Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória

Transcrição

Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória
diálogos
Intolerância: um desafio para a vida
vitória
Ano X
•
Nº 122
•
Outubro de 2015
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
O Papa
tem pressa
Alívio para o sofrimento dos casais separados:
agilidade nos processos de nulidade
editorial
É pra frente que se anda
A
‘pressa’ do papa Francisco em agilizar processos
de nulidade matrimonial não é fruto de uma das
característica dos tempos pós-modernos. O Papa
tem pressa, como ele mesmo disse a um jornalista, de ver
os católicos pondo em prática aquilo que os documentos
da Igreja tão bem descrevem desde os primeiros escritos:
ser expressão do amor e da misericórdia de Deus.
O Papa vem chamando isso de cultura do encontro e
da proximidade.
Então, ‘é pra frente que se anda’, como diz o ditado
popular.
Tentativas e exemplos de acolhimento e compreensão
ao outro e do outro é o que traz esta edição.
Boa leitura n
Maria da Luz Fernandes
Editora
fale com a gente
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arquivix
mitraaves
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vitória
22
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
viver bem
Ano X – Edição 122 – Outubro/2015
Publicação da Arquidiocese de Vitória
Vamos brincar?
09
micronotícias
O valor da amizade
16
39
espiritualidade
sugestões
SantaTeresa de Ávila
12
15
22
27
34
46
ideias
Que história é essa?
Economia Política
Crise institucional
viver bem
Vamos brincar?
arquivo e memória
Missão em Peixe Verde - Viana
Reportagem
O Papa tem pressa
acontece
A Magia de Miró
03 Editorial
05 atualidade
11 Especial
17 aspas
20 pensar
26 Comunicação
29 entrevista
42 ensinamentos
18
21
33
caminhos
da bíblia
carismas
religiosos
mundo
litúrgico
Que se
eleve a voz
daesperança!
Agostinianos
Recoletos
O uso da vela
na liturgia
24
40
45
diálogos
Pergunte a
quem sabe
cultura
capixaba
Intolerância:
um desafio
para a vida
Como
identificar o
diácono?
Rota Imperial
São Pedro de
Alcântara
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes /
3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard
Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão:
de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850
Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062
Ilustradores: Richelmy Lorencini e Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266
Atualidade
Gilliard Zuque
Vander Silva
Transferência de
“V
afetos
em aqui com a mamãe”,
“filho, olha pra mim”,
“passeando com papai”, “cara feia pra tomar vacina”,
“olha quem chegou... papai”. Ouvidas por qualquer pessoa, essas
frases certamente seriam interpretadas como sendo um diálogo
entre pais e filhos ou legendas
para fotos de família. Mas não
são! Cada vez mais, ouvimos e
vemos essas expressões e manifestações de afeto na relação entre
humanos e animais.
Pesquisa divulgada pelo
IBGE confirma o que vemos nas
ruas, praças e parques: 44,3% dos
domicílios do país (cerca de 28,9
milhões de casas) possuem pelo
menos um cachorro. São 52,2
revista vitória I Outubro/2015
5
milhões de cachorros, uma média de 1,8 cachorro por domicílio.
Os dados, levantados em 2013 e
só agora apresentados, mostram
também que, no Brasil, existem
mais cachorros de estimação do
que crianças: eram 44,9 milhões
de crianças de até 14 anos.
Os animais de estimação ganharam tanto destaque na sociedade ao ponto de, pela primeira
vez, o número de cães e gatos de
estimação ser medido com esta
metodologia.
A notícia ganhou pouca importância nos meios de comunicação,
no entanto, serve para uma série
de perguntas: há exageros nessas
manifestações de afetividade? Por
que elas acontecem? Quais os ris-
Atualidade
cos, para as pessoas e os animais?
O mercado em torno dos ‘novos
filhos’ de quatro patas move, a cada
ano, no Brasil a cifra de 16 bilhões de
reais. Em São Paulo, por exemplo, já
há mais pet shops do que padarias.
Na medicina veterinária os bichos
são tratados como gente. Raios X,
ultrassom para identificar câncer,
exames para colesterol, diabetes,
triglicérides, tomografia magnética
para identificar tumores e derrames,
ecocardiograma, colocação de marca passo e válvulas do coração nos
animais, etc. Equipamentos caros
e sofisticados garantem rapidez e
precisão no diagnóstico. A indústria
farmacêutica também já descobriu o
filão e investe na medicação animal.
Também em São Paulo, já existe
até crematório animal. São cerca
de 120 atendimentos mensais. O
plano mais barato, para cremação
coletiva, custa R$ 960 e o mais caro,
com direito à cremação individual
e urna de mármore carrara fica por
R$ 3.200. É possível parcelar em
até 18 vezes.
Evidente que o carinho, zelo e
respeito pelos animais é um comportamento digno da atitude cristã.
O Catecismo da Igreja Católica diz
que “Deus confiou os animais à administração daquele que criou à sua
imagem. (...) Podem ser domesticados, para ajudar o homem em seus
trabalhos e lazeres” (n. 2417). Mas
ressalta no item seguinte que é “indigno gastar com eles o que deveria
prioritariamente aliviar a miséria dos
homens. Pode-se amar os animais,
porém não se deve orientar para
eles o afeto devido exclusivamente
às pessoas”.
A psicóloga Luciene Lima faz
coro ao pensamento cristão: “É claro
que não devemos de maneira alguma
maltratar animais, mas é importante reconhecer o humano como seu
semelhante”, afirma.
Para o funcionário público federal, Revan Berger, dono de Lucky, uma Ihasa Apso de 12 anos,
a relação é bem clara: “trato como
animal. Todos os cuidados que ele
precisa (...) só come ração e não
dorme na cama”.
Um dos fatores que podem
ajudar a entender este fenômeno
é porque, na maioria dos países as
mulheres vêm tendo menos filhos.
Ao mesmo tempo, há o aumento
da população idosa, cujos filhos já
saíram de casa. Então sobra espaço,
tempo e dinheiro para gastar com
os animais.
“Acredito que essa relação
estreita com os animais reflete a
revista vitória I Outubro/2015
6
necessidade de suprir carências,
de preencher vazios. A sociedade
moderna faz-nos cada vez mais distantes e assim, encontrar um ser com
o qual o eu não tenha que discutir
ou discordar, um ser que vê em
mim um objeto de importância é
gratificante e consolador”, aponta
a psicóloga.
É claro que em algumas situ-
é realmente essencial, por exemplo:
você já deixou de viajar, mesmo
tendo alguém confiável para cuidar
dele?
Esta relação entre as pessoas
e os animais de estimação é uma
realidade e os dados estatísticos
do IBGE provocam surpresa. O
que devemos nos atentar é para a
necessidade de que esta relação seja
sadia, que a guarda dos animais seja
responsável e que o afeto e a relação
interpessoal não seja substituída.
Projeto
‘PraCão’
ações estes animais surgem de um
desejo de alguém na família, como
no caso da contadora Alexandra
Madeira. Ela comprou o Yorshire,
Boo, a pedido das filhas e viu isto
como uma boa oportunidade de criar
o senso de responsabilidade nelas.
Mas ela não passa imune por esta
situação: “eu não gosto de animais,
mas sinto tanto amor por meu pequeno York que é como se fosse
um filho”, revela.
Ao mesmo tempo em que se discute essa relação e as consequências
para os seres humanos, é importante avaliar os desdobramentos para
os animais. Tanta afinidade está
transformando profundamente os
cachorros - para o bem e para o mal.
Paparicar demais o cachorro, como
é comum hoje em dia, também faz
mal para a cabeça dele. Quando o
dono é muito apegado, aumenta o
risco de que o cachorro desenvolva
síndrome de separação (um distúrbio
que causa no animal uma dependência insuportável do dono).
Funcionário público, Thiago
Pereira, trata seu cachorro, um Bull
Terrier como uma criança, “até porque ele age como uma”, afirma.
Ele não vê mal nenhum nisso, mas
acredita que tanto ele como o cachorro sofrem com os períodos de
separação.
Por fim a psicóloga deixa uma
dica de como “ajustar” essa relação. “Nosso tempo deve sempre
encontrar um equilíbrio, ainda mais
quando vivemos em uma época em
que ele se tornou tão raro e vivido
tão superficialmente. Analise o que
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O bairro Jardim Camburi, em Vitória será o
primeiro da capital a ter
uma praça adaptada para
os cães. A iniciativa é da
Prefeitura de Vitória que,
com a ação, pretende promover o bem estar dos
animais, a socialização
entre os donos e mais
qualidade de vida para a
população. A praça Nilze
Mendes passará por intervenções como cercamento,
controle de pragas e instalação de brinquedos para
os cachorros. A previsão
é de que em até 60 dias a
adequação do local esteja
concluída. Já existem indicações para a implantação
do projeto em Maria Ortiz,
Parque Moscoso e Jardim
da Penha. n
micronotícias
Deficiências
na área digital
Os alunos brasileiros
estão nas últimas posições
em um ranking de 31 países
que avaliou a habilidade de
navegar em sites e compreender leituras na internet,
elaborado pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O
Prótese com se
Brasil ficou na antepenúltima
posição no ranking, à frente
apenas dos Emirados Árabes
e da Colômbia.
Robôs x Humanos
O debate sobre se as máquinas vão dispensar a força
de trabalho humana já não está mais restrito aos filmes. A
consultoria Boston Consulting Group prevê que, em 2025, até
um quarto dos empregos seja substituído por softwares ou
robôs, enquanto que um estudo da Universidade de Oxford,
no Reino Unido, aponta que 35% dos atuais empregos no
país correm o risco de serem automatizados nas próximas
duas décadas.
revista vitória I Outubro/2015
8
Cientistas da Agência de
Projetos de Pesquisa Avançada
de Defesa dos Estados Unidos
anunciaram a criação de uma
prótese de mão que devolve
o tato ao usuário. Para testar
o funcionamento do membro
robótico, uma rede de eletrodos foi conectada ao cérebro
de uma pessoa. Parte dos fios
ficou ligada ao córtex motor,
que controla os movimentos
Consultas
facilitade-aamserica-
rt
A startup no
d e se nvo lve u
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p a ra Ip h o n e.
sete cn o lo g ia é
v e n to re s, a
s
a de
d e à s n o rm
g u ra e ate n
privacidade.
ntido
do corpo e a outra criou uma
conexão com o córtex sensorial, responsável por identificar
sensações em todo o corpo humano. Em seguida, os pesquisadores vendaram o voluntário
e começaram a fazer pressão
nos dedos da prótese. Ao ser
questionado, ele conseguiu dizer com quase 100% de precisão
qual dedo estava sendo tocado
pelos cientistas.
Imprimindo casa
s
Estudantes de En
genharia Elétrica
da Universidade de Brasília cria
ram o protótipo de
uma impressora
3D feita de metal
e plástico que te
m
capacidade de
construir casas de
30 a 50m 2. O prin
cipal objetivo do
projeto é levar m
oradia a um preç
o
ab
aixo do que é
cobrado para pe
ssoas que ganhem
de 3 a 7 salários
mínimos. O obje
tivo é que as ca
sa
s
já comecem a
ser impressas da
qui a cinco anos
.
Horta Urbana
São Paulo já entrou na rota das
cidades mais verdes e ‘temperadas’. Mudas de manjericão,
alecrim e hortelã estão sendo plantadas em sapateiras
e amarradas em postes de
energia, no entorno das árvores formando pequenas hortas
na cidade. A ideia do projeto é
que as pessoas possam plantar e colher sem custos. Uma
iniciativa que aponta como os
pequenos gestos podem indicar grandes soluções para os
tempos de crise.
(Catraca livre)
O valor da amizade
Pesquisadores britânicos revelaram em estudo que adolescentes
não correm o risco de desenvolverem depressão ao se relacionar
com amigos que sofrem com a doença. Pelo contrário, o estudo
comprovou que a presença de amigos equilibrados pode reduzir a
probabilidade de se desenvolver depressão e duplicar as chances de
cura do deprimido no prazo de seis a doze meses.
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9
Evangelizar
é comprometer-se
Ministério do catequista
Elementos básicos para a formação
Humberto Robson de Carvalho
148 págs.
A finalidade deste livro é colaborar com a formação de
catequistas, uma dimensão indispensável para o processo de evangelização da Igreja. A Palavra de Deus na
catequese é um precioso meio de sustentação da vida,
da fé e da missão de catequistas e de catequizandos.
PAULUS Livraria Vitória
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especial
Letra cursiva
A
notícia de que na Finlânpreocupando-se com a inclusão
início ao escritos filosóficos.
dia as aulas de caligrafia
digital, entretanto não aborda o
Para minimizar os efeitos
para os alunos da escola
uso da letra cursiva. Já as Direangustiantes de tais mudanças é
primária serão substituídas por
trizes da Prefeitura de Vitória
preciso levar em conta oportuniaulas de datilografia, a partir de
estabelecem como objetivo para
dades e desafios. Quanto ao uso
2016, tornando opcional o ensino
a escrita, que os alunos aprendam
do tablet, não podemos ser ingêda letra cursiva tem gerado preoa “conhecer e utilizar diferentes
nuos e pensar que se trata apenas
cupação entre pais e educadores.
tipos de letra (de forma e curde uma mudança de suporte que
O que, de certo modo, se justifisiva)”, em consonância com os
não terá reflexos sobre as atitudes
ca, pois a Finlândia é referência
recentes avanços das pesquisas
e disposições de nossas crianças
mundial em educação, com as
na área, que recomendam que na
no processo de alfabetização e
melhores avaliações no PISA.
alfabetização, as escolas ensinem
no seu desenvolvimento geral.
No Brasil, cada vez mais
É preciso, entretanto,
se observa o uso de tecnocautela para não acelerar o
Quanto ao uso do tablet,
logias móveis como o tablet
ritmo dessas mudanças que
não podemos ser ingênuos
pelas crianças, movimento
se dão por “deslizamentos
acompanhado pelas escolas,
e sobreposições” (CHARe pensar que se trata apenas
especialmente da rede partiTIER), pois a letra cursiva
de uma mudança de suporte
cular, que o vêm adotando
ainda conviverá por um bom
como recurso pedagógico,
tempo com outras práticas
que
não
terá
reflexos
sobre
desde o ensino fundamental.
de escrita em meio eletrô Diante disso, obsernico. Prova disso é o uso
as atitudes e disposições de
vam-se posturas divergende tablets, em escolas, exates, há quem acredite que nossas crianças no processo de tamente para ensinar letra
o uso do tablet não acarcursiva e desenvolver habialfabetização.
retará perdas no processo
lidade motora, e a existênde aprendizagem das crianças,
inicialmente a letra bastão para,
cia de recursos que possibilitam
defendendo que para “nativos
depois ensinar a letra cursiva,
escrever à mão em meio digital.
tecnológicos”, a habilidade da
por ser esse procedimento mais
Outro caso curioso é a fabricação
escrita manual não é relevante.
adequado ao processo e para
de cadernos de notas (moleskines)
Há, por outro lado, quem defenda
atender à importância cultural
livres de ácido que aumentam a
sua importância para o processo
e social que essa letra cursiva
durabilidade do papel, permitincognitivo do aluno e para sua
ainda tem em nossa sociedade.
do que os registros manuscritos
identidade cultural, sendo, por Sociedades da cultura do
possam ser lidos daqui a décadas,
tanto favoráveis a seu ensino.
escrito como a nossa já viveram
quem sabe séculos. Quem serão
O Currículo Básico Estaduinúmeras transformações e crios leitores dessas e de outras tanal (ES) prevê “suprir as escolas
ses. Sempre que há mudanças,
tas escritas pessoais, se pararmos
públicas estaduais com equipafortes suspeitas cercam os novos
de ensinar a letra cursiva? n
mentos de alta tecnologia aliados
modos, exemplo disso é que o
à prática pedagógica, buscando
filósofo Sócrates não escreveu
Joana d’Arc Batista Herkenhoff
Doutoranda em Letras
melhorar o desempenho dos nosuma linha de sua obra, pois via
Membro do Grupo de Pesquisa, Literatura e
sos alunos, a sua inclusão digicom reservas a escrita. Foi seu
Educação/Ufes
tal e a atualização da escola”,
seguidor, Aristóteles, que deu
revista vitória I Outubro/2015
11
ideias
“A narrativa assim
“naturalmente”
construída torna-se
senso-comum.
Torna-se
discurso que
angaria facilmente
a concordância,
a aprovação e o
aplauso.”
Que história é
U
ma narrativa. Estão nos propondo uma
narrativa. A grande mídia no Brasil, marcadamente nos dias atuais, está nos propondo
uma narrativa. Não necessariamente uma que traga
as complexidades da vida, os enredamentos dos
fatos, e a veracidade dos mesmos. Não. A narrativa
que nos é apresentada, diuturnamente, se vale da
prerrogativa de que ela apenas precisa ser convincente. Ou melhor, ela nem precisa ser convincente.
Basta que seja bem contada, e repetidamente bem
contada, para que possa se impor sobre quaisquer
outras possibilidades de entendimento das realidades. Temas como maioridade penal, violência,
economia, corrupção e etc. ganham versões hegemônicas em todos os veículos de comunicação.
A narrativa precisa ser simples o suficiente
pra ser facilmente assimilada e reproduzida por
qualquer um como a mais completa, bela, sensata e
nobre expressão da verdade. E para assim funcionar
a narrativa precisa de personagens caricaturais. Não
vem ao caso personagens que funcionem como
revista vitória I Outubro/2015
12
essa?
espelhos para as nossas próprias
contradições e pecados, como
um bom romance, como um bom
filme ou uma peça de teatro faz.
Não, a narrativa tem que
propor personagens estereotipados e que mobilizem sentimentos, e os sentimentos mais
fortes, aqueles que são capazes
de garantir ao que se submete à
narrativa o honroso e enganador
lugar do justiceiro, do paladino
da verdade, do defensor disso
e daquilo. Vemos aos montes
estas figuras aparecerem por aí
nas ruas e nas redes sociais destilando ódio e arrogância.
Uma narrativa que leve à
compaixão, à equidade, à responsabilidade, e que estimule os
sujeitos a exigirem de si o que
cobram dos outros, nem pensar.
Não. Essa narrativa não produziria o efeito que precisa produzir:
mentes e atitudes que defendam
interesses, privilégios seculares,
visões de mundo, modos de vida.
Como sempre – e ainda mais
fortemente nos dias atuais – um
poder só é poder de fato pela força do dinheiro. Tem poder quem
tem dinheiro. Todo e qualquer
outro poder neste mundo é menor. Nem são os estados, partidos
políticos e governos que detém
este poder, portanto. E quanto
maioria das populações.
E ela não suportará outras
versões e desmerecerá qualquer outro modo de ver o mundo.
Demonizará uns e escolherá outros pra carregar todas as culpas.
A narrativa assim “naturalmente” construída torna-se
senso-comum. Torna-se discurso que angaria facilmente a
“A narrativa do poder, é
claro, tem que arrogar que
só há um mundo possível, o
que está estabelecido, mesmo
que este mundo tenha sido cruel para a
maioria das populações.”
mais este poder estiver ameaçado mais ele se arranjará em
construir narrativas que afetem
o coração das pessoas com sentimentos fortes, tais quais aqueles
de um torcedor de futebol diante
de seu time de coração. Mais do
que nunca, quando sob ameaça,
ele precisará de sujeitos que sejam dóceis às suas proposições
e servidores passionais de seus
propósitos.
A narrativa do poder, é claro, tem que arrogar que só há
um mundo possível, o que está
estabelecido, mesmo que este
mundo tenha sido cruel para a
concordância, a aprovação e o
aplauso. Quando isso acontece,
quando uma narrativa se torna
assim tão hegemonicamente
poderosa – como acontece no
Brasil no momento – ah... é
preciso desconfiar. E desconfiar significa colocar a narrativa sob o império da dúvida.
A palavra dúvida vem de dois
(duo), de dúbio, de olhar para
os vários lados. As realidades
são complexas, a vida é multifacetada, uma única e simplificada narrativa está com
certeza desperdiçando possibilidades variadas de se entender
os acontecimentos. n
Dauri Batisti
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13
Economia Política
Crise institucional
A
s manifestações ocorridas no Brasil
desde 2013 apontam para insatisfações para com o funcionamento de
instituições. Dentre essas, as que mereceram
maior atenção foi a ‘geni’ de quase tudo
que se identifica como mazela nacional (a
classe política) e a prestação de serviços
públicos (com destaque para transporte,
saúde e educação).
Um olhar um pouco mais amplo, no
entanto, pode indicar que a inadequação das
instituições abrange hoje a toda gama delas,
indo daquela básica em nossa sociedade (a
família), passando pelas igrejas, veículos
de comunicação, empresas de um modo
geral, além dos sempre mencionados órgãos
públicos. A maneira como informações e
notícias são veiculadas por jornais, rádios,
televisões e pelas redes sociais na internet,
são fontes ricas de evidências para inade-
do que a questões econômicas.
É crescente a carência de mudanças
nesses tempos de abundâncias materiais.
Exemplos podem ser colhidos nas reclamações junto a órgãos de defesa do consumidor;
nas frustrações sociais com a lentidão na
tomada de decisões e na execução de projetos
que poderiam melhorar a qualidade de vida
de todos; na apatia para com uma cidadania
mais participativa.
Essas insatisfações, certamente poderiam ser diminuídas se as instituições fossem
mais flexíveis e estivessem mais atentas aos
interesses da cidadania em suas dimensões
política, social, econômica e cultural. As
redes sociais há muito sinalizam e ecoam
frustrações com a forma de se fazer política;
com a falta de debate plural pelo rádio, jornal
e televisão; com a inadequação na prestação
de serviços como educação, saúde, transporte
e segurança; com a
falta de atenção de
“Essas insatisfações, certamente poderiam
empresas para com
ser diminuídas se as instituições fossem
o cliente.
mais flexíveis e estivessem mais atentas
Essas frustrações
podem ser razoaaos interesses da cidadania em suas
velmente respondimensões política, social, econômica e
didas se houver
cultural. As redes sociais há muito sinalizam e
flexibilidade para
usar melhor as tececoam frustrações com a forma de se fazer política.”
nologias disponíquações institucionais que vão muito além veis. Mas antes de qualquer coisa, há que
da classe política.
ser superada a baixa disponibilidade para
Inúmeras questões ligadas ao forne- ouvir e debater opiniões diferentes.
cimento de bens, serviços e conhecimento Afinal, o exercício da escutatória é
por agentes públicos e privados poderiam fundamental para o diálogo efetivo e para
ser melhores resolvidas caso as instituições o exercício da democracia. n
estivessem mais atentas a tecnologias que
podem torná-las mais acessíveis. Na maioria
Arlindo Vilaschi
das vezes essa falta de atenção está mais
Professor de Economia e Coordenador do Grupo de Pesquisa
em Inovação e Desenvolvimento Capixaba da Ufes
ligada à rigidez do ‘deste jeito já está bom’
revista vitória I Outubro/2015
15
espiritualidade
Santa Teresa de Ávila
A festa de Santa Teresa no dia 15 de outubro terá, nesse ano, um
significado especial: estamos celebrando os 500 anos do nascimento dela
em Ávila, na Espanha (1515 – 2015).
N
aquela época onde a
maioria das mulheres
não sabia ler e escrever,
Teresa foi voraz leitora, escreveu vários livros que contribuíram para a rica literatura espanhola e, devido à sua profunda
vida mística, recebeu o título de
Doutora da Igreja. Foi a primeira mulher na história da Igreja
a receber esse título, outorgado
pelo Beato Papa Paulo VI no dia
27 de setembro de 1970.
Entrou para o mosteiro das
monjas carmelitas e, vários anos
depois, fundou um novo estilo
de vida carmelitana mais simples e recolhida para monjas
e frades que, por isso, foram
chamados de “carmelitas descalças”. Teresa foi a única mulher
na história da Igreja que refor-
mou e fundou também conventos masculinos.
Entre seus livros temos sua
autobiografia espiritual chamado
Livro da Vida, além de vários outros escritos sobre oração e vida
espiritual: Caminho de Perfeição, Castelo Interior, Fundações,
Orações, Poesias e, além destes,
ainda chegaram até nós cerca de
quatrocentas cartas endereçadas
a vários tipos de pessoas.
Santa Teresa compara a
oração à água com a qual regamos um jardim. Sem oração a
alma seca. Quanto mais irrigar
o jardim da alma, mais flores de
virtudes e obras boas brotarão.
A oração não consiste em muito
pensar ou falar, mas em muito
amar. Para ela a oração é “uma
conversa de amigos, muitas ve-
“a oração à água com a qual regamos um
jardim. Sem oração a alma seca. Quanto
mais irrigar o jardim da alma,
mais flores de virtudes e obras
boas brotarão.” (SantaTeresa de Ávila)
revista vitória I Outubro/2015
16
zes e a sós, com quem sabemos
que nos ama” (Vida 8,5).
A espiritualidade teresiana
é concreta e objetiva: não há
verdadeira vida de oração onde
não há boas obras: “a primeira é o amor de um para com o
outro. A segunda é o desapego
de todas as coisas. A terceira é
a verdadeira humildade, e esta,
embora seja enumerada por último, é a principal e abrange a
todos” (Caminho, 4,4).
Morreu com 67 anos de idade.
A mensagem de Santa Teresa
pode ser resumida nessa conhecida exortação dela: “Nada
te perturbe, nada te espante,
tudo passa. Deus não muda. A
paciência tudo alcança. Quem
a Deus tem, nada lhe falta. Só
Deus basta!” n
Dom Rubens Sevilha, ocd
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
aspas
Como elas conversam com Nossa Senhora
“Eu me comunico com Maria
pela sua oração ‘Ave Maria’,
e eu peço proteção, saúde e
paz. E que eu sempre vá pelo
caminho de Deus! E agradeço
por tudo o que tenho!”
Giovana Luz – Paróquia Santa Rita
Praia do Canto
“Eu rezo para Maria com
calma, paciência, para ela me
escutar e me ajudar no que
preciso. Ela sempre me escuta
e me ajuda. Sempre rezo a
Ave Maria”
Lara Pontin – Comunidade
São Camilo de Lellis – Mata da Praia
“Eu peço perdão por tudo e para que abençoe os outros, em
especial pelo meu avô que está pela terceira vez com câncer.”
Julia Furieri – Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora – Laranjeiras
“Peço a Maria para abençoar
minha família, a todos
que conheço e que eu não
conheço. Peço também para
perdoar nossos pecados e os
pecados de todo mundo. Peço
pra Ela fazer meus favores
que eu desejo para que os
meus pais possam
realizá-los.”
Luís Gustavo – Comunidade São Francisco
de Assis (Paróquia Sta. Terezinha do
Menino Jesus) – Vila Velha
“Quando eu converso com Maria, sempre agradeço
por mais um dia de vida que tive e sempre rezo
pedindo saúde, paz e muito amor no meu coração,
da minha família, e dos meus amigos!”
Marcela Mesquita – Comunidade São Camilo de Lellis
Mata da Praia
“Eu peço a Nossa Senhora
da Saúde e Nossa Senhora
da Aparecida, depois peço
para Ela cobrir todos com seu
manto, mas primeiro peço a
Jesus, aí eu rezo por todos
os motivos. Peço a todas as
denominações de Maria que
eu sou mais devoto e peço
algumas bênçãos e rogue ao
Pai por nós.”
Raphael – Comunidade
Nossa Senhora da Saúde
“Eu rezo e peço a ela para ajudar a gente em todos os momentos,
e acredito que ela vai atender a nossa oração. Eu penso que
ela vai ajudar, estar sempre comigo e nunca vai me abandonar
quando eu precisar dela.”
Maria Eduarda – Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora - Laranjeiras
“Oro pedindo intercessão de Nossa Senhora junto
de Deus. Peço para ela me cobrir com seu manto
sagrado e depois rezo uma Ave Maria junto com
outras orações. Mas, claro que oro mais para Deus.”
Manuela Gomes – Comunidade Nossa Senhora de Fátima
(Paróquia Santa Mãe de Deus) - Ibes
“Me concentro, fecho os olhos, agradeço por tudo na minha vida, rezo um Pai nosso,
uma Ave Maria e um Santo Anjo.”
Davi Baldi – Santuário Divino Espírito Santo - Vila Velha
revista vitória I Outubro/2015
17
caminhos da bíblia
Que se
eleve
a voz da
esperança!
E
m tempos onde as notícias correm velozes, onde as palavras se
perdem pelas esquinas das cidades, onde os símbolos permeiam os
jornais diários, onde as imagens nas TVs invadem as casas, onde
o ruído das rádios corta o país, onde a rede de comunicação propõe um
modo de vida; deparamo-nos com a realidade marcada pela violência.
Desde as pequenas comunidades rurais, passando pelos grandes centros
urbanos e chegando agora às fronteiras dos países, ouvem-se lamentos,
gritos de dor e choro silenciado pela morte de inteiras famílias, de
jovens e de crianças inocentes.
A sociedade
“Hoje a história anseia pela manifestação
torna-se uma espectadora atônita diante
dos filhos e filhas de Deus, pela ação
de cenas que dilaceconcreta dos homens e mulheres de boa
ram o tecido social,
vontade; seja por meio de um olhar aberto e
violam os direitos
compassivo, seja pela escuta atenta e cuidadosa, bem
humanos e questionam a capacidade de
como pela presença solidária e disponível. ”
nossos governos de
tratar desses desafios. Não é uma realidade que surge sem aviso prévio, ao contrário, é uma situação anunciada e construída por escolhas,
decisões e posturas que, por vezes, desconsideram aqueles que jamais
deveriam ser desconsiderados: os pequenos, os pobres e os indefesos.
revista vitória I Outubro/2015
18
“Eu vi, eu vi a miséria do meu povo (...) Ouvi o seu clamor (...) pois
conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo (Ex 3,7-8)
Nas palavras do Livro do Êxodo encontra-se
presente a base da profissão de Fé do povo de Israel.
Deus toma para si o cuidado da história do povo
eleito, conhece as suas aflições, envolve-se nas
suas misérias e sofrimentos e engaja-se na defesa
daqueles que elegeu: “Eu vi, Eu ouvi, Eu conheço e
por isso desci”. No coração dos filhos de Israel foram
gravadas essas palavras, de modo que, em todos os
seus caminhos, tinham a certeza de que Aquele que
os criou, os elegeu, os libertou e os conduziu pelos
caminhos da história, deu-lhes também uma vocação.
O povo de Israel deveria ser um sinal para todos os
povos do cuidado amoroso de Deus.
Em Jesus Cristo, o Verbo de Deus Encarnado
na história humana, as promessas divinas são elevadas à sua plenitude, Ele é o Filho de Deus feito
homem. Ao assumir a condição humana ouviu os
gritos, os lamentos, as dores e as esperanças dos
filhos e filhas de Deus. A começar pelas estradas
de Israel, Ele foi capaz de encontrar e tocar as mais
diversas realidades humanas. Assim, ainda hoje,
a sua presença e Palavra chegam junto aos mais
diversos povos, raças, línguas e nações. No convívio com Ele, os seus discípulos foram formados
pelas escolhas e posturas do Mestre, pois viram o
envolvimento, a aproximação e o engajamento de
Jesus nas dores e na defesa da vida dos pequenos
e excluídos.
Hoje a história anseia pela manifestação
dos filhos e filhas de Deus, pela ação concreta
dos homens e mulheres de boa vontade; seja por
meio de um olhar aberto e compassivo, seja pela
escuta atenta e cuidadosa, bem como pela presença solidária e disponível. Que no horizonte
da humanidade, onde se ouvem os lamentos e
suspiros dos sofredores e excluídos, os gritos de
dor e sofrimento, também sejam ouvidas as vozes
cheias de esperança, criativas e comprometidas
daqueles que propõem os caminhos para a paz, e
a construção da casa comum, na qual ninguém é
estrangeiro, mas todos são irmãos e irmãs. n
Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura
no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
revista vitória I Outubro/2015
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Foto: Lucas Rocha Cosme
pensar
carismas religiosos
Marcus Tullius
“O Senhor reza para que gozemos ‘da plenitude da alegria’ que Ele tem (cf. Jo 17, 13). A alegria dos cristãos,
especialmente dos consagrados, é um sinal muito claro da presença de Cristo nas suas vidas. Quando há
rostos tristes, isso é um sinal de alerta, alguma coisa não está bem. E Jesus pede isto ao Pai precisamente
antes de sair para o Horto das Oliveiras, ocasião em que tem de renovar o seu ‘fiat’.”
(Papa Francisco aos consagrados em Cuba, 20 de setembro de 2015)
Agostinianos
Recoletos
Maristas
Irmãs
Agostinianas
Na segunda metade do século XVI, nascia na Espanha,
dentro da Ordem Agostiniana,
um movimento de recoleção,
ou seja, uma vida voltada
para a oração, penitência e
conversão. “Uma só alma e
um só coração dirigidos para
Deus”. Este é o ideal de Santo
Agostinho que inspira todos
os religiosos. Os recoletos
chegaram ao Espírito Santo
no ano de 1899, trabalhando
em várias regiões do estado.
Na Arquidiocese de Vitória,
atuam na Paróquia Santa Rita
de Cássia, Praia do Canto, desde a sua fundação, em 1935.
Atualmente a comunidade é
formada por 4 religiosos.
O Instituto Marista foi fundado na França, em 1817, por
São Marcelino Champagnat
e espalhou-se pelo mundo
com o carisma voltado para
a promoção da vida através
da educação. É uma congregação formada somente por
irmãos, cuja missão é educar
e evangelizar crianças e jovens
para formar cristãos e cidadãos
comprometidos na construção
de uma sociedade sustentável,
justa e solidária. A atuação
marista na Arquidiocese iniciou no ano de 1950, em Vila
Velha, com a construção do
colégio e posteriormente, o
projeto social que possuem em
Terra Vermelha, Vila Velha.
As Missionárias Agostinianas
Recoletas foram fundadas no
ano de 1947. É uma congregação essencialmente missionária, aberta a várias realidades
para concretizar o carisma.
Atuam em paróquias, colégios, atividades pastorais, em
especial, as pastorais sociais.
Estão em Vitória desde o ano
de 1959, onde possuem duas
comunidades religiosas. Em
Vitória está a casa provincial e
o colégio. No bairro Tabajara,
em Cariacica, uma casa para
encontros pastorais e acolhimento das jovens vocacionadas. Atualmente a presença
missionária na Arquidiocese
conta com 12 irmãs.
revista vitória I Outubro/2015
21
viver bem
Vamos
brincar?
Q
uantas vezes você já testemunhou
uma criança que, mesmo após ter
acabado de receber um brinquedo
novo, voltou ao velho e desgastado brinquedo de sua estima (seja um carrinho sem
rodinha, uma boneca sem braço)? Quantas
vezes viu a criança receber um joguinho
eletrônico – quase sempre barulhento – no
único intuito de distraí-la, quando o que
mais a diverte, mais lhe arranca gostosas
gargalhadas, é brincar de “cavalinho”
com você?
Quase sempre estamos dando aos nossos pequeninos, seja em seu aniversário,
Natal ou outras ocasiões, jogos e demais
brinquedos que mais os afastam de nós
do que os aproximam.
Como é bom brincar! Disso ninguém
revista vitória I Outubro/2015
22
tem dúvida. Mas às vezes a
gente se esquece do quanto,
para além do puro entretenimento, é importante brincar.
Por meio da arte do
brincar vem também a arte
da interação, da inclusão, da
busca conjunta por melhores
estratégias, da busca por solução de problemas/enigmas, da
autorrealização, e mais uma
lista enorme de benefícios
na construção do espírito de
pertença. E essa lista de benefícios conquista-se tanto mais
rápido quanto mais e melhor
for a participação de terceiros
(pais, avós, tios, ou outras
crianças) nas brincadeiras.
Lembra-se da sua infância? Recorda-se das brincadeiras grupais que entretinham
você e seus coleguinhas?
Quais eram? Refresquemos
um pouco a memória: Pique-esconde, pique-pega, pique-lata, pique-bandeira, pique-
-boia, pique-ajuda, pique-alto,
morto-ou-vivo, caí no poço,
a galinha do vizinho, boca de
forno, banho de mangueira
no quintal, bolinha de gude,
elástico, pomponeta, adoleta, amarelinha, peão, passar-anel, pula-carniça,... Nossa!
Talvez você esteja pensando:
“Passou agora um filme na
minha cabeça”. Quantas lembranças, não é mesmo?! E as
velhas cantigas de roda? “A
Carrocinha pegou”, “A barata
diz que tinha”, “De abóbora
faz melão”, “Atirei o pau no
gato”, “Sambalelê”, “O peão
entrou na roda”, ...
O Dia das Crianças está
chegando. E a gente já fica
pensando no presente que vai
dar aos nossos pequeninos.
Vai aqui a nossa dica:
Que tal brincar?
Que tal juntar adultos
e crianças numa gostosa e
animada brincadeira, res-
gatando as brincadeiras de
outrora? Temos certeza de
que vai ser tão bom como há
muito tempo não tem sido,
tanto para você quanto para
elas. Afinal, criança adora
brincar com adultos: sente-se
valorizada, amada, realizada,
incluída. Você sabe disso. Ou
será que já se esqueceu de
quando o vovô brincava de
“serra-serra-serrador” com
você?
Que o Espírito de Deus
nos ensine sempre caminhos
criativos na condução de nossos pequeninos por um mundo de mais e mais inclusão
social! “Levanta-te e venha
para o meio” (Mc 3,3b). n
revista vitória I Outubro/2015
23
Jovanir Poleze
Coordenador do Centro Nova
Geração, Obra Social da Congregação
Redentorista em Nova Rosa da
Penha, Cariacica. Graduado em
Letras Português-Francês pela UFES
diálogos
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES
Intolerância: um desafio para
A
lguém comentou
comigo: “A sociedade hoje parece
estar mais intolerante do
que em outros tempos!
O trânsito, por exemplo,
torna-se cada vez mais perigoso. Qualquer discussão pode tornar-se motivo
de agressão. Como fazer
para sair desta situação de
violência?”
De fato as relações
humanas nem sempre são
construtivas. A intolerância no trânsito e em diversos lugares da convivência
humana está cada vez mais
acentuada. É a cultura da
violência que se cultiva
impensadamente desde os
pequenos atos e pequenas
situações até as grandes e
graves agressões. Veja o
que acontece quando uma
ideologia se torna perversa, a tal ponto de impe-
revista vitória I Outubro/2015
24
dir que alguém pratique
uma religião segundo a
sua consciência. O triste
fenômeno da imigração
de tanta gente do oriente
para a Europa, enfrentando
perigos no mar, perigo de
morrer de fome em busca
liberdade. A guerra é cer-
a vida
tamente o grande sinal de
intolerância nas relações
humanas.
Muita gente sente-se
desanimada diante de tantos problemas que provocam miséria e desumanidade. Não podemos ficar
desanimados e nem perder
a esperança.
Acredito que há um
caminho de solução para
superação deste mal que
nos atinge a todos de uma
ou de outra maneira.
Jesus nos ensina no
Evangelho: “Quem é fiel
nas pequenas coisas será
fiel nas grandes”. As pequenas coisas, os atos
pequenos e simples nós
aprendemos na família,
desenvolvemos na escola
e seguem-se nas relações
humanas em geral.
A família é a base
humana das relações iniciadas originariamente na
vida conjugal. O casal é
responsável pelo seu futuro e o futuro dos frutos
do amor ou desamor conjugal. A família nasce e se
desenvolve no amor. No
ninho familiar aprende-se
a amar, o respeito a si mesmo e ao semelhante. Na
“Maior do que a intolerância é a fé
amorosa, Dom que vem do Alto e se
concretiza no casal fiel, na família fiel
e na empresa fiel e construtora de uma nova
sociedade baseada não na desconfiança e intolerância,
mas baseada na fé amorosa, libertadora, revelada por
Aquele que é livre e nos criou livres, DEUS AMOR!”
família aprende-se a ser
honesto consigo mesmo
e com o outro. E, necessariamente, é de suma
importância que a família
dê um passo para além do
humano: na família aprende-se especialmente a ser
honesto com Deus!
São as três colunas
fundamentais do edifício
humano: honestidade consigo mesmo, honestidade
com o semelhante e honestidade com Deus seu Criador e Senhor. Estabelecida
esta base, o ser humano
cresce, amadurece, convive e sente-se feliz.
A intolerância é um
ato humano frustrado, carente de ternura, carente
de compreensão, carente
de amor. Torna-se por si
mesma um ato desumano.
A intolerância só poderá ser vencida e superada se estas três colunas
tornarem-se realidade no
fundamento das relações
humanas. Na vida conjugal e, consequentemente,
na vida familiar, e, por sua
vez, na sociedade.
Fé humana e fé transcendente, isto é, o casal
vive da fé no seu parceiro,
movido por uma fé que ultrapassa quaisquer barreiras: a fé em Deus, Dom que
vem do Alto e que move a
ação humana e a transforma
em Amor, concretização do
Dom de Deus.
Este dom que se torna
concreto no ato de amar,
na ternura do sair de si é o
perfume da sabedoria que
inunda o coração conjugal
e o coração da família. Fé
revista vitória I Outubro/2015
25
que transporta montanhas,
fé que produz sabedoria,
paz no coração, respeito
ao semelhante, alegria de
viver... destruição das pequenas e grandes guerras...
Fé no trânsito... Anulação
da intolerância!
Há, pois, solução para
a intolerância, seja ela pequena em sua expressão,
seja ela grande. Maior do
que a intolerância é a fé
amorosa, Dom que vem
do Alto e se concretiza
no casal fiel, na família
fiel e na empresa fiel e
construtora de uma nova
sociedade baseada não
na desconfiança e intolerância, mas baseada na fé
amorosa,libertadora, revelada por Aquele que é
livre e nos criou livres,
DEUS AMOR! n
Comunicação
“Mostra-me o que postas, e
eu te direi quem és”
N
as relações que se estabelecem nas redes
sociais digitais, proliferam conteúdos que, por assim
dizer, “exageram” a realidade.
Às vezes, isso ocorre em sentido
exageradamente positivo, construindo um mundo que navega
em um “mar de rosas”, onde
todos são felizes e a diversão é
eterna. Outras vezes, a realidade
vista nas redes beira o extremo
oposto, em que a vida se desenrola entre “choro e ranger de
dentes”, e a raiva e o ódio são
moeda de troca – especialmente
em âmbito político e religioso.
Por vivermos em uma “sociedade do espetáculo”, grande
parte do que fazemos na rede se
insere em uma cultura do entretenimento, que pode passar
também por uma teatralização
das nossas vidas, reconstruídas
– em textos, imagens e vídeos –
a partir de lógicas de consumo.
Chega-se a extrapolar a própria
intimidade, criando uma verdadeira “extimidade”, em que toda
a vida pessoal se torna pública,
sobrecarregada de novas cores e
valores. Em tudo isso, há também
alguns elementos que nos ajudam
a repensar nossas ações em rede.
Em primeiro lugar, vemos
aí a grande centralidade assumida pela expressão pessoal e
social. Antes, as fotos das nossas
férias ou as nossas opiniões pessoais eram conhecidas apenas
pelos nossos familiares e amigos
mais próximos. Hoje, porém,
podemos deixá-las ao acesso
livre de qualquer pessoa na rede.
Expressar-se torna-se, assim,
uma possibilidade que, com o
passar do tempo, converte-se
em uma necessidade.
Quando nos expressamos,
esperamos que alguém nos
veja, nos escute, nos perceba.
A percepção do outro sobre nós
é a resposta à nossa abertura
inicial, que completa a nossa
necessidade de contato. Por isso,
buscamos ser “bem percebidos”
e construímos mundos à nossa
imagem e semelhança.
O risco é parar por aí,
passando a vida por inúmeros
“filtros”, para dar mais cor e
mais brilho a tudo o que somos
e fazemos. Ao nos expressarmos
para buscar a mera percepção do
outro, acabamos também não
lhe dando o espaço verdadeiro
e apenas o usamos como “receptáculo” dos nossos desejos.
Para evitar isso, podemos
dar dois passos a mais: o primeiro é a reflexão. Se a minha
expressão própria e a percepção
do outro são importantes e me
constituem, seria interessante
revista vitória I Outubro/2015
26
um olhar crítico: quem é esse
“eu” que me comunica? O que
está sendo comunicado pelo
meu “eu”? Que “eu” está sendo
construído no conjunto dessas
postagens? Na revisitação da
minha presença online, posso me
deparar com diversos excessos e
carências nas minhas tentativas
de comunicação.
E, para repará-los, o melhor remédio é focar todos os
esforços comunicativos – em
rede e fora dela – na relação.
Eu sou porque me comunico
com alguém que também se
comunica comigo. Somos porque nos comunicamos. A partir
disso, não interessa apenas o
“eu” inicial que se expressa, nem
apenas o outro que me percebe,
ou do qual eu me uso para ser
percebido, mas sim o “nós” que
aí se constrói.
Para isso, é necessário também perceber o outro, “ouvi-lo”,
reconhecer suas necessidades,
acolher o que ele me comunica.
Nessa relação, não faz sentido “aumentar” ou “exagerar”
a realidade, porque ela não é
apenas minha, mas é compartilhada – vivida e comunicada
com o outro. n
Moisés Sbardelotto
Jornalista, doutorando em Ciências da
Comunicação pela Unisinos (RS)
arquivo e memória
Giovanna Valfré
Coordenação do Cedoc
Missão em Peixe Verde - Viana
Misssionários na localidade de Peixe Verde, hoje comunidade que pertence a paróquia de Viana, década de 40
revista vitória I Outubro/2015
27
entrevista
Leticia Bazet
Movido a novos desafios
O jornalista Julius Carvalho superou a obesidade após uma cirurgia
bariátrica e tornou-se adepto da corrida de rua. Nesta entrevista ele conta
sobre a sua transformação física e, acima de tudo, psicológica.
vitória - Como era a vida que você levava?
Completamente errada. Eu chegava em
uma festa, por exemplo, e só saía na hora que terminava tudo. O primeiro lugar que eu ia depois de
cumprimentar os anfitriões era para ver o que tinha
para comer. Era completamente sedentário, cheio
de problemas de saúde, já cheguei a tomar nove
remédios por dia, tive quatro erisipelas e em uma
delas quase perdi a perna, tamanha a infecção. Até
que chegou o Natal de 87 e eu tive outra erisipela,
minha família ficou muito chateada, minha médica
queria me internar e aquilo me bateu muito forte.
Eu tinha uma amiga jornalista que casou com um
cirurgião bariátrico e começou a falar comigo sobre
a cirurgia, me incentivando a fazer. Eu não dormia
à noite, tinha medo de dirigir, dormia no trabalho,
tinha apneia, chegou um momento que eu comecei
a ter inchaço nas pernas e deixei de ter vida social
porque não conseguia calçar um sapato.
Jullius -
vitória - Qual foi o limite que te fez querer
mudar?
O medo de não acordar no dia seguinte.
Eu dormia sem saber se ia acordar no dia seguinte.
Era uma bomba relógio. Aí eu comecei a estudar
sobre a bariátrica, porque não era tão popular, e
essa colega minha me ajudou bastante, comecei
a participar de grupos do Brasil, até que decidi
fazer a cirurgia, em 2008. Na primeira consulta
que eu tive a médica deu um sorriso de um lado
a outro e falou que eu tinha ganhado 10 anos de
vida, porque eu era diabético tipo 2 e a doença
estava controlada. Eu não tive nenhum problema,
me adaptei a tudo. Comecei então a fazer atividade
física, colocava o tênis e corria por conta própria.
Jullius -
Participei da corrida da mulher, a primeira, e
foquei em correr a Corrida da Garoto, eu queria
isso. Juntei com uns amigos e comecei a treinar.
A partir daí comecei a dar entrevista para rádio,
televisão e as pessoas começaram a reconhecer a
minha história. Culminou que nas 10 milhas Garoto,
entre os três amigos que participaram comigo, eu
fui o primeiro a chegar, e aí eu virei meio que um
xodó da corrida de rua.
vitória - A que você se apegou nesse processo
de mudança?
Jullius - Logicamente que a família, mas... eu me
emociono (pausa). Eu me apeguei a uma pessoa
que eu não conhecia mais que era eu mesmo. Descobri um cara completamente focado, determinado
e pensei “esse é o cara que vai me levar”. Tem o
benefício da cirurgia, mas é preciso agregar outros
valores a ela. Muitos falam que eu sou o responsável por eles correrem. Eu fiquei muito querido
revista vitória I Outubro/2015
29
entrevista
entre as pessoas da corrida de rua,
vinha gente se oferecer para me
treinar. A minha vida mudou, eu
hoje tenho 55 anos e há sete anos
ela era completamente diferente,
cheia de limitações, complicações
e hoje eu estou aqui, sonhando,
quero correr a São Silvestre. Foi
uma transformação maravilhosa.
o que era uma cirurgia bariátrica,
que eu consegui, aquele cara cheio
de problemas se transformou em
um corredor, correu 16 km, aos 50
anos de idade. Isso mudou a minha
vida, por isso até hoje eu sinto esse
carinho. Ali eu vi que eu podia, eu
tinha condição.
vitória - O que foi mais impor-
mexe muito com o psicológico. Foi
o lado mais difícil do processo?
Jullius - A gente fala que, principalmente, tem que operar a cabeça,
e quem não opera a cabeça não
tem sucesso. Na cirurgia é preciso
principalmente se conhecer, porque
senão o corpo vai sentir. Na época
que eu fiz, pesquisei muito, estudei,
pensei, e hoje vejo que as pessoas querem simplesmente operar.
O principal foco da cirurgia é o
emocional. O primeiro mês é um
sufoco muito grande, um grande desafio, você passa tomando aqueles
copinhos de café, tem que mudar
os hábitos, a mastigação é muito
importante, então é reaprender a
se alimentar, conhecer seus limites.
O que eu queria era saúde, tudo o
que veio depois foi consequência.
Nunca imaginei que iria correr,
eu queria poder caminhar. Meu
primeiro prazer foi andar. Imagine
uma coisa básica que é andar, eu
tante para você?
Você nunca emagrece,
torna-se um emagrecido. Eu falo
que a bariátrica é cheia de ‘R’, reprogramar, repensar, reeducar. Mas
o grande divisor de águas foi essa
primeira Dez Milhas, ali eu mostrei
para o mundo, para o meu mundo
Jullius -
vitória - A cirurgia bariátrica
comemorei quando consegui andar
uma rua sem sentir dor.
vitória - O apoio das pessoas é
importante para quem passa por
esse processo?
Jullius - Muito! Da família principalmente. A tentação à comida em
sua volta não é muito fácil. Lá em
casa eu não tive tanto problema. Eu
sempre gostei muito de cozinhar
e como é uma nova vida a gente
reaprende tudo. Tem comidas que
não me fazem falta e outras que não
posso de forma nenhuma porque
me fazem mal, como o alimento
gorduroso, qualquer quantidade
meu estômago já sente.
vitória - O que te motiva hoje?
Jullius - Com certeza são os novos
desafios. Depois da bariátrica eu
não fiz a cirurgia reparadora, mas
eu tive uma hérnia inguinal muito
grande e aquilo me incomodava
muito. No ano passado meu foco
foi fazer essa cirurgia e aí eu fiquei
sem correr. Nesse tempo parado
eu ganhei seis quilos. Esse ano eu
voltei para a academia e eles me
ofereceram participar de um projeto. Falei que topava se eles me
treinassem para a São Silvestre e
assim fechamos a parceria, estou
lá treinando, fazendo fisioterapia,
“O que eu queria era saúde, tudo o que
veio depois foi consequência. Nunca
imaginei que iria correr, eu queria poder caminhar.
Meu primeiro prazer foi andar.”
revista vitória I Outubro/2015
30
preciso perder oito quilos, virei o
personagem deles (risos). O objetivo
agora é voltar ao meu peso e meu
foco desse ano é correr a São Silvestre. Eu tenho que colocar metas.
Tenho outro sonho que é oficializar
o grupo de corredores bariátricos.
vitória - O que foi mais difícil?
Jullius - O primeiro mês, com
certeza! Tem que ter muito foco.
Você sai de uma semana que come
normal e passa a se alimentar em
copinhos. Ali começa a sua prova
de fogo. Você começa a enjoar de
várias coisas, de cheiros, de tudo.
Quando vem a comida mais pastosa
já dá um certo alívio. Várias vezes
já levantei da mesa passando mal.
Hoje eu não consigo comer muito,
não forço. Não como uma maçã
inteira de vez nem pensar.
vitória - Você se arrepende
de alguma coisa nesse processo?
Faria algo diferente?
Jullius - Não, acho que demorei a
fazer. Poderia estar hoje em outro
estágio, não que seja melhor ou
pior, mas tudo é no momento de
Deus. Eu tive que passar por tudo
para tomar consciência do que eu
precisava. Cheguei a um estágio
impressionante. Fiz com a pessoa
certa, que foi o marido dessa amiga, me deu tranquilidade. Precisei
passar por tudo para perceber que
tinha que mudar.
vitória - E o Jullius de hoje
quem é?
Jullius -
Nossa...o que eu procuro
fazer, além de me manter saudável, no meu foco, na prática de
corrida de rua, de colocar sempre
um objetivo, eu tenho esse grupo
de bariátricos que eu administro e
tenho um trabalho muito legal com
ele. Uma menina de Minas Gerais está vindo operar aqui porque
se sentiu acolhida pelo grupo. Eu
coloco muito o coração nas coisas
que eu faço. Não é só um grupo
de bariátricos para trocar algumas
experiências e marcar saidinha no
shopping, ele é muito solidário. É
um grupo de referência, os médicos
do Brasil acompanham também.
Não há nenhum interesse meu ali
que não seja ajudar. As pessoas se
acolhem, é maravilhoso.
vitória - Além de você ter re-
nascido, acha que fez reviver
outras pessoas?
Jullius - Muitas pessoas. Tem uma
menina que é bem bonita, tem vários seguidores de todo o país, dá
dicas de alimentação e até hoje ela
fala “você é o responsável por isso”.
Eu vou a lugares que as pessoas
falam que se sentiram motivadas
ao conhecerem minha história, começaram a correr. Eu nunca falei
isso, mas acredito que com a minha
participação na Dez Milhas eu fiz
acender uma luz diferente sobre a
bariátrica, antigamente era tudo
muito escondido, cheio de medo.
Depois que eu fui o primeiro a chegar, que eu consegui, acho que a
abordagem sobre a cirurgia ganhou
um novo foco. Ao mesmo tempo
eu me preocupo porque algumas
revista vitória I Outubro/2015
31
pessoas acham que é uma varinha
de condão. Manter-se emagrecido
é uma luta diária.
vitória - Como se sente sendo
espelho para tanta gente? Imaginava isso?
Jullius - Nunca imaginava. Eu tive
noção quando acabou a Dez Milhas
e todo mundo veio me cumprimentar, dizendo que tinham torcido por
mim, parabenizando por eu ter conseguido e eu não conhecia aquelas
pessoas, os corredores, eu conhecia
os jornalistas. Até que a assessoria
da prova me chamou, eu agradeci
o professor que correu comigo e
eu não imaginava, e me chamaram onde estavam as autoridades.
Muito louco (pausa). Fez uma fila
de pessoas para falar comigo, tinha
gente do mundo do esporte. Eu
demorei a cumprimentar a minha
mãe, que era quem eu tinha de mais
próxima de mim ali(pausa). Eu não
esperava que a história chegasse
nesse ponto. Naquele momento eu
vi que estava realizando um sonho.
Sinto-me muito agradecido, sinto
que Deus falou, “você vai no fundo
do poço, mas vai dar a volta por
cima”. Mesmo muitas pessoas falando que eu sou um operado, que
operado é fácil, não é. Se eu não
tivesse operado não estaria aqui,
é uma difícil decisão. Eu vou na
São Silvestre, depois quero correr
a meia maratona e mostrar que é
possível. E vou levar mais gente
junto comigo! Vou continuar motivado e vou continuar motivando
outras pessoas. n
Mundo Litúrgico
Igreja e relações com as religiões não-cristãs.
50 anos da Declaração “Nostra Aetate”
Em 28 de outubro de 1965 – há 50 anos,
no contexto do Concílio Vaticano II, foi promulgada a Declaração Nostra Aetate – sobre
as relações da Igreja com as religiões não
cristãs - como confirmação de que a Igreja é
o sacramento da unidade e da caridade entre
a humanidade, considerando o que os seres
humanos têm de comum, pois Deus é o criador
e a origem de todas as criaturas, como de todo
o cosmos.
A diversidade religiosa dos povos desperta
na Igreja a sensibilização de que a verdade
também é manifestada nas várias expressões
religiosas. Consciente, a Igreja coloca-se com
respeito diante do modo de viver e cultuar das
outras tradições, e exorta seus filhos – os batizados, a dar testemunho da fé cristã por meio
do diálogo e da colaboração com os membros
das outras religiões, proclamando, com atitudes caritativas e solidárias, o Cristo “caminho,
verdade e vida” (cf. Jo 14,6).
A liturgia cristã expressa, na culminância
da ação eucarística, a verdadeira unidade de
todas as criaturas com o Criador, pela mediação
e intercessão de Cristo a favor de todo o gênero
humano, pois ele, sem distinções ou condições,
entregou a sua vida pela salvação de todos.
revista vitória I Outubro/2015
32
Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap
O uso da vela na liturgia
Em muitas comunidades sempre surgem
dúvidas sobre a quantidade de velas na celebração e a sua disposição no espaço celebrativo.
A Instrução Geral do Missal Romano orienta o
seguinte: “sobre o altar ou perto dele, dispõem-se, em qualquer celebração, pelo menos dois
castiçais com velas acesas, ou quatro ou seis,
sobretudo no caso da Missa dominical ou
festiva de preceito, e até sete, se for o Bispo
diocesano a celebrar.” (cf. IGMR, 117) Diante
disso, as equipes de liturgia devem ter o bom
senso na hora de adquirirem os castiçais e
as velas. Deve-se levar em consideração o
tamanho do altar e do presbitério, para que
seja proporcional e esteja em harmonia com
o ambiente. Nem todas as comunidades tem
espaço suficiente para se usar quatro ou seis
velas. Não convém que os castiçais e as velas
tirem a centralidade do mistério celebrado.
Eles são acessórios. O centro é Jesus Cristo,
é o altar.
Marcus Tullius
Comissão Arquidiocesana de Liturgia
O lugar da Eucaristia
Este é o meu mandamento:
amai-vos uns aos outros,
como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do
que aquele que dá a sua
vida por seus amigos. (...)
Chamei-vos amigos, pois
vos dei a conhecer tudo
quanto ouvi de meu Pai.
(Jo 15, 12-15)
O “lugar da Eucaristia” tem o altar como
objeto simbólico mais importante e que ocupa
o lugar central no interior de nossas igrejas.
Evocando a entrega da própria vida que Cristo
fez ao morrer na cruz, ele representa os dois
aspectos de um único mistério: é o altar do
sacrifício e a mesa do Senhor.
A partir do altar nasce o sacramento da
Eucaristia. Ele é símbolo de Cristo, é mesa
festiva, é lugar de íntima comunhão, é fonte
de unidade da Igreja e de concórdia dos irmãos
e irmãs, é o centro do nosso louvor e ação de
graças.
A Igreja orienta que seja digno, sólido,
de material nobre e verdadeiro, não removível. Reunidos em torno do altar, celebramos
os mistérios de nossa fé e formamos um só
corpo, unidos em seu amor, como nos mostra
a imagem do interior do Santuário de N. Sra.
Aparecida. n
Raquel Tonini R. Schneider
Comissão Arte Sacra e Bens Culturais da Arquidiocese
de Vitória, Setor Espaço Celebrativo - CNBB
Reportagem
Letícia Bazet
Maria da Luz Fernandes
O Papa
tem pressa
Alívio para o sofrimento dos
casais separados: agilidade nos
processos de nulidade
A
declaração do papa Francisco sobre mudanças no Código de Direito
Canônico (Cânones 1671 a 1691) a partir de 08 de dezembro de
2015, para agilizar os processos de nulidade matrimonial causou,
no início de setembro, um verdadeiro rebuliço e rendeu muita conversa
nas redes sociais e na mídia em geral. O objetivo do papa é, apenas, tornar
mais simples e ágeis os processos de nulidade, mas as interpretações foram
diversas. Para alguns, a decisão foi uma surpresa, pois acreditaram que
assim, a Igreja incentivava os pedidos de divórcio. Para outros como Natália, que aguardou três anos
“quando a separação acontece,
para receber a declaração de
nulidade de seu casamento,
nenhum católico está automaticamente
o sentimento foi “Porque
impedido de participar do Sacramento
isso não aconteceu antes?”.
da Eucaristia”
A reação de Natália pode
mostrar àqueles que se surpreenderam, o porquê da decisão do papa: “Eu
sou professora, precisei pegar uma licença de 30 dias porque estava muito
abalada, eu chorava muito, parecia que minha vida estava destruída”, contou.
O papa demonstra com seu gesto que a Igreja entende os dramas
humanos e se empenha para amenizá-los e encurtá-los naquilo que lhe é
possível. Com essas e outras atitudes o papa Francisco vem convocando a
todos para a cultura do encontro e da proximidade com discursos e com a
prática. O Sínodo dos Bispos vai refletir e discutir as demandas e realidades
revista vitória I Outubro/2015
34
vindas das dioceses através de
questionários, espera-se na perspectiva do Ano da Misericórdia
conforme vem sinalizando o Papa
Francisco.
Angústias e incertezas
No caso dos casais que se
separam e entram com o pedido de averiguação de nulidade,
os sentimentos de angústia, ansiedade, tristeza, entre outros
transformam-se em verdadeiros
dramas. “A gente vira meio psicóloga porque aqui elas se abrem,
choram, contam suas histórias. Já
tem um alívio quando vêm na audiência e falam, depois escrevem
para dar abertura ao processo.
Quando conseguem a declaração
de nulidade são dominados (as)
pelo sentimento de alegria, emoção e gratidão”, afirmou Cristina,
notária do Tribunal Eclesiástico
de Vitória, contato primeiro de
quem busca a entidade para abrir
o processo na Província Eclesiástica do Espírito Santo.
Os dramas humanos muitas
vezes não partem das questões
reais porque a emoção e os sentimentos não obedecem à razão.
No caso dos casais separados,
católicos, o peso da indissolubilidade do casamento é muito
grande. A frase “não separe o
homem o que Deus uniu” passa, no momento da separação, a
fazer com que a pessoa se sinta
em pecado e excluída da comu-
nidade e da comunhão. Alguns
deixam as atividades na comunidade e de comungar mesmo que,
como explica o padre Teodósio,
membro do Tribunal Eclesiástico:
“quando a separação acontece,
nenhum católico está automaticamente impedido de participar
do Sacramento da Eucaristia”. A
pessoa só precisa afastar-se da
Sagrada Comunhão se contrair
novas núpcias ou passar a viver
maritalmente com outra pessoa.
Padre Wladimir Porreca diz, em
artigo publicado na revista Vida
Pastoral que “o modelo de Igreja
“se a vida do
casal se tornar
insuportável
e prejudicial,
a Igreja acolhe os
separados e não os
penitencia por isso”
sacramental e a redução da celebração da missa à comunhão
eucarística contribuem para que
o sentimento de exclusão seja
reforçado nos casais separados”.
Dom Luiz Mancilha Vilela
explicou que “se a vida do casal
se tornar insuportável e prejudicial, a Igreja acolhe os separados
e não os penitencia por isso”. E
Dom Luiz acrescenta: “o Santo
Padre ouviu o clamor da Igreja
revista vitória I Outubro/2015
35
durante a preparação para o Sínodo da Família e já começou a
propor mudanças para diminuir
os sofrimentos”.
As razões e os dramas de
cada um, porém, não cabem e
não se resolvem com a aplicação
das leis canônicas e agilidade
nos processos de nulidade. Encontramos situações de casais
separados reconhecerem a existência de provas de nulidade, mas
recuarem perante a influência dos
filhos da primeira união para que
o pai não tente provar a nulidade
do matrimônio, achando que isso
prejudicaria moralmente a mãe,
ou ainda, o casal que separou
julgar que ao pedir a nulidade está
negando a experiência vivida que
não foi feita apenas de enganos ou
erros. Este pensamento é endossado por padre Wladimir Porreca,
que afirma: “existe uma ruptura
nas relações, sobretudo da conjugal, mas não uma anulação do
que foi construído e vivenciado
na família precedente”.
Reportagem
Estas e outras questões relacionadas a casais em segunda
união serão discutidas no Sínodo
dos Bispos sobre a família que
acontece no Vaticano de 4 a 25
de outubro.
Nos casos que tivemos contato, que aguardam ou receberam
a declaração de nulidade, percebemos que, embora na prática a
Igreja não exclua, muitos separados se auto-excluem e se prejudicam na vivência comunitária. Em
alguns casos, a própria comunidade passa a “olhar” a pessoa de
outra forma e com desconfiança
o que acaba criando distância e a
sensação de abandono. “Eu não
tinha coragem de comungar, eu
ia à missa e chorava muito, me
sentia culpada, com vergonha, me
privei de muita coisa de dentro
da igreja por causa disso. Foram
três anos difíceis, me privando,
por causa da minha consciência”,
contou Natália. Para Ellen, que
entrou com o processo recentemente, a situação não é diferente:
“a gente vai à missa, frequenta,
mas eu me sinto como se fosse
estranha, isolada, então isso é
ruim, me incomoda”.
O que o Papa Francisco mudou nas leis canônicas não resolve
os dramas de consciência, mas a
aceleração nos processos daqueles que descobrem motivos comprovatórios de que o casamento
foi nulo, vai com certeza diminuir
o tempo de angústia e ansiedade
e amenizar os sofrimentos.
Como se dá o processo de nulidade
Iniciado, o processo passa,
obrigatoriamente, por dois Tribunais. O Tribunal de Primeira
Instância, local onde se dá entrada ao processo e se obtém a
primeira sentença, e o Tribunal
de Segunda Instância, onde se
teria um novo parecer de outros
juízes, mesmo que a primeira
sentença fosse favorável à declaração da nulidade. Cabe, se
necessário, o apelo à Santa Sé,
em Terceira Instância.
Com a mudança, os casos em que as evidências da
nulidade estejam claras, basta
o reconhecimento da nulidade no primeiro Tribunal para
que a declaração seja dada. De
acordo com padre Teodósio, a
mudança pode agilizar o processo de seis meses a um ano.
Principais mudanças
wA primeira decisão é de que não haverá a partir de agora
necessidade da decisão de dois tribunais. A declaração de
nulidade será dada após o pronunciamento do primeiro juiz.
wO bispo é juiz em sua Igreja, por isso ele mesmo é o juiz,
principalmente nos processos mais breves quando as evidências da nulidade são mais perceptíveis e existem mais
argumentos para ela ser comprovada. De acordo com padre
Teodósio, se aprovada a nulidade, a conclusão prevista –
com a sentença – será realizada em até 02 meses.
wFoi pedido às Conferencias Episcopais que estudassem
meios para garantir o funcionamento dos Tribunais e que
os gastos com os processos fossem, se não gratuitos, o
mais baixo possível. Já é costume do Tribunal Eclesiástico
Interdiocesano de Vitória conceder descontos, ou até mesmo gratuidade, aos que, com dificuldade para arcar com
as despesas, precisam entrar com o processo de nulidade
matrimonial.
revista vitória I Outubro/2015
36
Esperança
Para quem entrou com o
processo e ainda aguarda os trâmites do Tribunal Eclesiástico,
o anúncio do Papa Francisco
reacendeu a esperança. É o caso
de Clarissa. “Para mim é muito
importante, para eu poder casar
novamente na Igreja, receber
essa bênção e que eu tenha uma
nova oportunidade. Saber que
meu processo poderá ser julgado
com menos tempo do que eu
imaginava me traz muita felicidade”, disse. Ellen, que após
uma confissão foi orientada a
pedir a nulidade, diz que achou
muito boa a decisão do Papa,
“porque as pessoas não devem
ser excluídas pelo Matrimônio
não ter dado certo, é justamente
um momento em que precisam
ser acolhidas”.
Em uma semana após as
mudanças anunciadas, Cristina
afirma que mais de dez processos
foram reabertos. “O telefone não
para de tocar, todos os dias aparece quem já havia parado com
o processo, pedindo para reabrir.
Está tudo aqui arquivado, e nós
vamos analisar a melhor forma
de retomá-los”.
Enquanto aguardamos o Sínodo, ficamos com o relato dos
padres sinodais: “evitar qualquer
linguagem e atitude que faça os
casais separados se sentirem
discriminados, além de buscar
promover a participação desses
casais na vida da comunidade”.
De fevereiro a setembro deste ano, 76 pedidos de
nulidade matrimonial foram abertos No Tribunal
Eclesiástico Interdiocesano de Vitória
Etapas do processo em primeira instância
01 Reunião com o Vigário Judicial para apresentar as razões do pedido de nulidade;
02 A parte demandante (quem pede a nulidade) recebe um roteiro e é orientada a escrever o
libelo introdutório, ou seja, detalhar a história que motiva o seu pedido;
03 A parte demandada é convocada para tomar ciência do libelo e pode optar em participar
ou não do processo;
04 O defensor do vínculo elabora perguntas, de acordo com o libelo, e com a contestação da
parte demandada, caso haja;
05 O demandante e suas testemunhas são ouvidos. A parte demandada também é ouvida,
caso tenha feito a contestação;
06 O defensor do vínculo dá o seu parecer, o qual é encaminhado para três juízes, que dão
seus votos. Após, eles se reúnem para julgar o processo e a sentença é apresentada às
partes.
revista vitória I Outubro/2015
37
sugestões
ARTE
Museu da Vale
Viagem
Lugar da tranquilidade
Fugir da rotina e buscar um pouco de paz não exige
uma longa viagem. Ibiraçu é um pequeno município
a 70km da capital do Estado. É conhecido pelo pastel
com caldo de cana, mas também abriga dois recantos
para quem busca um pouco de sossego: o Santuário
de Nossa Senhora da Saúde e o Mosteiro Zen Morro
da Vargem, ambos ao lado da cidade e cercados de
verde. O Santuário fica aberto à visitação todos os
dias e tem missas e eventos recorrentes. O Mosteiro abre à visitação aos domingos, a partir das
10h. Os dois são uma ótima opção para quem
quer ter contato com a natureza, se desligar
da agitação e fazer caminhadas. Vale
a pena!
Estabelecendo uma relação entre desenho e
fotografia, o artista plástico Vik Muniz utiliza
materiais inusitados como açúcar, chocolate
líquido, doce de leite, geleia, e lixo para criar as
suas ou fazer a releitura das obras. Seu processo
de trabalho consiste em compor as imagens com
os materiais sobre uma superfície e fotografá-las.
A partir do dia 16 de outubro a mostra estará aberta
no Museu da Vale, onde também será exibido
diariamente, em horário pré-estabelecido,
um vídeo sobre a
obra do artista.
cultura
A Magia de Miró
Dica de
seriado
Arrow
O milionário Oliver Queen passou anos de sua
vida em uma ilha e foi dado como morto após
um naufrágio que provocou a morte de seu pai. Ele
voltou para casa com o objetivo de salvar sua cidade
das mãos de criminosos e corruptos. Antes de seu pai
morrer, deixou uma lista com o nome das pessoas
responsáveis por conspirar contra a cidade e seus
cidadãos. O personagem é solitário, dramático e
cheio de conflitos, mas se empenha em salvar
a todos sem que a polícia e os mais próximos descubram sua identidade.
Em exposição no Espaço Cultural do Palácio
Anchieta, em Vitória, até o dia 15 de novembro,
‘A Magia de Miró’ mostra as cores, criatividade
e traço único do artista catalão Joan Miró, ícone
do surrealismo. Com entrada gratuita, o público
pode conferir 69 obras do pintor expostas, além
de fotografias que mostram a sua vida pelas
lentes de Alfredo Melgar.
Dica da servidora pública
Juliana Reblin
revista vitória I Outubro/2015
39
Religião
Tem dúvidas? Então
pergunte para quem sabe.
Envie sua pergunta para
[email protected]
Esporte
Pergunte a quem sabe
Denise Silva
Profissional da Educação Física/
Coordenadora da Academia
Positiva Club
Qual a melhor atividade física, correr ou
andar?
Pe. Arlindo Moura de Melo
Diretor da Escola Diaconal
Qual a diferença entre diácono e Padre?
O Padre é ministro ordenado para o ministério sacerdotal com tempo integral, abrangendo o
pastoreio de uma parcela do rebanho que lhe foi
confiada na paróquia e administração de cinco
sacramentos: Batismo; Confissão; Eucaristia;
Matrimônio e Unção dos enfermos. O diácono é ordenado para o ministério da caridade,
(serviço aos necessitados), da Palavra e da Liturgia. Podendo administrar dois sacramentos:
Batismo e Matrimônio. É casado. Tem o seu
trabalho profissional e exerce a pastoral por
tempo parcial.
Como identificar o diácono?
Podemos identificar o diácono permanente,
pela ação pastoral, pela constituição familiar
e pelas vestes litúrgicas. O Padre é pároco,
Administrador paroquial, não é casado e nas
celebrações usa a estola sobre a túnica de forma vertical e nas solenidades usa casula. O
diácono usa a estola sobre a túnica de forma
horizontal e nas solenidades usa dalmática.
Temos também o diaconato temporário. O
seminarista é ordenado diácono para exercer
o ministério diaconal em preparação para ser
ordenado presbítero (Padre).
revista vitória I Outubro/2015
40
A caminhada e a corrida são atividades
físicas importantes para melhorar o condicionamento físico, fortalecer o coração e emagrecer.
Uma não é melhor do que a outra, ambas são
benéficas à saúde. O que difere uma da outra
é o nível de condicionamento físico que o
praticante de atividade física se encontra. Por
exemplo: se uma pessoa sedentária, que está sem
praticar atividade física há mais de 3 meses ou
nunca praticou, deseja iniciar um programa de
atividade física, o recomendado para ela é uma
caminhada de no mínimo 3 vezes por semana.
Se por outro lado temos outra pessoa que faz
atividade física regularmente, ela poderá iniciar
um programa de corrida com uma intensidade
leve a moderada e progredir na velocidade da
corrida (do trote leve a uma corrida intensa)
gradativamente. O mais importante é saber para
quem estamos prescrevendo o exercício, pois
diante do histórico físico da pessoa podemos
indicar essa ou aquela atividade física.
Qual o tempo diário ideal de prática de
atividade física?
Segundo a Organização Mundial de Saúde
a atividade física para promover melhora no
condicionamento físico e no coração de um
indivíduo deverá ser de no mínimo 30 minutos
e no máximo 1 hora, sendo o mesmo realizado
3 a 5 vezes por semana.
Se uma pessoa só tem 30 minutos diários
para se exercitar, pois exercite-se, pois isso
irá trazer benefícios a saúde.
saúde
Helder Carnielli
Presidente do Conselho
Regional de Engenharia e
Agronomia do ES (Crea-ES)
O que é o amianto?
O amianto tem origem mineral e é uma
fibra derivada de rochas metamórficas eruptivas, que por processo natural de recristalização
transforma-se em material fibroso. O material é
composto por silicatos hidratados de magnésio,
ferro, cálcio e sódio e se divide em dois grandes
grupos: serpentinas (crisotila ou amianto branco)
e anfibólios (tremolita, actinolita, amosita, etc.).
Essas fibras geralmente são invisíveis, inodoras,
muito duráveis ou persistentes, e altamente aerodinâmicas. Elas podem se deslocar por longas
distâncias e permanecem no meio ambiente por
tempo muito longo.
Por que ele foi banido?
previdência
Ao todo, 52 países proibiram o uso do amian-
to. O Programa de Segurança Química da Organização Mundial da Saúde de 1998 concluiu
“que a exposição ao amianto aumenta os riscos
de asbestose (doença que tenta cicatrizar o tecido
pulmonar), câncer de pulmão e mesotelioma (tipo
de câncer que ocorre nas camadas mesoteliais da
pleura, pericárdio, peritônio e da túnica vaginal
do testículo) em função da dose”. Em termos de
saúde humana é um material prejudicial, pois a
exposição às suas fibras está associada a doenças,
que podem ser de natureza ocupacional, como as
que dependem de dose de exposição (asbestose
e câncer de pulmão); de natureza ocupacional,
que tem menor dependência (doença pleural e
mesotelioma) e podem ocorrer por exposição
ambiental e/ou ocupacional. Todas as doenças
causadas pelo amianto são progressivas e incuráveis. A doença evolui mesmo após o afastamento do paciente da exposição ao mineral.
Não há como evitar a evolução das doenças e,
muitas vezes, a morte, consistindo o tratamento
exclusivamente em aliviar as dores e sintomas.
Marcos Augusto Rodrigues
Gerente da Agência da Previdência Social de Cariacica
O que é a desaposentadoria?
A chamada desaposentação consiste na renúncia da aposentadoria pelo
segurado que já recebe o benefício do INSS. No entanto, este pedido não possui
amparo legal; o assunto está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal,
sem uma decisão final. Atualmente, conforme a legislação previdenciária, as
aposentadorias são irreversíveis e irrenunciáveis, salvo se o requerente não
tiver recebido o primeiro pagamento do benefício.
revista vitória I Outubro/2015
41
ensinamentos
“Série especial sobre
os Sacramentos”
Confirmação ou Cr
A
Crisma ou o Crisma? O Sacramento é chamado
de “a Crisma”, ao passo que o óleo utilizado para
a unção é denominado “o crisma”. Crisma é uma
palavra grega que denomina um unguento que mistura
azeite e perfume, com o qual se unge ou massageia. Tem
sua origem no verbo chrio, que significa ungir. Christós
significa o Ungido de Deus e nós, cristãos, somos ungidos
pois pertencemos a Ele. Desde o século V, esse Sacramento é chamado de Confirmação (ALDAZÁBAL, 2013).
Fundamenta-se biblicamente, dentre outras perícopes,
em Atos dos Apóstolos (8, 14-17): Pedro e João impuseram
as mãos sobre os que haviam sido batizados e eles recebiam
o Espírito Santo.
O Sacramento da Confirmação não é uma “confirmação” do Batismo, já que as crianças não têm consciência
quando são batizadas. Se fosse assim, não haveria sentido
os que foram batizados adultos receberem este sacramento.
Ou seja, o Batismo não é incompleto.
A Confirmação aperfeiçoa a graça do Batismo. Por
ela, Deus dá o Espírito Santo para nos enraizar mais profundamente na filiação divina e nos tornar membros mais
revista vitória I Outubro/2015
42
risma
firmes do Corpo de Cristo – a
Igreja, ajudando-nos a assumir
com compromisso a sua missão,
dando testemunho da fé cristã
pela palavra e pelas obras. Pela
Confirmação, o cristão é enriquecido com a força especial
do Espírito Santo. Em outras
palavras, esse sacramento potencializa as graças recebidas
no Batismo.
Assim como o Batismo, a
Confirmação imprime um sinal
espiritual irrevogável na alma
do cristão. Por isso, só pode ser
recebida uma vez na vida.
É necessário haver uma
preparação consistente para as
pessoas receberem o Sacramento da Confirmação, levando-as
a uma comunhão com Cristo, a
uma familiaridade com o Espírito Santo e ao compromisso
com a missão da Igreja.
O ministro ordinário da
Confirmação é o Bispo (sucessor dos Apóstolos), que, em
caso de necessidade, concede aos padres a faculdade de
administrar esse sacramento.
Por exemplo, na celebração
dos Sacramentos da Iniciação
Cristã com adultos. Geralmente,
opta-se pelo padre batizar e,
em outro momento, o Bispo
revista vitória I Outubro/2015
43
administrar a Confirmação.
Conforme explica o Catecismo, no rito romano, o Bispo
estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que,
desde o tempo dos Apóstolos,
é o sinal do dom do Espírito
Santo. Cabe ao Bispo invocar
a efusão do Espírito Santo. O
rito essencial da Confirmação
é a unção com o santo crisma
na testa do “confirmando”, feita
com a imposição da mão e pelas
palavras ...(nome), recebe, por
este sinal, o Espírito Santo, o
dom de Deus”. n
Vitor Nunes Rosa
Professor de Filosofia na Faesa
Que veste devo usar
ao entrar em uma Igreja
ou para participar de uma
Santa Missa
A igreja é chamada por nós, cristãos católicos,
como “Casa de Deus”! É um lugar especial, mesmo
quando simples e pobre. As construções buscam
arte, bom gosto, aconchego e, principalmente, um
espaço que proporcione o encontro com Deus. É
o local onde a Comunidade Eclesial, Comunidade
de Fé, Esperança e Caridade se reúne para oração
e adoração do Senhor, nosso Deus, especialmente
para a Celebração da Sagrada Eucaristia. A igreja
é um lugar de oração e de respeito! Por isso,
seja bem-vindo à casa de Deus!
Cada ocasião e cada ambiente exigem um tipo de
compor tamento e de estilo no vestir. Em alguns
As roupas devem estar limpas e a
pessoa arrumada. Isso não depende
de riqueza ou de pobreza.
Trajes de praia não combinam com o
ambiente de respeito que a igreja exige
de todos. Repare nos condomínios dos
prédios, geralmente a entrada de pessoas
com trajes de praia não é feita pela
entrada social.
espaços da sociedade exige-se do visitante vestes adequadas para aquele ambiente, como por
exemplo a Assembleia Legislativa. É normal a
pessoa perguntar-se antes de se arrumar para um
evento ou festa: que roupa vou usar? A decisão
leva em conta que tipo de evento, quem se irá
encontrar, o local do evento, se é de dia ou de
noite, se é festa comemorativa ou confraternização. Pois bem, esta pergunta também deve ser
feita antes de ir para a igreja par ticipar de um
ato de fé. Para ir à igreja é impor tante que as
roupas sejam adequadas ao ambiente (lugar de
oração) e à finalidade do templo (proporcionar
a quem entra um encontro com Deus).
Vestes esportivas são
próprias para momentos
de lazer e de descanso,
não são próprias para ir
à igreja.
Na hora de escolher as
vestes para ir à igreja
use bom senso.
Deus merece todo o respeito!
Adoramos o Senhor nosso Deus com o coração e a
mente. As vestes expressam esta atitude do ser
humano! Deus o(a) abençoe! Obrigado.
cultura capixaba
Rota Imperial
São Pedro de Alcântara
N
Diovani Favoreto
Historiadora
o inicio do século XIX foi
construída uma estrada para
ligar Vitória, no Espírito
Santo, a Ouro Preto, nas Minas Gerais. O objetivo desse caminho era
melhorar o comércio entre as duas
províncias. Esta estrada se chamou
São Pedro de Alcântara ou, como
ficou conhecida, Estrada do Rubim.
Recentemente, Assembleia Legislativa, FINDES, SEBRAE e Governo do Estado lançaram a “Rota
Imperial São Pedro de Alcântara”
como alternativa para o desenvolvimento do turismo pelo interior do
Estado do Espírito Santo.
Esse percurso que liga os extremos do Estado, de leste a oeste, é
composto de belezas naturais e características culturais que só o estado
capixaba possui.
O antigo caminho percorrido
pelos tropeiros, que traziam boiadas e levavam produtos para Minas
foi mapeado e seu potencial cultural
identificado. Com isso, as regiões de
montanha e suas tradições podem
agora ser apreciadas através dos roteiros turísticos criados.
O turista pode comer uma moqueca de peixes em Vitória, experimentar o broti (pão) de Santa Maria
de Jetibá, o socol (salaminho) de
Venda Nova do Imigrante e o feijão
tropeiro de Ibatiba enquanto desfruta
a hospitalidade desses municípios. n
revista vitória I Outubro/2015
45
Municípios que compõem
a Rota Imperial São
Pedro de Alcântara:
Cariacica, Castelo, Conceição
do Castelo, Domingos
Martins, Iúna, Ibatiba,
Ibitirama, Irupi, Muniz Freire,
Viana, Santa Leopoldina,
Santa Maria de Jetibá e
Venda Nova do Imigrante.
Acontece
IPAC
Nos dias 17 e 18 de
outubro, sob assessoria do
padre Domingos Ormonde, da Diocese de Duque
de Caxias e do liturgista
Ir. Francisco Assis Dias,
os participantes do IPAC,
encontro voltado para a
formação dos catequistas,
discutem o tema ‘Catequese e Liturgia’. O encontro
acontece em Ponta Formosa, de 8h às 17h.
Sínodo dos Bispos sobre a família
De 04 a 25 de outubro,
acontece em Roma a 14ª assembleia extraordinária do
Sínodo dos Bispos, dedicada
ao tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no
mundo contemporâneo”. Onze
brasileiros estarão presentes.
A assembleia extraordinária,
ocorrida em outubro de 2014,
apontou as principais necessidades que devem ser observa-
Encontro de Universitários
e Fórum Nacional de Cultura
Colatina será sede, de 10 a
12 de outubro, de dois encontros nacionais, o 3º Encontro
Brasileiro de Universitários
Cristãos (Ebruc) e o 3º Fórum
Nacional de Cultura. Com o
tema “Universidade e Sociedade”, o Ebruc reunirá jovens
que atuam no meio universitário para refletir, partilhar
e articular a ação evangelizadora nas universidades. Na
programação, mesas de diálogo, apresentações culturais,
trocas de experiências, debates
e oficinas. Já o Fórum Nacional de Cultura, que propõe o
tema “Patrimônio Cultural,
Educação e Evangelização”,
envolverá artistas e pessoas
ligadas à produção de projetos culturais que envolvem a
realidade da Igreja do Brasil
e da sociedade, por meio de
debates, conferências, exposições e intervenções culturais,
além do show dos artistas que
estarão reunidos no encontro.
revista vitória I Outubro/2015
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das para a evangelização das
famílias hoje. No decorrer
deste ano, as dioceses foram
convidadas através de questionários, a amadurecer as ideias e
propor soluções concretas para
os desafios. O resultado dessas
reflexões será analisado pelos
sinodais e, certamente, será a
base para as orientações finais
que o Papa dará à Igreja para o
cuidado pastoral das famílias.
Abertura do
Ano Santo da
Misericórdia
Anunciado pelo Papa
Francisco como o Jubileu
Extraordinário, que tem
como centro a misericórdia de Deus, o Ano Santo
da Misericórdia terá início
no dia 08 de dezembro de
2015 e seguirá por todo o
ano de 2016. Na Arquidiocese de Vitória, será
realizada a abertura no
dia 13 de dezembro com
uma solenidade na Praça
da Catedral e abertura das
portas da igreja, às 11h.