Este livro é dedicado a Zoltan Gruber, meu tio

Transcrição

Este livro é dedicado a Zoltan Gruber, meu tio
Este livro é dedicado a Zoltan Gruber, meu tio austro-húngaro, que teve
de fugir dos nazistas. “Meu menino, eu sempre levo no bolso vinte mil
dólares em dinheiro, para o caso de a Gestapo voltar”, disse-me certa vez.
Ele sobreviveu à guerra e mudou-se para Paris.
Meu tio não era nenhum psicanalista, mas um contrabandista de dinheiro dos mais astuciosos. Foi, como Freud, um sobrevivente, e teria entendido muitos dos dilemas enfrentados pelo fundador da psicanálise na
década de 1930.
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“Só os estados de conflito e turbulência podem fomentar o nosso conhecimento.”
— Sigmund Freud, Esboço de psicanálise, 1940
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Sumário
Agradecimentos
Nota do autor
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A burocracia do ódio
Biografias e arquivos restritos
Nascimento de um psicanalista
Sexo, filhos e segredos de família
A ascensão dos nazistas
O poeta e o analista
O 80º aniversário de Freud
A história do mundo numa xícara de chá: A Anschluss
O pior dia da vida de Freud
Anton Sauerwald
Liberdade
Moisés e o monoteísmo
Últimas palavras, últimas batalhas
Depois da guerra: A psicanálise na Alemanha e
na Áustria, 1940-50
15 As contas bancárias secretas
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Apêndice 1 Elenco de personagens
Apêndice 2 Os arquivos restritos
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Referências
Índice remissivo
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Agradecimentos
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u devo muito a Brian Farrell, com quem estudei Freud anos atrás em
Oxford. As entrevistas com Viktor Frankl (que se sentia ignorado por
Freud) e Harald Leopold Loewenthal aumentaram ainda mais o meu interesse. Continuo a me surpreender com o fato de psiquiatras “normais”
(que acreditam em medicação) manterem seu interesse por Freud e a “cura
pela fala”, sendo por ela influenciados. Dois bons amigos, o falecido Dr.
James MacKeith e o Dr. Harvey Gordon, felizmente bem vivo, estão entre
eles. Ambos me estimularam neste projeto.
Muitas bibliotecas e bibliotecários prestaram ajuda: a Universidade John
Rylands em Manchester, a Biblioteca de Referência da Cidade de Manchester, a Biblioteca do Instituto de Psicanálise, a Swiss Cottage Library em
Londres, a Biblioteca da Real Sociedade de Medicina, os arquivos do Bibliotecário da Cidade de Viena, os arquivos de Estado da Áustria, a Biblioteca Nacional em Viena, além dos manjados de sempre — a Biblioteca do
Congresso em Washington D.C., a Wellcome Library e a Biblioteca Britânica. Os Museus Freud de Londres e Viena sempre são uma fonte de
inspiração, assim como o Museu Judaico de Manchester. O Museu de Criminalística de Viena, com rica documentação relativa a falsificações, é divertido caso haja interesse em falsários e assassinos.
Sou grato pelas discussões muito úteis sobre Freud com o Dr. Riccardo
Steiner, o Dr. Lesley Sohn, que continua fazendo análise aos 88 anos, e
Michael Molnar, diretor de pesquisa do Museu Freud em Londres.
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O professor R. Werner Soukup, da Universidade Técnica, em Viena,
explicou-me o que significavam as pesquisas químicas de Sauerwald.
Jonathan Edwards, da Real Sociedade de Química, também foi de grande
ajuda neste sentido.
Meus agradecimentos a minha amiga e agente Sonia Land, por acreditar no livro, a Jeremy Robson pelas críticas extremamente construtivas, que
o aperfeiçoaram, a Lesley Wilson por transformá-lo em realidade, a Lesley
Levene pelo aguçado trabalho de edição do texto, a Petra Coghlin, a Aileen
La Tourette, ao Dr. Murray Hall de Viena por compartilhar suas informações sobre as atividades editoriais de Freud e sobre Sauerwald, a Kurt, do
encantador Lhotzky’s Literaturbuffet de Viena, por sua ajuda, a Brian
Levene e Martin Hay pelos comentários, a Hantie, a Daniel Sisspela e ao
Dr. Gabriele Kohlbauer-Fritz, do Museu Judaico de Viena, a Julia Ross, a
minha prima Anita Frank e a Meike Currie, que me ajudaram a entender
certos documentos relacionados aos processos de Sauerwald.
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Nota do autor
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m 1925, Edward Bernays propôs ao tio, Sigmund Freud, que escrevesse uma autobiografia. Dizia ter recebido uma boa oferta de uma editora americana. “O que priva as autobiografias de valor é a teia de mentiras”, devolveu Freud. “Digamos apenas, entre parênteses, que o seu editor
evidencia uma ingenuidade americana ao imaginar que um homem até
agora honesto pudesse cair tão baixo por cinco mil dólares. A tentação começaria com uma soma cem vezes maior, mas ainda assim eu abriria mão
depois de meia hora.”
Onze anos depois, o escritor socialista Arnold Zweig, amigo de Freud,
pediu-lhe autorização para escrever sua biografia. Freud não se mostrou
menos intransigente: “Todo aquele que escreva uma biografia está comprometido com mentiras, ocultações, hipocrisia, lisonja e até com o encobrimento da própria falta de entendimento, pois a verdade biográfica não existe,
e, se existisse, não poderíamos usá-la.” E acrescentava, fazendo referência a
seu querido Hamlet: “Não estava certo o príncipe ao perguntar quem haveria de escapar de uma sova se todos fossem tratados como merecem?”
Optei por ignorar a patente aversão do meu objeto de estudo às biografias. Minha desculpa é que me concentrei na maneira como Freud, depois de muitas hesitações, conseguiu deixar Viena após a tomada do poder
pelos nazistas. Como apresento aqui informações inéditas, especialmente
a respeito do ramo de sua família em Manchester, este livro tem tantos
personagens quanto um dos romances de Dickens tão apreciados por Freud.
Os personagens são introduzidos à medida que entram em sua vida, mas
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também pareceu indicado oferecer uma lista dos “protagonistas” mais
importantes, que constitui o Apêndice 1.
As descobertas de Freud não resultaram apenas da análise dos próprios
sonhos ou do tratamento de seus pacientes; ele foi possivelmente o primeiro grande artista-cientista a crescer numa instituição hoje bastante familiar, a família ampliada, constituída por um casal, seus filhos e filhos de
outro(s) casamento(s) de um dos cônjuges. Os psicólogos modernos falam de família misturada ou reconstituída, Freud nasceu numa família
ampliada e viveu boa parte de sua vida numa família assim. Essas experiências contribuíram para formar suas ideias até o fim da vida.
No Apêndice 2, detalhamos as cartas e outros documentos aos quais os
estudiosos ainda não têm acesso 70 anos após a morte de Freud.
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CAPÍTULO 1
A burocracia do ódio
Viena, 25 de julho de 1947
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nton Sauerwald parecia muito acabado para um homem de 44 anos.
Seu médico, Karl Szekely, escrevera muitas vezes ao tribunal para explicar que o paciente sofria de tuberculose e que o julgamento devia ser
adiado. Sauerwald passara um mês no hospital. Mas o juiz Schachermayr
não queria mais saber de adiamentos. Marianne, a mulher do acusado,
sentava-se ao lado do marido. Ela dissera ao tribunal que não havia segredos entre eles.
Durante a maior parte da guerra, Sauerwald fora oficial da Luftwaffe,
não como piloto, mas como técnico. Em março de 1945, foi capturado e
mandado para um campo de prisioneiros de guerra administrado pelos
americanos em Bad Heilbrunn, mas em junho foi libertado e retornou a
Viena. A derrota dos nazistas lançara por terra um sonho pessoal há muito acalentado. Ao longo da guerra, ele cuidara de 15 terrenos pertencentes
a um grupo de nazistas que pretendia construir uma pequena propriedade para pessoas de ideias afins. Seu slogan era “Miteinander Füreinander”
(“Juntos, por cada um”), mas agora o sonho chegara ao fim.
Sauerwald era um homem extremamente bem-educado. Aos 24 anos,
publicou quatro trabalhos de erudição no Monatshefte für Chemie (Mensário de Química), uma das principais publicações mundiais no terreno
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da química. Concluíra seu doutorado na Universidade de Viena, tendo
como orientador um eminente químico orgânico, Josef Herzig, ainda hoje
lembrado por uma reação que descobriu. Herzig também era amigo de
Freud, em cuja casa costumava jogar cartas à noite. Sauerwald sempre estimou e respeitou “Herr Professor Herzig”.
Chegando a Viena, cidade em ruínas e cidade de traições, Sauerwald
não encontrou a mulher. Três meses antes do fim da guerra, ela abandonara o emprego numa fábrica e fugira em direção oeste, para não ser capturada pelos russos. Sauerwald passou uma noite na casa da sogra, Anna Talg,
mas na confusão então reinante ela não sabia onde encontrar a filha.
Sauerwald dirigiu-se então à casa da avó da mulher em Kritzendorf, mas
Marianne tampouco estava lá.
Enquanto Sauerwald procurava a mulher, alguém o procurava — e,
curiosamente, o homem que o procurava também tinha problemas pulmonares. Harry Freud, sobrinho de Sigmund, era oficial do exército americano e insistia em que Sauerwald fosse encontrado. Harry tinha excelentes
contatos: um de seus primos era Edward Bernays, que havia trabalhado
para Woodrow Wilson, o presidente americano que levou os Estados Unidos à Primeira Guerra Mundial. Harry estava convencido de que Sauerwald
roubara sua família e destruíra o negócio — a editora Internationaler
Psychoanalytischer — de cuja fundação seu avô havia participado em 1919.
Assim foi que invadiu o antigo apartamento dos Sauerwald em busca de
documentos que comprovassem a culpa. Ninguém podia deter um oficial
americano.
Dias depois, quando a polícia lhe pediu que descrevesse o genro, Anna
Talg teve dificuldade para encontrar algo a dizer sobre Anton Sauerwald.
Seu nariz era normal; as orelhas eram normais; a boca era normal. Os olhos
eram de um azul acinzentado. Ele não apresentava qualquer característica
que o distinguisse, à parte a cabeleira loura.
No fim de outubro de 1945, por insistência de Harry Freud, Sauerwald
foi detido e a polícia começou a investigar cada aspecto do seu passado.
Nos arquivos da cidade de Viena é possível reconstituir os complexos procedimentos jurídicos que levariam a dois processos contra Sauerwald.
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Esse indivíduo completamente normal era acusado de crimes de guerra.
As investigações policiais levaram a sua prisão, primeiro em Gefaengnis 1 e
depois em Gefaengnis 2. Ele perdeu o apartamento na Witterhauergasse, no
18º distrito de Viena, onde vivera com Marianne desde meados da década
de 1930. Teve de recorrer aos tribunais até mesmo para ser autorizado a pôr
novamente os pés em sua antiga residência. A prefeitura entregara o apartamento a uma nova inquilina, Frau Leidersdor, e Sauerwald alegava que ela
lhe havia roubado o conteúdo de um armário e produtos químicos (entre
eles ouro e alguns catalisadores) avaliados em 50.000 Reichsmarks.
Frau Leidersdor tinha um bom instinto publicitário e declarou à imprensa que estava sendo assediada pelo homem que havia roubado Sigmund Freud. Em 1946, os jornais de Viena publicaram duas histórias que
deixariam orgulhosos os modernos tabloides, retratando Sauerwald como
um perverso nazista que tentava expulsar uma mulher indefesa da própria casa.
O Neues Österreich conseguiu até pôr as mãos numa carta que Matthias
Goering, primo do primeiro na sucessão de Hitler, Hermann Goering, escrevera a Sauerwald. É provável que Frau Leidersdor tenha encontrado a
carta no apartamento, aproveitando para “vazá-la”. Dirigindo-se a Sauerwald como correligionário do Partido Nacional-Socialista, o partido nazista, Matthias pedia-lhe que enviasse um livro de um psicanalista não
judeu, August Aichhorn, mas que não esquecesse de arrancar o prefácio
de Freud, pois não queria que ficassem pensando que estava lendo “lixo”
judeu (num esplêndido caso de lapso freudiano, Goering errava ao escrever o nome de Freud, escrevendo Frued). Além disso, como Sauerwald devia
ter obtido dinheiro com a venda de bens pertencentes a Freud, Matthias
dizia querer pelo menos 1.600 marcos para certas despesas. E se despedia
com um enfático “Heil Hitler”.
A publicação dessa carta parecia comprometedora. O advogado de
Sauerwald, Franz Petracek, seu amigo desde os tempos escolares, comunicou-lhe que não mais o representaria.
Sauerwald foi a julgamento no recém-criado Volksgericht, o Tribunal
Popular criado logo depois da rendição alemã em junho de 1945. Os re-
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gistros dessa corte encontram-se atualmente no Gasometer D, antigo e
elegante prédio vitoriano de tijolos cujo interior foi transformado num
vulgar shopping center. Todo o material relativo ao julgamento de
Sauerwald tem como fonte os arquivos da cidade de Viena. Dezesseis por
cento dos réus do Tribunal Popular eram acusados de fraude financeira,
como Sauerwald. Ele também era acusado de ter sido membro do partido nazista, que fora proibido na Áustria depois dos distúrbios de 1933 e
1934. A acusação era, especificamente, de ter sido um “ilegal”, ou seja,
um nazista “ilegal”.
Os julgamentos do Tribunal Popular não tinham tanta publicidade
quanto os de Nuremberg, mas ainda assim os Aliados faziam questão dos
devidos procedimentos jurídicos. Queriam mostrar que os nazistas haviam sido derrotados por gente civilizada que cumpria as regras. Em
consequência, tudo levava muito tempo. Na verdade, o julgamento de
Sauerwald levou mais tempo que o de qualquer réu de Nuremberg.
A acusação da promotoria contra Sauerwald era simples. Desde sua chegada ao poder na Alemanha em 1933, os nazistas começaram a baixar decretos
para limitar a liberdade pessoal e financeira dos judeus. Todas as propriedades de judeus de valor superior a 5.000 Reichsmarks tinham de ser declaradas. O jornal do partido nazista, Der Angriff (O Ataque), deixava claro que
“todos os bens de judeus terão sido adquiridos impropriamente”.
Os nazistas designavam um administrador, ou Treuehandler, para cada
empresa de proprietário judeu. O Treuehandler tinha a missão de assegurar que esses bens impropriamente adquiridos fossem usados para maior
glória da Alemanha e do projeto nazista. Na Áustria, depois da anexação
do país pelos nazistas, havia pelo menos 9.000 desses administradores, também conhecidos como Kommissar. Anton Sauerwald era mais qualificado
que a maioria deles, tendo estudado medicina e direito, além de química.
Assim que foi nomeado Kommissar da família Freud, a 15 de março de
1938, Sauerwald passou a controlar não só seus bens, mas também seu
destino. Nessa época, a editora Internationaler Psychoanalytischer era
dirigida por um filho de Freud, Martin, mantendo em Leipzig um estoque
de milhares de livros encalhados. Apesar da reputação internacional de
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Sigmund Freud, a editora era um desastre financeiro. Mas a família Freud
tinha dinheiro e Sauerwald abusara de sua posição para apoderar-se dele,
assim como de bens, entre os quais manuscritos, obras de arte, livros e
muitas outras coisas de valor, segundo alegava a acusação.
Ao ter início o julgamento, o tribunal convidara Sauerwald a se declarar culpado ou não, de acordo com o procedimento jurídico americano.
“Inocente”, respondera ele. Nos 18 meses subsequentes, ele protestou inocência em muitas declarações solicitadas pelo tribunal, insistindo em que
era inacreditável que fosse objeto de tais acusações.
Sigmund Freud morrera em Londres em setembro de 1939, segundo
fora informado o tribunal, mas muitos outros membros de sua família
também haviam sofrido nas mãos do acusado. Harry Freud tinha excelentes motivos para pressionar pela detenção de Sauerwald. Mas Harry tinha
uma certa tendência para o exibicionismo. Conseguiu, por exemplo, pôr
as mãos em papel de carta de Adolf Hitler, e nele escreveu um bilhete à
governanta dos Freud, Paula Fichtl — embora nada tivesse de importante
a dizer-lhe. Paula, que adorava os Freud, dizia que Harry era o único membro da família que não era realmente inteligente.
No desenrolar do julgamento, sofrendo muitos adiamentos, a promotoria deixou escapar um fato crucial. No outono de 1945, Sauerwald reencontrou a mulher, Marianne. Dois anos depois, em julho de 1947, Marianne
escreveu em tom desesperado a Martha, a viúva de Freud, então com oitenta e muitos anos e vivendo em Hampstead. Marianne explicava a situação do marido; não sabia a quem mais recorrer. Se os Freud fossem
corretos, dizia ela, salvariam Sauerwald das terríveis dificuldades criadas
por Harry Freud. Martha Freud não respondeu pessoalmente, mas entregou a carta a sua filha Anna.
Anna Freud respondeu, mas a cópia de sua carta nos arquivos da cidade de Viena não é assinada por ela, nem por ninguém. Nem chega a ser
muito original sugerir que, se alguém não assina uma carta, está indicando ambivalência. Sauerwald também solicitara cartas de apoio do advogado de Freud, o Dr. Alfred Indra, do conhecido psicanalista Dr. August
Aichhorn (aquele cujo livro fora solicitado por Matthias Goering) e da
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princesa Marie Bonaparte da Grécia, aparentada à família real britânica
(ela também era analista; Freud chegara inclusive a tratar dela).
Apesar de não ser assinada, a carta de Anna Freud era clara. Ela dizia
que era um equívoco acusar Sauerwald de ter prejudicado a família Freud.
O mesmo afirmavam o Dr. Indra e a princesa Marie Bonaparte. Todos
concordavam em que Sauerwald na verdade ajudara a família em circunstâncias muito difíceis.
Anton Sauerwald não foi propriamente o único alemão ou austríaco a
ajudar judeus. O “socorrista” mais conhecido, claro, é Oskar Schindler,
personagem de A lista de Schindler, de Thomas Keneally, e do filme homônimo, de Steven Spielberg. No Yad Vashem, o memorial do Holocausto em
Jerusalém, encontra-se uma lista de gentios que incorreram em graves riscos para ajudar judeus. Schindler é devidamente homenageado, assim como
Albert Goering, o irmão de Hermann Goering.
O nome de Sauerwald não está entre os gentios virtuosos do Yad Vashem,
mas, tal como Schindler e Albert Goering, ele efetivamente ajudou pelo
menos uma família judia. Na verdade, sem a sua ajuda, é improvável que
Freud, sua mulher, a cunhada, sua filha e o filho, num total de 16 parentes,
colaboradores e “empregados”, tivessem conseguido fugir. Quatro das cinco irmãs de Freud permaneceram em Viena; todas morreram em campos
de concentração.
Este livro explicará por que um nazista — e Sauerwald era um nazista
sincero — tinha todos os motivos para esperar que a filha e os amigos de
Sigmund Freud fossem em seu socorro. Por diferentes motivos, não é uma
história que os freudianos tendessem a explorar.
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