OGLOBO

Transcrição

OGLOBO
Irineu Marinho (1876-1925)
Gucci
DA VINCI DÁ
A VOLTA
POR
CIMA
LEO MARTINS
Sob o comando
do empresário
Daniel Louzada,
a tradicional
livraria carioca
reabre suas
portas totalmente
renovada.
DIVULGAÇÃO/SERGIO COIMBRA
A NOVA
MODA
ITALIANA
Documentários
sobre escritores
e movimentos
literários se
destacam na
programação do
Festival É Tudo
Verdade, que
começa na sexta.
ELA GOURMET
FELIPE BRONZE
BRINCANDO
COM FOGO
O chef, que
vai abrir o
Oro no Leblon,
quer dar um
tempo na
pirotecnia
e aposta na
comida feita
na brasa.
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
Olimpíadas
abrem
11 mil vagas
Moro liga Lava-Jato a
mensalão e Celso Daniel
_
A empresa de recrutamento
contratada pelo Comitê Rio
2016 tem 11 mil vagas abertas.
São contratos temporários,
com carteira assinada,
que não exigem experiência.
Os salários vão de R$ 1 mil
a R$ 6 mil, para trabalhar no
Comitê Organizador e nos
fornecedores do evento. PÁGINA 27
Silvinho, ex-secretário do PT, recebeu R$ 1 milhão de empreiteiras
Ex-tesoureiro do PT condenado no mensalão, Delúbio Soares foi levado para depor; PT acusa o juiz de
extrapolar suas funções, mas petistas admitem temer o que o ex-secretário do partido possa falar
Alívio do exterior
Balança registra
saldo recorde
A operação Carbono 14, 27ª fase da Lava-Jato, ligou o escândalo de corrupção na Petrobras
ao mensalão do PT e também
ao assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Condenado no mensalão, o ex-secretário do PT Sílvio Pereira foi
preso. Segundo a PF, ele recebeu, de 2009 a 2012, R$ 1,1 milhão de empreiteiras. Também
foi preso o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan Maria Pinto, que recebeu, em 2004,
R$ 6 milhões do PT, dinheiro de
empréstimo obtido pelo partido junto ao Banco Schahin em
troca de contrato com a Petrobras. O juiz Sérgio Moro disse
considerar “possível” que “esse
esquema” tenha relação com o
assassinato de Celso Daniel. O
PT acusou Moro de extrapolar
sua competência. Nos bastidores, o partido teme o que Silvinho possa falar. PÁGINAS 3 a 5
A balança comercial teve
saldo de US$ 4,43 bilhões, no
melhor março em 28 anos.
Com o dólar alto e a recessão,
as importações caíram 30%.
As exportações cresceram,
mas foram afetadas pelos
preços baixos. PÁGINA 22
Epidemia
Mundo tem 641
milhões de obesos
Análise de estudos de 200
nações entre 1975 e 2014
mostra que o mundo tem
mais gente obesa que abaixo
do peso, mas desnutrição
ainda preocupa. PÁGINA 30
Execução a sangue-frio
Morte de palestino
divide Israel
MERVAL PEREIRA
As profundezas da
lama petista. PÁGINA 4
Entreouvido na grande tela (2)
Tema único. A presidente volta a discursar no Planalto contra o processo
Ela só fala no impeachment
Há 15 dias, a presidente faz do
Palácio do Planalto o bunker
de sua luta contra o impeachment. Ela convocou aliados e
fez cinco atos no período, com
MÍRIAM LEITÃO
A conexão de três
escândalos. PÁGINA 22
ataques ao Judiciário e ao Legislativo, comparações com o
golpe de 1964 e convocações à
resistência contra a aprovação
do impedimento. PÁGINA 6
JORGE BASTOS MORENO
O Brasil sobreviverá
a isso? PÁGINA 3
ANCELMO GOIS
Aliado de Cunha fica
com Dilma. PÁGINA 14
CHICO
— Quem sai na chuva é pra se molhar,
mas com Teori, safaste-te!
PP desviou R$ 357 milhões, diz MP
O PP, cortejado pelo
Planalto, é acusado
pela Lava-Jato de
desviar pelo menos
R$ 357 milhões da
Petrobras. PÁGINA 8
LUIZ ANTÔNIO NOVAES
O Juízo Final dos
petistas. PÁGINA 2
668 1.091
Atos de
corrupção
atribuídos
ao PP
Casos de
lavagem
de dinheiro
pelo partido
ANA MARIA MACHADO
Governo age para
inglês ver. PÁGINA 18
GABRIEL DE PAIVA
Taxistas
protestam,
mas Rio é
que sofre
ADRIANA CARRANCA
Violência mata mais do
que uso de drogas. PÁGINA 29
Campeonato Carioca
O maior desafio
de Fla x Botafogo
O charme do clássico estadual,
hoje, em Juiz de Fora, enfrenta
a difícil concorrência de
Barcelona x Real Madrid, que
terá transmissão de TV no
mesmo horário. PÁGINAS 33 e 34
CARLOS EDUARDO MANSUR
Seleção precisa de jogo coletivo.
Não de heróis e vilões. PÁGINA 32
oglobo.com.br
LETRAS
E VERSOS
EM TELA
GRANDE
A top Toni Garrn mostra
a atual coleção da grife
que, renovada, é a mais
desejada do momento.
SEGUNDO CADERNO
RIO DE JANEIRO
SEGUNDO
CADERNO
RICARDO ABRAHAO
+ PROSA
A execução de um agressor
palestino inconsciente na
Cisjordânia por um soldado
israelense, captada em vídeo,
acirrou os ânimos no país entre
apoiadores e críticos. PÁGINA 28
(1904-2003) Roberto Marinho
GIVALDO BARBOSA
SÁBADO, 2 DE ABRIL DE 2016 ANO XCI - Nº 30.189
OGLOBO
Sufoco. Sem ter como chegar de carro ao Aeroporto Santos Dumont, passageiros seguem a pé pelo Aterro, com as malas, para não perder voos
2ª Edição - Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro R$ 4,00 - Circulam com esta edição: Segundo Caderno e Ela
Um protesto de taxistas contra o Uber, que bloqueou vias
importantes, parou o Rio. Como a prefeitura e PMs demoraram a agir, várias pessoas tiveram dificuldades de manhã
para chegar ao trabalho, a aeroportos e a hospitais. Áudios
divulgados um dia antes revelaram que o objetivo dos
manifestantes era provocar
caos. O prefeito Eduardo Paes
ameaçou cassar autonomias,
mas desistiu. PÁGINAS 11 e 12
2
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
Página 2
IMPEACHMENT
A Lava-Jato detectou
outro acordão no
Congresso: dar a
ex-presidentes foro
privilegiado — e assim
proteger Dilma, e até
Temer, da “República de
Curitiba”. Dias antes de
sair, FH sancionou lei
parecida, com apoio do
PT. Durou três anos, até o
STF dizer que era
inconstitucional.
Yellow submarine
O petrolão não fechou a
torneira para a Odebrecht.
Ela recebeu R$ 3,5 bi da
Defesa para erguer uma
base e um estaleiro em
Itaguaí (RJ), onde serão
construídos submarinos
(um nuclear). R$ 2,5 bi
saíram após a Lava-Jato.
O pai do PAC
Lula continua no banco de
reservas, mas o dinheiro
para ele atuar no
Congresso já está
disponível. Defensor das
pedaladas, Nelson Barbosa
liberou R$ 2,1 bi para o
PAC, agora na Casa Civil.
Moeda de troca
No toma-lá-dá-cá mais
irônico da semana, o
comando da Casa da
Moeda foi dado para a ala
paulista do PTB envolvida no desvio da
merenda escolar.
Amado mestre
Celso Bandeira de Mello, o
jurista número um contra o
impeachment, orientou a
tese de doutorado de
Temer, na PUC-SP, em 74.
Mas sua filha gosta
Luciana Temer, filha do
vice, deixou o PMDB no
momento em que o
partido abandonou
Dilma. Traiu o pai para
continuar secretária de
Ação Social de Haddad.
SEM CRISE
[email protected]
Futuro do pretérito
Dupla jornada
LUIZ ANTÔNIO NOVAES
CONEXÃO SÃO PAULO
COM MARA BERGAMASCHI
O JUÍZO
FINAL
ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO
Na dura campanha da reeleição em
2006, Lula, arranhado pelo mensalão, perseguiu seu segundo mandato
com tal pragmatismo que subiu ao
palanque em Belém beijando a mão
de Jader Barbalho (PMDB), político
que arrastava consigo, desde os anos
80, processos e denúncias de corrupção. Dez anos e muitos governos do
PT depois, Lula, agora com a reputação bem mais abalada pela Lava-Jato,
procurou a ajuda do senador, já denunciado ao STF pela mesma operação, novamente em busca da quase
perdida hegemonia política.
Após o abandono de Dilma pelo
PMDB, Lula foi, na quarta-feira, até
Jader. Na verdade, bateu à sua porta.
Na casa do senador em Brasília começaram as negociações pesadas
para tentar barrar, voto a voto, o impeachment. Eduardo Cunha, que
atrasa o quanto pode a sua própria
cassação, conseguiu acelerar ao máximo a da presidente.
A ideia do governo é erguer, a partir
de dissidências e legendas nanicas,
um “Centrinho” — dada a pequenez
nha divisória válida para o governo
— que separa assim o bem do mal. O
milenarismo petista — que depende
da crença de artistas, intelectuais e
movimentos sociais — declara guerra santa contra Michel Temer e Cunha, rompidos com Dilma, mas não
contra Jader e Renan Calheiros —
apesar de serem do mesmo PMDB e
estarem todos citados ou envolvidos
na Lava-Jato. E aposta mais uma vez
no medo, agora por meio do slogan
“Não vai ter golpe!”. Uma retórica
marqueteira feita sob medida para
mobilizar e manipular a esquerda,
principalmente a juventude, com o
fantasma da ditadura militar.
Assombração por assombração, a
Lava-Jato, que parecia estar no limbo após o ministro Teori parar o juiz
Sérgio Moro, reapareceu ontem com
a Operação Carbono 13, ops, 14, trazendo tudo junto e misturado: o
ABC de Lula, o financiamento primitivo do PT, o mensalão e Marcos
Valério, Silvinho Land Rover, Delúbio Soares, o compadre Bumlai, o
petrolão, o empresário acusado de
chantagear Lula e, no centro da sala,
o cadáver insepulto de Celso Daniel,
prefeito petista de Santo André assassinado em janeiro de 2002, quando coordenava a campanha de Lula.
Haja Juízo Final.
Positivo e operante. A hora do adeus a Dilma
dos envolvidos. Se der certo, o “varejão” que lembra a era Sarney servirá
para o PT manter o poder, mas dificilmente a governabilidade.
O balcão de negócios movido a cargos — no mensalão e no petrolão foi
também a cash —, está a pleno vapor
e não conhece limites. Não só Jader,
cujo primogênito é ministro de Dilma, poderá ampliar seu feudo na Esplanada, mas também o PP de Maluf, a quem foi oferecida a Saúde ou a
Educação, o PR, com Minas e Energia, além dos inexpressivos PTN e
PHS — o baixo clero do baixo clero
que jamais imaginou chegar lá.
Estar do “outro lado” é a única liREPRODUÇÃO/BLOG DO PLANALTO
Caros colegas
Wadih Damous, suplente que virou deputado graças
a Lula, insiste em colocar a prêmio a sua carteirinha
da OAB, cuja seccional do Rio já presidiu. Esta
semana, à frente do inédito piquete no Salão Verde
que tentou impedir a entidade de protocolar novo
pedido de impeachment, insinuou que o Conselho
da Ordem é mais do que “golpista”. “Antes de falar de
corrupção e transparência, que tornem públicos
suas contas e os gastos de milhões de reais nas
eleições das seccionais,” acusou, na Mídia Ninja. Há
dez dias, havia xingado os conselheiros de
“caciquinhos paroquiais” e depois pediu desculpas.
Maricá. Minha Casa Minha Vida
Maricá no impeachment
Fabiano Horta (PT-RJ), o titular do
mandato de Damous, tem sua base
eleitoral em Maricá e ganhou, para sair
de Brasília, ao menos duas coisas: uma
secretaria na prefeitura de Eduardo
Paes (aquele que “adora” Maricá) e o
direito de manter R$ 10 milhões em
emendas — ele reassumiu por alguns
dias, em outubro, só para apresentá-las.
Horta gostaria de ser prefeito de Maricá
— posto cogitado também para Lurian,
a filha de Lula, que mora... lá mesmo.
Guilherme Boulos, o chefe
do MTST que roda o país
prometendo o inferno em
caso de impeachment, é
também bolsista do MEC.
Recebeu auxílio financeiro,
segundo o Siafi, de R$ 24
mil nos últimos 16 meses. E
mais R$ 3,8 mil em diárias
e passagens da Presidência
da República e da Cultura.
Na moita
A Presidência da República
e os ministérios de Saúde,
Cultura, Transportes,
Combate à Fome e
Agricultura retiveram cerca
de R$ 18 mil em impostos
sobre notas fiscais emitidas
pela Gamecorp. A empresa
de Lulinha e Fernando
Kalil recebeu do governo
Dilma ao menos R$ 187
mil. Não se sabe
exatamente quais serviços
prestou, pois os
pagamentos são indiretos
— relacionados a agências
de publicidade.
Nada original
Sondado para a Fazenda
no pós-Dilma, Henrique
Meirelles vive situação
semelhante à de 2002,
quando deixou o Banco
de Boston e virou
presidente do BC de Lula.
Agora, comanda o Banco
Original, ligado aos donos
do frigorífico JBS.
Contra o tempo
Dilma tem de ficar de olho
na PGR. Já envolvida na
delação de Delcídio e no
inquérito do casal Santana,
também é acusada por
Janot na nomeação de Lula.
ELEIÇÕES 2016
Brasil não é Itália
O ex-tucano Andrea
Matarazzo, agora no PSD
de Kassab, ainda é tão
desconhecido em SP que,
em pesquisas, a maioria
acha que seu italianíssimo
nome é de mulher.
oglobo.com.br
As mais vistas no site
O GLOBO
Por dentro
_
_
Brasil
Comissão do impeachment
ouvirá juristas e ministro
da Fazenda
Lauro Jardim
Dilma: “Dentro de 90 dias
talvez eu não esteja
mais aqui”
Rio
Morte de Ryan pode ter sido
vingança na guerra do
tráfico de drogas
Vídeo
Imagens mostram momento
em que carro capota dentro
de túnel no Rio
FE RNANDO LEMOS
ARQUIVO PESSOAL
Patrícia Kogut
Declaração de Munik gera
barulho, e internautas acusam participante de racismo
Estreia. Padilha em Los Angeles: cineasta é o novo colunista do GLOBO
Padilha aos domingos
D
iretor dos filmes “Tropa de elite”, “Ônibus
174” e “RoboCop” e da
recente série “Narcos” — um
relato histórico do tráfico de
drogas e do traficante Pablo
Escobar —, o cineasta JOSÉ PADILHA emprestará seu conhecido talento para as telas a um
novo projeto. Amanhã, Padilha
estreia coluna no GLOBO, na
editoria País.
Diretamente de Los Angeles,
nos Estados Unidos, cidade
que escolheu para morar após
episódios de violência vividos
no Rio, o cineasta usará as palavras para abordar o cotidiano, tendo como inspiração a
realidade, que marca a maior
parte de seus trabalhos. Da política à cultura, do Rio ao modo
de fazer cinema nos Estados
Unidos, Padilha promete um
passeio por vários temas.
— Apesar de estar difícil escrever sobre qualquer coisa
que não seja a crise ética e econômica que assola o país, prometo que, passando esta tempestade, e se Deus quiser vai
passar, abordarei outros assuntos como o cinema, a TV
americana, o futuro da indústria audiovisual e, é claro, o Rio
de Janeiro — adianta o diretor.
Padilha escreverá uma vez
por mês, sempre aos domingos.
Loterias
DUPLA SENA
O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque,
com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados
sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
1º
l
Clandestino. Funcionário usando uniforme da prefeitura trabalha em um lixão em plena Área de Proteção Ambiental, na Praia Grande, em Arraial do Cabo
As mais compartilhadas
_
1
Dilma: “Dentro de 90
dias talvez eu não
esteja mais aqui”
2
Chamar impeachment de
golpe é reconhecer a culpa,
diz ex-ministro do Supremo
LOTOFÁCIL
1.477
12 l
19 l
23 l
28 l
40 l
46
l
2º
01 l
22 l
24 l
27 l
36 l
43
l
3
Irmão de homem-bomba
de Bruxelas vem ao Rio
para Jogos Olímpicos
4
Marco Aurélio:
“Impeachment não vai
resolver a crise”
1.343
02 l
04 l
05 l
09 l
10 l
11 l
13 l
14 l
15 l
16 l
17 l
19 l
21 l
23 l
24
l
5
‘Impeachment é o remédio
jurídico da nossa democracia’, diz presidente da OAB
QUINA
4.048
15 l
22 l
32 l
49 l
58
l
Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição
O GLOBO
País
l 3
LAVA-JATO
Escândalos interligados
_
Operação Carbono 14 liga corrupção na Petrobras a mensalão e ainda envolve caso Celso Daniel
CLEIDE CARVALHO, THIAGO
HERDY E TIAGO DANTAS
[email protected]
A 27ª fase da Operação LavaJato deflagrada ontem ressuscitou velhos fantasmas do PT, associando os
métodos de corrupção do mensalão ao
esquema de desvios na Petrobras. Batizada de “Carbono 14” — em referência
ao elemento químico usado pela ciência para datar fósseis —, a investigação
busca esclarecer por que o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan
Maria Pinto recebeu, em 2004, R$ 6 milhões do PT, dinheiro oriundo de propina obtida pelo partido junto ao Grupo
Schahin. O dinheiro foi recebido por
meio de um empréstimo fraudulento
com o Banco Schahin — mesmo método usado no escândalo do mensalão
com o BMG e o Banco Rural.
Ontem foram presos Ronan Maria
Pinto e o ex-secretário nacional do PT
Sílvio Pereira, que teria participado da
negociação do pagamento para o empresário do ABC paulista.
Em despacho, o juiz Sérgio Moro, da
13ª Vara Federal em Curitiba, admitiu
ainda relação do esquema com a morte
do ex-prefeito petista de Santo André
Celso Daniel: “É possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de
2002, do então prefeito de Santo André,
Celso Daniel, o que é ainda mais grave”.
Embora a Lava-Jato não tenha trazido
fatos novos relacionados à investigação
da morte de Celso Daniel — que a Polícia Civil de São Paulo concluiu se tratar
de crime comum —, no processo foram
anexados depoimentos do operador do
mensalão Marcos Valério e de um irmão do ex-prefeito petista, Bruno Daniel, que associam a morte do prefeito à
descoberta de esquema de corrupção
na prefeitura de Santo André.
Em depoimento de 2012, Valério disse
ter tido conhecimento do pagamento a
Ronan Pinto como forma de evitar que
ele continuasse a chantagear Gilberto
Carvalho, José Dirceu e até o ex-presidente Lula. Embora tenha dito que não
soubesse o motivo da chantagem, Valério afirmou que Ronan mencionou haver relação entre a morte de Celso Daniel e a corrupção na prefeitura petista.
Agora, quatro anos depois, a Lava-Jato conseguiu confirmar, por meio de
quebras de sigilos bancários e depoimentos de testemunhas, que Ronan de
fato recebeu o pagamento mencionado
por Valério. O dinheiro é parte de um
empréstimo fictício celebrado entre o
Banco Schahin e o pecuarista José Carlos Bumlai, em 2004, no valor de R$ 12
milhões, a pedido do PT.
A força-tarefa descobriu que os R$ 6
milhões passaram por três intermediários antes de chegar a Ronan Pinto, que
na época era empresário de ônibus em
Santo André: por Bumlai, pelo grupo
-SÃO PAULO-
E
A Remar fez um contrato de
empréstimo com a Expresso
Nova Santo André, de Ronan
Maria Pinto, de R$ 6 milhões
E
EXPRESSO
SANTO
ANDRÉ
REMAR
AGENCIAMENTO
E ASSESSORIA
GRUPO BERTIN
FORNECEDORAS DA
INTERBUS
$
$
Bumlai repassa
o dinheiro para
a Bertin Ltda,
do Grupo Bertin
José Carlos Bumlai
E 2004,
Em
2004 a pedido
did d
de D
Delúbio
lúbi
Soares, tesoureiro do PT, o
pecuarista tomou empréstimo
de R$ 12 milhões no Banco
Schahin para o partido. A
dívida foi quitada apenas em
2009, fraudulentamente,
quando a Schahin fechou
contrato de US$ 1,6 bilhão
com a Petrobras
A S2, de Valério,
faz contrato de
empréstimo para
a Remar, de
R$ 6 milhões
$
AÇÕES DO
“DIÁRIO DO
GRANDE ABC”
Remar paga
R$ 210 mil
por ações do
“Diário do
Grande ABC”
para Ronan
A Bertin repassa
R$ 6 milhões para
a Remar Agenciamento e Assessoria
E
Ronan Maria Pinto
Dono de empresas de ônibus no ABC
paulista foi sócio de Sérgio Gomes
da Silva, o Sombra
Marcos Valério
Participou de reunião com Ronan
Maria Pinto, no qual o empresário
pediu R$ 6 milhões para comprar
50% do jornal “Diário do Grande
ABC”, que veiculava notícias
que o ligavam à morte
de Celso Daniel
Sombra é
apontado
como mandante do
assassinato de
Celso Daniel
O CASO CELSO DANIEL
Após 14 anos, o assassinato do ex-prefeito de Santo
André continua indecifrado. O processo contra Sombra foi
anulado no STF em 2014 e voltou à fase de instrução
20 de janeiro de 2002
O prefeito de Santo André,
Celso Daniel, é encontrado
morto atingido por oito tiros
em Juquitiba, na Região
Metropolitana de São Paulo.
Daniel fora sequestrado dois
dias antes, quando voltava
de um jantar com o
empresário Sérgio Gomes da
Silva, o Sombra
Maio de 2002
Ao MP, João Francisco
Daniel, irmão de Celso, diz
que ouviu de Míriam
Belchior, sua ex-cunhada, e
de Gilberto Carvalho,
ex-secretário da prefeitura
de Santo André, que havia
um esquema de desvio de
dinheiro no município para
abastecer o caixa do PT
JORGE BASTOS MORENO
O PAÍS SOBREVIVERÁ A ISSO?
H
A Remar transfere R$ 2,9
milhões para a Expresso
Santo André e faz pagamentos de R$ 2,5 milhões para
duas fornecedoras da
Interbus, controlada pelo
filho de Ronan
PAGAMENTO A RONAN PASSOU POR 3 INTERMEDIÁRIOS
Bumlai pega
empréstimo de
R$ 12,1 milhões
no Banco Schahin
Coluna do
Moreno
á, no momento, apenas dois cenários
políticos: Dilma fica
e rearruma o governo, sem o
PMDB, ou Temer assume
com um governo novo, sem
o PT. Sem entrar no mérito
das reações das ruas, que,
em último caso, sustentarão
ou não cada uma dessas hipóteses, fiquemos apenas
com a curta análise da geografia do poder.
Dilma, no momento, está
desalojando do governo todo o pessoal de Temer. Se
pudesse, desalojaria o próprio vice-presidente.
O CAMINHO DO DINHEIRO
BANCO
SCHAHIN
Ficando, teremos um clima
beligerante de quase três
anos entre a presidente da
República e seu vice.
O país sobreviverá a isso?
No caso da ascensão de Temer, o tamanho do seu mandato será insuficiente para
desmontar a máquina petista, que toma conta do Estado
há quase 15 anos. “Mais difícil do que matar o monstro é
remover seus escombros”, dizia Ulysses, ao fim de uma ditadura militar de 20 anos.
O país sobreviverá a isso?
São perguntas, por enquanto, sem respostas.
Agosto de 2002
O MP denuncia seis pessoas
acusadas de cometer o
assassinato. O grupo teria
sequestrado o prefeito por
acaso depois de perder de
vista um comerciante que
seria o alvo do crime
Dezembro de 2003
O MP faz um aditamento à
denúncia e aponta que o
crime foi encomendado por
Sombra porque Daniel
queria pôr fim a um esquema
de arrecadação de propina
na prefeitura comandado
pelo empresário. Sombra
tem a prisão preventiva
decretada e fica na cadeia
até julho de 2004, quando
consegue um habeas corpus
no STF
Sete mortes
Dionísio de Aquino Severo,
que segundo o MP teria sido
contratado por Sombra para
cometer o crime, foi morto em
abril de 2002, antes de depor
sobre o caso. Sérgio “Orelha”,
que abrigou Dionísio nos dias
subsequentes à morte de
Daniel, foi metralhado em sua
casa em novembro de 2002.
O investigador de polícia
Otávio Mercier, que havia
feito ligações para Dionísio na
véspera do sequestro,
também foi morto. Em
dezembro de 2003, o agente
funerário Iran Moraes Redua,
o primeiro a identificar o corpo
de Daniel, foi assassinado
com dois tiros. O garçom
Antonio de Oliveira, que
serviu o prefeito no jantar com
Sombra no dia 18 de janeiro
de 2002, morreu, em
fevereiro de 2003, ao bater
sua moto contra um poste
após ser perseguido por dois
homens. A única testemunha
que viu a morte do garçom,
Paulo Henrique Brito, foi
assassinada, 20 dias depois,
com um tiro nas costas. O
médico legista Carlos Alberto
Delmonte Printes, que
constatou indícios de tortura
no corpo de Daniel,
suicidou-se com ingestão de
medicamentos em 2006
Novembro de 2010
Primeiro dos acusados a ser
julgado, Marcos Roberto
Bispo dos Santos é
condenado a 18 anos de
prisão. Outros cinco réus são
condenados, em seguida
Bertin e por uma empresa chamada
Remar Agenciamento.
Os R$ 12 milhões obtidos por Bumlai
para o PT nunca foram pagos — o empréstimo foi oficialmente considerado
quitado em 2009, quando empresas do
Grupo Schahin fecharam contrato de
US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para
construção da sonda Vitória 10000. Em
depoimento, Bumlai e integrantes do
Grupo Schahin admitiram ter acertado
com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto o esquecimento da dívida mediante a assinatura do contrato. Os R$ 6
milhões restantes do empréstimo teriam sido usados para pagar dívidas de
campanha do PT para a prefeitura de
Campinas, em 2004.
— Há peculiaridades nessa fase, que
envolve uma tipologia semelhante à
encontrada no mensalão, pelo uso de
uma instituição financeira, um empréstimo fraudulento. Enquanto no
mensalão o pagamento desses empréstimos fraudulentos era feito mediante
favores do governo federal, inclusive
com edição de decretos e medidas que
favoreciam as instituições financeiras,
no caso presente, o favorecimento, o favor para o pagamento desse empréstimo, foi a utilização de um contrato bilionário com a Petrobras — explicou Diogo Castor de Mattos, procurador do
MPF, um dos responsáveis pela investigação que apura crimes de extorsão,
falsidade ideológica, fraude, corrupção
ativa e passiva, e lavagem de dinheiro.
RONAN E ALTMAN REBATEM ACUSAÇÕES
O procurador afirmou não haver, até
agora, provas que liguem o pagamento
de R$ 6 milhões a Ronan Pinto ao assassinato de Celso Daniel.
— Tudo é conjectura, nada é comprovado. Por ora, todas as hipóteses permanecem em aberto — afirmou.
Nesta 27ª fase, foram cumpridos oito
mandados de busca e apreensão em
endereços ligados a Ronan Pinto e a Sílvio Pereira na capital paulista e no interior de São Paulo. Apontado como interlocutor do PT junto a Ronan Pinto, o
jornalista do site “Opera Mundi”, Breno
Altman, foi conduzido coercivamente
para prestar depoimento à PF. O mesmo ocorreu com o ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares, dirigente que teria participado de reuniões no Banco Schahin
como representante do partido.
Em nota divulgada ontem, a defesa de
Ronan disse que ele “reafirmará não ter
relação com os fatos mencionados e estar
sendo vítima de uma situação que poderá ser esclarecida de uma vez por todas”.
Em sua página em uma rede social,
Breno Altman afirmou que a Lava-Jato
“faz da intimidação, do espetáculo e do
arbítrio suas principais ferramentas de
intervenção”. No texto, ele escreveu não
ter sido apresentada, durante o interrogatório, “prova ou indício” do seu envolvimento no caso investigado. l
Porta-voz
Ficha suja
Efeito colateral
Sonho de consumo
A coluna fala com a
autoridade de crítica
contumaz do antigo
isolamento do ministro
Edinho Silva, nestes 15
meses do segundo governo.
Pois não é que, com a
crise, as coisas mudaram?
Atualmente, enquanto
Jaques Wagner e Berzoini
batem cabeças, a voz mais
firme, corajosa e até ousada
do governo tem vindo da
boca de Edinho.
Há outros exemplos
estarrecedores.
Luiz Otávio, indicado de
Jader para a agência dos
Portos, é aquele que,
indicado para o TCU, teve do
referido tribunal uma reação
inédita: ameaça de greve,
caso seu nome fosse
aprovado pelo Senado.
Por absoluta e total
improbidade administrativa e
moral para o serviço público.
Rodrigo Janot, que retirou um
câncer de pele na quarta-feira,
quando soube que teria que
passar por uma cirurgia exigiu
acompanhamento de um
médico da Procuradoria-Geral
com uma missão especial.
Para se, como acontece
com alguns pacientes
pós-cirúrgicos, começasse a
revelar segredos da
República, o médico retirar
do quarto as testemunhas.
Virou deboche
Elogios inúteis
Boa foi a de Ciro Nogueira,
quando Wagner ofereceu o
Ministério da Saúde ao PP:
— Só se o sr. me mostrar a
lista de votos para derrotar o
impeachment. Não quero
ficar nesse senta-levanta.
Nelson Barbosa saiu-se até
bem na defesa das
pedaladas da Dilma.
Foi elogiado pelos
governistas e até pela
oposição, no final da
audiência na comissão do
impeachment.
Mas o ministro enxugou
gelo. Mesmo quem não sabe
o que é pedalada fiscal já
formou opinião sobre o
assunto e não mudou de
posição por causa das
explicações de Barbosa.
Mais do que a força-tarefa da
Lava-Jato, o que a Odebrecht
mira, com sua oferta de
“colaboração definitiva”, é
um acordo de leniência com
a Controladoria-Geral da
União.
É ela que permitiria à
empreiteira manter abertas
as portas para obras no
setor público, sinalização
considerada essencial até
para a sustentabilidade de
suas operações no exterior.
Não que a Odebrecht tenha
perdido interesse num acordo
com os procuradores em
Curitiba. É que ali a negociação
é bem mais dura do que com o
governo federal.
O sonho de consumo das
empreiteiras encrencadas
na Lava-Jato é um projeto
de lei que simplesmente
extinga a punibilidade dos
executivos de empresas que
firmarem acordos de
leniência.
Mas faltam patrocinadores.
Dúvida
Por falar em Berzoini, vejam a
celeridade da busca de voto a
qualquer preço. Ao indicar
Jehovah de Araújo Silva Junior
para a Casa da Moeda, o
deputado Nelson Marquezelli
(PTB-SP) procurou o ministro
em busca de orientações
sobre o cargo. E Berzoini:
— Não precisa conhecer
nada. Basta atuar com
eficiência.
Sem dizer se essa
eficiência era para o bem ou
para o mal.
‘Meus sais!!!’
Valdemar Costa Neto quase
corta os pulsos, digo
tornozeleiras, quando soube
que Kátia Abreu disse ter
sido convidada para ir para o
PR. Desmentiu na hora.
oglobo.globo.com/pais/moreno
l O GLOBO
4
l País l
LAVA-JATO
[email protected]
MERVAL
PEREIRA
|
Sábado 2 .4 .2016
_
RODOLFO BUHRER / LA IMAGEM / FOTOARENA
|
O submundo do crime
Mensalão e petrolão, escândalos de
corrupção que deixaram marcas indeléveis
na História do Brasil e do partido que se
propunha a mudar a maneira de fazer política
no país, são consequências quase que
obrigatórias da atuação no submundo do
crime que sustentou a chegada do PT ao
comando do governo federal.
N
ão é à toa que figuras como o ex-tesoureiro
Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do
PT Silvinho Pereira, condenados no mensalão, aparecem novamente na fase atual da Lava-Jato, que, batizada de Carbono 14, exuma fatos da
pré-história petista rumo ao poder.
À linguagem chula do chefão, soma-se agora
uma série de suspeitas de ações criminosas: assassinatos em série, chantagens, ameaças de todo o tipo, incêndio possivelmente criminoso, propina da
máfia dos transportes públicos e do recolhimento
de lixo em cidades dirigidas pelo PT.
O estereótipo do sindicalismo criminoso, tornado famoso pelos relatos cinematográficos de
Hollywood, está na raiz da ascensão política do PT
e, tal qual um novo rico que quer esconder seu passado, ou comprar título de nobreza, também os petistas gostariam de sepultar o passado para assumir postura de grandes líderes políticos.
A maioria conseguiu mudar a aparência às custas
de bem cortados ternos Armani, ou do nacional Ricardo Almeida, e manteve a pose até quando conseguiu, mas o espírito continua o mesmo. Espectros do
passado teimam em persegui-los: o cadáver insepulto do ex-prefeito de Santo André cisma de confrontálos; os companheiros que, pelos relatos da família e
que agora passam a ser investigados pela Operação
Lava-Jato, desviaram-se do caminho vislumbrado
por Daniel e acabaram por se livrar dele da maneira
mais brutal.
A Operação Carbono 14, desdobramento 27 da
Lava-Jato, deflagrada ontem, aprofunda a investigação sobre lavagem do dinheiro de empréstimo
do Banco Schahin para o PT, que teria sido pago
com contratos da Petrobras, tendo como intermediário o amigo de Lula José Carlos Bumlai.
Quem ligou as pontas entre o empréstimo fraudulento e o crime de Santo André foi a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff. Meire Poza entregou à Polícia Federal documentos que provam
que pelo menos metade do empréstimo, cerca de
R$ 6 milhões, tiveram como destinatário final o
empresário Ronan
U
Maria Pinto, preso
ontem pela Lava-Jato.
Os pontos-chave
(Coincidentemente, o
escritório de Meire Poza foi incendiado onNão é à toa que figuras
tem, em mais um tocomo Delúbio Soares e
que mafioso nessa traSilvinho Pereira aparecem
ma escabrosa).
agora na Lava-Jato
Segundo relato do
empresário Marcos Valério, foi o pagamento
Espectros do passado
de uma chantagem do
teimam em perseguir o PT,
empresário do ABC
como o cadáver insepulto
contra os ex-ministros
de Celso Daniel
Gilberto Carvalho, José
Dirceu e também contra Lula, para não contar a verdadeira históFantasmas do mensalão e
ria do assassinato de
do petrolão mostram a
Celso Daniel.
continuidade delitiva dessa
O blogueiro chapaorganização criminosa
branca Breno Altman,
que escreve no blog 247 e dirige o Opera Mundi, foi
levado coercitivamente para depor, pois aparece
novamente em esquemas criminosos, como a ligação de José Dirceu com doleiros e assemelhados.
O documento que Meire apresentou à Polícia
Federal foi lhe dado pelo doleiro Enivaldo Quadrado, braço direito de Youssef, condenado no
mensalão. Cuja multa na ocasião foi paga pelo
PT, através de Altman.
O ex-secretário-geral do PT Silvinho Pereira (ou
Silvinho Land Rover, devido a um carro que recebeu de presente no mensalão) recebia uma mesada
para ficar calado, pois é dado a remorsos que precisam ser muito bem remunerados para não se tornarem delações premiadas.
Na época do mensalão, ele se dispôs a depor para
O GLOBO, mas acabou arrependendo-se, num surto
psicótico em que quebrou todo o seu apartamento e
se disse ameaçado de morte. Diante do fato de que
nada menos que nove mortos já surgiram no rastro
do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, seu temor não deve ser sem motivo.
Também o delator Paulo Roberto Costa declarou-se
com medo de ser morto, alegando justamente o caso
Celso Daniel. A Operação Lava-Jato chega, portanto,
às profundezas da lama petista.
Os fantasmas do mensalão unem-se à atualidade do petrolão para mostrar a continuidade delitiva dessa organização criminosa — já oficialmente assim identificada — que tomou conta do
governo brasileiro, de acordo com a Lava-Jato. l
1
2
3
Sílvio Pereira. Investigadores suspeitam que afastamento do PT foi apenas no papel, pois ele teria continuado a receber propina para não contar o que sabia
Silvinho recebeu R$ 1,1 milhão
de empresas investigadas
Cúpula do PT teme depoimento do ex-secretário geral do partido
CLEIDE CARVALHO,
SÉRGIO ROXO, THIAGO HERDY
E TIAGO DANTAS
[email protected]
-CURITIBA E SÃO PAULO- Retirado do
ostracismo e preso ontem na
27ª fase da Lava-Jato, Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT
e braço-direito do ex-ministro
José Dirceu, não aceitou apenas uma Land Rover “de presente” da empresa GDK, fornecedora da Petrobras, como
foi revelado na época do mensalão. As investigações da Polícia Federal mostram que Silvinho, como é conhecido, recebeu R$ 1,1 milhão de empreiteiras ou operadores de propina no esquema da Petrobras
entre 2009 e 2012.
A prisão de ontem deixou a
cúpula do PT em alerta, porque
o histórico do ex-dirigente mostra que ele não reage bem sob
pressão. Em 2006, em entrevista
ao GLOBO, Silvinho revelou detalhes sobre o funcionamento
do mensalão, disse que o plano
do operador Marcos Valério era
arrecadar R$ 1 bilhão com negócios que envolviam pendências do governo e falou sobre o
envolvimento da cúpula partidária nas irregularidades. Ao final da entrevista, arrependeuse do que havia falado e quebrou objetos em seu apartamento. A avaliação na cúpula
petista é que qualquer menção
a Lula que possa ser feita agora
por Silvinho vai contribuir para
desgastar a imagem do ex-presidente.
Logo depois que veio à tona
a história do Land Rover, em
2005, Silvinho se desfiliou do
PT. Mas os investigadores da
Lava-Jato suspeitam que o
afastamento ficou apenas no
papel, porque ele continuou a
receber propina para não contar o que sabia. Em janeiro
passado, o lobista Fernando
Moura afirmou aos investigadores que Silvinho era beneficiário de um “cala-boca” mensal de R$ 50 mil.
Levantamento feito pela força-tarefa da Lava-Jato mostra
que os pagamentos ao ex-petista foram feitos por meio de duas
empresas das quais ele foi sócio, a DNP Eventos e a Central
de Eventos e Produções. A quebra do sigilo bancário indica
que a OAS pagou à DNP R$
486,1 mil entre 2009 e 2011. Em
2011, a UTC Engenharia, do
empresário Ricardo Pessoa, um
dos delatores da Lava-Jato, repassou R$ 22,5 mil para a empresa. O delator Júlio Camargo
pagou R$ 12,3 mil à DNP em
2012. A Projetec, do também
delator e empresário Augusto
Mendonça Neto, fez depósitos,
em 2010, num total de R$ 154
mil. Outros R$ 50 mil foram pagos em 2009 à Central de Eventos pela empresa SP Terraplanagem, uma das empresas de
fachada controladas por Adir
Assad, condenado na Lava-Jato.
O Ministério Público Federal
também identificou pagamentos de R$ 400,4 mil da TGS
Consultoria, outra empresa
que movimentou propina, para a Central de Eventos, em-
U
‘DIÁRIO DO GRANDE ABC’
RONAN COMPROU JORNAL APÓS ASSASSINATO
Fundado em 1958 e atualmente
com tiragem de 30 mil
exemplares, o “Diário do Grande
ABC” foi administrado por
Fausto Polesi e Maury Dotto até
2004, quando Ronan Maria
Pinto adquiriu 40% das ações (já
possuía 20% desde 2001). A
compra foi indireta: Maury Dotto
adquiriu as cotas de Polesi e as
vendeu no mesmo dia para
Ronan. O Ministério Público
Federal afirma que parte do
dinheiro dessa transação veio de
um empréstimo contraído por José
Carlos Bumlai junto ao Banco
Schahin a pedido do PT. Só a
partir desse momento Ronan
passou a exercer poder sobre as
decisões editoriais e comerciais. O
Ministério Público liga a aquisição
à morte de Celso Daniel. Ronan
estava envolvido num esquema de
corrupção durante a gestão do
prefeito. Ontem, policiais ficaram
seis horas fazendo apreensões no
escritório de Ronan. A redação
trabalhou normalmente.
presa de Júlio César dos Santos, amigo e sócio do ex-ministro José Dirceu, para a DNP. Júlio César chegou a ser preso e
responde ação no âmbito da
Lava-Jato por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
No despacho em que decretou a prisão temporária de Silvinho, o juiz Sérgio Moro afirma que as duas empresas do
ex-secretário do PT não aparentam ter estrutura compatível com os valores recebidos.
No endereço da DNP, existe
apenas um restaurante pequeno. O endereço da Central de
Eventos não foi localizado.
O ex-dirigente petista foi preso na casa onde vive em um
condomínio fechado em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo. O imóvel foi
comprado em 2010 por R$ 600
mil. Desde que seu nome surgiu na Lava-Jato, Silvinho tem
tentando submergir, como fez
na época do mensalão. No segundo semestre do ano passado, ele fechou o restaurante
que tinha em Osasco, também
na Grande São Paulo, e encerrou as atividades da DNP.
O responsável pela defesa de
Sílvio Pereira não foi localizado. O advogado que o defendeu no mensalão informou
que não trabalha mais para o
ex-dirigente petista. l
NA WEB
glo.bo/1qmVehq
Silvinho Land Rover:
de réu do mensalão a
preso da Lava-Jato
Contrato de gaveta liga Valério à Lava-Jato
Ronan Maria Pinto
teria tentado receber
dinheiro do PT via
empresa de operador
-CURITIBA E SÃO PAULO- Condenado a
37 anos de prisão no escândalo
do mensalão e cumprindo pena
em presídio de Minas Gerais, o
operador Marcos Valério pode
ser novamente denunciado por
lavagem de dinheiro em função
das investigações da 27ª fase da
Lava-Jato. Uma de suas empresas, a 2S Participações, celebrou
um contrato de gaveta com
uma empresa de Ronan Maria
Pinto, como forma de garantir
que o empresário recebesse
cerca de R$ 6 milhões do PT.
A empresa de Valério acabou
não sendo usada para operaci-
onalizar o pagamento — em
seu lugar, foi usado um esquema montado por José Carlos
Bumlai, pecuarista e empresário de confiança do ex-presidente Lula. Ainda assim, os
procuradores entendem que,
ao emprestar o nome de sua
empresa para tentar resolver o
problema, Valério também deve ser investigado.
Um depoimento prestado
pelo operador à ProcuradoriaGeral da República (PGR) em
2012 foi utilizado pelos procuradores para embasar parte da
operação de ontem. Na tentativa de delação premiada, Valério contou à PGR que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira o procurou em 2004 pedindo ajuda, porque Lula e os
ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho estariam sendo
chantageados por Ronan Maria Pinto. Ainda segundo ele, o
empresário do ABC teria pedido R$ 6 milhões para comprar
um jornal. O valor acabaria
sendo obtido por Bumlai junto
ao Banco Schahin como contribuição ao PT e repassado a
Ronan Maria Pinto.
Valério não foi ouvido pela
força-tarefa da Lava-Jato, segundo o MPF. Caso os procuradores queiram usar os fatos
narrados por ele na denúncia,
terão que marcar um novo depoimento. Na avaliação de Diogo Castor e Paulo Galvão, outros depoimentos já confirmam as informações prestadas por Marcos Valério.
— Não sabemos ainda se
iremos ouvi-lo de novo. O depoimento é público, e ele nos
ajuda a ter uma ideia das cir-
cunstâncias em que o empréstimo foi feito. Mas, para
uma eventual denúncia, não
precisamos saber necessariamente qual foi a circunstância
(dos pagamentos), desde que
consigamos comprovar que a
operação foi ilegal — disse o
procurador Galvão.
Além de denunciar a operação para Ronan Maria Pinto,
no depoimento de 2012 Valério disse ter sido ameaçado de
morte por Paulo Okamotto,
braço-direito de Lula, para não
contar o que sabia sobre o
mensalão. Disse também ter
falado pessoalmente com Lula, em reunião no Palácio do
Planalto, sobre os empréstimos fictícios contraídos por
sua empresa para abastecer o
mensalão. Okamotto e Lula
negaram as acusações. l
l País l
Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição
O GLOBO
l 5
LAVA-JATO
_
PT diz que Moro age à revelia
da lei e extrapola competência
Oposição avalia que nova fase da operação reforça impeachment
-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Em reação à 27ª fase da
Lava-Jato, o vice-líder do PT na Câmara,
deputado Paulo Pimenta (RS), disse ontem que o juiz Sérgio Moro e os investigadores da Lava-Jato “extrapolam suas competências, agem à revelia da lei” e “como
se fossem juízes e promotores criminais
do estado de São Paulo”. O petista criticou
o que considera uma tentativa de vincular
as investigações à morte do ex-prefeito de
Santo André Celso Daniel (PT) e interferir
no processo político.
Depois de uma semana com notícias
favoráveis ao PT e ao governo, a 27ª fase
da Lava-Jato, batizada de Carbono 14,
caiu como uma ducha de água fria na
cúpula da legenda. Os petistas acreditam que Moro novamente agiu politicamente ao deflagrar a operação.
— O Sérgio Moro puxou a Carbono 14
porque está semana estava boa para nós.
Ele não tem limites. Pega uma coisa que
estava na gaveta e vai soltando aos poucos,
de pedacinho em pedacinho — afirmou
um petista próximo ao ex-presidente Lula.
O objetivo, na avaliação dos aliados de
Lula, é buscar uma declaração de Sílvio
Pereira sobre o pecuarista e José Carlos
Bumlai, amigo de Lula. O nome Carbono 14 (em referência a procedimentos
utilizados pela ciência para a datação de
itens e a investigação de fatos antigos),
mostraria, segundo integrantes da cúpula do PT, que o objetivo é apenas requentar episódios do passado.
Na avaliação dos petistas próximos a Lula, uma conjunção de fatores tinha permitido ao governo respirar, nos últimos dias.
Entre os pontos citados estão a decisão da
presidente Dilma Rousseff de adotar um
tom mais agressivo na batalha contra o
impeachment, a forma como o PMDB
anunciou o desembarque do governo e a
enquadrada dada pelo novo ministro da
Justiça, Eugênio Aragão, na Polícia Federal. Tudo isso agora está ameaçado com a
nova fase da Lava-Jato, que trará ao noticiário assuntos incômodos para o partido,
como a morte de Celso Daniel.
— O episódio da morte de Celso Daniel foi objeto de inúmeras manifestações
na esfera criminal em São paulo, já existem pessoas cumprindo pena por isso.
Tentar reascender isso no imaginário da
opinião pública, tentar fazer um vínculo
sobre a investigação da Lava-Jato na Petrobras com esse episódio é algo absolutamente artificial, algo absolutamente incompreensível
— disse Pimenta. — O Moro
não é juiz criminal de São
Paulo, os investigadores da
Lava-Jato não são investigadores que atuam em todo o
Brasil e não são da esfera
criminal. Se houve uma assassinato, ele já foi esclarecido. Não tem nada a ver com
a Lava-Jato. Tentar fazer esse
vínculo é tentar semear na
opinião pública mais elementos de instabilidade, de caos social, de ódio, é isto
que está se produzindo.
Pimenta disse estranhar que, a cada vez
que se faz um ato favorável ao governo,
“imediatamente surge mais um fato para
criar esse ambiente de espetáculo”. Para
ele, a investigação sobre Celso Daniel não
se justificam no âmbito da Lava-Jato. Integrantes da cúpula do PT e representantes do Planalto mostraram preocupação
com o impacto da nova fase da operação.
A avaliação é que a Carbono 14 atinja diretamente pessoas que foram ligadas ao
PT e trazem à tona episódios traumáticos,
como a morte de Celso Daniel.
Lula e Dilma continuam promovendo o
troca-troca em cargos de segundo escalão.
Mas as maiores trocas, segundo um interlocutor do governo, entraram em compasso de espera até a próxima semana, esperando “decantar” os desdobramentos da
Lava-Jato, inclusive junto aos partidos da
base que negociam cargos. Lula deve voltar a Brasília no início da próxima semana.
Segundo um petista, há “muita preocupação” com essa ação da PF.
Dilma pretendia ter ontem
uma definição sobre os ministérios do PMDB. Mas o movimento foi adiado. A tendência
é a petista manter titulares como Helder Barbalho (Portos),
em deferência ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que
se reuniu com Lula na quartafeira.
A oposição avalia que a nova
fase reforça ainda mais o processo de impeachment de Dilma, pois agrega ao rol de suspeitas envolvendo o petrolão
um novo componente, o criminal. Segundo os líderes oposicionistas,
as investigações trazem à tona um crime
que nunca foi elucidado e sobre o qual
pairam suspeitas, o de Celso Daniel.
— Além da esfera de crimes de corrupção temos agora a de crime de morte. Esse
caso assusta não apenas o país, mas o
Congresso Nacional que vai votar o impeachment da presidente. Assusta e motiva
ainda mais os que vão votar pelo impeachment da presidente — afirmou o líder
do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy,
acrescentando: — A Lava-Jato começa a
elucidar os motivos do crime e certamente
vai chegar nos mandantes. l
Depois de
uma semana
positiva ao PT,
nova fase da
Lava-Jato
preocupa a
cúpula do
partido
Análise
É a Lava-Jato,
estúpido!
ALAN GRIPP
[email protected]
N
o mundo político,
a semana começou com a extrema unção do governo Dilma, após o desembarque festivo do PMDB. Entre quarta e quinta, o PT comemorou alguma recuperação, com o aparente sucesso
de um jogo duplo: de um lado a mobilização pública da
“esquerda” contra o “golpe”,
de outro o assédio a partidos
de “direita” em troca de votos
contra o afastamento.
A sexta-feira, como de hábito, começou com ela, a Lava-Jato, na rua. Ainda é cedo
para avaliar o alcance da 27ª
fase, batizada de “Carbono
14”, mas é certo que devolve
a batalha do impeachment
ao mar de incertezas que caracteriza a política brasileira
nos últimos dois anos.
A PF prendeu dois personagens que causam arrepios
ao PT e remontam a dois episódios que o partido gostaria
de esquecer: o assassinato do
prefeito de Santo André, Celso Daniel, e o mensalão.
Sílvio Pereira, ou Silvinho
Land Rover, caiu com o partido no mensalão, fez um
acordo com a Justiça no
mundo pré-delação, recolheu os trapos e sumiu. É tido como um guardião de segredos preciosos desse período e, por isso, sua vida de
ermitão era motivo de alívio
para os ex-companheiros.
Em 2006, Silvinho começou a contar parte desses segredos em entrevista ao
GLOBO, mas desistiu no
meio do caminho e teve um
acesso de fúria ao ouvir da
repórter que não poderia
voltar atrás da publicação.
Disse que corria “risco de vida”, ameaçou se matar e destruiu parte do apartamento.
Já o empresário Ronan Maria Pinto chantageava o expresidente Lula e outros petistas para não revelar detalhes da morte de Celso Daniel, segundo disse o operador
do mensalão Marcos Valério
em depoimento em 2012.
Com o tempo a história caiu
no esquecimento, mas foi
ressuscitada após outro depoimento, neste ano, de José
Carlos Bumlai, o pecuarista
amigo de Lula.
Contou Bumlai que deu
R$ 6 milhões a Ronan a pedido do PT. O dinheiro foi
viabilizado pelo banco
Schahin, que, em troca, ganhou um contrato bilionário com a Petrobras.
Além das histórias cabeludas que possam surgir a partir daí, a “Carbono 14” reforça a conexão entre esses
escândalos e serve para lembrar que o mundo político —
não só o governo e o PT, digase — continua refém da Lava-Jato, que, apesar de suas
trapalhadas, é atualmente a
mais poderosa das instituições brasileiras.
6
l O GLOBO
l País l
Sábado 2 .4 .2016
A BATALHA DO IMPEACHMENT
Palácio do Planalto, a trincheira de Dilma
_
Em 15 dias, presidente fez 5 atos oficiais, sem risco de hostilidade, para se defender do afastamento e acusar opositores
NA SEDE DO GOVERNO:
A DEFESA DO MANDATO
17 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA
22 DE MARÇO, TERÇA-FEIRA
CONDENAR ALGUÉM POR UM
CRIME QUE NÃO PRATICOU É A
MAIOR VIOLÊNCIA QUE SE PODE
COMETER CONTRA QUALQUER
PESSOA. É UMA INJUSTIÇA BRUTAL. É
UMA ILEGALIDADE. JÁ FUI VÍTIMA
DESTA INJUSTIÇA UMA VEZ,
DURANTE A DITADURA, E
LUTAREI PARA NÃO SER
VÍTIMA DE NOVO
CONVULSIONAR A SOCIEDADE
BRASILEIRA EM CIMA DA INVERDADE,
DE MÉTODOS ESCUSOS, DE PRÁTICAS
CRITICADAS, VIOLA PRINCÍPIOS E
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS, VIOLA O
DIREITO DO CIDADÃO E ABRE
PRECEDENTES GRAVÍSSIMOS. OS
GOLPES COMEÇAM ASSIM
PRESIDENTE ATACA O JUIZ SÉRGIO MORO EM
SOLENIDADE DE POSSE DE LULA COMO MINISTRO.
DILMA FICA INDIGNADA COM A DIVULGAÇÃO DE
GRAMPOS. NO MESMO DIA, A POSSE É SUSPENSA
30 DE MARÇO, QUARTA-FEIRA
IMPEACHMENT
SEM CRIME DE
RESPONSABILIDA
DE É O QUÊ?
É GOLPE!
EM ATO COM JURISTAS, PRESIDENTE DIZ
QUE NÃO RENUNCIA EM "HIPÓTESE
ALGUMA". ELA ACUSA AINDA A EXISTÊNCIA
DE UMA RUPTURA INSTITUCIONAL
NÓS TIVEMOS GOLPES DE ESTADO MILITARES
EM NOSSA HISTÓRIA. EM UM SISTEMA
DEMOCRÁTICO, ESSES GOLPES MUDAM DE FORMA.
CADA REGIME TEM SEU TIPO DE GOLPE. A
CONSTITUIÇÃO GARANTE DIREITOS, E EM UM GOLPE
VOCÊ SUBVERTE ESSES DIREITOS E PERVERTE A
ORDEM DEMOCRÁTICA. E ISSO É PERIGOSO.
SEM BASE LEGAL, ESSE PROCESSO É
UM GOLPE CONTRA A DEMOCRACIA
DILMA,AO DAR ENTREVISTA AOS JORNAIS ESTRANGEIROS
“EL PAÍS” (ESPANHA), “THE GUARDIAN” (INGLATERRA),
“THE NEW YORK TIMES” (ESTADOS UNIDOS), “LE MONDE”
(FRANÇA) E “PÁGINA 12” (ARGENTINA)
01 DE ABRIL, SEXTA-FEIRA
ESSE POVO QUE TÁ NAS
RUAS, PRESIDENTA, NÃO QUER
O AJUSTE FISCAL. QUER QUE O
ANDAR DE CIMA PAGUE A CONTA DA
CRISE, E NÃO OS TRABALHADORES.
VAI TER LUTA, VAI TER
RESISTÊNCIA. NÃO PASSARÃO COM
ESSE GOLPE DE
ARAQUE NO BRASIL!
NÓS NÃO DEFENDEMOS
A VIOLÊNCIA. ELES
DEFENDEM. ELES
EXERCEM A VIOLÊNCIA.
NÓS, NÃO!
O GOVERNO TRANSFORMOU
FASE DO PROGRAMA MINHA
ATO POLÍTICO. GUILHERME
SEM-TETO, FALA EM
24 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA
VAMOS OCUPAR AS
PROPRIEDADES DELES
(PARLAMENTARES DA "BANCADA
DA BALA"), AS CASAS DELES NO
CAMPO! É A CONTAG E OS
MOVIMENTOS SOCIAIS QUE VÃO
FAZER ISSO. VAMOS OCUPAR OS
GABINETES, MAS TAMBÉM AS
FAZENDAS DELES!
O LANÇAMENTO DA TERCEIRA
CASA MINHA VIDA EM MAIS UM
BOULOS,LÍDER DO MOVIMENTO
“GOLPE” E “FASCISMO”.
31 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA
OUTRO
DIA, UMA PESSOA
ME DISSE QUE ISSO
PARECE MUITO COM O
NAZISMO. PRIMEIRO VOCÊ
BOTA UMA ESTRELA NO
PEITO E DIZ: É JUDEU.
DEPOIS VOCÊ BOTA NO
CAMPO DE
CONCENTRAÇÃO. ESSA
INTOLERÂNCIA NÃO
PODE OCORRER
DILMA SOBE O TOM NO DISCURSO PARA ARTISTAS E
INTELECTUAIS CONTRA O IMPEACHMENT. ELA CRITICA A
PEDIATRA GAÚCHA QUE RECUSOU-SE A CONTINUAR A
ATENDER UMA CRIANÇA PORQUE SUA MÃE É PETISTA
EDUARDO BARRETTO
[email protected]
-BRASÍLIA- A presidente da República, Dilma Rous-
seff, transformou o Palácio do Planalto em uma
trincheira na sua luta contra o impeachment.
Desde a posse frustrada do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil
— impedida por liminar do ministro Gilmar
Mendes, do Supremo Tribunal Federal —, o Palácio passou a receber juristas, artistas e integrantes de movimentos sociais para eventos em
que Dilma combate o que considera a gestação
de um golpe. Em pouco mais de 15 dias, cinco
atos, todos em um ambiente sem nenhum risco
de hostilidade, abrigaram ataques ao Judiciário
e ao Legislativo, comparações do momento político atual com o período que antecedeu a ditadura de 1964 e convocações à resistência contra
a aprovação do impedimento pelo Congresso.
Ontem, com o principal auditório do Palácio
lotado, Dilma fez a terceira cerimônia consecutiva esta semana, todas defendendo seu mandato. Ela assinou atos de desapropriação de terras
para a reforma agrária e povos quilombolas,
além de decretos para ações contra o racismo.
No discurso, disse que o país tem a democracia
ameaçada e afirmou que “eles”, ao se referir a
seus opositores, são violentos, ao contrário dos
simpatizantes do governo.
DILMA, NO TERCEIRO
DIA CONSECUTIVO DE
CERIMÔNIA ABERTA NO
PLANALTO - O QUE
ACONTECE PELA PRIMEIRA
VEZ NO ANO. ELA ASSINA
ATOS PELA REFORMA
AGRÁRIA E PARA AÇÕES
CONTRA O RACISMO.
Na última quarta, Dilma anunciou nova fase do
Minha Casa Minha Vida: contratação de 2 milhões de casas, um milhão a menos do que o prometido. A cerimônia para as novas unidades habitacionais teve militantes uniformizados e com
bandeiras. Um dia depois, quinta, artistas e intelectuais compareceram a um ato “contra o golpe”,
a exemplo de ato com juristas no Palácio, mas
dessa vez em número bem menor de presentes.
Ontem, o público voltou a ser de beneficiários
diretos de programas sociais e militantes. A presidente voltou a defender a tese de que o país
tem a democracia “ameaçada”. A fala de Dilma
foi precedida por duros discursos de líderes de
que ameaçaram invadir propriedades.
— Nós, hoje, precisamos nos manter vigilantes e oferecer resistências às tendências antidemocráticas, oferecer resistência também às provocações. Nós não defendemos qualquer processo de perseguição de qualquer autoridade
porque pensa assim ou assado. Nós não defendemos a violência. Eles defendem. Eles exercem
a violência. Nós, não — declarou Dilma, que,
em cerimônia no Planalto na véspera, comparou a intolerância a petistas ao nazismo.
Pouco antes de a presidente fazer seu discurso, Aristides Santos, secretário de Finanças e
Administração da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), criticou
a “bancada da bala” no Congresso, e ameaçou
ARISTIDES SANTOS, SECRETÁRIO DE
FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO DA
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES NA AGRICULTURA
(CONTAG)
“ocupar” e “incomodar” as casas, fazendas e
propriedades desses parlamentares.
— Vamos ocupar as propriedades deles (parlamentares da “bancada da bala”), as casas deles no campo. É a Contag e os movimentos sociais que vão fazer isso. Vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles. Se eles são
capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, vamos incomodar as casas deles, as fazendas e as propriedades deles.
Vai ter reforma agrária, vai ter luta e não vai ter
golpe — disse Aristides.
DEM RECORRE AO MINISTÉRIO PÚBLICO
O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino
(AM), decidiu acionar o Ministério Público no
Distrito Federal (MPDF) questionando a atitude dela nas instalações do Planalto, classificados por ele como “atos de campanha e comícios
políticos”. Pauderney quer que o MPDF investigue Dilma por improbidade administrativa.
— A presidente Dilma tem sistematicamente
feito atos políticos no Palácio do Planalto que
consideramos atos de campanha política. Ela
quer mostrar que está prestigiada. — disse Pauderney. — Dilma está instrumentalizando o
Planalto. É um desrespeito com o Palácio.
Na cerimônia de ontem, a presidente assinou
25 decretos que abrangem 56.512 hectares, 21
para desapropriação de terra para a reforma
agrária e quatro para a regularização de territórios quilombolas. De acordo com o governo, 799
famílias quilombolas serão beneficiadas.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, em seu discurso acrescentou ao
bordão “Não teremos golpe” o “Teremos reforma agrária”, e foi endossado por Dilma.
— Forças empenhadas no retrocesso no passado já demonstraram que não têm maior apego à democracia quando se apegam com maior
vigor aos seus interesses e seus privilégios —
afirmou o ministro.
A média de assentamentos de famílias para a
reforma agrária no governo Dilma é muito inferior às dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Ano passado, Dilma assentou 26.670 famílias. Em 2014, ano em que mais assentou famílias, foram beneficiadas com títulos de terra
32.019 famílias. Esse número é menor do que o
registrado em qualquer ano das gestões e Lula e
FH. A quantidade de famílias assentadas sob
Lula variaram de 36.301 em 2003 a 136.358 em
2006. Na gestão de FH, o número de assentados
oscilou de 42.912 em 1995 (ano em que entrou
na Presidência) a 101.094 em 1998. l
NA WEB
glo.bo/1UYtAUG
Base do pedido de impeachment,
‘pedaladas’ dividem juristas
l País l
Sábado 2 .4 .2016 2ª Edição
O GLOBO
l 7
A BATALHA DO IMPEACHMENT
_
CNBB, MPF e governo temem que
disputa política leve à violência
CONTRA PT, PMDB E PSDB
MARCOS ALVES
Acirramento da crise leva Igreja a reunir representantes da sociedade
MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
ANDRÉ DE SOUZA
[email protected]
-BRASÍLIA- O acirramento da crise política
brasileira e o risco de que o embate ideológico resulte em violência fez com que a
Igreja Católica procurasse representantes
do governo e da sociedade civil. Ontem,
em evento ocorrido na sede Conferência
da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), um documento foi assinado pelo ministro da Justiça., Eugênio Aragão, e membros do Ministério Público e
da advocacia para que haja um compromisso com soluções pacíficas para a crise.
O texto, intitulado Conclamação Dirigida ao Povo Brasileiro, foi assinado pelo
ministro da Justiça; pelo secretário geral
da CNBB, Leonardo Steiner; pelo procurador da República Aurélio Veiga dos Rios, que representou o Ministério Público
Federal (MPF); e pelo presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Técio Lins e Silva.
No documento, as entidades destacam
que o êxito de um lado na política não pode significar o aniquilamento do outro.
Também “conclamam todos os cidadãos
e cidadãs, comunidades, partidos políticos e entidades da sociedade civil organizada, a fazer sua parte e cooperar para este mesmo fim, adotando, em suas manifestações, a busca permanente de soluções pacíficas e o repúdio a qualquer forma de violência, convictos de que a força
das ideias, na história da humanidade,
sempre foi mais bem sucedida do que as
ideias de força”.
Em seguida, acrescenta: “Se assim o fizermos, a História celebrará a maturidade, o equilíbrio e a racionalidade de nossa geração que terá sabido evitar a conflagração, que somente divide e não cons-
Manifestação. Ato reuniu militantes de movimentos de esquerda
Protesto ‘contra
todos’ em 12 cidades
Atos de sindicatos e
PSTU criticam governo
e oposição
Momento crítico. O ministro da Justiça e o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner
trói, fazendo emergir dos presentes desafios, ainda mais fortalecidas, as Instituições, a República e a Democracia”.
Leonardo Steiner destacou que as diferenças são salutares e necessárias, mas
rechaçou a opção pela agressão a quem
pensa de forma contrária.
— Para nós que temos o Evangelho como livro de vida, cada pessoa humana é
um filho e uma filha de Deus. E ninguém
pode agredir um filho e uma filha de
Deus, seja por meio da palavra ou de uma
agressão física — disse Steiner.
O ministro Aragão apontou para o sentimento de ódio e raiva decorrente da disputa política. Ele, entretanto, criticou a
oposição, e disse que há pessoas interessadas no “quanto pior, melhor”. Aragão
afirmou que as tentativas de retirar a presidente Dilma Rousseff do cargo têm ori-
gem no resultado da última eleição.
— Parece que há grupos, pessoas interessadas no quanto pior, melhor. E com
isso deixando o país com dificuldades de
manter a qualidade na sua governança e
deixando a economia em suspenso na
insegurança — disse o ministro.
Um dia após alertar que o clima de
intolerância entre os que defendem o
governo e os pró-impeachment pode
gerar “um cadáver”, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, foi
ameaçado de morte em seu perfil no
Facebook. “Olha Edinho Silva filho da
puta que vai morrer é você e os petistas”. Em outro comentário ele diz que os
petistas devem morrer à “bala”. O Ministério da Justiça determinou que a
Polícia Federal investigue a ameaça de
morte a Edinho. l
-SÃO PAULO E RIO-
C
om o slogan “Fora,
todos”, manifestantes se reuniram ontem em 12 capitais
para protestar contra políticos do governo e da oposição. O ato foi organizado pelo Espaço de Unidade de
Ação, que inclui movimentos
sociais, como a central sindical CSP-Conlutas e o PSTU.
Os alvos foram o governo
Dilma, o vice-presidente Michel Temer, os presidentes da
Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros,
além do senador Aécio Neves, do PSDB.
De acordo com os organizadores, nenhum dos atos
anteriores representou os
interesses da classe trabalhadora. O ato pedia uma
representação “independente do governo do PT, da
velha direita PSDB-PMDB”.
Em São Paulo, os participantes chegaram a fechar os dois sentidos da
Avenida Paulista no fim
da tarde de ontem.
No Rio, os manifestantes
se concentraram em frente à
Assembleia Legislativa. O
“Fora, todos” carioca incluiu
como alvo o governador Luiz
Fernando Pezão. Eles seguiram até a Cinelândia.
Também houve protestos
menores em mais dez capitais: Belém, Natal, Fortaleza, Aracaju, Macapá, Porto
Alegre, Teresina, Curitiba,
Belo Horizonte e Recife. l
8
l O GLOBO
l País l
2ª Edição Sábado 2 .4 .2016
LAVA-JATO
_
PGR deve incluir Lula no inquérito principal
Investigação aberta no STF é sobre o crime de formação de quadrilha no esquema de desvios na Petrobras
ANDRE COELHO/17-3-2016
VINICIUS SASSINE
[email protected]
-BRASÍLIA- A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja investigado no principal procedimento da
Operação Lava-Jato na Corte, o inquérito-mãe que apura crime de formação
de quadrilha no esquema de desvios de
recursos da Petrobras. O grupo de trabalho responsável pela Lava-Jato na
PGR prepara os primeiros pedidos de
abertura de inquérito a partir da delação premiada do senador Delcídio
Amaral (sem partido-MS), já homologada pelo STF e tornada pública no último dia 15 de março.
Parte das citações a Lula seria encaminhada ao procedimento já existente,
conforme um pedido em análise no
MPF. O ex-presidente é o político mais
citado na delação de Delcídio: são, ao
todo, oito acusações ao petista.
DILMA E TEMER TAMBÉM NA MIRA
A Lava-Jato já resultou em quase 40 inquéritos abertos no STF para investigar
autoridades com foro privilegiado e outros políticos conectados às acusações
apuradas. Entre eles estão deputados e
senadores dos principais partidos que
integram ou integraram a base de apoio
do governo e os presidentes da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A delação de Delcídio vai ampliar a quantidade de inquéritos da Lava-Jato no STF.
Além de Lula, a PGR estuda pedir a abertura de procedimentos para investigar a
presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e o principal líder
da oposição, Aécio Neves (PSDB-MG).
O inquérito número 3.989, com 39 políticos investigados, é considerado como
o principal em curso no STF, dentre os
procedimentos relacionados à Lava-Jato.
É o único que investiga o crime de formação de quadrilha e que conecta parla-
Ex-presidente. A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve incluir no inquérito aberto no Supremo parte das citações de Delcídio a Lula
Ex-presidente é o
político mais citado
na delação de
Delcídio Amaral:
são, ao todo, oito
acusações contra o
líder petista
mentares do PP, do PMDB e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em
Curitiba. Este inquérito-mãe é visto como oportunidade para se investigar o
suposto funcionamento de uma organização criminosa no fatiamento das diretorias da Petrobras entre partidos da base aliada, com pagamentos de propina a
partir de contratos superfaturados, em
troca de suporte político a diretores.
A delação de Delcídio já foi fatiada
pelo ministro Teori Zavascki, relator da
Lava-Jato no STF, em 19 petições. Este é
o passo prévio ao pedido de abertura
de inquéritos. No caso de Lula, fontes
consideram provável tanto o pedido de
remessa de acusações ao inquéritomãe quanto solicitações de novos inquéritos. Esta possibilidade já existia
antes da delação de Delcídio. Investiga-
ções em curso apontavam para uma
conexão de Lula — sem foro privilegiado — a irregularidades associadas a autoridades com foro, o que motivaria
uma apuração em conjunto no STF.
Na delação, Delcídio chegou a afirmar
que o ex-presidente foi um “grande
‘sponsor’ (patrocinador) dos negócios
do BTG”. A narrativa mais detalhada diz
respeito à tentativa de se evitar a delação
do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Delcídio ficou preso por tentar interferir na colaboração de Cerveró, com
proposta de ajuda financeira a familiares
e até mesmo um plano de fuga para o exdiretor. Segundo Delcídio, partiu de Lula
pedido para que intercedesse por José
Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.
O pedido teria sido feito no Instituto
Lula, em maio de 2015, conforme o dela-
Janot acusa PP de 668 atos de corrupção
Denúncia pede o
ressarcimento de
R$ 357,9 milhões
à União
ANDRÉ COELHO/17-8-2011
VINICIUS SASSINE
[email protected]
A Procuradoria-Geral
da República (PGR) atribui 668
atos de corrupção passiva e
1.091 atos de lavagem de dinheiro aos sete parlamentares e
ex-parlamentares do PP denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça-feira. A denúncia contempla quatro inquéritos da Operação Lava-Jato em curso no STF.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede na
denúncia a perda de bens e valores dos acusados em favor da
União no valor de R$ 357,9 milhões — montante que o MPF
diz que foi desviado para os integrantes do partido — e reparação por danos morais e materiais neste mesmo valor. O
procurador-geral também solicita perda de função pública
e dos mandatos em caso de
condenação pelo STF.
-BRASÍLIA-
VOTOS COBIÇADOS
Na acusação de mais de 250
páginas, Janot diz que os desvios da Petrobras garantiram a
permanência do PP na base de
apoio ao governo. A busca pelo
controle da propina, inclusive,
chegou a motivar a troca do líder do partido na Câmara em
2011, conforme a denúncia.
Agora, o PP passou a ser um
dos partidos mais cobiçados
pela presidente Dilma Rousseff
para tentar evitar o impeachment no Congresso, depois do
desembarque do PMDB nesta
semana. No balcão de cargos, o
PP passou a ter prioridade.
O suposto esquema de arrecadação de propina que coube
ao partido, a partir da Diretoria
de Abastecimento da Petrobras, contou com o protago-
Ex-ministro. Mário Negromonte é um dos sete acusados em denúncia do MP
nismo de dois ex-deputados diz respeito a uma suposta
federais: Mário Negromonte, “ameaça à vida” do ex-deputaque também foi ministro das do Luiz Argôlo, para que ele não
Cidades no primeiro governo delatasse pai e filho, como
Dilma e depois conselheiro do consta na denúncia. Argôlo foi
Tribunal de Contas dos Muni- preso e condenado pela Justiça
cípios (TCM) da BaFederal em Curitiba, na
U
hia, e João Pizzolatti
Operação Lava-Jato.
Júnior, secretário exLuiz Fernando Faria
Números
traordinário de Rela(MG), Roberto Britto
ções Institucionais do
(BA) e Arthur Lira (AL)
governo de Roraima.
R$ 357,9 são acusados de dois
A denúncia ao STF
atos de corrupção e
MILHÕES
atribui 288 atos de cordois de lavagem cada.
Total do
rupção e 665 de lavaJosé Otávio Germano
desvio para o
gem a Negromonte. A
PP, diz o MPF (RS), de quatro atos de
Pizzolatti, são 280 e
corrupção e quatro de
326, respectivamente.
lavagem de dinheiro.
Os outros cinco deCada ato equivale a um
1.091
nunciados do PP estão
repasse, uma transfeATOS DE
no exercício de seus
rência, um benefício ou
LAVAGEM
mandatos na Câmara e
uma solicitação de proAtribuídos a
são considerados impina, principalmente
integrantes
portantes na guerra por
por meio de doações
do partido
votos do impeachoficiais de campanha,
ment. Mário Negrono caso dos parlamenmonte Júnior (BA) foi
tares com mandato.
288
acusado de 90 atos de
A denúncia acusa NeATOS DE
corrupção passiva, 90
gromonte pai e PizzoCORRUPÇÃO
de lavagem de dinheiro
latti de controlarem a
Atribuídos ao
e um de integração de
propina arrecadada peex-ministro
organização criminosa.
lo PP e de decidirem
Negromonte
Negromonte Júnior é
quais parlamentares
suspeito de ter moviseriam beneficiados
mentado dinheiro descom o dinheiro, disfar665
viado da Petrobras em
çado de doação eleitoATOS DE
contas conjuntas com
ral. Segundo a PGR, os
LAVAGEM
o pai. A acusação de orparlamentares tinham
Atribuídos a
ganização criminosa
conhecimento do esNegromonte
quema existente e atuavam na
Câmara para mantê-lo, por
meio de sustentação política ao
então diretor de Abastecimento
da Petrobras, Paulo Roberto
Costa, ligado ao PP.
“A sustentação política fornecida por Pizzolatti e Negromonte à indicação e manutenção de Paulo Roberto consistia
na sinalização continuada,
através do PP, de que a preservação desse estado de coisas
era um dos fatores da permanência da agremiação partidária na ‘situação’, ou seja, na coalização partidária que dava
ao governo base de votos no
Congresso Nacional”, registra a
denúncia ao STF.
FORNECEDORES FANTASMAS
Ainda conforme a acusação,
Pizzolatti e Negromonte “agiram no sentido de direcionar
vantagens indevidas a outros
membros do PP, previamente
ajustado com estes, que tinham pleno conhecimento
dos fatos, a fim de que eles se
elegessem ou se reelegessem,
ampliando ou menos mantendo a base de sustentação política do esquema de corrupção
e lavagem de dinheiro”. A PGR
cita que diversos fornecedores
das campanhas de parlamentares do PP não existem, uma
prova de que o sistema eleitoral teria sido usado como “ficção para receber propina”.
A denúncia registra ainda
que Pizzolatti buscou dinheiro
junto ao doleiro Alberto Youssef, considerado o operador do
PP, por 23 vezes, no próprio escritório do doleiro. O dinheiro
arrecadado somou R$ 3,9 milhões, conforme a acusação.
Os investigadores detectaram entregas de dinheiro vivo,
depósitos bancários a assessores e repasses a parentes de
Pizzolatti e de Negromonte. l
NA WEB
bit.ly/1PmM7DN
Políticos investigados
na Lava-Jato
tor. “Lula manifestou grande preocupação com a situação de José Carlos Bumlai em relação às investigações da LavaJato. Lula expressou que Bumlai poderia
ser preso em razão das colaborações
premiadas que estavam vindo à tona,
particularmente de Fernando Baiano e
Cerveró e que, por conta disso, Bumlai
precisava ser ajudado”, disse Delcídio.
A partir dessa conversa, o filho de
Bumlai, Maurício Bumlai, foi procurado,
“momento em que transmitiu o recado e
as preocupações de Lula”. “O pedido de
Lula para auxiliar Bumlai, no contexto
de ‘segurar’ as delações de Cerveró, certamente visaria o silêncio deste último e
o custeio financeiro de sua respectiva família”, interpretou o delator.
O Instituto Lula disse que “não comenta falatórios”. “Quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex-presidente Lula
que o faça diretamente e apresente provas, ou não merecerá resposta.” O instituto lembrou que Lula já prestou depoimento no inquérito-mãe da Lava-Jato.
“ÉPOCA”: LULA E O LOBISTA DA ODEBRECHT
De acordo com a revista “Época”, a Polícia Federal encontrou provas de que
Lula, ainda como presidente, atendeu a
pedido de um lobista da Odebrecht.
Um e-mail recuperado pela Lava Jato
indica uma ação de Lula para favorecer
a Braskem — uma empresa do grupo
Odebrecht — em negócio no México.
A Odebrecht queria que Lula fosse ao
México, em 2009, se encontrar com o
então presidente, Felipe Calderón, em
reunião para assinatura de um contrato
da Braskem com a mexicana Idesa. O
acerto previa a construção de um complexo petroquímico de US$ 5,2 bilhões
no estado mexicano de Veracruz.
Em fevereiro de 2010, Lula esteve no
México para a 2ª Cúpula da América
Latina e do Caribe sobre Integração e
Desenvolvimento. No dia 23, Lula teve
a reunião com Calderón, na qual se comemorou a assinatura do contrato entre a Braskem e a Idesa. l
Jaques Wagner: ‘Chegou a
vez dos pequenos partidos’
Dilma demite aliado
de Temer na CEF e
indica aliado do PTB
para Casa da Moeda
CATARINA ALENCASTRO E
CRISTIANE JUNGBLUT
[email protected]
-BRASÍLIA- O ministro Jaques Wag-
ner, chefe do gabinete da presidente Dilma Rousseff, disse ontem que o governo transformou
o desembarque do PMDB, seu
principal aliado, em um fator
positivo. Segundo Wagner, agora é hora de os aliados dos pequenos partidos ocuparem os
melhores ministérios. Wagner
se reuniu à tarde com Dilma, no
Palácio da Alvorada, para tratar
das mudanças.
“Repactuar o governo é reorganizar a base de apoio. Nada
a ver com compra de votos.
Trata-se de ocupar os espaços
vazios com novos partidos que
ainda não tiveram oportunidade de ter cargo no primeiro escalão. Chegou a vez de os pequenos partidos, sempre deixados para trás devido ao
PMDB ter os melhores ministérios. O governo transformou
um fator muito negativo em
positivo”, disse Wagner por
meio de sua assessoria.
Dilma exonerou ontem mais
um aliado do vice-presidente
Michel Temer: Roberto Derziê
de Sant’Anna deixou o cargo
de vice-presidente da Caixa
Econômica Federal (CEF).
Funcionário do banco, Sant’Anna trabalhou diretamente
com Temer, entre junho e outubro do ano passado, quando
o vice atuou na articulação política do governo. Ele também
é ligado a Geddel Vieira Lima,
um dos maiores defensores do
desembarque do PMDB.
Por outro lado, Dilma ontem
nomeou um aliado do PTB,
cujo líder da bancada na Câ-
| Opinião |
TESTE DE
REALIDADE
DEPOIS DE toda a saliva
gasta pelo ministro Nelson
Barbosa e pelo professor de
Direito Ricardo Lodi, na
comissão do impeachment,
em defesa de Dilma, continua a pairar sobre o Planalto
enorme ponto de interrogação.
SE LEIS e regulamentos
fiscais foram cumpridos à
risca, o que houve então?
Crise mundial não foi, sabe
quem lê jornal. Ou as leis e
regulamentos, se cumpridos
fielmente, provocam desastre fiscal? Um contrassenso.
OU SEJA, as explicações e
justificativas oficiais não
passam no teste de uma
realidade em que o déficit
público bateu nos inimagináveis 10% do PIB, e parte
dos quais provém de muitos
gastos que foram escondidos
pela “contabilidade criativa”.
SEM FALAR nos erros mesmos do “novo marco macroeconômico”. Simples.
mara, o deputado Jovair Arantes (GO), é relator do processo
de impeachment na comissão
especial da Câmara. O governo
nomeou Jeovah de Araújo Silva Junior para o cargo de diretor da Casa da Moeda, no lugar
de Paulo Ricardo de Mattos
Ferreira, que foi exonerado.
Essas mudanças também estão na edição de ontem do Diário Oficial da União. l
l País l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 9
A BATALHA DO IMPEACHMENT
_
Defesa de Dilma será apresentada na segunda-feira
Presidente da comissão de julgamento já pensa em abrir sessão na madrugada do dia 11 para não perder prazo
JÚNIA GAMA, EDUARDO
BRESCIANI E ISABEL BRAGA
[email protected]
-BRASÍLIA- A defesa da presidente
Dilma pedirá a anulação do
processo de impeachment na
comissão que analisa o caso na
próxima segunda-feira. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que apresentará
a defesa, fará uma arguição de
STF divulga
decisão de Marco
Aurélio sobre
Temer por erro
Nota explica confusão;
vice-presidente também
é alvo de Cid Gomes
CAROLINA BRÍGIDO
E LETÍCIA FERNANDES
[email protected]
-BRASÍLIA- A assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou ontem uma
decisão do ministro Marco Aurélio Mello determinando que a
Câmara dos Deputados inicie
processo de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer. Logo em seguida, a própria
assessoria corrigiu a informação: o documento ainda estava
sendo elaborado e não tinha sido assinado pelo ministro. O
ministro informou que só julgará o caso na segunda-feira.
No documento divulgado,
Marco Aurélio determina que
o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), abra o
processo contra Temer e, em
seguida, envie o caso a uma
comissão especial. A polêmica
começou quando o advogado
Mariel Márley Marra propôs o
processo à Câmara. Cunha arquivou o caso porque não haveria qualquer indício de crime de responsabilidade. Marra recorreu ao STF em um
mandado de segurança, sorteado para a relatoria de Marco
Aurélio. Segundo a assessoria
de imprensa, o documento foi
divulgado acidentalmente.
Também ontem, o ex-governador do Ceará, Cid Gomes
(PDT), protocolou um novo
pedido de impeachment contra Michel Temer. Cid citou como justificativa denúncias envolvendo Temer enquanto vice-presidente da República e
na condição de presidente do
PMDB. Ele cita no documento,
entre outras coisas, denúncias
feitas pelo ex-líder do governo
no Senado, Delcídio Amaral
(Sem partido-MS), e acusações feitas na Operação Catilinárias, instaurada a partir de
provas obtidas na Lava-Jato.
‘CITAÇÕES EQUIVOCADAS’
Cid Gomes pediu que, por haver no documento citações diretas a Eduardo Cunha, o processo seja analisado pelo vicepresidente da Casa, Waldir
Maranhão (PP-MA), aliado do
peemedebista.
A assessoria do vice-presidente soltou nota à noite afirmando que o pedido “traz uma
série de citações já esclarecidas à imprensa. Notícias velhas sem sustentação, citações
equivocadas e interpretações
de pessoas mal informadas”. l
acesse
140
BANGU SHOPPING Rua Fonseca, 240
SHOPPING METROPOLITANO BARRA
Av. Embaixador Abelardo Bueno, 1.300
CASCADURA Av. Dom Helder Camara, 9.783
nulidade em sua exposição, segundo a qual a denúncia é inepta devido a vícios como se basear em temas relativos ao mandato anterior de Dilma.
Cardozo pretende fazer uma
sustentação oral de duas horas,
na qual usará como base parte
do despacho do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), no qual ele acatou o
pedido de impeachment. No do-
cumento, Cunha diz não ser possível a responsabilização da presidente da República por atos anteriores ao mandato vigente.
Ainda que rejeite a parte dos
argumentos baseados nas contas de 2014, o presidente da
Câmara acatou a denúncia
com base na indicação de decretos assinados por Dilma em
2015 “sem autorização do
Congresso”. A defesa feita por
Cardozo também tocará na
questão das contas de 2015,
considerada “mais fácil” de explicar pelo governo.
A comissão do impeachment
vai correr contra o tempo para
aprovar seu parecer final dentro
do prazo. Após a entrega da defesa, na segunda-feira, serão
apenas cinco sessões para apresentação, discussão e votação
do relatório do deputado Jovair
Arantes (PTB-GO). Diante desse cenário, o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSDDF), já estuda abrir os trabalhos
no dia 11 de abril às três horas
da manhã, para encerrar os trabalhos no mesmo dia.
Jovair já anunciou que não vai
deixar seu relatório para o último dia, pois um pedido de vistas deve fazer com que sejam
perdidas duas das cinco sessões
de que a comissão dispõe.
— Eu vou queimar etapas,
mas exatamente como o STF
determinou, dentro do rito estabelecido pelo STF, dentro da
Constituição Federal e usando
o regimento — disse Jovair. l
NA WEB
bit.ly/1VUbrH2
O mapa dos votos do
impeachment
10
l O GLOBO
l País l
Sábado 2 .4 .2016
Chacina de
Osasco: um
drama longe
de ter fim
EDILSON DANTAS
À espera de indenização e justiça,
parentes dos 19 mortos sofrem
com medo, depressão e pobreza
MARIANA SANCHES
[email protected]
-SÃO PAULO -Quase oito meses depois da chacina que resultou na
morte de 19 pessoas em Osasco
e Barueri, região metropolitana
de São Paulo, as famílias das vítimas passam por dificuldades financeiras tão grandes que a
equipe da Defensoria Pública —
responsável pela defesa dos familiares — tem feito “vaquinha”
para tentar ajudar a custear despesas tão prosaicas quanto as de
uma passagem de ônibus. A
maioria dos mortos era formada
por homens jovens, cujo salário
era a principal, quando não a
única, fonte de renda da casa. A
penúria é tanta que algumas famílias têm tido dificuldade até
para colocar comida no prato. A
esperança é que, depois de apresentada denúncia pelo Ministério Público contra um guarda civil municipal e três policiais militares, em janeiro, o governo de
São Paulo aceite pagar indenizações às famílias.
— Existem grupos especializados em matar dentro da PM.
Se um agente do Estado comete um crime, é o Estado quem
deve arcar com danos morais e
materiais — afirma a defensora pública Maíra Coraci Diniz,
responsável pelo caso.
À ESPERA DO ÔNIBUS
Entre os beneficiários estaria Jean Fábio, de 35 anos, um homem franzino de olhos verdes
circundados por sulcos profundos e escuros. Na última vez
que Jean viu o companheiro
Eduardo dos Santos, de 41 anos,
com vida, ele fazia piada com o
fato de estar, como de costume,
atrasado para um compromisso. Era a manhã do dia 13 de
agosto de 2015. Horas depois,
Jean encontraria Eduardo ainda
sentado na cadeira vermelha
que ocupara quando, cansado
de esperar pelo ônibus com o
amigo Thiago Damas, se sentou
para tomar uma cerveja no bar.
Eduardo tinha sido baleado diversas vezes e já não respirava
mais. Thiago morreria de madrugada, também vítima da
matança.
Depois do episódio, Jean não
reencontrou o fio da própria vida. Ele sofre de depressão e não
dorme sem ajuda de remédio.
Deixou o emprego como ajudante de cozinha em uma lanchonete no bairro onde os crimes aconteceram por medo de
represálias. Saiu da casa simples
que dividiu com o companheiro
ao longo de seis anos e vive de
favor com uma amiga. Sequer
consegue receber o dinheiro dos
aluguéis de inquilinos que ocupam imóveis na periferia de
Osasco pertencentes a Santos.
Os ocupantes não reconhecem a
relação homossexual do casal e
o tratam com hostilidade.
— Se não fosse minha mãe,
acho que já tinha feito uma
besteira — diz, em prantos.
ROUBO NO HOSPITAL
Na mesma sala da defensoria,
Ana Damas esperava com a senha número 1 em mãos. Irmã
de Thiago, de 32 anos, amigo
de infância do companheiro
de Jean, ela tem dificuldade
em lidar com a dor da perda e
da sequência de fatos que se
desenrolou depois da chacina.
Enquanto o irmão sofria uma
operação para tentar estancar
a hemorragia provocada pelas
balas, seus documentos e cartões de banco acabaram furtados dentro do próprio hospital.
Ultimamente, a família busca,
em vão, por notícias sobre as
investigações. A roupa que
Thiago usava na noite do crime continua guardada pela irmã, que teme se desfazer dela
e perder prova que incrimine
os culpados. Um mês depois
da morte de Thiago, Ana perdeu o emprego. Já não pode
contar com a ajuda financeira
do caçula, que vivia com ela.
Não contém o choro ao lembrar que quatro dias antes de
morrer, Thiago fez uma feijoada em comemoração ao aniversário da irmã.
— Agora compro um saco de
arroz ali, um saco de feijão uma
semana depois. Vivo com dificuldade. Em casa, ele fazia tudo
por mim. Se queimava um chuveiro, era ele quem consertava.
Se eu precisava ir ao médico, ele
Vida interrompida. Um dos familiares atingidos pela tragédia é recebido pela defensora pública Maíra Coraci Diniz: falta de recursos e medo de represália
EDILSON DANTAS
U
Memória
A MAIOR
MATANÇA APÓS
CARANDIRU
À espera. Número da senha de atendimento nas mãos e dor no coração
“Existem grupos
especializados
em matar dentro
da PM. Se um
agente do Estado
comete um
crime, é o Estado
quem deve arcar
com danos
morais e
materiais”
Maíra Coraci Diniz
Defensora pública
que me acompanhava. Sinto a
ausência dele todo dia, é uma
dor que não passa — diz Ana,
que teme sofrer vingança.
O pintor Amaury Custódio, de
54 anos, costumava sentar para
beber e conversar com os amigos no bar sem nome da periferia de Osasco. Não era incomum que, pelo efeito do cansaço e da bebida, ele cochilasse na
mesa. Na noite da chacina foi o
que aconteceu. Amaury acordou dois dias depois, na UTI de
um hospital. Agora depende de
um balão de oxigênio para respirar. É improvável que volte a
comer algo sólido, mesmo depois de cirurgias que tentaram
reconstruir seu maxilar, destruído pelos tiros. Nunca mais voltará a exercer a profissão, mas
ainda não conseguiu se aposentar. Tampouco poderá participar dos jogos do time de futebol
do bairro. O nome do Sem Saída Futebol Clube, cuja sede fica
em frente ao bar que Amaury
gostava de frequentar, se converteu em um resumo cru não
apenas da noite do dia 13 de
agosto, mas dos meses que o
sucederam. l
Passava pouco das 20h do dia
13 de agosto de 2015 quando
homens encapuzados e usando
luvas cirúrgicas circularam pela
periferia de Osasco e Barueri
espalhando o terror. Abordavam
quem encontrassem pela rua,
perguntavam se a vítima tinha
passagem pela polícia e, na
sequência, a executavam, com
tiros no rosto, cabeça e tronco.
O saldo da matança foi de 19
mortos, 18 homens e uma mulher,
e dois feridos que sobreviveram
com sequelas graves. Foi o maior
massacre em São Paulo desde o
episódio do Carandiru, em 1992,
quando 111 presos foram
assassinados na casa de detenção.
Desde as primeiras horas após
os assassinatos, os familiares
acusavam policiais militares de
serem os autores dos crimes. No
entanto, um mês depois do
episódio, as investigações pouco
tinham avançado, o que levou
manifestantes a ocuparem a
Avenida Paulista de mordaças e
carregando cruzes.
Em janeiro, o Ministério Público
denunciou quatro pessoas pela
chacina: um guarda civil
metropolitano e três policiais
militares. Um dos policiais
denunciado pelo caso de Osasco já
responde a seis processos por
matanças na periferia.
— Ainda assim é pouco.
Sabemos que há mais pessoas
envolvidas no crime — afirma a
defensora Maíra Coraci Diniz, que
atua como assistente de acusação
contra os agentes públicos.
O crime teria sido motivado por
vingança depois do latrocínio do
policial Ademilson Pereira de
Oliveira. A chacina aconteceu seis
dias depois da morte de Oliveira.
— Nossa briga é para que as
investigações não se encerrem —
afirma a defensora Maíra, também
responsável pelo pedido de
indenização às famílias pelo
Estado. Ainda não se sabe qual
pode ser o valor a ser pago pelos
danos morais e materiais.
MARCOS ALVES/28-8-2015
Justiça. Manifestantes protestam com cartazes e sacos pretos na Paulista
Secretário de Alckmin citado na máfia da merenda deixa governo
Investigação em
esquema de fraude
foi arquivada por
falta de provas
SILVIA AMORIM
E STELLA BORGES
[email protected]
Citado no esquema
da máfia da merenda, o secretário estadual de Logística e
Transportes de São Paulo, Du-
-SÃO PAULO-
acesse
140
SHOPPING BOULEVARD SÃO GONÇALO
Av. Presidente Kennedy, 425
SÃO GONÇALO SHOPPING Av. São Gonçalo, 100
IRAJÁ Av. Monsenhor Felix, 1.154
arte Nogueira, anunciou ontem que vai deixar o governo
de Geraldo Alckmin (PSDB)
para reassumir seu mandato
de deputado federal. A volta à
Câmara dos Deputados, segundo nota, é para participar
da votação do impeachment
contra a presidente Dilma. Em
seguida, Nogueira deve se candidatar à prefeitura de Ribeirão Preto, interior paulista.
A Corregedoria Geral da Administração de São Paulo arquivou ontem a investigação
contra ele, o ex-secretário da
Educação Herman Voorwald,
e o ex-chefe de gabinete da secretaria da Educação Fernando Padula. Os três sempre negaram as acusações. Eles eram
suspeitos de envolvimento na
Operação Alba Branca, deflagrada em janeiro, que investiga
um esquema de fraude em licitações para o fornecimento de
merenda escolar. Para a corregedoria, não foram encontradas provas suficientes que sustentassem as acusações.
AILTON DE FREITAS/7-12-2011
Na Câmara. Duarte Nogueira reassume mandato para participar de votação
Os alimentos para merenda
— principalmente suco de laranja integral — eram vendidos pela Cooperativa Orgânica
Agrícola Familiar (Coaf ), baseada em Bebedouro, no interior
paulista. A fraude foi descoberta graças ao depoimento de
um colaborador, que contou
aos investigadores que a cooperativa contratava “lobistas”
para que atuassem em defesa
de seus interesses junto à Secretaria de Estado de Educação e a pelo menos 22 municípios paulistas.
Nesta semana, a Polícia Civil
prendeu Paulo Leonel Julio, expresidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, e outras seis
pessoas acusadas de ligação
com o esquema. O filho dele,
Marcel Ferreira Julio, apontado
como elo de ligação entre a Coaf
e o governo de São Paulo, se entregou à Polícia anteontem.
Duarte Nogueira anunciou
sua saída do governo Alckmin
em uma rede social. “A partir
da semana que vem reassumirei meu mandato de deputado
federal para participar de um
momento de extrema relevância (...) Os paulistas, em especial os da minha cidade natal,
Ribeirão Preto, sempre foram
destaques nas manifestações
pro-impeachment e, tendo sido eleito por eles, não posso
deixar de representá-los”, escreveu.
Em poucos dias, esta é a segunda baixa na equipe de
Alckmin. Na semana passada,
Edson Aparecido, braço direito
do governador, deixou a secre-
taria da Casa Civil. Ele deve se
candidatar a vereador nas eleições deste ano.
Ao longo das investigações da
máfia da merenda foram citados
ainda o nome do atual presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), e de outros políticos
paulistas: os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (SD) e
Fernado Cury (PPS), além dos
deputados federais Baleia Rossi
(PMDB) e Nelson Marquezelli
(PTB). Todos negam ter participado do esquema. l
acesse
140
BOULEVARD RIO SHOPPING
Rua Barão de São Francisco, 236
SHOPPING NOVA AMÉRICA
Linha Amarela, Saída 5 e Metrô Del Castilho
GUANABARA ALCÂNTARA
Av. Jornalista Roberto Marinho, 221
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
Rio
RENAN FRANÇA
UM DIA DE
TORMENTO
LUÍS GUILHERME JULIÃO
Foi de moto
Com medo de perder o voo
para João Pessoa, o
pedreiro Josaíton
Amancio, de 45 anos,
estacionou seu carro em
Jacarepaguá e pediu ao
irmão para levá-lo de moto
até o Tom Jobim, na Ilha.
Suplício
RENAN FRANÇA
De muletas, o pedreiro
Cristiano Inácio, de 32
anos, chegou duas horas
atrasado para a consulta
marcada às 7h30m no
Into. Depois de explicar o
ocorrido na recepção,
conseguiu ser atendido.
l 11
Sem festa
Com presentes na mala, a
estudante Gabriele Silva
iria ao aniversário dos
sobrinhos em Cuiabá, mas
perdeu o voo das 10h. Ela
remarcou a passagem
para as 21h. Mas não
chegou a tempo da festa.
Danem-se os outros
Taxistas fecham vias importantes em ato contra Uber e causam 125km de engarrafamento
PABLO JACOB
Sem passagem. Taxistas bloqueiam o tráfego na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro: por causa da manifestação, o trânsito na região e em seus acessos deu um nó que só se desatou completamente por volta das 15h30m
Milhares de pessoas viram o seu direito
de ir e vir cerceado ontem por taxistas do
Rio, de Niterói e São Gonçalo, que, num
protesto contra o Uber, bloquearam importantes vias de acesso ao Centro. Lentas carreatas ocuparam todas as faixas
de rolamento, paralisando totalmente o
trânsito e provocando 125 quilômetros
de engarrafamentos, segundo cálculo da
Secretaria municipal de Transportes.
Presos no congestionamento, muitos
chegaram atrasados ao trabalho, perderam compromissos e voos. Passageiros
desembarcaram de ônibus retidos e seguiram a pé. Na Linha Vermelha, uma
gestante entrou em trabalho de parto e
precisou ser socorrida por PMs.
Marcada para as 3h, a concentração de
taxistas ocorreu em Copacabana, Ilha do
Governador e São Cristóvão. Os que foram para a Avenida Atlântica seguiram,
no início da manhã, para o Aterro do Flamengo, e o tráfego ficou parado de Botafogo até a Marina da Glória. A Estrada do
Galeão também foi afetada. Ainda de
madrugada, manifestantes bloquearam
duas faixas da Avenida Francisco Bicalho, causando reflexos no Viaduto do
Gasômetro, na Ponte Rio-Niterói, na
Avenida Brasil e na Linha Vermelha no
sentido Centro. Às 9h30m, o tempo de
travessia da Ponte era de 1h45m (um recorde de lentidão na via), caindo para 25
minutos às 12h10m.
O Código de Trânsito Brasileiro prevê
multa de R$ 5.746,20 para quem bloquear
uma via pública. Às 10h, motoristas ainda
enfrentavam 68 quilômetros de engarrafamento na cidade. Só por volta de
15h30m, não havia mais registro de congestionamento por causa do protesto.
AJUDA E REVOLTA EM MEIO AO CAOS
Os pais de Valentina jamais imaginariam
que ela escolheria para nascer numa
manhã de trânsito caótico. Em meio ao
engarrafamento da Linha Vermelha,
Priscila da Silva Nolasco de Souza começou a sentir fortes contrações. Ela e o
marido, Kleiton Anibolete de Souza,
acharam que o bebê viria ao mundo
dentro do carro, até que o soldado Jesus
cruzou o caminho do casal e levou a gestante para o Instituto Fernandes Figueira, no Flamengo. Segundo o hospital,
Valentina e a mãe passam bem.
— Eu estava no lugar certo, na hora
certa. Foi emocionante — disse o soldado André Cardoso de Jesus. — Paramos a
viatura e vimos que a mulher estava tendo fortes contrações. Ligamos a sirene e
seguimos. Mesmo assim, só consegui
chegar ao hospital 40 minutos depois.
Menos sorte teve a dona de casa Maria de Lourdes. Com um exame de eletroneuromiografia marcado, ela ficou
revoltada quando viu que não chegaria
a tempo ao Centro:
— O exame estava marcado há quase
dois meses. Quando chega o dia, é um
sufoco desse.
Já a diarista Susana Cerqueira contou
que começaria a fazer faxina numa nova casa ontem:
— No meu primeiro dia de trabalho
na casa, vou chegar atrasada. Vão pensar o que de mim? Isso é um absurdo.
Esses taxistas não podem prejudicar as
pessoas assim. Estou indignada.
Parado no engarrafamento, o protético Eduardo Raposo criticou a forma de
protesto:
— Até entendo o motivo da manifestação, mas eles não conseguirão o apoio
da população interrompendo o trânsito
em vias especiais e não permitindo que
as pessoas cheguem ao trabalho.
O protesto dos taxistas também prejudicou os passageiros que seguiam
para os aeroportos Santos Dumont e
Tom Jobim. Para chegar ao primeiro,
alguns precisaram caminhar quase
meia hora da estação do metrô da Cinelândia até o terminal. Foi o caso do
técnico de informática Iran Alves:
— Não tinha transporte e precisei vir caminhando até o aeroporto. Na minha opinião, os taxistas prestam um péssimo serviço e ainda fazem esse tipo de manifestação. Não acho justo com a população.
A atriz Maitê Proença conseguiu chegar de carro ao Santos Dumont a tempo
de pegar seu voo, apesar do trânsito
que enfrentou:
— A concorrência é boa para melho-
Perfil
ANDRÉ DE OLIVEIRA
À frente do caos, mas sem
autonomia de táxi
Com três passagens pela polícia, motorista que atua
como auxiliar preside associação da categoria
O protesto dos taxistas foi comandado
por André de Oliveira, que atua como
motorista auxiliar (não tem autonomia), acumula três passagens pela polícia e já foi candidato a deputado federal, com o apoio do ex-secretário de
Transportes Carlos Roberto Osorio.
Em novembro de 2015, durante outra manifestação contra o Uber, André
disse que dirigia táxi há 13 anos, mas
que nos dois últimos se dedicava à Associação de Assistência aos Motoristas
de Táxi do Brasil, da qual ainda é presidente. De acordo com dados da Secretaria municipal de Transportes, ele está registrado como motorista auxiliar
desde 2005. Em 2012, deixou de ser ta-
xista, atividade que retomou em 2013.
André tentou conquistar uma vaga
de deputado federal pelo Solidariedade (SDD), mas foi barrado pelo TSE
por causa de seus antecedentes e porque não conseguiu reunir a documentação necessária. Ele responde hoje a
uma acusação de ameaça contra uma
mulher (Lei Maria da Penha). Outras
duas acusações foram arquivadas:
uma de violência contra mulher e outra de fraude contra a Caixa.
Osorio disse que durante as eleições
fez trabalhos com André, mas afirmou
desconhecer que ele tinha passagem
pela polícia, acrescentando ser contra
um movimento que paralise o Rio. l
rar o serviço. Mas não sei se a forma de
conseguir simpatia é parando o Centro
da cidade.
Para ir de sua casa, na Barra, ao Tom
Jobim, o engenheiro Bernardo Moura
levou quatro horas. Ele embarcaria às
9h50m para Porto Alegre, mas só conseguiu chegar às 11h ao aeroporto. Pelo
menos conseguiu remarcar a passagem
para ontem à tarde.
— Entendo a situação dos taxistas,
mas acho que não podem privar uma
parcela da população de cumprir compromissos. Há outros lugares onde eles
poderiam ter feito esse protesto — disse o engenheiro.
Segundo o chefe-executivo do Centro
de Operações da prefeitura, Pedro Junqueira, a manifestação foi uma das de
maior impacto na cidade:
— Isso porque, em vez de trafegarem
em fila indiana, os taxistas ocuparam
mais faixas e bloquearam o trânsito. Portanto, a capacidade das pistas foi reduzida em relação aos protestos anteriores.
MOMENTOS DE TENSÃO
Muitos manifestantes levaram apitos e
cartazes pedindo respeito. Luiz Antônio Rodrigues, de 59 anos, que trabalha
como taxista há 26, garantiu que este é
o pior momento da sua carreira.
— Os motoristas do Uber estão roubando nossos clientes. Se antes eu fazia
até 15 corridas por noite, hoje elas chegam a no máximo cinco — disse ele,
que aderiu à manifestação vestindo
uma peruca e um nariz de palhaço.
Grupos de taxistas provocaram momentos de tensão. No Santos Dumont,
um casal foi impedido de embarcar num
carro que parecia ser do Uber. Em frente
ao Tribunal de Justiça, houve alguns incidentes. Num deles, o pintor automotivo Douglas de Souza foi confundido
com um motorista do aplicativo ao se
envolver num acidente. Disse não ter
visto o sinal fechar e atropelou a assistente jurídica Flávia Gomes. Como seu
carro é preto, alguém gritou “é Uber!”, e o
veículo foi rodeado e chutado por manifestantes. Acuado, Douglas saiu do carro
com uma barra de ferro e partiu para cima dos taxistas, sendo contido por guardas municipais e por PMs.
Com o protesto, alguns ônibus saíram
da Rodoviária Novo Rio com 40 minutos
de atraso. Metrô, trens e barcas circularam com a frota máxima e lotados. l
‘A gente tem que
fechar o Galeão
de manhã, fechar
as saídas da Ilha’
Em áudios divulgados no
dia anterior, taxistas já
ameaçavam radicalizar
Um dia antes do protesto, os taxistas, ao divulgarem o ato, já
avisavam que pretendiam radicalizar o movimento e paralisar
diversas vias da cidade. Por
meio de mensagens enviadas
pelo aplicativo WhatsApp, alguns manifestantes já ameaçavam quebrar carros do Uber e
agredir os motoristas do serviço.
“É parar a cidade mesmo, do
nosso jeito. Não dar confiança à
guarda, nem à polícia. Se a polícia desviar o trânsito para algum
lugar, ninguém vai. Se começar a
encrencar com a gente, larga o
carro na rua. O negócio é tumultuar”, disse o taxista no áudio,
cheio de palavrões e até ameaças
de morte.
“Vai morrer taxista? Vai! Vai
morrer Uber também (...). O negócio é começar a quebrar carro
deles também”, completou.
Em outro áudio, um taxista
também falava em parar o
trânsito da cidade:
“Não pode ser pouco táxi
não, galera. Os caras vão sair
anotando todo mundo. Se tiver
muita gente junta, eles não
anotam, porque a galera chega
em cima, bota um terror e eles
seguram a onda (...). Tem que
fechar o Galeão de manhã cedo, fechar a saída da Ilha e a
entrada da Ilha para quebrar o
Galeão, entendeu? Chegar ao
Santos Dumont e fechar a entrada para os carros da Uber
não entrar ali para pegar passageiros. Ninguém vai entrar,
ninguém vai sair.” l
12
l O GLOBO
UM DIA DE
TORMENTO
l Rio l
LUÍS GUILHERME JULIÃO
Sábado 2 .4 .2016
RENAN FRANÇA
Melhor ir a pé
Com o braço quebrado,
Edmilson Nogueira, de 60
anos, atravessava a Av.
Francisco Bicalho por volta
das 9h de ontem. Pecisava
chegar ao trabalho, em São
Cristóvão, às 8h30m, e
caminhava há uma hora.
Sozinho
LUÍS GUILHERME JULIÃO
Thomaz Schulze, de 30
anos, levou cinco horas de
Teresópolis ao Tom Jobim.
Ele passaria o fim de
semana com a namorada,
em São Paulo, mas decidiu
cancelar a viagem após
chegar atrasado ao Galeão.
Atraso
Depois de enfrentar duas
horas de trânsito na Ponte
e mais 2km de caminhada,
Júlio César Bastos, de 26
anos, chegou atrasado à
Rodoviária Novo Rio e teve
de remarcar a passagem
para Muriaé, em Minas.
Autoridades
não evitaram
fechamento
do tráfego
GABRIEL DE PAIVA
Paes até ameaçou com cassação
de permissões, mas a medida
ficou para o próximo protesto
Autoridades demoraram a agir
para evitar o caos no trânsito em
decorrência do protesto dos taxistas. Só às 9h30m, a prefeitura
decretou estágio de atenção, segundo nível de uma escala de
três. A PM também não impediu
que motoristas bloqueassem vias. Ainda de manhã, o secretário
municipal de Transportes, Rafael
Picciani, conversou com líderes
do movimento e exigiu que a
normalidade se restabelecesse
até o meio-dia. O prefeito Eduardo Paes chegou a ameaçar cassar
permissões dos que não desobstruíssem as ruas após esse horário, mas nada aconteceu. Segundo Paes, porque eles cumpriram
com a palavra. Mais tarde, o prefeito afirmou que na próxima
manifestação em que ruas forem
interrompidas haverá cassações.
Em nota, a Secretaria de
Transportes considerou que
houve “um pouco de excesso”
dos taxistas. Disse que o grande
motivo do protesto é a contestação de uma decisão judicial, o
que foge ao controle do governo. Acrescentou que a Procuradoria Geral do Município questionou judicialmente a legalidade do Uber, mas a decisão foi
desfavorável. “Entendemos a
angústia dos taxistas e que isso
gera prejuízo à atividade regulamentada para o táxi no Rio, mas
as decisões judiciais precisam
ser respeitadas e as contestações precisam se dar no âmbito
judicial”, afirma a nota.
Paes, que esteve no Centro
de Operações, disse que manifestação todo mundo tem direito a fazer:
— O que a gente não pode
permitir é o que eles fizeram
de manhã, esse absurdo de interromper vias e tirar o direito
de ir e vir das pessoas. Na conversa de que eu participei, disse que não tinha negociação
nenhuma, até porque o que
eles estão pleiteando não vão
negociar com a gente.
GUARDA APLICOU 180 MULTAS
Segundo o prefeito, o Rio nunca teve manifestação de taxistas como a de ontem:
— Todas as anteriores foram
ordeiras, os taxistas respeitaram as regras. Sempre causam
um transtorno, mas é o transtorno da democracia, o aceitável. O que não pode é esse absurdo que aconteceu hoje (ontem). Acabou esse diálogo, não
vamos aceitar mais esse tipo
O Aterro do Flamengo é deles. Taxistas tomam três das quatro faixas em direção ao Centro: só às 9h30m a prefeitura decretou estágio de atenção no Rio
de manifestação. Depois que a
gente participou da conversa
com a categoria, eles saíram.
Perguntado se vai atender às
queixas contra o volume de taxas pagas pelos taxistas, se
comparadas às despesas dos
motoristas do Uber, o prefeito
ressaltou que o secretário Rafael Picciani avaliará os pedidos para ver o que pode ser
atendido:
— O que não se pode fazer é
botar a faca no pescoço, fechar
ruas, cercear o direito de ir e vir
e achar que vai negociar. Não
tem negociação com esse tipo
de coisa.
Segundo a Guarda Municipal, foram aplicadas 180 multas a taxistas que participavam
do movimento, por infrações
diversas, principalmente bloquear a via com veículo.
Segundo o diretor de Operações da CET-Rio, Joaquim Dinis, as ações de 550 agentes de
trânsito para minimizar o im-
pacto dos protestos foram em
geral bem-sucedidas. A exceção, disse, foi o plano de contingenciamento tentado na Estrada do Galeão, que ficou bloqueada por 40 minutos, impedindo o acesso ao Aeroporto
Internacional Tom Jobim:
— Tentamos jogar o tráfego
na calha do BRT, mas isso não
foi possível porque os taxistas
disseram que, se nós o fizéssemos, bloqueariam também
aquela pista. Então ficamos praticamente sem alternativa, numa situação crítica. Quando a
PM chegou, com reforço do Batalhão de Choque, conseguiu,
sem violência, liberar o trânsito.
REUNIÃO NO TJ
A PM informou que reforçou o
patrulhamento nos locais de
protestos. O Batalhão de Policiamento em Vias Expressas aumentou o efetivo na Avenida
Brasil e nas linhas Amarela e
Vermelha. O batalhão da Ilha
também reforçou o policiamento, mas não informou o efetivo.
A juíza substituta da 6ª Vara
de Fazenda Pública, Ana Cecília Gomes de Almeida, recebeu
quatro taxistas no Tribunal de
Justiça. Os motoristas conversaram com a magistrada sobre
possíveis danos causados pelo
Uber, tanto para o sistema de
táxi como para o transporte no
Rio. Ana Cecília não foi a responsável pela liminar, concedida em novembro, que permitiu que os carros do Uber
continuassem circulando na
cidade. Uma decisão do TJ ratificou a sentença.
Durante o encontro no Fórum, um cinegrafista da TV
Globo foi impedido de filmar
a manifestação em frente ao
TJ. Um grupo chegou a ameaçá-lo, mas foi contido pela polícia. Os taxistas soltaram fogos de artifício. Após uma assembleia em frente ao TJ, encerraram o protesto. l
U
Cronologia
MAIO DE 2014: O Rio é a primeira
cidade do país a receber o Uber.
JULHO DE 2015: Taxistas fecham a
pista sentido Centro do Aterro
para pedir a proibição do sistema.
SETEMBRO DE 2015: O prefeito
Eduardo Paes sanciona projeto
que confere exclusividade aos
taxistas no transporte individual
de passageiros, proibindo o Uber.
OUTUBRO DE 2015: Liminar da 6ª
Vara da Fazenda Pública da
Capital autoriza o serviço.
NOVEMBRO DE 2015: A 17ª
Câmara Cível do Tribunal de
Justiça mantém a decisão.
NOVEMBOR DE 2015: Pela quarta
vez no ano, taxistas fazem
protesto nas ruas da cidade.
Artigos
Direito à manifestação,
legitimidade legal e vale-tudo
RODRIGO MASCARENHAS*
O
enorme movimento promovido ontem por motoristas de táxi no Rio
exige um debate sobre os limites do
direito à manifestação, em especial
quando confrontados com outros direitos.
Não há dúvida de que o direito à manifestação é garantido pela Constituição e que ele é
um pilar importante de qualquer democracia.
Também não há dúvida que, implícito ao direito de manifestação, se encontra a possibilidade de causar algum desconforto a terceiros. De
fato, quem se manifesta quer transmitir alguma mensagem política, quer, em suma, atrair o
interesse para uma causa (concordemos com
ela ou não). Para isso, o bloqueio parcial de
uma via importante, a ocupação de uma praça
e o transtorno que isso causa são muito eficientes para chamar a atenção; afinal, a democracia é barulhenta.
Mas há limites. O direito à manifestação não
é um vale-tudo. Em primeiro lugar, esses limites estão na preservação de outros direitos
igualmente protegidos pela Constituição, como o direito de ir e vir, o direito ao trabalho, o
direito à saúde e mesmo o direito de outras
manifestações se realizarem. Por exemplo,
uma manifestação que bloqueie o acesso a um
hospital está colocando em risco o direito à vida de doentes que precisam chegar a tal hospital para se tratar. Ou que impede o acesso a
uma praça onde se realizaria outra manifestação convocada anteriormente está violando o
direito à manifestação de terceiros. E, se inviabiliza o deslocamento de pessoas, viola o direito de ir e vir. Não há, em geral, direitos absolutos. Todos têm direito a se manifestar e a chamar a atenção, mas o limite de incômodo que
pode razoavelmente ser causado a terceiros
por uma manifestação que interessa a milhares de pessoas não pode ser o mesmo de uma
manifestação que interesse a poucas dezenas
de moradores de uma rua específica.
Todos esses cuidados não impedem nem que
uma manifestação se realize nem que ela cause
algum transtorno. Uma coisa é bloquear uma
pista de uma avenida importante, o que já será
suficiente para chamar atenção. Pode ser também razoável bloquear uma via importante por
alguns minutos, estender uma faixa, transmitir
a mensagem que se pretende, e desbloqueá-la.
Mas uma manifestação — como parece ter
sido a de ontem — que impede ou dificulta
que milhares de pessoas cheguem a seu trabalho, que doentes cheguem aos hospitais, que
passageiros cheguem a aeroportos, que ultrapassa todos os limites da razoabilidade deixa
de ser um legítimo instrumento de manifestação política protegido pela Constituição e segue um caminho que termina na pura chantagem. Saber localizar os limites toleráveis não é
fácil, mas é tarefa urgente em nosso aprendizado democrático. l
*Rodrigo Mascarenhas é mestre em direito
constitucional pela PUC-RJ e doutorando em
direito público pela Universidade de Coimbra
Liberdade de protesto
e outras liberdades
GUSTAVO BINENBOJM*
dadãos. Aí se inclui, a meu ver, o direito das
pessoas de terem acesso ao trabalho, inclusiliberdade de manifestação dos cida- ve os próprios motoristas do Uber.
dãos é uma garantia estrutural do
Para tanto, no exercício do poder de políEstado democrático de direito. Em- cia, os agentes públicos estão autorizados
bora me pareçam equivocados no — na verdade, têm o dever funcional — de
mérito de sua causa, defendo o direito dos ta- gerenciar os percursos dos cortejos, deterxistas de se manifestarem contra as decisões minar a sua paralisação e, eventualmente,
da Justiça que liberaram as operações do Uber, até ordenar a sua dissolução, em caso de
independentemente da prévia autorização de grave risco para outras liberdades fundaqualquer autoridade pública. A liberdade de mentais de outros cidadãos. A regulação
expressão não se baseia no
da liberdade de manifestamérito intrínseco da ideia deção é essencial para que
A liberdade de
fendida, mas apenas no direie todas as demais limanifestação dos taxistas esta
to de se defender alguma
berdades sejam paraleladeve ser assegurada, mas mente exercidas.
ideia, seja ela boa ou má.
A questão, no entanto, é
Em todo o mundo civilizade forma concomitante
que viver é conviver, o que
o papel da cortes consticom os direitos de ir, vir e do,
significa que o exercício de
tucionais tem sido o de propermanecer dos cidadãos curar soluções compromisqualquer direito está integrado em um sistema de disórias que permitam a fruireitos de outras pessoas, igualmente assegu- ção compartilhada de direitos aparentemenrados pela Constituição e pelas leis do país. te contrapostos, como é o caso da liberdade
Assim, a liberdade de manifestação dos taxis- de imprensa e dos direitos da personalidade.
tas deve ser assegurada pelas autoridades
Alguém poderia supor que os manifestantes
públicas, mas de forma concomitante com os tivessem um direito de perturbar direitos alheios
direitos de ir, vir e permanecer dos cidadãos, como forma de chamar a atenção do público paalém, é claro, de sua incolumidade física e ra a sua causa. Mas essa é a fronteira entre a lipatrimonial. O mesmo Estado que atua no berdade e a desobediência civil, entre a demosentido de assegurar as manifestações de al- cracia e a anarquia. Ser livre, numa democracia,
guns cidadãos, com ampla liberdade e segu- significa, sobretudo, ser livre de forma coletiva. l
rança, deve atuar para adotar as medidas necessárias a preservar os direitos à segurança, *Gustavo Binenbojm é professor titular da
à locomoção e à propriedade dos demais ci- Faculdade de Direito da Uerj
A
Participaram da cobertura: Antônio Werneck, Caio Barretto Briso, Célia Costa, Daniella de Paula, Dayana Resende, Gustavo Goulart, Guilherme Ramalho, Ludmilla de Lima, Luís Julião, Natália Boere, Renan França e Selma Schmidt
l Rio l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 13
COFRE VAZIO
_
Pacientes só poderão
ficar em UPAs por 6h
MARINA NAVARRO LINS
Restringir tempo de permanência nas unidades de
saúde é uma das medidas estudadas para cortar gastos
MARIA ELISA ALVES
[email protected]
Deixar de atender casos que não
sejam urgentes e limitar a seis
horas a permanência de pacientes nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são algumas das
medidas que as Organizações
Sociais (OSs) poderão adotar para cortar custos. Por conta da crise financeira, a Secretaria estadual de Saúde estabeleceu que as
OSs, que administram 29 UPAs,
gastem até R$ 1 milhão por mês
em custeio, pagamento de funcionários, exames e medicamentos, como informou ontem O
GLOBO. A economia terá que ser
grande: somente a UPA de Botafogo, por exemplo, gasta R$
2.105.530,58 por mês.
Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio,
que administra seis UPAs do
estado, defende que sejam feitas mudanças no atendimento
para que os custos fiquem
dentro dos parâmetros que o
estado exige. Ele propõe a realização de uma triagem na entrada das UPAs e sugere que
| Opinião |
PRECAUÇÃO
ENQUANTO O Brasil, em
especial, e o mundo torcem pelo desenvolvimento
rápido da vacina contra a
zika, cabe destacar a vantagem até mesmo financeira
de se ter pesquisa própria
neste ramo da ciência.
NA DÉCADA de 90, enquanto a vacina contra
hepatite B importada saía
por US$ 80 a dose, a desenvolvida no Brasil custava
US$ 1.
DAÍ A imperiosa necessidade de os governos terem
bom senso ao pensar em
cortes nesta área.
Hoje
na web
oglobo.com.br/rio
l VÍDEO: O caos no trânsito
durante manifestação de
taxistas. glo.bo/1ZRYJbY
Maitê Proença
fala em vídeo sobre o ato de
taxitas: “Não sei se para
o Rio traz simpatia”.
l PROTESTO:
glo.bo/1Y4L5Ri
Saiba como
colaborar com o conteúdo do
GLOBO. Envie informações, fotos
e vídeos para (21) 99999-9110.
l WHATSAPP:
glo.bo/1YJ2MIi
l FACEBOOK: Confira as
notícias do GLOBO.
www.facebook.com/jornaloglobo
acesse
140
COPACABANA Rua Barata Ribeiro, 181
DUQUE DE CAXIAS (PREZUNIC CENTER)
Rua José de Alvarenga, 95
NOVA IGUAÇU Av. Nilo Peçanha, 639
SULACAP (PARQUE SHOPPING SULACAP)
Av. Marechal Fontenele, s/nº
pacientes que não tiverem em
situação de risco sejam encaminhados para atendimento
nas clínicas de famílias.
— A classificação de risco já é
feita, mas as UPAs atendem todo
mundo. Muita gente que, a rigor,
não é caso de urgência ou emergência, vai à UPA, que está aberta 24 horas por dia, sete dias por
semana, para se tratar de forma
geral. Esses pacientes deveriam
estar em clínicas de assistência
básica — diz Rubem César,
acrescentando que, segundo um
estudo feito pelo Viva Rio em
cinco UPAs, 64% dos atendimentos são casos classificados
na cor azul, que corresponde às
situações sem gravidade.
TRANSFERÊNCIA PARA HOSPITAIS
Com atendimento apenas para
casos graves, diz Rubem César,
seria possível cortar 30% dos
custos das UPAs, incluindo os
gastos com pessoal.
— Mas isso só daria certo se
fosse uma decisão de todas as
UPAs da cidade do Rio, que tem
uma cobertura de saúde da família abrangente. Em outros
municípios, isso não daria certo.
Outra medida que pode enxugar custos é a redução do
tempo de permanência dos
pacientes nas UPAs. De acordo
com Rubem César, nas unidades administradas pelo Viva
Rio, a média é de 72 horas:
— A UPA é supostamente para estabilizar o paciente, e não
para internação. Mas o que
acontece é que os doentes ficam em média três dias internados. A definição de UPA é
que se fique seis horas, no máximo. Depois disso, o paciente
tem que ir para casa ou ser
transferido para a rede hospitalar. É uma medida de economia
importante esse reencaminhamento. Vamos fazer pressão
nisso. Mas, para dar certo, a
central de regulação de vagas
do estado tem que funcionar.
A Secretaria de Saúde informou ontem que as UPAs foram
criadas para oferecer atendimento a casos de baixa e média
complexidade e lembrou que o
serviço de urgência e emergência é uma atribuição municipal.
Uma reestruturação das
Peregrinação. Edmilson na entrada do Hospital Evandro Freire, na Ilha: ele não conseguiu atendimento em UPA
“Não temos para
onde correr. Sei que
existe crise, mas é
preciso compaixão
com a população”
Edmilson Costa
Morador da Ilha
UPAs também faz parte dos
planos de corte de despesas.
Pelo menos 12 delas deverão
mudar de perfil e passar a
atender somente adultos ou
pacientes pediátricos. Ontem, a unidade de Itaboraí,
que seria fechada para obras
e reabriria apenas para crianças, permaneceu funcionando. O estado mudou de ideia e
resolveu não fechá-la. Na
Ilha, a suspensão do atendimento foi concretizada.
Quem procurou a unidade a
encontrou com portas fechadas. Foi o caso de Edmilson
Costa, de 39 anos, que se
queixava de febre há dias e foi
encaminhado para o Hospital
Municipal Evandro Freire,
também na Ilha.
— O hospital está lotado, demoraram três horas para me
atender. Sem a UPA, não temos
mais para onde correr. Sei que
existe crise, mas é preciso ter
compaixão com a população
— disse Edmilson.
Nas UPAs da Maré e da Penha, a espera por uma consulta
chegou ontem a sete horas. A
emergência do Hospital Estadual Getúlio Vargas, também ficou
lotada. A Secretaria municipal
de Saúde informou que a Coordenação de Emergência Regional da Ilha registrou ontem um
aumento de 30% na procura por
atendimento. l
14
l O GLOBO
l Rio l
Meu pirão primeiro
ANCELMO
GOIS
Estas imagens de Nossa Senhora da Conceição
e das Dores fazem parte do museu de arte sacra
a ser inaugurado, hoje, na belíssima Igreja São
Francisco de Paula, que fica no Centro do Rio e
começou a ser construída em 1759.
O evento faz parte das celebrações do Dia
de São Francisco de Paula, “o eremita da
caridade”.
ANA CLÁUDIA GUIMARÃES,
DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO
Fator Banco do Brasil
Mais uma vez, de novo,
novamente, a enferma Sete Brasil,
das sondas da Petrobras, decidiu
adiar a decisão sobre o requerimento
de recuperação judicial.
Especula-se que a recuperação da
Sete impactaria, de forma negativa,
no balanço do Banco do Brasil.
LAIZER FISHENFELD
Orquídea para o mestre
O querido Luis Fernando Verissimo,
79 anos, que está internado há uma
semana no Pró-Cardíaco, no Rio, e
colocou, ontem, um marcapasso, tem
sido alvo de carinho dos cariocas.
Uma fã foi até o hospital só para
deixar uma orquídea para o mestre,
que vem tendo boa recuperação.
Tony Bellotto em NY
Aproveitando a turnê dos Titãs,
em maio, pelos EUA, a editora
Akashic Books fará, com a presença
de Tony Bellotto, o pré-lançamento
do livro “Rio noir”, dia 11 de maio,
em Nova York.
Trata-se de uma antologia de
contos policiais que o músico e
escritor organizou.
Negócios à parte
Ai, que susto!
O deputado Celso Pansera (PMDB-RJ),
ministro da Ciência e Tecnologia de
Dilma, foi acusado, lembra-se?, de ser
“pau-mandado” de Eduardo Cunha pelo
doleiro Alberto Youssef. Agora,
contrariando a posição do presidente da
Câmara, não quer largar o governo. Celso
é ex-professor de português e dono do
bar “Barganha” — que não se perca pelo
nome! —, em Duque de Caxias.
Na manhã de ontem, embora sob sol e
boas condições de tempo, passageiros
do voo 1485, vindo de Brasília, tomaram
um tremendo susto na hora do pouso
no Santos Dumont. O avião arremeteu
pois havia outra aeronave na pista.
Dentre os aflitos, o ministro Luiz
Fux, o ex-governador Garotinho, os
deputados federais Cristiane Brasil e
Otávio Leite.
Ditadura partidária
O ET de Copacabana
O carioca Célio Borja, 87 anos,
ex-ministro do STF, faz um apelo ao
Congresso: a adoção de candidaturas
“independentes”, tanto no Executivo
quando no Legislativo. Ele, em entrevista
ao coleguinha Geneton Moraes Neto, que
vai ao ar hoje, na “GloboNews”, disse
existir no Brasil uma “ditadura partidária”.
Um grupo de raelianos, religiosos que
acreditam em extraterrestres, apresenta
hoje, no Posto 3, em Copacabana, seu
projeto de construção, em Israel, de
uma... embaixada para acolher ETs.
Coisa de uns US$ 40 milhões.
David Uzal, coordenador da turma
na América do Sul, conta que eles se
mobilizam para conseguir, na ONU,
um estatuto de extraterritorialidade,
como toda embaixada tem.
Mas... do jeito que as coisas estão
por aqui, acho que os ETs não virão.
U
Zona Franca
Fernando Molica lança “Uma selfie com Le-
No mais
Roberto Jefferson, o delator do
mensalão, depois de dizer ao
“Estadão”, na edição de ontem, que
Lula sabia da ligação do PT com a
corrupção, fez uma frase histórica:
“Eduardo Cunha é o bandido pelo
qual eu mais torço.”
Ou seja: a política brasileira virou
ou não virou espaço de corrupção
generalizada, como disse o ministro
Barroso, do STF, sem saber que
estava sendo gravado?
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Para quem gosta de arte sacra
www.oglobo.com.br/ancelmo
Seguindo os passos de TJ e MP, a
Defensoria Pública do Rio conseguiu
liminar na Justiça para receber seus
salários antes dos demais servidores.
Tudo legal, claro. Mas é como se diz
em Frei Paulo: quem pode, pode,
quem não pode, se sacode.
Sábado 2 .4 .2016
PORQUE HOJE É SÁBADO...
Até para grandes fotógrafos, como é o caso de nosso Laizer Fishenfeld, retratos
assim são raros. Veja o momento em que, enquanto é perseguido por um atrevido
bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), este tucano-grande-de-papo-branco
(Ramphastos tucanus) parou no ar. Diz “seu” Laizer que bem-te-vi é um
passarinho invocado, mesmo; não tem medo de pássaros maiores: “Este tucano
provavelmente deve ter feito uma bagunça no ninho do bem-te-vi.” Será? l
nin”, terça, às 19h, na Travessa de Botafogo.
Ulhôa Canto, Rezende e Guerra Advogados foi
premiado pela “International Financial Law
Review” na categoria Americas M&A Deal of the
Year. O escritório atuou em negócios envolvendo a Olin e a Dow Chemical, a Ambev e a Inbev.
Terça, às 19h, Cláudio Carneiro, o presidente da
OAB-Barra, lança o ciclo de palestras “Olimpíadas Rio-2016”. Terá participação de Bernardinho, no auditório do Shopping Marapendi.
Julieta Guevara fala sobre estimulação magnética transcraniana, na Magventure.
Sofá Café, a cafeteria de São Paulo, abre loja
em Copacabana.
O acadêmico Arnaldo Niskier foi convidado para
carregar a tocha olímpica, na abertura dos Jogos.
Cena de vandalismo
Um dos empresários de moda mais
conceituados do país teve seu carro e
motorista cercados, ontem, por
taxistas, no Aeroporto Santos Dumont,
no Rio, por volta das 11h. Acharam
que era Uber. O empresário teve a sua
carteira roubada, o carro quebrado e
ainda quiseram bater no rapaz que
dirigia o carro dele.
O pior é que...
Dois guardinhas presenciaram a
cena e não se manifestaram.
Oferecido por
Legado urbano gera oportunidades
de negócios para Barra e Recreio
Investir na região, que surge como o novo eixo de desenvolvimento do Rio, pode trazer ganhos de até 50%
A Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes estão ganhando cara nova – e
ainda mais bonita, é bom dizer. Os novos
viadutos, as vias ampliadas, a ciclovia do
Joá e os BRTs já proporcionam mais qualidade de vida aos moradores, no embalo
das obras para os Jogos Rio 2016.
Mais do que isso: a inauguração de
hotéis, shoppings, indústrias, centros médicos e escolas fazem da região o novo
eixo urbano do Rio, transformando a área
em uma excelente opção de investimento.
O legado já é uma realidade. Juntos,
BRT Transoeste – que liga o Terminal Alvorada a Campo Grande – e o BRT Transcarioca – que vai do Terminal Alvorada
até o Aeroporto Internacional do Rio de
Janeiro – transportam mais de 500 mil
passageiros por dia.
Porém, a grande obra de mobilidade é,
sem dúvida, a Linha 4 do Metrô (Barra Ipanema), com inauguração prevista para
o primeiro semestre deste ano.
Uma das empresas que acredita na
Barra é a Brookfield Incorporações, que
vem entregando empreendimentos imobiliários e investindo na região. Ela foi
uma das pioneiras em projetos de categoria AAA na área que está chamando de
Barra Legado, como o premiado Worldwide Office. Somente em 2016 serão empregados R$ 400 milhões em ofertas de
novas unidades na cidade.
— A região representa um custo-benefício muito vantajoso para o comprador, agora que as obras de infraestrutura
começam a ficar prontas — diz Marco
Adnet, diretor executivo da Brookfield
Incorporações. O legado já está pronto
FOTOS DE MARIANA ANNUNZIATO
Barra Legado: valorização financeira e qualidade de vida no quadrilátero das avenidas Ayrton Senna, Abelardo Bueno, Américas e Salvador Allende
e pode ser usufruído agora. Portanto, a
oportunidade é neste ano.
Segundo Adnet, a perspectiva de
valorização da chamada Barra Olímpica, área composta pelo quadrilátero das
avenidas Ayrton Senna, Abelardo Bueno,
Américas e Salvador Allende, é de 50% —
a partir do início da estabilização da macroeconomia e aumento da demanda pela
oferta advinda da nova infraestrutura de
mobilidade urbana.
— Esse grande quadrilátero tem como
principal referência o Centro Metropolitano, pensado na década de 60 pelo urba-
Marco Adnet: o legado já está pronto
e pode ser usufruído agora
nista Lúcio Costa como uma área de convergência entre as regiões norte, sul, leste
e oeste. Ele criou um conceito de “centralidade urbana” que só agora é percebido pelas pessoas, com a aproximação dos Jogos.
Para a Brookfield, essa é a grande
oportunidade que o legado dos Jogos traz.
— Quem comprar agora um imóvel
nessa região, em pleno desenvolvimento,
fará um grande negócio, além de capturar
a melhor qualidade de vida e as facilidades de mobilidade. Inclusive, já é mais rápido acessar o aeroporto do Galeão do que
o Santos Dumont — conclui Adnet.
Conteúdo patrocinado produzido por
l Rio l
Sábado 2 .4 .2016
l 15
COFRE VAZIO
JOÃO MIGUEL JUNIOR/TV GLOBO
POSA
PRA EU,
ANA...
O GLOBO
_
Cultura se mobiliza contra projeto
de lei que põe fim à isenção fiscal
Nem parece, mas
Ana Furtado,
uma das lindas
apresentadoras
do “É de Casa”,
está
comemorando
20 anos de
carreira. Ao lado,
a bela, 42 anos,
posa nos jardins
da casa onde
apresenta o
programa hoje
junto com André
Marques, Tiago
Leifert e Patrícia
Poeta
Comissão irá à Alerj para tentar excluir a área da proposta do governo
LUIZ FELIPE REIS
[email protected]
MAURÍCIO GOUVÊA
ENCONTRO
DE DOIS
CRAQUES
Paulo José, o
talentoso ator,
79 anos, esteve
ontem no
lançamento do
box “Anos 80”
do querido
músico Zé
Renato, 60
anos, no Rio
U
Ponto Final
EDITORIA DE ARTE
CRISE NA ÁFRICA DO SUL
Presidente condenado
_
Corte sentencia Zuma a devolver dinheiro público usado em reforma indevida de sua casa
Deve ser terrível viver num país onde político importante se
envolve em irregularidades num imóvel.
e-mail: [email protected]
Fotos: [email protected]
A notícia de que o governo estadual planeja suspender, por
meio de um projeto de lei, a
concessão de incentivos fiscais
a empresas que apoiam ações
culturais levou o setor a se mobilizar contra a proposta, que,
de acordo com o presidente da
Assembleia Legislativa (Alerj),
Jorge Picciani (PMDB), será votada na próxima terça-feira. Na
tarde de ontem, representantes
da área criaram uma comissão,
com dez integrantes, e acertaram uma reunião com o deputado no mesmo dia da votação.
O gabinete da presidência da
Alerj confirmou o encontro.
Se a proposta for aprovada,
empresas que apoiam trabalhos artísticos, como a Light, a
Petrobras e a Oi, ficariam impedidas de fazer uso da chamada Lei Estadual de Incentivo à Cultura para arcar com os
custos do patrocínio. Noticiado pelo GLOBO na última
quarta-feira, o projeto nº 1431/
2016 provocou várias críticas
nas redes sociais.
No encontro com Picciani, a
comissão de representantes do
setor buscará sensibilizar o
presidente da Casa e outros
deputados. O objetivo é conseguir uma emenda parlamentar
que exclua a área de cultura do
plano do governo de suspender a isenção fiscal no estado.
O principal argumento é que
Manifestação fecha o Museu do Amanhã
Trabalhadores demitidos
da Reduc e do Comperj
invadem a instituição
Pelo menos 40 trabalhadores
demitidos da Refinaria Duque
de Caxias (Reduc) e do Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj) fizeram ontem à tarde um protesto dentro
do Museu do Amanhã, na Praça Mauá. Com faixas, cartazes
e palavras de ordem, eles pediam emprego. Por questão de
segurança, a visitação ao espaço foi suspensa.
Um tumulto marcou o início
do protesto: os manifestantes
tentaram entrar no museu
com marmitas, e, ao serem im-
pedidos por seguranças, jogaram comida no acesso principal. O secretário municipal de
Ordem Pública, Leandro Matiele, foi ao local e negociou a saída do grupo.
PÚBLICO LAMENTA
Por meio de uma nota, o Museu do Amanhã informou
que a bilheteria foi fechada
às 14h. O protesto, iniciado
pouco depois do meio-dia,
foi encerrado por volta das
16h. O espaço abrirá normalmente hoje, às 10h.
Muita gente que planejou visitar ontem o museu foi surpreendida pelo protesto e se
viu obrigada a adiar o programa. O engenheiro Marcelo
Fonseca saiu de Niterói para
conhecer o espaço e voltou para casa frustrado.
— Quando cheguei, o museu
já estava fechado por questão
de segurança. Infelizmente, terei de voltar outro dia — disse
o engenheiro.
Um turista paulista passou
pela mesma situação. A visita
ao Museu do Amanhã fazia
parte do roteiro de João Fernandes, mas terá de ser feita
em uma outra viagem ao Rio.
— Vou embora sem conhecer esse novo cartão-postal carioca — lamentou João.
A segurança na Praça Mauá
foi reforçada por equipes da
Guarda Municipal e da Polícia Militar. l
CARIOCATURAS
Lan
— Você é contra ou a favor do impeachment?
— Não sou contra nem a favor, muito pelo contrário...
_
[email protected]
projetos culturais representam
menos de 0,3% do total de recursos concedidos pelo estado
via isenção fiscal.
Fazem parte da comissão
que vai à Alerj a ex-secretária
estadual de Cultura Adriana
Rattes, Andrea Alves (Sarau
Agência), Bianca De Felippes
(Associação dos Produtores de
Teatro do Rio, APTR), Celso
Athayde (Cufa), Eduardo de
Souza Barata (APTR), Junior
Perim (Circo Crescer e Viver),
Marcia Dias (Tempo Festival),
Marcus Faustini (Agência de
Redes para Juventude), Roberto Guimarães (Oi Futuro) e Vil-
“Se a lei for
aprovada como
está, o estado
decreta quase o
encerramento de
sua política de
fomento à cultura”
Eduardo Barata
Presidente da Associação dos
Produtores de Teatro do Rio
ma Lustosa (Festival do Rio).
— Se a lei for aprovada como
está, o estado decreta quase o
encerramento de sua política
de fomento à cultura — disse o
presidente da APTR, Eduardo
Barata. — Estamos em contato
com o presidente da Alerj e ele
parece sensível à cultura, compreende a fundamental importância da isenção fiscal para o
fomento ao setor. O que nos
preocupa é que o governador
em exercício Francisco Dornelles (PP) pede urgência na
votação da lei, e precisamos
mobilizar a Alerj para que se
crie emendas que excluam a
cultura do pacote de medidas.
FESTIVAIS SOB RISCO
De autoria dos deputados Luiz
Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e
Bruno Dauaire (PR), o projeto
de lei tem o apoio de Dornelles,
que pediu urgência em sua tramitação. O texto informa que “o
governo do estado fica impedido de conceder financiamento,
benefício, incentivo, fomento
econômico ou investimento estruturante a qualquer empresa
sediada ou que venha a se instalar no Rio de Janeiro”. Entrevistado pelo GLOBO, Luiz Paulo disse que a lei “dificilmente será votada na terça-feira, pois deverão
surgir emendas”.
— Quando isso ocorre, a votação é suspensa e analisamos as
emendas. Só na outra semana é
que a lei deverá ser votada —
afirmou o deputado. — Cada se-
tor tentará manter seu incentivo,
o que é legítimo, mas precisamos
atentar que o estado tem um
rombo de R$ 18 bilhões. Nesse
contexto, é claro que os setores
de esporte e cultura representam
um impacto muito pequeno, de
cerca de 0,5%. Por isso, sou simpático à exclusão de ambos, mas
quem decide é o plenário.
A secretária estadual de Cultura, Eva Doris, disse que está
em contato com a presidência
da Alerj e que Picciani é sensível à exclusão da cultura e do
esporte do projeto de lei:
— A informação que obtivemos dele é que a cultura e o esporte não serão afetados, que
não haverá cortes nos benefícios fiscais para esses setores.
Atualmente, algumas das mais
importantes iniciativas culturais
do Rio dependem de recursos
obtidos por meio da isenção fiscal estadual. É o caso de festivais
consolidados como o Panorama
de Dança, o Multiplicidade, o
Tempo Festival e o Festival Intercâmbio de Linguagens, entre
outros que obtêm patrocínio do
Oi Futuro via lei do ICMS.
Na última terça, o Oi Futuro
anunciou os vencedores do
seu edital 2016/2017, e a preocupação dos contemplados é
grande. Uma das principais
patrocinadoras do setor cultural do país, a Petrobras também faz uso da lei do ICMS em
seu Programa Petrobras Cultural, que patrocina diversos trabalhos no estado. l
16
l O GLOBO
l Rio l
RIO
Previsão
Uma massa de ar seco predomina
na costa do Rio e garante um fim
de semana de sol e calor em boa
parte do estado. Na Região
Metropolitana, o sol ganha força e
não há condição de chuva.
HOJE
Ontem
Mínima
Máxima
23,2˚
Vila Militar
33,7˚
Vila Militar
PROBABILIDADE
DE CHUVA
22°/31°
21°/34°
23°/33°
22°/39°
Baixa
23°/34°
22°/37°
24°/36°
23°/40°
Baixa
34°
23°/37°
25°/36°
24°/40°
Baixa
22°
Santo Antônio
22°
de Pádua
TERÇA
24°/32°
23°/35°
25°/34°
24°/38°
Baixa
QUARTA
24°/32°
23°/35°
25°/34°
24°/38°
Baixa
QUINTA
24°/31°
23°/34°
25°/33°
24°/37°
Baixa
SEXTA
24°/30°
23°/33°
25°/32°
24°/36°
Baixa
16° de Mauá
21° do Sul
Valença
33° Volta
32°
29°
18°
Itaperuna
33°
São Fidélis
Teresópolis
21°
SERRANA
27°
Nova
Friburgo 16°
Santa Maria
Madalena
34°
Casimiro 32°
de Abreu 24°
24°
34°
23°
MUNDO
22°
AMÉRICA DO SUL Mín. Máx.
São Francisco
de Itabapoana
NORTE
Campos
Ondas
Ondas de 0,5 metro. Ondulação de
leste-sudeste. Melhores locais: Prainha,
Grumari e Recreio (informações Ricosurf).
Praias
Impróprias (informações Inea): Flamengo,
Botafogo, Leblon, São Conrado e Pepino.
Maré
Alta
Hora 6h10m 11h4m 18h13m 23h59m
Altura 0,4m
0,9m
0,2m
1,1m
Ventos
Vento de oeste a sul/sudeste, entre
5km/h e 30km/h. Rajadas de até 45km/h.
Pressão atmosférica de 1.016hPa.
Resende
Prainha
Grumari
24°
24°
TEMPERATURAS MÁXIMAS
25°
9°
22°
19°
2°
21°
19°
10°
8°
Amanhã
Mín. Máx.
38°
17°
29°
28°
13°
28°
30°
27°
26°
S
C
C
C
C
S
C
S
S
26°
10°
21°
20°
4°
22°
20°
8°
9°
0h
38°
17° -2h
0h
26°
26° -1,5h
13° -1h
28° -2h
0h
26°
26° -2h
0h
25°
AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL
29°
17°
Macaé
BRASIL
Chuva forte no norte do
São Conrado
São Paulo
20°/ 31°
Porto Alegre
20°/ 32°
S
C
C
C
S
S
C
S
S
Assunção
Bogotá
Buenos Aires
Caracas
La Paz
Lima
Montevidéu
Quito
Santiago
31°
33°
São João
34° da Barra 23°
21°
Quebra-Mar
Hoje
32°
Redonda Barra 35°
30° Cachoeiras
34° Rio das
Nordeste e do Norte. Ar
28° 22° de Macacu
do Piraí 22° Petrópolis
seco, sol forte e sem chuva
24° Ostras
17°
33° Barra SUL
31°
no oeste do PR, de SP, em
Silva
Jardim
29°
Mansa
21°
34° Duque
25°
MS, no sul de MT e de GO,
Búzios
23°
LAGOS
de Caxias
32°
do litoral sul de SC ao do
31°
23°
31°
Niterói 23°
Araruama
Cabo Frio 29°
ES, no interior da BA, de
24°
24° Mangaratiba
34° Rio de
23°
PE, de SE e em AL.
30°
Janeiro
31°Maricá Saquarema
21°
24°
Angra
31°
24°
METROPOLITANA
Macapá
Fortaleza
dos Reis
Boa Vista
24°
30°
24° / 32°
23°/ 30°
Natal
22°/ 34°
Paraty
23°
23°/ 30°
São Luís
Belém
25°/ 30°
Manaus
João
24°/ 30°
Situação das praias
25°/ 30°
Pessoa
23°/ 30°
Porto Velho
O ar seco ganha força no Rio de
Teresina
Ramos
Recife
25°/ 32°
23°/ 32°
Janeiro e diminui o risco de chuva
23°/ 31°
Palmas
na cidade. O mar fica calmo e
Rio Branco
Maceió
24°/ 35°
24°/ 31°
25°/ 33°
muitas praias próprias para o banho.
Aracaju
Salvador
Brasília
Cuiabá
Flamengo
Botafogo
24°/ 30°
PRÓPRIA
IMPRÓPRIA
25°/ 32°
18°/ 29°
23°/ 36°
Urca
Vitória
Ipanema
Campo Grande
Leme
24°/ 31°
Pepino Leblon
23°/ 34°
Belo Horizonte
Copacabana
Meio da Barra Pepê
19°/ 30°
Goiânia
Arpoador
Rio de Janeiro
20°/ 31°
Macumba
21°/ 34°
Recreio
Crescente Cheia Minguante Nova
14/4
22/4
31/3
7/4
37˚/40˚
Bom Jesus do
Itabapoana
24°/34°
21°
Acima
de 40˚
31°
Porciúncula 21°
SEGUNDA
33°
Baixa
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
28° Visconde
Poente
17h51m
Alta
ZONA
OESTE
34° Paraíba
Lua
Baixa
ZONA
NORTE
AMANHÃ
Sol
Nascente
6h01m
ZONA
SUL
Sábado 2 .4 .2016
Florianópolis
21°/ 30°
Cid. do México
Havana
Los Angeles
Miami
Montreal
Nova York
Orlando
Washington DC
S
S
S
S
C
C
C
C
12°
23°
12°
24°
1°
10°
22°
11°
28°
33°
24°
32°
10°
21°
32°
23°
S
C
S
C
S
S
S
S
8°
23°
13°
23°
-8°
-2°
14°
0°
25°
34°
25°
32°
5°
14°
26°
14°
-3h
-1h
-4h
-1h
-1h
-1h
-1h
-1h
S
S
S
S
S
S
S
C
C
S
C
C
S
6°
11°
6°
1°
5°
3°
4°
7°
4°
1°
1°
4°
15°
13°
21°
19°
14°
19°
18°
22°
17°
14°
17°
3°
19°
19°
S
S
S
S
S
S
S
C
C
C
C
C
S
10°
10°
6°
4°
11°
9°
7°
10°
6°
4°
1°
9°
14°
14°
14°
18°
18°
20°
20°
18°
16°
16°
14°
3°
19°
19°
+5h
+6h
+5h
+5h
+5h
+5h
+5h
+4h
+4h
+5h
+6h
+5h
+5h
EUROPA
Amsterdã
Atenas
Barcelona
Berlim
Bruxelas
Frankfurt
Genebra
Lisboa
Londres
Madri
Moscou
Paris
Roma
ÁSIA
Jerusalém
Pequim
Tóquio
S 14° 25°
S 10° 20°
C 8° 11°
S 13° 26° +5h
S 8° 19° +11h
C 10° 19° +12h
Cairo
S 12° 30°
Johannesburgo S 11° 29°
S 14° 30° +5h
C 14° 28° +5h
ÁFRICA
OCEANIA
Sydney
S: sol
S 15° 32°
N: nublado
C 16° 24° +14h
C: chuvoso
Ne: neve
Mais informações sobre o tempo
NA INTERNET
Curitiba
17°/ 29°
oglobo.com.br/servicos/tempo/
PREVISÃO
34˚/36˚
31˚/33º
28˚/30˚
25˚/27˚
22˚/24˚
18˚/21˚
13˚/17˚
Abaixo
de 12˚
Sol
Parcialmente
nublado
Nublado
Sol com pancadas
de chuva
Nublado
com chuvas
Chuvas com
trovoadas
Geada
Menina sequestrada é encontrada morta em Vicente de Carvalho
Segundo a polícia,
pedreiro confessou o
crime. Ana Carolina
estava em um buraco
ELISA CLAVERY
[email protected]
do, ontem, ser o homem que
aparece em imagens de câmeras de segurança conduzindo
Ana Carolina pelas mãos.
A mãe da vítima, Marta Vieira Flor, de 31 anos, estava grávida e deu à luz um menino
ontem. Até o início da noite,
ela não sabia da morte da filha.
O corpo de Ana Carolina Flor
dos Santos, de 6 anos, foi encontrado ontem à tarde, em Vicente de Carvalho, escondido
em um buraco na Avenida
Martin Luther King. O local foi
indicado pelo pedreiro Alfredo
Santos de Oliveira, de 53 anos,
que, segundo a Polícia Civil,
confessou ter sequestrado a
menina no sábado. Ela estava
passando o fim de semana na
casa da avó, em Vaz Lobo, a
menos de dois quilômetros de
onde foi deixada morta.
Preso desde quinta-feira, Alfredo chegou a negar envolvimento no desaparecimento da
criança. Mas, de acordo com
policiais, ele acabou admitin-
USO DE ÁLCOOL E DROGA
Ana Carolina, que morava no
Morro do Juramento, tinha
ido passar o fim de semana na
casa da avó, na Rua Leri, que
dá acesso à comunidade do
Terço. Ela foi vista pela última
vez por volta das 16h, brincando com um velocípede.
Alfredo é vizinho da família
da menina e bastante conhecido na região. De acordo
com a delegada Ellen Souto,
titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, ele disse
que havia consumido cocaína
e bebida alcoólica. O pedreiro
trabalhava há dois meses em
uma obra. O local passou por
perícia e material que pode
DIVULGAÇÃO/POLÍCIA CIVIL
Fim das buscas. Policiais observam o buraco onde a criança foi encontrada
CEL. CARLOS JOSÉ PEREIRA
Paraquedista
MISSA DE 09 ANOS
Nair, esposa e eterna namorada, convida
parentes e amigos, para a Missa de 09 (Anos),
a ser celebrada pelo Pe. Fábio Joseph Lopes
Pedroza (Capelão Militar), amanhã (Domingo),
dia 03/04/2016, às 9:00 horas, na Capela
de N. S. das Graças no Interior do Hospital
Central do Exército - H.C.E. - Triagem.
ser sangue foi coletado e enviado para análise.
A família tinha esperança de
encontrar Ana Carolina com
vida. O pai da menina, José Antônio dos Santos, ficou muito
abalado. Ele passou os últimos
dias procurando a filha e já havia encontrado o vestido da
criança na linha férrea.
— Ela era muito alegre, gostava de funk e estava aprendendo a escrever o nome. Esse
cara torturou e destruiu nossa
família. Estava desde sábado
com minha filha. Espero que a
Justiça o deixe 30, 40, 50 anos
na cadeia — desabafou.
“QUEREMOS ENTENDER”
Vizinhos de Alfredo ficaram
surpresos ao saber que ele havia admitido o crime.
— Nunca poderia imaginar
que ele faria isso. Nós o conhecemos há muitos anos.
Queremos entender o motivo
de ele ter feito isso — disse
uma moradora, que pediu para não ser identificada.
Durante as investigações, os
policiais descobriram que o
pedreiro apareceu na casa da
avó da menina por volta das
10h, perguntando pelas crianças da família. Uma vizinha lhe
disse que elas estavam brincando no quintal. Segundo a
delegada, Alfredo costumava
distribuir balas na região.
Segundo o site de notícias
G1, uma testemunha que
não teve a identidade divulgada contou à polícia que viu
Ana Carolina de mãos dadas
com o pedreiro no dia do desaparecimento. Ela soube do
sequestro da criança apenas
no domingo, por meio de
uma rede social. Em seguida,
a testemunha procurou os
parentes da menina. Ela disse que Ana Carolina deu
“tchau” quando a viu. l
NA WEB
GALERIA DE VÍDEO
oglobo.com/rio
Alfredo foi filmado
levando Ana Carolina pelas mãos.
Avisos Fúnebres
e
Religiosos
2534-4333
MAJOR-BRIGADEIRO
AGENOR DE FIGUEIREDO
MISSA DE SÉTIMO DIA
Seus filhos: Vera Regina, Agenor Jr., João Arnaldo, Tereza
Cristina e netos convidam para a Missa que será celebrada
no dia 04/04/2016, segunda-feira, às 18:00h, no Mosteiro
das Irmãs Clarissas a Rua Jequitibá, 41 - Gávea.
MARIA THEREZA DE CASTELLO BRANCO
MISSA DE 7º. DIA
Seus amigos: Carlos Alberto e Juanita Pardellas, Carlos Arthur Ortenblad, Dalal Bocayuva, Eduardo Figueiredo, Emita de Pourtalès, Frank e Anna Maria Thompson Flores, Frank e Maria Christina Sá, Jayme de Marsillac,
João Maurício e Maria Alice de Araújo Pinho, Lolly Hime, Luiz e M. Clara Corrêa do Lago, Lupe Moreira, Manoel
e Isabel Corrêa do Lago, Maria Elisa Ortenblad, Maria Thereza Marques, Maria Thereza Williams, Paulo e Gilda
Pires do Rio, Pedro e Bia Corrêa do Lago, Pedro e Veronica Carneiro de Mendonça, Roberto Caballero, René
Haguenauer, Rogério Scofano, Sarita de Vincenzi, Thereza Muniz, Therezinha Noronha e Walton e Luciana
Hoffmann convidam para a Missa de 7º. Dia a ser celebrada no dia 4 de Abril - Segunda-feira, às 18 horas, na
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na PUC-RIO, situada à Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea - RJ.
Plantão sábado / domingo
2534-5501
Sábado 2 .4 .2016
Dos Leitores
|
oglobo.com.br/participe
Eu-repórter
O GLOBO
Autocrítica
|
Das redes sociais
facebook.com/jornaloglobo
_
twitter.com/jornaloglobo
PEDRO TEIXEIRA
“A praça é utilizada indevidamente por donos e passeadores de cachorro, que
deixam seus animais em
áreas reservadas ao lazer
infantil. Fezes e urina dos
cães são deixadas onde dezenas de crianças brincam”
twitter.com/jornaloglobo
MARCOS ALVES
ANDREW TESTA/NEW YORK TIMES
Rosana Simões,
sobre a sujeira feita por
cachorros numa praça na
Rua Assunção, próximo à
Marquês de Olinda, em Botafogo. A Guarda Municipal
informou que vai orientar
usuários do local.
“Uma das maiores empresas
do mundo estar acabada...”
“Parem de achacar os
brasileiros com
preços abusivos”
Sueltoni Montenegro
@RafaelO11710234
Petrobras lança plano de
demissão voluntária para
todos os funcionários
|
Cartas e e-mails
Venda de carros tem
queda de 23% em março
“Líderes islâmicos devem
mobilizar seus adeptos para
o combate ao extremismo”
@sergiomandre
‘Se não reformarmos o Islã,
vamos bater no muro’
|
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected]
_
VAMOS TRABALHAR?
a “O país está paralisado.” “O país
precisa retomar o crescimento.” São
alguns dos argumentos dos
favoráveis ao impeachment. O Brasil
precisa, mesmo, é sair dessa letargia.
A Lava-Jato é autônoma, andará por
si. Essa crise política não terá fim tão
cedo. Empresários, vamos contratar,
vamos produzir! Temos que deixar de
ser meros repassadores de produtos
chineses e parar de especular. E aí
não só os empresários, mas
Bolsa/dólar, dólar/Bolsa. Isso não é
produção. Não gera riqueza. É mera
jogatina. Não há risco; somos um
mercado de 204 milhões de pessoas
com as mesmas necessidades de
antes! A moeda tem que circular.
Portanto, mãos à obra, já!
abusou de suas prerrogativas e, como
qualquer servidor público, deveria
ser julgado na Justiça comum e não
ser blindado pelo STF.
ROBERTO OSORIO DE OLIVEIRA
NITERÓI, RJ
_
a A decisão do STF, trazendo para
foro privilegiado os inquéritos
envolvendo o ex-presidente Lula
parecem querer realizar o desejo do
possível réu, conforme o famoso
vídeo, gravado pela deputada Jandira
Feghali, em que Lula, em conversa ao
telefone, diz ao interlocutor para que
mande enfiar “naquele lugar” os
processos que o investigam. Com
isso, foro privilegiado adquire novo
sentido no vernáculo português.
SUELY ROSSET
RIO
_
A FAVOR E CONTRA
a Recentes manifestações em apoio
ao governo Dilma desfilam palavras
de ordem a favor da democracia e
contra o impeachment e o ajuste
fiscal. O governo Dilma já afirmou
ser questão de sobrevivência da
democracia o ajuste fiscal e que essa
posição tem o respaldo das urnas. A
reprovação ao governo Dilma,
segundo pesquisas recentes, supera
90% da população. Mas, afinal, quem
é a favor e quem é contra o quê?
MARCELO GOMES JORGE FERES
RIO
_
PROCESSOS AO STF
a Os doutores da lei também erram! É
o que me parece, em relação aos
grampos em que se envolveu Lula.
Por oito a dois, o STF manteve os
grampos em Brasília. Mas tais
grampos envolveram pessoas com
foro privilegiado, essa aberração, e
pessoas comuns. Por que, então, não
separar? As gravações que não
envolveram autoridades seriam
examinadas pelo juiz Moro e as
demais, pelo STF? Do jeito que está,
o STF tomou o partido de Lula, que
INÈS ALFARERO
RIO
do ministro Barroso. Na sua condição
de alta autoridade do Judiciário, não
deveria expressar publicamente
preferências políticas. Pode ser
condenado pelo povo por estar
julgando ações contra o governo sem
a imparcialidade que o cargo requer.
_
a O caos em que se transformou o
Rio por causa do protesto dos
taxistas contra o Uber demonstra
que estamos sem autoridades para
garantir o direito dos cidadãos. Antes
de fazerem um absurdo desses, os
taxistas deveriam fazer uma
autocrítica do péssimo e caro serviço
que prestam, com recusas de
destinos e valor de corridas maior
devido à estrutura ultrapassada dos
seus representantes. Se fossem mais
antenados, veriam que carregam nas
costas verdeiros sanguessugas, que
permitem a multiplicação de
soluções como o Uber.
EUZEBIO SIMÕES TORRES
RIO
DURANTE A AULA
a Dirigindo-se a estudantes, o ministro do STF Luís Roberto Barroso,
entre outras coisas, declarou que
nosso sistema político se tornou um
“espaço de corrupção generalizada”;
o modelo político “é um desastre”; a
política está “gravemente enferma”, e
que “é preciso mudar”. Ao saber que
estava sendo filmado e gravado, ficou
contrariado e pediu para desgravar.
Não faça isso, ministro. Uma palestra
de Lula vale US$ 200 mil, sua aula foi
impecável e não tem preço.
OTTO AZOI
RIO
SERGIO JOSÉ NASCIMENTO ASSUMPÇÃO
CASIMIRO DE ABREU, RJ
a Sem saber que estava sendo
gravado, o ministro Luís Roberto
JOSÉ EDUARDO SILVEIRA
RIO
_
necessária a melhor identificação dos
motoristas do Rio. Atualmente, o
cartão com a identificação desses fica
colado no vidro dianteiro, sem que o
passageiro possa ver, no caso de
reclamação ou até para conferir se a
foto corresponde ao rosto do
motorista. Que a prefeitura aja rápido
e, em vez de protestos, como os de
sexta-feira, que o sindicato faça a sua
parte sem precisar de tanto controle
de órgãos do governo.
CARLOS EDUARDO FONTES
RIO
_
TAXISTAS PARAM O RIO
_
RICARDO DROLSHAGEN
RIO
_
_
viu refém de taxistas que acham que
suas reivindicações se sobrepõem ao
dia a dia da população. O mais grave
é que na prática nada vai acontecer
com os baderneiros, que certamente
repetirão sua operação de guerra
num futuro indefinido. Gostaria
apenas de saber se algo poderia ser
feito num futuro, já que autonomias
são concessões públicas. Não seria o
caso de suspensão por um ano ou
cassação em definitivo? O que vimos
nesta sexta-feira foi baderna e
incitação à desordem em via pública.
a Como passageiro de táxi, faz-se
reformou um imóvel usando propina.
No Brasil, ex-presidente reformou
dois imóveis, também, usando
propina. Os dois casos foram parar na
Justiça. A Corte africana sentenciou
seu mandatário a ressarcir o erário. Já
a brasileira retirou a investigação da
primeira instância e levou-a para o
seu ninho. Que diferença de
julgamentos! Um jurídico. O outro?
Totalmente político.
a Tomar de assalto a cidade é crime.
Mas isso os taxistas já fazem quando
assaltam os usuários dando voltas
‘ESTAÇÃO GÁVEA’
a Em resposta à carta do leitor Antônio Carlos N. dos Santos (1/4), o
governo do estado esclarece que está
ampliando a Estação General Osório
(Linha 1 do metrô), com construção
de plataformas para embarque e
desembarque de passageiros, para
aumentar a flexibilidade operacional
da estação e viabilizar a integração
entre as linhas 1 e 4. Para atender a
normas técnicas internacionais e de
segurança, eram necessários túnel de
ventilação e saída de emergência. O
governo do estado decidiu fazer com
que esse túnel — com saída para a
Lagoa — fosse mais bem aproveitado,
servindo também como acesso para
usuários do metrô.
HEITOR LOPES
DIRETOR DE ENGENHARIA DA RIOTRILHOS
SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES
NA
EDIÇÃO DE ONTEM:
_
P. 2: “Conte algo que não
sei/‘Saber que há pobreza
nos EUA surpreende os
jovens’.” “Como o jovem pode
ajudar a si e a sua comunidade?” Falta do acento grave
(para evitar ambiguidade).
Certo: “... pode ajudar a si e à
sua
_comunidade?”
P. 2: “Panorama político/
‘Efeito Mick Jagger’.” “Vascaínos gostaram: ‘Vá, pé frio’.”
Erro de grafia (falta do hífen)
e falta do ponto de exclamação. Certo: “Vascaínos gostaram:
_‘Vá, pé-frio!’.”
P. 3: “Nenhum ato constituiu
crime.” “Falta de apoio
parlamentar, impopularidade
e o conjunto geral da obra
não alicerça pedido de
impeachment.” Erro de
concordância. Certo: “Falta
de apoio parlamentar, impopularidade e o conjunto geral
da obra não alicerçam
pedido
_ de impeachment.”
P. 3: “Nenhum ato constituiu
crime.” “... porque foram
adotados depois do governo
aumentar o corte de gastos.”
Combinação inadequada.
Certo: “... porque foram
adotados depois de o
governo aumentar o corte...”
_
P. 4: “Um retrato na parede.”
“Mas se a alternativa for da
mesma laia, só com sinais
trocados, mas com o resultado final igual, não teremos
solucionado o problema,
apenas arranjado um problema novo.” Falta de vírgula no
início da circunstância
interposta e repetição do
“mas”. Certo: “Mas, se a
alternativa for da mesma
laia, só com sinais trocados,
com o resultado final...”
_
P. 4: “Dilma compara clima
de intolerância ao nazismo.”
“Ela criticou a pediatra
gaúcha que recusou-se a
atender uma criança...” Erro
na colocação do pronome
pessoal oblíquo átono. Certo:
“Ela criticou a pediatra
gaúcha que se recusou a
atender uma criança...”
_
P. 4: “Dilma compara clima
de intolerância ao nazismo.”
‘Não se negocia aspectos
da democracia’.” Erro de
concordância. Certo: “Não se
negociam aspectos...”
_
P. 4: “Pediatra será alvo de
processo.” “O sindicato a
polêmica uma ‘notória
exploração partidária’ para
‘fins eleitoreiros’.” Falta do
verbo. Certo: “O sindicato
considera a polêmica...”
_
P. 7: “Não tem para onde
correr.” “Mas quem é que
está assistindo isso?” Erro de
regência. Certo: “Mas quem é
que está assistindo a isso?”
Este é o resumo da crítica
realizada e supervisionada
pelo professor Ozanir
Roberti, sob a coordenação do
jornalista Aluizio Maranhão,
editor de Opinião do GLOBO.
A crítica completa é distribuída
todos os dias na Redação.
LEIA A ÍNTEGRA DA
COLUNA NA WEB
oglobo.com.br
Há 50 anos 2 de abril de 1966
HENFIL/10-6-1993
POLÊMICO EM PARIS, RIO E NOVA YORK
Criado nos EUA, serviço de transporte atende
a 56 países e provoca a ira de taxistas.
Mensalão
STF CONDENA 25 RÉUS
Ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares pegou
pena de oito anos e 11 meses de prisão.
acervo.oglobo.globo.com
a Mais uma vez, o carioca ordeiro se
a Causaram espanto as declarações
Uber
UM ANO SEM O DIRETOR PORTUGUÊS
Ele viveu 106 anos e encantou Marcello
Mastroianni por sua força, lucidez e energia.
_
a O ministro Barroso, do STF, em
a Na África do Sul, seu presidente
FRANCISCO JOSÉ NOBRE DE ALMEIDA
ARARUAMA, RJ
Hoje no
Acervo O GLOBO
Manoel de Oliveira
_
_
a Sinto-me violentado com essa
inflação, investimentos em
segurança, saúde ou educação. Isso é
assunto exclusivo para campanhas
eleitorais. Hoje, o governo se dedica a
duas grandes causas: a banca de
advogados e o balcão de cargos.
JOSÉ LUIZ SALGADO
RIO
_
_
desnecessárias para aumentar o valor
das corridas. O poder público deve
cobrar do Sindicato dos Taxistas o
valor econômico que este transtorno
causa à cidade. O que acham de R$
100 mil por hora de transtorno? Aí
acabava com a palhaçada.
ROSANE GUIMARÃES MACHADO
RIO
proteção do STF ao Lula, cidadão
como eu, avocando para si o seu
julgamento. Para mim, quebraram a
espinha dorsal do STF. Triste!
ROGÉRIO CALDAS
NITERÓI, RJ
_
a Nada de ajuste fiscal, combate à
Barroso criticou o PMDB: “Meu Deus
do Céu, essa é a nossa alternativa de
poder”, disse, referindo-se aos líderes
peemedebistas. A recíproca se aplica
a muitos dos juízes que procrastinam
de seus deveres. Conclusão: meu
Deus do céu, que palpite infeliz!
conversa com estudantes, sem saber
que era gravado, fez declarações
pertinentes. Além de se mostrar
alarmado com o nível de políticos
que se apresentam como alternativa
de poder, foi contundente: “Nós
temos um sistema político que não
tem o mínimo de legitimidade
democrática, deu uma centralidade
imensa ao dinheiro e à necessidade
de financiamento e se tornou um
espaço de corrupção generalizada.”
Disse, também, que o modelo
político “é um desastre”. Bem-vindo,
vazamento! Ficou mais fácil entender
as indecorosas revelações de outro
vazamento: o de Lula.
ELIAS MERÊNCIO DA SILVA
RIO
l 17
Henfil
HUMOR COM ACIDEZ
Do futebol à política, nada
escapava ao traço do cartunista.
Empresariado destaca esfôrço Arrancada para o tri com a s
do Govêrno na economia
seleção reunida nas Paineiras
Ao término das reuniões que promoveram em São Paulo, as classes empresariais lançaram manifesto que
destaca o esfôrço do Govêrno da revolução para implantar processos técnicos e científicos na Administração Pública, a preocupação de gerir a coisa
pública dentro de critérios de probidade e o restabelecimento do princípio da autoridade. Chama porém a
atenção para o sistema de relações
entre o Govêrno e as classes empresariais, mas acrescenta que o Governo
possui potencialidade para que se
atinja o ideal de harmonia.
Com a chegada de Nado à CBD, por volta
das 14 horas de ontem, iniciou-se a apresentação dos 45 craques convocados pela Comissão Técnica da seleção brasileira, prolongando-se até as 20h30m, quando Pelé, Zito, Gilmar, Edu e Lima surgiram no Hotel das Paineiras. Na sede da
CBD, com uma multidão do lado de fora,
o chefe da delegação, João Havelange,
deu as boas-vindas aos jogadores e explicou o trabalho que os espera no período
de preparação para o campeonato mundial. Em ônibus especial rumaram a seguir para as Paineiras. Os craques farão
exames até meados da próxima semana.
18
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
OGLOBO
|
Opinião
|
Lava-Jato não pode ter o destino da Mãos Limpas
À
margem do processo de impeachment
da presidente Dilma, surgem temores
quanto ao futuro da Operação Lava-Jato, os quais cresceram a partir do momento em que passou a ficar claro que o PMDB,
ou a parcela dele mais próxima ao vice Michel Temer, desembarcaria do governo.
Com a defecção, grave para os planos lulopetistas de se manter no Planalto, surgiram rumores da possibilidade de um “acordão” pelo qual
atingidos pela Lava-Jato e vítimas em potencial
da força-tarefa de Curitiba — um universo pluripartidário, inclusive com gente da oposição — se
entenderiam em torno da defenestração de Dilma, tendo como objetivo comum desmontar a
operação.
Descontadas visões conspiratórias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já alertou,
em vídeo, ser inaceitável qualquer barganha
com vistas a um novo governo que prejudique a
Depois da operação na Itália,
quando partidos fortes acabaram,
Berlusconi agiu para que
jamais haja uma investigação como
aquela. Lição para o Brasil
guns já existem denúncias encaminhadas ao Supremo, e mesmo Temer é citado em delações premiadas. Sequer o tucano Aécio Neves, o mais forte
nome para ser novamente candidato a presidente,
em 2018, está blindado contra dissabores.
A operação Mãos Limpas, lançada na Itália no
início da década de 1990, foi estudada por Moro,
como uma espécie de prévia da Lava-Jato. Como
esta, a “Mani Pulite” atingiu altos escalões federais
— até um ex-primeiro-ministro, Betino Craxi, fugiu para a Tunísia e lá morreu sem voltar à Itália —
e despedaçou partidos fortes. Em pleito nacional,
os eleitores pulverizariam o Partido Socialista e a
Democracia Cristã, envolvidos num enorme esquema de propinas muito semelhante ao petrolão
do lulopetismo, aliados e empreiteiras.
Com a condenação de políticos, surgiu espaço
para um dos investigados no mundo empresarial,
o poderoso Silvio Berlusconi, chegar ao poder. Lá
passou a conspirar contra a operação e a criar
Lava-Jato. Enquanto o vice Michel Temer, por força de lei o próximo ocupante do gabinete presidencial caso Dilma seja impedida, aproveitou encontro com empresários em São Paulo para desmentir notícias “plantadas e adubadas” de que
trabalharia para estancar o trabalho do juiz Sérgio
Moro e da força-tarefa.
Mas é fato que, se no governo Dilma há muitos
desgostosos com a Lava-Jato, num governo Temer
ocorrerá o mesmo. Apenas para se ficar no
PMDB, boa parte da cúpula do partido já caiu na
malha de investigações da Lava-Jato. Contra al-
obstáculos legais a qualquer nova investigação
desse tipo. Houve grande repúdio popular, alguns
recuos de Berlusconi, mas não se pode dizer que a
Mãos Limpas limpou a política italiana.
A Lava-Jato não está livre dos mesmos riscos.
Que já existem. Por exemplo, o aguerrido deputado lulopetista Wadih Damous (RJ) já age como a
tropa de choque de Berlusconi, ao propor projetos
para barrar a delação premiada e rever decisão do
Supremo de que o cumprimento de pena pode
começar na condenação em segunda instância.
Ironia: é um deputado petista a serviço de grandes empresários corruptores. Não surpreende,
porque essa aliança ficou explícita no petrolão.
Pelo menos no Brasil há uma proposta de mudanças legislativas, com apoio de 2 milhões de
eleitores, que acaba de ser encaminhada ao Congresso pelo Ministério Público. Transformá-las
em leis é a blindagem que o combate à corrupção
precisa neste momento. l
Argentina assume protagonismo no continente
A
visita do presidente Barack Obama a
Cuba foi um fato histórico de tamanha proporção que acabou por ofuscar a importância e o simbolismo de
sua passagem pela Argentina, na sequência de
sua viagem à América do Sul. Se o encontro de
Obama com Raúl Castro representou o início
do fim da obsoleta política de embargo econômico contra a ilha, e uma aposta num continente mais integrado economicamente, a presença do presidente americano na Casa Rosada ressaltou a importância da Argentina no
atual cenário político, econômico e social da
América do Sul.
Após a eleição de Mauricio Macri em dezembro do ano passado, a Argentina deu passos im-
der restituir a confiança dos agentes econômicos e
políticos. Durante a visita de Obama, num almoço
na Câmara Americana de Comércio, o ministro de
Finanças, Alfonso Prat-Gay, afirmou que o governo pretende no segundo semestre domar a inflação, hoje em torno de 30%, trazendo-a para um
patamar entre 20% e 25%, e reduzir o déficit fiscal
de mais de 7% do PIB em um ponto percentual.
Metas factíveis, diante da retomada da confiança
dos investidores e empresários, bem como do
próprio consumidor argentino, que vislumbram
alguma ordem no horizonte.
Macri agiu rapidamente, logo após assumir
a Presidência, aproveitando para adotar medidas difíceis enquanto seu capital político estava elevado. Com isso conseguiu avançar na di-
portantes, sobretudo na economia, como a
complexa negociação com credores com o propósito de reintegrar o país no sistema financeiro
internacional — referendada pelo Congresso —,
desfazendo a política de isolamento e calote implementada pelo casal Kirchner.
Também desaparelhou importante instituição de estatísticas econômicas, o Indec, reintegrando as equipes técnicas, o que devolveu legitimidade a informações essenciais para tomada
de decisões, como os índices de inflação, emprego e crescimento. Outra medida importante
foi a eliminação de quase todas as tarifas e taxas
cobradas sobre exportações agrícolas.
Segundo o governo, os primeiros três meses de
gestão foram destinados a “arrumar a casa”, e po-
reção do crescimento sustentável, na rota inversa de vizinhos de continente, amarrados na
ideologia bolivariana que há mais de uma década domina parte da região.
Não é obra do acaso o fato de estes países encontrarem-se hoje paralisados em crises decorrentes da irresponsabilidade fiscal, no
campo econômico, e confrontados pelo fracasso de políticas populistas desenhadas para
perpetuá-los no poder.
Enquanto a Argentina reforça a liderança regional, em baixa com os Kirchner, e o mundo
se integra em blocos e por meio de acordos comerciais multilaterais, o Brasil precisa deixar
de apostar num Mercosul bolivariano, pois ele
já não existe. l
ANA MARIA MACHADO
Para inglês ver
N
a segunda metade do século
XIX, os ingleses impuseram
ao governo brasileiro a proibição do tráfico de escravos.
Podiam até estar agindo apenas por
seu próprio interesse, de modo a garantir a futura existência de um mercado consumidor para a produção das
suas fábricas que se multiplicavam
com a Revolução Industrial. Mas, nesse momento, desempenhavam um papel progressista e defendiam a dignidade humana. Para garantir o cumprimento dessa exigência aparentemente
libertária, embarcações britânicas patrulhavam as águas do Atlântico Sul,
aprisionando os tumbeiros que conseguissem interceptar. É claro que o contrabando negreiro continuava, às escondidas. E o Brasil fazia de conta que
suspendia o tráfico. Mas agia apenas
para manter as aparências. Daí a origem da expressão “para inglês ver”,
usada para exibirmos uma imagem
falsa aos olhos do estrangeiro. E ficarmos bem na foto, como se diz hoje.
Até há pouco tempo, os meios universitários estrangeiros e a imprensa
internacional em geral distinguiam
bastante bem a situação política brasileira da existente em seus vizinhos hispano-americanos, bem como em variados regimes ditatoriais de países
emergentes em outras partes do mundo. E não apenas pelo nosso potencial
econômico e pela disposição de enfrentamento e correção da desigualdade social por meio de programas de
distribuição de renda e diminuição do
abismo entre as classes. Mas, desde o
fim da ditadura militar, o Brasil vinha
mostrando a consolidação de suas ins-
MARCELO
tituições democráticas, eleições regulares com possibilidade de alternância
de poder, imprensa livre e atuante, poderes independentes, respeito à Constituição. Incontáveis vezes, em foros de
debate internacional, tive a oportunidade de ouvir desses observadores
análises que destacavam a autonomia
da imprensa e a soberania do Judiciário como fundamentais traços distintivos da democracia brasileira, frente
aos vizinhos bolivarianos.
É exatamente nessa área, de desmoralização da imprensa e da Justiça, que
o governo resolveu atuar agora, em sua
ofensiva de contranarrativa do que está
acontecendo no país desde que há dois
anos começaram as investigações policiais de irregularidades num posto de
gasolina e lava a jato de automóveis no
Paraná, trazendo à baila doleiros, sone-
Fale com O GLOBO
PRESIDENTE
Roberto Irineu Marinho
VICE-PRESIDENTES
João Roberto
Marinho - José Roberto Marinho
_
OGLOBO
é publicado pela Infoglobo Comunicação e Participações S.A.
DIRETOR - GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
_
DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL
AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS
Venda de noticiário: (21) 2534-5656
Banco de imagens: (21) 2534-5777
Pesquisa: (21) 2534-5779
Atendimento ao estudante:
(21) 2534-5610
PUBLICIDADE
Noticiário: (21) 2534-4310
Classificados: (21) 2534-4333
Acusam a imprensa de
mentir, passando por cima
do fato de que já foram
localizados milhões de
dólares no exterior
gação fiscal, evasão de divisas, cartel de
empreiteiras, licitações combinadas,
desvio de dinheiro da Petrobras, propina a dirigentes e políticos, compra de
apoio parlamentar, contas ilegais no exterior. E mais, ao que tudo indica, tentativa de obstrução da Justiça.
Nessa estratégia vimos nos últimos
dias uma escalada de ações para inglês ver, muitas vezes manipulando
gente de bem, que não compactua
com bandidos e se deixou convencer
de que tudo não passa de uma perseguição pessoal do Judiciário e da mí-
Geral e Redação (21) 2534-5000
Jornais de Bairro: (21) 2534-4355
Missas, religiosos e fúnebres:
(21) 2534-4333. Plantão nos fins de
semana e feriados: (21) 2534-5501
Loja: Rua Irineu Marinho 35,
Cidade Nova
International sales: Multimedia,
Inc. (USA). Tel: +1-407 903-5000
E-mail: [email protected]
dia contra Lula ou o governo, ou de
que há mesmo um complô dos inimigos do povo para tirar dos pobres tudo o que eles melhoraram nos últimos tempos ou liquidar a Petrobras
para que os ianques venham se apossar dela a preço de banana.
Para isso, desqualificam as investigações. Acusam a imprensa de mentir,
passando por cima do fato de que já foram localizados e bloqueados milhões
de dólares no exterior, para não falar
dos milhões de reais já recuperados.
Repetem que impeachment é golpe —
por mais que ministros e ex-ministros
do STF já tenham negado essa interpretação, desde que os preceitos constitucionais sejam respeitados. Prendem-se a tecnicalidades e firulas jurídicas, esquecendo o ensinamento de
tantos outros juristas, como Evandro
Classifone (21) 2534-4333
ASSINATURA/Central de atendimento:
www.oglobo.com.br/centraldoassinante
ou pelos telefones 4002-5300 (capitais e
grandes cidades) e 0800-0218433 (demais
localidades), de 2ª a 6ª feira, das 6h30m às
19h, e aos sábados, domingos e feriados, das
7h às 12h
Twitter: @falecom_OGLOBO. Facebook:
facebook.com/espacodoassinanteoglobo
Assinatura mensal com débito automáti-
Lins e Silva, citando Nélson Hungria,
por ocasião do impeachment do Collor: “O sigilo não protege o crime.”
Então, a presidente dá entrevista à
imprensa internacional, e faz comício
no Planalto diante de embaixadores estrangeiros para angariar apoios à sua tese de que o Brasil não está funcionando
de modo democrático. Um diplomata
usa canais oficiais para atacar as instituições do país. Intelectuais respeitáveis, por mais bem intencionados que
possam ser, abrem mão de qualquer
análise menos rasteira e se precipitam
em assinar manifestos que enfileiram
palavras de ordem sem compromisso
com os fatos ou qualquer sutileza. Ao
colocar sua própria inteligência a serviço de um palavrório que não assinariam individualmente, embarcam na
manada, esquecem sua responsabilidade e acham que estão prestando um
serviço à democracia e ao Brasil.
A investigação contra Collor foi possível, entre outras coisas, porque ele
mesmo acabara com a possibilidade
de emissão de cheque ao portador,
obrigando à identificação do beneficiário. A Lava-Jato vai em frente, entre
outras coisas, porque a Constituição de
88 deu poder ao Ministério Público e
no próprio governo Dilma uma lei instituiu a colaboração premiada. Não é a
Inquisição do Moro. Por mais que a
chamem de delação, é uma ferramenta
poderosa para revelar crimes ocultos
— se eles existem e depois são comprovados. Isso não é perseguição nem
golpe. É fato. Para qualquer um refletir,
e não apenas inglês ver. l
Ana Maria Machado é escritora
Para assinar (21) 2534-4315 ou oglobo.com.br/assine
co no cartão de crédito, ou débito em contacorrente (preço de segunda a domingo), para
RJ/MG/ES:
normal, R$ 95,33; promocional, R$ 83,90
VENDA AVULSA/Estados
Dias úteis: RJ, MG e ES: R$ 4,00;
SP e DF: 4,00; demais estados: 5,50;
Domingos: RJ, MG e ES: R$ 5,00;
SP: R$ 5,50; DF: 7,00; demais estados: 10,00
Carga tributária federal aproximada de 20%
ATENDIMENTO AO LEITOR
De 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos
sábados, domingos e feriados,
das 7h às 12h, Tel: (21) 2534 5200
oglobo.com.br/faleconosco
O GLOBO é associado:
ANJ - IVC - GDA - SIP - WAN
Ascânio Seleme
EDITORES EXECUTIVOS
Chico Amaral, Paulo Motta
e Silvia Fonseca
_
Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ
CEP 20.230-901 Tel: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535
_
Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit
a EDITORES - País: Alan Gripp - [email protected] Rio: Rolland Gianotti - [email protected] Economia: Flávia Barbosa - fl[email protected] Mundo: Sandra Cohen [email protected] Sociedade: William Helal [email protected] Segundo Caderno: Fátima Sá - [email protected] Esportes: Márvio dos Anjos - [email protected] Fotografia: Claudio Versiani - [email protected] Arte: Rubens Paiva - [email protected]
Opinião: Aluizio Maranhão - [email protected] Acervo e Qualificação: Gustavo Villela - [email protected] a SUPLEMENTOS - Boa Viagem: Léa Cristina - [email protected] Rio Show: Inês Amorim - [email protected]
Ela: Renata Izaal - [email protected] Revista O GLOBO: Ana Cristina Reis - [email protected] Bairros: Milton Calmon Filho - [email protected] Site: Eduardo Diniz - [email protected] Videojornalismo: Roberto
Maltchik - [email protected] Desenvolvimento de Plataformas: Maíra Carvalho - [email protected] a SUCURSAIS - Brasília: Sergio Fadul - [email protected] São Paulo: Aguinaldo Novo - [email protected]
O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
l 19
OGLOBO
ZUENIR VENTURA
_
O susto de S.
Sebastião
A
expressão grave do governador
provisório na sua primeira entrevista à TV, esta semana, parecia a
de quem ia anunciar o apocalipse. E era quase isso. Tudo bem que ele
nunca foi um Cauã Reymond, mas nessa
manhã, talvez por ter dormido mal, caprichou, e sua aparência lembrava, por contraste, a de Pezão, que naquela altura enfrentava um câncer linfático com otimismo e esperança. Nem a quimioterapia
conseguira tirar o seu sorriso do caminho.
Cheguei a admitir um absurdo — que o
doutor Cláudio Domênico havia internado
o governador errado. Eu fora visitar meu
amigo Verissimo, que estava no mesmo
hospital, e, como era também paciente do
grande cardiologista, pensei em perguntar
ao médico se ele não poderia apressar a alta
do nosso mandatário para o bem do nosso
astral, o que acabou acontecendo naturalmente, com ele deixando a clínica bem
mais magro e abatido, mas se dizendo “com
muita força e determinação”.
Não que, ao retomar o cargo de Francisco
Dornelles, Pezão vá melhorar a crise de
nossas finanças; não vai, mas talvez o anúncio do caos tivesse sido menos depressivo.
Na entrevista, a repórter ainda tentou aliviar o clima pesado, abrindo uma fresta para
a entrada de um pouco de ar fresco no ambiente. Conhecendo a trajetória do entrevistado, sobrinho de Tancredo Neves, cuja
morte causou um dos maiores traumas coletivos no país, ela perguntou se ele não tinha
vivido momentos mais difíceis. Dornelles
admitiu o “grande desafio” que foi assumir o
Ministério da Fazenda logo após o falecimento do tio, “mas tenho que confessar para
você”, acrescentou, “que esta é a situação
mais trágica no campo nacional e estadual
que eu já vi em toda a minha carreira política”. Não foi um drama, mas uma tragédia o
que nos prometeu esse mineiro habitual-
Não foi um drama, mas uma
tragédia o que nos prometeu
na entrevista Francisco
Dornelles, esse mineiro
habitualmente comedido
O mercado e a política
Tristes
tempos
N
T
A prisão de Marcelo Odebrecht
é celebrada sobretudo por
seu potencial de gerar
delações que levem à
condenação de políticos
nem tanto — de que o papel do mercado enquanto força que age sobre a política passa, em
geral, despercebido na esfera pública.
Esta diferença, ou melhor, esta ambiguidade
que a manchete exprime, nos remete à turbulência que o país atravessa. Nesse sentido, é sintomático que a manchete tenha sido alocada na
editoria de Economia, não na de Política. Ora, a
incapacidade ou recusa a enxergar o mercado
como ator político não caminha lado a lado com
a nossa insistência em enquadrar o problema
da corrupção como exclusivamente referido ao
mundo da política? O alvo da indignação é sempre o político corrupto, nunca o empresário corruptor. Basta pensar, por exemplo, que a prisão
de Marcelo Odebrecht é celebrada sobretudo
por seu potencial de gerar delações que levem à
condenação de políticos.
O momento para debater as relações espúrias
entre política e economia está posto. Cabe aproveitá-lo, sem prejuízo às investigações já em
curso, no sentido de buscar reformas que visem
reordenar as regras do jogo, e não somente retirar um ou outro peão do tabuleiro. l
Antonio Engelke é sociólogo
Para que elas cheguem ao gol
ANA PAULA OLIVEIRA
A
história da luta pelos direitos das mulheres tem inúmeros capítulos, sempre em busca da igualdade de oportunidades entre os gêneros e sem abandonar as particularidades que compõem a nossa identidade feminina. Essa batalha se repete
todos os dias também no futebol brasileiro. Meninas e mulheres adeptas do esporte mais popular do país enfrentam obstáculos bem diferentes dos encontrados pelos homens.
Dentro de campo, as brasileiras colecionam
conquistas pautadas quase que exclusivamente
no talento. São duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos, três medalhas de ouro em Jogos
Pan-Americanos e uma final de Copa do Mundo, além dos cinco prêmios consecutivos de
melhor jogadora do mundo para Marta. É fácil
imaginar do que seríamos capazes com mais investimento e planejamento.
É verdade que tivemos avanços recentes, como a criação do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil femininos e a formação de uma seleção feminina permanente, com salários pagos
pela CBF, adotando o mesmo modelo dos Estados Unidos. Mas ainda há muito trabalho pela
frente junto às divisões de base, formação de
novas árbitras e qualificação de treinadores e
DILMA VARGAS
Um observador político em Brasília tem
uma interpretação para a manobra que,
segundo rumores, o governo estaria articulando. Para se livrar do impeachment, a
presidente estaria disposta a abrir mão do
poder em troca de convocar eleições gerais, a serem realizadas em outubro, junto
com as municipais. É uma hipótese tão remota quanto o exemplo que lhe estaria
servindo de inspiração, de acordo com o
informante. “Dilma quer ser Getúlio sem
precisar suicidar-se; ou seja, ela pretende
entrar na História sem sair da vida”. l
CRISTOVAM BUARQUE
ANTONIO ENGELKE
uma manchete publicada recentemente no site do GLOBO, lia-se: “Risco-país indica que mercado ainda
aposta em impeachment”. O subtítulo
arrematava: “Manifestações contra o governo reforçam expectativa de mudança”. Um breve exercício de interpretação da manchete talvez tenha
algo a dizer sobre o problema de que ela trata.
“Risco-país” é um índice criado por agências
de classificação a fim de medir o grau de perigo
que o país avaliado representa para investidores
estrangeiros. “Mercado” designa uma estrutura
de interações que permite a troca, compra e
venda de bens ou serviços, sendo portanto atravessada por dinâmicas como a lei da oferta e da
demanda. “Aposta” é uma expectativa, uma leitura da realidade que pretende antecipar, dentro da medida do possível, o que pode acontecer. “Impeachment”, a esta altura, não há quem
não saiba do que se trata. Tudo somado, a manchete será lida assim: o risco-país, um dos termômetros usados para medir o pulso dessa estrutura de interações econômicas a que chamamos de mercado, indica uma expectativa (favorável, no caso) acerca de um determinado cenário, o impeachment de Dilma.
Mas há outra leitura possível. Na prática,
“mercado” é apenas um outro nome para o jogo
assimétrico de articulação de interesses econômicos que ocorre em nível local, nacional e global. Do mesmo modo, “aposta” designa também um lance num jogo de azar, e não somente
uma expectativa. Se assim compreendermos
“mercado” e “aposta”, então “risco-país” pode
ser visto como um instrumento através do qual
esta articulação de interesses transnacionais (o
mercado) age segundo sua conveniência. Isso
significa que o mercado não apenas observa e
espera um desfecho para a nossa crise política,
como na primeira interpretação. Ao contrário, o
mercado intervém: a manchete se referiria a um
lance concreto, por parte de atores economicamente interessados, dentro do cenário de um
possível impeachment de Dilma.
Ambas as interpretações são válidas; importa
observar a diferença entre elas. Na primeira leitura, o mercado é tomado como índice de normalidade, justamente porque visto como uma
arena neutra onde interesses diversos negociam. Na segunda, o mercado é um ator político
em si mesmo, na medida em que joga, ao sabor
de seus próprios interesses, com a conjuntura
de países. Não vai aqui nenhum julgamento de
valor. Não se trata de reciclar a velha cantilena
anticapitalista que vê no mercado o mal maior
do mundo, mas sim de chamar a atenção para o
fato — materialmente trivial, cognitivamente
mente comedido.
Se até São Sebastião, nosso padroeiro
zen, deve ter levado um susto, imagina os
mais de 400 mil servidores que não sabem
quando vão receber seus vencimentos.
preparadores físicos para trabalharem especificamente com as mulheres.
A decisão de apoiar o futebol feminino cumpre
um importante papel social de quebrar barreiras
que distanciam homens e mulheres. Sabemos
que o futebol como um todo passa por um momento de reavaliação e reestruturação. No entanto, é impossível pensar em modernização sem
considerar a valorização e o fortalecimento das
mulheres nesse universo dominado por homens.
A decisão de apoiar o
futebol feminino cumpre
um importante papel social
de quebrar barreiras que
distanciam homens e mulheres
No fim do mês passado, a Fifa deu um passo
importante para aumentar a participação feminina nas tomadas de decisão no esporte. Foi
aprovado um pacote de reformas que determina que cada uma das seis federações internacionais tenha pelo menos uma mulher entre seus
representantes no conselho da entidade.
Temos de aproveitar este momento para reduzir a disparidade de condições entre o fute-
bol masculino e o feminino, como já acontece
no vôlei, por exemplo. As meninas não querem ser iguais aos homens. Elas querem o
mesmo respeito, disputar campeonatos dignos, jogar em grandes estádios e ter mais visibilidade. Como faremos isso? É o que temos
que discutir.
A CBF acaba de criar o Comitê de Reformas
do Futebol, que busca rever processos e aperfeiçoar políticas para o esporte. A jogadora
Formiga e eu tivemos a honra de sermos convidadas para liderar o grupo de trabalho sobre
o futebol feminino. Já conquistamos uma
grande vitória, ao incluir o tema entre os cinco
prioritários.
Dos 16 assuntos em pauta, o futebol feminino está longe de ser o mais polêmico. Por esse
motivo, um dos nossos desafios é mobilizar a
sociedade em torno desse debate. É hora de
promover as mudanças necessárias para alavancar o futebol feminino no Brasil. E todos estão convidados a participar. Acesse o site do
comitê (www.cbf.com.br/comitedereformas),
vá aos Temas e Documentos, analise e deixe
sua opinião. l
Ana Paula Oliveira é integrante da Escola Nacional
de Arbitragem de Futebol e do Comitê de Reformas
do Futebol
ristes tempos em que até o dicionário foi corrompido. Para
alguns, um instrumento constitucional é definido por golpe,
mesmo se houver prova de crime pela
presidente; para outros, o uso deste instrumento se justifica diante da corrupção e do desgoverno, antes mesmo de
analisar provas do crime.
Tristes tempos quando o debate político se limita ao enfrentamento entre
dois grupos que se acusam mutuamente de corruptos ou de golpistas. Um lado
preocupado apenas em interromper um
governo legal, mas que perdeu a legitimidade, por ser inoperante, incapaz de
conduzir as reformas sociais e econômicas de que o país precisa, contaminado
pela corrupção; o outro concentrado na
defesa deste governo a qualquer custo,
cego aos erros e às mentiras; chegando
ao ponto de dizer que o desemprego decorre da luta contra a corrupção.
Ambos acreditam que, depois da decisão sobre o impeachment, aprovado ou
recusado, o país retomará seu rumo, seja
sob o novo governo Temer ou o velho governo Dilma. Não se vê debate sobre como: retomar o crescimento do PIB e fazêlo contemporâneo com o avanço técnico e
científico; distribuir a renda; erradicar o
analfabetismo; assegurar educação de
qualidade para cada criança independente da renda dos pais e da cidade onde mora; como recuperar nosso abismal atraso
na capacidade científica e tecnológica e de
inovação; como aumentar a produtividade, garantir estabilidade monetária e fiscal, equilibrar as contas públicas, controlar
os endividamentos; como atender à saúde, enfrentar a violência urbana, dar sustentabilidade à
Previdência; como emancipar os
Debate
pobres da necespolítico se
sidade de bolsas e
limita ao
cotas. Parece que
o Brasil real desaconfronto
pareceu.
entre dois
Tristes tempos
grupos que se em que a política se faz sem
acusam
percepção da
história. Como
se estivéssemos em um campeonato de
futebol, com apito final depois de cada
eleição. Não se discute as causas atuais
e históricas que nos condenam. Nem se
considera que, no dia seguinte ao impeachment, se aprovado, mesmo com a
credibilidade de novo presidente, todos os problemas continuarão, inclusive as suspeitas sobre os políticos; e que
os derrotados irão para as ruas em nome da luta contra o que, acreditam, foi
um golpe. Tampouco se discute que, se
o impeachment não passar, a população, indignada e desencantada, continuará nas ruas com apoio crescente de
desesperados, desempregados, empobrecidos, manifestando-se contra um
governo desacreditado e submetido a
outros pedidos de impeachment.
A solução estaria em uma eleição antecipada, seja para todos os cargos ou
apenas para presidente e vice-presidente. Havendo aceitação dos principais
atores, isto é possível com uma reforma
constitucional. Mas, é pequena a probabilidade de aceitação de uma medida de
bom senso, diferente das propostas pelo
debate simplista e imediatista do impeachment ou não impeachment.
Tristes tempos em que as pessoas de
bom senso se sentem estrangeiras em
seu próprio país. l
Cristovam Buarque é senador (PPS-DF)
20
l O GLOBO
l Rio l
Sábado 2 .4 .2016
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
Economia
PAULO FRIDMAN / BLOOMBERG NEWS / 18-6-2015
Volta ao passado
Vagas olimpícas
PÁG. 22
PÁG. 27
INDÚSTRIA TEM TOMBO
DE 9,8% EM FEVEREIRO
Produção fabril hoje está em patamar 19% inferior ao
de dois anos atrás. Crise se espalha por vários setores
11 mil
l 21
É o número de vagas temporárias abertas para quem quer trabalhar nos Jogos Olímpicos. As
oportunidades são para atividades operacionais, e os salários
vão de R$ 1 mil a R$ 6 mil
FOLHA DE PAGAMENTOS
Empresas também terão eSocial
_
Sistema que dificultou a vida dos empregadores domésticos será obrigatório para todos
MARCELO CARNAVAL
ANDREA FREITAS
[email protected]
DAIANE COSTA
Daiane.costa @oglobo.com.br
Prestes a completar seis meses, o eSocial
— que reúne dados cadastrais e emite
uma guia única para as contribuições fiscais, trabalhistas e previdenciárias devidas
pelos empregadores domésticos — ainda
enfrenta problemas. Mas mesmo assim
deve passar por uma grande expansão este ano. Todas as empresas, do Microempreendedor Individual (MEI) que tenha
um empregado às multinacionais, terão
de usar o sistema, de forma escalonada, a
partir de setembro. As empresas temem
que a adequação ao sistema não ocorra a
tempo porque, a cinco meses do fim do
prazo, o governo ainda não divulgou a versão final da plataforma para testes. E, embora o eSocial empresarial seja maior e
mais sofisticado do que o doméstico, há o
receio de que os problemas se repitam.
Apenas o ambiente de qualificação cadastral dos empregados está liberado. E alguns problemas já apareceram: dados rejeitados por serem incorretos, quando
checados no órgão emissor, não apresentam problema. Além disso, como ocorreu
na versão doméstica, somente o empregado poderá resolver algumas pendências,
como mais de um número de PIS ou divergências entre nome de casado e solteiro. Parece pouco, mas quando projetado
para empresas com milhares de empregados, o problema ganha outra dimensão.
— Há problemas no eSocial doméstico
que até hoje não foram sanados, como
não aceitar informações sobre o fracionamento de férias. No empresarial, especificidades de cada categoria, firmadas nos
acordos coletivos, como jornadas de trabalho superiores a 10 horas, horários de
trabalho de médicos, enfermeiros e seguranças, por exemplo, que cumpre de 12h
de trabalho por 36h de descanso não podem ser lançadas no sistema, assim como jornadas parciais, de trabalho por três
dias por semana somente — diz Wolnei
Ferreira, diretor jurídico da Associação
Brasileira Recursos Humanos (ABRH).
Para o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o
maior problema são os custos de adequação ao sistema, no momento em que mui-
Escaldado. Depois de sofrer com a doméstica, Francisco Palmeira teme: “Ter essa preocupação no âmbito da empresa é assustador”
“Não é admissível
implantar qualquer
tipo de burocracia
ou novos custos
numa fase em que
as empresas estão
falindo”
Fernando Pimentel
Diretor-superitendente da
Associação Brasileira da Indústria
Textil
tas empresas mal conseguem os salários:
— É totalmente inadequado trazer uma
demanda de investimento às empresas
num momento em que estamos vivendo
em terra arrasada de negócios. É um projeto que não é urgente. Urgente é preservar o que existe de companhias. Não é admissível implantar qualquer tipo de burocracia ou novos custos numa fase em que
as empresas estão falindo.
Pelo calendário do site no eSocial, empresas que tiveram faturamento acima de
R$ 78 milhões em 2014 terão de cadastrar
seus trabalhadores no eSocial a partir de
setembro. Em 2017, o uso será obrigatório
para todas as empresas, inclusive micro e
pequenas. Com isso, dados hoje enviados
à Receita Federal, ao INSS, ao Ministério
do Trabalho e à Caixa Econômica Federal
e Tribunal Regional do Trabalho estarão
na mesma plataforma. Também será fornecido via eSocial dados sobre monitoramento da saúde do trabalhador e comunicação de acidente de trabalho
O eSocial é um dos braços do Sistema
Público de Escrituração Digital (Sped), cri-
ado em 2007, que inclui também a nota
fiscal eletrônica, e visa combater a sonegação de impostos. Segundo estimativa da
consultoria da Ernst & Young (EY), no primeiro ano do novo sistema, a arrecadação
deve aumentar em R$ 20 bilhões.
Para Marcelo Godinho, sócio da EY e especialista em eSocial, o grande desafio é
fazer com que as informações tenham
consistência no eSocial e no Sped:
— Tem de haver convergência entre as
informações citadas nos diferentes campos do eSocial e do Sped. Há uma interdependência entre o eSocial e outros blocos do Sped. Com isso, o governo fecha o
cerco às empresas.
Segundo Godinho, as dificuldades
vão do cumprimento das regras à tecnologia para enviar as informações,
além da própria forma de trabalhar.
— Não é um projeto de RH. Se um funcionário tiver um filho ou mudar de nome
por casar, tem que informar. O banco de
horas, por exemplo, continua valendo.
Mas a empresa terá de ficar mais vigilante
quanto ao abatimento das horas extras. Se
o trabalhador não reduzir o banco no prazo estabelecido, terá de pagar. A empresa
terá de ficar mais vigilante, a fiscalização
vai ficar mais fácil.
Uma fonte ligada ao setor privado
disse que um dos temores é que essas
inconsistências acabem gerando implicações jurídicas para as empresas e
perdas para os trabalhadores:
— Caso as informações cadastradas no
sistema não sejam repassadas aos órgãos
a que se destinam,o trabalhador pode ter
dificuldades ao sofrer um acidente e ter
de se afastar do trabalho.
PARA EMPRESÁRIO, SISTEMA SERÁ UM ‘BBB’
Francisco Palmeira, sócio da Vanguarda
RH, também teme o novo sistema. Ele
tem três empregados, e sua experiência
com o eSocial doméstico não foi das melhores. Por isso, não descarta contratar
uma consultoria para ajudá-lo, mas afirma que o momento não bom. Com a crise, o número de clientes diminui e a nova exigência vai requerer mais gastos.
— Depois de toda a dificuldade para incluir a doméstica no eSocial, como página
fora do ar, tive que adiar em um mês a demissão da empregada porque não conseguia fazer isso no sistema. E trata-se de
uma coisa simples: admissão e demissão.
Não foi fácil. Ter essa preocupação no âmbito da empresa é assustador. E ainda será
um “BBB” do governo em cima da gente. E
é preciso cumprir a lei apesar da crise.
Guilherme Afif Domingos, presidente
do Sebrae, entende que as empresas passarem a recolher numa mesma base diversos tributos é uma ganho. No entanto,
ele pleiteia que a plataforma passe por
adaptações para se adequar às especificidades das micro e pequenas empresas.
— Há dificuldades até hoje porque esse
sistema (eSocial) não é amigável para o
contribuinte. Você pede ao cidadão que
repita nos formulários informações que já
estão em bases existentes, que o Estado já
tem. Seria importante que o sistema importasse todas as informações de todas as
outras áreas — diz.
A Receita Federal informou, em nota,
que a expansão do eSocial para empresas
está em desenvolvimento e entrará em
“pré-produção” no fim do segundo semestre de 2016. E acrescentou que os cronogramas e etapas de implantação ainda
estão sendo discutidos. l
22
l O GLOBO
l Economia l
Sábado 2 .4 .2016
OS DOIS LADOS DA CRISE
_
DESEMPENHO DA BALANÇA
DE JANEIRO A MARÇO DE 2016
(EM US$ BILHÕES)
COMPARAÇÃO COM O ANO ANTERIOR
(EM US$ BILHÕES)
20
80
EXPORTAÇÃO
EXPORTAÇÃO
15,994
13,347
15
11,243
[email protected]
MÍRIAM
LEITÃO
11,559
10,305
5
42,775
40,585
IMPORTAÇÃO
10
10,322
IMPORTAÇÃO
60
40
32,186
20
0
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
0,921
3,043
4,435
SALDO
0
JAN-MARÇO/16
JAN-MARÇO/15
8,398
-5,549
Fonte: Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).
|
|
COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO)
Carbono 14
É muito fundo o poço da corrupção, e isso
justifica usar até método de datação para se
saber a idade dos crimes. Difícil também
entender todos os elos que ligam tão
complexa rede de eventos e que junta tantos
personagens. A fase de ontem, a 27ª, prova
que a Lava-Jato continua em seu trabalho,
mesmo debaixo de intensa pressão, e não se
perde em meio a múltiplos fios soltos.
S
iga o dinheiro, é a velha máxima dos investigadores. O empresário José Carlos Bumlai,
em 2004, fez um empréstimo no Banco Schahin. A operação nasce quando Silvio Pereira e Delúbio Soares procuram Marcos Valério para ajudar
a resolver um problema financeiro do PT. O partido
precisa de dinheiro para uma emergência. Pedem
ajuda a Bumlai, que aceita pegar um empréstimo
de R$ 12 milhões, dando em garantia suas fazendas. O Banco Schahin aceita emprestar.
O dinheiro saiu do banco, passou pela empresa de
Bumlai e foi para o Bertin. O que tem o frigorífico com
isso? A empresa é investigada. Da conta do Bertin foi
para a Remar, que já admitiu que é laranja. Daí, R$ 6
milhões vão para beneficiar, de várias maneiras, o empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André. Paga dívidas dele e quita a compra do “Diário do Grande ABC”.
Ronan era sócio do jornal, mas não tinha o controle.
E começaram a ser publicadas no próprio jornal notícias de que ele estaria envolvido na morte de Celso Daniel. Ele decide comprar o “Diário do Grande ABC", e o
dinheiro do empréstimo do Schahin vai para a conta
dele e depois para a do empresário que vendeu.
Por que todo mundo se mobiliza, e se faz uma caminhada tão longa do dinheiro para que um empresário
compre um jornal? O que exatamente liga essas pessoas? Ronan Maria Pinto acabou de ser condenado por
corrupção em Santo André. Mas o que o MP quer saber
é por que ele teria receU
bido dinheiro se não há
Os pontos-chave
motivo aparente para ser
pago por este esquema.
Uma das conjecturas
passa pelo que disse o
Nova fase da Lava-Jato
notório réu do mensamostra que a investigação
lão. Marcos Valério afircontinua firme, mesmo
mou que teria participadiante de forte pressão
do de uma reunião em
23 de maio de 2004 em
que se arquitetou o emOperação identifica elos
préstimo. O destino do
entre a morte do prefeito
dinheiro seria Ronan
do PT Celso Daniel, o
Maria Pinto, que estaria
mensalão e o petrolão
ameaçando o PT de fazer revelações sobre o
assassinato do prefeito
Celso Daniel, em 2002,
Empréstimo de R$ 12
em circunstâncias mismilhões do Schahin pode
teriosas. Mais misterioter sido pago com contrato
sas foram as mortes de
bilionário da Petrobras
várias testemunhas.
Marcos Valério tentou fazer delação meio tarde,
quando o mensalão já condenara seus réus. Abrir a
Ação Penal 470 poderia invalidar julgamentos. Bumlai,
em depoimento na Lava-Jato, confirmou que parte do
dinheiro foi para pagar Ronan. Ao seguir o dinheiro, a
Lava-Jato chegou exatamente em Ronan como beneficiário final de R$ 6 milhões. Os outros R$ 6 milhões pagaram marqueteiros do PT em Campinas.
Os anos foram passando, e a dívida cresceu. Já era,
em 2008, R$ 50 milhões e fora transferida para a securitizadora do grupo para não ter problemas com o Banco
Central. Foi quando entrou Nestor Cerveró na história.
Ele contratou o grupo Shahin para ser operador do navio sonda Vitoria 10000, da Petrobras, num negócio
sem licitação, com sobrepreço, e em várias cláusulas
do contrato o grupo é favorecido. Um negócio bilionário. Nada mal para quem emprestou R$ 12 milhões. Para quitar o empréstimo, foi simulada uma operação de
entrega de sêmen de boi como “dação em pagamento”.
De tão mal feita, até Bumlai já admitiu que não existiu.
É muito fundo o poço da corrupção, e complexos os
fios que ligam os personagens desses três escândalos
— Santo André, mensalão e petrolão. A 27ª fase também investiga pagamentos mensais recebidos por Silvio Pereira, alguns da OAS, inclusive quando ele era julgado no mensalão, beneficiado com pena menor. A Lava-Jato continua suas escavações, desta vez com a Carbono 14. Celso Daniel foi morto há 14 anos. l
48,325
Editoria de Arte
Com queda na importação, saldo
comercial é o maior em 28 anos
Quantidade exportada sobe 15% em março, mas preço baixo atrapalha
BÁRBARA NASCIMENTO E
[email protected]
ELIANE OLIVEIRA
[email protected]
-BRASÍLIA- A balança comercial
brasileira apresentou, em
março, o melhor resultado
para o mês em 28 anos, desde
o início da série histórica. O
saldo entre exportações e importações foi positivo em US$
4,435 bilhões. O número é
quase dez vezes maior do que
o registrado no ano passado,
quando o saldo foi de US$ 460
milhões. No trimestre, as vendas ao exterior superaram as
compras em US$ 8,398 bilhões, ante um déficit de US$
5,549 bilhões em 2015.
Os números refletem a alta
do dólar e a recessão brasileira, que deixou como única alternativa para crescimento
das empresas as exportações.
Em março, o resultado positivo da balança foi influenciado principalmente pela queda de 30% nas importações,
que somaram US$ 11,5 bilhões. As exportações também caíram, porém em ritmo
menor, de 5,8%, para US$
15,9 bilhões. As vendas externas, no entanto, aumentaram
em quantidade. O total exportado subiu 15,7% em março. Mas, com a queda nos
preços das commodities —
que têm forte peso na pauta
brasileira de exportações — o
valor pago pelos produtos
brasileiros caiu 17,4%.
— O superavit de março é
histórico. Se dá por conta de
uma queda de importação
maior do que de exportações.
A queda da importação é impactada pela baixa atividade
econômica. Enquanto a exportação cresce em volume.
Há uma redução de preços, há
uma maior demanda por
commodities e mais oferta por
produtos agrícolas no mundo
e isso faz com que os preços se
reduzam — explica o diretor
de estatística e apoio à exportação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Herlon
Brandão.
Segundo fontes da área econômica do governo, a exportação é, hoje, a única válvula de
escape para dar mais fôlego à
atividade econômica. Por isso,
a melhora da balança comercial é repetida como um mantra
pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Economistas e
especialistas do setor têm o
mesmo diagnóstico.
— A única opção é exportar
— sentenciou o diretor-geral
da Organização Mundial do
Comércio (OMC), o brasileiro
Roberto Azevêdo.
MAIS EMPRESAS EXPORTANDO
As vendas externas correspondem a 11% do PIB. As rotas para o exterior são buscadas,
principalmente, por pequenas
e médias empresas, conforme
um levantamento do MDIC.
No primeiro bimestre de 2016,
o número de novas empresas
exportadoras foi de 1.032 firmas, enquanto em todo o ano
passado foram contabilizados
1.088 casos. Por outro lado, em
janeiro e fevereiro deste ano
houve uma queda de 3.877
empresas importadoras, enquanto em 2015 a redução foi
de 2.000 empresas.
— De tudo o que aconteceu
ultimamente, o que há de
mais interessante e positivo
para a economia foi a desvalorização do real, o que permitirá a reação das exportações — disse o economista e
professor da Unicamp, Luiz
Gonzaga Belluzzo.
A indústria enxerga o mesmo
horizonte:
— Vemos duas saídas, a curtíssimo prazo, todas ligadas ao
comércio exterior: aumentar a
exportação e recuperar o
market share (participação de
mercado) que perdemos por
causa da valorização do real.
Isso significa recuperarmos
mercados externo e interno —
disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos
(Abimaq), Carlos Pastoriza.
Em março, caíram as importações de combustíveis e lubrificantes (-40,8%), bens de consumo (-31%), bens intermediários (-28,3%) e bens de capital
(-26,8%). Segundo nota do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior
(Mdic), a queda no total gasto
com compras de combustíveis
se deu “pela diminuição dos
preços de gás natural, carvão,
petróleo em bruto e óleos
combustíveis”.
As exportações recuaram em
todos os grupos de produtos:
semimanufaturados (-14,1%),
manufaturados (-5,6%) e básicos (-1,8%). Caíram, principalmente, os embarques de ferro
fundido (-48,1%), minério de
ferro (-44%) e petróleo em bruto (40%). l
1
Crise no Brasil é o que mais preocupa Argentina
2
Ministro da Fazenda
diz que estaria mais
otimista, não fosse a
recessão brasileira
3
_
oglobo.com.br/economia/miriamleitao
-BUENOS AIRES- A crise brasileira preocupa a Argentina mais do que a
desaceleração da China ou as taxas de juros nos EUA. Em entrevista ao “Financial Times”, o ministro da Fazenda argentino, Alfonso Prat-Gay disse que, se não
fosse pelo Brasil, teria projeções
mais otimistas para seu país.
— O Brasil é a nossa maior preocupação, já que os laços econômicos (com o país) são mais fortes. Sim, seria ótimo ver a China
crescendo a 9%, em vez de 6%, e
as taxas do Federal Reserve (Fed,
banco central americano) estão
próximas a zero (portanto vão
subir inevitavelmente). Mas o
Brasil é diferente. Há setores e regiões na Argentina que dependem do Brasil — disse Prat-Gay.
No cargo desde dezembro do
DIEGO LEVY/BLOOMBERG NEWS/29-2-2016
Contra o dragão. Alfonso Prat-Gay espera que inflação caia após ajuste
ano passado, o ministro avalia
como positiva a reação popular
às duras medidas de ajuste que o
governo tomou até agora, como
um aumento de 500% nas tarifas
de energia elétrica. Alguns setores da sociedade, no entanto, já
começaram a demonstrar insatisfação. Nesta semana, o líder
Hoje
na web
oglobo.com.br/economia
l FOCO NO PRÉ-SAL
acesse
140
SÃO JOÃO DO MERITI (SHOPPING GRANDE RIO)
Estrada Antonio Sendas, 111
SHOPPING VIA PARQUE Av. Ayrton Senna, 3.000
AMÉRICAS SHOPPING Av. das Américas, 15.500
A Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis
aprovou plano de investimentos
de R$ 1,24 bilhão entre 2015 e
2018 para estudos de geológicos
l CUIDADO NOS INVESTIMENTOS
sindical Pablo Moyano, disse que
“a lua de mel” com o governo havia acabado.
— Há muitas coisas que podem dar errado, mas, até agora,
nenhuma deu — disse Prat-Gay.
Ele avalia que a situação com
os chamados “fundos abutres"
foi quase completamente re-
Segundo Rick Rieder, diretor de
investimentos da BlackRock, a
gestora pôs o “dedão do pé" no
Brasil, mas atua com cautela no
país, pois “existe risco" de perdê-lo
l MAIS BARATO E SUSTENTÁVEL
A Tesla Motors apresentou
protótipos do Model 3, veículo
elétrico voltado para classe média.
O carro, que teve 180 mil
pré-encomendas em 24h, terá
preço inicial de US$ 35 mil em 2017
solvida. A Argentina planeja
emitir US$ 12 bilhões em bônus para pagar os credores.
INFLAÇÃO DEVE CAIR
Enquanto lida com os figurões
de Wall Street, Prat Gay tem nas
mãos um problema que deve ter
influência direta sobre como o
povo argentino perceberá a condução da política econômica: a
inflação. O ministro diz que a alta de preços é a prioridade da
equipe econômica. O desafio é
conciliar a missão aos ajustes inflacionários, como as altas de tarifas autorizadas até agora:
— Estamos tomando decisões difíceis para termos certeza que estamos derrotando o
dragão (da inflação), e não
apenas o colocando em uma
jaula por um tempo. l
NA WEB
http://glo.bo/1qmXkhy
Governo da Argentina
eleva preço médio do
gás natural em 174%
acesse
140
JACAREPAGUÁ (PREZUNIC CENTER)
Estr. Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes, 906
MADUREIRA SHOPPING Estrada do Portela, 222
TIJUCA Rua Conde de Bonfim, 604
ITABORAÍ SHOPPING Rod. Gov. Mario Covas, BR 101, KM 205
l Economia l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 23
OS DOIS LADOS DA CRISE
_
ATIVIDADE NAS FÁBRICAS
EM RELAÇÃO AO MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR
(EM %)
6
PRODUÇÃO EM RELAÇÃO
A FEVEREIRO DE 2014
4,8
3
0
-1,6
-0,4
-2,6
-2,6
-3,0
-3
-6
-5,7
-9
-6,0
-6,7
-9,8
-12
-15
-8,5
-9,2
F
M A M
J
J
A
S
2014
O
N
D
J
F
M A M
2015
-8,7
J
J
-12,5
A
S
O
N
D
-13,6
J
F
2016
INDÚSTRIA GERAL
-19%
BENS DE CAPITAL
(MÁQUINAS,
EQUIPAMENTOS)
-43%
BENS DE CONSUMO
DURÁVEIS (AUTOMÓVEIS
E ELETRODOMÉSTICOS)
-39%
BENS INTERMEDIÁRIOS
(USADOS NA PRODUÇÃO
DE OUTROS BENS)
-13%
SEMI E NÃO DURÁVEIS
(CALÇADOS, ROUPAS,
ALIMENTOS E BEBIDAS)
Fonte: IBGE
-9%
Editoria de Arte
Indústria completa 24 meses
seguidos de queda na produção
Com tombo de fevereiro, atividade está 19% menor que há dois anos
PAULO FRIDMAN/BLOOMBERG/15-09-2015
DAIANE COSTA
[email protected]
A retração no consumo e a queda da
confiança de empresários levaram a
indústria brasileira a atingir uma marca nada desejável: 24 meses seguidos
de taxas negativas da produção completados em fevereiro, mês em que o
segmento teve um tombo de 9,8% em
relação a igual período ano anterior.
Com isso, a atividade da indústria estava 19% menor do que dois anos antes e 21,6% abaixo do seu pico histórico, registrado em junho de 2013. Os
dados foram divulgados ontem pelo
IBGE. Frente a janeiro deste ano, a
produção encolheu 2,5% — pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 2002 —, o que anulou o ligeiro crescimento de 0,4% registrado no
primeiro mês do ano.
As 24 quedas seguidas da taxa geral
refletem principalmente o mau desempenho das indústrias de bens de
consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos), e de bens de capital
(máquinas, equipamentos e materiais
de construção). Ambas também registraram em fevereiro o 24º recuo seguido da produção, mas com intensidade
maior, 29,3% e 25,8%, respectivamente, na comparação com o mesmo mês
do ano anterior.
São dois segmentos que dependem
estritamente da confiança e da renda,
afetadas pela crise político-econômica no país, colocando um freio no
consumo e nos investimentos e derrubando o resultado geral da indústria.
A perda no patamar de produção dos
dois grupos também foi maior. No caso dos bens de capital, que representam os investimentos, a queda chega a
43% em dois anos. Para os duráveis, o
perda é de 39%.
— Os setores de bens de capital e o de
consumo durável historicamente são
mais voláteis em momentos de recessão, porque estão diretamente ligados
ao poder de compra da população e aos
As vendas de veículos voltaram a cair no mês passado, levando os
resultados do setor no primeiro trimestre ao seu pior nível desde 2006. Dados
divulgados na sexta-feira pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição
de Veículos Automotores) mostram
que, entre janeiro e março, foram comercializadas no país 465 mil unidades
(automóveis e comerciais leves), uma
queda de 28,3% em relação ao primeiro
trimestre de 2015.
Em março, as vendas somaram 173,2
mil veículos, queda de 23,3% frente ao
mesmo mês do ano passado.
Embora ainda muito negativos, o desempenho do mercado em março traz
alguns sinais alentadores, na avaliação
de Raphael Galante, consultor da Oikonomia, empresa especializada na análise do mercado automobilístico. Primeiro, porque os números de vendas
dos primeiros meses do ano passado
foram influenciados ainda pelo IPI reduzido concedido pelo governo às
-SÃO PAULO-
Em sessão de julgamento na última segunda-feira, dia 28
de março, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado
concedeu liminar em ação de representação de inconstitucionalidade movida pela Fecomércio RJ para suspender os
efeitos da Lei 7.176/15, que instituiu a Taxa Única de Serviços Fazendários. A decisão beneficia todas as empresas do
Estado – independentemente do segmento –até então obrigadas ao pagamento da Taxa Única.
“Além de ilegal, essa taxa significaria uma grande injustiça com o empresariado. Especialmente os pequenos
empresários, já tão sobrecarregados e em meio a uma crise sem precedentes nas últimas duas décadas. A atividade
econômica deve ser estimulada para a superação das dificuldades hoje enfrentadas e não o contrário”, diz o presidente do Sistema Fecomércio RJ, Orlando Diniz.
A criação da taxa, cuja finalidade seria custear serviços
prestados pela Receita Estadual, foi instituída no fim de dezembro de 2015. Mesmo sem utilizar os referidos serviços,
as empresas estariam obrigadas a recolher trimestralmente, a partir de 29 de março deste ano, valores que poderiam ultrapassar R$ 30 mil.
Fator-chave no Mapa do Comércio
Bens de capital. Fábrica de tratores em Curitiba. Setor de máquinas foi muito afetado pela crise
investimentos, por parte dos empresários, e à confiança, e que geralmente
são prejudicados. E, quando a economia vai bem, apresentam taxas mais altas do que a geral da indústria — explica o economista Leonardo Carvalho,
do Instituto de Pesquisa e Economia
Aplicada (Ipea).
ESPALHAMENTO PELOS SETORES
O espalhamento de taxas negativas pelos diversos setores da indústria se
mantém em 2016. Nos dois primeiros
meses do ano, 75,7% dos 805 itens pesquisados pelo IBGE tiveram queda na
produção. No ano de 2015, este índice
ficou em 78,1% — um recorde negativo
para a série histórica, iniciada em 2002.
— Mesmo nos poucos setores que tiveram resultado positivo em fevereiro,
isso ocorreu sobre uma base de comparação baixa, sendo suplantado por resultados negativos anteriores. Então,
em nada muda a leitura do cenário. Seja pela taxa geral da indústria, seja pelas das atividades econômicas, observa-se uma manutenção da trajetória
negativa descendente — avalia o gerente de Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.
Com o resultado de fevereiro, a in-
dústria tem perda de 11,8% nos dois
primeiros meses de 2016. No acumulado em 12 meses, a queda foi de 9% em
fevereiro — a perda mais intensa desde
novembro de 2009 (-9,4%).
Carvalho pondera que, mesmo quando houver uma retomada da atividade,
o setor de bens de capital ainda levará
um tempo para apresentar taxas positivas devido ao alto nível de ociosidade
atual da indústria:
— Por conta da queda na demanda,
basta religar o que já temos. Vai demorar um tempo para que as empresas vejam necessidade de fazer novos investimentos.
O que ninguém sabe dizer é quando
haverá uma retomada.
— Não há sinal algum de que essa trajetória negativa irá ao menos estancar,
porque ela é reflexo do atual conturbado ambiente político e da incapacidade
de o governo tomar posições econômicas — avalia Silvio Salles, do Instituto
Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
Carvalho resume o cenário:
— É uma crise disseminada, intensa, que tem produzido recordes negativos persistentes. Os índices são
muito ruins, atingem quase tudo e
por muito tempo. l
Vendas de carros caem 28% no 1º trimestre
Para consultor, setor está
perto do ‘fundo do poço’.
Crise política e restrição de
crédito dificultam negócios
Fecomércio RJ derruba
Taxa Única de Serviços
Fazendários
montadoras. Os descontos do IPI expiraram em dezembro, mas o mercado
virou o ano com estoques bastante altos a preços menores, que acabaram
alavancando as vendas.
— No começo de 2015 havia preço
mais atraente por causa do IPI menor, e
também tinha mais crédito. Então,
eram condições diferentes — diz Galante, observando que a oferta de crédito para a compra de carros hoje é muito
mais restrita.
SETOR DEVE ENCOLHER 15% ESTE ANO
O consultor observa ainda que o mercado aproxima-se do “fundo do poço”,
caminhando para fechar o ano com
uma retração da ordem de 15% em relação a 2015. Muito maior que a prevista
pela Anfavea, a associação das montadoras, que projetou uma retração de 5%
para as vendas em 2016.
Em janeiro deste ano, lembra ele, as
vendas foram 38% menores que no
mesmo mês do ano passado. No primeiro bimestre, o recuo acumulado
caiu para 31%, e no trimestre agora a
retração ficou em 28,3%.
— A queda está diminuindo, estamos
teoricamente chegando no fundo do
poço, num piso. De qualquer forma, vai
ter retração este ano, mas a curva de
vendas está indo para um patamar
mais próximo de 15% em nossa avaliação — diz Galante.
Este será o terceiro ano seguido de retração do mercado brasileiro de automóveis e, segundo estimativas da Oikonomia, as vendas devem ficar ao redor
de 2 milhões de unidades. Patamar que
significará um recuo aos níveis de vendas do ano de 2007.
— Essas são projeções, mas qualquer
número que se fale hoje pode ser um
chute. Existem variáveis que indicam
que o mercado pode melhorar, mas,
com a crise política, o crédito não destrava — diz Galante.
No segmento de veículos pesados,
ônibus e caminhões, a situação é ainda
pior: foram comercializadas 16.334
unidades nos três primeiros meses do
ano, um tombo de 36,5% ante igual período de 2015.
No segmento de motocicletas, que já
vem encolhendo há dois anos, o recuo das
vendas foi menor, de 12,48%, quando se
compara o primeiro trimestre deste ano e
o mesmo período do ano passado. l
A questão tributária é uma das que mais impactam o Comércio de Bens, Serviços e Turismo, de acordo com o Mapa
Estratégico do Comércio do Estado do Rio de Janeiro 20152020. O estudo, desenvolvido pelo Sistema Fecomércio RJ
em parceria com a Fundação Getulio Vargas, considerou a
tributação como um dos fatores-chave para o desenvolvimento do setor, demonstrando a importância de reduzir a
carga de impostos e taxas e o custo administrativo decorrente do cumprimento das exigências
tributárias estaduais e municipais.
Além de ilegal, essa
A formulação do Mapa
taxa significaria
envolveu a coleta de indiuma grande
cadores nas oito regiões
injustiça com o
do Estado – Costa Verde,
empresariado.
Centro Sul, Médio ParaíEspecialmente
ba, Noroeste, Norte, Serrana, Baixada Litorânea e
os pequenos
Metropolitana – ratificanempresários, já tão
do a importância do Cosobrecarregados
mércio de Bens, Serviços
e em meio a
e Turismo para a econouma crise sem
mia estadual. Trata-se do
precedentes
setor que mais emprega
nas últimas
– são mais de dois milhões de trabalhadores
duas décadas.
com carteira assinada.
A atividade
O Mapa se debruçou
econômica deve
especialmente sobre teser estimulada para
mas que afetam diretaa superação das
mente a economia do
dificuldades hoje
Estado e o desempenho
enfrentadas e não o
do setor, como Educação, Segurança, Infraescontrário
trutura, Tributação e AmOrlando Diniz
biente Empresarial. Além
de identificar vocações e
oportunidades, o Mapa é um instrumento estratégico para
a atuação do Senac RJ e do Sesc Rio, braços de Educação
Profissional e Sociocultural do Sistema, respectivamente.
Encontros Regionais
O Sistema Fecomércio-RJ iniciou, na quarta-feira, dia
30, em Angra dos Reis, a primeira rodada regional do Mapa
do Comércio. Esses encontros regionais são um desdobramento da segunda edição do Mapa, lançada em outubro do
ano passado. Os atores locais participarão de um Grupo de
Trabalho que redigirá propostas personalizadas, de acordo com as vocações regionais, identificando similaridades
e diferenças entre as economias dos municípios fluminenses. Esse trabalho fará parte de uma proposta a ser encaminhada ao Poder Público.
NA WEB
http://glo.bo/22WKkk8
O carro de 2026: próxima
década será de reinvenção
Apoio: Link Comunicação Integrada
Conteúdo patrocinado produzido por
24
l O GLOBO
l Economia l
Sábado 2 .4 .2016
Arábia Saudita criará
Petrobras espera a adesão de
12 mil em programa de demissões fundo de US$ 2 tri
Companhia estima economizar até R$ 33 bilhões até 2020 com cortes
PEDRO TEIXEIRA/30-3-16
RAMONA ORDOÑEZ
[email protected]
A Petrobras anunciou ontem o
lançamento de um novo Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) aberto a todos os funcionários, independentemente de idade e
tempo na empresa. Segundo a
estatal, o objetivo é “adequar
sua força de trabalho às necessidades do Plano de Negócios e
Gestão, buscando otimizar a
produtividade e reduzir custos
com foco no alcance das metas”.
A previsão da estatal é que 12
mil empregados tenham condições de aderir ao plano, representando um corte da ordem de
21% dos 57 mil funcionários da
holding. O programa tem um
custo previsto de implantação
de R$ 4,4 bilhões. Já a economia
esperada com as demissões
atinge R$ 33 bilhões até 2020.
As inscrições no programa
começam no próximo dia 11 e
vão até 31 de agosto. A Petrobras não divulgou o valor das
indenizações a serem pagas.
Mas fontes apontam valores
entre R$ 212 mil e R$ 706 mil.
Os empregados receberam
ontem o comunicado da estatal,
o que passou a ser o assunto do
dia. Um funcionário que está há
cerca de 30 anos na companhia
disse que a maioria dos colegas
que entraram na mesma época
deve aderir.
— A indenização é um pouco
menor do que no plano anterior, mas muitos pretendem
aceitar porque está muito ruim
trabalhar hoje na Petrobras —
afirmou o funcionário, que
| Opinião |
PARADOXO
O INEVITÁVEL ocorrerá
com o reconhecimento de
uma perda pelo FI-FGTS
de R$ 1,7 bilhão, devido ao
desastre empresarial que é
a Sete Brasil.
COM ISSO, em última
análise, o PT e seu projeto
estatista envolvendo a
Petrobras terminaram
causando este grande prejuízo aos trabalhadores. E
ainda forçam a privatização de parte da estatal.
UM HISTÓRICO paradoxo.
Enxugamento. Novo PIDV não tem restrições de idade ou tempo de casa
não quis ser identificado.
A Petrobras disse que o novo
PIDV vai preservar o “efetivo
necessário à continuidade operacional da companhia e ajuste
de pessoal em todas as áreas”.
Com dificuldades financeiras em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato
e do derretimento dos preços
do petróleo, a Petrobras vem
cortando investimentos e custos ao máximo, já tendo enxugado o quadro de terceirizdos
em mais de 120 mil.
Na semana passada, a estatal
também anunciou a extinção
de 2.279 cargos gerenciais.
O PIDV anterior da Petrobras,
de 2014, era mais restrito: apenas para funcionários com mais
de 55 anos. Foram feitos 6.254
desligamentos. Segundo a estatal, outros 1.055 inscritos naquele programa devem deixar a
companhia até maio de 2017.
CHINA PEDE CONTRAPARTIDAS
Se por um lado a companhia
busca reduzir seus custos, por
outro ela vai atrás de financiamentos. Em abril do ano passado, a estatal fechou um empréstimo de US$ 3,5 bilhões
com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB, na sigla
em inglês). O contrato, no entanto foi alvo de um pedido de
esclarecimentos no Senado.
Em resposta ao questionamento dos parlamentares, a
Petrobras informou que, ao fechar o empréstimo de US$ 3,5
bilhões, foi exigido que, no mínimo, 60% do valor fossem adquiridos em equipamentos e
serviços chineses — ou seja, os
recursos têm contrapartidas.
Mas, segundo informou uma
fonte, poderiam ser consideradas compras feitas antes da assinatura do contrato, entre 2010
e 2014. O prazo de pagamento é
de dez anos, e as taxas cobradas
foram Libor (1,21%) mais 2,8%
ao ano. Procurada, a Petrobras
não quis comentar o assunto. l
Objetivo é preparar o
país para o declínio
da era do petróleo,
com preços menores
DA BLOOMBERG NEWS
A Arábia Saudita se prepara para o declínio da era do
petróleo, ao criar o maior fundo soberano do mundo para os
ativos mais cobiçados do reino. Essa é a visão do príncipe
Mohammed bin Salman, segundo na linha de sucessão do
trono, para o Fundo de Investimento Público (FIP), que
eventualmente controlará
mais de US$ 2 trilhões e ajudará a reduzir a dependência do
reino em relação ao petróleo.
— Abrir o capital da (petrolífera) Aramco e transferir suas
ações para o FIP tecnicamente
fará dos investimentos a fonte
de renda do governo saudita,
em lugar do petróleo — o príncipe afirmou durante uma entrevista no complexo real em
Riad à Bloomberg. — O que
resta agora é diversificar os investimentos. Assim, dentro de
20 anos, seremos uma economia ou estado que não dependerá tanto do petróleo.
Quase oito décadas após a
primeira descoberta de petróleo no reino, o filho do rei Salman, de 30 anos, pretende
transformar o maior país exportador de petróleo do mundo em uma economia preparada para a próxima era. À medida que essa estratégia é delineada, a velocidade das mudanças pode chocar uma sociedade conservadora, acostumada
a décadas de subsídios.
A venda da Aramco, a Saudi
Arabian Oil Co., deve ocorrer
-RIAD-
em 2018, talvez até antes, de
acordo com o príncipe. O fundo então desempenhará papel
importante na economia, investindo internamente e no exterior. Seria grande o bastante
para comprar a Apple, a Alphabet (controladora da Google),
a Microsoft e a Berkshire Hathaway — as quatro maiores
empresas de capital aberto do
mundo.
— Com certeza será o maior
fundo de investimentos do
mundo — disse o príncipe. —
Isso acontecerá assim que
abrirmo o capital da Aramco.
O FIP tem planos para ampliar a participação de ativos
estrangeiros dos atuais 5% para 50% da carteira até 2020, de
acordo com Yasir Alrumayyan,
secretário geral do comitê do
Fundo.
GASTOS MAIS EFICIENTES
A ideia de fazer mudanças estruturais programadas se segue às medidas tomadas no
ano passado para cortar gastos
e impedir que o déficit público
ultrapassasse 15% do Produto
Interno Bruto (PIB, conjunto
de bens e serviços produzidos
no país). No fim de dezembro,
as autoridades subiram as tarifas de combustíveis e eletricidade e prometeram combater
desperdícios devido ao tombo
de mais de 50% nas cotações
do petróleo.
— Estamos trabalhando para
aumentar a eficiência dos gastos — disse o príncipe Salman.
O governo costumava estourar seu Orçamento em até 40%,
percentual que foi reduzido
para 12% em 2015, ele afirmou:
— Por isso não acho que temos um problema real quando
se trata de preços baixos do
petróleo. l
Compra do HSBC tem aval de
Superintendência do Cade
CARLOS IVAN/3-8-2015
Conselho agora
vai avaliar as
recomendações para
evitar concentração
ELIANE OLIVEIRA
[email protected]
ANA PAULA RIBEIRO
[email protected]
-BRASÍLIA E SÃO PAULO- A Superintendência Geral do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu ontem
parecer recomendando a
aprovação da compra do
HSBC pelo Bradesco, desde
que as partes assinem um
Acordo em Controle de Concentrações. Trata-se de um
mecanismo que prevê uma série de medidas para evitar, entre outras coisas, excesso de
concentração de mercado, em
prejuízo à concorrência.
O parecer será publicado no
Diário Oficial da União na segunda-feira. Ainda na próxima
semana, será sorteado, entre
os conselheiros do Cade, quem
será o relator. O escolhido poderá acolher a proposta do
acordo, expandir as condicionalidades ou mesmo rejeitar
totalmente a recomendação
que lhe foi passada. A expectativa é que a decisão saia ainda
este ano.
Em breve comunicado, o
Bradesco informou ontem que
tomou conhecimento do anúncio do Cade e agora aguarda a conclusão do processo.
Em janeiro, o Banco Central já
havia se manifestado favoravelmente ao negócio.
O Bradesco fechou a compra
das operações brasileiras do
HSBC no início de agosto do
ano passado. Foram dois meses
de negociações, ao fim das
quais o Bradesco concordou
em pagar US$ 5,2 bilhões pelo
HSBC Brasil. O banco era o sexto maior do país, com R$ 168
Negócio bilionário. Bradesco comprou HSBC no Brasil por US$ 5,2 bilhões
milhões em ativos.
O negócio com o Bradesco
envolveu apenas as operações
de banco comercial e private,
com uma rede de 853 agências
e 452 postos de atendimento
da filial do banco inglês no
Brasil. As operações do segmento corporativo não entraram na transação e continuarão sendo conduzidas por uma
unidade de negócios que o
HSBC manterá no país.
ITAÚ FECHA NEGÓCIO NO CHILE
Em outra transação no setor
bancário, o Itaú Unibanco divulgou ontem que concluiu o
processo de fusão entre o
Banco Itaú Chile e o CorpBanca. O negócio foi iniciado em
2014. A instituição brasileira
terá 33,58% do capital social
do agora chamado Itaú CorpBanca, que passará a ser o
quarto maior banco privado
no Chile em empréstimos —
antes da operação, era o sétimo — e permitirá a entrada
do Itaú no mercado colombiano. O banco espera que os
ganhos dessa fusão apareçam
apenas nos próximos anos,
não gerando impacto nos resultados de 2016. l
U
BOLSA TEM ALTA DE 1%
DÓLAR RECUA
0,97%, A R$ 3,562
O dia foi volátil, mas a Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa) e o
câmbio encerraram em tom
otimista ontem, com dados da
economia americana. O dólar, que
subiu pela manhã, recuou 0,97%,
a R$ 3,562 — menor cotação
desde 27 de agosto de 2015. Na
mínima, atingiu R$ 3,536.
Já a Bovespa, que chegou a cair
mais de 1%, fechou em alta de
1,01%, aos 50.561 pontos. A
queda inicial decorreu de dados
melhores que o esperado sobre o
mercado de trabalho americano, o
que renova a aposta de juros
maiores nos EUA. Foram criadas
215 mil vagas fora do setor agrícola
no mês passado, contra projeções
de 205 mil. A taxa de desemprego
subiu para de 4,9% para 5%.
Mais tarde, o dado sobre a
atividade industrial melhorou o
humor dos investidores: o indicador
passou de 49,5 para 51,8 pontos
em março. Números acima de 50
indicam expansão. (Rennan Setti)
Sábado 2 .4 .2016
l Economia l
O GLOBO
l 25
26
l O GLOBO
l Economia l
Veja estas e outras ofertas no Caderno de Veículos
BMW 320i 2016
Sábado 2 .4 .2016
Sócio da Usiminas quer dividir
siderúrgica e reativar Cubatão
Objetivo é garantir fornecimento para outra empresa dos italianos
BRUNO SANTOS/27-1-2016
DANIELLE NOGUEIRA
[email protected]
R$ Confira!
Norden
Você encontra essa oferta na página P04 do Classificados do Carro etc Premium.
Hilux SR Cabine Dupla
15/16
A partir de
R$ 149.900,00
Inter Japan
Você encontra essa oferta na página P06 do Classificados do Carro etc Premium.
Honda HR-V
R$ Confira!
Oriental Honda
Você encontra essa oferta na página 10 no Classificados de Veículos.
L200 Triton
HPE Diesel
R$ Confira!
Yen Motors
Você encontra essa oferta na página P02 do Classificados do Carro etc Premium.
Nissan Sentra
R$ Confira!
AB San Diego
Você encontra essa oferta na página 03 no Classificados do Carro etc.
O empenho com que o grupo italiano Techint — dono da Ternium — tem se engajado na briga com os sócios japoneses da
Nippon Steel pelo controle da Usiminas
vai além do desejo de comandar uma das
maiores siderúrgicas brasileiras. A Usiminas é a principal fornecedora nacional de
chapas de aço para outra empresa do
conglomerado, a Tenaris, maior fabricante de tubos de aço no mundo e que adquiriu a brasileira Confab em 1993. Assegurar o fornecimento de matéria-prima a
preços competitivos é um ponto relevante na estratégia do grupo.
Essa é uma das razões, segundo fontes,
que explicam por que os italianos estariam dispostos a dividir a Usiminas em
duas e ficar com a unidade de Cubatão,
na Baixada Santista. As conversas para
uma possível divisão de ativos já duram
cerca de um ano e vêm amadurecendo
nas últimas semanas nos corredores da
Ternium. A empresa resultante da partilha já teria até nome: Ternium Cubatão.
CONSOLIDAR PRESENÇA NA AMÉRICA LATINA
Caso a divisão de fato ocorra, a Ternium poderia religar os dois altos-fornos de Cubatão no período de um ano,
segundo fontes a par das discussões. A
Usiminas tem duas unidades produtoras de aço: Ipatinga (MG) e Cubatão.
Nesta última, a companhia demitiu
quase duas mil pessoas só este ano e
paralisou os altos-fornos, para se adequar à queda na demanda. Apenas o laminador, etapa posterior à produção de
aço, está funcionando.
A unidade tem ainda um terminal portuário, pelo qual a Ternium poderia alcançar o mercado externo. Comprar Cubatão também faria sentido na estratégia
global do grupo, porque seria uma forma
de manter sua presença no Brasil, país
que considera fundamental para sua
consolidação na América Latina. A Ternium também está presente em México,
Argentina, Colômbia, países da América
Central e Estados Unidos.
A ítalo-argentina Ternium entrou na
Usiminas em 2012, ao comprar as fatias de
Camargo Corrêa e Votorantim. Hoje, a
empresa tem 27,66% das ações ordinárias
da empresa e divide o bloco de controle
Partilha. Ternium assumiria a unidade de Cubatão da Usiminas em eventual divisão da empresa
com a Nippon Steel (com 29,45%) e a Previdência Usiminas (6,75%). Pagou R$ 3 bilhões pelas ações. No balanço financeiro
de 2015 da Techint, a fatia na siderúrgica
brasileira é avaliada em US$ 276 milhões.
Para estancar as perdas com os ativos, os
sócios italianos buscam uma solução rápida. Em carta enviada ao governador de
Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), este mês, o presidente mundial da Techint,
Paolo Rocca, disse que os acionistas deveriam considerar todas as alternativas possíveis para salvar a empresa, incluindo “a
venda de suas participações ou a separação de ativos e unidades de produção”.
Segundo fontes, o interesse do grupo seria adquirir a fatia da Nippon, mas os executivos italianos estariam convencidos de
que os japoneses não abrirão mão da unidade de Ipatinga, berço da Usiminas.
— As relações entre Usiminas e Nippon
remontam aos anos 50, são parceiros históricos. Além disso, a Usiminas compra
muitos equipamentos japoneses e tem
um contrato de transferência de tecnologia com a Nippon. É uma relação importante para as duas empresas — disse uma
fonte com trânsito entre os japoneses.
Procurada, a Ternium disse que “quer
uma solução rápida para o conflito da
Usiminas, já que a empresa apresenta um
desempenho operacional fraco”. A siderúrgica teve prejuízo recorde em 2015 e
depende do aporte bilionário de acionistas, que ainda tem de ser votado em assembleia em 18 de abril, para evitar a recuperação judicial. A Nippon não retornou as ligações do GLOBO, e a Usiminas
preferiu não fazer comentários.
CONFLITO CHEGA A MINISTÉRIOS
A briga entre os dois sócios começou em
setembro de 2014, quando executivos da
Ternium foram afastados da Usiminas,
acusados de receberem bônus irregularmente. De lá para cá, Rocca já se encontrou com executivos da Nippon oito vezes
para tentar pôr fim ao imbróglio.
Mas o assunto já deixou de ser tratado apenas entre entes privados. Além
da interferência direta do governador
de Minas Gerais, que chegou a enviar
carta aos dois executivos cobrando
uma solução, o tema chegou ao primeiro escalão do governo brasileiro.
O presidente da Ternium no Brasil, Paolo Bassetti, encontrou-se pessoalmente
com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro.
O Ministério de Relações Exteriores também acompanha o conflito, já que envolve relações bilaterais com Itália e Japão. l
Onix LS 1.0 2016
A partir de
R$ 36.990,00
Líder
Você encontra essa oferta na página 08 no Classificados de Veículos.
Odebrecht venderá R$ 12 bi
em ativos para pagar dívidas
Empreiteira enfrenta
dificuldade para conseguir
crédito no mercado, em meio às
investigações da Lava-Jato
Mercedes Benz
GLA 200
R$ Confira!
AB Intercar
Você encontra essa oferta na página P03 do Classificados do Carro etc Premium.
Novo Gol 2017
R$ Confira!
Recreio
Você encontra essa oferta na página 09 no Classificados de Veículos.
Onix LTZ 1.4 automático
modelo 2016
Completo (R7Z)
A partir de
R$ 51.290,00
Simcauto
Você encontra essa oferta na página 12 no Classificados de Veículos.
Novo HR-V
R$ Confira!
AB Mobara
Você encontra essa oferta na página 03 no Classificados de Veículos.
-SÃO PAULO- Investigada pela Operação Lava-Jato, pressionada por credores e com
uma dívida bruta de mais de R$ 90 bilhões em valores do fim de 2014, o Grupo
Odebrecht confirmou que está negociando a venda de ativos para melhorar o caixa das subsidiárias e equacionar o perfil
de seu endividamento. A expectativa, segundo a direção do grupo, é levantar cerca de R$ 12 bilhões até o fim deste ano.
Estão na lista de ativos postos à venda
a Odebrecht Ambiental, a hidrelétrica
de Chaglla e a rodovia Rutas de Lima,
ambas no Peru; a participação de 28%
do grupo na hidrelétrica de Santo Antônio, uma mina de diamante e um bloco
de exploração de petróleo, em Angola.
Também estão sendo negociados ativos
das áreas de infraestrutura, da Odebrecht
Transport, e imobiliários, da Odebrecht
Realizações Imobiliárias. A empresa, que
atua em 14 setores, descartou a venda de
sua participação na petroquímica
Braskem, como se cogitou no mercado.
FITCH VÊ ESTRATÉGIA PARA OBTER LIQUIDEZ
Além de vender ativos, o grupo corre
para renegociar débitos. A Odebrecht
Agroindustrial, do setor de açúcar e
etanol, por exemplo, tem dívidas de R$
13 bilhões e receitas de menos de R$ 3
bilhões. De acordo com fontes do grupo, as negociações com os principais
credores, Bradesco e o BNDES, estão
adiantadas. Os bancos já teriam concordado em conceder um prazo de três
anos de carência para o principal da dívida, além do alongamento por mais
dez anos. Como contrapartida, a Odebrecht reincorporará a usina geradora
de energia à base de bagaço de cana,
avaliada em R$ 2 bilhões, além de fazer
um aporte de capital na empresa.
O grupo baiano também está renegociando as dívidas, da ordem de R$ 12
bilhões no fim de 2014, da Odebrecht
Óleo e Gás, afetada pela crise do setor
do petróleo e pelos problemas da Petrobras, sua maior cliente. Essas negociações envolvem detentores de bônus
perpétuos e outros títulos de dívida.
Depois da prisão do presidente da
holding, Marcelo Odebrecht, há mais
de nove meses, o grupo demorou a indicar um novo dirigente, o que deixou
os credores ainda mais preocupados. O
cargo só foi preenchido em dezembro
passado, com a indicação de Newton
de Souza, executivo que integrava o
Conselho de Administração do grupo.
A Odebrecht deve divulgar os números
de seu balanço de 2015 no fim deste mês,
e a dívida tende a subir um pouco mais,
impactada pela variação cambial. Ao mesmo tempo, a companhia deverá apresentar um faturamento maior do que o de
2014, já que cerca de 61% de suas receitas
atualmente são obtidas no exterior.
Para o diretor da Fitch Ratings, Ricardo Carvalho, a venda de ativos é estratégica para dar liquidez ao grupo. Ele
diz que a empresa sofre com o risco de
imagem por causa das investigações da
Lava-Jato e, por isso, novos financiamentos ficam mais difíceis.
— Neste momento de incerteza, os bancos fazem exigências maiores para rolagem das dívidas — explica Carvalho, observando que as vendas dos ativos poderiam ser feitas com maior velocidade.
Enquanto a Lava-Jato não se encerra e
as penalidades para a companhia não
são definidas, é difícil dimensionar o prejuízo que o grupo terá com o processo:
— O anúncio de que a empresa negocia acordo de leniência sinaliza que o
processo caminha para seu término. l
Vale venderá fatia na
CSA à ThyssenKrupp
por US$ 1, diz agência
Mineradora deve se desfazer
de 26,87% da siderúrgica, que
tem dívida de € 2,6 bilhões
A Vale está finalizando uma
proposta para sair da deficitária Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma
parceria que mantém com a alemã ThyssenKrupp, sob termos que vão de encontro à estratégia da mineradora de se desfazer de ativos não rentáveis. Segundo
fontes da Reuters, a brasileira venderá
26,87% de sua fatia na CSA para a companhia estrangeira por apenas US$ 1 mais o
acolhimento de algumas dívidas.
De acordo com o esboço do plano,
que ainda precisa ser aprovado pelo
Conselho da Vale, a companhia assumiria 10% do contingente de passivos
da CSA, que tem capacidade de produção de 5 milhões de toneladas ao ano. A
usina, que custou quase US$ 10 bilhões
para ser construída, registrou dívida total de € 2,6 bilhões no fim do ano fiscal
de 2015. Em 12 meses até setembro, a
CSA perdeu quase € 400 milhões, segundo dados da companhia.
-FRANKFURT-
FORNECIMENTO EXCLUSIVO MANTIDO
A ThyssenKrupp está ciente da proposta
em formação, e as negociações com a
Vale estão “em estágios finais”, disse uma
segunda fonte. As duas companhias se
negaram a comentar o assunto.
As fontes afirmaram que os direitos
exclusivos da Vale de fornecimento de
minério de ferro e pastilhas à usina seriam mantidos. A Vale também quer o
chamado tail period (“período de seguro”), no qual um sócio tem direito ao
pagamento em caso de venda ou alienação de ativos em uma companhia,
por dez anos, indicou uma das fontes.
A CSA viu os custos de produção saltarem em meio à inflação alta, volatilidade
cambial e instabilidade política no país
que intensificou a recessão no Brasil. l
l Economia l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
Olimpíadas abrem 11 mil vagas
temporárias de trabalho no Rio
Preços de remédios
podem subir 12,5%
Reajuste é o maior
em dez anos e o
primeiro a superar
a inflação
Salários variam entre R$ 1 mil e R$ 6 mil. Não é exigida experiência
RENATO SETTE CAMARA/DIVULGAÇÃO
MARTHA BECK
[email protected]
DAIANE COSTA
MARCELLO CORRÊA
Interessados em trabalhar no Rio em
atividades ligadas aos Jogos Olímpicos
e sua rede de fornecedores podem se
inscrever para uma das 11 mil vagas
temporárias disponíveis. Desse total,
três mil oportunidades estão diretamente ligadas ao Comitê Organizador
Rio 2016 e têm salários mensais que variam entre R$ 1,8 e R$ 6 mil, para uma
jornada de trabalho de oito horas, com
carteira assinada e auxílios alimentação e transporte. Os contratos são para
trabalho entre meados de julho e final
de setembro, durante as Olimpíadas e
as Paralimpíadas.
De acordo com Nilson Pereira, CEO
do ManpowerGroup Brasil, empresa
que está encarregada de contratar a
mão de obra remunerada que trabalhará nos Jogos, a maioria destas vagas são
operacionais, para assistência, e por isso não exigem especialização, experiência ou o domínio de uma segunda
língua. A única exigência é que o candidato tenha ao menos 18 anos.
Segundo Pereira, hoje há 120 mil currículos cadastrados no banco de dados
da empresa, interessados em uma dessas oportunidades. São cargos de supervisão e de líder operacional, entre
outras funções.
— É um trabalho temporário, que as
pessoas se candidatam muito mais pela
experiência em participar dos jogos do
que pelo salário — observa Pereira.
As outras oito mil vagas são para trabalho junto aos fornecedores oficiais
de serviços aos jogos, como a rede de
alimentação, e têm suas cargas horárias
e salários definidos de acordo com as
convenções de cada categoria e das
próprias empresas às quais estarão ligadas. As oportunidades são principalmente para funções operacionais e auxiliar, também para maiores de 18 anos.
Há vagas para atuar como atendente,
caixa, segurança, ajudante de cozinha,
cozinheiro e para serviços gerais. Parte
-BRASÍLIA E RIO-
[email protected]
[email protected]
29/03 0,2133% 30/03 0,1929% 31/03 0,1871%
Selic: 14,25%
Correção da Poupança
Até 03/05/12
14/04
15/04
16/04
17/04
18/04
19/04
20/04
21/04
22/04
23/04
24/04
25/04
26/04
27/04
28/04
A partir de 04/05/12
ÍNDICE
0,7063%
0,7068%
0,6934%
0,6929%
0,6381%
0,6307%
0,6598%
0,7197%
0,6556%
0,6637%
0,6389%
0,6058%
0,6358%
0,6656%
0,7022%
DIA
14/04
15/04
16/04
17/04
18/04
19/04
20/04
21/04
22/04
23/04
24/04
25/04
26/04
27/04
28/04
ÍNDICE
0,7063%
0,7068%
0,6934%
0,6929%
0,6381%
0,6307%
0,6598%
0,7197%
0,6556%
0,6637%
0,6389%
0,6058%
0,6358%
0,6656%
0,7022%
Obs: Segundo norma do Banco Central, os
rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao
dia 1º do mês subsequente.
Outubro
+1,8%
Novembro -1,63%
Dezembro
-3,9%
Janeiro
-6,79%
Fevereiro +5,91%
Março
+16,9%
R$ 788
R$ 788
R$ 788
R$ 788
R$ 880
R$ 880
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
R$ 953,47
Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de
janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para
empregado doméstico, entre outros.
IMPOSTO DE RENDA
IR NA FONTE ABRIL 2016
Base de cálculo
R$ 1.903,98
De R$ 1.903,99 a 2.826,65
De R$ 2.826,66 a 3.751,05
De R$ 3.751,06 a 4.664,68
Acima de R$ 4.664,68
U
COMO SE CANDIDATAR
VAGAS: Vão desde líderes e supervisores até
atendente, caixa, segurança, ajudante de
cozinha, cozinheiro e para serviços gerais
SALÁRIOS: De R$ 1 mil a R$ 6 mil
mensais, por dois meses, entre julho e
setembro. Com carteira de trabalho
assinada
EXIGÊNCIAS: Ter no mínimo 18 anos. Não
é necessário ter experiência nem falar um
segundo idioma
Alíquota Parcela a deduzir
Isento
7,5%
15%
22,5%
27,5%
—
R$ 142,80
R$ 354,80
R$ 636,13
R$ 869,36
www.talentosmanpowergroup.com.br e
maisvagasrio.selecty.com.br, ou
pessoalmente, de sexta-feira a sábado da
semana que vem, em diferentes endereços
de acordo com o dia, como na Portela, em
Madureira, nos Faetec da Cidade de Deus
e de Marechal Hermes, no Metrô da
Carioca, no Centro de Referência da
Juventude de Manguinhos e em uma ação
social de Deodoro
Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução
especial para aposentados, pensionistas e
transferidos para a reserva remunerada com 65 anos
ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à
Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido
a acordo ou sentença judicial.
Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a
alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa.
Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF
este ano.
A primeira parcela do IRPF de 2016 vence no dia 29 de
abril.
INFLAÇÃO
Trabalhador assalariado
Salário de contribuição (R$)
Até 1.556,94
de 1.556,95 a 2.594,92
de 2.594,93 a 5.189,82
Alíquota (%)
8
9
11
Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa
(artigo 22 do regulamento da Organização e do
Custeio da Seguridade Social).
Trabalhador autônomo
Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da
contribuição deverá ser de 20% do salário-base.
Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso
de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de
R$ 5.189,82)
UFIR
Abril
R$ 1,0641
Obs: foi extinta
AUMENTO TERÁ IMPACTO NO IPCA
A alta de 12,5% é a maior em
mais de dez anos — e a primeira a subir mais que a inflação
nesse período. No ano passado, os preços de medicamentos haviam subido 7,7%, exatamente o IPCA acumulado no
período. Em 2014, o reajuste
foi de 5,68%, também idêntico
à inflação oficial.
O Ministério da Saúde infor-
LOCAIS DE INSCRIÇÃO: Pelos sites
INSS/ABRIL
BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO
(FEDERAL)*
(RJ)**
TR
DIA
CADASTRAMENTO PELA INTERNET
As inscrições para todas as vagas devem ser feitas por meio dos sites ww.talentosmanpowergroup.com.br e maisvagasrio.selecty.com.br, que será atualizado diariamente com novas oportunidades até que a seleção seja finalizada, em julho.
— Mesmo que o candidato entre no
site e não encontre naquele momento a
função que procura, ele deve fazer seu
cadastro. As vagas vão surgir diariamente — completa o executivo.
Na próxima semana, o ManpowerGroup também cadastrará currículos
de interessados em escolas, centros de
apoio e estações de metrô do Rio. Basta
apresentar documento com foto (veja
quadro ao lado). l
ÍNDICES
Indicadores
Os remédios com
preços controlados podem ficar
até 12,5% mais caros. O reajuste
foi autorizado ontem pelo governo e já pode ser feito pela indústria farmacêutica. Segundo resolução publicada no Diário Oficial
da União, o aumento foi calculado com base no comportamento
da inflação no ano passado e
também nas perdas de produtividade que os laboratórios tiveram
nesse período por causa do câmbio e do aumento da energia.
Entre os medicamentos que
têm preços controlados no país, estão produtos usados no
tratamento de doenças crônicas e câncer. Também estão na
lista tranquilizantes, diuréticos, anti-histamínicos, anestésicos locais, produtos antitabagismo e antipsicóticos.
Os cálculos para definir o reajuste levaram em consideração a variação do Índice de
Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) entre março de 2015 e
fevereiro de 2016, de 10,36%, e
uma perda de produtividade
de 2,14% na indústria, chegando ao total de 12,5%. O percentual foi definido pela Câmara
de Regulação do Mercado de
Medicamentos (Cmed).
Parque Olímpico. Vagas são para trabalho temporário, entre meados de julho e fim de setembro
das oportunidades são para cargos de
líder operacional e coordenação de
equipes. Os salários variam de R$ 1 mil
a R$ 6 mil, com carteira assinada.
— É uma oportunidade para quem
deseja potencializar o currículo tendo
participado do maior evento esportivo
do planeta — ressalta o CEO.
UFIR/RJ
Abril
R$ 3,0023
Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08
Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser
pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e
depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj
= 44,2655 Ufir-RJ)
DÓLAR
Índice Variações percentuais
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
4370,12
4405,95
4450,45
4493,17
4550,23
4591,18
No mês
No ano Últ. 12meses
0,54% 7,64%
0,82% 8,52%
1,01% 9,62%
0,96% 10,67%
1,27% 1,27%
0,90% 2,18%
9,49%
9,93%
10,48%
10,67%
10,71%
10,36%
IGP-M (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
604,832
614,051
617,044
624,060
632,114
635,349
No mês
No ano Últ. 12meses
1,89% 8,35%
1,52% 10,00%
0,49% 10,54%
1,14% 1,14%
1,29% 2,44%
0,51% 2,97%
10,09%
10,69%
10,54%
10,95%
12,08%
11,56%
IGP-DI (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
UNIF
CÂMBIO
IPCA (IBGE)
(12/93=100)
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
589,897
600,269
607,441
610,128
619,476
624,366
No mês
l 27
No ano Últ. 12meses
1,42% 7,03%
1,76% 8,91%
1,19% 10,21%
0,44% 10,70%
1,53% 1,53%
0,79% 2,33%
9,31%
10,58%
10,64%
10,70%
11,65%
11,93%
Dólar comercial (taxa Ptax)
Paralelo (São Paulo/CMA)
Diferença entre paralelo e comercial
Dólar-turismo esp. (Banco do
Brasil)
Dólar-turismo esp. (Bradesco)
EURO
Euro comercial (taxa Ptax)
Euro-turismo esp. (Banco do Brasil)
Euro-turismo esp. (Bradesco)
Compra R$
Venda R$
3,5793
3,58
0,02%
3,48
3,5799
3,77
5,31%
3,66
3,45
3,85
Compra R$
Venda R$
4,0743
3,9594
3,93
4,0764
4,1740
4,38
OUTRAS MOEDAS
Cotações para venda ao público (em R$)
Franco suíço
Iene japonês
Libra esterlina
Peso argentino
Yuan chinês
Peso chileno
Peso mexicano
Dólar canadense
3,72007
0,0319442
5,07142
0,241154
0,550204
0,00533044
0,205422
2,74021
FONTE: MERCADO
Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras
podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e
www.oanda.com.
mou, no entanto, que o valor
autorizado não vai necessariamente ser transmitido aos preços cobrados dos consumidores. Isso porque tanto a indústria farmacêutica quanto o setor
varejista costumam praticar
descontos em função da concorrência que existe nesse mercado. Assim, “o impacto no consumidor historicamente tem ficado e deve ficar abaixo do teto
de reajuste aprovado este ano”,
afirmou o ministério em nota.
A Associação da Indústria
Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) também informou
que os descontos dados aos
consumidores vão influenciar
os valores cobrados nas farmácias. De acordo com a entidade,
o abatimento médio é de 72%
para medicamentos genéricos e
de 16% para os de referência.
— Como esse mercado é
muito competitivo, os preços
ficam sempre abaixo do índice
de reajuste — explicou o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto.
A entidade, no entanto, ressaltou que o reajuste concedido não repõe todas as perdas
sofridas pela indústria farmacêutica nos últimos anos. O IPCA acumulado nos últimos
dez anos foi de 79,3%, enquanto os índices de reajuste autorizados pela Cmed foram de
61,2% no mesmo período.
Nas contas de Luis Otavio
Leal, economista-chefe do
banco ABC Brasil, considerando o reajuste máximo, a alta
dos remédios terá impacto de
0,3 ponto percentual sobre a
inflação de abril. O peso representa mais da metade do IPCA
esperado pelo analista para o
mês, de 0,5%. O efeito deve se
estender até maio, pois o tempo de troca de estoques varia
de acordo com a farmácia.
Com isso, entre abril e maio, o
impacto deve ser de 0,4 ponto.
— Era esperado. A inflação é
um dos fatores, e o câmbio influencia, pois boa parte dos remédios tem componentes importados — disse Leal. l
BOLSA DE VALORES: Informações sobre
cotações diárias de ações e evolução dos
índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser
obtidas no site da Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br
CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI
podem ser consultadas nos sites de
Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip
(www.cetip.com.br). A Taxa Básica
Financeira (TBF) está disponível
no site do Banco Central (www.bc.gov.br).
Para visualizá-la, clicar em “Economia e
finanças” e, posteriormente, em “Séries
temporais”
FUNDOS DE INVESTIMENTO:
Informações disponíveis no site da
Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em
“Fundos de investimento”
IDTR: Pode ser consultado no site da
Federação Nacional das Empresas de
Seguros Privados e de Capitalização
(Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na
barra “Serviços” e, posteriormente, em
FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados
ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores
podem ser consultados nos sites da
Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br),
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da
Anbima (www.anbima.com.br)
28
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
Mundo
EXECUÇÃO EM HEBRON
O tiro que dividiu Israel
_
Morte de agressor palestino inconsciente por militar causa polêmica no país e no exterior
AFP/29-3-2016
Corpo a corpo
ADAM KELLER
‘A principal
culpa é da
ocupação’
Ativista critica discurso
de setores radicais
israelenses diante de onda
de violência na Cisjordânia
CAROLINA JARDIM
[email protected]
Adam Keller é ativista
israelense e um dos fundadores do
grupo pacifista Gush Shalom. Em
entrevista por telefone ao GLOBO,
de Tel Aviv, ele adverte que a influência da extrema-direita pode provocar impunidade após as acusações de crimes de guerra por soldados contra palestinos.
-RIO E TEL AVIV-
Respaldo popular. Diante da corte militar, manifestantes dão apoio ao soldado israelense detido após matar um agressor palestino, num episódio que mobilizou o país
A execução extrajudicial
de um agressor palestino gravemente ferido e
caído imóvel no chão por um soldado israelense, na Cisjordânia — captada por um vídeo
amador — tornou-se o centro de uma polêmica
que dividiu Israel e agora cruza fronteiras. Ocorrido na semana passada, o incidente gerou fortes reações, polarizou as opiniões e ganhou novo capítulo ontem, com a decisão judicial de relaxar a prisão preventiva do soldado e transformá-la em confinamento no quartel. Enquanto
continuam as investigações, o caso já virou tema de trocas ásperas entre o premier Benjamin
Netanyahu e o senador Patrick Leahy, veterano
do Congresso americano, que, com o apoio de
dez deputados, pediu providências ao Departamento de Estado dos EUA sobre suspeitas de
“sérias violações” de direitos humanos por parte de Israel. Por sua vez, a Anistia Internacional
e a Human Rights Watch pediram que a França
investigue o caso, se o soldado — que tem dupla
nacionalidade israelense e francesa — for exonerado de culpa em Israel.
O caso veio à tona após a divulgação de um vídeo filmado secretamente por um palestino voluntário do grupo israelense pró-direitos humanos B’Tselem. As imagens mostravam o agressor palestino de 21 anos, Abdul Fatah al-Sharif,
inconsciente no chão após ser baleado ao apunhalar um soldado israelense pouco antes. No
momento em que as ambulâncias se aproximavam, o militar de 19 anos, cujo nome está sob sigilo de Justiça, aproximou-se calmamente e atirou em sua cabeça, matando-o na hora. Alvo do
ataque, um outro militar teve ferimentos leves.
O Exército israelense disse que a investigação do
incidente “mostrou um grave caso que vai de encontro aos valores” militares. A defesa do soldado
alegou que ele atirou após o agressor “se movimentar”, revelando uma possível bomba acoplada
ao corpo sob uma jaqueta. Mas a procuradoria militar disse que testemunhas alegaram tê-lo ouvido
dizendo “que o palestino merecia morrer”.
— Os vídeos e os testemunhos do incidente indicam que o terrorista neutralizado não representava qualquer ameaça — disse a chefe da promotoria militar, coronel Sharon Zagagi-Pinhas.
— O soldado demonstrou indiferença ao atirar.
Enquanto o Estado-Maior e o governo condenaram o episódio, políticos e seguidores da extrema-direita apoiaram a ação, e as acusações
contra o militar foram rebaixadas de assassinato
para homicídio (pela legislação de Israel, com
intenção de matar, mas não premeditado).
REPRODUÇÃO DE VÍDEO
-JERUSALÉM E WASHINGTON-
‘AS MASSAS APLAUDIRAM A CRUELDADE’
O ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, classificou
o episódio de “altamente severo”, afirmando ainda que “o dever do país é aderir a padrões morais
elevados e preservar a Humanidade, e não ser um
braço brutal sem ética”. Grupos de extrema-direita reagiram com pôsteres nas ruas e campanhas
online, cobrando a demissão de Ya’alon e afirmando que o militar deveria ser apoiado pelo país — uma petição pedindo que receba uma comenda militar já superou 57 mil assinaturas. Anteontem, protestos ocorreram do lado de fora da
prisão e da corte onde o soldado será julgado.
Numa pesquisa do Canal 2, mais da metade dos
votantes discordaram da detenção do militar.
O premier Benjamin Netanyahu, que no início do caso falou em “uma grave violação”, amenizou a retórica e anteontem ligou para o pai do
O vídeo. Soldado (no centro, com a arma para cima) se prepara para atirar no palestino caído no chão, em Hebron
O caso inflama ainda mais as
tensões na região?
Aumentou as tensões entre israelenses e palestinos e também
as tensões entre a direita e a esquerda em Israel. Há muitas
pessoas da direita israelense
que dizem que o soldado é um
herói. É claro que a esquerda está muito irritada com isso. Nós
consideramos o soldado um criminoso perigoso. Há cada vez
mais e mais casos de israelenses
matando palestinos, mais extremismo, comportamentos agressivos e racistas. Os números de
palestinos mortos são absolutamente maiores. Não é proporcional. Israelenses dizem que os
palestinos são terroristas, enquanto os palestinos dizem que
é por causa da ocupação.
l
A pressão da parcela de extrema-direita pode interferir no
julgamento do soldado?
As autoridades militares pretendem que ele seja julgado, mas há
uma pressão muito forte da direita, inclusive de ministros de extrema-direita do governo de Netanyahu. Dessa forma, o soldado
deve ser condenado, mas é provável que seja apenas por um delito
leve. Ele não deve ficar muito tempo na prisão.
l
U
Memória
SEIS MESES
DA ‘INTIFADA
DA FACA’
-RAMALLAH, CISJORDÂNIA- O
palestino morto pelo soldado
israelense tinha atacado
militares em Hebron de uma
maneira que tem sido recorrente
nos últimos meses na
Cisjordânia e em Jerusalém: com
uma faca. A nova onda de
violência — apelidada por
alguns de “intifada da faca” —
teve início há seis meses, quando
Israel intensificou sua presença
militar na Esplanada das
Mesquitas, também conhecida
como Monte do Templo, em
Jerusalém. Civis e soldados
começaram a ser alvo de ataques
a facadas, sobretudo por parte de
jovens, mas também de adultos.
Desde os primeiros dias de
outubro, já são 211 israelenses
esfaqueados, enquanto foram
registrados 83 baleados e 42
atropelados. Dos alvos destes
ataques, morreram 30
israelenses e dois americanos.
Por outro lado, mais de 130
palestinos morreram durante
ataques a israelenses — na
imensa maioria das vezes, após
serem baleados pelas forças de
segurança. Veículos de
comunicação e autoridades
chegaram a temer uma possível
nova intifada em Israel.
— No início, achei que a onda
de violência se tratava da
presença israelense em al-Aqsa.
Mas, nos últimos meses, vimos a
situação virando caso de vingança
soldado, dizendo reconhecer a pressão à qual
os militares estão submetidos e garantindo que
seu filho “receberia tratamento justo”. No Parlamento, saiu em defesa das Forças Armadas:
— Qualquer desafio à moralidade do Exército
é ultrajante e inaceitável. Nosso jovens mantêm
padrões éticos altos enquanto combatem corajosamente assassinos sedentos por sangue sob
difíceis condições de operação.
Seu ministro da Educação, Naftali Bennett, escreveu no Facebook que “o soldado não é um
assassino”. “Perdemos a noção? Estamos em
guerra contra o terrorismo brutal.”
O voluntário que filmou o episódio, Ibad Abu
Shamsiyeh, e sua família receberam ameaças de
morte, o que levou o B’Tselem a pedir proteção
policial para ele. Abu também foi alvo de ataques
nas redes sociais, e sua casa, em Hebron, foi alvo
de ataques a pedras cinco vezes nesta semana.
“A pressão público-midiática apoiou a brutalidade. A sociedade do Facebook criticou os próprios
órgãos militares, que agiram de maneira justa.
— disse uma alta autoridade
militar israelense, sob anonimato,
ao jornal britânico “Guardian”.
O presidente da Autoridade
Nacional Palestina (ANP),
Mahmoud Abbas, disse
anteontem em entrevista ao Canal
2 da TV israelense que está
trabalhando para conter os
esfaqueamentos.
— Em uma escola, achamos 70
meninos e meninas que
carregavam facas. Nós as tiramos
deles e dissemos: “Isto é um erro.
Não queremos que vocês matem e
sejam mortos. Queremos que
vocês e o outro lado vivam”.
Ele pediu ainda que Benjamin
Netanyahu retome as negociações
de paz entre os lados. Em
resposta, o premier disse que está
aberto para conversar, mas que
Abbas e seus aliados “se recusam
e incitam a violência”.
Com um grito ensurdecedor, as massas aplaudiram a crueldade”, criticou o experiente jornalista
Ari Shavit, em coluna no jornal “Haaretz”.
Nos EUA, o senador democrata Patrick Leahy,
que preside a Subcomissão de Apropriações de
Defesa na Casa, escreveu uma carta ao secretário
de Estado, John Kerry, pedindo que o país investigasse esta e outras acusações de violações de direitos humanos por parte dos militares do país
aliado e também no Egito. Netanyahu rebateu em
nota: “Onde está a preocupação pelas violações
contra os tantos israelenses mortos ou feridos por
criminosos palestinos?”. Leahy retrucou, dizendo
que “nenhum país é isento de escrutínio em termos de segurança” e que “um motivo pelo qual
Israel é o maior receptor de ajuda militar dos
EUA é para se defender de ataques terroristas”. l
NA WEB
glo.bo/1TpfAly
Vídeo mostra execução extrajudicial
de agressor palestino por soldado
O vídeo de Abu Shamsiyeh joga
luz sobre violações nas colônias?
A ONG B’Tselem oferece câmeras a voluntários para registrarem abusos cometidos em territórios ocupados. O vídeo foi a
prova de que há muitas situações
como essa.
l
Por causa da gravação, seu autor está sendo alvo de ameaças....
Apreciamos a coragem dessas
pessoas. Abu é um fotógrafo muito
assediado pelo Exército. Existe o
perigo de que ele seja preso ou
atacado por soldados.
l
O que explica o envolvimento
cada vez maior de jovens palestinos em ataques com faca?
É uma demonstração de que
palestinos cada vez mais jovens
estão cansados da ocupação. A
principal culpa é da ocupação. É
o problema básico. Enquanto
houver repressão por parte de Israel, vai haver violência do outro
lado. É inevitável.
l
Que solução o senhor vê para
essa nova onda de violência?
Há mais ódio entre os dois lados.
A melhor forma de resolver é a criação de um Estado palestino. E os
palestinos reconhecerem Israel e
fazerem a paz. l
l
l Mundo l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
AFP
[email protected]
ADRIANA
CARRANCA
|
Nossa guerra particular
E
mbora reúna 8% da população mundial, a
América Latina concentra 33% dos homicídios. Desconsideradas as mortes relacionadas
com operações militares e guerras, como determina
o critério do Escritório da ONU para Drogas e Crime
(UNODC), houve 437 mil assassinatos no mundo em
2012, último ano disponível — é mais do que a guerra na Síria matou em cinco anos. Somente no Brasil,
foram 56.337 homicídios, pouco menos do que os 60
mil mortos no conflito sírio naquele ano. Uma em
cada cinco pessoas mortas violentamente no mundo
é brasileiro, colombiano ou venezuelano.
Ao menos a metade das mortes está relacionada às
drogas. É um tema talvez ainda mais polarizador do que
o impeachment e sobre o qual preferimos silenciar, mas
a ausência do debate é particularmente preocupante
neste momento, às vésperas de uma rara sessão especial
da ONU que deverá rever o sistema internacional e as
normativas da política global de controle de drogas. O
encontro será no dia 19, em Nova York.
Será a terceira vez que a
U
organização se reúne para
discutir o tema — a última
Os pontos-chave
sessão especial foi há 18
anos — e o fato de o encontro ser conduzido na
América Latina
Assembleia Geral, princiconcentra 33% dos
pal organismo da ONU pahomicídios no mundo
ra a definição de políticas
públicas globais e o mais
representativo em número
Metade dos 437 mil
de países, é um sinal de sua
assassinatos em 2010
relevância e urgência. Presfoi relacionada às drogas
sionada por países que não
estão dispostos a mudar as
leis polêmicas junto ao
eleitorado, tentou-se miniPolíticas adotadas
mizar o espectro do enconprovocaram mais mortes
tro levando-o a Viena, onque as substâncias
de as discussões para elaboração do documento a ser apresentado no encontro
foram realizadas a porta fechadas, com fórum reduzido e
sob críticas de falta de transparência.
No Brasil, o STF ainda analisa ação pela descriminalização das drogas. A medida é defendida por entidades
como a Organização Mundial de Saúde e líderes como
o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. A organização, no entanto, nunca defendeu oficialmente a política. Documento que seria apresentado pelo Escritório
da ONU para Drogas e Crime em encontro sobre corrupção em Kuala Lumpur, em 2014, e foi vazado à imprensa, convocava pela primeira vez os países-membros a fazê-lo, mas foi retirado do material do encontro
na última hora, segundo a BBC. O texto tão esperado reconhecia a descriminalização como política de direitos
humanos, em acordo com tratados internacionais.
O principal argumento de seus defensores é que as
políticas contra as drogas adotadas até agora provocaram ainda mais danos e mortes dos que as substâncias
em si. O México é um exemplo claro disso. Em 2011, a
violência matou 30 mil pessoas no país, principalmente jovens, enquanto 70 morreram por abuso de drogas.
A proporção de mortos versus feridos na guerra contra
o narcotráfico é maior do que em qualquer outro conflito — até mesmo a Segunda Guerra — segundo dados apresentados esta semana em encontro promovido pelo Social Science Research Council com jornalistas latino-americanos, do qual participei.
Outro indício dessa política perversa é que uma em
cada cinco pessoas presas no mundo foi condenada
por crimes de drogas — 80% delas por posse, segundo o
Consórcio Internacional de Política de Drogas. Detidos
por abuso de substâncias ilícitas, eles sofrem abusos
ainda piores nas prisões — tortura, maus-tratos, condições precárias de vida e falta de acesso a tratamento.
Com a descriminalização, as forças de segurança poderiam concentrar-se na captura do crime organizado:
líderes do narcotráfico, contrabandistas de armas, funcionários públicos e políticos corruptos. Além destes, como em todo conflito, quem mais lucra com a atual política de guerra às drogas é a indústria da segurança. Nem
uma nem outra conseguiu evitar que as drogas sejam
hoje mais acessíveis do que nunca, tampouco a repressão impediu que a produção, o comércio e o consumo
aumentassem na medida da violência. Além disso, a criminalização afasta usuários do tratamento, sobretudo as
mulheres que temem perder a guarda dos filhos. Deixamos de enxergar o problema, mas ele continua existindo.
Drogas são ruins, mas o que está sendo feito para
seu controle, além de ineficiente, é ainda pior. l
facebook.com.br/adriana.carranca.oficial
instagram.com/adrianacarranca/
twitter.com/adrianacarranca
1
2
3
Zuma pede
desculpas por
mau uso de
verba pública
Condenado pela Justiça,
presidente sul-africano diz
que devolverá dinheiro
|
Nos últimos quatro meses, desde o início do
processo de impeachment da presidente Dilma
que paralisa o governo e o Congresso, domina a
pauta do Supremo Tribunal Federal e monopoliza
o debate público, algo como 17 mil brasileiros
morreram assassinados. Cada minuto em que
aumenta a incerteza sobre o futuro do país, é certo
que dez mais morrerão da mesma forma, sob o
silêncio complacente de todos nós. É uma tragédia
global que mata mais do que as guerras e o
terrorismo e tem como marco zero a América
Latina, liderada em números absolutos pelo Brasil.
l 29
Alerta. Obama fala em conclusão da Cúpula de Segurança Nuclear: americanos temem materiais em mãos erradas
EUA abrirão dados
nucleares contra EI
Objetivo é dar exemplo frente à ameaça terrorista
HENRIQUE GOMES BATISTA
Correspondente
[email protected]
-WASHINGTON- Na plenária da quarta Cúpula de Segurança Nuclear, que acabou ontem, em
Washington, o presidente Barack Obama disse ontem que os
Estados Unidos vão detalhar
suas medidas de segurança
adotadas para proteger materiais atômicos, com o objetivo de
que outras nações sigam o
exemplo. O presidente disse
que já são 102 países
que ratificaram um
adendo à Convenção
sobre a Proteção Física
de Material Nuclear,
dando mais ferramentas para evitar o roubo
de material atômico —
o Brasil ainda espera a
aprovação do Congresso. Apesar dos avanços,
Obama disse que o risco de que forças terroristas tenham acesso a
material continua e é
crescente.
— Sabemos que a alQaeda já tentou obter
materiais nucleares. Indivíduos
envolvidos nos ataques em Paris
e em Bruxelas gravaram em vídeo um administrador que trabalha numa instalação na Bélgica. O Estado Islâmico já usou armas químicas, incluindo gás
mostarda na Síria e no Iraque.
Não há dúvida de que se esses
loucos conseguirem colocar suas mãos numa bomba ou em
material nuclear, certamente os
usariam para matar o maior número possível de inocentes —
disse Obama diante de uma plateia com representantes, a maior
parte presidentes, de 52 países e
quatro organizações.
O presidente americano ainda
lembrou que as centenas de instalações militares e civis ao redor
do mundo contam com cerca de
duas mil toneladas de material
atômico, nem sempre protegido
de maneira apropriada. Ele fez
um alerta: uma pequena quantidade da matéria-prima poderia
causar estragos
imensos.
— Só uma pequena quantidade de plutônio,
do tamanho de
uma maçã, poderia matar ou ferir
centenas de milhares de pessoas
inocentes.
A cúpula, que
não contou com a
participação da
Rússia pela primeira vez, parte
de uma iniciativa
de Obama, que
em 2009 fez um grande discurso
em Praga contra a ameaça nuclear. Nesta edição do evento,
além do terrorismo, os líderes
globais debateram as intenções
da Coreia do Norte, que vem fazendo diversos testes militares, e
os avanços do acordo com o Irã,
que se comprometeu a apenas
usar energia nuclear de forma
pacífica.
O presidente americano co-
Obama
apelou por
ação para
impedir
acesso de
terroristas a
material
atômico
memorou que o mundo está
com o menor número de armas
atômicas das últimas seis décadas, mas alertou que há muito a
se fazer. Questionado numa entrevista coletiva no fim da cúpula sobre como via a proposta do
postulante republicano à Presidência Donald Trump de dotar
a Coreia do Sul e o Japão de armas nucleares para se contrapor à Coreia do Norte, Obama
atacou o bilionário:
— Estes comentários partiram de alguém que não sabe
muito sobre a política externa,
de política nuclear, da Península Coreana ou do mundo em
geral — disse Obama.
BRASIL QUER FISCALIZAÇÃO
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira,
representante da presidente
Dilma Rousseff no encontro
(ela cancelou a ida a Washington pela crise política no país),
defendeu abordagem mais
abrangente da segurança.
— A proteção física dos materiais nucleares não será fortalecida se os nossos esforços ficarem focados apenas em materiais e instalações de programas
civis, ignorando que 83% dos
materiais físseis que podem ser
utilizados em armas nucleares
no mundo estão em instalações
militares, que não são abrangidas por qualquer mecanismo
de fiscalização de compartilhamento de informações ou de reforço da confiança internacional — afirmou Vieira na plenária da cúpula. l
-PRETÓRIA- Num pedido de desculpas em pronunciamento à nação
pela TV, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, disse ontem que
devolverá parte dos US$ 24 milhões gastos na reforma da sua
residência privada ao Estado. Ele
foi condenado pela Corte Constitucional por violar a Constituição
ao recusar-se a devolver — contrariando a determinação da Defensoria do Povo — fundos públicos usados indevidamente para melhorias na propriedade. A
reforma, que deveria ser para
melhorar a segurança da residência, incluiu a construção de
galinheiro, curral, piscina, anfiteatro e centro de visitantes.
Zuma reconheceu que sua
conduta foi “incompatível com a
Constituição”, mas negou que tenha agido de má fé.
— Quero enfatizar que nunca,
consciente ou deliberadamente,
agi para violar a Constituição —
disse o presidente, atribuindo
qualquer infração ao aconselhamento jurídico que recebeu.
Em seguida, desculpou-se
“pela frustração” e pela confusão no escândalo.
— Peço desculpas em meu
nome e no de meu governo.
Exorto todas as partes a respeitarem o julgamento e a cumprilo — declarou, em referência à
decisão unânime do tribunal. l
| Opinião |
AVANÇO
AFRICANO
A CONDENAÇÃO do presidente da África do Sul,
Jacob Zuma, pela Corte
Constitucional do país, por
uso de dinheiro público em
sua propriedade privada,
equipara o país ao Brasil
do mensalão.
COMO AQUI, a Corte é
composta, em maior parte,
por nomeados pelo próprio
Zuma. No Brasil, o STF formado, em sua maioria, por
indicados por Lula e Dilma
condenou petistas, como era
necessário para fortalecer as
instituições republicanas.
GRANDE PASSO da África
do Sul para consolidar a
democracia.
CRÍTICAS EM CUBA
Comunistas insatisfeitos
Membros do PCC pedem debates, e grupo esquerdista cubano em Madri quer mudar lei eleitoral
ENRIQUE DE LA OSA/REUTERS
-MADRI E HAVANA-
A
visita histórica do
presidente Barack
Obama a Cuba, que
atraiu os holofotes
para a ilha, parece ter mexido
nas bases comunistas. A duas
semanas do congresso da legenda, membros do Partido
Comunista de Cuba (PCC) pedem mais debates e reclamam
que não tiveram acesso a propostas — o que deveria, segundo eles, levar ao adiamento do Congresso.
“Não poderíamos ter esperado uns meses para que a militância pudesse conhecer e
opinar sobre os documentos,
antes de levá-los ao Congresso? A militância de base está
chateada, e com razão”, escreveu o acadêmico Esteban Morales no blog “Cuba Says”.
Mudanças. Retrato de Fidel Castro em Havana: militantes questionam partido
Estimam-se em 700 mil os
membros do PCC. O último congresso, em abril de 2011, foi precedido de meses de debates populares nos quais se reuniram
mais de um milhão de opiniões
de membros do partido e da po-
pulação em geral — um marco
no caminho a um consenso sobre as reformas. Após Obama, os
cubanos querem debater. Militante comunista e jornalista,
Francisco Rodríguez tachou o
discurso do presidente america-
no de “hábil e emotivo”.
— A visita nos obriga a fazer um trabalho de reflexão
e defender o consenso social sobre a revolução.
Em Madri, na Espanha, um
grupo de cubanos lançou o
#Otro18 — apoiado por 45 organizações — para tentar mudar a lei eleitoral antes de
2018, quando Raúl Castro deixa o poder. Segundo lideranças do partido Arco Progressista, a ideia é acabar com a
Comissão Nacional de Candidaturas, que atua como filtro.
— Que seja um processo
que permita eleger, e não
apenas votar — disse Manuel Cuesta Morúa, portavoz da legenda, que se define como social-democrata.
As incomuns críticas ao
PCC motivaram um artigo
de defesa no “Granma”. l
30
l O GLOBO
2ª Edição Sábado 2 .4 .2016
Sociedade
OBESIDADE
Retrato de
uma epidemia
mundial
_
CESAR BAIMA
[email protected]
A epidemia de obesidade que assola grande parte dos países do mundo acaba de
ganhar um de seus retratos mais acurados.
Em uma análise de 1.698 estudos populacionais realizados nas últimas décadas,
com dados de mais de 19,2 milhões de
adultos, um grupo internacional de centenas de pesquisadores reunidos na Colaboração de Fatores de Risco de Doenças
Não-Comunicáveis (NCD RisC, na sigla
em inglês) estimou a evolução do índice
de massa corporal (IMC) — calculado dividindo o peso pelo quadrado da altura —
dos habitantes das cerca de 200 nações e
territórios de todo planeta entre 1975 e
2014. E os resultados foram alarmantes.
Segundo os cientistas, o mundo tem hoje 641 milhões de pessoas — 10,8% dos
homens e 14,9% das mulheres — que podem ser consideradas obesas, isto é, com
IMC igual ou acima de 30, contra 105 milhões em 1975, das quais 184 milhões são
severamente obesas (IMC maior que 35)
ou as chamadas obesas mórbidas (IMC
superior a 40). Esse número de obesos já
há algum tempo superou o de pessoas
que estão muito abaixo do peso ideal, ou
seja, com IMC menor que 18,5. Entre as
mulheres, essa barreira teria sido ultrapassada em 2004, enquanto entre os homens
a mudança no perfil de peso ocorreu em
2011. Na média global, o IMC delas avançou de 22,1 para 24,4 nas últimas quatro
décadas, e o deles foi de 21,7 em 1975 para
24,2 em 2014, o que equivale a cada ser
humano do planeta ter engordado 1,5 quilo por década no período.
— Ao longo dos últimos 40 anos, saímos
de um mundo em que a prevalência do
peso baixo era mais que o dobro da obesidade para um em que mais pessoas estão
obesas do que abaixo do peso — destaca
Majid Ezzati, professor da Escola de Saúde
Pública do Imperial College London, no
Reino Unido, e um dos líderes do levantamento, publicado na edição desta semana
da revista médica “The Lancet”. — O número de pessoas em todo o planeta cujo
peso é uma séria ameaça à sua saúde é
maior do que nunca. E essa epidemia de
obesidade severa é muito grande para ser
atacada só com medicações para baixar a
pressão, tratamentos para diabetes ou
com algumas poucas ciclovias mais.
TENDÊNCIA É CENÁRIO PIORAR
E a tendência é que este cenário piore ainda mais. De acordo com as projeções do
pesquisadores, mantido o ritmo observado desde 2000, em 2025 aproximadamente uma em cada cinco pessoas do planeta
serão obesas — 18% dos homens e 21%
das mulheres —, com a obesidade severa
atingindo mais de 6% deles e 9% delas.
— Se a tendência atual continuar, o
mundo não só não cumprirá o objetivo de
frear a alta a prevalência da obesidade nos
níveis de 2010 até 2025 como mais mulheres serão obesas severas do que desnutridas em 2025 — acrescenta Ezzati. — Para
evitar uma epidemia de obesidade severa,
temos que implementar rápido e avaliar
rigorosamente novas políticas que podem
frear o aumento global no peso corporal,
incluindo políticas inteligentes de alimentação e melhorias nos cuidados á saúde.
Estimada em cerca de 410 milhões, porém, a população subnutrida do planeta,
concentrada nos países pobres do Sul da
Ásia e do centro e Leste da África, ainda é
fonte de grande preocupação. De acordo
com os pesquisadores, a redução no número de pessoas muito abaixo do peso foi
relativamente lenta nas últimas quatro décadas, e o maior temor é que as políticas
públicas acabem se focando por demais
na população obesa e “esqueçam” os me-
Mais pessoas estão acima que abaixo do peso
ideal, mas desnutrição ainda é problema
POPULAÇÃO NA BALANÇA
AUMENTO DO VOLUME CORPORAL NOS ÚLTIMOS 40 ANOS
PREVALÊNCIA DA DOENÇA NO BRASIL E NO MUNDO
(IMC acima de 30, de 1975 e 2014)
% de homens
% de mulheres
25
RENATA MARIZ
[email protected]
A primeira edição de
um exame criado para avaliar os
futuros médicos do Brasil será
aplicada em agosto deste ano,
anunciou ontem o ministro da
Educação, Aloizio Mercadante.
A Avaliação Nacional Seriada
dos Estudantes de Medicina vai
medir o desempenho de todos
os alunos do 2°, 4° e 6° anos da
graduação. Na última etapa,
quem tiver baixa performance
na prova ficará impedido de receber o diploma e, portanto, de
-BRASÍLIA-
24%
25
20
BRASIL
BRASIL
MUNDO
MUNDO
20
17,1%
15
14,9%
15
10,8%
10
3,5%
5
10
7,4%
5
6,4%
3,2%
0
0
76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14
1975: 110º / 2014: 92º
76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 08 10 12 14
POSIÇÃO DO BRASIL
NO RANKING DA
OBESIDADE
1975:
111º / 2014: 84º
PREVALÊNCIA POR CATEGORIAS DE IMC - ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
(Em %, no mundo entre 1975 e 2014)
Homens
Mulheres
80
70
80
FAIXAS
(ÍNDICE DE MASSA
CORPORAL, KG/M²)
65,5
Saudável
(de 18,5 a 25)
60
70
62,7
60
51,4
50
52,8
Sobrepeso
(de 25 a 30)
27,5
Obesidade ou
obesidade
severa
(de 30 a 40)
10,1
Subnutridos
(abaixo de 18,5)
40
30
20
10
0
17,5
13,8
3,2
1975
8,8
0,6
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010 2014
Obesidade
mórbida
(acima de 40)
Entre os homens, a proporção de obesos
ultrapassou a de subnutridos em 2011
50
40
24,1
13,3
14,6
6,1
9,7
1,6
0,3
1975
exercer a profissão. Mas poderá
repetir o teste, previsto para ser
aplicado várias vezes ao ano, frisou Mercadante.
Nesta primeira edição, no entanto, somente alunos do 2° ano
serão avaliados, estimados em 20
mil no país pelo MEC. Isto porque a lei que criou o exame determinou que ele começasse em
2015. Então, apenas estudantes
que entraram na faculdade a partir do ano passado ficam obrigados a fazer o novo teste, segundo
a lógica de que a legislação não
pode retroagir para prejudicar o
cidadão, explicou Mercadante.
São esses alunos que, em 2020,
quando estiverem cursando o 6°
ano, passarão pela fase mais
complexa da avaliação, em que
uma reprovação poderá significar adiar o sonho do diploma.
De acordo com Mercadante,
a prova tem como objetivo aumentar o rigor na formação de
médicos no Brasil:
— É um exame amplo, para
que a gente não apenas forme
mais médicos no Brasil, mas que
a gente forme bons médicos.
METODOLOGIA INTERNACIONAL
A nota de corte da avaliação será
calculada a cada edição, dentro
de metodologia internacional de
verificação de desempenho, explicou Henry Campos, reitor da
Universidade Federal do Ceará e
representante da Subcomissão
do Revalida, exame que certifica
médicos formados no exterior
que queiram atuar no Brasil. A
nova prova seguirá o modelo do
Revalida, no formato e conteúdo. Para alunos do 2° e 4° anos,
serão provas escritas. No 6°, haverá avaliações práticas. l
30
20
16,4
1980
1985
1990
1995
2000
2005
10
0
2010 2014
Em 2014, cerca de 15% das mulheres
sofrem com algum grau de obesidade.
Entre os homens a proporção é de 11%
Fonte: NCD Risk Factor Collaboration
Diploma de medicina dependerá de
aprovação em exame nacional periódico
Primeira edição da prova
será em agosto para
avaliar desempenho de
alunos do 2° ano
nos favorecidos, aumentando ainda mais
a desigualdade entre e dentro dos países.
“Com relação à obesidade, nos países de
alta renda os pobres são mais sujeitos a serem obesos que os mais ricos”, aponta George Davey Smith, professor de epidemiologia da Universidade de Bristol, também
no Reino Unido, em comentário que
acompanha o estudo na “Lancet”. “Mas,
em muitas partes do mundo, o inverso
acontece e os pobres permanecem magros a ponto de comprometer sua saúde e
produtividade econômica. Um foco na
obesidade às custas do reconhecimento
do substancial fardo da subnutrição que
resta ameaça desviar recursos das desordens que afetam os pobres para aquelas
que mais provavelmente afetam os mais
ricos nestes países (de menor renda)”.
Editoria de Arte
OS NÚMEROS NO BRASIL
Com relação ao Brasil, os números na pesquisa não diferem muito das tendências
globais. Aqui, o IMC médio das mulheres
avançou de 22,7 em 1975 para 26,1 em
2014, enquanto entre os homens ele foi de
22,2 para 25,6 no mesmo período. Já a prevalência da obesidade aumentou de 7,4%
da população feminina há 40 anos para
24%, ou cerca de 18 milhões delas, agora, e
de 3,5% para 17,1% (12 milhões deles) na
masculina. A subnutrição, no entanto, recuou fortemente, saindo de 10,2% das
mulheres com peso muito abaixo do ideal
em 1975 para 3,5% em 2014 e de 9,3% para
2,1% entre os homens, somando cerca de
4 milhões de pessoas no total. Já para o futuro, a projeção dos pesquisadores é de
que 37,6% das mulheres e 37,8% dos homens brasileiros sejam obesos em 2025.
— O ganho de renda aqui no Brasil nas
últimas décadas teve como consequência
um maior acesso a alimentos processados
e industrializados que a gente sabe que
não são nutricionalmente ideais, como
biscoitos, massas, bolos e doces em geral
— avalia o endocrinologista Pedro Assed,
pesquisador do Grupo de Obesidade e
Transtornos Alimentares do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia e da
PUC-Rio. — Nossa dieta é muito ruim,
com uma falta de preocupação e atenção
generalizada com a alimentação. E também faltam incentivos à prática de exercícios, com um baixo engajamento em atividades físicas. E tudo isso contribui para esse aumento na obesidade.
Assed lembra ainda que a obesidade é
um conhecido fator de risco para vários
problemas de saúde, de doenças cardiovasculares provocadas por hipertensão e
colesterol alto a diabetes do tipo 2 e câncer, muitos deles de caráter crônico e que
deverão se tornar um fardo ainda maior
ao historicamente combalido sistema de
saúde brasileiro.
— O aumento da obesidade é uma tragédia geral para a saúde da população e
uma consequência disso é que nosso sistema de saúde pode entrar em colapso —
diz. — Afinal, uma pessoa com uma doença crônica não fica internada uns cinco dias e vai embora. Ela pode ficar no hospital
30, 60, 90 dias e isso onera muito o sistema
de saúde. Mesmo assim, o governo tem
zero de iniciativa e nunca vi campanha
pública nenhuma de alerta sobre os perigos da obesidade.
Assim, o endocrinologista defende medidas como, por exemplo, colocar nos rótulos de produtos alimentícios processados alertas como os vistos nos cigarros,
além de campanhas de educação em saúde e incentivo à prática de atividades físicas, em especial para o público infantil.
— Não é só uma questão de quantidade,
mas também de qualidade das calorias
que consumimos — conclui. — O difícil é
mudar os hábitos. Precisamos consumir
mais frutas, legumes e fibras. l
Capes bloqueia acesso a mais de sete mil
bolsas de pós-graduação em todo o país
Órgão nega cortes e diz
que vagas estavam
ociosas, mas associação
de estudantes contesta
-BRASÍLIA- A Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), agência do Ministério da Educação (MEC) para
fomento da ciência, bloqueou o
acesso de estudantes a mais de
sete mil bolsas de pós-graduação
no país — cerca de 9% do total
disponibilizado hoje. Em circular
ao qual O GLOBO teve acesso,
universidades foram comunicadas sobre “a suspensão temporária de cadastramento de novos
bolsistas” por até dois meses.
O argumento da Capes, segundo o informe, é que as bolsas estavam “ociosas após fechamento
do mês de março” e que serão
objeto de análise para “recomposição gradual”. O presidente do
órgão, Carlos Nobre, garantiu
que a medida visa melhorar a eficiência no preenchimento das
bolsas e não significa cortes.
— As bolsas vão voltar. Vamos
fazer um estudo para diminuir o
índice de ociosidade, de 8% a 9%
— afirmou Nobre. — Se as universidades melhorarem seus índices, teremos mais alunos com
bolsa da Capes neste ano.
IMPACTO EM 9% DOS INCENTIVOS
A presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, critica o fato de as
bolsas terem março como referência, quando muitos graduandos se desvinculam da bolsa.
—Pode demorar um pouco
para outro estudante acessar,
não significa que está ociosa.
São 7.408 bolsas impactadas,
o que representa cerca de 9%
dos 80.906 incentivos pagos
atualmente a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A maior parte das bolsas
suspensas é do chamado Programa de Demanda Social, focado na formação de mestres e
doutores em cursos avaliados
pela Capes com nota de 3 a 5,
numa escala que vai até 7.
De acordo Mercedes Bustamante, diretora de Programas
e Bolsas da Capes, pró-reitores
das universidades já começarão a se reunir na próxima semana para traçar mecanismos
de melhoria da gestão.
— Há problemas no orçamento, mas isso não significa
que haverá redução de bolsas.
(Renata Mariz) l
O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
l 31
Esportes
Feito inédito
ACIMA DE TODOS
Quatro meses após trancar a faculdade para se dedicar exclusivamente ao tiro esportivo,
o paulista Felipe Wu se torna o primeiro brasileiro a assumir o topo do ranking mundial
DIVULGAÇÃO
pendência. Somando o Bolsa Atleta, o salário
das Forças Armadas e o dinheiro de seu patrocinador, o atirador recebe, mensalmente, em torno de R$ 6,4 mil.
— Como engenheiro espacial, eu estaria recebendo um salário que seria o dobro ou mais do
que o valor que eu ganho como atleta — afirma
Felipe, que está no terceiro período do curso.
Sem a obrigação momentânea da faculdade,
Felipe consegue treinar em dois períodos e
manter o foco apenas no esporte. Ontem, ele já
chegou ao Rio para uma fase de treinamento até
o início do evento-teste. Sua evolução no tiro
também surpreende pela idade precoce. Fora o
americano Will Brown (2º colocado), nascido
em 1991, e o coreano Kim Cheongyong (5º), em
1997, os 20 primeiros do ranking mundial de
pistola com ar 10m têm 30 anos ou mais. O sexto, por exemplo, é o experiente português João
Costa, de 41 anos.
APOSTA SELETA DO COB
Aposta cada vez mais concreta de medalhas na
Rio-2016, Felipe tem sido tratado com atenção
pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde
que se lançou como promessa no tiro esportivo
ao conquistar medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2010, em Cingapura. No
ano seguinte, então
com 18 anos, ele representou o Brasil
no Pan de Guadalajara, mas parou nas
eliminatórias. Mais
tarde, ele afirmou
que esta experiência no México foi
determinante para
a conquista do ouro
no Pan de Toronto.
A expectativa agora é que algo parecido com a experiência no torneio panamericano também
aconteça no Rio.
Em Londres-2012,
apesar de não competir no megaevento, Felipe foi levado
pelo COB, com um
Felipe Wu
seleto grupo de 16
Atirador
promessas esportivas, para a Rio-2016
com o objetivo de ter uma vivência olímpica e
“quebrar o gelo”, conforme a própria entidade
explicava à época, na capital londrina.
— Foi um aprendizado grande ter ido a Guadalajara. Com certeza, essa experiência em
2011 foi determinante para que eu chegasse ao
topo em Toronto — reconhece Felipe, ano passado, logo após a conquista do Pan-Americano.
Apesar da pouca idade, Felipe começou cedo
no esporte. Aos 11 anos, ele já dava os primeiro
tiros com o pai. A diversão foi ficando séria a
ponto da família Wu montar dentro de casa uma
área improvisada de treino. Hoje, passados
mais de 12 anos de seu início, Felipe sabe do tamanho de sua responsabilidade para o esporte.
Ele deixou isso claro logo após vencer sua primeira Copa do Mundo.
— Todos estão de olhos nos brasileiros. A imprensa nacional passou a nos acompanhar de
perto. E é extremamente importante que o tiro
esportivo vá bem neste momento, pois não é um
esporte popular como outros — analisa o atirador. — E eu sei que posso contribuir com este
crescimento do tiro com as minhas vitórias. l
“Minha meta
principal não é
me manter no
topo do
ranking. O meu
objetivo é ir
bem nas
Olimpíadas
Evolução rápida. Felipe Wu começou no esporte aos 11 anos por influência do pai: pouco mais de uma década depois, ele é possibilidade real de medalha para o país nos Jogos
VICTOR COSTA
[email protected]
O paulista Felipe Wu, de 23 anos, colocou o tiro
esportivo do país em um lugar nunca antes alcançado. Pela primeira vez, um atirador brasileiro chegou à primeira colocação do ranking
mundial. O resultado foi confirmado, ontem, no
dia 1º de abril, na categoria pistola de ar 10m,
que é olímpica. Esta conquista só foi possível
após sua brilhante vitória na Copa do Mundo da
Tailândia, no início de março. Para se manter no
topo até a divulgação do próximo ranking, no
dia 1º de maio, o paulista precisará ir bem na
próxima etapa da Copa do Mundo, a partir do
dia 13 de abril, no Rio, que servirá como eventoteste da modalidade para os Jogos.
A publicação do ranking, ontem, pegou a
Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) de surpresa. Nos corredores da entidade,
existia uma expectativa de ver Felipe entre os 20
primeiros e, talvez, entre os 10. Até Felipe, que
interrompeu a faculdade de engenharia aeroespacial, havia feito alguns cálculos nas últimas
semanas, mas achava muito remota a possibilidade de assumir o topo do ranking.
— O sistema de pontuação é muito complicado. Não é tão fácil assim. Antes, eu estava em
56º. Tem muitas variáveis. Sabia que tinha
chances de sair em primeiro, mas, realmente,
não acreditava que conseguiria isto — diz Felipe, avaliando sua reta final de preparação para
os Jogos. — Minha meta principal não é me
manter no topo do ranking. Não estou preocu-
pado com isso. O meu objetivo é ir bem nas
Olimpíadas. Infelizmente, vou atrasar meus estudos para isso, pois tive que trancar a faculdade para focar na preparação para os jogos. Foi
uma escolha difícil.
DIFERENÇA SALARIAL
Pela primeira vez em sua carreira de atleta, Felipe está apenas concentrado no tiro esportivo.
Até o ano passado, quando foi campeão panamericano em Toronto, ele ainda dividia seus
dias entre treinos e estudos. Neste ano, com o
apoio da família, optou por trancar a faculdade,
e chegou ao topo do ranking. Após os Jogos, no
entanto, ele garante que vai voltar à faculdade,
onde o futuro é mais promissor financeiramente. Como atleta, Felipe consegue ter certa inde-
BEISEBOL
MLB começa sua
maratona de 162 partidas
JAMIE SQUIRE/GETTY IMAGES
Temporada regular é realizada em ‘apenas’ 182 dias. Dois
brasileiros disputam a competição, um deles no atual campeão
EDUARDO ZOBARAN
[email protected]
I
magine uma campeonato com
162 jogos, sem contar os
playoffs decisivos. Agora, imagine que essas partidas estão
espremidas em apenas 182 dias. É o
que acontece na Major League Baseball (MLB), principal liga americana
de beisebol, que dará início à sua nova temporada amanhã. São 30 times
que se enfrentarão em 89% das datas
até 2 de outubro, quando terão sido
definidos os dez finalistas.
Para chegarem preparados para a
competição, os times investem na
pré-temporada, chamada de “spring
training" (ou treino de primavera).
As atividades são feitas na Flórida ou
no Arizona, onde as franquias fogem
de altas temperaturas de outras regiões dos Estados Unidos e do Canadá.
É também uma fase competitiva: de
cerca de 40 jogadores que começam,
apenas 25 compõem o elenco principal
para a temporada.
Este ano, dois brasileiros passaram
pelo crivo: Paulo Orlando, campeão no
ano passado pelo Kansas City Royals, e
Yan Gomes, do Cleveland Indians. Outros dois ficaram pelo caminho: André
Rienzo, do Miami Marlins, e Leonardo
Reginatto, do Minnesota Twins. Eles
devem iniciar a temporada em times da
Triple A, última escala das ligas menores, que são vinculados ao Marlins e ao
Twins. A qualquer momento, podem
ser convocados para subir ao elenco
que disputa a MLB. Outros oito brasileiros fazem parte das divisões inferiores — Double A e Single A completam a
escala das ligas menores.
PAULO ORLANDO RECEBE SEU “TROFÉU”
Se foi um amuleto de seu time no ano
passado, a responsabilidade promete
ser bem maior para o defensor externo
Paulo Orlando nesta temporada. Especialmente após a saída de Alex Rios e a
Paulo Orlando. Campeão da World Series
lesão de Jarrod Dyson, dois de seus
concorrentes. Após dez anos nas ligas menores antes de estrear no
Royals no ano passado, dessa vez ele
deve começar o ano como titular.
— Alguns ajustes ainda tenho que
trabalhar, mas são poucos detalhes,
que durante a temporada voltam
normalmente — afirmou Paulo Orlando em entrevista ao GLOBO. — O
mesmo digo para o time. Alguns jogadores já estão bem confiantes e,
com isso, os outros se motivam.
O “EXPERIENTE” GOMES
Amanhã, antes do jogo contra o New
York Mets (a ESPN transmite às
21h), adversário da final no ano passado, Paulo Orlando receberá o “troféu” entregue aos jogadores. Tratase de um anel de campeão da World
Series. O brilho, ele sabe, vai dificultar o trabalho do Royals em 2016.
— Os outros times virão com mais
vontade de ganhar os jogos contra a
gente. Vamos continuar jogando
agressivos e unidos e, com certeza,
os resultados aparecerão como no
ano anterior — garante o jogador.
Mais experiente, Yan Gomes chega
à sua quinta temporada. Não é exagero dizer que o catcher tem em sua
carreira um papel ainda mais relevante para seus times do que Orlando. Sua equipe atual, o Indians, estreia na segunda-feira, contra o tradicional Boston Red Sox. l
classificadosdorio.com.br
2534-4333
32
l O GLOBO
l Esportes l
Sábado 2 .4 .2016
[email protected]
CARLOS
EDUARDO
MANSUR
|
Voando para a seleção
|
Heróis, vilões e ideias
Dois tropeços da seleção fizeram a tese da
geração ruim dar lugar à da falta de
protagonistas ou de comprometimento. O país
é fascinado pelos dois temas porque, no fundo,
busca salvadores que tragam, sozinhos,
soluções num futebol que se vê diante de um
desafio coletivo. O time é uma pilha de nervos
e problemas, que não serão resolvidos pela
busca por heróis ou pela nomeação de vilões.
É
a dificuldade coletiva que tem feito o Brasil,
com sua geração cheia de ótimos jogadores e
de protagonistas em clubes importantes, tropeçar em rivais individualmente menos dotados.
Passada a data-Fifa, clubes do país buscaram às
pressas jogadores das seleções. Guerrero jogou 180
minutos em pouco mais de 24 horas num Flamengo desgastado. Não foi Muricy quem exigiu. Mas a
crença geral supervaloriza a aposta no individual.
“Se Messi jogasse no Argentinos Juniors, não seria campeão nunca”, disse César Luis Menotti, técnico campeão mundial pela Argentina em 1978.
“Por vezes, o Barcelona se deixa atacar pelo pior rival: a urgência. Vira dependente de Messi. Quando
o jogo de equipe respalda seus craques, é imbatível”. Ele se refere à estrutura coletiva que sustenta
individualidades. Alemanha e Espanha, únicas seleções que foram consistentes coletivamente nas
últimas décadas, não dependiam de um mágico individualista. Além de reunirem ótimos jogadores,
puderam se estruturar tendo um clube como base.
Algo que o Brasil não pode, por realidade e por
identidade. Então, como virar um time?
O calendário moderno vitima seleções, e as eliminatórias sul-americanas são uma gangorra de
desempenho. Na última rodada, só jogou bem a
Colômbia, que começara mal.
Mas há problemas que são brasileiros. Dunga não
é um incapaz, como mostra a equipe organizada da
Copa de 2010. Tampouco é o melhor técnico do país,
como revela seu curto currículo — o que lhe tira credenciais e respaldo e se soma a uma personalidade
dificílima, marcada por conflitos. E conflito era tudo
de que não precisava uma seleção tão machucada, a
mais pressionada do mundo desde o 7 a 1.
Na passagem anterior, Dunga teve resultados na
caminhada até o Mundial. Agora, sem eles, a pressão vai a níveis extremos. E os focos de conflito chegam à relação com jogadores.
O ponto chave é a seleção ter uma ideia de futebol que sustente o trabalho, seja ele de quem for.
Dunga, por característica, tende mais ao pragmatismo do que à estética. Traço talvez reforçado pelo
pouco tempo para treinar o time. Tem quase dois
anos no cargo. Parece muito, mas na realidade de
um clube equivaleria a menos de um semestre. O
resultado é um time com dificuldade de jogar coletivamente bem como no primeiro tempo diante do
Uruguai. E sim, já seria possível render mais.
Mas qual o estilo que se persegue? Que futebol a
CBF pretende ver na seleção? Quem, na entidade
que vive uma lacuna de poder e legitimidade, pensa o modelo de jogo com a comissão técnica? Tite é
visto como o salvador da vez. É o melhor do país,
mas, se a troca ocorrer, entrará num mundo novo,
sem o dia a dia com o time. Deixaria de ser treinador para ser, muito mais, um selecionador. Não há
garantias de resultado. O passo principal é definir o
que se espera da seleção, que identidade se busca
no time que representa o futebol brasileiro. Depois,
escolher quem execute o plano, seja Dunga, Tite ou
qualquer outro. E dar tempo para o projeto de futebol aflorar.
Para quem busca evolução coletiva, a Copa América é um presente. Se for preciso escolher em que
torneio usar Neymar, o clamor pelo salvador que
conduza a seleção ao ouro será forte. Mas não seria
coerente. Até aqui, o time olímpico se preparou
com uma comissão técnica que não o comandará
na competição. Se houve uma prioridade, esta tem
sido o time que tenta ir à Copa de 2018. E que precisa trabalhar, de preferência com Neymar. Para que
o craque seja parte de um coletivo.
_
Genial e genioso
Neymar sempre foi, e ainda é, muito mais solução
do que problema na seleção. Mas sua instabilidade
convida a refletir. É razoável que, aos 24 anos, não
seja insensível às disputas na Justiça que o envolvem, assim como sua família. Natural, também,
ponderar se Neymar entupiu sua rotina de distrações. As suspensões na Espanha há dois anos coincidem com a corrida para um avião rumo à festa da
irmã. Do Recife, após o empate com o Uruguai, outro avião e outra festa. Chegou à seleção horas depois do que poderia e, na noite anterior, festa. Tudo
frenético demais.
Ou pensar se, para um jovem tão pressionado, a
seleção de hoje deixou de ser o porto seguro. No
Barcelona, é um protagonista. No Brasil, espera-se
que seja o salvador num time que não se consolida.
O Neymar de Recife era mais fechado, preocupado,
irritadiço. Suspenso, foi ausência outra vez no Paraguai. Uma ausência frequente demais. l
NOVA CHANCE
Natália, destaque do Rio na final da Superliga, vive a melhor fase da carreira neste
ano olímpico. Atacante quer compensar os Jogos de 2012, quando não atuou
MÁRCIA FOLETTO
CAROL KNOPLOCH
[email protected]
A decisão da Superliga entre
Rexona/Rio de Janeiro e Dentil/Praia Clube, de Uberlândia
(MG), deve coroar a melhor fase da carreira de Natália. A jogadora foi peça fundamental
na campanha do favorito time
do Rio, que chega à 12ª decisão
seguida. Esse confronto inédito, com as mineiras disputando o título pela primeira vez,
será amanhã, às 9 h. A Rede
Globo e o Sportv transmitem.
O time comandado por Bernardinho busca o 11º título na
competição. E chegou à decisão ao derrotar o arquirrival
Osasco, na semifinal.
— Essa é minha melhor temporada de longe! Foquei muito,
me dediquei. Também queria
jogar para a seleção porque estamos em ano olímpico. Imagine a busca por um sonho. Estou
buscando o meu (Olimpíadas)
— afirma a jogadora mais acionada do time do Rio. — Nessa
temporada, não teve tempo
ruim. Encarei tudo. Treinei a
mais quando precisou e cuidei
da alimentação. Estou forte,
com mais massa magra e dentro
de meu peso, entre 80kg e 82kg.
Segundo dados da equipe,
Natália bateu 623 bolas (264 de
ataque e 359 de contra-ataque), cerca de 24% do total do
time (2.621) na competição. A
oposta Monique foi a segunda
mais requisitada (567 bolas
atacadas).
As estatísticas da Superliga
confirmam a boa fase. Natália
é a segunda maior pontuadora
(379 acertos), atrás apenas da
americana Alix, do rival Praia
Clube (438 acertos). No ataque, Alix é a líder (374 pontos)
e Natália, a terceira (320).
A ponteira afirma que tem
uma nova chance na carreira. É
que, na temporada que antecedeu os Jogos de Londres, na Superliga 2011/2012, ela não jogou nenhuma partida. Sequer
foi escalada. Viu do banco a
Felicidade. Ponteira é destaque nas estatísticas do clube e da competição
derrota para o Osasco na final.
Chorou, sentiu-se impotente. A
verdade é que Natália passou
maus bocados e teve receio de
uma aposentadoria precoce.
Há quatro anos, ela se recuperava da segunda cirurgia na
canela esquerda para retirar
um tumor benigno. A primeira
intervenção ocorreu em junho
de 2011. Em ambos os casos,
teve de raspar o osso: primeiro,
1,5cm, depois, 3,5cm, além de
enxerto e colocação de haste de
titânio. Por dois meses e meio,
andou com auxílio de muletas.
— Não tive a chance de me
preparar para a última Olimpíadas. Não tinha condições de
jogo. Uma semana antes da final da Superliga, eu deixei as
muletas. Voltei a saltar apenas
um mês antes dos Jogos.
CONVOCAÇÃO NA SEGUNDA
Ela lembra que, mesmo em recuperação, o técnico José Roberto Guimarães a convocou
para os Jogos de 2012.
— Agradeço até hoje pela
confiança. Desta vez, estou
bem preparada — garante a
ponteira, que evoluiu no passe.
A líbero Fabi diz que nunca a
viu tão bem, “voando”.
— Acompanhei todas as suas
fases. Não é uma surpresa o
que está jogando. A surpresa é
vê-la com tanta regularidade.
É nome certo na lista olímpica
de Zé Roberto (será divulgada
na segunda-feira) — aposta a
líbero, já aposentada da seleção. — Talvez a Natália esteja
sendo presenteada com essa
temporada incrível depois de
2012. Agora poderá viver de fato uma Olimpíada, 100% fisicamente, de corpo, alma e coração. Arrisco 120%.
A levantadora Roberta também aposta em Natália como
destaque na lista da seleção:
— Sei que não vai me deixar
na mão nunca. Por isso eu a
aciono sempre no jogo. É a melhor ponteira da Superliga. Essa é a sua hora. É nome certo
na lista de Zé Roberto. l
TÊNIS
F-1
Djokovic a uma vitória do hexa
Mercedes
lidera. Button
é surpresa
Caso vença a final em
Miami amanhã, sérvio
vai bater recorde de
títulos de Masters 1000
Novak Djokovic está a
uma vitória de bater mais um
recorde na carreira. Se vencer
amanhã, às 14h (de Brasília),
a final em Miami, o número 1
do mundo conquistará o 28º
troféu de Masters 1000, ultrapassando o espanhol Rafael
Nadal nesse quesito — o suíço
Roger Federer tem 24. O
Sportv 3 transmite.
Ontem, o líder do ranking
precisou de 2h04m para derrotar o belga David Goffin (15º do
mundo), por 7/6 (7/5) e 6/4.
— Estava muito abafado e
MATTHEW STOCKMAN/AFP
-MIAMI-
acesse
140
CENTRO - RJ Av. Passos, 42, 44 e 46
SHOPPING JARDIM GUADALUPE Av. Brasil, 22.155
CABO FRIO (SHOPPING PARK LAGOS CABO FRIO)
Av. Henrique Terra, 1.700
Suado. Djokovic no jogo com Goffin
úmido, mas estou orgulhoso
por ter ficado firme nos momentos importantes e ter encaixado alguns grandes serviços — celebrou o finalista.
Se confirmar o favoritismo
amanhã, o sérvio vai se igualar
ao recordista americano Andre
Agassi em número de títulos
em Miami: seis. Até hoje,
Djokovic venceu o torneio em
2007, 2011, 2012, 2014 e 2015.
Outra marca que mostra o
momento espetacular do natural de Belgrado é que ele
disputará a 11ª decisão consecutiva de Masters 1000,
feito jamais alcançado na
história do esporte.
Com 27 vitórias e apenas
uma derrota em 2016, o líder
do ranking também pode
conquistar, em Miami, o
segundo hexacampeonato na atual temporada.
Em janeiro, ele se tornou o
recordista na Era Aberta
(desde 1968) de títulos no
Aberto da Austrália, um dos
quatro Grand Slams do circuito mundial.
FINAL FEMININA HOJE
Hoje, às 14h , a bielorrussa
Victoria Azarenka (oitava do
mundo) decide a chave feminina de Miami contra a russa
Svetlana Kuznetsova (19ª do
ranking). Enquanto a primeira derrotou, na semifinal, a alemã Angelique Kerber, por 6/2 e 7/5, a segunda
passou pela suíça Timea
Bacsinszky, por 7/5 e 6/3. A
Bandsports transmite.
As duas finalistas vão fazer
um tira-teima nas quadras de
Key Biscayne. Até hoje, foram
oito jogos entre Azarenka e
Kuznetsova, com quatro
triunfos para cada. No último
duelo, nas quartas de final do
Aberto da Austrália de 2013, a
bielorrussa — que busca o
terceiro título em Miami —
levou a melhor. l
Novamente, a
Mercedes dominou os treinos livres da Fórmula-1 e
surge como favorita para o
GP do Bahrein, amanhã, às
12h (de Brasília), com Nico
Rosberg em primeiro e Lewis
Hamilton em segundo. Hoje,
no mesmo horário, acontece
o treino classificatório. A Rede Globo transmite.
A surpresa, porém, pode
aparecer. Ontem, o piloto inglês Jenson Button pôs a
McLaren em terceiro, posição
incomum para a escuderia
recentemente, que terá o belga Stoffel Vandoorne no lugar
do espanhol Fernando Alonso, que está vetado. l
-SAKHIR, BAHREIN-
acesse
140
GUANABARA (SHOPPING GUANABARA BARRA)
Av. das Américas, 3.501
PARQUE SHOPPING SULACAP
Av. Marechal Fontenelle, S/N
CAMPOS DE GOYTACAZES (BOULEVARD SHOP. CAMPOS)
Av. Jornalista Roberto Marinho, 221
l Esportes l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
FUTEBOL INTERNACIONAL
MSN x BBC
CHÃO DE ESTRELAS
Com uma diferença de 10 pontos na tabela, Barcelona e Real Madrid se enfrentam no Camp Nou
tentando esquecer a goleada catalã do primeiro turno e pensando na rodada da Liga dos Campeões
MARCELO ALVES
[email protected]
Poucos jogos de futebol têm tanto apelo e capacidade de parar boa parte do
planeta na frente de uma televisão
quanto um Barcelona x Real Madrid.
Mesmo espremido entre a data Fifa da
última semana e os vindouros confrontos de terça e quarta-feira pelas quartas
de final da Liga dos Campeões da Europa contra Atlético Madrid e Wolfsburg,
respectivamente, o clássico de hoje, às
15h30m (de Brasília), no Camp Nou,
desperta enorme interesse e tem um
caráter decisivo principalmente para o
time comandado por Zinedine Zidane.
A oito rodadas do fim da temporada, o
Real está dez pontos atrás do Barça. Se
perder, dará um adeus definitivo ao título,
por mais que a matemática contrarie os
fatos apresentados em campo, onde se
viu um time catalão mais equilibrado e
exibindo um futebol superior aos madridistas em toda a temporada. Quem estará
acompanhando este jogo com especial
atenção é o rival dos dois, o Atlético de
Madrid. Segundo colocado com nove
pontos a menos do que o Barcelona, o time do técnico Simeone tentará vencer o
Bétis mais cedo, às 11h, para depois só
torcer para que o seu rival da cidade o
ajude a diminuir a diferença para o líder.
Falar em Barcelona x Real Madrid significa inevitavelmente falar da maior rivalidade do futebol atual. Depois de
marcarem gols e ajudarem as suas respectivas seleções a vencerem na terçafeira passada, Messi e Cristiano Ronaldo se enfrentarão pela 30º vez — contando os confrontos pelos times atuais
e por equipes anteriores e seleções. Um
confronto em que o craque argentino
leva ampla vantagem. São 14 vitórias
dele e oito de Ronaldo. Em número de
gols no duelo, eles estão parecidos: são
17 do argentino e 16 do português.
HOMENAGEM A CRUYFF
No sempre volátil mundo do futebol, até
que pouca coisa mudou desde que os
dois se enfrentaram pela primeira vez,
em novembro de 2009. Na ocasião, o
Barcelona venceu por 1 a 0, gol de Ibrahimovic. Se o sueco não está mais no
clube, a equipe então comandada por
Pep Guardiola manteve mais de meio time titular daquela partida: Daniel Alves,
Piqué, Busquets, Messi e Iniesta. No Real
Madrid, seis estavam naquele primeiro
confronto. Além do português, o time do
técnico Manuel Pellegrini tinha Sérgio
Ramos, Pepe, Arbeola, Marcelo e Benzema, que entrou no decorrer do jogo.
Para Messi, a partida pode ser especial. Ele está a um gol de marcar o seu
500º na carreira.
— Seria um lindo cenário atingir esta
marca contra o Real Madrid — afirmou
o camisa 10, maior artilheiro da história do clássico, com 21 gols.
Se no lado do Real o discurso é o de
vencer a qualquer custo, na Catalunha
a vontade não será menor. Mas o Barcelona quer vencer ao seu estilo, exibindo
um jogo bonito para homenagear o
grande mentor, Johan Cruyff, que faleceu na semana passada e será homenageado no Camp Nou.
A RIVALIDADE ENTRE MESSI E CRISTIANO RONALDO
CLÁSSICO DE HOJE ENTRE BARCELONA E REAL MADRID SERÁ O 30º CONFRONTO ENTRE OS DOIS CRAQUES
L. MESSI
C. RONALDO
JOGOS ENTRE OS DOIS
(Incluindo Seleção e Manchester United)
14
8
Vitórias
de Messi
29
Jogos
Vitórias
de Ronaldo
17
Gols
7
16
Gols
Empates
CLÁSSICOS DISPUTADOS ENTRE OS DOIS
(entre Barcelona e Real Madrid)
12
Vitórias
de Messi
24
Jogos
14
Gols
Empates
6
Vitórias
de Ronaldo
6
15
Gols
NÚMEROS INDIVIDUAIS
31
Clássicos disputados
15
7
9
21
24
Vitórias
6
Empates
6
Derrotas
12
Gols
13
Assistências
15
1
Infográfico: Kayan Albertin / Editoria de Arte
— A melhor homenagem a Cruyff é
fazer tudo o que ele nos ensinou. Queremos ganhar para dedicar a ele — disse Iniesta.
O meia é uma das estrelas de um clássico recheado de craques. Além dele, o Barcelona ainda terá em campo o trio Messi,
Suárez e Neymar (MSN), que vem ajudando o time a manter uma invencibilidade
de 39 partidas. Em uma temporada em
que já trocou de técnico (saiu Rafa Benitez, chegou Zidane), o Real não exibe números tão superlativos, mas sempre há o
talento de Cristiano, Gareth Bale, Benzema (o trio BBC) e James Rodríguez.
Para Zidane, esta é uma partida para o trio BBC brilhar e o Real apagar a
péssima impressão do primeiro turno, quando foi goleado por 4 a 0 em
pleno Santiago Bernabéu.
— Temos uma ideia de jogo e vamos
tentar executá-la — resumiu o técnico.
Pelo menos no discurso, não existe a
palavra revanche no Real Madrid.
— Vemos como uma oportunidade
bonita de ganhar uma partida. É o momento de seguir com confiança até o
objetivo que queremos. Sabemos que a
liga é difícil, mas é preciso seguir com o
espírito de luta que caracteriza esse
clube — disse o goleiro Keylor Navas.
Para Iniesta, os 4 a 0 do primeiro turno ficaram apenas na história. O jogo
de hoje será diferente.
— É outra situação. As duas equipes
se conhecem muito bem. Espero que
seja uma partida bonita e que possamos desfrutar dela — encerrou. l
l 33
CARIOCA
Vasco diz
não ao Fla
sobre São
Januário
Rubro-negro conversou
com Eurico. Zinho agradece
acolhida no ex-rival
Dois dias após o clássico Vasco x Flamengo, a rivalidade
entre os clubes continua sendo assunto em São Januário.
Enquanto Zinho, cria rubronegra, comentava sua relação
com o Vasco e a comemoração efusiva no gol de empate
na última quarta-feira, o presidente Eurico Miranda rechaçava um possível empréstimo do estádio ao arquirrival.
O mandatário teve um encontro com o vice-presidente de futebol do Flamengo,
Flávio Godinho, que pretendia conversar sobre a possibilidade de usar São Januário no Brasileiro. A reposta
foi negativa.
— Sabe por que o Flamengo não pode jogar em São
Januário? Como que vai jogar aqui se o presidente do
clube diz que meu estádio
não tem segurança? Claro
que não vai ter (conversa).
Não converso sobre isso —
afirmou Eurico Miranda, ao
site Globoesporte.com, referindo-se ao clássico disputado lá, em fevereiro, pelo
Campeonato Carioca. Na
ocasião, o presidente Eduardo Bandeira de Mello demonstrou preocupação com
a segurança do estádio.
JOGADORES SE ATRASAM
Já Zinho disse estar tranquilo quanto às reações negativas por parte de alguns torcedores rubro-negros:
—Nenhuma mágoa. Eu
cheguei ao Flamengo com 11
anos de idade. Só tenho agradecimento, gratidão. Estou
muito feliz aqui no Vasco, todos os dias. O clube me recebeu de braços abertos. Por
toda essa rivalidade que tem,
por toda essa história minha,
eu sou um privilegiado. Todo
dia eu tenho que comemorar.
Ontem, muitos jogadores
do Vasco chegaram atrasados por causa da manifestação dos taxistas. l
PAULO FERNANDES/VASCO
FICHA DO JOGO
BARCELONA: Bravo, Daniel Alves,
Piqué, Mascherano
e Alba; Busquets, Rakitic
e Iniesta; Messi, Neymar
e Luis Suárez.
REAL MADRID: Navas, Danilo, Pepe,
Sérgio Ramos e Marcelo; Casemiro,
Mödric e Kroos; Benzema, Cristiano
Ronaldo e Bale.
JUIZ: Alejandro José Hernández
(ESP/Fifa).
LOCAL: Camp Nou (Barcelona).
HORÁRIO: 15h30m (de Brasília)
TRANSMISSÃO: ESPN Brasil.
Feliz. Zinho no Vasco: adaptado
ESPORTES
FELIPE WU
PRIMEIRO NO
RANKING MUNDIAL
Desafio coletivo
SÁBADO 2.4.2016
oglobo.com.br
PÁGINA 31
Carlos Eduardo Mansur PÁGINA 32
MÁRCIO ALVES
El gringo. Guerrero treina finalização no Ninho do Urubu: o atacante está confirmado no Flamengo contra o Botafogo
Indústria brasileira
MARCELO CARNAVAL
Estrela. Jefferson chuta a bola no treinamento do Botafogo: o goleiro é o maior trunfo alvinegro no clássico desta tarde
COR LOCAL
As atrações do Fla x Botafogo de hoje para enfrentar a
dura concorrência do Barcelona x Real Madrid na TV
J
CARLOS EDUARDO MANSUR
[email protected]
á não tem sido fácil a vida do
Campeonato Estadual em
sua tentativa de atrair a atenção do torcedor. Fórmula de
disputa, duração e falta de
estádios não ajudam. E hoje,
o Flamengo x Botafogo das
16h encontrou abrigo em Juiz
de Fora. Os 180km que separam o Rio da cidade mineira
fazem com que a TV seja o veículo em
que boa parte dos torcedores cariocas
acompanhe o jogo. E a concorrência será
dura: meia hora antes começa nada menos que Barcelona x Real Madrid.
Flamengo e Botafogo será transmitido
pelo Première. Já o clássico espanhol vai
ao ar pela ESPN Brasil.
Mas há motivos para se dedicar ao tradicional duelo carioca a devida atenção.
Haverá atrações no estádio Radialista
Mário Helênio — certamente menos midiáticas e globais do que as que desfilarão no Camp Nou, por onde passarão
Messi, Neymar, Suárez, Cristiano Ronaldo e Benzema, por exemplo. Mas certamente muito mais ligadas à memória
afetiva do torcedor do Rio.
Será o primeiro encontro do ano entre
Flamengo e Botafogo. Nele, há um certo
ar de decisão para os rubro-negros. Uma
nova derrota do time que, até agora, somou cinco pontos em 12 possíveis na Ta-
ça Guanabara, pode aproximá-lo de uma
eliminação precoce.
— Não tenho receio, mas temos três jogos que precisamos vencer. O primeiro é
contra o Botafogo. Dependemos da gente
— disse o zagueiro Juan, lembrando que
uma vitória deverá colocar o Flamengo
no G-4 da Taça Guanabara.
Outra atração do jogo: estaremos diante de mais uma etapa da maratona de Paolo Guerrero? O atacante defendeu o Peru na terça-feira, em Montevidéu, em seguida viajou para Brasília e enfrentou o
Vasco, na quarta. Está relacionado para o
clássico de hoje.
O Botafogo repete, sob o comando de
Ricardo Gomes, um traço que o caracterizou na temporada passada: um time
FICHA DO JOGO
CHARME DO CLÁSSICO
BOTAFOGO: Jefferson, Luis Ricardo
1
(Diego), Joel Carli, Renan Fonseca e
Diogo; Airton (Fernandes), Bruno Silva,
Rodrigo Lindoso e Gegê; Salgueiro
(Gervasio Núñez) e Ribamar.
FLAMENGO: Paulo Victor, Rodinei,
Wallace, Juan e Jorge; Cuéllar, Willian
Arão e Ederson; Gabriel (Marcelo
Cirino), Guerrero e Emerson.
JUIZ: Luís Antônio Silva dos Santos.
LOCAL: Estádio Mário Helênio, em Juiz
de Fora.
HORÁRIO: 16h.
TRANSMISSÃO: Premiere e Rádios
Globo e CBN.
HISTÓRIA. Desde 1913, os
rivais já se enfrentaram mais de
350 vezes. O clássico faz parte
da história do futebol carioca e
da memória afetiva dos
torcedores.
2
DECISÃO. Pressionado pelos
últimos resultados, o Flamengo
precisa vencer. Caso contrário,
corre risco sério de eliminação.
3
SUPERAÇÃO DE GUERRERO. O
desacreditado, formado com orçamento
limitado e que volta a ter resultados acima do esperado. Desvendar os segredos
deste Botafogo é sempre uma razão para
estar atento ao alvinegro.
Nos clássicos, o desempenho até aqui
reforça a interrogação sobre o real potencial dos alvinegros.
— Até agora, vencemos um clássico,
perdemos outro e empatamos dois. Vencer este jogo seria importante pelos três
pontos e pela moral. Contra o Vasco, perdemos jogando bem. Contra o Flamengo,
queremos jogar bem e ganhar — disse o
técnico Ricardo Gomes. l
Na página 33, mais um confronto entre
Messi e Cristiano Ronaldo na Espanha
atacante jogou pelo Peru na
terça-feira, pelo Flamengo na
quarta e está relacionado hoje.
Vai continuar a maratona?
4
SURPRESA ALVINEGRA. Pelo
segundo ano seguido, o
Botafogo tem bons resultados
com um time desacreditado.
5
JEFFERSON. O goleiro, preterido
na seleção, comanda a melhor
defesa do Estadual: cinco gols
sofridos em 12 jogos.
Com classificação encaminhada, Fluminense pensa no Brasileiro
Time enfrenta Madureira
hoje, em Macaé, e
Levir Culpi admite
necessidade de reforços
Em posição confortável na tabela da Taça Guanabara, o Fluminense pode dar um passo
grande rumo à classificação para as semifinais do Carioca em
caso de vitória sobre o Madureira, hoje, às 18h30m, em Macaé.
O tricolor soma oito pontos e,
dependendo dos resultados do
fim de semana, pode garantir a
vaga na próxima rodada, quando enfrentará o Volta Redonda,
no Estádio Raulino de Oliveira.
Porém, a tranquilidade nas
Laranjeiras após a chegada de
Levir Culpi e a invencibilidade
de seis partidas — três vitórias
e três empates — não escondem as questões a serem resolvidas pelo clube.
O técnico já apontou algu-
FICHA DO JOGO
Campeonato Carioca - Taça Guanabara
CLASSIFICAÇÃO
GRUPO C
1
2
3
4
5
6
7
8
Vasco
Fluminense
Botafogo
Volta Redonda
Boavista
Flamengo
Madureira
Bangu
MADUREIRA: Rafael, Formiga,
QUINTA RODADA
P J V E D GP GC ÚLTIMOS JOGOS
10
8
7
6
6
5
1
1
4
4
4
4
4
4
4
4
3
2
2
2
2
1
0
0
1
2
1
0
0
2
1
1
0
0
1
2
2
1
3
3
5
5
4
4
2
2
2
3
1
1
2
4
4
2
5
8
V
E
E
D
V
V
D
D
V
E
V
V
D
E
D
D
V
V
D
V
D
D
E
E
E
V
V
D
V
E
D
E
HOJE
15:30
16:00
18:30
mas. A um mês do Brasileiro,
Levir retoma um discurso comum nesta época do ano: reforços para a principal competição da temporada. Ele não
desmerece o elenco que tem
em mãos e aponta a movimen-
x
x
x
Boavista
Flamengo
Fluminense
Vasco
x
Volta Redonda
Flamengo
Vasco
x
x
Boavista
Madureira
Volta Redonda
Botafogo
x
x
Fluminense
Bangu
AMANHÃ
16:00
SEXTA RODADA
9/4
16:00
18:30
10/4
16:00
18:30
P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates;
D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou
Bangu
Botafogo
Madureira
Regulamento: O vencedor da Taça Guanabara vai para as semifinais
com os outros três melhores desta fase, tendo a vantagem do empate.
Os dois classificados nas semifinais decidem o Campeonato Estadual.
tação do mercado a partir do
fim dos estaduais como motivo para estar atento.
— Para algumas posições,
precisamos de reposição. E estamos no mercado. É importante olhar todo o elenco. O ní-
vel é parecido. Não gostaria de
expor a minha ideia antes de
resolver a situação. Ideias são
contrariadas. Todo mundo as
tem. Estamos analisando nomes, vídeos... Temos algumas
possibilidades de trazer joga-
Daniel, Jorge Fellipe e Ayrton;
William, Rezende e Jéferson;
Arthur Faria, João Carlos e
Geovane Maranhão.
FLUMINENSE: Diego Cavalieri,
Jonathan, Gum, Henrique e
Giovanni; Pierre, Douglas,
Cícero, Gustavo Scarpa e
Marcos Júnior; Fred.
JUIZ: Rodrigo Carvalhaes de
Miranda.
LOCAL: Moacyrzão, em Macaé.
HORÁRIO: 18h30m.
TRANSMISSÃO: Premiere e
Rádios Globo e CBN.
dores com nível para atuar no
Fluminense. Se for muito jovem, prefiro olhar para as categorias de base. Precisamos,
sim, contratar, especialmente
para o Brasileiro — afirmou.
Para quem já perdeu Diego
Souza de forma inusitada — o
jogador pediu para sair e voltar
ao Sport, seu ex-clube —, Levir
está escaldado caso outro nome relevante seja levado por
outro time. O da vez é o zagueiro Gum, que está nos planos
do Palmeiras.
— É o mesmo caso do Diego
Souza. Uma possível saída faz
parte do profissionalismo. Não
tenho impedimento nenhum.
Mas continuar com ele seria
ótimo. Nessa, eu acompanho o
o mercado —disse.
DESFALQUES PARA HOJE
No jogo desta noite, o time terá
os desfalques do atacante Osvaldo e do meia Gérson, ambos vetados pelo departamento médico. Ontem, o treinador
testou o time com Marcos Júnior e Douglas e terá de mexer
na equipe titular. Com as mudanças, Cícero atuará mais
adiantado. Wellington Silva foi
poupado e ficará na reserva. l
SEGUNDO
CADERNO
OGLOBO
Tradição
renovada
Novo dono da Livraria Leonardo da
Vinci, no Centro, Daniel Louzada fala
sobre os planos para a reabertura
da loja, prevista para este mês
PÁGINA 6
SÁBADO 2.4.2016
oglobo.com.br
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃ0/WALTER CARVALHO
DIVULGAÇÃO/ZECA PEREIRA GUIMARÃES
Mosaico. Cena de “As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana”, que abre a mostra; à direita, de cima para baixo: o brasileiro Armando Freitas Filho, o argentino Ricardo Piglia e o colombiano García Márquez (com Fidel), em outros filmes
Pela primeira vez, É Tudo Verdade, que começa na sexta,
aposta em documentários com recortes sobre lite
ratura
PALAVRA ESTILHAÇA
DA
MARIANA FILGUEIRAS E SILVIO ESSINGER
[email protected]
M
uito antes da computação em nuvem,
havia a Nuvem Cigana: uma outra forma
de compartilhamento de informações,
analógica e movida a calor humano, que teve seu
lugar no Rio de Janeiro dos anos 1970, reunindo
mais de cem empolgados garotos — muitos deles, poetas de fato; outros tantos, figuras que orbitavam a poesia naqueles tempos em que engajamento e desbunde cindiam a juventude brasileira. A história é contada em “As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana”, de Claudio Lobato (poeta da Nuvem) e Paola Vieira, filme que abre na
próxima sexta a 21ª edição carioca do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade.
A palavra — em toda a sua fragmentação e sua
potência — é, neste ano, estrela de oito filmes do
festival: “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, de Walter Carvalho, sobre Armando Freitas Filho; “Cacaso na corda bamba”, de
José Salles e PH Souza, retrato do poeta marginal;
“327 cadernos”, de Andrés Di Tella, sobre o argentino Ricardo Piglia; “Pan-cinema permanente”, de
Carlos Nader, sobre Waly Salomão; “Gabo: a criação de García Márquez”, de Justin Webster; “Vida
ativa: espírito de Hannah Arendt”, de Ada Ushpiz;
“E para que poetas em tempo de pobreza?”, curta
de Carlos Adriano; além de “Nuvem cigana”.
— Nunca tivemos filmes sobre literatura tão
marcantes na história do festival. Este é um ano
especial nesse sentido: só entre os nacionais, há
quatro filmes excepcionais. Eles passam ao largo
da estrutura mais clássica de cinema, assumindo
um discurso assinado sobre um universo específico — anima-se Amir Labaki, diretor do festival.
“POÉTICA” MAIS IMPORTANTE DO QUE A POESIA
“As incríveis artimanhas da Nuvem Cigana” revive os dias em que poetas como Chacal, Ronaldo Bastos, Bernardo Vilhena e Ronaldo
Santos, agregados a fotógrafos, cineastas, músicos e outros artistas, tomaram como exemplo a experiência coletiva de índios e hippies
para iniciar uma produção underground que
gerou livros, filmes, programas de rádio, uma
revista (“Almanaque vitalidade”), as Artimanhas (improvisos poéticos que acabavam em
samba), bloco de carnaval (o Charme da Simpatia), inesquecíveis peladas e performances
teatrais. O espírito era o de que a poética era
mais importante que a poesia.
— A gente não tinha uma compreensão racional daquilo — conta Claudio Lobato. — A nossa
ligação não era só com a poesia, era com a vida.
E ela foi nos levando para outros lados: o sam-
ba, o carnaval, o futebol, a produção gráfica...
Lidávamos com dois conceitos que ainda não
existiam, os de multimídia e de coletivo.
O longa era um projeto que Claudio Lobato começou a alimentar em 2004, quando organizou
um filme para a comemoração dos 30 anos da Nuvem Cigana. Havia uma fartura de material fotográfico e alguns filmes em super-8. Numa pesquisa aprofundada, apareceram outros filmes, fotos,
gravações de áudio, cadernos das reuniões, “coisas
que as pessoas nem lembravam que tinham”. Um
material heterogêneo, que foi organizado no documentário “meio como uma colagem, que é como fazíamos as nossas publicações”.
— No reencontro com esse material, vimos
que ele inspirava uma releitura por intermédio
dos recursos digitais. E conseguimos chegar a
uma linguagem nossa. O filme namora o cinema experimental nessa busca de se aproximar
da poesia — observa Lobato.
Foi também para se aproximar da poesia que
Walter Carvalho criou uma das cenas mais belas
do documentário “Manter a linha da cordilheira
sem o desmaio da planície”, uma viagem pela poesia do escritor Armando Freitas Filho. Na cena,
uma mulher tenta tocar um objeto voador que o
tempo inteiro lhe escapa das mãos. É uma metá-
fora do nascimento da poesia, explica ele:
— Como o poeta escreve a primeira palavra
do poema? Ela tenta pegar a palavra e não consegue, é a “luta vã” da qual falava Drummond.
Não queria fazer um filme que fosse só o Armando falando de poesia. Queria criar imagens
poéticas também — comenta Carvalho.
No documentário, o autor de 16 livros e ganhador de três Jabutis faz poesia o tempo inteiro. Faz
poesia quando vasculha velhos cadernos, quando
conta a última conversa que teve com Ana Cristina
Cesar antes do suicídio, quando chumba os dedos
na máquina de escrever; ou até quando responde
a uma pergunta a si mesmo (“O que é um verso livre? Uma mistura de ar e músculo”).
— A poesia é a maneira pela qual eu me relaciono com a vida. Tenho a poesia como eixo de sustentação da existência. Sempre tive curiosidade
de saber: como vive um poeta? Ele pega ônibus?
Pela proximidade com o Armando, comecei a filmá-lo. E o filme é essa vontade danada de entender como ele vai cavando as palavras com as
mãos. Se fazer poesia é voar fora da asa, fazer um
documentário é voar junto — brinca Carvalho.
O próprio Walter Carvalho é também personagem do filme sobre Cacaso, o poeta marginal por
excelência da Zona Sul carioca, que morreu de enfarte aos 43 anos, em 1987. E que acabou ficando
mais conhecido pelas muitas canções que compôs
do que pela obra poética, defende o diretor.
— É um filme com muitas imagens inéditas
de arquivo pessoal, muitos desenhos que não
são conhecidos e que mostram o seu processo explosivo de criação — comenta PH Souza,
um dos diretores do documentário “Cacaso
na corda bamba”. — É um filme biográfico,
sim, foi uma decisão que tomamos, por ser
um personagem que ainda precisa ser mais
conhecido pelo público em geral, apesar de
ter morrido fazendo músicas com Tom Jobim.
E Cacaso tinha muito desejo de mostrar esses
cadernos. O filme atende a esse apelo. l
É TUDO VERDADE — 21º FESTIVAL INTERNACIONAL DE
DOCUMENTÁRIOS
ONDE: Espaço Itaú, IMS e Espaço Cultural BNDES. QUANDO: 7 a 17/4.
QUANTO: Grátis. PROGRAMAÇÃO: etudoverdade.com.br.
NA WEB
VÍDEO
oglobo.com.br/cultura
Veja trailers dos filmes
l O GLOBO
2
l Segundo Caderno l
[email protected]
MARCIO
TAVARES
D’AMARAL
|
|
Sábado 2 .4 .2016
Gente
Boa
|
CLEO GUIMARÃES
Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/
COM MARIA FORTUNA (INTERINA), FERNANDA PONTES E GABRIELA LEAL
|
As estratégias do bolo
No século IV a. C. os gregos começaram a perder
a medida das marés, do mar que sobe e faz
sumir a praia, do mar que foge quando a praia
vem. As marés do mundo, não os conceitos na
cabeça e as palavras na boca. Essa foi a mais
antiga, e mais bela, experiência da verdade. E do
que são o mundo e a vida. Nós a perdemos de
vista. Vieram os sofistas no século V, disseram
que tudo era caos, nada podia ser conhecido,
sobrava só a linguagem para convencer os
ignorantes. A linguagem, o poder. Os filósofos do
IV reagiram salvando a verdade onde puderam,
no conhecimento, e iniciaram o processo de
ódio às aparências. “As aparências enganam”,
poderiam ter dito. A realidade “sensível” é o
território do engano, do que parece, mas não é.
Terra dos inimigos da verdade, dos sofistas
cultivadores do caos. Ora, a “realidade sensível”
é simplesmente o mundo. É como se o mundo
tivesse ficado inimigo da verdade. A filosofia fez
sem dúvida grandes coisas. Mas fez também
essa. Pulou fora do Real.
UMA NOITE, VÁRIOS ESTILOS
Festa de “Liberdade, liberdade” tem decotaço, costeletas, jeans e... tipoia
FOTOS DE MARCOS RAMOS
E
xcelentes sistemas foram construídos apesar
do mundo mantido à distância. Esse banimento medroso foi sem dúvida uma dor para a filosofia. Mas precisava ser assim. Ou os sofistas acabariam por ter razão, e tudo mergulharia no relativismo
e na indiferença: fim da filosofia, fim da verdade. A
filosofia se fez protetora da verdade. Era missão sagrada. Longamente cavalgou a arte de dizer o verdadeiro e afastar as aparências, o caos.
O tempo rolou. E no final do século XX os sofistas
voltaram. O mundo se tornou tão hipercomplexo, tão
contraído, que já não se pode dizer a verdade com a
convicção cuidadosa dos filósofos. A verdade se foi. A
filosofia acabou. Assim dizem, assim dizem! O que ficou foram as aparências e as opiniões. Ficaram as
versões. Versões contra versões. A verdade morreu na
opinião, no rumor. Um velho sol grego se pôs. Não
creio que nunca mais se levante. Até porque esta nossa parte do mundo há dois mil anos tem dois sóis no
seu céu. O grego e o judaico, o da razão e o da fé. As
luzes são diferentes. Piscam uma para a outra. Vagalumes na noite, impedem uma definitiva escuridão.
Enquanto isso, vivemos nas opiniões. Criamos
versões para as realidades que não olhamos com
amor. Os fatos viram inimigos quando não concordam com a nossa opinião sobre eles. E eles são tão
complexos... Têm tantas variáveis... Fatos cruzados,
sins e nãos, bens e males, vai-se saber... Então escolhemos, alinhamo-nos com a melhor aparência. E
decretamos a falsidade de tudo que se oponha à nossa certeza. Como se fosse verdade. É daí que irradia a
horrível ideologia do “nós e eles”. Opiniões que se batem — que não precisam ter cuidado com o Real, pesar o “sim e não” que alimentou a melhor filosofia —
ganharam o mundo como reinado. São soberanas.
Opiniões e versões. Colapso da verdade.
Diz-se que a verdade é a primeira vítima da guerra.
E é mesmo. As guerras produzem desinformação. No
mundo das opiniões em estado puro, soterrado por
informações excessivas, procurar a verdade dá um
tamanho trabalho... Tanto cansaço... Melhor então
consumir as informações mais palatáveis. As que fazem melhor figura. Dão melhores imagens. De um
mundo de produção da verdade para um do consumo de imagens — que virada bruta! Mas aqui estamos. Nós e eles, os bons e os maus. Já escrevi sobre o
maniqueísmo. Pois é. A luta de morte no pensamento é uma forma aguda de maniqueísmo. Em situações de guerra ou revolução, o maniqueísmo impera. O problema é que não há nenhuma revolução no
horizonte. Nenhum modelo novo que encerre a colisão das opiniões sem substância. O que há é uma
guerra de extermínio. Alguém precisa morrer. Cair.
Levar rasteira. Ter a cabeça esmagada. E nem assim a
guerra terminará. Porque nada de verdadeiramente
novo será posto no lugar vazio. Vivemos cheios de
vazios. Pôr um no lugar de outro é só mudar a direção do esvaziamento. Vazios ficamos.
Isso tudo tem a ver com a situação violenta que hoje vivemos no Brasil. E não é teórico. Porque, enquanto nos matamos, os pobres olham e esperam.
Não como quem tem esperança. Esperam para ver se
alguém os porá em cena. Eles estão fora. Os economistas discutem sua fome em números. E divergem
sobre as estratégias do bolo. Fazê-lo crescer para depois distribuir, ou distribuí-lo enquanto vai crescendo. Pedir à fome que espere para se fartar ou ir matando-a aos pouquinhos, talvez devagar demais.
Mas o problema não é o bolo. É quem controla o
forno. Quem determina a altura do fogo. Crescer e
distribuir ou distribuir e crescer são caminhos opostos. E em relação a essa oposição já não resolve nada
ter e manter uma opinião. Há a fome dos pobres pendurada nessas contas. E a fome é real. Não é questão
de ponto de vista.
Chamem os filósofos de volta. Eles estão acostumados
aos paradoxos. E prontos para voltar a amar a vida. l
2ª
JOSÉ
EDUARDO
AGUALUSA
3ª
MARCUS
FAUSTINI
4ª
FRED
COELHO
5ª
6ª
FLÁVIA ZÉLIA
OLIVEIRA DUNCAN
SAB
MARCIO
TAVARES
D'AMARAL
DOM
FERNANDO
GABEIRA
O que elas vestem. Sheron Menezzes; Maitê Proença; a protagonista Andréia Horta, acima, e seu decotaço; e à direita, Lilia Cabral: todos os gostos
No salão. Maria Ribeiro e Francisca Pinto; o diretor Vinicius Coimbra e Yanna Lavigne; Mateus Solano, de braço quebrado, e o menino Gabriel Palhares
P
rotagonista de “Liberdade, liberdade”, a atriz Andréia Horta bancou com classe um decotaço na
festa de lançamento da nova novela das
23h, anteontem, na Villa Riso, em São
Conrado. “Não estou acostumada, mas
me sinto superbem, não tenho medo”,
disse ela, dentro de um macacão preto
com uma abertura entre os seios que
chegava quase até o umbigo. “Não vai
sair nada do lugar. Trouxe um lenço
para usar quando estiver sentada,
porque aí o decote fica maior”.
l
Já entre os homens foi um festival de
barbas, bigodes e costeletas. Ambientado no século XVIII, o enredo da novela mistura História e ficção para
contar a vida de Joaquina (Andréia
Horta), a filha de Tiradentes, após a
Inconfidência Mineira.
l
“Tô gerando essa barba tem uns
nove meses”, disse Bruce Gomlevsky, que interpreta um feitor
de escravos na trama. O ator e
diretor dizia estar muito feliz por
participar de uma história que
provoque uma reflexão sobre a
humanidade. “No momento em que
estamos vivendo, é muito importante
tocar em temas como o racismo, infelizmente, ainda tão atuais”.
l
Dalton Vigh, outro barbudaço, parecia um tanto desconfortável, ali perto. “Achei que fosse só uma coletiva
de imprensa, tô me sentindo mal
arrumado, não sabia que era festa”,
comentou ele, de tênis e calça cáqui. Dalton dizia que, para as cenas com cavalo e lutas de espadas, precisou começar a se exercitar. “Tô fazendo ginástica só por
Casal. Nathalia Dill
e o namorado
Sergio Guizé
causa da novela, antes não fazia nada,
nada. I love sedentarismo”. Sobre a tensão política atual no país, que os repórteres repercutiam com os atores, ele foi
econômico: “A trama é propícia para o
momento de indignação que vivemos”.
l
Lilia Cabral respondia a perguntas
mais amenas. “O brinco é de verdade, e é meu, não é emprestado”. Na
festa, ela não desgrudou da filha
Giulia, de 19 anos, que também
quer ser atriz, e ruborizava cada
vez que algum jornalista puxava
assunto com ela. “Sou tímida, mas
no palco isso muda!”, contou.
“Gosto de acompanhar minha
mãe, é uma inspiração constante”.
l
Lilia desabafou sobre o calorão
durante as gravações em que
veste figurino de época. “A gente
quer se livrar logo da cena. Fico
toda suada”, dizia. “Sou capaz de
ficar umas 12 horas em pé, mas
está difícil...”.
l
Maitê Proença, que na trama tem um
escravo particular que lhe presta favores sexuais, falava sobre a quantidade
de personagens com ar de vilão na
novela. “Naquela época todo mundo
era mais bruto e rígido porque não
tinha ninguém para fiscalizar. O ser
humano, quando não tem ninguém olhando, é selvagem”.
l
Ausência sentida na noite era a
de Letícia Sabatella, que vive a
mãe de Joaquina e mulher de
Tiradentes. A atriz não foi à festa
porque, no mesmo dia, participava de uma reunião de apoio
a Dilma Rousseff, em Brasília.
l Segundo Caderno l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR
OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br
OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL
Cinema ‘A senhora da van’
Show Nação Zumbi
Show Matheus VK
Entre risos
e dramas
Há 20 anos, da lama aos caos
Festa 0800 para a cena alternativa
“Afrociberdelia”, do Nação Zumbi, está completando 20 anos, e, para comemorar, o grupo
fará um show hoje no Circo, tocando todas as
faixas do disco, na ordem. Antes da apresentação, será exibido um documentário sobre
Chico Science, morto em 1997.
O cantor Matheus VK comanda hoje a festa
de abertura do “Curto circuito”, no Teatro
Ipanema. Com curadoria
de Thiago Vedova, o projeto vai reunir representantes da cena alternativa, sempre às sextas.
Participações especiais do
cantor Jonas Sá, do ator
Eber Inácio e da
dançarina Upsula.
Na comédia dramática de Nicholas Hytner, Maggie Smith
vive Mary Shepherd,
que mora numa van estacionada num bairro
de classe média. Seus hábitos excêntricos e
pouco higiênicos incomodam a vizinhança,
que tenta expulsá-la. Mas um escritor oferece
uma vaga para ela em sua garagem.
ONDE: Espaço Itaú de Cinema 5.. Praia de Botafogo 316, Botafogo
(2559-8751). QUANDO: Sáb, à meia-noite. QUANTO: R$ 32.
CLASSIFICAÇÃO: 10 anos.
ONDE: Circo Voador. Rua dos Arcos s/nº, Lapa (2533-0354).
QUANDO: Sáb, às 23h. QUANTO: R$ 120 (quem levar 1Kg de
alimento paga meia-entrada). CLASSIFICAÇÃO: 18 anos.
O Bonequinho viu
ONDE: Teatro Ipanema. Rua Prudente de Morais 824, Ipanema
(2523-9794). QUANDO: Sáb, às 20h. QUANTO: Grátis (senhas
distribuídas a partir das 18h). CLASSIFICAÇÃO: 18 anos.
Evento Junta Local na Bhering
Tudo junto e misturado no baile
Pela primeira vez, a Junta Local, feira de
pequenos produtores da cidade, se une ao
Circuito Interno da Antiga fábrica da Bhering
e, pelos corredores históricos de seu edifício
dos anos 1930 na Região Portuária, que abre
mensalmente ao público a produção dos
ateliês do local, vai celebrar o início de outono também com produtos artesanais como
pães, bolos, sanduíches e chocolates. Completam a lista os expositores de design, moda, decoração e artes plásticas da casa, além
l 3
de atrações musicais.
Às 13h, o som começa com a apresentação
da Favela Brass, a big band formada por crianças do projeto musical da favela Pereirão, em
Laranjeiras. Às 16h, será a vez de a Go East
Orkestar (foto) realizar um baile inspirado na
sonoridade das músicas tradicionais do Leste
Europeu. Nas picapes, a crew Men At Work 585
comanda a pista durante todo o dia com a
seleção de vinis da Supernut MaraRecords.
— Muitos dos ritmos do Leste Europeu, co-
COMÉDIA DRAMÁTICA
‘
A juventude’
Para André Miranda: “Paolo Sorrentino conta
histórias com belas imagens, misturando o clássico com o contemporâneo”. Para Marcelo Janot:
“Se a intenção era provocar a sensação de que o
tédio não tem fim, Sorrentino conseguiu.”
André Miranda e Marcelo Janot
DRAMA
‘A garota de fogo’
No cenário da crise econômica espanhola, o
início com jeito de drama familiar agridoce logo
dará lugar a um envolvente suspense cheio de
peculiaridades à la Pedro Almodóvar.
Marcelo Janot
DOCUMENTÁRIO
‘Quanto tempo o tempo tem’
mo a polca, são bem parecidos com as músicas
típicas do nosso Nordeste. Nesta apresentação,
vamos começar a dar a nossa caminhada rumo
a esse tipo de mistura em nosso repertório —
diz Daniel Vasques, maestro e saxofonista da
Go East Orkestar. (Gilberto Porcidonio)
A percepção da passagem do tempo no mundo
contemporâneo dá origem a um documentário valioso
sobre a sensação de que vivemos de maneira acelerada rumo a lugar nenhum. Depoimentos de André
Comte-Sponville e Domenico De Masi, entre outros.
Sérgio Rizzo
ONDE: Antiga Fábrica da Bhering. Rua Orestes 28, Santo Cristo.
QUANDO: Sáb, do meio-dia às 20h.
QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
COMÉDIA ROMÂNTICA
‘Casamento grego 2’
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
O maior defeito do clã Portokalos é a perfeição.
Seus membros são calorosos; seus defeitos, folclóricos; os confrontos, edificantes; e as transgressões,
mínimas. O filme aposta, com previsibilidade e
algum charme, na zona de conforto familiar.
Susana Schild
ANIMAÇÃO
‘Norm e os invencíveis’
O esforço do simpático urso Norm para conter a
ganância do homem no Ártico rende um entretenimento dotado de mensagem oportuna e personagens coadjuvantes divertidos — em especial,
entre os humanos. Mas o resultado é modesto.
Daniel Schenker
DRAMA
‘Nossa irmã mais nova’
O filme carece da habitual sensibilidade e precisão do diretor que é considerado um herdeiro do
cinema de Yasujiro Ozu e Mikio Naruse. As relações são — apenas — cordiais e ingênuas e não
provocam reflexão sobre os valores familiares.
Simone Zuccolotto
DRAMA
Evento Afro Circo
Infantil ‘Bisa Bia, Bisa Bel’
Infantil ‘Detetives do Prédio Azul’
O mundo
dos iorubás
Teatro de Ana Maria Machado grátis
Cenário chega à
Quinta da Boa Vista
Braço (e perna e
cabeça) circense do
Afroreggae, o Afro
Circo apresenta, no
Teatro Carlos Gomes, o espetáculo “Gênesis
— O mix da criação”. Dirigidos por Johayne
Ildefonso, 12 atores no palco contam, com
técnicas circenses, a criação do mundo pelo
olhar dos iorubás.
O texto de Ana Maria Machado “Bisa Bia, Bisa
Bel”, com adaptação e direção de Joana Lebreiro,
reestreia em temporada
gratuita na Barra.
No enredo, a
relação imaginária de uma
menina e
sua bisavó,
que ela viu
por foto.
ONDE: Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes s/nº, Centro (22150556). QUANDO: Sex, às 20h. Sáb, às 16h e às 20h. Dom, às 20h.
Até 22 de maio. QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
ONDE: Cidade das Artes. Av. das Américas 5.300, Barra (33250448). QUANDO: Sáb e dom, às 16h. Qua (dias 6 e 13), às 10h e às
14h. Até 13 de abril. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
TRÊS MONÓLOGOS EM CARTAZ
A LINHA TÊNUE
ENTRE O REAL
E A FICÇÃO
Marcelo Aquino
protagoniza “Entre
corvos”, estreia do
Espaço Sesc. No
texto, uma parceria
sua com Ary Coslov,
um ator não
consegue distinguir
entre ficção e
realidade. Qui a sáb,
às 21h. Dom, às 20h.
R$ 20. 16 anos.
A JUVENTUDE DE
PAULO BETTI
EM CENA
Hoje (às 21h) e amanhã (às 20h), o ator
Paulo Betti leva
textos que escreveu
durante sua juventude ao palco do
Galpão Gamboa,
dentro da mostra
Gamboavista, com o
espetáculo “Autobiografia autorizada".
R$ 20. 12 anos.
DIRETO DA
CARAVELA DE
COLOMBO
Julio Adrião volta com
seu personagem
Johan Padan, um
zé-ninguém que
escapou da fogueira
da Inquisição, na
apresentação de “A
descoberta das Américas”, de Dario Fo, no
Parque das Ruínas.
Hoje e amanhã, às
19h. Grátis. 14 anos.
Os atores de “Detetives do Prédio Azul”,
do canal Gloob, estarão na Quinta da Boa Vista neste fim de semana para o evento de lançamento da sétima temporada da série. Num cenário, grupos
de dez crianças são convidadas a brincar
com a ajuda de instrutores, seguindo pistas
até chegarem ao clubinho secreto.
ONDE: Quinta da Boa Vista. Av. Pedro II s/nº, São Cristóvão.
QUANDO: Sáb e dom, das 9 às 17h. QUANTO: Grátis.
CLASSIFICAÇÃO: Livre.
‘Para minha amada morta’
Constrói com sensibilidade e precisão o universo
de um marido em luto que tem uma revelação
devastadora. Mas quando chega a hora de trabalhar o thriller, o filme perde parte da personalidade.
Ruy Gardnier
COMÉDIA DRAMÁTICA
‘Zoom’
É um filme fascinado com a própria capacidade de
reciclar formas e técnicas de narração, o que faz
razoavelmente bem, sem, no entanto, estender suas
ambições aos temas trazidos por seus personagens.
Carlos Helí de Almeida
Nada como passar o fim de semana com um bom livro.
4
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Sábado 2 .4 .2016
Os destaques de hoje na TV
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
GloboNews, 20h30m
Na estrada atrás
do sonho
O documentário “Lars — Nada
mais importa” acompanha o empenho de dois irmãos para realizar
o sonho de um terceiro, Tom
Spicer (foto), que tem Síndrome
do X Frágil e quer conhecer Lars
Ulrich, baterista do Metallica.
Natalia Castro
[email protected]
SBT, 21h30m
Globo, 7h
RedeTV!, 22h15m
TV Brasil, 12h30m
‘BBQ Brasil’
‘Como será?’
‘Operação de risco’
‘Programa especial’
Ticiana Villas Boas apresenta
a edição especial de repescagem, que marca a metade
dos episódios. Ela definirá os
dois participantes que voltarão ao reality que busca o
melhor churrasqueiro.
O programa apresentado por
Sandra Annenberg estreia o
quadro “Atrás da medalha”,
em que jovens atletas e paratletas relembram suas carreiras e mostram quem esteve
por trás delas desde o início.
Especialista em segurança
pública, Jorge Lordello
(foto) segue na nova temporada do reality que
mostra os bastidores de
grandes operações da
polícia brasileira.
O programa registra o Dia
Mundial de Conscientização
do Autismo com uma homenagem a pessoas com o
transtorno de desenvolvimento, como o cartunista
Rodrigo Tramonte (foto).
Horóscopo
POR CLAUDIA LISBOA
(21/3 a 20/4)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Libra. Regente: Marte.
Você busca novas aventuras.
Afinal, tudo o que lhe possibilita ir
além o deixa fascinado. Por outro
lado, não tem interesse no que
está ao lado. É tempo de se satisfazer com conquistas alcançadas.
LIBRA
(23/9 a 22/10)
Elemento: Ar. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Áries. Regente: Vênus.
Ao se deparar com conflitos e
ânimos exaltados, o melhor a fazer
é agir de forma que as hostilidades sejam reduzidas. É tempo de
se colocar com firmeza, sem
perder a doçura.
TOURO
(21/4 a 20/5)
Elemento: Terra. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Escorpião.
Regente: Vênus.
Atitudes que o auxiliam a produzir
encontros duradouros trazem
segurança. Ao agir com doçura,
você pode estar assegurando
momentos de grande conforto. É
tempo de realçar suas qualidades
ESCORPIÃO
(23/10 a 21/11)
Elemento: Água. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Touro.
Regente: Plutão.
A cautela é base de uma boa
estrutura emocional. Sendo assim,
quando a ansiedade toma conta, é
preciso ser um pouco mais prudente nas ações. É tempo de ser
mais generoso com as pessoas.
GÊMEOS
(21/5 a 20/6)
Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário.
Regente: Mercúrio.
O aprimoramento dos potenciais é
uma forma inteligente de se preparar para mudanças que venham
a ocorrer. É tempo de investir no
saber para se adaptar às situações que não estavam nos planos.
SAGITÁRIO
(22/11 a 21/12)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Gêmeos. Regente: Júpiter.
É possível que você esteja inclinado a agir com tolerância e paciência, movido pela vontade de
proporcionar o bem-estar. É tempo
de se colocar no lugar do outro e
compreender suas necessidades.
CÂNCER
LEÃO
(21/6 a 22/7)
Elemento: Água. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Capricórnio. Regente: Lua.
Neste momento, sua imaginação
pode lhe fornecer boas ideias para
lidar com pequenos problemas.
Pequenos, porém essenciais para
o bom andamento da vida. É
tempo de confiar na intuição.
CAPRICÓRNIO
(22/12 a 20/1)
Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Câncer. Regente: Saturno.
(23/7 a 22/8)
Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Aquário.
Regente: Sol.
Quando você cultiva o hábito de
compartilhar, pode encontrar
modos criativos de negociar diferenças. É tempo de estar aberto
ao que o outro pensa, mesmo que
você não concorde com ele.
AQUÁRIO
Quando existe concentração, você
sente mais segurança de que
pode chegar ao destino almejado
e realizar suas ambições. É tempo
de se utilizar da disciplina para
realizar suas ideias mais criativas.
(21/1 a 19/2)
Elemento: Ar. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Leão.
Regente: Urano.
A união fortalece e facilita o alcance de metas. Isso porque corações
e mentes estarão trabalhando
juntos para superar dificuldades. É
tempo de unir forças para realizar
os desejos.
Logodesafio
POR SÔNIA PERDIGÃO
VIRGEM
(23/8 a 22/9)
Elemento: Terra. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Peixes. Regente: Mercúrio.
O pragmatismo faz com que você
precise ver para crer. Questionar é
parte essencial de sua natureza
indagadora. É tempo de ter delicadeza para mostrar a realidade a
quem insiste em não enxergá-la.
PEIXES
(20/2 a 20/3)
Elemento: Água. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Virgem. Regente: Netuno.
Se o poder de sedução for exercido de forma desmedida, é possível que afaste as pessoas que
deseja, em vez de aproximá-las. É
tempo de estar mais atento para
perceber os desejos do outro.
Foram encontradas 32 palavras: 20 de 5 letras, 9
de 6 letras, 3 de 7 letras, além da palavra original.
Com a sequência de letras GO foram encontradas
9 palavras.
Instruções: Encontrar a palavra original utilizando
todas as letras contidas apenas no quadro maior.
Com estas mesmas letras formar o maior número
possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar
outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio
da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra.
Não valem verbos, plurais e nomes próprios.
Solução: ácido, ávido, caído, caldo, calvo, cílio, civil, covil, dócil, laico, laivo, oliva, vadio,
vazio, vilão, viola, vício, vidão, vocal, vodca; alívio, cálido, cozida, idílio, ilíaco, lívida, lívido,
vacilo, válido; idílica, idílico, viciado; CIVILIZADO. Com a sequência de letras GO: algo,
algoz, código, diálogo, gola, gozado, lago, logo, vago.
ÁRIES
Expediente
EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected],
EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART
[email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA
FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l
CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900
l Segundo Caderno l
Sábado 2 .4 .2016
DIVULGAÇÃO
[email protected]
PATRÍCIA
KOGUT
QUARTETO
FANTÁSTICO
FLORENÇA MAZZA (INTERINA)
ANNA LUIZA SANTIAGO E RAFAELA SANTOS
MUDANÇA DE GÊNERO
A HBO vai lançar uma série
documental sobre transexuais, com
produção e direção de Tatiana Issa. As
gravações estão em curso, por todo o
país. O assunto será tema de diferentes
atrações: da novela de Gloria Perez; da
produção que Daniel Burman dirigirá
para a Globo, com Bruno Gagliasso; e
também de uma série do Canal Brasil.
Bingewatching
Separação
Com os acontecimentos
políticos pegando fogo,
muita gente não sai da
GloboNews para não perder
nenhuma notícia. O que
inspirou um gaiato da
internet a resumir: “a
GloboNews é a nova Netflix”.
Maria Luísa Mendonça está
cotada para fazer “Vade-retro”,
série de Fernanda Young e
Alexandre Machado para a
Globo. Se fechar com a
emissora, ela será a mulher de
quem Tony Ramos estará se
divorciando.
MUNIR CHATACK/RECORD
COM
EMOÇÃO
Roger Gobeth dispensou o dublê e está fazendo todas
as cenas em que seu personagem, Sólis, aparecerá
escalando na série “Sem volta”. A estreia está prevista
para o segundo semestre, na Record
‘NCIS: LA’
Ary Fontoura é
só elogios a
Camila Queiroz,
sua colega de
elenco em “Êta
mundo bom!”.
“Ela é uma
menina
talentosa,
adorável, tem
uma vontade
incrível de
aprender e
evoluir”, diz o
ator. Na novela
de Walcyr
Carrasco, ele
interpreta o pai
da personagem
de Camila,
Mafalda
OUTROS
TEMPOS
Algumas
atrizes de
“Liberdade,
liberdade”,
novela que se
passará no
século XVIII,
estão colando
fios de cabelo
nas axilas. É o
caso de Yanna
Lavigne. Tudo
porque as
mulheres não
se depilavam
naquela
época. A
equipe de
caracterização também
está fazendo
marcas de
picadas de
mosquito no
elenco.
DIVULGAÇÃO/CBS/ROBERT VOETS
CRIMES
PELO
MUNDO
GABRIELA ANTUNES, ESTAGIÁRIA*
[email protected]
A
série “NCIS: Los Angeles” e seus
protagonistas, os agentes especiais vividos por Chris O’Donnell e
LL Cool J, fazem uso de inovações tecnológicas e trocas de identidade para
conseguir seus objetivos: liderança de
audiência e solução de crimes, respectivamente. Segundo a rede americana
CBS, a franquia “NCIS”, que inclui spinoffs ambientados em Los Angeles e Nova Orleans, é a mais vista no mundo, alcançando 200 mercados em mais de 60
línguas. A série original venceu as duas
últimas edições do International Audience Award, que mede justamente índices de audiência pelo mundo. Exibida
no Brasil pelo canal A&E, às 21h de sábado, a versão “Los Angeles” chegou há
pouco ao 150º episódio, dentro de sua
sétima temporada, cujas novidades são
missões em diversos países e revelações
sobre o passado dos personagens, como
diz o ator Eric Christian Olsen, o Marty
Deeks da ficção:
— Há muitos episódios fantásticos
nesta temporada. Além da resolução
dos crimes, os enredos estão muito focados no desenvolvimento dos personagens e em suas relações. Nós temos
alguns antagonistas maravilhosos, mas
no fundo as histórias são sobre essas
pessoas que acompanhamos por sete
anos e a relação entre elas, seus passa-
Solta a voz
Já ensaia
Lázaro Ramos gravou ao
longo de toda a semana
numa casa de shows na
Barra para “Mister Brau”. O
ator fez as sequências em
que aparecerá cantando.
Luisa Arraes, que se
destacou em “Babilônia”,
voltará à TV na série de
Manuela Dias “Justiça”,
com direção de José Luiz
Villamarim. Os trabalhos
com o elenco já
começaram no Projac.
Passarada
Marcelo Adnet, Dani
Calabresa e Fábio Porchat
estão dublando o filme
“Angry birds”. Adnet será
Red; Porchat, Chuck, um
pássaro que fala tão rápido
quanto o humorista; e Dani,
Matilda, uma galinha hippie.
Números
Na reta final de sua última
temporada, “Pé na cova”
tem marcado bons índices.
O penúltimo episódio, no ar
anteontem das 23h26m à
0h10m, voltou a registrar a
sua maior audiência em São
Paulo com 15 pontos. No
Rio, cravou 16.
Outros palcos
Longe da TV desde o fim
de “Além do tempo”,
Leticia Persiles se dedica
à carreira de cantora. Ela
lançará digitalmente o
single “No altar” na
segunda quinzena deste
mês e prepara um novo
show.
NA WEB
patriciakogut.com
O mundo da televisão passa
por aqui. Visite.
MOSTRAS DO BRASIL
NO TOPO DE VISITAS
P
elo terceiro ano consecutivo, o Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB)
liderou a lista de exposições pósimpressionistas e modernas
mais visitadas do mundo. Em
2015, a mostra “Picasso e a modernidade espanhola”, no Rio,
acumulou mais de 620 mil visitantes, com uma média diária de
9,5 mil pessoas entre junho e setembro, e liderou a categoria,
dominada por brasileiros — outras quatro exposições no país
aparecem no top 10. O CCBB
Rio também ocupa a segunda
posição, com “Kandinsky: Tudo
começa num ponto” (média de
8,2 mil pessoas). No ranking geral, publicado no site “The Art
Newspaper”, a mostra de Picasso
no CCBB carioca só perde na
média de visitantes para “Obrasprimas impressionistas”, que levou 10,3 mil pessoas por dia ao
Tokyo Metropolitan Art Museum. A exposição com mais visitantes em 2015 foi “The Paris of
Toulouse-Latrec’’, no MoMA,
com 1,2 milhão de pessoas. l
Em combate. Miguel Ferrer, LL Cool J e Chris O’Donnell na série da franquia mais vista no planeta
dos e como elas lidam com isso.
Depois de tanto tempo interpretando
um mesmo personagem, Olsen confessa que passou a confundir a ficção com
a “vida real”:
— Eu achava que um personagem
não pudesse causar um impacto tão
grande na minha vida, até que me pego em situações em que ajo como ele.
Uma vez presenciei um acidente de
carro e fiz uma aproximação tática em
um dos veículos envolvidos, como se
fosse de fato um detetive. Só que estava ali sem nada, sem arma, no meio da
confusão. Acontece com uma certa
frequência esse tipo de situação. Instintivamente você acaba se sentindo
confortável nesse papel.
FUTURO INCERTO APESAR DO SUCESSO
No ar desde 2009, “NCIS: Los Angeles”
acompanha a rotina de um grupo de
agentes do Serviço Naval de Investigação Criminal em Los Angeles, normalmente mandado em missões de espionagem que exigem o uso de disfarces.
Nesta temporada, o personagem de
Eric assume um romance com uma colega da equipe, a agente Kensi Blye
(Daniela Ruah), e o casal já conta com
forte torcida dos fãs fora das telas.
— Estamos fazendo algo que nunca foi
feito. Juntamos esses personagens e agora estamos explorando o que vem depois.
Eles conversam muito sobre isso e o que
esperar a seguir, casamento e filhos, por
exemplo. O fato de as pessoas gostarem
tanto desse casal e estarem emocionalmente envolvidas com esses personagens é fantástico, é o que faz o nosso trabalho divertido. E a pressão que sofremos
por conta disso é uma pressão boa, nós
devemos aos fãs fazer essa relação parecer real — diz o intérprete de Deeks.
Segundo Olsen, além dos casos da
semana, a temporada mostra aos espectadores mais da vida pessoal dos
personagens. O passado de Deeks,
que foi pouco retratado até então, virá
à tona num dos episódios mais importantes deste ano.
— Ele (Deeks) está definitivamente
escondendo alguma coisa, há uma série de episódios decisivos sobre isso.
Existem coisas sombrias de seu passado que ele não era capaz de contar a
ninguém, até ser obrigado a fazer isso.
Ele vai para a prisão e tem motivos para estar lá e, ali, tudo será revelado —
declara o ator.
Mas, mesmo atingindo índices superiores aos 9 milhões de espectadores nos Estados Unidos, um número
considerado alto, o futuro da série
ainda não está garantido. Até a sexta
temporada, os índices costumavam
ser ainda superiores, e isso já está gerando dúvidas sobre o futuro de
“NCIS: Los Angeles”. A oitava temporada ainda não está confirmada. l
* Sob supervisão de Fátima Sá
A Academia Brasileira de Letras convida para o
de
IDENTIDADE
EM QUESTÃO
Coordenação-Geral: Acadêmica Ana Maria Machado
Coordenação: Acadêmico Candido Mendes de Almeida
Terças-feiras | 17h30min
Abertura: 5 de abril
A dialética da identidade
Conferencista: Emmanuel Carneiro Leão
12 de abril
Identidade e História
Conferencista: Carlos Guilherme Mota
19 de abril
Identidade nacional e cultura universal
Conferencista: Vamireh Chacon
Livre para todos os públicos
Sétima temporada da série
tem missões em vários países
e revelações sobre o passado
l 5
ESTEVAM AVELLAR/ TV GLOBO
OLHA QUE
AMOR
Serão fornecidos certificados de frequência.
10
0
Para a participação de Valesca
Popozuda no “Arrependimento
fashion”, quadro do “GNT
fashion”. Você pode não ter o
gosto dela, mas não deu para
resistir à simpatia e ao jeito
espontâneo da funkeira.
Para a novela Joelma/Ximbinha
(sim, agora com “X”), que voltou a
ser explorada ad nauseam pelos
programas da RedeTV!. Esta
semana, “A tarde é sua” e “TV
Fama” se esbaldaram com uma
possível reconciliação do casal.
As atrizes Mariana Santos, Renata Castro Barbosa,
Danielle Winits e Sabrina Korgut se reuniram para
fazer as primeiras leituras do longa-metragem
“Ninguém entra, ningúem sai”, de Hsu Chien
O GLOBO
26 de abril
Vias e desvios da identidade literária
Conferencista: Acadêmico Eduardo Portella
Transmissão ao vivo pelo site: www.academia.org.br
Diretoria 2016 – Presidente: Domício Proença Filho
Secretária-Geral: Nélida Piñon | 1a Secretária: Ana Maria Machado
2º Secretário: Merval Pereira | Tesoureiro: Marco Lucchesi
6
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Sábado 2 .4 .2016
Sublinhado
Novo livro infantil do escritor peruano, que acaba de completar 80 anos
-
O barco das crianças/ Mario Vargas Llosa/ Ed. Alfaguara
O velho se virou para olhá-lo. Fonchito reparou que
em seu rosto cheio de rugas cintilavam uns olhos vivos
e ainda jovens. Uns olhos tão intensos que pareciam ter
visto todas maravilhas do mundo.
Ilustrações de Zuzanna Celej e tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman
LEO MARTINS
Agora sob o comando de Daniel Louzada, livraria
clássica do Centro volta a atender em abril e reabre
totalmente em junho, depois de reforma profunda
A RENOVADA
DA VINCI
DIVULGAÇÃO
Atrações. No projeto, livraria vai ganhar um café, mesas, cadeiras e sofás para receber visitantes com mais conforto
LEONARDO CAZES
[email protected]
R
enovação com continuidade. Essa é a síntese
dos planos de Daniel
Louzada para a Livraria Leonardo Da Vinci, no Centro do Rio,
da qual é o novo dono desde o
início de fevereiro. A fachada
das três lojas no subsolo do Edifício Marquês do Herval, na
Avenida Rio Branco, ainda está
coberta por um papel pardo
que esconde a transformação
que começa a acontecer lá dentro: uma grande reforma que vai
devolver a livraria à cidade
completamente renovada. Em
abril, uma das lojas será reaberta, sem reforma e com acervo limitado, para voltar a gerar receita. Se as obras caminharem
no ritmo previsto, em junho a
nova Leonardo Da Vinci reabrirá em grande estilo.
— A fama da Da Vinci antecede a própria Da Vinci. A livraria
tem um modelo que, se precisa
de adaptações e mudanças, ao
mesmo tempo é bastante atual,
porque responde a necessidades dos leitores e clientes que
continuam iguais — afirma o
novo dono em entrevista ao
GLOBO na legendária mesa de
madeira onde dona Vanna recebia os pagamentos de clientes
famosos, como Carlos Drummond de Andrade.
Após uma carreira de 17
anos na rede Saraiva, onde começou como vendedor em
Porto Alegre e chegou a à gerência da área de maior faturamento na empresa, o gaúcho
radicado em São Paulo decidiu
investir suas economias na Da
Vinci. Assumiu o empreendimento fundado em 1952 pelo
romeno Andrei Duchiade e tocado nas últimas décadas pela
esposa dele, dona Vanna, e a filha do casal, Milena Duchiade.
Em maio do ano passado, a
família anunciou uma grande
liquidação do estoque antes de
fechar as portas por considerar
o modelo de negócios “inviável”. A comoção provocada pela notícia foi seguida por ofertas de investidores. Segundo
Milena, entretanto, Louzada
foi a única pessoa do ramo que
se apresentou e isso pesou na
decisão. O empresário Omar
Peres, dono do Bar Lagoa, do
restaurante Fiorentina e sócio
da Boulangerie Guerin, também fez uma oferta. As conversas começaram em julho, mas
a negociação só caminhou pa-
ra o desfecho no fim de 2015.
— Estamos muito felizes
com a solução. A Da Vinci precisava de sangue novo, de mais
energia para continuar. O nosso sentimento é de torcida para que dê tudo certo — diz Milena, enquanto arruma os últimos papeis da livraria.
No projeto de reforma, apresentado por Louzada, a livraria
vai perder o seu caráter quase
labiríntico — as três lojas eram
interligadas por portas estreitas — e ganhar mais amplitude. As paredes serão derrubadas, o piso será trocado, assim
como a iluminação e o sistema
de refrigeração. A nova Da Vinci vai ganhar também um café
com mesas e sofás para receber melhor os clientes. Outra
novidade é uma linha de produtos de papelaria com a nova
identidade visual. O “L” em estilo gótico, desenhado pelo
próprio Andrei Duchiade, foi
mantido. O acervo na loja será
de 30 mil livros distribuídos
pelos 270 metros quadrados.
— Do jeito atual, a Da Vinci
não é um negócio sustentável.
Precisa oferecer mais serviço,
mais conforto, mais experiência para o cliente. Mas a espinha dorsal se mantém. Não so-
Dono. Daniel Louzada assume
a Da Vinci depois de 17 anos
trabalhando na Saraiva
mos uma livraria generalista,
não vamos trabalhar com didáticos ou técnicos. Vamos focar nas nossas áreas tradicionais: humanidades, artes, e vamos ampliar a área de literatura, investindo em seleção e
acervo — afirma Louzada.
As obras importadas, campo
no qual a livraria sempre foi referência, vão demorar um pouco mais para voltar. O livreiro
explica que, por contar apenas
com capital próprio, precisa trabalhar em consignação com as
editoras. No caso dos livros estrangeiros, contudo, não há essa
opção, então sua volta deve
ocorrer só em 2017. Ainda hoje
na Da Vinci há títulos com o
preço marcado em pesetas, escudos e francos, moedas que
desapareceram após a adoção
do euro em 2002. Em compensação, haverá investimentos na
área de quadrinhos e até uma
seção geek será criada.
LANÇAMENTOS E DEBATES
A proposta é que todo o novo
ambiente seja flexível para receber eventos de pequeno porte,
como leituras e debates, além
do lançamento de livros. A expectativa de Louzada é que a loja absorva parte da energia da
cena literária da cidade.
— Vamos oferecer um espaço
para essa energia criativa que
circula. A vida em torno dos livros é muito maior fora do que
dentro das livrarias. Queremos
ir além da sessão de autógrafos.
Já estamos preparando uma
agenda de eventos bastante robusta para retomar e incrementar coisas que a Da Vinci historicamente teve — diz ele, que
lembra o texto do ensaísta americano Benjamin Moser sobre a
livraria. — No texto (publicado
no GLOBO), que me emocionou, Moser diz uma coisa que é
essencial e faz sentido para
mim como leitor e profissional
do livro: “o que distingue uma
cidade importante de uma cidade que tem muitos habitantes é a sua vida cultural”.
Investir numa livraria física
em um ano de recessão no país
parece uma aposta arriscada,
mas Louzada demonstra confiança. O novo VLT (Veículo
Leve sobre Trilhos) do Centro
terá uma estação na frente do
prédio. A pista para carros será
fechada e transformada em
um passeio com ciclovia. Junto
com outros equipamentos culturais, como a Caixa Cultural, a
Biblioteca Nacional e o Teatro
Municipal, ele espera que um
novo polo cultural se articule
na região:
— Há uma oportunidade
muito grande de que este ponto, fraco nos fins de semana, se
torne um local de encontro dos
cariocas. Fica entre a Cinelândia e a Carioca, em frente ao
VLT. Tudo isso tende a aumentar a oferta de serviços e de comércio qualificados. l
l Segundo Caderno l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 7
Sebo
Obra-prima do autor húngaro, ganhador do Nobel em 2002, morto na quinta-feira
-
Sem destino/ Imre Kertész
Quando Imre Kertész, morto na quinta aos 86 anos,
ganhou o Nobel de Literatura, em 2002, a obra do
escritor húngaro era inédita no Brasil. Logo no ano
seguinte, porém, foi lançado aqui o romance que é
considerado sua obra-prima, “Sem destino”, pela
editora Planeta, em tradução de Paulo Schiller, hoje
esgotado e disputado em sebos. Livro de estreia de
Kertész, lançado em 1975, inspira-se na experiência
do autor nos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald, para onde foi enviado na
adolescência. Foi o início de uma trilogia sobre o
Holocausto, tema central de sua obra. Kertész dizia
escrever sobre os campos porque neles descobriu
“a condição humana, o ponto final de uma grande
aventura, onde o viajante europeu chegou depois
de 2 mil anos de história moral e cultural”.
Crítica
N
HISTÓRIA DE AMOR
E AMARGURA
ão fosse a tradução do “Otelo” de Shakespeare em 1808, assinada por Ivan Velyaminov, provavelmente “O amor de Mítia”
(1925) não existiria. Assim como “Lady Macbeth
do distrito de Mtzensk” (1865), de Nikolai
Leskov, o livro de Búnin — o primeiro escritor
russo a receber o Nobel de Literatura, em 1933 —
é também um esforço de retomada e reescrita de
KELVIN FALCÃO KLEIN
certos elementos tipicamente shakespearianos,
desde o tema do ciúme até o gênero da tragédia.
A história de Mítia é linear, construída por no trem em direção ao interior (“é tudo amor, alBúnin desde o primeiro dia a partir do acú- ma, é tudo sofrimento e alegria inefável”), em sua
mulo de pequenas amarguras — a novela co- leve transformação já na casa da mãe (“tudo no
meça atestando que “nove de
mundo passou a parecer desnecessámarço foi o último dia feliz de Mírio”), até o ponto da derrocada final
tia em Moscou”. Seu “amor”, inici(“no mundo tudo era tão monstruosaalmente, é Kátia, uma jovem que
mente sem esperança e sombrio como
se dedica aos concertos, saraus e
não podia ser no além-túmulo, no inaulas de teatro. Esse “amor”, no
ferno”). Tal recorrência dá harmonia à
entanto, aos poucos se expande
breve novela, reforçando no estilo essa
até abarcar uma espécie de anopressão inominável que domina Mítia
gústia sem nome, “algo inexprie o leva ao limite.
mível”, segundo o narrador, que
Mas não só de lamentação vive “O
acompanha e oprime Mítia quanamor de Mítia”. A novela atinge seu clído ele deixa Moscou e parte para
max pouco depois da metade, quando
o interior, para a casa da mãe,
Mítia descobre certos encantos da vida
cansado dos desentendimentos “O AMOR DE MÍTIA”
no campo, abandonando momentaneconstantes com Kátia.
amente seu isolamento. Búnin, neste
AUTOR: Ivan Búnin
O trunfo de Búnin está na habili- EDITORA: 34
ponto, deixa Otelo um pouco de lado (e
dade de seu narrador, que muito de- TRADUÇÃO: Boris
também o Werther de Goethe, outro
licadamente entra e sai da consciên- Schnaiderman
precursor decisivo de Mítia) e abraça
cia de Mítia e dos demais persona- PÁGINAS: 128
certa deriva forte da tradição russa,
gens. Um exemplo disso é o uso re- PREÇO: R$ 42
aquela que diz respeito ao contraste escorrente de uma ideia vaga de “tota- COTAÇÃO: Bom
candaloso entre campo e cidade —
lidade”, presente na fala da mãe de
pensemos, por exemplo, em “A aldeia
Kátia (“compreendia tudo desde muito tempo, de Stepántchikovo e seus habitantes”, de Dostoiadivinhava tudo), em Mítia observando o povo évski, ou “Memórias de um caçador”, de Ivan Tur-
guêniev. A rotina dos trabalhadores da terra surge
para Mítia como uma fonte de sensações exóticas,
que o atraem e repelem na mesma medida. Quando Búnin traz à tona a forma como o prazer sexual
pode ser negociado sem maiores pudores, isso leva
a narrativa a um espaço de espontaneidade pagã
popular (nos moldes daquela que Bakhtin irá rastrear teoricamente alguns anos depois) e, ao mesmo tempo, a uma transformação do protagonista
que será decisiva para seu destino.
CRÍTICA À REVOLUÇÃO RUSSA
Essa mudança de ares, no entanto, é passageira
para Mítia, cuja subjetividade parece blindada à
mudança. O caráter extremo dos gestos e sentimentos de Mítia pode indicar, obliquamente, a resolução de Búnin de permanecer ligado a uma
Rússia que para ele, no exílio em Paris a partir de
1920, já não existia mais. Assim como seu contemporâneo Vladimir Nabokov, Búnin fazia parte
daquele vasto contingente de emigrados russos
que viam a revolução como uma derrota, como o
evento responsável por uma perda irreparável.
Logo depois de “O amor de Mítia”, Búnin publica “Dias malditos”, seus diários de 1918 a 1920, em
que relata a guerra civil, e também um “Manifesto
da emigração russa”. Pode-se especular que o que
chamou a atenção de bons leitores para “O amor
de Mítia” à época — como Thomas Mann, Rilke e
André Gide — tenha sido não apenas o meticuloso apuro estilístico de Búnin, mas também a sutileza de sua reflexão, escondida sob a cobertura de
um amor adolescente, sobre o trauma histórico
compartilhado por tantos. l
Kelvin Falcão Klein é professor da Escola de
Letras da UniRio
Loredano
UM OUTRO LADO
DA HISTÓRIA
PARA ALÉM
DOS MITOS DA
‘LUSOFONIA’
GUILHERME FREITAS
[email protected]
“N
ão há separação essencial entre os
povos que fallam a língua portugueza”, escreveu Fernando Pessoa
em uma carta dos anos 1910. A ideia de unidade entre os países lusófonos, que fascinava o poeta, repete-se com entonações variadas desde as pregações do padre António Vieira sobre o Quinto Império, no século XVII,
até a criação da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), em 1996. No livro “História sociopolítica da língua portuguesa” (Ed. Parábola), o linguista Carlos Alberto Faraco investiga a trajetória dessa ideia
para desmontar mitos sobre a “lusofonia”. E
reflete sobre o que ela pode significar hoje,
quando ainda se busca um modelo de colaboração entre os países do bloco.
O livro remonta às origens medievais da
língua portuguesa, na região onde hoje fica
a Galícia, e narra sua expansão pelo mundo
a partir das navegações dos séculos XIV e
XV, quando a colonização implantou à força o idioma na América, na África e na Ásia.
Naquele momento, diz Faraco, foi forjada
uma ideia “mítica” de lusofonia que reaparece ao longo do tempo, e que ele analisa de
forma crítica no livro.
— Há um discurso muito forte, principalmente no fim do século XIX e início do
XX, sobre o mito de uma comunidade de
língua portuguesa que teria um papel especial na História humana. Era a expectativa um pouco eufórica de que, para usar
uma expressão de Pessoa, seria construído o “Império da Língua Portuguesa”. De
certa forma, essa é a raiz do discurso atual
em torno da “lusofonia” — diz Faraco,
professor titular aposentado da Universidade Federal do Paraná.
Linguista Carlos Alberto
Faraco lança livro sobre
‘história sociopolítica’ da
língua portuguesa
Ivan Búnin
Escritor russo,
ganhador do
Nobel de 1933
Lançamentos
“Assim se pariu o Brasil”
"Spotlight — Segredos revelados”
“As aventuras de Jajá”
Pedro Almeida Vieira
Equipe de jornalismo investigativo
do Boston Globe
Susana Schild
NÃO FICÇÃO
Ed. Sextante, 320 pgs.
R$ 39,90
Neste livro, com ilustrações de Enio Squeff, o
jornalista e escritor português Pedro Almeida Vieira,
autor de romances históricos, escreve com humor
sobre 25 episódios da História colonial do Brasil.
JORNALISMO
Trad. Antonio Carlos Vilela.
Ed. Vestígio, 288 pgs.
R$ 39,90
O volume traz as reportagens do jornal americano
“The Boston Globe” sobre pedofilia na Igreja católica
que inspiraram “Spotlight”, ganhador do Oscar de
melhor filme e melhor roteiro original este ano.
Classificados do Rio.
Achou de verdade.
COMPRO LIVROS E CDS
classificadosdorio.com.br
2534-4333
2215-3528 ou 2532-3646
INFANTIL
Ed. Rocco, 96 pgs.
R$ 24,50
A jornalista e crítica de cinema Susana Schild dá voz a
uma gata neste livro ilustrado por Mika Takahashi, que
será lançado amanhã, às 16h, na Travessa do
Shopping do Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco 290).
Outros Livros e CDs
Classificados do Rio. Achou de verdade.
classificadosdorio.com.br / 2534-4333
Segundo Faraco, a concepção atual de
“lusofonia” surge depois das guerras de
independência na África, nos anos 1960 e
1970, como uma forma de Portugal tentar
recuperar “cacife político” entre as ex-colônias. Mas o projeto esbarra na realidade
de países africanos, por exemplo, onde
idiomas locais são os mais falados.
— O discurso “lusófono” é basicamente
de Portugal. No Brasil quase não se fala
nisso. E na África há uma resistência grande ao termo. Considerando a diversidade
linguística dos países africanos, onde o
português é geralmente a segunda língua,
é possível chamá-los de “lusófonos”?
Apesar de questionar a visão “mítica” de
uma comunidade lusófona, Faraco defende
os benefícios da cooperação entre países de
língua portuguesa. Ele é o atual coordenador da comissão brasileira junto ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa
(IILP), vinculado à CPLP. Criado em 1999, o
órgão começou a desenvolver em 2010 um
plano de ação para “promoção, difusão e
projeção da língua portuguesa”. Mas a execução do plano ainda depende de um
apoio maior no bloco, avalia Faraco:
— Há muitas questões de interesse para
os países, desde o desenvolvimento de um
vocabulário básico comum à padronização de terminologias técnicas e científicas. O processo de difusão da língua portuguesa no espaço internacional se beneficiaria de um aumento da cooperação
multilateral. l
FASE RACIONAL
A Fase do 3º Milênio, da
Imunização Racional, anunciada há séculos passados
e revelada agora pela cultura racional nos livros
UNIVERSO EM DESENCANTO
Já leu,
Não precisa mais?
Compartilhe!!!
Disponibilizamos Doações
para Bibliotecas Comunitárias
Tel.: (21)
2719-6827
RETIRAMOS NO LOCAL
8
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
O
uço muita gente dizer
que está deprimida.
Não é aquela depressão “endógena”, que
depende de propensão, tendência familiar ou desequilíbrio
químico natural, e
que pode vir sem motivo algum.
Não. É a depressão 100% exógena, provocada por uma série de baques externos, e
capaz de derrubar a mais equilibrada e
imune fortaleza. Se o sujeito já tiver a tendência, é melhor chamar logo o doutor.
Não sei. Sei que a dose está para leão. Economia na lona, política na lama, o mundo
em chamas. Mas vejo o pessoal assim mesmo na praia e vem aí o céu cada vez mais
límpido, como na canção do Ed Motta: “Há
um lugar para ser feliz/além de abril em Paris/ outono/outono/no Rio”.
O novo disco dele, aliás, anda rodando direto no CD player do meu carango, cuja lataria branca está cheia de amassados e arranhões. E não é que o acho bonito assim? Pode ser um modo de não me deprimir pensando numa utópica lanternagem, mas é fato que quando olho para a carroça sinto-me
numa permanente estrada empoeirada dos
anos 1970 a caminho, sei lá, de Cabo Frio,
quilômetros de salinas e lagoas, estradas
noturnas com ar de interlúdio planetário.
A gente vai levando, né? Dourando a pílula e, se necessário, tomando uma, dando
saltos no tempo, marcando na agenda um
cigarro extemporâneo, um joguinho de futebol, uma chuveirada direto do cano (arranquei a cabeça do chuveiro, que vazava),
um piano, esses momentos sagrados que
catapultam o viver disto aqui para diante.
Sábado 2 .4 .2016
E-mail: [email protected]
ARNALDO BLOCH
DEPRIMIDO DE BOA
Falei em futebol? Os jogos de Dunga têm
mais me divertido do que deprimido. Quem
em sã consciência torce por esta seleção, por
esta CBF, pela inexpressividade psicológica
deste grupo sob comando daquela figura nefasta com ar abobalhado? Se há um impeachment justo no país é o de Dunga. A cada gol do
Uruguai e do Paraguai voltavam minha fibra,
meu desejo de resistir aos maus ventos.
A arte pode ajudar, mas nem sempre a gente
escolhe o que vê do ponto de vista do astral.
No fim de semana passado, foram três pedradas de uma vez. Primeira: a exposição “Zeitgeist”, de arte contemporânea de Berlim, no
CCBB. A instalação com o relógio gigante numeral feito de estrutura de madeira encaixada, como brinquedo de montar (que três operários com uma escada vão manipulando sem
parar, minuto a minuto, 12 horas a fio), é ao
mesmo tempo angustiante e relaxante. O que
dá uma mistura dos diabos. Deve-se resistir à
tentação TOC de ficar ali, por toda a eternidade, ou, ao menos, de percorrer o período da
performance para “decifrar” o quebra-cabeças de um tempo artesanal fora do tempo.
Melhor passar ao segundo piso e encon-
trar, entre a produção de pinturas, alguns vídeos estimulantes e até engraçados, como o
do sujeito que vai ao supermercado “caçar”
produtos com arco e flecha e um curta-metragem ambientado numa Berlim-inferno
dos 1930, uma obra-prima de desolação que
muito diz dos nossos dias.
A coxinha (sem conotações políticas) de galinha bechamel na bela, escura e triste Confeitaria Colombo, de almoço, é exceção num
momento de pouco apetite, uma vantagem
relativa da depressão: tira-se uma onda de
A coxinha (sem conotações
políticas) bechamel na bela
e triste Colombo é exceção
num momento de pouco
apetite, uma vantagem
relativa da depressão
emagrecimento, reforçada com obediência à ordem do pilates e uma volta obstinada à bicicleta: endorfina lúdica na veia.
Mas, à noite, a segunda pedrada: vou à última apresentação da temporada de “Processo
de conscerto do desejo”, o mais que belo monólogo de Matheus Nachtergaele inspirado nos
escritos de sua mãe, que se suicidou quando
ele ainda era um bebê. Iluminação lúgubre, violão e violino intensos e o ator em ápices de
expressão, economia gestual, sutileza, consciência corporal e cênica — e muita, muita dor.
Não tem pra onde fugir, portas lacradas, só
mesmo em caso de incêndio. Mas, no final,
uma valsa, e lá vou eu e meu par valsar na pista
do teatro, recuperar as forças, despertar.
No dia seguinte, segundinha-feira à noite, pra relaxar, um cineminha com título
alentador: “Para a minha amada morta”,
primeiro longa do baiano Aly Muritiba.
Morte, traição, fotografia subjetiva, muito
silêncio, muito vazio e até um cachorro sacrificado. Pipoca e Coca de graça, ok. Mas
recusei o refri por estar evitando intoxicação por cafeína, esse maldito ansiolítico.
À saída preciso correr para “Criação”, de
Gore Vidal. Sua deliciosa e incrivelmente
inventiva (sem perda de profundidade de
pesquisa) descrição das aventuras de um
suposto neto de Zoroastro na corte persa
500 anos antes da Era Comum (quando
nascia a pré-filosofia, Buda andava pela
Índia e Confúcio professava na China) tem
me rendido, além de um baita conhecimento matricial, risadas saborosas e uma
lembrança daquela alegria indizível que
ocorre quando se está diante de um dos
melhores livros de nossas vidas. Assim a
gente vai se deprimindo, mas nunca, nunca,
jamais, se deixa golpear. l
ENTREVISTA Roberto Minczuk
U
PROGRAMA EDUCATIVO
‘HOJE SOU MAIS PACIENTE’
DUAS MIL CRIANÇAS FARÃO
CONCERTO NO MUNICIPAL
Neste ano, a OSB inaugura uma parceria com o
Carnegie Hall, de Nova York, e traz ao Brasil o
programa educativo Link Up. Foram arregimentados
48 professores de música — cada um de uma escola
do Rio, sendo a maioria da rede pública municipal —
para receber treinamento (workshops com o professor
de flauta da UniRio Hélder Parente) e material didático
com o qual prepararão 2 mil estudantes para uma
apresentação no Teatro Municipal, no dia 8 de
novembro, junto à orquestra. São alunos
principalmente do 6º ano do ensino fundamental (mas
também há alguns de até três séries acima). O
concerto não será aberto ao público, por um simples
motivo: as milhares de crianças ocuparão os assentos
do teatro, onde tocarão flauta doce e cantarão. Os
instrumentos serão fornecidos pela orquestra.
— As crianças poderão voltar para casa dizendo que
estrearam com a OSB no Teatro Municipal. Elas serão
protagonistas. O material didático já está pronto,
traduzido e adaptado à realidade brasileira, e outras
orquestras do Brasil que queiram implementar esse
programa poderão aproveitá-lo. Nós cederemos tudo
gratuitamente, da mesma forma que recebemos do
Carnegie Hall. Esse é um projeto que auxilia a educação
musical nas escolas. A criança aprende a ler partitura, a
tocar flauta doce. É uma forma de contribuirmos com a
formação musical das crianças brasileiras — diz o
diretor artístico da OSB, Pablo Castellar.
Diretora do Weill Music Institute, que é o braço
educacional do Carnegie Hall, Sarah Johnson dá a
dimensão do programa:
— No mundo todo, 81 orquestras, em cinco
continentes, já participam do Link Up. Só aqui em
Nova York, temos 14.000 alunos e professores
participantes. Não é um programa de
profissionalização, mas de
introdução à música. Prevemos
que, em até dez anos, teremos
5 milhões de crianças
participantes no mundo.
Ex-regente titular da OSB, agora emérito, maestro diz que lapidou orquestra e lamenta falta de infraestrutura
DIVULGAÇÃO/CICERO RODRIGUES
Amadurecimento. Minczuk abre hoje a nova temporada da OSB: mais tolerância com músicos nos ensaios
EDUARDO FRADKIN
[email protected]
C
omeça hoje, às 20h, no Teatro Municipal, a
nova temporada da Orquestra Sinfônica
Brasileira (OSB), com regência do maestro
Roberto Minczuk, que pilotará outros cinco concertos ao longo do ano. Ele volta ao pódio no papel
de maestro emérito da orquestra, e não mais no de
titular, posto que ocupou por uma década, até
2015. Em entrevista ao GLOBO, Minczuk faz um
balanço desse período, com altos e baixos, inclusive a pior crise da OSB, enfrentada por ele em 2011.
O concerto deste sábado terá um tributo ao
maestro alemão Kurt Masur (morto em dezembro) com a 5ª sinfonia de Mendelssohn. Como o
senhor ficou amigo de Masur?
Eu tive o privilégio de trabalhar com ele desde os
meus 20 anos. Eu era fã da orquestra dele, a
Gewandhaud de Leipzig, e descobri que estava
precisando de um trompista. Então, fui à Alemanha Oriental ser trompista da Gewandhaus. Eu era
o único estrangeiro. Nessa época, eu já estudava
regência e me aproximei do Kurt Masur. Tive a
oportunidade de aprender tudo com ele, um dos
maiores maestros de sua geração. Quando eu era
regente associado da Osesp, o Masur esteve no
Brasil e me viu regendo. Ele ficou tão feliz que me
convidou a fazer concurso na Filarmônica de Nova York para maestro assistente. Concorri com dezenas de maestros, e a orquestra me escolheu. Então, voltei a trabalhar com ele lá. Além da nossa
l
conexão musical, havia a conexão Tomoko, que
era a mulher dele, ex-violista da OSB. Nós três criamos um vínculo familiar, tanto que eu fui uma das
quatro pessoas a discursar no funeral do Masur.
O que lembra de seus primeiros dias na OSB?
Quando tinha 14 anos, eu já era primeira trompa
do Teatro Municipal de São Paulo, e o trompista
principal da OSB ficou doente antes de dois concertos importantíssimos. Então, o maestro Isaac
Karabtchevksy me convidou a substituí-lo. Ali, toquei pela primeira vez com a OSB. Quando surgiu
a oportunidade de eu assumir a orquestra (como
regente), ela estava num estado difícil, vindo de crises financeiras. Os músicos ficavam cinco meses
sem salário. Mas eu vim apaixonado. E consciente
do desafio. Vim para arregaçar as mangas e botar a
OSB no patamar que ela merecia. Eu me lembro
de ter encontrado uma orquestra com um potencial enorme. Mas os salários dos músicos eram os
mais baixos de todas as orquestras do Brasil. Então
foi preciso fazer um trabalho musical e de busca
de recursos. Um ano e meio depois, praticamente
dobramos o salário dos músicos.
l
Com a melhoria das finanças, o senhor pôde
cobrar mais resultado dos músicos?
Com certeza. Até porque o músico não precisava mais ter três empregos para pagar suas
contas. Com isso, podia se preparar melhor.
l
Sim, o próprio conselho (curador da OSB),
que são os meus chefes, me apresentou isso como meta e ambição da instituição. E, pagando
salários atraentes, conseguimos trazer muitos
dos melhores músicos brasileiros que estavam
estudando ou tocando no exterior.
Em 2011, foi anunciado que os músicos da
OSB teriam de fazer uma audição para continuar na orquestra. O episódio gerou uma crise
institucional. Analisando isso hoje, o senhor
acha que poderia ter agido de outra forma?
Eu acho que existem caminhos... Acho que,
ali, o problema maior foi uma questão de comunicação com os músicos, de entendimento. Hoje, a gente faria isso de forma diferente. A gente
se comunicaria melhor.
l
Como é a rotina de trabalho e a remuneração na OSB em relação a outras orquestras?
Hoje, o que um músico da OSB ganha por ensaio
e por concerto é mais do que em qualquer outra orquestra no Brasil. Os salários da Osesp e da orquestra do Municipal de SP são mais altos, mas a gente
trabalha praticamente a metade, em termos de
quantidade de ensaios e concertos. Eu gostaria que
a OSB tocasse mais, fizesse toda semana um concerto no Municipal e um na Cidade das Artes.
Que concerto mais o marcou na OSB?
O de aniversário de um ano da pacificação do
Complexo do Alemão. Fizemos no morro a 9ª sinfonia de Beethoven. Além de ter sido maravilhoso,
esse tipo de ação dá relevância à orquestra e a faz
presente na mídia, ajuda a atrair investidores.
l
Que qualidades artísticas o senhor procurou dar à orquestra nessa década?
Unidade sonora, homogeneidade, equilíbrio
entre os naipes. Conseguir que todos os staccatos sejam feitos da mesma forma, com a mesma
duração da nota, conseguir que os naipes estejam equilibrados, de forma que um não ofusque
outro. Tocar com muita garra e precisão técnica.
A OSB é uma joia que foi lapidada.
l
l
O que impede isso?
A falta de controle que temos da pauta dessas
salas de concerto. Orquestras como a Filarmô-
l
O senhor entrou na OSB com a missão de
transformá-la na melhor orquestra do Brasil?
l
nica de Minas Gerais ou a Osesp, que têm suas
salas, podem dispor de palco toda semana.
O senhor acha que mudou nesses dez anos
como titular da orquestra? Amadureceu?
Com certeza. Hoje, com 48 anos, sou uma pessoa mais paciente. Não exijo que a orquestra tenha, logo no primeiro ensaio, um resultado como
o que deveria apresentar no dia do concerto.
l
Algum arrependimento?
O que falta é a orquestra poder fazer temporadas mais completas. Ainda não temos a infraestrutura para isso. Temos limitação de uso da Cidade das Artes. Precisamos ter temporadas
mais abrangentes. l
l
OGLOBO
REFÚGIO
PODE ACREDITAR: EXISTE
UM LUGAR EM SÃO PAULO ONDE
O ESTRESSE DO COTIDIANO
NÃO TEM VEZ. PÁGINA 5
SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br
COLÔMBIA
O NOSSO ROTEIRO POR
CARTAGENA DAS ÍNDIAS,
DA MULTIMARCAS IMPERDÍVEL
AOS RESTAURANTES. PÁGINA 6
RICARDO ABRAHAO
UMA
HISTÓRIA
DE AMOR
TOP ALEMÃ TONI GARRN
MOSTRA O ROMÂNTICO
VERÃO 2016 CRIADO POR
ALESSANDRO MICHELE
PARA A GUCCI PÁGINAS 2 E 3
Toni Garrn
com look
desenhado por
Alessandro
Michele
2
l O GLOBO
l ela l
Sábado 2 .4 .2016
UMA HISTÓRIA DE AMOR
A TOP alemã Toni Garrn
posa com a coleção de
verão 2016 da Gucci
[email protected]
(
Ana
Cristina
Reis
MISTÉRIOS
)
Está indo rápido. Ao ler sobre os avanços científicos e de comportamento, a sensação é que puseram o pé no acelerador. Deve ter sido o que
pensaram os súditos de Ludovico Sforza, no
século XV, quando Leonardo da Vinci sugeriu a
criação de “um pano individual”, o guardanapo,
para ser usado à mesa, ou os europeus, durante
a Revolução Industrial, quando viram que as
máquinas tinham chegado para ficar.
“Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!”, disse o Coelho
em “Alice no País das Maravilhas”.
O sexo para a procriação está com os dias contados nos
países desenvolvidos, de acordo com um professor de
Stanford. Henry Greely, em seu livro “The end of sex and the
future of human reproduction”, defende que em breve o
processo de geração de bebês será todo feito em laboratórios.
— Entre 20 e 40 anos à frente, quando um casal quiser um
bebê, o homem vai providenciar o esperma e a mulher, um
pedaço da pele — disse Greely ao jornal “Times” esta
semana.
Diretor do Center for Law and the Biosciences da
universidade, Greely esclareceu que o fragmento de pele
feminina seria usado para criar células-tronco, que por sua
vez poderiam gerar óvulos. Depois da união em laboratório
de esperma e óvulo, os embriões seriam analisados para
detectar: 1) males fatais; 2) doenças que poderiam ser
evitadas; 3) características físicas desejáveis.
— O quarto fator é o comportamental. Aqui teremos limite
para nossa exatidão, mas seremos capazes de prever em até
60% se o embrião será o de uma criança muito inteligente,
por exemplo.
E eu achando que o enredo de filmes do tipo “Gattaca”
(preocupação com as tecnologias reprodutivas que facilitam
a eugenia) era coisa de um futuro distante.
Alice: “Quanto tempo dura o eterno?”
Coelho: “Às vezes, apenas um segundo”.
Um planeta misterioso, escondido nas franjas do Sistema
Solar, pode ser o responsável pelas extinções que acontecem
na Terra a cada 27 milhões de anos. Apelidado de Planeta 9,
ele é assunto entre panelinhas científicas há algum tempo,
mas nos últimos meses foi tema de dois estudos publicados.
Um deles, de um professor aposentado de Astrofísica, senhor
Daniel Whitmire, defende que o Planeta 9 é um incitador de
chuvas de cometas. Não bastasse, ele seria dez vezes maior
que a Terra e mil vez mais afastado da Lua do que nós.
Então quer dizer que toda a boa intenção em reciclar o lixo
pode ser em vão?
Alice: “Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito
hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume.
Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu
era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou
quase achando que posso me lembrar de me sentir um
pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima
pergunta é: ‘Quem é que eu sou?’. Ah, essa é a grande
charada!”.
Peggy Orenstein, 54 anos, natural de Minneapolis, em
Minnesota, acaba de lançar um livro chamado “Girls & Sex”,
em que entrevista 70 mulheres entre 15 e 20 anos para saber
a quantas anda a vida sexual de americanas de classe média
e média alta. Peggy ouviu que:
a pornografia influencia (os rapazes esperam parceiras
sempre dispostas e depiladas; as moças emulam as
acrobacias e gemidos vistos nos filmes);
os pais, que antes diziam “Não pode!”, hoje não sabem o
que dizer;
o ritual é geralmente precedido de bebida, muita bebida,
com inclinação para Jäger bombs (mistura de Jägermeister
com Red Bull) e shots de tequila;
a maioria considera o sexo oral moeda de troca. “É um jeito
de ficar amiga dos garotos populares. E é menos íntimo que o
papai e mamãe”, resumiu uma das entrevistadas.
Está indo rápido mesmo. Ou estou ficando velha. O sexo,
que tinha seus tabus na minha juventude, continua um
mistério para mim em alguns aspectos. E muito pessoal. l
Editora: Renata Izaal ([email protected])
Diagramação: Lígia Lourenço ([email protected])
Telefone/Redação: 2534-5000 Publicidade: 2534-4310
E-Mails: [email protected] | [email protected]
oglobo.com.br/ela | facebook.com/ElaOGlobo
twitter.com/cadernoela | www.instagram.com/cadernoela
POESIA
VINTAGE
E ATUAL
FOTOS DE RICARDO ABRAHAO
GILBERTO JÚNIOR
[email protected]
A
lessandro Michele virou o cara da noite
para o dia. Literalmente. Um completo
desconhecido até janeiro de 2015, o estilista viu-se no centro das atenções ao
assumir, de repente, a direção da Gucci,
após a saída de Frida Giannini, semanas antes
do desfile feminino de inverno 2016. O mercado
mal teve tempo de especular quem ocuparia a
cadeira deixada pela designer.
Há pouco mais de um ano no comando, Michele já imprimiu sua marca pessoal, que não
lembra em nada o reinado supersexy de Tom
Ford e, tampouco, a elegância gélida da mulher
idealizada por Frida. Na atual fase, as roupas
têm um forte perfume vintage, os acessórios
(que fazem o caixa girar em praticamente todas
as maisons) são cool à beça e a questão dos gêneros é debatida às claras, impactando, diretamente, toda a indústria. O fato é que o romano
de cabelos longos encantou com sua visão
romântica e discurso apaixonado.
— Dou voz à minha criatividade conectando
elementos, línguas, sinais e mundos diferentes.
Gosto de sobrepor referências variadas e fazêlas explodir em novos significados — explica
Michele, de 43 anos. l
CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE
TONI GARRN
veste look do
verão 2016 da
Gucci
Coordenação: Gilberto Júnior. Edição de moda:
Mariaelena Morelli. Modelo: Toni Garrn (Women
Management Paris). Maquiagem: Fidel Fernandez (com
produtos M.A.C. Cosmetics). Cabelo: Quentin Guyen.
Produção: Paris Media Prod. Locação: Pin Up Studios.
Agradecimentos: Marta Mota.
l ela l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 3
TONI POSA com
vestido do verão
2016 da Gucci
UMA HISTÓRIA DE AMOR
RICARDO ABRAHAO
UM JOGO FIGURATIVO
A
pesar de estar há somente três temporadas no topo, Alessandro Michele é um veterano. Ele chegou à
Gucci em 2002, contratado por
Tom Ford. No mandato de Frida Giannini, era o diretor de
acessórios da grife. Em seu
currículo, consta ainda uma
passagem pela Fendi, um celeiro de talentos — Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli,
a dupla da Valentino, e a própria Frida passaram por lá. É
claro que o cenário muda drasticamente ao ser jogado diante
dos holofotes, na cova dos leões, mas o estilista vem tirando
de letra, parecendo não sentir
a pressão de estar à frente de
uma das grifes mais emblemáticas da Itália.
Após a elogiada estreia na
edição de inverno 2016 da semana de moda de Milão, Michele continuou acertando. O
verão 2016, fotografado no corpo da top alemã Toni Garrn
para o ensaio de capa desta
edição, confirmou que o hype
não era momentâneo.
— Para esta coleção, fiquei
louco de amor por um retrato
da rainha Elizabeth I — entrega o designer, indicando que
muitas de suas influências são
do passado.
Observando a trajetória de
Michele na casa, fica evidente
que a flora e a fauna são fontes
de inspiração. A cobra, por
exemplo, é um elemento recorrente em suas criações.
— Para mim, a serpente e
todos os animais representam
a beleza. É o meu jeito de lembrar sempre que as coisas
mais fascinantes do mundo
são aquelas que vêm da natureza — comenta o estilista,
emendando uma explicação
filosófica sobre ilusão de óptica, uma das características da
festejada coleção de verão, à
venda no Brasil: — Penso que
a moda é um trompe l'oeil. Você pode ser o que não é. O que
você enxerga, às vezes, não é
necessariamente a verdade.
Moda é um jogo figurativo. E
eu gosto de brincar com babados falsos, laços e golas. É
uma ideia de como você pode
inventar a si mesmo e a roupa.
Michele começou a sua revolução antes de ser anunciado
oficialmente como diretor de
criação. Nos lançamentos
masculinos para o inverno
2016, ele liderou a equipe de
estilo, fazendo o maior barulho ao propor looks para os homens que flertavam descaradamente com o universo feminino. Na ocasião, o romano repensou e produziu todas as peças em apenas cinco dias —
afinal, Frida saiu de cena, liberando o caminho para o seu
sucessor.
A promoção, como sabemos,
não tardou e o estilista, com
carta branca de Marco Bizzarri,
o CEO da Gucci, executou mudanças importantes. Trocou as
destemidas supermodelos por
rostos mais frescos e renovou a
comunicação, colocando o fotógrafo Glen Luchford no lugar
da badalada dupla Mert Alas &
Marcus Piggott. l
‘NÃO É UMA
PESSOA QUE
TEM MEDO
DE ERRAR’
ROUPAS PARA
MADONNA
E CATE
BLANCHETT
A
A
lessandro Michele é descrito pelo site da edição americana da “Vogue” como
“caloroso”, não “hot”, como
Tom Ford. Ele também é tido
como falante e cativante. A
modelo catarinense Aléxia
Bellini, que participou do desfile de inverno 2017, em fevereiro, em Milão, acha que ele é
apaixonado pelo que faz.
— Michele é muito criativo e
supersimpático. Está sempre
conversando com a equipe,
decidindo os mínimos detalhes. Não é uma pessoa que
tem medo de errar — aponta
Aléxia, continuando: — Ele
não me pediu para fazer nada
especial na passarela. Mas o
que chamou a atenção foi a
quantidade de anéis que meu
look tinha. Quando Michele
veio ajustar a roupa, notei que
ele usava vários. Percebi aí que
sua personalidade era a essência da coleção.
O Instagram do estilista
(@lallo25) é uma ferramenta
fundamental para decodificar
o novo universo da Gucci. Há
imagens de animais, antiguidades, paisagens e da rainha
Elizabeth I, por exemplo. Mais
eclético, impossível. O que salta aos olhos, não só na rede social, mas nos shows e campanhas publicitárias, é o clima
escapista, de sonho, que Michele espertamente colocou
em primeiríssimo plano. l
Gucci poética e com ares
de brechó — o que não
quer dizer que não tenha o
espírito do nosso tempo —
caiu nas graças de fashionistas
gabaritados. A it-girl inglesa
Alexa Chung foi clicada com o
mocassim-chinelo peludo do
inverno 2016, batizado de
Princetown. Anna Wintour, a
editora-chefe da “Vogue” americana, circulou por aí com looks desenhados por Alessandro Michele.
No tapete vermelho, Cate
Blanchett, Kirsten Dunst, Carey Mulligan, Keira Knightley
e Elle Fanning entraram na
onda do romântico criador.
Entre os homens, Harry Styles, da banda One Direction, é
o maior entusiasta. Além do
red carpet, Michele fez figurinos para as turnês de Madonna e Florence Welch, da banda Florence + The Machine.
O estilista, que estudou na
Accademia di Costume e di
Moda, em Roma, colhe os louros da fama. Na última cerimônia do Oscar, posou para fotos
ao lado do ator Jared Leto. Na
fashion week de Paris, foi a
sensação da primeira fila do
desfile de estreia de Demna
Gvasalia na Balenciaga.
A indústria também festejou
o talento do italiano. No fim de
2015, ganhou o prêmio de designer do ano do British Fashion Council. l
TOP ALEMÃ TONI GARRN DIVIDE O TEMPO ENTRE A MODA E O ATIVISMO FEMININO
P
ara dar vida aos looks do
verão 2016 da Gucci, recrutamos a top alemã Toni
Garrn, que posou para o ELA
durante a semana de moda de
Paris, no mês passado. Toni,
um furacão de sensualidade
com desfiles para a Victoria’s
Secret no currículo, é o oposto
das manequins que frequentam os desfiles atuais da casa.
É uma carinha celebrada, que
já representou etiquetas poderosas como Prada, Fendi, Dior,
Hugo Boss e Emporio Armani.
— Uma modelo narra uma
história diferente quase a cada
trabalho. É nossa função sermos capazes de assumir o caráter de qualquer marca. Amo
isso. E sou muito orgulhosa de
estar no único negócio no qual
a maioria das mulheres ganha
mais do que os homens —
aponta Toni, de 23 anos.
Engajada, a alemã, um dos ícones da moda segundo o portal
“Models.com”, é embaixadora da
campanha “Because I am a girl”,
da Plan International.
ÁFRICA E VIETNÃ
A modelo conta que a ideia do
projeto é apoiar os direitos femininos nos países em desenvolvimento. Seu foco é o continente africano.
— Sempre soube que gostaria
de ajudar garotas em todo o
mundo, especialmente as que
não têm a oportunidade de lutar por si mesmas. Acredito, definitivamente, no “girl power” —
justifica a top. — Vou à África
como uma mulher que quer ver
mais do planeta e conhecer outras meninas. Lá, meu trabalho
não faz diferença nenhuma. A
maior parte das pessoas dos lugares que visito não sabe o que
é o mercado fashion e, muito
menos, o que é uma modelo.
Elas me enxergam como uma
companheira, que é confiante,
viaja, ganha o seu próprio di-
nheiro e faz o que deseja. Por isso, acho que sou um exemplo e
uma inspiração para elas permanecerem na escola e não
abandoná-la por volta dos 13
ou 14 para se casarem.
Toni apadrinhou uma menina vietnamita aos 16, “quando
consegui meu primeiro cachê”,
diz ela, que agora tem três afilhados. Gente que faz, a alemã
pediu recentemente para amigos venderem suas roupas de
grife para levantar fundos para
a Plan International.
Natural de Hamburgo, Toni
Garrn despontou em 2008, ao
ser alçada ao posto de garotapropaganda da Calvin Klein. Na
sequência, virou musa de perfumes da Versace e da Cartier, acabou entrando, consequentemente, no ranking das modelos
que mais faturam. Apareceu ainda nas capas das versões russa,
italiana e espanhola da revista
“Vogue”. Fechou exclusividade
com Elie Saab no inverno 2017
ARQUIVO PESSOAL
da semana de moda de Paris.
Sua beleza é assunto batido
no meio. Ela diz que fica honrada com os elogios, mas deixa
os comentários sobre a sua
aparência para terceiros.
— Soa chato, mas meu segredo de beleza é dormir. É o melhor remédio. Um solzinho
ajuda — entrega a loura.
CLOSET DE ANGELINA
Toni tem uma quedinha pelo
closet de Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica
Parker na franquia “Sex and the
city” — e olha que ela tinha só 5
anos na época em que o primeiro episódio da série foi ao ar.
— Porém, meu armário segue a linha Angelina Jolie: limpo e confortável, mas com
bons desenhos.
Toni Garrn, pelo visto, tem
mais em comum com Angelina do que o look do dia. (Gilberto Júnior). l
TONI GARRN no Zimbábue durante uma missão
l O GLOBO
l ela l
Sábado 2 .4 .2016
RENATA IZAAL
COM LÍVIA BREVES
REPRODUÇÕES
4
DANIEL MATTAR
EXPOSIÇÃO
DO ELA
Depois de passar pela Barra,
a exposição “Caminhos de
Lisboa” chega ao shopping
Rio Design Leblon na
quinta-feira, dia 7 de abril.
Está uma delícia de ver,
sabem o porquê? As imagens
formam o the best da edição
especial de moda inverno do
ELA, toda fotografada na
capital portuguesa pelo
craque Daniel Mattar. Na
foto ao lado, a modelo
Isabela Eing veste o novo
grunge tendo como cenário
o horizonte infinito do
Terreiro do Paço. Mas
guardamos muito mais para
vocês: as noivas do Minho, o
sexy boudoir, a alfaiataria
glam, doçaria, o
deslumbrante Cabo
Espichel, o célebre bonde
28... Não dá para perder,
concordam?
Portanto, anotem: Rio
Design Leblon, de 7 a 24 de
abril. Segunda a sábado, de
10h às 22h. Domingos e
feriados, de 15h às 21h.
PERFUMES COM CHARME DÉCO
A linha de perfumaria fina da Phebo (phebo.com.br) ganha quatro
fragrâncias: frangipani, baunilha, patchouli e jacarandá. Agora são
dez perfumes, todos em frascos de vidro que reproduzem as linhas
déco das primeiras fragrâncias da marca. Para que fique tudo bem
combinadinho, também foram lançados sabonetes em barra para
cada cheirinho. Um charme!
A Páscoa já passou e, se você não ganhou um ovo de chocolate,
há tempo para um presente mais interessante e livre de
calorias. O objeto da foto acima é criação da francesa Christofle,
que há mais de 180 anos desenha itens para a casa que atiçam
os nossos desejos. É quase um ovo, não é mesmo? E vem
recheado com um faqueiro de prata com 24 peças para seis
pessoas. Batizada de Egg Mood, acaba de chegar à loja Image,
no Rio Design Leblon. E você aí com vontade de comer mais
chocolate...
MODA EM ALTO-MAR (E NO INSTA!)
O HOTEL DE PHILIPPE STARCK NO RIO
Falta pouco para o Rio
ganhar o primeiro hotel
yoo2 ,da grife londrina de
design yoo, de Phillipe
Starck e John Hitchcox. De
cara para Baía de
Guanabara e com uma vista
incrível para o Pão de
Açúcar, o hotel, na Praia de
Botafogo, contará com 143
apartamentos, incluindo
uma suíte presidencial. O
bar do terraço promete
virar um dos lugares mais
disputados e cool da noite
carioca. A bandeira será
operada por aqui pela rede
brasileira InterCity. Abre no
primeiro dia de junho.
MUITO MELHOR QUE
CHOCOLATE
DIVULGAÇÃO/ADRIANA GRANADO
Já segue o Instagram do ELA? Eis, então, uma ótima oportunidade para
apertar o “follow”. Neste fim de semana, nossa Talita Duvanel estará no Chilli
Beans Fashion Cruise e vai postar direto do navio MSC Esplendida. Vai ter
moda, música e festa, além dos desfiles de marcas top, como Herchcovitch;
Alexandre, Blue Man, Cavalera e Wasabi. Você não quer ficar por fora, não é?
Então, corra para o smartphone e procure por @cadernoela.
A VERSÃO
CARIOCA
DO KEDS
A Keds® (lembram do
clássico tênis branco,
levíssimo?) faz cem anos.
Para comemorar, lança na
quinta-feira uma
coleção-cápsula em
parceria com a Maria Filó
(mariafilo.com.br). São
três versões para o
modelo Champion, entre
eles o da foto: o primeiro
da história das duas grifes
feito a partir do tricô. Na
composição, quatro fios
diferentes torcidos dão
um interessante
aspecto 3D em tons de
marfim, azul e preto,
sem contar, é claro,
com o brilho do lurex.
Mas atenção: é
edição limitada e
está apenas nas
lojas físicas da
marca.
DIVULGAÇÃO/RODRIGO BUENO
GISELLA AMARAL
É FASHION
Gisella Amaral nada (são quatro mil
braçadas diárias), faz ioga e localizada.
Mesmo com tanta disposição, dá para
acreditar que a primeira-dama da noite
carioca faz só agora a sua primeira
campanha de moda? A Eva, marca
feminina da Reserva, escolheu Gisella
pelo espírito jovem e, é claro, por todo
o estilo que ela exibe na foto acima.
l ela l
Sábado 2 .4 .2016
O GLOBO
l 5
REPRODUÇÕES
NO AIGAI SPA, EM SÃO PAULO, A ÚNICA
LEI É ESQUECER DE TUDO. POR LÁ,
NADA DE PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS
UM LUGAR DE
DESCONEXÃO
JACQUELINE COSTA
[email protected]
S
-SÃO PAULO-
e até Netuno, o Deus dos Mares na
mitologia romana, precisava de um
refúgio, o que dizer de nós, pobres
mortais? Aigai seria o nome dessa
região submarina onde Netuno
descansava, sem que nada o perturbasse.
No Alto de Pinheiros, em São Paulo, Aigai
é um spa. Mas não desses que são procurados para tratamentos estéticos ou por
quem busca emagrecer. É um refúgio de
luxo para gente que está em busca de sossego e de restabelecer o equilíbrio. Lugar
para parar e respirar. Naomi Campbell já
esteve lá duas vezes. E disse que, sempre
que estiver no Brasil, retornará.
Fernanda Pinazo, proprietária do Aigai,
gosta de usar a palavra desconexão para
descrever a experiência de bem-estar que
oferece a quem passa pelo seu spa. Até
2007, ela trabalhava como advogada. E aí
resolver largar o Direito e ir em busca do
sonho de abrir o próprio negócio, o que
demorou quatro anos para se concretizar.
Durante todo esse tempo, fez dezenas de
viagens para conhecer o mercado de spas
de luxo no mundo inteiro. O foco foi,
principalmente, a Ásia.
—No Camboja, fiquei encantada pela
cidade de Siem Reap. Lá, as pessoas têm
prazer em servir. E você percebe uma
energia diferente. Tudo o que vi e senti
serviu de inspiração para a criação do
conceito do meu próprio oásis urbano.
Terminadas as viagens, veio a procura pelo
imóvel. Depois de dois anos e meio, Fernanda achou o lugar certo e ali demoliu uma casa para construir outra no lugar.
—Escolhi o arquiteto Mario Figueroa, que
projetou tudo sob medida para abrigar o Aigai. A construção, que tem 1.200 metros
quadrados, durou um ano e oito meses,
mas tudo foi feito sob medida. Precisava
materializar um oásis no meio de São Paulo
e blindar quem entra aqui. De dentro, elas
só conseguem ver o céu e as árvores. A experiência de bem-estar é vivenciada antes,
durante e após as terapias. A pessoa pode ficar nos lounges quanto tempo quiser — explica Fernanda.
Na fachada, uma caixa de concreto ripado
emoldura um grande painel cerâmico, pin-
tado à mão especialmente para o projeto, e
um extenso jardim vertical, com mais de
vinte variedades de plantas com diferentes
formatos, texturas e tonalidades. Também
chamam a atenção as pérgulas de muxarabi, que remetem às janelas de palácios árabes. Depois de passar pelo vestiário, se chega aos pátios internos, confortáveis espaços
de espera e relaxamento, com muitos espelhos d’água. Aliás, a água está presente em
quase todo canto. São sete salas de tratamento, sendo seis no térreo e uma mais reservada no segundo piso.
AYURVEDA E UM HAMMAM
O menu de rituais é enxuto. São nove massagens, além de esfoliação e banhos terapêuticos. Uma das que mais faz sucesso é
abhyanga, que combina o uso abundante
de óleo vegetal aquecido com movimentos
suaves, longos e contínuos. Surgiu há sete
mil anos, na Índia, com a medicina ayurvédica. Outra terapia diferenciada é a Balinesa, tradicional na Indonésia, que combina
movimentos precisos e profundos, ativando
e equilibrando os pontos de energia do corpo com movimentos suaves e relaxantes.
Mãe de três meninos e casada há 13 anos,
Fernanda diz que quase metade da clientela é formada por homens.
No segundo andar, fica o My Spa, uma área
que conta com uma sala de massagem para
uma pessoa ou para um grupo maior. O acesso pode ser por uma entrada exclusiva, para
grupos ou clientes que não querem ser vistas.
Até agora, só Naomi usou deste artifício. Além
disso, o local tem uma piscina climatizada.
Nesta área, outro luxo é a sala para o hammam, ritual ancestral no qual, após ficar alguns minutos em um ambiente aquecido a
vapor d’água, a pessoa segue para uma sala
contígua, quente e úmida (e coberta de lindos
ladrilhos), onde se deita sobre um bloco de
pedra para passar por uma esfoliação, seguida
por um banho. A pressão e a temperatura de
vários jatos d’água são regulados para promover um relaxamento intenso. Tem também o
Vertical Shower (banho com dispositivos que
combinam pontos de saída de água sobre a
cabeça, ombros e coluna).
Se a fome bater, é só pedir o menu gourmet, que inclui desde sanduíches e sopas —
para alimentar e confortar — a vinhos e cafés, para relaxar e despertar. l
ACIMA, o lounge do
primeiro piso, com teto de
muxarabi. Abaixo, uma das
seis salas de massagem do
térreo. Ao lado, área
comum com jardim vertical
6
l O GLOBO
OS BALCÕES floridos da cidade
amuralhada de Cartagena estão
por todos os lados
Sábado 2 .4 .2016
MUITA COR e muitos
vendedores ambulantes
pelas ruas
MAR CARIBENHO
a um curto
passeio de barco
A PEQUENA CARTAGENA TEM UM POUCO DE TUDO O QUE É BOM:
GASTRONOMIA, LUXO, MODA, ARTE, DESIGN, MÚSICA E PRAIAS CARIBENHAS
E FICA LOGO AQUI DO LADO...
LÍVIA BREVES
[email protected]
C
-CARTAGENA DAS ÍNDIAS, COLÔMBIA-
artagena é amarela. É azul-caribe. É
ainda de todas as cores que as frutas, as
flores, os vestidos das palenqueras e as
bolsas Wayuu podem ter. Destino de
gypsetters, a cidade ainda tem hotéis e
restaurantes para aqueles que só querem saber
de muito luxo.
FOTOS DE LÍVIA BREVES
PALENQUERAS
são clássicas na
cidade e vendem
frutas docinhas
La Vitrola: tradicional, concorrido e, para os
mais animados, com música ao vivo. O restaurante com inspiração cubana, fica em uma casa
amarela com sacadas floridas. (+57 5) 660 0711
La Mulata: o melhor custo benefício da cidade.
Pratos típicos e fartos, sem releituras e saborosíssimos. Cada dia da semana tem suas sugestões e todos são sempre clássicos locais. É ponto de encontro entre moradores e turistas. (+57 5) 664 6222
Tcherassi Hotel: foi em um casarão de 250
anos que a estilista Silvia Tcherassi resolveu
abrir o seu hotel, que também tem um ótimo
spa e o restaurante italiano Vera. tcherassihotels.com
Don Juan: está sempre cheio e o motivo é claro:
comida ótima e ambiente elegante na medida.
Como a maioria dos restaurantes da cidade, é
preciso fazer reserva e regatas e bermudas não
são bem-vindas. donjuancartagena.com
Sofitel Legend Santa Clara Cartagena: talvez
seja a hospedagem mais sofisticada da cidade
amuralhada. O restaurante El Claustro, aberto
do café da manhã ao jantar, é ótimo. sofitel-legend.com/cartagena
Mila Cafe & Patisserie: ótimo café da manhã,
com diversas opções de sanduíches, ovos,
shakes e sucos. O ambiente é super simpático.
mila.com.co
Casa Quero: pequeno e charmoso, este hotel
butique é ideal para quem prefere um clima
mais descontraído e super aconchegante. hotelcasaquero.com
Palanqueras: elas são o cartão-postal da cidade,
mas vá além da foto e prove suas frutas tão frescas
e docinhas. Nem o abacaxi tem o mesmo sabor
do nosso. Experimentar manga verde com sal pode não ser a coisa mais gostosa do mundo, mas
esta é uma das comidas de rua que os locais mais
gostam, junto com as arepas quentinhas.
St Dom: a multimarcas com uma curadoria espetacular tem roupas, acessórios, peças de design, móveis, livros e zines de nomes colombianos. Tudo é incrivelmente bem selecionado e
disposto na loja de 700 metros quadrados. stdom.co
Artesanías de Colombia: absolutamente todas as peças artesanais do país estão ali em sua
melhor versão. Da cestaria Guacamaya às cabeças de madeira de Barranquilla, mais que
uma loja, o endereço é quase um museu para
se inspirar na arte da Colômbia. artesaniasdecolombia.com.co
Abaco Libros y Café: café com livraria simpático para começar o dia, ter um refresco do sol
da tarde ou para conhecer publicações locais.
abacolibros.com
El Gobernador by Raush: restaurante dos irmãos Rausch, os mesmos do famoso Criterion,
em Bogotá. Fica dentro do hotel Bastión e é o
tipo de restaurante para ir bem arrumado. Am-
me, o restaurante é sofisticado e tem uma carta
de drinques ótima, com ousadias na medida.
Bom até mesmo para petiscar com boas bebidinhas de tarde, depois do almoço e antes do jantar. (+57 5) 664 1779
biente sisudo e sóbrio. bastionluxuryhotel.com
La Cevicheria: descontraído, saboroso e badalado. É preciso fazer reserva nos jantares, até
mesmo para as mesinhas que ficam na rua. No
cardápio, adivinha, ceviches de tipos variados.
lacevicheriacartagena.com
Juan del Mar: o restaurante tem um pátio interno acolhedor e frutos do mar bem feitos. Muitos
tartares fresquinhos, peixes assados e opções de
risotos. juandelmar.com
Carmen: fica dentro do hotel Boutique Anandá.
Ambiente delicioso, com vista e cobertura aberta. Como todo o bom restaurante de Cartagena,
os peixes são as melhores opções. carmencartagena.com
El Kilo Marisquería: não se deixe levar pelo no-
Getsemani: do lado de fora da muralha, a cinco
minutos a pé, está o bairro, que, no passado, era
onde ficavam as casas dos escravos. É uma ótima para badalar à noite. Lá ficam o Café Havana
(cafehavanacartagena.com) e o Quiebra Canto
(quiebracanto.com), dois endereços com bons
shows de salsa. Com bares descontraídos e menos turistas típicos, é um passeio para ser feito
toda noite por quem quer animação.
San Pedro de Majagua: Há duas maneiras de
aproveitar este hotel na praia caribenha das Ilhas
del Rosário, arquipélago que fica pertinho de Cartagena. Você pode se hospedar lá ou fazer um bate e volta com day use. Ambas são ótimas opções
para relaxar na praia de água azul esverdeada.
hotelmajagua.com l
Sala de Jantar Belle
CASASHOPPING
BL. C - 2º PISO • 3329-3080
maisondesign.com.br
OGLOBO
SÁBADO 2.4.2016 oglobo.com.br
UM ITALIANO NO BAR
SIMONE CAPORALE FAZ DRINQUES
PARA MEXER COM OS SENTIDOS. PÁGINA 4
E DEUS SALVE A RAINHA
UM BANQUETE BRASILEIRO PARA
OS 90 ANOS DE ELIZABETH II. PÁGINA 6
SERGIO COIMBRA
Felipe é
uma brasa, mora?
Prestes a abrir o novo Oro, no Leblon, o chef busca o equilíbrio entre o tradicional e o
moderno, de olho no primitivismo do fogo e no conforto da comida de casa. Páginas 2 e 3
2
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
A FACHADA do novo Oro,
no Leblon: muitas texturas,
verde e luz natural
Luiz
Horta
FOTOS DE MÔNICA IMBUZEIRO
Sob a sombra
do vulcão
A
cordei acronicado, sem vontade de escrever sobre
taninos e retrogosto, com um desejo de contar casos
apenas. Acho que o calor me deixa reflexivo (ou
sonolento). Formas educadas de dizer: preguiçoso.
Uma parte peculiar deste trabalho bem esquisito
que exerço é a da obrigação de beber em serviço. E
almoçar e jantar mais que gostaria. Estou me queixando de barriga extremamente cheia. É compulsório comer com as gentes do
vinho, produtores, agricultores, aristocratas e plebeus. Passo mais
tempo ouvindo, faço uma pergunta eventual e tento não afundar
enquanto navego na piscina vinífera sem bordas.
Houve um ano, quando o mercado brasileiro ainda crescia furiosamente, e o Brasil entrou numa enomania, que tinha degustações
diárias, passava mais tempo à mesa de restaurantes que em casa.
Nestes anos conheci muita gente corriqueira, ouvi milhares de
vezes frases parecidas, “sem uvas sadias não se faz bom vinho” e “o
vinho se faz no vinhedo” sendo as top no ranking das repetições.
Assisti filmes, projeção de slides e power point sobre vinhedos,
cortes de solo, índices pluviométricos e questões comerciais de
exportação e importação de fazer inveja a um CEO de banco suíço.
Ouvi as perguntas “carvalho francês ou americano?”, “usa leveduras do ambiente?” e “qual a percentagem de Merlot no corte do
vinho?” centenas, talvez um milhar de vezes. Ficava com os ouvidos tontos pela repetição. Fim da choraminga.
Como todo trabalho tem grandes recompensas, no meu as líquidas
são as óbvias, uma lista grande de garrafas extraordinárias que nunca
beberia de outra maneira. Não cabe contá-las todas, mas sintetizo no
Tondonia Gran Reserva 1964 branco, que os gentilíssimos Julio César
López de Heredia e senhora trouxeram na mala para beber comigo. E
um Quinta do Noval Nacional 1963 de torna viagem (que foi exportado e voltou) bebido na própria Quinta. Umas noites passadas sozinho
no Château Pichon-Baron (com a chave da porta!) ficam nas boas
lembranças também. Mas as supresas humanas, os personagens especiais, é que são o bônus, pois vinho é feito por pessoas e há uma
grande qualidade em boa parte delas (ou dou sorte, não sei).
Como estou ficando velho, tenho um direito avoengo de contar
histórias (ainda não alcancei meu sonho, ser ancião suficiente
para bater a bengala em carros que buzinam na rua, como velhinha francesa grunhidora).
E
D
Vinho e história são poeticamente sinônimos, pois vinho lida com
a passagem do tempo
Dia destes voltei a beber o Villa dei Misteri da Mastroberardino.
Piero Mastroberardino foi um dos primeiros produtores que gostei
de entrevistar, mais de uma década atrás. Quando cheguei ao saguão
do hotel, esperando encontrar um exuberante aristocrata italiano (já
tinha uma lista de pavões bem exibidos no currículo), encontrei um
afável sociólogo de paletó de tweed e colete, mais parecido a um
professor universitário escrevendo sua tese que um agricultor. E ele é
mesmo acadêmico e o Villa dei Misteri é uma espécie de sua tese.
Vinho e história são poeticamente sinônimos, pois vinho lida com
a passagem do tempo, alguns precisam envelhecer, alguns “ficam
prontos” como se diz no jargão, em décadas. Todo vinho, mesmo o
mais simples, tem uma conversa séria com o calendário. Como nas
garrafas que citei antes, a idade foi decisiva para sua completa expressão. O Villa dei Misteri talvez seja o único caso de vinho recente
mas com débito tão grande com o passado. Pompeia, a cidade destruída pelo Vesúvio no ano 79 (permito o oxímoro, “congelada pelo
vulcão”, pois os gestos e atos que aconteciam no momento da catástrofe, ficaram parados no ar, conservados sob 6 metros de cinza
vulcânica, que lentamente e cuidadosamente é retirada pelos arqueólogos) tinha vinhedos, produzia vinho. Nos anos 70, surgiu a ideia
de recuperá-los, ver como eram, o que se fazia na vinicultura de 2
mil anos atrás, projeto que só se concretizou na década de 1990.
Hoje, estamos num momento de fascínio pelo artesanal, ânforas,
formas ancestrais de vinificação, recuperação de uvas autóctones.
Teria sido mais fácil propor agora o que a família Mastroberardino
começou quase 50 anos atrás. Replantar variedades que pesquisas
ampelográficas, testes de DNA em sementes achadas nas cinzas,
mostravam como as possíveis originais, no exato local em que
havia vinhedos, menos de 1 hectare, um quintalzinho, que rende
1500 garrafas em cada safra. As castas usadas são a Piedirosso e a
Sciascinoso. Mastroberardino, que é representado no Brasil pela
importadora Mistral, tem outros envolvimentos com a história
antiga, o Naturalis Historia homenageia Plínio, o velho, o verdadeiro homem que comeu de tudo da Antiguidade.
Estou mantendo o suspense intencionalmente, todo mundo
quer saber, afinal, que gosto tem este vinho pompeiano. É elegante, muito aromático, com um cheiro sedutor de pinheiro, especiarias, resina, couro. Longo e saboroso, faz lembrar um vermute,
com algo cítrico na boca (isto é um elogio, gosto muito dos bitters
em geral). Não é um vinho difícil ou inabordável, como costumam
ser as teses. É para beber. Se não soubesse tudo que envolveu sua
produção, já o elogiaria pela dignidade e altivez, concentrado com
fluidez. A minha garrafa era de 2005, sorvida com uma ponta de
orgulho e alguma melancolia.
‘Vou me
divertir
com o fogo’
ELÍVIA BREVES / [email protected] D
F
elipe Bronze mudou. De endereço: está prestes
a abrir o EOro no Leblon. D De estilo: não vai
mais preparar pratos pirotécnicos. De direção: agora
caminha em busca do primitivo.
Na cozinha do novo restaurante na esquina da Avenida General San Martin com
General Venâncio Flores, um trio de equipamentos quentíssimos: uma parrilla, um
yakitori japonês e um forno de carvão.
— Ter brasa foi a minha primeira e
principal decisão. O conceito foi formado em cima disso. Todos os meus pratos
passarão pela brasa. Até mesmo as sobremesas — avisa o chef, que durante
cinco anos comandou o primeiro Oro
usando muito bem o nitrogênio líquido.
Tanto que ganhou uma estrela Michelin.
A fase das surpresas mirabolantes à
mesa ficou para trás. Felipe quer fazer uma cozinha focada no sabor,
sem pegadinhas moleculares.
— Não vou mais criar pratos que precisem de explicações. As pessoas reconhecerão o que estão comendo — garante, e continua. — Gosto de esgotar
limites. Em cinco anos, fui a fundo na
técnica. Agora, vou me divertir com o
fogo. Farei uma cozinha de produto.
Vou parar de subverter texturas.
A necessidade de mudança veio à tona junto com algumas comemorações:
Felipe completou 38 anos na semana
passada e, este ano, soma duas décadas
de carreira. Além disso, este restaurante é o primeiro em que ele é o proprietário. O enfant terrible ajuizou-se.
— Antes eu pensava demais. Queria
mostrar a minha criatividade o tempo
todo. Estou diferente: agora, quando a
comida está gostosa, está pronta — diz,
e enfatiza. — Quero simplificar a minha
vida e a das pessoas que comem no
meu restaurante. Mas vou manter o
mesmo olhar estético para o que sirvo.
Simples assim.
FELIPE, entre o sous-chef
Rodrigo Guimarães e a sommelier
Cecilia Aldaz, e a equipe ao fundo
Editora: Renata Izaal. Diagramação: Lígia Lourenço. E-mail redação: [email protected] Redação: 2534-5000. E-mail publicidade: [email protected] Publicidade: 2534-4310. Correspondência: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. Cep: 20230-901.
O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
l 3
BATATA-VIOLETA,
repolho kimchee e baroa:
tudo com o croc da brasa
TEMPURÁ do dia e
purê de limão com lula
braseada com aioli
No menu do Oro que abrirá este mês, estão de
fora pratos como a carne de sol no pó gelado de
manteiga de garrafa; o gazpacho nitrocongelado; a cavaquinha com baru e espuma de coco; o
tartare de mignon com gema de parmesão e fumaça de churrasco; a costela de boi 36 horas
servida com espuma de leite de castanhas e trufas. Entram o porco com missô, bok shoy e maçã
verde; o crustáceo com creme de pistache e alcachofra; o arroz com chorizo pata negra, anchovas e cebolas tostadas; e o pescado com tahine de castanhas cruas, couve-flor tostada e picles de maxixe.
— A parte mais criativa ficará nos snacks, que
eu já preparava antes e vou manter no novo Oro
— adianta Felipe, que lista a pururuca de vieiras
e minimilho, com crocante de galinha caipira e
caldinho de feijão e o dim sum de rabada e miniagrião com empanada de milho doce como os
novos petiscos. — Eu vou criar novidades sempre, mas esta não é mais a minha principal finalidade. A surpresa como fim não me interessa
mais. Não quero mais chocar as pessoas.
Serão duas maneiras para conhecer o novo cardápio. A opção Criatividade (R$ 320 ou R$ 495
com harmonização), um menu degustação com
cinco pratos preparados com ingredientes do mercado, mais os snacks e as sobremesas. E a Afetividade (R$ 215 ou R$ 335 com harmonização), com
os mesmos “bocadinhos para despertar os sentidos”, dois pratos à escolha do cliente e os doces.
— Nos dois menus, os snacks serão iguais. Este início é a essência do Oro, quando mostramos a nossa criatividade, a vanguarda estética e
uma combinação inusitada e saborosa de ingredientes — explica o chef, e continua. — Achei
necessário montar uma opção mais curta para
que as pessoas não sejam obrigadas a comer
um longo menu degustação. Reconheço que
nós, chefs, às vezes, exageramos na imposição
de menus fechados.
Este movimento de abandonar as tecnologias
contemporâneas para voltar ao fogo ancestral
FOTOS DE SERGIO COIMBRA
PURURUCA
de vieiras e
minimilho
foi acontecendo aos poucos. Primeiro, o chef
percebeu o que gostava de comer em casa, com
os amigos e a família. Aos fins de semana, Felipe
prepara churrascos. Com direito a couve-flor
assada com raspinhas de limão.
— Senti necessidade de colocar essa sensação
dentro do restaurante. Fazer isso parece óbvio,
mas não é. Levarei esse sentimento para a cozinha, mas com o olhar e a técnica de um cozinheiro profissional. Para isso, tive que criar um
caminho do meio, entre o moderno e o primitivo. E a harmonia entre os opostos será a minha
vanguarda. Mas, um alerta: não vou abandonar
o cozimento à vácuo e posso usar nitrogênio,
sim! — avisa ele, e esclarece: — A nossa linha é a
criatividade com afetividade. Albert e Ferran
Adrià definiram muito bem isso como “tecnoemocional”, um nome horroroso, mas perfeito.
DISPENSANDO EXPLICAÇÕES
Outra inspiração foi o próprio Pipo. Felipe notou que, como cliente, gostava mais de frequentar o seu boteco descontraído do que o seu restaurante sofisticado.
— No Oro antigo, eu obrigava as pessoas a comerem de uma certa forma, experimentar tantos pratos, numa ordem tal e tudo precisava de
legenda. Hoje me pergunto: será que interessava ao cliente aquela explicação enorme? Acho
que não. No Pipo, tal explicação não existe. Por
isso, exportei essa simplicidade totalmente necessária ao Oro — admite ele, que, nos próximos meses, reabrirá também o gastrobar, dessa
vez no Fashion Mall e com projeto de Bel Lobo.
O coração da antiga equipe continuará ao lado de Felipe, como Rodrigo Guimarães, braço
direito e que criou o novo menu junto com
Bronze, e Cecilia Aldaz, sommelier das melhores e mulher do chef. Ainda terá o plus do barman Rod Werner.
— Trabalharei com pouca gente dessa vez.
Quero ter um time juntinho, azeitado. Todos
olhando para o mesmo lugar e com execução afi-
nada. O processo de criação dos pratos é feito levando em conta a opinião de todos. Eu e Rodrigo
fazemos vários testes, trazemos nossas ideias e
experimentos para construir um novo prato.
Apesar de estar prestes a abrir um Oro bem diferente do anterior, Felipe garante que este será
um restaurante que reunirá um pouco de cada
cozinha por onde passou. Todas as experiências
ajudaram a formatar a sua nova cozinha. Ele
lembra, por exemplo, que lá atrás, no Zuka, os
preparos já eram baseados na brasa. No antigo
Oro, um yakitori foi instalado no telhado e era
usado para grelhar o tutano e transformá-lo em
espuma. Mas sua bagagem tem ainda influências japonesas, espanholas e argentinas colecionadas por passagens pelo Sushi Leblon, Zuka, Z
Contemporâneo, Mix, hotéis Marina, além da
modernidade tecnológica do Oro e do despojamento do Pipo.
— Só consegui chegar a conclusão de que o
fogo será a minha impressão digital por ter vivido estes momentos anteriores. Eu metabolizei
todo o meu caminho e transformei ele na minha nova cozinha. Além do mais, tenho uma relação afetiva com ligar o fogo. Juntar o carvão, a
palha, riscar um fósforo e sentir o aroma da
queima me traz a sensação de que estou realmente cozinhando, em sua mais profunda natureza — reflete o chef, que pretende manter a
renovação permanente da sua cozinha. — Sou
inquieto, estou em constante evolução e isso é
ser vanguardista. Posso mudar o meu foco a
qualquer hora.
Do projeto, assinado por Eduardo Novaes, às
louças, garimpadas em lojas especiais e viagens
ou encomendadas em ateliês, Felipe opinou em
tudo e nem um detalhe lhe escapou. Os móveis
são todos de designers brasileiros, como Zanini
de Zanine e Irmãos Campana. Nas paredes, um
painel enorme de Laercio Redondo, uma serigrafia do Rio Antigo em homenagem a Debret,
fotografias de Sérgio Coimbra (que assina a foto
de capa desta edição) feitas para o livro “Felipe
Bronze — Cozinha Brasileira de Vanguarda” e
um quadrinho com o desenho que os grafiteiros
OsGemeos fizeram para ele.
— Este restaurante será a extensão da minha
casa. Estou trazendo várias coisas de lá, aliás —
comenta ele, que colocou uma jabuticabeira
flutuando no meio do salão. — Tive cuidado para escolher móveis que formassem um ambiente bem tátil, com texturas. Nada é aleatório. Cada mesa forma um nicho: pode-se comer no
balcão, em uma mesa de onde se observa todo o
salão, na mesa da adega, em uma bem discreta
ou em uma redonda intimista. O clima é de brasilidade contemporânea.
São 35 lugares no primeiro piso e um bar no segundo, que servirá uma coquetelaria moderna e
clássica com frutas brasileiras, infusões, gelos especiais e preparo de 100% dos produtos, desde a
água de tomates aos refrigerantes da casa.
GAROTO DO LEBLON
O endereço da casa também faz todo o sentido
para Felipe. Estar no Leblon, bairro onde cresceu e vive até hoje, é um sonho antigo. Tanto
que, apesar de ter planejado lançar o restaurante de Miami antes deste (o projeto continua de
pé, só será mais adiante), a chance de pegar o
ponto onde ficava o Juice & Co foi irresistível.
Colocou a agenda de planejamento de pontacabeça e abriu no Rio antes.
— Foi por acaso. No fim do ano passado, um
amigo que não via há anos me ligou perguntando se eu não queria comprar o local. O ponto é a
minha cara: alto, claro, com parede de vidro. Fechei o negócio antes mesmo de saber o valor, tamanha era a afinidade que tive. Vou à praia aqui
na frente há 20 anos, conheço o jornaleiro, os
atendentes das padarias. Eu não abriria um restaurante imediatamente se não fosse por esta
casa — diz Felipe, que continua com uma animada agenda de gravações com os programas
“Que seja doce” e “The taste Brasil”.
Felipe é realmente um espalha-brasas.
4
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
O às dos
Pedro
Henriques
Devemos muito
aos italianos
A
culinária italiana talvez seja a que mais influenciou o surgimento de restaurantes no Rio de Janeiro.
E é ela que, por nacionalidades, agrupa o maior
conjunto de bons estabelecimentos da cidade. Por
causa da maciça migração para as Américas, iniciada no último quarto do século XIX e motivada
pela unificação da Itália e pelo começo do processo de industrialização, milhares de italianos vieram tentar a sorte no Brasil, e
uma parte oriunda de centros urbanos optou por viver no Rio.
Com isso, as massas, as pizzas, as sopas e os embutidos incorporaram-se à dieta caseira dos cariocas.
Inicialmente, os restaurantes italianos reproduziam as receitas domésticas dos imigrantes, sem pretensão gastronômica, o
que, aliás, ninguém tinha à época no país. Os restaurantes
eram extensões das macarronadas familiares de domingo e
espaços de congraçamentos, onde não se escrutinava a comida. Ia-se a restaurantes pelo programa de se reunir e celebrar,
com parentes e amigos, fora de casa, e não para vivenciar experiências culinárias.
Instalados na segunda metade dos anos 50, o La Fiorentina e o
La Mole ainda refletem esse espírito do passado, onde a qualidade das refeições importa menos do que a memória afetiva dos
lugares. Diversos são os ristorantes, trattorias, cantinas e osterias,
além das pizzerias, que cumprem a mesma função de atiçar
prazerosas reminiscências. Assim como a portuguesa, a comida
italiana está, culturalmente, vinculada ao paladar dos cariocas.
O curso evolutivo dos restaurantes da cidade melhor se expressou, quando por aqui aportaram os italianos Angelo Neroni, Danio Braga e Luciano Pollarini, com os seus respectivos e
saudosos Grottammare, Enotria e Arlecchino, e incutiram outro padrão à cena gastronômica. Danio e Luciano também
foram responsáveis pela intromissão de excelentes vinhos à
mesa, o que ajudou a estabelecer a bebida como acompanhante civilizada dos pratos, ao invés do despropositado uísque. Em
1983, o italiano Miro Leopardi criara o Satyricon, que, no entanto, só deslancharia posteriormente. Após a senda aberta por
eles, surgiram casas com propostas afinadas; embora só se
tenha alcançado um nível, realmente, incomum, quando Danio Braga inaugurou o Locanda Della Mimosa, em Itaipava. De
lá para cá, abriram-se e se fecharam algumas firmas habilitadas gastronomicamente, como o Gibo, o Terzetto, o original
Quadrifoglio etc. Outras tantas não chegaram a cerrar as portas, como o Margutta, mas já não ostentam as credenciais distintas de outrora.
E
D
A maioria dos restaurantes
italianos do Rio cumpre o papel
rabiscado no passado.
Hoje, a maioria dos restaurantes italianos do Rio cumpre o
papel rabiscado no passado; são ambientes simpáticos de
comidas medianas. Poucos atingem gabaritos superiores e se
inserem no catálogo das seletas casas da cidade. A saber; Alloro, D’Amici, Duo, Fasano Al Mare, Gero e Satyricon. Pela sua
trajetória, o Cipriani certamente faz parte deste time. Como
não o visitamos há tempos, preferimos não o valorar por lembranças inatuais.
Grosso modo e sob o risco de equívocos circunstanciais,
podemos sintetizá-los por certas características. O Alloro tem
bons risotos e polentas, um cordeiro digno e vinhos apropriados, mas carece de inspiração no trato dos elementos marítimos. As presenças do chef Luciano Boseggia, dos maîtres Ary e
Valney e do sommelier João Pedro Lamonica adicionam. No
Duo, a assinatura de Dionísio Chaves na carta de vinhos é um
ativo. As entradas de mar e as massas também são estimulantes. Elegante e profícuo é o desfile de Nicola Giorgio pelos
salões. As carnes, contudo, não acompanham a média. Os
restaurantes da família Fasano — os Geros (Ipanema e Barra) e
o Fasano Al Mare — exibem como marca as massas, as entradas de frutos do mar e as polentas. As carnes são voláteis; ora
encantam, ora ficam aquém. Nos Geros, a onipresença do
maître-gerente Alves assegura um serviço mais cuidadoso,
mas os doces precisam de renovação. No Fasano Al Mare, o
chef Paolo Lavezzini é o cara. Em todas as três casas do grupo,
a oferta de vinhos já foi mais criativa e excitante. O reconhecimento do Satyricon assenta-se sobre a variedade e o frescor
dos seus frutos do mar. Nesse quesito, é imbatível. Os acompanhamentos, entretanto, são convencionais, o que, em geral,
debilitam os pratos. As sobremesas não somam. Entre os vinhos, há boas alternativas. O D’Amici também tem nas sugestões de mar os seus melhores predicados. E uma paleta de
cordeiro memorável, embora já tenha impressionado mais.
Fraqueja nos acompanhamentos e na carta de vinhos despersonalizada. Não se destaca nas sobremesas, mas oferece um
dos tiramisús mais corretos da cidade. É Antonio Salustiano,
porém, o ponto mais alto do lugar, que quase nunca decepciona, mesmo quando não arrebata. Em comum, esses restaurantes praticam preços caros, sendo que os da família Fasano e
Satyricon exorbitam; este, inclusive, cobra, separadamente,
por certos “contornos”. Uma vergonha.
Há outros restaurantes reverenciados no Rio, como alguns
franceses e contemporâneos. Os italianos, contudo, destacamse pelo volume e pela história de relação com a cidade. A eles,
aos grandes de hoje e de ontem, devemos a nossa inserção
mais consistente no maravilhoso universo gastronômico.
drinques
ELUIZA BARROS/ [email protected] D
C
om clientes como Leonardo DiCaprio e Robert De
Niro, o Ebartender italiano D Simone Caporale
é também uma celebridade. Depois de ganhar fama no
Artesian, eleito quatro vezes o melhor bar do mundo,
ele roda o planeta em busca de novos sabores.
REPRODUÇÃO
O ITALIANO Simone Caporale: mexer com sentidos
é chave para garantir drinques inesquecíveis
Uma das primeiras lembranças de Simone Caporale é a de beber água tirada por seu pai de
uma das fontanas de sua Itália natal.
— Lembro de sentir as mãos dele, e dos meus
lábios. Isso não sai da minha cabeça, e estou
pensando nisso para um coquetel. Eu sei que é
doido — recorda o bartender de 29 anos, nascido em Como, na Lombardia, após se esquivar
de me dizer qual é o seu drinque favorito. Quando, ao invés disso, peço por uma memória marcante, ele prefere a simplicidade da água limpa
aos coquetéis que lhe garantiram fama e sucesso antes de chegar à casa dos 30.
Talvez porque, para o italiano, vencedor do
prêmio de barman do ano da premiação Tales of
the Cocktail em 2014, as memórias e os sentidos
aos quais eles remetem sejam os elementos
mais fundamentais de seus drinques.
— A inspiração vem de tudo que é lugar. Talvez um coquetel seja reflexo de uma história minha, uma viagem, um lugar. Todas essas coisas
importam para mim.
O método deu certo até aqui: ao lado do seu
mentor, Alex Kratena, Simone garantiu ao Artesian, no luxuoso hotel The Langham, em Londres, o título de melhor bar do mundo, quatro
vezes seguidas. Na última premiação, em outubro do ano passado, ele e Kratena entregaram as
cartas de demissão horas antes da cerimônia,
para, como descreveu a imprensa especializada, “sair no auge”. A dupla promete inaugurar
um “espaço multidisciplinar” em Londres em
2017, que reunirá, além de barmans, outros criativos em busca de coquetéis excepcionais.
— O Artesian é um bar clássico, de um hotel
cinco estrelas — comenta. — E você sabe que
num hotel clássico sempre recebe a mesma coisa. Um dia começamos a questionar isso e começamos a mexer com os sentidos. Porque com
quantos mais sentidos você consegue mexer,
mais vai lembrar das experiências.
Essa explicação fica mais fácil de entender,
evidentemente, provando um dos drinques de
Simone, como alguns cariocas sortudos fizeram
esta semana no Paris Bar, no Flamengo. A convite do amigo Alex Mesquita, residente da casa,
ele apresentou criações como o Cherry Blossom
(receita ao lado) e o GinZen, que deve ser degustado após o apreciador inalar uma infusão
servida dentro de um balão de ar. Já no Artesian,
uma de suas cocriações mais memoráveis foi o
menu surrealista, inspirado no movimento artístico do começo do século XX. Só para imple-
mentar a carta, renovada anualmente, foram
gastos US$ 200 mil, segundo Simone.
— O surrealismo apresentou filmes, pinturas
e molduras. Nós pensamos em como seriam os
coquetéis — explica.
Sem ter mais que bater ponto, o italiano agora
está fazendo o que qualquer pessoa sensata na sua
situação faria: dando a volta ao mundo, conhecendo gente e novos sabores. Quando conversamos,
na terça-feira, ele havia acabado de chegar da Coreia do Sul. Algumas semanas atrás, estava no Peru, desbravando as frutas da Amazônia.
— Sou muito apaixonado pelos ingredientes
da América do Sul. Do Brasil, adoro cupuaçu,
caju, carambola e a mucilagem do cacau — diz
ele, que vê a floresta como um “Eldorado” da
criatividade — Há muitas criações que já foram
feitas, mas 80% delas foram com ingredientes
da Europa. Por isso que eu adoro a Amazônia. É
um mundo dentro de outro mundo.
Recentemente, Simone também encontrou
um espaço na agenda para comandar uma festa
surpresa para Leonardo DiCaprio, após o astro
ganhar seu primeiro Oscar de melhor ator, em
fevereiro. Apesar de ter feito um drinque especial para a data, ele garante que isso não fez diferença para Leo, que recebeu 150 amigos, entre
eles Quentin Tarantino e Lenny Kravitz.
— Uma pessoa que ganha o Oscar depois de
esperar 20 anos por isso está tão animada que
não vai conseguir degustar nada. Você podia
entregar um celular que ele comeria como se
fosse uma torrada — brinca o barman, que, despretensioso, diz preferir a vida noturna da Lapa
às baladas de Hollywood e recusa o título de mixologista, palavra da moda para designar quem
faz drinques.
— É um nome fresco que, para mim, não faz
sentido. Quando você pergunta qual é a diferença entre isso e um bartender, ninguém sabe dizer — critica ele, que começou a carreira aos 15
anos, clandestinamente, como uma forma de
descolar uma grana durante as férias.
— Pela lei, eu podia trabalhar no bar fazendo
sucos e cafés, mas não servindo álcool. Então, eu
fazia os drinques, mas sem o uniforme da equipe,
como se fosse um cliente — conta ele, que tem
entre as memórias mais engraçadas do começo
da profissão um encontro com Robert De Niro.
— Perguntei para um senhor se nunca tinham
dito que ele parecia com um ator de cinema. Ele
falou: “É mesmo?”. Só depois me contaram que
era o próprio. Eu era ingênuo.
JOSE RENATO ANTUNES
CHERRY
BLOSSOM
SERVE 1 DOSE
• INGREDIENTES
•
•
•
•
•
•
10 ml de rum branco
50 ml de saquê
20 ml de lime
5 ml de yuzu
20 ml de cherry purée
1 dose de Tonka bitter
• Coloque
todos os ingredientes dentro de
uma coqueteleira
• Bata com muito gelo
• Coloque em um copo
com muito gelo também
O GLOBO
Façam
as suas
apostas
l 5
REPRODUÇÕ
ES
Sábado 2 .4 .2016
Vem aí o guia
Michelin Rio e São
Paulo 2016, com
lançamento no
próximo dia 28, no
Copacabana Palace.
Michael Ellis,
diretor
internacional dos
guias, dá o seu
aval: a cozinha
brasileira
amadureceu, e as
duas cidades são
hoje referências
gastronômicas no mundo. Na edição de
estreia, porém, nenhum restaurante local
ganhou a cotação máxima, as três cobiçadas
estrelinhas. O D.O.M chegou perto, com duas, e
os cariocas Olympe, Lasai, Oro, Fasano al Mare,
Roberta Sudbrack, Mee e Le Pré Catelan
mereceram uma estrela cada. “Os inspetores não
levam em conta se o restaurante está na moda,
se a cozinha é local, internacional ou exótica. O
que está em jogo é a qualidade do que está no
prato”, diz Ellis. Na torcida!
LUCIANA
FRÓES
SELMY YASSUDA
RODRIGO AZEVEDO
Embarque
imediato
A noite
vai ser boa
O Maria Panela (tem nome mais simpático?) é
novidade das boas pelas águas de Paraty: a
escuna, linda, adentra o outono fazendo um
tour pelo Saco de Mamanguá, com suas 33
praias e 8 comunidades caiçaras. E se lança “al
mare” carregada de finas iguarias a bordo, obra
do chef belga Bertrand Materrne, que programa
almoço no meio tarde, sem pressa nenhuma.
Peixe fresquinho no sal grosso com ervas,
ceviche, camarões, ostras... Tudo vai depender
da maré.. Ah, mas o mimo (e bota mimo nisso)
é só para os hóspedes da Pousada Literária, no
Centro Histórico de Paraty (24-3371-1460).
Elia Schramm, do Laguiole, e Kiko Faria, do Brigite´s,
dividem as panelas no próximo dia 19. Assinam a
quatro mãos um jantar recheado de gratas atrações,
já eleitas: gazpacho de caqui com lassi de coco e nibs
de cacau; carpaccio de vieiras com salpicão de maçã
verde; pescadinha com quinoa, milho verde, vôngole
e mexilhão; cordeiro braseado com especiarias,
caviar de berinjela defumado, coalhada seca e farofa
de gergelim. Só uma provinha. Os vinhos serão
escolhidos por Paulo Nicolay. Não tem erro. No
Brigite’s, Leblon (2274-5590).
Outono, em Búzios
Fotos Marcos Pinto
BRUNO DE LIMA
PORQUE É NA RUA QUE O RIO É MAIS GOSTOSO.
Os mais deliciosos representantes da famosa comida
de rua carioca esperam por você em um evento cheio
de sabores, além de atrações musicais e artísticas para
toda a família.
O evento marca o lançamento do Celebra,
Programa de Cultura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos
Rio 2016. Não perca.
A chegada do outono anuncia o melhor de Búzios: luz
filtrada, cidade (quase) vazia, clima ameno, praias
limpas e transatlânticos longe... A chef Joana Gallo dá
boas-vindas à estação com menu novo no seu Donna
Jô, no Porto da Barra, Manguinhos, de onde se tem o
por do sol mais bonito do balneário. Provei ceviche
com redução de água de coco e curry e polvo grelhado
ao pesto de pistache com nhoque de azeitonas pretas,
tomate e manjericão. Memorável (22 2623-6303).
Faz
bonito
Tem de tomate confit com
figos e erva-doce e antipasti
de berinjela com
cogumelos, pimentão com
alecrim, cebola roxa no
vinho tinto. Você jura (de
pé junto) que é da casa. Da
sua casa. O rótulo do
Legurmê diz que é natural,
sem conservante, sem
glúten. Eu digo que é bom e que faz um bonito danado.
Na Cosa Nostra Deli tem ( 2523-2745).
Do acarajé ao sushi.
Do tacacá à tapioca.
Dos caldos à cocada.
Da esha ao angu.
Do espetinho ao pão de queijo.
E muito mais.
09/04, das 13h às 21h
10/04, das 11h às 20h
MAM - Av. Infante Dom Henrique, 85 - Flamengo
Entrada gratuita, sujeita à lotação.
Patrocínio
Realização
Curadoria e
Produção Executiva
Apoio
6
l O GLOBO
Sábado 2 .4 .2016
Festade
REUTERS
Elizabeth
ERENATA IZAAL/[email protected] D
B
abette, que nada! Convidamos três
chefs para criar um banquete
em Ehomenagem à rainha, D
que completa 90 anos no dia 21 de abril.
Elizabeth Alexandra Mary é a
monarca mais longeva da história do Reino Unido. Desde
sua ascensão ao trono, em 6 de
fevereiro de 1952, já ofereceu
numerosos banquetes e foi homenageada em outros tantos.
Para o aniversário de 90 anos
da rainha, o ELA GOURMET
criou uma deliciosa ficção: “e
se Elizabeth II viesse ao Brasil,
quais os sabores que apresentaríamos a ela?”.
Três especialistas em festas
— o Cooking Buffet, de Adriana Mattar e Ana Cecília Gros, o
Buffet Monique Benoliel e o
chef Frédéric de Maeyer, do
Eça — montaram um banquete brasileiríssimo para Elizabeth II (confira os três menus
abaixo), que inclui ingredientes como jabuticaba, goiabada,
pupunha e batata-baroa. Será
que ela aprovaria?
Da ficção para a realidade, o
que sabemos sobre o paladar
da rainha não é muito, já que o
Palácio de Buckingham zela
pela privacidade da família real. Mas, em se tratando dos
Windsor, há sempre um ex-fiel
escudeiro que, depois de trocar de emprego, entrega-se a
pequenas inconfidências.
Elizabeth II tem 20 chefs ao
seus dispor. Em um caderno, a
monarca anota desejos, pedidos especiais, elogios ou reclamações sobre algum prato.
Consta que ela escreve todas
as manhãs. Quanto rigor!
EARL GREY E GIM DUBONNET
Dizem que Elizabeth é uma
mulher de gostos simples. No
café da manhã, come cereal
com iogurte e adora geleia.
Gosta de ovos mexidos ou fritos, mas faz questão que sejam
caipiras. Vez ou outra, ela pede
o clássico francês oeufs en cocotte. A bebida é chá, of course.
A rainha já afirmou publicamente que o seu favorito é o
Earl Grey, mas reza a lenda que
a Fortnum & Mason criou a
versão defumada do blend a
pedido dela. Verdade ou não, o
Smoky Earl Grey é um dos chás
mais vendidos da casa.
Antes do almoço, ela bebe rigorosamente uma dose de gim
dubonnet, o coquetel que tam-
bém era o favorito da rainhamãe. Aliás, parece que as duas
sempre preferiram o gim ao vinho. Talvez seja uma questão
de identidade nacional.
O 5 o’clock tea é servido pontualmente e, para ela, bastam
chá com biscoitos. Elizabeth
também não dispensa um
bom chocolate. Danadinha...
Muito do que é consumido
pela realeza é fornecido por
centenas de produtores que
receberam o Royal Warrant,
uma espécie de selo de qualidade conferido pela família real. Nem todos são britânicos,
como o champanhe Pol Roger,
que foi servido no casamento
de William & Kate.
Fundamental mesmo é saber
que, em um banquete, quando
ela acaba de comer, todos devem parar também. Ou seja, na
festa de Elizabeth, o negócio é
ser rápido!
NA WEB
GALERIA DE FOTOS
oglobo.com/ela
Em detalhes, o menu
do nosso trio de banqueteiros
RAINHA. Elizabeth II prefere
gim ao vinho, adora chocolate
e só come ovo caipira
FRÉDÉRIC DE MAEYER
MONIQUE BENOLIEL
ADRIANA MATTAR E ANA CECÍLIA GROS
CHEF DO EÇA
CHEF DO BUFFET MONIQUE BENOLIEL
SÓCIAS NO COOKING BUFFET
FOTOS DE MÔNICA IMBUZEIRO
Fred buscou adequar os sabores
brasileiros ao gosto da rainha.
— Pesquisei o gosto dela e
coloquei alguns toques de brasilidade, usando farofa, batatabaroa, pupunha e bastante fruta.
No resto, preocupei-me com o
sabor e o visual. Não quis ser
radical. Li que ela gosta de queijo
de cabra, então fiz uma musse
bem leve com vários brotos e
picles de legumes. Para a sobremesa, lembrei que a rainha usa
sempre chapéus, então criei uma
religiosa estilizada coberta com
chocolate belga e creme leve de
maracujá.
O MENU
Canapés: blinis com creme de
ervas finas, raspas de limão e
salmão marinado
Chips de baroa com brandade
de palmito pupunha e aioli de
gengibre
Entrada: musse de queijo de
cabra, picles de legumes e
brotos, vinagrete de beterraba
e farofa de azeitona
Prato principal: coxa de pato
com molho de manga e cítricos, batatas amandines
Sobremesa: religiosas com
creme leve de maracujá e
chocolate belga
Monique trouxe referências
clássicas da cozinha inglesa,
como o salmão defumado, e
outras tantas brasileiríssimas.
— Pensei nos aromas e nos
sabores que uma rainha gostaria de apreciar. Decidi trabalhar com sabores suaves do
Brasil e um mix de sabores da
Inglaterra. Acho que isso torna
a experiência incrível. Se
Elizabeth II realmente viesse
ao Brasil para conhecer a
nossa gastronomia, eu recomendaria a ela o nosso sorvete
de açaí, o pirarucu, o pato no
tucupi e a bolinha de tapioca.
O MENU
Entrada: carpaccio de carne de
sol com lascas de queijo coalho e
mel de rapadura
Haddock em lâminas com molho
de limão
Salmão defumado com tartare de
abacate e caviar mujol
Prato principal: peixe ensopadinho, farofinha do Pará com coentro e molho de castanha do Pará
Medalhão de mignon com alhos
assados, molho de jabuticaba e
batatas assadas
Sobremesa: shot de musse de
queijo com goiabada cascão
Shot de abóbora com coco
Adriana e Ana Cecília concentraram-se no Brasil, optando por
um menu nacionalíssimo:
— Pensamos em um cardápio
simples e tropical, com o que
mais gostamos de comer da
culinária brasileira. Além do
nosso menu, achamos que a
rainha poderia experimentar,
mas com cuidado e parcimônia,
a feijoada, o bolinho de bacalhau, o escondidinho de carneseca e a broa de milho. Essa
pode ser uma opção para o 5
o’clock tea, que ela adora. Ah, e
por que não uma caipirinha de
limão-verde?
O MENU
Entrada: mini acarajés,
dadinhos de tapioca e
gota de jabuticaba
nossa coxinha de galinha
Prato Principal: moqueca
leve de peixe branco,
farofa de dendê e ervas
frescas
Picadinho clássico, purê
de banana-da-terra, nuvem de couve frita
Sobremesa: manjar de
coco e baba de moça
Bolo molhado de chocolate brasileiro Amma
Macarons de jabuticaba

Documentos relacionados

OGLOBO

OGLOBO por ele a serviços prestados ao PT, tinham origem espúria. O marqueteiro, que estava a trabalho na República Dominicana, disse que as acusações são infundadas e lamentou “clima de perseguição”. PÁG...

Leia mais