Do céu caiu uma estrela

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Do céu caiu uma estrela
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MAIS DE UMA DÉCADA DE VIAGENS EXPLORATÓRIAS DESVENDADA POR SAMUEL LOPES
Do céu caiu uma estrela
Por GABRIELA MELO
A
lpinista ou parapentista? Samuel Lopes é tudo isto e algo mais. Foi na qualidade de paralpinista, junção de
montanhismo e parapente, que partiu em expedições e travessias pelo mundo fora, há pouco mais de uma década.
Menino de estufa na infância e na adolescência, este atleta português converteu-se num aventureiro de elite,
perseguindo o lema de aliar o desporto ao conhecimento do Mundo. Até agora, é o único português a voar acima dos 5500
metros de altitude, nos míticos Himalaias.
Samuel Lopes saiu da sombra. Ao cabo de mais de uma década de extraordinárias aventuras nos quatro cantos do Mundo,
aceitou partilhar uma das mais significativas. Um mundo de aventuras, iniciativa realizada no centro comercial Vasco da
Gama, abriu com a palestra De Kathmandu ao campo-base do Evereste, juntando cerca de 150 pessoas numa sala de
cinema, presas às imagens e às palavras deste multifacetado performer dos desportos de aventura, com dotes para tudo:
parapente, alpinismo, BTT, corrida, orientação, rafting ou mergulho, mais algumas variantes, como paramotor e
paralpinismo.
«Não faço as coisas pela notoriedade. Dão-me prazer. Gosto de conhecer sítios e povos. Gosto de voltar e de ter muitas
histórias para contar aos amigos», justifica-se Samuel Lopes, 41 anos, a poucos dias de mais uma viagem exploratória, em
Angola, onde vai «juntar todas as modalidades e voar onde ninguém voou, escalar onde ninguém escalou e mergulhar
onde ninguém mergulhou» durante um mês. Mais uma vez, está presente o objectivo do pioneirismo, que tem norteado as
escolhas do expedicionário. Foi o primeiro e até agora único português a descolar acima dos três mil metros nos Pirenéus;
acima dos 3500 metros nos Alpes; acima dos quatro mil metros no Atlas; acima dos 4500 metros nos Andes; e acima dos
5500 metros nos Himalaias. Iniciou-se nas grandes aventuras em 1995, atirou-se à imensa cordilheira asiática em 1997 e
nunca mais esteve tão perto de tocar o céu. «Sentimo-nos pequeninos num espaço daqueles. É difícil descrever os
sentimentos de bem-estar e de felicidade.»
Subir em marcha descer a voar
Há uma década, Samuel Lopes foi ao encontro do sonho antigo de aventurar-se nos picos mais altos do Mundo. «Era a
meta quando comecei no alpinismo. Com o tempo passamos a considerar outras montanhas. Mas não atingi os Himalaias
da maneira tradicional», explica o expedicionário.
Na companhia de um grupo de franceses, liderados por um piloto da selecção francesa de parapente, Jean-Noel Roche,
Samuel Lopes faz-se à cordilheira durante o mês de Novembro, seguindo parte de uma rota de aproximação ao Evereste
das primitivas expedições.
A aventura arranca numa «confusa e suja» Kathmandu, capital do Nepal, cujo povo é dotado, porém, «de uma simpatia e
paz de espírito raros nos nossos dias». Não terminará exactamente no campo-base do Evereste, a 5300 metros, mas em
Lukla, a 2700 metros. Nesta cidade começa a marcha que percorre a região de Khumbu e o Parque Nacional de
Sagamartha rumo ao acampamento técnico da montanha mais alta do Mundo. «As etapas sucederam-se seguindo um
plano invariável: despertar de madrugada, conquistar desníveis, descolar, voar, aterrar em segurança e acampar», conta o
português. Atravessou todo o tipo de cenários: floresta tropical, infindáveis glaciares ou montanhas
Por esta altura, já Samuel Lopes descobrira uma espécie de ovo do Colombo — «Há maneiras mais fáceis de descer, que é
o mais difícil em alta montanha.» O sentimento de perplexidade ficou-lhe estampado no rosto «há 12 ou 13 anos» quando
escalou o Monte Branco na qualidade de monitor e, ao atingir o cume, deparou-se com um alpinista francês a fazer
parapente. Agora é polivalente: «Tanto faço uma coisa como outra. Paralpinismo é mais técnico porque aliamos as
modalidades e temos de ganhar experiência para as unir. Também temos de preparar-nos melhor física e
psicologicamente».
Este conhecimento tocou outros alpinistas: João Garcia, colega de Samuel Lopes na primeira formação de monitores de
alta montanha da Escola Nacional, foi seu aluno de parapente mas nunca acabou o curso, enquanto Gonçalo Velez, o
primeiro português a atingir um pico dos Himalaias, primou pelo empenho.
Pendurado num lençol
Alguns dias depois de iniciada a viagem, a equipa tentou subir ao topo do Parcharmo (6187 metros) mas a missão revelouse impossível devido aos «ventos fortes». Por isso, os expedicionários, que tanto faziam trekking como voavam, optaram
por descolar, em segurança, entre os 5500 e os 5800 metros do pico, ficando o mais perto do Sol possível.
Nesta expedição, um voo de 20 minutos correspondia à marcha de 11 horas dos carregadores, provocando de-sencontros
e, em consequência, problemas. «Antes do voo, demorávamos uma média de seis a sete horas a atingir o ponto da
descolagem.»
Lá em cima, as visões deixam o português nas nuvens. Encantam-no «as cores, os campos cultivados, a miríade de cores
nas paisagens». Em Chandeni, uma das muitas localidades do trajecto, dezenas de crianças, que trabalhavam nos campos,
aproximam-se, atraídas pela aterragem dos parapentistas. Bocas abertas de um espanto depois descodificado por Samuel
Lopes: «Contaram que nunca tinham visto alguém a voar pendurado num lençol! E ainda por cima na aldeia delas!».
http://www.abola.pt/epaper/view_art.aspx?modo=text&idtpub=143&idpla=27801&id... 10-03-2007

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