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Revista Científica
ISSN 2179 6513
AMAZÔNIC
A
Faculdades Integradas do Tapajós
Ano 3 Nº 5
Revista Científica
ISSN 2179 6513
AMAZÔNIC
A
Faculdades Integradas do Tapajós
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5
Conselho Mantenedor
Paulo Roberto Carvalho Batista
Presidente
Antônio de Carvalho Vaz Pereira
Vice-Presidente
Ana Paula Salomão Mufarrej
Edson Raymundo Pinheiro de Sousa Franco
Etiane Maria Borges Arruda
Marlene Coeli Vianna
Direção Geral da FIT
Helvio Moreira Arruda
Direção Financeira
William José Pereira Coelho
Direção do Centro de Estudos Sociais Aplicados
Ana Campos da Silva Calderaro
Direção do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
José Almir Moraes da Rocha
Editor Responsável (Coordenação de TCC e Pesquisa)
Gabriel Geller
Conselho Editorial
Helvio Moreira Arruda
Ana Campos da Silva Calderaro
José Almir Moraes da Rocha
Gabriel Geller
Concepção gráfica
Publicittá Agência de Comunicação da FIT
Profª Thais Helena Medeiros
Capa
Lígia Augusta
Aluna-estagiária do Curso de Publicidade e Propaganda da FIT
Foto da capa
Arquivo THM
Diagramação
Thais Helena Medeiros
Impressão: Gráfica Global
Perspectiva Amazônica: Revista de Publicação Acadêmica da FIT. Ano III. Vol. 05
(Janeiro 2013)
Santarém. Pará: Faculdades Integradas do Tapajós. 2013. 129p.
Semestral
ISSN 2179-6513
Estudos Multidisciplinares relacionados à Amazônia
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5
“Contribuir para o entendimento aprofundado das questões amazônicas nos diversos
campos do conhecimento mediante a divulgação de produção científica local que possa
subsidiar as atividades acadêmicas e práticas tendo em vista o estudo da Amazônia para o
progresso da humanidade e o aumento da qualidade de vida da população Amazônica”.
Escopo e Foco
A revista Perspectiva Amazônica publica trabalhos teóricos e teórico-empíricos nas seguintes
modalidades: artigo original, artigo de revisão, resenha, relato de caso e ensaio, em qualquer
área do conhecimento e preferencialmente que tenham relação com a região Amazônica.
Público alvo
O público-alvo é constituído principalmente de profissionais e estudantes da academia
amazônica e brasileira, e, paralelamente, de todas as pessoas interessadas nas questões da
Amazônia nos diversos campos do conhecimento.
Requisitos
Os artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios submetidos à
apreciação da revista “Perspectiva Amazônica” devem ser inéditos, nacional e
internacionalmente, não estando sob consideração para publicação em nenhum outro
veículo de divulgação. Trabalhos publicados ou em consideração para publicação em anais
de congressos podem ser considerados pelo Conselho Editorial e pelos Avaliadores, desde
que estejam em forma final de artigo. Os artigos e documentos podem ser redigidos em língua
portuguesa, inglesa ou espanhola. Para serem publicados, os trabalhos deverão adequar-se
às normas para publicação da revista e serem aprovados pelos Avaliadores.
PERSPECTIVA AMAZÔNICA
Missão
Revista Perspectiva Amazônica
EDITORIAL
Ano 3 N° 5
A Revista Perspectiva Amazônica chega à sua quinta edição de cara nova! A reformulação na
identidade visual da publicação demonstra a busca pelo aprimoramento constante e
desenvolvimento deste projeto, que teve seu primeiro número em 2011 e que, consolidado e
recebendo cada vez mais artigos, contribuirá com maior força para a cultura científica em
nossa região.
Neste número há ainda outras novidades. As grandes áreas de conhecimento estão agora
indicadas no sumário, para facilitar a busca do leitor diretamente pelos artigos que
contemplam seus temas de interesse. Além disso, a parceria com o Simpósio de Informática e
Geotecnologia de Santarém - SIGES, evento interinstitucional que em 2012 foi realizado nas
Faculdades Integradas do Tapajós, proporcionou a publicação nesta edição dos três artigos
mais bem avaliados no evento.
É neste espírito de inovação e aperfeiçoamento que iniciamos o ano de 2013, o terceiro ano
da Revista Perspectiva Amazônica, confiantes de que estamos no caminho certo para o
desenvolvimento da educação superior em Santarém e no Tapajós.
Gabriel Geller
Editor Geral da Revista Perspectiva Amazônica
Coordenador de TCC e Pesquisa da FIT
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5
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Alexandre Rodrigo Batista de Oliveira, FIT/UEPA, Mestre, 20000006. Ciências Biológicas;
40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências)
Ana Karine Albuquerque de Alves Brito, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Edivaldo da Silva Bernardo, FIT, Doutor, 80000002. Linguística, Letras e Artes
Francisco Edson Sousa de Oliveira, FIT, Doutor, 60000007. Ciências Sociais
Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes;
90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades)
Gabriel Geller, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Hipócrates Menezes Chalkidis, FIT, Mestre, 20000006. Ciências Biológicas;
40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências)
José Almir Moraes da Rocha FIT/UEPA/UFOPA,Doutor, 20000006. Ciências Biológicas;
40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências)
José de Lima Pereira, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Lidiane Nascimento Leão, UFOPA, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas;
70000000. Ciências Humanas; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades)
Mara Rejane Miranda de Almeida,FIT, Mestre, 80000002. Linguística, Letras e Artes
Maria Irene Escher Boger, FIT, Doutora, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas;
70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005.
Multidisciplinar (Sociais e Humanidades)
Marla T. Barbosa Geller, CEULS/ULBRA , Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da
Terra (Computação); 30000009. Engenharias
Martinho Leite, FIT, Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da Terra (Computação);
30000009. Engenharia
Maura Cristiane e Silva Figueira, FIT, Mestre, 40400000. Enfermagem
Raimunda Nonata Monteiro, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias;
60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Robinson Severo, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias
Rodrigo Tenório Padilha, FIT, Mestre, 50500007. Medicina Veterinária
Rubens de Oliveira Martins, Ministério da Ciência e Tecnologia, Doutor,
7000000. Ciências Humanas
Síria Lissandra de Barcelos Ribeiro, FIT, Doutora, 20000006. Ciências Biológicas;
40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências)
O Abstract, a revisão linguística e a ortográfica são de responsabilidade dos autores.
Os artigos publicados não expressam necessariamente a opinião da FIT.
AVALIADORES
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5
SUMÁRIO
ciências humanas e sociais aplicadas
RACIONALIDADE TECNOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA: CONSIDERAÇÕES
A PARTIR DA CRÍTICA FRANKFURTIANA
Ivair da Silva Costa
DURKHEIM & PARETO: REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL É DERIVAÇÃO RESIDUAL
PARETIANA
Thais Helena Medeiros
ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS POTENCIALMENTE MEDICINAIS
ORIUNDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA NA COMPOSIÇÃO DE MEDICAMENTOS
PROCESSADOS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Helvio Moreira Arruda
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INTERNET EM SANTARÉM, ESTADO DO PARÁ E OS
PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CONSTANTES INTERRUPÇÕES E A BAIXA VELOCIDADE
DAS CONEXÕES DOS PROVEDORES EM 2012
José de Lima Pereira
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19
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ciências biológicas e da saúde
PARTICIPAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ORIENTAÇÃO DO AUTOCUIDADO PARA
PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES NA HANSENÍASE
67
Jéssika Larissa de Assis Araújo; Lília Silva de Almeida; Rodrigo Luis Ferreira da Silva
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEPTOSPIROSE NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA, NO
PERÍODO DE 2001 A 2010
Adjanny Estela Santos de Souza, Danna Cristine Tavares Queiroz,
Keila Monteiro Marinho, André Sousa de Siqueira
INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS LABORATÓRIOS DE REFERÊNCIA NO
MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2009 A JUNHO DE 2011
Karina Angélica Alvarenga Ribeiro; Rosália da Conceição Moura;
Sheza Mayara dos Santos Oliveira
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edição especial: SIGES 2012/ TECNOLOGIA
REPRESENTAÇÃO SEMÂNTICA DE CONHECIMENTO NO SETOR DA CONSTRUÇÃO
Ruben Costa, Paulo Figueiras, Pedro Maló, Celson Lima
ARQUITETURA EM CAMADAS: REUTILIZAÇÃO E ADAPTAÇÃO DE COMPONENTES DE
SOFTWARE NO DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA GERENCIAR ATIVOS DE REDE
Luciano Parintins Viana, Rafael Brelaz,
Antônio Fabrício Guimarães de Sousa, Amanda Monteiro Sizo Lino
USO DA PLATAFORMA ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
PARA PESQUISAS DE DADOS ATMOSFÉRICOS NA AMAZÔNIA
Adyson S. Moreira, Adelson M. Portela, Rodrigo Silva
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.9-18
RACIONALIDADE TECNOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA:
CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA CRÍTICA FRANKFURTIANA
Ivair da Silva Costa¹
RESUMO
Este artigo enfoca temas atuais referentes a questões que envolvem o debate sobre racionalidade
tecnológica e sustentabilidade na Amazônia. O objetivo fundamental é mostrar as várias faces desse
debate nas diversas esferas sociais, onde envolve temas como defesa da ecologia e ação política, e
apontar as implicações dessas questões na realidade amazônica. Como pano de fundo para o debate
buscou-se apoio em filósofos críticos da sociedade tecnológica que analisam os efeitos decorrentes
do avanço da sociedade burguesa e em Enrique Leff, teórico latino-americano, que propõe uma
“cultura ecológica”, conjunto de ações que visa a equidade e promove o despertar da consciência
política em oposição à passividade diante da realidade social motivada pela racionalidade ideológica
da sociedade contemporânea. Na Amazônia, situações de degradação ambiental e descaso pela vida
aparecem como resultados do encontro entre o desenvolvimento tecnológico de grandes projetos
capitalistas e o modo de ser e de viver das populações da região que por eles são afetados.
Palavras-chave: Amazônia – racionalidade tecnológica – cultura ecológica
ABSTRACT
This article focuses on current topics related to issues surrounding the debate over technological
rationality and sustainability in the Amazon. The fundamental objective is to show the many faces
of this debate in different social spheres, which involves issues such as defense of ecology and
political action, and point out the implications of these issues actually Amazon. As background to
the debate sought to support philosophers critics of technological society that analyze the effects of
advancing bourgeois society and E. Leff, theoretical latin american, which proposes an "ecological
culture" set of actions aimed at promoting equity and the awakening of political consciousness as
opposed to passivity in the face of social reality motivated by ideological rationality of
contemporary society. In the Amazon, situations of environmental degradation and disregard for
life appear as results of the meeting between the technological development of large projects and the
capitalist mode of being and living of the people of the region who are affected by them.
Key words: Amazon – technological rationality – ecological culture
¹ Licenciado em filosofia, doutor em Teologia pela PUC/SP, professor de ética, filosofia e ciência política na FIT, IESPES, IFPA e
IFITESP.
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I. Introdução
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É comum na história da humanidade discussões em torno do confronto entre
racionalidade tecnológica e sustentabilidade. Na Amazônia, essas questões saltam à
reflexão por meio do paradoxo desenvolvimento x preservação ambiental, onde
temas envolventes como: defesa da ecologia, valores culturais, ação política
alcançam relevada importância, merecendo, por isso mesmo, maiores
considerações.
Para PIKAZA (1999),desde tempos remotos, o ser humano tem se esforçado
em construir um mundo que seja ordenado razoavelmente e que expresse um
sentido, embora tal esforço, às vezes, tenha privilegiado uma caminhada que não
leva em conta as alterações substanciais causadas pelo domínio da técnica sobre a
natureza. De fato, o homem da técnica (homo faber), com sua capacidade produtiva
e transformadora é ameaça à natureza. Suas ações alteram a normalidade dos
complexos sociais, assim como alguns ecossistemas que são gravemente atingidos e
modificados devido aos impactos provocados pela ação antrópica, quase sempre
destruidora.
A realidade sui generis da Amazônia despertou um olhar crítico e esta ação
antrópica alavancada pela técnica começou a ser vista como um impulso infinito
diante das espécies, cujo êxito é obter o domínio máximo sobre a natureza e sobre os
próprios homens. Isso fez surgir também uma consciência política e ética mais
esclarecida na população amazônida, sobretudo quando se analisa a relação do
homem com o ambiente natural o que envolve o modo cultural de ser e as ações
projetadas para a região, em que são destacadas as ações políticas.
Dentro desta constatação, o presente texto procura analisar, no primeiro
item, como as questões que envolvem política e cultura foram absorvidas nas
discussões mundiais sobre desenvolvimento e sustentabilidade e sua correlação com
o que ocorreu na Amazônia. Tal despertar favoreceu a inclusão dos temas projetos
desenvolvimentistas e defesa da ecologia na região, devido a especificidade deles no
contexto amazônico atual.
No segundo item, procura-se aprofundar o tema da racionalidade
tecnológica sob a ótica da escola frankfurtiana e como ocorreu sua operatividade na
realidade concreta da Amazônia, para perceber as conseqüências práticas ocorridas
na cultural local e a urgência em resgatar e incluir nas discussões o tema da ética.
O terceiro item analisa o quadro geral das questões e retoma a proposta de E.
Leff que aponta uma sustentabilidade em que são conjugados ação política e
pressupostos éticos que aparecem na própria realidade cultural e onde devem ser
buscados. Busca-se, dessa forma, resgatar esses valores ecológicos e éticos
engendrados no próprio conceito de desenvolvimento sustentável a ser assumido
pelos projetos político-econômicos e pela população em geral.
Ao longo das discussões, percebeu-se que a região está amazônica
envolvida por um debate acirrado entre aqueles que operam a defesa de projetos
Revista Perspectiva Amazônica
desenvolvimentistas e os que são contra, o que demonstra o real dilema imposto pelo
projeto da racionalidade tecnológica que não deixa transparecer suas reais
pretensões, mas somente as conseqüências de suas ações.
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II. Poder político e debate cultural na amazônia
Como era previsto no campo teórico, a discussão acerca da relação entre
ciência, técnica e meio ambiente leva normalmente ao tema da cultura. Na visão de
KRISCHKE (2000), os grandes encontros mundiais sobre o desenvolvimento e as
formas de preservação da natureza, ao se pronunciarem sobre a realidade ambiental,
demonstraram a íntima relação entre as políticas desenvolvimentistas dos governos
em relação aos recursos naturais e os efeitos delas nos processos culturais vividos,
manifestados e cultivados pelas populações.
Realizados tanto em nível mundial quanto em níveis regionais, os encontros
se tornaram, na verdade, espaços nos quais as discussões sobre os problemas
ecológicos, tão concretos e urgentes, se transformaram em debate político-cultural.
Por quê? Qual a razão de tudo isso?
Segundo Krischke, uma das razões é a controvérsia entre opositores e
defensores de projetos que pretendem oferecer soluções concretas, corretivos
práticos, prazos para intervenções ou modelos de planejamento e perspectivas para o
futuro. Essas disputas assumem um caráter político-cultural porque partem de
diferentes pontos de vistas que conduzem a diferentes prognósticos da realidade
ecológica.
De fato, as querelas, muitas vezes, resultaram, por parte dos economistas
representantes do poder hegemônico que está atuando, na taxação de “catastrofistas”
aos prognósticos dos movimentos ecologistas e aos políticos que estudam o assunto.
Observa-se, nessas críticas, a defesa de uma posição materialista e individualista,
indiferente aos problemas coletivos da humanidade (KRISCHKE, 2000).
Na realidade amazônica atual o acirramento dessas discussões provoca
divisão de opiniões que resulta, em alguns casos, em situações trágicas, como
perseguição, morte, conspirações, difamações, manifestações populares,
reivindicações das populações minoritárias mais carentes, processos judiciais que se
arrastam por décadas sem solução, envolvendo pessoas, grupos organizados da
sociedade e grandes projetos político-econômicos.
Além disso, permanece, no fundo, uma contenda que repete o dilema mundial em
nível regional, ao suscitar questionamentos sobre o tipo de desenvolvimento que se deseja
alcançar; quais os meios para realizá-lo e quais as perdas necessárias para sua aplicação
prática. Com isso já se percebe que as questões regionais ultrapassam a própria fronteira
amazônica e que os dilemas mundiais acabam respingando nessa que é considerada uma
das últimas reservas mundiais de riqueza útil para a humanidade.
Ademais, a cultura do amazônida acaba envolvida por esses dilemas que quase
sempre a impossibilitam de situar-se em sua subjetividade e posicionar-se de forma racional
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acerca das investidas tecno-científicas que caminham quase sempre acompanhadas pelas
promessas falsas e soluções paliativas aos agudos problemas sociais da população.
Para David BELL (2000), este debate polêmico pode ser resfriado quando o
estilo de sustentabilidade for proposto tendo como identificação principal o tipo de
mudança cultural. Segundo ele, três aspectos devem ser levados em conta:
compreender a dinâmica da mudança de valores ou transformação cultural;
compreender a “cultura da sustentabilidade”; experimentar formas para promover a
mudança cultural, no sentido da sustentabilidade.
David Bell se apóia em dois significados do termo cultura (double entendre):
um como substantivo e outro como verbo. Como substantivo refere-se, no cotidiano,
às artes e à literatura; nas ciências sociais tem sentido mais amplo, pois diz respeito
também aos modos de ação da sociedade. Baseia-se ele na definição de cultura
adotada na Conferência Mundial sobre política cultural, realizada no México, em
1985: [A cultura] é o conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais,
intelectuais e emocionais, que caracterizam uma sociedade ou grupo social. Inclui,
além das artes e da literatura, modos de vida, direitos humanos, sistemas de valores,
crenças e tradições (BELL, 2000).
Como verbo, a cultura tem sentido muito diferente, particularmente na
Biologia - onde se fala na “cultura” (ou cultivo) de um microorganismo,
proporcionando-lhe um meio adequado e condições de crescimento e reprodução.
Acentua ainda, David Bell, que a cultura da sustentabilidade tem como dupla tarefa
promover a aplicação das práticas e princípios da sustentabilidade e apoiar a
preparação de um medium cultural favorável, para garantir o sucesso desta tarefa.
Além disso, são envolvidos no conceito cultura elementos como: valores,
crenças e atitudes dos indivíduos acerca da política; símbolos que catalisam
sentimentos e crenças sobre a política e a ação política; conhecimentos e percepções
politicamente relevantes, inclusive percepções de experiências históricas e noções
de identidade; e ideologias como agregações de valores e crenças que mantém
coerência e coesão à identidade interna.
Ao tratar de questões ecológicas na Amazônia e, sobretudo quando se
envolve temas como desenvolvimento sustentável, não deveria ser levado em conta
tais proposições? Segundo a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento das nações Unidas, no relatório intitulado: Nosso Futuro Comum,
desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da
presente geração sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem
as suas próprias necessidades” (BELL, 2000:32).
Não deveria, por isso mesmo, ser declarado um desenvolvimento sustentável
que não somente leve em conta, mas que garanta a transmissão para as gerações
futuras de um estoque igual, e preferencialmente aumentado, do capital econômico,
natural, social e humano das sociedades contemporâneas?
Com isso, desenvolve-se uma nova perspectiva sobre os temas e desafios
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cotidianos da atualidade, pois são exigidos maior apreciação e um maior debate das
complexas inter-relações entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais.
Merece destaque aqui o entendimento de desenvolvimento sustentável proveniente
do mesmo relatório citado que serve como novo paradigma para todos os setores da
sociedade na Amazônia em relação às políticas ambientais e sua eficácia: “as
políticas sociais devem ser eficazes econômica e ambientalmente; e as políticas
econômicas necessitam ter eficácia social e ambiental.”
Algumas forças organizadas da sociedade desempenham um papel importante
nesse processo. Entre elas merecem destaque a educação, os meios de comunicação
social e a academia de ciências. Segundo a proposta da Agenda 21, a educação foi
reconhecida como uma base fundamental para a sustentabilidade (é mencionada 600
vezes, com referências ao tema em cada capítulo). Além disso, o documento identifica
três modalidades de educação, conforme é detalhado a seguir: educação formal (a que
acontece em sala de aula); não-formal (compreende o trabalho educativo fora do
sistema escolar, pelos governos, ONGs, e empresas); educação informal (envolve as
múltiplas influências culturais, que afetam tudo aquilo que as pessoas pensam,
acreditam e valorizam).
Os meios de comunicação de massa são agentes de educação informal que, em
conjunto com a religião, o teatro e os debates comunitários, organizados pela
sociedade civil, constituem-se em modalidades importantes de educação informal. Na
Amazônia se apresentam como espaços específicos de participação popular, inclusive
em parceria com as instituições de ensino superior.
De fato, a academia amazônica está empreendendo esforços no sentido de
comprometer-se com temas socioambientais voltados para as questões que estão
sendo debatidas. Algumas incluíram temas afins no currículo regular de alguns cursos.
Trata-se de iniciativas que demonstram que esses espaços do saber, além de estarem
voltados para o campo técnico através dos cursos tecnológicos, em vista dos grandes
projetos mineradores instalados na região, também se abrem para as questões
ecológicas e humano-sociais. Ao fazerem isso, estampam para o mundo o retrato da
região como um espaço degradado e uma população abandonada, ao mesmo tempo
em que colaboram na gestação de uma nova história amazônica, construída a partir da
própria identidade cultural e no reconhecimento das potencialidades reais que a
capacitam para construir conhecimento e abrir perspectivas para o futuro.
III. Racionalidade tecnológica e mudanças
provocadas pela ação humana
O conceito “racionalidade tecnológica”, introduzido por Max Weber nas
discussões modernas, envolve poder técnico e ação humana sobre a natureza
(HABERMAS, 1987). Traduz uma forma da atividade econômica capitalista burguesa,
caracterizada pelo tráfego social regido pelo direito privado burguês e pela dominação
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burocrática. J. Habermas amplia essa perspectiva fazendo a ligação com as esferas
sociais que ficam submetidas aos critérios da decisão racional, resultando que a “ação
instrumental,” própria da técnica, provoca conseqüências em vários âmbitos da vida,
envolvendo “urbanização das formas de existência, tecnificação do tráfego e da
comunicação” (HABERMAS, 1987:45).
A contribuição de Habermas à proposição de Weber conduz ao entendimento
da racionalização da sociedade como um processo que penetra todos os setores da
sociedade e institucionaliza o progresso científico e técnico. Além da ação eficaz
sobre os recursos da natureza, diz Habermas, esse processo atinge também a cultura e
as tradições das populações, vítimas dos projetos técnico-científicos e das
transformações substanciais operadas nas relações sociais (HABERMAS, 1987).
H. Marcuse, por sua vez, introduz na discussão sobre a racionalização da
sociedade o aspecto político. Ao analisar a sociedade tecnológica aplica o termo
Eindimensionale Mensch para caracterizar o homem que vive em uma sociedade sem
oposição, isto é, que teve sua visão crítica paralisada pela força atrofiadora do
controle total promovido pela sociedade tecnológica. Trata-se de uma forma de
dominação política oculta (REALE e ANTISERI, 1991). Marcuse, citado por
Habermas, Afirma:
O que eu quero realçar é que a ciência, em virtude do seu próprio
método e dos seus conceitos, projetou e fomentou um universo no
qual a dominação da natureza se vinculou com a dominação dos
homens – vínculo que tende a afectar fatalmente este universo
enquanto todo. A natureza, compreendida e dominada pela
ciência, surge de novo no aparelho de produção e de destruição,
que mantém e melhora a vida dos indivíduos e, ao mesmo tempo,
os submete aos senhores do aparelho (MARCUSE apud
HABERMAS, 1987:50-51).
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Eficiente no seu modo de ser, a aplicação demonstra correta eleição de
estratégias e “adequada utilização de tecnologias à instauração de sistemas que
exige somente uma coisa: dominação sobre a natureza e sobre a sociedade”
(MARCUSE apud HABERMAS, 1987:46). Mais ainda: por trás do material da
ciência e da técnica se oculta um projeto de mundo determinado por interesses de
classe e pela situação histórica.
À luz da perspectiva de Marcuse, o amazônida (construtor de cultura),
envolvido por este universo globalizante e inevitável, perde sua liberdade e passa a
demonstrar uma impossibilidade “técnica” de ser autônomo, de determinar
pessoalmente sua história e sua vida. Torna-se submisso ao aparelho técnico que
causa efeitos como a ampliação da comodidade da vida e intensificação da
produtividade do trabalho; proteção da legalidade da dominação em vez de eliminála e o horizonte instrumentalista da razão que se abre para uma sociedade totalitária
de base racional, como fim de si mesma (MONDIN, 1989).
Percebe-se que a ciência e a técnica, por ocuparem em seu processo natural
um caráter instrumental de controle da produção, ampliaram, na Amazônia, a
dominação sobre a natureza e sobre os próprios homens. Isso se deu não somente por
meio da tecnologia e sua eficiência, mas pela justificação de sua ação, ao serem
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amparadas pelo poder político que se auto-promove como aquele que tem a missão
de assumir para si todas as esferas da cultura.
Várias críticas com bases teóricas fortes ajudam na tomada de posição
oposicionista a esta realidade. Marcuse, por exemplo, sugere uma atitude alternativa
diante do relacionamento desastroso da técnica para com a natureza, destacando a
ação dos marginalizados e explorados como capazes de oferecer esperança de
libertação; Habermas detalha tal proposta destacando os seguintes pressupostos: a)
tratar a natureza não como objeto de uma “disposição possível”, mas como o
interlocutor de uma possível interação. E o reconhecimento da natureza como o
outro, valorizando sua subjetividade. Assim ele se posiciona:
Em vez da natureza explorada podemos buscar a natureza fraternal.
Na esfera de uma intersubjetividade ainda incompleta podemos
presumir subjectividade nos animais, nas plantas e até nas pedras, e
comunicar com a natureza, em vez de nos limitarmos a trabalhá-la
com rotura da comunicação (HABERMAS, 1987:53).
C. Brandão, analisando estes aspectos do pensamento de Habermas, afirma que
sua proposta sugere “uma completa inversão em tais relacionamentos tornados possíveis
por um saber de ciência através da técnica, onde se elimine, de uma vez, a verticalidade do
domínio utilitário.” Domínio este regido por uma racionalidade submetida aos princípios
do “agir-racional-com-respeito-a-fins” que age de modo arbitrário, partindo do suposto de
o homem ser sujeito único e solitário, senhor absoluto de tudo. A inversão se daria na
construção de relações que em nome de uma horizontalidade regida por princípios de
uma troca entre parceiros, passaria de um agir sobre a natureza a um trocar recíprocos
com a natureza (BRANDAO, 1994).
Na realidade específica da região amazônica todas as prerrogativas colocadas por
Habermas são verificáveis e urgentes em sua aplicação; basta, para isso, dar maior
atenção ao campo político e ao debate ecológico que são fomentados pela condição
desgastante imposta à natureza pelos projetos destruidores dos ecossistemas e sua
biodiversidade.
Além disso, a proposição de Habermas sugere o resgate de novos valores,
que, mesmo reafirmando a validade e a operatividade da técnica e das forças
produtivas orientadas por ela, sofreria o agravante de ter sua regulação modificada.
Isto é, esses novos valores tenderiam a tarefas tecnicamente solucionáveis e
direcionaria o progresso para fins e máximas de uma ação comunicativa, entendida
por Habermas como “interação simbolicamente mediada”².
IV. Racionalidade tecnológica e ética ecológica
Segundo LEFF (2000), pela urgente necessidade de fomentar o debate que
envolve questões relacionadas à racionalidade tecnológica e políticas de
sustentabilidade, faz-se necessário ampliar a questão e incluir temáticas como a ética
e a ecologia, que dialoga respectivamente com a tecnologia e a cultura. Para LEFF
(2000), trata-se de temas convergentes, o que o faz propor uma nova postura,
² Para Brandão, “Habermas e
Marcuse convocam a uma posição
extremamente simples: trazer o
mundo da natureza ao palco da
subjetividade. Alargar o lugar
social do diálogo até o ponto em
que outros seres, dotados de outras
sensibilidades e, por certo, de
outras disposições à comunicação,
possam participar de uma mesma e
muito diferenciada rede de
comunicações conosco, ainda que
não necessariamente sempre
através de nós. Assim, a natureza e
seus seres individuais, apropriados
até aqui de acordo com os nossos
interesses, devem ser libertados de
serem considerados como uma
dimensão outra da existência – o
que não significa negar a
alteridade de suas diferenças... [...]
Devem ser, assim, liberados para
converterem-se numa alargada
dimensão de diálogo e
comunicação com/entre os
humanos. Desde logo, a
dominação [...] poderia passar a
ser a comunicação e a troca de
dons entre dois pólos aos quais
caberia o desafio de estabelecer os
novos termos de uma lógica e de
uma ética de reciprocidades.” Id.,
p.76-77.
15
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.9-18
³ Cultura “como estilos de vida e
de desenvolvimento, como direitos
das comunidades sobre os seus
territórios e seus espaços étnicos e
como um conjunto de valores,
práticas e instituições para a
autogestão de seus recursos, livre
dos paradigmas dominantes da
economia.” Id., p. 81-82.
denominada de “cultura ecológica”. Um conjunto de ações que visam alcançar a
equidade social, a diversidade cultural e a democracia ambiental entrelaçando-se na
perspectiva do desenvolvimento sustentável³.
Com essa proposta, Leff, ao contrário do que parece apregoar, não defende
um simples retorno às técnicas tradicionais e à aplicação de métodos pouco
produtivos, mas leva em conta o sistema de crenças e saberes de mitos e ritos que
estão intimamente relacionados com a organização econômica e as práticas
produtivas das sociedades tradicionais que, para o autor,
são fundadas na simbolização de seu ambiente, nas suas crenças
religiosas e no significado social dos recursos e geraram diversas formas
de percepção e apropriação, regras sociais de acesso, práticas de manejo
dos ecossistemas e padrões culturais de uso e consumo dos recursos
(LEFF, 2000:81-81).
A conjugação desses fatores na realidade concreta é defendida por Leff e
enquadrada nos conceitos de cultura ecológica e racionalidade ambiental, temas
incorporados na reflexão como eminentemente necessários para a discussão do
assunto proposto. Cultura é entendida como formas de organização simbólica do
gênero humano, remetendo a um conjunto de valores, formações ideológicas e
sistemas de significação, que orientam o desenvolvimento técnico e as práticas
produtivas, e que definem os diversos estilos de vida das populações humanas no
processo de assimilação e transformação da natureza (LEFF, 2000).
Como aplicar esse conceito na realidade concreta de uma Amazônia que se
apresenta como o paradigma da ausência de dignidade humana, em primeiro lugar, e
onde a ética está relegada ao segundo plano? Primeiro Leff propõe uma revisão dos
princípios morais que guiam a conduta dos homens e que legitimam a tomada de
decisões sobre as práticas de uso e exploração dos recursos naturais; depois, abre
novas perspectivas interligando a cultura com a racionalidade ambiental.
Leff acentua a valorização da cultura ao incorporar como pressupostos para
sua harmonia certos princípios éticos e morais como “valores universais do homem”
(LEFF, 2000:124). Necessário se faz, para isso, que a ética e suas disciplinas
correlatas, enquanto teoria e ação práticas se tornem indispensáveis no
planejamento, elaboração e execução dos projetos de desenvolvimento. Dispensar a
ética é provocar o “desequilíbrio ecológico” como tem acontecido. Desequilíbrio
manifestado na destruição da base de recursos naturais, na contaminação ambiental
e na degradação da qualidade de vida.
Outro conceito importante para Leff é o da racionalidade ambiental,
entendida como
um sistema integrado de esferas de racionalidade, que articula a
fundamentação dos valores e a organização do conhecimento em torno
dos processos materiais que dão suporte a um paradigma
ecotecnológico de produção e à instrumentalização dos processos de
gestão ambiental (LEFF, 2000:211).
Segundo Leff, para a efetivação dessa racionalidade é indispensável a
coerência entre os princípios de racionalidade ambiental e os conceitos de sua
16
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racionalidade teórica com os processos produtivos que lhe dão suporte material e
com os instrumentos da racionalidade técnica que asseguram a sua eficácia. Para ele,
somente assim se estabelece uma articulação de racionalidades, que vai dos
princípios éticos às práticas produtivas do ecodesenvolvimento (LEFF, 2000).
Tais proposições colidem no palco amazônico com um substrato diferente,
em que a região, por força da inferência do sistema capitalista fundado numa
racionalidade econômica dirigida à maximização do lucro em curto prazo, tem sido
freqüentemente assolada e as conseqüências aparecem na degradação dos
ecossistemas e na transformação/destruição de valores culturais e sociais do ethos do
povo. Com isso, os princípios de igualdade dos direitos individualistas, do acúmulo e
do lucro têm gerado uma tendência à desestabilização dos processos ecológicos,
inclusive a separação das práticas tradicionais de uso dos recursos, a desintegração
da identidade e solidariedade dos grupos culturais e a dissipação dos significados
existenciais que fundamentam a vida humana (LEFF, 2000).
Seguindo a diretiva de MANCINI (2000), a reflexão filosófica analisa a
realidade pelo olhar de agente de transformação social, cujo esforço se detém em
sustentar e motivar nos indivíduos, grupos sociais e nos governos a adesão a uma
ética intercultural para a praxe política. Mancini sugere o resgate de uma ética
sustentada por valores que podem ser propostos e vividos na Amazônia; para isso,
precisa promover princípios planetários e incorporá-los aos regionais em vista do
desenvolvimento de uma consciência que prima pela busca de soluções para os
problemas ecológicos, vislumbrando um mundo sem guerra e sem miséria, com os
direitos plenamente respeitados e com uma nova relação com a natureza4 . Dessa
forma, a cultura regional, localizada, autóctone e conservada tem um papel
fundamental no desenvolvimento do processo que envolve tecnologia, cultura e
tradição, destruição e conservação5.
De modo concreto, Mancini complementa a proposta de LEFF (2000) para
quem a aplicação de tal conceito na realidade se daria com os objetivos explícitos de
reorientar os comportamentos individuais e coletivos relacionados às práticas de uso
dos recursos naturais e energéticos; a promoção da vigilância dos agentes sociais
sobre os impactos ambientais e os riscos ecológicos; a organização da sociedade civil
pela defesa de seus direitos ambientais e a participação das comunidades na
autogestão de seus recursos naturais.
4
Tais mudanças, exatamente pela
radicalização e pela unanimidade
com que deveriam advir, são
impossíveis sem uma profunda
transformação cultural
(MANCINI, 2000:202).
5
“Para que mude a práxis
consolidada na política e na
economia, nas relações
internacionais ou na relação com o
ambiente natural, é preciso que as
culturas colaborem para modificar
as coordenadas orientadoras, as
idéias, as representações, as
linguagens, os códigos jurídicos
que até agora de forma abrangente
justificaram pela práxis.”
Ibid., p.203.
IV. Considerações finais
O artigo fez uma análise crítica da situação que a humanidade está vivendo
particularmente a Amazônia, ao oferecer um indicativo teórico para a avaliação da realidade
concreta. Tecendo uma crítica à racionalidade tecnológica e os efeitos sobre a cultura e práticas
de sustentabilidade das populações, atingiu-se em cheio o modelo de desenvolvimento
proposto que cria a realidade de desumanização e degradação socioambiental.
17
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Na Amazônia, situações de luta contra as formas destruidoras dos projetos
desenvolvimentistas manifestadas na depredação dos ecossistemas informam o
fracasso econômico, social e ecológico de algumas políticas públicas aplicadas nas
últimas décadas. Novos modelos de organização territorial não destrutivo e viável
em longo prazo são atualmente estimulados. O extrativismo e as práticas
tradicionais de sustentabilidade são também resgatados como alternativas ao
desenvolvimento que une ecologia e desenvolvimento. Práticas simbólicas, do
mesmo modo, são valorizadas em vista do resgate das muitas informações
autóctones que visualizam traços culturais potencialmente carregados de sinais próecológicos que fundamentam a luta de defesa da vida e a salvaguarda da criação.
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DURKHEIM & PARETO:
REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL É DERIVAÇÃO RESIDUAL PARETIANA
Thais Helena Medeiros¹
RESUMO
O estudo aqui realizado parte das reflexões sociológicas em torno da teoria da representação social
de Émile Durkheim e da ação não lógica de Vilfredo Pareto. As argumentações aproximam a
derivação residual paretiana da representação ambiental dos movimentos sociais na Amazônia de
Santarém e Belterra, área de abrangência da BR 163, no bojo da ambientalização. Nesse sentido, o
trabalho é uma revisão bibliográfica das duas teorias sendo abalizada pela realidade social que
performa-se na globalização. O trabalho é resultado das leituras e das aulas da disciplina Teoria
Sociológica I, ministrada pela professora Marilene Corrêa, no âmbito do Programa de PósGraduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Palavras-chave: Vilfredo Pareto – derivação residual– representação ambiental
ABSTRACT
The study conducted here departs from sociological reflections around the representation theory
of Emile Durkheim and “not logical action” from Vilfredo Pareto. The arguments approach the
residual Paretian derivation to the environment representation of social movements in the
Amazon region, more specifically Santarém and Belterra. In this sense, the work is a literature
review of two theories supported by the social reality that performs through globalization. This
work results from readings and lectures of the module Sociological Theory I, taught by Prof.
Marilene Corrêa, under the Graduate Program in Sociology at the Federal University of
Amazonas (UFAM).
Key words: Vilfredo Pareto – sociology – environmental representation
¹ Mestranda em Sociologia (PPGS) pela UFAM, bolsista CAPES. É especialista em ecoturismo, interpretação e planejamento em
áreas naturais e graduada em comunicação social, professora e coordenadora do curso de Jornalismo na Faculdades Integradas do
Tapajós (FIT).
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I. Representação ambiental:
a configuração de uma derivação paretiana
Resíduo é tudo aquilo que sobra, é lixo humano. Na natureza o resíduo é a
biomassa, o que nas ciências florestais, num plano de manejo, é o que sobra na área
antropizada: galhada, raiz, folhas, cascas, serragem (ZARIN et al., 2005). Para
Vilfredo Pareto resíduo é “o princípio que existe na mente humana” (PARETO apud
PARSONS, 2010 p.251). O autor é apresentado pela primeira vez numa aula de Teoria
da Sociologia I, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade
Federal do Amazonas, ministrada pela professora Marilene Corrêa da Silva, cujo
tema central era o mago da sociologia, Émile Durkheim (MEDEIROS, 2011c).
O trabalho de Durkheim “resultou na criação de uma indiscutivelmente nova
disciplina. Com o nome de sociologia era a antropologia social que também nascia”
(CARDOSO DE OLIVEIRA, 1988, p.18). Aquele autor referia-se a Durkheim como
o autor das Formas Elementares da Vida Religiosa e a seu discípulo Marcel Mauss.
Nas aulas da professora Marilene Corrêa, discursando sobre a estrutura da teoria do
fato social, expressão na idéia, mas também na matéria, chegou à noção da
representação coletiva. Mesmo que banalizada pelas ciências sociais, explicou que as
representações são as soldas históricas que agrupam “valores societais, ideais
coletivos, opiniões, representações que a sociedade tem de si mesma, lendas e mitos”.
Assim como incorporam as “ideações coletivas, correntes livres efervecentes,
valores” (SILVA apud MEDEIROS, 2011d).
Enfatiza que entre as regras informacionais dos modelos, crenças coletivas,
hábitos (correntes de opinião) numa fricção com as representações coletivas (para
alguns autores, é o que permite a compreensão da cultura a partir dessa noção)
interpõem-se um “gap incompatível: conflitos de tensão e dissidência aparecem na
disfuncionalidade; os impasses e realizações temporais entre eles próprios” (SILVA
apud MEDEIROS, 2011d).
Ampliando essa noção durkheimiana, a representação coletiva “é o modo
pelo qual a sociedade exprime as coisas da sua existência, são representações
coletivas que representam realidades coletivas”. Demonstra que é a representação
coletiva a “ponte entre subjetivo e objetivo ou ao contrário. Como é que o fato social
ao se tornar total inclui dimensões socioculturais da afetividade do sentimento e arte
das pulsões” (SILVA apud MEDEIROS, 2011c).
As representações coletivas são o produto de uma imensa
cooperação que se estende não apenas no espaço mas no tempo
também; para fazê-las, uma multiplicidade de espíritos diversos
associam, misturam e combinam suas idéias e seus sentimentos;
longas séries de gerações acumularam aí suas experiências e
sabedorias. (ORTIZ, 1989, p.158).
As teorias são como os sujeitos que as elaboram e as praticam: mutantes,
dinâmicas. Hoje em dia, sabemos o quanto o sujeito ou a coletividade é rica e
complexa em sua valoração nas ações sociais, pois é ele que realiza-a e é quem produz
20
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a teoria. Com base nessas argumentações, começamos a pensar o socioambiental¹
amparado numa representação ambiental. Carregando simbologias próprias é
arrastado pelo discurso da ambientalização em múltiplas dimensões e sob a ótica das
mudanças climáticas operadas na turbulência da globalização. De acordo com Silva
(2011a; 2011b) e mediada pela teoria de Durkheim, uma instituição pode levar tempo
para virar uma representação (apud MEDEIROS, 2011c). Nota-se que as redes
societárias na Amazônia agrupam uma pluralidade de grupos singulares que engajamse na dimensão socioambiental após as dispersões históricas em que estiveram
envolvidos, agora, acomodados no caminho inverso das rupturas globalizantes.
Assim pensando via teórica durkheimiana, Marilene Corrêa da Silva acaba
por trazer a tona científica a teoria de Vilfredo Pareto, ou os resíduos e derivações da
ação não lógica, formulado por esse cientista italiano que residiu na França entre
final do século XVIII e início do XX. Segundo ela (MEDEIROS, 2011a), o autor foi
testemunho esclarecido de mudanças cruciais das sociedades ocidentais européias. E
justifica que ao recuperar a centralidade dos modos de examinar as sociedades tornase um bom motivo para revisitar e abordar as ideias que fundamentam o pensamento
de Pareto, posto que não é muito visitado pelos cientistas da atualidade. Parsons
(2010, p.253), por exemplo, entende que há inconsistência em sua obra social. E
continua na mesma seção, que “essa inconsistência aparente é o caminho mais
importante para toda uma série de problemas, que embora, é claro, não resolvidos por
Pareto, ele, talvez, mais do que qualquer outro teórico social, contribuiu para abrílos”. Não nos cabe neste artigo relativizar as mazelas desse ostracismo e nem
(des)considerar o autor da teoria dos resíduos mentais. Aqui, o que nos cabe,
primeiro, é compreender a ação social lógica e não lógica. Esta última é o que nos
aproxima de Pareto em seus resíduos e derivações os quais iremos correlacioná-las
as representações ambientais, de origem teórica em Durkheim (SILVA, 2011.).
Dessa forma, “os fenômenos sociais se apresentam, para Pareto, segundo as
formas mutantes, manifestadas por ideologias, os costumes, as representações
coletivas, em suma, pelos sistemas simbólicos”. Ele divide os fenômenos sociais em
dois pontos de vistas: o objetivo e o subjetivo. Para o teórico social, “o aspecto
subjetivo é a forma pela qual o espírito humano representa os fenômenos,
representação geralmente deformada, ao passo que o aspecto objetivo é o feito real,
constante, imutável” (SILVA apud MEDEIROS, 2011b, p.01).
¹ Como apontou o ISA (2007),
socioambiental “se escreve tudo
junto”.
Uma primeira constatação mostra que as ações sociais podem ser
distinguidas em duas grandes categorias: as ações lógicas “que
são ao menos na sua parte principal, o resultado dos raciocínios”;
as ações não lógicas que “provêm principalmente de um certo
estado psíquico: sentimentos, subconsciente, etc.” (SILVA,
2011A, p.02).
Considerava que “o conjunto das ações humanas não são lógicas”. E para situá-las
“o método lógico-experimental as constata e permite distinguir as ações lógicas das não
lógicas que são constituídas pelas derivações dos resíduos” (SILVA, 2011b). Parsons
aponta que a ciência paretiana “é mais bem caracterizada pelo termo 'lógico21
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experimental'”. Nos “dois elementos essenciais envolvidos, o raciocínio lógico e a
observação do fato”, o primeiro, “é por si só incapaz de produzir os resultados necessários
além de tautologias, mas, apesar disso, é um elemento essencial. No entanto, ele é
considerado como sendo subordinado ao outro elemento, isto é, o fato experimental ou
observado” (PARSONS, 2010, p.233).
Pareto associa o objetivo ao conhecimento do cientista pois mais extenso e o
subjetivo é o do ator. Parsons, no entanto atenta que o subjetivo “é implicitamente incluído
em sua definição de ação lógica: “designamos por ações lógicas aquelas operações que
estão logicamente ligadas até seu final, não apenas do ponto de vista do sujeito que
desempenha as operações, mas também para aqueles que têm um conhecimento mais
extenso” (PARETO apud PARSONS, 2010, p.239). A professora Marilene Corrêa as
introduz como sendo “aquelas que utilizam de meios apropriados ao objetivo e unem
logicamente os meios aos objetivos”. E Parsons (2010) insere que em Pareto “a ação é
lógica na medida em que ela se adéqua a um certo tipo de norma” (p.244).
Neste estudo, o relevante é a categoria correlata da ação não lógica, e que por
sua vez “não é definida positivamente e sim residualmente”. Silva (2011a e 2011b)
nos atentou que Pareto preferia as ações não lógicas. Parsons (2010, p.245)
corrobora ao afirmar que o teórico social abstraiu as lógicas e estudou
“intensivamente a ação não lógica”.
Ele começa afirmando a seguinte antítese: “As ações não lógicas
são, pelo menos em seu elemento principal, o resultado de um
processo de raciocínio; as ações não lógicas se originam
principalmente de certo estado psíquico (etát psychique) de um
sentimento, do inconciente, etc. É tarefa da psicologia interessarse por esse estado mental” (PARSONS, 2010, p.245).
“Pareto diz que as não lógicas circulam entre nós como lógicas, revestidas de
capas, máscaras”, salientou Marilene Corrêa. E a professora de sociologia (hard
sociology) vai mais longe ao introduzir que quanto mais complexa a sociedade mais
máscaras e derivações (MEDEIROS, 2011a).
As ações não lógicas remetem à parte obscura da natureza
humana que é feita de instintos, pulsões, de necessidades,
denominadas por Pareto de resíduos, porque eles variam segundo
os indivíduos e as civilizações. Sobre estes resíduos vêm-se
grafar as derivações, quer dizer as ideologias, as construções
pseudo-racionais que são as auto-justificações. A potência das
ideologias e das crenças têm aí um esclarecimento como causa
das ações não lógicas. Os atos não lógicos tem a vantagem da
paixão, daí serem mais freqüentemente encontrados em ações
não racionais na política com as conseqüências jurídicas que lhe
podem resultar. Esta é a causa das derivações, que são os meios
verbais utilizados pelos indivíduos e os grupos para justificarem
suas ações e dar-lhes uma lógica, lógica que não necessariamente
existe mas que é uma camuflagem psicológica (SILVA, 2011b,
destaque do original).
Marilene Correa ensina que os resíduos imprimem uma marca e que podemos
encontrá-los quanto mais atrás no tempo, isolado, prolongado no tempo: como medicina
grega, romana (antiga), ritos cerimoniais mágicos, práticas estamentais (religiosas,
militares), estruturas do imaginário. Ao contrário das ações sociais, os resíduos são
22
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imóveis, fixos, são como as pré-noções (SILVA apud MEDEIROS, (2011a).
Os resíduos são o que fica quando se evita a camuflagem
psicológica que é a racionalização do não lógico. Há, segundo
Pareto, seis classes de resíduos que correspondem à dois
comportamentos fundamentais: o comportamento de
conservação, o espírito de ordem e de estabilidade, a
conformidade, de uma parte, e o comportamento de inovação, o
espírito de criação, de desenvolvimento ou de renovação, de outra
parte. O jogo social dos resíduos e das derivações formam as elites
existentes em toda sociedade hierarquizada; as elites que
conhecem a mobilidade, e que desaparecem nas sociedades
hierarquizadas que são mortais (SILVA, 2011b).
Pareto mexe com as estruturas mentais humanas para teorizar os sentimentos
em resíduos. Parsons (2010, p.251) demonstra que, quando traçava seu esquema
residual, atribuiu para resíduo “o princípio que existe na mente humana”; e para
derivações “a explicação, as deduções a partir desse princípio”.
“Antes de ir adiante talvez valha a pena dar nomes as entidades a,
b e c; pois designá-las apenas por letras do alfabeto confundiria a
exposição e a tornaria menos clara. Por esse motivo, a exclusão de
todos os outros, chamaremos de a de resíduo, b de derivações e c
de derivativos”. Esta é a única definição explícita de resíduos e
derivações que Pareto nos dá. É evidente, sem sombra de dúvida,
que eles são elementos das teorias não científicas (PARSONS,
2010, p.251-252, grifos do autor).
Como a teoria social de Pareto pode reforçar, ampliar, ilustrar, interpretar
através dos conceitos chaves esta especificidade de fatos, processos e fenômenos que
é o movimento ambiental² na Amazônia? Pelas diferenças e desigualdades? Ou pelos
modos de inserção na sociedade, nesta realidade global, mas ao mesmo tempo
nacional, em seu sistema econômico onde, a priori deve oferecer acesso aos bens
promotores de cidadania? Ou pelas relações sociais e políticas personificadas em
representações ambientais?
II. Socioambiental e globalização:
as derivações paretianas chegam na
Amazônia contemporânea
² Neste artigo, considerou-se
movimento ambiental as ações que
historicamente estão situadas no
desencadeamento das
preocupações ambientais mundiais
que datam a partir da década de 60
(WORSTER, 1991). DIAS (1994,
p.32) aponta que em 1960, “surge
o ambientalismo nos Estados
Unidos”.
“O mundo esta uma correria, e está chegando perto do fim” – assim falou um
certo arcebispo Wulfstan, num sermão proferido em York, no ano de 1014. É fácil
imaginar os mesmos sentimentos sendo expressos hoje (GIDDENS, 2010, p.13).
A cena que nos remete essa realidade acima está muito longe da ontológica
modernidade e mais alterada ainda dessa contemporaneidade. Em meio às
intersubjetividades, a sociologia como uma ciência nascida moderna deve inaugurar
uma sociologia amazônica. Poderíamos nos inspirar no tripé economia, social e
ambiental como propõe o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa/ São Paulo
(INSPER), Eduardo Giannetti da Fonseca (MOREIRA, 2011). Na Amazônia, total
ou parcial, como na de Santarém e entorno, esse momento epistemologicamente
turbulento entre ciências naturais, sociais e humanas deve nortear- se nas dimensões
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destacadas, oportunizando geração de conhecimentos científicos a serem
empregados em negócios sustentáveis num “novo padrão produtivo e tecnologias
avançadas” (BNDES, 2010, p.136-203). Não cabe mais a ciência ficar debatendo em
quais categorias, noções ou conceitos apoiar-se, vivendo essa realidade
avassaladora. A ciência, tecnologia e inovação devem subsidiar as três dimensões
indossociáveis na Amazônia para a vida Planetária.
Nesse espaço que se acaba no tempo, onde tudo é muito rápido, a cultura e
seu modo de vida singular da Amazônia sai do lugar, desloca-se sob nossos
movimentos. Mas, para manter-se em pé com o todo planetário contraria o global
enriquecendo o local. Entrementes, a mudança é contínua, desafiadora, dolorosa e
vigilante, onde o intervalo de tempo é quebrado pela instantaneidade da
comunicação e informação. Sob o “impacto da ciência, da tecnologia e do
pensamento racional”, na convergência da religião e dos dogmas que substituíram
uma visão mais racional da vida, a “cultura industrial ocidental foi tomada pelo
Iluminismo”, (GIDDENS, 2010, p.13). É o mesmo autor que reflete a seguir que
o mundo em que nos encontramos hoje, no entanto, não se parece
muito com o que eles previram. Em vez de estar cada vez mais sob
nosso comando, parece um mundo em descontrole. Além disso,
além das influências que, supunha-se antes, iriam tornar a vida
mais segura e previsível para nós, entre eles o progresso da
ciência e da tecnologia tiveram, muitas vezes, o efeito oposto. A
mudança do clima global e os riscos que a acompanham, por
exemplo, resultam provavelmente de nossa intervenção no
ambiente. A ciência e a tecnologia estão inevitavelmente
envolvidas em nossas tentativas de fazer face a esses riscos, mas
também contribuíram para criá-los (GIDDENS, 2010, p.13-14).
24
Nesse mundo em descontrole sugestionado por Giddens, podemos utilizar a
teoria residual de Vilfredo Pareto para uma compreensão do discurso do
desenvolvimento sustentável. Enxergá-lo pela veia conflitante das dimensões
econômicas, sociais e ambientais em suas representações ambientais dominantes
como o são governo, as ciências socioambientais, o empresariado, o movimento
ambiental e, principalmente, pelo movimento social e as suas práticas ambientais. É
nesse bojo social que está representada o que Ianni (2011) desperta para noção da
globalização, quando se “rompe e recria o mapa do mundo, inaugurando outros
processos, outras estruturas e outras formas de sociabilidade, que se articulam ou
impõem aos povos, tribos, nações e nacionalidades” (p.01).
Na verdade, as preocupações ambientais no mundo começam com o impacto
do aumento da população e converge com o ápice da industrialização e do
estabelecimento do sistema econômico vigente. Dias (1994, p.27) aponta que em
1825 “a população humana sobre a Terra chega ao seu primeiro bilhão de
habitantes”. No Brasil, as preocupações com o meio ambiente datam do ano de 1542,
quando na Carta Régia “estabelece normas para o corte de madeira e determina
punições para os abusos que vem sendo cometidos”.
Worster (1991) escreve que a “história ambiental começou a surgir na década
de 1970”, no crescimento dos eventos internacionais da “crise global” que
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desenrolavam os movimentos ambientalistas entre os cidadãos de vários países”,
junto com a ”reavaliação e reforma cultural, em escala mundial” (p.199). Assim,
Lima & Pozzobon (2001) acrescentam que a “construção do modelo ambientalista”
resulta de reflexões “sobre as raízes éticas e ideológicas” dessa questão colocando
em discussão “o modelo de desenvolvimento capitalista, questionam o lugar da
espécie humana na natureza e sua responsabilidade pelo futuro da biosfera. Esta
autocrítica era, até recentemente, impensável” (p.2).
A efetivação das práticas socioambientais na cena brasileira é mais incisiva a
partir da Rio 92³, colocando em cena a noção do desenvolvimento sustentável.
Compactua-se com as idéias postadas em Lenzi (2006) que, a despeito das
problemáticas conceituais do fenômeno, “recusar a utilidade do 'desenvolvimento
sustentável' como um conceito analítico, ou com sua atratividade como conceito
normativo, em nada compromete sua popularidade e importância como conceito
político” (LAFFERTY; LAGHELLE apud LENZI, 2006, p.92-93). E mais na frente,
Lenzi interpreta Skirbekk (1994a) quando o aborda que “logo na introdução,
explica-se que a sustentabilidade, devido sua complexidade, requer uma visão
interdisciplinar”. E, citando Jacobs, “nenhum conceito de proteção ambiental é
capaz de evitar juízos de valor”, daí configurar que também a “sustentabilidade é um
conceito ético” (LENZI, 2006, p.94). Na discussão de modelos de desenvolvimento
para a Amazônia, pela sua importância socioambiental para o Planeta, Diegues
(1996) insere que
³ Conferência da Organização das
Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro entre
03 e 14 de junho de 1992.
Popularizou-se como Rio-92.
Vinte anos depois, acontecerá a
ao invés de se discutir qual o “desenvolvimento sustentável” mais
adequado para a região, deveriam ser questionados quais são os
modelos de “sociedades sustentáveis” mais apropriados para a
Amazônia baseados na diversidade de ecossistemas regionais e
locais, e na imensa diversidade social e cultural aí existente
(DIEGUES, 1996, p.12).
Assim, via decisões e pressões ambientais de cunho internacional, o Brasil
em seu Ministério do Meio Ambiente, reformula as leis, institucionaliza o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), cria Instituto Chico Mendes de
Biodiversidade (ICMBio) para implementar as diretrizes ambientais, dividindo o
então Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA). Dessa política, configura-se o mosaico de sustentabilidade do Distrito
Florestal da Br 1634, envolvendo a área que já mencionamos acima. E a experiência
mais nova dessa vertente é o Plano Amazônia do BNDES (2010), apoiando projetos
voltados para o combate ao desmatamento e ao desenvolvimento social.
Hoje, na premência da Rio+20, de uma crise do sistema financeiro eminente,
existe uma preocupação em estabelecer-se uma dialogicidade entre os setores
envolvidos da sociedade civil organizada. O distrito é um indicador de que o
Governo Brasileiro adotou uma postura privilegiando encontros entre atores sociais
propondo esse diálogo (ESCOBAR, 2005). Na área do município de Santarém, por
exemplo, muitas das centenas das comunidades e suas representações sociais estão
inseridas em unidades de conservação como as Reservas Extrativistas, os Projetos de
⁴Sobre o Distrito Florestal da BR
163 consultar ; www.sfb.gov.br;
www.icmbio.gov.br
25
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Ano 3 N° 5 p.19-31
Assentamentos Agroextrativistas dos Governos Federal e Estadual exercendo uma
pressão representativa, apesar do processo ser ainda conflituoso e lento,
característica de sistemas coloniais e capitalismo (SCHWEICARDT, 2010).
Corroborando para a emergência de novas posições políticas e econômicas, Ianni
(2001) especula que o “sistema mundial emergente requer uma perspectiva holística
no que se refere ao futuro desenvolvimento mundial: tudo parece depender de tudo,
devido a trama das interdependências entre as partes e o todo” (p. 82).
Foi nessa formação social –e temos que dizer, em busca desse novo modelo
de trocas econômicas em sistemas financeiros– singular de representação
socioambiental que, tanto a representação coletiva durkheimiana quanto os resíduos
de Pareto se encaixam. Resíduo enquanto correspondente ao comportamento
fundamental do sentido de sobrevivência, de preservação e mais do que tudo de
conservação da vida planetária, dos recursos naturais e humanos. As estruturas
mentais do comportamento humano estão em descompasso das atuais estruturas das
instituições sociais.
O espírito de uma nova ordem e estabilidade econômica e financeira
sustentável começou mundial e se globalizou, mas antes de tudo localizou. Um
espírito que, entre outros, é mediado através de documentos como as Metas do
Milênio e tantos outros de âmbito internacional e nacional, estadual e municipal.
Metas para atender ao crescimento populacional mundial e aos anseios de equidade
da humanidade de exterminar a pobreza; o analfabetismo; a inclusão feminina e de
todos excluídos e a margem do mundo, a mortalidade infantil; combate as doenças
viróticas e bacterianas; ao desmatamento ou sustentabilidade ambiental
(CELENTANO & VERÍSSIMO, 2007). Todas essas temáticas se agrupam para
formar um sentimento comum na construção de uma sociedade mais justa e
ecologicamente mais sustentável derivando uma representação coletiva expressa
em representação ambiental.
Antes dos resíduos explodirem em derivações, através das representações
socioambientais pela ambientalização (LEITE, 2004), há um rompimento
generalizado dos sentimentos individuais em coletivos. Solidariedade, inclusão,
socialização são noções e sentidos que se mesclam “aos usos e costumes da
socialidade de base” na intersecção dos conhecimentos de sustentabilidade, trazidos
no bojo daquela ambientalização pela ação das organizações não governamentais
aos conhecimentos locais. É uma “sutil ligação existente entre a preocupação
presente, a vida quotidiana e o imaginário, em uma palavra, a estética, entendida
aqui em seu sentido mais amplo: o da empatia, do desejo comunitário, da emoção ou
da vibração comum” (MAFFESOLI, 1995, p.11).
Um dos pontos fundamentais nessas representações é o componente da
educação ambiental. Nessas interconexões comportamentais numa nova postura de
atitudes é o que move as
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interações intersubjetivas e comunicativas entre pessoas com
diferentes concepções de mundo e relações cotidianas com o meio
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natural construído; características de vida social e afetiva; acesso a
diferentes produtos culturais; formas de manifestar as suas idéias;
conhecimento e cultura; dimensão de tempo e expectativas de
vida; níveis de consumo e de participação política que poderemos
estabelecer diretrizes mínimas para a solução dos problemas
ambientais que preocupam a todos (REIGOTA, 1998, p.28).
A BR 163, é uma das porta de entrada via Cuiabá a Amazônia Brasileira, mais
precisamente Santarém. E tem como mote de sua pavimentação o transporte da
produção do agronegócio matogrossense, culminando no porto Graneleiro da
Cargill, tendo ao seu lado a Docas do Pará que subsidia o embarque da exploração
madeireira constituída. Todos, nesse entorno, vivem em clima do conflitos da ordem
agrária, mexendo com os territórios de significação simbólicos, de povos indígenas,
assentados, migrantes e dos habitantes de origem ou descendências indígenas. Nessa
pluralidade de atores sociais, o movimento ambiental é responsável pela propulsão
das noções de sustentabilidade que em seu bojo trouxe as grandes discussões em
torno do desenvolvimento sustentável (LENZI, 2006; LEFF, 2001).
Muitos desses movimentos sociais na Amazônia foram movidos por esses
encontros etnográficos até se constiruírem uma representação socioambiental
própria. Buscam pelo “(re)posicionamento identitário em 'autodefinição' e territorial
em 'terras tradicionalmente ocupadas'” na Amazônia (ALMEIDA, 2008). “Estamos
em pleno envolvimento com as novas práticas” sobressaíndo um “espírito de ação e
liderança, da capacitação para o trabalho em grupo”. “Os movimentos sociais
buscam a integração com os demais setores da economia para se sobrepujarem da
marginalidade impondo de certa forma a entrada nos mercados, o direito a
participarem dos processos de desenvolvimento”. “Lento, muitas vezes desolador”
mas com uma socialização” (MEDEIROS, 2011, p.05).
Na contramão do processo da globalização, a localidade busca-se nessas
particularidades, envolvendo-se nas associações e cooperativas comunitárias. Os
resíduos na Amazônia “estão mais próximos”, também “expressam a linguagem dos
grafismos, arte plumária, combinacão de cores, com os sons e ruídos da floresta”
(SILVA apud MEDEIROS, 2011a). Enfim, resíduos e derivações são aqueles
sentidos que percebemos através da lente ecológica discursiva imbutida nas relações
sociais e que performam as representações ambientais. Marilene Silva e Parsons
levam-nos a especular que Vilfredo Pareto mexe com os sentimentos, sentidos mais
profundos do ser humano, e que o relaciona com o mundo mitológico da natureza
humana e sua ação no mundo natural e social na Amazônia.
III. Para finalizar
Essa residualidade de sobrevivência planetária e suas derivações ambientais
nos remetem a relativização da premência da construção de um novo modelo de
desenvolvimento calcado num paradigma que possa emergir no bojo da sociedade
(SANTOS, 2002). Os resíduos podem muito bem se relacionar com as tradições na
Amazônia, em suas estranhas entranhas, mesmo que sejam inventadas ou
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(re)inventadas. E elas estão expressas nas tendências, nos canais configurados pelas
derivações, sustentando uma particularidade de origem geográfica que é inegável
(MEDEIROS, 2011). E é isso mesmo que as tornam representações sociais únicas!
Para vivenciarmos uma economia verde, sociedade e tecnologia em prol da
diversidade ecológica natural e humana, como num “Vale do Silício”,
“comercializando serviços ambientais”, devemos postular a agroecologia em
produção local e para o local. Do ponto de vista ambiental, “tem um lado benéfico
porque ninguém fica pensando em agronegócios, mas sim fortalecendo
biotecnologia e tecnologia capacitando e qualificando mão de obra e gerando
emprego” naquela que tem por origem a verdadeira vocação florestal
(SCANNAVINO FILHO apud BNDES, 2010, p.182-183). Assim como tem grande
vocação epistemológica, conhecimento aqui é concebido em mão dupla, como diria
Da Mata (1978) transformando o “exótico no familiar” e o “familiar no exótico”. “E,
em ambos os casos, é necessário a presença dos dois termos (o que representam dois
universos de significação) e, mais basicamente, uma vivência de dois domínios por
um mesmo sujeito disposto a situá-los e apanhá-los” (DA MATA, 1978, p.28; apud
MEDEIROS, 2011, p.13).
A poesia dessa biodiversa Floresta do Trópico Úmido deve oportunizar a
geração de riqueza, emprego e renda a seus povos. Com o aumento da população
mundial temos que priorizar as dimensões sustentáveis e eliminar a pobreza e a
fome. Há muito que se investir em energia e alimento para todos, mitigando e
minimizando os efeitos das mudanças climáticas que seguem planetária.
O que salvará a floresta não é a tecnologia de uma engenharia
ultrapassada, mas as tecnologias da biotecnologia, da nanotecnologia,
dos modelos científicos de mudança climática. São as tecnologias de
aferição da química da atmosfera, de aferição das novas perspectivas
para a hidrologia. Quando pensamos a Amazônia locomovendo-se com
canoas, esquecemos a possibilidade de utilizar o setor aeroviário
brasileiro ou de pensar em novas tecnologias de transporte (Marilene
Corrêa da Silva apud BNDES, 2010, p.155).
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31
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ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS POTENCIALMENTE
MEDICINAIS ORIUNDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA NA COMPOSIÇÃO DE
MEDICAMENTOS PROCESSADOS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Helvio Moreira Arruda¹
RESUMO
Dentre as riquezas da Floresta Amazônica, destacam-se as plantas medicinais, as quais,
comprovadamente, possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de pessoas
no mundo. Há muito poucos estudos científicos acerca deste assunto. Não existem pesquisas que
comprovem a real importância das plantas medicinais como fármacos e seu uso maximizado pela
indústria farmacêutica. Acreditamos que a utilização de plantas medicinais em medicamentos
industrializados é uma atividade em franco crescimento. O objetivo central deste artigo é levantar a
discussão acerca da importância das plantas medicinais no mercado farmacêutico.
Palavras-chave: plantas medicinais no mercado farmacêutico – Amazônia
ABSTRACT
Among the riches of the Amazon Rainforest, medicinal plants call special attention as they are
proven to have pharmacological properties and are used by millions of people around the world.
There are very few scientific studies in this topic. There is no research proving the real importance
of medicinal plants as drugs and its maximized use in the pharmaceutical industry. We believe that
the use of medicinal plants in industrialized drugs is a fastly growing activity. This work intends to
raise the discussion about the importance of medicinal plants in the pharmaceutical industry.
Key words: medicinal plants in the pharmaceutical industry – Amazon
¹ Graduado em Administração. Especialista em Marketing. Mestre em Administração. Atualmente é: Diretor Geral das Faculdades
Integradas do Tapajós – FIT; Diretor Geral do Colégio Tapajós; Coordenador da Região Oeste do Pará do Conselho Regional de
Administração do Estado do Pará; Avaliador de Cursos e Avaliador Institucional do INEP – MEC; 1º Secretário do Conselho Fiscal
da Associação Comercial e Empresarial de Santarém – ACES; Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Nacional de
Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – FUNADESP.
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I. Introdução
A Floresta Amazônica é imprescindível para o futuro do Brasil e do Mundo, à
medida que o nosso e outros países começam a eleger bens e serviços ecológicos
como as melhores opções para uma economia sustentável e para o bem-estar
humano, aumentando as promessas de preservação e de cuidado com a floresta. É
detentora da maior reserva de plantas medicinais do mundo, segundo a FIEAM –
Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, 2002. Este ensaio versa sobre a
importância das plantas medicinais para a produção de medicamentos em escala.
Em 1987 a ONU publicou o relatório “Nosso Futuro Comum”, com o objetivo
de demonstrar a necessidade de um ajuste da demanda mundial para um ritmo mais
próximo da natureza (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). Entender a importância da
Amazônia para o Brasil e para o mundo deverá ser o aspecto central para o
desenvolvimento de uma política para a região, o que está descrito em vários trabalhos e
artigos científicos, dependendo do enfoque sócio-econômico-ambiental que se queira
abordar (VEJA, 2010, p.94).
Hoje em dia há uma preocupação crescente e há cada vez mais consciência da
população mundial com a preservação dos recursos naturais ainda existentes no globo,
especialmente os da Amazônia e seu uso sustentável. A sociedade precisa ter uma
resposta sobre a manutenção da biodiversidade, especialmente da floresta degradada da
Amazônia, na qual hoje já prosperou uma floresta secundária. Segundo Lovatto, Etges
e Karnopp (2008) a agropecuária somada à exploração da madeira são as principais
causas da devastação das florestas primárias e secundárias existentes no Planeta.
O uso de plantas potencialmente medicinais, oriundas da Floresta
Amazônica, integra o seu ecossistema, e tem importância ímpar na manutenção do
meio ambiente, pois onde se encontra plantas medicinais, há preservação da floresta
secundária. Ademais, a utilização de plantas medicinais para produção de
medicamentos apresenta a melhor relação custo/benefício quando comparada aos
produtos sintéticos, pois sua ação biológica é eficaz, com baixa toxidade e efeitos
colaterais, além de apresentar um custo de produção inferior. Grandes empresas
farmacêuticas vêm investindo milhões em pesquisas com plantas brasileiras, e, por
consequência disso, acabam por requerer patentes e sintetizar novos fármacos.
(FUZÉR ; SOUZA. 2003)
Historicamente, das florestas primárias só se valoriza a madeira nobre, quase
nenhum valor é atribuído aos produtos não madeireiros e os serviços ambientais das
florestas comumente são desconhecidos (SCHAFFER; PROCHNOW, 2002). Essa
mentalidade extrativista-exploratória permanece até hoje. Com a valorização das
plantas medicinais, oriundas da floresta secundária (capoeira) talvez esta condição
mude. Segundo Arruda (1999), o manejo florestal deve ser uma exploração racional,
ou seja, a exploração da floresta secundária deverá ser realizada através de um
conjunto de atividades a serem estabelecidas.
O cultivo de plantas medicinais na Amazônia contribui para a manutenção do
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ecossistema e deve valorizar a flora regional. Investimentos na produção de plantas
medicinais, em especial nas nativas, poderão gerar melhorias na qualidade dos
produtos fitoterápicos, reduzindo os custos de medicamentos industrializados. A
ausência de estudos e pesquisas que determinem a importância das plantas
medicinais como produto farmacêutico contribuem para a falta de conscientização
com relação ao tema. Sua utilização por grandes laboratórios deve ser conhecida,
para que se dê a real importância para esse produto nativo da Amazônia.
Apesar de haver registros de utilização de plantas medicinais há mais de seis
mil anos, somente no século XV é que seu uso foi maximizado em virtude dos
resultados observados nos tratamentos, hoje, com o advento da cultura ecológica,
incentiva-se cada vez mais o uso de medicamentos naturais.
Na década de 90, no Brasil, os produtos alopáticos começaram a ceder
mercado para as plantas medicinais, inclusive com a automedicação e o cultivo de
ervas em quintais, as quais traziam os mesmos resultados dos alopáticos com menor
custo. Atualmente a utilização de plantas medicinais em medicamentos
industrializados é uma atividade em franco crescimento. Na esfera governamental, o
Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações no sentido de elaborar políticas
públicas para introduzir algumas plantas medicinais nos programas do Sistema
Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2006b).
Estima-se que 25% dos R$ 8 bilhões de faturamento da indústria farmacêutica
brasileira registrados em 1996 advêm de medicamentos derivados de plantas. As
vendas nesse setor crescem 10% ao ano, alcançando a cifra de 550 milhões no ano de
2001 (GUERRA; NODARI, 2003).
II. Questões para investigação
O conceito básico de sustentabilidade começou a ser delineado em 1972, na
primeira Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
realizada em Estocolmo para discutir as atividades humanas em relação ao planeta
região. Hoje, o conceito que vigora foi criado em 1988, por John Elkington, o qual
possui três esferas: a ambiental, a econômica e a social, sendo a sua interseção a
própria sustentabilidade (MUNDO VERDE, 2011, p. 28).
A situação atual exige ações urgentes para promover o desenvolvimento
econômico, ambiental e socialmente sustentável da floresta. Já é fato que as plantas
medicinais possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de
indivíduos no globo terrestre. O Ministério da Saúde reconheceu esse recurso
terapêutico como útil nos diversos programas de atenção à saúde (BRASIL, 2006a).
Os laboratórios farmacêuticos se valem de várias destas plantas para comporem
medicamentos produzidos em grande escala. Acreditamos que estas plantas têm
maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais,
fato que deve ser objeto de investigação científica.
34
Revista Perspectiva Amazônica
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Diante deste contexto, levanta-se uma interessante questão de pesquisa: qual
a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da Floresta
Amazônia na composição de medicamentos processados por grandes laboratórios
farmacêuticos? Para se chegar à resposta científica a esta pergunta, é preciso
encontrar soluções para uma série de outras questões de investigação secundárias:
Quais são as plantas medicinais mais procuradas pela indústria farmacêutica
nacional e internacional? Quais são os laboratórios que utilizam este produto da
Floresta Amazônica? Como o comércio das plantas medicinais pode contribuir com a
preservação ambiental? Como os produtos pesquisados são comercializados? Qual o
comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes
laboratórios? Quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais,
transformando-as em insumos farmacêuticos?
A comunidade científica ainda não encontrou respostas satisfatórias.
Acreditamos que diversos laboratórios farmacêuticos, inclusive os que têm
abrangência multinacional, usam plantas medicinais em seus principais produtos. Há
de se investigar quais plantas medicinais têm maior importância e valor comercial
para os mercados nacionais e internacionais, como os produtos pesquisados são
comercializados, qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no
âmbito dos grandes laboratórios, qual a real importância farmacológica das plantas
medicinais da Amazônia e quais são os principais laboratórios que processam plantas
medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos.
III. As plantas medicinais: etnofarmacologia
Define-se etnofarmacologia como “a exploração científica interdisciplinar
dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados
pelo homem” (BRUHN, 1992). A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia
que estuda o complexo conjunto de relações entre plantas e animais com a sociedade
humana (BERLIN, 1992).
A Etnofarmacologia não trata de superstições, e sim do conhecimento
popular relacionado a sistemas tradicionais de medicina. Para apreciar o
conhecimento popular é preciso admiti-lo como tal – um corpo de conhecimento, um
produto do intelecto humano – e não se pode ser preconceituoso. A Etnofarmacologia
é uma divisão da Etnobiologia, uma disciplina devotada ao estudo do complexo
conjunto de relações de plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou
passadas (BERLIN, 1992).
Como estratégia na investigação de plantas medicinais, a abordagem
etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a usuários da
flora medicinal, com estudos químicos e farmacológicos. (ELISABETSKY;
SETZER, 1990). A seleção etnofarmacológica de plantas de acordo com
informações relatadas pela população sobre um determinado efeito terapêutico pode
35
Revista Perspectiva Amazônica
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contribuir sobremaneira com a descoberta de fármacos.
O real valor do conhecimento tradicional de novos fármacos só seria possível
se houvesse a possibilidade de comparar os resultados de uma amostra razoável de
pesquisas feitas com base em coletas de plantas ao acaso ou por etnofarmacologia,
considerando-se também que a maioria dos estudos não publica resultados
negativos. Segundo Vlietinck e Van den Berghe (1991), Spujt e Perdue (1976), ao
analisarem compostos com potencial anticancerígeno verificaram que a
porcentagem de gêneros/espécies vegetais ativas citadas em compêndios de plantas
medicinais, é consistentemente próxima ao dobro das de triagem ao acaso. Quanto a
antivirais, a seleção de plantas com uso tradicional mostrou uma porcentagem 5
vezes maior de substâncias ativas.
A maior parte da flora ainda desconhecida, tanto química quanto
farmacologicamente, e o saber tradicional associado existem predominantemente
em países em desenvolvimento. A perda da biodiversidade e o acelerado processo de
mudança cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber. A
criação de instrumentos legais de direitos de propriedade intelectual para
conhecimentos tradicionais é de fundamental importância (ELISABETSKY,1990).
IV. O preparo das plantas medicinais
36
Plantas medicinais são aquelas que possuem em sua composição substâncias
químicas, biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz. Estas
substâncias provocam no organismo humano e animal reações que podem variar entre a
cura e o abrandamento de doenças, pela ação de princípios ativos como alcaloides,
glicosídeos, saponinas, etc. A utilização de plantas medicinais para tratamento de
doenças é denominada fitoterapia.
Apesar do potencial que representam essas plantas, na região amazônica a
aplicação empresarial dos resultados das pesquisas é bastante rara. A eficiência da
fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo prática comum entre os índios e
as populações tradicionais. Já existe comprovação científica das propriedades de um
número razoável de plantas, ponto de vista medicinal, tornando-se viáveis para a agro
industrialização ou uso in natura.
As indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, especialmente estas
últimas, vêm buscando nas plantas da Amazônia, ou domesticadas na região, essências,
produtos e formulações para a produção de medicamentos, vacinas e outras formas de
terapias. Visam a industrialização e comercialização em larga escala de,
aproximadamente, 5.000 princípios ativos identificados nestas plantas
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), estão identificadas na Amazônia Legal
em torno de 650 espécies vegetais farmacológicas, de valor econômico. O estado do
Pará é o que mais se destaca com 540 espécies, seguido dos estados do Amazonas, com
488; Mato Grosso, 397; Amapá 380; Rondônia, 370; Acre, 368; Roraima, 367;
Maranhão, 261, além do Tocantins.
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A distribuição de plantas medicinais e afins, na Amazônia, está basicamente
circunscrita às lojas de produtos naturais, ambulantes, feirantes, fabricantes de
remédios caseiros, empresas familiares de empacotamento de plantas in natura e
alguns laboratórios e/ou farmácias de manipulação de atuação localizada. Para uma
planta medicinal tornar-se produto de mercado necessita e, pelos menos, dois anos de
testes de laboratórios e uso regular em pacientes. O isolamento de princípios ativos
habilitados à indústria farmacêutica demanda vários anos de pesquisa.
As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma
sólida in natura em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar
processo de beneficiamento. Em alguma situações são comercializadas na forma
líquida: óleos, xaropes, tinturas, e vinhos.
V. Algumas plantas medicinais oriundas da Amazônia
Nome científico: Carapas guianensis
Nome Popular: andiroba – Brasil; crab wood – Guiana Inglesa
Principais características: Árvore que tem nome originado pelas
populações indígenas devido o seu sabor amargo (nhandi – óleo e rob – amargo),
pertence a família das meliaceas, e se encontra em sociedade com árvores de ucuuba,
heveas, jaboti, pracaxis, etc. Encontra-se em solos alagados pelas mares e ilhas
baixas, porém se adapta muito bem em solos de terra firme. A árvore possui um
tronco alto, com diâmetro as vezes de até dois metros, folhas compridas
imparipinadas, flores brancas hermafroditas, reunidas em maços. O fruto é um ouriço
redondo, formado de 4 valvas, de 3 a 4 mm de espessura, coriáceas, duras, de cor
parda, e, quando o fruto está maduro, abre-se deixando cair no chão as sementes que
recobre. Estas sementes ou castanhas, em número 7 a 9, geralmente, são grossas,
poligonais, chata na arte interna e convexa na arte externa, casca lisa um pouco mais
esponjosa, cor havana, recobrindo uma massa branca, levemente rosada, compacta,
mas um pouco dura, oleosa. É encontrada também em toda Bacia Amazônica, com
predominância nas várzeas e faixas alagáveis ao longo dos cursos d'água,
frequentemente formando associações com as seringueiras e outras espécies.
Registra-se maior ocorrência nos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão e
Roraima. Em floresta natural, a andiroba é uma árvore grande, podendo atingir 30m
de altura, de fuste reto e cilíndrico, com sapopemas na base. Possui casca grossa e
amarga, apresentando descamação em placas.
Da andiroba aproveita-se comercialmente o óleo derivado das sementes e a
madeira. Tradicionalmente, o principal uso desta planta é a madeira, pelas suas
qualidades físico-mecânicas (densidade 0,70% kg/cm2). Devido à qualidade superior,
a madeira é muito procurada e a exploração é feita de forma seletiva para construção
de casas, forros e esquadrias, com alto risco às espécies, uma vez que praticamente não
existe plantação tecnicamente organizada, nem replantio sistemático.
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Revista Perspectiva Amazônica
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O óleo, conhecido na região como “azeite de andiroba”, é muito utilizado na
medicina doméstica, para fricção sobre tecidos inflamados, tumores, distensão
muscular, etc. É usado pelos indígenas em mistura com corante de urucum (Bixa
orellana L.), como repelente contra insetos e medicamentos para parasitas do pé.
Pode também ser usado como protetor solar.
A abundância da espécie na região Amazônica torna-o também atraente
como insumo ora produtos empregados no controle de transmissão de malária, de
alta ocorrência na área. Na indústria farmacêutica homeopática, onde está sendo
comercializado na forma de cápsulas, é utilizado para diabetes e reumatismo, o
bálsamo para o uso típico de luxações e sabonetes medicinais.
Investimento com grande potencial apresenta como principais alternativas a
comercialização do óleo de andiroba e a fabricação de velas repelentes de insetos,
especialmente os mosquitos de gênero Anopheles, transmissores de malária.
Espécimes semelhantes: Carapas touloucouna (África Ocidental);
Carapas grandiflora (Uganda); Carapas indica (Índia)
Ingredientes Bioativos: Artrite e Câncer Uterino. Fonte (Jornal of
EthnoFharmacology 40 (1993) 53-75)
Utilização: como repelente, cicatrizante, contra luxações e contusões em
massagens com relaxante, na fabricação de cremes para pele, na fabricação de
sabonetes finos (fábrica artesanais), nas florestas os barcos quando são colocados
nos estaleiros para reforma, são untados com óleo de andiroba para evitar a ação dos
cupins com grande eficiência.
Nome científico: Dipterix odorata
Nome Popular: cumarú
Principais características: esta árvore que produz frutos extremamente
aromáticos e com uma elevada porcentagem de óleo, é uma leguminosa que produz
como fruto uma noz verde-amarelada de forma ovóide, constituída de uma massa
consistente, esponjosa que recobre uma semente construída por uma casca lenhosa.
Espécies semelhantes: fava tonka – Europa; angustura – Venezuela
Ingredientes bioativos: cumarinas; óleo gordo
Utilização: antispasmódico e utilizado nos tratamentos de otites e outros
processos inflamatórios do ouvido.
Ø
Nome científico: Ptychopetalum uncinatum
Nome popular: muira-puama, marapuama, muira-pixi, mirindiba doce
Principais características: utilizam-se hastes principalmente e as raízes das
plantas novas o que é ecologicamente correto.
Espécimes semelhantes: Ptychopetalum olacoides
Ingredientes bioativos: alcalóide semelhante a yoinbina
Utilização: como tônico neuro-muscular de primeira ordem. A decocção da
raiz é empregada em banhos e em fricções contra a paralisia facial. Internamente, o
Ø
38
Revista Perspectiva Amazônica
extrato aquoso ou alcoólico produz efeitos notáveis na debilidade, na impotência
sexual (neurastenia-sexual), na ataxia locomotriz, no reumatismo crônico, nas
paralisias faciais, nas gripes e segundo consta é muito utilizada em determinadas
regiões da Amazônia na forma contra a queda de cabelo.
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Nome científico: Stryphodendron rotundifolium Mart.
Família: leguminosae
Nome popular: barba-de-timão, barba-de-timan, charaosinho-roxo, cascasda-virgindade, casca-da-mocidade, iba-Timão, paricarana (Pará), uabatima,
uabatimo, babatimão
Principais características: árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos.
Folhas com 16 a 24cm de comprimento com 10 a15 pares de pinas, pinas com 6 a10
pares de folíolos; folíolos oblongos, oblíquos, glabros, de face inferior acastanhada ou
ferrugínea; pecíolo apresentando uma glândula nas proximidades da base.
Inflorescências compostas de espigas axilares de 10 a 12 cm de comprimento,
multifloras; flores brancas de corolas curtas. O fruto é um legume séssil, castanhoescuro, recurvado, com 10 a 14 cm de comprimento, sementes alongas de 10 a 13,
inseridas obliquamente. Floresce de julho a agosto e frutifica em setembro-novembro.
Indicações terapêuticas: antiblenorrágica, antiescorbútica, antidiarreico,
antileucorreica, antihemorrágica, antigonorreica, adstringente, tônica, emética,
oftálmica
Utilização: contra impigem, ferimentos, flores brancas, doenças venéreas.
Ø
Nome cientifico: Mauritia vinijera, Mauntia flexuosa
Nome popular: buriti, miriti, cocô buriti
Principais características: palmeira de grande porte, que tem o nome
derivado do tupi-guarani que tem como significado "o que contem água".
Encontram-se as margens dos rios em forma de florestas densas aonde
chegam a atingir 50m de altura, onde a média de palmeiras por hec¬tare é de 200 a
500. Seus cachos chegam a dar de 500 a 800 frutos, e em cada arvore encontra-se até
cinco cachos.
A árvore é considerada pelos nativos como árvore da vida, pois dela tudo se
aproveita. Em algumas regiões da Amazônia esta palmeira não é muito valorizada e o
seu fruto é carregado pelas águas dos rios todos os anos, desperdiçando um dos óleos
mais ricos em material graxo e vitamínico do mundo.
Espécimes semelhantes: Hiphoene tebaica – África
Ingredientes bioativos: B-caroteno
Utilização: pelos nativos para frituras sem qualquer refino, como forma de
aliviar as queimaduras do sol, conservando a pele dos nativos.
Ø
Ø
Nome cientifico: Copaíphera multijuga
Família: leguminosae–caesalpinoideae
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Nome popular: copaíba, óleo de copaíba, copaíba-vermelha, balsamo, oleiro,
copaíba-da-várzea (AM), copaibeira-de-minas, copaúba, cupiúva, óleo-vermelho, paude-óleo (MG), podoí (PI, CE)
Características morfológicas: altura de 10 a 15m, com tronco de 50 a 80 cm
de diâmetro. Copa globosa densa, folhas compostas pinatífidas, com 3 a 5 jugos;
folíolos alternos ou opostos, glabros, de 4 a 5 cm de comprimento por 2 a 3 cm de
largura.
Ocorrência: Pará, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e
Paraná, principalmente na floresta latifoliada da bacia do Paraná. Existem varias
espécies de copaíba, dependendo da região de ocorrência, todas muito apreciadas,
com as mesmas aplicações e os mesmo nomes. Na região sul ocorre a espécie
"Copaífera trapezifolia Hayne". Os frutos amadurecem entre agosto e setembro,
com a planta quase totalmente despida de folhagem.
Ingredientes bioativos: cariofileno, um fitoquímico com fortes
propriedades anti-inflamatórias
Utilização: a madeira é indicada para a construção civil, como vigas,
caibros, ripas, batentes de portas e janelas, para confecção de móveis e peças
torneadas, como coronhas de armas, cabos de ferramentas e de vassouras, para
carrocerias, miolos de portas e painéis, lambris e tábuas para assoalhos.
A copaíba é usada topicamente para aliviar a inflamação e ajudar a curar péde-atleta, feridas, erupções cutâneas, dermatites, eczema e psoríase, além de ajudar a
restaurar a pele danificada e curar pequenas cicatrizes. Age como um agente
antisséptico, desinfetante e antimicrobiano para usos internos e externos em
infecções bacterianas, câncer de pele, úlceras no estômago e câncer de estômago.
Vários shampoos (xampus) que contém copaíba são eficazes no combate à caspa.
O bálsamo de copaíba é benéfico para tosse crônica, catarro, resfriados,
bronquite e outros problemas respiratórios. A planta é um bom remédio para tratar
catarro e bronquite crônica, vez que auxilia na expectoração e é antisséptico.
Também é recomendado no tratamento natural de leucorréia, cistite crônica,
diarréia, hemorróida, gonorréia.
A copaíba alivia os sintomas de uma ampla gama de doenças que causam a
inflamação dos tecidos moles ou mucosas. Testes de laboratório mostraram que a
resina atua reduzindo a permeabilidade das paredes capilares para a histamina,
substância química responsável pelo inchaço doloroso em todas estas condições. O
óleo volátil é antimicrobial e previne infecções secundárias no eczema, herpes e
psoríase.
Nome cientifico – Virola sebifera
Nome popular: ucuubarana, ucuúba
Principais características: árvore de grande porte da família das
Miristicáceas, que tem seu nome originado da língua indíge¬na que significa ucu
(graxa) e yba (árvore) cresce em regiões alagadas pelas marés ou várzeas, e
Ø
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encontrada em toda a Amazônia na região das ilhas, zona guajarina, Amapá,
afluentes do Amazonas.
Espécimes semelhantes- Miristica guatemalensis
Ingredientes bioativos - ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico
Utilização: comumente, o óleo é usado na fabricação de velas e como
combustível para iluminação de lamparinas, que na queima exala um cheiro
aromático. Na medicina caseira, principalmente, é aplicado com sucesso no
tratamento de reumatismo, artrite, cólicas, aftas e hemorroidas. A manteiga de
ucuúba, que é dura e amarelada, pode ser usada em combinação com outros
ingredientes para a produção de velas e sabonetes vegetais, sendo um substituto
vegetal para a parafina oriunda do petróleo. Sabonetes e cremes a base de ucuúba tem
ação anti-inflamatória, cicatrizante, revitalizante e antisséptica comprovada.
Nome científico: Uncaria tomentosa
Nome farmacêutico: cortex uncariae
Nome popular: unha de gato, bejuco de água, deixa, gabarato, gabarato
amarillo, gabarato colorado, garra gavilán, jipotatsa, michomentis, paotati-mosha,
paraguyayo, saventaro, tua juncara, uña de gato, uncucha, unganangi
Principais características: gênero uncaria, família rubiácea, subfamília
cinchonoideae. É encontrado na América Central e América do Sul. São arbustos
trepadores, pouco ramificados que têm entre 10 a 30 metros de altura, com diâmetro
entre 5 a 40 centímetros, com folhas simples e opostas, pecioladas, com espinhos em
forma de gancho (daí a aparência com unha de gato), tem flores globosas branco
amareladas em glomérulos axilares.
Ingredientes bioativos: alcaloides ativos (oxindólicos pentacíclicos,
oxindólicos tetracíclicos e indólicos), triterpenos, ácidos orgânicos, glicosídeos,
procianidinas e esteróis
Utilização: em forma de vinho ou chá para doenças como: asma, artrite, antiinflamatório, úlceras gástricas, feridas profundas, contracepção, dores nos ossos e câncer.
Ø
41
42
ptycho pelatum olacoides
-
raízes das plantas novas e hastes das plantas adultas
árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos
muira-puama
marapuama
muira-pixi
mirindiba doce
barba-de-timão
barba-de-timan
barbatimão
charaosinho-roxo
cascas-de-virgindade
casca-da-mocidade
iba-timão
paricarana
uabatima
uabatimó
Ptychopelatum
uncinatum
Stryphodendron
rotundifolium mart
fava tonka
angustura
frutos aromáticos leguminosa
cumarú
Dipterixodorata
carapastouloucouna
carapas grandiflona
carapas indica
ESPÉCIES SEMELHANTES
andiroba
crab wood
sabor amargo
solo alagado ou firme
tronco alto com até 30 metros de altura
diâmetro de até dois metros
folhas compridas
flores brancas
hermafroditas
fruto ouriço redondo com 4 valvas
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Carapas guianensis
NOME POPULAR
antiblenorrágica
antiescorbútica
antidiarreico
antileucorreica
antihemorrágica
antigonorreica
adstringente
ofitálmica
alcalóide semelhante a
yoin bina
cumarinas
óleo gordo
artrite
câncer uterino
BIOATIVOS
INGREDIENTES
impigem
feridas
flores brancas
doenças venéreas
tônico neuro- muscular combate a
paralisia facial
impotência sexual e queda de cabelo
antispasmódico
otite
inflamação no ouvido
repelente
cicatrizante
luxações
UTILIZAÇÃO
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CIENTÍFICO
NOME
Revista Perspectiva Amazônica
TABELA 1
Resumo das particularidades das plantas medicinais
NOME
árvore com 10 a 15 m de altura, com tronco de 50 a 80 cm
de diâmetro
regiões alagadas da amazônia
arbustos trepadores com 10 a 30 m de altura diâmetro entre
5 e 40cm, folhas opostas com espinhos em forma de gancho
ucuubarana ucuúba
unha de gato
bejuco de água
deixa
gabarato
gabarato amarillo
gabarato colorado
garra gavilán
jipotatsa
michomentis
pao tati-mosha
paraguyayo
saventaro
tua juncara
uña de gato
uncucha
unganangi
Virola sebifera
Uncaria tomentosa
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
copaíba
óleo de copaíba
copaíba- vermelha
copaíba – da- varzea
copaibeira-de-minas
copaúba
cupiúva
óleo-vermelho
pau-de-óleo
podói
NOME POPULAR
Copaiphera
multijuga
CIENTÍFICO
-
miristica guatemalensis
-
ESPÉCIES SEMELHANTES
alcaloides ativos,
triterpenos, ácidos
orgânicos,
glicosíodeos,
procianidinos e
esteróis
ácidos graxos: láurico,
mirístico e palmítico
cariofileno
BIOATIVOS
INGREDIENTES
asma
artrite
anti-inflamatório
úlcera gástrica, feridas profundas
contracepção dores nos ossos
câncer
velas repelentes
madeira para construção civil
cicatrizante anti-inflamatório
UTILIZAÇÃO
Revista Perspectiva Amazônica
TABELA 1
Resumo das particularidades das plantas medicinais
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VI. Considerações finais
Qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da
floresta Amazônica na composição de medicamentos processados pela indústria
farmacêutica?
As ideias apresentadas neste ensaio demonstram a necessidade de mobilizar a
comunidade científica para pesquisar um tema de alta relevância para a realidade
amazônica e que, ao mesmo tempo, pode produzir soluções para a região. É preciso
aprofundar os estudos e discussões sobre o assunto em pauta, é imperioso tratar da
sustentabilidade (da riqueza) da floresta Amazônica, considerando as variáveis
ambiental, econômica e social. Há de se realizar ações urgentes para promover o
desenvolvimento econômico da sociedade, a preservação da natureza e o
desenvolvimento sustentável da floresta.
Referências
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1999 Identificar mercados potenciais para produtos derivados das florestas
secundárias da Região Nordeste do Estado do Pará. Pará: Relatório de Pesquisa
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.32-45
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MINISTÉRIO DA SAÚDE
2006 Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de
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MUNDO VERDE
2011 Revista Mundo Verde. 7ª ed. Mai.
SCHAFFER, W.B.; PROCHNOW, M.
2002 A Mata Atlântica e Você: como preservar, recuperar e se beneficiar da mais
ameaçada floresta brasileira. Brasília: APREMAVI.
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VLIETINCK; VAN DEN BERGHE
1991 Plantas Medicinais. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária Ltda.
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Revista Perspectiva Amazônica
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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INTERNET EM SANTARÉM, ESTADO DO
PARÁ E OS PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CONSTANTES
INTERRUPÇÕES E A BAIXA VELOCIDADE DAS CONEXÕES DOS
PROVEDORES EM 2012
José de Lima Pereira¹
RESUMO
Este estudo tem como objetivo avaliar a qualidade da internet em Santarém, no Estado do Pará, nos
últimos seis meses, bem como mensurar os prejuízos causados pelas constantes interrupções dos
serviços a toda sociedade, incluindo o setor produtivo, os órgãos públicos, profissionais liberais e os
domicílios. O estudo tem como base a Teoria da Produção, que dispõe sobre a oferta e a demanda por
serviços essenciais por concessão do governo. A metodologia escolhida foi a pesquisa de dados
primários e secundários com método Heurístico com amostra de 131 agentes econômicos que foram
entrevistados no período de 28/11 a 06/12/2012, com nível de confiança de 97,31%. O instrumento
utilizado foi o questionário estruturado com 11 perguntas objetivas e um grupo de questões que teve
como objetivo definir o perfil dos entrevistados por setor da economia, segmento, classe econômica
e renda e/ou receita mensal. O trabalho está desenvolvido com o uso de planilhas, gráficos e a
análise de dados a partir de uma série de seis meses de atividades e apresenta com resultado o
desperdício efetivo de 5.462,19 horas sem acesso a Internet por todos os segmentos totalizando um
prejuízo de R$ 93,7 milhões.
Palavras-chave: internet – conexão – prejuízo financeiro – consumidor
ABSTRACT
This study aims to evaluate the quality of internet in Santarém, in Pará State, in the last six months,
and measure the damage caused by the constant interruptions of service to the whole society,
including the productive sector, government agencies, professional liberals and households. The
study is based on the Theory of Production, which regulates the supply and demand for essential
services by government grant. The methodology chosen was searching for primary and secondary
data with Heuristic method with a sample of 131 economic agents who were interviewed in the
period from 11/28 to 2012/12/06, with a confidence level of 97.31%. The instrument used was a
structured questionnaire with 11 objective questions and a set of questions that aimed to define the
profile of the interviewees by sector of the economy segment, economic class and income and
monthly income. The work is developed with the use of spreadsheets, graphs and analysis of data
from a series of six months of activities and displays results with effective waste 5,462.19 hours
without access to the Internet for all segments totaling a loss of US$ 46.6 million.
Key words: internet – connection – financial loss – the consumer
¹ Economista (UNAMA), Mestre em Economia (UNAMA), Alunos especial do doutorado em desenvolvimento regional
(NAEA/UFPA). Pesquisador de desenvolvimento econômico regional há mais de 20 anos com mais de 100 trabalhos publicados em
revistas, jornais e sites especializados. Coordenador do curso de Ciências Econômicas (13 anos) e docente de economia, formação
de preços, perícia econômica, mercado financeiro, estatística, econometria, política econômica e outras disciplinas (24 anos) para
cursos de graduação e pós-graduação ministrados pelas Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). Docente de pós-graduação para
outras Instituições de Ensino Superior (IES) como UEPA, UFMT, ULBRA e UNAMA. Secretário Executivo e Pesquisador do
Centro Avançado de Estudos Amazônicos (CEAMA). Perito Judicial do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, Comarca de
Santarém (400 processos).
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I. Introdução
A internet é a rede mundial interligada por computadores que conecta pessoas
de diferentes partes do mundo, como se fosse uma aldeia global. Nos tempos
modernos a internet é indispensável e essencial para: estudantes, profissionais e para
população em geral. Afora isso, cada vez mais cresce o número de pessoas em todo
mundo que utiliza a internet para acessar as redes sociais, com o objetivo de se
relacionar com outras pessoas, conhecer lugares virtuais, empresas, organizações,
fazer cursos à distância, desenvolver trabalhos lucrativos e tantos outros. Há serviços
para os quais a internet é uma ferramenta indispensável cujo sistema é composto por
um banco de dados.
Com os negócios cada vez mais globalizados e disponíveis na web, crescente
número de empresas tem investido grandes somas monetárias em seus departamentos
de Tecnologia da Informação (TI). Apesar disso, é comum ouvir críticas contra a
lentidão dos provedores de internet, que acaba, em maior ou menor volume,
comprometendo o rendimento do trabalho, das pesquisas e a entrega de serviços.
E é com base nesse contexto que este estudo aponta como objetivo avaliar a
qualidade da internet em Santarém, no Oeste do Estado do Pará, apontando os
prejuízos causados pelas constantes interrupções e baixa velocidade das conexões na
economia do município nos últimos seis meses, a partir de uma pesquisa de campo
com amostra de 131 entrevistados, entre empresários, dirigentes de escolas, órgãos
públicos, profissionais liberais e os representes dos mais de 125 mil domicílios.
O período da realização da pesquisa foi de 29/11 a 06/12/2012, somente na
zona urbana do município. O nível de confiança da pesquisa chegou a 97,31% e o
método utilizado foi o heurístico.
O estudo tem como resultado um prejuízo acumulado de R$ 93,7 milhões nos
seis últimos meses levando-se em conta, tomando como base as horas que as
empresas, órgãos públicos, profissionais liberais, escolas e pessoas físicas utilizam
de fato a internet para o desenvolvimento de suas atividades.
II. Contextualização problemática
A internet em Santarém é recebida de duas formas: via satélite, através da
Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e por meio de fibra ótica, pela
ELETRONORTE. Nos últimos meses, devido à elevação da demanda e a falta de
investimentos nas mesmas proporções, tem provocado constantes quedas no sinal de
forma mais frequente, gerando graves transtornos à sociedade, principalmente para
quem necessita de internet para trabalhar ou estudar, dentre as quais: as empresas
comerciais, industriais e de serviços; do setor de agronegócios, os órgãos públicos e
principalmente as escolas que passam mais de 46% do tempo conectadas com a rede
mundial de computadores no desenvolvimento de atividades acadêmicas e pedagógicas.
Nas duas últimas semanas a cidade ficou sem o serviço de forma integral,
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situação provocada por um incêndio no último dia 14/11, na Rodovia
Santarém/Cuiabá (BR-163), no bairro Cambuquira que atingiu a rede de
transmissão de fibra ótica.
Devido ao tempo seco, o fogo se aglomerou em grandes proporções e se
espalhou rapidamente e a cidade passou mais de 12 horas sem internet. A conexão
via cabo voltou a funcionar somente na manhã do dia seguinte (15/11).
Mais recentemente o município ficou outra vez sem internet e ainda sem
comunicação telefônica desde a noite de quarta-feira (21/11), quando um cabo de alta
tensão rompeu por volta das 23h, caindo sobre o cabo de fibra ótica, provocando
incêndio em altas proporções. O incidente aconteceu na Avenida Cuiabá, no bairro da
Nova República, rompendo o cabo (fibra ótica) em três lugares, causando parada total
na internet e também na telefonia fixa.
Todos os serviços emergenciais foram seriamente afetados. O Centro Integrado
de Operações da Polícia Militar (CIOP), acionado pelo número 190, ficou sem
comunicação com a população, circunstância só reestabelecida as 20h30 do dia 22/11.
Em face aos problemas e aos transtornos causados pela falta de Internet e
telefonia celular em razão do aumento de demanda e a falta de investimentos, no dia
28/11, representantes do Ministério Público Estadual, lojistas e comerciantes de
Santarém se reuniram no início da tarde na sala de audiência do programa “O
Ministério Público e a Comunidade” para discutir os prejuízos que a falta de internet
vem provocando em Santarém.
O Ministério Público que foi representado pelos promotores: Sandro
Chermont e Samuel Furtado comunicaram aos presentes a necessidade de um estudo
técnico e econômico que viesse subsidiar uma ação do MP em relação à demanda.
Os representantes da Associação Comercial e Empresarial de Santarém
(ACES), do Sindicato dos Lojistas (SINDILOJAS), de uma rede de supermercados
da cidade e um especialista em informática, expuseram os prejuízos causados aos
serviços prestados à sociedade, principalmente no comércio, nos órgãos públicos e
nas escolas, com as constantes oscilações e interrupções no serviço de internet local.
Se por um lado a empresa Central Elétrica do Pará (CELPA), que detém a
concessão da energia elétrica no Estado, esclarece que as interrupções recentes dos
serviços de internet em Santarém, vêm sendo provocadas por constantes incêndios
com danos aos cabos de fibra ótica, atenua que, afora os incidentes, a falta de
conexão tem por responsabilidade os provedores de internet e concessionários de
telefonia celular. De outra ordem, os mesmos operadores e/ou provedores vêm
apontando a ELETRONORTE e a concessionária de distribuição de energia com
verdadeiros culpados: o problema persiste por muito tempo sem qualquer solução.
O Ministério Público solicitou aos presentes na reunião que o estudo esteja
pronto até o dia 07/12 e que tenha como foco subsídios para um inquérito civil que
tenha como objetivo a solução definitiva do problema.
Às 19h do dia 28/12 (quarta-feira) aconteceu uma reunião sem a presença do
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Ministério Público no auditório da ACES para discutir a forma de se realizar o estudo
técnico e econômico, matéria esta que tivesse como objeto, medir os valores
referentes aos prejuízos das empresas, escolas, profissionais liberais, órgãos públicos
e da sociedade em geral pela falta dos serviços de Internet nos últimos seis meses.
Diante do atual cenário e atentando para o fato de não se ter solucionado o
problema que persiste há muito tempo, e levando-se em conta a situação de penúria
por que passa a sociedade santarena sem um serviço de Internet com qualidade, as
perguntas que se fazem são as seguintes:
§ Levando-se em conta um serviço de extrema necessidade para a
sociedade moderna, quem foram os mais afetados com a falta de
internet nos últimos seis meses em Santarém?
§ Durante o período estudado, que serviços foram mais afetados?
§ Qual o tamanho dos prejuízos causados às empresas, profissionais
liberais, órgãos públicos, escolas e aos domicílios nos últimos seis meses?
III. Metodologia
III.1. Local da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida entre usuários de internet na zona urbana de
Santarém, município que possui área 22.422,5 km², com população de 310.124
habitantes (IBGE, 2012), Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,65 bilhões em 2011.
Hoje existem 14 instituições de ensino superior que juntas somam 28.254 alunos
matriculados (INEP, 2012) e mais 73,6 mil alunos nos ensinos técnico, médio e
fundamental (INEP, SEDUC/PA e SEMED, 2012). Tem 125.250 domicílios
(CEAMA, 2012), 4.656 obras em andamento (CREA, 2011), frota de 59.652
veículos, 37.589 motocicletas, 1.584 máquinas e implementos agrícolas, 10.890
embarcações registradas no Ministério da Marinha (MM) e 26.492 não registradas
entre grandes e pequenas. A cidade é considerada o polo da economia regional do
Oeste do Estado do Pará.
É o segundo município mais importante do Pará e o principal centro
socioeconômico do oeste do Estado. Pertence à mesorregião do Baixo Amazonas e à
microrregião homônima. Situa-se na confluência dos rios Amazonas e Tapajós. Está
localizado à meia distância entre as principais capitais da Amazônia (Belém e
Manaus), distando aproximadamente 800 quilômetros em linha reta. Poeticamente é
conhecida como “Pérola do Tapajós”.
Foi fundada em 22 de julho de 1661, sendo então a segunda cidade mais antiga
do norte do país (atrás apenas de Belém). Em 1758 foi elevada a categoria de vila e
quase um século depois em consequência de seu notável desenvolvimento foi elevada
a categoria de cidade em 1948. Está incluída no plano das cidades históricas do Brasil.
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FIGURA 1
Dados macroeconômicos e de localização de Santarém
·
·
·
·
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·
Área: 22.422,50 km²
População: 310.124 habitantes
Demografia: 70,4% na zona urbana e 29,6%
na zona rural
PIB: R$ 3.650.345.058,32 (R$ 3,65 bilhões)
PIB Per capita: R$ 11.770,60
Renda per capita: R$ 6.161,91
Setor Primário (agricultura, pecuária e
extrativismo): 35,01%
Setor Secundário (indústria de transformação):
14,85%
Setor Terciário (comércio e serviço): 50,14
Localização: Oeste do Estado do Pará
Situação: cidade polo de centraliza a
economia de 26 outros municípios
totalizando 1,4 milhão de habitantes
Domicílios: 125.250 unidades, 4.656
obras em andamento
14 instituições de ensino superior com
28.254 alunos matriculados em 49
cursos sequenciais, graduação e pósgraduação; 73.560 alunos nos ensinos
médios técnicos; 9.584 micros e
pequenas empresas; 1.056 médias e
112 grandes empresas; 2.542
profissionais liberais; 163 órgãos
públicos
Fonte: CEAMA (2012)
III.2. Universo da amostra
O universo da pesquisa compreende a totalidade de micro e pequenas empresas
formais (9.584), as médias empresas (1.056), as grandes empresas (112), os profissionais
liberais (2.542), os domicílios (125.250) e os órgãos públicos (163) (TABELA 1).
A amostra foi definida levando-se em conta o universo de usuários efetivos de
internet, com índice de 97,31% de confiabilidade, distribuídos em: 32 micros e pequenas
empresas (0,33%); 15 médias empresas (1,42%); 12 grandes empresas (10,71%); 12
profissionais liberais (0,47%); 53 domicílios representados por pessoas físicas (0,04%) e
sete órgãos públicos (4,29%), totalizando 131 entrevistados. A EQUAÇÃO (1) definiu o
número de entrevistados de cada segmento com margem de erro de 2,69%:
EQUAÇÃO (1)
2
é
ù
N .P.Q.(Za / 2 )
n=ê
ú
2
2
ë (N - 1)e + P.Q.(Za / 2 ) û
50
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Onde:
n = tamanho da amostra
N = tamanho da população
P = proporção de casos de interesses observados na população
Q = 1 – P. Quando P é desconhecido, utilizando a proporção de 50% (P = 0,5)
Zα/2 = nível de confiança
ɛ = margem de erro (2,69%)
TABELA 1
Universo de amostra da pesquisa
Item
1
2
3
4
5
6
Descrição
Micro e pequenas empresas
Médias empresas
Grandes empresas
Profissionais liberais
Domicílios
Órgãos públicos
TOTAL
Universo
9.584
1.056
112
2.542
125.250
163
138.707
Usuários
5.450
1.056
112
2.542
68.011
163
Web (%)
56,87
100,00
100,00
100,00
54,30
100,00
77.334
55,75
Amostra
32
15
12
12
53
7
131
%
0,33
1,42
10,71
0,47
0,04
4,29
0,09
Fonte: CEAMA (2012)
III.3. Período de realização da pesquisa
A pesquisa foi realizada no período de 28/11 a 06/12/2012, na zona urbana do
município, por cinco pesquisadores com a coordenação do pesquisador e economista
José de Lima Pereira.
III.4. Instrumento
O instrumento de coleta de dados na realização da pesquisa de campo foi o
“Questionário”, estruturado com 11 perguntas objetivas, com hipóteses prováveis
aos anseios do usuário de internet, com informações importantes que viessem dar as
respostas necessárias ao estudo (FIGURA 2).
FIGURA 2
Assuntos componentes da estrutura do questionário
ITENS
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
TEMAS CENTRAIS DO QUESTIONÁRIO
Setor, segmento, classe, renda e/ou receita mensal dos usuários de Internet
Uso ou não da Internet
Frequência do uso da Internet
Provedor de acesso à Internet
Interrupções da internet e o aviso pelo provedor
Frequência das interrupções do acesso à Internet
Tempo médio de duração das interrupções dos serviços de Internet
Existência ou não e o tipo de prejuízo causado pelas interrupções da Internet nos seis últimos meses
Grau de satisfação do usuário com o uso da Internet em Santarém
Grau de importância da pesquisa
Observações importantes
51
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III.5. Métodos
Para o estudo que tem como foco a avaliação da qualidade da internet e os
prejuízos causados pelas constantes interrupções no município de Santarém,
levaram-se em conta os aspectos históricos e a correlação destes com os dados
estatísticos, de forma primária e secundária, a partir do numero de entrevistados,
permitindo-se assim o entendimento do sistema operação da internet em Santarém,
projetando assim perspectivas para a solução dos constantes problemas de conexão e
as expectativas para um novo cenário.
III.5.1. Histórico
Método que consistiu investigar os fatos e acontecimentos ocorridos pela
falta de internet no município nos últimos meses, verificando-se possíveis projeções
de sua influência na sociedade contemporânea local. Oferece ainda a possibilidade
de análise da organização da sociedade e das instituições permitindo-se entender a
dinâmica histórica de sua evolução, transformação e desaparecimento.
III.5.2. Estatístico
Método que se aplicou ao estudo a partir dos fenômenos aleatórios,
especialmente nos conjuntos de procedimentos apoiados em teorias de amostragem
e, como tal, indispensáveis no desenho do cenário da informação cibernética em
Santarém, dando-se aspectos relevantes da realidade local e regional, objeto
pretendido para medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos: o atual e
outro modelo mais moderno de conexão, com dados primários, com amostragem de
131 entrevistados ligados aos segmentos produtivos e à sociedade em geral,
projetando-se um erro padrão de 2,69%.
III.6. Análise de dados
Para análise dos resultados, utilizaram-se mapas geográficos, tabelas e
gráficos estatísticos, que foram fundamentais na observação dos dados,
demonstrando-se com clareza as respostas decorrentes da satisfação dos
consumidores dos serviços de internet em todos os seus aspectos.
III.7. Mensuração dos prejuízos
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Para medir o custo da ociosidade e os reais prejuízos à sociedade santarena
em todos os seus aspectos decorrentes das constantes interrupções dos serviços de
internet, utilizou-se a EQUAÇÃO (2), que tem como suporte básico os dados
numéricos absolutos e relativos dos segmentos produtivos e dos domicílios, a renda
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e/ou receita média mensal de cada segmento, o número de horas efetivamente
utilizadas no uso da internet e o produtos dessas três variáveis, sendo:
EQUAÇÃO (2)
δ = ? (N . Rx/h . Qh)
Onde:
δ = Custo da ociosidade por falta de Internet (em R$)
N = Número de consumidores do universo por segmento da economia
Rx/h = Receita média de empresas e/ou domicílios por hora (R$/h)
Qh = Quantidade de horas efetivamente ociosas em consequência das
interrupções na conexão da Internet em Santarém
IV. Resultados
Os resultados do estudo estão analisados com base nos dados da pesquisa de
campo, tendo como apoio a distribuição da amostra por setor, por segmento, por
classificação de atividade e por receita e/ou renda mensal. As análises definidas em
dados quantitativos e qualitativos, tendo como foco o uso ou não da internet, sua
frequência, os provedores de acesso; as interrupções, as frequências e o tempo de
duração delas nos últimos seis meses; os prejuízos financeiros inerentes à falta de
conexão à rede pelos usuários, o nível de satisfação destes com o uso da internet local
e o grau de importância da pesquisa.
IV.2. Distribuição da amostra
Entre os 131 entrevistados na pesquisa de campo, 96,12% pertencem ao setor
terciário da economia, formado por empresas ligadas ao segmento comercial, de
serviço e os domicílios; 3,10% referentes às atividades do setor primário
(agricultura, pecuária e o extrativismo) e 0,78% em empresas ligadas ao setor
secundário (indústria de transformação) (FIGURA 3).
Entre os entrevistados, 71,74% são do segmento comercial e de serviços,
incluindo bancos, escolas, empresas comerciais de uma forma em geral; 16,67%
formados pela mostra de domicílios; 5,07% de empresas e/ou pessoas ligadas à
agricultura; 2,90% de empresas e/ou pessoas ligadas à pecuária; 2,17% ao extrativismo
(pedra, seixo, fibras etc.) e 1,45% de indústrias de transformação (FIGURA 4).
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FIGURA 3
Distribuição da amostra por setor da economia
FIGURA 4
Distribuição da amostra por segmento da economia
FIGURA 5
Distribuição da amostra por classe da economia
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Levando-se em conta a classe econômica, 40,46% dos entrevistados foram de
domicílios; 24,43% de micros e pequenas empresas do mais diversos segmentos da
economia local; 11,45% referente à mostra de médias empresas; 9,16% de
profissionais liberais e de grandes empresas e 5,34% de órgãos públicos (FIGURA 5).
Na distribuição da amostra por renda e/ou receita mensal, foi levado em conta
o orçamento anual de cada órgão público e nos domicílios, a renda mensal. Dessa
forma a renda e/ou receita mensal da amostra ficou assim distribuída: 20,16% com
renda entre 20 e 50 salários mínimos (SM); 21,71% com receita mensal acima de 100
SM. Nesta faixa de renda estão as médias e grandes empresas. 19,38% com renda
mensal até 3 SM; 14,73% com renda entre 50 e 100 SM. Nesta faixa estão micros e
pequenas empresas e parte dos profissionais liberais. 13,95% com renda entre 3 e 10
SM e 10,08% com renda entre 10 e 20 salários mínimos de R$ 622,00.
FIGURA 6
Distribuição da amostra por nível de renda e ou receita mensal
IV.3. Uso da internet
Entre os entrevistados e levando-se em conta a margem de erro de 2,69% sobre
os resultados, 96,12% têm usado a internet com frequência como uma ferramenta
indispensável no trabalho, na escola, em serviços disponibilizados pelos órgãos públicos
ou mesmo na conexão com as redes sociais; 3,10% da amostra se manifestaram em não
usuários da Web e apenas 0,78% dos entrevistados foram indiferentes (FIGURA 7).
A frequência do uso da internet entre os entrevistados ficou assim definida:
86,51% responderam que usam a internet diariamente; 8,73% usam em uma frequência
de três vezes por semana; 1,59% usam a rede com frequência de uma a duas vezes por
semana e 0,79% utilizam a internet para no intervalo de 15 dias ou uma vez a cada mês.
Neste contexto estão os aposentados ou assalariados (FIGURA 8).
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FIGURA 7
Uso da Internet em Santarém: 2012
FIGURA 8
Frequência do uso da Internet em Santarém: 2012
IV.4.Provedores de acesso à Internet
Entre os dirigentes de empresas, profissionais liberais, pessoas físicas e
gestores de órgãos públicos entrevistados, o maior mercado de internet em Santarém
está com a operadora VIVO (31,65%), em segundo a CLARO/EMBRATEL, com
13,45%. A empresa ZZUM ficou com 11,39% dos entrevistados, principalmente nos
bairros próximo ao centro.
Os demais provedores de acesso são: REDE WSP (5,91%), NETSAN
(5,49%), TIM (5,06%), NAVEGA PARÁ (4,22%), OI VELOX (3,80%), ISP
PAPAGAIO e VSTM (3,38%), AOL, UOL e LINUX PROVEDOR (2,53%), IG
(2,21%) e outro provedores (1,69%) (FIGURA 9).
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FIGURA 9
Market share dos provedores de acesso
à Internet em Santarém: 2012 (em %)
IV.5. Interrupção dos serviços de internet
nos últimos seis meses
Pela amostra de consumidores entrevistados, 95,75% deles tiveram
interrupções no acesso ao provedor de internet nos seis últimos meses; 2,44%
disseram não ter qualquer interrupção nos serviços e 0,81% se mostraram
indiferentes (FIGURA 10).
FIGURA 10
Interrupção nos serviços de Internet nos seis últimos meses
As interrupções aconteceram da seguinte forma: 27,20% dos entrevistados
disseram ter tido interrupções no período (últimos seis meses) diariamente; 20% pelo
menos uma vez por quinzena; 19,20% uma vez por semana; 16,80% duas vezes por
semana; 2,8% três vezes por semana e 4% disseram ter tido interrupções no acesso a
internet em pelo menos uma vez por mês (FIGURA 11).
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FIGURA 11
Frequência das interrupções nos serviços
de Internet nos seis últimos meses
Os intervalos de tempos médios das interrupções foram os seguintes: 26,19%
dos entrevistados responderam que as interrupções duraram até uma hora; 23,81%,
com intervalo de tempo até 30 minutos; 23,02% tiveram interrupções até duas horas;
11,11% tiveram interrupções com intervalo de tempo até 15 minutos; 10,32%
disseram ficar parados por falta de internet em até 12 horas e 5,56% com intervalor de
tempo acima de 12 horas sem internet (FIGURA 12).
FIGURA 12
Tempo médio de duração das interrupções
nos serviços de Internet nos seis últimos meses
Por outro lado, do total de entrevistados (131), 92,74% deles responderam
não terem qualquer aviso da falta de acesso a internet pelo seu provedor; 6,45%
responderam que foram avisados e 0,81% se mostraram indiferentes (FIGURA 13).
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Figura 13
Aviso do provedor das interrupções nos serviços
de internet nos seis últimos meses
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IV.5. Os prejuízos causados pela falta
de internet em Santarém
Quanto aos prejuízos absorvidos pela falta do serviço de internet, 64,06% dos
entrevistados disseram ter tido algum tipo de dano causado por falta da conexão aos
provedores; 35,16% disseram não ter tido qualquer prejuízo e 0,78% dos
entrevistados se mostraram indiferentes (FIGURA 14).
FIGURA 14
Existência de prejuízos causados pelas interrupções nos serviços
de internet nos seis últimos meses em Santarém
Entre os prejuízos detectados junto estão aos seguintes: 33,33% não
conseguiram pagar suas contas pela falta de conexão na internet, principalmente
junto aos bancos ou empresas prestadoras de serviços de correspondente bancário
como as loterias, farmácias, supermercados e outros credenciados; 17,71% disseram
ter interrupções no atendimento de serviços essenciais, principalmente junto aos
órgãos públicos, escolas, serviços de saúde, arrecadação de impostos e outros.
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FIGURA 15
Tipos de prejuízos causados pelas interrupções nos
serviços de internet nos seis últimos meses em Santarém (em %)
Dentre os dirigentes de empresas que foram entrevistadas, 14,58% disseram
terem pedido negócios importantes com a falta de conexão na internet; 9,9% deles
disseram que tiveram suas vendas interrompidas; 9,38% dos entrevistados (bancos,
órgãos públicos, serviços de saúde e outros) disseram ter tido interrupção no
atendimento de seus clientes e/ou pacientes; 8,33% informaram a ociosidade de
pessoal em serviços; 4,69% tiveram que interromper suas compras junto aos seus
fornecedores (FIGURA 15).
Quanto ao tempo destinado exclusivamente à internet, os órgãos públicos
responderam que usam 37,43% do tempo em serviços exclusivos por via internet; os
profissionais liberais responderam que usam 33,33% do seu tempo com a internet em
verificação de processos, remessas de imagens (atendimentos em saúde),
encaminhamento de petições e outros; as grandes empresas responderam que
dependem de internet em 25,87% do seu tempo útil; as médias empresas ficam
conectadas em 10,30% do seu tempo de atividade; micros e pequenas empresas
dependem da internet em 8,96% do seu tempo produtivo e os domicílios afirmaram
que em 2,57% de seu tempo dependem da rede (FIGURA 16).
FIGURA 16
Uso do tempo médio efetivo na internet
pelos consumidores em Santarém: 2012 (em %)
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Levando-se em conta os intervalos geométricos de tempo em relação às
quantidades de agentes econômicos entrevistados, verificou-se uma ociosidade de
128,7 mil horas no universo de 77,3 mil agentes entre profissionais liberais, micros e
pequenas empresas, médias empresas, grandes empresas, domicílios e órgãos públicos.
TABELA 2
Quantidade de horas perdidas em relação ao número
de empresas por intervalo de tempo
Fonte: CEAMA (2012)
No intervalo de até 15 minutos de ociosidade, totalizaram 8.893 agentes
econômicos; até 30 minutos, 18.413 agentes; até uma hora, 20.254 agentes; até 2
horas, 17.799 agentes; até 12 horas, 7.979 agentes e acima de 12 horas de paralisação,
4.296 agentes econômicos (TABELA 2).
NOTA
As médias geométricas foram determinadas pelas dispersões das médias
dos intervalos de cada classe de forma relativa e foram utilizadas para o
cálculo da ociosidade dos agentes econômicos nos últimos seis meses.
A metodologia adotada para a determinação da receita e/ou renda mensal dos
agentes econômicos de Santarém foi equacionada pelo terceiro decil da renda per
capita média de acordo com a FIGURA 17.
FIGURA 17
Quadro de determinação do valor da receita
p/ hora por classe econômica (em R$)
CLASSES ECONÔMICAS
Profissional liberal (valor médio das entidades de
classes)
Micros e pequenas empresas
Médias empresas
Grandes empresas (valor mínimo p/ RF)
Domicílios
Órgãos públicos (valor médio do orçamento)
RENDABASE/ANO
14.928,00
HORAS/ANO
R$ / H
2.400,00
6,22
17.167,20
24.975,87
1.200.000,00
4.851,60
20.280,00
2.400,00
2.400,00
2.400,00
2.400,00
2.400,00
7,15
10,41
500,00
2,02
8,45
Pela metodologia adotada, o custo/hora dos profissionais liberais equivale a
R$ 6,22; micros e pequenas empresas, R$ 7,15; médias empresas, R$ 10,41; grandes
empresas, R$ 500,00; domicílios, R$ 2,02 e órgãos públicos, R$ 8,45, a partir da
média de seus respectivos orçamentos (TABELA 3, FIGURA 17).
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TABELA 3
Receita e/ou renda média por classe econômica (em R$)
Item
Descrição
1
Até 15 minutos
2
3
4
5
6
Até 30 minutos
Até 1 hora
Até 2 horas
Até 12 horas
Acima de 12H
P. Liberal
6,2
,2
6,22
6,22
6,22
6,22
6,22
MP
Empresa
7,15
Média
Grande
Domicílios
Universo
2,02
Org.
Públicos
8,45
10,41
500,00
7,15
7,15
7,15
7,15
7,15
10,41
10,41
10,41
10,41
10,41
500,00
500,00
500,00
500,00
500,00
2,02
2,02
2,02
2,02
2,02
8,45
8,45
8,45
8,45
8,45
89,04
89,04
89,04
89,04
89,04
89,04
Fonte: CEAMA (2012)
Para determinação das quantidades de horas perdidas pelos agentes
econômicos foram levadas em conta as quantidades de horas ociosas (TABELA 2),
multiplicando-se pelos percentuais efetivamente gastos com internet (FIGURA 16),
chegando-se ao total de 5.462,19 horas, sendo 1.409,96 horas dos 2.452 profissionais
liberais; 812,71 horas das 5.540 micros e pequenas empresas; 181,01 horas das 1.056
médias empresas; 48,22 horas das grandes empresas; 2.908,76 horas dos 68.011
domicílios que usam internet e 101,53 horas dos 163 órgãos públicos (TABELA 4).
TABELA 4
Quantidade de horas perdidas pela falta de
internet por classe econômica (em R$)
Item
1
2
3
4
5
6
Descrição
Até 15 minutos
Até 30 minutos
Até 1 hora
Até 2 horas
Até 12 horas
Acima de 12H
Total
P. Liberal
156,66
335,71
369,28
324,52
145,47
78,33
1.409,96
MP
Empresa
90,30
193,50
212,85
187,05
83,85
45,15
812,71
Média
Grande
Domicílios
20,11
43,10
47,41
41,66
18,68
10,06
181,01
5,36
11,48
12,63
11,10
4,97
2,68
48,22
323,20
692,56
761,82
669,48
300,11
161,60
2.908,76
Org.
Públicos
11,28
24,17
26,59
23,37
10,48
5,64
101,53
Universo
606,91
1.300,52
1.430,57
1.257,17
563,56
303,45
5.462,19
Fonte: CEAMA (2012)
Para determinação dos valores dos prejuízos causados pela falta de acesso à
internet nos seis últimos meses, se multiplicou a quantidade de agentes econômicos
pelos valores monetários de cada hora (R$/h) a ainda a quantidade de horas
efetivamente perdidas, por intervalo de tempo efetivamente perdido, resultando: R$
4,56 milhões de prejuízo para os profissionais liberais; R$ 6,47 milhões para micros
e pequenas empresas; R$ 406,45 mil para médias empresas; R$ 551,75 mil para
grandes empresas; 81,71 milhões para os domicílios e R$ 28,58 mil para os órgãos
públicos (TABELA 5).
62
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.46-66
TABELA 5
Prejuízo econômico pela falta de
internet por classe econômica (em R$)
Item
1
2
3
4
5
6
Descrição
Até 15 minutos
Até 30 minutos
Até 1 hora
Até 2 horas
Até 12 horas
Acima de 12H
Total
P. Liberal
275.225,45
1.263.790,33
1.529.186,30
1.180.941,86
237.311,74
68.806,36
4.555.262,04
MP
Empresa
391.172,31
1.796.199,37
2.173.401,24
1.678.448,52
337.286,33
97.793,08
6.474.300,83
Média
Grande
Domicílios
24.557,62
112.764,59
136.445,15
105.372,24
21.174,68
6.139,41
406.453,68
33.336,06
153.073,75
185.219,24
143.038,91
28.743,85
8.334,02
551.745,82
4.937.121,30
22.670.454,93
27.431.250,47
21.184.280,66
4.257.007,65
1.234.280,32
81.714.395,33
Org.
Públicos
1.726,49
7.927,75
9.592,58
7.408,04
1.488,66
431,62
28.575,14
Universo
5.663.139,22
26.004.210,72
31.465.094,97
24.299.490,24
4.883.012,90
1.415.784,81
93.730.732,85
Fonte: CEAMA (2012)
Levando-se em conta os intervalos de paralisação efetiva dos agentes
econômicos, os resultados foram os seguintes: R$ 5,66 milhões referentes a 606,91
horas do intervalo de até 15 minutos de paralisação; R$ 26 milhões referentes a
1.300,52 horas do intervalo de até 30 minutos sem internet; R$ 31,47 milhões
referentes a 1.430,57 horas do intervalo de até uma hora sem acesso a internet; R$
24,3 milhões referentes a 1.257,17 horas do intervalo de até duas horas sem Internet;
R$ 4,88 milhões referentes a 563,56 horas do intervalo de até 12 horas e R$ 1,42
milhão referente a 303,45 horas do intervalo de até 12 horas sem internet nos últimos
seis meses (TABELA 5).
O total do prejuízo nos últimos seis meses chegou a R$ 93.730.732,85
(noventa e três milhões, setecentos e trinta mil, setecentos e trinta e dois reais e
oitenta e cinco centavos), referentes a 5.462,19 horas efetivamente desperdiçadas em
decorrência da falta de acesso à internet (FIGURA 17).
FIGURA 17
Distribuição relativa dos valores dos prejuízos causados
pela falta de Internet em Santarém nos seis últimos meses
63
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.46-66
IV.6. Grau de satisfação dos
Consumidores de internet em Santarém
Quanto ao grau de satisfação dos consumidores dos serviços de internet, entre os
entrevistados (131), 61,42% consideram os serviços de forma REGULAR; 19,69%
consideram RUIM; 15,75% consideram BOM; 0,79% consideram EXCELENTE e
2,36% dos entrevistados se mostraram INDIFERENTES (FIGURA 18).
FIGURA 18
Grau de satisfação dos consumidores de
internet em Santarém: 2012
IV.7. Importância da pesquisa
Quanto à importância da pesquisa como forma legítima de contribuir para a solução
dos problemas de interrupções constantes no acesso a internet, 55,91% dos entrevistados
avaliaram a pesquisa MUITO IMPORTANTE; 43,31% entenderam a pesquisa como
IMPORTANTE e 0,79%, acharam o estudo SEM IMPORTÂNCIA (FIGURA 19).
FIGURA 19
A importância da pesquisa
64
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.46-66
V. Considerações finais
Finalizando este estudo de mercado que teve como foco avaliar a qualidade
dos serviços de internet em Santarém, bem como os prejuízos causados pelas
contínuas interrupções e a baixa velocidade das conexões junto às empresas do
segmento produtivo, profissionais liberais, órgãos públicos e os domicílios, chegouse a um resultado que remete ao nível de satisfação MUITO RUIM, com 5.462,19
horas efetivamente desperdiçadas sem o serviço, totalizando um prejuízo de R$
93.730.732,85 (noventa e três milhões, setecentos e trinta mil, setecentos e trinta e
dois reais e oitenta e cinco centavos) nos seis últimos meses.
A efetiva paralisação dos serviços no período de seis meses teve efeitos
devastadores nos serviços essenciais em escolas, atendimento de saúde, benefícios e
outros, além da interrupção das vendas e compras por empresas do setor produtivo,
ociosidade de pessoal, atraso de pagamentos por todos os segmentos e principalmente a
perda de negócios. Em outra ótica, todos os modelos econômicos, estatísticos e
matemáticos foram devidamente testados, não deixando dúvidas sobre os valores
apresentados neste estudo.
O estudo finaliza concluindo tratar-se de uma pesquisa importante (99,21%), que
corrobora com a indicação de valores e responsabilidades pelos tumultos causados
pela falta de conexão dos serviços de internet, essencial à modernidade da economia
como um todo.
Por fim, considera-se que, a partir da situação problemática estabelecida, suas
justificativas e principalmente a seleção dos procedimentos metodológicos, o estudo
atingiu os objetivos previamente definidos, sem qualquer contratempo ou
imprevistos que viessem colocar em xeque os resultados aqui efetivamente avaliados.
Referências
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2012 Normatização de trabalhos científicos. São Paulo: ABNT.
ALMEIDA, Henrique Silveira
2010 Controle de qualidade com e sem estatística. São Paulo: Atlas.
CENTRO AVANÇADO DE ESTUDOS AMAZÔNICOS
2012 Banco de dados da economia de Santarém. Santarém: CEAMA.
CRESPO, Antonio Arnot
2011 Estatística fácil. São Paulo: Saraiva.
DORNBUSCH, Rudifer & FICHER, Stanley
2010 Macroeconomia. São Paulo: Makron Books.
FARIA, Carlos Alberto
2011 Dicas para uma pesquisa de satisfação de clientes. São Paulo: E-books.
65
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.46-66
GUJARATI, Damodar N.
2011 Econometria básica. São Paulo: Makron Books.
HAZZAN, Samuel et al.
2011 Métodos quantitativos: cálculo de funções de várias variáveis. São Paulo:
Atual.
LEVY, Pierre & LEMOS, André
2012 O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São
Paulo: Paulus.
MÁTRAR NETO, João Augusto
2012 Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva.
PEREIRA, José de Lima
2011 Dados quantitativos da economia de Santarém. Santarém: CEAMA.
2011 Estrutura de mercado e formação de preços em ambiente de concorrência
(material didático). Santarém: FIT/CEAMA.
SANTOS, Roberto Elísio
2012 As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Paulinas.
SILVA, Vera A.
2012 Pesquisa de satisfação de clientes. São Paulo: Atual.
66
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
PARTICIPAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ORIENTAÇÃO DO AUTOCUIDADO
PARA PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES NA HANSENÍASE
Jéssika Larissa de Assis Araújo¹; Lília Silva de Almeida²; Rodrigo Luis Ferreira da Silva³
RESUMO
Este estudo objetivou avaliar a participação da enfermagem na orientação do autocuidado para
prevenção de incapacidades na hanseníase. Trata-se de uma pesquisa do tipo observacional,
descritiva, quantitativa e transversal. Foram aplicados questionários para 16 pacientes e expacientes de hanseníase e para 15 enfermeiras que atuam no programa de controle da hanseníase. Os
resultados demonstraram que apesar dos pacientes relatarem uma elevada adesão a realização dos
autocuidados (93,75% confirmam que realizam o autocuidado), o profissional enfermeiro participa
de forma regular como orientador destes autocuidados aos pacientes (50% dos pacientes relataram
ter sido orientados por enfermeiros), apesar de ser um profissional plenamente capacitado para tal
(100% das enfermeiras investigadas sabiam repassar de forma satisfatória as orientações sobre
autocuidados). Aventou-se que este desempenho apenas regular do profissional enfermeiro, deve-se
em parte pela atuação multiprofissional (12,5% dos pacientes foram orientados por médicos e
17,5% por fisioterapeutas), assim como pela sobrecarga de trabalho que muitas vezes dificulta uma
maior aproximação do enfermeiro ao paciente (58,33% dos pacientes relataram que o enfermeiro
não pede para ele refazer as orientações na sua presença e 33,33% dos enfermeiros responderam de
forma franca que repassam menos da metade das orientações necessárias). Apesar disso, pode-se
concluir que o enfermeiro cumpre papel relevante quanto ao repasse de orientações sobre
autocuidados aos pacientes acometidos pela doença, uma vez que, 93,75% de usuários dos serviços
relataram terem sido orientados por estes enfermeiros, e 75% responderam já terem sido alguma vez
orientados por estes profissionais.
Palavras-chave: enfermeira – doença – cuidados
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the role of nursing in the orientation of self-care to prevent disability
in leprosy. This is an observational study, descriptive, quantitative and cross-sectional.
Questionnaires were administered to 16 patients and ex-leprosy patients and 15 nurses who work
in leprosy control program. The results showed that although the patients reported high adherence
to a realization of self-care (93.75% confirm that perform self-care), the professional nurse
participates regularly as a guide to self-care of these patients (50% of patients reported having
been guided by nurses), despite being a fully qualified professional to do so (100% of nurses
investigated know to pass satisfactorily the guidelines on self-care). Has suggested that this
performance only regular nurse, due in part by the multiprofessional (12.5% of patients were
advised by doctors and physiotherapists by 17.5%), as well as the workload often hinders closer to
the patient's nurse (58.33% of patients reported that nurses did not ask him to redo the guidelines
in their presence and 33.33% of nurses responded frankly that pass less than half the necessary
guidelines). Nevertheless, it can be concluded that the nurse meets on the role of passing on selfcare guidelines for patients with the disease, since 93.75% of service users reported being targeted
by these nurses, and 75% answered had already once been targeted by these professionals.
Key words: nurse – disease – care
¹ Enfermeira formada pelas Faculdades Integradas do Tapajó; ² Enfermeira formada pelas Faculdades Integradas do Tapajós; ³ Fisioterapeuta,
Professor da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do Tapajós, Mestre em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade
Castelo Branco/RJ, Doutorando em Doenças Tropicais do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará.
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
68
I. Introdução
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008d), no Brasil registra-se
em média, a cada ano, 47.000 novos casos de hanseníase, dos quais 23,3% com graus
de incapacidades I e II, sendo estas (as incapacidades potencialmente causadas pela
hanseníase) as principais consequências desta doença que contribuem para a
perpetuação do estigma e preconceito sobre os pacientes (ARAÚJO, 2003; BRASIL,
2007; ESCARABEL et al., 2007).
Incapacidade segundo Gonçalves (1979) seria toda alteração anatômica ou
fisiológica num indivíduo, que impede ou dificulta, total ou parcialmente, de modo
permanente ou temporário, uma atividade qualquer.
Na hanseníase a ocorrência de incapacidades atinge níveis elevados, apesar
de existirem medidas que previnem a ocorrência das mesmas, evitando ainda que
estas atinjam graus avançados, levando ao registro das deformidades (BRASIL,
2008a).
Santos (1992) declara ser necessário assegurar ao usuário conhecimento
sobre a hanseníase, bem como dos aspectos sócio/ambientais e culturais que a
envolvem, o qual favorecerá o desenvolvimento do autocuidado e das mudanças de
atitudes fundamentais para a prevenção de incapacidades.
O autocuidado depende do paciente e de sua relação com a equipe de saúde.
Nesse sentido o enfermeiro tem uma importância singular no repasse de orientações
sobre o autocuidado, na motivação dos pacientes para introduzi-los no seu dia-a-dia
e na valorização da autoconfiança (BRASIL, 2008d).
Algumas das atribuições do enfermeiro da unidade de saúde são: dispensar
medicamentos conforme normas estabelecidas e executar tratamento não
medicamentoso das reações hansênicas, realizando cuidado humanizado,
orientando quanto às atividades de autocuidado diários, para que se evitem
incapacidades e deformidades (BRASIL, 2008c; VIEIRA et al., 2004).
A prevenção das incapacidades físicas deve ser realizada através de técnicas
simples e de orientação ao paciente para a prática regular de autocuidado. Esses
procedimentos devem ser aplicados e ensinados aos pacientes nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS) durante o acompanhamento do caso e após a alta por cura. A prática
de autocuidado deve ser realizada regularmente pelo próprio paciente em seu
domicílio, mas demanda apoio da equipe de saúde (BRASIL, 2010).
O enfermeiro tem uma participação importante em orientar o paciente a
aplicar diariamente certos autocuidados apropriados ao seu caso para que evite a
instalação de incapacidades e evolução para deformidades (DUARTE et al., 2009;
DUARTE et al., 2008).
Frente ao exposto percebeu-se a necessidade de realizar uma investigação
científica com objetivo de avaliar a participação da enfermagem na orientação do
autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase e ainda: registrar a
efetividade das orientações de autocuidados repassadas por enfermeiros aos
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
pacientes hansenianos; demonstrar a importância do profissional de enfermagem na
abordagem ao paciente hanseniano e sugerir métodos efetivos de orientação dos
autocuidados ao paciente hanseniano.
II.Metodologia
Para alcançar estes objetivos foi desenvolvida uma pesquisa transversal,
quantitativa, descritiva, realizada de agosto a novembro de 2012, em 10 UBS e na
Unidade de Referência em Especialidades da Universidade do Estado do Pará
(URES-UEPA) do município de Santarém-Pará, que atende pacientes portadores de
hanseníase.
Nesta pesquisa foi investigada uma amostra de 31 indivíduos que foram
divididos em duas categorias: os pacientes e ex-pacientes da hanseníase que
constituíram 16 indivíduos adultos (13 homens e 03 mulheres; 48,56 anos, + 12,68);
e os profissionais enfermeiros que atendem a estes pacientes, que foram
representados por 15 enfermeiras (28,73 anos, + 8,07).
Inicialmente foram realizadas visitas de reconhecimento às unidades de
saúde que atendem à população de pacientes e ex-pacientes acometidos pela
hanseníase, com o intuito de conhecer os pacientes, funcionários e os serviços
prestados neste setor.
Após este período de reconhecimento os pesquisadores passaram a
programar visitas às unidades com intuito de coletar dados sobre o repasse das
orientações relativas aos autocuidados necessários aos pacientes acometidos pela
hanseníase, obtendo esta informação tanto junto aos pacientes, quanto junto aos
profissionais de enfermagem.
Os pacientes e ex-pacientes da hanseníase eram abordados após a consulta de
enfermagem. Estes eram conduzidos, de forma individual, a uma sala reservada,
aonde lhes eram explicados os objetivos da pesquisa, e apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Para os indivíduos que concordaram em participar desta pesquisa, após a
assinatura do TCLE, foi apresentado e aplicado um instrumento de coleta de dados,
baseado na cartilha “Auto cuidado em Hanseníase: face mãos e pés” do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2010), constituído de perguntas fechadas para avaliar a assistência
de enfermagem na orientação do autocuidado para prevenção de incapacidades na
hanseníase.
Para a aplicação deste instrumento pesquisador lia as perguntas e as possíveis
resposta para o paciente que tinha que escolher apenas uma das alternativas. A
grande maioria das perguntas realizadas aos pacientes tinha como alternativas,
respostas dicotomizadas (“sim” ou “não”). Vale ressaltar ainda que a leitura das
questões acontecia de forma impessoal, e sem interferir nas respostas dos
participantes.
69
Revista Perspectiva Amazônica
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As profissionais de enfermagem, por sua vez, foram abordadas na sala de
consulta de enfermagem, após o término das consultas, aonde foram explicados os
objetivos da pesquisa e o TCLE que foi devidamente assinado pelas que
concordaram com sua participação. Posteriormente era aplicado o questionário, que
também foi baseado na cartilha, “Autocuidado em Hanseníase: face, mãos e pés”, do
Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), constituídos de 50 perguntas fechadas, para
avaliar o conhecimento e as orientações repassadas pela enfermagem, sobre
autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase.
Através deste instrumento, e das respostas das enfermeiras pesquisadas, o
desempenho das mesmas foi classificado em 5 categorias: não sabe repassar
nenhuma das orientações sobre autocuidados (nenhum acerto); repassa as
informações sobre autocuidados de forma precária (de 1 a 16 acertos); repassa as
informações sobre autocuidados de forma regular (de 17 a 33 acertos); repassa as
informações sobre autocuidados de forma satisfatória (de 34 a 49 acertos) e; sabe
repassar perfeitamente todas as orientações sobre autocuidados (50 acertos).
Além destas 50 questões sobre autocuidados, este instrumento de avaliação
também apresentava uma última pergunta aos enfermeiros, sobre a frequência com
que repassavam estas orientações aos seus pacientes.
Os dados coletados foram transferidos e trabalhados com o Software
Microsoft Excel®, e em seguida os resultados foram apresentados por meio de
tabelas e gráficos estatísticos.
III.Resultados
A TABELA e o GRÁFICO 1 apresentam as respostas dos pacientes e expacientes de hanseníase investigados, quanto aos questionamentos realizados pelos
pesquisadores em relação as orientações que receberam para realizar os autocuidados.
TABELA 1
Distribuição das respostas dos pacientes investigados
quanto às perguntas realizadas sobre os autocuidados
70
Pergunta 1: Você sabe o que é
autocuidado?
Nº
%
Respostas
Sim
6
37,5
Não
10
62,5
Pergunta 2: Você realiza algum tipo de
autocuidado?
Nº
%
Resposta
Sim
15
93,75
Não
1
6,25
Pergunta 3: Você realiza o autocuidado
para os olhos?
Nº
%
Respostas
Sim
11
68,75
Pergunta 4: Você realiza o autocuidado
para o nariz?
Nº
%
Respostas
Sim
6
37,5
Continuação da TABELA 1 na página seguinte.
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
Continuação da TABELA 1 da página 70.
Não
5
31,25
Perguntar 5: Você realiza o
autocuidado para as mãos e braços?
Nº
%
Respostas
Sim
11
68,75
Não
5
31,25
Não
10
62,5
Pergunta 6: Você realiza o autocuidado
para os pés?
Nº
%
Respostas
Sim
14
87,5
Não
2
12,5
Pergunta 7: Quem lhe ensinou pela 1a
vez, a realizar o autocuidado?
Pergunta 8: O enfermeiro(a) da unidade,
onde você fez ou faz tratamento já lhe
orientou a realizar o autocuidado?
Nº
%
Respostas
Sim
12
75
Não
4
25
Respostas
Enfermeira
Médico
Fisioterapeuta
Nº
8
2
6
%
50
12,5
37,5
Pergunta 9: Quando o enfermeiro lhe
orienta a realizar o autocuidado, ele
pede para você repetir os exercícios na
frente dele?
Nº
%
Respostas
Sim
5
41,67
Não
7
58,33
Fonte: Pesquisa de campo (2011)
FIGURA 1
Gráfico da distribuição das respostas dos pacientes investigados
quanto às perguntas realizadas sobre os autocuidados
Fonte: Pesquisa de campo (2011)
Evidenciou-se que a maioria dos pacientes (62,5%) desconhecia o
significado do termo “autocuidado”. Apesar deste resultado negativo, foi possível
perceber durante o estudo, pelas respostas às demais perguntas deste questionário,
que apesar dos pacientes e ex-pacientes de hanseníase declarem desconhecer o que é
“autocuidado”, a maioria deles apresentavam perceptível conscientização da
71
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
importância de “cuidar de si próprio”, revelando que na realidade que em geral eles
desconheciam apenas o significado do termo “autocuidado”, mas conheciam o sua
importância.
Vale ressaltar que após o paciente ter respondido a pergunta 1, os
pesquisadores procuravam esclarecer aos pacientes que respondiam negativamente,
o significado real e completo do termo “autocuidado”, sendo que a explicação era
feita de acordo com a descrição do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) que
considera o autocuidado como “um cuidado que você tem com você mesmo”. Assim
após os investigados terem conhecimento do significado do termo autocuidado
estavam aptos para responderem a pergunta 2.
Os dados obtidos a partir deste questionamento reafirmam a ponderação feita
em relação às respostas da primeira pergunta, confirmando que apesar de
desconhecerem o termo “autocuidado”, os investigados eram cientes de sua
importância, uma vez que entre os 16 entrevistados apenas 1 indivíduo (6,25%)
afirmou não realizar nenhum tipo de autocuidado.
Com relação ao autocuidado para os olhos, a pesquisa apontou que 11
investigados (68,75%) realizavam algum tipo de autocuidado como o uso de óculos
escuros e chapéus, para proteção nas atividades de vida diária. De acordo com o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2008b) as complicações oculares por conta da
hanseníase juntamente à perda da sensibilidade corneana, impõem uma carga
adicional à pessoa, afetando sua independência, autonomia e competência de
realizar práticas de autocuidado.
A pesquisa revelou também que a maioria dos pacientes (62,5%), declarou
não realizar nenhum tipo de autocuidado para nariz. Percebeu-se que apenas os
investigados que possuíam algum tipo de alteração da região nasal, declararam
realizar algum cuidado para esta região. Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL,
2008e) as alterações que podem estar presente são: desabamento da pirâmide nasal,
sangramento, ressecamento, presença de fissuras, perfuração de septo, infiltrações,
crostas e atrofias (GRÁFICO 11). Distribuição das respostas dos pacientes
investigados quanto a pergunta 9: quando o enfermeiro lhe orienta a realizar o
autocuidado, ele pede para você repetir os exercícios na frente dele?
Quanto às mãos e braços, a pesquisa demonstrou que a maioria dos pacientes
(68,75%), afirmou realizar algum tipo de autocuidado. Percebeu-se durante a
pesquisa que a região das mãos e braços representa uma área de grande preocupação
para os pacientes e ex-pacientes acometidos pela hanseníase, sobretudo em relação à
manutenção da integridade da pele.
Percebeu-se ainda que o autocuidado com os pés era realizado pela grande
maioria dos pacientes (87,5%). Foi bastante visível que a maioria dos pacientes
pesquisados tinha algum tipo de alteração nos membros inferiores, o que justifica
essa preocupação. Carvalho e Alvarez (2000) corroboram esta hipótese ao relatarem
que os pés são os segmentos corporais mais susceptíveis a traumas entre os pacientes
72
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
hansenianos, devido aos frequentes impactos ocorridos durante a deambulação.
De acordo com a pesquisa o profissional mais citado como orientador para a
execução dos autocuidados, aos pacientes acometidos pela hanseníase foi o
enfermeiro (50%), seguido do fisioterapeuta (37,5%) e do profissional médico
(12,5%). Percebe-se, portanto, que existe uma equipe multidisciplinar atuando frente
aos cuidados com pacientes hansenianos. Contudo, os enfermeiros destacam-se por
serem os profissionais que mantém maior contato com estes pacientes, sobretudo
devido às consultas mensais, fator este que os torna mais participativos no repasse
das orientações.
O profissional fisioterapeuta também aparece em destaque neste estudo,
sobretudo devido aos encaminhamentos realizados pelos próprios profissionais
enfermeiros, para as unidades de saúde que possuem este serviço. Vale ressaltar que
os pacientes que recebiam esta indicação quase sempre já apresentavam alguma
sequela física importante da doença, cabendo, portanto, ao profissional
fisioterapeuta as adequadas orientações para a sua condição.
Evidenciou-se ainda que entre todos os investigados (16) a grande maioria
(12 indivíduos, 75%) já haviam sido orientados, sobre os autocuidados, em algum
momento, pelo profissional enfermeiro.
Na pesquisa de Saho e Santana (2001) foi observado, que 92% dos pacientes
entrevistados estavam satisfeitos com as consultas de enfermagem. Na referida
pesquisa, porém os pacientes relataram que recebiam orientações não apenas sobre
os autocuidados, assim como também em relação ao uso correto das medicações,
importância da continuidade do tratamento, repouso e controle dos contatos.
Contudo em relação a presente pesquisa dos 12 entrevistados que deram esta
resposta, 7 (58,33%) responderam que o enfermeiro não lhe solicitava repetir os
exercícios de autocuidado na sua presença. Verificou-se então que são poucos os
enfermeiros que avaliam ou confirmam se as orientações que foram repassadas
foram realmente captadas pelo paciente. Percebe-se, portanto, a carência de
estratégias eficientes para se verificar se o paciente esta realizando essas habilidades
de autocuidado de forma correta.
Quanto ao desempenho dos enfermeiros diante da aplicação do questionário
sobre os conhecimentos dos mesmos em relação às orientações de autocuidado, que
devem ser repassadas aos pacientes, o resultado pode ser observado na TABELA 2.
O resultado da aplicação do questionário aos enfermeiros foi considerado como
satisfatório, visto que todas as profissionais enfermeiras investigadas obtiveram um
índice de acertos entre 34-49 itens dos 50 questionamentos sobre autocuidados.
A TABELA 3, por sua vez, demonstra as respostas das 15 enfermeiras
investigadas quanto à frequência com que repassam estas orientações aos seus pacientes.
73
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
TABELA 2
Distribuição dos Enfermeiros investigados quanto ao desempenho
nos repasses das orientações avaliado pelo questionário
sobre autocuidados do paciente hanseniano
Desempenho
Não sabe repassar nenhuma das orientações sobre autocuidados (nenhum acerto)
Nº
0
%
0
Repassa as informações sobre autocuidados de forma precária (de 1 a 16 acertos)
Repassa as informações sobre autocuidados de forma regular (de 17 a 33 acertos)
0
0
0
0
Repassa as informações sobre autocuidados de forma satisfatória (de 34 a 49 acertos)
15
100
Sabe repassar perfeitamente todas as orientações sobre autocuidados (50 acertos)
0
0
15
100
Fonte: Pesquisa de campo (2011)
TABELA 3
Respostas dos enfermeiros quanto à pergunta:
quanta destas orientações, você realiza com frequência para
os pacientes que acompanha?
Respostas
Nenhuma destas orientações
Menos da metade destas orientações
Aproximadamente a metade destas orientações
A maioria (mas não todas) estas orientações
Todas estas orientações
Total
Nº
0
5
1
9
0
15
%
0
33,33
6,67
60
0
100
Fonte: Pesquisa de campo (2011)
Conforme exposto na tabela 3, a maior parte das profissionais investigadas (9
ou 60%) responderam de forma franca que repassam a maioria, mas não todas, estas
orientações aos pacientes, acometidos pela hanseníase, que atende. Contudo outras 5
enfermeiras responderam que repassam menos da metade destas orientações (33,33%).
Este achado revela que apesar do alto nível de conhecimento sobre as
orientações em relação aos autocuidados para o paciente acometido pela hanseníase,
as mesmas nem sempre repassam estas informações, o que pode justificar, pelo
menos em parte, alguns dos resultados negativos observados nos questionamentos
dirigidos aos pacientes.
Saho e Santana (2001) também registraram em sua pesquisa, alguns
depoimentos de pacientes que não se sentiam totalmente satisfeitos com o
atendimento de enfermagem, queixando-se do longo tempo de espera, escassez de
profissionais em relação à demanda, o uso inadequado da linguagem e o pouco tempo
destinado ao atendimento.
Na pesquisa de Duarte et al. (2009), o atendimento de enfermagem também
observou-se resultados considerados negativos quanto a alguns dos principais
aspetos das orientações sobre os autocuidados (cuidados com mãos, pés e lhos
anestésicos; lubrificação ocular e nasal; lixar e retira calosidades; adaptação de
74
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
instrumentos de trabalho e vida diária; e realização de exercícios de fortalecimento),
segundo os pacientes entrevistados.
Uma das possíveis justificativas para este fato pode estar relacionado à
sobrecarga de trabalho pelo qual estas profissionais passam no seu dia-a-dia dentro
das UBS, muitas vezes sendo responsáveis por diversos programas de atenção básica
do Ministério da Saúde.
Pode-se constatar neste estudo, porém, que mesmo nas ocasiões em que o
profissional enfermeiro não conseguiu repassar as orientações sobre autocuidados
aos seus pacientes, ainda sim estes pacientes receberam tais orientações de outros
profissionais desta equipe, como médicos e fisioterapeutas, como foi exposto na
tabela e no GRÁFICO 1, sobre a pergunta 7.
IV. Conclusão
Após a análise dos dados colhidos nesta investigação científica, constatou-se
que apesar dos pacientes relatarem uma elevada adesão à realização dos
autocuidados (93,75% confirmam que realizam o autocuidado), o profissional
enfermeiro participa de forma regular como orientador destes autocuidados aos
pacientes (50% pacientes relataram ter sido orientados por enfermeiros), apesar de
ser um profissional plenamente capacitado para tal (100% dos enfermeiros sabem
repassar de forma satisfatória as orientações sobre autocuidados).
Aventou-se que este desempenho apenas regular do profissional enfermeiro,
deveu-se em parte pela atuação multiprofissional que se emprega no programa de
combate e prevenção de incapacidades decorrentes da hanseníase (12,5% dos
pacientes foram orientados por médicos e 17,5% por fisioterapeutas), assim como
pela sobrecarga de trabalho que muitas vezes dificulta uma maior aproximação do
enfermeiro ao paciente (58,33% dos pacientes relataram que o enfermeiro não pede
para ele refazer as orientações na sua presença e 33,33% dos enfermeiros
responderam de forma franca que repassam menos da metade das orientações
necessárias aos seus pacientes).
Apesar disso pode-se concluir que o enfermeiro é um dos profissionais da equipe
multiprofissional de saúde que cumpre papel relevante quanto ao repasse de orientações
sobre autocuidados aos pacientes acometidos pela hanseníase, uma vez que, 50% de
usuários dos serviços relataram terem aprendido os autocuidados com enfermeiros, e
75% responderam já terem sido orientados sobre os autocuidados, pelo uma vez, por
estes profissionais.
Evidenciou-se ainda que o enfermeiro de uma UBS, pelo grande contato que tem
com os pacientes, é capaz de demonstrar confiança e incentivar o próprio paciente a se
cuidar, desta forma facilitando o bom andamento do seu tratamento. As atenções voltadas
para a prevenção que o enfermeiro exerce, também contribuem para evitar incapacidades
e deformidades, e consequentemente reduzem o preconceito sobre a doença.
75
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.67-77
Constatando-se que são poucos os enfermeiros que avaliam ou confirmam se as
orientações que foram repassadas foram realmente captadas pelo paciente, pode-se
concluir que existe uma forte carência de estratégias voltadas para a confirmação do
aprendizado das orientações repassadas. Partindo disto sugere-se o incentivo a formação
de grupos de autocuidados aos pacientes acometidos pela hanseníase, com dias
específicos para a realização destas atividades nas UBS, aonde se pode, além de repassar
novas orientações, constatar se aquelas que já foram repassadas foram bem aprendidas.
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77
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.78-85
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEPTOSPIROSE NO MUNICÍPIO DE
SANTARÉM-PA, NO PERÍODO DE 2001 A 2010
¹Adjanny Estela Santos de Souza; ²Danna Cristine Tavares Queiroz;
³Keila Monteiro Marinho; 4André Sousa de Siqueira
RESUMO
A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, potencialmente grave, causada por uma
bactéria, a Leptospira interrogans. É uma zoonose, que ocorre no mundo inteiro, exceto nas regiões
polares. O trabalho tem como objetivo apresentar a incidência e descrever os aspectos
epidemiológicos da leptospirose em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010. Trata-se de uma
pesquisa básica, quantitativa, descritiva, epidemiológica, documental consistindo em um estudo
retrospectivo, realizada com dados disponíveis na Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA),
referentes à ocorrência de leptospirose em Santarém, no período de 2001 a 2010. Os resultados
foram processados por meio de recursos de estatística descritiva, mediante a utilização do programa
Excel (Microsoft para Windows-2010). O número de casos de leptospirose notificados em Santarém
no período de 2001 a 2010 foram 283 e desses 82 confirmados, representando 29% dos casos, sendo
22 em 2001; 29 em 2002; 7 em 2003; 2 em 2004; 3 em 2005; 4 em 2006; 2 em 2007; 6 em 2008; 2 em
2009 e 5 em 2010. O coeficiente de incidência foi de 2,78, com aproximadamente 3 casos para cada
grupo de 100.000 habitantes. Observou-se maior número de casos na zona urbana (89%), no gênero
masculino (72%), na faixa etária de 20 a 39 anos (42,7%).
Palavras-chave: leptospirose – epidemiologia – zoonose
ABSTRACT
Leptospirosis is an infectious fever, acute, potentially severe, caused by a bacterium, Leptospira
interrogans. It is a zoonosis that occurs worldwide except in polar regions. The present study aims
to describe the incidence and epidemiology of leptospirosis in Santarém, Pará, in the period 2001
to 2010. It is a basic research, quantitative, descriptive, epidemiological, documentary consisting
of a retrospective study, conducted with data available in the Divisão de Vigilância em Saúde
(DIVISA), regarding the incidence of leptospirosis in Santarém, in the period 2001 to 2010. The
results were processed using descriptive statistics resources by using the program Excel
(Microsoft 'for Windows-2010). The number of leptospirosis cases reported in Santarém in the
period 2001 to 2010 were 283 and 82 of those confirmed, representing 29% of cases, with 22 in
2001, 29 in 2002, 7 in 2003, 2 i​ n 2004, 3 i​ n 2005; 4 in 2006, 2 in 2007, 6 i​ n 2008, 2 in 2009 and five
in 2010. The average annual incidence rate was 2,78, with three cases for each group of 100,000 in
habitants. A higher number of cases in urban areas (89%) for males (72%), aged 20 to 39 years
(42.7%).
Key words: leptospirosis – edpidemiology – zoonosi
¹Mestra em Genética e Biologia Molecular. Professora da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do
Tapajós; ²Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Integradas do Tapajós; ³Acadêmica
do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Integradas do Tapajós.
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Ano 3 N° 5 p.78-85
I. Introdução
A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, potencialmente grave,
causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans (LEÃO, 1997). Trata-se de uma
zoonose de grande importância social e econômica. A letalidade pode chegar a 40%
nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de
infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados (BRASIL, 2009).
O rato de esgoto (Rattus norvegicus) é o principal responsável pela infecção
humana pelo seu grande número, pela sua proximidade com o homem, e pelo fato de
que a bactéria multiplica-se em seus túbulos renais sem causar danos, sendo
eliminada pela urina por períodos prolongados, às vezes pelo o resto da vida do
animal. O homem é o hospedeiro casual e transitório, albergando a bactéria durante a
doença por um curto período. A Leptospira interrogans penetra ativamente no
organismo através da pele e de mucosa ou por meio de ingestão de água ou alimentos
contaminados. A doença tem um período médio de incubação de 10 dias, com
extremos entre dois e trinta. Animais domésticos como os cães, gatos e outros podem
ser contaminados com a urina do rato e transmitir a leptospirose ao homem, atingindo
preferencialmente donas de casa e crianças. As vacinas contra a leptospirose aplicadas
rotineiramente nos cães e gatos domésticos são capazes de protegê-los contra a
doença, mas não contra o estado de portadores (VERONESI; FOCCACIA, 2002).
Os sintomas da leptospirose costumam ser divididos em dois estágios: a fase
precoce e a fase tardia. A fase precoce corresponde ao período inicial da doença,
sendo caracterizada por quadros clínicos de dor de cabeça, febre, dores musculares,
anorexia, náuseas, diarreia, vômito, etc (VERONESI; FOCCACIA, 2002). Esta fase
tende a ser autolimitada e regride em 3 a 7 dias, sem deixar sequelas. É
frequentemente diagnosticada como uma “síndrome gripal”, “virose” ou outras
doenças como dengue ou influenza. A fase tardia ocorre em aproximadamente 15%
dos pacientes e está relacionada ao nível mais avançado e grave da doença conhecida
também como Síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia, insuficiência
renal e quadros clínicos de hemorragias (BRASIL, 2009).
O diagnóstico de leptospirose deve ser investigado em todo paciente com
febre e mialgia, uma vez que as manifestações clínicas são comuns a outras doenças.
A anamnese e exame físico são importantes. Doenças que têm apresentação clínica
inicial indistinguível da leptospirose podem ser suspeitadas pela história
epidemiológica (febre amarela, malária) ou através de exames complementares
(dengue), (SCHECHTER; MARANGONI, 1998). O diagnóstico deverá se basear
primeiramente nos elementos positivos de ordem epidemiológica e clínica. Entre
eles estão os contatos com os animais, em especial, o rato, ou com água contaminada,
após os períodos de enchentes ou por necessidade profissional, acompanhado do
relato dos sintomas tais como febre, cefaléia intensa, mialgia (especialmente nos
músculos da panturrilha). Consideram-se casos confirmados de leptospirose aquele
que preenche qualquer um dos seguintes critérios: paciente com sintomas clínicos
79
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sugestivos associados a uma conversão sorológica; detecção de IgM específica pela
reação de ELISA; isolamento da leptospira em sangue; detecção de DNA da
leptospira por PCR em amostra de sangue com anticoagulante em pacientes que
evoluíram para óbito antes do 7º. dia; imunohistoquímica ou outras análises
anátomo-patológicas (BRASIL, 2009).
No Brasil, e em outros países em desenvolvimento, a maioria das infecções
ocorre através do contato com águas contaminadas com urina de ratos. A ineficácia
ou inexistência da rede de esgoto e drenagem de águas pluviais, a coleta de lixo
inadequada e as conseqüentes enchentes são condições favoráveis à alta
endemicidade e às epidemias.
A leptospirose no Brasil é uma doença endêmica, tornando-se epidêmica em
períodos chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, devido às
enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda em condições
inadequadas de saneamento e à alta infestação de roedores infectados. Algumas
profissões facilitam o contato com as leptospiras, como trabalhadores em limpeza e
desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários,
tratadores de animais, pescadores, técnicos de laboratório, militares e bombeiros,
dentre outras. Contudo, em nosso meio, a maior parte dos casos ainda ocorre entre
pessoas que habitam ou trabalham em locais com más condições de saneamento e
expostos à urina de roedores (BRASIL, 2009).
Embora exista uma vasta literatura sobre a leptospirose, ainda existe uma
escassez de estudos sobre a incidência da doença e sua relação com aspectos
geográficos e sociais em Santarém. Este trabalho tem como objetivo apresentar os
aspectos epidemiológicos da leptospirose, bem como verificar se há correlação entre
número de casos confirmados da doença e precipitação pluviométrica em SantarémPará, no período de 2001 a 2010.
II. Metodologia
O município de Santarém, situa-se na região oeste do Pará e apresenta uma
população constituída de 294.580 mil habitantes (IBGE, 2011).
O estudo constitui-se em uma pesquisa descritiva, epidemiológica,
documental consistindo em um estudo retrospectivo, realizada com dados disponíveis
na Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA), referentes à ocorrência de leptospirose
em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010. As variáveis utilizadas neste estudo
foram: casos notificados; casos confirmados; precipitação pluviométrica; faixa etária;
zona de residência e gênero dos pacientes. Os resultados foram processados por meio
de recursos de estatística descritiva, mediante a utilização do programa Excel
(Microsoft para Windows-2010). Para testar a associação entre número de casos
confirmados e precipitação pluviométrica foi utilizado o teste de correlação de
Pearson disponível no aplicativo Bioestat 5.0 com adoção de α<0,05.
80
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.78-85
III. Resultados
O número de casos de leptospirose notificados em Santarém no período de
2001 a 2010 foram 283 e desses, 82 foram confirmados, representando 29% dos
casos, sendo 22 em 2001; 29 em 2002; 7 em 2003; 2 em 2004; 3 em 2005; 4 em 2006;
2 em 2007; 6 em 2008; 2 em 2009 e 5 em 2010 (GRÁFICO 01). O coeficiente de
incidência médio anual foi de 2,7, com aproximadamente 3 casos para cada grupo de
100.000 habitantes.
GRÁFICO 01
Evolução dos casos de Leptospirose em
Santarém no período de 2001 a 2010
Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM-PA
Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM-PA
De acordo com dados do Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL,
2009), no período de 2004 a 2008 no Brasil foram confirmados 17.416 casos de
leptospirose. O coeficiente médio de incidência foi de 1,9/100.000 hab.
A atividade pluviométrica no período de 2001 a 2010 foi variável em
Santarém, e os anos de 2008 e 2009 foram os que apresentaram maior precipitação
pluviométrica (TABELA 01), de acordo com dados fornecidos pelo Instituto de
Controle do Espaço Aéreo (ICEA), (BRASIL, 2011). Foi realizado o teste de
correlação de Pearson para verificar a associação entre número de casos
confirmados de leptospirose e precipitação pluviométrica e não houve uma
associação estatisticamente significativa (r= -0,1993 e p= 0,5810).
2002 foi o ano que apresentou maior número de casos de leptospirose em
Santarém. Nos anos subsequentes ao ano de 2002, verificou-se diminuiçao no
número de casos de leptospirose. 2009, ano em que houve grande enchente na região,
foi o ano com maior número de casos notificados, entretanto, houveram apenas dois
casos confirmados da doença.
81
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TABELA 01
Precipitação pluviométrica e número de casos confirmados
de leptospirose em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010
Precipitação
Anos
Pluviométric
a
Casos Confirmados
3
(mm )
2001
2.353,5
22
2002
1.946,9
29
2003
1.588
7
2004
2.465,6
2
2005
2.484
3
2006
2.536
4
2007
1.787,3
2
2008
3.118,2
6
2009
2.808
2
2010
1.693
5
Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM e BRASIL/ICEA, 2011
TABELA 02
Aspectos epidemiológicos da leptospirose
no município de Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010
NÚMERO DE CASOS
NOTIFICADOS
Confirmados
Descartados
ZONA DE RESIDÊNCIA DOS CASOS CONFIRMADOS
Urbana
Rural
FAIXA ETÁRIA DOS CASOS CONFIRMADOS
01
–
04 anos
05 – 09 anos
10 – 19 anos
20 – 39 anos
40 – 59 anos
< 60 anos
GÊNERO DOS CASOS CONFIRMADOS
Masculino
Feminino
N=283
82
201
N=82
73
09
N=82
01
04
21
35
18
03
N=82
59
23
%
29
71
%
89
11
%
1,2
4,9
25,6
42,7
21,9
3,7
%
72
28
Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM
82
Observou-se maior número de casos de leptospirose na zona urbana (89%),
no gênero masculino (72%), na faixa etária de 20 a 39 anos (42,7%) (TABELA 02), a
ocorrêcia de registro elevado de casos na área urbana, deve-se a presença do
reservatório da leptospira ser predominante neste local, e o predomínio da doença no
sexo masculino pode ser explicada devido ao sexo masculino se expor mais em suas
atividades, correndo um risco maior de entrarem em contato com o reservatório da
leptospira. Esses resultados corroboram com resultados obtidos em estudo realizado
Revista Perspectiva Amazônica
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em Manaus a partir das análises dos bancos SINAN (Sistema de Informação e
Agravos de Notificação), em que, de 180 casos confirmados de leptospirose, 78,26%
ocorreram no sexo masculino e o maior número de casos, incluindo os óbitos,
ocorreu na faixa etária de 20 a 30 anos. Em Manaus observou-se que no período de
2007 a 2010 foram notificados 196 casos de leptospirose, dos quais, 91,83% (180)
foram confirmados. A maior incidência foi contabilizada em 2009, ano em que
ocorreu uma das maiores enchentes no município de Manaus (SBI, 2011).
Em Minas Gerais, de acordo com o SINAN no período de 1999 a 2004 foram
confirmados 152 casos de leptospirose, e 22 óbitos, com letalidade de 14,5%, maior
que a média nacional de 12% (BRASIL, 2005).
De acordo com dados do Ministério da Saúde, no período de 2004 a 2008 no
Brasil, foram confirmados 17.416 casos de leptospirose, com uma média anual de
3.483 casos, variando entre 3.084 (2008) e 4.390 casos (2006). Nesse mesmo período
foram informados 1.856 óbitos, com média de 371 óbitos/ano. A taxa de letalidade foi
de 10,6%. Entre os casos confirmados, os mais acometidos são indivíduos do sexo
masculino (78,6%), na faixa etária de 20 a 49 anos (60,3%), ainda que não exista uma
predisposição de gênero ou idade para contrair a infecção. Do total de casos
confirmados, 77% foram hospitalizados, o que claramente demonstra que o sistema
de vigilância sofre um importante grau de subnotificação, captando principalmente os
casos moderados e graves. A média de permanência no hospital foi de 7,5 dias
(BRASIL, 2009). As situações mais freqüentes de exposição são aquelas relacionadas
à ocorrência de enchentes, seguidas por contato com córregos ou cursos d'água,
lavoura, lixo, esgoto e, em menor escala, com limpeza de caixas d'água e outras
situações (BRASIL, 2005).
A manutenção de leptospiras nas regiões urbanas e rurais do Brasil é
favorecida pelo clima tropical úmido e uma vasta população de roedores. O
crescimento urbano desordenado e a grande quantidade de lixo espalhado sobre as
vias e terrenos baldios propiciam também um ambiente ideal para a proliferação da
população de ratos. A leptospirose era considerada uma doença esporádica e rural.
Casos de leptospirose urbana têm sido registrados e a doença passou a ser um
problema de saúde pública, associada à alta mortalidade. No Brasil, alterações sociais
ocorridas entre 1960 e 1996 causaram um aumento de 350% na população urbana
favorecendo o aparecimento de favelas, onde as condições sanitárias são propícias
para o aparecimento de ratos, principais reservatórios de leptospiras (KO et al., 1999).
Em estudo realizado numa comunidade carente de Salvador por
pesquisadores do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), concluiu-se que o
nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença e, portanto, melhorar
a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose, é preciso também
melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o
risco de infecção (MEDPLAN, 2008).
Atualmente a leptospirose é considerada uma doença urbana e endêmica no
83
Revista Perspectiva Amazônica
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Brasil, o que constitui um sério risco à saúde pública. Sua ocorrência aumenta nas
épocas de chuva, quando ocorre o contato de pessoas com água de inundações
urbanas, contaminada por leptospiras patogênicas eliminadas, principalmente por
roedores (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003; BRASIL, 2009).
IV. Considerações finais
No período de 2001 a 2010 foram notificados 283 casos suspeitos de
leptospirose em Santarém, e desses 82 foram confirmados, representando 29% dos
casos. A ocorrência da doença deve-se aos períodos de intensa pluviosidade, aliada
ao acúmulo de lixo e entulho em bueiros e esgotos, fatores que reunem as condiçoes
necessárias para que o animal rerservatório da doença (rato), possa disseminar o
agente etiológico (Leptospira interrogans), proporcionando às pessoas que entram
em contato com a água da chuva contaminada com a urina do rato, risco de
contrairem a doença. Embora os estudos apontem para uma associação entre o
aumento da atividade pluviométrica e ocorrência de leptospirose, em Santarém não
houve associação estatisticamente significativa, indicando que outros fatores como
acúmulo de lixo e entulho em bueiros e esgotos, más condições higiênico-sanitárias,
bem como aumento da população de roedores favorecem a ocorrência da doença.
Na prevenção e controle da doença poderão ser adotadas medidas como:
ações de educação em saúde; controle dos roedores (desratização e anti-ratização);
melhoria das condições higiênico-sanitárias da população; armazenamento
apropriado de alimentos; destino adequado do lixo; cuidados com a higiene; remoção
e destino adequado de resíduos alimentares humanos e animais; manutenção de
terrenos baldios murados e livres de mato e entulhos; limpeza e desinfecção de áreas
domiciliares potencialmente contaminadas.
Agradecimentos
Agradecemos à Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA) de Santarém-PA
pelo fornecimento dos dados epidemiológicos e ao Instituto de Controle do Espaço
Aéreo (ICEA) pelo fornecimento de dados climatológicos necessários para
realização deste trabalho.
84
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.78-85
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.86-96
INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS LABORATÓRIOS DE
REFERÊNCIA NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA NO PERÍODO DE JANEIRO
DE 2009 A JUNHO DE 2011
¹Karina Angélica Alvarenga Ribeiro; ²Rosália da Conceição Moura; ³Sheza Mayara dos Santos Oliveira
RESUMO
A Candida albicans é um agente comum da flora vaginal e é responsável por inúmeras visitas de
mulheres ao consultório médico a cada ano. Existem estatísticas que pelo menos metade das jovens
universitárias tenham tido um episódio confirmado até os 25 anos de idade. A candidíase
vulvovaginal é um problema de saúde publica mundial, pois acomete milhões de mulheres por ano
prejudicando a vida sexual, afetiva e no trabalho. O presente estudo teve como objetivo principal
verificar a incidência de candidíase vaginal em dois laboratórios de referência no município de
Santarém no período de janeiro de 2009 à junho de 2011. Trata-se de um estudo retrospectivo de casos
positivos para cândida a partir de exames colpocitológicos de mulheres do município de SantarémPA. Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total analisados 4.167
foram positivos para candidíase vaginal. A faixa etaria de maior incidência é de 24 à 33 anos (35%)
considerando que essas mulheres tem baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o
primeiro grau incompleto (31%) e residem na zona rural (65,4%). Neste estudo, a porcentagem de
positividade para infecção causada pela cândida albicans detectou incidência significativa como já
era esperado, o que nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de maneira bastante semelhante
em mulheres de diversas cidades de nosso país, independente do clima em que vivem.
Palavras-chave: candidíase vaginal – cândida albicans – exame colpocitológico
ABSTRACT
Candida albicans is a common agent from the vaginal flora and it is responsible for numerous of
the women's visits to gynecologists yearly. There are statistics showing that at least half of the
young college students have had one case confirmed prior to the age of 25. Candida vulvovaginal is
a worldwide public health problem that affects millions of women da maging their sexual life/
affection and work. The main objective of the actual study was to verify the incidence of Vaginal
Cândida based on two labs in Santarém from January 2009 until June 2011. This is a retrospective
study of positive Candida cases resulting from women colpocitologico exams in the city of
Santarém – PA. 26.666 medical SISCOLO were analyzed during the period from January 2009 to
June 2011 from which 4.167 were positive. The age range most affect was between 24 and 33 years
old (35%). Most of the women had low educational level – mostly having only completed 8th grade
(31%) – and residing out of the city limits (65,4%). This study presents a significant incidence of
Cândida albicans as expected. The conclusion is that “vaginal candidiase” proliferates similarly in
all women from different Brazilian cities regardless of the clime where they reside.
Key words: vaginal candidiasis – cândida albicans – pap test
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¹ Enfermeira pela UNIFENAS. Docente da Universidade do Estado do Pará do curso de Medicina, em Saúde Coletiva/Interação Comunitária-INC.
Especialista em Trauma, Emergências e Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG. Pós-graduando em Saúde
Coletiva pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Gama Filho(UGF); ² Discente do 8º
semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós; ³ Discente do 8º semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós.
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I. Introdução
A Candida albicans que também é chamada de Monilía está presente no nosso
corpo em pequena quantidade e quando ocorre redução do mecanismo de defesa há um
crescimento considerável destes microorganismos causando o crescimento intenso da
candidíase vaginal, deste modo há a multiplicação populacional desse microorganismo
definindo-se então como superinfecção (BURTON; ENGELKIRK, 2005).
Segundo estudos realizados por Trabulsi e Alterthum (2005), ocorrem dois
tipos de infecções vulvovaginosas que são causadas pela Candida albicans, sendo
que uma delas é transmitida pela origem endógena, do próprio paciente, e a outra são
aquelas transmitidas pela origem exógena, infecção hospitalar, encontradas em
pacientes internados em área hospitalar.
A Candida albicans é um fungo freqüente encontrado na flora vaginal, na
boca, no tubo digestivo, intestino, na pele e na orofaringe onde a sua ocorrência está
associada há muitos fatores como o uso de anticoncepcionais orais, gravidez,
diabetes mellitus, uso constante de antibióticos, corticoides, roupas apertadas e
outros (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).
Para Tortora (2005), a Candida albicans é um agente comum da flora
vaginal, e é responsável por inúmeras visitas de mulheres ao consultório médico a
cada ano. Assim Tortora (2005, p. 755) relata que:
[...] Cândida albicans é a causa de candidíase oral ou sapinho. Ela
também é responsável por casos ocasionais de UNG em homens e pela
candidíase vulvovaginal, que é a causa mais comum de vaginite. Cerca
de 75% de todas as mulheres sofreram na mínimo um episódio.
A candidíase vulvovaginal é um dos diagnósticos mais comuns na prática em
ginecologia e casos positivos têm aumentado drasticamente, tornando-se a segunda
infecção genital mais frequente nos Estados Unidos e no Brasil (ALVARES;
SVIDZINSKI; CONSOLARO, 2007).
Assim, durante a vida acadêmica, se observou em campo de estágio a alta
prevalência de exames positivos de candidíase vaginal nos resultados de
Colpocitologia Oncológica. Como se sabe, a candidíase é conhecida como uma
infecção sexualmente transmissível e está incluída como umas das doenças que faz a
população feminina buscar ajuda de profissionais da saúde. Portanto, fez-se
necessário desenvolver uma pesquisa referente ao quantitativo da população
feminina que apresenta candidíase vaginal no município de Santarém/PA.
No presente estudo optou-se por uma pesquisa quantitativa retrospectiva,
onde o tema foi delimitado no contexto de variáveis que permitam através de sua
análise obtenção de resposta.
O estudo tem como objetivo verificar a incidência de candidíase vaginal em
dois laboratórios de referência no município de Santarém/PA no período de janeiro
de 2009 a junho de 2011, com o intuito de descrever a realidade do município através
de levantamento de dados proporcionando o interesse de novas pesquisas.
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Ano 3 N° 5 p.86-96
II.A candidíase vaginal
Em 1949 Wilkinson descreveu pela primeira vez a Candida Vulvovaginal e
relacionou os fungos da vagina com o aparecimento da vaginite, após essa descoberta
evoluíram os conhecimentos a respeito da doença (ALVARES; SVIDZINSKI;
CONSOLARO, 2007). De acordo com Conceição et al (2005, p. 107):
Em 1842, Gruby já descrevia, perante a Academia de Ciências de
Paris, “o sapinho das crianças”. Robin, em 1853, descreveu o
parasito como sendo Oidium albicans, denominação que
perdurou, juntamente com a Monilia albicans em 1890 ate 1923,
quando Berkhout criou o gênero cândida, aceito até hoje.
Segundo Scechter e Marangoni (1998), infecções por Candida sp. ganharam
importância médica a partir dos anos 40 e foram introduzidos antibióticos no
tratamento clínico e, devido ao seu uso indiscriminado, houve um grande aumento
da frequência dessas infecções em procedimentos cirúrgicos constante em
transplante de órgãos e próteses valvulares cardíacas. Para Black (2002, p.503):
[...] A cândida pode invadir os pulmões, os rins e o coração ou ser
transportada pelo sangue, onde causa uma grande reação toxica.
A candidíase a mais comum das infecções hospitalares causadas
por fungo é encontrada em pacientes com doenças tais como
tuberculose, leucemia e AIDS.
Segundo Trabulsi e Alterthum (2005), o principal agente etiológico da
cândida vulvovaginal é a Candida albicans; porém existem outras espécies
identificadas como: Candida tropicalis, Candida glabrata, Candida krusei,
Candida parapsilosis, Candida kefyr, Candida guilliermondii, Candida lusitanae.
Segundo Freitas et al (2001, p.146):
A maior parte da literatura específica atual demonstra que 85 e
90% da flora fúngica vaginal é constituída por Candida albicans.
O restante é atribuído a outras espécies, sendo mais comuns a C.
glabata (9 a 15%) e a C. tropicalis (até 15% dos casos) [...].
De acordo com Oliveira e Lembruber (2001, p. 772), “em um estudo
envolvendo 2.184 mulheres, a Candida albicans foi isolada em 84,2%; a Candida
tropicalis em 5,3% e a Candida glabrata em 5,5% das pacientes”.
Para Scecter e Marangoni (1998), a cândida albicans se reproduz por
brotamento e são leveduras pequenas de paredes finas; as pseudo-hifas e hifas se
proliferam facilmente na hemocultura e em placas de ágar.
De acordo com Moreira (2003, p. 216), “a candidíase vaginal é doença
genital feminina provocada por fungos, cândida. É das queixas ginecológicas, a
mais frequente, que acomete a mulher”.
Segundo Moreira (2003), a paciente pode vir apresentar: prurido vaginal,
secreção branco leitosa, dispareunia, ardor vulvar, disúria, polaciúria, irritabilidade
vaginal, edema, eritema, hiperemia, fissuras, aumento do conteúdo vaginal, que
muitas das vezes aderente á parede vaginal.
Segundo Oliveira e Lembruder ( 2001, p. 86):
[...] O sintoma predominante é o prurido, ás vezes, ocorrendo
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clinicamente na fase pré-menstrual. O corrimento vaginal branco
(tipo leite talhado ou aquoso) pode estar ou não presente, estando
presente em 50% dos casos sem odor fétido. A dispareunia e a
disúria externa também pode fazer parte do quadro. Algumas
pacientes são assintomáticas, porém com achados positivos no
exame ginecológico [...].
A vagina sofre mudanças fisiológicas devido a hormônios, tornando-se
úmida e alterando o conteúdo do pH; conforme esta mudança ocorre há descamação
do epitélio vaginal muco cervical, transudação vaginal e presença de flora vaginal
contendo pH ácido de 3,8 a 4,5 principalmente durante estes períodos: gestação,
puerpério e durante o período fértil, o neonato poderá apresentar devido á ação
hormonal através da placenta (OLIVEIRA E LEMGRUBER, 2001).
De acordo com Moreira (2003), independente da idade há ações que podem
propiciar a manifestação da cândida como: Promiscuidade sexual, o uso de roupas
excessivamente apertadas e de produto sintético, falta de higiene íntima, uso de DIU
e outros como diabetes, gravidez, uso de contraceptivo oral, uso de antibiótico, de
corticóide e imunossupressores, alergias a perfumes, desodorante íntimos, prémenarca, pós-menopausa, uso indiscriminado de ducha vaginal, HIV e outras
imunodeficiências.
Segundo Valadares-Neto Apud Barros (1995), a gravidez se torna um grande
fator de risco para infecções vaginais, devido a mudanças que ocorrem no
ecossistema vaginal durante a gestação, o que favorece o desenvolvimento de
patógenos que causam infecções vulvovaginais.
Segundo Glass (1978), as mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais
são mais susceptíveis á candidíase, pois devido à ingestão de estrogênio e de
progesterona cria-se um ambiente vaginal semelhante ao ocorrido no período
gestacional, além de acontecer a descamação da parede vaginal o que leva a um
aumento considerável de fragilidade à infecção.
De acordo com Conceição et al (2005), a Diabetes mellitus e AIDS são
alterações importantes que favorecem o aparecimento da candidíase, por este motivo
a taxa de glicemia deve ser pesquisada rotineiramente assim como o teste para HIV.
O trato gastrointestinal é o principal causador de leveduras vaginais, essa
transmissão acontece através de um processo endógeno em que ocorre o auto
contágio, se inoculam para a vagina, aonde vão se desenvolver e sofrer um processo
adaptativo. Durante a ação das enzimas proteases e hidralases, essas leveduras se
alojam na vagina e penetram superficialmente no seu epitélio realizando ali sua
moradia e consegue causar distúrbios de ação imediata ou até mesmo confeccionar
um reservatório para reinfecções posteriores. A Candida vulvovaginal também é
considerada uma doença sexualmente transmissível (ALVARES; SVIDZINSKI;
CONSOLARO, 2007).
Segundo Piato (1993), a transmissão pode ocorrer através da relação sexual
uma vez que o homem pode albergar a candidíase no prepúcio ou
sucobalanoprepucial. A transmissão também pode acontecer por contato em locais
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que o fungo poderá sobreviver por mais tempo como: toalha úmida, assentos de vaso
sanitários, borda de piscinas, entre outros.
De acordo com Trabulsi e Alterthum (2005, p. 495), “no homem, a balanite,
infecção na glande, por Candida albicans, pode ser encontrada, sendo comumente
considerada como sexualmente adquirida”.
Já para Bastos et al (2003, p. 27) “A transmissão por via sexual não é aceita
como dado importante, embora alguns parceiros de mulheres com candidíase
vulvovaginal apresentem balanite fúngica”.
De acordo com Moreira (2003), a Candida albicans é considerada uma das
espécies mais patogênicas devido à grande capacidade de se aderir na célula através
de seus próprios mecanismos bioquímicos contidos na sua membrana celular. Tornase mais maléfica quando há imunodepressão, como nos casos de pacientes com vírus
da AIDS. As cepas de Candida albicans têm o privilégio de alterar a própria
estrutura de formas e maneiras diferentes invadindo os tecidos do hospedeiro. Elas
são resistentes aos agentes antifungos na alteração da capacidade antigênica do
fungo, na transformação dos mecanismos em resposta ao fungo e a fatores
ambientas. Ao se introduzir na vagina, o microrganismo se adere a células epiteliais,
principalmente no pH vaginal elevado, ou seja ácido, onde o fungo se alberga e
multiplica-se.
Segundo Piato (1993), a flora vaginal normal possui um importante papel no
combate do crescimento da Candida albicans, pois qualquer interferência que possa
destruir ou diminuir a população do bacilo Doederlein favorecerá o crescimento do
fungo, que além de eliminar a flora normal inibi a fagocitose do fungo. A cândida
albicans prejudica a membrana citoplasmática das células epiteliais do colo,
mucosas vaginais, períneo e pele da genitália externa, sendo estas as localizações
mais comprometidas pela inflamação, porém esse processo também pode se
estender a outras localizações na vagina como: região perianal, pequenos lábios,
clitóris, vestíbulo da vagina, toda vagina e colo.
Segundo Piato (1993), o diagnóstico pode ser realizado clinicamente através
do exame da genitália externa que frequentemente é encontrado hiperemia, edema
no introito vaginal, vestíbulo da vagina, lábios menores e fissuras pelo ato de coçar.
O exame ar fresco demonstra a presença dos filamentos de pseudo-hifas que
é de suma importância para o diagnostico da Candida albicans. Este exame é
realizado através da análise microscópica em lâminas que contém secreção vaginal e
que devem ser misturadas numa solução contendo hidróxido de potássio de 10 a
20%. Quando há a prevalência de lactobacilos apresentando prurido em um caso de
vulvovaginite devemos evidenciar a presença de candidíase (GLASS, 1978).
Já para Freitas et al. (2001, p. 147), “o exame microscópica a fresco ou á
coloração de gram demostram em 40 a 60% dos casos a presença de hifas e pseudohifas, as formas mais comumente encontradas na fase sintomática”.
De acordo com Oliveira e Lemgruber (2001), o teste de cultura é sensível e
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deverá ser usado somente quando o teste for negativo para hifas, porém apresente
sinais e sintomas é importante não esquecer que caso a cultura seja positiva para
pacientes assintomáticos é sinal normal da flora vaginal.
Segundo Moreira (2003), o exame da citologia (Papanicolau) também serve
para diagnosticar leveduras do gênero cândidas albicans ou outros métodos de
coloração. O mesmo autor recomenda tratamento sistêmico, pois exterminam os
albergues genitais e extragenitais e principalmente, nos casos recidivas, onde orienta-se
tratar o casal com derivados midazólicos como: clotrimazol, econazol, miconazol,
putoconazol, cetoconazol, itraconazol e fluconazol que atuam diretamente na membrana
celular fúngica impedindo a sua reprodução. Há também outras medicações utilizadas
de ação local como: nistatina, anfotericina B e mepartricina. Existem formas de Candida
albicans que não tem respostas positiva aos imidazolicos nesta situação é necessário o
uso dos pirimidínicos usando-se 5-flucitocina. Os antiinflamatórios que não possuem
hormônios ajudam a aumentar a ação dos linfócitos contra os fungos.
Segundo Bastos et al. (2003) o tratamento de candidíase vaginal nos últimos
anos evoluiu bastante, sendo que não há comprovação de resistência da Candida
albicans aos antibióticos poliênicos e derivados midazólicos; porém alguns fatores
devem ser analisados para um bom resultado de tratamento como: começar o
tratamento com terapêutica local, evitar que o tratamento seja interrompido durante
o período menstrual, ter o controle dos fatores predisponentes, não associar outros
medicamentos principalmente o metronidazol. Em caso de mulheres que possuam
casos de candidíase vulvovaginal é necessário o tratamento do casal, caso contrário
não será obrigatório.
Para Freitas et al. (2001, p. 147), “o tratamento do parceiro não tem
demonstrado reduzir a frequência de recorrência de candidíase e deve ser realizado
somente nos sintomáticos”. De acordo com o Ministério da Saúde (2002, p. 23):
recomenda-se isoconazol (nitrato), uso tópico sob a forma de creme
vaginal, durante 7 dias ou ovulo, em dose única; como 2º alternativa,
tioconazol pomada ou ovulo em dose única. Outras substancias
também são eficazes: clotrimazol, miconazol, derconazol, tioconazol
ou nistatina, em aplicação tópica.
Para Moreira (2003), a profilaxia consiste em ter cuidados dietéticos como:
evitar doces, refrigerantes, vinho, leite e derivados, ou seja, ter uma alimentação
saudável, além da alimentação é importante ter uma higiene adequada e alcalinização do
pH vaginal com banho de bicarbonato de sódio, evitar desodorante intimo e uso de
roupas sintéticas e justas.
Segundo o Ministério da saúde (1999), as mulheres devem adotar algumas
medidas profiláticas dentre as quais estão inclusas a realização da higiene pessoal no
sentido da vulva para o ânus nunca do ânus para a vulva, evitar calças apertadas; não usar
toalhas ou roupas de outras pessoas; não lavar calcinhas durante o banho, pois facilita a
manutenção de fungos; nunca colocar roupa íntima para secar atrás da geladeira; evitar
uso de roupa de lycra e sempre manter relação sexual com uso de preservativo.
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III. Método
O presente estudo trata-se de uma pesquisa retrospectiva com abordagem
quantitativa. Esta pesquisa foi realizada no período de janeiro de 2009 a junho de
2011, em dois laboratórios de referência no município de Santarém-PA, após
autorização dos responsáveis dos laboratórios A e B mediante o objetivo da pesquisa.
Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total, 4.167
foram positivos para candidíase vaginal. A população de referência foi de mulheres
que realizaram o exame de colpocitologia, onde os resultados foram representados em
05 gráficos divididos em: comparação de casos positivos segundo laboratórios A e B,
zona de residência, grau de escolaridade, variável de raça e variável de faixa etária e o
item sem informação (SI); sendo realizada em duas etapas. Primeiramente foi
realizada a pesquisa documental facilitando o entendimento do tema estudado durante
a pesquisa através de livros disponíveis de: microbiologia, ginecologia, patologia,
metodologia da pesquisa, manual do Ministério da Saúde e através de 29 artigos
científicos publicados nas bases de dados LILACS, nos seguintes periódicos: Jornal
Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, Acta Paulista de Enfermagem, DST- Jornal Brasileiro de Doenças
Sexualmente Transmissíveis, Revista NewsLab, Revista de Saúde Pública, Revista
Brasileira de Análises Clínicas sendo que destes utilizamos apenas 14 artigos. A
segunda etapa trata de dados coletados nos laboratórios A e B através do levantamento
quantitativo dos exames colpocitológicos, em que foram utilizados para a construção
de gráficos e tabelas. A análise teve duração de 37 dias ininterruptos.
III. Resultados e discussão
Em um dos estudos realizados por Barros em 1995, a citologia identificou
microrganismos presentes em 54,3% do total de uma população, contendo em seus
resultados a Cândida albicans (32,7%), Gardinerela vaginalis (29,9%) e
Trichonomas vaginalis (25,8%), observando que a Cândida albicans predomina
como sendo o caso mais comum na genitália feminina. Dessa forma o exame
Papanicolau é um dos exames mais importantes de rotina em uma unidade de saúde
por ser um método simples, de baixo custo e identifica agentes patogênicos da
mulher.
Durante o período de janeiro de 2009 a 30 de junho de 2011 foram
registrados 26.666 exames citopatológicos de mulheres em diferentes faixas etárias,
em dois laboratórios de referência do município de Santarém-PA; sendo que destes
exames 4.167 (15,6%) foram positivos para candidíase vaginal.
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GRÁFICO 1
Percentual (%) de casos confirmados por zona de residência
Conforme observa-se no GRÁFICO 1, acima, a zona de maior incidência de
casos positivos foi a Rural com 2.726 casos (65,4%) e a de menor incidência foi a
zona urbana com 1.436 casos (34,5%). Neste item não foi possível realizar discussão
com outros artigos, pois não encontramos nenhuma pesquisa publicada referente a
zona de residência para que houvesse uma comparação de dados. Este fato mostra que
pesquisas relacionadas a candidíase vaginal não tem sido direcionadas a este dado.
GRÁFICO 2
Percentual (%) de casos confirmados segundo faixa etária
De acordo com o GRÁFICO 2, a faixa etária de maior incidência de casos
positivos foi de 24 a 33 anos (35%). O presente trabalho está de acordo com os
resultados encontrados na pesquisa de Bastos et al (2003) em Niteroi-RJ onde a
prevalência de casos ocorreu na faixa etária de 21 a 30 anos (36,7%); com Mendes et
al (2005) na Universidade Federal de Pernambuco com a maior incidência de faixa
etária de 21 a 30 anos e com Boatto et al (2007) em São Paulo com a prevalência em
mulheres na faixa etária de 18 a 34 anos.
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GRÁFICO 3
Percentual (%) de casos confirmados segundo grau de escolaridade
Conforme o GRÁFICO 3, o grau de escolaridade de maior incidência de casos
positivos foi 1° grau incompleto com 1291 casos (31%), discordando com o estudo
realizado por Barcelos et al (2008) em Vitoria –ES, que relatam que 70% possuem o
oitavo ano de escolaridade discordando também com a pesquisa de Neto, Hamdan e
Souza (1999) em Minas Gerais onde a maioria 86,1% era de escolaridade primaria
completa ou incompleta; em contrapartida concorda com a pesquisa realizado por
Guerreiro et al (1986) na Universidade Federal da Bahia 38,1% em sua maior parte
eram de mulheres com baixo grau de escolaridade e com o Bastos et al (2003) em
Niterói-RJ dentre as mulheres estudadas 28,6% tinham o 1º grau incompleto.
IV. Conclusão
Neste estudo, a porcentagem de positividade para infecção causada pela
Cândida albicans detectou incidência significativa como já era esperado. Sendo a
faixa etária de maior incidência de 24 a 33 anos. Considerando que essas mulheres
têm baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o primeiro grau
incompleto e residem na zona rural. Em relação á raça não foi possível alcançar o
objetivo deste item em virtude da falta do preenchimento adequado da ficha do
SISCOLO, tendo em vista também, os diferentes impressos disponíveis que não
apresentam o item raça.
A incidência de portadoras de candidíase vaginal descrita em trabalhos
consultados para a realizaçao de nossa pesquisa se mostrou bastante semelhante ao
encontrado por nós. Este fato nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de
maneira bastante semelhante em mulheres de diversas cidades de nosso país,
independente do clima em que vivem. O número de informações na literatura sobre
infecção por levedura é insatisfatória, por este motivo outras pesquisas podem ser
realizadas nesta area.
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96
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
REPRESENTAÇÃO SEMÂNTICA DE CONHECIMENTO
NO SETOR DA CONSTRUÇÃO
Ruben Costa¹, Paulo Figueiras², Pedro Maló³, Celson Lima4
RESUMO
As representações semânticas de conhecimento no âmbito deste trabalho, são formas de estruturar o
conteúdo existente em documentos usando metadados dependentes i.e. termos que ocorrem em um
documento. Um dos desafios, relaciona-se com a informação limitada que está presente nesses
documentos. Este trabalho explora a utilização de relações complexas (também conhecidas como
associações semânticas), como forma de enriquecer as representações de conhecimento. Para tal,
cada fonte de conhecimento é representada por um vetor (vetor semântico), que adopta o conceito do
“vetor space model” extendido com suporte ontológico, utilizando conceitos e suas relações
existentes em ontologias de domínio.
ABSTRACT
The semantic representations of knowledge in this work are ways to structure the existent content
in documents using dependent metadata i.e. terms that occur in a document. One of the challenges
is related to the limited information presented in these documents. This work explores the use of
complex relations (also known as semantic associations), as a way to enrich the knowledge
representations. In order to do so, each source of knowledge is represented by a vector (semantic
vector) that adopts the concept of “vector space model” extended with ontological support, using
concepts and its existent relations in domain ontologies.
¹ Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre
of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal;
² Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre
of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal;
³ Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre
of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal;
4
PC/IEG – Universidade Federal do Oeste do Pará Santarém, Brasil.
97
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
I. Introdução
98
A investigação realizada em técnicas de pesquisa foi um tópico crítico
durante a “primeira geração da web”, tendo sido primeiramente liderada pela
academia e posteriormente pela indústria. Uma nova geração, chamada “web
semântica”, está sendo desenvolvida introduzindo anotações semânticas que o
software pode interpretar e onde os humanos poderão se beneficiar indirectamente
através do uso de ferramentas de software. O uso de relações complexas na web
semântica e ordenando os resultados das pesquisas por grau de relevância baseados
nestas relações, irá permitir que esta nova visão se torne cada vez mais uma
realidade, transformando a descoberta do conhecimento em um processo cada vez
mais eficiente e suportado por tecnologia semântica.
Hoje em dia, as várias técnicas de captura de informação, classificação e
representação do conhecimento dependem exclusivamente da utilização metadados
independentes (e.g. autor e data), ou metadados dependentes (i.e., termos em um
documento). Um dos desafios mais comuns presentes nestas técnicas, prendem-se
ao fato destas serem inerentemente limitadas pela informação que é explicita em
documentos, o que introduz um problema. Vamos considerar uma situação onde
palavras como “arquiteto” e “desenho” não co-ocorrem frequentemente, técnicas
usando modelos estatísticos não irão correlacionar ambas palavras. Enquanto a
investigação recente faz uso de dicionários externos e hierarquias de domínio de
forma a enriquecer a informação com a qual os classificadores utilizam, existe ainda
bastante espaço para melhoramentos (NAGARAJAN et al., 2007).
Uma das grandes inovações presente neste trabalho é a exploração do uso de
informação semântica externa disponível em ontologias de domínio (GRUBER,
1993), em conjunto com a informação presente em documentos, com o intuito de se
definir um modelo de representação para fontes de conhecimento (documentos). O
objetivo é poder ir mais além da simples “co-ocorrência de palavras e sinônimos”
usados em sistemas de classificação para um nível onde a relação semântica entre
conceitos presentes em uma ontologia é explorada. Por exemplo, no setor da
indústria da construção, uma ontologia poderá conter vários conceitos e relações
entre eles, um “arquiteto” (conceito do tipo actor) está “envolvido_em” (relação
semântica) “fase de desenho” (conceito do tipo fase de projeto). Sistemas de busca
tradicionais usando esta informação como suporte, poderão inferir que dois
documentos que contenham cada uma destas palavras estão de alguma forma
relacionados. Uma das premissas deste trabalho, é que a informação contida em tais
ontologias poderá ser incorporada em várias modelos de representação e algoritmos.
Neste artigo, iremos focar em um modelo de representação em particular baseado no
modelo de espaço de vetores “vetor space models” (SALTON et al. 1975), que
representam documentos na forma de um vetor contendo os termos mais relevantes.
A abordagem seguida neste trabalho utiliza informação contida em
ontologias de domínio por forma a enriquecer a representação do conhecimento. O
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
objetivo principal é avaliar de que forma o conhecimento externo e independente do
conteúdo presente em documentos, poderá ser benéfico e garantindo uma melhor
representação de conhecimento. De forma a tornar a abordagem possível, os vetores
de termos que representam cada documento (vetores estatísticos), são construídos
através da aplicação do método TF-IDF (term-frequency inverse-documentfrequency) (SALTON & BUCKLEY, 1988), que posteriormente são alterados
através do uso de uma ontologia de domínio de forma a gerar um novo vetor de
termos semânticos. Não se pretende com este trabalho, melhorar a performance dos
algoritmos usados, mas sim afetar os vetores de termos de cada documento com
informação disponível em ontologias externas de forma intuitiva e medir os
resultados dos efeitos produzidos.
A eficácia da nossa abordagem foi estudada e aplicada ao setor da construção,
usando para tal documentos existentes na base de dados bibliográfica ICONDA
(IRB, 1986), base de dados esta que prima por ser uma fonte compreensiva para
busca de publicações relacionadas com o planeamento e construção a nível
internacional. A abordagem proposta foi validada, através do desenvolvimento de um
mecanismo de classificação que mede o grau de semelhança entre uma consulta
introduzida e cada vetor semântico, avaliando deste forma o nível de enriquecimento
de cada vetor.
Este artigo encontra-se estruturado como descrito a seguir. A seção 2
apresenta os trabalhos relacionados a este trabalho. A seção 3 descreve a ontologia de
domínio desenvolvida no âmbito deste trabalho. A seção 4 especifica o processo de
criação das representações de conhecimento. A seção 5 ilustra as validações
efetuadas em relação ao trabalho desenvolvido até o momento. Finalmente, a seção 6
conclui o artigo e apresenta algumas indicações de trabalho futuro.
II. Trabalhos relacionados
As relações têm cada vez mais um papel importante na evolução da web, tem
sido diversas vezes debatido o fato das pessoas utilizarem a web não só para a pesquisa
de documentos, mas também para pesquisarem informação sobre relações semânticas.
Uma ideia chave a reter no processamento de relações entre entidades é o conceito de
associações semânticas, que são diferentes sequências de relações que ligam duas
entidades; associações semânticas são baseadas nas noções de conectividade e
semelhança semântica (ANYANWU et al., 2005). Cada associação semântica poderá
ser encarada como um caminho simples contendo uma ou mais relações.
A investigação na área de classificação de relações semânticas remete para
Hurtado et al. (2009) e Franz et al. (2009, onde a noção de semantic ranking é
apresentada de forma a classificar os resultados de uma consulta em portais de web
semântica. De salientar que a base de conhecimento utilizada pelos autores encontrase descrita em linguagem RDF, em oposição com a base de conhecimento
99
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
apresentada neste trabalho, que é composta por informação não estruturada presente
em documentos, sendo por isso necessário o recurso a técnicas de processamento de
linguagem natural de forma a estruturar a informação neles contida. O grau de
similaridade entre o resultado de uma consulta e a base de conhecimento é calculada
tendo em conta o número de super-classes semelhantes entre o resultado e a base de
conhecimento original. Na nossa abordagem o grau de semelhança tem em conta não
só a quantidade de conceitos que são semelhantes, mas também a forma como estes
conceitos estão relacionados entre si.
O termo pesquisa semântica é usado quando a semântica é usada de forma a
melhorar os resultados de uma pesquisa. As abordagens existentes incluem também
a pesquisa baseada em entidades (CHEN et al., 1993; GUHA et al., 2004). O
processo descrito âmbito deste trabalho também se insere nesta categoria de técnicas
de pesquisa. O que diferencia este trabalho dos mencionados é que a abordagem aqui
seguida não requer que os documentos estejam ligados como é o caso das páginas
web. Métodos como o PageRank (MUKHERJEA & BAMBA, 2004) baseiam-se em
ligações entre páginas de forma a atribuir um valor para o seu peso, ou seja, estes
métodos baseiam-se no índice de popularidade de um documento, quanto mais
popular for uma página maior será o seu peso.
Em relação à problemática a ser estudada no âmbito deste trabalho, Castells
et al. (2007) propõem uma abordagem baseada em ontologias e suportada por uma
adaptação do modelo de espaço de vetores, semelhante ao trabalho aqui proposto. A
grande diferença a reter é que a abordagem apresentada por Castells et al. não tem em
consideração a noção de relações semânticas entre conceitos de uma ontologia.
Por outro lado, (NAGARAJAN et al., 2007) propõe um sistema de indexação
baseado no modelo de espaço de vetores e suportado em tecnologias de web
semântica, semelhante à abordagem apresentada por este trabalho. A abordagem
apresenta uma forma de quantificar relações ontológicas entre conceitos de uma
ontologia, e estas são representadas em vetores semânticos. A grande diferença entre
este trabalho e o proposto por (NAGARAJAN et al., 2007), é que este último não tem
em linha de conta a diferença entre relações taxonômicas e ontológicas e o papel de
cada uma destas no enriquecimento de representações do conhecimento.
III. Ontologia de domínio
A ontologia de domínio usada neste trabalho foi totalmente desenvolvida usando a
ferramenta “Protégé ontology editor” (RESEARCH, 2012), a qual é totalmente
compatível com a linguagem OWL-DL. Contudo, esta ontologia usou vários conceitos
presentes em outras ontologias já desenvolvidas no setor da construção, dentre as quais
destacam-se: OCCS (OmniClass Classification System for Construction Information),
IFD (International Framework for Dictionaries desenvolvida por the International Alliance
for Interoperability) e o projeto e-COGNOS (LIMA et al., 2005). A nossa ontologia foi
100
Revista Perspectiva Amazônica
desenvolvida com o intuito de suportar os testes e a validação a serem desenvolvidas no
âmbito deste trabalho, não pretendendo de forma alguma substituir as ontologias de
domínio já existentes no setor da construção. Pretende sim, incluir um conjunto de
conceitos ontológicos e respectivas propriedades, que permitirão a extração de
conhecimento e posterior enriquecimento desse mesmo conhecimento disponível em
fontes de conhecimento (documentos) relacionadas com o setor da construção.
Diversos níveis de especificidades são dados a todas a famílias de conceitos
ontológicas, de acordo com conceito “projeto” ilustrado na FIGURA 1, estas
especificidades representam hierarquias e em último caso são definidades por relações
taxonômicas, como por exemplo “edifício educacional” “é uma” “função de projeto”. Cada
conceito/classe corresponde uma instância, contendo palavras ou expressões relacionadas
com o conceito/classe em si, através da propriedade ontológica “has Keyword”.
Ano 3 N° 5 p.97-108
FIGURA 1
Excerto da ontologia de domínio
Em última análise, todos os conceitos são eles póprios palavras, porque os
conceitos podem ser vistos como expressões ou termos que ocorrem em fontes de
conhecimento. Adicionalmente ao nome do conceito, estes possuem termos
relevantes (termos equivalentes), que correspondem a um conjunto de sinônimos
associados a cada conceito e que deverão ser usados na captura do sentido semântico
da cada conceito. Adicionalmente, vários conceitos estão relacionados entre si
através de relações semânticas, que são exploradas de forma a garantir o
enriquecimento dos vetores semânticos em função da sua relevância. Alguns
exemplos de relações semânticas estão ilustradas na FIGURA 1.
TABELA 1
Relações semânticas
Propriedade
<operates_in>
<is_involved_in>
<has_skills>
<has_skill_needs>
Sujeito
Actor
Actor
Actor
Project
Objeto
Project Phase
Project
Skill
Skill
<is_decomposed_in>
Project
Task
Descri
ção
Um ator opera em uma ou diversas fases de um projeto
Um a
tor está envolvido em
projeto
s
Um ator tem diversas especializações
Um projeto tem necessidades de tipo de especializações
de actores
Um projeto pode ser decomposto em um conjunto de
tarefas
101
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
IV. Processo de representação do conhecimento
O processo proposto para o enriquecimento da representação do conhecimento
no âmbito deste trabalho é composto por várias fases (ilustradas na FIGURA 2): a
primeira fase, denominada por “extração do conhecimento”, trata da extração dos termos
mais relevantes existentes nas fontes de conhecimento através de uma ferramenta de text
mining RapidMiner (RAPIDMINER, 2012), a qual permite a adopção do algoritmo TFIDF à fontes existentes no repositório de fontes de conhecimento; a segunda fase é
responsável pela geração dos vetores semânticos associados a cada fonte de
conhecimento denominada por “indexação de fontes de conhecimento”; a terceira e
última fase é composta pela definição do algoritmo de classificação denominada por
“comparação de fontes de conhecimento” (COSTA & LIMA, 2011). As várias fases que
compõem o processo são descritas com exemplos de um repositório contendo 70 fontes
de conhecimento relacionadas com o setor da construção.
FIGURA 2
Processo de representação do conhecimento
IV.1. Extração do conhecimento
102
Embora tenham sido usadas algumas técnicas de text mining, o uso destas
técnicas não são o propósito deste trabalho, no entanto estas são salientadas porque
servem de base a todo o processo de representação do conhecimento.
A extração de conhecimento é usualmente vista como um processo que
envolve três fases distintas: extração de termos, filtro de expressões regulares e
criação de um vetor estatístico. Extração de termos é o processo no qual palavras e
expressões são extraídas através de técnicas de text mining. Filtro de expressões
regulares é o processo responsável por remover expressões com um grande número
de ocorrências em fontes de conhecimento que não representam conhecimento (ex:
“e” “de”, “quando”). A criação do vetor estatístico tem como base, a criação de uma
representação estatística das fontes de conhecimento na forma de matriz, composta
por palavras ou expressões e o peso estatístico de cada uma delas na fonte de
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
conhecimento em questão, este processo utiliza o algoritmo TF-IDF para a geração
do vetor estatístico.
O vetor estatísco gerado é visto como a base principal sobre a qual acenta
todo este trabalho. É no entanto importante referir, que o vetor estatístico é composto
por termos na sua forma de primitiva pertencentes uma família de palavras (ex:
desing, desinger e designing são tudo palvras pertencentes à família de palavras
design). Um exemplo de um vetor estatístico é ilustrado na TABELA 2.
TABELA 2
Termos e pesos de um vetor estatístico
Termo
Agreement
Fund
Provis
Advanc
Record
Found
Feder
Local
Governo
…
Peso estatístico
0.550
0.376
0.317
0.311
0.250
0.212
0.196
0.166
0.153
…
IV.2. Criação do vetor semântico
O vetor semântico é constituído por duas colunas: uma coluna contém os
conceitos que formam a representação do conhecimento, i.e., os conceitos mais
relevantes que caracterizam cada fonte de conhecimento; e uma coluna que indica o
grau de relevância ou o peso de cada conceito para a fonte de conhecimento em questão.
A nossa abordagem tem em linha de conta três abordagens distintas mas
complementares, na forma como é realizada a geração de cada vetor semântico:
baseada em termos (keyword-based), baseada em relações taxonômicas (taxonomybased) e baseada em relações ontológicas (ontology-based). Cada uma considerada
de forma iterativa até se atingir uma representação mais próxima da realidade.
A TABELA 3 ilustra um exemplo de um vetor semântico gerado a partir do
vetor estatístico ilustrado anteriormente. A primeira coluna corresponde aos conceitos
da ontologia que foram mapeados com o termos existentes no vetor estatístico. A
segunda coluna contém os termos existentes no vetor estatístico. A terceira coluna
indica quais o termos equivalentes respeitantes a cada conceito ontológico que estão
também presentes no vetor estatístico. Na quarta coluna estão descritos os pesos
semânticos de cada conceito ontológico mapeado. O peso final de cada conceito é
calculado em função da aplicação do algoritmo TF-IDF, agora para o caso dos conceitos
mais relevantes e não em função dos termos mais relevantes nos documentos.
103
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
TABELA 3
Conceitos e pesos de um vetor semântico
Conceito
Presence_Detection_And_Registration
Foundation
Association
Inspector
Territory
Issue
Trainer
Request
Consultant
Management_Actor
Termo
record
found
feder
inspect
state
compli
manag
request
author
manag
Report
report
Termo Ontológico
recording
foundation
federation
inspector, inspection
state
complication
manager
request
authority
manager, management
actor
report
Peso Semântico
0.189
0.134
0.124
0.114
0.095
0.087
0.028
0.063
0.057
0.028
0.025
Os vetores baseados em relações taxonômicas podem ser encarados como
uma nova iteração no processo de geração de vetores semânticos, onde os pesos dos
conceitos calculados na iteração anterior são reajustados tendo em linha de conta as
relações taxonômicas entre conceitos presentes no vetor baseado em termos. Se dois
ou mais conceitos presentes no vetor baseado em termos estiverem relacionados
taxonômicamente por uma relação to tipo “is a”, esta relação irá aumentar o peso de
cada um dos conceitos relacionados no vetor taxonômico.
Vetores baseados em relações ontológicas são considerados o último estágio
do processo de criação de vetores semânticos. Este tipo de vetores semânticos são
gerados a partir dos vetores taxonômicos calculados no passo anterior. O processo de
cálculo de vetores baseados em relações ontológicas tem em linha de conta possíveis
relações ontológicas entre conceitos existentes no vetor taxonômico. Cada relação
ontológica entre conceitos possui um peso associado e este é calculado em função do
número de ocorrências de uma determinada relação no universo total de
documentos, i.e., se dois conceitos co-ocorrem frequentemente em um determinado
documento, a relevância da forma como eles se encontram relacionados será maior
quando comparada com dois conceitos onde a sua co-ocorrência ao longo de um
documento seja pouco frequente. Tal como na iteração anterior, este tipo de relações
irá aumentar o peso que cada conceito presente no vetor ontológico possui caso os
conceitos estejam relacionados ontologicamente.
A grande diferença entre vetores taxonômicos e vetores ontológicos, prendese ao fato de os vetores taxonômicos apenas terem em linha de conta relações
hierárquicas entre conceitos, i.e., relações do tipo pai-filho. Por outro lado, vetores
ontológicos têm em linha de conta as relações entre conceitos que não necessitam
estar hierarquicamente relacionados, mas poderão estar relacionados
semânticamente.
104
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
V. Validação
Esta seção descreve a abordagem usada na validação do trabalho
desenvolvido, começando por ilustrar o processo de indexação das fontes de
conhecimento, seguido pela descrição de um exemplo uma consulta inquirida ao
sistema e, consequentemente, os resultados obtidos.
As consultas são tratadas aqui como pseudo-fontes de conhecimento e, como
tal, cada consulta é indexada em um processo semelhante ao aplicado às fontes de
conhecimento. Inicialmente a consulta é dividida em termos, termos esses que são
usados na criação de um vetor estatístico para a consulta em questão. No entanto, ao
invés de efetuar o processamento estatístico, aos termos da consulta são dados os
mesmos pesos estatísticos a todas as palavras existentes na consulta. Esta regra
implica que é dado o mesmo grau de importância a cada termo que compõe a
consulta, sendo que estes pesos poderão ser ajustados manualmente pelo utilizador.
Como exemplo, uma consulta de teste é aplicada ao sistema, com os
seguintes termos: “door”, “door frame”, “fire surround”, “fireproofing” and
“heating”, indicando que o utilizador pretende encontrar descrições de portas contraincêndio. Neste caso particular o termo “door” está relacionado com o conceito
ontológico “Door”, o termo “door frame” está relacionado com o conceito “Door
component”, e assim por diante, tal como ilustrado na TABELA 4. Os pesos dos
conceitos ontológicos relacionados possuem o valor 0.2, pelo fato de neste caso a
cada conceito ontológico corresponde apenas um termo da consulta.
TABELA 4
Vetor semântico da consulta
#
1
2
3
4
5
Termo
Door
door frame
fire surround
Fireproofing
Heating
Conceito Ontológico
Door
Door Component
Fireplace And Stove
Fireproofing
Complete Heating System
Peso
0.2
0.2
0.2
0.2
0.2
A nossa abordagem usada para o cálculo da semelhança entre vetores usa o
algoritmo da semelhança do coseno (DEZA & DEZA, 2009) entre dois vetores.
Considerando d como sendo um vetor semântico representando um documento e q o
vetor semântico que representa a consulta. O cosendo do ângulo θ entre d e q é dado
pela seguinte fórmula, onde m corresponde ao tamanho dos vetores:
d
q
Cos θ =
·
=
? d? ? q?
sm
k=1 wdk wqk
2
m
2
? ?s m
k=1 wdk ??s k=1 wqk ?
105
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
é o peso correspondente a cada conceito representado por d e
é o peso
correspondente a cada conceito representado por q. A apresentação dos resultados é
calculada em função do índice de semelhança entre cada fonte de conhecimento e a
consulta definida pelo utilizador. Mais especificamente, e pelo fato do resultado da
função coseno variar entre 0 e 1, o sistema implementado apresenta os resultados de
forma percentual. Em relação aos resultados obtidos para a consulta descrita
anteriormente, estes são bastante satisfatórios: o primeiro resultado encontrado
apresenta um índice de semelhança de 84% em relação à consulta inicial, em um
total de 70 fontes de conhecimento. A TABELA 5 apresenta os resultados tendo em
conta as 5 fontes de conhecimento mais relevante para a consulta introduzida.
TABELA 5
Resultados obtidos
Doc.
Id
Door
190
179
201
197
172
0.093
0.181
0.121
0.017
0.045
Door
Componen
t
0.093
0.182
0.122
0.017
0.045
Fireplace
And Stove
Fireproofin
g
0.077
n.a.
0.013
0.109
0.035
0.077
n.a.
0.013
0.110
0.037
Complete
Heating
System
0.0803
n.a.
n.a.
n.a.
0.012
Relevância da
consulta
%
84
57
55
52
48
Para o caso do primeiro resultado (doc. id., p.190), todos pesos semânticos
referentes ao respectivo vetor semântico apresentam valores próximos dos 10%. O
segundo resultado (doc. id., p.179) os conceitos “Door” e “Door Component”
apresentam valores superiores na ordem dos 18%, mas de salientar que os conceitos
“Fireplace And Stove”, “Fireproofing” e “Complete Heating System” não
pertencem ao vetor semântico referente a esta fonte de conhecimento, o que por sua
vez faz baixar o índice de semelhança deste com a consulta inicial. O último
resultado apresentado apresenta um índice de semelhança de 48%, isto deve-se ao
fato de os conceitos apresentarem valores bastante baixos comparativamente aos
primeiros resultados (na ordem dos 4%). Após uma validação manual por parte de
profissionais no setor da construção, pode-se concluir que os resultados embora
preliminares, refletem na sua generalidade o conhecimento existente no repositório
de 70 documentos relacionados com o setor.
VI. Conclusões
106
A nossa contribuição com este trabalho visa essencialmente a criação e
enriquecimento de representações de fontes de conhecimento através do suporte de
fontes externas (ontologias). Este trabalho resulta em um contributo importante
essencialmente nas áreas da web semântica e captura de informação, no entanto e do
ponto vista prático, este trabalho poderá ser encarado como um suporte a equipes de
projetos no setor da construção que trabalham em ambientes puramente
colaborativos, onde a forma como é efetuada a partilha, a captura e a representação
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.97-108
do conhecimento dentro das organizações, tornam-se cada vez mais fatores vitais na
eficiência e qualidade neste tipo de projetos.
Os resultados alcançados até à data ainda não refletem uma conclusão final
sobre a abordagem aqui apresentada e fazem parte de um trabalho ainda em
desenvolvimento que irá evoluir ao longo do tempo. No entanto, os resultados
preliminares alcançados até então, permitem concluir que o uso da informação
presente em ontologias de domínio na representação de fontes de conhecimento,
contribui para o enriquecimento dessas mesmas formas de representação. Testes
adicionais terão de ser realizados, bem como a implementação de outras métricas de
validação (precision e recall) de forma poder-se permitir extrair conclusões mais
concretas sobre o método proposto.
Como trabalho futuro, é expectável que esforço adicional terá de ser
conduzido no sentido de enriquecer a ontologia de domínio que suporta todo o
método aqui descrito. É recorrente partir-se de pressupostos errôneos,
nomeadamente quanto ao fato das ontologias serem vistas como algo que é estático e
que não evolui da mesma forma que o conhecimento organizacional nos dias de hoje.
Uma possível abordagem a ser implementada, de forma a tentar minimizar a falta de
dinamismo das ontologias, terá que ter em linha de conta o conhecimento que está
presente nas fontes de conhecimento que são criadas diariamente. Estas fontes de
conhecimento podem traduzir-se em novos conceitos e novas relações entre
conceitos, o que implica que mecanismos de extração de novos conceitos e relações
terão de ser implementados de forma a refletir estas novas atualizações nas
ontologias de domínio.
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
ARQUITETURA EM CAMADAS: REUTILIZAÇÃO E ADAPTAÇÃO DE
COMPONENTES DE SOFTWARE NO DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA
PARA GERENCIAR ATIVOS DE REDE
Luciano Parintins Viana¹, Rafael Brelaz², Antônio Fabrício
Guimarães de Sousa³, Amanda Monteiro Sizo Lino4
RESUMO
Este artigo descreve o processo de desenvolvimento de um sistema de controle de ativos de redes, o
SIAR, e como a reutilização de uma arquitetura de software consolidada interferiu na qualidade do
produto final. Como importante contribuição, o artigo apresenta uma análise a cerca das vantagens e
desvantagens alcançadas com a adaptação da Arquitetura da UFRN para a construção do sistema
citado.
ABSTRACT
This paper describes the process of developing a control system for active networks, the SIAR,
and as reuse of a software architecture consolidated interfered in final product quality. As major
contribution, the paper presents an analysis about the advantages and disadvantages achieved
with the adaptation of Architecture UFRN for the construction of system.
¹ Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; ² Centro de
Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; ³ Centro de Tecnologia da
Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; 4 Centro de Tecnologia da Informação e
Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil.
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Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
I. Introdução
A reutilização de componentes (JACOBSON et al., 1997) tem sido tema de
crescente pesquisa como uma alternativa para as organizações reduzirem tempo e
custos envolvidos no processo de desenvolvimento de software. Nesse contexto,
diversas abordagens que tratam do reuso têm sido definidas como: Arquitetura de
Software (SHAW AND DARLAN, 1996), Middleware (DASHOFY, 1998),
Padrões de Projeto (GAMMA et al., 2000) e Desenvolvimento Baseado em
Componentes (ALVES, 2001), etc. Dentre essas abordagens a reutilização da
Arquitetura de Software merece atenção, pois permite reuso em níveis que vão
desde o estilo arquitetural até o padrão de projeto adotado.
De acordo com Vasconcelos (2004), a capacidade de reutilização vem
representando um fator de qualidade cada vez mais requerido em artefatos de
software, a fim de atender a construção de sistemas grandes e complexos,
compatíveis com as atuais exigências do mercado consumidor. Nesse contexto,
várias arquiteturas de software como Tiboni (2009) e Pinhão (2012) consolidaramse no meio acadêmico e corporativo e estão sendo largamente reutilizadas como
forma de atingir uma qualidade satisfatória no produto final.
Com essa visão, a UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará) optou
por utilizar a arquitetura da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte),
com algumas adaptações, para desenvolver um sistema de maneira rápida e segura
além de propiciar o estudo da arquitetura para melhor entendimento dos sistemas da
UFRN adquiridos pela UFOPA. Dessa forma, pretende-se prover interoperabilidade
entre os sistemas desenvolvidos na universidade e os demais sistemas
implementados nas instituições cooperadas, atendendo assim os requisitos de
interoperabilidade sugerida pelo governo federal, em e-PING (CEGE, 2012).
Para validar as alterações feitas na arquitetura foi desenvolvido um sistema
de controle de ativos de redes, o SIAR (Sistema de Ativos de Rede). Esse sistema
tem como objetivo gerenciar as informações sobre todos os componentes da rede
(servidores, usuários) e sua localização dentro da instituição, no caso a UFOPA.
Como principal contribuição, esse artigo apresenta uma avaliação
qualitativa sobre a influência na reutilização de uma arquitetura de software na
qualidade do produto final. Na parte final do artigo, os dois últimos tópicos mais
precisamente, são apresentadas algumas considerações em relação as vantagens e
desvantagens encontradas na utilização da arquitetura da UFRN para a criação do
SIAR e o que essa parceria contribuiu em termos profissionais e práticos para os
desenvolvedores que participaram desse processo.
II. Trabalhos correlatos
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Segundo Simão (2002), a reutilização de módulos preexistentes pode
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
substituir ou pelo menos, diminuir a atividade de construção desses módulos,
reduzindo o tempo e o custo do desenvolvimento, e aumentando a produtividade e a
qualidade. Essa opinião é compartilhada por muitos autores da área de reutilização,
podendo ser encontrada em relatórios de empresas (BAUER, 1993; GRISS, 1994;
JOOS, 1994), “pesquisas informais” (FRAKES; ISODA, 1994) e estudos empíricos
(MORISIO et al., 2002; ROTHENBERGER et al., 2003). Todos esses trabalhos
mostraram que adotar um processo de reutilização pode ser uma maneira efetiva de
se alcançar benefícios na construção de software.
Algumas pesquisas apresentam arquiteturas de software que já são
amplamente reutilizadas, como a plataforma Demoiselle (TIBONE, 2009),
desenvolvido pelo SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados) que é
uma arquitetura totalmente livre que visa garantir a interoperabilidade e facilidade de
manutenção dos sistemas das diferentes instituições do governo federal. No site da
plataforma Pinhão (PINHÃO, 2012) é descrita a arquitetura de software
desenvolvida na CELEPAR (Companhia de Informática do Paraná) que é composta
por uma metodologia de desenvolvimento baseada nos padrões de mercado e por
várias aplicações que tratam determinadas classes de problemas. Em Xavier (2001)
padrões arquiteturais são selecionados para um domínio comparando-se os atributos
de qualidade desejados no domínio com a probabilidade em se obter estes atributos
por meio da utilização de um determinado padrão arquitetural. Apesar de vasta
pesquisa na área, poucas foram as arquiteturas apresentadas no âmbito de instituições
de ensino, sendo a da UFRN a mais consolidada.
III. Reutilização da arquitetura de software
A Arquitetura de Software reutilizada nessa pesquisa permite abstrair a
complexidade da implementação de sistemas Java Enteprise Edition (JEE), como
também definir padrões de codificação, visualização, navegação para sistemas WEB.
A arquitetura reutilizada neste trabalho utiliza a abordagem de separação em
camadas. O intuito é não misturar as responsabilidades dos componentes dos
sistemas, onde cada componente deve ter suas responsabilidades bem definidas. As
camadas são utilizadas para realizar esta organização, agrupando os componentes
com funcionalidades afins em camadas semelhantes, conforme ilustra a FIGURA 1.
FIGURA 1
Arquitetura em camadas
111
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
As camadas são organizadas em forma de pilhas e obedecem uma hierarquia.
Em geral, as camadas mais acima da hierarquia dependem das camadas mais abaixo.
Apenas as camadas adjacentes podem se comunicar entre si e uma camada inferior
não pode depender de uma camada superior. De acordo com o Wiki ( 2012), cada
camada representa:
1. Apresentação: utilizada para a exibição de informações em janelas ou páginas
HTML. É nela que há a manipulação de requisições do usuário e de requisições
HTTP. Considerando os componentes do desenvolvimento web, podemos listar
Managed Bean, Actions, JSPs, Servlets;
2. Aplicação: delega trabalho da camada de apresentação para a camada de
domínio. Adiciona serviços (transações, por exemplo) ao sistema. Componentes:
Façades, EJB Commands;
3. Domínio/Negócio: representa a lógica de negócio dos sistemas. Componentes:
classes de domínio e processadores (realizam a persistência);
4. Persistência: permite a comunicação com a base de dados, disponibiliza serviços de
mensagens, etc.
Assim, espera-se alcançar a padronização de alguns
processos
e
procedimentos a partir da reutilização de código, pois todas as funcionalidades comuns
encontravam-se na arquitetura, alem do aumento da produtividade dos desenvolvedores
devido à abstração de complexidades e das regras de desenvolvimento.
III.1. Adaptação da arquitetura
Durante a fase de análise da arquitetura da UFRN foi verificado que não haviam
mecanismos que facilitassem a criação de novos módulos usando os componentes
arquiteturais disponíveis. Sendo assim foram necessárias algumas alterações na
arquitetura da UFRN para aproveitar parte de sua estrutura.
Conforme visto na FIGURA 1, a arquitetura da UFRN é composta por 4 (quatro)
camadas separadas de acordo com as responsabilidades definidas para cada uma. Para o
desenvolvimento do SIAR foram feitas algumas alterações visando aproveitar os
componentes da arquitetura do SIG da UFRN e diminuir sua complexidade. A figura 2
apresenta uma visão das camadas da arquitetura da UFRN juntamente com as adaptações
efetuadas na mesma afim de atender o esquema proposto na elaboração do SIAR.
O fluxo proposto na arquitetura da UFRN inicia na camada de Apresentação
onde é utilizado o padrão de projeto MVC (Model, View e Controller) (GLEEN 1988).
O usuário interage com a View e então o Controller faz a comunicação com o Model
para verificar as regras de negócio da aplicação. Na camada de Aplicação o comando é
recebido e então faz-se o preparo do movimento para a camada de negócio. O papel de
Controller fica a cargo da classe AbstractController. Essa classe possui funções para
controle de navegação e também de comunicação com a camada de Aplicação. Essa
comunicação é feita utilizando o padrão EJB Command (ALUR, 2003) que se encarrega
112
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
de movimentar os comandos entre as camadas da arquitetura.
FIGURA 2
Arquitetura adaptada e a Arquitetura do SIGs da UFRN
No modelo proposto para o
SIAR o fluxo da camada de
Apresentação, que é controlado pelos
Managed Beans que extendem a classe
AbstractController, se diferencia da
arquitetura da UFRN, pois ele não
utiliza o padrão EJB Command para
pegar o comando e fazer o movimento
pelas camadas. Desta forma, o SIAR
não utilizou a camada de Aplicação e
foi direto para a camada de
Domínio/Negócio, onde utilizou
apenas os componentes de Domínio já
que a parte do Negócio da arquitetura
da UFRN é encarregada justamente de
receber os comandos da camada de
Aplicação. Da camada de Domínio os
dados vão para a camada de
Persistência onde foram realizadas
algumas customizações nas classes
responsáveis pelos DAOs.
DAO (Data Access Object) é um padrão de projeto criado para fazer o
intermédio entre uma aplicação e uma base de dados, que pode ser de diferentes
origens. Ele encapsula e abstrai todo o acesso ao banco (ORACLE, 2012). Novos
DAO's foram criadas por conta da grande complexidade e da dificuldade em adequar o
código da arquitetura da UFRN à arquitetura do SIAR. Foram criados a classe
SiarGenericDAO e SiarFilter. A função da SiarGenericDAO é permitir a manipulação
dos dados de forma simples, fazendo as operações de salvar, atualizar, deletar e buscar
por determinada informação no banco.
O SiarFilter implementa o padrão OpenSessionInView (HIBERNATE, 2012).
Tivemos que refazer esta classe por conta também da complexidade e da grande
mudança que teríamos que fazer adequando código. Ele cuida em abrir uma Session
do Hibernate (BAUER, 2005) que é a classe responsável pelas transações com o
banco. A cada requisição feita pela página do SIAR é aberta uma Session e ao final da
requisição essa Session é fechada, para que esta sempre esteja disponível para
consultas no banco.
113
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
IV. Sistema de Ativos de Rede (SIAR)
O SIAR foi criado devido a uma demanda da coordenação de serviços do
Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) da UFOPA para
gerenciar os ativos de rede da instituição. O contexto de desenvolvimento do
sistema, usando a arquitetura da UFRN, leva em conta a requisição dos clientes que
solicitaram o desenvolvimento do software juntamente com a necessidade da equipe
de desenvolvimento de sistemas da UFOPA em estudar e entender a arquitetura dos
SIGs adquiridos por meio do termo de cooperação com a UFRN, conforme
(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2010).
O objetivo do SIAR é controlar os ativos de rede da UFOPA armazenando
informações relativas aos servidores, serviços, senhas, bem como a localização
física, associações entre permissões/usuários/servidores, acessos ao sistema,
equipamentos, entre outras. Desta forma os funcionários dos setores de serviços e
rede podem gerenciar melhor seus equipamentos tendo facilmente acesso às
informações como localização, usuários responsáveis, informações adicionais
(como IP, máscara, identificação do tipo de servidor: virtual ou físico) dentre outras,
para administrar de maneira mais eficiente os ativos da Universidade. A FIGURA 3
apresenta a tela principal do SIAR, com os links para as várias funcionalidades do
sistema, onde o usuário tem acesso ao realizar o login.
FIGURA 3
Tela principal do SIAR
A FIGURA 4 é apresenta a página com a listagem dos usuários e algumas
informações como login, senha, tipo de permissão, bem como os acessos e
equipamentos associados a este. No lado direito podem ser vistos os ícones de
alteração, representado pelo item amarelo, e de deletar, caso seja preciso apagar o
registro inserido no SIAR juntamente com suas associações nas tabelas
correspondentes no banco de dados.
114
Revista Perspectiva Amazônica
FIGURA 4
Lista de usuários
Ano 3 N° 5 p.109-118
Vistas as permissões de acesso disponíveis para o usuário, é possível voltar à
tela anterior clicando no link Lista de Usuários próximo ao canto superior esquerdo
da página e então acessar a lista de equipamentos que o usuário em questão pode
gerenciar, administrar ou ter acesso, conforme pode ser visto na FIGURA 6. Neste
caso, o usuário seleciona os equipamentos e em seguida pode clicar no botão com as
setas para esquerda se quiser associar os equipamentos ao usuário, e caso queira
desfazer essa associação basta clicar no botão com setas para direita.
FIGURA 5
Lista de Acessos
V. Resultados
Com o desenvolvimento do SIAR por meio de uma arquitetura de software
consolidada foi possível obter alguns resultados como:
1. Reutilização de componentes: muitas funcionalidades e padrões de projeto
foram aproveitados, o que minimizou as chances de cometer erros em situações onde
já tinham sido encontradas soluções de projeto previamente analisadas;
2. Minimização do tempo gasto no desenvolvimento: devido ao fato de que
não foi necessário começar um sistema e sim partir de um ponto adiante, apenas
entendendo o que foi feito para desenvolver na plataforma já criada;
3. Aprendizado da estrutura arquitetural dos SIGs da UFRN: foi possível
115
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
entender melhor a arquitetura da UFRN e ter conhecimento prático de como
funcionam alguns de seus sub sistemas;
4. Um sistema de ativo de redes com uma base sólida e robusta que poderá ser
incorporado aos SIGs com alguns ajustes.
Em contra partida foram encontradas algumas dificuldades na utilização da
arquitetura, entre elas:
1. Falta de mecanismos apropriados para facilitar a incorporação de módulos aos
SIGs: foi necessário aprofundar as análises nas camadas inferiores para entender o
funcionamento da arquitetura como um todo e ir subindo para fazer alterações nas
camadas posteriores;
2. Análise de extensa documentação: esta dificuldade é decorrente da anterior
devido a ausência de meios para facilitar o uso da arquitetura.
As mudanças realizadas no fluxo entre as camadas foram realizadas para
tentar diminuir a complexidade no caminho dos dados, já que por se tratar de um
sistema relativamente pequeno em relação ao conjunto de funcionalidades
disponível nos SIGs não seria interessante adotar alguns padrões. O uso de padrões
de projeto em sistemas simples muitas vezes acaba por prejudicar o produto final
(GAMMA et al., 2000) ao invés de melhorá-lo, incrementando assim maior
complexidade e etapas desnecessárias.
VI. Considerações finais
A utilização de arquiteturas de software tende a ajudar bastante no
desenvolvimento evitando retrabalho e aproveitando soluções eficientes já
consolidadas e implantadas por meio de padrões de projeto para dar maior robustez
ao sistema. No entanto para que isso seja possível é necessário que a arquitetura
esteja preparada para atender as necessidades de seus usuários de um modo prático e
fácil com simples chamadas e incorporações de propriedades disponíveis, o que não
aconteceu nesta abordagem, visto que a arquitetura da UFRN não foi desenvolvida
com o objetivo de ser amplamente utilizada por outros sistemas e sim para servir de
plataforma para os SIGs que estão incorporados a ela.
O sistema desenvolvido com base na arquitetura da UFRN está em fase de
teste e finalização de algumas funcionalidades como geração de relatório e
gerenciamento de usuários. A experiência no desenvolvimento de software baseado
na arquitetura da UFRN foi interessante do ponto de vista profissional pois ajudou a
compreender melhor os sistemas que a UFOPA utiliza. Do ponto de vista prático, no
entanto, apresentou questões que dificultaram o uso da arquitetura devido ao fato
desta não ter sido criada propriamente para o fim que foi usada no SIAR, ou seja,
servir de base para qualquer sistema e não apenas sub sistemas da UFRN.
116
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.109-118
Agradecimentos
Agradecemos ao professor Mestre Enoque Calvino Melo Alves pela
proposta de utilizar a arquitetura da UFRN no desenvolvimento do SIAR para a
UFOPA, pois foi a partir desta que surgiu a ideia de elaborar o trabalho em questão. E
ao Mestre Davi Junio Silva de Oliveira por ter participado na elaboração dos
requisitos do sistema com a criação de diagramas de Banco de dados que ajudaram a
equipe de desenvolvimento do SIAR a entender melhor o problema a ser solucionado
com o software em questão.
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118
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.119-126
USO DA PLATAFORMA ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÕES
TECNOLÓGICAS PARA PESQUISAS DE DADOS ATMOSFÉRICOS NA
AMAZÔNIA
Adyson S. Moreira¹, Adelson M.Portela², Rodrigo Silva³
RESUMO
Neste trabalho apresenta-se os resultados obtidos utilizando-se da plataforma Arduino customizada
para medidas ambientais dentro de um projeto de pesquisa do Programa LBA em Santarém, PA. O
objetivo foi construir um sistema de armazenamento de dados e de leitura de sensores de
temperatura/umidade do ar, pressão atmosférica e concentração de CO2 para realizar sondagens
atmosféricas. Foram desenvolvidos dois protótipos em especial, uma microestação e um data-logger
usando o Arduino. Os resultados obtidos em teste de laboratório demonstram que o sistema
construído a partir da plataforma Arduino é robusto e confiável para realizar as medidas das variáveis
ambientais conjugadas remotamente por meio de uma interface ou coletando as informações.
ABSTRACT
This paper presents the results obtained using the Arduino platform customized for environmental
measures in a research project of the Program LBA Santarém, PA. the goal was to build a system of
data storage and reading sensor temperature/humidity, atmospheric pressure and CO2
concentration to perform atmospheric soundings. We developed two prototypes in particular, a
microstation and a data-logger using the Arduino. The results obtained in laboratory testing show
that the system built upon the Arduino platform is robust and reliable to perform measurements of
environmental variables combined remotely through an interface or collecting the information..
¹
Instituto de engenharia Geociência – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)– Santarém – PA – Brasil; ² Instituto de engenharia Geociência –
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)– Santarém – PA – Brasil; ³ Instituto de engenharia Geociência – Universidade Federal do Oeste do Pará
(UFOPA)– Santarém – PA – Brasil.
119
Revista Perspectiva Amazônica
Ano 3 N° 5 p.119-126
I. Introdução
O Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA)
é um Programa de cooperação cientifica internacional liderada pelo Brasil que tem
estudado as mudanças climáticas e ambientais na Amazônia. O resultado desses
estudos tem contribuído para o entendimento dos mecanismos que regem os processos
de interação entre a superfície e a atmosfera, nos diferentes ecossistemas que
compõem o bioma Amazônico (LBA, 2012).
Em particular, uma pesquisa está sendo realizada na região de Santarém, PA,
estudando o impacto dos diferentes usos da terra nos fluxos superficiais de massa e
energia. Os resultados desde estudo poderão ser aplicados na consolidação de políticas
relacionadas ao uso sustentável dos recursos naturais na Amazônia (LBA, 2012).
Em especial, nesta pesquisa é desenvolvido o componente de inovação
tecnológica, voltado a realizar medidas e monitoramento em ambientes inóspitos e
isolados na Amazônia. Embora, os estudos conduzidos dentro do LBA estejam
baseados em instrumentação de alta tecnologia, em muitas situações os
pesquisadores necessitam customizar tanto a instrumentação quanto os aplicativos
(softwares) utilizados nas investigações cientificas. Desta forma, os pesquisadores
estão buscando alternativas tecnológicas com a capacidade de minimizar custos e
maximizar informações medidas pelos sensores e equipamentos.
O presente trabalho foi desenvolvido dentro desta pesquisa do Programa
LBA em Santarém, PA. Foi testada a plataforma Arduino como alternativa para o
desenvolvimento de uma solução capaz de atender a uma necessidade específica
gerada pela pesquisa. A plataforma Arduino foi customizada com um sistema de
gravação de dados em cartão SD e relógio e com sensores de medidas de temperatura
e umidade do ar, pressão atmosférica e concentração de CO2. Por ser uma
Plataforma open source, de fácil aprendizado e baixo custo operacional o Arduino
demonstra grande potencial para gerar soluções adequadas em pesquisas
ambientais. Neste contexto este trabalho apresenta alguns resultados obtidos
utilizando-se o Arduino como ferramenta de inovações tecnológicas.
II. Microcontroladores
O surgimento dos microcontroladores ocorreu por volta da década de 70, a
Intel baseada na arquitetura, utilizada até então em seus computadores, de um
microprocessador e seus periféricos, resolveu desenvolver um componente que
integrava em uma única unidade toda essa arquitetura (MARTINS, 2005).
Atualmente, os microcontroladores estão presentes na maioria dos
equipamentos eletrônicos, desde simples rádios a complexos sistemas de
automação residencial. A aplicação deste componente nos aparelhos eletrônicos
contribui na diminuição do seu valor de custo, pois o valor do chip é bem menor em
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relação às alternativas encontradas no mercado, além ser capaz de substituir um
grande número de outros componentes, contribuindo para compactação dos
equipamentos que utilizam esta tecnologia (ROBOTICA LIVRE, 2012)
Tooly (2007) considera um microcontrolador um computador de um único
chip construído para realizar tarefas de controle, como gerenciar um motor ou enviar
um dado para uma porta serial. Já Martins (2005) define os microcontroladores como
pastinhas inteligentes, dotadas de um processador, pinos de entrada/saída e uma
memoria. Podemos considerar então que os microcontoladores integram, em único
chip, elementos computacionais – como CPU, memórias ROM e RAM, contadores,
etc. - e que podem ser programados para realização de tarefas específicas.
Todos esses elementos tornam os microcontroladores hardwares
extremamente complexos, essa é a principal característica que diferencia os
microcontroladores dos microprocessadores (MARTINS, 2005).
Em comparação aos microprocessadores os microcontroladores são
considerados menos poderosos, pois seu conjunto de instruções é limitado e mais
simples, sua frequência de clock e espaço na memoria endereçada são relativamente
menores. A programação usada nos microcontroladores é mais fácil, porque o acesso
aos periféricos externos ao chip é feito por uma forma padronizada e integrada na
linguagem de programação (DERNADIN, 2008).
Os modelos mais populares no mercado são os da família 8051(fabricado
pela intel), PIC (fabricado pela Microchip), AVR (da Atmel), BASIC Stamp
(fabricado pela Parallax) e o BASIC Step (fabricado por Tato equipamentos)
(DERNADIN, 2008).
Os microcontroladores favorecem no desenvolvimento de novos projetos de
hadware e software, pois seu uso possibilita aos desenvolvedores usarem sua
criatividade e imaginação (MARTINS, 2005).
A utilização desses equipamentos facilita na concepção de novos softwares e
hardware mesmo para iniciantes, pois no passado a utilização de elementos da
eletrônica era sinônimo de elaboração de circuitos complexos e a maioria das
ferramentas eram destinadas para desenvolvedores mais experientes. Com passar do
tempo houve o barateamento dos microcontroladores, além da facilidade no seu uso,
no qual proporcionou o surgimento de ferramentas melhores e mais simples.
III. Arduino
O Arduino é uma plataforma de prototipagem de hardware eletrônica, que foi
criada em 2005 na cidade de Ivrea, na Itália, com intuito de ensinar Design de Interação,
uma disciplina que adota como principal metodologia a prototipação. Desde sua
criação o Arduino já vendeu mais de 150.000 placas oficiais e estima-se que o número
de placa-clones (não oficiais) vendidas, seja por volta de 500 mil em todo mundo
(MCROBERTS, 2011). Isso comprova a popularidade do projeto, que tem ganhado
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cada vez mais espaço desde desenvolvedores iniciantes a profissionais experientes.
A placa Arduino utilizada nesse projeto é a UNO, sendo a mais recente
versão, utilizando um chip Atmega8U2, diferente do chip FTDI utilizado na sua
predecessora, a Duemilanove. O chip Atmega possui menores custos que o FTDI,
reduzindo os custos da placa, o mesmo também permite a atualização do firmware
do chip USB, possibilitando o reconhecimento do Arduino no computador como
ocorre com outros dispositivos, tal como mouse, joystick e etc.
De acordo com a pagina oficial do Arduino, a versão UNO possui 14 pinos
digitais de entrada/saída - dos quais 6 podem ser destinados como saídas PWM
(Modulação por Largura de Pulso) -, 6 são entradas analógicas, uma cristal oscilador
de 16 MHz, uma conexão USB, uma tomada de força, um cabeçalho ICSP(InCircuit System Programming) e um botão de reset (ARDUINO, 2005).
FIGURA 1
Arduino UNO
Fonte: http://arduino.cc/en/Main/arduinoBoardUno
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Hoje no mercado existem inúmeras plataformas de desenvolvimento
microcontroladas, como por exemplo, PicStamp, Netmedias, Phidgts e MIT's
Handyboard, PorStik AVR. A escolha pelo uso da plataforma arduino está baseada
em diversos fatores, dos quais podemos destacar:
1. Facilidade na utilização: Pessoas de várias esferas podem aprender facilmente
conceitos básicos e criar seus próprios protótipos em um intervalo de tempo curto.
Além de haver uma grande comunidade em atividade que pode ajudar
compartilhando códigos, diagramas de circuitos e no auxilio a outros
desenvolvedores (MCROBERTS, 2011);
2. Custo benefício: o preço do hardware é relativamente mais barato em relação a
outras plataformas, além das versões oficiais do Arduino, como o Arduino Uno aqui
utilizado, existem diversas outras versões com preços menores. Outro ponto
importante está na substituição do microcontrolador queimado, a baixos custos,
possíveis erros acarretarão pequenos prejuízos (MASSIMO, 2011);
3. Multiplataforma: é um ambiente que pode ser executado nos sistemas
operacionais Microsoft Windows, Apple Macintosh e GNU/Linux. Grande parte das
outras plataformas de desenvolvimento estão limitadas ao Windows;
4. IDE de programação: seu principal ambiente de programação é baseado na IDE
de programação Processing, é considerado um ambiente de desenvolvimento fácil
de ser utilizado [MASSIMO, 2011). A linguagem utilizada para o desenvolvimento
é baseada em uma linguagem padrão, C/C++;
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5. Não utilização das portas seriais: O Arduíno é programado por meio do cabo
USB, não havendo a necessidade de uma porta serial. Este recurso é importante,
visto que a maioria dos computadores atuais não possuem portas seriais;
6. Hardware e Software são de fonte abertos: o diagrama do circuito está disponível
para download, se quiser o desenvolvedor pode comprar todos os componentes e
criar ou até mesmo aperfeiçoar seu próprio Arduíno totalmente compatível com os
shields e softwares desenvolvidos para a plataforma oficial (MASSIMO, 2011);
7. Bibliotecas de desenvolvimento: estão disponíveis para download bibliotecas
que permitem a interface com outros disponíveis, facilitando o desenvolvimento de
aplicações, tanto simples como complexas (ANDERSON, 2011);
8. Bootloader: por meio desta interface não há necessidade de uma programação à
nível de hardware;
9. Shields: Existem vários tipos de Shields, com diversas funcionalidades. Sua
utilização permite que o desenvolvedor estenda as funcionalidades do Arduino sem
se preocupar com a elaboração de circuitos eletrônicos.
IV. Desenvolvimento
A plataforma Arduino tem sido empregada no desenvolvimento de vários
protótipos, dentre eles podemos citar as microestações de pesquisas e os data-loggers
como protótipos que podem já ser utilizados dentro do projeto LBA.
O primeiro sistema consiste em uma microestação, que realiza a leitura de
sensores, estas microestações são empregadas em campanhas de pesquisa e
monitoramento em áreas de interesses dos pesquisadores, geralmente em áreas de floresta.
As microestações são constituídas de um Arduino ligado a um computador por
meio da porta USB e de sensores conectados às portas analógicas do mesmo, que coletam
informações de temperatura, umidade do ar e pressão. O código embarcado no Arduino
FIGURA 2
Tela de gráficos gerada pelo software
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realiza a leitura dos sensores e envia estas informações já processadas para o computador.
Para a visualização destes dados está sendo feita uma adaptação de um
software desenvolvido no próprio projeto. O software realiza a leitura de dados da
porta serial conectada ao equipamento responsável por captar as informações dos
sensores. Os dados são processados para geração de gráficos em tempo real. Na
FIGURA 2 é apresentado uma das telas gráfica do sistema.
O segundo sistema é um data-logger, em algumas pesquisas os dados são
coletados por meio de torres de fluxo dos sítios experimentais do projeto LBA, estas
torres são equipadas por data-loggers que armazenam os dados oriundos dos
sensores.
O sistema desenvolvido é dotado de um Arduino acoplado a um shield de
data-logger com um RTC ( Real Time Clock – Relógio de tempo Real). Toda a
comunicação com os sensores é feita pelo Shield. Os dados são coletados pelos
sensores e o Arduino responsável pela leitura dos sensores e pelo processamento das
informações. Todos os dados são armazenados em um arquivo tipo texto em um
cartão SD contido no Shield. Além dos dados dos sensores são armazenadas a hora e
data do armazenamento dos dados no arquivo.
Um item importante da estrutura do sistema é a alimentação, pelo fato de
alguns sítios estarem localizados em áreas remotas sem possiblidade de energia
elétrica, essa alimentação é realizada por meio de uma bateria de 12 volts ligada a um
regulador de 5 volts, esta voltagem é ideal para o uso do Arduino.
FIGURA 3
Shield de Data-logger acoplado ao Arduino
Fonte: www.ladyada.net/make/logshield/
V. Resultados
Os dois protótipos apresentados neste artigo estão em fase de teste dentro de um
projeto de pesquisa afiliado ao Programa LBA e já demostram ser alternativas eficientes
para soluções que requerem baixo consumo de energia e baixo custo operacional,
podendo chegar até a substituição de alguns equipamentos utilizados atualmente nas
pesquisas. Os principais pontos positivos obtidos pelo uso do Arduino são:
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1. Facilidade na locomoção da equipe e na instalação dos equipamentos: em
algumas campanhas de pesquisa a equipe precisa coletar dados em área de floresta,
instalar os equipamentos em torres ou utilizá-los em embarcações ou bóias fixas em
rios e lagos na Amazônia. Os equipamentos empregados hoje são de grandes
dimensões e peso e alto consumo de energia, isto acaba dificultando a
operacionalização nestes locais e o processo de captura de dados. O arduino é capaz
de substituir estes equipamentos, por ser pequeno, leve e de baixo consumo de
energia, facilitando no processo de coleta de dados e a operacionalização do sistema
de medidas;
2. Exibição dos dados em tempo real: partes dos equipamentos utilizados não são
capazes de apresentar informações em tempo real, onde os dados apresentados não
são processados, esses dados acabam sendo convertidos pelos próprios
pesquisadores. Através do uso de uma simples codificação e do Arduino torna-se
possível visualizar os dados no monitor serial da própria IDE do Arduino, já feita a
conversão para grandeza desejada. A plataforma também possibilita a fácil
implementação de Interfaces em vários tipos de linguagem, como Java, Android,
processing, Rubi, etc.;
3. Fácil adaptação: Alguns equipamentos usados nas pesquisas são de arquitetura
fechada, isso acaba não permitindo adaptação ou mesmo desenvolvimento de novas
funcionalidades (customização) que possam atender as necessidades especificas dos
pesquisadores. Por ser uma plataforma aberta o Arduino pode ser modificado ou
adaptado para uma função especifica;
4. Custo-benefício e Manutenção: Boa parte dos equipamentos é de alto custo. O
Arduino como já foi citado no artigo apresenta preço baixo de aquisição. Em relação
à manutenção em certos casos os equipamentos não são produzidos no Brasil ou
mesmo não existe peça para sua manutenção, já no Arduino todos seus componentes
são encontrados no mercado nacional.
Pretende-se aperfeiçoar ainda mais os protótipos destacados neste artigo, para
isso está sendo desenvolvida uma interface para dispositivos móveis na plataforma
Android que será usado nas microestações e para a comunicação do Arduino com uma
estação pretende-se usa uma conexão sem fio, no momento realiza-se estudos de qual
dispositivo usar para esta função, entre as possíveis estão os shield com modulo Xbee,
wifi ou bluetooth.
Também se pretende achar formas de adaptar a plataforma Arduino com
dispositivos já usados hoje na coleta de dados pelo LBA, mas que não são capazes de
transmitir estes dados por meio de uma conexão sem fio para uma estação.
VI. Conclusão
O Arduino demostrou ser uma alternativa viável para o desenvolvimento de
tecnologias especificas aplicadas em estudos ambientais, pois atende as principais
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necessidades do projeto como, preço, facilidade no desenvolvimento, fácil
integração com outros circuitos e sensores, vasta quantidade de Shields, e a
possibilidade de desenvolvimento de uma interface amigável tanto para PC como
para dispositivos moveis, através da integração JAVA.
Ao ultilizar o Arduino ficou claro a facilidade no desenvolvimento de
soluções, principalmente em relação a construção dos circuitos e na codificação de
software responsável por coletar e processar os dados. No desenvolvimento percebese também o potencial da plataforma Arduino para solucionar os mais diferentes
tipos problemas não somente do LBA, como nas áreas agrícolas e nas indústrias.
Referências
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TOOLY, M.
2007 Circuitos Eletrônicos. 3° ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
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Ano 3 N° 5
GERAIS
Artigo científico “é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias,
métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT. NBR 6022,
2003, p. 2). Os artigos originais apresentam temas ou abordagens inéditas, ao passo que os artigos de
revisão analisam e discutem trabalhos já publicados sobre um determinado tema.
Resenhas são revisões críticas de livros e de publicações científicas ou de interesse científico,
nacionais ou estrangeiros. Uma resenha deve resumir, analisar, comparar e opinar sobre a obra em
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analisar a situação em exame e propor questões para reflexão, contextualizando o caso dentro da área
do conhecimento e suas implicações nesta área.
Ensaios são opiniões aprofundadas obtidas através da análise de um assunto. São exposições
objetivas, lógicas, críticas e originais sobre determinado tema, pelo qual o autor pode transmitir
informações e ideias.
2. Os trabalhos serão submetidos ao Conselho Editorial da revista que os encaminhará a dois
Avaliadores conforme área de conhecimento e disponibilidade, para que emitam o parecer favorável
ou desfavorável à publicação do artigo. O(s) avaliador(es), ao apreciar(em) o trabalho, não terá(ão)
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preferencialmente que possuam alguma relação com a realidade Amazônica.
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artigos originais.
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
4. As referências devem ser apresentadas conforme norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), em ordem alfabética, com entrada pelo último sobrenome do (s) autor (es). Quando
houver mais de um trabalho do mesmo autor citado, deve-se seguir a ordem cronológica das
publicações.
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5. As figuras e tabelas devem ser sempre em preto e branco, apresentadas em folha separada do texto e
com numeração específica para cada categoria, acompanhadas das legendas, créditos e fonte. As
tabelas e figuras devem ser executadas no mesmo programa usado na elaboração do texto.
6.
As características técnicas dos trabalhos devem ser as seguintes:
a.
Editor de texto: Word 97 ou superior
b.
Fonte: Times New Roman, 12
c.
Espaçamento: 1,5 linhas
d.
Papel: A4
e.
Alinhamento: Justificado
f.
Margens: Superior: 3cm, Inferior: 3cm, Esquerda: 2cm, Direita: 2cm
g.
Extensão: De 08 a 20 páginas, incluindo a primeira página (título, autor,
abstract, conforme item 1.)
7. Os trabalhos deverão ser entregues com cópia digital (em cd ou e-mail) e duas cópias impressas,
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