SISTEMA ROTACIONADO PARA ENGORDA DE BOVINO
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SISTEMA ROTACIONADO PARA ENGORDA DE BOVINO
SISTEMA ROTACIONADO PARA ENGORDA DE BOVINO. PIQUETES, IRRIGADOS POR MOLHAÇÃO NATURAL E MANUAL (CAPIM E LEGUMINOSA) AUTOR: PAULO JOSÉ DA SILVA IMPLANTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO: GERALDO MAGELA GARCIA TOPOGRAFIA: HOMERO DA SILVA NEIVA INTRODUÇÃO A experiência tem demonstrado, na prática, que o animal empastado em capim farto, nas épocas chuvosas, sem nenhuma suplementação alimentar (ração), apenas com suprimento mineral, desenvolve ganho de peso satisfatório, bem próximo do resultado em confinamento. As deficiências ou insucessos correm por conta do sistema extensivo tradicional, cujo efeito é, também, menos sentido em épocas de chuva, sobre o rendimento do rebanho, embora sobre o solo e a cobertura alimentar ou conseqüentes custos de recuperação não se possa dizer a mesma coisa. A conclusão óbvia nos leva acreditar que o pastêjo direto revela melhor resultado que o próprio capim levado ao cocho, desde que observadas algumas restrições, regras e cuidados. Comentário sobre experiências. 1. Velhos ditados rurais (alguns nossos), traduzindo uma verdade verbalizada, mas, as vezes não colocada em prática: 2. A melhor cerca para boi é o capim farto (cerca fraca – capim forte); 3. Boi no pasto não pode mostrar a canela; 4. O que estraga o pasto não é a boca, mas o pé (pisoteio do boi); 5. Água no solo, capim no colo; 6. Sol queimando o chão, capim anão; 7. Disciplina e jeito tira do boi o defeito; 8. A boa técnica de hoje sempre será produto da sabedoria e experiência de ontem; 9. A simplicidade é a melhor aliada da economia. O respeito a natureza é o pai do saber. A natureza é a mãe da riqueza; 10. Do boi se aproveita tudo. Até o berro, e assim por diante. Conciliando e respeitando essa sabedoria popular e manipulando seus efeitos, experiências e resultados, chegamos a implantação do sistema rotacionado, cujo objetivo é: 1. Conseguir racionalmente, melhor aproveitamento de 0,5 para 10 cabeças/há; 2. Reverter o quadro de degradação existente ou iminente, para restauração gradual da área utilizada; 3. Aproveitamento da qualidade físico-química da água de irrigação utilizada; 4. Aproveitar a textura, topografia e localização das terras; 5. Dinamizar as disponibilidades alimentares deixadas à disposição do rebanho e minimizar os custos do trato, com pisoteio controlado; 6. Reciclar os estrumes acumulados na fertilização da área, com adubação orgânica, preferencialmente; 7. Deixar fluir o instinto animal em proveito de bons resultados; 8. Deixar ao próprio animal a tarefa de buscar seu alimento, harmonizando-a com as regras naturais de auto preservação, com um manejo apropriado; conciliando o apetite e pisoteio. 9. Evitar o alto custo do corte e transporte do alimento para o cocho e outros transtornos como por exemplo: a) Remoção do capim azedo no cocho; b) As perdas nutricionais do capim cortado ou sua impregnação por outros gostos ou cheiros, rejeitados pelo animal. Assim, entendeu-se que a conversão do trato em carne (proteína), passa pela disponibilização de farta comida para o gado, até para economizar, na eficiência e custos de cercas necessárias a redivisão, em função do aumento das mangas existentes. O Manejo adequado, respeitando o limite de corte do pastoreio, tornou-se procedimento essencial à recuperação e volume desejados do capim. Também o tempo de pisoteio, constitui um fator importantíssimo a se observar com o máximo rigor, isto dando asa ao ditado de que o pé do boi é que estraga o pasto. O instinto animal é tão apurado e sensível que reage a qualquer ato descontrolado do criador (vaqueiro), mas também se lhe afina desde que harmônico, disciplinado e conseqüente. Como se vê, a reação pode estar a seu favor ou contra, segundo a maneira de agir. Aqui se aplicaria a máxima: “Disciplina e jeito tira do boi o defeito”. Tanto quanto a natureza, a singeleza e praticidade dos equipamentos e procedimentos, asseguram um retorno econômico, eficaz e tranqüilo, técnica transvestida de moderna, mas forjada na experiência e sabedoria por nossos antecessores. A natureza é dadivosa e se manifesta na pureza do instinto animal e, na força da criação, se a respeitarmos. Contudo é rigorosa e até rancorosa, quando a desprezamos. Assim até por questão de conveniência de origem material, devemos nos curvar a seus efeitos e buscarmos uma sentença melhor. Eis aí as observações nas quais se inspirou o projeto e dele se espera sucesso, já percebido, na prática de 3 anos: 1- Ganho de peso: 1,05 Kg/dia; 2- Menor área ha/animal; 3- Produção concentrada em estrumes, reutilizáveis na área; 4- Economia no trato, com insumos e recuperação de pastagem e investimentos mais racionais: a) Custo zero de transporte; b) Menos cochos a serem reabastecidos; c) Mais aproveitamento dos minerais deixados à disposição do gado; d) Facilidade na adição de suplementos, se necessário; e) Menor roçação; f) Pastoreio na melhor fase nutricional do capim; g) Cercas mais baratas; h) Aguadas mas baratas e fartas, etc., etc. 5- Regeneração dos pastos e restauração do solo, apesar do alto aproveitamento: a) Análise do solo, antes; b) Análise do solo, depois; Resultados das análises realizadas na área do projeto. Análise realizada em (antes) 13/10/94 (depois) 06/02/97 Ca + Mg 2,3 8,9 Ca 1,4 4,6 Mg 0,9 4,3 Al 0,7 0,0 K 153 mg/dm3(ppm) 173 mg/dm3(ppm) P 2,0 mg/dm3(ppm) 122 mg/dm3(ppm) Mat. Org. 1,7 2,7 PH 4,4 6,4 ELEMENTOS FONTE: Solocria Laboratório Agropecuário Ltda. 6- Docilidade dos animais para o manejo A observação do comportamento do animal, nos conduziu a reflexão de quanto é importante, sob todos os aspectos, tirar proveito prático, da refinada e instintiva sensibilidade do animal, caldeando isso com os conceitos já consagrados, porém muitos deles ignorados, na prática. Por exemplo, é sabido que o pisoteio é o mais inimigo do pasto, o que obriga os pecuaristas a optarem pelo confinamento intensivo, não obstante o controvertido resultado (custo – benefício). A produção, coleta, recolhimento, transporte, armazenagem, conservação, enriquecimento de comida levada ao cocho, onera de tal sorte, comprometendo qualquer previsão de bom resultado. Essa situação se agrava, quando o custo da dívida ou do investimento é agravada pelas altas taxas de juros vigentes. A saída mais óbvia, mas sempre desprezada, foi promover o confinamento a nível de pasto, ou, caso queira, a adoção de um sistema rotacionado em pequenas mangas, se possível, irrigadas, no período seco (junho, julho, agosto e setembro) em número de 36 de capim, 5 a 8 de leguminosa e 3 a 4 de piquetes de descanso, estes últimos distribuídos estrategicamente ao longo das mangas. A preparação do solo, a distribuição das mangas de capim, os sulcos e curvas de nível de irrigação, constituem providências indispensáveis. Implantando o projeto físico, a atenção se volta ao animal e a seu comportamento. É importante que os deslocamentos e reações do animal estejam trabalhando em benefício do objetivo principal, que é a conversão dinâmica do alimento em carne. O movimento do animal nas mangas e, em função disto, seu manejo, constitui elemento primordial à obtenção do resultado almejado. O tempo de pastoreio, por exemplo, deve ser absolutamente controlado, de modo a evitar excesso de pisoteio. Essa incidência e o seu momento precisam ser identificados com muita precisão. Fazendo a observação “ in loco “, chegou-se a conclusão que o animal, caminha mais quando entra no pasto semi-alimentado ou quando é solto em pasto pré-comido. Sempre refuga a comida e, por isso, caminha mais na busca de alimentação tenra e limpa (sem pastêjo). A única saída foi maneja-los de modo a ficar, na manga, somente nos momentos de fome, com retirada imediata nos momentos em que se encontram alimentados. O máximo de 8:30 horas por dia, nas mangas e, em intervalos predeterminados, nas áreas de descanso, para onde devem ser manejados, sistematicamente, nos mesmos horários. Diariamente, seria bom deixa-los 1 hora em piquete de leguminosa. Cocho, somente nos piquetes de descanso, com abundância de sal mineral. Se possível, todas as mangas seriam supridas de água. Caso contrário, é imprescindível aguada nos piquetes de descanso. A determinação do tempo decorre da observação de que o animal recolocado em manga já empastada, tende a rejeitar o capim e se põe a procurar comida tenra e sem cheiro estranho. Nessa jornada, sacrifica o pasto com excesso de pisoteio, só retomando o pastoreio após estar faminto, o que sacrifica o pasto, além de interromper o processo de ganho de peso. Para se chegar a essa conclusão, procedeu-se a um monitoramento sobre deslocamento do animal, submetendo-o a diferentes regimes de empastamento. Por exemplo, deixou-se o rebanho 3 dias seguidos na mesma manga, retirando-o à noite. No primeiro dia o comportamento observado do animal lhe dava uma movimentação de “X” passadas de deslocamento. No segundo dia, esse deslocamento foi aumentado em 30%. No 3º dia chegou-se a 50%. O nível de satisfação alimentar caía na razão inversa. No 1º dia, bem alimentado. No 2º razoavelmente alimentado. No 3º, sofrivelmente alimentado. O ganho de peso não foi confirmado, pois a certeza de mal resultado nos levou a modificar, de imediato, o regime de rodízio. Acredita-se que haveria redução de ganho de peso, fatalmente. Além disso, restaria considerar o estrago causado ao pasto, pelo acréscimo de pisoteio. Mas, antes de modificarmos o regime de rotação, reduziu-se o número de cabeças, antes programada para 1.000. E, para isso, uma operação de regra de três, determinou o número de 334 cabeças, isto é, 1/3/dia da lotação prevista, levando-se em conta que o suporte final de manga era de 1.000 (3,3 x 3,3 = aproximadamente 1.000). De início, percebeu-se que a compensação estabelecida, causava uma virtual perda de suporte, altamente prejudicial ao projeto. Além disso, o pisoteio se intensificado a partir do 2º dia sobre a manga, aumentava o prejuízo. No período experimental, fomos reduzindo gradualmente a freqüência sobre as mangas. Algum tempo manteve-se o período de 2 dias. E, ultimamente, 1,5 dias. Há poucos dias, resolvemos reduzir mais e reenquadrar o limite ao projeto original que é 1 dia (8 + 1 horas). Elevou-se a lotação para 700 cabeças. Para se ter uma idéia, a sobra de pasto, apesar da lotação dobrada, aumentou, significando que podemos encaixar a lotação de 1.000 cabeças, sem risco de faltar pasto. Como se comprova, o tradicional conceito de que animal empastado deixa de engordar e até emagrece quando movimentado, com freqüência, representa tão somente uma meia verdade ou uma confusão de entendimento e procedimento. O certo é que a freqüência deve estar subordinada a uma disciplina regular de manejo rigorosamente afinado ao instinto de auto-preservação do animal. O sossego do animal é essencial, porém ele pode ser conseguido com manejo super disciplinado, do contrário o animal se mostrará arisco e refratário a ele. Não é difícil verificar a docilidade da vaca parida poucos dias de manejo após o parto. O mesmo ocorre com o rebanho adestrado ao e com o manejo. RESULTADOS APURADOS NA FAZENDA CARAÍBAS – GO Extraídos os custos não operacionais, o exercício de 1997 proporcionou um resultado nulo entre receita e despesas, com a atividade fundada em engorda por regime extensivo, naquilo de melhor que se possa conseguir do sistema. Basta dizer que o índice de desfrute atingiu a melhor performance do setor situado em 42%, quando o indicador brasileiro está em 14%. Rendimento igual: 0,44% g/dia. Área utilizada = 13.000ha. É de se observar que a experiência parcial, em andamento, concorreu um pouco para esse resultado. Receita (faturamento) 1997 (lotação = 7.000 cabeças) Despesas 1997 Resultado = = 800.000,00 800.000,00 NULO Note-se que, para se conseguir a performance de desfrute acima, foi necessário dispêndio igual a receita, tornando o esforço nada atraente para o produtor e nem encorajador para o investidor. Daí o raciocínio: OBS: Se em 130ha/700 cabeças pode-se conseguir rendimento de 1,05kg/dia/animal (índice positivo de = 2.386), admite-se projetar a sobra da receita, mesmo se mantendo a despesa em idêntico patamar. Projeção (7.000 cabeças x 10 módulos rotacionários): Receita Despesas Resultado final = = 1.909.000,00 800.000,00 1.109.000,00 A situação demonstrada no quadro anterior, talvez não seja nova, entretanto, em outras épocas possivelmente fosse mascarada através de outros expedientes de renda ligados ao setor, mas nunca originários diretamente da produção. Por exemplo, as “catiras”, expressão de negociações paralelas, muito mais ligadas à especulação inflacionária ou outras, responderiam pelas receitas. É de se imaginar que as despesas de manutenção e restauração de pastagem sobre a área menor, devem, por lógica, ser menores. Contudo, esse fator fica para ser confirmado, como perspectiva agradável a sobrevir. Não precisa ser otimista para se chegar a esse prognóstico, pois a experiência na manutenção de grandes áreas, com todas as suas implicações e surpresas, sempre acarretam despesas expressivas, difíceis de serem cobertas com a exploração tradicional. O sistema ora apresentado não terá sido o melhor investimento, confrontado com outras oportunidades no mercado, contudo, no setor, representa substancial alento para quem gosta ou não tem como sair da atividade pecuária. De qualquer sorte, há de se contar com uma melhor e inteligente política para o setor, para propiciar condição de melhor retorno à atividade desenvolvida na forma tradicional, sob pena de decretar falência do setor, sem nenhum agouro, mas dentro da mais clara e pura realidade. É verdade que através de projetos renovadores, pode-se viabilizar a pecuária. Entretanto, a sua implantação leva tempo e exige investimentos hoje escassos no setor, e por cima atraídos ou canalizados para outros ramos mais sedutores. PROJETO DE SISTAMA ROTACIONADO Área por piquete = 30.000m2 (3ha)x36 Densidade de cobertura vegetal (capim) ATUAL = 17.500Kg/30.000 m2 Densidade idem programada (projetada) = 25.000Kg/30.000 m2 Capacidade de regeneração da cobertura vegetal = 1.000g/dia/piquete ou 333Kg/há/dia piquete. Conversão alimentar média/animal = 1.05kg/dia/cabeça Consumo volumoso = 25Kg/dia/cabeça NÚMEROS DE ANIMAIS EMPASTADOS Suporte atual = 700 cabeças ou 7cb/ha Suporte projetado = 1.000 cabeças/108ha ou 10 cb/ha Suporte atual por piquete x 36 dias = 233 cb/ha/dia Suporte projetado por piquete x 36 dias = 333 cb/ha/dia OBS.: Falta adensar, como projetado, a cobertura vegetal nos piquetes (alguns) Sistema de rotação = 1 dia/piquete limitada a 8:30 horas/dia Intervalo de descanso = 2:30h TOTAL HORAS NO RODÍZIO = 11 horas Todo o trabalho de observação se desenvolveu, tomando-se como referencial as conseqüências de pisoteio sobre o solo e objetivo principal foi o de conseguir um método capaz de atenuar ao máximo, os efeitos dos danos dele decorrentes, otimizando os resultados. Avaliando as graves conseqüências para o solo e o capim, dedicou-se especial atenção ao pisoteio, cuja ênfase nos permitiu identificar vários detalhes importantes que deveriam se somar aos sistemas rotacionados existentes, mas vinham sendo desprezados e precisavam ser resgatados e incorporados, mais por representar, como se disse, detalhes de convicções estabelecidas e com sucesso, a elas se emprestou menor atenção, coisa que se pretende aqui resgatar. Em regime de engorda extensivo, o animal age sozinho e desenvolve o sei instinto de auto-defesa, sob atitude de auto – independência e se torna arisco ou até avesso às ações e presença do homem. Daí o cuidado para não molesta-los com manuseio inadequado. Ao contrário, condicionando os interesses do homem, torna-se hiper-dependente deste, mas também super exigente em relação à disciplina e harmonia das ações. Exemplo: acostumado a iniciar e/ou encerrar seu ciclo de alimentação, exige manejo absolutamente regular, preciso na forma, jeito e horário. O volume alimentar também deve estar à sua disposição de forma semelhante e, se possível uniforme e, sistematicamente farto. A qualquer discrepância, se rebela, tornando-se estressado, afetando seu comportamento e apetite. Em todos os sistemas postos em prática, até hoje, sentimos a presença das fórmulas extremadas prevalecerem sobre os critérios conjugados das experiências desenvolvidas. As virtudes de uma fazem desprezar os méritos de outras. Se extensivo o método de criação ou engorda, só vale a aparente economia envolvida ou outros aspectos relevantes. Se intensivo, em confinamento, os aspectos técnicos e de modernidade se sobressaem aos outros. Se rotacionado pelo sistema “Voisan” , muitos critérios são levados em conta, porém o comportamento e instinto do animal que também atuam sobre os técnicos ou se intercambiam, são todos desprezados No semi-confinamento, a mesclagem dos dois sistemas tem como relevo, a redução do volumoso oferecido no cocho, com o suprimento adicional do pasto, em cuja rotação muitos fatores não são levados em conta e, se fosse, também o tornasse ante-econômico. O instinto animal pode facilmente ser condicionado para estar a serviço do homem ou, ao contrário, estará totalmente a favor da auto-preservação da espécie e fora de controle daquele. O que propomos fazer foi encarar o desdobramento e intercambiar os sistemas “Voisan”, rotacionando o gado em piquetes, com manuseio que leva em conta pormenores técnicos oriundos do comportamento intensivo, mas condicionado do animal e seus reflexos na regeneração ideal de pastagem e do solo, com máximo ganho de peso por área utilizada e menor custo possível, com um retorno econômico confortável. Uma vez condicionado, como se disse, o animal exige absoluta disciplina na lida, onde qualquer gesto, atitude, etc., deve ser constante, harmônico, meticuloso, em fim, disciplinado. A conjugação de duas experiências de sucesso em seu estado bruto, serviram de base aos desdobramentos das observações e ensaios de campo, que resultaram no trabalho que lançamos aos pecuaristas, desejosos de perseguir melhores performances em suas atividades, no campo. O avanço tecnológico iniciado a partir da prática do sistema “Voisan” – quebrou vários tabus na lida tradicional – pelos excelentes resultados que propiciou, por fazer prevalecer várias lógicas, perfeitamente aceitáveis, mas muitas não praticadas até então. Foi, sem dúvida, marco importante na trajetória do manejo bovino. Não conheço sua obra, mas presumo que tenha firmado conceito a partir de várias experiências e princípios físicos e comportamental do animal. Entretanto na prática, se deu mais ênfase ao aspecto tipicamente técnico e cientificamente suficiente para convencer qualquer pecuarista, desprezando-se o caráter comportamental do animal, produto de seu profundo senso instintivo, que atua ou é despertado no exato momento do manejo, reclamando, do vaqueiro, absoluta perspicácia para entender as reações do animal. Essas reações foram exaustivamente estudadas por Pavlov, com o seu cão, que deixou para nós um legado de vasto conhecimento sobre a matéria, onde foi realçado o extremo valor do instinto animal e até que ponto pode ser condicionado em nosso benefício. Eis ai, em síntese, duas experiências, que conjugadas na prática, terão fatalmente resultados benéficos aos que as adotarem. Uma impregnada de sentido filosófico, muito em moda à sua época, como forma de impressionar as forças religiosas, entidades atuantes na difusão dos conhecimentos e a outra de conteúdo eminentemente econômico e técnico. O regime intensivo de engorda pressupõe o emprego da mais refinada técnica operacional disponível e sugere opção pela modernidade no estilo de exploração. O confinamento incorpora toda essa idéia e se incumbe de reunir todas as soluções de ganho e de melhor expressão tecnocrática. No sistema intensivo rotacionado em piquetes, para se tornar possível, além de levar em conta as técnicas exigidas no confinamento, a maior preocupação reside em simplificalas com a ajuda de fatores naturais, fazendo estes trabalhar em benefício de melhor índice de produtividade: a) Eis que o capim, na plenitude de seu valor nutritivo é administrado ao gado; b) O próprio gado seleciona e busca sua alimentação no pasto em volume compatível com sua necessidade; c) O tratador define o regime de pisoteio a ser submetido ao pasto; d) O instinto animal aparentemente complexo, pode facilmente ser condicionado, segundo a convivência do manejo e colocado a serviço do sistema. O único inconveniente, perfeitamente contornável seria o pisoteio se não pudesse ser controlado. Este projeto se difere dos demais, talvez, basicamente nesse detalhe. Enquanto nos outros, o pisoteio constitui fator excludente do sistema intensivo a nível de pasto, neste, o pisoteio é condicionante, mas perfeitamente administrável. Aí que se insere o instinto animal condicionado, trabalhando a favor do menor pisoteio possível sobre a área, aliada a um regime de rodízio absoluto e rigorosamente controlado. Deve-se levar em conta a morfologia do solo..., mas, regra geral, qualquer solo se presta ao sistema. Os muitos argilosos ou muito úmidos oferecem restrições, por agregar mais custos na implantação do sistema. Basicamente a questão de custo restringe-se ao emprego de mais áreas (piquetes). Com a incidência do pisoteio em terras argilosas (massapé) causa mais danos, a freqüência do manejo terá de ser alterada, limitando o tempo de pisoteio para esses solos. Enquanto outros solos menos susceptíveis aos danos decorrentes do pisoteio, por exemplo, suportam 8 horas/dia de pisoteio, para os argilosos a redução é recomendável e, consequentemente, há de se ampliar o número de piquetes, daí os custos adicionais. Também a adubação orgânica se faz mais necessária, para garantir melhor porosidade, transpiração do solo, trazendo consigo o ônus respectivo a mais. Isso não significa que os outros solos não precisam manter porosidade via microorganismos, mas estes são menos comprometidos com o pisoteio, enquanto nos solos argilosos o comprometimento com a compactação é mais rigoroso. Os solos úmidos, para receber capim de melhor valor nutritivo e não causarem problemas ao casco do animal, terão de ser drenados. Se úmidos e argilosos, ao mesmo tempo, deve-se dedicar os mesmos cuidados aos argilosos, a exceção daqueles, cuja cobertura vegetal, é do tipo gramínea africana, resistente à umidade e pisoteio mais severo. Adotando-se, basicamente, os mesmos critérios do rotacionários retro, pode-se estender a prática para a engorda, sem nenhuma irrigação, introduzindo-se os seguintes procedimentos: 1- Duplicar a bateria de piquetes, para 72 unidades; 2- Reduzir o tempo de pastêjo, pela metade, isto é, 4horas/dia, no período seco, com retorno ao primeiro piquete, aos 37 dias ou, alternativamente, suprir com feno, servido no piquete de descanso, nas demais 4:30horas/dia, adicionando uma suplementação de ração balanceada, igual no sistema de semi-cinfinamento ou, alternativamente, manter o regime de pastêjo pelas 8:30h no piquete, com retorno, ao primeiro, ais 73º dia. Neste último caso, adicionar ao sal mineral, uma ração balanceada. 3- No período chuvoso, pode-se desdobrar a bateria de piquetes, em 2(duas) de 36 e duplicar o rebanho, adotando-se idêntico sistema rotacionário irrigado.
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