão,
os resultados sugerem a importância de desenvolver intervenções para aumentá-los clinicamente
também em oncologia. (Ruini, 2013)
Gratidão e Estresse
Como exemplo, temos os estudos que revelam a gratidão como um traço de personalidade
clinicamente relevante. Esses trabalhos mostram que uma orientação de vida voltada para
perceber, reconhecer e apreciar o lado positivo da vida leva a níveis mais baixos de estresse e
depressão ao longo do tempo, a uma maior satisfação com a vida, melhores relações sociais e um
melhor sono. (Wood, 2008)
Intervenções
Intervenções clínicas para promover o bem-estar através do cultivo gratidão apresentam eficácia
semelhante às técnicas cognitivo-comportamentais na redução das perturbações emocionais
(Wood, 2008; Emmons, 2004).
Em geral, três métodos de indução da gratidão foram identificados: listas de gratidão, expressões
comportamentais de gratidão, e contemplação de experiências gratificante (Wood et al., 2010).
1 - As listas de coisas boas são as intervenções mais utilizadas, em parte por causa de sua
simplicidade, nas quais as pessoas constroem listas de coisas pelas quais são gratas. Por exemplo,
no estudo de Emmons e McCullough (2003), os participantes foram distribuídos aleatoriamente em
uma das três condições experimentais (ou seja, listar: aborrecimentos, gratidão e eventos neutros
de vida), foram feitos registros semanais de várias medidas de bem-estar (o humor,
comportamentos de enfrentamento, comportamentos de saúde, sintomas físicos, avaliações vida
em geral, etc.). Os participantes que listaram coisas pelas quais tem Gratidão, classificaram as suas
vidas de forma mais favorável, com menores níveis de sintomas de doenças e níveis mais elevados
de afeto positivo, em comparação com os outros participantes.
Estes estudos clínicos sugerem que as intervenções de gratidão são tão eficazes como terapias
clínicas comumente usados no tratamento da insatisfação com imagem corporal e pensamentos
de preocupação excessiva (Geraghty, Madeira, e Hyland).
2 - Um segundo tipo de indução de gratidão envolve expressões comportamentais de gratidão. Por
exemplo, Seligman e colaboradores (2005) pediram para adultos escrever e entregar uma carta de
gratidão a uma pessoa importante na vida de cada um. As pessoas que escreveram tais cartas,
relataram níveis mais altos de felicidade e menores de depressão no pós-teste e após1 mês.
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Psicologia Positiva
Da mesma forma, Froh e colaboradores (2009)estudaram crianças e adolescentes divididos
aleatóriamente em dois grupos. Em um grupo, os jovens foram convidados a escrever e entregar
uma carta de gratidão a uma pessoa, à qual ainda não havia propriamente agradecido. No
grupo controle, eles foram convidados a escrever sobre alguma coisa que fizeram recentemente.
Como resultado aqueles que participaram do exercício gratidão apresentaram os maiores
aumentos de afeto positivo e bem estar.
3 - Um terceiro tipo de intervenção para induzir a gratidão envolve a contemplação. Neste tipo de
intervenção o participante é convidado a pensar e contemplar situações gratificantes. Os estudos
demonstram um impacto de curto prazo sobre parâmetros fisiológicos de bem estar, embora,
ainda não há estudos investigando o impacto a longo prazo de uma intervenção contemplativa
de gratidão.
Por exemplo, Tiller e colaboradores (1996) demonstraram que as pessoas que se concentram em
pensamentos contemplativos de gratidão apresentam registros psicofisiológicos relacionados ao
bem estar e ao baixo nível de estresse, medidos através dos seguintes parâmetros: respiratório,
cardíaco e eletroencefalográfico. Esses registros ocorreram apenas no momento do experimento
de contemplação.
Dicas para aumentar a gratidão:
1. Procure identificar as coisas boas que lhe acontecem no seu dia a dia, por menores que sejam.
Identifique os detalhes das coisas positivas de sua vida.
2. Pense nas pessoas que trazem coisas boas em sua vida. Caso decida manifestar sua gratidão,
primeiro reconheça o sentimento antes de expressá-lo (as pessoas podem identificar um falso).
3. Olhe para as coisas que você costuma agradecer normalmente e adicione um toque extra. Por
exemplo, em situações que diz apenas obrigado, reflita e descreva melhor o que de bom você
pode reconhecer.
4. Utilize outras palavras e expressões, tipo: “eu aprecio muito quando você…”; “significa muito
para mim você …”, seja criativo nos seus agradecimentos.
5. Mantenha um diário de gratidão por três coisas boas no seu dia, semana ou mês. Fica mais fácil
ter acesso e se conectar com estes sentimentos no momento que precisar.
Referências:
Algoe, S. B., Haidt, J., & Gable, S. L. (2008). Beyond reciprocity: gratitude and relationships in
everyday life. Emotion, 8(3), 425.
Emmons, & McCullough. (2004). The Psychology of Gratitude. New York, NY: Oxford Press.
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Psicologia Positiva
Emmons, R. A., & McCullough, M. E. (2003). Counting blessings versus burdens: An experimental
investigation of gratitude and subjective well-being in daily life. Journal of Personality and Social
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Fredrickson, B. L. (2004). Gratitude, like other positive emotions, broadens and builds. The psychology
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Froh, J.J., Sefick, W.J., & Emmons, R.A. (2008a). Counting blessings in early adolescents: An
experimental study of gratitude and subjective well-being. Journal of School Psychology, 46, 213–
233.
Geraghty, A.W.A., Wood, A.M., & Hyland, M.E. (2010a). Attrition from self-directed interventions:
Investigating the relationship between psychological predictors, technique and dropout from a
body image intervention. Social Science & Medicine, 71, 30–37.
Seligman, M.E.P., Steen, T.A., Park, N., & Peterson, C. (2005). Positive psychology progress: Empirical
validation of interventions. American Psychologist, 60, 410–421.
Wood, A. M., Maltby, J., Stewart, N., & Joseph, S. (2008). Conceptualizing gratitude and
appreciation as a unitary personality trait. Personality and Individual Differences, 44(3), 621-632.
Wood, A. M., Maltby, J., Gillett, R., Linley, P. A., & Joseph, S. (2008). The role of gratitude in the
development of social support, stress, and depression: Two longitudinal studies. Journal of Research
in Personality, 42(4), 854-871.
Wood, A.M., Froh, J.J., & Geraghty, A.W.A. (2010). Gratitude and well-being: A review and
theoretical integration. Clinical Psychology Review, 30, 890–905.
___________________________________________________________________________________________
Conexões sociais positivas
Criar e manter relacionamentos saudáveis trás muitos benefícios para a saúde física e emocional e
nutre a resiliência pessoal. Temos muitas histórias, reais ou poéticas, escritas ou filmadas, onde por
algum motivo o indivíduo é levado a sobreviver longe da civilização. Por exemplo, as estórias onde
a pessoa é levada a viver em uma ilha deserta. Após vencer muitos desafios e aventuras o herói
consegue atender as necessidades básicas, como alimento, água e abrigo, mas sempre surge a
maior das necessidades do ser humano, re-encontrar alguém para sair do isolamento social.
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Psicologia Positiva
Podemos afirmar que, um ponto de consenso entre os estudos a respeito da resiliência é: a
presença de bons vínculos sociais é um elemento fundamental para um desenvolvimento
saudável. A rede de apoio social, a qualidade dos relacionamentos, o amar e o sentir-se amado,
permitem a qualquer pessoa superar com maior facilidade situações adversas.
A presença de relacionamentos afetivos que propiciam o suporte mútuo gera emoções positivas
e um sentimento de felicidade autêntica. Ao sentir-se mais feliz temos facilidade em construir novas
amizades, o que aumenta, ainda mais, nossa rede de apoio social e nossa resiliência, e um ciclo
que se retro-alimenta. Por outro lado, temos muitos estudos que relacionam o isolamento social
com: falta de esperança, tristeza, depressão, saúde debilitada e morte prematura.
Estudos no campo do desenvolvimento infantil demonstraram que crianças que desenvolveram
relações afetivas de boa qualidade na infância têm um melhor desempenho nas várias fases de
seu desenvolvimento e uma maior resistência a infortúnios.
Neste mesmo sentido, a visão humanista derivada de Carl Rogers nos mostra: os
relacionamentos saudáveis e o sentir-se vinculado, constituem uma das três necessidades
fundamentais para o desenvolvimento pleno do potencial humano. As outras duas são, a
necessidade de competência, sentir-se capaz de realizar algo, e a necessidade de autonomia,
sentir-se capaz de dar sua própria direção e não estar à mercê dos outros.
A saúde e bem estar de uma pessoa está diretamente relacionada à sua capacidade de se
conectar com outros e obter suporte em situações estressantes. Diante de adversidades, as
conexões sociais nos auxiliam de diversas formas: alguém para conversar, expressar nossos
sentimentos, ouvir opiniões diferentes, apresentar pessoas novas para um novo relacionamento,
propiciar contatos para uma nova frente de trabalho, entre outras.
Temos inúmeros estudos na literatura acadêmica que mostram o efeito benéfico dos vínculos
sociais. Para ilustrar temos um amplo estudo feito com pacientes cardíacos, em seus resultados, o
fator de maior relação com a doença cardíaca é o isolamento social, superando o tabagismo, a
dieta incorreta, e a falta de exercícios. Da mesma forma, temos estudos com pacientes
oncológicos, onde o fator de maior relação com a depressão, a ansiedade é a ausência de apoio
social.
Todos os relacionamentos sociais são benéficos para a resiliência? É claro que não. Nem todas
as pessoas que temos simpatia ou somos confidentes podem nos trazer um suporte saudável em
momentos de crise. Se o seu confidente for hostil, colocar-te para baixo e fazer-te sentir como um
miserável, com certeza você precisa encontrar um outro amigo para auxiliá-lo.
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Psicologia Positiva
A arte de fazer amigos
Em muitos momentos de nossas vidas, necessitamos dos outros para nossa sobrevivência e sucesso.
A conhecida frase de John Donne “nenhum homem é uma ilha” é uma verdade inquestionável.
Ao pensar em algum momento importante de sua vida, provavelmente você vai encontrar alguém
significativo por perto. A habilidade de criar e manter relacionamentos satisfatórios, imbuídos de
sentido e significado, é um fator crucial na nossa capacidade de lidar com situações estressantes.
Duas barreiras comuns impedem de dedicar-nos mais intensamente aos nossos relacionamentos,
são os mesmos obstáculos presentes em outros setores de nossas vidas: 1 - Estamos muito
estressados; 2 - Temos muito pouco tempo. Muitas vezes, passamos nossa vida priorizando metas
materialistas que nos afastam de coisas importantes para nós, por exemplo, os nossos
relacionamentos pessoais. E o pior, com o passar dos anos percebemos que aquelas metas não
trazem a felicidade e a realização que esperávamos.
As amizades não surgem do nada, têm que ser construídas. Dizem que o número mágico neste
assunto é três, no mínimo três amigos ou familiares com quem podemos contar realmente, acredito
que quanto mais, melhor! A seguir são apresentas algumas dicas úteis para aumentar seu círculo
de relacionamentos:
•
Dedique tempo. Mostre interesse pelo outro. Invista seu tempo para encontrar seus amigos,
e faça isto com uma freqüência regular. Não queira controlar a relação, deixe seu amigo escolher
o filme ou o restaurante.
•
Dê suporte e apoio. Esteja presente nos momentos que seus amigos necessitem. Procure ser
leal e respeitoso às confidências que por ventura receber de seus amigos.
•
Expresse admiração, gratidão e afeição. Manifeste sua apreciação e afeição diretamente.
Tenha o hábito de ser grato.
•
Comunique-se. Nem sempre é fácil expor nossos pensamentos e sentimentos íntimos, mas é
crucial para um vínculo efetivo e sincero. Faça contato com os olhos, dê toda a sua atenção no
momento de ouvir
•
Abrace. O abraço fraterno trás entusiasmo, aumenta a felicidade e melhora a conexão
com o outro.
Como Nutrir uma Relação Íntima
O que você quer de um relacionamento próximo? Se você é como a maioria das pessoas você
quer afetividade e companheirismo, aceitação e amor. Você provavelmente quer ser
compreendido e ficar sexualmente satisfeito, quer criar uma vida de sentido e propósitos
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compartilhados. Os sentimentos de amar e ser amado são sem dúvida um valioso nutriente da
resiliência.
Existe uma abundância de estudos sobre os relacionamentos de casais, muitos avaliam os fatores
do sucesso ou do fracasso de uma relação. Dois temas são recorrentes, os elementos que mais
destroem uma relação são a falta de comunicação e a discussão destrutiva e desrespeitosa.
O uso da psicologia positiva nos relacionamentos próximos pode ser bem útil. De acordo com
Shelly Gable, da Universidade de Santa Bárbara, Califórnia, uma importante chave para o
fortalecimento de uma relação está em focar no que está bem. Ao estudar centenas de casais
durante anos, a Drª Gable descobriu que a maneira como um parceiro reage a uma boa notícia é
muito importante. Para ela a reação proativa do parceiro amplifica os efeitos das emoções
positivas, incrementa a confiança e o vínculo. De maneira semelhante, o pesquisador da
Universidade de Washington, John Gottman, descobriu que nos casamentos onde se encontra
uma maior satisfação e sucesso, os parceiros dizem pelo menos cinco vezes mais coisas positivas ao
outro do que coisas negativas, por exemplo, o hábito de reconhecer virtudes, fazer elogios e
agradecimentos.
Uma resposta negativa ou de insignificante ao parceiro, por outro lado, diminui a confiança, a
intimidade, e a satisfação com o relacionamento.
Nesta concepção, diante de uma “boa notícia” trazida pelo parceiro, amigo querido ou filho,
existem quatro formas diferentes de se responder. Uma forma positiva, ativa e construtiva e outras
três neutras ou destrutivas. Imagine seu parceiro (a) chegando em casa com a notícia de que
recebeu uma promoção no trabalho, você tem a possibilidade de responder das seguintes
maneiras:
Resposta ativa construtiva. "Isso é ótimo, você ganhou, eu estou tão orgulhosa de você!"
Você faz uma pausa no que está fazendo, dedica sua atenção, faz perguntas e quer saber
detalhes. Isso transmite entusiasmo, apoio e interesse.
Resposta passiva construtiva. "Bom trabalho, querida(o)!" Em seguida, você passa para o
próximo tópico. Como jantar, ler emails ou cuidar dos filhos.
Resposta ativa destrutiva. "Uau! Isso significa que você estará trabalhando até mais tarde?
Vão te pagar mais? Eu não posso acreditar que você foi escolhido dentre todos os candidatos.”
Resposta passiva destrutiva. Pode ser de duas formas: "Uau, Espere, você não sabe o que
aconteceu comigo hoje", ou, "O que vamos ter para o jantar?", Ignorando completamente o
evento.
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Psicologia Positiva
A arte da boa comunicação
A comunicação é sem dúvida uma parte essencial de nossas vidas. Muitos livros e artigos já
foram escritos sobre a comunicação efetiva, seja no campo profissional ou interpessoal. A
habilidade de comunicar-se efetivamente permite a formação de vínculos autênticos que estão
na raiz do desenvolvimento da resiliência pessoal. As pessoas hábeis nesta arte conseguem
expressar seus sentimentos e pensamentos de forma clara e respeitosa; conseguem ouvir com
atenção o que os outros têm a dizer; articulam de forma adequada suas expectativas, metas e
valores; e conseguem resolver seus problemas com maior facilidade.
A seguir são apresentadas algumas questões que servem de exercícios úteis para guiar uma
comunicação efetiva:
• Qual meta que eu quero chegar com esta conversação?
• Estou falando ou fazendo coisas de uma maneira que as pessoas possam compreender?
• Estou me dirigindo às pessoas da mesma maneira como eu gosto que elas se reportem a mim?
• Como posso ouvir melhor o que os outros estão me dizendo?
• O que os outros fazem ou dizem que me afastam da comunicação?
• Mesmo que não concorde com o que está sendo dito, ao menos consigo validar e respeitar a
opinião do outro?
Habilidades da Comunicação
Comunicar envolve o desenvolvimento habilidades interpessoais, como: iniciar e manter uma
conversação, defender os próprios direitos com respeito e consideração ao outro, expressar
sentimentos, criticar e receber crítica, empatia, pedir, negar, perdoar, etc.
A seguir algumas dicas para aprimorar sua comunicação:
•
Seja um ouvinte ativo. Uma atitude comum nas conversações é buscar primeiro expressar as
próprias idéias. Com certeza, a habilidade de manifestar-se com clareza é importante, mas é
impossível se engajar em uma comunicação efetiva se falhar-mos em compreender o que o outro
está dizendo. Lembremos de São Francisco: Primeiro compreender para depois ser compreendido!
•
Dê validade ao que o outro diz. Saber ouvir é importante, mas não é suficiente. É bom
aprender a validar o que estamos ouvindo, isto não significa que estamos de acordo, mas sim,
indica um respeito e consideração pela opinião do outro.
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•
Psicologia Positiva
Evite considerações “tudo ou nada”. O uso das expressões “nunca” e “sempre”, são
obstáculos para uma comunicação efetiva. Frases como: “Você nunca me dá atenção”; “Você
sempre faz tudo errado”. Este tipo de afirmação ataca o caráter da pessoa e causam uma ruptura
na comunicação. Opte por manifestações específicas ao comportamento indesejado, como:
“naquela situação seu comportamento me fez sentir de determinada maneira”.
•
Faça do Humor um aliado. Um fato amplamente validado por estudos: a presença do
humor torna a pessoa mais adaptada, comunicativa, e capaz de lidar melhor com as situações
adversas.
•
Cultive a Empatia e saiba Perdoar. A empatia e a capacidade de perdoar são atributos
saudáveis e importantes para uma boa comunicação e para a resilliência. Estes assuntos serão
abordados com maiores detalhes a seguir.
Ver com os olhos do outro
A empatia está vinculada a uma boa qualidade na comunicação interpessoal e é outro
componente vital da resiliencia. È difícil pensar em uma comunicação efetiva com falta de
empatia. Ela é um ingrediente essencial, principalmente nos relacionamentos próximos, onde existe
afeto e sentimento.
Empatia pode ser definida como a habilidade de identificar ou perceber os sentimentos,
pensamentos e atitudes do outro, colocando-se no lugar da pessoa. Um conceito que está
associado a frases como: “como se estivesse na minha pele”; “ver com os olhos do outro”.
A empatia facilita a comunicação, o respeito, a cooperação, a amizade e a compaixão, ela
influencia significativamente a qualidade de nossas relações profissionais e pessoais. Ela permite
superar nossos padrões e automatismos negativos quando temos o intuito sincero de aprimorar
nossas interações sociais.
A arte de perdoar
Em nossas experiências de vida, é comum em algum momento sermos ofendidos, machucados ou
atacados por outras pessoas. A injúria pode ser de nível físico, sexual, psicológico ou emocional.
Respostas típicas e comuns à estas situações são: revidar na mesma moeda, evitar a pessoa ou
buscar pela vingança. É óbvio que respostas desta natureza costumam ter conseqüências
negativas e estressantes. Basta observar os resultados da busca por vingança ao longo dos anos:
rupturas de relacionamentos, assassinatos e guerras.
O que significa perdoar, porque e como perdoar? Este conceito tem a ver com interromper o
ciclo de evitação, ressentimento e busca de vingança que muitas vezes nos colocamos. Por ser
um termo usado em diferentes contextos, é importante deixar claro o que significa perdoar dentro
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da psicologia positiva e da resiliência. Perdoar não é uma reconciliação, ela não envolve
necessariamente o restabelecimento da relação com transgressor. Não é pedir desculpas nem
negar a injúria recebida. Também não tem nada a ver com reprimir a raiva e a dor, como na
concepção Freudiana de repressão. Tem a ver com olhar de frente para a raiva e a dor e buscar
sua transformação. O ato de perdoar é algo que você faz para si mesmo e não para a pessoa que
cometeu a injúria.
Esta virtude também abrange a dimensão intrapessoal, ou seja, quando nós perdoamos a nós
mesmos. Às vezes carregamos por anos sentimentos de culpa por atitudes indesejadas que
praticamos e não aceitamos. Representam uma carga desnecessária que limita e obstruem nosso
livre caminhar pela vida.
Por que perdoar
Existe evidência considerável sobre o benefício de perdoar, seja em estudos acadêmicos ou em
abordagens religiosas e populares. Pode existir alguém que discorde da universalidade desta
concepção, com argumentos suficientes para considerar determinada injúria como imperdoável,
que seja respeitado. Considero importante frisar novamente, perdoar não precisa envolver o outro,
é um ato interno, uma limpeza das mágoas que às vezes carregamos no coração.
Para ilustrar o “porque” perdoar, cabe aqui citar uma história derivada do budismo:
“Uma raiva ou mágoa mantida contra outra pessoa ou situação é como uma brasa ardente que
carregamos com a intenção de ferir o outro e não se damos conta de que quem está se ferindo
somos nós mesmos.”
Bibliografia
Altman, I., & Taylor, D. (1973). Social penetration: The development of interpersonal relationships.
New York: Holt, Rinehart and Winston.
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Psicologia Positiva
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Práticas da Psicologia Positiva nas Organizações
Aplicar a Psicologia Positiva no campo organizacional pode estar na identificação e no cultivo dos
pontos fortes das organizações e de seus colaboradores ou no desenvolvimento de uma Cultura de
colaboração.
Em boa parte do mundo, a riqueza econômica cresce e aumentam os recursos materiais, mas em
geral, o bem-estar emocional não.
Isso gera uma demanda por uma atenção maior ao bem-estar emocional, quer a nível pessoal,
quer ao nível organizacional.
Existe uma tendência nas pessoas, e também nas organizações; dar maior ênfase aos problemas e
falhas à serem reparadas.
Aplicar a Psicologia Positiva no campo organizacional pode estar na identificação e no cultivo dos
pontos fortes das organizações e de seus colaboradores.
Isto não significa evitar a análise dos problemas e deficiências, mas sim lidar com eles numa
perspectiva positiva e realista.
O objetivo é levar os indivíduos e as organizações a explorar e atingir o seu maior potencial.
Engajamento e satisfação no trabalho
O engajamento pleno do trabalhador em seu ambiente de trabalho é um problema mundial. Uma
pesquisa de âmbito mundial mostrou que apenas 14% dos trabalhadores se sentem plenamente
engajados nas empresas que trabalham.
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O estudo realizado pela empresa de consultoria internacional em RH, a Towers Perrin, mostrou que
muitas pessoas interessadas em contribuir mais no trabalho, são desmotivadas e desencorajadas
pelo comportamento dos seus gestores e pela cultura de suas organizações.
A questão é como fazer com que a pessoa se sinta mais engajada em seu trabalho?
A resposta da psicologia positiva é que quando a pessoa usa suas forças e competências, ela se
sente mais engajada, seu desempenho aumenta e ela fica com mais vigor e energia.
As pesquisas já demonstraram que quando as pessoas são consideradas mais pelas suas virtudes
do que pelas fraquezas, elas são mais produtivas e geram maior lucratividade para a empresa.
O Dr. Donald Clifton em uma pesquisa na fundação Gallup mostrou que quando a pessoa não
está fluindo no campo de suas forças pessoais ela está aproximadamente seis vezes menos
engajada do que quem está usando ativamente as suas competências.
Quando a pessoa não usa suas habilidades naturais, aumentam as chances de:
* Não sentir motivação para ir ao trabalho.
* Se relacionar mal com os parceiros de equipe.
* Tratar mal os clientes da empresa.
* Dizer mal da empresa aos amigos.
* Produzir menos.
* Ser pouco criativo.
Fora do âmbito da organização, esta pessoa também está sujeita a mais problemas de saúde e
dificuldades em relacionamentos.
Por outro lado, ao usar suas forças e talentos ativamente, os colaboradores aumentam a autoconfiança, a satisfação, a esperança e a gentileza para com os colegas de trabalho.
Gentileza no ambiente de trabalho
O valor da gentileza e da bondade transcende as barreiras de idade, circunstância, raça, sexo,
religião, cultura e política e fala com o nosso elo comum ... o nosso "humanidade".
Em outras palavras, a bondade e gentileza natural leva à cooperação, apoio mútuo e trabalho em
equipe.
Um uma ampla pesquisa a American Management Association pesquisou a associação de traços
de caráter com produtividade e engajamento. A pesquisa revelou que os funcionários que
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Psicologia Positiva
percebem gentileza na relação com seus superiores apresentam maior engajamento e
produtividade. (fonte, http://www.amanet.org/news/1456.aspx )
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