O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos
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O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos
ROTA VALE DOS VINHEDOS MOVIDO A VINHO O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos parreirais da Serra Gaúcha é mais fácil do que parece e garante proximidade com os cheiros, sabores e prosas da principal região produtora de vinhos do país POR CAROLINA PINHEIRO FOTOS TOM ALVES 92 REVISTA GOL REVISTA GOL 93 ROTA VALE DOS VINHEDOS “Tuc, tuc, tuc”, faz o som do motor que embala o tratorzinho por entre os parreirais. Na caçamba, caixas com 20 quilos de uva cada uma. O transporte da fruta, antes realizado em carroças movidas a tração animal, movimenta os vinhedos de Bento Gonçalves (RS), cidade a 40 quilômetros de Caxias do Sul e 110 de Porto Alegre que é a maior região vitivinicultora do Brasil. Pelas estradas secundárias e propriedades, outro veículo começa a aparecer: a bicicleta. À primeira vista, o sobe e desce das serras pode dar a impressão de que a tarefa é para atletas preparados. Mas mesmo quem não é ciclista, se tiver um bom condicionamento físico, está apto a desbravar a região em pacotes organizados por operadoras ou, para os que têm mais experiência e coragem e topam pedalar depois de algumas rodadas de degustação de vinhos, por conta própria. A operadora Caminhos do Sertão, por exemplo, leva grupos de até 20 pessoas a Bento Gonçalves durante feriados. O pacote de quatro dias inclui translado, hospedagem, bicicleta, carro de apoio para quem cansar e o acompanhamento de ciclistas experientes em tempo integral. Pedala-se de 2 a 3 horas e meia diariamente, percorrendo distâncias entre 15 e 30 quilômetros. O calor não costuma ser um problema. As temperaturas médias ficam entre 13,1 ºC, em junho, e 21,9 ºC, em janeiro, mas isso não significa chegar ao fim do passeio sem uma gota de suor. “É para quem gosta de pedalar, subir ladeira e andar em estrada de chão e também de curtir belas paisagens e outra cultura. Muitos vêm com pouca experiência, mas logo se adaptam”, afirma Marcella Martins Olinto, 25 anos, uma das ciclistas que acompanham os grupos. Os dias têm início às 8 horas e, com exceção do último, são planejados de forma que os passeios de bicicleta terminem antes da visitação às vinícolas, com pausa para almoço ou lanches. Desta forma, a única preocupação é não exagerar na polenta, no salame e nos queijos antes de seguir pedalando. O vinho degustado e as garrafas compradas seguem para o hotel respectivamente no estômago do turista e no porta-malas do carro de apoio. Como os pernoites são no centro, há várias opções para jantar a uma curta caminhada de distância. Por conta própria Os que preferem viajar por conta própria devem ter experiência em mountain bike, planejar bem e levar ferramentas e peças básicas de reposição. “Tem que saber para onde vai e como voltará ao ponto de partida ou ao hotel escolhido, em que horário do dia pedalará e quanto tempo levará para cumprir o trajeto definido”, recomenda Marcella. Checar o tanto de subidas e as condições da estrada nos trechos selecionados também é importante. É recomendado ter um carro com rack para o transporte das bicicletas até pontos de partida mais amigáveis, evitando o pedal em rodovias. O automóvel ainda garante transporte tranquilo à noite, já que parte das estradas não tem iluminação. As pedaladas incluem passeios consagrados, como os Caminhos de Pedra – uma espécie de museu a céu aberto da imigração italiana no Brasil –, o Vale Aurora – que reúne os primeiros parreirais cultivados na região –, o Vale do Rio das Antas – famoso por atrativos como o Mirante da Ferradura, de onde se vê a enorme curva que as águas do rio formam ao redor de uma montanha – e a Estrada do Sabor – que guarda as delícias da culinária colonial em cantinas acolhedoras. Aqui não faltam opções para repor as energias, como os restaurantes Nona Ludia, instalado em um imóvel construído com pedra basalto, Osteria Della Colombina, montado no porão de uma propriedade familiar, e Famiglia Tasca, que fabrica doces e sucos artesanais em um recanto na beira da colina. De bicicleta, o visitante fica mais próximo dos moradores, circulando ao lado ou mesmo dentro das propriedades, entre agricultores e parreirais. Parar para um dedo de prosa é parte do passeio. A administradora de empresas carioca Ana Paula Gaspar, 38 anos, conta que a descoberta dos detalhes, muitas vezes imperceptíveis de primeira, faz a diferença. “Quando você está de carro, passa reto e nem olha direito o entorno. Ao pedalar, para, respira, contempla, conversa”, diz. Ela sonha viajar de bicicleta pelos campos de lavanda da Provença, na França, e fez de Bento Gonçalves seu campo de testes. “Não pedalava fazia cinco anos. Tive a mesma sensação da criança quando consegue tirar as rodinhas da bicicleta: pura euforia. Aqui, você percebe que é verdade que a gente nunca esquece como se anda de bicicleta”, conta. Além das paisagens de montanha, do perfume constante da uva, da hospitalidade do povo e da gastronomia típica, o sabor do vinho, elaborado por mais de 70 vinícolas de pequeno, médio e grande porte, não pode faltar. Para quem quer conhecer, há desde visitas guiadas em grandes produtores até pequenas vinícolas onde o próprio dono oferece cachos de uva recém-tirados do pé. Na região, pelo menos 40% da população vive do beneficiamento da uva. Segundo Denise Holleben, técnica da Secretaria Municipal de Turismo de Bento Gonçalves, só a vinícola Cooperativa Aurora tem 1.500 famílias fi liadas. “Todos que moram na zona rural têm um parreiral em casa. É a essência da economia regional”, afirma. Em Tuiuty, distrito de Bento Gonçalves localizado no Vale do Rio das Antas, um dos solícitos agricultores é Nei Antonio Tomasi, 54 anos, pertencente à quarta geração da família que aportou no Rio Gran- DE BICICLETA, O VISITANTE FICA MAIS PRÓXIMO DOS MORADORES, CIRCULANDO AO LADO OU MESMO DENTRO DAS PROPRIEDADES Em sentido horário, a partir da foto ao lado: Nei Tomasi leva turista para conhecer sua propriedade; centro de Bento Gonçalves; Casa da Ovelha, nos Caminhos de Pedra; a administradora Ana Paula Gaspar; e o pórtico da cidade 94 REVISTA GOL REVISTA GOL 95 ROTA VALE DOS VINHEDOS de do Sul em 1875. O bisavô veio do Tirol, fronteira entre Itália e Áustria. Sua propriedade, o Lote nº 57, tem 22.500 hectares, sendo sete de parreirais, que podem ser percorridos em um agradável passeio de bike. Ainda sem nome, o vinho colonial que Tomasi produzia para consumo próprio no porão de casa passou a ser vendido em fevereiro deste ano, atraindo visitantes de todas as partes. “Um conhece o vinho, o outro experimenta num jantar, gosta e pergunta onde é que compra. É no boca a boca”, diz. Mais do que a bebida, as pessoas querem conhecer de perto os costumes do imigrante. “O que fazemos aqui chama a atenção de muita gente, que vem para participar da colheita, passear de trator, comer o merendim [café com bolos e pães servido embaixo das parreiras]. É uma festa”, define, enquanto dispõe os quitutes feitos pelas mãos de seus parentes e vizinhos na mesa coberta com uma toalha quadriculada. Embora parte significativa da gastronomia local seja baseada na cozinha do imigrante – polenta, salame, queijo, copa, chimia (espécie de geleia), frango e pão –, a cidade oferece outras opções. O restaurante Valle Rustico, afastado do burburinho do centro, tem uma proposta diferente, alinhada ao gosto de quem se desloca usando bicicletas: “Procuro seguir o ritmo natural da vida”, resume o chef Rodrigo Bellora, 28. O lugar, aberto em 2009, se diz o primeiro a seguir o conceito slow food – movimento que preza o respeito ao tempo de preparo e consumo dos alimentos – no interior do Rio Grande do Sul. Com ambiente aconchegante, o restaurante busca unir enogastronomia à valorização da cultura dos produtores da região. “A inspiração vem do que está ao redor. Tudo é planejado para que as pessoas saboreiem cada prato sem que falte ou sobre nada.” Bellora cultiva a própria horta e quase todos os seus fornecedores vivem perto do estabelecimento. Se você quiser conhecê-los basta pedir a indicação, montar na bicicleta e aproveitar os minutos de ventinho no rosto até a próxima parada. EMBORA PARTE SIGNIFICATIVA DA GASTRONOMIA LOCAL SEJA BASEADA NA COZINHA DO IMIGRANTE, A CIDADE OFERECE OUTRAS OPÇÕES 96 REVISTA GOL Em sentido horário, a partir da foto acima: cena do roteiro Caminhos de Pedra; ciclistas descendo para o Vale Aurora; vista a partir da pousada Borghetto Sant’anna; e o grupo de mulheres em trajes típicos que recebe os visitantes na vinícola Cainelli. Na pág. ao lado, o ambiente do restaurante Valle Rustico; seu chef, Rodrigo Bellora; e parreiral no Vale Aurora REVISTA GOL 97 ROTA VALE DOS VINHEDOS Nova Roma do Sul Rio Taquari Vale do Rio das Antas Pinto Bandeira Bento Gonçalves Vale Aurora Estrada do Sabor De cima para baixo: vinícola no Vale dos Vinhedos; uvada feita por moradores do Vale Aurora; barricas de espumante da Miolo; e o brinde aos quilômetros pedalados na Don Giovanni Vale dos Vinhedos Onde ficar DALL’ONDER GRANDE HOTEL R. Herny Hugo Dreher, 197, centro. Tel.: (54) 3455-3555. www. dallondergrandehotel.com.br. BORGETTHO SANT’ANNA Via Trento, 868, Vale dos Vinhedos. Tel.: (54) 3453-2355. www.borghettosantanna.com.br. Diária para casal a partir de R$ 380, com café da manhã. AGRADECIMENTOS REDE DE HOTÉIS DALL’ONDER WWW.DALLONDER.COM.BR TEL.: (54) 3455-3576 SPA DO VINHO Rod. RS-444, km 21, Vale dos Vinhedos. Tel.: (54) 2102-7200. www.spadovinho.com.br. Diária para casal a partir de R$ 427, com café da manhã. 98 REVISTA GOL HOTEL VILLA MICHELON Rod. RS-444, km 18,9, Estrada do Vinho. Tel.: (54) 2102-1800. www.villamichelon.com.br. Diária para casal a partir de R$ 326, com café da manhã. Onde comer VALLE RUSTICO 15 da Graciema, Vale dos Vinhedos. Tel.: (54) 3459-1162. www.vallerustico. com.br. VOOS PARA CAXIAS DO SUL (CXJ) — GOL ORIGEM SAÍDA CHEGADA São Paulo (CGH) 09h03 10h30 Brasília (BSB) 11h44 17h30 Rio de Janeiro (SDU) 07h10 10h30 Salvador (SSA) 13h23 17h30 Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu agente de viagens. Voos sujeitos a alteração sem aviso prévio. Caminhos de Pedra NONA LUDIA Caminhos de Pedra. Tel.: (54) 3455-0157. www.nonaludia.com.br. Aonde ir VINÍCOLA DON GIOVANNI Rod. RS-805, Linha Amadeu, km 12, Pinto Bandeira. Tel.: (54) 3455-6294. www.dongiovanni.com.br. VINÍCOLA DAL PIZZOL RST-431, km 5. Tel.: (54) 3458-1441. www.vinicolacainelli.com.br. 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