pdf - Escandinávia Medieval

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pdf - Escandinávia Medieval
Este artigo foi originalmente publicado no periódico Signum 7 (2005), 1339. A paginação deste arquivo eletrônico não corresponde à paginação
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edição em papel; por exemplo: Patricia Pires Boulhosa, “Sagas islandesas
como Fonte da Fistória da Escandinávia Medieval”, originalmente
publicado
em
Signum
7
(2005)
13-39;
disponível
em
<http://www.boulhosa.net/artigos.htm> com paginação independente.
O conteúdo desse artigo pode ser reproduzido para fins não-acadêmicos,
desde que contenha o seguinte texto: Reproduzido de Patricia Pires
Boulhosa, “Sagas islandesas como fonte da história da Escandinávia
medieval” – versão eletrônica cedida pela Autora, de artigo originalmente
publicado em Signum 7 (2005) 13-39. A paginação deste artigo eletrônico
não confere com a edição original.
2
Sagas islandesas como fonte da história da Escandinávia medieval
Patricia Pires Boulhosa
O zelo dos homens de Thule [i.e. da Islândia] não deve ficar esquecido pelo
silêncio; como a infertilidade do solo nativo não lhes permite nutrir nenhum
luxo, eles exercitam uma contínua rotina de comedimento e devotam todo o
seu tempo para aperfeiçoar nosso conhecimento das façanhas alheias,
compensando a pobreza pela inteligência. Consideram um verdadeiro prazer
descobrir e comemorar as proezas de todas as nações, julgando tão elevado
dissertar sobre as proezas dos outros, como demonstrar a própria. Então, eu
examinei minuciosamente a reserva de seus tesouros históricos e compus não
pequena parte da presente obra copiando as narrativas deles, não
menosprezando o testumunho daqueles em cujas estórias sobre a antiguidade
eu reconheci tanta mestria.
Saxo Grammaticus (c. 1150-1220), Gesta Danorum.1
Em 1514, a obra Gesta Danorum de Saxo Grammaticus foi publicada em Paris pelo
dinamarquês Christiern Pedersen, que, inspirado pelas palavras de Saxo, reuniu trechos
de sagas islandesas sobre os reis noruegueses e as traduziu para o dinamarquês. 2 Em
1575, Anders Sörensen Vedel publicou uma tradução dinamarquesa de Saxo, e em
1579, da Historia Ecclesiastica de Adam de Bremen. 3 Durante o reinado de Frederik I
(1523-1533), o norueguês Laurents Hanssøn, após traduzir vários excertos de leis, foi
incumbido de traduzir trechos de várias as sagas dos reis escandinavos. A tradução de
Hanssøn foi apresentada ao então príncipe dinamarquês, mais tarde rei Frederik II da
Dinamarca e Noruega (1559-1588), com as seguintes credenciais:
Aqui começa a Crônica Norueguesa, que é chamada de Livro dos Reis,
relativa aos reis dinamarqueses, suecos e noruegueses e sobre suas origens –
um pouco sobre todos eles e mais sobre os reis noruegueses.4
1
SAXO GRAMMATICUS, Saxonis gesta danorum, eds. J. Olrik e H. Raeder with Franz Blatt,
Copenhagen, Levin & Munksgaard, 1931-1957, vol. I, p. 5: Nec Tylensium industria silentio
oblitteranda: qui cum ob nativam soli sterilitatem luxuriæ nutrimentis carentes officia continuæ
sobrietatis exerceant omniaque vitæ momenta ad excolendam alienorum operum notitiam conferre
soleant, inopiam ingenio pensant. Cunctarum quippe nationum res gestas cognosse memoriæque
mandare voluptatis loco reputant, non minoris gloriæ iudicantes alienas virtutes disserere quam proprias
exhibere. Quorum thesauros historicarum rerum pignoribus refertos curiosius consulens, haud parvam
præsentis operis partem ex eorum relationis imitatione contexui, nec arbitros habere contempsi, quos
tanta vetustatis peritia callere cognovi.
2
JON GUNNAR JØRGENSEN, Det tapte håndskriftet KRINGLA, Oslo, Universitetet i Oslo, 1999,
pp. 17-20.
3
WALDEMAR WESTERGAARD, “Danish History and Danish Historians”, Journal of Modern
History, 24, 1952, pp. 167-80 (p. 168).
4
Laurents Hanssøns sagaoversættelse, ed. Gustav Storm, Oslo, Brøgger, 1899, p. 1: Her beginnes /
thenn Norske Kronik / ßom kalles / Konninge Boghen / om / Danske Svenske oc Norske Konningr / oc
Deris Aff Sprungk / Noghet af thennom alle / och / Mest af de Norske Kon:.
3
Em 1594, o norueguês Mattis Størssøn traduziu uma versão mais longa daquelas sagas,
entitulando-as simplesmente “A Crônica Norueguesa”. 5 Em 1599 Peder Claussøn
traduziu uma versão ainda mais longa, que apenas em 1633 foi publicada por Ole
Worm. É somente com esta edição de Worm que as sagas ganham um autor:
Crônica dos Reis Noruegueses de Snorri Sturluson. Traduzida para o
dinamarquês pelo Mestre Peder Claussøn, antigo vigário de Sogne, em
Undal. Agora recentemente ampliada, revisada, continuada e preparada para
a imprensa para o benefício do homem comum.6
O esforço humanista de estudar o passado crescia lado a lado às agitações políticas que
se espalhavam por toda a Escandinávia. A Noruega, que estava unida à Dinamarca
desde 1386, perdia o controle político de suas províncias, a tal ponto que a carta de
coroação de Christian III (1534-1559), proclamou que o país passava a ser uma mera
província da Dinamarca.7 A necessidade de preservar a identidade cultural, aliada ao
desejo da nobreza em buscar raízes históricas para as propícias uniões políticas da
época, impulsionaram o humanismo Escandinavo. A evocação de Saxo levou os
humanistas escandinavos a procurar manuscritos na Islândia, onde se encontravam
espalhados por mosteiros, igrejas e em posse de alguns particulares. O súbito interesse
pelas sagas foi bem acolhido pelos islandeses que, desde cedo, tentaram garantir que a
origem islandesa das sagas fosse reconhecida.8 Neste período, portanto, as sagas
surgiram como elemento de preservação das identidades escandinavas, que se
encontravam ameaçadas pelas constantes uniões e dissoluções políticas e territoriais. 9
Apesar do interesse humanista, a tradução e a edição das sagas progrediu lentamente
e de forma esporádica até o século XVIII, e, por isso, a disseminação do conhecimento
ficou restrita a pequenos grupos de estudiosos capazes de ler os textos originais. Não
havia dúvida entre esses estudiosos de que as sagas eram produtos de homens
empenhados em “escrever história”, 10 especificamente a história escandinava dos
séculos IX a XI, embora algumas dúvidas já fossem suscitadas sobre a autenticidade e
confiabilidade das sagas. O debate que se desenrolou ao longo dos séculos XVIII e XIX
não poderia ser satisfatoriamente resumido neste artigo, mormente porque este debate
não se deu em um campo de conhecimento específico: discutiu-se a origem das sagas
(seria possível que vikings pudessem produzir documentos de validade histórica?), a
língua em que foram escritas (poderia uma língua vulgar como o nórdico antigo
preservar história?), até considerações que denunciavam rivalidades nacionais (as sagas
5
MATTIS STØRSSØN, Den norske Krønike, ed. Mikjel Sørlie, Oslo, Universitetsforlaget, 1962.
PEDER CLAUSSØN, Snorre Sturlesøns Norske Kongers Chronica – Udsat paa Danske,
Copenhagen, 1633: Snorre Sturlesøns / Norske Kongers / CHRONICA. / Udsat paa Danske / aff / H.
Peder Claussøn / fordum Sogneprest i Vndal. / Nu nyligen menige mand til gaffn / igien- /nemseet /
continuerit oc til Trycken /forferdiget.
7
A Suécia uniu-se à Dinamarca e à Noruega em 1389, formando, em 1397, a União de Kalmar.
ALEXANDER BUGGE et al. (eds.), Norges Historie: fremstillet for det norske folk, Oslo, Aschehoug,
1909-17, vol. IV.I, p. 9. ØYSTEIN RIAN, “Why Did Norway Survive as a Kingdom?”, Scandinavian
Journal of History, 21, 1996, pp. 49-62, mostra que este item da carta de coroação transformou-se
posteriormente em um problema para a monarquia dinamarquesa, que a custo tentava conquistar o apoio
dos noruegueses. De fato, os sucessivos documentos da coroa mencionavam o Reino da Noruega; porém,
o controle do país estava exclusivamente nas mãos dos oficiais dinamarqueses.
8
Para uma análise aprofundada do período, consultar THEODORE M. ANDERSSON, The Problem of
Icelandic Saga Origins: A Historical Survey, New Haven, Yale University Press, 1964, pp. 1-21
9
Ver HARALD GUSTAFSSON, “The Eighth Argument: Identity, Ethnicity and Political Culture in
Sixteenth-Century Scandinavia”, Scandinavian Journal of History, 27, 2002, pp. 91-114.
10
“skrifue historier”, cf. prefácio de Ole Worm em CLAUSSØN, Snorre Sturlesøns, op. cit.
6
4
não seriam, de fato, norueguesas?). 11 Valiosas contribuições acadêmicas ocorreram
durante este período, especialmente durante o século XIX, que contou com erudição
penetrante de Konrad Maurer e Gustav Storm; mas apesar de maiores ou menores
mudanças de abordagem, a historicidade das sagas sempre foi presumida.
É somente no século XX que as sagas passam a ser consideradas como produtos de
ficção. A questão da historicidade foi posta de lado, e, em um primeiro momento, as
sagas passaram a ser rejeitadas pelos historiadores. Contudo, a partir da metade do
século XX, a antropologia impulsionou o estudo das sagas como artefatos sociais,
principalmente estudos etnográficos relacionados à composição poética, que
influenciaram a análise da composição oral das sagas. Os avanços da arqueologia
habilitaram historiadores a desvincular a pesquisa da história escandinava ao estudo
exclusivo das sagas. Atualmente, embora o estudo literário das sagas seja dominante, o
estudo das sagas como fonte de história social, ou história das mentalidades do período
em que foram escritas, tem se desenvolvido.
Porém, a transição da pesquisa marcadamente historicista para a pequisa das
mentalidades não aconteceu, nem acontece, de maneira estruturada: muitos conceitos
metodológicos, herdados das pesquisas “românticas” dos séculos XVII e XVIII, bem
como das pesquisas literárias do século XX, não foram questionados. A abordagem
literária promoveu a noção da autoria e da unicidade dos textos e aprofundou a divisão
ficção e história. Certas classificações em gêneros literários diferentes promoveram a
idéia de que as sagas podem ser divididas em grupos de acordo com a “carga” histórica
que contêm. Mas a confortável dicotomia ficção versus história não agrada mais a todos
e os conceitos que embasaram a pesquisa das sagas ao longo dos séculos começam a
passar por uma profunda revisão.
Antes de abordar a questão sobre o uso das sagas como fontes históricas, os
problemas desta revisão serão discutidos nas seguintes seções, a partir de alguns tópicos
mencionados nesta (extremamente) abreviada introdução sobre o desenvolvimento dos
estudos das sagas.
II
No final do século IX, muitos noruegueses decidiram deixar o seu país para colonizar a
Islândia. Por mais de três séculos, os islandeses não reconheceram o rei da Noruega
como o seu soberano; foi apenas a partir da segunda metade do século XIII que
finalmente sujeitaram-se à coroa norueguesa. Várias tradições sobre os motivos da saída
dos islandeses desenvolveram-se, mas a tradição islandesa foi recontada e reescrita
muitas vezes, e é a mais comum entre as sagas islandesas. Nesta tradição, o rei
norueguês Haraldr inn hárfagri (860-930) decide que será o único rei da Noruega, e
parte deste projeto consite em tirar o poder de outros reis das províncias, forçando-os a
entregar o poder a ele, expulsando-os ou matando-os quando se recusavam.
Um grande número de sagas reconta, em variadas formas, os eventos relacionados
àquela imigração, evolvendo em vários outros temas, como a relação dos islandeses
com seus antepassados e os reis noruegueses. São esses temas que mais despertam os
interesses de pesquisadores em busca de material etnográfico, histórico e literário, e
uma das questões cruciais enfrentadas é estabelecer quando essas estórias surgiram.
Atualmente, existe um consenso de que as sagas, em sua origem, eram transmitidas
oralmente.12 De fato, a palavra saga, substantivo feminino (plural sögur), é cognata do
11
Sobre o período, consultar ANDERSSON, The Problem, op. cit., pp. 22-40.
Material sobre a oralidade das sagas é extremamente vasto. A seguinte lista é apenas uma pequena
seleção: Judy Quinn, “From Orality to Literacy in Medieval Iceland”, em MARGARET CLUNIES ROSS
12
5
verbo segja, “dizer”. Provavelmente vem da raiz Indo-Européia *sekw, inclusive com o
cognato lituânio sekù, “relatar, contar”, e, mais remotamente, do Latim inquam < *enskuam, e alguns cognatos gregos. Em última análise, deve estar relacionada ao verbo
Germânico “ver”, possivelmente com o senso básico de “seguir” (com a mente ou voz).
Como e quando a transição da forma oral à forma escrita aconteceu é matéria de intenso
debate, porém, é provável que a adoção do Cristianismo – que na Islândia só aconteceu
por volta do ano mil – e a introdução sistemática de registros escritos, tenha contribuído
para o aparecimento das sagas escritas.
Embora fragmentos de manuscritos de conteúdo diverso tenham sobrevivido, é
apenas no século XIII que os primeiros fragmentos de sagas são encontrados.13
Acredita-se, porém, que as primeiras sagas escritas surgiram, em islandês antigo e latim,
na segunda metade do século XII, e versavam sobre a história de reis noruegueses e de
santos. No final do século XII, teriam sido escritas as sagas sobre os islandeses do
século X, e sobre os colonizadores das ilhas Órcades, Faroas, e da Groelândia. 14 A fim
de facilitar a compreensão da distribuição destes manuscritos, convém introduzir uma
das classificações literárias das sagas, que as divide de acordo com o conteúdo temático.
A seguinte classificação é extremamente contingente, pois não existem critérios que
possam definir o conteúdo de todas as sagas exata ou satisfatoriamente: heilagra manna
saga, sagas que relatam a vida de santos; konungasögur, sagas dos reis noruegueses;
Íslendingasögur, sagas versando sobre a vida dos islandeses durante a colonização do
país até mais ou menos o início do século XIII; samtíðarsögur, sagas sobre a vida de
islandeses dos séculos XII e XIII, incluindo-se as biskupasögur, sagas sobre os bispos
islandeses desta mesma época; riddarasögur, sagas cavalheirescas; fornaldarsögur,
sagas sobre heróis do período pré-islandês, ou “germânico”.15 A maioria dessas sagas
estão preservadas em manuscritos islandeses, e algumas delas, como as Íslendingasögur
e as samtíðarsögur, são exclusivamente islandesas. Sagas sobre os reis noruegueses
foram preservadas em alguns manuscritos noruegueses, mas não se comparam em
extensão, às coleções de konungasögur produzidas pelos islandeses. Sobre essa
(ed.), Old Icelandic Literature and Society, Cambridge, Cambridge University Press, 2000, pp. 30-60;
John Lindow, “Þættir and Oral Performance”, em W. F. H. NICOLAISEN (ed.), Oral Tradition in the
Middle Ages, Binghamton: Medieval & Renaissance Texts & Studies, 1995, pp. 179-86; THEODORE M.
ANDERSSON, “The Doctrine of Oral Tradition in the Chanson de Geste and Saga”, Scandinavian
Studies, 34, 1962, pp. 219-36, “Textual Evidence for an Oral Family Saga”, Arkiv för nordisk filologi, 81,
1966, pp. 1-23 e “The Emergence of Vernacular Literature in Iceland”, Mosaic, 8/4, 1975, pp. 161-69;
DIETRICH HOFMAN, “Reykdœla saga und mündliche Überlieferung”, Skandinavistik, 2, 1972, pp. 1-26
e “Die mündliche Sagaerzählkunst aus pragmatischer Sicht”, Skandinavistik, 12, 1982, pp. 12-21;
KLAUS VON SEE, “Skaldenstrophe und Sagaprosa: Ein Beitrag zum Problem der mündlichen
Überlieferung in der altnordischen Literatur”, Mediaeval Scandinavia, 10, 1977, pp. 58-82, “Mündliche
Prosa und Skaldendichtung: Mit einen Exkurs über Skaldensagas und Trobadorbiographien”, Mediaeval
Scandinavia, 11, 1978-79, pp. 82-91 e “Das Problem der mündlichen Erzählprosa im Altnordischen”,
Skandinavistik, 11, 1981, pp. 89-95; SIEGFRIED BEYSCHLAG, “Möglichkeiten mündlicher:
Überlieferung in der Königssaga”, Arkiv för nordisk filologi, 68, 1953, pp. 109-39; MICHAEL
CURSCHMANN, “The Prologue of Þiðreks saga: Thirtheenth-century Reflections on Oral Tradition
Literature”, Scandinavian Studies, 56, 1984, pp. 140-51; HENRY KRATZ, “The Fóstbrœðrasaga and the
Oral Tradition”, Scandinavian Studies, 27, 1955, pp. 121-72.
13
Entre os fragmentos de manuscritos do século XII sobreviventes, encontram-se um livro de homilias,
um calendário latino, um livro de orações, textos legais e um tratado sobre cálculos.
14
Consultar RALPH O’CONNOR, Icelandic Histories & Romances, Charleston, Tempous Publishing,
2002, p. 10 e ROBERT KELLOGG, Introduction em ROBERT KELLOGG (ed.), The Sagas of
Icelanders, London, The Penguin Press, 2000, pp. xv-liv.
15
Não é demasia enfatizar que essa lista não é exaustiva. Além disso, a produção literária da Islândia
não está restrita às sagas – a poesia dos skáld (“skaldica”), a poesia da Edda Menor e Edda Maior
(“eddica”), tratados gramaticais da língua islandesa, além de traduções e adaptações de textos europeus de
diversos gêneros, fazem parte do imenso acervo cultural produzido pelos islandeses durante os séculos
XII e XV.
6
predominância islandesa, Ralph O’Connor comenta:
It is a truism that emigrants tend to guard their cultural traditions more
jealously than those back at home. At any rate, most of the surviving literary
sources for Norse mythology and legendary history were written by
Icelanders, and other Scandinavian writers leaned heavily on their work.16
As sagas que mais atraem os pesquisadore em busca de material histórico, literário e
etnográfico são as Íslendingasögur, as samtíðarsögur, e as konungasögur. A datação
dessas sagas apresenta problemas até o momento insuperáveis. A idéia ainda dominante
é de que houve um período “clássico” de composição de sagas: o século XIII.17 Mas
essa visão reducionista vem sendo desafiada e os critérios para uma tão-necessária
revisão foram traçados por Örnólfr Thorsson em um influente artigo que vem inspirando
novas pesquisas.18 O fato é que a maioria dessas sagas sobrevivem em vários
manuscritos do século XIV e em formas diferentes. Infelizmente, essa multiplicidade de
textos nem sempre foi apreciada e ainda é considerada como um grande dificuldade a
ser enfrentada pelos medievalistas. Mas, como se verá, a multiplicidade e a
variabilidade das sagas é um valioso instrumento de análise.
III
Uma das mais marcantes influências do estudo literário das sagas foi a introdução do
conceito de autoria. A idéia de autoria introduziu, no contexto da produção literária
medieval, a idéia do texto original – aquele escrito, ou talvez ditado a um escriba, pelo
próprio autor. Contudo, enquanto circularam em manuscritos, as sagas foram
transmitidas anonimamente. Esta cultura manuscrita produzia uma diversidade de
textos, que, por circularem anonimamente e em diversas formas, eram variáveis. A
pluralidade e a instabilidade do texto medieval é explicada por Bernard Cerquiglini:
L’œuvre littéraire, au Moyen Age, est une variable. L’appropriation joyeuse
par la langue maternelle de la signifiance propre à l’écrit a pour effet de
répandre à profusion le privilège de l’écriture. Qu’une main fut première,
parfois, sans doute, importe moins que cette incessante récriture d’une œuvre
qui appartient à celui qui, de nouveau, la dispose et lui donne forme. Cette
activité perpétuelle et multiple fait de la littérature médiévale un atelier
d’écriture. Le sens y est partout, l’origine nulle part.19
Robert S. Sturges compara a fluidez do texto na cultura manuscrita à cultura oral, na
qual “an ever-changing narrative is continuously altered by successive contributors”.20
Neste contexto, a idéia de um único autor e de um único texto original restringem a
diversidade cultural, da qual a pluralidade de manuscritos e variabilidade dos textos são
16
O’CONNOR, Icelandic Histories, op. cit., p. 10. O’Connor exemplifica a influência do material
islandês sobre os autores escandinavos com a passagem de Saxo Grammaticos já citada acima.
17
Explicar-se-á abaixo como se originou a idéia desse período clássico.
18
ÖRNÓLFR THORSSON, “Leitin að landinu fagra: Hugleiðing um rannsóknir á íslenskum
fornbókmenntum”, Skáldskaparmál, 1, 1990, pp. 28-53. Alguns representantes desta revisão são listados
na nota 32 abaixo.
19
BERNARD CERQUIGLINI, Éloge de la variante: histoire critique de la philologie, Paris, Seuil,
1989, p. 57.
20
ROBERT S. STURGES, “Medieval Authorship and the Polyphonic Text: From Manuscript
Commentary to the Modern Novel”, em THOMAS J. FARRELL (ed.), Bakhtin and Medieval Voices,
Gainesville: University Press of Florida, 1995, pp. 122-37 (p. 123).
7
testemunhas. 21 Portanto, é necessário compreender como essas características foram
substituídas pela idéia do texto único e invariável.
Como mencionado acima, foi apenas a edição de 1633 de Ole Worm das sagas dos
reis noruegueses que apresentou o islandês Snorri Sturluson como o seu autor; essas
sagas passaram a ser chamadas coletivamente de Heimskringla. 22 Esta atribuição foi
feita com base em provas pouco sólidas, aceitas pelas pressões e convenções literárias
do século XVII, que desdenhavam o anonimato, e consideravam um texto sem autor
como um texto sem autoridade. Desde o final do século XVI, e em parte como resposta
aos atos repressivos da Inquisição contra os editores, à idéia de autoria subjugou a
imprensa.23 Como observa Marcy L. North, a preocupação com autoridade e a autoria
dos textos aumentou durante a fase inicial da imprensa:
authorial names have been attached to previously anonymous texts for a
variety of purposes throughout literary history. In the early centuries of print,
popular authorial names were often attached to anonymous texts to increase
their marketability.24
A necessidade de produzir um autor acabou por promover a autoria de Snorri
Sturluson.25 É certo que atribuições autorais também apareceram no contexto medieval
escandinavo e, na grande maioria dos casos, também estavam relacionadas à
necessidade de atribuir autoridade e erudição a um determinado texto. A possibilidade
fática de uma atribuição autoral era menos importante. Por exemplo, várias obras
islandesas mencionam Ari inn fróði (Ari, o erudito), que teria escritos livros e sagas
sobre a história da Islândia. Não surpreende, portanto, que seu nome apareça
relacionado a algumas sagas, entre elas Gunnlaugs saga ormstungu do manuscrito Holm
perg 18 4°, do século XIV. Que os eventos narrados nesta saga fossem posteriores à
morte de Ari não consistiu obstáculo ao escriba que, no desejo de atribuir autoridade e
erudição ao seu trabalho, preferiu ignorar a contradição e atribuí-la a Ari. Atribuições
autorais não eram distribuídas pelos manuscritos homogeneamente; uma mesma saga
podia aparecer anônima em um manuscrito e atribuída a uma pessoa em outro. Mas,
mesmo nos casos em que um um nome tenha sido atribuído a uma saga contida em um
determinado manuscrito, cabe questionar se é válido transformar este nome em “autor”,
21
STEPHEN G. NICHOLS, “Why Material Philology: Some Thoughts”, Zeitschrift für deutsche
Philologie, 116, 1997, pp. 10-30, também discorre sobre a variabilidade do texto medieval. Essa
variabilidade também é linguística; veja-se, por exemplo, SUZANNE FLEISCHMAN, “Philology,
Linguistics, and the Discourse of the Medieval Text”, Speculum, 65, 1990, pp. 19-37, que explora a
linguagem do francês antigo dentro do texto variável da cultura manuscrita.
22
A teoria de que Snorri Sturluson escreveu Heimskringla é explicada, bem como promovida, em
JAKOB BENEDIKTSSON, “Hvar var Snorri nefndur höfundur Heimskringlu?”, Skírnir, 129, 1955, pp.
118-27 e GUSTAV STORM, “Har haandskrifter af Heimskringla angivet Snorre Sturlassøn som
kongesagaernes forfatter?”, Arkiv för nordisk filologi, 1, 1883, pp. 47-61. Os critérios da atribuição
autoral de Snorri são questionados nos seguintes artigos: JON GUNNAR JØRGENSEN, “Snorre
Sturlesøns fortale paa sin chrønicke: Om kildene til opplysningen om Heimskringlas forfatter”, Gripla, 9,
1995, pp. 45-62; JONNA LOUIS-JENSEN, “Heimskringla: Et værk af Snorri Sturluson?”, Nordica
Bergensia, 14, 1997, pp. 230-45; ALAN J. BERGER, “Heimskringla and the Compilations”, Arkiv för
nordisk filologi, 114, 1999, pp. 5-15; MARGARET CORMACK, “Egils saga, Heimskringla, and the
Daughter of Eiríkr blóðøx”, Alvíssmál, 10, 2001, pp. 61-68.
23
LUCIEN FEBVRE e HENRI-JEAN MARTIN, L’apparition du livre, Paris, Albin Michel, reed.
1999, pp. 224-25.
24
MARCY LYNNE NORTH, “Authoring Anonymity in Renaissance England”, tese de doutorado da
University of Michigan, 1994, p.15. Exemplos de atribuições autorais durante a primeira fase da imprensa
são discutidos em ERNST PHILIP GOLDSCHMIDT, Medieval Texts and Their First Appearance in
Print, London, Bibliographical Society, 1943.
25
A atribuição de Snorri Sturluson feita no século XVII é discutida na minha tese de doutorado,
“Icelanders and the Early Kings of Norway: The Evidence of Literary and Legal Texts”, Cambridge
University, Reino Unido, 2003, principalmente no Capítulo 1, no qual partes deste artigo é baseado.
8
e não somente “autor” do texto daquele manuscrito, mas autor de textos preservados em
outros manuscritos. Em última instância, pode-se fixar o texto por causa desta
atribuição? Desde que Ole Worm decidiu atribuir o nome de Snorri Sturlusson às sagas
que publicou, a resposta para essas duas perguntas tem sido “sim”.
Uma vez instalada a idéia do autor e do texto original, as pesquisas passaram a se
concentrar no contexto histórico da elaboração do texto, ou, mais especificamente, o
contexto biográfico do autor. O “método de investigação biográfica”, na expressão de
Vésteinn Ólason, foi praticado exaustivamente pelos românticos dos séculos XVIII e
XIX, e as correntes literárias revisionistas do século XX – principalmente a chamada
“escola islandesa” liderada por Sigurður Nordal – não o rejeitou.26 Além de inúmeros e
influentes artigos e ensaios monográficos, a escola islandesa foi responsável pela edição
“crítica” das Íslendingasögur – edições que até hoje são usadas para a pesquisa
acadêmica. O caráter crítico dessas edições traduzia-se pela aplicação rigorosa dos
princípios de crítica textual de Karl Lachman. Centradas na idéia do texto original, que
podia ser extraído através de paciente trabalho filológico, essas edições seguiam (assim
como a crítica textual Leo Spitzer, Erich Auerbach e Ernst Robert Curtius), as
convenções filológicas européias da época.27 Nas palavras de Stephen Nichols, este
método de crítica textual era um legado do século XIX, e representava
a technological scholarship made possible by a print culture. It joined forces
with the mechanical press in a movement away from the multiplicity and
variance of a manuscript culture, thereby rejecting, at the same time, the
representation of the past which went along with medieval manuscript
culture: adaptation or translatio, the continual rewriting of past works in a
variety of versions, a practice which made even the copying of medieval
works an adventure in supplementation rather than faithful imitation.28
Fundamentada nesta sólida tradição de crítica textual, e com o objetivo de maximizar o
valor literário das sagas, a escola islandesa passou a considerá-las como produtos de
autores individuais. E, como Cerquiglini observa, é sobre a idéia moderna de autor,
surgida entre os séculos XVI e XIX, que a nossa idéia de texto é construída. 29 O
26
VÉSTEINN ÓLASON, “Bókmenntarýni Sigurðar Nordals”, Tímarit Máls og menningar, 45, 1984,
pp. 5-18. Uma equilibrada análise da pesquisa de Sigurður Nordal e da chamada “escola islandesa” pode
ser encontrada em GUNNAR KARLSSON, “Icelandic Nationalism and the Inspiration of History”, em
ROSALIND MITCHISON (ed.), The Roots of Nationalism: Studies in Northern Europe, Edinburgh,
Donald, 1980, pp. 77-89 e JESSE L. BYOCK, “History and the Sagas: The Effect of Nationalism”, em
GÍSLI PÁLSSON (ed.), From Sagas to Society: Comparative Approaches to Early Iceland, Enfield Lock,
Hisarlik Press, 1992, pp. 43-59.
27
Para uma análise crítica da história e dos metódos de crítica textual moderna, consultar JEROME J.
MCGANN, A Critique of Modern Textual Criticism, Charlottesville, University Press of Virginia, reed.
1992, especialmente pp. 15-49.
28
STEPHEN G. NICHOLS, “Introduction: Philology in a Manuscript Culture”, Speculum, 65, 1990,
pp. 1-10 (pp. 2-3). As pesquisas de Bernard Cerquiglini e Stephen G. Nichols, entre outras, é comumente
denominada de “nova filologia”, o nome do movimento cunhado após a edição de 1990 do periódico
norte-americano Speculum, dedicado à crítica textual, e introduzido com um prefácio do próprio Nichols.
Para uma análise equilibrada da “nova filologia”, consultar a série especial (Sonderheft) do volume 116,
1997, do periódico Zeitschrift für deutsche Philologie. Uma reação incendiária à “nova filologia” aparece
em vários artigos em MARTIN-DIETRICH GLEßGEN e FRANZ LEBSANT (eds.), Alte und neue
Philologie, Editio, 8, Tübingen, Niemeyer, 1997. Outra resposta igualmente negativa encontra-se em
KEITH BUSBY (ed.), Towards a Synthesis?: Essays on the New Philology, Amsterdam, Rodopi, 1993.
Dentro do contexto da pesquisa de nórdico antigo, KIRSTEN WOLF, “Old Norse – New Philology”,
Scandinavian Studies, 65, 1993, pp. 338-48, elabora uma defesa dos métodos tradicionais de crítica
textual. STEFÁN KARLSSON, “The Localization and Dating of Medieval Icelandic Manuscripts”, SagaBook, 25, 1999, pp. 138-58, argumenta que uma análise paleográfica e histórica pode contribuir para a
reavaliação da produção manuscrita medieval.
29
CERQUIGLINI, Éloge, op. cit., pp. 24-29.
9
conceito medieval de autoria fundamentava-se na idéia de autoridade: “an auctor was
regarded as someone whose works had considerable authority and who bore full
responsibility for what he had written”. 30 Neste sentido específico, a idéia medieval de
autoria contradiz a idéia moderna, baseada em um conceito (legal) de propriedade
intelecutal. A idéia medieval de autoria deve ser compreendida, na proposta de Ernst
Philip Goldschimdt, dentro do conceito de aquisição de conhecimento:
We are guilty of an anachronism if we imagine that the medieval student
regarded the contents of the books he read as the expression of another
man’s personality and opinion. He looked upon them as part of that great
and total body of knowledge, the scientia de omni scibili, which had once
been the property of the ancient sages. Whatever he read in a venerable old
book he would take to be not somebody’s assertion but a small piece of
knowledge acquired by someone long ago from someone else still more
ancient.31
A transposição da idéia moderna de autor e de texto original à produção das sagas
medievais islandesas dissociou-as da multiplicidade e variabilidade da produção
manuscrita, e, crucialmente, permitiu que editores interferissem nos textos manuscritos
em busca do texto original.32 Desta forma, vários textos podiam ser fundidos em um
através da remoção, alteração ou adição de expressões, frases ou capítulos inteiros. O
objetivo era expurgar o que o “mal gosto” de escribas negligentes introduzira. 33 O
conceito de decadência literária (presente, aliás, em toda a crítica textual do século
XIX), permeava esse método de crítica textual, e possibilitava que editores
classificassem textos e manuscritos em bons e maus exemplares. Sob a perspectiva de
decadência, considerou-se que a produção de sagas chegou ao ápice no século XIII.
Esta delimitação temporal e estilística proporcionou o contexto histórico para todas as
sagas, e não somente àquelas cuja autoria podia ser presumida ou deduzida: instituia-se
o período “clássico” da produção das sagas.34 Em um argumento flagrantemente
30
A. J. MINNIS, Medieval Theory of Authorship: Scholastic Literary Attitudes in the Later Middle
Ages, Aldershot, Wildwood House, 1988, p. 192.
31
GOLDSCHMIDT, Medieval Texts, op. cit., p. 113.
32
O citado artigo de Örnólfur Thorsson discute o papel preponderante dessa política editorial no
processo de datação das sagas e insiste na reavaliação radical do métodos de datação: THORSSON,
“Leitin”, op. cit., pp. 29-31. Desde então, algumas pesquisas que questionam a idéia do texto original têm
surgido, entre outras: HANS FIX, “Text Editing in Old Norse: A Linguist’s Point of View”, NOWELE,
31-32, 1997, pp. 105-17; RUSSELL G. POOLE, “Variants and Variability in the Text of Egill’s
Hôfuðlausn”, em ROBERTA FRANK (ed.), The Politics of Editing Medieval Texts: Papers Given at the
Twenty-seventh Annual Conference on Editorial Problems - University of Toronto - 1-2 November 1991,
New York, AMS Press, 1993, pp. 65-105; JÜRG GLAUSER, “Textüberlieferung und Textbegriff im
spätmittelalterlichen Norden: Das Beispiel der Riddarasögur”, Arkiv för nordisk filologi, 113, 1998, pp. 727; ANNA METTE HANSEN, “The Icelandic Lucidarius: Traditional and New Philology”, em
GERALDINE BARNES e MARGARET CLUNIES ROSS (eds.), Old Norse Myths, Literature and
Society: Proceedings of the 11th International Saga Conference 2-7 July 2000, Sydney, Centre for
Medieval Studies, 2000, pp. 118-25; PREBEN MEULENGRACHT SØRENSEN, “Teksten mellen
filologi og litteraturvidenskab”, em KRISTINN JÓHANNESSON, KARL G. JOHANSSON e LARS
LÖNNROTH (eds.), Den fornnordiska texten i filologisk och litteraturvetenskaplig belysning,
Gothenburg, Göteborgs universitet, 2000, pp. 83-95. CHRISTOPHER ABRAM, “Scribal Authority in
Skaldic Verse: Þórbjôrn hornklofi’s Glymdrápa”, Arkiv för nordisk filologi, 116, 2001, pp. 5-19.
33
Em última análise, a escolha dos editores baseava-se em conceitos de gosto literário. A crítica das
edições dos textos de Shakespeare realizada por Randall McLeod fornece um paralelo produtivo aos
problemas da edição e análise das sagas. McLeod demonstra como as categorias morais de bom e ruim
estruturam a prova textual antes que o leitor tenha chance de vê-la. RANDALL MCLEOD, “The
Marriage of Good and Bad Quartos”, Shakespeare Quarterly, 33, 1982, pp. 421-31 e “Gon. No More, the
Text is Foolish”, em GARY TAYLOR e MICHAEL WARREN (eds.), The Division of the Kingdoms:
Shakespeare's Two Versions of ‘King Lear’, Oxford, Clarendon Press, 1983, pp. 153-93.
34
Para uma discussão e crítica do conceito de “sagas clássicas”, consultar Ralph O’Connor, “Not
10
circular, pretendia-se que a aplicação de rígidos métodos de crítica textual pudesse
refletir não somente o texto original do autor, mas suas aspirações estéticas, políticas e
históricas, ao mesmo temo que essas aspirações constituíam a base das decisões sobre o
que o texto original deveria conter. Além disso, a grande maioria de sagas preservadas
em manuscritos do século XIV passaram a ser consideradas como material derivativo, e,
em consequência, grandes liberdades podiam ser tomadas em relação a própria estrutura
textual.
A idéia de que os manuscritos existentes sejam apenas transcrições mais ou menos
ruins de um texto original perfeito e idealizado limita o nosso entendimento das sagas,
principalmente porque impede que se compreenda os objetivos individuais e o valor de
cada texto.35 O contexto histórico e cultural do momento da produção das sagas é
extremamente importante, porém, no caso das pesquisas centradas nas idéias de autoria,
do texto original e do período clássico de composição das sagas, este contexto é apenas
uma criação idealizada. Quando as idéias de autoria e do texto original são colocadas de
lado, permite-se que uma multiplicidade de textos e de interpretações seja revelada –
versões variadas, e nenhuma delas é mais importante do que as outras. As diferentes
versões não são cópias mais oumenos diferenciadas de um texto original; antes, indicam
a existência de um contínuo processo de pensamento. As diferenças entre versões
devem ser analisasadas sob as diferentes perspectivas ideológicas que refletem.
IV
Esta seção analisará o início do reinado de Haraldr inn hárfagri e o início da colonização
da Islândia tal como narrado em duas sagas, Egils saga Skallagrímssonar (Egils saga) e
Haralds saga ins hárfagra (Haralds saga), ambas preservadas nos manuscritos do
século XIV, AM 45 fol (c. 1300-1325) e AM 132 fol (c. 1330-1350), respectivamente.36
A Haralds saga faz parte de uma coletânea da vida dos reis noruegueses apresentadas
cronologicamente no manuscrito, e, portanto, a saga do rei Haraldr inn hárfagri é
apresentada entre as sagas do seu antecessor, seu pai Hálfdan inn svarti (Hálfdanar saga
svarta), e a de seu sucessor, seu filho Hákon Aðalsteinnsfóstri (Hákonar saga
Aðalsteinsfóstra). A Egils saga faz parte de uma coletânea de sagas sobre a vida de
islandeses durantes os primeiros séculos da colonização da Islândia.
Segundo os critérios de classsificação literária, a Egils saga é uma Íslendingasaga e
Haralds saga uma konungasaga. Segundo o sistema de datação e atribuição autoral das
correntes literárias tradicionais, ambas as sagas teriam sido escritas pelo islandês Snorri
Sturlusson em meados do século XIII.37 Consideradas sob a perspectiva autoral de
Snorri Sturluson, a relação entre os islandeses e os reis da Noruega é explicada através
de paralelos entre as passagens narradas nessas duas sagas e a vida de Snorri, tal como
narrada na Sturlunga saga, uma coletânea de sagas de islandesas do século XIII. Por
Drowning but Waving: The Sagas of Icelanders after the Golden Age”, Quaestio, 1, 2000, pp. 66-81.
35
Essa visão tradicionalista da produção manuscrita das sagas pode ser vista em EINAR ÓLAFUR
SVEINSSON, Dating the Icelandic Sagas: An Essay in Method, London, Viking Society for Northern
Research, 1958.
36
Egils saga Skallagrímssonar, ed. Finnur Jónsson, Copenhagen, Møller & Thomsen, 1886-1888 e
Haralds saga ins hárgagra em Codex Frisianus: en samling af norske konge-sagaer, ed. Carl R. Unger,
Oslo, Malling, 1871, daqui em diante representadas, respectivamente, pelas abreviações Egs e HarHár.
Na medida do possível, foram retiradas dos trechos citados palavras ou frases que não constam dos
manuscritos originais.
37
A idéia de que Snorri Sturluson teria escrito a Egils saga baseia-se em semelhanças textuais entre as
duas sagas. A idéia foi propagada a partir da sugestão de Sigurður Nordal na sua edição de 1933, Egils
saga Skallagrímssonar, Reykjavík, Hið íslenzka fornritafélag, reed. 1988.
11
exemplo, a visão menos positiva da monarquia por vezes expressa na Egils saga, é
explicada à luz da espinhosa relação, descrita na Sturlunga saga, entre Snorri Sturluson
e o rei Hákon Hákonarson (1217-1263).38 Além disso, trechos contidos em ambas as
sagas são comparados entre si com o objetivo de estabelecer qual saga teria sido
composta em primeiro lugar.39 Se, por exemplo, presume-se que Haralds saga foi
escrita primeiro, uma passagem que não tenha correlação na Egils saga é considerada
como uma omissão textual; reciprocamente, uma passagem da Egils saga que não tenha
correlação em Haralds saga é considerada como uma adição. Se, pelo contrário,
presume-se que Egils saga foi composta em primeiro lugar, então conclusões opostas
serão feitas. Essas análises também pressupõem que uma saga baseia-se na outra. No
entanto, esta visão esquece que na cultura manuscrita, uma mesma tradição pode ser
moldada de acordo com diversos objetivos intelectuais, ideológicos e estéticos, e que as
diferenças entre as narrativas podem ter significados muito mais complexos do que a
mera diferença textual. A seguinte análise tem como objetivo analisar as diferenças
entre as narrativas sobre a motivação da colonização da Islândia nas duas sagas, sob o
aspecto de expressão ideológica.
A Egils saga narra a vida do islandês Egill Skalla-Grímsson, integrante da primeira
geração de islandeses. A narrativa da vida de Egill começa com seus ancestrais na
Noruega. Nos trinta capítulos que precedem o nascimento de Egill, a narrativa
concentra-se no conflito entre Haraldr inn hárfagri e os antepassados de Egill: a estória
dessa relação explica como Egill nascerá islandês, e, ultimamente, como a Islândia
nasceu. O avô paternal de Egill é introduzido como um homem rico e poderoso; um
lendr maðr, isto é, proprietário de óðal, terras hereditárias ancestrais que não eram
controladas pelos reis locais.40 A narrativa prossegue com a introdução do contexto
social que explicará o conflito entre a família de Egill e o rei Haraldr; este conflito é
introduzido logo em seguida:
Haraldr, filho de Hálfdan svarti, havia recebido a herança de seu pai. Fez um
juramento de que não cortaria o cabelo, nem o pentearia, até que se tornasse o
único rei da Noruega; era chamado Haraldr lúfa.41
O rei Haraldr ataca os reis locais e vence-os um a um, matando aqueles que o resistem,
e conferindo títulos àqueles que decidem submeter-se ao seu poder. S²lvi klofi, filho de
um desses reis derrotados e mortos, pede que se faça uma aliança contra o rei Haraldr:
Mas S²lvi klofi, filho de Húnþjófr, havia escapado e foi a Sunnmærr ao
encontro do rei Arnviðr e pediu ajuda para si, dizendo: “Embora esse
problema tenha nos atingido agora, não vai demorar muito até que o mesmo
38
Por exemplo, a análise de BALDUR HAFSTAÐ, Die Egils saga und ihr Verhältnis zu anderen
Werken des nordischen Mittelalters, Reykjavík, Rannsóknarstofnun Kennaraháskóla Íslands, 1995,
especialmente pp. 15-16, 29-33.
39
Um resumo da discussão sobre qual saga Snorri Sturluson teria escrito em primeiro lugar pode ser
encontrado em MELISSA A. BERMAN, “Egils saga and Heimskringla”, Scandinavian Studies, 54, 1982,
pp. 21-50, e mais recentemente, KOLBRÚN HARALDSDÓTTIR, “Hvenær var Egils saga rituð?”, em
GUNNAR KARLSON e HELGI ÞORLÁKSSON, Yfir Íslandsála: Afmælisrit til heiðurs Magnúsi
Stefánssyni sextugum 25. desember 1991, Reykjavík, Sögufræðslusjóður, 1991, pp. 131-45.
40
Este conceito de óðal (pl. óðul), é discutido em PETER FOOTE e DAVID M. WILSON, The Viking
Achievement: The Society and Culture of Medieval Scandinavia, London, Sidgwick & Jackson, reed.
1984, p. 82. Consultar, também, AARON GUREVICH, “Free Norwegian Peasantry Revisited”, Historisk
tidsskrift, 69, 1990, pp. 275-84, que discute o sistema de propriedade na Escandinávia medieval.
41
HarHár, capítulo 3, p. 6: Haraldr, son Hálfdanar suarta hafði tekit arf epter foður sinn. Hann hafði
þess heit streingt, at láta eigi skera hár sitt né kemba, fyrr en hann veri einualldz konungr yfer Noregi.
Hann var kallaðr Haralldr lúfa. “Lúfa” significa “descabelado”; “hárfagri”, que é o apelido que o rei
Haraldr recebe mais tarde, significa “belos cabelos”.
12
problema alcance vocês, porque acredito que o rei Haraldur virá rapidamente
para cá, depois que escravizar e oprimir, à vontade, todas as pessoas em
Norðmærr e Raumsdalr. Então, vocês terão em suas mãos a mesma opção
que nós tivemos: defender suas propriedades e liberdade, arriscando a vida de
todos os homens cuja ajuda vocês podem esperar. Quero oferecer minha
ajuda e a de meus homens contra essa opressão e tirania. Mas talvez vocês
queiram seguir outro curso, assim como fizeram os homens de Naumudalr:
sujeitarem-se, de vontade própria, ao cativeiro e tornarem-se escravos de
Haraldr. Meu pai considerou uma vitória morrer em posse de seu reino, com
sua honra, ao invés de se tornar um subalterno de outro rei em sua velhice. Eu
imagino que vocês pensem dessa forma, assim como todo aquele que seja
superior e queira ter espírito de luta”.42
O discurso de S²lvi na Egils saga revela que a resistência ao rei Haraldr vai além da
necessidade de proteger a vida – é o sistema ancestral de propriedade e de poder que
está sendo ameaçado. Para S²lvi subjugar-se equivale a perder o poder conferido por
sua ancestralidade, subjugação comparável à escravidão. Embora a Egils saga explique
o papel dos reis locais no conflito – e o próprio pai de S²lvi era um desses reis – a
narrativa enfatiza que o conflito do projeto de unificação do rei Haraldr envolve os
lendir menn, proprietários de terras ancestrais, e bændr, homens livres, que suportavam
os lendir menn e os reis locais.43
Na Egils saga, a descrição das mudanças impostas pelo rei Haraldr é seguida da
informação sobre várias emigrações, com a frase final, “E nesta época descobriu-se a
Islândia”, conectando a colonização do país à tirania do rei Haraldr:
Quando tomou posse dos distritos que havia conquistado recentemente, o rei Haraldr prestou muita
atenção aos lendir menn e bœndr poderosos, além de todos aqueles que suspeitava de insubordinação.
Então, dava a cada um, duas opções: tornar-se um de seus súditos ou deixar o país. Mas uma terceira
opção era deixar-se expor a grande perigos ou perder a vida, e alguns tiveram seus pés ou mãos
multilados. O rei Haraldr apoderou-se de todos os óðul 44 e de todas as terras de cada distrito, habitáveis
ou não, e até dos mares e lagos, e obrigou todos os bœndr a se tornaram seus subordinados. Então,
aqueles que trabalhavam em florestas ou nos saleiros, e todos os caçadores, tanto da terra como do mar,
todos tinham que se sujeitar a ele. E por causa dessa tirania, muitos fugiram do país e mudaram-se para
terras antes inabitáveis, tanto ao leste, em Jamtland e Helsingjaland, como nas terras a oeste, e às
Hébridas, à região de Dublin, Irlanda, Normandia na França, Caithness na Escócia, ilhas Shetland e ilhas
Faroe. E nessa época descobriu-se a Islândia.45
42
Eg, chapter 3, p. 8: En Saului klofi, son Húnþjófs, hafði vndan komiz ok fór hann á Sunn-Mæri til
Arnuiðar konungs ok bað hann sér fulltings ok sagði suá: “Þótt þetta vandræði hafi nú borit oss at hendi,
þá mun eigi langt til, at sama vandræði mun til yðuar koma, þuíat Haralldr ætla ek at skjótt man hér
koma, þá er hann hefer alla menn þrælkat ok áþjáð, sem hann vill, á Norð-Mæri ok í Ravmsdal. Munu þér
hinn sama kost fyrir hondum eiga, sem vær áttum, at verja fé yðuart ok frelsi, ok kosta þar til allra þeira
manna, er yðr er liðs at ván, ok vil ek bjóðaz til með mínu liði móti þessum ofsa ok ´vjafnaði. En at oðrum
kosti munu þér vilja taka upp þat ráð, sem Naumdælar gerðu, at ganga með sjálfuilja í ánauð ok geraz
þrælar Harallz. Þat þótti foður mínum sigr, at deyja í konungdómi með sæmd, helldr en geraz vndermaðr
annars konungs á gamals alldri. Hygg ek at þér muni ok suá þykja ok oðrum þeim, er nockurer ero borði
ok kappsmenn vilja vera”.
43
Búendr (s. m. pl. de bóndi), “homem livre”, “fazendeiro”. O búendr, embora pudesse adquirir terras,
não tinha o direito de herdar terras alodiais, como o landr maðr (pl. lendir menn).
44
Óðal (s. n.; pl. óðul) são as terras ancestrais: v. nota 40 acima.
45
Egs, chapter 4, pp. 11-12: Haraldr konungr var mjog gjorhugall, þá er hann hafði eignaz þau fylki,
er nýkomin voro í valld hans, vm lenda menn ok ríka búendr ok alla þá, er honum var grunr á, at
nockurrar vppreistar var af ván, þá lét hann huern gera annathuárt, at geraz hans þjónostumenn, eða
fara af landi á brott, en at þriðja kosti sæta afarkostum eða láta lífit, en sumer voro hamlaðer at hondum
eða fótum. Haralldr konungr eignaðiz í huerju fylki óðul oll, ok allt land bygt ok ´vbygt, ok jamuel sjóinn
ok votnin, ok skylldu aller búendr vera hans leiglendingar. Suá þeir er á morkina ortu ok saltkarlarner ok
aller veiðimenn, bæði á sjó ok landi, þá voro aller þeir honum lýðskyllder. En af þessi áþján flýðu marger
menn af landi á brott, ok bygðuz þá margar auðner víða, bæði austr í Jamtaland ok Helsingaland ok
Vestrlond: Suðreyjar, Dyflinnar skíði, Írland, Norðmandí á Vallandi, Katanes á Skotlandi ok Hjalltland,
13
A tomada de poder do rei Haraldr na Haralds saga tem um tom diverso da de Egils
saga. Na Haralds saga, a narrativa busca caracterizar o rei Haraldr como o patriarca da
monarquia norueguesa, e, na maioria das vezes, a narrativa simpatiza com o rei e sua
nova forma de administração e governo.46 O projeto de unificação do rei Haraldr é
apresentado nas primeiras linhas da saga: com apenas 10 anos de idade, Haraldr sucede
ao trono depois da morte de seu pai, Hálfdan inn svarti; em consequência,
muitos líderes usurparam o reino que Hálfdan havia deixado. O rei Gandalfr
foi o primeiro e [depois] os irmãos H²gni e Fróði, filhos do Rei Eysteinn de
Heiðmork, e H²gni Kárasson devastou Hringaríki por toda a parte.47
Ao contrário do que se vê em Egils saga, a narrativa de Haralds saga introduz um
conflito entre os reis locais, e enfatiza que o projeto de unificação da Noruega e sua
subida ao poder acontece através desse conflito. Ao explicar, como na passagem da
Egils saga acima citada, as mudanças políticas e administrativas impostas pelo rei
Haraldr, a narrativa da Haralds saga explica que essas mudanças afetam principalmente
esses reis locais:
Quando conquistou o reino para si, o rei Haraldr impôs uma lei por todo [o país]: ele tomou posse de
todos os óðul e fez com que todos os bœndr, tanto os poderosos como os fracos, pagassem impostos
[sobre o uso] do solo. Ele estabeleceu um jarl48 em cada distrito, que deveria instituir as leis, os direitos
de propriedade das terras, recolher multas e o pagamento dos impostos [sobre o uso] do solo. [Cada] jarl
recebia um terço dos impostos e tributos para a sua manutenção e despesas. Cada jarl tinha sob o seu
poder três ou mais hersar, e cada um destes receberia vinte marcos de concessão real. Cada jarl deveria
fornecer quarenta homens para o exército do rei. E o rei Haraldr aumentou tanto a taxação e o imposto
[sobre o uso] do solo, que os seus jarlar passaram a ter mais poder do que os reis haviam tido antes. E
quando essas coisas foram ouvidas em Þrandheimr, muitos homens poderosos procuraram o rei Haraldr
para se submeterem a ele e tornarem-se seus súditos.49
A conclusão, na Haralds saga, de que os homens que se subjugaram ao rei Haraldr
Færeyjar, ok í þann tíma fanz Ísland.
46
Diferente aspectos da caracterização do reinado de Haraldr inn hárfagri foram discutidos em
inúmeros artigos, dos quais destacamos ÁRMANN JAKOBSSON, Í leit að konungi: konungsmynd
íslenskra konungasagna, Reykjavík, Háskólaútgáfan, 1997, especialmente pp. 160-66; SVERRE
BAGGE, Sverre Bagge, Societry and Politics in Snorri Sturluson’s “Heimskringla”, Berkeley, University
of California Press, 1991, pp. 54-57; CLAUS KRAG, “Norge som odel i Harald Hårfagres ætt: et mote
med en gjenganger”, Historisk tidsskrift, 68, 1989, pp. 288-302; KNUT DØRUM, “Det norske riket som
odel i Harald Hårfagres ætt”, Historisk tidsskrift, 80, 2001, pp. 323-42; SVERRIR JAKOBSSON, “Myter
om Harald hårfager”, em Sagas and the Norwegian Experience: Preprints of the 10th International Saga
Conference, Trondheim, 1997, pp. 567-610; HANS KUHN, “Narrative Structures and Historicity in
Heimskringla”, Parergon, 15, 1976, pp. 30-42; ALAN J. BERGER, “The Sagas of Harald Fairhair”,
Scripta Islandica, 31, 1980, pp. 14-29; MARLENE CIKLAMINI, “Exempla in an Old Norse
Historiographic Mold”, Neophilologus, 81, 1997, pp. 71-87.
47
HarHár, chapter 1, p. 38: gengo margir hofðinngiar a rikit. þat er Halfdan hafði leift. var hinn fyrsti
maðr Gandalfr konvngr ok þeir bræðr Haugni ok Froþi seynir Eysteins konvngs af Heiðmork. ok Haugni
Karoson gekki viða yfir Hringariki.
48
Jarl (plural, jarlar) era um nobre hierarquicamente inferior ao rei, embora existam casos de jarlar,
que não eram subordinados a nenhum rei.
49
HarHár, chapter 6, p. 40: Haralldr konvngr setti þann rétt. allt þar er hann vann riki vndir sig. at
hann eignaðiz oþvl oll. let alla bændr giallda ser landskylldir. bæði rika ok orika. Hann setti jarl i hverio
fylki. þann er dæma skylldi laug ok landz rétt ok heimta sakeyri ok landzskylldir. jarl skylldi hafa þriþiong
skatta ok skyllda til borðz ser ok kostnaðar. Jarl hverr hafði vndir ser .iiij. hersa eða fleiri. ok skylldi
hverr þeirra hafa .xx. marka veizlo. Jarl hverr skylldi fa konvngi i her .xl. manna. enn hersir hverr .xx.
menn. Enn sva mikit hafði Haralldr konvngr aukit alaugvr ok landzskylldir. at iarlar hans hofðo meira
riki. enn konvngar hofðo fyrrom. Enn er þetta spurðiz vm Þrandheim. sotto til Haralldz konvngs margir
rikismenn með þvi at ganga til handa ok geraz hans menn.
14
passaram a ter mais poder do que os antigos reis locais, contradiz a visão expressa em
Egils saga de que os homens subjugados tornaram-se subordinados ou escravos de
Haraldr. Na Egils saga, embora o rei Haraldr confira títulos de nobreza, como no caso
do rei Hrollaugur que, “desistiu de seu reinado, tornou-se um jarl e em seguida
subjugou-se ao poder do rei Haraldur”,50 o poder é uma prerrogativa real.
O discurso de S²lvi klofi também é moldado de acordo com o interesse de cada saga.
Como visto acima, o discurso de S²lvi na Egils saga enfatiza os valores ancestrais de
liberdade e da propriedade. Além disso, o conflito com o rei Haraldr envolve todos os
homens do distrito: o rei Haraldr escravizará “todas as pessoas em Norðmærr e
Raumsdalr” e foram os “os homens de Naumudlur” que S²lvi condena por terem se
sujeitado ao rei por vontade própria. Já o discurso de S²lvi na Haralds saga apresenta
diferenças importantes: não há menção da escravização dos homens dos distritos, mas
apenas daqueles que, por serem reis, são tão nobres quanto o rei Haraldr; ao invés de
“homens de Naumdalr”, a frase “reis de Naumdalr” é usada:
S²lvi klofi foi ao sul, para Fj²rð, para se encontrar com o rei Auðbj²rn, que
reinava ali, e pediu sua ajuda – que ele deveria vir com seu exército para
ajudar o rei Árnviðr. “Se todos nos erguermos contra o rei Haraldr, não é
improvável que nossa investida termine bem, porque temos força suficiente e
o destino decidirá quem vencerá. Mas há uma outra escolha, que não é uma
escolha para os homens que não são menos nobres do que o rei Haraldr:
tornar-se escravos dele. Meu pai pensou que essa era a melhor escolha:
morrer durante batalha como um rei do que se tornar, de vontade própria,
subserviente ao rei Haraldr, não suportando as armas, como fizeram os reis
de Naumdalir.51
Essa passagem reinforça a idéia de que o conflito envolve apenas reis; a narrativa
distancia os “homens que não são menos nobres que o rei Haraldr” da idéia de “todos os
homens” encontrada na Egils saga. Além disso, na Haralds saga, a luta e a evasão de
norueugeses nobres e poderosos, e a colonização da Islândia não é mencionada.
Somente mais tarde na narrativa, há menção da colonização de novos países, entre eles a
Islândia, em resposta aos conflitos gerados pelas reformas de Haraldr. Porém, a
narrativa minimiza a impopularidade do rei Haraldr entre os homens poderosos,
argumentando que muitos deles deixaram o país, mas muitos outros uniram-se a ele:
Depois da batalha, o Rei Haraldr não encontrou mais resistência na Noruega.
Todo os seus maiores inimigos foram mortos, mas alguns deixaram o país – e
foi uma grande multidão deles – e por isso muitas terras bravias foram
habitadas. Nesta época, a região de Jamtland e Halsingland foram habitadas,
embora as duas já tivessem sido colonizadas por nórdicos antes. Durante este
perído de luta, enquanto o rei Haraldr avançava pela Noruega, países
estrangeiros foram descobertos e colonizados, as Ilhas Faroas e a Islândia.
Também houve muitas viagens para as ilhas Shetland, e muitos homens
poderosos da Noruega fugiram por causa do rei Haraldr e foram em
excursões vikings no oeste. No inverno, eles iam às Órcades e às Hébridas,
mas no verão eles devastavam a Noruega, e causaram muito prejuízo ali. Mas
foram muitos homens poderosos que se submeteram ao rei Haraldr,
50
Egs, capítulo 3, p. 7: velltiz ór konungdómi, ok tók vpp jarls rétt, ok fór síðan á valld Haralldz
konungs, ok gaf vpp ríki sitt.
51
HarHár, capítulo 12, p. 43: Solvi klofi for svðr i Fiorðo a fvnd Avþbiarnar konvngs. er þar reð fyrir
ok bað hann liðz. at hann skylldi fara við her sinn til styrks við þa Arnvið konvng. Er þa eigi olikligt a(t)
vár ferþ takiz vel ef vér risom allir i mót Haralldi konvngi. þvi at ver hofvm þa ærinn styrk ok ma auðna
raða sigri. Hinn er annarr kostr. ok er þat þo engi kostr þeim monnom er eigi ero vtignari enn Haralldr
konvngr. at geraz þrælar hans. betri þotti feðr minom sa kostr at falla i bardaga i konvngdomi sinom enn
ganga sialfkrafa i þionvstv við Haralld konvng. eða þola eigi vapn sem Naumdæla konvngar gerþo.
15
tornaram-se seus súditos e colonizaram esses países com ele.52
A última frase deste parágrafo sugere que o rei Haraldr tinha controle sobre a
emigração. Esta sugestão é oferecida de maneira ambígua, uma vez que a frase pode ser
interpretada: “Mas foram muitos homens poderosos que se submeteram ao rei Haraldr,
tornaram-se seus súditos e habitaram essas terras [i.e. os distritos da Noruega] com
ele”. 53 Porém, o uso do substantivo “land” (pl. lönd, “país; terras”), na terceira frase do
parágrafo, com o significado de “países estrangeiros”, parece reforçar a sugestão de que
são essas as terras estrangeiras que os aliados de Haraldr, com sua permissão,
colonizaram. Na Haralds saga, portanto, a descrição da tomada de poder de Haraldr não
salienta a conexão entre o reinado de Haraldr e a colonização da Islândia, e até parece
sugerir que o rei tinha um certo controle sobre a emigração.
As diferenças entre as narrativas da Egils saga e da Haralds saga são geralmente
analisadas no contexto da discussão sobre a visão do seu suposto autor, Snorri
Sturluson. Tenta-se explicar porque algumas passagens diferem nas duas sagas através
dos sucessos e fracassos pessoais de Snorri na corte norueguesa, e a simpatia ou
antipatia à monarquia que teriam provocado. Essencialmente, acredita-se que as duas
sagas têm o mesmo objetivo, e que diferem apenas em detalhes – detalhes que são
considerados apenas em suas funções textuais. Porém, a análise da tomada de poder do
rei Haraldr, e do lugar da colonização da Islândia durante este processo, mostra que as
diferenças textuais nas duas sagas refletem aspectos ideológicos diferentes, cuja
complexidade não deve ser reduzida de acordo com simpatias individuais, deduzidas da
caracterização de Snorri Sturluson na Sturlunga saga. Ainda que se argumente que
Snorri represente um grupo social da Islândia do século XIII, o processo de
personalização das análises das sagas – através das considerações sobre autoria, como a
motivação do autor e datação do texto de acordo com a sua biografia – acaba por afastar
aspectos importantes do processo de escrita e transmissão das sagas durante os séculos
XIII e XIV. Isso porque, a partir do momento em que se acredita que Snorri Sturluson
escreveu as duas sagas, e que os textos preservados em manuscritos do século XIV são
apenas reproduções mais ou menos fiéis de textos do século XIII, deixa-se de investigar
se as mudanças textuais refletem mudanças ideológicas ocorridas no correr de um
século.
V
Embora existam alguns fragmentos de manuscritos do século XIII da Egils saga, as
únicas versões completas pertencem ao século XIV. É possível que a Egils saga desses
fragmentos seja muito similar às cópias do século XIV, hipótese fortalecida pelo fato de
que uma outra versão da Egils saga do século XIV, do manuscrito WolfAug 9 10 4º, é
52
HarHár, capítulo 22, p. 49: Eftir orusto þessa fekk Haralldr konvngr onga mótstauðo i Noregi. voru
þa fallnir allir hinir mesto fiandmenn hans. enn svmir flyðv or landi. ok var þat allmikit fiolmenni. þvi at
þa byggðvz stór eyðilond. Þa bygðiz Iamtaland ok Helsinngialand. var þo aðr hvartveggia nokkvt bygt af
Norðmonnon. J þeim ofriþi er Haralldr konvngr gekk til landz i Noregi. fvnndvz ok bygðvz vtlond.
Færeyiar ok Island. Þa var ok mikil ferþ til Hialltlandz. ok margir rikismenn af Noregi flyðo fyrir
Haralldi konvngi. ok foro i vestrvikinng. voro i Orkneyiom ok Svðreyiom a vetrvm. enn a svmrom herioðo
þeir i Noreg. ok gerðo þar mikinn landzskaða. Margir voro þeir ok rikismenn er gengo til handa Haralldi
konvngi. ok gerþvz hans menn ok bygðo lond með honom.
53
A hipótese de que o rei Haraldr controlava a emigração aparece em dois outros textos islandeses,
Íslendingabók e Vatnsdœla saga, preservados, porém, em manuscritos muito mais novos (séculos XVII e
XVIII). É possível, portanto, que a tradição sobre a colonização com o patrocínio real tenha surgido
posteriormente. Por outro lado, cópias do século XVII do Íslendingabók são consideradas como
transcrições quase perfeitas de um exemplar do século XII.
16
muito similar à versão do manuscrito AM 132 fol., usado nas passagens acima. Um
recente estudo morfológico do manuscrito AM 132 fol. concluiu que todas as suas sagas
são cópias de manuscritos mais antigos.54 Sagas sobre os reis noruegueses foram
preservadas em manuscritos do século XIII, e não há razão para desacreditar que sagas
sobre islandeses também não tivessem existido na mesma época. Desta forma, pode-se
considerar que as duas sagas analisadas pertencem aos séculos XIII e XIV, não apenas
porque os sistemas de datação de manuscritos oferecem apenas datas aproximadas, mas
também porque não se considera apenas a produção do manuscrito, mas a sua
transmissão.
No passado, os eventos sobre o rei Haraldr e a colonização da Islândia narrados na
Egils saga e na Haralds saga eram considerados como fiéis relatos de fatos acontecidos.
As diferenças textuais eram, portanto, um grande embaraço que desafiava a
credibilidade das sagas. Com o avanço da idéia da autoria, o embaraço passava a ser
considerado uma mera licença poética, um capricho ou uma ignorância do autor. Em
ambos os casos, não se dava muita atenção às datas dos manuscritos, e textos contidos
em manuscritos dos séculos mais diversos podiam ser comparados sem que as datas
repercutissem de alguma forma nas análises. Além disso, a idéia do autor e do texto
original fez com que textos de certos manuscritos fossem rejeitados, eis que eram
muitos diferentes do idealizado texto original. Por exemplo, o texto da Haralds saga
utilizado neste artigo não é normalmente usado em estudos literários e históricos, que se
utilizam de manuscritos do século XVII, que, supostamente, seriam cópias do texto
original.55
As novas pesquisas precisam, primeiramente, resgatar os textos medievais esquecidos
por causa do pejo de “derivativos”, de “mera imitações”, de “cópias ruins”. Também
precisam livrar-se da idéia de autor e do texto fixo, e considerar a multiplicidade dos
textos como manifestações ideológicas. No caso analisado neste artigo, vê-se que as
tradições sobre o rei Haraldr e seu papel na colonização da Islândia coexistiram na
Islândia dos séculos XIII e XIV. Uma tradição, representada pela Egils saga, propagava
que os noruegueses que deixaram a Islândia no século IX opunham-se à nova forma de
governo que o rei Haraldr implementava; à luz das tradições políticas e sociais da
época, essa nova forma de governo era considerada uma tirania. A Haralds saga vê o
projeto do rei Haraldr com simpatia, e vê nas mudanças introduzidas uma progressão
política necessária. O papel da monarquia e a relação entre o rei e seus súditos é
analisada nas duas sagas a partir desses dois aspectos ideológicos, introduzidos logo no
início das duas sagas.
As diferenças ideológicas entre as duas sagas refletem a história islandesa dos
séculos XIII e XIV. Leis e documentos diplomáticos atestam que o país sempre manteve
estreitas relações com a Noruega e a coroa norueguesa; esses documentos mostram que
o rei da Noruega tinha até um certo controle sobre certos aspectos da vida dos
islandeses, como a participação obrigatória em campanhas militares para a defesa da
Noruega.56 Os islandeses sofriam pressões tanto da igreja, como do rei, para adotar a
forma monárquica vigente em toda a Europa cristã. O debate sobre possibilidade de
submissão à coroa norueguesa está refletido nas sagas dos manuscritos dos séculos XIII
54
ANDREA DE LEEUW VAN WEENEN, A Grammar of Möðruvallabók, CNWS Publications, 85,
Leiden, Research School CNWS, 2000, p. 3.
55
Esses manuscritos são AM 35 fol, AM 36 fol e AM 63 fol transcritos pelo islandês Ásgeri Jónsson
no final do século XVII, e a coletânea de sagas dos reis é chamada de Heimskringla.
56
Essas disposições legais encontram-se em uma do rei Óláfr inn helgi (reinado 1014-30), preservada
em um manuscrito do século XIII. Essa lei está traduzida (inglês) em ANDREW DENNIS, PETER
FOOTE e RICHARD PERKINS (eds. e trads.), Laws of Early Iceland: Grágás, the Codex Regius of
Grágás with Material from Other Manuscripts, Winnipeg, University of Manitoba Press, 1980-2000, vol
II, pp. 210-13.
17
e XIV, como na Egils saga e na Haralds saga analisadas acima. A Egils saga não
desaprova a instituição da monarquia, mas, principalmente, apresenta um diálogo sobre
as vantagens e desvantagens da monarquia. Na Haralds saga esse diálogo é mais sútil.
Juntas, as duas sagas representam as dúvidas e ansiedades dos islandeses do século XIII
e XIV, que viveram o processo de submissão à coroa norueguesa, iniciado por volta da
metade do século XIII, e consolidado no início do século XIV.
Enquanto a representação da colonização da Islândia na Haralds saga representa um
encorajamento à idéia da monarquia, na Egils saga essa representação enfatiza a
independência e autonomia dos islandeses em relação aos noruegueses. Essa declaração
de independência reflete o receio de que, no processo de submissão à Noruega, os
islandeses perdessem sua identidade – uma identidade formada ao longo de apenas três
séculos, e que, dado o pequeno tamanho do país, poderia ser facilmente suprimida. A
tradição islandesa sobre o papel do rei Haraldr na colonização da Islândia tem como um
de seus objetivos traçar a linha divisória entre as identidades islandesas e norueguesas.
Em um grande número de sagas, os islandeses são caracterizados exatamente pela
autonomia e pelo apego às tradições ancestrais, elementos fundamentais da tradição
islandesa sobre as motivações da colonização do país.57
Se, por um lado, essa tradição islandesa responde aos anseios dos islandeses dos
séculos XIII e XIV, e portanto representa a mentalidade dos islandeses que criaram e
transmitiram essas estórias, por outro lado também representa tradições sobre o passado
do país que não devem ser descartadas a priori como mera representações. Essas
tradições não nasceram da necessidade dos islandeses refletirem sobre a monarquia
norueguesa, mas foram preservadas, transmitidas e interpretadas também por causa
dessa necessidade. Muitos pesquisadores insistem que na época em que as sagas foram
escritas, o passado do país já havia sido esquecido. Por exemplo, Régis Boyer escreve
que aqueles que escreveram as sagas “had to recreate a world which they had
forgotten”,58 e Margaret Clunies Ross argumenta que “the historical past, which was
recognised as lost, came to be recreated as narrative and as literature”.59 No entanto, não
há indicação nas fontes de que o passado islandês estivesse esquecido ou perdido – é
uma hipótese que não pode ser presumida. Há leis, documentos eclesiásticos,
diplomáticos e cartoriais que, juntamente com as sagas, são testemunhas deste passado,
e que podem ser comparados sob a perspectiva, hoje em decadência, das noções de
prova e verdade. Carlos Ginzburg argumenta que a idéia de verdade e prova são
fundamentais à análise das fontes, e critica a maneira com que pesquisas
contemporâneas rejeitam essas idéias – “Per molti storici, la nozione di prova è fuori
moda”.60 Ginzburg obviamente não conclama à volta ao historicismo ingênuo, à idéia de
que as fontes são espelhos da realidade história, da qual não se pode ter acesso direto;
mas, Ginzburg argumenta,
inferire da ciò l’inconoscibilità della realtà significa cadere in una forma di
scetticismo pigramente radicale che è al tempo stesso insostenibile da un
57
Sobre este aspecto, consultar, por exemplo, ANTHONY J. GILBERT, “Social and National Identity
in Some Icelandic þættir”, Neophilologus, 75, 1991, pp. 408-24 e JOSEPH HARRIS, “Saga as Historical
Novel”, em JOHN LINDOW, LARS LÖNNROTH e GERD WOLFANG WEBER (eds.), Structure and
Meaning in Old Norse Literature: New Approaches to Textual Analysis and Literary Criticism, Odense,
Odense University Press, 1986, pp. 187-219.
58
RÉGIS BOYER, “Fate as a Deus Otiosus in the Íslendingasögur: A Romantic View?”, em
RUDOLF SIMEK, JÓNAS KRISTJÁNSSON e HANS BEKKER-NIELSEN (eds.), Sagnaskemmtun:
Studies in Honour of Hermann Pálsson on his 65th Birthday, Vienna, Böhlau, 1986, pp. 61-77 (p. 64).
59
MARGARET CLUNIES ROSS, Prolonged Echoes: Old Norse Myths in Medieval Northern Society,
Odense, Odense University Press, 1994-98, vol. II, p. 49.
60
CARLO GINZBURG, Il giudice e lo storico: considerazioni in margine al processo Sofri, Turin,
Einaudi, 1991, p. 12.
18
punto di vista esistenciale e contraddittorio dal punto di vista logico: como si
sa, la scelta fondamentale dello scettico non è sottoposta al dubbio metodico
che egli dichiara di professare.61
Em conclusão, as sagas islandesas são fontes históricas do período em que foram
escritas, mas também são testemunhos de períodos anteriores. Como Peter Foote ensina,
“while a text revealing a thirteenth-century view of the past may, and probably can, tell
us something about the writer’s own time, it must also tell us something about that past
itself”.62 O objetivo do historiador não é extrair uma verdade absoluta (de qualquer
maneira impossível) dessas fontes, mas também não deve ser muito céptico; analisadas
ao lado de documentos eclesiásticos, diplomáticos e cartoriais, as sagas habilitam o
historiador a construir uma visão daqueles momentos históricos.
61
GINZBURG, Il giudice, op. cit., p. 13.
PETER FOOTE, “Historical Studies: Conversion Moment and Conversion Period”, em ANTHONY
FAULKES e RICHARD PERKINS (eds.), Viking Revaluations: Viking Society Centenary Symposium
14-15 May 1992, London, Viking Society for Northern Research, 1993, pp. 137-44 (p. 141).
62

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