Ácido Hialurónico: Propriedades e Utilizações Oftalmológicas

Transcrição

Ácido Hialurónico: Propriedades e Utilizações Oftalmológicas
Ácido Hialurónico: Propriedades
e Utilizações Oftalmológicas
Marjorie J. Rah, OD, PhD. Massachusetts Eye and Ear Infirmary. Contact Lens Service.
243 Charles Street. Boston, MA 02114.
Introdução
O corpo é um complexo conjunto de sistemas que evoluíram para realizarem funções
essenciais. Um exemplo disso é o olho, sendo um órgão auto-mantido e auto-contido.
Para se manter, utiliza uma série de elementos que ele próprio produz. Por exemplo, a
película lacrimal contém mais de 490 proteínas, sendo algumas enzimas antibacterianas
que ajudam a desinfectar o meio ocular.1 O
ácido hialurónico (AH) é outro elemento que
o olho produz, sendo a sua principal função
manter o olho lubrificado. Alguns fabricantes
de lentes de contacto e de soluções de manutenção reconheceram os benefícios do AH
e incorporaram-no nos seus produtos como
um tratamento para o olho seco e para tornar
as lentes de contacto mais confortáveis.
O que é o ácido hialurónico?
O AH é um glicosaminoglicano que é encontrado naturalmente no organismo no tecido
conectivo da pele, do cordão umbilical e no
líquido sinovial das articulações.2,3 Podem
encontrar-se em várias estruturasdo olho,
como nas lágrimas humanas saudaveis,4
tecido lacrimal5 e epitélio corneano.6 Para
além do seu efeito lubrificante, o AH pode ter
um efeito protector contra a lesão oxidativa
causada por radicais livres.7,8 Pode também
influir na cicatrização para além de ter propriedades anti-inflamatórias.2 O AH é actualmente utilizado em diversos procedimentos
cirúrgicos, incluindo cirurgia ocular (como
substituição do vítreo), cirurgia de cataratas
(como protecção para o endotélio corneano) e cirurgia de transplante corneano (para
proporcionar uma maior transparência do
enxerto).2,9
Propriedades lubrificantes do ácido
hialurónico
O AH tem propriedades únicas de retenção
de água e de viscoelasticidade graças à sua
estrutura espiral o que permite a cada molécula do AH reter até 1.000 vezes o seu peso
em água.10 No entanto, alterações de temperatura, pH e taxa de deformação podem ter
um efeito prejudicial nesta capacidade.2,8,11 O
AH tem duas funções distintas, uma quando o olho está aberto e outra quando o olho
pisca. Quando o olho está aberto, é mais
viscoso e reveste a superfície do olho sem
drenar, resultando numa melhoria no tempo
de ruptura da película lacrimal.8,12 Quando
piscamos os olhos, a sua viscosidade dimi-
Quadro 1: Resumo dos estudos sobre os efeitos do AH no olho seco
Estudo 13
l 0,1% hialuronato de sódio
Resultados: Os pacientes notificaram alívio dos sintomas de olho seco. Houve melhoria objectiva da
coloração da córnea.
Estudo 213
l 0,1% hialuronato de sódio vs 0,1% hialuronato de sódio vs placebo
Resultados: Sem diferença significativa no teste de Shirmer, tempo de ruptura da película lacrimal e
marcação rosa de bengala para 0,1% de AH vs placebo. Diferença significativa no teste objectivo para
0,2% de AH vs placebo. A maioria dos doentes preferiu o tratamento com AH.
Conclusões
O AH é produzido pelo organismo e pode
ser uma inspiração no desenvolvimento das
lágrimas artificiais, agentes de re-humedecimento das lentes de contacto e como um
agente de humedecimento incorporado nas
soluçõe de manutenção para lentes de contacto.Todos eles podendo ajudar no combate à secura e desconforto oculares. Com os
avanços no desenho e na manutenção das
lentes de contacto, os profissionais dos cuidados oculares poderão proporcionar aos
seus pacientes utilizadores de lentes de contacto um maior conforto o que, irá reduzir o
número de pacientes que deixam de utilizar
lentes de contacto e aumentar o tempo que
utilizam as suas lentes.
Publicado pela primeira vez em Optician a 7 de Maio de 2010
Referências
1. de Souza GA et al. Identification of 491 proteins in the tear fluid
proteome reveals a large number of proteases and protease
inhibitors. Genome Biol. 2006;7:R72.
2. Lapcik L Jr, Lapcik L, De Smedt S et al. Hyaluronan: preparation,
structure, properties, and applications. Chemical Reviews.
1998;98:2663-2684.
3. Stuart JC, Linn JG. Dilute sodium hyaluronate (Healon) in the
treatment of ocular surface disorders. Ann Ophthalmol.
1985;17:190-192.
4. Frescura M, Berry M, Corfield A et al. Evidence of hyaluronan in
human tears and secretions of conjunctival cultures. Biochem Soc
Trans. 1994;22:228S.
5. Yoshida K, Nitatori Y, Uchiyama Y. Localization of
glycosaminoglycans and CD44 in the human lacrimal gland. Arch
Histol Cytol. 1996;59:505-513.
6. Lerner L, Schwartz D, Hwang D et al. Hyaluronan and CD44 in the
human cornea and limbal conjunctiva: letter to the editor. Exp Eye
Res. 1998;67:481-484.
7. Scott JE. Extracellular matrix, supramolecular organisation and
shape. J Anat. 1995;187 ( Pt 2):259-269.
8. Szczotka-Flynn LB. Chemical properties of contact lens rewetter.
Contact Lens Spectrum. 2006(4).
9. Polack FM. Healon (Na Hyaluronate): A review of the literature.
Cornea. 1986;5:81-93.
10. Rosenbaum D, Peric S, Holecek M et al. Hyaluronan in
radiation-induced lung disease in rat. Radiat Res. 1997;147:585591.
11. Scott JE, Cummings C, Brass A et al. Secondary and tertiary
structures of hyaluronan in aqueous solution, investigated by
rotary shadowing-electron microscopy and computer simulation.
Biochem J. 1991;274:699-705.
12. Johnson ME, Murphy PJ, Boulton M. Effectiveness of sodium
hyaluronate eyedrops in the treatment of dry eye. Graefes Arch
Clin Exp Ophthalmol. 2006;244:109-112.
13. Sand BB, Marner K, Norn MS. Sodium hyaluronate in the
treatment of keratoconjunctivitis sicca. A double masked clinical
trial. Acta Ophthalmol (Copenh). 1989;67:181-183.
14. Hamano T, Horimoto K, Lee M et al. Sodium hyaluronate
eyedrops enhance tear film stability. Jpn J Ophthalmol.
1996;40:62-65.
15. Prabhasawat P, Tesavibul N, Kasetsuwan N. Performance profile
of sodium hyaluronate in patients with lipid tear deficiency:
randomised, double-blind, controlled, exploratory study. Br J
Ophthalmol. 2007;91:47-50.
16. Itoi M, Kim O, Kimura T et al. Effect of sodium hyaluronate
ophthalmic solution on peripheral staining of rigid contact lens
wearers. CLAO J. 1995;21:261-264.
17. Van Beek M, Jones L, Sheardown H. Hyaluronic acid containing
hydrogels for the reduction of protein adsorption. Biomaterials.
2008;29:780-789.
18. van Beek M, Weeks A, Jones L et al. Immobilized hyaluronic acid
containing model silicone hydrogels reduce protein adsorption. J
Biomater Sci Polym Ed. 2008;19:1425-1436.
Estudo 314
l 0,05% hialuronato de sódio vs 0,1% hialuronato de sódio /0,3% hialuronato de sódio vs veículo
Resultados: Não foi notado efeito significativo no tempo de ruptura da película lacrimal para o veículo ou
0,05% de AH. O tempo de ruptura aumentou de forma significativa em todos os tempos de avaliação
até 3 horas para 0,1% e 0,3% de AH..
Estudo 412
l 0,1% hialuronato de sódio vs 0,3% hialuronato de sódio vs 0,9% solução salina
Resultados: Melhoria significativa no tempo de ruptura até 6 horas para 0,1% e 0,3% de AH. Maior efeito
de melhoria dos sintomas em todo o período de 6 horas do estudo para 0,3% de AH.
Estudo 515
l 0.18% hialuronato de sódio vs 0,3% hidroxipropilmetilcelulose/0.1% dextrano
Resultados: Melhoria significativamente superior no tempo de ruptura aos 30 e 60 minutos para 0,18%
de AH
nui, resultando na distribuição do AH pelo
olho quando as pálpebras voltam para as
suas posições originais.8
Eficácia do ácido hialurónico em
estudos de lágrimas artificiais
A capacidade do AH para se ligar com a
água torna-o num elemento ideal para as lágrimas artificiais, estando de facto já incluído
em algumas gotas lubrificantes disponíveis
para comercialização (e.g., Aquify® Long
Lasting Comfort Drops [CibaVision, Duluth
GA], Blink Contacts® Lubricating Eye Drops
[Abbott Medical Optics, Santa Ana CA]). O
Quadro 1 indica diversos estudos com lágrimas artificiais contendo AH e os seus efeitos
no olho seco e sintomas associados. Estes
estudos incluíram pacientes com olho seco
moderado a grave, que podiam estar a sofrer
alterações corneanas (como distrofia epitelial
, irritação provocada por lentes de contacto,
penfigóide ocular, queratite filamentar, queratite neurotrófica).3,12-15 A maioria dos critérios de avaliação destes estudos centrou-se
nos resultados de questionários subjectivos
e avaliações objectivas do tempo de ruptura
da película lacrimal, embora também tenham
sido avaliados outros resultados de testes ao
olho seco (como teste do filamento com vermelho de fenol, altura do menisco lacrimal,
tempo de ruptura da película lacrimal não
invasivo, hiperemia bulbar).3,12-15 O Quadro 1
indica os resultados destes estudos, não devendo ser contudo feitas comparações pelo
facto destes estudos não terem sido realizados de forma comparativa.
Eficácia do ácido hialurónico nos
estudos de lentes de contacto
Existem poucos dados na literatura relativos
ao efeito do AH nas lentes de contacto. Contudo, um estudo interessante , de Itoi e colegas (1995), avaliou o efeito do AH sobre a
tensão às 3 e 9 em pacientes usuários de lentes de contacto rígidas permeáveis ao gás.16
Neste estudo, os pacientes foram agrupados
aleatóriamente ao grupo AH ou ao grupo de
lágrimas artificiais e, embora não tenham
sido observadas diferenças significativas nos
sintomas subjectivos, foram observados significativamente menos sinais objectivos (coloração da córnea e hiperemia conjuntival) no
grupo que utilizou gotas de AH.
Outros estudos examinaram o efeito sobre a
absorção de proteínas do AH quando este é
incorporado como um agente de humedecimento nos materiais das lentes de hidrogel e
de silicone hidrogel.17,18 Nas lentes de hidrogel, a incorporação de AH reduziu significativamente a absorção de lisozima, albumina e
da proteína maior tamanho molecular IgG17
e, nas lentes de silicone hidrogel, resultou na
diminuição da absorção de lisozima.18
www.academyofvisioncare.es
www.academyofvisioncare.es