MÉDIO ORIENTE Bibi refém dos seus parceiros
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MÉDIO ORIENTE Bibi refém dos seus parceiros
28 Expresso, 9 de maio de 2015 PRIMEIRO CADERNO MÉDIO ORIENTE BREVES Bibi refém dos seus parceiros Bastião houthi bombardeado Netanyahu conseguiu formar Governo em Israel, mas fica vulnerável a ‘extorsões políticas’ Quando cantou vitória nas legislativas de 17 de março, após quase todas as sondagens o colocarem no papel de perdedor, Benjamin Netanyahu nunca esperaria que a formação de Governo lhe desse tantas dores de cabeça. As negociações esgotaram os 42 dias previstos por lei. Quarta-feira, a 90 minutos do fim do prazo, o primeiro-ministro garantiu finalmente uma maioria. “Comparado com o Governo anterior, o novo executivo é, ideológica e politicamente mais coerente. Está mais ancorado na direita conservadora e religiosa do espetro político israelita”, comenta ao Expresso Bruno Oliveira Martins, ex-analista político da delegação da União Europeia em Telavive. “À partida, questões como os subsídios à população haredim (ultraortodoxa), o papel da religião no Estado ou o carácter judaico de Israel estão no topo da agenda.” Governo a cinco Cinco partidos integram a coligação governamental: o Likud (direita), do primeiro-ministro; o Kulanu (centro-direita), centrado nas questões económicas; dois partidos religiosos ultraortodoxos, o Shah e o Judaismo da Torah Unida; e a Casa Judaica, liderada pelo ultranacionalista Naftali Bennett, apoiante do movimento de colonos no território palestiniano da Cisjordânia. No Knesset, o Executivo será apoiado por 61 dos 120 deputados. “O Gover- O primeiro-ministro de Israel tem o apoio de 61 dos 120 deputados FOTO RONEN ZVULUN/REUTERS no irá estar permanentemente refém das posições dos parceiros da coligação para qualquer decisão importante, o que pode levar a chantagens e ‘extorsões políticas’. A forma como Bennett encostou Netanyahu à parede nos últimos dias deixa antecipar isso mesmo.” Na reta final do processo negocial, Netanyahu perdeu o apoio de um aliado, Avigdor Lieberman, seu ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do ultranacionalista Yisrael Beitenu (extrema-direita). E viu-se forçado a chegar a acordo com a Casa Judaica, de Bennett, que exigiu para o seu partido as pastas dos Negócios Estrangeiros e da Justiça. Por fim, acabou por ficar com as pastas da Justiça, entregue à engenheira Ayelet Shaked, de 39 anos, e da Educação, que ficará para Bennett. Neste cenário de instabilidade, Bruno Oliveira Martins, professor auxiliar na Universidade de Aarhus, da Dinamarca, antecipa duas questões dominantes: “A subida dos temas religiosos ao topo da agenda política e o carácter decisivo que questões judiciais vão ter nas próximas semanas. O princípio da separação de poderes está seriamente ameaçado por reformas que Netanyahu tem tentado introduzir na composição e funcionamento do Supremo Tribunal, de forma a limitar o controlo judicial destes sobre o sistema político”. As duas tendências, diz o analista, estão relacionadas. “O Supremo Tribunal é visto pela direita como expressão do esquerdismo liberal e, sobretudo, secularista, que pretende combater.” Como fica a Palestina? Durante a campanha eleitoral, as questões que mais interessam à comunidade internacional estiveram ausentes da discussão, desde logo o conflito israelo-palestiniano, só referido já com as eleições à vista. Pressionado por sondagens adversas, Netanyahu prometeu que, caso vencesse, jamais existiria uma Palestina independente. “A solução de dois Estados, neste momento e na prática, não existe. Desde o colapso das negociações com os palestinianos, lideradas pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, nada tem acontecido, nem nos bastidores”, diz Bruno Oliveira Martins. “As relações entre Telavive e Washington deterioram-se no último ano e não é impensável admitir que a Administração Obama, em final de mandato e sem a pressão da reeleição, possa dar sinais concretos de impaciência, que já se revela na retórica de Obama, mas que ainda não se materializou em mais do que isso. Ainda assim, este tipo de atitude seria sempre uma pesada herança para o futuro Presidente e, nesta fase de pré-campanha, poderia causar danos na candidatura de Hillary Clinton, o que não é irrelevante.” Com a relação entre Israel e a UE igualmente degradada — o Parlamento Europeu aprovou, em dezembro, o reconhecimento da Palestina —, poderão mais europeus seguir o exemplo da Suécia e reconhecer a independência palestiniana ao nível de governo? “As tensões políticas entre Bruxelas e Israel têm-se verificado com crescente frequência e, mesmo que uma posição forte e comum da UE não seja o cenário mais provável, não excluo de todo que outros Estados sigam o exemplo da Suécia.” Margarida Mota [email protected] Sítio arqueológico no Vale de Bazyan. Ao centro uma “fatura” com 5000 anos. Os degraus à direita são uma janela estratigráfica CORTESIA PROJETO KANI SHAIE Lusos escavam em zona de risco do norte do Iraque Em paz ou em guerra, o Iraque é um tesouro da arqueologia. Cinco portugueses procuram artefactos com 5000 anos André Tomé tem uma certeza. Se, algures na Síria, se verificar uma destruição de património semelhante à que aconteceu há semanas no Iraque — no Museu de Mossul e nas cidades históricas de Hatra e Nimrud —, haverá uma indignação global nas redes sociais e o conflito voltará a ser notícia. “Mas depois vamos esquecer que, todos os dias, continuam a morrer pessoas”, quando, no fim, “mais do que os tijolos e as pedras, o que interessa são as pessoas”. As palavras não seriam tão surpreendentes não fosse André um arqueólogo. Falou ao Expresso nas vésperas de partir para o Curdistão iraquiano para escavar, pelo segundo ano, no Vale de Bazyan, província de Sulaimaniya. Ali chegou facilmente há uma semana, num voo da Turkish Airlines vindo de Istambul. A viagem de volta a casa está marcada para 15 de junho. André não hesitará em antecipá-la se as condições de segurança se deteriorarem. “Isto não é um Indiana Jones. Ao primeiro sinal de insegurança, repensaremos a estratégia e, se for preciso, voltamos.” Os combates contra o Daesh (autodenominado Estado Islâmico) estão a mais de 100 km do campo de escavação. O facto de a grande cidade de Kirkuk estar nas mãos dos curdos tranquiliza-o. “Há mais checkpoints, há mais controlo.” André, de 28 anos, lidera o projeto Kani Shaie, juntamente com outro português, Ricardo Cabral, de 31 anos (ambos da Universidade de Coimbra), e com o belga Steve Renette, da Universidade da Pensilvânia (EUA). Kani Shaie é uma região atravessada ao longo da História por grandes rotas entre oriente e ocidente que permanece “terra incógnita”, desconhecida do ponto de vista arqueológico. O objetivo do projeto é recolher vestígios do quarto milénio antes de Cristo, quando se formaram as primeiras cidades da civilização mesopotâmica. A missão arrancou em 2013, com dinheiros portugueses, e logo confirmou o potencial do sítio. Entre os achados, André salienta uma pequena tábua de argila furada, com imagens de animais, que funcionaria como “uma espécie de fatura” entregue, provavelmente, por um mercador que transportava animais ao destinatário. A descoberta motivou a equipa para continuar, este ano com financiamento exclusivamente norte-americano, no futuro logo se verá. “Não sabemos o que vai acontecer ao Curdistão. Agora está bem, mas imaginemos que o Estado Islâmico é eliminado, que os curdos avançam para a independência e que há um conflito entre Bagdade e Erbil... Que acontecerá a esses sítios? Temos essa urgência, não de super-herói, mas de alguém consciente de que é importante fazer algo.” Além dos líderes, integram a equipa mais três portugueses e uma antropóloga italiana. Dois arqueólogos curdos acompanham os trabalhos. O projeto emprega locais e colabora com a Direção de Antiguidades de Sulaimaniya, a Universidade e o museu, onde os achados ficam guardados. Visitar o sítio com óculos 3D Além das escavações, a missão vai recolher imagens do sítio. “Temos trabalhado na área da realidade aumentada. Queremos fazer uma espécie de museu virtual, onde seja possível visitar o sítio com um alto grau de realismo. Estamos a testar óculos 3D para que as pessoas sintam que estão lá”, sem necessidade de reconstrução. André não é um purista. Considera que perante a destruição de património, reconstruir ou não deve ser analisado con- soante os casos. “Em relação aos budas de Bamiyan, no Afeganistão, acho que devem ser reconstruídos. Podem ser um garante de estabilidade e futuro naquela região, incentivando o turismo. Noutros casos, pode não interessar tanto até porque as destruições passaram a fazer parte da memória. Vemos o EI destruir património dos assírios, depois pensamos e vemos que os assírios fizeram exatamente a mesma coisa”, diz o arqueólogo. “Não podemos ser tão fanáticos e puristas como o Estado Islâmico.” André Tomé estreou-se a escavar na região em 2008, após concluir os estudos na Universidade de Coimbra. Começou pela Síria num sítio na província de Hasakah que tem, hoje, as milícias do EI a um quilómetro de distância. Os jiadistas preocupam-no, mas recorda que há mais de 700 sítios arqueológicos ilegais na Síria e no Iraque. “Há tempos, vi umas entrevistas a pessoas que faziam essas escavações. Sabiam que estavam a destruir o passado mas diziam que precisavam de dinheiro para comer. Isto tem de ser compreendido.” Ainda que a história desses locais se perca para sempre. M.M. Aviões sauditas realizaram novos ataques à capital do Iémen, Sanaa, nesta sexta-feira. Esta operação militar aérea surgiu como resposta a ataques em zonas de fronteira, levados a cabo pelos rebeldes xiitas houthis esta semana. Os sauditas avisaram a população para abandonar a cidade, pois a partir de agora, passarão a considerar Sanaa como alvo militar. Os bombardeamentos sauditas começaram em fins de março. SANAA 2 embaixadores, da Noruega e das Filipinas, estão entre os sete mortos provocados pela queda de um helicóptero militar paquistanês, devido a avaria, em Gilgit-Baltistan, 300 km a norte de Islamabade. A bordo iam 17 pessoas. Burundi a ferro e fogo Mais quatro mortos e nove feridos graves no Burundi, na sequência dos protestos que se arrastam há duas semanas. As manifestações são contra a candidatura do Presidente Pierre Nkurunziza a um terceiro mandato (proibido pela Constituição), formalizada esta sexta-feira. Nkurunziza alega que o seu primeiro mandato não conta, por ter sido eleito pelo Parlamento e não por sufrágio universal. Ao todo, já morreram 13 manifestantes nas ações de protesto. BUJUMBURA TENHO VERGONHA QUE A PRESIDENTE DA FRENTE NACIONAL USE O MEU NOME Jean-Marie Le Pen Fundador da FN, referindo-se à sua filha Marine, que decidiu afastar o pai do partido que o próprio fundara e liderara durante décadas. A atual líder considera que os comentários de Jean-Marie vão contra a linha do partido. Quem é quem no Médio Oriente? Sunitas radicais contra xiitas radicais, combatidos por sunitas laicos moderados que abominam os alauitas por serem xiitas. Quem percebe a região?, pergunta o “Courrier”. FAÇÕES