Mudanças ambientais na zona costeira do noroeste de
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Mudanças ambientais na zona costeira do noroeste de
Pesquisa Resultados Índice Anterior Seguinte Ciências da Terra (UNL), Lisboa, nº esp. V, CD-ROM, pp. H73-H75 Mudanças ambientais na zona costeira do noroeste de Portugal desde o Plistocénico-Holocénico até à actualidade H. M. Granja(a,1) & G. Soares de Carvalho(b,2) a – Departamento de Ciências da terra, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga b – Rua Elísio de Moura, r/c, 62, 4 1 – [email protected]; 2 – [email protected] RESUMO Palavras-chave: Plistocénico; Holocénico; ambientes; geocronologia. Síntese de observações nas unidades plistocénicas e holocénicas no sector situado a norte do rio Ave e no sector situado entre Espinho e a laguna de Aveiro. Atribuem-se designações litostratigráficas às unidades sedimentares, definem-se os seus ambientes e geocronologia, esta baseada em datações pelo método do 14C e por luminescência (OSL). ABSTRACT Keywords: Pleistocene; Holocene; environments; geochronology. Synthesis of the observations about the Pleistocene and Holocene units of the coaxial sectors situated north of the Ave River, and between the Aveiro Lagoon and Espinho. Lithostatigraphic names are given to the sedimentary units and their environments are defined. The geochronology is based on the 14C and OSL (optically stimulated luminescence) methods. Introdução Nesta comunicação consideramos como zona costeira a área que passou por regressões e transgressões desde o Plistocénico superior (120 000 anos BP) até à Actualidade; corresponde à definição adoptada no projecto LOICZ (Land-Ocean Interactions in Coastal Zone) (Holigan e Bois, 1993; Carvalho e Granja, 1997a). A zona costeira do NO de Portugal fica limitada a norte pelo estuário do rio Minho (Caminha) e a sul pela Serra da Boa Viagem – Cabo Mondego. Nesta comunicação, faz-se a síntese de várias observações (Carvalho e Granja, 1997a, b; Carvalho et al., 2002; Granja e Carvalho, 1994, 1998; Granja, 1990, 1999; Granja e Groot, 1996; Granja et al., 1992, 1999 e Groot e Granja, 1998) e referem-se as pertencentes a dois sectores costeiros, um situado a norte do rio Ave e outro a norte da laguna de Aveiro, até Espinho, relativamente às mudanças ambientais que neles ocorreram. Metodologia A metodologia aplicada inclui análises dimensionais de depósitos detríticos, interpretação de estruturas sedimentares e datações pelo método do 14C e por luminescência (optical stimulated luminiscence). As amostras foram obtidas em cortes naturais, cortes artificiais e sondagens mecânicas, por trado e por vibrossondagem. Litostratigrafia e geocronologia As formações individualizadas são designadas por Formação das Antas, Conglomerado do Pinhote, Conglomerado do Outeiro, Areias da Gatanheira-Góis, Formação de Cepães, Formação areno-limosa da Zona Costeira, Formação da Aguçadoura (a norte do rio Ave); Formação da Maceda, Formação de Cortegaça e Formação de Silvalde (a norte da laguna de Aveiro). A Formação da Aguçadoura e a Formação de Silvalde são consideradas contemporâneas e geradas num ambiente lagunar que se transformou num ambiente pantanoso. Os dois ambientes podem ter coexistido simultânea e localmente, em certas épocas da evolução do sistema, mas ainda não se possuem provas (inexistência de suficientes sondagens ao longo de transectos) da sua passagem lateral. A Formação de Cortegaça, com um podzol truncado no topo da respectiva sequência estratigráfica, e a Formação da Maceda não foram identificadas para norte do rio Ave. Não é possível considerar, para norte da laguna de Aveiro e até Espinho, qualquer formação contemporânea da Formação de Cepães e da Formação das Antas, por falta de dados geocronológicos. Os dados geocronológicos utilizados nesta comunicação estão reunidos no quadro I. H73 Bibliografia Carvalho, G. S. & Granja, M. H. (1997a) - Realismo e pragmatismo: uma necessidade para o aproveitamento dos recursos naturais da zona costeira (o exemplo da zona costeira do noroeste de Portugal), Colectânea de Ideias Sobre a Zona Costeira de Portugal, Associação EUROCOAST-PORTUGAL: 25-66, Porto. Carvalho, G. S. & Granja, H. M. (1997b) - Terraços versus litostratigrafia e geocronologia do Plistocénico e do Holocénico da zona costeira do Minho (Portugal). Estudos Quaternário. Revista da Associação Portuguesa para o Estudo do Quaternário de Portugal, APEQ, 1:23-40, Lisboa. Carvalho, G. S.; Granja, H. M.; Gomes, P.; Loureiro, E.; Henriques, R.; Carrilho, I.; Costa, A. L. & Ribeiro, P. (2002) - New data and new ideas concerning recent geomorphological changes in the NW coastal zone of Portugal. Proceedings LITTORAL 2002, 6th International Symposium, organised by EUROCOAST-PORTUGAL, 22-26 September 2002, II:399-410, Porto. Granja, H. M. (1990) - Repensar a geodinâmica da zona costeira: o passado e o presente; que futuro ?, tese de doutoramento, Universidade do Minho, Braga, 347 p. Granja, H. M. (1999) - Late Pleistocene and Holocene sea-level, neotectonic and climatic indicators in the northwest coastal zone of Portugal. Geologie Mijnbouw, 77(3-4):233-245, Academic Publishers (the Netherlands). Granja, H. M. & Carvalho, G. S. (1994) - How can the Holocene help to understand coastal zone evolution? Proceedings of the Second International Symposium EUROCOAST-Littoral 94, September, Lisboa, 1:149-167, Associação EUROCOASTPORTUGAL, Porto. Granja, H. M. & Carvalho, G. S. (1998) - The landscape of the Coastal Zone of Northwest Portugal its degradation and management. Proceedings Fourth International Conference LITTORAL 98, European Association for Science and Technology (EUROCOAST), September 1998, Barcelona: 95-100. Granja, H. M. & Groot, T. A. M. (1996) - Sea-level rise and neotectonism in a Holocene coastal environment at Cortegaça Beach (NW Portugal): a case study. Journal Coastal Research, 12(1):160-170, Fort Lauderdale, Florida, U.S.A. Granja, H. M.; Sousa, M. M. & Carvalho, G. S. (1992) - Quaternary movements in the NW coastal zone of Portugal (around Cávado estuary). Bulletin INQUA Neotectonic Commission, Stackholm, 15:12-17. Granja, H. M.; Ribeiro, I.; Carvalho, G. S. & Matias, M. S. (1999) - Some neotectonic indicators in Quaternary formations of the nortwest coastal zone of Portugal. Physics and Chemistry Earth, 24:323-336, Elsevier Science Ltd. Groot, T. & Granja, H. M. (1998) - Coastal environments, sea level and neotectonism from cored boreholes (Northwest Portugal). Preliminary results. Journal Coastal Research, 26:115-124, Florida. Holligan, P. M. & Boois, H. (ed), Land-Ocean Interactions in Coastal Zone (LOICZ), Global Change. Report nº 25. The International – Biosphere Programme. A Study of Global Change (IGBP) of the International of Scientific Unions (ICSU), Stockholm, 50 p. H74 FORMAÇÃO DAS ANTAS Conglomerado do Pinhote Conglomerado do Outeiro Areias da Gatanheira-Góis FORMAÇÃO DE CEPÃES F. ARENO-LIMOSA DA ZONA COSTEIRA FORMAÇÃO DA AGUÇADOURA FORMAÇÃO DA MACEDA FORMAÇÃO DE CORTEGAÇA FORMAÇÃO DE SILVALDE AREIAS DE PRAIA AREIAS DE DUNAS AREIAS E CASCALHOS A NORTE DO RIO AVE A NORTE DA LAGUNA DE AVEIRO (até Espinho) LITOSTRATIGRAFIA PLISTOCÉNICO HOLOCÉNICO ACTUAL CRONOSTRATIGRAFIA GÉNESE Pantanoso Praia ou duna e laguna H75 Inferior - Fluvial Superior – Lagunar ou lacustre Praia (prépraia) Inferior - Fluvial Superior – Praia Alternância de depósitos lagunares com areia de praia ou duna FORMAÇÃO DE Pantanoso SILVALDE Praia e laguna Um podzol truncado sobre uma sucessão de depósitos lagunares e areias de praia e duna FORMAÇÃO DA AGUÇADOURA GEOCRONOLOGIA PEQUENA IDADE DO GELO séculos XV-XIX 11513±26367 anos (OSL, 1995) 52500±6800 a 58100±5800 anos (OSL, 2001) 13255±685 a 27150±2500 anos BP 13860±440 anos BP 500±80 a 2635±70 anos BP 2100±60 a 4920±105 anos BP 950±80 a 4255±75 anos BP 6830±60 e 5500±160 anos BP PERÍODO QUENTE MEDIEVAL séculos XI-XIV 360±40 a 4270±50 anos BP 2477±531 anos (OSL, 1995) NECRÓPOLE DE FÃO ➤ Mobilização pelo vento das areias das dunas medievais e das praias ➤ Substituição das areias das praias por cascalhos provenientes da plataforma continental ➤ Destruição do sistema dunar medieval pela migração das praias e galgamentos do mar Quadro I