O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos

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O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos
ROTA VALE DOS VINHEDOS
MOVIDO A
VINHO
O sobe e desce pode assustar, mas pedalar pelos parreirais da Serra Gaúcha
é mais fácil do que parece e garante proximidade com os cheiros, sabores
e prosas da principal região produtora de vinhos do país
POR CAROLINA PINHEIRO FOTOS TOM ALVES
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ROTA VALE DOS VINHEDOS
“Tuc, tuc, tuc”, faz o som do motor que embala o
tratorzinho por entre os parreirais. Na caçamba,
caixas com 20 quilos de uva cada uma. O transporte
da fruta, antes realizado em carroças movidas a
tração animal, movimenta os vinhedos de Bento
Gonçalves (RS), cidade a 40 quilômetros de Caxias
do Sul e 110 de Porto Alegre que é a maior região vitivinicultora do Brasil. Pelas estradas secundárias
e propriedades, outro veículo começa a aparecer: a
bicicleta. À primeira vista, o sobe e desce das serras
pode dar a impressão de que a tarefa é para atletas
preparados. Mas mesmo quem não é ciclista, se
tiver um bom condicionamento físico, está apto
a desbravar a região em pacotes organizados por
operadoras ou, para os que têm mais experiência e
coragem e topam pedalar depois de algumas rodadas de degustação de vinhos, por conta própria.
A operadora Caminhos do Sertão, por exemplo,
leva grupos de até 20 pessoas a Bento Gonçalves
durante feriados. O pacote de quatro dias inclui
translado, hospedagem, bicicleta, carro de apoio
para quem cansar e o acompanhamento de ciclistas
experientes em tempo integral. Pedala-se de 2 a
3 horas e meia diariamente, percorrendo distâncias entre 15 e 30 quilômetros.
O calor não costuma ser um problema. As
temperaturas médias ficam entre 13,1 ºC, em junho, e 21,9 ºC, em janeiro, mas isso não significa
chegar ao fim do passeio sem uma gota de suor.
“É para quem gosta de pedalar, subir ladeira e
andar em estrada de chão e também de curtir
belas paisagens e outra cultura. Muitos vêm com
pouca experiência, mas logo se adaptam”, afirma
Marcella Martins Olinto, 25 anos, uma das
ciclistas que acompanham os grupos.
Os dias têm início às 8 horas e, com exceção do
último, são planejados de forma que os passeios de
bicicleta terminem antes da visitação às vinícolas,
com pausa para almoço ou lanches. Desta forma,
a única preocupação é não exagerar na polenta, no
salame e nos queijos antes de seguir pedalando. O
vinho degustado e as garrafas compradas seguem
para o hotel respectivamente no estômago do
turista e no porta-malas do carro de apoio. Como
os pernoites são no centro, há várias opções para
jantar a uma curta caminhada de distância.
Por conta própria
Os que preferem viajar por conta própria devem ter
experiência em mountain bike, planejar bem e levar
ferramentas e peças básicas de reposição. “Tem
que saber para onde vai e como voltará ao ponto de
partida ou ao hotel escolhido, em que horário do
dia pedalará e quanto tempo levará para cumprir
o trajeto definido”, recomenda Marcella. Checar
o tanto de subidas e as condições da estrada nos
trechos selecionados também é importante. É recomendado ter um carro com rack para o transporte
das bicicletas até pontos de partida mais amigáveis,
evitando o pedal em rodovias. O automóvel ainda
garante transporte tranquilo à noite, já que parte
das estradas não tem iluminação.
As pedaladas incluem passeios consagrados, como
os Caminhos de Pedra – uma espécie de museu a céu
aberto da imigração italiana no Brasil –, o Vale Aurora
– que reúne os primeiros parreirais cultivados na região –, o Vale do Rio das Antas – famoso por atrativos
como o Mirante da Ferradura, de onde se vê a enorme
curva que as águas do rio formam ao redor de uma
montanha – e a Estrada do Sabor – que guarda as delícias da culinária colonial em cantinas acolhedoras.
Aqui não faltam opções para repor as energias,
como os restaurantes Nona Ludia, instalado em um
imóvel construído com pedra basalto, Osteria Della
Colombina, montado no porão de uma propriedade
familiar, e Famiglia Tasca, que fabrica doces e sucos
artesanais em um recanto na beira da colina.
De bicicleta, o visitante fica mais próximo dos
moradores, circulando ao lado ou mesmo dentro
das propriedades, entre agricultores e parreirais.
Parar para um dedo de prosa é parte do passeio. A
administradora de empresas carioca Ana Paula
Gaspar, 38 anos, conta que a descoberta dos detalhes, muitas vezes imperceptíveis de primeira,
faz a diferença. “Quando você está de carro, passa
reto e nem olha direito o entorno. Ao pedalar, para,
respira, contempla, conversa”, diz. Ela sonha viajar
de bicicleta pelos campos de lavanda da Provença,
na França, e fez de Bento Gonçalves seu campo
de testes. “Não pedalava fazia cinco anos. Tive a
mesma sensação da criança quando consegue tirar
as rodinhas da bicicleta: pura euforia. Aqui, você
percebe que é verdade que a gente nunca esquece
como se anda de bicicleta”, conta.
Além das paisagens de montanha, do perfume
constante da uva, da hospitalidade do povo e da
gastronomia típica, o sabor do vinho, elaborado
por mais de 70 vinícolas de pequeno, médio e
grande porte, não pode faltar. Para quem quer
conhecer, há desde visitas guiadas em grandes
produtores até pequenas vinícolas onde o próprio
dono oferece cachos de uva recém-tirados do pé.
Na região, pelo menos 40% da população vive do
beneficiamento da uva. Segundo Denise Holleben, técnica da Secretaria Municipal de Turismo
de Bento Gonçalves, só a vinícola Cooperativa
Aurora tem 1.500 famílias fi liadas. “Todos que
moram na zona rural têm um parreiral em casa.
É a essência da economia regional”, afirma.
Em Tuiuty, distrito de Bento Gonçalves localizado
no Vale do Rio das Antas, um dos solícitos agricultores é Nei Antonio Tomasi, 54 anos, pertencente à
quarta geração da família que aportou no Rio Gran-
DE BICICLETA,
O VISITANTE FICA
MAIS PRÓXIMO
DOS MORADORES,
CIRCULANDO AO
LADO OU MESMO
DENTRO DAS
PROPRIEDADES
Em sentido horário, a
partir da foto ao lado:
Nei Tomasi leva turista
para conhecer sua
propriedade; centro
de Bento Gonçalves;
Casa da Ovelha, nos
Caminhos de Pedra;
a administradora Ana
Paula Gaspar; e
o pórtico da cidade
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de do Sul em 1875. O bisavô veio do Tirol, fronteira
entre Itália e Áustria. Sua propriedade, o Lote
nº 57, tem 22.500 hectares, sendo sete de parreirais,
que podem ser percorridos em um agradável passeio
de bike. Ainda sem nome, o vinho colonial que
Tomasi produzia para consumo próprio no porão de
casa passou a ser vendido em fevereiro deste ano,
atraindo visitantes de todas as partes. “Um conhece
o vinho, o outro experimenta num jantar, gosta e
pergunta onde é que compra. É no boca a boca”, diz.
Mais do que a bebida, as pessoas querem conhecer
de perto os costumes do imigrante. “O que fazemos
aqui chama a atenção de muita gente, que vem para
participar da colheita, passear de trator, comer o
merendim [café com bolos e pães servido embaixo das
parreiras]. É uma festa”, define, enquanto dispõe os
quitutes feitos pelas mãos de seus parentes e vizinhos na mesa coberta com uma toalha quadriculada.
Embora parte significativa da gastronomia
local seja baseada na cozinha do imigrante –
polenta, salame, queijo, copa, chimia (espécie de
geleia), frango e pão –, a cidade oferece outras
opções. O restaurante Valle Rustico, afastado
do burburinho do centro, tem uma proposta
diferente, alinhada ao gosto de quem se desloca
usando bicicletas: “Procuro seguir o ritmo natural da vida”, resume o chef Rodrigo Bellora, 28.
O lugar, aberto em 2009, se diz o primeiro a seguir o conceito slow food – movimento que preza
o respeito ao tempo de preparo e consumo dos
alimentos – no interior do Rio Grande do Sul.
Com ambiente aconchegante, o restaurante
busca unir enogastronomia à valorização da
cultura dos produtores da região. “A inspiração
vem do que está ao redor. Tudo é planejado para
que as pessoas saboreiem cada prato sem que
falte ou sobre nada.” Bellora cultiva a própria
horta e quase todos os seus fornecedores vivem
perto do estabelecimento. Se você quiser
conhecê-los basta pedir a indicação, montar na
bicicleta e aproveitar os minutos de ventinho
no rosto até a próxima parada.
EMBORA PARTE
SIGNIFICATIVA DA
GASTRONOMIA
LOCAL SEJA
BASEADA NA
COZINHA DO
IMIGRANTE,
A CIDADE OFERECE
OUTRAS OPÇÕES
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Em sentido horário, a partir da foto
acima: cena do roteiro Caminhos de
Pedra; ciclistas descendo para o Vale
Aurora; vista a partir da pousada
Borghetto Sant’anna; e o grupo de
mulheres em trajes típicos que recebe
os visitantes na vinícola Cainelli. Na
pág. ao lado, o ambiente do restaurante
Valle Rustico; seu chef, Rodrigo Bellora;
e parreiral no Vale Aurora
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Nova Roma
do Sul
Rio Taquari
Vale do Rio
das Antas
Pinto
Bandeira
Bento
Gonçalves
Vale
Aurora
Estrada
do Sabor
De cima para baixo:
vinícola no Vale dos
Vinhedos; uvada feita
por moradores do
Vale Aurora; barricas
de espumante da
Miolo; e o brinde aos
quilômetros pedalados
na Don Giovanni
Vale dos
Vinhedos
Onde ficar
DALL’ONDER GRANDE HOTEL
R. Herny Hugo Dreher, 197, centro.
Tel.: (54) 3455-3555. www.
dallondergrandehotel.com.br.
BORGETTHO SANT’ANNA
Via Trento, 868, Vale dos
Vinhedos. Tel.: (54) 3453-2355.
www.borghettosantanna.com.br.
Diária para casal a partir de
R$ 380, com café da manhã.
AGRADECIMENTOS REDE DE HOTÉIS DALL’ONDER WWW.DALLONDER.COM.BR TEL.: (54) 3455-3576
SPA DO VINHO Rod. RS-444,
km 21, Vale dos Vinhedos.
Tel.: (54) 2102-7200.
www.spadovinho.com.br.
Diária para casal a partir de
R$ 427, com café da manhã.
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HOTEL VILLA MICHELON
Rod. RS-444, km 18,9, Estrada
do Vinho. Tel.: (54) 2102-1800.
www.villamichelon.com.br.
Diária para casal a partir de
R$ 326, com café da manhã.
Onde comer
VALLE RUSTICO 15 da Graciema,
Vale dos Vinhedos. Tel.: (54)
3459-1162. www.vallerustico.
com.br.
VOOS PARA CAXIAS DO SUL (CXJ) — GOL
ORIGEM
SAÍDA
CHEGADA
São Paulo (CGH)
09h03
10h30
Brasília (BSB)
11h44
17h30
Rio de Janeiro (SDU)
07h10
10h30
Salvador (SSA)
13h23
17h30
Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte
seu agente de viagens. Voos sujeitos a alteração sem aviso prévio.
Caminhos
de Pedra
NONA LUDIA Caminhos de
Pedra. Tel.: (54) 3455-0157.
www.nonaludia.com.br.
Aonde ir
VINÍCOLA DON GIOVANNI Rod.
RS-805, Linha Amadeu, km 12, Pinto
Bandeira. Tel.: (54) 3455-6294.
www.dongiovanni.com.br.
VINÍCOLA DAL PIZZOL RST-431,
km 5. Tel.: (54) 3458-1441.
www.vinicolacainelli.com.br.
VINÍCOLA CAINELLI RSC-470,
km 202,6, Vale do Rio das Antas.
Tel.: (54) 3458-1441. www.vinicolacainelli.com.br.
VINÍCOLA MIOLO Rod. RS-444,
km 21, Estrada do Vinho, Vale dos
Vinhedos. Tel.: (54) 2102-1500.
www.miolo.com.br.
VINÍCOLA SALTON R. Mário Salton, 300, Distrito de Tuiuty.
Tel.: (54) 2105-1000. salton.com.br.
CASA VALDUGA Linha Leopoldina,
Vale dos Vinhedos. Tel.: (54) 21053122. www.casavalduga.com.br.
CASA DA OVELHA Caminhos de
Pedra, Linha Palmeiro, 400, Distrito
de São Pedro. Tel.: (54) 3455-6399.
www.casadaovelha.com.br.
Quem leva
OSTERIA DELLA COLOMBINA
Estrada do Sabor, Linha São
Jorge. Tel.: (54) 3464-7755.
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CAMINHOS DO SERTÃO R. Vento
Sul, 197, Campeche, Florianópolis,
SC. Tel.: (48) 3234-7712. www.
caminhosdosertao.com.br.
FAMIGLIA TASCA Linha Santo
Isidolo, Vale dos Vinhedos, Monte
Belo do Sul. Tel.: (54) 3453-2210.
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CANTA MARIA Rod. RST-470,
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Hugo Cantergiani. Av. Salgado
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