Avaliação da Privacidade do Facebook
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Avaliação da Privacidade do Facebook
Avaliação da Privacidade do Facebook Relatório Técnico Eliane Cristina de Freitas Rocha Manoel Pereira Junior Maria Lúcia Bento Villela Raquel Oliveira Prates Belo Horizonte – MG Outubro de 2012 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................ 3 2. Avaliação .............................................................................................................................. 4 2.1. Aplicação de Questionários......................................................................................... 4 2.2. Aplicação do Método de Inspeção Semiótica – MIS .................................................. 8 2.2.1. Visão Geral do MIS ............................................................................................... 8 2.2.2. Preparação e Realização da Inspeção .............................................................. 10 2.2.2.1. Principais rupturas identificadas ................................................................. 11 2.2.2.2. Meta-mensagem completa do sistema ......................................................... 18 2.2.3. 2.3. 3. 4. Apreciação Final ................................................................................................ 22 Aplicação do Método de Avaliação da Comunicabilidade – MAC........................... 23 2.3.1. Visão Geral do MAC............................................................................................ 24 2.3.2. Preparação dos Testes....................................................................................... 25 2.3.3. Realização dos Testes ........................................................................................ 27 2.3.4. Etiquetagem e resultados.................................................................................. 27 2.3.5. Geração do Perfil Semiótico .............................................................................. 36 Considerações Finais ......................................................................................................... 41 3.1. Consolidação dos Resultados.................................................................................... 41 3.2. Dificuldades Encontradas ......................................................................................... 41 3.3. Próximos Passos ........................................................................................................ 42 Referências ......................................................................................................................... 42 1. Introdução Cada vez mais as pessoas tem feito uso de redes sociais para os mais diversos fins, tais como entretenimento, trabalho e aprendizagem. Joinson (2008) afirma que em julho de 2007 os sites de redes sociais representavam 5 dos 15 sites mais acessados de acordo com o serviço Alexa.com1, sendo que o Facebook é o que mais se destaca entre todos eles. Os seguintes números apresentados por Giannakos, Giatopoulos e Chorianopoulos (2010) mostram a dominância do Facebook sobre os concorrentes, além de seu rápido crescimento: em 2010 a previsão era de que 400 milhões de usuários gastariam mais de 500 bilhões de minutos por mês disponibilizando mais de 25 bilhões de informações. Joinson (2008) destaca que o uso das redes sociais normalmente se volta para a criação de perfis, upload de conteúdos, como fotos, por exemplo, distribuição de mensagens e mecanismos de conexão entre as pessoas, sendo tais mecanismos o motivo principal ou a funcionalidade essencial do site de rede social. Para este autor, o aumento da popularidade das redes sociais despertou preocupações como roubo de identidade, usos em locais de trabalho, publicação de conteúdos indevidos (como pornografia infantil) e vício em tais ferramentas. Além disso, uma das grandes preocupações envolvidas nas redes sociais, bem como na área de estudos das interações mediadas por computador, é a privacidade (Gill et al, 2011). Dessa forma, o objetivo deste trabalho é avaliar como a privacidade é tratada no Facebook, ou seja, se os usuários se preocupam com este aspecto e se o sistema permite aos mesmos, de forma clara e intuitiva, definir eficientemente suas configurações de privacidade conforme desejado. A fim de alcançar este objetivo de forma ampla, neste trabalho foram empregados métodos distintos, propiciando enfoques diferentes. Inicialmente, foi realizada a aplicação de questionários aos usuários do Facebook, com o objetivo de detectar questões relacionadas à privacidade com as quais os usuários mais se preocupam, para então definir o escopo da avaliação. Em seguida, foi realizada a inspeção do sistema por especialistas, a fim de identificar a proposta dos projetistas do Facebook em relação à privacidade, bem como a existência de possíveis problemas na interface. Ao final, a fim de identificar a compreensão dos usuários acerca do que o sistema oferece através de sua interface, foi feita a avaliação do sistema com usuários reais, sendo a seleção de tarefas a 1 Serviço disponível na internet que mede quantos usuários visitam um determinado sítio. serem executadas pelos usuários durante os testes realizada com base em partes problemáticas do sistema, identificadas na inspeção realizada previamente. O restante deste documento está organizado da seguinte forma. Na seção 2, é detalhada a avaliação do Facebook, começando com a aplicação de questionários, passando pelo Método de Inspeção Semiótica (MIS) e finalizando com o Método de Avaliação da Comunicabilidade (MAC). Por fim, na seção 3, os resultados são analisados e são apresentadas as considerações finais. 2. Avaliação 2.1. Aplicação de Questionários Com o objetivo de compreender melhor o entendimento dos usuários sobre a privacidade no Facebook, foi disponibilizado um questionário on-line, no período de 23 de abril a 02 de maio de 2012. A divulgação foi feita através da rede de contatos dos pesquisadores e através do próprio Facebook. O questionário foi respondido completamente por 175 pessoas com idade igual ou superior a 18 anos. Foram elaboradas 27 questões objetivas e abertas, divididas em três categorias: 1) Identificação do perfil do respondente e sua experiência no uso de redes sociais; 2) Caracterização do uso do Facebook; e 3) A privacidade no Facebook. As questões das categorias 2 e 3, específicas sobre o Facebook, somente foram respondidas por 170 participantes da pesquisa, que responderam afirmativamente que na época da pesquisa eram usuários ativos do Facebook. Com relação ao perfil dos respondentes, a maior parte deles (73%) respondeu estar na faixa etária entre 18 e 27 anos, sendo que 59% eram do sexo masculino e 41% do sexo feminino. Sobre o último nível de formação concluído, 45% disseram ensino médio, 38% graduação, 13% mestrado e 5% doutorado. A maior parte dos respondentes se enquadrou na área de Tecnologia da Informação (57%), enquanto que 19% se enquadraram na área de Ciências Sociais Aplicadas, 10% na área de Ciências Humanas e 10% na área de Ciências Exatas e da Terra. Em relação à experiência dos respondentes no uso de redes sociais, 99,4% deles disseram que usavam ou já tinham utilizado o Facebook. Nas questões sobre a caracterização do uso do Facebook, identificou-se que, dentre os principais motivos de uso, estão acompanhar atualizações de contatos (71,2%), estabelecer e manter de contatos (58,8%) e compartilhar informações (54,1%). Pôde-se perceber que as funções educativas e profissionais são de ordem secundária para o usuário. Sobre a frequência de utilização, percebeu-se que a maioria dos usuários do Facebook participantes da pesquisa utiliza com muita frequência o aplicativo (70% usam mais de uma vez por dia), em especial em seções curtas (55% de seções duram até uma hora e outras 19% duram de uma até 2 horas). Os recursos mais utilizados pelos respondentes da pesquisa são as mensagens e o chat (61% e 59% dos respondentes, respectivamente, os utilizam com frequência), apontando a preferência dos usuários por um uso mais privativo do sistema. Sobre o número e a qualidade das conexões dos usuários participantes da pesquisa, observou-se que a maior parte deles possui até 500 contatos no Facebook (78,2% dos respondentes) e que a maior parte também não conhece todos os contatos que possui (64% dos respondentes afirmaram conhecer a maioria dos contatos e apenas 32% disseram conhecer todos os seus contatos). Observou-se nesse caso, como mostrado no Gráfico 1 - Relação entre o número de contatos e a quantidade de pessoas conhecidas dentre os contatos., que a faixa de contatos de 251-500 e 5011000 apresenta maior proporção de pessoas desconhecidas, indicando uma possível despreocupação do usuário com questões relacionadas à privacidade. 50 50 Você conhece Você conhece pessoalmente os seus pessoalmente osdo seus amigos/contatos amigos/contatos Facebook? do Facebook? 40 40 Sim, todos eles. Sim, todos eles. Sim, a maioria deles. Sim, a maioria deles. Sim, a minoria deles. Sim, a minoria deles. Não Não Count Count 30 30 20 20 10 10 0 0 0 a 50 51 a 100 101 a 0 a 50 51 a 100 150 101 a 150 151 a 151 a 250 250 251 a 251 a 500 500 501 a 1.001 a Mais de 501 a 10.000 1.001 a 10.000 Mais de 1.000 1.000 10.000 10.000 Em qual destas faixas se enquadra a quantidade de Em qual destas faixas sevocê enquadra quantidade de contatos/amizades que tem noa Facebook? contatos/amizades que você tem no Facebook? Gráfico 1 - Relação entre o número de contatos e a quantidade de pessoas conhecidas dentre os contatos. Na seção específica com perguntas sobre privacidade, foi perguntado aos participantes da pesquisa se eles já tinham encerrado alguma conta em qualquer rede social, sendo que 48,6% deles responderam afirmativamente à pergunta, dos quais 83 respondentes apontaram os motivos, por meio de questão aberta para encerramento da conta. Foi realizada análise de conteúdo dos motivos de encerramento de conta em redes sociais, através da qual foram criadas categorias de resposta abrangendo falta de uso da rede; migração para outras redes; problemas de interação com a ferramenta ou usuários dela e problemas específicos e explicitamente ligados à privacidade. Por meio de questão aberta, foi possível identificar que problemas com privacidade (sentir-se exposto, ter falta de controle sobre o que é público, desconforto com o monitoramento, problemas em relacionamentos pessoais e até uma conta hackeada) foram o motivo de encerramento de contas em redes sociais por 9,7% dos respondentes da pesquisa ou 20,5% do total de 83 respondentes que apontaram motivos de encerramento de contas em redes sociais. Outro motivo para encerramento de contas em redes sociais, indicado por 16,9% dos respondentes da pesquisa, foi categorizado como “Problemas na interface e/ou proposta de interação da ferramenta” e também está implicitamente ligado a problemas de privacidade, caracterizado pela queixa da baixa qualidade do uso pelos usuários da rede e o excesso de informações/spams que os incomodam. Ainda na categoria relacionada à privacidade no Facebook, quando os usuários foram questionados sobre se já haviam tido problemas de privacidade usando tal sistema, apenas 14% dos respondentes (vinte e quatro usuários) responderam afirmativamente, sendo estes usuários mais frequentes e/ou com maior número de contatos, indicando um possível relacionamento entre tais variáveis. Dos vinte e quatro usuários que relataram problemas de privacidade no uso do Facebook, 66,67% deles tiveram acesso indevido de terceiros a suas informações restritas, 12,5% tiveram suas contas invadidas, 8,33% receberam informações indesejadas ou indevidas, enquanto 12,5% apontaram outros problemas de privacidade (e.g. o uso da conta por terceiros, ao esquecer o computador ligado conectado ao Facebook). Ainda dentre esses usuários, apenas dois deles deixaram de usar o sistema por este motivo e dezessete deles alteraram o modo de uso do Facebook após o problema, sendo que 52,94% destes restringiram o acesso de terceiros a informações privadas e 23,53% restringiram informações postadas no perfil. Além disso, vinte destes usuários disseram ter excluído amigos por motivos de violação de privacidade. Continuando na categoria 3, partindo para outro ponto de investigação, foi perguntado aos respondentes do questionário que tipo de informação pessoal eles não divulgam no Facebook. Os dados relatados por meio de pergunta aberta revelaram que as pessoas aparentemente preocupam-se muito com informações pessoais (como dados da família, fotos e informações como endereço e localização, bem como viagens). Do total, 69% dos respondentes disseram que já limitaram o acesso às suas informações. Os tipos de restrições feitos sobre informações pessoais são mostrados na Tabela 1. É interessante notar que a limitação de acesso a fotos e a restrição de visualização de informações para grupos de amigos são os mecanismos mais utilizados para tratar questões de privacidade pelos usuários. Tabela 1 - Dados limitados pelos usuários no Facebook Respostas Limitação de acesso a dados Limitar para pessoas específicas Limitar fotos Limitar dados pessoais Limitar aplicativos Limitar informações de mural/postagens/feeds Todas as informações possíveis Outras Total Casos N % resposta % casos 33 65 29 5 25 4 5 19,9% 39,2% 17,5% 3,0% 15,1% 2,4% 3,0% 32,4% 63,7% 28,4% 4,9% 24,5% 3,9% 4,9% 166 100,0% 162,7% Fonte: Dados da pesquisa Observação: Questão de múltipla resposta. Questões abertas foram avaliadas e categorizadas Ainda na seção do questionário relacionada à privacidade, um conjunto de questões procurou identificar se os usuários possuíam conhecimento sobre a política de privacidade do Facebook e se conheciam o destino de seus dados no aplicativo. De acordo com as respostas obtidas, 67% dos usuários acreditam que seus dados são mantidos pelo Facebook mesmo após um eventual cancelamento de conta, e 50% deles não conhece os mecanismos de privacidade do Facebook por inteiro. Também foi questionado se os usuários consideram que o aplicativo tem o direito de divulgar suas informações. A maior parte dos respondentes (65%) considera que o Facebook não tem este direito, muito embora isso esteja na Política de Uso e Privacidade da ferramenta, como por exemplo, quando o usuário usa um aplicativo fora do Facebook, são fornecidas informações básicas, além da lista de amigos e informações públicas. Por fim, foi questionado se os usuários haviam lido a política de privacidade do Facebook, sendo que 94% dos respondentes responderam que leram apenas parcialmente ou até mesmo não leram. Analisando os dados dos questionários, foi possível verificar que, embora os usuários se digam preocupados com a privacidade de seus dados, e até mesmo demostrarem tal preocupação através da tomada de algumas medidas no sentido de garanti-la, suas ações muitas vezes não condizem com esta declaração, tendo em vista que, em geral, destinam pouca atenção a o quê o Facebook, enquanto empresa, pode fazer com seus dados. 2.2. Aplicação do Método de Inspeção Semiótica – MIS Os resultados obtidos pela análise das respostas do questionário motivaram esta etapa do trabalho, a fim de identificar a forma como os projetistas do Facebook apresentam aspectos de privacidade aos usuários, bem como identificar possíveis problemas na interface no que concerne a aspectos do sistema relacionados à privacidade de fotos, pois se observou, conforme os dados da Tabela 1 - Dados limitados pelos usuários no Facebook, que os usuários procuram limitar acesso às suas fotos como medida de proteção à privacidade. 2.2.1. Visão Geral do MIS O Método de Inspeção Semiótica (MIS) é fundamentado na Engenharia Semiótica (de Souza, 2005) – uma teoria explicativa da área de Interação Humano-Computador (IHC). Essa teoria se baseia na Semiótica para explicar fenômenos envolvidos no projeto, uso e avaliação de sistemas computacionais interativos. A Engenharia Semiótica (de Souza, 2005) entende a interface de um sistema interativo como sendo uma comunicação do projetista do sistema para os seus usuários. Esta mensagem (i.e. a interface) transmite aos usuários a quem o sistema se destina, que problemas ele é capaz de resolver e como interagir com ele para resolvê-los. À medida que o usuário interage com o sistema ele entende as questões sendo transmitidas pelo projetista. Assim, a interface de um sistema é tida como um artefato de metacomunicação, uma vez que a comunicação projetista-usuário se dá através da interação usuário-sistema. A mensagem enviada pelo designer para o usuário através da interface pode parafraseada da seguinte forma: Esta é a minha interpretação sobre quem você é, o que eu entendi que você quer ou precisa fazer, de que formas prefere fazê-lo e por quê. Este é o sistema que eu projetei para você, e esta é a forma que você pode ou deve usá-lo para conseguir atingir os objetivos incorporados na minha visão. A comunicação proporcionada através dessa mensagem é realizada por meio dos signos dispostos na interface do sistema. A Engenharia Semiótica classifica os signos de uma interface em estáticos, dinâmicos e metalinguísticos (de Souza et al., 2006 e 2010; de Souza e Leitão, 2009). Signos estáticos são aqueles que expressam o estado do sistema, e podem ser percebidos ao se olhar para uma tela do sistema (ex. o texto de um botão). Já os signos dinâmicos expressam o comportamento do sistema e surgem da interação do usuário com ele (ex. ação disparada ao se clicar em um botão). Por fim, signos metalinguísticos explicam outros signos da interface de forma direta (ex. sistema de ajuda). Para avaliar a qualidade dessa comunicação entre projetista e usuário, a Engenharia Semiótica define a propriedade de comunicabilidade, que consiste na capacidade de um sistema transmitir de forma eficiente e efetiva aos usuários suas intenções comunicativas e princípios de interação, que guiaram o seu projeto (Prates et al. 2000; de Souza, 2005). Quando o usuário não é capaz de entender a comunicação pretendida pelo projetista, pode-se dizer que ocorrem rupturas de comunicação que podem dificultar ou até mesmo impossibilitar a metacomunicação ou o uso do sistema. O MIS (de Souza et al., 2006 e 2010) é um método proposto para se avaliar a comunicabilidade de um sistema, em que o avaliador, especialista na aplicação do método, examina a interface de um sistema interativo, com o objetivo de identificar se existem rupturas de comunicação e então gerar a reconstrução da metamensagem enviada pelo projetista ao usuário através da mesma. O MIS é um método interpretativo e, como o usuário não participa da avaliação, é fundamental que o avaliador conheça a visão que o mesmo possua do sistema, para que possa falar em nome dele (de Souza et al., 2010). A aplicação do MIS é feita com base em um cenário que descreve o perfil do usuário, as partes do sistema sendo avaliadas e o contexto de uso sendo considerado. A aplicação do MIS ocorre em cinco passos: (1) inspeção dos signos metalinguísticos; (2) inspeção dos signos estáticos; (3) inspeção dos signos dinâmicos; (4) consolidação e contraste e (5) apreciação da qualidade da metacomunicação. Nos 3 primeiros passos o avaliador inspeciona os signos em questão e reconstrói a metamensagem transmitida pelo projetista ao usuário através apenas da classe de signos em questão. No passo 4, o avaliador contrasta e compara as metamensagens reconstruídas nos passos 1 a 3, procurando intencionalmente por significados contraditórios, inconsistentes ou ambíguos para os signos que as compõem, ou mesmo identificar situações em que a metamensagem ficou incompleta devido à ausência de signos que esclarecessem a intenção do projetista. No último passo, o avaliador apresenta a metamensagem completa do sistema, relatando sua apreciação final resultante da inspeção, através da apresentação e explicação dos problemas encontrados que possam dificultar ou impedir o usuário de entender a mensagem do projetista e, consequentemente, de interagir de forma eficiente e eficaz com o sistema. Em sistemas colaborativos, como é o caso do Facebook, a mensagem sendo enviada pelo projetista não é para um único usuário, mas para todo o grupo que utilizará o sistema para interagir entre si. Neste caso, a metamensagem sendo enviada contém também as decisões do projetista em relação aos papéis que cada membro do grupo pode assumir, as atividades e tarefas através dos quais podem ou devem interagir, e os protocolos e linguagens que devem ser usados pelos usuários para se comunicarem. Embora a metamensagem inclua novos elementos a serem comunicados aos usuários do sistema, como o MIS é um método que foca nos signos da comunicação, ele pode ser aplicado, sem adaptações ao contexto colaborativo (Mattos et al., 2009). 2.2.2. Preparação e Realização da Inspeção O escopo da avaliação realizada neste trabalho se restringiu às funcionalidades do Facebook relacionadas com fotos, incluindo postagem, marcação e compartilhamento de fotos. O escopo foi assim definido com base na análise das respostas obtidas no questionário, detalhadas na seção anterior, que mostra o compartilhamento de fotos como um recurso bastante utilizado (30% dos respondentes o utilizam com bastante frequência), sendo que seu acesso é o mais restringido pelos usuários (39,2%) em comparação a outros tipos de informação/recursos, devido a preocupações com privacidade. Toda a inspeção foi feita após o login no sistema, já que o mesmo não apresenta informações pertinentes antes desta ação. Como o método prevê, foi gerado um cenário que foi utilizado como base da inspeção. O cenário foi o seguinte: Daniel é estudante universitário, e sua turma da universidade em que estuda tem um acordo que diz que todos que tirarem fotos de suas festas, ocorridas durante o período letivo, deverão postá-las no Facebook, para permitir uma interação maior entre os colegas. Assim, Daniel deseja postar as fotos que tirou durante a festa de sua turma, realizada no último final de semana. No entanto, seguindo também protocolo previamente estabelecido pela turma, como algumas fotos podem ter imagens comprometedoras para Daniel ou seus colegas, ele deverá restringir o acesso às mesmas a apenas as pessoas presentes na festa. Além disso, Daniel deseja marcar as pessoas que aparecem nas fotos, a fim de que elas sejam notificadas pelo Facebook. Por outro lado, uma preocupação particular de Daniel em relação à privacidade é que, ao ser marcado nas fotos dos seus amigos, ele deseja poder decidir se a foto será ou não publicada para sua rede de amizades. Após a definição do escopo e a geração do cenário, a inspeção foi conduzida individualmente por três especialistas e, ao término das inspeções individuais, foi feita uma consolidação das análises, onde as potenciais rupturas identificadas por cada avaliador foram confrontadas. 2.2.2.1. Principais rupturas identificadas Ao consolidar os resultados das inspeções realizadas individualmente pelos três avaliadores, foi possível identificar algumas rupturas importantes, que podem prejudicar a interação do usuário com o sistema no que concerne a questões de privacidade, detalhadas a seguir: 1. As configurações de privacidade (que permitem controlar quem pode ver o que outras pessoas publicam na linha do tempo do usuário; analisar marcações do usuário em fotos de outras pessoas, e de outras pessoas em fotos do usuário; e controlar quem pode ver publicações nas quais o usuário foi marcado em sua linha do tempo) não estão facilmente acessíveis ao usuário, no momento em que ele está lidando com questões na interface relacionadas à marcação. Algumas rupturas se destacam nas possibilidades de configuração de privacidade acerca de marcações e postagens na linha de tempo do usuário, a saber: a mistura de textos em inglês e português, conforme se vê nas figuras 1 e 2, e a falta de clareza na redação dos textos presentes no acesso a cada uma das opções de perfil e marcação. Figura 1 - Interface com textos em inglês e português Há, ainda, falta de clareza com relação à análise das publicações onde o usuário foi marcado (Figura 2 – “Nota: Você ainda pode estar marcada e as marcações podem aparecer em qualquer lugar no Facebook”). Figura 2 - Configuração de análise do perfil 2. O usuário, ao executar ações que provocam interações com outros usuários, como marcar, curtir ou comentar uma foto, não tem sempre visibilidade de como tais ações serão transmitidas a outros usuários e quem são eles. 3. A metamensagem reconstruída a partir dos signos metalinguísticos indica que a ferramenta foi construída para o usuário que deseja e se preocupa com a privacidade de suas informações. No entanto, ao observar as metamensagens reconstruídas a partir dos signos estáticos e dinâmicos, percebe-se que a preocupação com privacidade não é evidenciada através de elementos na interface. 4. Apesar dos signos metalinguísticos dizerem que o usuário tem a liberdade de compartilhar suas informações com pessoas que desejar, muitas vezes isso não fica claro para o usuário quando ele está interagindo com o sistema, como, por exemplo, quando ele curte uma foto pública de um amigo, seus outros amigos, que não são amigos do dono da foto, têm acesso a essa informação. 5. Apesar dos signos metalinguísticos dizerem que quando o usuário marca alguém em uma foto, essa pessoa e seus amigos podem ver a foto, independente do público selecionado, na interface o usuário pode alterar essa configuração, para que apenas a pessoa marcada veja a foto, e não seus amigos. Ou, caso a configuração de privacidade da foto seja personalizada, e na lista de pessoas não constar os amigos da pessoa marcada, estes não poderão ver a marcação. Seria possível selecionar uma lista de pessoas para ver a foto, mas nesta lista não aparecem grupos (como os grupos fechados ou secretos) que o usuário pertence no Facebook, além disso, você pode estar sendo marcado em fotos sem tomar conhecimento disso, já que o comportamento do sistema indica que uma pessoa pode ser marcada em um grupo sem fazer parte dele e não ser notificada. 6. Apesar dos signos metalinguísticos dizerem que quando o usuário curte ou comenta uma foto de alguém, essa pessoa pode escolher o público que tem acesso a tal informação, na realidade o sistema permite que todos aqueles que tenham acesso à foto curtida e/ou comentada tenham acesso também a essa informação. 7. Apesar dos signos metalinguísticos dizerem que o ato de curtir uma foto de um amigo é publicado no mural (linha do tempo) do usuário, isso não acontece na realidade. Quando o usuário curte uma foto pública de um amigo, seus amigos veem tal informação. Porém, se a configuração de privacidade da foto for personalizada, e as pessoas que podem ver a foto não incluem os amigos do usuário que está curtindo a foto, seus amigos não veem tal informação. 8. Toda a interface utiliza a palavra “Foto” apenas, mas ao abrir a ajuda nota-se que vídeos também podem ser enviados, como mostrado na Figura 3. Figura 3 - Página de ajuda expandida sobre como carregar fotos e criar um novo álbum 9. Na marcação de fotos, é possível excluir uma pessoa para que ela não veja as marcações. Não ficou claro se a pessoa será excluída dos seus contatos ou apenas da visualização das marcações (Figura 4). Já na análise do signo dinâmico, é mostrado o rótulo “ocultar para” (Figura 5). Figura 4 - Página de ajuda sobre o que é marcação e como ela funciona expandida Figura 5 - Diferentes telas para os diferentes tipos de pessoas ou listas 10. Nas figuras 4 e 6 é possível ver que marcações podem ser removidas, mas na Figura 7 é possível ver que não há como remover uma marcação feita pelo usuário. Figura 6 - Página de ajuda sobre como remover uma marcação expandida Figura 7 - O nome da pessoa marcada é mostrado ao passar o cursor sobre a área 11. Ao enviar uma foto, de acordo com os signos metalinguísticos, o usuário deve clicar em novo álbum, mas esta opção não existe no envio de fotos (Figura 8). Figura 8 - Página de envio de fotos 12. Na Figura 9 são mostrados dois símbolos que não tem uma aparência significativa e em nenhum momento dos outros signos eles são mencionados. Figura 9 - Página após o envio de fotos 13. Não há uma opção para visualizar como a página será vista pelos amigos ou por qualquer outra pessoa. 14. Ao marcar uma foto, não há nenhuma indicação de que a pessoa marcada receberá uma mensagem e de que ela e amigos dela poderão ter acesso a esta foto (Figura 10). Mas o signo metalinguístico mostrado na Figura 4 explica o que acontecerá. Figura 10 - Criando uma marcação em uma foto já publicada 15. Ao clicar em excluir publicação, o usuário pode pensar que a foto foi excluída, mas na verdade ela permanece nos álbuns de fotos (Figura 11). Figura 11 - Visualização de fotos enviadas e ação do botão no canto superior direito 2.2.2.2. Meta-mensagem completa do sistema A partir das análises, realizadas pelos três avaliadores, dos signos metalinguísticos, estáticos e dinâmicos presentes na interface do Facebook, foi possível reconstruir a seguinte meta-mensagem consolidada: (Quem é você, usuário?) Eu acredito que você seja um usuário da internet (já que o sistema é web) e que gosta de usar redes sociais para gerenciar fotos, organizadas em álbum, de forma eficiente, seja compartilhando as suas fotos ou acessando as fotos de seus amigos. Acredito que você se preocupa com a privacidade das suas informações, mas que pode querer também disponibilizá-las publicamente na Internet ou em grupos para compartilhar “coisas diferentes com pessoas diferentes”. (O que quer ou precisa fazer?) Acredito que você deseja acessar seus álbuns, adicionar novas fotos e vídeos, bem com visualizar as fotos que seus amigos compartilham e as fotos em que você foi marcado, bem como criar novos álbuns ou publicar fotos em grupos. Ao criar um novo álbum, você deseja dar um nome para o mesmo, bem como adicionar uma descrição, o local onde as fotos foram tiradas, a data das mesmas, bem como selecionar as fotos a serem carregadas no álbum a partir do seu computador. Além disso, você deseja poder fazer comentários sobre seus álbuns, adicionar o local onde as fotos foram tiradas e a data, bem como escolher quem poderá visualizar seus álbuns de fotos, tendo a liberdade de compartilhar suas fotos, com pessoas e locais que desejarem, incluindo remover fotos de um álbum ou tornar uma foto capa do álbum, além de poder definir controles de privacidades para suas escolhas. Você também deseja poder fazer comentários sobre cada uma de suas fotos, adicionar local e data da foto e marcar as pessoas que estão nela, a fim de criar um link que pode ser seguido para obter mais informações sobre a pessoa marcada, permitir que as pessoas saibam quando elas aparecem em fotos ou outros itens que você compartilha ou para ajudar essas pessoas a adicionar detalhes sobre as fotos. Para fins de eficiência, você pode querer marcar amigos em várias fotos de uma só vez, receber sugestões de nomes de amigos que possam estar em suas fotos, ou mesmo marcar pessoas que não tenham conta no sistema. Quando alguém marca você em uma foto, você quer poder optar se quer ou não que sua foto apareça no seu perfil/linha do tempo, ou, se a foto já estiver em seu perfil, caso não goste da mesma, você deseja ter a possibilidade de removê-la. Você ainda deseja controlar quem pode ver as publicações nas quais você foi marcado em sua linha do tempo, bem como poder ativar ou desativar a análise das marcações feitas por seus amigos em suas próprias publicações na rede. Porém, quando você publica em grupo ou marca alguém em algum grupo, você não tem a possibilidade de escolher se a foto aparecerá ou não para o grupo nem poderá autorizar ou não que a marcação da foto apareça para o grupo, pois ela não irá para a sua linha de tempo, mas para a página do grupo. Finalmente, após postar uma foto, você pode desejar vê-la em tela cheia. (De que maneiras prefere fazê-lo e por que) Você prefere controlar a privacidade de suas fotos de forma direta, através da seleção de quem poderá ver suas fotos, no momento em que cria um álbum, quando o acessa posteriormente, ou quando acessa individualmente as fotos de um álbum. Você quer poder controlar tanto o que acontece quando seus amigos marcam você ou sua foto, como quem pode ver as fotos. Você quer poder ativar a análise de fotos em que foi marcado antes de serem publicadas em sua linha do tempo. Você quer poder também ativar a análise de marcações feitas pelos seus amigos em suas próprias fotos, sendo que quando alguém que não é seu amigo adiciona uma marcação a alguma de suas fotos, você será sempre solicitado a analisá-la, e quando você aprova uma marcação, a pessoa marcada e seus amigos serão capazes de ver a foto. Você deseja poder também controlar quem vê as sugestões de marcações quando fotos parecidas com você são carregadas (se os seus amigos ou ninguém), sendo que as sugestões podem sempre ser ignoradas e ninguém será marcado automaticamente. Para cada álbum você pode alterar as configurações de privacidade, mas não para o álbum Fotos de Capa, que é sempre público. Caso você não goste de uma foto do álbum de outra pessoa, você pode remover a marcação da foto ou levar o problema adiante. As fotos publicadas em alta resolução podem ser baixadas por uma pessoa com a qual você compartilhou a foto. Você pode escolher quem vê suas fotos apenas nos álbuns Fotos do Mural e Arquivos de Dispositivos Móveis. Acredito que você também deseje fazer marcações de forma eficiente e, por isso, utilizo o estilo de apontar e clicar e permito que você utilize links, botões e caixas de diálogos familiares. Também permito que, ao adicionar um novo álbum, você possa fazer a marcação de pessoas de forma agrupada, podendo também pular essa etapa de marcação de amigos. Ao marcar alguém em uma foto, o público de Amigos dessa foto se torna Amigos. Isso quer dizer que o público se expande para incluir amigos de todas as pessoas que estiverem marcadas nessa foto. Os links públicos só aparecem quando você estiver logado em sua conta e não apareceram para outras pessoas, a menos que você conceda a elas este direito. (Este é o sistema que projetei para você) (De que formas como você pode ou deve utilizá-lo) Este é o Facebook, um sistema que registra como suas informações aquelas que você opta por compartilhar e aquelas recebidas a partir de seus amigos. O Facebook permite que você gerencie fotos diretamente de sua página inicial, enviando diretamente uma foto, usando a webcam ou criando um álbum de fotos, ou visualizando fotos postadas por seus amigos e acessando seus próprios álbuns de fotos. Você pode alterar o nome do álbum recém- criado clicando sobre o nome do mesmo, e alterar o local e a data para o álbum, clicando em caixa de texto e selecionado/digitando valores. Você pode carregar mais fotos no álbum recém-criado ao clicar sobre um botão específico na interface, selecionando as fotos em seu computador que você deseja adicionar e permitindo que você defina quem poderá ver suas fotos. Quando você cria um álbum, você escolhe quem pode ver as fotos desse álbum, usando o seletor de público — no momento do compartilhamento ou depois, sendo lembrado pelo Facebook sobre o público com o qual você compartilhou da última vez que publicou. Para controlar a privacidade, na lista que se abre quando você clica sobre o botão de controle de privacidade, caso você selecione “Personalizado”, o Facebook abre a janela de “Privacidade personalizada”, que lhe permite personalizar quem poderá visualizar as fotos do álbum, digitando e selecionando a partir de uma lista um ou mais amigos. Clicando sobre links e botões, o Facebook lhe permite alterar a privacidade das fotos do seu álbum e alterar as informações do álbum, como nome, descrição, local e data, bem como adicionar mais fotos e excluir, assim como, para cada foto do álbum, adicionar/editar comentário, marcar pessoas e adicionar data/local. A configuração de privacidade do seu álbum Fotos da capa é sempre pública. Diferentemente de outros álbuns que você cria, você pode escolher um público para fotos individuais nos seus álbuns Fotos do mural e Arquivos de dispositivos móveis. Nesse caso, cada vez que você publica uma foto nova, você escolhe quem vê essa foto usando o seletor de público. Se você publicar no perfil (linha do tempo) de outra pessoa, essa pessoa controlará o público que poderá ver sua publicação. As pessoas com quem você compartilha podem sempre compartilhar suas informações com outros. O Facebook permite que você crie o álbum "Fotos do mural" automaticamente ao publicar fotos individuais no seu Mural sem criar um álbum específico para elas. Toda vez que você publica uma nova foto no seu Mural, ela é adicionada a este álbum. O Facebook permite o acesso à página de uma foto específica quando você clicar sobre a foto, no álbum de fotos, podendo então, a partir daí, retornar à sua página de perfil, ou obter informações sobre a foto, passando apenas o mouse sobre elementos da tela. Quando você está na página de uma foto, você pode visualizar quem postou a foto, a data da mesma e visualizar/alterar o público para o qual o álbum que contém a foto está visível. O sistema também permite que você adicione uma descrição para a foto, visualize quem está marcado na mesma e faça novas marcações, clicando sobre o botão “Marcar Fotos” ou sobre a foto e digitando/selecionado o nome da pessoa. O Facebook também permite a remoção de marcação e a visualização do local da foto. A edição de informação de fotos também pode ser feita de formas distintas, como clicando sobre o link “Adicionar uma descrição”, botão “Editar” ou sobre o link “Editar”. O Facebook também permite que o usuário curta a foto, a comente ou a compartilhe, ao clicar em links específicos na interface, mas a função compartilhar não é disponível para fotos publicadas em grupos. O Facebook exibe um menu de opções possíveis de serem realizadas sobre a foto, que varia se o usuário é autor da foto ou não. Ao comentar fotos, as únicas pessoas que podem ver o seu comentário são aquelas que podem ver o conteúdo sobre o qual você comentou. O Facebook permite também que você marque pessoas em fotos de forma agrupada, quando clica sobre o botão “Publicar fotos”, podendo você também cancelar a criação de álbuns a qualquer momento, através da exclusão das fotos carregadas ou da manutenção das fotos para serem publicadas posteriormente. O Facebook permite que você, ao marcar fotos, forneça o nome dos amigos a serem marcados e então selecione uma ou mais fotos para fazer a marcação. Quando possível, o Facebook sugere os nomes de amigos que possam estar em suas fotos para que você só precise salvar a marcação sugerida. Quando você marca alguém em uma foto, seu nome é exibido com a marcação, estando sempre claro de onde a marcação veio, e a pessoa marcada recebe uma notificação, podendo a foto ser exibida no perfil da pessoa e no Feed de notícias de seus amigos. Normalmente, a pessoa marcada e seus amigos poderão ver, comentar ou curtir sua foto, independente do público selecionado. É possível marcar até 50 pessoas ou páginas em uma foto. Algumas marcas podem não ficar visíveis se houver solicitações de marca pendentes. Se você não quiser que sua foto fique visível para os amigos da pessoa que foi marcada, você pode ajustar essa configuração. Se você marcar uma pessoa da qual não é amigo em uma publicação (ou se o proprietário ativou Revisar marcações em suas configurações de privacidade), ela será solicitada a aprovar uma marcação antes que possa ser adicionada. De forma equivalente, o Facebook pode também sugerir que você seja marcado por seu amigo em uma foto, comparando as fotos do seu amigo com as informações que reúne das fotos em que você foi marcado. Se algumas das fotos carregadas por você forem agrupadas, mas não incluírem a mesma pessoa, ou se você não quiser marcar alguém em uma das fotos, poderá remover essa foto da marcação com as outras. Quando você é marcado por alguém em uma foto, a marcação fica visível para o público que a pessoa escolheu para a foto, podendo incluir os amigos da pessoa que fez a marcação, você e seus amigos e outras pessoas marcadas na publicação. Você pode escolher se uma foto em que foi marcado aparecerá em seu perfil, se Análise do perfil (linha do tempo) estiver ativada, podendo aprovar cada foto individualmente ou aprovar todas as fotos de seus amigos. Se você aprovar uma foto e depois mudar de ideia, sempre poderá removê-la do seu perfil. Se você não gostar de uma marcação que alguém adicionou, você pode remover a marcação; enviar uma mensagem para o dono da publicação pedindo que remova a publicação do Facebook; denunciar uma publicação ao Facebook. Ao remover uma marcação sua de uma foto, a foto ainda estará no Facebook, mas não será mais vinculada ao seu perfil. Você também poderá usar a configuração de Visibilidade do perfil (linha do tempo) para impedir que algumas pessoas vejam fotos em que você foi marcado no seu mural (linha do tempo). Você também pode revisar as marcas que os amigos adicionam às suas publicações antes que elas sejam exibidas em seu perfil, ativando Revisar marcações. (Você pode se comunicar e interagir com outros usuários através do sistema) Você pode se comunicar e interagir com outros usuários através do sistema marcando pessoas em fotos, que permite, além do público escolhido para a foto, que a pessoa marcada e seus amigos (caso o público esteja definido como Amigos ou mais) vejam, curtam ou comentem a foto. O mesmo vale para quando você aprova uma marcação que alguém adiciona em sua publicação. Quando você marca alguém em uma foto, a pessoa é notificada, exceto quando você é marcado em uma foto de um grupo ao qual não pertença. Se a pessoa marcada não possui conta no Facebook, ela receberá um e-mail que fornece um link para a imagem. Por outro lado, quando alguém marca você em uma foto, seus amigos poderão ver tal foto, mesmo que seu compartilhamento seja restrito. Quando você altera informações de uma foto, as pessoas marcadas nessa foto são notificadas pelo Facebook, ou visualizam as atualizações listadas em seu “Feed de notícias”. A interação entre usuários também ocorre quando se comenta uma foto postada por outra pessoa, se compartilha uma foto, ou se define quem terá acesso às suas fotos. 2.2.3. Apreciação Final A partir da aplicação do Método de Inspeção Semiótica ao Facebook, considerando-se o cenário descrito na seção anterior, pôde-se constatar que tal sistema é uma plataforma de rede social de amplo uso por proporcionar diversas possibilidades de interações entre pessoas. No entanto, no que diz respeito à privacidade, dentro do escopo do presente trabalho, que se limita às suas funcionalidades relacionadas à postagem, compartilhamento e marcação de fotos, podemos dizer que o sistema apresenta rupturas de comunicação importantes, que podem levar o usuário a fazer um uso inadequado do mesmo. Apesar de o sistema apresentar uma aparente preocupação com a privacidade, manifestada pelos seus signos metalinguísticos (aqui representados pelo seu sistema de ajuda e pelas páginas de “Política de uso de dados”, de “Declaração de direitos e responsabilidades” e de “Princípios do Facebook”), na interface do sistema essa preocupação não é evidente, tendo em vista que é dado pouco destaque às opções de privacidade que o usuário pode manipular na interface, além da omissão de algumas informações que poderiam ser de grande valia para apoiar o usuário na decisão sobre o que deve ou não compartilhar. Um exemplo disso ocorre quando um usuário é marcado em uma foto. Mesmo sendo uma foto restrita apenas ao dono da foto, caso ele marque uma pessoa, esta ficará sabendo da marcação e todos os amigos da pessoa marcada poderão também ter acesso a esta foto. Apesar disso, o alerta sobre este fato na interface do sistema é ínfimo, se comparado às complicações sociais que podem ser geradas. Dessa forma, o usuário precisa ter um prévio conhecimento das ferramentas de privacidade para que possa conseguir restringir o acesso às pessoas que ele realmente deseja. Outro problema observado foi que, apesar de parecer que o compartilhamento de fotos em grupo protege mais o usuário, não há como ele filtrar/permitir que fotos ou comentários em seu nome sejam autorizados a serem colocados lá no grupo à semelhança da filtragem que acontece com a publicação no mural/linha de tempo do usuário e, apesar de não existir botão de compartilhamento de fotos postadas em grupos, o usuário pode fazer download delas. Acredita-se que, pelas análises realizadas, o usuário deve ter maior cuidado em decidir o que deve ou não ser postado no Facebook, pois a mera seleção do público que visualiza a foto (como fotos postadas em grupo, por exemplo) ou a ausência de links de compartilhamento não garante que as fotos sejam baixadas e se espalhem pela rede sem que o usuário tenha conhecimento disso. 2.3. Aplicação do Método de Avaliação da Comunicabilidade – MAC Para a aplicação do MAC, foram selecionadas tarefas a serem realizadas pelos usuários durante os testes que remetem a partes do sistema avaliadas durante a aplicação do MIS, de forma a verificar como o usuário receberia a mensagem de metacomunicação do projetista. Foram realizadas entrevistas com usuários antes e após a realização das tarefas previstas no teste, a fim de detectar a percepção do usuário sobre questões de privacidade tratadas pelo Facebook, dentro do escopo da avaliação, questões essas não possíveis de serem detectadas apenas durante a execução dos testes. A técnica de análise dos resultados das entrevistas pré e pós-teste, por endereçarem questões de privacidade concernentes ao propósito deste trabalho, foi inspirada na técnica de análise do método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS) (NICOLACI-DACOSTA, LEITÃO, ROMÃO-DIAS, 2004). Tal método exigiria a abordagem dos usuários em ambientes naturais, o que não aconteceu nesta pesquisa, embora, para o caso da análise do Facebook, a presença da ferramenta e a interação com ela tenham permitido, de alguma forma, tornar a discussão mais contextualizada e focada para os propósitos da pesquisa. Embora todo o método MEDS não tenha sido aplicado em todas as suas etapas, do delineamento dos objetivos da pesquisa até a interpretação e análise dos dados, procurou- se considerar duas abordagens de análise de dados de entrevista do MEDS: 1 - a importância de se considerar a forma das falas e não apenas o conteúdo delas, tendo sido dada atenção durante a análise na ocorrência de pausas e de adjetivos que revelem valores sociais, entre outros aspectos e 2 - realização de análise inter-sujeitos e intra-sujeitos das respostas dadas. 2.3.1. Visão Geral do MAC O Método de Avaliação de Comunicabilidade – MAC (de Souza, 2005; de Souza e Leitão, 2009; Prates et al., 2000) é um dos métodos propostos pela Engenharia Semiótica para avaliar a comunicabilidade de um sistema. Esse é um método qualitativo, que envolve a observação de usuários por especialistas, que analisam a interação do usuário com o sistema e identificam as rupturas por ele vivenciadas. O MAC se concentra em como a meta-mensagem está sendo recebida pelo usuário. As etapas de preparação do MAC envolvem a seleção dos participantes e geração do material para a avaliação. A aplicação é feita em um ambiente controlado e requer a gravação da interação do usuário com o sistema. Esta gravação é fundamental para a etapa de análise. É recomendável que os avaliadores façam anotações durante a execução de ações dos usuários que possam auxiliar posteriormente a análise. Ao fim da execução, recomenda-se que seja realizada uma entrevista com o usuário sobre sua experiência durante o teste. Todas as etapas previstas no método foram realizadas nesta pesquisa. Após a execução dos testes, passa-se então para a etapa de análise dos dados, que é dividida em três passos: (1) Etiquetagem: gravações da interação são vistas pelos avaliadores e expressões (selecionadas a partir de um conjunto pré-definido de treze expressões) são associadas aos momentos de ruptura de comunicação, simulando a comunicação do usuário para o designer sobre a interface (Prates e Barbosa, 2007); (2) Interpretação: com base na etiquetagem, identificam-se classes de problema de comunicação projetista-usuário ou interação considerando a classificação das expressões que caracterizam a ruptura quanto ao tipo de falha (completas – expressões “desisto” e “para mim está bom”, parciais – expressões “não, obrigado”, “vai de outro jeito”) ou temporárias – expressões “cadê”, “ué, o que houve”, “e agora?”, “onde estou?”, “epa!”, “assim não dá”, “o que é isso?”, “socorro”, “por que não funciona?”) que representam na comunicação entre o sistema e usuário, a frequência e o contexto em que ocorrem as rupturas, a identificação de padrões de sequências de expressões e o nível da ação em que ocorre a ruptura (operacional, tático ou estratégico); (3) Geração do perfil semiótico: realiza-se a reconstrução da meta-mensagem sendo transmitida pelo projetista ao usuário através da interface, e à medida que o avaliador vai fazendo tal reconstrução, ele deve endereçar os desencontros entre o que o projetista pretendia dizer e as evidências de como os usuários estão interpretando o que ele diz. 2.3.2. Preparação dos Testes Inicialmente, foi definido o propósito da aplicação do teste com usuários, para coleta de dados a serem analisados com o MAC. O propósito do teste foi investigar a percepção do usuário sobre a privacidade do Facebook. O teste consistiu de cinco tarefas, visando à exploração das configurações de privacidade, inspiradas no mesmo cenário utilizado para a inspeção realizada na etapa anterior deste trabalho (aplicação do MIS), com vistas a se manter consistência na análise e possibilidade de cruzamento de resultados da pesquisa de uma etapa à outra. Para a aplicação do MAC, foram criadas as seguintes tarefas: Quadro 1 - Tarefas realizadas pelo usuário no MAC N.º Ordem Descrição da tarefa Postar uma foto em um álbum novo, criado especificamente para armazená1 la, e compartilhar o álbum com os amigos. 2 Marcar um amigo em uma foto Alterar a configuração de privacidade de um álbum para compartilhá-lo 3 apenas com os amigos de uma lista específica Remover a marcação do próprio usuário em uma foto postada por um 4 amigo. Alterar as configurações de privacidade de forma que o usuário possa 5 decidir, antes da marcação ser publicada na rede, se ele que ou não que a mesma seja publicada. Para viabilizar a execução dos testes, foram criados perfis de usuário exclusivos para o participante e seus amigos, referenciados nas tarefas do teste. Foram utilizados nesses perfis nomes e fotos de personagens da literatura infantil brasileira, de forma a evitar que os usuários participantes expusessem a sua própria conta do Facebook durante a realização do teste e também para facilitar a identificação pelo usuário de seus amigos nas fotos manipuladas durante as tarefas do teste. Foi elaborada uma entrevista pré-teste, a fim de investigar o conhecimento dos participantes sobre o Facebook e suas configurações de privacidade, obtendo informações sobre sua experiência com o uso desta rede social, que pudessem influenciar tanto no resultado do teste quanto na avaliação dos recursos de privacidade. Também como parte da documentação para os testes, foi gerado o termo de consentimento, que descrevia a pesquisa e seus objetivos principais, além das diretrizes éticas para sua realização. Além disso, foi criado também um roteiro, a ser seguido pelos avaliadores em cada teste, para orientar os passos a serem executados durante toda a avaliação. Ainda foram criados roteiros de acompanhamento dos testes por parte dos avaliadores e de entrevista com participantes, a ser realizada ao final do teste. O objetivo dessa entrevista pós-teste foi discutir com os participantes as dificuldades que tiveram durante a realização das tarefas, além de esclarecer eventuais dúvidas e dos avaliadores sobre o ensaio do participante. Outro objetivo foi colher informações gerais sobre a sua percepção sobre a privacidade no Facebook, além de contrastar a impressão obtida pelo participante, após sua interação com o sistema, com suas expectativas expostas na entrevista pré-teste. Para verificar se as tarefas estavam descritas de forma clara e se eram plausíveis de serem executadas dentro de um limite de tempo razoável (máximo de 10 a 12 minutos para cada tarefa), foi realizado o teste piloto com um usuário. Este teste não identificou falhas no material e, portanto, o material original não sofreu alterações. Como o Facebook é destinado a qualquer pessoa que tenha interesse em participar de uma rede social para interagir com outras pessoas, optou-se por selecionar participantes que possuíam familiaridade com recursos da tecnologia, mas que não possuíam experiência nas configurações de privacidade alvo do teste (configurações de privacidade sobre fotos e recursos de marcação). Os participantes foram selecionados pela sua disponibilidade a partir da rede de contato dos avaliadores. É interessante registrar que nem todos os avaliadores conheciam todos os participantes, procurando o papel do observador na sala de teste ser desempenhado por um avaliador que não era conhecido do participante. Dos cinco participantes selecionados, dois eram graduandos, um mestrando e dois mestres, com idade entre 18 e 38 anos. O perfil dos selecionados é compatível com os respondentes do questionário da etapa 1 deste trabalho, sendo três deles da área de tecnologia da informação. Vale salientar que, embora esta seleção possa parecer inadequada para realização do MAC, pôde-se notar que o fator conhecimento da tecnologia da informação não influenciou na avaliação dos recursos de privacidade, conforme foi evidenciado nas entrevistas que adiante serão analisadas. Todos os participantes faziam uso do aplicativo no mínimo por um ano e meio, embora a frequência de utilização seja variável: um usuário esporádico e outros mais frequentes. O modo de interação é compatível com o levantado no questionário da primeira etapa desta pesquisa: uso diário e com interações curtas a cada entrada (logada) no sistema. Outro aspecto convergente do perfil dos participantes foi o fato de nem todos eles conhecerem pessoalmente todos os seus contatos, embora nem todos estejam na faixa de 250-500 contatos predominante na aplicação do questionário. Neste trabalho, serão utilizadas as siglas P1, P2, P3, P4 e P5 para identificar cada um dos cinco participantes do teste. No que diz respeito aos fatores que podem interferir na realização do teste, nota-se que três dos usuários não utilizavam o recurso de marcação de fotos, enquanto um deles sequer postava foto no aplicativo, o que torna o método MAC interessante de ser aplicado, já que seria desejável menos experiência nas funções em análise para o método ser aplicado. Embora o usuário P5 tenha demonstrado, na entrevista pré-teste, ser mais proficiente que os demais, ele revelou não conhecer todos os recursos de privacidade, sendo a coleta e análise de seus dados pertinente para os propósitos desta pesquisa. 2.3.3. Realização dos Testes Os testes foram executados em um ambiente de laboratório, no período de 20 a 26 de junho de 2012, com os participantes utilizando um computador com acesso a Internet para interagirem com o Facebook. O laboratório onde os testes foram realizados é divido em dois ambientes, acusticamente isolados: uma sala de teste, onde ficou o usuário acompanhado de um avaliador, que tomava nota em papel de aspectos importantes observados durante a interação e orientava os participantes em relação a dúvidas específicas sobre as tarefas, e sala de observação, onde ficou o outro avaliador que acompanhava a interação do usuário com o sistema através de dois monitores, um com a imagem de uma câmera que filmava o usuário e outro com o software Morae2 (módulo Observer) que capturava a tela do usuário. Ele também escrevia anotações, através do próprio software, de aspectos importantes observados. O módulo Recorder do Morae foi utilizado para gravação da interação de cada participante. As entrevistas no início e no final do teste foram gravadas em áudio utilizando gravadores digitais. O avaliador, que tomou nota de aspectos importantes percebidos durante os testes, conduziu também as entrevistas pré e pós-teste. 2.3.4. Etiquetagem e resultados A interação gravada durante os testes foi analisada pelos três avaliadores com o auxílio do software Morae, módulo Analyzer. Para a etiquetagem, os avaliadores assistiram aos vídeos com a gravação da interação de cada participante, identificando pontos onde ocorrem rupturas e atribuindo a estes uma ou mais etiquetas do MAC, remetendo a um 2 http://www.techsmith.com/morae.html tipo de problema de comunicação designer-usuário na interface (PRATES e BARBOSA, 2007; BARBOSA e SILVA, 2010). A distribuição das etiquetas identificadas por tarefas de todos os testes de usuários é mostrada no Gráfico 2. Gráfico 2 - Distribuição das etiquetas identificadas A tarefa 1 – postar uma foto em um álbum novo e compartilha-la com os amigos – foi realizada com facilidade pela maior parte dos usuários, sendo a maior parte das rupturas ocorridas provenientes de um único usuário, o usuário P2, que revelou nunca ter realizado as tarefas exigidas no teste. No que diz respeito ao resultado do compartilhamento/postagem para os amigos, foi perguntado aos participantes, na entrevista pós-teste, quem eles achavam que teriam acesso à foto compartilhada. Três deles responderam que seriam todos os seus amigos, porém dois participantes demonstraram ter dúvidas se seriam apenas seus amigos. A incerteza dos usuários quanto ao resultado da ação é expressa na fala de P2: “A princípio, todos os meus amigos”, sendo o uso do “A princípio” um marcador de incerteza no discurso. O participante P1 explicita o motivo da sua dúvida: “(...) uma vez que os amigos vão ver... eu fiquei com dúvida se um amigo quiser compartilhar se aí vai começar a passar para frente”. Neste caso, embora P1 tenha finalizado a tarefa com facilidade, mesmo com algumas rupturas (Cadê, E agora? Ué, o que houve?), não há clareza sobre o comportamento dos outros usuários na rede social. Todos os participantes conseguiram concluir a tarefa 2 – marcar um amigo uma foto – com facilidade, porém, na entrevista pós-teste, ao serem perguntados quem teria acesso à marcação, todos responderam que seriam os seus amigos e os amigos da pessoa marcada, sendo que um dos participantes tentou pensar qual seria a configuração de privacidade do amigo para responder. A tarefa 3 – alterar configuração de privacidade do álbum para que somente uma lista específica tenha acesso – foi concluída por todos os participantes com facilidade, tendo ocorrido apenas uma ruptura “Cadê”, uma “E agora?” e uma “Ué, o que houve?”, provavelmente pelo fato não apresentar uma forma padronizada de estabelecer a configuração de privacidade de um álbum. No caso da tarefa, para o usuário colocar a configuração que permite que apenas seus amigos da lista “TurmaComp” vejam as fotos, ele pode selecionar, no menu de configuração de privacidade do álbum, a opção “Ver todas as listas...” e então selecionar diretamente a lista desejada, como mostrado na Figura 12, ou então a opção “Personalizado”, escolher a opção “Pessoas ou listas específicas...”, na caixa de diálogo que se abre, e então digitar o nome da lista, como mostrado na Figura 13. Figura 12 - Uma forma de indicar a configuração de privacidade de um álbum para uma lista Figura 13 - Outra forma de indicar a configuração de privacidade de um álbum para uma lista O segundo modo de interação (com o recurso de preenchimento do campo na Figura 13) foi considerado pouco intuitivo pelo participante P4, motivo gerador da ruptura “E agora?”: “Eu acho que não é intuitivo, por exemplo, a da lista, a que era para selecionar a lista, em um momento eu procurei a lista e aí depois eu lembrei que o Facebook é autocomplete, eu vou digitar e ela vai aparecer, mas acho que para quem começa a usar é difícil”. Foi perguntado aos participantes a respeito de quem teria acesso ao álbum compartilhado com a lista. Mais uma vez, nesta tarefa, nota-se a falta de segurança ou certeza dos usuários quanto à restrição de postagem no Facebook. Espontaneamente, todos os participantes disseram que quem teria a foto seria apenas os participantes da lista, mas questionados se a marcação feita anteriormente perderia o efeito, eles reconstruíam a resposta demonstrando incerteza, esta menos evidente, porém, na fala de P3. O grande número de rupturas apresentado na tarefa 4 – remover uma marcação do usuário feita por um amigo - ocorreu tendo em vista que a opção de remover marcação não está explícita na página da foto que exibe a foto a ser desmarcada. Dessa forma, dois usuários clicaram sobre o link “Remover”, em destaque na Figura 14, pensando que estariam removendo a marcação da foto, mas na verdade estavam removendo a foto do seu perfil. Desses dois usuários, um percebeu que havia realizado a ação incorretamente e então conseguiu depois remover a marcação; porém o outro usuário não percebeu o erro e deu a tarefa como encerrada, dando origem à ruptura etiquetada com “Para mim está bom...”, cometida pelo participante aparentemente mais proficiente no aplicativo (P5). Figura 14 - Página de foto – opção de remoção de marcação não exibida Para o usuário remover a marcação da foto, faz-se necessário que ele posicione o ponteiro do mouse no interior da área preta sobre a qual é exibida a foto, para que apareça o menu “Opções”, que exibe o item “Denunciar/remover marcação”, quando o usuário clica sobre o mesmo, conforme mostrado na Figura 15. Figura 15 - Página de foto – opção de remoção de marcação exibida Na entrevista pós-teste, quando os participantes foram questionados sobre o resultado da ação de remoção de marcação, estes se mostraram inseguros dos seus efeitos, se a marcação continua acessível aos amigos da pessoa que marcou ou não. Mais uma vez, nesta tarefa, nota-se a falta de segurança ou certeza dos usuários quanto ao acesso à informação. A falta de consciência ou atenção para a configuração de privacidade aparece em todas as falas, exceto na de P3, que anteriormente (na tarefa 2), já tinha se mostrado atento ao problema de configuração de privacidade de outros usuários. A questão parece ser simples, mas quando discutida, revela sua complexidade, diante da natureza do sistema caracterizado como rede social. A tarefa 5 – alteração de configuração de privacidade – revelou dúvidas dos usuários em relação ao comportamento do sistema. O número considerável de etiquetas “Cadê”, “O que é isso?” e “Epa!” se deve ao fato de não estar explícito na interface a forma como o usuário deve proceder para analisar as publicações em que foi marcado antes delas serem exibidas em seu perfil. Para ativar essa opção, é necessário que o usuário vá até a página de Configurações de privacidade, acessada a partir do menu denotado pelo signo estático , situado na extremidade direita da barra azul localizada na parte superior do Facebook. Somente um usuário clicou na opção errada de “configuração de conta” em lugar de “configuração de privacidade”, porém, demonstrando que provavelmente não é um problema encontrar a opção de configuração adequada. Outro aspecto marcante foi que todos selecionaram, dentro da opção de configuração, o item correto de “Perfil e Marcação – Editar Configurações”, parecendo que a mensagem do designer é clara neste aspecto (quanto à identificação das opções de configuração de marcação), conforme aponta uma das participantes do teste: “O lugar onde é eu sei” (P5). Na página de “Configurações de privacidade, é necessário que o usuário altere as suas configurações de “Perfil e marcação”, acessando o link “Editar configurações”, como mostrado na Figura 16. Figura 16 - Alterando as configurações de privacidade de “Perfil e marcação” Quatro entre os cinco participantes ativaram, além da opção necessária para executar a tarefa, em destaque na Figura 17 – item (a), outra opção, que também diz respeito a marcações, mas, no caso, a analisar marcações de seus amigos em suas próprias publicações no Facebook, em destaque na Figura 17 – item (b). Tal fato gerou rupturas “Para mim está bom...”, tendo em vista os usuários não perceberam que estavam ativando uma opção não solicitada pela tarefa. Figura 17 - Caixa de diálogo para configuração de “Perfil e marcação” Pelo fato da ruptura ser completa, é interessante notar as dúvidas verbalizadas durante as entrevistas a respeito desta tarefa. Apesar de todos terem acessado o item correto da configuração (nota-se, inclusive, que há ausência das etiquetas “Onde estou?”, “Por que não funciona?”, “Assim não dá.”), todos, sem exceção, não têm certeza sobre as ações que realizaram, mesmo P1, único participante que executou a tarefa com sucesso: “(...) eu nem sei se eu fui no lugar certo, não tenho certeza, não sei se era exatamente ali (...) o texto falou (...) que eu poderia continuar marcada e continuar aparecendo em outros lugares no Facebook, então, eu não entendi nada” (P1). É importante notar, no caso da configuração dos recursos de privacidade, que todos os usuários consideram a redação do texto confusa, pouco clara, como acontece na nota “Você pode ainda estar marcada e as marcações aparecerem em qualquer lugar no Facebook”, como visto na Figura 2. É importante notar que a falta de clareza nesta interface já tinha sido detectada pelos avaliadores por meio do MIS. Outro participante, o que aparentemente é mais experiente, se mostrou mais consciente da configuração de privacidade e justificou a escolha das duas marcações assim: “Eu acho que sim [que tinha que ter marcado as duas opções], porque a primeira opção que eu ativei, uma das opções era para eu autorizar as marcações feitas em fotos que eu publiquei não aparecer para outras pessoas e a outra (...) marcações que as pessoas me marcam e aparecem para outras pessoas (...). Em teoria, teria que fazer isso, né, todas as marcações que fossem feitas sobre mim”. Nota-se a presença da fala “em teoria” como marcador, no discurso, da incerteza sobre o resultado da ação do usuário e a repetição de palavras que indicam que o usuário está procurando pensar sobre o que fez. No geral, ao sumarizar as rupturas ocorridas no sistema, possivelmente a grande ocorrência das etiquetas “Cadê” e “E agora?” é causada pela dificuldade em encontrar funcionalidades que remetem a questões de privacidade no Facebook, devido à baixa visibilidade dada pelo sistema a essas opções, bem como à falta de padronização das opções no sistema, algumas estando presentes dentro de menus, que muitas vezes ficam escondidos, outras como botões que aparecem apenas em algumas páginas e outras ainda como links. A grande ocorrência da etiqueta “Epa!” demonstra ambiguidade nos termos utilizados pelos designers do Facebook. Como exemplo, podemos citar a criação automática de um álbum ao enviar uma foto. O usuário clica no botão “Enviar Fotos” e um álbum é automaticamente criado, sem que o usuário tenha solicitado a sua criação. E quando o usuário explicitamente pede a criação de um álbum, como visto na Figura 18, é aberta uma tela para o usuário selecionar uma foto, função esta que normalmente não tem relação com a criação de um álbum. Figura 18 - Interação para a postagem de foto e criação de álbum Por outro lado, os participantes não tiveram muita dificuldade em identificar o contexto em que se encontravam, (ausência da etiqueta “Onde estou”?) exceto P5, no início do teste, pois se disse mais familiarizada com a interface “linha do tempo” e o sistema não estava configurado para ele. Outra observação foi que os participantes não recorreram à ajuda (ausência da opção “Socorro”), e mesmo usuários experientes e com tempo pequeno na execução das tarefas (P4 e P5) gastaram algum tempo para localizar a foto em que foram marcados, por ela não estar presente nos álbuns visitados do perfil do usuário. O participante P5, durante o teste, chegou a perguntar aos avaliadores se poderia marcar outra foto. Foram analisadas as entrevistas pré e pós-teste nas questões relativas à privacidade por meio do MEDS, conforme já mencionado. Nas respostas inter-sujeitos, a ocorrência que parece mais significativa, aos olhos dos pesquisadores, é a incerteza. São várias as falas explícitas sobre a falta de clareza da ferramenta e se é possível o controle da privacidade com os recursos da ferramenta. Os participantes falam explicitamente que é preciso testar (P1, P4 e P5) ou vivenciar situações para saber os efeitos do compartilhamento. No que diz respeito à análise intra-sujeitos, nota-se, na fala de P1, preocupação com o ocultamento das informações pessoais, ao revelar postura mais passiva, ao abandonar a postagem de fotos, ao já ter tido problemas de relacionamento afetivo por causa da ferramenta. Já a fala de P5 revela uso diferenciado da ferramenta: como ferramenta para estar mais próxima de poucos amigos (preferência por uso de mensagens pessoais, acompanhar atualizações dos melhores amigos). Talvez por esta razão ela não tenha entendido bem o significado do que seria “informação pessoal”, ao perguntar os pesquisadores o que seria isso. O participante P3, por sua vez, revelou pouca preocupação com a privacidade em relação aos demais usuários (posta informações de localização, por exemplo, coisa que o participante P1 reprova), e paradoxalmente, foi o que mais parecia estar atento às configurações de perfil de privacidade ao responder sobre o acesso às fotos marcadas. O participante P4 revelou um perfil aparentemente pragmático: fechamento das informações de perfil e publicação (semelhante à escolha de P5). O participante P2, por utilizar ocasionalmente, não se viu preocupado com as questões de privacidade. Parece que quanto maior a exposição, mais as pessoas se calam, falando daquilo que não as comprometem, postando o mais básico do seu perfil. A confusão entre a intimidade a privacidade podem ser problemáticas, conforme afirma a fala do participante P2: “Porque eu praticamente não coloco nada pessoal, então, não sou muito preocupado com isso”. É interessante notar que a autocensura é também evidenciada nos questionários da etapa 1 deste trabalho, onde as pessoas responderam que procuram restringir postagens pessoais (como localização) ou fotos em seus perfis. 2.3.5. Geração do Perfil Semiótico Neste passo da análise, foi realizada a reconstrução da meta-mensagem transmitida do designer para o usuário através dos signos, estruturas e padrões interativos que compõem a interface. De acordo com Prates et al. (2000), o perfil semiótico vai além das rupturas comunicativas e problemas de interação identificados, abordando diretamente a linguagem da interface. No caso particular de sistemas colaborativos, a mensagem sendo enviada pelo projetista não é para um único usuário, mas para todo o grupo que utilizará o sistema também para interagir entre si. Neste caso, a meta-mensagem sendo enviada contém também as decisões do projetista em relação aos papéis que cada membro do grupo pode assumir, as atividades e tarefas através dos quais podem ou devem interagir, e os protocolos e linguagens que devem ser usados pelos usuários para se comunicarem (DE SOUZA, 2005). Neste ponto, vale destacar que, apesar de ter sido utilizado o MAC original para avaliar o sistema, tendo em vista que o Facebook é um sistema colaborativo, utilizaremos questões que remetem à colaboração para a reconstrução da metamensagem. Dessa forma, as rupturas de comunicação etiquetadas e suas correspondentes interpretações permitirão que se obtenham evidências para responder as seguintes questões, sob o ponto de vista do projetista (MATTOS, 2010): • Quem são os usuários da interface? • Quais são suas vontades e necessidades? • Como os usuários podem ou devem utilizar o sistema? • Durante a comunicação, o sistema o ajudará a verificar: • Quem está falando? E com quem? • O que o emissor está dizendo? Usando qual codificação e meio? A codificação e o meio são apropriados para a situação? • Os receptores estão recebendo a mensagem? O que acontece se não recebem? • Como pode(m) o(s) receptor(es) responder(em) ao(s) emissor(es)? • Existe algum recurso se o emissor percebe que o(s) receptor(es) não compreenderam a mensagem? Qual é ele? As questões acima ajudarão a identificar as razões das rupturas comunicativas, evidenciadas nas etapas de etiquetagem e interpretação. Dessa forma, a comparação entre a intenção do projetista e a interpretação do design, realizada nas seções interativas com usuários, é guiada pela etiquetagem e pela interpretação, sendo a conclusão de tal comparação alcançada no perfil semiótico (PREECE et at., 2011). Assim, para reconstruir a metacomunicação, gerando o perfil semiótico, foi utilizado o modelo proposto por De Souza (2005, p. 210): “Eis aqui minha compreensão de quem você é, do que eu aprendi sobre o que você quer ou necessita fazer. Este é o sistema que eu projetei consequentemente para você, e esta é a maneira que você pode ou deve usá-lo, a fim de cumprir um conjunto de objetivos que cabem dentro dessa visão. Você pode se comunicar e interagir com outros usuários através do sistema. Durante a comunicação, o sistema o ajudará a verificar: (1) quem está falando? E com quem? (2) O que o emissor está dizendo? Usando qual codificação e meio? A codificação e o meio são apropriados para a situação? (3) Os receptores estão recebendo a mensagem? O que acontece se não recebem? (4) Como pode(m) o(s) receptor(es) responder(em) ao(s) emissor(es)? (5) Existe algum recurso se o emissor percebe que o(s) receptor(es) não compreenderam a mensagem? Qual é ele?” As inconsistências entre a intenção do projetista e a interpretação do design realizada pelo usuário serão discutidas na medida em que as respostas às questões colocadas no modelo acima forem sendo obtidas. Para facilitar o reconhecimento e a diferenciação entre a mensagem pretendida pelo projetista, e aquela que está sendo transmitida, a primeira será colocada em itálico. • Quem são os usuários da interface? Pessoas com acesso a um navegador que queiram interagir ou manter contato com outras pessoas por meio da internet • Quais são suas vontades e necessidades? Os usuários querem manter contato com as pessoas e compartilhar informações, como fotos, com outros usuários da rede, mas ao mesmo tempo, podem ter informações a seu respeito expostas a outros usuários. Os usuários podem querer resguardar um pouco a sua privacidade, por meio da configuração de perfil de privacidade, e por meio da restrição de postagem de informações ou fotos para grupos de pessoas pré-determinadas pelo sistema (público, amigos, amigos de amigos, por exemplo) ou listas criadas pelo usuário, ou pela retirada de marcações realizadas por outros a respeito do usuário. Apesar de a restrição a alguma publicação ser possível na ferramenta, notou-se, nos testes de comunicabilidade, que as restrições de acesso ou publicação no perfil do usuário não são claras, como na dificuldade de remoção da marcação e na falta de clareza sobre os itens de configuração de marcações. • Como os usuários podem ou devem utilizar o sistema? O usuário pode utilizar o sistema criando uma conta no mesmo e adicionando contatos (os mesmos, se não tiverem conta no sistema devem ser convidados a fazê-la para serem acrescentados). O relacionamento entre os contatos padrão é “Amigo”. Ao publicar uma foto ou informação, aquela foto ou informação ficará disponível no mural do usuário (ou na sua linha de tempo) e aparecerá como notícia para todos os contatos/amigos do usuário, de acordo com a configuração de privacidade padrão do Facebook. Os usuários demonstraram ter pouca clareza sobre como as configurações de privacidade impactam na visibilidade das suas publicações e marcações, conforme foi evidenciado nas entrevistas. • Quem está falando? E com quem? Nesta ferramenta, os usuários podem interagir com outros usuários que tem conta no sistema. Nesse caso, o usuário é emissor quando posta uma informação qualquer (como uma foto) e a publica no seu mural ou quando marca a publicação no mural de alguém. O usuário será um receptor ao ver a informação (como uma foto) publicada pelos seus contatos no sistema ou quando for marcado por alguém (sendo este alguém amigo/contato ou não do usuário no sistema). Quando o usuário, no papel de emissor, deseja publicar uma foto, ele pode selecionar o público que terá acesso a ela (sendo o padrão “Público” normalmente padrão). Não há clareza, em cada momento, de com quem o usuário está falando, mesmo ao restringir o acesso a uma lista específica de pessoas, pois as pessoas podem compartilhar com outras pessoas o que está publicado. Quando o usuário, no papel de receptor, recebe uma marcação, ele pode retirá-la. Embora possa fazer isso, a imagem ou mensagem continua distribuída na rede no mural de quem publicou. Há incerteza sobre quem poderá ver uma marcação, já que não é possível saber as opções de publicação da informação/foto de quem a publicou, o que causou confusão nos usuários ao responderem as perguntas da pesquisa. • O que o emissor está dizendo? Usando qual codificação e meio? A codificação e o meio são apropriados para a situação? Quando um usuário do Facebook é adicionado como contato na rede de outro usuário, ele começa a visualizar tudo o que o outro posta. As atualizações aparecem no feed de notícias do usuário e, há um tipo específico de atualização (as notificações) que são destacadas na interface e enviadas para o e-mail cadastrado pelo usuário. No Facebook, foi observado que alguns usuários perdem o controle sobre quem, efetivamente, tem acesso às atualizações realizadas no sistema, até mesmo porque os usuários confessam não conhecer todos os seus contatos e não sabem se os contatos compartilham suas informações. • Os receptores estão recebendo a mensagem? O que acontece se não recebem? As mensagens e notificações recebidas pelo usuário aparecem em destaque em uma área da interface, mas não podem ser acessadas a qualquer momento, pois o número de atualizações é grande e nem sempre alguém consegue acompanhar tudo o que foi publicado. Não há mecanismo de filtragem das postagens realizadas. No Facebook, somente as notificações configuradas pelo usuário aparecem destacadas na interface, como as notificações dos “melhores amigos”. Um dos participantes do teste relatou que costuma seguir ou acompanhar apenas as publicações do grupo cadastrado como melhores amigos. • Como pode(m) o(s) receptor(es) responder(em) ao(s) emissor(es)? Os receptores podem “curtir/compartilhar/comentar” as informações postadas pelos emissores. Quando os receptores são marcados, eles têm a opção de remover marcações. Durante os testes no Facebook, os usuários apresentaram grande dificuldade em remover marcações no sistema. • Existe algum recurso se o emissor percebe que o(s) receptor(es) não compreenderam a mensagem? Qual é ele? Os mecanismos padrão são aqueles em que o emissor recebe algum comentário por parte do receptor. 3. Considerações Finais 3.1. Consolidação dos Resultados A realização do questionário permitiu notar que os usuários do Facebook não tem muita consciência de uso dos recursos de privacidade do aplicativo, embora se preocupem com a divulgação de suas informações pessoais. Com a aplicação inicialmente do MIS, cujo enfoque é a emissão da meta-mensagem pelo projetista, pôde-se constatar que o sistema apresenta rupturas de comunicação graves em sua interface, no que concerne a aspectos relacionados à privacidade de fotos, podendo-se dizer que o Facebook não é claro quanto aos destinatários das postagens de fotos e marcações realizadas pelos seus usuários. Tal fato justifica o não conhecimento por parte do usuário dos recursos do sistema que permitem a manipulação de funcionalidades ligadas à privacidade, fato esse detectado a partir das respostas ao questionário aplicado inicialmente. Por fim, com a aplicação do MAC, que foca na recepção da meta-mensagem pelo usuário, em conjunto com as entrevistas que foram realizadas antes e após os testes realizados com os usuários, pôde-se confirmar que estes realmente apresentam problemas para compreender aspectos presentes na interface do sistema que remetem a ações relacionadas à privacidade. Além disso, muitas vezes o usuário não possui conhecimento sobre qual será a repercussão dessas ações dentro do sistema, levando-o possivelmente a agir de forma inconsistente com seus desejos e intenções. Dessa forma, pôde-se perceber com o presente trabalho que, de uma forma geral, os usuários não sabem como lidar com a privacidade no Facebook. Como visto a partir das respostas ao questionário, os usuários dizem que se preocupam com a privacidade em termos pessoais, no que concerne à disponibilização de suas informações pessoais na rede, embora não conheçam a fundo a política de privacidade do aplicativo. Além disso, os testes com usuários realizados no Facebook apontam grande incerteza destes acerca dos efeitos de suas ações em relação aos mecanismos de privacidade relacionados ao recursos de publicação de fotos. Tal fato indica a não ocorrência de um controle de privacidade efetivo pelos usuários do Facebook, em seu contexto real de uso. 3.2. Dificuldades Encontradas Uma das dificuldades encontradas na realização do trabalho foi à proposição do método para investigar a privacidade. A abordagem adotada foi, sobretudo empírica e exploratória, procurando adaptar métodos que avaliam comunicabilidade às questões ligadas à privacidade. Neste aspecto, a realização do questionário na primeira etapa da pesquisa e das entrevistas pré e pós-teste junto aos usuários durante a aplicação do MAC se revelaram valiosas para o entendimento das questões da privacidade em si: o controle de privacidade está parcialmente relacionado a problemas de comunicabilidade do aplicativo, mas não exclusivamente a eles, pois se torna uma questão social que exige outras abordagens metodológicas para serem investigadas a fundo. 3.3. Próximos Passos Uma oportunidade interessante que surge deste trabalho é investigar se seria possível antever os problemas de impacto social relacionados à privacidade gerados pelo Facebook, a partir da construção de seu modelo de comunicação usuário-sistema-usuário, utilizando a MANAS (Barbosa, 2006). A MANAS é uma ferramenta, fundamentada na Engenharia Semiótica, que permite a construção desse modelo de comunicação, a fim de apontar o impacto social de um sistema sobre o seu grupo de usuários. Assim, após tal modelagem, poderia ser verificado se os problemas apontados pela ferramenta são consistentes com os resultados encontrados neste trabalho. Além disso, como outra possibilidade de trabalho futuro, seria interessante coletar dados de um número maior de pessoas e com perfis mais diferenciados, já que a maioria dos participantes desta pesquisa foi da área de Ciências Exatas, principalmente da área de Tecnologia da Informação, fato este que pode ter exercido alguma influência nas respostas. Um programa de incentivo, como por exemplo, o sorteio de brindes, seria interessante para captar mais participantes. 4. Referências [1] Barbosa C. 2006. Manas: uma ferramenta epistêmica de apoio ao projeto da comunicação em sistemas colaborativos. PhD thesis, PUC-Rio, Rio de Janeiro. [2] de Souza, C. S, Leitão, C. F., Prates, R. O., Bim, S. A., da Silva, E. J., 2010. Can inspection methods generate valid new knowledge in HCI? The case of semiotic inspection. International Journal of Human-Computer Studies, v.68, p.22-40. [3] de Souza, C. S., Leitão, C. F., 2009. Semiotic Engineering Methods for Scientific Research in HCI. In: J. M. Carrol (Ed.) Synthesis Lectures on Human-Centered Informatics. Morgan & Claypool Publishers, Princeton, NJ. [4] de Souza, C. S., Leitão, C. F., Prates, R. O., da Silva, E. J., 2006. The Semiotic Inspection Method. Anais do VII: IHC - Simpósio de Fatores Humanos em Sistemas Computacionais. Natal – RN, p. 148-157. [5] de Souza, C. S. 2005. The semiotic engineering of human computer interaction. MIT Press, Cambridge MA. [6] Giannakos, Michall N; Giatopoulos Konstantinos; Chorianopoulos Konstantinos. In the Face(book) of the Daily Routine. Ionian University, 2010. [7] Gill, Alastair; J. Vasalou, Asimina; Papoutsi, Chrysanthi; Joinson, Adam. Privacy Dictionary: A Linguistic Taxonomy of Privacy for Content Analysis. CHI 2011, Session: Privacy May 7–12, 2011, Vancouver, BC, Canada. [8] Joinson, Adam N. ‘Looking at’, ‘Looking up’ or ‘Keeping up with’ People ? Motives and Uses of Facebook. University of Bath, 2008. CHI 2008 Proceedings – Online Social Networks, April 5-10, 2008 – Florence, Italy, p. 1027-1036 [9] Mattos, B. A. M., Santos, R. L., Prates, R. O., 2009. Investigating the Applicability of the Semiotic Inspection Method to Collaborative Systems. Anais do Simpósio Brasileiro de Sistemas Colaborativos. Fortaleza – CE, p. 53-60. [10] Mattos, B., 2010. Uma Extensão do Método de Avaliação de Comunicabilidade para Sistemas Colaborativos. 2010. 150 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Computação). DCC/UFMG, Belo Horizonte, 2010. [11] Nicolaci-da-Costa, A.M.; Leitão, C.F.; Romão-Dias, D. (2004) Como conhecer usuários através do Método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS).VI Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, IHC 2004. Curitiba, outubro de 2004. [12] Prates, R. O. ; Barbosa, S. D. J. Introdução à Teoria e Prática da Interação HumanoComputador fundamentada na Engenharia Semiótica. Em: T.Kowaltowski e K. K. Breitman (Org.). In JAI 2007. [13] Prates, R. O., de Souza, C. S., Barbosa, S. D. J., 2000. A method for evaluating the communicability of user interfaces. In Interactions, v. 7, n. 1, p. 31-38. [14] Preece, J., Rogers, Y., Sharp, H., 2011. Interaction Design: Beyond Human-computer Interaction. 3ª ed. John Wiley & Sons, 602 p.