PEREIRA, Emerson et al. A importância da musicalização na
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PEREIRA, Emerson et al. A importância da musicalização na
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PEDAGOGIA EMERSON PEREIRA JUSSARA DE OLIVEIRA RENATO MARCIO A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL COMO SUBSÍDIO DE INCLUSÃO PARA A CRIANÇA COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS FERNANDÓPOLIS 2008 EMERSON PEREIRA JUSSARA DE OLIVEIRA RENATO MARCIO A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL COMO SUBSÍDIO DE INCLUSÃO PARA A CRIANÇA COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS Fernandópolis, 2008 EMERSON PEREIRA JUSSARA DE OLIVEIRA RENATO MARCIO A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL COMO SUBSÍDIO DE INCLUSÃO PARA A CRIANÇA COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Monografia apresentada às Faculdades Integradas de Fernandópolis, Fundação Educacional de Fernandópolis, como requisito para a obtenção do título de Graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena. Orientador: Profs. Amadeu Jesus Pessotta Co-orientadores: Elaine Araújo da Silva Roberto Salvador FERNANDÓPOLIS 2008 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na publicação Serviço de Documentação Universitária Fundação Educacional de Fernandópolis Faculdades Integradas de Fernandópolis Instituto Superior de Educação Pereira, Emerson. Oliveira, de Jussara. Marcio, Renato. A importância da musicalização na educação especial como subsídio de inclusão para a criança com necessidades educacionais especiais. / Emerson Perereira; Jussara de Oliveira; Renato Marcio; orientador: Prof. Amadeu Jesus Pessotta; Co-orientadores: Elaine Araújo da Silva; Roberto Salvador. Fernandópolis, 2008, 63 f. Monografia (Graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena) – Faculdades Integradas de Fernandópolis, Fundação Educacional de Fernandópolis. 1. Música. 2. Musicalização. 3. Educação Musical. 4. Educação Especial. 5. Psicomotricidade. CDD FOLHA DE APROVAÇÃO EMERSON PEREIRA JUSSARA DE OLIVEIRA RENATO MARCIO A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL COMO SUBSÍDIO DE INCLUSÃO PARA A CRIANÇA COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Monografia apresentada às Faculdades Integradas de Fernandópolis, Fundação Educacional de Fernandópolis, como requisito para a obtenção do título de Graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena Aprovada em: ___/___/2008 Examinadores: ___________________________________________ Prof: Amadeu Jesus Pessota (orientador) Instituição: Faculdades Integradas de Fernandópolis Curso: Pedagogia ___________________________________________ Prof: Elaine Araújo da Silva (co-orientadora) Instituição: Faculdades Integradas de Fernandópolis Curso: Pedagogia ___________________________________________ Prof: Roberto Salvador (co-orientador) Instituição: Faculdades Integradas de Fernandópolis Curso: Pedagogia Dedicatória À todos que consideram a música importante em suas vidas. Agradecimentos A Deus, pela força nas noites vividas em claro... A nossos familiares, pela compreensão dos horários inadequados de estudo... Ao maestro Luis Fernando e o maestro assistente Raphael Vinicius (Simba) pela idéia do tema... A Viviane dos Santos Louro, Luís Garcia Alonso, Alex Ferreira de Andrade, por serem pessoas iluminadas e desenvolverem um trabalho apaixonante expresso no livro Educação Musical e Deficiência: propostas pedagógicas... A Daiane, amiga do Renato, por ser ouvinte paciente e opinar nos momentos de conclusão dos capítulos... À Sueli Paixão, por nos fazer enxergar que nunca se deve começar construir uma boa casa pelo telhado. Epígrafe Educação musical SIGNIFICATIVA para todos, com e sem direitos especiais. (ISAMARA ALVES CARVALHO). RESUMO MÁRCIO, Renato; PEREIRA, Emerson; OLIVEIRA, Jussara de. A importância da musicalização na educação especial como subsídio de inclusão para crianças com necessidades especiais. 2008. 63 f. Monografia (Graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena) – Faculdades Integradas de Fernandópolis, Fundação Educacional de Fernandópolis, Fernandópolis-SP, 2008. Nos últimos dez anos, as propostas educativas para pessoas com necessidades educacionais especiais avançaram de forma significativa no Brasil. Até meados da década de 50, a atenção às pessoas com deficiência era baseada no paradigma de institucionalização e se caracterizava pela sua segregação em instituições residenciais ou escolas especiais ou, ainda, em lugares distantes das famílias. Grande parte do desenvolvimento humano ocorre nos primeiros anos de vida através da coordenação das ações sensório-motoras, ou seja, através do perceber, relacionar-se, construir uma imagem interna do mundo exterior. O desenvolvimento, principalmente da inteligência, depende das vivências que a pessoa trava com o mundo externo; assim, a relação corpo-movimento-sentidos é de crucial importância para o amadurecimento global do homem, para que ele possa assumir-se como ser no mundo e construir sua estória. Esse processo evolutivo, em princípio, natural a todos, é o que se conhece por psicomotricidade, ou seja, relação entre pensamento e ação, envolvendo também a emoção. Para a criança portadora de deficiência, os problemas psicomotores são freqüentes, o que pode contribuir para uma dificuldade de aprendizagem. Tantas são as questões importantíssimas a serem trabalhadas, mas uma pergunta não quer calar: o que tudo isso tem a ver com a aprendizagem musical? Ora, para executar uma música, seja ela cantada, tocada, ou mesmo compreendê-la de maneira aprofundada depende de fatores psicomotores: no processo musical há pulsação, ritmos diversos, andamentos variados e formas distintas, ou seja, a musicalização é um processo de estimulação psicomotora constante. Portanto, ao musicalizar principalmente a criança com necessidades educacionais especiais, trabalhar-se-ão todos os aspectos psicomotores necessários para uma boa aprendizagem e auto-confirmação nos relacionamentos interpessoais. Palavras-chave: música, musicalização, educação musical, educação especial; psicomotricidade. ABSTRACT MÁRCIO, Renato; PEREIRA, Emerson; OLIVEIRA, Hussara de. The importance of music in special education as a subsidy for inclusion for children with special needs. 2008. 63 f. Monograph (Graduation in Pedagogy - Full Degree) - Faculdades Integradas de Fernandópolis, Fundação Educacional de Fernandópolis, Fernandópolis-SP, 2008. Over the past decade, the educational proposals for people with special educational needs advanced significantly in Brazil. Until the mid-50, the attention to people with disabilities was based on the paradigm of institutionalization and was characterized by their segregation in special schools or residential institutions, or in places away from families. Much of the human development occurs early in life through the coordination of sensor-driven actions, that is, through experience, relating to, building an internal image of the outside world. The development, especially the intelligence, depends on the experiences that the person gets with the external world, so the body-motion-directions relation is of very important for the overall maturity of man, so he can take himself as being in the world and build his history. This evolution process is natural for all in its beginning, known as psychomotricity, i.e., relationship between thought and action, involving also the emotion. For the handicapped child, the psychomotor problems are frequent, and they can cause a learning disability. Many are the important issues to be worked, but a question does not want to deploy: what all this has to do with learning music? However, in order to perform a song, singing or playing, or even understand it deeply it depends on psychomotor factors, in case there are musical pulse, different rhythms, different movements and different ways, i. e., music is a process of psychomotor constant stimulation. So music mainly to the child with special educational needs is to work all the psychomotor aspects necessary to a good learning and self-confirmation in interpersonal relationships. Keywords: music, musical education, special education; psychomotricity. SUMÁRIO INTRODUÇÃO . . . . . . . . 10 . . . . . 15 . . . . 16 18 22 26 . 27 . 34 2.1 A criança com necessidades educativas especiais mentais. . 2.2 A criança com necessidades educativas especiais físicas. . 2.3 A criança com necessidades educativas especiais auditivas. . 2.4 A criança com necessidades educativas especiais visuais 35 39 41 44 1 UM PROCESSO HISTÓRICO. 1.1 A criança com necessidades educativas especiais.. . 1.2 A educação especial . 1.3 Música e musicalização: 2 significados, um só caminho. 1.4 A educação musical . . . . 1.5 A Educação musical na vida da criança com necessidades educativas especiais. . . . . . 2 A HISTÓRIA DE UM PROCESSO. . . . . 3 UM PROCESSO 47 3.1 Musicalizando a criança com necessidades educativas especiais mentais 3.2 Musicalizando a criança com necessidades educativas especiais físicas 3.3 Musicalizando a criança com necessidades educativas especiais auditivas 3.4 Musicalizando a criança com necessidades educativas especiais visuais CONSIDERAÇÕES FINAIS. . REFERÊNCIAS. . . . . 50 52 55 57 . . . . 60 . . . . 62 INTRODUÇÃO A musicalização tem como objetivo fornecer elementos contribuintes para o desenvolvimento da inteligência e a integração do ser. Muito se tem falado acerca da inclusão de crianças especiais e, com isso, vários são os questionamentos que a seguem, sendo a música uma linguagem universal e tendo participado da história da humanidade desde as primeiras civilizações. Na Grécia Clássica, o ensino da música era obrigatório, os gregos ensinavam como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. “Pitágoras demonstrou que a seqüência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura” (BRÉSCIA, 2003 p. 31,). Empregarse-á, portanto, esse recurso para a maturação e adaptação da criança em constante contato com o meio, pois se sabe que é através da afinidade com o seu meio que a criança agirá e pensará. Atualmente existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações, ou seja, combinação harmoniosa e expressiva de sons, a arte de se exprimir por meio de sons. Os movimentos internos e externos no homem; como energia impulsiona-o à ação promovendo nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau, tudo isso é estimulado dependendo da música ou do som ouvido em determinado momento ou situação emocional. Para se compor uma música, precisa-se de quatro elementos básicos: som, ritmo, melodia e harmonia, e cada um dos aspectos ou elementos da música 11 corresponde a um aspecto humano específico, pois o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade e, enfim, a harmonia contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem. Um processo de construção do conhecimento através da musicalização desperta o gosto musical, aflora a sensibilidade, o senso rítmico, a imaginação, a memória, a concentração, a autodisciplina e uma melhor socialização e afetividade; as crianças que nascem com deficiência necessitam extremamente desse processo de integração, pois, como já se sabe, são crianças especiais. As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma e melhore sua comunicação com o outro, pois, nos dias atuais, com o predomínio dos recursos visuais, as crianças preferem ver não tendo paciência para escutar, por isso, é fundamental fazer uso e exploração freqüente do universo sonoro desenvolvendo assim a escuta sensível e ativa nessas crianças. As primeiras atividades de exploração sonora devem partir do ambiente familiar da criança, passando depois para os diversos ambientes freqüentados diariamente por ela. Exploradas as primeiras atividades sonoras, é importante trabalhar os atributos sonoros que são: altura (agudo, médio, grave); intensidade (forte, fraco); duração (longo, curto); timbre (é a característica de cada som). Uma das maneiras de trabalhar esses atributos é a comparação, diferenciando um som agudo de um grave, forte de um fraco, ou longo de um curto, através dos jogos musicais. Com essas atividades, o educador pode perceber quais os pontos fortes e fracos das crianças, principalmente quanto à capacidade de memória auditiva, 12 observação, discriminação e reconhecimento dos sons, podendo assim vir a trabalhar melhor o que está defasado. As reflexões teóricas sobre o comportamento humano levam em consideração as teorias de Piaget (1989) e Vigotsky (1993), a influência da música no desenvolvimento da psicomotricidade e da auto-imagem, já que o papel da música na educação é simples: ser um instrumento capaz de tornar o ambiente físico escolar um lugar mais alegre e receptivo. Assim, o desenvolvimento cognitivo/lingüístico (situações oportunas experimentadas no dia-a-dia que favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças), o psicomotor (atividades musicais que oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, e o ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso) e sócio/afetivo (atividades musicais coletivas que favorecem o desenvolvimento da socialização, estimula a compreensão, a participação e a cooperação) da criança será atingido facilmente com muito mais prazer; afinal a música é um bem cultural, e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos. A música pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas. O educador pode selecionar músicas que falem do conteúdo a ser trabalhado em sua área; isso vai tornar a aula dinâmica, atrativa, e vai ajudar a recordar as informações necessárias referente à proposta trabalhada. A música também deve ser estudada como matéria em si, como linguagem artística, forma de expressão e um bem cultural. A instituição escolar deve ampliar o conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico (MÁRSICO, 1982, p.148). 13 As atividades musicais realizadas na escola não visam à formação de músicos, e sim a abertura de canais sensoriais para facilitar a expressão de emoções, ampliar a cultura geral e contribuir para a formação integral do ser. Poucos são os estudos que demonstram de forma clara e objetiva a relação entre esses aspectos, porém, várias pesquisas comprovam que crianças que são submetidas ao processo de educação musical tendem a se relacionar melhor consigo mesmas e com os outros (KATSCH; MERLE-FISHMAN apud BRÉSCIA, 2003, p.60). O trabalho com musicalização infantil na educação especial pode ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos: físico (oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões); psíquico (promovendo processos de expressão) e mental (proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem). Desse modo, é cabível comentar-se sobre as inteligências múltiplas (GARDNER, 1995), mais precisamente falar da inteligência musical, na qual se podem elencar os motivos pelos quais ela deve ser valorizada na educação especial, pois conhecer música é importante: ela transmite a herança cultural, é uma aptidão inerente a todas as pessoas, é criativa e auto-expressiva. O tema proposto – A Importância da musicalização na educação especial como subsídio de inclusão para a criança com necessidades educativas especiais – surgiu no inicio do ano letivo de 2008, a partir da proposta do maestro da OSFER (Orquestra de Sopros de Fernandópolis), Luis Fernando Paina, também professor de Educação Física na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Fernandópolis. Esse trabalho será realizado junto ao corpo docente de Educadores Musicais da OSFER (o aluno Renato Márcio é integrante do corpo docente da 14 OSFER), um projeto de musicalização nas séries iniciais da educação especial na APAE, e assim trabalhar, através da musicoterapia na sala de aula, o melhor desenvolvimento, a integração e a inclusão dessas crianças com necessidades especiais As atividades de musicalização abrem os horizontes da inclusão às crianças portadoras de necessidades especiais, pois o caráter lúdico e livre contido na expressão musical é uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliar na desinibição, contribuir para o envolvimento social, despertar noções de respeito e consideração pelo outro, derrubando as barreiras quanto ao preconceito, e abrindo o espaço para outras aprendizagens. Enfim, a música tende a influenciar o homem física e mentalmente, proporcionando uma analise reflexiva, permitindo que a criança com necessidades educativas especiais se torne mais crítica e, conseqüentemente, a musicalização se classifica como um elemento importante para se estabelecer a harmonia pessoal, facilitando a integração, a inclusão social e o equilíbrio psicossomático. 15 1 UM PROCESSO HISTÓRICO Nos últimos dez anos as propostas educativas no que se refere às pessoas com necessidades educacionais especiais avançaram de forma significativa no Brasil. Até meados da década de 50, a atenção às pessoas com deficiência era baseada no paradigma da institucionalização e se caracterizava pela segregação dessas pessoas em instituições residenciais ou escolas especiais em lugares distantes das famílias. Na década de 60, esse paradigma começou a ser questionado através de um processo geral de reflexão e crítica sobre os direitos das minorias na construção da sociedade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.17), outorgado pela Organização das Nações Unidas em 1948, afirma a liberdade e igualdade de todos os seres humanos em dignidade e direitos, independente da sua raça, cor, sexo, língua, ou outras características, bem como, o direito à educação gratuita a todos. Dois novos conceitos integraram o debate social em relação à pessoa com necessidades educacionais especiais: a desinstitucionalização e a normalização (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.17). Criou-se, então, o conceito de integração que consiste em modificar a pessoa com algum tipo de deficiência de modo a torná-la o mais semelhante possível às demais pessoas. A visão de tentar tornar a pessoa “deficiente” em “normal” foi gradativamente substituída por um novo pensamento: a pessoa com necessidades educacionais especiais é um cidadão como outro qualquer, por isso, é detentor dos mesmos direitos e oportunidades oferecidas na sociedade. 16 Portanto, o paradigma de suporte é um processo bidirecional que envolve ações junto à sociedade e à pessoa com necessidades educativas especiais e está fundamentado na idéia de sociedade inclusiva, isto é, uma sociedade preparada para receber e lidar com a diversidade. É nesse contexto que se acredita na importância de refletir sobre outras possibilidades educacionais, tais como a música, pois certamente as manifestações artísticas integram a educação e traz benefícios imensuráveis para a formação do indivíduo e em se tratando de música, ela engloba um vasto campo de conhecimentos, atuações e possibilidades. 1.1 A criança com necessidades educacionais especiais Todo nascimento de uma criança deficiente chega como um enigma. A maioria dos enigmas nesta vida chega de repente: um acidente, a perda inesperada de um ser querido, uma deficiência física ou mental. Os enigmas não existem somente para serem decifrados, eles são uma oportunidade e uma via inquietante para irmos ser a si mesmo. Um filho, um parente, a filha de um amigo nasceu com uma deficiência – são várias as atitudes. A mais comum é a perplexidade. Esse comportamento está ligado à idéia inconsciente de julgamentos ou merecimentos: “Por que eu? Por que essa pedra no meu caminho? Por que comigo?” A dimensão humana de cada um, na humildade e na força do ser deveria perguntar “por que não?” Mas as leis sociais das compensações, dos interesses e dos negócios levam as pessoas a enveredarem pelo caminho da autocompaixão, a buscar e requerer explicações na lógica das leis dos tribunais. 17 Essa via das justificativas e explicações é plena de esterilidade. A interrogação sobre a origem do mal, quase sempre, não leva a nada. Sobretudo quando o que se chama de mal é o que se percebe como tal. Isso tudo parte e vem de pressupostos equivocados. Alguém seria culpado de quê? Não se vêem os enigmas como a pedra fundamental e angular, mas como a pedra de tropeço. No início, não se vê a criança deficiente como uma possível necessidade. Os sentimentos normais, após o espanto e o susto, são os de rejeição e o que é pior, para alguns a rejeição será permanente e decisiva (MARAVILHAS, 2002.). Aos poucos esse evento enigmático indica o caminho do para quê. O enigma, cuja existência é negada e tida por inaceitável por tantos, funciona como um marco ou farol a ser contornado, uma referência no caminho, uma inflexão na trajetória. Um dos desafios dos enigmas é o de passar perto, reconhecê-los e não chorar. Alguns se afastam, fogem para bares, bebidas, sexo, religião, buscam uma “nova” vida e, muitas vezes, outra família. Quantos casais se desestruturam e caminham para o divórcio com o evento de um filho deficiente! Outros, piores ainda, buscam uma forma de eliminar fisicamente ou familiarmente essa criança, através da doação, do abandono ou da morte. Ao evitarem a realidade, essas pessoas – verdadeiras deficientes psicológicas e humanas – trilham o caminho da perdição completa de sua identidade, estendendo o manto da desorientação sobre a família e da criança portadora de necessidades especiais (MARAVILHAS, 2002.). O enigma que foi dado deve ser transformado numa jóia única e de valor. Os enigmas ensinam a existência de passagens irredutíveis e intransferíveis na vida, chamados diferenciadores. Precisa-se começar fletindo os joelhos e pedindo o 18 milagre, é ocasião para uma conversão, como na música, onde as partituras sinalizam as conversões possíveis e obrigatórias no ato de sua execução (MARAVILHAS, 2002). O advento de uma criança deficiente desafia o sentimento de onipotência. Essa criança deficiente chega como uma oportunidade de um novo caminho, apropriado para se ir à descoberta da verdadeira atitude social de um indivíduo e dela mesma. Em tempos primitivos, as crianças com deficiência eram um estorvo, principalmente para os povos nômades, e poderiam simplesmente ser mortas; na Antiguidade, o pai era quem decidia sobre a vida da criança com deficiência: a criança tinha que ser perfeita de qualquer maneira; na Idade Média, os deficientes não refletiam a perfeição divina, eram alvos da caridade nos mosteiros, serviam para divertimento nos castelos; apenas no século XVIII, a pessoa com necessidades educativas especiais começa a ser alvo de sentimentos compassivos e ter quase claro sua reabilitação e direito a educação (SECRETARIA, 2000). As crianças especiais surgem como uma via de superação da ilusão da onipotência e diante da necessidade de alquimizar e metabolizar o enigma recebido. O primeiro passo é tocá-lo, segurá-lo, pesá-lo, identificá-lo e colocá-lo bem diante do mundo, para um dia, nomeá-lo e verdadeiramente amá-lo. 1.2 A educação especial A educação especial tem sido, atualmente, definida no Brasil segundo uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a simples concepção de atendimentos 19 especializados, como tal vinha sendo a sua marca nos últimos tempos (PCN Brasil, 1999). Conforme define a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), trata-se de uma modalidade de educação escolar voltada para a formação do indivíduo, com vistas ao exercício da cidadania. Como elemento integrante e indistinto do sistema educacional, realiza-se transversalmente, em todos os níveis, nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagógica devem respeitar a diversidade dos alunos, a exigir diferenciações nos atos pedagógicos que contemplem as necessidades educacionais de todos. Os serviços educacionais especiais, embora diferenciados, não podem desenvolver-se isoladamente, mas devem fazer parte de uma estratégia global de educação e visar às suas finalidades gerais. A análise de diversas pesquisas brasileiras (PCN BRASIL, 1999) identifica tendências que evitam considerar a educação especial como um subsistema à parte e reforçam o seu caráter interativo na educação geral. Sua ação transversal permeia todos os níveis – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação superior, bem como as demais modalidades – de educação de jovens e adultos e educação profissional. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN BRASIL, 1999) preconizam a atenção à diversidade da comunidade escolar e se baseiam no pressuposto de que a realização de adaptações curriculares pode atender a necessidades particulares de aprendizagem dos alunos. A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola e visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, irrestritamente, socialização. bem como as perspectivas de desenvolvimento e 20 A diversidade existente na comunidade escolar contempla uma ampla dimensão de características. Necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como decorrência de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos (PCN BRASIL, 1999): crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas; crianças com deficiência e bem dotadas; crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas; crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados; ou seja, a expressão “necessidades educacionais especiais” está associada a dificuldades de aprendizagem, não necessariamente vinculada a deficiência. O termo surgiu para evitar os efeitos negativos de expressões como: deficientes, excepcionais, subnormais, superdotados, infradotados, incapacitados. Tem o propósito de deslocar o foco do aluno e direcioná-lo para as respostas educacionais, é uma forma de reconhecer que muitos alunos, sejam ou não portadores de deficiência ou superdotação, apresentam necessidades educacionais que passam a ser especiais quando exigem respostas específicas adequadas. O que se pretende resgatar com essa expressão é o seu caráter de funcionalidade, isso requer uma análise que busque verificar o que ocorre quando se transforma as necessidades especiais de uma criança numa criança com necessidades especiais. Necessitar de atenção especial na escola pode repercutir no risco de tornar-se um portador de necessidades especiais. Falar em necessidades educacionais especiais deixa de ser pensar nas dificuldades específicas dos alunos e passa a significar o que a escola pode fazer para dar respostas às suas necessidades, bem como aos que apresentam necessidades específicas muito diferentes dos demais. Considera os alunos, como 21 passíveis de necessitar de atenção específica e poder requerer um tratamento diversificado dentro de um mesmo currículo, em situação externa; a diferença pode conduzir à exclusão, por causa da diversidade ou da dificuldade em lidar com ela. Respeitar a atenção à diversidade e manter a ação pedagógica “normal” é um desafio presente na integração dos alunos com maiores ou menos acentuadas dificuldades para aprender. Embora as necessidades especiais na escola sejam amplas e diversificadas, a atual Política Nacional de Educação Especial aponta para uma definição de prioridades no que se refere ao atendimento especializado a ser oferecido na escola para quem dele necessitar. Portanto defini-se um aluno com necessidades educacionais especiais aquele que “apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade (PCN Brasil, 999). A classificação desses alunos dá ênfase a: crianças com necessidades educacionais mentais (caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significantemente fora da média, concomitantemente com limitações associadas a duas ou mais áreas de conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade); visuais (é a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor correção ótica); auditivas (perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por intermédio do ouvido); físicas (variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em termos de modalidade, de coordenação motora geral ou da fala, como decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas, de malformações congênitas ou adquiridas.); múltiplas (é a associação de duas ou mais deficiências primárias mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam atrasos no 22 desenvolvimento global e na capacidade adaptativa); crianças com condutas típicas (problemas de conduta, manifestação de comportamento típica de crianças com síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social); crianças com superdotação (notável desempenho e elevada potencialidade em quaisquer aspectos isolados ou combinados). 1.3 Música e musicalização: 2 significados, um só caminho Atualmente, existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações, ou seja, combinação harmoniosa e expressiva de sons, a arte de se exprimir por meio de sons. Os movimentos internos e externos no homem, enquanto energia, o impulsiona à ação, promovendo nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidade e grau; tudo isso é estimulado dependendo da música ou do som ouvido em determinado momento ou situação emocional ( CHIARELLI; BARRETO, 2007). Para se compor uma música, precisa-se de quatro elementos básicos: som, ritmo, melodia e harmonia. Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico: o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade e, enfim, a harmonia contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem (CHIARELLI; BARRETO, 2007). 23 A musicalização tem como objetivo fornecer elementos contribuintes para o desenvolvimento da inteligência e a integração do ser. Muito se tem falado a cerca da inclusão de crianças especiais e, com isso, vários são os questionamentos que a seguem, sendo a música uma linguagem universal e tendo participado da história da humanidade desde as primeiras civilizações (na Grécia clássica, o ensino da música era obrigatório; os gregos ensinavam como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. Utilizar-se-á, portanto, esse recurso para a maturação e adaptação da criança em constante contato com o meio, pois é através da afinidade com o seu meio que essa criança agirá e pensará. Um processo de construção do conhecimento através da musicalização desperta o gosto musical, aflora a sensibilidade, o senso rítmico, a imaginação, a memória, a concentração, a autodisciplina, uma melhor socialização e a afetividade. As crianças que nascem com necessidades educacionais especiais necessitam extremamente desse processo de integração, pois, como se sabe, são crianças especiais. As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma e melhore sua comunicação com o outro, pois, nos dias atuais, com o predomínio dos recursos visuais as crianças preferem ver, não tendo paciência para escutar; por isso, é fundamental fazer uso e exploração freqüente do universo sonoro desenvolvendo, assim, a escuta sensível e ativa nessas crianças. Exploradas as primeiras atividades sonoras, é importante trabalhar os atributos sonoros, que são: altura (agudo, médio, grave); intensidade (forte, fraco); duração (longo, curto); timbre (a característica de cada som). Explorando o máximo de atividades sonoras, o educador pode perceber quais os pontos fortes e fracos das crianças, quanto à capacidade de memória 24 auditiva, observação, discriminação e reconhecimento dos sons, podendo, assim, vir a trabalhar melhor o que está defasado (CHIARELLI; BARRETO, 2007). As reflexões teóricas sobre o comportamento humano levam em consideração as teorias de Piaget (1989) e Vigotsky (1993) a influência da música no desenvolvimento da psicomotricidade e da auto-imagem, já que o papel da música na educação é simples, é um instrumento capaz de tornar o ambiente físico escolar um lugar mais alegre e receptivo. Promovendo o desenvolvimento cognitivo/lingüístico (situações oportunas experimentadas no dia-a-dia que favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças), psicomotor (as atividades musicais que oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, e o ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso) e sócio/afetivo (as atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da socialização, estimulam a compreensão, a participação e a cooperação) da criança será atingido facilmente com muito mais prazer, afinal a música é um bem cultural, e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos. A música pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas (CHIARELLI; BARRETO, 2007). O educador pode selecionar músicas que falem do conteúdo a ser trabalhado em sua área, isso vai tornar a aula dinâmica, atrativa e vai ajudar a recordar as informações necessárias referentes à proposta trabalhada. A música também deve ser estudada como matéria em si, como linguagem artística: forma de expressão é um bem cultural. A instituição escolar deve ampliar o conhecimento musical do aluno, oportunizando a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico. 25 As atividades musicais realizadas na escola não visam à formação de músicos e, sim, a abertura de canais sensoriais para facilitar a expressão de emoções, ampliar a cultura geral e contribuir para a formação integral do ser. Poucos são os estudos que demonstram de forma clara e objetiva a relação entre esses aspectos, porém, várias pesquisas (BARRETO, 2000, p. 45) comprovam que as crianças submetidas ao processo de educação musical tendem a se relacionar melhor consigo mesmas e com os outros. O trabalho com musicalização infantil na educação especial pode ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos: físico (oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões); psíquico (promovendo processos de expressão); mental (proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem). Desse modo, é cabível comentar-se sobre as inteligências múltiplas (GARDNER, 1995), mais precisamente falar da inteligência musical, na qual se podem elencar os motivos por que ela deve ser valorizada na educação especial, pois conhecer música é importante: ela transmite a herança cultural, é uma aptidão inerente a todas as pessoas, é criativa e auto-expressiva, ensina os alunos sobre seus relacionamentos com os outros, oferece-lhes rotas de sucesso, melhora a aprendizagem de todas as matérias, ajuda os alunos a aprenderem que nem tudo na vida é quantificável, exalta o espírito humano. Com tudo já apresentado, as atividades de musicalização abrem os horizontes da inclusão às crianças com necessidades educacionais especiais, pois o caráter lúdico e livre contido na expressão musical é uma forma de aliviar e relaxar a criança, auxiliar na desinibição, contribuir para o envolvimento social, despertar noções de respeito e consideração pelo outro, derrubando as barreiras quanto ao preconceito e abrindo o espaço para outras aprendizagens. Com a prática da 26 musicalização, pode-se evidenciar um universo que conjuga a expressão de sentimentos, idéias, valores culturais que facilitam a comunicação do indivíduo em diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social, emocional, facilitando, assim, reconhecer-se e a se orientar melhor no mundo. Enfim, a música tende a influenciar o homem física e mentalmente, proporcionando uma análise reflexiva, permitindo que a criança com necessidades educacionais especiais se torne mais crítica e, conseqüentemente, a musicalização se classifica como elemento importante para se estabelecer a harmonia pessoal, facilitando a integração, a inclusão social e o equilíbrio psicossomático. 1.4 A educação musical É a educação que oportuniza ao indivíduo acesso à música como arte, linguagem e conhecimento, acontece assistematicamente com o propósito de sensibilizar e desenvolver integralmente o educando (EDUCAÇÃO, 2008). O professor procura trabalhar no estudante as disciplinas de forma significativa; no caso musical, é exigido do aluno treino diário para a aquisição do conhecimento musical e ou da habilidade instrumental. Dentro de um processo pedagógico musical, é de suma importância que o aluno tenha o instrumento escolhido para seu melhor aperfeiçoamento; assim, na educação musical, mesmo quando direcionada exclusivamente às pessoas com deficiências, o aprendizado musical tem por objetivo atingir o ser em sua totalidade e, muitas vezes, para essas pessoas com necessidades educacionais especiais fazer música é tão essencial como para qualquer outra pessoa. Por esse motivo, cumpre desenvolverem-se metodologias eficazes dentro da educação musical para as pessoas com 27 necessidades educacionais especiais e adaptar a música ao aluno e nunca o aluno à música (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 67). Diversas experiências em educação musical aconteceram em diferentes partes do mundo (EDUCAÇÃO, 2008). Principalmente no século XX, toda essa preocupação com a educação musical marcou uma forte tendência mundial. No Brasil, há registro do uso da música na educação desde a chegada das primeiras missões jesuíticas ao país (EDUCAÇÃO, 2008). Por essa época, músicos organizavam-se nas chamadas irmandades, e foram essas irmandades que contribuíram para a difusão da música durante a segunda metade do século XVIII, mas registros de educação musical nesse período podem ser encontrados nas escolas normais, onde a música sempre foi considerada parte importante na formação do indivíduo. A educação musical no âmbito da escola regular busca musicalizar o educando, ou seja, dar-lhe as condições para que compreenda o que se passa no plano da expressão e no plano do significado quando houve ou executa a mais bela das artes, a música. 1.5 A educação musical na vida da criança com necessidade especial Procurar-se-ão abordar, aqui, os princípios básicos que norteiam a iniciação musical tradicional, para, assim, traçar relações entre as correntes pedagógicas musicais e o ensino musical da criança portadora de necessidades especiais. Os educadores musicais mais influentes dos inicio do século XX foram: Kodaly, Willens, Dalcroze, Suzuki e Orff (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 95). Eles enfatizam a importância do movimento e do canto na aprendizagem 28 musical. Como esses dois aspectos sempre deixaram um gostinho de quero mais, a partir da segunda metade do século XX, surgiram outros educadores que começaram a dar importância para outros aspectos da música. Um conceito novo empregado à música difundido por Schafer (apud LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 96) é a ênfase na exploração dos sons ambientais: educação sonora; tratase do despertar para o universo sonoro por meio de ações muito simples, capazes de modificar substancialmente a relação ser humano/ ambiente sonoro. De forma concisa, dentro dessa visão, objetos do dia-a-dia, sons de animais, sons da natureza, sons dos eletrodomésticos, sons produzidos com o corpo, entre outros, são utilizados como parte integrante do processo de mudança da consciência sonora do individuo. Essa metodologia a ser trabalhada utilizar-se-á primeiramente da vivência corporal, antes da utilização de quaisquer jogos e ou formalização dos símbolos e conceitos. O corpo é composto de partes “maiores” (pernas, braços) e “menores” (falanges, nariz, orelha etc). Então, pede-se que os alunos passem as mãos em determinadas partes do corpo (pernas, dedos etc.) para que percebam a diferença do tamanho entre elas (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 99). Para alunos com deficiência mental, é sempre importante traçar um paralelo entre o que está querendo ensinar e a realidade do dia-a-dia. O professor deve sempre lembrar que pessoas com necessidades educacionais especiais mentais, possuem muita dificuldade no raciocínio lógico e abstração. Portanto, deve-se partir do concreto para o abstrato, construir o raciocínio lentamente com ele. Por isso, incentiva-se a relacionar sempre o que se está dizendo com algo concreto. O melhor é mostrar as coisas para a criança aos poucos e fazer com que ele se aproprie do raciocínio sozinho. Empregado esse processo, muitas vezes, não somente para o 29 mesmo exercício, como também para outras questões que se queiram ensinar, o professor colaborará imensamente para a aquisição da aprendizagem por parte de seu aluno com deficiência mental. Essa atividade também pode ser útil para trabalhar a questão da imagem corporal, principalmente em relação às pessoas que possuem dificuldade de reconhecimento das partes do corpo por uma vivência inadequada. Dessa forma, podem-se associar as partes do corpo com os sons curtos e longos; nesse atributo trabalhar-se-á a duração do som, assim poder-se-á utilizar uma bexiga: pede-se aos alunos que encham a bexiga; depois de enchê-la, segurem na ponta de entrada de ar e o deixem sair aos poucos, fazendo sons comprimidos (deixar sair ar por mais tempo) e sons curtos (por menos tempo). Ao supor que, por alguma deficiência motora, o aluno não consiga segurar a bexiga para fazer esse exercício. O professor poderá pedir-lhe que “faça de conta” que ele é a bexiga. Ou seja, o aluno enche o pulmão e vai soltando o ar conforme o gráfico escrito. Assim pode participar ativamente da atividade. E se houver um aluno com deficiência visual? O professor pode, então, recortar tiras maiores e menores de barbante ou de EVA e fazer uma representação em alto relevo daquilo que está escrito na lousa. Assim, o aluno poderá com o toque sobre o gráfico em relevo fazer o exercício. E um aluno surdo? Como a proposta do exercício é compreender a duração do som através de um gráfico, o professor poderá pedir que esse aluno faça a representação através de um movimento e não do som da bexiga. O movimento do corpo, além de ser outra possibilidade, é uma maneira mais fácil de compreender a duração. 30 Com o auxílio de um tambor, o professor pode mostrar para o aluno as diferenças de um som fraco e um forte. Nesse momento trabalhar-se-á intensidade do som. Quando houver algum tipo de comprometimento nos membros inferiores, deve-se conversar com o aluno e adaptar uma forma de ele sempre participar da atividade, como, por exemplo, ao som forte piscar um dos olhos e ao som fraco mostrar a língua, ou bater palmas fortes e fracas conforme o som. Outra maneira de se proceder é pedir que os alunos diferenciem os sons fortes dos sons fracos existentes do caminho de casa para a escola, ou existentes em sua casa. Em aula, o professor pode ajudar a turma a fazer um quadro ou lista desses sons. Isso ajuda a ampliar a percepção auditiva e obter maior consciência do som à sua volta, além de trabalhar questões tais como timbre (identidade do som), memória, associação, seqüenciação, vocabulário, noção temporal e organização neurológica, pois o aluno terá que tentar descrever a ordem dos acontecimentos sonoros e classificá-los conforme a intensidade. Isso é algo bem difícil para pessoas com necessidades educacionais mentais e também com determinados problemas neurológicos, mas se for uma atividade constante em aula, com o tempo eles começam a melhorar. Para a pessoa com necessidades educacionais visuais podem-se utilizar texturas diferentes (som forte = textura áspera – lixa/ som fraco = textura lisa – folha de papel). O professor pode fazer um círculo com a classe e pedir que os alunos, ao ouvirem o som forte, passem a bola para a direita e, ao ouvirem o som fraco, passem a bola para a esquerda. Esse exercício trabalha além da intensidade, lateralidade (esquerda/direita), tônus (passar a bola) e atenção múltipla (na bola, no movimento do amigo, no som, na direção etc.). Esse exercício pode ser feito 31 também com alunos surdos, pois, geralmente, eles percebem a vibração dos instrumentos mais graves. Um bom exercício musical é fazer o reconhecimento sonoro do ambiente. Nesse momento, trabalhar o timbre. Primeiramente, explora-se o ambiente da sala de aula. Os alunos, literalmente, mexem em tudo que está ao alcance – desde que não ofereça perigo –, prestando atenção aos sons que os objetos produzem. Esse exercício pode ser feito sem necessitar de nenhuma adaptação por parte de pessoas com necessidades educacionais especiais mentais e visuais. Agora, no caso de alunos que possuem comprometimento dos membros superiores, deve-se adaptar. Outra atividade simples é fazer com que os alunos explorem todos os tipos de sons que seus corpos possam produzir. Primeiramente, os sons produzidos somente com a boca, depois, somente com o corpo. Pode-se pedir que cada aluno escolha um som e o apresente à turma para que outros possam imitar. É importante ressaltar que o ideal é o professor nunca deixar um aluno fora da atividade e sempre adaptar de forma que ele não fique constrangido. Por exemplo, em uma turma em que tenha somente um aluno cadeirante o professor poderá ou criar uma coreografia em que ele participe com sua cadeira de rodas (dançando com os demais), ou que ele fique sentado estaticamente, mas sempre com outras pessoas junto dele, para que ele não sinta que é o único que está sentado fazendo os movimentos de forma diferente dos outros, enquanto todos estão de pé. Todas essas atividades são importantes para uma boa aprendizagem musical. Para pessoas de outras áreas que não seja a musical, tais atividades 32 podem parecer infantis demais. Mas através delas são construídas as bases para a apreensão futura dos conceitos musicais mais elaborados. Enfim, essas são algumas atividades para a inserção da educação musical na vida das crianças portadoras de necessidades especiais. Todas se baseiam nos métodos de educação musical tradicional que necessitam de um grande aliado, os jogos musicais (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 104). A relevância do jogo vem de longa data. Filósofos como Platão, Aristóteles e, posteriormente, Quintiliano, Montaigne, Rousseau, destacaram o papel do jogo na educação (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.105). O jogo educativo se relaciona a duas questões: função lúdica (quando escolhido voluntariamente, o jogo propicia a diversão, o prazer e até o desprazer, lidar com a perda); função educativa (o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo). É muito mais fácil e eficiente aprender por meio de jogos. O jogo possui componentes do cotidiano, e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz, que se torna sujeito ativo do processo. É dentro desse contexto e aplicabilidade que os jogos musicais também são de suma importância para a aprendizagem musical de qualquer faixa etária. Para pessoas com necessidades educacionais especiais sejam elas quais forem, os jogos são extremamente eficazes no que tange à aprendizagem musical e ao desenvolvimento geral da pessoa, inclusive como colaborador para melhora das deficiências. A elaboração, confecção e utilização de jogos adaptados às necessidades educacionais especiais são o cerne para um bom desenvolvimento musical. Para uma criança com necessidades educacionais especiais, que, devido ao preconceito 33 da sociedade, possui dificuldade de interação e baixa auto-estima, poder participar ativamente de algo que ela mesmo fez, ou que o professor propôs, é extremamente gratificante. Com isso, trabalhar-se-ão questões relevantes para seu desenvolvimento físico, mental e psíquico, o que melhora o seu desempenho na família e sociedade (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.107). Portanto, os jogos musicais são muito importantes para a educação musical de todas as pessoas principalmente para as portadoras de necessidades especiais. Enfim a educação musical na vida da criança portadora de necessidades especiais fornece as ferramentas básicas para a compreensão e utilização da linguagem musical em sua vida social. 34 2 A HISTÓRIA DE UM PROCESSO Cada pessoa é única no mundo. Mesmo gêmeos univitelinos, criados pelas mesmas pessoas, com bases nos mesmos princípios e freqüentando os mesmos lugares, vão se desenvolver de formas diferentes visto que, o modo como as informações são absorvidas e interpretadas é particular a cada individuo. Mesmo assim, há fatores comuns às pessoas em relação ao desenvolvimento. Em princípio todos passam, ou deveriam passar, pelas mesmas fases no que tange à maturação do sistema cortical e sua representação nos aspectos físicos, motores, sensoriais e psicológicos (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 53). Grande parte do desenvolvimento humano ocorre nos primeiros anos de vida através da coordenação das ações sensório motoras, ou seja, através do perceber, se relacionar construir uma imagem interna do mundo exterior. O desenvolvimento, principalmente da inteligência, depende das vivências que a pessoa trava com o mundo externo. Sendo assim, a relação corpo-movimentosentidos é de crucial importância para o amadurecimento global do homem, para que ele possa assumir-se como ser no mundo e assim construir sua estória. Esse processo de evolução, em princípio, natural a todos, é o que se conhece por psicomotricidade, ou seja: relação entre pensamento e ação, envolvendo também a emoção. Sem o suporte psicomotor o pensamento não pode ter acesso aos símbolos e a abstração, isto é, a psicomotricidade é essencial para a construção dos conceitos e aquisição da aprendizagem. O dia a dia dos professores que lidam com alunos com deficiência nunca é tedioso. Primeiro porque há uma infinidade de quadros clínicos que cursam com 35 deficiências e isto gera uma multiplicidade de situações que exigem constantes adaptações dos métodos pedagógicos de ensino, e segundo porque mesmo em uma única alteração os indivíduos podem apresentar manifestações distintas. Enfim uma das coisas mais importantes para o professor que atua na área da educação musical para pessoas com deficiência é ter informações básicas a respeito das deficiências. 2.1 A criança com necessidades educacionais mentais A criança com necessidades educacionais especiais mentais tem condições de conviver em sociedade, trabalhar, estudar e aprender a comportar-se no transito, pois as necessidades educacionais mentais não é doença mental. Entre as muitas necessidades que se apresentam, a que a criança mais carece é a convivência com outras pessoas. A origem das deficiências mentais é apontada em três etiologias (CAUSAS, 2008): de ordem biológica, de ordem psicológica e sociológica. Aqui se encontra os quadros psiquiátricos com bases biológicas bem estabelecidas e os transtornos psicológicos determinados por um desequilíbrio entre fatores biológicos e ambientais. Trabalhar-se-á, portanto, com as alterações psíquicas. Assim, o grande desafio do educador musical será: traçar um panorama sobre os quadros psíquicos que podem se desenvolver e promover um trabalho embasado na descrição das experiências vividas pelos pacientes. Para compreender tais alterações, o professor deve estar atento aos gestos, interpretando-os, bem como ao comportamento e a expressão desses alunos. O auxílio do psiquiatra pode ser valioso para o 36 reconhecimento correto da alteração psicopatológica e assim, abordar o aluno de forma eficiente no seu aprendizado. Ao trabalhar com casos de alterações dos conceitos, o professor deve sempre lembrar que o conceito é definido como o elemento estrutural do pensamento onde se reúnem dados sensoriais para alcançar a essência dos objetos. A partir dos conceitos, aprende-se o significado de todas as coisas. As alterações dos conceitos podem ser subdivididas em: desintegração e condensação dos conceitos; e transformação das relações conceptuais. Na desintegração, por exemplo, a palavra “ateu” que significa “aquele que não crê em Deus” pode ser compreendida como “a teu comando” e, portanto, “a serviço de Deus”. Na condensação de conceitos, podem surgir novos conceitos como “vela a vapor” numa cisão de barco a vela e barco a vapor. No grupo das transformações das relações conceptuais, ter-se-á a chamada desagregação do pensamento, onde se percebe a falta de ordenação para resolver um problema com pensamento normal. Estas situações são vistas em deficiências mentais severas ou distúrbios psíquicos e muitas vezes o processo de alfabetização básica destas pessoas decorrem de forma deficitária. Essas situações podem colocar em xeque o entendimento de um exercício educativo por parte do professor que necessita construir um fluxograma para que o aluno, com este distúrbio, vá construindo os conceitos exigidos da forma com menos viés possível (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 46). Determinado aluno possui alteração do raciocínio. Sabe-se que o raciocínio consiste em selecionar e orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional frente às necessidades do momento. Assim, pode-se dizer que o raciocínio tem o mesmo sentido de pensar. Há diversas modalidades de alterações do raciocínio. Uma delas 37 é o concretismo que se trata da incapacidade do indivíduo distinguir entre o simbólico e o concreto (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 47). Muitas vezes, isto pode ser um empecilho para que o aluno abstraia e compreenda certos elementos para seu aprendizado. Neste momento, a criatividade do professor precisa estar presente para driblar este obstáculo, que é biológico e precisa ser entendido como tal. Um professor criativo e habilidoso necessita de uma boa memória, mas muitos alunos sofrem devido à alteração da memória. A memória é um conjunto de atividades que integram processos biopsicofisiológicos. Todo ato de memória inclui três fases: fase de aquisição (é o momento em que o indivíduo adquire novos conhecimentos); fase de retenção (compreende o decurso no qual o que foi memorizado se acha conservada de modo latente); e fase de reativação (permite relembrar e atualizar o material adquirido e que pode ceder lugar a atos mnemônicos observáveis). As principais alterações da memória incluem a hipermnésia, a hipomnésia e a amnésia. A hipermnésia corresponde à evocação de lembranças casuais com mais vivacidade e exatidão que ordinariamente, ou quando se recordam particularidades que comumente não surgem. A amnésia e a hipomnésia são consideradas graus de hipofunção da memória. A primeira seria a desaparição total das representações mnêmicas correspondentes a um determinado tempo da vida do indivíduo, ao passo que a segunda seria a diminuição do número de lembranças evocáveis na unidade de tempo. Sabe-se, porém, que a musica é pura memorização, ou seja, grande arma para o professor, principalmente para amenizar quadros de amnésia e hipomnésia. 38 Todo ser humano gosta de chamar atenção, por isso é necessário um atendimento especial às crianças que apresentam alterações da atenção. A atenção é o processo psicológico, mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica. A atenção apresenta-se alterada em quase todos os transtornos mentais e desempenha importante papel no processo de conhecimento. Várias são as alterações da atenção (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 48). Dentre elas, destaca-se a distorção que é uma incapacidade quase completa de fixar a atenção. Por outro lado, as hiperpropexias e as hipopropexias são o aumento quantitativo da atenção espontânea e enfraquecimento acentuado da atenção em todos os seus aspectos, respectivamente. O estagio mais grave da perda de atenção é a aproxia onde há a falta absoluta de atenção. Alguns quadros podem cursar com déficits da atenção dentre eles a hiperatividade da infância autossômica dominante e a degeneração cérebro-cortical da infância. Os professores devem estar cientes que a estimulação deverá ser personalizada nestes casos e muitas vezes quantitativamente maior em relação aos alunos com atenção normal. Sempre a serviço da humanidade, precisa-se procedência fina com as alterações da linguagem. A linguagem é considerada como um processo mental de caráter essencialmente consciente, significativo e orientado para o social. As principais perturbações da linguagem incluem as disatrias, dislalias e afasias (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.50-51). A disatria é a dificuldade de articular as palavras. Nas dislalias, há perturbações orgânicas ou funcionais da palavra. Nas afasias, há a perda parcial ou total da faculdade expressar os pensamentos por sinais e de compreender esses sinais. A deficiência mental ligada ao cromossomo X com afasia é um quadro disfórmico que cursam com alterações da linguagem. 39 Nestes casos, os instrumentos de aprendizagem precisam ser adaptados para que a alfabetização transcorra apenas dos distúrbios da linguagem. O reconhecimento dos professores junto à inserção musical nestas nuances da psique são importantes para o planejamento de suas atividades de ensinoaprendizagem, bem como no auxilio a pais e colaboradores no ato de conviverem com pessoas portadoras de disfunções genéticas e comportamentais. 2.2 A criança com necessidades educacionais especiais físicas As deficiências físicas são um capítulo muito significativo das anomalias. São tantas e tão variadas que não há uma forma sintética de discorrer sobre elas. As principais são as deficiências dos membros, as más-formações cerebrais, as cardiopatias congênitas, as fendas lábio-palatinas (popularmente chamadas de “lábio leporino”) e os defeitos de fechamento do tubo neural (chamados coloquialmente de “coluna aberta”) (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 39). Para uma criança com deficiência física, é muito importante precaver suas alterações da orientação, pois orientação é o complexo de funções psíquicas em virtude das quais temos consciência, da situação real em que nos encontramos e está associada às noções de espaço e tempo. Nessas situações, o papel do professor é ser um condutor para que o aluno delimite seu próprio espaço e aprenda, mesmo de forma rudimentar, as noções de tempo envolvidas nas atividades diárias. Essas noções de tempo colaboram nos casos de alterações da consciência, visto que a consciência é o complexo de fenômenos psíquicos que se apresentam na unidade de tempo e que permitem o conhecimento do próprio eu e do mundo externo. 40 Uma dessas alterações é a obnubilação da consciência que se caracteriza por diminuição do grau de clareza, com lentidão da compreensão, dificuldade da perpção e da elaboração das impressões sensoriais (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 49). De qualquer forma, o reconhecimento por parte dos educadores facilita o manejo com os alunos que necessitam ser compreendidos como portadores de uma alteração biológica e não psicológica. Quando os alunos não são compreendidos por sua alteração biológica, são alvos das alterações da afetividade, ou seja, a capacidade de experimentar sentimentos, emoções, as paixões e compreender o estado de ânimo. A apatia ou indiferença afetiva é um distúrbio da afetividade e se caracteriza pela abolição completa da afetividade. Provavelmente há um desequilíbrio funcional dos neurotransmissores na gênese destes distúrbios e os educadores precisam de tempo e paciência para estabelecer vínculos “afetivos” com alunos com este perfil. Muitas vezes, o processo de aprendizado demanda longos períodos de adaptação (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 50). O puerelismo é outra alteração da afetividade que se caracteriza pela regressão da personalidade adulta ao nível do comportamento infantil ou a manutenção do estado constante de comportamento infantil. São casos, em que, mesmo com a idade adulta, o aprendizado deve ser orientado como se estivéssemos lidando com indivíduos infantis. O puerelismo, portanto, pode ser usado para se melhor trabalhar um processo de alteração dos juízos. Os juízos são atos em que se exprimem os vínculos e as relações existentes entre os objetos e os fenômenos na natureza. O estímulo trabalhar-se-á no sentido de adaptar o aluno ao objeto. Em caso negativo, é interessante o desenvolvimento da atividade voluntaria. A atividade voluntaria é aquela onde os atos são praticados com previsão e consciência de finalidade, pode-se a partir daí desencadear os atos 41 automáticos: são uma forma alterada da atividade voluntaria onde são praticados pelos indivíduos sem a interferência da vontade e sem que ele saiba o que esta realizando. São comuns nesse tipo de trabalho os estados de tiques motores (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 50). Nestes estados, o educador precisa estar consciente que o aprendizado baseado em atividades motoras finas, pode estar prejudicando e buscar então soluções alternativas para contornar o problema. Muitas deficiências físicas requerem adaptações dos alunos para a realização de suas atividades de vida diária. Nesse contexto, entra o valioso papel dos terapeutas ocupacionais que trabalham no desenvolvimento e aprimoramento destas adaptações. Os professores juntamente com a atividade musical na sala de aula têm um papel importante no sentido de estimular seus alunos a utilizarem rotineiramente as adaptações prescritas nas terapias e desta forma utilizar ao máximo a realização das funções comprometidas. Esta estimulação e a aceitação do grupo de alunos das limitações de cada indivíduo é o elemento integrador da pessoa com deficiência física, inicialmente no grupo e mais tarde na sociedade. 2.3 A criança com necessidades educacionais especiais auditivas Outra grande classe de deficiências são as auditivas. Recordemos que a audição é um dos sentidos mais importantes, pois tem a função de integração social, desencadeador da formação da linguagem e está vinculada com a segurança, pois é um sinal de alerta para mudanças do meio que potencialmente podem ser nocivas às pessoas (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.39-40). As deficiências auditivas podem ser determinadas por más-formações anatômicas dos elementos da 42 audição (orelha, membrana timpânica e, principalmente, ossículos da audição) ou por desordens funcionais (seja na orelha interna ou no sistema nervoso central). Assim, clinicamente, os professores podem se deparar com as deficiências auditivas denominadas de disacusias. De maneira genérica, as disacusias podem ser condutivas (quando o problema é de ordem anatômica e envolve as orelhas externa e média), neurossensoriais (quando mesclam ambas as alterações). Ao trabalhar com casos de alterações da percepção, é imprescindível o entendimento do significado do termo sensação que corresponde ao fenômeno psíquico elementar que resulta da ação da luz, do som, do calor ou de qualquer outro estímulo sobre os nossos órgãos dos sentidos (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 44). As agnosias representam a lesão de um órgão sensorial periférico, nesta forma de agnosia, a pessoa ouve sons e ruídos, porém não os pode identificar e não os compreende, assim, não consegue, por exemplo, reconhecer um relógio pelo tiquetaque do pêndulo e necessita ser estimulada de forma mais amiúde visando, além da identificação dos sons, o relacionamento com a fonte que os está produzindo. As alterações da síntese perceptiva destacam-se devido às ilusões e as aberrações perceptivas (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 44). A primeira é a percepção deformada de um objeto real e presente, e a segunda designa uma anomalia na formação perfeita da imagem emprestando-se cores inusitadas aos objetos exteriores. A atenção do professor é fundamental para dirimir estas situações, assim, o professor deve estar atento à estreita relação causal entre os estímulos externos e o estado psicológico dos alunos, em especial às sensações. Nas alterações da percepção, a representação ou imagem é a reprodução na consciência de percepções passadas. Muitas vezes, essa imagem não conserva todos os caracteres de sensorialidade da originária. As percepções são corpóreas, 43 aparecem no espaço externo, possuem um desenho determinado, são constantes e independentes da vontade. As representações são subjetivas, aparecem no espaço subjetivo interno (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 45). Do ponto de vista patológico, o professor pode se deparar com as alucinações e as pseudo-alucinações que correspondem às principais alterações das representações. As alucinações são falsas percepções corpóreas onde a criança percebe objetos. Há diversas formas de alucinações. Podem se apresentar de forma simples como zumbidos, ruídos, murmúrios ou estalidos ou de forma complexa como “vozes”, melodias, toques de campainha. Um cuidado que o professor deve ter: essas são situações onde o estímulo sonoro, durante as aulas, pode deflagrar um comportamento inesperado do aluno. As pseudo-alucinações são alterações da representação percebidas numa espécie de espaço subjetivo. O aluno perceberá essas vozes dentro dele próprio. Isto pode fazer com que fiquem reclusos em seus pensamentos ou isolados do restante do grupo. Cabe ao professor, em conjunto com o psicólogo e o médico, criarem formas alternativas de vencer esta barreira psíquica de integração. O professor, embasado por atividades de estímulos sonoros musicais adequados, precisa estar atento às deficiências auditivas que iniciam sua expressão tardiamente (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 40). Eventualmente, determinados comportamentos dos alunos (desatenção, silêncio, tensão, ansiedade e sono) ou alterações da linguagem oral (dificuldades em aprender a divisão silábica, conceitos abstratos, organizar idéias, construir frases ou compreender ordens verbais) podem ser os primeiros indícios que uma disacusia está se instalando. Este aprendizado torna-se mais fluido quando a deficiência não cursa 44 com déficit cognitivo,caso contrário, o processo torna-se mais lento e menos eficiente. 2.4 A criança com necessidades educativas especiais visuais A deficiência visual pode ocorrer durante a vida intra-uterina, durante o nascimento ou após o mesmo, gerando tipos de baixa visão distintos. As deficiências visuais são subdivididas em dois grupos: os portadores de cegueira que possuem ausência total de visão ou simples percepção luminosa e os com visão subnormal, que possuem comprometimento do seu funcionamento visual, mas, que utilizam ou são potencialmente capazes de utilizarem a visão para o planejamento e execução de tarefas (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 41). Quando se remete à deficiência visual há muitas questões envolvidas com ela: problemas psicomotores, dificuldade de aprendizagem, sociais, com a escrita, leitura e locomoção. Para uma pessoa com deficiência visual é de suma importância o diagnóstico precoce e a correta estimulação das potencialidades do indivíduo, pois, uma limitação no sentido da visão e na percepção dos objetos do ambiente afeta sensivelmente os esquemas de conduta nos primeiros meses da vida. A falta de vivência sensório-motora significativa no tempo e espaço retarda o sistema de representação simbólica e a aquisição de conceitos de crianças com deficiências visuais (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 41). Por esse motivo, é necessária a estimulação tátil-cinestésica (tato e movimento), auditiva, olfativa, e gustativa, para que a aprendizagem possa ocorrer de forma enfática e a criança possa ter acesso à abstração e assim, construir internamente e poder participar ativamente do mundo ao seu redor. 45 Nesse sentido, é essencial a colaboração positiva da família, como por exemplo, a música, os profissionais precisam ser informados sobre aspectos importantes que permeiam a deficiência visual (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.42). Não é raro encontrar caso de crianças com dificuldades adicionais na aprendizagem devido à falta de preparo dos professores: mau planejamento, erro na utilização dos métodos, formas inadequadas de motivação, falta de informação. A pessoa portadora de baixa visão pode fazer uso de vários recursos em seu benefício. O oftalmologista fará a indicação do recurso mais apropriado. Em relação às pessoas cegas, o sistema de leitura é feito através do método Braille, inventado por Louis Braille (1809–1852 apud LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 42), que ficou cego num acidente aos 3 anos de idade. O método Braille é um sistema de leitura e escrita tátil, baseado na combinação de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas verticais e paralelas de três pontos cada uma. Esses seis pontos podem formar 64 combinações diferentes que por sua vez formam as letras, números, sinais ortográficos e sinais musicais, tais como notas, ligaduras, dinâmicas, etc. (musicografia Braille). Além disso, há programas como o DOSVOX que “lêem em voz alta” o que é escrito no computador para portadores de cegueira e permite que esse dite para o computador o que se deseja escrever. O trabalho de alfabetização para alunos com deficiências envolve uma equipe multidisciplinar. Não raro, é necessária a presença de psicólogos pra o monitoramento dos alunos e pais, laudos, pareceres e acompanhamentos de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos e odontólogos e todo esse arsenal de profissionais necessita caminhar em sintonia e com objetivos claros e semelhantes. O professor faz parte dessa equipe e é um dos membros mais importantes, seja pelo seu valioso papel de alfabetizador, seja por utilizar o recurso 46 musical, seja pela quantidade de tempo que vai passar em contato direto com o aluno o que o credencia como um referencial fundamental para se tomar informações sobre seu desempenho. A situação ideal, dentro do processo de reabilitação, seria a de reuniões periódicas de todo este grupo para discutir os progressos dos alunos. Decisões tomadas conjuntamente, fundamentadas em teorias consolidadas e embasadas em evidências bem sucedidas só podem trazer benefícios para os alunos e crescimento do grupo como um todo. Esse é o aforismo das modernas metodologias de reabilitação e inclusão. 47 3 UM PROCESSO Um bom desenvolvimento humano depende de um bom desenvolvimento psicomotor, que, por sua vez, depende de uma boa maturação neurológica. Trabalhar-se-á, portanto, com a psicomotricidade, ou seja, a relação entre os aspectos psicológicos emocionais (querer fazer – vontade), a cognição (saber fazer – mental) e a ação motora (poder fazer – capacidade de executar os movimentos corporais necessários) frente às fases de desenvolvimento do ser humano desde a fecundação até o fim de sua vida. Assim, dever-se-ão cumprir determinadas etapas no que se refere ao amadurecimento neurológico e, conseqüentemente, à aprendizagem. A primeira etapa fundamentar-se-á em desenvolver a ATENÇÃO (é ela que possibilita a entrada das informações através dos nossos sentidos); a segunda etapa: o PROCESSAMENTO (que só pode ser efetuado depois que as informações entram) e a terceira e última etapa: a DECODIFICAÇÃO (ou respostas as informações processadas). Entretanto, sem a ATENÇÃO nada se fixa e, conseqüentemente, não se PROCESSA, sem a capacidade para DECODIFICAR o que entra, não existe acesso às respostas e, sem respostas, não há aprendizagem (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 55). Dentre os aspectos que envolvem o desenvolvimento psicomotor estão às vivências, os estímulos dados às pessoas. A criança perceber e tocar seu corpo, os estímulos auditivos, visuais, tátil-sinestésicos; estímulos do paladar e olfato, rolar, engatinhar, correr, pular, brincar, ler, cantar. Estimular é extremamente importante para o processo de ensino-aprendizagem, por isso, todo e qualquer trabalho deve-se 48 pautar com esse direcionamento para os primeiros anos de vida. Assim integram essas vivências: o Esquema e Imagem Corporal (a noção tridimensional corporal, identificar e saber nomear as diversas partes do corpo, figura mental corpórea); Tônus (o princípio organizador de toda atividade, o indivíduo utiliza e controla o seu corpo a função Tônica tem um papel muito importante na tomada de consciência de si - formação do eu - e na edificação do conhecimento do mundo e do outro); Equilíbrio (base primordial para toda coordenação geral, combinação perfeita de ações musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre uma base); Lateralização (a dominância lateral da pessoa - destro e canhoto -); Lateralidade (é o eixo imaginário que divide o corpo em partes semelhantes, consciência de direção – direita / esquerda); Noção espacial (orientação do mundo exterior, a noção espacial se desenvolve através dos primeiros movimentos dentro do campo espacial limitados pelos seus deslocamentos); Noção temporal (capacidade de situar-se em função da sucessão dos acontecimentos: antes, depois, durante períodos longos e curtos, diferenciarem acontecimentos de formas rítmicas, lento e rápido) (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006 p.56-57). No que se refere à criança portadora de deficiência, os problemas psicomotores são freqüentes, o que pode contribuir para uma dificuldade de aprendizagem. O uso de adaptações é comum com esses alunos, pois a adaptação é uma condição natural de todos os indivíduos em relação às diversas circunstancias da vida. Existem dois fatores envolvidos com as necessidades adaptativas: as exigências internas e externas. As exigências internas referem-se às necessidades físicas (temperatura, fome), e as externas são as resultantes do meio social (aspectos culturais, relação interpessoal). A motivação externa adequada, um estado afetivo e um contexto cultural apoiador podem favorecer a adaptação do 49 organismo diante de uma dificuldade, pois a motivação é uma excitação para a ação e que, entre os fatores que a conduzem, contam-se com a curiosidade, novidade, complexidade, competição, necessidade de interação com o ambiente, cooperação, princípio de prazer, pressões sociais, controle, ansiedade e temor (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 70). Contudo a motivação é a mola propulsora para o desenvolvimento do ser humano, visto que concretizar uma expectativa interior traz mais satisfação do que recompensas externas como dinheiro, sucesso ou presentes. Tantas são as questões importantíssimas a serem trabalhadas, mas uma pergunta não quer calar: o que tudo isso tem a ver com a aprendizagem musical? Ora, para executar uma música, seja ela, cantada, tocada ou mesmo compreendê-la de maneira aprofundada depende totalmente de fatores psicomotores. No processo musical há pulsação, ritmos diversos, andamentos variados e formas distintas. Se uma criança não possui sua consciência temporal bem estruturada, certamente terá problemas em identificar tais conceitos musicais. Como lerá uma seqüência de notas se essa criança não compreende o conceito antes ou depois? Se não diferencia o rápido do lento, como compreenderá o andamento de um trecho musical? Da mesma forma, se não tem consciência de lateralidade ou noção espacial, ou mesmo estruturação espacial, como poderá posicionar-se num grupo ou coral? Portanto, para uma aprendizagem musical plena, é necessário que os problemas básicos em relação à psicomotricidade estejam resolvidos (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006 p. 59). As metodologias mais utilizadas em educação musical infantil são baseadas em exercícios e jogos que visam desenvolver os aspectos psicomotores das crianças (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006 p. 59). As práticas comuns das atividades pedagógicas musicais para crianças são: andar pela sala na pulsação da 50 música (trabalhar-se-á tônus, equilíbrio dinâmico, consciência temporo-espacial); exploração de sons ambientes (estímulo auditivo); percussão corporal (esquema corporal, noção espacial, tônus, lateralidade); jogos de improvisação (estímulo da criatividade, expressão e conceitos); imitação de movimentos com o corpo (estímulo visual, coordenação motora, esquema corporal); montar pequenos grupos instrumentais (tônus, equilíbrio estático, consciência espacial e lateralização); cantar (estimulação do aparelho fonador, articulação, respiração, afinação). Ou seja, a musicalização é um processo de estimulação psicomotora constante. Ao musicalizar, principalmente a criança com necessidade educativa especial, trabalhar-se-ão todos os aspectos psicomotores necessários para uma boa aprendizagem. Por esse motivo, será ressaltada a importância da psicomotricidade e a importância sobre esse conhecimento por parte dos professores de música, pois, diante de um aluno especial que possua muita dificuldade em compreender e ou executar certos atributos musicais, o que pode faltar é preparo interno tanto do aluno quanto do professor. Assim compete ao educador musical trabalhar as atividades pedagógicas musicais sempre de forma adaptada a cada deficiência sinalizada, suprindo em sua totalidade as necessidades educativas especiais apresentadas pela criança. 3.1 Musicalizando a criança com necessidades educacionais mentais Uma das maiores dificuldades das pessoas com deficiência mental é quanto à capacidade de abstração e aquisição de conceitos. Sendo assim, é bem provável que ele não consiga acompanhar o conteúdo. Nesse caso, o professor pode trabalhar dentro do mesmo conteúdo outros objetivos como: ensinar apenas duas 51 figuras rítmicas, ou mostrar para ele sons com durações variadas (mais “compridos” e mais “curtos”). Utilizar-se-á como estratégia na aprendizagem desse conceito o jogo BOLICHE RÍTMICO. Mas para acontecer uma atividade de forma significativa o boliche rítmico deve ser construído juntamente com os alunos, para o determinado fim a sala deve disponibilizar os seguintes recursos materiais para confecção: 5 garrafas de plástico (PET), papel sulfite, cola, tesoura, régua, caneta hidrocor de ponta grossa e bem forte, papel espelho preto, fita crepe, jornal ou pano velho, uma meia. Encapar-se-ão as garrafas com o papel espelho preto, em seguida, faz-se-á em papel sulfite com a caneta hidrográfica um retângulo grande representando o som longo (a figura rítmica semibreve) e outro retângulo que seja a metade do retângulo grande representando o som médio (a figura rítmica mínima). De preferência, dentro das garrafas, deve haver guizos ou materiais que façam sons (para cada figura um som diferente. Ex: sempre o mesmo som para a figura do som longo, semibreve, e sempre o mesmo som para a figura do som médio, mínima); assim, o aluno será treinado também para o conceito timbre. Para a bola, pegar meias, panos, jornais e os enrolar de uma forma que fiquem parecidos com uma bola, passar fita crepe e colocar dentro de uma meia. A confecção do jogo auxilia a aprendizagem musical, pois o boliche rítmico exige muito dos alunos, já que, será trabalhado primeiro a leitura dos ritmos, que deve sempre ser feita seqüencial e ininterruptamente, pois agora existe apenas a representação gráfica do som longo (semibreve) e do som médio (mínima). O professor, juntamente com os alunos, deve organizar os pinos um ao lado do outro com certa distância entre eles; os alunos só podem derrubar os pinos que o 52 professor pedir. Será pedido oralmente o ritmo escrito no pino almejado como alvo. O aluno deve identificar o ritmo e tentar derrubar o pino correspondente. A leitura rítmica das figuras é imprescindível para o bom desenvolvimento musical, pois assim, construirão os seguintes atributos musicais (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 121): associação dos sons produzidos pelo professor com a grafia rítmica, associação dos gráficos com as figuras musicais; apreensão dos rirmos, memória auditiva e visual dos ritmos, timbre. O desenvolvimento pessoal focalizará a coordenação motora, equilíbrio, associação, direção (esquerda-direita) e atenção, pois, os alunos mirarão bem o objeto e assim derrubaras, o que exige uma organização mental e motora grande, além da força adequada para jogar a bola e a noção de espaço. Para alunos com dificuldade de preensão, a bola poderá ser chutada, ou mesmo, em casos de incoordenação motora, o professor poderá ajudar o aluno, colocando-o em uma posição favorável para jogar a bola ou ajudando-o a controlar seu braço. A distância entre os pinos e o aluno poderá ser regulada pelo professor de acordo com a dificuldade de cada um. Assim o boliche rítmico é uma atividade a ser desenvolvida de forma gradativa acompanhada de muita repetição e presença constante do professor de musica. É valido observar que a repetição fortalece na criança com deficiência mental a aquisição de conceitos e amadurece o processo de abstração. 3.2 Musicalizando a criança com necessidades educacionais físicas Num primeiro momento, tem-se a impressão de que uma adaptação arquitetônica nada tem a ver com o ensino musical, mas há relatos de pessoas com 53 deficiência física que não freqüentam escolas de música porque não há acessibilidade física (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 81). Para pessoas com deficiência física com cognitivo preservado, ensinar-se-á da mesma maneira que para, pessoas sem deficiência, mas, dependendo do caso, serão utilizadas as pranchas de comunicação, bem como adaptações para os instrumentos. As pranchas de comunicação servem para colaborar na comunicação de pessoas que possuem dificuldade de comunicação oral. Essas pranchas são confeccionadas por fonoaudiólogos, pois os símbolos são divididos e agrupados primeiramente por cores, por exemplo, os símbolos do método Bliss são compostos de pequenos desenhos gráficos (pontos, formas geométricas, traços etc.) que, combinados entre si, formam uma infinidade de representações simbólicas, constituindo assim as palavras. Os símbolos são universais e, em cima das figuras ou dos símbolos, está em escrita comum a palavra à qual a figura se refere, o que permite àqueles que não saibam ler a prancha compreender o que a pessoa com deficiência está dizendo. Utilizar-se-á, portanto, como estratégia na aprendizagem do conceito sobre pulsação e princípio de leitura musical, o jogo Pé-mão na pulsação. Primeiramente, o professor pede que os alunos desenhem o contorno de suas mãos e pés (sem sapato) várias vezes sobre uma cartolina; depois recorta tais desenhos e coloca-os no chão um após o outro de maneira que se crie uma seqüência. A atividade procederá da seguinte forma: quando tiver mão - bater palmas; quando tiver pé – bater o pé no chão. Assim, os alunos lêem sempre da esquerda para a direita a seqüência de pés e mãos, como se fosse uma “partitura” e executam o que está escrito, sempre dentro de uma pulsação estipulada pelo professor. Essa atividade, apesar de aparentemente muito simples, nem sempre é de fácil execução por parte das pessoas, pois conta com muitos comandos simultâneos como reconhecer de 54 forma continua as figuras pé/mão, decodificá-las e transformá-las em palmas e batidas de pés no chão; tudo dentro de uma pulsação. Parece fácil, mas não é (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.162). No decorrer da atividade a pulsação pode ser executada pelo professor num tambor, ou acompanhar com o dedo as figuras, sempre dentro de um pulso. O professor também pode determinar certos padrões no que diz respeito às figuras, facilitando a leitura, por exemplo: mão-mão-pé-pé-mão-mão-pé-pé, ou, mão-pé-mãopé-mão-pé, ou pé-mão-pé-mão-pé-mão, portanto, o ideal é começar esse exercício com um padrão na organização das figuras. Se um aluno, por exemplo, não possui um dos braços, o professor pode pedir para que este bata no peito quando vir a figura da mão, já que não pode bater palmas. Da mesma forma, se o aluno, por exemplo, não possui as pernas, ou não as mexe, o professor pode pedir que bata a mão na perna quando vir o pé, visto que bater o pé no chão é impossível. Algo muito importante a ser ressaltado é quanto aos desenhos. O professor precisa estar sempre atento na questão da exposição da deficiência, o fato de ter que tirar o sapato na frente dos amigos para desenhar os pés, para determinadas pessoas com deficiência física, pode ser algo muito angustiante. Há pessoas que possuem os pés deformados ou com muitas cicatrizes devido às cirurgias. Nesses casos, o professor deve ter muito tato ao abordar o aluno e pedir que o aluno faça em casa e traga um desenho de seu pé, ou para que ele ajude a desenhar o pé do amigo. Dessa maneira a atividade não se torna uma tortura psicológica e evita constrangimentos e problemas futuros por parte dos estudantes (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p. 165). 55 Assim, o jogo pé-mão na pulsação deve ser feito durante várias aulas, até que o conceito da atividade seja de fato associado pelo aluno. Vale observar que as várias aulas trabalhadas sobre o mesmo conceito fazem com que o aluno fixe o conceito sobre a pulsação e a leitura musical, capacitando a generalização desse conceito, obtendo assim, como resultado, a verdadeira aprendizagem musical e desenvoltura devido à noção espacial, noção temporal, equilíbrio estático, tônus, esquema corporal, dissociação de membros superiores e inferiores, lateralidade, associação e atenção. 3.3 Musicalizando a criança com necessidades educacionais auditivas Partindo do pressuposto que a audição é um dos sentidos mais importantes no processo de integração social e na inteligibilidade da fala no que diz respeito à entonação formação da linguagem (SBPC, 2008.) é aconselhável que o professor trabalhar nessa criança com necessidades educacionais auditivas os estímulos vibratórios dos instrumentos sobre o seu corpo; é imprescindível valorizar a expressão corporal. A música para o deficiente auditivo pode possibilitar a aproximação da sua realidade com a realidade do ouvinte, concomitantemente á realização pessoal. Utilizar-se-á, entretanto, como estratégia na aprendizagem do conceito sobre ritmo o jogo O Mestre; esta atividade não exige praticamente nenhum material específico, pois é feita com o próprio corpo. Esse exercício é bem simples, mas trabalha coisas importantes, além de ser uma atividade muito divertida. O professor escolhe um aluno para sair uns minutos da sala. Após esse aluno sair, o professor forma um círculo com todos sentados em 56 cadeiras ou no chão e escolhe um dos presentes para ser o mestre; o mestre então começa a fazer movimentos com o corpo (braço, pernas, cabeça, mãos etc.), de modo que mantenha uma determinada pulsação entre os movimentos, ou seja, movimentos sempre iguais; o restante da turma precisa imitá-lo; então, o aluno que está fora da sala volta e precisa adivinhar quem é o mestre, isto é, quem está comandando os movimentos de todos. Cabe dizer que o mestre precisa mudar seus movimentos constantemente, de forma que não deixe o aluno observador perceber tais mudanças; por outro lado, o aluno que observa a turma, precisa ficar muito atento para captar quem é o mestre, justamente na mudança do movimento (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.151). Essa atividade é interessante para ser feita no início das aulas, para aquecer a turma. Para tanto, algumas questões precisam ser consideradas, pois dependendo da turma, o jogo precisa ser adaptado; o professor precisa primeiro observar qual é o nível de dificuldade cognitiva e motora das pessoas, pois esse jogo envolve a participação ativa da turma toda; antes de o professor realizar essa atividade, pedir-se-á para que os alunos toquem seus corpos: vamos todos colocar a mão na perna; colocar a mão na cabeça; no joelho, no ombro, na boca, no bumbum, no peito... e assim por diante, isso é importante para a consciência corporal (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.152). Para que os alunos deficientes auditivos entendam o que é ritmo nesse tipo de atividade, podem-se fazer analogias com o ritmo das batidas do coração e, no caso de exercícios mais rápidos, pedir que eles corram, sintam a diferença das batidas do coração e representem esses movimentos agora mais rápidos. Se o aluno não conseguir, o professor pode ajudá-lo, pode pedir que ele olhe para os outros amigos e tente perceber onde eles estão com a mão ou pode ir até o aluno e 57 mostrar-lhe a parte do corpo desejada; esta atividade trabalha muito a questão da participação em grupo e atenção, pois todos precisam ficar atentos ao mestre, mas de forma discreta, porque senão fica fácil de o outro adivinhar quem é o mestre. Essa é uma atividade muito divertida para uma primeira avaliação das possibilidades psicomotoras e cognitivas, pois fica bem evidente quem a compreende e quem não entende a regra a ser seguida; quem possui bom esquema corporal, lateralidade, de quem tem dificuldades nesses fatores, quem é astuto o suficiente para driblar a pessoa que tem que adivinhar quem é o mestre e não tem a mesma malícia. É uma atividade divertida, quase todos gostam sempre de fazê-la. Assim, o jogo O mestre pode ser feito todas as aulas. Deverá ser desenvolvido de forma constante para evidenciar, no decorrer do curso, as melhoras significativas quanto à questão da atenção, esquema corporal e do próprio ritmo que a vida oferece: com o tempo, os alunos vão compreendendo melhor as partes do corpo e o propósito da atividade. Enfim, a criança com deficiência auditiva sentir-seá significativamente ativa no processo de um mundo ouvinte. 3.4 Musicalizando a criança com necessidades educacionais visuais A visão é um sentido muito importante para o desenvolvimento humano e o que mais fornece informações sobre o ambiente; por ela será adiquirida mais da metade dos conhecimentos do mundo á volta. O desenvolvimento do concreto é a forma mais significativa de se trabalhar o processo de musicalização na criança com deficiência visual e baixa visão, pois tato, olfato, audição, gustação e movimentação, desenvolvem os relacionamentos interpessoais estimulando autonomia. Ainda para os cegos existe o método Braille. 58 Utilizar-se-á como estratégia de aprendizagem do conceito de percepção dos diferentes timbres o jogo Bingo Sonoro. Essa atividade é bem simples e divertida, pois o professor necessitará apenas de um aparelho de som, uma fita de áudio com sons (timbres) diferentes e figuras ou fotos correspondentes ao som da fita, máquina fotográfica, papel contact, tesoura, papel cartão, cola. Portanto o jogo consiste em associar os sons ouvidos com as fotos ou figuras correspondentes. Devido ao processo tátil o ideal é que esse jogo seja confeccionado pela classe, visando a um processo de ensino aprendizagem mais significativo. Para tanto o professor deverá primeiramente pedir que os alunos explorem ou prestem atenção nos sons ao seu redor, depois, todos devem chegar a um consenso de quais sons serão escolhidos para o jogo. Preferencialmente, devem-se escolher sons que sejam fáceis de ser reproduzidos em fotos ou achados em revistas, como, por exemplo: cachorro latindo, carro passando na rua, pessoas falando, bola batendo no chão, pessoa rasgando jornal etc. (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.131). Executado todo esse processo, os sons escolhidos deverão ser gravados e as fotos que representam tais sons devem ser tiradas ou procuradas em revistas. Se algumas das figuras forem fotos e outros recortes de revista, o ideal é que cada uma delas seja colada numa base de papel cartão para que fiquem todas com o mesmo tamanho e formato. Uma vez confeccionado o jogo, as fotos são agrupadas em cartelas, e as cartelas são distribuídas entre os alunos. A fita é reproduzida e a, medida que os sons vão sendo ouvidos, os alunos vão marcando as fotos correspondentes com pequenos objetos (botão, feijão, rodelas feitas de EVA.), e aquele que completar a 59 cartela primeiro, fica responsável por controlar o radio na próxima rodada (LOURO; ALONSO; ANDRADE, 2006, p.131). Esse jogo pode ser adaptado para pessoas com deficiência visual total. Uma alternativa é transpor as figuras do jogo para a escrita Braille. Para aqueles alfabetizados no método Braille, o professor pedirá para um dos alunos que domine tal método transcrever a atividade. Certamente não dará para fazer figuras, pois esse método não permite isso, mas, onde houver a figura de um cachorro latindo para um vidente, há a palavra cachorro para o aluno com deficiência visual total. Contudo a criança pode jogar normalmente e, para os que não saibam o Braille, a alternativa é jogar em dupla, sempre com um vidente, desse modo ambos podem discutir qual o som ouvido e o vidente marcar a cartela. Jogar em dupla pode ser de grande colaboração para as crianças com deficiência auditiva, pois se estará desenvolvendo o processo de relações interpessoais: para essa criança, a presença de um vidente é imprescindível para seu processo de desenvolvimento humano e dessa forma todos podem jogar e se beneficiar. O bingo sonoro deverá acontecer de maneira constante, ou seja, durante várias aulas, até que o professor de música perceba que o conceito de percepção dos timbres já esteja devidamente afixado pelos alunos com necessidades educativas visuais; além disso, os alunos estarão amadurecendo os processos de concentração, associação de elementos diferentes, criatividade e clareza quanto à pesquisa sonora. 60 CONSIDERÇÕES FINAIS Valida a importância da musicalização na educação especial como subsídio de inclusão para a criança com necessidades educacionais especiais ao respeitar as limitações de cada um e trabalhar o potencial existente em todos; atingir o aluno em sua totalidade; explorar vários aspectos que envolvam o fazer musical (leitura rítmica e melódica, pequenos grupos instrumentais, formas musicais, instrumentos e formações instrumentais); estÍmulo constante da criatividade; saber as informações corretas sobre as deficiências dos alunos: diagnóstico, limitações funcionais, prognóstico, medicamentos e as relações interpessoais. Assim evita-se fazer algo que possa prejudicar a pessoa e direcionaM-se as aulas de modo a trabalhar, além das questões musicais. Brincar é importantíssimo, e é impossível brincar sem emitir som, ou seja, ao emitir som, de certa forma, se produz música; portanto, em todo momento se desenvolve o processo de musicalização em qualquer processo educativo, não de maneira técnica, mas de maneira natural; por isso, os educadores, mesmo sem a devida formação musical, devem usar mais sua criatividade artística e fazer da sala o maior acervo musical existente na face da terra. A musicalização tanto na educação infantil quanto na educação especial é importante, pois se descobrem desde cedo seres musicais, seres musicalizados que agem e ou reagem conforme os estímulos sonoros ou musicais recebidos em seu dia-a-dia. A escola é a instituição onde se passa a maior parte da vida, portanto ela tem o poder de inserir no cotidiano do educando a música de forma crítica e utilitária, construindo, assim, o conceito de autoconstrução (bons momentos) e com 61 consciência da autodestruição (momentos negros) causada por ela. Dizem os filósofos que música é a arte dos sons bem combinados composta por melodia (canto), harmonia (base) e ritmo (velocidade); sabe-se bem que viver é a arte de combinar as diferenças compostas pelos governantes com suas ideologias e, agora, mais do que nunca em alta definição; assim, as necessidades educacionais da criança são a própria inclusão de um subsídio substancial na educação, onde a musicalização tem importância significativa para todos, com e sem direitos especiais. 62 REFERÊNCIAS BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2 .ed. Blumenau: Acadêmia, 2000. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 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