eja_8_ce_portugues_v0_04-02-13 - EJA

Transcrição

eja_8_ce_portugues_v0_04-02-13 - EJA
Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados
sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e
como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a
internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência
e Tecnologia não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de
consulta impressa neste material.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia autoriza a reprodução do conteúdo
do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da
obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados
com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.
*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio
público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Arte, Inglês e Língua Portuguesa: 8 o ano
do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia
(SDECT), 2013.
il. (EJA – Mundo do Trabalho)
Conteúdo: Caderno do Estudante.
ISBN: 978-85-65278-57-7 (Impresso)
978-85-65278-64-5 (Digital)
1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Artes – Estudo e ensino 3. Língua
Inglesa – Estudo e ensino 4. Língua Portuguesa – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.
FICHA CATALOGRÁFICA
Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090
Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262
CDD: 372
Geraldo Alckmin
Governador
Luiz Carlos Quadrelli
Secretário em Exercício
Antonio Carlos Santa Izabel
Chefe de Gabinete
Juan Carlos Dans Sanchez
Coordenador de Ensino Técnico,
Tecnológico e Profissionalizante
Concepção do programa e elaboração de conteúdos
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia
Coordenação Geral do Projeto
Equipe Técnica
Juan Carlos Dans Sanchez
Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.
Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap
Geraldo Biasoto Jr.
Diretor Executivo
Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de Araújo
Superintendente de Relações Institucionais e
Projetos Especiais
Equipe técnica e pedagógica
Ana Paula Lavos, Clélia La Laina, Dilma Fabri Marão
Pichoneri, Emily Hozokawa Dias, Fernando Manzieri
Heder, Jossélia Aparecida F. C. de Fontoura, Lais
Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena
de Castro Lima, Paula Marcia Ciacco da Silva Dias,
Silvia Andrade da Silva Telles e Walkiria Rigolon
Autores
Arte: Eloise Guazzelli e Gisa Picosque. Ciências:
Gustavo Isaac Killner. Geografia: Mait Bertollo.
História: Fábio Luis Barbosa dos Santos. Inglês:
Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Claudio Bazzoni.
Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Maria
Helena de Castro Lima e Selma Venco.
Coordenação Executiva do Projeto
José Lucas Cordeiro
Coordenação Técnica
Impressos: Selma Venco
Vídeos: Cristiane Ballerini
Gestão do processo de produção editorial
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Antonio Rafael Namur Muscat
Presidente da Diretoria Executiva
Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki
Vice-presidente da Diretoria Executiva
Gestão de Tecnologias aplicadas à Educação
Direção da Área
Guilherme Ary Plonski
Coordenação Executiva do Projeto
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Gestão do Portal
Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e
Wilder Rogério de Oliveira
Gestão de Comunicação
Ane do Valle
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Gestão Editorial
Denise Blanes
Equipe de Produção
Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira
Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de
Araújo, Beatriz Chaves, Camila De Pieri Fernandes,
Carla Fernanda Nascimento, Célia Maria Cassis,
Cláudia Letícia Vendrame Santos, Gisele Gonçalves,
Hugo Otávio Cruz Reis, Lívia Andersen França,
Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,
Patrícia Maciel Bomfim, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana,
Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi
Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,
Beatriz Blay, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima,
Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov
Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,
Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e
Vanessa Leite Rios
Projeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo
Russo (Capa)
Caro(a) estudante,
É com grande satisfação que apresentamos os Cadernos do Estudante do
Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta
é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar
suas atuais necessidades de conhecimento.
Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedicar aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.
O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos
têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendizagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimentos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos
respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho
para a conquista de um futuro melhor.
Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você
perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do
trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para
tratar de questões relacionadas a esse tema.
Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na
procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu
currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas.
Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as
causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado
de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estratégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.
Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, posteriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para
seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conhecimento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula
por toda a nossa existência.
Bons estudos!
Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia
Sumário
Arte.......................................................................................................................................... 7
Unidade 1
A materialidade nas criações artísticas
9
Unidade 2
O corpo como suporte e matéria da arte
Unidade 3
Matéria e materiais inusitados na arte
29
45
Unidade 4
@rte e tecnologia: outros modos de materialidade
63
Inglês................................................................................................................................. 75
Unit 1
Food
77
Unit 2
The origins of work
Unit 3
Work safety
91
103
Unit 4
Common work issues
113
Língua Portuguesa......................................................................................... 127
Unidade 1
Sentidos dentro e fora dos textos
Unidade 2
Fio de histórias...
129
153
Unidade 3
Cartas: seus autores e seus leitores
165
Unidade 4
Pesquisando o mundo em dicionários e enciclopédias
Unidade 5
O que fazem os poetas com as palavras?
203
187
L íngua
P ortuguesa
8
Caro(a) estudante,
Este Caderno de Língua Portuguesa tem o objetivo de levar você a aprofundar seus conhecimentos nas práticas de linguagem como leitura, fala,
escuta e escrita. Espera-se, desse modo, que você possa ampliar seu envolvimento com as palavras e ter mais confiança para se expressar e interpretar os
diversos textos, nos mais variados contextos, tendo melhor participação social
como cidadão.
A construção de sentidos dentro e fora dos textos e a compreensão de
como os autores entrelaçam ideias para ligar um trecho do texto ao trecho
seguinte em composições escritas serão trabalhadas na Unidade 1. Nela,
você estudará os conceitos de coerência e coesão, descobrindo por que um
texto é muito mais que a soma de um conjunto de palavras e frases.
Na Unidade 2, você aprofundará seus estudos sobre o conto, um
gênero bastante versátil. Lembrará o que acontece com contos da tradição
oral que ganham versão escrita e poderá entrar em contato com os que já
“nasceram” escritos. Terá a oportunidade de ler e interpretar um conto e
diversos minicontos – criações com o mínimo de palavras, mas que produzem enorme impacto no leitor.
Logo depois, na Unidade 3, você vai escrever, ler e analisar alguns gêneros de cartas, bem como conhecer características, estilos, valor histórico e
outras informações sobre elas, que fazem com que a correspondência, ainda
hoje, exerça uma importante função na vida das pessoas. Revisando as cartas que vai redigir, além de aprimorar a produção escrita, aprenderá também a aplicar boas estratégias para reclamar e solicitar seus direitos.
Na Unidade 4, você vai ler e comparar diferentes verbetes. Nela, você verá
que, quando se quer aprender algo de maneira mais formal e sistematizada,
você pode pesquisar em obras de referência, como dicionários e enciclopédias,
que reúnem os conhecimentos produzidos pela humanidade.
Por fim, na Unidade 5, você vai ler, divertir-se, emocionar-se e aprender
com os poemas – um dos modos humanos de interpretar a vida e seus sentidos. Vai ainda lidar com alguns recursos textuais que os poetas utilizam
para expressar, em versos, as mais diversas emoções, de modo diferente do
que fariam na linguagem cotidiana. Para aprender a construir sentidos nos
textos desse gênero, cuidadosamente escritos para provocar reflexão, encantamento e emoção, será convidado a reconstruir e explorar, na leitura de
poemas antigos e contemporâneos, as estratégias textuais dos poetas.
Bons estudos!
1
Sentidos dentro e
fora dos textos
A primeira coisa importante a dizer sobre um texto é que ele é
produto da intenção de alguém que o fala ou escreve.
ABREU, Antônio Suárez. Texto e gramática: uma visão integrada e funcional para a leitura e a escrita.
São Paulo: Melhoramentos, 2012, p. 17. (Coleção Como Eu Ensino).
Nesta Unidade, você vai estudar coerência e coesão textuais em
atividades de leitura e análise de textos de diferentes gêneros. Verá
como os sentidos de um texto se constroem dentro e fora dele – na
relação entre autor e leitor –, e como isso é importante tanto para
escrever como para ler. Além disso, conhecerá diferentes estratégias que os autores utilizam para “costurar” as ideias em seu texto,
“amarrando” um termo a outro, substituindo-o e estabelecendo relações entre um trecho e os seguintes.
Para iniciar...
Você sabia que a palavra “texto”, em seu sentido original, tem
relação com tecido, pano, estofo? Que significa obra feita de muitas
partes reunidas; ou, ainda, entrançado, entrelaçado?
Converse com os colegas e o professor.
•
O que significa afirmar que um time de futebol, de basquete ou de
outro esporte coletivo é um time coeso? Times coesos são fáceis
de ser derrotados? Por quê?
•
Ao costurar um tecido, entrelaçam-se os fios até que as partes do
pano fiquem bem “ligadas”. Que cuidados, em sua opinião, deve-se
ter para entrelaçar/unir as palavras em um texto?
•
Um roteiro de uma novela ou de um filme é construído com cortes
e vínculos entre cenas e personagens da história. Quando os cortes são bem-feitos, é mais fácil compreender a história? Por quê?
•
O que você entende por “coerência”? O que, em sua opinião,
significa ter uma atitude coerente?
129
Língua Portuguesa – Unidade 1
•
É possível que algumas pessoas considerem uma situação coerente, enquanto outras a consideram incoerente? Por quê?
•
Quando alguém afirma que um texto não tem coerência, o que
você acha que essa pessoa quer dizer?
O entrelaçamento do texto
Apesar de você se deparar a todo instante com textos diversos, na
escola e fora dela, definir o que é um texto não é tarefa simples. Para
dizer o que ele significa, é preciso considerar uma porção de fatores.
O primeiro é que texto é um objeto simbólico que sempre precisa
ser interpretado. Complicado? O que significa ser “um objeto simbólico”? Por que sempre precisa ser interpretado?
Um texto é considerado “um objeto simbólico”, porque é uma
representação; ou seja, o sentido (ou os sentidos) não está(ão) só
nele, mas também no que é possível desvendar por trás dele, na
interpretação. Por exemplo, se você escutasse a frase “Eu adoro
tomar sorvete”, qual seria sua interpretação para a palavra “sorvete”? E na frase “Se fosse possível viver uma próxima vida, tomaria mais sorvete e menos sopa de lentilha”? Você acha que essa palavra é usada com o mesmo sentido?
Dizer “Se fosse possível viver uma próxima vida, tomaria mais
sorvete e menos sopa de lentilha” significa mais do que manifestar
uma preferência alimentar. Nesse caso, “sorvete” representa os prazeres da vida.
Assim, embora expressem as intenções do autor, os sentidos
de um texto nunca estão totalmente prontos. No caso específico
de textos verbais – orais ou escritos –, o sentido dos trechos que
os compõem depende do sentido dos demais com que eles se relacionam e do contexto em que se inserem. Contexto é tudo o que
acompanha e envolve um fato ou uma situação. Desse modo, em
um texto verbal, saber quem é o autor, que posição social ele
ocupa, em que situação escreve, para quem, em que época, em que
veículo ou instituição publica o texto, com que finalidade o criou
– tudo isso – deve fazer parte da leitura.
Além disso, a construção dos sentidos de um texto sempre
depende da interpretação do leitor (ou ouvinte), que a faz com base
em seus conhecimentos pessoais, adquiridos por meio de experiências
e convívio social.
130
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 1 É coerente ou não?
1. Você vai ler e analisar algumas tirinhas.
a) Você costuma ler tirinhas ou histórias em quadrinhos? Costuma se divertir com a maneira como elas abordam os mais
variados temas relacionados à vida humana? Por quê?
b) O que há de particular na maneira como tirinhas e histórias
em quadrinhos abordam esses temas?
© Fernando Gonsales/Folhapress
2. Leia a tirinha de Fernando Gonsales e responda:
a) Você achou a tirinha engraçada? Por quê?
b) Você acha que a centopeia tem razão de ficar chateada por
não ter ganhado o papel principal da peça? Por quê?
131
Língua Portuguesa – Unidade 1
c) Em sua opinião, alguém que não conhecesse a figura do saci-pererê acharia a tirinha divertida? O que essa pessoa não
compreenderia?
Fica a dica
Para dar boas
gargalhadas, você pode
acessar sites ou consultar
livros que trazem outras
tirinhas. Aí vão algumas
sugestões:
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea: Com mil
demônios!! São Paulo:
Devir, 2002.
d) A tirinha pode ser interpretada de muitas maneiras? Que interpretações poderiam ser feitas?
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea: Vá
pentear macacos! São
Paulo: Devir, 2004.
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea: Em boca
fechada não entra mosca.
São Paulo: Devir, 2008.
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea: Minha
mulher é uma galinha.
São Paulo: Devir, 2008.
e) Em sua opinião, essa tirinha foi produzida com que finalidade?
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea: Um tigre,
dois tigres, três tigres.
São Paulo: Devir, 2009.
GONSALES, Fernando.
Níquel Náusea – site
oficial. Disponível em:
<http://www2.uol.com.
br/niquel/>. Acesso em:
26 out. 2012.
3.Em Diga-me com que carro andas e te direi quem és!, Caco
Galhardo (2001) criou a série 36 jeitos de ver um mosquito
esmagado na parede, que apresenta 36 leituras diferentes para
um mesmo acontecimento: um mosquito esmagado na parede.
Conheça algumas dessas leituras.
© Caco Galhardo
QUINO. Toda Mafalda.
São Paulo: Martins
Fontes, 1991.
GALHARDO, Caco. Diga-me com que carro andas e te direi quem és! São Paulo: Via Lettera, 2001, p. 27-29.
132
Língua Portuguesa – Unidade 1
Considerando que você, como leitor, constrói sentidos para o que
lê, responda:
a) Das leituras apresentadas, há alguma que você achou incoerente?
Por quê?
b) Qual leitura você faria do acontecimento “um mosquito esmagado na parede”?
c) Como um professor leria esse acontecimento?
d) Como você explica que um mesmo fato possa ter tantas leituras?
e) Em sua opinião, com qual intenção Caco Galhardo criou a
série 36 jeitos de ver um mosquito esmagado na parede?
Você sabia que a
piada é um gênero
textual muito
popular e cultivado
universalmente?
Já no século XVII,
circulavam pela
Europa tratados sobre
o ridículo – que, em
termos etimológicos,
significa “risível”,
“jocoso”, “absurdo”,
“extravagante”. Em
geral, a piada apresenta
temas estereotipados e
proibidos (politicamente
incorretos). Na verdade,
é só quando os temas
controversos se tornam
populares e passam
a ser discutidos com
frequência que as piadas
começam a aparecer.
As piadas são textos
comumente curtos,
com diálogo e jogos de
linguagem. Sua principal
característica é a quebra
da expectativa do leitor e
a reação provocada por
esse fato. Por isso, elas
exigem conhecimento
do tema de que tratam,
bem como agudeza por
parte do ouvinte ou do
leitor, pois a piada perde
a graça quando precisa
ser explicada. O mesmo
acontece com as tirinhas.
Coerência
Quando se fala em coerência, é possível que a primeira ideia que
venha à cabeça seja a de ligação, nexo, lógica ou harmonia entre fatos
ou ideias. Para um texto ser coerente, portanto, é preciso que o leitor
identifique uma interligação de ideias que se complementam. Por exemplo, não há lógica na frase “Os salários são baixos, porque a compra de
revistas não é frequente”. Mas por quê? Do modo como está escrita, a
frase leva a pensar que, se fossem compradas mais revistas, os salários
aumentariam, o que é incoerente. As pessoas precisam de dinheiro para
comprar revistas, e, se o salário delas é baixo, o mais provável é que irão
usá-lo para comprar outras coisas.
133
Língua Portuguesa – Unidade 1
É importante perceber que a coerência não depende apenas do que
está escrito no texto, mas também dos conhecimentos do leitor que vai
interpretá-lo.
Nesse sentido, coerência tem estreita relação com interpretação,
embora o que você vá interpretar também dependa das pistas que lhe
são dadas, no texto, pelo autor. Na leitura da tirinha de Fernando
Gonsales que você estudou na Atividade 1, por exemplo, só entende a
expressão facial e o “silêncio” da baratinha no último quadro quem
conhece a figura do saci-pererê. Então, para construir um sentido,
cada leitor ajusta o texto ao conhecimento de que dispõe.
Atividade 2 Mais coerência...
1. Em dupla, encontrem o trecho no bloco 2 que dá continuidade
coerente a cada texto do bloco 1.
Bloco 1
a) “Olha a quantidade de propaganda de vitamina que você vê
na televisão. [...]” (Drauzio Varella, médico).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 22.
Augurar
Desejar.
b) “Eu sei que agora pode parecer sonho defender as etnias. Que
estamos em um mundo universalizado, não existem nem os
países, não há fronteiras, elas são informatizadas. Na Europa,
na Ásia, na África... Eu auguro uma mundialização no bom
sentido das palavras. [...]” (Dom Pedro Casaldáliga, bispo da
Igreja Católica).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 45.
c) “Isso é uma crítica que eu faço. Acho que a imprensa contribui para esse quadro de violência fortemente. [...]” (Caco
Barcellos, jornalista).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela: 2001, p. 18.
d) “Aquele foi talvez o momento de maior aprendizado que tive
na vida. [...]” (Sócrates, ex-jogador de futebol).
CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 45, p. 35, dez. 2000.
e) “Eu estou aqui dentro de uma revista atípica, mas a gente sabe
que o jornalismo é uma forma de ficção que tem suas regras
próprias, não é? [...]” (Augusto Boal, ex-diretor de teatro).
CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 48, p. 32, mar. 2001.
134
Língua Portuguesa – Unidade 1
Bloco 2
( )“[...] Porque nunca, até agora, a humanidade se sentiu de
fato una, com todas as desgraças, tensões e diferenças. Acredito que a gente possa cada vez mais se sentir parte da mesma humanidade, sabendo também aceitar as diferenças das
culturas. Se passarmos por cima das diferenças das culturas,
vamos ter uma humanidade sem alma.”
( )“[...] Claro que você tem de hierarquizar responsabilidades, não
sei quem é o maior responsável, chutaria primeiro o empresariado, os concentradores de renda. Mas acho que a imprensa
vem logo ali atrás. Justiça, eu acho que é devedora: a renda
de 97 por cento da população carcerária brasileira é de dois
salários-mínimos. Que justiça é essa, não é? Eu quero culpar só
a Justiça? Claro que não. Ela é a ponta.”
( )“[...] Uma mesma notícia, se você põe na primeira página em
letras garrafais, ganha uma importância extraordinária; mas,
se você põe em letras minúsculas na sétima página, ela vira
uma banalidade. Então, o jornalismo fabrica e a gente sabe que
o jornalismo no Brasil é possuído por algumas poucas famílias,
e essas poucas famílias dizem o que é bom e o que é ruim.”
( )“[...] Porque essa é a vantagem do esporte, te coloca junto com
outras realidades sociais. Antes disso, não, porque no colégio particular todo mundo está no mesmo nível, mas, quando
fui para o Botafogo com 15 anos, comecei a conviver com
aquilo de que só tinha ouvido falar: fome, desemprego, desnutrição. E muito proximamente, porque sempre estava muito
junto das pessoas.”
( )“[...] Tudo isso é só marketing, mais nada, não há nenhuma evidência científica – respeitados os limites da desnutrição, lógico –,
nenhum estudo mostrando que você consegue melhorar seu
nível de saúde com vitaminas, ou prevenir qualquer doença.”
2. O que você e seu colega observaram nos textos que permitiu a
vocês encontrar os trechos correspondentes?
135
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 3 Conexões perigosas
1. Leia, a seguir, um dos sentidos da palavra “coerência”:
Relação lógica e harmônica entre ideias, atos, situações etc. [...]
© iDicionário Aulete: <www.aulete.com.br>.
Verifique em quais das frases a seguir está faltando coerência. Assinale-as.
a) Os salários são baixos, porque a compra de revistas não é
frequente.
b) Meu time de futebol jogou muito mal ontem, mas perdeu o jogo.
c) Estabelecer o que é beleza tem proporcionado, no decorrer da
história, mais controvérsias do que consenso.
d) A leitura exige um esforço de concentração que os programas
de TV não exigem, por isso é mais fácil ler do que assistir à TV.
e) No mundo do consumo, os comerciais de TV por si sós não
garantem o sucesso de venda de produtos, pois cada vez mais
são utilizados pelos anunciantes.
2. Agora, reescreva as frases que você assinalou, fazendo as alterações
que julgar necessárias, para torná-las coerentes.
136
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 4 Hora da incoerência
1. Leia a Carta à Ana Elvira e responda às questões propostas.
Querida Ana Ervilha
Hoje cedo vi lágrimas nos seus alhos. Que
couve? Algum pepino?
Me conte, andaram falando abobrinhas na tua
segurelha? Ou foi aquela velha escarola da Betty
Rabs que disse que você engordou? Que quiabos!
Você não melancia uma coisa dessas! E, além
disso, veja quem fala: você não vê que ela é meio
acelga? Olhe, tenho um remédio que é batata nesses casos. Diga àquela distinta cenoura que você
é feliz como é e mande-a às favas! Não a deixe
ganhar essa bertalha tão fácil, ela merece uma
surra de chicória! Tomate que você melhore logo!
Quero ver o sorriso voltar às suas alfaces! Se precisar de alguém para ajudá-la a descascar mais
algum abacaxi, conte cominho.
Sua amiga do coração (de alcachofra),
Horta Alice
PAMPLONA, Rosane. Histórias de dar água na boca.
São Paulo: Moderna, 2008, p. 34. (ênfases adicionadas)
a) Você achou a carta engraçada? Por quê?
137
Língua Portuguesa – Unidade 1
b) O que pode ser considerado incoerente nela?
c) Algumas das palavras destacadas fazem parte de expressões
que você usa no dia a dia? Se sim, quais?
d) Em sua opinião, como o leitor da Carta à Ana Elvira consegue perceber o que se pretende dizer nos trechos em que há
termos destacados?
e) Com que intenção você acha que essa carta foi escrita? Você
ainda diria que ela é incoerente?
2. Que relações é possível estabelecer entre a Carta à Ana Elvira e a
obra Verão, de Giuseppe Arcimboldo, na página seguinte?
138
© Erich Lessing/Album/Latinstock
Língua Portuguesa – Unidade 1
Giuseppe Arcimboldo. Verão, 1573. Óleo sobre tela, 76 cm × 64 cm. Museu do Louvre, Paris, França.
139
Língua Portuguesa – Unidade 1
Coesão
Você já viu que a palavra “texto” tem relação com tecido, com
entrelaçamento. Viu também que, sempre que tentamos construir
sentidos para o que lemos, ouvimos e vemos, é preciso recorrer aos
nossos conhecimentos. Agora, você vai compreender como acontece
o encadeamento (a amarração) e a estruturação dos termos que compõem o texto: a coesão textual.
Coesão relaciona-se com união, com ideias amarradas ou ligadas.
Para que esse processo ocorra, é preciso observar duas coisas: a maneira
como em um texto um termo liga-se a outro, substituindo-o, retomando-o,
ou antecipando-o, e o modo como as ideias progridem no texto.
Observe o exemplo:
Ele a seguiu até que ela chegou a um jardim cheio de pequenas flores coloridas.
Da maneira como está escrita, a frase dá poucas pistas ao leitor.
Quem seguiu? Quem chegou a um jardim? Sem que apareçam os termos a que “ele”, “a” e “ela” se referem, não há como saber quem são
os envolvidos na situação. Repare agora:
Quando se refazia do susto, o guerreiro Hasan viu a jovem
Fátima, que tanto amava. Ele a seguiu até que ela chegou a um
jardim cheio de pequenas flores coloridas.
Agora, com o parágrafo completo, ficou fácil saber a que nomes as
palavras destacadas estavam ligadas, ou seja, que palavras substituíam.
“Ele” refere-se ao “guerreiro Hasan”; “a” e “ela” evitam a repetição
de “a jovem Fátima”. A noção de coesão demonstra que algumas vezes,
para interpretar um termo no texto, você precisa pressupor outro.
Atividade 5 Identificando estratégias de coesão I
1. Leia o fragmento de texto abaixo e localize os quatro argumentos
que aparecem. Registre-os no quadro da próxima página e diga o que
há em comum na apresentação desses argumentos.
VARELLA, Drauzio. Médico de
família. Drauzio Varella.com.br.
Disponível em:
<http://drauziovarella.com.br/
wiki-saude/medico-de-familia/>.
Acesso em: 26 out. 2012.
(ênfases adicionadas)
140
[...] esse tipo de médico [médico de família] foi extinto por várias razões. Primeiro, porque desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se
reuniam em torno do patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo,
porque as cidades pacatas nas quais ele se movimentava não existem mais.
Terceiro, porque os honorários recebidos por um médico daquele tempo eram
suficientes para uma vida confortável, sem precisar de três ou quatro empregos.
E, acima de tudo, porque médico de família era privilégio de poucos. [...]
Língua Portuguesa – Unidade 1
Argumentos
O que há em comum na apresentação deles
2. Qual dos quatro argumentos apresentados é o mais importante
para o autor? Justifique sua resposta.
141
Língua Portuguesa – Unidade 1
Estratégias de coesão
Há algumas estratégias de coesão que podem ser utilizadas na hora
de escrever um texto e que também são importantes para a interpretação.
Em Ainda há tempo?, é possível observar algumas delas e descobrir a
lógica por trás de seu uso. Leia o fragmento a seguir, para depois discutir
o que o autor fez para tornar esse texto coeso.
São Paulo, nov./dez. 2007
O Estado de S. Paulo – Amazônia. Grandes Reportagens
Ainda há tempo?
Exótica e esplendorosa, mas tratada com ambiguidade e distanciamento, a
Amazônia pode ser salva, mas antes é preciso conhecê-la
Ainda é possível salvar a Amazônia? Há tempos, essa pergunta desafia as
consciências brasileiras sem que para ela, ao longo dos anos e dos governos, o
Estado tenha formulado uma resposta confiável e definitiva. A Amazônia tem
sido mais conhecida pelas ameaças que pairam sobre ela. As notícias sobre essa
exótica e esplendorosa região estão quase sempre associadas à devastação da
floresta, à contaminação das águas, à extinção da biodiversidade, à degradação
dos seus habitantes nativos. Repete-se sempre a especulação de que o Brasil
não teria competência para geri-la. Essa sequência de notícias ruins tem fundamentos reais. O Brasil tem tratado com ambiguidade e distanciamento o maior
tesouro biológico do planeta , que lhe pertence. [...]
O distanciamento que nos separa da Amazônia faz com que a região seja,
ao mesmo tempo, ambígua fonte de orgulho e de aborrecimento, deslumbramento e estranhamento, atração e repulsa. Mas não há como negar a pre-
sença dela em nossa vida. Quando um paulista bebe um copo d’água, garante
a ciência, está bebendo água amazônica. O regime de chuvas do Sul-Sudeste
depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos “rios voadores”.
Para salvar a Amazônia é preciso conhecê-la. Com seu mistério e sua
importância vital, ela é um irresistível objeto de interesse e curiosidade. [...]
AINDA há tempo? In: O Estado de S. Paulo. Amazônia. Grandes Reportagens. São Paulo, nov./dez. 2007.
(cores e quadros adicionados)
142
Língua Portuguesa – Unidade 1
Estratégia 1 – Retomada ou antecipação de termos
Repare que as palavras em verde retomam termos, expressões ou frases:
• essa pergunta, ela à Ainda é possível salvar a Amazônia?
• que à o maior tesouro biológico do planeta
• lhe à Brasil
• dela à a região
• -la, seu, sua, ela à a Amazônia
É muito comum que os pronomes esse(s), essa(s), este(s), esta(s), aquele(s), aquela(s), aquilo, que, o(s)
qual(ais), a(s) qual(ais), onde, cujo(s), cuja(s), o(s), a(s), -lo(s), -la(s), -no(s), -na(s), lhe(s), meu(s), minha(s),
seu(s), sua(s), nosso(s), nossa(s) etc., os advérbios e as expressões adverbiais a seguir, assim, desse modo,
acima, abaixo etc. retomem termos já expressos no texto.
Também é possível que o item coesivo apareça antes do termo ou frase que substitui. Por exemplo: “O sonho
mais lindo que tenho é este: que ninguém passe fome no mundo”. Esse tipo de coesão é chamada coesão por
antecipação.
Estratégia 2 – Uso de expressões substitutas
Repare que as palavras em laranja substituem termos ou expressões:
• exótica e esplendorosa região, o maior tesouro biológico do planeta, a região à Amazônia
Observação: é muito comum que os autores utilizem palavras ou expressões que têm sentido mais abrangente
ao substituírem termos que já foram mencionados. Veja algumas possibilidades:
Específico
Genérico
Amazônia
região
índios
povos nativos
planaltos, depressões, montanhas, terrenos alagados e de terra
firme, rios de todos os tamanhos, águas de cores variadas, algumas
ácidas, outras alcalinas, florestas úmidas, florestas secas, savanas,
pântanos e manguezais
ecossistemas muito diferenciados
O caminho inverso também é possível. Uma palavra ou expressão genérica pode ser substituída por um
termo com sentido específico:
Genérico
Específico
forças armadas, exército brasileiro
soldados
fauna amazônica
onça-pintada, jaguatirica, anta, capivara etc.
Estratégia 3 – Termo oculto que pode ser subentendido
Repare na frase: “está bebendo água amazônica”. Quem está bebendo? Nesse caso, a coesão ocorre por
conta da relação quem faz a ação/verbo. É possível saber no texto quem realiza a ação, mesmo que esse
sujeito não esteja escrito. Pelo contexto da frase, sabe-se que é “um paulista”.
Estratégia 4 – Uso dos conectivos
Observe que as palavras em azul fazem progredir o texto, permitindo que o fluxo de ideias continue e que
as frases fiquem articuladas.
• “Há tempos” e “quando” são marcadores temporais, que se articulam perfeitamente com a ideia anterior
• O “mas” cria um sentido de quebra de expectativa
Observação: nem sempre é necessário usar conectivos para estabelecer coesão ou ligação de ideias. A frase
“O regime de chuvas do Sul-Sudeste depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos ‘rios
voadores’.” tem conexão com a ideia anterior. Em vez de usar o conectivo “pois”, o autor preferiu usar
ponto [.]. O ponto não interrompe o fluxo de ideias. A conexão se mantém, ela só não é explícita. Os sinais
de pontuação e os marcadores temporais, entre outros, são também formas de garantir a coesão textual.
143
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 6 Identificando estratégias de coesão II
Você sabia que
alguns termos podem
ser usados em mais de
uma estratégia?
Dependendo do
contexto em que a
frase é inserida, muda
a função que alguns
termos desempenham.
Na frase “Eles se
encontraram e só assim
puderam conversar”,
o termo “assim”
retoma o encontro
entre os personagens,
funcionando como
estratégia de
retomada. Já na frase
“A menina sentiu que
não havia aventura
em sua vida. Assim,
decidiu viajar mundo
afora”, o termo
destacado serve para
ligar as duas sentenças,
estabelecendo entre
elas uma conclusão;
nesse caso, trata-se da
estratégia de uso
dos conectivos.
NAZÁRIO, Nina. Alerta geral.
Carta Fundamental, p. 28-9,
dez. 2008/jan. 2009.
(ênfases adicionadas)
144
1. Leia o texto a seguir, procurando identificar as estratégias de coesão
usadas pelo autor. Em seguida, responda às perguntas propostas.
São Paulo, dez. 2008/jan. 2009
Carta Fundamental
Alerta geral
Entenda por que mais de 600 animais da fauna brasileira correm risco de
desaparecer do nosso mapa
A biodiversidade brasileira é
de uma grandeza impressionante.
Estimativas de pesquisadores revelam
que o País possui entre 15% e 20% de
toda a biodiversidade mundial e abriga
o maior número de espécies endêmicas
(aquelas que não são encontradas em
nenhum outro lugar). A variedade
da fauna e flora é tão grande que
inviabiliza o levantamento preciso
do número de espécies existentes.
Calcula-se que sejam em número de
2 milhões dos quais apenas 10% do
total já foram identificadas. O ecólogo
Thomas Lewinsohn, da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp),
coordenador do maior levantamento
sobre biodiversidade feito no Brasil,
reconhece que há uma “cratera
gigantesca de informação”, atribuída
justamente à enorme variedade de
espécies.
Essa riqueza confere ao Brasil
uma posição entre os dezessete países
considerados megadiversos – ou seja,
que abrigam 70% das espécies de animais e vegetais catalogadas no mundo.
Porém, apesar de tamanha abundância
e da certeza de que muitas espécies
existentes nem sequer foram inventariadas, as atividades humanas vêm
ameaçando a manutenção da biodiversidade. A União Internacional para
Conservação da Natureza (IUCN) [* ]
estima que, em todo o mundo, de uma
a duas espécies de plantas são extintas
por dia, enquanto a taxa de extinção
dos animais varia de 50 a 250 espécies
por dia.
[ ]
A extinção da fauna
Segundo dados de inventários, a
fauna brasileira catalogada abrange
524 espécies de mamíferos, 517 anfíbios, 1 677 aves, 468 répteis, sendo
muitos desses animais endêmicos.
Eles estão distribuídos pelos diversos ecossistemas dos biomas brasileiros
– Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata
Atlântica, Pantanal e Pampa – e parte
está em perigo de extinção. Fatores
como o desmatamento, a caça e o tráfico de animais silvestres, a poluição
ambiental e a invasão por espécies
exóticas (espécies que não ocorrem
originalmente em um local) alteram
drasticamente a paisagem e as relações
ecológicas estabelecidas originalmente
nos ecossistemas. Nestas condições, a
população animal enfrenta dificuldade
para obter alimento, reproduzir-se, deslocar-se e conseguir abrigo, e sua sobrevivência fica comprometida.
Quem sai perdendo
Em princípio, todo ser vivo tem
direito à existência, e a extinção de espécies contraria esse direito. Pensando
sob o ponto de vista dos benefícios que
a natureza proporciona aos seres humanos, a manutenção dos ecossistemas e
de seus processos ecológicos preserva
fontes de alimento, de espécies medicinais, combustível e matéria-prima para
a fabricação de produtos; permite manter a qualidade da água e do ar, regula o
clima, previne a erosão do solo e oferece
áreas para lazer, entre outras coisas. A
perda da biodiversidade, portanto, diminui a qualidade de vida dos seres humanos. [...]
* IUCN é a sigla em inglês para International Union for Conservation of Nature [nota do editor].
Língua Portuguesa – Unidade 1
a) Quantas vezes a palavra “biodiversidade” aparece no texto?
Por que, em sua opinião, essa palavra aparece tantas vezes?
b) Localize e grife no texto as palavras sinônimas ou que têm
aproximadamente o mesmo significado de biodiversidade.
c) No primeiro parágrafo, aparece o pronome “aquelas”. Que
termo esse pronome está substituindo?
d) Ainda no primeiro parágrafo, há o pronome “dos quais”. Que
termo esse pronome está substituindo?
e) Identifique no texto as expressões que mostram que a grande
quantidade de espécies é a causa da lacuna de informações
sobre a biodiversidade brasileira.
f) O segundo parágrafo começa da seguinte maneira: “Essa
riqueza confere ao Brasil [...]”. De que riqueza se trata?
145
Língua Portuguesa – Unidade 1
g) O quarto parágrafo começa com o pronome “eles”. Que termo esse pronome está substituindo?
h) Que fatores alteram drasticamente a paisagem e as relações
ecológicas estabelecidas nos ecossistemas?
i) Que definição de espécies endêmicas o texto apresenta? E de
espécies exóticas?
j) A autora usou parênteses para apresentar as definições de
“espécies endêmicas” e “espécies exóticas”. Estabeleça a coesão entre termo e definição, mas escrevendo de outra maneira.
Escolha, para cada caso, uma expressão explicativa:
“ou seja”, “isto é”, “quer dizer” ou “em outras palavras”.
2. O texto a seguir apresenta, de maneira bem resumida, algumas
etapas da evolução das formas de comunicação utilizadas pelo ser
humano. Leia os fragmentos e grife os termos e as expressões que
retomam, substituem ou antecipam o que está sublinhado.
146
Língua Portuguesa – Unidade 1
Aventuras na história para viajar no tempo
Guia do Estudante
Da pedra à internet
O desenvolvimento da comunicação começou devagar
Fred Linardi 24/08/2009 6h41
[...]
3800 a.C. – Desenhos livres
Enquanto o homem não sabia falar do jeito como
fazemos hoje, valia fazer desenhos em cavernas a
partir de pigmentos de argila, hematita e carvão
vegetal. A motivação das pinturas não era clara, mas
certamente elas transmitiam conhecimento.
3200 a.C. – Primeiras letras
Os sumérios criaram alfabetos formados por figuras
que representam objetos do cotidiano. Com a sistematização desse tipo de desenho, os fenícios também desenvolveram um modelo de escrita. Acabava a
Pré-história, e a comunicação começava a evoluir bem
mais rápido.
3000 a.C. – Telégrafo de fogo
Surgia o sinal de fumaça, uma maneira de informar à distância. Indígenas americanos foram os primeiros a usar os sinais, que seguiam um princípio
depois adotado nos telégrafos: um cobertor abafava
o fogo e soltava a fumaça em intervalos regulares.
2900 a.C. – Voe depressa!
Começava a ser usada uma das formas de se enviar
dados mais resistentes ao tempo: o transporte de
mensagens com pombos-correios. Os registros mais
antigos datavam do Egito de Ramsés II, mas até 2002
as aves ainda eram usadas pela polícia indiana.
550 a.C. – Cartas a galope
O tataravô do correio atual nasceu com Ciro II, rei
da Pérsia, que desenvolveu um sistema de postos de
parada para os homens que levavam cartas a cavalo.
Essa estrutura permitia que uma correspondência
viajasse 2 500 quilômetros com segurança.
1455 – Livros em série
Para a mídia surgir e facilitar o acesso à informação,
foi necessário que Johannes Gutenberg melhorasse a
impressão, que existia havia 14 séculos na China. Sua
sacada foi criar uma forma com letras independentes.
1837 – Contatos imediatos
O americano Samuel Morse (1791-1872) criava
o telégrafo. Ele queria um jeito de trocar mensagens
que o governo americano não entendesse. Em 1835,
ele tinha inventado o Código Morse, que seria fundamental para a navegação e a aviação.
1876 – Fala que eu escuto
O escocês Alexander Graham Bell (1847-1922)
patenteava nos Estados Unidos seu aparelho de telefone. Há quem diga que o italiano Antonio Meucci
(1808-1889) teria desenvolvido seu protótipo antes,
mas foi Bell que o popularizou.
1893 – Ondas sonoras
Aparecia o rádio, atribuído ao italiano Guglielmo
Marconi (1874-1937). No futuro, o croata Nikola
Tesla (1856-1943) ganharia o crédito, porque a
invenção de Marconi usava 19 patentes suas. Os primeiros aparelhos transmitiam Código Morse. A emissão de voz só começaria em 1918.
1929 – Imagens na sala
O cientista russo Vladimir Zworykin (1889-1982)
apresentava o kinoscópio, o precursor da televisão.
Vários desenvolvimentos posteriores do aparelho de
Zworykin levariam à industrialização e disseminação
da TV, acelerada a partir de 1945.
1960 – Balão espacial
Lançado pelos Estados Unidos, o primeiro satélite refletia sinais enviados a partir da Terra. Batizado de Echo 1, o aparelho consistia em um balão de
náilon de 30 metros de diâmetro, visível a olho nu
em vários pontos do globo.
1994 – Todo mundo online
O governo americano liberava a circulação da
World Wide Web, uma versão civil do sistema de
troca de informações entre as redes de computadores
militares. Em 1995, a internet já tinha 16 milhões de
usuários. Atualmente, são 1,5 bilhão.
LINARDI, Fred. Da pedra à internet. Aventuras na história para viajar no tempo. Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.
abril.com.br/estudar/historia/pedra-internet-493922.shtml>. Acesso em: 26 out. 2012. (grifos adicionados)
147
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 7 Coesão em contos
1. Leia o conto a seguir e responda às questões propostas.
A fiandeira Fátima e a tenda
Era uma vez, numa distante cidade do Ocidente, uma jovem chamada
Fátima. Ela era filha de um próspero fiandeiro. Um dia seu pai lhe disse:
“Venha, filha, partiremos em viagem, pois tenho negócios nas ilhas do Mediterrâneo. Talvez você encontre um jovem bonito e de boa condição financeira
que possa tomar como marido”.
Eles partiram e viajaram de ilha em ilha; o pai realizava seus negócios
enquanto Fátima sonhava com o marido que logo seria seu. Um dia, no
entanto, a caminho de Creta, desabou uma tempestade, e o barco naufragou. Fátima, semiconsciente, foi lançada à costa perto de Alexandria. Seu pai
estava morto, e ela, completamente desamparada.
Tinha apenas uma vaga lembrança da sua vida até aquele momento, pois
a experiência do naufrágio e o tempo que ficou no mar a levaram à exaustão.
Estava caminhando pelas areias, quando uma família de tecelões a encontrou. Embora fossem pobres, levaram-na para sua humilde casa e lhe ensinaram
seu ofício. Foi assim que construiu para si uma segunda vida e, em um ou dois
anos, estava feliz e reconciliada com sua sorte. Mas um dia, quando, por alguma
razão, estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e a
levou, junto com outros nativos.
Embora Fátima tenha lamentado amargamente seu destino, não despertou compaixão nos seus captores, que a levaram para Istambul e a venderam
como escrava.
Seu mundo ruiu pela segunda vez. Acontece que, naquele dia, havia poucos
compradores no mercado. Um deles era um homem que procurava escravos para trabalhar na sua marcenaria, onde construía mastros para embarcações.
Ao ver a tristeza da desafortunada Fátima, decidiu comprá-la, pensando
que assim, pelo menos, poderia dar a ela uma vida um pouco melhor do que se
fosse comprada por outra pessoa.
O homem levou Fátima para sua casa com a intenção de fazer dela uma
criada para sua esposa. Ao chegar à sua casa, contudo, soube que tinha perdido todo o seu dinheiro num carregamento que fora capturado por piratas.
Como não podia mais ter empregados, ele, Fátima e sua mulher arcaram sozinhos com o árduo trabalho de fabricar mastros.
Fátima, agradecida a seu patrão por tê-la salvado, trabalhava tanto e tão
bem que ele lhe concedeu a liberdade, e ela passou a ser sua ajudante de confiança. E foi assim que ela ficou razoavelmente feliz na sua terceira profissão.
Um dia seu patrão lhe disse: “Fátima, quero que você acompanhe um carregamento de mastros até Java como minha representante e se assegure de
realizar uma boa venda”.
148
Língua Portuguesa – Unidade 1
Ela partiu, mas, quando o navio estava na altura da costa da China, um
tufão o fez naufragar, e Fátima se viu novamente jogada na praia de uma
terra estrangeira. Mais uma vez chorou amargamente, pois sentiu que nada
na sua vida estava funcionando de acordo com suas expectativas. Sempre
que as coisas pareciam estar indo bem, algo acontecia e destruía todas as
suas esperanças.
“Por que será que, sempre que tento fazer algo, isso se transforma em
pesar? Por que tantas desgraças têm de acontecer comigo?”, exclamou pela
terceira vez. Mas não houve resposta. Então, levantou-se da areia e caminhou, afastando-se da praia.
Acontece que, na China, ninguém tinha ouvido falar de Fátima nem
conhecia seus problemas. Mas havia a lenda de que um dia chegaria ali uma
mulher estrangeira que seria capaz de construir uma tenda para o imperador. E, já que não havia, até agora, ninguém na China que construísse tendas,
todos aguardavam o cumprimento dessa profecia com grande expectativa.
Para ter certeza de que essa estrangeira, quando chegasse, não passaria
despercebida, sucessivos imperadores da China mantiveram o costume de
enviar mensageiros uma vez por ano a todas as cidades e povoados, pedindo
que qualquer mulher estrangeira fosse conduzida à corte.
Foi numa dessas ocasiões que Fátima chegou cambaleando a uma cidade
costeira da China. O povo falou com ela por meio de um intérprete e lhe
explicou que teria de ser levada até o imperador.
“Senhora”, disse o imperador quando Fátima foi trazida à sua presença,
“sabe fazer uma tenda?”.
“Acho que sim”, disse Fátima.
Ela pediu cordas, mas não havia nenhuma disponível. Então, lembrando-se dos seus tempos de fiandeira, juntou fibras de linho e fez as
cordas. Depois, pediu um tecido grosso e resistente, mas os chineses não
tinham nenhum do tipo de que ela precisava. Contando com sua experiência com os tecelões de Alexandria, confeccionou uma certa quantidade de
um tecido resistente. Então, percebeu que precisava de estacas, mas não
havia nenhuma na China. Assim, Fátima, lembrando-se de como fora treinada pelo marceneiro de Istambul, construiu com destreza estacas firmes.
Quando estavam prontas, ela puxou de novo pela memória, procurando se
lembrar de todas as tendas que tinha visto nas suas viagens. E vejam só!
Uma tenda foi erguida.
Quando essa maravilha foi apresentada ao imperador da China, ele ofereceu a Fátima a realização de qualquer desejo seu.
Ela escolheu se estabelecer na China, onde se casou com um belo príncipe e
permaneceu feliz, rodeada por seus filhos, até o fim dos seus dias.
Foi por meio dessas aventuras que Fátima compreendeu que aquilo que
em dado momento lhe pareceu ser uma experiência desagradável acabou se
revelando uma parte essencial da sua felicidade definitiva.
FIANDEIRA Fátima e a tenda, A. In: SHAH, Idries. Histórias dos dervixes.
Rio de Janeiro: Roça Nova, 2010, p. 69-72. (cores adicionadas)
149
Língua Portuguesa – Unidade 1
a) Você gostou do conto? O que, em sua opinião, ele quer ensinar?
b) As palavras que aparecem coloridas são relativas à personagem
principal, Fátima. Ao longo do texto, há muitas outras que não
foram destacadas. Escolha dois personagens para destacar a
cadeia coesiva. Use cores diferentes para cada personagem.
c) Destaque no conto as expressões que indicam tempo e ajudam
o leitor a perceber a ordem e a sequência dos fatos da história.
d) Faça a lista dos lugares pelos quais Fátima passou. Todos
esses lugares são importantes para o desdobramento da história? Por quê?
2. Agora, você vai recontar o conto que leu. Junte-se a um colega
para, em primeiro lugar, contarem oralmente o conto. Depois,
sem consultar o texto, o reescrevam no caderno.
3. Ainda em dupla, observem as estratégias de coesão que vocês usaram ao reescrever o conto A fiandeira Fátima e a tenda. Reparem se
não há muita repetição de palavras, se algumas podem ser cortadas
do texto ou substituídas por pronomes, sinônimos ou expressões de
sentido mais abrangente. Reescrevam os trechos nos quais acharem
necessário aplicar as estratégias de coesão que aprenderam.
150
Língua Portuguesa – Unidade 1
Atividade 8 Coesão na produção escrita
Converse com os colegas e o professor sobre a seguinte questão:
Observar os recursos coesivos é útil apenas para a leitura de textos ou
é importante considerá-los também na hora de escrever?
Registre as conclusões da turma.
Você estudou
Nesta Unidade, você estudou o que são coerência e coesão.
Aprendeu que a coerência diz respeito à relação entre as ideias
dentro e fora do texto, e que ela também depende da interpretação do leitor ou ouvinte. Viu ainda que a coesão ocorre no texto
por meio do entrelaçamento de palavras, frases, parágrafos, impedindo que as ideias fiquem soltas ou desconectadas. Ao longo
da Unidade, você percebeu que a coesão pode ser feita de várias
maneiras: retomando palavras, omitindo-as, substituindo-as por
termos sinônimos ou expressões mais abrangentes que correspondam aos termos de referência.
151
Língua Portuguesa – Unidade 1
Pense sobre
Em se tratando de textos escritos, sempre se aponta a coerência
das ideias como uma qualidade indispensável. Você saberia explicar
de maneira clara em que consiste essa coerência e como se pode consegui-la? Em sua opinião, apenas o uso de elementos coesivos é decisivo para que o texto fique coerente?
152
2
Fio de histórias...
Tenho a impressão de que tudo pode mesmo acontecer em matéria
de contos, ou melhor, no interior deles.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Estes contos. In: ____. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond.com.br>.
Nesta Unidade, você vai retomar seus estudos sobre contos, produzindo seu próprio conto, oralmente e por escrito, e discutindo as
diferenças entre esses dois modos de contar uma história. Será convidado a ler e interpretar um conto contemporâneo, que já nasceu
como um texto escrito, e perceber suas singularidades. Além disso,
vai conhecer um gênero narrativo, produzido a partir dos anos 1960,
que tenta, com poucas palavras, atingir o máximo de expressividade e
provocar grande impacto em quem o lê: o miniconto. Poderá também
experimentar ser um “minicontista”.
Para iniciar...
Converse com os colegas e o professor.
•
O que você sabe sobre contos? E sobre minicontos? Já ouviu falar
deles? Em sua opinião, como seriam?
•
Você se lembra de ter lido recentemente algum conto? Recorda-se
do autor dele? Do enredo? Do personagem principal?
•
Você conhece algum autor brasileiro que escreva contos?
•
Você costuma frequentar bibliotecas ou salas de leitura para ler
contos ou outros textos literários?
•
Você acha que a leitura de textos literários abre horizontes intelectuais e aguça a sensibilidade? Por quê?
•
Em sua opinião, os textos literários possibilitam conhecer com
mais profundidade o homem e a sociedade? Como? Por quê?
O conto
No Caderno do 7o ano, na disciplina de Língua Portuguesa, você
estudou as origens do conto, leu e analisou contos antigos de épocas remotas, nascidos na tradição oral. Conheceu também uma das
153
Língua Portuguesa – Unidade 2
possíveis definições desse gênero – um tipo de narrativa ficcional
que apresenta uma sucessão de acontecimentos vivenciados por poucos personagens e contados por um narrador.
Agora, nesta Unidade, você vai trabalhar com contos que já nasceram com formatação escrita e autoria, de modo geral, bem definida.
Antes, porém, é importante falar um pouco de contos da tradição oral
que ganharam versão escrita.
Contar oralmente, contar por escrito
Contos populares são histórias transmitidas por meio da linguagem oral. Muitos dos contos populares contados e recontados aqui,
no Brasil, são adaptações de narrativas que vieram da Europa e da
África, que, por sua vez, segundo estudiosos, eram narrativas provenientes da literatura hindu. Além do conto, “causo” ou conto folclórico, a literatura oral – que existe em todos os países e culturas –
reúne uma série de manifestações conservadas e transmitidas por meio
da palavra falada ou cantada: lendas, mitos, adivinhações, provérbios,
parlendas, cantos, orações, frases feitas.
Mas é importante perceber que contar uma história oralmente é diferente de contar uma história por escrito. Um contador que tem contato
direto com o público pode fazer uso da entonação da voz para imprimir
maior ou menor dramaticidade, contando a história em um ritmo que
considere adequado, fazendo gestos e expressões faciais que cativem o
público. Como manter vivas, no entanto, em um registro escrito, essas
marcas de oralidade que os contadores imprimem a seus textos?
Vale lembrar que o contador-escritor, quando escreve um conto,
não tem contato direto com o público que vai lê-lo. Mas é claro que
ele pode imprimir expressividade ao texto. Pode, por exemplo, reproduzir as falas dos personagens (lançando mão do discurso direto),
usando com cuidado e precisão os verbos de dizer (os verbos que
introduzem os diálogos) e os sinais de pontuação.
Outra diferença é que um conto oral pode ser adaptado no
momento em que é narrado. Se o contador quiser, ele pode improvisar frases que julgar adequadas ao contexto, por exemplo. Já um
conto escrito não pode sofrer adaptações a cada vez que for lido, para
se adequar à época, à cultura e ao povo de cada lugar. Um conto da
tradição oral ou qualquer uma das manifestações transmitidas oralmente, quando ganha registro escrito, passa, de modo inevitável, por
um processo de transformação.
154
Língua Portuguesa – Unidade 2
Atividade 1 Contar e escrever um conto
Pense em uma história que você conheça. Conte-a oralmente para
a turma. Depois, escreva-a em seu caderno, tentando transpor toda a
expressividade da fala para o texto escrito.
Ao terminar de escrever o conto, leia-o para a turma. Converse
com os colegas e o professor sobre como foi a experiência de transformar o texto falado em texto escrito.
O conto escrito
Você viu que, ao longo do tempo, muitas histórias transmitidas
oralmente foram registradas por escrito, mas que há contos que já
foram criados com uma formatação escrita. Segundo muitos teóricos,
o conto como forma literária atingiu seu esplendor no século XIX,
quando autores como Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Edgar
Allan Poe, Eça de Queirós, Machado de Assis, Aluísio Azevedo,
Arthur Azevedo, Lima Barreto, entre outros, passaram a escrever esse
gênero textual.
Desde essa época, o conto tem se mostrado extremamente versátil, assumindo formas variadas e abertas a experiências e inovações.
Os contos de Machado de Assis, por exemplo, considerados clássicos da literatura brasileira, são criações com estrutura modelar. Mas
as possibilidades de inovar são tantas que, já em 1938, o escritor
Mário de Andrade afirmava que os autores chamavam “contos” o
que decidiam, por conta própria, ser um conto. Carlos Drummond de
Andrade, em exemplo semelhante, escreveu no livro Contos plausíveis
(1981): “[...] tudo pode mesmo acontecer em matéria de contos, ou
melhor, no interior deles”. Sem dúvida, você vai se surpreender...
Um conto brasileiro contemporâneo
Dalton Trevisan é o autor do conto que será apresentado a seguir.
Esse autor, pelo conjunto de sua obra, já ganhou vários prêmios literários. Detesta dar entrevistas e falar sobre os textos que escreve, pois
acredita que o conto deve ser sempre melhor do que o contista. Gosta
de escrever sobre temas relacionados ao cotidiano urbano contemporâneo, à violência das cidades, ao erotismo, aos mais diferentes tipos
humanos, principalmente urbanos, e afirma que se inspira em notícias
policiais, frases que escuta, obras clássicas e até bulas de remédio
para escrever. Gosta de escrever contos curtos.
155
Língua Portuguesa – Unidade 2
Atividade 2 Um conto de Dalton Trevisan
Dalton Trevisan
nasceu em Curitiba, em
14 de junho de 1925,
e, na mesma cidade,
entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim.
Quando começou a
escrever, publicava
seus contos em folhetos. Passou a ser reconhecido com a publicação Novelas nada
exemplares (1959). É
um apaixonado por
contos e tem dezenas
de livros publicados.
O título do conto que você vai ler é O ciclista, de Dalton Trevisan,
publicado originalmente em 1968.
1. Antes de ler o conto, responda às seguintes questões:
a) Quais são, hoje em dia, os veículos que circulam pelas ruas
das cidades?
b) Você acha que todas as cidades poderiam ser chamadas de
“labirinto urbano”? Por quê?
c) Na época em que esse conto foi publicado, a bicicleta era o
meio de transporte de diversas pessoas nas cidades. A entrega
de correspondências e objetos postais, por exemplo, era feita
com bicicleta. Atualmente, a situação é a mesma ou mudou?
d) Em sua opinião, o ciclista poderia ser, hoje em dia, considerado um personagem típico da cidade? Por quê?
156
Língua Portuguesa – Unidade 2
2. Leia o conto O ciclista e depois responda às questões.
O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa – e a morte na garupa. Na esquina dá com o sinal vermelho,
não se perturba, levanta voo na cara do guarda crucificado. Um trim-trim da campainha, investe os minotauros do labirinto urbano. Livra a mão direita, abre o guarda-chuva. Na esquerda, lambe deliciado o sorvete de
casquinha, antes que derreta.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta: ao montar no selim, solta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso
homem, frágil máquina, arremete impávido colosso. Desvia de fininho o poste. Eis o caminhão sem freio, bafo
quente na sua nuca. Muito favor perde o boné? A sombra lá no chão? O tênis manchado de sangue?
Atropela gentilmente e, vespa raivosa que morde, fina-se ao partir o ferrão. Monstro inimigo tritura com
chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais
curta – foge por entre as nuvens, a bicicleta no ombro.
Em cada curva a morte pede carona. Finge não vê-la, essa foi de raspão, pedala com fúria. Opõe o peito
magro ao para-choque do ônibus. Salta no asfalto a poça d’água. Num só corpo, touro e toureiro, malferido
golpeia o ar nos cornos do guidão.
Fim do dia, ele guarda num canto o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim. Primeira esquina avança
pelo céu trim-trim na contramão.
TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: _____. Mistérios de Curitiba. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 47-48.
Glossário
chio chiado
chispa faísca, centelha, lampejo
diáfano transparente, límpido, cristalino
impávido destemido, corajoso
minotauro personagem da mitologia grega
que apresenta corpo de homem
e cabeça de touro e que vivia
aprisionado em um labirinto
selim assento da bicicleta
a) Retire duas expressões do texto, uma no primeiro e outra no
segundo parágrafo, que possam confirmar que tudo no conto
acontece em alta velocidade.
b) Qual é o tempo em que se desenvolve a ação narrada?
c) Que informações sobre o protagonista você pode deduzir,
considerando o primeiro parágrafo do conto?
157
Língua Portuguesa – Unidade 2
© João Pirolla
d) “Lâmpada de Aladino” é uma menção à história Aladim e a lâmpada
maravilhosa, do Livro das mil e
uma noites. Quando Aladino (também chamado de Aladim) esfregava a lâmpada, um gênio aparecia
para realizar qualquer desejo. Em
sua opinião, por que a bicicleta foi
comparada, no conto, à lâmpada
maravilhosa de Aladim?
e) Repare na frase: “Desvia de fininho o poste”. Por que o autor
não escreveu “desvia de fininho do poste”?
f) Na frase: “Monstro inimigo tritura com chio de pneus o seu
diáfano esqueleto”, o que pode ser entendido por “monstro
inimigo” e por “esqueleto”?
g) Você gostou do conto? Por quê?
158
Língua Portuguesa – Unidade 2
Contos inovadores: os minicontos
Embora o conto seja considerado um texto curto se comparado
a outros gêneros narrativos, como as novelas e os romances, a partir
dos anos 1960 surgiu um gênero narrativo com textos ainda mais
curtos; na verdade, curtíssimos. São os minicontos, que, por sua condensação, produzem enorme impacto no leitor.
Os minicontos são narrativas ficcionais concisas que, às vezes,
“dispensam” o narrador, não fornecem características dos poucos
personagens, nem indicações precisas de tempo e espaço ou de sucessão de acontecimentos vivenciados. Essa característica de deixar
implícitos muitos elementos da história faz que os textos desse gênero
produzam enorme impacto no leitor, uma vez que contam com ele
para reconstruir os sentidos pretendidos pelo autor.
Dalton Trevisan, autor do texto que você leu anteriormente, é
considerado um dos precursores dos minicontos no Brasil.
Atividade 3 Minicontos
uma antologia de
minicontos brasileiros?
Em 2004, o escritor
Marcelino Freire
organizou uma antologia
com os cem menores
contos brasileiros do
século. Marcelino Freire se
inspirou no mais famoso
miniconto do mundo
(que só tem 37 letras), e
convidou cem escritores
brasileiros para escrever
histórias inéditas de até
50 letras (atenção: não
são 50 palavras, são 50
letras!).
Conforme o crítico,
professor universitário
e poeta carioca Italo
Moriconi, os minicontos
são “pílulas ficcionais,
e das melhores”
(MORICONI, Italo. Um
prefácio em cinquenta
palavras. In: FREIRE,
Marcelino (Org.). Os
cem menores contos
brasileiros do século.
3. ed. Cotia: Ateliê
Editorial, 2008).
© Paulo Savala
© Paulo Savala
1. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.
Você sabia que existe
BONASSI, Fernando. Só. In: FREIRE,
Marcelino (Org.). Os cem menores
contos brasileiros do século. 3. ed.
Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 30.
a) Quais são, em sua opinião, os sentidos que estão por trás desse conto?
159
Língua Portuguesa – Unidade 2
b) O título desse miniconto pode ser lido de duas maneiras. “Só”
pode significar “sozinho”, “isolado”, “desacompanhado”.
Também pode significar “somente”, “unicamente”. Em sua
opinião, qual dos sentidos é mais adequado ao conto? Por quê?
c) O narrador-personagem vive um conflito? Se sim, que conflito
você acha que poderia ser esse?
d) Em que época a narrativa acontece? Como você chegou a
essa resposta?
e) O conto é formado por 11 palavras (incluindo o título). Você
acha que o autor, com apenas essas poucas palavras, conseguiu construir uma história? Por quê?
© Paulo Savala
2. Leia este outro miniconto e responda às questões que seguem.
FURTADO, Jorge. Sem título.
In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os
cem menores contos brasileiros
do século. 3. ed. Cotia: Ateliê
Editorial, 2008, p. 43.
160
Língua Portuguesa – Unidade 2
a) O conto é construído sem que haja um narrador explícito.
Essa afirmação é correta? Por quê?
b) Em sua opinião, de quem são as vozes que aparecem no texto?
Justifique sua resposta.
c) É possível interpretar esse miniconto de diferentes maneiras?
Se sim, discuta-as com seus colegas e depois escreva em seu
caderno as interpretações que vocês fizeram.
d) Imagine que você vai criar um conto com base nesse miniconto. Escreva em seu caderno como seria essa história. Dê
um título a ela.
© Paulo Savala
3. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.
RUFFATO, Luiz. Assim:.
In: FREIRE, Marcelino (Org.).
Os cem menores contos
brasileiros do século. 3. ed. Cotia:
Ateliê Editorial, 2008, p. 52.
a) Que impacto as três frases do conto de Luiz Ruffato provocaram em você?
161
Língua Portuguesa – Unidade 2
b) O título do conto fornece pistas para construir os sentidos da
história. O que você nota de diferente no título desse conto?
c) Há duas frases no conto que podem ser consideradas contrastantes. Quais são elas?
d) O conectivo “e” que aparece na última frase tem o mesmo
sentido do conectivo “e” que aparece na segunda frase? Justifique sua resposta.
© Paulo Savala
4. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.
TELLES, Lygia Fagundes.
Confissão. In: FREIRE, Marcelino
(Org.). Os cem menores contos
brasileiros do século. 3. ed.
Cotia: Ateliê Editorial, 2008,
Microbônus I, p. 1.
162
Língua Portuguesa – Unidade 2
a) Que palavra, no conto, pode ser lida de mais de uma maneira? Essa palavra é importante para a interpretação do
texto? Por quê?
b) Quais são as possíveis interpretações desse miniconto?
c) Para você, o que significa “confissão”?
d) Em sua opinião, alguém que se confessa para o mar deseja se
livrar de alguma culpa ou receber punição? Por quê?
Fica a dica
Atividade 4 Escrever um miniconto
Você se lembra do conto que escreveu na Atividade 1? Sua tarefa
agora é transformá-lo em um miniconto. Imagine que ele será publicado
em uma coletânea. Para ajudar na sua produção, leia as dicas a seguir:
•
Se achar necessário, crie um novo título, de preferência formado
por uma palavra.
•
Você pode usar discurso direto ou indireto.
•
Fique bem atento à sua intenção! Com que finalidade você vai
escrever o texto?
Se tiver interesse e
curiosidade, procure
em uma biblioteca ou
livraria a antologia da
qual foram retirados os
minicontos que você leu
nesta Unidade:
FREIRE, Marcelino (Org.).
Os cem menores contos
brasileiros do século.
3. ed. Cotia: Ateliê
Editorial, 2008.
E que tal fazer um sarau
de leitura dos minicontos
em sala de aula?
163
Língua Portuguesa – Unidade 2
•
Muito cuidado também no uso dos sinais de pontuação.
•
Tente usar o mínimo de letras possível!
Quando terminar, reúna sua produção aos minicontos dos colegas e,
junto com eles e seu professor, produzam uma coletânea de minicontos.
Você estudou
Nesta Unidade, você aprendeu que, quando um conto oral
ganha um versão escrita, ele sofre transformações, uma vez que
o escritor coloca no papel, de modo diferente, a vivacidade da
narração oral. Também viu que há contos que são criados diretamente como textos escritos, e que atingiram seu esplendor como
forma literária no século XIX. Além disso, estudou que os contos
são muito versáteis e assumem estilos bem inusitados, como os
minicontos, que apresentam histórias com o mínimo de palavras.
Pense sobre
Ler textos literários é uma maneira de ampliar a experiência e a
visão de mundo. Por meio da leitura de poemas, contos, romances
e textos dramáticos, podemos nos conhecer melhor como sujeitos,
além de vivenciar fatos históricos e acontecimentos culturais de
todos os lugares e épocas; é possível também sentir o que se chama
prazer literário.
Considerando essa afirmação, reflita: Qual a importância de ler
textos literários? Essa leitura é sempre prazerosa? Por quê?
164
3
Cartas: seus autores
e seus leitores
Verba volant; scrita manent. (As palavras faladas voam;
as escritas permanecem.)
Provérbio latino.
O objetivo desta Unidade é que você escreva, leia e analise cartas
pessoais, de reclamação e de solicitação. Você vai observar características, modelos e estilos dessas correspondências, bem como seu valor
histórico, literário e utilitário. Assim, poderá perceber que, mesmo
com tantos avanços tecnológicos, esses gêneros ainda podem exercer
uma função muito importante em sua vida.
Para iniciar...
Antes de se enredar pelo mundo das cartas – de seus autores e leitores –, pense no quanto elas estão presentes em sua vida e converse
com seus colegas.
•
Você costuma receber ou escrever cartas?
•
Usa o correio eletrônico? Com quem costuma trocar emails?
•
Já recebeu alguma carta de cobrança, de pedido ou de agradecimento? Alguma propaganda por correspondência? Escreveu alguma
carta oferecendo seus serviços?
•
É possível tratar de todos os assuntos em uma carta? E por meio
do correio eletrônico?
•
Você já teve de reclamar, reivindicar ou fazer exigências para conseguir algo que lhe era de direito? Você acha que uma carta de
reclamação ou de solicitação poderia ajudar nesse momento? Por
quê?
•
Em sua opinião, uma carta que solicita algo ou apresenta uma reclamação deve ter uma linguagem mais formal ou informal? Por quê?
•
Quem de sua turma recebe mais cartas? Quem escreve mais?
•
Quem de sua turma escreve emails?
165
Língua Portuguesa – Unidade 3
Cartas de sua vida, cartas em sua vida...
As cartas – que podem também ser chamadas de “correspondências”, “missivas” ou “epístolas” – estão muito presentes na vida das
pessoas. E isso já ocorre há muito tempo... Segundo alguns historiadores
(cf. Enciclopédia Mirador Internacional, 1995), desde aproximadamente
o século III a.C., as cartas circulam nas sociedades letradas e constituem
parte importante de documentos que revelam os mais diferentes aspectos
da vida humana.
A variedade de cartas é muito ampla e, consequentemente, suas
funções e seus estilos também. Assim, o “tom” da carta vai variar
de acordo com o conteúdo dela: poderá ser alegre, triste, amoroso,
tenebroso, formal, indignado, solícito... O grau de formalidade da
linguagem também dependerá do grau de intimidade que o escritor
(remetente) tem com a pessoa a quem a carta se destina (destinatário).
Para cada situação, uma carta; para cada carta, um estilo que revela a
“alma” do autor e suas intenções.
As chamadas cartas pessoais são aquelas escritas a pessoas mais
próximas para dar notícias, “matar saudade”, declarar amor ou ódio.
Às vezes, parecem mais uma conversa por escrito, tão espontâneo e
familiar é o tom delas. Já as chamadas cartas comerciais, como as
cartas de reclamação e de solicitação, são escritas com objetivos definidos, em linguagem formal, marcada por convenções. As de reclamação
fazem queixas e apresentam denúncias contra empresas, profissionais
liberais, poder público etc. As de solicitação formalizam um pedido e
tentam convencer alguém a fazer alguma coisa.
Fica a dica
Há livros que reúnem
cartas pessoais trocadas
entre escritores e
artistas. Vale a pena
conferi-los!
MORAES, Marcos Antonio
de (Org.). Me escreva tão
logo possa. São Paulo:
Salamandra, 2005.
ORSINI, Elizabeth (Org.).
Cartas do coração. Rio de
Janeiro: Rocco, 1999.
166
Apesar de o correio ainda ser um meio bastante comum para a
troca de cartas, cada vez mais as novas tecnologias, como fax e email,
têm servido a esse propósito, principalmente por permitirem agilidade
na comunicação. E, dependendo do meio em que a carta circula, seu
formato e estilo também podem mudar, pois cada meio tem características próprias.
Ao longo desta Unidade, você verá um pouco mais de perto cada
um desses gêneros epistolares.
Atividade 1 Escrever uma carta
Receber cartas, em geral, é delicioso... E escrevê-las? É igualmente
prazeroso? Sabia que muitos escritores famosos escreveram cartas
de amor que se tornaram célebres? Você já se arriscou a escrever
alguma? Não perca essa chance!
Língua Portuguesa – Unidade 3
Agora, você escreverá uma carta pessoal. Ela pode ser endereçada
ao marido ou à esposa, ao namorado ou à namorada, a um filho ou a
uma filha, a um amigo ou a uma amiga, enfim, a alguém que você julgue
especial. Para quem você quer escrever?
Antes de começar, pense em tudo o que quer contar (talvez algo
sobre sua vida atual ou sobre seus sentimentos em relação à escola, ao
trabalho, a essa pessoa para quem você vai escrever).
Escreva um rascunho em seu caderno. Depois, passe a carta a
limpo, em uma folha à parte, e guarde essa primeira versão para futuras revisões.
Escreva sem receio! Com as atividades que serão propostas ao
longo desta Unidade, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e
aprimorar o texto que escreveu.
Cartas pessoais
A carta pessoal, como o próprio nome diz, trata de assuntos pessoais e não é escrita com a finalidade de ser publicada. Ela é trocada
entre pessoas que têm proximidade ou que querem estreitar laços.
Se for escrita para um amigo íntimo, o texto provavelmente vai ser
leve, descontraído e afetuoso, e as questões gramaticais e prescritivas
podem até se tornar secundárias; é possível usar gírias, apelidos e até
mesmo palavras “censuráveis” – tudo para tentar colocar no papel
o calor da conversa, o jeito íntimo com que você se comunica com o
destinatário da carta. Se, no entanto, o destinatário for alguém com
quem não se tem tanta intimidade, provavelmente será preciso usar
uma linguagem mais comedida, mais formal.
Atividade 2 Leitura de cartas pessoais
Agora, você vai ler uma carta escrita pelo pai do grande pianista brasileiro Nelson Freire (1944-), quando o artista tinha apenas cinco anos.
1. Antes de lê-la, responda:
a) Que motivos poderiam levar um pai a escrever uma carta ao
filho de cinco anos?
167
Língua Portuguesa – Unidade 3
b) O “tom” de um texto revela seu espírito, sua característica
afetiva. Que tom você espera encontrar em uma carta que comece com “Meu filhinho...”?
c) Veja em que ano a carta foi escrita. Considerando o ano e a
pessoa a quem a carta se dirige, ela pode ser considerada um
documento valioso? Por quê?
2. Agora, leia a carta e, depois, responda às questões propostas.
Meu filhinho!
Ao tomar a decisão de transferir-me com toda a nossa família para a capital da
República, julguei oportuno registrar no teu álbum de reminiscências alguns fatos que
intimamente dizem respeito à tua existência, para que sirvam de orientação para a tua
biografia. Isso porque a nossa mudança se faz unicamente por tua causa.
Sem nenhum esforço de memória, ainda me recordo perfeitamente de tudo aquilo que
se refere a esses primeiros anos da tua existência, quando vieste a este mundo no dia 18
de outubro de 1944, em Boa Esperança, sul de Minas. Eras um menino lindo, robusto e
corado, porém eras doente. Quanto sofremos, tua mãe e eu, por ver-te definhar dia a dia
e a choramingar, vitimado amiúde por alergia rebelde que a tudo resistia! Teu alimento,
durante o primeiro mês de tua vida, resumiu-se a um pedaço de marmelada diluído em
água filtrada. Como não melhoravas, levamos-te a Lavras para consultas médicas. Ao fim
de um mês de tratamento intensivo, tua mãe regressou trazendo-te para casa. Quando te
vi, filhinho, meu coração doeu como nunca e meus olhos ficaram marejados de lágrimas,
porque não vi meu filho, senão uma criança minúscula e raquítica, reduzida praticamente
a pele e ossos. Vivias todo remendado de esparadrapos, com o corpinho sempre untado de
pomadas, com uma carinha magrinha que metia dó.
A tua tendência artística, apesar de tudo, se manifestou desde cedo, despontando
com os primeiros fulgores da tua inteligência. Com poucos meses de idade já te sentias
maravilhado e ficavas quietinho, embora cheio de mazelas, ao ouvir música, quando tua
irmã Nelma tocava.
Em 8 de dezembro de 48, empreendemos uma viagem interessantíssima. Era a primeira vez que saías de casa para uma viagem distante sem ser por motivo de doença.
Tuas irmãs Nelma e Norma estavam estudando no Colégio Sion de Campanha. Nos
amplos salões do colégio, naturalmente, não faltava aquilo que te fascinaria: o piano. Em
dado momento, a irmã superiora reuniu certo grupo de alunas para ouvir-te. Entusiasmada, porque recebeste uma ovação efusiva, ela, em tom verdadeiramente profético, te
saudou meigamente, lembrando às alunas ali presentes que procurassem fixar bem na
168
Língua Portuguesa – Unidade 3
memória aquele instante precioso, porque mais tarde, quando esse pequenino inocente
viesse a empolgar o mundo, seria com prazer e com saudade que se recordariam de que
o haviam apreciado e aplaudido, aos quatro anos de idade.
Vimos logo que não se tratava de fato vulgar, pelo menos em nossa família, porque
teus irmãos mais velhos nunca demonstraram tais aptidões. Tua mãe e eu começamos então a notar qualquer coisa de diferente nas tuas execuções. Resolvemos dar-te
um professor mais adiantado e tua mãe religiosamente, como quem cumpre uma
promessa, assumiu consigo mesma o compromisso de levar avante a tua instrução,
levando-te semanalmente a Varginha, aonde ias a fim de estudar com o maestro
Fernandez. Ao fim de doze lições, teu professor aconselhou-nos a rumarmos para o
Rio. Ele não havia mais nada a te ensinar.
Em junho de 1950, portanto, uma indecisão embaraçosa se apoderou de mim
e de tua mãe, colocando-nos diante de um dilema de difícil solução: devemos dar
razão ao nosso coração, permanecer em nossa querida terra, criando-te como fizemos com os nossos outros filhos, num ambiente de paz e de concórdia, onde se
acham localizados os nossos interesses materiais e onde nos prendem os laços mais
caros do sentimento familiar, ou, por outro lado, rumaríamos para o Rio, onde o
custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente, meio padrasto em infusões afetivas, mas onde as tuas aptidões poderão desenvolver-se ilimitadamente?
Depois de muito meditar, resolvemos seguir esta última vereda, entregando nosso
futuro a Deus. Cumprindo a nossa obrigação, deslocamo-nos do interior de Minas para
a capital da República com a finalidade primordial de acompanhar teus passos, porque
ainda não prescindes de nossa companhia e de nossa assistência. Mas o teu destino,
esse, nós o colocamos na mão de Deus!
Afetuosamente,
O Papai
Boa Esperança, 21 de julho de 1950.
Nelson Freire. Direção: João Moreira Salles. Brasil, 2003. 102 minutos. (carta transcrita)
a) Com que finalidade o pai escreveu ao filho de cinco anos?
b) Na carta, você leu: “Sem nenhum esforço de memória, ainda
me recordo perfeitamente de tudo aquilo que se refere a esses
primeiros anos da tua existência [...]”. Escreva, em seu caderno, resumidamente e em ordem cronológica, os fatos relatados pelo pai.
169
Língua Portuguesa – Unidade 3
c) A carta escrita pelo pai de Nelson Freire tem um tom afetuoso. Comprove esse “tom” com exemplos de palavras ou
trechos da carta.
d) Em 1950, a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro. Em
certo momento da carta, o pai escreve: “[...] rumaríamos para
o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o
ambiente, meio padrasto em infusões afetivas [...]”.
Considerando esse trecho, o que o pai aponta como problemas a serem encontrados no Rio de Janeiro?
e) Em sua opinião, essas preocupações apontadas pelo pai são
comuns às pessoas que saem de uma cidade pequena e rumam
para uma cidade maior? Por quê?
Fica a dica
Assista ao documentário
Nelson Freire (direção
de João Moreira Salles,
2003) e conheça um
pouco mais da vida e
da carreira artística de
quem é considerado um
dos maiores pianistas
do mundo. Além disso,
terá a oportunidade de
ouvir a leitura comovente
da carta com a qual
trabalhou na Atividade 2.
170
f) O documentário do cineasta João Moreira Salles sobre Nelson Freire apresenta o pianista tocando junto a orquestras em
São Paulo e no Rio de Janeiro; fazendo concertos na França,
Bélgica, Rússia etc. Em todos esses lugares, o pianista foi e
continua sendo aclamado.
•
Há algum fato significativo na infância do famoso pianista
que você considera que tenha sido importante para a formação desse artista? Qual? Por quê?
Língua Portuguesa – Unidade 3
•
Você acha que a mudança para o Rio de Janeiro teve alguma
influência na carreira de Nelson Freire? Em que sentido?
Atividade 3 Cartas antigas e modernas
1. Leia a seguir duas cartas e, depois, responda às questões propostas.
Carta 1
São Joaquim do Onde, 22 de outubro.
Querido amigo Orlando,
Estás bem?
Não fiques chateado comigo antes que te
explique o que aconteceu.
Depois tu me dirás se fiz bem.
Foi exatamente do jeito que vou te contar.
Desde que cheguei à praia de Matinhos, disse
aos nossos amigos: “alguns dias quero descansar. Quero estar livre para ler, desfrutar
e observar a paisagem, mas, na quarta-feira,
passarei o dia com Orlando, em Curitiba”.
Mas estava tão bom, que passou a quarta, veio
a quinta, sem que conseguisse cumprir minha
promessa e te visitar aí em tua terra. Tu sabes
o quanto te gosto, mas tu conheces bem a praia
de Matinhos e a preguiça deliciosa que sinto nesse
lugar que não me deixa mover...
Até breve. E perdoa-me!
Adalberto
171
Língua Portuguesa – Unidade 3
Carta 2
M r nápol s, 13/5.
Quer do Cau!
O que houve? Você não recebeu m nha carta?
Perdeu meu endereço?
Soube, por outras pessoas – é óbv o –, que você
estará em Guaíra. Quero te encontrar. A gente
pod a dar um e to, não? Tô tr ste pra caramba
com você. Tô achando que mudou de de a a meu
respe to. Espero que você fale de você, porque eu
á não ma s nteresso.
Um be ão,
M. M.
a) Os textos transcritos são de cartas pessoais? Em que você se
baseou para a sua resposta?
b) Algum dos dois textos parece ser de uma carta mais antiga?
Justifique sua resposta.
c) Circule, nas duas cartas, passagens que comprovem que o remetente tem um grau de intimidade com o destinatário.
2. Releia a Carta 1.
a) Reescreva-a, em seu caderno, substituindo o pronome “tu”
pelo pronome “você”. Com a ajuda do professor, faça outras
modificações necessárias.
172
Língua Portuguesa – Unidade 3
b) As alterações realizadas dão a impressão de que essa carta
adquiriu mais informalidade? Por quê?
Atividade 4 De volta à sua carta pessoal
Retome a primeira versão da carta pessoal que você escreveu.
Depois das atividades realizadas, que modificações você pode fazer
em sua carta?
Para ajudá-lo na revisão, seguem alguns passos importantes. Se
necessário, pode rasurar a carta; ela ainda não é a definitiva.
1. Observe se, em sua carta, aparece a indicação de local e data.
Caso não apareça, inclua esses dados na nova versão.
2. Verifique se aparece a saudação inicial (o modo de chamar a pessoa a quem se destina a carta, por exemplo, “querido amigo”,
“amados pais” etc.).
3. Observe se a carta está organizada em parágrafos e se você conseguiu expressar o que pretendia.
4. Repare se a linguagem da carta está adequada ao destinatário,
sendo mais ou menos formal.
5. Veja se há, no final da carta, uma frase de despedida e a assinatura.
Você sabia que
existem escrevedores
de cartas espalhados
por aí?
Atualmente, há um
serviço de utilidade
pública, o Escreve Cartas,
que funciona em dois
postos do Poupatempo
na cidade de São Paulo:
Itaquera, na zona Leste, e
Santo Amaro, na zona Sul.
O Escreve Cartas é uma
parceria do governo do
Estado de São Paulo com
os Correios. Funciona
no mesmo horário
do Poupatempo: de
segunda à sexta, das 7h
às 19h, e, aos sábados,
das 7h às 13h.
Esse serviço é procurado
por muita gente.
6. Passe a limpo o texto em um papel diferente, bonito, de preferência colorido.
7. Prepare o envelope. Na parte da frente dele, escreva o nome do destinatário e o endereço completos. Na parte de trás, escreva o nome
e o endereço completos do remetente, ou seja, os seus dados.
Coloque a carta no correio e aguarde a resposta...
Cartas que circulam em espaços públicos
Reclamar, reivindicar, formalizar um pedido, fazer um agradecimento, oferecer um serviço etc. são atos relacionados à vida em
sociedade, à realidade em que vivemos.
Uma maneira de formalizar esses atos é escrevendo cartas, que
podem tanto ser enviadas aos seus destinatários específicos como
também ser publicadas para um público maior (em um jornal, por
exemplo), de modo a dar maior visibilidade ao que se pretende dizer.
173
Língua Portuguesa – Unidade 3
Diferentemente das cartas pessoais, as cartas que circulam em
espaços públicos têm fórmulas mais ou menos fixas de organização
e exigem o uso de uma linguagem mais formal. Para atingir objetivos definidos, quem as escreve deve tentar elaborar um texto com o
máximo de correção, clareza e concisão – sem dar margem a diferentes interpretações.
Às vezes, dependendo da situação, convém consultar manuais de
redação técnica, para conhecer modelos de cartas adequados a cada
tipo de situação. Localidade e data, nome do destinatário, saudação
inicial, corpo da carta e despedida podem variar conforme sua necessidade: escrever uma carta de reclamação, de solicitação, um ofício ou
um requerimento.
Atividade 5 A arte de reclamar
Você já viveu alguma situação em que se sentiu lesado? Já ficou
furioso e com muita vontade de reclamar? Qual foi sua atitude na
ocasião? Perdeu a cabeça? Xingou? Ameaçou? O nervosismo deu
algum resultado?
Para fazer esta atividade, você não vai precisar perder a cabeça,
mas sim usá-la. A situação é a seguinte:
Imagine que você comprou um celular – daqueles bem caros – e,
na segunda semana de uso, ele começou a dar problemas. Você voltou à loja para trocá-lo, mas o gerente lhe informou que não poderia fazer a troca e que você teria de procurar a assistência técnica se
quisesse o aparelho consertado. Diante disso, imagine que você tenha
procurado se informar sobre seus direitos e resolvido fazer uma reclamação por escrito.
Sua tarefa, portanto, é escrever essa carta de reclamação.
Para tornar a carta de reclamação mais consistente, imagine e forneça o máximo de dados sobre esse caso, todos inventados por você
(modelo do aparelho, data da compra, nome da empresa, o número
da nota fiscal, quando o aparelho começou a dar problemas, data da
primeira reclamação, nome do gerente que atendeu você etc.). Quanto
mais informações você fornecer, mais fácil e rápido o problema
poderá ser solucionado.
Escreva a carta em seu caderno. Ao longo das atividades propostas adiante, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e aprimorar a
primeira versão da carta que escreveu.
174
Língua Portuguesa – Unidade 3
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon)
trabalha em defesa dos consumidores, orientando-os em suas
reclamações, informando-os de seus direitos e fiscalizando as
relações de consumo.
O site do Procon traz informações importantes sobre o direito do consumidor. Veja a seguir um texto extraído de lá.
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) tem
por objetivo elaborar e executar a política de proteção e defesa
dos consumidores do Estado de São Paulo. Para tanto conta com
o apoio de um grupo técnico multidisciplinar que desenvolve atividades nas mais diversas áreas de atuação, tais como:
i. educação para o consumo;
ii. recebimento e processamento de reclamações administrativas, individuais e coletivas, contra fornecedores de bens ou
serviços;
iii. orientação aos consumidores e fornecedores acerca de seus
direitos e obrigações nas relações de consumo;
iv. fiscalização do mercado consumidor para fazer cumprir as
determinações da legislação de defesa do consumidor;
v. acompanhamento e propositura de ações judiciais coletivas;
vi. estudos e acompanhamento de legislação nacional e internacional, bem como de decisões judiciais referentes aos direitos do
consumidor;
vii. pesquisas qualitativas e quantitativas na área de defesa do
consumidor;
viii. suporte técnico para a implantação de Procons Municipais
Conveniados;
ix. intercâmbio técnico com entidades oficiais, organizações privadas, e outros órgãos envolvidos com a defesa do consumidor,
inclusive internacionais;
x. disponibilização de uma Ouvidoria para o recebimento, encaminhamento de críticas, sugestões ou elogios feitos pelos cidadãos quanto aos serviços prestados pela Fundação Procon, com o
objetivo de melhoria contínua desses serviços.
FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Institucional: objetivos.
Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=206>.
Acesso em: 26 out. 2012.
175
Língua Portuguesa – Unidade 3
Carta de reclamação
Reclamar vem do latim e significa “gritar”, “exclamar” (em sinal
de oposição) e “protestar”. A reclamação é um direito, uma maneira de
se proteger das mais variadas situações do dia a dia: compras que
não deram certo, serviços que foram pagos e não prestados, direitos
que não foram respeitados. As pessoas reclamam quando se sentem lesadas, quando instituições não cumprem seu dever. O direito
de reclamar quando ocorrem situações como essas está previsto no
Código de Defesa do Consumidor.
As cartas de reclamação podem variar muito. Mudam de acordo
com a intenção de cada reclamante e do quanto este se sentiu lesado em
determinada situação. Mas é preciso saber para quem reclamar e, principalmente, usar a linguagem adequada para fazê-lo. A maneira como
você fala ou escreve pode fazer toda a diferença quando se trata de uma
reclamação. Perder a cabeça, xingar, ser ofensivo pode ser considerado
um abuso de direito e então, de vítima, você passa a ser o acusado.
Maurício Vargas, diretor e fundador do site Reclame Aqui, especializado na orientação sobre direitos do consumidor, diz que o descontrole é o erro mais comum do consumidor na hora de reclamar.
Nos momentos de raiva, quem escreve tende a se exceder nos termos
que usa. Para ele, é preciso deixar de lado a insatisfação e elaborar
um texto claro, objetivo, conciso, para que se chegue a uma solução.
Tenha em mente que a carta será endereçada a alguém do Serviço de
Atendimento ao Consumidor (SAC), que vai precisar entender qual é
a reclamação antes de encaminhá-la a uma solução. Daí a importância de ser cauteloso e objetivo ao escrever...
Fica a dica
Caso queira se aprofundar no assunto, você pode visitar os seguintes sites de instituições civis que orientam os
consumidores sobre seus direitos. Em alguns deles, inclusive, você pode também postar sua reclamação gratuitamente
(veja os indicados com *). Assim, se um dia algum serviço que foi prestado a você não lhe agradar, além de enviar cartas de
reclamação diretamente para a empresa, você pode mandá-la para um jornal ou, também, publicá-la em um desses sites (ou
pesquisar outros). Dessa maneira, estará exercendo sua cidadania.
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). Disponível em: <http://abradecont.org.br>. Acesso em: 26
out. 2012.
* ASSOCIAÇÃO Nacional de Assistência ao Consumidor e ao Trabalhador (Anacont). Disponível em: <http://anacontcomvoce.com.br>.
Acesso em: 26 out. 2012.
* FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br>; <http://www.procon.sp.gov.
br/atendimento.asp>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon). Disponível em: <http://www.brasilcon.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor (Idecon). Disponível em: <http://www.ideconbrasil.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor do Sistema Financeiro (Andif). Disponível em: <http://www.andif.com.br>. Acesso em: 26
out. 2012.
FÓRUM Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC). Disponível em: <http://www.forumdoconsumidor.org.br>.
Acesso em: 26 out. 2012.
* RECLAMAO.COM. Disponível em: <http://www.reclamao.com>. Acesso em: 26 out. 2012.
* RECLAME Aqui. Disponível em: <http://www.reclameaqui.com.br/reclame/>. Acesso em: 26 out. 2012.
176
Língua Portuguesa – Unidade 3
Atividade 6 Bote a boca no trombone...
Conforme informações retiradas do site do Procon, em 2011, a
área de produtos (móveis, aparelhos eletrônicos e vestuário) foi a que
registrou maior número de reclamações, seguida por assuntos financeiros (bancos, seguradoras) e serviços essenciais (telecomunicações,
energia elétrica, saneamento básico).
1. Leia a carta a seguir e, depois, responda às questões propostas.
São Paulo, 5 de abril de 2012.
Lojas Belezas na Cozinha
A/C Departamento de Atendimento ao Consumidor
Prezado senhor,
No dia 30 de janeiro, comprei um armário de cozinha, modelo Metal,
formado por quatro peças e gaveteiro (envio cópia da nota fiscal anexada
a esta carta). Na compra efetuada, estava incluída a montagem do armário
num prazo máximo de dez dias.
No dia 5 de fevereiro, o armário foi entregue em minha casa, mas até
hoje (dia 5 de abril) nenhum técnico da loja veio montá-lo. Já conversei por
telefone inúmeras vezes com o serviço de atendimento ao cliente da loja.
A informação que recebi nesses DOIS MESES DE ESPERA foi sempre a
mesma: um novo agendamento para realização do serviço. Mas nenhum
técnico apareceu nas datas previstas.
O armário está desmontado há dois meses no meio de minha cozinha.
Não há outro espaço em minha casa onde possa acomodá-lo. O mais grave é que, em todas as datas previstas para a visita do técnico, não pude
trabalhar. Trabalho na área de serviços domésticos e não posso me dar ao
luxo de perder dias de serviço, já que sou diarista.
Acredito ser meu direito ser atendida decentemente, já que paguei o
armário à vista. Exijo que o armário seja montado na data mais próxima
do dia do recebimento desta carta, de preferência em um sábado, assim
não vou perder mais nenhum dia de serviço. Caso isso não aconteça,
buscarei as MEDIDAS JUDICIAIS cabíveis e necessárias e lutarei para
obter meu dinheiro de volta, com juros e correções.
Sem mais,
Débora Alcântara
177
Língua Portuguesa – Unidade 3
a) Considerando o conteúdo da carta, complete o quadro:
Problema
Situação atual
Argumentos
Solução proposta
b) Localize os verbos e as expressões verbais que aparecem na
carta e, em seguida, circule os que estão no tempo passado.
Em que parte do texto está a maioria deles? Por que esse tempo verbal foi usado?
c) Há verbos no tempo futuro? Em que parte do texto eles aparecem? Por quê?
d) Por que, em sua opinião, algumas palavras foram escritas em
letras maiúsculas e em negrito?
178
Língua Portuguesa – Unidade 3
2. Pensando na carta lida e em outras cartas de reclamação que você
já leu ou produziu, responda:
a) Como uma carta de reclamação geralmente se inicia?
b) Que tipo de assunto há na parte central dessas cartas?
c) Como essas cartas em geral são encerradas?
3. Faça, em seu caderno, uma revisão da carta de reclamação a seguir,
procurando resolver os seguintes problemas: formato da carta, falta
de pontuação e repetição excessiva de certas palavras.
Comprei pela revista que vocês editam, a Revista Sempre Mais, uma
máquina fotográfica da marca Fhotomil. A propaganda garantia que no mesmo
dia da compra seria enviada a máquina mas até hoje a máquina não chegou.
Comprei a máquina para dar de aniversário ao meu filho, mas até hoje a
máquina não veio. É um absurdo que isso aconteça. Já liguei várias vezes para o
número de telefone de atendimento ao consumidor que aparecia na revista mas
não consegui falar com ninguém porque não saía do atendimento automático.
Por isso estou escrevendo para vocês que editam essa revista que não cumpriu
o que estava combinado porque não enviou a máquina fotográfica como tinha
divulgado. Espero que alguém se responsabilize pelo que está acontecendo.
É um absurdo, isso é roubo, alguém tem de me devolver o dinheiro que gastei.
Atenciosamente F. J.
Atividade 7 De volta à sua carta de reclamação
Retome a carta de reclamação que você escreveu e converse sobre
ela com um colega. Confiram se nas cartas que produziram aparecem:
• localidade e data;
• nome da loja ou do departamento/setor da loja;
• saudação inicial;
• descrição sucinta dos fatos que levaram ao envio da carta – data
da compra, número da nota fiscal. Observe a presença de expressões que marcam o tempo (por exemplo, há duas semanas, ontem etc.) e de palavras que introduzem os motivos da reclamação
(porque, já que, pois, então...);
179
Língua Portuguesa – Unidade 3
exposição clara do que se pretende;
• despedida;
• assinatura.
•
Caso um dos itens anteriores não conste na carta que você escreveu,
reescreva-a, acrescentando o que falta ao texto.
Exercer a cidadania pressupõe nos posicionarmos diante dos
fatos. Por isso é preciso que você se informe, reflita e manifeste
seu ponto de vista, concordando, discordando, contestando, debatendo. É fundamental saber reivindicar seus direitos, inclusive por
meio da escrita. A leitura e a escrita favorecem o exercício da cidadania, tanto que se constituem um direito de todo cidadão.
Quanto mais conhecemos nossos direitos e deveres, assim
como os mecanismos de que dispomos para exercê-los, mais
condições teremos de nos posicionarmos com autonomia.
Nesse sentido, a leitura e a escrita devem ser compreendidas
como atividades sociais que ampliam nosso conhecimento, sensibilidade, imaginação, bem como nosso entendimento do mundo.
Atividade 8 A arte de solicitar
1. Reúna-se com dois colegas e façam o que é solicitado:
a) Listem cinco situações em que caberia escrever uma carta de
solicitação, isto é, uma carta para pedir algo.
b) Como você costuma convencer alguém a atender uma solicitação?
180
Língua Portuguesa – Unidade 3
c) Em sua opinião, o que é argumentar? Em que circunstâncias a
argumentação deve ser utilizada?
2. Leia a seguinte carta e, depois, responda às questões propostas.
Carolina Ferrari
Rua Alcântara Munhoz, 435
05598-108 São Paulo - SP
Supermercado Vitória
Av. João Neto, 45
05598-100 São Paulo - SP
São Paulo, 25 de julho de 2012.
Prezado gerente do Supermercado Vitória,
O motivo desta carta é informá-lo que tenho interesse em exercer a
função de operadora de caixa no Supermercado Vitória. Meu currículo encontra-se anexado para a sua apreciação.
Já trabalhei como operadora de caixa em outros supermercados e tenho muita experiência nessa função. Também posso desempenhar outros
serviços, pois já fiz diversos cursos de capacitação, como o curso de logística e relações humanas. Além disso, tenho noções básicas de informática. Gosto de lidar com público – sou muito comunicativa – e adoro aprender coisas novas. Tenho me preparado bastante para assumir de imediato
essa função, mas não poderia trabalhar no período noturno, já que estudo.
Na expectativa de poder demonstrar minhas capacidades de trabalho
e minha vontade e determinação, subscrevo-me,
atenciosamente,
Carolina Ferrari
Tel.: 3000 5678
[email protected]
181
Língua Portuguesa – Unidade 3
a) Localize no texto e grife com caneta colorida as seguintes informações: remetente, destinatário, local e data, saudação inicial,
assunto e despedida.
b) Qual é o principal objetivo da carta de Carolina? Você acha
que ela escreveu uma boa carta para o que deseja? Por quê?
c) Retire da carta os argumentos que Carolina usou para convencer o gerente do supermercado de que estava apta a assumir uma vaga de emprego.
d) Os argumentos são mais importantes em uma carta de reclamação ou em uma carta de solicitação? Por quê?
e) No segundo parágrafo da carta, há algumas palavras destacadas, com as quais a autora relaciona partes do texto a outras,
organizando, assim, a sequência do que está tratando. Substitua essas palavras por palavras ou expressões que estão no
quadro a seguir e reescreva o parágrafo no caderno, fazendo
as alterações necessárias.
no entanto; em razão de; além de; com o objetivo de; por isso;
por conseguinte; considerando que; do mesmo modo; também;
além disso
Observação: não é necessário usar todas as expressões.
182
Língua Portuguesa – Unidade 3
Carta de solicitação
Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra
“solicitar” significa:
Tentar conseguir, ir atrás de; requestar, procurar, buscar. [...]
Pedir (algo) com educação e urbanidade, ou de acordo com fórmulas preestabelecidas. [...]
HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
Versão 3.0 [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
Assim, diferentemente das cartas de reclamação, em que usamos
os argumentos para exigir, principalmente, o cumprimento de um
direito, as cartas de solicitação precisam de argumentos para convencer, pois o destinatário não tem a obrigação de atender ao que lhe é
solicitado. Se no discurso de reclamação era fundamental observar a
adequação da linguagem, no discurso de solicitação a linguagem adequada deve vir acompanhada de persuasão e convencimento.
Atividade 9 Qual sua opinião?
No jornal Folha de S.Paulo, de 22 de setembro de 2009, foi publicada a seguinte notícia:
São Paulo, 22 de setembro de 2009
Folha de S.Paulo
– educação
Escolas terão de tocar Hino Nacional uma vez por semana
Simone Iglesias
A partir de hoje, as escolas de
ensino fundamental públicas e privadas de todo o país passam a ser
obrigadas a executar uma vez por
semana o Hino Nacional. A lei, de
autoria do deputado Lincoln Portela
(PR-MG), foi sancionada ontem (21)
pelo vice-presidente no exercício da
Presidência, José Alencar.
A lei não prevê data e horário para
a execução do hino, ficando a critério dos estabelecimentos de ensino.
O projeto também não prevê punição
a quem não cumprir a lei [...].
IGLESIAS, Simone. Escolas terão de tocar Hino Nacional uma vez por semana.
Folha de S.Paulo, 22 set. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
folha/educacao/ult305u627357.shtml>. Acesso em: 26 out. 2012.
Sancionar
Aprovar, confirmar,
ratificar.
Você já conhecia essa lei? Qual sua opinião sobre ela? Converse
com seus colegas, argumentando a favor ou contra a lei.
183
Língua Portuguesa – Unidade 3
Atividade 10 Escrevendo uma carta de solicitação
Arte
8o ano – Unidade 1
1. O diretor da escola consultou os estudantes a respeito do interesse de uma turma do 8o ano em grafitar os muros da escola, já
que aprenderam a técnica na disciplina de Arte. O resultado dessa
consulta foi polêmico: parte dos estudantes foi a favor e outra
parte, contra. Qual seria sua opinião se isso ocorresse em sua escola? Com base nela, escreva uma carta de solicitação ao diretor
da escola. Exponha o motivo por que escreveu a carta e cite seus
argumentos para convencer o diretor a atender à sua solicitação.
2. Agora, com um colega, discutam o conteúdo das cartas que vocês
escreveram. Confiram se nessas cartas aparecem:
•
localidade e data;
•
saudação inicial;
•
o motivo da carta de solicitação;
•
argumentos para convencer o leitor/destinatário a atender à
solicitação;
•
despedida (se quiser, utilize uma das seguintes fórmulas: “desde
já agradeço”, “aguardo sua resposta”, “grato pela atenção dispensada”);
•
assinatura;
•
telefone, email ou endereço.
Caso um dos itens citados anteriormente não conste na carta que
você escreveu, reescreva-a, acrescentando o que falta ao texto.
Atividade 11 Problemas da cidade
1. No portal virtual de muitas cidades, há um espaço onde qualquer
cidadão pode reclamar ou solicitar serviços. Reúna-se com seus colegas e, em uma folha à parte, façam uma lista dos problemas mais
graves e qual seria a solicitação a ser feita às autoridades municipais, para futuras melhorias. Os problemas listados podem ser
de qualquer área: educação, saúde, transporte, saneamento básico,
coleta de lixo etc.
2. Terminada a lista, escolha um dos problemas listados e elabore
uma carta de solicitação. Veja algumas dicas a seguir que podem
ajudá-lo na hora de escrever e revisar sua carta.
184
Língua Portuguesa – Unidade 3
Local e data
Saudação inicial
Caso escreva para o prefeito, você
pode usar “Excelentíssimo senhor
prefeito”; caso seu destinatário seja
algum secretário municipal, pode
usar “Excelentíssimo secretário”.
Corpo da carta
• Motivo pelo qual escreve a carta: descreva a situação que o levou a escrever a carta.
• Pedido/solicitação: procure apresentar sua solicitação com bastante clareza, para que seu destinatário
possa avaliar adequadamente o seu pedido.
• Argumentos: escreva os argumentos que darão sustentação ao pedido, usando conectivos para introduzir
argumentos e explicações (como “pois”, “já que”, “em
virtude de” e “devido a”) e, também, marcadores textuais para organizar a ordem dos argumentos (como “em
primeiro lugar”, “além disso”, “assim” e “portanto”).
Despedida/pedido de deferimento
Você pode escolher uma dessas possibilidades:
Deferir
Conceder, despachar
favoravelmente.
“Agradecendo sua atenção, subscrevo‐me cordialmente”, “Na expectativa de sua resposta,
despeço‐me atenciosamente”, “Atenciosamente”,
“Cordialmente”.
Assinatura
Lembre‐se de colocar seu nome completo e
outras informações relevantes para o problema para o qual você está solicitando uma
solução; por exemplo, se for um problema do
bairro em que mora, você pode colocar o seu
endereço residencial, se for na escola, o endereço de onde você estuda.
185
Língua Portuguesa – Unidade 3
Você estudou
Nesta Unidade, você leu, analisou e escreveu diferentes gêneros de cartas. Pôde observar que há diversas finalidades e vários
formatos para elas, mas há alguns elementos que não podem
faltar: remetente (quem escreve a carta), destinatário (aquele
para quem a carta foi escrita), local e data (o lugar e o dia em
que foi escrita), saudação (o modo de chamar a pessoa a quem
a carta é destinada) e despedida. Estudou também que as cartas
comerciais, como as de reclamação e de solicitação, têm fórmulas mais ou menos fixas de organização e exigem o uso de uma
linguagem mais formal.
Pense sobre
Conforme pesquisa realizada pela consultoria alemã GFK com quase 19 mil
pessoas de 18 países da Europa e da América, incluindo o Brasil, os profissionais
com maior credibilidade entre a população em 2010 foram bombeiros, carteiros,
professores e médicos.
Fonte: LVBA Comunicação. Confiança da população nos políticos continua em queda. Disponível em:
<http://www.lvba.com.br/web/imprensa/?p=2310>. Acesso em: 26 out. 2012.
Por que você acredita que os carteiros estão entre os profissionais
que gozam de maior credibilidade entre a população brasileira e a dos
demais países pesquisados?
186
4
Pesquisando o mundo em
dicionários e enciclopédias
Seria impossível fazer a história do mundo e descrever a natureza e
a história da ciência sem os dicionários ou enciclopédias.
VILELA, Mário. Ensino da língua portuguesa: léxico,
dicionário, gramática. Coimbra: Almedina, 1995.
Nesta Unidade, você vai ler, analisar e diferenciar verbetes de dicionários e de enciclopédias, que são gêneros usados para pesquisar ou
conhecer assuntos ou temas que despertem seu interesse. Vai aprender
também a fazer um esquema: uma representação gráfica do texto que
permite visualizar a articulação das ideias, bem como sua hierarquização – ou seja, ideia central e ideias secundárias de um texto. Com os
esquemas, ficará mais fácil compreender e fixar informações.
Para iniciar...
A palavra latina perquiro , traduzida em português por pesquisa, significa “buscar com cuidado”, “procurar por toda parte”,
“informar-se de”, “inquirir”, “perguntar” (cf. Novissimo diccionario
Latino-Portuguez, de F.R. dos Santos Saraiva). Considerando esses
sentidos, converse com os colegas e o professor.
•
Quando alguém busca informações sobre o meio de transporte
mais indicado para ir de um lugar a outro, está pesquisando?
•
Na vida cotidiana, que pesquisas as pessoas costumam fazer?
•
Você acha que os métodos de pesquisa podem variar? Dê exemplos.
•
Você sabe o que é pesquisa de mercado? E pesquisa informal?
•
Que tipo de pesquisa é proposta no universo escolar? Como são
realizadas essas pesquisas?
•
Para realizar pesquisas escolares, você costuma consultar dicionários? E enciclopédias? E em outras situações: costuma consultá-los?
Com qual finalidade?
•
Você tem alguma enciclopédia em casa? Qual?
187
Língua Portuguesa – Unidade 4
•
Na maioria das vezes, você consulta dicionários e enciclopédias
impressos ou virtuais? Por quê?
•
É fácil encontrar as palavras buscadas no dicionário ou na enciclopédia? Por quê?
Dicionários e enciclopédias
“Bolsa de alimentos”, “Bolsa Família e cesta básica”, “contos e
versos populares do Brasil”, “água”, “trabalho e emprego no Brasil”,
“desmatamento e poluição”, “festas populares”, “condições de moradia”, entre muitos outros, são temas que os estudantes frequentemente
investigam na escola, em pesquisas orientadas por professores de todas
as áreas. Nessas pesquisas, os estudantes buscam textos para obter
informações, dados e imagens sobre o tema pesquisado. Mas selecionar
material interessante e adequado não é tarefa fácil... Também não é
tarefa simples estudar o material encontrado, fazer resumos e fichamentos e apresentar para um público resultados e conclusões da pesquisa.
Como fazer, então? Por onde começar uma pesquisa? Tendo em vista
temas de seu interesse, as obras de referência podem ser o passo inicial!
As obras de referência são almanaques, atlas, enciclopédias e
dicionários de vários tipos. Nas bibliotecas e salas de leitura, essas
obras ficam organizadas à parte e, como você já deve ter reparado,
não podem ser emprestadas aos usuários, pois são consideradas obras
de consulta permanente e devem ficar sempre disponíveis. São excelentes pontos de partida para muitos dos temas a ser pesquisados,
já que fornecem definições, informações básicas, uma visão geral do
tópico abordado, fatos, estatísticas, imagens e indicações de outras
fontes que, posteriormente, podem ser consultadas.
Etimologia
Ciência que estuda a
origem e a evolução das
palavras.
Cada obra de referência tem uma função específica. Caso precise
confirmar uma data, um fato, ou ver uma imagem, almanaques podem
ser a opção ideal; se precisar encontrar e analisar um mapa, um atlas
poderá ser consultado; para verificar definições ou a etimologia de
uma palavra, um dicionário seria a melhor escolha; uma enciclopédia
ou dicionários temáticos (dicionário de filosofia, de culinária, de história etc.) serão úteis no caso de desejar encontrar informações básicas ou
introdutórias sobre um assunto. Para pesquisas mais aprofundadas,
outras fontes confiáveis precisam ser consultadas: sites, reportagens,
revistas, artigos de divulgação científica etc.
Para conhecer melhor as obras de referência, você vai trabalhar
com duas delas: dicionários e enciclopédias. Vai ler e analisar verbetes
dessas obras, para saber mais sobre determinado tema ou aspecto de
um tema. Mas o que é um verbete?
188
Língua Portuguesa – Unidade 4
Atividade 1 Verbetes em foco
Considerando o que você sabe sobre verbetes de dicionários e enciclopédias, coloque D para as características que se referem a verbetes de
dicionário e E para as que se referem a verbetes de enciclopédia:
( ) Contém informações gerais, que dão visão ampla de vários assuntos.
( ) É conciso, pois seu objetivo é definir a palavra, e não explicá-la
como um tema amplo.
( ) As informações são apresentadas em blocos, frequentemente organizados por subtítulos.
( ) Permite a identificação rápida dos vários subtópicos ligados ao
tema central.
( ) A expansão em subtópicos permite o detalhamento das informações.
( ) A linguagem é formal e enxuta.
( ) Apresenta a abreviação da classe gramatical da palavra e exemplos da aplicação dela em frases.
( ) Apresenta fotos, ilustrações, infográficos, mapas, tabelas e gráficos
que dialogam com o texto verbal explicativo.
( ) Apresenta sugestões de outros termos ou ligações (“linkagens”)
que podem ser consultados.
Discuta as respostas com seu professor. Ou consulte um dicionário
e uma enciclopédia para checar suas respostas.
Atividade 2 Dando uma olhada no dicionário
1. Veja como, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “verbete” aparece definida e, em seguida, responda às questões propostas.
Verbete substantivo masculino (1881 cf. CA)
1. nota ou comentário que foi registrado, anotado; apontamento, nota, anotação,
registro
2. (1881) pequeno papel em que se escreve um apontamento
3. ficha de arquivo (p. ex., em biblioteca)
4. (a1947) em lexicografia, o conjunto das acepções, exemplos e outras informações pertinentes contido numa entrada de dicionário, enciclopédia,
glossário etc.
Entrada
Entrada, cabeça
de verbete ou
unidade léxica é
a palavra, locução,
frase ou elemento de
composição que abre o
verbete, sendo objeto de
definição e informação.
Vem em negrito e em
tipo redondo, se se tratar
de língua portuguesa,
e em negrito de tipo
itálico se se tratar de
palavra ou locução de
uma língua estrangeira.
DICIONÁRIO Houaiss
da Língua Portuguesa.
Dos verbetes e outras
informações técnicas.
Rio de Janeiro: Objetiva,
2009, p. XVIII.
ETIM verbo + -ete; ver verb(i/o)HOM verbete (fl. verbetar)
VERBETE. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 2 844.
189
Língua Portuguesa – Unidade 4
a) As informações que aparecem no quadro resolveram suas dúvidas sobre o sentido preciso do termo “verbete”? Por quê?
b) Você saberia dizer a que correspondem os números que estão
entre parênteses no quadro? Dê uma hipótese para o uso deles,
caso não tenha certeza.
c) Qual dos sentidos apresentados no quadro encaixa-se na frase
“Não encontrei o verbete ‘Estereótipo’ nesta enciclopédia”?
d) Destaque no quadro as palavras que aparecem abreviadas.
Você sabe o significado delas? Se souber, escreva-os. Se não,
tente descobrir o que significam.
e) Aponte algumas semelhanças e diferenças entre verbetes de
dicionários e de enciclopédias.
2. As palavras agrupadas a seguir podem ser encontradas no dicionário? Por quê?
Grupo 1
negligenciamos / picaresca / esdrúxulos / embrenhasse
190
Língua Portuguesa – Unidade 4
Grupo 2
epatite / gequitibá / sinismo / istafado / ecessão
Dicionário: “pai dos sabidos”!
Você é daqueles que, para ler, escrever ou revisar um texto, consultam o dicionário toda hora? Ou, ao contrário, raramente consulta um?
Você já ouviu alguém se referir ao dicionário como “pai dos burros”?
Concorda com essa ideia? Mesmo sendo uma brincadeira, essa afirmação, para você, soa preconceituosa?
O dicionário é uma fonte riquíssima de informação sobre a língua
e o mundo, e consultá-lo deveria ser um hábito de todas as pessoas
que querem saber mais sobre as coisas. Mas ler um verbete de dicionário não é uma tarefa simples. Para extrair todas as informações que
um verbete de dicionário traz, são necessários alguns conhecimentos
específicos da língua escrita. Veja o que é preciso:
1. Os verbetes estão organizados em ordem alfabética nos dicionários, considerando suas letras iniciais e as seguintes. Assim, para
encontrar o verbete procurado, você precisa conhecer a ordem
alfabética, além de saber como a palavra é escrita.
2. Os verbos conjugados e as palavras no plural, no gênero feminino, no aumentativo ou no diminutivo não aparecem no dicionário.
O único modo de encontrar essas palavras é procurá-las em sua forma não flexionada. Por exemplo, você não encontraria o verbete
balbuciamos, mas balbuciar – a forma infinitiva do verbo.
3. Um verbete concentra diversas informações: nos dicionários, podem
aparecer indicações sobre a pronúncia correta da palavra, a data
em que ela “entrou” para a língua portuguesa, algumas informações gramaticais, etimológicas, exemplos de uso etc. No Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa, por exemplo, na versão impressa,
nas primeiras páginas, você encontra a Chave do dicionário, que traz
explicações detalhadas de como entender todas as informações que
aparecem no verbete. Assim, também é necessário saber o significado
das siglas ou abreviações, para entender bem as informações do verbete. A versão impressa e completa do Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa – e de outros dicionários também – é acompanhada por
uma relação das abreviações mais usadas e o que significam.
191
Língua Portuguesa – Unidade 4
No caso do verbete Verbete, confira em vermelho algumas informações complementares que podem ser obtidas consultando a
Chave do dicionário.
Verbete substantivo masculino (1881 (data que entrou no português) cf.
(confira ou confronte) CA) (fonte dessa datação: Dicionário Contemporâneo
da Língua Portuguesa, de Francisco Júlio Caldas Aulete, que morreu em 1878)
1. nota ou comentário que foi registrado, anotado; apontamento, nota, anotação, registro
2. (1881) pequeno papel em que se escreve um apontamento
3. ficha de arquivo (p. ex. (por exemplo), em biblioteca)
4. (a (antes de) 1947) em lexicografia, o conjunto das acepções, exemplos e
outras informações pertinentes contido numa entrada de dicionário, enciclopédia, glossário etc.
ETIM (etimologia) verbo + -ete; ver (remissão) verb(i/o)HOM (homônimos) verbete (fl. (flexão) verbetar)
VERBETE. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 2 844.
(inserções adicionadas)
Viu quantas informações um verbete de dicionário apresenta?
Atividade 3 Explorando o dicionário: a origem e a
evolução das palavras
Etimologia é a ciência que estuda a origem e a evolução das
palavras. Depois de conhecer a história da palavra, é possível compreendê-la de maneira diferente. Em muitos dicionários (como o
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa), entre todas as informações que o verbete apresenta, há o sentido etimológico da palavra.
Consulte um dicionário completo (não um minidicionário) e encontre no verbete o sentido etimológico das palavras a seguir:
192
•
Enciclopédia:
•
Entusiasmo:
•
Filosofia:
Língua Portuguesa – Unidade 4
•
Virtude:
Atividade 4 Você é o dicionarista
Solte a imaginação e invente significados para as palavras a
seguir. Procure escrever como se fosse um verbete de dicionário.
Depois, ouça as definições que seus colegas inventaram e confiram o
significado verdadeiro, consultando um dicionário.
•
Acrópole:
•
Redundante:
•
Forjado:
•
Sumidade:
Verbetes de enciclopédia e de dicionário temático
Qualquer que seja a enciclopédia moderna, isto é, elaborada ou
preparada a partir do século XVIII, terá por função apresentar um
conjunto de ideias, conhecimentos, crenças vigentes, aspirações e tendências consolidadas historicamente pela humanidade.
A sequência dos verbetes em uma enciclopédia moderna segue,
via de regra, a ordem alfabética, assim como nos dicionários. Essa
organização permite que ideias e conceitos científicos sejam facilmente localizados por todos os que consultam essa obra de referência.
Assim, não é necessário saber a relação temática entre os termos para
encontrá-los; basta considerar a ordem alfabética. Mas, para tornar
evidente a teia de conhecimentos, adotou-se o procedimento de indicar
ao leitor outros verbetes – os links – que ele também pode consultar
193
Língua Portuguesa – Unidade 4
para realizar sua pesquisa. Essa sugestão pode aparecer no fim do texto
(“veja também os seguintes verbetes:...”) ou ao longo dele, com palavras destacadas, que podem aparecer em letras maiúsculas, negrito ou
itálico. Nas enciclopédias digitais, os links em geral aparecem na cor
azul e, para acessá-los, basta clicar em cima da palavra destacada.
É interessante você saber que uma enciclopédia, normalmente,
não tem um único autor. Quem a elabora é uma equipe de autores
especialistas, sob coordenação ou direção de outro grupo de pessoas.
Enciclopédias, bem como dicionários temáticos – os que reúnem
verbetes de assuntos específicos como filosofia, medicina, cultura –,
são muito úteis como fonte orientadora inicial para pesquisas e ponto
de partida para a aprendizagem de um assunto. Respondem a perguntas de informação imediata: quem, que, qual, como, quando. Mas
é importante observar que nem todas as obras de referência têm a
mesma qualidade.
Qualidade das obras de referência impressas
Sempre que consultar uma obra de referência, é importante observar os seguintes pontos:
Você sabia que o
termo “wiki” é uma
invenção dos tempos
da internet?
De origem havaiana,
o termo “wiki”, que
significa “rápido”,
foi utilizado desde o
começo dos anos 1990
(cf. Wikipédia) para
se referir a todas as
coleções de páginas
interligadas ou aos
softwares que permitem
rapidamente o acesso e
a produção colaborativa
na internet.
194
•
Editora, que deve ser conhecida e respeitada por publicar obras
acadêmicas de boa qualidade.
•
Colaboradores, que devem ser pessoas conhecidas na área e profissionais capacitados.
•
Nível de especialização, que indica o teor da informação e o público a quem a obra é destinada.
•
Páginas preliminares, que devem incluir uma explicação clara do
propósito e alcance da obra, como está organizada e formas de acesso ao conteúdo. Devem incluir também listagem dos colaboradores
com a respectiva qualificação e instituições em que trabalham, e ainda explicações de abreviaturas e siglas empregadas no corpo da obra.
Nas grandes enciclopédias, no início ou ao final de alguns verbetes,
também é possível encontrar um sumário que mostra, esquematicamente, os tópicos constantes no texto e como estão organizados.
Todas essas características servem para que se avalie a credibilidade das informações, ou seja, o quanto elas podem ser confiáveis.
Obras de referência virtuais
Em relação à pesquisa em enciclopédias virtuais, realizada na
internet, é preciso ficar muito atento quanto às informações que chegam até nós pela tela do computador. Atualmente, os sites de busca
constituem uma poderosa ferramenta para a pesquisa dos mais variados assuntos. Digitando uma palavra-chave e clicando em “pesquisar”,
Língua Portuguesa – Unidade 4
um grande número de sites aparece para consulta. Em geral, um dos
primeiros dessa lista é o da Wikipédia <http://pt.wikipedia.org>, enciclopédia livre da qual todos podem participar... É isso mesmo: qualquer
pessoa pode acessar um verbete da Wikipédia para ler ou modificar as
informações ali contidas.
Nessa enciclopédia, os verbetes podem ser produzidos coletivamente,
por internautas dispostos a participar na elaboração do texto; para isso,
basta estar conectado à internet e ter uma senha de acesso desse site.
Por esse motivo, a Wikipédia está sempre em processo de ampliação, recebendo novos verbetes e atualizações, ainda que muitos verbetes sejam textos incompletos e que podem ser melhorados.
Além disso, o fato de o verbete poder ser escrito de forma colaborativa (e não necessariamente por um especialista) torna essa fonte de
consulta não totalmente confiável, apesar de se esperar que as pessoas
que escolhem participar do processo de elaboração de um verbete
tenham o compromisso de oferecer a informação mais precisa possível. Se, por acaso, um usuário publicar textos preconceituosos ou com
informações falsas, eles são retirados do site e esse usuário pode ser
proibido de fazer novas colaborações.
Ainda assim, quando se acessa algum verbete da Wikipédia, pode
aparecer a seguinte mensagem, destacada no exemplo a seguir:
PORTFÓLIO. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Portfólio>.
Acesso em: 26 out. 2012.
195
Língua Portuguesa – Unidade 4
Em outras palavras, a enciclopédia livre Wikipédia é uma ótima
ferramenta para conseguir com rapidez informações iniciais sobre
algum tema ou questão, mas outras fontes devem ser consultadas caso
se pretenda pesquisar e obter informações mais confiáveis.
Atividade 5 Comparando verbetes
1. Leia os dois verbetes apresentados a seguir e, depois, responda às
questões propostas.
Verbete 1
Literatura de cordel. Literatura popular, de características folclóricas, em prosa ou em verso, impressa em
folhetos vendidos em barracas de feira, de mercados, de praças ou em pontos de afluência pública. A denominação foi dada em Portugal pelo hábito de se exporem os folhetos amarrados por cordões ou cordéis. Sua difusão
no Brasil ocorreu majoritariamente no Nordeste, em finais do século XIX, sendo produzida por escritores, poetas e
cantadores anônimos ou autônimos. Os temas, nascidos principalmente do ambiente rural, abarcam o religioso
e o profano, incluindo-se narrativas históricas, lendas e fábulas tradicionais, assim como acontecimentos insólitos
ou eventos cotidianos, trágicos ou humorísticos. Ao longo do tempo, figuras, acontecimentos e cenários urbanos
passaram a servir de tema aos poetas do cordel. Assim sendo, tanto se encontram personagens reais da vida política nacional, como aqueles elevados à categoria de heróis, de santos ou de bandidos-cangaceiros (Antônio Silvino,
Lampião, Corisco) e profetas (Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Frei Damião); figuras inteiramente fictícias
(a negra de um peito só, os malandros João Grilo e Pedro Malasartes) ou ainda fantásticas (o Pavão Misterioso).
A prosa é tratada na forma de conto, predominando na poesia os versos em redondilhas, maior ou menor. [...]
CUNHA, Newton. Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. São Paulo: Perspectiva/Sesc, 2003, p. 392.
Verbete 2
© Savador Scofano/Futurapress
LITERATURA de cordel. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_cordel>. Acesso em: 26 out. 2012.
196
Língua Portuguesa – Unidade 4
a) Retire do Verbete 1 três informações que você considera importantes sobre a literatura de cordel.
b) Retire do Verbete 2 três informações que você considera importantes sobre a literatura de cordel.
c) Os Verbetes 1 e 2 apresentam as mesmas informações? Descubra, completando o quadro com as informações que aparecem
nesses verbetes:
Informações que
só aparecem no
Verbete 1
Informações que
só aparecem no
Verbete 2
Informações
comuns aos
Verbetes 1 e 2
197
Língua Portuguesa – Unidade 4
d) O Verbete 1 foi retirado de um dicionário temático. O Verbete 2, de uma enciclopédia digital, acessada pela internet. Em sua
opinião, por que no Verbete 2 há palavras destacadas em azul?
e) Observe o índice que aparece no Verbete 2. Em quais itens
você clicaria para descobrir novas informações para sua pesquisa? Por quê?
2. Agora, leia mais um verbete e responda às questões:
Fica a dica
Você já reparou que,
muitas vezes, as pessoas
repetem “frases prontas”
que nem sabem de onde
vieram?
O escritor Humberto
Werneck criou O pai dos
burros – dicionário de
lugares-comuns e frases
feitas, com cerca de
4 500 expressões. Que tal
conhecê-lo?
© Arquipélago Editorial
WERNECK, Humberto.
O pai dos burros.
Dicionário de lugares-comuns e frases feitas.
Porto Alegre: Arquipélago
Editorial, 2009.
Verbete 3
Cordel (cor.del) sm.
1. Corda fina; BARBANTE; GUITA; CORDÃO.
2. Meada de fio esticada entre pregos e us. pelos pedreiros para marcar alinhamento.
3. Bras. F. red. de literatura de cordel.
4. Livreto ou folheto, ou a história nele impressa, produzidos com as técnicas
gráficas e narrativas da literatura de cordel.
[Pl.: -déis.]
[F.: Do fr. cordel.]
Cordel detonante
1. Expl. Estopim feito de material altamente inflamável, protegido por capas
de materiais diversos (alguns, impermeáveis).
De cordel
1. Liter. Que é da literatura popular, e impresso em folhetos baratos;
que é próprio do gênero literário conhecido como literatura de cordel.
© iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br>.
a) O Verbete 3 apresenta quantos significados diferentes para a
palavra “cordel”? Quais desses significados são desenvolvidos
nos Verbetes 1 e 2?
198
Língua Portuguesa – Unidade 4
b) No Verbete 3, em sua opinião, o que significam “sm.”;
“[Pl.: -déis.]”; e “[F.: Do fr. cordel.]”?
3. Qual dos três verbetes analisados nesta atividade define “cordel” sem
explicá-lo de modo amplo? Justifique sua resposta, considerando o
que você estudou sobre verbetes de dicionário e de enciclopédia.
Atividade 6 Um dicionário diferente
O livro O pulo do gato: o berço de palavras e expressões populares (2005), de Márcio Cotrim, foi escrito como um dicionário, mas
com um traço de humor. Os verbetes têm uma forma peculiar de
apresentação: pequenos relatos, acompanhados de um breve comentário do autor.
Leia, a seguir, um dos verbetes desse livro:
Gandula – É o jovem que busca e devolve a bola ao campo ou à quadra
durante a disputa de uma partida. A palavra tem origem no nome do jogador
argentino Bernardo José Gandulla, que chegou ao Rio de Janeiro em 1939
para jogar no Vasco da Gama. Rapaz educado, tinha o raro hábito de buscar a bola fora do campo e devolvê-la, ainda que a reposição favorecesse o
adversário. A nobreza do gesto comoveu a torcida e a imprensa, que passaram a homenagear o jogador batizando de gandulas os meninos boleiros. Dá
saudade do tempo em que, como a escola, o futebol era risonho e franco...
COTRIM, Márcio. O pulo do gato: o berço de palavras e expressões populares.
São Paulo: Geração Editorial, 2005, p. 21.
1. Quais diferenças há entre os verbetes de dicionário que você estudou nesta Unidade e o verbete do livro de Márcio Cotrim? Por
quais razões você acha que isso acontece?
2. De quais palavras ou expressões populares você gostaria de saber
a origem? Em seu caderno, faça uma lista e depois a apresente aos
colegas. Vocês podem pesquisar no livro de Márcio Cotrim ou em
outras fontes, para saciar a curiosidade. Boa pesquisa!
199
Língua Portuguesa – Unidade 4
Atividade 7 Ler para aprender
Leia agora um trecho mais completo do verbete “literatura de
cordel”, do Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. Depois, com
atenção, grife as informações que aparecem sobre características e
temas comuns da literatura de cordel.
Literatura de cordel. Literatura popular, de características folclóricas, em
prosa ou em verso, impressa em folhetos vendidos em barracas de feira, de mercados, de praças ou em pontos de afluência pública. A denominação foi dada
em Portugal pelo hábito de se exporem os folhetos amarrados por cordões ou
cordéis. Sua difusão no Brasil ocorreu majoritariamente no Nordeste, em finais
do século XIX, sendo produzida por escritores, poetas e cantadores anônimos
ou autônimos. Os temas, nascidos principalmente do ambiente rural, abarcam
o religioso e o profano, incluindo-se narrativas históricas, lendas e fábulas tradicionais, assim como acontecimentos insólitos ou eventos cotidianos, trágicos
ou humorísticos. Ao longo do tempo, figuras, acontecimentos e cenários urbanos
passaram a servir de tema aos poetas do cordel. Assim sendo, tanto se encontram personagens reais da vida política nacional, como aqueles elevados à categoria de heróis, de santos ou de bandidos-cangaceiros (Antônio Silvino, Lampião,
Corisco) e profetas (Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Frei Damião); figuras
inteiramente fictícias (a negra de um peito só, os malandros João Grilo e Pedro
Malasartes) ou ainda fantásticas (o Pavão Misterioso). A prosa é tratada na forma
de conto, predominando na poesia os versos em redondilhas, maior ou menor.
Um exemplo extraordinário e anônimo: “No tempo em que os ventos suis/faziam
estragos gerais,/fiz barrocas nos quintais,/semeei cravos azuis./Nasceram esses
tafuis/amarelos como cidro./Prometi a Santo Isidro/levá-los quando lá for,/com
muito jeito e amor,/em uma taça de vidro”. Os vendedores, ou mesmo os autores,
costumam dividir os textos em função do número de páginas, denominando-os:
folhetos (até oito); romance (entre doze e vinte e quatro); histórias (acima de
vinte e quatro). [...] As origens europeias do cordel remontam ao século XVI e,
ao que tudo indica, seus primeiros exemplares foram impressos na Alemanha,
as chamadas gazetas, onde mais cedo se difundiu a tipografia. A pesquisadora
Marion Ehhardt recolheu cerca de cinquenta títulos da época, vários deles referentes às viagens dos descobrimentos. No século seguinte apareceu na Holanda,
com a denominação de pamflet (panfleto). Na França ficou conhecida como literatura de colportage, por se carregarem as brochuras em um tabuleiro amarrado ao pescoço (porter au col). Em todos os casos, as mesmas características,
conservadas no Brasil: formato tipográfico em quarto ou em oitavo, capas com
ilustrações xilográficas ou em clichê, vendas avulsas, sintaxe popular e vocabulário regional. A influência mais direta que recebemos nos veio da Península
Ibérica, cujas obras, conhecidas a partir do século XVII, segundo Teófilo Braga,
receberam os nomes de “folhas soltas”, “folhas volantes”, literatura de cordel ou
ainda literatura de cego, por ter sido um monopólio de impressão dado pelo rei
D. João V à Irmandade do Menino Jesus dos Homens Cegos (Portugal), ou ainda
pliegos sueltos, em Espanha. A literatura brasileira modernista e regionalista do
século XX, sobretudo após a década de 1920, aproveitou-se das formas e dos
temas do cordel, podendo-se citar, entre seus admiradores, José Lins do Rego,
Jorge Amado, Ariano Suassuna ou João Cabral de Melo Neto. Na região Sul do
País, sobretudo em São Paulo, sobreviveu até meados do século XX uma forma de
literatura bastante assemelhada. → Pasquim.[*]
[* ]
“Pasquim” é uma remissão que aparece no final do verbete “Literatura de cordel” [nota do editor].
CUNHA, Newton. Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. São Paulo:
Perspectiva/Sesc, 2003, p. 392.
200
Língua Portuguesa – Unidade 4
Com base no texto que você acabou de ler e consultando os trechos grifados por você, complete o esquema a seguir com as informações que estão faltando:
Literatura de cordel
Características
Temas
Origens europeias
Na Alemanha,
Literatura popular
Nascidos em
ambiente rural
Na Holanda,
Folclórica
Na França,
Incluem narrativas históricas,
lendas e fábulas tradicionais
Da Península Ibérica,
Impressa em folhetos que
são vendidos em pontos de
afluência pública
Acontecimentos insólitos ou
eventos cotidianos, trágicos
ou humorísticos
201
Língua Portuguesa – Unidade 4
Você estudou
Nesta Unidade, você viu que as obras de referência são excelentes fontes iniciais de pesquisa. Observou como dicionários
e enciclopédias são organizados e como proceder para entender
as informações que aparecem nos verbetes. Também conheceu
os motivos que fazem algumas obras de referência impressas e
virtuais não serem as únicas fontes de uma pesquisa.
Além disso, leu e analisou verbetes, como também completou um esquema para visualizar a articulação das ideias de um
verbete de dicionário temático.
Pense sobre
De modo geral, os verbetes de enciclopédias impressas ou digitais
apresentam a diversidade de conhecimento humano acumulado ao
longo de séculos em diferentes áreas e campos de estudo. Como você
já deve ter percebido, no mundo de hoje, as informações não param
de chegar, e em um ritmo cada vez mais rápido.
Considerando essa situação, qual a importância das obras de referência no mundo atual? A expansão das enciclopédias virtuais pode
contribuir para que muitas pessoas tenham acesso a informações?
Você já pensou em contribuir para uma enciclopédia virtual, como a
Wikipédia? Que tipo de informações gostaria de registrar?
202
5
O que fazem os poetas
com as palavras?
[A poesia] trata-se, pois, dum fenômeno universal,
exatamente como a linguagem.
JAKOBSON, Roman. O que fazem os poetas com as palavras. Revista Colóquio/Letras,
Fundação Calouste Gulbenkian, n. 12, mar. 1973, p. 5. Disponível em: <http://coloquio.
gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=12&p=5&o=p>.
Acesso em: 26 out. 2012.
Nesta Unidade, você vai mergulhar no “domínio mais criador da linguagem”, que é como Jakobson, autor da epígrafe antes
citada, trata a poesia. Vai aprender a ler e interpretar textos poéticos cuidadosamente escritos para produzir reflexão, encantamento
e emoção – dimensões que constituem o ser humano. Vai estudar
também o que são rima, métrica, figuras de linguagem e outros
recursos textuais que os poetas utilizam para expressar, em versos,
o que a linguagem cotidiana não consegue expressar.
Para iniciar...
Você já leu algum poema atentando para o que há de diferente
nesses escritos? Lembra-se de alguma vez ter interpretado um poema
ou ter feito uma “leitura poética”?
Busque na memória saberes e vivências literárias e converse com
seus colegas e seu professor.
•
A poesia cumpre um papel importante em sua vida? Por quê?
Você acha que algum povo poderia viver sem poesia?
•
Em seu universo de leitura, em que momentos se deparou com
um poema? Do que se recorda?
•
Você conhece a obra de algum poeta? De quais poemas ou versos
desse poeta você jamais esqueceu? Por quê?
•
O que, em sua opinião, não poderia faltar num poema?
203
Língua Portuguesa – Unidade 5
Atividade 1 Aula de leitura: como se diz e o que se diz
Você vai ler agora um poema, que é uma obra escrita em versos. Nesta atividade, além de ler o poema será possível senti-lo,
estudá-lo, interpretá-lo, pensando em o que e em como está escrito, o
que é muito importante para a interpretação de textos literários.
Você sabia que a leitura de um texto começa antes mesmo de lê-lo?
Mas, para que isso aconteça, é preciso fazer algumas perguntas e buscar respostas.
Portanto, antes de ler Aula de leitura, responda às questões a seguir,
que vão ajudá-lo a se aproximar do texto. Você vai começar pela “aparência” do poema e, depois, aos poucos, mergulhará no conteúdo. As
questões propostas funcionarão como uma espécie de guia de leitura.
1. Observe a “aparência” do texto Aula de leitura, ou seja, como ele
está disposto na próxima página deste Caderno.
a) O que você reparou na disposição gráfica do texto?
Ricardo Azevedo, cujo nome completo é Ricardo José Duff Azevedo, é paulistano.
Nasceu em 1949, é escritor, ilustrador e pesquisador. Já publicou vários livros, dentre os quais destacamos, Meu livro de folclore (1997), Dezenove poemas desengonçados (1998), A casa do meu avô (1998), Armazém do folclore (2000), No meio da noite
escura tem um pé de maravilha (2002), Ninguém sabe o que é um poema (2005), Feito
bala perdida e outros poemas (2008), O chute que a bola levou (2011) e O motoqueiro
que virou bicho (2012). Tem livros publicados em muitos países. É bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado e doutor em Letras
pela Universidade de São Paulo. Pesquisador na área de cultura popular. Professor convidado em cursos de
especialização em Arte-Educação e Literatura. Tem dado palestras e escrito artigos, publicados em livros e
revistas, abordando problemas do uso da literatura de ficção na escola.
Referência
RICARDO Azevedo. Biografia. Disponível em: <http://www.ricardoazevedo.com.br/biografia.htm>. Acesso em: 26 out. 2012.
204
© Nilton Fukuda/AE
b) Quem é o autor do texto? O que você sabe sobre ele? Com
base na leitura da biografia dele, que aparece abaixo, o que
você espera encontrar no texto que vai ler?
Língua Portuguesa – Unidade 5
c) Em que livro Aula de leitura foi publicado? Como você acha
que será um poema publicado em um livro com esse título?
d) Esse livro foi publicado originalmente em 1998. Por que, em sua
opinião, é importante saber o ano de publicação de uma obra?
e) Ao refletir sobre o título, você pode antecipar ideias do texto que
vai ser lido. Em sua opinião, como seria essa “aula de leitura”?
f) Qual é seu interesse pelo tema que, segundo parece, o poema
vai abordar? O que você sabe sobre esse tema?
2. Agora, leia o poema e, em seguida, responda às questões propostas.
Aula de leitura
A leitura é muito mais
do que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender:
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou é à toa;
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;
e no pelo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
e também na cor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens do céu,
vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.
AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura. In: _____. Dezenove poemas desengonçados.
São Paulo: Ática, 2003, p. 41-42.
205
Língua Portuguesa – Unidade 5
a) Releia o poema e perceba que houve um trabalho cuidadoso de
seleção e combinação de palavras. Copie alguns versos que, em
sua opinião, mostram que o poeta se preocupou com a seleção
e a organização das palavras. Justifique sua resposta.
b) O final do poema revela que “ler um olhar” é uma arte difícil
e dá medo. Para o poeta, em que o olhar se distingue das outras coisas que foram lidas no poema?
c) Leia a afirmação a seguir:
[...] Um povo pode existir sem escrever (e existem muitos, de fato), mas
nenhum pode existir sem ler [...].
BAZZONI, Claudio. Ler e viver o texto literário. In: MURRIE, Zuleika de Felice (Coord.). Língua Portuguesa,
Língua Estrangeira, Educação Artística e Educação Física. Livro do Estudante. Ensino Fundamental. 2. ed.
Brasília: MEC/Inep, 2006. Disponível em: <http://encceja.inep.gov.br/materiais-para-estudo>.
Acesso em: 26 out. 2012.
Essa afirmação pode ser confirmada pela aula de leitura apresentada no poema? Justifique sua resposta.
d) O que mais chamou sua atenção no poema?
206
Língua Portuguesa – Unidade 5
e) A aula de leitura que o poema apresenta é semelhante à que
você pensou? O que há de diferente?
f) O que, para você, significa fazer uma leitura do mundo?
g) No poema, o poeta diz que a leitura de uma coisa o remete a
outra. Em sua opinião, isso também acontece quando se lê um
texto escrito? Por quê?
h) Agora é sua vez! Coloque-se no lugar do poeta e crie alguns
versos para expressar o que você lê em cada uma dessas coisas:
Leio na cor da fruta,
Leio na pele da pessoa,
Leio nas estrelas,
Leio no som do coração,
207
Língua Portuguesa – Unidade 5
Tema é o assunto, o que é tratado em um texto.
O poema de Ricardo Azevedo pode ter provocado algum estranhamento quanto ao
tema que retrata.
É comum associar a ideia de leitura somente a textos escritos. Você costuma ler
palavras. Mas, logo no início, o poeta escreve: “A leitura é muito mais / do que decifrar
palavras”. Ora, essa maneira de encarar a leitura difere da visão da maioria das pessoas.
Mas como entender ou até se surpreender com isso? A resposta vem também no começo
do poema: “Quem quiser parar pra ver”. Isso significa que aqueles que prosseguirem na
leitura do poema vão conhecer outro sentido de leitura.
E é verdade! Na continuação do texto, o autor escreve que a leitura começa nas “folhas do chão”, continua “nas ondas soltas do mar”, pula para o “jeito da pessoa”, esbarra “na cara do lutador”, para “no pelo do cachorro”, voa para as “nuvens do céu”,
está “na palma da mão”; ou seja, está em todo lugar.
Você reparou que, ao longo do poema, as palavras, que geralmente são o que você
mais lê, nem foram mencionadas?
Além disso, nessa aula de leitura que o poeta apresenta, sempre uma coisa nos
remete a outra: as “folhas do chão” fazem que se leia “se é outono ou se é verão”; a
“casa de alguém” faz que se leia “o gosto que o dono tem” e assim por diante.
É interessante esse jeito de ver/ler as coisas. Você vê/lê uma coisa para descobrir
outra. Há um sentido que pode ser descoberto por trás de todas as coisas, inclusive por
trás das palavras.
O que é poesia?
“Poesia” é uma palavra muito antiga, que vem do grego, poíésis,
e pode ser traduzida por “ato de criar ou de fazer”. Esse sentido
antigo de poesia foi se transformando com o tempo e hoje há inúmeras definições. O poeta Manuel Bandeira fala sobre isso no livro
Seleta em prosa e verso (2007). Depois de assumir a dificuldade de
definir o que é poesia, o grande poeta recifense reconhece que nunca
conseguiu explicar a emoção que o assaltava ao ouvir ou ler certos
versos, certas combinações de palavras. Para ele, a poesia conseguia
ligar o subconsciente do poeta ao subconsciente do leitor.
Se você tentasse listar as definições de poesia, veria que há muitas. Cada uma revela um aspecto diferente dos textos poéticos. Em
todas há algo de incompleto, de vago, de mistério, de subjetivo, próprio das coisas inexplicáveis.
208
Universidade de Bérgamo, Itália
Língua Portuguesa – Unidade 5
Você sabia que a
poesia já foi relacionada
a uma mulher e também
às estrelas?
Nos séculos XV, XVI
e XVII, eram comuns
livros de emblemas –
imagens alegóricas
que representavam a
esperança, o amor, a
avareza, a harmonia etc.
A formosa jovem ao
lado, que veste um
traje pontilhado por
numerosas estrelas, era
o emblema da poesia.
Observe com atenção
e descubra tudo o que
na imagem pode ser
associado à poesia.
Emblema da Poesia
RIPA, Cesare. Iconologia. Madri: Akal, 1996, p. 219.
A ideia é trabalhar com a matéria-prima da poesia na arte literária – as palavras. O poeta francês Mallarmé, em uma conversa com
Degas, afirmou:
Absolutamente não é com ideias, meu caro Degas, que se fazem
versos. É com palavras.
VALÉRY, Paul. Poesia e pensamento abstrato. In: BARBOSA, João Alexandre (Org.). Variedades. Tradução:
Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras, 1991, p. 207-208.
A essa máxima do poeta francês, adiciona-se o que o escritor inglês
T. S. Eliot afirmava: ler poesia é a melhor maneira de aprender o que
ela é. E é exatamente isso o que você vai fazer.
Versos, rimas...
O autor de um texto literário organiza sua criação de maneira
artística. Em Aula de leitura, a organização em versos e estrofes revela
uma preocupação do autor com a construção de um texto poético.
Mas o que é um verso? E uma estrofe?
Verso é o nome que se dá a cada linha de um poema e que tem o
tamanho que o poeta desejar. Um agrupamento de versos chama-se
estrofe.
209
Língua Portuguesa – Unidade 5
Em um poema, o arranjo das palavras e a sonoridade delas produzem
um ritmo. Quando há palavras no final ou no meio de diferentes versos
que terminam com som semelhante ou idêntico, diz-se que esses versos têm
rima. Observe a terminação das palavras de algumas estrofes do poema
Aula de leitura que formam um esquema de rimas.
[...]
AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura.
In: _____. Dezenove poemas
desengonçados. São Paulo: Ática,
2003, p. 41-42.
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
a
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
b
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou é à toa;
[...]
c
Veja que “chão”
rima com
“verão”...
a
b
c
... e “mar” com
“navegar”...
... e “pessoa”...
A rima é um dos recursos formais que dá mais ritmo e musicalidade ao poema. Por convenção, para indicar como são as rimas
de um poema, usam-se, em geral, letras minúsculas. Os versos que
rimam entre si recebem a mesma letra.
Mas atenção: nem todos os poemas têm rimas. Os versos que não
rimam são chamados brancos ou soltos.
Atividade 2 Aula de leitura: uma análise da linguagem
poética
Agora, releia o poema Aula de leitura e responda às questões
propostas.
1. Aula de leitura tem 15 estrofes. A primeira e a última são diferentes das demais. Qual é a diferença? Por que, em sua opinião, só
essas duas estrofes são diferentes das outras?
2. Observe a composição das estrofes do poema Aula de leitura.
a) Quantos versos tem a maioria das estrofes?
210
Língua Portuguesa – Unidade 5
b) Essa quantidade de versos aparece também em ditados populares, como em:
Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura.
Você acha que essa informação pode ajudá-lo na interpretação
do poema? Por quê?
3. Repare que, a partir da décima estrofe, o poema muda de ritmo.
O que determinou a mudança? Que sensação essa mudança provoca? Como pode ser interpretada?
4. Em poemas é comum a repetição, de verso a verso, de fonemas,
palavras, frases e até de um verso inteiro. Que palavras são repetidas no poema de Ricardo Azevedo? Essas palavras cumprem
uma função importante no poema? Qual?
5. Verifique, a partir da décima estrofe, se as palavras rimam. O que
você observou? Registre a resposta em seu caderno.
Métrica
Você alguma vez já mediu versos?
Tem alguma ideia de como você poderia obter uma medida? Uma
régua resolveria? Uma fita métrica? Para saber, leia o texto a seguir...
A métrica é a medida do verso. Não se medem versos como se mede
um pedaço de pano ou papel; medem-se versos contando as sílabas poéticas. As sílabas poéticas são contadas de maneira diferente das sílabas
gramaticais. Uma diferença significativa é poder juntar sílabas que ficariam separadas na contagem gramatical. Isso, em geral, acontece quando
uma sílaba termina em vogal e a seguinte se inicia também com vogal.
211
Língua Portuguesa – Unidade 5
Nesse caso, o som das sílabas se funde e isso, na contagem poética, vale como uma sílaba apenas. Outra diferença importante: a
contagem das sílabas poéticas para na sílaba tônica (na sílaba mais
forte) da última palavra do verso.
Observe como ficaria a métrica das duas primeiras estrofes do
poema de Ricardo Azevedo:
Repare que todos os versos do poema têm sete sílabas poéticas.
A
–
1
do
–
1
–
qui
de a
–
ler
–
ou
2
de
ser
–
té
–
–
nas
–
ci
–
pa
–
se
–
–
4
–
fo
–
frar
–
rar
to
–
6
–
5
4
–
mui
5
4
3
–
ra é
4
3
2
–
–
3
2
1
1
–
2
1
se é
que
tu
3
2
Quem –
vai
–
2
1
po
lei
pa
pra
mais
7
–
6
–
la
–
7
sur
– preen –
der:
5
6
7
3
4
5
to
– no ou –
se é
3
4
5
do
– chão,
6
–
ve
6
A última sílaba
átona fica fora
da contagem.
ver
6
–
– vras.
7
5
lhas
A contagem
das sílabas
para na última
sílaba tônica.
7
–
rão;
[...]
7
Algumas vogais se
fundem formando
uma única sílaba
poética.
AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura. In: _____. Dezenove poemas desengonçados.
São Paulo: Ática, 2003, p. 41-42.
Escrever poemas com versos que tenham o mesmo número de sílabas poéticas não é nada fácil. Vale a pena experimentar! É um desafio
conciliar métrica, rima, tema e, ainda, conseguir emocionar o leitor.
Poeta não tem vida fácil.
Mas, da mesma maneira que nem todos os poemas têm rimas,
nem todos têm métrica regular. Os versos que não têm métrica regular são chamados versos livres.
212
Língua Portuguesa – Unidade 5
Atividade 3 Contando versos, marcando rimas
1. Observando a sonoridade dos versos, leia o poema a seguir e responda às questões propostas.
a) Do que trata o poema?
b) Marque, ao final de cada verso, as palavras que rimam. Você observa alguma
regularidade?
c) Quantas sílabas poéticas há em cada verso?
Faça a contagem no próprio poema.
X. Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
PESSOA, Fernando. X. Mar português. In: _____. Mensagem.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/pe000004.pdf>. Acesso em: 26 out. 2012.
d) As rimas dão sonoridade ao poema. É um desafio para o poeta usar palavras diferentes que repetem o mesmo som, sem se
afastar do assunto. Você vê alguma relação de sentido entre
as palavras rimadas? Qual?
e) Observe os sinais de pontuação que aparecem no final dos
versos pares. Por qual razão o poeta escolheu usar na primeira estrofe o sinal de exclamação [!] e, na segunda, o ponto [.]?
f) Na ordem direta, o penúltimo verso ficaria: “Deus deu o perigo e o abismo ao mar”. Por que, em sua opinião, o poeta
preferiu escrever as palavras em outra ordem?
213
Língua Portuguesa – Unidade 5
Criação do escritor, mais
do que um pseudônimo
(nome fictício usado para
assinar uma obra). Um
heterônimo, além de um
nome diferente, é uma
personalidade distinta
inventada pelo autor;
apresenta uma história
de vida, visões de mundo,
opiniões e senso de
humor próprios, traços
esses que se refletem no
estilo de escrita.
O poeta Fernando Pessoa nasceu em
Lisboa, Portugal, em 1888. É considerado
um dos maiores poetas da língua portuguesa
de todos os tempos. Mas o interessante é
que Pessoa era um e vários poetas ao mesmo
tempo: ele tinha vários heterônimos.
© Apic/Getty Images
Heterônimo
2. Leia a biografia de Fernando Pessoa e conheça alguns dos
heterônimos mais famosos criados por esse poeta português.
Fernando Pessoa criou mais de 70 personagens-escritores, mas os heterônimos
que ficaram célebres foram Alberto Caeiro,
Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Cada um
deles tem uma biografia.
Alberto Caeiro nasceu em Lisboa, Portugal,
em 16 de abril de 1889, e morreu em 1915, na
mesma cidade, de tuberculose. Órfão de pai e
mãe, viveu com uma tia no campo. Só teve instrução primária.
Álvaro de Campos nasceu em Tavira (extremo sul de Portugal), em 15 de
outubro de 1890. Era engenheiro naval formado na Escócia e encantava-se com
máquinas e velocidade.
Já Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 19 de setembro de
1887. Estudou em colégio de jesuítas, formando-se em Medicina; era monarquista e, por não concordar com o regime republicano, autoexilou-se no Brasil.
Era mitólogo e gostava de estudar latim, grego e outros temas da cultura clássica.
3. Agora, que você já conhece os heterônimos de Fernando
Pessoa, leia o poema a seguir, extraído do livro O guardador
de rebanhos (1911-1912), de Alberto Caeiro. Depois, responda às questões propostas.
XIV. Não me importo com as rimas
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...
PESSOA, Fernando (Alberto Caeiro). XIV. Não me importo com as rimas. In: _____. O guardador de
rebanhos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=15723>. Acesso em: 26 out. 2012.
214
Língua Portuguesa – Unidade 5
a) Do que trata o poema?
b) No poema, os versos não têm rima, nem a métrica é regular.
Como Caeiro justifica, no poema, essa escolha?
c) O livro O guardador de rebanhos é formado por diversos poemas. Neles, há diversas comparações entre as sensações humanas
e os elementos da natureza. Comparações assim acontecem nesse
poema que você acabou de ler? Exemplifique alguma.
Atividade 4 Sentidos denotativos e conotativos
1. Observe as frases a seguir e assinale aquelas nas quais há palavras
com sentido diferente do usual.
a) ( ) “Minha vida, nossas vidas formam um só diamante.”
ANDRADE, Carlos Drummond de. Canção amiga. In: _____. Novos poemas. São Paulo:
Companhia das Letras, [publicação futura]. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond.
<http://www.carlosdrummond.com.br>.
b) ( ) Todas as vidas são importantes na Terra.
c) ( ) “De nuvem no espaço, não há um farrapo.”
ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1978, p. 55-56.
d) ( ) O amor é um sentimento muito lindo.
215
Língua Portuguesa – Unidade 5
e) ( ) “O amor é um fogo que arde sem se ver.”
CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1872>. Acesso em: 26 out. 2012.
f) ( ) Eu sou um daqueles que para viajar levo um paraquedas.
g) ( ) Quando viajo, sou muito cuidadoso com a arrumação de
minha bagagem.
2. Nas frases que você assinalou, que palavras assumem um significado diferente do usual? Qual é a diferença entre o significado
que essas expressões assumem e o significado usual?
3. Tente explicar o sentido das frases a seguir:
a) Ter minhoca na cabeça.
b) Dar uma colher de chá.
c) Conversa mole para boi dormir.
d) Ficar em cima do muro.
216
Língua Portuguesa – Unidade 5
Denotação e conotação
No exercício 1 da Atividade 4, nas frases que você assinalou, as
expressões não significam apenas o que está no dicionário, a elas é
acrescentado outro significado. Quando as palavras podem ser interpretadas em seu sentido usual, dicionarizado, dizemos que elas estão
em sentido denotativo. Mas, quando há um acréscimo de sentido às
palavras, elas passam a ter um sentido figurado.
O sentido figurado ou conotativo não surge apenas com base no contexto em que a palavra aparece. Depende também do leitor, que usa sua
experiência e seu conhecimento de mundo para interpretar o texto. É por
isso que, no exercício 2, as frases puderam ser lidas de dois modos: no
sentido literal – ou denotativo – e no sentido figurado – ou conotativo.
A frase “Ter minhoca na cabeça”, do exercício 3, se considerada
no sentido literal (denotativo), seria assustadora... Ver alguém com
uma ou mais minhocas na cabeça é uma cena horrível só de imaginar!
No sentido figurado, porém, a frase quer dizer outra coisa... é pensar
muito que algo ruim possa ocorrer, ou afligir-se com algum pensamento que não sai da cabeça.
Observe que, quando se usa o sentido conotativo, um sentido não
substitui o outro; há, na verdade, uma soma de sentidos.
Atividade 5 Descoberta de metáforas
1. Leia os últimos versos da canção Minha namorada, de Vinícius de
Moraes e Carlos Lyra. Depois, responda às questões propostas.
Minha namorada
Vinícius de Moraes e Carlos Lyra
[...]
Os seus olhos têm de ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.
Universal Music Publishing Group/MCK Produções Artísticas
217
Língua Portuguesa – Unidade 5
a) A palavra “olhos”, no primeiro verso, está no sentido conotativo. Explique por quê.
Fica a dica
Se você quiser conhecer
a história do cancioneiro
brasileiro, assista ao
documentário Palavra
(en)cantada (direção de
Helena Solberg, 2009)
que propõe um olhar
especial para a relação
entre poesia e música.
b) Qual é o sentido da palavra “ninho” no segundo verso?
Outra sugestão
interessante é o filme
Poeta de sete faces
(direção de Paulo Thiago,
2002) que é baseado na
vida de Carlos Drummond
de Andrade, um dos
maiores poetas da língua
portuguesa. Mais do que
exibir a trajetória de vida
desse escritor, a proposta
do filme é apresentar a
emoção que envolve a
arte poética.
c) “Estrela derradeira” está no sentido denotativo ou conotativo?
Justifique sua resposta.
d) Qual é a diferença entre dizer “E os seus braços o meu ninho”
e “os seus braços me aconchegam como um ninho”?
2. Leia os versos a seguir:
Amor é um fogo que arde sem se ver,
[...] é um andar solitário entre a gente;
[...]
CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1872>. Acesso em: 26 out. 2012.
[...] Por causa dele [do amor] podem entalhar-me, sou de pedra-sabão. [...]
PRADO, Adélia. O sempre amor. In:_____. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2003.
Nesses versos, as palavras destacadas referem-se ao amor e ao eu
lírico acrescentando a eles novos sentidos. Quando isso acontece,
cria-se uma metáfora. Encontre e sublinhe uma metáfora nos versos da canção Minha namorada.
218
Língua Portuguesa – Unidade 5
3. Agora, antes de estudar mais profundamente a noção de metáfora,
tente identificá-la nos fragmentos dos seguintes poemas.
Poema 1
Poema de Natal
[...]
Assim será nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer
uma estrela a se apagar na treva
um caminho entre dois túmulos –
por isso precisamos velar
falar baixo, pisar leve, ver
a noite dormir em silêncio.
[...]
MORAES, Vinícius. Poema de Natal. In:_____. Poesia completa e prosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1986, p. 394.
Poema 2
IX. Sou um guardador de rebanhos
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
[...]
PESSOA, Fernando (Alberto Caeiro). IX. Guardador de rebanhos. In: _____. O guardador de rebanhos.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000001.pdf>.
Acesso em: 26 out. 2012.
Poema 3
A flor e a náusea
[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de. A flor e a náusea. In: _____. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2012. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond.com.br>.
219
Língua Portuguesa – Unidade 5
Metáfora e comparação
Em uma metáfora, os sentidos são aproximados, formando um
ponto de intersecção entre uma coisa e outra. Vida e diamantes,
nuvem e farrapo, amor e fogo, pensamento e rebanho, flor e esperança têm algo em comum para serem associados/identificados.
Mas para que as metáforas são criadas?
A metáfora apresenta uma nova maneira de ver as coisas do
mundo, gerando novos significados. Ela ocorre quando há um acréscimo de um sentido a outro; quando se estabelece um ponto de contato
entre um termo e outro. Por exemplo, escrever que uma pessoa é um
leão na luta significa que a pessoa foi identificada com um leão, que
adotou a natureza de um leão. Diferente seria escrever que a pessoa
luta como um leão, pois nesse caso teríamos uma comparação entre o
modo de luta do animal e do homem. A metáfora é mais que uma comparação; ela provoca uma identificação entre uma coisa e outra.
Atividade 6 Comparações e metáforas
1. Os textos a seguir são fragmentos de poemas selecionados por
Ítalo Moriconi para ser publicados na antologia Os cem melhores poemas brasileiros do século (2000). Identifique, nos versos
a seguir, metáforas e comparações, grifando-as com canetas de
cores diferentes. Crie uma legenda para que você possa retomar as
informações com rapidez. Para isso, sublinhe as palavras “metáfora” e “comparação” a seguir com a cor escolhida para cada uma:
Metáfora
Comparação
Poema 1
“Sobre um mar de rosas que arde”
Sobre um mar de rosas que arde
Em ondas fulvas, distante,
Erram meus olhos, diamante,
Como as naus dentro da tarde.
[...]
KILKERRY, Pedro Militão. Sobre um mar de rosas que arde. In: MORICONI, Ítalo (Org.).
Os cem melhores poemas brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000, p. 43.
220
Língua Portuguesa – Unidade 5
Poema 2
Versos íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
[...]
ANJOS, Augusto dos. Versos íntimos. In: _____. Eu e outras poesias. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772>. Acesso em:
26 out. 2012.
Poema 3
Tercetos
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
“Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!
[...]
BILAC, Olavo. Tercetos. In: ______. Alma inquieta. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1996>. Acesso em: 26 out. 2012.
Poema 4
Psicologia da composição
Saio de meu poema
como quem lava as mãos.
Algumas conchas tornaram-se,
que o sol da atenção
cristalizou; alguma palavra
que desabrochei, como a um pássaro.
[...]
MELO NETO, João Cabral de. Psicologia da composição. In: _____.
O cão sem plumas. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.
2. Agora, você vai criar, em seu caderno, comparações, usando as
palavras que aparecem no quadro a seguir.
camaleão, leão, rosa, lírio, vermelho, branco, engolir, ruminar,
sombra, luz, sentimento, rio, estrada, brilhante, subterrâneo,
impetuoso
221
Língua Portuguesa – Unidade 5
Para estabelecer a comparação, você pode usar os seguintes termos: como, qual, feito, que nem, parece etc. Veja o exemplo:
•
Meu pensamento é como um rio subterrâneo.
Depois, transforme as comparações em metáfora. Veja o exemplo:
•
Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Atividade 7 Leitura de poemas I
1. Antes de ler o poema do poeta gaúcho Mario Quintana (19061994), dê uma olhada na “aparência” do texto e responda às
questões propostas.
a) Em relação à forma do poema de Mario Quintana, escreva
tudo o que você observou.
b) Se você fosse um padre, um pastor ou outro líder religioso, quais
seriam os temas dos sermões que você falaria/pregaria aos fiéis?
2. Agora, leia o poema e, depois, responda às questões.
Se eu fosse um padre
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
– muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
... e um belo poema – ainda que de Deus se aparte –
um belo poema sempre leva a Deus!
QUINTANA, Mario. Se eu fosse um padre. In: _____. Nova antologia poética. Rio de Janeiro: Alfaguara, no prelo.
222
Língua Portuguesa – Unidade 5
a) Em sua opinião, como é a proposta do eu lírico em relação às
rezas que faria?
b) O eu lírico apresenta, no primeiro verso, uma condição (“se eu
fosse um padre”) e diz que, diferentemente dos padres, “não
falaria em Deus nem no Pecado”. Mas só na última estrofe
explicita o motivo por que não faria o que os padres costumam
fazer. Qual é esse motivo?
Você sabia que há
diferença entre autor e
eu lírico?
Da mesma forma que
há diferença entre autor
e narrador (aquele que
escreve não é o mesmo
que conta – o narrador
é uma criação do autor
e pode se distinguir dele
por sexo, gostos, valores
e natureza), na poesia o
autor difere do eu lírico,
ou seja, o “eu” que fala
na poesia. Há inúmeras
canções escritas por
um compositor do sexo
masculino (o autor) em
que o eu lírico (o “eu” que
fala no texto) é feminino.
c) O poema exalta a poesia, colocando-a ao lado dos sacramentos
que purificam a alma (“um belo poema sempre leva a Deus!”). A
poesia é vista como uma oração, como uma forma de se elevar.
Você já havia pensado na poesia como algo elevado? Justifique.
d) Repare na ordem das rimas. Há regularidade nelas? O poema
de Mario Quintana obedece a algum esquema de rimas?
e) Considerando sua resposta ao exercício anterior, você acha
que essa característica combina com um padre que reza versos?
Justifique sua resposta.
f) O eu lírico revela que rezaria versos (os mais belos) que
desde a infância o embalaram. Você se lembra de alguns
versos que considere belos e com os quais poderia “rezar”?
Comente-os com a turma.
223
Língua Portuguesa – Unidade 5
g) Crie, em seu caderno, um poema com o título: “Se eu fosse
um poeta”.
Procure organizar os versos quanto a estrofes, rimas e métrica. Caso prefira, pode escrever versos brancos e livres, mas
procurando observar o ritmo e a musicalidade das palavras.
Atividade 8 Leitura de poemas II
Agora, você vai ler um poema do poeta curitibano Paulo Leminski
(1944-1989).
1. Leia o poema, observando sua forma.
Ler pelo não
Ler pelo não, quem dera!
Em cada ausência, sentir o cheiro forte
do corpo que se foi,
a coisa que se espera.
Escreva tudo o que você observou quanto
à forma do poema de Paulo Leminski. Há
rimas? E quanto à métrica?
Ler pelo não, além da letra,
ver, em cada rima vera, a prima pedra,
onde a forma perdida
procura seus etcéteras.
Desler, tresler, contraler,
enlear-se nos ritmos da matéria,
no fora, ver o dentro e, no dentro, o fora,
navegar em direção às Índias
e descobrir a América.
LEMINSKI, Paulo. Ler pelo não. In: _____. Distraídos venceremos.
5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
2. Agora, responda às questões propostas.
a) Levando em consideração que o tema do poema é leitura, o
que significa ler para você?
b) Qual é o sentido de ler presente no poema?
224
Língua Portuguesa – Unidade 5
c) Copie do poema um verso em que o poeta brinca ao criar
novas palavras.
d) Busque no dicionário e escreva os sentidos das palavras “tresler”
e “enlear”.
e) “Desler” e “contraler” são palavras criadas pelo poeta. Invente
um sentido para essas palavras, considerando a intenção dele.
f) Explique com suas palavras os dois últimos versos do poema.
Qual é a relação que se pode estabelecer entre esses versos e
a leitura?
Atividade 9 Leitura de poemas III
Você vai ler outro poema, desta vez do poeta mato-grossense
Manoel de Barros, cuja biografia faz parte do Caderno do Estudante
de Língua Portuguesa do 7o ano.
1. Antes de ler o poema O apanhador de desperdícios, responda às
questões a seguir.
a) O título do poema causa surpresa em você? Use a imaginação
e escreva o que apanharia e como se comportaria um “apanhador de desperdícios”?
225
Língua Portuguesa – Unidade 5
b) A forma do poema permite dizer que ele é formado por muitas estrofes? Que tem rimas? Que tem versos que possuem a
mesma métrica?
2. Agora, leia o poema. Depois, responda às questões propostas.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In: _____. Memórias inventadas: as infâncias
de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta, 2008, p. 47.
a) Quem apanha as sobras, aquilo que foi rejeitado por não possuir mais serventia neste mundo, pode ser chamado “apanhador
de desperdícios”. Quais “desperdícios” são apanhados pelo eu
lírico do poema? Os “desperdícios” que o eu lírico apanha são
diferentes dos que você imaginou antes de ler o texto?
226
Língua Portuguesa – Unidade 5
b) O poema de Manoel de Barros provocou sentimentos em você?
Justifique sua resposta.
c) Em sua opinião, é possível perceber que o autor do texto tem
forte envolvimento com a natureza? Justifique sua resposta.
d) O poeta escreve no segundo verso: “Não gosto das palavras”.
A quais palavras o eu lírico se refere? A quais ele dá “mais
respeito”? O que você acha desse sentimento do eu lírico em
relação às palavras?
e) “O sotaque das águas”, “insetos”, “a velocidade das tartarugas” são, na opinião do eu lírico, coisas/seres desimportantes.
Ele as contrapõe a quais coisas valorizadas no mundo atual?
Fica a dica
Para conhecer um
pouco sobre sarau de
poesia, acesse os sites
e blogs:
f) Releia os versos 14 e 15. Você concorda que a palavra “aparelhado” está sendo usada como metáfora? Por quê?
g) O primeiro e o último versos do poema são parecidos, mas
não iguais. O que há de diferente neles? O que muda em
relação ao sentido?
• Ação Educativa –
Agenda cultural da
periferia. Disponível
em: <http://www.
agendadaperiferia.org.
br/literatura.html>.
Acesso em: 26 out. 2012.
• Cooperifa. Disponível
em: <http://cooperifa.
blogspot.com/>. Acesso
em: 26 out. 2012.
• Sarau do Binho.
Disponível em: <http://
saraudobinho.blogspot.
com/>. Acesso em: 26
out. 2012.
227
Língua Portuguesa – Unidade 5
h) O verso “meu quintal é maior do que o mundo” opõe o local
ao global. Um quintal pode ser maior do que o mundo? De
que maneira?
Você estudou
Nesta Unidade, você viu o que os poetas fazem com as palavras. Estudou que a poesia move pessoas, resiste ao tempo,
transmite emoções. Estudou também que os poemas se organizam em versos, sendo agrupados em conjuntos chamados estrofes, e que exploram o sentido conotativo das palavras, apresentando-as organizadas de maneira a causar espanto e admiração.
Viu, ainda, que rimas e métrica conferem ao poema musicalidade, o que o torna muito diferente de outros gêneros textuais.
Pense sobre
O poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-) escreveu em um
artigo que:
[...] Não é só através da arte que o homem se inventa e inventa o mundo em
que vive: a ciência, a filosofia, a religião também participam dessa invenção,
sendo que cada uma delas o faz de maneira diferente [...]. Se a filosofia inventasse
a vida do mesmo modo que a ciência ou a religião o faz, não haveria por que a
filosofia existir. [...]
GULLAR, Ferreira. Um novo realismo. Folha de S.Paulo, 27 nov. 2011. Ilustrada, p. E8.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/11333-um-novo-realismo.shtml>.
Acesso em: 26 out. 2012.
E quanto à poesia: de que maneira ela pode ajudá-lo a inventar ou
a reinventar o mundo?
228

Documentos relacionados