Análise soft e análise hard
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Análise soft e análise hard
Análise soft e análise hard Fernando Ferreira http://www.ciul.ul.pt/˜ferferr/ Fronteiras da Matemática 17-18 de Abril de 2010 O blogue de Terence Tao http://terrytao.wordpress.com Soft analysis, hard analysis, and the finite convergence principle Uma citação “É bastante conhecido o facto de que os resultados obtidos pela análise hard e pela análise soft podem ser mutuamente relacionados através de vários ‘prı́ncipios de correspondência’. Acredito, porém, que a relação entre os dois tipos de análise é muito mais próxima do que isso; em muitos casos, a análise qualitativa pode ser vista como uma abstracção conveniente da análise quantitativa, em que o detalhe das dependências entre várias quantidades finitas fica eficientemente dissimulado pelo uso da notação infinitária.” A compacidade do intervalo [0, 1] Teorema Se o intervalo de números reais [0, 1] está contido numa união de intervalos abertos então já está contido numa união finita desses intervalos abertos. Se [0, 1] ⊆ [ ]ai , bi [ i∈I com ai < bi (para cada i em I), então existem ı́ndices i0 , i1 , . . . , in de I tais que [0, 1] ⊆ ]ai0 , bi0 [ ∪ ]ai1 , bi1 [ ∪ · · · ∪ ]ain , bin [ Um caminho infinito [0, 1] = K0 ⊇ K1 ⊇ K2 ⊇ K3 ⊇ · · · com |Kr | = 1 2r , Tome-se w ∈ para todo o número natural r. T r∈N Kr . Para certo i ∈ I, tem-se que w ∈ ]ai , bi [. Ora, para r suficientemente grande, w ∈ Kr ⊆ ]ai , bi [. Contradição. Compacidade vis-à-vis finitude Compacidade: ∀x ∈ [0, 1] ∃i ∈ N x ∈ ]ai , bi [ ⇒ ∃l ∈ N ∀x ∈ [0, 1] ∃i ≤ l x ∈ ]ai , bi [ Colecção: ∀x ∈ F ∃i ∈ N x ∈ Xi ⇒ ∃l ∈ N ∀x ∈ F ∃i ≤ l x ∈ Xi O princı́pio da convergência infinita Teorema Toda a sucessão crescente e limitada de números reais é convergente. Teorema (reformulado) Toda a sucessão crescente e limitada de números reais é de Cauchy. [0, 1]N : conjunto das sucessões de números do intervalo [0, 1]. x̃i = maxj≤i x(j) ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N∃i ∈ N∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k O princı́pio da convergência finita - 1 ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∃i ∈ N ∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k O princı́pio da convergência finita - 1 ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∃i ∈ N ∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | ≤ 1 2k O princı́pio da convergência finita - 1 ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∃i ∈ N ∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | ≤ 1 2k O princı́pio da convergência finita - 1 ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∃i ∈ N ∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | ≤ 1 2k ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | < 1 2k ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N x ∈ Ωk,F i onde Ωk,F := {x ∈ [0, 1]N : |x̃i+F(i) − x̃i | < i 1 }. 2k Situação [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i∈N O princı́pio da convergência finita - 1 ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∃i ∈ N ∀n ∈ N |x̃i+n − x̃i | ≤ 1 2k ∀x ∈ [0, 1]N ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | ≤ 1 2k ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N |x̃i+F(i) − x̃i | < 1 2k ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N x ∈ Ωk,F i onde Ωk,F := {x ∈ [0, 1]N : |x̃i+F(i) − x̃i | < i 1 }. 2k Situação [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i∈N O teorema de Tychonoff Em RN há uma noção natural de aberto (básico). São os conjuntos da forma: ]a0 , b0 [ × ]a1 , b1 [ × · · · × ]an , bn [ × R × R × R × · · · Teorema (a partir do Teorema de Tychonoff) O espaço [0, 1]N é compacto para a topologia produto. Facto fácil Fixe-se i, j, k ∈ N. O conjunto {x ∈ RN : |x̃i+j − x̃i | < é aberto na topologia produto. 1 } 2k O princı́pio da convergência finita - 2 Situação [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i∈N Situação esclarecida Existe l ∈ N tal que [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i≤l ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N x ∈ Ωk,F i ∀k ∈ N∀F ∈ NN ∃l ∈ N∀x ∈ [0, 1]N ∃i ≤ l x ∈ Ωk,F i O princı́pio da convergência finita - 2 Situação [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i∈N Situação esclarecida Existe l ∈ N tal que [ k,F [0, 1]N ⊆ Ωi i≤l ∀k ∈ N ∀F ∈ NN ∀x ∈ [0, 1]N ∃i ∈ N x ∈ Ωk,F i ∀k ∈ N∀F ∈ NN ∃l ∈ N∀x ∈ [0, 1]N ∃i ≤ l x ∈ Ωk,F i O princı́pio da convergência finita - 3 ∀k ∈ N∀F ∈ NN ∃l ∈ N∀x ∈ [0, 1]N ∃i ≤ l |x̃i+F(i) − x̃i | < 1 2k Teorema (Princı́pio da convergência finita) Dados k ∈ N, F : N 7→ N e 0 ≤ x0 ≤ . . . ≤ xM ≤ 1, onde M é suficientemente grande, dependente de k e F, então existe 0 ≤ i ≤ i + F(i) ≤ M tal que |xn − xm | < 21k , para todos i ≤ n, m ≤ i + F(i). “[o princı́pio] afirma que toda a sequência monótona, limitada, de comprimento finito, mas suficientemente grande, contém quantidades de meta-estabilidade, de qualidade arbitrariamente grande, com um erro pré-especificado de tolerância 1 , 2k na qual a duração da meta-estabilidade ultrapassa o seu começo i por uma função arbitrária F também ela especificada de inı́cio”. O teorema de van der Waerden Teorema (versão soft) Suponhamos que os números naturais são coloridos por meio de um número finito de cores. Então há progressões aritméticas monocromáticas arbitrariamente longas. Teorema (versão hard) Dados c, k ∈ N, existe N ∈ N tal que, sempre que o conjunto {1, . . . , N} é colorido com c cores, então existe uma progressão aritmética monocromática de comprimento k. De soft a hard Seja dado um número c de cores e k ∈ N: ∀f ∈ {1, . . . , c}N ∃a, b ∈ N+ ∀m, n < k f (a + bn) = f (a + bm) Vem: ∃l ∈ N∀f ∈ {1, . . . , c}N ∃a, b ≤ l ∀m, n < k f (a + bn) = f (a + bm) Ponha-se agora: N = l + lk O teorema da recorrência de Furstenberg Teorema Seja (X, µ, T) um espaço de probabilidades munido duma aplicação T : X 7→ X tal que: 1. T é uma bijecção. 2. T e T −1 são aplicações mensuráveis. 3. µ(T[Z]) = µ(Z), para todo o subconjunto mensurável Z de X. Sejam dados k ≥ 2 e Y ⊆ X mensurável de medida positiva. Então existe r > 0 tal que µ(Y ∩ T r Y ∩ . . . ∩ T (k−1)r Y) > 0. O teorema de Szemerédi Teorema (versão soft) Seja A um conjunto aleatório estacionário de inteiros tal que P(0 ∈ A) > 0. Seja k ≥ 2. Então, existe r > 0 tal que P(0 ∈ A ∧ r ∈ A ∧ . . . ∧ (k − 1)r ∈ A) > 0. Teorema (versão hard) Sejam k ≥ 2 e 0 < δ ≤ 1. Então existe um inteiro positivo N tal que todo o subconjunto A de {−N, . . . , N}, com |A| ≥ δ(2N + 1), contém pelo menos uma progressão aritmética de comprimento k. Matemática . . . matemática Um subconjunto X de N tem densidade superior positiva se lim sup n {1, . . . , n} ∩ X >0 n Teorema (Szemerédi) Seja X ⊆ N de densidade superior positiva. Então X tem progressões aritméticas de comprimento arbitrariamente grande. Ainda que os primos tenham densidade superior nula, tem-se: Teorema (Green - Tao) Os números primos têm progressões aritméticas de comprimento arbitrariamente grande. Green, Ben; Tao, Terence (2008): “The primes contain arbitrarily long arithmetic progressions”, Annals of Mathematics 167: 481-547, arXiv:math.NT/0404188. Kurt Gödel A interpretação dialectica http://terrytao.wordpress.com/2007/05/23/soft-analysis -hard-analysis-and-the-finite-convergence-principle/ Gödel - Shoenfield: A ; AS = ∀x∃yAS (x, y) Ferreira - Oliva: A ; ˜ ∃cA ˜ U (b, c) AU = ∀b http://www.ciul.ul.pt/˜ferferr/logica.html