Antártida

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Antártida
Antártida
A Geografia do Continente Gelado
e as Operações Brasileiras
No extremo Sul do planeta Terra há a última fronteira ao avanço e controle
total do homem. Se já são tantas as dificuldades para a sobrevivência em um
ambiente hostil, podemos imaginar o esforço maior para a permanência ininterrupta
e definitiva. Tal território, sempre idealizado pelos antigos gregos, a cerca de
300 a.C., mas descoberto há pouco mais de um século é a Antártida.
Suas diferenças são marcantes em relação ao seu par, no pólo Norte, em todos
os sentidos. O mais importante é o fato de a Antártida ser realmente um continente,
enquanto que o Ártico é apenas uma calota de mar congelado. As diferenças
geográficas são muito importantes para se avaliar os diversos comportamentos
climatológicos e oceanográficos entre os dois hemisférios da Terra. Devemos dar
ênfase a estas características geográficas para o estudo da região. Enquanto que no
pólo Norte há o Ártico, como um mar congelado com espessura de gelo próxima de
10 metros, cercado de continentes por todos os lados, com estreitas faixas de
oceanos livres, o pólo Sul se caracteriza por ser exatamente o oposto. Temos um
continente de fato, a Antártida, cercada de oceano livre por todos os lados, o Oceano
Circumpolar Antártico. Este é um motivo chave para os deslocamentos dos fluidos
geofísicos do planeta: os oceanos e a atmosfera. Com a ausência de perturbações
causadas pela presença de massas continentais, os fluidos poderão formar
fenômenos consideráveis.
O NOME DO CONTINENTE
Embora obscurecido pela Idade Média, o conhecimento de que a Terra era
esférica já era sabido pelos antigos Gregos. Chegou-se a calcular o raio do planeta
com pouca margem de erro, quando o diretor da biblioteca de Alexandria,
Eratóstenes, em 331 a.C. descobriu anotações interessantes sobre a posição de
sombras durante um solstício de verão boreal na cidade de Siena (às margens do mar
Vermelho, Egito antigo). Outras observações da esfericidade da Terra eram bem
claras durante os eclipses lunares. Os antigos conheciam as terras do Norte e sabiam
da existência das regiões geladas do Ártico e das regiões quentes equatoriais
próximas no continente africano. Imaginando a simetria de um corpo celeste
esférico, concluíram que deveria haver uma região fria na outra extremidade do
planeta. Como sobre o pólo Norte há a estrela polar (Polaris), pertencente à
constelação da Ursa Menor, a região fria do Norte recebeu o nome de Arktus (há
grafias Arktikus), que significa Ursa Menor. Então, pela derivação e simetria, a
conclusão que se chegou foi da existência de uma região fria ao Sul. Assim nasceu o
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nome Anti-Ártico, ou contrário da Ursa Menor. Formou-se as palavras derivadas
“antártico”, usada como adjetivo e o substantivo “Antártica”, para nomear o
continente. Mas nem sempre a língua portuguesa foi fiel às origens gregas, daí a
formação do substantivo latino Antártida. Como lembrou muito bem Ulisses
Capozoli, Prof. Aristides Pinto Coelho e outros escritores, os quais eu mesmo
defendo: a grafia Antártida soa muito mais interessante e poética, pois remonta um
mistério de “continente perdido” como a lendária Atlântida e que faz justiça a ele em
toda a sua plenitude, mesmo porque, não existe uma Ártica. Só por este fato, a
Antártida já se torna ímpar! Uma explicação mais palpável pode se basear no fato de
que a Antártida é o único continente polar do planeta. Além do mais, estas terras
continuam sua deriva, como todas os outras da Terra e, num futuro distante, deixará
de ser a antípoda da região ártica. Oficialmente, nos primeiros documentos que
tramitaram no Congresso Nacional, adotou-se o nome Antártida também.
Atualmente, o governo brasileiro adotou o termo Antártica para descrever o
continente nos seus trabalhos e documentos. Notoriamente, ambos os modos de
estão corretos. É muito comum encontrar nos jornais e livros a grafia Antártida. Em
Portugal, a grafia utilizada é Antárctida que poderia ser considerada a mais correta.
A DESCOBERTA
Desde tempos remotos, a Terra Australis Nondum Cognita era grafada nos
mapas antigos como sendo uma região existente, porém não descoberta. É difícil
oficialmente dizer quem foi o explorador, ou melhor dizendo, a expedição, que
encontrou o continente. Diversos países, inclusive o Brasil, participaram de
expedições de ataque às regiões sub-polares e polares. Contudo, com a tecnologia
dos séculos XVIII e XIX, tais jornadas eram muito críticas e trabalhavam no limite
extremo entre a vida e a morte. Podemos fazer uma idéia de como tais missões eram
perigosas quando comparamos com os dias atuais. Se mesmo hoje é muito difícil de
se prestar socorro a um acidente nos mares antárticos, ou mesmo sobre o continente,
imaginemos há mais de 100 ou 200 anos atrás. Os expedicionários realmente tinham
um espírito aguçado de aventura. Infelizmente, nem todos possuíam uma visão
ecológica e científica acurada. Avaliando a História, podemos dizer duas coisas
interessantes de um grande personagem no descobrimento antártico. Seu nome é
Belligshausen.
Embora haja muita controvérsia sobre os descobridores da Antártida,
sumariamente, avaliando-se todos os documentos registrados da época, podemos
atribuir, com muito mais certeza, o encontro das terras antárticas ao comandante
Thaddeus Bellingshausen, chefe de duas expedições antárticas russas iniciadas na
data de 1819. Naqueles tempos de descobertas, tais expedicionários saíam em suas
missões para ficarem mais de 2 anos percorrendo as regiões dos mares gelados,
fazendo retornos breves para recarga de suprimentos e reparos de avarias.
Normalmente, tais retornos eram feitos na Austrália, Nova Zelândia, Argentina e
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Brasil. Havia uma corrida mundial entre muitas nações para o descobrimento das
terras austrais. Muito antes de Bellingshausen, diversos outros exploradores
tentaram encontrar o continente. Em 1768, o jovem comandante inglês James Cook,
a bordo do Endeavour, já partira para as águas do Sul. Porém, somente na sua
segunda viagem, no comando do Resolution, em 1772, é que ele conseguiu chegar
ao ponto Sul máximo até aquela época. Tal marca só seria batida em 1933, na
expedição do almirante americano Richard Bird. É quase uma fatalidade Cook não
ter descoberto a Antártida, pois avançou até o paralelo 71º10’S, mas na longitude
160º54’W, ou seja, penetrou na região mais profunda e exaurida de terras da
Antártida, o mar de Ross. Se não fosse por esse fato, sua expedição teria descoberto
o continente já no século XVIII.
O comandante Belligshausen, seguindo pelas recém descobertas ilhas
Shetland do Sul, encontrou a península Antártica. Isto só ocorreu depois de diversas
tentativas de ultrapassar as barreiras de gelo que cercavam sua flotilha
constantemente (navios Vostok e Mirnyi). Pode-se dizer que a data mais correta para
se atribuir à descoberta é 28 de janeiro de 1821.
Toponímia geral da Antártida. A navegação da frota russa do Cap. Bellingshausen
navegava sempre além dos 60ºS. Sendo assim, encontrou a península Antártica em 28 de
janeiro de 1821. O mar à Oeste da península recebe o seu nome. Note também que o
continente não é centrado no Pólo Sul. Cerca de 90% dele pertence à Antártida Oriental.
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CARACTERÍSTICAS PECULIARES
O continente Antártico é especial pelos mais diversificados motivos.
Inicialmente levaremos em conta os fatores geográficos mais comuns referentes à
Antártida. Foi um continente que derivou do Norte para o Sul nestes milhões de
anos de evolução terrestre, saindo de uma região tropical. Por este motivo, já
comportou florestas e animais. A existência disto foi comprovada por estudos
geológicos da região que mostraram excelentes reservas de carvão, petróleo e
madeira petrificada. Além disto, há reservas de diversos minerais cuja quantificação
excede muitas reservas exploradas em outras regiões do mundo. Metais como ferro,
cobre e outros preciosos são abundantes em pontos isolados. Por estas poucas
características, a Antártida já se torna uma área de relativo interesse econômico.
Contudo, estes não são produtos de fácil obtenção. Talvez por isso, e se afirma que
somente por isso, elas ainda não tenham sido exploradas de fato. O clima e o tempo
tornam impraticáveis, economicamente, tais atitudes.
Figura em projeção polar para comparação do território
brasileiro em relação ao continente antártico. O Brasil
tem cerca de 60% do tamanho da Antártida, sem contar
os mares que congelam durante o inverno. Pode-se
concluir algumas coisas interessantes: Nosso país é
muito grande, o que dificulta sua ocupação, além de ter
muitas barreiras naturais; a Antártida é bem maior,
acrescida de todos os problemas impostos por
condições críticas de tempo e clima. Se até nos tempos
atuais, o expansionismo de ocupação é um problema
brasileiro, o que dizer de terras geladas?
Porém, a maior riqueza da Antártida é a sua água. Cerca de 90% da reserva
de água doce potável está congelada no continente. Sabe-se que, em futuro próximo,
a maior dificuldade da humanidade será a obtenção de água potável. Provavelmente
até guerras serão travadas pela posse de ecossistemas que sustentem a vida. Aos
olhos dos visionários, a Antártida se tornou uma região estratégica de futuro muito
promissor. Essa reserva se encontra por praticamente todo o continente, com cerca
de 14 milhões de km2 e que quase duplica, no inverno, quando seus mares congelam
e recebem a neve precipitada, alcançando marcas de mais de 20 milhões de km2 (não
podemos esquecer que o Brasil tem um pouco mais de 8,5 milhões de km2 e a
América do Sul, cerca de 17,6 milhões). Toda a neve precipitada vai se tornando
gelo com o passar dos dias. Em meses, esse gelo se concentra, formando camadas
mais compactas e se aprofundando. Desta maneira, a Antártida se torna um
congelador da história do nosso planeta. Em cada camada de gelo estão aprisionadas
pequenas amostras da atmosfera. Os glaciologistas perfuram o gelo e conseguem
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estipular diversos parâmetros da atmosfera primitiva (cerca de 200 parâmetros,
atualmente). Pode-se avaliar o gelo de 900 mil anos atrás, em certas áreas da calota
polar, descobrindo concentrações dos principais gases atmosféricos, por exemplo.
Só por este fato, consegue-se reconstruir boa história da atmosfera do planeta. É um
marco de registro importantíssimo.
É notório de se imaginar que essa neve não pode formar acúmulos de gelo
eternamente. Com o estudo obtido por marcadores feitos em geleiras e, mais
modernamente, utilizando-se satélites, percebeu-se que estas se movem do interior
do continente para o litoral, sendo este deslocamento bem semelhante ao de um rio.
A velocidade de deslocamento pode ser de um metro por ano a impressionante
marca de três metros por dia. Quando chega a região costeira, a geleira atinge o mar.
Nesta interface, surgem rachaduras gigantescas que formam os icebergs. Então,
pode-se dizer que cada iceberg é um gelo, que um dia foi neve, a muitos milhares de
anos atrás e que agora é devolvido ao ciclo hidrológico. Cada iceberg é um retorno
na máquina do tempo do nosso planeta. Contudo, os icebergs antárticos diferem
totalmente dos seus pares do Ártico. Enquanto no hemisfério Norte eles são
pontudos, derivados de rachaduras de geleiras próximas ao mar, na Antártida
imperam os tabulares, originados da quebra do talude congelado sobre os oceanos.
Com isto, os icebergs antárticos podem facilmente se tornarem tão grandes como
estados brasileiros. Em minha missão à Antártida, em 2001/2002, tive a
oportunidade de rastrear, pelo satélite russo da série Meteor, dois tabulares muito
maiores que a Ilha Rei George (vide texto abaixo) local onde se situa a estação
brasileira.
Icebergs tabulares imperam nos mares antárticos. Muitos deles são maiores que cidades e
até pequenos estados brasileiros. A preocupação maior com estes gigantes de gelo errantes
é a sua rota. Algumas chegam ao litoral Sul do Brasil.
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A Antártida é o continente com a maior altitude média. Chega a cerca de 2.200 metros, ou
seja, se todo o continente fosse nivelado, quando se chegasse ao litoral, encontraríamos
uma muralha com esta altitude. Contudo, a maior parte é composta de gelo, com espessuras
além de 4000 metros. Note os principais acidentes geográficos, como as montanhas
Transantárticas (ao centro) e os Antartandes (formação da península Antártica, à esquerda).
Em geral, todo o litoral é composto por barreira orográfica. A parte central é chamada de
platô Antártico, composta por diversos domos gelados.
Outro fato de grande curiosidade é a posição do Sol durante as estações
sazonais do ano. Para entender os conceitos astronômicos, devemos recorrer ao
método clássico de estudo da Astronomia, onde a Terra é fixa e tudo se move ao seu
redor (sistema geocêntrico). Sob este ponto de vista, um observador sobre a linha do
Equador verá o Sol “caminhar” de Leste para Oeste a cada 24 horas, oscilando
23º27’ mais para o Norte ou mais para o Sul, conforme a estação do ano. Uma vez
que o observador se desloca para latitudes polares, em direção à Antártida, verá,
durante os meses do ano, o Sol se inclinar cada vez mais, passando mais tempo no
céu, durante o solstício de verão e menos tempo, durante o solstício de inverno.
Quando chegar justamente sobre o Círculo Polar Antártico, em 66º33’S, o
observador verá o último dia perfeito, nas transições dos solstícios. Nesta data,
haverá um dia com 24 horas (verão) e uma “noite” também com 24 horas (inverno).
Contudo, por efeitos reflexivos da atmosfera, esta noite, de fato, não ocorre. O que
se observa é um amanhecer no horizonte muito curioso, pois o Sol não nasce, dando
um breve cintilar às 12h, retornando imediatamente para baixo do horizonte. Uma
vez atravessado o círculo polar, outros efeitos astronômicos surgem que tenderão a
se aproximar das mesmas sutilezas do que se observa exatamente sobre o Pólo Sul.
Se for verão, o Sol permanece acima do horizonte, nas 24 horas do dia. Se for
inverno, ele estará abaixo do horizonte, determinando a noite polar. Novamente,
chama-se a atenção para os efeitos reflexivos da atmosfera. Só teremos noite,
efetivamente, quando o centro do disco solar estiver além dos 108º de distância
zenital. Por esta razão, mesmo sobre o pólo, em 90ºS, teremos apenas quatro meses
de dia pleno, quatro meses de noite plena e quatro meses de nascer e ocaso do Sol,
divididos em dois meses para cada evento (com acentuação nas duas últimas e duas
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primeiras semanas, respectivamente). Este efeito ocorre porque o movimento
aparente do Sol, nesta latitude, é de um “parafuso” no céu, conforme correm as
estações do ano. Vale lembrar que na entrada do verão, sobre o pólo Sul, o Sol
alcança a sua maior altura, com apenas 23º27’, permanecendo as 24 horas do dia
girando ao redor do observador. Por este motivo, os antigos exploradores
denominavam a Antártida como a “Terra das Longas Sombras”.
Observador sobre a linha do Equador (0º).
Sobre o Trópico de Capricórnio (23º27’S).
Próximo ao círculo polar (<66º33’S)
Sobre o Círculo Polar Antártico (66º33’S)
Diversas posições do observador sobre as latitudes Sul do planeta Terra, até o Círculo Polar
Antártico. As linhas circulares indicam o movimento do Sol em 24 horas. A distância das
linhas de solstício (verão e inverno) da linha central (equinócios) é fixa no arco de grau de
23º27’. Este valor representa a linha da Eclíptica da Terra (inclinação em relação ao plano
de transição ao Sol).
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Sobre o pólo Sul (90ºS).
Sol abaixo do horizonte, no inverno.
Alvorada longa, ao chegar a primavera.
Sol acima do horizonte, no verão.
Crepúsculo longo, ao chegar o outono.
Distância zenital do Sol e os crepúsculos.
O parafusar do Sol, em latitudes acima de 66º33’S até 90ºS indicam mais ou menos tempo de dia,
noite e crepúsculos. No caso extremo, sobre o pólo Sul, a divisão é feita em três partes.
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Datas significantes de duração do dia e crepúsculos em várias latitudes. Assume-se um
horizonte desobstruído e condições normais de refração (Fonte: SCHWERDTFEGER, 1984).
Descritivo
Pólo Sul
85ºS
80ºS
75ºS
70ºS
Sol permanece acima do horizonte até
23 mar
10 mar
25 fev
12 fev
26 jan
Sol fica abaixo do horizonte após
23 mar
04 abr
19 abr
05 maio 25 maio
Sem crepúsculo civil após
06 abr
20 abr
05 maio 27 maio
Sem crepúsculo astronômico após
11 maio
06 jun
Crepúsculo astronômico retorna em
1º ago
04 jul
Crepúsculo civil retorna em
08 set
26 ago
10 ago
20 jul
Sol retorna em
21 set
08 set
25 ago
09 ago
19 jul
Sol permanece acima do horizonte após
21 set
05 out
18 out
02 nov
19 nov
Duração aproximada do crepúsculo
astronômico no solstício de inverno
(horas)
Duração aproximada do crepúsculo
civil no solstício de inverno (horas)
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INTRODUÇÃO AO CLIMA E TEMPO DA ANTÁRTIDA
É redundante dizer que o clima antártico é frio, aliás, muito frio. Porém, essa
idéia fundamentada na mente das pessoas que vivem em países tropicais ou de
médias latitudes, como os brasileiros, é muito vaga. Muitos acham que se estivessem
na Antártida, logo em um primeiro momento, iriam encontrar um frio extremo. Este
é um conceito errado. A região costeira da Antártida pode alcançar temperaturas
inclusive positivas. Há uma interação muito forte entre a região costeira fria e os
mares, relativamente mais quentes. Portanto, a costa antártica, principalmente os
arquipélagos sub-antárticos, possui temperaturas que variam entre 5º a –25ºC,
dependendo da época do ano e de que sistema sinóptico meteorológico estiver
operando na área.
Mas afinal qual é esse sistema sinóptico meteorológico que atua na área da
Antártida? Pertencentes à fauna meteorológica, os ciclones extratropicais são as
principais entidades que atuam na região costeira e mares adjacentes de todo o
continente antártico. Realisticamente, são eles os responsáveis pela troca de energia
das regiões de médias latitudes, com as regiões sub-polares, ou seja, convertem
quase que a totalidade da energia térmica, do ar mais aquecido, em energia cinética
(de fortes ventos) quando tentam transpor o ar mais frio. Forma-se um vórtice de
proporções planetárias (daí o termo sinóptico = visão simultânea) que caracteriza o
transporte de ar, as vezes mais aquecido, as vezes mais frio, sobre um observador
em superfície, conforme o ciclone ET se desloca. Portanto, nas proximidades da
costa antártica, o frio não é extremo. Os valores de baixas temperaturas estão mais
ligados a parte interior do continente e às grandes cadeias montanhosas. Deve-se
levar em conta também que todo o continente têm uma altitude média muito
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elevada. O platô Antártico, localizado no centro do continente, possui altitude de
mais de 4.000 metros. Nesta região central, em altitude, o ar superior converge,
assim, há subsidência com o transporte deste ar para a superfície. Desta maneira,
forma-se um anticiclone muito grande e semi-permanente no platô Antártico. Como
o escoamento do ar no anticiclone é divergente, teremos condições propícias para a
formação de ventos intensos muito frios, em superfície, que caminham para o litoral.
Porém, não podemos esquecer que a grande declividade, entre o alto platô central
até a costa ao nível do mar, serão fatores determinantes para o surgimento dos mais
intensos ventos frios catabáticos (que descem as montanhas).
As temperaturas da Antártida continental oscilam na média de –60,0ºC, no
inverno, e –28,2ºC, durante o verão. A umidade relativa é muito baixa na parte
continental, mas extremamente alta na área costeira. Dentre os fenômenos
atmosféricos mais interessantes temos a chuva de diamantes (dust diamond) que
ocorre quando o vapor d’água sublima, ao atingir seu ponto de saturação, em valores
negativos de temperatura de ponto de orvalho. Também podemos observar as
situações de Blanqueio, onde o branco total do gelo faz o observador perder toda a
noção de profundidade. Para os aviadores, temos o Céu d’água, onde o mar liso e o
céu se fundem em uma brancura completa, com Sol baixo e o Whiteout, situação
onde nuvens, neve, gelo e geleiras se fundem numa completa “escuridão branca”.
Neste caso, o observador perde completamente as referências.
Imagem de Satélite de órbita estacionária,
geossíncrona GOES-8 (já fora de serviço,
substituído pelo GOES-12). O canal de
observação desta imagem é o infravermelho,
pois permite observar o planeta mesmo na
ausência de luz solar. A região ilustrada é o
Sul da América do Sul, Norte da península
Antártica e o trecho de mar conhecido por
estreito de Drake. Na atmosfera observamos
um ciclone extratropical gigante que é
classificado como sinóptico. Note que este
fenômeno meteorológico é muito maior que
os furacões (ciclones tropicais) que ocorrem
nos E.E.U.U., por exemplo. Este, em
especial, tem cerca de 2.200 x 1.500km.
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Dia calmo, ensolarado e raro na Antártida. Normalmente a região costeira é atribulada
permanentemente devido a passagem de alta freqüência dos ciclones extratropicais. Note,
nesta fotografia, que mesmo com mar espelhado e ausência de ventos, o perigo
meteorológico espreita. Observe a nebulosidade sobre as montanhas. Expedicionários em
terra ou helicópteros que por ventura estivessem passando ali, estariam sujeitos ao
Whiteout. Este fenômeno meteorológico é característico de regiões árticas e também recebe
a alcunha de “Escuridão Branca”. Quem estiver dentro dele perde a noção de espacialidade.
Expedicionários se perdem e aeronaves colidem com o solo. Com a modernidade dos
instrumentos de navegação, o problema foi abrandado, mas não eliminado.
Outros dois exemplos de Whiteout. Na fotografia da esquerda, não é possível encontrar o
final da geleira Domeiko, ilha Rei George, e o início da nebulosidade. A fotografia da
direita mostra o mesmo efeito, sobre a geleira Stenhouse e Ajax, abrandado por
nebulosidade de teto obscurecido.
Em suma, analisando as diversas condições do tempo, pode-se dizer que a
climatologia antártica é muito dinâmica. Por um lado, na faixa do litoral e oceano
Circumpolar Antártico, agem os ciclones extratropicais e ciclones extratropicais
polares. Enquanto que na área continental imperam, em média, escoamentos
catabáticos originados do interior para o litoral. Mas tal simplicidade aparente
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esconde muitos mistérios, ainda a serem descobertos e avaliados. Estamos muito
longe de descobrir todos os mecanismos da atmosfera antártica.
Estes preceitos nos levam a pensar se as questões referentes ao “Aquecimento
Global” são reais ou especulações, longe de chegarem ao consenso verdadeiro do
que se passa em nosso planeta. Alguns fatos são tratados com a mínima relevância,
como por exemplo, tomemos o cinturão de ciclones ET’s que operam na área
costeira da Antártida. Estes, são bem mais eficientes, desproporcionalmente muito
maiores e atuam em número mais elevado que seus pares do hemisfério Norte. Este
é um fato pouco discutido e que é de suma importância quando verificamos as trocas
energéticas dos dois hemisférios. Quando o assunto é trópico X pólos, a eficiência
da “máquina térmica” do hemisfério Sul é bem melhor. Isto só poderia resultar em
maior aquecimento do hemisfério Norte, durante os longos períodos de maior
atividade solar.
Dentre diversos problemas referentes ao assunto, o de maior implicância é o
fato de que o IPCC não admite a presença do vapor d’água e das nuvens dentro do
sistema climático, ou seja, este órgão da ONU simplesmente despreza o principal
agente de efeito estufa natural do planeta, altamente suscetível às variações de
temperatura global. Para o IPCC a atmosfera da Terra é SECA!
Anomalias de temperatura de 1978-2000, obtidas por sensoriamento remoto espacial. Note
que o hemisfério Norte indica leve aquecimento, contudo, o mesmo não se pode dizer do
hemisfério Sul. Além disto, os erros inerentes às medidas de satélite estão na ordem de 0,5
a 1,0ºC, ou seja, dentro dos valores das próprias anomalias (Fonte: CHRISTY, SPENCER,
Global Temperature Report, Universidade do Alabama em Huntsville, 2003).
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Os valores de temperatura no centro do continente têm demonstrado tendência de
resfriamento, e não ao contrário, como indica o IPCC (Fonte: Marek, 2003).
Algumas estações costeiras da Antártida têm demonstrado leve aquecimento
da ordem de 0,05 a 0,1ºC em 20 anos. Porém, deve-se lembrar que os anos de 1970
foram os mais frios e praticamente todo o oceano Austral (abaixo de 60ºS)
permanecia congelado durante os invernos. Com a crescente atividade solar até a
virada do século, de 2000 até 2002, muita energia entrou no sistema e foi
armazenada nos oceanos. Estes, transferiram esta carga mais lentamente para os
mares antárticos, refletindo no degelo ou menores áreas congeladas nos invernos
destes referidos anos. Contudo, a atividade solar agora entrou na sua fase
decrescente, ou seja, nos próximos 10 anos uma quantidade menor de energia
entrará no sistema, o que causará resfriamento. É muito provável que as plataformas
de gelo sobre o mar voltem a adquirir extensas áreas novamente.
Julho de 2007, pleno
inverno na baía do
Almirantado, ilha Rei
George. Há mais de 10
anos que a enseada e a
baía não congelavam
completamente. O ano de
2007 tem sido o mais frio,
no Norte da península
Antártida, desde que se
começaram os registros
de temperatura, em 1941
(Fonte: METEORO 2007).
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Mosaico produzido por imagens de diversos satélites de órbita polar. Esta é a maior prova
da dinâmica climatológica do hemisfério Sul. Um continente está próximo ao pólo, cercado
por oceanos livres e nenhuma barreira orográfica por todos os lados. Esta posição
geográfica permite a total liberdade de movimentos dos fluidos geofísicos da Terra:
oceanos e atmosfera. Nesta imagem, obtida por canal infravermelho, notamos a Antártida
cercada por ciclones extratropicais. Estes fenômenos formam uma barreira de proteção e
convertem boa parte da energia térmica, das médias latitudes, em energia cinética (de fortes
ventos). A Antártida, em contrapartida, cede ar mais frio para resfriar o hemisfério Sul. Este
eficiente mecanismo de troca permite com que a Antártida não se resfrie continuamente e
que as médias latitudes não se aqueçam em demasia (FONTE: WISCONSIN, 2006).
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OCEANOGRAFIA ANTÁRTIDA
O oceano Circumpolar Antártico possui uma das maiores correntes oceânicas
da Terra e de longe uma das mais velozes. Em certos trechos, como o estreito de
Drake (passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico no Sul da América do Sul e
Norte da península Antártica) pode alcançar velocidades da ordem de 60km por dia.
Tal corrente é conhecida como Corrente Circumpolar Antártica (CCA) e caminha
próxima à linha de Convergência Antártica, aos 60ºS (o local em que se pode dar a
volta toda ao redor da Antártida por mar).
A parte de estudos na área da Oceanografia Física da Antártida é vasta.
Existem interações entre correntes profundas do leito dos três oceanos do planeta e
as águas superficiais ao redor da Antártida. No Atlântico, por exemplo, alternam-se
águas provenientes de afundamento da costa antártica para a base do Atlântico,
caminhando para o Norte e ao mesmo tempo em uma profundidade intermediária.
Em contrapartida, águas do Atlântico Norte, passam entre essas duas correntes e se
ligam à CCA, na passagem ao Sul da África. Tais movimentos de massas d’água são
responsáveis por diversos processos. Cabe a Oceanografia Química, a Biológica e a
Geológica desvendar um emaranhado de segredos por trás desta dinâmica dos
oceanos e sua interação com a CCA. Tais conexões indicam como tudo no planeta
está interligado. Outros exemplos são os estudos de densidade e salinidade, gases
dissolvidos nos mares antárticos, migrações de cetáceos, além da interação ar-mar.
Cabo Horn, final Sul da América do Sul. Diferentemente de Magalhães, Francis Drake
avançou mais ao Sul e descobriu uma passagem muito mais larga (cerca de 1.000km) que
ligava o Atlântico ao Pacífico. Contudo, esta passagem (que leva o seu nome) é
constantemente atingida pelos ciclones extratropicais. Como os mares respondem aos
ventos, as ondas podem chegar a 12 metros ou mais. Normalmente, atingem 7 metros.
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Imagem de realce computadorizada ilustra a temperatura dos oceanos. A Corrente
Circumpolar Antártica percorre continuamente, de Oeste para Leste, a faixa próxima da
latitude dos 60ºS (na imagem, a interface entre o azul e roxo). Da mesma maneira que os
ciclones extratropicais fazem seu papel de troca térmica na atmosfera, as misturas de
massas de água oceânica também o fazem, porém, com menor velocidade. Contudo,
cumprem um papel muito mais importante. Águas frias absorvem mais dióxido de carbono
(comumente chamado de gás carbônico). Este sorvedouro de gases irá iniciar uma das mais
fantásticas e gigantescas cadeias alimentares. Muito dióxido de carbono dissolvido na água
do mar permite gerar muito plâncton e algas. Por sua vez, aumentam-se as populações de
crustáceos como o Krill, que prefere águas frias. Daí por diante, migram-se as aves
aquáticas, em especial os pingüins. Focas de todos os tipos também migram para a
Antártida. Finalmente, chegam os grandes cetáceos, as baleias, como a Azul, Mink e Orca.
Esta última, conhecida por “assassina”, é o topo da cadeia alimentar, atacando todos os
animais inclusive, outras baleias. É importante lembrar que nenhum animal é nativo da
Antártida. Todos viajam ao continente durante o verão, excetuando-se os pingüins
imperadores, que preferem o período de inverno.
16
Contudo, o estudo da Oceanografia em geral na Antártida é bem mais
dificultado exatamente pela ação hostil dos ciclones extratropicais que agem na
região. Torna-se muito mais difícil executar os procedimentos operacionais de coleta
e análise, nas embarcações expostas aos elementos. Muitos destes estudos
centram-se nas ilhas adjacentes à Antártida, por oferecerem relativo abrigo ou
proximidade de alguma estação científica, como é o caso do Brasil.
Oceanografia Biológica e Geológica.
Lançamento de van Veen na enseada Martel,
baía do Almirantado, interior da ilha Rei
George. Os animais encontrados na
Antártida são únicos àquele nicho. Sua
adaptação às condições de baixa temperatura
não encontram pares em outras espécies do
planeta. Resistência ao frio e a alta
concentração de oxigênio nas águas são
fatores estudados pelos biólogos.
A Oceanografia Física se importa com perfis
de temperatura e salinidade, dentre outros.
Nesta fotografia, temos o lançamento da
Roseta, espécie de suporte que recebe
diversos aparelhos CTD’s (que medem
temperatura, salinidade e outros parâmetros).
Descobrir a estratificação das massas de
água superficial, sub-fundo e fundo
permitem estabelecer os fluxos de calor,
solubilidade e interação com a atmosfera.
UM GRANDE CONJUNTO NATURAL DE CONEXÕES
Um continente de máximos em todos os sentidos, a Antártida se torna única
no encanto que oferece pela poesia de sua beleza, a fascinação pela grandiosidade da
primeira descoberta que leva, ao espírito humano, a sensação da exploração de um
mundo novo, longínquo, alienígena, incomum.
Contudo, deve-se alertar que todo este cenário é frágil e deve ser preservado,
a todo custo, da ação predatória do homem. Os registros nos mostram que nos
tempos dos séculos XVIII, XIX e XX, a maior ação humana na região foi a de
destruição. De milhares a milhões de animais foram mortos pela ganância. Pode-se
dizer que boa parte da economia mundial nasceu da morte de centenas de baleias,
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muitas da região antártica. Várias espécies de focas foram quase extintas para a
obtenção de peles, óleo e carnes. É espantoso caminhar pelas praias da ilha Rei
George/25 de Mayo e ver as centenas de ossadas das baleias mortas. A mentalidade
humana precisa mudar.
A Antártida precisa ser respeitada, pois muitos dos mecanismos de interação
global passaram a ser estudados com mais atenção somente no final dos anos de
1990. Muito há de se descobrir ainda. As teleconexões entre sistemas
meteorológicos, efeitos globais, interação ar-mar, ainda estão sob avaliação e novas
teorias surgem. Um gigantesco mecanismo entre as diversas áreas do conhecimento
mostram que todas são engrenagens importantes de uma máquina não totalmente
conhecida. Deve-se chamar a atenção principalmente no que tange às diferenças do
hemisfério Sul da Terra e o papel fundamental da presença da Antártida neste
contexto. Será que a elevação da temperatura global poderá formar ciclones
extratropicais mais fortes, com ventos mais intensos? Sabe-se que a equação do
balanço do carbono global mostra um déficit. Para onde estaria indo esse carbono?
Águas frias são sorvedouros de gás carbônico atmosférico. A CCA é um dos
maiores sorvedouros deste carbono. Em contrapartida, os plânctons utilizam o gás
carbônico e começam uma espetacular cadeia alimentar que termina com a migração
dos grandes cetáceos para a CCA. São questões interessantes que ainda precisam ser
respondidas e que formarão muitas outras no meio do caminho. Para isso, apela-se
para que a consciência do homem tenha a visão suprema de manter intacto tão
grandioso ecossistema.
Estação Antártica Comandante Ferraz
O imperador Dom Pedro II era um homem de visão. Graças a ele o Brasil se
modernizou, mas principalmente se destacou entre as nações do mundo. Em se
tratando de Antártida, em 1882 foi realizada uma missão sub-antártica quando a
corveta Parayba se lançou aos mares bravios dos arredores do estreito de Drake,
mesmo sobre grande protesto da imprensa e de diversos políticos. Mais de cem anos
depois o Brasil finalmente chegou à Antártida. Poderia ter partido muito antes, pois
convites não faltaram. Diversas expedições, incluindo a de Bellingshausen,
ofereceram vagas aos cientistas da época para participarem das descobertas, já que
muitas destas viagens faziam parada obrigatória nos portos do Brasil.
Contudo, antes tarde do que nunca, os brasileiros chegaram ao território para
fincar nossa bandeira, pois as regras do tratado antártico diziam que só teriam direito
ao território, as nações que produzissem pesquisas e instalassem estações
permanentes até o prazo do ano 2000.
Várias pessoas se esforçaram para concretizar esse sonho. Algumas no
mundo civil, com a criação do Instituto Brasileiro de Estudos Antárticos – IBEA,
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sob protesto dos militares da época, nos anos de 1970. Contudo, muitos militares
apoiavam o instituto e defendiam sua posição de interesse na Antártida. Entre eles, o
capitão-de-mar-e-guerra, comandante Ferraz, cujo nome é atribuído a nossa estação.
Em fevereiro de 1984 é inaugurada a Estação Antártica Comandante Ferraz – EACF
na Ilha Rei George / 25 de Mayo, na península Keller, baía do Almirantado.
Infelizmente o comandante Ferraz não pode ver a concretização de seu sonho, pois
morreu 2 anos antes. De lá para cá, 25 anos se passaram e o Programa Antártico
Brasileiro – PROANTAR, executa suas missões todos os anos, sob auxílio de
diversas instituições nacionais, como USP, CNPq, PETROBRÁS, Marinha do Brasil
– MB e a Força Aérea Brasileira – FAB, organizadas pela Comissão Interministerial
para os Recursos do Mar – CIRM, através da sua secretaria, SECIRM.
Teoria da Defrontação. Como foi utilizada para a disputa do hemisfério Norte, os países Sulamericanos
reivindicaram a sua utilização para a Antártida. A disputa ficou amainada com a assinatura do Tratado
Antártico e a formação do SCAR (FONTE: CONTI, 1984).
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Vista do Módulo de Meteorologia, para Nordeste, sentido Ferraz, em seis instantes
meteorológicos diferentes. Ao fundo, enseada Martel, baía do Almirantado e geleiras
Stenhouse (esq.) e Ajax (dir.).
Dia raro na Antártida, calmaria de ventos,
brilho
solar,
ausência
de
tempos
significativos (06/12/2001).
Céu nublado, com teto baixo (cerca de 400
metros). O vento na enseada Martel desloca
os growlers (pequenos blocos de gelo)
originados na base das geleiras. Há pouco
brilho solar (24/12/2001).
Céu encoberto, com teto próximo dos 350
metros, a mudança de tempo é rápida na
Antártida e chega em menos de três horas, o
que exige atenção dos meteorologistas de
serviço (12/12/2001).
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Céu encoberto, nevoeiro glaciar, mesmo
com vento beirando 40 Nós (74km/h). A
visibilidade fica ao redor de 3.000 metros.
Ventos de quadrante Leste amontoam os
growlers na praia de Ferraz. Isto dificulta as
atividades dos botes e embarcações que
trafegam para o navio Ary Rongel
(10/12/2001).
Céu encoberto, teto baixo, visibilidade
horizontal menor que 2.000 metros. Fortes
ventos de quadrante Sul fazem nevar. A
nevasca é qualificada como Neve Soprada e
prejudica todas as operações programadas
para este dia, em pleno verão (08/01/2002).
Céu encoberto, teto baixo, próximo dos 100
metros. Ventos derivados de quadrante Norte
e Noroeste trazem muita umidade do oceano.
A chuva forte precipita por horas e prejudica
a visibilidade horizontal. O terreno vulcânico
não drena mais a água. Formam-se poças nas
áreas descobertas de gelo (08/12/2001).
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Vista para Sudeste, do morrinho do Módulo VLF. Esquerda: início de dezembro, verão na
estação Ferraz. Os módulos estão semi-encobertos de gelo e o lago Norte, de
abastecimento, está encoberto. Direita: meados de janeiro, meio do verão, os módulos e o
lago estão aparentes, mesmo após forte nevasca. O local da estação brasileira levou em
conta aspectos da logística militar: boa drenagem e fonte de água disponível o ano todo. Por
estes fatos, a nossa estação pode permanecer operando durante todo o ano, diferentemente
de outras estações ou bases sazonais, que só operam durante o curto verão antártico.
Estação Antártica Comandante Ferraz – EACF: Esquerda: vista dos módulos do
conjunto principal de Ferraz, com habitações, sanitários, cozinha etc. Direita: vista
aérea de todo o complexo. A estação permanece em funcionamento o ano todo.
Situa-se nas coordenadas 62º05’0”S 58º23’28”W, arquipélago das Shetlands do Sul,
ilha Rei George, baía do Almirantado, em frente à enseada Martel.
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Ilha Rei George / 25 de Mayo
Baía do Almirantado e enseada
Martel, ponto de fundeio do Navio
de Apoio Oceanográfico –
NApOc “Ary Rongel”
Baía do Almirantado
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MÍSCELÂNEA DE FOTOGRAFIAS
Esquerda: Aeronave de transporte de passageiros/carga Hercules C-130 da Força
Aérea Brasileira – FAB. Centro: Navio de Apoio Oceanográfico – NApOc “Ary
Rongel” da Marinha do Brasil – MB. Direita: Helicóptero Avibrás Esquilo Biturbina UH-1B da Marinha do Brasil – MB, embarcado (2 aeronaves) no “Ary
Rongel”.
Geleira Stenhouse, ilha Rei George. A Greta em geleira. O maior perigo para os
borda tem cerca de 150 metros de expedicionários em superfície. Uma greta
altitude e seu domo, 600 metros.
pode ter mais de 50 metros de
profundidade facilmente.
Iceberg com praia e piscinas. Algumas Iceberg à deriva entre a ilha Rei George e
colônias de pingüins habitam estas ilhas a ilha Elephant. Verificamos sua altura
de gelo flutuante.
de mais de 150 metros ao aproximarmos.
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Foca Leopardo (perigosa).
Bebês de Elefantes marinhos.
Foca de Weddell jovem (mansa).
Focas Caranguejeiras (arredias).
Pingüim Rei (raro na pen. Antártica)
Pingüins Antárticos.
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Pingüim Papua
Casal de Skuas, aves rapineiras.
Baleia Jubarte emerge.
Aranhas do Mar.
Estrela Sol.
Campo de Musgos.
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Diferenças Marcantes entre os Pólos
Antártida
•
•
•
•
•
Continente (Mega-arquipélago);
Circunavegável;
Eficiência termodinâmica: ciclones
atuam em condições excelentes;
Calota de gelo: > 4.000 metros;
Altitude média: 2.200 metros.
Temperaturas Médias:
Inverno: – 76,0ºF ou – 60,0ºC
Verão: – 18,0ºF ou – 28,2ºC
O Ártico
•
ET •
•
•
•
Mar congelado (adicionado, sazonalmente, à
grandes ilhas);
Não permite circunavegação;
Eficiência termodinâmica: ciclones ET
atuam nas pequenas áreas de oceano livre;
Calota de gelo: ~10 metros;
Altitude média: ~5 metros.
Temperaturas Médias:
Inverno: – 40,0ºF ou – 40,0ºC
Verão: 32,0ºF ou 0,0ºC
Icebergs Tabulares gigantes
Icebergs Piramidais pequenos
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III Ano Polar – 2007/2008/2009
No período de 1882-1883 aconteceu o I Ano Polar (I IPY) que realizou
diversas pesquisas em ambos os pólos do planeta, lembrando que os pólos
geográficos ainda não haviam sido conquistados. Depois de 60 anos, a comissão
científica internacional abriu o II Ano Polar (II IPY) realizado em 1932-1933, uma
vez que já se passaram quase 30 anos da conquista dos pólos. Finalmente, em 1957
até 1959 aconteceu o Ano Geofísico Internacional (IGY) que realizou diversas
atividades de pesquisa na Antártida, como a conquista dos pólos geográfico,
magnético, inacessibilidade relativa e frio. Em comemoração aos 125 anos do I IPY
e 50 anos do IGY, em 2007, iniciou-se o III Ano Polar (III IPY) que visará realizar
diversas pesquisas em ambos os pólos até março de 2009. As principais metas serão
a conquista definitiva do pólo da inacessibilidade, missão esta sob responsabilidade
da China e o aprofundamento das pesquisas sobre “aquecimento global”. Contudo,
pela contaminação inerente aos propósitos que o IPCC deseja obter destas pesquisas,
chamamos a atenção para os resultados que estão por vir. Acreditamos que um olhar
muito crítico deva ser lançado aos mesmos, nos próximos anos.
Antártida
O Ártico
28
Ano Geofísico Internacional e as Expedições Antárticas
29
REFERÊNCIAS
Alexander, C., 1998. A Lendária Expedição de Shackleton à Antártida. Companhia das Letras, pp.244.
Avérous, P.,1993. Au Bout Du Monde, L’Antarctique. Editora Augustus, pp.120, 1993.
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Coelho, A.P., 1983. Nos Confins dos Três Mares... A Antártida. Biblioteca do Exército Editora, pp.358, 1983.
Conti, J.B., 1984. A Antártida e o Interesse Brasileiro. Revista Orientação, Instituto de Geografia – USP, n.5,
p61-67, 1984.
Fedorova, N., 2001. Meteorologia Sinóptica. Editora e Gráfica Universitária, Pelotas. Vol. 2, pp.242, 2001.
Felicio, R.A., 2003. Principais Sistemas Sinópticos que Atuaram sobre a Península Antártica no Verão de
2001/2002 e a Circulação Troposférica Associada. Dissertação de Mestrado – INPE. 177p.
Gallo, J., 1988. Corpos de Deriva e Tendência de Circulação de Superfície das Águas sobre a Margem
Continental da Costa Sul e sua Correlação às Condicionantes Ambientais. Tese de Doutorado, Departamento
de Geografia – USP, pp. 198.
Solar, Maj.N.L., 1995. Curso OP-178: Meteorologia Antártica e Operações Aéreas. Ministério da Aeronáutica
– Instituto de Proteção ao Vôo – IPV, pp.70.
Streten, N. A. e Troup, A. J., 1973. A Synoptic Climatology of Satellite Observed Cloud Vortices over the
Southern Hemisphere. Quart. Journal Roy. Meteorological Society, 99, pp.. 56-72.
W. Schwerdtfeger, 1984. Weather and Climate of the Antarctic, Elsevier Publishing Company, Amsterdam,
1984, 261pp.
Ricardo Augusto Felicio
[email protected]
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